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DIA E NOITE COM O TRABALHADOR GOVERNO PREPARA 0 LANCE PRA BAIXAR OS SALÁRIOS ssssc^ ^os ca ^a Salário real cresceu 11,8% em novembro, afirma Fiesp * ^ ^<fe ^ ÍB GE diz que wiárí ^ rftflV ^K^» A causa dos baixos salários Arrocho histórico * em 87, diz Bnrelli Sindicalistas querem modificação da política salarial a ^iai3 "^sfe *.*,„„ .OPINIÃO ! INFORMAÇÃO Publicação Quinzenal do CENTRO DE fVXSTDRAL VERGUEIRO oircutapaol ***** àa Governo mantém cautela na questão salarial ^ Vi - L-w *^ r -s>- Emp resci^ fa^emp a€to antiga e^e C.F./88* DENUNCIA OPRESSÃO SOBRE OS NEGROS PÁG. 6 ^ GRUPO MASCARADO INVADIU A CIDADE DE MOJU-PA PÁG. 7 MASSACRE DOS GARIMPREIROS DE SERRA PELADA PÁG. 9

Salário real cresceu 11,8% em · 2013. 2. 2. · MASSACRE DOS GARIMPREIROS DE SERRA PELADA PÁG. 9 . Quinzena Causa Operária BALANÇO - Jan./88 DO CONGRESSO REGIONAL DA CUT- SP

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DIA E NOITE COM O TRABALHADOR

GOVERNO PREPARA 0 LANCE PRA BAIXAR OS SALÁRIOS ssssc^

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Salário real cresceu 11,8% em novembro, afirma Fiesp

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C.F./88* DENUNCIA OPRESSÃO SOBRE OS NEGROS PÁG. 6 ^

GRUPO MASCARADO INVADIU A CIDADE DE MOJU-PA PÁG. 7

MASSACRE DOS GARIMPREIROS DE SERRA PELADA PÁG. 9

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Quinzena

Causa Operária - Jan./88

BALANÇO DO CONGRESSO REGIONAL DA CUT- SP

Trabalhadores

Nos dias 27/28 e 29 de novembro pas- sado realizou-se em Sâo Paulo o IV Congresso da CUT Regional da Grande

Sâo Paulo. 0 Congresso contou com a parti- cipação de cerca de 400 delegados. Foram apresentadas 4 teses, a saber: a tese do blo- co majoritário na CUT Regional (CUT pela Base), por uma CUT democrática, classista e de massas representando os setores majori-

♦ tários na CUT, com os 113 à frente, a tese Democracia e Luta, apoiada pela CS e a-tese Por uma Alternativa dos Trabalhadores, apoiada pelos militantes deste jornal. A nova direção foi eleita (uma frente entre a CUT pe- la Base, CS e CO) com 250 votos, contra 150 da Chapa representando a articulação dos 113.

Congresso de 86 x Congresso de 87 um claro retrocesso político

Durante o ano de 1987, a CUT Regional da Grande São Paulo, foi alvo de um ataque em

à toda linha por parte dos setores agrupados na chamada Corrente (articulação dos 113), que dirige o PT e a CUT a nível estadual e na- cional.

O eixo central da crítica dessa corrente era de que a CUT pela Base (articulação quediri- yia a CUT Regional) fazia uma agitação so- cialista abstrata e confundia a CUT com par- tido político, misturando os papéis de cada um na luta dos trabalhadores por sua lioerta- ção do jugo capitalista. A chamada articula- ção dos 113 foi ao Congresso disposta a impor seus pontos de vista majoritários na CUT (praticamente reproduziram a tese da CUT Estadual) sobre a concepção de cons- trução da CUT, a Constituinte e os eixos cen- trais da atividade política do próximo perío- do.

No entanto, diferente de 86, quando se defrontaram com uma férrea oposição dos setores independentes expresso nas resolu- ções que chamavam a denunciar a Consti- tuinte fraudulenta de Sarney, aprofundar a luta dos trabalhadores contra o roubo sala- rial, unificar as campanhas salariais, cons- truir uma CUT independente e de classe etc, o congresso de 87 aprovou um conjunto de resoluções que borraram todas as diferenças anteriores, o que evidencia um profundo re- trocesso político dos setores agrupados na chamada CUT pela Base.

Constituinte e a defesa dos

"direitos" dos trabalhadores

A posição consensual entre as teses de- fendidas pela CUT pela Base, os 113 e a CS

era a de que embora a Constituinte fosse "burguesa", não podia ser "ignorada" pe- los trabalhadores e, portanto, colocava-se a necessidade de uma "pressão" sobre ela no sentido de garantir "conquistas mínimas", em particular o capítulo dos direitos dos tra- balhadores. Esta pressão se daria por meio de "caravanas a Brasília", concentrações na porta do Congresso", "divulgação dos nomes dos deputados que votassem contra os direitos dos trabalhadores" etc. A carac- terização copcreta da Constituinte não está em que ela e "burguesa" em geral (demo- crática), mas em que ela não é a expressão da "democracia revolucionária" o que, no Brasil de hoje somente poderia ocorrer como produto da revolução proletária e do governo operário e camponês, ou seja a atual Consti- tuinte não é democrática nem soberana. A Constituinte é um produto do"regime militar e como tal um instrumento do grande capital nacional, do imperialismo, do latifúndio e da camarilha militar. A essência das concep- ções democratizantes (defendida por todas as teses excessão da Alternativa dos.Traba- lhadores) está em desconhecer essa carac- terização concreta da Constituinte e procurar apresentá-la como uma arena neutra onde se digladiam os "trabalhadores" e a "burgue- sia" (ou para sermos mais concretos a es- querda da burguesia com o apoio do PT, dos PCs contra a direita) e onde a ocasional maioria direitista pode ser sobrepujada pela "pressão popular", ■'telegramas" etc. A conseqüência da caracterização marxista da Constituinte é que esta não pode ser trans- formada no seu contrário pela pressão, as- sim como é impossível transformar o caráter do Estado buguês (do qual a Constituinte é parte) pela pressão.

A garantia das "conquistas dos trabalhadores" na Constituinte

Os famosos "direitos dos trabalhadores" merecem também um comentário à parte. Na realidade, não há nenhuma "conquista" dos trabalhadores no projeto da Comissão d.e Sistematizaçâo. As duas questões que o PT; e a CUT procuram colocar em evidência (a garantia no emprego e a redução da jornada); constituem neste sentido, uma fraude total. A primeira porque é uma verdadeira mira- gem. Os patrões têm no próprio projeto uma série de salvaguardas para manter seus po- deres totais sobre os trabalhadores da sua fábrica (falta grave, conceituada em lei; jus- ta causa, baseada em fato econômico in- transponível, razão tecnológica ou infortúnio na empresa). 0 segundo (se for aprovado) significará praticamente o reconhecimento de um fato consumado, pois as principais

categorias já conquistaram a redução da jor- nada para 44 horas (que é o que prevê o tex- to). Não apenas isso, como o capítulo dos di- reitos dos trabalhadores que será votado no plenário prevê a intervenção do Estado nos sindicatos (a lei obriga a existência de sindi- cato único numa mesma base municipal e a arbitragem do Estado sobre esta questão), sendo que a própria aceitação de que o Esta- do burguês regulamente de alguma forma a organização dos trabalhadores e seus méto- dos de luta (direito de greve) é parte de uma concepção de Integração da classe operária ao Estado. Devemos denunciar o projeto co- mo o que ele realmente é: uma fraude políti- ca, que procura apresentar a desvirtuação de conquistas pré-existentes do proletariado como um resultado das instituições do regi- me democratizante.

Pressão parlamentar ação direta

A concepção de pressão sobre a Consti- tuinte para conquistar ai alguns pontos de uma legislação social que favoreça os traba- lhadores é antes de mais nada urn equívoco, Em primeiro lugar, não há nenhuma propos- ta de pressão real das massas sobre a Cons- tituinte. A pressão é evidentemente um ins- trumento legítimo dos trabalhadores sobre os patrões e o estado burguês na medida em que a classe operária trava lutas parciais (por reformas) em torno de reivindicações transitórias. A pressão é uma expressão da ação direta (uma greve, por exemplo, é uma pressão por maiores salários ou outra reivin- dicação, ela não parte em geral do principio de um combate mortal entre os trabalhado- res e os donos da empresa). A proposta aprovada no Congresso, no entanto, não prevê senão medidas de "pressão" de cu- nho parlamentar e eleltoreiro sobre a Consti- tuinte: publicar no boletim do sindicato o no- me dos parlamentares que votarem contra o projeto "para que não se elejam novamen- te", enviar telegramas aos deputados ex- pressando a disposição favorável da "opi- nião pública" ao projeto, caravanas de li- deranças sindicais a Brasília para demons- trar o repúdio do "movimento sindical", uma espécie de "lobby sindical", barulho nas galerias do congresso etc. Não há aqui nenhuma ação das massas para pressionar a constituinte, ou seja, a ação direta da classe operária como classe, mas a manifestação do operário concebido como eleitor e "cida- dão". Trata-se, portanto, de uma linha de ação contrária ao desenvolvimento da ação independente da classe operária e das mas- sas. Mesmo as reformas legislativas em favor

QUINZENA - Publicaçlo do Centro de Pastoral Vergueiro

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Quinzena

Tese p»f» • ^ Congreiso li» CUT

Reyiowl Grande SloP«lo ^Q^^liar

paraforta^e'"

•Gonstrwra CUT peía base

Trabalhadores

da classe operária náo são outra coisa que o subproduto das conquistas obtidas através da aç3o direta das massas: a ocupação das

^ fábricas diante das demissões, a ocupação das terras, a ação independente dos sindica- tos etc. Em segundo lugar, a proposta parte do pressuposto de que a Constituinte guarda uma ampla autonomia em relação ao Estado e que tudo se resume em modificar a opinião de alguns deputados e estes se colocarão contra toda a política do Estado burugês e sua estruturação, ou seja de que a consti- tuinte é efetivamente democrática e pode íransformar-se num instrumento de transfor- mação social (revolucionária) à partir da pressáo das massas. Ao mesmo tempo, as resoluções aprovadas (este é o posiciona1

mento do conjunto da CUT) não prevê a or- ganização de um poderoso movimento de lu- tas pelas reivindicações e necessidades mais imediatas das massas, antes, as lutas têm sido deixadas em total isolamento e não liá qualquier perspectiva de centralização. Esse é o balanço do ano de 87. 0 que se co- loca, neste momento, como forma de apro- veitar a votação na Constituinte, na medida em que esta possa ser efetivamente aprovei- tada, é a denúncia da fraude que está em curso na constituinte, o apelo à utilização da ação direta como única forma de conquistar as reivindicações e a estruturação de um Plano de Lutas contra o arrocho salarial e a perspectiva de demissões.

0 esvaziamento da Regional de São Paulo e o retrocesso político dos setores indepen- dentes agrupados na CUT pela Base tem si- do o resultado da violenta pressão que esses setores (particularmente metalúrgicos e químicos) tem recebido por parte da buro- cracia sindical e dos "quinta colunas" (PRC e DS) agrupados nessa articulação.

A incapacidade dos setores independen- tes de se opor a essa política (pressão sobre

# a constituinte, diretas 83, colaboração com o peleguismo) os tem tornado uma presa fácil desses agrupamentos que não guardam ne- nhuma diferença de princípios com a direção do PT que é matriz de toda essa política de- mocratizante. Acreditar que enfiando a cabe- ça debaixo da terra como no debate sobre as concepções de construção da CUT, as elei- ções metalúrgicas, pode se constituir numa saída à polarização no interior da central é um erro monumental. Não há meio termo en- tre as posições da direção do PT e a defesa da independência de classe do movimento operário e suas organizações.

0 PT deve abandonar a Constituinte

Diante do avanço da direita — que deixa

claro que está em marcha o rolo compressor para reverter mesmo as mais mesquinhas conquistas da esquerda na sistematização — os parlamentares do PT e os dirigentes cutistas falam em "não assinar a constitui- ção" se não forem aprovados os "direitos dos trabalhadores". Por si só essa formula- ção consiste em uma capitulação política: significa que os parlamentares petistas esta- riam dispostos a assinar (formalizar seu acordo geral) com uma constituição que legi- timasse o golpe militar e uma'constituiçâo de entrega nacional se os mesquinhos interes- ses da burocracia sindical estivessem tam- bém contemplados. Diante da inoperância e do descrédito da Constituinte e do seu cará- ter já demonstrado pela definição das linhas fundamentais da constituição, o que se colo- ca é que os parlamentares do PT lancem mão da única forma de denúncia real e abandonem a Constituinte já.

Tal medida cumpriria um papel muito mais educativo diante das massas (sobre as limi- tações das instituições da burguesia) que os "telegramas" e a "publicação no boletim do sindicato" dos parlamentares que votassem contra os "interesses" dos trabalhadores.

Essa ação deveria ser acompanhada do chamado a impulsionar unificar e centralizar um plano de lutas contra a ofensiva do go- verno e as manobras de tipo parlamentar que alimentam ilusões na satisfação das reivindi- cações dos trabalhadores dentro dos qua- dros da constituinte.

CUT pela Base; uma política de adaptação

0 congresso da CUT Regional da Grande São Pauio se deu num quadro de Profundo refluxo da entidade, que praticamente fe- chou para balanço após as eleições metalúr- gicas. As campanhas salariais mais impor- tantes desse final de ano foram o coroamento prático desse curso errático da CUT pela Ba- se em todo esse período (política seguídista e acrílica da greve geral do dia 20 de agosto, defesia das direitas em 88). Não houve greve em nenhuma das categorias operárias im- portantes sob a jurisdição da regional (ex- cessão dos Frios e das Bebidas) não por falta de condições objetivas, refluxo das lutas etc, mas por ausência de vontade política de unificação das campanhas salariais, de um claro comprometimento por quebrar a política de arrocho do governo (plano Bres- ser) diante de uma onda de greves estrondo- sa. Não é demais acrescentar que apresen- taram o acordo da Fiesp como uma vitória parcial! Esse é o resultado prático da política de que não é possível lutar por aumento de salário nos períodos de retrocesso da econo-

mia que levaram ao fracasso a campanha salarial dos Metalúrgicos do ABC e do Inte-' rior no início do ano e ao isolamento das campanhas e das lutas que ocorreram' du- rante todo o ano de 1987.

Folha de S.Pauto - 28.01.88

CUT "Na edição de 27 de janeiro, a

Kolha de S. Paulo divulgou uma chamada de capa onde dirigente dos bancários defende expurgo na CUT. Ouero registrar que em momento algum foi cogitado de se fazer expurgo na CUT, muito pelo contrá- rio. Na entrevista que foi gravada durante aproximadamente uma hnm no dia 23 passado (sábado), onde abordamos os mais diversos assun- tos, sempre ressaltei a importância da democracia. Na própria entrevis- ta transcrita pelo jornalista José Roberto de Toledo é explicado que os vanguardistas estão definindo seu espaço na CUT. Expurgo é típico de ditaduras, seja ela fascista ou stali- nista. Não é o nosso caso. Nós, que defendemos um sindicalismo de mas- sa combativo, democrático e classis- ta, sempre denfendemos que a demo- cracia levada às suas últimas conse- qüências interessa principalmente aos trabalhadores. Sempre defende- mos a unidade dos trabalhadores (é só ouvir a gravação da entrevista). E sempre defendemos a explicitação das posições tanto da esquerda como da direita. A verdade é libertadora e os trabalhadores, conhecendo a ver- dade, saberão através do voto demo- crático separar efetivamente o joio do trigo. Sou leitor e assinante da Folha, sempre defendi a ampliação do debate sindical e político nesse importante jornal. Reforço aqui mais uma vez minha posição de defesa de um sindicalismo que tenha como prioridade as questões salariais e de condições de trabalho, tendo como desdobramento a informação e con- cientização da classe trabalhadora, através de métodos amplamente de- mocráticos."

Gilmar Carneiro dos Santos, presi- dente eleito do Sindicato dos Bancá- rios de Sáo Paulo e diretor de Imprensa e Divulgação da CUT nacional (São Paulo, SP)

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Quinzena Trabalhadores

Folha de S.Paulo - 27.01.88

Dirigente bancário da CUT critica o vanguardismo' no movimento sindical

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO Do Reportagem local

Para o recém-eleito presidente do Sindicato dos Bancários de São Pau- lo. Gilmar Carneiro, chegou a hora de 'separar o joio do trigo" dentro da Central Ünica dos Trabalhadores (CUT Neste processo de seleção, segundo ele, que também é dirigente nacional da CUT. torna-se necessário ietnarcar as áreas de influência dos sindicalistas de 'vanguarda" —que priohzam a ação sindical como nstrumento de conquista do poder—.

o iiaqueles que enxergam, como Gilmar, os sindicatos como arma Dará a conquista de melhores salári- os e condições de trabalho, e estão iieados à direção da central. Mas a quesião e ■polêmica dentro da CUT". reconhece ele

Apesar de não dizer quem é o "joio"', que classifica como "o pesso- al mais raivoso, mais esquerdista", fica claro que Gilmar se refere, por exemplo, as tendências ligadas ao Movimento de Oposição Sindical Me- talúrgica de São Paulo (Mosmsp), ou à Chapa 2, derrotada no congresso da CUT em 1986. Representado pela Chapa 3 na última eleição para a diretoria do Sindicato dos Metalúrgi- cos de São Paulo, o Mosmsp foi derrotado pela chapa da situação, encabeçada pelo atual presidente do sindicato, Luis Antônio de Medeiros. Para Gilmar, é na faixa de sindicatos "vanguardistas" que a CUT corre os maiores riscos de enfrentar chapas de oposição "e inclusive perder as eleições".

Depois de consolidada como enti- dade representativa dos trabalhado- res —segundo ele, a maioria dos sindicalistas ligados à CUT passou da oposição para a situação nos direto- rias dos sindicatos—, a CUT deve agora definir seu projeto de sindica- lismo. Assim, o caminho a ser seguido, explica Gilmar, é o da luta por aumentos salariais e melhores condições de trabalho —o que define como "sindicalismo do massa" Exemplos são o Sindicato dos Meta- lúrgicos de São Bernardo do Cam- po/Diadema e o próprio Sindicato dos Bancários de São Paulo, os dois principais pontos de sustentação e referência da CUT.

"Sindirnlismo de mnsRii"

O contraponto entre o "joio" e o "trigo" fica ainda mais claro ao se recordar que nas últimas eleições nos sindicatos dos Bancários de São Paulo e dos Metalúrgicos de São Bernardo concorreram apenas as respectivas chapas de situação. Nes- ta definição do modelo de sindicalis- mo "cutista" os "vanguardistas" não estão perdendo lugar dentro da Central, explica Gilmar, mas defi- nindo seu espaço. Do outro lado, na

perspectiva do "sindicalismo de massa", a conscientização política é uma conseqüência das reivindicações salariais, que proporciona "formação e informação política para o traba- lhador", diz. Desta maneira, Gilmar considera que a imagem da CUT se consolidaria como uma Central "mais orgânica e quotidiana".

Faz parte desta imagem uma tática de luta que prioriza a negocia- ção —sempre municiada por infor- mações técnicas fornecidas pelo De- partamento Intersindical de Estatís- tica e Estudos Sócio-Econômicos íDieese1— com os empregadores e considera a greve como ultimo rf- curso. Exemplo disto é a camoanha salarial dos bancários cuia estraté- gia principni consiste om conversar com vários setores da sociedade. entre eles. políticos de diversos partidos, numa tentativa de 'ganhar a opinião pública" para as reivindi- cações do sindicato, Gilmar explica oue uma greve bancária podo pre";- aicar mais aos usuários que aos próprios banqueiros. Por isso. o sindicato procura ganhar espaço nos meios de comunicação para atingir a imagem publicitária do banco c criar um arma mais poderosa nas negoci- ações que a ameaça de greve.

■'Sindicnlismo d«' conquúita-

"Apesar da categoria estar mobili- zada para uma greve nacionai. não podemos ser dogmáticos e dizer que a greve sai em março de qualquer jeito", afirma, O presidente do Sindi-

cato dos Bancários ressalva que o "sindicalismo da CUT é um sindica- lismo de conquista", diferenciado do que ele chama de sindicalismo con- sentido. Para exemplificar o que diz, ele cita um levantamento feito pelo sindicato a partir de 1979, que demonstra que os anos em que os bancários obtiveram menores perdas salariais foram os anos em que houve greve.

Também por este motivo. Gilmar ressalta a análise de conjuntura como um ponto funda mortal nu campanha. Segundo eie. os banquei- ros estão em condições muito méiho. res para ceder às reivindicações da categoria este ano do que no ano passado O motivo, explica, e o simples fato de our os janho* de capital dos bancos os''-- ino são muito altos, a "x^mpio -io bíianco d" Bradesco, oue mdica um iucro de cerca de CTâ 15 bilhões Os bancos estão segurando a publicação dos balanços para não chocar a opiníu publica com o desempei.ho do siste- ma financeiro", arremata

Desta maneira. Gilmar considera que se os sindicalistas souberem trabalhar com esta conjuntura e criarem atividades de unificação e de sensibilização da opinião publica, antes de qualquer perspectiva de greve, as chances de se obter íianho^ salariais são maiores "Mesmo por- que, há um certo consenso de que esta política salarial é msustenta- veJ"

C.N.B.B. - Nov./87

A SERVIÇO DA VERDADE, DA JUSTIÇA EDA VIDA

O Conselho Permanente da CNBB, em sua 19a reunião ordi- nária, analisando a conjuntura pe- nosa que o Brasil atravessa, de- seja reafirmar sua esperança no processo democrático e na atua- ção da Assembléia Nacional Constituinte.

A Igreja, de há muito, assumiu posições públicas e notórias em favor das transformações indis- pensáveis para a consolidação de uma democracia amplamente participativa na qual todos, espe- cialmente os pobres e humilha- dos, tenham os seus direitos res- peitados e possam viver uma vida compatível com sua dignidade de filhos de Deus.

A elaboração da nova Consti-

tuição é o momento privilegiado para a criação de instrumentos jurídicos que abram caminhos para esse amplo processo partici- pativo e transformador, o que só será possível se os constituintes colocarem os interesses da Na- ção e o bem do povo acima dos seus interesses pessoais e de grupos ou blocos.

Conscientes de que nenhuma transformação social é sólida e duradoura se não fundada em grandes valores morais e religio- sos, a Igreja lutou pela defesa da vida contra os abortistas, pela defesa da família contra os divor- cistas, pela liberdade de ensino contra o laicismo estatizante, pe- la defesa de uma autêntica Re-

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''' Quinzena

Jü Trabalhadores

forma Agrária e justa distribuição do soio urbano, peia defesa dos direitos dos trabaihadores contra as discriminações, pela liberdade da atuação dos missionários, pe- la defesa de todos os oprimidos contra os interesses de privilegia- dos e corruptos.

Foi o instante para que se le- • vantasse contra ela uma reação

surpreendente num momento em que se pretende abrir espa- ços para o pluralismo democrá- tico.

Acusada de trair a soberania % nacional, a Igreja foi caluniada,

usando-se para isso de documen- tos forjados, e foi surpreendida pela divulgação de textos, onde sua atuação pastoral é distorcida como ingerência indevida nas responsabilidades do Estado.

Quanto à sua ação pastoral em favor das populações e regiões mais carentes, queremos lem- brar, neste ano de seca, o que dissemos em 1983 no documento sobre a realidade do Nordeste brasileiro: "O problema do Nor- deste não é sò a falta de água, de chuva ou a seca". Não é uma questão apenas climática, mas sim, uma questão política. Cons- tatamos, infelizmente que, quatro anos depois, praticamente nada mudou no que diz respeito á gra- ve situação do Nordeste.

Recordamos também que a Igreja tem repetidamente insisti-

Recordamos também que a Igreja tem repetidamente insisti-

^ do sobre a urgência e a abrangên- cia de uma autêntica Reforma Agrária. Prova dessa urgência é a multiplicação dos acampamen- tos e ocupações por parte dos agricultores sem terra. A doutrina católica não é contra a proprie- dade, mas sim a favor de que ela seja estendida a todos. Esta po- sição da Igreja é radicalmente di- versa da posição de pessoas e or- ganizações como a UDR (União Democrática Ruralista), que de-

• fendem como direito absoluto uma escandalosa concentração de terra pela apropriação de gran- des latifúndios, excluindo assim do acesso à propriedade da terra aqueles que querem dela viver e nela trabalhar. Estando essa ati- tude em clara oposição aos en- sinamentos sociais da Igreja, alertamos os cristãos a que não participem dessas entidades que, além do mais, vêm atacando sis- tematicamente trabalhadores ru- rais e religiosos e obstruindo o caminho da democratização da sociedade brasileira.

Quanto à ação missionária da Igreja, reafirmamos o seu com- promisso de apoiar e defender a vida em plenitude, particularmen- te a vida ameaçada dos povos in- dígenas. A eles renovamos a nos- sa solidariedade, na defesa in- transigente dos seus direitos. Alertamos para os perigos de uma integração forçada na socie- dade majoritária, onde fatalmente se encontrarão em condições de inferioridade, e estimulamos as comunidades indígenas a se or- ganizarem sempre melhor.

Aos missionários junto aos po- vos indígenas, todos integrantes do CIMl (Conselho Indigenista Missionário) - Bispos, sacerdo- tes, religiosos e leigos -, e a seus organismos de assessoria e ani- mação, em nível nacional e re- gional, manifestamos nossa ad- miração e apoio, incentivando-os, em nome de Jesus Cristo Liber- tador, a que não desanimem e não se deixem intimidar, pois as- sim como O perseguiram, tam- bém agora perseguem a Igreja missionária (Cf. Jo 15,20).

Especialmente a nosso irmão no Episcopado, Dom Aldo Mon- giano, Bispo de Roraima, alvo de calúnias absurdas, lamentavel- mente endossadas em documen- tos do Conselho de Segurança Nacional, queremos expressar nosso fraterno apoio, lembrando que o próprio Conselho de Defe- sa dos Direitos da Pessoa Hu- mana, órgão oficial do Ministério da Justiça, já o isentou de todas as acusações reiteradamente fei- tas: "Afasto, pois, em relação à Diocese de Roraima qualquer ou- tra inspiração que não a motiva- ção aqui exposta de evangeliza- ção", são os termos do relató- rio.

Apesar deste reconhecimento, permanecem expulsos os missio- nários arbitrariamente retirados do convívio das comunidades in- dígenas a que serviam.

A toda sociedade, em especial aos pobres da nossa terra, pedi- mos que não se deixem influen- ciar pela campanha contra os povos indígenas e a Igreja e man- tenham o espírito de Jesus Cristo que nos faz irmãos. Pedimos, ain- da, que em nome desta fraterni- dade assumam gestos concretos de apoio aos irmãos índios.

Os que lutam contra a atuação transformadora da Igreja não per- cebem, infelizmente, que cami- nham contra a história. Todos os povos que hoje atingiram níveis de decência democrática tiveram aue enfrentar as tentativas de

obstrução de seus esforços emancipadores. Nos países onde os canais democráticos foram abertos, esta emancipação se fez por via pacífica; onde eles foram obstruídos, ela se fez pela violên- cia revolucionária. Tentar repetir esta última experiência no Brasil é caminhar para uma insensatez absolutamente inútil e perigosa.

A Igreja lastima a distorção maliciosa de suas intenções. Consciente de suas humanas limitações, procura empenhar-se sinceramente, mesmo se através de métodos e de estilos diferen- tes, na promoção das justas transformações que preparam um Brasil digno e saudável. Seu empenho não se alimenta em pretensões de prestigio ou de poder, nem se inspira em ideolo- gias, mas se funda na sua fé em Deus, na sua fidelidade ao Evan- gelho e no reconhecimento da dignidade da pessoa humana e do valor de uma convivência so- cial fraterna.

Brasília-DF., 27 de novembro de 1987

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Quinzena Trabalhadores.

AGEN - 14.01.88

IGREJA CF/88 denuncia opressÜD sobre os negros

Brasília (AGEN) - A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Igreja Católica, intensifica os preparativos para o lançamento, no próximo dia 17 de fevereiro, da 25§. Campanha da Fraternidade, cujo tema deste ano é "A Fraternidade e o Negro", com o tema "Ouvi o clamor deste povo". O motivo imediato deste tema e a ocorrência, neste ano, do centenário da aooliçâo legal do trabalho escravo no Brasil, com a Lei áurea, decretada em 1888 pela Princesa Isabel. Por todo o país, nas comunidades de base, dioceses e paróquias, ocorrerão eventos ligados à problemática enfrentada pelo povo negro no Brasil, denunciando-se o mito da democracia racial brasileira.

O texto-base da CF/88 caneca com uma autocrítica da Igreia Católica ao reconhecer que "nem sempre tratou a situação vivida pelos negros com a devida atenção evangelizadora". A IC diz que pretende tratar este tema "fiel à sua missão, na oração e na reflexão, no estudo e no diálogo, em espírito de penitência e busca da verdade que liberta". Outros três pontos são propostos, neste texto, como premissas para a Campanha: 1. O passado escravista não pode ser julgado com os critérios do presente, mas os seus traços "permanecem ainda hoje e são contrários à dignidade do homem, à fraternidade e à justiça"; 2. A marginalização da comunidade negra, por mais séria que seja, faz parte de um todo social e não pode ser tratada de modo isolado. O tema da CF deve ser, assim, tratado como eixo gerador e motivador da luta pela evangélica transformação da estrutura social injusta vigente no Brasil.

Ver

Na primeira parte do texto-base, é apresentado um panorama sobre a população negra no Brasil. Os dados estatísticos indicam que aproximadamente 43% do conjunto da população brasileira é formada por negros ou têm negros em sua ascendência. Estimativas mais recentes avaliam que, dos 140 milhões de brasileiros, cerca de 60 milhões são negros. O Brasil, diz o texto, é o segundo país do mundo em população de origem negra, superado apenas pela Nigéria. No plano sócio-econômico, segundo este estudo, há práticas racistas e discriminatórias contra o negro brasileiro

no trabalho (os brancos representam 57% da força de trabalho e ficam com 72% do rendimento, enquanto os negros e pardos representam 40% da força de trabalho e ficam apenas com 25% do rendimento), na

remuneração e na pirâmide social como om todo.

Há, também, preconceitos e discriminação no campo escolar e cultural. A mulher negra e particularmente oprimida "desde a colônia ate os nossos dias" e constituem as vítimas mais freqüentes dos estrupos, espancamentos e outras tantas violências". Elas sofrem uma tríplice discriminação, enquanto mulheres, enquanto pobres e enquanto negras, diz a CNBB no texto-base. A famalia neara também sofre ainda hone as marcas da escravidão.

Logo depois, o texto-oase apresenta dados históricos sobre a escravidão negra no Brasil e a luta dos povos negros pela liberdade, destacando o papel dos quilcmbos e a saga libertadora de Zumbi dos Palmares. Quanto ao papel da Igreja Católica, em termos históricos, diante da escravidão, a abordagem e corajosamente autocrítica.

Julgar

A "reação do homem de fe" diante desse quadro, diz a CNBB, "produz uma comoção profunda" e "suscita uma indignação ética e uma mobilização de caridade, na esperança de conseguir a mudança dessa situação". São citados vários trechos bíblicos nos quais a escravidão e repudiada, no contexto de toda a opressão do Povo de Deus. Por ultimo, neste julgamento, o texto afirma que " o sofrimento, a discriminação e a marginalização vividas pela grande maioria da comunidade negra, ao serem assumidas pela CF/88, tornam-se mediação favorável, momentos de graça que a Igreja do Brasil acolhe em sua caminhada de conversão, em direção aos mais pobres"; E enfatiza: "Constituída por pessoas de todas as e etnias, povos e nações, a Igreja reconhece a incoerência de suas atitudes com relação ao negro, no passado e assume, com redobrado empenho, a nobre luta pela justiça e contra qualquer tipo de preconceito, racismo ou discriminação.

Agir

A terceira parte do texto-base volta-se para "ações concretas que viabilizem este

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Trabalhadores

processo libertador através de sinais visí\zeis de conversão, justiça e fraternidade". Quatro "critérios" são apontados nesta perspectiva: conversão da mentalidade escravista, valorizar a mensagem bíblica da libertação, opção pelos pobres e assumir a ótica do pobre. Outras sugestões são de índole interna à Igreja (pedir perdão, perdoar, superar sinais de racismo na Igreja, prcmover e apoiar grupos negros, libertar agentes de pastoral negros, promover na liturgia a cultura e a causa

negra, incentivar o dialogo religioso com os cultos afro-brasileiros e destinar os recursos da coleta financeira da CF aos

negros mais empobrecidos e associações que prcrrovpm a causa negra) e de caráter social,

Neste campo, a proposta é a de promover "a caridade político-libertadora" visando mudanças profundas na sociedade brasileira, além da revisão da linguagem e de atitudes preconceituosas, releitura da história e solidariedade com os negros de outros países.

A CNBB sugere, ainda, que seja estudado o texto da nova Constituição sobre os direitos dos negros e de outros grupos étnicos e minorias.

0 Liberal - 08.01.88

Grupo mascarado invadiu a cidade de Moju

deegacia e casa destruídas Por volta das dez horas da manhã de

ontem, cerca de cem homens armados cora espingardas cartucheiras (de caça), invadiram o município de Moju, com 15 mil habitantes e a 70 km de Belém. Eles chegaram em caminhões e, numa ação ordenada, dispersarara-se em grupos pela pequena cidade. Quase que simultaneamente destruíram o posto telefônico da Telepará, invadiram e destruíram a delegacia e em seguida incendiaram a casa de Claudiorairo Barbosa, dono da fazenda "Terra Vista".

Apesar de alguns estarem encapuzados e com o rosto encoberto cora pó de carvão, a população não tem dúvidas de que os invasores partiram da colônia de Jambuaçu. Situada a poucos quilômetros de Moju e à beira do riacho de mesmo nome, Jambuaçu vive um longo conflito de terra. A revolta teve como estopim o desaparecimento do lavrador conhecido como Canindé, que reagiu a uma tentativa de grilagera de sua terra. 0 desaparecimento foi atribuído a pistoleiros comandados por dois capangas de Claudionor Barbosa, Alvim e Augustinho.

Quarenta e dois policiais, deslocados de Barcarena e Belém, chegaram ao Moju,

garantindo a segurança da população. 0 tenente Reis, que comandava o efetivo, garantiu que a situação estava controlada e que seus comandos deveriam permanecer na cidade por alguns dias, como precaução.

Conflito

Depois de anos ocupando a colônia de Jambuaçu, os posseiros há seis meses foram surpreendidos cora a presença de homens armados em suas terras. Os pistoleiros abriam picadas e a demarcavam, mandados por Claudionor Barbosa, q que contaria com a cobertura do sargento Modesto, conhecido como "Pezão". 0 lavrador Canindé na última terça-feira desapareceu, depois de reagir à ocupação de sua terra. Ele teria sido seqüestrado e em seguida morto. 0 episódio de ontem seria a reação dos colonos à notícia de que os 10 hectares restantes da colônia seriam invadidos e as 150 famílias expulsas.

A invasão

A invasão da cidade foi feita de forma organizada. As 10 horas, 2 caminhões estacionaram perto da praça central, em frente à Prefeitura e, em grupos, os lavradores distribuiram-se pelas ruas, com tarefas distintas. Oito deles, armados com cartucheiras, ficaram encarregados de arranjar gasolina, mas principalmente

assaltaram o mercadinho "Só Carne", ao lado do rio Moju. Quatro deles ficaram fora do estabelecimento, enquanto os demais rendiam o gerente Jacob Sarrafo e o funcionário Edilson Silva, sob a ameaça das armas,

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Edilson ainda chegou a reconhtcer um dos que ficaram do lado de fora, de nome Nelson, que tinha sido seu amigo de infância - o que o livrou de ser morto, pois esboçou reação. Do mercadinho levaram seis galões vazios de cinco litros e era seguida dirigiram-se ao vizinho posto de gasolina "Mojuense". Lá ordenaram que o funcionário José Maria Nogueira os enchesse desta vez sem nenhuma ameaça. Foram 28,7 litros, informou José Nogueira, que não reclamou em nenhum momento do prejuízo de Cz$ 1.158.00.

Neste meio tempo a delegacia local era invadida, assim como o poeto da Telepará. Os cinco telefones foram destruídos à tiros, que conseguiram fazer um enorme rombo na parede, e os funcionários muito assustados, em nenhum momento foram molestados. Já no interior da delegacia, encontravam-se o comissário Edwaldo Gomes Silva; o soldado Humberto; o delegado distrital da vila de Pirateua, Isaias; os presos Domingos e Cleo, e o escrivão Altino da Silva.0 Sargento Azevedo, que ontem assumiu o posto no lugar do sargento Modesto, não se encontrava, assim como o delegado Daniel Brandão, que desde a terça-feira não voltou de Belém. Foi o filho de Azevedo, Edson Lobato, que chegou dando o alarme de que vários homens armados caminhavam em direção a delegacia. Ao verem o número de homens armados - uns cinqüenta, garantiu Edwaldo Silva - os policiais e presos fugiram pelo quintal, pulando o muro.

No interior da delegacia nada restou. Ela teve os seus móveis, arquivos de processos, instalações elétricas e encanamentos totalmente destruídos. A tentativa de incendiá-la, foi frustada pelas latas de água jogadas pelos moradores da rua Sete de Setembro, onde a delegacia se situa. 0 que restou, como botijão de gás, redes de dormir, fogão etc. foi saqueado por populares. Somente o prédio ficou em pé.

A mesma sorte não teve a casa do fazendeiro Claudionor, na rua Lauro Sodré. Raimundo Lobato, morador vizinho à casa, assistiu à depredação e posterior incêndio. Conta ele que somente os filhos do fazendeiro se encontravam ali, mas logo fugiram. Depois de depredar o interior da casa, chegaram os oito lavradores encarregados de arranjar a gasolina, se juntaram aos demais e passaram ao incêndio. Além de quebrarem tudo o que viam pela frente, os lavradores puseram ao chão os muros, cercas e paredes. Ficou apenas a

cozinha e um compartimento sobre ela, que mesmo feito de madeira, resistiuao fogo.No quintal, um porco dormindo no chiqueiro e dois cachorros amarrados sobreviveram à ira dos lavradores.

0 comissário Edwaldo Silva não hesitou em acusar o fazendeiro Claudiomiro e seus dois funcionários, Alvim e Augustinho, como os principais responsáveis pelas depredações de Moju. Os três, conforme ele, há muito vinham aterrorizando a cidade, com a conivência do delegado Daniel Brandão e do sargento Modesto, - este já substituído - coro tiroteios, violências gratuitas além de serem acusados de vários assassinatos não esclarecidos.

Os pistoleiros de Claudiomiro costumavam promover tiroteios pela cidade, quando embriagados. A ação da policia local limita-se a apeender as armas e entregá-las de volta no dia seguinte. 0 assassinato de Clemente Lucas da Silva Filho, o "Quelezinho", ocorrido no dia 25 de dezembro, até hoje não foi esclarecido, fato que costuma acontecer em Moju. Até domingo passado estavam presos Raimundo Silva e um indivíduo conhecido como Canindé, sob a acusação de roubo. Conta Edwaldo, que na segunda-feira já não os encontrou nas celas. Ao indagar sobre eles ao sargento Modesto, recebeu a resposta que ambos haviam sido levados para um interrogatório, fora da delegacia, quando um fugiu e outro foi simplesmente mandado embora.

0 prefeito de Moju, Benedito Azevedo Teixeira, o "Didi" Teixeira, negou ter conhecimento das atrocidades cometidas por Claudiomiro seus pistoleiros. Na ocasião da invasão, ele não teve condições de pedir reforços, mas atribui Instituto de Terras do Pará a responsabilidade pelos incidentes que ocorrera em Moju. "0 Iterpa não toma conhecimento dos conflitos e a situação está se agravando", afirmou.

0 deputado estadual João Batista, líder da bancada do PSB, acusou em Belém o prefeito Benedito Teixeira de conivência cora as arbitrariedades do sargento Modesto e do fazendeiro Claudiomiro. Mas num ponto o deputado e o prefeito concordara: a negligência do Iterpa, era relação aos problemas de terra em Jambuaçu. Há vários meses os lavradores vinham pedindo providências e uma solução para os conflitos.

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MASSACRE DOS GARIMPEIROS

DE SERRA PELADA

Cronologia dos fatos

28/12/87

- Por decisão tarada numa assembléia, em Serra Pelada, mais de 1.500 garimpeiros (alguns jornais falam da 3.500 a 4.000) bloquearam a ponte sobre o rio Tocantins, no Pará, a 2Km de Marabá, interrompendo o tráfego de veículos e trens de minérios e passageiros ds Ferrovia Carajás, para chamar a atenção das autoridades sobre seus problemas e reivindicações.

Reivindicações dos garimpeiros:

- Pagamento de 55 milhões de cruzados referentes a paládio e prata devidos pela Caixa Econômica Federal para a Cooperativa adquirir maquinas a fim de rebaixar as paredes que cercam as "cavas" (buraco aberto para escavação do ouro), para segurança na garimpagem (dezenas de pessoas têm morrido nos desabamentos dos barrancos).

- Ampliação da reserva garimpeira paea 650 hectares.

- Anulação dos direitos de lavra da Companhia Vale do Rio Doce.

- Investimentos na infra-estrutura de apoio à Serra Pelada para consolidar o povoado que já tem cerca de 80 mil habitantes.

* Essas reivindicações foram apresentadas ao ministro das Minas e Energia, em documento entregue no dia 17 de dezembro, não obtendo nenhuma resposta.

* (O advogado da Cooperativa dos Garimpeiros, Sérgio Couto, disse em Belém que o Banco Central desviou 12 toneladas de ouro depositadas na Casa da Moeda e repassadas ao Morgan Guaranty Trust CO. de Nova York, através da Praça de Londres. Segundo Sérgio Couto, há 1752Kg de paládio, 374,11Kg de prata e 873 Kg de ouro no Banco Central, que seriam suficientes para quitar a dívida da Cooperativa, atualmente em 350 milhões de cruzados).

- Na noite do dia 28/12/87 começaram as negociações na sede da Prefeitura de Marabá, entre garimpeiros e autoridades federais, sob a mediação do governo do estado e do município.

29/12/87

- Por ordens diretas do governador do Pará, Hélio Queirós, uma tropa de 360 soldados da Polícia Militar do Pará cercou, pelos dois lados, a ponte ocupada pelos garimpeiros e coneçou a disparar em direção a hcroens, mulheres e crianças que estavam enfileirados para o jantar. Oficialmente, divulgou-se que houvera duas mortes, embora a própria PM admitia que tinham sido três. Imediatamente, constatou-se o desaparecimento de mais de 70 pessoas. Várias testemunhas dizem que ha dezenas de mortos, chegando, talvez, a uma centena, inclusive de pessoas que se atiraram da ponte para escapar das balas da policia. Posteriormente, os jornais divulgaram o número de 133 desaparecidos. Ha dezenas de feridos à bala e espancamento.

- 0 coordenador da Cooperativa de Garimpeiros de Serra Pelada, Nelson Marabuto, afirma que "todos os esforços foram feitos para que o governador Hélio Gueiros adiasse a execução de suas ordens", enquanto era assinado o acordo que levaria os garimpeiros a desobstruírem a ponte, mas "Gueiros não quis dar prazo algum".

30/12/87

- Jornalistas de Marabá denunciam que estavam sendo impedidos de se aproximar da ponte onde, segundo testemunhas, há muito sangue.

02/01/88

- Governador Hélio Gueiros assume a responsabilidade pela ação da polícia militar, tentando justificá-la.

- Um relatório do Delegado da Polícia Federal, Wilson Perpétuo, confirma que a PM fez um massacre, ao atirar indiscriminadamente contra os garimpeiros e levantou a possibilidade de haver de duas a três dezenas de mortos. "Se a ação da PM fosse atrasada em duas horas, os incidentes não teriam ocorrido".

- O ministro da Justiça, Paulo Brossard, diz à imprensa que o governador do Pará recusou a colaboração da Polícia Federal;

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critica o fato de a polícia ter encurralado os garinçeiros pelos dois lados da ponte, nas acaba justificando a carnificina, censurando a ação dos garinpeiros. E afirma que não determinará a abertura de inquérito para apurar o caso, por considerá-lo de competência do governo do Pará (em outras palavras: os criminosos que devem investigar seus próprios crimes).

05/01/88

- O deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ) apresenta, no Congresso Nacional, requerimento propondo a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar o massacre e os responsáveis. Deverá ser apurada, também, a informação do Delegado da Polícia Federal, Wilson Perpétuo, de que a ordem para desocupar a ponte partiu do ministro da Justiça, Paulo Brossard, e a participação do governador do Pará.

- A deputada Irmã Passoni (PT-SP) propõe o afastamento do governador Hélio Queirós, responsável pelo "assassinato coletivo".

- Houve várias manifestações em frente à Associação de Garimpeiros.

- Uma comissão da garimpsiros vai a Brasília, tentando liberar recursos para início das obras no garimpo de Serra Pelada.

- Respondendo a um telex da CPT Nordeste III e do Secretariado Nacional desta entidade, o governador Hélio Queirós desvia-se do assunto, com um rosário de adjetivos contra o coordenador da Junta Interventora da Cooperativa de Serra Pelada e termina por se comparar ao Cristo crucificado.

06/01/88

- O ministro do Interior, João Alves, recusa-se a receber uma comissão de garinpeiros que o procurou para conversar sobre os acontecimentos da ponte.

- O governador do Pará recebe várias mensagens de entidades, repudiando seu ato e exigindo sua renúncia ao cargo.

- O ministro João Alves afasta do cargo o presidente da Junta Interventora da Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada, por este ter atacado o governador Hélio Queirós, em entrevista a Folha de São Paulo, responsabilizando-o pela chacina contra os garinpeiros.

07/01/88

- O Congresso Nacional adia a votação do requerimento do deputado Vivaldo Barbosa, solicitando, instalação de uma

CPI para apurar a carnificina dos garimpeiros de Serra Pelada. As manobras para impedir a imediata votação do requerimento foram cctnandadas pelo líder do PMDB na Câmara, deputado íbsen Pinheiro.

- 0 líder dos garimpairos de Serra Pelada, Vítor Hugo Cardoso Rodrigues, acredita haver de 40 a 50 cadáveres de garinpeiros.

- As 16:15 hs desse dia, um desabamento na cava matou o garimpeiro José Miguel Neto, de 25 anos.

- A Anistia Internacional, em Londres, divulga nota dizendo estar preocupada com a violência da PM contra garinpeiros. Pede ao governo federal uma investigação, se possível, sob a responsabilidade do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. E pede, ainda, que seja esclarecido o motivo do uso da força policial que, segundo o artigo 3^ do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (adotado pela ONU), esses so podem empregar a força quando estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento de seu dever.

- 0 deputado José Domingos Scarpelini (PMDB-PA) pede intervenção federal no estado, por abuso de autoridade do governador "que deve ser responsabilizado publicamente pelo crime que cometeu".

- A emissora de rádio FM de Serra Pelada divulga, periodicamente, uma relação de 93 garinpeiros que não retornaram depois do massacre.

- Cria-se uma comissão formada por membros de partidos políticos e entidades, para fazer uma investigação independente sobre o crime, colhendo depoimentos em Marabá e Serra Pelada.

DEPOIMENTOS INDICAM DEZENAS DE MCRTOS

- O correspondente do jornal "O Liberal',' em Belém, disse ter fotografado pelo menos 8 corpos de pessoas que se jogaram da ponte e caíram sobre as pedras da margem do rio Tocantins. Um PM tomou-lhe o filme que inutilizou em seguida.

- Antônio Bernardo Pereira, garimpeiro, viu um tenente e dois soldados colocando três corpos dentro de um bagageiro inferior de um ônibus da empresa Transbrasiliana.

- Outro garimpeiro, Manuel Rosa de Oliveira, testemunha que um grupo de 3 policiais passou por ele, dizendo que se limitaria a "ver um pouco essa ponte". Dez metros depois, os 3 disparavam suas armas

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Trabalhadores

Dois cadáveres cairain entre o asfalto e os trilhos.

- Segundo um outro garimpeiro, a ordem do fogo partiu de um tenente "alto, franzino, sem bigodes, moreno claro, aparentando 30 anos". O pânico gerado entre os manifestantes encurralados, inclusive mulheres e crianças, levou vários deles a

• se atirarem da ponte.

- 0 garimpeiro Ataliba da Silva Leite disse que, correndo em direção ao gradil, um grupo ficou sem saída, recebendo tiros que atingiram um dos líderes, Antônio

• Carlos Ferreira. A PM o retirou ferido do local e até 8 dias depois, ainda não tinha aparecido.

- Francisco do Nascimento conta que tentou socorrer um menino de 6 anos, que estava tonto por causa das bombas de gás lacnmogênio. Não conseguiu, devido aos gases de uma outra bomba jogada. Pouco depois, o garoto, aparentemente desmaiado, era atirado ao rio por dois policiais.

- Duas testemunhas viram uma mulher • grávida ser baleada.

- Um grupo conseguiu fugir para um terreno baldio nas extremidades da ponte, mas foi encurralado por PMs, que atiraram pela frente e por trás.

- Antônio Ribeiro Gomes viu uma Kombi da Polícia retirando quatro cadáveres do local. Disse também que viu o cabo Lima ordenar que 9 corpos fossem colocados no bagageiro de um ônibus. Quando foi ao hospital, tentar recuperar os corpos, a enfermeira informou que só havia um; que os outros, a FM tinha retirado, depois de apagar as luzes do necrotério.

- Um garimpeiro foi sepultado clandestinamente no cemitério de Marabá. Há hipótese de que era um dos feridos com gravidade, retirado do Hospital, pouco depois de morrer.

- Segundo Nelson Marabuto, um ônibus saiu do local, ocupado cem 50 feridos à

• bala.

- Alzira Colli Damasceno disse que viu um caminhão cheio de PMs, que desembarcaram atirando num grupo de garimpeiros que tentavam escapar pelo mato e 3 caíram mortos (isso foi a 2 Km do local do massacre).

- Wilson Perpétuo, Delegado da PF, disse que viu, em Marabá, no dia seguinte ao massacre, 3 corpos sendo velados na capela do hospital: um garimpeiro, uma mulher grávida e uma criança, (esses três mortos não constam da lista fornecida pelo

• governo do Pará).

- A professora Maria Leni de Carvalho conta que o garimpeiro conhecido como "Fininho" sentou-se ao chão, colocou as mãos na cabeça e caiu morto, com um tiro nas costas e outro no olho.

- No rio Tbcantins, 45 Kms abaixo de Marabá, apareceram boiando, 5 cadáveres. Um pescador informou ao posto da PM local. Logo, chegava um destacamento policial para recolher os corpos e "tocar fogo nas casas, se alguém abrir o bico".

Na madrugada seguinte, apareceram boiando 6 cadáveres. Os mortos foram recolhidos. Um morador telefonou para a P.F. Quando os agentes federais chegaram, uma terceira leva de mortos já tinha sido rapidamente recolhida e sumida pela PM.

Dois marisqueiros viram 5 corpos [junto a ama das extremidades da ponte e foram ameaçados de terem o mesmo destino, se falassem.

- Um garimpeiro que tinha ido ouscar carne, ao voltar à ponte, v:iu que ela estava bloqueada pela PM a tinham começade os tiros. Eie entrou por uma estradinha de terra e, da beira do rio, viu muita gente pulando ou se deixando cair. "Não contei direito, mas foram mais de 40 e menos d? 60".

- Paulo Rodrigues conseguiu salvar-se ao cair da ponte e viu "muitas pessoas girando oom a correnteza, sendo levadas pelo rio e se afogando devagarinho".

- Maria de Nazaré Sousa Chaves diz que "Buchudinha", una mulher de uns 18 anos, levou iam tiro e um soldado empurrou-a no rio.

- Várias pessoas afirrtv?m que entre os que estavam na ponte, uns 400 não eram garimpeiros. Ou estavam passando nos ônibus ou eram moradores das proximidades que foram até lá.

- Rumores falam do transporte de cadáveres para sepulturas clandestinas em Carajás ou camuflagem de cadáveres em covas do próprio cemitério. Havia marcas de coturnos no cemitério, 12 horas após o massacre.

- Um garimpeiro de nome Francisco, no dia 30/12/87 disse a TV Liberal, em Belém, ter visto 8 cadáveres e que podia reconhecer os oficiais da PM que comandaram a operação. Dois dias depois, um grupo à paisana cercou Francisco e o matou a pauladas.

- A população de Marabá encontra-se num estado de silêncio aterrorizado.

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^ Trabalhadores

GREVES EXÉRCITO REPRIME EM VOLTA REDONDA (RJ)

0 Exército ocupou a Usina Presidente Getúlio Vargas, da Companhia Siderúrgica Nacional. As tropas do 225 Batalhão de Infantaria Mobilizada do Exército ficaram no local desde dia 14/01 até o encerramento da greve no dia 19/01. A greve foi realizada pelos trabalhadores das empreiteiras que operam na Usina, cerca de 60, com um total dt 5 mil traba1hadores. Após 8 dias de paralisação foi fechado um acordo que garanta um piso salarial para serventes e ajudant :s de CZS 6,8 mil (antes er-, de CzS 4,5 mil) e o de profissionais variará de CZ$ 11,9 mil à CZ$ 16,2 mil. Quem já ganha acima do piso terá 25% de aumento.

VIGILANTES EM GREVE

Após um dia de greve, os 300 vigilantes da S. Jobim de São Paulo(SP) retornaram ao trabalho. A empresa prometeu atender as 5 reivindicações: pagamento correto das horas extras, depósito do FGTS, pagamento das diferenças salariais, estabilidade para a comissão de negociação e incidência das horas extras nas férias e 139 salário.

IDEATEX PÁRA EM SXO PAULO

Os 500 trabalhadores, da categoria dos Borracheiros de São Paulo entraram em greve no dia 19/1 reivindicando aumento real de 40%, enfermaria de plantão, e vários itens para a melhoria das condições de trabalho. A fábrica fica situada no

bairro do Ipiranga, e a maioria dos trabalhadores

é mulher

GREVE NA BORDON DE PRESIDENTE EPITÂCIO (SP)

Os trabalhadores do Frigorífico Bordon entraram em greve no dia 18/01 reivindicando aumento salarial de 75%, e 100% na sobretaxa das horas extras. A assembléia que decidiu a greve contou com a presença da CUT, do PT. A greve terminou no dia 20/01, com a assembléia aceitando retornar ao trabalho para reiniciar as negoc iaçòes.

METALÚRGICOS DE BAURU (SP)

Os 150 operários da Promog, empresa fabricante de destilaria, pararam no dia 13/01 exigindo o pagamento da segunda parte do 13? salário e de 70% do mês de dezembro.

METALÚRGICOS DA FRIULIN PARAM

Os operários da Friulin, em Mauá (SP)entraramem greve no dia 11/01 reivindicando 6 meses de estabilidade e 60% de aumento. A fábrica tem 150 operários.

PATRÃO RECEBE O TROCO

Cerca de 30 trabalhadores da Transportadora Real em São Paulo (SP) entraram em greve no dia 12/01 protestando contra a atitude da Empresa de punir os trabalhadores descontando a quantia de CZ$ 565,00 dos salários por causa do furto de uma caixa de confecções que sumiu durante o transporte.

PORTUÁRIOS DE SÃO SEBASTIÃO (SP)

Terminou no dia 14/01 a greve dos 143 trabalhadores do porto de São Sebastião iniciada no dia 13/01. A reivindicação dos

trabalhadores é a de aplicação da lei que garante a condição de funcionários portuários para eles. A greve terminou com a aceitação em assembléia da proposta feita pelo Estado de volta imediata ao trabalho e formação de uma comissão paritária.

GREVE NA TUSA EM SÃO PAULO

Durou menos de dez horas a greve de advertência dos 1,2 mil motoristas e cobradores da Empresa de Ônibus Tusa que serve bairros da Zona Norte de São Paulo. A CMTC colocou 177 ônibus para substituir os ônibus parados, sendo que os trabalhadores apedrejaram um deles. A reivindicação dos grevistas é o pagamento de horas-extras e o respeito às folgas e horários de trabalho. Com o final da greve a CMTC ficou de fazer auditoria na Empresa para apurar as irregularidades, o que não garante nada, pois a CMTC é subordinada ao Prefeito Jânio Quadro que mantém uma aliança com os Empresários de transportes na capital.

BELO HORIZONTE FICA SEM ÔNIBUS

No dia 16/01 os trabalhadores do transporte coletivo de Belo Horizonte entraram em greve. A partir da zero hora começaram os piquetes nas portas das garagens, que resultou em seis ônibus depredados e dezenas de outros com os pneus furados. Os trabalhadores reivindicam 100% de reajuste. Atualmente um motorista em BH ganha CZ$ 13,7 mil. No seu primeiro dia a greve esvaziou-se, o que levou a um acordo que garantiu um reajuste de 47,16%.

TRANSPORTE COLETIVO PARA EM JOÃO PESSOA (PB)

A frota de trezentos ônibus, que transporta diariamente 400 mil pessoas na capital

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Quinzena Trabalhadores

do estado ficou parada a partir do dia 16/01. Os trabalhadores em greve reivindicam antecipação de 40% de reajuste que deverão ter na data do dissídio da categoria em julho próximo. Hoje os motoristas ganham

4 Cz$ 12 mil e os cobradores a metade.

INTERVENÇÃO NO TRANSPORTE COLETIVO DE FORTALEZA

^ Foi a mais longa greve da história dos Transportes urbanos em Fortaleza (CE). Os trabalhadores reivindicam 33% de reajuste, o que foi aceito pelos empresários, com a condição de que se repassasse o aumento para a tarifa. A prefeita petista só decidiu conceder reajuste nas tarifas somente com a

♦fiscalização nas empresas, para saber os componentes da planilha de custos elaborada pelos empresários. Criado o impasse, pois os empresários não permitiram a fiscalização, a solução tomada por Maria Luiza foi a intervenção.

MÉDICOS CEARENSES EM GREVE

Reivindicando ganhar entre CZ$ 50 mil a CZ$ 75 mil, faixa dos médicos do estado e do município de Fortaleza os profissionais que ganhara hoje Cz$ 22 mil.

POR EQUIPARAÇÃO GREVE NA RHODIA NORDESTE

A unidade da Rhodia, situada * na cidade do Cabo (PE) é a que tem os menores salários comparada com as outras unidades da empresa no restante do país. Os 734 trabalhadores da empresa entraram era greve no dia 20/01 para raudar este quadro. Reivindicara hora extra em dobro, pagamento de 80% de adicional para revezaraento de turno, mais índices de periculosidade e de insalubridade a serem

0 fixados depois de perícia técnica, além da equiparação

salarial cora as outras unidades da Rhodia. Para se ter uraa idéia do abuso da multinacional, um operador de produção na Rhodia de Caraaçari (BA) ganha CZ$ 29 mil, sendo que a mesma atividade no Cabo (PE) percebe apenas CZ$ 10 mil.

SERVIDORES DA SAÚDE PARAM NA BAHIA

Os quase 25 rail funcionários da saúde do Estado e da Prefeitura de Salvador começaram a parar gradualmente os serviços, exigindo isônoraia salarial com o pessoal da previdência, a partir do dia 15/01.

MÉDICOS BAIANOS

Os médicos baianos servidores estaduais e municipais de Salvador estão em greve desde o dia 16/01 reivindicando equiparação salarial com os médicos do Inamps, o que significa um aumento de mais de 100%.

USINA EM GREVE

Os trabalhadores da Usina Siderúrgica da Bahia entraram em greve no dia 12/01 reivindicando a aplicação imediata do plano de cargos e salários, aprovado pela diretoria mas sem autorização do Conselho Interministerial de Salários das Estatais. A greve até o dia 15/01 já havia causado um prejuíso de CZ$ 8 milhões à empresa.

UNIVERSIDADES FEDERAIS

No RJ os 9.135 servidores da Universidade Federal (UFRJ), representados em assembléia por cerca de 1,5 mil trabalhadores, decidiram retornar ao trabalho no dia 13/01 encerrando assim a greve iniciada em 19/11/87. Apesar de não obterem conquista, a volta ao trabalho foi decidida pois a maioria das Universidades Federais em greve já havia voltado ao trabalho.

PIQUETES SOBRE AS ÁGUAS

Utilizando lanchas para interceptar os navios de carga em autênticos piquetes sobre as águas, o Sindicato dos Fluviários de Porto Alegre(RS), apoiado por pequenos proprietários de barcos, está conseguindo quase 100% de adesão a greve contra as grandes empresas que monopolizam o comércio de areia e cascalho no Sul. Os fluviários, que são cerca de 300 trabalhadores nos 150 barcos, exigem o cumprimento de ura acordo firmado em março/87 que estabelece CZS 7 mil de piso salarial, mais insalubridade c 90 horas extras mensais. Já os pequenos proprietários que aderiram ao movimento, pressionara o grande monopólio a fim de aumentar o preço do frete.

HAOSAID NO JORNAL

A VIOLÊNCIA NO MUNICÍPIO DE TAUÁ-CE

Recebemos carta aberta assinada por vários sindicatos, pela CUT, e entidades ligadas à Igreja e ao Movimento Popular denunciandoa violência e a repressão sistemática que os latifundiários da região vêm fazendo aos trabalhadores. Seja pela lei (com intimidações, expulsos da terra e prisões); seja pela pistolagem (com assassinatos e ameaças de morte). Esta escalada de violência vem se dando principalmente naquelas localidades, onde os trabalhadores demonstrara raais corabatividade e organização nos sindicatos. Expressa tarabém a forma mais articulada que os latifundiários vêm

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Quinzena Trmbulhadores

encontrando cora a consolidação da UDR no Ceará. Diante desta situação a Carta conclama os trabalhadores a: - Reforçar a organização e a luta pela reforma agrária e a justiça na terra; - Pressionar as autoridades para desarmarem os pistoleiros e os iaL itundiários, como também punir os mandantes e responsáveis pelos assassinatos e ameaças aos trabalhadores;— Protestar contra a vinda de Caiado e a consolidação da UDR no Ceará.

JORNADA PELA REFORMA AGRÁRIA

Recebemos da Secretaria Estadual do Movimento Sem Terra/RS uma comunicação sobre a Jornada pela REFORMA AGRÁRIA no RS. 0 início da JORNADA foi no dia 26/01 em Porto Alegre, entrega da Pauta de Reivindicação às autoridades e início de ura JEJUM PÚBLICO. 0 objetivo geral desta JORNADA é o de divulgar e esclarecer a necessidade e os benefícios de uraa autêntica Reforma Agrária. Da JORNADA participam Sindicatos, Centrais, e Movimento Populares do RS.

A LUTA DOS POSSEIROS DE JEQÜITAI (MG)

Recebemos através de memorando do SIN, denúncia da Comissão Pastoral da Terra de MG de que 59 famílias de posseiros e 200 famílias de garimpeiros que exploram o quartzo na região do Capador, município de Jequitaí, estão sendo ameaçados de expulsão pela Fazenda Correntes Agropecuária (pertencente ao Grupo Matsulfur). Os posseiros e garimpeiros vêm resistindo à expulsão de várias formas. Solidariedade ao movimento, entrar em contato cora a CPT- MG, Av. Três, 1.083, Praça da Cemig, CEP 32.210 - Contagem-MG.

CUSTAS POLÍCIA MILITAR BARRA TRABALHADORES DA EMBRAER

Os 1500 trabalhadores do turno da noite da Erapresa Brasileira de Aeronáutica em São José dos Campos em SP foram impedidos de entrar no serviço no dia 21/01, pela segurança da erapresa e soldados da Polícia Militar. Segundo denúncia do presidente do Sindicato de São José, a alegação do patrão foi o atraso da maioria dos trabalhadores, que fizeram uma assembléia, seguida de passeata exigindo a retomada de negociação. Os trabalhadores reivindicam 52% de reajuste salarial a titulo de reposição de perdas.

MAIS DE 10 MILHÕES FIZERAM GREVE EM 87

De janeiro a novembro de 87 mais de 10 milhões de trabalhadores haviam participado de greves no ano, foi um recorde histórico do Movimento Operário e sindical brasileiro. A grande maioria dessas greves (mais de 90%) teve um objetico básico: buscar conquistas salariais que permitam aos trabalhadores superarem o arrocho imposto pela política econômica do governo.

OCUPAÇÃO NA ZONA LESTE DE SP

Cerca de 4 mil famílias do Movimento dos Sera Terra da região de Sapoperaba, São Mateus, Vila Forraosa ocuparam uma área na altura do km 20 da Avenida Sapoperaba no dia 16/01. Os Sera Terra reivindicam a construção de 4 mil lotes urbanizados, cora água, luz e esgoto; Imediato cadastraraento das famílias ocupantes com a garantia de que serão eles que permanecerão na área ocupada.

Financiamento do material para construção no máximo em 12 anos e cora prestações que não ultrapassem 20% do salário mínimo. 0 governo Quércia,o que não é novidade tem buscado enrolar o Movimento, num primeiro momento, * ameaçando a todo momento usar da violência policial para intimidar o povo.

MASSACRE DE SERRA PELADA

0 '"Correio do Tocantins", semanário marabense, relata a história de ura garimpeiro que se descobriu apenas chamar-se Francisco. No dia ♦ 30 de dezembro, ele deu uma entrevista para a TV liberal, retransmissora da Rede Globo em Belém, denunciando o massacre na ponte rodoferroviária, disse ter visto oito cadáveres de onde se encontrava, e ainda afirmou que poderia reconhecer os oficiais da PM que comandaram a #

operação. Dois dias depois, ao meio dia, um grupo à paisana cercou Francisco à entrada de um supermercado. Cobriu-o de paulada, até matá-lo.

MASSACRE DE SERRA PELADA II

Várias entidades ligadas aos Movimentos Populares, Partidos Políticos Movimento Sindical e Igrejas farão realizar no dia 05 de Fevereiro às 19 horas um

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Quinzena Trabalhadores

Culto Ecumênico na Catedral da Sé, seguido de Ato Público na Praça da Sé em São Paulo(SP). Vamos protestar contra o massacre e exigir a punição de todos os culpados.

ELEIÇÕES NOS BANCÁRIOS DE SÃO PAULO

A nova diretoria do Sindicato Sindicato foi eleita cora 33.745 (93%) dos 36.477 votos depositados nas urnas. A eleição que contou cora chapa única cutista, elevou à presidência o atual secretário de Iraprensa da CUT Nacional, Gilmar Carneiro.

Terceiro maior sindicato do país - o maior de toda categoria bancária - a entidade representa cerca de 140 mil bancários da Grande São Paulo (com exceção da região do ABC) e do município vizinho de Jundiaí 0 sindicato possui aproximadamente 60 mil filiados .

Senhor 26.01.88 Economia

Os dragões da caatinga Eles se chamam também ZPE, sonho do ministro Castelo Branco e pesadelo de empresários e exportadores

Sandra Balbi

t. Não se trata de um filme de ter- ror embora cause medo a muitos es ^ecialistas em políticas econômi- cas. São os dragões nordestinos, que devem aqui aportar nos próximos meses pelas mãos do ministro José Hugo Castelo Branco, da Indústria e do Comércio. Ele pretende insta- lar no Norte e Noroeste do País as Zonas de Processamento de Expor- tação (ZPE), nos moldes das exis- tentes na Coréia, Taiwan, Cinga-

* pura e Hong-Kong - os chamados dragões anáíkos, pela voracidade com que nas últimas duas décadas espa- lharam bugigangas eletrônicas rmde in pelo mundo afora: Castelo Branco, com o apoio do presidente José Samey, diz que, á base da pro- dução de bits, automóveis e talvez têxteis, para exportação (os mais cotados até agora) poderá desenvol- ver, enfim, aquela região.

O projeto de implantação das ♦ ZPE foi entregue na segunda-feira,

dia 18, ao ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega e ao presi- dente Samey. Castelo Branco está convencido da aprovação do pro- jeto. Samey, que segundo o ex- ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira "aprova qualquer coisa que lhe puserem na frente, desde que o convençam que vai be- neficiar o Nordeste", não deverá criar obstáculos às ZPE. Também o ministro do "feijão com arroz" não deverá ter constrangimentos em dar

• seu parecer favorável: consta que o presidente Samey, antes de efetivá-

lo no cargo, enfatizou sua simpatia pelas ZPE. O presidente teria defen- dido ardorosamente a idéia no en- contro de quatro horas com Mail- son, na ilha de Curupu, onde pas- sou o Natal.

S- -v

Barco encalhado A queda de investimentos, nesta década,

levou è estagnação as vendas brasileiras ao Exterior

USS bilhões

Exponações brasileiras 11980187)

Por enquanto, Mailson da Nó- brega diz que "ainda não tem uma opinião formada sobre o assunto". Alega não dispor de informações detalhadas sobre as conseqüências dessa decisão no comportamento da economia. Apesar de ser novo na casa, é de estranhar o alegado desconhecimento: desde agosto, quando surgiu a idéia das ZPE, uma farta e acalorada discussão correu pelos meios técnicos, empre- sariais e pela imprensa. Bresser Pe-

reira, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp . expor- tadores e diversos economistas - mire eles Mano Henrique Simon- sen - foram algum qu(j deram n contra. O longo arrazoado con- trário ao projeto desfiado nestes úl- timos meses (veja artigo do econo- mistajosé Serra, na página36),no en- tanto, não demoveu Castelo Branco nem Samev, e passou despercebido por Nóbrega. Assim, ao receber o projeto das zonas de processa- mento, na semana passada, ele pe diu tempo. Pretende manifestar-se até o dia 28 próximo. Por en- quanto, limita -se a declarar que não tem nada contra nem a favor das ZPE.

B ► resser Pereira tinha tudo contra e costumava dizer que o pior que pode acontecer é o projeto dar certo. Ou seja, ser levado com serie- dade e conseguir atrair empresas es- trangeiras dispostas a se implanta- rem nas ZPE, gozando da total li- berdade cambial e isenção fiscal prometida para, no final das contas, não conseguirem exportar seus produtos. Os próximos anos, pre- vêem os analistas, serão de conten- ção da economia mundial e retra- ção do comércio internacional. Se isso ocorrer, Bresser alerta para a desova dos produtos das ZPE no mercado interno, por pressão polí- tica, concorrendo de forma desigual - pelos seus baixos custos - com aqueles de empresas que pagam

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Quinzena Economia

impostos e não têm incentivos fis- cais.

"As ZPE são um absurdo, pois o Brasil tem um grande número de indústrias exportadoras de manufa- turados que serão prejudicadas por elas", afirma o ex-ministro da Fa- zenda. As exportações brasileiras poderiam até ser prejudicadas pelas exportações do paraíso fiscal nor- desüno, as quais, a rigor, pouco contribuirão para a balança comer-' ciai brasileira - visto que a repatria- çâo de lucros será livre, em moeda forte, ficando internalizados no País apeqas os recursos gastos com máo- de-obra e, talvez, compra de matérias-primas e componentes. Talvez, porque não há nada que ga- ranta que as indústrias que porven- tura se fixarem numa ZPE irão abastecer-se no País, já que a im- portação também é livre. "O mais provável é que peças e componentes venham dos países de origem das empresas internacionais, para se- rem simplesmente montados aqui", argumenta José Antônio Martins, professor de Economia Internacio- nal da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.

Empresas como a Honda, japo- nesa, ou a IBM, americana, algu- mas das que teriam manifestado in- teresse em investir naquelas zonas, enquadram-se mais no que prevê Martins do que nos planos do mi- nistro Castelo Branco. Na justifica- tiva do projeto apresentado em ou- tubro - a terceira edição da pro- posta que foi entregue esta semana ainda não foi publicada - lida-se que a iinalidade cias ZPE é "ionalecer o balanço de pagamnuos, reduzir desequilíbrios regionais e promover o desenvolvimento econômico e so- cial do País". Na opinião de Bresser Pereira, nada disso se concretizará pois o projeto não se enquadra numa política industrial e de co- mércio exterior global. Ao con- trário, atrapalha qualquer política geral. Estas políticas, sim, são ur- gentes frente à queda de investi- mentos que desde 1982 gerou, entre outras conseqüências, a estagnação das exportações brasileiras (veja gráfico na página 3 3)-Segundo Bres- ser, "se a coisa tor teita honesta- mente, ninguém irá se beneficiar".

O que já se questiona nos meios empresariais e técnicos é justamente a possibilidade de um sem-número de falcatruas passar a permear a

execução do projeto. "É mais um cartório no País , tem dito outro ex-ministro da Fazenda, Dilson Fu- naro. Num país onde escândalos fi- nanceiros e econômicos já fazem parte do anedotário nacional - há quem ache graça nos casos Delfim, Coroa-Brastel, NEC etc. - não é difícil imaginar mil e uma formas de tírar vantagem neste caso. Por exemplo: quem decide quais em- presas entram ou não numa ZPE, qual entra'primeiro e em que re- gião (há Estados com maior ou me- nor infra-estrutura). Além disso, es- tas zonas têm, nos outros países onde já existem, uma coordenação que, de certa forma, substitui e sin- tetiza as funções de um Banco Cen- tral, uma Cacex e outros organis- mos, pois um dos atrativos para as empresas é a desburocratização das importações e exportações. "Isso eqüivaleria a criar algo semelhante a várias Suframas (Superintendência da Zona Franca de Manaus), um ór- gão que mais de uma vez já foi acu- sado de desmandos administraü- vos", diz Marfins.

Imune ás críticas, o chamado grupo do Planalto abraçou desde o início a proposta das ZPE, que, se- gundo Bresser, surgiu do lufa-lufa diário dos técnicos do MIC, em sua busca insana de atalhos que levem a um novo ciclo de desenvolvimento industrial e livre a indústria brasi- leira do sucateamento. "A idéia partiu de dois técnicos do MIC, no ano passado, e foi vendida ao presi- dente por José Hugo, como a salva- ção do Nordeste", lembra Bresser. Logo ganhou a adesão do chamado grupo do Planalto Jorge Murad, genro e secretário particular do pre- sidente, e Miguel Ethjel, assessor da Presidência. Uma das versões que correm, inclusive, atribui a ambos a paternidade da idéia. Bresser des- mente. Outro a aderir teria sido o governador do Ceará, Tasso Jereís- sati, o qual teria interesse em desen- volver seu Estado e, ao mesmo tempo, associar-se a uma indústria têxtil internacional, instalando uma fábrica na ZPE. Também costuma ser lembrado no diz-que-diz em tomo das ZPE o empresário pau- lista Mathias Machline, dono da Sharp e da Sid Informática. Ele es- taria articulando uma associação com uma empresa japonesa para exportar produtos eletrônicos, usu- fruindo dos incentivos das ZPE.

Para José Antônio Martins esse

tipo de especulação com as ZPE brasileiras não deriva apenas da [)ura maledicência ou da mania de evar vantagem brasileira. Elas têm

até explicações históricas. Na sua opinião, as zonas de produção para exportação se prestam a todo tipo de falcatruas - inclusive lavagem de dinheiro proveniente do comércio de armas e drogas - já que não há controle da entrada e saída de divi- sas do País. Segundo ele, a expe- riência asiática se caracteriza pela implantação das zonas em países de mandarins. Deram certo em Hong- Kong e Taiwan pois se encaixavam em políticas globais de industriali- zação. Mas na maioria dos casos elas surgiram no Sudeste Asiático, em'paises que não tinham uma burguesia, um Estado estruturado nem üma sociedade civil claramente delineada, além de uma economia atrasada; Em muitos casos, acabou vingando sob ditaduras. Malásia e Filipinas seriam alguns exemplos.

N Ias Filipinas a experiência coli- diu com um nacionalismo exacer- bado. "Entre 1971 e 1972, o país era visto como local de alto risco pelos investidores estrangeiros. Nesse período, várias empresas dei- xaram de operar ali, transferindo-se para países vizinhos. O forte senti- mento nacionalista do período aca- bou resultando na promulgação da lei marcial de setembro de 1972. Ato contínuo, seguiu-se um con- junto de políticas econômicas de ca- ráter liberalizante em relação ao ca- pital externo, no qual eram salien- tes as salvaguardas contra desapro- priações e a liberdade quanto a re- messa de lucros. Ao mesmo tempo estabeleda-se uma política salarial restritiva, passando pela intervenção nos sindicatos e pela sumária proi- bição de greves. É somente neste meio-ambiente político e econô- mico que se inicia, em 1972, a efe- tiva instalação da ZPE de Bataan, criada em 1969", dizem Carlos Al- berto Primo Braga e Eli Roberto Pelin, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universi- dade de São Paulo (Fipe-USP), em es- tudo sobre as Zonas de Processa- mento para Exportações.

Os autores, contudo, não pare- cem endossar a tese de Martins, de que as ZPE só deram certo em países política e economicamente frágeis. O caso das Filipinas é apre-

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sentado como um exemplo ex- tremo. Há casos de sucesso em países como a República da Irlanda onde surgiu a primeira experiência a nível mundiai. na região de Shannon, em 1959. Ali havia, até 1986. 94 empresas operando, das quais, 62% eram estrangeiras e atua- vam no ramo de manufaturas de

• produtos eletrônicos. As 3896 res- tantes eram irlandesas voltadas quase que exclusivamente para a prestação de serviços. Shannon é um dos casos mais bem-sucedidos

As ZPE de Taiwan também ti- veram êxito. Em 1985. o investi- mento total chegara a US$ 390 mi- lhões num processo iniciado em 1965. Ou seja. em 20 anos de pro- cesso de industrialização ancorado nas zonas de exportação, Taiwan acumulou investimentos equivalen- tes quase a metade dos dólares in- vestidos pelas empresas estrangeiras no Brasil, num único ano. Em 1982 - ano em que começa a grande

,, queda dos invesümentos estrangei- ros no Brasil - entraram ÜS$ 641 mi- lhões no Pais. A comparação, é claro. coloca lado a lado duas eco- nomias fj dois processos de de- senvolvimento distintos. Mas serve para levantar a suspeita: até que ponto se pode esperar grandes efei- tos macroeconômicos da instalação de ZPE. num país como o Brasil?

Nos casos analisados por Braga e Pelin - Hong-Kong, Taiwan, Ma- lásia, Indonésia, Filipinas, Sri Lanka e Irlanda (há cerca de 100 ZPE no mundo) - a conclusão dos dois .eco- nomistas é de que "os impactos de uma ZPE a nível macroeconômico - isto é, sobre o conjunto da econo- mia - costumam ser marginais. No máximo ela consegue alguns resul- tados positivos localizados. O prin- cipal ponto positivo é que elas con- seguiram atrair capital internacio- nal. Servem, principalmente, a países que precisam abrir suas eco- nomias e que não podem ou não querem fazê-lo amplamente. As ZPE seriam, então, quase que um primeiro passo, no caso brasileiro, para a liberalização da economia. Mas elas não são o único caminho para isso.

Nas experiências assinaladas, 3uestões como absorção de mão-

e-obra, transferência de tecnologia e geração liquida de divisas pro- duziram resultados duvidosos. Quanto à geração de empregos - um dos principais argumentos com que se acena em defesa das ZPE nordestinas -, o fato é que onde

elas tiveram maior sucesso, na Ir- landa e Taiwan, sua participação é mínima. Respondem por 0,396 do emprego total e 1,996 do emprego na indústria ídados de 1983; no

caso irlandês e por 196 do emprego total e 3,196 do emprego industrial em Taiwan (isso em 1985). A ques- tão da geração de divisas também registra resultados pouco alentado- res. "A esmagadora maioria das ZPE existentes tem gerado um im- pacto líquido (saldo da balança co- mercial) inferior a US$ 10 milhões ao ano, dizem Braga e Pelin. Para se ter uma idéia, o saldo comercial brasileiro, neste ano, é de US$ 11 bilhões.

\#om ' tais números na frente. Braga diz que estão fazendo tem- pestade em copo d"água. "Os efei- tos sobre o conjunto da economia, caso as ZPE venham a ser criadas e funcionem, serão pequenos. No máximo se constituirão num re- curso a mais para atrair capitais." Ele alerta para o fato de que quanto mais se esperar de tal instrumento - pulverizando-se objetivos - me- nos eficaz ele será. "Ainda que traga benefícios líquidos para o País, cer- tamente há instrumentos mais efi- cientes para alcançá-los." Na sua opinião, a introdução de ZPE servi- ria para preparar n terreno a outras medidas liberalizantes da economia. Mas as ZPE só fazem sentido dentro de um processo mais amplo de alte- ração cie toda a política econômica e comercial do Brasil.

Folha de S.Paulo 17.01 .88

O balanço do tudo pelo social Joelmir Beting

Uma triste descoberta de ano novo: cinco diferentes mapas da carestia do ano passado revelam que a inflação da classe operária foi bem maior que a inflação da classe média. A população de baixa renda, que vegeta nos limites da sobrevi- vência biológica, com um perfil de consumo praticamente inelástico ou incomprimivel, acabou segurando o maior rabo de foguete da história mui pouco nobre do capitalismo tupiniquim.

Caso mais dramático, moralmente inaceitável, foi o do transporte urba- no, decisão do poder público, vulgo "preço administrado". A barbarida- de aconteceu em São Paulo. En- quanto o carro próprio, condução individual da classe média, teve seu custo aumentado de 485% de janeiro a dezembro, o transporte coletivo da

# ciasse operária emplacou uma re- marcação truculenta de 1.233% no ônibus municipal e de 1.242% no trem

suburbano.

Sem explicação No automóvel particular, o índice

de 485% reflete a variação do cha- mado "custo de uso" do carro próprio. O índice cobre, pela média ponderada, os custos da manutenção mecânica, dos serviços afins, dos combustíveis, dos preços de estacio- namento, das peças e componentes de reposição, das taxas, licenças, multas, pedágios e seguros.

No transporte coletivo, condução diária de 6,8 milhões de pessoas na capital paulista, os aumentos encava- lados de até 1.242% foram muito além do que se poderia entender como reposição gradualista da dela- sagem tarifária das empresas trans- portadoras. De quanto teriam evoluí- do os custos operacionais dos ônibus urbanos no ano passado? A mão-de-

obra das empresas obteve reajustes acumulados abaixo de 270%. 0 óleo diesel não passou de 380%. As peças de manutenção e os componentes de reposição contentaram-se com 575%. Os veículos novos bateram nos 530%.

Será que o serviço regiamente gratificado melhorou em quantidade e qualidade?

Sem escândalo Para os usuários da vasta periferia

paulistana, na base do dois pra lá, dois pra cá, o transporte coletivo abriu os cotovelos na partilha do orçamento doméstico. A fatia do ônibus saltou espetacularmente-de 17% para 29% da renda familiar na faixa dos três salários mínimos (para casal e dois filhos menores).

Na retórica peemedebista do "tudo pelo social", está-se transferindo

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mmmm Quinzena

^^^ Economia

poupança doméstica da comida e do sido ainda maior no ano da moratória "pelosocial".

Sem alternativa Outros blocos de preços que inte-

gram o consumo sem alternativa da população de baixa renda usaram e abusaram da "correção da defasa- gem" no ano passado (com dois congelamentos por decreto). Segundo os índices decompostos da Fipe-USP, a população de baixa renda teve de encarar aumentos de 506% no açú- car, de 653% no pão francês, de 696% na farinha de trigo, de 677% no leite magro, de 875% na farinha de mandioca, de 676% no metrô, de 526% nos remédios, de 404% nos serviços médicos.

Para a mão-de-obra de baixa qualificação, animo da maioria da população, o reajuste salarial não foi além de 249%, segundo a FGV, tomando-se por base a variação dos custos da mão-de-obra na construção

civil. O salário mínimo oficial, que virou piso nacional, recuperou-se parcialmente no fim do ano, acumu- lando 347%, ainda abaixo dos 398% da carestia apurada pelo Dieese.

O mesmo Dieese aponta outra hiena na selva da renda familiar da classe operária: o aluguel emplacou 1J2S%, de l" de março a 31 de dezembro remédio para o ônibus atrasado, superlotado, inseguro, estressante Um terço da renda da família, um terço do tempo do trabalho.

E fica tudo por isso mesmo, sem rebelião de um lado, sem remorso do outro.

Uma devastação O blefe do "tudo pelo social" não

passa pelo teste do rendimento médio das pessoas ocupadas na região metropolitana de São Paulo. Segundo levantamento do IBGE, a renda média do trabalhador do pólo mais

Gazeta Mercantil - 01.02.88

Recife registra taxa de 18,19% e pressiona cálculo da inflação

por Guilherme Barros do Rio

Nas dez regiões metropo- litanas pesquisadas pela Fundação Instituto Brasi- leiro de Geografia e Es- tatística (IBGE) para o cálculo da inflação, a que apresentou maior elevação de preços foi a do Recife, com uma variação de 18,19% no mês de janeiro. Curiosamente, a menor ta- xa também foi de uma ca- pital nordestina, Salvador, com uma variação de 13,93%.

Segundo o IBGE, o Índice do Recife foi' influenciado pelos seguintes aumentos:

carnes (9,25%); sal refina- do (24,43%); artigos de limpeza (27,62%); táxi (48,15%); óculos e lentes (17,77%); e mensalidades de clínicas (27,51%).

Os índices obtidos pelas outras regiões foram os se- guintes; Belém (15,28%); Fortaleza (16,24%); Belo Horizonte (16,06%); Rio de Janeiro (16,47%); SSo Pau- lo (16,61%); Curitiba (17,51%); Porto Alegre (16,88%); e Brasília (16,59%).

Entre os principais au- mentos de produtos que mais influenciaram o re- sultado de 16,51%, os desta-

dinâmico da economia brasileira sofreu forte mutilação, em termos reais, no ano que passou e já foi tarde: ela despencou de Cz$ 4.770,00, em janeiro, para Czf 3.110,00, em dezembro. O cálculo preliminar para dezembro já leva em conta a recupe- ração parcial do piso nacional de salários no último trimestre.

O fundo do poço do arrocho tão iníquo quanto inútil (a inflação al- cançou a taxa gregoriana sem para- lelo de 366%) ficou por conta de junho, com apenas Cz$2.850,00.

De se notar que o rendimento médio foi deflacionado pelo IPC de 366% do próprio IBGE. Se adotado como deflator o índice de preços do Dieese, que apurou 398% para São Paulo, a devastação do poder de compra da classe trabalhadora teria

ques foram para os ônibus urbanos (variação de 18,55% e influência de 1|16%); produtos farma- cêuticos (47,37 e 1,08%); pão francês (15,30 e 0,92%); aluguel (21,60% e 0,84%); artigos de higiene pessoal (23,18% de varia- ção e influência de 0,73%).

Destaca-se, ainda, au- mento de 75,35% da marga- rina vegetal, que, talvez pela primeira vez na histó- ria do índice, tenha entrado na lista dos produtos com maior Influência sobre a ta- xa, Além desses, também tiveram contribuições im- portantes arroz, carnes in- dustrializadas, associações esportivas, automóveis usados, açúcar e energia elétrica.

Entre os grupos de pro- dutos pesquisados pelo IB- GE, o que apresentou maior variação foi saúde e cuidados pessoais (29,61%), em razão dos reajustes dos remédios. O segundo maior aumento foi verificado no segmento de habitação (18,93%), in- fluenciado pelos aluguéis, seguido por transporte e

IPC {EM JANEIRO DE 88, VARIAÇÃO GERAI E POR GRUPO MI %)

REGIÕES METROPOLITANAS

GRUPO DE PRODUTOS

GERAL Atlmon- Habi- Artlgoid* Ironip. t Saúdoi

Culdadoi Dotpoiat taçBo tado R»ild»ncla Vwtuàrlo Comunlcoçflo PoHoait Poiioalt

ttlim 15,28 13,41 16,16 9,44 13,49 17.07 31,15 17,04 Fortoleio 16,24 15,82 16,20 20,32 13,52 5,58 35,75 16.04 R«clf« 18,19 15,91 18,83 16,59 12,88 26,43 31,61 19,39 Salvador 13,93 12,14 16,43 12,83 10,21 13,58 27,74 15.06 U\o Horiiont* 16,06 15,48 16,21 12,09 8,49 18,82 30,42 15,13 Rio d» Janeiro 16,47 15,32 17,10 14,28 10,38 20,22 28,66 16.96 Mo Paulo 16,61 14,84 21,04 11,35 11,10 14,75 28^0 17,59 Curitiba 17,51 15,16 19,31 13,59 9,70 24,42 29,38 17,59 Porto Alagrt 16.88 15,13 19,86 15,44 7,14 18,57 33,32 16,11 Sroillla 16,59 15,93 14,94 7.57 11,63 23,59 30,63 17.39

IPC 16,51 15,02 18,93 12,81 10,71 17,60 29,61 16,90

Fontr Doportamtnfo do lndl< tt do Proço» — D »I/IBGE.

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mmm Quinzena Economia

comunicação (17,60%), por causa dos aumentos dos ônibus urbanos.

ESTABILIZAÇÃO Dependendo d* política

que o governo adotar, é possível que a inflação se estabilize em torno dos 16% nos dois próximos meses. A opinião é de Eduardo Me- diano, chefe do departa- mento de economia da PUC-RJ, ao comentar o re- sultado de 16,51% da taxa de janeiro, um índice bem

superior i previsão de 14% projetada pelo governo no início deste ano.

Para Modiano, a inflação pode estabilizar-se em fe- vereiro e março caso o go- verno opte por uma política de retardar os aumentos das tarifas públicas, já que há uma crença geral de que os reajustes desses preços no período de gestão do ex- ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser Pereira, fi- zeram com que eles ficas-

sem alinhados, o que daria uma folga para o governo atrasar novos aumentos.

A explosão inflacionária só poderá ser evitada, se- gundo Modiano, se no período de represamento de preços, o governo tomar medidas drásticas de con- tenção de suas despesas para a redução do déficit público.

Modiano adverte tam- bém que a discussão inicia- da pelo próprio governo de

mudanças na política sala- rial, através da extinção da Unidade de Referência de Preços (URP) pode ser prejudicial para a inflação. Se for substituído esse me- canismo, a única alternati- va, após tantas modifica- ções na política salarial, será a otenização, uma hi- pótese iá levantada por al- guns sindicatos de traba- lhadores após o governo ter começado a falar em aca- bar com a URP.

Relatório Reservado - 2A.01.8B

Banqueiro só financia seu próprio crédito

Por trás da guerra de informações a respeito da negociação da dívida ex- terna está havendo rigoroso acerto de contas imposto pelos banqueiros inter- nacionais, que não querem entregar ao pais nem um centavo a mais que o es- tritamente necessário para a regulariza- ção dos débitos com eles próprios.

Segundo representantes de alguns aos principais credores no Brasil, não ^averá dinheiro dos bancos privados oara viabilizar pagamentos de dívidas com instituições oficiais e muito menos para a melhoria da posição das reservas do país.

Pontos de vista. De acordo com os últimos levantamentos do Banco Cen- tral, o volume do principal da dívida de médio e longo prazos com bancos pri- vados internacionais é da ordem de US$ 59 bilhões. A essa cifra podem ser adi- cionados USS7 bilhões de dívida com as agências dos bancos brasileiros no exterior - que vem sendo gradativa- mente reduzida ou transferida dos ban- cos particulares para o Banco do Brasil.

Com os credores oficiais, por sua vez, o total da dívida em discussão - ex- cluindo-se o Fundo Monetário interna- cional - é de USS 27,7 bilhões, para amortização também a médio e longo prazos.

Admitindo-se que o custo financeiro da dívida com os bancos privados atinja a casa dos USS 7 bilhões, no máximo, a proposta brasileira que está em jogo na mesa de negociação seria de refinan- ciamento de US$ 4,2 bilhões, corres- pondentes a 60% do total de juros a se- rem pagos. Mas, eliminando-se desse valor o spread, a reivindicação das au- toridades se reduziria para US$ 3,6 bi- lhões em T988, total considerado não muito expressivo, já que corresponde à desvalorização real da dívida em dólar.

evando-se em conta a média da infla- ção dos países ricos.

Não bate. Mas os bancos, de acordo com seus representantes, não estão dis- postos a fechar um acordo que tenha como premissa percentual sobre o montante de juros. Os banqueiros que- rem que o Brasil apresente suas estima- tivas para o balanço de pagamentos ae 1988, a fim de que possam avaliar as reais necessidades do país para o equi- líbrio das contas externas, e aí sim defi- nirem o que irão emprestar.

O Brasil trabalha com estimativa de déficit da ordem de USS 3,4 a 3,6 bi- lhões em conta corrente, justamente o que espera de refinanciamento de juros dos banqueiros. Esse número é obtido prevendo-se superávit de USS 9,6 bi- lhões na balança comercial e manuten- ção de déficit na conta de serviços equi- valente ao do ano passado.

Os banqueiros, no entanto, põem em dúvida alguns dos critérios usados para esses cálculos. Em primeiro lugar, acham que deve ser retirado o volume de juros pagos a governos e organis- mos multilaterais de crédito, que atinge cerca de USS 2 bilhões. Ou, pelo menos, 60% desse valor, que é a parcela de refi- nanciamento exigida aos credores pri- vados e que, do ponto de vista dos ban- queiros, deveria ser a mesma para os credores oficiais.

Além disso, os bancos consideram por demais pessimista a perspectiva de saldo comercial de USS 9,6 bilhões, preferindo trabalhar com números su- periores a USS 10,5 bilhões. Nessa rearrumação das contas, os banqueiros, de acordo com seus representantes, estariam dispostos a refinanciar de USS 1,6 a 2 bilhões em 1988. E, mesmo as- sim, impondo inúmeras barreiras à li- beração do dinheiro.

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^4 dívida externa da América Latina não será controlada antes do ano 2000

MIGUEL URRUT1A

Para a América Latina a crise econômica começou em 1980. Naque- le ano as relações comerciais come- çaram a se deteriorar, uma tendên- cia que continuou até 1986.

Além deste impacto negativo, os fluxos financeiros "secaram" em 1982. E a crise causada por isso pode ter sido o inicio de uma crise econômica mundial mais profunda.

A drástica redução de importação e campanhas de exportação agressivas feitas por países latino-americanos contribuíram para a deteriorização da balança de pagamento norte-ame- ricana. Como Sebastian Edwurds mostrou, a América Latina é o único mercado onde os EUA mantêm a competitividade, e a restrição força- da nas importações para compensar o menor volume financeiro, fechou para os EUA o mercado de exporta- ção. Ao mesmo tempo, a política agressiva brasileira de exportação destruía a indústria de calçados norfe-àmericana.

Apesar de todos os problemas gerados pela política de ajuste, os países latino-americanos mantive- ram a crença que com ajuda da comunidade internacional o cresci- mento econômico poderia ser recupe- rado. E o plano Baker apresentado em Seul (capital da República da Coréia) em 1985 explicitou esta estra- tégia para conseguir adaptação com crescimento. Infelizmente, a partir de meados de 1987, foi ficando claro que as idéias de Baker não estavam sendo postas em prática. E o "crash" da Bolsa dee Nova York em 19 de outubro passado deixou claro que a estratégia não poderia se implemen- tada. Depois desta data nenhum país latino-americano tem qualquer in- centivo real para continuar o serviço da dívida externa.

Deixe-me explicar em que esta opinião é baseada.

, No meio do ano passado parecia que os preços das "commodities" estavam começando a se recuperar e várias fontes sugeriram que uma recuperação, apesar de modesta, era possível. Ao mesmo tempo, algumas da maiores economias da região estavam crescendo, apesar dos flu- xos financeiros negativos. E apesar de não poderem pagar todo o serviço da divida, tinha-se a impressão que elas poderiam pagar uma boa parte dele. Assim se criaria uma situação que produziria relações satisfatórias de serviço da dívida externa na década de 90.

Algumas economias definitivamen- te não podiam pagar o serviço da dívfda.e era necessária a criação de programas especiais de dívida. Peru evBolíyta estavam nesta situação e p^ra a. Bolívia um interessante plano para -saldar a dívida foi criado,

envolvendo descontos elevados, com o,s fundos oriundos de alguns países credores^ «O aumento das taxas de juro que

aüconteceu no meio do ano passado foi a-nuvem de chuva no horizonte. -Em resumo, ficou claro que as

instituições financeiras privadas não iriam emprestar, mesmo debaixo das pressões exercidas pelo Federal Re- serve, o Bundesbank, o Banco do Japão e o Banco da França.

Ma's a reação dos países devedores foi racional e sóbria. Sem alarde eles simplesmente não estavam pagando os bancos credores e, consequente- mente, capitalizando os juros, E isso é,. sem dúvida, a solução melhor e mais fácil para o problema da divida para as economias mais saudáveis. 'E uma pena que os bancos ameri-

canos tenham resistido tão tortemen- te à solução apresentada pela capita- lização de Juros. O plano é simples. Um país pagaria o serviço de toda a dívida junto às instituições que continuassem em- prestando. Pagaria também alguns créditos de bancos privados, numa proporção razoável da receita resul- tante de exportações (esta proporção seria determinada através de estu- dos).

Os juros não pagos são capitaliza- dos e pagos no futuro, quando o crescimento econômico e o aumento de exportação fizerem com que a dívida se transforme num ônus con- trolável.

A crise resultante do dia 19 de outubro, com a "crash" da Bolsa, e a crise no comércio entre EUA e Brasil, mudaram as perspectivas econômicas. É improvável que o aumento das exportações e o cresci- mento econômico farão com que os países latino-americanos consigam controlar a dívida externa antes do ano 2000. Existem cinco razões para se pensar assim:

Em primeiro lugar, o efeito da riqueza e o impacto nas expectativa causadas pelo "crash" da Bolsa de Valores de Nova York fez com que muitos previssem uma diminuição do crescimento que havia sido projetado para os países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Eco- nômico (OCDE). E isto resultará na retração do crescimento de exporta- ção da América Latina e na inversão da tendência positiva de preços de exportações de "commodities".

A segunda razão são as taxas de juros altas. Elas continuarão assim devido ao problema de balança de pagamento norte-americano.

A terceira se refere às negociações do déficit fiscal dos EUA, que dificultaráo acumulo de capital dos

bancos multilaterais, que por sua vez prejudicará o aumento dos emprés- timos concedidos por estes bancos. Haverá então menos possibilidades para reciclar o excedente das divisas para a América Latina através desse mecanismo. Não devemos nos esque- cer que o BID (Banco Interamerica- no de Desenvolvimento) e o BIRD (Banco Internacional de Reconstru- ção e Desenvolvimento —Banco Mundial) lançam títulos (bonds) na Europa e Japão e reemprestam estes fundos para os países latino-ameri- canos—.

A quarta razão é a desvalorização do dólar, que aumenta a divida.

E a última: conflitos comerciais com os EUA, exemplificado pelo problema com o Brasil, serão mais freqüentes. Deixe-me lidar com as taxas de

juros por alguns momentos. A Amé- rica Latina precisa de dinheiro a longo prazo, que se ajuste ao pro- grama de pagamento dos projetos de investimento. Não faz sentido finan- ciar hidroelétricas ou fábricas com empréstimos a serem pagos em 3 anos.

O BID e o Banco Mundial obtinham dinheiro para ser pago de 8 a 10 anos com taxa de 8% em 30 de outubro de 1986. No dia 15 de outubro de 1987 esta taxa havia subido para 10,40% e no final de novembro, após a queda da bolsa, estava a 9,30%. A taxa em iene era de 6,45% em 1986 acima de 6% antes do colapso e no final do ano, 5,6%.

Em resumo, não há nada que possa acontecer que poderia aumentar a capacidade dos países latino-ameri- canos de pagar o serviço da dívida e não há esperança que os bancos privados emprestarão voluntaria- mente. Assim, não há nenhum incen- tivo para a América Latina continuar a pagar o serviço da dívida.

O melhor que poderia acontecer é que credores e devedores comecem a planejar sistemas que os ajudassem a decidir quais dívidas podem ser pagas e as que não podem, além de programarem pagamentos com pra- zos realistas. Deixe-me lembrá-los o e o comunicado dos 'Oito Presiden- tes' em Acapulco diz: "Neste sentido expressamos nossa solidariedade com os países que em exercício de sua soberania tomam medidas para limitar o pagamento de serviço de suas dívidas à sua capacidade de pagamento".

Se as negociações não forem de confronto, o comércio internacional não sofrerá nada, poderá até crescer.

O que é claro é que um tratamento realista da dívida aumentaria o crescimento na América Latina e assim a região poderia tornar-se um fator positivo na recuperação econô- mica mundial, como aconteceu na década de 30.

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^ ^^^^^^^^^^^" Quinzena Política Nacional

O governo ataca a produção nacional Tribuna Operária - 31.01.88

A "Tribuna Operária" consultou, poucas horas após a reunião do CONIN,

• dois especialistas em infor- mática, Ezequiel Dias, ex- representante dos profissio- nais de processamento de dados no órgão, e Marcos Gomes, coordenador do

• Centro de Comunicação Social do Serviço Federal de Processamento de Dados. Através das informações prestadas por eles, foi pos- sível montar um quadro so- bre a decisão da última quinta-feira e suas conse- qüências para a indústria nacional.

Uma gravíssima concessão • às pressões do governo ameri-

cano, que põe em risco o avan- ço obtido até agora pela indús- tria brasileira de informática e representa um grande desestí- mulo ao desenvolvimento tec- nológico do pais. É esse o sig-

nificado preciso da decisão to- mada na última quarta-feira pelo Conselho Nacional de Informàtica-Conin, que auto- rizou a comercialização em território nacional do sistema operacional para microcom- putadores MS-DOS, produzi- do pela empresa americana Microsoft.

0 Conin referenda a decisão do Planalto

O Conin, na prática, limitou-se a referendar uma posição já adotada previamen- te no Palácio do Planalto. A decisão favorável ao sistema operacional americano foi to- mada por 16 votos contra 6, 14 dos 16 que compuseram a maioria são ministros de Esta- do do governo Sarney. O pre- sidente, por sua vez, nada mais fez do que dobrar-se diante da autêntica chantagem internacional promovida pelo governo do presidente Reagan

0 que é

software

É possível dizer, a grosso modo, que os computado- res e microcomputadores são constituídos de duas partes. A primeira parte é a máquina, o equipamento em si, um conjunto de cir- cuitos eletrônicos, e micro- processadores sofisticados com capacidade para execu- tar tarefas básicas. É a esse equipamento que as publi- cações se referem, quando utilizam o termo inglês hardware.

O hardware sozinho, no entanto, não è capaz de prestar qualquer auxilio à atividade humana. É como um carro sem motorista. Para que ele se capacite a realizar tarefas específicas, è imprescindível o emprego

de programas, software em inglês. Os programas são o cérebro da máquina, e dão ao computador as informa- ções necessárias para que ele realize uma série de tare- fas tão amplas e diversifica- das como organizar arqui- vos, realizar operações ma- temáticas incrivelmente complexas, realizar a edição de textos, automatizar a contabilidade das empresas, desenhar, compor música, jogar xadrez ou pronunciar palavras ou pequenas fra- ses.

O software é comerciali- zado sob a forma de discos magnéticos rígidos, de fitas magnéticas, ou de pequenos "disquetes" magnéticos fle- xíveis.

e pelas multinacionais ameri- canas da área de informática nos últimos meses. Essas mul- tinacionais estão determinadas a impedir que continue a se de- senvolver no Brasil uma indús- tria auuinoma no setor e, sa- gazes, escolheram como pri- meiro alvo de seus ataques a produçãu brasileira de progra- mas para computador, tam- bém conhecidos como softwa- re.

A nível internacional, boa parte dos investimentos mate- riais e humanos feitos hoje pe- las empresas de informática concentram-se não na produ- ção de equipamentos (compu- tadores e microcomputado- res), mas no desenvolvimen- to de programas.

É uma fonte generosa de lucros. A Microsoft, por exemplo, cobra 35 OTNs (aproximadamente 20 mil cru- zados) por um simples disco magnético de pouco mais de 13 cm. de diâmetro gravado com o programa MS-DOS. Uma vez desenvolvido o pro- grama, milhões de cópias po- dem ser obtidas a custos fran- camente irrisórios.

O software, no entanto, é indispensável para que os computadores operem. E en- tre os vários tipos de software, os sistemas operacionais têm destaque particular. Eles for- necem à memória das máqui- nas compatíveis com a tecno- logia IBM-PC informações fundamentais para que ela possa utilizar outros tipos de programa. Sem programas de sistema operacional, esse tipo de computador — o mais utili- zado pelas empresas brasilei- ras — não passa, portanto, de equipamento eletrônico inútil.

0 Brasil engatinha na produção de software

A indústria nacional de in- formática desenvolveu-se rapi- damente na produção de equi- pamentos, mas ainda engati- nha no desenvolvimento de software, por razões perfeita- mente compreensíveis. O uso

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mmmmmm Política Nacional

do computador difundiu-se entre nós com certo atraso em relação às nações mais desen- volvidas e obviamente é neces- sário, primeiro, que o pais possua um grande número de máquinas e usuários, para que então se formem os profissio- nais que irão desenvolver pro- gramas para cada uso específi- co da informática.

Mas mesmo enfrentando os problemas oriundos da falta de experiência, há alguns anos técnicos brasileiros contrata- dos por firmas nacionais têm se dedicado à criação de soft- ware nacional. Os progressos foram rápidos. Em pouco tempo, por exemplo, a empre- sa "Scopus" desenvolveu o "Sisne", um sistema opera- cional considerado tão ou mais eficiente que o MS-DOS americano em sua versão 3.2.

É preciso proteção contra os monopólios

Por certo, este esforço na- cional de desenvolvimento tec- nológico precisa de proteção legal. As empresas brasileiras de porte médio e de experiên- cia apenas razoável que atuam no setor serão literalmente massacradas se o mercado do país estiver aberto à livre atua- ção dos gigantes mundiais do ramo, como a Microsoft.

A "Lei do Software, apro- vada no fim do ano passado, garantiu certo grau de prote- ção. A exemplo do que já ocorria na área de produção

de equipamentos e em quase todos os setores da economia, ela estabeleceu que o país não importaria programas de com- putador que já tivessem simi- lar nacional.

Pouco depois da aprovação da lei, no entanto, o governo americano passou a pressionar as autoridades brasileiras para que permitissem a entrada de software importado no país. mostrou a que ponto è submis- so diante dessas pressões. Na reunião do Conin foi mantida a proibição da venda do MS- DOS 3.2 no país, mas em com- pensação foi inteiramente libe- rada a comercialização de sua versão mais atual, o MS-DOS 3.3.

A atitude do governo e do Conin é rigorosamente ilegal. Ezequiel Pinto Dias, da (SER- PRO), garantiu à "Tribuna Operária" que o MS-DOS 3.3. é idêntico, em suas caracterís- ticas fundamentais, ao MS- DOS 3.2 e ao Sisne nacional. Os recursos que incorpora são absolutamente secundários. "É como se alguém justificas- se a importação de um carro estrangeiro alegando que ele possui um rádio que não está incluído em sua versão nacio- nal", diz ele.

Além disso, g indústria bra- sileira já esta capacitada inclu- sive para produzir programas com as mesmas características da nova versão do MS-DOS, como chegou a admitir o pró- prio ministro Mailson da Nó- brega, a quem coube propor na reunião do Conin a autorí-

Utilizou-se de uma representa- ção feita nos Estados Unidos pela Microsoft, que dizia estar sofrendo prejuízos com a proi- bição de venda no MS-DOS 3.2 no Brasil. E ameaçou im- por altas taxas alfandegárias sobre os produtos brasileiros exportados aos EUA se nossa « política de informática não fosse alterada.

Na reunião de quinta-feira passada, o governo brasileiro zação à venda do software americano.

A decisão é ainda mais gra- ve porque é um símbolo da no- va atitude das autoridades brasileiras. "Se o MS-DOS foi liberado, quem garante que o mesmo não acontecerá com qualquer programaamericano, desde que o governo pressione o Brasil. E se a entrada desses programas for franqueada, que estímulo haverá para os altos investimentos necessários à produção de software brasi- _ leiro?" pergunta Marcos Go- mes, do Serpro.

O ato do Conin, portanto, serve de alerta. Se os brasilei- ros que lutam pela indepen- dência do país estão realmente dispostos a resguardar a indús- tria de informática, iniciante porém briosa, que surgiu no país nos últimos anos, terão de redobrar as forças e a atenção a partir de agora. Foi-se defi- nitivamente o tempo em que se é podia contar com certo apoio oficial. A atitude vergonhosa do dia 20 demonstra de forma cristalina que o governo agora é a própria quinta-coluna.

(Antônio Martins)

Folha de São Paulo - JI.CM.SS

EUA avaliam como retaliar CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

De Washington

Mais uma semana se passou e a retaliação americana contra o Brasil por causa da informática não veio. Pode sair esta semana. Há uma grande guerra de argumentos dentro do governo americano. Estáo sendo pesadas todas as vantagens e desvan- tagens de cada possibilidade de ação. A Casa Branca tem que levar em conta centenas de variáveis, princi- palmente as de política interna.

Enquanto o caso esteve nas mãos dos burocratas de terceiro escalão do USTR (United States Trade Repre- sentative), era fácil prever o que eles decidiriam. O USTR tem uma obses-

são por punir os outros paises que praticam o que chamam de "práticas comerciais injustas". O Brasil, na avaliação desses técnicos, se com- porta de maneira irresponsável em diversos setores, em especial na informática.

Se dependesse do USTR, a retalia- ção já teria sido anunciada faz tempo e teria o objetivo de prejudicar os setores mais sensíveis da economia brasileira. Mas quando o assunto subiu à consideração em níveis mais elevados da administração Reagan, o problema se tornou mais complexo. Não que alguém queira ajudar o Brasil por gostar do país. Mas é que há muitos interesses em jogo. São US$ 114 bilhões em dívida, são

incalculáveis bilhões em investimen- tos no Brasil, milhares de empregos americanos na dependência do co- mércio com os brasileiros, milhões de consumidores de produtos e servi- ços do Brasil. Além de interesses geopolíticos nada desprezíveis.

Não é um jogo simples. No Depar- tamento de Estado, tradicional redu- to de defensores de uma política mais moderada com relação ao Brasil, hoje há uma divisão. Há quem ache que o governo brasileiro anda pas- sando dos limites. Além da informá- tica e da dívida, ainda há agora o caso da venda de armas para a Líbia. Não existe nenhuma vinculação me- cânica entre um caso e outro. Quer dizer; as sanções não tiveram seu

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m Quinzena Política Nacional

anúncio suspenso para servir como instrumento de pressáo durante as negociações da divida nem serão apressadas por causa da venda de armas para a Líbia. Mas é claro que tudo se liga. Os dois lados jogam com todos esses elementos. É um grande xadrez.

. O progresso do candidato democra- ta Richard Gephardt na campanha presidencial em lowa também é levado em consideração. Gephardt é um inexpressivo representante do Missouri na Câmara. Vem chamando a atenção graças a um discurso populista que se vale muito de um

^ nacionalismo primário, parecido com o de alguns de seus colegas brasilei- ros no Congresso constituinte. O presidnte Reagan, por princípio e por pragmatismo, defende uma política de liberdade nas relações comerciais entre os países. È contra o protecio- nismo. Mas se um candidato demo-

crata começar a conquistar votos por causa de um discurso protecionista, tudo pode acontecer.

Os americanos acabam de tirar os "quatro tigres asiáticos" (Taiwan, barganha quando o Congresso tiver de votar uma nova lei de comércio, possivelmente este ano, que a oposi- ção democrata vai querer que seja muito protecionista.

As sanções tarifárias contra o Brasil são apenas uma peça desse xadrez político-econômico. A decisão do Conin sobre o caso Microsoft ajudou os defensores de posições moderadas. Mas não foi suficiente. Os EUA dizem que não querem discutir caso por caso. Querem que o Brasil diga com clareza quais são as suas regras objetivas e que coloque à disposição dos empresários america- nos mecanismos para que possam recorrer quando acharem que elas

não foram usadas. Melhor qtle a decisão da Microsoft, na opinião de quem no governo americano quer posições menos extremadas, é a mudança da opinião pública brasilei- ra quanto à política de reserva de mercado na informática. Para eles. não poderia haver melhor notícia do que saber que aumenta no Brasil o número de pessoas e setores influen- tes insatisfeitos com a reserva e dispostos a lutar para mudá-la.

Com base nessa avaliação, se não chegam a defender a suspensão das sanções, querem pelo menos que elas provoquem o mínimo estrago possí- vel. Isso é o que deve ocorrer: a lista de produtos punidos será composta de modo que a economia dos dois países sofra o mínimo. Ela deve ser anunciada possivelmente esta sema- na, num momento em que não atrapalhe um acordo do Brasil com os bancos credores e ainda em tempo de demonstrar a insatisfação com ;i venda de armas à Líbia.

Senhor - 26.01.88

A lição argentina Os governos brasileiro e argentino não conseguiram ainda a real subordinação das Forças Armadas

Antônio Carlos Prado

O coronel da reserva Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, 53 anos, um dos idealizadores c integrantes do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, autor de um ensaio recentemente publicado no livro As Forças Armadas no Braul. defende uma tese essencial à consolidação

• de qualquer regime democrático - o controle do poder civil sobre as Forças Armadas. Em abril do ano passado, após a primeira subleva- çâo de militares argentinos, lidera- dos pelo tenente-coronel Aldo Rico, o coronel Cavagnari decla- rava que "tudo indica que novos atos de indisciplina de militares ar- gentinos poderão ocorrer no pro- cesso de transição democrática da- quele país". A análise de Cavagnari

* acabou de ser comprovada, nove meses depois, com nova rebelião chefiada por Rico. O que levou Ca- vagnari a refletir acertadamente so- bre a repetição do episódio? Cabe, aqui, cotejar os processos argentino e brasileiro de encerramento de seus regimes militares - e o papel que neles desempenharam as For- ças Armadas dos dois países.

Na Argentina, segundo Cavag- nari, o presidente Raul Alfonsín detém a legitimidade do poder, a qual reforça sua autoridade. E as

Forças Armadas saíram do pri- meiro plano do cenário político, com a condenação de ex- presidentes - Roberto Viola, Rafael Videla e Leopoldo Gualtieri -, de militares envolvidos em torturas e assassinatos, e pela humilhação da derrota na guerra das Malvinas. No Brasil, a legitimidade do poder civil c discutível e as Forças Armadas são atores de primeira grandeza no atual processo de transição demo- crática. Em nosso país, as Forças Armadas conduziram a transição e mantiveram conquistas obtidas du- rante o autoritarismo: "A autono- mia dentro do Estado com a capa- cidade de tomar decisões e produzir iniciativas à revelia do poder civil" diz Cavagnari.

Como exemplo da manutenção de espaços ocupados pelas Forças Armadas há o controle militar so- bre o Serviço Nacional de Informa- ções, o SNI, que continua como ór- gão estatal militarizado. A capaci- dade de tomar decisões e produzir iniciativas à revelia do poder civil demonstra-se no estabelecimento de um programa nuclear paralelo e na modernização da força militar. Apesar dessas diferenças, tanto a

Argentina como o Brasil não conse- guiram desenvolver, no entanto, a tese defendida por Cavagnari. "Ne-

nhum dos dois governos conseguiu estabelecer uma relação de subordi- nação real das Forças i\rmadas ao poder civil", diz Cavagnari.

Em sua opinião, as Forças Arma- das brasileiras, por terem condu- zido a transição, ganharam a con- fiança de como seria julgado o re- gime autoritário. Na Argentina. não se conseguiu a unidade dos mi- litares, excluídos que foram da transição - e alguns, como o tenente-coronel Aldo Rico, têm a capacidade de conturbar a constru- ção da democracia. Mas, também no Brasil, ainda que sócios no pro- cesso de transição democrática, mi- litares da reserva de extrema- direita, se não chegam a tomar quartéis, tudo indica que conti- nuam conspirando contra a democracia.

É o caso da Associação Brasileira de Defesa Democrática, que, entre civis e militares, reuniu em outubro do ano passado, no Clube da Aero- náutica,, no Rio, o general Coelho Neto, um dos idealizadores dos DOI-Codi, o brigadeiro Moreira Bumier, famoso pelas denúncias de ter comandado um frustrado bom- bardeio ao Gasômetro do Rio de Janeiro, e o brigadeiro Souza Mello, integrante da Junta Militar que tomou o poder com a doença do general Costa e Silva. O confe-

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Quinzena Política Nacional

rencista, na ocasião, foi o professor Jorge Boaventura, também confe- rencista permanente da Escola Su- perior de Guerra, que afirmou que encontros como aquele, "caso pros- sigam e reúnam mais pessoas, po- dem se transformar num movi- mento que sustente a intervenção militar". Nessa época, Cavagnari declarou publicamente que havia interesses em se desestabilizar o processo de transição no Brasil. Ca- vagnari foi imediatamente preso.

Assim, o certo é que os governos

civis da Argentina e do Brasil estão ainda distantes de terem em suas Forças Armadas uma coesa guardiã da democracia - quer elas tenham sofrido ou não arranhões ao tér- mino do mais recente ciclo de auto- ritarismo. Ao contrário da atitude de Raul Alfonsín na primeira suble- vação de Rico, no entanto, a res- posta do governo civil argentino, agora, é vista como positiva por Ca- vagnari. No ano passado, Alfonsín demitiu o general Rios Erenú, en- tão chefe do Estado-Maior do Exér- cito, não puniu os revoltosos - ape- nas Rico foi preso - e suspendeu,

com a lei de obediência devida. 350 processos de militares envolvidos em crimes contra os direitos huma- nos. Cedia, assim, às condições im- postas por Rico para se render.

"Nessa segunda sublevação, o re- sultado obtido foi positivo para a Argentina, para o Brasil e todos os países do Cone Sul", diz Cavagnari. "Positivo, também, é o fato de mili- tares terem se mantido leais ao po- der dvil. Eles compreendem que fora da democracia não há Forças Armadas fortes, respeitadas e admi- radas".

Relatório Reservado - 24.01.88

Jornal do SNI A eficiência do Serviço Nacional de

informações em acompanhar o noticiário dos jornais chegou a tal ponto que os gabinetes que decidem no Palácio do Planalto sabem, antes que saiam publi-

cadas, de todas as notícias que estão sen- do recebidas via telex pelas redações. Em termos de informações, nem mesmo os editores conseguem reunir massa tão grande de informações sobre os assun- tos que os jornais têm para editar.

O esquema de informação prévia do Palácio do Planalto leva o governo a sa- ber, na véspera, as principais notícias que serão lidas no dia seguinte pela po- pulação. Assim, de acordo com a conve- niência, atua o Planalto através de seus porta-vozes para dar a versão oficial do governo sobre os fatos que a imprensa irá retratar, já aí incluindo a posição ofi- cial.

OS CADERNOS DE FORMAÇÃO DA CUT SP

1. DO QUE TRATAM OS CADERNOS DE FORMAÇÃO ?

Os CADERNOS DE FORMAÇÃO tratam de três grandes questões que são o eixo básico da Secretaria de Formação da CUT Estadual de São Paulo:

* SINDICALISMO: desenvolve a história do sindicalismo brasileiro, as Centrais Sindicais no Brasil, as Centrais Sindicais Mundiais, a velha estrutura sindical, a nova estrutura sindical da CUT, as características de um sindicalismo que interessa à classe trabalhadora e as diversas concepções e práticas sindicais. Estas questões são discutidas nos CADERNOS 1, 2 e 3.

* CAPITALISMO E SOCIALISMO: desenvolve o método dialético de análise da realidade, a formação das sociedades comunista primitiva, privada (escrava, feudal e capitalista) e o socialismo; a exploração capitalista e a luta de classe no Brasil. (Cadernos 4, 5 e 6).

* CAMPANHA NACIONAL DE LUTA: desenvolvi' a história da Campanha Nacional de Lula, a sua estratégia adotada pela CUT, os diversos momentos da CNL e a Campanha Nacional de Luta em 87/88. (Caderno n? 7).

2. COMO UTILIZAR OS CADERNOS DE FORMAÇÃO?

Nos Cursos de Formação, como material de leitura a subsídio para companheiros dos filiados e oposições da CUT, para os monitores prepararem suas exposições, debates, etc.

3. COMO COMPRAR OS CADERNOS DE FORMAÇÃO?

Entrar em contato com a Secretaria de Formação da CUT Estadual de São Paulo - Fone: (011) 270-8866.

Ou então, com o CPV - Fone: (011) 273-6533 - Caixa Postal 42.761 - SP CEP 04299.

FORMAR PARA A LUTA IMEDIATA E HISTÓRICA !

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9 utnzena w Política Nacional Folha de Sio Paulo - 22.01.88

Quem tem medo do povo? situação política brasileira chegou ao ponto mais frágil do confronto de interesses, não só

pessoais mas vinculados a grupos poderosos economicamente. Já tí- nhamos conhecimento de que a maioria do Congresso constituinte é de tendência nitidamente conser-

♦ vadora Não imaginávamos, po- rém, que fosse de um conservado- rismo retrógrado. Pois há propos- tas conservadoras inteligentes e modernas, como é o caso da ministra Thatcher, da Inglaterra. No caso brasileiro, o intitulado

^ grupo do Centrào na Constituinte deseja notabilizar-se por uma visão obtusa da realidade, nada enxer- gando além do imediatismo dos seus interesses. Pretende represen- tar os brasileiros ficando de costas para o povo e tapando os ouvidos para não atender aos clamores que Brotam das ruas. dos barracos e das favelas.

Depois do espetáculo inédito no Brasil das emendas populares as- sinadas por cerca de 15 milhões de brasileiros, é preciso ser cego e surdo para não entender que se

» operou uma mudança qualitativa no comportamento político das nossas camadas populares. A or- ganização dos chamados movimen- tos populares, das mais variadas formas, demonstrou que uma grande parte dos mais simples e pequeninos já despertou a cons- ciência de que têm uma força ainda não suficientemente explo- rada. È gente que já aprendeu a

usar o método —ver, julgar, agir— nas conversas e debates dos seus grupos de bairro, de comunidade ou de sindicato, formando verda-

4 deiras novas lideranças. Não são líderes que pretendem assumir figuras carismáticas de "salvado- res" do povo, mas que são capazes de transmitir com convicção as aspirações de sua comunidade ou de seu grupo. Demonstram com coragem a fidelidade aos ideais de justiça social, que defendem até com o risco da própria vida. Vários, deles, homens e mulheres, campo- neses, operários ou ministros reli- giosos, já tombaram sob as balas de capangas contratados pelos po-

* derosos que não querem admitir nenhuma transformação social no atual regime que lhes garante gritantes privilégios e a impunida- de pelos desmandos que praticam.

São esses maus brasileiros e, muitos deles, péssimos cristãos que se vangloriam de ter constituído um "grupão" de constituintes co- mo seus representantes. È falsa a afirmação do Centrão de que são "a maioria". Pelo menos é uma afirmação capciosa, pretendendo justificar-se pelo princípio de que na democracia vence a maioria. Na verdade, o Centrào talvez seja maioria dentre os que compõem numericamente o plenário da Cons-

* tituinte. Seus elementos, porém,

CÂNDIDO PADIN

não correspondem à representati- vidade da maioria dos eleitores brasileiros, muito menos ao con- junto da população.

Se é princípio basilar da demo- cracia residir no povo a origem da constituição do poder social e político, segue-se que esse poder continua a residir no povo mesmo depois de ter designado seus repre- sentantes. Estes não podem supri- mir totalmente o poder do povo com o pretexto de que o represen- tam. A representação é meramente funcional, para facilitar e acelerar a tomada de decisões. Seu objeto, porém, são as aspirações e propósi- tos dos que delegaram parte do seu poder elegendo seus representan- tes. Por essa razão a verdadeira forma de regime democrático é aquela que permite também o exercício direto do poder do povo, seja mediante o referendo, seja pela iniciativa de projetos de lei com a mesma tramitação dos que forem apresentados pelos mem- bros do Congresso.

Alega o Centrão que as suas propostas correspondem realmente ao que deseja a maioria do eleito- rado que os elegeu. Desafio, pois, a esses constituintes a provarem a sinceridade da sua afirmação submetendo ao voto dos eleitores a aprovação das chamadas propos- tas polêmicas, que apresentam um interesse maior para os rumos da nossa ordem social, econômica e política. Desafio a que voltem às

suas bases eleitorais e proclamem em praça pública, nos seus comíci- os, que não querem permitir que seus eleitores tenham o direito de apresentar projetos de lei ou do decidir, pelo referendo, se apro- vam ou rejeitam certos projetos que transitam pelo Congresso. Se o Centrão não quer permitir que isso aconteça, como provou pelas emendas que apresentou, é porque tem medo da participação do povo.

De nada adianta a ressalva de que admitem a iniciativa de proje- tos de lei por parte dos cidadãos no âmbito das Câmaras Municipais. E sabida a preponderância da força econômica e política dos "chefões" locais, pelo menos em certas regi- ões do país, para manipular ou intimidar aos que pretendem apro- var projetos que contrariam seus interesses.

Tenho a fundada esperança de que muitos dos constituintes que assinaram as emendas do Centrão não chegaram a avaliar a amplitu- de da frustração que será causada pela supressão dos artigos do Projeto de Constituição (art. 70-IV e art. 71 — parágrafos 2o e 3U) que admitem a iniciativa de projeto de lei e o referendo popular, no âmbito do Congresso, por parte de um certo número de eleitores.

Os resultados da primeira vota- ção do Projeto de Constituição pela Assembléia Nacional Constituinte poderão reaconder as bruxuleantes chamas de esperança na nação, ou apagá-las irremediavelmente.

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Quinzena Política Nacional

Folha de São Paulo - 12.01.88

O governo em perspectiva FLORESTAN FERNANDES

Há uma esperança de que, pro- mulgada a Constituição, a crise de governo desaparecerá, a

estagnoflação recuará rapidamente e se instaurará uma era de felicidade geral. As idéias de Mário Amato são um exemplo espantoso. Como um dirigente industrial, presidente da Fiesp, pode responsaoilizar-se por tantas iníantilidades? Tudo irá bem, se a Constituição conceder aos em- presários os privilégios que desejam, e se os trabalhadores não forem contemplados com "liberdades" e "direitos" corporativos. A bom tra- dutor: todos os governos são ótimos, inclusive o atual, dirigido por um homem bom e que pecou por ser democrático demais... e devemos rezar para que a nova Constituição seja o produto do equilíbrio do "Centrão"! A bem da verdade, o erro consistiu em convocar uma Assem- bléia Nacional Constituinte. Bastaria meter em uma batedeira as "consti- tuições" de 1967 e de 1969, com alguns atos institucionais, certos decretos- leis, e estaríamos na ilha da fantasia! O melhor dos mundos não é para quem quer, é para quem pode. Os trabalhadores e os oprimidos que esperem a sua vez. Ainda urge chegar a outro "pacto conservador", deste vez por dentro da ANC e pelos valorosos campeões do "Centrão".

O que arruina e anula o atual governo não é a personalidade do senhor José Sarney Costa, novelista, acadêmico (da Academia Brasileira de Letras) e pohtico de longa carrei- ra e múltiplas experiências partidá- rias. O governo liquefez-se. Não pode remar nem contra nem a favor da corrente. O golpe dentro do golpe (o quarto na cronologia encetada em 1964), através do "pacto conserva- dor" e da "legitimação" através do colégio eleitoral, funcionou como um furacão político. Parecia que se garantiria a "transição lenta, gradu- al e segura", que o PMDB e o PFL perversamente designaram como "transição democrática". De fato, o que se consumou foi o caos. Des- truiu-se o sistema de partidos, forja- do pela ditadura, e engendrou-se, automaticamente, a inviabilidade da Aliança Democrática (a qual ocorre-

ria còm ou sem Tancredo Neves). Em conseqüência, salientou-se o peso da capacidade de decisão do vetor militar e da tecnoburocracia e a abertura para formas de corrupção que são típicas dos regimes coloniais e das burguesias compradoras, em pleno arranque de um desenvol- vimento capitalista monopolista ace- lerado, dirigido de fora. Todos os apetites em condições estratégicas lançaram-se ao bolo e este era pequeno demais para semelhante

ataque coletivo. O governo endivi- dou-se, a nação empobreceu-se e regredimos a modalidades de cliente- lismo e de fisiologismo (não só políticos) que supúnhamos superados ou em declínio. As ambições mais fortes ocuparam o centro do palco e os partidos, de per si frágeis, servi- ram a fins pessoais ou inconfessá- veis. A ditadura perdeu a capacidade de refazer-se, como uma entidade "salvadora", e deixou após si o dilúvio...

O poder constituinte poderia ter desempenhado o papel de freio, nesse processo de decomposição social e de anomia institucional. No entanto, ele foi minado e sinistramente contido a partir de dentro e a partir de fora da instituição. Ele não é independente da sociedade civil. Ele é o seu produto orgânico mais complexo, que interage com ela em tais bases, que acaba sendo o único capaz de modifi- cá-la em sua morfologia e dinamis- mos, a médio e a largo prazos. A sociedade civil, pelo tope, fez com a ANC o mesmo que fizera com o governo. Esmagou-a diante da pare- de: ou cede uma Constituição pseu- dodemocrática ou se verá ridiculari- zada e asfixiada. O "Centrão", com sua ostentação falsa de "centrismo conservador" (?), responde como um cavalo de Tróia à desmontagem externa, plantada na sociedade civil. Delineia-se, assim, uma conspiração mais sutil que as duas de 1964, a de 1968 e especialmente a de 1984-1985, esboçando-se um crime político ar- quitetado pelas classes que deveriam estar mais empenhadas em uma verdadeira transição democrática rápida e em um sólido salto inovador na direção do futuro.

Qual é, em tais condições históri- cas, a perspectiva do governo Sar- ney? Nenhuma. Ele não pode e não quer bater-se com os seus pares (de classe, de cultura e de ideal de vida), como o comprovou reiteradamente. Favoreceu-os sempre, quaisquer que fossem os custos psicológicos, eco- nômicos e sociais para a nação. De outro lado, favorece-se a si próprio, na mesma escala, pois não seria digno de um cavalheiro ou de um campeão desmerecer o código de honra de sua grei. O nosso poder judiciário, excluindo-se as gloriosas exceções que confirmam a regra, não é cego. E um poder judiciário de classe, indiferente como uma rocha aos dramas humanos do país. O quarto poder —o poder militar— sustenta a ordem, com galhardia tanto maior quanto o governo Sarney é fruto das entranhas da ditadura, o que ela deixou em seu lugar para levar a sua obra adiante. O que resta? O poder constituinte, manie- tado oelos compromissos com a

sociedade civil, com o governo e com os partidos da ordem. O podét; proletário e popular, que ruge furlo^ so, mas ainda não conquistou organi- zação institucional própria e capaci- dade de luta política autônoma.

Uma coisa deixou de ser feita no início deste anor restaurar a Consti- tuição de 1946 e desencadear, através dela, uma limpeza geral da sociedade civil e de todos os poderes. Esse caminho foi barrado, pela maneira • como se convocou o Congresso consti- tuinte, como um órgão de revisão constitucional, e pelo empenho das classes dominantes, nacionais e es- trangeiras, em proscrever uma As- sembléia Nacional Constituinte ex- clusiva e soberana. Ainda restam duas soluções: uma, atravessa o * Congresso; seria a destituição do presidente, que não possui condições reais para governar. A outra solução exigiria da ANC que convocasse um plebiscito imediato sobre o sistema de governo, para compartilhar com a massa dos cidadãos os rumos defini- tivos: parlamentarismo ou presiden- cialismo? O constituinte pode consi- derar-se representante da vontade popular. Porém, ele não é a vontade

popular. Parlamentarismo sem ple- biscito imediato eqüivale a um golpe parlamentar, pelo qual uma nova 4 Aliança Democrática chegaria ao poder por meios hábeis mas espúrios. Durante o período decorrente, a ANC exerceria sobre o governo um contf-o- le estricto. A autonomia dos podères é uma ficção e ela tem funcionada somente contra a ANC, paralisando-a e aprisionando-a às conveniências de um despotismo dissimulado, que usa- a "democracia" como artimanha para imobilizar o poder constituinte ou submetê-lo à vontade despótica do presidente e do vetor militar.

Essas são alternativas ou soluções cirúrgicas. Existe uma via suplemen- tar, que nasce das eleições diretas já # para o presidente da República. Mhs,. presidente de que República —a parlamentar ou a presidencialista? E evidente que o país não suporta mais a presente desordem que impera 'no Estado e daí se propaga para a sociedade civil (e vice-versa). O "já" possui um sentido imperativo. Ele significa extinguir o mal maior com ürgêhcia lirgeritíssima. Por mais depressa que o processo constituinte se desenrole, ele repetirá a estória da tartaruga. Poderá estar em todos os lugares, mas quanto maior o número de lugares em que estiver, pior para o país. Uma decisão nefasta, tomada em nome de alguns e sancionada por uns poucos no colégio eleitoral, não deve condenar o Brasil ao despenha- deiro. O que nos detêm? O respeito' por um "pacto", nascido de umâ' combinação da força bruta com a malícia de políticos profissionais e o egoísmo conservador? A desobediên- cia civil aplica-se a fins como esse, de salvação nacional ou de criação de uma sociedade nova. Ponhamos de um lado Bolívar, de outro Gandhi. A' passividade levará o dilúvio àS' últi^ mas conseqüências e pouco adianta-, rão as lágrimas diante de uma lápide funesta: "Aqui jazem os sonhos e'as' esperanças de um país que poderia' ter sido grande, independente ■ e. feliz!"

míifimSi SÍSíSíiíiíS:

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Quinzena _@_ Internacional

-Terceiro Mundo - Jan/88-j

Cronologia □ 6 e 7 de agosto: Os cinco presi-

dentes centro-americanos se reuniram na Guatemala e, ao final do encontro, assinaram o acordo de paz proposto em fevereiro pelo presi- dente da Costa Rica, Oscar Árias. Os presidentes descartaram um projeto alternativo apresentado pelo presi- dente dos Estados Unidos, Ronald Reagan.

11 de agosto: A Nicarágua convi- dou a igreja católica e os partidos

políticos de oposição a formarem a Comissão Nacional de Reconciliação proposta no acordo. A mesma atitu- de foi tomada pelo governo de Et Salvador.

12 de agosto: 0 presidente da

Guatemala, Vinicio Cerezo, convocou a igreja e a oposição a fazerem parte da Comissão Nacional de Reconciliação.

13 de agosto: 0 presidente Reagan reiterou seu apoio aos grupos arma- dos anti-sandinistas. 0 presidente de

El Salvador, Napoleón Duarte, con- vocou a guerrilha de esquerda para

uma reunião em 15 de setembro, mas impôs a condição de os rebeldes apoiarem publicamente os acordos

de Esquipulas. 14 de agosto: A Frente Farabundo

Marti para a Libertação Nacional (F- MLN), de El Salvador, aceitou a pro- posta de diálogo de Duarte.

19-20 de agosto: Os ministros das Relações Exteriores da América Cen- tral se reuniram na capital salvadorenha.

23 de agosto: É formada em Cara- cas, Venezuela, a Comissão Interna- cional de Verificação e Acompanha-

mento. Encarregado de garantir o cumprimento dos acordos, o órgão está integrado pelos chanceleres centro-americanos, os do Grupo de Contadora (México, Venezuela, Pa- namá e Colômbia), do Grupo de

Apoio (Argentina, Brasil, Peru e Uru- guai), os secretários gerais das Na- ções Unidas e da Organização dos Estados Centro-Americanos (OEA).

26 de agosto: A Nicarágua autori- zou a volta a seu território de três sa-

cerdotes católicos, que tinham sido proibidos de entrar no pais um ano antes, sob acusação de apoiarem

ações dos grupos anti-sandinistas. O governo constituiu a Comissão Na- cional de Reconciliação, presidida

pelo cardeal Miguel Obando y Bravo,

arcebispo de Manágua. 10 de setembro: O governo de El

Salvador constituiu a Comissão Na- cipnal de Reconciliação. A reunião

entre o governo e a guerrilha, pre-

vista inicialmente para 15 de setem-

bro, foi suspensa. 13 de setembro: O governo nicara-

guense convoca o diálogo nacional com os partidos de oposição.

18 de setembro: A guerrilha salva- dorenha manifestou sua decisão de aceitar os acordos de paz e reitera sua decisão de dialogar.

19 de setembro: AN icarágua auto- rizou a reabertura doijornal de oposi- ção La Prensa, que foi fecha-

do em 1986. 22 de setembro: O governo de Ma-

nágua anunciou o início das trans- missões da Rádio Católica, a suspen- são da censura prévia e um cessar- fogo unilateral, parcial e progressivo. Em San Salvador, o presidente Duarte anunciou uma reunião com a guerrilha para 4 de outubro.

4 de outubro: Começa na Nun- ciatura Apostólica de San Salvador o diálogo entre o governo salvadore- nho e os rebeldes da FMLN-FDR.

7de outubro: Reúnem-se em Madri representantes do governo guate- malteco e do movimento rebelde União Revolucionária Nacional Gua- temalteca (URNG). Apesar do resul-

tado ter sido positivo, o presidente Cerezo anunciou em 10 de outubro que dava as conversações por en- cerradas.

. 26 de outubro: É assassinado em San Salvador o coordenador da Co-

missão não-governamental de Di- reitos Humanos, Herbert Anaya.

27-28 de outubro: Reunida em San

José da Costa Rica, a Comissão Exe- cutiva fixou o dia 5 de novembro como a data do início da execução simultânea dos cinco compromissos básicos do acordo de paz: cessar-fo- go, anistia, suspensão da ajuda a grupos irregulares ou rebeldes da

região, democratização e não-utiliza- ção do território para agredir ou- tros Estados.

3 de novembro: O governo de Honduras anunciou a constituição da

Comissão Nacional de Reconciliação. 5 de novembro: O presidente da

Nicarágua, Daniel Ortega, anunciou que buscará um acordo de cessar- fogo com os "contras" através de um intermediário.

7 de novembro: O general Adolfo Blandón, chefe do estado-maior conjunto das forças armadas de El Salvador, anuncia a suspensão uni- lateral do cessar-fogo, em vigor des- de 5 de outubro, ao ordenar uma ofensiva militar no norte do país para "enfrentar a ameaça de um ataque da FMLN a instalações estratégicas".

9 de novembro: São libertados en El Salvador cerca de 350 presos polí- ticos, mas eles se negam a abando- nar a prisão até que o Corpo Diplo- mático e o Comitê Internacional da

Cruz Vermelha possam garantir sua segurança.

23 de novembro: Voltam a El Sal- vador os principais dirigentes da Frente Democrática Revolucionária: Rubén Zamora, líder do Movimento Popular Social Cristão, e Guillermo Ungo, presidente do Movimento Na- cional Revolucionário (MNR).

O presidente salvadorenho, Na- poleón Duarte, acusa formalmente o líder da Aliança Republicana Nacio- nalista, o ex-major Roberto D'Au- buisson, pelo assassinato do arcebis-

po Oscar Arnulfo Romero. A infor- mação em que o presidente funda-

menta sua acusação já estava em seu poder desde quinta-feira, dia 19. N o entanto, Duarte escolheu o dia e a hora da chegada de Ungo para anun-

ciar a elucidação do crime. I9 de dezembro: Reúnem-se para

negociações, em São Domingos, ca- pital da República Dominicana, uma

delegação do governo nicaraguense

- chefiada pelo chanceler-adjunto Víctor Hugo Tinoco - e uma dos "contras", chefiada por Fernando Agueo, tendo como intermediário o cardeal Obando y Bravo.

A VENDA NA LIVRARIA DO CPV

NICARÁGUA COORDENAÇÃO PAULISTA DE FORMATO CADERNO/ 11 PR..

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TRATA-SE DO "COMUNICADO DA FRENTE SANDINISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL - FSLN - AO POVO DA NICARÁGUA E A COMUNIDADE INTERNACIONAL" SOBRE OS ACORDOS DE PAZ DE ESQUIPULAS II FIRMADOS NA GUATEMALA NO DIA 8 DE AGOSTO DE 1987.

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Quinzena M m

Internacional \ 4

Terceiro Mundo - Jan./88

Neiva Moreira

ANGOLA O Grande Salto

Enfrentando o exército sui-africano no sul, os angolanos náo querem esperar o fim da guerra: decidiram progredir mesmo sob bombas

de adiamento. Angola decidiu enfrentar

o desafio de mudar, enquanto as bom- bas caem no seu território e um exército

inimigo viola suas fronteiras. Num exame dos problemas que o

país enfrenta, declarou o presidente an- golano: "Se a guerra direta e indireta levada a cabo contra o povo angolano pelo governo racista da África do Sul, com o apoio dos EUA, é um elemento determinante para a caríicterização des- sa crise, temos de admitir com coragem e espírito de autocrítica que há outros fatores que podemos eliminar para melhorar significativamente a situação".

E acentuou: "Seria utópico esperar pelo fim da guerra para corrigir ou ate-

nuar as distorções e dificuldades já de- tectadas no sistema de direção e gestão da economia e no funcionamento dos órgãos de direção da economia e da produção material".

Nas repartições públicas, nos centros de produção, nas escolas e nas bases do Partido, já não se discute apenas como ganhar a guerra, mas como avançar

economicamente enquanto se combate.

A herança colonial

Reencontro Luanda com a fisio- nomia mudada. O nún.ero de veículos cresceu, com a predo-

minância dos pesados jipões militares e, wn certas horas, já há engarrafamentos. Nas ruas, no meio de uma população jovem que se desloca ou procura os ônibus articulados, há uma expressiva

predominância de estudantes com as suas mochilas, de soldados e de mutila-

dos de guerra. Os 60 mil mortos dessa guerra in-

justa e cruel são um pesado tributo que o povo angolano paga à luta por sua in- dependência. Sua memória está viva em milhares de lares por todo o território

nacional, mas são os mutilados de Luanda que nos aproximam da dura realidade da guerra. Grande parte está na capital em tratamento, ou acolhida

aos cuidados do Estado. Suas mutila- ções são a imagem dramática das bata-

lhas e da contribuição de tcmtosj ovens à

luta pela sobrevivência do seu país. Os mutilados e os soldados em uniforme representam um papel integrador: trou- xeram para Luanda a visão de uma

guerra que, embora mobilize o melhor da juventude e absorva a méior parte dos recursos nacionais, trava-sti muito longe para se ter dela, na capital, uma visão tâo direta e objetiva.

Não é só aí que Angola está diferen- te. Alguns problemas foram ou estão sendo solucionados, outros se agrava- ram. Mas o que mudou realmente foi a decisão de enfrentá-los.

Desde o dia 17 de agosto, quando o presidente José Eduardo dos Santos anunciou, num discurso franco e objeti- vo, uma profunda mudança na econo- mia e no sistema financeiro, para ade- quá-los às decisões do II Congresso do

Partido, Angola vive um tenso período

de transformações. Nos períodos de guerra, as mudan-

ças encontram, em geral, justificativas

No seu discurso, o presidente José Eduardo dos Santos revelou qual foi a situação herdada do colonialismo: 30 mil técnicos médios e superiores dei-

xaram o país; 2.500 empresas do setor produtivo paralisadas (75% foram abandonadas por seus proprietários); só ficaram no país 8 mil dos 153 mil veícu- los existentes em 1973; dezenas de pontes destruídas. O MPLA recebia um país destroçado pela guerra e pelo êxo- do.

Estávamos em Luanda meses antes da independência e permanecemos ali

tempos depois. Nenhum dirigente do MPLA exigiu que os portugueses saís- sem. Ao contrário. O então primeiro- ministro do Governo de Transição, Lo- po do Nascimento, lhes dirigiu repeti- dos apelos para que ficassem.

Mas a guerra era implacável. Bata- lhas decisivas a alguns quilômetros da capital e duros confrontos no interior. Jamais me esquecerei da fisionomia de terror de famílias de colonos, colhidas

entre dois fogos na sangrenta batalha da avenida Brasil, em pleno centro da capital.

Houve, também, muita sabotagem. Quando não se conseguia lugar nos na- vios e aviões para retirar o nue tosse possível, se destruía o que ficava ou se atirava ad mar. De uma maneira ou de outra, se arruinava a economia nacional. *

A guerra incessante

A guerra não acabou com a indepen- dência. Os soldados que desfilavam no 11 de Novembro de 1975 deram a volta em frente ao palanque presidido por Agostinho Neto e voltaram ao combate a alguns quilômetros de Luanda, até a derrota do inimigo. E de lá para cá,

houve muita luta e muitas perdas hu- manas e materiais. Nem um só dia de paz.

Agora mesmo. Angola enfrenta uma nova agressão que, pelos efetivos sul- africanos engajados e a extensão da ofensiva, significa uma mudança quali- tativa da guerra. Além de mais de uma centena de aviões, de toda a poderosa 8" Divisão Blindada, milhares de solda- dos de Infantaria e artilheiros sul-nfri-

canos invadiram Angola. Militarmente, a ofensiva teve um

o^ etivo: evitar a liquidação d^e "bol- sões" da Unita e o controle pelas Fapla (Forças Armadas Populares de Liberta-

ção de Angola) das vias de comunicação

do inimigo, na área do rio Lomba. Poli- ticamente, é possível que os racistas de Pretória tentassem envolver na batalha os efetivos cubanos, o que não aconte-

ceu. "Não há forças cubanas na bata- • lha", declarou o ministro da Defesa de Angola, Pedro Maria Tonha ("Pedale").

Os sul-africanos supuseram que as Fapla não resistiriam ao ataque e re- correriam aos seus aliados. Mas, antes que suas expectativas se confirmassem, espalharam a mentira de que os sul- africanos estavam empenhados na luta

com unidades cubanas e soviéticas. Uma invenção propagandística para justificar a agressão.

Angola resiste com suas próprias • forças. As agressões obrigaram esse país a formar um exército poderoso, disciplinado e moderno que tem infligi- do severas derrotas aos agressores. O jornal inglês The Guardian assinalava, há pouco, que o exército angolano é a pri- meira força militar da África que conse- gue derrotar o exército sul-africano. Mas a diplomacia angolana também luta no seu campo, a começar pelas Na- ções Unidas, ctj o Conselho de Segu- rança intimou os hoer.s a desocupar o território angolano.

Confrontados com fracassos milita-

ímí. ilpiliii

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Quinzena Internacional

res, a condenação internacional e a de- cisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os sul-africanos anun- ciaram que estão voltando aos seus quartéis.

A manobra tem dupla finalidade; aplacar as inquietações das famílias de militares brancos, que estão recebendo a notificação dos seus mortos, e dar

* uma satisfação à comunidade interna- cional. Na verdade, nada leva a crer que a evacuação dos invasores seja real e que outras agressões não estejam sen-

do preparadas.

A guerra em duas frentes

0 MPLA e o governo de Angola co- nhecem bem essa realidade e o que ela representa. Mas decidiram agora travar a guerra em duas frentes: no campo di- plomático-militar e na luta pelo desen- volvimento econômico.

As agressões sul-africanas obedecem a uma lógica de dominação eminente- mente política. Os racistas têm dois ob- jetivos estratégicos: prolongar a guerra até que as transnacionais acabem de

r exaurir as riquezas minerais da Namíbia 6 impedir que uma Angola socialista, ri- ca e desenvolvida possa ser um exem- plo a muitos povos que trocaram a de-

pendência política pelo neocolonialismo econômico.

Mas o desenvolvimento econômico ' de Angola impõe uma nova política, que

corrija erros e vícios, muitos deles her- dados do colonialismo. Tornou-se,

também, necessário um reordenamento da atividade.dos diferentes setores da economia - o estatal, o privado e o misto. Com o desmantelamento da rede comercial existente sob o colonialismo, o Estado teve de assumir tarefas que lhe são inadequadas, desviando recursos e quadros para áreas que devem retornar

à ação privada.

Renúncia ao socialismo? Na verdade, não é nas quitandas ou nas roças indivi- duais, embora importantes para o aten- dimento da população e o emprego, que se situa a autenticidade de um pro- cesso socialista e, sim, nos rumos es- tratégicos da economia e no controle dos meios básicos de produção.

O presidente José Eduardo alertou, a respeito: "É preciso corrigir o que foi mal feito ou mal concebido na área eco- nômica, preconizar medidas mais rea- listas e dinâmicas capazes de acelerar a reconstrução nacional e a nossa marcha para o socialismo". E definiu o objetivo visado: "A intenção do programa de sa- neamento econômico-financeiro, a nível do redimensionamento do setor estatal e do reenquadramento do setor priva- do, não é a de reprivatizar, mas, sim, a de tornar a gestão mais eficiente, con-

centrando o esforço do aparelho estatal nas tarefas mais urgentes, e controlan- do e acompanhando a atividade privada

dos artesãos, pequenos produtores etc, nomeadamente na área da produção de bens essenciais (produtos agrários e agroindustriais) para que se adaptem aos objetivos da política econômica de- finida pelo partido".

Angola está vivendo uma interes- sante experiência. Sua abertura ao ex- terior não implica mudanças nas suas relações pré-existentes, particularmente no campo socialista e na África, mas

amplia os horizontes da cooperação in-

ternacional, na qual países como o Bra-

sil e os do Mercado Comum Europeu têm papel importante a desempenhar.

Com perdas econômicas causadas pela guerra que superam 12 bilhões de dólares, cerca de metade do seu orça- mento investido na defesa e o melhor de sua juventude em armas, não é fácil conciliar esse gigantesco esforço com um projeto de desenvolvimento eco- nômico inovador e amplo. "Estamos habituados a desafios e esperamos ter êxito", nos diz o ministro da Esfera

Produtiva, Pedro Van-Dunem ("Loy"). O grande salto de hoje pode ser a

base da contrução da nova Angola de

amanhã. •

Vila do Gamek: o pequeno Brasil Famílias de quase todos os estados brasileiros formam uma comunidade

representativa do país, na Vila do Gamek, em Luanda

Um paulista de 36 anos é o pre- feito, a cidade tem muito verde, casas amplas e confortáveis, to-

das as crianças freqüentam a escola, onde predominam professoras e pro-

fessores mineiros, um parque de lazer completo garante a diversão e o espor- te, um carioca gerencia o supermercado com o olhar meio sonhador de quem

ainda não saiu do clima de lua-de-mel do primeiro casamento realizado no lu-

gar, um consultório médico garante atendimentos de emergência e, em ou- tro local, há um hospital, considerado modelar, com 20 médicos, em regime de dedicação exclusiva, só para atender o pessoal da vila.

Esta é a Vila do Gamek, no bairro do Futungo, em Luanda, que abriga os brasileiros envolvidos na obra de Ca- panda e suas famílias e que já possui dezenas de moradias reservadas para o pessoal angolano, que trabalha no con- sórcio, dentro do plano de promover uma integração completa das comuni- dades.

Tranqüilidade

"A vila tem uma infra-estrutura completa", diz o prefeito Fausto Aqui- no, chefe da divisão comunitária da Construtora Norberto Odebrecht. "Te- mos um sistema de captação e trata- mento de água e esgoto, um mercado com produtos básicos, atendimento médico, cabeleireiro unissex, clube com duas piscinas, quadras e campo de fute- bol, e escola para 14 turmas, com 20 professores".

A vila tem cerca de 1.000 familiares dos trabalhadores, dos quais as crianças e jovens chegam a 600, número sufi-

ciente para garantir a ex stência de vá- rios times de futebol, com nomes e ca- misas dos principais clubes brasileiros, e o surgimento de diversas bandas musi- cais jovens.

"Em Angola, temos também um compromisso de promover a formação

de pessoal e isso exige uma grande in- tegração. Já temos casas prontas, onde se instalarão famílias angolanas que o Gamek está selecionando para residi- rem aqui", assinala Fausto Aquino.

Maria e Antônio

Essas famílias angolanas terão oportunidade de conhecer um micro- Brasil, um panorama humano composto de gaúchos, sergipanos, mineiros, ca- riocas, goianos, paulistas, potiguares, pernambucanos, maranhenses ou baia- nos, como o casal Maria dos Reis e An- tônio dos Santos. Ele é topógrafo acostumado a obras de barragens pelo interior do Brasil e agora vive a primeira experiência internacional com a mulher e os seis filhos.

Na casa 900, a primeira da Rua 9, do- na Maria dos Reis, baiana de Juazeiro, explica que o marido não está, porque os trabalhos de topografia exigem sua presença constante em Capanda, fican- do o encontro da família para visitas periódicas, uma rotina que já dura um ano e meio. Quando a família se reúne, a camionete Comodoro, placa PV-6275, de Juazeiro, facilita a visita aos pontos de maior atração de Luanda e arredo- res.

"A vida é boa e estamos gostando, não falta nada e as crianças dispõem de uma escola que puxa pelo ensino", sin- tetiza. *

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Quinzena Internacional \ .4

Gazeta Mercantil - 01.02.88

Sandinistas propõem novo cessar-fogo

aos contras O governo sandinista

da Nicarágua fez mais uma proposta de cessar-fogo aos guerrilheiros "contras", agora admitindo, pela pri- meira vez, que os rebeldes mantenham consigo suas armas durante a trégua. — A proposta foi feita na sexta-feira pela delegação sandinista que negocia com representantes dos "con- tras" em San José, na Cos- ta Rica. nas primeiras con- versas diretas entre as duas partes em sete anos de conflito.

Segundo o v;ce- ministro do Exterior, da Nicarágua, Victor Hugo Ti- noco. chefe da delegação sandinista. o cessar-fogo se iniciaria no próximo dia 15 de março e teria duração prevista de um mês.

Os "contras". sem de- por as armas, se concen- trariam em três áreas prin- cipais da Nicarágua, e uma comissão internacional ve- rificaria o cumprimento do cessar-fogo de ambas as partes. — Haveria, ainda, uma comissão bilateral formada por membros san- dinistas e rebeldes, que cui- daria dos eventuais proble- mas que surgissem duran- te a trégua.

Dez candidatos disputa- rão a presidência do Equa- dor, para o período 1988- 1992, neste domingo (dia 31), em eleições nacionais. Segundo a maior parte dos analistas há quatro candi- datos com chances reais de obter uma das maiorias simples no primeiro turno das eleições, mas dificil- mente nenhum candidato obterá mais de 50% de vo- tos, necessários para se eleger sem o segundo tur- no, marcado para o dia 8 de maio.

Conforme as pesquisas de opinião, o candidato social-democrata, Rodrigo Borja, de 53 anos, poderá ser o mais votado, seguido de perto pelo candidato conservador, Sixto-Durán Ballen, de 66 anos, o popu- lista Abdala Bucaram, de 35 anos e o democrata- cristão, Jamil Mahuad, de 38 anos.

QUATRO MORTOS NO GOLFO

Um ataque duplo do Iraque, na noite de quinta- feira no golfo Pérsico, con- tra um petroleiro e um re- bocador de socorro, provo- cou a morte de quatro pes- soas. Os dois navios foram atingidos por mísseis Exo- cet iraquianos a algumas

milhas de um comboio pro- tegido pelos navios de guer- ra norte-americanos "USS Moore" e "USS Mount Ver- non".

Os mísseis atingiram pri- meiro o petroleiro "Coral Cape", da companhia in- glesa Kappa Maritime Ltda, mas de bandeira ei- priota, matando dois ofi- ciais sul-coreanos e ferindo quatro outros tripulantes. O capitão Michael Mourtzi- non, porta-voz da compa- nhia em Londres, declarou não ter conseguido contato com o navio desde então.

"E um navio morto, não há comunicação porque está em zona de guerra", infor- mou. Depois do ataque ao "Coral Cape", os iraquia- nos atingiram o rebocador, matando o capitão inglês e um oficial filipino.

O ataque duplo ao "Coral Cape" e ao rebocador fez lembrar o incidente com a fragata norte-americana "USS Stark", em maio pas- sado, quando o Iraque ma- tou 37 marinheiros n^rte- americanos.

.0 Globo - 17.01.88

acordo entre os sindicatos

disciplina greves na Itália

MÓNICA FALCONE Correspondente

ROMA — E possível que o sindica- EO funcione não só como intransigen- te defensor dos salários, pronto a fa- zer parar fábricas e construções mas também como mecanismo de autodis- ciplina das greves, garantindo o fun- cionamento mínimo dos serviços pú- blicos essenciais, como transporte, saúde e escola ? A resposta é afirma- tiva e exatamente na Itália, onde as greves sáo encaradas com a mesma feíalidade e pessimismo que os aciden- tes metereologicos inevitáveis. Mas pa- ra que isto acontecesse foi necessário "um pequeno milagre". Foi como os três secretários gerais da três gran- des confederações dos trabalhadores da Itália - CGIL, CISL e UIL - defi- niram o acordo a que chegaram esta semana e que promete memorar mui- to a vida aos italianos e turistas na península.

O acordo assume mais ainda os con- tornos de um milagre neste período atormentado por uma série interminá- vel de greves nas ferrovias e nos trans- portes aéreos orquestradas pelos "Co- oas", ou Comitês de Base, que não' aceitam a autoridade das confederações. A acusação é de excessiva preocupação com a massa dos trabalhadores em pre- juízo das categorias mais fortes. Ama- nhã, os lideres das confederações, Antô- nio Pizzinato da CGIL, Franco Marini da CISL e Giorgio Benvenuto da UIL, vão apresentar no Senado uma propos- ta de lei e um novo código de disciplina de greve que será incluído nos próxi- pios contratos coletivos de trabalho.

LP gppjeto de lei será entregue à co- missão parlamentar de reforma da

na

Consütuíção que ja esta trabalhando em diversos projetos sobre o assun- to. A Constituição italiana, de 1947, pre- vê nos artigos 39 e 40 que o 'Parla- mento italiano deveria fazer posterior- mente uma lei de regulamentação da arma principal dos trabalhadores. Mas. 40 anos se passaram e nenhum dos par- tidos italianos, da conservadora Demo- cracia Cristã ao Partido Comunista, quis enar um freio à organização sindi- cal que estava se desenvolvendo depois de décadas de ditadura fascista.

O acordo das centrais sindicais não prevê que a greve seja regulamentada por lei mas propõe que um código taça partg do contrato coletivo de trabalho. Ao as^mar o novo contrato, junto com os benefícios de aumentos dê salário e outras vantagens, o trabalhador assu- me o compromisso de respeitar a re- gulamentação. Caso ele rompa o acor- do e faça greve fora dos limites estabelecidos, a sanção será a perda temporária de todos os benefícios do contrato. A nível de lei, segundo os sindicatos, deverão ser preNistos ape- nas três mecanismos. A identificação dos setores de serviços essenciais, me- canismos precisos para a convocação obrigatória para os trabalhadores em greve e. por üm. a criação de um co- mitê de personagens ilustres para me- diar os conflitos entre empregados e empregadores.

Para chegar a este acordo, foram necessários três meses de estudos e negociações. Por fim. as centrais sin- dicais nomearam onze juristas, espe- cializados em Direito Trabalhista pa- ra dar uma forma legislativa à regulamentação. O comitê dos 11 ju- ristas, de matrizes ideológicas diferen- tes, conseguiu no final da semana pas- sada chegar a um projeto comum. Antes, o documento foi discutido por 20 horas em três sessões sucessivas e o texto final foi tão convincente que foi aceito em bloco pelos três líderes das centrais sindicais.

O projeto foi sucessivamente apurado durante a semana, afinando principal- mente alguns outras tipos de sanções econômicas ou administrativas para os que não respeitarem os acordos. Serão previstas também penas para as empre- sas e para os sindicatos que violarem os pactos. Segundo o professor de Direito Trabalhista da Universidade de Pavia, Tiziano Treu, que participou da ideali- zação do código de autodiscipllna, a sua característica principal é a conciliação de dois direitos constitucionais, o direito de greve e o direito de dispor de servi- ços públicos essenciais.