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Clínica ampliada: do projeto terapêutico ao projeto de vida Guilherme Wykrota Tostes Saúde Mental e Espiritual O HEAL é uma instituição beneficente e referência no tratamento de transtorno mental e dependência química. Dentre as diversas correntes teóricas que sustentam o trabalho em saúde é possível a distinção de três grandes enfoques: o biomédico, o social e o psicológico, sendo que cada um desses enfoques possui suas diferentes ramificações que tendem valorizar mais um tipo de problema e algumas soluções que muitas vezes suprimem os outros enfoques. Como resposta a isso, surge a brilhante ideia da Clínica Ampliada a partir do programa, que tem muito a nos ensinar, desenvolvido pelo governo nacional, denominado Humaniza-SUS. Como está na própria cartilha da Clínica Ampliada, essa proposta tem como escopo se constituir enquanto ferramenta de articulação e inclusão desses diferentes enfoques. Outro ponto importante dessa proposta da Clínica Ampliada diz da necessidade de se partilhar com o usuário do serviço de saúde o diagnóstico e condutas adotadas pela Equipe de Referência de tal forma que ele possa ser protagonista de seu tratamento. A Clínica Ampliada não desvaloriza nenhuma abordagem disciplinar, busca integrar várias abordagens, partilhando saberes e poderes. A constituição da Equipe de Referência vem favorecer a responsabilização direta dos profissionais na atenção e construção conjunta do projeto terapêutico singular. A proposta de Clínica Ampliada compreende os seguintes eixos: 1) Compreensão mais ampliada do processo saúde-doença - busca evitar uma abordagem que privilegie excessivamente alguma disciplina; 2) Construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas - toda a complexidade da clínica que pode gerar uma vivência de desamparo no profissional e ao partilhar suas angústias com outros colegas, pode ser beneficiado com outras perspectivas; 3) Ampliação do “objeto de trabalho”: o objeto de trabalho de qualquer profissional de saúde deve ser a pessoa e não a doença; 4) A transformação dos meios ou instrumentos de trabalho são necessários arranjos e dispositivos de trabalho que favoreçam a comunicação livre e horizontal entre a equipe para que seja possível a clínica compartilhada; 5) Suporte para os profissionais de saúde – A clínica no sentido restrito do termo pode acabar tendo uma falsa função protetora que pode contribuir para que o profissional se distancie e não escute o outro nem a si próprio. É comum alguns profissionais não lidarem com a própria dor ou medo que o trabalho faça emergir. Nesse sentido, é de caráter vital a existência de instrumentos de suporte à equipe terapêutica para que esses trabalhadores possam lidar de frente com as próprias dificuldades. É imperativo ressaltar que toda a construção do projeto terapêutico ganha seu verdadeiro valor quando os profissionais de saúde auxiliam a pessoa em sofrimento a construir um planejamento que faça profundo sentido para essa última. Dessa forma, esse planejamento deixa de ser um “projeto terapêutico” formal e se torna um “projeto de vida”. Algo que tão somente pode ocorrer quando o profissional está com disponibilidade e interesse pelos sentidos que constituem a vida interior da pessoa que está sendo ajudada. Psicólogo clínico; gerente da Equipe de Psicologia Clínica e co-coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa do Hospital Espírita André Luiz (HEAL). Co-coordenador do curso de Pós-Graduação em Fenomenologia e Saúde Mental (Fumec). Mestre em Psicologia (PUCCamp – SP; bolsista Capes) e especialista em: Psicologia Analítica Junguiana (IEC PUC – MG), Experiência Elementar (UFMG), Psicologia Humanista (HP) e Gestalt (UFMG). [email protected] MEGA Produtos novos e seminovos Data: 12 a 14 de setembro Horário: 12h às 17h Local: Rua Campo Formoso, 679 - Salgado Filho

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Clínica ampliada: do projeto

terapêutico ao projeto de vida

Guilherme Wykrota Tostes

Saúde Mentale Espiritual

O HEAL é uma instituição beneficente e referência no

tratamento de transtorno mental e dependência química.

Dentre as diversas correntes teóricas que sustentam o trabalho em

saúde é possível a distinção de três grandes enfoques: o biomédico, o

social e o psicológico, sendo que cada um desses enfoques possui suas

diferentes ramificações que tendem valorizar mais um tipo de problema e

algumas soluções que muitas vezes suprimem os outros enfoques.

Como resposta a isso, surge a brilhante ideia da Clínica Ampliada a partir

do programa, que tem muito a nos ensinar, desenvolvido pelo governo

nacional, denominado Humaniza-SUS. Como está na própria cartilha da

Clínica Ampliada, essa proposta tem como escopo se constituir enquanto

ferramenta de articulação e inclusão desses diferentes enfoques. Outro

ponto importante dessa proposta da Clínica Ampliada diz da necessidade de

se partilhar com o usuário do serviço de saúde o diagnóstico e condutas

adotadas pela Equipe de Referência de tal forma que ele possa ser

protagonista de seu tratamento.

A Clínica Ampliada não desvaloriza nenhuma abordagem disciplinar, busca

integrar várias abordagens, partilhando saberes e poderes. A constituição da

Equipe de Referência vem favorecer a responsabilização direta dos

profissionais na atenção e construção conjunta do projeto terapêutico

singular.

A proposta de Clínica Ampliada compreende os seguintes eixos:

1) Compreensão mais ampliada do processo saúde-doença - busca evitar

uma abordagem que privilegie excessivamente alguma disciplina;

2) Construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas - toda a

complexidade da clínica que pode gerar uma vivência de desamparo no

profissional e ao partilhar suas angústias com outros colegas, pode ser

beneficiado com outras perspectivas;

3) Ampliação do “objeto de trabalho”: o objeto de trabalho de qualquer

profissional de saúde deve ser a pessoa e não a doença;

4) A transformação dos meios ou instrumentos de trabalho são necessários

arranjos e dispositivos de trabalho que favoreçam a comunicação livre e

horizontal entre a equipe para que seja possível a clínica compartilhada;

5) Suporte para os profissionais de saúde – A clínica no sentido restrito do

termo pode acabar tendo uma falsa função protetora que pode contribuir

para que o profissional se distancie e não escute o outro nem a si próprio. É

comum alguns profissionais não lidarem com a própria dor ou medo que o

trabalho faça emergir. Nesse sentido, é de caráter vital a existência de

instrumentos de suporte à equipe terapêutica para que esses trabalhadores

possam lidar de frente com as próprias dificuldades.

É imperativo ressaltar que toda a construção do projeto terapêutico ganha

seu verdadeiro valor quando os profissionais de saúde auxiliam a pessoa em

sofrimento a construir um planejamento que faça profundo sentido para essa

última. Dessa forma, esse planejamento deixa de ser um “projeto

terapêutico” formal e se torna um “projeto de vida”. Algo que tão somente

pode ocorrer quando o profissional está com disponibilidade e interesse

pelos sentidos que constituem a vida interior da pessoa que está sendo

ajudada.

Psicólogo clínico; gerente da Equipe de Psicologia Clínica e co-coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa do Hospital Espírita André Luiz (HEAL). Co-coordenador do curso de Pós-Graduação em Fenomenologia e Saúde Mental (Fumec). Mestre em Psicologia (PUCCamp – SP; bolsista Capes) e especialista em: Psicologia Analítica Junguiana (IEC PUC – MG), Experiência Elementar (UFMG), Psicologia Humanista (HP) e Gestalt (UFMG).

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Data: 12 a 14 de setembroHorário: 12h às 17hLocal: Rua Campo Formoso, 679 - Salgado Filho