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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UEM CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO CAROLINA FRESSATTI CARDOSO CAROLINE GOMES GONÇALVES ISABELA DE OLIVEIRA CRISPIM THIAGO FALCÃO SIMÕES VICTOR AUGUSTO BRATTI DOMINGUES SÃO PAULO SÉCULOS XIX E XX MARINGÁ 2014

São Paulo Séculos Xix e Xx

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História do desenvolvimento urbano da cidade de São Paulo entre o século XIX e XX.

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARING UEM

    CENTRO DE TECNOLOGIA

    DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

    CAROLINA FRESSATTI CARDOSO

    CAROLINE GOMES GONALVES

    ISABELA DE OLIVEIRA CRISPIM

    THIAGO FALCO SIMES

    VICTOR AUGUSTO BRATTI DOMINGUES

    SO PAULO SCULOS XIX E XX

    MARING

    2014

  • Carolina Fressatti Cardoso R.A.: 82463

    Caroline Gomes Gonalves R.A.: 82555

    Isabela de Oliveira Crispim RA: 84040

    Thiago Falco Simes RA: 82733

    Victor Augusto Bratti Domingues R.A.: 82505

    SO PAULO SCULOS XIX E XX

    Trabalho apresentado como requisito

    parcial para obteno de aprovao na

    disciplina de Teoria da Arquitetura e do

    Urbanismo IV, no Curso de Arquitetura e

    Urbanismo, na Universidade Estadual de

    Maring.

    Prof. Dr. Gisela Barcelos de Souza

    MARING

    2014

  • RESUMO

    Este trabalho aborda as questes urbansticas da cidade de So Paulo no que respeita ao

    crescimento, desenvolvimento e ampliaes, detalhando mais especificamente as

    habitaes coletivas e vilas operrias. A expanso da indstria e as plantaes de caf

    atraam para a capital da provncia um nmero crescente de imigrantes que se acumulavam

    em habitaes precrias, normalmente insalubres e que propiciavam a proliferao de

    doenas endmicas, provocando medidas por parte do governo e pesquisas que viriam a

    determinar os novos rumos da habitao ao longo do sculo XX. As transformaes e

    modificaes impactaram em definitivo o futuro da cidade.

    Palavras-chave: So Paulo. Crescimento urbano. Vila operria.

  • SUMRIO

    1. INTRODUO .............................................................................................................. 4

    2. DESENVOLVIMENTO ....................................................................................................5

    2.1. Crescimento Urbano ............................................................................................. 5

    2.2. Vilas Operrias ...................................................................................................... 8

    3. CONCLUSO .............................................................................................................. 14

    REFERNCIAS ........................................................................................................... 15

    ANEXO A .............................................................................................................................. 16

    ANEXO B .............................................................................................................................. 16

    ANEXO C .............................................................................................................................. 17

    ANEXO D .............................................................................................................................. 18

    ANEXO E .............................................................................................................................. 18

    ANEXO F .............................................................................................................................. 19

    ANEXO G .............................................................................................................................. 19

    ANEXO H .............................................................................................................................. 20

    ANEXO I ............................................................................................................................... 20

    ANEXO J .............................................................................................................................. 21

  • 4

    1. INTRODUO

    O trabalho ir abordar como tema principal os cortios e as vilas operrias assim

    como o crescimento da cidade de So Paulo durante o perodo entre os sculos XIX e

    XX. De forma a contextualizar esse perodo, analisado o grande crescimento da cidade

    em estudo bem como as consequncias que esse crescimento trouxe, dentre os quais

    possvel citar a falta de infraestrutura. Dessa forma so abrangidos, tambm nesse

    contexto, alguns projetos de melhoramentos propostos para So Paulo.

    Ser apresentado o processo de formao dos cortios, o qual surgiu juntamente

    com o grande crescimento da economia cafeeira da cidade de So Paulo. Ainda no

    mbito dos cortios, explanado o modo de funcionamento destes e como foram

    distribudos pela cidade bem como as questes sanitrias s quais estavam submetidos

    esses ambientes e as famlias que os ocupavam.

    Por fim, o trabalho enfoca nas necessidades de readequao das habitaes

    coletivas que eram notadas pelo aumento de impactos na sade e segurana pblica.

    Medidas como decretos e intervenes do prprio governo tambm em relao ao

    melhoramento dessas habitaes so discutidos no decorrer do trabalho.

  • 5

    2. DESENVOLVIMENTO

    2.1. Crescimento Urbano

    A passagem entre do sculo XIX para o XX no Brasil assinalada por mudanas

    polticas, econmicas e sociais. Partindo do fim da escravido em 1888, modificaram-se os

    modos de produo e intensificou-se a imigrao para substituir a mo de obra. Parte dessa

    populao habita a cidade e participa do processo de industrializao do pas. As cidades

    deveriam ser palco da modernizao. Vrios projetos corrigiam problemas e adequavam as

    formas urbanas para a nova fase de desenvolvimento econmico do pas (BRITTO, et al,

    2013).

    So Paulo passou de uma cidade de pouca importncia no contexto nacional, at

    meados do sculo XIX, para, a principal metrpole sul americana no final do sculo XX. Esta

    expressiva evoluo de sua importncia em cerca de 150 anos foi resultado da conjuno

    de uma srie de fatores sociais, econmicos e, at mesmo, geogrficos (SZMRECSANYI,

    1993).

    A cidade, a partir do sculo XIX, ultrapassou seu limite triangular, entre os Conventos

    de So Francisco, do Carmo e do Mosteiro de So Bento. A partir da economia cafeeira teve

    seu desenvolvimento acelerado passando de 23 253 habitantes em 1874, para 239 820 em

    1900, e em vinte anos passaria a ter 579 033. Seu desenvolvimento estava intimamente

    interligado com a economia, tendo como meio a interligao da urbe existente com a

    periferia, atravs de ruas, avenidas e construes.

    Aliada a estes fatores, a implantao de infraestruturas regionais criou as condies

    para a adaptao do territrio ao expressivo desenvolvimento econmico que marcou este

    perodo. Com o crescimento de So Paulo havia a necessidade de gua, esgoto, energia

    eltrica, gs, iluminao, transporte pblico entre outros; buscava-se a implantao desses

    servios e de infraestrutura. Tentou-se realizar intervenes urbanas, mas essas tentativas

    majoritariamente deram errado, algumas intervenes reforavam a questo do saneamento

    necessrio, tendo como modelo a Europa de 1800; considerando principalmente na

    eliminao das estruturas coloniais e na salubridade dos ambientes. A base para as

    reformas foram a administrao em Paris do Baro de Haussmann e no Rio de Janeiro de

    Pereira Passos (SEGAWA, 2004).

  • 6

    Reformar cidades em um pas essencialmente rural, em sua maioria, com inspirao

    Haussmaniana explicado por diversos fatos. Razes ideolgicas, apoiadas pela elite

    brasileira, de equipar o pas com cidades saneadas, funcionais e promotoras de atividades

    comerciais e industriais. Cidades costeiras, onde habitava o maior contingente populacional,

    sofriam com epidemias. Ao mesmo tempo o processo de urbanizao mostrava-se intenso

    (BLAY, 1985).

    Uma questo encontrava-se para a elite da cidade, se os vales deveriam ser

    transpostos ou urbanizados, principalmente o Vale do Anhangaba e a Vrzea do Carmo.

    Vrios viadutos foram propostos por brasileiros e estrangeiros. Alm disso, tambm

    surgiram propostas para ocupar abaixo desses viadutos, na baixada do Anhangaba foi

    inaugurado o Mercado So Joo em 1890, por exemplo.

    Empreendimentos estrangeiros eram chamados ao pas. Em 1890 houve a

    proposio de uma Exposio Continental, tendo a baixada da Vrzea do Carmo

    remodelada. J em 1896, Adolfo Augusto Pinto criou o considerado primeiro planejamento

    urbano para a cidade. Junto com toda a transformao da cidade, veio o fracionamento pela

    periferia. Havia duas periferias, uma formal, propagada por questes imobilirias; e outra de

    pobres, sendo essas as vilas operrias (SEGAWA, 2004).

    Devido sua localizao privilegiada para a articulao de caminhos, So Paulo

    obteve vantagens locacionais e aquisio de importncia no contexto nacional, a partir do

    final do sculo XIX, com a instalao da ferrovia como principal suporte logstica de uma

    economia agrrio-exportadora baseada no caf (ABSABER, 2004). O que tambm ajudou a

    contribuir para tal importncia foi a maneira como a sociedade produtora paulista se

    posicionou no final do sculo XIX, momento de transformao das relaes comerciais do

    pas com o exterior e das mudanas na sua base produtiva, que passaria do emprego da

    mo-de-obra escrava para o trabalhador livre assalariado. Esta mudana contou com a

    ajuda do Estado no recrutamento de mo-de-obra estrangeira imigrante para as lavouras, e

    com o apoio construo de todo um conjunto de infraestrutura para a promoo de uma

    forte industrializao baseada tambm no excedente urbano desta mo-de-obra (PRADO

    JUNIOR, 1972).

    A ferrovia trouxe um novo ritmo a capital da Provncia, sendo agora uma cidade

    influenciada pelo caf, ou, a Metrpole do Caf. Com isso, veio a mudana na forma de

    construir, querendo substituir a taipa como sistema construtivo e importando materiais e

    tcnicas. O Viaduto do Ch, de 1892, marcou a quebra do Tringulo paulista. A cobrana

  • 7

    para passar pela obra marca o novo esprito capitalista de So Paulo. Com a falncia do

    Banco de Mau, passou-se a investir em lotes e construes.

    A promoo de Rui Barbosa ao Encilhamento continuou com a especulao e

    propiciou a criao de sociedades, principalmente de loteamento e de edificaes. Atravs

    disso foi possvel ter financiamentos e investimentos no ramo da construo. Ainda havia

    aquelas sociedades que procuravam investir na urbanizao ou em equipamentos urbanos,

    um exemplo seria a criao de bairros operrios. Outras investiam nos materiais,

    geralmente especializadas em um material especfico (SEGAWA, 2004).

    Quando os primeiros sistemas de infraestrutura de articulao regional foram

    concebidos na capital da Provncia, no final do sculo XIX, suas diretrizes de traado

    acompanharam os caminhos naturais, ao longo das vrzeas e lugares de baixa declividade,

    para a implantao de ferrovias e posteriormente rodovias. Ao longo do sculo XX, estes

    eixos desempenharam papel significativo para a formao de bairros e instalaes de

    indstrias.

    Alm de principal centro de articulao do transporte e da circulao regional, So

    Paulo no incio do sculo XX dispunha de capacidade de manejo dos recursos hdricos para

    o abastecimento pblico e para a produo de energia, que provinha das fontes hidrulicas

    do rio Tiet, permitindo ao mesmo tempo a expanso das atividades industriais, a expanso

    urbana e o assentamento da populao crescente.

    Os planos urbanos conduzidos pelos engenheiros sanitaristas no incio do sculo XX

    foram os primeiros planos estruturantes para a industrializao, representaes ainda

    melhores do urbanismo moderno do que as reformas urbanas imitando a Europa da poca,

    semelhana do Plano de Pereira Passos para o Rio de Janeiro (ANDRADE, 1991).

    As intervenes feitas na poca tinham o propsito de drenar profundamente e

    superficialmente os terrenos, canalizar os cursos d'gua, proporcionar o abastecimento de

    gua e o esgotamento sanitrio, regulamentar as construes, e tambm, regularizar e

    limpar lotes vazios, a arborizao de praas, a pavimentao de vias e limpeza pblica.

    Adquirem importncia tcnicas de urbanizao e gesto pblica, assim como o

    conhecimento especializado da base sanitarista, engenheiros e mdicos (BRITTO, et al,

    2013).

  • 8

    2.2. Vilas Operrias

    A Primeira Guerra, o crescimento do proletariado, as greves e a falta de habitao

    marcam o incio do sculo XX. No incio da Repblica, os problemas j existentes de

    saneamento, agravaram-se ainda mais, ocorrendo surtos de epidemias em vrias

    metrpoles do pas. Por exemplo, em 1891 se teve a epidemia de febre amarela e varola,

    concomitantemente com antigas epidemias, a malria e a tuberculose.

    Para a melhoria da salubridade era necessrio a desapropriao de alguns cortios,

    isso no era de agrado da populao em geral, principalmente dos proprietrios. Muitas

    vezes eram forados a desapropriar o local, obrigados a reforma-los ou demoli-los. Alm

    disso, os inquilinos tinham de receber empregados da sade, de deixar que a casa fosse

    desinfetada se necessrio, e de abandonar a residncia se essa fosse condenada. Foi o

    caso do Rio de Janeiro de Pereira Passos, que baseado em Haussmann aplicou isso, alm

    de criar uma srie de pequenas leis que evitassem a insalubridade (proibio de defecar em

    outro local que no fosse o mictrio; de cuspir na rua; de ces e vacas de andarem pelas

    ruas; etc.) (CARVALHO, 2013).

    As principais ruas de So Paulo encontravam-se apinhadas de cortios onde

    moravam os trabalhadores, principalmente de fbricas e de oficinas. As casas para alugar e

    construes j passaram a ser escassas. Os empreendedores, anteriormente investindo na

    construo, agora, devido a vrios fatores no o fazem mais. De 1907 a 1916 houve um

    sbito declnio na construo habitacional. Com o aumento da populao fica cada vez mais

    difcil o aluguel. (SEGAWA, 2004)

    O aumento populacional da cidade de So Paulo dos finais do sculo XVIII,

    caracterizada pela abastada produo de caf, gera mudanas no sentido arquitetnico,

    urbano, social e econmico. Devido ao grande fluxo de ondas migratrias, atradas pelas

    possibilidades presentes no pas, a cidade de So Paulo v-se com grande oferta de mo-

    de-obra, o que impulsiona novas construes com tcnicas de alvenaria, substituindo a

    tradicional taipa, alterando definitivamente a imagem urbana. Contudo, as transformaes e

    o crescimento geram problemas j conhecidos por capitais europeias como Paris e Londres,

    onde a populao de classes menos beneficiadas, geralmente de operrios, acumula-se

    sem abrigo condizente com as necessidades humanas. nesse contexto que durante o

    processo de industrializao da cidade, surgem os cortios, estampando uma nova soluo

    para habitar.

  • 9

    O conceito inicial de cortio consiste em cubculos dispostos lado a lado, onde cada

    famlia ou grupo possua um ou dois cmodos para abrigar-se enquanto dividia comumente

    as instalaes sanitrias. Logo, viu-se nesse tipo de moradia, grande possibilidade de lucro,

    ampliado pela crescente populao desabrigada. A partir de ento, so construdos as

    escondidas, em terrenos estreitos ou nos interiores dos quarteires, sries de pequenos

    habitculos providos de porta e janela, ocupando ambas as laterais da espao, separados

    por uma rea linear com cerca de dois a trs metros de largura pela qual tinha-se acesso

    aos interiores das habitaes. Famlias inteiras compartilhavam do minsculo espao,

    ocupando-se tambm da rea comum para a secagem de roupas, tarefas cotidianas e

    diverso dos filhos, enquanto as guas servidas corriam em cu aberto. Esse contexto

    caracteriza os primeiros cortios paulistanos, que, por incrdulo que parea, perduraram

    para mais de meados do sculo XX.

    Inspirados pelo eminente lucro gerado por essas instalaes, ao longo do tempo, o

    setor imobilirio passa a construir cortios com unidades habitacionais de maior qualidade,

    possuindo, alm do quarto de dormir, sala e cozinha prprias, ainda que as latrinas e

    tanques para a lavagem de roupas fossem comuns a todos os moradores (LEMOS, 1989).

    Ainda que a tendncia da construo dos cortios fosse crescente e j houvesse se

    proliferado, a sociedade demora a se dar conta da maneira como as pessoas viviam, e,

    quando de fato a situao comea a gerar problemas de impacto sanitrio, faz-se

    necessria a observao e avaliao das condies que assolam parte significativa do

    centro da cidade. Os aluguis elevados e a dificuldade em comprar uma casa levam as

    famlias a procurar os cortios ou dividirem o aluguel em mais pessoas. Logo, as casas

    passam a acomodar duas famlias ou mais, mesmo em seu pouco espao, o que agrava a

    m qualidade da sade da populao. Dessa maneira, ser oportuna a criao da lei do

    inquilinato, com urgncia (SEGAWA, 2004).

    A preocupao da Comisso de Justia da cmara de So Paulo no sculo XIX

    em relao a insalubridade dessas habitaes coletivas e como tal situao prejudicaria no

    somente os moradores desses locais, como tambm o entorno e at mesmo a cidade,

    devido a proliferao de doenas e epidemias. Em 1885, o mdio Doutor Eullio da Costa

    Carvalho, apoiado pelo parecer tcnico do engenheiro Lus Cesar do Amaral Gama, prope

    a extino dos cortios existentes e a proibio da construo de novos, umas vez que, no

    caso de uma medida eficaz no ser tomada, tornar-se-ia impossvel a conteno da

    modalidade no futuro. Entretanto, apesar das opinies de ambos profissionais, o Cdigo de

    Posturas e o Padro Municipal de 1886 proibiram essas construes apenas no permetro

    urbano, mas seriam permitidas nas zonas suburbanas, ainda que regulamentadas questes

  • 10

    como quantidade de instalaes sanitrias, recuos frontais e dimensionamento de terrenos.

    Segundo a lei de 1886, as construes deveriam estar providas de torneira com gua ou

    poo para cada seis habitaes, uma latrina para cada duas habitaes, a rua interna

    deveria possuir no mnimo 5 metros de largura e as edificaes deveriam possuir p-direito

    de mnimos 4,5 metros de altura e estarem a 0,20 metros elevadas do nvel do solo.

    Ainda que a Postura de 1886 regulamentasse as construes dos cortios, a

    situao ainda acarretava problemticas a sade pblica e a ordem social de toda a cidade,

    j que os cortios permaneciam no permetro urbano. Como reao, em 1893 o engenheiro

    Amaral Gama organiza um grupo de profissionais para elaborar um relatrio sobre as reais

    condies das habitaes coletivas, composto por Cndido Espinheira, Teodoro Sampaio,

    Cunha Vasconcelos e Marcondes Machado, cujo resultado foi enviado ao secretrio dos

    negcios do Interior, Cesrio Motta Jr.

    A anlise foi efetuada no distrito de Santa Ephignia, onde a proliferao de febre

    amarela atingira no somente a rea, como tambm o entorno do Brs, Barra Funda e Bom

    Retiro, devido precariedade e aglomerao de pessoas. Nas ruas analisadas, a situao

    encontrada era to impropria como o imaginado. Os autores do trabalho contabilizaram a

    quantidade de famlias do distrito, estabeleceram a mdia dos habitantes por casa, e,

    conforme a situao encontrada, propuseram solues para a melhoria da vida e da cidade

    como um todo, defendendo que no poderia ser permitido que uma cidade nova como So

    Paulo, aceitasse as mesmas caractersticas subumanas do passado europeu. Dentre as

    propostas, regularizaram reformas para algumas construes plausveis de serem habitadas

    e sugeriram a criao de vilas operrias para os moradores que fossem removidos dos

    cortios sem condies de restauro, sendo essas prximas as linhas de trem (LEMOS,

    1989).

    Em 1877, a Cmara passou a cobrar impostos altssimos sobre esse tipo de

    habitao precria. Em 1881, os vereadores elaboraram uma definio oficial para os

    cortios: quartos encarreirados cobertos de meia-gua, com p-direito variando de 10 a 12

    palmos e cuja frente no dava para a via pblica (Atas da Cmara Municipal de So

    Paulo, 1881. p.77). Um dos vereadores da Cmara props algumas normas para o

    melhoramento de cortios, que foram aprovadas pela prefeitura. Incorporadas somente em

    1886, haviam dezessete itens, um deles dispunha sobre a rea comum em frente s

    habitaes que deveria ter 30m livres para cada habitao, podendo ser um jardim frontal.

    Cada habitao, se trrea, deveria ter 4,00 metros de p direito, e no caso de sobrados at

    3,50 metros de altura. Cada uma destas deveria ter pelo menos sala, quarto e cozinha, no

    menores que 10m - todos deveriam ter aberturas para o exterior, para receber ar e luz;

  • 11

    deveria haver poo ou torneira com gua e pequeno tanque de lavagem para cada grupo de

    seis habitaes; um banheiro para cada duas habitaes; entre outros itens (SAIA, 1995).

    Em 1894, foi promulgado o cdigo sanitrio, inspirado pela anlise da realidade da

    habitao coletiva de Santa Ephignia. Definiu como cortio o conjunto de duas ou mais

    habitaes que se comuniquem com a rua por uma ou mais entradas comuns para servir de

    residncias a mais de uma famlia, incluindo tambm na modalidade de cortio os casares

    subdivididos em diversas famlias. Atravs desse cdigo, em 1899 foi possvel estabelecer

    parmetros sanitrios para a regulamentao da modalidade residencial, fosse ela o cortio

    original ou as casas de cmodos.

    So Paulo passava por uma etapa de contnuo crescimento e construes que

    dividiam o territrio das antigas chcaras. As classes abastadas abandonavam os centros e

    mudavam-se para os subrbios. O mercado imobilirio ainda via na grande quantidade

    populacional de menor renda, a possibilidade da gerao de aluguel. Tornou-se comum a

    construo de vilas operrias, que na realidade no passavam de cortios e no condiziam

    com as idealizaes iniciais do termo, mas que ampliavam a capacidade sanitria das

    edificaes, servindo os moradores com maior zelo e se distanciavam dos centros, sendo

    agora construdas prximas das fbricas. Esses locais, conforme o Cdigo Sanitrio, tinham

    a limpeza das reas comuns sob responsabilidade do proprietrio, mantendo-se vigente

    atravs de vistorias de fiscais sanitrios (LEMOS, 1989).

    Em 1897, foi autorizado um contrato com Guilherme Maxwell Rudge para a

    construo de 2.000 casas, de quatro tipos: o primeiro tipo seguia as reparties presente

    na definio da casa proletria (sala, quarto e cozinha) com rea mnima de 30m; o

    segundo, com um quarto a mais do que o primeiro tipo, dispondo de 37,50 m; o terceiro

    tipo, com trs quartos, com 45 m. O quarto tipo, eram as casas com comrcio, necessrio

    para manter as condies de vida nas vilas. O plano aceitava que os conjuntos habitacionais

    fossem implantados em lugares distantes do centro da cidade e como soluo desta grande

    distncia, a Cmara entraria em contato com as linhas de ferrovirias e de bondes para

    obter passagens com o preo reduzido para os habitantes das vilas. Para que fosse

    realizada a construo das vilas, seria concedida uma rea de 500.000 m e a iseno de

    impostos e taxas ao empresrio, e ainda o muncio ficaria responsvel pela infraestrutura do

    local, como encanamentos de guas e esgotos. Estas casas nunca saram do papel, e aps

    um ano da assinatura do contrato, vereadores opositores conseguiram aprovar a Lei

    589/1898, que anulava a concesso dos terrenos municipais, deixando de ser

    economicamente vivel para o empresrio.

  • 12

    Neste contexto, onde o poder pblico esperava que as empresas construssem vilas

    mediantes apoio e iseno, algumas empresas ergueram vilas industriais parar seus

    prprios trabalhadores. Essas vilas eram muitas vezes muradas e nelas viviam operrios

    com suas famlias sob custdia dos patres. Todos os gastos dentro da vila (aluguel e no

    comrcio) eram descontados diretamente na folha de pagamento. Caso ocorresse greve, os

    moradores poderiam ser expulsos das casas (CAMPOS, 2008).

    Em 1916 So Paulo encontrava-se sob administrao de Washington Lus, que abre

    um concurso para a apresentao de casas proletrias econmicas, para uma famlia s.

    Sobre o tipo de moradia, compreendendo dois compartimentos habitveis, dos quais um servindo simultaneamente de cozinha, refeitrio e permanncia diurna, e dependncias, destinadas a casal sem filhos.

    Deve a moradia projetada poder transformar-se facilmente por acrscimo, em outra de condies anlogas, mas de trs ou quatro compartimentos habitveis, respectivamente, a casa com filhos de um sexo ou sexos diferentes. (SEGAWA, 2004, p.134)

    Os projetos deveriam ser baseados na higiene, na comodidade, na esttica e na

    economia. Deveria satisfazer as posturas municipais de 1900, alm de ter um desenho

    executivo, e um oramento sem o custo do terreno e o pagamento ao arquiteto. Em 1917 se

    teve o resultado, os projetos apresentados foram divididos em grupos de acordo com os

    programas. Em seguida a prefeitura divulgou esses trabalhos a quem pudesse interessar

    com os oramentos, no entanto no se sabe de algum desses projetos que tenha sido

    executado (SEGAWA, 2004).

    Com a descoberta, em 1892, de jazidas na vrzea do Tiet de areia com cor e

    qualidade ideais para a fabricao de vidro, foi constitudo a firma Prado & Jordo

    (posteriormente Fbrica de Vidros Santa Marina), dando incio a produo de vidros. Devido

    dificuldade no acesso e das cheias do Tiet, foram construdas na dcada de 1910, duas

    vilas operrias para dar auxlio aos empregados da fbrica, a primeira foi a Vila Velha, e a

    segunda, construda um pouco depois, a Vila Nova. Ainda na vrzea do rio Tiet foi

    edificado a Vila Boyes para os operrios da indstria de Simeon Boyes. Estas casas eram

    construdas em alvenaria de tijolos e o programa constitua de um banheiro interno no trreo

    ao lado da cozinha e dois dormitrios no piso superior, de acordo com levantamentos feitos

    pela arquiteta Dalva Thomaz.

    A Vila Maria Zlia, construda entre 1911 e 1916 para abrigar os operrios que

    trabalhavam na Companhia Nacional de Tecidos de Juta, foi considerada como modelo de

    vida numa vila operria, sendo o mdico e empresrio Jorge Street o proprietrio. Alm das

    moradias para os operrios, a vila tambm oferecia espaos para lazer, com a inteno de

  • 13

    melhorar a vida dura dos seus trabalhadores, e consequentemente melhorar o desempenho

    deles dentro da fbrica. A vila foi implantada no bairro de Belenzinho, o terreno se estendia

    do rio Tiet at a Av. Celso Garcia.

    Inaugurada em 1917, foram construdas na Vila Maria Zlia 220 casas unifamiliares

    com gua encanada e energia eltrica. Mediam de 75 a 110 m e eram todas elas

    geminadas, com as fachadas direcionadas para as principais ruas. A construo era de boa

    qualidade, com assoalho de pinho, portas e janelas de madeira macia. No acesso principal,

    se localizava os servios coletivos, como: creche, escolas, igreja, dentista, farmcia,

    armazm, campo esportivo, etc. Os gastos na vila eram todos descontados na folha de

    pagamento de cada funcionrio, exceto e eletricidade que era paga individualmente.

    Vrias outras vilas foram construdas no incio do sculo XX, como: Vila Aguiar, Vila

    Santa Clara, Vila Santa Maria, Vila Bueno e a Vila Marquesa de Itu que foi ocupada pelos

    operrios que trabalhavam na San Paulo Railway (LEMOS, 1989).

    Os cortios perduram at 1929, quando o Cdigo de Obras Arthur Saboya, revoga

    toda a legislao anterior e estipula que as nicas habitaes coletivas permitidas so os

    hotis e prdios de apartamentos, ou habitaes populares que no utilizem de instalaes

    sanitrias comuns. Desse modo, a modalidade de cortio, casa de cmodos, entre outras

    anteriormente existentes, tornar-se-iam inadequadas e fora da lei vigente na cidade

    (LEMOS, 1989 ).

  • 14

    4. CONCLUSO

    A partir das pesquisas, concluiu-se que o crescimento e expanso da cidade de So

    Paulo, deve-se, inicialmente, a abolio da escravatura em 1888. Com a libertao dos

    escravos ampliou-se a oferta de trabalho, simultaneamente, parte considervel da

    populao encontrou-se sem local para habitar. A produo de caf e o crescimento

    industrial, mediante a linha frrea na provncia, atraam grandes fluxos de imigrantes

    europeus, agravando o quadro de moradias.

    Por consequncia, o inchao urbano provocado por essa mudana brusca na

    populao paulista e pelos baixos salrios dos operrios, deu-se a formao dos cortios

    insalubres nos centros, prximo s indstrias. Nesse contexto, a populao abastada

    deslocava-se agora para as regies perifricas, ocupando terrenos que anteriormente

    pertenciam s chcaras. O crescimento de So Paulo, portanto, d-se de forma radial.

    Devido a expanso, foram elaborados projetos de saneamento e melhoria do espao

    urbano como um todo, sendo que majoritariamente, no foram implantados de acordo.

    Alguns exemplos so os do Vale do Anhangaba e a Vrzea do Carmo, alm da

    implantao dos mais importantes viadutos.

    O desenrolar da questo das habitaes coletivas e operrias, ocupa boa parte do

    sculo XIX, uma vez que as tentativas de readequao da situao foram por diversas

    vezes elaboradas. O grande nmero de cortios e casas de cmodos provocou medidas

    determinantes para a execuo dos mesmos, essas, em prol da melhoria da sade e

    segurana pblica. A falta de profissionais para a verificao das condicionantes, fez com

    que o prazo de regularizao levasse mais tempo que o esperado. Apenas a partir de

    meados do sculo XIX, que a situao comea a se resolver com a construo de vilas

    operrias, muitas vezes construdas pelos prprios industriais. Somente em 1929, o Cdigo

    de Obras Arthur Saboya probe completamente os modelos habitacionais.

    Por fim, concluiu-se que o crescimento de So Paulo deve-se, em muito, a questo

    industrial e habitacional do sculo XIX, uma vez que a expanso industrial e econmica foi

    uma das bases de maior importncia para a expanso territorial urbana. A densidade

    populacional alcanada no sculo XX e a posio atual da cidade como um polo, nasceram

    da mo-de-obra imigrante que ocupou os cortios no passado.

  • 15

    REFERNCIAS

    ABSABER, A. A originalidade do stio da cidade de So Paulo. In: So Paulo: ensaios entreveros So Paulo: EDUSP, Imprensa Oficial, 2004. ANDRADE, C. R. M. O plano de Saturnino de Brito para Santos e a construo da cidade moderna do Brasil. In: Espao e Debates. N.34. So Paulo, 1991. BENEVOLO, L. Histria da arquitetura moderna. So Paulo: Perspectiva, 1976. BLAY, E. A. Eu no tenho onde morar. So Paulo, Nobel, 1985. BRITTO, A. L.; BERTRAND-KREJEWSKI, J. L.; NASCIMENTO, N. O. guas urbanas e urbanismo na passagem do sculo XIX ao XX: o trabalho de Saturnino Brito. Ver. UFMG. Vol. 20. N. 1. Belo Horizonte, UFMG, 2013. CAMPOS, E. Vila Economizadora. Informativo do Arquivo Histrico Municipal, 4 (19): jul/ago, 2008. In: www.arquivohistrico.sp.gov.br CARVALHO, J. M. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a Repblica que no foi. 3 ed. So Paulo, Companhia das Letras, 2013. LEMOS, C. A. C. Alvenaria Burguesa: breve histria da arquitetura residencial de tijolos em So Paulo a partir do ciclo econmico liderado pelo caf. So Paulo, Nobel, 1989. PRADO JUNIOR, C. Contribuio para a geografia urbana da cidade de So Paulo. In: Evoluo poltica do Brasil e outros estudos. So Paulo, Brasiliense, 1972. SAIA, L. Morada Paulista. So Paulo, Perspectiva, 1995. SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

  • 16

    ANEXO A Casas Eduardo Prates e Baro de Tatu parcialmente demolidas para

    constituio do eixo Viaduto do Ch.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

    ANEXO B Plantas das casas com alcovas em taipa de pilo.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

  • 17

    ANEXO C Alegoria de Jules Martin sobre a desapropriao da casa do Baro de

    Tatu.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

  • 18

    ANEXO D Litografia de Jules Martin distribuda aos acionistas da Companhia

    Viaduto do Ch.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

    ANEXO E Croqui de Jules Martin com a proposta de situar a Catedral de So Paulo

    no ento Largo dos Curros.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

  • 19

    ANEXO F Voltolino. O Estado de So Paulo, 19 out. 1919.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

    ANEXO G - Voltolino. O Estado de So Paulo, 19 out. 1920.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

  • 20

    ANEXO H Corredor de cortio em clich de O Estado de So Paulo, 27 nov. 1919.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

    ANEXO I - Cortio em clich de O Estado de So Paulo, 25 nov. 1919.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

  • 21

    ANEXO J Prmio do concurso para casas operrias.

    Disponvel: SEGAWA, H. Preldio da Metrpole: arquitetura e urbanismo em So Paulo

    na passagem do sculo XIX ao XX. Ed. 2. So Paulo, Ateli Editorial, 2004.

  • 22