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Scott, W. C. M. (1969). Um conceito psicanalítico da orígem da depressão. In M. Klein, P. Heimann & R. E. Money-Kyrle (Eds.), Novas Tendências na Psicanálise (pp. 67-77). Rio de Janeiro: Zahar Editores. ORIGEM Muitos dos conceitos que apresentarei se baseiam cm evidências pessoalmente obtidas durante o tratamento psicanalítico de neuroses com depressão e com estados maníaco- depressivos em diferentes sexos, de diferentes idades desde o final da infância até a idade avançada. DOS OBJECTOS PARCIAIS EM DIARECÇÃO ÀS PESSOAS TOTAIS Desde o mais primilivo período de vida, um aspecto dessas atividades agradáveis ou desagradáveis é sua direção, nomeadamente a direção do inovimenlo ou intercâmbio cntre o que se pode designar como os miintios externo e interno, ou a direção do intercâmbio entre esse mundo interno e o mundo externo, por exemplo, inspirar, expirar, engolir, vomitar etc. Só lentamente, no esquema evolutivo das coisas, as "pessoas" tal como os adultos as conhecem, são incluídas. Primitivamente, o mundo consiste naquilo que os adultos chamariam de "partes" — seios, rostos, mãos etc. lentamente, no esquema das coisas, se desenvolve um "eu" como "pessoa total" ou se configuram "outras pessoas" como pessoas totais". ONDE SE INSERE A DEPRESSÃO NO ESQUEMA DOS OBJECTOS PARCIAIS → Só lentamente surgem as distorções entre o que mais tarde se denominam percepções, lembranças, imagens etc. Ao longo dessa linha de desenvolvimento, podcm-sc descobrir pontos cniciais, e parece que num desses pontos cruciais a depressão se torna possível pela primeira vez. Previamente, são possíveis afetos mais simples, tais como a ira, o prazer, a dor, o medo. É cm relação à maneira cm que surgem esses primeiros sentimentos depressivos e são manejados que podemos verificar a cs(ierança de compreender os sintomas das depressões tdtcriorcs c entender como podem ser tratados. Ë aqui que observamos os começos do desenvolvimento da tolerância normal da depressão, dos processos normais de lidar com a depressão, e também os primórdios dos estados depressivos patológicos. A INTEGRAÇÃO DO BOM E DO MAU, DA SATISFAÇÃO E DA FRUSTRAÇÃO NA ORIGEM DA DEPRESSÃO → Mais cedo ou mais tarde, produz-se uma integração suficiente para o bebe perceber que as lembranças do seio amoroso e satisfatório e as do seio frustrante e odiado são as de um mesmo e único seio, c que as lembranças íla boca feliz e sugadora, c as lembranças da boca frustrada c faminta, são da mesma boat. O significado dessa integração é enorme para a génese da depressão → O AMOR E O ÓDIO NA DEPRESSÃO: A compreensão <!e (|iie o amor e o ódio máximos podem ambos ser expressos pelos mcsnios órgãos corporais, <le que tanto o amor como o óxlio máximos podem ser

Scott, W. C. M., Um Conceito Psicanalítico Da Orígem Da Depressão (Resumo e Comentários)

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Page 1: Scott, W. C. M., Um Conceito Psicanalítico Da Orígem Da Depressão (Resumo e Comentários)

Scott, W. C. M. (1969). Um conceito psicanalítico da orígem da depressão. In M. Klein, P. Heimann & R. E. Money-Kyrle (Eds.), Novas Tendências na Psicanálise (pp. 67-77). Rio de Janeiro: Zahar Editores.

ORIGEM

→ Muitos dos conceitos que apresentarei se baseiam cm evidências pessoalmente obtidas durante o tratamento psicanalítico de neuroses com depressão e com estados maníaco-depressivos em diferentes sexos, de diferentes idades desde o final da infância até a idade avançada.

DOS OBJECTOS PARCIAIS EM DIARECÇÃO ÀS PESSOAS TOTAIS→ Desde o mais primilivo período de vida, um aspecto dessas atividades agradáveis ou desagradáveis é sua direção, nomeadamente a direção do inovimenlo ou intercâmbio cntre o que se pode designar como os miintios externo e interno, ou a direção do intercâmbio entre esse mundo interno e o mundo externo, por exemplo, inspirar, expirar, engolir, vomitar etc. Só lentamente, no esquema evolutivo das coisas, as "pessoas" tal como os adultos as conhecem, são incluídas. Primitivamente, o mundo consiste naquilo que os adultos chamariam de "partes" — seios, rostos, mãos etc. Só lentamente, no esquema das coisas, se desenvolve um "eu" como "pessoa total" ou se configuram "outras pessoas" como "¡pessoas totais".

ONDE SE INSERE A DEPRESSÃO NO ESQUEMA DOS OBJECTOS PARCIAIS→ Só lentamente surgem as distorções entre o que mais tarde se denominam percepções, lembranças, imagens etc. Ao longo dessa linha de desenvolvimento, podcm-sc descobrir pontos cniciais, e parece que num desses pontos cruciais a depressão se torna possível pela primeira vez. Previamente, são possíveis afetos mais simples, tais como a ira, o prazer, a dor, o medo. É cm relação à maneira cm que surgem esses primeiros sentimentos depressivos e são manejados que podemos verificar a cs(ierança de compreender os sintomas das depressões tdtcriorcs c entender como podem ser tratados. Ë aqui que observamos os começos do desenvolvimento da tolerância normal da depressão, dos processos normais de lidar com a depressão, e também os primórdios dos estados depressivos patológicos.

A INTEGRAÇÃO DO BOM E DO MAU, DA SATISFAÇÃO E DA FRUSTRAÇÃO NA ORIGEM DA DEPRESSÃO→ Mais cedo ou mais tarde, produz-se uma integração suficiente para o bebe perceber que as lembranças do seio amoroso e satisfatório e as do seio frustrante e odiado são as de um mesmo e único seio, c que as lembranças íla boca feliz e sugadora, c as lembranças da boca frustrada c faminta, são da mesma boat. O significado dessa integração é enorme para a génese da depressão

→ O AMOR E O ÓDIO NA DEPRESSÃO: A compreensão <!e (|iie o amor e o ódio máximos podem ambos ser expressos pelos mcsnios órgãos corporais, <le que tanto o amor como o óxlio máximos podem ser scnliifos em relação ao mesmo objeto, c de i|ue esse objeto pode ser lanto satisfatório como frustrante, ou pode parecer simullâneamenle amoroso c odioso, é crucial..

→ QUANDO A RESERVA AMOR É MAIOR DO QUE A DO ÓDIOQuando a reserva de amor é maior que a de ódio, pode-se usar rapidamente o amor para superar, anular, reparar os efeitos do ódio. Pode-se utilizar o amor cm .seguimento íi uma separação, ou à morte, de uma pessoa amada, para manter a recordção viva c para conservar viva a confiança na capacidade de amar e ser amado, e por conseguinte para acreditar que as pessoas dij^nas do nosso amor c as pessoas que nos podem amar ainda existem no mundo exterior

→ QUANDO A RESERVA DO ÓDIO É MAIOR DO QUE A DO AMORSe a ira é superior ao amor — se as lembranças íou seus substitutos simbólicos) <le muitos atos, impulsos c imaginações ag,ressivos são mais pixlerosos que as lembranças de amor — então surgem desesperança e ansiedades clcpressivas, relacionadas com a convicção de que a pessoa só pode (iraliear coisas m.ás e que dela só podem ser esperadas coisas más. Tsso pode acarretar uma situação em i|ue se deve destruir o eu para proteger da própria maldade as pessoas e os objetos que vão com|xir os próprios mundos interior c exterior.

RELAÇÃO ESSENCIAL ENTRE O EGO E O OBJECTO NA GÉNESE DA DEPRESSÃO→ os estados depressivos c as ansiedailes depressivas (culpa, remorso, pesar etc.) potlem surgir cm conexão com objetos parciais tic amor c ódio simultâneos, que se concebem como possuidores de uma existência contínua. Na análise de crianças deprimidas c de adultos maníaco-Jepressivos, o conteúdo da análise pode lidar, sobretudo, com lembranças (ou seus substitutos simbólicos) de repetições de amor e ódio coincidentes por objetos parciais, mas objetos parciais que se percebem como possuidores de uma existência contínua. É essa situação que parece conter o mais significativo relacionamento do eu e do objeto para a compreensão da génese da depressão.

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→ IDENTIFICAÇÃO DO ÓDIO E AMOR AMBÍGUOS DO DEPRIMIDO POR ALGUÉM E SUA PREVALÊNCIA ORALO conteúdo do comportamento e da fala da JXÍSSM deprimida icm relação tx^m seu esforço cm <lcscobrir um modo satisfatório de lidar com a percepção de que seu ódio por determinada pessoa é maior do que seu amor siniultâneo pela mesma pessoa, sem negar ao mesmo tempo ((ue é cia tiucm sente tanto amor como ódio, (• sem negar i|ne é |H-1:I mesma |iessoa que cia sente igualmcnie amor e ódio, O c|uadi'o sinlomálico miilliplo deve considerar a uature/.a dos impulsos, atos e imaginações de amor e ódio, na fase inicial do desenvolvimento, (|uaiulo principiou a integração já cilada. Nesse ¡leríodo, os impulsos, atos c imaginações são predominantemente orais.

PROGNÓSTICO E TRATAMENTO PARA O DEPRIMIDO→ Independentemente da idade da pessoa, se ela não manejou com êxito a situação depressiva infantil manterá toda a vida uma atitude infantil diante dos perigos de perceber que c um ser que pode tanto amar como odiar simultaneamente e pode sentir ao mesmo tempo ambos os sentimentos pela mesma pessoa. Sc é tratada, pode-sc colocar frente a frente com a intensidade dos complicados sentimentos apropriados à sua situação presente, c pode durante algum tempo sofrer mais severamente enquanto está aprendendo a lidar, pela primeira vez, saudàvelmente com a depressão.

CONCLUSÃO→ Volto a enunciar a fórmula: a partir da compreensão de que é possível a mesma e única pessoa amar e odiar ao mesmo tempo, e a partir da compreensão de que se pode sentir esse amor c ódio pela mesma e única pessoa, emerge a capacidade humana para a depressão tanto normal como anormal. As vicissiludes do desequilíbrio cnire os imjiul-sos de amor e de ódio delcrminam o desenvolvimento normal ou anormal subsequente com respeito ;\ cajiacidadc de enfrentar de modo sadio a depressão.