39
Estrutura Argumental em Morfologia Distribuída Dra. Ana Paula Scher (DL/FFLCH/USP) (FAP ESP) Dr. Alessandro Boechat de Medeiros (DL/FFLCH/USP) (FAPESP) Rafael Dias Minussi (DL/FFLCH/USP) (CNPq) 11 Introdução Este trabalho tem como objetivo amplo discutir em uma Teoria não-lexicalista, como a da Morfologia Distribuída, a maneira como é decodificada a estrutura argumental de verbos. De modo mais específico, neste trabalho trataremos de: a) alternância causativo-incoativa, como em ; verbos inergativos e transitivos sem alternância, como em ; verbos de atividade com complemento e sem  ponto final, como em  e verbos de deslocamento com um PP que denota caminho; como em . Esses exemplos foram escolhidos por trazerem algum tipo de problema para sua explicação em teorias lexicalistas. ( 11 a. O João ferveu o leite.  b. O leite ferveu. ( 11 a. O João gritou.  b. O João pintou o muro. ( 11 a. O João empurrou o carrinho. ( 11 a. O João andou até a porta. 11 Background teórico: Morfologia Distribuída A MD é um dos desenvolvimentos recentes da Teoria da Gramática Gerativa; sendo assim, ela se caracteriza como uma teoria sobre a arquitetura da faculdade da linguagem. Foi proposta no início da década de 1990, por Morris Halle e Alec Marantz, tendo como principais trabalhos de origem: Halle; Marantz (1993), Halle (1997) e Marantz (1997). São três as propriedades que definem a MD: ( 11 a. Inserção tardia (  Late Insertion ): refere-se à hipótese de que expressões fonológicas de terminais sintáticos são fornecidas no mapeamento para a Forma Fonológica (PF). Em outras palavras, categorias sintáticas são puramente abstratas,

Scher, Medeiros & Minussi 2009

Embed Size (px)

Citation preview

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 1/39

Estrutura Argumental em Morfologia Distribuída

Dra. Ana Paula Scher (DL/FFLCH/USP) (FAPESP)

Dr. Alessandro Boechat de Medeiros (DL/FFLCH/USP) (FAPESP)Rafael Dias Minussi (DL/FFLCH/USP) (CNPq)

11 Introdução

Este trabalho tem como objetivo amplo discutir em uma Teoria não-lexicalista, como a da

Morfologia Distribuída, a maneira como é decodificada a estrutura argumental de verbos. De modo

mais específico, neste trabalho trataremos de: a) alternância causativo-incoativa, como em ; verbos

inergativos e transitivos sem alternância, como em ; verbos de atividade com complemento e sem

 ponto final, como em  e verbos de deslocamento com um PP que denota caminho; como em . Esses

exemplos foram escolhidos por trazerem algum tipo de problema para sua explicação em teorias

lexicalistas.

(11 a. O João ferveu o leite. b. O leite ferveu.

(11 a. O João gritou. b. O João pintou o muro.

(11 a. O João empurrou o carrinho.

(11 a. O João andou até a porta.

11 Background teórico: Morfologia Distribuída

A MD é um dos desenvolvimentos recentes da Teoria da Gramática Gerativa; sendo assim,

ela se caracteriza como uma teoria sobre a arquitetura da faculdade da linguagem. Foi proposta no

início da década de 1990, por Morris Halle e Alec Marantz, tendo como principais trabalhos de

origem: Halle; Marantz (1993), Halle (1997) e Marantz (1997).

São três as propriedades que definem a MD:

(11 a. Inserção tardia (  Late Insertion): refere-se à hipótese de que expressões

fonológicas de terminais sintáticos são fornecidas no mapeamento para a FormaFonológica (PF). Em outras palavras, categorias sintáticas são puramente abstratas,

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 2/39

não possuindo conteúdo fonológico. Apenas depois da sintaxe, elas recebem traços

fonológicos, por meio de regras que unem “som” a traços de um nó terminal,

chamadas de itens de vocabulário, que caracterizam um processo chamado spell-out .

 b. Subespecificação dos itens de vocabulário (Underspecification of vocabulary

items): as expressões fonológicas não precisam ser completamente especificadas paraas posições sintáticas onde elas podem ser inseridas. Apenas os morfemas (nós da

estrutura sintática) são totalmente especificados em relação ao seu conteúdo.

c. Estrutura sintática hierárquica em toda a derivação (Syntactic hierarchic

  structure “all the way down”): implica que processos sintáticos e morfológicos

respeitam os mesmos tipos de estruturas de constituintes. A Morfologia Distribuída

está baseada na proposta de que os elementos da sintaxe e da morfologia são

entendidos como discretos em vez de resultados de processos morfo-fonológicos. Não há a necessidade de derivações ou processos pré-sintáticos.

O léxico se distribui em três listas (Cf. MARANTZ, 1997) acessadas em diferentes pontos

da derivação sintática, como mostra a figura adaptada de (HARLEY; NOYER, 1999):

(11

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 3/39

A Lista 1 (Lista de traços morfossintáticos) contém as raízes e os morfemas abstratos. Os

morfemas abstratos são terminais sintáticos que possuem apenas traços não fonológicos. Podem ser 

considerados como traços universais. Participam dessa lista, os traços de categorias funcionais que,

ao final da computação, podem ser associados ao material fonológico adequado.

Atualmente, existe uma grande discussão sobre a natureza das raízes na MD. Para Embick; Noyer (2004), as raízes são definidas como complexos de traços fonológicos  e, em alguns casos,

traços diacríticos não-fonológicos. Enquanto os traços que criam os morfemas abstratos são

universais, as raízes são combinações específicas de som e de significado. De maneira bastante

ampla, o conceito de raiz pode ser diretamente relacionado ao signo saussureano, no que diz

respeito à indivisibilidade entre significante e significado. As raízes sempre ocorrem numa relação

local com um núcleo funcional definidor de categoria, ou seja, as raízes, por si só, não possuem

categoria gramatical determinada.A Lista 2 (Vocabulário), segundo Embick; Noyer (2004), contém os itens de vocabulário, ou

seja, a expressão fonológica dos morfemas abstratos  e as regras necessárias para combinar o

material fonológico ao resultado da derivação morfossintática.

A Lista 3 (Enciclopédia) é uma lista de informação semântica que deve ser consultada. Por 

exemplo, uma propriedade de certa raiz, ou de um objeto construído sintaticamente tal como uma

expressão idiomática, será consultada para, então, ter seu significado definido. Essa lista também

define sentidos especiais para determinadas raízes, dependendo do contexto sintático em que tais

raízes aparecem. Por exemplo, a raiz √gato pode significar: felino peludo, animal que gosta de leite,

animal que caça rato etc., ou pode significar: emaranhado de fios clandestino que pode levar a um

curto-circuito etc. De maneira geral, podemos dizer que a Enciclopédia lista significados especiais

de raízes em contextos sintáticos específicos. Em outras palavras, ela é uma lista de idiomas da

língua.

2.1 A opção pela Morfologia Distribuída

 Nesta subseção, traremos algumas razões para escolha de uma modelo não-lexicalista para a

explicação dos fenômenos destacados no início deste trabalho.

A primeira razão diz respeito à dificuldade de definir teoricamente a noção de palavra, fato

esse ressaltado por Marantz (1997). Esse autor rebate a afirmação de que as palavras são o lugar de

variados tipos de idiossincrasia e afirma que os domínios de aplicação de “regras fonológicas

lexicais”, de significados especiais (idiossincráticos) e de correspondências aparentemente especiais

entre estrutura e significado, que deveriam, assumindo a Hipótese Lexicalista, coincidir na palavra

,

de fato, não coincidem nela. Tomemos, por exemplo, um nome composto do hebraico: beyt-sefer 

(literalmente: casa-livro, significando ‘escola’. Várias noções de palavra podem ser utilizadas para

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 4/39

definir esse composto: (i) palavra prosódica, se levarmos em consideração a perda de acento do

composto; (ii) palavra morfológica ou sintática, se separarmos os compostos formados com uma

raiz dos que são formados por duas raízes e (iii) palavra morfológica, se utilizarmos a noção de

morfologia não concatenativa (aquela em que não há processos de afixação) para explicar a não

ocorrência de compostos formados com verbos no hebraico. Além disso, temos neste composto umúnico conceito ‘escola’ formado por dois elementos.

A segunda razão está relacionada ao fato de que, no modelo da MD, há apenas um

componente gerativo de modo que não há necessidade do uso de operações lexicais especiais (do

tipo assemble features, como em Chomsky 1997, por exemplo) diferentes das operações sintáticas

de concatenar  e mover (CHOMSKY, 1995); tampouco, são necessários princípios que relacionem

estrutura morfológica e estrutura sintática, como o  princípio do espelho (discutido em BAKER,

1985); ou regras de link , que definem como os argumentos dos verbos são projetados na sintaxe(ver, por exemplo, LEVIN & RAPPAPORT, 1988 e LEVIN, 1999 para um conjunto de propostas

que necessita de tais regras).

A terceira razão está relacionada ao princípio de inserção tardia e ao princípio do

subconjunto. Nesta teoria, podemos explicar de maneira elegante o fato de uma mesma forma poder 

aparecer em diversos contextos sintáticos. Por meio da inserção tardia e do princípio do

subconjunto, podemos explicar tanto o fato de uma terminação como  –do do “particípio passado”

no português (Cf. MEDEIROS, 2008) aparecer em diversos contextos sintáticos (tempos verbais

compostos, voz passiva, adjetivos, substantivos, etc.), quanto o fato de ocorrerem mudanças em

raízes como, por exemplo, em mouse e mice: mouse utilizada em contexto singular e mice utilizada

em um contexto de plural. No primeiro caso, então, é a possibilidade de inserção tardia do material

fonológico para a forma – do, subespecificada para os contextos sintáticos listados entre parênteses,

que dá conta do fenômeno apontado. O caso de mouse e mice pode ser tratado como uma

combinação do mecanismo de inserção tardia e do princípio do subconjunto. O resultado dessa

combinação é que um determinado conteúdo fonológico será mais apropriado para ser inserido em

uma raiz abstrata, por ser mais específico, satisfazendo, mais adequadamente, as condições

determinadas, por exemplo, por contextos singular ou plural, como nos exemplos acima. Dessa

forma, tal caso não é tratado como supleção, mas como inserção tardia de um conteúdo fonológico a

uma raiz abstrata (sem conteúdo fonológico). Contudo, se a versão empregada do modelo não

assumir raízes abstratas, pode-se falar em um processo fonológico regular na língua inglesa, já que

fenômenos semelhantes se verificam em louse – lice, foot –  feet , tooth – teeth e goose –  geese.

A quarta razão para utilização da MD está ligada a uma premissa da teoria: as raízes

 presentes na Lista 1 não possuem categoria gramatical. Esse fato nos sugere que uma raiz pode ser 

um nome, um adjetivo e/ou um verbo. Tal fato está de acordo com a estrutura de algumas línguas

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 5/39

semíticas, entre elas o hebraico. A língua hebraica possui um conjunto de raízes e padrões vocálicos

que as categorizam. Estamos considerando, nesta pesquisa, que os padrões vocálicos devem,

 portanto, desempenhar o papel dos núcleos categorizadores: v, n e a. Observemos alguns dados

adaptados de Arad (2004):

(11 √gdl (Raiz)

Padrão Vocálico Palavra formadaa) CaCaC (v) gadal (crescer)

  b) CiCCeC (v) gidel (elevar, criar, cultivar (padrão causativo))c) hiCCiC (v) higdil (aumentar)d) CaCoC (a) gadol (grande)e) CoCeC (n) godel (tamanho)f) miCCaC (n) migdal (torre)g) CCuCa (n) gdula (grandiosidade)

h) CCiCa (n) gidla (crescimento)

Percebemos que a raiz √gdl pode entrar em padrões vocálicos verbais, nominais e adjetivais

e que também pode entrar em mais de um padrão de mesma categoria, se, por exemplo,

considerarmos apenas a formação de nomes. Preliminarmente, se nossas observações estão corretas,

o fato de a mesma raiz se enquadrar em mais de um padrão categorial pode sugerir que a raiz é

selecionada pelo padrão e não o contrário. No entanto, qualquer conclusão é prematura.

Este fato está diretamente relacionado com o objetivo amplo desta pesquisa, que é discutir aestrutura argumental dentro da Morfologia Distribuída. As informações sobre a grade temática e a

estrutura de argumentos, que em uma teoria lexicalista está localizada nas entradas lexicais, devem

estar codificadas em outro lugar, em uma teoria não-lexicalista. Algumas pesquisas, fundamentadas

no modelo da Morfologia Distribuída, discutem os dados da língua hebraica, apresentados em : (i) a

informação sobre a estrutura argumental está localizada nas raízes ou nos núcleos categorizadores?;

(ii) as raízes fazem algum tipo de seleção?; (iii) as raízes possuem algum tipo de grade temática ou

quadro de subcategorização?Questões semelhantes norteiam esta pesquisa, que analisará os dados do português

 brasileiro, como já foi apontado anteriormente.

2.2 Sobre a seleção de argumentos na Morfologia Distribuída

Mencionamos, brevemente, acima, que, no modelo não-lexicalista da Morfologia

Distribuída, As raízes sempre ocorrem numa relação local com um núcleo funcional definidor de

categoria. Em outros termos, pode-se dizer que as raízes, por si só, não se encaixam em qualquer categoria gramatical determinada. Para que sejam definidas como nomes, verbos, ou adjetivos,

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 6/39

 precisam estar em uma relação estrutural com um núcleo capaz de defini-las como tal. Marantz

(1997) ressalta a dificuldade de se estabelecer se, em uma expressão categorizada, são os núcleos

categorizadores que refletem as características das raízes que eles categorizam, ou se tais

características são próprias desses nós categorizadores que serviriam de contextos para a inserção

das raízes. Isto é, são as raízes que selecionam os núcleos categorizadores, definindo para quaiscategorias contribuirão, formando uma ou outra palavra, ou é nos núcleos categorizadores, que se

encontra a informação sobre qual raiz poderá ser selecionada?

HIPÓTESE 1: Se são as raízes que selecionam o núcleo categorizador, espera-se que

a informação sobre a estrutura argumental que se encontra na raiz se

mantenha, seja no nome, no adjetivo ou no verbo formados pela

mesma raiz.

Além disso, se for assim, talvez, uma mesma raiz não deva poder selecionar dois núcleos

diferentes para forma elementos de uma mesma categoria. Por exemplo, dois sufixos

nominalizadores diferentes não deveriam poder nominalizar a mesma raiz.

HIPÓTESE 2: Se a informação sobre a seleção de argumentos se encontra no núcleo

categorizador, o número de argumentos poderá variar de acordo com a

categoria do predicado que vai se formar, podendo, portanto, ser 

diferente para predicados de categorias diferentes, formados a partir 

de uma mesma raiz.

Há ainda uma terceira via de tratamento, que iremos adotar no presente trabalho. Não

falaremos em seleção propriamente dita, seja pelas raízes, ou pelos núcleos funcionais

categorizadores, mas trataremos de licenciamento das raízes em um determinado contexto sintático.

Tal proposta tem sido implementada por autores como Borer (2005). Dessa forma, nos

 preservaremos de problemas tais como prever a existência de um quadro de subcategorização nas

raízes ou nos núcleos funcionais. A hipótese 3 pode assim ser resumida.

HIPÓTESE 3: O componente sintático gera as estrutura sintáticas e a Enciclopédia,

ou Lista 3, funciona como um filtro que irá dizer, com base nas

informações contidas nas raízes, se tal derivação é possível ou não em

determinada língua.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 7/39

 Na próxima seção faremos um breve panorama dos vários modos de tratamento da estrutura

argumental por diversos autores e teorias.

11 Um histórico das propostas de estrutura argumental

3.1 A visão tradicional: Teoria GB e Minimalismo lexicalista.

  Na visão herdada da teoria GB dos anos oitenta – que se mantém, sem grandes

modificações, no Programa Minimalista dos anos noventa e dois mil –, os itens lexicais trazem, em

sua representação no léxico,  grades temáticas. Nelas, todas as informações associadas ao item

lexical, relevantes para a sintaxe, estão explicitadas. Que informações são essas? Grosso modo,

incluem i) sua categoria sintática (se é verbo, nome, adjetivo, preposição, etc.), que dará conta de

sua distribuição; ii) o número de argumentos que seleciona; iii) os tipos de argumentos (se sãosintagmas nominais, sintagmas preposicionais, sentenças etc.) que seleciona; e iv) quais papéis

semânticos/temáticos devem ser atribuídos a estes argumentos. Aspectos do significado que não têm

efeitos na estrutura sintática, como as diferenças entre “cachorro” e “gato”, por exemplo, não se

incluem entre as informações relevantes. Em , a seguir, apresentamos representações de grades

temáticas dos itens lexicais destruir e  gato. No caso da palavra  gato, não há argumentos a serem

representados, e, portanto, somente sua categoria é especificada na grade.

(11 destruir: <</destru-/, V>; <NP1 (AGENTE), NP2 (PACIENTE)>>;

gato: </gato/, N>

Uma vez que grupos de verbos se comportam, sintaticamente, de modos muitas

vezes semelhantes, a teoria procurou estabelecer inventários de papéis temáticos, que forneceriam

uma generalização sobre os itens lexicais. Os típicos papéis temáticos que encontramos na literatura

são: AGENTE, BENFICIÁRIO, TEMA, EXPERIENCIADOR, ALVO, PACIENTE etc. Verbos

como destruir, construir, chutar, matar, por exemplo, teriam, nessa visão, grades bastante

semelhantes, pois compartilham a mesma categoria sintática e selecionam dois argumentos

nominais que recebem os mesmos papéis temáticos. É esperado, pois, que as estruturas sintáticas

em que ocorrem sejam as mesmas.

Além dos papéis temáticos, a teoria precisa recorrer a certos princípios que relacionem a

informação contida nos itens com as estruturas sintáticas em que ocorrem. Na teoria GB temos o

 Princípio da Projeção, que, numa das formulações que Chomsky dá (CHOMSKY, 1981, p. 29), diz

o seguinte a respeito da relação entre informação lexical e estrutura sintática: “[a]s representaçõesem cada nível sintático (i. e., LF, e estruturas D e S) são projetadas do léxico, pois observam as

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 8/39

 propriedades de subcategorização dos itens lexicais”. Em outras palavras, a informação lexical, em

 particular a que está contida na grade temática, tem que estar sintaticamente representada. A teoria

também precisa garantir que, na estrutura sintática associada a determinado verbo, não pode haver 

mais ou menos argumentos que os pedidos pelos itens lexicais. O Critério Teta (CHOMSKY, 1981,

 p. 36) procura fazer isso, dizendo que: “[c]ada argumento suporta um e só um papel temático, ecada papel temático é atribuído a um e só um argumento”.

Mas ainda é preciso dar conta de um fato curioso a respeito dos argumentos dos verbos, suas

interpretações e as posições sintáticas que tipicamente ocupam: argumentos agentes, por exemplo,

sempre serão sujeitos, independentemente do verbo que os seleciona; argumentos interpretados

como  pacientes serão, tipicamente, objetos; e assim por diante. Para explicar esta regularidade

observada, a teoria lança mão de duas hipóteses: i) a UTAH 1 (BAKER, 1988), que propõe que

argumentos que recebem os mesmos papéis temáticos ocuparão as mesmas posições sintáticas nonível da Estrutura Profunda; e (ii) as hierarquias de papéis temáticos (vários autores), que procuram

estabelecer a posição (em última análise, a função) sintática tipicamente associada a cada papel

temático. As hierarquias de papéis temáticos se propõem a ser universais, ou seja, verificáveis em

todas as línguas. Apresentamos dois exemplos de hierarquias propostas nos anos noventa por 

Jackendoff e van Valin, respectivamente. O sinal “maior que” indica que, preferencialmente, o

elemento mais à esquerda ocupará a posição de sujeito da sentença; na sua ausência, o elemento

seguinte (se estiver presente) será o sujeito da sentença:

Ator > Paciente/Beneficiário > Locativo/Fonte/Meta (JACKENDOFF, 1990);

Agente >  Effector  > Experienciador > Locativo/Recipiente > Tema > Paciente (VAN

VALIN, 1993).

 Na visão da teoria GB isso esgota a discussão sobre estrutura argumental e representação

sintática dos argumentos. Entretanto, esse conjunto de propostas traz diversos problemas e deixa

inúmeras perguntas sem resposta, como as que apresentamos a seguir:

a. Quantos são e quais são os papéis temáticos que a teoria assume existirem para

serem atribuídos? Não há consenso sobre nenhum dos dois pontos, e os inventários

 propostos deixam inúmeras lacunas. Por exemplo, que papel temático devemos atribui à

 ponte em “o engenheiro evitou a ponte” (LEVIN, 1999)? Como fazer generalizações a

respeito dos verbos com tais lacunas na teoria?

1Universal Theta Assignment Hypothesis (Hipótese da Atribuição Universal de Papéis Temáticos).

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 9/39

 b. Numa teoria baseada em grades temáticas, quantas entradas devem existir para o

verbo correr , por exemplo? Aparentemente, três: uma inergativa, em que o sujeito é agente

( João correu na praia ontem); uma inacusativa, em que o sujeito é um tema ( A pedra correu

até a porta); e uma transitiva, com um sujeito agente e um objeto direto cujo papel temático

não é fácil de estabelecer considerando os inventários de que dispomos ( João correu ocachorro da cozinha). Essa solução não é obviamente ruim, uma vez que o verbo correr , nas

três situações, tem mais ou menos o mesmo significado?

c. As alternâncias dativa, locativa, de verbos psicológicos, etc., colocam diversos

 problemas para a UTAH, pois os mesmos papéis temáticos podem ocorrer em posições

diferentes na estrutura profunda. Alguns autores, para preservar a UTAH nos casos de

alternância, criam novos papéis temáticos (por exemplo, Pesetsky [Cf. PESETSKY, 1995] para os verbos psicológicos), afirmando que os alternantes não compartilham, de fato, os

mesmos papéis. Mas a questão é: se podemos inventar papéis novos sempre que convém,

como falsear uma explicação baseada neles?

d. As hierarquias temáticas (assim como a UTAH) somente constatam regularidades

entre posições sintáticas e papéis temáticos. Não são explicativas.

e. Teorias lexicalistas, como a teoria GB, baseadas em papéis temáticos/semânticos, são

essencialmente descritivas. Não estudam os significados dos verbos/predicados e as

eventualidades que eles denotam; daí se limitarem a fazer descrições de propriedades

idiossincráticas.

f. Teorias lexicalistas baseadas em papéis temáticos recorrem à UTAH e a hierarquias

temáticas para explicar como os argumentos são projetados na sintaxe e as regularidades

verificadas nas línguas do mundo. Como veremos a seguir, teorias que decompõem

sintaticamente o verbo em estruturas de evento explicam a mesma coisa sem precisar de

semelhantes recursos.

Tendo em vista as limitações apontadas acima, neste trabalho evitaremos visões

 projecionistas e baseadas em papéis temáticos. Na seção a seguir, discutiremos algumas abordagens

que são essencialmente sintáticas para a estrutura argumental. De fato, algumas substituem a idéia

de estrutura argumental pela de estrutura de evento, nas quais os argumentos são aspectuais, e não

mais temáticos.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 10/39

3.2 Visões sintáticas: Hale & Keyser (1993, 2002), Borer (2005), Ramchand (2008)

3.2.1 Hale e Keyser e sua sintaxe lexical

Um rompimento parcial com o quadro acima, ainda na tradição GB, veio com

(LARSON, 1988). Nesse artigo, o autor desenvolve o que ficou conhecido como “concha

larsoniana” (larsonian shell ). A proposta procura explicar conhecidas assimetrias entre os

argumentos internos de verbos com dois complementos2 e preservar aquilo que ele chama de

 Hipótese do Complemento Único3 em tais situações. Tomemos, por exemplo, o verbo  pôr , que

seleciona um sintagma determinante (cujo papel temático associado é o de tema) e um preposicional

(cujo complemento é interpretado como um alvo) como seus argumentos internos. A proposta de

Larson trabalha com núcleos adicionais na estrutura dos VPs associados a tais verbos, como no

esquema a seguir:

(11 V1P

3 NP  V’1

Agente 3  V1 V2P  | 3  e    NP V’2

Tema 3  V2 PP

   pôr  Alvo

 Na estrutura , há dois núcleos verbais. Mas, aqui, V1 é uma posição vazia para onde V2 se

move; ele não dá qualquer contribuição semântica ao significado do VP.

 Na proposta de Larson, a entrada lexical do verbo pôr têm os papéis temáticos AGENTE,

TEMA e ALVO para atribuir, que serão projetados na sintaxe por meio da estrutura complexa

acima. Os dois V's em   estão ali essencialmente para compatibilizar a idéia de que a estruturatemática está representada no léxico com as mencionadas assimetrias de interpretação entre os dois

complementos e a Hipótese do Complemento Único. O problema é que, além de ser difícil

sustentar, de maneira independente, a proposta de haver um V semanticamente vazio nos verbos de

duplo complemento, o recurso gera conflitos com os fundamentos da própria teoria GB, que o autor 

segue: Jackendoff (JACKENDOFF, 1990a), por exemplo, aponta que, para que o especificador do

2 Para explicar co-referências constatadas entre os dois argumentos internos usando os princípios da teoria da Ligação

é preciso assumir que há relações de c-comando assimétrico entre eles. A concha larsoniana cria essas relaçõesassimétricas, como se verá.

3 Que diz que cada núcleo só pode ter um complemento. Isso força, evidentemente, que as representações em árvoredas estruturas sintáticas só tenham ramificações binárias.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 11/39

V1P receba o papel temático de AGENTE, é preciso que o V 2, carregando a entrada  pôr , se mova

 para V1. O autor continua, observando que, se isso é verdade, alguns papéis temáticos são atribuídos

em estrutura profunda (como quer a teoria GB para todo e qualquer papel temático), enquanto

outros, não. Larson reconhece os problemas, mas não os considera suficientemente fortes, tendo em

vista os ganhos que a proposta traz.Um passo mais decisivo na direção de sintaticizar propriedades até então consideradas

lexicais foi dado em (HALE; KEYSER, 1993). Os autores reconhecem os méritos da concha

larsoniana e aperfeiçoam a idéia assumindo que os itens lexicais trazem estrutura sintática dentro de

si.

Surge, assim, o conceito de sintaxe lexical (ou  sintaxe-l ), que foi amplamente usado no

estudo de verbos denominais do tipo location/locatum. Ficou evidente que uma simples

representação baseada em grades de argumentos era insuficiente para explicar propriedades“sintáticas”, plenamente verificáveis, que estes e outros verbos possuíam. Diferentemente do V1 de

Larson, acima, os V's de Hale e Keyser contribuem com significado, introduzindo sub-

eventualidades na sua estrutura. Ademais, para os autores, havendo dois V's na sintaxe-l do verbo,

existe uma relação default de causalidade entre as sub-eventualidades que eles denotam. No caso

abaixo, o sub-evento e1, associado ao V1, implica ou causa o sub-evento e2, associado ao V2: e1 →

e2.

(111 V1P3

 NP  V’1

  3  V1 V2P  engarrafar  3    NP V’2

  3  V2 PP

t3  3

P NPt2 t1

Ao contrário de Larson e da visão tradicional da teoria GB, na abordagem de Hale e Keyser 

os papéis temáticos não estão codificados nas entradas lexicais em grades temáticas, mas são

epifenômenos, resultado das configurações em que ocorrem os argumentos na estrutura l-sintática

(com sub-eventos representados) do verbo. Com essa visão, hipóteses descritivas como a UTAH e

as hierarquias de papéis temáticos parecem ficar obsoletas.

As vantagens parecem muitas. Entretanto, Hale e Keyser mantêm uma sintaxe

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 12/39

lexical, separada da sintaxe “sentencial”, mas com propriedades muitíssimo semelhantes às dessa

última; e a pergunta que se coloca é: se os itens lexicais têm propriedades sintáticas, por que não

assumir que essas propriedades estão, de fato, na sintaxe, e não numa estranha sintaxe lexical,

dentro do léxico? A questão cria (os próprios autores o admitem em dado momento) um irresistível

desejo de colocar as duas sintaxes num só componente da gramática. Contudo, esse passo (natural,diga-se) não é dado por Hale e Keyser, mas é dado pela Morfologia Distribuída, da qual alguns

tratamentos para o problema da estrutura argumental dos verbos serão apresentados em outra seção.

As propostas de Hale e Keyser e as da Morfologia Distribuída encabeçaram, nos

anos noventa e posteriormente, as discussões sobre estrutura argumental dentro de uma perspectiva

sintática4. A década seguinte viu o advento de outras abordagens sintáticas para o mesmo conjunto

de problemas. Comentaremos, aqui, duas delas, que dão contribuição importante ao nosso trabalho.

 Nessas abordagens, ao contrário do que se vê em Hale e Keyser e nos primeiros tratamentos dentrodo arcabouço teórico da Morfologia Distribuída, os argumentos passaram a estar associados a

 papéis aspectuais, não mais temáticos (TENNY, 1992).

3.2.2 Ramchand e a sintaxe de primeira fase.

 Nessa proposta (RAMCHAND, 2008), os eventos são decompostos em até três

  primitivos aspectuais na sintaxe: iniciação, processo e resultado. Cada um desses primitivos é

sintaticamente representado por um núcleo que projeta uma posição de especificador para seus

argumentos. Mais baixo na estrutura, o núcleo R introduz o componente aspectual resultante (um

estado); o DP em seu especificador atinge tal estado (resultante) como consequência do processo

denotado pelo núcleo imediatamente mais alto, o V processo. O núcleo mais alto, o v em , terá em seu

especificador um sintagma nominal interpretado como iniciador (agente, causa etc.); este núcleo

também introduz um estado, o sub-evento causador do processo denotado pelo V imediatamente

abaixo deste núcleo. Nas propostas de Ramchand, não há diferenças entre os dois estados na

estrutura, a não ser suas posições em relação ao núcleo do evento, o V de processo. O que faz um

ser causador e o outro ser resultado são justamente tais posições relativas. O esquema a seguir 

ilustra a proposta, para o caso mais geral.

4O que não quer dizer que não houve, durante a década, tratamentos lexicalistas da estrutura de argumento com um viésconstrucionista, algo bastante distinto da visão tradicional da teoria GB. Para mencionar um exemplo mais conhecido,os trabalhos de Levin e Rappaport decompunham os predicados em sub-predicados (com a semântica dos operadoresACT, CAUSE, BECOME, etc.), à maneira de Dowty (Cf. DOWTY, 1979), que tomavam como argumentos os

argumentos dos verbos. Essa decomposição, entretanto, não era sintática; estava codificada, por meio de templatos deestrutura de evento, numa espécie de interface entre a sintaxe e o léxico. Assim, os argumentos eram projetados nasintaxe por meio de regras de link que estabeleciam suas funções na sentença de acordo com as predicações associadasa eles dentro da estrutura de evento. Não trataremos destas propostas aqui.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 13/39

(111 vP3

  DP v’  3

  v VPInit 3  DP V’

3  V RP

Proc 3  DP  R’

  3  R    XP

Result

Em , o estado introduzido por v causa ou implica o processo associado a V, e o processo V

causa ou implica o estado resultante R. Ou seja, s1 → e2 e e2 → s3. A estrutura, segundo autora,

assemelha-se com a estrutura da sílaba, com um núcleo (o processo), um ataque (o estado iniciador)

e uma coda (um resultado, R).

Importante salientar que nem todos os verbos têm os três componentes aspectuais. Por 

exemplo, verbos transitivos que denotam estados, onde o sujeito é o portador do estado (como amar 

ou ver ), teriam somente a parte mais alta da estrutura, o vP. Os DPs complementos de v seriam parte

da descrição do estado. Eventos sem um estado resultante teriam somente os dois componentesmais altos. É o caso de verbos como correr ou comer , por exemplo. Os complementos (como a

maratona ou a maçã ) destes verbos são irmãos de V, e funcionam como medidas para os eventos

introduzidos pelos V's. Em ambos os casos, de verbos de estado e de verbos de processo iniciado, o

complemento é chamado pela autora de rema. Verbos com os três componentes podem ser 

exemplificados pelas versões transitivas de verbos de alternância causativo-incoativa, como

quebrar .

 Na proposta de Ramchand não existe um equivalente do Critério Teta de (CHOMSKY,1981). Assim, um mesmo argumento pode ocupar duas posições de especificador dentro da

estrutura. Por exemplo, na sentença o João corre todos os dias, o DP o João ocupa tanto a posição

de especificador do processo, sendo interpretado, ali, como um UNDERGOER (um papel

aspectual), como a posição de especificador do estado iniciador, sendo interpretado como

INICIADOR (outro papel aspectual). Ou seja, o sujeito da sentença é tanto um iniciador do

 processo, quanto alguém submetido a ele. O mesmo vale para a sentença João comeu a maçã , em

que João é tanto UNDERGOER, quanto INICIADOR, enquanto a maçã é um rema, complemento

do V, e medida para o processo denotado por ele. Em sentenças com o verbo quebrar , como, por 

exemplo, o João quebrou o vaso, o DP o vaso é tanto  RESULTEE  (ocupa o especificador de RP)

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 14/39

como UNDERGOER, enquanto o DP o João ocupa o especificador do componente vP, interpretado

como INICIADOR.

Ramchand assume uma posição projecionista em sua teoria, ou seja, nas entradas lexicais

estão especificados os componentes da estrutura de primeira fase que vimos em . A entrada lexical

do verbo ver , por exemplo, traz como único componente a projeção v, enquanto a entrada lexical decomer  traz dois componentes: v e V. Ramchand critica abordagens como as de Marantz e Borer 

(2005), nas quais as raízes não trazem informação gramatical (papéis temáticos/aspectuais para

atribuir, categoria sintática, etc.), afirmando que, se não trazem informação gramatical, não são

objetos gramaticais; por esse motivo, segundo a autora, seria difícil explicar que entidades não

gramaticais ocorram em estruturas gramaticais?

A visão projecionista de Ramchand, entretanto, não escapa aos problemas, já apontados

anteriormente, das abordagens projecionistas (e lexicalistas), em geral. Veja-se, por exemplo, o casode alguns verbos semelfactivos, que podem, em certas situações, denotar eventos com um estado

atingido. Em  João pula corda, não há estado atingido, e, portanto, o verbo  pular não deve trazer 

uma projeção R em sua entrada; mas em João pulou na piscina há um estado atingido ou resultante,

que é “João na piscina” e, portanto, há um R na sintaxe de primeira fase do verbo. Como “solução”

 para o dilema, Ramchand apenas afirma que  pular , como muitos outros semelfactivos, é um verbo

ambíguo, mas não explica muito bem o que quer dizer com isso. Provavelmente, o que ela quer 

dizer é que há duas entradas homófonas, listadas no léxico, para este verbo – entradas bastante

 próximas no seu significado, mas com especificações gramaticais/distribucionais distintas. Ou seja,

deparamo-nos, novamente com o problema crônico da proliferação de entradas lexicais para um

mesmo item do vocabulário.

3.2.3 Borer e a estrutura exo-esquelética

A premissa deste trabalho (BORER, 2005, v. 2) é a seguinte: as estruturas

argumentais são licenciadas por estruturas funcionais sintáticas e, particularmente, por estruturas

funcionais interpretadas como estruturas de eventos: não são licenciadas ou projetadas pelos itens

lexicais. Verbos são livres para ocorrer em uma gama variada de construções e, portanto, de

significados, restringidos somente pela compatibilidade do significado central (mínimo, core) do

verbo com a semântica da construção. Na proposta, como em Ramchand, os papéis temáticos são

substituídos por papéis aspectuais (TENNY, 1992) e o tratamento semântico da relação entre

“argumentos” e seus papéis aspectuais é neo-davidsoniano (PARSONS, 1990).

Os esquemas a seguir exemplificam as estruturas de evento de três tipos de verbos:

inacusativos, inergativos e transitivos. Os verbos télicos trazem um núcleo aspectual anexado entre

o núcleo sintático T, com traços de tempo, e o VP, que define um domínio lexical na sintaxe – tem

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 15/39

como núcleo um item lexical. Itens lexicais, nessa abordagem, como já mencionamos

anteriormente, não trazem qualquer informação gramatical e podem ocorrer em qualquer tipo de

estrutura, desde que seu significado central seja compatível com o significado veiculado pela

construção em que se insere. O núcleo aspectual projeta uma posição de especificador, que deverá

ser ocupada por um DP quantificado. Estabelece-se uma relação de concordância entre o DPquantificado e o núcleo aspectual, o que faz com que o evento seja interpretado como télico (com

 ponto final intrínseco).

(111 a. EP (Inacusativo)qp

the flower  NOM qp<e>E  Tmax

3

  the flower  NOM 3T   AspQ

max

  qp  the flower 2 qp

  <e2># VP  s-d-q wilt 

 b. EP (Inergativo)qp

the man NOMqp

Originador  <e>E  Tmax

3  the man NOM 3

T   VPrun

c. EP (Transitivo)qp

Mary NOM qp

<e>E  Tmax

Originador  3  Mary NOM 3

T   AspQmax

  qp  the book 2 qp

  <e2># VP  s-d-q   read 

Para Borer, atelicidade quer dizer ausência de estrutura. Então, eventualidades sem ponto

final inerente estão associadas a estruturas em que não há um núcleo aspectual mais encaixado, que

relacione complementos quantificados aos verbos. Este tipo de estrutura pode ser vista em b.,

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 16/39

acima. Em a. e c., por outro lado, temos telicidade, criada pela presença do sintagma AspQmax e seu

sujeito quantificado, com o qual concorda.

A teoria de Borer guarda muitas semelhanças com a da Morfologia Distribuída,

  principalmente por atribuir à estrutura sintática a função de categorizar os itens lexicais. Nas

estruturas acima, os itens lexicais não projetam, mas, quando anexados a elas, modificam asestruturas sintáticas em que ocorrem. O mesmo raciocínio, com maior ou menor alcance, vale para

algumas versões da Morfologia Distribuída (ver abaixo). Há, entretanto, diferenças bastante

importantes, principalmente no que diz respeito a como lidar com a morfologia das palavras. A

Morfologia Distribuída, uma teoria do tipo Item & Arranjo, trabalha, como vimos, com as idéias de

itens de vocabulário em competição e de inserção tardia dos mesmos. Os itens de vocabulário

realizam morfemas – feixes de traços morfossintáticos – que são os nós terminais de uma estrutura

sintática. Para essa teoria, pois, o espelhamento que a morfologia faz da estrutura sintática é algonatural, uma vez que, no caso default , estrutura sintática é estrutura morfológica. Na teoria de

Borer, por outro lado, itens lexicais absorvem, por meio de movimento de núcleo, traços

morfossintáticos da estrutura sintática em que ocorrem e, depois, regras morfo-fonológicas se

aplicam sobre o feixe, criado por movimento, definindo sua forma final. A teoria, portanto, se alinha

com a visão de Anderson (Cf. ANDERSON, 1992), uma teoria do tipo Palavra & Paradigma, em

que regras tomam matrizes de traços morfossintáticos não organizados e os convertem, por meio de

regras, nas formas fonológicas finais das palavras. Esse tipo de abordagem tem a desvantagem de

tratar como acidental o fato de a estrutura morfológica quase sempre espelhar a sintaxe nas línguas

do mundo (Cf. BAKER, 1985). Aqui, o acidental define a regra, enquanto o mais comum fica sem

uma explicação satisfatória.

Por essa razão, a proposta de Borer não será “comprada” no todo. Ainda que aproveitemos

algumas de suas idéias.

3.3 Estrutura argumental em Morfologia Distribuída

  Nas primeiras versões da teoria da Morfologia Distribuída, as raízes dos verbos são

licenciadas em determinados contextos sintáticos, envolvendo determinados tipos de argumentos e

núcleos funcionais com atribuições específicas. Um exemplo de tratamento da estrutura argumental

nesses termos é feito por Marantz (Cf. MARANTZ, 1997), onde o autor propõe que raízes sejam

acategoriais, sendo sua categoria estabelecida pelo contexto funcional/sintático em que ela está

inserida5. Marantz também propõe que existam pelo menos dois núcleos funcionais verbalizadores,

5Seguindo, nas palavras do autor, a visão original de (CHOMSKY, 1970). Trata-se, na verdade, de uma leitura queMarantz faz do também clássico artigo  Remarks on Nominalizations, que teria lançado a hipótese lexicalista (a sintaxenão tem acesso à estrutura interna das palavras) dentro da teoria linguística posterior. Marantz afirma que a hipóteselexicalista nasce de uma leitura equivocada do artigo, que, ao contrário, para ele, defende que é a sintaxe que, entre

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 17/39

um transitivo e um incoativo/inacusativo. O primeiro abre uma posição de especificador para o

argumento causador; o segundo não cria esta posição. A raiz do verbo destroy, por exemplo, teria,

na proposta, uma semântica mínima que a licenciaria em um contexto funcional que introduz

argumento externo agente, mas não num contexto funcional que não projeta tal posição. Ou seja, a

semântica da raiz a licenciaria no ambiente do primeiro dos verbalizadores mencionados acima.Para Marantz, seguindo algumas idéias propostas por Levin e Rappaport (LEVIN; RAPPAPORT,

1995), o que licencia a raiz nesse contexto é o fato de que ela denota uma mudança de estado

externamente causada. Por ser externamente causada, é compatível com uma estrutura transitiva,

em que o complemento sofre uma mudança de estado causada por outra entidade ou evento,

expresso pelo sujeito:

(111

vP  3 DP  v’

The army  3  v √DESTROY

3 √DESTROY- the city

Como a raiz é acategorial, pode ocorrer em outro contexto sintático, como o nominal. No

exemplo abaixo, o genitivo expressa a relação temática esperada (de agente ou causador externo),

tendo em vista a semântica associada à raiz.

(111 DP (the army’s destruction of the city)2

  The army D’  3  D √DESTROY  ’s 3

  √DESTROY- the city

Já uma raiz como a do verbo  grow, por denotar uma mudança de estado internamente

causada, pode ocorrer no contexto inacusativo/incoativo em , abaixo, no contexto

transitivo/causativo, semelhante a , assumindo uma interpretação em que alguém cria as condições

 para que a mudança de estado interna se dê (uma espécie de causação secundária), mas não em

contextos como , como se vê pela impossibilidade de  a seguir.

(111 vP

  3  v √GROW

outras coisas, define a categoria gramatical dos itens lexicais.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 18/39

3  √GROW- tomatoes

(111 *DP (* John’s growth of tomatoes)2

  John D’

  3  D √GROW  ’s 3

  √GROW- tomatoes

A razão para não haver a nominalização John’s growth of tomatoes (e a estrutura acima) é a

seguinte: grow só pode ser interpretado como externamente causado no contexto – sintático – do

verbalizador transitivo. Em , não existe esse contexto, e a construção é bloqueada por uma

incompatibilidade semântica entre a raiz e tal estrutura.

 Note-se que em nominalizações com  –ing , o verbo  grow pode ocorrer com o genitivo

interpretado como agente. A expressão  John’s growing of tomatoes é gramatical em inglês. Como

explicar isto? Simples: as nominalizações com a terminação  –ing são deverbais, como no esquema

abaixo, enquanto aquelas com –ion ou –th são nominalizações de raiz.

(111 DP ( John’s growing of tomatoes)2

  John D’  3  D vP

’s 3t v’

  3v √GROW

  3  √GROW- tomatoes

Observa-se que uma abordagem lexicalista, que assume haver duas entradas no léxico

listadas para as duas versões, transitiva e intransitiva, do verbo  grow, precisa explicar por que a

nominalização com a terminação  –th só pode se formar a partir de sua versão intransitiva. A

abordagem sintática de Marantz não sofre do mesmo mal.

A Morfologia Distribuída tem, nos últimos anos, voltado ainda mais suas atenções para os

 problemas relacionados à estrutura argumental/de eventos associada aos verbos. Na sequência,

discutiremos rapidamente algumas dessas visões para, na seção seguinte, apresentarmos nossas

 propostas.

3.3.1 A proposta de Harley

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 19/39

Desde meados dos anos noventa (por exemplo, HARLEY, 1995), Harley tem apresentado

 propostas que expandem, em alguns aspectos, as idéias de Marantz apresentadas acima. Para a

autora, o inventário de núcleos verbalizadores disponibilizado pelas línguas envolve não só as

variantes v1 e v2 propostas por Marantz; os verbalizadores de fato trazem a semântica de operadores

aspectuais como BE, DO, CAUSE, BECOME etc. (têm vários “sabores”), e estabelecem  framessintáticos onde as raízes podem ser inseridas (onde são licenciadas).

Além disso, Harley propõe que as raízes têm propriedades selecionais – ou seja, podem

selecionar argumentos internos, como uma propriedade idiossincrática6. Raízes associadas a verbos

de alternância causativo-incoativa necessariamente selecionam complementos; raízes associadas a

atividades, podem ou não fazê-lo. A seguir, apresentamos alguns exemplos. Raízes de verbos de

alternância são licenciadas tanto nos  frames que envolvem operadores CAUSE, como nos que

envolvem operadores BECOME; já raízes de verbos de atividade são tipicamente licenciadas nos frames que envolvem o verbalizador/operador DO.

(111 vP  3

 DP  v’  3  vDO √P

3  √empurr- o carrinho

(111 a. VP b. vP  3 3

 DP v’ vBECOME √P  3 3  vCAUSE √P a porta √abr-

3a porta √abr-

Apesar dos ganhos que o conjunto de propostas de Harley traz à discussão, evitaremosalgumas de suas afirmações, como a de que raízes têm propriedades idiossincráticas de seleção de

argumento interno. Essa afirmação cria problemas quando a raiz ocorre em outros contextos em que

complementos são bloqueados. Por exemplo, quando uma suposta nominalização de verbo toma

como referente uma entidade no mundo. Veja-se o caso da raiz drop do inglês: no contexto nominal,

como bem aponta Borer (BORER, 2005), a raiz denota uma entidade no mundo, não um verbo

6Ver (LEVIN, 1999) para uma proposta semelhante. De fato, Harley trabalha com uma versão dos templatos de estrutura

de evento que fazem, na teoria de Levin e Rappaport (LEVIN; RAPPAPORT, 1995), a interface do léxico com asintaxe. Entretanto, como em Harley são vezinhos (entidades sintáticas) que introduzem a estrutura de evento e abrem

 posições para argumentos, não há a necessidade de regras de link que estabeleçam as posições que os argumentos dostemplatos ocuparão na sentença.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 20/39

transitivo ou incoativo. Não há, pois, complemento para o nome drop. Quando no contexto verbal, a

raiz está associada a um verbo de alternância causativo-incoativa, o que, segundo a autora, deveria

significar que a raiz seleciona um argumento interno. Como lidar com esse problema?

3.3.2 A proposta de Pylkkänen Liina Pylkkänen (PYLKKÄNEN, 2002) trabalha com vários núcleos funcionais que

introduzem argumentos “externos” na estrutura. O núcleo de Voz, por exemplo (KRATZER, 1996),

e os núcleos aplicativos. Uma vez que são núcleos sintáticos que introduzem argumentos, a autora

aposta em uma abordagem neo-davidsoniana: os morfemas estabelecem uma relação temática, não

explicitada na entrada lexical do verbo, entre os argumentos anexados ao vP e a semântica do

sintagma verbal.

A hierarquia dos núcleos que compõem o vP se propõe a ser universal, e é explicada não por estipulação externa, mas pelos tipos semânticos dos núcleos que compõem sua estrutura. Por 

exemplo, o núcleo de Voz, pelo seu tipo semântico <e,<s,t>> (função que associa, atribuindo-lhe

um papel temático, uma entidade, e, a uma função que associa um evento,  s, a um valor-verdade, t )

 precisa combinar-se, fazendo identificação de evento, com uma função do tipo <s,t> (que associa

um evento,  s, a um valor-verdade, t ). A função <s,t> é a função estabelecida pelo vP mais

encaixado, e, por isso, necessariamente, na hierarquia, o núcleo Voz tem que ser mais alto que o

núcleo v, por exemplo. Outros núcleos, como os aplicativos altos, que também associam uma

entidade a um evento, também terão que ser de um tipo semântico compatível com o do vP, para

que o cálculo seja possível. O esquema abaixo ilustra um caso simples ( João leu o livro):

(111 Voz-P<s,t> = λe.[ler(e) & AG(o-João,e) & TH(o-livro,e)]  qp

  o João Voz'<e,<s,t>> = λx.λe.[ler(e) & AG(x,e) & TH(o-livro,e)]  epVoz<e,<s,t>> vP<s,t> = λe.[ler(e) & TH(o-livro,e)]

λx.λe.[P(e) & AG(x,e)] 3ler <e,<s,t>> o livro<e>

λx.λe.[ler(e) & TH(x,e)]

Aqui, o verbo ler , de tipo <e,<s,t>>, combina-se com o complemento o livro, de tipo <e>, o

qual satura a variável x da função introduzida pelo verbo (atribui um valor a ela). O verbo ler tem,

em sua especificação semântica, uma função de papel temático (TH ou tema), que relaciona uma

entidade com um evento, estabelecendo o tipo de participação que aquela entidade tem no evento

em questão. O núcleo de Voz se anexa acima do vP, identificando seu evento com o do vP e

introduzindo uma nova variável que precisa ser saturada por uma entidade (um sintagma

determinante de tipo semântico <e>).

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 21/39

Os verbos causativos (entre outros, os de alternância causativo-incoativa), Pylkkänen os

trata com um núcleo causativo que relaciona eventos. A análise, portanto, é bi-eventiva (ver, entre

outros, PARSONS, 1990), envolvendo um evento causador e um evento incoativo. O exemplo a

seguir ilustra a idéia ( João quebrou o vaso):

(111 Voz-P<s,t>= λe.(e')[quebrar(e') & AG(o-João,e) & TH(e',o-vaso) & CAUSE(e,e')] qp

  o João Voz'<e,<s,t>>= λx.λe.(e')[quebrar(e') & AG(x,e) & TH(e',o-vaso) & CAUSE(e,e')]ep

  Voz<e,<s,t>> CAUSE-P<s,t>= λe.(e')[quebrar(e') & TH(e',o-vaso) & CAUSE(e,e')]λx.λe.[P(e) & AG(x,e)] 3

CAUSE vP = λe.[quebrar(e) & TH(o-vaso,e)]λf <s,t>.λe.(e')[f(e') & CAUSE(e,e')] 3

  quebrar <e,<s,t>> o vaso<e>

λx.λe.[quebrar(e) & TH(x,e)]

 Na proposta de Pylkkänen, a estrutura mais geral possível para o sintagma verbal é a

seguinte:

(111  (PASS)

Voz

APPL

(CAUS)

v Raiz-P

 Nem todas as línguas têm aplicativos altos, nem todas têm aplicativos baixos, mas as

que têm um ou outro (ou os dois), os terão nessas posições, por razões que já discutimos. Se uma

língua terá aplicativo baixo, alto, ou os dois dependerá das seleções que fará no inventário de traços

morfossintáticos disponibilizados pela GU.

Como vimos, no trabalho de Pylkkänen, os argumentos neo-davidsonianos são

temáticos, como em Parsons (PARSONS, 1990), não aspectuais, como é o caso de Borer (BORER,

2005), discutido algumas seções acima. Pylkkänen trata essa questão de maneira não-controversa,

optando pelos papéis temáticos, como se fossem a única opção disponível. Pelas razões já

discutidas, evitaremos este tipo de tratamento, o que não significa descartar os elementos

fundamentais da proposta da autora.

3.3.3 As propostas de Cuervo e Lin

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 22/39

 Nas abordagens bastante próximas de Cuervo e de Lin (Cf. CUERVO, 2003; LIN,

2004), temos três núcleos verbalizadores, com “sabores” distintos. Esses núcleos podem ser 

combinados em certos arranjos sintáticos que se propõem a dar conta das estruturas de evento dos

verbos das línguas. Eventos causativos, por exemplo, envolverão os três núcleos verbalizadores

(LIN, 2004), conforme o esquema abaixo. Um introduz um estado atingido pelo argumento interno,outro introduz um evento incoativo pelo qual o argumento interno passa, e outro introduz um evento

causador, que pede por agente.

(111 Voz-P  2 

o João Voz' ( João quebrou o vaso)2

Voz vDOP

  3  vDO vδP

3o vaso v’

  3vδ vBEP

  3  vBE  √quebr-

 Na estrutura acima, os vezinhos introduzem eventualidades na estrutura do sintagma verbal.

O verbalizador (DO) introduz uma eventualidade (uma atividade) que estabelece uma relação de

causação com a eventualidade incoativa introduzida pelo vδ. O verbalizador mais baixo introduz um

estado atingido pela eventualidade incoativa. A proposta preserva a idéia, que surge em Hale &

Keyser (HALE; KEYSER, 2002), de que, havendo mais de um V na estrutura verbal, a relação

semântica default entre eles é de causação ou implicação. A versão incoativa do verbo não envolve

o verbalizador DO nem o núcleo de Voz, que o transitiviza.

 Na ontologia proposta por Lin, há dois tipos de raízes: as que são estativas e as que são

dinâmicas. As primeiras ocorrem em contextos como o apresentado acima; as últimas, em contextos

como o que se tem abaixo, em que não há causação envolvida:

(111 Voz-P ( João leu o livro)2

João Voz’  3

  Voz  vDOP3o livro v’

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 23/39

  3vDO √le-

Além disso, em Lin, os verbalizadores são especificados por traços como [±DIN] (dinâmico)

e [±INC] (incoativo). O verbalizador incoativo (vδ)  é de tipo [+DIN, +INC]; o estativo (vBE) é [-

DIN]; o verbalizador que introduz atividade, o vDO, é de tipo [+DIN, -INC]. No caso do último,

quando combinado com uma raiz, essa funciona como um modificador adverbial de modo,

definindo, assim, o tipo de atividade de que se fala.

A proposta de Lin para as raízes acrescenta coisas interessantes à discussão até o momento

desenvolvida, mas nos parece insuficiente por várias razões. Em particular, não consegue lidar 

satisfatoriamente com os casos de alternância causativo-incoativa em que a eventualidade incoativa

causada não tem estado atingido. Não é possível encaixarmos as raízes dos verbos  girar ou rodar ,

 por exemplo, em uma estrutura como acima, ainda que esta seja a estrutura proposta por Lin paraos verbos de alternância. E não é possível por uma razão muito simples: as raízes compatíveis com

o verbalizador BE têm de ser, na ontologia, as raízes com traço [-DIN] – e esse certamente não é o

caso das raízes mencionadas.

3.3.4 As propostas de Marantz 

Marantz (MARANTZ, 2007) propõe algumas mudanças no quadro acima. Para ele,

não há necessidade, em princípio, de um verbalizador incoativo, como os propostos por Lin eHarley (o verbalizador BECOME). Em sua proposta, os argumentos internos, quando há mudança

de estado implicada, sofrem um type-shifting  e se tornam eventualidades incoativas. Marantz

também se utiliza de uma versão da proposta de Hale & Keyser, assumindo que, havendo duas

eventualidades na estrutura (não necessariamente dois Vs), a leitura semântica associada é a de

causação, com uma eventualidade causando a outra. Observemos algumas das estruturas propostas

 por Marantz:

(111 vP Atividade – mono-eventiva2

√danç- vact

 Na estrutura em , o argumento externo do verbo é introduzido por um núcleo funcional, o

núcleo Voz, como em Pylkkänen e Kratzer (ver acima). Como em Lin, a raiz funciona como um

modificador adverbial para o verbalizador, um introdutor de eventos na estrutura dos sintagmas

verbais. Uma paráfrase para o significado do vP seria “agir dançantemente”.

Em alguns casos, a estrutura acima aceita um “complemento” – que, de fato, é anexado ao

vP como um adjunto, pois as estruturas em que uma raiz se anexa (e modifica) diretamente a um

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 24/39

verbalizador não “selecionam” complementos. O “complemento” de alguns destes verbos é

interpretado como uma eventualidade incoativa. Vejamos o exemplo abaixo:

(111 vP Atividade – bi-eventiva  3

  vP DP2 |

√pint- vact o muro

Aqui, o complemento, tema incremental, sofre o referido type-shifting e é interpretado como

um evento de mudança de estado, temporalmente homomórfico à eventualidade denotada pelo vP (v

mais a raiz). Por termos duas eventualidades na estrutura, a interpretação default é de que o evento

denotado pelo “verbo” causa o evento de mudança de estado denotado pelo DP neste contexto. O

argumento externo é, como no caso de dançar, em , introduzido no sintagma verbal por um núcleofuncional, o núcleo Voz.

Para Marantz, nem sempre as raízes são modificadoras de verbalizadores. Como alguns DPs,

no contexto adequado, podem denotar eventos incoativos, então é possível que pelo menos algumas

raízes funcionem como modificadoras adverbiais das eventualidades incoativas denotadas por eles.

É o caso dos verbos de alternância causativo-incoativa. Neles, como nos casos anteriores, temos

causação, uma vez que o verbalizador introduz um evento dinâmico (uma atividade) e o

complemento introduz uma mudança de estado. A diferença desse caso para o anterior está em ondea raiz se anexa. Enquanto em a raiz funciona como modificador adverbial (de modo) do

verbalizador (que introduz o evento), em , a raiz se anexa ao DP, modificando o evento causado.

(111  Voz-P  3  o João  Voz'2  

Voz vP  3

  vact  √P2

  DP √abr-a porta

A alternância é explicada pela possibilidade de não se anexar ao vP um núcleo de Voz

introdutor de argumento externo. A exigência de um argumento externo – ou da anexação de um

núcleo de Voz à estrutura – ocorre somente nos casos em que a raiz denota um modo de atividade e

se anexa diretamente ao verbalizador, como em e acima. Como, aqui, a raiz se anexa ao

complemento, e a eventualidade que ela modifica é a causada, o núcleo de Voz é opcionalmente

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 25/39

inserido – não obrigatoriamente.

As estruturas que Marantz apresenta para os verbos com dois argumentos envolvem uma

  pequena oração (SC) ou sintagma preposicional bi-relacional (PP), anexados a um vP mono-

eventivo, como os de e . Para um verbo como  pôr , por exemplo, Marantz propõe a seguinte

estrutura.

(111 vP ( pôr o jarro na mesa)3

2 PP√po- vact  2

  DP 2| P DP

O jarro em a mesa

Em , o sintagma preposicional é interpretado como um evento dinâmico de deslocamento

(jarro para a mesa) causado pelo evento denotado pela combinação do verbalizador com a raiz. Há,

 portanto, duas eventualidades, e, assim, como nos casos anteriores, uma relação de causação entre

elas. Aqui, como a raiz modifica o verbalizador, introduzindo um modo de agir, exige-se a anexação

de núcleo de Voz, mais alto, introdutor de argumento externo.

As propostas de Marantz envolvem operações de type-shifting  cujas motivações

apresentadas em seus artigos ainda são frágeis, e certamente não generalizáveis a todos os casos que

 pretendemos estudar aqui.

As propostas apresentadas nas seções anteriores contribuirão para o que virá a seguir. Como

se verá, os pressupostos que assumiremos levam em conta os vários achados que as diferentes

maneiras de pensar sobre o problema da estrutura argumental nos oferecem.

11 Uma nova proposta para estrutura de eventos

4.1 Os Pressupostos

 Nesta nova proposta que começaremos a descrever a seguir, vamos assumir o seguinte

conjunto de pressupostos:

A. Os papéis dos argumentos dos verbos são aspectuais (ver, entre outros, RAMCHAND, 2008;

BORER, 2005; ARAD, 1996; TENNY, 1992) e os argumentos são neo-davidsonianos (PARSONS,

1990);

B. A estrutura não é projetada dos itens lexicais – os itens lexicais (raízes acategoriais) é que

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 26/39

são licenciados em determinadas estruturas de evento e negociam seu significado com elas

(HARLEY; NOYER, 1998; MARANTZ, 2001, 2007; BORER, 2005; GOLDBERG, 1995);

C. Como consequência de B., os papéis dos argumentos são definidos por suas posições em

relação aos núcleos funcionais ou à raiz dentro da estrutura sintática do vP (Cf. HALE; KEYSER,1993 e MARANTZ, 1997);

D. Os verbalizadores (Cf. MARANTZ, 1997) têm, pelo menos, três “sabores” (HARLEY,

1995): estados (BE), processos incoativos (GO) e atividades ou eventos (ver RAMCHAND, 2008;

CUERVO, 2003; LIN, 2004);

E. As derivações se dão por fases, conforme propostas de (MARANTZ, 2001).

Uma vez que assumimos que as raízes são licenciadas em estruturas sintáticas – que não as

 projetam – é preciso explicar a distribuição das mesmas nos diversos contextos sintáticos em que

ocorrem. Preliminarmente, proporemos que a presença/ausência de duas propriedades combinadas

tem como efeito a ocorrência ou não de determinada raiz em determinado contexto.

Representaremos isso por meio de uma matriz com os traços [±DIN, ±CAUS]. A propriedade DIN

dirá que uma raiz associa-se tipicamente a uma eventualidade dinâmica (não-estativa); a

 propriedade CAUS dirá que a raiz associa-se tipicamente a uma eventualidade causada dentro de

uma estrutura de evento. Uma raiz com esta propriedade também poderá, na nossa proposta,

 predicar, ou seja, ocorrerá numa estrutura em que está combinada diretamente a um DP, e será

interpretada como uma predicação para este DP. O sintagma resultante do merge da raiz com o DP é

verbalizado por um vezinho. O vezinho que se acrescenta a tal estrutura introduz uma eventualidade

que será interpretada como causadora da eventualidade mais encaixada (MARANTZ, 2006),

representada pelo sintagma raiz. As raízes sem a propriedade CAUS (raízes [–CAUS]) se

combinarão diretamente ao vezinho, funcionando como modificadores adverbiais (de modo) para

eventualidades dinâmicas ou como nomeadores de estados (quando uma raiz não dinâmica

combina-se com um vezinho estativo e cria um verbo transitivo que denota um estado).

 Nas seções abaixo, apresentamos como as idéias acima podem ser aplicadas a um conjunto

de verbos. São estudados os típicos casos de alternância causativo-incoativa, verbos de atividade

(com ou sem complemento), e alguns verbos de alternância inergativo-inacusativa.

4.1.1 Verbos de alternância causativo-incoativa:

Listamos em , a seguir, alguns exemplos de verbos que sofrem a alternância causativo

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 27/39

incoativa:

(222   ferver, abrir, rasgar, afundar, fechar, quebrar, crescer, girar, rodar, rolar,

(escorregar), (correr), (chegar), etc.

Tomando as estruturas propostas por (MARANTZ, 2007), assumiremos que verbos de

alternância causativo-incoativo têm uma estrutura causativa na qual um vezinho introduz uma

eventualidade causadora e o sintagma raiz introduz outra eventualidade, estativa ou dinâmica, que é

causada. A alternância se explica pela possibilidade de se introduzir um argumento originador na

estrutura por meio de um núcleo funcional, Voz (Cf. KRATZER, 1996; CHOMSKY 1995;

PYLKKÄNEN, 2002), anexado acima do vP. A anexação do núcleo cria uma posição

(especificador) para o argumento externo e dispara a operação de identificação de evento (ver KRATZER, 1996), que identifica o evento introduzido pelo v com o evento introduzido pelo

 próprio núcleo de Voz. O exemplo ilustra a estrutura sintática associada ao verbo ferver e esboça o

cálculo semântico correspondente (à maneira neo-davidsoniana de PARSONS, 1990, ainda que os

 papéis envolvidos sejam aspectuais, não temáticos), considerando os argumentos envolvidos:

(222 Voz-P = λe.[ORIG(o-guarda, e) & (s)[fervido(s) & TEMA (a-porta, s) & CAUS(e,s)]]

2DP Voz' = λx.λe.[ORIG(x, e) & (s)[aberto(s) & TEMA (a-porta, s) & CAUS(e, s)]]

  o guarda 2

Voz vP = λe.(s)[aberto(s) & TEMA (a-porta, s) & CAUS(e, s)]3

v  √P = λs.[aberto(s) & TEMA (a-porta, s)]3

DP √abr-a porta

A estrutura é bi-eventiva: o vezinho denota um evento causador, não especificado, e osintagma raiz denota uma eventualidade causada. A raiz do verbo tem, na nossa proposta, a

 propriedade [+CAUS] e combina-se diretamente com o DP em , estabelecendo, assim, uma relação

de predicação. Em alguns casos, a raiz denota um estado:  ferver, abrir, rasgar, afundar, fechar,

quebrar  etc. Tais raízes servem, tipicamente, à formação de passivas de estado alvo (ver 

KRATZER, 2001; EMBICK, 2001), e teriam a matriz de traços [–DIN, +CAUS]. Em outros casos,

a raiz denota um evento dinâmico, temporalmente homomórfico à atividade causadora: girar, rodar 

etc. A matriz associada a tais raízes é [+DIN, +CAUS].Mas o que nos leva a afirmar que temos duas eventualidades nos verbos de alternância? Em

casos como os do verbo abrir , em que o estado atingido (aberto) é claramente reversível, podemos

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 28/39

usar advérbios temporais que modificam diferentes eventualidades dentro da estrutura. Por 

exemplo, em o guarda abriu a porta em dois minutos, o advérbio modifica a atividade causadora,

que termina quando o estado “aberto” é atingido. Já em o guarda abriu a porta por alguns minutos,

temos uma situação em que porta se manteve aberta por alguns minutos (o guarda a manteve aberta

 por alguns minutos), e o advérbio estabelece uma duração para o estado (aberto) da porta. Observa-se que o cálculo semântico proposto para contém duas eventualidades representadas pelas variáveis

eventivas  s e e. O advérbio em dois minutos toma a eventualidade representada por  e, gerando a

seguinte expressão lógica (após a anexação do núcleo flexional de tempo passado, que atribui

quantificação existencial ao evento causador): (e)[ORIG(o-guarda, e) & em-dois-minutos(e) &

(s)[fervido(s) & TEMA (a-porta, s) & CAUS(e, s) & t(e) < t s]]. Por sua vez, o advérbio por alguns

minutos toma a eventualidade representada por  s, gerando a seguinte expressão lógica, após a

anexação, na estrutura, de um núcleo introdutor de tempo: (e)[ORIG(o-guarda, e) & (s)[fervido(s) & TEMA (a-porta, s) & CAUS(e, s) & por-alguns-minutos(s) & t(e) < ts]].

O mesmo raciocínio vale para frases como o João girou a bola atrás da porta. Há uma

interpretação em que a bola estava girando atrás da porta, mas o João não necessariamente

realizava, atrás da porta, a atividade causadora do giro da bola. O inverso também pode ocorrer: o

João fazia algo atrás da porta, que causava o giro da bola, mas não necessariamente a bola girava

atrás da porta. Ou seja, no primeiro caso o advérbio locativo modifica o evento causado; no

segundo, o evento causador. A ambiguidade do uso do advérbio reforça a idéia de que existem duaseventualidades na presente situação. Teríamos as seguintes expressões lógicas para as duas

interpretações: (e)[ORIG(o-João, e) & (e')[girar(e') & UNDERGOER (a-bola, e') & CAUS(e, e')

& atrás-da-porta(e') & t(e) < ts]] para a primeira leitura e (e)[ORIG(o-João, e) & atrás-da-porta(e)

& (e')[girar(e') & UNDERGOER (a-bola, e') & CAUS(e, e') & t(e) < ts]] para a segunda leitura.

Como já dissemos acima, a variável de evento que sobra em é fechada por uma

quantificação (existencial, universal, genérica etc.) introduzida por um núcleo aspectual ou temporal

mais alto. Tais núcleos também estabelecem relações entre o tempo do evento e outras entidadestemporais, como o tempo da fala, mas não nos preocuparemos com essas questões neste artigo.

4.1.2 Verbos inergativos

Para os verbos inergativos como  gritar , propomos que as raízes tenham a seguinte

especificação na matriz sugerida anteriormente: [+DIN, –CAUS]. Uma vez que não traz a

  propriedade CAUS, não predica, não é licenciada em um contexto em que está combinada

diretamente com um DP (complemento); denota, pois, um modo, e combina-se diretamente com overbalizador, funcionando como um modificador adverbial. Uma vez que a raiz denota um modo de

agir, ela deve ser licenciada sempre em contextos que contenham um núcleo Voz, que projeta uma

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 29/39

  posição de sujeito, interpretado como originador. Exemplos de verbos inergativos bastante

conhecidos na literatura (ver, entre outros, HALE; KEYSER, 2002) são: cantar, gritar, pular,

dançar, trabalhar  etc. Na estrutura abaixo, apresentamos a posição ocupada pela raiz dentro da

estrutura e o cálculo semântico correspondente. Mais uma vez, a variável de evento aberta por vP é

fechada, com uma quantificação (existencial, universal, genérica etc.), por um núcleo aspectual outemporal anexado acima de Voz-P na estrutura sintática.

(111 Voz-P = λe.[gritar(e) & ORIG(o-João, e)]  3

DP Voz' = λe.λx.[gritar(e) & ORIG(x, e)]o João 3

Voz vP = λe.[gritar(e)]  3

  v √grit-

Observemos que, na nossa abordagem, não são relevantes certas propriedades aspectuais dos

verbos, como o fato de denotarem eventos semelfactivos ou durativos, como  pular  e dançar ,

respectivamente. Essas propriedades não são relevantes para o licenciamento de determinada raiz

em determinada estrutura.

4.1.3 Verbos transitivos sem alternância

Algumas eventualidades/atividades produzem mudança de estado em entidades. Alguns

exemplos de verbos que denotam tais tipos de eventos/atividades são  pintar, varrer, etc. Não há,

com esses verbos, expressões como *o muro pintou, *a sala varreu, etc. Seguindo Marantz

(MARANTZ, 2007), proporemos, na estrutura a seguir, que o DP complemento se combina

diretamente com o nó que se compõe da raiz e do vezinho. Assumiremos que as raízes de verbos

como  pintar, varrer , etc., são dinâmicas (denotam atividades), mas não causadas – são, de fato,

eventos causadores de mudança de estado (uma outra eventualidade) em indivíduos. Ou seja, dentro

da nossa matriz de traços, trazem a seguinte especificação, que é a mesma especificação dos verbos

inergativos: [+DIN, –CAUS].

(111 Voz-P3

DP Voz'o João 3

  Voz vP  qpv DP

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 30/39

3 5  v √  pint- o muro

Isso não quer dizer que não haja um estado atingido envolvido na estrutura de evento

associada ao verbo. A questão é que o estado atingido não é denotado pela raiz do verbo. Teríamos o

seguinte cálculo semântico associado à acima:

(111 Voz-P = = λx.λe.[pintar(e) & ORIG(o-João, e) & (s)[TEMA (o-muro, s) & CAUS(e,s)]] 

3DP Voz' = λx.λe.[pintar(e) & ORIG(x, e) & (s)[TEMA (o-muro, s) & CAUS(e, s)]]

o João 3

  Voz vP = λe.[pintar(e) & (s)[TEMA (o-muro, s) & CAUS(e, s)]]  qp

v DP3 5  v √  pint- o muro

Em , o estado atingido não está especificado, mas tem que ser um estado compatível com a

atividade de  pintar , algo como “com determinada cor” ou “colorido”, por exemplo. É importante

salientar que não estamos assumindo que na semântica da raiz encontramos todos os componentes

(evento e estado) da expressão acima. Dentro de uma proposta de derivação por fases como a que

encontramos em (MARANTZ, 2001; ARAD, 2003; MARVIN, 2002), a semântica das raízes énegociada no ambiente sintático criado pelo primeiro categorizador – no caso em questão, o

vezinho; o que quer dizer que os elementos envolvidos neste ambiente, como o DP complemento

interno ao vP, influenciam no significado alcançado pelo vP – ou, melhor, especificam o significado

da raiz. Assumimos, pois, que a presença do DP dentro do vP faz com que o significado da raiz

 passe a incluir um estado atingido, do qual a entidade denotada pelo DP é tema.

Podemos observar que, ao assumirmos que a interpretação do vP é bi-eventiva, explicamos o

fato de haver advérbios modificando uma ou outra das eventualidades que compõem a estrutura de

evento do vP. Por exemplo, em  João pintou muito bem o muro, o advérbio pode modificar tanto a

atividade como o estado atingido (o resultado ficou bom); em  João pintou o muro com pinceladas

largas, o advérbio modifica somente a atividade.

A influência do DP no significado da raiz do verbo é mais visível no caso da sentença  João

 pintou um quadro, onde o DP complemento denota, ambiguamente, um estado atingido de alguma

coisa (tela, tintas, etc.) e uma entidade (o quadro criado). Nesse caso, o verbo não é somente um

verbo de tema incremental, como era em  pintar o muro, mas é também um verbo de criação e isso

tem certas consequências. Por exemplo, em   João pintou um quadro bonito, o adjetivo bonito

modifica tanto um estado final de um evento/atividade como uma entidade; já a sentença  João

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 31/39

 pintou um muro bonito não aceita uma leitura em que um determinado muro ficou bonito como

efeito da pintura7. Observemos, ainda, que em construções com verbo leve dar o nominal derivado

 pintada só é aceitável se o objeto pintado pré-existir. Logo, temos que  João deu uma pintada no

muro é boa, mas * João deu uma pintada num quadro, não.

Parece claro, pois, que a presença/ausência de um complemento, e o tipo de complementoque ocorre no vP, têm efeito na interpretação do verbo. Nas situações em que o verbo  pintar é usado

intransitivamente (como em  João pinta muito bem), o vP será mono-eventivo, com uma estrutura

como a de gritar acima, a locução adverbial muito bem modificando não-ambiguamente a atividade.

 Neste caso, por não haver um DP complemento, o significado da raiz não inclui um estado atingido,

limitando-se a especificar determinado tipo de atividade.

Alguns verbos distinguem-se de verbos como  pintar ou varrer acima por suas propriedades

aspectuais. Por exemplo, enquanto o verbo  pintar com um complemento quantificado denota umevento télico, verbos como empurrar  com complementos também quantificados denotam eventos

atélicos: veja-se que a sentença * João empurrou o carrinho em dois minutos, com a interpretação

relevante, não é aceitável, enquanto  João empurrou o carrinho por dois minutos é uma sentença

 boa. Proporemos que a questão pode ser explicada do seguinte modo: em alguns verbos, o sub-

evento causado é um estado atingido, que estabelece um ponto final para a atividade associada ao

verbo; em outros, o sub-evento causado é dinâmico, temporalmente homomórfico à atividade

causadora, sem ponto final intrínseco. É o caso do verbo empurrar . Aqui, a raiz, dentro da matriz de

traços proposta acima, é do tipo [+DIN, –CAUS], como as de  pintar  ou  gritar . Entretanto, ao

contrário desses verbos, que, na presença de um complemento, introduzem estados atingidos,

verbos como empurrar  introduzem sub-eventos dinâmicos, sem ponto final: o complemento se

desloca no espaço como consequência da atividade denotada pela raiz. Na proposta, temos:

(111 Voz-P  = λe.[empurrar(e) & ORIG(o-João, e)&(e')[DESLOCAR-SE(e')&UNDERGOER (o-carrinho,e')&CAUS(e, e')]]

3D Voz' = λe.[empurrar(e) & ORIG(x, e)&(e')[DESLOCAR-SE(e')&UNDERGOER (o-carrinho, e')&CAUS(e, e')]]

o João 3  Voz vP = λe.[empurrar(e)&(e')[DESLOCAR-SE(e')&UNDERGOER (o-carrinho, e')&CAUS(e, e')]]

  qp

v DP7 Há uma leitura em que o João criou um quadro pintando; por exemplo, pintou um muro bonito em quadro com

casarios.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 32/39

3 5  v √empurr- o carrinho

Há um paralelo interessante entre os pares  pintar e abrir , por um lado, e empurrar e girar,

 por outro lado. Em pintar e abrir , a eventualidade causadora termina quando determinado estado do

complemento é atingido. No caso do verbo abrir , esse estado é expresso pela raiz; no caso de

 pintar , não. Já no par  empurrar/girar , a eventualidade causadora e a eventualidade causada são

temporalmente homomórficas, sem um ponto final intrínseco. A diferença entre os membros do par 

é que, no caso de empurrar , o sub-evento causado não é denotado pela raiz, enquanto no caso de

 girar o sub-evento causado é denotado pela raiz.

Há verbos em que o complemento não sofre mudança de estado nem se desloca no espaço. É

o caso de verbos como ler . Em  João leu um livro, o complemento não muda de estado com a

atividade; somente estabelece uma espécie de percurso para a atividade. Propomos que, como noscasos anteriores, a raiz do verbo é do tipo [+DIN, –CAUS], e, portanto, não introduz uma

eventualidade causada e predica. A diferença entre esse verbo e os anteriores é que, nos outros

casos, a presença do complemento produz, no vP, uma leitura onde há um sub-evento que tem como

argumento o complemento; para o verbo ler  não há sub-evento; o complemento introduz uma

função que vamos chamar de CAMINHO, função que relaciona um evento a uma entidade,

estabelecendo um homomorfismo entre a entidade e a atividade (de ler ) em questão.

(111 Voz-P = λe.[ler(e) & CAMINHO(e, o-livro) & ORIG(o-João, e)]3

D Voz' = λx.λe.[ler(e) & CAMINHO(e, o-livro) & ORIG(x, e)]o João 3

  Voz vP = λe.[ler(e) & CAMINHO(e, o-livro)]  qp

v DP3 5

  v √le- o livro

A mesma função CAMINHO ocorreria em alguns verbos de movimento com complemento,

como na frase o João andou um quilômetro. A raiz também terá a matriz [+DIN, –CAUS], como

nos casos anteriores.

(111 Voz-P = λe.[andar(e) & CAMINHO(e, um-quilômetro) & ORIG(o-João, e)]  3

DP Voz'= λx.λe.[andar(e) & CAMINHO(e, um-quilômetro) & ORIG(x, e)]

o João 3Voz vP = λe.[andar(e) & CAMINHO(e, um-quilômetro)]  rp

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 33/39

  v DP3 6

  v √and- um quilômetro

Como vemos, a despeito das diferentes interpretações que um verbo transitivo, eventivo e

não-alternante possa ter, assumimos as mesmas estruturas sintáticas para todos, com o complementoanexado ao v  – e não interno ao sintagma raiz, como ocorre nos verbos de alternância causativo-

incoativa discutidos na primeira seção deste capítulo. Portanto, não estamos assumindo que a todo

tipo de interpretação ou estrutura de evento associada a um verbo corresponderá um tipo de

estrutura sintática. Mas isso não que dizer que a estrutura sintática não reflita certas propriedades

das estruturas de evento. Por exemplo, enquanto os verbos desta seção podem envolver uma sub-

eventualidade causada ou não, os verbos alternantes necessariamente envolvem uma sub-

eventualidade causada, que está associada à raiz do verbo. Nossa matriz de traços, com o traço[+CAUS] procura dar conta dessa característica.

Até aqui, vimos verbos com um comportamento bastante regular, cujas raízes se distribuem

  pelas estruturas dos verbos de alternância causativo-incoativa, verbos inergativos e verbos

transitivos sem alternância, de acordo com a matriz proposta na introdução: [±DIN, ±CAUS]. Mas

verbos como correr e chegar (entre outros verbos exclusivamente inacusativos) colocam problemas

 para a nossa abordagem. A discussão nas seções a seguir tenta dar conta de tais verbos fazendo

alguns ajustes nas propostas apresentadas ao longo do capítulo.

4.1.4 Verbos de alternância inacusativa-inergativa

O verbo correr pode ter sujeitos não-animados, como em a pedra correu (morro abaixo),

que, de acordo com o que sabemos sobre o mundo, não podem ser iniciadores/originadores de

eventos; o movimento deles é necessariamente causado e é possível causativizar a estrutura.

Vejamos os exemplos abaixo:

i. A equipe correu a bola 122 vezes e lançou 123 passes na pré-temporada.O total de corridas na pré-temporada é o segundo maior dos Rams desde a mudança para

 ... www.oquarterback.com/?p=2161

ii. Luigi correu a pedra atrás dela, porque acabava de ver, no cimo de umacolinazinha que impedia que do lugar onde estava se visse Palestrina, um viajante a

 ...www.lisandrosellis.kit.net/.../Alexandre_Dumas-o%20conde%20de%20monte-cristo.pdf 

Quando o argumento do verbo é um ente animado e há um sintagma preposicional que

indica algum lugar onde o sujeito do verbo está ao final do processo, a estrutura também pode ser causativizada, como é o caso de o João correu o inquilino do apartamento.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 34/39

Em algumas línguas com dois auxiliares para tempos perfeitos, como o italiano, o verbo

correr toma o auxiliar de inacusativo (essere) quando o argumento do verbo é um ente animado e há

um PP que indica um ponto final para o movimento. Além disso, neste contexto é possível haver 

cliticização com ne-, outro conhecido indicador de inacusatividade segundo a literatura. Isso sugere

que o sintagma preposicional presente na estrutura de alguma forma “atrai” o argumento do verbo para o interior do sintagma verbal, fazendo o verbo comportar-se como inacusativo.

O verbo correr , portanto, comporta-se como verbo inergativo quando tem um sujeito

animado e não tem um sintagma verbal que estabeleça um ponto final para o trajeto; mas se

comporta como um verbo inacusativo (e de alternância causativo-incoativa) quando o sujeito é não-

animado ou há um sintagma preposicional que estabelece um ponto final para o movimento

denotado pelo verbo, um lugar alcançado. As estruturas a. e b. representam a versão inacusativa do

verbo correr, com sujeito não animado. Uma vez que há alternância causativo-incoativa, asestruturas serão como a que encontramos em acima.

(111 a. vP b. Voz-P3 3

v  √P o João Voz' 3 3

DP √corr- Voz vPa bola 3

v √P3

  DP √corr-a bola

As estruturas abaixo apresentam a versão inergativa do verbo correr , com sujeitos animados

e complementos que podem estabelecer percursos ou ser eventualidades criadas (como em  João

correu uma bela maratona, por exemplo, em que a bela maratona é algo criado). Aqui temos

estruturas como as de e acima.

(111 a. Voz-P b. Voz-P  3 3

DP Voz' DP Voz'o João 3 3

Voz vP Voz vP  3 3  v √corr- v DP

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 35/39

  3 um quilômetrov √corr-

As estruturas em , por sua vez, dão conta dos casos em que há um ponto final para o

movimento e o sujeito é animado. Como vemos, somente no caso em que há um sintagma

 preposicional na estrutura que indique um lugar atingido, a causativização é permitida. Proporemos

que, nestes casos, a raiz combinada ao sintagma preposicional cria uma estrutura de predicação e,

 por conseguinte, uma (outra) versão inacusativa do verbo correr .

(111 a. vP b. Voz-P3 3

v  √P o João Voz' 3 3

DP √' Voz vPo inquilino 3 3√corr- PP v √P

5 3  do apto.   DP √'

o inquilino 3  √corr- PP

  5do apto.

Como explicar, com a matriz de traços apresentada acima, que a raiz do verbo correr ocorraem estruturas de evento tão diversas? Não parece que a raiz ora se comporta como se denotasse um

evento dinâmico causado, ora como se denotasse um modo associado ao verbo?

 Nossa explicação para o fato é a seguinte: adotando a mesma matriz de traços que vimos

assumindo desde o início, matriz que tenta dar conta do licenciamento de raízes nas estruturas de

evento estudadas, não nos esqueçamos, propomos que a raiz do verbo correr  tenha a seguinte

especificação de traços: [+ DIN, α CAUS]. Aqui, α indica que a raiz não é especificada para o traço

de causação; o sinal é especificado pelo contexto em que a raiz ocorre: em e , a raiz tem a

especificação: [+DIN, +CAUS]; nos contextos , a raiz ganha a especificação [+DIN, –CAUS], e

funciona como modificador adverbial do vezinho.

Portanto, certas raízes podem ser subespecificadas quanto a uma ou outra das propriedades

semânticas da matriz, o que explica seu comportamento mais livre entre diversas estruturas.

4.1.5 Verbos inacusativos

Como sabemos, há verbos exclusivamente inacusativos: nascer, morrer, chegar  etc. As

 propostas até o momento discutidas não conseguem dar conta de verbos inacusativos que não

ocorrem em estruturas de alternância causativo-incoativa. Se assumíssemos que as raízes desses

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 36/39

verbos ocorrem em acima, não explicaríamos seu comportamento; esperaríamos transitivizações

dos mesmos. Então, como explicar seu comportamento? Assumiremos um segundo vezinho, com

um “sabor” distinto do vezinho que usamos até o momento em nossas análises. Esse vezinho é

incoativo, e colocaremos nele, para diferenciá-lo do anterior, o sub-escrito GO, que, se não é

combinado com um vezinho DO, não pode ser causativizado. Com esse novo primitivo, a estruturade um verbo como chegar é a seguinte:

(111 vP3

DP √Po João 3

vGO √cheg-

 Na proposta, a raiz deve ser do tipo [+DIN, –CAUS], e não estabelece uma predicação para

o seu argumento. Ela funciona, dentro da proposta, como modificadora de um vezinho de processo

(incoativo). Como a eventualidade introduzida pelo vezinho é incoativa, ela não pode identificar-se

com a eventualidade introduzida pelo núcleo de Voz – ou seja, a operação de identificação de

evento que possibilita a anexação de um núcleo de Voz à estrutura não é permitida aqui. Isso

explicaria o fato de tais verbos não serem verbos de alternância causativo-incoativa.

Entretanto, algumas coisas ficam por explicar. A matriz, com as distinções propostas, não

explica porque a raiz de um verbo como nascer  não ocorre em uma estrutura de evento mono-

eventiva, como a do verbo gritar em . Outra questão que se coloca é a seguinte: por alguma razão, o

verbo chegar pode ser causativizado quando se anexa a ele um PP que indica um movimento com

 ponto final: João chegou a cadeira para o lado. Como explicar essas coisas?

Ainda não sabemos como explicar a compatibilidade exclusiva das raízes de nascer  e

morrer com o vezinho incoativo. Quanto à possibilidade de transitivização do verbo chegar, talvez,

nestes casos, a raiz funcione como modificadora de um vezinho eventivo, como o dos casos

anteriores; a esse verbo formado, um sintagma preposicional com duas posições (uma estrutura

diádica básica, nos termos de HALE; KEYSER, 2002) é anexado e a posição de especificador dessesintagma é ocupada pelo “argumento interno” do verbo. O sintagma preposicional seria interpretado

como um evento de deslocamento com um ponto final, causado pelo evento introduzido pela

anexação direta do vezinho à raiz do verbo chegar . Teríamos uma estrutura parecida com a proposta

 por (MARANTZ, 2007) para os verbos de duplo objeto, com duas eventualidades e uma relação de

causação entre as duas. A estrutura em ilustra tal fato:

(111 Voz-P3

D Voz'o João 3

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 37/39

  Voz vP  qp

v PP3 3

  v √cheg- DP P'a cadeira 3

  P DPpara o lado

4.1.6 Verbos de estado

O último grupo de verbos de que trataremos neste breve trabalho é o dos verbos de estado

transitivos. Estes teriam raízes com a matriz [–DIN, –CAUS]. Verbos de estado psicológico do tipo

sujeito-experienciador, verbos de percepção dos sentidos etc., seriam verbos deste grupo.

Em nossa proposta, há um vezinho que introduz estado (BE) e que se combina diretamente

com a raiz, a qual dá nome ao estado que ele introduz. Uma vez que a raiz não estabelece uma predicação, a única maneira de introduzir um argumento externo é através de um núcleo de Voz, que

introduz um argumento externo interpretado como tema ou portador do estado em questão. O

complemento faz parte da descrição do estado (RAMCHAND, 2008), sendo, aqui, interno ao

sintagma raiz.

As propostas para verbos de estado ainda são incipientes, e, portanto, não nos estenderemos

muito a respeito deles. Em , apresentamos uma proposta para o uma sentença com o verbo amar : o

 João ama a Maria.

(222 Voz-P = λs.[amar-a-Maria (s) & TEMA(o-João, s)]2

DP Voz' = λx.λs.[amar-a-Maria (s) & TEMA(x, s)]  o João 2

Voz vP = λs.[amar-a-Maria (s)]3

vBE √P3

√am- DPa Maria

11 Referências Bibliográficas

ANDERSON, Stephen R. A-Morphous Morphology. Cambridge: Cambridge University Press.,1992.

ARAD, Maya. Roots and Patterns. Stanford University, 2004. (manuscrito)

BAKER, Mark C. The Mirror Principle and Morphosyntactic Explanation. LinguisticInquiry, v. 16, nº 3, p. 373-415, MIT Press., 1985.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 38/39

BORER, Hagit. Structuring Sense. Oxford University Press, 2005.

CHOMSKY, Noam. Remarks on Nominalization. In R. Jacobs and P. Rosenbaum, eds. Readings inEnglish Transformational Grammar. Waltham, Mass.: Ginn & Company, 1970.

 _________________ . Lectures on Government and Biding. Dodrecht, The Netherlands: Foris, 1981.

 ______________. The Minimalist Program. Cambridge Mass: MIT Press, 1995.

 ______________. New Perspectives in the Study of Language. In: Noam Chomsky naUFRJ. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1997.

CUERVO, María Cristina. Datives at Large. Tese de doutorado, MIT, 2003.

EMBICK, D.; NOYER, R. Distributed Morphology and the Syntax/Morphology Interface. In:RAMCHAND G.; REISS C. eds. The Oxford Handbook of Linguistic Interfaces, Oxford UniversityPress, 2004.

GOLDBERG, Adele. Constructions: A Construction Grammar Approach to ArgumentStructure. Chicago, Illinois: University of Chicago Press., 1995.

HALE, Kenneth and Samuel Jay Keyser. On Argument Structure and the Lexical Expression of Syntactic Relations. In Hale, K. and S. J. Keyser eds., The View From Building 20, Cambridge:the MIT Press, 53-109, 1993.

 ______________________________. Prolegomenon to a Theory of Argument Structure.Cambridge, the MIT Press, 2002.

HALLE, M. Distributed Morphology: Impoverishment and Fission. In: MIT Working Papers inLinguistics 30, p. 425-439, 1997.

HALLE, M.; A. MARANTZ. Distributed Morphology and the Pieces of Inflection. In: HALE, K.;KEYSER, S. (eds.). The View from Building 20: Essays in Linguistics in Honor of SylvianBromberger. MITPress, Cambridge, MA, p. 111-176, 1993.

HARLEY, H. 2008. Compounding in Distributed Morphology. To appear in the Oxford Handbook of Compounding, ed. by Rochelle Lieber and Pavol Stekauer, 2008.

HARLEY, H.; NOYER, R. State of the Article: Distributed Morphology. In: GLOT 4.4, Universityof Pennsylvania, p. 3-9, 1999.

JACKENDOFF, Ray.. Semantic Structures. Cambridge, Mass.: MIT Press, pp. 322, 1990.

JACKENDOFF, Ray.. On Larson's treatment of the double object construction. Linguistic Inquiry21, p. 427-456, MIT Press., 1990a.

KRATZER, Angelika. Severing the External Argument from its Verb. In J. Rooryck and L. Zaringeds., Phrase Structure and the Lexicon. Dodrecht: Kluwer Academic Publishers, p. 109-137,1996.

 _____ “Building Statives”. 2000. Disponível em:http://semanticsarchive.net/Archive/GI5MmI0M/kratzer.building.statives.pdf . Acesso em18/04/2003.

8/6/2019 Scher, Medeiros & Minussi 2009

http://slidepdf.com/reader/full/scher-medeiros-minussi-2009 39/39

LARSON, Richard K. “On the Double Object Construction” Linguistic Inquiry, 19, p. 335-391,MIT Press., 1988.

LEVIN, Beth & Malka Rappaport Hovav. The Formation of Adjectival Passives. LinguisticInquiry, 17: 4, p. 623-661, 1986.

LEVIN, Beth. Objecthood: An event structure perspective. CLS 35, v. 1, 1999.

LIN, Jimmy. Event Structure and the Encoding of Arguments: The Syntax of the Mandarinand English Verb Phrase. Tese de doutorado, MIT, 2004.

MARANTZ, Alec. No Escape from Syntax: Don’t Try Morphological Analysis in the Privacy of Your Own Lexicon. In: A. Dimitriadis, L. Siegel, C. Surek-Clark & A. Williams, Proceedings of the 21st Penn Linguistics Colloquium. In: Working Papers in Linguistics, Philadelphia, p. 201-225, 1997.

 _______________. ‘Words’ artigo apresentado em West Coast Conference on Formal Linguistics,University of Southern California Los Angeles, 24 february, 2001. Disponível em:http://web.mit.edu/marantz/Public/EALING/WordsWCCFL.pdf . Acesso em: 18/04/2009.

 ______________. Argument Structure and Morphology: Noun Phrases that Name Events, Hand-out, New York University, 2006.

 ______________. “…”, Hand-out, New York University, 2007.

MARVIN, Tatjana. Topics in the stress and syntax of words. Doctoral dissertation, MIT, 2002.

PARSONS, Terence. Events in the Semantics of English: A Study in Subatomic Semantics.Cambridge, Mass: MIT Press., 1990.

PESETSKY, David. Zero Syntax  – Experiencers and Cascades. Cambridge, Mass: MIT Press,1995.

PYLKKÄNEN, Liina. Introducing Arguments. Tese de doutorado, MIT, 2002.

RAMCHAND, Gillian Catriona. Verb meaning and the lexicon: a first-phase syntax. CambridgeUniversity Press, 2008.

TENNY, C. Aspectual Roles and the Syntax-Semantics Interface, Dordrecht:Kluwer Academic Publushers, 1994.