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Universidade de Aveiro
2010
Departamento de Química
Sara Mirassol Tomé
(E)-C-Glicosil-2-estirilcromonas com potencial actividade antioxidante
Universidade de Aveiro
2010
Departamento de Química
Sara Mirassol Tomé
(E)-C-Glicosil-2-estirilcromonas com potencial actividade antioxidante
Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Química Orgânica e Produtos Naturais, realizada sob a orientação científica do Doutor Artur Manuel Soares da Silva, Professor Catedrático do Departamento de Química da Universidade de Aveiro
a ti pai…
o júri
presidente Prof. Doutora Maria da Graça de Pinho Morgado da Silva Neves professor a associada com agregação do Departamento de Química da Universidade de Aveiro
Prof. Doutor Artur Manuel Soares da Silva professor catedrático do Departamento de Química da Universidade de Aveiro
Prof. Doutor José Albertino Almeida de Figueiredo professor auxiliar do Departamento de Química da Universidade da Beira Interior
agradecimentos
Em primeiro lugar desejo expressar o meu mais sincero reconhecimento ao
Professor Doutor Artur Silva, orientador desta dissertação. Agradeço a sua
valiosa orientação científica, os ensinamentos que me transmitiu ao longo de
todo o meu percurso universitário, a sua disponibilidade, tranquilidade,
amizade e a confiança que depositou em mim.
À Professora Doutora Diana Pinto quero agradecer todos os ensinamentos e
inúmeras dicas experimentais que sempre me foi transmitindo ao longo deste
trabalho. Obrigada pela sua constante disponibilidade, ajuda e amizade.
Ao Professor Doutor José Cavaleiro, Professor Catedrático do grupo de
disciplinas de Química Orgânica do Departamento de Química da
Universidade de Aveiro e coordenador da Unidade de Investigação QOPNA.
Agradeço os experientes ensinamentos de Química Orgânica que me
transmitiu ao longo de todo o mestrado com um rigor que contribuiu de forma
inequívoca para o meu enriquecimento científico.
Ao Lic. Hilário Tavares e à Lic. Cristina Barros agradeço a disponibilidade na
obtenção dos espectros de RMN e de EM, respectivamente.
Ao grupo de investigação de Química Orgânica do Departamento de Química
da Universidade de Aveiro quero agradecer a ajuda e ensinamentos que de
todos sempre recebi, sempre que precisei. Agradeço em especial aos meus
colegas de laboratório, companheiros desta viagem, pelo espírito de
entreajuda, amizade e pelo bom ambiente de trabalho.
A cada sorriso que sempre recebi de todos aqueles que, de alguma forma,
fizeram parte integrante do meu percurso académico (colegas, verdadeiros
amigos que descobri, professores e familiares). A todos vós, no culminar desta
caminhada, a minha gratidão e o meu sorriso!
Ao Ricardo, o meu verdadeiro companheiro de todos os momentos. Ao seu
amor, apoio e presença incondicionais que se traduziram na minha serenidade
ao longo de toda a execução e escrita desta dissertação.
Ao meu irmão Pedro a inspiração que me deu durante a escrita da dissertação
com o som cristalino das suas peças de piano.
Por último, mas não menos importante, aos meus pais, os alicerces da minha
felicidade, que sempre me educaram e incentivaram no sentido de alcançar os
meus objectivos e os meus sonhos.
palavras-chave
floroacetofenona, método de Baker-Venkataraman, (E)-2-estirilcromonas, C-glicosilação, D-glucose, trifluorometanossulfonato de escândio(III), fluoreto de
2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranosilo, RMN.
resumo
As 2-estirilcromonas, uma pequena classe de compostos heterocíclicos naturais, têm vindo a cativar o interesse dos químicos orgânicos devido às suas actividades biológicas, nomeadamente a actividade antioxidante. Por outro lado, nos últimos anos, a química dos compostos C-glicosilados, ainda pouco explorada, tem sofrido avanços muito significativos motivados pelo carácter hidrofílico e a estabilidade hidrolítica que a ligação C-glicosídica pode conferir a potenciais agentes farmacológicos, suscitando um promissor impacto medicinal. Nesta dissertação, e no seguimento da química dos compostos naturais explorada pelo grupo de investigação de química orgânica, é apresentado o estudo da rota sintética linear que permitiu a obtenção da (E)-3’,4’,5,7-tetra-hidroxi-2-estirilcromona, pelo método de Baker-Venkataraman. É também estudado o processo de C-glicosilação de compostos polifenólicos através da adopção de dois métodos distintos de C-glicosilação, o uso de D-glucose e o
uso de fluoreto de 2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranosilo. Na elucidação estrutural dos compostos sintetizados recorreu-se essencialmente à espectroscopia de ressonância magnética nuclear (RMN) [espectros de
1H,
13C e estudos bidimensionais de correlação espectroscópica
heteronuclear – HSQC e HMBC], mas também à espectrometria de massa (EM) e à análise elementar.
keywords
phloroacetophenone, Baker-Venkataraman method, (E)-2-styrylchromones, C-glycosylation, D-glucose, scandium(III) trifluoromethanesulfonate, 2,3,4,6-tetra-
O-benzyl--D-glucopyranosyl fluoride, NMR.
abstract
2-Styrylchromones, a small class of heterocyclic natural compounds, have been attracting the organic chemist’s interest due to their known biological activities, namely the antioxidant activity. On the other hand, in the latter years, the chemistry of C-glycosylated compounds, still little explored, has gained important and significant advances motivated by the electrophilic character and hydrolytic stability that C-glycoside linkage may confer to potential pharmacological agents, arising a promising medicinal impact. In this dissertation, and following the chemistry of natural compounds explored by the organic chemistry group, it is presented the study of the synthetic linear route leading to (E)-3’,4’,5,7-tetra-hydroxy-2-styrylchromone, by the Baker-Venkataraman method. It is also studied the process towards the C-glycosylation of polyphenolic compounds, following two distinct C-glycosylation
methods, the use of D-glucose and the use of 2,3,4,6-tetra-O-benzyl--D-glucopyranosyl fluoride. In the structural elucidation of the synthesized compounds the mainly used technique was the nuclear magnetic resonance spectroscopy (NMR) [
1H,
13C
and 2D-NMR techniques HSQC and HMBC], but also mass spectrometry (MS) and elemental analysis.
xvii
ABREVIATURAS
ADN Ácido desoxirribonucleico
aq. Meio aquoso
Ar Grupo arilo
ARN Ácido ribonucleico
BHA 2-t-Butil-4-metoxilfenol
BHT 2,6-Di-t-butil-4-metilfenol
Bn Grupo benzilo
Bu Grupo butilo
CoA Coenzima A
d Dupleto
DCC N,N-diciclo-hexilcarbodiimida
dd Duplo dupleto
DMAP Dimetilaminopiridina
DMAPP Difosfato de dimetilalilo
DMF N,N-Dimetilformamida
DMSO Dimetilsulfóxido
DPPH• Radical 2,2-difenil-1-picril-hidrazilo
ed. Edição
EM Espectrometria de massa
EMAR Espectrometria de massa de alta resolução
equiv. Equivalente(s) molar(es)
ESI Ionização por electrospray
Et Grupo etilo
glc Gupo glicosilo
h Horas
HMBC Correlação espectroscópica heteronuclear a longa distância, bidimensional, em RMN
HSQC Correlação espectroscópica heteronuclear, bidimensional, em RMN
J Constante de acoplamento (em Hz)
Lit. Literatura
xviii
Ln Lantanídeo
m Multipleto
m/z Razão massa carga em espectrometria de massa
M+. Ião molecular
Me Grupo metilo
NADPH Fosfato de nicotinamida adenina dinucleótido
OBn Grupo benziloxilo
OMe Grupo metoxilo
OPP Grupo difosfato
OTf Grupo trifluorometanossulfonato (triflato)
p.f. Ponto de fusão
Ph Grupo fenilo
ppm Partes por milhão
Pr Grupo propilo
Py Piridina
Rf Factor de retardação
RMN de 13C Espectroscopia de ressonância magnética nuclear de
carbono-13
RMN de 1H Espectroscopia de ressonância magnética nuclear de protão
RNS Espécies reactivas de azoto
ROS Espécies reactivas de oxigénio
s Singuleto
SIDA Síndrome da imunodeficiência adquirida
Temp. amb. Temperatura ambiente
THP Grupo tetra-hidropiranilo
tlc Cromatografia de camada fina
TMS Tetrametilsilano
TMSOTf Trifluorometanossulfonato de trimetilsililo
UDP Difosfato de uridina
UTP Trifosfato de uridina
δ Desvio químico em relação ao tetrametilsilano (em ppm)
Aquecimento
xix
xx
Índice
xxi
ÍNDICE
Agradecimentos ....................................................................................................... ix
Resumo ................................................................................................................... xiii
Abstract .................................................................................................................... xv
Abreviaturas .......................................................................................................... xvii
Índice ....................................................................................................................... xxi
1. Introdução ........................................................................................................... 1
1.1. Cromonas naturais: uma abordagem geral ................................................ 1
1.2. 2-Estirilcromonas ........................................................................................ 6
1.2.1. Importância biológica e potencial aplicação farmacológica .................... 6
1.2.2. Métodos de síntese ................................................................................ 8
1.2.2.1. Condensação de Allan-Robinson .................................................... 8
1.2.2.2. Condensação de 2-metilcromonas com benzaldeídos .................... 9
1.2.2.3. Condensação aldólica/ciclização oxidativa .................................... 10
1.2.2.4. Reacção de reagentes de Wittig com cloretos de cinamoílo.......... 11
1.2.2.5. Ciclização de cetonas acetilénicas ................................................ 12
1.2.2.6. Rearranjo de Baker-Venkataraman ............................................... 13
1.3. A ligação C-glicosídica ............................................................................. 15
1.3.1. Importância a nível biológico ................................................................ 15
1.3.2. Síntese de C-glicosilflavonóides .......................................................... 19
1.3.2.1. Uso de monossacarídeos fluorados .............................................. 20
1.3.2.2. Uso de trifluoroacetimidatos de glicosilo........................................ 21
1.3.2.3. Uso de monossacarídeos desprotegidos....................................... 22
1.3.2.4. O papel do triflato de escândio(III)................................................. 22
1.4. Antioxidantes ............................................................................................ 23
1.4.1. Importância e diversidade de antioxidantes naturais e sintéticos ......... 24
1.4.2. Acção antioxidante dos flavonóides ..................................................... 27
1.5. C-Glicosil-2-estirilcromonas: potencial actividade antioxidante ................ 30
Índice
xxii
2. Esquematização experimental ......................................................................... 33
3. Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman ...... 37
3.1. Preparação do composto de partida para a síntese da 5,7,4’,5’-
tetrametoxi-2-estirilcromona (61) .............................................................. 37
3.1.1. Dimetilação da 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56) ................................ 38
3.2. Cinamoílação da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57) ...................... 39
3.2.1. Método I ............................................................................................... 40
3.2.2. Método II .............................................................................................. 41
3.3. Síntese da 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-1-ona 60a ........................... 45
3.4. Síntese da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) ........................ 47
3.5. Desprotecção da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) .............. 48
3.5.1. Síntese da (E)-5-hidroxi-3’,4’,7-metoxi-2-estirilcromona (62a) .............. 49
3.5.2. Síntese da (E)-5,3’,4’-tri-hidroxi-7-metoxi-2-estirilcromona (62b) .......... 50
3.5.3. Síntese da (E)-3’,4’,5,7-tetra-hidroxi-2-estirilcromona (62c) .................. 53
4. C-Glucosilação de compostos polifenólicos .................................................. 55
4.1. Método A: uso de D-glucose desprotegida (63) ....................................... 55
4.1.1. C-Glucosilação da 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56) ........................... 55
4.1.1.1. Preparação da 3’-C-β-D-glucopiranosil-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (64): estudo de optimização das condições de reacção ..................................................................................... 58
4.2. Método B: uso de fluoreto de 2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranosilo
(68) ........................................................................................................... 65
4.2.1. C-Glucosilação da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57) ................ 65
4.3. C-Glucosilação directa de (E)-2-estirilcromonas....................................... 68
5. Caracterização estrutural ................................................................................. 71
5.1. Caracterização estrutural da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona
(61) ........................................................................................................... 71
5.2. Caracterização estrutural da 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’-
hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (64) ...................................................... 75
Índice
xxiii
5.3. Caracterização estrutural da 3’-(1-desoxi-2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-
glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (69) ..................... 79
6. Trabalho em estudo e perspectivas futuras ................................................... 85
7. Parte experimental ............................................................................................ 89
7.1. Reagentes, solventes, sílicas e equipamentos utilizados ......................... 89
7.1.1. Reagentes e solventes utilizados ......................................................... 89
7.1.2. Sílicas utilizadas .................................................................................. 89
7.1.3. Equipamentos utilizados ...................................................................... 90
7.2. Síntese dos compostos obtidos ................................................................ 91
7.2.1. Preparação do composto de partida para a síntese da (E)-5,7,4’,5’-tetrametoxi-2-estirilcromona (61).......................................................... 91
7.2.1.1. Síntese da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57) ..................... 91
7.2.2. Síntese da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) pelo método de Baker-Venkataraman ...................................................................... 92
7.2.2.1. Síntese da 4’,6’-dimetoxi-2’-(3,4-dimetoxicinamoíloxi)acetofenona (59) ........................................... 92
Método I ...................................................................................................... 92
Método II ..................................................................................................... 93
7.2.2.2. Síntese da 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-1-ona 60 .................. 94
7.2.2.3. Síntese da (E)-5,7,4’,5’-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) ............. 95
7.2.3. Desprotecção da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) .......... 97
7.2.3.1. Síntese da (E)-5-hidroxi-3’,4’,7-metoxi-2-estirilcromona (62a) ....... 97
7.2.3.2. Síntese da (E)-5,3’,4’-tri-hidroxi-7-metoxi-2-estirilcromona (62b) ... 98
7.2.3.3. Síntese da (E)-3’,4’,5,7-tetra-hidroxi-2-estirilcromona (62c)........... 99
7.2.4. C-glucosilação de compostos polifenólicos ........................................ 100
7.2.4.1. Método A: uso de D-glucose desprotegida (63)........................... 100
Síntese da 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (66) .................................................................................... 100
Síntese da 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (64) ................................................................................. 101
7.2.4.2. Método B: uso de fluoreto de 2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranosilo (68) ..................................................................... 103
Síntese da 3’-(1-desoxi-2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (69) ............................................................. 103
8. Referências ...................................................................................................... 105
xxiv
Introdução
1
1. Introdução
1.1. Cromonas naturais: uma abordagem geral
As 4H-1-benzopiran-4-onas, vulgarmente designadas de cromonas,
englobam todos os compostos heterocíclicos que possuam na sua estrutura o
núcleo cromona (1), resultante da fusão de um anel benzénico com um anel -
pirona (2).
1
cromona(4H-1-benzopiran-4-ona)(4-oxo-4H-benzopirano)
(4-oxo-4H-cromeno)
-pirona
(piran-4-ona)
2
345
6
78
8a
4a
O
O
O O
O O
2a 2b
As cromonas naturais constituem uma das maiores classes de compostos
polifenólicos heterocíclicos, encontrando-se abundantemente no reino vegetal.1-5
Entre os derivados destes compostos polifenólicos, os flavonóides são o grupo de
compostos naturais mais abundante, tendo sido identificados algumas centenas6
de derivados no meio natural. Estes, incluem as 2-fenilcromonas, as mais
representativas e vulgarmente designadas por flavonas 3, assim como as 3-
fenilcromonas, designadas também por isoflavonas 4.7,8 De entre as restantes
podem-se destacar as 2-estirilcromonas 5, estruturalmente semelhantes às
flavonas, possuindo um grupo 2-estirilo em vez de um grupo 2-fenilo.
Introdução
2
3
flavona(2-fenilcromona)
(2-fenil-4H-1-benzopiran-4-ona)
4
isoflavona(3-fenilcromona)
(3-fenil-4H-1-benzopiran-4-ona)
O O
O O
O
O
2
345
6
7
8
2'3'
4'
5'
6'
A C
B
5
2-estirilcromona(2-estiril-4H-1-benzopiran-4-ona)
1'
8a
4a
Os flavonóides ocorrem geralmente na superfície externa das plantas,
encontrando-se em diversos frutos e vegetais, assim como em 50 diferentes
espécies de ervas, abrangendo espécies como a Achillea millefolium e a Viola
tricolor.9
Os flavonóides naturais podem ocorrer como aglíconas mas, na maioria dos
casos, encontram-se ligados a hidratos de carbono, constituindo o vasto grupo
dos O-glicosilflavonóides assim como o menos abundante mas não menos
importante grupo dos C-glicosilflavonóides.10
As isoflavonas apresentam uma distribuição mais restrita no reino vegetal
em relação às flavonas, ocorrendo essencialmente em leguminosas.11
A impressionante diversidade estrutural de flavonóides e, mais em geral, de
cromonas naturais, está associada à possibilidade de existirem vários tipos de
substituintes, em diferentes posições, sendo os mais comuns, para além do grupo
glicosilo, os grupos hidroxilo, metoxilo, prenilo e acilo.7
Introdução
3
A abundância dos flavonóides no reino vegetal está relacionada com a sua
importante funcionalidade biológica. 12 Além de serem pigmentos responsáveis
pelos tons de azul, amarelo, laranja e vermelho nas plantas com flor, são também
importantes no seu crescimento e desenvolvimento protegendo os tecidos da
oxidação e defendendo-as contra agentes nocivos (radiação ultravioleta, fungos,
bactérias, vírus), tendo um papel importante no controlo hormonal e na inibição
enzimática.9
Os esquemas 1 e 2 ilustram o processo biossintético de cromonas (via do
acetato) e de flavonóides (via do xiquimato), respectivamente.13
SCoA
O
SCoA
O
OO H
C SCoA
O
CoAS
O
CO2 O
SCoA
O
CoAS
malonil-CoA
acetil-CoA
condensação de Claisendescarboxilação
acetoacetil-CoA
SCoA
O
OO
OO
OH
HO
O
OHO
OH
HO
O
OH OH
OH
HO OOH
H
OOH
HO O
O
condensação de Claisenaromatização
formação do anel heterocíclico via adição de Michael ao tautómeroenólico, seguido da perda de H2O
3 x malonil-CoA
poli-cetoéster
Esquema 1
OH
HO O
O
OPP
DMAPP
peucenina
5,7-di-hidroxi-2-metilcromona
C-alquilação
(5,7-di-hidroxi-2-metil-6-prenilcromona)
H2O
Introdução
4
OH
O
CoAS
OH
OO
O SCoA
O
4'-hidroxicinamoíl-CoA
3 x malonil-CoA
condensação de Claisenaromatização
OH
O
OHHO
OH
O
OH
HO
O
OH
naringenina(flavanona)
O
OH
HO
O
OH
apigenina(flavona)
adição deMichael
O2
2-oxoglutarato
Esquema 2
As 4H-1-benzopiran-4-onas, quer naturais quer de origem sintética, possuem
uma posição de destaque no contexto farmacológico dado ao seu potencial uso
como agentes biologicamente activos. Diversas propriedades biológicas
importantes associadas a estes compostos têm sido estudadas, incluindo
propriedades citotóxicas (anticancerígenas), 14 - 17 antimicrobianas5, 18 - 20 e
antifúngicas,18, 21 actividade antioxidante,18,21- 24 actividade contra o vírus da
síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA),5,18 sendo de destacar também a
actividade anti-inflamatória das cromonas, tão bem representada na espécie
vegetal Aloe,25 nomeadamente pelo seu derivado natural 6.26
O
CH3 O
H3CO
H OH
O
HOOH
O
OHO
6
Introdução
5
Actualmente sabe-se que uma dieta rica em flavonóides, que inclua vários
frutos (nomeadamente os frutos vermelhos) e vegetais, 27 , 28 - 30 é uma dieta
saudável rica em antioxidantes, 31 que previne doenças associadas ao stress
oxidativo,32 tais como as doenças cardiovasculares,33,34 neurodegenerativas e a
incidência de alguns tipo de cancros.35-42 Este facto, conjugado com a relativa
baixa toxicidade associada a estes compostos,5 tem atraído o interesse dos
químicos orgânicos e da indústria farmacêutica em geral, impulsionado a síntese
de novos derivados destes compostos naturais.43-45 Vários tipos de mecanismos
moleculares de acção destes compostos foram já estudados, como a inactivação
carcinogénica por indução de apoptose com inibição de células cancerígenas e a
sua acção antioxidante.18,22 Assim, além de contribuírem para a qualidade, a cor e
o sabor de muitos alimentos, como vegetais e frutas, e bebidas, como o chá46,47 e
o vinho,48 , 49 este grupo de compostos naturais suscita um interesse especial
tendo importantes efeitos benéficos no sistema imunitário.22,50,51
As cromonas são efectivamente interessantes modelos estruturais no
desenho de novos fármacos. Saliente-se dois derivados com uma impressionante
actividade anti-inflamatória: o cromoglicato dissódico (7) e o nedocromilo sódico
(8). 52 Estes medicamentos são eficazes no tratamento da asma e da rinite
alérgica, com a vantagem de serem pouco tóxicos e poderem ser administrados a
crianças. Refira-se também a silibina [(9a) e (9b), par diastereomérico], que
possui um impressionante efeito antioxidante,53 e a diosmina (10) que é usada no
tratamento dos sintomas crónicos das pernas decorrentes da insuficiência venosa
orgânica e funcional, no melhoramento dos sintomas de insuficiência e fragilidade
capilar de vasos venosos e linfáticos, e em hemorragias devidas ao uso do
dispositivo intra-uterino.11,54
Vários derivados de cromona, com diversos substituintes funcionalizados,
foram já usados como uma forma de mimetizar pequenos peptídeos.5,55 Outros
exibiram excelentes propriedades fluorescentes que poderão ser exploradas em
vários domínios de investigação como no estudo de membranas lipídicas e
proteínas.5
Introdução
6
O
O
O2C
OOH
O
O CO2
O
OO2C
O
nPr
N
O
CO2
Et7
8
OHO
OH
O
O
OCH3
OH
CH2OH
O
OH
RO
OCH3
OH
OR= Rutinosilo
9a
10
O
NaNa
NaNa
H
HOH
H
H
OHO
OH
O
O
OCH3
OH
CH2OH
9bO
H
HOH
H
H
A aplicabilidade das cromonas estende-se também às indústrias alimentar e
cosmética justificada pelo seu potencial antioxidante. Refira-se ainda a actividade
biocida de várias flavonas, tais como actividades fungicida, bactericida e
larvicida.56
1.2. 2-Estirilcromonas
1.2.1. Importância biológica e potencial aplicação farmacológica
Relativamente à ocorrência natural das 2-estirilcromonas apenas foram
identificados três derivados, a hormotamniona 57 (11) e a 6-desmetoxi-
hormotamniona 58 (12) ambos extraídos das algas azuis-esverdeadas
Introdução
7
Chrysophaeum taylori na década de 80; e a 5-hidroxi-2-estirilcromona (13),59
recentemente isolada da espécie Imperata cylindrica, embora a sua síntese tenha
sido anteriormente descrita.60
OCH3
H3CO
R
OH
O
O
CH3
OH
OH
11 R = OCH3
12 R= H OH
O
O 13
Estudos de actividade biológica revelaram que a hormotamniona (11)
apresenta actividade citotóxica in vitro face a algumas células cancerígenas
humanas, nomeadamente contra as células leucémicas P388.58 Demonstrou
ainda possuir actividade selectiva de inibição da síntese de ARN. A 6-desmetoxi-
hormotamniona exibiu também forte citotoxidade contra células cancerígenas.61-63
Relativamente à actividade biológica da 5-hidroxi-2-estirilcromona (13), ainda
manifestamente pouco estudada, apenas foi comprovada actividade antiviral no
análogo sintético.60
Mesmo antes de se terem isolado 2-estirilcromonas naturais já tinham sido
desenvolvidas rotas sintéticas deste tipo de compostos e já se conhecia o
potencial desta pequena mas bastante interessante família de compostos
heterocíclicos naturais. 64 As 2-estirilcromonas não são excepção a uma
característica que se tem verificado em diversas cromonas 2-substituídas: a
manifestação de uma impressionante variedade de actividades biológicas.65,66
A química destes compostos tem acolhido importantes desenvolvimentos
motivados sobretudo pelos interessantes resultados biológicos que se têm obtido
e, consequentemente, pelo potencial farmacológico que representam. Saliente-se
desde já o importante e reconhecido contributo do grupo de Química Orgânica do
Departamento de Química da Universidade de Aveiro para o avanço do estudo
Introdução
8
deste tipo de compostos sobretudo no desenvolvimento de metodologias
sintéticas que já possibilitaram a síntese de diversos análogos, mas também na
colaboração no estudo da química biológica deste tipo de compostos.
Vários derivados sintéticos de poli-hidroxi-2-estirilcromonas apresentaram
diversas actividades biológicas, nomeadamente actividade antialérgica, 67
antiviral,68,69 antitumoral,63,64,70,74 hepatoprotectora,64 anti-inflamatória71 e inibidora
da xantina oxidase (actividade antirradicalar).72
O uso das 2-estirilcromonas como potenciais agentes antioxidantes tem sido
um dos interesses centrais no estudo destes compostos. Efectivamente, a
presença de um grupo o-di-hidroxiestirilo conjugado com o grupo carbonilo
através da ligação dupla C2=C3, que permite uma forte estabilização dos radicais
fenóxilo formados na presença de agentes oxidantes, tem dado provas do
inequívoco potencial antioxidante destes compostos fenólicos.35,73-76
1.2.2. Métodos de síntese
O potencial uso medicinal das 2-estirilcromonas, assim como a sua escassa
bio-disponibilidade, tem estimulado fortemente o desenvolvimento de novas e
eficientes rotas sintéticas.61 Assim, ao longo dos tempos, têm sido desenvolvidos
diversos métodos de síntese de 2-estirilcromonas, sendo na sua maioria uma
adaptação dos métodos usados na preparação de flavonas.35 Seguidamente
serão abordados alguns desses métodos, dando especial ênfase ao que foi
explorado neste trabalho.
1.2.2.1. Condensação de Allan-Robinson
A síntese de Allan-Robinson,77 um dos métodos mais antigos usados na
preparação de flavonas,78 tem, nos últimos anos, perdido interesse sintético dado
Introdução
9
ao aparecimento progressivo de novas e eficientes rotas.11 Este método, que
também pode ser adaptado à síntese de 2-estirilcromonas 17, consiste no
aquecimento de uma 2’-hidroxiacetofenona 14 e de um anidrido cinâmico 15 na
presença do correspondente cinamato de sódio 16 ou de potássio, a cerca de 180
ºC,79 com rendimentos inferiores a 50% (esquema 3).
OH
R1
O
R2
R2
O
CO2
OR1
O
R2
Esquema 3
Na
+ O
O
14 15
16
17
Z = OMe ou H
ZZ
1.2.2.2. Condensação de 2-metilcromonas com benzaldeídos
Durante os anos 20 e 3080 foi desenvolvido um outro método de preparação
de 2-estirilcromonas 20 que consiste na condensação de 2-metilcromonas 18 com
benzaldeídos 19, em meio básico forte (esquema 4). Esta foi a metodologia
utilizada na preparação da hormotamniona (11), a primeira 2-estirilcromona
natural a ser isolada.81
Introdução
10
O CH3R1
O
R2
CHO
R3
O
R3
R2
R1
O
A
A: NaOEt/EtOH, temp.amb. ou piperidina/MeOH ou NaOMe/MeOH
Esquema 4
+
1819
20
1.2.2.3. Condensação aldólica/ciclização oxidativa
Um outro método de síntese de 2-estirilcromonas consiste na sequência de
dois passos reaccionais: uma condensação aldólica e uma ciclização oxidativa
(esquema 5).62 A condensação aldólica, em meio básico, de cinamaldeídos 22
com 2’-hidroxiacetofenonas 21 leva à obtenção de (E,E)-2’-
hidroxicinamilidenoacetofenonas 23 que, sofrendo ciclização oxidativa, dão lugar
à formação de (E)-2-estirilcromonas 24.82 O sistema de reagentes mais eficiente
usado na ciclização, entre os vários propostos, consiste no uso de dimetilsulfóxido
(DMSO) em refluxo em presença de uma quantidade catalítica de iodo ou de
bromo, sendo a quantidade de halogéneo usada, assim como o tempo de refluxo,
parâmetros com crucial influência a nível dos resultados reaccionais finais.61
O tratamento de 2’-hidroxicinamilidenoacetofenonas 23 com um
equivalente molar de halogéneo, em refluxo de DMSO durante 30 minutos,
permite tanto a ciclização oxidativa originando 2-estirilcromonas, como a
halogenação das suas posições mais activadas. Este método é uma nova rota
sintética de 2-estirilcromonas halogenadas 25. 83 A reacção de 2’-benziloxi-6’-
hidroxicinamilidenoacetofenonas (R = OBn) 23 na presença de uma quantidade
catalítica de halogéneo, em refluxo durante 2 horas, resulta não só na já esperada
ciclização oxidativa, como numa desbenzilação levando à formação de 5-hidroxi-
2-estirilcromonas 24 (R3 = OH).
Introdução
11
OH
R
O
R2
OHC
R1
NaOH/H2O; MeOH
temp. amb.
OH
R
O
R1 R2
ref luxo
I2 ou Br2 (cat.)DMSO
25
OR1
R3
R2
O
OR1
R3 O
X
X
X = H, Br, I
R = H, OBn
R1 = H, Me, Et
R2 = H, Cl
R3 = H,OH, OBn
Esquema 5
+
2122
23
24
1.2.2.4. Reacção de reagentes de Wittig com cloretos de cinamoílo
Este outro método de obtenção de 2-estirilcromonas 20, originalmente usado
na síntese de cromonas mais simples,84 consiste na condensação de cloretos de
cinamoílo 28 com [1-(2-hidroxibenzoíl)metilideno]trifenilfosforanos 27 em meio
fortemente alcalino, obtendo-se rendimentos moderadamente bons variando
consoante os substituintes presentes, podendo mesmo chegar aos 70% no caso
particular da 6-metoxi-8-vinil-2-estirilcromona.85 Os fosforanos podem ser obtidos
por tratamento de 2-halo-2’-hidroxiacetofenonas 25 com trifenilfosfina (26)
(esquema 6).35
Introdução
12
P(Ph)3
OH
OR1 R2
O
O
R1
X
OH O
R1
P(Ph)3C
Cl
O
R2
X = Cl ou Br 1. Piridina;2. NaOH ou NaOMe/MeOH
tolueno
Esquema 6
refluxo+ +
25
26
2728
20
Br
1.2.2.5. Ciclização de cetonas acetilénicas
Um outro método, bastante menos usado que os referidos anteriormente, e
que também possibilita a síntese de 2-estirilcromonas 20, baseia-se na ciclização,
por catálise em meio ácido, de cetonas acetilénicas 31 (esquema 7). Estas podem
ser obtidas por condensação de 2’-tetra-hidropiraniloxifenilacetilenos 29, na
presença de butil-lítio, com cinamaldeídos adequados 30, seguida da oxidação do
álcool obtido com MnO2.86
R1
OTHP
H O
R2
OH
R1
O
R2
OR2
O
R1
Esquema 7
BA
A: 1. BuLi, THF; 2. PhCH=CHCHO; 3. MnO2;
4. p-toluenossulfonato de piridínio/EtOH.
B: HBr (aq.), dioxano.
29
30
31
20
Introdução
13
1.2.2.6. Rearranjo de Baker-Venkataraman
Dado à sua eficiência sintética, o método de Baker-Venkataraman é um dos
métodos mais usados na síntese de 2-estirilcromonas. O procedimento base
deste método87 (esquema 8, passos ABC) consiste no tratamento de uma 2’-
hidroxiacetofenona 32 com um ácido cinâmico 30 (ou um derivado) originando
uma 2’-cinamoíloxiacetofenona 33, seguido de um rearranjo, por catálise básica,
que envolve a transposição do grupo cinamoílo do éster 34 obtido numa 1,5-diaril-
3-hidroxipenta-2,4-dien-1-ona 35 (que em solução se encontra em equilíbrio com
a correspondente forma dicetónica). O último passo nesta síntese consiste na
ciclodesidratação dos compostos 35 levando à formação das desejadas 2-
estirilcromonas 36.
As modificações mais significativas a este método, introduzidas como forma
de adaptar as condições reaccionais a uma ampla variedade de compostos,
envolvem a mudança dos reagentes usados e/ou a eliminação de passos do
procedimento.60,61,88
Uma importante modificação ao método de Baker-Venkataraman foi a
suavização das condições experimentais inerentes ao passo de ciclodesidratação.
Esta, originalmente processada em condições ácidas fortes, misturas de ácido
acético e ácido clorídrico ou ácido acético e ácido sulfúrico, pode também ser
processada através do uso de ácido p-toluenossulfónico ou uma quantidade
catalítica de iodo em DMSO quente (90-100 ºC) (esquema 8, passo C.ii).61
A O-acilação é geralmente uma etapa simples mas, em alguns casos, o uso
dos procedimentos padrão torna-se difícil, como na síntese de 5-hidroxi-2-
estirilcromonas 36 (R1 = 5-OH). Através de trabalhos recentes concluiu-se que
uma boa maneira de contornar este caso é o tratamento de uma 2’,6’-di-
hidroxiacetofenona adequada com ácidos cinâmicos na presença de N,N-diciclo-
hexilcarbodiimida (DCC) e de uma quantidade catalítica de 4-pirrolidinopiridina
(esquema 8, passo A.ii)).60,61 Esta adaptação ao método permitiu, na síntese de
diversas 2-estirilcromonas, obter rendimentos muito mais satisfatórios em relação
ao procedimento original.89
Introdução
14
OH
R1XOC
R2
O
R1 OR2
O
O
A
E
R1
OOH OH
R2
R1O
O
R2
C
A: i) Z = H; X = OH; POCl3, py, temp. amb.,N2.
ii) X = OH, DCC, 4-pirrolidinopiridina, CH2Cl2, temp. amb., N2.
B: KOH, piridina, temp. amb. ou NaH, DMSO, temp. amb.
C: i) H2SO4, refluxo ou 2% H2SO4/HCl em AcOH, refluxo ou
ii) DMSO/ácido p-toluenossulfónico ou DMSO/I2, 90-100 ºC.
D: Z = H, X = -O2CAr, (n-Bu)4N+HSO4-, C6H6, K2CO3 (aq.), 70-80 ºC.
E: Z = CH3 ou Ph, X = Cl, K2CO3, acetona, refluxo, 12h.
R1 = H, OH
R2 = H,Me,OBn,Cl,NO2
Esquema 8
BD
Z
Z
+
32
3334
35
36
Z Z
Formadicetónica
A optimização da síntese de 2-estirilcromonas tem permitido o estudo da sua
reactividade. Sabe-se que através de reacções pericíclicas, como reacções de
electrociclização e cicloadição, as 2-estirilcromonas podem ser transformadas
noutros compostos heterocíclicos como xantonas, flavonas, pirazolinas, pirazóis e
triazóis.11,90-93
Introdução
15
1.3. A ligação C-glicosídica
Na natureza, os compostos fenólicos encontram-se frequentemente
associados a unidades de hidrato de carbono.
Estas, possuem um papel muitas vezes crucial na exibição das actividades
biológicas dos compostos aos quais estão ligadas.94 Dado à sua maior ocorrência
natural, a ligação O-glicosídica é a que possui maior destaque sendo, de longe, a
mais estudada e abordada em publicações científicas.94 Acontece que, na
natureza, para além da ligação O-glicosídica existem também as ligações S-, N- e
C-glicosídicas.13 Entre estas, a ligação C-glicosídica possui uma característica que
a distingue de todas as outras e que tem despertado o interesse dos cientistas.95
Esta última é extremamente estável em meio ácido, sendo, portanto, resistente à
hidrólise.13,96,97 Tal facto pode proporcionar vantagens e melhorias apreciáveis na
actividade biológica de alguns compostos usados como fármacos, aumentando a
hidrofilicidade dos mesmos, característica essencial para uma eficiente acção no
citoplasma celular.
A avaliação da actividade biológica de compostos C-glicosilados naturais
não deixa quaisquer dúvidas quanto ao interesse em sintetizar compostos com
esta característica.98
Neste tópico irá ser abordada a importância biológica da ligação C-
glicosídica, quer em compostos naturais, quer em derivados sintéticos com
elevado potencial medicinal. Serão também discutidos os métodos sintéticos mais
usados, salientando o importante papel do triflato de escândio(III) no processo de
C-glicosilação.
1.3.1. Importância a nível biológico
A grande maioria dos compostos C-glicosilados naturais encontra-se
distribuída pelo mundo vegetal.10
Introdução
16
Os metabolitos secundários C-glicosídicos encontrados nas plantas são,
maioritariamente, derivados dos seguintes cinco tipos de cromóforos aromáticos:
flavonas, como por exemplo a vitexina (37); xantonas, tal como a mangiferina
(38); cromonas99 como a aloesina (39); antronas como a aloina (40), e ácido
gálico, salientando-se a título de exemplo a bergenina (41).94
O
OH
OOH
HO
OHO
OH
HO
OH
O OHHO
HO
O OH O
OH
OH
OH
OH
O
CH3 O
CH3
O
HO
OHO
HO
OH OH
O
OH
OH
OHHO
OH
OH O OH
O
O
OH
HO
H3CO
OH
O
OH
OH
H
H
37
38
39
40
41
A ligação C-glicosídica foi também detectada no metabolismo dos
mamíferos, tendo sido comprovada a existência de C-glucoronídeos de
fenilbutazona, por exemplo, na urina humana e de um derivado de tetra-
hidrocanabinol C-glicosilado num rato.94 Os C-glicosídeos também se encontram
em insectos, sendo um exemplo clássico o corante vermelho designado de ácido
carmínico (42) que pode ser encontrado na espécie Dactylopius. Também já
foram identificados derivados C-glicosilados no metabolismo secundário de
determinadas bactérias.94
Introdução
17
O OH
OHOCH3
HO
HO2C
OH
O
OH
OH
OH
OH
42
Tal como já foi referido, os compostos C-glicosilados ocorrem
abundantemente no reino vegetal, sendo os flavonóides a família de compostos
mais representativa da existência da ligação C-glicosídica nos compostos
naturais.10 Nos flavonóides, as unidades C-glicosídicas encontram-se geralmente
ligadas às posições C6 e/ou C8 do anel A.100
O processo biossintético de C-glicosilação encontra-se ilustrado do esquema
9. Este, envolve a C-alquilação resultante do ataque de um carbono nucleofílico
adequado (existente por exemplo em sistemas aromáticos activados por grupos
fenólicos 43) ao hidrato de carbono activado pela UTP (uridina trifosfato) -
estrutura 44.13 Os C-glicosídeos resultantes 45 possuem uma nova ligação C-C
muito estável e resistente quer à hidrólise química, quer à hidrólise enzimática,101
requerendo a sua clivagem o tratamento com um agente oxidante.13
Os C-glicosilflavonóides podem ser encontrados na natureza em quatro
diferentes formas possíveis: mono-C-glicosilflavonóides, di-C-glicosilflavonóides,
O-glicosil-C-glicosilflavonóides e O-acil-C-glicosilflavonóides.10
Relativamente às suas propriedades biológicas, os C-glicosilflavonóides são
eficientes agentes insecticidas, moluscicidas e antibacterianos, protegendo as
plantas de variados agressores.10,102 Além destas actividades, estudos biológicos
têm vindo a comprovar o elevado potencial farmacológico destes compostos
noutros tipos de actividades biológicas.104 Para além de possuírem elevada
actividade antioxidante, 103 possuem também actividade antibiótica, anti-
inflamatória (destaque-se a 6,8-di-C-glucosilapigenina (46), vulgarmente
designada por vicenina-2, que demonstrou possuir superior actividade em relação
à sua aglícona naringenina),100 antibacterial, 104 antiviral,104 hipotensiva 105
Introdução
18
(nomeadamente variados 6,8-di-C-glicosilflavonóides, 106 encontrados
principalmente nas árvores de citrinos e na camada exterior destes frutos105,106 e
as 6-C-glicosilflavonas).98 Alguns destes compostos possuem também actividade
antitumoral,107 tendo sido demonstrado que derivados que contenham um grupo
trans-cafeoílo possuem actividade citotóxica contra as células leucémicas
linfócitas P388.98
glucose 1-fosfato
UTPP
OH
O
O
P
OH
O
O CH2 O
HO OH
N
O
O
UDP glucose
OH
HO
OH
Esquema 9
OHOHO
OH
OH
OP
H
OHOHO
OH
OH
O
H
OHOHO
OH
OH
H
+
HO
C--D-glucopiranosil-2,6-di-hidroxibenzeno
43
44
45
Uma prova convincente do interesse neste tipo de compostos é a patente,
que data do ano 2008, de uma série de análogos da C-glicosil-apigenina com
actividades oftalmológica (interesse no tratamento da degeneração macular); anti-
diabética, anti-arteriosclerótica, vasotrópica, neuroprotectiva, anti-inflamatória e
citostática.108
Introdução
19
HO
OH
46
OHO
HOOH
OH O
OH
O
O
HO
HO
HO
OH
O interesse farmacológico dos compostos C-glicosilados não se resume às
suas propriedades biológicas. Identificar substâncias naturais ou sintetizar novas
substâncias que possam ter propriedades biológicas não é, hoje em dia, o passo
limitante para a síntese de um fármaco. O grande dilema com que os cientistas se
deparam é sim a funcionalização e a compatibilidade desses mesmos compostos
no organismo humano. Um dos problemas que se pode levantar é o da
hidrofilicidade dos compostos a nível celular. Ora, além dos compostos C-
glicosilados serem bastante estáveis em ambientes hidrolíticos, é possível
modular a hidrofilicidade/hidrofobicidade destes protegendo ou não os grupos
hidroxilo do hidrato de carbono.109 Este facto suscita uma promissora esperança a
nível farmacológico e tem tornado a química dos compostos C-glicosilados uma
química cada vez mais explorada e, consequentemente, mais vasta a nível da
síntese de novos derivados e da elucidação de novas e eficientes rotas sintéticas.
1.3.2. Síntese de C-glicosilflavonóides
Embora tenham já sido conseguidos progressos satisfatórios a nível da
síntese de C-glicosídeos, o desenvolvimento de métodos simples e práticos de C-
Introdução
20
glicosilação continua a ser um tópico importante e desafiante para os químicos
orgânicos sintéticos.109
A síntese de C-glicosilflavonóides, inicialmente, era concretizada recorrendo
à reacção de Friedel-Crafts entre um dador glicosídico e um composto aromático
activado, rico em electrões, à semelhança do que sucede na natureza. 110
Contudo, os rendimentos obtidos eram muito baixos.10 Na última década têm sido
propostos novos métodos mais eficientes.10,98,111 Seguidamente irão ser descritos
os métodos mais conhecidos para a síntese de C-glicosilflavonóides.
1.3.2.1. Uso de monossacarídeos fluorados
O conceito inerente a este método de C-glicosilação 112 de compostos
aromáticos desenvolvido por Kumazawa et al.10 exige que, numa fase inicial,
tendo em conta o composto final que se pretende obter, se planifique uma
estratégia de protecção regiosselectiva da acetofenona de partida (normalmente a
2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona).10 Relativamente ao passo da C-glicosilação, tal
como o esquema 10 ilustra, faz-se reagir a acetofenona (adequadamente
protegida) 47 com um monossacarídeo fluorado na posição anomérica e
protegido nas restantes posições (normalmente O-benzilado) 48, na presença de
um catalisador de Lewis, o complexo do trifluoreto de boro e éter etílico. Trata-se
de uma reacção controlada termodinamicamente. A temperatura reaccional inicial
(-78ºC) é gradualmente elevada até à temperatura ambiente, havendo a formação
inicial de um composto O-glicosilado intermediário que, através de um rearranjo
de Fries, no ambiente reaccional, dá lugar à formação estereosselectiva de um
composto -C-glicosilado.113,114
A reacção descrita permite a formação de uma ligação C-glicosídica entre o
carbono anomérico do hidrato de carbono (previamente fluorado) e a acetofenona
[na posição não substituída e mais activada que se encontra orto a um grupo
hidroxilo (estrutura 49)] via um rearranjo OC glicosídico altamente regio- e
esterosselectivo.10
Introdução
21
BnO
OH
BF3 . Et2O
CH2Cl2-78 ºC --> temp .amb.
OH
Esquema 10
OBnOBnO
FBnO
OBn
OBnOBnO
BnO
BnO BnO
OO
OBnOBn
47
48
49
1.3.2.2. Uso de trifluoroacetimidatos de glicosilo
Uma outra estratégia de C-glicosilação consiste na reacção de compostos
fenólicos 50 com tricloro- ou trifluoroacetimidatos de glicosilo 51, usando como
catalisador o triflato de trimetilsililo (TMSOTf) (esquema 11).115
Tanto este método como o anterior envolvem, numa primeira fase, a
formação do composto O-glicosilado que posteriormente sofre um rearranjo OC,
dando origem ao o-hidroxiaril-C-glicosídeo, de forma regiosselectiva. Este tipo de
reacções implica controlo termodinâmico. A conjugação das reactividades do
glicosilo dador e do aceitador aromático determina as condições reaccionais e
influencia a obtenção do C-glicosídeo pretendido 52 ou a formação de uma
mistura complexa composta por produtos de acoplamento, resultantes de
reacções colaterais.115 O rearranjo OC glicosídico pode ser compreendido como
um rearranjo de Fries.10
O
NPh
CF3
OHHO
OHTMSOTf, CH2Cl20 ºC--> temp .amb.
Esquema 11
OBnOBnO
BnO
OBn
OBnOBnO
BnO
OBn HO
50
51
52
Introdução
22
1.3.2.3. Uso de monossacarídeos desprotegidos
O uso de hidratos de carbono desprotegidos como dadores glicosídicos e a
“química verde” dos hidratos de carbono, é a nova geração de reacções de C-
glicosilação. 116 Têm-se feito esforços no sentido de desenvolver novas rotas
sintéticas ambientalmente favoráveis usando, sempre que possível, meios
aquosos e recorrendo também, mais recentemente, ao uso de líquidos iónicos.117
Esta nova técnica de glicosilação (esquema 12), devido em grande parte
ao uso de triflato de escândio(III) como catalisador, permite uma síntese
altamente regio- e β-estereosselectiva.100,105
O principal inconveniente desta técnica é a formação não desejada de
produtos de acoplamento entre as moléculas de hidrato de carbono.105 Apesar
deste facto, esta síntese tem vindo a proporcionar bons rendimentos reaccionais,
além de que é uma síntese extremamente segura quer para o investigador quer
para o meio ambiente.
OH OHOH
Esquema 12
OHOHO
OH
OH
OHOHO
OH
OH
O
OHOH
HO
OH
O OO
HO OH OHHOHO OH
+
Sc(OTf)3
OHOHO
OHOH
OH
EtOH/H2O (2:1)refluxo
1.3.2.4. O papel do triflato de escândio(III)
O trifluorometanossulfonato de escândio(III) [Sc(OTf)3] é um ácido de Lewis
extremamente forte, relativamente a qualquer outro trifluorometanossulfonato de
um metal de terras raras.118 Nos últimos anos, tem dado provas de ser um óptimo
Introdução
23
catalisador em síntese orgânica, apesar do inconveniente económico justificado
pela escassez de fontes de escândio.119
O triflato de escândio(III) é um ácido de Lewis que se destaca, pela sua
distinção, dos outros mais vulgarmente usados até à data, tais como o AlCl3, o
BF3, o SnCl4, etc. Enquanto que a maioria dos ácidos de Lewis se decompõe ou
desactivam na presença de água, o Sc(OTf)3 é estável e actua como ácido de
Lewis quer em meios orgânicos, quer em meios aquosos. Além deste facto, após
o término da reacção, o Sc(OTf)3 pode ser recuperado e reutilizado. Apesar dos
triflatos de lantanídeos [Ln(OTf)3; Ln= La, Ce, Pr, Nd, Sm, Eu, Gd, Tb, Dy, Ho, Er,
Tm, Yb, Lu] e do triflato de ítrio [Y(OTf)3] possuírem propriedades similares, está
comprovado que a actividade catalítica do Sc(OTf)3 é, geralmente, superior à dos
Ln(OTf)3.119 Este catalisador, tem-se revelado muito promissor em diversos tipos
de reacções orgânicas, nomeadamente em reacções que envolvem o rearranjo de
Fries, como os métodos de C-glicosilação abordados, dado que, como ácido de
Lewis, permite catalisar a formação de ligações C-C sem haver o problema da
possibilidade deste reagir com a água em vez de reagir com o substrato que se
pretende.119
1.4. Antioxidantes
Recentemente, quer por parte dos cientistas, quer mesmo por parte da
população mais informada, tem havido um interesse crescente nas propriedades
antioxidantes dos produtos naturais,120,121 muito motivado pela incidência cada
vez mais significativa de doenças crónicas tais como o cancro e doenças
cardiovasculares.122-124
Neste tópico será discutida a diversidade de antioxidantes naturais e
sintéticos, assim como a sua importância a nível biológico. Pretende-se também
explicitar o mecanismo de actuação dos antioxidantes quer nos organismos vivos,
quer nos alimentos.
Introdução
24
1.4.1. Importância e diversidade de antioxidantes naturais e sintéticos
O oxigénio é um componente essencial na vida dos organismos aeróbios. A
geração de intermediários reactivos de oxigénio (radicais hidroxilo, alcoxilo,
peroxilo e o anião superóxido) é inevitável no metabolismo celular. Estas espécies
são altamente tóxicas para os tecidos biológicos podendo originar danos celulares
permanentes e tornar o organismo mais susceptível a estados patológicos. Uma
vez que possuem um papel importante em reacções bioquímicas/fisiológicas do
corpo humano, são mantidas sob controlo por uma série de agentes protectores
enzimáticos e não enzimáticos.11 Vários são os antioxidantes naturais que os
organismos vivos biossintetizam como mecanismo de auto-protecção, nomeie-se,
por exemplo, no reino das plantas, os tocoferóis (vitamina E),125 a vitamina A, o
ácido ascórbico,126 os carotenóides, os flavonóides e os polifenóis em geral127 e,
no reino animal, a título de exemplo, a enzima superóxido dismutase, o ácido
úrico e lipóico, a glutationa e o NADPH.128,130
Caso haja uma deficiência por parte do sistema protector antioxidante ou na
presença de factores ambientais adversos (radiação ionizável, radiação
ultravioleta, xenobióticos, etc.) ocorre uma geração excessiva de espécies
reactivas de oxigénio e azoto (ROS e RNS, respectivamente) no metabolismo
celular que podem causar vários danos oxidativos nas biomoléculas (como os
ácidos gordos insaturados em membranas e o ADN), podendo levar à inactivação
enzimática, mutação, ruptura de membranas e mesmo à morte celular.128,129
A produção excessiva de radicais livres nas células, designada de stress
oxidativo, está associada ao desenvolvimento de doenças crónicas, inflamatórias
e degenerativas 130 assim como ao envelhecimento precoce dos tecidos
cutâneos.131 Estudos realizados têm demonstrado que algumas doenças como a
arteriosclerose, diabetes, atrite, epilepsia, cancro, Parkinson e Alzheimer têm
como causa e/ou sintomas relacionados a geração excessiva de espécies
radicalares.35,130-134
O estudo das propriedades biológicas dos antioxidantes naturais despertou
para o seu inequívoco interesse farmacológico.135,136
Introdução
25
As antocianinas 53, no âmbito da química dos agentes antioxidantes
polifenólicos, possuem um destaque especial.10 São pigmentos pertencentes ao
grupo dos flavonóides, frequentemente glicosilados na posição 3,10 existentes em
diversas plantas e frutos vermelhos.137
Uma das estratégias adoptadas na síntese de antioxidantes com potencial
aplicação farmacológica consiste na modificação estrutural (introdução/eliminação
de grupos funcionais; alterações no arranjo espacial molecular) de compostos
antioxidantes naturais de forma a tentar aprimorar/potenciar a sua actividade
biológica. A estratégia alternativa envolve a síntese total ou a semi-síntese de
novos compostos líder atendendo às características estruturais conhecidas que
caracterizam um bom agente antioxidante.138,139
O
R5
R6
R7
O
R5'
OH
R3'
glc
A C
B
53
Estudos acerca da relação estrutura/actividade antioxidante evidenciam a
importância e o destaque do grupo dos flavonóides na química dos agentes
antioxidantes. Concluiu-se que a presença do núcleo cromona (importância da
insaturação C2=C3 conjugada com a função cetónica em C4, de grupos orto-di-
hidroxilo no anel B e de grupos hidroxilo nas posições C3 e C5, constituem as
características estruturais óptimas para um potente agente antioxidante.140 , 141
Constatou-se ainda que a glicosilação do grupo 3-OH reduz fortemente a
actividade antioxidante dos flavonóis e que a ausência de um grupo catecol no
anel B pode ser compensada pela sua presença no anel A (assumindo o papel
central de acção antioxidante) mas nunca com superior actividade biológica.142
Introdução
26
Outra aplicação dos agentes antioxidantes é o seu uso na indústria
alimentar, desde 1940, 143 tendo por objectivo o prolongamento do prazo de
validade dos alimentos, nomeadamente das gorduras. Este facto impulsionou o
fabrico e o uso de antioxidantes sintéticos, tais como o 2-t-butil-4-metoxilfenol
(BHA) (54) e o 2,6-di-t-butil-4-metilfenol (BHT) (55). O esquema 13 ilustra a
actividade sinérgica destes dois aditivos alimentares.144
OH
OCH3
54
O
OCH3
ROO
Esquema 13
OH
CH3
55
O
OCH3
54
O
ROO CH3
ROOH
O
CH3
ROO
+
+
+
+
Trabalhos recentes145 têm vindo a alertar a comunidade científica acerca das
desvantagens dos agentes antioxidantes sintéticos, principalmente para uso na
indústria alimentar, salientando a sua elevada toxicidade, comparada com os
antioxidantes naturais. Como resposta a esta realidade, tem-se vindo a
desenvolver culturas de plantas in vitro, idealizadas, neste contexto, para a
biossíntese controlada e acumulação de compostos antioxidantes nas células
vegetais.146
Introdução
27
1.4.2. Acção antioxidante dos flavonóides
A actividade antioxidante de um composto é determinada pela sua
capacidade de doação de átomos de hidrogénio e/ou de electrões e/ou pelo seu
potencial quelante de iões de metais de transição, pela sua reactividade com
outros antioxidantes e capacidade de neutralização de radicais (estabilização
radicalar).35
Entre os metabolitos fitoquímicos, as flavonas e os flavonóis (3-
hidroxiflavonas), assim como as antocianinas, como já foi referido, são os
flavonóides que, devido à sua abundância natural e contribuição para a protecção
contra várias doenças em que estão envolvidas espécies oxidantes, têm merecido
maior destaque no âmbito da química dos agentes antioxidantes.147-149
Os flavonóides possuem excelente capacidade de captação/sequestração
de radicais livres e de complexação com iões metálicos, assim como de exibir
efeitos sinérgicos com outros agentes antioxidantes.10,141,150
O potencial de oxidação-redução dos flavonóides, viabilizado pela
presença de grupos substituintes doadores de átomos de hidrogénio/electrões,
permite a redução de radicais livres. O elemento estrutural de maior relevância
para a actividade antioxidante dos flavonóides é, claramente, a presença de um
grupo catecol no anel B. A estabilidade dos radicais formados nestas unidades
resulta do estabelecimento de interacções de hidrogénio entre o grupo hidroxilo e
o átomo de oxigénio com um electrão desemparelhado (esquema 14).150
O
OR
R
OH
O
OR
R
O
O
H
X X H
X = ROS ou RNS
R = H ou OH
Esquema 14
+ +
RR
OH
Introdução
28
Por outro lado, são compostos estruturalmente dotados de uma excelente
capacidade de estabilização radicalar resultante da deslocalização de electrões
desemparelhados com formação de radicais fenoxilo que, sendo bastante
estáveis, impedem a formação e a propagação de novos radicais.35 Saliente-se a
importância estrutural, evidenciada no esquema 15, da insaturação presente no
anel C conjugada com o grupo 4-oxo na possibilitação de deslocalização
electrónica.
O
O
OH
OH
O
O
O
O
O
O
O
OH
O
O
O
OHO
O
O
OH
O
O
O
OHO
O
O
OH
ROO
H
Esquema 15
Um outro modo de estabilização dos radicais flavonóide é através da
reacção de término da reacção radicalar com a formação de quinonas – reacção
de disproporção (esquema 16).35
Outro dos mecanismos de acção antioxidante dos flavonóides, como já foi
referido, é a complexação de iões metálicos, fortemente dependente do arranjo
Introdução
29
espacial dos grupos hidroxilo e do grupo carbonilo do anel C na molécula.150,151 A
interacção existente entre flavonóides e iões metálicos não está totalmente
compreendida conhece-se, no entanto, a importância da presença de um sistema
o-di-hidroxilo, 3-hidroxi-4-oxo ou 5-hidroxi-4-oxo para a viabilização de formação
de complexos metálicos (sendo o primeiro sistema o que proporciona maior
estabilidade) e ainda que o pH do meio tem um papel preponderante.88,152
O
O
OH
O
2
O
O
O
O
O
O
OH
OH
Esquema 16
+
Sabe-se que, atendendo à reacção de Fenton, os iões ferro(II) e também os
de cobre(I) induzem stress oxidativo nos sistemas biológicos.
H2O2 Fe2+ OHOH Fe3+Reacção de Fenton: + + +
Os iões metálicos são necessários ao organismo humano e estão
envolvidos em diversos processos fisiológicos contudo, quando se acumulam
exageradamente, podem catalisar a formação de espécies reactivas e
desencadear estados patológicos. 153 Os fármacos usados no tratamento de
doenças devido à acumulação excessiva de ferro(II) têm efeitos secundários
tóxicos e, portanto, uma boa alternativa é a exploração do potencial quelante dos
flavonóides. A complexação de iões metálicos pró-oxidantes pelos flavonóides é
também importante na inibição da oxidação do ácido ascórbico presente em
sumos de fruta, oxidação esta gerada pelo oxigénio e catalisada por iões ferro(II)
e cobre(II).11
Introdução
30
Como já foi referido, a actividade antioxidante é importante tanto para
proteger o corpo humano dos malefícios dos radicais livres, como para ajudar a
conservar os alimentos. A peroxidação lipídica pode ocorrer nos alimentos através
da auto-oxidação de ácidos gordos insaturados, levando ao rançar dos óleos e
gorduras, mas também pode ocorrer no organismo humano através do ataque de
espécies reactivas de oxigénio às camadas fosfolipídicas das membranas
celulares. Os flavonóides ao complexar iões de metais de transição
(principalmente o cobre e o ferro) e ao captarem/sequestrarem os radicais livres
impedem o início da oxidação de ácidos gordos poli-insaturados, aniquilando
também os radicais formados (radicais peroxilo e alcoxilo) nos passos de
propagação (actividade antilipoperoxidante).11
Relativamente à relação estrutura/actividade antilipoperoxidante dos
flavonóides sabe-se que a presença de grupos 3,5-di-hidroxilo ou 3’,4’-di-hidroxilo
em conjugação com a ligação dupla C2=C3 e a função carbonílica do anel C
conferem uma actividade óptima.154
Existem vários métodos para a avaliação do potencial antioxidante de um
composto entre os mais usados saliente-se o estudo da redução de iões
metálicos (Fe(III), Cu(II)) e de radicais livres, como o como o método do radical
2,2-difenil-1-picril-hidrazilo (DPPH•). Este último, frequentemente usado na
determinação do potencial antioxidante de compostos polifenólicos, consiste no
controlo espectrofotométrico da redução do radical DPPH• (solúvel em metanol,
etanol ou DMSO) por parte do composto em estudo.155
1.5. C-Glicosil-2-estirilcromonas: potencial actividade antioxidante
No âmbito do estudo de compostos com potencial actividade antioxidante,
pelos motivos já explicitados, é muito pertinente considerar um grupo muito
peculiar de cromonas, as estirilcromonas. Efectivamente, dado ao historial de
sucesso a nível do poder antioxidante das cromonas (em especial dos
flavonóides), e ao já abastado número de publicações neste campo, é
Introdução
31
interessante ampliar os horizontes de estudo e explorar outro tipo de compostos
análogos, menos estudados, que partilhem aspectos de estrutura/actividade
semelhantes e que, portanto, possam ser tanto ou mais capazes de actuar como
agentes antioxidantes.
As estirilcromonas, amplamente estudadas pelo grupo de Química Orgânica
da Universidade de Aveiro, têm vindo a demonstrar, como já referenciado, várias
actividades nomeadamente actividade antioxidante. O grande desafio deixou de
ser a actividade antioxidante destes compostos in vitro para passar a ser a sua
actividade nos sistemas biológicos, a sua actividade in vivo. Ora, tal objectivo
implica não só sintetizar um composto com potencial actividade antioxidante mas
também um composto compatível e receptível pelo organismo humano, capaz de
interaccionar com o citoplasma celular. Sabe-se que os flavonóides, entre outros
compostos naturais, se encontram na natureza predominantemente na forma de
glicosídeos. A perfeição da natureza jamais será alcançada pelos cientistas mas a
observação e a compreensão dos processos naturais é certamente um bom
caminho para a idealização de fármacos que possam mimetizar os segredos que
a natureza encerra nomeadamente na biossíntese de agentes fitoquímicos tão
poderosos a nível medicinal, já explorados desde há muito tempo pelas
civilizações antigas. À glicosilação de 2-estirilcromonas está associada uma
grande potencialidade de lhes proporcionar uma característica essencial para a
sua actuação no citoplasma celular, a hidrofilicidade. A C-glicosilação, em
especial, permite que a ligação estirilcromona-hidrato de carbono seja estável em
meios hidrolíticos, o que tem todo o interesse no contexto da possível aplicação
destes compostos como fármacos no organismo humano.
Em suma, o desenvolvimento de rotas sintéticas de C-glicosil-2-
estirilcromonas e a posterior avaliação da actividade biológica é um estudo que
pode ser extremamente enriquecedor no âmbito da química dos agentes
antioxidantes e da química orgânica em geral.
32
Esquematização experimental
33
2. Esquematização experimental
Esta dissertação, no âmbito da síntese de (E)-C-glucosil-2-estirilcromonas,
aborda duas temáticas distintas, a síntese de (E)-2-estirilcromonas através do
método de Baker-Venkataraman (esquema 16) e a C-glucosilação de compostos
polifenólicos (esquemas 17 e 18).
Inicialmente, é abordada a síntese da (E)-5,7,4’,5’-tetrametoxi-2-
estirilcromona (61) através do método referido e o estudo da sua desmetilação
selectiva que permitiu a obtenção da (E)-5-hidroxi-7,3’,4’-trimetoxi-2-
estirilcromona (61a), da (E)-4’,5,5’-tri-hidroxi-7-metoxi-2-estirilcromona (61b) e da
(E)-3’,4’,5,7-tetra-hidroxi-2-estirilcromona (61c). A síntese do composto de partida
para o seguimento do método de Baker-Venkataraman, a 2’-hidroxi-4’,6’-
dimetoxiacetofenona (57), foi procedida da dimetilação da floroacetofenona
[2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56)] (esquema 17).
Relativamente à C-glucosilação de compostos polifenólicos é feito o estudo
de optimização da mono-C-glucosilação da floroacetofenona (56), através do uso
de D-glucose desprotegida (62) em meio aquoso, tendo-se preparado com
sucesso o derivado C-glicosilado dimetoxilado, a 3’-C-β-D-glucopiranosil-2’-
hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (63) (esquema 18). É ainda estudado um outro
método regio- e estereosselectivo de C-glucosilação, o uso de fluoreto de 2,3,4,6-
tetra-O-benzil--D-glucopiranosilo (67) que, partindo da 2’-hidroxi-4’,6’-
dimetoxiacetofenona (57), permitiu a obtenção do composto glicosilado
pretendido, a 3’-(1-desoxi-2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-
4’,6’-dimetoxiacetofenona (68) (esquema 19). A C-glucosilação das acetofenonas
referidas foi encarada como um estudo prévio das duas metodologias sintéticas
para a sua aplicação na C-glicosilação directa de (E)-2-estirilcromonas mas
também como potenciais reagentes de partida chave na síntese de 2-
estirilcromonas C-glicosiladas.
Esquematização experimental
34
OMeMeO
OH O
OHHO
OH O
56
57
Me2SO4 (3 eq.),K2CO3 (6 eq.),
acetona, refluxo
COMe
OMe
OMeMeO
O O
O
CO2H
OMe
MeO
58
Py, POCl3, 60 ºC (método I)
ou
CH2Cl2, DCC, 4-pirrolidinopiridina,temp. amb. (método II)
59
OMe
OMe
OMeMeO
OH O OH
OMe
OMe
OMeMeO
OH O O
60b 60a
DMSO, KOH, temp.amb.
O
O
MeO
OMe
OMe
61
Ácido p-toluenossulfónico,DMSO, 90 ºC
OMe O
O
MeO
OH
OMe
62a
BBr3/CH2Cl2, -78 ºC ->
temp. amb.
OMe
Composto de partida:floroacetofenona
O
O
HO
OH
OH
62c
OH
O
O
MeO
OH
OH
62b
OH
BBr3/CH2Cl2, -78 ºC
-> temp. amb.
i)AlCl3, CH3CN,
ref luxo.
ii)HCl (aq)
Esquema 17
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
Esquematização experimental
35
OHHO
OH O
56
O
O
HO
OH
OH
62c
OH
OMeMeO
OH
OH
a) Sc(OTf)3, EtOH:H2O (2:1)
HO OH
b) Me2SO4, K2CO3, acetona
OH
O OH
rearranjoO -> C
glicosídico
64
65 66
O
OO
OHOHO
OH
OH
OHOHO
OH
OH
OHOHO
OH
OH
OHOHO OH
OH
OH
a) Sc(OTf)3, CH3CN:H2O (2:1)
b) Py, Ac2O, 4-DMAP, temp. amb.
OHOHO OH
OH
OH
Reacção ainda em estudo...
O
O
AcO
OAc
OAc
OAc
OAcOAcO
OAc
OAc
Esquema 18
C-Glucosilação de compostos polifenólicos pelo método dos glicosídeos desprotegidos
63
63
67
Esquematização experimental
36
OMeMeO
OH O
57
O
O
MeO
OH
OMe
62a
OMe
BF3 . Et2O
CH2Cl2-78 ºC --> temp .amb.
OH
OBnOBnO
FBnO
OBn
OBnOBnO
BnO
BnO MeO
O
OMe
68
69
OOBnO
BnOBnO
BnO
MeO
O
OMe
70
O
O
MeO
OH
OMe
OMe
OBnOBnO
OBn
OBn
Esquema 19
OBnOBnO
FBnO
OBn
68
OHHO
OH O
56
C-Glucosilação de compostos fenólicos pelo método dos glicosídeos fluorados
O
O
MeO
OMe
OMe
OMe
61
71
diclorometano
BF3.Et2O
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
37
3. Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
3.1. Preparação do composto de partida para a síntese da 5,7,4’,5’-
tetrametoxi-2-estirilcromona (61)
O método de Baker-Venkataraman envolve, incialmente, como já foi referido,
a cinamoílação (selectiva) de uma 2’-hidroxiacetofenona. Dado pretender-se
proceder à monocinamoílação houve a necessidade de proteger previamente a
floroacetofenona (56).
A escolha de um grupo protector terá que envolver, entre vários critérios, a
facilidade e selectividade da sua introdução e clivagem final assim como a
resistência às condições reaccionais envolvidas ao longo de todos os passos
sintéticos. Entre os diversos grupos protectores que podem ser usados na
protecção de grupos hidroxilo fenólicos os mais usados são os grupos metilo e
benzilo.156 Sabe-se que a clivagem de éteres metílicos exige condições mais
agressivas do que a clivagem de éteres benzílicos, suscitando alguns problemas
na clivagem selectiva dos grupos existentes, como se irá abordar neste trabalho.
No entanto, estudos já concretizados156 evidenciam a dificuldade da 4’,6’-
dibenzilação da 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56) dado à formação da 2’-hidroxi-
3’-benzil-4’,6’-dibenziloxi-acetofenona como produto secundário e de difícil
separação do composto pretendido. Neste trabalho, tendo-se procedido a uma
síntese linear e tendo em consideração a inevitável desfavorável repercussão a
nível do rendimento global inerente a este tipo de síntese, optou-se pela
protecção da 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56) na forma de éteres metílicos de
forma a obter o melhor rendimento possível e contornando a necessidade do uso
de métodos cromatográficos logo no primeiro passo reaccional.
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
38
3.1.1. Dimetilação da 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56)
A síntese da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57) de partida, envolveu a
protecção de grupos hidroxilo fenólicos sob a forma de éteres metílicos. Tratou-se
a 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56) com sulfato de dimetilo (3 equiv.) e carbonato
de potássio (6 equiv.), em refluxo de acetona durante 30 min. (esquema 20). O
composto desejado foi facilmente isolado por cristalização em etanol, obtendo-se
o composto puro na forma de cristais brancos com o rendimento de 65%.
OMeMeO
OH O
OHHO
OH O
56 57
A
A: Me2SO4 (3 equiv.), K2CO3 (6 equiv.),acetona, refluxo, 30 min.
Esquema 20
Trata-se de uma reacção regiosselectiva em que há a metilação selectiva
dos grupos hidroxilo das posições C-4’ e C-6’ da acetofenona 56. A ligação em
ponte de hidrogénio em que o grupo hidroxilo da posição C-2’ está envolvido não
facilita a sua metilação. Porém, se se prolongar ligeiramente o tempo de reacção,
nas condições reaccionais descritas, há o favorecimento da formação da
acetofenona trimetilada, surgindo como composto secundário e que, para além de
representar um decréscimo do rendimento reaccional, implica proceder a uma
purificação cromatográfica (usando como eluente diclorometano).
Uma outra metodologia experimental consiste no tratamento da 2’,4’,6’-tri-
hidroxiacetofenona (56) com apenas 2 equiv. de sulfato de dimetilo, envolvendo
um período reaccional de 12 h e obtendo-se o composto desejado com um
rendimento de 86%.89
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
39
A metodologia mais rentável terá que envolver, certamente, um
compromisso entre a economia de reagentes, o tempo reaccional mas, sobretudo,
o rendimento obtido. Assim, uma vez que o método alternativo publicado permite
a obtenção de um melhor rendimento, considera-se que será o método mais
eficiente, embora envolva um maior período reaccional.
3.2. Cinamoílação da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57)
A primeira etapa na síntese de 2-estirilcromonas através do método de
Baker-Venkataraman, já anteriormente explicitado, consiste na cinamoílação de
2´-hidroxiacetofenonas apropriadas.
No presente trabalho procedeu-se à síntese da 2’-cinamoíloxiacetofenona 59
através de dois métodos alternativos que revelaram eficiências bastante distintas
na síntese particular do composto 59. Recorreu-se ao uso de cloretos de
cinamoílo preparados in situ, através da adição de ácidos cinâmicos e cloreto de
fosforilo (método I, condições experimentais A - esquema 21), e a um segundo
método (identificado como método II), a reacção de Steglich,157 que surge neste
contexto como uma modificação/adaptação ao método original e envolve o uso do
ácido cinâmico apropriado 58, de N,N-diciclo-hexilcarbodiimida (DCC) e 4-
pirrolidinopiridina como catalisador (condições experimentais B, esquema 21).
Ambos métodos encontram-se mais pormenorizadamente discutidos em seguida.
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
40
OMeMeO
OH O
57
COMe
OMe
OMeMeO
O O
O
+
CO2H
OMe
MeO
58
A ou B
A: Py, POCl3, 60 ºC, 2 h. (método I - = 49%)B: CH2Cl2, DCC, 4-pirrolidinopiridina, temp. amb., 6 dias (método II - = 89%)
59
Esquema 21
3.2.1. Método I
Inicialmente optou-se pela cinamoílação da acetofenona 57 pelo
procedimento original do método de Baker-Vankataraman recorrendo, portanto,
ao uso de cloretos de cinamoílo. Para tal, a uma solução de acetofenona 57 em
piridina seca adicionou-se o ácido cinâmico apropriado 58 e cloreto de fosforilo,
permanecendo a mistura com agitação magnética, a 60 ºC, sob uma atmosfera de
azoto durante um período de 2 horas. O produto da reacção foi isolado do ácido
cinâmico 58 usado em excesso, por purificação cromatográfica em coluna de
sílica, usando clorofórmio como eluente, obtendo-se o composto sólido desejado
(cristais brancos) por cristalização em etanol.
O mecanismo da reacção envolve a formação incial de um cloreto de
cinamoílo i) que, posteriomente, é alvo de um ataque nucleofílico (ao carbono
carbonílico) pelo grupo hidroxilo da acetofenona 57, levando à obtenção do éster
cinâmico desejado 59 (esquema 22).
O insatisfatório rendimento obtido nesta transformação (49%), sugeriu a
exploração de um outro método que, como já foi referido na introdução deste
trabalho, tem revelado ser bastante eficente na síntese de determinados ésteres
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
41
cinâmicos em que não se obtinham rendimentos satisfatórios pelo método em que
se usa POCl3.
OH
OMe
OMe
C
OMe
OMe
O
O
P
O
Cl ClCl
OMe
OMe
OP
OCl
ClCl
C
OMe
OMe
O
P
O
ClCl
OClC
OMe
OMe
OP
O
ClCl
OCl H
C
OMe
OMe
O
ClOC
OMe
OMe
O
Cl
H
Py
O
OMeMeO
C COHO
O
OMe
MeO
MeO
OMe
O
O
Esquema 22
i)
59
57
58
H
3.2.2. Método II
O segundo método adoptado60 para a síntese do éster cinâmico 59
consistiu na O-acilação da acetofenona de partida 57 por tratamento, em
dicloromentano, com o ácido cinâmico adequado 58, DCC e uma quantidade
catalítica de 4-pirrolidinopiridina. Este método alternativo envolve condições
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
42
experimentais mais suaves que a metodologia anterior, permanecendo a mistura
reaccional com agitação magnética à temperatura ambiente.
OHC
OMe
OMe
O
OH
O
OMeMeO
N C N
C
OMe
OMe
OO
HN
N
O O
OMeMeO
C
OMe
OMe
O
NH
O
NH
Esquema 23
58
59
57
+
O mecanismo genérico desta transformação (esquema 23) prevê a
formação de uma O-acilureia intermediária 1 que promove o ataque nucleofílico
do grupo hidroxilo da acetofenona 57 ao aglomerado cinâmico, formando-se a
diciclo-hexilureia 2 que precipita nas condições reaccionais usadas e pode ser
facilmente removida por filtração.
Este método revelou ser muito mais eficiente em relação ao método I (já
discutido) quer em termos de rendimento da reacção, obtendo-se um óptimo
rendimento de 89%, quer no que diz respeito à purificação do éster cinâmico
obtido 59 que não implica forçosamente purificação cromatográfica, ao contrário
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
43
do que sucede no método I. Porém, dado à aptidão da DCC para a formação de
produtos secundários, através do rearranjo da O-acilureia 1 (esquema 24) dando
origem a uma N-acilureia , na presença de ácidos cinâmicos,90 houve a
necessidade de adoptar determinados cuidados experimentais.
MeO
OMe
CO
O
NHN MeO
OMe
CN
O
NH
O
Esquema 24
Concluiu-se que a adição de 1 equiv. de ácido cinâmico no início da reacção
promovia a formação da N-acilureia referida, inviabilizando a formação do éster
59 e portanto, para além de haver a formação de um composto secundário
extremamente difícil de separar cromatograficamente, dado à proximidade de Rf
com o éster, induzia um drástico decréscimo no rendimento da reacção ( = 45
%). Como forma de contornar este problema alterou-se a quantidade de ácido
cinâmico 58 adicionada inicialmente na reacção. Adicionou-se 0,6 equiv. de ácido
e, após um período de 3 dias adicionou-se novamente 0,6 equiv. (adicionando-se
também ao fim deste período metade da quantidade molar de DCC e 4-
pirrolidinopiridina adicionados no início da reacção dado à natural degradação
destes últimos ao longo do tempo). Tal procedimento inibiu a formação da N-
acilureia, , permitindo a obtenção do éster cinâmico em bom rendimento (89%) e
a sua fácil purificação (que apenas envolve uma cristalização em etanol).
É de salientar que, nesta reacção, o catalisador interveniente, a 4-
pirrolidinopiridina (72), actua como agente transferidor do grupo acilo da O-
acilureia 1 formada no percurso da reacção (tal como se encontra ilustrado
seguidamente no esquema 25), catalisando a reacção no sentido da formação do
éster 58 contornando a possibilidade do rearranjo da mesma no composto .
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
44
Acontece que, atendendo ao que foi anteriormente discutido, a adição catalítica
de 69 no caso específico desta reacção, por si só, não revelou ser suficiente para
suprimir a formação da N-acilureia .
MeO
OMe
CO
O
NHN
OH O
OMeMeO
O
O OMe
OMeC
MeO
MeO O
NH
O
NH
59
MeO
OMe
CO
O
NHN
H
H
N N
MeO
OMe
C
O
N N
MeO
OMe
C
O
N N
N
N
72
72
Esquema 25
Outro inconveniente associado a este método é o tempo da reacção que é
verdadeiramente compensado a nível do rendimento obtido.
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
45
3.3. Síntese da 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-1-ona 60a
O segundo passo na síntese de 2-estirilcromonas pelo método adoptado
consiste na transposição do grupo cinamoílo da posição C-O-2’ para a posição C-
2 da acetofenona, dando origem a uma 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-1-ona.
A preparação da 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-1-ona sintetizada
envolveu o tratamento da 2’-cinamoíloxiacetofenona 59 com hidróxido de potássio
moído (5 equiv.), usando DMSO como solvente, à temperatura ambiente, durante
cerca de 2 horas (esquema 26). Esta transformação, assim como para outros
compostos semelhantes já descritos, permitiu a obtenção do composto desejado
em bom rendimento (79%).
Tal como ilustrado no esquema 25 as 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-1-
onas 60a, em solução, existem em equilíbrio com a correspondente forma
dicetónica, as 1,5-diarilpenta-2,4-dien-1-onas 60b. A análise por RMN comprovou
que, em solução de clorofórmio deuterado, a forma predominante é a forma
enólica. O deslocamento do equilíbrio ceto-enólico no sentido do enol pode ser
entendido pela conjugação total inerente à estrutura da forma enólica 60a.
O mecanismo da reacção envolve a formação de um carbanião i), resultante
da abstracção de um protão do grupo acilo da acetofenona 57 pela base (KOH)
que, por sua vez, induz à transposição do grupo cinamoílo dando origem ao
composto -dicetónico 60b (esquema 27).
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
46
OMe
OMe
OMeMeO
OH O OH
COMe
OMe
OMeMeO
O O
O
59
OMe
OMe
OMeMeO
OH O O
60b
60a
A
A: DMSO, KOH, 2 h., temp. amb.
Esquema 26
= 79 %
C
O
CH2
O
O
OH
OH
H OH
C
O
CH2
O
O
C
O
CH2
O
O
OO
H
MeO OMe OMeMeO
OMeMeO
MeO OMe MeO OMeMeO OMe
MeO OMe
O O
Ar
O O
Ar
O OH
Ar
- H2O
Ar
Ar
O
CH2C
Ar
O
OMe
OMe
Ar
Esquema 27
60a
60b
59
i)
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
47
3.4. Síntese da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61)
A terceira e última etapa na síntese de 2-estirilcromonas pelo método de
Baker-Venkataraman consiste na ciclização das 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-
1-onas 60a e subsequente desidratação.
Dissolveu-se a 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-1-ona 60 em DMSO e
adicionou-se ácido p-toluenossulfónico em quantidade catalítica. A mistura
reaccional foi aquecida a cerca de 90-100 ºC e permaneceu com agitação
magnética e em atmosfera de azoto durante 9 horas (esquema 28). Após
purificação cromatográfica, a 2-estirilcromona 61, facilmente identificada em tlc
pela característica forte fluorescência a um comprimento de onda de 254 nm, é
facilmente cristalizada em etanol na forma de finas agulhas amarelo-douradas,
obtendo-se um bom rendimento de 74%
OMe
OMe
OMeMeO
OH O OH
OMe
OMe
OMeMeO
OH O O
60b
60a
O
O
MeO
OMe
OMe
61
A
A: Ácido p-toluenossulfónico, DMSO, 90 ºC, 9 h.
Esquema 28
= 74%
OMe
O mecanismo da reacção envolve o ataque nucleofílico do oxigénio do
grupo hidroxilo no anel A ao carbono C-3 da forma enólica 60a, havendo
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
48
ciclização com a formação de um anel pirano, dando origem a uma cromanona
que, por posterior desidratação (e restabelecimento de aromaticidade), leva à
formação da (E)-2-estirilcromona 61 (esquema 29).
OMe
MeO OH
O
O
MeOOMe
Ar
H
OMe
MeO OH
O
OH
Ar
HH OMe
MeO O
O
OH
Ar
H
OMe
MeO O
O
H
OH
ArH
HOMe
MeO O
O
OH2
Ar
HHH
OMe
MeO O
O
Ar
- H2O
- H
Esquema 29
60a
H
61
3.5. Desprotecção da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61)
Neste trabalho, tendo sempre como plano de fundo o objectivo central de C-
glicosilar a (E)-2-estirilcromona 61, procedeu-se à desprotecção (quer parcial,
quer total) desta, uma vez que os métodos de C-glicosilação adoptados assim o
exigiam. Seguidamente irão ser discutidas as metodologias sintéticas usadas na
desmetilação da 3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) que permitiu a mono-,
a tri- e a tetradesmetilação de 61, resultando na obtenção da (E)-5-hidroxi-7,3’,4’-
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
49
trimetoxi-2-estirilcromona (62a), da (E)-5,3’,4’-tri-hidroxi-7-metoxi-2-estirilcromona
(62b) e da (E)-3’,4’,5,7-tetra-hidroxi-2-estirilcromona (62c), respectivamente
(esquema 30).
O
O
MeO
OMe
OMe
61
O
O
R2
R1
R4
62
a) ou b)
a) BBr3/CH2Cl2, -78 ºC -> temp. amb. 3-7 dias
62a R1 = OH; R2, R3, R4 = OMe [condições a)]
62b R1, R3, R4 = OH; R2 = OMe [condições b)]
62c R1, R2, R3, R4 = OH [condições b)]
Esquema 30
OMe R3
b) 1. AlCl3, CH3CN , refluxo. 2. HCl
3.5.1. Síntese da (E)-5-hidroxi-3’,4’,7-metoxi-2-estirilcromona (62a)
A monodesmetilação da (E)-polimetoxi-2-estirilcromona 61 na posição C5 foi
efectuada através da adição de 10 equiv. de AlCl3 em refluxo de acetonitrilo. A
mistura permaneceu em agitação magnética e sob atmosfera de azoto durante
aproximadamente 24 h. Passado este período adicionou-se uma solução diluída
de HCl e deixou-se em agitação a temperatura ambiente durante cerca de 12
horas. A reacção é terminada em água e gelo e o precipitado obtido é filtrado e
posteriormente dissolvido em clorofórmio. O composto obtido é purificado por
recristalização em etanol com a obtenção do composto sólido ou,
alternativamente, dado à dificuldade de filtragem do sólido (muito fino), poderá
proceder-se à purificação cromatográfica por coluna de sílica usando como
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
50
eluente acetato de etilo. A (E)-5-hidroxi-3’,4’,7-metoxi-2-estirilcromona (62a) foi
obtida com o rendimento moderadamente bom de 55% (rendimento não
optimizado).
O procedimento adoptado para a obtenção do composto 62a158 teve como
critério a facilidade de desmetilação da posição C5 em relação às restantes,
devido à sua proximidade com o grupo carbonilo que facilita a complexação do
agente desmetilante. Assim, foram usadas condições mais suaves relativamente
às que serão discutidas na síntese dos compostos 62b e 62c.
O mecanismo da reacção é ilustrado no esquema 31.
O
O
MeO
OMe
OMe
61
O
O
MeO
O
OMe
OMe OMe
H3C AlCl2
AlCl3
Cl
O
O
MeO
O
OMe
OMe
AlCl2
HCl
O
O
MeO
OMe
OMe
OH
Esquema 31
62a
3.5.2. Síntese da (E)-5,3’,4’-tri-hidroxi-7-metoxi-2-estirilcromona (62b)
A clivagem parcial grupos metílicos na (E)-polimetoxi-2-estirilcromona 6
pa1ra a obtenção do composto tridesmetilado 62b foi efectuada através do
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
51
método que consiste na adição de uma solução de BBr3 1 M em diclorometano
(esquema 30), método este que se tem revelado bastante eficiente em trabalhos
já desenvolvidos pelo grupo de investigação de química orgânica.68,75,89,91
O uso de BBr3 exige o seguimento de condições experimentais
especialmente cuidadas. Há que ter em consideração que, em contacto com a
humidade, o reagente decompõe-se rapidamente libertando-se vapores de ácido
bromídrico e que as reacções em que participa são extremamente exotérmicas.
Assim, quer por razões de segurança, quer pelo uso do reagente nas suas
melhores condições, a adição de BBr3 (2,5 equiv. por grupo metilo a clivar) foi
efectuada a baixa temperatura (-78 ºC) num banho de 2-propanol termostatizado.
O material de vidro usado assim como o composto a desmetilar 61 deverão estar
totalmente secos e o solvente usando, neste caso o diclorometano, deverá
encontrar-se também bem seco pelo que deverá ser recentemente destilado.
Deve-se manter a mistura reaccional sob uma atmosfera inerte, tendo sido usado
azoto para este fim. Após a adição do agente desprotector retirou-se a mistura
reaccional do banho frio e deixou-se em agitação, a temperatura ambiente,
durante 3 dias. Passado este período adicionou-se água e deixou-se a agitar até
à formação de um precipitado. O sólido obtido, lavado abundantemente com água
e, posteriormente, com éter etílico, foi removido por filtração. Deste procedimento
resultou um composto na forma de uma pasta, que teria possivelmente produtos
de oxidação formados durante o tratamento da mistura reaccional no período pós-
reaccional. Optou-se por dissolver o sólido em metanol. Verificou-se que se
estaria a proceder à extracção do composto pretendido dado à coloração amarelo
torrado da solução metanólica obtida contrastante com o resíduo preto insolúvel
que permanecia intacto no papel de filtro. Evaporou-se à secura e cristalizou-se o
composto em metanol/água obtendo-se um sólido amarelo que por RMN revelou
ser o composto tridesmetilado puro, (E)-5,3’,4’-tri-hidroxi-7-metoxi-2-estirilcromona
(62b), obtido com rendimento de 65%.
O mecanismo da reacção envolve o ataque do par desemparelhado de
electrões do oxigénio da ligação éter do composto a desmetilar i) ao átomo de
boro do agente desprotector usado levando à formação do ileto ii). O
despedimento de um ião brometo leva à formação do intermediário catiónico iii)
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
52
que, após o ataque nucleofílico por parte do ião brometo e a consequente
eliminação de brometo de metilo dá lugar à formação do intermediário
borodibromado iv). Este último, após a adição de água no término da reacção,
hidrolisa dando origem ao derivado hidroxilado v) formando-se também ácido
bromídrico e ácido bórico (esquema 32).
OCH3
BBr3
OCH3
BBr Br
Br
OCH3
BBr Br
Br
CH3Br
OBBr2
OHH2O
B(OH)3HBr
Esquema 32
i) ii)iii)
iv)v)
R R R
RR
A selectividade da reacção de desmetilação, uma vez que, neste caso, se
está perante grupos da mesma natureza química, depende apenas das suas
posições na estrutura do composto. O grupo metílico mais fácil de clivar é o que
se encontra na posição 5 da (E)-2-estirilcromona 61 dado à proximidade do grupo
carbonilo que faculta a complexação com átomo de boro promovendo assim a
desmetilação. Os grupos orto metílicos presentes no anel B, seguidamente ao 5-
OMe, são os mais fáceis de clivar dado à sua localização relativa que facilita a
complexação ao agente desprotector. Já a desprotecção do grupo presente na
posição 7 é, de todas, a mais difícil. Note-se que este grupo se encontra em
posição para relativamente ao grupo carbonilo cujo efeito sacador e consequente
deslocalização electrónica dificulta a complexação com o tribrometo de boro e a
consequente clivagem do grupo metilo.
Síntese de (E)-2-estirilcromonas pelo método de Baker-Venkataraman
53
3.5.3. Síntese da (E)-3’,4’,5,7-tetra-hidroxi-2-estirilcromona (62c)
De forma a proceder à desprotecção total da (E)-2-estirilcromona 61
seguiu-se o mesmo procedimento experimental usado para a tridesmetilação do
mesmo composto discutida no tópico anterior, exceptuando a quantidade de
agente desmetilante adicionada (mais 2,5 equiv. que na anterior) e também o
tempo reaccional que se prolongou por uma semana. A já explicada dificuldade
de desprotecção do grupo 7-OMe justifica a necessidade de um período de
reacção muito mais prolongado do que na síntese do composto tridesmetilado.
Por outro lado, relativamente à reacção anterior, o produto 62c revelou envolver
um work up reaccional mais fácil. À semelhança do que se procedeu
anteriormente, lavou-se abundantemente com água o precipitado formado e,
seguidamente, com éter etílico. Obteu-se um sólido castanho-avermelhado
facilmente isolável do papel de filtro que, ao contrário do composto anterior, não
necesssitou de outro tipo de tratamento e, por análise RMN revelou ser o
composto tetradesmetilado puro, tendo-se obtido um bom rendimento (80%).
O mecanismo da reacção encontra-se esquematizado no tópico anterior
(esquema 32).
Tentou-se proceder à monodesmetilação do composto monometilado 62b
para a obtenção do composto 62c. Pelo método explicitado tal foi impossível dado
à exigência do uso de diclorometano como solvente, no qual o composto 62b é
insolúvel. Procedeu-se ao seguimento de um método alternativo, o uso de uma
solução de HI (55%) em água como agente desmetilante a 130 ºC, durante um
período de 5 horas. Este método, apesar de permitir a obtenção do composto
tetradesmetilado pretendido 62c, envolve condições muito agressivas que se
refletem na dificuldade do término da reacção no que diz respeito sobretudo à
precipitação do composto, tornando este método inapropriado e inviável para o
efeito que se pretende, pelo que foi abandonado. Assim, concluiu-se que a melhor
forma de obter o composto 62c seria partindo da (E)-2-estirilcromona tetra-
protegida 61, usando como agente desmetilante uma solução de tribrometo de
boro (esquema 30).
54
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
55
4. C-Glucosilação de compostos polifenólicos
A C-glucosilação de compostos polifenólicos neste trabalho foi efectuada
recorrendo a dois métodos distintos, o uso de D-glucose desprotegida (63) em
meio aquoso, usando como catalisador triflato de escândio(III) – método A; e o
uso de fluoreto de 2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranosilo (68) e BF3.Et2O –
Método B. Para tal, atendendo à exigência do método usado, partiu-se dos
compostos referidos adequadamente protegidos ou desprotegidos.
4.1. Método A: uso de D-glucose desprotegida (63)
O uso de D-glucose desprotegida (63) nesta dissertação na C-glucosilação
de compostos polifenólicos (método A) teve como base experimental o método
regio- e -estereosselectivo de Sato et al.105 assente nos princípios da “química
verde”. A reacção envolve o uso do hidrato de carbono e do composto a glucosilar
ambos desprotegidos, em meio aquoso e na presença de
trifluorometanossulfonato de escândio(III) (ácido de Lewis) como catalisador.
4.1.1. C-Glucosilação da 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56)
Neste trabalho, a C-glucosilação da 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56), mais
do que uma possível rota para a síntese de (E)-glicosil-2-estirilcromonas, podendo
funcionar como reagente de partida, foi abordada como uma preparação para a
C-glucosilação directa de 2-estirilcromonas.
Tendo como base experimental o método de Sato et al.,105 procedeu-se ao
estudo da C-glucosilação da floroacetofenona (56) (esquema 33). A uma solução
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
56
de 56 e de 3 equiv. de D-glucose (63) em etanol/água (2:1), adicionou-se 0,2
equiv. de triflato de escândio(III). A mistura reaccional permaneceu em refluxo,
sob agitação magnética e sob uma atmosfera de azoto durante cerca de 14 horas.
Adicionou-se 100 mL de água à mistura reaccional e passou-se a mistura por uma
coluna MCI® gel (coluna de fase reversa com um polímero de elevada
porosidade) previamente lavada com água. A eluição com água permitiu a
remoção da glucose livre (63) e do triflato de escândio(III). Tal procedimento
constitui uma separação prévia de elevada utilidade na posterior purificação por
sílica dado à menor polaridade resultante da mistura.
Os restantes compostos formados foram eluidos da coluna MCI® gel com
100 mL de 50% acetona/água e, posteriormente com 30 mL de acetona.
Evaporou-se à secura obtendo-se um resíduo castanho pálido que foi
cuidadosamente estudado por tlc, usando como agente revelador (de hidratos de
carbono) uma solução metanólica de H2SO4 a 10% e posterior activação por
aquecimento. A mistura reaccional foi separada por cromatografia em coluna de
sílica e, posteriormente, purificado por cromatografia em placas de sílica usando
uma mistura de Me2CO-EtOAc-H2O-EtOH (15:30:2:1) como eluente, obtendo-se o
composto desejado, a 3’-C-β-D-glucopiranosil-2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (64).
OH OH
D-glucose (63), Sc(OTf)3
EtOH:H2O (2:1)OHHO HO OH
rearranjoO -> C
glicosídico
56 66
Produto maioritário
OH
O OH
65
Esquema 33
O O
O
OHOHO
OH
OH
OHOHO
OH
OH
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
57
O mecanismo da reacção envolve, num momento inicial, a interacção do
triflato de escândio(III) (ácido de Lewis) com a D-glucose (63) tornando-a um bom
electrófilo.
OH
OHSc
TfOOTf
OTf
OH
Sc
TfO OTf
OHHO
OH
OHOHO
OH
OH
OHOHO
OH
OHOHO
HOOH
OH
OHOHO
OH
OH
OH
O
O
HO
OH
OH
OHOHO
OH
OH
O
O
- H
- OTf
Sc
OTfTfO OH
Sc
TfOTfO
OH
OTf
H
regeneraçãodo catalisador
Sc
OTfOTf
OTf
OH
OH
OHOHO
OH
OH
O
O
Sc OTf
OTf
OH
OH
OHOHO
OH
OH
O
O
ScOTf
OTf
OH
OH
OHOHO
OH
OH
O
O
OTf
H
H
- H2O
56
66
65
63
Esquema 34
O ataque da acetofenona 56 ao carbono anomérico da D-glucose (63) leva à
formação da ligação O-glucosídica (estrutura 65). Posteriormente, através de um
rearranjo O C glicosídico de Fries,77 que envolve novamente a complexação da
D-glucose ao triflato de escândio(III), há a quebra da ligação O-glucosídica para
dar lugar a uma nova ligação C-glucosídica levando, por posterior aromatização, à
formação do composto 66 (esquema 34). Uma característica descrita105 para este
método “verde” de C-glicosilação é a possibilidade de recuperação e reciclagem
do catalisador, não explorada no âmbito deste trabalho.
Apesar de ser ter obtido o composto desejado 66 houve bastante dificuldade
no processo de separação cromatográfica, dado à elevada polaridade do
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
58
composto (aglomerado glucosídico desprotegido associado a uma aglícona
também com grupos hidroxilo livres). Como já se referiu, houve a necessidade de,
após separação por coluna cromatográfica, proceder à purificação por placas de
uma das fracções cromatográficas obtidas. Ora, tal procedimento, não sendo
eficiente, houve a necessidade de adoptar uma nova estratégia sintética.
Como já foi referido, a C-glucosilação da floroacetofenona (56), neste
trabalho, foi encarada como uma preparação da abordagem metodológica para a
C-glucosilação da 2-estirilcromona sintetizada. Contudo, a floroacetofenona C-
glicosilada poderá ser um bom reagente chave de partida para a síntese da 2-
estirilcromona glicosilada, à semelhança do que sucede na síntese de C-
glicosilflavonas através deste método com monossacarídeos desprotegidos,
recentemente descrita na literatura.106,111
Neste sentido, idealizou-se a preparação da C-glucosilfloroacetofenona 4’,6’-
dimetilada 64 que, para além de permitir diminuir a polaridade do composto de
interesse constitui um potencial reagente de partida para a síntese de 2-
estirilcromonas C-glicosiladas por seguimento do método já estudado (método de
Baker-Venkataraman).
4.1.1.1. Preparação da 3’-C-β-D-glucopiranosil-2’-hidroxi-4’,6’-
dimetoxiacetofenona (64): estudo de optimização das
condições de reacção
A preparação da floroacetofenona 4’,6’-dimetilada e 3’-C-glucosilada 64
(esquema 35) consistiu, em traços gerais, no seguimento do método
anteriormente discutido de C-glucosilação da floroacetofenona (56), seguido de
dimetilação, usando como agente metilante o sulfato de dimetilo, à semelhança
da dimetilação da floroacetofenona (56) não glicosilada, já discutida no início
deste trabalho no âmbito da preparação da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona
(57). Apenas foi necessário proceder a uma purificação final.
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
59
OMeMeO
OH
OH
OH
a) D-glucose (60), Sc(OTf)3EtOH/H2O (2:1)
OHHO
HO OH
b) Me2SO4, K2CO3
acetona
OH
O OH
Produto maioritário
rearranjoO -> C
glicosídico
56 64
65 66
Esquema 35
O
O
OO
OHOHO
OH
OH
OHOHO
OH
OH
OHOHO
OH
OH
Foram estudadas várias condições reaccionais que serão abordadas
seguidamente:
Inicialmente, seguiram-se as condições experimentais de C-glucosilação
descritas anteriormente para a síntese do composto 66 (3 equiv. de D-
glucose (63), EtOH/H2O (2:1), 0,2 equiv. de Sc(OTf)3, 14 h, o mesmo work
up - exceptuando a separação cromatográfica) e de dimetilação descritas
para a acetofenona 56 (3 equiv. de Me2SO4 , 30 min., idêntico work up).
Para além se ter obtido composto C-glucosilado pretendido 64, surgiram
como compostos secundários floroacetofenona trimetilada e o composto C-
glucosilado monometilado. Tais conclusões evidenciaram problemas quer a
nível da reacção de C-glucosilação, quer a nível da reacção de metilação
que estariam a contribuir para o surgimento de produtos secundários e,
consequentemente, para o acentuado descréscimo de rendimento da
reacção do composto desejado 64. Procedeu-se portanto à optimização das
condições reaccionais.
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
60
Assim, relativamente à reacção de C-glucosilação, optou-se por aumentar a
quantidade de catalisador usada (0,3 equiv.) mantendo inalteradas todas as
outras condições experimentais (quer de C-glucosilação quer de metilação).
Não se evidenciaram mudanças significativas em relação ao procedimento
anterior, tendo-se concluído que a promoção da eficiência da reacção de C-
glucosilação não passaria pelo aumento da quantidade de catalisador.
Perante este resultado e entendendo-se que já se estaria a usar um excesso
suficientemente grande de D-glucose (63) (3 equiv.), optou-se apenas pelo
prolongamento da reacção por 30 horas. Após este período, e sabendo que
nas condições anteriores houve a formação do composto C-glucosilado
monometilado, usaram-se 4 equiv. de Me2SO4, prolongando o período de
metilação por um dia de forma a tentar garantir a dimetilação total da
aglícona floroacetofenona. dificultada estériamente pela sua ligação à D-
glucose (grupo extremamente volumoso). Estas foram as condições
optimizadas obtidas para a síntese da 3’-C-β-D-glucopiranosil-2’-hidroxi-4’,6’-
dimetoxiacetofenona (64), com um rendimento total de cerca de 60%.
Outras considerações experimentais relevantes:
Relativamente à reacção de C-glucosilação há que referir que o
prolongamento do tempo reaccional não leva ao total consumo da
acetofenona de partida 56, não sendo portanto uma reacção completa,
apesar do prolongamento do tempo reaccional ter demonstrado ser crucial
na melhoria do rendimento reaccional.
Refira-se ainda, relativamente à reacção de C-glucosilação, a provável
formação de dímeros de floroacetofenona ligados via cadeia de D-glucose
que surgem como compostos secundários previstos na literatura.105
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
61
Relativamente ao solvente usado na reacção de dimetilação, a acetona,
dado à natural acentuada polaridade dos compostos em estudo, houve
alguma ponderação inicial no seu uso. A difícil solubilização total do
composto em acetona sugeriu o uso de um solvente mais polar como a DMF
(seca em peneiros moleculares activados). A inviabilidade do uso deste
solvente neste contexto, sem discutir o efeito que poderia ou não ter na
própria reacção de metilação com Me2SO4 (geralmente conduzida a refluxo
de acetona), explica-se pelo facto de que nas condições reaccionais usadas
não há precipitação dos compostos e torna-se difícil, no work up reaccional,
lidar com um solvente com um ponto de ebulição tão elevado. É difícil
proceder à sua total evaporação em vácuo, através do uso de evaporador
rotativo sem aumentar excessivamente a temperatura (não sendo tal
aconselhável dado à possível degradação do composto), havendo sempre
vestígios de solvente que teriam uma indesejável influência a nível da
separação cromatográfica dos compostos em sílica e mesmo na
caracterização estrutural dos mesmos. O uso de uma mistura de acetona
com uma pequena quantidade de metanol (o uso exclusivo de metanol
dissolveria o carbonato de potássio usado na reacção, que tem um papel
importante aquando do uso do agente metilante estudado) ou o uso de
acetona com uma pequena quantidade de água, por exemplo, também não
seria adequado. Decidiu-se optar pelo solvente normalmente usado e mais
apropriado nesta reacção, a acetona, deixando a mistura glucosilada em
refluxo e em agitação vigorosa durante uma hora antes da adição do agente
metilante, permitindo a dissolução practicamente total da mistura a metilar.
Considerações relativas ao work up reaccional:
Inicialmente, analogamente ao procedido na síntese do composto 66, após a
reacção de C-glucosilação, adicionou-se 100 mL de água à mistura
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
62
reaccional e passou-se a mistura por uma coluna MCI® gel previamente
lavada com água. Eluiu-se com água a D-glucose (63) livre e o triflato de
escândio(III), tendo sido desprezados. Os restantes compostos formados
foram eluidos da coluna MCI® gel com 100 mL de 50% acetona/água e,
posteriormente com 30 mL de acetona. Após evaporação à secura (tendo o
cuidado de não usar uma temperatura superior a 65 ºC), e se ter procedido à
reacção de metilação, o tlc da mistura reaccional revelou a formação
significativa de um composto estranhamente apolar. A análise por RMN de
1H [5,86 (d, J = 3,5 Hz, 1 H, H-1) configuração anomérica ; 1,41; 1,36;
1,29; 1,26 (s, 4 x CH3)] e de 13C,* deu a indicação inequívoca de se constar
da conversão da D-glucose (63) no seu respectivo diacetonídeo, a 1,2:5,6-di-
O-isopropilideno--D-glucofuranose (). Tal constatação, inicialmente, por
análise da literatura, 159 causou alguma dúvida, dado à formação de
acetonídeos envolver o uso, em acetona, de meios ácidos relativamente
fortes (frequentemente H2SO4) e não o uso de um ácido de Lewis. A única
justificação possível para a obtenção do diacetonídeo seria o possível
ineficiente uso da coluna MCI® gel, não se estando a eluir suficientemente
com água para excluir todo o triflato de escândio(III) e D-glucose livre (63)
que poderiam estar, posteriormente, a ser eluídos da coluna juntamente com
os compostos de interesse e que, na reacção de metilação em refluxo de
acetona, poderiam originar este tipo de compostos indesejados.
Procedeu-se a uma “reacção-teste” em que se fez reagir, nas mesmas
proporções reaccionais usadas, D-glucose (63) e Sc(OTf)3 em refluxo de
acetona sob atmosfera de azoto e agitação magnética durante um dia. Pode-
se assim, desta forma, comprovar a efectiva formação do diacetonídeo de
D-glucose (63) nas condições reaccionais usadas. O mecanismo proposto
para esta transformação encontra-se ilustrado no esquema 36. O rendimento
obtido para o composto secundário , 25%, é certamente superior ao
esperado dado à quase total insolubilidade da D-glucose desprotegida (63)
em acetona e à fraca acididade do catalisador usado.
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
63
OO
OOO
OH1
23
4
56
a
a'
Assim, procedeu-se novamente à C-glucosilação e, no término da reacção,
adicionou-se 500 mL de água à mistura reaccional tendo-se passado a
mistura pela coluna MCI® gel previamente lavada com água. Fez-se passar
1,5 L de água pela coluna MCI® gel para a eluição e remoção total da
glucose livre (63) e de triflato de escândio(III) com o objectivo de excluir
totalmente estes antes de se proceder à reacção de metilação. Este cuidado
experimental demonstrou inibir totalmente a formação do diacetonídeo
que, apesar de não alterar o rendimento da reacção não facilitaria o
processo de separação cromatográfica.
À semelhança do procedido na reacção de C-glucosilação anteriormente
abordada que conduziu à síntese do composto 66, eluiram-se os compostos
de interesse com 50% acetona/H2O e, posteriormente, com acetona.
No término da reacção de metilação procedeu-se à remoção do K2CO3, por
filtração, lavando-se várias vezes com acetona, evaporou-se o solvente à
secura e a mistura obtida foi separada por cromatografia em coluna usando
um eluente em gradiente (CHCl3/Me2CO (3:1) CHCl3/Me2CO (1:1)
Me2CO Me2CO/CH3OH (5:1)).
*
*1,2:5,6-Di-O-isopropilideno--D-glucofuranose ():
RMN de 13
C (75,47 MHz, acetona-d6): δ= 25,47; 26,30; 26,91; 27,01 (4 x CH3); 67,33 (C-6);
73, 26 (C-5); 74,65 (C-3); 82,01 (C-2); 86,05 (C-4); 105,73 (C-1); 109,02 (a/a’), 111,69
(a/a’) ppm.
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
64
- OTf
Sc
OTfTfO OH
Sc
TfOTfO OH
OTf
H
regeneraçãodo catalisador
- H2O
Sc
OTf
OTfTfO
OHO
HOOH
OH
OH
OH
OHOHO
OH
O
Sc
OTfTfO
O
OHO
OHOHO
OH
Sc
OTfTfO
O
OHH
- H
O
OHOHO
OH
Sc
OTfTfO
O
OH
H
O
OHOHO
OH
Sc
OTfTfO
O
OH
H
O
OHOHO
OH
OH
O
OHOHO
OH
O
OO
OO OOH
63
Esquema 36
Resumo do processo sintético:
a) C-glucosilação (floroacetofenona (56), 3 equiv. de D-glucose (63), 0,2
equiv. de Sc(OTf)3, EtOH/H2O (2:1), 30 h);
b) Total exclusão de D-glucose livre (63) e Sc(OTf)3 (por eluição em
coluna MCI® gel);
c) Metilação da mistura reaccional (9 equiv. de K2CO3, 4 equiv. de
Me2SO4, acetona, 24 horas);
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
65
d) Work up final - Remoção do K2CO3 por filtração seguida de purificação
cromatográfica usando o gradiente de eluentes CHCl3/Me2CO (3:1)
CHCl3/Me2CO (1:1) Me2CO Me2CO/CH3OH (5:1).
A mancha cromatográfica eluída com acetona (100%) (mancha maioritária)
revelou, por RMN, ser o composto 64 puro, um óleo amarelo pálido, com um
rendimento satisfatório total de 60%.
4.2. Método B: uso de fluoreto de 2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-
glucopiranosilo (68)
O uso de monossacarídeos fluorados na síntese de compostos C-
glucosilados nesta dissertação (método B) teve como base experimental o
método regio- e -estereosselectivo de Kumazawa et al.113 A reacção envolve o
uso do composto a glucosilar devidamente protegido e de fluoreto de 2,3,4,6-
tetra-O-benzil--D-glucopiranosilo (68) na presença de BF3.Et2O como catalisador.
4.2.1. C-Glucosilação da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57)
Como já foi referido, tendo como base experimental o método de Kumazawa
et al.,105 procedeu-se à C-glucosilação da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona
(57), esquema 37.
A uma solução de 57 (3 equiv.), fluoreto de 2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-
glucopiranosilo (68) e peneiros moleculares (500 mg) em diclorometano
recentemente destilado e com agitação magnética a -78 ºC, adicionou-se
lentamente 2 equiv. de BF3.Et2O. A mistura permaneceu a esta temperatura, com
agitação magnética e em atmosfera de azoto, durante cerca de 30 minutos.
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
66
Aumentou-se lentamente e gradualmente a temperatura até aos 0 ºC durante um
período de 5h, ao fim do qual se retirou a solução do banho frio mantendo a
agitação magnética a temperatura ambiente durante cerca de 15 horas. No
término da reacção adicionou-se água e procedeu-se a uma extracção líquido-
líquido da fase orgânica da mistura reaccional com clorofórmio. Após secagem do
composto sobre sulfato de sódio anidro e evaporação à secura a pressão
reduzida, separou-se a mistura em placas de sílica usando como eluente
diclorometano. A mancha maioritária foi analisada por RMN comprovando-se
corresponder ao composto pretendido 3’-(1-desoxi-2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-
glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (69) com um rendimento de
54%, calculado com base na quantidade de hidrato de carbono usada.
MeO
OH
BF3 . Et2O
CH2Cl2-78 ºC --> temp .amb.
OH
OBnOBnO
FBnO
OBn
OBnOBnO
BnO
BnO MeO
OO
OMeOMe
57
68
69
Esquema 37
OOBnO
BnOBnO
BnO
MeO
O
OMe
70
Tal como no método A de C-glucosilação adoptado neste trabalho, a
reacção com monossacarídeos fluorados envolveu a formação de um composto
intermediário O-glucosilado 70 que, através de um rearranjo de Fries, dá lugar à
gradual formação do composto C-glucosilado 69.
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
67
Ao longo da reacção a monotorização por tlc foi auxiliada pelo uso de uma
solução etanólica de FeCl3 a 5% (activação por aquecimento) como método
revelador de compostos C-glucosilados. Este método permitiu acompanhar a
conversão do composto O-glucosilado 70 no correspondente composto C-
glucosilado 69 ao longo do aumento gradual de temperatura, tendo-se concluído
que a formação do composto C-glucosilado 69 apenas se inicia a cerca de -10 ºC,
havendo a sua gradual formação essencialmente a temperatura ambiente.
Relativamente ao mecanismo da reacção será muito idêntico ao ilustrado no
esquema 33 (no âmbito do método A), sendo o papel de ácido de Lewis do triflato
de escândio(III) substituído pelo BF3.Et2O e o ataque inicial da acetofenona 57
procedido pelo par desemparelhado de electrões do 2’-OH (o único grupo fenólico
livre existente).
Relativamente ao método de C-glucosilação A, o método em discussão
(método B), apesar de não seguir os princípios da “química verde” e de
economicamente ser menos viável, revelou apresentar vantagens experimentais
indiscutíveis. Neste último método ambas unidades polifenólica e de hidrato de
carbono, encontravam-se inicialmente protegidas permitindo a obtenção directa
de uma mistura facilmente tratada no período pós-reaccional. Já no método
inicialmente estudado A, o uso de excesso de hidrato de carbono (3 equiv.)
associado ao facto de este estar desprotegido e da reacção ser efectuada em
solução aquosa, exige o procedimento a uma pré-separação por coluna MCI® gel
e posterior metilação da unidade polifenólica, sendo que, mesmo após este
tratamento do composto glucosilado, o método B demonstrou permitir um
tratamento cromatográfico muito mais facilitado. Ambos métodos permitem um
óptimo controlo regiosselectivo com a obtenção de rendimentos de reacção finais
semelhantes. Relativamente à -estereosselectividade característica de ambas as
reacções concluiu-se que, na C-glucosilação da floroacetofenona (56) o método B
é menos selectivo, tendo sido identificada neste último método através da análise
RMN (assunto posteriormente abordado), a formação de uma pequena
percentagem do anómero -glucosilado.
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
68
4.3. C-Glucosilação directa de (E)-2-estirilcromonas
No seguimento deste trabalho, procedeu-se à tentativa de C-glucosilação
das (E)-2-estirilcromonas 62c e 62a por ambos métodos discutidos A e B,
respectivamente (esquema 38).
Relativamente à reacção de C-glucosilação da (E)-2-estirilcromona 62c pelo
método A, foram seguidas as condições base de C-glucosilação aplicadas na
síntese do glucosídeo 66 (3 equiv. de D-glucose (63) e 0,2 equiv. de Sc(OTf)3)
com excepção do solvente da reacção, tendo-se usado uma mistura CH3CN/H2O
(2:1), durante um período de 25 horas. Após este período, e sem recorrer ao uso
prévio da coluna MCI® gel, procedeu-se à acetilação da mistura reaccional obtida
usando como agente acetilante anidrido acético. Após um período de reacção de
12 horas, em agitação magnética a temperatura ambiente, adicionou-se água e
gelo e fez-se uma extracção líquido-líquido com acetato de etilo. O tratamento
cromatográfico da mistura reaccional, usando como eluente hexano/acetato de
etilo (1:1), permitiu isolar uma pequena fracção cromatográfica que, por análise
RMN de 1H, deu a indicação de corresponder a uma (E)-2-estirilcromona O-
glucosilada 73a ou 73b, não se tendo obtido o composto esperado 67 (atendendo
ao resultado obtido na C-glucosilação do composto 56). A ausente ocorrência de
glucosilação no anel A (surgimento dos dois sinais em forma de dupleto
característicos da aglícona, correspondentes aos protões aromáticos H-6 e H-8)
justifica-se pelo efeito sacador do grupo carbonilo que, em conjugação com a
dupla C2=C3, desactiva fortemente o anel aromático. A presença de um dupleto,
na zona do espectro correspondente ao hidrato de carbono, a aproximadamente
5,2 ppm com constante de acoplamento de 9,4 Hz, em conjunto com a evidência
da ausência dos protões de um dos quatro grupos acetilo sugere a ocorrência de
O-glucosilação no anel B e não no anel A dado à já justificada inactivação deste
último. Uma questão pertinente, especulando a O-glucosilação no anel B (que
também se encontra desactivado pelo grupo carbonilo em conjugação com a
dupla ligação C2=C3, ainda que sofra menos o seu efeito), será a justificação da
reacção não evoluir no sentido da formação de um 2’’- ou 5’’-C-glucosilo, através
de um rearranjo de Fries característico do método de C-glucosilação adoptado.
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
69
Existem dois cenários especulativos possíveis: ou não se proporcionaram as
condições reaccionais necessárias para a C-glucosilação específica do composto
62c em estudo (necessidade de optimização das condições de reacção
possivelmente no que diz respeito à quantidade de catalisador usada ou ao tempo
de reacção, por exemplo) ou então a inviabilidade de ocorrência do rearranjo de
Fries dado à natureza estrutural da própria molécula. Note-se que o núcleo de
maior reactividade das estirilcromonas é o núcleo cromona e não o núcleo estirilo,
encontrando-se o anel B muito pouco activado (para além de também sofrer o
efeito desactivante do grupo carbonilo) pelo que será teoricamente difícil a sua C-
glicosilação. Analisando a literatura106 tais resultados mostraram-se concordantes
com os resultados já obtidos na tentativa de C-glicosilação directa flavonas que
apenas foi possível com a redução prévia destas a flavanonas. Apesar dos
resultados pouco apelativos relativos à C-glicosilação directa de flavonas, uma
vez que, por um lado, ainda não existem quaisquer estudos publicados acerca da
C-glucosilação de estirilcromonas e, por outro lado, estes possuem reactividades
distintas apesar da sua aproximação estrutural, justificou-se, como primeira
abordagem de C-glucosilação de 2-estirilcromonas a tentativa de C-glucosilação
directa.
O seguimento do método B na C-glucosilação directa da (E)-2-estirilcromona
62a revelou-se ineficiente, à semelhança da aplicação deste método na síntese
directa de C-glicosilflavonas, já referida na literatura.160 Nestas, o seguimento
deste método apenas é eficiente caso se proceda à redução prévia tanto da dupla
ligação C2=C3 (à semelhança do método anterior), como também forçosamente
do grupo carbonilo.
A tentativa de C-glicosilação directa de 2-estirilcromonas no âmbito da
iniciação ao estudo e compreensão desta reacção, ainda nunca explorada nestes
compostos, clarificou a efectiva necessidade de adopção de uma diferente
metodologia experimental que, à semelhança do que já foi aplicado na síntese de
C-glicosilflavonóides, envolverá necessariamente a exploração da C-glicosilação
num estádio prévio à construção estrutural final do composto, em especial
previamente à inserção do grupo carbonilo e da insaturação C2=C3,
funcionalidades tão características e importantes nestes compostos,
C-Glucosilação de compostos polifenólicos
70
nomeadamente na expressão da actividade antioxidante destas tão peculiares
aglíconas em estudo.
O
O
MeO
OH
OMe
62a
OMe
O
O
MeO
OH
OMe
OMe
OBnOBnO
OBn
OBn
OBnOBnO
FBnO
OBn
65
O
O
HO
OH
OH
62c
OH
a) Sc(OTf)3, CH3CN/H2O (2:1)
b) Py, Ac2O, 4-DMAP, temp. amb.
OHOHO
OHOH
OH
O
O
AcO
OAc
OAc
OAc
OAcOAcO
OAc
OAc63
C-glucosilação directa de (E)-2-estirilcromonas
-> Método do uso de D-glucose desprotegida
-> Método do uso de glicosídeos fluorados
71
O
O
AcO
OAc
O
OAc
O OAcOAc
AcO
AcO
O
O
AcO
OAc
OAc
O O
OAcOAcAcO
OAc
ou
Esquema 38
diclorometano
-80 ºC --> tem. amb.
67
73a
73b
Caracterização estrutural
71
5. Caracterização estrutural
5.1. Caracterização estrutural da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-
estirilcromona (61)
A elucidação estrutural completa da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona
(61) foi possibilitada através da análise dos espectros unidimensionais (1H e 13C)
e bidimensionais (HSQC e HMBC) de RMN. Através da análise do espectro de
RMN de 1H (figura 1) foi possível identificar os sinais mais característicos deste
composto:
dois sinais em forma de dupleto correspondentes à ressonância dos protões
vinílicos H-7,45 ppm) e H- 6,56 ppm) surgindo a desvios químicos
muito diferentes, com constante de acoplamento de 16,1 Hz. Esta diferença
de desvios químicos resulta do efeito mesomérico do grupo carbonilo,
justificando-se assim o facto do protão H-estar mais desprotegido e,
portanto, a sua ressonância surgir a valores de frequência superiores;
os sinais dos protões do anel A, H-8 e H-6, surgem ambos na forma de
dupletos a 6,54 e a 6,36 ppm com constantes de acoplamento de 2,1 e
2,3 Hz, respectivamente;
relativamente aos protões do anel B da 2-estirilcromona é possível identificar
um sinal em forma de duplo dupleto a 7,13 ppm relativo à ressonância do
protão H-6’ com constantes de acoplamento de 9 e 1,9 Hz, e dois sinais em
forma de dupleto a 7,11 e a 6,89 ppm correspondentes à ressonância
dos protões H-2’ e H-5’, com constantes de acoplamento de 8,34 e 2,0 Hz,
respectivamente;
um sinal em forma de singuleto a 6,16 ppm correspondente à ressonância
do protão H-3 do anel C da (E)-2-estirilcromona;
Caracterização estrutural
72
4 sinais em forma de singuleto correspondentes aos 12 protões dos
grupos metoxilos das posições 3’-OMe, 5-OMe, 4’-OMe e 7-OMe, com
desvios químicos de 3,96, 3,94, 3,93, 3,91 ppm, respectivamente.
O
O
2
345
6
7
8
2'3'
4'
6'
1'
9
10
MeO
OMe
OMe
61
OMe
5'
Figura 1: Espectro de 1H do composto 61 e correspondente expansão.
Caracterização estrutural
73
A identificação inequívoca dos carbonos do composto 61 (figura 3) foi
auxiliada pelo estudo da correlação heteronuclear HSQC (figura 2) e através da
análise do espectro de correlação heteronuclear a longa distância HMBC.
A distinção entre as ressonâncias relativas dos carbonos dos 4 grupos
metoxilo presentes na molécula apenas foi possível através da interpretação
conjunta dos espectros HMBC e HSQC. Por intermédio da interpretação do
espectro de HMBC, através da correlação dos carbonos C-3’, C-4’, C-5 e C-7 foi
possível a identificação dos sinais dos quatro grupos metoxilos que, por sua vez,
por da análise do espectro HSQC, possibilitou a identificação das ressonâncias
dos carbonos destes grupos.
Figura 2: Expansão do espectro HSQC do composto 61.
Caracterização estrutural
74
Figura 3: Espectro de RMN de 13C do composto 61 e correspondente expansão.
Todas as atribuições de sinais foram suportadas pelo espectro de HMBC. As
conectividades observadas neste espectro encontram-se apresentadas na figura
4.
O
O
2
345
6
7
8
2'
3'4'
6'
1'
9
10
H3CO
CH3O
OCH3
61
OCH3
5'
H
H
H
H
H
H
H
H
O
O
2
345
6
7
8
2'
3'4'
6'
1'
9
10
H3CO
CH3O
OCH3
61
OCH3
5'
H
H
H
H
H
H
H
H
Figura 4: Conectividades mais relevantes observadas no espectro de HMBC do composto 61.
Caracterização estrutural
75
5.2. Caracterização estrutural da 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’-
hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (64)
Através dos estudos de RMN unidimensional (1H e 13C) e bidimensional
(HSQC e HMBC) (figuras 5 a 7) foi possível proceder à total elucidação estrutural
da 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (64). A
análise do espectro de RMN de 1H permitiu a identificação dos sinais estruturais
mais característicos deste composto:
a existência de um sinal em forma de dupleto a 4,57 ppm com constante
de acoplamento de 9,2 Hz, correspondente à ressonância do protão H-1’’
(evidência da configuração estrutural );
a existência de um conjunto significativo de sinais entre 3 - 5 ppm,
correspondentes às ressonâncias dos protões da unidade de glucose;
um sinal em forma de singuleto a 2,41 ppm com integral 3 correspondente
à ressonância dos protões do grupo acetilo;
um sinal em forma de singuleto largo, a 6,55 ppm com integral 1
correspondente à ressonância do protão H-5’ como o único protão
aromático, indicando a formação de um composto mono-C-glucosilado.
OMeMeO
OH O
12
1'2'
3'
4'5'
6'
64
1''2''3''
4''5''
6''OHO
HOOH
OH
H
Caracterização estrutural
76
Figura 5: Espectro de 1H do composto 64 à temperatura ambiente e correspondente expansão.
A análise dos espectros de RMN de 1H e de 13C conduzida à temperatura
ambiente (figuras 5 e 6) foi dificultada dado à lenta rotação em torno da ligação C-
1’’-C3’, resultando na duplicação de sinais (mais evidente no espectro de 13C,
figura 3a) mas também evidenciado no espectro de RMN de 1H – duplicação dos
sinais dos protões H-1’’, H-4’’, H-6’’ e surgimento do sinal do protão H-5’ na forma
de singuleto largo). Esta duplicação de sinais, tal como já previsto na
literatura,113,161 , 162 a temperatura ambiente evidenciou a existência efectiva de
dois rotâmeros diferentes, correspondentes às formas 4C1 e 1C4 do resíduo de
hidrato de carbono. Conduzindo a análise por RMN a uma temperatura superior
(50 ºC), dado à rápida interconversão induzida entre os dois rotâmeros, foi
possível a conversão aparente numa única conformação permitindo uma análise
estrutural por RMN mais clara do composto.
Caracterização estrutural
77
Figura 6: Espectro HSQC do composto 64 à temperatura ambiente e correspondente
expansão.
Comparando os espectros de RMN de 13C às duas diferentes temperaturas
estudadas é evidente o desaparecimento do efeito de duplicação de sinais com o
aumento de temperatura, clarificando o fenómeno abordado [figuras 7(a) e 7(b)].
Todas as atribuições de sinais foram suportadas pelo espectro de HMBC, tal
como se pode observar através das conectividades apresentadas na figura 8.
OH
CH3
O
12
1'2'3'
4'
5'
6'
64
1''
2''
3''
4''
5''
6''OHO
HOOH
OH
H
O
H3C
OCH3
H
H
HH
H H
HOH
CH3
O
12
1'2'3'
4'
5'
6'
64
1''
2''
3''
4''
5''
6''OHO
HOOH
OH
H
O
H3C
OCH3
H
H
HH
H H
H
Figura 8: Conectividades mais relevantes observadas no espectro de HMBC do
composto 64.
Caracterização estrutural
78
Figura 7: Espectros de RMN de 13C do composto 64 e correspondente expansão (a) a temperatura ambiente e (b) a 50 ºC.
Caracterização estrutural
79
5.3. Caracterização estrutural da 3’-(1-desoxi-2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-
glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (69)
A elucidação estrutural da 3’-(1-desoxi-2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-
glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (69) foi feita através da
análise dos espectros de RMN unidimensionais (1H e 13C) e bidimensionais
(HSQC e HMBC).
Analogamente à análise do composto anterior, composto 64, houve a
necessidade de aumentar a temperatura para a identificação inequívoca de
alguns sinais que a temperatura ambiente surgiam duplicados dado à existência
de diferentes rotâmeros. Saliente-se o caso mais evidente dos protões H-5’ e 2-
CH3.
No espectro de RMN de 1H os sinais estruturais que caracterizam o
composto em análise são os seguintes:
a existência de um sinal em forma de dupleto a 5,3 ppm correspondente à
configuração do protão H-1’’ do hidrato de carbono, indicando a presença
ainda que pouco significativa deste anómero (integral correspondente a 0,3
protões) e a existência de um sinal pouco definido a aproximadamente 4,8
ppm cuja análise HMBC clarificou corresponder à ressonância do protão H-
1’’, correspondente à configuração estrutural ;
a existência de um conjunto de sinais entre 3 - 5 ppm, correspondentes às
ressonâncias dos protões da unidade de D-glucose;
a existência de um conjunto de sinais a aproximadamente 7 ppm,
correspondentes às ressonâncias dos protões benzílicos OCH2C6H5 da
unidade de glucose;
dois sinais em forma de singuleto a 3,88 e 3,96 ppm ambos com integral 3
correspondentes, respectivamente, à ressonância dos protões dos grupos
metoxilo 4’-OMe e 6’-OMe;
um sinal em forma de singuleto a 2,59 ppm (nítido no espectro a 140 ºC)
com integral 3 correspondente à ressonância dos protões do grupo acetilo;
Caracterização estrutural
80
um sinal em forma de singuleto (nítido no espectro a 140 ºC), a 6,23 ppm
com integral 1 correspondente à ressonância do protão H-5’ como o único
protão aromático da unidade de acetofenona, indicando a formação de um
composto mono-C-glucosilado. A análise deste sinal no espectro a
temperatura ambiente (dois singuletos colapsados na forma de aparente
dupleto) revela imediatamente a proporção relativa de 1:1 existente entre os
dois rotâmeros existentes.
1''2''3''
4'' 5''6''
OBnO
BnOOBn
OBn
H OH
MeO
O
OMe
12
1'2'
3'
4'5'
6'
69
O espectro HSQC (figura 10) permitiu identificar, no espectro de 13C, os
conjuntos de sinais dos carbonos característicos quer da unidade de hidrato de
carbono quer da unidade de acetofenona.
A análise do espectro HMBC (figura 11) do composto foi crucial na
identificação da presença do sinal correspondente ao protão anomérico da
estrutura estudada.
Caracterização estrutural
81
Figura 9: Espectros de RMN de 1H do composto 69 (a) a temperatura ambiente e (b) a 140ºC.
Caracterização estrutural
82
Figura 10: Expansão do espectro HSQC do composto 69 a 140 ºC.
É de referir que na caracterização estrutural por RMN de ambos compostos
64 e 69, apesar do aumento de temperatura de análise ter clarificado bastante os
espectros obtidos com a conversão maioritária num dos rotâmeros (como já foi
explicado) a anulação da duplicação de sinais, embora evidente, não foi total.
Assim, em ambos os casos, para um estudo mais cuidado dos espectros deverá
ser estudado o aumento da temperatura necessário para se atingir um estádio em
que a interconversão entre os dois rotâmeros é tão rápida que apenas é
detectada uma conformação intermédia entre estes, surgindo apenas um conjunto
de sinais.
Caracterização estrutural
83
Figura 11: Expansão do espectro HMBC do composto 69 e esquematização das conectividades assinaladas.
84
Trabalho em estudo e perspectivas futuras
85
6. Trabalho em estudo e perspectivas futuras
Como já se referiu, no âmbito da síntese de (E)-C-glicosil-2-estirilcromonas,
estudou-se detalhadamente o processo de síntese de (E)-2-estirilcromonas,
através do seguimento do método de Baker-Venkataraman, tendo também sido
estudadas, paralelamente, duas metodologias diferentes de C-glucosilação de
compostos polifenólicos. Um dos objectivos futuros no âmbito da temática deste
trabalho será naturalmente a optimização da reacção de C-glucosilação directa de
(E)-2-estirilcromonas pelo método A estudado (trabalho ainda em curso),
esquema 39, e já aplicado com sucesso na C-glucosilação da acetofenona 56.
Esquema 39
O
O
HO
OH
OH
62c
OH
a) Sc(OTf)3, CH3CN:H2O (2:1)
b) Py, Ac2O, 4-DMAP, temp. amb.
OHOHO OH
OH
OH
O
O
AcO
OAc
OAc
OAc
OAcOAcO
OAc
OAc63
O
O
HO
OH
OH
OH
OHOHO
OH
OH
Clivagem total dosgrupos protectores
Avaliação daactividade
antioxidante
C-glucosilação directa de (E)-2-estirilcromonas
-> Método de D-glucose desprotegida
67
74
Trabalho em estudo e perspectivas futuras
86
Terá interesse a exploração do percurso sintético alternativo ilustrado no
esquema 40, com o mesmo âmbito final, a síntese de (E)-C-glicosil-2-
estirilcromonas. Este último método envolve o uso dos compostos 64 e 69, já
sintetizados, como compostos de partida, tendo como metodologia sintética na
construção estrutural da (E)-2-estirilcromona, novamente, o método de Baker-
Venkataraman. Esta rota sintética, já descrita na literatura para a síntese de C-
glicosilflavonas,106,111,113 é considerada muito mais eficiente em termos de
rendimento final relativamente à C-glicosilação directa da aglícona (flavanona)
(rendimentos descritos de cerca de 50% e de 20%, respectivamente)106 e,
portanto, mais sinteticamente apelativa.
Dado à já abordada potencialidade antioxidante associada a este tipo de
compostos será também objectivo futuro a avaliação da actividade antioxidante
dos mesmos na sua forma desprotegida 74 (clivagem total dos grupos
protectores). Pretende-se assim tirar partido do grupo catecol presente no anel B
do composto polifenólico em estudo e também da extensa conjugação aromática
que tanto caracteriza as (E)-2-poli-hidroxiestirilcromonas. Por outro lado, a
associação de uma ou mais unidade(s) de hidrato de carbono poderá constituir
interessantes resultados a nível do metabolismo destas aglíconas já tão
conhecidas pela sua potente actividade antioxidante in vitro71,72,75,76 e,
possivelmente, contribuir para a expressão da sua potencial actividade
antioxidante in vivo.
Trabalho em estudo e perspectivas futuras
87
OHHO
OH O
56
OMeMeO
OH64
O
OHOHO
OH
OH
O
O
MeO
OH
OMe
OMe
OHOHO
OH
OH
O
O
HO
OH
OH
OH
OHOHO
OH
OH
Desmetilação total dosgrupos protectores
Avaliação daactividade
antioxidante
OH
OBnOBnO
BnO
BnO MeO
O
OMe
69
Seguimento do método deBaker-Venkataraman
O
O
MeO
OH
OMe
OMe
OBnOBnO
BnO
BnO
Método B de C-glicosilação estudado(uso de glicosídeos
fluorados)
Método A de C-glicosilação estudado(uso de glicosídeos
desprotegidos)
Esquema 40
75 71
74
88
Parte experimental
89
7. Parte experimental
7.1. Reagentes, solventes, sílicas e equipamentos utilizados
7.1.1. Reagentes e solventes utilizados
Os reagentes comerciais foram usados sem qualquer purificação prévia.
Os solventes necessários nas transformações estudadas eram
analiticamente puros ou foram, sempre que necessário, purificados por
destilação.
A piridina foi seca, a refluxo, sobre hidróxido de sódio e destilada em
seguida.
O diclorometano foi seco na presença de carbonato de cálcio por
refluxo seguido de uma destilação fraccionada.
Os solventes usados na purificação dos compostos foram previamente
destilados.
Na cristalização dos compostos foram usados solventes de pureza
analítica.
7.1.2. Sílicas utilizadas
A evolução das reacções químicas foi seguida por cromatografia de
camada fina, (tlc), em folhas plastificadas revestidas de sílica gel 60 F254,
da Merck.
Parte experimental
90
As purificações realizadas por cromatografia em coluna foram efectuadas
em colunas de sílica gel 60 da Merck, de granulometria 0,040-0,063 mm
(sílica “flash”).
As purificações em cromatografia de camada fina preparativa foram
efectuadas em placas de vidro (20 x 20 cm), previamente revestidas com
uma camada de sílica gel 60 GF254, da Merck, com 0,5 mm de espessura e
activadas na estufa a 100 ºC durante 6-8 horas.
Na purificação dos compostos glucosilados, previamente ao tratamento
cromatográfico em sílica, quando indicado, procedeu-se a uma pré-
separação numa coluna MCI® gel CHP20P da Mitsubishi Chemical
Corporation - coluna de fase reversa com um polímero de elevada
porosidade (75-150 m).
7.1.3. Equipamentos utilizados
Nas cromatografias de camada fina efectuadas, após a eluição dos
compostos, as placas foram observadas à luz ultravioleta a λ 254 e/ou a
366 nm.
As soluções dos compostos sintetizados foram secas com sulfato de sódio
anidro (caso se tenha procedido a lavagem em água) e concentradas num
evaporador rotativo Büchi modelo RE-111. A eliminação final de vestígios
de solvente foi efectuada numa bomba de vácuo e/ou numa estufa a 55 ºC
ventilada.
Os espectros de RMN de 1H e 13C foram obtidos num espectrómetro
Bruker Avance 300 operando a uma frequência de 300,13 e 70,47 MHz,
respectivamente. Como padrão interno usou-se o tetrametilsilano (TMS).
Os desvios químicos (,ppm) indicados para cada composto foram obtidos
a temperatura ambiente (excepto nos casos indicados) e num solvente
Parte experimental
91
deuterado indicado para cada composto. Nas caracterizações efectuadas
por RMN de protão indica-se, além do desvio químico, a multiplicidade dos
sinais e as correspondentes constantes de acoplamento (J, Hz). Os
assinalamentos inequívocos das ressonâncias dos protões e carbonos
foram, em alguns casos, auxiliados recorrendo às técnicas bidimensionais
heteronucleares HSQC e HMBC.
Os pontos de fusão foram determinados num aparelho Büchi Melting Point
B-540 e não foram corrigidos.
Os espectros de massa foram efectuados num espectrómetro Micromass
Q-Tof-2TM, recorrendo-se a técnica de electrospray como fonte de
ionização operando com o cone a 30 V. Os dados obtidos a partir dos
espectros de massa são apresentados em termos de razão massa/carga
dos iões correspondentes e entre parêntesis a intensidade relativa.
Os espectros de massa de alta resolução foram realizados num
espectrómetro APEX-Qe, na Universidade de Vigo.
A análise elementar foi efectuada num aparelho de microanálise elementar
Carlo Erba 1108, na Universidade de Vigo.
7.2. Síntese dos compostos obtidos
7.2.1. Preparação do composto de partida para a síntese da (E)-
5,7,4’,5’-tetrametoxi-2-estirilcromona (61)
7.2.1.1. Síntese da 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57)
A uma solução de 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56) (5,00 g; 29,7 mmol) em
acetona (100 mL) adicionou-se K2CO3 (24,7 g; 0,18 mol) e Me2SO4 (8,4 mL, 89,2
Parte experimental
92
mmol). A mistura reaccional foi mantida em refluxo durante 30 min. sob agitação
magnética, em atmosfera de azoto. Após a remoção do K2CO3, por filtração,
evaporou-se o solvente e o composto obtido foi cristalizado em etanol, dando
origem à acetofenona desejada 57 ( = 65%, 3,25 g).
OMeMeO
OH O
12
1'2'
3'
4'
5'
6'
57
2’-Hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57): p.f. 80-81ºC (Lit.156 77-79 ºC);
RMN de 1H (300,13 MHz, CDCl3): δ = 2,61 (s, 3 H, H-2); 3,82 (s, 3 H, 4’-OCH3);
3,86 (s, 3 H, 6’-OCH3); 5,92 (d, J = 2,4 Hz, 1 H, H-3’); 6,06 (d, J = 2,4 Hz, 1 H, H-
5’); 14,0 (s, 1 H, 2’-OH) ppm.
7.2.2. Síntese da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) pelo
método de Baker-Venkataraman
7.2.2.1. Síntese da 4’,6’-dimetoxi-2’-(3,4-dimetoxicinamoíloxi)acetofenona
(59)
Método I
Adicionou-se ácido 3’,4’-dimetoxicinâmico (58) (3,11 g; 14,8 mmol) e POCl3
(3,7 mL, 40,6 mmol) a uma solução de 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57)
(1,50 g; 7,6 mmol) em piridina seca (60 mL). A mistura reaccional permaneceu em
Parte experimental
93
agitação magnética, a 60 ºC e sob atmosfera de azoto durante 2 horas. Após este
período, verteu-se a solução em gelo (50 g) e água (100 mL) e o pH foi ajustado a
4 com uma solução diluída de ácido clorídrico. O precipitado formado foi removido
por filtração e posteriormente dissolvido em clorofórmio (100 mL). A fase orgânica
foi lavada com água (3 x 100 mL), seca sobre sulfato de cobre anidro e evaporou-
se o solvente à secura. Purificou-se o resíduo obtido numa coluna sílica usando
como eluente clorofórmio e evaporou-se o solvente à secura. Cristalizou-se o
composto em etanol obtendo-se a 4’,6’-dimetoxi-2’-(3,4-
dimetoxicinamoíloxi)acetofenona (59) ( = 49%, 740 mg).
Método II
A uma solução de 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57) (1,50 g; 7,6
mmol) em diclorometano (80 mL) adicionou-se ácido 3’,4’-dimetoxicinâmico (58)
(0,95 g; 4,6 mmol), 4-pirrolidinopiridina (72) (0,17 g; 1,1 mmol) e N,N’-diciclo-
hexilcarbodiimida (1,58 g; 11,4 mmol). Manteve-se a mistura reaccional em
agitação, à temp. amb., durante 3 dias. Após este período adicionou-se
novamente ácido 3’,4’-dimetoxicinâmico (58) (0,95 g; 4,6 mmol), 4-
pirrolidinopiridina (72) (90,0 mg, 0,6 mmol) e N,N’-diciclo-hexilcarbodiimida (0,47
g; 2,3 mmol). Ao fim de mais 3 dias, período no qual a mistura reaccional
permaneceu em agitação à temp. amb., filtrou-se o sólido obtido, lavando-o bem
com diclorometano (50 mL). Evaporou-se o filtrado e o resíduo foi cristalizado em
etanol, obtendo-se a 4’,6’-dimetoxi-2’-(3,4-dimetoxicinamoíloxi)acetofenona (59)
com óptimo rendimento ( = 89%, 1,30 g).
Parte experimental
94
12
A
B
1'2'3'
4'
5'6'
1''
2'' 3''
4''
5''6''59
COMe
OMe
OMeMeO
O O
O
4’,6’-Dimetoxi-2’-(3,4-dimetoxicinamoíloxi)acetofenona (59): p.f. 145-147 ºC
(Lit.91 140-142 ºC);
RMN de 1H (300,13 MHz, CDCl3): δ = 2,50 (s, 3 H, H-2); 3,83 (s, 3 H, 4’-OCH3);
3,86 (s, 3 H, 6’-OCH3); 3,93 (s, 6 H, 3’’,4’’-OCH3); 6,31 (d, J = 2,2 Hz, 1 H, H-3’);
6,39 (d, J = 2,2 Hz, 1 H, H-5’); 6,46 (d, J = 15,9 Hz, 1 H, H-α); 6,88 (d, J = 8,3 Hz,
1 H, H-5’’); 7,10 (d, J = 2,0 Hz, 1 H, H-2’’); 7,15 (dd, J = 2,0; 8,3 Hz, 1 H, H-6’’);
7,78 (d, J = 15,9 Hz, 1 H, H-β) ppm.
7.2.2.2. Síntese da 1,5-diaril-3-hidroxipenta-2,4-dien-1-ona 60
Adicionou-se KOH moído (pó; 0,70 g; 12,7 mmol) a uma solução de 4’,6’-
dimetoxi-2’-(3,4-dimetoxicinamoíloxi)acetofenona (59) (0,97 g; 2,55 mmol) em
DMSO (15 mL). A solução foi mantida em agitação magnética, à temp. amb., sob
atmosfera de azoto e protegida da humidade com sílica gel durante 2 h.
Seguidamente, a solução foi vertida em gelo (100 g) e água (100 mL) e o pH
ajustado a 4 com uma solução diluída de HCl. Deixou-se a solução em repouso
até à formação de um precipitado laranja. O sólido obtido foi filtrado e
posteriormente dissolvido em clorofórmio. A solução foi lavada com água (3 x 100
mL), seca sobre sulfato de cobre anidro e evaporou-se o solvente à secura.
Cristalizou-se o resíduo resultante em etanol obtendo-se a 1,5-diaril-3-
hidroxipenta-2,4-dien-1-ona 60 com bom rendimento ( = 79%, 766 mg).
Parte experimental
95
OMe
OMe
OMeMeO
OH O OH
12
34
5
A
B1'2'
3'
4'
5'
6'
1''
2'' 3''
4''
5''6''60a
5-(3,4-Dimetoxifenil)-3-hidroxi-1-(2-hidroxi-4,6-dimetoxifenil)penta-2,4-dien-1-
ona (60a): p.f. 149-151 ºC (Lit.91 148-150 ºC);
1H RMN (300,13 MHz, CDCl3): δ = 3,82; 3,90; 3,92; 3,95 (4xs, 12 H, 4’,6’,3’’,4’’-
OCH3); 5,97 (d, J = 2,4 Hz, 1 H, H-5’); 6,10 (d, J = 2,4 Hz, 1 H, H-3’); 6,44 (d, J =
15,7 Hz, 1 H, H-4); 6,74 (s, 1 H, H-2); 6,88 (d, J = 8,3 Hz, 1 H, H-5’’); 7,07 (d, J =
1,6 Hz, 1H, H-2’’); 7,14 (dd, J = 8,3; 1,6 Hz, 1 H, H-6’’); 7,54 (d, J = 15,7 Hz, 1 H,
H-5); 13,61 (s, 1 H, 2’-OH); 14,84 (s, 1 H, 3-OH) ppm.
7.2.2.3. Síntese da (E)-5,7,4’,5’-tetrametoxi-2-estirilcromona (61)
Adicionou-se ácido p-toluenossulfónico mono-hidratado (20,0 mg; 0,12
mmol) a uma solução de 5-(3,4-dimetoxifenil)-3-hidroxi-1-(2-hidroxi-4,6-
dimetoxifenil)penta-2,4-dien-1-ona 60a (96,0 mg, 0,25 mmol) em DMSO (30 mL).
A solução foi mantida a 90 ºC, sob atmosfera de azoto, e em agitação vigorosa
durante 9 horas. Após este período verteu-se a mistura reaccional sobre água
(100 mL) e gelo (80 g). O precipitado amarelo formado foi removido por filtração,
dissolvido em diclorometano (100 mL) e a fase orgânica foi lavada com água (2 x
100 mL). Após secagem sobre sulfato de cobre anidro e evaporação do solvente
à secura, o resíduo obtido foi purificado por cromatografia em coluna de sílica
usando-se como eluente clorofórmio/acetona (5:1). Evaporou-se o solvente à
Parte experimental
96
secura e o resíduo foi cristalizado em etanol, obtendo-se a (E)-5,7,4’,5’-
tetrametoxi-2-estirilcromona (61) com bom rendimento ( = 74%, 71,0 mg).
O
O
2
345
6
7
8
2'3'
4'
5'6'
A C
B1'
9
10
MeO
OMe
OMe
61
OMe
(E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61): p.f. 165-167 ºC
Análise elementar (%): C21H20O6, esperado: C (68,47) e H (5,47), obtido: C
(68,16) e H (5,50).
RMN de 1H (300,13 MHz, CDCl3): δ = 3,90 (s, 3 H, 7-OCH3); 3,92 (s, 3 H, 4’-
OCH3); 3,93 (s, 3 H, 5-OCH3); 3,95 (s, 3 H, 3’-OCH3); 6,16 (s, 1 H, H-3); 6,35 (d, J
= 2,2 Hz, 1 H, H-6); 6,54 (d, J = 2,2 Hz, 1 H, H-8); 6,56 (d, J = 16,1 Hz, 1 H, H-α);
6,90 (d, J = 8,3 Hz, 1 H, H-5’); 7,06 (d, J = 8,3 Hz, 1 H, H-2’); 7,12 (dd, J = 8,3; 1,9
Hz, 1 H, H-6’); 7,46 (d, J = 16,1 Hz, 1 H, H-) ppm.
RMN de 13C (75,47 MHz, CDCl3): δ= 55,7 (7-CH3); 55,9 (4’-CH3); 56,0 (5-CH3);
56,4 (3’-CH3); 92,7 (C-8); 95,9 (C-6); 109,1 (C-2’); 109,3 (C-10); 111,1 (C-5’);
111,6 (C-3); 117,7 (C-), 121,7 (C-6’); 128,2 (C-1’); 135,6 (C-); 149,2 (C-3’);
150,5 (C-4’); 159,4 (C-2); 159,6 (C-9); 160,8 (C-7); 163,9 (C-5); 177,7 (C-4) ppm.
EM/ESI (m/z, %): 369 ([M+H]+, 100), 391 ([M+Na]+, 12), 759 ([2M+Na]+, 30).
Parte experimental
97
7.2.3. Desprotecção da (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61)
7.2.3.1. Síntese da (E)-5-hidroxi-3’,4’,7-metoxi-2-estirilcromona (62a)
Uma solução de (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) (23,3 mg; 0,06
mmol) em acetonitrilo em refluxo adicionou-se AlCl3 (84,3 mg; 0,63 mmol). A
mistura permaneceu em agitação magnética, sob atmosfera de azoto durante
aproximadamente 24 h. Passado este período adicionou-se uma solução diluída
de HCl a 18% (1 mL) e deixou-se em agitação a temp. amb. durante cerca de 12
horas. No término da reacção adicionou-se água e gelo e agitou-se
vigorosamente até à formação de um precipitado que foi filtrado e posteriormente
dissolvido em clorofórmio. O resíduo foi recristalizado em etanol ou
alternativamente purificado cromatograficamente por coluna de sílica usando
como eluente acetato de etilo, obtendo-se com rendimento moderado a (E)-5-
hidroxi-3’,4’,7-metoxi-2-estirilcromona (62a) ( = 55%, não optimizado, 46,4 mg).
O
O
MeO
OMe
OMe
OH62a
2
345
67
8
2'3'
4'5'
6'
A C
B1'
9
10
(E)-5-hidroxi-3’,4’,7-metoxi-2-estirilcromona (62a):
RMN de 1H (300,13 MHz, CDCl3): δ = 3,87 (s, 3H, 7-OCH3); 3,94 (s, 3 H, 4’-
OCH3); 3,97 (s, 3 H, 3’-OCH3); 6,16 (s, 1 H, H-3); 6,41 (d, J = 2,2 Hz, 1 H, H-6);
6,47 (d, J = 2,2 Hz, 1 H, H-8); 6,61 (d, J = 16,0 Hz, 1 H, H-α); 6,91 (d, J = 8,3 Hz,
Parte experimental
98
1 H, H-5’); 7,10 (d, J = 1,7 Hz, 1 H, H-2’); 7,16 (dd, J = 8,3; 1,6 Hz, 1H, H-6’); 7,53
(d, J = 16,0 Hz, 1 H, H-); 12,82 (s, 1 H, 5-OH) ppm.
7.2.3.2. Síntese da (E)-5,3’,4’-tri-hidroxi-7-metoxi-2-estirilcromona
(62b)
Uma solução de (E)-3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) (150 mg;
0,41 mmol) em diclorometano recentemente destilado (15 mL), foi arrefecida até -
78 °C (num banho criostático de 2-propanol). Adicionou-se lentamente uma
solução 1 M de tribrometo de boro em diclorometano (2,5 equiv. por cada grupo a
remover). A mistura reaccional permaneceu com agitação à temp. amb., em
atmosfera de azoto, durante 2 dias. Após este período, adicionou-se água (30 mL)
e deixou-se em agitação vigorosa até se observar a formação de um precipitado.
Este, depois de filtrado, foi abundantemente lavado com água (4 x 50 mL) e éter
etílico (2 x 20 mL) e posteriormente dissolvido em metanol. Após evaporação à
secura, recristalizou-se o resíduo obtido em metanol/água, obtendo-se a (E)-
5,7,4’,5’-tetra-hidroxi-2-estirilcromona (62b) com bom rendimento ( = 65%, 97,5
mg).
2
345
67
8
2'3'
4'
5'6'
A C
B1'
9
10
O
O
MeO
OH
OH
62b
OH
(E)-4’,5,5’-Tri-hidroxi-7-metoxi-2-estirilcromona (62b): p.f. 302-304 ºC
Parte experimental
99
RMN de 1H (300,13 MHz, DMSO-d6): δ = 3,87 (s, 3 H, 7-OCH3); 6,36 (s largo, 1
H, H-6); 6,37 (s, J = 1,8 Hz, 1 H, H-3); 6,72 (s largo, 1 H, H-8); 6,81 (d, J = 8,2 Hz,
1 H, H-5’); 6,85 (d, J = 16,1 Hz, 1 H, H-α); 7,01-7,03 (m, 1 H, H-6’); 7,10 (s largo, 1
H, H-2’); 7,54 (d, J = 16,1 Hz, 1 H, H-); 9,22 (s largo, 1 H, 3’-OH); 9,66 (s largo, 1
H, 4’-OH); 12,95 (s, 1 H, 5-OH) ppm.
RMN de 13C (75,47 MHz, DMSO-d6): δ= 56,1 (7-CH3); 92,6 (C-8); 97,9 (C-6);
104,9 (C-10); 107,2 (C-3); 114,4 (C-2’); 115,9 (C-); 116,1 (C-5’), 121,9 (C-6’);
126,5 (C-1’); 138,0 (C-); 145,7 (C-3’); 148,3 (C-4’); 157,2 (C-2); 161,3 (C-5);
163,4 (C-9); 165,2 (C-7); 181,9 (C-4) ppm.
EM/ESI (m/z, %): 327 ([M+H]+, 87).
EMAR (ESI), m/z: C18H15O6, esperado: 327,08623 [M+H]+, obtido: 327,08631.
7.2.3.3. Síntese da (E)-3’,4’,5,7-tetra-hidroxi-2-estirilcromona (62c)
Uma solução de 3’,4’,5,7-tetrametoxi-2-estirilcromona (61) (170 mg; 0,46
mmol) em diclorometano recentemente destilado (5 mL), foi arrefecida até -78 °C
(num banho criostático de 2-propanol). Adicionou-se lentamente uma solução 1 M
de tribrometo de boro em diclorometano (4,6 mL; 4,61 mmol; 10 equiv.). A mistura
reaccional permaneceu com agitação à temp. amb., em atmosfera de azoto,
durante 7 dias. Após este período, adicionou-se água (40 mL) e deixou-se em
agitação vigorosa até à formação de um precipitado. Este último foi filtrado e
lavado abundantemente com água (5 x 60 mL) e com éter dietílico (2 x 30 mL),
obtendo-se desta forma a (E)-3’,4’,5,7-tetra-hidroxi-2-estirilcromona (62c) com
bom rendimento ( = 80%, 136 mg).
Parte experimental
100
2
345
67
8
2'3'
4'
5'6'
A C
B1'
9
10
O
O
HO
OH
OH
62c
OH
(E)-5,7,4’,5’-Tetra-hidroxi-2-estirilcromona (62c): p.f. 306-308 ºC (Lit.8 304-306
ºC)
RMN de 1H (300,13 MHz, DMSO-d6): δ = 6,17 (d, J = 2,1 Hz, 1 H, H-6); 6,32 (s, 1
H, H-3); 6,45 (d, J = 2,1 Hz, 1 H, H-8); 6,80 (d, J = 8,2 Hz, 1 H, H-5’); 6,83 (d, J =
16,0 Hz, 1 H, H-α); 7,03 (dd, J = 8,3; 1,9 Hz, 1 H, H-6’); 7,10 (d, J =1,9 Hz, 1 H, H-
2’); 7,51 (d, J = 16,0 Hz, 1 H, H-); 9,22 (s, 1 H, 3’-OH); 9,65 (s, 1 H, 4’-OH); 10,88
(s, 1 H, 7-OH); 12,96 (s, 1 H, 5-OH) ppm.
7.2.4. C-glucosilação de compostos polifenólicos
7.2.4.1. Método A: uso de D-glucose desprotegida (63)
Síntese da 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’,4’,6’-tri-
hidroxiacetofenona (66)
Uma mistura de 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56) (300 mg; 1,78 mmol), D-
glucose (63) (964 mg; 5,36 mmol) e Sc(OTf)3 (175,5 mg; 0,357 mmol), dissolvida
em EtOH (6 mL)/H2O (3 mL), permaneceu em refluxo e sob agitação magnética
Parte experimental
101
durante 14 horas. Adicionou-se 100 mL de água à mistura reaccional e passou-se
a mistura por uma coluna MCI® gel previamente lavada com água. Adicionou-se
mais 200 mL de água à coluna MCI® gel para a remoção da D-glucose livre (63) e
de triflato de escândio(III). Os compostos de interesse foram eluidos com 100 mL
de 50% acetona/água e, posteriormente com 30 mL de acetona. Evaporou-se à
secura obtendo-se um resíduo castanho pálido que foi separado por
cromatografia em coluna de sílica e, posteriormente, purificado por cromatografia
em placas de sílica usando uma mistura de Me2CO-EtOAc-H2O-EtOH (15:30:2:1)
como eluente. Obteve-se a 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’,4’,6’-tri-
hidroxiacetofenona (66) como mancha maioritária.
OHHO
OH O
12
1'2'
3'
4'5'
6'
66
1''2''3''
4'' 5''6''
OHO
HOOH
OH
H
3’-(1-Desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (66):
1H RMN (300,13 MHz, DMSO-d6): δ = 2,54 (s, 3 H, H-2); 3,15-3,58 (m, 4 H, H-2’’,
H-3’’, H-6’’); 3,87-5,16 (m, 5 H, 2’’-OH, H-4’’, 6’’-OH, 3’’-OH, 4’’-OH); 4,50 (d, J =
9,8 Hz, 1 H, H- 1’’); 5,89 (s, 1 H, H- 5’) ppm.
Síntese da 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-
dimetoxiacetofenona (64)
Uma mistura de 2’,4’,6’-tri-hidroxiacetofenona (56) (1,00 g; 5,95 mmol), D-
glucose (3,21 g; 17,8 mmol) e Sc(OTf)3 (590 mg; 1,20 mmol), dissolvida em EtOH
(30 mL)/H2O (15 mL), permaneceu em refluxo e sob agitação magnética durante
Parte experimental
102
30 horas. Adicionou-se 500 mL de água à mistura reaccional e passou-se a
mistura por uma coluna MCI® gel previamente lavada com água. Fez-se passar
1,5 L de água pela coluna MCI® gel para a eluição e remoção total da glucose
livre e de triflato de escândio(III). Os compostos de interesse foram eluidos com 1
L de 50% acetona/água e, posteriormente com 200 mL de acetona. Evaporou-se
à secura obtendo-se um resíduo castanho pálido que foi posteriormente dissolvido
em refluxo de acetona (50 mL), sob agitação magnética e atmosfera de azoto.
Adicionou-se à solução 9 equiv. de K2CO3 (7,40 g; 53 mmol) e 4 equiv. de Me2SO4
(2,25 mL, 23,8 mmol) e deixou-se reagir durante um período de 24 horas. Após a
remoção do K2CO3, por filtração, evaporou-se o solvente à secura e a mistura
obtida foi separada por cromatografia em coluna usando um eluente em gradiente
(CHCl3/Me2CO (3:1) CHCl3/Me2CO (1:1) Me2CO Me2CO/CH3OH (5:1)). A
mancha cromatográfica maioritária (eluição com 100% de acetona) revelou por
RMN corresponder à 3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-
dimetoxiacetofenona (64), um óleo amarelo pálido, com bom rendimento ( =
60%, 600 mg).
OMeMeO
OH O
12
1'2'
3'
4'5'
6'
64
1''2''3''
4'' 5''6''OHO
HOOH
OH
H
3’-(1-desoxi-β-D-glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (64):
1H RMN (300,13 MHz, acetona-d6): δ = 2,41 (s, 3 H, H-2); 3,38 (s, 1 H, H-5’’);
3,42-3,48 (m, 2 H, H-2’’, H-3’’); 3,62-3,67 (m, 1 H, H-6’’); 3,76 (s, 3 H, 4’-OMe);
3,88 (s, 3 H, 6’-OMe); 4,26 (s largo, 1 H, 2’’-OH); 4,40 (s largo, 1 H, H-4’’); 4,57 (d,
J = 9,2 Hz, 1 H, H- 1’’); 4,68 (s largo, 1 H, 6’’-OH); 4,81 (s largo, 1 H, 3’’-OH); 4,87
(s largo, 1 H, 4’’-OH); 6,55 (s, 1 H, H-5’) ppm.
Parte experimental
103
RMN de 13C (75,47 MHz, acetona-d6, 50 ºC): δ= 32,6 (2-CH3); 56,4 (6’-CH3); 56,8
(4’-CH3); 63,5 (C-6’’); 64,6 (C-2’’, C-4’’); 72,3 (C-1’’); 80,5 (C-3’’); 81,6 (C-5’’); 93,8
(C-5’); 113,6 (C-3’); 119,4 (C-1’); 158,3 (C-2’); 162,4 (C-4’); 201,4 (C-1) ppm.
EM/ESI (m/z, %): 357 ([M-H]-).
7.2.4.2. Método B: uso de fluoreto de 2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-
glucopiranosilo (68)
Síntese da 3’-(1-desoxi-2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranos-1-il)-2’-
hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (69)
A uma solução de 2’-hidroxi-4’,6’-dimetoxiacetofenona (57) (42,0 mg; 0,21
mmol, 3 equiv.), fluoreto de 2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranosilo (68) (39,0
mg; 0,07 mmol) e peneiros moleculares activados (500 mg) em diclorometano
recentemente destilado (10 mL) e em agitação magnética a -78 ºC, adicionou-se
lentamente uma solução de BF3.Et2O a 45% (39,5 L, 2 equiv.). A mistura
permaneceu sob agitação magnética e atmosfera de azoto durante 30 minutos.
Aumentou-se gradualmente a temperatura até aos 0 ºC durante um período de
5h, ao fim do qual se retirou a solução do banho frio mantendo a agitação
magnética a temp. amb. durante cerca de 15 horas. Adicionou-se água à mistura
reaccional e procedeu-se a uma extracção com clorofórmio. Secou-se o composto
sobre sulfato de sódio anidro e evaporou-se à secura. Separou-se
cromatográficamente a mistura em placas de sílica usando como eluente
diclorometano. Obteve-se o composto pretendido 69, um óleo amarelo pálido ( =
54%, 22,7 mg).
Parte experimental
104
1''2''3''
4''5''
6''OBnO
BnOOBn
OBn
H OH
MeO
O
OMe
12
1'2'
3'
4'5'
6'
69
3’-(1-desoxi-2,3,4,6-tetra-O-benzil--D-glucopiranos-1-il)-2’-hidroxi-4’,6’-
dimetoxiacetofenona (69):
1H RMN (300,13 MHz, acetona-d6, 140 ºC): δ = 2,59 (s, 3 H, H-2); 3,54-3,72 (m,
5H, H-2’’, H-3’’, H-4’’, H-5’’, H-6’’); 3,88 (s, 3 H, 4’-OMe); 3,96 (s, 3 H, 6’-OMe);
4,20-4,74 (m, 4 H, OCH2C6H5); 4,79-4,87 (m, 1 H, H-1’’); 6,23 (s, 1 H, H-5’); 6,95-
7,30 (m, 25 H, OCH2C6H5) ppm.
RMN de 13C (75,47 MHz, acetona-d6, 140 ºC): δ= 31,2 (2-CH3); 55,4 (6’-CH3);
55,4 (4’-CH3); 69,2 (*); 71,4 (*); 71,9 (*); 72,1 (*); 72,7 (*); 73,3 (*); 74,1 (*); 78,1
(*); 78,4 (*); 78,8 (*); 86,0 (*) (4xOCH2C6H5; C-2’’, C-3’’; C-4’’; C-5’’; C-6’’; C-1’; C-
3’); 88,1 (C-5’); 96,6 (*); 101,8 (*); 105,7 (*); 106,2 (*); 126,0 (*); 126,1 (*); 126,2
(*); 126,4 (*); 126,4 (*); 126,5 (*); 126,6 (*); 126,8 (*); 137,0 (*); 127,0 (*); 127,1 (*);
127,2 (*); 127,2 (*); 137,6 (*); 137,8 (*); 138,0 (*); 138,1 (*); 138,4 (*) (OCH2C6H5);
162,6 (C-4’); 163,2 (C-2’); 164,4 (C-4’); 202,2 (C-1) ppm.
* Não foi possível identificar inequivocamente
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