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SCODA AERONÁUTICA, SUCESSORA DA EDRA AERONÁUTICA 15

Scoda aeronáutica, 15 SuceSSora da edra aeronáutica6edicao2015.congressodeinovacao.com.br/files/etc/p238VW_15_scoda... · 15 Scoda aeroNuTIca, SuceSSora da edra aeroNuTIca 229 anos.3

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Scoda aeronáutica, SuceSSora da edra aeronáutica 15

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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS

modelo de DESIGN BY CERTIFICATION para o deSeNVolVImeNTo de aeroNaVe aNfíbIa braSIleIra

Quando a Scoda foi criada (ainda com denominação de

Edra), como uma representação comercial de helicópteros,

seu fundador, recém-saído do curso de engenharia

aeronáutica e piloto apaixonado por aviões, apenas

sonhava em construir e pilotar o próprio avião. Esse sonho

remoto, era acalentado sem que as condições para a sua

concretização estivessem a seu alcance. Como, então,

diferentemente de tantos outros sonhadores, esse desejo

do fundador da Edra se tornou realidade?

Este capítulo conta a história de sucesso da empresa e o

modo como da representação comercial para a venda de

helicópteros nasceu uma escola de pilotagem e, finalmente,

uma indústria que fabrica aviões de pequeno porte que criou

um projeto brasileiro de uma aeronave anfíbia. Batizado de

Super Petrel LS, o anfíbio da Scoda é hoje o carro-chefe da

empresa e foi o responsável por sua entrada no mercado

norte-americano. Com um projeto totalmente idealizado

para o atendimento da norma americana, o desenvolvimento

dessa aeronave é um exemplo de sucesso de aplicação do

conceito de design by certification.

1. a empreSa e Seu SeTor

A Scoda Aeronáutica, sucessora da Edra Aeronáutica, é

uma empresa de médio porte, especializada na produção

e distribuição de aeronaves e oferecimento de cursos de

formação de pilotos de helicóptero. Fundada em 1997 pelo

engenheiro aeronáutico e piloto Rodrigo Scoda, a empresa

que agora tem seu nome associado ao do fundador, está

localizada na pequena cidade de Ipeúna, no interior de

São Paulo, a 195km da capital do estado. A equipe de

colaboradores da empresa é composta de 100 profissionais,

entre engenheiros, mecânicos, pilotos e administradores,

que atuam em três segmentos: treinamento e formação

de pilotos, suporte técnico de manutenção e projeto e

fabricação de aeronaves em compósitos.

Proporcionando formação de Piloto Privado de Helicóptero

e Piloto Comercial de Helicóptero, o Centro de Instrução

da Scoda Aeronáutica é referência entre as escolas de

pilotagem de helicóptero no Brasil. Já formou mais de 2.000

pilotos, ultrapassando 100.000 horas de voos. A divisão de

produção de aeronaves já comercializou 450 aeronaves, que

hoje operam em 23 países.1

1 Disponível em: <http://www.scodaeronautica.com.br/>. Acesso em: 11 novembro 2014.

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A ideia de criar a empresa surgiu logo a após a graduação

de Rodrigo, em um momento em que a aviação no

Brasil experimentava um crescimento muito expressivo,

principalmente em decorrência do câmbio – o Real recém-

lançado estava muito valorizado perante o dólar. Esse

crescimento se sustentou por quase uma década, o que

acabou influenciando positivamente o estabelecimento da

então Edra no setor.

No início, a entrada no mercado se deu por meio da

representação de uma marca de helicópteros norte-

americana. Eram helicópteros pequenos que foram

adquiridos pela Edra para venda no mercado nacional.

Devido às condições econômicas favoráveis, esse primeiro

modelo de negócio obteve êxito, motivando e viabilizando

o investimento em diversificar a atuação, por meio de uma

escola de pilotagem, que fazia uso dos helicópteros que já

pertenciam à empresa.

Em um primeiro momento, o Centro de Instrução da Scoda

aproveitou a demanda das forças públicas brasileiras, que

tinham uma grande carência de pilotos de helicóptero bem

capacitados, e ofereceu treinamento para diversos órgãos,

como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Corpo de

Bombeiros, em diversos estados da Federação. Até hoje

75% dos pilotos da força pública nacional são formados

pela Scoda, o que foi um marco para o posicionamento da

empresa no mercado e impulsionou seus negócios.

O sucesso das vendas de helicópteros e da escola de

treinamento forneceu subsídios para investimento no que

era o sonho de Rodrigo desde a graduação em engenharia

aeronáutica: projetar e construir aviões. Assim, em 2001 se

iniciou o trabalho de montagem de aeronaves estrangeiras

e, em seguida, o desenvolvimento de um projeto próprio,

que é o objeto deste capítulo. Atualmente, além de produzir

as aeronaves, a Scoda presta serviços de manutenção, que

são fundamentais e escassos no segmento de aviação,

oferecendo sinergias comerciais à empresa.

Um diferencial interessante de que a empresa dispõe

em seu Centro de Treinamento e que demonstra a

veia empreendedora e de inovação de sua equipe é o

Simulador UTEPAS – Unidade de Treinamento de Escape

em Plataforma Submersa, que simula um pouso de

emergência de um helicóptero pequeno na água. No

Brasil, esse simulador só está presente na Marinha.

Como piloto, Rodrigo pôde fazer um curso em que o

equipamento era utilizado e o tomou como inspiração para

produzir um similar para a escola de pilotagem da Edra,

que se tornou, então, a única empresa privada a possuir

esse tipo de equipamento.

A capacitação da equipe tem caráter fundamental no negócio

da Scoda. Ela começou a se estruturar quando a atividade

principal da empresa ainda era exclusivamente montar

aeronaves estrangeiras. Esse foi um período essencial para

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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS

aprendizado, que possibilitou adquirir know-how e experiência

técnica, que alimentaram a ideia e viabilizaram o projeto de

fabricar aeronaves quando essa nova oportunidade de negócio

foi identificada. Hoje a Scoda comercializa dois modelos de

avião: o Dynamic WT9 e o Super Petrel LS.

O Dynamic foi criado ainda no período de desenvolvimento

de expertise, quando o foco era a montagem de aeronaves.

Ele é produzido em parceria com uma empresa da Eslováquia,

onde foi desenvolvido, e a Scoda é responsável por 61% do

processo de produção, sob licença. Trata-se de uma aeronave

pequena, pertencente à categoria leve esportiva cross country.

Já o Super Petrel LS é um avião bastante diferente. Apesar

de pertencer à mesma categoria de certificação do Dynamic,

é um avião anfíbio. É um projeto totalmente desenvolvido no

Brasil pela Scoda, que é responsável por 81% de seu processo

produtivo (somente as partes mecânicas são importadas).

O setor brasileiro de aeronaves leves esportivas dispõe

hoje, de cerca de 20 fabricantes, dos quais somente três

produzem aviões anfíbios.2 Os aviões dessa categoria

correspondem a 24% da frota brasileira, que tem registrado

um aumento médio em torno de 5% nos últimos cinco

2 Disponível em: <http://www.abul.com.br/abul/mercado.asp?tipo=Fabricante>. Acesso em: 11 novembro 2014.

Figura 1 - Simulador UTEPAS

Fonte: Apresentação Scoda (2014)

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anos.3 O mercado nacional é voltado essencialmente

para entretenimento, uma vez que esses aviões são

pequenos e voam em baixas velocidades. As aeronaves são

comercializadas por meio de uma rede de representantes,

distribuídos em sete estados do Brasil e mais 16 países.

2. eSTraTégIa – alINhameNTo do projeTo com o NegócIo

As aeronaves produzidas são de pequeno porte,

enquadradas na categoria Aeronave Leve Esportiva

(ALE). Todos os projetos são realizados utilizando-se

exclusivamente materiais compostos, também conhecidos

como compósitos. O compósito utilizado em sua fabricação,

constituído de fibra de carbono e fibra de aramida (Kevlar) é

importado, e a empresa realiza sua conformação de acordo

com os parâmetros definidos em seus projetos.

O uso de compósitos vem ganhando cada vez mais espaço

na aviação, inclusive por parte de fabricantes de aeronaves

de grande porte, devido a suas propriedades de baixo peso e

alta resistência. Trata-se, portanto, de uma nova abordagem

alternativa à convencional utilização de alumínio, e que já é

realidade em todo o mundo.

3 Disponível em: <http://www.anac.gov.br>. Acesso em: 11 novembro 2014.

Materiais compósitos ou “composite” (em inglês) são aqueles

que possuem pelo menos dois componentes, também

denominados fases, que individualmente apresentam

propriedades físicas e químicas nitidamente distintas. Ao

combinar os dois materiais, as deficiências de cada um

acabam sendo compensadas pelas qualidades do outro,

criando assim um material composto de propriedades

particulares. Alguns exemplos de compósitos são metais e

polímeros, metais e cerâmicas ou polímeros e cerâmicas.

No caso da aviação, os compósitos mais utilizados são

constituídos de polímeros e fibras de carbono.

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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS

Os maiores fabricantes estão progressivamente aumentando

o percentual de material composto em todas as suas

aeronaves, incluindo a Airbus, a Boeing e a Embraer,4 em

uma tendência de mudança que demonstra ser permanente.

O fato de a Scoda ter iniciado seus projetos com a premissa

de utilizar o que há de mais moderno e atual sinaliza a

estratégia da empresa de manter-se na vanguarda do setor.

O Super Petrel é também um exemplo disso.

Existem poucos aviões anfíbios no mercado, o que torna

esse nicho bastante atrativo, apesar de sua tecnologia ser

mais complexa. O desenvolvimento do produto, inspirado

em um modelo francês de 1983, foi realizado em um

primeiro momento sem preocupação com normalizações.

Isso porque, diferentemente das aeronaves da aviação

comercial, que devem atender a exigências legais detalhadas

e complexas, a categoria à qual as aeronaves da Scoda

pertencem não exigia certificação na maioria dos países,

ficando sob responsabilidade do dono do equipamento sua

manutenção e operação.

Esse cenário, porém, começou a mudar em 2005, quando

uma nova forma de certificação surgiu nos Estados Unidos.

Nessa ocasião, a empresa já planejava entrar no mercado

internacional e, por isso, decidiu trabalhar na readequação

4 Disponível em: <http://www.aviacao.org/article/materiais-compositos/>. Acesso em: 11 novembro 2014.

do Super Petrel. Esse trabalho de refinamento do projeto

resultou em um modelo aparentemente similar, mas

completamente diferente do inicial do ponto de vista da

engenharia. O novo projeto foi concebido com base nos

requisitos da norma americana (também adotada no Brasil) –

design by certification – e revolucionou a maneira de projetar

e produzir da empresa, mudando a percepção e a recepção

do mercado.

3. o projeTo

O desenvolvimento do Super Petrel LS foi inspirado em um

modelo francês também anfíbio de 1983, o Hydroplum.

Apesar de ser da década de 80, esse avião já utilizava

os compósitos em sua fabricação. Durante o curso de

engenharia aeronáutica, Rodrigo conheceu essa aeronave,

percebeu que existia grande potencial de desenvolvimento

nesse projeto original, então concebeu e executou um

processo de reengenharia, que foi seu trabalho final de

graduação. A continuação desse desenvolvimento e as

melhorias implementadas, tendo como base o conceito

do Hydroplum, levaram a equipe de engenharia da Edra,

liderada pelo também engenheiro e piloto Fernando Abbud, à

concepção em 2001 do Super Petrel em sua primeira versão,

ainda não certificada por uma norma internacionalmente

válida, e que era comercializado na forma de kits.

o fato de a Scoda

ter iniciado seus

projetos com a

premissa

de utilizar o

que há de mais

moderno e atual

sinaliza a

estratégia da

empresa de

manter-se na

vanguarda do

setor.”

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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS

O projeto para adequação à norma teve início em 2005, quando

os Estados Unidos fizeram uma alteração na configuração do

processo de certificação que acabou se transformando em uma

tendência mundial. Ao invés de as autoridades aeronáuticas

gerarem todos os requisitos para certificação, como acontecia

até então, os quesitos passaram a ser definidos por um órgão

de normalização como a American Society for Testing and

Materials (ASTM), ficando a cargo da autoridade aeronáutica

apenas verificar o seu cumprimento.

A norma a que a Scoda se adequou é a FAR 21.190

americana, à qual a maioria dos países no mundo adere

e que passou a ser válida no Brasil em 2011. O estudo

detalhado da norma foi o ponto de partida do projeto de

adequação do Super Petrel. Essa fase foi fundamental para

todo o restante do desenvolvimento, uma vez que se tratava

de uma norma completamente nova, até então desconhecida

no mercado. Durante o processo de aprofundar o

conhecimento da norma é que ficou claro, inclusive, que o

novo Super Petrel LS seria praticamente um projeto novo,

com pouco aproveitamento do projeto do modelo anterior.

O estudo e entendimento dos requisitos normativos foram

determinantes para a definição dos métodos que seriam

utilizados para cumpri-los. Na aviação, dependendo da

categoria da aeronave, é possível para o fabricante escolher

os métodos comprobatórios de atendimento de uma norma.

Os critérios para essa seleção podem ser econômicos, de

segurança e de tempo. Trata-se de uma avaliação que deve

ser muito bem estruturada antes que o projeto seja levado

adiante. Como passo seguinte, complementando a definição

dos métodos de cumprimento da norma, definiu-se uma lista

minuciosa e extensa de checagem de conformidade (em

inglês compliance checklist), a qual contempla os requisitos

e seus respectivos parâmetros de aceitação que devem ser

obedecidos em todas as fases de projeto.

Essas três primeiras etapas de estudo e planejamento

– estudo da norma e requisitos, definição dos métodos

de cumprimento e elaboração do compliance checklist –

demandaram praticamente dois anos de trabalho. Só a partir

daí a equipe começou a trabalhar com a aeronave em si, no

desenvolvimento de seu projeto estrutural e aerodinâmico,

realizando, em seguida, ensaios estruturais e em voo,

para comprovar seu bom funcionamento. Alguns desses

ensaios puderam ser realizados por meio de simulações

em software de modelagem 3D, que foram aceitas pela

agência certificadora sem necessidade de teste real com a

aeronave. Outros ensaios, devido a sua natureza, não podem

ser simulados e necessariamente precisam ser realizados

em voo. É o caso, por exemplo, de testes de velocidade de

mergulho, ensaios de desempenho, ressonância da estrutura

(se a estrutura ressona, pode se romper durante o voo),

ensaio de parafuso. Esses ensaios foram feitos por pilotos

da Embraer, especializados nesse tipo de atividade, uma vez

que a própria Scoda ainda não tinha essa expertise.

o estudo e

entendimento

dos requisitos

normativos foram

determinantes

para a definição

dos métodos que

seriam utilizados

para cumpri-los.”

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O último momento do projeto, já em 2013, compreendeu a

certificação propriamente dita, realizada inicialmente pela

Administração Federal de Aviação (FAA em inglês) nos

Estados Unidos e depois pela Agência Nacional de Aviação

Civil (ANAC), no Brasil.

Uma particularidade interessante do projeto é que nas quatro

primeiras etapas 90% da carga de trabalho foi realizada

por estagiários de 4º e 5º ano de cursos de engenharia,

particularmente da USP São Carlos – Escola de Engenharia

de São Carlos (EESC). Isso só foi possível devido à qualidade

da norma americana, que é muito minuciosa e bem descrita,

muito semelhante a um manual de projeto e dos estudantes

em fase final de formação. Esse fato constitui um exemplo

interessante de perspectiva a ser aplicada ao design by

certification no Brasil: fazer uso de normas internacionais

como um guia para a execução do projeto.

O desenvolvimento do Super Petrel LS apresenta alguns

aspectos interessantes que podem servir de exemplo para

empresas que trabalham com a inovação em setores com

dimensão relevante de certificação. No âmbito do fluxograma

das atividades, destaca-se a necessidade fundamental de

dedicar esforço e tempo para aprofundar no conhecimento

da norma e seus requisitos, bem como no planejamento dos

métodos para cumpri-la, de modo a assegurar que as etapas

seguintes sejam corretamente adequadas aos parâmetros

normativos, garantindo, assim, o sucesso do produto final.

Quanto à execução do projeto, o fato de “enxergar” a

norma não somente como uma série de requisitos a serem

atendidos, mas também como manual e guia, sobressai

como uma solução inteligente, particularmente para casos

em que não existem referenciais claros na norma brasileira.

4. paNorama INTerNacIoNal

As Aeronaves Leves Esportivas (ALE), em inglês Light Sport

Aircraft (LSA), foram reconhecidas como uma categoria

própria somente a partir de 2005, quando a Administração

Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) definiu

como “aeronaves leves esportivas” aquelas com peso

máximo de decolagem de 600kg. Pertencem a esse grupo

aviões, planadores, giroplanos e paraquedas motorizados.

Padrões de licenciamento proporcional e treinamento, de

manutenção e de aeronavegabilidade foram aplicados, este

último com base em padrões da ASTM. Como resultado da

implementação dessa nova categoria, em menos de dez

anos o mercado de LSA nos Estados Unidos atingiu 20%

a 25% das vendas de aviões de hélice, com previsões de

crescimento. Entre todas as aeronaves leves esportivas

vendidas nos Estados Unidos, 60% são produzidas

o novo projeto

foi concebido

com base nos

requisitos da

norma americana

e revolucionou

a maneira de

projetar e produzir

da empresa,

mudando a

percepção e a

recepção do

mercado.”

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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS

internamente, o que torna o mercado atrativo para

produtores de outros países.5

O conceito e a categoria ALE rapidamente se espalharam

para o Canadá, a Austrália e outras nações que agora operam

um quadro regulamentar harmonizado para a categoria.

Os principais países que adotaram as normas da FAA são

Austrália, China, Nova Zelândia, Brasil, Colômbia, Peru,

Canadá, Israel, África do Sul, Chile, Malásia e México. A

categoria é hoje reconhecida não apenas por países em que

a aviação dispõe de tecnologias avançadas, mas também por

países em desenvolvimento. A adoção dos padrões definidos

pela ASTM proporcionou a revitalização do segmento por

meio da fabricação de novos projetos. Isso foi seguido

por fabricantes tradicionais como Cessna, que colocou no

mercado novos modelos dedicados à categoria ALE.

Ao contrário das demais categorias da aviação, a ALE não

é dominada estritamente por gigantes do setor. Para cada

grande fabricante, existem dezenas de empresas menores,

com inovações de ponta e métodos de produção que lhes

permitem ser competitivas. O fato de a tecnologia e a

informação estarem cada vez mais acessíveis e de o custo

5 EUROPEAN FEDERATION OF LIGHT EXPERIMENTAL AND VINTAGE AIRCRAFT (EFLEVA); THE EUROPEAN MICROLIGHT FEDERATION (EMF); THE EUROPEAN POWER FLYING UNION (EPFU). Introduction of a light sport aircraft category in Europe. Jun. 2012. (Position Paper and proposals for a Light Sport Aircraft Category in Europe).

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das aeronaves ALE ser muito menor, quando comparado a

outras categorias, torna o segmento atrativo para pequenos

empreendedores. Os custos de um avião ALE podem variar

de USD 15 mil a USD 400 mil.6

Em 2008, o número de aeronaves leves esportivas nos Estados

Unidos, segundo a FAA, era de aproximadamente sete mil.

A previsão para 2025 é que esse número ultrapasse 15 mil

unidades, em uma taxa de crescimento anual de cerca de 5%.7

Dentro da categoria ALE, o setor que mais tem crescido

é o de aviões anfíbios. Nesse segmento, destacam-se os

fabricantes americanos, chineses, espanhóis e finlandeses,

que têm competido entre si no desenvolvimento de

equipamentos de design arrojado e alta tecnologia.

5. reSulTadoS para a empreSa

Em se tratando de aviação anfíbia, hoje o Super Petrel LS

detém 85% de market share no Brasil. Considerando que

o mercado brasileiro não possui muitos players nesse

segmento de anfíbios (além da Scoda, somente mais dois

6 Disponível em: <http://www.planeandpilotmag.com/aircraft/best-buys/lsa-buyers-guide-2014.html#.VGs1L_nF854>. Acesso em: 11 novembro 2014.

7 NATIONAL AIR TRANSPORTATION ASSOCIATION (NATA). General aviation in the US. Maio 2009.

fabricantes nacionais), a participação do Super Petrel LS no

mercado é bastante expressiva.

O projeto de certificação e cumprimento da norma americana

proporcionou a entrada no mercado norte-americano. O fato

de seguir uma norma mundialmente aceita (exceto países do

Reino Unido e Alemanha) permitiu a certificação da aeronave

também na Austrália, na Coreia do Sul e na Malásia. Essa

entrada em mercados externos promoveu o aumento das

exportações e, consequentemente, nas margens de venda.

Outro elemento relevante advindo do projeto de certificação

é o alinhamento do Super Petrel LS aos requisitos técnicos

mundiais e ao mercado mundial, agregando a um produto

nacional credibilidade e reconhecimento global.

6. deSdobrameNToS e perSpecTIVaS

As próximas etapas do planejamento estratégico da

Scoda quanto ao Super Petrel LS contemplam atingir

índice de 60% de exportação e conquistar 20% de

market share nos Estados Unidos nos próximos anos.

Em número de unidades vendidas, 20% do mercado

americano correspondem a 100% do mercado brasileiro

de aeronaves esportivas leves anfíbias. Portanto, a meta

de crescimento no mercado norte-americano significa um

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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS

aumento significativo na capacidade produtiva da empresa,

praticamente dobrando o volume de produção.

Além disso, a empresa já está trabalhando para certificar o

produto em mais cinco países e pretende atingir a marca de

1.000 unidades vendidas até 2020. Encontra-se também em

andamento o lançamento das versões Super Petrel iS, uma

inovação para a aviação mundial, a primeira aeronave com

motor com injeção e ignição eletrônica.

A fabricante de Ipeúna, cidade vizinha de São Carlos, está

trabalhando ainda em projetos de certificações de outros

modelos do Super Petrel e do Dynamic, o SPLS4 e o WT10,

que possuem ambos quatro assentos ao invés de apenas

dois. Nesse caso, as aeronaves não mais se enquadram na

categoria ALE e, por isso, a norma certificadora é a FAR 23,

também americana e aceita no Brasil.

Finalmente, como perspectiva de longo prazo, a empresa

tem estudos para projetos que utilizam motores elétricos,

por acreditar que a aviação evidencia uma tendência (ainda

inicial) de seguir nessa direção.

O trabalho desenvolvido pela Scoda para as certificações

das aeronaves é um exemplo de que se adequar às normas

é um elemento de inovação, uma vez que a empresa não

conseguiria entrar em um novo mercado se não houvesse

realizado essa adaptação. Evidentemente é preciso também

ter uma visão de mercado ampla e consistente, que

possibilite antever mudanças e identificar tendências. Dessa

maneira, é possível manter o planejamento estratégico

alinhado à realidade do setor e estar constantemente

preparado e bem posicionado quando as mudanças

efetivamente acontecem.