Saude Mental

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TCC

ATUAO DO SERVIO SOCIAL NA REA DE SADE MENTAL FRENTE AO NEOLIBERALISMO

NATLIA SILVA VITAL

UFRJ-2007

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS ESCOLA DE SERVIO SOCIAL ORIENTADOR: Professor Doutor Jos Augusto Bisneto DISCENTE: Natlia Silva Vital 2007/1

TTULO: ATUAO DO SERVIO SOCIAL NA REA DE SADE MENTAL FRENTE AO NEOLIBERALISMO

Rio de Janeiro, 19 de junho de 2007.

"O que me assusta no a violncia de poucos, mas a omisso de muitos. Temos aprendido a voar como os pssaros, a nadar como os peixes, mas no aprendemos a sensvel arte de viver como irmos". Martin Luther King

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo mostrar a atuao do Servio Social na rea de Sade Mental, a partir da minha experincia de estgio no Instituto de Psiquiatria da UFRJ IPUB e no Instituto Phillipe Pinel, problematizando os impasses que a Sade Mental e o Servio Social tm enfrentado no contexto brasileiro de neoliberalismo para concretizar o projeto da Reforma Psiquitrica no mbito das Polticas Sociais e da Legislao Psiquitrica. Para alcanar o objetivo deste trabalho, foram usadas pesquisas bibliogrficas, a partir da anlise de fontes secundrias (livros, artigos, TCCs, dissertaes de mestrado e dirio de campo) e pela minha vivncia como estagiria. Conclui-se que a populao brasileira, principalmente os portadores de transtornos mentais, esto desprovidos de polticas eficientes de amparo social e de benefcios para o seu bemestar fsico, mental e social.

FICHA CATALOGRFICA

VITAL, Natlia Silva. Atuao do Servio Social na rea de Sade Mental Frente ao Neoliberalismo. Trabalho de Concluso de Curso da Escola de Servio Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

Palavras Chaves Servio Social Sade Mental

SUMRIO

Introduo ---------------------------------------------------------------------------------pg.2

1- A Histria do Servio Social na Sade e na Previdncia Social---------pg.6 1.1 - A Histria do Servio Social na Sade-------------------------------------pg.7 1.2 - A Histria do Servio Social na Previdncia Social------------------pg.14 2- O Servio Social na Sade Mental-----------------------------------------------pg.19 2.1 - A Reforma Psiquitrica no Brasil-------------------------------------------pg.20 2.2 - A Legislao Psiquitrica-----------------------------------------------------pg.23 3- O Servio Social e a Conjuntura Neoliberal----------------------------------pg.32 3.1 - O Servio Social frente ao Neoliberalismo-----------------------------pg.33 3.2- A Atuao do Servio Social na Seguridade Social frente s implicaes do Neoliberalismo---------------------------------pg.38 4- A Sade Mental frente ao Neoliberalismo-------------------------------------pg.42 Bibliografia-------------------------------------------------------------------------------pg.51

INTRODUO

A sade mental no Brasil foi baseada, por muito tempo, no isolamento dos pacientes em hospitais psiquitricos. Isso acabou gerando um grande nmero de pacientes afastados por longo tempo do convvio social e que precisam de especial apoio para sua reinsero na sociedade. Mudanas tm ocorrido que nos permite a esperana e a expectativa de que novos modelos assistenciais serviro para multiplicar uma nova filosofia assistencial

privilegiando o cidado e a pessoa portadora de transtornos mentais. O Movimento de Reforma Psiquitrica representa um grande avano nas prticas em Sade Mental, contratando novos assistentes sociais e ressaltando a necessidade de se estabelecer uma cidadania efetiva para os usurios da rede de Sade Mental. Contraditriamente a essa perspectiva, o Movimento de Reforma Psiquitrica tem se encontrado preso pela armadilha do neoliberalismo, em que a diminuio de servios hospitalares acabou por diminuir a oferta de ateno, visando diminuir custos, restringindo e sucateando as polticas sociais de sade, previdncia pblica e de assistncia social. Este trabalho tem como objetivo mostrar a atuao do Servio Social na rea de Sade Mental, a partir da minha experincia de estgio no Instituto de Psiquiatria da UFRJ IPUB e no Instituto Phillipe Pinel, problematizando os impasses que a Sade Mental e o Servio Social tm enfrentado no contexto brasileiro de neoliberalismo para concretizar o projeto da Reforma Psiquitrica no mbito das Polticas Sociais e da Legislao Psiquitrica. Formulei a seguinte hiptese para essa pesquisa: o

neoliberalismo tem sido responsvel pela reduo dos direitos sociais e da proposta da poltica de sade construda na dcada de 80. A ressocializao e a proteo dos direitos

dos pacientes psiquitricos se dariam atravs de prticas do Servio Social baseada numa Reforma Psiquitrica autntica. O aumento de movimentos sociais organizados ajuda a defender e assegurar um meio eficaz de suporte social para a reinsero social das pessoas portadoras de transtornos mentais. A conjuntura neoliberal est deixando os portadores de transtornos mentais desprovidos de meios de amparo social e de benefcios para o seu bem-estar fsico, mental e social. Para alcanar o objetivo deste trabalho, optei pela pesquisa bibliogrfica, a partir da anlise de fontes diversas (livros, artigos, TCCs, dissertaes de mestrado e dirio de campo) e pela minha vivncia como estagiria. O dirio de campo foi um instrumento de fundamental importncia, nele esto sistematizadas minhas experincias e, como cita BOSCO PINTO, o dirio de campo facilita criar o hbito de observar com ateno, descrever com preciso e refletir sobre acontecimentos de um dia de trabalho (In: ALMEIDA e AZEVEDO, 2003). Como o meu trabalho baseia-se tambm em exemplos de fatos ocorridos na instituio em que atuei, ele serviu como referncia para recordar os mesmos. A prtica do Servio Social no sistema de Sade Mental est voltada para a Seguridade Social e o profissional de Servio Social que atende ao modelo previdencirio, que com o avano do neoliberalismo na ordem capitalista vem reduzindo investimento pblico nesta rea, associada com a Sade, a Previdncia Social e a Assistncia Social, limitando as possibilidades de atuao do Servio Social em Sade Mental. A afirmao da hegemonia neoliberal no Brasil tem sido responsvel pela reduo dos direitos sociais e trabalhistas, desmonte da previdncia pblica e sucateamento da sade, com isso, a proposta de poltica de sade, construda na dcada de 80, tem sido desconstruda, passando a ser vinculada ao mercado, pautada na Poltica de Ajuste que

tem como principais tendncias a conteno dos gastos. Contribuir efetivamente para o processo de insero social das pessoas com transtornos mentais, incentivando a organizao de uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais, facilitando o convvio social, assegurando o bem-estar global e estimulando o exerccio pleno de seus direitos civis, polticos e de cidadania, no o que encontramos sempre nos hospitais psiquitricos. A Reforma Psiquitrica, e a prpria Legislao Psiquitrica, visa reduzir progressivamente os leitos psiquitricos e contrariamente, visa incrementar, qualificar, expandir e fortalecer a rede extra-hospitalar Centros de Ateno Psicossocial (CAPS), Servios Residenciais Teraputicos (SRTs) e Unidades Psiquitricas em Hospitais Gerais - incluindo as aes da sade mental na ateno bsica e Sade da Famlia. Este programa no condiz com o projeto neoliberal vigente e por isso os pacientes psiquitricos continuam inseridos na poltica de excluso referenciada no modelo do asilo e do depsito de loucos. Os usurios de Sade Mental esto abandonados pelas autoridades Municipais, Estaduais e Federais. Verifica-se o descumprimento dos dispositivos constitucionais e legais e uma omisso do Governo Federal na regulamentao e fiscalizao das aes de sade em geral, no fazendo cumprir integralmente a legislao psiquitrica conquistada com muito trabalho pelos profissionais de sade desde as lutas da dcada de 80. Os leitos em hospitais psiquitricos esto sendo diminudos, como est previsto na legislao, mas os CAPS no esto conseguindo atender a demanda psiquitrica, aumentando o contingente de pacientes psiquitricos virando moradores de rua. Este segmento da populao brasileira est desprovido de meios de amparo social e de benefcios para o seu bem-estar fsico, mental e social, no havendo um meio eficaz de suporte para evitar o agravamento do seu quadro clnico e do abandono social.

CAPTULO IA Histria do Servio Social na Sade e na Previdncia Social

1.1) A Histria do Servio Social na Sade

A sociedade brasileira a partir da dcada de 30 passa por alteraes na sua conjuntura, como o processo de industrializao, a redefinio do papel do Estado e o surgimento das polticas sociais respondendo as reivindicaes dos trabalhadores. As caractersticas econmicas e polticas desse perodo, possibilitou o surgimento de polticas sociais que respondessem s questes sociais.

A questo social neste perodo precisava ser enfrentada de forma mais sofisticada, transformando-se em questo de poltica e no de polcia, com a interveno estatal e a criao de novos aparelhos que contemplassem os assalariados urbanos, que se caracterizavam como atores importantes no cenrio poltico nacional. (BRAVO, 2004: pg.26).

A insero inicial do Servio Social na rea da sade aconteceu por volta dos anos 30, perodo em que a poltica de sade foi formulada e quando comeam a criar polticas sociais em resposta s reivindicaes dos trabalhadores. A sade neste perodo foi organizada em dois subsetores: o da sade pblica, sendo predominante at meados dos anos 60, responsvel pela promoo e preveno, com nfase nas campanhas sanitrias e criao de servios de combate s endemias, centralizando-se na criao de condies sanitrias mnimas para a populao e, a medicina previdenciria, teve como marco a criao dos Institutos de Aposentadorias e Penses (IAPs) que substituram as Caixas de Aposentadorias e Penses (CAPs) criadas em 1923 pretendendo estender para um nmero maior de categorias assalariadas urbanas os seus benefcios, como forma de antecipar as reivindicaes destas categorias e no prosseguir a uma cobertura mais ampla. Este modelo previdencirio atendia apenas aos trabalhadores

regulamentados com carteira de trabalho. A medicina previdenciria s vai ultrapassar a sade pblica a partir de 1966. As principais alternativas adotadas para a sade pblica, no perodo de 1930 a 1940, foram: nfase nas campanhas sanitrias, coordenao dos servios estaduais de sade, pelo Departamento Nacional de Sade, em 1937; interiorizao das aes para as reas de endemias rurais; criao de servios de combate s endemias; reorganizao do Departamento Nacional de Sade, em 1941 (BRAGA e PAULA, 1986: pg.53-55; em

BRAVO, 2000). O Servio Social estava vinculado assistncia mdico-previdenciria (desenvolvida pelas instituies estatais) e s aes de educao em sade (desenvolvida pela Igreja Catlica). A profisso era conhecida como Servio Social Mdico e realizava aes de carter educativo-normativo que atuava inclusive, nos hbitos de higiene da populao. As atividades realizadas pelos assistentes sociais concentravam-se no mbito da medicina previdenciria que tinha como grande financiador o trabalhador formal. Todo o trabalho realizado pelo Servio Social baseava-se numa prtica rotineira e burocratizada, atravs de trabalhos educativos voltado para a reinsero daquele trabalhador, sendo uma prtica fundamentada no como direito do trabalhador e sim, como uma forma de controle social viabilizando a ideologia dominante, ou seja, a profisso tinha um papel repressivo e assistencialista, criava polticas sociais no intuito de regular a vida em sociedade, minimizar as tenses e com isso, conseguir legitimidade de seu poder. A expanso do Servio Social no Brasil ocorreu a partir de 1945, relacionado s exigncias de aprofundamento do capitalismo no pas. Nessa dcada, a ao profissional na Sade aumenta, transformando-se no setor que mais absorveu os assistentes sociais deixando de ter uma prtica de julgamento moral com relao populao-cliente, passando a ter uma anlise de cunho psicolgico. A rea de Sade transformou-se no principal campo de absoro profissional a partir de 1948 quando o novo conceito de Sade, elaborado pela Organizao Mundial de Sade (OMS): Sade um estado de completo bem-estar fsico, mental e social, e no mera ausncia de doena ou enfermidade; passou a enfocar os aspectos

biopsicossociais, determinando a requisio de outros profissionais para atuar no setor,

entre eles o assistente social. O assistente social enfatizou a prtica educativa com interveno no modo de vida da clientela, com relao aos hbitos de higiene e sade. A instaurao da ditadura militar no ps-1964 expressou a derrota das foras democrticas e os grandes problemas estruturais no foram resolvidos, mas aprofundados, tornando-se mais complexos e com uma dimenso ampla e dramtica. O Estado vai intervir na questo social por meio do binmio represso-assistncia, aumentando o poder de regulao sobre a sociedade, reduzindo as tenses sociais e conseguindo legitimidade para o regime. A poltica de sade no perodo de 1964 a 1974 desenvolve-se com base no privilegiamento do setor privado, assumindo um modelo que valoriza a prtica clnica e a assistncia mdico-curativa, desvalorizando as aes preventivas de carter coletivo. Havendo tambm uma diminuio das responsabilidades estatais e uma transferncia progressiva da funo estatal de regulador das polticas pblicas de sade para o setor privado. Foi ainda nos anos 60 que os IAPs foram unificados e fundou-se o Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS). Embora a sade tenha sofrido mudanas, poucas mudanas ocorreram na atuao dos assistentes sociais neste perodo. No perodo de 1974-1979, o Servio Social na sade no se alterou, apesar do processo organizativo da categoria, do aprofundamento terico dos docentes e do movimento geral da sociedade. Na prtica, manteve-se o carter conservador com uma viso psicologizada das relaes sociais, sendo o indivduo culpabilizado por sua situao social ou seu estado de sade, cabendo ao profissional de Servio Social, recuper-lo atravs de uma ao moralizadora.

A Sade na dcada de 80A partir do final dos anos 70 e incio dos anos 80, no Brasil, num contexto de fim do milagre econmico, a questo social foi agravada e aumentou a excluso social. Foi um perodo de grande mobilizao poltica, como tambm de aprofundamento da crise econmica que se aumentou na ditadura militar. Nessa conjuntura, h um movimento importante na sade coletiva, onde acontece o aumento do debate terico sobre o Estado e as polticas sociais. No entanto, com o fim do autoritarismo e a instituio da Nova Repblica, a populao brasileira foi retomando seu espao no cenrio dos movimentos populares. A sade nessa dcada contou com a participao de novos sujeitos na discusso das condies de vida da populao brasileira e das propostas governamentais apresentadas para o setor, contribuindo para um amplo debate que permeou a sociedade civil. Sade deixou de ser interesse apenas dos tcnicos para assumir uma dimenso poltica, estando estritamente vinculada democracia (BRAVO, 2000). As principais propostas debatidas pela sociedade civil foram a universalizao do acesso; a concepo de sade como direito social e dever do Estado; a reestruturao do setor atravs de estratgia do Sistema Unificado de Sade, visando um novo olhar sobre a sade individual e coletiva; a descentralizao do processo decisrio para as esferas estadual e municipal; a democratizao do poder local, atravs de novos mecanismos de gesto os Conselhos de Sade. Em maro de 1986, em Braslia (DF) aconteceu a 8 Conferncia Nacional de Sade, que o marco histrico mais importante na trajetria da poltica de sade no Brasil, introduzindo no cenrio da discusso da sade a sociedade, referindo-se sociedade como um todo, propondo-se no somente o Sistema nico, mas a Reforma

Sanitria. Nesta conferncia foi discutida os rumos da sade no pas, tendo como eixos: Sade como direito de cidadania, Reformulao do Sistema Nacional de Sade e Financiamento Setorial. Foi aprovada nesta Conferncia a bandeira da Reforma Sanitria, bandeira esta configurada em propostas, legitimada pelos segmentos sociais. O relatrio desta Conferncia serviu de base para a negociao dos defensores da Reforma Sanitria na reformulao da Constituio Federal. O movimento pela Reforma Sanitria, tinha como objetivo democratizar o acesso aos servios, difundir uma conscincia sanitria e fazer com que a populao entendesse a sade como direito de todos e dever do Estado, e no como apenas ausncia de doenas, fortalecendo o setor pblico em oposio ao modelo de privilegiamento do setor privado. Os ideais da Reforma Sanitria so resumidos como: democratizao do acesso, a universalidade das aes e a descentralizao com controle social 1. O Projeto tem como uma de suas estratgias o Sistema nico de Sade (SUS) e foi fruto de lutas e mobilizao dos profissionais de sade, articulados ao movimento popular. Sua preocupao central assegurar que o Estado atue em funo da sociedade, pautando-se na concepo de Estado democrtico e de direito, responsvel pelas polticas sociais e, por conseguinte, pela sade. Em 1988, graas s reivindicaes do Movimento da Reforma Sanitria, foi aprovada a Constituio Federal de 88, representando a promessa de afirmao e extenso dos direitos sociais no Brasil em face da grande crise e s demandas de enfrentamento dos grandes ndices de desigualdade social. Essa Constituio tem como princpios fundamentais a universalidade, eqidade e gesto democrtico-participativa

1

A categoria controle social significa a participao da sociedade civil na elaborao, implantao e fiscalizao das polticas pblicas.

das polticas sociais. O texto constitucional, com relao Sade, aps vrios acordos polticos e presso popular, atende em grande parte s reivindicaes do movimento sanitrio. A Sade obteve cinco artigos nesta Constituio (Art.196-200), determinando que esta seja direito de todos e dever do Estado, integrando os servios de sade de forma regionalizada e hierrquica, constituindo um sistema nico. Nesta mesma constituio foi aprovado o Sistema nico de Sade (SUS), onde efetiva a sade como um direito fundamental para o exerccio da cidadania e dos direitos humanos passando a ser responsabilidade estatal e ficando estabelecido: a

universalidade, o acesso igualitrio, a hierarquizao, a descentralizao e o controle social, como princpios bsicos. Em 1990 aprovada a Lei 8.080 e a Lei 8.142 (Lei Orgnica da Sade LOS), que dispe sobre a promoo, a proteo e a recuperao da sade da populao. Entendendo a sade como dimenso essencial da qualidade de vida e recurso indispensvel para o desenvolvimento social, econmico e pessoal. Num balano do Servio Social na rea da Sade dos anos 80 observa-se que a profisso chega a 1990 ainda com pouca alterao da prtica institucional, sendo uma categoria desarticulada do Movimento da Reforma Sanitria e sem nenhuma organizada ocupao na mquina do Estado pelos setores progressistas da categoria profissional. Neste perodo os profissionais estavam na sua maioria nas universidades dentro do processo de renovao da profisso, tendo pouca interveno nos servios. O Servio Social nesta dcada cresceu na busca de fundamentao e consolidao terica, mas poucas mudanas consegue apresentar na sua ao profissional.

1.2) A Histria do Servio Social na Previdncia Social

Tradicionalmente, as funes da previdncia social e da caridade estavam nas mos da famlia, associaes de ajuda mtua e organizaes como Igrejas. Contudo, as grandes mudanas causadas pela industrializao e pela urbanizao, fizeram com que o Estado adotasse a funo da previdncia social para expandir o seu poder funcional, com o objetivo poltico de regular o conflito social em nome da ordem pblica e da segurana nacional. A previdncia social vem dar uma resposta ao anseio universal pela segurana do presente e do futuro. Os problemas do sustento na velhice, na invalidez, no desemprego, no tratamento e subsistncia na doena, do amparo do grupo familiar, pela morte da pessoa que o tem sob sua dependncia entre outras seguranas. uma organizao criada pelo Estado, destinada a prover as necessidades vitais de todos os que exercem atividades remuneradas e de seus dependentes. Os programas de previdncia social antes do sculo XX eram restritos aos funcionrios pblicos civis e membros das foras armadas. Apenas depois da segunda

dcada deste sculo que a previdncia social mantida pelo governo foi extendida a empregados do setor privado. Somente em 1923 que a Previdncia se implantou de fato entre ns, com a promulgao, no incio do Governo do Presidente Artur Bernardes, da Lei n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923, tambm, chamada de Lei Eloy Chaves, nome do deputado paulista que apresentou o respectivo projeto e por ele lutou at o fim. Nesta lei eram criadas Caixas de Aposentadorias e Penses (CAPs), para os empregados das empresas ferrovirias, sendo os primeiros a serem amparados pela lei. Esta categoria era um dos grupos de trabalhadores mais organizados no perodo e tinham em suas mos um importante setor na economia nacional. Na verdade, a lei foi apresentada como sendo uma forma para evitar conflitos de classe e promover a harmonia social dentro do clima de lei e ordem. Os conceitos legais e princpios de organizao contidos nesta lei tornaram-se base para futura elaborao do sistema de previdncia social no Brasil e continua ainda hoje a moldar grande parte da poltica. As CAPs foram planejadas para oferecer quatro benefcios essenciais, inclua, primeiro aposentadoria por invalidez, aposentadoria por tempo de servio e aposentadoria por velhice; segundo penso por morte; terceiro, assistncia mdica; e quarto, um

pagamento em espcie para cobrir despesas de funeral dos empregados. A lei foi articulada para prover proteo familiar bsica contra quatro riscos importantes que pudessem interferir com a capacidade do chefe de famlia de trabalhar e receber uma renda. Cada CAP seria financiada por trs fontes: o empregado contribuiria com 3% do seu salrio mensal; a empresa contribuiria com 1% de sua renda bruta, e o governo federal

com uma soma arrecadada do pblico atravs de taxas dos servios ferrovirios. Esse conceito foi a base do que mais tarde seria includo na constituio nacional como a contribuio tripla para o sistema de previdncia social. Cada membro da CAP recebia benefcios proporcionais s contribuies mensais. A partir de 1938, quase todas as classes operrias urbanas, ativamente empregadas foram cobertas pelo sistema. A princpio, a expanso da cobertura foi baseada na criao de novas CAPs, em 1933, contudo, surgiu um novo tipo de instituio de previdncia social, o Instituto de Aposentadoria e Penso (IAP), que organizava trabalhadores de uma categoria ocupacional especfica. A Lei Orgnica da Previdncia Social (LOPS) foi aprovada e implementada em 26 de agosto de 1960, de autoria do Deputado Baptista Ramos. O novo estatuto colocou o sistema sob lei nica e sob um conjunto uniforme de normas gerais. Alguns grupos novos como autnomos e profissionais liberais foram abrangidos pelo sistema, mas a massa de trabalhadores rurais e domsticos foi deixada fora do sistema. Esta lei uniformizou o Plano de Benefcios e Servios, para todas as categorias profissionais. Entre 1960 e 1964 ocorreu pouca inovao na poltica de previdncia social. Em 1963 o governo de Goulart aprovou nova lei para trabalhadores rurais, que a previdncia social passou a abranger esses trabalhadores. Contudo, o estatuto no previa os meios necessrios para financiar ou implementar a assistncia rural. Em 1966, no governo de Castelo Branco, o Ministro do Trabalho, Arnaldo Sussekind props um novo plano, menos abrangente para fundir todos os antigos institutos do setor privado em um nico Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS). O INPS foi estabelecido e imposto em janeiro desse mesmo ano. O Servio Social ingressou na Previdncia Social em virtude de uma dificuldade da

instituio ter controle junto s classes trabalhadoras, dificultando a legitimao do poder institucional. A categoria profissional tambm colaborou na prestao do Servio Social aos seus associados, sobretudo nos setores de benefcios, construes de conjuntos habitacionais e assistncia mdica. Convm ressaltar que a Lei Orgnica da Previdncia Social de 1960 insere o Servio Social na assistncia complementar, confirmando e delimitando o seu lugar institucional: Capitulo XV, artigo 52 da lei n 3.807 de 26 de agosto de 1960 (LOPS): Artigo 52 - A assistncia complementar compreender a ao junto aos beneficirios, quer individualmente, quer em grupo por meio de tcnicas do Servio Social, visando a melhoria de suas condies de vida. 1 - A Assistncia Complementar ser prestada diretamente ou mediante acordo com os servios e associaes especializadas.

A Previdncia Social na dcada de 80Na dcada de 80, mais especificamente no ano de 1988, ocorreram muitas mudanas na Previdncia Social, alm de ser o ano de elaborao na nova constituio, governado pelo Presidente da Repblica, Jos Sarney. A constituio brasileira de 1988 realizou notvel avano no campo dos direitos sociais, inclusive no que tange ao sistema previdencirio. A principal conquista foi a introduo do conceito de seguridade social, que diz respeito exatamente construo de um sistema de proteo social amplo, alojando as polticas de sade, previdncia e assistncia social, concebido como instrumento indispensvel ao processo de reproduo

da fora de trabalho e, portanto, das condies de trabalho no prprio capitalismo, reduzindo as desigualdades econmicas e sociais que imperam no Pas. A seguridade social institucionalizada pela Constituio de 88 oferece aos trabalhadores uma proteo em caso de perda ou esgotamento, parcial ou total, temporrio ou definitivo, de sua fora de trabalho ou das condies de exerc-la por velhice, por doena, e/ou por acidente. O texto constitucional define a Seguridade Social como conjunto integrado de aes de iniciativa dos poderes pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia. A sade ultrapassou os limites de um servio, a previdncia foi ampliada para todos os trabalhadores e a assistncia mereceu uma legislao prpria. Dentre as principais condicionantes de uma poltica de seguridade, esto: a arrecadao tributria, a renda, o emprego, os nveis de pobreza, a organizao sindical e os mecanismos de regulao estatal. A Previdncia Social um dos segmentos da Seguridade Social, diferenciando-se da Assistncia Social e da Sade, pelo fato de exigir uma contribuio. Todos podem filiarse, desde que haja contribuio, ou seja, participao no custeio. A legislao bsica do sistema previdencirio a prpria Constituio Federal de 1988 (art.201), Leis: n8.213/91 em seu artigo 1 assegura: A Previdncia Social, mediante contribuio, tem por fim assegurar aos seus beneficirios meios indispensveis de manuteno, por motivo de incapacidade, desemprego involuntrio, idade avanada, tempo de servio, encargos familiares e priso ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

CAPTULO IIO Servio Social na Sade Mental

2.1) A Reforma Psiquitrica no Brasil

O processo de Reforma Psiquitrica no Brasil acontece no mesmo perodo do Movimento da Reforma Sanitria, na dcada de 70, ocorrendo mudanas na prtica em sade, priorizando a sade coletiva, a eqidade na oferta dos servios e defendendo o protagonismo dos usurios da sade nos processos de fiscalizao e da gesto da sade. O processo de Reforma Psiquitrica acontece num contexto internacional de mudanas pela superao da violncia asilar. Ocorre, mais especificamente, no final dos anos 70, na crise do modelo de assistncia baseado em hospitais psiquitricos, por um lado, e no aumento dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquitricos, por outro. Compreendida como um conjunto de transformaes de prticas, saberes, valores culturais e sociais, no cotidiano da vida das instituies, dos servios e das relaes interpessoais que o processo da Reforma Psiquitrica avana, marcado por impasses, tenses, conflitos e desafios. No ano de 1978 ocorre a reemergncia dos principais movimentos sociais no Brasil, aps um longo perodo de represso militar, ficando marcado este ano como sendo o incio efetivo do movimento social pelos direitos dos pacientes psiquitricos em nosso pas. Dentro de grandes movimentos sociais, se destaca o Movimento dos Trabalhadores em Sade Mental (MTSM), sendo o movimento que passa a protagonizar e a construir a partir deste perodo a denncia da violncia dos manicmios, da mercantilizao da loucura e a construir coletivamente uma crtica assistncia s pessoas com transtornos mentais baseado no asilamento em hospitais psiquitricos.

A experincia italiana de desinstitucionalizao em psiquiatria e sua crtica ao manicmio so inspiradoras e revela a possibilidade de ruptura com os antigos paradigmas na ateno aos portadores de transtornos mentais, e com isso passam a surgir as primeiras propostas e aes para a reorientao da assistncia em sade mental. O II Congresso Nacional do MTSM, realizado em 1987, adota o lema Por uma sociedade sem manicmios. Neste mesmo ano, realizada a I Conferncia Nacional de Sade Mental no Rio de Janeiro. Tambm no ano de 1989, d entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado, que prope a regulamentao dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extino progressiva dos manicmios no Brasil. o marco das lutas do movimento da Reforma Psiquitrica. A Reforma Psiquitrica prope transformar o modelo assistencial em sade mental e a construir um novo estatuto social para o louco, o de cidado como todos os outros. No pretende acabar com o tratamento clnico da doena mental, mas sim eliminar a prtica do asilamento como forma de excluso social dos indivduos portadores de transtornos mentais. Para isso, prope a substituio do modelo manicomial pela criao de uma rede ampla de servios de ateno psicossocial. A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vrios estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituio progressiva dos leitos psiquitricos por uma rede integrada de ateno sade mental. O perodo de 1992 a 1995 foi marcado pelas maiores e mais significativas mudanas nas polticas de sade mental no Brasil. Houve uma significativa reduo no nmero de leitos em hospitais psiquitricos, aumento do nmero de profissionais na atuao em sade mental, inclusive de assistentes sociais, aumento de leitos psiquitricos em

hospitais gerais e aumento de uma rede ampla de servios de ateno psicossocial como: hospitais-dia, centros (CAPS) e ncleos de ateno psicossocial (NAPS), havendo uma substituio do tipo de assistncia psiquitrica baseada na internao para servios abertos.

2.2) A Legislao PsiquitricaPor muito tempo o tratamento s pessoas com transtornos mentais no Brasil, foi baseado no isolamento dos pacientes em hospitais psiquitricos. Isso acabou gerando um

grande contingente de pacientes afastados por longo tempo do convvio social e que precisam de especial apoio para sua reinsero na sociedade.

COOPERATIVAS SOCIAIS Em 10 de novembro de 1999 aprovada a Lei n 9.867, dispondo sobre a criao e o funcionamento de Cooperativas Sociais, visando a integrao social dos cidados. Art. 1o As Cooperativas Sociais, constitudas com a finalidade de inserir as pessoas em desvantagens no mercado econmico, por meio do trabalho, fundamentam-se no interesse geral da comunidade em promover a pessoa humana e a integrao social dos cidados, e incluem entre suas atividades: I a organizao e gesto de servios sociossanitrios e educativos; II o desenvolvimento de atividades agrcolas, industriais, comerciais e de servios. Art. 3o Consideram-se pessoas em desvantagens, para os efeitos desta lei: I os deficientes fsicos e sensoriais; II os deficientes psquicos e mentais, as pessoas dependentes de acompanhamento psiquitrico permanente, e os egressos de hospitais psiquitricos; III os dependentes qumicos;

Esta lei permite o desenvolvimento de programas de suporte psicossocial para os pacientes psiquitricos em acompanhamento nos servios comunitrios. um importante

instrumento para viabilizar os programas de trabalho assistido e inclu-los na dinmica da vida diria e na sociedade.

SERVIOS RESIDENCIAIS TERAPUTICOS Em fevereiro de 2000, com a Portaria n. 106, de 11 de fevereiro de 2000, o Ministrio da Sade introduz os Servios Residenciais Teraputicos (SRTs) no mbito do SUS, concretizando as diretrizes de superao do modelo de ateno centrado no hospital psiquitrico. Art. 1o Criar os Servios Residenciais Teraputicos em Sade Mental, no mbito do Sistema nico de Sade, para o atendimento ao portador de transtornos mentais. Pargrafo nico. Entende-se como Servios Residenciais Teraputicos, moradias ou casas inseridas, preferencialmente, na comunidade, destinadas a cuidar dos portadores de transtornos mentais, egressos de internaes psiquitricas de longa permanncia, que no possuam suporte social e laos familiares e que viabilizem sua insero social. Art. 2o Definir que os Servios Residenciais Teraputicos em Sade Mental constituem uma modalidade assistencial substitutiva da internao psiquitrica

prolongada, de maneira que, a cada transferncia de paciente do Hospital Especializado para o Servio de Residncia Teraputica, deve-se reduzir ou descredenciar do SUS, igual nmero de leitos naquele hospital, realocando o recurso da Autorizao de Internao Hospitalas (AIH) correspondente para os tetos oramentrios do estado ou municpio que se responsabilizar pela assistncia ao paciente e pela rede substitutiva de cuidados em sade mental.

Art. 3o Definir que aos Servios Residenciais Teraputicos em Sade Mental cabe: a) garantir assistncia aos portadores de transtornos mentais com grave dependncia institucional que no tenham possibilidade de desfrutar de inteira autonomia social e no possuam vnculos familiares e de moradia; b) atuar como unidade de suporte destinada, prioritariamente, aos portadores de transtornos mentais submetidos a tratamento psiquitrico em regime hospitalar prolongado; c) promover a reinsero desta clientela vida comunitria.

Art. 4o Estabelecer que os Servios Residenciais Teraputicos em Sade Mental devero ter um Projeto Teraputico baseado nos seguintes princpios e diretrizes: a) ser centrado nas necessidades dos usurios, visando construo progressiva da sua autonomia nas atividades da vida cotidiana e ampliao da insero social; b) ter como objetivo central contemplar os princpios da reabilitao psicossocial, oferecendo ao usurio um amplo projeto de reintegrao social, por meio de programas de alfabetizao, de reinsero no trabalho, de mobilizao de recursos comunitrios, de autonomia para as atividades domsticas e pessoais e de estmulo formao de associaes de usurios, familiares e voluntrios. c) respeitar os direitos do usurio como cidado e como sujeito em condio de desenvolver uma vida com qualidade e integrada ao ambiente comunitrio. As residncias teraputicas constituem-se como alternativas de moradia para um grande contingente de pessoas que esto internadas h anos em hospitais psiquitricos por no contarem com suporte adequado na sua vida em sociedade garantindo uma

assistncia integral em sade mental e eficaz para a reabilitao psicossocial, humanizao do atendimento psiquitrico no mbito do SUS, visando reintegrao social do usurio implementando polticas de melhoria de qualidade da assistncia sade mental, objetivando a reduo das internaes em hospitais psiquitricos.

LEI DA REFORMA PSIQUITRICA Somente no ano de 2001, aps 12 anos no Congresso Nacional, que a Lei Paulo Delgado sancionada no pas. Esta Lei aprovada sofre modificaes importantes do Projeto de Lei original no seu texto normativo. A Lei Federal 10.216 redireciona a assistncia em sade mental, dando prioridade ao tratamento em servios de ateno psicossocial, defendendo a proteo e os direitos das pessoas com transtornos mentais. Art. 1o Os direitos e a proteo das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, so assegurados sem qualquer forma de discriminao quanto raa, cor, sexo, orientao sexual, religio, opo poltica, nacionalidade, idade, famlia, recursos econmicos e ao grau de gravidade ou tempo de evoluo de seu transtorno, ou qualquer outra. Pargrafo nico. So direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I ter acesso ao melhor tratamento do sistema de sade, consentneo s suas necessidades; II ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua sade, visando a alcanar sua recuperao pela insero na famlia, no trabalho e na comunidade; III ser protegida contra qualquer forma de abuso e explorao;

IX ser tratada, preferencialmente, em servios comunitrios de sade mental.

Esta Lei redireciona o modelo da assistncia psiquitrica, regulamenta cuidados especiais aos usurios de sade mental internado por longos anos e prev possibilidade de punio para a internao involuntria ou arbitrria. Art. 3o responsabilidade do Estado o desenvolvimento da poltica de sade mental, a assistncia e a promoo de aes de sade aos portadores de transtornos mentais, com a devida participao da sociedade e da famlia, a qual ser prestada em estabelecimento de sade mental, assim entendidas as instituies ou unidades que ofeream assistncia em sade aos portadores de transtornos mentais. Art. 4o A internao, em qualquer de suas modalidades, s ser indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. 1o O tratamento visar, como finalidade permanente, reinsero social do paciente em seu meio. 2o O tratamento em regime de internao ser estruturado de forma a oferecer assistncia integral pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo servios mdicos, de assistncia social, psicolgicos, ocupacionais, de lazer, e outros. Art. 5o O paciente h longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize situao de grave dependncia institucional, decorrente de seu quadro clnico ou de ausncia de suporte social, ser objeto de poltica especfica de alta planejada e reabilitao psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitria competente e superviso de instncia a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessrio. Art. 8o A internao voluntria ou involuntria somente ser autorizada por mdico

devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina CRM do estado onde se localize o estabelecimento. 1o A internao psiquitrica involuntria dever, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministrio Pblico Estadual pelo responsvel tcnico do

estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta. 2o O trmino da internao involuntria dar-se- por solicitao escrita do familiar, ou responsvel legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsvel pelo tratamento. Esta Lei n 10.216, de 06 de abril de 2001, protege os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e direciona o modelo assistencial em sade mental, determinando que os pacientes h longo tempo internado em hospital psiquitrico, com uma situao de grave dependncia institucional, sejam objetos de poltica especfica. O objetivo a incluso social desses pacientes e a mudana do modelo assistencial em sade mental, com ampliao do atendimento extra-hospitalar.

PROGRAMA DE VOLTA PARA CASA Na Lei n 10.708, de 31 de julho de 2003, este processo facilmente identificado. Art. 1o Fica institudo o auxlio-reabilitao psicossocial para assistncia, acompanhamento e integrao social, fora de unidade hospitalar, de pacientes acometidos de transtornos mentais, internados em hospitais ou unidades psiquitricas, nos termos desta Lei. Pargrafo nico. O auxlio parte integrante de um programa de ressocializao de

pacientes internados em hospitais ou unidades psiquitricas, denominado De Volta Para Casa, sob coordenao do Ministrio da Sade. Este Programa De Volta para Casa, tem por objetivo a insero social de pessoas acometidas de transtornos mentais, incentivando a organizao de uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados. Regulamenta o auxlio-reabilitao psicossocial para assistncia, acompanhamento e integrao social, fora da unidade hospitalar, de pessoas portadoras de transtorno mentais com histria de longa internao psiquitrica (dois anos ou mais).

BENEFCIO DE PRESTAO CONTINUADA O usurio de Sade Mental alm de utilizar o auxlio-reabilitao psicossocial, presente na legislao psiquitrica, no programa De volta para Casa, tambm utiliza o Benefcio de Prestao Continuada da Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS), Lei Federal n. 8.742 de 1993. Art. 1o A assistncia social, direito do cidado e dever do Estado, Poltica de Seguridade Social no contributiva, que prov os mnimos sociais, realizada atravs de um conjunto integrado de aes de iniciativa pblica e da sociedade, para garantir o atendimento s necessidades bsicas. Art. 2o A assistncia social tem por objetivos: I - a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice; II - o amparo s crianas e adolescentes carentes; III - a promoo da integrao ao mercado de trabalho;

IV - a habilitao e reabilitao das pessoas portadoras de deficincia e a promoo de sua integrao vida comunitria;

V - a garantia de 1 (um) salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia.

Pargrafo nico. A assistncia social realiza-se de forma integrada s polticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, garantia dos mnimos sociais, ao provimento de condies para atender contingncias sociais e universalizao dos direitos sociais. Art. 20o O benefcio de prestao continuada a garantia de 1 (um) salrio mnimo mensal pessoa portadora de deficincia e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno e nem de t-la provida por sua famlia. 2o Para efeito de concesso deste benefcio, a pessoa portadora de deficincia aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho. 3o Considera-se incapaz de prover a manuteno da pessoa portadora de deficincia ou idosa a famlia cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salrio mnimo. Os benefcios e programas fazem parte do processo de Reforma Psiquitrica, possibilitando o resgate da cidadania, visando a reduo progressivamente dos leitos psiquitricos; qualificar, expandir e fortalecer a rede extra-hospitalar como: Centro de Ateno Psicossocial (CAPS), Servios Residenciais Teraputicos (SRTs), Unidades Psiquitricas em Hospitais Gerais (UPHG) e incluir as aes da sade mental na ateno bsica e Sade da Famlia.

CAPTULO IIIO Servio Social e a Conjuntura Neoliberal

3.1)

O Servio Social frente ao Neoliberalismo

O neoliberalismo nasceu logo depois da Segunda Guerra Mundial, nos principais pases do mundo do capitalismo. Nasceu como uma reao terica e poltica ao modelo de desenvolvimento centrado na interveno do Estado considerado como causa principal da crise do sistema capitalista de produo. Por isso os neoliberais passaram a atacar qualquer limitao no mercado por parte do Estado, denunciando tal limitao como uma ameaa liberdade econmica e poltica. Na dcada de 90, ainda em perodo de implementao das experincias de participao e de viabilizao das polticas sociais, o Brasil se v diante da ofensiva ideolgica do neoliberalismo. Este elege como principal alvo de ataque os direitos sociais conquistados na Constituio Federal de 1988, responsabilizando-os pela crise econmica e poltica do momento. Nessa conjuntura, a minimizao do Estado considerado inevitvel pelo capital, com a justificativa de que o Estado no poderia mais atender como antes a reproduo da fora de trabalho em funo da sua crise econmica. Dessa forma o Estado deixa de ser o garantidor de direitos sociais

universalizados, previsto na Constituio, passando a implementar o projeto poltico do grande capital. A ideologia neoliberal busca uma flexibilidade no processo de trabalho e uma flexibilidade do mercado de trabalho, que vem acompanhada da desregulamentao dos direitos trabalhalhistas, flexibilizando os contratos dos trabalhadores. Um dos traos que marcaram a dcada de 90 foi o fenmeno da globalizao, a partir do qual ocorreram mudanas importantes nas relaes sociais em que se incluem as transformaes no processo de reproduo da fora de trabalho e na reorganizao do mercado mundial. Vivemos hoje, com o fenmeno da globalizao, um momento de crise e de ameaa aos direitos adquiridos ao longo dos anos. Diante do panorama de desmonte das polticas pblicas, so impostos limites atuao dos assistentes sociais, na medida em que essa conjuntura poltica prope a reduo dos gastos sociais. Mediante tal quadro, o Servio Social precisa buscar novas possibilidades para dirigir suas aes, as quais devem ser permeadas por dois importantes projetos: de formao profissional e tico-poltico. So as repercusses do novo padro de acumulao capitalista no mbito do trabalho que vo acarretar mudanas nas condies e relao de trabalho do assistente social. Sendo um assalariado, este profissional tambm atingido por todas essas transformaes como: a precarizao das relaes de trabalho, a flexibilizao dos contratos, o desemprego e a terceirizao. A atuao neoliberal na rea social passa pelo apelo filantropia e solidariedade da sociedade civil, e por programas seletivos e focalizados de combate pobreza, no mbito do Estado, aumentando a desigualdade e construindo formas despolitizadas de abordagem da questo social.

Nessa conjuntura neoliberal cabe agora ao Estado, criar polticais pontuais direcionadas ao atendimento dos setores mais pauperizados e excludos, reduzindo a concesso de polticas sociais, transferindo responsabilidades para a sociedade civil e atribuindo ao mercado a funo de regulao da vida social, subordinando assim, a democracia ao carter excludente do mercado. O que caberia esfera pblica prover, repassado para o mercado que acaba inviabilizando a universalizao dos direito (conforme descrito na Constituio Federal de 1988 CF 88). Com isso a poltica social passa a ser residual, apenas complementar para os indivduos que no puderem solucionar seus problemas via mercado ou atravs de recursos familiares e da comunidade. A rea que mais sofreu as conseqncias do neoliberalismo foi a rea social. Num perodo em que a populao cresceu e o desemprego aumentou, o investimento na rea social foi reduzido. O aumento da pobreza e da misria, a grande desigualdade social 2 e a reduo das perspectivas de melhoria de vida para a maior parte da populao nos ltimos anos teve como conseqncia o aumento da violncia e da criminalidade. Os maiores desafios que o assistente social vive na atualidade construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes na sociedade. Inserido nesse processo contraditrio, o Servio Social da dcada de 90 se v confrontado com este conjunto de transformaes societrias, no qual desafiado a compreender e a intervir nas novas configuraes da questo social. O assistente social tem suas condies de trabalho precarizadas com a

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Contraste entre uma pequena camada privilegiada e uma imensa massa desprovida de perspectivas.

subcontratao, a terceirizao e a flexibilizao dos seus direitos trabalhistas, o que acaba resultando numa insegurana no dia a dia do seu trabalho. As expresses que a questo social assume hoje com o corte nas polticas sociais so: a violncia urbana, o desemprego, a fome, a precarizao da sade, a crise na sade mental, entre muitas outras, e as respostas do Estado s essas questes fica no mbito da solidariedade, do assistencialismo, do voluntariado e da filantropia, responsabilizando a sociedade civil para intervir na questo social, deixando de ser visto como dever do Estado e direito de todos. Se, formalmente, pela Constituio de 1988, a cidadania est assegurada a todos os brasileiros, na prtica, ela s funciona para alguns. O Estado deixou de ter como objetivo a proteo social, passando a flexibilizar a legislao trabalhista e entregando o funcionamento da economia para o mercado. A poltica neoliberal promove a lei da selva como regulador da vida social: sobrevivem os mais fortes. Na verdade, esta poltica favorece os j

fortes (economicamentes) as grandes empresas, os grandes bancos -, em detrimento da grande maioria, dos trabalhadores, que j chegam ao mercado em condies desvantajosas para a competio. O direito protegido pela lei substitudo pela fora. (LESBAUPIN, 2002: pg.58). Descentralizar, privatizar e concentrar os programas sociais pblicos nas populaes ou grupos carentes so os vetores do Estado neoliberal para os programas sociais. As polticas sociais no contexto neoliberal so, na sua maioria, privatizadas, retiradas da rbita do Estado, passando para o mbito da sociedade civil Igrejas, ONGs e por sua vez, essas polticas sociais so focalizadas3, direcionada apenas a uma parcela da populao desprovida de um mnimo para sua sobrevivncia. Em conseqncia disso3

A focalizao contra o princpio universalista da Constituio de 1988.

os servios sociais e a assistncia estatal so fortemente reduzidas em quantidade e em qualidade. Como resultado para o assistente social, que antes era um profissional essencial para implementar as polticas sociais do Estado, no contexto neoliberal estes profissionais so cada vez menos necessrio. Seu campo de trabalho na esfera estatal vai se reduzindo. O assistente social era solicitado pelo Estado para executar as polticas sociais por ele implementadas no mbito da reproduo da fora de trabalho. E, se no contexto atual, estas polticas so reduzidas e alteradas tambm se reduz a requisio dos profissionais de Servio Social. Sendo assim, a minimizao estatal e a redefinio das polticas pblicas atingem as classes populares e os assistentes sociais enquanto profissionais que as executam. Dessa forma, o Servio Social se v compelido a buscar novos caminhos para desenvolver seu trabalho fora do mbito estatal. Um exemplo desse fato a difuso da Assessoria/Consultoria por parte dos assistentes sociais, servindo s empresas e/ou profissionais e ganhando com isso, no um salrio, mas sim uma quantia por servios prestados. H tambm, com a terceirizao, o trabalho no chamado Terceiro Setor 4 nas Organizaes no-Governamentais (ONGs), que em boa parte, devido limitao de recursos, os salrios so desempenho profissional. baixos e os contratos temporrios, o que dificultam bom

4

O Terceiro Setor considerado distinto do Estado (1 setor) e do mercado (2 setor), nogovernamental, no-lucrativo, voltado ao desenvolvimento social, dando origem a uma esfera pblica no-estatal.

3.2)

A Atuao do Servio Social na Seguridade Social (Sade,

Assistncia e Previdncia) frente s implicaes do Neoliberalismo

O projeto poltico econmico consolidado no Brasil, nos anos 90, projeto neoliberal, confronta-se com o projeto profissional hegemnico no Servio Social5, tecido desde a dcada de 80, e com o projeto da reforma sanitria no campo da Sade. Nas proposies referentes poltica de sade, o projeto da reforma sanitria questionado e consolida-se na segunda metade dos anos 90, o projeto de sade articulado ao mercado ou privatista. Este ltimo, pautado na poltica de ajuste neoliberal, tem como tendncias a conteno dos gastos com a racionalizao da oferta e a descentralizao com iseno de responsabilidade do poder central. Ao Estado cabe garantir um mnimo aos que no podem pagar, ficando para o setor privado o atendimento aos cidados consumidores que tm acesso ao mercado. Como principais caractersticas destaca-se: o carter focalizado para atender as populaes vulnerveis, a

desconcentrao dos servios e o questionamento da universalidade do acesso. Como estratgia da proposio privatista destaca-se a nfase nas parcerias com a sociedade, responsabilizando a mesma para assumir os custos da crise, passando a

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O projeto hegemnico do Servio Social foi sendo construdo, articuladamente com as lutas mais gerais da sociedade, e procurou romper com a herana conservadora da profisso. Seus principais formuladores foram as entidades da categoria e os profissionais vinculados academia, tendo como marco o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, de 1979, conhecido como congresso da virada (BRAVO, 2004, pg.35).

utilizar agentes comunitrios e cuidadores para realizarem atividades profissionais. O projeto privatista da sade requisitou e vem requisitando ao assistente social: seleo socioeconmica dos usurios, atuao psicossocial por meio de aconselhamento, ao fiscalizatria aos usurios dos planos de sade, assistencialismo atravs da ideologia do favor. Entretanto, o projeto da Reforma Sanitria vem apresentando como demandas que o assistente social trabalhe as seguintes questes: busca de democratizao do acesso s unidades e aos servios de sade, atendimento humanizado, interdisciplinaridade, acesso democrtico s informaes e estmulo participao cidad. Apesar da consolidao do conceito de sade concebido como direito do cidado e dever do Estado e das conquistas jurdico-institucionais (Constituio Federal e Lei Orgnica da Sade) a poltica de sade no Brasil, na dcada de 90, se deteriora com menos verba para o setor, ocorrendo o sucateamento dos servios e o aumento da pauperizao da populao. Com a minimizao estatal e a diminuio dos gastos pblicos, as polticas sociais de seguridade social (os servios previdencirios, de sade e de assistncia social) passam a ser direcionadas apenas aos pobres. A seguridade social estabelecida na Constituio de 1988 se torna funo da participao contributiva dos seus usurios, cancelando qualquer pretenso de universalidade. Com isso, segmenta os usurios, determinando a qualidade das prestaes de servios: para os que mais contribuem, prestaes privadas, ou seja, mais qualificadas; para os que menos contribuem prestaes desqualificadas. No contexto neoliberal o Estado privatiza e mercantiliza a Seguridade Social, se desresponsabilizando do campo social e passando a responsabilidade para a sociedade.

A privatizao refere-se principalmente poltica de assistncia, transferida para a sociedade civil ou para instituies de solidariedade resultando na refilantropizao e passando a ter um carter de no poltica e de direito social. A mercantilizao envolve prioritariamente a sade e a previdncia, sendo o mercado responsvel pela organizao, gesto dos seguros sociais e dos servios de sade. A Constituio de 1988 instituiu a seguridade social para permitir um amplo sistema de proteo social junto com as polticas de sade, de assistncia e da previdncia. O primeiro princpio, a universalidade da cobertura indica que a sade direito de todos; que a assistncia devida a quem necessitar e a previdncia sempre foi direito derivado de uma contribuio anterior, ou seja, mantm a lgica do seguro. Esses princpios constitucionais deveriam provocar mudanas profundas na sade, previdncia e assistncia, no sentido de articul-las e formar uma rede de proteo ampliada. Nos anos 90, com o neoliberalismo, a lgica do seguro da previdncia e da sade se intensificou, no por acaso que, em 1990, o Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS) foi renomeado para Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). A assistncia, embora reconhecida como direito, mantm prestaes assistenciais apenas para pessoas comprovadamente pobres renda mensal familiar per capita abaixo de do salrio mnimo e incapazes para o trabalho, como idosos e pessoa portadora de deficincia, implementando programas e servios cada vez mais focalizados. Na sade, os assistentes sociais so desafiados de um lado, a atender uma populao carente que quase no tem para onde retornar aps a alta, buscando apoios mnimos (comida, agasalho, vale-transporte) e de outro, atende pessoas de planos de sade, onde o assistente social tem uma posio de cobrador de prazos e carncias.

CAPTULO IV

A Sade Mental frente ao Neoliberalismo

A Conjuntura da Sade Mental frente s implicaes do Neoliberalismo

de conhecimento de todos que a rea de Sade Mental experimentou ao longo dos anos 80, e mais particularmente na entrada da dcada de 90, transformaes substanciais com o avano do movimento pela Reforma Psiquitrica. Neste perodo, especialmente na dcada de noventa do sculo passado, vem ocorrendo mudanas significativas na sade mental no Brasil, destacando-se a extino ou reestruturao dos hospitais asilares, a regulamentao das internaes psiquitricas compulsrias e a criao de recursos assistenciais alternativos hospitalizao obtidos por fora das presses do movimento dos trabalhadores de sade mental e de outros setores da sociedade civil, resgatando a cidadania do doente mental, o direito ao tratamento humanizado e a sua reinsero social.

O Brasil apresenta inmeras injustias e desigualdades sociais. A Reforma Psiquitrica um processo singular deste contexto que nos questiona se os avanos decorrentes do Movimento da Luta Antimanicomial, que ganhou fora na dcada de 80, pode de fato transformar a assistncia em sade mental na atualidade. A trajetria da assistncia psiquitrica no Brasil, marcada por isolamentos, teraputicas repressoras e desumanas, est sendo modificada com a humanizao da assistncia e a gradativa desativao dos manicmios. Este processo possibilitou a ampliao da qualidade dos tratamentos, proporcionada por uma ateno efetiva, em regime de liberdade e convivncia social atravs dos CAPS, hospitais-dia, centros de convivncia, entre outros. Apesar desse importante avano, no podemos deixar de registrar o quanto resta por fazer, muitas conquistas ainda se fazem necessrias para que o pas garanta os legtimos direitos civis e humanos das pessoas acometidas de transtorno mental. Desde o incio do ano 2000, a sade enfrenta uma situao extremamente crtica, agravada pelo desinvestimento do Estado nas polticas sociais em geral, ocorrendo sucessivas crises do setor que desorganizaram as prticas sem, entretanto, conseguir substitu-las por melhores alternativas. Reconhecidamente foram muitas as bandeiras e lutas mobilizadas que nos permitem falar sobre a Reforma Psiquitrica. Contudo temos ainda, outras tantas bandeiras e lutas para mobilizar profissionais da sade, pessoas portadoras de transtornos e sofrimentos mentais, familiares e a sociedade como um todo. Para que de fato, possamos transformar nossa concepo de loucura e, assim, permitir formas de tratamento baseadas no respeito, dignidade e, sobretudo na condio de sujeito de direitos. No entanto, necessrio que consideremos o contexto mais amplo em que a

Reforma Psiquitrica avana no pas, contexto de ofensiva neoliberal, de reduo de servios, particularmente na rea de Sade Mental. Infelizmente, sabemos que ainda h muito por se fazer, so inmeros os relatos de maus-tratos, alguns inclusive levaram pacientes morte em hospitais psiquitricos, que constantemente violam a lei e consagram o abandono e o descuido. A lei atual prev o aumento de recursos teraputicos extra-hospitalares e determina medidas diretamente relacionadas ao paciente. Entretanto, o que se observa completamente diferente disso, j que est ocorrendo a extino dos leitos hospitalares e no esto construindo os centros assistenciais, os chamados Centros de Ateno Psicossocial (CAPS), em nmero satisfatrio (os poucos que existem j esto lotados). O que ocorre, portanto, uma desassistncia psiquitrica em muitos aspectos. Atualmente, nos hospitais psiquitricos, presenciamos uma grande reduo de leitos psiquitricos em um nmero superior criao de servios psiquitricos comunitrios alternativos ao asilamento. Podemos acrescentar a isso um outro dado: a baixa cobertura assistencial da maioria dos servios alternativos internao. A poltica de sade mental est gerando uma desassistncia do servio pblico para com seus cidados, sejam ou no portadores de doenas mentais. Muitos dos pacientes que necessitam de tratamento esto hoje jogados nas ruas ou em presdios e cadeias, vivendo em condies subhumanas e sem qualquer amparo social, pois houve uma reduo de leitos em hospitais psiquitricos e os Centros de Ateno Psicossocial (CAPS) no est conseguindo absorver todos os pacientes sendo insuficientes para atender toda a demanda. Durante o meu estgio curricular no Instituto Philippe Pinel (IPP) e no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB) pude perceber que o

quadro atual da sade mental revela pouca mudana. Alm da reduo dos servios psiquitricos e aumento de pessoas portadoras de transtornos mentais desamparados

pela rede de apoio psicossocial, como citado anteriormente tambm pude observar que muitos leitos ainda esto ocupados por pacientes-moradores. Ou seja, so pessoas completamente abandonadas pela famlia e pela sociedade, sem perspectiva de vida. Esta realidade que vem sendo alvo de denncias sistemticas e bem documentadas de violaes aos direitos humanos nas instituies psiquitricas vem chegando ao conhecimento pblico, o retrato mais perverso da assistncia psiquitrica. O Ministrio da Sade determinou que quando indicada a internao involuntria somente ser autorizada por mdico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina CRM do estado onde se localize o estabelecimento. A internao psiquitrica involuntria dever, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministrio Pblico Estadual pelo responsvel tcnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando indicado a alta. Alm de muitas vezes no ocorrer o aviso, o Ministrio Pblico acaba por no avaliar as condies de indicao de internao e as condies fsicas da instituio, ficando o usurio de sade mental desamparado e muitas vezes abandonado na instituio. Se, entretanto, a lei de 2001 fosse colocada em prtica da maneira como foi aprovada, com certeza seria de grande valia para os pacientes. Outra realidade nos hospitais psiquitricos a falta de polticas sociais direcionadas aos usurios de sade mental. O programa De Volta para Casa , que regulamenta o auxlio-reabilitao psicossocial para assistncia, acompanhamento e integrao social, fora da unidade hospitalar, de pessoas portadoras de transtorno mentais com histria de longa internao psiquitrica (dois anos ou mais) est temporariamente fechado para novos cadastros e o Benefcio de Prestao Continuada que garante 1 (um) salrio mnimo de benefcio mensal pessoa portadora de deficincia (como o portador de transtornos mentais) que comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia, um benefcio restrito aos comprovadamente

pobres, tendo muita dificuldade para ser aprovado, pois muitos dos pacientes internados nos hospitais psiquitricos so abandonados por sua famlia, que na maioria das vezes, fica responsvel por sua nica renda. No setor de emergncia do Instituto Philippe Pinel, onde completei meu ltimo perodo de estgio curricular, observei que muitos dos pacientes psiquitricos atendidos neste setor eram pacientes que estavam procurando atendimento ambulatorial, mas como a maioria dos hospitais psiquitricos pblicos, s havia vaga para atendimento daqui h 1 ms ou mais, com isso, eles recorriam ao atendimento de emergncia para serem atendidos. Essa realidade faz parte da poltica neoliberal de reduo de servios de sade, principalmente da sade mental. Neste processo, ocorre uma situao injusta e desumana de milhares de portadores de sofrimento mental reclusos em hospitais psiquitricos. Tambm percebi em minha experincia que h um desconhecimento por parte dos profissionais sobre direitos, leis, cdigos e normas. Em sua maioria, dominam apenas os direitos mais solicitados na instituio, um dos objetos do trabalho profissional, a democratizao das informaes, aqui vira obstculos. Uma vez que o setor de sade ainda representa o maior empregador de assistentes sociais, a categoria profissional no pode continuar se apoiando no fato de que a reduo dos fundos pblicos destinados s polticas sociais provoca uma reduo daquilo que constitui a materialidade sobre a qual o Servio Social se institucionalizou. inegvel que essa nova composio traz dilemas significativos para a profisso, o que exige uma leitura abrangente da realidade, pois somente assim se poder identificar as demandas emergentes e antecipar as novas, criando formas de interveno e requalificao profissional. Cabe ao assistente social no s orientar sobre direitos, mas estimular os usurios

para que os mesmos possam reivindicar uma melhor qualidade dos servios a eles oferecidos, como uma forma de garantir a efetivao da cidadania. Este mesmo assistente social que luta pelo cumprimento dos direitos dos usurios dentro das instituies, muitas vezes, no tem condies de respeit-lo por falta de recursos, de capacitao, de excesso de trabalho pelo nmero reduzido de funcionrios e por condies de natureza subjetiva (visualizei esta postura profissional durante a realizao do estgio). Para que se tenha no mercado, assistentes sociais capacitados para atender as demandas dos usurios, cada vez mais complexas com o agravamento da questo social, indispensvel uma formao profissional de qualidade. A capacitao continuada uma possibilidade para que o profissional de Servio Social no perpetue a prtica conservadora. Estar prximo das atuais discusses do meio acadmico tambm imprescindvel no processo de capacitao. Outra possibilidade importante o desenvolvimento do conhecimento e da pesquisa, pois isto melhora a formao e consequentemente a prtica dos assistentes sociais. A pesquisa social um dos componentes necessrios para a formao do perfil contemporneo do profissional de Servio Social, na medida em que possibilita uma ampla formao terica e uma perspectiva crtico-investigativo. Assim, a interveno favorecida e se torna mais segura e consciente, pois se ir atuar sobre objetos e processos da realidade que se conhecem. Dessa forma, o assistente social no ser meramente um profissional tcnico-operativo.

REFLEXES CONCLUSIVAS

A pesquisa enfrenta limites na atualidade para o seu desenvolvimento dentro das universidades, pois estas tambm vm sofrendo os impactos das polticas neoliberais. Com isso, reduziram-se os recursos para as atividades de pesquisa e comprometeram principalmente os grupos de pesquisa existentes nas reas das Cincias Humanas e Sociais, j que a prioridade para investimento se concentra nas reas tecnolgicas e biomdicas. Relacionando a minha experincia de estgio com o conhecimento adquirido na universidade, formulei a seguinte hiptese no incio dessa pesquisa: o neoliberalismo tem sido responsvel pela reduo dos direitos sociais e da proposta da poltica de sade construda na dcada de 80. A ressocializao e a proteo dos direitos dos pacientes psiquitricos se dariam atravs de prticas do Servio Social baseada numa Reforma Psiquitrica autntica. O aumento de movimentos sociais organizados ajuda a defender e assegurar um meio eficaz de suporte social para a reinsero social das pessoas portadoras de transtornos mentais. A conjuntura neoliberal est deixando os portadores de transtornos mentais desprovidos de meios de amparo social e de benefcios para o seu bem-estar fsico, mental e social. Diante do desmonte das polticas pblicas, em particular a da sade mental, dentro de um contexto neoliberal, so impostos limites atuao do assistentes sociais, na medida em que a atual conjuntura prope a reduo dos gastos sociais. Mediante tal quadro, o Servio Social precisa buscar novas possibilidades de interveno e para isso indispensvel a ruptura do conservadorismo presente na atuao profissional, a realizao de uma prtica comprometida com os interesses dos usurios e voltada para a concretizao dos direitos sociais. Enfim, este trabalho afirmou que as mudanas no modelo assistencial nas

instituies de sade mental no Brasil esto ocorrendo e podem contribuir de forma eficiente e efetiva para o desenvolvimento humano e social. Mas para isso acontecer, as categorias profissionais e a sociedade civil tm que se organizar, porque temos muita luta pela frente para que possamos concretizar uma Reforma Psiquitrica autntica garantindo uma rede ampla para reduzir o isolamento e a excluso dos portadores de transtornos mentais, pois quando no se conhece os fundamentos da profisso, os limites postos pela conjuntura, os direitos e a legislao dos portadores de transtornos mentais e no se discute as alternativas de supresso dos mesmos, estaremos condenados a perpetuar prticas conservadoras dificultando a concretizao de um suporte social efetivo para a insero e o pleno bem-estar fsico, mental e social dos usurios de sade mental.

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