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Sociedade e Cultura Roseane de Aguiar Lisboa Narciso

SC-livro_80h - Sociedade E Cultura

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Livro explica como as sociedades se formaram ao longo do tempo e o desenvolvimento social e cultural.

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  • Sociedade e Cultura

    Roseane de Aguiar Lisboa Narciso

  • Roseane de Aguiar Lisboa Narciso

    SOCIEDADE E CULTURA

    Belo HorizonteNovembro de 2013

  • COPYRIGHT 2014

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    Grupo nima Educao

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    EdioGrupo nima Educao

    DiretoriaPedro Luiz Pinto da Cunha

    Coordenao e Desenvolvimento de Novos Produtos EaDCludia Silveira da Cunha

    Coordenao de Produo de MateriaisPatrcia Ferreira Alves

    Equipe EaD

  • CONHEA A AUTORA

    Roseane de Aguiar Lisboa Narciso

    graduada em Cincias Sociais pela

    UFMG, especialista em Psicodrama pelo

    Instituto Mineiro de Psicodrama Jacob

    Levy Moreno, mestre em Sociologia das

    Organizaes pela UFMG e doutora em

    Cincias Sociais pela PUC Minas.

    Profissionalmente, atua h 15 anos em

    vrias reas. consultora organizacional,

    professora no ensino superior e

    coordenadora de projetos de extenso

    universitria com foco em sustentabilidade

    e responsabilidade social.

    Bons estudos!

  • APRESENTAO DA DISCIPLINA

    Estudar a sociedade em que

    vivemos uma tarefa complexa,

    mas, ao mesmo tempo,

    encantadora. Nesta disciplina iremos

    percorrer os caminhos que levaram

    compreenso da vida em grupo e

    analisar a vida em sociedade.

    Existem formas de vida diferenciadas

    na Terra, assim como diferentes formas

    de interao. Uma colmia de abelhas

    exemplifica uma forma de vida que,

    embora seja diferente da nossa, tambm

    se baseia em regularidades que ordenam

    a vida em grupo. Cada espcie desenvolve

    uma forma prpria de convivncia, pois

    no vivemos sozinhos: precisamos do

    outro para alcanar objetivos tanto de

    sobrevivncia quanto de continuidade da

    vida. Portanto, vivemos em sociedade!

    A sociedade se transforma, se modifica

    e no permanece com padres nicos de

    comportamento e valores. Nesse sentido,

    ns tambm mudamos e nos adaptamos

    s transformaes sociais. Voc j

    observou como o mundo contemporneo

    passa por profundas transformaes?

    E no so somente transformaes

    tecnolgicas, passamos tambm por

    mudanas de comportamento: os valores

    se modificam e, consequentemente, a

    relao entre indivduos e entre indivduo

    e sociedade tambm se altera.

    Torna-se imperativo refletir sobre as

    consequncias dessas mudanas

    na sociedade, e a Sociologia emerge

    como possibilidade de aprofundar

    as reflexes sobre esse contexto.

    Nossa disciplina, Cultura e Sociedade,

    prope conduzir essas reflexes

    a partir do entendimento da vida em

    sociedade e de suas formas de interao.

    Voc perceber que a Sociologia

    promove a formao de uma conscincia

    crtica e um conhecimento mais

    sistemtico a respeito dos problemas

    e questes relacionados vida cotidiana.

    Caminharemos em direo ao

    conhecimento e ao entendimento de

    conceitos sociolgicos, suas aplicaes na

    vida social e nos diferentes grupos sociais.

    Veremos os principais temas relacionados

    ao pensamento dos clssicos da Sociologia

    (Durkheim, Marx e Weber), conhece

    remos o objeto e o papel da Sociologia e sua

    importncia para o entendimento da vida

    em sociedade.

  • UNIDADE 1 003Introduo 004Das formas bsicas de sociedade sociedade ps-industrial 005O nascimento da sociologia 008O desenvolvimento do pensamento sociolgico 013A sociologia positiva de Auguste Comte 017Reviso 020

    UNIDADE 2 021 mile Durkheim e a sociologia 022mile Durkheim: a especificidade do objeto sociolgico 023Solidariedade social e o indivduo sob a tica de mile Durkheim 029Diviso do trabalho, anomia, solidariedade mecnica e orgnica 030Reviso 036

    UNIDADE 3 037O mtodo de anlise de Karl Marx 038O materialismo histrico 041Produo e reproduo 043Classes e estrutura social 045A revoluo marxista 047Reviso 051

    UNIDADE 4 052 Max Weber: relaes sociais e dominao 053Max Weber: ao social e relao social 055Dominao e racionalidade 060Burocracia 064Reviso 069

  • 5678

    UNIDADE 5 070Transformaes no mundo do trabalho e nas organizaes 071O trabalho na economia contempornea 073Grupos e organizaes 080Estrutura das organizaes 083Reviso 088

    UNIDADE 6 089 Desigualdade Racial e tnica 090 Raa e etnia: Significados sociais 093 Padres de interao tnica e racial 098 Afrodescedncia: Aspectos da cultura brasileira 101 Reviso 104

    UNIDADE 7 107 Responsabilidade social, sustentabilidade e desafios contemporneos 108Enfoque dos stakeholders, responsabilidade social e sustentabilidade 110Responsabilidade social nas organizaes 117 Reviso 121

    UNIDADE 8 122 A relao indivduo-sociedade na teoria social contempornea 123 Identidade e mudanas sociais 124 Sociologia e os meios de comunicao de massa 130 Reviso 138

    REFERNCIAS 140

  • 1UNIDADE

  • unidade 1004

    SOCIEDADE E CULTURA

    INTRODUO CINCIA DA SOCIEDADE

    Certamente voc j observou quantas mudanas tm ocorrido em nossa sociedade e como elas modificam nosso modo de viver. Mas voc j parou para pensar que essas mudanas no so de agora? So mudanas histricas que marcam nossa sociedade por conflitos, tenses e divises sociais. Ficam ento algumas perguntas:

    como chegamos at aqui? Qual rumo nossa sociedade tomar?

    FIGURA 1 - A evoluo das idades

    Fonte: DANTAS, 2011, [Online].

  • unidade 1005

    SOCIEDADE E CULTURA

    Como a imagem demonstra, as mudanas

    ocorrem num processo histrico e

    trazem consequncias diversas para o

    nosso modo de viver. Ser que estamos

    preparados e/ou adaptados para tantas

    modificaes?

    Comearemos, nesta unidade, a

    abordar tais mudanas e suas

    consequncias. Convido voc a

    percorrer tempos e lugares distantes,

    numa aventura intelectual que retoma

    sociedades pr-modernas e passa

    pelo desenvolvimento das formas de

    agrupamento social para chegarmos

    at o mundo contemporneo, com suas

    transformaes e modo de vida.

    Para esta viagem, coloque em sua

    bagagem um pouco de imaginao:

    a imaginao sociolgica, que

    permite enxergar eventos diversos que

    refletem questes muito amplas. Essa

    imaginao definida por C. Wright

    Mills como a capacidade de olhar as

    coisas de uma forma diferente daquela a

    que estamos acostumados. Significa ter

    uma viso mais ampla, olhar por trs

    dos bastidores (BERGER, 1986, p.45).

    Ela nos ajudar a compreender os fatos

    e acontecimentos e a perceber suas

    consequncias para nossa vida prtica.

    Alm disso, possibilitar novas formas

    de atuao diante das mudanas pelas

    quais passamos.

    DAS FORMAS BSICAS DE SOCIEDADE SOCIEDADE PS-INDUSTRIAL

    A sociedade passou por uma evoluo

    sociocultural em que predominou a relao

    do indivduo com o desenvolvimento

    tecnolgico. Essa evoluo vem desde

    os tipos bsicos de sociedade, que

    conheceremos aqui e que nos ajudaro

    a compreender a histria humana e a

    evoluo da sociedade (DIAS, 2005).

    As formas bsicas de sociedade existiram

    antes do industrialismo moderno.

    Inicialmente, havia a sociedade caadora

    e coletora, que se sustentava pela caa,

    pesca e coleta de plantas comestveis

    disponveis na natureza. Em algumas

    partes do mundo, ainda existe esse tipo

    de sociedade, mas a maioria foi destruda

    ou absorvida pela expanso da cultura

    ocidental (GIDDENS, 2005).

    FIGURA 2 - Colheita

    Fonte: Acervo Institucional.

  • unidade 1006

    SOCIEDADE E CULTURA

    Os povos caadores e coletores estabeleciam uma relao com a riqueza material muito

    diferente da que ns temos: poucos se interessavam em desenvolver esse tipo de riqueza,

    pois o foco se mantinha simplesmente no que necessitavam para seu sustento imediato, ou

    seja, para suprir suas necessidades bsicas. Os valores religiosos eram mais importantes e,

    por isso, os rituais e cerimnias ocupavam lugar de destaque em sua cultura.

    Um aspecto interessante e bem diferente de nossa organizao social a diviso de

    atividades e posies: quase sempre os homens eram os caadores e as mulheres cuidavam

    da coleta de plantas e alimentos, alm de cuidar da esfera domstica. Os homens tambm

    dominavam as posies pblicas e cerimoniais.

    Fonte: Acervo Institucional

    Segundo nos informa Dias (2005), at aproximadamente 10 mil anos atrs, todos os seres

    humanos eram caadores e coletores, mas existem ainda hoje, por exemplo, algumas tribos

    indgenas isoladas em nosso pas. Alguns grupos caadores e coletores passaram a criar

    animais domsticos e cultivar terras como forma de se sustentarem. Trata-se da transio

    para as sociedades pastoris e agrrias.

    FIGURA 3 - Funes das mulheres na esfera domstica

  • unidade 1007

    SOCIEDADE E CULTURA

    O homem deixa ento de ser nmade

    e as primeiras aldeias aparecem com

    uma estrutura social mais complexa. As

    sociedades agrrias se desenvolveram

    com o uso de tecnologias como o arado, a

    roda, os sistemas de irrigao, a escrita, a

    metalurgia e os nmeros, que significaram

    uma revoluo no modo de viver.

    J as sociedades pastoris surgiram

    quando os primeiros homens comearam

    a produzir alimento atravs do cultivo de

    plantas, utilizando ferramentas de mo, e

    tambm desenvolveram o pastoreio com

    animais domesticados. As sociedades

    agrrias so tambm conhecidas como

    civilizaes no industriais ou sociedades

    tradicionais e perduraram at o sculo XIX

    (GIDDENS, 2005).

    Eram civilizaes baseadas na agricultura,

    que concentravam o comrcio e a

    manufatura em algumas cidades.

    FIGURA 4 - Irrigao

    Fonte: Acervo Institucional

    Fonte: Acervo Institucional

    FIGURA 5 - Preparo da terra para o plantio

    Essas sociedades, que eram fundamentadas no desenvolvimento

    das cidades, revelavam desigualdades pronunciadas de riqueza e poder e

    estavam associadas ao governo de reis e imperadores (GIDDENS, 2005, p.47)

    Essas formas de sociedade dominaram

    o mundo at dois sculos atrs. Por

    meio de vrios processos histricos, foi

    desenvolvida e organizada a sociedade

    industrial. Com a Revoluo Industrial,

    houve uma modificao na estrutura da

    sociedade, e as tarefas executadas pelo

    homem passaram a ser executadas por

    mquinas de forma mais rpida e com

    um custo menor. Como consequncia,

    as mudanas aconteceram de forma

    ainda mais rpida, e os valores

    tradicionais, crenas e costumes foram

    tambm alterados.

  • unidade 1008

    SOCIEDADE E CULTURA

    A populao migrou para as cidades, houve

    a especializao profissional e as sociedades

    se tornaram mais complexas. Se nas

    sociedades primitivas a famlia tinha grande

    importncia, nas sociedades industriais,

    ela perdeu sua importncia e apareceu sob

    formas diferenciadas (DIAS, 2005).

    E no parou por a! Chegamos at a

    sociedade ps-industrial, que muitos

    autores denominam como a sociedade

    do conhecimento ou era da informao,

    pois ela produto das tecnologias que tm

    se desenvolvido pelo uso de dispositivos

    diversos que aplicam e disseminam a

    informao.

    Mas por que estamos percorrendo esse

    caminho? Porque nosso destino nesta

    unidade conhecer e entender o surgimento

    da Sociologia como forma de compreender

    a vida em sociedade, e ela possui estreita

    relao com essas mudanas e com a

    industrializao. Vamos continuar? Agora

    vamos percorrer diferentes pocas da

    histria da humanidade, nas quais houve

    mudanas no pensar e no agir do indivduo

    em sociedade.

    O NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA

    Vrios acontecimentos histricos

    tiveram papel decisivo no processo

    de desenvolvimento da sociedade. E,

    historicamente, aprendemos que a partir

    do sculo XV que os conceitos sobre

    o mundo foram se alterando. Foram

    acontecimentos que ultrapassaram sculos

    e que anunciaram uma nova era na histria

    da humanidade. Foram mudanas de vrias

    ordens, a exemplo da expanso da atividade

    martima comercial e das cidades.

    Entre os sculos V e XV, na Europa,

    ocorreram vrias mudanas, como a

    expanso martima e comercial. Para saber

    um pouco sobre elas, precisamos ir at o

    perodo medieval, em que a identidade

    das pessoas era baseada no cl e na

    propriedade fundiria. Alm disso, eram a

    nobreza e a igreja que detinham o saber

    e que determinavam a forma como as

    pessoas deviam viver.

    Com o fim da Idade Mdia, a propriedade

    fundiria acabou e, com ela, os cls, o que

    modificou a identidade do sujeito social, que

    passa a se identificar com a nao e a ter

    uma conduta individualista. Isso significa

    que as pessoas deixam de se identificar com

    a propriedade ou com seu cl e passam a se

    identificar com o lugar em que vivem, que

    pode ser a cidade, o pas ou o territrio.

    O movimento filosfico e artstico

    denominado Renascimento marcou a

    ruptura entre o perodo medieval e o mundo

    moderno, urbano e burgus. A denominao

  • unidade 1009

    SOCIEDADE E CULTURA

    Renascimento se deve comparao com

    a Idade Mdia, considerada a idade das

    trevas, pois nesse perodo as pessoas no

    tinham acesso ao conhecimento.

    As mudanas trazidas pelo Renascimento

    proporcionaram contato com outros

    povos e a proliferao de obras artsticas

    e filosficas. Houve o renascer da cultura,

    da erudio e a ampliao do acesso s

    produes culturais.

    O Homem Vitruviano, de Leonardo da

    Vinci, ilustra o perodo conhecido como

    Renascimento, que representou o incio da

    Revoluo Cientfica, momento marcado

    pelo uso da razo como meio de chegar ao

    conhecimento.

    FIGURA 6 - Leonardo da Vinci. O Homem Vitruviano

    Fonte: MDIHAL [Online].

    Antes do perodo renascentista, durante

    a Idade Mdia, a razo foi auxiliar da f:

    a Igreja Catlica a utilizava para manter

    seu poder e divulgar sua doutrina. Apenas

    ordens religiosas e elites tinham acesso ao

    saber filosfico; o restante da populao

    no participava desse mundo. O que a

    Igreja dizia era verdade pura e absoluta.

    O Renascimento alterou esse cenrio,

    pois o homem comeou a compreender

    atravs de diversas literaturas e escritos

    dos renascentistas, que ele vivia em

    sociedade e que da poderia advir diversas

    questes. Fato marcante foi a crise da

    Igreja que perdeu boa parte de seu poder

    devido s reformas protestantes, que

    questionam a atuao catlica e elaboram

    novas concepes religiosas. o incio de

    uma nova postura do homem diante do

    conhecimento e da natureza.

    Nesse momento, perceptvel o

    enfraquecimento do pensamento catlico e

    da tutela da Igreja, e o homem se v livre para

    analisar a realidade em si mesmo e no fora

    de si. Ou seja, ele se percebe como parte da

    realidade. Desse modo, os acontecimentos

    passam a ser responsabilidade do prprio

    homem, que comea a assumir suas aes

    na sociedade.

    J uma grande mudana, no? Claro

    que ela no se deu rapidamente, mas

    custa de muitas guerras, inquisies e

  • unidade 1010

    SOCIEDADE E CULTURA

    perseguies religiosas. Tudo se passou

    num clima de fim de mundo para alguns

    e de profunda transio para outros.

    Todos viviam momentos de insegurana

    e instabilidade: era um renascimento para

    novas formas de viver e se organizar em

    sociedade, trazidas pelas possibilidades

    do pensar.

    Ser que podemos afirmar que nesse

    momento da histria a Sociologia j

    despontava? De acordo com alguns

    historiadores, a partir do Renascimento,

    comeou a se formar uma mentalidade

    mais renovadora, contrria ao misticismo

    e ao conservadorismo da poca feudal

    (COSTA, 2005). Nesse sentido, podemos,

    sim, afirmar que a Sociologia j emergia,

    mesmo que incipiente. O retorno ao saber

    e o prazer pelas descobertas sobre a

    sociedade foram o incio do interesse

    pelas formas de convivncia social.

    Na verdade, a Sociologia comea a ser

    pensada, mas no se torna ainda uma

    cincia. Por enquanto, ela somente

    uma possibilidade de explicar fatos e

    acontecimentos.

    No sculo XVII a cincia progride e com

    ela a relao entre as leis e as coisas,

    interpretando e organizando as ideias do

    ponto de vista lgico-cientfico. Como

    consequncia dos acontecimentos e

    aprimoramentos do Renascimento,

    desencadeia-se uma preocupao com

    as regras da organizao da vida social.

    uma preocupao com regras observveis,

    possveis de medir, comprovveis e que

    do aos homens explicaes para um novo

    mundo, onde imperava o racionalismo.

    Aprimoram-se as tcnicas e os utenslios de medio, desenvolveram-

    se as universidades e demais instituies cientificas, e tanto a imprensa como os outros meios

    de comunicao espalharam o conhecimento a um nmero crescente

    de pessoas (COSTA, 2005, p.18)

    Imagine-se vivendo numa poca em

    que os renascentistas, escritores e

    pensadores comeam a elaborar novas

    ideias e a provocar reflexes em quem

    lia suas obras. Alm deles, havia os

    pintores, que retratavam um homem

    livre. Trata-se de uma forma de pensar

    totalmente diferente daquela que

    imperava at o sculo XV.

    Posteriormente, vm os novos

    conhecimentos e descobertas que

    modificam a forma de agir na vida social.

    As relaes deixam de ser somente

    matria religiosa e do senso comum

    e passam a ser interesse de obras

    cientficas. Tudo isso significa uma

    mudana no somente na forma de

    pensar, mas tambm na maneira de agir.

  • unidade 1011

    SOCIEDADE E CULTURA

    O perodo renascentista influenciou

    aspectos variados da vida em sociedade.

    Suas principais caractersticas foram:

    Antropocentrismo: viso do

    homem como o centro do mundo,

    em oposio ao teocentrismo,

    em que Deus o centro de tudo.

    O antropocentrismo afirma que

    o homem conduz o seu prprio

    destino.

    Racionalismo: decorre do

    antropocentrismo por ser a

    valorizao da racionalidade como

    grande atributo humano, ou seja,

    a busca por um saber prtico e por

    explicaes lgicas.

    Naturalismo: busca por leis gerais

    para explicar como a natureza

    funciona, tanto a natureza fsica

    como a natureza humana.

    Individualismo: a individualidade

    passou a ser valorizada na

    tradio burguesa e moderna e as

    pessoas passaram a demonstrar

    suas habilidades para obter

    reconhecimento de outras

    pessoas.

    As caractersticas do perodo

    renascentista no podem ser tidas

    como radicalmente opostas ao perodo

    medieval. (FREITAS NETO, 2006).

    O Iluminismo tambm teve seu papel no

    sculo XVII, enquanto movimento liderado

    por intelectuais, pois concebeu novas

    ideias e passou a entender a sociedade

    com vida prpria, funcionando de forma

    a depender de um gerenciamento, j que

    agora as pessoas comeavam a ter acesso

    ao saber. Os fenmenos sociais passaram

    a ser identificados e o desenvolvimento

    do pensamento social passou a ser

    demonstrado nas mudanas econmicas,

    polticas e culturais, que se aceleraram a

    partir dessa poca. Entretanto, surgiram

    problemas que os homens ainda no

    haviam experimentado.

    Os pensadores iluministas tinham

    posies contrrias aos absolutistas

    e, entre seus pressupostos, estava a

    defesa da liberdade e do progresso. Eles

    enfatizavam uma sociedade fundada na

    razo e no progresso da humanidade, o que

    conferia sociedade um estado cientfico.

    Os indivduos passaram a ser concebidos

    como dotados de razo, destinados

    liberdade e igualdade social.

    Por isso, deveriam se libertar dos laos

    tradicionais oriundos da Idade Mdia.

    Esse movimento foi fundamental para

    consolidar as bases necessrias para a

    Revoluo Industrial, alm da Inglesa e

    Francesa. Mas nosso olhar agora vai se

    direcionar para a Revoluo Industrial,

    evento marcante na emergncia da

  • unidade 1012

    SOCIEDADE E CULTURA

    Sociologia enquanto cincia que estuda a

    vida em sociedade.

    A Revoluo Industrial alterou o modo

    de produo, estimulou e provocou a

    competio por mercados internos e

    externos. Surge um novo sistema, o

    capitalista, baseado na acumulao e

    na propriedade privada. Seus principais

    atores foram a burguesia e o proletariado,

    produzindo prosperidade e pobreza,

    avanos e misrias. Foi uma revoluo

    cientfico-tecnolgica que alterou a

    estrutura social e criou novas formas de

    organizao.

    Nesse perodo, um conjunto de invenes e

    inovaes aceleraram a produo de bens

    de consumo, assegurando um crescimento

    econmico independente da agricultura.

    Como voc pode observar, muitas coisas

    mudaram na sociedade at o momento

    atual, mas as desigualdades estruturais

    permaneceram, ou se agravaram. A

    Revoluo Industrial significou o triunfo

    da indstria capitalista, alterou a estrutura

    social, criou novas formas de organizao

    e modificou a cultura.

    Surge a produo em larga escala, novas

    formas de organizao do trabalho e

    a mo de obra humana foi substituda

    pelo uso das mquinas, o que provocou

    tambm a diviso do trabalho: a esteira

    rolante tornou-se o cone da produo em

    srie. A ilustrao Tempos Modernos (FIG.

    7), de Charles Chaplin, exemplifica esse

    processo.

    FIGURA 7 - Cena simblica do filme Tempos Modernos (1936), de Charles

    Chaplin

    Fonte: Ncleo de Educao a Distncia (NEaD), nima, 2013.

    Tambm ocorreram mudanas culturais,

    como consequncia das mudanas no

    trabalho. Evidenciaram-se papis sociais

    distintos: o empresrio, dono dos meios

    de produo e, os operrios, que vendiam

    sua fora de trabalho.

    A Sociologia surge num contexto

    em que os homens se viram diante

    da necessidade de compreender

    as profundas transformaes que

    ocorriam.

  • unidade 1013

    SOCIEDADE E CULTURA

    possvel afirmar que a Sociologia surge

    num momento em que as relaes entre os

    homens passam a merecer conhecimentos

    traduzidos em linguagem e discurso

    cientficos, que fossem prprios e que

    conferissem sociedade moderna uma

    explicao sobre os fenmenos sociais que

    ocorriam. O desafio inicial da Sociologia foi

    compreender as alteraes profundas que

    marcaram as sociedades e refletir sobre o

    comportamento dos indivduos diante de

    tais mudanas (BOMENY; MEDEIROS, 2010).

    O termo Sociologia foi criado por

    Augusto Comte (1798-1857). O filsofo

    considerado o pai da Sociologia.

    Comte defendia a ideia de que para

    uma sociedade funcionar corretamente,

    precisa estar organizada. S assim

    alcanaria o progresso. Ele acreditava

    que o Iluminismo levaria os homens

    desunio e, por isso, era preciso retomar

    o equilbrio da sociedade e restabelecer

    a ordem das ideias e conhecimentos.

    Comte criou a filosofia positiva, corrente

    com grande expresso no sculo XIX.

    O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO SOCIOLGICO

    bem comum as pessoas ouvirem de seus

    parentes mais velhos afirmaes como a

    seguinte: A minha infncia foi bem melhor

    que a sua. A gente brincava mais nas

    ruas, praticava mais esportes e tinha mais

    liberdade. Voc j se perguntou o porqu

    disso, ou seja, por que nossa condio

    de vida hoje parece to diferente da dos

    nossos antepassados?

    Voc j ficou sem respostas diante de

    outras perguntas como: Por que no

    podemos ter mais de um marido ou

    esposa? Como vai ser a vida de meu

    filho ou neto no futuro? Por que h tanta

    violncia no nosso pas? Por que algumas

    pessoas tm tanto dinheiro e outras

    vivem na misria? Essas questes so

    o principal combustvel da Sociologia,

    campo de estudo que busca compreender

    a vida humana, bem como a relao e o

    comportamento do homem em sociedade.

    Na maioria das vezes, nossa compreenso

    do mundo construda a partir do que

    nos familiar, ou seja, das circunstncias

    pessoais a relao com a famlia, amigos,

    no trabalho, no grupo religioso, no clube,

    entre outros grupos e espaos de convvio

    social. Nesse sentido, a Sociologia torna-

    se fundamental para ampliar nossa

    compreenso do comportamento do

    homem na sociedade. Essa conscincia

    mais ampla foi descrita pelo socilogo C.

    Wright Mills como imaginao sociolgica.

    A imaginao sociolgica nos permite

    compreender que nem sempre nossas

  • unidade 1014

    SOCIEDADE E CULTURA

    consideraes do que certo e errado, bom e

    mal, verdadeiro e falso so como pensamos

    ser. Nossas vidas so influenciadas

    diretamente por fatores histricos e

    processos sociais. Entender as maneiras

    sutis, porm complexas e profundas, em

    que nossas vidas individuais refletem os

    contextos de nossa experincia social

    bsico para a perspectiva sociolgica.

    (GIDDENS, 2005, p.19)

    A imaginao sociolgica nos projeta

    para alm de nossas experincias e

    observaes pessoais e nos ajuda a

    compreender os assuntos e as situaes

    de contexto pblico com maior amplitude.

    como se observssemos o mundo

    com uma lente mais potente que nosso

    olhar habitual. O divrcio, por exemplo,

    embora seja inicialmente visto como um

    problema pessoal do indivduo que vive

    essa experincia, tambm o reflexo de

    um problema social mais amplo. Usando a

    imaginao sociolgica podemos perceber

    que o aumento do nmero de divrcios

    redefine, na verdade, uma instituio

    fundamental na estrutura social: a famlia.

    Muitos lares hoje tm a mulher como a nica

    responsvel, inclusive financeiramente,

    pela criao dos filhos. Outros tm a figura

    de padrastos, madrastas, meios-irmos e

    pais no segundo ou terceiro casamento.

    Outro exemplo o desemprego. O

    que inicialmente parece uma tragdia

    pessoal para quem perde o trabalho e tem

    dificuldade para encontrar outro, tambm

    reflexo de uma situao de incerteza e

    instabilidade no cenrio econmico. Os

    jornais trazem notcias sobre o aumento

    do desemprego com frequncia. No Brasil,

    segundo estimativas da Confederao

    Nacional das Indstrias (CNI), a maior

    preocupao do brasileiro est ligada

    diretamente ao emprego que, muitas vezes,

    a nica alternativa de renda familiar.

    A falta de emprego afeta o estado, o

    trabalhador e sua famlia, alm de agravar os

    problemas sociais. O desemprego um dos

    grandes fenmenos sociais do momento,

    especialmente devido ao incremento da

    globalizao. O problema deixou de ser

    realidade apenas de pases ditos emergentes

    e subdesenvolvidos e se alastrou em outras

    naes, at mesmo na Europa.

  • unidade 1015

    SOCIEDADE E CULTURA

    A SOCIOLOGIA POSITIVADE AUGUSTE COMTE

    Como j sabemos, as sociedades

    encontram-se em profundo caos social

    e era necessria uma cincia que

    fosse capaz de entender e reorganizar

    a sociedade. Auguste Comte (1758-

    1857) foi um filsofo que sistematizou

    o pensamento sociolgico atravs do

    Positivismo.

    Comte era considerado conservador e

    acreditava que o Iluminismo levaria os

    homens desunio. Por isso, para retomar

    o equilbrio da sociedade e restabelecer-

    se a ordem das ideias e conhecimentos,

    era necessrio criar um conjunto de

    crenas comuns a todos os homens.. Ele

    criou a filosofia positiva, uma atuao da

    filosofia que pretendia auxiliar a cincia

    no entendimento de seus mtodos e

    resultados.

    importante deixarmos bem claro que

    a expresso positiva aqui no deve

    ser entendida em seu sentido comum.

    A palavra remete a uma forma de se

    diferenciar a filosofia do sculo XVIII. O

    Positivismo contestava as instituies

    sociais, ou seja, o Iluminismo , to criticado

    por Comte. A filosofia positiva era uma

    reao ao Iluminismo e se preocupava em

    reorganizar a realidade.

    Nos trabalhos de Comte, a Sociedade e

    o positivismo aparecem muito ligados. A

    Sociologia seria o que ele denominou de

    fsica social, isto , ela deveria utilizar

    os mesmos procedimentos das cincias

    naturais: observao, experimentao

    e comparao. Ao estabelecer esses

    parmetros para o desenvolvimento da

    Sociologia, o Positivismo tenta oferecer

    uma orientao para a formao desse

    campo do conhecimento.

    Um dos pontos mais altos da filosofia

    positiva a tentativa de unir o processo

    ordem para Comte, esses dois elementos

    so necessrios mutuamente para a

    construo de uma nova sociedade. Isso

    nos lembra alguma coisa?

    A nossa bandeira, com seu dizer: Ordem

    e progresso, mostra como o Positivismo

    foi aceito pelos republicanos brasileiros

    no sculo XIX.

    Outro aspecto importante no pensamento

    de Comte foi a formulao da Lei dos Trs

    Estgios. Ele identificou tries momentos

    especficos do homem na busca pela

    compreenso do mundo: o telogo. o

    metafsico e o positico, assim definidos

  • unidade 1016

    SOCIEDADE E CULTURA

    FIGURA 8 - AUGUSTE CANTE

    Fonte: . Acesso em: 11/12/2012.

    Estgio teolgico - o pensamento sobre os fenmenos ocorridos no mundo so

    explicados por consideraes sobrenaturais, religiosas e por Deus.

    Estgio metafsico - as explicaes sobrenaturais so substitudas pelo pensamento

    filosfico sobre a essncia doas fenmenos.

    Estgio positivo - a cincia, ou a observao cuidadosa dos fatos empricos,

    e o teste sistemtico de teorias tornam-se modos dominantes para se acumular

    conhecimento (TURNER, 1999. p. 4). Nesse estgio o conhecimento pode ser til e

    melhorar a vida das pessoas

    Para Comte, essa seria a ordem da evoluo do pensamento e da prpria sociedade. E,

    quanto mais especializados os rgos particulares da sociedade, mais evoluda ela seria.

    Por exemplo, quanto mais evoludo estiver o sistema de sade em uma sociedade, mais

    harmonia social ela ter. Mas no basta somente um rgo estar harmonia, necessrio

    que os outros tambm estejam. E essa a dificuldade em manter a ordem social. E, no

    Positivismo, a ordem social significa uma busca pela ordem e pelo progresso.

    Segundo Comte, havia um ritmo evolutivo e harmnico na sociedade que no poderia ser

    http://pensadordelamancha.blogspot.com.br/2011/06/filosofia-positivista-de-augusto-comte.html
  • unidade 1017

    SOCIEDADE E CULTURA

    alterado bruscamente atravs de uma

    revoluo, como estava acontecendo

    naquela poca. Lembre-se de que

    estamos nos referindo a sociedade

    ps-revoluo industrial! Para ele,

    as revolues alteravam o ritmo da

    sociedade e nem sempre as alteraes

    na ordem social conduziam ao progresso.

    Seu pensamento tem como fundamento

    a seguinte frase: o amor por princpio,

    a ordem por base, o progresso por fim

    o que significa que cada coisas, em seu

    devido lugar, conduzida para a perfeita

    orientao tica da vida social. Assim,

    Comte pode ser considerado o pai da

    Sociologia.

    MAISSAIBA

    O nosso pas assimilou o projeto de Comte,

    que pressupunha uma evoluo ordeira da

    sociedade. Esse projeto era incompatvel com

    revolues e mudanas bruscas e, por isso, os

    ideais positivistas serviam para impulsionar a

    Proclamao da Repblica.

    Em verdade, a influncia positivista

    resultou em pensamentos diferentes no

    Brasil e tambm foi combinada com outras

    ideologias. O setor que mais demonstrou

    a presena da ideologia de Comte foi

    as Foras Armadas de onde saiu o

    movimento republicano e a ideia de adotar

    o lema Ordem e Progresso. Depois,

    varias medidas governamentais foram

    inspiradas pelo Positivismo, a exemplo da

    reforma educativa e da separao entre

    Igreja e Estado, em 1891.

    A filosofia de Comte tornou-se tambm um

    samba de Noel Rosa e Orestes Barbosa,

    intitulado Positivismo, que foi lanado

    em 1933, e termina com os seguintes

    versos:

    O amor vem por princpio, a ordem

    por base/ O progresso

    que deve vir por fim/

    Desprezaste esta lei de Auguste Comte/

    E foste ser feliz longe de mim.

    Assim, podemos ter uma noo o quanto

    nosso pas foi influenciado pela filosofia

    comtiana.

  • unidade 1018

    SOCIEDADE E CULTURA

    Considere, por exemplo, por que (...) decidiu estudar Sociologia? Talvez voc seja um estudante de Sociologia relutante, que est cursando a disciplina apenas para satisfazer um requisito para uma carreira futura. Ou pode estar entusiasmado para conhecer mais sobre a sua sociedade e a disciplina da Sociologia. Seja qual for sua motivao, provvel que voc tenha muita coisa em comum, sem necessariamente saber, com outras pessoas que tambm estudam Sociologia. Sua deciso privada reflete a sua posio dentro da sociedade.

    Ser que as caractersticas seguintes se aplicam a voc? Voc jovem? Branco? Tem um nvel profissional? J fez, ou ainda faz, algum trabalho espordico para complementar sua renda? Voc quer encontrar um bom emprego quando concluir sua formao, mas no se dedica especialmente a estudar? Voc no sabe exatamente o que a Sociologia, mas pensa que tem a ver com a maneira como as pessoas agem em grupos?

    Mais de trs quartos das pessoas respondero sim a todas essas questes. Os estudantes universitrios no so tpicos da populao como um todo, mas tendem a ter origens sociais mais privilegiadas. E suas posturas geralmente refletem aquelas de seus amigos e conhecidos. Nossas bases sociais tm muito a ver com o tipo de deciso que consideramos apropriada.

    Nenhuma ou poucas caractersticas se aplicam a voc? Talvez voc tenha vindo de um grupo de minoria ou em situao de pobreza. Talvez voc seja de meia-idade ou idoso. Da mesma forma, outras concluses provavelmente se aplicam. provvel que voc tenha tido que batalhar para chegar onde est, talvez voc tenha tido que superar reaes hostis de amigos e outras pessoas quando disse a eles que pretendia estudar na faculdade ou talvez voc esteja combinando o ensino superior com a maternidade em horrio integral. (GIDDENS, 2005, p.21)

    O autor ressalta que, embora todos ns estejamos sujeitos influncia dos contextos

    sociais, o comportamento de ningum totalmente determinado por esses contextos.

    Temos nossa prpria identidade. Cabe Sociologia analisar o que a sociedade faz de ns e

    o que fazemos de ns mesmos e da sociedade.

    Na prxima unidade, continuaremos nossa viagem e teremos a oportunidade de conhecer

    o primeiro dos trs principais pensadores clssicos da Sociologia e ver como suas teorias

    influenciam nosso cotidiano.

  • unidade 1019

    SOCIEDADE E CULTURA

    MAISPARA SABER

    Leia o tpico Desenvolvendo uma perspectiva

    sociolgica no captulo 1 do livro de

    Giddens, Sociologia (2005, p.24-25), sobre

    o ato de tomar uma xcara de caf e saiba a

    quantidade enorme de coisas que podemos

    observar, do ponto de vista sociolgico,

    sobre esse comportamento aparentemente

    desinteressante.

    FIGURA 9 - Pessoa tomando caf

    Fonte: Acervo Institucional

    O consumo de caf para cada brasileiro por

    ano de quase 83 litros.

    O caf o alimento mais consumido

    diariamente por 78% da populao acima de

    10 anos.

    VOC SABIA?

    O consumo per capita maior na regio

    Nordeste, seguido do Sudeste - 255 ml/dia ou

    93 litros/dia x habitante x ano.

    Fonte: ASSOCIAO BRASILEIRA DA INDUSTRIA DE CAF (ABIC), 2011.

    REVISO

    Nesta unidade, percorremos os

    seguintes aspectos ligados ao tema de

    nossa disciplina:

    O desenvolvimento das

    sociedades e a transio da

    sociedade de caadores e

    coletores para as sociedades

    pastoris e agrcolas, e depois para

    as sociedades industriais.

    Na atual sociedade ps-industrial,

    os processos de mudana

    tornaram-se mais rpidos do que

    nos outros tipos de sociedade.

    Alguns perodos histricos, como

    o Renascimento, o Iluminismo e a

    Revoluo Industrial, trouxeram

    modificaes na forma de ser

    e de estar no mundo, alteraram

    a percepo do sujeito social

    sobre si mesmo e sobre sua

    interferncia nos acontecimentos

    sociais e polticos.

  • unidade 1020

    SOCIEDADE E CULTURA

    No contexto de inmeras alteraes

    e transformaes histricas, a

    Sociologia emerge como a cincia

    que poder explicar e reorganizar a

    convivncia entre os indivduos na

    sociedade.

    A imaginao sociolgica e

    como ela nos ajuda a enxergar

    eventos diversos num contexto

    mais amplo, olhar as coisas de

    uma forma diferente daquela a

    que estamos acostumados do

    senso comum , e ver por trs

    dos bastidores.

  • 2UNIDADE

  • unidade 2022

    SOCIEDADE E CULTURA

    MILE DURKHEIM E A SOCIOLOGIA

    Na primeira unidade, iniciamos uma viagem que nos levou ao entendimento de como a sociedade passa por transformaes desde seu incio at a contemporaneidade. Muitos eventos marcaram esse processo e foram responsveis pela mudana em nossos

    valores e comportamentos.

    Diante de tantas modificaes histricas, polticas, sociais e culturais, nossos valores

    tambm foram se transformando e, como consequncia, nosso relacionamento com outros

    indivduos na sociedade.

    Pudemos acompanhar como a Sociologia surgiu enquanto cincia para nos ajudar a

    compreender as profundas alteraes que marcaram as sociedades, explicar os fenmenos

    sociais e tambm propor uma reflexo sobre o comportamento dos indivduos diante de

    tais mudanas.

    Nesta unidade, conheceremos mile Durkheim, que figura dentre os clssicos da Sociologia.

    E o que so clssicos da Sociologia? Denominamos clssicos os primeiros pensadores que

    brotaram da agitao e das mudanas consequentes das Revolues anteriores.

    Alm de Durkheim, Karl Marx e Max Weber tambm so autores clssicos da Sociologia.

    Mas, conheceremos os dois ltimos em unidades especficas.

  • unidade 2023

    SOCIEDADE E CULTURA

    MILE DURKHEIM: A ESPECIFICIDADE DO OBJETO SOCIOLGICO

    A Sociologia se tornou campo de

    conhecimento com mtodos e objetos

    prprios graas aos autores clssicos e

    Durkheim teve papel imprescindvel nesse

    processo.

    FIGURA 10 - mile Durkheim

    Fonte: MDIHAL [Online]

    E quem foi Durkheim?

    mile Durkheim nasceu no ano de 1858

    e faleceu em 1917. Sua preocupao

    em relao Sociologia era torn-la

    uma cincia com princpios e limites

    (COSTA, 2005). Durkheim no queria que

    a Sociologia ficasse relegada ao senso

    comum, ou seja, que ela se restringisse aos

    achismos na interpretao da realidade

    social. Voc j deve ter observado como os

    acontecimentos da vida social passam por

    diferentes interpretaes e como as pessoas

    se arriscam a dar uma opinio sobre esses

    acontecimentos. Por exemplo, o escndalo

    poltico do mensalo: todas as pessoas

    tm uma teoria a esse respeito, sobre o

    que deve ser feito ou os motivos desse fato.

    Claro que todos tm o direito de opinar e

    temos nossos prprios pontos de vista.

    Mas, mesmo diante disso, observamos

    na mdia que alguns programas

    levam especialistas para analisar o

    acontecimento em destaque. E, sabe

    por qu? Exatamente para sair das

    concepes de senso comum e articular

    pensamentos e opinies fundamentadas

    em anlises polticas e/ou sociolgicas.

    Da diferenciarmos a opinio pblica da

    opinio de especialistas.

    A charge abaixo exemplifica a diversidade

    de opinies e interpretaes sobre

    acontecimentos sociais e polticos.

  • unidade 2024

    SOCIEDADE E CULTURA

    FIGURA 11 - Diversidade de interpretaes

    Fonte: BLOG DO MESQUITA, 2012.

    Curiosamente, Durkheim no era um socilogo, e sim um filsofo que contribuiu para que

    a Sociologia se tornasse uma disciplina acadmica. Graas a ele, hoje podemos estudar a

    sociedade em que vivemos de uma forma ampla e consciente. Certamente voc deve ter

    estranhado o fato de Durkheim ser filsofo! Sim, era formado em Filosofia, mas sua obra

    inteira foi dedicada Sociologia. Nesse contexto, importante dizer que Durkheim foi o

    primeiro professor universitrio de Sociologia.

    Lembra-se de Auguste Comte? Apresentado na unidade anterior como o pai da Sociologia?

    Durkheim sofreu influncia de seus pensamentos, pois se baseou no mtodo positivo:

    a Sociologia deveria buscar a formulao de leis que pudessem estabelecer relaes

    constantes entre fenmenos. Outro aspecto importante que Durkheim valorizava o dilogo

    das Cincias Sociais com a Histria, Economia e Psicologia.

    Na busca pelo rigor cientfico para a Sociologia, Durkheim definiu como objeto de anlise

    sociolgica os fatos sociais.

  • unidade 2025

    SOCIEDADE E CULTURA

    E o que so fatos sociais?

    Quando pensamos em fatos sociais, logo imaginamos que seja qualquer fato ocorrido na

    sociedade, no assim? Pois para Durkheim, era diferente. Ele conceituou e diferenciou

    os fatos sociais dos acontecimentos ocorridos no contexto social.

    De acordo com Durkheim, o fato social experimentado pelo indivduo como uma realidade independente e preexistente (COSTA, 2005, P. 81).

    A fora coercitiva dos fatos sociais se torna evidente pelas sanes legais ou espontneas a que o indivduo est sujeito quando tenta rebelar-se contra ela. Legais so as sanes prescritas pela sociedade, sob a forma de leis, nas quais se define a infrao e se estabelece a penalidade correspondente. Espontnea so as que afloram como resposta a uma conduta considerada inadequada por um grupo ou por uma sociedade. Multas de trnsito, por exemplo, fazem parte das coeres legais, pois esto previstas e regulamentadas pela legislao que regula o trfego de veculos e pessoas pelas vias pblicas. J os olhares de reprovao de que somos alvo quando comparecemos a um local com roupa inadequada constituem sanes espontneas (COSTA, 2005, p. 81)

    Os fatos sociais so caracterizados por serem coercitivos, gerais e com existncia prpria,

    que significa serem independentes de manifestaes individuais, ou seja, exteriores aos

    indivduos.

    A coero social, prpria do fato social, leva os indivduos a se conformarem com as regras

    da sociedade e os faz experimentar a fora dela sobre si mesmos.

  • unidade 2026

    SOCIEDADE E CULTURA

    de generalidade porque ele se repete em

    todos os indivduos ou na maioria deles.

    Os acontecimentos demonstram com sua

    generalidade a sua natureza coletiva, a

    exemplo de acontecimentos comuns ao

    grupo e/ou costumes (COSTA, 2005).

    Formas de se comunicar numa sociedade

    so exemplos dessa generalidade.

    A terceira caracterstica, a exterioridade,

    significa que eles existem e atuam

    independente da vontade dos indivduos

    numa sociedade.

    EXEMPLO

    Nascemos e somos socializados com regras

    sociais, costumes e leis. No nos dada a

    possibilidade de opinar ou escolher, sendo

    assim independentes de ns, de nossos

    desejos e vontades (COSTA, 2005, p.83).

    Fatos sociais podem ser considerados

    como maneiras de agir, a exemplo de

    correntes de opinio. Voc j observou

    na mdia como essas correntes nos

    contagiam e nos levam a pensar, e at

    mesmo a agir, de determinada forma?

    Nesse caso, so maneiras de agir externas

    que exercem uma fora muito grande

    sobre cada um de ns.

    Como maneiras de agir, os fatos sociais

    so menos consolidados e nos levam

    a tomar decises ou realizar fatos de

    acordo com a poca ou momento. Essas

    maneiras de agir so consideradas

    cristalizadas, porque j existem e no

    podem ser modificadas, por exemplo, as

    formas jurdicas e os dogmas religiosos.

    Para Durkheim, as maneiras de agir

    so imperativas e levam os indivduos

    a adotarem normas de conduta que se

    encontram fora deles. Isso significa que

    elas so uma realidade objetiva e possuem

    ascendncia sobre os indivduos numa

    sociedade. Portanto, os fatos sociais

    so maneiras de agir impostas pela

    sociedade para que nos comportemos de

    determinada forma. Essa imposio no

    percebida assim por ns, porque ela

    inconsciente.

    Para analisar os fatos sociais, Durkheim

    props um mtodo especfico para a

    Sociologia. Em sua obra As Regras do

    Mtodo Sociolgico, publicada em 1895,

    Durkheim props regras para que os fatos

    sociais sejam analisados cientificamente.

    Nessa publicao, Durkheim descreve

    em cada captulo como deve ser o

    procedimento de um cientista social na

    observao dos fatos sociais. Tais regras

    somente foram publicadas depois que ele

  • unidade 2027

    SOCIEDADE E CULTURA

    mesmo realizou alguns estudos, portanto

    o Mtodo baseado em sua prpria

    prtica.

    FIGURA 12 - Capa do livro As regras do mtodo sociolgico

    Fonte: Site Livraria Loyola.

    Lembra-se da preocupao desse clssico

    em conferir rigor cientfico Sociologia

    e se diferenciar do senso comum? A

    partir dessa preocupao e em busca

    da objetividade, Durkheim estabeleceu

    um mtodo de anlise sociolgica que

    trata cientificamente os fatos sociais,

    procurando uma viso diferenciada deles.

    O mtodo de anlise sociolgica, segundo

    Durkheim, deveria se aproximar do

    mtodo utilizado pelas cincias naturais.

    Como h diferenas entre as duas

    cincias, no seria a adoo completa do

    mtodo das cincias naturais, porque os

    fatos examinados pela Sociologia so do

    reino social, diferenciando-se assim dos

    fenmenos da natureza.

    Dentre as regras propostas por

    Durkheim, a que mais se destaca :

    tratar os fatos sociais como coisas.

    Para nosso propsito de estudo, no h

    necessidade de estudarmos as outras

    regras, por serem muito especficas da

    Sociologia.

    Considerar os fatos sociais como coisas

    uma tarefa difcil, uma vez que os

    socilogos lidam todo o tempo com a

    sociedade da qual fazem parte e acabam

    se misturando com eles.

    REFLEXOPARA

    Imagine uma investigao cientfica sobre

    a violncia domstica. O socilogo, mesmo

    que no seja uma mulher, acaba se vendo um

    pouco misturado ao fato porque compe e

    participa da sociedade. Seria difcil, portanto,

    manter-se distante do fato social e analis-

    lo com clareza e objetividade.

  • unidade 2028

    SOCIEDADE E CULTURA

    REFLEXOPARA

    Voc sabe como identificar um fato social de outro fato qualquer na sociedade?

    Para que isso ocorra, segundo Durkheim, seria necessrio afastar as pr-noes, definir

    as coisas pelas caractersticas que lhes sejam comuns e considera-las de maneira mais

    objetiva possvel. O mtodo de Durkheim propunha analisar os fatos sociais como coisas e

    v-los como uma realidade externa, evitando o envolvimento afetivo ou de qualquer outra

    espcie entre o cientista e seu objeto (COSTA, 2005, p.83).

    Segundo ele, ver os fatos sociais como realidade externa era enxergar os fenmenos sociais

    como exteriores ao indivduo. Isso significa que os fenmenos que acontecem na sociedade

    no partem da conscincia de cada indivduo, mas residem na sociedade.

    FIGURA 13 - O indivduo na sociedade

    Fonte: Acervo Institucional

    Diante da dificuldade de se manter distante dos fatos sociais, Durkheim propunha que

    o cientista exercitasse a dvida metdica, que significa se perguntar sempre sobre a

    veracidade e objetividade do fato social em questo. Nesse sentido, deve-se afastar a

    influncia de seus desejos, interesses e preconceitos.

    Durkheim recomendava observar sua generalidade. Quer dizer, o cientista social deve buscar

    fatos repetitivos e gerais com caractersticas exteriores comuns.

  • unidade 2029

    SOCIEDADE E CULTURA

    SOLIDARIEDADE SOCIAL E O INDIVDUO SOB A TICA DE MILE DURKHEIM

    A Sociologia no deveria somente analisar a sociedade. Deveria tambm encontrar e propor

    solues para a vida social. Outra preocupao de Durkheim era saber por que os indivduos

    se mantinham em sociedade.

    Para ele, temos dois tipos de conscincia, como se existissem dois seres em cada indivduo:

    a conscincia coletiva e a conscincia individual. Mas como seria isso na prtica?

    A conscincia coletiva , em certo sentido, a forma moral e vigente na sociedade. Ela aparece como um conjunto de regras fortes e estabelecidas que atribuem valor e delimitam os atos individuais (COSTA, 2005,p.86)

    FIGURA 14 - Conscincias individual e coletiva

    Fonte: Acervo Institucional

  • unidade 2030

    SOCIEDADE E CULTURA

    DIVISO DO TRABALHO, ANOMIA, SOLIDARIEDADE MECNICA E ORGNICA

    Para Durkheim, a sociedade funciona como se fosse um organismo em que as diferentes

    partes cumprem papis distintos e cada um existe em funo do outro. Seria como o

    funcionamento do nosso corpo: cada rgo desempenha uma funo e um existe em

    funo do outro para termos um perfeito estado de sade geral. Veja um exemplo dessa

    interdependncia entre os indivduos.

    O que liga e une os diferentes componentes numa sociedade denominado de solidariedade,

    pois, segundo afirma Durkheim, essa diviso no se d por vocao ou talento individuais.

    FIGURA 15 - Componentes numa sociedade

    Ao comparar as sociedades primitivas com as sociedades desenvolvidas, Durkheim observa

    que as sociedades primitivas so mais simples e, tambm, mais homogneas com uma

    integrao equilibrada entre suas partes. Nelas as tarefas se dividem por gnero ou idade.

    Exemplo: os homens caam e as mulheres plantam e colhem.

    Fonte: Acervo Institucional

  • unidade 2031

    SOCIEDADE E CULTURA

    FIGURA 16 - Diviso de tarefas

    Fonte: Acervo Institucional

    Esse tipo de diviso permanece mesmo quando pensamos, por exemplo, numa sociedade

    feudal, em que pode haver ofcios diferentes. Nesse caso, a liga que une os homens chamada

    solidariedade mecnica porque no depende de uma escolha. A coeso forte e, em geral, os

    indivduos no se sentem sem direo, sem lugar no mundo. como se o coletivo definisse o

    individual e o sentido do ns se tornasse mais forte que o sentido do eu (BOMENY, 2010).

    por isso que nas sociedades de solidariedade mecnica qualquer crime visto como ato contra toda a sociedade. O mal feito a um atinge a todos, porque representa uma ruptura com os elos de solidariedade que to fortemente unem o grupo (...) fazer parte de um grupo, ser membro de uma corporao, pertencer a uma famlia, tudo isso mais forte do que se apresentar como algum por seu prprio destino, sua biografia. o grupo que d ao indivduo a explicao de sua prpria vida (BOMENY, 2010, p. 26)

    Mas, nem sempre foi assim e nem assim em todas as sociedades: as sociedades primitivas

    permitiam esse contexto por serem sociedades fechadas com pouco movimento externo e,

    nesse caso, o coletivo era mais forte do que o indivduo.

    No momento da Revoluo Industrial, o cenrio foi alterado: a populao aumentou, a troca de

    mercadorias foi incrementada, assim como as formas de comunicao e as trocas de ideias entre

  • unidade 2032

    SOCIEDADE E CULTURA

    as pessoas. Nesse contexto, a individualidade

    prevaleceu. Os indivduos passaram a ter uma

    individualidade nica, com personalidade

    e caractersticas individuais e um novo

    elo passou a predominar: a solidariedade

    orgnica (BOMENY, 2010).

    A solidariedade orgnica emerge quando

    os membros de um grupo so solidrios

    porque existe uma interdependncia entre

    eles e cada um atua numa esfera prpria.

    Nesse sentido, a diviso do trabalho

    toma a conotao de responsvel pela

    integrao social e organiza a sociedade.

    Essa diviso do trabalho se refere

    especializao, em que o processo produtivo

    dividido em etapas e cada trabalhador atua

    numa etapa e no em toda a produo. Ela

    tambm conhecida como especializao

    de funes econmicas porque extrapola o

    ambiente das fbricas e chega sociedade na

    diviso do trabalho em setores ou profisses.

    FIGURA 17 - Diviso do trabalho

    Fonte: Acervo Institucional

    Tambm h a diviso relacionada

    segmentao da sociedade em

    diferentes esferas e ao surgimento de

    novas instituies, como o Estado, a

    escola e a priso (BOMENY, 2010, p.

    26-27).

    Lembra-se da ideia da sociedade

    funcionando como um organismo vivo?

    Pois , com essa especializao, os

    indivduos passam a realizar tarefas

    especializadas para contribuir para

    o funcionamento desse organismo

    social. A sobrevivncia se torna

    dependente de bens e servios que

    podem ser oferecidos por outros.

    E isso passa a ligar os indivduos uns

    aos outros com regras e princpios

    que possibilitam uma durao da

    sociedade.

    Mas, falamos anteriormente que,

    na sociedade ps-industrial, somos

    diferentes uns dos outros, lembra? E

    exatamente por isso que precisamos

    ser solidrios. Convivemos com

    regras e normas que orientam nossos

    comportamentos e, quando no as

    cumprimos, somos punidos.

    Quando as normas de uma sociedade

    se enfraquecem, ocorre o que Durkheim

    chamou de anomia.

  • unidade 2033

    SOCIEDADE E CULTURA

    CONCEITOA anomia uma desorganizao da sociedade

    que enfraquece a integrao dos indivduos.

    Quando as regras sociais e os valores que guiam as condutas e legitimam as aspiraes dos indivduos se tornam incertos, perdem o seu poder ou, ainda tornam-se incoerentes ou contraditrios devido s rpidas transformaes da sociedade; resulta da um quadro de desarranjo social denominado anomia (DIAS, 2005, p. 114).

    EXEMPLOO crime organizado (trfico de drogas,

    por exemplo) um tpico caso de anomia,

    porque as leis e normas prisionais no

    conseguem cont-lo mesmo quando os

    traficantes esto presos.

    Em geral, os indivduos adotam

    condutas anmicas quando se

    veem sem referncias e controles

    que possam organizar e limitar seus

    desejos e aspiraes. Essas condutas

    so reconhecidas em nossa sociedade

    como condutas marginais, geralmente

    relacionadas violncia, visto que as

    normas do grupo deixam de dirigir o

    comportamento dos indivduos. No um

    abandono total das regras da sociedade,

    mas um afastamento, uma violao das

    leis da sociedade.

    PRTICAAPLICAO

    Vamos retomar o conceito de anomia

    para verific-lo na prtica? Exatamente

    por se mostrar um conceito diferenciado,

    importante v-lo no cotidiano para

    aumentar o nosso entendimento.

    Como vimos, anomia um sentimento de

    ausncia de normas e regras. Mas no

    podemos afirmar que seja sinnimo de

    ausncia de lei mesmo quando aqueles

    indivduos que demonstram uma conduta

    anmica violam a lei. Por exemplo, nos

    campos de concentrao nazista, podemos

    afirmar que os prisioneiros viviam em

    condio de anomia, [...] era como se um

    indivduo anmico tivesse perdido o passado,

    no previsse qualquer futuro e vivesse

    somente no presente imediato, o qual parece

    ser nenhum lugar (DIAS, 2005, p.114).

    Vejamos o texto a seguir para ilustrar esse

    exemplo dos campos de concentrao

    nazista:

  • unidade 2034

    SOCIEDADE E CULTURA

    As pessoas que sobreviveram aos campos de concentrao nazistas testemunharam que, enquanto encarceradas, elas estavam em um estado que poderia ser considerado de extrema anomia. Ao entrarem nos campos, elas mantiveram os seus valores habituais, incluindo um sentimento de ntima identificao com seus camaradas sofredores. Eles se tratavam com compaixo, cooperavam para tapear os guardas e no se roubavam uns aos outros. Pouco a pouco, porm, algumas delas mudavam. Impelidas pela privao, sade precria, tortura e ameaa de exterminao, elas passavam a violar as normas que prezavam grandemente poca da admisso. Algumas roubavam dos seus camaradas; algumas informavam sobre prisioneiros que tinham violado os regulamentos; outras buscavam privilgios especiais colaborando com os seus captores, de um modo ou de outro.

    Estes desertores se afastaram dos seus colegas prisioneiros, no tanto fsica como espiritual e psiquicamente. Eles sabiam que no pertenciam quele mundo, mas no tinham nenhum outro mundo no qual participar. Eles abandonaram as normas s quais eles tinham anteriormente subscrito, mas eles no tinham nenhum sistema de normas substitutivas que fosse consistente, amplo ou conscientemente reorganizado e aceito. No mais eram compassveis em relao aos seus colegas, mas tambm no os odiavam. Eles simplesmente no tinham nenhum sentimento, assim dizendo, para com eles ou a respeito deles. O comportamento atual no era nem bom nem ruim, era simplesmente um comportamento de sobrevivncia. Simplesmente era. (DRESLLER, 1990, p.160)

    Esse texto nos indica e exemplifica que a anomia significa o enfraquecimento das normas

    numa sociedade. Trata-se de desorganizao da sociedade ou de um grupo social que

    acaba enfraquecendo a integrao dos indivduos.

    MAISPARA SABER

    FATOS SOCIAIS

    J falamos que Durkheim propunha um mtodo especfico para a Sociologia se tornar uma cincia

    objetiva e um dos pressupostos que ele propunha era tratar os fatos sociais como coisas. Essa

    a primeira e a mais importante regra que um socilogo deve seguir. Veja o que ele diz a esse

    respeito em sua obra As Regras do Mtodo Sociolgico:

  • unidade 2035

    SOCIEDADE E CULTURA

    A proposio segundo a qual os fatos sociais devem ser tratados como coisas proposio que est na base de nosso mtodo das que tm provocado mais contradio. Consideram paradoxal e escandaloso que assimilssemos s realidades do mundo exterior as do mundo social. Era equivocar-se singularmente sobre o sentido e o alcance dessa assimilao, cujo objeto no rebaixar as formas superiores do ser s formas inferiores, mas, ao contrrio, reivindicar para as primeiras um grau de realidade menos igual ao que todos reconhecem nas segundas. No dizemos, com efeito, que os fatos sociais so coisas materiais, embora de outra maneira.

    O que vem a ser uma coisa? A coisa se ope ideia assim como o que se conhece a partir de fora se ope ao que se conhece a partir de dentro. coisa todo objeto do conhecimento que no naturalmente penetrvel inteligncia, tudo aquilo de que no podemos fazer uma noo adequada por um simples procedimento de anlise mental, tudo o que o esprito no pode chegar a compreender a menos que saia de si mesmo, por meio de observaes e experimentaes, passando progressivamente dos caracteres mais exteriores e mais imediatamente acessveis aos menos visveis e aos mais profundos. Tratar os fatos como coisas no , portanto, classific-las nesta ou naquela categoria do real; observar diante deles uma atitude mental. abordar seu estudo tomando como princpio que se ignora absolutamente o que eles so e que suas propriedades caractersticas, bem como as causas desconhecidas de que estas dependem, no podem ser descobertas pela introspeco, mesmo a mais atenta. (DURKHEIM, 2007, p. XVII-XIX).

    As proposies de Durkheim provocaram acaloradas discusses na poca e, por esse

    motivo, seu esforo em explicar o que significa tratar os fatos sociais como coisas, com

    o objetivo de esclarecer sua posio. Trata-se de uma atitude mental do socilogo que o

    faz se comportar diante dos fatos da mesma maneira que qualquer cientista faria diante

    de seu objeto de estudo. se considerar diante de objetos ignorados, assumindo um

    desconhecimento sobre os fatos a serem analisados.

    Como vimos, Durkheim foi um clssico da Sociologia que tentou explicar a sociedade

    catica no sculo XIX, consequncia das revolues ocorridas.

    A fim de verificar um pouco da teoria de Durkheim aplicada s anlises sociolgicas em

    nossa sociedade, o blog Alma Prolixa uma boa indicao. Disponvel em: http://goo.gl/

    cGDVor.

  • unidade 2036

    SOCIEDADE E CULTURA

    Trata-se de um blog para publicao de

    resenhas, artigos e resumos sobre vrios

    temas das Cincias Sociais, Teologia,

    Literatura e Arte. No artigo indicado,

    abordada a perda de valores na sociedade,

    que pode nos levar a retrocessos de

    variadas formas. Ele tambm fala sobre a

    mdia e os efeitos colaterais do excesso de

    informaes que recebemos e que muitas

    vezes dificultam o nosso discernimento

    entre o certo e o errado.

    Vale a pena a leitura. Alm desse artigo,

    voc ir verificar outros com temas

    interessantes e, s vezes, polmicos. No

    deixe de conferir!

    REVISO

    Nesta unidade, estudamos:

    O objeto de estudo da Sociologia

    que, segundo Durkheim, so os

    fatos sociais e suas caractersticas:

    coercitividade, generalidade e

    exterioridade.

    Os fatos sociais, que devem ser

    tratados como coisas e que o

    socilogo deve afastar de suas

    noes prvias sobre o objeto a ser

    investigado.

    As regras de Durkheim para a

    observao dos fatos sociais,

    mantendo uma postura objetiva

    em relao s suas caractersticas

    exteriores.

    Os dois tipos de solidariedade.

    Aprendemos que tanto a solidariedade

    mecnica quanto a orgnica garantem a

    coeso social.

    O conceito de diviso do trabalho

    e sua relao com a solidariedade

    mecnica e orgnica.

    A anomia e a importncia

    das regras e normas para o

    funcionamento da sociedade.

  • 3UNIDADE

  • unidade 3038

    SOCIEDADE E CULTURA

    O MTODO DE ANLISE DEKARL MARXVamos comear esta Unidade observando a figura abaixo.

    FIGURA 18 - O mito de Plato

    Fonte: Acervo Institucional

    Essa imagem ilustra a Alegoria da Caverna escrita pelo filsofo Plato em sua obra A Repblica.

    Trata-se de um mito que exemplifica a possibilidade que temos de nos libertar da condio de

    escurido que nos aprisiona e encontrar a luz da verdade. um convite para nossa imaginao!

  • unidade 3039

    SOCIEDADE E CULTURA

    Ilusoriamente, ns, indivduos na

    sociedade, muitas vezes nos acorrentamos

    a falsas crenas e preconceitos e, com

    isso, nos mantemos inertes presos a

    poucas possibilidades, distantes da luz

    da verdade. Isso significa que vivemos

    muitas vezes alienados da realidade que

    nos cerca, percebendo o mundo de forma

    enganosa pelo senso comum.

    Abordaremos essa alienao da realidade

    nesta unidade, em que conheceremos o

    pensamento de Karl Marx.

    No campo cientfico, anlogo ao Mito da

    Caverna de Plato, os diferentes tericos

    trazem luz de forma variada sobre o

    mesmo objeto, pois as teorias iluminam

    peculiarmente a realidade, obtendo

    diferentes resultados e a partir de modelos

    tericos particulares (COSTA, 2005). Na

    Unidade 1, abordamos o pensamento

    positivista de Auguste Comte e, na

    Unidade 2, conhecemos os pressupostos

    de Durkheim sobre a anlise da sociedade.

    Nesta unidade, conheceremos o clssico

    da sociologia alem: Karl Marx. Suas

    ideias so contrastantes com as ideias

    de Durkheim e tambm com as ideias de

    Auguste Comte.

    Marx foi extremamente envolvido em

    atividades polticas, o que o levou ao exlio

    na Gr-Bretanha. L, assistiu de perto

    o surgimento e aumento do nmero de

    fbricas e operrios, o que intensificou

    seu interesse pelo movimento operrio

    europeu e pelas ideias socialistas.

    Quem foi Karl Marx?

    Karl Marx (1818 1883) foi filsofo

    nascido na Alemanha, na cidade de Treves.

    Seu pensamento sintetizou diferentes

    preocupaes filosficas, polticas e

    cientficas de sua poca. Seu pensamento

    se expressa pela teoria do materialismo

    histrico que originou uma corrente de

    pensamento revolucionria do ponto de

    vista terico e prtico (COSTA, 2005).

    Apesar de seus escritos se concentrarem na

    maior parte na economia, Marx sempre se

    preocupou em relacion-los com instituies

    sociais e suas obras apresentam, portanto,

    grandes reflexes sociolgicas.

    Iniciaremos nosso estudo a partir do seu

    mtodo de abordagem da vida social: o

    materialismo histrico.

  • unidade 3040

    SOCIEDADE E CULTURA

    FIGURA 19 - Karl Marx

    Fonte: . Acesso em 11/06/2013.

    os fatos econmicos so a base sobre a qual se apoiavam os outros nveis

    da realidade, como a poltica, a cultura, a arte e a religio. E, ainda, de que o

    conhecimento da realidade social deve se converter em um instrumento

    poltico, capaz de orientar os grupos e as classes sociais para a transformao da

    sociedade (DIAS, 2005, p.24).

    Na perspectiva marxista, a funo da

    sociologia seria, portanto, contribuir

    para a realizao de mudanas radicais

    na sociedade. Isso difere do que os

    positivistas propunham que era solucionar

    os problemas sociais e restabelecer

    a ordem social. Os positivistas se

    preocuparam com as questes

    relacionadas manuteno da ordem na

    sociedade e concentram sua ateno na

    estabilidade social. O marxismo via a luta

    de classes como a realidade evidente na

    sociedade e, portanto, responsvel pelas

    alteraes sociais.

    Marx estudou a sociedade capitalista desde

    seus estgios iniciais de desenvolvimento

    e, por isso, sua teoria fundamental para

    entend-la.

  • unidade 3041

    SOCIEDADE E CULTURA

    O MATERIALISMO HISTRICO

    Para ajudar a compreenso sobre o

    Materialismo Histrico, leia o exemplo

    abaixo.

    Certamente, voc j passou pela situao

    de reencontrar algum que no via

    h muitos anos. E, nesse reencontro,

    voc ou a outra pessoa se observaram

    e perceberam algumas mudanas um

    no outro. Algumas caractersticas se

    mantiveram, mas outras se alteraram.

    Outra experincia observar as modificaes

    em nosso corpo, por exemplo, na passagem

    para a adolescncia: algumas modificaes

    so imperceptveis e depois mais visveis

    com o passar dos anos; outras se tornam

    visveis em intervalos de tempo menores.

    Tanto no primeiro quanto no segundo

    exemplo, o que torna possvel tais

    modificaes foi a chegada do novo

    em oposio ao velho. O que chega

    no inteiramente diferente do que j

    estava antes. Por exemplo, o corpo de um

    adolescente no totalmente diferente de

    um corpo de criana. Sempre existe uma

    identificao do velho com o novo mesmo

    diante de importantes transformaes.

    Toda essa analogia para entendermos

    que Marx tambm via a sociedade desta

    forma: uma composio entre o velho e o

    novo. Para ele, a histria da humanidade

    a histria desse embate constante entre

    o velho e o novo, entre os interesses dos

    que j foram e dos que ainda esto por

    vir. (BOMENY; FREIRE-MEDEIROS, 2010).

    Ao pensar no desenvolvimento das

    sociedades, esse embate entre os

    interesses dos que j foram e dos que esto

    por vir, em que os fatores econmicos so

    a principal fonte.

    Nesse sentido, o materialismo histrico

    uma abordagem metodolgica de anlise da

    sociedade utilizada por Karl Marx, segundo a

    qual as principais fontes de mudana social

    esto nos fatores econmicos.

    A teoria marxista aponta a luta de classes

    como motor da histria, ou seja, o que

    pode modificar a estrutura da sociedade.

    Fonte: Acervo Institucional

    FIGURA 20 - Burguesia e Proletariado

    EXEMPLO

  • unidade 3042

    SOCIEDADE E CULTURA

    E isso tem total relao com o materialismo histrico, pois os sistemas sociais passam de

    um modo de produo a outro. Por exemplo, do modo de produo feudal a sociedade passou

    para o modo de produo capitalista a partir da industrializao. Essa transio ocorre, de

    acordo com Marx, atravs da revoluo, como resultado das contradies econmicas.

    Fonte: Acervo Institucional

    FIGURA 21 - Transio do modo de produo feudal para o capitalista

    Hegel faz notar algures que todos os grandes acontecimentos e personagens histricos se repetem por assim dizer uma segunda vez. Esqueceu-se de acrescentar: da primeira

    vez como tragdia, da segunda como farsa. Caussidire por Danton, Louis Blnac por Robespierre, a Montanha de 1848 a 1851 pela Montanha de 1793 a 1795, o sobrinho

    pelo tio (...) Os homens fazem a sua prpria histria, mas no a fazem arbitrariamente, nas condies escolhidas por eles, mas sim nas condies diretamente determinadas

    ou herdadas do passado. A tradio de todas as geraes mortas pesa inexoravelmente no crebro dos vivos. E mesmo quando estes parecem ocupados em transformar-se, a eles e as coisas, em criar algo de absolutamente novo, precisamente nessas pocas de crise revolucionria que evocam com inquietao os espritos do passado, que lhes tomam de emprstimo os seus nomes, as suas palavras de ordem, os seus costumes,

    para entrarem na nova cena da histria sob esse disfarce venervel e com essas palavras emprestadas (...) (MARX, 1990, p.17)

    Neste trecho da obra O 18 Brumrio de Lus Bonaparte, Karl Marx demonstra a concepo

    do materialismo histrico em que as relaes materiais estabelecidas pelos homens e o

    modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relaes e

    constitui um modo determinado de vida, refletindo exatamente aquilo que so.

  • unidade 3043

    SOCIEDADE E CULTURA

    Na sequncia, Marx vislumbrava a

    suplantao do sistema capitalista

    por uma nova ordem instalada: uma

    sociedade sem diviso entre pobres e

    ricos. Essa mudana s seria possvel

    por uma revoluo em que a classe

    trabalhadora derrubasse o capitalismo e

    abrisse as portas para um novo tipo de

    sociedade. Para essa revoluo, Marx

    e Engels convocam os trabalhadores a

    romperem com o modo capitalista, em

    uma frase celebre:

    Trabalhadores do mundo, uni-vos.

    Isso significa que Marx vislumbrava a

    possibilidade de uma sociedade que

    no seria dividida entre o monoplio

    do poder poltico e econmico por uma

    classe e, de outro lado, uma massa

    de indivduos de uma classe menos

    favorecida. Assim, o sistema econmico

    se assentaria na posse comum, na

    igualdade, tornando a sociedade mais

    evoluda e eficaz do que a sociedade

    capitalista. Seria um modelo de sociedade

    denominado de socialista, descrito

    em sua obra O Manifesto Comunista,

    escrita em conjunto com Engels.

    Est claro o significado de materialismo

    histrico? Por exemplo, dependendo da

    forma como os homens se organizam

    para produzir, o pensamento e a

    conscincia so decorrncia da relao

    homem/natureza. Isso significa uma

    dependncia das relaes materiais

    estabelecidas por eles. a relao

    homem/natureza que determina a forma

    como o indivduo se relaciona com a

    sociedade e com outros indivduos. Ou

    seja, a conscincia e o pensamento do

    indivduo so determinados por sua

    forma de produo.

    PRODUO E REPRODUO

    Outros dois conceitos importantes na

    compreenso da Sociologia Marxista

    so o de produo e reproduo. Esses

    conceitos auxiliam no entendimento das

    carncias dos indivduos na produo de

    seus meios de vida, pois, para Karl Marx,

    o homem sujeito que produz a si prprio

    em sua vida pela produo e manuteno

    de sua existncia.

    Os homens produzem seus meios de

    vida em busca de sua sobrevivncia

    e recriam a si prprios. Alm disso,

    acabam reproduzindo sua espcie numa

    transformao contnua pela ao das

    sucessivas geraes. Assim, os seres

    humanos interagem com a natureza e

    com outros indivduos dando origem

    vida material (QUINTANEIRO, BARBOSA,

    OLIVEIRA, 1999).

  • unidade 3044

    SOCIEDADE E CULTURA

    CONCEITOProduo , portanto, a atividade em que os indivduos recriam a si prprios e reproduzem sua espcie

    num processo transformado pela ao de suas sucessivas geraes. Marx considera que so as

    foras produtivas que constituem as condies materiais de toda a produo. O homem o principal

    elemento das foras produtivas, sendo responsvel por ligar a natureza, a tcnica e os instrumentos.

    O desenvolvimento da produo vai determinar a combinao e o uso desses diversos elementos: recursos naturais, mo de obra disponvel, instrumentos e

    tcnicas produtivas. Essas combinaes procuram atingir o mximo de produo em funo do mercado existente. A cada forma de organizao das foras produtivas

    corresponde uma determinada forma de relao de produo (COSTA, 2005, p.121).

    A premissa de anlise sociolgica marxista se fortalece com o conceito de produo, pois demonstra

    a existncia de indivduos que interagem com a natureza e com outros indivduos, originando a vida

    material. Para Marx, o primeiro fato histrico a produo dos meios que permitem a satisfao de

    suas necessidades, ou seja, a produo de sua prpria vida material. Essa condio, segundo ele,

    fundamental em toda a histria e deve existir a fim de manter os homens vivos.

    FIGURA 22 - Produo do homem

    Fonte: Acervo Institucional

  • unidade 3045

    SOCIEDADE E CULTURA

    As formas de satisfazer as necessidades

    so produes histricas que dependem

    do grau de civilizao da sociedade.

    Com o desenvolvimento das formas

    de organizao social, os homens vo

    buscando novas formas de produo,

    modificando-as com o tempo. Essas

    formas vo passando de gerao a gerao

    e o que Marx chama de reproduo.

    O processo de produo e reproduo se

    do, portanto, pelo trabalho. O trabalho

    para Marx a atividade humana bsica

    que constitui a histria dos homens

    (QUINTANEIRO, BARBOSA, OLIVEIRA,

    1999).

    CONCEITOO conceito de produo em Marx uma

    forma de existncia humana na vida social.

    A reproduo, que deriva da produo, se liga

    mais vida social, porque est vinculada s

    relaes sociais e ao desenvolvimento da

    sociedade.

    CLASSES E ESTRUTURA SOCIAL

    Voc j observou como h desigualdade

    em nossa sociedade?

    Fonte: Disponvel em: . Acesso em 04/01/2013.

    Isso acontece porque na sociedade

    capitalista, mesmo que as pessoas

    dependam umas das outras, a diviso do

    trabalho leva a uma hierarquia baseada

    na posse ou no dos meios de produo.

    nesse ponto que a desigualdade social

    ope os que tm muito e os que tm pouco.

    Ento, como surgem as classes sociais?

    Marx demonstra em sua teoria sociolgica

    que as classes sociais surgem dessa

    diviso do trabalho e esto vinculadas

    circunstncias histricas especficas que

    possibilitam a apropriao privada das

    condies de produo (QUINTANEIRO;

    BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p.40). dessa

    diviso do trabalho que emerge a classe

    operria (proletariado) e a classe capitalista

    FIGURA 23 - Desigualdade social

    http://goo.gl/8tAM6
  • unidade 3046

    SOCIEDADE E CULTURA

    (burguesia) que passam a protagonizar o

    drama histrico do capitalismo. Desse modo, a

    diviso de classes emerge a partir do processo

    de produo onde os indivduos estabelecem

    entre si relaes sociais para produzir e se

    reproduzir (QUINTANEIRO, 2002, p. 40).

    ATENO! possvel afirmar que, segundo Marx, a diviso

    das classes sociais no se vincula ao nvel de

    renda ou origem dos rendimentos simplesmente,

    pois a renda no um fator independente da

    produo, mas uma expresso da parcela

    maior ou menor do produto a que um grupo

    de indivduos pode ter direito em decorrncia

    de sua posio na estrutura de classes

    (QUINTANEIRO, 2002, p.41).

    A configurao bsica de classes nos termos expostos (...) expressa-se, de maneira simplificada, num modelo dicotmico: de um lado, os proprietrios ou possuidores dos meios de produo, de outro, os que no os possuem. Historicamente, essa polaridade apresenta-se de diferentes maneiras conforme as relaes sociais e econmicas de cada formao social. Da os escravos e patrcios, servos e senhores feudais, aprendizes e mestres, trabalhadores livres e capitalistas. (QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p.41).

    Esse modelo de diviso de classes marxista,

    atualmente, insuficiente para analisar as

    variaes presentes em nossa sociedade, j

    que, ao observamos as desigualdades sociais

    e as classes sociais existentes, veremos uma

    variedade como classe A, B, C, D e por a vai.

    O esquema marxista um modelo puro

    de diviso de classes com consequncias

    variadas para a vida em sociedade. Porm,

    esse esquema pode ser muito til para

    identificar a configurao bsica das classes,

    sua influncia na dinmica da sociedade e

    as relaes entre classes sociais.

    Marx acreditava que a tendncia era a

    separao entre o trabalho e os meios de

    produo de forma cada vez mais intensa.

    Essa separao iria concentrar e transformar

    os meios de produo de forma cada vez

    mais intensa em capital e o trabalho iria se

    transformar em trabalho assalariado.

    FIGURA 24 - Trabalho assalariado

    Fonte: Acervo Institucional

  • unidade 3047

    SOCIEDADE E CULTURA

    Para o mtodo de anlise marxista, pela

    luta de classes que mudanas estruturais

    principais so impulsionadas. Essa luta

    de classes relacionada diretamente

    superao das contradies existentes

    e denominada na teoria marxista como

    o motor da histria por representar a

    possibilidade de mudanas.

    Da a importncia de existir a conscincia

    de classe: ela que conduzir formao

    de associaes, de diversos tipos,

    que buscam a unio solidria entre os

    membros de uma mesma classe para a

    defesa de seus direitos e interesses, alm

    do combate aos seus opressores. Exemplo:

    sindicatos, associaes, partidos, etc.

    Assim, ocorrem as transformaes nas

    relaes sociais.

    Fonte: . Acesso em 04/01/2013.

    FIGURA 25 -As classes sociais

    A REVOLUO MARXISTA

    ATENO!

    A teoria de Marx fala muito em progresso,

    pois representa o desenvolvimento da

    sociedade, em que sempre h necessidade

    de expanso das foras produtivas e das

    estruturas econmicas. Essa expanso

    pode causar desintegrao e a emergncia

    de uma nova estrutura. Para Marx, isso o

    incio de uma Revoluo.

    O processo revolucionrio, idealizado por

    Marx, previa o desaparecimento das condies

    de apropriao e concentrao dos meios de

    produo em mos de uma classe e o seu

    surgimento sobre novas bases. Essa revoluo

    no se restringe a mudar as posies, trata-

    se de um processo de transio que envolve

    a vida material em que os agentes de

    transformao e mudana social provocam

    uma reconstruo da sociedade.

    Voc se recorda de que Marx pensava na

    evoluo da sociedade de forma histrica?

    Nesse ponto h alguns equvocos em relao

    ao pensamento marxista de evoluo da

    http://goo.gl/UjzqH
  • unidade 3048

    SOCIEDADE E CULTURA

    sociedade. Algumas pessoas acreditam

    que ele propunha a extino do capitalismo

    simplesmente.

    Para Marx, a sociedade deveria passar

    por processos histricos relacionados a

    cada modo de produo para super-lo, a

    exemplo do aconteceu com a transio da

    sociedade feudal para o capitalismo, cujo

    pice foi a revoluo industrial. Assim,

    a superao do capitalismo se daria por

    um processo revolucionrio que levaria a

    sociedade a um nvel considerado por ele

    mais elevado: o comunismo.

    Mas, antes de chegar ao comunismo,

    teramos o socialismo, que seria a

    socializao dos meios de produo,

    ou seja, seria a extino da propriedade

    privada. Nesse tipo de sociedade, deveria

    haver um investimento do governo no

    cidado que poderia seguir regras e

    trabalhar para o conjunto da populao. A

    diferena entre o socialismo e o comunismo

    que neste ltimo no haveria a figura do

    Estado. Desse modo, o socialismo seria

    uma transio para o comunismo.

    O modo de produo capitalista foi um

    passo evolutivo em relao ao feudalismo

    e ser ento um passo que ficar atrs do

    comunismo.

    Como seria, ento, a sociedade comunista?

    A sociedade comunista seria orientada por

    princpios de liberdade e no-alienao,

    como forma necessria e princpio dinmico

    de um futuro imediato. Mas, Marx afirmava

    que o comunismo no seria a finalidade

    do desenvolvimento humano. Ele seria a

    possibilidade de submeter a criao dos

    homens organizao dos indivduos

    que estariam associados ao comunismo.

    A diviso do trabalho tambm passaria a

    obedecer a interesses de uma coletividade e

    no somente de poucos, como no capitalismo.

    Em sntese, o comunismo seria um sistema

    social regulado para atender s necessidades

    humanas, voltado para as potencialidades

    criativas de homens livres. Seria o resultado

    de uma reconstruo social que daria incio a

    uma nova vida social.

    No sculo XX, alguns movimentos foram

    influenciados pelas ideias marxistas de

    revoluo: Revoluo Russa, Revoluo

    Cubana e Revoluo Chinesa. Lembrando

    que, na histria da humanidade, o ideal de

    comunismo almejado por Marx nunca fora

    alcanado.

    A teoria marxista bem ampla e complexa,

    abordada em diversas reas do conhecimento,

    como Economia, Filosofia, Poltica. Isso nos

    mostra a relevncia de seu pensamento que,

    embora no tenha sido alcanado em sua

    plenitude, contemporneo em sua forma de

    analisar a sociedade.

  • unidade 3049

    SOCIEDADE E CULTURA

    PRTICAAPLICAO

    Veja agora um exemplo de revoluo

    comunista, que foi a Revoluo Chinesa,

    influenciada pelos ideais marxistas.

    Primeiro, leia o resumo sobre esse evento

    histrico:

    A revoluo Chinesa aconteceu entre

    1949 e 1962 e foi um dos maiores

    acontecimentos histricos. A Revoluo

    se deu por dois movimentos: a luta dos

    camponeses por terras e a luta do povo

    chins pela independncia nacional.

    Na poca, os socialistas assumiam o

    poder, com uma China arrasada pelos

    longos anos em que batalhou contra o

    domnio japons, e uma longa Guerra

    Civil. Na cidade, o povo passava fome, no

    campo no se plantava nada por no ter

    sementes.

    Mao TsTung, lder chins, iniciava

    a reforma agrria. Dividiu grandes

    propriedades entre os camponeses, as

    cooperativas substituam as grandes

    propriedades. Apoiado pela Unio Sovitica,

    os comunistas fizeram mudanas radicais

    na economia e cultura chinesas; aboliram

    o casamento, promoveram a emancipao

    da mulher, igualdade entre os sexos, entre

    outras medidas de grande impacto e boa

    aceitao. A boa relao entre as duas

    potncias socialistas s acabou com a

    morte do ditador Stalin em 1953.

    O principal objetivo de todas essas

    mudanas era o aumento de produtividade,

    ou seja, na indstria houve aumento nas

    horas de trabalho e, no campo, foram

    enviados reforos, desde intelectuais a

    estudantes. A terra foi estatizada, e dividida

    em comunas, que eram comunidades

    populares, independentes, com liberdade

    para cuidar de seus interesses comuns,

    como pequenas cidades.

    Esse grande salto foi um fracasso. Os

    camponeses ficaram insatisfeitos, com a

    queda das colheitas, o que gerava a fome,

    e acabava em revoltas.

    Em 1966, iniciou-se uma revolta cultural,

    que marcou significativamente os rumos

    da revoluo chinesa. O partido comunista

    estava dividido, havia uma forte oposio,

    mas mesmo assim Mao Tse-Tung

    mantinha-se no poder.

    Na realidade, a revoluo cultural foi

    planejada pelo prprio Mao, com o objetivo

    de mobilizar a populao pensante e

    formadora de opinio da China. Os jovens,

    por todo o pas criaram a jovem guarda

    vermelha. Surgia tambm comits que

    ameaavam autoridades, e mais uma

    vez a fora foi utilizada: locais onde

  • unidade 3050

    SOCIEDADE E CULTURA

    eram realizados cultos religiosos foram

    destrudos, livros foram confiscados, as

    comunas ganharam maior importncia e

    Mao saiu ainda mais forte.

    Mao Ts-Tung morreu em 1976 e os

    moderados voltaram ao poder. Seu sucessor

    foi Deng Xio-Ping que adotou uma poltica

    econmica e desenvolvimentista e permitiu

    a entrada de tecnologia e capital estrangeiro.

    (MELLO, Mariana. In: Infoescola [Online]).

    ACADMICOS DA CHINA ALERTAM SOBRE REVOLUO VIOLENTA SEM REFORMAGrupo de 73 pessoas escreveu carta aberta. Eles pedem reformas polticas de longo prazo.

    Agora, veja esta reportagem que

    relata um pouco sobre a atualidade do

    comunismo chins:

    Fonte:.

    Um grupo proeminente de acadmicos da

    China alertou em