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Santa - agencia.ecclesia.pt · de clausura da 2ª sessão do Vaticano II, a 04.12.1963: «não ficou sem fruto a discussão difícil e intrincada, pois um dos temas – o primeiro

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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Opinião D. José Cordeiro16 - A semana de... Luís Filipe Santos18 - Dossier Semana da Vida

40 - Internacional46 - Cinema48 - Multimédia50 - Estante52 - Vaticano II54- Agenda56 - Por estes dias58 - Programação Religiosa59 - Minuto YouCat60 - Liturgia62 - Fundação Ajuda AIS64 - Lusofonias66 - Opinião Margarida Corsino

Foto da capa: OC/Agência ECCLESIAFoto da contracapa: Agência ECCLESIA

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Opinião

Fátima ligouPortugal à TerraSanta[ver+]

Semana da Vida[ver+]

Armas emigraçõesforçadasameaçam a paz[ver+] Octávio Carmo | D. José CordeiroAna Cid Gonçalves | Jorge Teixeirada Cunha | Filipe d'Avillez | PedroVaz Patto | Irmã Natália CostaSandra Costa Saldanha | PadreTony Neves | Margarida Corsino

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Impressionante, como sempre

Octávio CarmoAgência ECCLESIA

Fátima voltou a ser o altar do mundo, naperegrinação internacional de maio. Centenas demilhares de peregrinos encheram a Cova da Iria,uma multidão surpreendente em jornada laboral,que voltou a mostra a força da fé e da devoção aNossa Senhora em tantos países, nos quaisPortugal é a terra abençoada pela visita daVirgem Maria em 1917.O ambiente que se vive nestas peregrinações ésempre impressionante, remetendo-nos para anossa pequenez perante a impossibilidade decontar ou sequer compreender todas as históriasque se misturam no recinto, em volta da imagemvenerada na Capelinha. Há mais, muito mais, doque conseguimos perceber apenas pelaobservação no local ou das fotografias quecorrem o mundo, durante as procissões de velasou do adeus.Há sempre quem – do alto da sua ‘superioridadeintelectual’ – tente ridicularizar tudo aquilo que sevive na Cova da Iria, troçando das convicções demilhões de pessoas, remetidas para a‘ignorância’, a ‘crendice’ ou a ‘superstição’.Os tempos são diferentes e a reação pública doscatólicos já não é hoje aquela que seria háalguns anos, pelos mais diversos motivos, mashá abordagens ao fenómeno de Fátima que épreciso não deixar passar em claro, mormentequando são pagas com dinheiro doscontribuintes. A liberdade religiosa

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não implica a imposição deprivilégios para determinada fé, nasociedade, mas exige que serespeite o espaço público a que ascomunidades crentes têm direito.O confronto, no entanto, éinsuficiente para criar as pontesnecessárias para a compreensãorecíproca e acredito que muito doque se diz ou escreve sobre asperegrinações e a devoção a NossaSenhora carece de um elementofundamental, que é o contactodireto com os seus protagonistas ea capacidade de se colocar no lugardo outro,

de perceber as suas motivações, osseus dramas, as suas alegrias, tudoaquilo que está por detrás do seuchoro, do seu cansaço, do seusacrifício, da sua caminhada.Fátima é de Portugal mas é tambémdo mundo, ultrapassa-nos e, naverdade, está para lá daquilo queconseguimos perceber. Por mais‘dias 13’ que se vivam, tem semprea capacidade de se renovar, de sernova, como disse D. António Martono final da peregrinação de maio, ede impressionar os que lá seencontram, pelos mais diversosmotivos.

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A situação vai complicar-se, masestamos cá para resolver as coisasJosé Borges, presidente da CáritasDiocesana de Viseu, 15.05.2014

Concordamos manter os contatosde alto nível, aprofundar a confiançamútua e intensificar a comunicaçãosobre importantes temas regionais einternacionais, fundando uma basepolítica cada vez mais sólida para orelacionamento bilateralXi Jinping, presidente chinês, numadeclaração aos jornalistas, ao ladode Cavaco Silva, em Pequim,15.05.2014 É urgente uma mudança políticaem Portugal. As políticas deausteridade absoluta que estãoa ser prosseguidas por esteGoverno, em obediência cega auma orientação doutrináriaextremista, estão a produzirresultados catastróficosFrancisco Assis, cabeça de listasocialista às europeias, Arganil,15.05.2014 Existe um projeto do Partido PopularEuropeu para a economia azul, noqual, vamos ser um país liderante.Neste momento trabalham à volta daindústria do mar em toda a europacinco milhões e 400 mil pessoas, oobjetivo é em cinco anos/seischegarmos aos sete milhõesPaulo Rangel, cabeça de lista daAliança Portugal às europeias,Sesimbra, 15.05.2014

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Fátima ligou Portugal à Terra SantaO patriarca latino de Jerusalémpresidiu este ano à peregrinaçãointernacional de maio em, ondepediu aos portugueses pararezarem “pela paz” e trabalharem“pela justiça e dignidade” humanaem todo o mundo, particularmenteno Médio Oriente.“Na Terra Santa há muitos murosque separam famílias, paróquias,terrenos; mas piores do que osmuros de betão são os muros docoração do homem: as injustiçasarreigadas; o ódio racial e religioso;a ambição e o egoísmo feito lei; adesconfiança, a força bruta e aarrogância em toda a parte”,salientou D. Fouad Twal.Na homilia da missa final dascelebrações do13 de maio, opatriarca latino de Jerusalémsublinhou que é preciso “trabalharpara que caiam todos esses murosdo coração”, que “são invisíveis maspiores do que os visíveis”.D. Fouad Twal lembrou a situaçãodifícil em que vivem muitascomunidades um pouco por todo oglobo e na Terra Santa, “centenasde milhares de refugiados - genteque perdeu

tudo; casa, veículos, trabalho,terra… a sua dignidade”,inclusivamente o acesso aos “seuslugares de culto e para os lugaresonde vivem os seus familiares”.O patriarca latino referiu-se demodo especial às famílias cristãs deIsrael e da Palestina, da Jordânia eda Síria, as que permanecem eaquelas que têm sido obrigadas asair em busca de mais segurança eestabilidade.O bispo de Leiria-Fátima, D. AntónioMarto, encerrou a peregrinação comum apelo à solidariedade para comos cristãos da Terra Santa,agradecendo a presença dopatriarca latino de Jerusalém.“Pedimos-lhe que leve o nossoabraço cheio de afeto e desolidariedade aos nossos irmãos eirmãs cristãos da Terra Santa: quenão se sinta sós, que sintamtambém a nossa solidariedade”,disse o prelado, dirigindo-se a D.Fouad Twal, que presidiu àscelebrações.O bispo de Leiria-Fátima saudou amultidão “admirável” que se reuniu“num dia laboral” para lotar

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o recinto do Santuário, na Cova daIria. “Os meus parabéns pelo vossotestemunho. Muito obrigado pelotestemunho da vossa fé”,prosseguiu.Segundo os números avançadospelo Santuário de Fátima, a Missadas 22h30 do dia 12 reuniu 210 milperegrinos e a Eucaristia de hoje

foi concelebrada por 420 padres e28 bispos, sob a presidência dopatriarca latino de Jerusalém.153 grupos de 27 paísesanunciaram a sua presença naevocação anual do 13 de maio, diada primeira aparição de NossaSenhora aos Pastorinhos, Lúcia,Francisco e Jacinta.

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Igreja distingue Francisco SarsfieldCabralA Igreja Católica vai atribuir oPrémio ‘Árvore da Vida - PadreManuel Antunes’ ao jornalistaFrancisco Sarsfield Cabral, “umadas vozes mais competentes daComunicação Social Portuguesa”,pelo seu percurso profissional dequatro décadas e meia.“Num momento em que aComunicação Social passa porreconfigurações várias e se assisteà emergência de novos projetos, oJúri do Prémio ‘Árvore da Vida –Padre Manuel Antunes’ quer relevar,na pessoa de Francisco SarsfieldCabral, a importância do jornalismode referência para a construção dademocracia e para a qualificação donosso viver comum», refere o júri dadistinção, numa nota enviada hoje àAgência ECCLESIA peloSecretariado Nacional da Pastoralda Cultura (SNPC).O prémio, instituído pela IgrejaCatólica para distinguir “umpercurso ou obra que refletem oHumanismo e a experiência cristã”,vai já na sua 10.ª edição.O júri deliberou por unanimidade econsidera que Sarsfield Cabral, quea 6 de maio completou 75

anos, “nunca reflete o mundo apreto e branco, e o jornalismo quepratica não se deixa capturar peloimediatismo das reações ou peloruído dos chamados soundbites”.O prémio no valor de 2500 euros,patrocinado pela Renascença, vaiser entregue a 30 de maio, emFátima, durante a 10.ª JornadaNacional da Pastoral da Cultura.O prémio de Cultura ‘Árvore da Vida- Padre Manuel Antunes’, instituídopelo SNPC em parceria com aRenascença, distinguiu nas suasedições anteriores personalidadescomo Roberto Carneiro, NunoTeotónio Pereira, EuricoCarrapatoso, Adriano Moreira, MariaHelena da Rocha Pereira, Manoelde Oliveira, o padre Luís Archer eFernando Echevarria, além daDiocese de Beja.

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Solidariedade para o pós-troikaO patriarca de Lisboa disse hoje, arespeito do final do programa deassistência a Portugal, que acomunidade internacional deve sersolidária entre si para superar asatuais dificuldades. “Hoje em dia,toda a sociedade internacional éinterdependente, ninguém está foradisto: vamos é a ser solidários eperceber de vez que ou vamostodos ou não vamos a ladonenhum”, referiu D. ManuelClemente, em declarações àAgência ECCLESIA.O presidente da ConferênciaEpiscopal Portuguesa (CEP) foiquestionado sobre a chamada‘saída limpa’ do programa deassistência económica e financeira,que se conclui a 17 de maio,anunciada pelo Governo após aúltima avaliação da ‘troika’. “Aslimpezas, como as sujidades, nãosão meramente financeiras: sãolimpezas de alma, dedisponibilidade, de pensamento, deesclarecimento das coisas”, advertiuD. Manuel Clemente.Segundo o patriarca de Lisboa, asdificuldades “ vão ficar durantemuito tempo”. “O endividamento foibrutal e isso limita muito o quepoderíamos fazer só por nós”, disse.

Em relação à decisão do Governo,que optou por não recorrer aqualquer programa cautelar, opresidente da CEP admitiu que “amargem de manobra não seriamuita”. “Eu não sou técnico, mastambém me parece queindependentemente da escolha doGoverno, essa também foi a escolhade outros”, observou.O responsável assinalou que asociedade portuguesa tem de“equacionar os recursos”disponíveis para “atender anecessidades que começam antesdo nascimento e se concluem aos90 e aos 100 anos”.D. Manuel Clemente falava àmargem da conferência sobre otema ‘Envelhecer melhor’,promovida pelo projeto ‘MaisProximidade, Melhor Vida’ do CentroSocial Paroquial de São Nicolau(Lisboa).

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Igreja convida jornalistas

Peregrinação Internacional Aniversária

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Paulo VILiturgia, desenvolvimento e paz

D. José CordeiroBispo de Bragança-Miranda

É enorme a felicidade ao saber da decisão doPapa Francisco em beatificar o Papa Paulo VI a19 de outubro próximo. Recordo-me de assistirpela TV ao seu funeral e marcou-me asimplicidade da liturgia exequial deste insignepastor da Igreja e servidor do Evangelho da Paz.Rezei muitas vezes diante do seu túmulo nacripta da Basílica de S. Pedro.Paulo VI foi o primeiro Papa a visitar Portugal,peregrinando ao santuário de Fátima a 13 demaio de 1967. Foi o iniciador de muitas felizes econtinuadas jornadas mundiais e grandes órgãosde comunhão e oração: dia mundial da paz, diamundial de oração pelas vocações, Sínodo dosBispos, Reforma litúrgica…. Foi também ele queproclamou S. Bento, como Patrono da Europa,há 50 anos.Renovar a Liturgia significou e continua asignificar renovar o coração da Igreja. Nunca éexcessivamente recordar Paulo VI, no discursode clausura da 2ª sessão do Vaticano II, a04.12.1963: «não ficou sem fruto a discussãodifícil e intrincada, pois um dos temas – oprimeiro a ser examinado e o primeiro, em certosentido, na excelência intrínseca e naimportância para a vida da Igreja – o da sagradaLiturgia, foi felizmente concluído e é, hoje, pornós solenemente promulgado. Exulta o nossoespírito com este resultado. Vemos que serespeitou nele a escala de

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valores e dos deveres: Deus, emprimeiro lugar; a oração, a nossaprimeira obrigação; a Liturgia, fonteprimeira da vida divina que nos écomunicada, primeira escola danossa vida espiritual, primeiro domque podemos oferecer ao povocristão que junto a nós crê e ora, eprimeiro convite dirigido ao mundopara que solte a sua língua mudaem oração feliz e autêntica e sinta ainefável força regeneradora, aocantar connosco os divinos louvorese as esperanças humanas, porCristo Nosso Senhor e no EspíritoSanto».No domingo da Páscoa de 1967,Paulo VI anunciou ao mundo apublicação da encíclica PopolorumProgressio, sobre odesenvolvimento dos povos,explicando-a assim: «tem por tema oprogresso dos povos, o seudesenvolvimento e as obrigaçõesresultantes de um programa hoje deforma alguma irrenunciável, desuficiência económica, de

dignidade moral, de colaboraçãouniversal para todas as gentes». Aeste inestimável documento foi atédado o nome de «encíclica daressurreição» (F. Perroux).A contribuição notável de novidadeà doutrina social da Igreja, no seuconjunto, e à própria conceção dedesenvolvimento, está bemclarividente na frase: «odesenvolvimento é o novo nome dapaz». O Papa estava profundamenteconvencido de que a soluçãoaceitável para a maior chaga, que aIgreja identificava com osubdesenvolvimento, deve basear-se na justiça social internacional ena solidariedade humana que hãode fazer a aplicação dos princípiosda doutrina social da Igreja.Ao mito do crescimento indefinido, aIgreja continua a propor odesenvolvimento integral assente nadignidade da pessoa humana, noBem comum, na subsidiariedade ena solidariedade fraterna.

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Quando as imagens falam mais alto…

Luís Filipe Santos,Agência ECCLESIA

O parto da palavra escrita e falada tem a suaciência. Quando esta é ruído que polui a imagemo melhor é retirá-la… Nesta semana cheia deemoções e multidões, as fotos tatuam a memóriado leitor.Nem sempre a alegria da onda humana tem umfinal feliz… Esta quarta-feira, na cidade de Turim(Itália) e também em vários locais, a festa teveum sabor amargo e, os mais pessimistas comteor supersticioso, falam mesmo em maldição.Como disse sabiamente o escritor francês AlbertCamus (1913-1960), «Não há que ter vergonhade preferir a felicidade».

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Depois da desilusão momentânea, a vida continua… Seguidamente a «saídalimpa» da Troika – sem esquecer as nódoas negras que deixou na almalusitana – Portugal e a Europa preparam-se para escolher os seusrepresentantes no parlamento Europeu.Gosto desta ideia e recordo-a sempre que vejo as campanhas eleitorais:«Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Eles prometem construirpontes, mesmo quando não há rios». (Nikita Kruschev, Presidente da URSSentre 1953 e 1964).

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Igreja Católica empenhada naconstrução de uma «sociedade maisamiga da família» O diretor do Departamento Nacional da Pastoral da Família,Luís Lopes, defende a necessidade de encontrar novosmodelos de desenvolvimento e estabilidade social

Agência ECCLESIA (AE) - Neste diainternacional da Família e numasemana dedicada à vida, há umamobilização particular do vossodepartamento perante um fenómenode indiferença, até de algumcombate aos valores da vida, quevai colocando em risco a própriavida familiar?Luís Lopes (LL) – Sim, de facto hácondições adversas e várias vezestemos falado sobre isso, mastambém há que realçar os aspetospositivos, ou seja, a caminhada.Este ano estamos também acelebrar os 20 anos do AnoInternacional da Família,

que foi em 1994.E olhando para o passado eavaliando o presente, nós temos,como dizia a encíclica “FamiliarisConsortio”, sombras e luzes.Temos dificuldades que também járeferiu, do emprego, da mobilidadedos jovens, novas experiências,novas culturas, novos desafios, asquestões fraturantes, mas tambémtemos do ponto de vista das coisasestruturantes, ou seja, temos ummaior reconhecimento do papel dafamília na sociedade.

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LL - Muito desta crise não seriapossível ultrapassar se as famíliasnão tivessem respondido da formaextraordinária como estão a fazer,de se ajudarem, entreajudarem, deterem muita capacidade de acolhersituações

muito difíceis, mas de facto temosde olhar para o futuro.E o tema desta semana da vida é“Gerar vida, construir futuro”, e nóstemos essa esperança, não só poraquilo que se está a passar emtermos da Igreja

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Católica, nomeadamente com oanúncio dos Sínodos.Portanto já termos aí a perspetivade irmos trabalhando esta questãoda pastoral da família, de termossinais muito positivos da parte dossecretariados, dos movimentosligados à Família, nomeadamenteda Conferência Episcopal.E os bispos estão cada vez mais adar apoio a todas as iniciativas, quesão imensas que estão a decorreresta semana, para valorizar a vida,seja na questão da bênção dasgrávidas ou da preparação para obatismo ou de celebrar os 10 anos,25 anos, 50 anos de casamento.Também nós nesta semanapropomos questões concretas, quenão são só a oração do terço ou emfamília mas também alguns outrosgestos concretos que fortaleçam avida familiar, porque nósacreditamos que a vida familiar é amaior riqueza que a humanidadetem, que são as pessoas.

AE – Podemos dizer que asdificuldades do desemprego, daausteridade, de toda estacomplexidade difícil que as famíliastiveram que enfrentar, poderão tertambém trazido ao de cima o valorda família?LL – Eu creio que isso se vainotando em muitos comentadores,analistas, investigadores, também apropósito da questão do Sínodo.Estão a acontecer muitas jornadascientíficas, promovidas pelasuniversidades, por centros que sededicam a estas questões dafamília.E eu creio que vai havendo umareflexão de que alguma coisa tem deser feita para guardar este modeloque a Igreja propõe, do casamentomonogâmico, heterossexual, dealiança eterna, geradora de filhos,também dessa riqueza da aliançaentre gerações, dos netosconviverem com os avós.

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AE – Relações mais estáveis eduradouras…LL – Sim, essa estabilidade porqueestamos num clima de muitamudança, muda-se de carro, deemprego, de país, muda-se tudomas alguma coisa tem de ficarestável para que haja o fio condutorda vida.E a esse nível a Igreja tem umahistória longuíssima, já passou porimensas crises e portanto esta criseque nós vivemos, sobretudo nascivilizações ocidentais, vai criarnovos desafios e esses desafioscom certeza vão ser ultrapassadoscom essa mobilização e reflexão, etambém com confiança no EspíritoSanto. Ou seja, nós temos essaassistência para nos dar outraforma de viver.Várias vezes eu, a Fátima e a nossaequipa temos defendido isso, querealmente é preciso olharmos paraconstruirmos uma sociedade maisamiga da Família, que não seja tãohostil a este modelo de Família quenós apresentamos.E se calhar temos de enveredar poruma pastoral da família

mais profunda, onde possamoscomeçar a trabalhar com asgerações mais novas, com asfamílias, a ajudar para que, de facto,esta preparação para viver a famíliaseja iniciada mais cedo. AE – Vivemos neste mundoocidental, na nossa Europa,particularmente em Portugal, umverdadeiro inverno demográfico…LL – Lá voltamos outra vez aoambiente. Há ambientes favoráveisa isso, um dos exemplos quepodemos focar é como mulheresnum ambiente, por exemplo rural,estão mais disponíveis para teremfilhos. Até porque a economia ruralprecisa de mão-de-obra e portantoisso é uma necessidade.E depois as culturas mais urbanas,mais sofisticadas ou mais artificiais,digitais, virtuais, etc., perderam essanoção porque estão mais focadasnoutras comodidades, na aquisiçãode bens, de serviços, etc., e nãotanto na criação desse bemriquíssimo que são as crianças eque é a família.

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O exemplo das mulheres africanas,que têm imensos filhos na sua terrae depois quando imigram para aEuropa reduzem drasticamente onúmero de filhos.Temos de olhar para outros modelosde desenvolvimento, onde sejafavorável haver condições, primeiropara os jovens casarem mais cedoe,

ao mesmo tempo, terem maisestabilidade para gerarem a suafamília e serem mais fecundos paraa sociedade.Vejo cada vez mais as pessoasatentas a estes problemas e comvontade para encontrar soluções,quer das instâncias do Estado, querdas instâncias das ONG, dasociedade civil, quer da própriaIgreja.

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AE – A questão do valorizar a vida,e a vida que nasce, não pode levarao esquecimento dos nossosidosos, possuidores de um grandepatrimónio de instrução dos maisnovos.LL – A Igreja sempre foi a favor davida e contra o aborto e aeutanásia, mas de facto háfenómenos muito subtis quecondicionam isso, que de algumaforma criam essa mentalidadecontra a vida.E na parte dos idosos, estamos aver como reduzindo pensões ouretirando subsídios ou apoios, aspessoas deixam de ir aos centros desaúde e de alguma forma estamos agerar quase uma eutanásiadisfarçada.E não sei se mais tarde estas novasgerações, tão focadas na inovação,não vão compreender a riqueza datradição e dessa sabedoria.A Igreja tem chamado a atençãopara isso e continuará a lutar e achamar a atenção para isso, porquequem não ama o passado tambémnão é capaz de amar o futuro.Nós temos de perceber aimportância das raízes para depoisa árvore dar as suas flores e osseus frutos.

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Diminuição da natalidadeobriga a consenso suprapartidárioO diretor da Faculdade de CiênciasHumanas (FCH) da UniversidadeCatólica Portuguesa (UCP), JoséMiguel Sardica, aponta anecessidade de um consensonacional em torna da natalidade queultrapasse as “cores políticas” e o“ciclo político”.“Gasta-se a palavra consenso e érealmente preciso nesta questão danatalidade, um problema que estápara lá de um ciclo político para láde uma cor política. É uma questãode solidariedade intergeracionalentre os que estão cá e os quevirão”, sublinha o professor da UCP,comentador do programa de rádioECCLESIA na Antena 1.Este é um problema que “não vaificar resolvido num ano ou dois outrês”, indica José Sardica sendo porisso, “o maior teste à capacidade deo país em convocar energias egerar consensos”.Números recentes indicam que em2060 os portugueses poderão seroito milhões e meio em 2060, sendoque no final do século XXI essenúmero poderá rondar os seismilhões.

Esta realidade levou o governo acriar uma comissão multidisciplinarpara a promoção da natalidade,liderada por Joaquim Azevedo, como objetivo de elaborar propostas,não vinculativas, ao executivo.Segundo o docente da UCP ogoverno está a dar um “sinal de quea reflexão é necessária” não só anível nacional, com “políticas queconvirjam em planos concertados,para apoio à educação, aoemprego” mas também comunitárioe pessoal.O decréscimo da natalidade é umaquestão “macro” que influencia a“sociedade, as famílias mas tambémo rumo financeiro do país”, fator quedeve “envolver todos os decisores eagentes” e “cada pessoa emparticular”.“Cada organização pode pensar nosseus recursos humanos e percebercomo pode ajudar. Como possoajudar funcionárias, potenciaismães, adequando horários, gerindorecursos humanos, criando umasolidariedade junto

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das famílias”.Segundo o diretor da FCH, a quebrada natalidade tem impactos noEstado Social mas também culturais,sociais e antropológicos: “A imagemque a sociedade começa a ter dosmais velhos, como um «fardo»económico por um outro e por outrolado, a maneira como a nãorenovação das gerações, o facto dea economia não atrair imigrantesque compensam a quebra de saldo,estarmos a criar

um país cada vez mais cinzento”.José Sardica sublinha ainda o“sentimento de envelhecimento dasociedade europeia” e a “lentaredução” da intervenção portuguesaa nível internacional. “Chegarmos a2060 com oito milhões e pouco depessoas, significa que estaremosonde demograficamente estávamosem 1950. Consumiu-se mais de umséculo para voltarmos ao pontoonde estávamos há 60 anos atrás”.

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Gerar vida – construir futuroGrande parte das sociedadesEuropeias, ‘embriagadas’ numacultura do descartável e dofacilitismo, e sob a capa demodernismo, têm vindo a descurar ovalor sagrado e inviolável da vidahumana.O diagnóstico há muito que estáfeito, mas o problema demográficoque atinge o país começa agora ater contornos preocupantes. Por umlado, subiu a esperança de vida,mas muitos idosos sãoabandonados e vivem numa solidãodesumana e indigna de toda apessoa. Por outro, a baixanatalidade, tendência de décadas,está agora a ser agravada pelacrescente emigração,principalmente de jovens em idadede procriação.Sem jovens e sem casais jovensnão temos crianças. E sem criançasnão temos futuro! O cuidado dosidosos e o saudável convívio entregerações torna-se cada vez maispobre.Para se ter uma dimensão doproblema, vejamos as estatísticasem Portugal: em 1980, porcada cem jovens havia 44 idosos,hoje temos 130 idosos por cada

cem jovens. A continuarmos nesteritmo, caminhamos para umasituação insustentável…Para inverter esta lógica é urgenteuma política de proteção às famíliase à vida, capaz de criar condiçõesconcretas para que os casaistenham mais filhos e possam cuidarmais uns dos outros. Éindispensável um diálogo maispróximo entre gerações, numacultura de encontro e partilha, paravalorizar a vida em todas as suasfases: desde a conceção aonascimento, passando pelaeducação e pelo apoio recíprocopermanente em cada dia.O apelo dirigido a toda a sociedadeé para que a vida humana sejarevalorizada e acolhida como domprecioso de Deus, sagrada einviolável! O aborto provocado, oabandono e a eutanásia não sãoaceitáveis, pois a vida não pode sereliminada, mas deve ser protegidacom atenção e carinho.O respeito pela vida exige tambémque a ciência e a técnica estejamsempre orientadas para o Homem epara o seu

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desenvolvimento integral. A vida temsentido no amor recebido e dado,num plano de verdade que inclui asexualidade e a procriação. Nesseamor, mesmo o sofrimento e a mortepodem ter um sentido, se foremencarados como acontecimentos desalvação.Que todas as famílias possamfortalecer os seus laços e acolheros valores da Vida, através degestos concretos de amor recíprocoe do reforço de uma cultura degrande apreço e respeito peladignidade humana.A Semana da Vida éuma oportunidade e um desafiopara cada pessoa, grupo ou família,pensar em melhorar a qualidade devida, sua

e dos outros, nos âmbitos pessoal,profissional e comunitário,inspirando-se nos autênticos valoreshumanos e cristãos.O Departamento Nacional daPastoral Familiar elaborou algumassugestões para cada dia e deixa atodos o desfio de as aperfeiçoareme até de criarem os seus própriosmeios, para conseguirem momentos,pessoais e comuns, de interioridadee partilha.Propomos, designadamente, algunsgestos, leituras e orações, quepodem ser consultados nosite www.leigos.pt, no linkreferente à Semana da Vida.

Semana da Vida 2014

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Medidas transversais que nãopenalizemas famílias com filhosNo quadro da presente situaçãosocial e económica do nosso paísas famílias com filhos a cargo sãoaquelas que estão a fazer um maioresforço e que mais têm sidoafetadas. Para um mesmo nível derendimento, seja ele qual for, fazuma enorme diferença o número depessoas que ele sustenta: uma,duas, três, quatro, cinco ou dezpessoas.Esta é uma realidade que tem sidosistematicamente esquecida emPortugal quando se faz a avaliaçãoda capacidade económica dafamília. É de tal forma esquecidaque as últimas alterações efetuadasno IRS, redução do limite possívelde deduções e criação dasobretaxa, as famílias com filhosforam as que sofreramproporcionalmente um maioraumento de impostos. Contudo,estas famílias, por terem um maiorconjunto de despesas essenciais,são aquelas a quem é mais difícilcomprimir os seus custos.Também as situações dedesemprego, ou de baixa desalários se refletem de forma

particularmente mais grave juntodestas famílias, tanto mais quantomais filhos tiverem. Pessoas querem maisfilhos, mas natalidadecontinua a baixarEntretanto a natalidade continua abaixar dramaticamente. Há mais de30 anos que Portugal não faz arenovação das gerações, tendovindo sempre a baixar o número denascimentos. A última drásticaqueda está ligada a múltiplosfatores, mas um muito importante foia saída dos imigrantes que hámuitos anos em Portugal vinham ater mais filhos que a populaçãoportuguesa. Outro aspetopreocupante é a saída de muitoscasais jovens com filhos e mesmosem filhos que, se a situação semantiver, poderão vir a ter os filhosno estrangeiro.Contudo, mais do que ficarmos aolhar para o difícil enquadramentoem que nos encontramos, urgecontribuir para que sejam tomadasmedidas que o alterem. É isso que

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a APFN procura fazer todos os dias.Sabemos que se conseguirmosmudar as condições que existempara quem tem ou quer ter filhos,conseguiremos que nasçam maiscrianças e isso vai de imediato geraruma dinâmica económica decrescimento e emprego. Todos osdados tornam claro que as famíliasportuguesas desejam ter mais filhos,mais aliás do que aqueles queseriam necessários para renovar asgerações.Acreditamos que existem inúmerosobstáculos que impedem que asfamílias tenham liberdade paradecidir ter o

número de filhos que desejam e queurge remover antes de mais essesobstáculos. Não se tratar de criarbenefícios mas antes de mais detratar estas famílias com equidade ejustiça. São precisas medidastransversais que abranjamnomeadamente as áreas daconciliação entre trabalho e família,fiscalidade, educação, saúde,habitação e transportes.

Ana Cid Gonçalves,secretária geral da APFN

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Uma Igreja fiel a Cristo masmisericordiosa com as pessoasrecasadasO texto do Cardeal Walter Kasper é,a nosso ver, um exemplo excelentede teologia moral e pastoral. Umacompetência teológica indiscutívelresulta num belo ensaio sobre omodo como se devem enfrentar asquestões que hoje se colocam àevangelização da família e àcelebração do matrimónio. E nãodeixa de propor uma soluçãopastoral para o caso das muitaspessoas que vivem recasadas edesejam voltar aos sacramentos daIgreja. Este último ponto é o que nosmerece especial atenção.Para compreender o seu ponto devista, é necessário ver como olha,sem a condenar, a história que viveo mundo de hoje. A história é obrada Providência divina e daresponsabilidade humana. A estaluz, o cristianismo não consistenuma doutrina acabada que a Igrejatem por missão repetir semmudança. A Igreja tem Cristo, tem aEscritura e a tradição, mascompete-lhe, em cada tempo elugar, tomar as decisões querealizam a sua fidelidade ao

Senhor eternamente presente àhistória. As opções morais epastorais fazem parte desteprocesso. Também elas têm o seuquê de eterno e de temporal. Éneste horizonte que tem de seencontrar a solução para osrecasados.Por isso, o texto de Kasper expõemagistralmente a riqueza e apromessa do sacramento domatrimónio, uno e indissolúvel,prometido por graça à convivênciaconjugal de todos os sereshumanos. Porém, a Igreja estáconfrontada com o fracasso real demuitos matrimónios, fracasso quecausa sofrimento a muitas pessoas.Em lugar de repetir simplesmente adoutrina da indissolubilidade edeixar para trás quem fracassou,trata-se de propor uma praxis demisericórdia, “uma segunda nave” aquem dela necessita. Sempre assimfoi ao longo do tempo da Igreja.Basta recordar os cristãos “lapsos”(caídos) durante as perseguições aquem era estendida uma tábua

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de salvação, mediante umaconversão.Admitir de novo os recasados aossacramentos não é pôr a normamoral em causa. A norma existe eestá bem fundamentada. Pelocontrário, trata-se de saber que aação humana não é somentevertebrada pela norma universal,mas também pela sabedoria práticaque vê a situação singular que nãoé englobada pela norma geral. Amoral sempre teve isto em conta.Não é nada de novo.Por isso, com toda a suaautoridade, o Cardeal Kasperpropõe como agenda para o Sínododo próximo Outono,

a discussão da possibilidade de oPapa e os Bispos criarem uma formade avaliar responsavelmente asituação concreta dos casais quevivem em novas núpcias, depois dofracasso de um matrimóniocanónico, válido ou inválido, e de,em condições precisas, os admitirao sacramento da reconciliação eda eucaristia. Ele dá boas razõespara que isso seja possível, semcomprometer a fidelidade da Igrejaao seu Senhor.

Jorge Teixeira da Cunha,

Universidade Católica Portuguesa

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O Sínodo e os riscospara a unidade da IgrejaO acesso aos sacramentos porparte das pessoas em uniõesirregulares, vai ser sem dúvida umdos tópicos a discutir no Sínodopara a Família. Não é a únicaquestão, mas é provavelmenteaquela que está mais carregada doponto de vista emocional.Compreensivelmente, a discussão jácomeçou. Entre amigos, no seio dasfamílias, na blogosfera e nas redessociais.Olhando para os argumentos deambos os lados, é difícil negar asboas intenções de todas as partes.Quem defende o acesso àcomunhão fá-lo munido da vontadede acolher pessoas que tropeçarammas querem agora, nas suas novassituações, aproximar-se da Igreja.Do outro, move-os a preocupaçãopela integridade da doutrina católicasobre a indissolubilidade, sobretudonuma época em que o casamento jáestá em crise, e da visão tradicionaldas condições de acesso àEucaristia.Depois de acompanhar váriasdestas discussões chego à

conclusão que só será possívelmudar-se a prática alterando umadestas premissas:1) A noção da indissolubilidade,2) A ideia de que o adultério é umpecado que nos coloca fora doEstado de Graça ou,3) A necessidade de estar emEstado de Graça para comungar. O problema é que todos estesconceitos fazem parte do corpodoutrinal da Igreja. Doutrina essaque não pode ser contrariada, nempelo Papa, pelo que à primeira vistaos obstáculos a uma mudança sãoformidáveis.Seja como for, vai haver desilusões.Fala-se já de um cisma silencioso,de muitos fiéis que simplesmentedeixaram de viver de acordo com osensinamentos da Igreja sobre estasquestões. São pessoas que olhampara este sínodo com umaesperança que, a tornar-sedesilusão, poderá levar a umafastamento definitivo.Mas o risco de um cisma verdadeirodo outro lado

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da barricada também é real. Paramuitos que lutam diariamente parase manterem fiéis à Igreja, a ideiade que os bispos aprovem umaheresia, contrariando alguma daspremissas acima enumeradas,poderá ser o suficiente paraseguirem o mesmo caminho que oslefebvrianos.Há uma coisa para a qual chamoatenção. Se a questão está a sercolocada é porque o Papa acha quehá alguma coisa a discutir. Ninguémdeve correr o risco

de começar a decretar o que osbispos podem ou não podem decidir.Não é certo, nem parece provável,que se permita o acesso àcomunhão por parte dos“recasados”, mas antes do Concíliotambém não parecia certo nemprovável que a Igreja reconhecesseo diálogo inter-religioso e aliberdade religiosa. Contudo, oEspírito Santo tinha outras ideias.Deixemo-lo agir.

Filipe d’Avillez, jornalista

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Máquinas Incubadoras

Importa relembrar dois princípioséticos básicos quando se analisa alegitimidade da chamada“maternidade de substituição”(vulgarmente conhecida como“barriga de aluguer”). Um, o de quea pessoa deve ser sempre tratadacomo fim, e nunca como meio, nãopode ser instrumentalizada. Outro, ode que a pessoa é uma unidade decorpo e espírito, não tem um corpo,é um corpo; e por isso o respeitopela pessoa não pode deixar de serefletir no respeito pelo seu corpo A“maternidade de substituição” chocacom este dois princípios.Por um lado, porque instrumentalizaa criança que vai nascer, reduzindo-a a objeto de um contrato. Há quemdiga, em defesa desta prática, queobjeto do contrato não é a criança,mas a própria gestação. Mas o queos requerentes pretendem não é agestação, é, obviamente, que acriança lhes seja entregue aonascer.E o bem dessa criança ésacrificado. Ela nunca deixará desofrer com o abandono da mãegestante. Cada vez se conhece

melhor os intercâmbios entre a mãegestante e o feto e a importânciadesse intercâmbio para o salutardesenvolvimento físico, psicológicoe afetivo deste. Esse intercâmbiochega a ter uma dimensão genéticae ajuda a construir a própriaidentidade da criança. Esta nãopoderá experimentar a segurançade reconhecer, depois donascimento, o corpo onde habitoudurante vários meses.Também a mãe gestante éinstrumentalizada e também elasofre graves danos, porque umaqualquer mulher não fica indiferenteao que lhe acontece quando estágrávida. Este estado não é umaatividade como qualquer outra;transforma a vida da mulher física,psicológica e moralmente. A mulhernão é uma máquina incubadora,não tem um corpo, é um corpo. Nãopode deixar de sofrer com oabandono do filho. É-lhe impostopor contrato que renuncie ao maisnatural, espontâneo e intenso dosdeveres de cuidado: proteger a vidaque gerou e que se lhe apresentana maior das vulnerabilidades.

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A filósofa francesa SylvianeAgacisnky fala a este respeito em“alienação biológica”. A mãegestante deve «transformar o seucorpo em instrumento biológico dodesejo de outrem, (…) é a suaindividualidade que ela aliena, ouseja, a sua vida íntima e pessoal, aqual devia ser insubstituível».Só mulheres desesperadas e comgrandes carências (não é por acasoque a prática se difunde na Índia)se sujeitam a esta tão traumatizanteexperiência. É ilusório pensar que ofazem de bom grado, por motivosaltruístas ou gratuitamente. A“compensação de despesas” acabapor ter efeitos idênticos aos dopagamento. E será

sempre difícil o controlo judicial decompensações indiretas ou nãomonetárias.O reconhecimento do direito de amãe gestante a mudar de ideias eficar com a criança (que existenalgumas legislações) frustraria asexpetativas dos requerentes (qualseria, então, o sentido do contrato?). E não é de esperar o exercícioefetivo desse direito quando eleimpede a satisfação de gravescarências.Em suma, estamos perante umaprática desumanizante em si mesma,que nenhum enquadramentojurídico pode tornar aceitável.

Pedro Vaz Patto,Juiz de Direito Público

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Fátima Jovem 2014O local onde nascemos e vivemosem muito nos define.A Planície alentejana chama-nos àcontemplação e ao mistério. Rasga-nos horizontes e é o local onde a“terra toca o céu”.Nesta e noutras peregrinações aFátima, tenho percebido a genuínafé do povo e dos jovens alentejanose o seu misticismo. Neste Fátima Jovem, em especial,foram 2 dias de intenso calor eprofunda vivência espiritual. Desdea caminhada a pé do Santuário deNossa Senhora da Ortiga até aoSantuário de Fátima, até àpreparação da Vigília de Oração naSantíssima Trindade, com cânticos avozes e coreografias cheias de artee beleza, em tudo quisemos deixartransparecer o tema deste ano:“Bem-aventurados no amor de Deuspelo mundo”. Destaco alguns testemunhos: “Agradeço à Equipa de PastoralJuvenil cada momento que nosderam. Tive a oportunidade desentir a chama do Senhor a fluir nomeu coração novamente. Milobrigadas por estes dois dias

únicos que me deram. Para o anoquero e irei voltar para sentir achama do Senhor a fluir com estaintensidade no meu coração.” (FilipaNascimento) “Foi mais uma experiencia que ficarápara sempre na minha memória e nomeu coracao e que me marcoubastante. Uma experiencia ondetodos os jovens deviam e devemparticipar. É um encontro forte comMaria e com Jesus, ondeencontramos um porto de abrigo,um refugio. Voltei a perceber queJesus vive realmente dentro de mime que a Sua chama se está a tornarcada vez mais forte e que Ele querque eu continue a caminhar juntodele. Foi maravilhoso ver que hatanta gente a viver profundamente oamor de Deus. Criaram-se novoslaços de amizade e fortaleceram-seos ja existentes. Foi simplesmentemaravilhosa esta experiencia,agradeço a todos os queprepararam estes dois dias.”(Patricia Rodrigues) As palavras de D. Ilidio, Bispo deViseu, na homilia de domingo,acerca dos discípulos

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de Emaús vêm de encontro a estestestemunhos: “As experiências dosoutros não lhes serviam de nada.Faltava a experiência do coração.Porém, como foi bem-sucedida estaperegrinação, descrita noEvangelho de hoje! O Senhor Jesusfez-se companheiro de viagemdestes 2 peregrinos e elesultrapassaram, com êxito, todos osmedos, tristezas e descrenças!Este facto pode ser luz e referênciapara o nosso estar Fátima hoje epara os nossos encontros eatividades de grupo ou vida defamília, quando

partilhamos o que nos vai na alma.Com Jesus, somos chamados a serbem-aventurados no amor de Deuspelo mundo… Ele, caminhando juntoa nós, tantas vezes de formainesperada e sem Se dar aconhecer, explica-nos as Escrituras,e faz-nos descobrir as razões para ocaminho que, muitas vezes – edepois do encontro – pode mudarde sentido...”

Irmã Natália CostaPastoral Juvenil da Diocese de Beja

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Armas e migrações forçadasameaçam a pazO Papa Francisco alertou hoje noVaticano para os riscos que o“comércio de armas” e as“migrações forçadas” representamatualmente para a paz mundial.“Todos falam de paz, todos dizemquerê-la, mas infelizmente aproliferação de armamentos detodos os tipos leva-nos em sentidocontrário: o comércio de armas temo efeito de complicar e afastar assoluções dos conflitos, tanto maisporque o mesmo desenvolve-se econcretiza-se em larga medida forada legalidade”, advertiu, durante umencontro com os novosembaixadores da Suíça, Libéria,Etiópia, Sudão, Jamaica, África doSul e Índia junto da Santa Sé.Segundo o Papa, a humanidadeenfrenta atualmente vários desafiosque é “urgente enfrentar paraconstruir um mundo mais pacífico”.Francisco abordou em seguida a“tragédia humana” que atinge asvítimas de migrações forçadas, umdia depois de ter recordado asvítimas dos naufrágios noMediterrâneo.

“Chegou o momento de enfrentar [oproblema] com um olhar políticosério e responsável, que envolvatodos os níveis: global, continental,de macrorregiões, de relações entrenações, até ao nível nacional elocal”, precisou.O Papa admitiu que o fenómenoapresenta experiências “opostas”,com “histórias extraordinárias dehumanidade” e outras que “fazemchorar e ter vergonha”: “Sereshumanos, irmãos e irmãs nossos,filhos de Deus, que movidos pelodesejo de viver e trabalhar em paz,enfrentam viagens extenuantes esofrem chantagem, tortura, assédiode todos os tipos, para acabarmuitas vezes por morrer no desertoou no fundo do mar”.A intervenção ligou as migraçõesforçadas aos conflitos e guerras eao “problema da proliferação dasarmas”. “Que a comunidadeinternacional dê lugar a uma novaetapa de compromisso concertado ecorajoso contra o crescimento dasarmas e pela sua redução”, pediuFrancisco.

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O Papa sustentou que estas“feridas” do mundo atual devemlevar cada pessoa a serresponsável pelos outros, para queninguém veja a sua dignidadehumana ser violada.“A paz: esta palavra resume todosos bens a que aspiram todas aspessoas e todas as

sociedades humanas. Também ocompromisso com que procuramospromover as relações diplomáticastem, em última análise, este únicoobjetivo: fazer crescer a famíliahumana na paz, no desenvolvimentoe na justiça”, declarou Franciscoperante os sete embaixadores.

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Fim da política que destrói a EuropaO Movimento de TrabalhadoresCristãos Europeu (MTCE) pede,numa declaração publicada estaterça-feira, o fim da política deausteridade que “está a destruir aEuropa”, com consequênciasgravosas para as pessoas. Com otítulo «Trabalho, pão e dignidade -Queremos e merecemos umaEuropa melhor», a declaração doMTCE sobre as eleições europeiasde 22 a 25 deste mês, enviada àAgência ECCLESIA, realça que o“desemprego jovem, sobretudo nospaíses mais afetados pela crise,alcançou proporções dramáticas”.Em forma de alerta para os 400milhões de cidadãos europeus, dos27 países membros da UniãoEuropeia, o comunicado do MTCEsublinha que a crise que reina hávários anos e que começou comouma crise financeira e continuoucom a crise da dívida, levou “a umanotável perda de confiança napolítica europeia, o que afeta emgrande parte o próprio projetoeuropeu”.“O desemprego, a precariedadelaboral e os baixos saláriosrepresentam um grande desafio”,

alertam os membros do Movimentode Trabalhadores Cristãos Europeu.Como efeito da crise nota-se “umaumento da desintegração social” e“a desigualdade social entre ospaíses membros, e no interior deles,está a crescer”, denuncia odocumento.“É escandaloso que os ricos sejamos beneficiados da crise e se tornemainda mais ricos, enquanto ospobres são cada vez maisnumerosos” acrescenta a nota dostrabalhadores cristãos europeus.Como a Europa se encontra “numaencruzilhada”, o MTCE alerta que“modelo neoliberal atualmentevigente deve ser mudado para ummodelo social europeu, que combineos aspetos ambientais e sociais comos demais”.

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Vaticano contra utilização de dronese de outros sistemas bélicosautónomosO observador da Santa Sé junto dasinstituições das Nações Unidasdisse hoje em Genebra, na Suíça,que a utilização de ‘drones’ e deoutros sistemas bélicos autónomosveio reforçar o caráter“desumanizante” da guerra. “Mesmoque, em outros campos, a utilizaçãode tecnologia autónoma possa defacto ser benéfica para ahumanidade, a aplicação desteconceito ao armamento tem umalcance completamente diferente:coloca a máquina numa posição dedecisão sobre a vida e a morte”,alertou o cardeal D. Silvano Tomasi.A intervenção do arcebispo italiano,disponibilizada pelo Vaticano,aconteceu no âmbito de umencontro de peritos em sistemasautónomos de armas para análiseda “Convenção sobre a proibição ourestrição do uso de armasconvencionais com efeitosindiscriminados”.D. Silvano Tomasi reforçou a“extrema preocupação” da Santa Sérelativamente ao surgimento detecnologias que poderão no futuro“passar do plano da vigilância ou darecolha de informação para ocampo do ataque a alvos

humanos”. Segundo aqueleresponsável, aqueles que estão naorigem destes projetos têm aresponsabilidade de garantir que as“boas intenções” não resvalem paraoutro tipo de “empreendimentos”.“Tal como outros sistemas dearmamento, os sistemas autónomostêm de ser submetidos à aprovaçãoda lei humanitária internacional.Respeitar este parâmetro não éopcional”, recordou o responsávelcatólico.No entendimento da Santa Sé, “todoe qualquer sistema autónomo dearmamento tem, como os ‘drones’,uma grande lacuna que não podeser ultrapassada apenas com orespeito pelas regras da leihumanitária internacional”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Papa reza por mineiros mortos na Turquia

Audiência geral de 14 de maio

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1960Fernando Luís Cardoso de Menezesde Tavares e Távora nasceu a 25de Agosto de 1923 na freguesia deSanto Ildefonso, no Porto.Após terminar os seus estudos emarquitetura, publica em 1947 oensaio ‘O problema da casaportuguesa. Falsa arquitectura.Para uma arquitectura de hoje.’Clara prova do seu espírito críticoem relação ao caminho que omovimento modernista toma emPortugal, servindo cada vez mais oideário político do Estado Novo ecada vez menos a profundidadenecessária a um sério debatecultural, o ensaio é o primeiro sinalevidente do compromisso doarquiteto em perscrutar o coraçãode uma identidade arquitetónicaportuguesa em que modernidade etradição verdadeiramentedialogassem. Com efeito, FernandoTávora foi um dos arquitetos quemais afincadamente procurouaprofundar as raízes dessaidentidade, contrariando opopulismo do pitoresco quesustentava o idílio de um fantasiososer português.

Escapa, assim, à instrumentalizaçãoa que Raul Lino e a sua ‘casaportuguesa’ sucumbem, defendendoa necessidade um sério estudo einventariação da arquiteturapopular, começando ele próprio, talcomo Francisco Keil do Amaral, porempreender uma busca, por meioda investigação e de trabalhos decampo, sobre o que seria aessência das novas intenções domovimento moderno.Estas intenções serão expressas jápróximo da década de cinquenta eestendendo-se até 1960, em trêsprojetos seus, fundamentais: oPlano para o Campo Alegre, o seuprojeto de CODA (concurso paraobtenção do diploma de arquiteto) eo projeto para o conjuntohabitacional de Ramalde. Adiferença entre o seu projeto ‘umacasa à beira bar’ e a ‘casita à beiramar’ de Raúl Lino expressam bemas diferenças de perspetiva sobreuma genuína síntese conciliatóriaentre modernidade e tradição.Membro fundador do ICAT(Iniciativas Culturais Arte e Técnica),Fernando Távora

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é particularmente atento aosproblemas do contexto social eeconómico da produção daarquitetura, contribuindo ativamentepara a defesa e promoção dospontos de vista profissionais queaqueles levantam.Nove anos após a morte de Távora,‘1960’, documentário que agoraestreia em Braga e no Porto, é oseu registo pessoal à passagem, emcinco meses de viagem dessemesmo ano, por vários países. Umacombinação de imagens entãoregistadas

em super8 e reflexõesescritas, agora reproduzidas na vozdo ator Marcos Barbosa, que orealizador Rodrigo Areias (Estradade Palha, 2012) combinadevolvendo-nos à atualidade umarquiteto fortemente empenhado nabusca do sentido da vida e dascoisas, na expressão do outro e nadignidade humana, na relaçãoancorada em contexto e origem,preservando a essência de cada ume cada coisa e o resultado do seuencontro, em respeitador diálogo.

Margarida Ataíde

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Leigos online

http://www.leigos.pt/ Celebra-se esta semana, entre 11 e18 de maio, mais uma semana davida. Esta semana já é comemoradadesde 1994 sendo organizada pelaConferência Episcopal Portuguesa,através da Comissão Episcopal parao laicado e família. “Esta iniciativavem na sequência do apelo lançadoem 1991 pelo Papa João Paulo II, naEncíclica O Evangelho da Vidasobre o valor e a inviolabilidade davida humana, ao propor umacelebração que tenha por objetivo«suscitar nas consciências, nasfamílias, na Igreja e na sociedade, oreconhecimento do sentido e valorda vida humana em todos os seusmomentos e condições,concentrando a atenção de modoespecial na gravidade do aborto eda eutanásia, sem contudomenosprezar os outros momentos easpetos da vida…» (EV 85).”Assim esta semana propomos umavisita ao sítio da comissão episcopalresponsável pela organização destasemana em

que se celebra o Dia Mundial daFamília (15 de Maio).Ao digitarmos oendereço www.leigos.ptencontramos um espaçoeminentemente informativo,apresentando uma estrutura eambiente tradicionais, não fugindoaos cânones habituais. Na páginaprincipal além do menu encontramosas últimas notícias inseridas e aindaalgumas sugestões para outrossítios relacionados.Ao clicarmos em comissão podemosver quem são os elementos que acompõem e perceber que a suafinalidade passa pelo“acompanhamento das associaçõesde fiéis na área do Apostolado dosLeigos (Movimentos Eclesiais, NovasComunidades, Obras de Apostolado,etc.) e a promoção da Pastoral nasáreas da Família, da Juventude e doEnsino Superior”.Em “família”, ficamos a perceber queesta área engloba a área dapastoral familiar e que é formada“por um grupo de pessoas comexperiência de trabalho

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nas questões da Família”.Na opção “juventude”, descobrimosque esta área enquadra as váriasiniciativas no campo juvenil sendocoordenadas pelo DepartamentoNacional da Pastoral Juvenil (DNPJ).Por último, em ensino superior,ficamos ainda a saber que estacomissão episcopal é tambémresponsável pelo sector da pastoraldo ensino superior

integrando alunos e docentes.Em plena semana da vida fica odesafio de acederem a este espaçopara, além de consultarem osconteúdos apresentados, acederemaos materiais relativos a estasemana que tem como mote “gerarvida, construindo futuro”.

Fernando Cassola Marques

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InvenireCom o desígnio de partilhar edifundir o património cultural eartístico da Igreja em Portugal, arevista Invenire, publicaçãosemestral do Secretariado Nacionalpara os Bens Culturais da Igreja,cumpre em 2014 o quarto ano deedição regular. Prosseguindo osobjectivos iniciais, retoma neste 8ºnúmero a abordagem ao Inventário,como tema central de mais umCaderno. Desafio de longa dataentre os responsáveis pelos bensculturais da Igreja, constitui umaferramenta indispensável noprocesso de conservação,protecção e valorização dopatrimónio religioso. Motor dedesenvolvimento de diversasiniciativas, tem motivado aconcretização de projectos sólidos ecriteriosos, de indiscutível alcancepastoral e cultural. Ultrapassando asimples necessidade da Igrejaconhecer o património à suaguarda, tem permitido resgataracervos de extraordinária qualidadee grande relevância, constituindo,em boa verdade, um caminhofascinante de descoberta, de umlegado

fundamental, reflexo da fé e dacultura nacional. Não se trataapenas de o conhecer e registar,mas de o devolver, com dignidade eapreço, à sua primordial função,estimando-o e dotando dascondições necessárias aocumprimento de tal missão.Desvendado um pouco dopanorama nacional nesta matéria,inicia-se este Caderno evocandoalguns legados referenciais, comoforam aqueles deixados por LuizKeil, António Nogueira Gonçalves ouTúlio Espanca. Um ponto desituação é feito por António Marujo eRui Almeida, dando conta dostrabalhos em curso e do seu papelem contexto museológico.À semelhança das anterioresedições, revelam-se neste númerodados inéditos e novasinterpretações em torno dopatrimónio eclesial português. É ocaso do artigo assinado porEduardo Carrero Santamaría, ondeo historiador defende o papelnevrálgico do claustro nas catedraismedievais; o estudo de JoanaAntunes, Joaquim Caetano e MariaJoão Carvalho, onde os autorescomprovam,

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revelando novos dadosdocumentais, a intervenção doprestigiado escultor Olivier deGand em importantes obrasnacionais; a assertiva análisede Carla Varela Fernandes, emtorno de obras de artedeslocadas dos seus contextosoriginais; o estudo de doisprogramas iconográficos porCelso Mangucci, nas igrejaseborenses de São Tiago e SãoMamede; ou ainda as relaçõesentre parenética e as directrizestridentinas sobre a produção deobras de arte, por PaulaFigueiredo, que resgata doesquecimento um interessanteconjunto de púlpitosseiscentistas da diocese daGuarda.Lugar ainda para a rúbricaPerfil, onde o musicólogo RuiVieira Nery defende que aIgreja deve abrir caminhos,dando a conhecer o seureportório musical, a secçãodedicada a projectos recentesem matéria de bens culturais daIgreja, e a habitual rúbrica deopinião, assinada neste númeropelo bispo D. Pio Alves.

Sandra Costa Saldanha

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II Concílio do Vaticano: Paulo VInaufragou numa onda humana naTerra Santa

O Papa Paulo VI foi o primeiro Papa da história apisar a terra de Jesus, desde que São Pedro saiu delá para pregar o evangelho. Nessa memorávelperegrinação, em Janeiro de 1964, na Via Dolorosa,o sucessor do Papa que convocou o II Concílio doVaticano naufragou no meio de uma onda demultidão “que o submergia e o fazia reemergir”.Naquele trajeto, Paulo VI estava só, “ninguém do seuséquito conseguiu ficar junto a ele, nem sequer osecretário, padre Macchi, que levava consigo odiscurso a pronunciar”, (In: Carlo Cremona; «PauloVI», Lisboa, Edições Paulistas). No meio daconfusão, a polícia apressou-se a fechar a Porta deDamasco logo a seguir à passagem de Paulo VI.“Desanimado, o padre Pasquale Macchi dirigiu-se aooficial: «Sou o secretário de Paulo VI…». E aquele,incrédulo e despachado: «E eu sou o secretário deKruscev»”. Depois, pôde “felizmente alcançar oPapa”, revela a obra citada anteriormente. O rosto do Papa Montini estava marcado por umsorriso surpreendente: «Querem-me bem, como aJesus!». Paulo VI teve numerosos encontrosdiplomáticos: com o jovem rei da Jordânia, Hussein;com o presidente da República Israelita, ZalmanShazar e outras autoridades políticas.“Corajosamente, contestou toda a calúnia contra amemória de Pio XII”, lê-se na obra de Carlo Cremona.Foram também inesquecíveis os encontrosreligiosos, com os patriarcas de várias

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confissões cristãs, sobretudo com opatriarca ecuménico Atenágoras,onde o “humilde e forte ecuménicoabraço deve ter feito saltar dealegria a Igreja invisível de Cristo”.Na célebre visita à Terra Santa, opapa que deu continuidade àassembleia magna convocada peloPapa João XXIII (canonizado em abrilúltimo) também se deslocou aoutros locais bíblicos. “O coração dePaulo VI abriu-se a uma sinfonia deorações a Cristo, dialogadas comele, de pedido de perdão, devontade de reconciliação universal”,refere o livro «Paulo VI».

Foi providencial a determinação daviagem naquele momento.Posteriormente, já não teria sidopossível efectuá-la. A 6 de janeirode 1964, depois da missa celebradana basílica da Natividade, em Belém,o regresso a Roma, ao fim da tarde.Passados 50 anos desteacontecimento que marcou ahistória da Igreja, o Papa Franciscoque anunciou, recentemente, abeatificação do Papa Montini, vaitambém à Terra Santa, de 24 a 26deste mês. Uma forma decomemorar a visita do seuantecessor.

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MaioDia 16* Aveiro - Murtosa (Café Porta daRia) - Conferência sobre «A Igrejana Comunicação» por Paulo Rochae integrado no ciclo «ConversasC´fé».* Braga - Santuário do Bom Jesusdo Monte - Conferência de imprensade apresentação do projeto «BomJesus: Requalificar». * Vila Real - Vila Pouca de Aguiar - VEncontro diocesano de alunos deEMRC.* Braga - Igreja de São Lázaro -Concerto comemorativo do 20ºaniversário do Ano Internacional daFamília em homenagem a SantaJoana Beretta Molla. * Vila Real - Auditório da Escola deEnfermagem (21h00m) - MusicalMissionário promovido peloSecretariado Diocesano dasMissões e integrado no Dia daDiocese de Vila Real.* Viseu - Auditório do SeminárioMaior - Conferência sobre«Trabalho e Família» proferida porManuel Braga da Cruz e integradana Semana da Vida.* Lamego - Freixo de Numão - XXIXJornada diocesana daJuventude. (16 e 17)

* Braga - Centro Apostólico doSameiro - Encontro «Da criação àredenção - A Teologia do Corpo deJoão Paulo II» e integradona Semana da Vida. (16 a 18)* Fátima - Domus Carmeli - XXIEncontro Nacional da Ordem dosCarmelitas Descalços. (16 a 18)* Fátima - Encontro nacional dasFilhas de Maria Auxiliadora. (16 a18)* Portugal - Visita do SuperiorGeral dos Salesianos, padre ÁngelFernández Artime. (16 a 18) Dia 17* Lisboa - Convento de SãoDomingos - Debate sobre «Famíliashoje: Encontro de casados,divorciados e recasados» promovidopelo Instituto São Tomás de Aquino.*Beja - Castro Verde (Basílica Realde Nossa Senhora da Conceição) - Concerto «THEATRUM SACRUM:Obras -primas do barroconapolitano» integrado no Festival«Terras Sem Sombra».* Fátima - Encontro nacional deCasais de Santa Maria.* Porto - Santa Maria da Feira(Grande auditório do Europarque)-Espetáculo musical «Jesus CristoSuperstar».

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* Vila Real - Encontro deprofessores de EMRC.* Algarve - Faro - Primeiro encontrode de papás e mamãs com o intuitosolidário de ajuda ao Lar da Mãe,valência de apoio às mães solteiras,uma parceria entre a Maternidadedo Hospital Privado do Algarve,através do projecto "Ervilhitas", coma Cáritas Diocesana do Algarve.* Açores - Ilha de São Miguel (PontaDelgada - Igreja de São José) -Concerto missa «Tota Pulchra» docompositor português, padreManuel Valença, pelo Coral de SãoJosé.* Madeira - Funchal (Paróquia deSão Jorge) - Homenagem aocardeal Teodósio Clemente deGouveia (1889-1962) com duasconferências por D. Adriano Langae D. Maurílio de Gouveia.* Algarve - Loulé (Arquivo Municipalde Loulé) (15h00m) -Conferênciaintitulada «As Misericórdias doAlgarve: História e Património» apresentada por Joana Balsa dePinho.* Lisboa - Alamedas dasUniversidades - Bênção dosfinalistas.* Porto - Gaia (Igreja Paroquial deCanelas) - Concerto de Páscoa e deacção de graças pela canonizaçãode João Paulo II.

* Fátima - Reunião da Faculdade deTeologia da UCP. * Coimbra - Sé Nova - Bênção dasgrávidas promovida peloSecretariado Diocesano da PastoralFamiliar.* Santarém - Tomar - Festa daFamília Católica presidida por D.Manuel Pelino. (17 e 18)* Aveiro - Seminário de Aveiro -Curso de relações humanasorientado pelo padre Alberto Brito.(17 e 18)* Fátima - Casa de São Nuno - Conselho Nacional Plenário doCorpo Nacional de Escutas com apresença do secretário-geral daOrganização Mundial do MovimentoEscutista, Scott Teare. (17 e 18) Dia 18* Dia Internacional dos Museus.* Açores - Encerramento (início a 03de Maio) da quinzena vocacional. * Vila Real - Dia Diocesano.* Lisboa - Torres Vedras (pavilhãomultiuso) - Jornada da juventude daDiocese de Lisboa. * Brasil - Início da campanha «Joguea favor da Vida» promovida pelaConferência dos Religiosos doBrasil.

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No sábado, 17 de maio realiza-se, na Alameda da

Universidade, em Lisboa, a bênção de finalistaspresidida pelo patriarca, D. Manuel Clemente edestina-se aos alunos finalistas das EscolasSuperiores da cidade. Neste fim-de-semana vai estar em Portugal onovo Reitor-Mor, Pe. Ángel Fernández Artime, e aMadre Yvonne Reungoat, Superiora Geral FMA,por ocasião da 62ª Peregrinação da FamíliaSalesiana a Fátima, e do Dia Nacional MJS 2014. OReitor-Mor, com um programa intenso, tem aindaprevistas reuniões com os salesianos, com osdiretores das casas salesianas emPortugal, também uma participação no ConselhoProvincial, bem como um encontro com osjovens em caminhada vocacional. Este domingo decorre a primeira Caminhada “Todospelo Sameiro”, uma organização da Confraria deNossa Senhora do Sameiro e da Câmara Municipal deBraga. O evento pretende juntar todos os que queiramaliar-se a esta manifestação desportiva e ajudar aConfraria de Nossa Senhora do Sameiro naangariação de fundos para as Obras do Telhado daBasílica do Sameiro. Este ano, o Dia Internacional dos Museus, umainiciativa do ICOM celebrada no dia 18 de Maio,tem como tema Museus: As coleções criamconexões. A iniciativa pretende contribuir para adivulgação das inúmeras atividades promovidaspelos museus portugueses nos dias 18 e 19 deMaio, reflexo do empenho, disponibilidade ededicação dos seus profissionais.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 18 - "E depoisda Troika?" RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 19 -Entrevista ao a bispo daDiocese das Forças Armadase de Segurança, D. ManuelLinda;Terça-feira, dia 20 -Informação e entrevista aonovo presidente da CIRP,padre Artur Teixeira ;Quarta-feira, dia 21 - Informação e entrevista àprofessora Maria de Fátima Nunes da EquipaInterescolas EMRC 1.º ciclo do EB;Quinta-feira, dia 22 - Informação e entrevista a OctávioCarmo, vaticanista da Agência Ecclesia, sobre aviagem do Papa Francisco à Terra Santa;Sexta-feira, dia 23 - Análise das leituras bíblicas dedomingo pelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio. Antena 1Domingo, dia 18 de maio, 06h00 - Pastoral no ensinosuperior em tempo de bênção de pastas. Comentárioà atualidade com Paula Martinho da Silva. Segunda a sexta-feira, 22h45 - 19 a 23 de maio - Oscristãos na Terra Santa e perspetivas da visita doPapa: general Valença Pinto, Gonçalo FigueiredoBarros, Frei Artemio Vítores, D. Fouad Twal e OctávioCarmo

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Podemos adorar Maria?

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Ano A - 5º Domingo da Páscoa Que Igrejasomos nós?

A liturgia deste quinto domingo pascal convida-nos arefletir sobre a Igreja, a comunidade que nasce deJesus e cujos membros continuam o seu caminho,dando testemunho do projeto de Deus no mundo, naentrega a Deus e no amor aos homens.A primeira leitura apresenta-nos alguns traços quecaraterizam a Igreja como família de Deus:- é uma comunidade santa, embora formada porpecadores;- é uma comunidade estruturada hierarquicamente,mas onde o serviço da autoridade é exercido nodiálogo com os irmãos;- é uma comunidade de servidores, que recebemdons de Deus e os colocam ao serviço dos irmãos;- é uma comunidade animada pelo Espírito, que vivedo Espírito e que d'Ele recebe a força de sertestemunha de Jesus na história.A segunda leitura também se refere à Igreja: chama-lhe templo espiritual, do qual Cristo é a pedra angulare os cristãos pedras vivas e povo sacerdotal, que tempor missão oferecer a Deus o verdadeiro culto: umavida levada na obediência aos planos do Pai e noamor incondicional aos irmãos.O Evangelho define a Igreja: é a comunidade dosdiscípulos que seguem o caminho de Jesus, queacolhem a sua proposta e aceitam viver em dinâmicade Homens Novos, que possuem a vida em plenitude eque integram a família de Deus, a família do Pai, doFilho e do Espírito.Acolhendo a Palavra hoje, só podemos perguntar: queIgreja somos nós?

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Depois de mais de dois mil anos decristianismo, parece que nemsempre se nota a presença efetivade Cristo nesses caminhos em quese constrói a história do mundo edos homens. Tantos atentados àvida e à dignidade da pessoa, acorrida aos armamentos, osgenocídios, os atos bárbaros deterrorismo, as guerras religiosas, ocapitalismo selvagem, o tráfico depessoas, a corrupção levam-nos apensar que os critérios quepresidem à construção do mundoestão, demasiadas vezes, longe dosvalores do Evangelho. Porque é queisto acontece? Cristo é mesmo, paraos cristãos, a referênciafundamental? As pessoas que sedizem de Cristo e da Igreja fazem deCristo,

efetivamente, a pedra angular sobrea qual constroem a sua vida e ahistória do nosso tempo? Serpedras vivas, templo espiritual…que significa isso na construção danossa Igreja em 2014?O Papa Francisco tem-nosdesafiado a pensarmos na Igrejaque somos, sempre transformadosna alegria do Evangelho. Isso sópode acontecer em perspetiva deuma Igreja fiel a quem a gerou e fazcrescer, o Espírito de Jesus Cristo, eatenta aos anseios, problemas ealegrias das pessoas do nossotempo. Enfim, uma Igreja semprerenovada nas fontes do monte dasbem-aventuranças.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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Síria: a aventura de amor da irmã Maria Nazareth

“Não tenho medo” Teve de pedir autorização aos

superiores e à família. Só assima irmã Maria Nazareth conseguiua licença para viajar até Alepo,para apoiar a pequenacomunidade cristã. Quandotodos tentam fugir da Síria, elaencaminha-se para o holocausto.Que loucura será esta? Alepo representa bem o impasse daguerra civil que está a destruir aSíria. A cidade está dividida emzonas controladas pelo regime deal-Assad, pelos separatistas curdose por soldados do Exército SírioLivre. É uma luta de morte.Os civis estão encurralados.Escondem-se onde podem, malsobrevivem. Em muitos lugaresquase não há comida, nem água,nem medicamentos. Sair de Alepo éarriscadíssimo. Entrar é puraloucura. Mas é isso mesmo que vaifazer uma jovem irmã, MariaNazareth, do Instituto do VerboEncarnado. Esta argentina, desorriso largo e contagioso, sabe decor as palavras do Papa Franciscoquando disse que temos de“aprender a sair de

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nós mesmos, a fim ir em direção àsperiferias da nossa existência”, juntodos que “estão esquecidos”.Palavras fortes que perturbaram eque a levaram a decidir que tinhamesmo de ir para a Síria, paraAlepo, para ajudar duas outrasirmãs que tentam manter as portasabertas de um albergue pararaparigas cristãs. É tão grave asituação na Síria que ninguém vaipara lá sem ser voluntário. A IrmãNazareth teve de pedir permissãoaos superiores e aos pais.Telefonou para casa e ouviu a vozsossegada da mãe: “Estás numaordem religiosa há vinte anos. A tuadecisão não é fácil para nós. Massabemos que estás feliz e que setrata de cumprires a vontade deDeus. Portanto, não podemos dizerque não. Estamos a rezar por ti eestamos contigo”. A força da féDe malas feitas, Maria Nazareth jásó pensa no seu trabalho em Alepo.No seu entusiasmo não há lugarpara receios, embora

vá partir para um dos lugares maisperigosos do Planeta. “Não, eu nãotenho medo. Confio em Deus e naVirgem Maria. Além disso, sei queestou acompanhada pelas oraçõesde muitas pessoas”.Não ter medo não significa queignore os perigos. “Claro que seique existem perigos. Até a viagempara Alepo não é segura. Sãonecessárias 12 horas para percorrerDamasco até Alepo por causa dospostos de controlo. Algo podeacontecer em qualquer lugar.”Síria. 3 anos de guerra civil, mais de150 mil mortos, 9 milhões derefugiados. Quando tudo pareceperdido, há alguém que decidepartir em sentido inverso, rumo aoepicentro da guerra. Apenas paraajudar. A irmã Nazareth está departida e pede as nossas orações.As suas orações. Elas serão o seucolete à prova de bala nesta viagempara Alepo.

Paulo Aido www.fundacao-ais.pt

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Família, Património da Humanidade

Tony Neves

‘A Arte de ser Família, Património daHumanidade’ foi o tema do Encontro Anual deFormação das Equipas de Nossa Senhora emLisboa, realizado a 10 de Maio no Colégio S.João de Brito. Pudemos escutar muitostestemunhos, em primeira pessoa, de casais quecuidam da família muito melhor de que setratasse de um monumento, pois é um patrimónioque resulta de um matrimónio e envolve pessoas,vidas, educação, valores, presente e futuro.Pudemos ouvir a vaticanista Aura Miguel,jornalista da RR, a contar-nos alguns dosencontros com famílias e sobre famíliasrealizados pelos Papas João Paulo II, Bento XVI eFrancisco por ocasião das Viagens Apostólicaspor esse mundo além. Ouvimos o Dr. JuanAmbrosio, casado, pai de dois filhos, teólogo,professor universitário, a partilhar o que é serfamília cristã hoje. Escutamos a MinistraAssunção Cristas e o seu marido a falar das suasexperiências de cristãos em família, mas tambémnuma sociedade que dá grandesresponsabilidades que, em muitos casos,comprometem o bem-estar e a coesão dasfamílias.Sim, há que dar esse passo corajoso e atribuir àfamília o estatuto de Património da Humanidade.Se protegemos tanto as pedras dos monumentose os papiros que suportam textos e iluminuras,porque não defender a instituição mais antiga emais fundante

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da humanidade, presente edecisiva em todas as raças eculturas, em todos os tempos elugares.Parece cada vez mais evidente quesem família não há futuro para associedades, uma vez que falamosdo núcleo social. Mas faltampolíticas e meios para que talproteção e incentivo aconteçam. Háque elaborar leis que a defendam.Há que estar sempre do lado daunião e da vida e não da ruptura

e da morte, como às vezes osenquadramentos legais parecemestar.Tenho um orgulho enorme na famíliaque Deus me deu. Exceptuandocasos dramáticos de ruptura eabuso, os cidadãos do mundointeiro partilham esta minha alegriae convicção.Sejamos dignos deste ‘Patrimónioda Humanidade’ e façamos o queestiver ao nosso alcance para queas Famílias estejam unidas e todossejamos pessoas felizes.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Maria – tudo o que Deus quer e podefazer em cada um de nós.

Margarida Corsino daSilva

Maria é a mãe de Deus e é, também, a nossamãe. Há devoções, proximidade e orações queLhe dirigimos, pedindo-Lhe que nos ponha comSeu Filho. É fácil vê-La como uma de nós. NaSua fraqueza, na Sua valentia, nas Suas dúvidase na Sua aposta radical. Vemo-la aconchegandoa Jesus Menino no presépio. Guardando no Seucoração o que não conseguia entender.Seguindo Jesus como a primeira dos Seusdiscípulos. Ao pé da cruz, com o coraçãotrespassado, mas firme. Sentimo-La próxima dosapóstolos no tempo da espera, dando-lhesconfiança, dizendo-Lhes, como um dia o SeuFilho o havia feito, «não tenhais medo».Precisamos de pôr a nossa vida, repetidamente,nas Suas mãos que protegem, que cuidam e quenos tranquilizam no meio das tormentas que, porvezes, parecem tomar conta da nossa existência.Maria é a mulher do sim. Deus olha o mundo etem um sonho e olha para Maria e convida-A aentrar nesse mesmo sonho e desejo deSalvação. Tudo começou no coração de Deus.Manifesta-Se numa cidade sem importância:Nazaré. A uma jovem simples: Maria. Mariaestremece. Deus espera. Maria pergunta. Deusescuta. Maria faz silêncio. Deus fala. Maria nãoentende com a cabeça. Deus fala-Lhe aocoração. Maria abre-Se. Deus derrama sobre Elaa força do Seu Espírito. Maria

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acolhe. Deus instala-Se nocentro do Seu coração.Maria assume o plano deDeus. Deus assume a vidade Maria. Maria faz-SeEscrava. Deus fá-LaSenhora e Mãe de toda ahumanidade.E nós? Como dizemos sim aDeus? Como perguntamos efazemos silêncio? Comodeixamos que o nossocoração entenda? Comoassumimos o plano de Deuspara nós e como deixamosque assuma a nossa vida?O meu sim ao SIM de Deusnunca poderá ser menosque o resultado de umencontro afectivo einteligente com umapromessa digna deconfiança. S. Paulo diria:“Eu sei em Quem pus aminha confiança”. Mariapronuncia, com inteligênciae afecto, cantando, talvez, com profunda alegria o magnificat. A mim, o meusim ao SIM de Deus leva-me a uma relação única e especial com Ele. E estarelação toma forma também no silêncio, na oração. O silêncio que dáfecundidade às minhas palavras, aos meus gestos. Ao jeito de Jesus. Ao jeitode Maria que «fixava todas as palavras e as guardava no íntimo do Seucoração».Tenho na memória, e repito-as muitas vezes, algumas palavras que o pe.José Frazão Correia, sj, um dia escreveu sobre Maria, «Maria. Toda nossa.Toda de Deus. Desde sempre. Para Deus. Para toda a eternidade. Maria.Tudo o que Deus quer e pode fazer em cada um de nós. Maria dispõe-Se.No silêncio. Para reencontrar o sentido maior. E nada se perde, porque ocoração tudo conserva.» E nós?

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