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Universidade Estadual de Londrina
SAMUEL CARVALHO DA SILVA
MIGRAÇÃO E MEIO AMBIENTE EM LONDRINA:UM ESTUDO DE CASO.
LONDRINA2009
SAMUEL CARVALHO DA SILVA
MIGRAÇÃO E MEIO AMBIENTE EM LONDRINA:UM ESTUDO DE CASO.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenção do título de bacharel em Geografia.
Orientadora: Profª Dr.ª Alice Yatiyo Asari.
LONDRINA2009
SAMUEL CARVALHO DA SILVA
MIGRAÇÃO E MEIO AMBIENTE EM LONDRINA:UM ESTUDO DE CASO.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenção do título de bacharel em Geografia.
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________Alice Yatiyo Asari
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________Rosely Maria de Lima
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________Carlos Alberto Hirata
Universidade Estadual de Londrina / IPPUL
Londrina, _____de ___________de _____.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado esta oportunidade
de chegar a este momento e ter aberto a minha mente para ter um pouco da
sabedoria humana.
Aos meus pais, Luiz e Maria que não mediram esforços para que eu
estudasse e, mesmo me questionando saber “para que serve Geografia?”,
contribuiram muito para que momento pudesse ser possível.
A minha esposa Nilcéia e nossa filha Isadora que entraram na minha
vida quando eu já estava percorrendo os caminhos da Geografia e agora sei que
sem elas seria impossível continuar.
Aos meus irmão Rafael e Ruth, pelo companherismo nas horas em
que estive em dificuldades e, deles, recebi o apoio.
A minha orientadora Alice Yatiyo Asari que me ensinou muitas coisas
com sua constante orientação e que, por esta, criou uma admiração e amizade nas
quais me orgulho muito.
Aos professores do Departamento de Geociências que diretamente
contribuiram para que este momento fosse possível.
Aos colegas de sala que dividiram comigo horas inesquecíveis onde
prevaleceram a amizade e a solidariedade.
SILVA, Samuel Carvalho da. Migração e meio ambiente em Londrina: um estudo de caso. 2009. 117 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é mostrar as relações entre os processos migratórios e o meio ambiente nos bairros Jd. Tókio e Jardim Pinheiros, na zona oeste da cidade de Londrina-PR. A metodologia utilizada é pautada na pesquisa bibliográfica sobre o tema, buscando na Geografia, História e em outras disciplinas uma base teórica que abarque esta temática. Outro procedimento é a realização de um trabalho empírico baseado em um roteiro de entrevista que visa saber a origem dos entrevistados, a migração realizada por eles e qual seu entendimento sobre a temática ambiental nos bairros em estudo, no tocante às condições ambientais atuais e possíveis melhorias. Os resultados mostram que o maior grupo entre os entrevistado é o grupo dos nascidos em outras cidades do estado do Paraná (50%), seguido pelos nascidos em outras unidades da federação (35%) e, por fim, os nascidos em Londrina (15%). Os resultados mostram uma grande divergência sobre o conceito de meio ambiente segundo os entrevistados mas mostra também que há grande preocupação entre os entrevistados com a questão ambiental nos bairros, principalmente em relação à atual situação do Ribeirão Cambé, curso d’água que está na interface dos mesmos. O trabalho mostra, através dos resultados as relações existentes entre meio ambiente e as dinâmicas populacionais, com destaque para a migrações.
Palavras-chave: Migração. Meio Ambiente. Londrina. Jd. Tókio. Jd. Pinheiros.
SILVA, Samuel Carvalho da. Migration and environment in Londrina: a case study. 2009. 117 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009.
ABSTRACT
The objective of this work is to show the relationships between migratory processes and the environment in the neighborhoods Jd. Tokyo and Pines Garden, west of the city of Londrina-PR.The methodology is founded on research literature on the sub-ject, looking at the geography, history and other disciplines a theoretical basis cover-ing this topic. Another procedure is to perform an empirical work based on an inter-view guide that seeks to ascertain the source of the interviewees, migration carried out by them and what their understanding of environmental issues in the districts un-der study, with regard to current environmental conditions and possible improve-ments . The results show that the largest group among the interviewees is the group of people born in other cities in the state of Paraná (50%), followed by those born in other states (35%) and finally, those born in Londrina (15 %). The results show a wide divergence on the concept of environment according to the interviewees but also shows that there is great concern among respondents with environmental issues in neighborhoods, especially with the current situation of Ribeirão Cambé, water course that is the interface them. The work shows through the results the relationship between environment and population dynamics, with emphasis on migration.
Keywords: Migration. Environment. Londrina. Jd. Tokyo. Jd. Pinheiros.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Área pertencente a CTNP........................................................................30
Figura 2 – Estado do Paraná: Grau de urbanização – 2000.....................................38
Figura 3 – Localização de e divisão administrativa do município de Londrina..........55
Figura 4 – Principais bacias hidrográficas do município de
Londrina......................................................................................................................57
Figura 5 – Tipos de solo existentes nas vertentes do Ribeirão Cambé................... 58
Figura 6 – A “natureza bruta e gigantesca” a situação encontrada no norte do
Paraná no início do século XX....................................................................................61
Figura 7– Trabalhadores na derrubada da mata. “A vitória sobre a natureza”......... 62
Figura 8 – Divisão setorial da cidade de Londrina em Regiões................................66
Figura 9 – Expansão urbana de Londrina até a década de
1950............................................................................................................................67
Figura 10 – Vista parcial aérea dos bairros Jd. Pinheiros e Jd. Tókio na década de
1970............................................................................................................................68
Figura 11 – : Densidade demográfica do município década de 1990.......................69
Figura 12 – Vista parcial aérea da rodovia Celso Garcia Cid (PR-445)....................71
Figura 13 – Faixa etária dos entrevistados................................................................72
Figura 14 – Naturalidade dos entrevistados..............................................................73
Figura 15– Década de chegada ao estado do Paraná (não paranaenses)...............74
Figura 16 – Localização dos Estados natais dos entrevistados nascidos fora do
Estado do Paraná.......................................................................................................75
Figura 17 – Área de destino dos migrantes...............................................................76
Figura 18 – Ano de chegada á Londrina dos nascidos em outros estados...............77
Figura 19 – Década de chegada a atual residência (nascidos em outras Unidades
da Federação) ...........................................................................................................78
Figura 20 – Local de nascimento dos entrevistados
paranaenses...............................................................................................................79
Figura 21 – Localização dos municípios de naturalidade dos entrevistados
paranaenses...............................................................................................................80
Figura 22 – Local de residência no município de origem..........................................81
Figura 23 – Década de chegada à Londrina (nascidos no Paraná)..........................82
Figura 24 – Data de chegada à atual residência.......................................................83
Figura 25 – Tempo de moradia na atual residência..................................................84
Figura 26 – Fundos do Jd. Tókio década de 1970....................................................88
Figura 27 – Vista parcial da urbanização dos Bairros do Jd. Tókio e Jd. Pinheiros
nas proximidades do Ribeirão Cambé.......................................................................89
Figura 28 – Vista aérea dos bairros de estudo..........................................................89
Figura 29 – Aspectos considerados pelos entrevistados no conceito de meio
ambiente.....................................................................................................................90
Figura 30 – Degradação através do depósito de materiais plásticos e resíduos de
construção civil no vale do Ribeirão Cambé..............................................................94
Figura 31 – Vista parcial do fundo de vale do Ribeirão Cambé na interface com os
bairros de estudo........................................................................................................96
Figura 32 – Degradação através do depósito de materiais plásticos e resíduos de
construção civil no vale do Ribeirão Cambé..............................................................96
Figura 33 – Curso do Ribeirão Cambé e a sua proximidade com área de deposição
de resíduos................................................................................................................96
Figura 34 – Percentual de Áreas de Preservação Permanente no município de
Londrina......................................................................................................................98
Figura 35 - Áreas protegidas pela Lei N°4771/65 na área urbana de Londrina - Pr
com destaque para a local da pesquisa....................................................................99
Figura 36 – Respostas ao questionamento sobre a necessidade de melhorias
ambientais................................................................................................................101
Figura 37 – Os equipamentos urbanos e os aspectos naturais como melhorias
ambientais................................................................................................................105
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Evolução da população de Londrina.......................................................35
Tabela 2 – Locais de nascimento dos residentes não-paranaenses em Londrina
(2000).........................................................................................................................54
Tabela 3 – Rendimento mensal médio por bairro......................................................72
Tabela 4 – : Estado de Origem dos entrevistados.....................................................73
Tabela 5 – Fatores responsáveis pelo deslocamento................................................77
Tabela 6 – Local de nascimento dos entrevistados norte-paranaenses....................80
Tabela 7 – Tempo de moradia na atual residência....................................................84
Tabela 8 – Moradores e seus conhecimentos prévios sobre os bairros pesquisados
ou bairros próximos ..................................................................................................85
Tabela 9– Caracterização geral sobre o conceito de meio ambiente segundo os
entrevistados..............................................................................................................91
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CTNP – Companhia de Terras Norte do Paraná
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento
IPPUL - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................13
1 AS MIGRAÇÕES....................................................................................................15
1.1 OCUPAÇÃO TERRITORIAL E MIGRAÇÃO NO BRASIL (1500-1930)...........................................17
1.2 OCUPAÇÃO TERRITORIAL E MIGRAÇÃO NO BRASIL (1930-1980)...........................................20
1.3 O PARANÁ, OCUPAÇÃO E MIGRAÇÕES: LONDRINA EM SEU CONTEXTO.......................................28
2 O AMBIENTE E A POPULAÇÃO..........................................................................39
2.1 A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL E DINÂMICA POPULACIONAL.......................................................39
2.2 A IMPORTÂNCIA DOS PROCESSOS MIGRATÓRIOS NA DINÂMICA AMBIENTAL...................................48
3 MIGRAÇÃO E MEIO AMBIENTE EM LONDRINA: UM ESTUDO DE CASO.......54
3.1 ASPECTOS FÍSICO-NATURAIS DO MUNICÍPIO DE LONDRINA.....................................................56
3.2 ESTUDOS SOBRE A DEGRADAÇÃO SOCIOAMBIENTAL EM LONDRINA............................................59
3.3 MIGRAÇÃO E MEIO AMBIENTE NOS BAIRROS JARDIM TÓKIO E JARDIM PINHEIROS........................66
3.3.1 Migração e Meio Ambiente: Resultados da Pesquisa Empírica........................71
3.3.1.1 Migrações.......................................................................................................71
3.3.1.2 Meio-Ambiente ..............................................................................................86
CONCLUSÃO..........................................................................................................106
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................109
ANEXOS .................................................................................................................116
ANEXO A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ENTREVISTADOS...................................................117
INTRODUÇÃO
Estudar a relação do homem com a natureza sempre foi uma das
características da ciência geográfica. A existência dos diversos tipos de dinâmica
populacional afeta e é afetada diretamente pela dinâmica ambiental.
Este trabalho teve como grande impulsor para seu desenvolvimento e
conclusão, o despertar da curiosidade científica em saber qual ou quais as relações
possíveis entre o fenômeno humano das migrações e o meio ambiente, em dois
bairros da cidade de Londrina.
A questão ambiental é um dos grandes ou talvez o foco principal das
discussões na sociedade atual. Saber em que medida as migrações interferem no
ambiente de um determinado lugar, da mesma forma o que este influi na vida das
pessoas e qual a percepção que estas pessoas possuem sobre o meio ambiente,
consiste em uma fundamental postura para se entender esta relação nos diversos
locais da superfície terrestre.
Assim sendo, o presente trabalho apresenta os resultados obtidos na
pesquisa sobre migração e meio ambiente em parte dos bairros Jardim Tókio e
Jardim Pinheiros, localizados na zona oeste da cidade de Londrina. Busca-se
apresentar aqui, quais foram as principais causas que levaram a população
residente nestes bairros a estabelecerem suas residências nestes locais e quais
foram e quais são as relações entre os moradores da região e o meio ambiente
local. Assim pode-se verificar como ocorreram os processos de ocupação da região
e as suas conseqüências para o ambiente natural e, por fim, verificar quais medidas
são possíveis para a melhoria das condições sócio-ambientais na região.
Como metodologia, foi realizado, primeiramente, um levantamento
bibliográfico sobre o assunto, não somente nos escritos da Geografia, mas também
na História e na Demografia, entre outras ciências.
Embora apresentados de maneira isolada em diversos momentos deste
trabalho, a questão ambiental e a questão da dinâmica populacional não são
entendidos de tal maneira. É importante que fique esclarecido que estes elementos
se encontram ligados na formação do espaço geográfico.
Foi realizado também um trabalho empírico nos bairros em tela, através de
captura de imagens fotográficas e a aplicação de um questionário para uma
pequena parcela da população residente, com vistas a contribuir com dados e
13
relatos dos mesmos sobre a migração e as mudanças ambientais na região.
O primeiro capítulo deste trabalho mostra a importância da migração dentro
da dinâmica populacional, como também sua importância na ocupação do território
Brasileiro, do Norte do Paraná e do município de Londrina. Será visto a ocupação do
território em dois momentos distintos: antes e após os anos de 1930, época em que
houve diversas alterações na estrutura sócio-espacial e política no Brasil.
No segundo capítulo será discutida a relação entre o ambiente e a
população, traçando uma discussão sobre o entrelaçamento entre estas duas
esferas, evidenciando uma intrínseca dependência uma da outra. A problemática
ambiental e dinâmica populacional será tratada de forma a entender suas relações
e, dentro deste contexto, a importância dos processos migratórios na dinâmica
Ambiental.
No Terceiro capítulo deste trabalho será abordada a migração e meio
ambiente nos bairros em tela, passando pela caracterização física da cidade de
Londrina, alguns estudos sobre a questão ambiental nesta cidade. Serão, neste
capítulo, apresentados também os resultados da pesquisa empírica realizada para a
efetivação deste trabalho.
Por fim, o último capítulo trata das conclusões tiradas a partir do
levantamento bibliográfico e da pesquisa empírica, onde será visto a grande
importância dos processos migratórios para a cidade de Londrina e,
consequentemente para os bairros em questão, assim como o aumento da
consciência da população com o ambiente na região.
14
15
1 AS MIGRAÇÕES.
A migração é um dos principais elementos da dinâmica populacional. Desde
os mais remotos tempos o homem deixa seu lugar de moradia e parte em direção a
um novo lugar para se estabelecer.
A Geografia como ciência reconhece sua importância, no sentido de sempre
colocar em relevância o processo migratório a outros que eventualmente
aconteceram ou venham a acontecer.
A história nos mostra exemplos claros que a migração se destacou como
fator de suma importância da vida de milhões de pessoas que se utilizaram deste
artifício na busca de melhores perspectivas para sua vida. Dentre outras podemos
destacar a emigração européia do final do século XIX que nos dá um bom exemplo
disso. (DAMIANI, 2004)
Segundo o glossário do Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH,
2008), migrante é todo aquele que se desloca de uma porção da terra para outra. Os
outros dois termos são variações: emigração é o movimento de saída de pessoas ou
grupos humanos de uma região ou de um país, para estabelecer-se em outro, em
caráter definitivo ou por período de tempo relativamente longo. Conseqüentemente,
por emigrante entende-se a pessoa que deixa sua região ou pátria e passa a residir
em outra região ou outro país. Por migração temos o movimento de pessoas ou de
grupos humanos, provenientes de outras áreas, que entram em determinado país,
estado ou região com o intuito de permanecer definitivamente ou por período de
tempo relativamente longo. Seguindo esta linha, imigrante é o indivíduo que,
deslocando-se de onde residia, ingressou em outra região, cidade ou país diferente
do de sua nacionalidade, ali estabelecendo sua residência habitual, em definitivo ou
por período relativamente longo.
Pode-se dizer que este deslocamento espacial é fruto da falta de condições
de um determinado local de suprir algumas ou várias demandas fundamentais para
a vida ou para o cotidiano daquele que migra. Como exemplo, esta migração pode
ocorrer por determinações econômicas, religiosas, políticas, por guerra ou por
determinações naturais, como furacões e terremotos.
Damiani (2004, p.62) acrescenta vários aspectos na definição destes
movimentos populacionais:Definem-se migrações permanentes e episódicas, as transferências
16
autoritárias da população – como a migração de refugiados, o comércio de escravos, etc. - e as migrações espontâneas (aparentemente espontâneas). Delineiam-se motivos políticos e econômicos conjunturais ou causas econômicas mais estruturais. Principalmente, quanto às causas da migração, sugere-se genericamente as motivações ou persegue-se, mais de perto, o quadro histórico particular que a moveu. Entre as afirmações genéricas, está a de definir-se como causa permanente das migrações a pressão demográfica, fruto de um rendimento na área de origem, cujo aumento não acompanha o da população.
Dessa forma, podemos concluir que, de fato, dois fatores são fundamentais
para provocar a migração. O primeiro faz parte de toda uma conjuntura sócio-
econômica-espacial ligada à questão da sobrevivência humana. O segundo está
ligado aos valores humanos, que são únicos a cada ser humano e que não podemos
discordar pois não os conhecemos.
Neste estudo, vamos nos ater apenas nas migrações definitivas, ou seja,
naquelas em que as pessoas trocam de residência habitual em definitivo ou por um
considerável espaço de tempo.
Brito (2000) afirma que as migrações não são apenas um fator demográfico,
são também fatores sociais. Elas estão incluídas dentro de todo um contexto social
que as empreendem, e as tornam, para muitos grupos humanos, uma possibilidade
para contornar problemas encontrados em um determinado momento.
Assim sendo,elas não são um evento aleatório, elas têm regularidade empírica que pode ser observada sob a forma dos fluxos migratórios, nas suas diferentes modalidades. Muitos destes fluxos migratórios, pela sua importância para a dinâmica espacial da economia e da sociedade, assumem regularidade de ordem estrutural. Eles se transformam em trajetórias migratórias que a sociedade, a economia e o Estado desenham, espacialmente, em função das suas necessidades e, portanto, podem ser redesenhadas, desde que essas necessidades se modifiquem. (BRITO, 2000, p.5)
Os fortes desequilíbrios regionais e sociais são, no Brasil, os grandes
responsáveis pela dinâmica migratória de grandes contingentes populacionais. Estes
desequilíbrios permitiram a acumulação de um grande número de pessoas nas
áreas menos dinâmicas economicamente que por sua vez poderiam ser absorvidas
pelas regiões de fronteira agrícola e áreas urbano-industriais que eram
economicamente muito mais dinâmicas.
Porém, as áreas de recepção de migrantes também não são em si
homogêneas e as atividades de trabalho são seletivas. Isto acarreta também na
seleção, realocação dos migrantes, aumentando ainda mais as desigualdades intra-
17
regionais das áreas desenvolvidas economicamente. (BRITO, 2000)
No Brasil, não podemos nos esquecer, há também uma forte presença da
ação do Estado na introdução de políticas de controle e direcionamento dos fluxos
migratórios, como veremos mais adiante. (MARTINE, 1994; VAINER, 2000)
Nas páginas que se seguem, serão distinguidos dois períodos para serem
tratados a ocupação territorial e as migrações no Brasil. O primeiro período é de
1500 a 1930, período em que a ocupação do país esteve mais restringida às áreas
litorâneas e alguns poucos pontos do interior do território brasileiro.
Já o período 1930-1980 foi escolhido devido ao entendimento que houve, a
partir da década de 1930, mudanças estruturais da ocupação do território brasileiro,
devido, principalmente, a uma maior integração deste espaço.
1.1 OCUPAÇÃO TERRITORIAL E MIGRAÇÃO NO BRASIL (1500-1930)
No Brasil, verifica-se a importância dos processos migratórios na dinâmica
do crescimento demográfico no decorrer da história. Até as últimas décadas XIX os
altos índices de mortalidade e de natalidade, permitiram que a política imigrantista
cooperasse para o crescimento populacional. (MARTINE, 1996)
Martine (1994, p.42) afirma que até a década de 1930 o Brasil se resumia
uma sociedade rural primária, e que as cidades, em sua grande maioria eram
pequenas e quase sempre localizadas no litoral.
Neste sentido, Andrade (1994) afirma que, no Brasil, até 1930, a ocupação
do território se deu em dois momentos distintos. O primeiro se deu com a chegada
dos portugueses e a consolidação da ocupação do litoral, do Rio Grande do Norte
até São Vicente, chegando até algumas cidades próximas ao litoral, como a atual
São Paulo. A segunda ocorreu no século XVII em alguns poucos pontos de
localização bem precisos, onde hoje são os estados de Minas Gerais, Amazonas e
Goiás, chegando também até a cidade de Cuiabá no atual estado do Mato Grosso.
Complementando-se esta idéia, Naritomi (2007) demonstra que a ocupação
territorial do Brasil teve como base de sustentação os ciclos econômicos da
agricultura de exportação e da mineração.
O nordeste brasileiro foi centro de adensamento populacional e comercial a
partir da introdução da cultura açucareira ainda no século XVI. A utilização da mão-
de-obra escrava era a principal marca da configuração populacional desta região
18
onde estes constituíam cerca de 65% da população em alguns lugares. (NARITOMI,
2007) Esta fase se configura pela ocupação da porção extremo-leste do Brasil, ou
seja sua costa litorânea, como afirma Andrade (1994).
Já no segundo momento, pode-se observar uma penetração rumo à oeste
dos movimentos migratórios, no século XVII, marcada pela descoberta dos minerais
preciosos da região de Minas Gerais e do Centro-Oeste brasileiro. Bandeirantes
paulistas partiram em expedições rumo às áreas centrais do território brasileiro,
onde, próximos as atuais Sabará e Caeté, foram encontradas as primeiras jazidas.
(NARITOMI, 2007)
A partir de então houve um grande fluxo de pessoas para esta região,
tornando o centro-sul brasileiro (o sul devido, principalmente, ao comércio ligado a
mineração) detentor da maior parte da população brasileira já na primeira metade do
século XVIII. (NARITOMI, 2007)
No que tange a produção do território mais ao sul do Brasil, não se verificou
aí um grande destaque da economia agrícola de exportação, prevalecendo a
produção voltada para o mercado interno. Devido a este fato, os paulistas pouco se
interessaram pela importação de mão-de-obra escrava, preferindo a utilização do
braço indígena, não por acaso, sendo desbravadores de muitas áreas pouco
exploradas a fim de capturar indígenas, utilizando-se também das hidrovias como
meio de transporte. Na caça ao índio, os paulistas, utilizando os rios penetraram para o interior até grandes distâncias e terminaram destruindo as missões jesuítas que os espanhóis haviam implantado, partindo do Paraguai, nas porções ocidentais dos atuais estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Levados pelo desejo de obter riquezas e pelos estímulos recebidos pelo governo, foram eles os descobridores do ouro e diamantes no atual território mineiro e de ouro em Goiás e em Mato Grosso. (ANDRADE, 1994, p.19)
No ciclo do ouro, a capitania de São Paulo juntamente com os campos do
sul, foram responsáveis pelo abastecimento alimentar e de transporte da região
aurífera.
Mais tarde, no século XIX, durante o ciclo do café, na sua expansão para
oeste, a mão-de-obra utilizada no ciclo do ouro (escrava) foi introduzida em larga
escala na cafeicultura, já que estava sendo subutilizada com a decadência da
mineração. Estes, então, se deslocavam do Brasil Central em direção às terras da
crescente cultura do café. Porém, após a proibição do tráfico negreiro em 1850 as
sucessivas políticas de abolição da escravidão (que já datam desde a promulgação
19
da Constituição de 1824), tornou cada vez mais difícil para os donos de terras a
utilização de uma mão-de-obra que permitisse a produção agrícola em larga escala.
(ANDRADE, 1994; VAINER, 2000)
Outro fator pesou para que a insatisfação viesse à tona na elite agrária do
Brasil: a falta de uma solução trabalhista para o fim da utilização do escravo negro
nas lavouras.
A solução para tal problema estava do outro lado do Atlântico: utilizar a mão-
de-obra imigrante européia. Essa imigração de trabalhadores livres europeus veio
remediar as dificuldades encontradas por essa elite, pois tratava-se de trabalhadores
que já estavam adaptados a essa política de trabalho, além de serem braços à
procura de trabalho em outros cantos do planeta, devido, principalmente, a crise
pela qual passava a Europa naquele momento. (VAINER, 2000)
Outros dois interesses também seriam supridos na efetivação desta política
imigrantista. Uma delas era a de ocupar espaços no sul do país para a defesa do
território nacional, muitas vezes, atacados por povos das nações de colonização
espanhola e indígenas que provinham do mar ou do interior das florestas da encosta
oriental da Serra do Mar. (ANDRADE, 1994)
A outra diz respeito ao velho projeto das elites em tornar “branca” a
colonização e ocupação do território brasileiro. (VAINER, 2000)
(...) E a substituição do trabalho do negro escravo não vai ser feita, principalmente, pelo trabalho liberto...mas por um outro contingente de trabalhadores que o Estado brasileiro havia começado a recrutar, transportar e localizar: o trabalhador branco e livre da Europa.(...) o fracasso dos esforços de mobilização da população negra liberta, o continuado e permanente compromisso das elites dominantes com o sonho do branqueamento da nação, tudo concorreu para que, progressivamente, se fosse construindo a estratégia imigrantista e agrarista, que assegurará, por muitos e muitos anos, a permanência da plantation exportadora e da hegemonia da cafeicultura na economia e na sociedade Brasileira. (VAINER, 2000 p. 17.)
Durante algumas décadas, a imigração disponibilizou a maior parte do
contingente populacional para as áreas de recente colonização agrícola, baseadas
na pequena propriedade e na produção de subsistência.
Mas, as dificuldades impostas pela falta de mão-de-obra escrava,
aumentaram a pressão sobre a política nacional de migração para que esta
convertesse o fluxo migratório de estrangeiros em direção às grandes lavouras,
principalmente as do café no estado de São Paulo. Esta mudança de postura,
20
permitiu que aos poucos, São Paulo, recebesse um contingente cada vez maior de
imigrantes nas fazendas; entre as décadas 1850 e 1890 foram mais de 1.125.000.
(VAINER, 2000)
Apesar da penetração e ocupação destas áreas, o Brasil ainda não se
constituía como um território nacional integrado, como uma rede. A produção
agrícola e a mineração, ambas voltadas para o exterior, impediam um processo de
integração nacional das diversas regiões deste vasto país e conseqüentemente,
uma quantidade pequena de trocas populacionais. Nas palavras de Martine (1994,
p.42)
Nessas circunstâncias, o Brasil era uma sociedade rural/primária, constituída de ilhas regionais desconectadas; as cidades eram pequenas, quase todas localizadas no litoral, e, em 1930 ainda continham apenas 12% da população total.
Esta configuração só foi se alterar após os anos de 1930, em que uma nova
dinâmica se instalou e predominou durante cerca de 50 anos.
1.2 OCUPAÇÃO TERRITORIAL E MIGRAÇÃO NO BRASIL (1930-1980)
Passados 430 anos da chegada dos portugueses, o Brasil começou a
conhecer processos econômicos e sociais que modificaram profundamente a
estrutura locacional de sua população.
Martine (1994) afirma que a crise econômica mundial iniciada em 1929, que
se estendeu pela década de 1930, atingiu a economia brasileira no auge da
cafeicultura paulista, que havia atraído um grande contingente de migrantes
nacionais e, principalmente, internacionais. Este fator levou ao surgimento de dois
movimentos migratórios complementares e contraditórios: o primeiro dá conta da
migração de contingentes populacionais rumo às fronteiras agrícolas (que neste
momento estavam localizadas no oeste das tradicionais áreas de agricultura no
Estado de São Paulo e nas áreas interioranas dos estados da região Sul,
principalmente no estado do Paraná) e o outro em direção às cidades. Foi a partir da
segunda metade da década de 1930 que aumentaram sensivelmente as migrações
inter-regionais e que tiveram auge nos anos de 1950.
Neste sentido, pode-se notar que estes dois movimentos supracitados
também foram possíveis devido à nova estratégia de ocupação territorial a partir do
21
governo de Getúlio Vargas. Segundo Andrade (1994) a revolução de 1930 foi um
marco na política territorial brasileira, pois o governo de Getúlio Vargas planejou uma
distribuição territorial mais ampla e melhorada da economia, buscando aumentar o
nível da integração nacional, principalmente a partir da incorporação de novos
territórios. Para isso procurou expandir a atividade agrícola para oeste,
aproveitando-se de áreas pouco habitadas, criando núcleos coloniais onde foram
instalados colonos que tinham por missão desbravar áreas virgens.
Para Martine (1994), é de suma importância a incorporação das fronteiras
agrícolas, pois elas servem como alternativa para contornar tensões geradas nas
áreas agrícolas tradicionais, e permitindo o incremento da produção agrícola sem a
necessidade de alteração do sistema fundiário.
De uma maneira geral, a expansão da fronteira agrícola se deu em três
momentos distintos: o primeiro na ocupação das terras do oeste do estado de São
Paulo, sul/sudeste do Mato Grosso (ainda não existia o estado do Mato Grosso do
Sul) e norte/oeste do Paraná. O segundo momento dessa expansão se deu nos
estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Maranhão iniciando-se em meados da
década de 1940 e perdurando até o final da década de 1960. O último avanço se
iniciou durante a década de 1970, na região amazônica. (MARTINE, 1994)
A região marcada pela expansão agrícola da década de 1930, ou seja, as
terras do oeste do estado de São Paulo, sul/sudeste do Mato Grosso e norte/oeste
do Paraná, foi palco da recuperação da lavoura cafeeira, que poucos anos antes
havia ido à bancarrota, devido a queda de seu preço no mercado mundial no auge
da crise econômica iniciada em 1929. Além de se constituírem excelentes áreas
para cultivo agrícola (devido a boa fertilidade dos solos), a região contava com uma
posição estratégica em relação aos grandes mercados consumidores, notadamente,
Rio de Janeiro e São Paulo. Aliado a estes fatores havia uma política de distribuição
de terras mais eqüitativa e a boa experiência dos colonos para transformarem a
região em um pólo atrativo de migração.
Padis (2006) afirma que entre as duas primeiras décadas do século XX e a
década de 1930 houve a superação das migrações estrangeiras pelas migrações
internas.
Em momento posterior, segundo Vainer (2000), a eclosão da segunda guerra
mundial determinou uma pausa na política imigrantista no Brasil. Na busca de
alternativas para esta problemática, o governo brasileiro passou a praticar uma
22
política de valorização do trabalhador brasileiro, incentivando a instalação destes
nas áreas de extração da borracha (cumprindo a função determinada ao Brasil nos
esforços para a cooperação aos Aliados na segunda guerra mundial) e nas terras
antes destinadas aos imigrantes, nas fronteiras agrícolas.
No outro extremo das migrações, a cidade foi o outro lugar de destino
daqueles que não se destinaram às áreas de fronteira agrícola. As primeiras
migrações no sentido rural-urbano exigiam respostas cada vez mais rápidas do
Estado, a fim de garantir as mínimas condições para a acomodação da população
que aí chegava. Estas políticas contribuíram, então, para que as cidades
aumentassem seus níveis de atração. Em cidades mais dinâmicas, o crescimento da
industrialização foi fator positivo para o incremento das migrações e o conseqüente
crescimento urbano. (MARTINE, 1994).
Pode-se também dizer que a urbanização se deu principalmente nas cidades
do centro-sul do Brasil, abrangendo principalmente as capitais dos estados de São
Paulo e Rio de Janeiro. Santos (1993) afirma que em 1940 a população urbana
representava 31,2 % da população total do país e que, somente a região Sudeste
possuía um índice de população urbana maior que este (39%). Em 1950, o índice
brasileiro de população urbana era de 36,2 % e apenas as regiões Sul (33%) e
Sudeste (48%) possuíam índices maiores que o Brasil em 1940.
No período que se inicia na década de 1950 tem-se um grande aumento dos
fluxos migratórios no Brasil. Há, ainda neste momento, dois destinos dos migrantes:
a fronteira agrícola e as cidades.
Brito (2000) afirma que houve uma concentração no destino dos emigrantes.
Nas décadas de 1940 e 1950, São Paulo e Rio de Janeiro, os estados com o maior
desenvolvimento urbano-industrial do país foram os grandes receptores urbano-
industriais de contingentes populacionais. Por outro lado, as regiões de expansão da
fronteira agrícola também mostraram uma grande capacidade de absorção dos
imigrantes, principalmente o Paraná. Martine (1994) afirma que a política via
planejamento continuava a incentivar a migração para as áreas de fronteira agrícola.
Porém, já no inicio, e, principalmente na segunda metade da década de
1950, ia-se exaurindo a dinâmica da fronteira agrícola do Paraná e o direcionamento
das migrações para o mundo rural tomava outro sentido. A partir de então, e cada
vez mais, a região de grande recepção de pessoas para a colonização passou a ser
a faixa central do país, sendo a transferência da capital do país para Brasília, em
23
1960, a mais importante política explícita de interiorização do território Brasileiro.
Nesta região, as taxas de crescimento foram fortes no período de 1950-
1960. A taxa média de crescimento no Brasil era de 3,05% a.a. neste período
enquanto as taxas da região Centro-Oeste alcançavam os 5,45% a.a. (CUNHA &
BAENINGER, 2000).
Concomitantemente, há toda uma dinâmica de concentração da população
migrante nos centros urbanos do país. É uma realidade nova, em que verificou-se
movimentos migratórios muito intensos, êxodo rural e movimentos inter-regionais. As
principais correntes migratórias partiam principalmente dos estados do nordeste e do
estado de Minas Gerais.
Com os anos 50 impõe-se um realidade totalmente nova: êxodo rural, intensas migrações interregionais. Nos corredores da Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, não se ouvem mais o italiano e o espanhol, agora substituídos pelos sotaques nordestinos e mineiros […] (VAINER, 2000, p. 24)
Importante para o aumento da migração nas cidades foi o crescimento do
ritmo da industrialização no Brasil, complementando a política de planejamento feita
a partir da década de 1950, principalmente do governo de Juscelino Kubitschek e
que se estendeu até o governo militar.
Esta situação não se alterou profundamente por cerca de 15 anos, porém a
tomada do poder pelos militares colocou em pauta uma dinâmica já diferenciada. O
governo militar passou a priorizar uma modernização das estruturas de produção e a
investir fortemente no setor de infra-estrutura. Estes acontecimentos impactaram
fortemente na dinâmica migratória brasileira.
Adotando uma política de planejamento centralizado e de forte intervenção
estatal, os militares criaram medidas que aos poucos tenderam a concentrar a
renda, a terra e os meios de produção. Várias foram as mudanças nos diversos
setores da economia brasileira, mas, as políticas de maiores impactos estavam
direcionadas para os setores agrícola e industrial. (MARTINE, 1994)
Primeiramente, destacam-se as alterações causadas pela modernização
agrícola, que teve sua principal representatividade na chamada revolução verde.
Esta revolução foi caracterizada pela inserção de práticas e técnicas de produção
agrícolas, de novos insumos agrícolas necessários para assegurar as condições
para que as novas plantações alcançassem níveis crescentes de produtividade. Este
24
modelo de modernização agrícola veio a beneficiar a concentração da propriedade e
o uso da terra. A concentração da terra, aliada à menor necessidade de mão-de-obra
agrícola, proporcionou um aumento significativo da migração rural-urbana.
(OLIVEIRA, 2003)
O segundo passo para a alteração dos padrões migratórios foi a dinâmica do
setor industrial. Este ganhou grande força com a política de intervenção estatal e
concentração. Estas reformas estruturais permitiram um rápido crescimento na
indústria a partir de 1968, tendo em vista que esta tinha passado por uma pequena
recessão no período de 1963 a 1967. Tendo isto em vista, verifica-se que a forte
intervenção estatal do governo militar serviu de base para a introdução cada vez
maior do Brasil no cenário capitalista global.
Apesar da retórica liberalizante do novo regime, o Estado desempenhou um papel ativo na expansão do mercado interno e na promoção de exportações de produtos manufaturados, que se somaram às condições favoráveis da economia mundial em termos de dinamismo do comércio internacional e de facilidades de aporte de capital externo de risco e por empréstimos em moeda. (VERSIANI & SUZIGAN, 1990 p. 32)
Conforme Versiani e Suzigan (1990), a política de intervenção estatal na
economia permitiu a intensificação das relações comerciais do Brasil com o mercado
externo. Além disso, o que se verificou foi que a facilidade de crédito permitiu que o
Brasil capitalizasse uma quantidade considerável de recursos para o financiamento
da economia nacional, fato que levou ao aumento muito grande da dívida brasileira
com bancos e organismos internacionais.
O crescimento econômico baseou-se principalmente no grande investimento
do setor público nas áreas de saneamento básico, transportes, comunicações e
urbanização, sendo que houve empréstimos maciços de capitais, facilitado pelas
grandes corporações financeiras internacionais (VERSIANI & SUZIGAN, 1990).
Temos então um cenário sócio-econômico gerador de migrações, como
descrito por Singer (1983). Para este autor, estes acontecimentos geraram, de um
lado, fatores de expulsão que geraram migrações. Estes fatores estão relacionados
à introdução das relações capitalistas modernas nas áreas agrícolas, a expulsão dos
posseiros, parceiros e outros e a diminuição dos empregos. Soma-se a isto a
pressão populacional devido a falta de terras, como conseqüência da monopolização
das mesmas.
Por outro lado, é de grande importância o fator industrialização para as
25
dinâmicas migratórias, pois se utiliza, muitas vezes, de uma capacidade instalada de
infra-estrutura e acaba por aglutinar em seu entorno produtos e serviços para sua
utilização ou até mesmo da população como um todo, atraindo assim um
considerável contingente de trabalhadores. Boa parte da mão-de-obra que saíra das
terras rurais encontrou na indústria empregos formais para manter-se como mão-de-
obra nas cidades. Nas palavras de Singer
Numerosas atividades manufatureiras, que antes eram combinadas com atividades agrícolas, são separadas desta, passando a ser realizadas de forma especializada em estabelecimentos espacialmente aglomerados. A aglomeração espacial da atividade industrial se deve à necessidade de utilização de uma mesma infra-estrutura de serviços especializados (...) e às economias externas que decorrem da complementaridade entre os estabelecimentos industriais. (...)Uma vez iniciada a industrialização de um sítio urbano, ele tende a atrair populações de áreas geralmente próximas. O crescimento demográfico da cidade torna-a, por sua vez, um mercado cada vez mais importante para bens e serviços de consumo, o que passa a constituir um fator adicional de atração de atividades produtivas que, pela sua natureza, usufruem de vantagens quando se localizam junto ao mercado de seus produtos. (SINGER, 1983 p. 32)
Neste sentido, a grande quantidade de fluxos migratórios em direção às
áreas urbanas do Brasil, tornava evidente a carência de moradias para absorver tal
população. Esta carência, porém, não foi deixada de lado neste período. Versiani e
Suzigan (1990) afirmam que a demanda interna de produtos manufaturados, se deu
também devido ao grande aumento de construções residenciais, sendo importante,
novamente, a intervenção estatal nas políticas de habitação, via SFH (Sistema
Financeiro de Habitação) e BNH (Banco Nacional de Habitação). Para Martine
(1994), o BNH promoveu o envolvimento dos vários setores da construção civil,
organizando os financiamentos em locais em que acabou viabilizando também a
concentração populacional.O BNH, ao mobilizar interesses do poderoso setor da construção civil, acabou tendo forte influência sobre o dinamismo econômico de diferentes localidades e, por essa via, impulsionando a concentração demográfica. (MARTINE, 1994 p.52)
Além dessas, outras políticas influenciaram nos fluxos migratórios e na vida
da população como um todo. A política de desenvolvimento regional do período de
Juscelino Kubitschek passa a ser substituída, aos poucos, pela política de
integração nacional, da qual derivaram muitos programas e projetos.
Em 1967 cria-se o Ministério do Interior a quem é atribuída a função de atuar
26
na área de radicação das populações, da ocupação territorial e das migrações
internas, porém, a década de 1970 surgiu já caracterizada pela macrocefalia
urbana, ou seja, a grande concentração populacional em determinadas regiões
urbanas e trouxe consigo a necessidade de políticas de melhor distribuição da
população. (VAINER, 2000)
Neste momento, temos um grande fluxo migratório em direção às grandes
cidades e regiões metropolitanas. Somada à dinâmica de crescimento vegetativo
(que é baixa em relação à dinâmica migratória) temos como reflexo a concentração
populacional nestas regiões. A taxa de crescimento média das áreas metropolitanas
no período 1960-1970 era de 4,7 % ao ano, taxa bem superior aos 3,8% ao ano
registrados no período de 1970-1980, quando houve um arrefecimento dos
movimentos migratórios. Só a Região Sudeste recebeu no período 1960-1970 mais
de dois milhões de migrantes. (CUNHA & BAENINGER, 2000)
Continuando a política de criação de programas de planejamento
centralizado, na década de 1980 acontece a aprovação do Programa Nacional de
Apoio às Migrações internas.
Vainer (2000) afirma que é difícil analisar a real eficiência das políticas de
planejamento das migrações. Para Martine (1994), a intenção do governo na criação
das medidas acima apresentadas era de controlar e direcionar os fluxos migratórios
em direção às áreas de fronteira e diminuir os fluxos direcionados às regiões
metropolitanas. Porém, as ações destas medidas foram pouco eficientes. Exemplo
da ineficácia de tais medidas é a desconcentração populacional nas áreas
metropolitanas só foi percebida na década de 1980, mas se deu apenas devido à
crescente desconcentração industrial, ou seja, a mudança de local de instalação das
indústrias no território brasileiro, fato ligado à racionalidade do mercado.
Tem-se, então, uma realidade diferenciada daquela conferida na década de
1970.Pelo menos até os anos 70, impulsionada pela intensa imigração, a Região Sudeste e, em particular, o Estado de São Paulo, cresceram a taxas significativamente maiores que o Pais, fato que já não se observou nos anos 80 e primeira metade dos 90 e que ... explica-se pelo importante arrefecimento dos movimentos migratórios para essas áreas.(CUNHA & BAENINGER, 2000 p. 22)
Complementando, Cunha e Baeninger (2000) ainda afirmam que o
crescimento populacional nas regiões metropolitanas brasileiras sofreu uma redução
27
significativa a partir dos anos de 1980 e teve como influência a queda considerável
da intensidade migratória.
Ligado a estes fatores, na segunda metade da década de 1980 e nos anos
de 1990, ocorre a diminuição da ação das políticas públicas de controle das
migrações e das políticas territoriais e a dispersão da indústria pelo território
nacional. (VAINER, 2000; MARTINE, 1994)
Estes diversos atores tiveram influência também na ocupação da fronteira
agrícola, conforme mostra Martine (apud CUNHA & BAENINGER, 2000):
a partir de 1986, a atração migratória da fronteira agrícola foi arrefecida, ou praticamente cessou. Coincidiram para isso o fim do Polonoroeste e de outros subsídios à agricultura na Amazônia; as dificuldades inerentes ao desenvolvimento econômico da Região e a ausência de soluções tecnológicas para a agricultura; (...) o protesto nacional e internacional contra as políticas públicas que favoreciam o desmatamento amazônico e outros fatores relacionados (...) Na região amazônica, a ocupação da fronteira já não se processa de forma clássica (assiste-se um maior incremento da população urbana); as migrações não são mais predominantemente compostas de pessoas com origem e destino rural...
A diminuição dos fluxos direcionados à Amazônia foram reflexos de diversos
processos como a dificuldade da implantação da agricultura sem que fosse
necessário um grande aporte financeiro e tecnológico, o fim de subsídios a esta
agricultura. Além disso, contribuíram para o arrefecimento da migração para a
fronteira agrícola a rápida expansão das atividades do garimpo, madeireiras,
comércio e serviços na região amazônica.
O cenário da ocupação territorial do Brasil e a questão das migrações
estavam, na década de 1980, caracterizados pelo processo de desconcentração
industrial e populacional das áreas mais urbanizadas do país, aumento no
contingente populacional e industrial nas áreas urbanas menos tradicionais
(principalmente as cidades médias) e o arrefecimento das migrações para a fronteira
agrícola amazônica.
Os primeiros anos da década de 1990 foram caracterizados pelo processo
de menor ritmo de crescimento, iniciado nos anos 1980, nas regiões metropolitanas.
Sobre as dinâmicas recentes, Brito e Carvalho (2006) analisam ainda novos
padrões para as migrações inter-estaduais. Para eles, nos últimos anos é de suma
importância as chamadas migrações de retorno, onde, em se tratando do Estado de
São Paulo, houve um grande fluxo de migrantes em direção principalmente aos
estados do Nordeste e Minas Gerais.
28
Outro fator migratório importante na dinâmica da população brasileira, é o
processo de emigração brasileira, ou seja, muitos são os brasileiros que migram
para outros países, em busca de melhores condições financeiras. Ao contrário do
que aconteceu no final de século XIX e na primeira metade do século XX, muitos
brasileiros deixam o pais em busca de uma estabilidade, muitos deles descendentes
dos imigrantes que aqui chegaram. (VAINER, 2000)
1.3 O PARANÁ, OCUPAÇÃO E MIGRAÇÕES: LONDRINA EM SEU CONTEXTO
A ocupação de território paranaense remonta ao século XVII quando a
porção de terra que hoje pertence ao Estado do Paraná, passou para o controle
efetivo da coroa portuguesa. Desta data em diante, a ocupação foi morosa e
esparsa por quase dois séculos. As cidades litorâneas e Curitiba foram as primeiras
fundadas neste estado.
No período que vai do século XVII até o final do século XIX o Paraná se
encontrava como um estado que possuía uma quantidade considerável de
propriedades com tamanhos bem acima do padrão da região Sul como um todo,
devido principalmente à extração da erva-mate no oeste e a criação de bovinos na
rota comercial para a mineração. Pouco a pouco estas características vão se
alterando, possibilitando que, no século XVIII, a agricultura de subsistência passe a
ser a principal atividade econômica do estado, surgindo daí, os municípios de
Palmas, Lapa, Ponta Grossa, Castro, Jaquaraíva e Guarapuava.
Sobre a questão do tamanho das propriedades, Swain (1988) afirma que a
região Sul do Brasil teve a pequena propriedade como elemento diferencial na
política agrária e fundiária, contrastando com as grandes propriedades existentes
principalmente na região Nordeste. Ela também esteve à margem da economia
cafeeira até a década de 1930, sendo que a partir desta data, como visto acima,
tivemos um grande fluxo de imigrantes.
O imigrante fora acolhido como fator de estabilização para o desenvolvimento das cidades e o aumento das culturas alimentares, ainda insuficientes para satisfazer à demanda. O crescimento da pequena propriedade nestes três Estados apresenta, naturalmente, características diversas e próprias a cada um, que não pretendemos simplificar (...) o que nos interessa, aqui, é revelar a presença significativa da pequena propriedade agrícola, em escala familiar, em face da preponderância esmagadora do latifúndio no resto do País, e isenta das barreiras sociais por ele impostas. (SWAIN, 1988, p.21)
29
Observe-se que, no século XX a ocupação do território paranaense toma
outros rumos. A partir dos anos de 1920, o norte e o oeste se tornam zonas de
colonização pioneiras da fronteira agrícola. Temos neste período um fluxo regular de
migrantes rumo a esta região e um rápido processo de desmatamento. (SWAIN,
1988)
Quanto ao norte do Paraná, segundo Müller (2001) foi por meio dos jesuítas
esta região teve o início de seu povoamento no séc. XVII, que aí instalaram várias
missões. Com o fim das missões e o aumento da importância das cidades do
Segundo Planalto, devido ao fato de serem cidades-pousos, durante o séc. XVIII a
região norte ficou um pouco à margem da colonização. No séc. XIX se iniciou uma
retomada da colonização desta área com a fundação da Colônia Militar de Jataí em
1855, na margem direita do rio Tibagi. Posteriormente, na outra margem, foi fundada
a Colônia São Pedro de Alcântara, destinada a reunir a população civil, que unidas
deram origem a cidade de Jataízinho. A segunda metade do séc. XIX representou
um novo ritmo de colonização no Norte do Paraná, já que aí se inicia a introdução
paulatina da cultura do café nesta região.
Essa ocupação foi feita a partir de 1862, efetuando-se as primeiras penetrações através dos cursos superior e médio do rio Itararé. Eram fazendeiros paulistas que, seguindo a marcha para Oeste do café, foram atraídos pelas manchas de terra-roxa da região sedimentar permo-carbonifera. Surgiram então, os primeiros núcleos: Colônia Mineira (1862), hoje Siqueira Campos, Santo Antonio da Platina (1866), Venceslau Brás e São José da Boa Vista (1867). Desses núcleos, que balizam a frente pioneira da época, a expansão seguiu para Oeste [...] (MÜLLER, 2001, p. 98)
A penetração rumo a oeste do rio Tibagi foi feita em moldes diferentes do
que acontecia em geral na parte leste. O que se vê na parte oeste é uma
colonização feita nos moldes de colonização dirigida, obra da Companhia de Terras
Norte do Paraná. Esta organização, integrada por capitais ingleses, realizou
importantes obras de colonização, começando por adquirir, no estado do Paraná,
uma gleba de 330 mil alqueires paulistas (figura 1) em 1924.
Segundo parece, a Companhia resolvera, de inicio, comprar estas terras para plantar nelas culturas de algodão, que viessem substituir a matéria-prima do Sudão, [...] As primeiras viagens de reconhecimento, no entanto, demonstraram que talvez os melhores resultados fossem obtidos com o
30
loteamento da gleba em pequenas propriedades: os colonos plantariam algodão e, atingindo assim seu objetivo primário, a Companhia poderia ainda recuperar, com lucros, o capital empatado. Formou-se então a Paraná Plantations Co. que, percebendo a grande importância que boas vias de comunicação teriam para seu plano, desdobrou-se em duas subsidiárias: a Companhia de Terras Norte do Paraná, que trataria da colonização, e a Cia. Ferroviária São Paulo-Paraná que, comprando o ramal Ourinhos – Cambará procuraria levar a estrada de ferro até os loteamentos. (MÜLLER, 2001 p. 100)
FIGURA 1: Área pertencente a CTNP.FONTE: MÜLLER, 2001.
O que se nota na verdade, é que primeiramente a cidade era atingida pela
estrada de rodagem, as picadas (caminhos abertos no meio da mata), e depois pela
estrada de ferro.
Segundo Swain (1988) a política nacional do café ajudou a expansão desta
cultura para o norte paranaense. Segundo a autora “no início do século XX, afim de
evitar crises de superprodução, o governo taxa todas as novas plantações de café
no Estado de São Paulo. Tal política favorece a expansão do café em direção ao
território vizinho, o Paraná.” (SWAIN, 1988 p. 27)
A Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) investiu na organização de
31
um empreendimento, um núcleo urbano regional que garantisse as condições
mínimas para que os proprietários rurais desta região utilizassem serviços e
atendimentos básicos à população. Em agosto de 1929, a Companhia tomou posse
efetiva de sua propriedade criando assim a cidade que lhe serviria de sede de
escritório além das funções acima citadas: Londrina. Começam, então, os
levantamentos topográficos, os planos de loteamentos, venda de lotes urbanos e
rurais e a efetiva desta área da CTNP.
Para a criação do núcleo urbano foi escolhida a área que se localiza no alto
do divisor de águas dos cursos hídricos dos ribeirões Cambé e Quati, que se
localizam dentro de uma área que é a espinha dorsal da penetração das vias de
circulação, que é o divisor de águas entre os cursos dos rios Paranapanema e Ivaí.
Neste sentido
... localizada sobre o espigão mestre, a cidade, devido ao seu plano quadrangular, ultrapassa-o um tanto nos seus limites setentrionais e meridionais, onde atinge parte das vertentes: por isso, além da ondulação suave do divisor de águas, (com altitudes locais variando entre 570 e 600 m), a topografia urbana se movimenta para a periferia ... (MÜLLER, 2001 p. 108)
Durante os anos de 1930 a cidade passou por mudanças em suas estruturas
ao ser implementado o novo centro urbano que foi planejado e desenhado com
quarteirões simetricamente alinhados, seguindo padrão de um tabuleiro de xadrez,
com loteamentos que possuíam valores díspares e que totalizados dariam suporte a
uma população de 20.000 habitantes. (FRESCA, 2002)
Swain (1988) afirma que a partir da década de 1940 o Paraná passou por
um forte incremento de sua população, devido principalmente a cultura de café que
se beneficiava da alta cotação deste produto no mercado internacional e também
pelos baixos preços da terra praticados pelas colonizadoras no estado, que ainda
beneficiava os compradores de lotes através da construção de estradas e linhas
férreas. Assim, norte e oeste do Paraná se configuram como os principais centros de
atração populacional da fronteira agrícola.
Neste sentido, segundo Müller (2001), nos primeiros anos de colonização, e
do norte do Paraná como um todo, a população de Londrina não era constituída por
paranaenses, que só apareciam em terceiro lugar dentre integrantes da população,
mas por paulistas e mineiros. Há também uma forte presença de imigrantes
estrangeiros, principalmente os japoneses.
32
Na constituição da população de Londrina aparecem os principais elementos do povoamento do próprio Norte do Paraná, como se olhássemos para uma amostra: 92,1% de brasileiros e 7,9% de estrangeiros. Do elemento nacional: 70% de paulistas, 15% de mineiros, 10% de paranaenses; entre os estrangeiros (num total de 2.682), 39% de japoneses (945) vindo depois os italianos (382), portugueses (368) espanhóis (358) alemães (193) e mais 21 nacionalidades compreendendo os restantes 439. (MÜLLER, 2001, p. 111)
Assim, no contexto geral do estado, a população apresenta um aumento
cerca de 71% entre 1940 e 1950, sendo que 75% destas pessoas residiam nas
zonas rurais. Na década que vai de 1950 a 1960 o incremento populacional chega a
ser de 105%, sendo a época de maior afluxo de migrantes para este estado.
Nos anos cinqüenta, de um total de 2.124.266 migrantes, 45% se dirigiram rumo ao Paraná. É portanto nesta época de alta dos preços do café e de expansão dos programas de colonização que o Paraná recebe o grande impulso demográfico. O Paraná torna-se então o maior produtor de café do Brasil e, conseqüentemente, do mundo. Suas colheitas, boas ou más, comandam os preços das cotações internacionais. (SWAIN, 1988 p. 27)
Neste sentido, no contexto brasileiro, a área de maior acolhimento foram os
estados do Rio de Janeiro e São Paulo, que somados contribuíram na recepção de
60% dos migrantes, enquanto o Paraná recebeu 33% deste total.
Silva e Melchior (2002) afirmam que apesar de ser construída para suportar
uma população de 20.000 habitantes, Londrina rapidamente ultrapassa esse total
em menos de 20 anos de existência, devido principalmente a economia cafeeira que
atraiu de um grande contingente populacional pelo menos até a década de 1970.
Conforme Fresca (2002 p.244) “foi ao longo dos anos de 1950 que Londrina
apresentou a maior expansão econômica, populacional e físico-territorial de sua
recente historia.” O grande dinamismo que o café propiciou para a cidade, que
passou a ser conhecida como a capital mundial deste produto, foi fator determinante
para este fato não sendo, porém, este produto único produto agrícola desenvolvido e
importante em Londrina. Foi na década de 1950 que surgiram os primeiros edifícios
da cidade, como símbolos de riqueza, poder e maturidade e não como soluções
para uma possível falta de espaços horizontais. Concomitantemente há um aumento
significativo do número de pessoas e residências nas áreas suburbanas. (SILVA,
2006)
Segundo Moura (2004) a população paranaense foi incrementada em quase
33
5,9 milhões de pessoas entre 1950 e 1970, saltando de 2,1 milhões para quase 7
milhões, com taxas de crescimento geométricas na casa dos 5% ao ano.
Os anos de 1960 trazem consigo o início de uma grande reestruturação dos
valores produtivos no Brasil. Vários fatores, individualmente ou somados,
contribuíram para que a estrutura econômica e produtiva do Brasil se alterasse e
permitisse, como visto anteriormente, o desenvolvimento de uma nova dinâmica
populacional do país.
Em 1964 os militares tomam o poder e dão prioridade à modernização da economia, particularmente no setor agrícola, visando a um crescimento global acentuado, em diversificação das exportações agrícolas e impulso ao setor secundário. São postos em ação mecanismos de apoio e auxílio financeiro e fiscal. Trata-se da época do “boom” econômico, do qual beneficiaram-se, sobretudo, as grandes empresas agrícolas e industriais, cuja mecanização efetuou-se a um ritmo desenfreado. (SWAIN, 1988 p. 30)
A entrada cada vez maior de produtores no ramo do café e o conseqüente
crescimento de sua produção dificultaram as iniciativas do governo de pagamento
pelos excedentes de produção, em um cenário de desvalorização do café devido os
altos índices de produção. Foi nesta década que foram criados programas que
propunham, primeiramente, o controle da produção de café no Brasil e, em momento
posterior, um programa de erradicação do café. Além disso, a introdução paulatina
da mecanização da agricultura e todo o pacote da revolução verde ajudaram a
dinamizar as políticas de erradicação do café. Durante a implantação desses
programas, mais de 100.000 pessoas perderam seus empregos. (SWAIN, 1988)
Além disso,
O estado brasileiro, pressionado pelas empresas multinacionais, que necessitavam de mercado consumidor, redirecionou seus investimentos/empréstimos/ financiamentos para o setor agrícola de forma que privilegia-se as culturas de fácil mecanização em detrimento das culturas, com o café, que não possibilitam mecanização facilitada. Com isso, a cultura do café, nas áreas onde eram cultivadas, foi drasticamente reduzida e no norte do estado Paraná onde houve ocorrência de fortes geadas, (...) a cultura do café foi praticamente erradicada. (SILVA e MELCHIOR, 2002, p.2)
As alterações acima citadas tiveram grande impacto principalmente na
década seguinte. Na década de 1970, segundo Fresca (2002) as relações sociais de
trabalho no campo passaram por profundas alterações. Se havia até então o
predomínio da agricultura familiar e a boa aceitação do café no mercado mundial,
34
este panorama alterou-se pela diminuição gradativa desta aceitação e a introdução
cada vez maior de culturas com altos níveis de tecnificação, que faz dispensável a
mão-de-obra familiar, como da soja e do trigo. Além disso, tivemos ações das
cooperativas agroindustriais que expandiram a força dessas novas culturas. Por fim,
a lei trabalhista da época também exerceu grande influência nestas transformações
a partir do momento em que diretamente passa a exigir a proletarização cada vez
maior do agricultor e indiretamente, sua transformação em trabalhador temporário.
(FRESCA, 2002).
Este processo gera um notável êxodo rural em todo o Brasil e a migração de
milhares de pessoas para as cidades mais dinâmicas do país (DAMIANI, 2004)
sendo Londrina uma delas.
Segundo Moura (2004), no Paraná, esses anos se caracterizam como marco
de uma reestruturação econômica, sendo que esta acarretou em esvaziamento de
grandes áreas rurais destinando grandes fluxos migratórios para diversos centros
urbanos. Além disso, foi importante, também, a saída de grandes fluxos
populacionais em direção às novas áreas de fronteira agrícola no Centro-Oeste e no
estado de Rondônia.
No que diz respeito a esta nova estruturação paranaense, Moura (2004,
p.34) afirma que
as atividades do setor primário que, 1970, respondiam por mais de 40% da renda gerada no Estado, progressivamente passaram a ser superadas pelas do setor secundário, que consolidaram sua participação, atingindo, no ano 2000, metade dessa renda. Nesse ano, o setor primário respondeu por apenas 13,7% do valor adicionado fiscal paranaense
Este quadro alterou a característica paranaense, no tocante às migrações.
Se nos anos 1940 o estado se configurava como atrativo para as migrações, na
década de 1970, passa a ser um estado expulsor de contingente populacional.
O Paraná se apresenta como um caso típico: de centro de abrigo da grandemassa de migrantes, torna-se centro de expulsão dos trabalhadores rurais. Com efeito, no decorrer dos anos sessenta, tendo em vista as modificações da política agrícola e a restrição das oportunidades de acesso à terra, as migrações em direção ao Paraná perdem seu dinamismo: dos 3 milhões de migrantes recenseados entre 1960 e 1970, apenas 20% se dirigiram ao Paraná, e 40% a São Paulo, grande centro industrial.
Moura (2004) afirma que tivemos um movimento complementar de
35
esvaziamento do rural e concentração do urbano, muitos municípios deixando de
gerar receitas antes obtidas pela agricultura. Podemos perceber que os grandes
fluxos de população que mudaram para áreas urbanas contribuíram na rápida
urbanização, acentuando muitas vezes as problemáticas inerentes ao urbano.
Migrantes oriundos dos campos ou pequenos municípios deixaram seu modo de vida tipicamente agrário ou peculiar de pequenas vilas para se somarem aos habitantes urbanos na acirrada disputa pelo trabalho, bens e serviços, ao acesso ao solo e à cidade. Se nas cidades as condições sociais já se faziam presentes, a urbanização, em tal intensidade, ampliou as malhas construídas, fazendo surgir novos loteamentos, densificando os bairros existentes, verticalizando edifícios e agudizando os conflitos e a segregação socioespacial, ao criar áreas servidas e equipadas, ao lado de favelas e periferias carentes. (MOURA, 2004, p. 36)
Em Londrina, no contexto paranaense, não foi diferente: o município
rapidamente evoluiu em população e população urbana, sendo que na década de
1970 a população urbana já perfazia cerca de 57% da população total do município,
conforme percebemos na tabela abaixo
TABELA 1: Evolução da população de Londrina
ANO POP. URBANA POP. RURAL TOTAL
1935 4.000 11.000 15.000
1940 19.531 64.765 75.296
1950 33.707 33.144 66.851
1953 48.000 42.000 90.000
1960 77.382 57.439 132.821
1970 163.871 64.661 228.894FONTE: Silva e Melchior (2002)
Isso acarretou em algumas conseqüências que evidenciaram a fragilidade
da estruturas urbanas existentes. Moura (2004) mostra que o resultado do abrupto e
intenso processo de urbanização que se constituía no Paraná não foi acompanhado
de políticas públicas condizentes. Silva e Melchior (2002) afirmam que a chega dos
migrantes à cidade de Londrina foi acompanhada pelas dificuldades de adaptação,
devido a falta de qualificação da mão-de-obra para a indústria crescente e o
comércio e também pela insuficiência de empregos para a absorção do todo o
contingente populacional da cidade.
No estado do Paraná, na década de 1970-1980, podemos perceber uma
tímida taxa de crescimento da população, que segundo Swain (1988) é de apenas
36
10%, baixa se comparada com os períodos de 1960-1970 (61%) e 1950-1960
(103%).
Ainda em se tratando do período entre 1970 e 1980,
(...) a modernização agropecuária e o incremento da atividade industrial entre 1970 e 1980, os municípios passaram a formar áreas de forte evasão, principalmente nas porções norte e noroeste do Estado. Em contrapartida, focos concentradores já estavam se definindo, além da região metropolitana de Curitiba, emergiram os núcleos de Londrina e Maringá e se afirmavam centralidades nas várias regiões. (MOURA, 2004, p.39)
Portanto, o cenário que se viu no início da década de 1980 é o de grande
volume de evasão populacional para outros estados da federação, ou para áreas
mais urbanizadas do estado do Paraná. É importante destacarmos a presença das
regiões metropolitanas do Paraná: Curitiba, Londrina1 e Maringá, como áreas
receptoras de grande aporte populacional.
A partir da segunda metade da década de 1980, de uma maneira geral,
houve em todo o Brasil um grande arrefecimento das migrações. Neste sentido,
áreas perdedoras de população, passaram a diminuir seus ritmos de perdas e outras
grandes ganhadoras de saldos populacionais até passaram a ter saldos migratórios
negativos.
Em relação ao período de 1985 a 1996, Moura et al (1999) afirmam que
No Paraná, essa dinâmica particulariza-se por um movimento de redução substancial das saídas para outras UFs (de 475.190 para 219.427) e por uma diminuição, menos expressiva, no movimento de ingresso de UFs (269.540 para 234.004) ... Contudo, o Paraná continua entre as UFs com maior contingente de população migrante. No período 1986-91, a saída de paranaenses representou 9% da emigração nacional e em 1991-96 representou 7%, com fluxos apenas menores que os de São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Quanto à imigração, recebe 6% dos fluxos em 1991-96, tendo à sua frente São Paulo, Minas Gerais e Goiás. (MOURA et al, 1999, p. 28).
Estes autores afirmam ainda que no período de 1986-1991 é de grande
destaque uma mudança no padrão das migrações que ocorrem dentro do estado do
Paraná: se nos períodos anteriores tivemos uma forte migração rural-urbana, este
período representa uma predominância das migrações intra-urbanas, que
representavam cerca de 54% das migrações intra-mesorregionais. Neste sentido,
1 A região Metropolitana de Londrina (RML) foi criada em 1998 pela Lei Complementar Estadual nº 81 de 17 de junho de 1998 e abrange os municípios de Londrina (polo), Cambé, Ibiporã, Bela Vista do Paraíso, Jataizinho, Rolândia e Sertanópolis e Tamarana. (CASTRO, 2006)
37
para receber estas populações, reforçam-se os três pontos de concentração
estadual. A Região Metropolitana de Curitiba recebe 43% desses deslocamentos,
seguida da Norte-Central paranaense (23%) e da Oeste Paranaense (14%).
Na região Norte Central paranaense que compreende as regiões
metropolitanas de Londrina e Maringá, há um aporte populacional significativo em
relação ao Estado do Paraná.
Entre as mesorregiões que tiveram menor perda populacional no período 1986-91 estão a Norte-Central e a Oeste Paranaense. Distinguem-se principalmente porque seus municípios mais importantes tiveram resultados favoráveis nos movimentos migratórios, embora também não apresentem acréscimo no número de imigrantes no período seguinte. Na Norte-Central, todos os municípios que integram a aglomeração2 têm taxas de crescimento superiores à do Estado – Londrina/Cambé/ Ibiporã, Maringá/Sarandi/Paiçandu, além de Arapongas. (MOURA et al, 1999 p. 47).
Em se tratando de regiões metropolitanas, a RML ganhou entre 1970 e
2000, cerca de 288.000 habitantes. Dentro deste cenário, Londrina foi o município
que teve o maior aporte populacional.
No ano 2007 o município de Londrina chegou aos 497.833 habitantes
segundo o IBGE (2007), continuando a dinâmica descrita por Castro (2006, p.81-82)
sobre a década de 1990, e seus resultados no ano 2000.
Em 2000 mais da metade da população da RML se concentrava em Londrina, que, com 447.065 habitantes, representava 65,9% do total da região. Chegou-se a esse total pelo acréscimo de 56.965 pessoas com relação ao total verificado em 1991, marcando uma taxa de crescimento de 1,53% ao ano na década de 1990, um pouco abaixo da média para a RML (1,70% a.a.) e acima da registrada para o estado do Paraná de 1,39% ao ano. Londrina apresenta ainda a maior taxa de urbanização da região, chegando a 96,9%, e também a maior densidade demográfica, com 259,2 habitantes por quilômetro quadrado, índices que indicam a sua alta concentração populacional.
Para ilustração dos dados apresentados por Castro (2006), a figura 2
apresenta o grau de urbanização dos municípios paranaenses no ano 2000,
organizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento (IPARDES, 2008).
2 “A aglomeração urbana é um processo de expansão de núcleos urbanos distintos com produção e intensificação de fluxos que extrapolam os limites políticos/administrativos dos municípios.” (MIYAZAKI e WHITACKER, 2005, p.1)
38
FIGURA 2– Estado do Paraná: Grau de urbanização - 2000
FONTE: IPARDES, 2008
Pode-se notar que o município de Londrina está entre os mais urbanizados
do Estado do Paraná. No que tange ao elevado crescimento do índice de
urbanização e o crescimento horizontal da cidade, em Londrina durante a fase em
que o café ainda estava no auge da produção surgiram os primeiros loteamentos de
alto padrão, tais como o Jardim Shangri-lá, Londrilar, e posteriormente, Jardim
Canadá. O que se nota é que também na década de 1960 são instalados muitos
bairros na zona oeste como o Jardim Bandeirantes, Jardim Leonor, e o Jardim Tókio,
um dos bairros enfocados deste estudo. (IPPUL, 2008).
Iniciada na década de 1960, a ocupação territorial da zona oeste da sede do
município de Londrina, conta hoje com cerca de 82.723 pessoas, perfazendo 20%
da população residente. (LONDRINA, 2007)
LONDRINA
39
2 O AMBIENTE E A POPULAÇÃO
2.1 A PROBLEMÁTICA AMBIENTAL E DINÂMICA POPULACIONAL
Um dos grandes temas, se não o grande tema, de debates em todas as
esferas de análise na atualidade é o meio-ambiente. Sem dúvida esse tem sido de
fundamental importância nas discussões de tudo o que está relacionado à vida do
homem na superfície terrestre.
Este tema, entretanto, se apresenta multifacetado em relação a vários de
seus aspectos, inclusive a propriedade do termo “meio-ambiente”.
George (1973) também identifica a problemática que se apresenta para se
definir o que é meio-ambiente. O autor questiona: “O que é o meio ambiente? Uma
realidade científica, um tema para controvérsias, o objeto de algum imenso receio,
uma diversão, uma especulação?” (GEORGE, 1973, p. 7)
Moraes (2002) aprofunda ainda mais a questão do meio ambiente afirmando
que ainda paira no ar muitas incertezas e muitas vezes falta uma tentativa de se
estabelecer trajetórias teóricas e práticas que sejam comuns a todas as ciências que
tratam sobre o tema em questão.
Como, neste trabalho, a discussão epistemológica sobre o que é meio
ambiente não é eixo central, procura-se ater ao entendimento de Santos (2006),
Lima e Silva (2005), e Mendonça (2002) por meio ambiente. Neste aspecto, visão de
Santos (2006) salienta que o meio-ambiente, no fim das contas, não deixa de ser um
meio, sendo, então, fator que compõe a vida do homem. Logo os problemas deste
meio-ambiente, o qual é o meio do homem, são problemas da vida do homem.
Uma indispensável premissa de base é que não existe meio ambiente diferente de meio (...) O que hoje se chamam agravos ao meio ambiente, na realidade, não são outra coisa senão agravos ao meio de vida do homem, isto é, ao meio visto em sua integralidade. Esses agravos ao meio devem ser considerados dentro do processo evolutivo pelo qual se dá o confronto entre a dinâmica da história e a vida do planeta. (SANTOS, 2006 p. 4)
Seguindo esta mesma linha, Lima e Silva (2005) revela a interatividade do
homem na construção do meio ambiente, não sendo excluído de toda esta
conjuntura. Os autores afirmam que o meio ambiente é “um conjunto de fatores
40
naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage,
influenciando e sendo influenciado por eles” (LIMA e SILVA, 2005, p. 77).
Mendonça, refutando a idéia de análise do meio ambiente somente ligado às
questões do ponto de vista da natureza, elucida a importância dos aspectos da
interação da sociedade-natureza. Para ele “[...] se tornou muito difícil e insuficiente
falar de meio ambiente somente do ponto de vista da natureza quando se pensa na
problemática interação sociedade-natureza do presente.” (MENDONÇA, 2002, p.
126)
Confluindo com as concepções acima trabalhadas, integra-se ainda Gallopin
(1986, apud HOGAN, 1998) que adota a concepção que o meio ambiente é um
conjunto de fatores ou variáveis que não pertencem ao sistema humano, mas que,
de alguma maneira, estão acoplados a elementos do sistema humano. Desta forma,
incluem-se o ambiente físico, econômico, cultural e social.
Mendonça (2002) propondo as bases da Geografia sócioambiental, afirma
que os estudos das dinâmicas ambientais e sociais não podem se realizar de forma
independente, não sendo os dois processos estanques em si, mas que possuem
uma reciprocidade.
O objeto de estudo da geografia socioambiental, construto contemporâneo da interação entre natureza e sociedade, não pode ser concebido como derivador de uma realidade onde os seus dois componentes sejam enfocados de maneira estanque e independentes, pois que é a relação dialética entre eles que dá sustentação ao objeto. (MENDONÇA, 2002, p. 140)
Neste sentido procuramos analisar a questão do meio ambiente nas cidades
caracterizando os espaços como construídos através da dinâmica histórica e
cotidiana, não nos atendo ao meio ambiente imóvel, sem nenhuma relação entre o
homem e o meio ambiente e vice-versa.
A abordagem urbano ambiental, dentro de uma perspectiva integrada da complexidade social e espacial, introduz a produção da degradação do meio ambiente no seio da discussão do espaço geográfico apreendido na apropriação vivida da experiência cotidiana, e não apenas como meio ambiente. (PENNA, 2002)
Neste sentido, neste trabalho procura-se analisar o meio ambiente como um
todo, como dito, porém procurando mostrar o(s) modo(s) da interatividade que o
homem teve com o meio físico-natural (pois um local urbanizado também se
41
constitui em um meio-físico), evidenciando esta relação do homem com o meio
natural que o cerca, enfatizando as migrações e suas implicações na dinâmica
espacial do local escolhido como estudo de caso, buscando, em termos gerais,
analisar a relação da mobilidade espacial e o meio ambiente.
Para tanto, se faz necessário um breve resgate histórico, buscando mostrar
como se alteraram as relações do homem com o espaço físico que o cerca.
Como veremos adiante, na história do homem, e principalmente após o
advento do capitalismo, as dificuldades impostas pela natureza foram, aos poucos,
superadas pelo desenvolvimento das técnicas (SANTOS, 1979). Estas dificuldades
são aquelas que o homem enfrenta na construção de moradias, na locomoção e
outros. Superar estas dificuldades era para o homem uma maneira de garantir sua
sobrevivência.
A revolução industrial no século XVIII foi sem sombra de dúvida um grande
marco da história do homem. Através dela se alteraram as formas produtivas e
também, aos poucos, as relações sociais. As grandes invenções decorrentes desta
época foram eficientes para serem implantadas na indústria, incorporando à
produção um crescente volume de produtos, em um espaço de tempo cada vez
menor.
As atividades manufatureiras foram aos poucos sendo substituídas pelas
produções em larga escala, a escala industrial, o principal agente capitalista das
transformações que, a partir de então, se configuraram. Assim sendo, datam desta
época as alterações nos padrões produtivos e de consumo entre outros, sendo que
os impactos também foram sentidos no meio ambiente.
Tomando-se a Revolução Industrial como marco que revolucionou tanto as relações sociais – exercidas entre os homens no desempenho das atividades econômicas e na vida social – quanto as bases técnicas das atividades humanas – avanços científicos e sua aplicação industrial sob a forma de tecnologia – é possível compreender o processo deflagrado de crescente transformação da interação entre a humanidade e o planeta, isto é, entre as atividades humanas e a biosfera.A partir da Revolução Industrial – que se expandiu progressivamente da Inglaterra para o resto do mundo ocidental e, no século XX, se desdobra ‘modernamente’ no mundo oriental –, podem ser destacados elementos marcantes de transformação profunda na vida dos homens entre si e com o meio ambiente e, conseqüentemente, das condições objetivas e subjetivas da saúde humana e da sustentabilidade ambiental. (FRANCO e DRUCK, 1998, p. 62)
Assim,
42
A crescente industrialização (...), a mecanização da agricultura em sistemas de monocultura, a generalizada implantação de pastagens para a criação de gado, a intensa exploração dos recursos energéticos (...) alteraram de modo significativo a terra, o ar e a água do planeta, chegando algumas áreas a degradações ambientais irreversíveis. (ROSS, 2003, p.212)
Neste sentido, o crescimento da capacidade produtiva foi acompanhada pelo
aumento paulatino da utilização dos recursos naturais, que eram encontrados em
abundância.
As novas fontes de energia foram cada vez mais incorporadas na produção
industrial, utilizando o homem, cada vez mais recursos naturais, renováveis ou não.
Este ritmo de exploração foi evidente durante os séculos XVIII, XIX, principalmente
com o carvão e com o petróleo e no século XX, temos também a energia nuclear,
além dos setores de petroquímica e química.
Todas estas e outras atividades exercidas pelo desenvolvimento tecnológico
foram importantíssimas para que a sociedade capitalista moldasse um planeta
construído com base na produção cada vez maior de bens e no aumento do número
de serviços prestados à população. O que não se pode negar porém, é o efeito
maléfico que tais atividades impuseram ao meio ambiente, que foi sentida de
maneira morosa pela população, mas que ao cabo dos últimos anos se tornou
evidente.
Os resultados destes processos são evidentes, como a deposição de
resíduos químicos, a contaminação biológica e nuclear, o deterioramento da saúde
da população entre outros. (FRANCO e DRUCK, 1998)
Concomitante ao processo de industrialização aparece o crescimento
vertiginoso dos centros urbanizados. Os impactos ambientais causados por este fato
também se mostram igualmente graves aos do processo de industrialização, e
muitas vezes eles são complementares.
O adensamento populacional, a carência de moradias e de saneamento
básico, a poluição dos rios e lagos e mesmo a poluição visual são alguns dos
aspectos encontrados na dinâmica ambiental urbana.
No Brasil, principalmente a partir da segunda metade do século XX tem-se,
como visto anteriormente, um processo paulatino de incremento da população nos
centros urbanos e a urbanização como reflexo do processo de mudança da política
econômica do Brasil.
43
A partir da segunda metade do século 20 a urbanização - considerada como parte do processo de modernização progressiva da sociedade, tanto em termos sociais como econômicos - passou a ser carregado de uma carga ideológica na qual se revelava uma preocupação com o grau de inserção da sociedade brasileira no processo de industrialização. Como conseqüência, pouco se contestou a urbanização, pois a primazia da urbanização era tratada como uma etapa inerente à consolidação da posição estratégica do país no cenário internacional. (OJIMA, 2007, p.227)
Para Ross (2003), nos países capitalistas de economia mais moderna os
efeitos da industrialização e urbanização foram menos impactantes para o meio
ambiente do que aquele ocorrido nos países de industrialização mais recente, como
é o caso da América Latina de uma maneira geral. Isso foi permitido somente com a
implantação de uma melhor distribuição da renda e também da acentuada redução
do crescimento demográfico. Afirma ainda, que o fenômeno da urbanização
acentuada, como a que ocorreu no Brasil, acarreta uma série problemas da ordem
sócio-ambiental que caracterizam principalmente as grandes cidades dos países
subdesenvolvidos.
Neste sentido não apenas a urbanização somado a emprego na indústria
mas também o desemprego pode ser fator de degradação do ambiente. O caso
brasileiro é ilustrativo: Uma grande massa de ex-trabalhadores rurais, expropriados
das zonas rurais, sem qualificação técnica para o trabalho na indústria, aumentaram
os números do desemprego urbano e, mesmo com todas as políticas habitacionais
da época, foram vítimas do mercado de terras urbano, construindo casas de má
qualidade em terrenos cada vez mais periféricos (ROSS, 2003). Temos então um
grande número de pessoas morando em áreas junto à florestas, fundos de vales,
rios, encostas e mangues.
Além disso, o aumento da população das cidades não foi acompanhado de
uma eficiente infra-estrutura, essencial para uma melhor qualidade de vida, gerando
áreas de péssimas condições sanitárias. Por fim, o cenário nas áreas de grande
aumento da urbanização é este: péssimas condições de vida e degradação
ambiental.
Mas, não é apenas nas cidades que os impactos ambientais se
manifestaram de maneira considerável sendo que as atividades agrícolas se
apresentam também como degradantes do ambiente. A necessidade de aumento da
44
produção de alimentos para abastecer os crescentes mercados, tem gerado uma
grande procura por produtos químicos utilizados para esta finalidade. Assim, a
utilização de fertilizantes, inseticidas, herbicidas, entre outros, causam grande
impacto nos recursos naturais das zonas rurais, como a contaminação das águas,
além de representarem um grande perigo para a saúde e vida das pessoas que
direta ou indiretamente trabalham com estes produtos. (ROSS, 2003)
Sobre as áreas naturais inseridas nas zonas rurais,
São os padrões de uso de solo de uma agricultura altamente capitalizada, orientada para o mercado mundial, e a aplicação de tecnologias impróprias aos ecossistemas tropicais que ocasionam sua destruição e instabilidade, expulsando a população para zonas cada vez mais frágeis e levando-a a adotar estratégias de sobrevivência que prejudicam o ambiente. (LEFF, 2001, p. 303)
Além disso, outros fatores de degradação ambiental estão presentes nas
atividades agrícolas, principalmente nas áreas de fronteira, onde ocorre, como
primeiro passo, o desmatamento, seguido pelas queimadas e pelo revolvimento do
solo (ROSS, 2003).
A importância dos estudos de meio ambiente e população são relevantes no
sentido de não dissociar as dinâmicas sociais que acontecem sobre um determinado
espaço físico e que, de diversas maneiras, alteram as dinâmicas deste espaço.
Martine (1996) afirma que se fosse possível uma classificação dos
problemas ambientais existentes na atualidade, essa classificação seria constituída
de maneira em que, em primeiro lugar, estariam os problemas ambientais de nível
global, como o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio e escassez dos
recursos naturais não renováveis, Implicando num agravamento geral das condições
de vida da população no futuro
(...) problemas mais sérios atualmente ameaçando o planeta é constituída: pelo efeito estufa, pela depelação da camada de ozônio, pelo acúmulo de lixo tóxico, pela perda de biodiversidade e pelo esgotamento de recursos não renováveis. Esses fenômenos implicam em danos irreversíveis e irreparáveis para humanidade, pelo menos dentro dos padrões de tecnologia conhecida ou previsível. Qualquer agravamento desses problemas poderia por em risco a sobrevivência de pelo menos parte da população do planeta, num futuro mais ou menos longínquo. (MARTINE, 1996, p. 22-23)
Logo após, viriam os problemas de menor gravidade, localizados em pontos
45
específicos, onde o planejamento, o manejo ambiental e o uso da tecnologia
poderiam diminuir ou mesmo eliminar tais problemas. Tais problemas, em grande
parte, estão ligados aos elevados índices de uso de tecnologias degradantes e a
falta de planejamento social e ambiental entre outros.
Num patamar inferior de gravidade, periculosidade e irreversibilidade, encontra-se uma categoria de problemas derivados do uso de tecnologias inadequadas, da má administração de recursos naturais, do crescimento populacional, ou de uma combinação destes fatores. Estes incluem fenômenos tais como a chuva ácida, a desertificação, a erosão, a poluição do ar, as enchentes, o esgotamento dos recursos hídricos, a contaminação radiativa etc. Todos estes são graves em si mesmo, mais são localizados em espaços mais definidos e são suscetíveis de serem controlados num prazo relativamente curto (...) (MARTINE, 1996, p. 23)
Para Leff (2001), no paradigma dos estudos de meio ambiente e população
há um predomínio do chamado “malthusianismo ecologizado” no qual a principal
preocupação está na relação do meio ambiente com as elevadas taxas de
crescimento demográfico, colocando em dúvida qual seria a capacidade do meio
ambiente de suportar uma escalada do crescimento populacional global.
Seguindo esta linha, Martine (1996) afirma que, vários têm sido os esforços
para compreender a influência da população no cenário ambiental global e também
no Brasil. Para ele, muitos destes estudos apontam, erroneamente, que a principal
causa para esta crise ambiental na atualidade e num futuro próximo se deve,
sobretudo, ao aumento da contingente populacional e as elevadas taxas de
crescimento demográfico.
O crescimento demográfico acelerado, o tamanho populacional e o
subdesenvolvimento são acompanhados sim de vários problemas de ordem
ecológica, porém estes não se constituem como causa maior da problemática
ambiental atual e nem dos possíveis desacertos ecológicos que estejam por vir
futuramente. Além disso, devido às dinâmicas demográficas diferenciadas
espacialmente, são problemas encontrados, de certa maneira, espalhados em
pontos específicos do planeta.
Mas, por outro lado, segundo Martine (1996), é o padrão de consumo dos
países desenvolvidos o responsável pela maioria dos piores problemas de ordem
ambiental, em nível global, na atualidade. Demonstrando este fato, o autor afirma
que cerca de 80% dos bens e produtos produzidos pelo homem são absorvidos por
um mercado que não ultrapassa 25% da população terrestre, afirmando que é fácil
46
identificarmos que são os países desenvolvidos os responsáveis por tal fenômeno.
A degradação ambiental deve-se mais aos padrões de consumo dos setores ricos dos países industrializados, com suas taxas baixas de natalidade, do que ao crescimento demográfico dos povos do Terceiro Mundo e de todos os submundos que apresentam as taxas mais altas de crescimento demográfico. (LEFF, 2001, p. 303)
Para Leff (2001), é no cenário da globalização que a crise ambiental atinge
seu ápice. Desta maneira, o que temos não se trata apenas de uma crise ambiental
no seu sentido restrito, mas temos também uma crise nos valores da sociedade, da
sociedade do consumo, surgindo a necessidade de alteração dos modos de vida e
dos padrões de consumo.
Portanto, a degradação ambiental se manifesta como sintoma de uma crise de civilização, marcada pelo modelo de modernidade regido pelo predomínio do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da natureza. A questão ambiental problematiza as próprias bases da produção; aponta para a desconstrução do paradigma econômico da modernidade e para a construção de futuros possíveis, fundados nos limites das leis da natureza, nos potenciais ecológicos, na produção de sentidos sociais e na criatividade humana. (LEFF, 2001, p.17)
Quanto ao Brasil, os processos demográficos se fizeram importantes nas
dinâmicas ambientais de maneiras diferenciadas, assim como foi o processo de
ocupação territorial do Brasil antes e depois da década de 1930.
A partir de 1530 com a exploração das madeiras nativas, principalmente o
pau-brasil, deu-se o início do processo de degradação do ambiente natural do Brasil.
Além dos vários anos de exploração, a importação de espécies exóticas e a sua
rápida proliferação, permitiram que as espécies nativas aos poucos se exaurissem
das matas brasileiras, principalmente na Mata-Atlântica.
Nos períodos posteriores, os principais problemas ligados ao meio ambiente
se davam principalmente em decorrência da utilização das terras agrícolas em larga
escala, devido ao molde econômico da agricultura de exportação (por cerca de 300
anos), pela utilização das terras para pastagens (DEAN, 1996), e pelos processos
degradantes ligados à exploração mineral.
A partir da década de 1930, vemos o fator crescimento demográfico
influenciar de maneira mais forte os processos ligados à dinâmica ambiental. Se na
maior parte de sua história o Brasil teve elevadas taxas de natalidade e mortalidade,
47
a partir das últimas décadas do século XIX e, principalmente após os anos de 1930
que, com a invenção de muitas vacinas e melhora nas condições sanitárias da
população, a taxa de mortalidade caiu abruptamente, começando aí um grande
processo de incremento da população, que só foi arrefecido nos anos de 1960,
quando, a partir de então, tivemos uma paulatina diminuição das taxas de
natalidade. (MARTINE, 1996)
Como visto anteriormente, o processo de industrialização e urbanização
conhecidos nos últimos setenta anos aliado a expansão das fronteira agrícola (hoje
em declínio) propiciaram um novo padrão de redistribuição da população sobre o
território brasileiro, com repercussões ao meio ambiente. Para Martine (1996), este
novo padrão de redistribuição é de suma importância pois
Ocorre que a redistribuição espacial da população sobre o espaço obedece à evolução da localização e da reestruturação da atividade econômica. Por sua vez, essas mudanças espaciais de atividades econômicas e da população, induzidas pelas transformações no cenário econômico nacional e internacional, determinam onde e como a população afetará o meio ambiente e será afetada por ele. (MARTINE, 1996, p. 31)
Devido a este fato, de grande importância é a análise da dinâmica
econômica e o seu processo de reorganização, devido a grande relação existente
entre o social e o econômico.
Sendo assim, as questões sociais e ambientais assumem grande valor para
a população a partir do momento em que se considerem as densidades econômicas
e demográficas, quando estas estão ligadas não somente ao ato histórico de
desarranjos ambientais, mas também aos fatores de ordem ambiental que
acontecem no cotidiano da população nacional, que hoje se concentra, em sua
grande maioria, nas zonas urbanas do país.
Neste sentido, não podemos nos esquecer da problemática do
desmatamento no Brasil principalmente na Amazônia, o qual ultrapassa a discussão
no plano nacional por se tratar de uma problemática em nível global. Porém, é de
suma importância a discussão dos problemas ambientais existentes em suas áreas
de concentração populacional. (MARTINE, 1996)
É ainda Martine que afirma que dentro dos processos demográficos de
concentração e desconcentração e os problemas ambientais, o Brasil se mostra
48
como um país em que prevalecem as características de um país de industrialização
tardia e reflexos da pobreza. Elas são:
(...) a poluição do ar e da água pelas indústrias de transformação e de processamento, assim como os gases provenientes do fluxo intenso de veículos; a precariedade dos serviços de água, lixo e esgotos; o crescimentos desenfreado das favelas, cortiços e invasões, assim como o de sua insalubridade; o aumento na ocorrência e gravidade das enchentes devido ao desmatamento e ao adensamento demográfico; a poluição da água, da terra e dos alimentos devido a utilização de doses maciças de agrotóxicos na agricultura com intuito de aumentar a produtividade e assim fazer frente à demanda crescente; a destruição produzida pela mineração a céu aberto em pleno coração de certas cidades, e assim por diante. (MARTINE, 1996, p.35)
Portanto, vê-se que a dinâmica populacional está intrinsecamente ligada a
dinâmica ambiental, e em todos os lugares possíveis, tanto nos no meio rural quanto
no meio urbano, afetando, direta ou indiretamente, com maior ou menor freqüência,
a vida de seus habitantes. E, dentro de toda esta interação, será visto como as
migrações se inserem neste contexto.
2.2 A IMPORTÂNCIA DOS PROCESSOS MIGRATÓRIOS NA DINÂMICA AMBIENTAL
Hogan (1998) afirma que os aspectos da mobilidade populacional que os
estudiosos têm analisado possuem em si uma dimensão ambiental, e que no
passado essa dimensão estava presente na percepção dos estudiosos, porém não
ocupavam lugar de destaque em suas análises.
Porém, na discussão atual, tendo em vista a diminuição paulatina das taxas
de natalidade e mortalidade, atribui-se que
(...) são dois os limites a serem encarados: o dos recursos naturais e da resiliência de sistemas naturais, de um lado, e o da transição demográfica, por outro. Quanto ao último fator, está claro que no futuro que se aproxima, a migração será o elemento mais dinâmico da dinâmica demográfica. (...) Para a preservação dos recursos naturais, então, é a mobilidade populacional o fator demográfico mais significativo. Onde a população mora, trabalha e descansa sempre terá impacto sobre a natureza e vice-versa. (HOGAN, 1998, p.484)
O estudo das relações entre as migrações e o meio ambiente está inserido
no contexto dos estudos sobre população e meio ambiente. Desta forma, Hogan
(1998) afirma que, dentro dos processos de deslocamentos populacionais, há uma
49
crescente importância dos movimentos pendulares em relação os movimentos de
mudanças fixas ou de longo prazo, sendo o termo mobilidade mais abrangente, aqui,
do que o termo migração. Em nosso trabalho vamos nos focar nos movimentos
migratórios permanentes ou de longo prazo, por isso o termo a ser ainda utilizado é
migração.
Ao se tratar das formas de relações entre migrações e o meio ambiente, é
ainda Hogan (1998) que afirma que, no Brasil, temos como um bom exemplo disso a
abertura de novas fronteiras agrícolas onde a incorporação de novos espaços
produtivos não tiveram como conseqüência o aumento das terras disponíveis no
Brasil. Pelo contrário, o que se presenciou foi uma incorporação de terras ao sistema
produtivo de molde capitalista, degradante por natureza.
O incremento populacional nestas áreas possibilita uma demanda cada vez
maior de recursos naturais, principalmente de terras para a agricultura seja ela de
subsistência ou voltada para o mercado. Além disso, com o passar do tempo a
fertilidade dos solos diminui, comprometendo, então, a produção. Temos então um
impasse criado pela degradação ambiental (o das terras) em relação à população,
em que esta necessita de uma maior produção para o suprimento de sua própria
demanda, enquanto a fertilidade do solo diminui. (BARBIERI, 2007)
Visto os problemas citados, coube aos produtores recorrer aos produtos
químicos, para auxiliar no aumento da produção agrícola. Deste modo, a utilização
de produtos químicos na agricultura permitiu que ocorresse uma série de agravantes
ambientais nas áreas agrícolas onde estão presentes elementos que tornaram
possíveis a degradação dos solos, dos lençóis freáticos e outras. Em muitas dessas
ocasiões, o risco é eminente, pois as vítimas dessa degradação podem ser os
próprios moradores das zonas de produção agrícola. (HOGAN, 1998)
A soma dos fatores associados aos problemas ambientais criados pela
agricultura nas áreas de fronteira influencia no surgimento de novos fluxos
migratórios em direção a outras áreas, conforme Barbieri:
À medida que a fronteira agrícola se estabiliza, com a diminuição dos movimentos imigratórios iniciais, o crescimento populacional torna-se o fator primordial para aumentar o estoque de população móvel no futuro e, conseqüentemente, na explicação do desmatamento e outros impactos ambientais. Associado ao crescimento populacional, as gerações subseqüentes de colonos (isto é, os descendentes dos colonos pioneiros e os novos imigrantes) atingirão, gradativamente, as idades adultas e demandarão recursos naturais para atividades antrópicas. Paralelamente,
50
os solos tropicais tendem a sofrer declínio em termos de qualidade e fertilidade, comprometendo, assim, a capacidade de sustento das famílias de colonos e engendrando mais mobilidade no tempo. (BARBIERI, 2007, p. 2)
Logo, percebe-se a influência que as migrações impõem aos sistemas
naturais da paisagem agrícola, e como estes se articulam com o crescimento
populacional, enfim, com todo o contexto humano nestas localidades.
Da mesma maneira temos as dinâmicas migratórias como fator de grande
relevância na dinâmica ambiental nos setores urbanizados do planeta. A análise da
questão ambiental se torna importante e ao mesmo tempo complicada, devido
principalmente ao fato que
A compreensão do que é ambiental nas cidades contempla não apenas a natureza, no seu estado mais singular, mas também a sociedade em seus diversos aspectos, ou seja, abrange o conjunto de dinâmicas e processos naturais das relações entre eles. A complexidade dos processos de impactos ambientais apresenta um duplo desafio: é necessário problematizar a realidade e construir um objeto de investigação de modo a articular uma interpretação coerente dos processos ecológicos e sociais à degradação do meio ambiente. (FRANCISCO, 2005, p. 49)
Conforme visto anteriormente, no Brasil o incremento da população urbana
se deu de forma mais efetiva a partir da década de 1950, quando representava 36%
da população total, passando para 81,5% no ano 2000. (SANTOS, 1993;
GOLGHER, 2004). Grande parte deste acréscimo populacional se deu por conta das
migrações principalmente as de sentido rural-urbano. Os problemas causados por
este crescimento são identificados por Golgher (2004) e entre eles está a
degradação ambiental, conforme apresenta:
Devido a fatores como rápido crescimento populacional aliado à falta de recursos públicos e de planejamento quanto ao desenvolvimento, essas cidades se expandiram de forma desordenada. As conseqüências deste rápido crescimento demográfico e espacial são facilmente perceptíveis: alta criminalidade, tráfico de drogas, favelização, pobreza, degradação ambiental, desemprego, etc. Apesar de todos esses problemas as grandes cidades ainda são o destino preferencial de grande parte dos migrantes, tendência esta que deve continuar nas próximas décadas. (GOLGHER, 2004, p. 44. grifo nosso)
Além disso, outro fator que contribuiu e ainda contribui para que surjam
problemas de ordem ambiental está ligado às questões do planejamento e aplicação
de investimentos técnicos, produtivos e de capitais, que se processam de maneira
51
desigual em relação ao total da população, criando desigualdades sociais e
desequilíbrios ambientais
A importação de tecnologias e capitais e sua concentração nas regiões mais desenvolvidas (grandes centros) do Brasil produziu problemas sociais, culturais e ambientais, frutos das disparidades regionais, da falta de oportunidades das diferentes camadas sociais de absorver e adaptar-se aos impactos criados por esse processo. (STIPP e STIPP, 2004, p. 27)
Ainda em relação às dinâmicas existentes na relação entre o meio ambiente
e as migrações nas cidades, podemos notar também, segundo Hogan (2005), que
os impactos causados pelo homem podem se reverter, podendo conter elementos
que provoquem a migração de uma parte da população para outras áreas menos
degradadas, ou que os efeitos desta degradação sejam menos incômodos.
A migração também pode ser uma conseqüência de mudança ambiental [...] dimensão desse fenômeno em outros países é desconhecida, embora, seguramente, a qualidade ambiental figure entre os motivos daqueles que trocam as grandes cidades por uma vida mais tranqüila em lugares menores.” (HOGAN, 2005, p. 330)
Segundo Hogan (2005), uma primeira abordagem a ser considerada para o
entendimento das migrações causadas por fatores ambientais, está ligados às
sociedades em riscos. Populações vulneráveis a problemas provenientes da
degradação ambiental causadas pela própria ação do homem se podem se tornar
agentes potenciais de uma nova dinâmica migratória, como por exemplo populações
que habitam áreas de inundações e deslizamentos. “A localização de muitas favelas,
por exemplo, as expõe a inundações sazonais (e um aumento na incidência) de
doenças tais como a leptospirose) e a deslizamentos provocados pelas fortes
chuvas.” (HOGAN, 2005, p. 330)
A mudança de residência produz efeitos sócio-ambientais muitas vezes não
calculados por aquele que migra, mas que acaba por expo-lo a riscos que se
apresentam no novo lugar de residência. Além disso, a falta de condições
financeiras dificulta o acesso às terras mais valorizadas da área urbana, que na
maior parte das vezes estão localizadas em áreas de menores riscos sócio-
ambientais, obrigando os migrantes a residirem em áreas mais vulneráveis.
[…] a falta de conhecimento do novo lugar e as fracas ou inexistentes redes sociais se combinam com a pobreza e baixos níveis de escolaridade para
52
colocar maiores cargas ambientais sobre os migrantes. A pobreza de um migrante é agravada por sua falta de conhecimento, que o expõe à água poluída, a sistemas primitivos de disposição de esgoto e de resíduos sólidos e a uma tendência a buscar residência em zonas propensas a inundações ou deslizamentos. Esses migrantes pagam um preço muito mais alto que outros – talvez igualmente pobres, mas com mais tempo de residência na área. As redes sociais de antigos residentes urbanos são mais complexas e os protegem melhor (reduzem sua vulnerabilidade a) desses perigos ambientais. A falta de habitação de baixo custo afeta mais diretamente os novos migrantes, já que os bairros pobres tradicionais não podem acomodar os recém-chegados, que vão buscar um lugar nas periferias urbanas, onde há uma infra-estrutura ainda mais precária. Isto é igualmente verdadeiro para os migrantes rurais que se dirigem às fronteiras agrícolas.[...] (HOGAN, 2005, p. 332-333)
Uma grande questão que emerge quando se estuda a relação população-
ambiente é exatamente qual a escala espacial a ser utilizada para a realização
destes estudos, ou seja, qual a unidade de análise apropriada para a questão
proposta.
Hogan (2005), afirma que para a efetivação destes estudos é necessário que
tenhamos inicialmente uma unidade territorial onde seja possível verificarmos a
dinâmica da natureza e, ao mesmo tempo, uma organização social relevante.
É ainda Hogan (2005) que compara dois exemplos de unidades de análise,
para a compreensão de como se identificar áreas potenciais como unidades de
análise da relação população – ambiente. O primeiro exemplo são os limites
territoriais, como as divisões municipais, este se adequa muito bem para a análise
das políticas econômicas e sociais que se processam dentro deste espaço, porém é
incapaz de captar o ciclo hidrológico de um determinado município. Por outro lado,
se a unidade a ser utilizada for uma bacia hidrográfica, facilmente a ela se atribui
uma unidade de análise plausível para os estudos propostos, devido principalmente
à questão da importância dos recursos hídricos e sua relação com as dinâmicas
humanas como saneamento básico e a poluição hídrica.
Lima (2005) anota que a análise ambiental em bacias hidrográficas vem
ganhando grande importância nos últimos tempos devido ao fato de que os sistemas
naturais estão cada vez mais influenciados pelas atividades humanas, que se juntam
e formam uma unidade de análise que muitas vezes sintetiza as questões sócio-
ambientais de uma determinada localidade.
(…) a qualidade das águas superficiais tem sido afetada em muito pelas atividades produtivas ou por seus reflexos (poluição por esgotos, derramamentos acidentais de produtos tóxicos em vias de transportes, disposição inadequada de rejeitos sólidos, etc.). A bacia hidrográfica é
53
justamente o palco dessas ações e degradações, refletindo sistematicamente seus efeitos. (LIMA, 2005, p.179)
Cabe, aqui, fazer-se um esclarecimento acerca deste trabalho e seu recorte
espacial, sua unidade de análise. Conforme visto anteriormente, estudar as
dinâmicas do ambiente e da população dentro de um território politicamente
delimitado, como os bairros Jd. Pinheiros e Jd. Tókio, implica em compreender as
políticas econômicas e sociais. Por outro lado, por estes estarem em contato direto
com um curso d'água, ou seja o ribeirão Cambé, tem-se uma unidade de análise que
torna possível a concretização destes estudos.
54
3 MIGRAÇÕES E MEIO AMBIENTE EM LONDRINA: UM ESTUDO DE CASO
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2000), o município
de Londrina possui mais de 105 mil pessoas que não são nascidas no Estado do
Paraná. Destes, grande parte são provenientes do Estado de São Paulo, Minas
Gerais e Bahia, sendo, também, considerável o número de nascidos em outros
países e residentes no município. A tabela 2 mostra os principais grupos migrantes
instalados no município de Londrina, segundo o IBGE (2000).
Tabela 2: Locais de nascimento dos residentes não-paranaenses em Londrina (2000)
Unidade da Federação de Nascimento Número de residentes % em relação à população
migrante
% em relação à população total do
MunicípioSão Paulo 55.356 50,30 12,38Minas Gerais 18.384 17,37 4,11Bahia 5.843 5,52 1,30Pernambuco 3.767 3,55 0,84Outras UF 18.934 17,87 4,23Exterior 3.364 3,17 0,75TOTAL 105.828 100 23,61FONTE: IBGE, Censo 2000.ORG. Samuel Carvalho da Silva
O município de Londrina e o norte do Paraná como um todo, se
caracterizaram como áreas de fronteira agrícola nas primeiras décadas do século
XX (MARTINE, 1994). Este avanço se deu sobre um sistema físico natural, o qual
possui características peculiares, e que, de certa maneira, também influenciou no
crescimento urbano. O município é formado, além da sede, pelos distritos
administrativos Espírito Santo, Guaravera, Irerê, Lerrovile, Maravilha, Paiquerê, São
Luiz e Warta, mostrados no figura 3. (LONDRINA, 2007).
55
FIGURA 3: Localização de e divisão administrativa do município de Londrina FONTE: PML (2007)
Neste contexto, caracteriza-se de maneira sucinta qual era a característica
físico-natural do município de Londrina como um todo, para uma melhor
compreensão das dinâmicas ocorridas durante este período. Cabe ressaltar que
esta apresentação se faz necessária para a compreensão destas dinâmicas, porém,
a intenção aqui não é fazer uma separação entre os aspectos físico-naturais e os
aspectos humanos, sempre lembrando que estes aspectos de são abordados
maneira conjunta nesta análise.
Os impactos ambientais vistos como mudanças de relações ecológicas e sociais devem ser questionados incessantemente, através do exame dos processos ambientais em seus atributos físicos (localização, topografia, estratigrafia, solo, clima, indicadores, etc.) e populacionais (tamanho e densidade populacional), além das condições históricas, econômicas e culturais. (FRANCISCO, 2005, p. 49)
56
3.1 ASPECTOS FÍSICO-NATURAIS DO MUNICÍPIO DE LONDRINA
Por se tratar de uma pesquisa envolvendo não somente a questão
migratória, mas também o meio ambiente na cidade de Londrina torna-se necessário
uma rápida apresentação dos aspectos físicos deste local.
Situado entre 23°08’47" e 23°55’46" de Latitude Sul e entre 50°52’23" e
51°19’11" a Oeste de Greenwich, o município de Londrina ocupa 1.650,809 Km²,
cerca de 1% da área total do Estado do Paraná (LONDRINA, 2007).
O clima de Londrina, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Cfa, ou
seja, clima subtropical úmido, com chuvas em todas as estações, podendo ocorrer
secas no período de inverno. A temperatura média do mês mais quente é superior a
24° C e a do mês mais frio, inferior a 16,1° C. (ASARI e TUMA, 1978)
Situado no chamado Terceiro Planalto Paranaense, o município de Londrina
possui na sua formação geológica basicamente rochas basálticas, entretanto,
conforme a sua localização, em topografia, mais plana e acidentada, apresenta tipos
de solos diferentes, conseqüentemente, de fertilidade variável.
No tocante ao solo, este é de profundidade variável, indo de várias dezenas
de metros, nos espigões, até menos de um metro, próximo aos ribeirões, onde, na
maioria das vezes, a água flui sobre a superfície compacta do basalto, como é o
caso das que correm em boa parte do ribeirão Cambé. O melhor solo de Londrina e
um dos mais férteis do mundo está na região setentrional do município, que se
caracteriza por uma topografia mais plana. Aí, predominam os solos Terra Roxa
Estruturada Eutrófica, os mais férteis do Brasil, Latossolo Roxo Eutrófico e, em
menor quantidade, o Brunizen Vermelho e o Litólico Eutrófico. (FARIA, 2005)
A área urbana da cidade de Londrina se distribui, em sua maior parte, por
locais com características planas, topos e divisores de águas, com baixas
declividades, que variam entre 0% e 12%, embora existam locais com declividades
até 30% que estão recebendo ao longo dos últimos anos um número considerável
de ocupações urbanas. (FARIA, 2005)
O subsistema hidrográfico do Município corre no sentido predominantemente
de oeste para leste, uma vez que o relevo está genericamente inclinado da região de
Londrina para o Rio Tibagi, que tem sentido Sul-Norte, desaguando no Rio
Paranapanema, um dos tributários do Rio Paraná. Os rios da cidade são de caráter
perene na sua totalidade. Londrina encontra-se na vertente esquerda do rio Tibagi,
57
precisamente no seu baixo vale. “O relevo do município mostra-se inclinado em
direção ao rio Tibagi, controlado por lineamentos estruturais no sentido noroeste-
sudeste.” (FARIA, 2005, p.133)
Ainda em relação aos aspectos da hidrografia londrinense, podemos afirmar
que este município é rico em córregos e ribeirões. Pode-se verificar que na sede do
município de Londrina, esta riqueza hídrica está dividida em seis grandes bacias
hidrográficas, de norte para sul: Jacutinga, Lindóia, Limoeiro, Cambé, Cafezal e Três
Bocas.
A área que engloba a região dos bairros em questão nesta pesquisa
encontra-se situada à oeste, nas cabeceiras da bacia do ribeirão Cambé. Na figura
4, pode-se verificar os cursos d'água presentes nas grandes bacias hidrográficas de
Londrina (conforme BARROS et al, 2009), e a localização da área de estudos em
relação à esta hidrografia.
FIGURA 4: Principais bacias hidrográficas do município de LondrinaFONTE: BARROS et al. (2009)Org. Samuel Carvalho da Silva
Os bairros deste estudo estão localizados na vertente esquerda do alto
Ribeirão Cambé, que se caracteriza por possuir Latossolos Vermelhos Eutroférricos
Localização dos bairros Jd. Pinheiros e Jd. Tókio em relação ao Ribeirão Cambé
58
e Nitossolos Vermelhos Eutroférrricos3 conforme mostrado na figura 5. (BARROS et
al, 2008)
Os aspectos mais gerais dos solos com ocorrência na microbacia estão ligados aos extensos derrames vulcânicos. O basalto constitui o material de origem que sob a ação do intemperismo, ao longo do tempo geológico, deu origem aos solos da região norte do Paraná. São solos genericamente denominados Nitossolos Vermelhos e Latossolos Vermelhos, segundo classificação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. (FARIA, 2005, p.118)
FIGURA 5: Tipos de solo existentes nas vertentes do alto curso do Ribeirão Cambé. FONTE: BARROS, et al. (2009) Org. Samuel Carvalho da Silva
Em se tratando da cobertura vegetal, hoje, no município, são poucas as
áreas remanescentes da formação vegetal natural original. Entre eles estão a Mata
dos Godoy (Reserva Florestal Estadual) e a Reserva Indígena do Apucaraninha que
são constituídas de formações florestais que demonstram a variedade de gêneros e
espécies de vegetação que se encontrava na região. A vegetação característica
desta região é a floresta estacional semidecidual, integrante do conjunto chamado
de Floresta Tropical, subdivisão da Mata Atlântica.
A Floresta estacional semidecidual é formada por espécies arbóreas que,
estando condicionada pela dupla estacionalidade climática, perdem parte de suas
folhas (até 50%) nos períodos mais secos do ano (IAP, 2008).
3 “A maior parte dos Latossolos são quimicamente ricos, com alta fertilidade, e conhecidos popularmente por “terra roxa legítima” (FARIA, 2005, p. 118). “Os nitossolos São solos com discreto aumento de argila em profundidade, apresentando, apesar de argilosos, boa drenagem interna.” (EMBRAPA, 2009)
59
A floresta tropical do Estado do Paraná faz parte do conjunto da chamada Mata Atlântica, e ocupava cerca de 46% do seu território. As regiões ocupadas por esta vegetação são as áreas litorâneas, a Serra do Mar e os vales dos rios Paraná, Iguaçu, Piquiri e Ivaí. (FERRAZ e SILVA, 2007)
Segundo Asari e Tuma (1978) devido a grande fertilidade dos solos e as
condições climáticas de Londrina, esta região foi, povoada por espécies de grande
porte como a figueira, a peroba, o pau d'álho, ipê, o cedro e o jacarandá, entre
outros. Além desses, era muito abundante na região o palmito, espécie que
praticamente desapareceu no decorrer dos anos, devido a grande exploração. Para
termos uma idéia, principalmente nos primeiros anos de povoamento de Londrina,
esta espécie serviu não somente para a alimentação, mas também para outras
finalidades.
A matéria prima para a construção dos primeiros ranchos foi o palmito, pois, em razão da retidão da planta e da maciez do caule, tornava-se fácil e rápido para trabalhar. A casa era um nobre rancho, do palmito eram feitas as paredes da casa e a salada do almoço, era uma planta que servia do teto à mesa.” (MATOS e BARROS, 2006, p. 46)
Quanto a fauna, a região é caracterizada pela presença, hoje em menor
proporção, de animais como a onça parda, o tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim,
o veado-mateiro, a lontra, a anta, a capivara, o gato-mourisco o tucano-do-bico-
verde, o açari-de-bico-branco, a Jacutinga, o macuco, a gralha-picaça, o arapongas
e os papagaios. (IAP, 2008)
3.2 ESTUDOS SOBRE A DEGRADAÇÃO SOCIOAMBIENTAL EM LONDRINA
Em um resgate dos estudos sobre a questão ambiental em Londrina e no
norte de Paraná como um todo, verificamos que a preocupação dos estudiosos
sobre a dinâmica socioambiental vem sendo trabalhada por diversos autores.
Stier (1980, apud SILVA, 2005) afirma que, em meados do século XIX, além
da noção de progresso que se tinha com os atos de exploração dos recursos
naturais, esta região já tinha parte destes recursos naturais utilizados para resolver
alguns problemas ligados à questão do transporte para as áreas de fronteiras do
Brasil.
60
Abordando os recursos hídricos durante o Império na atual região da cidade de Londrina, por exemplo, faz-se perceptível o imbricamento de uma certa noção de progresso baseado na idéia de exploração. O interesse pelos então denominados “sertões do Tibagy” , no que hoje pode ser denominado Norte do Paraná – cresceu após 1847, quando as autoridades iniciaram estudos na região para aproveitá-lo no sistema de navegação, por ser impraticável a via terrestre.Algum tempo depois, ideólogos da corte também demonstraram interesse pelo Tibagi: Graças ao rio, tropas estabeleceram ligações com o Mato Grosso para proteger as áreas ameaçadas por Solano Lopez. Também foi construído um porto na Aldeia de São Pedro de Alcântara, entreposto fiscalizador de mercadorias pertencentes aos tropeiros. (STIER, 1980, apud SILVA, 2005, p.2-3)
Dando um salto na cronologia, é ainda Silva (2005) que menciona que no
período de divisão dos lotes pela CTNP não houve nenhuma preocupação com o
relevo da região, muito menos com a questão ambiental visto que há um reforço da
idéia que havendo a exploração, haveria também o progresso na região.
A divisão de lotes apreendida na Região Norte do Paraná através da Companhia de terras não respeitava o relevo da região. Os lotes eram “divididos” de modo retangular com algum veio de água passando por, pelo menos, uma das extremidades, um demonstrativo – até por demais óbvio – de como os recursos hídricos eram fundamentais para o “desenvolvimento” local. Tais preocupações não implicam, entretanto, em nenhum interesse com a questão ambiental, tal qual presenciamos contemporaneamente, apenas reforça a lógica de exploração e progresso. (SILVA, 2005, p.2)
Nos primeiros anos da colonização em Londrina a venda de lotes na cidade
foi vertiginosa, a propaganda era um dos principais promotores da rápida
urbanização e do aumento populacional. Além disso, a companhia de Terras Norte
do Paraná dispôs aos compradores terras para a destinação agrícola, onde o café
se tornou o principal produto agrícola da região e fonte do crescimento da economia
local. (ARIAS NETO, 1998)
Logo, o que se percebe é que o crescimento de Londrina se deu de maneira
em que o município recebia um contingente populacional o qual incrementava a
população local tanto na área urbana da cidade (ARIAS NETO, 1998) como na área
rural, já que a região se configurava como fronteira agrícola no final dos anos de
1920 e início dos anos de 1930.
Neste sentido, durante muitas décadas a idéia de progresso estava
profundamente atrelada à redução da vegetação natural e o avanço da urbanização.
Assim, as publicações de órgãos públicos, eram pautadas no rápido crescimento da
cidade, fruto do sucesso da economia cafeeira, deixando claro que o mais
61
importante era o crescimento pautado nesta idéia de progresso. Como exemplo
podemos citar uma publicação da prefeitura municipal de Londrina
De início era a floresta. Bruta. Gigantesca. Contorcendo-se nos cipós esguios. Estabilizada nas perobas e figueiras e figueiras milenárias. Guardando embaixo de sua sombra o húmus vermelho que os séculos criaram. Um dia veio o homem. Mudaram os ruídos sonoros da floresta pelo som abrupto das derrubadas. Abriram-se clareiras e fizeram-se ranchos. Criaram-se plantações. E Londrina veio depois. Resposta da terra fértil à semente que o homem lhe confiou. Orgulhos hoje de seus milhões de cafeeiros, de seus arranha-céus suntuosos, da azáfama de seu povo com fibra de pioneiro, do movimento de suas bem delineadas, de tudo que nela se criou. (LONDRINA, 1958 apud ARIAS NETO, 1998, p.17. Grifo nosso.)
A idéia de progresso atrelado à redução dos espaços originais estava
presente não somente em publicações oficiais, mas também no ideário das pessoas
no cotidiano desta cidade. Arruda (2001), trabalhando com fotos feitas nos primeiros
anos de Londrina (Figuras 6 e, 7) coloca que há claramente, nestes retratos, um
ideal de contentamento e vislumbre por parte dos atores que faziam parte do
processo de destruição das florestas em prol do “progresso da cidade”. Este
euforismo se dá principalmente pelo fato de que esta floresta “bruta e gigantesca”
estava sendo vencida em nome do “progresso e da civilização”.
FIGURA 6: A “natureza bruta e gigantesca” a situação encontrada no norte do Paraná no início do século XX. FONTE: ARRUDA 2001, p. 210.
62
FIGURA 7: Trabalhadores na derrubada da mata. “A vitória sobre a natureza”4
FONTE: ARRUDA, 2001, p. 214.
Assim, se passaram os anos e com eles o aumento da degradação
ambiental e o crescimento da população em Londrina, seja pelo crescimento
vegetativo, seja pelo incremento das migrações.
No que tange a questão desta degradação na atualidade, vários têm sido os
trabalhos que apontam para esta problemática em Londrina, onde foram
selecionados alguns para ilustração de quais são os principais problemas ambientais
diagnosticados.
Costa e Nery (2002) afirmam que uma das principais fontes de poluentes
ambientais é a atividade industrial. A diversificação desta atividade permitiu a
identificação da indústria de bens de consumo como o setor industrial que mais
contribui para esta degradação.
Em Londrina, esta atividade não é antiga e por isso os efeitos por ela causados ainda não podem ser reconhecidos e medidos com precisão, além de serem na maioria, indústrias de bens de consumo com a maior quantidade no vestuário, calçados e artefatos de tecido, seguido dos
4 Conforme Arruda, (2001, p. 193)
63
produtos alimentares, mobiliário e metalúrgica. (COSTA e NERY, 2002, p. 276)
É ainda Costa e Nery (2002) que afirmam a existência de estudos feitos pela
Autarquia Municipal de Meio Ambiente (atual Secretaria Municipal de Meio
Ambiente) que mostram níveis de poluição dos cursos d'água da cidade de
Londrina. Nestes estudos verifica-se o alto nível de poluição dos córregos e ribeirões
que cortam a cidade que, numa classificação que vai da classe 1 até a classe 4, do
menor para o maior nível de poluição, estes estão, em sua grande maioria, na classe
4.
Um outro estudo da Autarquia Municipal de Meio Ambiente diz respeito ao
nível de concentração de poluentes que estão presentes no ar em diferentes regiões
desta cidade. Neste estudo ficou comprovada a maior incidência de poluentes na
região central da cidade, fato que se deve principalmente à maior concentração de
veículos automotores nesta região, se comparado às regiões mais periféricas da
cidade. Outro fato citado pelos autores supracitados é a grande quantidade de
veículos automotores na cidade como um todo.
Alerta-se para o fato, de Londrina possuir uma densa frota de veículos. Em 2000 o perfil de Londrina aponta uma frota de 155.191 veículos automotores que, se comparado com a população em 2000 (447.065 habitantes segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – IBGE), perfez uma média de menos de três habitantes por veículo automotor. (COSTA e NERY, 2002, p. 277)
Arantes e Fernandes (2002), afirmam que os mananciais superficiais
possuem importantes funções dentro do espaço urbano, sendo, devido a sua
localização intra-urbana, influenciado pela população residente na cidade, que traz
consigo uma série de fatores impactantes, como a poluição e o assoreamento dos
rios. Em Londrina, desde o início de sua colonização na década de 1930, já foram
utilizados como mananciais de abastecimento, dentre os ribeirões e córregos que
cortam a cidade, o ribeirão Água Fresca (1933), na década de 1940, os córregos
Bom Retiro, Pombas e Água das Pedras, que hoje se encontram visivelmente
degradados.
Ainda sobre Londrina, Furlan e Fernandes (2002) atribuem à falta de um
planejamento urbano satisfatório, o processo de degradação dos cursos d'água e
áreas ao seu entorno, resultando na perda na qualidade de vida da população. De
64
uma maneira geral esta falta de planejamento atinge também a questão da moradia
urbana, onde os processos de valorização das terras nas áreas centrais e em
bairros de topografia suavizada acabam por segregar contingentes populacionais
urbanos, permitindo que estes espaços sejam habitados pela população com renda
elevada, e os espaços destinados para a população de menor poder aquisitivo se
constituem em áreas suscetíveis à desmoronamentos e enchentes, como as
barrancas de rios e fundos de vale.
Buscando suprir necessidades habitacionais, famílias de baixa renda ocupam regiões impróprias como os fundos de vale, deste modo além de colocar sua integridade física em risco por ocuparem áreas íngremes, sujeitas à inundações e deslizamentos, acabam causando danos ambientais como desmatamento e acúmulo de lixo doméstico em encostas, córregos e rios. (FURLAN e FERNANDES, 2002, p. 266)
Outro trabalho que se destaca é o de Barros et al (2003), que analisa a
ocupação irregular em áreas de fundo de vales, afirmando que cerca de 25% da
área de preservação permanente (APP) no perímetro urbano está sendo ocupada
irregularmente pela população, contrariando desta forma a legislação ambiental.
A comparação entre as áreas de restrições legais e as de uso e ocupação do solo permitiu definir as áreas de ocupação irregular no perímetro urbano, ou seja, 5,42km², o que corresponde a 25,4% das áreas de preservação permanentes em fundos de vale, encontram-se invadidas ou ocupadas irregularmente... Conforme visto anteriormente, as áreas que margeiam os cursos hídricos, conforme o Código Florestal (1965), são consideradas “Áreas de Preservação Permanente” e pela Lei Federal n.º 6.766/79, que dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano, consistem em área non aedificandi (de 15 metros de cada lado).(BARROS et al, 2003, p. 53)
Em um trabalho de campo realizado em 2000, em um aterro administrado
pela prefeitura municipal de Londrina, Melo e Feijó (2002) verificaram a presença de
condições inadequadas de vida e de preservação ambiental. Segundo os autores,
neste local “havia muito lixo exposto, uma lagoa de chorume na parte inferior do
terreno, bem como desmatamento e retirada de terra para cobertura do aterro.”
(MELO e FEIJÓ, 2002, p. 246). Além disso, estas características do aterro colocam
populações em risco e eleva a perda da qualidade de vida, visto que tais populações
vivem e se alimentam do lixo depositado no mesmo.
Na área havia homens, mulheres e adolescentes, algumas barracas de lona e depósito de lixo reciclável aguardando a venda. Os catadores se alimentavam e se abrigavam durante o dia neste local.
65
Quando da chegada do caminhão de lixo, os catadores aguardavam o lixo ser depositado para fazer a garimpagem o que representava um risco grande de acidente, pois enquanto os catadores recolhiam o lixo, a retroescavadeira depositava a terra em seguida, desconsiderando a presença das pessoas. Além do risco à saúde e a integridade dos catadores, a ação dessas pessoas tornava difícil a gestão do aterro, já que eles transportavam grandes quantidades de lixo, para áreas já cobertas, deixando vários resíduos inaproveitáveis sobre estas áreas, contribuindo para esparramar o lixo no aterro. (MELO e FEIJÓ, 2002, p. 246-247)
Outro estudo realizado sobre os aspectos ambientais na cidade de Londrina
diz respeito a um diagnóstico ambiental do ribeirão Lindóia (LIMBERGER e
CORRÊA, 2005). Neste estudo, os autores afirmam a existência de diversos
problemas ligados a forma e ocupação do solo nas proximidades desta bacia
hidrográfica. Neste estudo, além da poluição deste corpo hídrico, foi constatado que
A vegetação ciliar, teoricamente de presença obrigatória pela legislação, encontra-se ausente em grande parte da bacia. Pode-se evidenciá-la em alguns locais concentrados, como nas proximidades da nascente, na cabeceira de alguns afluentes e nas proximidades da confluência com o ribeirão Quati. Mas vale ressaltar que, mesmo nestes pontos esparsos, a presença normalmente não atinge os 30m (trinta metros) de largura para córregos urbanos, garantidos pela legislação. [...] Pode-se constatar também o surgimento de vários loteamentos novos nesta região, preenchendo alguns dos grandes vazios urbanos de Londrina, que se encontram na bacia do ribeirão Lindóia.[...]Apesar desta atividade exigir licenciamento ambiental, conforme legislação, afeta muito a cobertura do solo, devido a construção das ruas e avenidas, o que ocasiona erosão e carreamento de material sólido para o ribeirão, causando o assoreamento do mesmo.(LIMBERGER e CORRÊA, 2005, p. 57)
Ainda em relação aos impactos socioambientais, Santos e Ferreira (2001)
afirmam que a cidade de Londrina, devido principalmente aos investimentos
diferenciados do poder público e/ou privado, possui uma diferenciação no valor e
uso da terra, fato que potencializa as desigualdades, no que tange à qualidade da
habitação. Este processo, por sua vez, viabiliza a ocupação de áreas impróprias
para a construção de residências. Além disso, o crescimento desordenado, aliado às
estratégias do capital imobiliário permitiu uma ocupação que se apresenta de forma
segregada e excludente, com ocupações irregulares e caóticas, onde aparecem os
problemas socioambientais.
O que se pode notar dentre os estudos apresentados é que a grande
maioria dos escritos está direcionada para analisar a questão da água na cidade,
sendo os córregos e ribeirões que atravessam a cidade de Londrina objetos de
66
estudos de grande importância na atualidade.
3.3 MIGRAÇÃO E MEIO AMBIENTE NOS BAIRROS JARDIM TÓKIO E JARDIM PINHEIROS
Os bairros propostos para este presente estudo estão localizados na região
oeste da cidade de Londrina-PR, conforme observa-se no figura 8.
FIGURA 8: Divisão setorial da cidade de Londrina em RegiõesFONTE: PML, 2007. Org. Samuel Carvalho da Silva
Ao analisar o crescimento urbano de 1957 a 1965, Luiz (1991) afirma que a
partir de 1957 a cidade de Londrina passou a conhecer um movimento diferenciado
quanto à forma física de sua expansão. Se até o momento Londrina se desenvolveu
a partir da expansão das formas retangulares de suas ruas, a partir deste momento
verifica-se uma expansão desigual, onde é visível a presença de traçados
diferenciados dos apresentados até então.
Este crescimento se deu com maior destaque no sentido leste-oeste,
apresentando uma área de 7.680 metros de extensão contra 5.880 metros de
extensão no sentido norte-sul. (LUIZ, 1991)
É ainda Luiz (1991) que demonstra que, no período 1957-1965, o setor
oeste-noroeste da cidade caracterizou-se como área de maior expansão,
principalmente ao longo da Avenida Tiradentes que se caracteriza por ser saída de
67
Londrina para a vizinha cidade de Cambé e boa parte do interior do estado do
Paraná. É exatamente neste período que começam a surgir loteamentos como o
Jardim Bandeirantes e a Vila Industrial que acabaram por se tornar bairros próximos
aos bairros em foco no presente trabalho.
Nesta época (…) a cidade começou a perder sua configuração quadrangular; a expansão delineou-se de forma desigual, aparecendo diferentes traçados dos já existentes do tabuleiro de xadrez […]Novos bairros surgiram no intervalo de tempo de 1957 – 1965, sendo eles: Parque Guanabara e Vila Ipiranga ao sul; Jardim Aeroporto a sudeste; Cervejaria a leste; Vila Yara a nordeste; Parque Bom Retiro ao norte; Jardim Shangri-lá, Jardim do Sol e Jardim Leonor a noroeste; Jardim Bandeirantes e Vila Indústrial a oeste. (LUIZ, 1991, p. 105. Grifo nosso)
FIGURA 9: Expansão urbana de Londrina até a década de 1970 FONTE: BARROS et al (2009). Org. Samuel Carvalho da Silva
A figura 9 mostra que a ocupação urbana das proximidades da área de
estudos iniciou-se na década de 1950 e, na década de 1970, esta ocupação
ultrapassou as margens do Ribeirão Cambé em direção ao local em que, hoje, se
situa a Universidade Estadual de Londrina.
O Jardim Tókio surgiu no intervalo entre os anos de 1965 e 1970. Neste
período houve um grande aumento do número de bairros na cidade de Londrina,
que conheceu um crescimento tanto no sentido norte-sul, como leste-oeste que
68
passaram a medir, ambas, em sua maior extensão, 8.375 m. (LUIZ, 1991)
Na década de 1970 o local onde se localizam os bairros em estudo já
começava a tomar a forma que hoje possui. A figura 10 mostra a paisagem da área
na década de 1970. Observa-se o traçado das ruas da região, as primeiras casas e
a falta de arborização, sintomas explícitos do processo urbanização em direção à
áreas de desmatamentos e incorporação imobiliária. Também é possível visualizar
que o Jd. Tókio já possuía um considerável número de residências, ao passo que,
no Jd. Pinheiros se nota a presença de poucas moradias, já que é na década de
1980 que a ocupação desta área ocorreu com maior intensidade.
FIGURA 10: Vista parcial aérea dos bairros Jd. Pinheiros e Jd. Tókio na década de 1970.FONTE: Museu Pe. Carlos WeissORG.: Samuel Carvalho da Silva
Atualmente, estes bairros possuem um elevado grau de urbanização (área
com alta densidade residencial, alto índice de asfaltamento, presença de calçadas
nas residências, presença de infra-estrutura, etc.), o que dificulta a presença de
áreas verdes que ficam restritas às áreas anteriormente citadas, além da
arborização que se encontra nas calçadas de praticamente todas as ruas que
69
pertencem à estes bairros. Esta urbanização se dá pelo fato de estes bairros
possuírem uma grande quantidade de construções. Em conseqüência, possuem
segundo a Prefeitura Municipal de Londrina, através da Secretaria Municipal de
Agricultura e Abastecimento, a região possui uma densidade demográfica que varia
de 50 a 200 hab/Km.² chegando a ter de 201 a 300 hab/Km.² em alguns bairros.
(figura 11)
FIGURA 11: Densidade demográfica do município década de 1990. FONTE: PML, 2000.
Tamanho crescimento populacional deveria ser seguido de uma expansão
dos serviços destinados a esta população. No tocante aos serviços públicos de
abastecimento de água, dentro dos 2.234.815 Km de ligações construídos na cidade
(LONDRINA, 2007), os bairros Jardim Pinheiros e Jardim Tókio já possuem 100%
dos domicílios com abastecimento da rede geral de água. Já na questão do
esgotamento sanitário, nos últimos meses de 2008, a companhia estatal de
70
saneamento básico iniciou a implementação de tubulações para concretizar a
disponibilidade do serviço para os domiciliantes na área localizada nos fundos do
Jardim Pinheiros, bem próximo às margens do Ribeirão Cambé. (BARROS et al,
2009)
Ainda no que tange a questão ambiental no contexto do crescimento urbano
da cidade de Londrina, é interessante notar que, através da foto interpretação, Luiz
(1991) identifica a permanência da arborização existente no centro da cidade no
período (1957-1965) e a arborização bem presente apenas nas ruas da porção
centro-oeste e noroeste. A figura 12 apresenta uma vista parcial da rodovia Celso
Garcia Cid (PR-445) na vertente direita do Córrego da Mata e do Ribeirão Cambé
nos anos de 1970, onde se nota que já nesta década esta área se apresentava
desmatada, a falta de mata ciliar na vertente direita dos córregos supracitados e a
utilização do solo para a atividade agrícola. Neste contexto, na atualidade, a
arborização nas ruas da zona oeste da cidade tem diminuído paulatinamente. Cabe
ressaltar que o local mais arborizado da área de estudos ainda continua sendo a
chamada Mata dos Daher (ou da Confepar) e a margens (principalmente a
esquerda) do Córrego da Mata e do Ribeirão Cambé.
71
FIGURA 12: Vista parcial aérea da rodovia Celso Garcia Cid (PR-445). No lado direito da foto Localizam-se os pontos discutidos acima e a paisagem local na década de 1970. FONTE: Museu Pe. Carlos Weiss ORG.: Samuel Carvalho da Silva
3.3.1 Migração e Meio Ambiente: Resultados da Pesquisa Empírica
3.3.1.1 Migrações
Para tornar este trabalho mais próximo possível da realidade local, foi
realizada uma pesquisa “in loco”, através da aplicação de um questionário aberto
(anexo A) para uma pequena amostra da população residente nos bairros em
estudo. Esta pesquisa foi de grande importância para a fundamentação deste
trabalho por mostrar qual a origem e a história de vida de uma parcela da população
que reside nestes bairros e quais as relações entre eles e ambiente natural.
Deste modo, foram coletados 17 depoimentos distribuídos em nove
moradores do Jardim Tókio e oito moradores do Jardim Pinheiros. Conforme dito
anteriormente, o questionário dispõe de perguntas abertas, num total de quatorze,
que buscam saber a origem e as migrações dos entrevistados para os atuais locais
72
de moradia, assim como o “olhar” destes para as condições ambientais nos bairros,
principalmente no concerne ao ribeirão Cambé.
A análise dos resultados permitiu a caracterização da faixa etária dos
entrevistados, mostrando a predominância de entrevistados na faixa etária entre 31
e 50 anos de idade (Figura 13)
18%
52%
24%
6%
ATÉ 30 ANOSDE 31 A 50 ANOS
DE 51 A 70 ANOS M AIS DE 70 ANOS
FIGURA 13: Faixa etária dos entrevistadosFONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.
A caracterização geral dos entrevistados segue, agora apresentando o fator
renda, que, por apesar de tratar de vital importância, foi a questão menos
respondida pelos entrevistados.
Os resultados mostram que a renda familiar média da população pesquisada
é alta, sendo de R$2.552,50, tendo em vista que do total dos entrevistados apenas
64% se dispuseram a informar sobre a renda individual ou a renda familiar.
Os dados mostram-se diferenciados se a análise for feita separadamente
para cada bairro pesquisado. O que se pode destacar, conforme a tabela 3 é que a
renda familiar média é superior no Jd. Pinheiros, assim como também é superior o
valor da renda familiar máxima.
TABELA 3: Rendimento mensal médio por bairro.
Questionários
respondidosRenda Familiar mínima Renda Familiar Máxima Renda Familiar média.
Residentes no Jd. Pinheiros. 5 R$ 700,00 R$ 8.300,00 R$ 2820,00
Residentes no Jd. Tókio. 6 R$ 900,00 R$ 4.080,00 R$ 1804,16
FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.
Deste modo, podemos analisar que há um nível de renda maior no Jardim
Pinheiros em relação ao Jardim Tókio.
73
A pesquisa mostrou que dentre os dezessete entrevistados, seis são
migrantes de outros estados do Brasil, três são nascidos em Londrina e oito são
procedentes de outros municípios do Paraná, revelando a distribuição mostrada na
tabela 4 e no figura 14.
TABELA 4: Estado de Origem dos entrevistadosLOCAL DE NASCIMENTO
ESTADO Nº %
ALAGOAS 1 5,9
REGIÃO NORDESTE 1 5,9
MINAS GERAIS 2 11,7
RIO DE JANEIRO 1 5,8
SÃO PAULO 2 11,7
REGIÃO SUDESTE 5 29,1
PARANÁ 11 65
REGIÃO SUL 11 65
TOTAL 17 100
FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.
18%
47%
35%NASCIDOS EM LONDRINA
NASCIDOS EM OUTRASCIDADES DO PARANÁ
NASCIDOS EM OUTRASUNIDADES DA FEDERAÇÃO
FIGURA 14: Naturalidade dos entrevistadosFONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.
Como metodologia que visa facilitar a compreensão desta pesquisa, será
feita, primeiramente, uma distinção na apresentação dos resultados da pesquisa
empírica, em se tratando de migrações, onde serão analisados, primeiramente, os
nascidos em outras unidades da federação e, posteriormente, as entrevistas cedidas
por pessoas nascidas no estado do Paraná.
74
Em termos de local de nascimento, um outro grupo de expressão dentro dos
entrevistados são os nascidos na Região Sudeste. São Paulo, Minas Gerais e Rio
de Janeiro são os estados de nascimento de 29,1 dos entrevistados.
Este dado vem a concretizar o que foi dito anteriormente no tocante à
questão migratória para o norte paranaense. Como área de expansão da fronteira
agrícola no início do século XX esta região passou a ser local de grande fluxo de
pessoas, vindas principalmente dos estados de São Paulo e Minas Gerais e da
região Nordeste. Na pesquisa realizada, pode-se verificar que boa parte dos
entrevistados (50%) que nasceram nas regiões Sudeste e Nordeste, possui entre 60
e 70 anos de idade, e moram no estado do Paraná há pelo menos 50 anos. Isso
significa que estes vieram para este estado ainda nos anos em que a economia da
região estava quase que totalmente pautada na produção e comercialização do café.
(MOURA, 2004; MOURA et al, 1999)
43%
14%0%
29%
0% 14%1950-19601961-19701971-19801981-19901991-20002001-2009
FIGURA 15: Década de chegada ao estado do Paraná (não paranaenses) FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
75
FIGURA 16: Localização dos Estados natais dos entrevistados nascidos fora do Estado do ParanáFONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.BASE CARTOGRAFICA: IBGE ORGANIZAÇÃO: Samuel Carvalho da Silva
Assim, a presença de grandes fluxos migratórios para o norte do Paraná se
dá principalmente por causa da economia cafeeira (MOURA et al, 1999) deduzindo-
se que os entrevistados que vieram dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro
destinaram-se, juntamente com seus familiares às zonas rurais dos municípios da
região próxima Londrina.
Dentre os entrevistados supracitados, há um equilíbrio no número entre os
que já residiam em áreas urbanas de suas cidades de origem (3), e os que residiam
em áreas rurais em sua terra natal (3). Mas, este equilíbrio se desfaz quando se
trata das áreas de destino destes migrantes, onde o que se vê é uma vantagem dos
destinos urbanos em relação aos destinos rurais (figura 17)
76
33%
67%
ZONA RURALZONA URBANA
FIGURA 17: Área de destino dos migrantesFONTE: FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Neste sentido, os deslocamentos feitos pelos entrevistados que vieram de
outras regiões do Brasil e moravam nas áreas rurais de seus municípios e se
destinaram às mesmas áreas no território paranaense se deve principalmente ao
fato que estes acompanharam seus familiares, que buscavam, no norte do Paraná,
inserir-se na produção rural, tendo em vista que este setor ainda era o mais
dinâmico nesta região.
Assim, pela compreensão dos argumentos apresentados pelos entrevistados
fica nítida a impressão de que, para a maioria dos entrevistados que vieram de
outros estados da federação, morar e trabalhar na zona rural era a grande
expectativa de seus pais e demais familiares, uma vez que tinham experiência
apenas em ocupações, empregos e trabalhos na área rural.
Desse modo, o que se pode notar é que a questão do trabalho é, sem
duvida, um dos fatores que mais influenciaram nos processos migratórios, sendo
muitas vezes, o único fator motivador das mesmas (MARTINE, NEIVA,
MACEDO,1984; MARTINE, 1994). Nesta pesquisa pode-se notar que a busca por
melhores condições de emprego também influenciaram nas decisões dos
entrevistados.
Alguns dos entrevistados conseguem lembrar as condições em que viviam
nos estados de origem. Um dos entrevistados, procedente do interior de Minas
Gerais, relembrou alguns fatos de sua infância na terra natal e explicou a razão pela
qual a família migrou para o interior do Paraná:
77
“Além da pobreza, não tinha serviço (sic) lá onde agente morava” (V.A.)
Através desta fala nota-se a importância do fator trabalho e as condições
pobreza como um dos principais motivos dos deslocamentos realizados pelos
entrevistados (tabela 5). Estes são os principais fatores que contribuíram para o
acréscimo populacional significativo no estado do Paraná pelo menos até meados
da década de 1960. (MOURA et al, 1999)
TABELA 5: Fatores responsáveis pelo deslocamento
Motivo da mudança Número de migrantes %
Pobreza 1 17
Busca de trabalho 2 33
Acompanhamento da família 2 33
Estudos 1 17
TOTAL 6 100FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Em se tratando de migrantes de outras regiões do Brasil, apenas um caso
dos entrevistados (D.T.A) teve como destino, após a saída de sua cidade natal, a
zona urbana no estado do Paraná. A entrevistada nasceu no estado de Alagoas,
migrou para a área urbana de Mandaguaçu-PR. A figura 18 mostra as década da
chegada dos entrevistados que não nasceram no Paraná ao município de Londrina.
32%
17%17%
17%
17%
1950-19601960-1970
1981-19901991-20002001-2009
FIGURA 18: Ano de chegada á Londrina dos nascidos em outros estados.FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Um dos entrevistados que tem sua naturalidade em outra unidade da
federação, no caso o estado de São Paulo, foge um pouco do padrão dos
78
entrevistados que migraram de outros estados, particularmente por estar residindo
na cidade há pouco mais de quatro anos, sendo um migrante que fez uma migração
do padrão urbano-urbano, vindo da cidade de Francisco Morato diretamente para a
cidade de Londrina.
Outro caso de migrante da região Sudeste é de um entrevistado (J.S.S.)
nascido na cidade de Piracicaba, no interior paulista, e residente em Londrina desde
1991, após morar por cerca de 5 anos na vizinha cidade de Ibiporã.
O caso do entrevistado supracitado chama a atenção para um detalhe
interessante no tocante às migrações para a cidade de Londrina. Dentre nascidos
em outros estados do Brasil, apenas 33% tiveram como primeiro destino, dentro do
estado do Paraná, a cidade de Londrina. A grande maioria teve como destino outros
municípios, destinando-se em grande parte para as zonas rurais dos mesmos. A
vinda destes entrevistados para a cidade de Londrina só aconteceria anos depois,
em grande parte devido aos mesmos fatores que corroboraram para a vinda dos
entrevistados nascidos no Paraná, como será visto mais adiante.
Deste modo, ao chegar à cidade de Londrina nem todos os entrevistados
procedentes de outros estados vieram a residir no atual local de moradia. Dos seis
entrevistados, quatro já residiram em outros bairros de Londrina, com destaque para
o centro da cidade. Outra informação importante é nove destes entrevistados já
residiram em bairros próximos aos escolhidos para esta pesquisa, a saber: Jd.
Bandeirantes, Vila Industrial e Jd. Alvorada.
Ainda se tratando dos entrevistados nascidos em outros estados, pode-se
notar, através da pesquisa empírica, que a maior parte dos entrevistados chegou no
bairro para residirem, onde estão atualmente residindo, entre os anos de 1981 e
1990 (figura 19).
11%
45%33%
11% 1970-1980
1981-1990
1991-2000
2001-2009
FIGURA 19 : Década de chegada a atual residência (nascidos em outras Unidades da Federação) FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
79
Os detalhes ficam por conta do fato de que entre estes, quatro entrevistados
(67%) residem no Jd. Pinheiros e dois no Jardim Tókio. Porém, um dos moradores
do jardim Tókio é o mais antigo morador desta região, isto se comparado com os
demais entrevistados. Um dos motivos que pode explicar isso é o fato de que este
bairro, entre os dois escolhidos para esta pesquisa, é o mais antigo, com o início da
construção das primeiras residências na década de 1960.
Já o Jardim Pinheiros é de ocupação mais recente, datada no final da
década de 1970 e início da década de 1980. Mas, entre os entrevistados, uma
característica importante: todos residem no bairro há mais de 15 anos, isto é, são
moradores antigos no mesmo.
Os resultados da pesquisa mostram que a maior parte dos entrevistados
nasceu no estado do Paraná. Neste sentido, destaca-se o fato de que em sua
grande maioria, os entrevistados nascidos no estado do Paraná são oriundos dos
municípios do norte do Paraná, próximos à Londrina. Esses dados ajudam a
compreender a polarização feita por Londrina como centro regional de recepção dos
migrantes oriundos dos pequenos municípios do Norte Velho e do Norte Central do
estado do Paraná. Outros entrevistados que nasceram no estado do Paraná (figura
20) são oriundos do noroeste do estado como Cianorte. Cabe aqui um detalhamento
destes dados.
27%
73%
NASCIDOS NO M UNICÍPIO DELONDRINANASCIDOS EM OUTROSM UNICÍPIOS DO PARANÁ
FIGURA 20: Local de nascimento dos entrevistados paranaensesFONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Os resultados da pesquisa empírica mostram que a grande maioria dos
entrevistados (65%) é natural do estado do Paraná, formando então o grupo mais
numeroso dentro desta pesquisa. Deste grupo, 73% são nascidos fora do município
de Londrina. Todos os que não são procedentes do município de Londrina migraram
de municípios do norte do Paraná, conforma a tabela 6.
80
TABELA 6: Local de nascimento dos entrevistados norte-paranaenses. MUNICÍPIO MIGRANTES %
Uraí 2 25Assaí 1 12,5Cianorte 1 12,5Cornélio Procópio 1 12,5Francisco Alves 1 12,5Lupionópolis 1 12,5Rancho Alegre 1 12,5TOTAL 8 100
FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
FRANCISCO ALVES
CIANORTE
LUPIONÓPOLIS
LONDRINA
RANCHO ALEGRE
URAÍ CORNÉLIO PROCÓPIO
ASSAÍ
FRANCISCO ALVES
CIANORTE
LUPIONÓPOLIS
LONDRINA
RANCHO ALEGRE
URAÍ CORNÉLIO PROCÓPIO
ASSAÍ
FIGURA 21: Localização dos municípios de naturalidade dos entrevistados paranaenses.FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.BASE CARTOGRÁFICA: Adaptado de CUNHA, Luiz A. G. Paraná: Desenvolvimento rural e questão regional, 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Dentre os que nasceram em municípios paranaenses, com exceção de
Londrina, apenas 25% residiam nas zonas rurais de seus municípios de origem
(figura 22). Fica bem claro aqui que o trabalho neste lugar era de fundamental
importância, haja vista que os motivos para a saída destes municípios se deram
principalmente por conta da diminuição das oportunidades nas lavouras.
81
25%
75%
ZONA RURALZONA URBANA
FIGURA 22: Local de residência no município de origem.FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
A maior parte dos entrevistados (75%) provenientes de outros municípios do
Paraná morava nas áreas urbanas de seus municípios. Entre estes, alguns
admitiram desconhecer por qual ou quais circunstâncias eles já moravam nestas
áreas urbanas. Os que conseguiram lembrar afirmaram que os pais e demais
familiares trabalhavam em atividades da agricultura, principalmente do café. Apenas
dois dos entrevistados afirmaram que suas famílias não trabalhavam diretamente
com a atividade agrícola em seus municípios, admitindo que o comércio era a
atividade mais praticada por eles.
Outro fato de interesse nesta pesquisa foi a motivação das migrações dos
entrevistados. A grande maioria deste afirmou que as condições de trabalho nos
seus locais de origem foram, aos poucos, ficando difíceis e que a mudança para
outros municípios foi uma saída para esta situação.
“Resolvemos sair do campo por causa que trabalhar na lavoura tava cada vez mais
difícil, o café caiu de preço e ninguém mais queria mexer com isso” (M.S.S)
O depoimento acima apresentado é simbólico. É uma amostra empírica da
desvalorização do café no mercado mundial na década de 1970, que se aliaram às
mudanças na estrutura produtiva no campo brasileiro e as alterações nas relações
de trabalho. (SILVA, 1982)
CARVALHO (2002) mostra dados que contemplam as características de
82
municípios perdedores de população entre os anos de 1960 e 19705, período este
que compreende os anos (1965 e 1970) de saída de 25% dos entrevistados, e um
período bem próximo à data de saída de outros 25% dos entrevistados (1971 e
1977).
Mas, Londrina não foi o primeiro destino de todos os entrevistados que
nasceram no estado do Paraná. Dentre estes, apenas metade tiveram como destino
o município de Londrina, sendo que a outra metade teve diferentes destinos:
Curitiba, Cambará, São Jerônimo da Serra e Curiúva. A figura 23 mostra as décadas
de chegada ao município de Londrina dos entrevistados nascidos no Paraná.
24%
25%13%
13%
25% 1961-19701971-19801981-1990
1991-20012001-2009
FIGURA 23: Década de chegada à Londrina (nascidos no Paraná)FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Ao chegar à cidade de Londrina, a região central da cidade e os bairros da
região oeste foram os locais de estabelecimento destes migrantes, principalmente os
bairros do Jardim Bandeirantes, Vila Industrial e, em alguns casos moradores do
Jardim Tókio que mudaram para o Jardim Pinheiros.
Há, também, casos de moradores (um do Jd. Pinheiros e Um do Jardim
Tókio) que já residiam anteriormente nestes bairros, mas que mudaram de
residência, passando a morar em local diferente daquele que esteve morando que
chegaram nestes bairros.
Neste sentido, um dos entrevistados que fez este deslocamento intra-bairro
afirma qual foi sua motivação:
“... nós moravamos em apartamento por causa da segurança, mas mesmo morando
lá o prédio foi assaltado, e então achamos por bem comprar uma casa por ali
5 Estes municípios tiveram decréscimos populacionais da seguinte ordem: Lupionopolis, 29,9% - Rancho Alegre, 15,2% - Assaí, 8,4% - Sertanópolis, 6,2% - Uraí, 3,4%.
83
mesmo, onde já conhecíamos bem e já tínhamos nos adaptado.” (J.S.P.)
Pela figura 24, pode-se notar que a maioria dos entrevistados que nasceram
no Paraná, mudaram para as atuais residências nos últimos oito anos. Este dado
serve para averiguar-se qual época os entrevistados deste grupo chegaram a atual
residência tendo em vista os que já moravam nos bairros, porém, em outra
residência.
43%
57%
1991-2000
2001-2009
FIGURA 24: Data de chegada à atual residência.FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Um último grupo a ser analisado é o grupo dos entrevistados de naturalidade
londrinense. Este grupo corresponde a pouco mais de 17% do grupo entrevistado,
no total de três pessoas.
Fato interessante dentro deste ultimo grupo é a diferença de idade existente
entre os entrevistados, haja vista que nasceram em diferentes épocas. Um dos
entrevistados (A.A.O) nasceu no ano em que Londrina foi elevada à condição de
município, em 1934. Já a entrevistada M.de J.S.M. nasceu em 1960 e, por fim, a
entrevistada A. de O. nasceu na cidade de Londrina em 1983.
Dentre os três entrevistados, apenas a última reside desde seu nascimento
em um dos bairros da pesquisa (no caso o Jardim Tókio). Os outros dois
entrevistados já residiram em outros municípios do Paraná, mas viveram a maior
parte de suas vidas em Londrina, e estão nas atuais residências há 27 e 18 anos,
respectivamente.
A análise dos dois grupos pode dar uma melhor compreensão da época em
que os entrevistados mudaram para os bairros pesquisados. Nesta parte do trabalho
procurou analisar com todos os questionários aplicados na pesquisa “in loco”
84
procurando trabalhar os aspectos comuns do grupo que sejam mais interessantes.
Em primeiro lugar destaca-se o período de tempo de moradia que os
entrevistados têm na atual residência. Neste quesito, os períodos são diversos
variando de um mês a trinta e oito anos (figura 25).
ATÉ 1 ANODE 1 A 5 ANOS DE 6 A 10 ANOS
DE 11 A 15 ANOSDE 16 A 20 ANOSDE 21 A 25 ANOS
M AIS DE 25 ANOS
FIGURA 25: Tempo de moradia na atual residênciaFONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Os dados apresentados na figura 25 mostram que a maior parte dos
entrevistados está morando nas atuais residências em um período que varia de 16 a
20 anos. Dentre estes, 60% é moradores do Jardim Tókio, bairro mais antigo que o
Jardim Pinheiros, onde estão agrupados os 40% faltantes.
Ainda de acordo com a figura 25, se for feito um agrupamento colocando, de
um lado moradores que residem há menos de 16 anos na atual residência e, de
outro, moradores com 16 anos ou mais de moradia na atual residência, constata-se,
no primeiro grupo há a predominância de moradores do Jardim Pinheiros enquanto,
no segundo grupo, moradores do Jardim Tókio. Uma explicação lógica para este fato
pode ser novamente o fato de que este último é de implementação mais antiga do
que o primeiro.
TABELA 7: Tempo de moradia na atual residência.Moradores do Jardim Pinheiros Moradores do Jardim Tókio
Até 16 anos de moradia 5 62,5% 3 33,4%
Mais de 16 anos de moradia 3 37,5% 6 66,6%
TOTAL 8 100% 9 100%FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Em vista do que exposto, nota-se que muitos fatores que influenciaram na
saída dos pesquisados de seus lugares de origem, deslocando-se, então, por outros
85
municípios e outros bairros de Londrina, passando a residir, em épocas e sob
condições diferentes em um dos bairros pesquisados.
Ainda na apresentação dos resultados quanto à migração, será analisada
uma questão fundamental para este estudo: qual motivo levou estas pessoas a
escolherem estes bairros para residirem. Vários foram os motivos alegados pelas
pessoas pesquisadas que influenciaram em suas decisões para morarem nos
bairros desta pesquisa. Procurou-se fazer neste momento uma rápida
caracterização destes motivos.
Conforme visto anteriormente, vários dos entrevistados já residiram em
bairros desta região anteriormente, fato que os fez optarem por ainda continuar
nesta localização, ou seja, estabelecer sua residência, própria ou de aluguel, em um
local, de certa maneira, conhecido. Neste caso, as diferenças estão apenas no
tocante à questão dos tipos de moradia, aluguel e outros detalhes.
“[...] um amigo me indicou onde comprar (local) e eu conhecia este bairro.” (L.C.L.
morador do Jardim Pinheiros)
Por outro lado, para aqueles que não moravam em bairros da zona oeste ou
não conheciam o bairro, os motivos para mudar no bairro são diversos.
“Foi decisão dos meus pais” (I.R.)
“Uma pessoa desta cidade me indicou o bairro, quando eu morava em São Paulo.”
(D.T. de A.)
A tabela 8 mostra a quantidade de moradores que já conheciam o local no
momento da sua mudança.
TABELA 8: Moradores e seus conhecimentos prévios sobre os bairros pesquisados ou bairros próximos Moradores do Jardim Pinheiros Moradores do Jardim Tókio
Conheciam o bairro de atual moradia ou bairros próximos 5 63% 4 44%
Não conheciam o bairro de atual moradia ou bairros próximos
3 37% 5 66%
TOTAL 8 100% 9 100%FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
86
Os resultados da pesquisa empírica revelaram que a maioria dos
entrevistados residentes no Jd. Pinheiros já possuía algum conhecimento sobre o
bairro, ou já havia morado no mesmo, em outras casas, ou mesmo eram
conhecedores dos bairros do entorno.
Os dados apresentados sobre o conhecimento dos bairros da zona oeste
ajudam a explicar o fato de que a maioria dos moradores entrevistados residentes
no Jd. Pinheiros já eram conhecedores desse local, e isto influenciou na decisão da
compra de lotes neste bairro por parte de habitantes de outros bairros da zona
oeste, inclusive do Jardim Tókio.
Neste sentido, por ser de ocupação mais recente, o Jd. Pinheiros tem muitos
moradores que residiam em bairros das imediações, e a migração intra-urbana se
tornou realidade, pois a oportunidade oferecida, tanto pela loteadora como por
particulares, para a compra de lotes, contribuiu para este processo.
Para as pessoas que não conheciam estes bairros ou suas imediações fica
claro que estes (e também suas famílias) vieram na esperança de usufruir de
melhores condições de vida através, muitas vezes, de difíceis adaptações ao
ambiente com o qual se depararam. Esta adaptação se deu de forma a conhecer o
que lhe é desconhecido, processo que varia na escala temporal de pessoa para
pessoa, mas que, de diversas maneiras, acaba por acontecer. Neste sentido, ao
migrar “o homem busca reaprender o que nunca lhe foi ensinado, e pouco a pouco
vai substituindo sua ignorância do entorno por um conhecimento, ainda que
fragmentário.” (SANTOS, 2008, p.329)
3.3.1.2 Meio-Ambiente
Após a análise das características e condições dos movimentos migratórios
para os bairros em tela, procura-se analisar as características ambientais dos bairros
e a percepção dos entrevistados sobre esta temática.
Um esclarecimento importante a ser feito é de que não serão analisados
separadamente os depoimentos dos entrevistados de acordo com os bairros em
estudo, mas será realizada uma análise conjunta, tendo em vista a proximidade dos
bairros e as poucas diferenças estruturais entre os mesmos.
Para fazer uma ponte entre os fluxos migratórios citados anteriormente e a
dinâmica ambiental nos bairros em tela, procurou-se fazer uma caracterização da
87
situação em que os bairros se encontravam quando da chegada dos moradores
pesquisados, segundo os próprios entrevistados.
De uma maneira geral há certa uniformidade nas respostas dadas à
pergunta referente à situação dos bairros quando os entrevistados mudaram para os
mesmos. Esta certa uniformidade é conferida devido a proximidade entre as datas
de mudança para os locais escolhidos.
Neste sentido, os entrevistados que possuem maior tempo de moradia nos
bairros em estudo conseguem perceber as profundas mudanças que os mesmos
passaram nos últimos anos. Assim faz-se uma divisão em dois grupos, de acordo
com as informações coletadas: os que sentem mudanças profundas na paisagem
dos bairros e os que percebem pouca ou nenhuma alteração significante na mesma.
Isto posto, o primeiro grupo é mais numeroso com cerca de 70% dos
entrevistados, enquanto o segundo grupo fica com 30% restante. A diferença no
tempo de residência mostra sua influência neste quesito. Se no primeiro grupo, a
média de tempo de residência nos bairros é de 18 anos, esta mesma média é de 4
anos no segundo.
Os depoimentos de moradores com mais de 15 anos de residência nos
bairros mostram bem a realidade encontrada até o final da década de 1980.
“Havia um grande cafezal por aqui, não tinha asfalto nestas ruas” (V. de A. morador
do Jd. Tókio há 38 anos)
“Nesta rua onde eu moro só tinha duas casas, o resto era mato e tinha muitos
animais soltos.” (D. T. de A. moradora do Jd. Pinheiros há 16 anos.)
Tais depoimentos revelam as características destes bairros, com a presença
de muitas áreas arborizadas, lotes urbanos pouco ocupados e até mesmo a
presença de animais que pertenciam aos donos de chácaras. Analisando a figura 26,
é possível visualizar uma parte desta realidade: a densidade de casas em direção ao
centro da cidade (parte superior central) contrastando com a baixa densidade de
residências nos fundos do Jardim Tókio e a presença de um grande número de lotes
vazios em suas imediações.
De acordo com o primeiro dos depoimentos acima apresentados, é possível
verificar a transição de um período de domínio do cultivo de café, enquanto área que
abrangia fazendas e chácaras, para a disponibilização de lotes para venda, e o
88
crescimento paulatino do número de residências nos bairros em foco.
FIGURA 26: Fundos do Jd. Tókio (centro inferior) década de 1970.FONTE: Museu Pe. Carlos Weiss
Por outro lado, os moradores que residem há poucos anos nos bairros desta
pesquisa percebem pouca ou nenhuma alteração na paisagem destes bairros,
prevalecendo depoimentos que caracterizam esta imobilidade paisagística.
“O bairro está igual ao que está hoje” (J. da S. morador no Jd. Pinheiros há 2 anos)
Este fato se dá por conta do processo paulatino de crescimento urbano dos
bairros, através das construções (residenciais, comerciais, públicas.) e da
diminuição dos espaços reservados para a especulação imobiliária e também a
diminuição das áreas verdes na região. Para aqueles que moram há tempo pouco
nos bairros em tela este processo, apesar de ainda continuar em voga, é menos
visível.
Atualmente, os bairros de estudo possuem um alto grau de urbanização
(figuras 27 e 28), possuindo cobertura asfáltica na quase totalidade de suas
extensões, proporcionando a ligação intra-bairros na região e com outros bairros da
89
cidade.
FIGURA 27: Vista parcial da urbanização dos Bairros do Jd. Tókio e Jd. Pinheiros nas proximidades do Ribeirão Cambé.AUTOR: Samuel Carvalho da Silva – 01/12/2009.
FIGURA 28: Vista aérea dos bairros de estudo.FONTE: Google Earth.
90
Dando prosseguimento a análise das entrevistas realizadas com moradores
dos bairros Jd. Pinheiros e Jardim Tókio, a proposta deste trabalho, neste momento,
volta-se para observações acerca dos depoimentos que respondem à questão feita
aos entrevistados sobre o que é o meio ambiente.
Os depoimentos mostram que há uma diversidade da percepção sobre o
que seja o meio ambiente. Dos entrevistados, 18% preferiram não responder ou
alegaram não ter subsídios para responder a este questionamento.
As entrevistas proporcionaram, no tocante ao de meio ambiente, a distinção
de dois grupos que possuem visões diferenciadas em suas concepções.
Excetuando-se os que afirmaram não ter subsídios para responder este
questionamento e os que optaram por não respondê-lo (figura 29), dois grupos que
se distinguem, conforme veremos a seguir.
41%
41%
18% cons ideram apenas os aspe ctosnaturais
Cons ideram os aspectosnaturais aliados aos as pe ctoshum anos
Não sabem ou não re s ponderam
FIGURA 29: Aspectos considerados pelos entrevistados no conceito de meio ambiente.FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Os conceitos sobre meio ambiente são vários, mas, tendo isso em vista, a
tabela 9, fornece mostra um agrupamento em três diferentes conceituações que
visam, de acordo com as respostas, conceber pontos em comum nas mesmas.
De uma maneira geral, dentre os que cederam respostas ao
questionamento, boa parte dos entrevistados entendem que o meio ambiente seja
apenas os aspectos ligados à natureza, ou seja, sem associar a esta os aspectos
humanos na construção do ambiente.
91
TABELA 9: Caracterização geral sobre o conceito de meio ambiente segundo os entrevistadosCONCEITO SOBRE MEIO AMBIENTE Nº DE PESSOAS %Reconhecem a palavra Natureza como sinônimo de Meio Ambiente. 6 35
Reconhecem a preservação ambiental como sinônimo de Meio Ambiente. 3 15
Reconhecem Meio Ambiente como dimensão que inclui tanto os aspectos naturais como os Aspectos humanos.
8 50
FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Neste sentido, 35% dos entrevistados que responderam a questão sobre o
que seria o meio ambiente, utilizaram a palavra ”natureza” em seus depoimentos
como sendo sinônimo de meio ambiente.
“ É a mata, a natureza” (M.de J. S. M.)
“ É a natureza, os animais, etc.” (A. G.)
“É a natureza” (A.A. de O.)
Outro grupo coloca que meio ambiente é sinônimo de preservação ou um
elemento ligado a ela. Neste grupo, que representa 15% do total de depoimentos
sobre o que se tem por meio ambiente, apresentam respostas que colocam o meio
ambiente como sinônimo de preservação, mas sem um agente determinado para
esta preservação.
Neste sentido, são comuns, neste grupo, as palavras utilizadas ligarem, ou
mesmo equipararem meio ambiente à preservação, como, por exemplo, “não poluir”,
“limpeza” e “preservação”.
“É a limpeza, das ruas, calçadas e etc.” (A. de O.)
“Preservação, não fumar, não poluir o que não é poluído.” (J. da M. e S.)
Em uma rápida análise pode-se considerar que estes grupos, apesar das
diferenças apresentadas acima, possuem uma concepção de meio ambiente como
um lugar ideal, sem a presença da degradação ambiental. Nestes grupos, a
problemática ambiental é vista de forma a não considerar os diversos aspectos
humanos que fazem parte do ambiente.
Um último grupo é o que possui uma visão diferenciada em relação aos
92
apresentados até o presente momento. Cerca de 50% dos entrevistados possuem
uma visão que mais se aproxima da concepção adotada sobre meio ambiente neste
trabalho.
Em geral, este grupo possui uma concepção de meio ambiente como
sinônimo de tudo o que permeia a vida do ser humano, tudo o que faz parte do
ambiente que condiciona e que participa do cotidiano da população. Este meio
ambiente é presente em todos os momentos da vida do ser humano, e não é
somente a natureza, mas também todas as criações e ações humanas. (SANTOS,
2008)
Verifica-se que há muitos que compreendem o meio ambiente como algo
mais amplo, que vai além da natureza e suas dinâmicas, partindo para uma visão
mais aberta do homem e a construção de seu ambiente junto à natureza.
Desta maneira, para este grupo, o meio ambiente é aquilo que cerca a
nossa vida, e é composto pela natureza em seus relacionamentos com os aspectos
humanos, ou seja, estão permeados de diversas situações onde os problemas
sociais como a pobreza e a fome, assim como a poluição e a vertiginosa diminuição
de recursos naturais, entre outros, são entendidos como elementos que fazem parte
do meio ambiente em relações diversas.
“Onde vivemos no dia-a-dia.” (I.R.)
“Local que vivemos, estamos” (A.G.)
“Tudo aquilo que está a minha volta. Tudo relacionado ao espaço onde vivo” (J.S.P.)
Deste modo, é possível verificar, através dos depoimentos, que este grupo
possui uma visão um pouco mais holística em sua concepção sobre o que é meio
ambiente, dando nestes depoimentos uma idéia de conjuntura dos diversos
aspectos que os cercam.
Tendo em vista os depoimentos apresentados, fica demonstrado que não é
difícil que haja, entre a população, a percepção de que o meio ambiente seja apenas
o que chamamos de natureza. Para Ruscheinsky (2001), a dificuldade sobre a
concepção de meio ambiente já notória dentro do mundo acadêmico e tende ser
igualmente dificultosa entre leigos.
A concepção de meio ambiente não encontra consenso no mundo científico,
93
tão pouco fora dele. Portanto, a definição do fenômeno possui uma conexão com a subjetividade e o estatuto de determinada ciência. Seja entre especialistas seja entre leigos, pode-se considerar a noção de meio ambiente expressa ou subentendida uma representação social. (RUSCHEINSKY, 2001, p.32)
Portanto, seguindo o que diz Ruscheinsky (2001), as representações sobre
o meio ambiente estão fundadas tanto nas particularidades individuais quanto nas
representações sociais que são internalizadas pelos indivíduos. Esta concepção
está diretamente ligada com a realidade local, isto é, variando conforme o ambiente
em que uma determinada sociedade ou grupo social está inserido.
Assim, se o meio ambiente está relacionado a um lugar determinado em que os elementos naturais e sociais se relacionam, então é preciso lançar um olhar sobre os problemas imediatos que envolvem a realidade do grupo social inserido nesse meio. (RUSCHEINSKY, 2001, p.29)
Neste sentido, as afirmações e concepções sobre meio ambiente estão
ligadas às representações sociais que, segundo Reigota (1995, p.70 apud
RUSCHEINSKY, 2001, p.31), “equivalem a um conjunto de princípios construídos
interativamente e compartilhados por diferentes grupos que através delas
compreendem e transformam a sua realidade.” Assim, como este trabalho não tem
como objetivo estudar as representações sociais da sociedade atual, o que se pode
afirmar é que há concepções diferenciadas sobre o meio ambiente nos bairros em
tela, e, estas representações contribuem para a elaboração destes pensamentos em
concepções.
Assim, o questionário proporcionou subsídios a uma análise das diversas
concepções que estão presentes no cotidiano social, e em especial neste grupo, em
que se pode verificar que ainda existem os que têm por meio ambiente apenas a
natureza e a sua preservação deixando de lado as diversas relações do homem com
esta natureza na construção do espaço.
Isto posto, as considerações feitas ajudam na compreensão dos
depoimentos dos entrevistados e a opinião dos mesmos sobre a situação atual do
Ribeirão Cambé. Os entrevistados foram questionados sobre qual é, nas
concepções deles, a situação atual deste curso d’água.
De uma maneira geral, os depoimentos possuem uma convergência para o
apontamento da existência de um ambiente não muito preservado nas imediações
do Ribeirão Cambé.
94
“Tem sujeira, poluição, mato. Está descuidado” (L.G. da S.)
“Está abandonado, cheio de lixo” (M.S.S.)
“Poluído, com muita sujeira envolta” (A.G.)
Não é difícil verificar a veracidade destes depoimentos. Um trabalho de
campo neste local permitiu a verificação “in loco” deste acontecimento, onde foi
possível notar a coerência do discurso dos entrevistados no tocante à conservação
deste curso d’água.
FIGURA 30: Degradação através do depósito de materiais plásticos e resíduos de construção civil no vale do Ribeirão Cambé. FOTO: Samuel Carvalho da Silva, 15/07/2009.
É possível encontrar nas proximidades do curso d’água diversos agentes
poluidores, como artigos de plásticos (como garrafas e sacolas) e restos de
materiais de construção, sendo que o local possui grande concentração dos objetos
descritos acima. Há que se observar que ano de 2009 foram criadas pelo poder
público municipal, áreas destinadas a receber resíduos de construções e outros
tipos de resíduos com o intento de aliviar as áreas de preservação, como os fundos
95
de vale.
A deposição de resíduos nos fundos de vale pode causar a poluição e a
contaminação das águas, o aumento da presença de animais pode causar doenças
aos seres humanos. Nota-se que os entrevistados possuem essa consciência e que
se preocupam com a limpeza no local, fato que não ocorre, com efeitos negativos na
atual situação do Ribeirão Cambé na porção que atinge os bairros em estudo.
Neste sentido, aparece a preocupação com a qualidade da água não
somente na região, mas também em praticamente todo o município, tendo em vista
que os bairros em estudo se localizam no alto Ribeirão Cambé, e que este curso
d’água atravessa a cidade no sentido noroeste-sudeste, formando inclusive o Lago
Igapó, um dos atrativos de lazer e turismo de Londrina. Este cuidado é importante,
pois, conforme Lima (2005, p. 179), a
água é alvo de preocupação ambiental [...] a qualidade das águas superficiais tem sido afetadas em muito pelas atividades produtivas e por seus reflexos (poluição por esgotos, derramamentos acidentais de produtos tóxicos em vias de transporte, disposição inadequada de resíduos sólidos, etc.)
Dentre os entrevistados que responderam sobre que melhorias devem ser
feitas nos bairros (que será abordado mais adiante), um dos moradores citou que
deve haver um planejamento ou mesmo uma efetivação de propostas existentes.
Segundo o referido entrevistado, deve haver:
“Projeto de reestruturação dos fundos de vale, nascente e rios, é o que eu acho.”
(P.C.J.)
96
FIGURA 31
FIGURA 32
FIGURA 33FIGURA 31
FIGURA 32
FIGURA 33
FIGURA 31 Vista parcial do fundo de vale do Ribeirão Cambé na interface com os bairros de estudo.FONTE: Google EarthFIGURA 32: Degradação através do depósito de materiais plásticos e resíduos de construção civil no vale do Ribeirão Cambé. FOTO: Samuel Carvalho da Silva, 15/07/2009.FIGURA 33: Curso do Ribeirão Cambé e a sua proximidade com área de deposição de resíduos.FOTO: Samuel Carvalho da Silva, 15/07/2009.FONTE: Pesquisa “in loco”
As figuras 31, 32 e 33 mostram bem a realidade dos depoimentos feitos
pelos entrevistados desta pesquisa. Como pode ser observado, há uma proximidade
entre a deposição de resíduos e o curso d’água propriamente dito, separado apenas
por alguns metros, podendo acarretar na poluição das águas do Ribeirão Cambé e,
desta maneira, contribuir para a depreciação de um dos marcos turísticos da cidade
e na diminuição na qualidade de vida da população local.
Neste sentido, é possível detectar nas respostas a percepção dos
entrevistados quando o assunto é a atual situação do Ribeirão Cambé, quanto à
conservação e limpeza das áreas ao redor deste curso d’água. Assim, serão
analisadas as respostas da questão que procurava identificar qual a contribuição
que cada um tem dado para a conservação da limpeza do Ribeirão Cambé.
Um fato de grande importância para este estudo é que apenas 10% dos
entrevistados citaram como um dos problemas atuais do Ribeirão Cambé na região
de interface com os bairros analisados, a ocupação no fundo de vale, situada a
97
pouquíssimos metros do curso d’água, numa área considerada área de preservação
permanente definidas pelo Código Florestal (BRASIL, 1965).
Esta lei direciona as medidas a serem tomadas na conservação das Áreas
de Preservação Permanente, sendo que, para esta pesquisa, pode-se destacar o
trecho abaixo:
Art. 2º - Consideram-se de preservação permanente, pelo sóefeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: 1 - de 30 m (trinta metros) para os cursos d'água de menos de 10m (dez metros) de largura;2 - de 50 m (cinqüenta metros) para os cursos d'água que tenhamde 10 (dez) a 50 m (cinqüenta metros) de largura;3 - de 100 m (cem metros) para os cursos d'água que tenham de50 (cinqüenta) a 200 m (duzentos metros) de largura;4 - de 200 m (duzentos metros) para os cursos d'água que tenhamde 200 (duzentos) a 600 m (seiscentos metros) de largura;5 - de 500 m (quinhentos metros) para os cursos d'água quetenham largura superior a 600 m (seiscentos metros). (BRASIL, 1965)
Neste sentido, Costa, Souza e Brites (1996, p. 121), a respeito das Áreas de
Preservação Permanentes (APP’s) afirmam que
As App (sic) foram criadas para proteger o ambiente natural, o que significa que não são áreas apropriadas para alteração de uso da terra, devendo estar cobertas com a vegetação original. A cobertura vegetal nestas áreas irá atenuar os efeitos erosivos e a lixiviação dos solos, contribuindo também para regularização do fluxo hídrico, redução do assoreamento dos cursos d’água e reservatórios, e trazendo também benefícios para a fauna.
Assim sendo, em Londrina, da área total do município (1.650,809 Km²),
cerca de 180,305 Km² (o que equivale a 11% do território total do município) são
áreas de preservação permanente. Em se tratando de área urbana o percentual de
área de preservação permanente é de 8%, que correspondente a 20,01 Km².
(LONDRINA, 2007), conforme a figura 34.
98
11%
89%
Áreas protegidas pela Lei nº 4.771/65 Áreas não protegidas pela Lei nº 4.771/65
FIGURA 34: Percentual de Áreas de Preservação Permanente no município de LondrinaFONTE: LONDRINA, 2008.
Desse modo, os bairros escolhidos para a realização deste presente
trabalho possuem interface em um pequeno trecho do Ribeirão Cambé, que
conforme visto anteriormente, se constitui em Área de Preservação Permanente em
todo o seu trecho dentro do perímetro urbano de Londrina, sendo necessário,
conforme a lei vigente, a conservação e preservação deste curso d’água.
99
FIGURA 35: Áreas protegidas pela Lei N°4771/65 na área urbana de Londrina - Prcom destaque para a local da pesquisa.FONTE: PML, 2008.ORG.: Samuel Carvalho da Silva
Neste sentido, Barros et al (2003), afirma que o crescimento vertiginoso
trouxe conseqüências importantes para o meio ambiente em Londrina. Deste modo,
este rápido crescimento trouxe problemas ligados à questão da ocupação urbana,
com o aumento da especulação imobiliária, fato que deixou muitos à margem deste
processo de ocupação, passando estes a encontrar soluções para suas moradias
em áreas em que o preço da terra seja menor, ou mesmo em áreas de ocupação
proibida, como as áreas de preservação permanente.
O crescimento desordenado da cidade trouxe uma série de problemas ligados à ocupação do espaço urbano, gerando uma cidade complexa, onde vários atributos da natureza foram sendo degradados, criando injustiça e necessidades sociais prementes, afetando principalmente uma parcela da população menos favorecida. (BARROS et al, 2003 p. 53)
Isto posto, pode-se constatar no local a presença de uma residência
localizada a poucos metros do curso d’água, na margem esquerda do Ribeirão
100
Cambé, podendo ser considerado uma violação à legislação ambiental vigente. O
que se pode notar é que esta residência possui condições precárias de estrutura,
demonstrando ser construída por pessoa impossibilitada de conseguir construir
residência em outra localidade, que, por outro lado, trata-se de uma ocupação
irregular.
Sendo assim, é necessário refletir sobre os diversos aspectos que
circundam esta questão, pois está em jogo não somente a preservação da natureza,
mas também a questão da sobrevivência humana, a qual se realiza com maior
propriedade no momento em que o ser humano encontra um local para habitar.
Logo, este processo pode demonstrar um limiar de pobreza, “que impõe lutas
prioritárias pela sobrevivência à curto prazo” (SUERTEGARAY, SCHÄFFER,1988, p.
91)
Dando continuidade à análise dos dados da pesquisa empírica, 18% dos
entrevistados não souberam responder o que têm feito para contribuir com a
preservação do curso d’água do Ribeirão Cambé. Um dos entrevistados respondeu
que não faz nada para a conservação deste curso d’água.
Os demais participantes tiveram uma resposta que é unânime: procuram não
jogar lixo nas proximidades, nas ruas e no próprio curso d’água. Dentre os que
responderam desta forma há alguns que acrescentaram ainda outras formas de
contribuição como a coleta seletiva, a limpeza dos quintais e calçadas como forma
de ajuda na conservação deste ribeirão.
A coleta seletiva contribui para a destinação adequada de diversos
materiais, como plásticos e vidros que, por serem de lenta degradação, acabam por
se constituir como materiais que poluem os fundos de vale por um espaço de tempo
considerável.
O questionamento sobre as ações dos entrevistados no que se refere à
conservação do curso d’água do Ribeirão Cambé, teve como intenção saber quais
são as atitudes tomadas por estes, tendo em vista as respostas dadas no tocante à
situação atual deste ribeirão
A limpeza das calçadas e quintais é importante na medida em que os
materiais existentes nestes locais, como plásticos e folhagem de arvores, podem
acarretar no entupimento das vias de recolhimento de águas pluviais (boca de lobo)
que, aliado a impermeabilização do solo pelo asfaltamento das ruas, permite que
todo este material seja levado, através dos ventos e das correntes de água das
101
chuvas, para os fundos de vale e, muito provavelmente para os cursos d’água.
O ultimo item analisado refere-se a melhoria ambiental nos seus respectivos
bairros.
Conforme a proposta e linha teórica abordada neste trabalho até o presente
momento, destaca-se que o questionamento foi feito aos entrevistados procurando
saber quais melhorias ambientais poderiam ser realizadas nos bairros em tela,
esperando-se respostas que indicassem não somente as necessidades de melhorias
das condições naturais na região, mas também a possibilidade de respostas que
mostrariam melhorias em outros aspectos ligados ao cotidiano dos participantes.
Neste sentido, conforme a figura 35, apenas 6% dos entrevistados não
responderam o questionário, dizendo não estar em condições de fazê-lo. Por outro
lado, outros 6% responderam que não há necessidade de melhorias ambientais no
bairro, pois este estava bem servido em praticamente todas as necessidades.
Dessa forma, estes dois grupos representam uma minoria no grupo dos
entrevistados, tendo em vista que no percentual restante inclui-se o grupo dos que
têm a percepção da necessidade de alguma melhoria nestes bairros.
6%
88%
6% Não há nenhum a m elhoriaam bie ntal a s er fe ita nobairro
Há m e lhorias am bie ntais ase re m fe itas
Não Res ponderam
FIGURA 36: Respostas ao questionamento sobre a necessidade de melhorias ambientais. FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Conforme visto anteriormente, grande parte dos entrevistados (88%)
concorda que há necessidades na parte ambiental nos bairros em foco. De uma
maneira geral, várias foram as respostas dadas pelos entrevistados sobre quais
melhorias deveriam ser feitas no bairro, tenta-se, agora, fazer uma rápida descrição
dos dados coletados.
A análise das respostas dos entrevistados permitiu a visualização de alguns
aspectos comuns e outros discrepantes, se os comparamos entre si. Um aspecto
102
comumente lembrado pelos entrevistados é a questão da arborização no local.
Desta maneira, 33% dos participantes apontam para a necessidade do plantio de
mais arvores como uma das medidas para a melhoria ambiental na região. Há que
se lembrar que este questionamento foi aberto para que os participantes pudessem
apresentar mais de uma sugestão e, no entanto, um terço dos entrevistados
lembraram da arborização na região.
Neste sentido, dentre os que responderam a questão das melhorias no
bairro, apenas 14% apontou o plantio de árvores como a única melhoria ambiental a
ser implantada no bairro.
“Falta plantar arvores, tem poucas árvores e muitas estão podres. Acho que isso
ajudaria melhorar bastante as coisas por aqui.” (A.A. de O.)
Dessa forma, a arborização urbana ajuda na preservação ambiental através
da paisagem, onde, seu aspecto repleto de áreas verdes induz a percepção visível
do “ambiente natural” em conservação. Com isso, o próprio discurso ecológico atual
favorece a formação de percepções como esta, dentro de áreas urbanizadas.
Por outro, lado este pensamento pode ser positivo, uma vez que somando
esta arborização com outros fatores ambientais de relevância, pode-se verificar uma
melhoria na condição de vida da população.
Com o crescimento da população urbana e, por conseguinte, da área urbanizada, tem havido por parte das administrações públicas um maior interesse em prol da arborização das cidades, principalmente no que se refere à qualidade e preservação dos espaços de circulação dentro destas. Isto vem sendo fortalecido e incentivado pela própria comunidade, assim como influenciado pelo atual discurso ecológico, o qual incorpora esses espaços como sinal de uma melhor qualidade de vida, progresso e desenvolvimento urbano. Dependendo da escala, do porte e da localização das áreas de arborização urbana, os efeitos de amenização da paisagem, juntamente como os de melhoria no micro-clima local, podem indubitavelmente beneficiar de modo direto a vida da população. (BONAMETTI, 2003, p.52)
Além dos fatores apresentados, a arborização ajuda no controle da erosão,
na manutenção de um micro clima ameno e retenção da água no solo, entre outros
fatores que evidenciam a necessidade de sua implantação, seja por parte dos
poderes públicos, seja pela sociedade civil, ONG’s e outras instituições.
Além da percepção da falta de arborização duas outras respostas chamam a
103
atenção. Uma diz respeito à criação de áreas de lazer, como praças e parques e a
outra é a cobrança por maior fiscalização ambiental na região.
No tocante a falta de uma área de lazer, esta implantação pode contribuir
para a melhoria das condições ambientais e também sociais e os entrevistados
afirmaram que esta seria uma direção correta para que haja esta melhoria.
“Implantar praças e áreas de lazer seria legal para que a população tivesse um local
para se divertir e levar as crianças.” (J.S.P)
Neste sentido, mais do que áreas para a preservação ambiental, a criação
destes espaços contribui para a estética e para a função social. Conforme nos indica
Lodoba e De Angelis (2005) estas áreas afetam o cotidiano dos moradores e por
quem passa por estes locais, da seguinte maneira:
As contribuições ecológicas ocorrem na medida em que os elementos naturais que compõem esses espaços minimizam tais impactos decorrentes da industrialização. A função estética está pautada, principalmente, no papel de integração entre os espaços construídos e os destinados à circulação. A função social está diretamente relacionada à oferta de espaços para o lazer da população. (LOBODA e DE ANGELIS, 2005 p. 134)
Assim, as entrevistas mostram a necessidade de implantação de uma área
de lazer e/ou praças, principalmente nas imediações do alto Ribeirão Cambé, tendo
em vista que este mesmo ribeirão possui estes elementos em outras partes de seu
curso à jusante.
Nesta análise, um último aspecto a ser considerado, no que concerne às
respostas do questionário, é a indicação, por parte dos entrevistados, da falta de
fiscalização, por parte dos órgãos públicos, das freqüentes atitudes tomadas por
certos grupos que acabam por deteriorar as condições ambientais nestes bairros.
Deste modo, é comum encontrar nos depoimentos dos entrevistados, um
número significativo que indica a percepção da falta de fiscalização no local.
“Tem que ter fiscalização para quem joga lixo nos terrenos vazios e no córrego
porque quando agente passa, é visível que a poluição está aumentando” (A.G.)
“ Deve haver limpeza dos locais públicos, e os donos dos terrenos deviam cuidar
104
mais deles” (I.R)
Assim, a atuação do Poder Público é de importância fundamental para que
se tenha um ambiente (natural e social) agradável, na busca de melhores condições
sócio-ambientais que vem, há muito, se degradando paulatinamente. Isso porque
O crescimento populacional, a expansão dos perímetros urbanos e o crescente descaso do Poder Público em relação à natureza tem gerado formas inadequadas de ocupação do espaço que tem degradado o meio ambiente, fazendo com que cada vez mais esteja comprometida a qualidade de vida do cidadão. (SILVA, O.V. 2006, p.6)
Neste sentido, duas faces diferentes são encontradas no curso do Ribeirão
Cambé, incluindo a região estudada.
A primeira dá conta da verificação de poluição feita em pequena e constante
escala, onde no dia-a-dia o que se vê é o aumento do depósito de resíduos sólidos,
e a degradação das águas, conforme visto anteriormente. Esta deposição de
resíduos sólidos e poluição aquática provêm geralmente daquilo que é gerado nas
construções civis, de materiais plásticos e vidro, ou seja, resíduos que são
originados no cotidiano da uma ou outra pessoa em especial, variando conforme a
época.
Outro ponto a ser considerado é a deposição de poluentes nas águas do
Ribeirão Cambé, vindas das indústrias da região, que possuem mecanismos
capazes de contrariar a legislação vigente, que acabam, por vezes, em uma só
ação, degradando de forma mais eficiente do que os indivíduos que agem conforme
o grupo identificado acima.
Desse modo, as empresas possuem grande responsabilidade na
degradação ambiental, mas nem sempre são responsabilizadas conforme nos indica
Gomes (1988):
Os códigos de ética somente adquirem força de validade na proporção em que a sociedade esteja organizada à altura de fazer valer o cumprimento dos mesmos. Sob o capitalismo, a ética é de uma classe, a burguesia, e não de todas as classes; eis a razão porque os códigos são constantemente violados. (GOMES, 1988, p. 48)
Neste sentido, não basta apenas a criação de leis e a fiscalização destinada
somente para as pessoas que não se constituem como elite na sociedade brasileira,
105
mas também as empresas que, geralmente, poluem e degradam de forma mais
temerosa. É necessário “compreender de onde advém a poluição, quem
efetivamente polui, quem sofre em maior grau esta poluição.”( SUERTEGARAY,
SCHÄFFER,1988, p.94)
Não menos importantes para a melhoria das condições sócio-ambientais nos
bairros pesquisados, estão algumas obras a serem realizadas pelo poder público
que dizem respeito à implantação de equipamentos públicos que estão em falta
nestes bairros, que segundo os entrevistados são a iluminação, a asfaltamento e a
implantação de lombadas, os quais foram citados por eles na proporção mostrada
na figura 37.
47%
53%
Citaram a falta deequipam entos urbanos
Citaram ape nasm e lhorias ligados aosaspectos naturais
FIGURA 37: Os equipamentos urbanos e os aspectos naturais como melhorias ambientais. FONTE: Pesquisa “in loco”. Jardim Tókio e Jardim Pinheiros – Londrina. 2009.Org.: Samuel Carvalho da Silva
Este fato chama a atenção, pois, quase metade dos entrevistados que
disseram que deve haver melhorias ambientais nos bairros indicaram a falta ou a
ineficácia destes equipamentos públicos. Com isso, verifica-se que é importante não
apenas a melhoria dos aspectos ligados à natureza local, mas, também, a melhoria
dos serviços que estão à disposição da sociedade, contribuindo para o bem-estar da
população (e neste caso se incluem os parques e praças, conforme visto
anteriormente).
Encerrando, pode-se constatar que a população está alerta com a questão
ambiental nos bairros, porém ainda é insuficiente diante da ineficácia da fiscalização
dos órgãos públicos, na vigilância das atividades exercida pelos cidadãos de todas
as camadas sociais.
106
CONCLUSÃO
Desde os tempos mais remotos o ser humano se relaciona entre si e com a
natureza que o rodeia, convivendo em ambientes que vem se alterando com o
passar dos anos.
Nesta relação entre o meio ambiente e o ser humano, vários são os
aspectos a serem analisados que permitem a verificação das diversas
manifestações espaciais dos fenômenos naturais e sociais, sendo a migração um
destes fenômenos.
Neste sentido, a migração é um dos mais importantes elementos da
dinâmica populacional, existindo desde os mais pretéritos tempos e estabelecendo
novas configurações ao longo dos anos, influenciando e sendo influenciada pelas
dinâmicas ambientais, num jogo muitas vezes contraditório.
No Brasil, as migrações foram de fundamental importância na configuração
atual e histórica de seu território, desde a vinda dos primeiros habitantes de Portugal
e também de parte da população do continente africano, até as atuais correntes
migratórias.
Até a década de 1930, em um Brasil estritamente agrário, o território
brasileiro apresentava grandes “vazios” demográficos e pouca integração, fato que
dificultava os grandes deslocamentos populacionais, com exceção daqueles
verificados nas mudanças das bases econômicas de produção, por exemplo, a da
grande produção canavieira no nordeste para as jazidas minerais nos territórios da
atual Minas Gerais e demais regiões mineradoras.
Após a década de 1930, o que pôde ser verificado foi o aumento da
integração nacional e o início de uma era que começava a ser marcada pelas
migrações rumo as áreas de fronteiras agrícolas, garantido a chegada de um
contingente para regiões pouco habitadas como, por exemplo, o Norte do Paraná.
Em se tratando do estado paranaense, a ocupação do território se deu de
forma lenta, sendo que nos primeiros três séculos após a chegada dos portugueses
ao Brasil, apenas a região de Curitiba e algumas áreas esparsas do Paraná
possuíam uma significativa ocupação. No tocante ao Norte do Paraná, após várias
ocupações, que logo se desfizeram, ocorreu sua efetiva ocupação a partir da
segunda metade do século XIX e principalmente nas primeiras décadas do século
XX, tendo como um dos geradores desta nova configuração, as zonas de
107
colonização pioneiras, da fronteira agrícola.
É neste contexto que surge o município de Londrina. Criado para ser base
para o abastecimento geral da população residente em seu entorno, este município
passou a ter importância fundamental na configuração territorial regional e estadual.
Com a reestruturação da produção cafeeira nas primeiras décadas do século XX, a
sede do município de Londrina, de mesmo nome, passou a ter um vertiginoso
crescimento em importância política, econômica e social, recebendo, a partir de
então, um grande aporte de população. Neste período, as principais correntes
migratórias que chegavam à Londrina, provinham dos estados de São Paulo e Minas
Gerais, e, em menor escala, dos estados do Nordeste, do Rio de Janeiro e de
países estrangeiros.
O acréscimo populacional teve características diferentes a partir do final da
década de 1960 e início dos anos de 1970, passando o município a receber um
aporte significativo que rumava para as áreas urbanas de Londrina, devido
principalmente as mudanças verificadas no setor agrário no Brasil, incluindo-se aí a
substituição das plantações cafeeiras por culturas temporárias, a alteração nos
regimes trabalhistas e a inserção de tecnologias no campo, que fizeram por diminuir
a necessidade de mão-de-obra no campo.
Neste sentido, os bairros estudados neste trabalho, situados na região oeste
da cidade de Londrina, surgem como exemplo desta expansão urbana, surgindo o
Jardim Tókio na década de 1960 e o Jardim Pinheiros nos anos de 1980.
Como resultado da pesquisa empírica, pode-se afirmar que os migrantes de
dentro do estado estão em maior quantidade em relação aos migrantes vindos de
outras unidades da federação. As alterações no campo que se deu a partir dos anos
de 1960/1970 exigiram que grande parte da população que morava nas áreas rurais
do Paraná migrasse para as áreas urbanas mais dinâmicas como é o caso da
cidade de Londrina, enquanto a migração de pessoas vindas de outros estados se
deu com maior importância na primeira metade do século XX, principalmente pela
expansão da cafeicultura.
Deste modo, a maior parte dos entrevistados é proveniente de outros
municípios, sejam paranaenses, ou de outros estados, sendo o número de pessoas
com naturalidade londrinense com valor bem inferior, somando apenas três pessoas.
Cada migrante traz consigo diferenciadas visões do mundo, que influenciam
em suas percepções sobre o novo local onde ele passa a conviver e viver uma nova
108
realidade. Isto tudo sem partirmos para um estudo fenomenológico desta
particularidade, tendo em vista que a maior parte dos movimentos migratórios faz
parte de uma lógica ligada ao desenvolvimento capitalista.
Outro aspecto analisado neste trabalho foram os depoimentos dos
entrevistados sobre o significado de meio-ambiente, as condições atuais do Ribeirão
Cambé e quais as melhorias ambientais necessárias nestes bairros.
Acerca disso, ficou evidente que há incertezas no que seja a definição sobre
de meio-ambiente, um fato que não é novidade, tendo em vista que este fato ainda
também não tem resolução nem mesmo no mundo científico-acadêmico.
Verificou-se que o Ribeirão Cambé, como corpo hídrico importante que
margeia os bairros em estudo, está sendo degradado cotidianamente pelas ações
antrópicas em diferentes escalas, e que a ineficácia da fiscalização por parte do
Poder Público local é, em parte, responsável por esta situação.
Neste sentido, a implantação de projetos de preservação ambiental e
conscientização da população são atitudes válidas para que se efetive uma melhoria
nas condições ambientais, não somente nos bairros pesquisados, mas também na
cidade de Londrina como um todo, tendo em vista que seu crescimento se deu de
forma rápida e atingindo praticamente todas as regiões de seu espaço urbano.
É importante destacar que os aspectos ambientais e humanos estão sempre
em profunda inter-relação não devendo ser estudados isoladamente, pois abrangem
uma dinâmica que influencia no cotidiano das pessoas e fazem parte da constituição
do espaço geográfico de cada localidade existente no planeta.
Neste sentido, os bairros em tela neste estudo constituem uma face mínima
de todos os aspectos que circundam as questões humanas e ambientais no mundo
globalizado, mas caracterizam as formas como estes dois fatores se inter-
relacionam nesta porção do espaço terrestre e podem ser extrapolados para uma
escala mais ampla.
109
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ANEXO A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ENTREVISTADOS.UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS – DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
PESQUISA: MIGRAÇÃO E MEIO AMBIENTE EM LONDRINA ...LOCAL: JARDIM PINHEIROS / JD. TÓKIO ALUNO: SAMUEL CARVALHO DA SILVA ORIENTADORA: ALICE Y. ASARI
QUESTIONÁRIO
1 – NOME DO ENTREVISTADO: __________________________________________________________________________
SEXO IDADE LOCAL DE NASCIMENTO ESCOLARIDADE PROFISSÃO LOCAL DE TRABALHO RENDA
FAMILIARES
NOME SEXO PARENT. IDADE LOCAL
NESC.
ESCOL. PROF. LOCAL
TRABALHO
RENDA
TRAJETÓRIA DE VIDA
LOCAL DE MORADIA ANOS DE MORADIA ZONA URBANA / RURAL MOTIVO(S) DA MUDANÇA
EM QUAL CIDADE NASCERAM SEUS PAIS? ________________________________________________________________
EM QUAL CIDADE MORAVA HÁ 5 ANOS ATRÁS?_____________________________________________________________
EM QUAIS CIDADES VOCÊ JÁ MOROU?____________________________________________________________________
QUANDO MUDOU PARA ESTA RESIDÊNCIA?________________________________________________________________
JÁ MOROU EM OUTROS BAIRROS DE LONDRINA? QUAIS?___________________________________________________
PORQUE DECIDIU MORAR NESTE BAIRRO?
_____________________________________________________________________________________________________
COMO ERA ESTE BAIRRO NA OCASIÃO EM QUE MUDOU
_____________________________________________________________________________________________________
O QUE VOCÊ ENTENDE POR MEIO AMBIENTE?
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
QUAL A SUA OPNIÃO SOBRE O RIBEIRÃO CAMBÉ?
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
NO QUE VOCÊ, EM SUA OPINIÃO, TEM CONTRIBUIDO PARA A PRESERVAÇÃO DESTE CURSO D’ÁGUA?
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
VOCÊ ACHA QUE DEVE HAVER ALGUMA MELHORIA AMBIENTAL NO SEU BAIRRO? QUAL?
_____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________