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História | Folclore | Meio Ambiente | Arquitetura | Gastronomia | Turismo Sebastião Natureza e sensibilidade são as marcas desse roteiro São EDIÇÃO 01 www.cidadeecultura.com.br Nº01 - R$ 10,00 - Brasil

São Sebastião/SP

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Revista cultural de São Sebastião

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História | Folclore | Meio Ambiente | Arquitetura | Gastronomia | Turismo

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SebastiãoNatureza e sensibilidade são as marcas desse roteiro

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06 40 74LINHA DO TEMPODatas importantes para a história de São Sebastião

ArTEsANATOCriatividade e tradição asseguram as herdeiras mãos talentosas do povo

PEscATradição caiçara que resiste às grandes indústrias pesqueiras

08 44 76HIsTÓrIcODe sambaquieiros a surfistas, conheça os picos econômicos de São Sebastião

ArTEsInspiração e revolução nos traços dos artistas da terra

VIDA DE cAIçArANavegar é preciso, mas conversar é melhor ainda

18 48 80FAzENDA sANTANAA riqueza dos áureos tempos cravada na terra em seus monumentos

FOLcLOrECultura e herança resgatadas por seu povo

TrIbO GuArANITesouro incrustado, uma lição de cumplicidade com a natureza

22 52 86rELIGIOsIDADEEm cada praia, a marca da fé deixada nas areias e no mar

MEIO AMbIENTEUm mundo a ser conservado para nós contemplarmos

LENDAsApaguem as luzes, acedam as velas, que vai rolar histórias tenebrosas

28 66 8894

síTIO ArquEOLÓGIcOMistérios envolvem talvez um dos maiores traficantes de escravos do Brasil

GAsTrONOMIADelícias e sabores de outrora na boca da gente

NãO DEIxE DE VIsITArLugares simples, porém necessários

32 70ArquITETurAA simplicidade da taipa registrada e conservada em todos os cantos

EsPOrTEsRadical é pouco, o que importa é se mexer

DADOs GEOGráFIcOsÍndices de importância econômica e demográfica

Índice

4 Cidade&Cultura

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LendasApaguem as luzes, acedam as velas, que vai rolar histórias tenebrosas

PARA ANUNCIAR: (11) 3021-8810CONHEÇA OS NOSSOS SITES www.cidadeecultura.com.brwww.abcdcultural.com.br

CIDADE & CULTURA é uma publicação anual da ABCD Cultural.Todos os artigos aqui publicados são de responsabilidade dos autores, não representando neces sariamente a opinião da revista. Todos os direitos reser vados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas.

EDITORIA

COnsELhO ExECUTIvO: Eduardo Hentschel, Luigi Longo, Márcio Alves e Roberto Debouch

EDITORA: Renata Weber Neiva

REpORTAgEm: Elaine Leme e Nathália Weber AssIsTEnTE DE pRODUçãO: Thiago Alves

pRODUçãO gRáfICA: Purim Comunicação Visual (www.purimvisual.com.br)

pRODUçãO DIgITAL: OnePixel (www.onepixel.com.br)

pRODUçãO AUDIOvIsUAL: VSet (www.vset.com.br)

fOTOgRAfIAs: Bera Palhoto, Tatyana Andrade e Márcio Alves

fOTO CApA: Tatyana Andrade

ImpREssãO: Gráfica Silvamarts

EditorialA cada curva da Rio – Santos, perdemos

o fôlego com a paisagem descortinada. São ilhas e praias incontáveis. E cada canto tem sua história e seus encantos. São inúmeros os relatos colhidos, impossíveis de se retra-tar em apenas uma revista. Compilamos o que achamos mais interessante. “Tomar uma fresca” com um caiçara é ficar horas e horas conversando sobre o tudo e o nada. Mas é gra-tificante, pois viajamos a um mundo típico e acolhedor. Não perca tempo pensando no que fazer, apenas curta o que vier pela frente, pois aqui tudo vale a pena conhecer.

Renata Weber Neiva

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8000aC

Linha do tempo

1450

XVII e XIX XIX

Por volta de

Entre os séculos Final do século

1850

1500 1530

1798

1502

Sambaquieiros, ocupação humana mais antiga na região

Evidências do período do auge da lavoura canavieira sebastianense

a costa brasileira foi invadida por corsários e piratas

a diminuição da importância da cana foi acompanhada pelo crescimento do café

Entra em decadência o ciclo do engenho da cana-de-açúcar

Tráfico de escravos começa a ser proibido

Descobrimento do Brasil

Martim afonso de Souza parte para explorar as terras brasileiras

Passagem da expedição de américo Vespúcio nos arredores de São Sebastião

Tupiniquins e Tupinambás, tribos indígenas que disputavam território na região

FOTO

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2010

Década de

1600 1636 XVII

1888 1955 1957 19801963

1664 XVII

Ocorreu a Abolição da Escravatura

Inauguração do Porto de São Sebastião

Iniciou-se a construção da Rodovia Tamoios facilitando o acesso para o Litoral norte

Inauguração da Rodovia SP 55 – Rodovia Dr. Manuel Hypólito do Rego

Começam os trabalhos no Porto de São Sebastião

São Sebastião 373 anos de emancipação

São Sebastião eleva-se a categoria de Vila

é construída a Capela de São Gonçalo

é construída a Igreja Matriz

Intensificam os pedidos de distribuição de terras

Inicia-se a construção do Convento de Nossa Senhora do Amparo

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Histórico

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Brasilem seu início

Episódios da história de São Sebastião ainda podem ser vistos na costa do litoral norte de São Paulo, em que sambaquieiros, índios, colonos, jesuítas e piratas lutaram pela terra onde os portugueses vitoriosos lançaram a base da nova nação.

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10 Cidade&Cultura

Histórico

Os primeiros habitantesNa costa do litoral norte, os primeiros homens dei-

xaram as marcas da sua passagem. Antes da chegada dos índios, já havia grupos humanos, organizados em sociedade, habitando o território brasileiro, eles eram denominados sambaquieiros. Sambaqui é uma palavra de origem indígena que deriva de tambá (concha) e ki (depósito). Os sambaquis são depósitos de conchas calcárias, utilizados para enterrar seus entes. Os ho-mens sambaquis constituíram ali, uma civilização de

canoeiros que viviam da pesca, caça de animais de pequeno porte e coleta de moluscos, raízes, frutos, crustáceos e de vegetais. Quando os portugueses chegaram, utilizavam as conchas dos sambaquis para fazer cal para construção de casas. Durante centenas de anos, foram construídos muros, casarões e igrejas. Não se sabe ao certo, como se extinguiram os grupos de sambaquieiros em São Sebastião. Existe a hipótese de terem sido expulsos ou devorados pelos Tupinambás.

Povos indígenasLogo após o desaparecimento da cultura sambaqui,

novos habitantes passaram a ocupar a região. O povo indígena que, além de pescar, caçar e coletar frutos e mel na mata, sabiam fazer potes de cerâmica e produzir hortas e quintais de mandioca, batata doce, maracujá, algodão, abóbora, feijão e inúmeros outros alimentos. Os índios descendentes dos tupis falavam a mesma língua e impuseram o seu domínio aos demais. Ado-taram diversos nomes, de acordo com as condições locais. Nesta região, os índios denominavam-se Tupi-nambás, que viviam nas terras ao norte, e Tupiniquins, que viviam nas terras ao sul de São Sebastião – existia uma limitação geográfica natural das terras das tribos (praia de Boiçucanga para o sul).

A luta entre essas tribos inimigas ancestrais se in-tensificou com a chegada dos europeus, pois, neces-sitando de mão-de-obra, os colonizadores iniciaram a

captura dos índios e os venderam como escravos nos engenhos nordestinos. Os tupiniquins se aliaram aos portugueses, chamados por eles de peró e os tupinam-bás aliaram-se aos mair, franceses, que haviam chega-do ao Rio de Janeiro, em 1555.

Uma dessas lutas foi presenciada e narrada pelo alemão Hans Staden, designado pelo então gover-nador-geral Tomé de Souza para combater os tupi-nambás a partir da fortaleza de Bertioga. Em 1554, capturado pelos tupinambás, povo antropófago, Sta-den viveu meses como prisioneiro deles. Escapou de virar refeição e, de volta à Europa, publicou na Alemanha, em 1557, um livro relatando sua viagem pelo Novo Mundo, a América.

A praia de Boiçucanga foi palco de inúmeras lutas entre as duas tribos. E, a partir de 1558, os índios da tribo tupinambá formaram a Confederação dos Tamoios envolvendo tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba, na Capitania de São Vicente, contra os

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Ocupação Sambaquieira no LitoralAs pesquisas arqueológicas desenvolvidas nas últimas dé-

cadas no litoral paulista revelam que a ocupação humana mais antiga nesta região foi a dos pescadores-caçadores-coletores, que deixaram como remanescentes os sítios arqueológicos de-nominados Sambaquis. Tais sítios, construídos ao longo de mui-tos anos pelos grupos de pescadores-caçadores-coletores, são constituídos principalmente de empilhamentos de moluscos, entre outros restos provenientes da fauna marinha e terrestre, além de estratos arenosos ou terrosos, totalmente diferentes dos demais tipos de sítios arqueológicos existentes no país.Os sambaquis, construídos principalmente entre 6000 e 1000 anos atrás, foram erigidos a partir de episódios sucessivos de acúmulo de material construtivo num mesmo local, resultando em montes de diversos tamanhos. Os aspectos morfológicos e as dimensões dos sambaquis podem variar bastante, princi-palmente em âmbito regional (GASPAR 2000). Além das con-chas, restos de fauna e areia também podem estar presentes na estrutura desses sítios, vestígios de fogueira, artefatos líticos ou osteodontomalacológicos, e ainda muitos sepultamentos. É comum verificar nos sambaquis, enterramentos de indivíduos acompanhados de objetos funcionais (ponta de projéteis, agu-lhas e furadores)confeccionados em osso ou concha, macha-dos, polidores, pesos de rede, entre outros artefatos líticos, além de adornos como colares ou pingentes feitos a partir de conchas ou dentes de animais. Relacionados à ocupação sam-baquieira do sul de São Paulo ao Rio Grande do Sul também são encontrados os zoólitos, artefatos líticos polidos com extre-mo requinte técnico e estético, representando diferentes figuras zoomórficas e inclusive antropomórficas (PROUS, 1992)... são monumentos intencionalmente construídos relacionados ao cul-to aos ancestrais, e sua formação é essencialmente o resul-tado de processos ritualísticos e simbólicos recorrentes por longos períodos. A construção de grande quantidade desses monumentos ao longo do litoral refletiria grande estabilidade territorial, econômica e cultural da população sambaquieira e uma significativa expansão demográfica, com padrões elabora-dos, cada vez mais complexos de organização social e política (SIMÕES, 2007, FISH ET AL., 2000; GASPAR, 1999 E 2000; DEBLASIS ET AL., 1998). Ao longo de muitos anos os samba-quis sofreram constantes intervenções devidas principalmente à exploração de cal usada em construções e a crescente ex-pansão imobiliária no litoral. Por este motivo estão hoje em dia protegidos por lei e salvaguardados pelo IPHAN.Fonte: Cintia Bendazzoli

colonizadores portugueses, a fim de com-bater a escravidão a que foram submeti-dos. Os Tupiniquins fugiram perseguidos pelos Atualmente existem agrupamentos indígenas da tribo Guarani em Boracéia.

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AntropofagiaO costume bárbaro de comer gen-

te, não era novo – o latim tinha ido buscar a palavra no grego anthro-po (homem) + phágos (que come) – mas as grandes navegações que estavam em curso davam uma atu-alidade sinistra ao termo. Poucas décadas antes, tinha surgido no espanhol a palavra caníbal, supos-tamente derivada do termo caribe, como os conquistadores chama-vam diversos povos indígenas das Antilhas, especialmente os hostis e comedores de seres humanos. Fonte: Enciclopédia Conhecer

Tupinambás

Tupiniquins

Os tupinambás como nação dominavam quase todo o litoral brasileiro e possuíam uma língua comum, que teve sua gramática organizada pelos jesuítas e passou a ser co-nhecida como o tupi antigo, constituindo-se na língua raiz da língua geral paulista e do nheengatu. Entretanto, normalmente quando se fala em tupinambás, refere-se às tribos que fizeram parte da Confederação dos Ta-moios, cujo objetivo era lutar contra os portu-gueses, também conhecidos como perós.

Também chamados Topinaquis, Tupinaquis, Tupinanquins - grafada comumente com uso do k: tupinikins são um grupo indígena brasi-leiro, pertencente à nação Tupi, que habitam o território atual do município de Aracruz, no norte do Espírito Santo.Fonte: Wikipédia

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Histórico

12 Cidade&Cultura

CuriosidadeDizem alguns relatos que, para um povoado

se tornar Vila era necessário que houvesse um número determinado de construções, mas São Sebastião não tinha essa quantidade exigida. Para não perder a oportunidade de uma eleva-ção, foram construídas casas cenários, apenas as paredes externas e telhados, para que se pu-desse ter o número necessário e assim obter a categoria de Vila

Américo Vespúcio Ocupação Portuguesa

A ocupação portuguesa ocorreu com o início da His-tória do Brasil, após a divisão do território em Capita-nias Hereditárias, forma de administração territorial da metrópole portuguesa. A atual cidade de São Sebas-tião teve sua origem remota na doação das terras pela coroa portuguesa, concedidas a Pero Lopes de Souza, filho de família nobre. Ainda jovem, tornou-se navega-dor e, em dezembro de 1530, partiu com o seu irmão, Martim Afonso de Souza, em missão ordenada pelo rei Dom Manuel, para explorar terras brasileiras. Em 1532, decidiu retornar a Portugal. Essa aventura ren-deu muitas léguas de terras no litoral norte do Brasil.

Nesta primeira divisão, a região onde se desenvolveu a cidade de São Sebastião, pertencia à Capitania de Santo Amaro.

Os pedidos de terras em São Sebastião se intensi-ficaram a partir de 1600. Como a maioria dos núcleos urbanos em tempos de colonização, São Sebastião, a cidade mais antiga do litoral norte de São Paulo, surge por interesse de colonos e donatários, pois sua posi-ção geográfica e o porto natural proporcionam possibi-lidades comerciais.

Elevada à categoria de Vila em 16 de março de 1636, São Sebastião está entre as dez vilas surgidas nos territórios das antigas capitanias de Santo Amaro e São Vicente entre 1610 e 1670.

Origem do nome O singular nome São Sebastião deve-se a expedição de Américo Vespúcio que, em 20 de Janeiro de 1502, batizou aquela terra com o nome do Santo, baseado em Calendário Litúrgico, coerentes com o ideal por-tuguês de colonizar e, ao mesmo tempo, difundir a fé católica, homenageando o Santo daquele dia.

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Capitanias Hereditárias Com o regime das capitanias hereditárias, o rei D. João III deixava às pessoas de sua confiança, os

donatários, a obrigação de colonizar o Brasil com seus próprios recursos. No Brasil, porém, várias causas contribuíram para que as capitanias não fossem bem sucedidas: a grande extensão da terra, os ataques freqüentes dos índios, a incapacidade ou a falta de recursos de alguns donatários e, finalmente, a enorme extensão que separava a colônia da Europa.

Para que pudessem administrar as capitanias com entusiasmo, o rei concedeu aos donatários certos poderes: podiam dar terras aos que quisessem cultivá-las, fundar vilas e nomear funcionários, podiam até condenar à morte escravos e pessoas comuns. Quanto aos nobres só aplicava essa pena se eles tivessem cometido um crime de traição ao rei ou contra a religião.

As rendas dos donatários consistiam na cobrança de impostos sobre produtos da terra. Podiam ainda escravizar índios para o seu serviço e até vender certo número deles em Lisboa. Já a exportação do pau-brasil só podia ser feita por ordem do rei: era monopólio da Coroa.Fonte: Enciclopédia Conhecer

Entre 1670 e 1720, a colônia viveu uma época de in-tensa urbanização com a descoberta das minas de ouro. Situada entre o sul produtor e Parati, porto onde escoava o ouro e de onde partiam as trilhas mais acessíveis entre a faixa da marinha e as vilas mineiras, São Sebastião, até então uma vila modesta, começa a desenvolver um período de relativa prosperidade. Portugueses atraídos por vender os produtos mais caros, iniciaram a instalação dos engenhos de cana-de-açúcar na região.

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Histórico

14 Cidade&Cultura

Fazendas de EngenhoAo que parece, vieram na expedição de Martin Afonso

de Souza, as primeiras mudas de cana-de-açúcar. Portu-gal já tinha experiência no cultivo e produção da cana e comércio de açúcar, além de possuírem equipamentos para engenhos açucareiros. Os portugueses tinham nas mãos todas as condições necessárias para tornar a co-lônia uma fonte de lucro. Primeiro ocorreu a escravidão dos índios e depois, com a exploração do povo africano, os portugueses resolveram seus problemas de mão-de-obra. Quando os canaviais começaram a produzir, construíram a moenda e o engenho propriamente dito. Foi aqui que os colonizadores, atraídos pelas possibili-dades, começaram a instalar seus engenhos na região, como a Fazenda Santana. O engenho da Fazenda Santa-na, construída em 1743, é um dos raros testemunhos arquitetônicos da prosperidade econômica açucareira da vila de São Sebastião, sendo um dos primeiros ergui-dos no litoral da capitania de São Paulo.

No auge de sua vida produtiva, a Fazenda Santana possuía duas moendas: uma delas movida por bois e outra por água. Sendo essa última mais complexa com rendimento quase dobrado.

As primeiras paisagens açucareiras em São Sebas-tião caracterizavam-se majoritariamente por pequenas e médias propriedades. Mas havia propriedades gran-des que se destacavam, como a da Dona Antonia Mar-garete de Jesus, que chegou a possuir mais de 100 cativos, a do Sargento-mor de Organza, Manoel Correa de Mesquita, que tinha 96 escravos e a do Senhor de Engenho, Matias Ferreira Chaves, com 130 cativos.

Várias famílias açorianas transferiram-se para a Vila de São Sebastião, certas de que o sucesso da economia viria gradativamente com o cultivo da cana-de-açúcar. O desenvolvimento econômico trouxe mudanças na pai-sagem social bem como mudanças administrativas, além da introdução de mais escravos.

As evidências disponíveis sugerem que, especial-mente em 1798, período de auge da lavoura cana-vieira sebastianense, grande parte das atividades produtivas da vila girava em torno do açúcar: registra-dos, do total dos chefes de domicílio escravistas, os proprietários de engenhos ou engenhocas represen-tavam 11,7% e os lavradores 56,9%. Inclusive um número significativo entre aqueles que não tinham escravos dedicava alguma parte de seu tempo a

esta atividade; com efeito, 32,4% dos fogos (sítios ou fazendas) não-escravistas plantava cana (os que decla-ravam alguma atividade agrícola, comercializada ou não, representavam 81,1%).

São Sebastião: participação dos produtores de cana no total dos domicílios.

Ano

Proprietários de

engenhos ou engenhocas

(%)

Outros domicílios nos que se

plantava cana (%)

Média de lavradores

por engenho

1798 5,11 43,08 9,4

1801 4,31 27,55 7,0

1803 4,22 13,58 3,4

1805 4,27 12,82 3,4

1808 3,37 10,11 3,6

1810 3,99 6,80 1,7

1813 3,94 7,56 2,0

1815 4,18 13,96 3,2

1817 3.49 4,79 1,1

1821 5,04 14,35 3,0

1824 2,50 6,57 2,0

1826 3,38 3,82 1,2

1828 2,02 2,85 1,2

1836 1,72 0,49 0,2

Fonte: AESP – Listas Nominativas.

No final do século XIX, o ciclo do engenho canaviei-ro que um dia representou o maior desenvolvimento econômico no Brasil Colônia, entra em decadência. A

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combinação das restrições às exportações e a rever-são da conjuntura internacional levaram à decadência do açúcar sebastianense em relação ao pico do fim do século XVII. Diante da crise, o rei de Portugal estimulou alternativas promissoras no Brasil como a produção do tabaco e café, para serem ainda destinados à expor-tação. A diminuição da importância da cana foi acom-panhada pelo crescimento do café. “Os requisitos geoclimáticos do café colocam-no na categoria de um vegetal “exigente”. As temperaturas não podem ser muito elevadas nem muito baixas; o tipo do solo e sua qualidade nutritiva são bem determinados; os índices de precipitação pluviométrica devem ser regulares e bem distribuídos pelo ano. Trata-se, ao mesmo tempo, de uma planta que demora a dar seus primeiros resul-tados produtivos, em geral, cinco anos, ao contrário da cana-de-açúcar, por exemplo, cuja primeira safra já se dá no primeiro ano após o plantio”. Fonte: Livro Brasil História.

O engenhoO engenho real, cujo apelido refletia o uso de um patrimônio real - a água -, era aquele dotado de roda d’água para moer a cana-de-açúcar. Exibia além das rodas propriamente ditas, um conjunto de seis for-nalhas: caldeiras, farol do caldo (uma espécie de tina de cobre enterrada no solo que recebia o caldo da cana), farol de guinda (recipiente onde o caldo da cana é alçado para as casas das caldeiras), farol de escuma, farol de melado, e farol de coar.

Procedência dos escravos de São Sebastião 1781 - 1865Sul - africanos 42 | Angola 143 | Benguela 82 Cabinda 48 | Cachange – 1 | Mojonlo – 51Moçambique - 3 | Moange – 1 | Muxicongo - 2Macau - 2 | Rebolo – 21 | Congo – 74 Da Costa – 22 | Mina - 11 | Guiné - 74 Luanda - 14 | Benação - 197 Brasileiros - 1384 | Ignorada - 22Total de escravos 2199 neste período

São Sebastião

Ano Livres % Escravos %

1777 74,46 25,54

1778 75,12 24,88

1780 75,46 24,54

1782 75,51 24,49

1785 68,98 31,02

1788 66,16 33,84

1790 64,52 35,48

1792 68,49 31,51

1794 60,95 39,05

1796 59,65 40,35

1798 61,04 38,96

Fonte: AESP - Listas nominativas.

Os dados da Tabela mostram a divisão da po-pulação segundo condição na Vila de São Sebas-tião. Verifica-se que a participação dos escravos era relativamente semelhante (entre 20 e 25%) até 1785, momento no qual os escravos em São Sebastião ultrapassam os 30%, sendo que seu peso continuaria crescendo até estabilizar em tor-no dos 40% a partir de 1794.

Participação dos segmentos em São Sebas-tião no total da população (%).

A cultura cafeeira na região de São Sebastião de-senvolveu-se utilizando os escravos remanescentes nas fazendas canavieiras. A mesma técnica da cana-de-açúcar era usada para o plantio do café, a técnica da coivara (um regime agrícola tradicional das comuni-dades quilombolas). Inicia-se a plantação através da derrubada da mata nativa ao longo das enconstas do litoral, seguida pela queima da vegetação. As primeiras dificuldades surgiram em 1850, ano que o tráfico de escravos foi proibido. No auge da produção cafeeira, São Sebastião perdeu o território, pois ocorreu a eleva-ção à Vila da Freguesia de Santo Antonio de Caragua-tatuba, em 1857. A partir de 1875 dois novos fatores passaram a desestimular o plantio de café no Litoral Norte: o excesso de produção nas províncias de São Paulo e Rio de Janeiro, com a consequente e acentua-da queda nos preços e a Abolição da Escravatura em 1888, pois toda colheita que era antes feita com mão-de-obra escrava estava sendo extinta.

Foram mais de 300 anos de colonização. Nesse pe-ríodo, surgiram as vilas caiçaras, caracterizadas por con-juntos de casas sem muros, construídas de pau-à-pique. Cada praia possuía sua pequena comunidade sempre construída ao redor de uma preciosa capelinha.

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Page 16: São Sebastião/SP

Histórico

16 Cidade&Cultura

PiratariaSupostamente entre os séculos XVII e XIX, a costa bra-

sileira foi invadida por corsários e piratas provindos da Holanda, França, Inglaterra e Argentina. Tinham o objetivo de assaltar os navios portugueses e espanhóis carrega-dos de ouros descobertos nas minas brasileiras.

No mesmo período, ocorreu o fim da “Invencível Armada”, quando Portugal ficou sob o domínio es-panhol que incorporou a maior parte da armada lu-sitana. Portugal, desfalcado de sua Marinha, deixou a costa brasileira desarmada. Desse fato resultou a intensificação do contrabando do pau-brasil e depois, de muitos outros.

Em São Sebastião, os ataques foram intensos e para contra atacar a arremetida invasão, foi construído um sistema de defesa, que era constituído por inúme-ros canhões na baía que durante muito tempo prote-geu a costa de invasores na Vila.

Novos caminhos Os caiçaras se voltaram para a pesca artesanal e

a agricultura de subsistência – com destaque para a produção de banana. A banana estava invariavelmente nas refeições. Curiosidade: comia-se banana crua no feijão, cozida, assada em doces e em pratos tradicio-nais do litoral.

Até 1930 pouco se contava com o acesso por terra, somente com a abertura da Rodovia Tamoios, ligan-do Caraguatatuba ao Vale do Paraíba, antigas trilhas começaram a melhorar facilitando o acesso ao futuro porto. Mas a proximidade com porto de Santos impe-diu um crescimento maior do porto de São Sebastião. Porém, com a instalação da Petrobrás, no período da ditadura Vargas, a relação da terra mudou principal-mente na região central da cidade. Toda a área antes ocupada por chácaras e roças fora desapropriada pela empresa para construção do pátio de tanques de ar-mazenamento do petróleo de apoio ao píer atracadou-ro de navios. A inauguração oficial do porto aconteceu em 1955, mas somente em 1963 é que entrou em operação. Entretanto, de olho no etanol que a Petro-brás pretendia produzir e exportar a curto e médio pra-zo, a empresa previu uma ampliação nas instalações no canal de São Sebastião.

A partir da década de 70, com a melhoria da ro-dovia que liga São Sebastião a Santos, surge uma nova vertente: a exploração turística. A faixa marinha e adjacências são ocupadas por casarões de veraneio. Os caiçaras visualizam um novo e próspero caminho e começam, a partir daí, uma fase de novo segmen-to econômico. Assim a cidade abre-se para o turismo, colocando como atrativo turístico o passado ainda pre-sente nas ruas da cidade.

Page 17: São Sebastião/SP

Citações:“A cidade era cheia de vendas e armazéns de “secos e molhados, bebidas nacionais e estrangeiras”, que era como estava escrito nas paredes”.“Na rua da praia tinha seu Izidro e seu João dos Santos. Na rua do meio tinha seu Dante Pacini e seu Va-lentim. Na rua da Santa Casa, tinha seu João Lourenço.”“Mamãe comprava em todos eles porque às vezes o que ela precisava não tinha em uma venda e a gente comprava em outra”.Na venda de seu Antonio Orselli tinha desde agulha, panela de barro, tamanco até ferragens de diversos tipos. Seu Antonio Orselli era muito gordo e ficava sentado na porta da venda conversando. Quando che-gava um freguês, ele não se dava ao trabalho de levantar do banco: mandava a pessoa entrar e procurar o que desejasse comprar. Na padaria de seu João Teixeira, o pão saía às três horas. O pessoal fazia fila para pegar a meia lua quen-tinha. Enquanto mamãe passava café, eu já estava na fila do pão. Voltava correndo para casa e colocava bastante manteiga Aviação naquele pãozinho delicioso. Depois corria até o bar com o bule (não tinha gar-rafa térmica) e o pãozinho para papai que estava trabalhando. Só de lembrar fico com água na boca”Neide Palumbo – São Sebastião do meu tempo de menina

“Quando eu tinha seis anos, papai um dia chegou do bar e disse: “As filhas do Joel, Mariza e Deise, já sa-bem ler. Lêem até jornal. A Neide vai aprender também.” Me comprou um caderno, um lápis e uma borracha e me pôs na escola de Dona Laura Mota.Dona Laura Mota era uma mulher de fala mansa e cheia de paciência. A escola era na casa dela e tinha vários alunos. Num instante ela conseguiu me ensinar a ler pela “Cartilha Sodré”. A lição que eu mais gostava era:“O bolo está fofo. O bolo é feito de coco.”Neide Palumbo – São Sebastião do meu tempo de menina

“Da cozinha de casa se escutava tudo o que acontecia no cinema. O cinema, naquele tempo, era o cen-tro de tudo. Se aparecia na cidade um mágico, se apresentava no cinema; um tocador de violino ou uma menina que declamava poemas, tudo era no cinema, inclusive as festas de final de ano da escola. No cinema aconteciam as apresentações teatrais, a entrega dos diplomas da quarta série, a apresentação do orfeão... tudo era no cinema”.Neide Palumbo – São Sebastião do meu tempo de menina

“A Santa Casa funcionava como uma espécie de albergue para os doentes que vinham de Ilhabela ou da Costa Sul para se tratar e não tinham onde ficar.”Neide Palumbo – São Sebastião do meu tempo de menina

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Fazenda Santana

Testemunhode um ciclo

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A Fazenda Santana no Pontal de Cruz teve como primeiros proprietários mulheres que não tiveram medo e transformaram a fazenda num próspero negócio.

Passando por mais uma das ruas que recortam São Sebastião, deparamo-nos com uma magnífica fazenda. Rodeada por coqueiros e uma diversificada fauna, a Fa-zenda Santana tem suas janelas e portas ressaltadas pelo azul que contrasta com o branco das paredes. O pouco do que resta dessa importante residência da épo-ca colonial fascina e surpreende. Foi uma das primeiras fazendas a serem erguidas na capitania de São Paulo, nos seus tempos áureos de produção, abrangendo lé-guas e léguas de terras. Seu terreno ia do bairro Pontal da Cruz até a divisa do bairro de São Francisco.

A Fazenda Santana, no século XVIII, foi administrada por duas mulheres, Antonia Maria de Jesus e sua so-brinha Gertrudes, ambas provindas de Portugal, que se diferenciavam na época por saberem ler, escrever e ne-gociar produtos produzidos por escravos. Dona Antonia Maria assumiu a fazenda assim que seu irmão faleceu e, quando esta morreu, deixou um lindo testamento que passava a propriedade para sua sobrinha Gertrudes. A herdeira decidiu morar na fazenda logo depois que seu marido veio a falecer. A historiadora Rosangela nos con-ta que, em São Sebastião, muitas mulheres moravam sozinhas com seus filhos e escravos, deixadas por seus maridos que por vezes sumiam em busca de ouro ou por falecimento, e não se intimidavam em cuidar das suas terras e usar seus chicotes.

Considerada um dos raros testemunhos arquitetôni-cos da prosperidade da Vila de São Sebastião, a Fazen-da Santana, construída em 1734, foi construída com pedra, cal de conchas e óleo de baleia. Em 1788, São Sebastião registrava 25 engenhos em funcionamento. As arrobas (unidade vigente na época equivalente a 14.7 quilos) eram vendidas quase que exclusivamente para o Rio de Janeiro, que pagava o dobro comerciali-zado no Porto de Santos. Foi aí que o então presidente da província, Bernardo José, proibiu a venda da cana para o Rio de Janeiro, pois queria que os impostos ficassem em São Paulo. O decreto foi um golpe e de-terminou o fechamento de muitos engenhos. A Fazen-da Santana foi uma das poucas que sobreviveram ao baque. Diversas pressões políticas fizeram com que o decreto fosse revogado em 1788. Fonte: www.beachco.com.br

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A fazenda funcionava como engenho de cana-de-açúcar, com antiga senzala (que ficava atrás do aque-duto), a Casa Grande em estilo colonial, capela, enge-nho, aqueduto com uma grande roda d’água, modelo paulista centralizado dentro da casa e cinco juntas de carro de boi na cor vermelha. O engenho da Fazenda Santana foi construído posteriormente ao século XVIII, tendo como base a engenharia açoriana, que consistia na captação de água da serra para mover o moinho. Esta técnica foi usada por muito tempo. Além de ne-gociarem cana de açúcar, as proprietárias vendiam fa-rinha de mandioca, sendo que, em 1798, chegaram a produzir o total de 76 alqueires de farinha na própria fazenda. A Casa Grande já foi reformada e no local é possível ver as ruínas dos arcos por onde passava o aqueduto, do engenho e da roda d’água, além de pren-sa para fazer farinha, pilões, peças para ralar mandio-ca, um oratório e a imagem em madeira de Santana, padroeira de uns dos antigos donos da Fazenda.

De geração a geração, as terras chegaram às mãos da família Rego. Antônio Hypólito do Rego teve dois filhos. Seus sete netos são os atuais proprietários des-te local riquíssimo em valor histórico e cultural da re-gião. E, no ano de 1969, foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo).

Apesar de ser propriedade particular, é possível visi-tar a Casa Grande e a antiga “Casa da Farinha”, com roda d’água e pilões. A visita turística na fazenda é per-mitida somente com autorização dos proprietários.

CuriosidadeNa fazenda, já foram rodados dois filmes an-tigos: “Ilha terrível Rapaterra” e “O dia que o santo pecou”.

Escravos rurais trabalhavam 18 hs por dia na Fazenda Santana1743 – 50 total1798 – 80 total1813 – 140 total

Carros de boiConhecido como boeiro em Portugal, o carro de boi é um dos veículos mais antigos que se conhece. Resume-se praticamente num estrado plano de ma-deira, apoiado sobre um eixo e duas rodas (também de madeira) e um eixo a qual se atrelam os bois. Festa de Santana Um dos primeiros donos da Fazenda era muito devo-to de Santana. Sua imagem de madeira é vista num oratório posto no interior da Casa Grande. A festa religiosa de Santana foi uma das mais importantes da cidade em décadas passadas. Hoje é menor, mas não perde em tradição. Há missa no balcão da Casa Grande e, com o término da novena, são realizadas danças típicas como a do boi reveste, a do caiapó, entre outras.

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Religiosidade

A fé demonstrada

em cada cantoSão muitas as cidades brasileiras consagradas a um santo mártir da Igreja Católica. De qualquer modo, a cidade de São Sebastião é um dos poucos municípios de São Paulo que conserva o nome do santo, sem qualquer outra indicação de uma característica geográfica ou que apenas confirme a procedência da adoção do seu topônimo.

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Capelas CaiçarasDesde séculos e séculos passados, existe a peregri-

nação de devotos dos mais diversos Santos na cidade. E a vontade de São Sebastião em figurar entre os muni-cípios mais religiosos do Estado de São Paulo não para por aí; entre a área central e seus vilarejos, de uma es-quina a outra, destacamos inúmeros pontos sagrados espalhados nas praias da costa litorânea. O sentimento religioso sempre foi o forte na região e, como em todo Brasil, marcado pelo sincretismo. As capelas caiçaras foram construídas entre 1920 e 1960, como por exem-

plo, as capelas de Boiçucanga (Boissucanga), Maresias, Barra do Sahy, Barra do Una, Cambury e Toque-Toque Pequeno. Uma área privilegiada era destinada à capela em devoção do santo escolhido: Santa Ana, São Bene-dito, Nossa Senhora Imaculada Conceição, são alguns deles, muitas vezes, sendo construída por esforço do povo local, com a renda da pesca. As singelezas dessas construções marcam um modo de vida e um momento de ocupação de cada bairro. Seja qual for a capela esco-lhida para rezar, e são muitas as opções, resta a certeza de que a construção dela é uma mostra significativa da religiosidade desses moradores.

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Igreja Matriz e seu valor histórico A Igreja Matriz é um marco na história do povo cai-çara, sendo um importante símbolo de religiosida-de no município, que exerceu sobre a população o papel político, social e institucional que garantia o reconhecimento do aglomerado de fato e de direi-to, a oficialização da capelinha e elevação da mes-ma à Matriz (o que significou a elevação do local à condição de povoado).Entre 1603 e 1609 foi construída a capela em home-nagem a São Sebastião, conta a lenda que o local escolhido foi em decorrência a uma flecha atirada por um índio tupinambá. A partir de então, era na capela que ocorriam todos os registros: nascimento, casamento, óbito, de terra entre outros.

São Sebastião (França, 256 — 286), foi um mártir e santo cristão, morto durante a perseguição levada a cabo pelo im-perador romano Diocleciano. O seu nome deriva do grego sebastós, que significa divino. Sebastião era um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283, com a única intenção de afirmar o coração dos cristãos, enfraquecido diante das tortu-ras. Era querido dos imperadores Diocleciano e Ma-ximiliano, que o queriam sempre próximo, ignorando tratar-se de um cristão e, por isso, designaram-no capitão da sua guarda pessoal - a Guarda Pretoriana. Por volta de 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas (que se tornaram sím-bolo constante na sua iconografia). Foi dado como morto e atirado no rio, porém, Sebastião não havia falecido. Encontrado e socorrido por Irene (Santa Ire-ne), foi depois levado novamente diante de Diocle-ciano, que ordenou então que lhe fosse espancado até a morte. Mesmo assim, ele não teria morrido. Acabou sendo morto transpassado por uma lança. Fonte: Wikipedia

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Entre os Franciscanos que vieram ajudar a colonizar o Brasil, logo após o descobrimento, havia excelentes arquitetos; uma das provas disso são as construções erguidas pela Ordem de São Francisco em todo o país.

Rompendo com os padrões tradicionais da arquite-tura de Portugal, os construtores religiosos, concebe-ram para seus prédios formas arquitetônicas inéditas, distribuídos por diversos pontos da costa litorânea. Desenvolveram um estilo cuja evolução leva a crer na existência de uma verdadeira escola de arquitetos en-tre a irmandade franciscana. Muitos desses prédios, ainda conservados, permitem ver a arquitetura no tempo em que o Brasil dava seus primeiros passos. Dentre as construções que sobreviveram aos séculos destaca-se, no Bairro de São Francisco, o Convento de Nossa Senhora do Amparo. Foi projetado a pedido dos moradores que desejavam que construíssem ali um Convento. Depois de inspecionarem vários sítios, alguns religiosos, que viajavam pela região, deram pre-ferência para as terras situadas em paragens pitores-

Convento de Nossa Senhora do Amparo, o edifício mais antigo da cidade

cas, à beira de uma enseada ao sul, oferecidas por Antônio Coelho de Abreu. A licença para a construção foi dada por Provisão 1658. Dos franciscanos que pas-saram por ali em meados de 1657, dois ficaram, Frei Baltasar das Neves e Frei Luis, para dar início às obras, em 1664. A construção feita com a ajuda de escravos levou quatro anos para erguer um conjunto composto pela igreja e convento. Foi construído com taipa de pi-lão e também pedra e alvenaria de tijolo. Em meados de 1668, aproximando-se do seu acabamento, foi cele-brada a primeira festa de Nossa Senhora do Amparo.

O Convento está localizado numa magnífica posição, em meio a um panorama que encanta a vista de qual-quer visitante. O claustro retangular, com três arcos, descansa sobre grossas pilastras. Nas paredes do pa-vimento térreo, tem diversos nichos, que serviam de confessionários, como alguns outros antigos conven-tos. No frontispício da Igreja (conforme documentos do próprio Convento), já existia uma capela junto com uma pequena moradia, cuja construção foi atribuída aos frades e a torre não fazem face com o convento, mas avançam para fora. No interior do Convento é pos-sível ver belas e conservadas imagens como: preciosa imagem do Bom Jesus, que tem acima de 300 anos, São José, São Judas, Sagrado Coração de Jesus, São

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Capela de Barra do Sahy

Convento de Nossa Senhora do Amparo

Capela de Cambury

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Francisco e São Pedro com a chave, além de Santa Ana (mãe de Maria), toda em madeira datada de 1600; as figuras franciscanas também estão presentes no Con-vento como de: Nossa Senhora do Amparo, Santo Anto-nio e São Benedito, com seus valores inestimáveis.

A restauração do Convento só aconteceu em 1932, quando o teto ameaçava a desabar. Seis anos foram necessários para terminar o grande empreendimento. Apesar de ter sido modificado internamente, externa-mente preservou-se a arquitetura original. Somente o azulejo português e o piso não são originais de época. O cruzeiro defronte ao Convento era comum na implan-tação franciscana.

O Convento de Nossa Senhora do Amparo está si-tuado na cidade histórica de São Sebastião (tem sete

quarteirões tombados e vários outros edifícios tom-bados isoladamente pelo Condephaat), no Bairro São Francisco. Desde 1965, a Paróquia tem sede na igreja conventual do Convento Franciscano de Nossa Senho-ra do Amparo. Mas, devido ao crescimento da região, e por não permitirem novas construções no convento tombado, a atual administração da Paróquia, em co-mum acordo com o Definitório da Província Franciscana da Imaculada e com a Diocese de Caraguatatuba, fez a aquisição de um terreno de 3.200 metros quadrados, situado a um quilômetro da atual matriz e a 500 me-tros da capela do Morro do Abrigo, para se construir a nova Igreja Matriz e dependências paroquiais. O Con-vento continuará com os franciscanos, como um centro de irradiação da mística franciscana no Litoral Norte de São Paulo. Fonte Livro História do Convento.

Capela de Toque Toque

Capela de Paúba

Capela de Boissucanga

Capela de Cambury

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ReligiosidadeA lenda do Santo que pecouEm São Sebastião, morava um caiçara que, quan-do bebia, ficava agressivo e barbarizava a cidade. A população da região, preocupada, pedia insisten-temente para que o delegado tomasse uma provi-dência. Mas ele fracassou. Diante de tal fato, o povo juntamente com as “carolas”, rogaram a São Sebastião que desse um jeito no meliante. Certo dia, o infeliz foi encontrado misteriosamente morto na frente da Igreja Matriz. Após inúmeras investiga-ções infrutíferas sobre supostos suspeitos, e com aclamação das carolas, dizendo que fora o santo que dera cabo do sujeito, o Delegado não teve dúvi-das e prendeu a imagem de São Sebastião, que foi acusado e levado a julgamento. O Santo foi conde-nado a cinco anos de prisão. E a morte do caiçara jamais foi esclarecida. Durante esses cinco anos, o Santo ficou preso na cadeia local e só saía para as procissões e, assim mesmo, escoltado por policiais. Após ter cumpri-do sua pena, o Santo voltou e hoje está exposto na Igreja de São Gonçalo (Museu de Arte Sacra). A teoria é tão intrigante que virou filme em 1975, dirigido por Cláudio Cunha. Além do filme, foi pro-duzida, na Fazenda Santana, a peça teatral com o mesmo nome do filme “O dia que o Santo pecou”. Há controvérsias. Historiadores dizem que a está-tua de São Sebastião ficava trancafiada na prisão para que os piratas não a roubassem da igreja. Ver-dade ou não, essa história rendeu muitas risadas, pois a maior dúvida é: qual foi o advogado do Santo no processo penal.

“O mês de maio é todo dedicado à Maria, mãe do Mestre Jesus.Todos os dias as crianças iam à igreja levar flor para enfeitar o altar de Maria.No final da tarde, nós saíamos batendo nas portas das pessoas que tinham jardim pedindo flores para levar na fila. Na porta da igreja, às sete e meia da noite, se formava a fila para entregar as flores. O padre ficava na frente do altar de Maria e as crian-ças entravam bem devagar cantando: “neste mês de alegria, entre risos e flores...” e Dona Verena ao órgão conduzia a canção.”

Fonte: Livro “São Sebastião do meu tempo de menina” – Neide Palumbo

Lenda de JuquehyDizem que, até os anos 60, o povoado fazia uma procis-são das almas penadas, à noite. E, naquela época, não tinha energia, era tudo no escuro. Todo o povo que mora-va lá participava, até os bairros vizinhos. Faziam uma fila de dois e as mulheres iam com um véu na cabeça. Uma fila ficava enorme. Como dizia a tradição, um menino ia na frente tocando uma catinga triste no tambor.

Capela de Barra do Una

Capela de Juquehy

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Sítio Arqueológico

Mistérios

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Registros históricos revelam que Joaquim Pedro, an-tigo morador da região, conhecido pela crueldade e por suas posses, morou próximo ao Sítio Arqueológico, só não foi possível comprovar se ele foi o dono daquelas terras. Um dos mitos mais conhecidos na região diz que Joaquim Pedro fez um pacto com o Diabo pra man-ter sua riqueza. Dizem que ele guardou o Diabo dentro de uma garrafa debaixo da sua cama. Uma noite, sua

O Suposto dono das terras mulher achou a garrafa e liberou o Diabo. No mesmo momento, Joaquim veio a falecer esmagado por uma das paredes da Casa Grande que ruiu. Segundo a len-da, no momento do velório, ouviu-se o som do estouro do aqueduto da fazenda. As luzes se apagaram e to-dos apressadamente começaram a ascender velas e lampiões. Mas, o corpo de Joaquim sumiu do caixão. E o povo que ali estava diz ter visto o Diabo carregando o corpo de Joaquim Pedro e nunca mais se ouviu falar daquele homem. E, se você chamar o nome de Joa-

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Visitar o sítio arqueológico de São Sebastião significa admirar e surpreender-se com o legado da nação portuguesa.

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quim Pedro, à meia-noite, no sítio, ele aparecerá.O local é incrustado na mata tropical e fascina a to-

dos com sua fortaleza de montanhas e vale profundo. Nesse privilegiado cenário, o céu ilustra e completa a vista magnífica do bairro de São Francisco e do Canal de São Sebastião.

Conferir in loco os resultados dessa fascinante des-coberta é bem prazeroso por sinal. O sítio arqueológico está a 260 metros de altitude, com aproximadamente 200 anos de história e cerca de 20 mil m² de restos construtivos, que compõem o legado. São três patama-res, com pátio cerimonial, logo acima a antiga capela e, mais alguns metros, a Casa Grande. O pátio cerimo-nial servia de porta de entrada aos novos escravos, onde as ordens eram dadas. A capela, muito suntuosa para época, era uma forma de mostrar aos escravos e

aos funcionários, o poder que os senhores detinham ali; na entrada existia um oratório, uma antiga pia ba-tismal e um aqueduto. A Casa Grande era muito peque-na para ser uma moradia, o que para a Aline Mazza, arqueóloga, esse detalhe leva a crer que o sítio era um local próprio para negócios, além do fato de estar num lugar estratégico para avistar embarcações que iam e vinham no Canal de São Sebastião. Supõe-se que ali eram exercidas atividades clandestinas, como o tráfico de escravos e até mesmo uma “escola de produção de cana-de-açúcar, devido à quantidade de parafernálias destinadas a isso. Talvez esse seja um dos motivos dos historiadores não encontrarem registro de posse da Fazenda.

O grande achado pelos pesquisadores foi a locali-zação de outra área do sítio, que possui mais de oito

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Cachimbos nas escavações, foi encontrada a maior coleção de cachimbos existente na história do Brasil. A confec-ção desses artefatos fazia parte do ritual de negros e brancos. O cachimbo era utilizado por todos, inclu-sive por crianças. A forma fálica do cachimbo levan-ta a hipótese do órgão sexual masculino, símbolo da fertilidade africana e uma forma de identificação de qual tribo o artesão negro pertenceu.

patamares somada ao sítio existente, e que pode vir a ser um dos maiores achados arqueológicos em extensão do país, com 1.200.000 m² de área total. no local, foi identificado um complexo de senzalas e estradas. Atualmente, restam do imóvel original algumas colunas e paredes, que impressionam pela técnica usada (as pedras eram apenas encaixadas perfeitamente entre si, sem necessidade de qual-quer espécie de cimento como liga), escadarias em pedra, terraços com floreiras, uma enorme figueira, muros de contenção ornados com figuras, aquedu-tos e arcos sobre pequenos vales, dreno de água, telhas, canaletas em pedra, oratório, fornos, porcela-nas, cabos de panela, cerâmicas neobrasileiras (que misturam características das culturas negra, branca e indígena), grés fino, cachimbos e demais testemu-nhos materiais. As peças encontradas nas escava-ções são do final do século 18 e início do século 19. Para Aline, a peça mais inusitada encontrada foi uma botinha de vidro que, na Europa, é conhecida como o copo do segredo.

As escavações começaram no ano de 1991, bem depois que “cicatrizes” cortando a Serra do Mar apare-ceram em imagens de satélites. As marcas denuncia-vam cursos de rios e construções desconhecidas. Téc-nicos levaram quase dois anos para localizar as estra-das escondidas sob mata fechada e terreno íngreme. O trecho começa na beira da Rodovia Rio-Santos até atingir 200 metros de altitude. na subida, foram iden-

tificadas estradas que se cruzam perpendicularmente. Elas eram utilizadas para o escoamento da produção de cerâmicas produzidas por escravos.

“Um dos aspectos mais representativos da diver-sidade cultural presente no Sítio São Francisco é a atividade açucareira. A complexidade de fabricação deste produto, representada pela existência de várias etapas, pela necessidade de utilização de engenho-sos equipamentos e de mão de obra especializada, nos fornece inúmeros subsídios para a compreen-são de atividades fabris de outrora. O vestígio mais emblemático é o forno, com as quatro fornalhas e cavidades, onde se depositavam tachos de cobre fu-megantes com o caldo da cana. Implantado sobre ter-raço, recebeu o revestimento de lajotas cerâmicas e cobertura de telhas capa e canal”.Fonte: http://www.sitiosaofrancisco.org.br

Sítio Arqueológico

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Matéria-prima há muitos séculos, os indígenas dominavam o barro. Usavam ornamentadas urnas de cerâmi-ca nos seus cultos funerários com muitas deco-rações ao redor. A cerâmica encontrada no sítio é uma imitação da cultura indígena.

Aquedutos“para o sistema de captação era “necessário levar a água a uma grande altura, o que impõe a necessida-de de ir buscá-la muito longe e fazer para isso obras consideráveis...” Existia também a necessidade de controlar o fluxo, quando este se avoluma, para que se quebre a cana “na compressão suficiente para a extração de todo o caldo”. Talvez por este motivo encontramos vestígios de comporta em uma das canaletas, em direção ao forno. O reservatório, hoje arruinado, tinha a função de regularizar o forneci-mento, garantindo assim constância nos tempos de estiagem, consoante com as palavras da autora, ao afirmar que: “A água era levada em declividade moderada por meio de condutores de (...) alvenaria, geralmente elevados sobre arcos, conhecidos como aquedutos. Em alguns casos, devidos às condições topográficas especiais, (...) o tanque ficava situa-do a mais de um quilometro do engenho” (ibidem. 1990, p. 35,48,49).” http://www.sitiosaofrancisco.org.br

Cerâmica O bairro São Francisco foi o expoente da cerâmica. Toda estética fálica colocada nos cachimbos e nos cabos das panelas de barro é a marca da identida-de africana. Também era uma maneira dos negros afirmarem sua dignidade, pois ali os senhores co-miam e, de certa forma, a comida era uma oferen-da aos deuses africanos.

Grés fino é um tipo de cerâmica lubrificada, trazida pelos portugueses.

para a visitação, é aconselhável estar preparado para um dia de muito esforço, pois o percurso é de aproximadamente uma hora de subida e mais duas ho-ras para fotografar e admirar a beleza local. Apesar da caminhada considerada de grau médio, todos os esfor-ços são compensados quando se chega ao Sítio Arque-ológico. Essa é a descrição desse universo “utópico” assinada pela arqueóloga, que analisou cada pedaci-nho das remanescentes peças e ruínas do sítio.

Quando se fala em turismo na cidade de São Se-bastião, é imprescindível a visitação do sítio arqueo-lógico e o importante contato com os monitores do município. Tais profissionais capacitados conhecem os locais certos e oferecem instruções históricas e curiosidades sobre tudo, além de garantirem seguran-ça aos visitantes.

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descobrimento

Arquitetura

Uma viagem ao32 cidade&cultura

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Uma viagem ao

Tombamento na cidade

A área central corresponde ao sitio de ocupação inicial da ci-dade onde foram construídas as primeiras edificações da época

colonial. Por entre as ruas de pe-dras de costeira e óleo de baleia, casarios construídos com cal de conchas constituem o aspecto

arquitetônico do centro histórico. O município tem sete quarteirões e vários edifícios tombados isola-damente pelo Condephaat, desde 1969. Entre as construções mais significativas do centro, estão a Igreja Matriz, a Casa de Câmara a Cadeia e a Casa Esperança.

Localizada a 209 km de São Paulo, é um verdadeiro museu a céu aberto. Poucos lugares no Brasil reúnem acervo histórico, artístico e arquitetônico tão vas-to e valioso. Andar pela cidade é como passear por páginas de um livro de história.

Em São Sebastião, encontra-se a perfeita combinação de natureza e história, é o principal ingrediente da vocação turística da cidade mais antiga do litoral norte.

Órgãos oficiais:1937 – SPHAN (Serviço de

Patrimônio Histórico e Artís-tico Nacional), IBPC e IPHAN (Instituto do Patrimônio Histó-rico e Artístico Nacional);

1969 – CONDEPHAAT (Con-selho de Defesa do Patrimô-nio Histórico, Artístico, Arque-ológico e Turístico do Estado de São Paulo);

1993 - Divisão de Patrimô-nio Histórico-Cultural – PMSS

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Arquitetura

Igreja MatrizA capela era a sede do povoado,

ocupando a área urbana privilegia-da. Na sua frente, era deixado um adro para festas, reuniões e negó-cios, ao seu redor crescia um aglo-merado de moradias em escala hu-milde e irregular.

A primeira restauração aconte-ceu em 2000, que teve o objetivo de reparar a parte fisica do prédio, para manter a reconstituição e a valorização dos elementos que identificavam a antiga igreja.

Segundo Wagner Gomes Bor-nal, o trabalho de restauração da Igreja Matriz resgatou a história da construção do prédio, assim como a existência de ossadas de pessoas enterradas no século XVIII debaixo do piso da igreja. Com as escavações também foram encon-trados sinais do piso construído no século XIX e marcas na parede identificando antigas janelas. E foi justamente durante a reabertura de três janelas na capela mor, que haviam sido fechadas em reforma

anterior, que encontraram valiosas imagens sacras do século XVII. As peças são de terracota, pintadas, e representam o primeiro período da igreja. Das seis imagens encontra-das, quatro estão em bom estado de conservação e são passíveis de restauro. Uma delas, a de San-ta Luzia, datada 1652. As outras imagens são: uma Nossa Senhora com menino; um Santo Antônio e um santo “Bispo”, ainda desconhe-cido. Também foram encontrados fragmentos de um Cristo crucifica-

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do e de uma imagem de São Se-bastião. Essas imagens sacras, atualmente se encontram no Mu-seu de Arte Sacra.

Casa DóriaA casa da família Dória foi cons-

truída nos primeiros anos do século XX, sendo concluída em 1906. Ela-borada pelo seu proprietário “Nhô Dito Corrêa”, constitui exemplar da arquitetura de transição entre a tra-dição colonial, representada pela sua implantação, e a modernidade da virada do século, presente na sua ornamentação de fachada. Sua forma atual em porão alto foi con-cluída em três fases: a primeira é construção original em forma retan-gular sendo composta pelas salas da frente, salão lateral e quartos; a segunda, construída pouco tem-po após a primeira, é composta por sala de jantar e cozinha; a última etapa da construção é formada por banheiro e área de serviço. Surgia um novo tipo de residência. A im-plantação do recuo dos edifícios aos limites laterais, usado como entrada de serviço era desvaloriza-da socialmente e freqüentemente ocultada no exterior sob um pano falso de fachada, como a similar um prolongamento da sala de vi-sitas. A casa mistura diversas téc-nicas construtivas, como alvenaria de tijolos, tabiques de madeira e o tradicional pau-a-pique.

Em um período de estagnação econômica vivido pela cidade, a Casa Dória é um dos raros exem-plares de arquitetura do começo do século, no centro histórico, domina-do por casas singelas.

Casa das JanelasResidência térrea típica do século

XVIII, construída de pedra e cal des-taca-se no núcleo histórico de São Sebastião por sua amplitude e loca-lização privilegiada, no largo da Casa de Câmara e Cadeia. De implanta-ção colonial, as portas e janelas es-tão no alinhamento da rua. O quintal voltado para a praia marca a função de despejo desta no período.

Bens tombadosCentro Histórico: Igreja Matriz, Capela de São Gonçalo, Casa de Câmara e Cadeia, Praia Ho-tel, Residência à Praça do Fórum e 07 quarteirões tombados.

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Casa Dória

Câmara Municipal

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36 Cidade&Cultura

Arquitetura

Casa térrea de esquina ocu-pa uma face de quadra e outras duas parcialmente. Todos os vãos são em arco abatido com entabla-mento de emboço. Os caixilhos de vidro das janelas são de guilhoti-na. As portas da fachada foram fechadas com cimento imitando as esquadrias originais. A entrada foi invertida para o lado da praia, onde seria o quintal. Possui pouca ornamentação, apenas cimalha e cunhais em estuque.

Casa de Câmara e CadeiaEm 1636 São Sebastião, devido

ao desenvolvimento de seu povoa-

do, ascende à Vila ganhando auto-nomia político-administrativa sendo necessária a implantação de sua Casa de Câmara e Cadeia. A esta cabia legislar, administrar, policiar e punir, executando jurisdição so-bre caminhos, pontes, cessão de terras, ruas e praças, estipular a localização da Casa de Câmara e Cadeia e instalar o Pelourinho, se-guindo normas da legislação portu-guesa.

A Casa de Câmara e Cadeia acompanha as características da arquitetura civil do século XVIII, como a fachada simétrica. Sua construção apresenta etapas tí-

picas da técnica de alvenaria de pedra e cal, obtida da moagem de conchas. Guarda aspectos comuns a esse tipo de prédio público, na época, como a escadaria externa e telhados de quatro águas. As casas de Câmara da época geral-mente eram fruto de projeto de en-genheiros militares portugueses e exigiam técnica construtiva sólida e uma arquitetura imponente.

A Casa de Câmara e Cadeia de São Sebastião foi construída, pro-vavelmente, nas primeiras décadas do século XIX e transformou-se ra-pidamente no órgão mais importan-te, funcionando com órgão de cará-

Casa Esperança

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ter local. A eleição dos vereadores se fazia de forma indireta, onde os eleitores e candidatos deveriam ser escolhidos entre os homens maiores de 21 anos, proprietários de terras e escravos, excluindo-se os oficiais, mecânicos, judeus, ar-tesãos e comerciantes.

Praia HotelSobrado construído no século

XIX com ornamentação típica da virada do século, não comum em São Sebastião. Casarões com apa-rência portuguesa geralmente se-guiam padronização das Cartas Ré-gias ou das Posturas Municipais. A distribuição do casarão segue como exemplo da implantação por-tuguesa do século XVIII com salas nobres na frente, alcovas no meio e ala íntima nos fundos.

Construção em pedra e cal nos elementos estruturais, vedações de pau-a-pique nas paredes internas do andar superior e utilização de tijolos nos arcos das janelas, estrutura e empena da cobertura, estrutura do telhado em madeira. Possui deco-ração geométrica na fachada dife-renciando-se dos demais sobrados, marca um regionalismo definido en-contrado em Ubatuba e Parati.

Esse sobrado recebeu a denomi-nação de Praia Hotel em 1940.

Casa EsperançaTestemunha da prosperidade de

São Sebastião, a Casa Esperança possui a maioria dos aspectos ca-racterísticos da arquitetura civil e urbana do século XVIII. Sua cons-trução em pedra e cal apresenta fachada simétrica e ornamentação em pedra, seguia padronização por-tuguesa contida nas Cartas Régias

Arquitetura jesuíta No decorrer da história, a igreja, elemento norteador de uma so-

ciedade, produziu muitas características do mundo atual, desde o núcleo urbano com os jesuítas até a arquitetura religiosa, influen-ciando as edificações civis com suas técnicas construtivas e mate-riais. A tipologia da Igreja, erguida por Jesuítas, seguiam um padrão construtivo usado em todo o Brasil e, entre as duas edificações, havia uma torre sineira e um frontão triangular, caracterizando-se uma arquitetura religiosa. O interior da igreja era demarcado por um programa hierárquico, delimitando os fiéis e o clero por meio de uma plataforma no altar-mor.

e nas Posturas Municipais, onde as ruas eram definidas pelos so-brados e casas térreas, devendo os mesmos ocupar todo limite do terreno. Apresenta distribuição co-mum à época, onde a produção e uso da casa baseavam-se no traba-lho escravo. A residência da família era na parte superior do casarão, já que habitar casa térrea de chão batido caracterizava pobreza. Esse pavimento contava com três salões, era a ala nobre utilizados social-mente. O forro de gamela apresen-ta pinturas com paisagens cariocas como exemplo: a chegada da Famí-lia Real no Rio de Janeiro. Contava ainda as alcovas, sala de família, varanda, cozinha e serviços, onde ficavam os escravos. O pavimento inferior do sobrado era utilizado como senzala ou comércio.

A Casa Esperança ficou assim conhecida por volta de 1950, quan-do pertenceu a uma família de imi-grantes italianos que montou um comércio com essa denominação.

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Casa das Janelas

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38 Cidade&Cultura

Arquitetura

Antigo Grupo Escolar Henrique Botelho

Prédio construído por volta do século XIX, teve importante papel no desenvolvimento cultural do município, abrigando o Grupo Es-colar “Henrique Botelho”, a primei-ra escola pública do município. Foi neste espaço que se acentuou o envolvimento da comunidade nos

eventos promovidos pelo Grupo: festas, sessões literárias e até a criação de um centro de escotei-ros em 1917. A partir da década de 60 passou a abrigar o Ginásio. Construção presa aos padrões coloniais, como implantação nos limites do lote. Na construção do prédio, foram utilizadas três téc-nicas construtivas: a pedra e cal,

pau-a-pique e alvenaria de tijolos.A pedra e cal, utilizada nas pa-

redes externas, é a técnica utiliza-da desde os primeiros tempos de colônia no litoral brasileiro, onde há abundância dos materiais ne-cessários à sua composição, con-siste na alvenaria de pedra com argamassa de areia e cal obtida de mariscos triturados e queima-dos. O emboço para entablamento de portas e janelas foi feito com massa e elementos cerâmicos.

As divisórias internas, nas construções do século XVIII feitas em pau-a-pique, neste caso, são em estrutura de madeira com fe-chamentos de tijolos em arranjos inclinados. O pau-a-pique foi uti-lizado em uma das divisórias in-ternas, nos fundos (área menos valorizada da casa). Esta técnica, usada desde os primeiros anos de colônia, foi largamente utiliza-da na região, marcando o modo de viver do caiçara.

O uso do tijolo foi difundido a partir da segunda metade do século XIX. O prédio passou por grande reforma na década de 50 do século XX, descaracteri-zando-o em grande parte. Entre 1994 e 2002, foram realizadas obras para recuperá-lo; os ele-mentos originais foram recupera-dos através de pesquisa com ma-terial iconográfico, decupagens e prospecções arqueológicas.

Antigo CinemaConstrução de pedra e cal, tí-

pica do período colonial em que o comércio portuário exigia a exis-tência de armazéns nas vilas de marinha. Foi construído no sécu-lo XIX e, a partir de 1920, sofreu uma grande reforma, adquirindo

Antigo Prédio da EscolaHenrique Botelho

Antigo Cinema

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fachada comum a prédios dedi-cados a espetáculos do início do século XX, porém com linhas sim-plificadas condizentes com a si-tuação econômica de São Sebas-tião no período. Funcionou como cinema mudo e, mais tarde, fala-do, até a década de 1960.

Capela de São GonçaloConstruída no século XVII, acre-

dita-se que a capela seja fruto de ato de devoção de leigos. Foram responsáveis pela sua administra-ção os carmelitas do Guaecá, quan-do os franciscanos do Bairro São Francisco introduziram a devoção à Nossa Senhora do Carmo e a Paró-quia de São Sebastião.

Constitui importante exemplar da arquitetura religiosa da época colonial, com técnica construtiva em pedra assentada com barro e cal e piso original em terra batida.

Em 1969, o CONDEPHAAT tombou a capela e seu precário estado de con-servação fez com que, em 1978, fos-sem iniciadas obras de restauração.

Em 1981 foi instalado no prédio o Museu de Arte Sacra. Seguido de novo período de degradação, em 1996, foram realizadas obras para devolver a integridade estrutural, bem como reformular o Museu. A doação de novas peças, a recupe-ração da porta do Passo e o novo projeto museológico e museográ-fico, com apoio do IPHAN, tornou possível a revitalização do acervo.

Sobrado da Praça do Coreto

Construção de pedra e cal, típi-ca dos núcleos urbanos do litoral no séc. XVIII, é um exemplar bem simples. Serviu ao programa de uso colonial: comércio no térreo e

residência no pavimento superior.Em 1996 o imóvel foi reforma-

do e aí instalado o Arquivo Histó-rico Municipal.

“Todas as casas tinham enormes quintais que davam para a rua de trás. Os quintais eram geralmente com cerca de taquara e as vizinhas conversavam pela cerca”

“Eu tinha um periquito que fi-

cava num jirau na cozinha. Ma-mãe tinha o costume de lavar a casa. A casa em que morávamos era de assoalho de tábuas na sala e nos quartos. Só a área da frente era de ladrilho hidráulico e a cozinha e o banheiro eram de piso cimentado.”

Neide Palumbo – Livro: “São Se-bastião do meu tempo de menina”

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Uma das maneiras mais inte-ressantes de conhecer a cultura e a história de uma cidade é ter o privilégio de ver seus artesanatos. O artesanato caiçara é diversifi-cado com trabalhos de cerâmica, bambu, taboa, caxeta e tecidos. No caso de São Sebastião, a técni-ca artesanal mais reconhecida é a de modelagem indígena chamada “acordelamento”, utilizada no sé-culo passado pela paneleira Adélia Barsotti, e é valorizada até os dias de hoje pelos artesãos da região.

Mãos habilidosasAdélia Barsotti da Ressurreição

nasceu em 1917, em São Sebas-

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barroA arte do

Artesanato

tião, num tempo de prosperidade econômica da cidade. Dona Adé-lia foi a maior mestra na arte da panela de barro do bairro de São Francisco. No ano de 1901, che-gou a ter 100 paneleiras no bair-ro. Em 1958, era só Dona Adélia, que veio a falecer em outubro 2003, aos 86 anos de idade. Foi mãe de 11 filhos, sendo que ne-nhum quis ser o sucessor de seu talento. Mas com o apoio das ce-ramistas da região, Dona Adélia conseguiu preservar às futuras gerações a técnica antes usada somente pelos índios.

Dona Adélia da Ressurreição, uma criatura de 30 anos. Traba-

lhava em casa com o barro que adquire de um japonês, o qual, aliás, está contribuindo sobrema-neira para a completa liquidação da cerâmica de São Francisco, pois não quer mais fornecer ma-terial para esse fim, alegando precisar do mesmo para a cons-trução de casas.

A fim de conservar o barro úmi-do, dona Adélia o embrulha em folha de bananeira e o seu lugar de trabalho é o quintal da pobre ca-sinha, nas proximidades da cozinha. Seu método de trabalho é o seguin-te: toma primeiramente a parte su-perior de uma cuscuzeira e a coloca de cabeça para baixo. Sobre a base

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que hoje desapareceu. Resistindo a tudo, ela prossegue no seu tra-balho. Por isso, dizemos que se não houver qualquer providência por parte do governo, a cerâmica de São Sebastião acabará por de-saparecer e com ela se acabarão os últimos vestígios de pura arte popular, que talvez tenha nascido com os primitivos habitantes de nossa terra.(Andrade Filho, Oswald de. “A ce-râmica utilitária de São Sebas-tião”. A Gazeta. São Paulo, 29 de novembro de 1958)

A arte que estava com os dias contados ganhou novos adeptos, como a ceramista Maria Aparecida Ivanov, mais conhecida por Cida, paulistana que mora há 15 anos na cidade. Conheceu Dona Adélia

no projeto “Arte que vale”, criado pelo Sebrae, que tinha o intuito de resgatar antigos artesãos. Esse encontro rendeu vários frutos, pois Dona Adélia era, na época, a única responsável pela habilido-sa tarefa de transformar barro em utensílios e realizar diversos tra-balhos de artesanato para nossa contemplação.

Cida, explica que todo trabalho é feito artesanalmente. Primei-ramente o barro é comprado das olarias em Paraibuna, geralmente são nas margens de rios ou ribei-rões que oferecem o melhor barro, o mais maleável. Retirado o bar-ro bruto, passa por um processo de limpeza no qual são retirados os grãos maiores para que sejam amassados manualmente. Em se-guida, inicia o processo de con-

O barrO e OS índiOS

O barro e os índios - há mui-tos séculos, os indígenas do-minam muito bem o trabalho delicado com o barro. Usavam ornamentadas urnas de cerâmi-ca nos seus cultos funerários, inclusive algumas de tamanho considerável, destinadas a guar-dar ossos humanos.

CuriOSidadeO barro é um elemento natural. Ele funciona como um pára raio

para captar energia. E para doar também. O barro tem uma função terapêutica, como um elemento precioso, que vem sendo usado para tratamento de pessoas com depressão. Em São Sebastião, foi pré-aprovado pela Petrobrás o projeto “A terapêutica da natureza através do barro”, implantando em set/2009 na APAE, com 129 alunos.

deste, põe uma pequena tábua qua-drada que irá servir de suporte para o barro. Esse processo é adotado para facilitar o trabalho, pois, fazen-do às vezes de cavalete, a tábua gira como um torno. A ceramista não costuma sentar-se. Fica de có-coras, com a saia presa à altura do joelho. Depois de colocar pedaços de barro, ainda em forma de bola, sobre a pequena tábua, bate-os até que tomem a forma de base para a peça que propõe a fazer.

Terminada essa parte começa a levantar as paredes do pote, já dando a forma que pretende impri-mir à peça. É notável a habilidade que tem. Às vezes, nota-se que a peça quer mudar de forma. Dona Adélia, então, corrige-a, com segu-rança e rapidez. Observam-se agili-dade e elegância nos seus gestos. A qualidade rústica que imprime ao trabalho, como em todas as ocasiões em que a cerâmica é feita à mão, é muito rica. Nunca a peça é morta, sem interesse; sempre é viva e cada uma tem um defeito, sua qualidade, sua perso-nalidade, havendo uma constante impressa pela mão da artista po-pular. As peças vão sendo feitas; às vezes, é um cuscuzeiro que sai das mãos de dona Adélia, outras é um “terno”, três panelas encai-xadas umas nas outras, formando um todo, e também brilha com sua forma característica.

Para cozinhar as peças, a cera-mista emprega um forno de boa qualidade. Colocando lenha na parte inferior, a separa das peças com um quadriculado de tijolo. A princípio, as queima com fumaça e fogo brando. A seguir, passa a queimá-las com fogo forte.

Dona Adélia é a única remanes-cente de um grupo de ceramistas

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Artesanato

CuriosidAdePara encontrar o barro, é preciso atravessar uma camada de ve-getação, outra de raízes, outra camada arenosa, e aí sim, vem o barro que pode ser de três a quatro tipos, que são próprios para a fabricação de utensílios.

Tipos de ArgilA Argila branca – normalmente utilizada para pintura.Argila cinza – é forte e ótima para escultura.Argila amarela misturada com a argila vermelha – própria para a confecção da panela de barro.

fecção da panela, através de uma técnica de modelagem. O acaba-mento da panela é feito em eixos rolados ou manualmente. No sis-tema manual, o artesão parte da base da vasilha e vai levantando o barro, construindo desta maneira as paredes da peça. Se for por ei-xos é o torno, rodando sobre uma

pedra, movido pelos pés, que per-mite maior simetria na forma que se quer dar ao objeto. A partir daí, a peça seca e vai ao forno para modificar sua consistência, que perde a plasticidade e torna-se mais resistente.

Segundo Cida, “a queima em um forno a lenha é muito linda, pois as labaredas no final da mes-ma entram e “lambem” as peças deixando-as com marcas. No en-tanto, o início da queima tem que ser feito com madeira “boa”, ou seja, madeira que tenha uma com-bustão lenta, pois necessitamos de calor para acabar de secar as peças e depois do esquente que leva em torno de 4 a 6 horas, de-pendendo sempre do tamanho do forno. Como madeira, pode ser utilizado o eucalipto de refloresta-mento, com combustão rápida e que produz as tais labaredas que lambem. Existe também a possi-bilidade de se trabalhar com ma-deira de poda e madeira recolhida das ruas (móveis que as pessoas jogam), mas para isso é neces-sário um lugar para armazenar, pois só se pode queimar quando a madeira estiver seca. Porém, se a queima do barro for no forno a gás, as peças são “pasteuriza-das” e saem todas iguais e muito bonitas. São 4 horas de chama lenta no maçarico para o esquen-

te com o forno aberto e depois o forno fechado, mais quatro horas para o cozimento do barro a fim de transformá-lo

em cerâmica.” Todas as peças, independen-

te do forno utilizado, são cozidas de fora para dentro e a chama rá-pida faz com que elas estourem e não cozinhem. O acabamento da peça é feito com “coité” que

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é uma cabaça de árvore e “coroa-nha ou coipeba”, que é conhecida como semente olho de boi. De-pois do cozimento, a etapa final: a peça é polida e está pronta para ser usada.

Uma forma de conferir o ta-lento de Cida e admirar as suas belas peças artesanais que pro-duz, é conhecer seu Ateliê loca-lizado na entrada do Bairro de São Francisco.

Jeitinho Caiçara Em sua casa no bairro de São

Francisco, Neide da Rocha Pa-lumbo, fez questão de relembrar um acontecimento que marcou profundamente sua vida “nossa família vivia no cinema, o cine-ma da cidade era do papai”. Para ela, que tem 67 anos, ser uma artista é trabalhar no resgate da cultura caiçara. Foi professora de formação nas praias de Paúba e Maresias, escreveu o livro “São Sebastião do meu tempo de meni-na”, que narra sua infância desde dois anos de idade, gravou um CD com 16 causos caiçaras e, além disso tudo, produz objetos artesa-nais tipicamente brasileiros. São bonecos de pano e bordados de cantigas, artefatos coloridos en-sinados pela sua avó, peças que remetem à nossa infância. Neide

se declara uma mulher realizada e considera mais do que tudo essa cidade mágica.

“Dona Filhinha Orselli dava au-las de bordado. Nas primeiras aulas ela ensinava ponto haste, ponto cadeia... depois, quando já estávamos mais práticas, vinha o ponto sombra, ponto cheio e re-chilieu, que era o mais difícil... As mães e as avós faziam bonecas de pano para a gente brincar. Mamãe me ensinou a costurar na máquina e eu fazia muitos vestidinhos de boneca e até roupas para mim.”Neide Palumbo – Livro: “São Sebastião do meu tempo de menina”

ArgilAFormada pela alteração de certas rochas, a argila pode ser en-

contrada próxima de rios, muitas vezes formando barrancos nas margens. Apresenta-se nas cores branca e vermelha. No solo a fração de argila, componente comum das lamas ou barro, como são conhecidos popularmente, é constituída de minerais desse grupo das argilas aos quais agregam-se hidróxidos coloidais floculados e diversos outros componentes cristalinos ou amorfos.Fonte: Wikipédia

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Artes

Perfil de um gênio sebastianense Reinaldo Vasques abriu a por-

ta do seu local de trabalho e per-mitiu que nós registrássemos as suas criações, seus personagens, a sua face mística e seu olhar enigmático. Vasques é um jovem com muitas façanhas. A começar com seu currículo excepcional. Formado em artes plásticas, em 1990, e pós-graduação em 1998, prefere se manter fiel às tradi-ções familiares, usando o tecido como fonte de inspiração para

Com muitas

muitaspaisagens,criações...

suas telas, que já foram muitas vezes premiadas, com Meda-lha de Ouro e de Prata, Menção Honrosa e vários troféus Hours Concours. Reinaldo emprega uma técnica mista de óleo e te-cidos em seus trabalhos e com um dinamismo surpreendente, sempre propõe novas “leituras” em cada exposição. Outro feito foi manter sua obra acima das classificações de estilo, além de ter dado os ombros para os mo-dismos. São homens e mulheres

nus, figuras sombrias e insólitas, animais imaginários de um univer-so fantástico. Reinaldo está sem-pre se reinventando, pois também é carnavalesco da Escola de Sam-ba Unidos da Topolândia, em São Sebastião. Desde 1990, no Espaço Cultural Adriana Vasques Fernan-des, está situada sua galeria que fica no antigo casarão Casa Espe-rança, propriedade de sua família desde 1788, que constitui um dos mais valiosos patrimônios arquite-tônicos de São Sebastião.

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Artes

Uma viagem fotográfica pelo tempo e o vento

O fotógrafo Edivaldo Nascimen-to, 59 anos, é um homem com vo-cabulário desabusado e envolvente contador de histórias. Ele lembra com detalhes, nostálgico, das len-das caiçaras que escutava desde os tempos em que a cidade ainda não contava com ruas e calçadas e nem tinha movimento de trânsito. Rimos muito também ao recordar das cantigas típicas cantadas nos bailes: “os bichinhos do mar vem na beira sambar... os bichinhos do mar vêm na beira sambar... uma lagosta sapeca vinha tocando rebe-ca... o siri todo frajola vinha tocan-do viola... os bichinhos do mar... vem na beira sambar”. É esse mes-mo Edivaldo que nos abençoa com seu acervo fotográfico e tem como inspiração temas voltados para natureza e o resgate da memória

e cultura sebastianense. A grande dádiva de Edivaldo Nascimento foi a de conceder a qualquer um de nós, cidadãos atentos, o direito de enxergar a cidade através dos seus olhos. Olhar a cidade pelos olhos do pesquisador e fotógrafo Edival-do Nascimento é sentir a sua mes-ma alegria e dor de cada esquina que passamos. Seu legado é, para todos os sebastianenses, uma lem-brança viva daquilo que de mais puro e verdadeiro houve na evolu-ção da história de São Sebastião.

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Folclore

festeiraO conjunto de festas, cantigas, danças e folguedos em

geral, nascidos no seio das classes populares, é conhe-cido como arte folclórica. A Carta do Folclore Brasileiro, estabelecida por ocasião do I Congresso Brasileiro de Folclore em 1951, assinala que constitui fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preser-vadas pela tradição popular. Entendida a Carta, podemos dizer que cada sociedade possui seus próprios elemen-tos culturais. Em nossa visita a São Sebastião, vimos

Uma cidade

que a cidade vem preservando, de geração a geração, algumas dessas manifestações populares. Foi o que nos garantiu Reinaldo Joaquim de Santana, mais conhecido como Contrapino, “existe um núcleo de cultura tradicional regional que mantém grupos culturais já ativos e serve também para resgatar aqueles esquecidos pela popula-ção”. Assim, as características da arte folclórica sebas-tianense apresentam-se em forma de: Congada, Capoei-ra Angolana, Caiapó, Canoa de Voga e Carnaval.

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Na onda do berimbau

Caiapó

CongadaA Festa da Congada de São Benedito é realizada em São Sebastião, anualmente, entre os dias primeiro e oito de outubro. Os vereadores aprovaram, em 2009, o Projeto de Lei 118/09, que institui a Semana do Congadeiro. O objetivo é resgatar e propagar o folclo-re e a história da Congada que teve sua origem em décadas passadas no bairro São Francisco.

Congada de São BeneditoCongos ou Congadas são folguedos que comu-mente aparecem na forma de cortejos, onde os participantes cantam e dançam, em festas reli-giosas ou profanas e homenageiam, de forma especial, São Benedito (padroeiro dos negros). Para os escravos que vieram para o território brasileiro no século XVII e XVIII, era de suma importância comemorar o dia de São Benedito, pois, pela identificação com a cor do santo, os negros poderiam manifestar sua fé. Há congos com grande quantidade de caixas, com chapéus de fitas, com manejos de bastões e espadas (al-guns grupos exibem exemplares dos Exércitos dos tempos do Império e início da República). Em São Sebastião, os grupos de congos se ves-tem de azul (representa o filho que se rebelou) e vermelho (representa o poder), possui um rei, e seu filho que se rebela contra o pai, depois de um tempo se arrepende e pede perdão para o rei, além de ter a vassalagem envolvendo parte dramática, com embaixadas e lutas. É uma das mais completas congadas do Litoral Norte.

Outro bom exemplo de arte folclórica trazida pelos escravos é a capoeira angolana. A capoeira angolana destaca-se por ter muita ginga e pouca movimenta-ção. Ao som dos instrumentos, os participantes se limitam a procurar a defesa para atacar o outro na hora certa. O mestre Domingos, praticante de capoei-ra há mais de 20 anos, que foi o precursor da capoei-ra angolana em São Sebastião, comenta que a capo-eira foi criada pelos escravos como defesa pessoal. Como não podiam praticar luta na senzala, sempre quando chegavam seus senhores, os negros faziam um movimento como se estivessem dançando para não suspeitarem da armadilha que os esperavam.

Toda aula de capoeira é dada em uma roda, na qual dois oponentes se enfrentam ao som de berim-bau, atabaque e pandeiro. Existe também o canto, entoado pelos outros participantes da roda, que tam-bém vão para o centro em troca sucessiva. “Vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou... a man-teiga não é minha, a manteiga do senhor... vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou... a mantei-ga não é minha, a manteiga é de Iaiá... vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou... a manteiga não é minha , é da filha do senhor”, a música sem-pre em sintonia com os movimentos, diz o Mestre Domingos. A Capoeira é a única modalidade de luta que se faz acompanhada por instrumentos musicais. Curiosidade – alguns participantes batem três vezes as palmas das mãos no chão em sinal de pedir a ben-ção para incorporar a religião em seus movimentos.

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A prefeitura de São Sebastião trabalha no resgate de muitos movimentos culturais, atualmente esperam cele-brar o tombamento do Caiapó (também de origem afri-cana), do bairro Pontal da Cruz. Segundo relato de Con-trapino, no período colonial, os negros se vestiam como índios e dançavam, para expressar sua revolta contra os senhores portugueses, que os aprisionavam.

“Caiapós ou Caiapó - são denominações com que o caiapó aparece entre nós. Folguedo com temática india-nista, calcada, sobretudo, na visão de um “índio ideali-zado”, acontece durante o ano todo nos diversos ciclos culturais, em especial no carnaval. Em festas dos san-tos padroeiros e de devoção popular, segue em cortejo pelas ruas das cidades, com paradas para dramatiza-ções esquemáticas.” site http://www.brazilsite.com.br/folclore

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a origem da festa carnavalesca está coberta de mis-térios e polêmicas. alguns historiados acreditam que ela teria surgido nos rituais agrários na Grécia anti-ga. Dez mil anos antes de Cristo, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com os rostos mascara-dos e os corpos pintados para espantar demônios da má colheita. Já para outros, seu início teria acontecido no antigo Egito ou na civilização Greco-Romana. No en-tanto, os primeiros relatos sobre a festa surgem nos primeiros séculos da Era Cristã, no período da Quares-ma, pois o carnaval é propriamente a noite antes da quarta-feira de cinzas.

O carnaval de São Sebastião se destaca pelos bai-les populares com suas marchinhas, os blocos nas ruas da praia e as quatro escolas de samba que desfi-lam tradicionalmente no domingo de carnaval. O carna-val de São Sebastião tem um samba de altíssimo nível que se profissionalizou. atualmente, atrai centenas de embarcações no canal de São Sebastião e milhares de pessoas na Praia do arrastão, onde ocorre a saída e a chegada dos barcos.

No Brasil, o carnaval foi trazido por influência dos colonizado-res portugueses, vindos da Ilha da Madeira, açores e Cabo Verde, que trouxeram a brincadeira de loucas correrias, mela-mela de farinha, água com limão, no ano de 1723, surgindo depois a batalha de confetes e serpentinas.

“Havia blocos que desfilavam nas ruas, com uma bandeira na frente em que as pessoas iam colocando dinheiro. Tinha corta-jaca, que era um homem que ia dançando e cantando versos, tinha caiapó e a dança da fita, que vinha de Ilhabe-la. No mês de janeiro, para terror das crianças pequenas, começavam os mascarados. Os mascarados eram os mo-leques que andavam em grandes grupos, vestidos com rou-pas velhas e tapavam a cabeça com um pano onde faziam buracos para os olhos e a boca. Eles usavam um cabo de vassoura ou um pedaço de pau e ameaçavam as crianças. Se a gente estava na rua brincando e avistava os masca-rados, saíamos correndo de medo. Era divertido... só para eles. Toda noite era a mesma coisa até chegar o carnaval.”Fonte: Livro – “São Sebastião do meu tempo de menina” – Neide Palumbo

50 Cidade&Cultura

Folclore

Advento do transporte

Canarval

a intenção da Secretaria de Turismo é que a Canoa de Voga seja resgatada para garantir a cultura tradi-cional da região.

a importância da Canoa de Voga pode ser destaca-da por uma razão principal, a maior parte da produção agrícola e da cachaça era transportada por esse tipo de embarcação. a canoa era impulsionada por vários remadores, movida por uma vela. Chegava demorar uma semana para ir e voltar de Santos.

“a população sebastianense, até a década de 30, se utilizou principalmente da via marítima como meio de transporte, tanto de mercadorias como de pesso-as. O transporte através de canoas é uma tradição no município, herança da cultura indígena, que foi sendo aprimorada com a chegada dos portugueses no sécu-lo XVI. Elas foram aos poucos sofrendo modificações de acordo com a necessidade dos caiçaras. No início eram simples, utilizavam-se apenas do remo, mais tar-de, devido à crise econômica pela qual passava São Sebastião, a população passou a viver principalmente da pesca artesanal e do transporte de mercadorias para Santos, de onde traziam o querosene. Surgiram então as canoas de voga, largas, compridas, talhadas em um só tronco, movidas à vela. após a construção e funcionamento do porto nas décadas de 30/40, o transporte foi sendo aperfeiçoado, com a utilização de barcos a vapor. Paralelamente ao transporte feito por mar, haviam as trilhas, também utilizadas pelos índios para caça, pesca e conquista de território. Entre as mais utilizadas estavam a do Rio Grande e do Ribeirão do Itu, em Boiçucanga. a partir do sécu-lo XVII, as antigas trilhas indígenas foram ocupadas por tropas, permitindo a circulação de mercadorias. http://www.saosebastiao.com.br/historia/transportes.htm

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A natureza como cenário

Meio Ambiente

Dona de uma vasta extensão territorial, São Sebastião oferece inúmeras possibilidades de roteiros, especialmente na densidade de cantinhos e sofisticação da região onde se concentram os mais de 30 bairros, localidades que se revelam em manifestações culturais, artísticas e de inesquecível biodiversidade ambiental e espelha a imponência de sua serra onde se escondem trilhas ecológicas e grandiosas cachoeiras.

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Meio Ambiente

Localizado no litoral norte do Estado de São Paulo, São Sebastião está entre a Serra do mar e o Oceano Atlântico. Com 108 Km de costa e clima tropical úmido, temperatu-ras entre 18º e 35º C, possibilita que suas praias sejam bem aproveitadas durante o ano todo. Da Praia da Ense-ada à Boracéia a orla sebastianense tem mais do que praias sensacionais e “points” badalados. Poucas areias do Brasil reúnem uma fauna e flora tão diversa.

Dominado principalmente pela atuação da massa Tropical atlântica, é quente e chuvoso. A pluviosidade média anual varia entre 1.500 a 2.000 mm. No verão, a massa Tropical Atlântica avança sobre as regiões costeiras. O encontro dessa massa com as escarpas planálticas (Serra da Borborema, Chapada Diamanti-na, Serra do mar e Serra da mantiqueira) provoca um fenômeno conhecido como chuvas orográficas ou de relevo: ao encontrar uma barreira, o ar úmido se eleva e o vapor d’água condensa. O resultado é a elevada precipitação registrada nessas regiões.

Caracteriza-se por apresentar invernos secos e verões chuvosos. A pluviosidade média anual situa-se em torno dos 1.500 mm. No verão, ele é dominado pela massa Equatorial Continental e pela massa Tropical Atlântica. O calor do continen-te aquece as bases dessas massas de ar, provo-cando um movimento ascencional da atmosfera e favorecendo a instabilidade e a ocorrência de pancadas de chuvas (convectivas). No inverno, a massa Equatorial recua, limitando a sua esfera de influência à Amazônia. A massa Polar atlânti-ca avança e se divide em dois ramos. O primeiro deles penetra pelo Pantanal em território brasilei-ro causando ondas de frio no Centro-Oeste e, as vezes se estende até o norte provocando a “fria-gem”. O segundo avança pela calha do Rio Para-ná, provocando geadas ocasionais no Estado de São Paulo. O avanço da massa de ar polar provoca um fenômeno conhecido como frente fria: o ar frio desloca a massa Tropical Atlântica e permanece estacionário, causando declínios acentuados na temperatura. O encontro de duas massas de ar di-ferentes provoca as chuvas frontais. Os planaltos e serras do sudeste costumam apresentar médias térmicas menores que o conjunto da área abran-gida pelo Clima Tropical devido a altitude. muitos autores utilizam o termo Tropical de Altitude para designar o clima dessa região.Fonte: orbita.starmedia.com/geoplanetbr/climabr.html

Clima Litorâneo Úmido

Clima Tropical

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MangueA música popularizada por Chico Science e Nação

Zumbi, nos ensina um pouco sobre a fauna encontrada nos mangues.

Os Manguezais são ecossistemas de transição en-tre os ambientes terrestres e marinhos, característicos das regiões tropicais e subtropicais e muito encontra-dos no Litoral Norte de São Paulo.

A vegetação é constituída de lenhosas (angiosper-mas) e micro e macro algas (criptógramas) adaptadas à flutuação de salinidade e que se caracterizam por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com pouco oxigênio.

Os manguezais têm funções tais como a purificação de água. Também são bases de cadeias alimentares estuarinas e marinhas, recursos de flora e fauna, além de oferecerem turismo e recreação.

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Meio Ambiente

Com 115 mil hectares e envolvendo quinze municí-pios de São Paulo e Baixada Santista, O Parque Esta-dual da Serra do Mar possui a maior área continua de Mata Atlântica preservada do Brasil. Entretanto, gran-de parte de sua mata é secundária e não tem fauna de grande porte devido à caça e corte de palmito.

O parque é dividido nos núcleos Caraguatatuba, Cubatão, Curucutu, Cunha-Indaiá, Picinguaba, Santa Virginia, São Bernardo do Campo e São Sebastião.

O pouco que restou da Mata Atlântica está hoje pre-servado em parques, reservas e estações ecológicas.

O Parque Estadual da Serra do Mar foi criado em 1977 pelo Governador Franco Montoro e tornou-se a maior área protegida da Mata Atlântica.

O Litoral Norte compreende quase oitenta por cento do território constituído pelos quatro municípios: Uba-tuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela (Parque Estadual da Ilhabela, o PEIB).

O Núcleo de São Sebastião fica à 157 Km da Capi-tal, e possui uma área de 40100 hectares.

A flora predominante na região são as Myrtáceas, Ru-biáceas e Melastamatáceas. Há também espécies da flora em extinção, como as leguminosas, palmesceas, bromeliceas e orquidiceas e palmeces (palmito Juçara).

Uma característica marcante do Parque é a variação de altitude, desde o nível do mar até a cota 1600m, e a variação latitudinal, de 23°13’ a 24°30’ S aproximada-mente. O que promove a existência de variados tipos de vegetação e flora existentes na extensão do Parque.

A Serra

Abrangia, originariamente, extensas áreas da fachada Atlântica, estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul . Na Região Sudeste, penetrava para o interior, cobrindo vastas áreas do ES, SP, RJ e MG. Esse ecossistema brasileiro foi quase que totalmente alterado em função do povoamento e da ação humana. No Centro-Sul sua destruição deveu-se a vários fatores, como exploração madeireira, extra-ção de lenha para o consumo doméstico e produção de carvão vegetal. No século XIX e principalmente no século XX, as matas nativas foram cedendo lugar às edificações humanas e à expansão da agropecuária, com destaque para a lavoura do café. Quase nada sobrou da mata original.Fonte: Apostila Questão Ambiental - COC

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Já foram registrados neste bioma 1523 espécies de anfíbios, répteis, aves e mamíferos. As espécies endê-micas de mamíferos da Mata Atlântica representam 20% da fauna de mamíferos do Parque. Das 704 espé-cies de vertebrados registradas, 70 (10%) estão com-preendidas como espécies ameaçadas de extinção. No Núcleo São Sebastião, duas serpentes, Liophis atraven-ter (procedentes da Estação Ecológica de Boracéia, a aproximadamente 900 m de altitude) e Bothrops fonse-cai, são consideradas ameaçadas de extinção.

De todas as aves ameaçadas, merecem destaque o macuco, jaó-do-sul, jacutinga, papagaio-da-cara-roxa, papagaio-chauá, sabiá-cica e apuim-de-cauda-vermelha, pararu, pichochó e cigarra-verdadeira, gavião-pombo-grande, gavião-pomba, tauató-pintado, sabiá-pimenta, choquinha-cinzenta e caneleirinho-de-chapéu-preto.

Foram registradas 1265 espécies de plantas vascu-lares na área do Parque. Diante de toda essa biodiver-sidade, há estudos que registram todas as formações, flora e fauna da região no intuito de conservar a área e preservar o meio ambiente.

A Floresta Sempre-verde do Planalto é uma floresta perenifólia que se inicia na crista da Serra do Mar e estende-se para o interior do Planalto Atlântico. A Floresta da Crista da Serra do Mar também pe-renifólia, está presente no topo dos morros, tam-bém conhecida por matinha nebular ou de mata de neblina, denominação justificada em função da ne-blina presente em muitas horas por dia, em quase todos os dias do ano, mesmo na estação seca. A Floresta da Encosta da Serra do Mar que está presente na encosta da Serra do Mar e nos mor-ros e serrinhas isolados, que surgem na planície litorânea ou no oceano. A Floresta Alta do Litoral forma-se nas planícies lito-râneas, que se desenvolvem de modo descontínuo, subordinadas às reentrâncias do fronte serrano.No litoral norte, os esporões serranos, os peque-nos maciços e os morros litorâneos isolados es-tão intercalados por pequenas planícies e ensea-das, que formam praias de bolso.O Campo Montano, caracterizado pela vegetação arbustiva ou campestre, desenvolve-se nos topos de morros da Serra do Mar, em função das con-dições de solo raso, da maior variação diária da temperatura e umidade, da presença constante de neblina e da exposição ao vento. A Vegetação com influência marinha que compreen-de uma faixa entre o oceano e a encosta. (Dunas)A Vegetação com influência flúvio-marinha (Man-guezal) encontra-se nas desembocaduras dos rios, onde se associa a solo limoso, movediço e pouco arejado, com a alta salinidade decorrente das flutuações diárias das marés.

Fauna

Ave de grande porte, maior espécie do gênero. Sua coloração dorsal é pardo-marrom-escura, um pouco enegrecida na cabeça, no baixo dorso mais acanelado, tendo as penas pretas e ferrugem; possui uma voz baixa e profunda.

Sabemos que existem várias espécies em extinção, mas é importante ressaltar que te-mos muitas que não estão nesse estágio e que ainda podemos ter esperanças de ter esse patrimônio, que é a Ser-ra do Mar, preservado e abrigado.

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a 2 km de Maresias, conta com serviço de hotéis, camping, restaurantes, bares e mercado. a 1 km da rodovia, a praia mantém o ar tranqüilo de uma vila de pescadores, ótima opção para quem procura sossego e segurança. Paúba é uma praia pequena de águas calmas e límpidas, boa para o banho e própria para esportes náuticos. O costão rochoso que a separa da famosa praia de Maresias é convi-dativo para um bom mergulho. ainda conserva uma típica vila de pescadores. Fonte: www.casadapraia.com.br/sao-sebastiao/praia-de-pauba

É uma das praias mais movimentadas da Costa Nor-te. Com águas calmas e areias grossas e soltas, ela oferece segurança para toda a família, principalmente para as crianças. Na orla da praia lindas árvores som-breiam as barracas que oferecem opções de alimenta-ção ao visitante. Um pequeno Iate Clube movimenta o local durante a temporada. Cercada pela Mata atlântica e localizada em bairro residencial, a praia das Cigarras não pode ser vista da rodovia SP-55. Boa para a práti-ca de caminhada, caiaque, natação, vôlei e futebol de areia, frescobol, entre outros. Na praia encontram-se diversos ambulantes, que oferecem alimentação para os visitantes do local. Distante 9 km do centro.Fonte: www.portaldesaosebastiao.com.br/index

Praia das Cigarras

Paúba

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Meio Ambiente

As praiasInúmeras praias ao longo dessa costa fazem de todos, pessoas mais felizes. São inúmeras paisagens de cair o queixo e desenrolar a língua. a cada curva, um espanto! Maravilhoso recorte e o inconfundível azul do mar transformam a viagem em chegada.

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Praia de areias claras, fofas e mar calmo, voltado para o Canal de São Sebastião. É uma das praias preferidas daqueles que residem na cidade, pela sua proximidade do Centro (cerca de 4Km) e pela infra-estrutura que oferece. É muito utilizada para esportes náuticos, além de ser segura para o ba-nho de mar de crianças. Oferece vista para outras praias do município e também para a cidade de Ilhabela. A praia recebe o nome de Arrastão como herança da tradicional pesca realizada no local. Fonte: Prefeitura de São Sebastião

Praia do Arrastão

Calhetas

Praia da Enseada

Pequena península, localizada entre os bairros de Toque-Toque Grande e Toque-Toque Pequeno. Pouco conhecida, ela tem acesso apenas para pedestres. A entrada é fei-ta por um condomínio fechado, às margens da rodovia. A descida pode ser feita pela entrada principal, por uma portaria, ou ainda por uma trilha que tem como referência uma grande mangueira, ao lado da rodovia. Da estrada até a praia, são aproximadamente 10 minutos de caminhada, porém, o contato com a natureza e a linda vista para o mar, recompensam o esforço da descida. Com vegetação nativa, areia clara e mar pouco agitado, a praia possui uma beleza exuberante. Em frente é possível avistar ainda a Ilha de Toque Toque Grande o que torna a paisagem ain-da mais paradisíaca. Para completar o cenário tem ainda uma cachoeira com queda de mais ou menos 40 metros. Cercada de mata atlântica, é um passeio que vale a pena para quem não se preocupa muito com borrachudos e mu-tucas. O caminho para a cachoeira é o mesmo da praia.Continue a pé após ter passado a portaria, quando estiver descendo a estrada particular você vai ver uma casa tipo guarita, entre num bosque arborizado a direita da estrada e ande uns 5 minutos até a cachoeira. Fontes: www.portaldesaosebastiao.com.br

É a primeira praia da Costa Norte de São Sebastião. Lo-calizada há aproximadamente 12 km do Centro, também favorece a pesca de mariscos e a pesca de arrasto. Pas-sando por uma pequena trilha, a Enseada ainda dá aces-so à praia das Gaivotas. Praia plana e de areia escura. Fonte: www.litoralvirtual.com.br/ssebastiao/enseada.htm

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Portal da OlariaDe pequena extensão e com areias claras e fo-fas, a praia do Portal da Olaria é estritamente residencial. Com águas rasas e mansas, a praia é mais freqüentada por famílias tradicionais do local. Boa para a prática de caiaque, caminhada, entre outros. Logo na entrada do bairro encon-tra-se o Clube do local, com diversas opções de entretenimento e alimentação para seus associa-dos e visitantes. Distante 4km do centro.Fonte: www.portaldesaosebastiao.com.br/index

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Praia do Gordo (Secreta)abriga o instituto de Biologia Marinha da Universida-de da Usp.

Praia do Centro

Guaecá

a calçada à beira da praia é repleta de bares e restau-rantes, além de abrigar o centro histórico da cidade.

alterna dias de águas calmas e de mar extremamente agitado. Não possui infra-estrutura para o turista, apenas algumas barracas na areia. Dependendo do swell, Guae-cá apresentas ondas em toda sua extensão, sendo que o canto sul é o mais radical. Em toda sua extensão, belas casa e condomínios residenciais compõem a paisagem. Fonte: www.saosebastiaosp.com.br/praias/guaeca/guaeca.asp

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Meio Ambiente

a 2 km do centro,local onde fica o Balneário dos Tra-balhadores, ideal para quem quer “invadir a praia” com família ou grandes grupos: tem banheiro, ba-res, churrasqueiras, estacionamentos e quadras poliesportivas. É o único local onde é permitido o estacionamento de ônibus de turismo de um dia, que chegam ao local sobretudo aos domingos. Fonte: www.saosebastiao.com.br/praias

Praia Porto Grande

possui areias finas, mar pouco agitado e sua orla é de-corada por diversas árvores, que proporcionam uma vista exuberante e transmitem um clima aconchegan-te. É um reduto calmo e tranquilo de pescadores e de artesãos. Boa para a prática de frescobol, natação, pesca, entre outros. Localizada em um bairro residen-cial, a praia de São Francisco possui em sua extensão alguns bares e casas de aluguel. No local está situado também a Colônia de pesca do Município, onde são vendidos frutos do mar fresquinhos caçados pelos pescadores. Distante 6 km do centro.Fonte: www.portaldesaosebastiao.com.br/index

Praia de São Francisco

SantiagoUm recanto residencial privilegiado pela natureza, belíssimas casas de veraneio se misturam em meio a muito verde da mata nativa. ao longe avista-se as Ilhas de Toque Toque pequeno, Montão de Trigo e al-catrazes e, bem próximos à praia, parcéis proporcio-nam aos adeptos do mergulho um visual submarino deslumbrante. praia de águas cristalinas, areia fina e branca emoldurada por abricoeiros. Santiago é in-dicada aos que curtem a tranqüilidade e a natureza. Fonte: www.vtn.com.br/cidades

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dizem que seu nome refere-se a uma pequena ilha em frente, cujo formato lembra o animal marinho. de longa extensão, areia dura e águas calmas, a praia da Baleia abriga vários condomínios residenciais e casas de veraneio. Local muito familiar, quase sem comércio nem “agitos” noturnos. A prática de espor-tes como vôlei, futebol e corridas pela orla são ca-racterísticas do local. No canto sul da praia, onde as ondas são mais fortes, concentram-se os surfistas. Está distante do centro 52km.Fonte: www.guiasaosebastiao.com.br/guia_praias.asp

Praia da Baleia

JuquehyPraia extensa, de areia branca e águas muito claras. Ao norte, onde deságua o rio de mesmo nome, as águas são mais calmas. Por ser bastante distante de São Sebas-tião, Juquehy desenvolveu uma boa infra-estrutura local de comércio e serviços para o veranista. É uma praia com ambiente calmo, familiar. O belo cenário é completado por casas de alto padrão dentro ou fora de condomínios, de frente para a praia ou no sopé da serra adjacente. Fonte: www.casadapraia.com.br/sao-sebastiao/praia-de-juquehy

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voltada para o canal, é pequena e estreita. O acesso de terra passa por áreas particulares. Com a Praia Grande e Pitangueiras, forma larga enseada entre as pontas do Baleeiro e do Recife. Fonte: www.guiassebastiao.com.br

Praia do Timbó

O que separa essas duas praias é um rio que desemboca numa pequena ilha. Cambu-ri é badalada, frequentada por artistas, pes-soas de expressão no cenário paulista e jo-vens moldados e bronzeados. O mar é bravo e os surfistas disputam um lugar nas ondas. Conta com posto permanente de salva-vidas do Corpo de Bombeiros. Possui campings, hotéis, pousadas, mercado e lojas de arte-sanato caiçara. durante o verão, a noite de Camburi é agitada pelos bares e pousadas que promovem eventos para todos os gos-tos. É um local exótico para ser desvendado com calma, etapa por etapa.Fonte: www.litoralvirtual.com.br/ssebastiao/camburi.htm

Cambury e Camburyzinho

A 2,5 km do centro, possui mar calmo, com larga faixa de areia é mais freqüentada por famílias. Possui um pequeno centro comercial e de serviços com opções de hospedagem, alimentação e várias garagens náuti-cas. Indicada para caminhada e esportes náuticos Fonte: www.portaldesaosebastiao.com.br/index

Pontal da Cruz

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a origem dos colonizadores europeus que chegaram na praia de Toque Toque, não sabe se eram portugueses ou franceses. O certo é que conhecemos vários nativos de olho azul, que se dizem descendentes de franceses. Estas terras foram aproveitadas economicamente como fazenda de cana de açúcar, trazendo os escra-vos negros, e com eles a senzala. ao fim do século XIX, o Toque Toque estava transformada em uma fa-zenda de rica produção de café e banana, pertencen-te a dois irmãos da família Bitencourt.Fonte: http://www.praiadetoquetoque.com.br

Toque-Toque Grande

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Meio Ambiente

Em tupi-guarani Boiçucanga significa “cobra de cabeça grande” e recebeu este nome pela semelhança da formação montanhosa em seu canto esquerdo. Esta serra an-tigamente dividia o território dos índios tupinambás e tupiniquins. Em formato de ferradura, está estrategicamente localizada entre as praias de Maresias e Cambury. antes da construção da rodoviaBR 101, era apenas um pequeno vilarejo de caiça-ras de difícil acesso. Transformou-se, depois, em uma das praias com a maior infra-estrutura de São Sebastião, contando com centro comercial, campings, pousadas, hotéis, restaurantes, supermercado, shopping center, pronto-socorro e cartório. Em seu canto esquerdo desemboca o rio Boiçucanga, onde aportam alguns barcos, a maioria de pescadores, que ainda seguem a tradição local. Neste lado o mar é um pouco mais calmo. Boiçucanga é uma das poucas praias doBrasil onde o sol se põe no mar. Isto acontece no canto direito da praia, em um cenário maravilhoso que inclui as ilhas Montão de Trigo, dos Gatos e das Couves. Dela saem o acesso para a Praia Brava, trilhas pela Mata atlântica e cachoeiras, como a Ribeirão do Itu.

Boiçucanga

Praia da JuréiaDe areias claras a águas cristalinas, a praia da Ju-réia é um verdadeiro paraíso ecológico, onde a Mata atlântica é muito preservada. Belíssimas casas de veraneio se misturam a esse cenário exuberante. O horizonte é desenhado pelas ilhas Montão de Tri-go e alcatrazes que parecem se erguer das águas azuis que banham a praia de areia fina e clara. a pequena praia é um lindo cartão postal. No canto norte da praia, um lago de águas escuras abriga diversas aves na época da migração. Boa para a prática de caminhada, frescobol, natação, mergu-lho e indicada para surfe pois, é praia de tombo com ondas violentas. Voltada para a tranquilidade e o prazer de estar em meio à natureza, a pequena infra-estrutura da praia da Juréia agrada aos mais exigentes. Distante do centro 58km.Fonte: www.portaldesaosebastiao.com.br

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Brava de Boiçucangaassim é chamada pelos surfistas e aventureiros esta pe-quena praia com ondas fortes e perigosas, entre Boiçu-canga e Maresias, a 29 quilômetros do Centro de São Sebastião. Com diversidade de espécies da fauna e flora que comprovam o seu estágio de preservação abrigando espécies ameaçadas em extinção, na trilha da Brava de Boiçucanga é possível identificar um corredor ecológico de importância biológica, segundo informações da dire-ção do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) de São Sebastião. Visto como um local que tem essa vocação turística, a trilha é única e ainda não foi descaracterizada. Lá existem cachoeiras e pode ser vista como um santuá-rio da fauna, flora e para o turismo sustentável. Fonte: Luciane Teixeira

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é a meca dos surfistas do litoral paulista. Fo-ram esses aventureiros sedentos de uma dose extra de adrenalina no sangue que há cerca de 20 anos descobriram o “point”, na época acessível por uma estrada de terra em precárias condições. a praia tem fortes arrebentações provocadas por um parcel. Hoje, Maresias é considerada a versão paulista da carioca Copacabana. Está no eixo mais agi-tado da região que compreende ainda as praias de Boiçucanga, Camburi e Juqueí. Possui uma das melhores infra-estrutura turística de São Sebastião com bares, restaurantes, hotéis, pousadas, campings e danceteria. Fonte: www.oyo.com.br/praias/sao-sebastiao/maresias/

Maresias

a 13 km do centro. Estritamente residencial, é pouco frequentada e é um dos últimos núcleos de pesca artesanal no município. a entrada para a praia fica em frente à grande cachoeira na beira da estrada. Fonte: www.saosebastiao.com.br/praias

Toque-Toque Pequeno

Fica localizada no canal de São Sebastião, bem em frente a Ilhabela. Praia pequena e de estrei-ta faixa de areia. Águas muito calmas e límpidas.Limitadas por dois morros encobertos pela Mata atlântica, e com algumas residências de veraneio. O acesso por terra passa em meio a essas pro-priedades particulares. Uma abordagem via marí-tima é com certeza um belo passeio.Fonte: http:www.vtn.com.br/cidades

Praia das Pitangueiras

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Praia do Engenhopequena de areia grossa e batida, está localizada entres as praias da Juréia e Barra do Una. Seu entorno está ocupado por condomínios com casas de alto padrão. praia tranquila com uma bela paisagem e um ambiente bastante familiar, ideal para quem quer fugir do agito. Favorece a prática de surfe e bodyboarding. Recebeu este nome porque abrigava um antigo engenho, onde hoje há um condomínio. Fonte: www.oyo.com.br/praias/sao-sebastiao/praia-do-engenho

62 km do centro, Boracéia é a primeira praia de São Sebastião, divisa com o município de Ber-tioga pela rodovia Rio-Santos, sentido sul. praia extensa de areias compactas e mar calmo e transparente. Na região se encontra a reserva in-dígena do Rio Silveiras. possui estrutura de servi-ços com hotéis, bares e restaurantes. Indica para banho, caminhada e atividades náuticas.

Além de suas belíssimas praias, São Sebastião con-ta com Ilhas e Cachoeiras da mais bela ordem.Arquipélago de Alcatrazes, Ilha das Couves, As Ilhas, Ilha dos Gatos, Ilha do Montão de Trigo e ilha de Toque-Toque. Todas elas com acesso de barco e al-gumas até remando. para quem gosta de água doce, as dicas são as ca-choeiras. As mais conhecidas e de fácil acesso são: Cachoeira de Boiçucanga, Cachoeira de Toque-Toque, Cachoeira de Cambury e Cachoeira de Maresias.

Praia de Boracéia

A 44 km do centro, Barra do Sahy também é uma das preferidas pelos descolados. A praia tranquila tem um recanto especial: a Igreja de Nossa Se-nhora Santana, perto do rio e que, junto à ponte de madeira, completam um dos mais bucólicos ce-nários do Litoral Norte. é pequena, porém de rara beleza, atraindo turistas pelo belo visual. possui piscina natural com altos rochedos. Fonte: /www.saosebastiao.com.br/praias/barradosahy

Barra do Sahy

64 Cidade&Cultura

Meio Ambiente

Praia DesertaA apenas 1,5 km do centro de São Sebastião, esta praia residencial possui areias claras e mar manso. A praia é ideal para ciclismo, caminhada, caiaque, entre outras atividades. Essa praia oferece vista para Ilhabela, é pedregosa e tem areias claras. Fonte: www.praiasecia.com.br/informacao

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entre Juquehy e Barra do Sahy encontra-se a Praia Pre-ta. De pequena extensão, tem areias escuras e águas transparentes e calmas. O verde quase selvagem e um pequeno riacho dão um toque paradisíaco à praia. Sua localização proporciona ótimos passeios de barco, servindo inclusive de abrigo seguro às embarcações.Fonte: www.oyo.com.br/praias/sao-sebastiao/praia-preta

Praia Pretatem areias brancas e águas mansas, excelente para banho. É uma das melhores opções para quem está na região cen-tral da cidade. espalhados pela praia vários coqueiros anões embelezam sua orla. Na Praia Grande está localizado o Bal-neário dos trabalhadores, com infra-estrutura para receber diversos grupos de visitantes. Possui quadras poliesportivas, estacionamento, vestiários com banho, bar e lanchonete. Atualmente o local passa por reformas, pois ele será trans-formado em um parque temático. Conhecida como a praia da Aventura tem pistas de skate e bicicross para competi-ções; área de arvorismo com nove metros de altura; mega tirolesa (a maior do Brasil, com 400 metros de comprimento entre a montanha e o mar); arvorismo mirim; parede de es-calada; quadras de futebol, vôlei e tênis; playground; sala de enfermaria; refeitório; sala de treinamento; sala para Corpo de Bombeiros; quiosques para famílias; píer para atracação de barcos de passeio; quatro quiosques para restaurantes e praça de alimentação. Distante 2 km do centro. Fonte: www.portaldesaosebastiao.com.br

Praia Grande

área de proteção ambiental, Barequeçaba possui um aspecto de praia selvagem e é perfeita para esportes náuticos, como mergulho,natação, caia-que, barco à vela, windsurf. Barequeçaba não é praia de tombo, possuindo um mar tranquilo, mui-to seguro para adultos e especialmente crianças.Fonte: www.saosebastiao.com.br/praias/barequecaba/index.htm

Barequeçaba

Com boa estrutura náutica, abrigando cinco marinas e um iate clube, é o melhor ponto de partida para passeios de barco e também para esportes náuti-cos. Ao lado do Rio Una, de águas escuras e mansas, a praia é longa e inclinada. As ondas são fortes nos costões desertos e a maré é mansa na restinga ao pé do morro. Apenas duas vielas no canto esquerdo dão acesso à praia. De lá partem os passeios de bar-co para as ilhas próximas, boas para mergulho. Fonte: www.litoralvirtual.com.br/ssebastiao/una.htm

Barra do Una

Page 66: São Sebastião/SP

Gastronomia

O desejo... Quando se fala em ir ao litoral, o que vem primeiro em

nossas mentes são as praias e depois a fome. E São Sebastião sabe que, após muitas horas de sol e mar, nossos estômagos ficam vorazes. De norte a sul, encon-tramos todos os tipos de pratos, dos mais sofisticados aos mais simples. Um exemplo disso é o conhecido “PF” – prato feito. Mas não é qualquer “PF”. Nesse prato, ge-

ralmente encontraremos deliciosos peixes pescados pela manhã, acompanhado de um bom arroz e feijão com uma bela salada de alface e tomate. Vale a pena sentar e sa-borear a simplicidade do caiçara à mesa. Mas, se quiser ir a fundo na tradição caiçara mesmo, então a pedida é o Azul Marinho, prato típico que, feito corretamente, deixará seu aparelho digestivo pra lá de satisfeito.

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O desejo...

Azul Marinho

“Antes de tudo é preciso compreender que a comida caiçara é bastante simples, praticamente sem gordura e só leva temperos naturais... Três são os principais in-gredientes: o peixe, a farinha-da-terra e a banana, que tem de ser colhida verde. Os melhores peixes para o

Azul Marinho

prato são a garoupa, o badejo, o olho-de-boi, a cavala e o melhor de todos: o bijupirá. As melhores bananas são a nanica e, preferencialmente, a São Tomé. Quan-to à farinha-da-terra, existem vários tipos delas que são fabricadas no arquipélago de Ilhabela e no Litoral Norte. As melhores são aquelas fabricadas artesanal-mente, em pequenos tráficos localizados em diversas comunidades tradicionais caiçaras das quatro cidades da região. A melhor farinha-da-terra é aquela em que o “tirador de farinha” aproveita a goma proveniente da decantação do caldo resultante da prensagem da mandioca ralada. Para preparar o Azul-marinho não há medidas certas, pois elas variam de acordo com o tipo de ingredientes, a prática e o gosto de cada um. O procedimento, entretanto, é primordial para apurar o sabor final do prato. Para começar, o peixe deve ser cortado em postas que não devem ser muito finas. As bananas verdes serão cozidas com as cascas e, por isso, devem ser pré-lavadas. São as cascas que darão a coloração que dá nome ao prato. Começa-se ferven-do a água em uma panela, de preferência de ferro. Assim que a água começar a ferver, colocamos o sal a gosto, e, logo em seguida, as bananas, os tomates em pedacinhos, cebolas cortadas em rodelas, o coentro, e a alfavaca, tudo cru; deixando cozinhar em fogo alto por cerca de cinco minutos. Enquanto as bananas e os temperos cozinham, cabe uma explicação importante; existem várias espécies de coentro. O mais utilizado é conhecido por coentro-cachorro. Na falta da alfava-ca – uma planta hortense cultivada nos jardins devido seu aroma e beleza das folhas -, pode ser utilizado o manjericão. Passado os cinco minutos de cozimento, coloca-se as postas de peixe na panela. O ponto do peixe é sentido com o toque do garfo. Estando a carne devidamente cozida, o garfo penetrará com facilidade. Uma vez estando pronto, retira-se um pouco do caldo e a banana, que será descascada. A banana será uti-lizada para fazer o pirão que acompanha o peixe. Para fazer o pirão, coloca-se a banana já descascada em uma outra panela. Após espremer a banana com um garfo, adiciona-se a farinha-da-terra e o caldo que foi separado do cozimento do peixe. Esse tipo de pirão deve ser bem ralo, ou seja, preparado com bastante caldo. Para quem aprecia pimenta, recomenda-se a malagueta, espora-de-galo, pimenta-botão ou alguma outra pimenta-de-cheiro. Acompanha uma cachacinha e arroz branco.”Fonte: Livro Uma viagem pela história do arquipélago de Ilhabela – Nivaldo Simões

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Gastronomia

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Uma história de conquistas

Lina Borges foi a pioneira da alta gastronomia da praia de Cambury. Começou vendendo torta integral de banana na praia (1982) e melado de cana para hoje se transformar na proprietária do Restaurante Framboesa, que nasceu há 16 anos. A filha garço-nete e a mãe chefe de cozinha tiveram a ideia de ter o próprio negócio. Junta-ram o que tinham e compraram a casa que hoje é o Restaurante. A proposta era única, algo que não houvesse em Cambury. Uma doceria com saladas e quiches. Não queriam concorrer com nenhum estabelecimento. O Framboe-sa nasceu como um fast food, moda na época, em um ambiente familiar, rústico, praiano, mas sempre atento aos detalhes. Tudo cuidado com mui-

to carinho. Toalhas bordadas na mesa, flores e uma decoração delicada. O atendimento, como hoje, era feito por meninas. O restaurante sempre teve esse tom feminino. O cuidado se estendia à cozinha. A chefe e mãe Lina Borges, sempre exigente com os ingredientes, escolhia os mais frescos e vistosos que o lugar lhe oferecia. Quando ia a São Paulo, percor-ria o Mercado Municipal, Casa Flora e os empórios. Trazia de lá produtos sofisticados e novidades, como

queijos, azeites, cereais e frutas secas. Tudo isso aliado à atenção e ao caris-ma com os clientes da filha Ceres. O reconhecimento do público aconteceu. A procura foi tão grande que houve a necessidade do Framboesa fechar para reestruturação. O primeiro restaurante foi demolido e o Framboesa renasceu com um projeto rústico e, ao mesmo tempo, moderno. Tijolos de demolição, madeira, cimento queimado e ladrilhos hidráulicos, além de um novo cardápio cheio de sabores e novidades.

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Pouca gente sabe, mas o sorvete Rochinha já con-quistou a certificação da comunidade judaica pela BDK Brasil, que regulamenta o consumo de alimen-tos segundo as normas religiosas. A entidade libe-rou o consumo de quatro sabores: manga, melan-cia, açaí com guaraná e cupuaçu.

entre os sabores exóticos do Rochinha está o de amarena, que é uma espécie do gênero Prunus (gênero botânico que inclui as ameixeiras, cerejei-ras, pessegueiros, damascos e amendoeiras). As suas flores são usualmente brancas ou cor-de-rosa, com cinco pétalas e cinco sépalas. Todos os fru-tos caracterizam-se por uma drupa com um caroço relativamente grande. As folhas são simples e, ge-ralmente, lanceoladas, inteiras e com margem do limbo serrada. Nativa de grande parte da europa e do sudoeste asiático, seu fruto é ácido, sendo útil principalmente para fins culinários. A cor da amare-na varia entre o vermelho e o preto, desenvolvendo-se em ramos mais curtos. As amarenas requerem condições de cultivo semelhantes às das peras, ou seja, preferem um solo rico, escorrido e úmido, apesar de necessitarem de mais nitrogênio e água que as cerejas doces. Também sofrem menos de pragas e doenças que as cerejas doces, apesar de os pássaros poderem consumir uma parte consi-derável dos frutos. Durante o verão, os frutos de-vem ser protegidos por redes. Ao serem colhidas, devem ser cortadas da árvore, para evitar partir os ramos ao puxar. Fonte: Wikipédia.

Depois de um almoço cuidadosamente escolhi-do e após satisfazer todos os desejos, nada como cometer o pecado da gula e não resistir a uma so-bremesa de fino trato como o sorvete Rochinha. Lá você encontrar diversos sabores de frutas que são preparados de forma artesanal. As frutas são lava-das, descascadas, cortadas manualmente, peneira-das e até cozidas. O coco, que é um dos sabores mais procurados, é ralado e cozido com açúcar e leite em grandes tachos, num processo semelhante ao que ocorre em cozinhas de fazendas mineiras. Num ambiente ao lado da cozinha, as frutas são processadas e misturadas aos outros ingredientes que compõem o sorvete, como água e açúcar. em seguida, o líquido é distribuído em formas, onde o palito é inserido. Cinco minutos depois, os picolés estão prontos para serem embalados.

José Lopes de Barros, ex-mestre-de-obras, adqui-riu da família Rocha (família tradicional do litoral norte) a sorveteria Rochinha, em 1992, e, até os dias de hoje, toca os negócios, elaborando sempre novos sabores. Da família Rocha recebeu apenas um caderninho de orientações, escrito a mão, que mal dava pra ler. Contudo, Barros teve que apren-der a fazer o picolé na prática. Mas quando domi-nou a técnica, resolveu modernizar todos os equi-pamentos. Daí a história mudou de figura. Rapida-mente seus picolés invadiram as praias do litoral paulista. Depois de tornar a marca conhecida, su-biu a serra levando os sabores do Rochinha para as padarias e docerias da capital paulista. Quase 30 anos depois de ser criado pela família Rocha, a sorveteria produz 60.000 picolés que saem da ge-ladeira da fábrica, em São Sebastião e abastecem 301 pontos de venda na capital e outros 145 no estado. Há apenas uma loja própria em São Paulo e outras 11 no litoral (São Sebastião, Camburi, Maresias, Boiçucanga, Juquehy, Peruíbe, Santos, Guarujá e Praia Grande). Além disso, mais de 200 carrinhos, na alta temporada, rodam as praias do litoral paulista vendendo os picolés da marca. e dentre tantas opções de sorvetes existentes, nós recomendamos o Rochinha por seus sabores exó-ticos e suas receitas naturais.

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Água na boca...

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Muito mais que

Esportes

Em uma área na Rua da Praia, centro de São Sebastião, é possível encontrar uma Are-na Cross (sem dúvida um dos mais importantes cam-peonatos do motociclismo na-cional), construída em 2009 para receber o Campeonato Brasileiro de MotoCross, dis-putado em junho. É uma pista de pouca velocidade e muitos pulos. Nesse circuito radical, encontramos o piloto Ney Bro-to, 40 anos, fazendo algumas manobras acrobáticas, com sua moto de 250 cilindradas. Nascido na praia de Maresias, pratica o esporte há 20 anos, desde que ganhou uma moto de 80 cc de seu pai.

Mountain Cross

Explorar todo o município de São Sebastião não é uma tarefa fácil. São mais de 100 km lineares de costa, sendo que uma metade do município é cercada pela Mata Atlântica e a outra metade é aberta para o oceano. São Sebastião é assim. O local possui qualidades ímpares quanto aos seus atrativos turísticos e oferece, dentre as mais de 30 praias, variados esportes. Trilhas, pesca, surf, mountain cross, mountain bike e skate são exemplos do espírito aventureiro dessa cidade. Radicais ou não, vale a pena desfrutar desse panorama próprio para o lazer.

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O maior “pico” de São Sebastião é, sobretudo, entre dezembro e fevereiro na alta temporada. Para a gale-ra do surf, as ondas mais fortes e tubulares ficam no canto sul. As praias mais procuradas pelos aficionados do esporte que passam o dia nas suas pranchas voadoras, são Camburi, Paúba, Praia da Baleia, Juquehy, Praia Brava, Boissucanga e principalmente Maresias.

O surf foi introduzido no Havaí pelo rei polinésio Tahito. Em 1778, quando o navegador James Cook des-cobriu o arquipélago, afirmou que já existiam surfistas na ilha. A primeira vez que o mundo ouviu falar do surf foi depois das Olimpíadas de 1912, em Estocolmo. No Brasil, a primeira prancha brasileira foi feita em 1938, por paulistas, a partir da matéria de uma revista americana, que dava as medidas e o tipo de madeira a serem usados. Atualmente, a Associação dos Surfistas Profissionais (ASP) é quem regulamenta e traça as regras do esporte. Os maiores surfistas do mundo disputam anualmente o WCT (World Championship Tour) que consagra o campeão mundial. Fonte: www.oradical.uol.com.br

Adrenalina no Surf

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Esportes

A costa de São Sebastião é um paraíso para bikers profis-sionais e amadores. O praticante que quiser aproveitar a natureza de perto pode passear nas matas entre as praias. Já quem pretende treinar em um pico mais forte com maior dificuldade, deve tentar pedalar nas subidas e descidas da Rodovia Rio-Santos, tendo o visual das praias ao fundo.

A canoagem é praticada, principalmente nos rios Una e Juquehy, o percurso pode chegar até às ilhas do Gato e Montão de Trigo. Mesmo fora dos rios, com mar calmo, é recomendável remar nas águas oceânicas.

na pré-história, os homens utilizavam pequenas embarcações como transporte. Em 1936, passou a ser considerada como esporte nas Olimpíadas de Berlim. É composta pelas modalidades: veloci-dade (com percursos de 500m e 1000m), Slalom (com desvios de obstáculos), Oceânica, Marato-na (percurso de 15km), Caiaque-pólo e Freestyle (com manobras).

São Sebastião é um dos lugares mais encantadores para mergulhar, pelas águas transparentes e pela riqueza de sua fauna marinha. Os pontos mais procurados ficam no arqui-pélago de Alcatrazes, situado na costa em direção a Bois-sucanga. O arquipélago possui águas surpreendentemente claras, diversas espécies de pássaros que sobrevoam o lugar e um mundo aquático inesquecível que pode ser ob-servado pelo o mergulhador. Outra ilha importante para os mergulhadores é a do Montão do Trigo, que fica aproxima-damente a seis milhas da costa, com visibilidade média de 10 metros de profundidade. Seu diferencial se dá nas tocas e grutas formadas pelas pedras, na parte de costa rochosa da ilha, onde podem ser encontrados siris, piabas, lagostas, badejos e caranguejos. As praias de Baraqueçaba e Guae-cá são ótimas para mergulhadores iniciantes.

O percurso a pé pode ter itinerário indefinido, com variados graus de dificuldade, pois as trilhas passam por praias ou matas. Para a alegria dos apreciadores do ecoturismo, São Sebastião também possui trilhas monitoradas como: Trilhas da Praia Brava, do Sítio Ar-queológico, da Cachoeira do Ribeirão de Itu, da Pedra Lisa, do Poço do Macaco, além das Trilhas Cachoeira da Serpente, Poço do Mico, Cachoeira da Garganta Branca e Estrada da Limeira. O praticante tem a oportunida-de de explorar os mistérios da natureza observando a fauna e a flora local, fugindo de roteiros tradicionais e numa sequência interminável de belas paisagens.

O cascading é o rappel dentro d’água, praticado em ca-choeiras belíssimas, tanto no entorno, quanto dentro da área. É indispensável o acompanhamento de mo-nitores acostumados com a região. Pode ser feito na Cachoeira das Calhetas, em Maresias. São 90 metros de descida com vista para o mar, terminando em uma trilha que leva à praia. A aventura dura quatro horas.

Mergulho

Trilhas e caminhadas

Cascading

Mountain Bike

Canoagem

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Para todas as modalidades esportivas acima des-critas, se você não for profissional, a cidade dis-põe de várias operadoras que darão todos os equi-pamentos e monitores para a prática.

Competição de aventura para iniciantes, organizada pela Eco-Venture, realizada em 2009 na praia de Boiçu-canga. Envolveu todo o litoral norte, com um circuito que engloba trekking, cascandig, water trekking, moutainbi-kes, cortando o Parque Estadual da Serra do Mar. Mais de 50 atletas participaram do evento. A prova foi muito disputada, alternando muitas vezes a liderança a cada bateria. Participaram dessa competição as equipes Es-peculunca, EquiPESM, Templo 2, Templo OPS, Tuiuiú Bra-sil, Adrena Rock, Corpo e Água, Ad Sumus, Livremente, Rio Vivo Tênis Clube, vendedores da etapa.

Eco-Radical

Uma linda paisagem do Parque Estadual da Serra do Mar, endossada com o canto dos pássaros e mirantes naturais que permitem a observação e apreciação de cachoeiras e riachos de águas transparentes. Esse é o cenário do praticante de Off Road em São Sebastião. Seu objetivo é explorar escondidas estradinhas, nas quais somente veí-culos 4x4 podem passar. Pertinho da agitação da cidade de São Paulo, ao lado da nascente do Rio Tietê, existe uma trilha deserta no meio da Mata Atlântica. No começo, a pai-sagem é repleta de eucaliptos e pastagens, porém, depois de 15 km rodados, as árvores da mata atlântica começam a fechar a estrada e a trilha passa por entre vales, ofere-cendo vistas belíssimas. Em alguns momentos, é preciso ter cuidado, pois há várias descidas e subidas fortes, com muitas pedras soltas e erosões consideráveis. Durante o percurso é possível avistar uma enorme ponte de concreto abandonada, além de onças perambulando na região da serra. O trajeto que inicia em Salesópolis, termina na praia da Enseada, em São Sebastião.

Off Road

Na praia de Boissucanga, na praça Pôr do Sol, encontra-se uma pista profissional para a práti-ca do skate. Muitos esportistas do Brasil inteiro reúnem-se ali para curtir, além da pista, uma paisagem magnífica da praia. A pista já é consi-derada a melhor do Brasil, com uma estrutura de 7mil metros quadrados. O skate é um desporto inventado na Califórnia que consiste em deslizar sobre o solo e obstá-culos equilibrando-se numa prancha, chamada shape, dotada de quatro pequenas rodas e dois eixos chamados de “trucks”. Com o skate, exe-cutam-se manobras, com baixos a altos graus de dificuldade. No Brasil, o praticante de skate recebe o nome de skatista. Para os viciados em skate, existe uma variação de modalidade no Brasil, o street, que surgiu no final da década de 70, que consiste no skatista manobrar seu skate nos obstáculos encontrados nas ruas da cidade, como monumentos, bancos, corrimões, escadas, muretas, rampas, palcos, buracos, barrancos e paredes. Já o Banks, outra modalidade, permite que crianças, jovens e adultos adeptos de stre-et, vertical, mini-ramp, longboard e downhill pra-tiquem suas manobras nas dezenas de pistas espelhadas pelo Brasil. Fonte: Wikipedia

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Pesca

Tanto mar,tanto mar...

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A pesca, que sempre foi e sempre será uma ati-vidade típica caiçara, não é mais destinada só para pescadores à procura de relaxamento. Implantado em São Sebastião há mais de 9 anos, a Cooperpescass (Cooperativa de pesca de São Sebastião) reafirma seu potencial e mostra a importância de parceiros como o Governo do Estado e o SEBRAE, que resultaram no surgimento da cooperativa. O objetivo da cooperativa é vender por um preço camarada tanto no atacado como no varejo, sendo seu carro chefe o camarão sete

barbas e no verão podem contar com a lula e o pei-xe. Começaram com 21 pessoas (quantidade mínima para formar uma cooperativa) e, atualmente, são 80 embarcações cooperadas de São Sebastião e Ilhabela. “poderíamos agregar somente cooperados de São Se-bastião, mas como trabalhamos no mar, entendemos que não existe um dono do mar, todo mundo ajuda o outro. Existe uma cooperação entre todas as embar-cações no mar” argumenta Raphael Cliquet Luciano, diretor administrativo da Cooperativa.

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Há vestígios da existência de pesca em lugares ar-queológicos do período Paleolítico, há cerca de 50 mil anos atrás, sendo a pesca, juntamente com a caça, uma das primeiras profissões do homem. No Sul dos continentes Africano e Europeu, há pin-turas rupestres datadas de há 25000 anos atrás representando peixes e cenas de pesca. Depósi-tos de conchas e de restos de ossos – conhecidos por “kitchen middens” encontrados no litoral um pouco por todo o mundo, usados pelos arqueó-logos para identificar locais de assentamento de populações nos primeiros dias da civilização, re-velam a utilização de bivalves para a alimentação. Biologia Marinha 3º Ano – 2º Sem, FCMA- Universi-dade do Algarve, Manoel Afonso Dias

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Vida de caiçara

uma vida integrada à

natureza76 Cidade&Cultura

De lua a lua, esse povo leva vida simples e singela, mas de riqueza sem igual. Um povo que, há gerações, vive har-moniosamente com a natureza. O caiçara é dono de sabe-doria secular, é um verdadeiro elo entre homem e natureza.

Oriundos da miscigenação entre indígenas, coloni-zadores europeus e negros, os caiçaras incorporaram

tradições e costumes ligados a esses povos, adaptan-do-os num modo de vida singular baseado na pesca, agricultura de subsistência, artesanato e extrativismo vegetal, desenvolvendo um conhecimento aprofundado sobre os ambientes em que vivem, além de tradições folclóricas e um vocabulário único.

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A troco de banana: preço baixoAcabosse o que era doce: terminouAmolante: vagarosoAntonte: dois dias antesAperrear: não deixar fazer direitoArria: coloca no chãoBabau: acabouBocaina: horizonteBurburinho: confusãoCala boca: admiração, espantoCaniço: vara de pescarChio de peito: asmaCoça: surraCodó: pedaço de praia pequenoCoisinha: substitui o nome esquecido naquele momentoConsertar o peixe: limpar o peixeCurriola: um bando de pessoasDe marca maió: muito grandeDeixestá: você vai ver como é que ficaDesacorçoado: não ter motivaçãoDor nas cadeira: dor nos quadrisEscambo: trocaEscárnio: pouco casoEsculhambar: xingar, chamar a atenção, advertirEscorar: amparar árvore caídaEstais tão gabosa: estás muito bonitaEstrada de rodagem: ruas dos dias atuais (onde trafegam carros)Foi pro beleléu: já foi embora, morreuFuzilando: relampejandoGuardanapo: pano de pratoLambedô: xaropeMarmandado: desobedienteMe aprecatei: preveniNaco: pedaçoOrdenado: salárioPicape: vitrolaPrenha: grávidaQuebrante: mal olhadoRachei o bico: ri muitoReparar: olhar para criticarSapeca: assanhadaSubaco: sovacoTarrafa: espécie de rede de pescaTemperar o café: adoçar o caféTo em pandareco: estou malTrês antonte: três dias antesUm bocado: grande porçãoVerdolenga: quase maduraViração: vento do sul fracoZanzando: andando de um lado para o outro

Voz mansa, cheia de peculiaridades. O sotaque caiçara acentua as palavras de um modo diferente, troca o “v” pelo “b” e, claro, o “você” é substituído pelo “tu”. Muitas expressões do nosso dia-a-dia tiveram suas origens nessa cultura (veja o box ao lado).

Vocabulário

Palavra caa-içara é de origem tupi-guarani; caa signi-fica galhos, paus, “mato”, enquanto que içara signi-fica armadilha.

Origem do nome

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Vida de caiçara

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O caiçara aprendeu muitas técnicas de pesca ao longo do tempo, “para a pesca, usa espinhel (corda extensa onde prende anzóis) e redes: tarrafa, picaré, jereré, puçá e faz nos rios as cercas ou chiqueiros de peixes. A pesca com rede, requer o uso de canoa - a ubá. A rede mede cerca de 140 braças de com-primento por 6 de largura. Para facilitar a flutuação, na parte superior da rede colocam bóias de cortiça e na parte inferior, colocam as chumbadas ou peso de barro cozido. Nas extremidades da rede, colocam cordas para puxar o arrastão. Colocam a rede no mar, levada pela ubá, e depois vêm arrastando até a praia - é o famoso “arrastão”. Hoje, os barcos a motor, fazem parte da pesca, ou seja, cada vez mais aprimorando e evoluindo dentro de seu meio.

“Com estes, o homem caiçara pesca no “mar de dentro” para sua subsistência. O arrasto da tai-nha merece atenção especial, pois se trata de um momento de congregação da comunidade, onde todos trabalham para todos”.

Ser caiçara é ter orgulho de suas origens, é ter co-ragem para enfrentar o mar, é ter capacidade de viver no isolamento, saber dividir o produto de sua pesca e ter consciência que Deus, que lhe deu as duas maiores forças da natureza: a floresta e o mar.

A pesca

Os caiçaras formam um povo que evoluiu e aprendeu a apro-veitar os recursos naturais. Convivendo com o mar e a mata, sabem, como poucos, utilizar os benefícios da natureza.

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Aprender a arte da fabricação da farinha de man-dioca era uma das tarefas da mulher caiçara, que começava cedo, muitas vezes, ainda crianças. A lida não era fácil; preparar a terra, plantar e colher fazia parte da rotina. Plantava-se também a man-dioca venenosa, que não faz mal à saúde porque é lavada, raspada, espremida, coada, seca no forno, na coxa, vai outra vez ao forno, outra vez na coxa até virar farinha pura. Os horários são cruéis, os trabalhos começam às 3 horas da manhã e só acaba ao meio-dia. O caiçara chama esse fabrico é “farinhando” e era vendida a litros.

Farinheiras

A agriculturaÉ o complemento alimentar dos pescadores e seu prin-cipal produto é a farinha de mandioca - consumida em quase todas as refeições – que, desde tempos imemo-riais, trata-se de um substituto do pão europeu e, por isso mesmo, é chamada de “pão dos trópicos”. Existe, ainda, uma infinidade de produtos secundários e ervas medicinais. Seus principais produtos são: mandioca, milho, cana, feijão, guandu, inhame, entre outros.

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“No verão as famílias tinham o costume de conversar nas calçadas para “tomar a fresca”. Em casa sempre tinha uma esteira de taboa para as crianças deitarem e ficarem quietinhas enquanto os pais e vizinhos con-versavam. Nós olhávamos as estrelas e ficávamos ou-vindo as conversas até cair no sono”Fonte: Livro – “São Sebastião do meu tempo de menina” – Neide Palumbo

“Ninguém, ou quase ninguém, vendia frutas. As vizinhas pre-senteavam as frutas de seus quintais umas às outras.”Fonte: Livro – “São Sebastião do meu tempo de menina” – Neide Palumbo

“Quando a frente da cidade ainda tinha praia, a criança-da aproveitava para tomar banho de mar. Ninguém tinha maiô. A gente tomava banho com uma roupa qualquer. Quando a maré ficava vazia era uma beleza. Dava muito berbigão (molusco). Numa tarde de maré vazia eu peguei uma lata vazia de banha e já ia saindo para mariscar...”Fonte: Livro – “São Sebastião do meu tempo de menina” – Neide Palumbo

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Tribo Guarani

Um povoreceptivo

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Na pele de Flor do Céu, a menina de sorriso largo, de mais ou menos 11 anos, havia uma tatuagem pin-tada com urucum, uma das marcas que o índio guarani carrega no rosto para homenagear os visitantes que, como nós, aparecem para conhecer e admirar os cos-tumes e cultura do povo indígena. Com seus costumes tão díspares das outras tribos que habitaram ali, antes mesmo dos primeiros portugueses desembarcarem no litoral norte, descobrimos em nossa visita que os gua-ranis nunca andaram nus e sempre tiveram em sua et-nia a vontade de se integrar aos outros povos de forma

passiva, de modo a manter sua cultura e dignidade. A tribo dos índios guaranis fica a mais de 60 km do

centro histórico de São Sebastião, na Reserva Indígena Guarani do Rio Silveira, localizada na praia de Boracéia, no meio da Mata Atlântica. A natureza é abençoada neste lugar, com uma área com cerca de 948 hectares entre cerrado e floresta, que ainda não está demarcada oficialmente pela Funai (Fundação Nacional do Índio) .

Na comunidade indígena, vivem de 60 a 70 famílias, entre crianças, adolescentes e adultos. Este número de pessoas está dividido em 5 grupos e cada grupo

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receptivo

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Áreas indígenasessas terras não podem ser vendidas, mas suas riquezas podem e devem ser exploradas pelos índios para assegurarem a sua subsistência, in-dependentes do estado. As terras indígenas ocu-pam cerca de 11% do território nacional, o que equivale quase ao tamanho da Venezuela, nosso vizinho do norte.Fonte: Geografia, Coleção Anglo.

possui em torno de 11 famílias distribuídas em todo terreno da Reserva. Cada grupo tem seu líder, que, jun-to com o Pajé, formam a liderança geral da tribo. Mas nada é resolvido antes que Gino, um dos Pajés dê seu parecer. Gino Castro, o nome brasileiro que lhe foi dado para ser reconhecido como cidadão brasileiro, Tapei Mirim, seu nome em Tupi Guarani, 62 anos, dois filhos, falando um português pausado, conta que demorou 10 anos para aprender com seu avô todos os ensinamen-tos e as funções de um Pajé. ele nos conta também que o Pajé é uma figura de extrema importância den-

tro das tribos. Detentor de muitos conhecimentos e da história, ele é o indígena mais experiente, também possui a funções de curandeiro, orientador espiritual e sacerdote, pois todos os casamentos e batizados (uma festa que dura a noite inteira e vêm convidados de outras tribos) são celebrados por ele. O Pajé tam-bém dá o nome aos jovens e crianças que nascem.

A Constituição brasileira define o índio como um ci-dadão igual a todos os outros. No entanto, reconhece as suas particularidades culturais e a necessidade de sua preservação. Dessa forma, sob o ponto de vista

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Tribo Guarani

legal e da cidadania, o grau de integração do índio à sociedade brasileira é variado. Se o índio trabalha a forma economicamente produtiva, conhece a língua portuguesa e faz negócios com brancos, ele passa a ter os mesmos direitos e deveres de qualquer brasilei-ro. fonte: Geografia, Coleção Anglo.

As contribuições dos índios para a formação da cul-tura nacional são inúmeras e estão disseminadas pelo país sob a forma de hábitos culturais, especialmente alimentares. No espaço de convivência da aldeia, há produção de artesanato, de produtos agrícolas como açaí, pupunha e farinha de mandioca brava, com três tipos de torramento, o mais leve, o mais grosso e outro mais fino. Os índios também cuidam de plantas ornamentais, um viveiro formado principal-mente por helicônias, uma exuberante flor vermelha. Os produtos comercializa-dos são vendidos na estra-da e a renda é responsável por todo desenvolvimento

econômico da comunidade.Para ajudar na educação, em abril de 1996, após vá-

rios anos de reivindicações, foi inaugurada uma escola provisória. Em dezembro de 2000, foi inaugurada a es-cola permanente, sendo de total responsabilidade do município de Bertioga, o material escolar, a merenda e os professores. No período de aula, os professores contam com auxílio de um índio adulto em cada sala, que contribui na tradução do Guarani para o português e vice-versa, facilitando o ensino.

Os índios vivem em pequenas ocas construídas em pau-a-pique, cobertas com palha ou casas feitas com madeira da própria aldeia. Alguns grupos possuem sa-

nitários fora de casa, outros uti-lizam o meio ambiente. A oca em que fizemos a entrevista com o Pajé, é um lugar para oração, composto de um al-tar para todos os rituais de vida e morte. Curiosamente havia também camisas de times penduradas, algumas

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redes para descansar, seus instrumentos de trabalho como tambor, violão, chocalho e cachimbo. Sua família (que não parecia entender o que conversávamos) par-ticipava com olhares curiosos, próximos do nosso bate papo com seu líder. Crianças corriam de um lado para outro, chegamos a ver muitos pássaros e até a pegar um gambá na mão, uma sensação de liberdade que só lugares privilegiados nos proporcionam. Aplausos para este dia, que nos trouxe um pouco do encanta-mento desse povo batalhador.

A idéia dos líderes da Reserva Indígena Guarani do Rio Silveira é de promover o Ecoturismo, aproximando o convívio de outras etnias, desmitificando o entendi-mento de que o índio é primitivo e selvagem, além de ajudar os índios a venderem dentro da reserva produ-tos para sua subsistência, o que é uma boa oportuni-dade para conhecer a identidade cultural indígena.

Além do Pajé para cuidar da saúde da comunida-de indígena, na reserva tem ambulatório médi-co, com atendimento semanal, com especialista em Clínica Geral e Pediatria, além de todo aten-dimento realizado pela Rede Pública de Saúde. Conta ainda com ambulatório odontológico, com atendimento diário, através da FUNASA (Funda-ção Nacional de Saúde) que contratou um dentis-ta e uma enfermeira, o que reforça a qualidade dos serviços prestados na área da saúde.

Palavras de origem indígena incorporadas à toponímia nacional:Bertioga – casa das tainhasIbiúna – terra pretaIguaçu – rio grandeIpiranga – rio vermelhoItapetininga – laje secaItapeva – terra chataItapevi – rio das lajesJacareí – rio dos jacarésJaguari – rio das onçasJaguariúna – rio preto das onças Parati – peixe narigudoVotoporanga – morro bonitoFonte: Geografia – Coleção Anglo

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Tribo Guarani

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Um universo fantástico sempre acompanhou a cultura indígena. Cada espécie animal, planta ou fenômeno da na-tureza originaram histórias que foram passadas de gera-ção a geração. É claro que muitas sofreram modificações ao longo dos séculos, mas ainda revelam como os habitan-tes das tribos indígenas vivem e respeitam a natureza.

IaraUma bela mulher de longos cabelos negros encan-

tava a quem a visse se banhar nos rios. Iara atraí os homens com seu canto e os fascina ao mostrar seu rosto. Alguns deles se atiram no rio sem perceber que da cintura para baixo a linda mulher tem uma enorme cauda de peixe. Segundo a lenda, poucos sobrevivem ao encontro e jamais se esquecem do rosto de Iara.

Boto Em noites de Lua Cheia, ele se transforma em um belo

rapaz. Trajado de branco e um chapéu para cobrir o orifício em sua cabeça, ele procura alguma festa para se divertir. Sempre corteja a moça mais bonita da noite e a convence a ir até a beira do rio, onde a engravida. A lenda do boto, eter-nizada no cinema pelo ator Carlos Alberto Riccelli, reforça uma crença dos ribeirinhos, a de que a mulher que omite a paternidade de um filho foi engravidada pelo boto.

MuiraquitãA lenda conta que existia uma tribo de mulheres

guerreiras, as icamiabas. Uma vez por ano elas se en-contravam com os índios da tribo guacaris para uma noite de núpcias no Lago Espelho da Lua. Após os ri-tuais, elas mergulhavam no lago e traziam um presen-te para seus amantes. O amuleto, em forma de sapo, protege dos males e dos perigos.

Vitória-régiaJovens índias acreditavam que se tocassem a lua

ou as estrelas, transformar-se-iam em uma delas. A mais nova, já frustrada por não obter êxito, decidiu sair pela floresta sozinha durante à noite. Ao chegar à bei-ra do rio, viu a Lua no reflexo da água e pensou que ela estava se banhando no rio. Mergulhou para tocá-la, mas não sobreviveu. A própria Lua ficou com pena da jovem e transformou seu corpo na majestosa vitória-régia, cuja flor se abre para reverenciar a senhora da noite. Fonte Revista Flash Viagem

Datas Comemorativas Lendas e mitos que sobrevivem ao tempoAs comemorações realizadas pelos índios regis-

tram sua cultura e importância em nosso cotidiano • 19 de Abril – “ Dia do Índio” – comemoração e manifestação; • 09 de Janeiro ou 10 de Fevereiro – Batizado, realizado uma vez ao ano. Após batizado as crianças recebem o nome em Guarani, dado sempre pelo Pajé.

Reduzidas a menos de 1% da população brasilei-ra, a maior parte da população indígena do Brasil vive dentro de terras indígenas, ou seja, partes do território que pertencem à União, mas são re-servas para os índios. Segue o mapeamento das Aldeias Originais do Brasil:Guarani Mbya – Parelheiros – SPTerena Aquidauana – MSXavante Barra do Garças – MTKalapalo Alto Xingu – MTCarajá – São Félix do Araguaia - TO

Em 1998 e 1999, os índios do Rio Silveira, gravaram um CD, “Memória Viva Guarani”. Em comemoração aos 500 anos do Brasil em conjunto com outras 03 aldeias de São Paulo.

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Lendas

Mitos e fatosinacreditáveis

Por volta de 1700, uma linda moça que vivia em São Sebas-tião se apaixonou por um caiçara de Ilhabela. Todas as tar-des, ele vinha em sua canoa, “quando o remo era bom” (ou seja, quando o mar estava manso), encontrar com a moça em um rochedo. Um dia, outro sujeito se apaixonou por ela, deixando-a dividida entre os dois. Alguém contou para o cai-çara de Ilhabela que a moça estava apaixonada por outro. De-sesperado, o rapaz pegou sua canoa, remou até o centro do canal e deixou-a à deriva no meio de uma tempestade para se matar. Depois de dois dias, ele foi encontrado morto no rochedo, onde namoravam. Ao receber a notícia, ela também morreu de desgosto. No Pontal, foi construída uma cruz em homenagem aos jovens e, algum tempo depois, dois abricoei-ros nasceram entrelaçados representando o amor deles. Em 1992, quebraram um dos abricoeiros. E em 2004 ou 2005 plantaram uma mudinha. Dizem que o casal que come aque-la fruta nunca perderá seu amor.

Pontal da Cruz

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A região é rica em lendas características do folclo-re caiçara. Apresentamos aqui alguns relatos sobre essa preciosa cultura oral do povo brasileiro. O regis-tro dessas histórias fantásticas é de extrema impor-tância para que não percamos a essência e o espírito

caiçara. Em locais isolados e com poucas opções de lazer, a oralidade era um recurso de aproximação so-cial dos moradores. Por meio da arte de transmissão dessas histórias, podemos, hoje, conhecer seus há-bitos e crenças.

Na Praia Grande, havia uma toca com um nero, peixe que amedrontava a todos pelo seu tamanho considerável. O medo não era apenas um empeci-lho, o peixe também estragava as linhas e as va-ras de pescar. Quando o mar vazava, o “monstro” saía para caçar e os pescadores aproveitavam para pescar em paz. As pessoas só começaram a frequentar o lugar depois que o nero sumiu. Essa toca existe até hoje e os únicos monstros que lá habitam são os morcegos e os ouriços do mar (chamados pelos caiçaras de pinda).

Toca do Nero

O horário oficial da missa na matriz era às 17h. Segun-do as duas avós de Edivaldo, grande cooperador dessas lindas histórias aqui contadas, um dia uma mulher que sempre ia à missa mais cedo, convidou as duas para as-sistirem uma missa diferente. Chegando lá, a igreja estava cheia de gente de branco – “essa é a missa dos mortos... está vendo aquela ali... aquela morreu de dor de cabeça... aquela morreu de diarréia...” . O medo foi tanto que, nunca mais as duas avós se atreveram a fugir de suas rotinas.

Nos anos 30, conta-se que, de sete em sete anos, na praia de Maresias, aparecia a assombração do pilão. À noite, escutava-se o bater do socar de um pilão, muito forte. O povo ficava acordado com medo, esperando o pilão passar. Entre 1h e 2hs, o “bum, bum, bum” tremia tudo. O som terminava no cemitério. Passava o susto e todo mundo suava frio.

Ganhou esse apelido por representar o momento de parada de todo viajante que ia para Santa Cruz e apro-veitava para descansar à sombra do abricoeiro. Era também um lugar próprio pra limpar cação. Localiza-se próxima à praia Deserta.

Assombração da Figueira

1958 – Uma reza diferente

Maresias

Pedra lisa

No caminho para as praias do norte de São Se-bastião, há ainda uma figueira que nasceu no meio das pedras. Essa árvore é mal-assombrada. Nesse local havia uma fazenda que tinha muitos escravos e, ali, os pobres coitados eram açoitados e muito, mas muito maltratados. Mesmo com o fim da fazenda e da escravidão, os que passavam por lá, seja de bicicleta ou a pé, sentiam calafrios e a sensação de que alguém pulava no pescoço e apertava. Mas como o local era o único acesso para o norte, não se tinha muito o que fazer, a não ser rezar e passar por ali o mais rápido possível.

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não deixe de visitar

noite acolhedora...o centro histórico à noite, com suas ruas iluminadas e cores em uma volta ao passado

Os pescadores e ouvir suas histórias

Tramas nas mãos

Sobre rios...a estrada antiga, antes da Rio - Santos

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Vida contemplativa...o Pontal da Cruz com vista para Ilhabela

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De volta ao passado...o acervo fotográfico de Agnello Ribeiro

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...bateria um papo descontraído em qualquer praça ...pescaria em um barco

... tomaria um bom banho em algum lago de cachoeira

Se eu fosse você...

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...curtiria uma sombra e água fresca

...não perderia a roda de Capoeira que acontece no Centro Cultural

...caminharia por todos os cantinhos que encontrasse...comeria uma porção de camarão fresco

...desfrutaria da beleza do Parque Estadual da Serra do Mar

...conservaria a praia limpa

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Gente da Terra

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Dados estatísticos

Data da fundação:16 de março de 1636

Gentílico:Sebastianense

Temperatura:Possui um clima adequado tropical úmido e com temperatura variável entre 18 e 31 graus C.

Densidade demográfica (Habitantes/Km²):176,75

Estabelecimentos comerciais:1807

Rodovias de Acesso:Rodovia Rio-Santos(BR 101 / SP 55) Rodovia Tamoios (SP 99) Rodovia Presidente Dutra (BR 116) + Tamoios + Rio-Santos Rodovia Ayrton Senna (SP 70) + Dutra + Tamoios + Rio-Santos Rodovia Ayrton Senna (SP 70) + Mogi-Bertioga + Rio-Santos

Localização Geográfica:São Sebastião situa-se no Litoral Norte do Estado de São Paulo, Sudeste do Brasil.

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Cidades que fazem limite com São Sebastião:Caraguatatuba IlhabelaBertioga Salesópolis

Longitude:45 21´ 00” W

Latitude:23 21´ 20” S

Área total:403,34 km2

Pessoas residentes:71. 290 (Dados do IBGE 2009)

mapa rota de acessos

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Mapa Turístico

mapa do Centro01 - Centro de Informações Turísticas02 - Igreja Matriz03 - Correios04 - Teatro Municipal05 - Casa da Câmara e Cadeia06 - Câmara Municipal07 - Prefeitura08 - Terminal Rodoviário09 - Hospital (Pronto Socorro)10 - Porto11 - Bancos12 - Tebar | Petrobrás13 - Balsa (São Sebastião - Ilhabela)

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Sebastianenses

A força da natureza na almaDesde muito jovem frequento São Sebastião, mas só após fazer essa revista é que percebi o quanto as coisas passam despercebidas por nós. As pesquisas e entrevis-tas com os cidadãos sebastianenses me abriu um mun-do novo, com uma história que tropeça sob nossos pés. São tantas as lendas e fantasias mágicas, que o olhar sobre essa terra fascina a quem se atreve mergulhar em seu passado. As belezas naturais são incontestáveis,

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mas o que marca mesmo são seus personagens que, de tão interessantes, parecem inventados. Uma vida rotinei-ra, mas com a aventura ao lado, pessoas que tem como recurso o mar. Esteja ele calmo ou bravio, enfrentam-no, desbravando o seu dia a dia. Parabéns a esse povo sim-ples com riquezas infinitas de sabedoria e tradição.

renata Weber Neiva

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