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ARTIGO ORIGINAL
Sangrias por flebotomia, ventosas sarjadas e sanguessugas: atribuições técnicas das enfermeiras brasileiras (1916-1942)
Bloodletting by phlebotomy, wet cupping and leeches: roles of the Brazilian nurses’ techinique
(1916-1942)
Sangramientos por flebotomía, ventosas abiertas y sanguijuelas: las atribuciones técnicas de las
enfermeras brasileñas (1916-1942)
________________________________________________________________________
Ricardo Quintão VieiraI, Leila Maria Rissi CaverniII I Bacharel em Biblioteconomia (USP) e Enfermagem (UNINOVE). Residente em Enfermagem Clínico-Cirúrgica do Hospital
Sírio-Libanês. Mestrando em Enfermagem pela Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. Membro da Diretoria Colegiada do Centro de Estudos e Pesquisas sobre História da Enfermagem (Grupo Independente de
Pesquisa). São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
II Enfermeira. Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestre em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas sobre História da Enfermagem (CEPHE).
E-mail: [email protected]
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Como citar este artigo
Vieira RQ, Caverni LMR. [Bloodletting by phlebotomy, wet cupping and leeches: roles of the Brazilian nurses’
techinique (1916-1942)]. Hist enferm Rev eletronica [Internet]. 2015;6(2):234-48. Portuguese.
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Recebido em 22-08-2015 Aprovado em 23-11-2015
Resumo Introdução: As sangrias são heranças da Antiguidade, comuns em tratamentos médicos e presentes no ensino de técnicas de enfermagem no Brasil. Objetivo: Descrever o ensino da semiotécnica de sangrias realizadas pelas primeiras enfermeiras brasileiras. Método: Pesquisa descritiva e histórica, baseada em cuidados de enfermagem, com recorte temporal de 1890 até 1949. Foram consultados livros e artigos de periódico desse período, abordando-se cada técnica de sangria. Resultados: Quatro livros, escritos por médicos e enfermeiros, indicaram que as alunas de enfermagem aprendiam a auxiliar ou a aplicar a técnica de flebotomia, ventosa sarjada e sanguessuga. A flebotomia era realizada de modo direto (venossecção) e indireto (por orifícios). A ventosa sarjada consistia na produção de feridas e extração por vácuo, utilizando-se aparelhos escarificadores. A sanguessuga era uma ventosa sarjada natural e viva, que demandava técnicas peculiares para colocação e retirada da pele, com muitas precauções. Conclusões: As sangrias consistiam em procedimentos rotineiros mas dolorosos e radicais para os pacientes. Além disso, traziam diversos riscos ocupacionais para as enfermeiras, seja pela exposição ao sangue, seja pela manipulação de animais vivos.
Descritores: História da Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Sangria; Sanguessugas. Abstract Introduction: bloodlettings are legacies of antiquity, common in medical treatments and nursing technique taught in Brazil. Objective: To describe the teaching of technique of
Sangrias por flebotomia, ventosas sarjadas e sanguessugas: atribuições técnicas das enfermeiras brasileiras (1916-1942)
Hist enferm Rev eletronica [Internet]. 2015;6(2):234-48.
bloodletting by the first graduates Brazilian nurses. Method: it’s a descriptive and historical research, based on nursing care, with time frame from 1890 to 1949. Books and journal articles were consulted in that period, approaching each bloodletting technique. Results: four books were written by doctors and nurses, indicated that the nursing students learned to assist or apply techniques of phlebotomy, wet cupping and leech. Phlebotomy was performed in direct (venous-section) and indirect (holes) modes. The wet cupping was the production of wounds and extraction by vacuum with scarifiers devices. The leech was a windy and natural living wet cup, which demanded peculiar techniques for placement and removal of the skin, with many precautions. Conclusions: bloodletting were consisted of routine procedures, but painful and radical for patients. In addition, they brought many occupational hazards for nurses, either by exposure to blood, or by manipulating live animals.
Descriptors: History of Nursing; Nursing Care; Bloodletting; Leeches. Resumen Introducción: los sangramientos son legados de la antigüedad, comunes en los tratamientos médicos y la enseñanza de técnicas de enfermería en Brasil. Objetivo: Describir la enseñanza de los sangramientos en la técnica de las primeras enfermeras graduadas brasileñas. Método: estudio descriptivo e histórico, basado en la atención de enfermería, con el marco de tiempo de 1890 a 1949. Fueron consultados los libros y artículos de revistas de ese período, relacionados con cada técnica de sangramiento. Resultados: cuatro libros se han escritos por médicos y enfermeras que indicaban que los estudiantes de enfermería aprendieron a ayudar o aplicar la técnica de flebotomía, ventosa abierta y sanguijuela. La flebotomía se realizaba de modo directo (veno-disección) e indirectos (agujeros). La ventosa se caracterizaba por la producción de heridas y extracción al vacío, utilizando aparatos de escarificación. La sanguijuela fue una ventosa abierta natural y viva, que exigía técnicas peculiares para la colocación y retirada de la piel, con muchas precauciones. Conclusiones: los sangramientos consistían en procedimientos de rutina, pero dolorosos y radicales para los pacientes. Además, trajeron muchos riesgos laborales para las enfermeras, ya sea por la exposición a la sangre o por el manejo de animales vivos.
Descriptores: Historia de la Enfermería; Atención de Enfermería; Venodisección; Sanguijuelas.
Introdução
Até o final do século XIX, os enfermeiros comumente seguiam e executavam as prescrições
médicas que tinham, em suas bases terapêuticas, a Teoria Humoral ou a Patologia Humoral,
paradigma que justificava e mantinha condutas terapêuticas por meio de diversos tipos de
sangrias tais como flebotomia, ventosas úmidas e sanguessugas.
Nesse modelo de assistência médica, a saúde do ser humano era baseada no equilíbrio de
quatro humores básicos: sangue, catarro, bílis amarela e bílis negra. Cada humor, em excesso ou
em escassez, era associado às características pessoais e estas, por sua vez, com algumas condições
patológicas (1-2). Nessa concepção, o desequilíbrio de um humor específico poderia ser corrigido a
partir da manipulação dos demais humores, o que supostamente levaria ao equilíbrio humoral e
ao restabelecimento da saúde (1).
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Antes da Escola Hipocrática, na Grécia Antiga, as doenças eram atribuídas a poderes
sobrenaturais, acreditando-se que os espíritos malignos eram retirados do corpo juntamente com
o sangue (1-2). Achados arqueológicos indicam que essas práticas eram tão antigas como a
civilização humana: ferramentas para flebotomias e ventosas úmidas foram desenterradas de
sítios arqueológicos da Idade da Pedra, enquanto imagens de sanguessugas medicinais estão
presentes nos sepulcros de faraós (1567 a 1308 a.C.) (2-3).
Essas práticas foram transmitidas para os médicos gregos e romanos, permanecendo
durante a Idade Média e tornando-se o padrão para a prática de cirurgiões barbeiros. Nesse
período, acreditava-se que o sangue era o humor predominante e deveria ser retirado para se
restabelecer o equilíbrio interno1. Instrumentos como lancetas, escarificadores e ventosas eram
comumente utilizados por farmacêuticos e cirurgiões (3).
Numa única sessão de sangria, extraíam-se de 600 a 1.000 ml de sangue e, mesmo que o
paciente desmaiasse durante o procedimento, a sangria era mantida. No final de quatro dias de
tratamento, extraíam-se até três litros de sangue, que equivalem à metade do volume sanguíneo
corporal1. Como alternativa menos drástica, utilizava-se a ventosa úmida (1).
Desse método, Hipócrates lançou as bases terapêuticas, indicando até os formatos dos
dispositivos e formas de sua aplicação. Seus ensinamentos permitiram a criação de duas escolas
diferentes - a que recomendava o uso exaustivo da sangria e a outra, que recomendava seu uso
com extrema precaução(4).
Alguns médicos medievais, por exemplo, defendiam que as sanguessugas eram mais
eficientes que as ventosas úmidas, pois as primeiras extraíam o sangue das profundezas corporais,
o que propiciava melhor efeito terapêutico (2).
Após o Renascimento, as sangrias por flebotomia ainda permaneceram como tratamento
padrão até o século XIX, sendo incluídas também para tratar casos de hipertensão arterial (4).
Para retiradas de grandes volumes de sangue, os cirurgiões desenvolveram diversas
técnicas de flebotomia, como a aplicação de torniquetes nos braços e lancetas para incisão,
utilizando, neste caso, artérias periféricas e veias jugulares. Personagens históricos como George
Washington e Wolfgang Amadeus Mozart passaram por tratamentos médicos que utilizavam as
sangrias (1).
Era comum que médicos franceses prescrevessem sanguessugas para pacientes recém-
admitidos antes mesmo de visitá-los. Na França, em 1833, foram importados 42 milhões de
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sanguessugas, sendo que o consumo anual chegou a 100 milhões(2). No período de 1829 e 1836,
cerca de 84 toneladas de sangue foram extraídas dos pacientes internados nesse país(3).
Na Rússia, os médicos exaltavam os benefícios das sanguessugas em diversas intervenções
terapêuticas. Isso explica o fato desse país ter utilizado cerca de 30 milhões de sanguessugas por
ano (2).
Por sua vez, a Alemanha exportou milhares desses animais para os Estados Unidos, pois
comercializavam as melhores espécies, consideradas as mais eficazes em tratamentos. No
entanto, em 1835, os norte-americanos tiveram dificuldade de obter sanguessugas europeias
devido à sua escassez(2).
Essa demanda internacional levou ao desenvolvimento do cultivo popular de sanguessugas,
tornando-se um meio de sobrevivência na Europa(2). Diversas espécies de sanguessugas podiam
ser utilizadas nos tratamentos médicos, porém a mais desejada era a Hirudo medicinalis,
encontrada nos rios europeus ou em ambientes controlados(3).
No final do século XIX, médicos e outros segmentos da sociedade começaram a questionar
a validade das sangrias e a sanguessuga começou a perder sua popularidade(1-2). A partir de 1930,
com o estabelecimento de diferentes abordagens pela medicina, as sangrias foram ficando para
segundo plano (4).
Acompanhando essa tendência de mudança – com o declínio das sangrias e o abandono do
paradigma humoral, os enfermeiros mantiveram suas condutas profissionais alinhadas à conduta
médica, cujas mudanças podem ser identificadas por meio de registros de enfermagem, em
especial no Brasil.
Se as terapias médicas de sangrias influenciavam as ações de enfermagem, pode-se
indagar: que tipos de sangrias faziam parte da prática das enfermeiras brasileiras? Que
atribuições técnicas de sangrias estavam presentes nos primórdios do ensino de enfermagem no
país?
Diante desses questionamentos, o objetivo da presente pesquisa é descrever o ensino da
técnica de sangrias realizadas pelas primeiras enfermeiras brasileiras.
Método
Optou-se por uma pesquisa descritiva e histórica, orientada para os cuidados de
enfermagem.
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A História do Cuidado de Enfermagem exercita o olhar sobre as concepções práticas e
técnicas de enfermagem desenvolvidas e aplicadas por leigos e profissionais. Apesar de ter a ação
de enfermeiros como cerne de estudo, o Cuidado de Enfermagem deve ser compreendido a partir
da mescla de diversos elementos que influenciam a interação entre enfermeiros e pacientes, tais
como: avanços tecnológicos de artigos médico-hospitalares, desenvolvimento da Medicina e da
Ciência, além dos aspectos legais, sociais, culturais e filosóficos. Ou seja, apesar da História do
Cuidado de Enfermagem ser o palco de discussões sobre o fazer de enfermeiros, os bastidores
desse “fazer” são diversificados e complexos. Isso justifica os estudos de técnicas de enfermagem,
por não abordar exclusivamente o que as enfermeiras faziam com os pacientes, satisfazendo
apenas demandas da curiosidade, mas abrangendo o que a sociedade determinava para a
enfermeira como padrão do seu “cuidar” e a quais cuidados os pacientes deveriam ser
submetidos, entendendo-se que havia uma interlocução entre o discurso do cuidado proposto
pela Enfermagem e aquele proposto pela sociedade.
Considerando-se tais questões, para a coleta de dados foram eleitos livros e artigos de
periódicos voltados para a divulgação dos assuntos de interesse da Enfermagem brasileira, no
marco temporal inicial de 1890, data da primeira experiência brasileira de profissionalização da
Enfermagem, no Rio de Janeiro, por meio da criação da Escola de Enfermeiros e Enfermeiras no
Hospício de Alienados(5).
A escolha do marco final do recorte temporal na década de 1940 baseou-se na divisão da
tecnologia do cuidado de enfermagem proposta pela norte-americana Margarete Sandelowski(6).
Nos Estados Unidos da América, o cuidado de enfermagem pode ser considerado essencialmente
artesanal antes da Segunda Guerra Mundial, composto por práticas manuais ou mediado por
dispositivos e, depois, por tecnologias modernas, equipamentos e instalações consideradas de alto
padrão. Sendo a Enfermagem uma prática social, reconhece-se que ela também foi influenciada
pelas mudanças científicas, culturais e econômicas, evidentes no período pós-guerra, interferindo
no modo de cuidar de pessoas e melhorando suas técnicas artesanais por meio da tecnologia
moderna, embora ainda incipiente.
Foram consultados os artigos publicados na revista “Annaes de Enfermagem”, publicadas
do ano de 1932 a 1941. Todos os textos foram lidos, pesquisando-se por aqueles que
apresentaram informações sobre o uso das sangrias na prática da Enfermagem.
Também foram consultados livros de enfermagem escritos por médicos e enfermeiros
publicados até o final da década de 1940. Para isso foram consultados catálogos de várias
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bibliotecas universitárias do Estado de São Paulo, além de livraria de documentos de segunda mão
ou raros.
No Brasil, a pesquisa histórica por meio de registros antigos, tanto publicados (livros,
periódicos, manuais, teses, dissertações, multmídia etc.) quanto não publicados (atas, registros de
secretaria e de arquivos, documentos internos e institucionais, reálias etc.) têm contado com o
apoio de valorosos esforços, a despeito das poucas iniciativas para coleta, guarda, catalogação,
conservação e acesso, demandando espaços, investimentos e trabalhos interdisciplinares com
outros profissionais como historiadores, arquivistas, museólogos e bibliotecários. Ainda assim, a
cada dia, muitos documentos guardados em hospitais, escolas de enfermagem e depósitos, que
poderiam ser utilizados como importantes fontes de informação acadêmica, são perdidos, pois
estão expostos à deterioração e ao descaso. Nem mesmo a digitalização de tais documentos
oferece a solução definitiva para o problema devido à tríade “formatos - programas – memória”,
pois, se atingindo um desses componentes, atinge-se diretamente o acesso ao documento virtual.
Assim, podendo se ter acesso aos documentos elencados, a partir dos textos selecionados,
foram realizadas leituras, extraindo-se informações sobre a aplicação de sangrias por meio de
flebotomias, ventosas e sanguessugas. Para cada intervenção, foram descritas as funções das
enfermeiras e, especificamente, a técnica de enfermagem.
Os resultados foram apresentados e discutidos à luz de outras bibliografias pertinentes ao
tema e recorte temporal.
Resultados e Discussão
Ao se analisar os periódicos brasileiros de enfermagem recuperou-se apenas o título
“Annaes de Enfermagem”, cujos exemplares foram consultados integralmente, tendo-se verificado
que não foram descritas técnicas de enfermagem relacionadas à sangria. Por sua vez, foram
encontrados e consultados 14 livros que versavam sobre o ensino de atividades ou técnicas
realizadas por enfermeiros, no recorte temporal proposto, dos quais foram recuperados somente
quatro livros voltados para o ensino de sangrias para enfermeiras, descritos abaixo.
- 1916. “O livro do enfermeiro e da enfermeira para uso dos que se destinam a profissão de
enfermagem e das pessoas que cuidam dos doentes” (título com grafia original), publicado pelo
médico Getúlio F. Santos, no Rio de Janeiro(7). As sangrias (ventosas sarjadas e sanguessugas)
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estavam na seção “Prescripções medicas em geral”, em conjunto com administração de
medicamentos (orais, vacinas, injetáveis), rubefacientes, banhos terapêuticos, massagens,
cateterismo, respiração artificial, dietas e alimentos. Além do texto, o autor apresentou três
ilustrações sobre o tema.
- 1933. “Technica de Enfermagem” (título com grafia original)(8). Publicado pela enfermeira
Zaira Cintra Vidal, no Rio de Janeiro. O tema (flebotomia e ventosas sarjadas) estava distribuído
em dois capítulos: revulsivos e administração de medicamentos. Não apresentou ilustrações.
- 1939. “Curso de enfermeiros: atualizado e acrescido de uma parte especial de
enfermagem de criança” (título com grafia original) (9). Escrito pelo médico Adolpho Possolo,
editado em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nesse livro, as sangrias (flebotomia, ventosas sarjadas e
sanguessugas) foram descritas no capítulo de pequena cirurgia, que incluía posicionamentos
cirúrgicos, medicamentos injetáveis, cauterizações e cateterismos. Apresentou quatro ilustrações.
Nesse capítulo, o autor descreve que a sangria por flebotomia era de competência apenas do
profissional médico, sendo que a enfermeira deveria apenas auxiliá-lo. As demais sangrias eram
permitidas.
- 1942. “Técnica de enfermagem: enfermagem clínica” (título com grafia original) (10). Esse
livro foi escrito por Ana Vitoria Reidt e Domingos Albano, em São Paulo. Não houve explicitação
sobre a profissão desses dois autores. No entanto, duas informações tendem a classificá-los como
enfermeiros. Em primeiro lugar, há ausência da identificação “Doutor (Dr.)” em seus nomes, o
que, por sua vez, ocorreu para o prefaciador do livro, o “Dr. Benedito Montenegro”, que era
médico. A segunda informação deve-se à organização do conteúdo do livro, apresentado
sistematicamente em tópicos “materiais – técnica – precauções”, semelhante à receita passo-a-
passo, descrição clássica de técnicas presentes nos livros escritos por enfermeiros, desde o
primeiro (1933) até os dias atuais. Em outros três títulos voltados ao ensino de enfermagem
escritos por médicos no mesmo recorte temporal, o texto apresenta estrutura linear, sem essa
descrição clássica. Em relação ao conteúdo sobre sangrias, os autores ensinaram apenas a ventosa
sarjada, no capítulo de administração de drogas para a superfície cutânea e tratamentos, incluindo
as técnicas revulsivas.
Devido ao recorte temporal determinado pelas fontes documentais encontradas, justifica-
se a inserção do período de 1916 a 1942 no título do presente artigo, ao invés de se indicar o
período proposto inicialmente no projeto e assinalado no método, de 1890 a 1949.
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Esse conjunto bibliográfico foi composto tanto por profissionais médicos quanto de
enfermeiros, representando as necessidades sociais da formação da Enfermagem, à época. Os
conhecimentos disseminados sobre as ciências teóricas ou experimentais, os saberes tácitos e as
formas de interação com os problemas podem ser identificados por meio da forma pela qual os
praticantes de uma disciplina são socializados (11). Diz isso porque os enfermeiros brasileiros não
eram os únicos que aplicavam técnicas de sangria na sociedade. Sabe-se que, até o início do século
XIX, havia muitos ofícios que coexisiam, dentre eles os de “médicos científicos”, barbeiros,
sangradores, benzedeiros, curandeiros, feiticeiros, boticários, homeopatas, parteiras e
receitistas(12).
No entanto, a apropriação de veículos de comunicação, como o livro, possibilitou que os
enfermeiros fossem inseridos gradualmente nesse novo processo de transformação do registro do
conhecimento, permitindo que o conhecimento de enfermagem fosse disseminado socialmente,
garantindo para si um modo de fazer próprio ao seu status, reafirmando socialmente seu
posicionamento. Isso ocorreu não apenas na técnica de sangrias como também em outras áreas
da técnica da Enfermagem e em diversos setores sociais. O poder histórico do registro
bibliográfico com a finalidade de reafirmar posições sociais foi muito bem representado a partir do
Renascimento e do Iluminismo, na Europa, quando os conhecimentos pertencentes às camadas
populares e considerados pseudocientíficos foram simplesmente registrados por atores da
sociedade acadêmica europeia, tomando para si esses conhecimentos(13).
A leitura dos livros consultados para a formação da enfermeira brasileira, das décadas de
1910 a 1940 possibilitou a recuperação de três técnicas de sangrias: flebotomia, ventosas sarjadas
e sanguessugas.
Flebotomia
As enfermeiras aprendiam que a flebotomia tinha o objetivo de diminuir a “tensão arterial”
e de extrair intoxicações sanguíneas, como em casos de uremia e septicemia. Havia duas técnicas
para a retirada de sangue: a indireta – consistindo em fazer orifícios nas veias, e a direta – com a
dissecção da veia (8-9). A Figura 1 apresenta uma ilustração sobre o preparo do antebraço para
receber cortes que favoreceriam a saída de sangue em grandes quantidades.
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Fonte: Possolo A. Curso de enfermeiros. [Rio de Janeiro]: Freitas Bastos; 1939.p. 229.
Figura 1 - Preparo do antebraço para receber a técnica de flebotomia.
Os materiais utilizados para a execução da técnica consistiam de álcool, iodo, água
oxigenada, esparadrapo, tesoura, atadura, impermeável, garrote, copo graduado, papel dobrado,
jornais, algodão, material esterilizado (pinça, palito, bisturi ou trocarte, tentacânula, pinça de
agrafes ou agulha de Reverdin, gaze, crina, pinça Pean, pinça de Kocher, além de campos
cirúrgicos)(8).
O paciente deveria estar no leito ou na mesa cirúrgica, com o braço estendido sobre uma
camada de algodão esterilizado(9). A enfermeira deveria fazer a assepsia do braço com iodo, éter
ou álcool, selecionando as veias do antebraço, em especial a cefálica e a basílica (8-9). Com o campo
esterilizado posicionado, aplicava-se o garrote com a mão, tubo de borracha ou faixa de “smarch”,
na parte superior do braço, para que as veias ficassem salientes (8-9). A veia era seccionada na fossa
cubital com o bisturi, deixando-se escorrer cerca de 50 ml no copo graduado, correspondendo a
quase 1% do volume sanguíneo corporal (8-9). Esse montante poderia ainda variar conforme a
condição do paciente. Após a extração do sangue, fazia-se a ligadura do vaso ou sutura com fio de
crina ou “agraphe” (8-9).
Segundo o ensinamento de Adolpho Possolo, a enfermeira não deveria aplicar essa técnica,
mas deveria conhecê-la para auxiliar o médico(9).
Após o procedimento, o braço do paciente era lavado e limpo de resíduo sanguíneo,
colocando-se uma cobertura oclusiva(8-9).
A enfermeira ainda ficava encarregada de observar alterações fisiológicas do paciente por
meio do pulso, anotar o procedimento no prontuário (papeleta) e a quantidade de sangue
extraída (8).
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Ventosas sarjadas
Havia dois tipos de aplicações de ventosas na técnica de enfermagem- a seca e a sarjada. A
ventosa seca não invasiva fazia parte do conjunto de terapias chamadas de rubefacientes,
especificamente os mecânicos. Nessa terapia, as ventosas tinham como princípio a aplicação de
vácuo sobre a pele, provocando a congestão local de sangue. A figura 2 mostra uma ventosa
clássica de vidro.
Fonte: Santos GF. O livro do enfermeiro e da enfermeira: para uso dos que se destinam a profissão de enfermagem e
das pessoas que cuidam dos doentes. Rio de Janeiro: Difusão; 1916. p. 254.
Figura 2 – Ventosa de vidro utilizada para fazer sangrias e aplicações de rubefacientes.
Por sua vez, as ventosas sarjadas envolviam a escarificação ou solução de continuidade da
pele e extração sanguínea por vácuo(10). Podiam ser aplicadas antes ou depois da ventosa seca,
quando a pele já estava hiperemiada, principalmente em pacientes magros(7-8).
O material utilizado para essa técnica consistia de lamparina, ventosa comum, gaze
esterilizada, esparadrapo e água oxigenada, além de álcool e iodo para antissepsia da pele(7-10).
Para provocar a solução de continuidade da pele, a enfermeira utilizava o bisturi, a lanceta, a
navalha, além do aparelho escarificador, também chamado de sarjadeira, que passava pelo
processo de assepsia(7-10).
O escarificador era um cilindro de metal com 4 a 5 cm de diâmetro, possuindo oito a vinte
lâminas, cuja altura era regulada por um parafuso(9-10). Quando colocado sobre a pele, o parafuso
era apertado, acionando uma mola e, consequentemente, a saída imediata das lâminas, com um
golpe instantâneo, sendo a dor insignificante(9-10). Depois, a ventosa seca era posicionada sobre a
pele escarificada para extrair o sangue por meio do vácuo(9). Apesar das vantagens da sarjadeira,
era difícil realizar a sua esterilização, devido à sua constituição estrutural, como se pode perceber
na Figura 3.
Sangrias por flebotomia, ventosas sarjadas e sanguessugas: atribuições técnicas das enfermeiras brasileiras (1916-1942)
Hist enferm Rev eletronica [Internet]. 2015;6(2):234-48.
Fonte: Fonte: Possolo A. Curso de enfermeiros. [Rio de Janeiro]: Freitas Bastos; 1939.p. 230.
Figura 3 – Dois modelos de escarificador para realizar a técnica da ventosa sarjada.
Quando não havia esse dispositivo, a enfermeira fazia incisões superficiais e paralelas de
dois centímetros na pele com bisturi ou navalha(7,10). A lamparina era utilizada para produzir o
vácuo dentro da ventosa antes de ser colocada sobre as escarificações, entre outras técnicas de
preparo de ventosas, mantidas sobre a pele enquanto houvesse extração contínua de sangue. Essa
aplicação poderia demorar de seis a oito minutos, ou até quando houvesse a formação de
coágulos ou, ainda, conforme a prescrição médica(7-8).
Depois que as ventosas eram retiradas da pele, as incisões eram lavadas com soro
fisiológico, álcool ou água oxigenada e cobertas com curativos oclusivos(8,10).
Sanguessugas
As sanguessugas eram apresentadas nos livros de técnicas, para as enfermeiras, como
vermes anelados que apresentavam duas cores: verde e parda (7,9), como se pode ver nas Figuras 4
e 5.
Sangrias por flebotomia, ventosas sarjadas e sanguessugas: atribuições técnicas das enfermeiras brasileiras (1916-1942)
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Fonte: Santos GF. O livro do enfermeiro e da enfermeira: para uso dos que se destinam a profissão de enfermagem e
das pessoas que cuidam dos doentes. Rio de Janeiro: Difusão; 1916. p. 257.
Figura 4 – Ilustração de uma sanguessuga.
Fonte: Possolo A. Curso de enfermeiros. [Rio de Janeiro]: Freitas Bastos; 1939.p. 229.
Figura 5 – Ilustração de uma sanguessuga.
Apesar dessa técnica existir concomitamente com as demais descritas anteriormente, a
prática de extração de sangue com sanguessugas era considerada simples e eficiente, pois eram
ventosas sarjadas naturais(7). O médico era responsável pela prescrição da quantidade de
sanguessugas utilizadas no tratamento(9). É importante destacar que apenas os autores médicos
indicavam o seu uso, o que não foi encontrado nos textos das enfermeiras.
Antes considerada como atividade privativa de barbeiros e especialistas, na década de
1910, o uso de sanguessugas era uma técnica rotineira no trabalho da enfermeira. No entanto, a
crescente escassez de sanguessugas trazidas da Europa forçava os médicos a prescreverem cada
vez mais as ventosas sarjadas(7).
Sangrias por flebotomia, ventosas sarjadas e sanguessugas: atribuições técnicas das enfermeiras brasileiras (1916-1942)
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Para sua execução, a enfermeira deixava o paciente confortável, protegia o lençol da cama,
preparava a pele do paciente para receber a mordedura do animal por meio de tricotomia, higiene
com água e sabão e depois com água esterilizada, além de fazer pequena pressão na pele para
aumentar o fluxo sanguíneo local(7,9). Para que a sanguessuga aderisse eficazmente na pele do
paciente, a enfermeira deveria mantê-la fora da água por certo tempo ou mergulhá-las em bebida
alcoólica (cerveja) por alguns instantes. Na pele do paciente, eram aplicados água açucarada ou
leite, ou realizadas incisões com bisturi ou alfinete(7,9).
Várias sanguessugas eram colocadas ao mesmo tempo sobre a pele, com auxílio de um
copo ou tubo de ensaio, para aumentar a precisão do local(7,9).
No momento da aderência, o paciente podia referir a dor da picada, considerada tolerável,
orientando-o a não tocá-las, pois elas poderiam deixar a pele(7,9).
A enfermeira deveria deixar as sanguessugas sobre a pele do paciente pelo período de 30
minutos a uma hora, permitindo que cada animal sugasse de 10 a 20 gramas de sangue(7,9).
Quando estavam cheias de sangue, as sanguessugas caiam espontaneamente da pele ou,
se houvesse necessidade de retirá-las, a enfermeira fazia pequenas trações sobre elas ou aplicava
um pouco de sal puro ou diluído em água(7,9). A enfermeira não deveria forçar a retirada, devido
ao risco de rompê-las, deixando partes de seu corpo na pele do paciente, tais como dentes e
maxilares, dificultando a cicatrização(7).
Após a retirada, a hemorragia poderia ser um efeito adverso do tratamento e, para contê-
la fazia-se compressão local, uso de termocautério e até mesmo de sutura(7).
O tratamento por meio de sanguessugas tinha algumas precauções, dentre elas, evitar os
vasos sanguíneos calibrosos, devido ao risco de hemorragias graves(7,9). Em crianças, o cuidado
com a hemorragia era fundamental, pois consistia em grande risco(7). Evitava-se aplica-las em
região inflamada ou em locais visíveis, para não deixar cicatrizes permanentes na pele(7,9). Quando
utilizada na cavidade oral, a sanguessuga poderia ser ingerida acidentalmente, o que demandava
uma intervenção da enfermeira: fazer o paciente ingerir água com sal ou vinagre, ou estimulando
o vômito por meio de medicamentos(7).
O cuidado da pele, após a aplicação, envolvia a solução de adrenalina ou percloreto de
ferro (cloreto férrico), provavelmente para realizar vasonconstrição, o que não fica claro no texto.
Ainda assim, essa última era desestimulada devido ao risco de formação de feridas de difícil
cicatrização(7,9).
Sangrias por flebotomia, ventosas sarjadas e sanguessugas: atribuições técnicas das enfermeiras brasileiras (1916-1942)
Hist enferm Rev eletronica [Internet]. 2015;6(2):234-48.
Cada sanguessuga era empregada uma única vez devido ao risco de transmissão cruzada de
infecções ou, pelo menos, com seis meses de intervalo entre as aplicações(7).
Conclusão
As sangrias que fizeram parte da rotina do ensinamento de técnica de enfermagem foram a
flebotomia, ventosa sarjada e sanguessuga. A participação da enfermeira podia ser tanto como
auxiliar do médico no procedimento de flebotomia ou como procedimento de enfermagem em
ventosa sarjada ou sanguessuga.
A utilização de técnicas de ferimento artificial da pele envolvia processo doloroso, ainda
que relatado como de baixa intensidade ou suportável, e era considerado como parte necessária
do tratamento, assim como ocorre atualmente em terapias intravenosas, curativos, sondagens e
outros procedimentos técnicos dolorosos.
A retirada de grandes quantidades de sangue do paciente poderia causar diversas reações
adversas de redução hipovolêmica, tais como vertigem, palidez, taquipneia, taquicardia, tremores
e sudorese. Nos textos consultados não foram descritas observações das reações citadas
anteriormente ou ainda monitorização de sinais vitais, como o pulso ou a respiração, durante a
aplicação das técnicas de sangrias ensinadas nos livros pesquisados.
As precauções de contato direto com os fluidos sanguíneos não foram relatadas na
atividade ocupacional das enfermeiras, inferindo-se que os riscos de transmissão de infecção eram
comuns e rotineiros, sem relatos de consequências profissionais. Acresce-se a esse risco a
manipulação das sanguessugas vivas no momento de guardá-las em frascos, de colocá-las sobre a
pele do paciente, de retirá-las e de descartá-las de modo adequado.
O estudo do ensino da aplicação das sangrias na prática de enfermagem possibilitou o
resgate de cuidados pouco explorados na literatura científica brasileira, mas que foram
fundamentais para a formação do repertório profissional ainda incipiente da enfermeira. Essa
fazer que colaborava para a identificação e consolidação do seu perfil técnico e especializado na
sociedade brasileira, até a década de 1940.
Espera-se que o presente estudo possa trazer, aos profissionais de enfermagem, elementos
para a reflexão sobre a importância da História da Enfermagem para se entender a construção
Sangrias por flebotomia, ventosas sarjadas e sanguessugas: atribuições técnicas das enfermeiras brasileiras (1916-1942)
Hist enferm Rev eletronica [Internet]. 2015;6(2):234-48.
contínua da arte de cuidar, estimulando-os a buscar novas investigações científicas sobre o fazer
de enfermeiras em tempos passados.
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