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7/17/2019 sebenta obrigações http://slidepdf.com/reader/full/sebenta-obrigacoes 1/171 Faculdade de Direito da UCP Observações preliminares A parte geral do Direito das Obrigações foi durante muitos anos leccionada na Faculdade de Direito da Universidade Católica numa disciplina anual. Com a reforma preparatória da implementação do sistema de Bolona! foi dividida em duas disciplinas semestrais" a primeira simplesmente designada Direito das Obrigações e a segunda Cumprimento e Não Cumprimento das Obrigações. Os programas das duas disciplinas são elaborados de forma a assegurar #ue $ no seu con%unto $ se%am leccionadas todas as mat&rias fundamentais da parte geral do Direito das Obrigações. 'ste programa corresponde ( primeira destas duas disciplinas.  Alterações legislativas Cama)se a atenção para as alterações legislativas dos anos *++, e *++- com maior relevncia  para as mat&rias em estudo"  Lei nº 24/2007, de 1 de !u"#o $ De%ine direitos dos utentes nas &ias rodo&i'rias ("assi%i(adas (omo auto)estradas (on(essionadas, itiner'rios prin(ipais e itiner'rios (omp"ementares  De(reto)Lei nº 2*1/2007, de 21 de +gosto $ No&o regime do seguro de responsabi"idade (i&i" obrigatrio por a(identes de &iação  Lei nº -7/2007, de .1 de Deembro $ No&o regime de responsabi"idade (i&i" etra(ontratua" do  stado e demais entidades pb"i(as  De(reto)Lei nº 11-/200, de 4 de !u"#o $ No&as medidas de simp"i%i(ação de %orma e  %orma"idades de a(tos e pro(essos 3urdi(os, desta(ando)se a a"teração dos seguintes pre(eitos do Cdigo Ci&i"5 arts6 410º, 41.º, 7º, --0º, 714º, 7º, *.0º6 *47º, 114.º, 12.2º, 12.*º, 120º, 141*º, 1422º)+ e 212-º  De(reto)Lei nº 22/2007, de 2. de Outubro $ 8e&isão da 9abe"a Na(iona" de :n(apa(idades por  +(identes de 9raba"#o e adopção da primeira 9abe"a Na(iona" para +&a"iação de  :n(apa(idades ;ermanentes em Direito Ci&i"  ;ortaria nº .77/200, de 2- de <aio $ 8egime de apresentação de =proposta rao'&e"> de indemniação do dano (orpora" das &timas de a(identes de &iação PROGRAMA Introdução /. Conceito de obrigação *. Considerações a respeito do conceito t&cnico de obrigação. 'm particular o car0cter relativo dos direitos de cr&dito e a tese da efic0cia e1terna das obrigações DIOGO CASQUEIRO  1

sebenta obrigações

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Faculdade de Direito da UCP

Observações preliminares

• A parte geral do Direito das Obrigações foi durante muitos anos leccionada na Faculdade de

Direito da Universidade Católica numa disciplina anual. Com a reforma preparatória daimplementação do sistema de Bolona! foi dividida em duas disciplinas semestrais" a primeira

simplesmente designada Direito das Obrigações e a segunda Cumprimento e Não Cumprimento

das Obrigações.

• Os programas das duas disciplinas são elaborados de forma a assegurar #ue $ no seu con%unto $ 

se%am leccionadas todas as mat&rias fundamentais da parte geral do Direito das Obrigações.

• 'ste programa corresponde ( primeira destas duas disciplinas.

 Alterações legislativas

Cama)se a atenção para as alterações legislativas dos anos *++, e *++- com maior relevncia

 para as mat&rias em estudo"

•  Lei nº 24/2007, de 1 de !u"#o $ De%ine direitos dos utentes nas &ias rodo&i'rias ("assi%i(adas

(omo auto)estradas (on(essionadas, itiner'rios prin(ipais e itiner'rios (omp"ementares

•  De(reto)Lei nº 2*1/2007, de 21 de +gosto $ No&o regime do seguro de responsabi"idade (i&i" 

obrigatrio por a(identes de &iação

•  Lei nº -7/2007, de .1 de Deembro $ No&o regime de responsabi"idade (i&i" etra(ontratua" do

 stado e demais entidades pb"i(as•  De(reto)Lei nº 11-/200, de 4 de !u"#o $ No&as medidas de simp"i%i(ação de %orma e

 %orma"idades de a(tos e pro(essos 3urdi(os, desta(ando)se a a"teração dos seguintes pre(eitos

do Cdigo Ci&i"5 arts6 410º, 41.º, 7º, --0º, 714º, 7º, *.0º6 *47º, 114.º, 12.2º, 12.*º, 120º,

141*º, 1422º)+ e 212-º 

•  De(reto)Lei nº 22/2007, de 2. de Outubro $ 8e&isão da 9abe"a Na(iona" de :n(apa(idades por 

 +(identes de 9raba"#o e adopção da primeira 9abe"a Na(iona" para +&a"iação de

 :n(apa(idades ;ermanentes em Direito Ci&i" 

•  ;ortaria nº .77/200, de 2- de <aio $ 8egime de apresentação de =proposta rao'&e"> de

indemniação do dano (orpora" das &timas de a(identes de &iação

PROGRAMA

Introdução

/. Conceito de obrigação

*. Considerações a respeito do conceito t&cnico de obrigação. 'm particular o car0cter relativo dos

direitos de cr&dito e a tese da efic0cia e1terna das obrigações

DIOGO CASQUEIRO   1

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2. 3elevncia do interesse do credor como fim da obrigação. 4rotecção secund0ria do interesse do

devedor 

5. 4rinc6pios fundamentais do direito das obrigações. A boa f&

7. Confronto entre o direito das obrigações os outros ramos civil6sticos

8. 9odalidades das obrigações #uanto ao v6nculo. As obrigações naturais

Fontes das obrigações

I – Contratos

/. Aspectos gerais

*. 3elações contratuais de facto

2. 4rinc6pios fundamentais do regime dos contratos

2./. 4rinc6pio da liberdade contratual2././. :iberdade de celebração dos contratos

2./.*. :iberdade de fi1ação do conte;do dos contratos

2./.2. <utela do consumidor" breve refer=ncia ( importncia desta tutela> ?remissão para o

estudo do regime das C"'usu"as Contratuais ?erais@

2.*. 4rinc6pio do consensualismo

2.*./. Contratos consensuais e contratos solenes ou formais

2.*.*. Contratos com efic0cia real. A cl0usula de reserva de propriedade

2.2. 4rinc6pio da boa f&. A responsabilidade pr&)contratual ?remissão@

2.5. 4rinc6pio da força vinculativa

2.5./. Desvios ao princ6pio da estabilidade dos contratos

A 3esolução! revogação e den;ncia dos contratos

B 3esolução ou modificação dos contratos por alteração das circunstncias

a <eorias da cl0usula rebus si( stantibus! da imprevisão! da

 pressuposição e da base do negócio

 b olução do direito portugu=s

2.5.*. Desvios ao princ6pio da relatividade dos contratos

A Contrato a favor de terceiroB Contrato para pessoa a nomear 

2.7. 'fic0cia ulterior dos contratos. A responsabilidade pós)contratual

5. Classificações dos contratos ?remissão@

7. Contratos mistos

8. Contrato)promessa

8./. oção

8.*. Disciplina %ur6dica

8.2. Disposições respeitantes ( forma e ( substncia

8.5. 'feitos da promessa. Atribuição de efic0cia real

8.7. ão cumprimento do contrato)promessa

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8.7./. '1ecução espec6fica

8.7.*. 3esolução do contrato

8.8. Outras violações do contrato)promessa. A falta de legitimidade

,. 4acto de prefer=ncia

,./. oção,.*. 3e#uisitos de forma e de substncia

,.2. '1erc6cio do direito de prefer=ncia

,.5. 4refer=ncia legal

,.7. 'fic0cia real do pacto de prefer=ncia

,.8. iolação da prefer=ncia. Conse#u=ncias

II – Negócios unilaterais

/. oção e sua admissibilidade como fonte de obrigações

*. 9odalidades

*./. 4romessa de cumprimento e reconecimento de d6vida

*.*. 4romessa p;blica

*.2. Concurso p;blico

III – Gestão de negócios

/. oção e en#uadramento geral do instituto

*. 3e#uisitos

2. Enstitutos afins

5. 3elações entre o gestor e o dono do negócio

5./. Obrigações do gestor 

5.*. Obrigações do dono do negócio

5.2. Apreciação da culpa do gestor 

7. Aprovação e ratificação da gestão

8. estão de negócios representativa e não representativa

IV – nri!ueci"ento se" causa

/. oção e pressupostos

/./. 3e#uisitos positivos

/.*. 3e#uisitos negativos

*. Gipóteses especiais de enri#uecimento sem causa

2. Obrigação derivada do enri#uecimento sem causa. Diferentes soluções

5. 4rescrição

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V – Res#onsabilidade ci$il

/. oção. 3esponsabilidade civil e responsabilidade penal

*. 'volução istórica da responsabilidade civil e seus problemas actuais

2. 3esponsabilidade civil obrigacional e responsabilidade civil e1tra)obrigacional2./. Assento da mat&ria no Código Civil

2.*. Concurso das duas formas de responsabilidade

5. El6cito intencional e il6cito meramente culposo

7. 3esponsabilidade por factos il6citos

7./. Facto. Acções e omissões

7.*. Elicitude

7.*./. Formas de ilicitude

7.*.*. Causas de e1clusão da ilicitude

7.2. Emputação do facto ao agente. A culpa

7.2./. Emputabilidade

7.2.*. Dolo e mera culpa

7.2.2. 4rova e presunções de culpa

7.2.5. 4luralidade de respons0veis

7.5. Dano

7.5./. oção e esp&cies de dano

7.5.*. 3essarcibilidade dos danos não patrimoniais

7.7. e1o de causalidade entre o facto e o dano7.7./. <eoria da causalidade ade#uada

7.7.*. 4roblema da causa virtual ou ipot&tica

7.8. 4rescrição

8. 3esponsabilidade pelo risco

8./. Formulação do problema

8.*. Casos de responsabilidade pelo risco

8.*./. 3esponsabilidade do comitente

8.*.*. 3esponsabilidade do 'stado e outras entidades p;blicas ?remissão@

8.*.2. Danos causados por animais

8.*.5. Acidentes causados por ve6culos

A 4essoas respons0veis

B Benefici0rios da responsabilidade

C Causas de e1clusão da responsabilidade

D Colisão de ve6culos

' Danos indemniH0veis

F :imites de responsabilidade

4luralidade de respons0veis

8.*.7. Danos causados por instalações de energia el&ctrica ou g0s

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8.*.8. Casos de responsabilidade ob%ectiva não regulados no Código Civil. 'm especial a

responsabilidade civil do produtor 

,. 3esponsabilidade por factos l6citos

-. Obrigação de indemniHação

-./. Danos compreendidos na indemniHação-.*. 4rincipais doutrinas

-.*./. Doutrina da e#uival=ncia das condições

-.*.*. Doutrinas selectivas

-.*.2. Doutrina da causalidade ade#uada

-.*.5. 4roblema da causa virtual ou ipot&tica

-.2. Formas e c0lculo de indemniHação

-.2./. Formas de indemniHação

-.2.*. C0lculo da indemniHação. A teoria da diferença e suas e1cepções

-.5. Concausalidade. Culpa do lesado

%I%&IOGRAFIA 'O%RA( GRAI()

Manual de re*er+ncia

9. I. A:9'EDA CO<A! Direito das Obrigações! //J edição! Almedina! Coimbra! *++-

Outras obras de car,cter geral

• E. A:KO <'::'!  Direito das Obrigações! ,J edição! Coimbra 'ditora! Coimbra! /LL/ Mcom

sucessivas reimpressões

• I. 9. A <U' A3':A! Das Obrigações em gera" ! ol. E! /+J edição! Almedina! Coimbra! *+++

Mcom sucessivas reimpressões• :. 9''N' :'E<KO! Direito das Obrigações! ol. E! ,J edição! Almedina! Coimbra! *++-

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Entrodução

/. Conceito de Obrigação/

Conceito de Obrigação em sentido lato

Dentro do conceito de obrigação em sentido lato podemos incluir in;meras realidades. O termo

engloba as situações #ue se caracteriHam pelo facto de uma ou v0rias pessoas se encontrarem adstritas a

uma determinada conduta. fre#uentemente usado para indicar o elemento passivo de #ual#uer relação

 %ur6dica. este sentido englobar0"

/. Dever %ur6dico $ 3epresenta o correlato dos direitos sub%ectivos*! propriamente ditos.

ão o lado passivo dos direitos sub%ectivos. Consiste na necessidade de observação de determinada

conduta! imposta pela ordem %ur6dica a uma ou diversas pessoas para tutela de um interesse de outrem e

cu%o cumprimento se garante atrav&s de meios coercivos ade#uados. 4odem os direitos sub%ectivos ser 

relativos Mopon6veis a apenas su%eitos determinados $ ideia de barricada #ue protege numa frente mas não

nas outras. '1" direitos de cr&dito ou absolutos Mopon6veis erga omnes $ ideia de uma esfera #ue protege

em todas as direcções. '1" direitos reais. G0! de igual forma! dentro dos deveres %ur6dicos! #ue distinguir 

entre"

a Dever %ur6dico espe(ia" ou parti(u"ar >

 b Dever %ur6dico gera" ou uni&ersa" >

*. 'stado de su%eição $ Corresponde ao direito potestativo. Direito potestativo &! como %0

noutro lugar se referiu! o poder ou faculdade de! por mera declaração de vontade! produHir!

inelutavelmente! efeitos %ur6dicos na esfera %ur6dica de outrem $   a(to uni"atera" . O estado de su%eição

corresponder0 a uma situação inelut0vel de suportar na esfera %ur6dica própria as conse#u=ncias do

e1erc6cio de um direito dessa natureHa. '1" situação do mandat0rio #uanto ( revogação do mandato! a

servidão legal de passagem Mart. /77+P. Ao contr0rio do #ue sucede com o dever %ur6dico! o titular 

 passivo da relação nada tem a faHer para a satisfação do referido interesse! assim como le & imposs6vel

impedi)la" o direito potestativo e1erce)se por mero acto de vontade do seu titular>

2. Qnus %ur6dico2   $ a necessidade de adoptar certa conduta para a obtenção ou

conservação de uma vantagem própria. O acto a #ue o ónus se refere não & imposto como um dever.

<utela)se um interesse do onerado. '1" Qnus de deduHir contestação e de impugnar 5  ) no direito

/ A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 87 e ss.> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 7/ a 85.* Antunes arela define Direito sub%ectivo como o poder conferido pela ordem %ur6dica a certa pessoa de eigir determinado comportamento de outrem! como meio de satisfação de um interesse próprio ou aleio.2 Antunes arela afirma #ue & distinto do modo #ue &! pelo contr0rio! um verdadeiro dever %ur6dico. O modo funciona

como uma limitação ou restrição da liberalidade! e não como um correspectivo ou contraprestação da atribuição patrimonial proveniente da outra parte.5 C.4.C.! art. 5-8P! 5L+P e 7+7P.

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 processual. '1ig=ncia de registo para oponibilidade de certos factos a terceiros7  ) no direito civil

substantivo>

5. Antunes arela fala ainda em direitos)deveres Mpoderes funcionais $ situações em #ue

o direito & conferido no interesse! não do titular ou não apenas do titular! mas tamb&m de outraMs pessoaMs e #ue só são legitimamente e1ercidos #uando se mantenam fi&is ( função a #ue se encontram

adstritos. Distinguem)se dos direitos sub%ectivos patrimoniais por#ue o titular não & livre no seu e1erc6cio.

Conceito de Obrigação em entido 'strito ou <&cnico)Iur6dico

Ruando a palavra obrigação ad#uire um significado predominantemente estrito ou t&cnico!

designa as relações obrigacionais ou creditórias.

4ara se cegar ao conceito #ue a#ui se aborda partamos da an0lise de dois preceitos importantes"

os art. 2L, e 2L-PS*.

Art- ./01 ) Obrigação & o v6nculo %ur6dico por virtude do #ual uma pessoa fica adstrita para com

outra ( realiHação de uma prestação.

A prestação #ue a#ui se refere deve ser entendida como uma conduta. ' esta conduta! como

e1plicita o art. 2L-PS/! pode consubstanciar)se numa actuação positiva ou numa omissão Mnon %a(ere.

9as estas prestações negativas! como afirma Antunes arela! serão nulas se contrariarem a ordem p;blicaou se implicarem uma limitação ( liberdade das pessoas contr0ria ( lei. FaH este preceito um apelo ao

 princ6pio da autonomia privada! #ue & regra no Direito das Obrigações Mart. 5+7P! em oposição ao

 princ6pio da tipicidade #ue impera nos Direitos 3eais e #ue & raro nas Obrigações. Os limites legais #ue

são referidos são os genericamente consagrados nos art. *-+P e ss.

Art- ./2134 $ a prestação não necessita de ter um valor pecuni0rio 8! mas deve corresponder a um

interesse do credor! digno de protecção legal.

Comecemos pelo interesse do credor! legalmente tutelado. Da leitura do preceito! resulta #ue não

são admiss6veis prestações #ue visem satisfaHer um mero caprico do credor e para e1cluir! por outro! as

 prestações #ue! não merecem a tutela espec6fica do Direito! mas de ordens como a moral! a religiosa! a do

trato socialT

O #ue o art. vem estatuir & #ue temos de encontrar a margem das prestações #ue! não tendo valor 

 pecuni0rio! mereçam tutela %ur6dica.

7 Depois de uma evolução do conceito de terceiro! entende)se como segue" <erceiros! para efeitos de registo! sãoa#ueles #ue tenam ad#uirido de um autor comum direitos incompat6veis entre siV.8 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. /+/ a /+7.

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Ruanto ( patrimonialidade da prestação ou ao seu valor pecuni0rio! a doutrina tradicional

considerava #ue esta era um elemento do conceito de obrigação. 9as a patrimonialidade tem um duplo

sentido"

/. Alude)se ( e1ig=ncia de #ue a prestação debitória revista necessariamente natureHa

económica! #ue se mostre suscept6vel de avaliação pecuni0ria. 'ste re#uisito est0 o%eafastado. e o interesse do credor for atend6vel! & l6cita a constituição de uma obrigação sem

conte;do económico. Desde #ue a ee(ução espe(%i(a ou rea"  pode abranger as coisas com

simples &a"or estimati&o  McartasT! nenuma raHão 0 para #ue a lei não sancione as

obrigações cu%a prestação careça de valor pecuni0rio>

*. A patrimonialidade da obrigação significa! por outro lado! #ue o inadimplemento só confere

ao credor a possibilidade de agir contra o património do devedor e não contra a sua pessoa

Mart. 8+/P e -/,P. '1emplo disto & a proibição da prisão por d6vidas.

O #ue se tem vindo a verificar & #ue %0 não ser0 e1acto falar em patrimonialidade da obrigação

no primeiro sentido! embora a maior parte dos v6nculos obrigacionais revistam essa natureHa. 9as %0 esta

caracter6stica ser0 pertinente na sua segunda acepção $ em caso de inadimplemento! #uem responde serão

os bens do devedor e não a sua pessoa.

Da con%ugação dos dois preceitos! dir)se)0 obrigação o v6nculo %ur6dico por virtude do #ual uma

 pessoa fica adstrita para com outra ( realiHação de uma prestaçãoV! #ue deve corresponder a um interesse

do credor! digno de protecção legalV. Do ponto de vista activo! o instituto definir)se)0 como o v6nculo

 %ur6dico merc= o #ual uma ou mais pessoas podem e1igir ou pretender! de outra ou outras! uma prestação.

 as obrigações civis pode e1igi)la. as naturais! apenas a pode pretender.

I0 verific0mos #ue e1istem deveres %ur6dicos especiais ou particulares e gerais ou universais. A

obrigação em sentido estrito pertence ( esfera dos primeiros. Os deveres universais ou gerais t=m como

correlato os direitos absolutos. As obrigações em sentido t&cnico são! então! a#ueles deveres #ue t=m no

lado activo um direito de cr&dito. Como afirma! e bem! Antunes arela! o dever %ur6dico não se confunde

com o lado passivo das obrigações #ue & sempre um dever de prestar. Ao dever %ur6dico podem)se

contrapor os direitos pb"i(os! direitos de (r@dito, direitos reais, direitos de persona"idade, direitos

(on3ugais e os direitos de pais e %i"#os. ! pois! uma categoria bem mais ampla #ue os deveres de prestação correspondentes (s obrigações. 'n#uanto #ue as obrigações abarcam apenas os deveres

espec6ficos ou particulares! o dever %ur6dico abrange estes e ainda os deveres gen&ricos ou universais.

Direito das Obrigações W Direitos de cr&dito

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Faculdade de Direito da UCP

Anverso e reverso da mesma medala

Credor e devedor.

As obrigações não autónomas,

Um grande contingente das obrigações em sentido t&cnico nasce! sem #ue a%a entre as partes

#ual#uer v6nculo pr&vio. Outras! como as #ue resultam da pr0tica de um facto il6cito! pressupõem %0 um

v6nculo %ur6dico pree1istente $ mas um v6nculo de car0cter gen&rico.

 As obrigações Bue num &n(u"o 3urdi(o preeistente ou Bue pressupõem, na sua (onstituição,

um simp"es &n(u"o de (ar'(ter gen@ri(o tem a doutrina dado o nome de obrigações autnomas. unca se

duvidou de #ue as obrigações autónomas estão su%eitas (s disposições legais #ue fi1am a disciplina  gera" 

das obrigações. 9as %0 se discute fre#uentes veHes na doutrina se estão igualmente subordinadas ao

mesmo regime! e se devem ser inclu6das no conceito  gera" das relações de cr&dito! as numeros6ssimas

obrigações em sentido t&cnico #ue! estando integradas em relações de tipo diferente! pressupõem a

e1ist=ncia de um v6nculo %ur6dico espe(ia" entre as partes.

 estes casos a obrigação carece de autonomia! por#ue pressupõe a e1ist=ncia pr&via entre as

 partes de um v6nculo espe(ia"  de outra natureHa. ' por isso se pode perguntar se ela deve ou não ser 

incorporada no conceito estrito de obrigação.

Desde #ue a disciplina leal das obrigações em geral considera deliberadamente as relações

creditórias na sua natureHa intrnse(a! abstraindo do fenómeno vital M %onte  de onde elas emergem! a

resposta não pode! em princ6pio! dei1ar de ser afirmativa.Dado o regime geral das obrigações prescindir do ne1o #ue as prende ( sua fonte! fica aberto o

espaço para uma ampla Hona de problemas comuns! com an0logos conflitos de interesses! re#uerendo em

 princ6pio as mesmas soluções! entre as obrigações autnomas  e as obrigações não autnomas  ou

dependentes. ão são feitas alusões a este re#uisito da autonomia na definição legal do art. 2L,P.

Assim! em rigor! parece não poder considerar)se como obrigações senão os v6nculos %ur6dicos

autónomos. Contudo! em princ6pio! em tudo o #ue não estiver especialmente regulado! são aplic0veis a

estas obrigações não autónomas as disposições #ue regulam as obrigações propriamente ditas! e! por isso!

se englobam neste artigo! num mesmo conceito! os dois tipos de obrigações.

3eserva" o regime  gera"   das obrigações não pode dei1ar de considerar)se su%eito aos des&ios

impostos pela natureHa especial dos v6nculos #ue precedem as obrigações não autnomas. '1emplo

desses desvios & o do abandono "iberatrio Mart. /5//PS/ $ o propriet0rio de coisa liberta)se da obrigação

#ue sobre ele recai na #ualidade de titular de um direito real! mediante a ren;ncia unilateral ao seu direito

em benef6cio do credor -.

, A<U' A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 8L a ,*.- er ainda art. *+/*P! *++-PS/ e *! *+,+P e *+,/P.

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*. Considerações a respeito do conceito t&cnico de obrigação. 'm particular! o car0cter 

relativo dos direitos de cr&dito e a tese da efic0cia e1terna das obrigaçõesL.

O problema da relação obrigacional como um todo e como um processo! ou 3elações obrigacionais

simples e comple1as

e tomarmos a relação obrigacional como una ou simp"es então significa #ue 0 um só cr&dito e

a respectiva d6vida. Compreende o direito sub%ectivo atribu6do a uma pessoa e o dever %ur6dico ou estado

de su%eição correspondente #ue recai sobre a outra.

Dir)se)0 m;ltipla ou comple1a #uando representa um con%unto de v6nculos emergentes do

mesmo facto %ur6dico> #uando abrange o con%unto de direitos e deveres ou estados de su%eição nascidos do

mesmo facto %ur6dico.

igamos a e1posição do 4rofessor Antunes arela. e tomarmos em consideração o mais b0sicodos contratos! #ue & a compra e venda! verificamos #ue a relação %ur6dica obrigacional dele nascida & %0

uma relação Mobrigação m;ltipla ou comple1a. ' maior ser0 a comple1idade #uando a esses dois direitos

e deveres! outros direitos e deveres correlativos se venam en1ertar na relação constitu6da entre vendedor 

e comprador.

Facilmente se v= #ue a distinção entre a relação obrigacional comple1a e as obrigações simples

#ue podem ser isoladas dentro dela! torna)se sobretudo evidente nas relações obrigacionais duradouras!

como o contrato de locação. Xs duas ou mais obrigações #ue se constituem inter partes no momento da

 perfeição do contrato acrescem ainda as #ue se vão constituindo entre elas ( medida #ue a relação

contratual se desenvolve no tempo. A ideia de #ue a obrigação! na sua acepção mais ampla! compreende

todos os poderes e deveres #ue se vão constituindo no seio da relação levou :A3'N a lançar a

concepção de obrigação como uma estrutura ou pro(esso. A obrigação ser0 uma relação não só comple1a!

mas essencialmente mut0vel no tempo e orientada para determinado fim.

4or outro lado! en#uanto as obrigações simples se e1tinguem com o cumprimento ou #ual#uer 

outra causa de sua e1tinção! a relação obrigacional comple1a pode ainda cessar por #ual#uer das causa

#ue e1tinguem directamente o facto %ur6dico donde ela emerge.

9as mesmo as obrigações unas! tem salientado a doutrina recente! t=m comple1idade. Assim

entendida! reflecte)se no v6nculo obrigacional em geral e traduH)se na s&rie de deveres!  se(und'rios  e

a(essrios de (onduta #ue gravitam muitas veHes em torno da prestação principal.

3etomando agora a lição de Almeida Costa! numa compreensão globaliHante da obrigação!

temos! ao lado dos deveres de prestação $ tanto  prin(ipais como a(essrios $! os deveres "aterais! al&m

de direitos potestati&os, su3eições, nus 3urdi(os, epe(tati&as 3urdi(as

<odos estes elementos se coligam em atenção a uma identidade de fim e constituem o conte;do

de uma relação de car0cter unit0rio e funcional" a re"ação obriga(iona" (omp"ea. Assim encarada! como

um processo ou sistema ou organismo! ficamos com uma mais rigorosa compreensão do instituto.

L A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. ,2 a -+! L/ a /+/>A<U' A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 85 a 8-.

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Concluindo e resumindo! a relação obrigacional comple1a compreende"

/.  De&eres de prestação prim'rios ou prin(ipais $ são estes e os respectivos direitos! o n;cleo

dominante! a almaV. ão! pois! #uem define o tipo contratual>

*.  De&eres se(und'rios ou a(identais de prestação $ podem eles revestir duas modalidades"

a.  De&eres se(und'rios meramente a(essrios da prestação prin(ipa"   $ destinam)se a

 preparar o cumprimento ou a assegurar a sua perfeita realiHação. 'stão dependentes da prestação

 principal>

 b.  De&eres se(und'rios (om prestação autnoma"

i. O dever secund0rio pode ser su(edneo do de&er prin(ipa" de prestação Mcaso

de indemniHação por impossibilidade culposa da prestação origin0ria! #ue substitui esta>

ii. O dever secund0rio & (oeistente (om o de&er prin(ipa" de prestação Mcaso de

indemniHação por mora ou por cumprimento defeituoso! #ue acresce ( prestação principal>

2.  De&eres "aterais $ derivados de uma cl0usula contratual! de dispositivo da lei Yad ocZ ou do

 princ6pio da boa f&. 'stes deveres interessam ao e1acto processamento da relação obrigacional! ( e1acta

satisfação dos interesses globais envolvidos na relação obrigacional comple1a. ão agrupados em cincocategorias"

a. Deveres de cuidado! previd=ncia e segurança>

 b. Deveres de aviso e informação>

c. Deveres de notificação>

d. Deveres de cooperação>

e. Deveres de protecção e cuidado relativamente ( pessoa e património da contraparte.

5. 4ode aver ainda outros elementos! como se%am! direitos potestativos! su%eições! ónus %ur6dicos!

e1pectativas %ur6dicas! poderes e faculdades e e1cepções.

Conse#u=ncias da relação obrigacional ser comple1a"

O e1emplo do caso da casca de banana. A senora tropeçou! donde resultaram danos! e #uis

 processar o vendedor por responsabilidade contratual. Contratual por#ue o ónus da prova recai sobre o

vendedor e não sobre a senora. e a responsabilidade fosse e1tracontratual! então o ónus da prova seria

invertido. Ora! tomando a relação obrigacional como um processo! como comple1a! & poss6vel ( senora

intentar a acção por responsabilidade contratual.

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'm particular! o car0cter relativo dos direitos de cr&dito e a tese da efic0cia e1terna das obrigações/+

O problema com #ue a#ui nos deparamos & o de saber se! nos casos de inadimplemento! se este

tiver sido causado! ou para ele tiver contribu6do! um terceiro! se este pode ser directamente

responsabiliHado perante o credor.

<ese tradicional $ doutrina da relatividade

A relação obrigacional estabelece)se entre duas ou mais pessoas determinadas! pelo menos ( data

do cumprimento Mart. 57LP e 7//P ) promessa pb"i(a. 4ara e1primir esta sua caracter6stica de v6nculos

 particulares ou especiais! as obrigações são comummente integradas na categoria dos direitos re"ati&os.

Contrapõem)se)les os direitos abso"utos ou Yerga omnesZ! nos #uais se acentua a e1ist=ncia de

um v6nculo universal ou geral! #ue liga o su%eito activo a todos os outros indiv6duos Mdireito de

 propriedade. 'stes t=m como correlato a obrigação negati&a ou passi&a uni&ersa" ! #ue se traduH no dever 

#ue impende sobre as restantes pessoas de não perturbarem o e1erc6cio de tais direitos.

Contrariamente! a relatividade dos direitos de cr&dito significa #ue apenas valem inter partes.

Corresponde)les um dever particular ou especial! de conte;do positivo.

Os direitos absolutos podem ser ofendidos por #ual#uer pessoa! en#uanto #ue os de cr&dito só o

serão peloMs devedorMes. Assim! se o devedor não cumpre por culpa de terceiro! este apenas incorre em

responsabilidade e1tracontratual para com o devedor e não para com o credor.

Apenas indirectamente! atrav&s do património do devedor! poder0 o credor aproveitar da

indemniHação de um terceiro #ue impediu ou embaraçou o cumprimento da obrigação.

A relatividade pode então ser entendida numa dupla perspectiva. De uma perspectiva estrutural!

os direitos de cr&dito estruturam)se numa relação com base em pessoas de terminadas" o credor e o

devedor. Apenas a#uela pessoa determinada Mo credor tem o poder de e1igir ao devedor determinada

 prestação. Os direitos reais! por seu turno! não pressupõem uma relação entre duas pessoas determinadas!

mas uma relação directa entre uma pessoa e uma coisa. De uma perspectiva da efic0cia! os direitos reais

são opon6veis erga omnes e! nessa medida! podem ser violados por todos. I0 os direitos credit6cios t=m

efic0cia inter partes! pelo #ue só podem ser violados pelo devedor.

Argumentos utiliHados na defesa da posição tradicional

/. Argumento da relatividade! por#ue a obrigação estabelece)se entre pessoas determinadas>

*. Aos direitos de cr&dito assiste o princ6pio da liberdade contratual! não se encontrando

submetidos ao princ6pio da tipicidade! regentes nos direitos reais Mart. /2+8P. <amb&m (#ueles não

assistem as garantias ligadas aos direitos reais Mpublicidade social t6pica $ #ue pode ser espontnea ou

organiHada! derivando a#uela da posse e esta do registo. Assim! não são os direitos de cr&dito

normalmente conecidos ou cognosc6veis $ ónus e1agerado para terceiros. Como podem ser criados os

/+ A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. L/ a /+/> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. .

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direitos de cr&dito #ue #ual#uer individuo entenda e como não se pode e1igir #ue o terceiro coneça todo

e #ual#uer direito de cr&dito! não faria sentido responsabiliH0)lo>

2. 'ntende)se #ue a doutrina da efic0cia e1terna levaria demasiado longe a responsabilidade de

terceiros! entravando at& a actividade negocial>

5. O devedor! ao contr0rio do #ue acontece nos direitos reais e pessoais de goHo $ contrato delocação $ Mart. 5+,P! pode contrair sucessivas e distintas obrigações! incompat6veis entre si e #ue

tenderão para o incumprimento de todas menos uma. e o devedor se pode colocar nessa situação! então

 pouco ou nenum sentido far0 em responsabiliHar)se o terceiro! ainda para mais #uando os credores estão

em situação de igualdade Mart. 8+5P>

7. Ao e1cluirmos a responsabilidade do terceiro! não estamos a dei1ar o credor desprotegido.

Assim! pode suceder #ue o devedor se responsabiliHe! o #ue apenas não suceder0 se o terceiro c;mplice

agir sobre o ob%ecto da prestação ou sobre a pessoa do devedor. ' mesmo nestes casos o credor tem

sempre ao seu dispor o E(ommodumF de representação ou sub)rogação rea"  $ art. ,L5P e -+2P. O #ue a#ui

se verifica não & o terceiro responder perante o credor pelo incumprimento" & o credor sub)rogar)se nos

direitos #ue ao devedor possam advir em virtude do facto #ue tornou imposs6vel a prestação. O devedor 

 pode ainda ter assumido uma obrigação especial" cumprir a%a o #ue ouver $ garantia total e absoluta.

:ançam ainda mão do abuso de direito nas ipóteses mais cocantes $ uso de uma posição %ur6dica de

forma mani%estamente inadmiss6vel>

8. ainda uma solução #ue vem fortemente e1altada em in;meros preceitos da lei civil

obrigacional" art. 5+8PS*! 5/2P e 5*/P! 5L7PS2 e /2+8PS/.

9as a doutrina cl0ssica admite a poss6vel responsabilidade de terceiros! o #ue significa oreconecimento da efic0cia e1terna de determinados direitos. O seu fundamento & a emerg=ncia de um

dano  da violação do direito de cr&dito Mart. 5-2P. O abuso de direito constitui assim o (rit@rio de

imputação ob3e(ti&a desse dano. O #ue se encontra em causa reconduH)se sempre ( responsabiliHação!

isto &! ( atribuição do dano a uma pessoa. G0 pois #ue saber se o crit&rio do abuso do direito! entendido

como tal crit&rio ob%ectivo de imputação! se revela ou não ade#uado a proporcionar as soluções mais

 %ustas para os casos concretos.

'1cepções a este princ6pio da relatividade"

/. Art. 5/2P ) contrato)promessa com efic0cia real// ) direito rea" de aBuisição>

*. Art. 5*/P ) pacto de prefer=ncia com efic0cia real/*  $ direito rea" de aBuisição>

//  3e#uisitos" aG  constar a promessa de escritura p;blica! ou de documento particular com reconecimento daassinatura #uando a lei não e1i%a a#uela forma para o contrato prometido> bG pretenderem as partes atribuir)leefic0cia real Mdependendo esta de declaração e1pressa e de inscrição da promessa no registo> (G estarem inscritos noregisto os direitos emergentes da promessa./*  ão necess0rios! para #ue a prefer=ncia tena efic0cia real! reunir tr=s re#uisitos" 1G  bens imóveis ou móveissu%eitos a registo> 2G conste de escritura p;blica> .G se%a registado! nas condições previstas na legislação do registo predial Mart. *PS/!  %G! e art. 2P! aG do C. 3eg. 4red. er ainda art **27P do C. Civil. ote)se #ue são aplic0veis asdisposição do art. /5/+P. FaH o 5*/P uma remissão para o art. 5/2P do C. Civil para efeitos de armoniHação. A acção

de prefer=ncia deve ser intentada contra o alienante e contra o ad#uirente. A acção assenta sobre uma situação deinadimplemento do alienante. e a acção tiver sido devidamente registada Mart. 2P do C. 3eg. 4red. a sentençafavor0vel ser0 opon6vel a terceiros. e não! nova acção ter0 de se intentar contra estes.

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2. Art. 5L7P>

5. Casos em #ue o terceiro pode responder por ter agido com abuso de direito $ art. 225P ) mas a#ui

funciona como crit&rio de imputação ob%ectiva de um dano #ue emerge! e no crit&rio mais limitativo do

instituto! apenas nos casos em #ue o e1erc6cio da posição %ur6dica se%a mani%estamente e1cessiva.

Doutrina do efeito e1terno ou efic0cia e1terna das obrigações

Admite esta doutrina! al&m de uma efic0cia interna! uma efic0cia e1terna das obrigações!

traduHida no dever imposto (s restantes pessoas de respeitar o direito do credor! ou se%a! de não impedir 

ou dificultar o cumprimento da obrigação. Alude)se! a propósito! ( doutrina do ter(eiro (mp"i(e. A ideia

 b0sica & a de #ue se considera o cr&dito não só tutelado em face do devedor! mas ainda de terceiros. 'stes

 podem! no entanto! ser camados a responder directamente para com o credor por averem lesado o

direito de cr&dito.

Atenção #ue esta actuação do terceiro pode decompor)se em diversos momentos"

/. Actuação sobre o próprio cr&dito>

*. Actuação sobre o ob%ecto da prestação>

2. Actuação sobre a pessoa do devedor.

A maioria da doutrina! #ue Almeida e Costa tem por certa! não admite a teoria da efic0cia

e1terna. ' na %urisprud=ncia! ainda 0 menos dissonncia! com orientação esmagadoramente maiorit0ria

no mesmo sentido/2.

Assim! a diferença entre as duas doutrinas pode ser enunciada assim" perante um dano provocado

ao credor por terceiro! #ual o crit&rio de imputação %ur6dica a adoptar[ Doutrina do efeito e1terno" crit&rio

geral da causalidade ade#uada. Doutrina tradicional" a acrescer X#uele! o crit&rio mais limitativo do

abuso do direito. A diferença remonta ao crit&rio" causalidade ade#uada pura e simples! ou abuso do

direito.

Cabe! pois uma refle1ão sobre a e1ist=ncia de um tipo de tutela organiHada dos direitos decr&dito #ue & diverso da tutela dos direitos reais ou direitos absolutos em geral.

 + "ei atende H "igação do (r@dito ao patrimnio e estabe"e(e a sua tute"a g"oba" .  sta tute"a

rea"ia)se tamb@m atra&@s dos meios gerais do patrimnio do de&edor  Mart. 8+7P e ss..

#ue a doutrina do efeito e1terno vai! como conse#u=ncia do #ue defende! buscar os meios de

tutela ao sistema dos direitos reais! e aplic0)los aos direitos de cr&dito! o #ue se %ulga e1cessivo.

 ota" as obrigações! como %0 se disse! são acompanadas de patrimonialidade no sentido de #ue

apenas os bens do devedor respondem pelo inadimplemento. Ora a violação de um direito absoluto tem

/2 er! entre outros! Acs. <I /8)E)/L85! /,)E)/L8L e *7)\)/LL2.

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meios de tutela mais fortes! #ue não se %ustificariam e #ue poriam em causa este sentido de

 patrimonialidade.

2. 3elevncia do interesse do credor como fim da obrigação. 4rotecção secund0ria do

interesse do devedor /5.

Conv&m focar a importncia #ue assumem os interesses do credor e do devedor para o regime

das obrigações. '! desde logo! salientar #ue o primeiro se sobrepõe ao segundo. O devedor! como estatui

o art. 2L,P! encontra)se adstrito a realiHar uma prestação! #ue integra o conte;do da relação obrigacional.

'sta! não tendo um fim autónomo! dirige)se a satisfaHer um interesse do credor $ bem ou utilidade. !

 pois! o seu interesse #ue %ustifica a obrigação.

Atenção #ue! como %0 se disse! o interesse do credor tem de ser l6cito Mart. *-/P e digno de

 protecção legal Mart. 2L-PS* e 552PS/.erificando)se a satisfação do seu interesse! e1tingue)se a obrigação. Assim! não estrana #ue a

obrigação possa ser cumprida por terceiro Mart. ,8,P! se e1tinga em conse#u=ncia de dação em

cumprimento Mart. -2,P! ou at& de um facto natural ou fortuito #ue satisfaça o interesse" o

desaparecimento do interesse do credor e1tingue a obrigação $ art. 2L-PS*. De acordo com o seu interesse

se apura se a obrigação & fung6vel ou infung6vel! podendo ou não ser cumprida por terceiro Mart. ,8,P.

O interesse do credor releva tamb&m para a impossibilidade tempor0ria ou definitiva do

cumprimento Mart. ,L*PS* e -+-P/7 e #uanto ( impossibilidade parcial Mart. ,L2PS* e -+*PS*/8! assim como

 pelo #ue toca ( averiguação do cumprimento perfeito ou defeituoso. 3eleva ainda para se determinar o

#uantitativo da indemniHação a cargo do devedor inadimplente Mart. 78*P e 788PS*.

ubentendido! encontra)se um interesse do devedor em se e1onerar do v6nculo.

<odavia o devedor não est0 completamente descurado. 'm virtude do princ6pio %a&or debitoris! &

tomado em conta #uando não pre%udi#ue a satisfação do interesse do credor. Assim! podemos encontrar o

seu interesse tutelado em algumas situações"

/. Obrigações gen@ri(as e a"ternati&as Mart. 72LP e 752PS* $ a escola pertence sempre

ao devedor na falta de estipulação contr0ria. 4resume)se #ue #ual#uer prestação satisfaH o interesse docredor>

*. ;restações rea"iadas por ter(eiro $ #uando a obrigação for fung6vel! presume)se

satisfeito o interesse do credor e! logo! nada obsta Mart. ,8,P>

/5  A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. /+L a //2>A<U' A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. /7, e ss./7 Art. ,L*PS* $ a impossibilidade só & tempor0ria en#uanto! atenta a finalidade da obrigação! se mantiver o interessedo credor. ó &! pois! tempor0ria! #uando o cumprimento da obrigação & suscept6vel de mora. Art. -+-P ) o credor não pode! regra geral! resolver o contrato por mora do devedor! a não ser em caso de impossibilidade culposa Mart. -+/P.

9esmo sendo a mora parcial! o credor pode & perder o interesse na prestação. Endependente disto! o credor pode fi1ar um praHo rao'&e"  ao devedor para cumprir./8 Art. ,L2P ) se o credor não tiver interesse no cumprimento parcial! pode resolver o contrato.

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2. Como meio de tute"a e de%esa (ontra (onduta do (redor  $ caso de mora do credor 

Mart. -/2P e ss! livrar)se da obrigação mediante consignação em depósito Mart. -5/P e ainda outros casos

Mart. *L-P e 2++P e ss.

Uma ;ltima #uestão #uanto a este ponto prende)se com saber se e1iste! paralelamente aointeresse do credor! um direito a prestar por parte do devedor. esta uma #uestão controvertida! com duas

 posições.

A posição do Direito Civil! sustentada entre nós! entre outros! por Almeida Costa! & a de #ue a

falta de cooperação do credor não constituir0 um acto il6cito sempre #ue este%a em causa um nus 3urdi(o

seu/,.

De salientar! no entanto! #ue esta & uma solução de princ6pio. Outra solução pode resultar da lei!

usos ou convenção. Assim! poder0 decorrer da boa f& Mart. ,8*P e do conte;do do negócio #ue o credor 

tem um dever de receber a prestação ou de contribuir para o cumprimento! como & o caso do art. -/8P.

A posição mais recente #ue tem vindo a ser defendida pelos %uslaboralistas. Como o trabalo

desempena uma função social da maior importncia! defendem estes! 0 sempre um direito a prestar. ' a

 %urisprud=ncia laboral tem vindo a concorrer neste sentido! conferindo a trabaladores impedidos de

trabalar indemniHações por danos não patrimoniais.

5. 4rinc6pios fundamentais do Direito das Obrigações. A boa f&/-

A obrigação nasce e desenvolve)se com vista ao cumprimento. 'ste processo encontra)semarcado por princ6pios gerais. ' a#ui podemos descortinar! como fundamentais"

/. 4rinc6pio da autonomia privada ou da autonomia da vontade $ consiste ela na

faculdade concedida aos particulares de auto)regulamentação dos seus interesses>

*. 4rinc6pio da boa f& $ representa um instrumento consagrado pelo Direito como limite

ou conformação da autonomia privada $ ("'usu"a sindi(ante.

Ocupemo)nos por ora do princ6pio da boa f&! #ue fortemente imbui o Direito das Obrigações. O

Direito acole a boa f&! sob diversas perspectivas! como causa de e1clusão de culpa num acto il6cito! ou

como causa de deveres especiais de conduta.

Assim! importa um tr6ptico normativo! dirigido (s fases vitais do negócio %ur6dico e da relação

obrigacional"

/. Formação! ou celebração do contrato Mart. **,P>

*. Entegração do negócio %ur6dico $ art. *2LP>

2. Cumprimento das obrigações $ art. ,8*P.

/, Caso do empres0rio c&nico #ue contrata actor. 'ste tem direito a receber onor0rios! mas não a representar. Omesmo com o %ogador de futebol contratado por um clube desportivo./- A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. //2 e ss.

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9uitas outras manifestações 0! de #ue são e1emplos os art. 225P! 2PS/! *,*P e *,7PS*! 52,PS/.

 outra diversa ordem de situações se encontram os art. *52PS/ e *! 8/*P! /*L5P a /*L8P e /*L-P e /*LLP!

/*8LP e ss! /85,P e /85-P e *7LP.

 o grupo primeiramente apresentado! trata)se de boa f& ob%ectiva! en#uanto norma de (onduta.

 o segundo grupo consideramo)la em sentido sub%ectivo! como consci=ncia de se adoptar um

comportamento conforme ao Direito. Distingue)se assim entre princ6pio da boa f& e estado ou situação de

 boa f&. o ;ltimo caso! a boa f& reconduH)se a um conceito t&cnico)%ur6dico usado para descrever um

 pressuposto de facto da sua aplicação. o primeiro caso! diversamente! & o ditame de boa f& uma regra

 %ur6dica #ue alcança ela própria um alcance de principio geral de Direito.

7. Confronto entre o Direito das Obrigações e os outros ramos civil6sticos/L

eguir)se)0 a#ui a e1posição do 4rof. Antunes arela! sem pre%u6Ho de leitura do manual do 4rof.

Almeida Costa.

As obrigações e os direitos familiares

Comecemos por contrapor as obrigações aos direitos de fam6lia. O Direito da Fam6lia aparece a

 partir de normas #ue regulam as relações familiares propriamente ditas M(asamento, parentes(o, a%inidade

e adopção! ao lado das #uais aparecem as relações  para%ami"iares. As principais diferenças prov=m dofacto de as relações familiares se integrarem numa instituição social Ma fam6lia! cu%os fins e1ercem uma

vincada influ=ncia no seu regime %ur6dico. ' esta & a diferença entre as obrigações e os deveres familiares

de (ar'(ter patrimonia" .

I0 os deveres familiares de (ar'(ter pessoa"   apresentam diferenças mais profundas face (s

obrigações. Desde logo! en#uanto #ue a#ueles só se conceptualiHam a partir da sua função Mou

fonteScausa! estas determinam)se a partir tão)somente da sua estrutura. Depois! são a#ueles e1clusivos do

c6rculo de pessoas ligadas pelo respectivo v6nculo familiar. ' en#uanto #ue as obrigações são encaradas

como pertencentes ao modelo do direito sub%ectivo! as relações familiares são encaradas como poderes

deveres ou poderes funcionais $ não são prescritos no e1clusivo interesse da outra parte. ão verdadeiros

deveres morais impostos tamb&m no interesse da pessoa vinculada. Diferença assinal0vel & ainda o facto

de os deveres familiares se constitu6rem com intuitos duradouros en#uanto #ue as obrigações t=m um

car0cter tempor0rio! dei1ando incólumes a personalidade do devedor.

A acrescentar ainda! os direitos familiares t=m uma garantia mais fr0gil #ue os direitos de

cr&dito! comportando a sua violação uma não aut=ntica sanção ou! pelo menos! uma sanção imperfeita.

ão os direitos familiares regidos pelos princ6pios do numerus ("ausus e da tipi(idade! diferentemente dos

direitos de cr&dito.

/L  A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. /*5 a /25>A<U' A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. /85 a *+*.

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As obrigações e os direitos sucessórios

Os direitos sucessórios regulam a transmissão mortis (ausa  do património das pessoas.

AutonomiHam)se então em face da sua função! causa ou fonte. A disciplina das obrigações #ue se integrano seu mbito encontra)se fortemente marcada pelo facto de estas terem sempre uma fonte com

caracter6sticas especiais> e tamb&m não les & estrana a influ=ncia dos próprios princ6pios dominantes do

instituto da fam6lia! com o #ual as sucessões apresentam 6ntima cone1ão.

Os direitos de cr&dito e os direitos reais

eguir)se)0 a#ui a lógica do 4rof. Almeida Costa! uma veH mais! sem embargo da leitura do

manual do 4rof. Antunes arela.

Os direitos reais definem)se geralmente como atribuindo aos respectivos titulares poderes

directos e imediatos sobre coisas certas e determinadas. 4ontos de contacto"

/. Uns e outros podem constituir)se por efeito de um contrato Mart. 5+-P e -,LP! aG>

*. A ofensa de um direito real faH surgir uma obrigação em sentido t&cnico>

2. '1istem direitos reais destinados a assegurar o cumprimento das obrigações M direitos

reais de garantia>

5. 4odem constituir)se direitos reais sobre direitos de cr&dito Mpenor $ art. 8,LP a 8-7P ) e

o usufruto $ art. /582P a /58,P ) de cr&ditos>

7. G0 obrigações ligadas a direitos reais! de forma #ue o devedor se autonomiHa pela

titularidade do direito real Mobrigações reais ou ambu"atrias>

8. A lei permite conceder efic0cia real a determinados direitos de cr&dito! tornando)os

opon6veis erga omnes! mediante determinados re#uisitos Mcomo a inscrição no registo. <al & o caso do

contrato)promessa Mart. 5/2P e do pacto de prefer=ncia Mart. 5*/P! #uando observados certos re#uisitos de

 publicidade e de forma! tal como no caso da venda a retro Mart. L2*P. Certos autores #ualificam)nos como

direitos reais de aBuisição*+. 

Contudo! não se confundem. '! assim! podemos individualiHar diferenças com conse#u=ncias

não despiciendas"

/. Os direitos reais são abso"utos e de e("usão. O respectivo titular pode op])las a todas

as demais pessoas. Corresponde)les uma obrigação passi&a uni&ersa" . Enversamente! os direitos de

cr&dito são direitos re"ati&os. <=m como correlato um dever especial ou particular! em regra! de conte;do

 positivo. Desta diferença resultam diversas conse#u=ncias"

*+ Ruando assim se entende! 0 sempre a verdadeira obrigação de cumprir o negócio. A sua inobservncia produHefeitos próprios do inadimplemento.

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a. Os direitos reais podem ser ofendidos por #ual#uer pessoa! en#uanto #ue os

direitos de cr&dito apenas pelo devedor>

 b. Os direitos reais encontram)se assistidos de dois importantes atributos"

i. O direito de pre%erIn(ia! #ue consiste no facto de o direito real

superar todas as situações %ur6dicas com o mesmo incompat6veis! posteriormenteconstitu6das sobre a coisa em #ue incide e sem o concurso da vontade do titular 

da#uele $ prioridade temporal M prior tempore potior iure>

ii.  Direito de seBue"a! por força do #ual os titulares dos direitos reais t=m

a faculdade de perseguir e reivindicar a coisa seu ob%ecto onde #uer #ue ela se

encontre*/. Esto &! o direito real acompana a coisa! não desaparecendo com a posse

 por uma pessoa #ue não o titular do direito real>

c. Os direitos reais estão subordinados a restrições ine1istentes nos direitos de

cr&dito" M/ princ6pio numerus ("ausus  Mtipologia ta1ativa e o princ6pio da tipi(idade

Mta1atividade do conte;do $ art. /2+8P**.  As obrigações! por seu turno! estão su%eitas ao

 princ6pio do numerus apertus e ao princ6pio da "iberdade nego(ia"  Mart. 2L-PS/ e 5+7P. A

constituição e modificação dos direitos reais estão su%eitas a formalidades não e1igidas para

os direitos de cr&dito>

*. Diferença #uanto ao ob%ecto" os direitos reais conferem ao seu titular um poder directo e

imediato sobre a respectiva coisa*2! en#uanto #ue o e1erc6cio dos direitos de cr&dito pressupõe a

e1ist=ncia e cooperação dos dois su%eitos. A#ueles são direitos sobre uma (oisa. 'stes traduHem)se nosimples direito a uma prestação a efectuar pelo devedor M#ue pode ser um  %a(ere ou um non %a(ere. 'sta

diferença comporta tamb&m significativas conse#u=ncias"

a. Diversamente dos direitos de cr&dito! os direitos reais podem constituir)se por 

usucapião. ó os direitos reais de goHo são usucapi0veis Mart. /*-,P! e1cluindo)se assim! os

direitos reais de garantia e de a#uisição. Os direitos de cr&dito! por seu turno! não podem

nascer pelo decurso do tempo>

 b. 9ais discut6veis são outras conse#u=ncias. A saber"

i. Os direitos reais só versam sobre coisas certas e determinadas!

en#uanto #ue as obrigações podem ter por ob%ecto a prestação de coisas apenas

determin0veis. A primeira parte entra o%e em crise pelo #ue toca aos direitos reais

sobre as universalidades MrebanoT>

*/ O direito de prefer=ncia pode faltar nos direitos reais Mart. ,7/P e verificar)se nos direitos de cr&dito Mart. 5+,P.4ode tamb&m não e1istir! nos reais! o direito de se#uela Mart. *L/P.** O segundo princ6pio não &! contudo! absoluto! podendo a lei permitir (s partes modelar o conte;do dos direitosreais Mpropriedade oriHontal $ art. /5**PS/! dG $ e usufruto $ art. /557P.*2 A doutrina mais recente e maiorit0ria! configura o conceito de direito real! armoniHando! dentro dele! ascontribuições de duas doutrinas. Assim! con%uga o poder directo e imediato sobre a coisa com a obrigação passivauniversal! melor traduHindo a ess=ncia dos direitos reais. Jide, A:9'EDA CO<A! ob6 (it6, pp. /2*! nota /.

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ii. Apenas vale para a generalidade dos casos afirmar #ue os direitos de

cr&dito se e1tinguem com o seu e1erc6cio! ao passo #ue nos direitos reais o uso dos

 poderes conferidos aos respectivos titulares os vivifica" se o credor de uma

obrigação pura interpela o devedor ao cumprimento! ele não a e1tingue. e o

 propriet0rio de coisa móvel a abandona ou consome! e1tingue)se o direito sobreela>

iii. Outro tanto se observe #uando se evidencia #ue os direitos reais

constituem relações duradouras ou perp&tuas! e os direitos de cr&dito simples

relações transitórias ou de curta duração. 4ensemos numa servidão tempor0ria

Mdireito real e numa arrendamento a longo praHo Mdireito de cr&dito. As poss6veis

e1cepções não desmentem a regra. ão e1cepções. As funções #ue uns e outros

desempenam são diversas" a#ueles disciplinam relações entre pessoas e coisas>

estes! entre pessoas determinadas. Da6 #ue a lei se importe mais com a e1tensão no

tempo dos direitos de cr&dito do #ue dos direitos reais.

8. 9odalidades das obrigações #uanto ao v6nculo. As obrigações naturais*5

egue)se a#ui a e1posição do 4rof. Antunes arela! sem pre%u6Ho! uma veH mais! de se ler o

manual do 4rof. Almeida Costa.

A distinção a #ue a#ui se procede! ente obrigações (i&is e naturais! tem como base o &n(u"o da

relação %ur6dica obrigacional. 'n#uanto #ue nas primeiras tem o credor um poder de e1igir umadeterminada conduta Ma prestação! nas segundas tem apenas a faculdade de a pretender.

ão sendo a obrigação voluntariamente cumpridaV! diH o art. -/,P! tem o (redor o direito de

eigir 3udi(ia"mente o seu (umprimento e de e1ecutar o património do devedorV. O art. 5,8P acrescenta

#ue o #ue foi prestado! desde #ue com intenção de cumprimento! pode ser repetido! se esta não e1istia no

momento da prestação. Assim se recorta a %uridicidade do v6nculo obrigacional civil. 9as 0 obrigações

com regime totalmente distinto" casos em #ue o devedor! não cumprindo! não fica %udicialmente su%eito (

e1ig=ncia de cumprimento. 9ais" nos casos de cumprimento! não pode aver repetição do indevido.

Assim se recorta o regime das obrigações naturais! #ue assenta nos art. 5+*P a 5+5P.

Como sabemos estar perante uma obrigação natural[ necess0rio! pois! #ue se re;nam tr=s

re#uisitos! dois positivos e um negativo! #ue constam do art. 5+*P"

/. Rue a obrigação se baseie num valor moral ou social>

*. Rue o seu cumprimento corresponda a um dever de %ustiça>

2. Rue a prestação em causa não se%a %udicialmente e1ig6vel>

*5A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. /,/ a /L2>A<U' A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. ,/L a ,2->4E3' D' :E9A e A. A3':A! Cdigo Ci&i" +notado6! com. aos art. 5+*P e ss.

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ão! assim! casos interm&dios entre os puros deveres de ordem moral ou social e os deveres

 %ur6dicos. Os primeiros fundamentam liberalidades! os ;ltimos consubstanciam obrigações civis! munidas

de acção.

G0! assim! uma grande margem de arb6trio para os tribunais. '1ige)se um dever moral ou social!

mas #ue se funde num dever de %ustiça. Ruando o dever moral vena sem o dever de %ustiça estamos perante uma liberalidade. G0! assim! #ue atender ( intenção do devedor" se & o animus donandi então ser0

uma liberalidade> mas se corresponder a um dever de %ustiça! #ue funda um dever moral! então estamos

no campo do cumprimento de uma obrigação. ! pois! necess0rio firmar #ue nem todos os deveres morais

ou sociais fundam obrigações naturais" t=m #ue corresponder a uma necessidade de  3ustiça Mcomutativa e

não a um sentimento de piedade! caridade! cavaleirismoT

4ara #ue a%a obrigação natural! como diH Antunes arela! & necess0rio #ue e1ista! para

fundamento da prestação! um dever moral ou social espec6fico entre pessoas determinadas! cu%o

cumprimento se%a imposto por uma recta composição de interessesV

ub%acente est0 o princ6pio de #ue não só a %ustiça! mas tamb&m a certeHa e segurança enformam

o Direito.

esta a primeira nota caracter6stica do regime das obrigações naturais. A segunda consta do art.

5+2P! #uando estipula #ue não pode ser repetido o #ue for prestado espontaneamente em cumprimento de

obrigação natural. 9as resulta da sistem0tica dos preceitos #ue a lei pretendeu afastar mais do #ue apenas

a irrepetibilidade da prestação. De facto! a sistem0tica destes preceitos evidencia #ue o acto espontneo

do devedor &! em regra! e#uiparado ao cumprimento da obrigação. A prestação espontaneamente

efectuada! #uando coberta pelo t6tulo da obrigação natural! & tratada como (umprimento de um dever nãocomo uma liberalidade do autor.

'1tensão do dom6nio das obrigações naturais

A orientação #ue vingou no C. Civil de /L88 foi a oposta ( do C. de eabra" o art. 5+*P consagra

e1pressamente as obrigações naturais como uma figura geral do nosso Direito! o #ue #uer diHer #ue! para

al&m dos casos e1pressamente previstos na lei! poder)se)ão descortinar outros por meio de preencimento

dos tr=s re#uisitos e aplicação do regime.

9as o C.C. consagra de forma e1pressa determinados casos de obrigações naturais"

/. D6vidas prescritas! depois de invocada a prescrição Mart. 2+5PS**7. Decorrido o praHo

 prescricional! a d6vida e1tingue)se! desde #ue invocada a prescrição. 4or&m! se o devedor cumprir 

espontaneamente! a prestação corresponde ainda a um dever de %ustiça! por#ue a e1tinção se d0 por 

motivos de segurança e certeHa do com&rcio %ur6dico>

*. D6vidas de %ogo e aposta #uando estes se%am l6citos Mentenda)se! to"erados e não a%a!

sobre eles! legislação especial Mart. /*57P. O car0cter aleatório do contrato! e o risco #ue ele lança sobre

#ual#uer um dos contraentes! convertem num dever de %ustiça o cumprimento da prestação por parte

*7 e o devedor cumpre! depois do praHo prescricional! sem a invocar! o seu cumprimento corresponde ao de umaobrigação civil em mora! por#ue a prescrição tem de ser invocada por #uem a aproveita Mart. 2+2P.

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da#uele a #uem a 0lea do negócio foi desfavor0vel. 4ara as competições desportivas! relativamente Xs

 pessoas #ue nelas tomam parte! abre a lei Mart. /*58P uma e1cepção ao regime de nulidade do contrato.

Uma segunda e1cepção decorre de e1istir legislação especial sobre o %ogo Mart. /*5,P $ tratando)se de

 %ogo! não meramente tolerado! mas legaliHado! então o cumprimento da prestação configura)se como o de

uma obrigação civil>2. Obrigações naturais de alimentos efectuadas a favor de certas pessoas #ue não tenam o

direito a e1igi)los Mart. 5L7PS2 $ caso de parentes pró1imos ou do criado #ue enveleceu ou se inutiliHou

ao serviço do patrão. Gaver0 esta obrigação #uando os laços de sangue! as relações de conv6vio ou os

serviços prestados ao lesado imponam como um dever de %ustiça o encargo da sustentação! abitação e

vestu0rio da pessoa a #uem são facultados>

5. 3egime especial na relação paisSfilos Mart. /-L7PS* $ darem parte aos filos nos bens

 produHidos atrav&s do trabalo deles prestado aos pais! com meios ou capital pertencentes a estes! ou

compensarem)nos por outra forma do seu trabalo. ão pode ser %udicialmente e1igido.

Fora destes casos! o art. 5+*P prev= ainda outros! de onde se salientam tr=s"

/. Fiador #ue garante a d6vida do incapaH! não obstante conecer a sua incapacidade! e ter 

cumprido em seguida a obrigação Mart. 82*P> a prestação feita espontaneamente pelo devedor ao fiador &

uma obrigação natural>

*. Devedor ter invocado a prescrição e! sem embargo disso! o fiador aver cumprido a

obrigação! por #uerer renunciar ( prescrição Mart. 828PS2. A prestação #ue o devedor efectue ao fiador 

 posteriormente &! nos termos do 5+*P! uma obrigação natural>

2. D6vidas remitidas pelos credores concordat0rios.

3egime das obrigações naturais

Um dos traços mais salientes deste regime & o de #ue o cumprimento destas obrigações não pode

 ser 3udi(ia"mente eig&e" . 4ara alam deste ponto! #uase todos os demais aspectos são discut6veis na

doutrina.

O primeiro destes pontos & o de saber se a irrepetibilidade da prestação funciona! logo #ue estase%a efectuada espontaneamente M sem (oa(ção nem do"o ou se! para tal! & necess0rio #ue o devedor tena

 procedido tamb&m com a consci=ncia de não ser %udicialmente obrigado a cumprir. O art. 5+2P resolve o

assunto de forma e1pl6cita no primeiro sentido! #ue liga a não repetição do indevido ao car0cter 

espontneo da prestação e #ue define como espontnea a prestação #ue & livre de toda a coacção*8. <emos!

 pois! #ue o cumprimento da obrigação natural &! assim! compat6vel com o erro a(er(a da sua

(oer(ibi"idade 3urdi(a27 6  Esto &! ainda #ue o devedor tena cumprido na suposição errónea de #ue o

obrigação era %udicialmente e1ig6vel! não aver0 lugar ( repetição do indevido $ art. 5+2P! #ue funciona

como um elemento de coercibilidadeV no regime das obrigações naturais.

*8 e ouver dolo do a((ipiens! a prestação tamb&m não & espontnea! pois & ela captada pelo erro do declarante.*, olução paralela se encontra estatu6da no art. 2+5P para o caso das d6vidas prescritas.

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O ponto seguinte & o do art. 5+5P. 'stabelece o preceito um princ6pio de eBuiparação ao regime

das obrigações civis! com duas ressalvas importantes" M/ inaplicabilidade das normas #ue pressupõem a

realiHação coactiva da prestação Mnormas incompat6veis com a natureHa das obrigações naturais> M*

disposições #ue especialmente se referem apenas (#ueles v6nculos Mdisposições especiais da lei.

Comecemos com as normas incompat6veis com a natureHa das obrigações naturais. A

e#uiparação dos dois n;cleos de obrigações pressupõe o afastamento dos preceitos relativos (s doações!

#ue t=m sub%acente o animus donandi! como se%am normas relativas ( forma Mart. L5,PS*! ( aceitação da

liberalidade Mart. L57P! (s indisponibilidades relativas Mart. L72P! ( revogação Mart. L8LP! ( colação Mart.

*/+5P! ( imputação Mart. *//5P! ( obrigação alimentar imposta ao donat0rio Mart. *+//PS* e aos poderes

de disposição do tutor ou dos administradores de bens aleios Mart. /L2,P! aG.

Da regra da e#uiparação 0 #ue e1ceptuar todas as disposições #ue se relacionem com a

realiHação coactiva da prestação. Assim são inaplic0veis"

) As normas #ue regulam o modo! o lugar e o tempo do cumprimento da obrigação civil

Mart. ,8*P e ss.>

) As #ue definem a mora do devedor e do credor! o inadimplemento! e #ue fi1am os seus

efeitos Mart. ,L+P e ss.>

) As normas #ue disciplinam a imputação do cumprimento! #uando a%a v0rias d6vidas

 para com o mesmo credor Mart. ,-2P e ss.>

) As normas #ue admitem a sub)rogação no direito do credor Mart. 7-LP e ss..

O próprio cumprimento! e#uiparado ao cumprimento das obrigações civis! pode seguir regimes

diversos" assim sucede! por disposição legal! #uanto ( incapacidade do devedor. A mesma diferença para

os v6cios da vontade #ue! sendo! em regra! irrelevantes para o cumprimento da obrigação civil! visto a

 prestação ser devida! são relevantes! nos termos gerais v0lidos para o comum dos negócios %ur6dicos! em

relação ao cumprimento da obrigação natural.

A necessidade de preservar a incoercibilidade da prestação importa ainda! #uanto (s prestações

 periódicas! #ue a realiHação da prestação relativa a certo per6odo não vincula o devedor ao cumprimento

das prestações subse#uentes.

e o devedor ouver cumprido mediante a entrega de coisa aleia! #ue o dono vena a

reivindicar mais tarde! não ser0 ele obrigado a sanar a nulidade do cumprimento! ad#uirindo a

 propriedade da coisa Mart. -L,PS/ e L2LP! ao contr0rio do #ue sucede com o cumprimento da obrigação

civil não nascida de doação.

Ruanto ( (ompensação. 4oder0 a obrigação ser oposta por meio de compensação a uma

obrigação civil[ 4arece evidente #ue não pode" de contr0rio! o credor natural teria forçado o cumprimento

da obrigação! ao arrepio da letra e do esp6rito dos preceitos 5+*P a 5+5P! #ue apenas reconecem o

cumprimento espontneo. e &! por&m! o credor da obrigação civil #ue pretende compensar a obrigação

natural em #ue se aca constitu6do com o cr&dito de #ue & titular! nada impede #ue a compensação opere!

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nos termos do art. -5-P! desde #ue re re;nam os re#uisitos de ela depende. A solução adapta)se

 perfeitamente ao art. -5,P! #ue apenas alude ( e1igibilidade %udicial do cr&dito #ue cabe ao compensante.

 Dação em (umprimento. Desde #ue se%a feita espontaneamente! a dação em cumprimento*-

valer0 como meio de e1tinção da obrigação natural! por#ue nada se opõe ( sua validade! dentro do

 princ6pio da e#uiparação. e! por&m! a coisa ou direito transmitido tiver v6cios! não são de atribuir aocredor os direitos #ue o credor da obrigação civil aufere ao abrigo do art. -2-P. Deve tamb&m considerar)

se v0lida a dação pro so"&endo Mart. -5+P! contanto #ue ela não envolva a vinculação %ur6dica do próprio

devedor a #ual#uer novo acto de prestação.

 No&ação. A novação*L deve ter)se por e1clu6da. A ratio "egis & a de manter a espontaneidade do

cumprimento! com a #ual se deve considerar incompat6vel #ual#uer forma de coercibilidade %ur6dica!

ainda #ue institu6da pelo próprio devedor 2+.

 o caso das d6vidas prescritas! o argumento contr0rio de o devedor saber a divida prescrita e

renuncia ( faculdade de a invocar! não procede. A d6vida! mesmo decorrido o praHo prescricional! não

 prescreve sem ser invocada. 4or isso! #uando o devedor paga a d6vida prescrita! sabendo)o! mas sem

invocar %udicialmente o instituto! cumpre uma obrigação civil! #ue nunca dei1ou de o ser.

Constituição de garantias. A ideia de incoercibilidade %ur6dica da obrigação natural afasta ainda

a possibilidade de o seu cumprimento ser assegurado por #ual#uer garantia real ou pessoal! #uer esta se%a

 prestada por terceiro! #uer pelo devedor.

Como este conserva sempre plena liberdade de não cumprir! a garantia não faH sentido. ão

 procede contra a afirmação feita o caso da fiança destinada a garantir a obrigação de incapaHes ou a

obrigação contra6da com falta ou v6cios da vontade do devedor! conecendo o fiador a causa da

anulabilidade Mart. 82*PS/. e a obrigação for anulada! desaparece a obrigação do devedor para com o

credor! sendo o obrigação civil! embora acessória! do fiador! #ue passa para o primeiro plano> o

cumprimento do fiador & #ue %0 pode gerar uma obrigação natural do devedor para com ele! mas essa %0

sem #ual#uer garantia.

<amb&m não & contra a irrelevncia da garantia da obrigação natural! o facto de a lei reconecer 

no art. 5-7P a validade da promessa de cumprimento e do reconecimento de d6vida.

abido #ue a relação fundamental coberta pela garantia consiste numa obrigação natural não & a

constituição posterior da garantia #ue! contra a ratio do 5+5P! retira ao devedor a liberdade de cumprir ou

não cumprir.

4assemos agora (s disposições especiais da lei. 'ntre as disposições espe(ia"mente ap"i('&eis (s

obrigações naturais! avulta o preceituado pelo art. 8/7PS*! #ue concede aos credores! no mbito da

impugnação pauliana! o direito de tornarem ineficaHes certos actos praticados pelo devedor em pre%u6Ho

deles.

*- 4restação de coisa diversa da #ue & devida! com a intenção de solver a d6vida" art. -2,P.*L ubstituição da obrigação natural Mantiga por uma nova obrigação Mcivil $ art. -7,P.2+ I0 & diferente o caso de o devedor ter cumprido com dineiro ou coisa fung6vel emprestada por terceiro! a #uem ele pretenda sub)rogar nos direitos do credor! ou de aver sub)rogação pelo devedor nos termos do art. 7L+P.

  estes casos! pode a obrigação natural! mediante sub)rogação! ser substitu6da por uma obrigação civil! se essa for aintenção das partes> esse resultado não pode! todavia! consegui)lo o credor #ue receba! nos termos do art. 7-LP! a prestação de terceiro.

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e o acto praticado for o cumprimento de uma obrigação %0 vencida! os credores não o poderão

impugnar! apesar de a#uele #ue foi pago ficar beneficiado em pre%u6Ho dos restantes Mart. 8/7PS*.

<ratando)se! por&m! de obrigação natural! o seu cumprimento %0 pode ser impugnado pelos credores.

#ue entre o interesse do credor das obrigações civis e o credor natural! a lei prefere abertamente o

 primeiro! sacrificando o segundo! contra a própria vontade do devedor. Assim como não se devem dar aolu1o de faHer liberalidades ( custa dos credores! tamb&m não poderão cumprir os simples deveres de

consci=ncia sem previamente se desonerarem das obrigações legalmente impostas.

Outra disposição com relevncia & a do 5L7PS2. o caso de lesão il6cita da #ual provena a morte

ou incapacidade do ofendido! concede)se o direito de indemniHação não só (#ueles #ue podiam e1igir 

alimentos ao lesado! como (#ueles a #uem ele os prestava no cumprimento de uma obrigação natural

Mpode assumir a forma de renda vital6cia ou tempor0ria $ art. 78,P. e assim for! ter)se)0 um caso de

conversão ope "egis de uma obrigação natural numa obrigação civil periódica.

Finalmente! outra nota importante & a dada pelo art. 5+2PS/! in %ine. Admite a repetição do

indevido #uando o devedor se%a incapaH. A incapacidade do  so"&ens não legitima! em regra! no caso das

obrigações civis! a repetição do indevido Mart. ,85PS/. Como nas obrigações naturais a prestação não &

 %uridicamente e1ig6vel! a incapacidade do so"&ens d0 lugar ( repetição do indevido.

 atureHa %ur6dica das obrigações naturais

/.  + obrigação natura" (omo obrigação 3urdi(a imper%eita. 'ntende a doutrina desta tese #ue a

faculdade concedida ao credor de reter a prestação espontnea só poderia e1plicar)se mediante a

e1ist=ncia de um v6nculo  pr@&io entre a((ipiens e  so"&ens. Gaveria assim uma obrigação %ur6dica! ainda#ue imper%eita. 'ntre nós! defendida por 9AU': D' AD3AD'>

*.  + obrigação natura" (omo pura situação de %a(to. Defendida por CA3':U<<E! entende #ue

antes do cumprimento! a obrigação natural ser0 um puro Buid  de facto! estrano ao Direito. ituação de

facto #ue se converte em verdadeira obrigação %ur6dica perfeita! a partir do cumprimento. O cumprimento

representa! assim! a adesão do devedor ao sacrif6cio do seu interesse>

2.  + obrigação natura" (omo de&er mora" ou so(ia" 3uridi(amente re"e&ante. 'sta & a concepção

defendida pelos 4rof. A<U' A3':A e A:9'EDA CO<A. Defendem estes autores #ue a melor 

forma de as representar conceitualmente! numa s6ntese #ue e1prima com inteira fidelidade a sua aut=ntica

natureHa! ser0 a de conceber as obrigações naturais como deveres morais ou sociais %uridicamente

relevantes. <al a concepção #ue se ade#ua melor ( formula legal do art. 5+*P. A relevncia %ur6dica dos

deveres morais ou sociais mostra)se logo no facto de a lei os considerar como (ausa 3usti%i(ati&a  da

atribuição patrimonial efectuada pelo devedor! nos termos resultantes do art. 5+2P.

Fontes das Obrigações

I – Contratos

DIOGO CASQUEIRO   25

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/. Aspectos gerais2/

Os contratos constituem a principal fonte das relações obrigacionais! pela sua fre#u=ncia! e pela

relevncia #ue assume! no geral! os direitos e obrigações deles emergentes. G0! pois! grande importncia

 pr0tica e teórica no instituto.

Como afirma A<U' A3':A! diH)se contrato o a(ordo &in(u"ati&o, assente sobre duas ou

mais de("arações de &ontade (ontrapostas, mas per%eitamente #armoni'&eis entre si, Bue &isam

estabe"e(er uma (omposição unit'ria de interesses.

O contrato &! assim! essencialmente! um  a(ordo vinculativo de vontades opostas! mas

armoniH0veis entre si.

4ara #ue a%a contrato! em obedi=ncia ( livre determinação das partes #ue est0 na base do

conceito! torna)se indispens0vel #ue o acordo de vontades! resultante do encontro da proposta de uma das

 partes com a aceitação da outra! cubra todos os pontos da negociação2* Mart. *2*P.

' & essencial #ue as partes #ueiram um acordo vinculativo! colocado sob a alçada do Direito.

 ão bastar0 #ue os negociadores destacados para prepararem o contrato tenam cegado a acordo sobre

todos os pontos #ue interessavam ( sua celebração. ainda necess0rio #ue a%a a vontade de tornar 

 %uridicamente vinculativo o acordo.

As vontades! #ue integram o acordo contratual! embora concordantes ou a%ust0veis entre si! t=m

de ser opostas! de sinal contr0rio. e as vontades reflectem interesses paralelos 0! sim! acto colectivo ou

acordo.

Ruando as vontades se fundem para apurar! por sufr0gio! a vontade de um órgão colegial!tamb&m não 0 contrato! mas deliberação.

O C.C. estabelece uma teoria geral dos contratos! não obstante não fornecer uma definição da

figura $ art. 5+7P a 578P. A6 sem encontram as suas particularidades face aos negócios %ur6dicos em geral $ 

art. */,P a *L5P. Finalmente regula e fi1a alguns dos tipos contratuais mais fre#uentes e importantes $ art.

-,5P a /*7+P.

/*. 3elações contratuais de facto22

<ratamos a#ui de processos e1tra%ur6dicos e! ao mesmo tempo! salientamos o aspecto de #ue a

atribuição de relevncia %ur6dica a tais situações resulta de uma valoração ob%ectiva e não propriamente da

vontade negocial doa s participantes.

'n#uanto reconecemos como fundamental! para a aplicação da teoria dos contratos! o m;tuo

consenso das partes! podemos apontar certas categorias de situações %ur6dicas a cu%a disciplina seria

2/ A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *+/ e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *// e ss.2* 4ara #ue a%a! em rigor! uma proposta contratual! & preciso #ue a declaração inicial da parte cubra de tal modo os pontos essenciais da negociação! #ue a proposta afirmativa da outra parte baste para encerrar o acordo vinculativo por 

elas visado.22 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *** e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. **+ e ss.

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aplic0vel o regime da#ueles! sem #ue a%a na sua base um acordo de declarações de vontade dos

contraentes. 'stariam estas situações assentes em puras situações de facto.

A primeira categoria & a #ue se ocupa dos casos em #ue as relações entre as partes assentam

sobre actos materiais reveladores de vontade negocial! mas #ue não se reconduHem aos moldestradicionais do m;tuo consenso. o caso dos transportes p;blicos ou das redes p;blicas de comunicação.

 ão se duvida da aplicação da doutrina das relações contratuais! embora com adaptações! a estas

situações. 'st0 na sua base a ideia de #ue e1istem condutas geradoras de obrigações fora da emissão de

declarações de vontade #ue se diri%am ( produção de tal efeito! antes derivadas de simples ofertas e

aceitações de facto. A utiliHação de bens ou serviços massificados ocasiona! não raras veHes!

comportamentos #ue! pelo seu  signi%i(ado so(ia" tpi(o! produHem as conse#u=ncias %ur6dicas de uma

caracteriHada actuação negociatória! mas #ue dela se distinguem. Frisa)se #ue o elemento cimum a todas

estas situações & o facto de #ue se atende! sempre! ao seu significado social t6pico. Opera! pois! a

tipicidade de determinadas condutas.

A segunda destas categorias engloba os casos em #ue a disciplina contratual se aplica (s relações

nascidas do simples (onta(to so(ia"  entre as pessoas! antes da celebração! ou independentemente at& da

celebração de #ual#uer negócio %ur6dico. <rata)se dos casos t6picos da (u"pa in (ontra#endo! entre os

#uais avulta o da responsabilidade na formação e preparação do contrato $ art. **,P.

A terceira categoria compreenderia as relações %ur6dicas duradouras emergentes de contratos

ineficaHes! por#uanto a inefic0cia dos contratos não impede! por seu turno! a aplicação das normas

 próprias dos negócios bilaterais v0lidos.

Face ao en#uadramento do Direito portugu=s! torna)se de não dif6cil compreensão a

desnecessidade das segunda e terceira categorias. As melores soluções consagrariam e poderiam ser 

conseguidas atrav&s! respectivamente" com base nos ditames da boa f& #ue presidem (s negociações e

formação do contrato! configurando a responsabilidade pr&)contratual Mart. **,PS/> e com apoio nos

 princ6pios da inefic0cia e invalidade dos negócios %ur6dicos! suscept6veis de permitir! e1cepcionalmente! a

 persist=ncia de determinados efeitos de natureHa negocial.

9enos l6#uida e! portanto! mais aceit0vel se demonstra a figura #uanto ( primeira categoria.

A:9'EDA CO<A defende #ue sempre se encontrar0 um espaço refle1ivo para a aplicação e encai1e da

figura. o entanto! A<U' A3':A salienta! a meu ver bem! #ue uma disposição da nossa lei civil

fundamental resolve a #uestão" o art. *25P. A lei tem o contrato por conclu6do! dispensando a declaração

de aceitação! desde #ue persista a vontade de aceitação! o #ue sempre permitiria uma valoração ob%ectiva

do significado social t6pico da conduta. 3ecorda ainda o 4rofessor #ue a nossa lei confere uma grande

amplitude (s declarações negociais! bastando)se com um comportamento #ue! tomado no seu significado

social t6pico! e1terioriHe determinada vontade $ art. */,PS/. A aplicação da doutrina preconiHada por 

A:9'EDA CO<A teria como conse#u=ncia a irrelevncia de determinadas situações! como se%am os

v6cios da vontade e da incapacidade! o #ue seria de todo desaconsel0vel e desa%ustado aos valores #ue o

Direito pretende proteger. Acrescenta)se ainda #ue! a meu ver! embora possa não cobrir todas as

situações! o nosso legislador teve a clara intenção de ver nestas situações verdadeiros contratos Mcom a

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conse#uente subordinação ao seu regime e doutrina! com a promulgação do Dec. :ei 558S-7! de *7 de

Outubro $ Cl0usulas Contratuais erais.

2. 4rinc6pios fundamentais do regime dos contratos

ão #uatro os grandes princ6pios #ue regem a doutrina dos contratos"

• 4rinc6pio da liberdade contratual>

• 4rinc6pio do consensualismo>

• 4rinc6pio da boa f&>

• 4rinc6pio da força vinculativa.

2./. 4rinc6pio da liberdade contratual25

Uma das caracter6sticas #ue assinal0mos ao direito das obrigações foi a da autonomia privada!

#ue traduH a amplitude dei1ada aos particulares para disciplinarem os seus interesses. 'sta faculdade

e1prime)se a#ui no princ6pio da liberdade contratual. O C. Civil afirma)o com toda a clareHa no art.

5+7PS/. 4odem! pois! os particulares agir por sua própria e autónoma vontade. Os limites #ue a lei

impona constituem a e1cepção. ' da#ui resultam v0rias conse#u=ncias" os contraentes são inteiramente

livres! tanto para contratar ou não contratar! como na fi1ação do conte;do das relações contratuais #ue

estabeleçam! desde #ue não a%a lei imperativa! ditame de ordem p;blica ou bons costumes #ue se

oponam Mart. 5+7P> a declaração de vontade das partes não e1ige! via de regra! formalidades especiais

Mart. */LP e pode ser e1pressa ou t0cita M*/,PS/. O princ6pio assume ainda grande importncia #uanto (

interpretação e integração dos contratos Mart. *28P a *2LP e #uanto ( aplicação das leis no tempo Mart.

/*PS*.

O princ6pio comporta! no seu m01imo mbito! tr=s aspectos. Assim a "iberdade de (e"ebração M&

( iniciativa privada #ue pertence a decisão de realiHar ou não o contrato! a "iberdade de se"e(ção do tipo

(ontratua"  Mno sentido de #ue cabe ( vontade dos particulares a escola do contrato a celebrar! tipificado

na lei ou não! e a "iberdade de estipu"ação Mfaculdade de os contraentes modelarem! de acordo com os

seus interesses! o conte;do concreto da esp&cie negocial eleita.

'stas duas ;ltimas realidades fundem)se na#uilo #ue se designa por "iberdade de %iação do

(ontedo.

2./.* :iberdade de celebração dos contratos27

25 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. **- e ss> A<U'

A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *2+ e ss.27 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *2+ e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *22 e ss.

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<em este sub)princ6pio duas vertentes" em princ6pio! a pessoa alguma pode ser imposta a

celebração de #ual#uer contrato contra a sua vontade! ou aplicadas sanções como conse#u=ncia de uma

recusa de contratar> do mesmo modo #ue ningu&m pode ser impedido de contratar! ou punido caso

contrate. Gaverão! contudo! certas e1cepções #ue resultam de autolimitações ou de eterolimitações das

 partes"

/. ituações 0! caracteriHadas pela obrigação ou dever %ur6dico de contratar. 4ode ser uma

obrigação voluntariamente assumida como a #ue resulta do (ontrato)promessa $ autolimitação>

*. '1istem! no entanto! ipóteses em #ue o dever %ur6dico de contratar deriva directamente

de dispositivo especial da lei. ão os casos"

• Com as empresas concession0rias de serviços p;blicos! a respeito dos utentes

#ue satisfaçam os re#uisitos legais>

• empre #ue a recusa de contratar se mostre contr0ria aos deveres funcionais ou

de estado e não ocorra ponderosa raHão %ustificativa dessa recusa>

• Ruanto ao acesso e fornecimento de bens e prestação de serviços postos (

disposição do p;blico! incluindo a abitação! do sector p;blico ou do sector privado $ tratando)se de

 pr0tica discriminatória! directa ou indirecta! por pessoa singular ou colectiva>

• <amb&m noutros casos em #ue a autoridade p;blica pode decorrer devido a

raHões de con%untura ou mesmo para al&m destas Me1" venda forçada de bens de consumo>

• A restrição da liberdade de contratar tem sido tamb&m sustentada com base na

situação de monopólio de direito ou de facto! mediante ora a importncia vital dos bens e serviços

fornecidos! ora a aplicação dos princ6pios do abuso de direito. 'sta limitação! imposta como e1cepção ao

art. 5+7P! só dever0 ter)se por v0lida #uando a lei e1pl6cita ou implicitamente as estabelecer! sem violação

dos princ6pios constitucionais. duvidoso #ue as possa sufragar o preceito #ue condena o abuso de

direito! visto #ue a liberdade de contratar não constitui um direito sub%ectivo! cu%o e1erc6cio se%a capaH de

constituir o respectivo titular em responsabilidade civil perante terceiros. De importncia! no entanto! & o

 princ6pio da igualdade Mart. /2P C34 #ue parece condenar toda a recusa de contratar #ue envolva car0cter 

discriminatório>

2. Cabem ainda os casos em #ue a lei impõe a um dos contraentes a renovação do contrato

ou a transmissão para terceiro da posição contratual da outra parte. Assim sucede no contrato de locação!

cu%o regime su%eita o senorio ( renovação do arrendamento desde #ue o arrendat0rio o não denuncie. A

transmissão da posição do arrendat0rio pode realiHar)se! independentemente da vontade do senorio! nos

seguintes casos" Mi #uando os c]n%uges! no caso de divórcio! acordem em transferir o arrendamento

destinado a abitação para o c]n%uge do arrendat0rio> M* #uando! por morte do arrendat0rio! o

arrendamento se transfira para o seu c]n%uge ou para parentes ou afins> M2 #uando o arrendamento

comercial ou industrial se transmite por morte do arrendat0rio ou por trespasse do estabelecimento> M5

#uando o arrendamento para o e1erc6cio da profissão liberal se transmita por morte do arrendat0rio ou por cessão da posição deste.

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Conclui)se! pois! #ue a recusa de contratar pode ser configurada! por veHes! como abuso de

direito. Rue conse#u=ncias poderão da#ui resultar[

'm mat&ria de responsabilidade civil! o direito ( reparação do pre%u6Ho & ine#u6voco. <ratando)se

de obrigação convencionada! nomeadamente #ue resulte de contrato)promessa! e1iste a possibilidade dae1ecução espec6fica! nos termos do art. -2+P. 4oder0 ser este regime alargado aos restantes casos em #ue

a%a obrigação de contratar[ A:9'EDA CO<A pronuncia)se pela resposta afirmativa! %0 #ue a

restauração natural deve prevalecer sobre a indemniHação por e#uivalente Mart. 788PS/. eria pois! a

e1ecução espec6fica e1tens6vel a outros casos #ue não os do contrato)promessa. De opinião contr0ria são

os 4rofessores 4E3' D' :E9A e A<U' A3':A #ue sustentam.! na anotação * ao art. -2+P a

aplicação restritiva da doutrina do artigo. ustentam os autores #ue na promessa de contratar 0 %0 uma

declaração negocial referente ao contrato prometido. O tribunal limita)se! pois! a tornar certo o #ue era!

ou foi! pretendido pelas partes! e #ue se cont&m e1plicitamente no contrato. os outros casos em #ue a

obrigação de contratar resulta de disposição legal! seria necess0ria uma substituição integral da vontade

dos interessados! o #ue seria e1cessivo.

5. 4oderemos ainda conceber limitações ( liberdade de contratar #uanto ( proibição de

contratar com certas pessoas e em certos locais Mart. -,8P! 7,LP! L72P! */L*P e */L-P. outros casos! a lei

não pro6be mas dificulta! e1igindo! nomeadamente! o consentimento ou a aprovação de terceiros!

inclusive de uma autoridade p;blica Mart. -,,P! /8-*P.

2./.*. :iberdade de fi1ação do conte;do dos contratos28

3econece)se aos contraentes a faculdade de fi1arem livremente o conte;do do contrato. A

liberdade de modelação do conte;do do contrato desdobra)se sucessivamente" a na possibilidade de

celebrar #ual#uer contrato t6pico ou nominado previsto na lei> b na faculdade de aditar a #ual#uer desses

contratos as cl0usulas #ue melor servirem os interesses das partes M(ontratos mistos> c na possibilidade

de se realiHar contratos distintos dos #ue a lei prev= e regula M(ontratos atpi(os.

<amb&m esta regra est0 su%eita a algumas limitações. Afastado o liberalismo económico puro e

ultrapassada a relutncia do 'stado em intervir no com&rcio privado! tem)se multiplicado o

intervencionismo com o aumento dessas limitações principalmente em contratos onde! ao lado dos

interesses privados! afloram interesses colectivos #ue faHem surgir a necessidade de acautelar leg6timas

e1pectativas de terceiros.

'stas limitações! #ue se encontram englobadas na introdução do art. 5+7P M dentro dos "imites da

"ei! visam prosseguir determinados ob%ectivos" a correcção na acção das partes! o garantir da %ustiça

comutativa! a protecção da parte considerada socialmente mais fraca! e o preservar certos valores como a

moral p;blica e os bons costumes.

28A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *5+ e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *58 e ss.

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'stas limitações abrangem! em primeiro lugar! os re#uisitos dos art. *-+P a *-5P! #uanto ao

ob%ecto do negócio %ur6dico! e do art. 2L-PS* M#ue afirma #ue a prestação não tem de ter car0cter 

 pecuni0rio! mas deve corresponder a interesse do credor! digno de protecção legal. ' abrangem as

disposições #ue pro6bem a celebração de contratos com certo conte;do. Artigos relevantes serão os -+LP e

-++PS*! L5*P! L58PS/ e *+*-PS*! e /8/-PS* e /-7*P.

Cumpre mencionar os contratos normativos e os contratos colectivos! cu%o conte;do se impõe

em determinadas circunstncias! como um padrão #ue os contraentes são obrigados a observar nos seus

contratos individuais $ convenções colectivas de trabalo! por e1emplo.

Cabe! por ;ltimo! referir as normas imperativas #ue se reflectem no conte;do dos contratos"

umas aplic0veis a todos! outras privativas de certos contratos em especial.

'ntre as primeiras temos as relativas aos negócios formais Mart. **+P! -,7P! L5,P! /+*LP! onde

avulta o princ6pio da boa f&! pelo #ual se deve pautar a conduta das partes! tanto no cumprimento como no

e1erc6cio do direito correspondente Mart. ,8*PS*.

'ntre as segundas temos! a t6tulo de e1emplo! os art. /*7+P! /*5+P! L*LP! -L-P! L+-P! L/*PS/ e

//58P.

2./.2. <utela do consumidor" breve refer=ncia ( importncia desta tutela" ?remissão para

o estudo do regime das C"'usu"as Contratuais ?erais@ 2,

Ao lado das figuras contratuais de tipo cl0ssico! t=m surgido modernamente novas categorias

contratuais! #ue se individualiHam pelas particularidades do seu modo formativo e pela maior ou menor 

debilitação do aspecto voluntarista.

DiH)se contrato de adesão a#uele em #ue um dos contraentes! não tendo a menor participação na

 preparação e redacção das respectivas cl0usulas! se limita a aceitar o te1to #ue o outro contraente oferece!

em massa! ao p;blico interessado. CKest H prendre ou H "aisser V Como caracter6sticas comuns t=m aG a

superioridade económica de um dos contraentes! #ue o coloca em condições de ditar as cl0usulas do

contrato ao outro> bG a unilateralidade das cl0usulas! concebidas especialmente no interesse da parte mais poderosa> (G a invariabilidade do te1to negocial! #ue coloca a parte mais fraca perante o dilema de pegar 

ou largarV.

3esultam da e1peri=ncia contempornea de todos os dias fre#uentes negócios #ue se

caracteriHam pelo facto de as respectivas cl0usulas serem de antemão e unilateralmente predispostas por 

um dos contraentes. A realidade a atender & a da pr&via formulação em abstracto das cl0usulas contratuais

e a da sucessiva formação das relações %ur6dicas concretas na#uelas baseadas.

2, A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *5* e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *7/ e ss.

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O fenómeno produH)se em m;ltiplos dom6nios! como se%am o dos seguros $ portanto!

negociações no mbito dos fornecimentos massificados. O traço comum consiste na referida superação do

 processo contratual cl0ssico. Os clientes subordinam)se a cl0usulas previamente fi1adas. 'stas traduHem

uma iniciativa própria da parte ofertante! mas podem não o ser. ' podem ou não encontrar)se submetidas

a aprovação ou omologação de autoridade p;blica.Os sucessivos clientes apenas podem decidir contratar ou não! sem #ue nenuma influ=ncia

 pr0tica e1erçam sobre o conte;do do negócio. Ou se aceitam as cl0usulas ou fica)se privado do bem ou

serviço pretendido.

Da#ui podem as empresas retirar vantagens #ue signifi#uem restrições! despesas e encargos

irraHo0veis ou abusivos para os particulares.

Discute)se! pois! a efic0cia %ur6dica desta forma de contratação. At& #ue ponto releva a falta de

um preciso conecimento de todas e cada uma das cl0usulas preestabelecidas! a #ue o aceitante adere! de

forma e1pressa ou t0cita[ Uma efectiva e inteira percepção das cl0usulas pelo aderente afasta as #uestões

de %ustiça comutativa! merc= a desigualdade das partes e do processo formativo do contrato[

4ortanto! ao lado da tutela da vontade põe)se o problema da fiscaliHação do conte;do das

cl0usulas do contrato.

 o Direito portugu=s! e1istia o camino de faHer apelo (s virtudes de determinadas disposições

Mart. *2*P! *72P e *7LP ao lado de outras regras gen&ricas! como a boa f&! a ordem p;blica e bons

costumes! a disciplina dos negócios usur0rios! o crit&rio dos %u6Hos de e#uidade e os limites da disciplina

convencional da responsabilidade civil.

'ntretanto! o Conselo da 'uropa recomendou aos 'stados a criação de instrumentos legislativos

eficaHes para protecção dos consumidores e estabeleceu directriHes concretas. nessa lina #ue &

 promulgado o Dec. :ei nP 558S-7! de *7 de Outubro. Gouve neste diploma a preocupação de evitar um

reformismo abstracto! traduHido em normas #ue es#uecessem a realidade portuguesa.

Breve s6ntese do regime %ur6dico vigente. 'ste assunto %0 foi tratado e e1posto noutro lugar. 4ara

a6 se remete2-.

2.*. 4rinc6pio do Consensualismo

2.*./. Contratos consensuais e contratos solenes ou formais2L

Empera este princ6pio! de acordo com o #ual basta o acordo de vontades para a perfeição do

contrato. A regra da consensualidade encontra)se mencionada no art. */,P e no art. */LP. A menção! na

 parte final deste ;ltimo artigo! a salvo #uando a lei o e1igirV torna claro #ue não & um princ6pio absoluto.

2- DEOO CARU'E3O! 9eoria ?era" do Neg(io !urdi(o! pp. -2 e ss.2L A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *-* e ss.

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4ode)se e1igir! para determinado contrato a observncia de uma determinada forma ou formalidades. A

inobservncia da forma legal estatu6da tem como conse#u=ncia #ue a declaração negocial & nula! desde

#ue não a%a sanção diversa especialmente prevista Mart. **+P. <odavia! admite)se substituição do

documento imposto por outro com força probatória superior Mart. 285PS/. <orna)se claro #ue os re#uisitos

de forma possuem uma natureHa ad substantiam e não apenas ad probationem. e a forma representasimples meio de prova da declaração %0 o negócio não & nulo! visto ser poss6vel a sua supressão por 

confissão e1pressa Mart. 285PS*. Ao lado da forma pode a lei determinar a publicidade para #ue certos

actos se tornem opon6veis a terceiros ou! mesmo! produHam efeitos entre as partes $ caso do registo.

9as tamb&m os contraentes t=m a faculdade de estipular uma forma especial para as declarações

negociais. a ipótese de forma convencional! presume)se #ue as partes apenas por ela se #uiseram

vincular Mart. **2P.

ão consensuais os negócios #ue se celebram pelo simples acordo de vontades. DiHem)se solenes

ou formais sempre #ue! para a sua conclusão! a lei impona não só o consenso de vontades! mas ainda o

 preencimento de formalidades determinadas.

4or veHes alude)se a contratos consensuais como contraposto de contratos reais! #ue são a#ueles

em #ue se re#uer! al&m das declarações de vontade das partes! su%eitas ou não a forma! a entrega de uma

certa coisa! como re#uisito constitutivo e não fase e1ecutória ou de cumprimento do negócio. ão

e1emplos o penor Mart. 88LP! o comodato Mart. //*LP! o m;tuo Mart. //5*P! o depósito Mart. //-7P! a

 parceria pecu0ria e a doação de coisa móvel não reduHida a escrito.

2.*.*. Contratos com efic0cia real. A cl0usula de reserva de propriedade5+

A nossa lei civil concebe uma noção ampla de contrato. Assim! este não se limita a constituir!

modificar ou e1tinguir relações de obrigação. Dele podem nascer direitos reais $ contratos reais ou com

efic0cia real. Um contrato pode! inclusivamente! ter! #uanto aos efeitos! uma dupla natureHa! como sucede

na compra e venda Mart. -,LP.

A estes contratos com efic0cia real se refere o art. 5+-PS/. De acordo com este preceito! os

contratos #ue implicam a constituição ou transmissão de direitos reais sobre coisas certas e determinadas

 produHem! em regra! por si mesmos! esse efeito $ contratos reais Buoad e%%e(tum.

 ão sucede assim no caso do direito alemão #ue e1ige! para a transfer=ncia do dom6nio sobre a

coisa! al&m do contrato de alienação! um acordo posterior #ue sirva de base ( inscrição do direito no

registo! #uando se trate de imóveis! ou a entrega da coisa ou acto e#uivalente! #uando se%a móvel a coisa

transmitida.

ão! como salienta A<U' A3':A! tr=s as diferenças entre os regimes da efic0cia real e da

efic0cia meramente obrigacional dos contratos de alienação ou oneração de coisa determinada"

5+ A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *-- e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2++ e ss.

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/. a solução germnica! o contrato de alienação! não dispensando um acto posterior de

transmissão da posse e de transfer=ncia do dom6nio! merc= da sua efic0cia meramente obrigacional! torna

o ad#uirente um simples credor da transfer=ncia da coisa! com todas as conting=ncias próprias do car0cter 

relativo dos direitos de cr&dito. A tal situação de precariedade não est0 su%eito o direito do ad#uirente! nossistemas de raiH napoleónica>

*. o sistema da translação imediata! o risco do perecimento da coisa passa a corre por 

conta do ad#uirente! antes mesmo do alienante efectuar a entrega Mart. 5+-PS/ e ,L8PS*! ao inv&s do #ue

sucede com a outra orientação. e a coisa! por #ual#uer circunstncia! só depois da conclusão do contrato!

se transferir para o ad#uirente! somente a partir deste momento posterior o risco passa a correr por conta

dele>

2. A nulidade ou anulação do contrato de alienação tem como conse#u=ncia! no nosso

regime! a restauração do dom6nio na titularidade do alienante Mlimitação do art. *L/P! ao contr0rio do #ue

sucede nos actos de transmissão do direito germnico! visto #ue este! al&m da separação entre os dois

momentos assinalados! imprime ainda car0cter abstracto ao acto de transmissão do dom6nio>

empre #ue se trate! no entanto! de coisa futura ou indeterminada! a constituição ou transfer=ncia

do direito real! embora se opere ainda por mero efeito do contrato! não se verifica no e1acto momento

deste mas! apenas #uando a coisa futura se%a ad#uirida pelo alienante ou a coisa indeterminada se torne

determinada com o conecimento de ambas as partes! ressalvando)se o disposto em mat&ria de obrigações

gen&ricas Mart. 72LP e do contrato de empreitada Mart. /*/*P> e se a transfer=ncia respeitar a frutos

naturais ou a partes componentes ou integrantes relevar0 o momento da coleita ou da separação Mart.

5+-PS*.

e o negócio tiver por ob%ecto imóveis ou móveis su%eitos a registo! deve atender)se! perante

terceiros! ( prioridade do preencimento desse ónus %ur6dico Mart. 5P e 7P do Cód. do 3eg. 4red.. a

disciplina do registo caber0! assim! entre as e1cepções previstas na parte final do art. 5+-PS/.

A cl0usula de reserva de propriedade

<odavia! a nossa lei não consagra! em termos absolutos! o princ6pio da transfer=ncia do dom6nio

 por for força do contrato. 'stabelece)o como simples regra supletiva! sendo l6cito (s partes afast0)lo!

atrav&s de uma cl0usula de reserva de propriedade. A reserva de propriedade! prevista no art. 5+LP Mver art.

L25P #uanto ( reserva na venda a prestações! consiste na possibilidade! conferida ao alienante de coisa

determinada! de manter na sua titularidade o dom6nio da coisa at& ao cumprimento Mtotal ou parcial das

obrigações #ue recaiam sobre a outra parte ou at& ( verificação de #ual#uer outro evento. <rata)se de uma

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cl0usula #ue naturalmente 0)de convir! por e1cel=ncia! (s vendas a prestações e (s vendas com espera de

 preço5/.

e reservar para si a propriedade da coisa at& ao cumprimento das obrigações da outra parte ou

at& ( verificação de #ual#uer outro evento! & sinal de #ue a alienação & feita sob condição suspensiva Ma

condição atinge! naturalmente! a alienação! a translação do dom6nio da coisa e não o contrato de compra evenda! globalmente considerados $ e não sob condição resolutiva da falta de cumprimento ou da não

verificação do evento.

4ara #ue tena efic0cia perante terceiros! tratando)se de coisas imóveis ou móveis su%eitos a

registo! & necess0rio #ue o direito emergente da cl0usula tena sido inscrito no registo.

<endo a alienação por ob%ecto coisas móveis não su%eitas a registo! a reserva vale! mesmo em

relação a terceiros! por simples convenção das partes. A solução pode lesar as e1pectativas dos credores

do ad#uirente e dos subad#uirentes #ue suponam pertencerem)le as mercadorias compradas! #ue %0

estão em seu poder. 9as esta regra vale pelo intuito de facilitar a concessão de cr&dito ao ad#uirente e

ainda pela possibilidade #ue não faltar0 a um contraente prudente e cauteloso de conecer a real situação

das coisas. ó mediante esta cl0usula ou a reserva de resolução do contrato o vendedor poder0 recuperar o

dom6nio da coisa vendida! depois de efectuada a traditio! dada a disposição do art. --8P.

A reserva & estabelecida fre#uentemente! como %0 dito! nas vendas a prestações e vendas com

espera de preço. 3epresenta uma valiosa defesa do vendedor contra a insolv=ncia ou incumprimento do

comprador! tendo)se em vista #ue! a respeito da resolução do contrato Mart. -+/PS* e1iste! para a compra e

venda! a forte restrição do art. --8P. 4ortanto! após a transfer=ncia da posse da coisa vendida! somente &

 poss6vel ao vendedor assegurar a propriedade dela! com base no não recebimento do preço! se

convencionou uma cl0usula de reserva de dom6nio ou de reserva de resolução do contrato Mcfr. art. 52*P.

2.2. 4rinc6pio da boa f&. a responsabilidade pr&)contratual ?remissão@5*

X #uestão da liberdade contratual! no per6odo anterior ( conclusão do contrato! anda desde 0

muitos anos ligado o problema da eventual responsabilidade dos contraentes pela sua deficiente conduta

ao longo do per6odo de preparação do contrato.

Decorre da e1peri=ncia #uotidiana a realiHação de muitos contratos #ue não se concluem de

imediato. ão! de facto! cada veH mais fre#uentes os negócios em #ue os respectivos preliminares se

alongam e pormenoriHam.

Da6! a fre#u=ncia sempre maior de contratos precedidos de um processo gen&tico! #ue se inicia

aos primeiros contactos das partes com a finalidade da realiHação de um negócio e se prolonga at& ao

momento da sua efectiva celebração. ele cabem v0rios e sucessivos trmites. <udo se dirige ( obtenção

da converg=ncia da vontade das partes nas cl0usulas sobre as #uais #ual#uer delas tena considerado

necess0rio o acordo! sem o #ue o contrato não fica conclu6do Mart. *2*P.

5/ er aplicação dos art. ,-+P e ,-/P #uanto ( natureHa da cl0usula de reserva de propriedade.5* A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *L- e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *8, e ss.

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'stabelece a lei #ue todo a#uele #ue negoceia com outrem para a conclusão de um contrato

deve! tanto nos preliminares como na formação dele! proceder segundo as regras da boa f&! sob pena de

responder pelos danos #ue culposamente causar ( outra parteV Mart. **,PS/. anciona)se! em termos

gerais a responsabilidade por (u"pa in (ontra#endo. Durante as fases anteriores ( celebração do contrato52

o comportamento dos contraentes dever0 pautar)se pelos cnones da lealdade e da probidade" deveres delealdade e de informação. a responsabilidade pretende tutelar directamente a confiança fundada de cada

uma das partes em #ue a outra conduHa as negociações segundo a boa f&.

O art. **,P utiliHa a noção de boa f& em sentido ob%ectivo! como uma regra de conduta. ão se

aponta aos contraentes uma simples atitude de correcção MtraduHida em obrigações de escopo negativo

dirigida apenas a impedir toda a lesão na esfera %ur6dica de outrem> determina)se! igualmente uma

colaboração activa! no sentido da satisfação das e1pectativas aleias.

A responsabilidade das partes não se circunscreve ( cobertura dos danos culposamente causados

( contraparte pela invalidade do negócio. Abrange os danos provenientes da violação de todos os deveres

em #ue se desdobra o mbito lato do artigo **,P.

A lei civil portuguesa aponta claramente a sanção aplic0vel ( parte #ue se afasta da conduta

e1ig6vel" a reparação dos danos causados ( contraparte.

' embora o art. **,P cubra! como %0 foi dito! as e1pectativas %uridicamente atend6veis das partes!

não aponta directamente para a e1ecução espec6fica do contrato. A lei respeita! assim! sempre! salvo se

ouver contrato)promessa Mart. -2+P o valor da liberdade de contratar.

' da ideia de #ue a lei intencionalmente não vai ao e1tremo da obrigatoriedade de celebração ou

da e1ecução espec6fica do contrato! decorre como corol0rio lógico #ue a indemniHação prescrita na parte

final do **,P! destinada a cobrir o interesse negocial negativo da parte lesada! não pode e1ceder o limite

do interesse negocial positivo. O interesse #ue o faltoso tem sempre de ressarcir & sempre #uando tena

avido uma ruptura in%ustificada do contrato! o camado interesse contratual negativo. A indemniHação

visa colocar o lesado na situação em #ue estaria se não tivesse acreditado! sem culpa! na boa f& ou

actuação correcta da contraparte. o #ue se cama dano negati&o ou de (on%iança. 4ode assumir o

aspectoV de dano emergente ou de lucro cessante.

urge o problema de relacionar essa lealdade imposta pela boa f& com o do"us bonus. De acordo

com o #ue decorre do art. *72PS*! o do"us bonus & a#uele #ue resulta de condutas artificiosas consideradas

leg6timas segundo as concepções dominantes no comercio %ur6dico! ou #uando o dever de informar #uanto

ao erro da contraparte não resulte da lei! dessas concepções ou de convenção.4ode entender)se #ue e1iste como regra! o dever de esclarecimento! e não apenas #uando ele se

infira de norma especial da lei! de cl0usula negocial ou das concepções f0cticas dominantes no com&rcio

 %ur6dico.

3estam dois caminos" ou considerar #ue a lei faH referencia a concepções dominantes no

comercio %ur6dico! com o sentido de pr0tica ideal corrente dos negócios> ou admitir #ue o mencionado

dever de esclarecimento resulta da boa f& imposta pelo **,PS/. Contra a interpretação da *J parte do

*72PS*! ( luH do **,PS/! & poss6vel aduHir)se #ue a mesma acentua demasiado o ngulo eticiHante do

direito! #ue vai alem da normal visão da ordem %ur6dica.

52 O **,P distingue duas fases" a  %ase nego(iatria $ preparação do conte;do do acordo $ e a ulterior fase decisóriaMemissão das declarações de vontade" a proposta e a a(eitação $ cfr. art. **5P

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 uma pura perspectiva formal! os dois preceitos con%ugam)se do modo seguinte" a esfera de

acção do **,PS/ começa onde termina a do *72PS*! isto &! a responsabilidade pr&)contratual apoia)se em

factos #ue não se #ualifi#uem como dolo tolerado. ó #ue importa reconecer manifestamente

insatisfatória uma ponderação tão redutora.

Desde #ue a própria lei Mart. **,P impõe (s partes o dever M%ur6dico de agir de boa f& no per6ododas negociações! nenuma raHão 0 para não considerarmos "ega"  a re"ação 3urdi(a #ue se cria entre as

 partes! antes da conclusão do contrato! logo #ue elas iniciam as relações tendentes ( sua preparação.

2.5. 4rinc6pio da força vinculativa55

'1iste um aspecto comum a todos os contratos #ue se consubstancia no  prin(pio da %orça

&in(u"ati&a  ou da  obrigatoriedade. ignifica #ue o contrato plenamente v0lido e eficaH constitui lei

imperativa entre as partes. o #ue e1pressa o art. 5+8PS/.

Desenvolve)se este princ6pio noutros tr=s"

/.  ;rin(pio da ;ontua"idade $ o contrato deve ser e1ecutado ponto por ponto! em todas as

suas cl0usulas e não apenas no praHo estipulado>

*.  ;rin(pio da :rretra(tabi"idade ou :rre&ogabi"idade dos v6nculos contratuais>

2.  ;rin(pio da :ntangibi"idade do conte;do contratual.

'stes dois ;ltimos fundem)se no  prin(pio da estabi"idade dos (ontratos. 9as! #uanto aterceiros! o contrato &! em regra! inoperante. <al doutrina vem consagrada no art. 5+8PS*! #ue define o

 prin(pio da e%i('(ia re"ati&a dos (ontratos $ os efeitos contratuais não afectam terceiros. 9as pode

 produHi)los! como estatui o mesmo preceito! nos casos e termos especialmente previstos na lei.

3ecorde)se #ue vigora o prin(pio da prioridade tempora" da (onstituição ou do registo. empre

#ue se estabelecem a favor de diversas pessoas! sobre a mesma coisa! direitos pessoais de goHo entre si

incompat6veis! prevalece o direito mais antigo em data! sem pre%u6Ho das regras próprias do registoV $ 

art. 5+,P.

3esumindo e baralando! a força imperativa dos contratos e1prime)se" a respeito das partes!

mediante os subGprin(pios da pontua"idade e da estabi"idade> a respeito de terceiros! pelo

subGprin(pio da re"ati&idade. <odos eles comportam! no entanto! significativos desvios ou limites.

2.5./. Desvios ao princ6pio da estabilidade dos contratos57

e os contratos não fossem irretract0veis e as suas cl0usulas intang6veis! desapareceria um

elemento fundamental da segurança do com&rcio %ur6dico. e os contraentes se vinculam por sua

autónoma vontade! devem eles ficar adstritos (s estipulações firmadas. '! em tal lógica! não impedem o

55 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2/* e ss.57 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2/8.

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cumprimento do contrato as conse#u=ncias gravosas #ue resultem para #ual#uer das partes. O contrato!

#ue nasce do livro consenso destas! somente por acordo das mesmas em sentido contr0rio deve ser 

alterado. <odavia! o próprio art. 5+8PS/ prev= desvios %ustificados ( regra cl0ssica =pa(ta sunt ser&anda>.

A 3esolução! revogação e den;ncia dos contratos58

'sta mat&ria %0 foi previamente estudada. 4ara a6 se remete 5,. o entanto! far)se)0 uma breve

e1posição da mat&ria.

A relação %ur6dica validamente surgida de um contrato & suscept6vel de e1tinguir)se por 

reso"ução, re&ogação ou denn(ia.

As figuras #ue a#ui consideramos representam e1cepções ao princ6pio da irretractabilidade da

relação contratual baseadas em fundamentos supervenientes. Da6 #ue se distingam das situações de

ineistIn(ia! de in&a"idade  e de ine%i('(ia Mstricto sensu. 'stas atingem o negócio %ur6dico de onde a

relação emerge! impedindo #ue produHa os seus efeitos normais.

A resolução & a destruição da relação contratual! operada por um dos contraentes! com base num

facto posterior ( celebração do contrato.

O direito de resolução pode resultar da lei Mresolução legal! como da convenção das partes

Mresolução convencional $ art. 52*PS/. 'm #ual#uer delas! só tem direito de resolver o contrato a parte

#ue este%a em condições de restituir o #ue a%a recebido da contraparte! e1cepto #uando a impossibilidade

resulte de circunstncias a este imput0veis Mart. 52*PS*.

As mais das veHes assentar0 num poder vinculado! obrigando)se autor a alegar e provar ofundamento! previsto na convenção das partes ou na lei Mart. -+/PS* e -+*PS/! #ue %ustifica a destruição

unilateral do contrato. 9as nada impede #ue a resolução se%a confiada ao poder discricion0rio do

contraente! como nos casos de venda a retro Mart. L*,P.

' o fundamento invoc0vel pelo autor não tem de ser obrigatoriamente danoso para os seus

interesses. A 3usta (ausa de #ue depende a resolução do comodato Mart. //5+P pode cair numa raHão

(on&eniente! #ue não se%a evitar ou reparar um dano.

A resolução pode ser %udicial Mart. /+5,P e /+L5P ou e1tra%udicial Mart. 528P! conforme necessite

ou não do concurso do tribunal para operar os seus efeitos.

Ruanto aos seus efeitos! goHa! em princ6pio! de efic0cia retroactiva Mart. 525PS/. o entanto!

assim não ser0 nas seguintes situações" '5) se a retroactividade contrariar a vontade das partes ou o escopo

da resolução Mart. 525PS/> '4)  nos contratos de e1ecução continuada ou periódica! somente abrange as

 prestações %0 efectuadas! se! entre elas e a causa da resolução! e1istir um v6nculo #ue o legitime Mart.

525PS*> '.) #uanto a terceiros! a resolução nunca pre%udica os direito entretanto ad#uiridos! e1cepto se o

acto respeitar a bens regist0veis e o registo da acção de resolução anteceder o desses direitos Mart. 527PS /

e *.

58 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2/, e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. EE! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *,5 e ss.5, DEOO CARU'E3O! 9eoria ?era" do Neg(io !urdi(o! pp. /+, e ss.

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X estipulação pela #ual as partes conferem a uma delas o poder de e1tinguir a relação contratual!

no caso de se verificar certo facto futuro e incerto #ue frustre as e1pectativas da parte autora! d0)se a

designação de ("'usu"a reso"uti&a. 'sta &! assim! fonte de um direito potestativo de e1tinção retroactiva da

relação contratual. '1" pa(tum dis(ip"i(entiae $ art. L*5P.

A cl0usula resolutiva distingue)se da (ondição reso"uti&a! por#ue esta arrasta consigo a imediatadestruição da relação contratual! logo #ue verificado o facto futuro e incerto. A cl0usula apenas (on%ere o

 poder! verificado tal facto.

A propósito de condição resolutiva! 0 ainda a mencionar a camada (ondição reso"uti&a t'(ita.

Designa ela uma condição imprópria! por#ue imposta por lei! #ue se entende inserta em #ual#uer contrato

sinalagm0tico ou com prestações rec6procas! segundo a #ual! se uma das partes não cumpre! pode a outra

resolv=)lo. Funciona #uando ouver inadimplemento definitivo do contrato imput0vel ao devedor"

impossibilidade definitiva da prestação Mart. -+/PS*! perda do interesse do credor resultante da mora Mart.

-+-PS/ e situações #ue transformam a simples mora em incumprimento definitivo! como os art. 55*PS* e

2! *J parte! //7+P! /*27P e /*5*P.

A re$ogação do contrato consiste tamb&m numa destruição volunt0ria da relação contratual

 pelos próprios autores do contrato. 9as assenta no acordo dos contraentes posterior ( celebração do

contrato! com sinal oposto ao primitivo M(ontrarius (onsensus" #uando procede da vontade de um só dos

contraentes! distingue)se da resolução por apenas se pro%ectar para o futuro! o #ue se traduH no facto de a

revogação apenas se referir a declarações de vontade integradoras de negócios ainda não consumados! ou

de ela ressalvar! nos outros casos! os efeitos negociais Mpret&ritos %0 consumados.

A revogação e1prime! em regra! um poder discricion0rio! não necessitando as partes Mart. 5+8PS/ou o revogante Mart. *87PS*> 55-PS/> L8LPS/> //,+PS/> *2//P de alegar #ual#uer fundamento para a

destruição da relação negocial. 9as 0 casos em #ue ela resulta de um poder legal vinculado Mart. L,+P!

L,5P e L,7P! a par de outros em #ue não & indiferente a e1ist=ncia ou a falta de um fundamento ob%ectivo

 para a revogação Mart. *87PS2 e//,+PS*! in %ine $ considera)os relevantes.

<al como a resolução! a revogação pode criar novas obrigações Mde restituição! impedir o

nascimento de outras e e1tinguir obrigações %0 constitu6das.

A den6ncia & a declaração feita por um dos contraentes! em regra! com certa anteced=ncia sobre

o termo do per6odo negocial em curso! de #ue não #uer a renovação ou continuação do contrato renov0vel

ou fi1ado por tempo indeterminado. e1clusiva dos contratos com prestações duradouras e deve faHer)se

 para o termo do praHo de renovação destes! salvo tratando)se de contratos por tempo indeterminado.

Umas veHes! consistir0 num poder discricion0rio do autor Mart. /+75P! mas outras! um poder 

estritamente vinculado Mart. /+,LP! /+-8P e /+L-P do C. Civil.

'sta livre denunciabilidade decorre da tutela necess0ria da autonomia dos su%eitos! #ue fica

comprometida por um v6nculo demasiado longo. uma imposição da ordem p;blica Mart. *-+PS*. <orna)

se! entretanto! indispens0vel um aviso ( contraparte com o ob%ectivo de le evitar desvantagens mão

raHo0veis.

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B 3esolução ou modificação dos contratos por alteração das circunstncias

a <eorias da cl0usula rebus si( stantibus! da imprevisão! da pressuposição e da base do

negócio5-

A doutrina tem discutido sobre se a alteração do condicionalismo previs6vel para a data do

cumprimento do contrato %ustifica ou não a sua resolução ou modificação.

Contra a resolução ou alteração podem apontar)se raHões de segurança %ur6dica. 4ode acontecer!

no entanto! #ue uma mudança profunda das circunstncias em #ue as partes fundaram a decisão de

contratar torne demasiado oneroso ou dif6cil para uma delas o cumprimento da#uilo a #ue est0 obrigada!

ou então #ue provo#ue um dese#uil6brio acentuado entre as prestações. estas situações! a "odi*icação e

resolução impõem)se como imperati&os de  3ustiça.

O tema em estudo desdobra)se em dois aspectos" a fundamentação teórica e o regime %ur6dico

Mart. 52,P e 52-P. erão analisados separadamente.

Fundamentação <eórica

1. 7eoria da cl,usula rebus sic stantibus

De acordo com esta doutrina! nos contratos de longa duração considera)se sempre subentendida

a cl0usula de #ue só valem mantendo)se o estado de coisas em #ue foram estipulados. :ogo! caso se

 produHa uma mudança significativa das circunstncias #ue e1istiam ( data da celebração do contrato! a

 parte para #uem o cumprimento resulte demasiado gravoso pode pedir a sua resolução.

 ão foi esta teoria muito bem recebida nas codificações oitocentistas! por#ue reportada muito

imprecisa.

2. 7eoria da i"#re$isão

4arte)se! nesta teoria! da doutrina da cl0usula rebus si( stantibus! intentando limit0)la (s

situações mais prementes.

4ara #ue se verifi#ue a resolução do contrato! não basta #ue a%a uma modificação profunda da

situação de facto. '1ige)se ainda #ue essa alteração se%a imprevis6vel. :ogo! se ocorre uma onerosidade

da prestação! embora do m01imo vulto! #ue podia raHoavelmente prever)se! não e1iste fundamento para a

resolução ou revisão do negócio.

5- A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2*2 e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. EE! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *-/ e ss.

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'sta teoria não foi aceite pela doutrina nacional por#ue pode aver uma alteração anormal #ue

não se%a totalmente imprevis6vel! para alem do #ue pode dei1ar sem cobertura certas ipóteses #ue

mereceriam protecção! atendendo ( boa f&.

3. 7eoria da #ressu#osição M^indsceid $ s&c. \E\

Assenta a referida teoria no seguinte en#uadramento" #ual#uer declaração de vontade negocial

 pode ser feita na plena convicção de #ue se manter0 determinado de coisas ao tempo e1istente! ou de se

averem produHido ou virem a produHir)se certos factos pret&ritos! presentes ou futuros! de tal sorte #ue!

de outro modo! não se realiHaria o negócio! ou a sua estipulação teria ocorrido em termos diversos> e o

convencimento da verificação dessas circunstncias ou facto & tão seguro! #ue nem mesmo se insere no

contrato a cl0usula correspondente! apresentando)se a pressuposição! portanto! como uma condição

embrion0ria! ou não e1plicitada ou desenvolvida. Cama)se  pressuposição ( circunstncia ou situação

 pressuposta e ao próprio estado de esp6rito do pressuponente.

3eferindo)se a circunstncias passadas! contemporneas ou futuras! a teoria só gana verdadeiro

realce #uanto ao error in %uturum. Os restantes casos reconduHem)se aos casos de erro sobre a base do

negócio.

<em sofrido cr6ticas! sob prete1to de #ue facilita em termos incomport0veis a revogação do

contrato. Oferece uma pouco satisfatória defesa das e1pectativas do declarat0rio e da segurança

necess0ria ao com&rcio %ur6dico. Admite)se a impugnação do negócio desde #ue a pressuposição fosse

conecida ou cognosc6vel do outro contraente. 'ste aspecto! de  per se! não deve bastar. 4ode a

contraparte não aver #uerido #ue a efic0cia do negócio ficasse dependente da sua verificação! nem a boaf& a isso obrig0)la.

4. 7eoria da base do negócio MOertmann ) /L*/

'sta teoria plasma #ue o desaparecimento da base do negócio permite ( parte pre%udicada atacar 

a estabilidade do contrato. Assenta)se no princ6pio de #ue a efic0cia dos negócios %ur6dicos se encontra

subordinada ( e1ist=ncia e subsist=ncia da sua base.

 ão se alcança! no entanto! unanimidade #uanto ao #ue se%a essa base do negócio. ustenta

Oertmann #ue a base negocial consiste representação de uma das partes! reconecida e não contestada

 pela outra ! ou representação comum aos v0rios intervenientes! sobre a e1ist=ncia de certas circunstncias

tidas como fundamentais para a formação da vontade.

 a doutrina portuguesa! a teoria da base do negócio foi importada por 9AU': D'

AD3AD'! embora com algumas adaptações. De acordo com o referido mestre! a pressuposição só &

relevante #uando se torna conecida ou cognosc6vel da outra parte no momento da celebração do negócio

e desde #ue se conclua #ue esta! se le ouvesse sido proposta a subordinação do negócio ( verificação da

circunstncia pressuposta! aceitaria tal condicionamento ou! pelo menos! deveria t=)lo aceitado de acordo

com a boa f&. 9as AD3AD' vais alem desta formulação! entendendo %ustificada a resolução ou

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modificação do negócio! sempre #ue a boa f& postule ulteriormente esse resultado! mesmo #ue não

e1igisse a aceitação da cl0usula condicionante na altura da celebração.

3econeça)se! entretanto! #ue esta doutrina não & pac6fica. Algumas orientações modernas v=m

colocando o problema da alteração das circunstncias numa outra sede! designadamente com apelo (

teoria do risco! ao princ6pio da tutela da confiança e ( interpretação contratual.

 b olução do Direito 4ortugu=s

3egime da 3esolução ou 9odificação do contrato por alteração das circunstncias

'stas v0rias teorias #ue acab0mos de apontar constituem soluções #ue! no caso concreto!

 procuram a conciliação da relevncia da vontade presum6vel do declarante com as e1pectativas do

declarat0rio e o interesse p;blico da estabilidade dos contratos.

A nossa lei opera com o conceito da base do negócio a propósito do erro)v6cio e da

 pressuposição #ue! respectivamente! se referem a circunstncias pret&ritas ou contemporneas e a

circunstncias ou factos futuros. neste segundo dom6nio #ue o problema a#ui mais interessa.

O art. *7*PS* configura o regime do erro sobre a base negocial! onde se remete para os art. 52,P a

52LP. <odavia! a conse#u=ncia deste artigo & a anulabilidade e não a resolução! %0 #ue o erro se reporta (

 própria formação da vontade $ circunstncias passadas ou presentes do momento da celebração do

negócio.

O problema #ue nos ocupa a#ui! no entanto! situa)se na 0rea do error in %uturum! ou se%a! da

 pressuposição. De acordo com o #ue dispõe o art. 52,P! o nosso legislador entendeu vanta%osa aformulação de cl0usulas gerais #ue permitam ( %urisprud=ncia encontrar as soluções %ustas nos contratos

cu%o e#uil6brio sofreu perturbações perturbação in6#ua! pela alteração das circunstncias em #ue se

radicou a respectiva celebração. 4artiu)se da teoria da base do negócio! #ue completou com apelo aos

 princ6pios da boa f&.

3e#uisitos cumulativos para #ue a alteração das circunstncias fundamente a resolução ou modificação"

5- A alteração a ter #or rele$ante te" de di8er res#eito a circunst9ncias e" !ue se alicerçou a

decisão de contratar 'art- :.0135)-

er0 necess0ria! no entanto! a bilateralidade da importncia dessas circunstncias[ Cabe analisar 

o problema na perspectiva do lesado> e! assim! não parece ser e1ig6vel #ue a representação determinante

de uma das partes constitua tamb&m causa determinante para a outra. ! no entanto! vital #ue essas

circunstncias se apresentem evidentes $ devem encontrar)se na base do negócio! com consci=ncia de

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ambos os contraentes ou raHo0vel notoriedade $ como representação mental ou psicológica comum

 patente nas negociações Mbase sub%ectiva! ou condicionalismo ob%ectivo apenas impl6cito! por#ue

essencial ao sentido e aos resultados do contrato celebrado Mbase ob%ectiva.

Ou se%a! importa #ue as circunstncias determinantes para uma das partes se mostrem

conecidas ou cognosc6veis para a outra parte. '! ainda! #ue esta ;ltima! se le tivesse sido proposta asubordinação do negócio ( verificação das circunstncias pressupostas pelo lesado a aceitasse ou devesse

aceitar! procedendo de boa f&. A resolução ou revisão pode %ustificar)se caso a boa f& a impona ao tempo

em #ue o problema se levanta.

4- A alteração das circunst9ncias te" de ter sido anor"al 'art- :.0135)

O crit&rio da anormalidade coincide! via de regra! com o da imprevisibilidade. 4or&m! a#uele

afigura)se mais amplo #ue este! permitindo! con%ugado com a boa f&! estender a resolução ou modificação

a certas ipóteses em #ue alterações anormais das circunstncias! posto #ue previs6veis! afectem o

e#uil6brio do contrato. 4ortanto! dispensa)se a imprevisibilidade nos casos em #ue a boa f& obrigaria a

outra parte a aceitar #ue o contrato ficasse dependente da manutenção da circunstncia alterada.

4arece desnecess0rio #ue o facto gerador da alteração anormal se inicie somente depois da

celebração do contrato. 9as e1ige)se #ue nessa data ainda não apresente tal caracter6stica.

A alteração anormal caracteriHa)se pela e1cepcionalidade $ escapa ( regra! produH um

sobressalto! um acidente! no curso ordin0rio ou s&rie natural dos acontecimentos.

.- A estabilidade do contrato en$ol$e u"a lesão #ara u"a das #artes 'art- :.0135)

G0 a#ui a ter em atenção a perturbação do origin0rio e#uil6brio contratual. 9uitas veHes

consistir0 no facto de se aver tornado demasiado onerosa! numa perspectiva económica! a prestação de

uma das partes $ a lesão deve mostrar)se epressi&a. 9as! inversamente! mesmo #ue não a%a a ameaça

de ru6na económica! pode a e1ig=ncia do cumprimento ser contr0ria ( boa f&.

9as o art. 52,PS/ não contempla apenas a e1cessiva onerosidade económica da prestação. O

artigo abrange outras situações em #ue a resolução ou modificação do contrato se %ustifica. er0 a

ipótese de a alteração envolver! para o lesado! grandes riscos pessoais ou e1cessivos sacrif6cios de

natureHa não patrimonial.

:- A "anutenção do contrato ou dos seus ter"os te" de a*ectar gra$e"ente o #rinc;#io da

boa *< 'art- :.0135)

ão os princ6pios da boa f& negocial #ue fundamentam! em ;ltima an0lise! a resolução ou

modificação.

aliente)se #ue a lei não aponta para uma #ual#uer violação da boa f&. 'sta tem de ser 

 gra&emente afectada. Considera)se admiss6vel a resolução ou modificação! %ustificada pela boa f&! ainda

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#ue não se verifi#uem os pressupostos de #ual#uer das formulações da teoria da base negocial ou de

outras. er0 sempre decisivo #ue o direito de resolução se%a e1ig=ncia imperiosa da boa f&.

=- A situação não se #ode encontrar coberta #elos riscos #ró#rios do negócio 'art- :.0135)

A alteração anómala das circunstncias não deve compreender)se na 0lea própria do contrato!

isto &! nas suas flutuações normais ou finalidade. <alveH a restrição %0 decorresse dos ditames da boa f&. O

legislador! contudo! preferiu e1press0)la.

Aos riscos inerentes ao tipo de contrato em #uestão devem e#uiparar)se os riscos concretamente

contemplados pelas partes no acordo contratual celebrado. poss6vel aos contraentes afastar ou limitar a

aplicação do art. 52,P! assumindo riscos maiores.

>- Ine?ist+ncia de "ora do lesado 'art- :.21)

4rovidencia a este respeito o art. 52-P5L.  uma disciplina conforme ( estrutura do instituto! #ue

se alicerça numa alteração das circunstncias entre o momento do contrato e a#uele em #ue devem ser 

cumpridas as obrigações correspondentes. Outro tanto deriva das próprias conse#u=ncias! em relação a

factos supervenientes! da mora culposa $ a ;nica #ue o art. 52-P abrange. A tutela #ue resulte de #uais#uer 

factos posteriores ( mora não deve aproveitar a #uem se coloca nessa situação. e o cumprimento foi

retardado merc= da impossibilidade tempor0ria da prestação! inimput0vel ao devedor! %0 ele pode

 prevalecer)se do direito de resolução ou modificação do contrato.

A lei refere)se ao momento em #ue se produH a alteração das circunstncias. :ogo! se esta

alteração antecede a mora! não & o simples facto de o devedor ter incorrido em mora #ue o impede de

 pedir a resolução ou modificação do contratoV. Gavendo prorrogação do praHo por acordo das partes!

dever0 atender)se ( finalidade #ue elas tiveram em vista para efeitos da aplicação da doutrina da

resolubilidade ou modificabilidade do contrato (s alterações posteriores a essa prorrogação.

Contratos abrangidos

Rue contratos se compreendem no mbito de aplicação do art. 52,P[

O problema apenas se coloca a respeito de prestações #ue não se%am de e1ecução imediata!

antes! #ue devam efectuar)se no futuro.

5L '1cepcionalmente! e %ustificadamente! o art. -2+PS2 dispensa este re#uisito! a propósito! a propósito da e1ecuçãoespec6fica das promessas relativas ( celebração de contratos onerosos de transmissão ou constituição de direitos reaissobre edif6cios! ou fracções autónomas deles. Apenas se prev= nesse caso a modificação do contrato.

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O art. 52,P não distingue entre contratos unilaterais e contratos bilaterais. A melor doutrina ser0

a #ue abrange todas as virtualidades da doutrina consagrada no artigo! entendendo)se #ue compreende

tanto os contratos bilaterais como os unilaterais! desde #ue verificados os re#uisitos.

9ais dif6cil & o assunto dos contratos aleatórios! pois os seus efeitos dependem de um factofuturo e incerto. A solução de #ue estariam afastados poder0 encontrar algum apoio legal na letra do art.

52,P" coberta pelos riscos próprios do contratoV. 9as não parece contrariar a lei a aceitação de uma

fórmula #ue admita poderem os contratos aleatórios serem resolvidos ou modificados #uando a alteração

das circunstncias e1ceder apreciavelmente todas as flutuações previs6veis na data do contratoV! com a

 poss6vel ressalva de as partes não se averem su%eitado a efeitos an0logos resultantes de outras causas.

A doutrina encontra)se dividida sobre se a resolução ou modificação envolve apenas Mcontratos

cu%as obrigações principais %0 foram cumpridas os contratos #ue ainda não se encontrem inteiramente

cumpridos $ tão)só as prestações por efectuar as prestações por efectuar #uando se invoca a alteração das

circunstncias. Aceita)se uma resposta afirmativa por princ6pio. 9as concebem)se situações e1cepcionais

em #ue se %ustifica a resolução ou revisão do contrato! após o cumprimento de uma ou at& de ambas as

 prestações.

G0 ainda o problema dos contratos #ue importam a constituição ou transmissão de um direito

real sobre coisa certa e determinada Mart. 52,P in %ine vs art. ,L8P! nP /. G0! pois! #ue coordenar a

disciplina da resolução ou modificação com o #ue o art. ,L8P dispõe #uanto ao risco. Como & sabido! nos

contratos #ue envolvem transmissão da propriedade da coisa ou #ue constituem ou transferem outrodireito real sobre ela! o risco de perecimento ou deterioração corre por conta do ad#uirente. Ora! em caso

de colisão dos regimes! #ual o #ue deve prevalecer[

e%a)se o seguinte e1emplo" A vende a B o pr&dio \ #ue! após a celebração do contrato! &

consumido por um inc=ndio. O evento #ue ocasiona a perda ou deterioração ocorreu antes de o ad#uirente

ter satisfeito integralmente o preço.

 o e1emplo considerado a base negocial cai por#ue a coisa não perdurou intacta! e por#ue isto

derivou de um facto anormal. 9as 0 ainda #ue saber se a situação est0 abrangida pelos riscos próprios do

negócio! parecendo #ue sim! %0 #ue & a lei #ue atribui tais riscos aos contratos com efic0cia real. esta

ordem de ideias! o preceito especial do ,L8P prevalece sobre o 52,P.

 ão se e1clui! no entanto! a possibilidade da ocorr=ncia de situações e1cepcionais #ue apontem

 para a orientação oposta! visto #ue tamb&m deve ter)se presente o apelo #ue & feito ao princ6pio da boa f&.

tudo residir0 em demonstrar riscos #ue e1cedam essa '"ea norma"  definida no art. ,L8P. Apenas se coloca

o problema a respeito da modificação! e nunca da resolução! ou se%a! com vista a uma repartição

e#uitativa dos danos pelas partes.

2.5.*. Desvios ao princ6pio da relatividade dos contratos

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A regra consiste em os contratos não produHirem efeitos #uanto a terceiros. Ao sancionar o

 princ6pio! o C. Civil ressalva as e1cepções especialmente previstas na lei Mart. 5+8PS*. 'ntre estas se

conta a faculdade de atribuir efic0cia real a certos contratos" o contrato)promessa Mart. 5/2P e o pacto de

 prefer=ncia Mart. 5*/P.

Como manifesta e1cepção ao princ6pio! a nossa lei civil consagra o contrato a *a$or de terceiroMart. 552P a 57/P. <al desvio & menos n6tido! ou mesmo ine1istente! no contrato #ara #essoa a no"ear

Mart. 57*P a 578P.

A Contrato a favor de terceiro7+

eguir)se)0 a#ui a e1posição do 4rof. A<U' A3':A.

O contrato a favor de terceiro & uma das modalidades #ue mais interesse reveste. 'sta figura

contratual tem de ser e1presso por uma figura contratual. Cada um dos v&rtices depara! assim! com dois

interessados no contrato! embora os (ontraentes se3am dois apenas > e nas relações entre os membros dos

tr=s grupos de Mdois intervenientes! #ue o contrato institui! correm poderes e deveres próprios ao serviço

de interesses distintos.

O contrato a favor de terceiro & o (ontrato em Bue um dos (ontraentes promitenteG atribui, por 

(onta e H ordem do outro promiss'rioG, uma &antagem a um ter(eiro bene%i(i'rioG, estran#o H re"ação

(ontratua"6

A vantagem traduH)se em regra numa prestação Mart. 552PS/! assente sobre o respectivo direitode cr&dito. 9as a lei admite #ue se o utiliHe para a remissão de d6vidas ou ced=ncia de cr&ditos! bem como

 para a constituição! modificação! transmissão ou e1tinção de direitos reais Mart. 552PS*.

'ssencial ( figura & #ue os contraentes procedam com a intenção de atribuir! atrav&s do

contrato! um direito  Mde cr&dito ou real a terceiro ou #ue dele resulte! pelo menos! uma atribuição

 patrimonial i"ediata para o benefici0rio7/. 

Assim se distingue o verdadeiro contrato a favor de terceiro da#ueles contratos Mobrigacionais

cu%a prestação principal se destina a terceiro! mas sem #ue este ad#uira previamente! segundo a intenção

dos contraentes e o próprio contrato! #ual#uer direito Mde cr&dito ( prestação.

o #ue sucede #uando algu&m! por e1emplo! compra na florista um ramo de flores para ser 

enviado a terceira pessoa.

 ão 0 nestes casos nenuma obrigação #ue o devedor assuma perante o terceiro destinat0rio da

 prestação. O ;nico credor do obrigado! durante toda a e1ist=ncia da relação obrigacional & o outro

contraente Mo cliente da florista. A estes casos d0 a doutrina o nome de contratos autoriati&os  da

7+ A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 27+ e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 5+- e ss> 4E3' D':E9A e A<U' A3':A! ob6 (it6, anot. aos art. 552P e ss.7/ O benef6cio do terceiro nasce directa"ente  do contrato! e não de #ual#uer acto posterior. Esso não significa #ue oseu nascimento não possa ser diferido para momento posterior ( celebração do contrato! se a lei Mart. 57/PS/ ou oscontraentes Mmediante condição ou fi1ação de praHo assim o determinarem.

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 prestação a terceiro! para os distinguir dos próprios contratos a favor de terceiro! nos #uais se legiti"a o

terceiro a e?igir do de$edor a reali8ação da #restação.

A distinção! na pr0tica! nem sempre & f0cil! e mais dif6cil se torna com o facto da lei tornar os

contratos a favor de terceiros e1tensivos aos contratos com efic0cia real Mart. 552PS*.

9ais f0cil %0 ser0 distinguir o contrato a favor de terceiro dos contratos com efeitos refle1os

sobre terceiros. estes! os terceiros refle1amente protegidos não ad#uirem #ual#uer direito ( prestação

 principal ou secund0ria emergente do contrato! mas dos direitos correspondentes a alguns dos deveres

acessórios de conduta.

#ue! e como %0 foi dito! para #ue a%a contrato a favor de terceiro! & preciso #ue o terceiro se%a

titular do direito ( prestação ou benefici0rio directo da atribuição nascida do contrato. ão basta uma

atribuição indirecta.

Outras figuras pró1imas

O contrato a favor de terceiro não se confunde com o contrato realiHado por meio de

re#resentação. A pessoa #ue! na representação! fica fora das operações contratuais Mo representado & o

verdadeiro contraente! o titular da posição %ur6dica #ue decorre do contrato! não & terceiro. o contrato a

favor de terceiro! os contraentes são os intervenientes no negócio! en#uanto o terceiro benefici0rio!

 permanecendo fora do contrato! & apenas o titular do principal direito ou da atribuição patrimonial #ue

nasce dele.

<amb&m não se confunde com o "andato se" re#resentação Mart. /-++P e ss. este! nenum

direito nasce directamente do contrato para terceiro> só numa fase ulterior! em cumprimento da relação de

mandato! o mandante tem direito de e1igir do mandat0rio Me não da contraparte a transmissão dos direitos

e das obrigações #ue advieram deste! mas nessa altura assume a posição de contraente Me não apenas a

titularidade de um direito derivado do contrato. o contrato a favor de terceiro! o direito do benefici0rio

resulta imediatamente do contrato! pois o promitente fica vinculado perante ele ( prestação.

<amb&m não o 0 #uando o credor se limita a autoriHar #ue a prestação se%a entregue a terceiro!

#ue fica encarregado de a receber Mart. ,,+P! aG $ falta a intenção de atribuir um direito de e1igir a

 prestação ao terceiro.

Diferente & ainda o contrato de prestação por terceiro! no #ual algu&m se compromete a

conseguir #ue terceiro! efectue uma prestação ao outro contraente. este caso & o terceiro #uem 0)de

realiHar a prestação! embora o contrato o não vincule! en#uanto no contrato a favor de terceiro & o

 promitente #ue se obriga a realiHar a prestação ou proporciona outra vantagem a favor de terceiro.

<ermos em #ue a lei civil admite o contrato a favor de terceiro

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O re#uisito espec6fico para a validade do contrato & paralelo ao #ue vigora para a constituição de

#ual#uer obrigação" e1ige)se #ue o promiss0rio ou estipulante tena na prestação prometida ao terceiro

um interesse digno de prote(ção "ega" . Basta #ue o promiss0rio tena um interesse s&rio! protegido pelo

Direito! em atribuir o direito ao terceiro benefici0rio.

4or outro lado! a lei Mart. 552PS* consagra a validade não só dos contratos com efic0ciaobrigacional! mas tamb&m a dos (ontratos "iberatrios e a dos contratos constitutivos! modificativos!

transmissivos ou e1tintivos de direitos reais! #ue não envolvem nenuma obrigação do promitente em

relação ao terceiro benefici0rio7*.  Atrav&s destes contratos opera)se imediatamente  no património do

terceiro a liberação do d&bito! a transmissão do cr&dito! a constituição! modificação transmissão ou

e1tinção do direito real #ue o contrato tem por ob%ecto.

 ão & necess0rio o car0cter gratuito da vantagem proporcionada ao benefici0rio.

Dupla relação #ue o contrato integra

• Relação entre o #ro"iss,rio e o #ro"itente – #ro$isão@ b,sica ou cobertura

O contrato a favor de terceiro & o meio pelo #ual o promiss0rio efectua uma atribuição

 patrimonial indire(ta. em benef6cio de terceiro.

A prestação usada para esse fim prov&m da relação %0 e1istente entre o o promiss0rio e o

 promitente! relação #ue pode ter a mais variada natureHa. Como & esta relação #ue cobre o direito

conferido a terceiro! sendo dela #ue o promitente tira cobertura para a atribuição a #ue fica adstrito! d0)se)

le o nome de relação de cobertura ou de #ro$isão 'relação b,sica).O direito atribu6do ao terceiro integra)se numa outra relação entre o promiss0rio e o terceiro $ 

relação de valuta! tamb&m esta com a mais variada natureHa.

A relação b0sica tem uma grande importncia na fi1ação de direitos e deveres rec6procos dos

contraentes! bem como na determinação dos meios de defesa #ue podem opor um ao outro.

' tem a mesma influ=ncia nas relações entre o promitente e o terceiro! visto a#uele poder opor a

este! nos termos do 55LP! todos os meios de defesa derivados do contrato.

Assim! a nulidade! a caducidade ou a e1cepção de não)cumprimento $ todos estes meios são

opon6veis ao terceiro pelo promitente.

O #ue o promitente não pode & invocar os meios de defesa baseados em #ual#uer outra relação

entre ele e o promiss0rio Maceitando efectuar a prestação a terceiro! renuncia implicitamente ( faculdade

de invocar tais e1cepções. <al a solução e1pressamente consagrada no art. 55LP! in %ine ou na relação de

valuta entre o promiss0rio e o terceiro. O promitente não pode assim considerar e1tinta a obrigação em

face do terceiro! por compensação com um cr&dito ad#uirido atrav&s de um outro contrato sobre o

 promiss0rio.

7*  O preceito fala especificamente na possibilidade de as partes constitu6ram direitos reais desde #ue o terceiro benefici0rio não se%a um mero destinat0rio da prestação! sendo para isso necess0rio! em regra! #ue o direito realconstitu6do se destine a perdurar! como sucede com os direitos reais sobre imóveis ou móveis não consum6veis >modificarem! transmitirem ou e1tinguirem direitos desta mesma esp&cie.72 Atenção ( palavra indire(ta. ão #uer ela diHer #ue o terceiro só ad#uire uma atribuição ou um direito de formaindirecta. Ad#uire)o directamente do contrato. A palavra foi usada no termo de #ue #uem #uer #ue o terceiro se%a beneficiado & o promiss0rio e! para isso! serve)se da promessa efectuada por outrem Mpromitente.

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e %0 tiver cumprido e a relação de cobertura for declarada inv0lida! não aver0 lugar ( repetição

do indevido! desde #ue se mantena a relação de valuta. ó poder0 a prestação ser repetida nos termos do

art. 5,-! reunidos os pressupostos.

• Relação entre #ro"iss,rio e terceiro – $aluta ou atribuição- Posição do terceiro

O terceiro ad#uire direito ( prestação como efeito imediato do contrato! independentemente da

aceitação ou at& do conecimento da celebração do contrato Mart. 555PS/ e cfr. art. 57/P. e o contrato

revestir alguma das modalidades especialmente previstas no art. 552PS*! a liberação do devedor! a

transmissão do cr&dito! a constituição! modificação! transmissão ou e1tinção do direito real operam)se

independentemente da aceitação do terceiro. A aceitação Madesão $ art. 55,PS2 tem! no entanto! o efeito

de precludir a revogação da promessa por parte do promiss0rio Mart. 55-PS/ e *. 'n#uanto a adesão não

for comunicada ao promiss0rio! pode este revogar a promessa> en#uanto não comunicada ao promitente

não est0 ele em mora ou vinculado a deveres secund0rios de conduta.

9esmo depois da adesão! não se torna o terceiro num contraente! mas apenas titular definitivo

do direito conferido contratualmente.

O terceiro em lugar da aderir pode tomar uma de duas outras atitudes"

3e%eitar $ entende)se #ue a atribuição não pode ser imposta contra a sua vontade. A

re%eição destrói retroactivamente os efeitos da a#uisição imediata do direito! reconstituindo a

situação anterior ( celebração do contrato. A re%eição est0 su%eita a ser atacada pelos credores do

terceiro benefici0rio por meio da impugnação pauliana Mart. 8/+P e ss>  ada diHer $ em virtude do car0cter inerte da atitude do terceiro! pode ser atacada pela

sub)rogação Mart. 8+8P e ss.

O direito de resolução do contrato! por impossibilidade superveniente da prestação cabe ao

 promiss0rio! visto tratar)se de uma faculdade #ue deve considerar)se reservada aos contraentes75.

Ruanto aos direitos do #ro"iss,rio! tem este o direito de e1igir do promitente o cumprimento

da promessa! salvo estipulação em contr0rio Mart. 555PS*.

A coe1ist=ncia do direito do benefici0rio ( prestação com o direito do promiss0rio de e1igir o

cumprimento pode dar lugar a d;vidas! #uando a%a entre eles diverg=ncia sobre a forma de cumprimento.

'ssas d;vidas devem ser resolvidas de armonia com a vontade e1pressa no contrato pelos

contraentes. ão pode dei1ar de se atender ao diferente sentido #ue revestem os dois direitos na economia

da relação. O direito do promiss0rio de e1igir o cumprimento & instrumental ao serviço do interesse

fundamental do terceiro. ão repugna! pois! admitir #ue o terceiro consinta validamente numa dação em

cumprimento! contra a vontade do promiss0rio.

75 'n#uanto! por&m! o terceiro puder e1igir a prestação! depois de o seu direito se tornar irrevog0vel! o promiss0rionão poder0! atrav&s da resolução! destruir esse direito. Ruem ter0! assim! o poder de fi1ar o praHo a #ue se refere oart. -+-PS/ & o terceiro.

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Ruanto ao poder de disposição do terceiro sobre o direito #ue le & atribu6do! depender0 das

indicações #ue! para o efeito! facultarem as declarações das partes.

 a sua titularidade estão! pois! os seguintes direitos"

/ 9eios de defesa Mv6cios de forma! de formação da vontade... provenientes da

relação de cobertura e da relação de valuta>

* Direito de resolução do contrato por faltad e cumprimento do promitente! pelo

menos #uando esta não pre%udi#ue o direito de indemniHação a #ue o terceiro tena direito>

2 Direito de revogar a promessa! en#uanto a ela não tiver aderido o terceiro! ou

en#uanto for vivo! se se destina a ser cumprida após a sua morte. 'sta faculdade tem duas

ressalvas" Mi aver estipulação em contr0rio Mart. 55-P ) estabelece a ipótese de irrevogabilidade

antes da aceitação! bem como a da revogabilidade após a adesão> Mii a de a promessa ser feita

no interesse de ambos os outorgantes! pois neste caso ser0 necess0rio o consentimento do

 promitente Mart. 55-PS*>

5 9esmo depois da a#uisição definitiva do direito pelo terceiro! o promiss0rio

 pode invocar contra ela os v6cios da relação de valuta.

4restação em benef6cio de pessoa indeterminada ou no interesse p;blico

4ode suceder #ue a prestação vise proteger um interesse p;blico ou se destine a con%unto

indeterminado de pessoas Mart. 557P e 558P.

A natureHa dos interesses favorecidos e a falta de pessoa determinada #ue Hele pelo cumprimento

da prestação forçam naturalmente a lei a introduHir especialidades.

Assim! reconece)se (s entidades competentes para a tutela ou representação do interesse

 p;blico em causa o direito de e1igirem do promitente o cumprimento! incluindo o recurso ( acção

creditória Mart. 557P. 4or outro lado recusa)se tanto a essas entidades como aos erdeiros do promiss0rio

o poder de disporem da prestação! visto esta não se não destinar a satisfaHer o seu interesse particular Mart.

558P.

Atribui)se ainda (s mesmas entidades e aos erdeiros do promiss0rio o direito de e1igirem a

indemniHação devida! no caso de a prestação se tornar imposs6vel por causa imput0vel promitente! mas para aplicarem o produto na realiHação dos interesses visados pelo doador $ art. 558PS*.

B Contrato para pessoa a nomear 77

A e1posição seguida & a do manual do 4rof. A<U' A3':A.

77 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 277 e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 5*, e ss> 4E3' D':E9A e A<U' A3':A! ob6 (it6, anot. aos art. 57*P e ss.

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O contrato para pessoa a nomear & admitido nos termos do art. 57*P e constitui uma inovação

introduHida pelo ;ltimo Código Civil.

Contrato #ara #essoa a no"ear & o (ontrato em Bue uma das partes se reser&a a %a(u"dade de

designar uma outra pessoa Bue assuma a sua posição na re"ação (ontratua", (omo se o (ontrato ti&esse

 sido (e"ebrado (om esta "tima $ art. 57*PS/6 ão 0 neste contrato #ual#uer desvio ao princ6pio da relatividade dos contratos. 'le produH

todos os seus efeitos a#enas entre os contraentes. ó #ue! en#uanto não 0 designação do ami(us e"e(tus!

os contraentes são os outorgantes no contrato. Depois da designação! o contraente passa a ser! de acordo

com o conte;do do contrato! %0 não o outorgante! mas o designado Mart. 577PS/.

Figuras pró1imas

 ão se identifica com o negócio celebrado por meio de representação! por#ue este produH os

seus efeitos na esfera do representado! desde o in6cio! ao passo #ue o contrato para pessoa a nomear 

começa por produHir efeitos em relação ao outorgante e apenas pode vir a produHi)los na esfera %ur6dica

de uma outra pessoa! #ue não figura no acto como representado.

<amb&m & distinto do contrato celebrado por uma das partes em nome de pessoa #ue

#osterior"ente se designar, ou contrato para a pessoa a !ue" #ertencer. este caso! o interveniente

não & contraente> e o contrato só produH efeitos #uanto ( pessoa prevista! se esta o ratificar ou se o

interveniente tiver poderes de representação. ão 0 a alternatividade potencial de su%eitos do contrato

 para pessoa a nomear $ art. 577PS/ e *.

 o contrato a favor de terceiro! os ;nicos contraentes são o promitente e o promiss0rio! mesmo

após a adesão> após a nomeação! no contrato para pessoa a nomear! o e"e(tus toma o lugar de um dos

outorgantes! passando a tomar o seu lugar como contraente desde a celebração do contrato.

A gestão de negócios envolve a intervenção do gestor em negócios #ue são aleios. O contrato

 para pessoa a nomear começa por pertencer ao interveniente e pode vir a consolidar)se definitivamente na

titularidade do designado.

 o mandato sem representação o mandat0rio não dei1a de ser contraente em face dos terceiros

com #uem negociou! mesmo depois de transferir para o mandante os direitos ad#uiridos em e1ecução do

mandato. o contrato para pessoa a nomear! efectuada a nomeação! os efeitos do negócio encabeçam)se

retroactivamente na titularidade da pessoa nomeada.

tamb&m distinto o contrato)promessa do contrato para pessoa a nomear! no #ual não 0 uma

simples promessa de contratar! mas um contrato definitivo em relação ao estipulante! ao mesmo tempo

#ue a pessoa nomeada nenuma promessa faH no contrato! por#ue não & se#uer pactuante.

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3egime

X#uele acordo seguir)se)0 normalmente a declaração de nomeação78.

'sta! para ser eficaH! necessita de ser feita por documento escrito7,! e emitida dentro do praHo

convencionado ou! na falta de convenção! dentro dos cinco dias subse#uentes ( celebração do contrato7-

.4recisa ainda de ser integrada pelo instrumento escrito de rati%i(ação  ou pela  pro(uração  anterior   (

celebração do contrato $ art. 572P e 575P.

Feita a nomeação! os efeitos do negócio processam)se como se a pessoa nomeada fosse o

contraente origin0rio! ad#uirindo o nomeado! com efic0cia retroactiva7L! todos os direitos e obrigações

emergentes do contrato para o lado da relação em #ue fica investido. a falta de nomeação! os efeitos do

negócio consolidam)se na esfera %ur6dica do interveniente! salva a possibilidade de as partes averem

acordado em outra situação $ art. 577P.

4ara #ue a designação da pessoa produHa efeitos em relação a terceiros! estando o contrato

su%eito a registo! admite)se a inscrição em nome do contraente origin0rio! com indicação da cl0usula para

 pessoa a nomear! e a inscrição subse#uente! mediante o averbamento ade#uado $ art. 578P.

2.7. 'fic0cia ulterior dos contratos. A responsabilidade pós)contratual8+

Emporta agora camar a atenção para os efeitos #ue estes podem produHir depois de se

e1tinguirem. o tema da responsabi"idade ps)(ontratua"   ou da e%i('(ia posterior das obrigações!

instituto cu%a designação decorre precisamente da circunstncia de se apoiar num contrato celebrado e

e1ecutado #uanto (s prestações principais. 4osiciona)se em paralelismo ou simetria ( analisadaresponsabi"idade pr@)(ontratua" .

Assumem evidente predominncia na vida dos contratos as prestações principais. 'las

identificam! de resto! o tipo contratual. 9as a completa satisfação dos interesses das partes pode envolver 

#ue esses deveres principais de prestação se%am acompanados por deveres secund0rios e por deveres

laterais. <odos estruturam a relação obrigacional comple1a.

'sta efic0cia ulterior alicerça a figura %ur6dica da responsabilidade pós)contratual! #ue se traduH

na possibilidade de surgir um dever de indemniHação derivado da conduta de uma das partes depois da

referida e1tinção do contrato.

78 A reserva de nomeação não & legalmente admitida nos casos em #ue a lei afasta a representação! nem na#ueles em#ue & indispens0vel a determinação dos contraentes $ art. 57*PS*.  G0 necessidade de determinação do contraente! em termos #ue não se compadecem com o esp6rito da cl0usula  proami(o e"igendo! nos contratos #ue! pela sua própria natureHa! são efectuados intuitu personae. <amb&m não seconcebe o emprego da cl0usula nos contratos modificativos ou e1tintivos de #ual#uer relação %ur6dica. As partes t=mde ser os su%eitos desta relação e não outros.7, '1ige)se escrito! tanto para a declaração de nomeação Mart. 572PS/! como para a rati%i(ação do contrato pela pessoanomeada Mart. 575PS/ por raHões de certeHa %ur6dica. ão bastar0 o simples documento escrito se o contrato tiver sidocelebrado por documento de maior força probatória! nomeadamente por meio de escritura p;blica $ art. 575PS*.7- O praHo supletivo & bastante curto para #ue não se prolongue! com todos os inconvenientes #ue da6 podem advir! asituação de incerteHa #ue a cl0usula cria para o (ontraente %irme.7L e! no entanto! por força da lei ou de acordo com o estipulante! se tiverem constitu6do a favor de terceiro #uais#uer 

direitos sobre a coisa a #ue o contrato se refere! antes da declaração de nomeação! esses direitos podem não ser  pre%udicados pela nomeação! desde #ue preencam os re#uisitos necess0rios ( sua efic0cia real.8+ A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 27, e ss.

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 ão obstante se encontrarem cumpridas as obrigações de prestação contratuais! se impõe aos

contraentes o dever de se absterem de comportamentos suscept6veis de colocar em perigo ou pre%udicar o

fim do contrato.

'1emplo" A! vendedor de vestu0rio! encarrega B! #ue trabala autonomamente! de faHer um

modelo de casaco de senora! de acordo com o deseno #ue le proporciona! e confeccionar em seguidaum determinado n;mero de casacos conforme esse modelo> B cumpre o contrato a inteiro contento de A.

Depois disso! ainda na mesma estação! B faculta a C! concorrente de A! o modelo preparado segundo o

deseno de A e fabrica para C uma s&rie de casacos id=nticos. Atitudes como as de B contrariam em regra

a boa f& e ocasionam responsabilidade pós)contratual.

 ão raro! deparar)se)0 com a violação de deveres surgidos em virtude de deveres surgidos em

virtude da própria e1tinção do contrato.

4ode encontrar)se algum fundamento para a responsabilidade pós)contratual no art. *2LP!

relativo ( integração do negócio %ur6dico. 9as! não obstante! o principio da boa f& assegura um amplo

suporte ao instituto! maime atrav&s do art. ,8*PS*.

5. Classificações dos contratos ?remissão@

'sta mat&ria %0 foi estudada na cadeira de <eoria eral do egócio Iur6dico. 4ara a6 se remete8/.

7. Contratos mistos8*

DiH)se "isto  o (ontrato no Bua" se renem e"ementos de dois ou mais neg(ios, tota" ou

 par(ia"mente regu"ados na "ei82. 

As partes! por#ue os seus interesses o impõem a cada passo! celebram por veHes contratos com

 prestações de natureHa diversa ou com uma articulação de prestações diferentes da prevista na lei! mas

encontrando)se ambas as prestações ou todas elas compreendidas em esp&cies t6picas directamente

reguladas na lei.

Iunção! união e coligação de contratos

O contrato misto distingue)se #uer da simples unção! #uer da união ou coligação de negócios.

<rata)se! nestes casos! de dois ou mais contratos #ue! sem perda da sua individualidade! se acam ligados

entre si por certo ne1o. Umas veHes M%unção de contratos! o v6nculo #ue prende os contratos & puramente

e?terior ou acidental! como #uando prov&m do simples facto de terem sido celebrados ao mesmo tempo

ou de constarem do mesmo t6tulo.

8/ DEOO CARU'E3O! 9eoria ?era" do Neg(io !urdi(o! pp. 22 e ss.8* A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. *,L e ss> A<U'

A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2,* e ss>82  a estes contratos mistos #ue e1pressamente pretende referir)se o art. 5+7PS*! o #ual não tem mesmo outrafinalidade #ue não se%a a de referir e1plicitamente esta importante categoria dos contratos.

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A compra um relógio e manda consertar outro ao mesmo relo%oeiro. Ruando assim acontece!

como os contratos são autónomos e distintos! aplicar)se)0 a cada um deles o regime #ue le compete.

Outras veHes sucede #ue os contratos! mantendo embora a sua individualidade! estão ligados

entre si! segundo a intenção das partes! por um ne1o %un(iona"  #ue influi na respectiva disciplina. <rata)se

agora de um v6nculo substancial #ue pode alterar o regime normal de um dos contratos ou de ambos! por virtude da re"ação de interdependIn(ia #ue eventualmente se crie entre eles. 4ode um dos contratos

funcionar como condição! contraprestação ou motivo do outro> pode a opção por um ou outro estar 

dependente da verificação ou não da mesma condição. 9uitas veHes constituir0 um deles a base negocial

do outro Mart. *7*PS* e /52,PS/. C convenciona com D comprar)le ou arrendar certo pr&dio! optando pela

 primeira ou pela segunda! consoante vena a ser colocado na respectiva localidade ou em regime de

simples interinidade.

 estes casos de coligação de contratos 0 %0 certa depend=ncia entre os coligados! criada pelas

cl0usulas acessórias ou pela relação de correspectividade ou de motivação #ue afectam cada um deles ou

ambos. 4or&m! a individualidade não & destru6da.

 o contrato misto! por seu turno! 0 a fusão num só negócio de elementos contratuais distintos

#ue! alem de perderem a sua autonomia! faHem parte do es#uema negocial unit0rio.

4roblema mais delicado & saber se nestas esp&cies negociais de m;ltiplas prestações e1istem dois

ou mais contratos Mt6picos ou at6picos ou se 0 apenas um contrato at6pico! de m;ltiplas prestações.

A #uestão pode ter interesse na aplicação do regime do *L*P e do *2*P! #ue considera o negócio

conclu6do #uando a%a acordo #uanto a todas as cl0usulas #ue o integram. sobre a natureHa do acordo

 por elas estabelecido! ( luH do pensamento sistem0tico denunciado na classificação e definição dos

diferentes contratos t6picos! #ue as d;vidas na mat&ria ão)de ser solucionadas. Como crit&rios au1iliares

temos dois" M/ um! tirado da unidade ou p"ura"idade da (ontraprestaçãoM M* outro! assente na unidade

ou p"ura"idade do es#uema económico sub%acente ( contratação.

e (s diversas prestações a cargo de uma das partes corresponder uma prestação ;nica Muna ou

indivis6vel da outra parte! ser0 naturalmente de presumir! #ue elas #uiseram realiHar um só contrato

Membora! possivelmente! de car0cter misto.

' o mesmo se diga! #uando na base das prestações prometidas por uma e outra das partes a%a

um es#uema ou acerto económico unit0rio! de tal modo #ue a parte obrigada a realiHar v0rias prestações

as não #ueira negociar separada ou isoladamente! mas apenas em con%unto.

9odalidades de contratos mistos

5- Contratos Co"binados

G0 casos em #ue a prestação g"oba" de uma das partes se (ompõe de duas ou mais prestações,

integradoras de (ontratos tpi(osG di%erentes, en#uanto a outra se vincula a uma contraprestação unit0ria.

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4- Contratos de ti#o du#lo

Outras veHes! uma das partes obriga)se a uma prestação de certo tipo contratual! mas a

contraprestação do outro contraente pertence a um tipo contratual diferente. A cede a B uma casa para

abitação em troca da prestação de serviços #ue integram! por e1emplo! o contrato de trabalo.

.- Contratos "istos e" sentido estrito

4or ;ltimo! 0 casos! como o da doação mista! em #ue o contrato de certo tipo & o instrumento de

realiHação de um outro. O contrato #ue serve de meio ou instrumento M#ue! no caso da doação mista! & as

mais das veHes o contrato de compra e venda conserva a estrutura #ue le & própria> mas esta & afeiçoada

de modo a #ue o contrato sirva! ao lado da função #ue le compete! a função própria de um outro contrato

Mna#uele caso a doação.

3egime

A fi1ação do regime tem dado origem a in;meras #uerelas doutrinais e esitações na

 %urisprud=ncia. <r=s teorias se notam"

5- 7eoria da Absorção

Alguns autores procuram saber #ual se%a! entre as diversas pessoas reunidas no contrato misto!a#uela #ue prepondera dentro da economia do negócio! para definirem pela prestação principal! com as

necess0rias acomodações! o regime geral da esp&cie concreta. 'sse tipo contratual preponderante

absor&eria assim os restantes elementos na #ualificação e na disciplina do negócio.

<amb&m o art. /+*-PS2! a propósito da locação com v0rios fins! prevendo a ipótese de um

destes ser principal e os outros subordinados! manda prevalecer o regime correspondente ao fim principal.

9as pode não e1istir um elemento predominante! alem do #ue a teoria nem sempre reconduH aos

resultados mais %ustos.

4- 7eoria da co"binação

Outros autores! com o fundamento de #ue nem sempre & poss6vel determinar o elemento

 principal do contrato e de #ue não se %ustifica de #ual#uer modo a e1tensão indiscriminada do regime #ue

corresponde a esse elemento preponderante a outras partes da relação! tentam armoniHar ou combinar! na

regulamentação do contrato! as normas aplic0veis a cada um dos elementos t6picos #ue o integram. A

disciplina legal de cada contrato t6pico não se %ustifica apenas nos casos #ue integram todos os seus

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elementos constitutivos! mas tamb&m nas esp&cies em #ue cada um destes elementos se instala! embora só

 para fi1ar o regime próprio desses elementos isolados.

e o contrato inclui a um tempo elementos do contrato de trabalo e do contrato de locação!

deve o %ulgador aplicar as regras do primeiro ( prestação #ue integra a relação laboral e as do segundo (

 prestação própria da relação locativa.9as tamb&m esta teoria não & satisfatória por#ue! nalguns casos o camino mais %usto &! ao

inv&s! o da absorção.

.- 7eoria da a#licação analógica

Finalmente! outros #ue consideram os contratos mistos como esp&cies omissas na lei! apelam

 para o poder de integração das lacunas do negócio! #ue o sistema confere ao %ulgador. ao %uiH! de

armonia com os princ6pios v0lidos para o preencimento das lacunas dos contratos Mcom recurso (

disciplina da analogia contratual! #ue compete fi1ar o regime próprio de cada esp&cie.

olução adoptada

O int&rprete não deve enfeudar)se a nenuma das posições e1postas.

O primeiro passo a dar consiste em saber se na lei 0 #ual#uer disposição #ue especialmente se

refira ao contrato misto em #uestão. 4ode bem suceder #ue a lei fi1e crit&rios para a regulamentação dos

contratos #ue re;nam em si elementos pertencentes a dois ou mais desses negócios t6picos.

' assim acontece no vasto cap6tulo da locação. Ruanto ao arrendamento de pr&dios com parte

urbana e parte r;stica! mandava o art. /+-5P Msubstitu6do pelo art. *P do 3.A.U. atender ao valor relativo

de cada uma das partes! para só considerar o arrendamento como urbano se a parte urbana for a de maior 

valor Mver anot. ao art. /+-5P no Código Anotado dos 4rof. 4E3' D' :E9A e A<U' A3':A.

Art. /+*-P ) prevendo a ipótese relativamente vulgar de uma ou mais coisas serem locadas para

fins diferentes! manda a disposição aplicar! em princ6pio! a cada um dos fins! o regime legal #ue le

compete.

'st0! assim! consagrada! na 0rea da locação! com pluralidade de fins! a teoria da combinação

como regime regra.Conse#uentemente! a nulidade! anulabilidade! bem como a própria resolução do contrato!

relativa a um dos fins não afecta a parte restante da locação.

9as o art. /+*-PS2 acrescenta #ue! se um dos fins se mostrar principal! devem os outros

subordinarem)se)le. Assim se consagra! em casos e1cepcionais! a teoria da absorção.

'! na falta de disposições especiais[

empre #ue o contrato misto se traduHa numa simples %ustaposição ou contraposição de

elementos pertencentes a contratos distintos! como sucede nos contratos combinados e nos contratos de

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Faculdade de Direito da UCP

tipo duplo! deve! em princ6pio! aplicar)se a cada um dos elementos integrantes da esp&cie a disciplina #ue

le corresponde dentro do respectivo contrato Mt6pico. esse o crit&rio geral enunciado pelo art. /+*-P e

#ue deve! como regra! considerar)se e1tensivo aos contratos mistos em geral.

4ode! todavia! suceder #ue os termos da convenção revelem #ue! em lugar de uma %ustaposição

ou contraposição dos diversos elementos contratuais! e1iste entre eles um verdadeiro ne1o desubordinação. O #ue as partes #uiseram foi celebrar determinado contrato Mt6pico! ao #ual %untaram!

como cl0usula puramente acessória ou secund0ria! um ou v0rios elementos próprios de uma outra esp&cie

contratual. esses casos! o regime dos elementos acessórios ou secund0rios só ser0 de observar na

medida em #ue não colida com o regime da parte principal! fundamental ou preponderante do contrato.

'ste o pensamento #ue aflora no art. /+*-PS2! e #ue tamb&m deve ser generaliHado ao comum dos

negócios mistos.

4or veHes sucede #ue 0 antes uma verdadeira fusão desses elementos num todo orgnico!

unit0rio! comple1o #ue & substancialmente diferente da soma aritm&tica deles> e outras ainda em #ue 0

uma real assimilação de um dos contratos Mcompreendidos no negocio misto pelo outro.

aber #uando #ual#uer dos fenómenos se verifica & problema #ue depende essencialmente da

causa do contrato misto! isto &! da função económico)social #ue ele visa preencer! e do confronto dela

com a causa dos contratos t6picos ou nominados.

O contrato de ospedagem! bem como o de cruHeiro mar6timo! constituem e1emplos t6picos da

 primeira variante.

 ão 0 nestes casos uma prestação principal! ao lado de outras acessórias" o con%unto de

 prestações #ue integram a ospedagem ou o cruHeiro mar6timo t=m! na sua unidade! em sentido

inteiramente distinto do #ue reveste cada uma das prestações isoladas em #ue ele se desdobra.' tamb&m não 0 prestações contrapostas de sinal contratual distinto.

A doação mista

'1emplos da segunda variante são os contratos mistos em sentido estrito! nomeadamente a

doação mista.

DiH)se doação "ista o (ontrato em Bue, segundo a &ontade dos (ontraentes, a prestação de um

de"es s em parte @ (oberta pe"o &a"or da (ontraprestação, para Bue a di%erença de &a"or entre ambas

bene%i(ie gratuitamente o outro (ontraente.

A doação mista feH)se! por e1emplo! atrav&s da compra e venda> esta! mediante a redução

intencional de um dos seus elementos fundamentais Mo preço! foi assimilada pela doação. Aproveitou)se

e utiliHou)se a compra para faHer uma doação.

 estes termos! se! posteriormente ( celebração do contrato! ouver fundamento para revogar a

liberalidade por ingratidão do donat0rio! a forma correcta de efectuar a revogação consiste em desfaHer)se

da doação. ' como esta consistiu na realiHação da venda &a"iore pretio! a destruição dela operar)se)0 antes

mediante a restituição do pr&dio! por um lado! e a correspondente restituição do preço! por outro.

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 o tocante ( impugnação pauliana! a natureHa unit0ria da doação mista obriga a perguntar se as

 partes agiram de boa ou m0 f& Mart. 8/*PS/. o primeiro caso! a impugnação pauliana proceder0 contra a

liberalidade! mediante a restituição pr&via do preço pago pelo ad#uirente> no segundo! o ad#uirente abrir0

mão dos bens e o seu direito de cr&dito relativo ao preço não pre%udicar0 os direitos do credor impugnante

Mart. 8/,PS/ e *.Ruanto ( responsabilidade do vendedor)doador! no caso de ser aleia a coisa vendida ou de ela

estar su%eita a ónus ou limitações especiais ou padecer de v6cios #ue afectem o seu valor! ser0 aplic0vel

 por analogia o disposto no art. L78PS*! dG ou aver0 responsabilidade an0loga ( do doador! en#uanto o

valor da coisa e1ceder o preço diminu6do #ue por ela foi pago! avendo da6 para diante responsabilidade

 paralela ( do vendedor Mart. L7,P e L+7P! incluindo por conse#u=ncia o preceituado no art. L//P! #uanto (

acção de redução! aplic0vel não só ( venda de bens onerados! como ( de coisas defeituosas $ teoria da

combinação gradual das normas.

8. Contrato)promessa85

Como os 4rofessores A:9'EDA CO<A e A<U' A3':A são discordantes em grande

 parte da doutrina do contrato)promessa! ser0 e1posta a doutrina de cada um a propósito de cada tema.

alienta)se #ue a e1posição seguida &! regra geral! concordante com a do 4rof. A<U' A3':A. o

entanto! ser0 sempre dada a opinião no lugar apropriado.

8./. oção

A promessa de contrato futuro ou contrato)promessa! consiste na (on&enção pe"a Bua" a"gu@m se

obriga a (e"ebrar (erto (ontrato Mart. 5/+PS/. DiH)se contrato prometido ou definitivo a#uele cu%a

realiHação se pretende.

O seu dom6nio normal & a promessa de celebração de um contrato! mas nada obsta a #ue ter por 

ob%ecto a realiHação de um negócio unilateral.

Com ele se procura assegurar a realiHação do contrato prometido! num momento em #ue e1iste

algum obst0culo material ou %ur6dico ( sua imediata conclusão! ou o diferimento desta acarreta vantagens.

Go%e! só raramente o contrato)promessa encontrar0 %ustificação no facto de as partes ainda não

terem uma ;ltima decisão #uanto ( conveni=ncia do contrato prometido! #uer diHer! não pretenderem

comprometer)se definitivamente. O #ue se dese%a com a obtenção da promessa &! por sistema! garantir a

celebração do contrato visado.

O contrato)promessa cria a obrigação de emitir a declaração de vontade correspondente ao

contrato prometido. A obrigação assumida por ambos os contraentes! ou por um deles! tem assim por 

ob%ecto uma prestação de facto positivo! um %a(ere oportere. ' o direito correspondente atribu6do ( outra

 parte traduH)se numa verdadeira pretensão.

85 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2+8 e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2,L e ss> 4E3' D':E9A e A<U' A3':A! ob6 (it6, anot. aos art. 5/+P e ss> 55+P! 55/P! 55*P! ,77PS/! %G! -+-P e -2+P.

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  O contrato)promessa distingue)se com nitideH dos meros actos de negociação #ue

fre#uentemente integram o processo formativo dos negócios %ur6dicos e #ue! (s veHes! fundamentam a

responsabi"idade pr@)(ontratua" . #ue esses trmites apresentam)se destitu6dos de efic0cia contratual

especifica! ao contr0rio do #ue sucede com o contrato)promessa e os demais negócios preparatórios ou

 preliminares.Admite)se! ao lado do contrato)promessa bilateral ou sinalagm0tico! o contrato)promessa

unilateral ou não sinalagm0tico! #uer diHer! #ue ambas as partes ou só uma delas! respectivamente! se

vinculem ( celebração do negócio prometido Mart. 5//P.

Figuras pró1imas

3esulta clara a diferença entre o contrato)promessa unilateral e uma proposta contratual!

 por#uanto esta %0 constitui elemento do contrato a #ue respeita! apenas faltando para a sua conclusão #ue

o outro contraente a aceite. esta! dispensa)se nova manifestação de vontade por parte do declarante. '

en#uanto #ue & uma declaração de vontade! #ue só se converte em contrato com a aceitação! o contrato)

 promessa & %0! em si mesmo! um contrato.

' tamb&m se distingue o contrato)promessa unilateral do pacto de opção! #ue consiste no acordo

em #ue uma das partes se vincula ( respectiva declaração de vontade negocial! correspondente ao negócio

visado! e a outra tem a faculdade de aceit0)la ou não! considerando)se essa declaração da primeira uma

 proposta irrevog0vel. 'n#uanto #ue do contrato)promessa unilateral deriva uma verdadeira pretensão (

celebração do contrato prometido! do pacto de opção resulta um verdadeiro direito potestativo ( aceitação

da proposta emitida e mantida pela contraparte. o pacto de prefer=ncia Mart. 5/5P e ss a pessoa não se obriga a contratar! mas apenas a escoler 

em certos termos uma outra como contraente! caso de(ida contratar.

 a venda a retro Mart. L*,P e ss! o comprador não promete celebrar uma outra venda com o

vendedor> fica & su%eito a #ue este resolva o contrato.

Distingue)se tamb&m do sinal. 'ste consiste na coisa Mdineiro ou outra coisa fung6vel ou

infung6vel #ue um dos contraentes entrega ao outro! no momento da celebração do contrato! ou

 posteriormente! como prova da seriedade do seu propósito contratual e garantia do seu cumprimento

M sina" (on%irmatrio! ou como antecipação da indemniHação devida ao outro contraente! na ipótese de o

autor do sinal se arrepender do negócio e voltar atr0s M sina" peniten(ia" ! podendo a coisa entregue

coincidir ou não com o ob%ecto da prestação devida e (ontra(tus.

O contrato)promessa & uma convenção autónoma en#uanto #ue a constituição de sinal & uma

cl0usula dependente de um outro negócio! no #ual se insere. O sinal tanto pode acompanar o contrato

definitivo como o contrato)promessa.

 o contrato)promessa! em #ue um dos contraentes entregue ao outro uma #ual#uer #uantia em

dineiro ou outra coisa! a entrega tanto pode representar a (onstituição de sina"  como uma ante(ipação

de pagamento. '! ali0s! a regra & de #ue constitua antecipação de pagamento $ art. 55+P. a promessa de

compra e venda & #ue se presume! at& #ro$a  e"  contr,rio! #ue reveste o sentido de sinal #ual#uer 

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#uantia entregue pelo promitente comprador ao promitente)vendedor! ainda #ue declaradamente a titulo

de antecipação de pagamento.

 ota caracter6stica do sinal & o facto de! pondo termo aos dois sentidos da cl0usula! a lei ter 

adoptado um regime ;nico! #ue se apro1ima muito mais do sentido do sinal penitencial $ cfr. art. -2+PS*.

8.*. Disciplina Iur6dica

A<U' A3':A

Os traços mais salientes da nova regulamentação legal são os seguintes"

/. 3econece)se e1pressamente a validade do contrato)promessa! se%a #ual for o contrato

 prometido>

*. O art. 5//P consagra e1pressamente a validade da promessa unilateral>

2. Admite)se a possibilidade de a promessa de alienação ou de oneração de bens imóveis! ou de

móveis su%eitos a registo! produHir efeitos em relação a terceiros Mart. 5/2P>

5. Admite)se a possibilidade de e1ecução espec6fica do contrato)promessa Mart. -2+P! mediante

decisão %udicial #ue produH os efeitos da declaração negocial do contraente faltoso>

7. Afirma)se a regra da transmissibilidade dos direitos e obrigações dos promitentes $ art. 5/*P.

A disciplina origin0ria foi! entretanto! modificada! primeiro pelo Decreto)lei nP *28PS-+! de /- de

Iulo! e depois pelo Decreto):ei nP 2,LS-8! de // de ovembro! #uer #uanto ( forma do contrato! #uer #uanto ao fundo do seu regime. De acordo com a doutrina #ue se segue a#ui! sustenta)se #ue as revisões

ao diploma fundamental da lei civil não foram as mais bem conseguidas e t=m dado aHo a in;meras

controv&rsias e esitações na doutrina e na %urisprud=ncia.

8.2. Disposições respeitantes ( forma e ( substncia

A:9'EDA CO<A

Consoante determina o art. 5/+PS/! aplicam)se ao contrato)promessa as normas disciplinadoras

do contrato prometido. Apenas se ressalvam os preceitos relativos ( forma e os #ue! pela sua raHão de ser!

não devam considerar)se)le e1tensivos $ prin(pio da eBuiparação.

ignifica o referido regime #ue o contrato)promessa est0 su%eito! em regra (s normas respeitantes

aos contratos em geral e (s do contrato prometido. Assim! abrangem o contrato)promessa as normas do

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contrato prometido sobre a capacidade das partes! proibições de a#uisição Mart. -,8P e -,,P! interpretação

e integração do negócio Mart. --2P! --5P! --,P e ss...> o contrato)promessa deve definir o contrato

 prometido! dispensando)se ulteriores negociações. 9as! como %0 visto! 0 duas e1cepções.

 

I- For"a do contratoB#ro"essa

Devemos começar por distinguir o regime geral próprio deste contrato dos casos a #ue se refere

especificamente o art. 5/+PS* e 2 $ celebração de contrato oneroso de transmissão ou constituição de

direito real sobre edif6cio! ou fracção autónoma dele! %0 constru6do! em construção ou a construir.

a) Regi"e geral

 o regime geral do contrato)promessa! desde #ue a lei e1i%a! para o contrato prometido!

documento aut=ntico ou particular 87! a promessa só vale se constar de documento assinado pela parte #ue

se vincula ou por ambas! consoante se%a unilateral ou bilateral $ art. 5/+PS*. as restantes ipóteses! ou

se%a! por regra! vigora o princ6pio da liberdade de forma Mart. */LP.

A imposição de documento assinado constitui uma formalidade ad substantiam. 9as a lei e1ige

#ue apenas o contraente #ue se vincula ( celebração do contrato definitivo se manifeste de modo solene!

contentando)se! em relação ao benefici0rio da promessa! com uma manifestação de vontade informal.

4roblema cone1o ocorre a propósito da celebração de um contrato)promessa bilateral! su%eito a

documento escrito e tão)só assinado por uma das partes.

As reduções e conversões legais só raro se mostram indiscut6veis! pois podem atingir a %ustiçanegocial. #ue se traduHem numa restrição da autonomia privada! dispensando os re#uisitos das reduções

e conversões comuns! estabelecidos pelos art. *L*P e *L2P. o contrato)promessa! nada %ustifica a

imposição (s partes dessa disciplina cogente! em veH de se confiar a solução ( an0lise fle16vel de cada

caso concreto.

 ão cabe! & certo! defender)se a validade de tais contratos)promessas. 4or&m! tanto parece

insatisfatória a orientação #ue se pronuncia pela destruição plena do contrato! como a #ue sustenta a sua

forçosa validade no tocante ao #ue assinou o documento. Ainda #ue o C.C. admita! em princ6pio! a

redução do contrato! ela dei1a de verificar)se #uando se mostre #ue este não teria sido conclu6do sem a

 parte viciada Mart. *L*P. a ipótese de contrato)promessa assinado por um ;nico contraente! o negócio

restringe)se a um contrato)promessa unilateral! salvo produHindo)se prova de #ue apenas seria celebrado

com a vinculação de ambos.

A estrutura do mencionado art. *L*P revela #ue o legislador partiu da regra do aproveitamento da

 parte #ue resta do negócio %ur6dico! uma veH eliminada a porção ferida da invalidade. Como e1cepção (

regra! o preceito acrescenta #ue a invalidade total só se produH #uando o contraente interessado neste

resultado mostre #ue o negócio %ur6dico não teria sido conclu6do sem a parte viciada. Caber0 ao

contraente interessado na destruição do contrato alegar e provar factos #ue preencam a ipótese da

87 Documentos aut=nticos são os e1arados pelo not0rio nos respectivos livros! ou em instrumentos avulsos! e oscertificados! certidões e outros documentos an0logos por ele e1pedidos. <odos os demais! incluindo ao autenticados!são particulares $ sendo os ;ltimos os particulares confirmados pelas partes perante o not0rio.

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contranorma impeditiva prevista no segundo treco do art. *L*P Mart. 25*PS*. 9as #uem dese%e

 prevalecer)se da validade parcial do contrato encontra)se liberto do ónus de alegar e provar #ue a vontade

dos contraentes ter)se)ia orientado no sentido da manutenção do es#uema negocial. Da6 #ue o %ulgador! se

ficar na d;vida! deva declarar a validade do contrato)promessa unilateral. Ainda! mesmo em face de uma

vontade ipot&tica contr0ria a redução! pode imp])la a boa f& Mart. *2LP.Alternativa plaus6vel para #uem sustente #ue a omissão da assinatura dos outorgantes gera a

nulidade de todo o contrato)promessa! ser0 a de utiliHar o instituto da conversão Mart. *L2P. G0 uma

diferença substancial do regime da redução" a presunção funciona ao contr0rio. A conversão só poder0 ser 

declarada #uando tal vontade ipot&tica das partes Mcu%a prova se e1ige e não releva no caso de d;vida

com ela se concilie. 'm #ual#uer das situações e1iste um problema de integração do contrato! pelo #ue

importa o apelo aos ditames da boa f&! de acordo com o %0 mencionado art. *2LP.

ustenta A:9'EDA CO<A #ue 0 um argumento sistem0tico a favor da redução. A disciplina

do contrato)promessa consagrada pelo legislador apresenta v0rias aflorações em #ue sobressai o propósito

da protecção do ad#uirente. empre #ue falte a assinatura do promitente)comprador! compreende)se #ue

recaia sobre a contraparte o ónus da alegação e prova de #ue a vontade ipot&tica seria a da não aceitação

do negócio sem a vinculação dos dois contraentes88.

A propósito desta #uestão se pronunciou o upremo! em Assento de *L)\E)/L-L. DiH o <I #ue

o contrato & nulo! mas pode considerar)se v0lido como contrato)promessa unilateral! desde #ue essa

tivesse sido a vontade das partes. Dado #ue o Assento não faH #ual#uer #ualificação %ur6dica e1pressa e a

argumentação aduHida se revela contraditória! propendemos para #ue os respectivos fundamentos se

reconduHam ( nulidade parcial do negócio e! portanto se opere a sua redução.

Coment0rio" pela mina parte! tamb&m este argumento não procede! por#ue se baseia não numa

fundamentação %ur6dica! mas numa prefer=ncia do Autor! essa sim baseada num argumento sistem0tico

#ue! por sua veH! e como %0 dito! não procede em meu entender. 9as adiante se concretiHar0.

b) Regi"e #ró#rio de certos contratosB#ro"essas

 o tocante aos contratos)promessas relativos ( celebração dos contratos onerosos de transmissão

ou de constituição de direitos reais sobre edif6cios! ou suas fracções autónomas! constru6dos! em fase de

construção ou apenas pro%ectados! e1ige)se documento escrito com reconecimento presencial da

assinatura do promitente ou promitentes. Alem disso! deve constar dele a certificação! pelo not0rio! dae1ist=ncia da licença de utiliHação do edif6cio ou da respectiva construção. O contraente #ue promete

transmitir ou constituir o direito não pode invocar a omissão de tais re#uisitos! salvo se a contraparte a

causou culposamente Mart. 5/+PS2.

A maior solenidade imposta para estes contratos e1plica)se pelos cuidados especiais de #ue se

entendeu conveniente rode0)los! considerando a pro%ecção social dos contratos prometidos. <eve)se em

vista estabelecer um controlo notarial destinado a evitar a negociação de edificações clandestinas! para

 protecção dos futuros ad#uirentes. 9as tamb&m se encontra a#ui uma afloração do interesse p;blico de

combate ( construção clandestina.

88 ão procede! em nosso entender! este argumento. 9ais e1plicações se darão a#uando da e1posição do 4rof.A<U' A3':A.

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Foi um preceito #ue resultou da reforma de /L-+. 9as em /L-8 foram introduHidas modificações

com as #uais vale a pena demorarmo)nos"

/ Ampliou)se o mbito das promessas submetidas a este regime espec6fico! #ue podem

agora reportar)se! alem da cSv! a outros contratos onerosos! t6picos ou at6picos! de transmissão oude constituição de direitos reais sobre edif6cios. '1" promessas de troca ou de constituição

onerosa de usufruto.

A letra do preceito aplica o regime e1plicitado a promessas de actos translativos ou

constitutivos. 4arece raHo0vel! afirma A:9'EDA CO<A! #ue nele se abran%am! por 

interpretação e1tensiva! ainda as promessas respeitantes a actos modificativos de ampliação de

direitos reais. Ficam de fora! todavia! as restantes promessas de actos modificativos e de actos

e1tintivos>

* ubstituiu)se a e1pressão pr&dio urbano pela referencia a edif6cio. 'sta modificação

 procurou evitar d;vidas em face da noção de pr&dio urbano #ue decorre do art. *+5PS*. ão se

trata a#ui da precisa realidade #ue corresponde a esse conceito t&cnico! mas sim de edif6cios! %0

e1istentes! em construção ou pro%ectados. A palavra edif6cio! ali0s! & utiliHada em v0rios preceitos

do C. Civil para e1primir algo #ue não coincide com o conceito %ur6dico de pr&dio urbano.

A palavra edif6cio não assume necessariamente o sentido de edificação ou construção.

<amb&m compreende o solo em #ue se incorpora! assim como eventuais terrenos ad%acentes ou

ane1os! #uer diHer! o con%unto ou unidade imobili0ria #ue o contrato definitivo tem por ob%ecto.

2 'stabelecia a versão origin0ria do preceito #ue o documento escrito contivesse o

reconecimento presencial das assinaturas dos outorgantes. O te1to actual difere! aludindo a

reconecimento presencial da assinatura do promitente ou promitentes.

A refer=ncia a outorgantes inculcava a necessidade de a assinatura ser de ambas as

 partes! fosse o contrato bilateral ou unilateral. Basta a assinatura! com reconecimento

 presencial! do contraente #ue se vincula ( promessa. egue)se! pois! um regime paralelo ao

fi1ado para a generalidade dos contratos)promessas Mart. 5/+PS*>

5 A ;ltima parte do art. 5/+PS2 declarava a omissão dos re#uisitos de forma

e1igidos não in&o('&e" pe"o promitente)&endedor, sa"&o no (aso de ter sido o promitente)

(omprador Bue dire(tamente "#e deu (ausa6 'statui a nova versão #ue o (ontraente Bue promete

transmitir ou (onstituir o direito s pode in&o(ar a omissão de tais reBuisitos Buando a mesma

ten#a sido (u"posamente (ausada pe"a outra parte. Operam)se pois as seguintes modificações"

Uma delas representou mera conse#u=ncia de a norma ter dei1ado de aplicar)se apenas

(s promessas de compra e venda de edif6cio.

ignificativa & outra. Continua a consagrar)se uma nulidade mista 8, ou at6pica! #ue se

afasta do regime geral do art. *-8P" em princ6pio! a respectiva invocação pertence só ao

8,  Discordo estruturalmente a#ui da posição do 4rof. A:9'EDA CO<A. Ruando for apresentada a tese do 4rof.A<U' A3':A! mais desenvolvimentos serão prestados.

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 benefici0rio da promessa de transmissão ou constituição do direito real sobre edif6cio ou sua

fracção autónoma. 9as foi atenuado o seu alcance" o promitente da transmissão ou constituição

do direito real pode arguir a nulidade do negócio #uando a falta de tais re#uisitos se deva a

actuação da outra parte. <ornou)se assim manifesto #ue #ual#uer modalidade ou grau de culpa

serve de base a essa arguição> ao passo #ue a e1pressão #ue dire(tamente le deu causaV! #uesugeria o sentido mais restrito de conduta intencional. Ao benefici0rio da promessa #ue incorra

na referida culpa não cabe prevalecer)se da invalidade.

' #uanto ( arguição por terceiros e ao seu conecimento oficioso pelo tribunal[ As

e1ig=ncias do reconecimento presencial da assinatura doMs promitenteMs e da certificação da

licença intentam a protecção dos interesses dos particulares ad#uirentes dos direitos reais sobre

edif6cios ou fracções autónomas destes. 9as! a e1ig=ncia de certificação notarial vai mais longe"

trata)se da protecção do interesse p;blico de combate ( construção clandestina. Assim! ao

contr0rio do #ue sucede com a inobservncia do primeiro dos dois re#uisitos! a deste ultimo

admite)se #ue se%a invoc0vel por terceiros e de conecimento oficioso pelo tribunal8-.

'ntretanto! foi fi1ada %urisprud=ncia pelo <I no Assento nP /7SL5 de *-)E)/LL5" o

dom6nio do art. 5/+PS2! a omissão das formalidades previstas nesse n;mero não pode ser 

invocada por terceirosV.

ubsistia! no entanto! a possibilidade do conecimento oficioso pelo tribunal. 9as o

<I e1arou o Assento nP2SL7 de /)EE)/LL7! declarando" o dom6nio do art. 5/+PS2! a omissão

das formalidades previstas neste n;mero não pode ser oficiosamente conecida pelo tribunalV8L.

<amb&m a doutrina do Assento de *L)\E)/L-L se considera e1tensiva ao nP 2 embora

se%a e1arado para o nP*.

c) For"a das #ro"essas unilaterais re"uneradas

4ode suceder #ue! numa promessa em #ue apenas uma das partes se vincula! a contraparte

assuma outras obrigações para com o promitente. er0 o caso de se convencionar uma compensação dos

 benef6cios ou vantagens #ue este le proporciona com a sua vinculação ao contrato definitivo ou dossacrif6cios ou desvantagens #ue! para o mesmo! da6 resultam.

A promessa unilateral & simultaneamente onerosa e bilateral" e1istem obrigações para ambas as

 partes! mas a #uem impende sobre o promiss0rio de satisfaHer a compensação de imobiliHação não & uma

obrigação principal de prestação. <rata)se de um dever secund0rio de prestação.

<ais situações não se reconduHem a contratos)promessas bilaterais ou sinalagm0ticos no sentido

do 5/+PS*! onde ser pressupõem! obviamente! obrigações da mesma natureHa.

8- 'mbora defendamos a arguição por terceiros e o conecimento oficioso pelo tribunal! consideramos alargadas estas

faculdades ( inobservncia do primeiro re#uisito.8L 9ais um argumento a favor do facto de não serem diferentes as conse#u=ncias para a inobservncia dos re#uisitos &o facto de os referidos Assentos se les referirem unitariamente e não! apenas! #uanto ao segundo.

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3esponde)se assim! ( eventual d;vida sobre se a promessa unilateral remunerada e1ige a penas a

assinatura do promitente ou de ambos os contraentes! #uando nos termos do art. 5/+PS* e 2 se re#ueira

documento escrito. Basta a assinatura da parte #ue se vincula ( realiHação da promessa. igora a regra da

liberdade de forma Mart. */LP.

Ainda #ue se pretenda #ue a obrigação do promitente e a do promiss0rio estão no mesmo plano!sempre ser0 de admitir tratar)se! não de promessa bilateral! mas de um contrato acoplado ou de duplo tipo

 $ a tal solução não repugna o art. *2LP.

II- A#licação dos #receitos do contrato #ro"etido

A outra ressalva ao p. da e#uiparação reporta)se (s normas #ue! pela sua raHão de ser! não devam

considerar)se e1tensivas ao contrato)promessa. Gaver0! pois! #ue atender ao seu fundamento.

4or aplicação deste crit&rio! consideram)se inaplic0veis os preceitos #ue! nos contratos de

alienação! concernem ( transfer=ncia da propriedade ou os #ue contemplam o problema do risco.

Egualmente se deve admitir a validade da promessa de venda de coisa aleia Mart. -L*P! ainda #ue não

considerada como coisa futura pelas duas partes Mart. -L2P> e tamb&m! embora falte a legitimidade a

#ual#uer dos c]n%uges! por e1emplo! para a alienação ou oneração de imóveis! próprios ou comuns! sem

consentimento do outro! ou o respectivo suprimento %udicial! e1cepto se vigorar entre eles o regime de

separação de bens Mart. /8*-P)A! &)le licita a realiHação de um pr&vio contrato)promessa.

A<U' A3':A

Como %0 dito com A:9'EDA CO<A! estabelece)se o princ6pio da e#uiparação no art. 5/+P. A

subse#uente e1posição destina)se a evidenciar os pontos discordantes ou a#ueles em #ue 0 posterior 

aprofundamento por este Autor.

Ao princ6pio são contrapostas as duas e1cepções %0 mencionadas Mart. 5/+PS/.

D;vidas suscitadas #uanto ( forma e os Assentos de L5 e L7

O regime e1cepcional a #ue os nPs * e 2 do art. 5/+P su%eitaram a forma da promessa deram lugar 

a duas d;vidas de importncia não despicienda.

A primeira refere)se ( intervenção notarial! relativamente ao documento particular de onde

conste a promessa relativa a celebração de contrato oneroso de transmissão ou constituição de direito real

sobre edif6cio! ou fracção autónoma dele! %0 constru6do! em construção ou a construir.

Com o fim de evitar a construção clandestina! esses documentos prescreveram #ue & necess0ria a

assinatura do promitente ou promitentes e a certificação notarial da licença de utiliHação ou construção.

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Face ( versão anterior MDecreto de /L-+! a nova redacção veio alterar o regime! estatuindo #ue o

contraente #ue promete transmitir ou constituir o direito só pode invocar a omissão destes re#uisitos

#uando a mesma tena sido causada culposamente pela contraparte. A d;vida #ue se suscitou foi a de

saber se a omissão destes re#uisitos poderia ser invocada por terceiros e conecida oficiosamente pelo

tribunal. A boa doutrina M#ue tanto o 4rof. A<U' A3':A como nós perfilamos tem #ue! por força do disposto no art. **+P! a solução aplic0vel ao caso não podia dei1ar de ser a nulidade do contrato

Mapenas com a ressalva da parte final do nP2! invoc0vel por terceiros e conecida e o%i(io pelo tribunal!

nos termos do art. *-8P e 8+7P. Argumentos"

'sta a solução imposta pelo art. **+P at& por#ue! como afirmou! e bem! A:9'EDA CO<A! a

forma estabelecida & ad substantiam.

 o mesmo sentido depuna o argumento de conte1to tirado do art. /+*LPS2 Magora revogado! mas

( data em pleno vigor. o caso deste artigo! em #ue a lei e1igia a escritura p;blica! a lei não esitou a

reconecer" a a nulidade só seria invoc0vel pelo arrendat0rio> b o arrendat0rio podia faHer prova em

contr0rio por #ual#uer meio. e! para este caso! prescreveu epressamente a legitimidade de apenas uma

 parte para arguir a nulidade! e o mesmo não feH para o art. 5/+PS2! & por#ue o legislador não #uis

claramente afastar)se no mbito deste ;ltimo artigo! do regime geral da nulidade.

4or ;ltimo! os desvio introduHidos no regime geral dos art. **+P e *-8P nos casos de nu"idades

mistas constituem nor"as e?ce#cionais #ue não comportam! como tal! interpretação analógica $ art. //P.

Assim! a melor doutrina seria a da nulidade do contrato! invoc0vel pelo promitente)ad#uirente!

 por terceiros! conecida oficiosamente pelo tribunal e ainda argu6vel pelo promitente)alienante! #uando

imput0vel e1clusivamente ( contraparte.

4or&m o <I veio fi1ar %urisprud=ncia! como %0 foi dito! nos Assentos de L5 e L7! encerrando a

#uestão. 9as em face do direito constitu6do não se afigura a melor doutrina M%0 sim! no plano do direito

constituendo. A verdade & #ue nenuma sanção especial determinou a lei para a inobservncia dos

re#uisitos de forma do art. 5/+PS2. estas circunstncias! parecer0 #ue a doutrina emanada dos referidos

arestos violaria o art. -PS*.

A segunda d;vida #ue se levanta & relativa ( primitiva redacção do art. 5/+PS*! mas #ue persistiu

at& ao te1to actual! por#ue os diplomas de -+ e -8 não a solucionaram. ó o Assento de /L-L veio

consagrar o #ue se entende ser a boa doutrina.

O problema levanta)se no dom6nio das promessas bilaterais! assinadas apenas por uma das partes! por#ue o promitente)vendedor! agindo por neglig=ncia ou m0 f&! não recolia a assinatura da

contraparte. ' o fenómeno não foi resolvido por nenum dos diplomas. Rual o regime aplic0vel a estas

 promessas[ ulidade! sem mais> validade forçosa> nulidade parcial! pass6vel de redução> ou nulidade

total! pass6vel de conversão[

 uma primeira fase a tese #ue valia era a da validade forçosa! por aplicação directa do art. 5//P.

9as a partir de ,,! fi1ou)se a premissa da nulidade. 9as ambas as teses estão o%e abandonadas!

defrontando)se o%e as duas outras.

Foi ( controv&rsia entre as duas teses! #ue %0 foram acima e1plicitadas! #ue o Assento de /L-L se

decidiu a p]r termo. A doutrina fi1ada foi a seguinte" o contrato)promessa bilateral de compra e venda de

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imóvel e1arado em documento assinado por apenas um dos contraentes & nulo! mas pode considerar)se

v0lido como promessa unilateral! desde #ue fosse essa a vontade das partesV.

Os termos do Assento não são claros! mas a interpretação! mais segura! vemos nós ser0 a do 4rf.

A<U' A3':A"

 ão se aceita a tese da validade directa! nem se#uer a da nulidade #arcial do contrato com aconse#uente redução Mart. *L*P! visto o assento proclamar sem mais a nulidade e subordinar a sua

validade como promessa unilateral ( alegação e prova de essa ter sido a vontade das partes.

O Assento nem aceitaria a tese da conversão da promessa bilateral nula! %0 #ue a conversão e1ige

a vontade presum6vel ou con%ectural das partes! en#uanto #ue o Assento refere a vontade real das partes.

9as! assim sendo! o <I teria condenado estes contratos ( nulidade sistem0tica e total. ' não & esse o

esp6rito do upremo.

4ortanto! onde se refere a vontade conforme das partes! devemos entender #ue se refere ( sua

vontade presum6vel ou con%ectural. Assim! o Assento consagra a tese da nulidade total com possibilidade

de conversão! nos termos do art. *L2P.

9as eis #ue & e1arado o Acr. do <I *7)EEE)/LL2! fi1ando a doutrina na tese da redução e assim

& at& o%e.

8.5. 'feitos da promessa. Atribuição de efic0cia real

A#ui se segue apenas a e1posição do 4rof. A<U' A3':A

O contrato)promessa produH! em regra! apenas efeitos obrigacionais. 4ode no entanto produHir 

efeitos erga omnes desde #ue verificados os seguintes re#uisitos"

/. Constar a promessa de escritura p;blica! salvo se para o contrato prometido a lei não

e1igir escritura! por#ue nesse caso a lei se contenta com documento particular>

*. 4retenderem as partes conferir efic0cia real ( promessa>

2. erem inscritos no registo os direitos emergentes da promessa Mart. 5/2P>

Assim! en#uanto a promessa se mantiver v0lida e eficaH! e não for revogada! prevalece sobre

todos os direitos #ue posteriormente se constituam em relação ( coisa! tudo se passando em relação a

terceiros.

 a falta de um dos re#uisitos! a promessa mant&m)se! mas apenas com efic0cia obrigacional.

4articularmente delicada & a #uestão da efic0cia da sentença #ue %ulgue procedente a e1ecução

espec6fica! #uando a e1ecução assente numa promessa com efic0cia obrigacional! mas em #ue o autor 

tena registado a acção.

Desde #ue a sentença favor0vel ao autor se%a registada! o registo da acção torna a sentençafavor0vel opon6vel a terceiros. 9as #uer isto diHer #ue a sentença confere efic0cia real retroactivamente[

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A acção de e1ecução espec6fica de promessas de venda de imóveis est0 su%eita a registo Mart.

2PS/ !aG do C. 3eg. 4redial. 9as #ual o valor pr0tico do registo da sentença final procedente #ue &

retroactiva at& ( data do registo provisório da acção[

necess0rio ter presente a função do registo" função de tutela! conservação e segurança. I0

sabemos como funciona o registo em compras e vendas com tr=s intervenientes Mpp. 22/ A<U'A3':A. Emporta fi1ar o caso da penora. e A! dono de imóvel! o alienar a B #ue não regista! e C!

credor de A! re#uerer e obter a penora do mesmo imóvel! o direito real de garantia de C prevalece sobre

o direito de B. ão estando a penora dependente da vontade do devedor Mart. --*PS/ não ouve violação

das regras de registo Mart. -/LP.

Conecidos os efeitos do registo! podemos cegar a algumas conclusões! #ue temos por 

correctas"

/. O direito do promitente)ad#uirente! convertido em ad#uirente pela sentença procedente!

 prevalece! pela #ublicidade  Mboa f& #ue o registo conferiu ( acção! sobre o direito de todos os

 promitentes)ad#uirentes baseados em promessas de data posterior! #uer tenam ou não efic0cia real>

*. A preval=ncia do registo de sentença favor0vel ao promitente)ad#uirente estende)se ao

 próprio registo de transmissão efectuada pelo promitente)vendedor a terceiro! depois de registada a acção!

 por duas raHões" a o registo da acção! embora provisório! tornou p;blica a pretensão do promitente e

alertou futuros ad#uirentes> b de outro modo! o promitente)vendedor! depois de demandado na acção de

e1ecução espec6fica! teria sempre um meio f0cil de inutiliHar sempre o seu principal efeito! alienando a

terceiro>

2. ' se a alienação a terceiro pelo vendedor for antes de proposta a acção pelo comprador[

e #uem ad#uiriu primeiro vir #ue o terceiro ad#uirente prop]s a acção e a registou! e registar 

 posteriormente a compra! não & o registo da acção de e1ecução espec6fica #ue impede a cristaliHação do

direito na esfera do primeiro ad#uirente. <odavia! se o primeiro ad#uirente só registar a acção depois de

sentença favor0vel ao terceiro! %0 se dar0 preval=ncia ao direito do terceiro.

8.7. ão cumprimento do contrato)promessa

eguiremos a#ui a e1posição do 4rof. A:9'EDA CO<A.

8.7./. '1ecução 'spec6fica

em ela contida no art. -2+PS/. 'm face deste preceito! se o promitente! ou #ual#uer dos

 promitentes M#uer a promessa se%a unilateral ou bilateral! não celebrar o negócio definitivo! cabe ( outra

 parte a faculdade de conseguir sentença #ue substitua a declaração de vontade do faltoso. Com esse

 pedido! pode cumular)se o da indemniHação moratória correspondente aos danos sofridos pelo atraso no

cumprimento da promessa. empre #ue ela se verifi#ue ser0 acompanada de uma indemniHação

moratória.

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A e1ecução espec6fica & um efeito natural do contrato)promessa. Contudo! a norma #ue a

estabelece tem! em regra! natureHa supletiva. Os contraentes t=m a faculdade de a afastar mediante

convenção em contr0rio Mart. -2+PS/. 'ntende)se #ue 0 convenção em contr0rio se e1istir sinal Mart. 55+P

a 55*P ou se ouver sido fi1ada uma cl0usula penal Mpena fi1ada para o incumprimento $ art. -2+PS*. G0

uma presunção de #ue as partes #uiseram #ue esse fosse o crit&rio de reparação dos danos surgidos com oinadimplemento. 9as são presunção e! como tal! ilid6veis Mart. 27+PS*.

9as pode ser a e1ig=ncia de e1ecução espec6fica i"#erati$a" casos de promessa contidas no art.

5/+PS2 $ art. -2+PS2. A norma veda o afastamento da e1ecução espec6fica. 4retende)se evitar a verificação

de situações imorais na promessa! estimuladas pela desvaloriHação da moeda e pelo próprio acr&scimo

efectivo do valor dos bens.

3eforçou)se a posição do promitente)comprador! considerado a parte mais fraca! relacionando a

car=ncia de abitação com a circunstncia de! não raro! o negócio ocorrer entre um profissional!

designadamente uma empresa construtora! e um simples particular! mediante contrato de adesão.

Os termos em #ue o artigo est0 redigido levam a concluir #ue se aplica a todos os edif6cios e (

constituição sobre eles de #uais#uer direitos reais de goHo ou de garantia. 'ste direito & facultado a

#ual#uer um dos contraentes e não depende de tradição do pr&dio ao comprador Mart. 55*PS2.

O regime do art. -2+PS2 envolve um desvio significativo ao do art. 52-P! %0 #ue permite ao

 promitente faltoso a modificação do contrato por alteração das circunstncias! ainda #ue posterior ( mora

) atenuação ( severidade do sistema imperativo da e1ecução espec6fica.

A lei acautela o caso da promessa do art. 5/+PS2 onde caiba ao ad#uirente a faculdade dee1purgar a ipoteca a #ue este este%a su%eito Mart. ,*/P! e a garantia subsista depois da constituição ou

transmissão. #ue se permite ao demandante! #ue #uer a e1ecução e a e1purga da ipoteca! pedir a

condenação do faltoso _ entrega do montante total do d&bito garantido! ou do #ue corresponde ( fracção

considerada! e dos %uros respectivos! vencidos ou vincendos $ art. -2+PS5.

e o contrato prometido envolve a possibilidade de o faltoso invocar a e1cepção de não

cumprimento! & necess0rio #ue o demandante consigne em depósito a sua prestação no praHo fi1ado pelo

tribunal Mart. -2+PS7. A e1cepção de não cumprimento não & de conecimento oficioso. 4or&m! uma veH

deduHida pela contraparte! cabe ao tribunal averiguar se essa e1cepção se mostra ou não procedente! o #ue

 pode e1igir a produção de prova. e procedente! deve ficar dependente da consignação em depósito!

dentro do praHo fi1ado. O esp6rito do nP7 não & o de su%eitar a proced=ncia da e1ecução espec6fica (

consignação em depósito. e assim não fosse podia a acção ser improcedente mediante a falta da

consignação! sem serem apreciados os fundamentos da e1ecução espec6fica.

Emporta agora mencionar #ue o -2+PS/ não se aplica a casos em #ue a e1ecução espec6fica se

opona ( natureHa da obrigação assumida" promessa de doação Mart. L5+P! de prestação de serviços Mart.

//75P a //78P! promessas de contratos t6picos de penor Mart. 88LP! comodato Mart. //*LP! m;tuo Mart.

//5*P e depósito Mart. //-7P.

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A e1ecução espec6fica surge tamb&m afastada #uando o contrato)promessa se apresenta de mera

efic0cia obrigacional e o promitente)vendedor transmite a coisa a terceiro" a acção procedente teria por 

resultado a venda de uma coisa aleia.

Uma nota deve ser feita #uanto a este ponto. 4ara tal segue)se a lição do 4rof. A<U'

A3':A. delicada! salienta! e bem! o Autor! a #uestão da efic0cia da sentença #ue %ulgue procedente ae1ecução espec6fica! #uando a e1ecução assente numa promessa com efic0cia obrigacional! mas em #ue o

autor tena registado a acção. <al %0 foi abordado a propósito do tema da efic0cia real da promessa,+.

3etomando a lição de A:9'EDA CO<A! a decisão do tribunal #ue %ulgue procedente o pedido

de e1ecução espec6fica produH os efeitos do contrato prometido $ fica valendo como seu t6tulo

constitutivo. Deste modo substitui)se! não só a manifestação de vontade do promitente faltoso! mas

tamb&m a da parte #ue estaria disposta a emiti)la.

Como agir! então! na e1ecução espec6fica! relativamente aos pontos omissos do contrato

 prometido[

A solução mais raHo0vel ser0 a de #ue a invalidade da promessa! lacunosa a respeito de aspectos

essenciais! apenas se produH #uando esses elementos não possam ser determinados pelos crit&rios gerais

M art. *28P a *2LP e especiais Mart. 72LP! 752PS* e --2P predispostos para a interpretação e a integração da

vontade contratual. Decorre do princ6pio da e#uiparação Mart. 5/+PS/.

8.7.*. 3esolução do Contrato

a opção ( e1ecução espec6fica. 9as importa distinguir se 0 ou não sinal. a falta deste a

indemniHação apura)se de armonia com as regras gerais da responsabilidade civil e tende a cobrir danos

efectivos. Ruando e1iste sinal passado! difere a disciplina legal. As v0rias soluções derivam do art. 55*P )

tr6plice possibilidade"

/. 4erda do sinal ou sua restituição em dobro! consoante a parte faltosa foi a #ue o

entregou ou recebeu Mart. 55*PS/! /J parte. O sinal apro1ima)se então da natureHa de arras penitenciais e

sanção ou montante indemniHatório predeterminado para o incumprimento definitivo. a promessa de

compra e venda atribui)se presuntivamente o car0cter de sinal a #ual#uer #uantia entregue ao promitente)

vendedor Mart. 55/P! embora a regra do art. 55+P se%a a de #ue constitui antecipação de pagamento de

 preço. 9as esta presunção & ilid6vel Mart. 27+PS*>

*. e o contrato prometido incidir sobre coisa e tiver avido a sua tradição para a

contraparte! pode esta! #uando o incumprimento se%a imput0vel ( outra! em veH do sinal dobrado! e1igir o

valor da coisa ou do direito sobre ela ( data do incumprimento! subtra6do o preço inicial! acrescentando)se

a restituição do sinal e da parte do preço %0 paga Mart. 55*PS*! *J parte. 4rocura)se evitar #ue motivos

especulativos contr0rios ( boa f& levem ( resolução ou violação da promessa por #uem promete constituir 

ou transmitir. essa mesma lina se concede o direito de retenção Mart. ,77PS/!  %G. 4or&m! sempre #ue o

,+ er! supra, pp. 82.

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contraente fiel opte pelo valor da coisa ou do direito nos termos indicados! tem a outra parte a faculdade

de e1cepção de cumprimento do contrato)promessa! ressalvado o disposto no art. -+-P Mart. 55*PS2! *J

 parte $ 9''N' CO3D'E3O. O valor actualiHado da coisa envolve um incumprimento definitivo. 'is

o motivo da ressalva do art. -+-P" subentende #ue o benefici0rio da promessa pode e1ercer tal opção sem

a verificação dos pressupostos do nP/> e implica #ue esta e1cepção apenas possa ser invocada desde #uenão ocorra nenum destes pressupostos. eria ofensivo da boa f& #ue se le concedesse a e1cepção se não

realiHou a promessa dentro de um praHo admonitório fi1ado pela contraparte. Egualmente! se se permitisse

#ue le impusesse o contrato definitivo se o destinat0rio da promessa %0 não tivesse interesse nela.

Ruando se verifica uma destas soluções! estão e1clu6das outras indemniHações $ art. 55*PS5>

2. 4roporciona)se ainda #ue o contraente fiel re#ueira a e1ecução espec6fica nos termos do

art. -2+P Mart. 55*PS2! /J parte. ão se e1ige #ue tena avido a tradição da coisa. 'sta remissão apenas

significa #ue a e1ecução funciona #uando a#uele preceito a admita nas promessas sinaliHadas" #uando

afastada a presunção do art. -2+PS* e #uando se%a imperativa $ art. -2+PS2.

G0! pois! agora #ue saber #uando podem ser e1ercidos estes direitos pelo promitente fiel. I0

sabemos #ue! em tese! 0 dois direitos #ue assistem ao promitente fiel" a e1ecução espec6fica!

acompanada de uma indemniHação moratória! e a resolução do contrato! acompanada pela perda ou

restituição do sinal! ou do valor actualiHado da coisa.

A verdade & #ue estes direitos não podem ser e1ercidos todos da mesma forma e #uando melor 

aprouver ao promitente fiel.

A noção de incumprimento utiliHada no C.C. & muito vasta e engloba v0rias realidades! entre as

#uais vale a pena salientar o incumprimento definitivo! ou falta de cumprimento Mart. ,L-P e ,LLP! e asimples mora Mart. ,L*PS/! -+5P a -+-P e -/2P a -/8P.

A ideia sub%acente X mora & a de #ue a prestação debitória! apesar de não realiHada no momento

 próprio! & ainda poss6vel! por#ue pode ainda satisfaHer o interesse fundamental do credor.

Ora! sempre #ue no caso de mora! o credor tiver interesse em sair da situação de impasse #ue ela

cria! ele pode fi1ar livremente um praHo raHo0vel ao devedor para #ue este cumpra! sob pena da obrigação

se dar por não cumprida $ incumprimento definitivo Mart. ,L-P e ,LLP $ inter#elação ad"onitória.

9as a interpelação funciona! al&m de como um poder para o credor! como um ónus para ele! %0

#ue o mecanismo do art. -+-P actua no interesse do próprio devedor! só o e1pondo (s conse#u=ncias do

incumprimento definitivo! nomeadamente ao risco da resolução do contrato.

4arece! no entanto! #ue se a promessa bilateral for sinaliHada! instituiu o legislador um sistema

algo comple1o para o e1erc6cio dos direitos em an0lise pelo promitente fiel.

Defende A<U' A3':A #ue o legislador de /L-8 partiu do pressuposto erróneo de #ue a

necessidade de interpelação admonitória! tal como prescrita pelo art. -+-PS/! não era aplic0vel ( promessa

 bilateral sinaliHada.

4rescreve)se! com efeito! na ;ltima versão do art. 55*P #ue! no caso de não cumprimento da

 promessa sinaliHada! por facto imput0vel ao promitente)vendedor! tendo a outra parte optado pela sanção

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mais grave Mrestituição do valor actualiHado da coisa! por ter avido tradição da coisa ob%ecto da

 promessa! pode a parte faltosa subtrair)se a ela e oferecer)se para cumprir! sa"&o o disposto no art6 0º .

e o contra)direito do faltoso de afastar a sanção mais grave só e1iste #uando não se verificaram

as situação de falta de cumprimento do art. -+-P! & por#ue a sanção se aplica logo #ue! nas situações

 previstas de promessa com traditio! o faltoso incorre em simples mora $ contra a ratio do art. -+-P.O pior & #ue por assim ser para a sanção mais grave cominada para o contraente faltoso! arrastou

o legislador este regime para todas as sanções previstas no art. 55*P.

Ali0s! de outra maneira! não se perceberia e não teria sentido a ressalva para o art. -+-P contida

no art. 55*P.

I0 A:9'EDA CO<A tem uma posição menos cred6vel! mas a ;nica #ue poderia defender! %0

#ue a lei de /L-8 foi da sua autoria! tendo #ue dançar ao seu sabor.

Defende o Autor #ue! no contrato)promessa sinaliHado a transformação da mora em

incumprimento definitivo afasta)se do regime regra do art. -+-P. Defende! a meu ver mal! #ue não & o

;nico caso em #ue a lei consagrou este desvio" nos demais casos a situação não & compar0vel $ art. //7+P!

/*27P! /*5*P! /+5/P! /+-2PS2 e /+-5PS/.

Ou se%a! a parte inocente! verificada a mora! pode prevalecer)se das conse#u=ncias desta ou

transform0)la definitivamente em incumprimento definitivo! sem observar os re#uisitos do art. -+-P. '

isto por#ue! ao contr0rio de A<U' A3':A! defende #ue a e1ig=ncia do sinal ou da indemniHação

actualiHada constitui uma declaração resolutiva t0cita Mar. 528PS/. 4or isso se compreenderia no nP2 do

art. 55*P a possibilidade de recurso ( e1ecução espec6fica! #ue envolve a simples mora.

'm nosso entender! parece defens0vel unicamente a posição do 4rof. A<U' A3':A!

tenda realmente o legislador criado um regime sui generis para o e1erc6cio dos direitos #ue derivam do

incumprimento no contrato)promessa.

8.8. Outras violações do contrato)promessa. A falta de legitimidade para o cumprimento

A violação da promessa! alem dos casos %0 descritos! pode ocorrer coma pr0tica de actos #ue

 ponam em causa o cumprimento! ainda #ue antes do decurso do praHo. 4or e1emplo! #uando o

 promitente faltoso não tem legitimidade para a celebração do contrato definitivo. 'sta ilegitimidade pode

ocorrer ao tempo da celebração da promessa! embora se%a poss6vel ao promitente vir a afast0)la! pelo #ue

seria v0lido. estes casos! a e1ecução espec6fica seria impratic0vel. 3estaria apenas o camino

indemniHatório.

9as a ilegitimidade pode ser superveniente" promessa de venda ou oneração de certa coisa e o

 promitente a aliena! entretanto! a terceiro.

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e a promessa tem apenas efeitos obrigacionais! a contraparte tem apenas direito a indemniHação

 pelos danos sofridos! calculada nos termos gerais! ou inclusive! fi1ada previamente a t6tulo de sinal ou

 pena convencional Mart. 55*PS*! 2 e 5 e -//P. I0 a promessa com efic0cia real & opon6vel a terceiros

ad#uirentes! desde #ue se encontre registada antes do registo da a#uisição do direito deste Mart. 5/2P. A

atribuição de efic0cia real importa a possibilidade de realiHação coactiva da prestação. Assim! neste caso!e1iste direito de e1ecução espec6fica! não obstante aver convenção em contrario e mesmo #ue o

 promitente remisso dispona da coisa a favor de terceiro. O contrario estaria em contradição com a

efic0cia real,/.

<=m legitimidade processual passiva" o promitente faltoso! para a e1ecução espec6fica do

contrato> e o terceiro! se obteve a posse da coisa! para a sua reivindicação. Devem ser demandados em

acção con%unta" acção declarativaSconstitutiva at6pica em litisconsórcio necess0rio passivo.

,. 4acto de prefer=ncia,*

,./. oção

4acto de prefer=ncia ou de prelação Mart. 5/5P a 5*2P & o contrato pelo #ual algu&m assume a

obrigação de! em igualdade de condições! escoler determinada pessoa Ma outra parte ou terceiro como

seu contraente! no caso de se decidir a contratar.

ão admitidos em relação ( compra e venda Mart. 5/5P! mas tamb&m face aos mais variados

contratos $ art. 5*2P. Dele nasce uma obrigação t6pica" a de! #uerendo contratar! o obrigado escoler a

contraparte! de prefer=ncia a #ual#uer outra pessoa Mconduta de sinal positivo )  %a(ere. Fica a plena

liberdade de o titular da prefer=ncia aceitar ou não a celebração do negócio! nos termos em #ue o

obrigado se propõe realiH0)lo.

O pacto de prefer=ncia surge sempre unilateral! %0 #ue apenas uma das partes se mant&m

vinculada. A obrigação #ue assume &! de resto! condicionada $ apenas assume a obrigação no caso de se

decidir a contratar.

Como %0 dito! a respeito do contrato)promessa! esta e a#uela são figuras distintas. Distingue)se

tamb&m da venda a retro Mart. L*,P! #ue assenta sobre uma cl0usula resolutiva. <amb&m não se confundecom o pa(to de opção. O outro prev= a celebração de um novo contrato! este tem %0 uma declaração

contratual.

,.*. 3e#uisitos de forma e substncia

,/ er! supra! pp. 82! #uanto ( posição defendida #uanto ( efic0cia obrigacional da promessa e registo da acção dee1ecução espec6fica.,* A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 55* e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 2,7 e ss> 4E3' D':E9A e A<U' A3':A! ob6 (it6, anot. aos art. 5/5P a 5*2P.

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Ruanto ( forma! se a prefer=ncia respeita a contrato para cu%a celebração a lei e1i%a documento

aut=ntico ou particular! o pacto só & v0lido se constar de documento escrito! assinado pelo obrigado $ art.

5/7P! #ue manda aplicar o regime do art. 5/+PS* #uanto ao contrato)promessa. De resto! impera a regra

estabelecida pelo art. */LP ) regra do consensualismo.

O pacto de prefer=ncia apenas possui! em regra! efic0cia obrigacional! não sendo o seu titular se#uer camado a e1ercer o direito nos processos de e1ecução! fal=ncia! insolv=ncia! nem procedendo (

 prefer=ncia contra a alienação efectuada nos processos desta natureHa $ doutrina e1pressa pelo art. 5**P.

9as pode goHar de efic0cia real! #uando se reporte a bens imóveis ou móveis su%eitos a registo!

desde #ue se verifi#uem os re#uisitos e1igidos para o caso paralelo do contrato)promessa Mart. 5*/PS/.

Assim sendo! torna)se num direito real de a#uisição! como tal! opon6vel a terceiros ad#uirentes e

atend6vel nos processos de e1ecução ou li#uidação! onde os direitos de origem convencional serão

tratados como direitos legais de prefer=ncia! sem pre%u6Ho da prioridade devida em #ual#uer caso a estes

;ltimos Mart. 5**P,2.

O direito e a obrigação de prefer=ncia são! em princ6pio! intransmiss6veis! entre vivos e por 

morte Mart. 5*+P. 'ssa natureHa pessoal pode! no entanto! ser afastada por convenção e1pressa das partes

ou em conse#u=ncia da própria natureHa do contrato,5.

,.2. '1erc6cio do direito de prefer=ncia

Emporta a#ui distinguir duas situações" M/ a de obrigado se dispor a cumprir o pacto> M* a de

obrigado o não observar! celebrando o contrato com terceiro! sem do facto dar conecimento ao titular da

 prefer=ncia.

 o primeiro caso! aver0 agora lugar a refle1ão sobre a noti%i(ação da pre%erIn(ia. O es#uema

legal vem enunciado no art. 5/8P. O obrigado comunica ( contraparte! por notificação %udicial ou

e1tra%udicial! não apenas a intenção de contratar! mas tamb&m as cl0usulas desse contrato a celebrar! para

#ue ela possa usar do seu direito. Al&m disso discute)se se 0 ou não necessidade de comunicar a

identidade do terceiro. <r=s teorias" M/ 9eneHes Cordeiro! alvão <eles e 9eneHes :eitão e Ioão <iago $ 

sim! sempre essencial revelar a identidade Mideia da boa f&! invocada por 9eneHes Cordeiro. 9eneHes

leitão diH #ue só sabendo #uem & o terceiro & #ue o preferente pode verificar se as condições em #ue est0

a e1ercer a prefer=ncia são verdadeiras> M* Oliveira Ascensão $ não! nunca se revela a identidade Mart.

5/8P ) interpretação literal> M2 Antunes arela! Almeida Costa $ depende. Casos em #ue teno de dar a

identidade" concorr=ncia! a#uisição de bens cu%o valor estimativo & grande> ipótese do arrendamento>

#uando por força do não e1erc6cio da prefer=ncia se estabeleça uma relação %ur6dica entre o terceiro e o

 preferente.

preciso não confundir a notificação estabelecida pelo art. 5/8PS/ com a proposta de contrato

#ue o obrigado diri%a ao preferente antes de ter #ual#uer pro%ecto a%ustado de venda com terceiro.

,2 o caso de concurso entre um direito legal de prefer=ncia e um direito convencional de prefer=ncia! este & sempre

 preterido por a#uele! mesmo goHando de efic0cia real.,5  4ode resultar tacitamente do contrato! a transmissibilidade do direito e da obrigação $ 4E3' D':E9ASA<U' A3':A! Cdigo Ci&i" +notado! vol. E! anot. ao art. 5*+P. 

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e o notificado declinar ou nada disser dentro do praHo de oito dias Mart. 5/8PS* $  spatium

de"iberandi  )! o seu direito caduca! ficando o obrigado livre de contratar com #uem #ueira! mas nos

termos em #ue comunicou a prefer=ncia. A ren;ncia pode ser feita verbalmente. :evanta)se a #uestão se

cabe ou não direito aos credores do preferente ( impugnação pauliana ou ( sub)rogação! respectivamente.

e o preferente notificado! #uiser preferir! declar0)lo)0 nos termos do art. /57-P do C.4.C. asconse#u=ncias da aceitação derivam do nP2 desse preceito.

4ode acontecer #ue o obrigado pretenda alienar! por um preço global! uma ou mais coisas

 %untamente com a ob%ecto da prefer=ncia! ou #ue ele receba de terceiro #ue pretende ad#uirir a coisa a

 promessa de uma prestação acessória #ue o titular da prefer=ncia não possa satisfaHer. A lei considera uma

e outra ipóteses! nos art. 5/,P e 5/-P! respectivamente.

 o primeiro caso! do art. 5/,P! não sendo %usto agravar os pressupostos da prefer=ncia acordados

no pacto! concede)se ao respectivo titular a faculdade de restringir o seu direito ( coisa a #ue o pacto se

refere! reduHindo o preço #ue proporcionalmente corresponde a essa coisa dentro do preço global. a

falta de acordo sobre essa redução! aver0 #ue recorrer ( acção de arbitramento para fi1ar o valor 

 proporcional da coisa,7. O obrigado pode! contudo! opor)se ( separação das coisas> nesse caso! o titular da

 prefer=ncia ter0 de e1ercer o seu direito! se o não #uiser perder! relativamente ao con%unto das coisas

alienadas! pelo preço global fi1ado,8.

 ão se tratando de disposição imperativa! o preferente poder0 evitar a oposição do obrigado!

desde #ue no pacto este se comprometa desde logo a não alienar a coisa %untamente com #uais#uer outras.

 o caso de as coisas serem separ0veis! mas alienadas por um preço global! importa saber #uandocomeça a contra o praHo de caducidade de acção de prefer=ncia! e #ual o preço a depositar $ art. /5/+P. e

o obrigado não tiver indicado o preço atribu6do ( coisa ob%ecto da prefer=ncia! dentro do preço global! ter0

o preferente de propor a acção de arbitramento Mart. /57LPS* do C.4.C. para determinação do preço! no

 praHo de seis meses a contar da data em #ue teve conecimento do preço global. O preço! por&m! só ser0

obrigado a deposit0)lo! depois de fi1ado %udicialmente o #ue compete ( coisa ob%ecto da prefer=ncia.

 o segundo caso! a prestação acessória #ue o titular da prefer=ncia não pode satisfaHer & de todo

irrelevante! se tiver sido convencionada com o mero de afastar a prefer=ncia Mart. 5/-PS*. enum efeito

ter0 tamb&m se! não avali0vel em dineiro! não for essencial ao contrato #ue o obrigado pretenda celebrar.

endo a prestação essencial! e não avendo intuito fraudulento! a prefer=ncia fica e1clu6da! mas sem

 pre%u6Ho da indemniHação a #ue o seu titular tena direito. e a prestação acessória! não fraudulenta! for 

avali0vel em dineiro! o titular da prefer=ncia #ue pretenda e1ercer o seu direito ter0 de acrescentar o

valor dela ao preço convencionado.

' poder0 o preferente e1ercer o seu direito contra a alienação efectuada pelo obrigado (

 prefer=ncia a um gestor de negócios! não estando o contrato ainda ratificado pelo dono do negócio[ 4ode

,7  A lei processual Mart. /57LPS* manda recorrer ( acção de arbitramento #uando a comunicação ao titular da prefer=ncia! nestes casos! a%a sido feita por meio de notificação M%udicial para prefer=ncia.,8 A faculdade conferida ao obrigado só vale para a ipótese de se ter fi1ado um preço global para a alienaçãocon%unta! e não para o caso de alienação con%unta de v0rias coisas! mas com discriminação do preço de cada umadelas.

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sim. De contr0rio! não seria dif6cil defraudar a lei e lesar o direito do preferente em proveito de um

terceiro.

Dentro da tem0tica do e1erc6cio da prefer=ncia cabe ainda lugar ( an0lise de situações de

 pluralidade de preferentes. ' temos duas ipóteses.

A primeira & a#uela em #ue a prefer=ncia deve ser e1ercida con%untamente por todos os seus

titulares! como no caso de dois ou mais erdeiros averem sucedido ao titular de direito #ue os

interessados consideraram transmiss6vel por morte Mart. 5*+P. e algum não puder ou #uiser usar da

 prefer=ncia! o direito dos restantes amplia)se imediatamente a todo o ob%ecto do pacto $ direito de não

de(res(er  $ art. 5/LPS/.

A segunda ipótese & a#uela em #ue a prefer=ncia deve ser e1ercida por um só dos titulares! e

não por todos em con%unto. e o pacto tiver estabelecido #ual#uer ordem de prioridade! esse & o crit&rio a

observar. a sua falta! abrir)se)0 licitação entre os interessados! a partir do preço estipulado! revertendo o

e1cesso em proveito do alienante $ art. 5/LPS*.

 o plano processual! dois tipos de situações" M/ casos em #ue & o próprio obrigado #uem #uer 

cumprir o seu dever de notificação! sendo v0rios os titulares do direito de prefer=ncia Mart. /57-P! /58+P!

/58/P! /582 e /585P do C.4.C.> M* casos em #ue! tendo avido violação do direito de prefer=ncia! um dos

lesados est0 disposto a e1ercer a acção de prefer=ncia! mas pretende resolver previamente com os demais

 preferentes a #uestão de saber a #uem compete a prioridade do direito Mregulados genericamente no art.

/587P ) a dilig=ncia %udicial inicial destina)se a determinar a pessoa #ue deve e1ercer! sob pena de

caducidade! a acção de preferencia.

,.5. 4refer=ncia legal

O direito de prefer=ncia resulta algumas veHes directamente da lei $ prefer=ncia legal ,,. O regime

& distinto do da prefer=ncia convencional" o preferente convencional goHa de um mero direito de cr&dito (

conduta do obrigado! cu%o inadimplemento d0 apenas lugar a uma indemniHação> pelo contr0rio! o

 preferente legal desfruta de um direito potestativo #ue le permitir0 faHer seu o negócio realiHado em

violação da prefer=ncia $ art. /5/+P.

,.7. 'fic0cia real do pacto de prefer=ncia

,, er art. /2-+P e /2-/P! /5+LP e /5/+P! /727P! /777P e */2+P. Ainda! no arrendamento! art. /+L/P e ///*PS5.

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Admite)se! no entanto! a atribuição de efic0cia real ao pacto de prefer=ncia #ue recaia sobre bens

imóveis ou móveis regist0veis! mediante a observncia dos re#uisitos de forma e publicidade

estabelecidos para o contrato)promessa Mart. 5*/PS/. Aplica)se então! com as necess0rias adaptações! o

regime das prefer=ncias legais $ art. 5*/PS*,-.

Ainda nesta ipótese! por&m! o direito convencional de prefer=ncia nunca prevalece contra osdireitos legais de prefer=ncia. ' #uando não goHe de efic0cia real! nem mesmo pode ser e1ercido

relativamente (s alienações verificadas nos processos de e1ecução! insolv=ncia e outros an0logos $ art.

5**P,L.

A referida restrição imposta aos preferentes convencionais cu%os direitos tenam mera efic0cia

obrigacional visa impedir o pre%u6Ho aos seus credores. A sua admissão nesses casos seria suscept6vel de

afastar eventuais interessados na a#uisição dos bens e! mais! dispensar o preferente! sem ade#uado

motivo! da competição directa com os v0rios candidatos a tal a#uisição.

,.8. iolação da prefer=ncia. Conse#u=ncias

 o segundo caso! o de obrigado não observar o pacto! celebrando o contrato com terceiro! sem

do facto dar conecimento ao titular da prefer=ncia. aver0 violação da prefer=ncia. Caber0 lugar (s

acções de prefer=ncia ou de indemniHação.

 o caso de violação! o direito de prefer=ncia só prevalecer0 sobre o negócio celebrado mediante

a acção de prefer=ncia Mart. /5/+P. 9as! para tal! precisa o direito invocado de goHar de efic0cia real Mart.

5*/PS*> se assim não for! ter0 o autor da acção de contentar)se com a indemniHação dos danos causados

 pela violação.3ecorrendo ( acção de prefer=ncia! o titular lesado tem a faculdade de aver para si a coisa

alienada! contanto #ue o re#ueira no praHo de seis meses a contar da data em #ue teve conecimento dos

elementos essenciais da alienação-+  e deposite %udicialmente o ob%ecto da prestação #ue le cumpre

efectuar! nos #uinHe dias subse#uentes ( propositura. e a alienação efectuada com violação da

 prefer=ncia tiver sido precedida de promessa de venda ao ad#uirente! o praHo de seis meses de propositura

da acção conta)se a partir do conecimento dos elementos essenciais da venda! e não da promessa de

alienação! embora esta %0 possa servir de ob%ecto ( acção de prefer=ncia se o alienante não se tiver 

reservado ou a lei não le conceder o direito de arrependimento.

,- <ratando)se de um direito legal de prefer=ncia! a sua efic0cia erga omnes não depende de registo $ consultar 4E3'D' :E9ASA<U' A3':A! Cdigo Ci&i" +notado! vol. EEE! anotação /* ao art. /5/+P.,L :ogo! só os titulares de prefer=ncias legais e de prefer=ncias convencionais com efic0cia real são notificados para poderem e1ercer o seu direito na venda ou ad%udicação dos bens Mart. -,8PS* e -L*P do C.4.C..-+ Gavendo simulação de preço! e sendo a acção a acção intentada de anulação! o praHo de seis meses deve contar)se a partir da data do conecimento do contrato! e não da declaração %udicial de simulação. G0! por&m! #ue distinguir.  e o preço declarado for inferior ao real! os simuladores não poderão invocar contra o preferente! estando este de boa f&! o preço real superior.  e o preço declarado for superior ao real! o praHo de seis meses conta)se a partir do trnsito da sentença #ue fi1e o

 preço real> sendo a acção de simulação improcedente! o direito de prefer=ncia arrisca)se a caducar! se a acção de prefer=ncia não tiver sido instaurada e o depósito do preço não tiver sido feito dentro dos praHos fi1ados pelo art./5/+PS/.

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A acção deve ser intentada contra o ad#uirente e contra o alienante! visto a lei mandar 

intencionalmente citar para a acção de prefer=ncia os r&us Mno plural $ art. /5/+PS/! in %ine1. 'sta a

 posição de A<U' A3':A! a meu ver! a posição a seguir. A:9'EDA CO<A! no entanto!

apresenta uma posição distinta. Afirma este Autor #ue est0 mais de acordo com os princ6pios a solução

#ue aponta para a propositura da acção apenas contra a#uele #ue detiver a posse da coisa $ via de regra! oterceiro ad#uirente. alvo se o preferente dese%a tamb&m agir contra o faltoso para obter uma

indemniHação pelos danos sofridos ou uma sentença declaratória de simulação do preço.

alienta o Autor #ue não se mostra decisivo! no sentido do litisconsórcio necess0rio passivo! o

argumento retirado da conveni=ncia em evitar casos %ulgados contraditórios! #uando o preferente tena

#ue demandar! mais tarde! o obrigado ( prefer=ncia. A contradição #ue vena a ocorrer circunscreve)se

aos fundamentos das decisões. Afirma A:9'EDA CO<A #ue a doutrina entende #ue ao instituto do caso

 %ulgado não pertence a função de evitar a contradição teórica dos %ulgados. 4or conseguinte! o aludido

risco! não %ustificaria a criação de situações de litisconsórcio forçoso visando afastar a eventualidade da

simples colisão teórica de decisões.

A proced=ncia da acção coloca retroactivamente o autor no lugar do ad#uirente.

II – Negócios nilaterais24

/. oção e sua admissibilidade como fonte de obrigações

Define)se negócio ur;dico unilateral como aBue"e em Bue #' somente a mani%estação de uma

&ontade, ou em Bue, #a&endo &'rias de("arações de &ontade, todas e"as tIm o mesmo (ontedo, são

de("arações (on(orrentes ou para"e"as6

CaracteriHa)se! pois! pela e1ist=ncia de um ;nico lado ou parte produH)se o efeito %ur6dico visado.

 ão se confunde com uma mera proposta contratual $ art. **5P e ss. tamb&m não se confunde

com o contrato unilateral! #ue & unilateral nos seus efeitos! mas não o & na formação $ nasce de um

acordo de vontades. Ao passo #ue o negócio %ur6dico unilateral resulta de uma vontade isolada!

verificando)se uma unilateralidade nos efeitos e na formação.

4odem ser re(ept(ios ou não re(ept(ios! consoante a a declaração de vontade tena de ser 

dirigida e comunicada a uma certa pessoa ou vala independentemente dessa e1ig=ncia.

fre#uente #ue a vontade de uma pessoa produHa efeitos %ur6dicos. 3enova)se actualmente a

controv&rsia sobre a medida em #ue convir0 admitir a constituição de obrigações pela vontade e1clusiva

do próprio devedor! embora dependendo a respectiva efic0cia da não re%eição do benefici0rio. Esto por#ue

ningu&m pode ser criado credor contra sua vontade.

A favor da solução positiva alegam)se as vantagens da possibildiade de faHer nascer obrigações

antes de #ual#uer aceitação. 9as! em sentido oposto! 0 raHões ponderosas" M/ risco de o devedor se

-/ <al a opinião sustentada por A<U' A3':A. er 4E3' D' :E9ASA<U' A3':A!  Cdigo Ci&i" 

 +notado, vol. E! anotação 2 ao art. 5*/P.-* A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 58/ e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 528 e ss>

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obrigar com alguma ligeireHa! sem se aperceber de todo o alcance do seu acto! pois não e1iste uma fase

negociatória> M* dificuldades de prova da vinculação por negócio unilateral> M2 a intersub%ectividade #ue

caracteriHa o direito das obrigações.

O nosso legislador aderiu ao #rinc;#io do contrato $ ideia de #ue apenas esta figura %ur6dica pode! como regra! no dom6nio da vontade! criar relações obrigacionais. 'mbora se reconeça efic0cia

vinculativa aos negócios unilaterais em ipóteses e1pressas. O art. 57,P determina #ue a promessa

unilateral de uma prestação só obriga nos casos previstos na lei.

igora! portanto! o princ6pio do numerus ("ausus. As e1cepções admitidas são ali0s! muito

limitadas. A lei menciona a promessa de cumprimento e o reconecimento de d6vidas em declaração

unilateral do devedor Mart. 57-P! a promessa p;blica Mart. 57LP e os concursos p;blicos Mart. 582P.

'm rigor! só nas duas ;ltimas modalidades se constituem verdadeiras obrigações. 4or#ue no

 primeiro caso apenas & imposto um ónus da prova.

Um outros destes negócios & o acto entre vivos de instituição de uma fundação $ art. /-7PS2.

3efira)se ainda o caso da doação pura feita a incapaH! cu%os efeitos se produHem independentemente da

aceitação Mart. L7/PS*.

*. 9odalidades

*./. 4romessa de cumprimento e reconecimento de d6vida

 os termos do art. 57-PS/! se algu&m! por simples declaração unilateral! prometer uma prestação

ou reconecer uma d6vida! sem indicação da respectiva causa! fica o credor dispensado de provar a

relação fundamental! cu%a e1ist=ncia se presume at& prova em contr0rio.

A lei consente #ue se efectue a promessa de uma prestação ou o reconecimento de uma d6vida!

sem #ue o devedor indi#ue o fim %ur6dico #ue o leva a obrigar)se! presumindo)se a e1ist=ncia e a validade

da relação fundamental. consagrada! no entanto! uma simples presunção! pelo #ue a prova em contrario

 produHir0 as conse#u=ncias próprias da falta! ilicitude ou imoralidade da causa dos negócios %ur6dicos.

O problema prende)se com a diferença entre negócios causais e negócios abstractos. 4or causaentende)se o fim especial t6pico e1presso no conte;do do negócio! ou como a função económico)social

t6pica do negócio.

Comummente! o negócio #ue vincula uma pessoa a uma obrigação indica o motivo determinante!

a função pr0tica ou fundamento %ur6dico da mesma! o #ual faH parte do conte;do da#uele e permite a

figura concreta de #ue se trata $ são os negócios causais.

9as! por veHes! a ordem %ur6dica admite #ue determinados negócios valam independentemente

da sua causa ou relação fundamental. urgem assim os negócios abstractos! caracter6sticos do direito

comercial Mce#ue.

A promessa de cumprimento e o reconecimento da d6vida! do art. 57-P! não constituem actos

abstractos propriamente ditos! mas puras presunções de causa" são negócios causais! em #ue apenas se

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verifica a inversão do ónus da prova. ' da6 #ue o devedor possa provar #ue a relação fundamental não

e1iste ou & nula.

Ruanto ( forma rege o art. 57-PS*. A lei procura evitar d;vidas ulteriores e advir o devedor da

importncia do seu acto. A forma m6nima para este negócio & o documento escrito. e a relação

fundamental depender de formalidade de maior força! essa mesma ter0 de observar)se tamb&m na promessa ou reconecimento.

A promessa ou reconecimento #ue conste de escrito particular beneficia sempre da referida

 presunção. a verdade! como em tais acto não se indica a causa da obrigação! o tribunal ter0 de admiti)la

at& #ue o seu devedor a ilida.

Decorre do mesmo nP * #ue o devedor pode afastar essa presunção! alegando a invalidade da

relação fundamental por aus=ncia de forma ad substantiam do respectivo acto constitutivo! ainda #ue a

mesma a%a sido observada na promessa ou reconecimento. e a forma só for imposta ad probationem!

então o negócio produHir0 os seus efeitos! desde #ue conste de documento com força probatória maior 

Mart. 285P. O preceito em apreço refere)se a documentos para fim de prova e não de substncia da relação

fundamental.

*.*. 4romessa p;blica

O C.C. dedica)se e1pressamente (s promessas p;blicas neste cap6tulo dos negócios unilaterais $ 

art. 57LPS/.

As promessas p;blicas constituem uma figura diferente das ofertas ao p;blico. 'stas ;ltimas

analisam)se em propostas de contrato dirigidas a uma generalidade de pessoas indeterminadas! atrav&s dean;ncios nos %ornais! e1posição de mercadorias em montras com indicação dos preços... Mart. *2+PS2-2.

4ara #ue se este%a face a uma promessa p;blica! constitui re#uisito essencial a sua divulgação! de

maneira a #ue os eventuais interessados possam conec=)la. Como se observou! a lei refere)se a promessa

mediante an;ncio p;blico.

As promessas de recompensa anunciadas publicamente são muito vulgares o%e em dia.

A nossa lei prev= a ipótese da promessa #ue visa a pr0tica de um facto positivo ou negativo!

mas tamb&m a efectuada a favor de #uem se encontre em determinada situação! mesmo #ue esta se%a de

todo independente da conduta do benefici0rio. ' pode at& o promitente ter como ob%ectivo a

demonstração de #ue um certo acto ou efeito não pode realiHar)se.

3esulta do art. 57LPS* #ue a efic0cia da promessa p;blica não depende do seu conecimento

 pr&vio pela pessoa #ue se coloca na situação prevista ou do propósito desta de conseguir o benef6cio

respectivo. Da6 #ue se abran%am os próprios factos anteriores. e ouver declaração em contrario do

 promitente #uanto a isto! deve entender)se #ue o conecimento da promessa ou a vontade do credor 

representam meros pressupostos ob%ectivos a #ue a mesma fica submetida! os #uais nada afectam o

car0cter unilateral do negócio %ur6dico. A obrigação nasce sempre com o an;ncio p;blico.

-2  As ofertas ao p;blico! por sua veH! não se confundem com a proposta a pessoa determinada! posto #uedesconecida ou cu%o paradeiro ignora! embora o art. **7P permita #ue se%a feita mediante an;ncio num %ornal.Cumpre tamb&m destac0)las do mero convite a contratar! #ue se destinam a provocar propostas da parte do p;blico.

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A prestação prometida tanto pode assumir natureHa gratuita onerosa. <udo depende de e1istir 

uma intenção de liberalidade ou uma correspond=ncia económica entre a#uela e a situação ou o facto #ue

se prev=.

O praHo de validade da promessa p;blica pode ser fi1ado pelo promitente ou derivar da sua

natureHa ou do seu fim. esta ipótese! só & revog0vel com fundamento em %usta causa. A promessa sem praHo de validade manter)se)0 at& ( revogação pelo promitente! suscept6vel de verificar)se a todo o tempo.

9as a revogação não & eficaH! se não for feita na forma da promessa ou e#uivalente! ou se a situação

 prevista %0 se tiver verificado ou o facto %0 tiver sido praticado Mart. 58+P e 58/P.

4ode acontecer #ue o resultado previsto se produHa mediante cooperação con%unta ou separada

de v0rias pessoas. 'm tal ipótese! se todas tiverem direito ( prestação! ser0 esta dividida e#uitativamente!

atendendo)se ( participação de cada uma delas no resultado Mart. 58*P. ada impede #ue na promessa se

fi1e um crit&rio #ue atribua o direito ( prestação apenas a alguma ou algumas dessas pessoas.

*.2. Concursos 4;blicos

Considera ainda o nosso Código os concursos #6blicos co" #ro"essa de #r<"io. A

 particularidade destes reside no facto de o pr&mio ser prometido unicamente aos #ue se candidatem a

receb=)lo> não bastando! al&m disso! #ue o candidato efectue a sua prestação! pois ainda se torna

necess0rio #ue ele le se%a atribu6do pelo %;ri designado no an;ncio! ou na sua falta! pelo promitente Mart.

582PS*.

As decisões sobre a admissão dos candidatos ou sobre a atribuição do pr&mio competem

e1clusivamente (s referidas entidades! segundo determina a lei. 4ortanto! são insuscept6veis de

impugnação %udicial ou de #ual#uer outra! salvo indicação contr0ria feita no an;ncio.

A oferta da prestação como pr&mio de um concurso só & v0lida desde #ue se fi1e no an;ncio

 p;blico o praHo para a apresentação dos concorrentes Mart. 582PS/. <al e1ig=ncia destina)se a impedir #ue

o promitente adie a sua prestação sob prete1to de esperar #ue se apresentem mais candidatos.

III – Gestão de negócios2:

/. oção e en#uadramento geral do instituto

3esulta a definição do art. 585P. 4or gestão de negócios  designamos a inter&enção, não

autoriada, das pessoas na dire(ção de neg(ios a"#eios, %eita no interesse e por (onta do respe(ti&o

dono. Cama)se gestor ao #ue interfere no negócio! em contraposição ao seu titular #ue & o dono do

negócio Mdominus negotii.

A gestão necessita de ser encarada face ao duplo aspecto #ue ela reveste. 4or um lado o princ6pio

de ordem p;blica #ue condena as intromissões na esfera pessoal e patrimonial aleia. 4or outro! a

verificação de #ue no dom6nio multiforme da vida ocorrem situações tais #ue a solidariedade umana

-5 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 5,2 e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 55, e ss>

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A#uele #ue age no seu e1clusivo interesse pode faH=)lo por supor erroneamente #ue o negócio

le pertence $ e! nesse caso! não avendo aprovação M#ue & necess0ria do gestor por parte do dono do

negócio Mart. 5,*PS/! são as regras do enri#uecimento sem causa #ue se amoldam ( situação. a ipótese

de ignorncia culposa e de resultarem da gestão pre%u6Hos para o dono do negócio! este tem direito a

indemniHação de acordo com as regras gerais da responsabilidade civil $ art. 5,*PS*. Ou f0)loconscientemente M gestão imprpria de neg(ios! gerindo negócios aleios no interesse próprio! ou se%a!

na intenção de carrear para o seu património os proveitos da intromissão na esfera %ur6dica de outrem! ou

sem se preocupar demasiado com a fi1ação da fronteira entre os negócios próprios e os negócios aleios.

'! nesse caso! tamb&m não são os preceitos reguladores da gestão! mas as regras definidoras da

responsabilidade civil Msenão da responsabilidade criminal #ue mais conv=m a certos aspectos da relação

 $ art. 5,*PS*.

9as %0 não & absolutamente necess0rio #ue ele a%a em nome de outrem. 4ode agir em nome de

outrem $ gestão representativa $ ou em nome próprio $ gestão não representativa. <al o #ue resulta do art.

5,/P>

.- Falta da autori8ação

A gestão pressupõe)na! isto &! a ine1ist=ncia de #ual#uer relação %ur6dica entre o dono do negócio

e o agente! #ue confira a este ;ltimo o direito ou le impona o dever legal de se intrometer nos negócios

da#uele. '1ige)se! numa palavra! #ue o gestor não tena o direito ou a obrigação de assumir a direcção do

negócio aleio>

:- O #roble"a da necessidade ou utilidade2=

4oder)se)ia ainda pensar na e1ig=ncia de a intervenção ser necess0ria! ou pelo menos! concebida

e iniciada utilmente.

A nossa lei estabelece #ue o gestor deve conformar)se com o interesse e a vontade! real ou

 presum6vel! do dono do negócio. 'ste pressuposto! todavia! & apenas indispens0vel para #ue nasçam da

gestão determinadas obrigações a cargo do dono do negócio Mart. 58-P. Ainda #ue a actuação do gestor 

não tena sido necess0ria nem mesmo utilmente iniciada! sempre decorrem dela efeitos próprios da gestão

 $ obrigações do gestor para com o dono do negócio Mart. 588P.

2. Enstitutos afins

A gestão de negócios em sentido t&cnico integra)se no grupo de figuras #ue visam possibilitar a

cooperação %ur6dica entre os omens.-7 'ste ;ltimo re#uisito só & enunciado por A:9'EDA CO<A.

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f0cil apurar como se distingue do mandato. O gestor! interferindo em assuntos aleios! pode

agir em nome do respectivo dono ou em nome próprio. <eremos assim gestão representativa ou não

representativa Mart. 5,/P. o primeiro caso verifica)se uma situação de representação sem poderes" as

relações entre o gestor e o dominus negotii são reguladas pelos princ6pios da gestão! e as entre o dominus

e terceiros pelo preceituado no art. *8-P. X ipótese de gestão não representativa! declaram)se e1tensivas!na parte aplic0vel! as disposições dos art. //-+P a //-5P! respeitantes ao mandato sem representação.

<amb&m não se confunde com o contrato a favor de terceiro. este ;ltimo! o direito do

 benefici0rio tem como suporte um acto de natureHa contratual entre o promiss0rio e o promitente> na

gestão! reveste)se de outra 6ndole o es#uema %ur6dico pelo #ual o dono do negócio aproveita da actuação

do gestor.

5. 3elações entre o gestor e o dono do negócio

5./. As obrigações do gestor. ua responsabilidade

5- O gestor de$e actuar de acordo co" o interesse e a $ontade@ real ou #resu";$el@ do dono

do negócio 'art- :>=1@ a) e :>>135)

<anto o interesse como a vontade presum6vel do dominus  serão apreciados segundo crit&rios

ob%ectivos. ' isto constitui a regra. 9as! e1cepcionalmente! pode o gestor afastar)se dessa vontade. dearmonia com o interesse! ob%ectivamente considerado! do dono do negócio e com a vontade real ou

 presum6vel deste #ue a conduta do gestor deve ser apreciada. O interesse! a #ue a lei aponta para

distinguir a gestão regu"ar   da gestão irregu"ar ! consiste na aptidão ob%ectiva do acto para satisfaHer 

#ual#uer necessidade real do dono do negócio.

Gavendo v0rias formas de satisfaHer ob%ectivamente o interesse do dominus! ao gestor cumpre

escoler a #ue melor se adapte ( vontade presum6vel dele. Gavendo d;vidas sobre a vontade! o gestor 

optar0 pela solução #ue melor sirva os interesses em causa.

O gestor responde pelos danos #ue causar culposamente com a gestão $ art. 588PS/> e a sua

actuação considera)se culposa! sempre #ue agir em desconformidade com o interesse ou a vontade real ou

 presum6vel! do dono do negócio Mart. 588PS*.

Como deve o gestor agir no caso de o interesse do dono do negócio não coincidir com a solução

a #ue conduHiria a vontade deste[

Ruanto a certos casos)limites! a solução & atenuada por apenas se considerar atend6vel para o

efeito a vontade #ue não se%a contr0ria ( lei ou ( ordem p;blica! ou ofensiva dos bons costumes Mart. 587P!

aG. ' da#ui podemos e1trair duas conclusões"

a A actuação do gestor ser0 regular Misenta de culpa se ele praticar um actocontr0rio ( vontade Mreal ou presum6vel do dono do negócio! mas conforme aos interesses deste!

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desde #ue a conduta dese%ada pelo dominus se%a contr0ria ( lei! ordem p;blica! ou ofensiva dos

 bons costumes>

 b A conduta do gestor ser0 igualmente regular! se ele omitir o acto il6cito #ue o

dono praticaria e optar pelo acto il6cito #ue mais favorece os seus interesses>

Fora destes casos! o interesse do dominus coincidir0! regra geral! com a vontade dele! por#ueningu&m preHa mais os interesses de cada um do #ue o seu próprio titular.

O gestor deve)se ainda abster de praticar actos #ue saiba ou se presuma serem contr0rios (

vontade real ou presum6vel do dono! por mais favor0veis #ue fundamentalmente os %ulgue (s

conveni=ncias do interessado. Como deve igualmente renunciar aos actos #ue o dono não dei1aria de

 praticar! se tiver raHões para os considerar lesivos dos interesses em causa>

4- Cu"#re ao gestor@ logo !ue lEe sea #oss;$el@ a$isar o dono do negócio de !ue assu"iu a

gestão 'art- :>=1@ b))

A inobservncia da obrigação origina a responsabilidade do gestor pelos pre%u6Hos causados e a

ilegitimidade da gestão. Após esse aviso! a gestão prosseguir0 ate #ue o dono do negócio determine a sua

cessação ou tome outra provid=ncia! como a de transform0)la em mandato ou procuradoria ou assumir ele

 próprio a direcção do negócio. O sil=ncio do dono do negócio não significa aprovação da gestão para os

efeitos declarados no art. 58LP! e1cepto se o sil=ncio puder valer como meio declarativo $ art. */-P>

.- O gestor de$e #restar contas@ u"a $e8 conclu;do o negócio ou interro"#ida a gestão@ ou

!uando o dominus as e?igir 'art- :>=1@ a)- C*r- art- 55>41)

O gestor deve prestar constas! uma veH conclu6do o negócio ou interrompida a gestão! ou #uando

o dominus as e1igir Mart. 587P! dG. A#ui se incluem o produto de todas as prestações devidas ao dono do

negócio! mas tamb&m todos os lucros #ue o gestor tena arrecadado. Ruanto (s #uantias em dineiro!

 prevendo #ue a%a somas pagas e recebidas! manda)as entregar o saldo das respectivas contas Mlogo #ue!

na falta de praHo fi1ado! se%a interpelado pelo dominus! mas com os %uros legais! a partir do momento em

#ue a entrega a%a de ser efectuada para assim se estimular o cumprimento pontual do dever de entrega.

A prestação de prestar contas deve ser feita #uando conclu6do o negócio ou interrompida a

gestão! ou #uando o dominus as e1igir e pode ser feita espontaneamente ou coactivamente Mart. /+/5P e

/+/-P do C.4.C.>

:- De$e ta"b<" o gestor *ornecer ao dono do negócio todas as in*or"ações relati$as

gestão 'art- :>=1@ d))

=- De$e o gestor entregar ao dono do negócio tudo !uanto recebeu de terceiros e"

conse!u+ncia da gestão ou o saldo das res#ecti$as contas 'art- :>=1@ e))

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>- O gestor de$e #rosseguir a gestão iniciada@ a !ual só #ode ser interro"#ida #or usta

causa ou deter"inação do dominus 'art- :>>135)

A lei vigente não faH esta imposição directa e indiscriminadamente. 9as responsabiliHa)o pelos

danos #ue resultarem da in%ustificada interrupção dela.

X responsabilidade do gestor refere)se o art. 588P. O gestor responde #uer pelos pre%u6Hos #ue

culposamente causar no e1erc6cio da gestão #uer pelos pre%u6Hos #ue! uma veH iniciada a gestão! ocasione

com a in%ustificada interrupção dela Mart. 588PS/. Acresce o nP* #ue se considera culposa a actuação do

gestor #ue não se conforme com o interesse ou vontade do dominus> sempre se ressalvando #ue essa

vontade respeite a lei! a ordem p;blica! ou não ofenda os bons costumes.

Gavendo dois ou mais gestores! a responsabilidade ser0 solid0ria Mart. 58,P.

Um incapaH pode validamente gerir um negócio aleio. A sua responsabilidade apura)se de

acordo com os art. 5--P e 5-LP.

5.*. Obrigações do dono do negócio

5- erificar)se a aprovação da gestão pelo dono Mart. 58LP ou de produHir)se prova de #ue o

gestor actuou em conformidade com o interesse e a vontade do dominus! desde #ue não contr0ria ( lei!

ordem p;blica ou bons costumes Mart. 587P! aG. 'ntão o dominus fica adstrito a determinadas obrigações

 para com o gestor"

a. 3eembols0)lo das despesas #ue ele fundadamente tena considerado indispens0veis!

com os respectivos %uros legais a contar do momento em #ue foram realiHadas! bem como

indemniH0)lo do pre%u6Ho #ue a%a sofrido Mart. 58-PS/. O crit&rio para saber #uais as

indispens0veis & #ue o gestor como tais as tena considerado. Crit&rio sub%ectivo e ob%ectivo.

 o caso de pluralidade de donos do negócio! estes não respondem solidariamente para

com o gestor $ art. 58,P>

 b. O dominus & sempre obrigado a remunerar o gestor! #uando a gestão corresponda a uma

actividade profissional deste. 9as! como regra! afirma)se a gratuitidade Mart. 5,+PS/.

A gestão de negócios não confere! em princ6pio! direito a #ual#uer remuneração.

'1ceptuam)se os actos praticados no e1erc6cio de uma actividade profissional do gestor!

aplicando)se! nesta ;ltima ipótese! ( fi1ação da remuneração! o disposto pelo art. //7-PS*! por 

remissão do art. 5,+PS*.

<al gestão retribu6da reconduH)se ( figura da gestão mista. Abrange a gestão do negócio

aleio e a da profissão ou empresa do gestor. A#ui se contam os advogados! m&dicos...

4- A outra situação consiste em o dono não aprovar a gestão e ela não ter sido e1ercida nos

termos do art. 587P! aG. A6! o dominus responde apenas de armonia com as regras do enri#uecimento sem

causa Mart. 58-PS*.

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5.2. Apreciação da culpa do gestor 

Divergem neste ponto os Autores #ue seguimos. er0! pois! apresentada a tese de cada um.

A:9'EDA CO<A defende #ue o gestor deve agir em conformidade com o interesse e a

vontade do dominus. 9as #uanto ( dilig=ncia re#uerida! &)le e1ig6vel a mesma a #ue estaria adstrito se a

intervenção estivesse autoriHada[ A culpa do gestor aprecia)se em abstracto! segundo o padrão do omem

m&dio Mart. 5-,PS*! ou em concreto! atendendo a como ele conduH os seus próprios negócios[

Enclina)se o Autor para #ue! em princ6pio! não caiba reclamar)se)le um Helo e uma aptidão

maiores #ue os #ue demonstra na condução dos interesses próprios. Assim! merc= o car0cter espontneo e

altru6sta da gestão de negócios. Apenas com duas restrições" a de a situação envolver o e1erc6cio da

actividade profissional do gestor! ou a deste! atrav&s da sua intervenção! afastar deliberadamente e

conscientemente! ainda #ue de boa f&! a intervenção de outra pessoa #ue se dispuna a gerir o negócio

aleio. esta ;ltima ipótese! o gestor #ue como se torna garante do resultado. Assim! parece raHo0vel

apreciar a sua culpa em abstracto.

urge tamb&m o problema do ónus da prova dos factos #ue fundamental! por um lado! os direitos

dos art. 58-P e 5,+P e! por outro! do direito do art. 588P.

De uma aplicação do art. 25*PS/ resulta" por um lado! #ue se impõe ao gestor a prova da

regularidade da gestão! se #uiser usar dos direitos dos art. 58-P e 5,+P> por outro lado! pertence ao

dominus o ónus probatório do e1erc6cio incorrecto da gestão para alicerçar o direito de indemniHação doart. 588P. 4odem! todavia! verificar)se situações #ue %ustifi#uem a aplicação analógica do art. ,LLPS/!

#uanto ( responsabilidade contratual! admitindo a presunção de culpa do gestor.

A<U' A3':A defende! por sua veH! #ue o gestor se deve orientar por a#uilo #ue faria o

dono! e não por a#uilo #ue provavelmente faria um propriet0rio diligente e perspicaH $ bom pai de

fam6lia.

Defende este Autor #ue! e1actamente pelo car0cter espontneo e altru6sta da acção do gestor!

 pela gratuitidade normal da actividade #ue ele despende! pelos riscos a #ue desnecessariamente se e1põe!

se afigura in%usto e1igir dele #ue pona na direcção de interesses aleios maior Helo! dilig=ncia e aptidão

do #ue na gestão do seu próprio património.

O crit&rio da culpa em abstracto & defens0vel no caso da responsabilidade contratual! mas %0

repugna aceitar o mesmo rigor numa actuação de car0cter espontneo! como & a gestão.

4or isso! na falta de indicação em contr0rio! deve aceitar)se neste ponto a tese da culpa em

concreto.

4erfila)se neste ponto a tese de A:9'EDA CO<A.

7. Aprovação e ratificação da gestão. 3elações entre o dono do negócio e terceiros

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8. estão de negócios representativa e não representativa

A aprovação da gestão envolve duas conse#u=ncias" significa ren;ncia ao direito de

indemniHação pelos danos devidos a culpa do gestor> e! %0 o sabemos! vale como reconecimento dos

direitos #ue a este são conferidos no art. 58-PS/.A lei não e1ige formalidades especiais para a aprovação $ aplicação das regras gerais dos art.

*/,P e */LP.

Diverso & o alcance da ratificação da gestão $ esta dirige)se aos actos %ur6dicos realiHados pelo

gestor e envolve a posição do dominus face a terceiros.

Distinguiu)se acima entre a gestão representativa e a gestão não representativa. a primeira

ipótese! vigora o regime da representação sem poderes Mart. *8-P e 5,/P. O acto resulta ineficaH em face

do gestor e do dominus! tornando)se necess0ria a sua ratificação. Considera)se negada se não for feita

dentro do praHo fi1ado pela contraparte Mart. *8-PS2. A ratificação encontra)se su%eita ( forma re#uerida

 para a procuração Mart. *8-PS*.

 a segunda ipótese! aplicam)se as disposições concernentes ao mandato sem representação Mart.

5,/P! //-+P a //-5P. Uma veH aprovada a gestão! aver0 #ue transferir os direitos e obrigações para a

esfera do dominus! mas este pode! desde logo! substituir)se ao gestor no e1erc6cio dos cr&ditos resultantes

de tal negócio Mart. //-/P.

A aprovação da gestão concerne a actos materiais ou %ur6dicos e situa)se no plano das relações do

dominus  com o gestor. A ratificação circunscreve)se a actos %ur6dicos e visa as relações entre o dono eterceiros! conferindo uma legitimidade superveniente ( actividade do gestor.

poss6vel! na pr0tica de um acto %ur6dico! a aprovação sem a ratificação! ou vice)versa[ Afigura)

se)nos #ue sim. Ruanto ( aprovação sem ratificação! parece certo #ue o dono possa e1primir a sua

concordncia ( actuação gestória! renunciando ( responsabilidade do gestor Mart. 588P e assumir as suas

obrigações para com este Mart. 58-P! mas não came ( sua esfera o negócio realiHado em seu nome.

Acrescenta)se #ue a ratificação assume car0cter formal Mart. *8-PS*. A simples aprovação! por isso! não

significa a vontade de ratificar.

Egualmente! admite)se o inverso. er0 a ipótese de o dominus pretender aceitar os efeitos do

negócio representativo realiHado pelo gestor! embora considere #ue este não agiu de acordo com o seu

interesse ou desrespeitou a sua vontade Mart. 58-P.

III – nri!ueci"ento se" causa2>

/. oção e pressupostos

-8 A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 5-L e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 5,+ e ss>

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 a base do instituto encontra)se a ideia de #ue pessoa alguma deve locupletar)se

in%ustificadamente ( custa aleia. uma fonte autónoma de obrigações! estabelecendo o art. 5,2PS/"

A#uele #ue! sem causa %ustificativa! enri#uecer ( custa de outrem & obrigado a restituir a#uilo com #ue

in%ustamente se locupletouV.

4ara #ue a%a uma pretensão de enri#uecimento mostra)se indispens0vel a verificaçãocumulativa de tr=s re#uisitos"

/. '1ist=ncia de um enri#uecimento>

*. Rue esse enri#uecimento se obtena ( custa de outrem>

2. A falta de causa %ustificativa.

ão estes re#uisitos agrupados em duas categorias! atendendo (s suas caracter6sticas " re#uisitos

 positivos e re#uisitos negativos.

/./. 3e#uisitos positivos

'1ige a lei! como ponto de partida! um enri#uecimento ( custa de outrem. Ora isto desdobra)se

em tr=s aspectos"

M/ nri!ueci"ento>

indispens0vel #ue se produHa um enri#uecimento da pessoa obrigada ( restituição. G0)detraduHir)se numa meloria da situação patrimonial! #ue se apura segundo as circunstncias. 4ode advir da

a#uisição de um direito novo! do acr&scimo do valor de um direito %0 e1istente! da diminuição do passivo

ou de se evitar uma despesa.

A vantagem mostra)se suscept6vel de ser encarada sob dois aspectos" o do enriBue(imento rea" 

Mvalor ob%ectivo e autónomo da vantagem ad#uirida e o do enriBue(imento patrimonia"   Ma diferença

 produHida na esfera económica do enri#uecido e #ue resulta da comparação entre a sua situação efectiva

Msituação real e a#uela em #ue se encontraria se a deslocação se não ouvesse verificado $ situação

ipot&tica.

O art. 5,LPS/ declara apenas a obrigação de restituir o obtidoV. ão impõe forçosamente

#ual#uer das soluções. 9as deve entender)se #ue a obrigação de restituir se pauta pelo efectivo alcance

das vantagens no património do enri#uecido $ enriBue(imento patrimonia" .

O enri#uecimento ter0 de ser avali0vel em dineiro ou poder0 ainda consistir tão)só em

vantagens não patrimoniais[

4arece afirmar)se a solução afirmativa! sempre #ue a vantagem obtida produHa conse#u=ncias

apreci0veis em dineiro $ vantagem patrimonial indirecta.

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I0 não se pode sustentar o mesmo! tratando)se de uma pura e simples vantagem moral ou ideal.

O legislador não resolve directamente a dificuldade! ainda #ue os termos do art. 5,2P predisponam para

a negativa.

 ão repugnaria ao sistema #ue se admitisse uma pretensão de enri#uecimento nas aludidas

ipóteses Mart. 2L-PS* e art. 5L8P. 9as esta solução depara)se com importantes obst0culos de praticabilidade! de certeHa e segurança %ur6dicas.

Ao enri#uecido não patrimonialmente poderia tornar)se dif6cil satisfaHer ao empobrecido a

#uantia representativa do seu enri#uecimento. <al princ6pio poderia conduHir a e1cessos! muito fre#uentes

e variados. Acresce a isto #ue faltaria motivo para não se admitir uma paralela pretensão de

enri#uecimento #uando o empobrecido tivesse apenas um empobrecimento não patrimonial>

M* (u#orte do "es"o enri!ueci"ento #or #essoa di$ersa

X vantagem patrimonial obtida por uma pessoa corresponde uma perda! tamb&m avali0vel em

dineiro! sofrida por outra pessoa Mtrabalo prestado sem contrapartida! renda #ue não se cobra....

O re#uisito em apreço não significa necessariamente #ue a diminuição suportada pelo

empobrecido tena de ser igual ( vantagem conseguida pelo enri#uecido. Pode at< não se $eri*icar

!ual!uer e*ecti$o e"#obreci"ento. a verdade! o instituto abrange situações em #ue a vantagem

ad#uirida por uma pessoa não resulta de um correspondente sacrif6cio económico sofrido por outra.

3ecordem)se! a t6tulo de e1emplo! casos de uso de coisa aleia sem pre%u6Ho algum para o propriet0rio.

ituações paradigm0ticas de casos em #ue não se verifica um #ual#uer empobrecimento são as

da #ou#ança de des#esas do enri!uecido Me1" uso de casa de praia #ue estaria vaHia e as de lucro #or

inter$enção Me1" venda ( beira da estrada.

Do facto de se verificar uma destas situações paradigm0ticas resultam conse#u=ncias para o

crit&rio da obrigação de restituir! #ue são não despiciendas! e #ue! adiante! trataremos.

Decorre #ue só numa visão restrita do instituto se torna poss6vel aludir a empobrecimento ou

sacrif6cio económico. O instituto leva como seu re#uisito essencial a necessidade de #ue a%a um suporte

do enri#uecimento por outrem! #ue se produHa um locupletamento ( custa de outrem.

M2 Correlação entre o enri!ueci"ento e o su#orte deste

O enri#uecimento e o seu suporte aleio t=m de estar relacionados. ão se e1ige uma

correspond=ncia ob%ectiva! #uer diHer! no sentido %0 mencionado de os dois elementos se apresentarem de

igual valor ou se produHirem atrav&s de algo da mesma esp&cie.

Ruanto ( determinação do ne1o"

4oderia pensar)se numa relação de causa e efeito" o empobrecimento de um constituir 

antecedente causal ou causa material do enri#uecimento do outro. 'sta an0lise não reflecte a realidade!

 pois & o mesmo facto #ue gera a vantagem económica e o sacrif6cio ou suporte correspondente.

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<ornar)se)0 necess0rio #ue se consiga a vantagem económica imediatamente ( custa do titular do

direito ( restituição[ A relação entre o enri#uecimento e o seu suporte por outrem pode ser directa ou

indirecta.

 a relação indirecta! a deslocação patrimonial faH)se atrav&s de um património interm&dio $ 0

duas deslocações sucessivas. 'n#uanto #ue na relação directa! a deslocação patrimonial produH)seimediatamente entre o património do empobrecido e o do enri#uecido.

'ntre nós! apresenta)se mais seguida a corrente #ue e1ige o car0cter directo ou imediato da

deslocação patrimonial-,.

<odavia! não resultar0 necessariamente violado este re#uisito pela simples circunstncia de o

credor do enri#uecimento não ter efectuado por si mesmo! mas por interm&dio de um terceiro! a

atribuição patrimonial. 4ode a intervenção de outra pessoa ser de mera cooperação! verificando)se uma

;nica a#uisição. A nossa lei não impõe forçosamente uma solução! pelo #ue tem a %urisprud=ncia! os

movimentos livres.

/.*. 3e#uisitos negativos

ão eles"

M/ Aus+ncia de causa leg;ti"a

necess0rio #ue não e1ista uma causa %ur6dica %ustificativa dessa deslocação patrimonial. O #ue

entender por causa[ O problema consiste em distinguir! entre as vantagens patrimoniais #ue uma pessoa pode obter na vida da relação! a#uelas #ue! não cegando a factos il6citos ou comportamentos

anti%ur6dicos! determinam uma obrigação de restituição! visto não estarem satisfatoriamente %ustificadas

 perante o Direito. O enri#uecimento carece de causa! #uando o Direito não o aprova ou consente! por#ue

não e1iste uma relação ou um facto #ue! de acordo com os princ6pios do sistema %ur6dico! %ustifi#ue a

deslocação patrimonial> sempre #ue aproveita! em suma! a pessoa diversa da#uela a #ue! segundo a lei!

deveria beneficiar.

O enri#uecimento pode tamb&m encontrar a sua causa %ustificativa num preceito legal" credor de

alimentos #ue recebeu os #ue le eram devidos Mart. *++2P e ss.! a prescrição Mart. 2++P e ss. e a

usucapião Mart. /*-,P e ss..

Concluindo! o art. 5,2PS/ permite ( %urisprud=ncia contemplar ade#uadamente muitos casos

 pr0ticos #ue o legislador não poderia prever e1pressamente.

M* Aus+ncia de outro "eio ur;dico

-, egundo 4E3' D' :E9ASA<U' A3':A! o art. 5-/P! restringindo o dever de restituição aos casos em #ue

o terceiro tena ad#uirido gratuitamente! mostra #ue! em princ6pio! a pretensão de enri#uecimento só vale contra oscasos de enri#uecimento imediato! não valendo! por conseguinte! para os casos de duas a#uisições sucessivas.

Acrescentam)se ainda as ipóteses previstas nos art. *-LPS* e 8/8PS2.

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Art. 5,5P ) não 0 lugar ( restituição por enri#uecimento! #uando a lei facultar ao empobrecido

outro meio de ser indemniHado ou restitu6do $ a pretensão de enri#uecimento sem causa constitui acção

subsidi,ria ou apresenta car,cter residual $ A:9'EDA CO<A e A<U' A3':A. AN '33A

considera em contr0rio. O empobrecido poderia optar livremente por uma acção de responsabilidade civil

ou de enri#uecimento sem causa $ claro desvio (#uilo #ue & o princ6pio firmado no Direito portugu=svigente. o problema de situações #ue preencem os re#uisitos do enri#uecimento sem causa! mas

tamb&m de outros institutos $ aceitação do #rinc;#io da subsidariedade-

 ão permite o nosso sistema #ue! em tais ipóteses! o empobrecido dispona de uma acção

alternativa. 'le apenas poder0 recorrer ( acção de enri#uecimento #uando a lei não le faculte outro meio

 para cobrir os seus pre%u6Hos--.

'ntende)se! como outros meios %ur6dicos"

) declaração de nulidade ou de anulação Mart. *-LPS/>

) gestão de negócios Mart. 58-PS/>

) acção de reivindicação ou de reparação>

) acção de cumprimento da obrigação>

) acção de resolução de contrato>

) acção de responsabilidade civil>

A falta de outro meio %ur6dico pode ser superveniente ou origin0ria.

M2 Aus+ncia de #receito legal !ue negue o direito restituição ou atribua outros e*eitos ao

enri!ueci"ento

em este re#uisito previsto na parte final do art. 5,5P.

Determina)se #ue não aver0 lugar ( restituição por enri#uecimento #uando a lei recuse esse

direito. <al suceder0 nas ipóteses de prescrição Mart. 2++P e ss.! de usucapião Mart. /*-,P e ss.! de frutos

recebidos pelo possuidor de boa f& Mart. /*,+PS/! de alimentos provisórios Mart. *++,PS* e de ob%ectos

acados e não reclamados dentro de certo praHo Mart. /2*2PS*.

Ainda vem neste artigo o impedimento do recurso ao instituto! sempre #ue a lei atribua outros

efeitos ao enri#uecimento. ão os casos em #ue o Direito regula as conse#u=ncias económicas de umaatribuição patrimonial impondo ao beneficiado uma obrigação com ob%ecto diverso da fundada no

enri#uecimento sem causa. Como e1emplos temos a alteração da base do negócio Mart. 52,P e ss.! as

 benfeitorias ;teis #ue possam ser levantadas Mart. /*2,PS/ e a especificação de m0 f& Mart. /22,P. 9as a

estatuição destas normas impede o recurso complementar ao enri#uecimento sem causa[

*. Gipóteses especiais de enri#uecimento sem causa

-- 'ntende)se #ue o enri#uecimento in%ustificado tanto pode ser aduHido por via de acção M#uando o enri#uecimento %0 se tena produHido como de e1cepção Mpara evitar #ue ele se verifi#ue.

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4rev=em)se! no 5,2PS* tr=s situações especiais de enri#uecimento numa enumeração

e1emplificativa"

Ma Re#etição do inde$ido

Emporta distinguir a#ui duas situações diferentes"

Mi Ao cumprimento de obrigação #ue ob%ectivamente & ine1istente! nem relativamente ao #ue o

efectua nem a terceiro! refere)se o art. 5,8P. Desta norma surgem tr=s re#uisitos para o e1erc6cio da

 pretensão de enri#uecimento nela admitida"

) #ue se efectue uma prestação com a finalidade de cumprir uma obrigação>

A palavra obrigação est0 a#ui usada com a amplitude do conceito do art. 2L,P ) v6nculo

 %ur6dico! autónomo! ou não autónomo! pelo #ual uma pessoa fica adstrita para com outra ao

cumprimento de uma prestação.

) #ue essa obrigação não e1ista na data da prestação>

e a obrigação e1iste! mas com um conte;do inferior ao da prestação efectuada! a

 pretensão de enri#uecimento valer0 #uanto ( diferença.

 ão pode considerar)se ine1istente uma obrigação #ue prescreveu. A ela se referee1pressamente o art. 2+5PS* #ue denega o direito ( repetição do indevido no caso de

cumprimento.

endo a prestação efectuada a pessoa diferente do credor! tem o devedor a possibilidade

da repetição! con#uanto não se%a um cumprimento liberatório! nos termos em #ue a prestação

efectuada a terceiro e1tingue a obrigação Mart. 5,8PS*.

Ainda se pode tratar de um cr&dito e1istente mas ainda não vencido por#ue su%eito a um

 praHo $ art. 5,8PS2.

) #ue essa obrigação nem mesmo se relacione com um dos deveres de ordem moral ou

social! impostos pela %ustiça! #ue originam obrigações naturais>

e1clu6da a repetição! desde #ue a%a uma obrigação natural do autor da prestação.

9as tamb&m se pode repetir uma prestação com o propósito do cumprimento de uma obrigação

natural #ue não e1iste.

 ão se pode considerar como re#uisito para a repetição do indevido o erro do  so"&ens.

erificados os tr=s pressupostos! aver0 lugar ( repetição do indevido! ainda #ue o autor do cumprimento

o tena efectuado com d;vidas sobre a e1ist=ncia da obrigação ou estando at& seguro da sua ine1ist=ncia.

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Mii 3epetição do indevido #uando se cumpre obrigação aleia. Uma veH mais! cumpre distinguir 

duas situações"

) a do cumprimento de uma obrigação de outrem na convicção de #ue & própria.Determina o art. 5,,PS/" a#uele #ue! por erro desculp0vel! cumprir uma obrigação aleia!

 %ulgando)a própria! goHa do direito de repetição! e1cepto se o credor! desconecendo o erro do

autor da prestação! se tiver privado do t6tulo ou das garantias do cr&dito! tiver dei1ado prescrever 

ou caducar o seu direito! ou não o tiver e1ercido contra o devedor ou contra o fiador en#uanto

solventesV. empre #ue não a%a direito de repetição! o autor da prestação ficar0 sub)rogado nos

direitos do credor Mart. 5,,PS*>

) situação diversa da anteriormente considerada & a da pessoa #ue sabe ser a d6vida aleia

e #ue efectua o cumprimento na convicção errónea de estar a isso obrigada para com o devedor.

 estes casos só e1iste direito de repetição do indevido contra o credor se este conecia o erro ao

receber a prestação. 'ncontrando)se o credor de boa f&! resta ao  so"&ens a possibilidade de e1igir 

do devedor e1onerado a#uilo com #ue o mesmo in%ustamente se locupletou Mart. 5,-P.

Mb nri!ueci"ento #or $irtude de u"a causa !ue dei?ou de e?istir

4ode suceder #ue! embora no momento da realiHação de uma prestação e1ista a causa %ur6dica

#ue a fundamenta! esta vena posteriormente a desaparecer. urge! pois! uma pretensão de restituição do

enri#uecimento.

o #ue ocorre com a antecipação de prestação devida por efeito de uma relação contratual

duradoura! e1tinguindo)se o contrato antes da data fi1ada para o cumprimento dessa prestação.

Assim tamb&m #uanto ( recuperação de uma coisa cu%o desaparecimento levou ( indemniHação

do seu titular.

Mc nri!ueci"ento #or *alta do resultado #re$isto

 os termos e1pressos do nP* do art. 5,2P! uma prestação efectuada em vista de um resultado

futuro #ue não se verificou pode fundar uma pretensão de enri#uecimento. ão necess0rios tr=s re#uisitos"

5) ue se #a3a rea"iado uma prestação para obter, de #armonia (om o (ontedo

do respe(ti&o neg(io 3urdi(o, um espe(ia" resu"tado %uturo . <rata)se do espec6fico resultado a

#ue se tendia com a prestação. 'sse resultado futuro especial pode ser um acto de #uem recebe a

 prestação! ou algo #ue a pessoa #ue recebe a prestação não tem de produHir ou não tem de

 produHir só por si>

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4) ue  se depreenda do (ontedo do neg(io 3urdi(o a %iação do %im da

 prestação>

.) ue o resu"tado não se produa. Consiste num problema de interpretação da

vontade das partes o de saber se a não produção do resultado previsto se pode verificar de

#ual#uer forma ou apenas de uma certa maneira. Contudo! o art. 5,7P e1clui em dois casos aacção de enri#uecimento agora analisada"

i. e o autor %0 sabia #ue o efeito previsto era imposs6vel.

omente se afasta a restituição se o autor tina a certeHa da impossibilidade do

resultado! não bastando a sua mera convicção>

ii. e o autor impediu de m0 f& a verificação do resultado.

2. Obrigação derivada do enri#uecimento sem causa. Diferentes soluções

Cumpridos e verificados os pressupostos do enri#uecimento sem causa! numa #ual#uer das suas

modalidades! 0 lugar ( obrigação de restituição. Deve proceder)se a uma restituição em esp&cie mas! não

sendo esta poss6vel! entregar)se)0 o valor correspondente Mart. 5,LPS/. A obrigação de restituir não pode

e1ceder a medida do locupletamento $ art. 5,LPS*.

implesmente! o princ6pio firmado neste artigo dei1a v0rias #uestões em aberto #uanto ao

c0lculo da obrigação. Assim! apresentam)se diversas teses"

/. 7ese tradicional M4ereira Coelo! Antunes arela! Almeida Costa>*. 7ese moderna M9eneHes :eitão! I;lio omes>

2. 7ese do tri#lo li"iteH M9eneHes Cordeiro em /L-+ $ não vamos tratar.

7ese tradicional

Apura)se o montante do enri#uecimento e o montante do empobrecimento e fi1a)se a obrigação

de restituir no valor mais bai1o dos dois. Atenção #ue a#ui se parte de enri!ueci"ento nu" sentido

#atri"onial  Me não enri#uecimento real. Ruando esta teoria fala em empobrecimento fala em sentido

 patrimonial! embora não e1pressamente Mvalor na esfera %ur6dica.

'1" A tem um automóvel de B $ se não 0 outra acção poss6vel! recorre)se acção de restituição

segundo enri#uecimento sem causa. Rual o valor e#uivalente! não sendo poss6vel a restituição em

esp&cie[ DiH esta teoria #ue temos #ue averiguar o valor do enri#uecimento M7+++` e o valor do

empobrecimento M8+++`. 3estitu6a)se 7+++`. e o enri#uecimento fosse de 8+++` e o empobrecimento

fosse de 57++` restitu6a)se 57++`.

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 ão & necess0rio! %0 se viu! #ue a%a um empobrecimento. e não ouver! pela tese do duplo

limite! então a restituição seria de Hero! o #ue seria manifestamente in%usto. estes casos em #ue o

empobrecimento & de Hero! a teoria do duplo limite levaria a #ue a restituição fosse de Hero. 'stes casos

não podem assim ser resolvidos.

G0! assim! uma correcção" nestes casos! como o enri#uecimento não causou empobrecimento!faH)se apelo ( teoria do dano realH $ valor de mercado #ue o bem tem. ubstitui)se o valor +` pelo

valor do bem no mercado real $ valor do empobrecimento real.

ituações abrangidas" M/ enri!ueci"ento na *or"a de #ou#ança de des#esasH> M*

enri!ueci"ento na *or"a de lucro #or inter$ençãoH.

'nri#uecimento na forma de #ou#ança de des#esasH.

'1" uso de casa de praia não arrendada sem causar danos alguns> uso de casa arrendada depois

do arrendamento ter cessado. olução de acordo com a teoria do dano realV" obrigação de restituir $ 

apura)se o valor de mercado do bem utiliHado #ue foi o montante de despesas #ue se poupou Msubstitui o

empobrecimento de +`. Depois ola)se para o montante mais bai1o dos dois e & esse #ue se restitui.

'nri#uecimento na forma de lucro #or inter$ençãoH.

'1" venda de frutos na beira da estrada> uso de bicicleta para se obter um pr&mio. A teoria do

dano realV & diferente a#ui" deduH)se do valor do enri#uecimento o valor de uso do bem. Fica o valor de

mercado do bem. e A usou a bicicleta de B e gana o primeiro pr&mio! a#uilo #ue vai restituir não & o

valor todo! por#ue o #ue ganou o pr&mio não foi só a bicicleta! mas tamb&m as pernas de A. DeduH)se.

3estitui)se todos os lucros #ue se ganaram! com dedução da parcela atribu6da aos meios e

esforço do enri#uecido.

7ese Moderna

4roblema com a tese tradicional" casos de enri#uecimento #ue não são solucion0veis pela teoria

tradicional! mesmo com recurso ( teoria do dano realV" casos de enri#uecimento real ( custa de outrem

sem refle1o no património do enri#uecido.

O crit&rio do enri#uecimento patrimonial não & o mais ade#uado! por#ue averia casos #ue

nunca seriam solucionados.

'1" viagem de avião #ue nunca seria feita noutras condições> oferta de cabaH de atal a #uem

não o iria comprar. o caso do cabaH! d0)se o cabaH #ue era para o viHino de cima! ao viHino de bai1o. A teoria

tradicional não resolveria.

A teoria "oderna propõe #ue se parta da noção de enri!ueci"ento real. Basta apurar o valor 

do enri#uecimento real. Ruem empobreceu perdeu +`! e o enri#uecido enri#ueceu realmente 7++`. 'ste

valor & o ;nico #ue interessa por isso & o #ue se tem de restituir.

9as ser0 %usto aver esta solução para casos em #ue o #ue enri#ueceu est0 de boa f& e nos casos

em #ue est0 de m0 f&[ e o enri#uecido estiver de boa f&! deve restituir apenas o montante do

enri!ueci"ento #atri"onial se este for mais bai1o.

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 o caso do cabaH! se o #ue consumiu o cabaH costuma comprar um por ano! mas por valor mais

 bai1o! esse valor #ue ele não gastou M/++` & o seu enri#uecimento. :ogo! desde #ue este valor se%a mais

 bai1o #ue o enri#uecimento real M7++` ) consumo do cabaH #ue recebeu por engano! & este valor #ue

deve restituir.

Esto seria um convite a este tipo de condutas. O m01imo #ue poderia acontecer era indemniHar ointeresse do empobrecido.

urgem duas teses dentro da tese moderna" M/ tese dos danos punitivos> M* gestão de negócios

imprópria $ não prevista no C.C. $ Antunes arela $ aplicar o art. 5,*PS/. e não e1istir aprovação da

gestão! aparece o enri#uecimento sem causa. e ele age ilicitamente não poder0 aver aprovação! por#ue

conscientemente gere um negócio aleio! sabendo #ue ele & aleio! mas #uerendo tirar proveito dele.

A#ui! se algu&m! #uando gere negócio aleio! entende erroneamente #ue o negócio & próprio! fica su%eito

aos deveres do art. 587P MeG. 'ntão! por maioria de raHão dever0 aplicar)se o regime ( situação de algu&m

#ue sabe #ue est0 a gerir um negócio aleio. 4roblema #ue isto levanta" ( aplicação deste regime do 587P!

nos casos do art. 5,*P! pressupõe a aprovação da gestão. ' isto pressupõe uma ren;ncia ( indemniHação.

' a#ui interessa a parte dos direitos de personalidade $ se #ueres ficar com os lucros! renuncia (

indemniHação por violação do direito de personalidade.

<eoria dos puniti&e damages" se & responsabilidade civil então como se vai buscar os lucros[ o

montante da indemniHação! entra tamb&m uma parcela com função punitiva $ imposição ao lesante de

restituir os lucros.

Agra$a"ento da obrigação do enri!uecido

egundo o art. 5-+P! desde o momento em #ue o enri#uecido coneça o car0cter in%ustificado do

seu locupletamento! o ob%ecto da restituição dei1a de se restringir (#uilo #ue com #ue enri#ueceu sem

causa! abrangendo ainda as diminuições e os não aumentos posteriores devidos a culpa sua.

A acentuação da responsabilidade do enri#uecido ocorre tamb&m na ipótese de alienação

gratuita de coisa #ue devesse restituir. O art. 5-/P distingue duas situações. M/ se a coisa for alienada

antes da verificação de algum dos referidos factos #ue determinam o agravamento da obrigação de

restituir! fica o ad#uirente obrigado em lugar do alienante! mas apenas na medida do seu próprio

locupletamento Mart. 5-/PS/> M* se a alienação gratuita ocorreu após a verificação de um da#ueles factos!

 portanto %0 no per6odo de m0 f& do alienante! este responde de acordo com o art. 5-+P> e nos mesmos

termos & respons0vel o ad#uirente! #uando! por sua veH! estiver de m0 f& $ al6neas aG  e bG do 5-+P. A

responsabilidade do alienante e do ad#uirente & solid0ria $ art. 5L,P.

5. 4rescrição

O tema prende)se com a an0lise do art. 5-*P.

' deve o preceito ser entendido da seguinte forma" logo #ue o empobrecido tena conecimento

do direito #ue le compete! #uer diHer! da ocorr=ncia dos seus factos constitutivos! e da pessoa do

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respons0vel! começa a contar)se o praHo de tr=s anos. ão dois re#uisitos cumulativos e cu%o

conecimento! em regra! & simultneo.

Contudo! desde o momento em #ue a restituição pode ser e1igida! inicia)se tamb&m a contagem!

segundo as normas gerais! do praHo ordin0rio da prescrição! #ue & de vinte anos Mart. 2L+P.

4or um lado! a prescrição ordin0ria só impera #uando o direito ( restituição não se a%a!entretanto! e1tinto pelo decurso do praHo e1cepcional da prescrição de tr=s anos> mas! por outro lado! a

 prescrição ordin0ria opera sempre! mesmo #ue o empobrecido não cegue a ter conecimento do seu

direito e da pessoa respons0vel pela restituição.

V – Res#onsabilidade Ci$il2/

/. oção. 3esponsabilidade civil e responsabilidade penalL+

A responsabilidade civil ocorre #uando uma pessoa deve reparar um dano sofrido por outra. A lei

faH surgir uma obrigação em #ue o respons0vel & devedor e o lesado credor. ! pois! uma obrigação #ue

nasce da lei e não da vontade das partes! ainda #ue o respons0vel tena #uerido causar o pre%u6Ho.

Denomina)se responsabilidade civil o con%unto de factos #ue dão origem ( obrigação de

indemniHar os danos sofridos por outrem. Consiste por isso numa fonte de obrigações assente no

 prin(pio do ressar(imento dos danos6

A responsabilidade civil distingue)se bem da mera responsabilidade moral! #ue pertence ao

dom6nio da consci=ncia e em #ue o resultado e1terno não representa pressuposto necess0rio.

Configurando)se a responsabilidade moral como uma responsabilidade não %ur6dica! a destrinça

reporta)nos (s relações entre o direito e a moral. A responsabilidade moral! no entanto! não se apresenta

 %uridicamente irrelevante" & fonte das obrigações naturais.

A responsabilidade civil tamb&m se autonomiHa da responsabilidade penal ou criminal. A

 primeira pertence ( esfera do direito civil Mdireito privado! ao passo #ue a segunda se reconduH ao direito

 penal Mdireito p;blico. 'ntre o il6cito civil e o il6cito penal 0 diferenças substanciais. 'st0 sub%acente (

responsabilidade civil a ideia de reparação patrimonial de um dano privado. O #ue verdadeiramente

importa nas sanções civis & a restituição dos interesses privados lesados. Da6 #ue se%am privadas e

dispon6veis.

I0 a responsabilidade penal aparece como uma defesa contra os autores dos factos #ue atingem a

ordem social. o il6cito penal ofende)se um dever %ur6dico estabelecido imediatamente no interesse da

colectividade. As sanções visam defender a sociedade" propõem)se fins de prevenção e fins &tico)

retributivos. As sanções criminais t=m car0cter p;blico e indispon6vel.

As duas formas de responsabilidade não se e1cluem necessariamente. ão & raro #ue um facto

re;na em si as duas #ualificações. 'm tais casos! e1istir0 responsabilidade civil cone1a com a criminal.

-L 9''N' :'E<KO! Direito das Obrigações, vol. E! ,J ed.! 'dições Almedina! *++-! pp. *-7 e ss.L+ A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 7/, e ss.

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A responsabilidade civil tamb&m não se confunde com o enri#uecimento sem causa. A primeira

dirige)se apenas a eliminar o dano ou pre%u6Ho do lesado! en#uanto o segundo intenta suprimir um

locupletamento in%usto de algu&m ( custa aleia! embora releve a situação do #ue o suporta. O

enri#uecimento pressupõe um acr&scimo do património do obrigado ( restituição. a responsabilidade

civil & sempre devida uma indemniHação ao lesado! ainda #ue o respons0vel não retire #ual#uer beneficiodo facto #ue ocasionou o dano. a responsabilidade impera a regra da indemniHação integral dos danos.

*. 'volução istórica da responsabilidade civil e seus problemas actuaisL/

2. 3esponsabilidade civil obrigacional e responsabilidade civil e1tra)obrigacionalL*

2./. Assento da mat&ria no Código Civil

A responsabilidade civil pode ser classificada em responsabilidade civil delitual Mou

e1tracontratual ou e1tra)obrigacional e responsabilidade obrigacional Mou contratual. a primeira est0

em causa a violação de deveres gen&ricos de respeito! de normas gerais destinadas ( protecção doutrem.

I0 a segunda resulta do incumprimento das obrigações em sentido t&cnico)%ur6dico. O Código tratou das

duas modalidades em separado! nos art. 5-2P e ss. e 5L-P e ss.! ainda #ue tena su%eitado a obrigação de

indemniHar delas resultante a um regime Unit0rio $ art. 78*P e ss.

As diferenças a assinalar entre as duas categorias são menores"

5- 4resume)se a culpa na responsabilidade obrigacional $ art. ,LLPS/ $ mas não na

e1tracontratual $ art. 5-,PS/>

4- A responsabilidade delitual tem praHos de prescrição mais curtos Mart. 5L-P!

en#uanto #ue a obrigacional se su%eita aos praHos ordin0rios d eprescrição das obrigações $ art.

2+LP e ss.>

.- diferente o regime da responsabilidade por actos de terceiros $ art. 7++P e

-++P>

:- 'm caso de pluralidade de respons0veis na responsabilidade delitual! o regime

aplic0vel & o da solidariedade $ art. 5L,P )! ao passo #ue na responsabilidade contratual tal sóacontecer0 se esse regime resultar %0 da obrigação incumprida.

Afirma 9''N' :'E<KO #ue a doutrina tradicional Mentre os #uais A<U' A3':A

afirma #ue a responsabilidade delitual gera deveres prim0rios de prestação e! conse#uentemente! consiste

numa fonte autónoma das obrigações! uma veH #ue atrav&s dela surge pela primeira veH uma relação

obrigacional legal $ art. 5-2P. A responsabilidade obrigacional não geraria tais deveres prim0rios! mas

L/  DEOO CARU'E3O!  undamentos do Direito Ci&i" e Direito das pessoas  e! para mais desenvolvimentos!A:9'EDA CO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 7*5 e ss.L* A<U' A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 7/- e ss>9''N' :'E<KO!  Direito das Obrigações,  vol. E! ,J ed.! 'dições Almedina! *++-! pp. *-8 e ss> A:9'EDACO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 7*5 e ss.

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apenas secund0rios! uma veH #ue teria como pressuposto uma obrigação %0 e1istente! de #ue o dever de

indemniHar se apresentaria como sucedneo! em caso de incumprimento Mart. ,L-P! ou como paralelo em

caso de mora $ art. -+5P.

O referido Autor discorda desta concepção. A obrigação de indemniHar em caso de

incumprimento ou mora não se identifica com a obrigação inicialmente violada! uma veH #ue apresentaum fundamento diverso" o princ6pio do ressarcimento do dano! desta veH resultante da violação de um

direito de cr&dito. A responsabilidade obrigacional deve assim ser considerada como uma fonte das

obrigações! e não como mera modificação da obrigação inicialmente assumida. A sua especialidade

resulta da circunstncia de a sua fonte ser a frustração il6cita de um direito de cr&dito! o #ual era

 primeiramente tutelado atrav&s da acção de cumprimento. o entanto! o dever de prestar violado não se

confunde com o dever de indemniHar originado em conse#u=ncia dessa violação! especialmente tendo em

vista os lucros cessantes ou os danos emergentes.

A diferença entre as duas modalidades! continua o Autor! & #ue! en#uanto a responsabilidade

delitual surge como conse#u=ncia da violação de direitos absolutos! #ue aparecem assim desligados #ue

#ual#uer relação inter)sub%ectiva previamente e1istente! a responsabilidade obrigacional pressupõe a

e1ist=ncia de uma relação dessa natureHa! #ue primariamente atribu6a ao lesado um direito ( prestação!

surgindo como conse#u=ncia da violação de um dever emergente dessa relação espec6fica.

3esta afirmar #ue a posição por nós adoptada & a do 4rof. 9''N' :'E<KO.

4or fim! cabe referir a problem0tica da terceira via da responsabilidade civil! a #ue mais ( frente

se aduHir0! onde podemos incluir a violação dos deveres de boa f&! impostos nas disposições gen&ricas

dos art. **,P e ,8*PS*.

2.*. Concurso das duas formas de responsabilidade

4ode acontecer #ue e1ista uma situação suscept6vel de preencer os re#uisitos de aplicação de

ambos os regimes da responsabilidade civil.

Aparecem dois sistemas" os do c;mulo e de não c;mulo. Dentro do primeiro cabem tr=s

 perspectivas" a de o lesado se socorrer! numa ;nica acção! das normas de responsabilidade contratual e

e1tra)contratual! amparando)se nas mais favor0veis> a de conceder)se)le opção entre os procedimentos

fundados apenas numa ou noutra dessas responsabilidades> e a de admitir! em acções autónomas! ao lado

da responsabilidade delitual! a contratual. 4elo contr0rio! no não c;mulo! verificação a aplicação do

regime da responsabilidade contratual! em virtude do  prin(pio de (onsunção.

A lei & omissa. G0! pois! #ue procurar a solução #ue se apresente mais ade#uada.

Afasta)se a possibilidade de uma dupla indemniHação. Gavendo um só dano! nada %ustifica a

duplicação de acções ou concorr=ncia de pretensões.

<amb&m parece inaceit0vel o sistema de acção 6brida. Afigura)se in%usto #ue o lesado beneficie

das normas #ue considere mais favor0veis da responsabilidade contratual e delitual! afastando as #ue

repute desvanta%osas.

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) facto volunt0rio do lesante>

) ilicitude>

) culpa>

) dano>) ne1o de causalidade.

7./. Facto volunt0rio do lesante. Acções e omissões

<ratando)se a#ui de responsabilidade sub%ectiva! esta nunca poderia ser estabelecida sem e1istir 

um comportamento domin0vel pela vontade! #ue possa ser imputado a um ser umano e visto como a

e1pressão da conduta de um su%eito respons0vel. ão se e1ige! por&m! #ue o comportamento do agente

se%a intencional ou se#uer #ue consista numa actuação! bastando #ue e1ista uma conduta #ue le possa ser 

imputada em virtude de estar sob o controle da sua vontade. ão são! por isso! factos volunt0rios! por 

estarem fora do controle da vontade do agente! os acontecimentos do mundo e1terior causadores de danos

Mcomo sismos! por e1emplo. 9as mesmo fenómenos respeitantes ao agente podem não constituir factos

volunt0rios sempre #ue ao agente falte a consci=ncia ou não possa e1ercer dom6nio sobre a sua vontade.

9as se esse dom6nio %0 e1istir! então %0 o agente ser0 responsabiliHado.

O facto pode revestir duas formas" a acção Mart. 5-2P e a o"issão  Mart. 5-8P. <ratando)se de

uma acção! a imputação da conduta ao agente não levantar0 problemas de maior. I0 no caso das omissões

essa imputação ao agente e1ige algo mais" a sua oneração como um dever espec6fico de praticar o acto

omitido. e e1iste um dever gen&rico de não lesar os direitos aleios! %0 não e1iste um correspondentedever gen&rico de evitar a ocorr=ncia gen&rica de danos para outrem! uma veH #ue a sua instituição

multiplicaria os casos de inger=ncia na esfera %ur6dica aleia. Da6 #ue se e1i%a um dever espec6fico! #ue

torne um particular su%eito garante da não ocorr=ncia desses danos.

'sse dever especifico de garante pode ser criado por contrato! ou ser mesmo imposto por lei Mart.

5L/P a 5L2P.

<em)se vindo a desenvolver a doutrina dos deveres de segurança no tr0fegoV ou deveres de

 prevenção do perigo delitualV. De acordo com esta doutrina! sempre #ue algu&m possui coisas ou e1erce

uma actividade #ue se apresentem como suscept6veis de causar danos a outrem! tem igualmente o dever 

de tomar as provid=ncias ade#uadas a evitar a ocorr=ncia de danos! podendo responder por omissão se o

não fiHer.

7.*. Elicitude

 em sempre a ilicitude aparece tipificada a n6vel legislativo nos diversos sistemas de

responsabilidade civil. Assim 0 uma contraposição entre os sistemas de grande cl0usula geral Msistemas

franc=s e italiano! e os sistemas de cl0usulas gerais limitadas Msistema alemão.

O legislador portugu=s aderiu a este ;ltimo sistema! estabelecendo no art. 5-2P uma cl0usulageral limitada. <emos! por isso! uma e1ig=ncia e1pressa da ilicitude do facto praticado pelo agente!

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ilicitude essa #ue pode constituir violação de direitos sub%ectivos de outrem! ou de disposições legais

destinadas a proteger interesses aleios! surgindo depois previsões espec6ficas de ilicitude Mart. 225P! 227P!

5-5P e 5-7P.

A ilicitude! em #ual#uer das suas modalidades! aparece sempre como um %u6Ho de desvalor 

atribu6do pelo ordenamento. A duvida #ue persiste & a de saber se esse %u6Ho se refere em relação aocomportamento do agente Mteoria do desvalor do facto ou se incide sobre o próprio resultado Mteoria do

desvalor do resultado.

A teoria do desvalor do resultado $ o desvalor do resultado causado pela acção preence logo o

re#uisito da ilicitude! sendo o agente responsabiliHado se o seu comportamento & culposo. 'sta solução

#ualificava como il6citos comportamentos perfeitamente conformes ao tr0fego! apenas por#ue são

causalmente ade#uados a produHir o resultado. 9as se o agente agiu conforme ao tr0fego! parece in%usto

responsabiliH0)lo.

'stas ob%ecções levaram a #ue se adoptasse a teoria do desvalor do facto $ a ilicitude pressupõe

antes uma avaliação do comportamento do agente! e & avaliada atrav&s da prossecução de um fim não

 permitido pelo Direito. ão 0! pois! #ual#uer ilicitude sempre #ue o comportamento do agente! apesar de

representar uma lesão de bens %ur6dicos! não prossiga #ual#uer fim proibido por lei.

A lesão de bens %ur6dicos só & imediatamente constitutiva de ilicitude se o agente tiver actuado

com dolo. o caso de actuações negligentes não se mostra suficiente a mera violação de bens %ur6dicos!

tendo #ue se acrescentar a violação do dever ob%ectivo de cuidado pelo lesante.

7.*./. Formas de ilicitude

 +G :"i(itude por &io"ação de direitos sub3e(ti&os

esta a primeira modalidade de ilicitude abrangida pelo artigo 5-2P. <em como caracter6stico o

facto de! ao se e1igir uma lesão de um direito sub%ectivo especifico! se limitar a indemniHação ( frustração

das utilidades proporcionadas por esse direito! não se admitindo assim nesta sede a tutela dos danos

 puramente patrimoniais. A função desta variante de ilicitude reconduH)se ( tutela das utilidades #ue le

 proporcionava o direito sub%ectivo violado.

Abrangidos estão os direitos sobre bens %ur6dicos pessoais como a vida Mart. *5P e ss. da C34.

<amb&m outros direitos absolutos! como os direitos reais! os direitos de propriedade industrial e

os direitos de autor estão a#ui tutelados.

I0 os direitos de cr&dito não serão abrangidos! %0 #ue a sua tutela se assegura nos termos da

responsabilidade contratual $ art. ,L-P e ss. $ ou do abuso de direito Mart. 225P.

A lei & ainda e1pressa #uanto ( tutela da simples posse ) art. /*-5P! o #ue permite abranger nesta

sede os direitos pessoais de goHo #ue atribuem a protecção possessória Mart. /+2,PS*! //*7PS* e //22PS*.

4arece poss6vel incluir a#ui os direitos familiares de car0cter patrimonial Mart. /8-/PS/! /L+/PS*!

/L5PS5 e /L57P. I0 não! #uanto aos direitos familiares de car0cter pessoal! por#ue 0 outras sanções.

DIOGO CASQUEIRO   103

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Gaver0 ilicitude sempre #ue se%am violados direitos de personalidade! como os enumerados nos

art. ,*P a -+P da :ei Civil Fundamental. <em)se vindo a sustentar a e1ist=ncia de um direito geral de

 personalidade! incidindo sobre os aspectos da personalidade em globo! #ue assim poderia ser tutelado

 pela responsabilidade civil. 'sta tese & defens0vel face ( consagração da tutela %ur6dica da personalidade

f6sica e moral no art. ,+P.

 PG + i"i(itude por &io"ação de normas de prote(ção

A outra variante abrangida no art. 5-2P refere)se (s disposições atinentes ( protecção de

interesses aleios $ normas de protecção $ normas #ue! embora dirigidas ( tutela de interesses

 particulares não atribuem aos titulares desses interesses um verdadeiro direito sub%ectivo! por não les

atribu6rem em e1clusivo o aproveitamento de um bem.

'sta categoria de ilicitude e1ige tr=s re#uisitos"

a) a não adopção de um comportamento! definido em termos precisos pela norma $ algu&m

dever0 ter desrespeitado determinado comando! sem o #ue não aver0 base para estabelecer o %u6Ho de

ilicitude>

b) #ue o fim dessa imposição se%a dirigido ( tutela de interesses particulares $ e1ige)se #ue o fim

da norma consista especificamente na tutela de interesses particulares e não do interesse geral>

c) a verificação de um dano no mbito do c6rculo de interesses tutelados por essa via $ o dano

tem de se verificar no c6rculo de interesses #ue a norma visa tutelar! sendo e1clu6da a indemniHação

relativamente a outros danos! ainda #ue verificados em conse#u=ncia do desrespeito da norma.

 esta variante de ilicitude ser0 admitida a indemniHação dos danos puramente patrimoniais.

CG Os tipos de"ituais espe(%i(os

'ntre os v0rios #ue o C.C. tipifica! salientam)se o abuso de direito Mart. 225P! a não ced=ncia

rec6proca em caso de colisão de direitos Mart. 227P! a ofensa do cr&dito e do bom nome Mart. 5-5P e a

 prestação de conselos! recomendações e informações.

aG O abuso de direito art6 ..4ºG

'statu6do no art. 225P! estabelece a ilicitude do e1erc6cio do direito sempre #ue o seu titular 

e1ceda mani%estamente os limites impostos pela boa f&! bons costumes ou pelo fim social e económico

desse direito. <rata)se de uma cl0usula geral atrav&s da #ual se procura estabelecer limites ao e1erc6cio de

 posições %ur6dicas formalmente permitido! mas #ue se apresenta desconforme com os fins e valores #ue o

Direito procura tutelar.

3elativamente aos bons costumes! estes podem ser entendidos como as proibições resultantes da

moral social dominante. Ruanto ( função sócio)económica! esta deve ser entendida como um respeito

 pelo fim da norma #ue procedeu ( criação de direitos sub%ectivos.

DIOGO CASQUEIRO   104

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 o mbito da responsabilidade! a previsão do abuso de direito assume duas funções" a primeira &

a de limitar as possibilidades de e1clusão da ilicitude por parte de #uem e1erce um direito sub%ectivo

 próprio> a segunda & a de estabelecer o car0cter il6cito dos comportamentos #ue se apresentem como

contr0rios aos vectores do art. 225P.

O art. 225P! assim! não se limitar0 a abranger o e1erc6cio abusivo de direitos sub%ectivos!compreendendo igualmente outras posições %ur6dicas! incluindo as permissões gen&ricas de actuação!

como a autonomia privada ou o direito de acção %udicial.

bG + não (edIn(ia em (aso de (o"isão de direitos art6 ..ºG

 o caso de os direitos em colisão serem iguais Mart. /5+8PS/ ) compropriedade a solução prevista

na lei & a de #ue cada um dos titulares se abstena de comportamentos #ue embora se situem na esfera de

compet=ncias do seu direito! impli#uem para os outros titulares igualmente a possibilidade de os e1ercer.

 o caso de os direitos serem diferentes Mart. /+2/P! bG e art. /2+-P , eG o titular do direito inferior deve

ceder perante o titular do direito superior.

e! por&m! não se verificar essa ced=ncia! naturalmente #ue estar0 preencido o re#uisito da

ilicitude para os efeitos da responsabilidade civil.

(G + o%ensa ao (r@dito ou ao bom nome art6 44ºG

0rias #uestões se suscitam #uanto a este tipo delitual especifico. A primeira concerne a saber se

a previsão do art. 5-5P abrange indistintamente a informação ou difusão de #uais#uer factos! se%am elesverdadeiros ou falsos. 4'OA IO3' pronuncia)se no sentido de #ue não aver0 responsabilidade civil

 por divulgação de factos verdadeiros! atento o facto de não preencer os re#uisitos de nenum tipo penal.

A<U' A3':A! considerou #ue a previsão abrange tamb&m a divulgação de factos verdadeiros %0

#ue esta representa igualmente uma ofensa do cr&dito ou bom nome! posição a #ue mais tarde aderiu

9''N' CO3D'E3O. A:9'EDA CO<A veio considerar #ue! embora a regra se%a a irrelevncia da

veracidade ou falsidade do facto! sempre #ue a difusão corresponda a interesses leg6timos deve)se admitir 

a e1clusão da responsabilidade $ e(eptio &eritatis. 3EB'E3O D' FA3EA entende #ue a divulgação de

factos verdadeiros apenas ser0 responsabiliHada se o agente tiver agido dolosamente! pelo #ue! a não se

considerar consagrada esta solução no art. 5-5P! não poder0 admitir)se a inclusão no seu mbito da

divulgação negligente de factos verdadeiros.

9''N' :'E<KO começa por considerar os tipos criminais nesta sede" art. /-+P! /-/P! /-,P e

/L*P! dG do C. 4enal. estas! só & admitida a e(eptio &eritatis como relevante para isentar o agente de

responsabilidade penal desde #ue a imputação se efectue para realiHar interesses leg6timos $ art. /-+PS* e

/-/PS* C.4. <ratando)se de factos relativos ( intimidade da vida privada e familiar! tal e(eptio  nem

se#uer & admitida $ art. /-+PS2 C. 4enal )! admitindo)se no entanto essa divulgação #uando ela & o meio

ade#uado para realiHar um interesse p;blico legitimo e relevante $ art. /L*PS* C. 4enal. 3esulta #ue a

afirmação ou difusão de factos falsos & sempre proibida! pelo #ue o agente #ue adopte esse

comportamento ser0 responsabiliHado por todos os danos! independentemente da modalidade de culpa.

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Ruanto aos factos verdadeiros! a sua divulgação poder0 ser admitida! mas desde #ue tal se efectue para

assegurar um interesse p;blico legitimo. I0 aver0 responsabilidade civil se nenum interesse p;blico

relevante basear essa difusão pre%udicial. Acaba afirmando #ue o art. 5-5P parece dispens0vel.

4elo #ue toca ( nossa parte! e1postas #ue estão as diversas doutrinas! acamos #ue a raHão est0

com 9''N' :'E<KO.

dG + responsabi"idade por (onse"#os, re(omendações e in%ormações art6 4ºG

A regra geral! consagrada no nP/ do 5-7P & a irrelevncia! para efeitos de responsabilidade! dos

conselos! recomendações e informaçõesL7! ainda #ue se tena actuado com neglig=ncia.

endo a prestação destas comunicações fundada na mera obse#uiosidade! e efectuada em termos

displicentes! caber0 ao seu receptor tomar a decisão de se determinar ou não por elas.

O nP*! contudo! reconece a responsabilidade do agente pelos danos sofridos em tr=s situações

espec6ficas"

/ #uando se a%a assumido a responsabilidade pelos danos. este caso! a comunicação

funciona como uma garantia contra a ocorr=ncia de danos na esfera do receptor! adoptado #ue se%a o

comportamento comunicado>

* #uando e1ista um dever %ur6dico de dar o conselo! recomendação ou informação e se

tena procedido com neglig=ncia ou dolo. Como e1emplos enunciem)se os art. **,P e ,8*PS*! e o art.

7,2P>

2 #uando o procedimento do agente constitua facto pun6vel $ art. 7/-P e 7/LP do C. Das

ociedades Comerciais.

O #ue sucede se nenuma destas tr=s situações se verificar! mas o agente tiver agido com dolo[

4'OA IO3' e A:9'EDA CO<A afirmam #ue esta conduta dolosa est0 protegida pela e1clusão de

responsabilidade do art. 5-7PS/! embora a admitam se constituir abuso de direito Mart. 225P. 9''N'

CO3D'E3O! 9''N' :'E<KO e nós próprios sustentamos #ue #ual#uer actuação dolosa envolve

necessariamente responsabilidade por parte do agente relativamente aos danos causados pela informação

falsa. De facto! a raHão de ser do art. 5-7PS/ nunca poderia ser a de permitir a emissão de comunicações

com animus de(ipiendi ou mesmo com animus no(endi.

7.*.*. Causas de e1clusão da ilicitude

A previsão do art. 5-2P! a (ontrario sensu! admite a violação de normas de protecção e de

direitos sub%ectivos! se essa violação for l6cita. 'sta situação ocorrer0 #uando a violação se encontre no

mbito de uma causa de e1clusão de ilicitude #ue! tradicionalmente! são"

L7 Conselos e recomendações são e1ortações a uma conduta! sendo a primeira directa e a segunda indirectaSimpl6cita!

 baseada na descrição de #ualidades de uma pessoa ou coisa. a informação 0 uma mera descrição ob%ectiva defactos. As tr=s situações t=m em comum o facto de o destinat0rio ser suscept6vel de se determinar pela comunicaçãorecebida.

DIOGO CASQUEIRO   106

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a) e?erc;cio de u" direito

e algu&m tem um direito e o e1erce! não deve ser responsabiliHado pelos danos #ue da6 resultem

 para outrem.'sta causa de e1clusão de responsabilidade deve! por&m! face ( funcionaliHação dos direitos

sub%ectivos! ser o%e entendida em termos mais restritivos. G0 #ue salientar as restrições do e1erc6cio do

direito sub%ectivo pelos institutos do abuso de direito Mart. 225P e da colisão de direitos Mart. 227P.

4ara al&m disso! a e1ist=ncia de um direito sub%ectivo não impede a oneração do agente com

deveres de segurança no tr0fego! os #uais se destinam a evitar a ocorr=ncia de danos.

4'OA IO3' afirma bem #ue o titular não tem #ue indemniHar os danos #ue! embora

causados pelo e1erc6cio do direito! representem a frustração de interesses #ue! precisamente ao conceder 

esse direito! a lei postergouV.

b) cu"#ri"ento de u" de$er

igorando para o su%eito o dever de adoptar uma conduta! este est0 forçado a acat0)la ainda #ue

tena de infringir outros deveres. essas situações estamos perante um conflito de deveres! cu%a solução

se adivina id=ntica ( estatu6da para os casos do 227P.

 ão basta a colisão de deveres! para a e1clusão de responsabilidade. 4ara #ue esta ocorra &

 preciso #ue o agente cegue efectivamente a cumprir um deles. e não o fiHer! incorre em incumprimento

 pelos dois. ' o incumprimento de um deles não pode igualmente derivar de culpa anterior do adstrito.Uma situação especial merece ser mencionada" dever de obedi=ncia ier0r#uica. <er0! para aver 

e1clusão de responsabilidade! de se inserir numa ierar#uia de direito p;blico! %0 #ue o contrato de

trabalo não & causa %ustificativa $ são deveres estabelecidos no mbito de actividades de gestão p;blica.

O art. *,/PS2 C34 determina! no entanto! #ue a obedi=ncia cessa #uando o cumprimento das ordens e

instruções constitua a pr0tica de um crime. Egualmente! mas por força do nP* do mesmo preceito da :ei

Fundamental! e1ige)se ao funcion0rio #ue re#uisite a emissão da ordem por escrito ou #ue previamente

emita uma reclamação ( ordem.

c) leg;ti"a de*esa

em o instituto previsto no art. 22,P. Consiste numa atitude defensiva do agente! #ue estando a

ser v6tima de uma agressão! põe termo a essa pelos seus próprios meios. 9as! para #ue constitua causa de

e1clusão! necess0rio se torne #ue este%am reunidos os seguintes pressupostos"

) eistIn(ia de uma agressão $ actuação finalisticamente destinada ( provocação de uma

lesão para outrem>

) (ontra a pessoa ou patrimnio do agente ou de ter(eiro . A legitima defesa #uanto a

terceiro constitui gestão de negócios Mart. 585P e ss.! salvo se tiver sido por ele autoriHada>

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) a(tua"idade e (ontrariedade H "ei dessa agressão  $ por actualidade entende)se em

e1ecução ou iminente. 4or contr0ria ( lei entende)se e1ig=ncia de ilicitude da agressão pelo #ue

#uais#uer lesões l6citas de direitos do agente não admitem o recurso ( leg6tima defesa>

) impossibi"idade de re(urso aos meios normais $ o agente não & obrigado a! perante uma

agressão! adoptar para si atitudes umilantes como a fuga! podendo faHer a agressão cessar peladefesa. A fuga %0 poder0 ser aceit0vel se o agressor se tratar de um inimput0vel. I0 não seria

atentatória da sua dignidade e a defesa %0 poderia ser desproporcionada>

) o pre3uo (ausado pe"o a(to não se3a mani%estamente superior ao Bue pode resu"tar da

agressão $ a defesa! embora e1cedendo a lesão #ue resultaria da agressão! tem #ue corresponder 

em termos de racionalidade a esta! não podendo ser desproporcionada. A lei prev= #ue o acto se%a

 %ustificado! mesmo com e1cesso de legitima defesa Mart. 22,PS* por raHões de medo ou

 perturbação não culposos do agente $ medo invenc6vel causado pela agressão.

d) acção directa

4revista no art. 228P como uma atitude ofensiva! os seus re#uisitos são naturalmente mais

apertados #ue os da leg6tima defesa"

) este3a em (ausa a rea"iação ou prote(ção de um direito sub3e(ti&o do prprio agente .

'stão assim e1clu6dos os direitos de terceiros e os direitos de cr&dito. Encluem)se na lei os casos

dos art. /2/5P! /2/7P! /*,,P! /+2,PS*! //*7PS*! //22PS* e //--PS*>

)  se3a imposs&e" re(orrer em tempo ti" aos meios (oer(i&os normais $ não tem esta

impossibilidade de ser absoluta! bastando #ue se%a previs6vel #ue esses meios não tutelariam o

direito>

) a a(tuação do agente se3a indispens'&e" para e&itar a inuti"iação pr'ti(a do direito>

) o agente não e(eda o ne(ess'rio para e&itar o pre3uo>

) o agente não sa(ri%iBue interesses superiores aos Bue a sua a(tuação &isa rea"iar ou

assegurar   $ pode consistir na apropriação! destruição ou danificação de uma coisa! na

eliminação da resist=ncia irregularmente oposta ao e1erc6cio do direito! ou noutro acto an0logo

Mart. 228PS*.

e) estado de necessidade 'art- ../1)

'ste instituto apenas %ustifica o sacrif6cio de bens patrimoniais MA:9'EDA CO<A considera! a

contr0rio! o sacrif6cio de bens pessoais para tutela de bens pessoais superiores! permitindo)o ao agente

#uando pretenda remover um perigo de dano manifestamente superior! a ocorrer na sua própria esfera ou

de terceiro! impondo em alguns casos a obrigação de indemniHar os danos do lesado $ art. 22LPS*.

O instituto só se aplica se for realiHado no mbito de uma esfera distinta da#uela ameaçada por 

um perigo manifestamente superior.

*) consenti"ento do lesado 'art- .:J1)

DIOGO CASQUEIRO   108

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destinando)se a responsabilidade civil ( tutela de interesses privados e! portanto! normalmente

dispon6veis! o seu titular poder0 renunciar a essa tutela. A e1ist=ncia de consentimento retira ao acto

lesivo a ilicitude. '1ige)se! no entanto! #ue os actos consentidos não se apresentem contr0rios a uma

 proibição legal ou aos bons costumes Mart. 25+PS*.O consentimento pode ser e1presso ou t0cito. o caso de lesões causadas por desportos

 perigosos & de considerar as participações como aceitações t0citas e rec6procas dos riscos de acidentes. e

o %ogo for ilegal! aplica)se a restrição do nP* e não 0 e1clusão de ilicitude.

O nP2 e#uipara ao consentimento efectivo o consentimento presumido! #ue ocorre sempre #ue a

lesão se deu no interesse do lesado e de acordo com a sua vontade presum6vel. 4arece #ue esta norma se

refere ao instituto da gestão de negócios.

7.2. Emputação do facto ao agente. A culpa

O art. 5-2PS/! ao prever #ue o agente tena actuado com dolo ou mera culpa! identifica como

re#uisito da responsabilidade sub%ectiva! a culpa.

A concepção da culpa em sentido psicológico vem sido substitu6da pela culpa em sentido

normativo! #ue nos parece mais defens0vel. 4ode ser assim definida como o %u6Ho de censura ao agente

 por ter adoptado a conduta #ue adoptou! #uando de acordo com o comando legal estaria obrigado a

adoptar conduta diversa $ a entender como omissão da dilig=ncia #ue seria e1ig6vel de acordo com o

 padrão de conduta #ue a lei impõe. 3epresenta um desvalor ao facto volunt0rio do agente #ue &

reprov0vel.

7.2./. Emputabilidade

sempre necess0rio #ue o agente conecesse ou devesse conecer o desvalor do seu

comportamento e #ue tivesse podido escoler a sua conduta. e e1istir falta de imputabilidade M#uando o

agente não tem a necess0ria capacidade para entender a valoriHação negativa do seu comportamento ou

le falta a possibilidade de o determinar livremente! o agente fica isento de responsabilidade $ art.

5--PS/. o #ue se designa de inimputabilidade. 'sta & presumida em menores de sete anos ou interditos

 por anomalia ps6#uica $ art. 5--PS*.

e a inimputabilidade for devida a facto culposo do agente! uma de duas se pode verificar" se for 

transitória! não 0 e1clusão de responsabilidade Mcaso do omem #ue se embebeda para bater na muler>

se for definitiva! continua a aver a e1clusão de responsabilidade.

A lei admite no art. 5-LPS/ a possibilidade de se responsabiliHar o inimput0vel pelos danos #ue

causar! se não for poss6vel a reparação devida pelos seus vigilantes. A norma levanta algumas #uestões"

'5) & subsidi0ria face ( norma do 5L/P. 4ara #ue se apli#ue" a não e1iste vigilncia> b e1istindo! o

vigilante não se%a respons0vel> c sendo! não tena os meios devidos para a reparação> '4)  a

responsabilidade não pode ocorrer apenas pela inimputabilidade do agente! mas por este ter praticado umfacto il6cito #ue seria culposo se o agente fosse imput0vel.

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7.2.*. Dolo e mera culpa Mneglig=ncia

O art. 5-2P admite e1pressamente duas modalidades de culpa" o dolo e a neglig=ncia. O dolo

corresponde ( intenção do agente de praticar o facto. a neglig=ncia não se verifica essa intenção! mas ocomportamento do agente não dei1a de ser censur0vel em virtude de ter omitido a dilig=ncia a #ue estava

legalmente obrigado.

A distinção não dei1a de ser relevante %0 #ue em certos casos a lei só responsabiliHa o agente se

este tiver actuado com dolo Mart. -/5PS/ e -/7PS/ e em caso de actuações negligentes & concedida ao

tribunal a possibilidade de fi1ar e#uitativamente a indemniHação em montante inferior ao dos danos

causados! o #ue não se admite face (s condutas dolosas $ art. 5L5P. e não e1istir uma conduta dolosa do

agente! só aver0 ilicitude se este violar um dever ob%ectivo de cuidado na lesão de bens %ur6dicos! o #ue

implica reconecer estar presente na neglig=ncia um re#uisito suplementar de ilicitude e não apenas uma

forma de culpa.

<emos tradicionalmente tr=s graus de dolo e dois graus de neglig=ncia. Ruanto ( neglig=ncia"

) neg"igIn(ia (ons(iente" o agente! violando o dever de dilig=ncia a #ue estava obrigado!

representa a verificação do facto como conse#u=ncia poss6vel da sua conduta! mas actua sem se

conformar com a sua verificação>

) neg"igIn(ia in(ons(iente" o agente! violando o dever de dilig=ncia a #ue estava

obrigado! não cega se#uer a representar a verificação do facto.

I0 o dolo admite as seguintes modalidades"

) do"o dire(to" o agente #uer a verificação do facto! sendo a sua conduta dirigida

directamente a produHi)lo>

) do"o ne(ess'rio" o agente não dirige a sua actuação directamente a produHir a

verificação do facto! mas aceita)o como conse#u=ncia necess0ria da sua conduta>

) do"o e&entua" " o agente representa a verificação como conse#u=ncia poss6vel da sua

conduta e actua! conformando)se com a sua verificação M& o denominado #ue se li1eV.

Critérios de apreciação e gradação de culpa

O %u6Ho de censura ao agente pode ser estabelecido por um de dois crit&rios" apreciação da culpa

em concreto ou em abstracto. o primeiro e1ige)se ao agente a dilig=ncia #ue ele põe abitualmente nos

seus próprios negócios ou de #ue & capaH. o segundo! a lei e1ige ao agente a dilig=ncia padrão dos

membros da sociedade $ dilig=ncia do omem m&dio! do bonus pater %am"ias6

O art. ,LLPS* veio estabelecer um crit&rio unit0rio para apreciar a culpa! tanto na

responsabilidade delitual como na obrigacional. O crit&rio vem formulado no art. 5-,PS* $ apreciação da

culpa em abstracto! #ue não dei1a de e1igir! contudo! uma an0lise das circunstncias do caso.

DIOGO CASQUEIRO   110

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'm muitos preceitos da lei civil! alem do estabelecimento da culpabilidade! & relevante tamb&m a

sua graduação. 'm primeira lina temos o art. 5L5P.

tamb&m considerada relevante em caso de pluralidade de respons0veis pelos danos Mart. 5L+P!

caso em #ue a obrigação de indemniHação & solid0ria Mart. 5L,PS/! repartindo)se nas relações internas de

acordo com a medida das respectivas culpas! #ue se presumem iguais Mart. 5L,PS* e 7+,PS*. 3eleva aindaem caso de concurso com a culpa do lesado! caso em #ue a ponderação das duas culpas poder0 determinar 

a concessão! redução ou e1clusão da indemniHação $ art. 7,+P.

<radicionalmente! a graduação era tripartida" culpa grave! culpa leve e culpa lev6ssima! todas no

mbito da apreciação em abstracto da culpa. A primeira & a#uela #ue apenas um omem especialmente

negligente realiHaria! #ue a maioria não procederia dessa forma $ neglig=ncia grosseira. A segunda & a #ue

se conduH ( conduta #ue o omem m&dio não praticaria. A culpa lev6ssima corresponde a condutas #ue

apenas um omem e1tremamente diligente não levaria a cabo.

O art. 5-,PS* parece e1cluir a culpa lev6ssima como modalidade de graduação de culpa! por#ue

refere a diligencia do bom pai de fam6lia. 9as entre as duas outras modalidades mant&m)se com interesse

 pratico a distinção" a lei apenas e1ige a culpa grave no caso do art. /2*2PS5.

7.2.2. 4rova e presunções de culpa

 os termos do art. 5-,PS/! incumbe ao lesado provar a culpa do lesante! salvo disposição legal

em contr0rio. Corre por conta do lesado o ónus da prova da culpa do agente na responsabilidade delitual.

endo esta prova dif6cil de realiHar M probatio diabo"i(a! esse ónus reduH em grande medida as

 pretensões a uma indemniHação! ao mesmo tempo #ue assegura a função sancionatória daresponsabilidade civil.

4or veHes! no entanto! a lei estabelece presunções de culpa. Apesar de! nos termos gerais! as

 presunções serem ilid6veis Mart. 27+PS*! nestes casos estabelece)se uma inversão do ónus da prova $ art.

27+PS/.

'1aminemos! pois! essas situações especificamente previstas no C. Civil! onde são estabelecidas

 presunções de culpa do lesante"

 Danos (ausados por in(apaes

O art. 5L/P vem regular a responsabilidade pelos danos causados por incapaHes naturais!

estabelecendo uma presunção de culpa dos obrigados ( sua vigilncia! por lei ou negócio %ur6dico. 4ode

ser ilidida mostrando #ue cumpriram o seu dever ou atrav&s da relevncia negativa da causa virtual $ 

mostrando #ue os danos teriam sido causados independentemente de cumprido o dever de vigilncia. A

responsabiliHação parte da presunção de não cumprimento do dever de vigilncia.

 ão se trata assim de uma responsabilidade ob%ectiva! admitindo)se #ue a presunção possa ser ilidida.

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A responsabilidade do vigilante pressupõe apenas a incapacidade natural do agente. 4ode assim o

vigiado ser imput0vel $ art. 5--P ) e continuar a e1istir responsabiliHação do vigilante! onde a

responsabilidade ser0 solid0ria $ art. 5L,P. e o vigiado for inimput0vel! só responde o vigilante Mart.

5L/P! só respondendo o vigiado por falta de meios do vigilante! nos termos do art. 5-LP.

 Danos deri&ados de edi%(ios ou outras obras

O 5L*PS/ estabelece a presunção de culpa #uanto a estes danos! por v6cio de construção ou

defeito de conservação! #ue recai sobre o propriet0rio ou possuidor do edif6cio. 'ssa presunção poder0 ser 

transmitida para a pessoa obrigada por lei ou negócio a conservar o edif6cio ou a obra Mart. 5L*PS*.

Admite)se o afastamento da presunção atrav&s da relevncia negativa da causa virtual.

A<U' A3':A e toda a %urisprud=ncia admitem #ue esta presunção depende da prova de

#ue e1istia um vicio de construção ou defeito de conservação! prova #ue corre por conta do lesado.

Discordamos! na esteira de 9''N' :'E<KO! desta tese! por#ue e#uivale a retirar grande

 parte do alcance ( presunção de culpa. A ru6na de um edif6cio ou obra & um facto #ue indicia! só por si! o

incumprimento de deveres relativos ( construção ou conservação de edif6cios.

O fundamento desta responsabiliHação não & ob%ectivo Mnão se funda nos perigos ob%ectivos de

um pr&dio ou nas vantagens auferidas pelo seu propriet0rio! antes sub%ectivo $ violação de deveres de

 preservação ou a efectuar na construção.

 Danos (ausados por (oisas ou animais

4revistos no art. 5L2PS/ estão os danos #ue fundamentam uma responsabilidade fundada na culpa

 presumida por parte de #uem tiver em seu poder coisas #ue deva vigiar! ou #ue deva vigiar animais. A

obrigação de vigilncia naturalmente #ue recai sobre o propriet0rio da coisa ou do semovente! podendo

ainda recair sobre detentores onerados com essa obrigação.

 Danos deri&ados do eer((io de a(ti&idades perigosas art6 4*.º/2G

'sta responsabilidade por culpa presumida est0 estabelecida a um n6vel mais ob%ectivo #ue as

demais! uma veH #ue! alem de não se poder ilidir a presunção com a relevncia negativa da causa virtual!

 parece e1igir)se ainda a demonstração de um grau de diligencia superior ( das disposições anteriores. A

letra da lei aponta para o crit&rio mais rigoroso da culpa lev6ssima.

 o entanto! a presunção do art. 5L2PS* não envolve simultaneamente a dispensa da prova do ne1o

de causalidade.

 +(identes de &iação (om (ondutor por (onta de outrem $ art6 0.º, nº .

7.2.5. 4luralidade de respons0veis

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7.5. Dano

7.5./. oção e esp&cies de dano

'm termos natural6sticos! entende)se por dano a supressão de uma vantagem de #ue o su%eito

 beneficiava. 'ssa noção não ser0! por&m! suficiente! por#ue as vantagens não %uridicamente tuteladas não

são indemniH0veis. O conceito de dano ser0! assim! f0ctico e normativo! entendido como a %rustração de

uma uti"idade Bue era ob3e(to de tute"a 3urdi(a.

A) Dano e" sentido real e dano e" sentido #atri"onial

'm sentido real! o dano corresponde ( avaliação em abstracto das utilidades #ue eram ob%ecto detutela %ur6dica! o #ue implica a sua indemniHação atrav&s da reparação do ob%ecto lesado Mrestauração

natural ou da entrega de outro e#uivalente MindemniHação espec6fica. 'm sentido patrimonial! dano

corresponde ( avaliação concreta dos efeitos da lesão no património do lesado! consistindo assim a

indemniHação na compensação da diminuição verificada nesse património! em virtude da lesão.

O art. 78*P estabelece como princ6pio geral a primaHia ( reconstituição natural do dano ou ( sua

indemniHação em esp&cie! no mbito da obrigação de indemniHação. O crit&rio predominante & o da

determinação do dano em sentido real. Deve proporcionar)se ao lesado as mesmas utilidades #ue ele

 possu6a antes da lesão! atrav&s da reconstituição do bem afectado ou da entrega de um bem id=ntico.

9as o art. 788PS/ estatui #ue #uando %0 não se%a poss6vel reparar o bem ou entregar outro

e#uivalente! ou #uando essa forma de indemniHação não se%a suficiente para reparar todos os danos

sofridos pelo lesado! ou ainda #uando se torna absolutamente desproporcionado em face dos sacrif6cios

#ue importa e1igir do lesante a reconstituição natural do dano! a lei vem estabelecer #ue a indemniHação

se%a fi1ada em dineiro. este caso! de acordo com a norma do art. 788PS*! parte)se de um conceito de

dano em sentido patrimonial! determinado pela diferença entre a situação patrimonial real do lesado e a

#ue seria a sua situação patrimonial ipot&tica! se não e1istissem danos. 'st0 em causa a comparação

entre duas situações patrimoniais presentes! uma real e outra ipot&tica.

%) Danos e"ergentes e lucros cessantes

O dano emergente $ situação em #ue algu&m! em conse#u=ncia da lesão! v= frustrada uma

utilidade #ue %0 tina ad#uirido.

O lucro cessante corresponde $ situação em #ue & frustrada uma utilidade #ue o lesado iria

ad#uirir! não fosse a lesão.

O art. 785PS/ determina #ue ambos os danos são indemniH0veis. 'm certos casos! contudo! a lei

determina #ue só a%a indemniHação de danos emergentes $ art. -LLP e L+LP.

C) Danos #resentes e danos *uturos

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Os danos consideram)se presentes se %0 se encontram verificados no momento da fi1ação da

indemniHação! sendo futuros no caso contr0rio.

3esulta do 785PS* #ue o facto de o dano ainda não se ter verificado não & fundamento para

e1cluir a indemniHação! bastando)se o tribunal com a previsibilidade da verificação do dano para a fi1ar.A fi1ação da indemniHação na#uele momento depende! contudo! da determinabilidade do dano futuro.

D) Danos #atri"oniais e danos não #atri"oniais

Danos patrimoniais são a#ueles #ue corresponde ( frustração de utilidades suscept6veis de

avaliação pecuni0ria.

Danos não patrimoniais ou morais são a#ueles #ue correspondem ( frustração de utilidades não

suscept6veis de avaliação pecuni0ria.

A distinção tem por isso #ue ver com o tipo de utilidades #ue esse bem proporcionava e #ue se

vieram a frustrar com a lesão.

7.5.*. 3essarcibilidade dos danos não patrimoniais

Durante imenso tempo foi ob%ecto de controv&rsia atribuir indemniHação por danos não

 patrimoniais. A atribuição de uma indemniHação pecuni0ria #uando o dano não reveste essa natureHa

acabaria por conduHir a um enri#uecimento da v6tima. <amb&m! a indemniHação dos danos morais

e#uivaleria a uma forma de comercialiHação do sentimento! #ue se teria de considerar imoral. Ainda!afirmava)se #ue o #uantitativo #ue se viesse a fi1ar para a reparação seria totalmente arbitr0rio.

A estes argumentos tem)se respondido #ue a indemniHação pelo menos permite atribuir ao lesado

determinadas utilidades #ue le permitirão alguma compensação pela lesão sofrida! sendo isso melor do

#ue coisa nenuma. ão representa #ual#uer imoralidade! representando antes uma sanção ao ofensor por 

ter privado o lesado das utilidades #ue a#ueles bens le proporcionavam.

A situação est0 actualmente resolvida. O art. 5L8PS/ consagra a admissibilidade gen&rica do

ressarcimento dos danos morais. <rata)se de disposição aplic0vel a toda a responsabilidade civil!

incluindo a responsabilidade obrigacional! de acordo do 9''N' :'E<KO. 'm sentido contr0rio se

 pronunciam A:9'EDA CO<A e A<U' A3':A.

3esulta dos art. 5L8PS2! /J parte e 5L5P #ue a indemniHação & fi1ada tendo em vista a e1tensão

dos danos causados! o grau de culpabilidade do agente! a situação económica deste e do lesado e demais

circunstncias do caso. 3esulta #ue a indemniHação por danos morais não reveste natureHa

e1clusivamente ressarcitória! mas tamb&m cariH punitivo! assumindo)se como uma pena privada.

7.7. e1o de causalidade entre o facto e o dano

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O art. 5-2P limita a indemniHação aos danos resultantes da violação! o #ue implica e1igir #ue

esse comportamento se%a causa dos danos sofridos! ou se%a! #ue a%a um ne1o de causalidade entre o facto

e o dano.

O problema #ue se coloca! no entanto! concerne aos limites em #ue se pode admitir esse ne1o.

Gaver0! pois! #ue definir um crit&rio para o estabelecimento do ne1o de causalidade! #ue permita #ue elese%a entendido em termos %ur6dicos.

7.7./. <eorias)crit&rio para o estabelecimento do ne1o de causalidade

aG teoria da eBui&a"In(ia das (ondições

Egualmente denominada teoria da (onditio sine Bua non! considera causa de um evento toda e

#ual#uer condição #ue tena ocorrido para a sua produção! em termos tais #ue a sua não ocorr=ncia

implicaria #ue o evento dei1asse de se verificar.

Aplicada ao Direito! esta teoria produH resultados absurdos. Ao se afirmar a relevncia de todas

as condições para o processo causal! %0 #ue por si nenuma teria força suficiente para afastar a outra! o

resultado & abdicar)se de efectuar uma selecção de condições relevantes %uridicamente. A teoria da

(onditio sine Bua non  não fornece uma e1acta definição de causalidade! mas antes uma regra geral

descritiva.

bG teoria da "tima (ondição

'sta teoria só considera como causa do evento a ;ltima condição #ue se verificou antes de este

ocorrer e #ue! portanto! o precede directamente. Apenas admite a indemniHação de um dano #uando ele

se%a conse#u=ncia directa e imediata da ine1ecução.

A teoria não! por&m! aceit0vel! %0 #ue a acção não tem #ue produHir directamente o dano!

 podendo produHi)lo apenas indirectamente e nem se#uer 0 obst0culos a #ue decorra um lapso de tempo

consider0vel entre o facto il6cito e o dano $ art! 785PS*. eria in%usto colocar toda a relevncia do processo

causal na ;ltima condição! #ue muitas veHes & provocada por uma condição antecedente.

(G teoria da (ondição e%i(iente

4retende esta teoria #ue! para descobrir a causa do dano! ter0 #ue se efectuar uma avaliação

#uantitativa da efici=ncia das diversas condições do processo causal! para averiguar #ual a #ue se

apresenta mais relevante em termos causais. 9as escoler a condição mais eficiente em termos causais

apenas & poss6vel remetendo para o ponto de vista do %ulgador! o #ue acaba por redundar num

sub%ectivismo integral.

dG teoria da (ausa"idade adeBuada

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'sta & a posição #ue & defendida maioritariamente na doutrina. este sentido! A<U'

A3':A e A:9'EDA CO<A. 4ara #ue e1ista ne1o de causalidade entre o facto e o dano não basta #ue

o facto tena sido em concreto causa do dano! em termos de (onditio sine Bua non. necess0rio #ue! em

abstracto! se%a tamb&m ade#uado a produHi)lo! segundo o curso normal das coisas.

A averiguação da ade#uação abstracta do facto a produHir o dano só pode ser feita a posteriori!atrav&s da avaliação se seria poss6vel #ue a pr0tica da#uele facto originasse a#uele dano M prognose

 pstuma. Aceita a tese #ue essa avaliação tome por base não apenas as circunstncias normais #ue

levariam um observador e1terno a efectuar um %u6Ho de previsibilidade! mas tamb&m circunstncias

anormais! desde #ue recognosc6veis ou conecidas pelo agente.

A teoria remete no fundo para #uestões de imputação sub%ectiva! podendo! nessa medida!

assumir)se como uma fórmula vaHia.

'sta a teoria #ue se armoniHa com a lei $ art. 782P. A norma parte da teoria da e#uival=ncia das

condições. 9as a introdução do adv&rbio provavelmenteV faH supor #ue não est0 em causa apenas a

imprescindibilidade da condição para o desencadear o processo causal! e1igindo)se ainda #ue essa

condição! de acordo com um %u6Ho de probabilidade! se%a idónea a produHir um dano! o #ue corresponde (

consagração da teoria da teoria da causalidade ade#uada.

eG teoria do %im da norma &io"ada

'sta a teoria defendida por 9''N' :'E<KO e 9''N' CO3D'E3O. Defendem os

 perfiladores desta tese #ue para o estabelecimento do ne1o & apenas necess0rio apurar se os danos #ue

resultaram do facto correspondem ( frustração das utilidades #ue a norma visa conferir ao su%eito atrav&s

do direito sub%ectivo ou da norma de protecção. A #uestão acaba por se reconduHir a um problema de

interpretação de conte;do e fim especifico da norma #ue serviu de base ( imputação dos danos.

4ela nossa parte! não podemos dei1ar de discordar desta orientação. De facto! a solução

apresentada peca! com o devido respeito ressalvado! por não responder ( #uestão. O problema & o de

saber como se estabelece o limite! e portanto! #ual a e1tensão do ne1o #ue une o facto ao dano. A teoria

em apreço parte de um pressuposto #ue cremos errado! por ser o fim #ue #uer atingir" o de #ue os danos

resultaram do facto! #uando isso & e1actamente o #ue se pretende apurar" #uais os danos #ue são

resultantes! em termos %uridicamente relevantes! do facto praticado pelo agente[

7.7.*. 4roblema da causa virtual ou ipot&tica

A causa virtual verifica)se sempre #ue o dano resultante da causa real se tivesse igualmente

verificado! na aus=ncia desta! por via de outra causa! denominada causa virtual.

'm abstracto tr=s são as soluções poss6veis" '5) relevncia positiva da causa virtual $ o autor da

causa virtual seria responsabiliHado pelo dano! nos mesmos termos #ue o autor da causa real> '4)

relevncia negativa da causa virtual $ o autor da causa virtual não seria responsabiliHado! mas a e1ist=ncia

dessa causa virtual serviria para afastar a responsabilidade do autor da causa real> '.)  irrelevncia da

causa virtual $ a responsabilidade do autor do dano não seria minimamente afectada pela e1ist=ncia de

uma causa virtual.

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A primeira solução prescindiria do ne1o de causalidade entre facto e dano. O autor da causa

virtual seria assim responsabiliHado por danos #ue não resultaram do seu comportamento! o #ue contra o

art. 5-2P.

9ais discut6vel se apresenta a segunda solução Mrelevncia negativa da causa virtual. 'sta &

e1pressamente admitida na lei para algumas situações $ art. 5L/P! 5L*P e 5L2PS/! 8/8PS* e -+,PS* $ onde seadmite #ue a responsabiliHação do agente possa não ocorrer se ele demonstrar a relevncia negativa da

causa virtual. A duvida #ue se coloca & se estas situações são e1cepcionais ou se são o afloramento de um

 princ6pio de car0cter geral[

4'3'E3A CO':GO afirmou)se pela e1cepcionalidade da#ueles preceitos. 3aHões" as

disposições instituem uma responsabilidade agravada em resultado de uma presunção de culpa ou de uma

imputação pelo risco! funcionando a relevncia negativa como uma compensação pelo agravamento da

responsabilidade. 9ais" desempenando a responsabilidade civil não apenas funções reparatórias! mas

tamb&m preventivas e punitivas! não se %ustificaria estabelecer genericamente a relevncia negativa da

causa virtual.

4'OA IO3' pronunciou)se a favor da aplicação gen&rica desta solução considerando #ue a

função principal da responsabilidade civil & a reparadora! pelo #ue não deve a prossecução de fins

acessórios impedir a consagração da relevncia negativa da causa virtual.

4'OA IO3' est0 soHino na sua posição. o sentido de 4'3'E3A CO':GO

 pronunciaram)se tamb&m A:9'EDA CO<A! A<U' A3':A! 9''N' :'E<KO e 3EB'E3O

D' FA3EA.

7.8. 4rescrição

8. 3esponsabilidade pelo riscoL8

8./. Formulação do problema

O risco consiste num outro t6tulo de imputação de danos! #ue se baseia na delimitação de uma

certa esfera de riscos pela #ual deve responder outrem #ue não o lesado. De acordo com a concepção do

risco criado! cada pessoa #ue cria uma situação de perigo! deve responder pelos riscos #ue resultem dessasituação. De acordo com a concepção do risco)proveito! a pessoa deve responder pelos danos resultantes

das actividades de #ue tira proveito. a concepção do risco de autoridade! deve responder pelos danos

resultantes das actividades #ue tem sob o seu controle.

O nosso Direito veio adoptar uma concepção restritiva da responsabilidade pelo risco!

consagrando ta1ativamente a sua admissibilidade nos casos previstos na lei $ art. 5-2PS*. Assim! tirando

as situações reguladas em diplomas especiais! temos a actuação de pessoas em proveito aleio $ art. 7++P

L8 9''N' :'E<KO! Direito das Obrigações, vol. E! ,J ed.! 'dições Almedina! *++-! pp. 288 e ss> A<U'A3':A! Das Obrigações em ?era" ! vol. E! /+J ed.! ver. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 8*L e ss> A:9'EDACO<A , Direito das Obrigações! //J ed.! rev. e act.! 'dições Almedina! *++-! pp. 8// e ss.

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e 7+/P! a utilidade de coisas perigosas! como animais Mart. 7+*P! ve6culos Mart. 7+2P e ss. e instalações de

energia el&ctrica e g0s Mart. 7+LP e ss..

8.*. Casos de responsabilidade pelo risco

8.*./. A responsabilidade do comitente

A responsabilidade do comitente & uma responsabilidade ob%ectiva pelo #ue não depende de

culpa sua na escola do comiss0rio! na sua vigilncia ou nas instruções #ue le deu. 'ssa

responsabilidade ob%ectiva apenas funciona na relação com o lesado Mrelação e1terna! %0 #ue

 posteriormente o comitente ter0 na relação com o comiss0rio Mrelação interna o direito de regresso #uanto

a tudo o #ue tena pago! salvo se ele próprio tiver culpa! onde se aplicar0 o regime da pluralidade de

respons0veis $ art. 7++PS2. 'sta responsabilidade tem por função espec6fica a garantia do pagamento da

indemniHação ao lesado! pelo #ue a lei atribui a este uma pretensão directa contra o comitente! #ue pode

e1ercer isolada ou cumulativamente com a pretensão de indemniHação #ue ad#uiriu contra o comiss0rio.

<emos assim um regime de responsabilidade ob%ectiva #ue assenta nos seguintes pressupostos"

• ?ist+ncia de u"a relação de co"issão

A e1pressão comissão tem a#ui o sentido amplo de tarefa ou função realiHada no interesse e por 

conta de outrem! podendo abranger tanto uma actividade duradoura como actos de car0cter isolado e tanto

actos materiais como actos %ur6dicos. A nossa doutrina tem vindo a estabelecer a e1ig=ncia de algumas

caracter6sticas espec6ficas na relação de comissão! como a liberdade de escola do comiss0rio pelo

comitente e a e1ist=ncia de um ne1o de subordinação do comiss0rio ao comitente. 'm relação ao ne1o de

subordinação! e1igem)no A<U' A3':A! A:9'EDA CO<A! 3EB'E3O D' FA3EA e 9A3EA DA

3AA <3EO. 9''N' CO3D'E3O dispensa)o. Ruanto ( liberdade de escola do comiss0rio! em

sentido d;bio! A<U' A3':A! sendo o re#uisito negado e1pressamente por 3EB'E3O D' FA3EA e

 por 9A3EA DA 3AA <3EO.

9''N' :'E<KO dispensa #ual#uer um dos re#uisitos. Ruanto ( liberdade de escola afirma

#ue apenas se poderia %ustificar se a lei tivesse estabelecido a responsabilidade do comitente por (u"pa in

e"igendo. O mesmo #uanto ao ne1o de subordinação #ue só faria sentido se nos base0ssemos na

responsabilidade de autoridade. Face ao art. 7++PS*! #ue apenas e1ige o e1erc6cio da função! ainda #ue em

sentido contr0rio (s ordens! não & essa a orientação do nosso Direito.

9as %0 ser0 necess0rio #ue a função praticada pelo comiss0rio possa ser imputada ao comitente!

 por os actos serem praticados no seu interesse e1clusivo e por sua conta $ contrato de trabalo Mart. //7*P

e mandato Mart. //7,P.

I0 não aver0 comissão nas situações em #ue! encomendado um serviço a outro! este

corresponda ao e1erc6cio de uma função autonomamente e1ercida pelo devedor $ depósito Mart. //-7P e

empreitada Mart. /*+,P.

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• 4r0tica de factos danosos pelo comiss0rio no e1erc6cio da função

A raHão deste re#uisito & clara" se a imputação ao comitente se %ustifica por ele ter confiado ao

comiss0rio uma função #ue le cabia desempenar! não deve a sua responsabilidade e1travasar da função

#ue le foi efectivamente confiada! funcionando esta assim como delimitação da Hona de riscos a cargodo comitente.

A doutrina considera #ue a e1pressão no e1erc6cio da funçãoV e1clui os danos causados por 

ocasião da função! com um fim ou interesse #ue le se%a estrano! e1igindo)se assim um ne1o

instrumental entre a função e os danos MA<U' A3':A e A:9'EDA CO<A. 9''N'

:'E<KO considera! contudo! #ue esta interpretação restritiva do re#uisito retiraria grande parte do

alcance ( responsabilidade do comitente! e não tem suporte legal! %0 #ue a lei! não e1igindo #ue os danos

se%am causados por causa desse e1erc6cio. Encluem)se na responsabiliHação os danos intencionais e os

danos causados em desrespeito das instruções.

 ota)se #ue! desde #ue no e1erc6cio das funções! a responsabilidade do comitente abrange

tamb&m os actos intencionais do comiss0rio! ou praticados em desrespeito das instruções.

• 3esponsabilidade do comiss0rio

A doutrina diverge sobre se para a responsabilidade ob%ectiva do comitente se e1ige culpa do

comiss0rio ou se basta #ual#uer imputação ao comitente! mesmo #ue a t6tulo de responsabilidade pelo

risco ou por factos l6citos. o primeiro sentido! #ue a#ui se perfila! pronunciaram)se A<U'

A3':A! 3UE D' A:A3CKO e 9''N' :'E<KO. 4ronunciaram)se no segundo sentido A:9'EDACO<A! 9''N' CO3D'E3O e OFEA A:KO.

O art. 7++PS/ refere #ue! para #ue o comitente se%a responsabiliHado! & necess0rio #ue sobre o

comiss0rio recaia tamb&m a obrigação de indemniHar! parecendo #ue! alem do ne1o de causalidade! se

e1ige apenas #ue o comiss0rio responda pelos danos a #ual#uer t6tulo. 9as o nP2! ao estabelecer o direito

de regresso! parece pressupor a culpa do comiss0rio.

O #ue se defende Mo primeiro sentido tem como fundamento #ue o art. 7++PS/ se basta com uma

culpa presumida. Ainda! #ue a responsabiliHação do comitente tem a função de garantia do pagamento ao

lesado! cabendo)le depois um direito de regresso integral contra o comiss0rio $ art. 7++PS2.

8.*.*. 3esponsabilidade do 'stado e outras entidades p;blicas ?remissão@

em ela referida no art. 7+/P. O conte;do desta norma & essencialmente remissivo! destinando)se

a faHer aplicar o regime do art. 7++P #uando o comitente se%a o 'stado ou outra pessoa colectiva p;blica.

 ote)se #ue esta remissão se limita aos actos de gestão privada.

8.*.2. Danos causados por animais

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O art. 7+*P vem estabelec=)la.

O primeiro re#uisito para #ue ela opere & a utiliHação dos animais no próprio interesse! o #ue

abrange o seu propriet0rio! mas tamb&m todos os titulares da faculdade de utiliHação própria do animal.

O segundo re#uisito & #ue os danos resultem do perigo especial #ue envolve a utiliHação doanimal! restringindo)se assim a responsabilidade a uma Hona de riscos normalmente cone1os com a sua

utiliHação. Desta Hona de risco não são e1clu6dos os casos de força maior nem os factos de terceiro! ainda

#ue nesta ;ltima possa concorrer tamb&m a responsabilidade deste. Ocorrendo culpa do lesado aplica)se o

7,+P! cabendo ao tribunal decidir se mant&m! reduH ou e1clui a indemniHação. 'starão e1clu6dos os danos

#ue! embora causados pelo animal! são e1teriores ao perigo da sua utiliHação.

8.*.5. Danos causados por acidentes de ve6culos

A) Pressu#ostos da res#onsabilidade #elo risco '#essoas res#ons,$eis e danos inde"ni8,$eis)

O art. 7+2PS/ estabelece uma responsabilidade ob%ectiva do utiliHador de ve6culos! limitada aos

riscos próprios do veiculo! responsabilidade essa #ue! em relação a ve6culos a motor! rebo#ues ou semi)

rebo#ues! a lei obriga #ue se%a previamente garantida por um seguro de responsabilidade civil automóvel.

Antes de tudo! a responsabilidade pelo risco recai sobre #uem tiver a direcção efectiva do

veiculo de circulação terrestre e o utiliHar no seu próprio interesse! ainda #ue por interm&dio de

comiss0rio. A e1pressão direcção efectiva do veiculoV não corresponde a estar a conduHi)lo! antes a

#uem e1erce o controle sobre ele. <=)la)ão os seus detentores leg6timos Mpropriet0rio... e os detentoresileg6timos Mladrão. empre #ue falte esse poder de facto! e1cluir)se)0 a direcção efectiva! como no caso

de o propriet0rio a #uem o veiculo foi furtado. A lei parece e1igir a imputabilidade do agente Mart. 7+2PS*

 por considerar #ue os inimput0veis não podem e1ercer esse poder de facto $ respondem nos termos do

5-LP.

A e1pressão o utiliHar no interesse próprio! ainda #ue por interm&dio de comiss0rioV destina)se

a e1cluir da responsabilidade ob%ectiva a#ueles #ue conduHem o veiculo por conta de outrem

Mcomiss0rios! esclarecendo nesses casos #ue a responsabilidade ob%ectiva recai sobre o comitente.

Ruanto aos ve6culos abrangidos! são todos os de circulação terrestre $ art. 7+-PS2.

Os danos abrangidos são os #ue a lei refere" danos provenientes dos riscos próprios do veiculo!

ainda #ue este não se encontre em circulaçãoV $ danos da circulação do veiculo! em via p;blica e privada!

e danos causados pelo veiculo #uando imobiliHado.

%) Causas de e?clusão de res#onsabilidade

3esultam do art. 7+7P! alem da manutenção da aplicação do regime da culpa do lesado Mart.

7,+P! os seguintes corol0rios"

DIOGO CASQUEIRO   120

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/. A responsabilidade pelo risco & e1clu6da sempre #ue o acidente se%a imput0vel ao

lesado. necess0rio #ue a conduta do lesado tena sido a ;nica causa do dano Mneste sentido! alem do

Autor #ue se segue! A<U' A3':A e A:9'EDA CO<A. Os comportamentos autom0ticos!

ditados por medo invenc6vel ou reacções instintivas! os actos de inimput0veis e os eventos fortuitos

tamb&m e1cluem a responsabilidade pelo risco>*. O #ue sucede avendo concorr=ncia de causalidade em relação ao dano entre o facto

do lesado e a condução do veiculo[ e o lesado tiver actuado sem culpa! a responsabilidade por risco ou

com culpa do condutor não & e1clu6da. e o lesado tiver culpa concorrente aplica)se o regime do art. 7,+P.

'! então! na ipótese de! não se demonstrando a culpa do condutor! a culpa do lesado concorrer com o

risco próprio do veiculo[ esse caso ser0 e1clu6da a responsabilidade do condutor $ art! 7+7P e 7,+PS* Mse

e1clui a responsabilidade em culpa presumida! por maioria de raHão o far0 na responsabilidade pelo

risco. este sentido! A<U' A3':A e 9''N' CO3D'E3O. 'm sentido diverso! AN

'33A>

2. A responsabilidade ser0 e1clu6da sempre #ue o acidente se%a imput0vel! nos mesmos

termos! a terceiro. <amb&m neste caso bastar0 #ue um facto a ele respeitante se%a considerado a ;nica

causa do dano! podendo o terceiro responder a t6tulo de culpa pessoal ou a outro. Caso a%a culpa

concorrente entre o condutor e terceiro! ambos respondem solidariamente $ art. 5L,P e ss>

5. er0 ainda e1clu6da sempre #ue o acidente resulte de causa de força maior estrana

ao funcionamento do veiculo. 'ntende)se a#ui o acontecimento imprevis6vel! cu%as conse#u=ncias não

 podem ser evitadas! e1igindo)se! contudo! #ue esse acontecimento se%a e1terior ao funcionamento do

veiculo MA<U' A3':A.

C) %ene*ici,rios da res#onsabilidade

A lei vem esclarecer #ue esta tanto aproveita a terceiros como (s pessoas transportadas $ art.

7+5PS/! abrangendo assim os #ue estavam dentro e fora do veiculo. o caso de transporte por virtude de

contrato! no entanto! a responsabilidade só abrange os danos #ue atin%am a própria pessoa e as coisas por 

ela transportadas $ art. 7+5PS* )! e1cluindo os danos em coisas não transportadas com a pessoa e os danos

refle1os sofridos pelas pessoas referidas nos art. 5L7PS* e 2 e 5L8PS*. o caso de transporte gratuito! a

responsabilidade apenas abrange os danos pessoais da pessoa transportada $ art. 7+5PS2! e1cluindo ainda

neste caso os danos nas coisas transportadas com a pessoa. O 7+5PS5 afirma nulas as cl0usulas #ue

e1cluem ou limitam a responsabilidade do transportador pelos acidentes #ue atin%am a pessoa

transportada! o #ue parece permitir #ue no contrato as partes e1cluam ou limitem a responsabilidade do

transportador pelos danos #ue atin%am as coisas transportadas.

D) &i"ites da res#onsabilidade #elo risco

A responsabilidade pelo risco encontra)se su%eita aos limites m01imos de indemniHação!

dispostos pelo art. 7+-P! no seus nPs /! * e 2. O capital m6nimo do seguro &! em regra! /*+++++` por 

acidente para os danos corporais! e de 8+++++` por acidente para os danos materiais! montantes elevados

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desde *++L para *7+++++` e ,7++++`! respectivamente! e para 7++++++` e /++++++`! respectivamente! a

 partir de *+/*! pelo #ue esses são os limites m01imos da responsabilidade pelo risco.

) A Ei#ótese de ocorr+ncia de res#onsabilidade #or cul#a

A previsão da responsabilidade pelo risco nos acidentes causados por ve6culos não dispensa a

necessidade de se averiguar se e1iste ou não culpa do condutor do veiculo. esse caso! a responsabilidade

apura)se de acordo com a regra geral do 5-2P! pelo #ue não est0 su%eita um limite m01imo! abrangendo

antes todos os danos $ art. 78*P e ss. <em #ue ser provada pelo lesado Mart. 5-,PS/! a menos #ue a

condução de ve6culos se%a considerada uma actividade perigosa $ art. 5L2PS*! onde aver0 uma presunção

de culpa do condutor.

'm Assento do upremo /S-+ de */S\ES/L,L foi fi1ada a doutrina de #ue o disposto no art.

5L2PS* não tem aplicação em mat&ria de acidentes de circulação terrestre! o #ue implica #ue na condução

de ve6culos o lesado só beneficie em geral da responsabilidade pelo risco. 4arece! no entanto! #ue se

 poder0 faHer uma interpretação restritiva desta doutrina em ordem a considerar como actividade perigosa

certos tipos de condução! como as provas desportivas de condução! o transporte de materiais e1plosivos

ou inflam0veis e a condução sob a influ=ncia do 0lcool.

'ncontra)se! contudo! consagrado na lei um caso de responsabilidade por culpa presumida no

dom6nio da condução de ve6culos $ condução de ve6culos por conta de outrem Mart. 7+2PS2. 3esulta desta

norma! em primeiro! #ue o comiss0rio só & respons0vel pelo risco! nos termos do art. 7+2PS/! se conduHir 

o veiculo fora das suas funções de comiss0rio. 'm todos os demais casos! a responsabilidade pelo risco &

atribu6da ao comitente! #ue tem a direcção efectiva do veiculo e o utiliHa em seu próprio interesse.

O art. 7+2PS2! no entanto! estabelece uma presunção de culpa do comiss0rio pelos danos

causados! o #ue permite ao comitente! caso o comiss0rio não vir a elidir a presunção! e1ercer contra ele

direito de regresso pela indemniHação #ue tiver pago ao lesado por responsabilidade pelo risco. Discutiu)

se o próprio lesado poderia! com base nessa presunção! demandar directamente o comiss0rio! o #ue! alem

de e1cluir a aplicação a ele dos limites do 7+-P! permitiria ainda responsabiliHar o comitente nos mesmos

termos ao abrigo do art. 7++P. 3OD3EU' BA<O e 9''N' CO3D'E3O negaram essa

 possibilidade com fundamento de #ue a presunção de culpa do art. 7+2PS2 valeria apenas no mbito das

relações internas. 9as a maioria da doutrina! incluindo A<U' A3':A e A:9'EDA CO<A!

defendeu sempre a presunção de culpa com alcance e1terno! eficaH perante o lesado. 'sta solução veio aser confirmada em Assento do upremo /S-2 de *LSES/L-2 $ a primeira parte do art. 7+2PS2 estabelece

uma presunção de culpa do condutor aplic0vel nas relações entre ele e o lesante e o titular ou titulares do

direito ( indemniHação.

 A lei faH assim recair sobre o comiss0rio uma presunção de culpa! respondendo ele assim por 

todos os danos causados sem #ual#uer limite! a menos #ue prove não ter actuado culposamente $ art.

7+2PS2. A doutrina tem %ustificado esta presunção com o fundamento de #ue 0 nesta condução um perigo

s&rio de afrou1amento na vigilncia do veiculo! como um perigo s&rio de fadiga do comiss0rio #ue

tender0 a conduHi)lo oras seguidas. endo os condutores desta natureHa! em regra! condutores

DIOGO CASQUEIRO   122

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 profissionais! e1ige)se)les uma per6cia especial no e1erc6cio da condução! podendo elidir a presunção

facilmente.

F) A colisão de $e;culos

O art. 7+8P vem regular em termos espec6ficos a situação de colisão de ve6culos. Ocorre a

 possibilidade! de com base no art. 7+2PS/! se estabelecer a imputação do acidente a #ual#uer dos

condutores! o #ue %ustifica #ue a lei resolva a #uestão.

A solução & a de #ue se apenas um dos condutores tiver culpa! deve ser ele o respons0vel. e

nenum dos condutores tiver culpa! avendo uma concausalidade de ambos os ve6culos em relação aos

danos sofridos! averiguar)se)0 se algum dos ve6culos causou mais danos #ue o outro! atribuindo)se ao seu

detentor a proporção correspondente na repartição da responsabilidade pelos danos.

e! independentemente da apreciação de culpa! apenas um dos ve6culos tiver causado os danos! a

responsabilidade pelo risco só surge #uanto ao causador.

O 7+8PS* estabelece como regra geral a ideia de uma repartição igualit0ria dos danos.

Ocorrendo a colisão de ve6culos em #ue um era conduHido por um comiss0rio e o outro por um

 propriet0rio! e não se provasse a culpa de #ual#uer condutor! aplica)se o crit&rio do 7+8PS* ou releva a

 presunção de culpa do 7+2PS2[ 4ela nossa parte! #ue segue a posição de 9''N' :'E<KO ' IOKO

<EAO A<U'! acamos #ue nos parece prefer6vel a primeira posição.

FaHendo presumir a culpa de um deles nesse caso! corresponde a atribuir)le a responsabilidade

integral da colisão.A solução oposta pode conduHir a situações in6#uas como um co#ue entre dois comiss0rios! em

#ue um conduH no e1erc6cio das suas funções e o outro conduH fora delas. O crit&rio da presunção

 protegeria o #ue conduH fora do e1erc6cio das suas funções.

9as foi a posição #ue consideramos desaconsel0vel #ue veio a ser %urisprud=ncia uniformiHada!

no Assento 2SL5 de *8SES/LL5 do upremo. Assim! & este o entendimento #ue corresponde ao da maioria

da doutrina.

G) Pluralidade de res#ons,$eis #elo dano

4ode suceder #ue sur%am v0rios respons0veis pelo dano Mv0rios ve6culos ou v0rios tipos de

imputação.

A lei estabelece no art. 7+,PS/ a solidariedade dos v0rios respons0veis pelo dano. O nP*

determina #ue a repartição da responsabilidade nas relações internas estabelece)se! sendo todos

respons0veis! de armonia com o interesse de cada um na utiliHação do veiculo. Gavendo culpa de um

deles! & aplic0vel #uanto ao direito de regresso! o art. 5L,PS*.

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3esulta #ue #uem tem o maior interesse na utiliHação do veiculo tem maior responsabilidade.

Gavendo culpa! competir0 no fim a responsabilidade e1clusivamente a #uem tem culpa! atrav&s do

mecanismo do direito de regresso.

8.*.7. Danos causados por instalações de energia el&ctrica ou g0s

er 9''N' :'E<KO! Direito das Obrigações, vol. E! pp. 2L/ a 2L5.

8.*.8. Casos de responsabilidade ob%ectiva não regulados no Código Civil. 'm especial

a responsabilidade civil do produtor 

er 9''N' :'E<KO! Direito das Obrigações, vol. E! pp. 2L5 a 5++.

,. 3esponsabilidade por factos l6citos ou pelo sacrif6cioL,

erifica)se sempre #ue a lei preve%a o direito ( indemniHação a #uem viu frustrados os seus

direitos em resultado de uma actuação l6cita destinada a faHer prevalecer um direito ou um interesse de

valor superior.

O caso mais importante & do 'stado de ecessidade $ 22LP.

Uma outra situação & o do art. -/PS*! em #ue se admite a revogação de #uais#uer limitações

volunt0rias aos direitos de personalidade em ordem a permitir ao agente o livre e1erc6cio da sua

 personalidade! com obrigação! no entanto! de indemniHar as legitimas e1pectativas da outra parte.

ão ainda casos de responsabilidade pelo sacrif6cio as situações de inger=ncia licita em pr&dio

aleio para captura de en1ame de abelas Mart. /2**P! apana de frutos Mart. /28,P! reparações ou

construções Mart. /25LP e os casos de constituição de servidões legais Mart. /775P! /77LP! /78+PS2 e

/78/PS/ e a revogação do mandato $ art. /,,+PS/ e /,,*P.

9''N' :'E<KO entende! como nós! #ue a#uele a #uem os danos deveriam ser imputados &

o benefici0rio da conduta! atribuindo)se)le! contudo! direito de regresso sobre a#uele #ue culposamente

tena dado causa ( situação.

-. Obrigação de indemniHaçãoL-

-./. eneralidades

A obrigação de indemniHação & tratada nos art. 78*P e ss. constitui uma categoria autónoma de

obrigações em virtude de possuir uma fonte autónoma Ma imputação de um dano a outrem! ter um

L, 9''N' :'E<KO! Direito das Obrigações, vol. E! ,J ed.! 'dições Almedina! *++-! pp. 5++ a 5+*>L- 9''N' :'E<KO! Direito das Obrigações, vol. E! ,J ed.! 'dições Almedina! *++-! pp. 5+* e ss>

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conte;do próprio Mprestação de e#uivalente ao dano sofrido e um particular interesse do credor Ma

eliminação do dano #ue sofreu.

A e1ig=ncia de indemniHação não implica uma determinação e1acta do montante dos danos antes

da propositura da acção Mart. 78LP. 9as o tribunal pode atribuir a indemniHação sem saber o valor e1acto

dos danos Mart. 788PS2. Caso não se%am logo determin0veis! s=)lo)ão em momento de e1ecução dasentença $ art. 88/P do C.4.C.

-.*. Formas de indemniHação

Da combinação das normas do art. 78*P e do 788PS/ resulta uma primaHia para a restituição in

natura sobre a pecuni0ria. <al corresponde ( defesa de um concepção real de dano.

Gaver0! por&m! fi1ação em dineiro num destes tr=s casos" M/ a reconstituição natural não &

 poss6vel> M* a reconstituição natural não repara integralmente os danos> M2 a reconstituição natural

apresenta)se como manifestamente onerosa! desproporcionada para o lesante.

Ao tratar da reconstituição pecuni0ria & estabelecida no art. 788PS* a teoria da di%erença $ faH)se

uma avaliação do dano em sentido patrimonial! mediante a apreciação concreta das alterações verificadas

no património do lesado. 'fectua)se uma comparação entre a situação patrimonial actual efectiva e a sua

situação patrimonial actual ipot&tica! não ouvesse #ual#uer dano.

<em esta teoria aplicação limitada! na medida em #ue o c0lculo não & poss6vel nalgumas

situações. A saber" M/ caso dos danos morais ou danos futuros> M* caso em #ue o tribunal possa fi1ar 

indemniHação em montante inferior aos danos causados Mart. 5L5P e 7,+P> M2 situação dos danos de

natureHa continuada $ o dano não fica eliminado com a atribuição de um valor para cobrir a diferençaentre as duas situações patrimoniais presentes! uma real e outra ipot&tica. A solução passa por atribuir 

uma indemniHação em renda vital6cia ou periódica $ art. 78,P. Ainda se prev= #ue possa ser modificada $ 

art. 78,PS*.

-.2. <itularidade do direito de indemniHação

O titular do direito ( indemniHação & o lesado! afastando)se os terceiros! ainda #ue tenam

refle1amente sofrido danos.

9as esta regra comporta e1cepções. I0 se e1aminou a este respeito a #uestão do dano morte

contemplada nos art. 5L8PS* e 2.

9as o art. 5L7PS/ prev= a situação #ue conduHindo a morte da vitima ( realiHação de despesas!

devem estas ser indemniHadas.

Ruer em caso de morte! #uer de ofensas corporais! a lei prev= a indemniHação da#ueles #ue

socorreram o lesado! bem como os estabelecimentos ospitalares! m&dicos ou outras pessoas #ue tenam

contribu6do para o tratamento $ art. 5L7PS*.

A lei atribui igualmente este direito aos #ue podiam e1igir do lesado alimentos ou a#ueles a

#uem deviam ser prestados no cumprimento de uma obrigação natural.

DIOGO CASQUEIRO   125

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-.5. 4rescrição da obrigação de indemniHação

4revista no art. 5L-P! o regime & aplic0vel a toda a responsabilidade civil! com e1cepção da

obrigacional! su%eita ao praHo da obrigação incumprida $ art. 55LP e **,PS*.

 A prescrição da obrigação depende da ultrapassagem de um de dois praHos" o praHo ordin0rio de*+ anos a contar do faço danoso Mart. 2+LP> o praHo de tr=s anos a contar do momento em #ue o lesado

tem conecimento do direito #ue le compete! mesmo #ue desconeça a pessoa do respons0vel a e1tensão

integral dos danos. e o lesado dei1ar passar um destes dois praHos sem e1igir a indemniHação Mart.

2*2PS/ o lesante poder0 opor)le eficaHmente a prescrição do seu direito Mart. 2+5PS/.

e o facto il6cito constituir crime com praHo prescricional mais longo! esse & o aplic0vel! pelo

#ue! en#uanto se puder instaurar o processo criminal! & poss6vel a e1ig=ncia da indemniHação Mart.

5L-PS2.

Ocorrendo a pluralidade de respons0veis a lei estabelece #ue prescreve igualmente no praHo de

tr=s anos após o cumprimento o direito de regresso entre os respons0veis Mart. 5L-PS*.

A prescrição do direito ( indemniHação não afectar0 outros direios #ue o lesado tena contra o

lesante em resultado da sua conduta $ art. 5L-PS2.

Colectnea de Gipóteses 4r0ticas da cadeira de Direito das Obrigações

I

Analise criticamente os Acórdãos do upremo <ribunal de Iustiça de /8 de Iuno de /L85 Min

Boletim do 9inist&rio da IustiçaV n.P /2-! Iulo de /L85! pp 25* e ss! de /, de Iuno de /L8L M in

Boletim do 9inist&rio da IustiçaV n.P /--! Iulo de /L8L! pp /58 e ss e no acórdão de *7S/+S/LL2 M in

.dgsi.pt ) 4rocesso nP +-5+L-

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II

 +ntnio ad#uiriu um computador CompaB ;resario 100  no  <undo da :n%orm'ti(a>. Devido ao

elevado custo do e#uipamento! +ntnio acordou com Pento! gerente do =<undo da :n%orm'ti(a>! pagar o preço do computador em oito prestações de `*7+ cada. Como contrapartida  Pento  e1igiu #ue a

 propriedade do computador continuasse a pertencer ao =<undo da :n%orm'ti(a>  at& ao integral

 pagamento do preço. O computador foi imediatamente entregue a  +ntnio! #ue o instalou no escritório da

sua casa.

/. Emagine! agora! #ue +ntnio não pagou a segunda prestação. Pento #uer reagir! o #ue & #ue pode

faHer[ ' se! em veH da segunda prestação!  +ntnio  não tivesse pago a terceira e #uarta

 prestações[

*. upona! agora! #ue +ntnio vendeu posteriormente o computador a Car"os. António não paga a

totalidade das prestações.  Pento! em nome do =<undo da :n%orm'ti(a>,  resolve o contrato.

Car"os dirige)se a Pento e comunica)le #ue o computador le pertence. <er0 Car"os raHão[

2. A solução seria a mesma se! em veH de um computador! estivesse em causa a a#uisição de um

automóvel e não se tivesse procedido ao registo da cl0usula de reserva de propriedade[

3esolução"

/ A nossa lei estabelece um regime segundo o #ual a transfer=ncia da propriedade se d0 no momento

da celebração do contrato como prev= o 5+-P nP/ $ assim sendo os contratos #ue implicam a constituiçãoou transmissão de direitos reais sobre coisas certas e determinadas produHem em regra por si mesmo essa

conse#u=ncia! sem necessidade de #ual#uer acto posterior.

<odavia a nossa lei não consagra em termos absolutos o principio da transfer=ncia de dom6nio por 

força do contrato! estabelece)o como simples regra supletiva e desde logo estabelece no nP* do artigo

algumas e1cepções a este regime. ainda licito as partes afastar este regime supletivo atrav&s de uma

clausula de reserva de propriedade prevista no 5+LP do CC. Assim sendo esta clausula permite #ue os

interessados estipulem #ue a transfer=ncia da propriedade se opere apenas com o cumprimento total ou

 parcial das obrigações do ad#uirente ! com a entrega efectiva da coisa! ou com a verificação de #ual#uer 

outro evento. ! esta clausula visa assim salvaguardar o direito de propriedade! tendo pois uma função de

garantia.

Ora no presente caso estamos perante uma compra e venda a prestações de um bem móvel não

su%eito a registo! compra e venda esta #ue foi realiHada com uma clausula de reserva de propriedade! pelo

#ue ( partida se o comprador não pagar o preço o vendedor pode resolver o contrato! caso a%a

incumprimento definitivo! como previsto no -+/P! para al&m deste direito o credor tem ainda direito a

e1igir %udicialmente o pagamento do preço $ -/,P! aos %uros de mora $ -+5P e -+8P! e a e1igir 

automaticamente o pagamento antecipado das restantes prestações ) ,-/P. 4orem & necess0rio camar a

colação um outro artigo #ue se relaciona com o 5+-P n/ e o -+/P! o artigo --8P #ue se apresenta como

norma e1cepcional ao regime previsto no 5+-P nP/! uma veH #ue! avendo a transfer=ncia de propriedade!

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e a entrega da coisa! o credor perde o direito ( resolução! pelo #ue o vendedor não poderia resolver este

contrato. 4or&m temos mais uma veH de ter em conta #ue e1iste uma clausula de reserva de propriedade!

 pelo #ue embora tena avido entrega do computador não ouve transmissão de propriedade e sendo #ue

estes dois re#uisitos são cumulativos! não se verificando um deles! não impede portanto a resolução do

contrato. Assim se aplicarmos o 5+LP aplicamos tamb&m o -+/P! e não o --8P.<odavia uma veH #ue estamos perante um compra e venda a prestações temos ainda o regime do L25P

#ue vem estabelecer #ue não pode aver resolução do contrato #uando a%a"

) venda a prestações

) com reserva de propriedade

) feita a entrega da coisa ao comprador 

) falta de pagamento de uma só prestação

) prestação essa #ue não e1ceda a oitava parte do preço

ora no caso em apreço estão preencidos todos os re#uisitos cumulativos pelo #ue o vendedor se v= assim

impedido de resolver o contrato. Rue direitos le restam então[

•  pode e1igir %udicialmente o pagamento do preço da prestação em falta $ -/,P

•  pode e1igir os %uros de mora -+5P e -+8P

•  poderia e1igir o pagamento antecipado das restantes prestações como prev= o ,-/P! por&m o L25P

vem impedir este artigo de funcionar! uma veH #ue estabelece #ue não importa a perda do

 beneficio do praHo Mestabelece)se uma data em beneficio do devedor! ou se%a o devedor pode

cumprir antes e se o credor não aceitar entra em mora do credor! mas o credor não pode e1igir o

 pagamento das prestações antes da data prevista

Ruanto 0 segunda parte da pergunta se António não tivesse pago * prestações! ai %0 não estariam

 preencidos os re#uisitos cumulativos do L25P! logo aplicar)se)ia o regime normal da resolução do

contrato previsto no -+/P.

* O grande tema a debater nesta pergunta & o de saber se a clausula de reserva de propriedade & ou

não opon6vel a terceiros[ <ratando)se de coisa móvel não su%eita a registo! tem a doutrina maiorit0ria Mde

acordo com o principio do consensualismo entendido #ue o pacto vale em relação a terceiros! ainda #ue

estes este%am de boa f&! sem necessidade de #ual#uer formalidade especial! uma veH #ue não vigora

#uanto (s coisas moveis o principio segundo o #ual a posse vale titulo. 4elo #ue #uem ter0 raHão & bento e

não Carlos.

M4or&m o prof romano martineH discorda desta orientação doutrin0rio e vem afirma #ue a clausula de

reserva de propriedade só poder0 ser opon6vel a terceiros de m0 f&! faHendo uma interpretação ( contrario

do 5+LP nP*! pois pelo 5+8P nP* o terceiro não pode ser pre%udicado! mas o 5+LP nP* & um caso especial

 previsto na lei.

2 e estivesse em causa a a#uisição de um automóvel estar6amos perante uma compra e venda

de bem móvel su%eito a registo. Assim sendo neste caso %0 se aplicaria o 5+LP nP*! sendo #ue só a clausulaconstante do registo & opon6vel a terceiros! bento não preenceu o ónus de registar a clausula! então

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Carlos ser0 protegido. Contudo o propriet0rio continua a ser Bento o #ue acontece & #ue a clausula de

reserva de propriedade & inoponivel a Carlos. Mver ,L8P ) a prestação não & poss6vel mas sem culpa do

devedor.

er 9eneHes cordeiro $ revivesc=ncia do direito real adormecido Mpois & inoponivel.

III

Analise o Acórdão do upremo <ribunal de Iustiça! de /7 de Abril de /L,7 M in  Boletim do

9inist&rio da IustiçaV nP *58! pp/2- e ss

IV

 +be"  prometeu vender a Pernardino, e este prometeu comprar)le! um andar pelo preço de `*2+.+++.

Do contrato constava #ue o preço deveria ser pago ( Casa do ?aiato. Pernardino recusa)se a celebrar o

contrato definitivo. Ruem pode e1igir o cumprimento do contrato)promessa[

3esolução"

 o presente caso estamos perante um contrato de compra e venda de um bem imóvel! previsto noartigo 5/+P nP2! pelo #ue para este ser v0lido ter0 de preencer os re#uisitos ai especificados.

4oderemos colocar a #uestão de saber se estaremos ou não perante um contrato a favor de terceiros!

contrato em #ue um dos contraentesM o promitente atribui! por conta e 0 ordem do outro o promiss0rio !

uma vantagem a um terceiro Mbenefici0rio! estrano ( relação contratual.3e#uisito especifico para a validade do contrato a favor de terceiro & o de #ue o promiss0rio tena a

 prestação prometida ao terceiro um interesse digno de protecção legal! um interesse s&rio atend6vel ( luH

da ordem %ur6dica. 'ste interesse tanto pode ser de car0cter patrimonial como não patrimonial na ipótese

em an0lise este re#uisito est0 pois verificado! uma veH #ue estamos no mbito de uma liberalidade com

fins de benefic=ncia.A vantagem deste contrato traduH)se em regra numa prestação assente sobre o respectivo direito de

cr&dito! mas pode consistir outrossim na liberação de um d&bito! na constituição! modificação ou e1tinção

de um direito real. 4orem! essencial ao contrato a favor de terceiro como figura t6pica autónoma! & #ue os

contraentes procedam com a intenção de atribuir atrav&s dele um direito Mde cr&dito ou real a terceiro ou

#ue dele resulte! pelo menos! uma atribuição patrimonial imediata. Assim se distingue o verdadeiro

contrato a favor de terceiro da#ueles contratos obrigacionais cu%a prestação principal se destina a terceiro!

mas sem #ue ad#uira previamente! segundo a intenção dos contraentes e o próprio conte;do do contrato!

#ual#uer direito de cr&dito ( prestação Me1. ramo de flores entregue em casa. ão 0 neste caso nenuma

obrigação #ue o devedor assuma perante o terceiro destinat0rio da prestação. O ;nico credor do obrigadodurante toda a e1ist=ncia da relação obrigacional & o outro contraente $ contratos autoriHativos da

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 prestação a terceiro $ distinguem)se dos verdadeiros contratos a favor de terceiros nos #uais se legitima o

terceiro a e1igir do devedor a realiHação da prestação.Assim sendo neste caso tudo se resolve recorrendo ( interpretação Mapurar a vontade das partes!

temos de ir descobrir se Abel #uis efectivamente ou não atribuir o direito ( casa do gaiato de e1igir o

cumprimento da obrigação ao promitente. Como a ipótese não nos d0 dados suficientes para concluir 

sem duvidas temos de dei1ar em aberto a resposta. e sim então estamos perante um contrato a favor de

terceiro se não! estamos perante um contrato a favor de terceiro falso ou impróprio $ ,,+P a o entanto

 para a resolução do caso nem seria muito relevante pois o poss6vel contrato a favor de terceiro seria o

contrato definitivo e não o contrato promessa.

4elo #ue #uem poder0 sempre e1igir o cumprimento do contrato atrav&s da e1ecução & Abel pelo

estipulado no -2+P nP/! uma veH #ue o contrato definitivo & #ue poder0 ser um contrato e favor de

terceiro! não o contrato promessa. O direito de terceiro só poder0 assim vir a nascer após a celebração do

contrato definitivo! não nasce com a promessa de celebração do contrato.

V

Caro"ina prometeu trespassar a Diogo  uma lo%a por `7+.+++! tendo ficado acordado #ue! caso

 Diogo não  #uisesse ad#uirir a lo%a por trespasse! poderia indicar outra pessoa #ue a ad#uirisse.  Diogo

entregou a Caro"ina  `/7.+++ a t6tulo de sinal e! #uinHe dias depois! por %0 não estar interessado em

ad#uirir a lo%a! comunicou por escrito ( trespassante MCaro"ina #ue dgar  seria o ad#uirente. Iuntamente

com a comunicação seguia uma carta de  dgar ! na #ual este declarava aceitar o negócio. 'ntretanto!

Caro"ina pretende desistir do trespasse da lo%a. uid iuris[

3esolução"

'stamos no caso em apreço perante um contrato promessa por pessoa a nomear $ 5/+P 57*P )

contrato em #ue um dos intervenientes no contrato se reserva a faculdade de designar outrem #ue assuma

a sua posição na relação contratual! como se o contrato tivesse sido celebrado em nome deste ultimo.

Admite)se uma dissociação subecti$a  entre a pessoa #ue celebra o contrato e a#uela onde vão

repercutir)se os respectivos efeitos %ur6dicos $ d0)se um fenómeno de substituição de contraentes Me não

de transmissão uma veH #ue após a nomeação o contraente nomeado ad#uire os direitos e assume as

obrigações provenientes do contrato a partir do momento da celebração dele $ 577P nP/ $ a no"eação

te" e*ic,cia retroacti$a

 ão 0 no contrato por pessoa a nomear nenum desvio ao principio da efic0cia relativa dos

contratos! pois este produH todos os seus efeitos apenas entre os contraentes. ó #ue en#uanto não 0

designação do amicus electus os contraentes são os outorgantes do contrato! depois da designação o

contraente passa a ser de acordo com o conte;do do contrato %0 não o outorgante mas a pessoa designada. a modalidade mais comum a reserva de nomeação do terceiro & colocada em alternativa com a

subsist=ncia do contraente origin0rio $ dai #ue a lei preve%a #ue se não for efectuada a nomeação nos

termos legais o contrato ir0 produHir os seus efeitos em relação ao contraente origin0rio $ 577P nP*

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<em de estar pois preencidos os seguintes re#uisitos legais para #ue a nomeação Melectio amici se%a

v0lida/. Deve ser feita por escrito ao outro contraente no praHo convencionado! ou na falta de convenção

no praHo de 7 dias a contar da celebração do contrato $ 572P nP/.*. Deve ser acompanada para ser eficaH de instrumento de ratificação do contrato ou de

 procuração anterior ( celebração deste $ 572P nP* Matribuição de poderes representativos2. e for e1igida ratificação esta deve ser outorgada por escrito $ 575P nP/ $ ou revestir a forma do

contrato celebrado #uando este tena sido celebrado por documento com maior força probatória

 $ 575P nP* $ e1ige)se escrito tanto para a declaração de nomeação como para a ratificação do

contrato por parte da pessoa nomeada por uma compreens6vel raHão de certeHa %ur6dica! mesmo

#ue o contrato se%a verbal

4ara a resolução deste caso temos assim de saber se estes re#uisitos estão todos preencidos.

<emos então de abrir tr=s ipóteses pois o enunciado & muito pouco elucidativo"

/. Gouve efectiva comunicação por escrito! mas como não foi convencionado praHo! pelo #ue rege

o 572P ) praHo supletivo! Diogo teria apenas 7 dias para realiHar a nomeação e uma veH! #ue não

o feH nesse praHo não estaria logo este re#uisito cumprido 0 partida independentemente dos

outros dois estarem a nomeação não seria eficaH. Assim sendo os direitos e obrigações são

e1ercidos por D Mcontraente original! podendo revogar o contrato e acorda #uanto ao modo de

restituir o sinal ou! #uerendo o contrato! pede o sinal em dobro ou a indemniHação com e1ecução

especifica.*. <emos outra ipótese em #ue ouve a comunicação por escrito e caso as partes tenam

convencionado um praHo de /7 dias ou superior para a nomeação então Diogo ter0 respondido

dentro do praHo convencionado estando este re#uisito cumprido! por&m embora 'dgar tena

escrito uma carta #ue acompanou a nomeação podendo servir de ratificação! nada nos diH #ue

 para o trespasse não se%a necess0rio forma de maior força probatório do #ue o documento

escrito. O trespasse tanto pode implicar a alienação da propriedade do local ou apenas o uso do

local de arrendamento $ se o D! #uando prometeu trespassar! no trespasse vina tamb&m a

 propriedade! o contrato)promessa tina por ob%ecto a venda de um bem imóvel Mrege o art.5/+

nP2 $ a promessa tina de ser feita por documento escrito! com reconecimento presencial de

assinaturas e com reconecimento do not0rio! diHendo #ue a lo%a tina direito de e1ercer o

com&rcio $ nesta ipótese! a carta por escrito não serve Mart.575 nP/ e *. Assim! #uem continuaa e1ercer os direitos no contrato)promessa era o D.

4or ;ltimo temos a ipótese em #ue todos os re#uisitos se verificam! a comunicação & feita por 

escrito foi convencionado praHo de /7 dias ou superior para a nomeação! e o contrato de trespasse não

e1ige mais do #ue a forma escrita! pois se a lo%a funcionava num local arrendado! regiam os art.//+LP

Marrendamento de espaços destinados ao e1erc6cio do com&rcio e art.///*P Mem tutela ao com&rcio! C

#uer trespassar o negócio! sem #ue o senorio possa autoriHar! limitando)se a ser informado. 'ste

contrato tem uma forma menos e1igente do art.5/+ nP2! %0 não se e1igindo o reconecimento presencial!

sendo a declaração v0lida e #uem tina os direitos de e1igir o sinal em dobro ou indemniHação dos danosmoratórios era o '. ó nestes termos a nomeação seria eficaH! e produHiria efeitos relativamente a 'dgar.

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VI

 <aria e  !os@ celebraram um contrato por escrito particular em Ianeiro de *+++ segundo o #ual <aria prometia vender e !os@ prometia comprar um pr&dio r;stico por `7+.+++. essa mesma altura!

 !os@ ficou gravemente doente! pelo #ue só <aria assinou o contrato. 'm Iulo de *+++!  !os@ começou a

faHer uma plantação de macieiras no terreno. A escritura p;blica do contrato definitivo foi marcada para

// de Ianeiro de *++2! altura em #ue o citado terreno %0 valia `-+.+++. 9aria não compareceu no

Cartório! por#ue #ueria vender o pr&dio r;stico a <ar(e"ino.

/.  !os@  intentou uma acção de e1ecução espec6fica contra  <aria! esta invocou a

invalidade do contrato! uma veH #ue !os@ não o cegou a assinar. er0 #ue o <ribunal

 pode e1ecutar especificamente o contrato[

*. upona! agora! #ue  !os@ entregou a <aria `/+.+++ por conta dos 7+.+++ #ue le

teria de pagar. A acção de e1ecução espec6fica! intentada por  !os@! pode ser %ulgada

 procedente pelo <ribunal[ ' se estivesse em causa a a#uisição de um andar para

abitação[

2. Emagine #ue  <aria  e  !os@  tinam atribu6do efic0cia real ao contrato e este foi

registado em Ianeiro de *++*. 'm Fevereiro!  <aria  vendeu o pr&dio r;stico a

 !oaBuim. O #ue & #ue !os@ pode faHer[

3esolução"

/ o presente caso estamos perante um contrato promessa #ue tem consagração legal nos

artigos 5/+P a 5/2P! 55P/! 55*P! ,77P nP/ al f e -2+P. 4or contrato de promessa entende)se a convenção

 pela #ual ambas as partes ou apenas uma delas! se obrigam dentro de certo praHo ou verificados certos

 pressupostos! a celebrar determinado contrato. O contrato promessa cria a obrigação de contratar ou maisconcretamente de emitir a declaração de vontade correspondente ao contrato prometido. o caso sub

I;dice o Contrato)promessa & bilateral! pois ambos os contraentes se comprometem a celebrar 

futuramente o contrato! e o contrato prometido & de compra e venda de um pr&dio r;stico pelo #ue se

aplica o regime previsto no 5/+P nP*! #ue corresponde a uma e1cepção ao principio da e#uiparação. O

 principio da e#uiparação determina a aplicação como regra aos re#uisitos e aos efeitos do contrato

 promessa as disposições relativas ao contrato prometido. 'stamos então perante uma e1cepção relativa (

forma do contrato! pois se para o contrato prometido a lei e1igir documento Mse%a ele autentico ou

 particular o respectivo contrato promessa só & valido se constar de documento escrito! assinado pelos

 promitentes Mformalidade ad substanciam! segundo o 5/+P nP*. Ora no presente caso #uem incumpre o

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contrato promessa & o promitente vendedor sendo #ue o promitente comprador #ue intentar a acção de

e1ecução especifica. 4orem o problema coloca)se no facto de apenas um dos promitentes! 9aria! ter 

assinado o contrato)promessa! pelo #ue este ser0 inv0lido! nulo por vicio de forma $ **+P. <em pois a

doutrina portuguesa muito veHes se #uestionado sobre #ual o regime aplic0vel a estas promessas bilaterais

de compra e venda de bens imóveis! apenas subscritas por um dos promitentes[ 5 soluções seapresentaram ao longo dos tempos"

/. alidade directa ) validade incondicional como simples promessa unilateral! por parte

do promitente subscritor>

*. nulidade total do contrato ) se o contrato)promessa & bilateral! se falta a assinatura dum

deles e como & uma formalidade ad substanciam! a regra & da nulidade total do negócio

MI não tina direito ( e1ecução especifica>

2. nulidade parcial do contrato! com redução do seu conte;do! nos termos prescritos no

*L*P ) favorece o Ios& Ma parte #ue não assinou o negócio por#ue estamos perante a

 presunção de #ue a vontade ipot&tica das partes se soubessem do vicio era a da

celebração do contrato como cp unilateral! a menos #ue 9aria prove #ue só teria

celebrado o contrato se Ios& tamb&m tivesse ficado vinculado. e a prova não for feita!

como o ónus da prova & de 9aria! o contrato vai reduHir)se.

) 3ibeiro Faria! 9eneHes Cordeiro e Almeida Costa.

5. nulidade total do contrato! mas com possibilidade de conversão Mem promessa

unilateral ao abrigo do disposto no *L2P ) o negócio ( partida & nulo e só não o ser0

Mser0 parcialmente v0lido se! #uem tiver interesse nisso MIos&! alegar e provar #ue! se

as partes tivessem previsto essa ipótese! teriam ainda assim #uerido #ue valesse como promessa unilateral.

) Antunes varela

A primeira solução foi a #ue a doutrina e a %urisprud=ncia abraçaram ! numa primeira fase de

discussão do problema por aplicação directa do 5//P! #ue previa e regulava a figura da promessa

unilateral.

A partir da publicação do acórdão do supremo de *8 de Abril de /L,, foi a premissa de nulidade

Mtotal ou parcial do contrato #ue passou a prevalecer na %urisprud=ncia dos tribunais superiores. Gavia no

entanto duas linas de orientações.

Uma delas entendia #ue! tendo ambas as partes #uerido realiHar uma promessa bilateral e não

 podendo o contrato valer como tal ! por falta de assinatura Mvinculativa de um dos contraentes! a nulidade

não podia dei1ar de ser total! e a ;nica t0bua de salvação capaH de salvar a derrocada total do acordo das

 partes era a conversão do negocio. 'ssencial para o efeito era #ue o contraente interessado alegasse e

 provasse os re#uisitos cu%a verificação depende! por força do preceituado no *L2P! o =1ito da conversão.

A segunda lina de orientação! #ue tina por si a circunstancia de a promessa subscrita por um

só dos contraentes corresponder a um tipo contratual e1pressamente reconecido na lei como tal M5//P!

era a #ue considerava só parcialmente nula a promessa bilateral a #ue faltasse a assinatura de um dos

declarados promitentes. ' sendo a nulidade meramente parcial o contrato valeria em principio como

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 promessa unilateral! sem pre%u6Ho de parte interessada na nulidade total alegar e provar nos termos do

*L*P! #ue o não teria conclu6do! sem a parte viciada! ou se%a! sem a obrigação correspectiva #ue a outra

 parte deveria ter assumido! teria então de faHer prova #ue o contrato promessa apenas seria celebrado com

a vinculação de ambos. dito ainda #ue na duvida #uanto ( vontade ipot&tica das partes do tribunal deve

declarar a validade do contrato pois & isso imposto pela boa f& $ *2LP.Foi a esta controv&rsia #ue o supremo de *L de ovembro de /L-L se destinou a por termo. 9as

uma veH #ue não & de f0cil interpretação o preceito contido no assento surgiram mais uma veH

diverg=ncias doutrin0rias e da interpretação deste assento surgem mais uma veH duas posições

) 4ara o prof A este assento não aceita nem a tese da validade directa da promessa bilateral com a

assinatura de um só dos promitentes como promessa unilateral! nem se#uer a tese da nulidade

meramente parcial do contrato com a sua conse#uente redução nos termos do *L*P! visto o

assento proclamar em primeira mão a nulidade do contrato e subordinar a sua validade como

 promessa unilateral ( alegação e prova de ter sido essa a vontade das parte. O assento consagra

então a tese da nulidade total do contrato! sem pre%u6Ho da sua conversão em promessa unilateral!

nos termos gerais do artigo *L2P. olução do caso" ( partida o negócio & nulo! por&m Ios&

Ma#uele a #uem a conversão vai beneficiar pode alegar e provar #ue 9aria admitiria o negócio

como promessa unilateral Mvontade con%ectural ou ipot&tica. a d;vida! o contrato & nulo.

) O prof AC defende #ue da interpretação deste acórdão resulta o regime da redução! para tal

apresenta um argumento sistem0tico! com efeito a disciplina do contrao)promessa apresenta

v0rias aflorações em #ue sobressai o propósito da protecção do ad#uirente! ora sempre #ue falte

a assinatura do promitente comprador! via de regra um simples particular em face da pessoa ou

empresa especialiHada! compreende)se #ue recaia sobre esta ultima dentro da referida lina o

ónus da alegação e prova de #ue a vontade ipot&tica seria a da não aceitação do negocio sem a

vinculação dos dois contraentes. olução do caso" 9aria fica obrigada a celebrar o contrato e se

não o fiHer! Ios& pode pedir a e1ecução especifica! a não ser #ue 9aria prove #ue! se as partes

tivessem previsto esta invalidade! nunca teriam celebrado o negócio. a d;vida Mse 9aria não o

conseguir provar! vale a presunção da redução e o contrato vale como promessa unilateral>

Assim sendo a solução do caso vai depender da orientação doutrin0ria do tribunal.

* Uma veH #ue ouve a entrega duma #uantia pecuni0ria a 9aria! a primeira #uestão a levantar & a de

saber se estamos perante um sinal ou uma antecipação de cumprimento M55+P ) norma de car0cter geral.

Ruando algu&m entrega a outrem uma #uantia! pode colocar)se a duvida de! em veH de ser sinal! ser uma

antecipação total ou parcial do cumprimento. e for antecipação! a conse#u=ncia pr0tica & a de #ue! se o

contrato não for celebrado! aver0 lugar ( restituição do sinal em singelo. e for sinal! a restituição ser0

feita em dobro Mcaso se%a o promitente vendedor a incumprir.A regra #ue vem prevista no nosso código civil ) art.55+P) & a de #ue se antecipa o cumprimento.

4orem vem estabelecido para o contrato promessa uma e1cepção prevista no 55/P ) este artigo vem

 presumir #ue tratando)se de contrato promessa de C vale o regime do sinal! com todas as conse#u=ncias

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 pr0ticas #ue isso implica Mregime da devolução de sinal! distinto da coisa #ue foi entregue

antecipadamente. 'sta presunção pode ser elidida Mart.*+*P e 27+P.  4elo #ue podemos concluir no presente caso #ue #uando Ios& entrega a 9aria /++++ ` estamos

 perante um sinal. 'ste regime percebe)se pois Ios&! ao celebrar o contrato)promessa! fica apenas obrigado

a celebrar o contrato definitivo e o preço só ir0 nascer #uando for celebrado o contrato definitivo $ por 

isso! não estar0 nunca com os /++++` a antecipar o cumprimento por#ue a obrigação do pagamento do

 preço ainda não e1iste.O -2+P nP/ vem estabelecer o regime da e1ecução especifica! isto & se o promitente não celebrar 

o negocio definitivo! cabe ( outra parte a faculdade de conseguir sentença #ue substitua a manifestação de

vontade do faltoso! com este pedido pode cumular)se o da indemniHação moratória correspondente aos

danos sofridos pelo atraso no cumprimento da promessa.'sta norma tem por&m! via de regra! natureHa supletiva! os contraentes podem afasta)la mediante

convenção em contrario. 'ntende)se #ue 0 convenção em contrario se e1istir sinal M55+P a 55*P ou se

ouver sido fi1ada uma pena para o não cumprimento da promessa M-2+P nP* presume)se em tais casos

#ue as partes #uiseram #ue esse fosse o crit&rio de reparação e a ;nica conse#u=ncia do inadimplamento.

<rata)se de meras presunções ilidiveis M27+P nP *4elo #ue no presente caso avendo sinal teria de se afastar esta presunção Mprovando #ue as

 partes tina acordado o contrario ou então não poderia aver lugar a e1ecução especifica.Rue direitos & #ue Ios& teria em alternativa ( e1ecução especifica de acordo com o 55*P[

• 4ode receber o sinal em dobro M*+.+++` OU•  pode pedir uma indemniHação actualiHada por#ue ouve para alem do sinal! entrega da coisa.

'sta calcula)se" -+ $ 7+ W 2+ /+ W 5+.• <em ainda direito de retenção Mdireito real de garantia da coisa Mart.,77 nP/ f at& #ue a

indemniHação le se%a paga.

I0 na sub ipótese da al6nea no caso de estarmos perante a a#uisição de um andar para abitação

a solução legal %0 seria diferente pois elimina)se a possibilidade de e1clusão e1pressa ou presumida! da

alternativa da e1ecução especifica! #uanto (s promessas respeitantes a contratos onerosos de transmissão

ou de constituição de direitos reais sobre edif6cios! ou suas fracções autónomas! %0 constru6dos! em

construção ou a construir M-2+P nP2. A#ui a norma & imperativa! #uer diHer na medida em #ue veda o

afastamento da e1ecução especifica! mas sem #ue a impona como o ;nico camino ao contraente não

faltoso. Mpor#u=[ 'm /L-8! tina avido o F9E $ a simples devolução do sinal em dobro não era

suficiente para tutelar o promitente por#ue! com a desvaloriHação da moeda! valia #uase menos do #ue a

coisa #ue tina sido entregue Mtend=ncia para o estimulo ao incumprimentoA solução traduH de novo uma especial tutela da lei! pretende)se evitar a verificação de situações

imorais na pr0tica do cp! estimuladas pela desvaloriHação monet0ria e pelo próprio acr&scimo efectivo do

valor dos bens. e por e1emplo na celebração de um cp de compra e venda de uma unidade abitacional!

se admitisse a e1clusão v0lida do direito ( e1ecução especifica! ficava muito desprotegido ou fragiliHado

o promitente comprador. Bastaria #ue o outro contraente le impusesse tal clausula! sob pena de recusa de

celebração do contrato

O regime indicado envolve uma importante limitação ao principio da autonomia privada. um propósito

de e#uil6brio de posições concede)se ao promitente faltoso M9aria a faculdade de pedir! no processo

destinado ( obtenção da e1ecução especifica! a sua modificação por alteração anormal das circunstancias!

ainda #ue esta se%a posterior ( mora M-2+P nP2. O desvio ao disposto no 52-P representa uma atenuação (

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severidade do sistema imperativo da e1ecução especifica. Deve o %uiH! contudo! nessas situações de

alteração das circunstancias após a mora! aplicar prudentemente a disciplina do 52,P onde o re#uisito da

 boa f&.

2 A lei facilita (s partes a atribuição de efic0cia real ( promessa de transmissão ou constituiçãode efeitos reais sobre bens imóveis ou bens moveis su%eitos a registo $ 5/2P ) produHindo estes contratos

e1cepcionalmente efeitos em relação a terceiros $ 5+8P nP*. 4ara tanto devem estar cumpridos 2 re#uisitos

cumulativos"

7. a declaração de efic0cia real não pode ser tacita tem de ser e1pressa

8. a promessa tem de se efectuar atrav&s de escritura publica ou de documento particular 

autenticado se o contrato prometido e1igir igual forma M-+P C bastar0 contudo #ue

se%a efectuada atrav&s de documento particular em todos os negócios prometidos não

su%eitos a forma legal

,. a promessa deve ser inscrita no registo respectivo.

Matribuir efic0cia real & diferente de registar" & muito comum registar o contrato)promessa! no sentido de

registar o direito do promitente)ad#uirente

 a falta de algum destes re#uisitos o contrato promessa ainda #ue v0lido ter0 efic0cia

meramente obrigacional ! os direitos nascidos do contrato não serão opon6veis a terceiros Mteoria da

relatividade.

 o entanto no caso em an0lise vamos pressupor #ue estão verificados estes tr=s re#uisitos pelo

#ue os direitos de cr&dito nascidos do contrato promessa v=em a sua efic0cia ampliada perante terceiros

sendo opon6veis erga omnes com primado sobre todos os direitos relativos ao ob%ecto.

4orem no presente caso temos em conflito um direito real de a#uisição M/5/+P o de Ios& e um

direito real de goHo o de %oa#uim. Rual deve prevalecer[ Dever0 prevalecer o direito real de a#uisição

uma veH #ue foi o primeiro a ser registado sobre a coisa. 9as como processualiHa[

/. ão pode ser e1ecução especifica por#ue %0 não & o 9aria #ue tem a propriedade da coisa.

endo tamb&m de re%eitar a #ualificação da alienação por ele efectuada como venda de bens

aleios! %0 #ue 9aria era propriet0ria no momento da venda! a #ual & plenamente validade e só &

 posta em causa se a efic0cia real for e1ercida! a #ual não pode por isso consistir numa acção de

nulidade.*. A e1ecução especifica contra o Ioa#uim coloca o problema de ele não se ter orbigado a celebrar 

#ual#uer contrato com Ios& Mbenefici0rio da promessa faltando por isso o pressuposto essencial

da sua aplicação.2. A reivindicação adaptada contra Ioa#uim suscita a dificuldade de a reivindicação ser uma acção

destinada a reconecer um direito real e reclamar a restituição da coisa #ue & seu ob%ecto M/2//P

nP/ não tendo assim natureHa constitutiva! en#uanto o e1erc6cio da efic0cia real teria #ue

revestir essa natureHa! uma veH #ue atrav&s dela se procede a uma a#uisição potestativa de

direito real

A solução ser0 pois a de! tendo em conta #ue a todo o direito corresponde uma acção destinada a

faHe)lo valer em %u6Ho Mos direitos devem poder ser e1ercidos coercivamente! uma acção declarativaconstitutiva! cumul0vel com o pedindo de restituição a instaurar em litiosconsorcio necess0rio passivo

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contra o promitente e o terceiro ad#uirente! destinada a faHer prevalecer o direito de a#uisição do Ios&

sobre a a#uisição de Ioa#uim. Ios& tem pois de propor uma acção em tribunal contra 9aria e Ios&!

 pedindo #ue se%a ele o titular do direito da coisa e! ao mesmo tempo! implicando o reconecimento desse

mesmo direito na sua esfera %uridical.

VII

 +ntnio! casado com <aria! prometeu vender um andar! bem comum do casal! a  Pernardo  e

Car"a por `,7.+++. O contrato foi celebrado no dia *+ de Iulo de *++/ por escrito particular! assinado

 por  +ntnio!  Pernardo  e Car"a! com assinaturas reconecidas notarialmente! e dele constava! al&m do

valor e da descrição do imóvel! #ue a escritura se realiHaria at& ao final do m=s de etembro.  Pernardo e

Car"a! em Agosto! depois de terem entregue `*+.+++ a  +ntnio! foram abitar o dito andar.

3esponda (s seguintes #uestões #ue são independentes umas das outras"

a o dia /* de etembro de *++/!  +ntnio  e  <aria  venderam o referido andar a

 duardo por `-+.+++. Rue direitos assistem a Pernardo e Car"a[

 b Admitindo #ue  Pernardo  e Car"a! atenta a situação referida na al6nea anterior!

 poderiam pedir uma indemniHação! a #uanto & #ue esta ascenderia e #ual o valor #ue

 Pernardo e1igiria de +ntnio[

c  Pernardo  e Car"a! #ue trabalam na sucursal de uma empresa alemã em :isboa

Mperto do andar em causa! em etembro foram destacados para trabalar na sucursal

dessa empresa em Bras6lia durante cinco anos! pelo #ue %0 não #uerem comprar oandar. uid iurisQ

3esolução"

a 'stamos perante um contrato promessa monovinculante! uma veH #ue apenas uma das partes

se vincula ao contrato promessa! uma veH #ue o contrato promessa & relativo a uma compra e venda de

um andar rege o 5/+P nP2! pelo #ue terão #ue estar verificados os 2 re#uisitos"

/. O documento autentico ou particular tem de ser assinado pela parte #ue se vincula

*. <em de aver reconecimento presencial da assinatura do promitente

2. <em de aver certificação notarial da e1ist=ncia da licença respectiva da utiliHação ou

de construção

 o caso sub I;dice nada nos diH #ue ouve certificação notarial pelo #ue podemos estar perante!

a preterição de uma formalidade essencial Mad substanciam dando lugar a uma invalidade! mais

concretamente invalidade mista . Assim sendo e mais uma veH nos termos do 5/+P nP2 #uem pode invocar 

esta invalidade ser0 o contraente #ue promete ad#uirir! uma veH #ue o contraente #ue promete transmitir 

só pode invocar #uando faça prova #ue a omissão foi culposamente causada pela outra parte.

G0 no entanto ainda outra #uestão a levantar na resolução deste caso pr0tico! segundo o /8-*P) A

resulta #ue! se entre marido e muler e1istir um regime de comunão! cada um deles! se #uiser alienar ou

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onerar um imóvel comum ou próprio! tem de pedir o consentimento do outro. 4or outro lado! se o regime

for o da separação de bens! esse consentimento não & necess0rio! a não ser #ue o ob%ecto da alienação se%a

a casa de fam6lia! caso em #ue! a%a separação ou comunão! & sempre necess0rio o consentimento para

alienação! ainda #ue a coisa se%a própria MnP*. Assim sendo teria de aver assinatura da 9aria para a

validade deste contrato de promessa de compra e venda! o contrato seria pois inv0lido por falta doconsentimento do c]n%uge. 4or&m a doutrina vem afirmando #ue uma das e1cepções ao principio da

e#uiparação & a referente (s disposições #ue pela sua raHão de ser se não podem considerar e1tensivas ao

contrato promessa M5/+P nP/ pelo #ue só depois de analisar uma determinada norma do regime do

contrato promessa e se apurar a sua ratio! o seu fundamento! estaremos em condições de afastar ou não a

sua aplicabilidade ao contrato promessa. Assim não se aplica o /8-*P A Msó o contrato definitivo carece da

assinatura de ambos pois do contrato promessa com efeitos meramente obrigacionais não nascem efeitos

translativos mas apenas a obrigação de celebrar o contrato definitivo cu%o cumprimento poder0 vir a ser 

 poss6vel a#uando da celebração decisiva e final do mesmo se porventura o promitente vendedor obtiver o

consentimento necess0rio ( realiHação do negocio translativo da compra e venda.

'stamos então perante um incumprimento do cp de compra e venda por parte do promitente

vendedor [ os termos do contrato celebrado em Iulo de *++/ diHia)se #ue podia ser celebrado at& ao

fim de etembro $ incumpriu em /* de etembro[ A doutrina diverge. 4or um lado afirma #ue não 0

incumprimento por#ue era poss6vel! ainda #ue em teoria! #ue o promitente vendedor voltasse a ad#uirir o

 bem e vendesse aos promitentes)compradores. 4or outro lado! 0 incumprimento! pois não & e1ig6vel #ue

o promitente)ad#uirente! sabendo da venda! tena de esperar at& ao fim de etembro para saber se vai ou

não poder comprar o imóvel. MI< aca #ue 0 incumprimento.

Ruando ( e1ecução especifica uma veH #ue esta contrato promessa não tina efic0cia real os

direitos nascidos dele não se podem opor a terceiros pelo #ue não 0 direito ( e1ecução especifica"

) por#ue o direito real & mais forte do #ue o direito de cr&dito ) a venda #ue António e 9aria

fiHeram a 'duardo & v0lida e operou o direito de transfer=ncia de propriedade para 'duardo! não

sendo poss6vel a acção de e1ecução especifica por#ue o m01imo #ue o tribunal podia faHer era

decretar uma venda de bens aleios

) por#ue estamos perante um incumprimento definitivo

) por#ue 9aria não consentiu no contrato promessa ou se%a não & faltosa ) a e1ecução especifica

tem de ser intentada sobre a forma de acção contra #uem incumpriu o contrato)promessa $ 

apenas contra António por#ue 9aria não assinou $ não se conseguia #ue António soHinovendesse a coisa aos promitentes.

4elo #ue o contrato só poder0 ser resolvido ou anulado com fundamento no vicio de forma dando depois

lugar a indemniHação! en#uanto esta indemniHação não for paga! como ouve sinal M55/P e 55*P e entrega

do bem! t=m pois bernardo e Carla! o direito de retenção do bem nos termos do ,77P nP/ f .

/2//P ) reivindicação da propriedade.

 b Uma veH #ue ouve sinal nos termos do 55/P e #ue ouve a traditio da coisa nos termos do

55*P nP* e 2 era poss6vel a bernardo pedir a restituição do sinal em dobro M 5+ +++ ou uma indemniHação

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actualiHada M-+ +++ $ ,7 +++ *+ +++ W *7 +++. 4elo #ue a restituição do sinal em dobro & a solução

mais favor0vel a bernardo. 'duardo se estiver de m0 f& pode tamb&m ser responsabiliHado $ principio da

efic0cia e1terna da obrigações.

EndemniHação normal $ 78*P e ss.

c Bernardo e Carla podem invocar a alteração anormal das circunstancias e pedir a resolução do

contrato nos termos do 52,P! para tanto tem de estar preencidos os re#uisitos cumulativos ai

estabelecidos e tem de ser anterior ( mora segundo o 52-P! porem o -2+P nP2 vem alargar este regime

 permitindo a modificação por alteração das circunstancias mesmo posterior ( e1ist=ncia de mora.

Contudo no presente caso os re#uisitos do 52,P não estão todos verificados uma veH #ue a manutenção do

contrato não 0 contraria ( boa f&! para alem do #ue esta alteração não afecta a base do negocio! sendo #ue

& muito dif6cil conceber #ue tena fundado a sua decisão de contratar com base no facto de Bernardo e

Carla trabalarem em :isboa M4edro 'iró $ solução contraria . 9as bernardo para atingir o seu ob%ectivo

 pode sempre invocar a nulidade do contrato por vicio de forma M**+P! pela falta de formalidades ad 

 substan(iam Msão os ;nicos #ue a podem invocar $ art.5/+ nP2. <endo efeitos retroactivos! devolve)se o

sinal e pedindo at& uma indemniHação pelas benfeitorias #ue fiHeram #uando l0 viveram ) art./*,*P e

/*,2P..

VIII

Car"os! propriet0rio de um edif6cio situado em Coimbra! celebrou com  Duarte um acordo pelo

#ual se comprometeu a vender e Duarte a comprar o referido pr&dio pelo preço de * milões de euros. As

 partes acordaram #ue o contrato de compra e venda seria celebrado no praHo de /*+ dias.

Considere! separadamente! as ipóteses seguintes"

a o momento da celebração do contrato!  Duarte  entregou a Car"os  a #uantia de `/*7.+++.

Decorrido o per6odo de /*+ dias!  Duarte declara a Car"os #ue! devido a dificuldades financeiras

entretanto surgidas! dei1ou de estar interessado na a#uisição do pr&dio. 4retende! por isso!

recuperar o valor %0 entregue. Car"os considera #ue  Duarte se encontra vinculado pelo negócio

celebrado e #ue! conse#uentemente! poder0 ser obrigado a comprar o pr&dio de escritórios ou! aomenos! a indemniHar Car"os  pelos pre%u6Hos sofridos. uid iuris[

 b As partes atribu6ram efic0cia real ao contrato celebrado. Al&m disso! não foi constitu6do #ual#uer 

sinal! tendo Car"os! desde logo! facultado a Duarte a utiliHação dos escritórios. 4assado algum

tempo! Car"os  recebeu de  duardo  uma proposta de a#uisição do pr&dio pelo montante de *

milões e *++ mil euros. Considerando ser esta uma proposta muito vanta%osa! Car"os aceita)a e

celebra com duardo a correspondente escritura p;blica de compra e venda. Rue direitos poder0

 Duarte faHer valer contra Car"os eSou duardo[

c Dois meses após a celebração do primeiro contrato! Car"os  e  Duarte  outorgaram a escritura

 p;blica de compra e venda! na #ual declararam #ue o preço acordado seria pago no praHo de 2+

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dias e #ue a propriedade do edif6cio só se transmitiria com a concretiHação desse pagamento. De

imediato! Car"os entregou a Duarte todas as caves do pr&dio. O praHo fi1ado decorreu sem #ue

 Duarte li#uidasse a sua d6vida. Car"os  pretende reaver a utiliHação do edif6cio e ser indemniHado

 pelos pre%u6Hos sofridos. uid iuris[

3esolução"

aG C $ promitente)vendedor> D $ promitente)comprador. * milões de euros. Gouve entrega de

/*7+++`.

Conse#u=ncias do incumprimento"

/. '1ecução espec6fica $ art. -2+PS/! * e 2 e art. 55*PS2! /J parte! acompanada de indemniHação

moratória $ pedida a e1ecução espec6fica! pode ser pedida a modificação do contrato nos termos do art.

52,P pelo promitente faltoso>

*. 3esolução do contrato acrescida de perda do sinal>

A resolução aparece como alternativa ( e1ecução espec6fica e a perda do sinal como alternativa (

indemniHação moratória. Admitindo #ue o contrato & resolvido e se #uer uma indemniHação! só se tem

direito ao valor do sinal M/*7+++`[ Art. 55*PS5 $ num contrato)promessa com sinal passado! a

indemniHação corresponde ( perda do sinal! ( restituição do sinal em dobro ou ao valor actualiHado da

coisa! salvo disposição convencional em contr0rio.

bG 4romessa com efic0cia real $ 5/2PS*. 3egisto! declaração e1pressa! vontade $ direito real de

a#uisição. 'st0 em confronto com um direito real de goHo. igora o mais antigo. Acção

declarativaSconstitutiva at6pica intentada com lit6gio consórcio necess0rio passivo $ contra os dois. 4ode

faHer valer o seu direito real de a#uisição ad#uirido pelo contrato)promessa com efeic0cia real $ pedir a

coisa. ' nessa acção pede uma indemniHação pelos pre%u6Hos #ue resultaram da acção dos outros. Ruanto

a C $ responsabilidade contratual. Ruanto a ' $ indemniHação solid0ria. Ou pode desistir do pr&dio $ 

 pedir o valor da coisa actualiHada! mas não pode por#ue não 0 sinal. 'm opinião contr0ria! Ianu0rio

omes.

(G o art. 5+LP afasta o art. --8 e! assim! aplica)se o art. -+/P ) resolução e indemniHação. 4elo

interesse contratual negativo ou positivo[ 'm regra! faH mais sentido o negativo $ a resolução destrói

retroactivamente. 9as o 4rof. aH erra e Baptista 9acado afirmam #ue pode ser pelo interesse

contratual positivo. Contra senso[ A resolução & como se o contrato não tivesse sido celebrado! mas

vamos ser indemniHados como se tivesse sido cumprido.

IK

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'm /+ de 9arço de *++8!  ernando  prometeu vender a ?usta&o e este prometeu comprar)le um

andar de #ue a#uele & propriet0rio! situado em Braga! pelo preço de `*7+.+++. O promitente)comprador 

antecipou ao promitente)vendedor a #uantia de `7+.+++! tendo ficado acordado #ue o preço restante seria

 pago em deH prestações de `*+.+++ cada! #ue se venceriam no primeiro dia dos deH meses subse#uentes (

data da escritura p;blica de compra e venda. O contrato definitivo foi apraHado para o dia *7 de 9aio de*++8! mas a fracção foi entregue a ?usta&o no dia /7 de Abril desse ano.

Considere! separadamente as ipóteses seguintes"

a  ernando  recusou)se a celebrar o contrato definitivo! invocando #ue não se encontrava

vinculado pelo contrato)promessa! pois este fora realiHado sem o reconecimento das assinaturas

das partes. uid iuris[

 b ?usta&o não compareceu no cartório notarial para a celebração do contrato definitivo. Ruais os

direitos do promitente)vendedor[

c Uma veH celebrado o contrato de compra e venda entre  ernando e ?usta&o! este não efectuou!

na data prevista! o pagamento da s&tima prestação. Como pode  ernando  reagir a este

incumprimento[

3esolução"

aG F promete vender a F em /+.+2.*++8! por *7++++`. Antecipação de 7++++`. /+ prestações de

*++++` em deH meses. 9raditio em /7 de Abril de *++8. Contrato definitivo para *7.+7.*++8.

inal $ art. 55/P.

3esposta" 5/+PS2! parte final $ inobservncia de forma. ulidade. ó invoc0vel pelo promitente)

comprador. Fernando não pode invocar este fundamento a não ser #ue a omissão se%a imput0vel (

contraparte. Assentos de L7 e de L5! #uanto ( invocação por terceiros e conecimento oficioso do tribunal.

bG  Encumprimento do contrato)promessa pelo promitente)comprador. Ruais os direitos dacontraparte! avendo sinal Mart. 55+P e 55/P passado e sendo caso do art. 5/+PS2[

A $ pode pedir e1ecução espec6fica e indemniHação moratória Mart. -2+PS/! 2! 55*PS2! parte

inicial>

B $ resolver e conservar o sinal $ art. 55*PS*.

9at&ria dada por I<"

:evantar o tema de saber se a possibilidade de resolução e conservação do sinal pelo vendedor 

 poder0 ser pedida logo # se verifica #ue ustavo não comparece. 4odem estes direitos ser e1ercidos numa

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situação de simples mora ou & necess0ria interpelação admoniatória para a transformar em incumprimento

admoniatória[ A<U' A3':A" avendo sinal! embora sur%a como anormalidade ( luH do sistema!

 parece #ue entre nós os direitos da opção B podem ser e1ercidos pela simples mora. a lei! temos o

regime regra e esse não & o do contrato)promessa. 'mbora! doutrinariamente não foi este o camino mais

correcto! a verdade & #ue o foi. 4or isso 0 a reconecer #ue o%e em dia basta a simples mora para see1ercerem os direitos $ ressalva do art. -+-P! por remissão do art. 55*PS2! parte final. A:9'EDA CO<A"

não 0 desvio da promessa ao regime dos outros contratos. <emos apenas #ue numa promessa com sinal!

0 uma condição resolutiva t0cita #ue! logo #ue verifica o incumprimento! & resol;vel. Assim! não 0

mora! mas incumprimento desde logo. A:KO <':'" tem de aver transformação da mora em

incumprimento definitivo. 9''N' :'E<KO" o #ue & #ue se pode salvar da lei[ O #ue faH sentido & a

transformação. 9as tamb&m & verdade #ue 0 lei. o #ue diH respeito ao pedido da indemniHação

actualiHada! #ue esse pedido pode ser feito mal a%a mora M55*PS2! parte final. Agora! se estiverem em

causa os direitos do art. 55*PS* Msinal em dobro ou conservação esses só podem ser e1ercidos após a

transformação. O problema desta tese & a parte do art. 55*PS2! parte inicial. 3EB'E3O D' FA3EA"

defende A:KO <':' $ no 55*PS2 #uando se diH! sem pre%u6Ho...! significa #ue a remissão não & feita

 para o art. -+-P! na sua integralidade. Ruando remete! #uando ressalva! só o faH para os casos com

 prestações com praHo absolutamente fi1o. os demais casos! continua a ser necess0rio a transformação.

(G G0 a compra e venda e falta a s&tima das deH prestações. 'm tese 0 dois direitos. 3esolução.

4oderia! em princ6pio $ -+/PS*. '1cepção do art. --8P ) foi transmitida a propriedade e não 0 reserva de

 propriedade. <em de se ir ao --8P. ão pode resolver o contrato. 9as tem sempre de aver recurso ao

-+-P ) mas não pode resolver.

Art. ,-/P ) pode aver perda do benef6cio do praHo[ Antecipação da e1igibilidade $ tem de e1igir 

e só depois cobrar MA<U' A3':A. Ou antecipação de vencimento MA:9'EDA CO<A.

 ão 0 perda do benef6cio do praHo $ art. L25P ) prestação de /S/+. 4ode e1igir %udicialmente o

 pagamento Mart. -/,P! acrescido de %uros. ão pode resolver nem perde o benef6cio do praHo.

K

 +ntnio! propriet0rio de uma vivenda situada %unto ( barragem de 9ontargil! prometeu vender a

 Pento a referida vivenda! e este prometeu comprar)la pelo preço de `/7+.+++! tendo de imediato  Pentoentregue a +ntnio a #uantia de `*+.+++. As partes acordaram #ue a escritura p;blica de compra e venda

se realiHaria no praHo de seis meses. Al&m disso! António entregou a  Pento as caves da casa para #ue

este nela realiHasse obras de restauro.

Decorreram seis meses sem #ue a escritura p;blica se celebrasse! devido ( recusa de  +ntnio em

o faHer. 'ste! invocando ter)se verificado a valoriHação dos imóveis da região! pretende desvincular )se do

contrato celebrado com Pento! de modo a poder vender a vivenda a um terceiro por `/-+.+++.

 Pento reage! fi1ando um praHo adicional de #uinHe dias para a realiHação do contrato prometido!

findo o #ual e1ige a +ntnio uma indemniHação! por incumprimento do contrato)promessa! no montante

de `7+.+++! %untamente com o reembolso das despesas efectuadas nas obras de restauro da casa.

DIOGO CASQUEIRO   142

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Faculdade de Direito da UCP

 +ntnio declara #ue! em caso algum! est0 disposto a satisfaHer essas #uantias. e a isso fosse

obrigado! preferiria vender a vivenda a Pento pelo preço acordado de `/7+.+++.

 Pento recusa esta solução e reafirma as suas pretensões.

uid iuris [

3esolução"

 o caso em apreço estamos perante um contrato promessa bilateral de compra e venda de um

 pr&dio imóvel! mais concretamente um edif6cio pelo #ue se aplica o regime previsto no 5/+P nP2. o caso

ouve constituição de sinal nos termos do 55/P e para alem disso ouve a traditio da coisa. O comprador 

não faltoso tem assim direito perante o incumprimento do contrato promessa! ou 0 resolução do caso ou

0 e1ecução especifica Muma veH #ue estamos perante um regime imperativo. Caso bento recorresse (

e1ecução especifica podia António tentar intentar a modificação por alteração anormal das circunstancias

nos termos do -2+P nP2! por&m os pressupostos do 52,P não estão verificados! uma veH #ue não 0 uma

desvaloriHação anormal. Bento vai recorrer ( interpelação admonitória prevista no -+-P Mnotifica o

 promitente vendedor para #ue compareça no mesmo ou noutro local! em data posterior ou no dia #ue o

notificado preferir o efeito dentro de uma data raHo0vel $ Antunes arela entende #ue ser0 no praHo de /7

dias por analogia com o código civil italiano! sob a cominação de! no caso de nova falta de compar=ncia

se ter o contrato promessa por não cumprido $ definitivamente não cumprido. Assim sendo como

António voltou a incumprir pode Bento resolver o contrato Membora %0 o pudesse antes pois uma veH #ue

0 sinal passado não & necess0rio o incumprimento definitivo bastando para a resolução a simples mora ee1igir #ual#uer das sanções previstas no 55*P nP* ! restituição do sinal em dobro M5++++` ou

indemniHação actualiHada M7++++` ! assim sendo bento deveria optar pela indemniHação actualiHada pois

& a mais favor0vel. G0 partida poderia António de acordo com 55*P nP2 optar pela e1cepção do

cumprimento e celebrar o contrato definitivo em alternativa ao pagamento da indemniHação actualiHada.

4orem uma veH #ue ouve interpelação admonitória e conse#uentemente %0 estamos perante um

incumprimento definitivo! vem o prof A defender #ue %0 não ser0 poss6vel o promitente faltoso opor)se

eficaHmente opor)se ( aplicação da sanção mais onerosa re#uerida contra ele mediante o oferecimento do

cumprimento tardio da promessa.

Bento vem ainda e1igir o reembolso das despesas efectuadas nas obras! 0 partida pensar6amos #ue de

acordo com o 55*P nP5 isto não seria poss6vel! no entanto não estamos a#ui perante uma indemniHação

 pelo não cumprimento do contrato promessa mas sim perante uma indemniHação pelas benfeitorias

 previstas no /*,2P! pelo #ue seria sempre poss6vel.

KI

 Nuno estava interessado em ad#uirir o andar de +"berto. Nuno entrou em contacto com +"berto e este

vinculou)se a conceder)le prefer=ncia na venda do imóvel.

DIOGO CASQUEIRO   143

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Dois anos mais tarde!  +"berto  comunicou a  Nuno  #ue estava a pensar vender o andar por 

 `*++.+++ e perguntou)le se não estaria interessado em ad#uiri)lo nessas condições.  +"berto  não

comunicou! por&m! o nome da pessoa com #uem negociara a venda do andar pelo referido preço.  Nuno

comunicou a +"berto #ue ia pensar no assunto.

inte dias depois! +"berto vendeu o imóvel a :sabe"  por `*++.+++.a  Nuno pode intentar uma acção de prefer=ncia contra :sabe"  e +"berto[

 b A solução seria a mesma se  Nuno  em veH de ter feito o acordo com  +"berto  fosse seu

arrendat0rio[

Pacto de #re*er+ncia $ contrato preliminar. Definição" art. 5/5P ) incorrecto por#ue o pacto tem

um mbito maior do #ue a compra e venda. 9enos vinculativos para a parte do #ue o contrato)promessa!

 pois não 0 obrigação de contratar! mas apenas de dar prioridade no caso de vir a contratar.

Forma" duas ideias" M/ regra da liberdade de forma $ art. */LP> M* o art. 5/7P manda aplicar o

5/+PS* ) sempre #ue tena por ob%ecto uma coisa #ue apenas possa ser alienada por documento escrito

aut=ntico ou particular! a lei diH #ue só & v0lido se o pacto for reduHido a escrito! sob pena de nulidade!

nos termos do art. **+ e *-8P.

Convencional e legal" crit&rio da fonte. :egal & imposto por lei" caso do arrendamento.

Convencional" tem por fonte o contrato. Distinguir o #ue tem efeitos reais do #ue tem efeitos meramente

obrigacionais. eguir os re#uisitos do contrato)promessa" art. 5*/P para 5/2P.

uid iuris! se 0 prefer=ncia real convencional e prefer=ncia legal[ ão & caso do art. 5/LP. Dois

ou mais direitos titulados por duas ou mais pessoas $ art. 5**P. Os direitos convencionais! ainda #ue reais!

não prevalecem.

Rue acontece se sobre a mesma coisa ca6rem dois direitos de prefer=ncia legais[ Ruem tem o

melor direito de prefer=ncia legal & sempre o compropriet0rio" art. /5+LP ) #uer)se acabar com as

compropriedades Md0 granel. O direito de prefer=ncia na compropriedade só e1iste #uando se vende a

#uota a estranos. e a venda for a um terceiro compropriet0rio! %0 não 0 prefer=ncia $ art. /5+LP.

Como se e1erce e como se cumpre a obrigação de prefer=ncia[ Ruem est0 obrigado! tem de o

faHer por escrito ou basta faHer oralmente. Art. 5/8P" comunicar. 4rinc6pio do consensualismo $ não &

e1igida forma. 9as! na pr0tica & sempre por escrito por raHões de segurança" praHo de oito dias. ' para

saber se foi convenientemente comunicada.Conse#u=ncias" depende se tem efic0cia real ou meramente obrigacional. e tiver efic0cia real"

acção de prefer=ncia e indemniHação. e tiver efic0cia obrigacional! acção de indemniHação por 

incumprimento" art. ,L-P e ss.

3esolução"

A da prefer=ncia a por um imóvel na venda. 4reço" *+++++`. ão comunica a identidade do

 putativo comprador. ende a Esabel por *+++++`. uno pode intentar acção[

5/7P ) validade por escrito.

DIOGO CASQUEIRO   144

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Faculdade de Direito da UCP

 

'stes problemas podem ser só um! consoante a resposta ao primeiro" foi bem cumprida a

obrigação de dar prefer=ncia[ ão disse a #uem ia vender. <r=s teorias" M/ 9eneHes Cordeiro! alvão

<eles e 9eneHes :eitão e Ioão <iago $ sim! sempre essencial revelar a identidade Mideia da boa f&!

invocada por 9eneHes Cordeiro. 9eneHes leitão diH #ue só sabendo #uem & o terceiro & #ue o preferente pode verificar se as condições em #ue est0 a e1ercer a prefer=ncia são verdadeiras> M* Oliveira Ascensão

 $ não! nunca se revela a identidade Mart. 5/8P ) interpretação literal> M2 Antunes arela! Almeida Costa $ 

depende. Casos em #ue teno de dar a identidade" concorr=ncia! a#uisição de bens cu%o valor estimativo &

grande> ipótese do arrendamento. Ruando por força do não e1erc6cio da prefer=ncia se estabeleça uma

relação %ur6dica entre o terceiro e o preferente.

Ioão <iago $ foi incumprida a obrigação. Conse#u=ncias" o praHo & irrelevante. <em direito a ser 

indemniHado" ,L-P e 78*P. <eoria do efeito e1terno. Direitos de cr&dito não são opon6veis mas devem por 

todos ser respeitados.

Admitindo #ue não era necess0rio revelar a identidade! então a obrigação de prefer=ncia tina

sido bem cumprida. Ruestão do praHo" ou as partes convencionaram *+ dias ou mais $ violação> ou as

 partes não convencionaram $ praHo de oito dias. Caducou o direito.

 b tem uma prefer=ncia legal $ & arrendat0rio. e & legal! a tese do 9eneHes Cordeiro & obvia!

a#ui tamb&m defendida por AC e A. A tese de OA & indefens0vel a#ui. Foi incumprida a obrigação de

dar prefer=ncia. os direitos! as conse#u=ncias! pode faHer sua a coisa Mdireito real de a#uisição $ 

direito de prefer=ncia legal por meio de acção de prefer=ncia. O regime do arrendamento remete para o/5/+P" & uma acção real! a intentar em seis meses! sob pena de caducidade. Contra #uem[ A acção deve

ser intentada contra os dois" l6tios consórcio necess0rio passivo $ 4E3' D' :E9A! A<U'

A3':A e 9''N' :'E<KO Mcitação dos r&usV. e assim não fosse a acção morria. A:9'EDA

CO<A e 9''N' CO3D'E3O $ acção contra #uem tem a posse! o terceiro! se nessa acção! alem de

 pedir a coisa! pedir uma indemniHação ao obrigado ( prefer=ncia" l6tios consórcio volunt0rio passivo.

 o praHo de /7 dias deve ser depositado o preço. O #ue & o preço[ ó os *+++++`[

Caso da simulação. 4reço real menor $ prefere pelo valor real M*52PS/! --2P e *5/P.

KII

 +"berto!  Pernardo e Car"os são compropriet0rios de dois pr&dios r;sticos e das m0#uinas agr6colas

#ue neles se utiliHam. +"berto! decidido a abandonar a agricultura! escreve a  Pernardo! em Ianeiro de

*++8! perguntando se este #uer ad#uirir a parte dos referidos bens #ue le pertence a ele!  +"berto. 'm

resposta! Pernardo declara não estar interessado no negócio por não dispor de li#uideH para o realiHar.

'm 9aio de *++8! +"berto escreve a Car"os comunicando)le a intenção de vender a Danie"  a

#uota de um dos terrenos agr6colas de #ue & compropriet0rio pelo preço de `7+.+++! a não ser #ue Car"os

 pretenda ele próprio ad#uirir essa #uota pelo mesmo valor. Dois dias depois! Car"os  responde)le

afirmativamente! por escrito. Ao receber a carta de Car"os! +"berto telefona)le para le diHer #ue! tendo

DIOGO CASQUEIRO   145

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entretanto conseguido um comprador para a sua parte do segundo terreno e das m0#uinas agr6colas $ 

 duardo #ue est0 disposto a pagar o preço global de `87.+++ $ pretende saber se Car"os #uerer0 realiHar o

negócio nessas condições. a mesma conversa telefónica! Car"os responde afirmativamente.

4erante a aceitação de Car"os!  +"berto comunica a  Danie"  e a duardo #ue não poder0 realiHar 

os negócios pro%ectados.'ntretanto! o tempo passa sem #ue Car"os se dispona a celebrar a escritura p;blica de compra e

venda dos pr&dios r;sticos e a pagar a  +"berto o preço acordado para a alienação das m0#uinas agr6colas.

4or fim! Car"os afirma #ue mudou de ideias e #ue! de forma alguma! se considerava vinculado pelas suas

declarações anteriores.

I0 no final de *++8! +"berto vende a ernando a sua parte nos bens em causa.

4ergunta)se"

a 4oder0 +"berto e1igir a Car"os uma indemniHação pelos pre%u6Hos sofridos pelo facto de ter 

 perdido os negócios com Danie"  e duardo[ Com #ue fundamento[

 b 'm Ianeiro de *++,!  Pernardo  toma conecimento da venda das #uotas de  +"berto  a

 ernando e pretende e1ercer o seu direito de prefer=ncia en#uanto compropriet0rio.  +"berto e  ernando

consideram #ue! 0 cerca de um ano! Pernardo renunciara ao e1erc6cio da prefer=ncia. uid iuris[

c 4oderiam  Danie"   e  duardo  ter responsabiliHado  +"berto  pelos danos sofridos com a não

realiHação dos contratos %0 negociados[

KIII

 +ntnio mandou publicar no %ornal =Jo do +"ente3o> o seguinte an;ncio" ratifica)se com

 `/+++ #uem entregar na Gerdade do ale! uma vaca malada! de nome =<imosa>, #ue desapareceu no

dia /7 de Ianeiro de *++7! #uando era conduHida para outro pastoV.

Considere as seguintes ipóteses"

/  Pento! amigo de  +ntnio! a #uem este avia contado o sucedido! encontrou a

=<imosaV e prontificou)se a entreg0)la a +ntnio! mas este recusa)se a dar)le os

 `/+++! alegando #ue Pento não tina conecimento do an;ncio #uando encontrou a

vaca.

* Car"os andava ( caça com Danie"  #uando avistou a =<imosa>6 Como não conseguiu

apanar a vaca soHino! pediu a%uda a  Danie"  mas não #uer repartir com este os `/+++! %0 #ue! segundo alega! a vaca foi encontrada por ele.

2 Um m=s após o desaparecimento da =<imosa>,  +ntnio! afirma ao seu amigo

 duardo  e a outros reunidos no caf& =+ ;"an(ie>, #ue perdera as esperanças de

encontrar a vaca! pelo #ue ficava sem efeito a gratificação oferecida. o dia

seguinte! por&m!  duardo  encontra a =<imosa>6  Contudo!  +ntnio  recusa)se a

entregar)le os `/+++! invocando a conversa tida no caf&! no dia anterior. uid iuris[

Negócios ur;dicos unilaterais $ regra da tipicidade Mart. 57,P! contestada por alguma doutrina"

9eneHes Cordeiro $ a proposta contratual & unilateral por e1cel=ncia o #ue esvaHia o art. 57-P. A proposta

 pode abranger todo e #ual#uer negócio. 9as ser0 #ue este argumento pode %ustificar #ual#uer 

DIOGO CASQUEIRO   146

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Faculdade de Direito da UCP

derrogação[ ão. 4or#ue uma proposta não & uma verdadeira fonte de obrigações. O contrato #ue surge

com a aceitação. 'm #ue termos & #ue uma proposta pode criar obrigações[ 4or#ue ela & causa de um

estado de su%eição. O 4rof. 4edro 4ais de asconcelos diH #ue apenas se aplica o 57,P aos abstractos e o

art. 57-P aos causais Mde causa presumida. A regra da tipicidade impera para os negócios %ur6dicos

unilaterais de causa presumida.

3esolução"

/ <ipo de negócio de causa presumida" promessa p;blica $ art. 57LP a 58*P. Facto positivo e fica

desde logo vinculado ( promessa. Ad#uire o direito de e1igir a prestação prometida! mesmo #ue #uando

 praticasse o facto não tivesse conecimento do an;ncio p;blico.

' se ele tivesse falado com o amigo antes de publicar o an;ncio[ X partida não tem direito a

receber o dineiro. 4or#u=[ ão ouve uma promessa p;blica en#uanto negócio unilateral $ princ6pio da

tipicidade Mart. 57LP ) mediante ann(io pb"i(o. 9as se ele tivesse falado com o amigo! podia ser uma

 proposta contratual. e tivesse sido aceite gerava)se um contrato! com correspectivas obrigações para

ambas as partes.

* Art. 58*P. <ema" como se interpreta a promessa[ A promessa diH #ue o valor de gratificação

seria entregue a #uem a entregasse. Uma pessoa avista mas pede a%uda a outra para a entregar. Os dois

acabaram por entreg0)la. O facto de ser só a entregar não afastava o art. 58*P. Enteressa saber o #ue se

#uer com a promessa. 'm caso de d;vida! aplicação do sentido mais favor0vel ao promitente.

2 Art. 58+P e 58/P. A revogação & ineficaH por inobservncia de forma necess0ria[

9as ainda assim! António poder0 não pagar. G0 abuso de direito por parte de 'duardo. Art. 58/P

) a raHão de ser para a e1ig=ncia de forma" para garantir publicidade. e a pessoa #ue se coloca nas

condições testemunou a revogação! parece abusivo pedir a recompensa $ atenta contra a primaHia da

materialidade sub%acente.

KIV

 +ntnio  escreveu uma carta a  Pernardo  na #ual reconeceu dever)le `7++! sem! contudo!

indicar a raHão de tal d6vida. +ntnio não pagou os `7++ a Pernardo.

/ upona #ue o contrato de compra e venda! em virtude do #ual  +ntnio devia a citada #uantia

a  Pernardo! foi anulado por ter sido celebrado sob coacção moral. <er0  +ntnio  de pagar `7++ a

 Pernardo[

* upona #ue +ntnio! em veH de escrever a carta a  Pernardo! tina confessado a Catarina!

amiga de Pernardo! #ue devia a este `7++. <er0 Pernardo de provar #ue celebrou um contrato de compra

e venda com +ntnio! para e1igir o pagamento dos `7++ a este[

DIOGO CASQUEIRO   147

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3esolução"

/ A prova %0 foi feita. A relação fundamental não se pode presumir $ logo! não tem de pagar.

'feito deste negócio de reconecimento de d6vida $ o legislador vai presumir #ue essa d6vida

tem uma causa v0lida e! com tal! o credor fica numa situação protegida $ basta)le alegar a relaçãofundamental. ' & ao devedor #ue compete faHer a prova de #ue a relação fundamental não e1iste. O papel

assinado por #uem reconece vale como t6tulo e1ecutivo.

* Bernardo tem de provar #ue celebrou a compra e venda. 4ara #ue o reconecimento da d6vida

se%a produHa os efeitos favor0veis da presunção a favor do credor! & necess0rio #ue respeite as

formalidades impostas pelo art. 57-PS*.

KV

Analise o Acórdão do <ribunal da 3elação de :isboa de *, de ovembro de /LL, Min

Colectnea de Iurisprud=nciaV! tomo ! pp //+ e ss.

Concurso p;blico $ art. 582P>

As ccg aplicam)se aos contratos e não aos negócios %ur6dicos unilaterais>

As decisões do %;ri podem ser sindicadas[ Art. 582PS*" e1clusivamente. ão se pode faHer nada.

I<" o tribunal decidiu mal. Dentro de um concurso! podem aver decisões sobre mat&rias muito

distintas. este concurso avia prova de talento e concurso de cultura geral. O art. faH sentido #uanto ao

concurso de talentos e não #uanto ( cultura geral. G0 decisões #ue devem poder ser sindicadas pelos

tribunais $ o art. 582P não pode ser interpretado literalmente.

KVI

 +ntnio foi visitar o filo ao Canad0 e! por motivos aleios ( sua vontade! ficou fora mais tempo

do #ue inicialmente previa.  Pento! viHino e amigo de  +ntnio! conecendo a sua aus=ncia e

apercebendo)se de #ue este não iria regressar a tempo das sementeiras! decidiu proceder ele mesmo a essa

tarefa. Contudo! em veH de semear milo! como +ntnio vina faHendo todos os anos! decidiu introduHir 

uma cultura de centeio! pois os %ornais anunciaram #uebra brusca do preço do milo e a e1ist=ncia de

interesses favor0veis ( comercialiHação de centeio.

DIOGO CASQUEIRO   148

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Faculdade de Direito da UCP

Ainda durante a aus=ncia de  +ntnio! uma parte do telado da casa deste ficou destru6da! em

virtude de um temporal. 4ara p]r cobro a esta situação! Pento resolveu contratar a empresa de construção

civil =Construções <odernas, Lda> para restaurar o telado da casa. Pento optou por substituir todo o

telado utiliHando um tipo de tela mais moderno do #ue o #ue a casa tina! não só por#ue ficaria muito

mais económico! como tamb&m por#ue era uma forma de mudar a mentalidade de  +ntnio! #ue ele sabiaser e1tremamente conservadora. O telado custou `*+.+++! tendo  Pento  convencionado! em nome

 próprio! com a empresa de construção civil #ue o preço seria pago em deH prestações mensais iguais!

vencendo)se a primeira no m=s seguinte ( conclusão da obra.

/ 4assado algum tempo!  +ntnio regressa e recusa)se a pagar a Pento o #ue este gastou com a

cultura de centeio e as oras de trabalo dispendidas a cuidar da cultura! recusando)se a aprovar 

a sua conduta por entender #ue  Pento deveria ter semeado milo. Al&m disso! uma veH #ue os

resultados finais da actuação de Pento se vieram a revelar desastrosos! por#ue Pento descurou

certos aspectos t&cnicos relativos ( cultura do centeio!  +ntnio pretende ser indemniHado pelos

danos sofridos. uid iuris[

* Emagine! agora! #ue +ntnio tina aprovado a opção de  Pento. <er0 +ntnio de pagar a Pento o

#ue este gastou com a cultura do centeio e as oras de trabalo[ <er0 direito a receber a

indemniHação pedida[

2 A #uem poder0 a empresa de construção civil Construções <odernas, LdaV e1igir o pagamento

do preço correspondente ( substituição do telado[

5  Pento veio e1igir o pagamento de `*++ a  +ntnio! pelas despesas #ue suportou com a

contratação da =Construções <odernas, Lda> para restaurar o telado da casa. uid iuris[

3esolução"

/. 'stamos perante um caso #ue recai sobre a mat&ria da gestão de negócios $ intervenção não

autoriHada das pessoas na direcção de negocio aleio! feita no interesse e por conta do respectivo dono!

tem consagração legal nos artigos 585P e ss

4ara #ue a%a gestão de negócios & necess0rio #ue este%am preencidos os seguintes re#uisitos

cumulativos

/. #ue algu&m assuma a direcção de negocio aleio ) alienidade

*. #ue o gestor actue no interesse e por conta do dono do negocio $ 

intencionalidade

2. #ue não a%a autoriHação deste

<emos de ter em conta #ue a e1pressão negocio aleio não & a#ui utiliHada na acepção t&cnico

 %ur6dica pelo #ue não 0 problema de estarmos apenas perante um simples facto material Msementeira de

um campo. egocio aleio & assim praticamente sinonimo de assunto ou interesse aleio. 4elo #ue

#uanto ao primeiro re#uisito podemos diHer #ue est0 verificado. Ruanto ao segundo e ao terceiro tamb&m

não parece aver duvidas de #ue estão preencido. A gestão pressupõe não só a e1ist=ncia mas tamb&m a

DIOGO CASQUEIRO   149

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consci=ncia do negocio aleio. necess0rio #ue a actividade do Bento se destine a proteger um interesse

aleio! a satisfaHer uma necessidade de outrem e #ue ele tena consci=ncia disso! o #ue sucede no caso. '

tamb&m & claro #ue não e1iste nenuma relação %ur6dica convencional ou legal #ue autoriHe ou impona a

intromissão de bento na esfera %uridica de António.

Alem destes 2 re#uisitos parte da doutrina defende #ue para estarmos perante uma verdadeiragestão de negócios tem ainda de estar preencido mais um re#uisito! o da utilidade.

) Doutrina tradicional ) AC e A ) a utilidadeSnecessidade não são essenciais para se falar em

gestão de negócios mas a sua e1ist=ncia releva para determinarmos se actuação de gestor le d0

direito ao reembolso das despesas ou não nos termos do 58-P) a ine1ist=ncia de utilidade ou

necessidade não inviabiliHam a ocorr=ncia da gestão de negócios mas! em momento posterior!

 podem determinar a irregularidade da

) Doutrina moderna $ 9: e 9C ) defendem #ue utilidade & re#uisito essencial $ tese refutada por 

um argumento literal $ não & isso #ue consta do 585P

A doutrina defendida na universidade & a de #ue não & um re#uisito indispens0vel! e #ue releva

apenas para apurar da regularidade ou irregularidade da gestão! mas a sua aus=ncia não significa #ue não

a%a gestão de negócios.

Assim! e ma veH #ue estamos perante uma verdadeira a própria gestão de negócios teremos de analisar"

) as obrigações do gestor para com o dono do negocio $ para saber em #ue termos António pode

ser indemniHado pelos danos sofridos.

Bento tem de acordo com o 587P a um dever de fidelidade ao interesse e ( vontade real ou

 presum6vel do dono do negocio! assim segundo o 588P Bento responde pelos danos #ue causar por culpa

sua no e1erc6cio da gestão. A sua actuação considera)se culposa sempre #ue agir em desconformidade

com o interesse ou com a vontade real ou presum6vel do dono do negocio. O dever de obedi=ncia

simultnea ao interesse e a vontade do dono tanto vale para os termos em #ue a gestão deve ser iniciada

como para a forma por#ue deve ser e1ercida. 'ste interesse a #ue a lei aponta para distinguir a gestão

regular da gestão irregular! consiste na aptidão ob%ectiva do acto Mlevado a cabo pelo gestor para

satisfaHer #ual#uer necessidade real do dono do negocio.

A #uestão #ue a#ui cumpre solucionar & a de saber como deve o gestor agir no caso de o

interesse ob%ectivamente considerado ser diferente da vontade presum6vel ou real do dono do negocio[

 ormalmente a orientação ditada pela vontade presum6vel do dano coincidir0 com a #ue melor defende os interesses em causa! mas se assim não for! muitos autores entendem #ue deve dar)se

 preval=ncia ( orientação mais favor0vel aos interesses do dono.

Dada porem a ressalva estabelecida na parte final da a do 588P parece #ue a tutela mais

conveniente dos interesses em %ogo se deve #uando poss6vel medir pela vontade presum6vel do dono e

não por considerações ob%ectivas de utilidade social ou de mera raHoabilidade.

4or&m no presente caso esta #uestão nem se coloca em rigor! pois não 0 nada #ue nos diga no

caso a vontade real de António! & certo #ue ele não #uer a aprovar a gestão! mas isso no presente caso não

& relevante! pois o #ue est0 em causa não são vontades formadas ( posteriori mas sim a vontade real ou

 presum6vel ( data dos acontecimentos! assim sendo resta)nos descobrir a vontade presum6vel. Ao #ue

DIOGO CASQUEIRO   150

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Faculdade de Direito da UCP

tudo indica #ue se António soubesse da tempestade seria sua vontade introduHir a cultura de centeio $ 

apela)se ( figura do bom pai de fam6lia! um propriet0rio normal! o omem m&dio iria #uerer trocar de

culturas para valoriHar o seu terreno .

4elo #ue podemos concluir #ue #uando a gestão foi iniciadaSassumida seria uma gestão regular 

não se aplicando o 588P nP/ e pelo #ue o gestor tina o direito a ser reembolsado! por&m o facto de bentoter descurado certos aspectos t&cnicos relativos ( cultura de centeio %0 pode ser determinante para

cegarmos ( conclusão de #ue de acordo com a doutrina #ue defende #ue a regularidade da gestão tem de

ser apurada não só #uando & iniciada mas tamb&m nos termos em #ue a gestão & e1ercida! %0 poder6amos

estar perante uma gestão irregular. Assim aplica)se o 58-P nP*! não avendo reembolso das despesas ao

gestor e este & indemniH0vel apenas nos termos do enri#uecimento sem causa.

A recusa de aprovação no presente caso não & relevante

*. Gavendo aprovação da gestão duas ilações de maior relevo se e1traem dela"

/. Cessa a responsabilidade do gestor pelo danos #ue eventualmente tena

causado

*. 3econece)se o direito ao gestor de ser reembolsado das despesas #ue feH

Mda#uelas #ue o gestor fundadamente tena considerado indispens0veis $ benfeitorias

necess0rias! ;teis e de ser indemniHado do pre%u6Ho #ue sofreu por causa da gestão! cabendo

não só o dano emergente como os benef6cios #ue o gestor dei1ou de alcançar por causa da

gestão Mlucro cessante e nele devem ainda ser inclu6das as obrigações #ue o gestor tena

contra6do eu seu nome e não ceguem por #ual#uer raHão a ser transferidas para ointeressado.

A aprovação & assim o %u6Ho global! gen&rico! indiscriminado de concordncia com a actuação do

gestor pelo dano do negocio.

A aprovação da gestão confere ao gestor! Bento! o direito a ser reembolsado das despesas #ue

 %ustificadamente realiHou com os respectivos %uros! bem como a ser indemniHado do pre%u6Ho #ue tena

sofrido por causa da gestão! mas não le d0 o direito a ser remunerado pela actividade #ue tena e1ercido

Ma regra & a da gratuitidade ! salvo se corresponder ao e1erc6cio da actividade profissional #ue o gestor 

e1erça $ 5,+P nP/ e *. Como nada na ipóteses nos diH #ual & a profissão do Bento! temos de abrir as duas

ipóteses.

 ota ) ver tamb&m a diverg=ncia doutrinal #uanto ( culpa do gestor se deve ser apreciada em concreto ou

em abstracto.

2. O problema em an0lise coloca)se agora no mbito das relações e1ternas! ou se%a das relações

do gestor com terceiros.

O gestor celebrou o negocio em seu próprio nome! ou se%a estamos perante um gestão de

negócios não representativa. estes termos o negocio fica su%eito aos princ6pios #ue regem o mandato

sem representação pelo #ue os efeitos do negócio aproveitam imediatamente ao gestor! #ue deve no

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entanto transmitir para o interessado os direitos e obrigações dele decorrentes! con#uanto o dono possa

desde logo substituir)se ao gestor no e1erc6cio dos cr&ditos provenientes desse negocio $ 5,/P e //-+P e

ss. 3elativamente (s obrigações assumidas pelo gestor ou são assumidas pelo dono atrav&s da assunção de

divida M7L7P ou caber0 ao dono entregar ao gestor as #uantias necess0rias para a sua satisfação.

Caso a%a aprovação $ 58LP ) da gestão essas obrigações passam para a esfera do dono! no casonão 0 aprovação. A empresa pode assim dirigir)se ao gestor.

5. 'stamos perante uma gestão irregular! pois embora ouvesse um conflito entre o interesse e a

vontade presum6vel ou real de António. Bento tem de se abster dos actos #ue com pleno conecimento de

causa! o dono do negocio não praticaria por mais favor0veis #ue se%am os seus interesses. A gestão de

negócios e1ercida corresponde assim ao interesse de António mas não 0 sua vontade real ou presum6vel!

 pelo #ue deve ser considerada irregular! pois Bento ainda para mais sabia #ue António era uma pessoa

conservadora .

Assim faltando a aprovação do gestor os direitos do gestor dependem da prova #ue se faça

acerca da regularidade da sua actuação. Uma veH #ue esta actuação foi irregular! pois a gestão não

correspondeu ( vontade e ao interesse do dono! e sendo #ue não foi aprovada por este! alem de Bento

responder pelos danos #ue a%a causado! visto ter agido ilicitamente! não ter0 direito aos *++ `! só ter0

direito ( restituição do valor com #ue o dono do negocio in%ustamente se tena enri#uecido ( sua custa!

em lugar de atender ao desfal#ue #ue a gestão causou no património do gestor! apenas se considera o

valor #ue a e1pensas do gestor acrescentou ao património do outro interessado $ 58-P nP*

KVII

 Perta e Caro"ina residem em Cascais em duas vivendas geminadas. Durante os meses de erão!

 Perta via%ou para o estrangeiro não dei1ando #ual#uer indicação sobre a forma de ser contactada.

Dias mais tarde! a fecadura da porta da garagem de  Perta foi forçada durante a noite ficando a

 porta aberta. Caro"ina  tomou a iniciativa de contratar  Dionsio  para substituir a fecadura! ficando

acordado #ue o preço de `/7+ seria pago por Perta #uando esta regressasse.

Durante o per6odo de aus=ncia de Perta! Caro"ina tomou ainda a iniciativa de cuidar das plantas

de Perta! tendo para o efeito comprado terra! adubos e utens6lios de %ardinagem no valor de `2++.Após o regresso de Perta! Caro"ina e1ige)le o pagamento das despesas #ue teve com o %ardim.

 Perta  recusa)se a pagar argumentando #ue não le tina dado autoriHação para se imiscuir nos seus

interesses.

 Dionsio pretende #ue Perta le pague os `/7+! mas esta recusa)se diHendo #ue & Caro"ina #uem

deve pagar! %0 #ue foi esta #ue o contratou. uid iuris[

3esolução"

DIOGO CASQUEIRO   152

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Faculdade de Direito da UCP

/. 'sclarecer se estamos ou não perante uma verdadeira gestão de negócios! estão

 preencidos os re#uisitos do 585P Menumer0)los e e1plic0)los ) sim estamos

*. o #ue se refere 0 reparação da porta da garagem $ mbito das relações e1ternas Mgestor 

e terceiro) gestão representativa $ O art.5,/P remete para o regime da representação sem poderes ) *8-P

2. não avendo ratificação o negócio & ineficaH em relação a Berta! por aus=ncia de poderes representativos por parte de Carolina! por outro lado Carolina tamb&m não est0 obrigada pois não

celebra o negocio em nome próprio! mas sim em nome de Berta. 4ergunta)se o #ue sucede nestes casos!

fica Dion6sio completamente desprotegido[

) A ) a pessoa com #uem o gestor contratou su%eita)se nestes casos! ao risco de o

contrato não valer nem contra o gestor nem contra o dono! mas as pessoas podem sempre

 precaver)se atrav&s da faculdade conferida no *8+P #uanto 0 %ustificação dos poderes do

representante ) este argumento não procede pois este artigo concretiHa uma mera faculdade e

não um dever %ur6dico.

) poderia a#ui tamb&m colocar)se a ipótese de aver responsabilidade pr& contratual

nos termos do **,P caso carolina tivesse induHido Dion6sio em erro faHendo)o #uerer #ue ela era

representante de Berta

) alguma doutrina pretende aplicar a#ui o regime da nulidade com o argumento de #ue

se estaria perante uma invalidade por falta de su%eito material! o #ue legitimaria a restituição das

 prestações realiHadas ao abrigo do *-LP.

) 4orem a falta de uma das declarações negociais acarreta antes a não celebração do

negocio! sendo a restituição das prestações e1ecutadas um caso de enri#uecimento sem causa!

 por realiHação de uma prestação em vista de um efeito #ue não se verificou $ 5,2P nP*>5. Assim não avendo outro instituto Dion6sio tem direito a ser indemniHado nos termos

do 'C Mver as duas teses

7. o #ue respeita 0 iniciativa de carolina de cuidar das plantas $ mbito das relações

internas Mgestor e dono do negocio $ estamos perante uma gestão regular 

 o plano do reembolso das despesas 0 #ue saber se estas foram consideradas fundadamente

indispens0veis $ podemos considerar #ue sim ) 58-P ) dono do negocio & a obrigado a reembolsa)las

KVIII

Comente criticamente o Acórdão do upremo <ribunal de Iustiça! de ** de Abril de /L-8 M in

Boletim do 9inist&rio da IustiçaV! n.P 278! 9aio de /L-8! pp 27* e ss.

KIK

Considere as seguintes ipóteses"

DIOGO CASQUEIRO   153

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a A  pretende intentar contra % uma acção com fundamento em enri#uecimento sem causa com

vista a ser reembolsado dos `/+.+++ #ue entregou a este como pagamento de um apartamento

#ue le comprou por escrito particular.

 b A conseguiu agora identificar D! como autor do furto do seu automóvel! ocorrido 0 5+ meses.

4or sua veH! a eguradora K! com fundamento em enri#uecimento sem causa! e1ige de A  oreembolso dos `*7.+++! pagos a t6tulo de indemniHação pelo furto do carro agora recuperado.

c o ;ltimo atal! por engano! o primo de A entregou na resid=ncia de ! seu viHino! #uatro

garrafas de is! no valor de `*++! destinadas a A e #ue  consumiu de imediato.

A! abitual consumidor de is barato! pretende reagir contra ! #ue alega nada dever! %0 #ue

só bebe #uando não pagaV.

d Contratado por F! pelo preço de `/.7++! para pintar o e1terior do seu armaH&m! A enganou)se e

 procedeu ( pintura do armaH&m cont6guo! propriedade de G! #ue assim! de imediato! dispensou

os serviços de L! a #uem iria pagar `*.+++ para proceder a id=ntica tarefa. O armaH&m de G

ficou valoriHado em `/.,7+.

e em o consentimento de A! conecido apresentador de televisão! O  tirou)le algumas

fotografias! #ue veio a utiliHar numa campana publicit0ria de refrigerantes produHidos por uma

empresa de #ue & titular. A pretende reagir. uid iuris[

3esolução"

'nri#uecido & O. 'mpobrecido & A. G0 lugar 0 obrigação de restituir[ 7ese tradicional"

vantagem patrimonial ( custa da imagem do outro. A #uestão dos danos aos bens de personalidade &

irrelevante. er o empobrecimento patrimonial e o enri#uecimento patrimonial. ão sabemos os valores

do enri#uecimento. O empobrecimento & +`. Duplo limite $ a obrigação de indemniHar & de +`. <eoria do

dano real $ situação em #ue 0 enri#uecimento e não 0 empobrecimento. A medida da indemniHação &

dada por uma de duas vias" M/ pelo valor ob%ectivo da coisa apropriada Mvalor da imagem> M* pelo valor 

de todos os lucros e deduHidas todas as despesas e a per6cia. 7ese "oderna" valor do enri#uecimento real

 $ valor da imagem. Esto seria um convite a este tipo de condutas. O m01imo #ue poderia acontecer era

indemniHar o interesse de A. urge a outra tese dentro da tese moderna" M/ tese dos danos punitivos> M*

gestão de negócios imprópria $ não prevista no C.C. $ Antunes arela $ aplicar o art. 5,*PS/. e não

e1istir aprovação da gestão! aparece o enri#uecimento sem causa. e ele age ilicitamente não poder0aver aprovação! por#ue conscientemente gere um negócio aleio! sabendo #ue ele & aleio! mas

#uerendo tirar proveito dele. A#ui! se algu&m! #uando gere negócio aleio! entende erroneamente #ue o

negócio & próprio! fica su%eito aos deveres do art. 587P MeG. 'ntão! por maioria de raHão dever0 aplicar)se

o regime ( situação de algu&m #ue sabe #ue est0 a gerir um negócio aleio. 4roblema #ue isto levanta" (

aplicação deste regime do 587P! nos casos do art. 5,*P! pressupõe a aprovação da gestão. ' isto pressupõe

uma ren;ncia ( indemniHação. ' a#ui interessa a parte dos direitos de personalidade $ se #ueres ficar com

os lucros! renuncia ( indemniHação por violação do direito de personalidade. 7eoria dos  punitive

damages" se & responsabilidade civil então como se vai buscar os lucros[ o montante da indemniHação!

entra tamb&m uma parcela com função punitiva $ imposição ao lesante de restituir os lucros.

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a O regime do enri#uecimento sem causa vem previsto nos artigos 5,2P e ss

4ara estarmos perante um enri#uecimento sem causa tem de estar preencidos v0rios re#uisitos

cumulativos $ 5,5P

/. a e1ist=ncia de um enri#uecimento*. #ue esse enri#uecimento se obtena 0 custa de outrem

2. a falta de causa %ustificativa

4or&m ainda #ue estes re#uisitos se possam considerar preencidos! este instituto tem car0cter 

subsidi0rio ! ou se%a só vai actuar #uando não ouver mais nenuma meio %ur6dico de indemniHar o

lesado. o entanto no presente caso 0 outro meio %ur6dico de A ser indemniHado uma veH #ue o contrato

& nulo por vicio de forma M**+P ! ou se%a não se aplica o regime do 'C.

 ota ) #uando uma mesma conduta pode gerar danos e enri#uecimento sem causa! ser0 #ue a#ui

devido ( subsidiariedade deste ;ltimo instituto só se pode intentar acção de responsabilidade civil[

<em a doutrina ) AC A) entendido #ue 0 casos em #ue acção de responsabilidade civil pode

coe1istir com acção de enri#uecimento sem causa.

 b 'mpobrecido $ seguradora

'nri#uecido ) A

A seguradora tem o direito ao reembolso $ 5,2P nP* ) estamos perante um caso de

enri#uecimento por uma causa #ue dei1ou de e1istir! pelo #ue só no momento em #ue A recupera o carro

& #ue 0 em 'C M ou se%a no momento da realiHação da prestação e1istia uma causa %ur6dica #ue a

fundamentou! mas posteriormente ela veio a desaparecer! logo não se aplica o 5-*P.G0 pois obrigação de restituir nos termos do 5,LP 5-+P

<ese cl0ssica $ duplo limite

• enri#uecimento patrimonial W *7+++ ̀

• empobrecimento patrimonial W *7+++`

solução" a restituição ser0 de *7+++ `

<ese moderna

• enri#uecimento real W *7++`

solução" a restituição ser0 de *7+++ `

Coloca)se a #uestão do facto de o carro entretanto poder %0 ter desvaloriHado! pois %0 passou

muito tempo! e %0 não valer *7 +++` mas valer sim um preço inferior. G0 então causa parcial para reter 

 parte do dineiro. Emaginemos #ue o carro desvaloriHou 7 +++ ` então a seguradora só vai receber *++++

 ` pois foi ;nica e e1clusivamente isso #ue A enri#ueceu sem causa.

Cuidado ter em atenção praHos de prescrição.

c G0 'C nos termos do 5,2P nP/

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'nri#uecido $ A

'mpobrecido $ primo de A ou ' $ & irrelevante

7ese cl,ssica – du#lo li"ite• enri#uecimento patrimonial W + ` ) A #uando consome & is barato pelo #ue nunca teria

consumido a#uele

• empobrecimento patrimonial W *++`

solução" a restituição ser0 de + `

nota" a teoria do dano real & ( para as situações inversas em #ue o empobrecimento & Hero

7ese "oderna

• enri#uecimento real W *++`

solução"

) caso este%a de m0 f& M5,LP 5-+P ) a restituição ser0 de *++`

) caso este%a de boa f& ) a restituição ser0 o valor do enri#uecimento patrimonial caso este se%a

mais bai1o! o #ue sucede no caso! ou se%a +`

d G0 'C nos termos do 5,2P nP/

'nri#uecido ) 'mpobrecido $ F Mpode ser discut6vel

7ese cl,ssica – du#lo li"ite

• enri#uecimento patrimonial W /,7+ ` Mou *+++ $ discut6vel $ podia aceitar)se na modalidade de

 poupança de despesas

• empobrecimento patrimonial W /7++`

solução" a restituição ser0 de /7++ `

7ese "oderna

• enri#uecimento real W /,7+ `

solução" a restituição ser0 de /,7+` ) a#ui não se ola para a boa f& por#ue o montante seria o mesmo! e

caso se considerasse os *+++! pre%udicar)se $ia #uem estivesse de boa f&! pois o valor do enri#uecimento

 patrimonial seria maior do #ue o do enri#uecimento real.

7ese do tri#lo li"ite B tri#lo li"ite

) empobrecimento real $ /7++ ̀) empobrecimento ipot&tico $ *+++`

DIOGO CASQUEIRO   156

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) enri#uecimento real $ /,7+`

solução" a restituição deve ser de /7++ ` Mvalor mais bai1o

e 'mpobrecido $ A

'nri#uecido ) O

Ruanto ao valor da imagem Mviolação do direito de personalidade não 0 'C nos termos do

5,2P nP/ pois 0 outro meio de indemniHação do empobrecido M5,5P ) uma veH #ue 0 violação de um

direito de personalidade Mdireito absoluto! nomeadamente o direito ( imagem! direito este consagrado no

,LP! pelo #ue daria lugar a responsabilidade e1tra obrigacional por facto il6cito.

9as depois temos a #uestão do #ue ele lucrou com a venda da imagem e ai %0 podemos ter 'C

7ese cl,ssica – du#lo li"ite

• enri#uecimento patrimonial W 1 ` ) lucros obtidos com a venda da imagem

• empobrecimento patrimonial W +`

olução" nestes casos para corrigir a teoria do duplo limite! #ue ira levar ( situação de o lesado

ser indemniHado unicamente em Hero! pois & o valor mais bai1o! utiliHa)se a teoria do dano real para

corrigir a teoria do duplo limite $ ou se%a no presente caso seria o correspondente aos lucros menos as

despesas e per6cia.

7ese "oderna

• enri#uecimento real W valor da imagem

olução" conduHiria a uma solução tremendamente in%usta se o valor a indemniHar fosse só o

valor da imagem! pelo #ue seria um convite a #ue se desrespeitassem os direitos de personalidade para

obter lucros. Assim foi necess0rio corrigir esta teoria.

Assim podemos optar por uma de duas soluções"

/. gestão de negócios imprópria $ este instituto não esta previsto no nosso CC mas faH)se uma

aplicação analógica do 5,*P) mas corresponde ( situação em #ue o gestor gere por conta própria

um negocio #ue sabe ser aleio! verificando)se por a aus=ncia da intencionalidade só #ue não por 

falta da consci=ncia da alienidade mas antes pela e1ist=ncia de um animus depraedandi Mou se%a

f0)lo no interesse próprio. e ouver aprovação dessa gestão 0 restituição das despesas

tratando)se de gestão regular! se não for aprovada aplicam)se as regras do enri#uecimento sem

causa.

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4roblema $ 587 pressupõe aprovação W ren;ncia ao direito de indemniHação por direito

absoluto! direito de personalidade. 'sta teoria vai no fundo levar ao mesmo resultado da teoria

moderna" 3estituem)se os lucros ) 587Pal.e e subtraem)se as despesas ) art.58-PnP/.

*. punitive demages $ 0 responsabilidade civil! esta & fundamentalmente reparadora mas nomontante da indemniHação assume tamb&m a função punitiva.

KK

 +"%redo! comerciante de Caves! comprou a Pe"miro! grossista do 4orto 7++g de bananas pelo

 preço de `7++ para depois as vender no seu estabelecimento a `/!7 por #uilo.

Durante o tra%ecto! o camião #ue transportava as mercadorias ad#uiridas por  +"%redo no 4orto

despistou)se e embateu numa 0rvore. 'm raHão do acidente um #uinto das bananas ficaram esmagadas e

os restantes #uatro #uintos ficaram espalados pela estrada.

Ce"so! retalista da pe#uena localidade onde ocorreu o acidente e velo amigo de Alfredo!

recoleu as bananas espaladas pela estrada e p])las ( venda na sua mercearia pelo preço de `/!*7 por 

#uilo. os dias #ue se seguiram ao acidente! Ce"so vendeu 28+g das bananas recolidas! mas! vendo

#ue as remanescentes estavam prestes a apodrecer! Ce"so! a sua fam6lia e alguns amigos consumiram os

restantes 5+g! #uando! em condições normais! só teriam consumido /+g.

<er0 Ce"so de pagar alguma #uantia a +"%redo ou a Pe"miro[ 'm caso afirmativo indi#ue por#u=

e #ual o montante em #ue estima essa obrigação.

3esolução M#uestão de '\A9'"

estão de negócios e enri#uecimento sem causa. Obrigações gen&ricas.

Pressu#osto a #ro#riedade das bananas < do Al*redo-

9at&ria dada por I<" as obrigações gen&ricas a transfer=ncia da propriedade ocorre #uando se

d0 a concentração da obrigação" art. 75/P ) uma coisa gen&rica & a #ue se determina por referencia a um

g&nero Mtem #ue ver com o conceito de fungibilidade. O art. 5+-PS* ressalva as obrigações sobre coisasgen&ricas $ momento da concentração da obrigação. A concentração & a operação material e %ur6dica

atrav&s da #ual a coisa gen&rica passa a ser espec6fica! individualiHada. A concentração d0)se com o

cumprimento. O art. 75/P d0 alguns e1emplos de momentos de concentração. A propriedade pode

transferir)se a propriedade por virtude de uma das causas previstas no art. 75/P ) remissão para o ,L,P )

d6vidas de envio.

'mpobrecido & o Alfredo e enri#uecido & o Celso. 7++`g! apanou 5++g. 28+g foram

vendidos e 5+g foram consumidos. Duas ipóteses" M/ vendeu no interesse e por conta do amigo> M*

vendeu por conta e interesse próprio. e ele vendeu na ipótese / $ temos gestão de negócios.

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Conse#u=ncia $ era regular por#ue e1ercida no interesse e vontade presum6vel do dono. Art. 58-PS/ $ 

Celso teria de ser reembolsado de todas as despesas e teria de devolver o preço. 'ra retalista! pelo #ue

tina direito a ser remunerado Mart. 5,+P. e ele vendeu na ipótese *! gestão de negócios aleios $ 

gestão de negócios imprópria $ art. 5,*P ) regime por maioria de raHão do art. 5,*P ) nesta situação o C

tina de restituir o lucro M587P! eG e era reembolsado pelas despesas.Ruanto aos 5+g #ue consumiu #uando em situações normais só teria consumido /+g!

enri#uecimento sem causa. Duas teses" M/ tradicional. alor do empobrecimento! por#ue ele não teria

comido" +`. alor do enri#uecimento" /+ veHes o valor de compra por #uilo pelo Celso" valor \. A

obrigação de indemniHar & o menor valor. 9as dano real" Ma lucro por intervenção $ restituição de todos

os lucros com dedução das despesas> Mb poupança de despesas $ valor de mercado do bem> M* moderna"

enri#uecimento real" 5+ veHes o valor das bananas. De boa f& $ valor do enri#uecimento patrimonial" /+

veHes o preço #ue daria pelas bananas.

KKI

Comente criticamente o Acórdão do upremo <ribunal de Iustiça! de *2 de 9arço de /LLL M in

Colectnea de Iurisprud=ncia ) Acórdãos do <IV! Ano EE! /LLL! <omo E! pp /,* e ss.

KKII

 Ra(arias  dirigiu)se ao ipermercado =O(eano>  para ad#uirir um televisor.  Ra(arias! omem

abitualmente distra6do! embateu num e1positor de m0#uinas fotogr0ficas! tendo com essa conduta

danificado todas as m0#uinas #ue se encontravam no e1positor. As m0#uinas tinam sido ad#uiridas por  `/+.+++ e iriam ser vendidas por `/7.+++. uid iuris[

3esolução"

Gipótese de responsabilidade e1tra)contratual! por factos il6citos culposos. 3e#uisitos da

responsabilidade" facto! dano! culpa! ne1o de causalidade.

4roblema da culpa" apreciada Mart. 5-,P $ em abstracto!  pater %ami"iae. eglig=ncia

inconsciente. Qnus da prova da culpa recai sobre o lesante.

Dano" danos emergentes e lucros cessantes. Dano real e dano patrimonial. Dano real $ /++++`.

Dano patrimonial $ /7+++`. Como se indemniHa[ Art. 788P ) restauração in naturam $ entregar todas as

m0#uinas id=nticas. e não for poss6vel tem de indemniHar em dineiro. <eoria da diferença $ o dano

indemniH0vel & o dano patrimonial. A diferença entre os dois valores eram os lucros cessantes" /++++`

lucros cessantes.

KKIII

 os termos da :ei sobre egurança nos 'spect0culos 4;blicos! os cinemas e teatros são

obrigados a fi1ar as cadeiras ao pavimento. O cinema =LumiSre> violou essa disposição.

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 +ntnio! #ue foi ao cinema com a namorada! Perta! foi surpreendido com a entrada de C@"io! seu

inimigo de infncia! #ue acto cont6nuo se dirigiu a  +ntnio e o começou a socar.  Perta! irada e fora de si!

 pretendendo proteger o seu mais #ue tudoV! atirou uma cadeira a C@"io! #ue caiu inanimado.

C@"io pretende obter uma indemniHação do cinema =LumiSre> por não ter as cadeiras pregadas

ao cão eSou de Perta! #ue le atirou a cadeira. uid iuris[

3esolução"

:eg6tima defesa e responsabilidade e1tra)contratual. O esmurrado #uer pedir uma indemniHação

 $ constitui facto il6cito a violação de direitos de outrem ou de uma disposição legal destinada a proteger 

interesses aleios. O cinema violou a lei. <r=s re#uisitos" norma legal ou regulamentar! tutela de interesses

 particulares! o dano ocorrido tem de pertencer ao c6rculo de interesses tutelado pela norma. ão est0

verificado o terceiro re#uisito. o caso do cinema a raHão & de evitar #ue num caso de inc=ndio se possa

sair da sala sem tropeçar nas cadeiras. ão est0 reunido o pressuposto da ilicitude. orma do art. 5,2P )

não pode pedir contra o cinema.

9as pode ser pedida contra Berta. iolou direito de outrem. 9as Berta agiu em legitima defesa

Mart. 22,P. Caso de e1clusão de ilicitude" agressão actual e il6cita! contra o próprio ou terceiro!

impossibilidade de recorrer aos meios normais de tutela dos direitos! a defesa não pode ser 

mani%estamente superiror ( agressão. Admitir a ipótese de e1cesso de legitima defesa! atenuado pelo

medo #ue ela sentiu pela agressão ao namorado $ art. 22,PS*.

KKIV

Considere as seguintes ipóteses"

a  +ntnio  agrediu  Pento! agressão ligeira! mas a re#uerer tratamento ospitalar. o

ospital! Pento contraiu uma doença grave! rara e altamente contagiosa #ue veio a

causar a sua morte.

3esolução"

4roblema" 0 ne1o de causalidade[

0rias teorias" M/ da e#uival=ncia $ desde #ue o dano tena sido provocado. '#uival=ncia entre

condição e causa. <odas as condições são causa ade#uada do dano> M* da ;ltima condição> M2 da

condição eficiente> M5 da causalidade ade#uada $ #uestão" uma condição indirecta não pode constituir 

causa do dano[ preciso #ue o ne1o se%a relevante em abstracto.

O ne1o de causalidade diH #ue para aver obrigação de indemniHar em contratual ou não! deve

e1istir um elo de ligação entre o facto e o dano. O ne1o vem definido no art. 782P do C. Civil. $ só e1iste

a obrigação de indemniHar face aos danos #ue o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a

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lesão. 4rovavelmente & a e1pressão #ue permite concluir #ue o Direito portugu=s! partindo da

e#uival=ncia acaba por faHer intervir um %u6Ho de prognose abstracto e posterior para provar o elo entre o

facto e o dano. ão basta diHer #ue foi condição do dano a#uele facto. 'm termos abstractos esse facto

tem de ser ade#uado a produHir a#uele dano $ teoria da causalidade ade#uada. Duas ideias" M/ o facto

tena sido em concreto causa do dano> M* tem de ser causa ade#uada do dano em termos abstractos. Ateoria da causalidade ade#uada tem v0rias interpretações. Como se interpreta[ 4odemos ser mais ou

menos rigorosos. A al6nea a permite perceber isto. O António não tem de indemniHar o dano por#ue 0

um dano morte com a causa directa $ perman=ncia no ospital $ e causa remota $ agressão. DiHer apenas

isto não & satisfatório. 9esmo segundo a causalidade ade#uada! concorrem v0rias causas para o dano. A

teoria & admite a e1ist=ncia de v0rias causas! uma directa e outra indirecta ou remota. O facto de a

agressão ser causa indirecta da morte! isto permite diHer #ue o A & responsabiliHado. 9ais" a doutrina!

A:9'EDA CO<A! diH #ue no dom6nio da responsabilidade por il6cito culposo! a teoria da causalidade

deve ser formulada em termos mais amplos para proteger o lesado. A e1ist=ncia de duas ou mais

condições como causa directa e indirecta ! todas elas devem ser aptas a consideradas. <em de ser o

lesante! para ficar isento! a alegar e provar %udicialmente #ue a#uela condição da #ual & respons0vel se

mostre desade#uada a produHir esse mesmo dano! de acordo com as condições normais da vida.

Conclusão" A não deve responsabiliHado! por causa da palavra rara na ipótese. normal #ue

num ospital se possa contrair uma doença. 4or isso não basta para diHer #ue A não & respons0vel. A! com

a agressão sabe #ue com a agressão leva ao ospital! mas não #ue vai contrair uma doença rara.

 b Ce"so  agrediu  D'rio  em termos de ter podido provocar a sua morte. o entanto!

 D'rio! graças ( sua e1cepcional robusteH f6sica acabou por se salvar dos efeitos daagressão! mas acabou por morrer uma veH #ue ( sa6da do ospital foi atropelado por 

um ve6culo.

3esolução"

mais f0cil isentar o lesante de responsabilidade civil! por#ue 0 duas causas. O dano morte &!

em concreto! causado pelo atropelamento. A causa remota e indirecta & a agressão. A causa ainda & mais

remota. Ainda #ue se possa diHer! naturalisticamente! veio a causar a morte com a agressão! meteram)se

factos no meio #ue fragiliHam muito o ne1o de causalidade. 9ais" a agressão pode causar a morte em

resultado de ferimentos. ão ser0 nunca apta a causar morte por atropelamento.

c  duardo agrediu ernando. A agressão foi ligeira mas ernando! #ue sofria de uma

lesão craniana grave! acabou por morrer em virtude da agressão.

3esolução"

DIOGO CASQUEIRO   161

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Dano morte causado por dano morte. G0 só uma condição #ue & causa ;nica do dano. <eoria da

causalidade ade#uada" em concreto foi causa do dano! mas em abstracto! & causa ade#uada para a

 produção do dano[ A agressão & ligeira! mas tina uma lesão grave craniana. X partida! não 0 ne1o de

causalidade. 4or&m! se ele sabia ou devia saber #ue era uma pessoa com sa;de d&bil! averia ne1o de

causalidade. 9as isto & p]r em evid=ncia o concreto sobre o abstracto $ teoria da (onditio sine Buanon.4oderia ainda levantar)se do grau de culpa" dolo eventual M#ue se li1e... ou neglig=ncia consciente.

Enteressa para o art. 5L5P ) montante da indemniHação.

KKV

 +ntnio envenenou o cavalo de Pento! seu inimigo! no intuito de o pre%udicar. O cavalo acabou

 por&m por morrer antes do veneno surtir efeito! por#ue foi abatido a tiro por Ce"so! #ue! tal como

 +ntnio! #ueria pre%udicar Pento. er0 +ntnio respons0vel pelos danos sofridos por Pento[

3esolução"

Causalidade virtual $ relevncia positiva da causalidade virtual.

<ema" ne1o de causalidade. O problema & o de causa virtual versus causa real. Dano causado

numa coisa Msemovente. Esto só faH sentido por#ue o cavalo & uma coisa. 'sse dano tem causa real $ tiro.

A verdade & #ue se não fosse disparado a coisa era destru6da em resultado do envenenamento $ causa

virtual. Ruanto a estas 0 dois temas" relevncia positiva e negativa Mo autor da causa real pode invocar a

causa virtual para ficar isento ou obrigado por valor inferior. A situação #ue resulta da lei & a de #ue fora

dos casos previsto na lei $ 5L/P! 5L*P! 5L2PS/... $ não 0 relevncia negativa da causa virtual. A#ui & a

relevncia positiva $ o autor da causa virtual pode vir a ser responsabiliHado pelos danos #ue a condição

#ue ele efectuou pode ser responsabiliHado pelo danos #ue a sua condição viria a produHir. ão 0

relevncia positiva da causa virtual. ão tem #ue indemniHar $ fala um dos pressupostos" não foi em

concreto causa do dano. <odavia! 4'3'E3A CO':GO admite #ue embora não a%a relevncia positiva!

 pode aver responsabilidade pelo efeito parcial $ o cavalo #uando morreu %0 estava doente! %0 não valiatanto. O tiro $ causa directa da morte! causou um dano #ue não se considera o dano da coisa. 'ra o dano (

altura em #ue o dano real ocorreu. O A indemniHa pelo dano e C pelo #ue resta. ' fala)se a#ui de valor de

uso. 'm termos pr0ticos opera)se #uase o mesmo resultado de aver relevncia positiva da causa virtual.

 o caso de pessoas não 0 relevncia positiva da causa virtual! nem o #ue 4'3'E3A CO':GO

raciocina.

KKVI

DIOGO CASQUEIRO   162

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Faculdade de Direito da UCP

 +ntnio! doente mental internado num estabelecimento psi#ui0trico! consegue iludir a vigilncia

do enfermeiro e foge. +ntnio dirige)se! então! a um caf& onde se envolve numa acesa discussão com

 Pento! propriet0rio do mesmo! agredindo)o e acabando por destruir mobili0rio! mercadorias e outros

ob%ectos. +ntnio acaba por ficar! tamb&m! bastante ferido.

Ruem poderão +ntnio e Pento accionar tendo em vista a reparação dos danos sofridos[

3esolução"

A #uem o agredido pode pedir responsabilidade[ O próprio malu#uino tamb&m pode pedir 

responsabilidades[

3elativamente ao B $ agredido pelo A. 4ode pedir responsabilidades a #uem[ M/ $ B pode pedir 

responsabilidade ao A[ Ou o próprio A era uma pessoa capaH de entender e #uerer e respondia pelo art.

5-2P por facto il6cito! ou mesmo inimput0vel e presume)se a inimputabilidade dos interditos por anomalia

 ps6#uica! podia admitir)se a imputabilidade ao abrigo do art. 5-LP ) responsabilidade. M* responsabilidade

do vigilante $ art. 5L/P ) & aplic0vel por#ue pressupõe #ue o incapaH por força de lei ou negócio! este%a

sob vigilncia! causa danos a terceiros. caso de responsabilidade sub%ectiva $ a culpa est0 & presumida.

A ;nica forma de o vigilante não ter de indemniHar seria" a $ invocar #ue tina cumprido o dever de

vigilncia> * $ invocar a relevncia negativa da causa virtual.

2 $ B pedia uma indemniHação ao ospital por responsabilidade e1tra contratual pelo art. 7++P. B

não tina contrato com o ospital. B pode pedir indemniHação ao ospital ou ao vigilante! e se pedir a

uma destas duas não pode pedir ao A. A responsabilidade & solid0ria entre o vigilante e o ospital e 0

direito de regresso Mart. 5L,P e 7++PS2. <amb&m se podia admitir #ue o ospital respondia por culpa.Ruanto ao A! podia pedir ao B invocando a agressão. B podia invocar a legitima defesa. 4odia

tamb&m pedir ao vigilante ao abrigo do 5-8P e tamb&m ao ospital! ao abrigo do art. -++P Mcontrato.

Comitente)comiss0rio" responsabilidade civil desta modalidade. M/ relação de comissão. <ema"

o #ue & uma relação de comissão" vinculo %ur6dico por força do #ual uma encarrega outra de uma tarefa.

'sta tem determinadas caracter6sticas[ A tese de 3AA <3EO segue a doutrina MA<U' A3':A

' A:9'EDA CO<A #ue diH #ue esta relação pressupõe uma ideia de subordinação do comiss0rio face

ao comitente $ relação laboral> M* #ue sobre o comiss0rio recaia a obrigação de indemniHar. <ema" só 0

lugar ( responsabilidade se o comiss0rio tiver de indemniHar. A responsabilidade do comiss0rio tem de ser 

 por facto culposo! ou pelo risco e por facto l6cito[ 4ode ser por #ual#uer uma das tr=s. Art. 7++PS2 $ só 0

lugar a indemniHação de responsabilidade com culpa. 9as a norma deve ser interpretada em termos

amplos. O art. /87P manda aplicar o art. 7++P ) abrange #ual#uer acto de um órgão da pessoa colectiva>

M2 acto praticado no e1erc6cio e por conta das funções. A responsabilidade do comitente & uma garantia

 por#ue 0 o direito de regresso! por isso não 0 raHão para restringir a aplicação da norma.

KKVII

DIOGO CASQUEIRO   163

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 !oana! famosa actriH! contratou a empresa Cães e"ies, LdaV para passear o seu cão uma ora

 por dia. !oão! empregado da empresa! foi passear o cão de  !oana. !oão ao avistar 9eresa! sua amiga de

longa data! dei1ou escapar a trela atrav&s da #ual segurava o cão de !oana. 'ste foge e morde !oaBuim.

 !oaBuim #uer ressarcido dos danos #ue sofreu. Contra #uem pode deduHir a sua pretensão[

3esolução"

Contra #uem pode Bento pedir uma indemniHação[ 4ode pedir a"  /. Ioão" com fundamento no art.5L2 nP/> Ioão responde pelos danos #ue Ioa#uim sofreu a titulo de

vigilante> responsabilidade sub%ectiva com culpa presumida! ou se%a! a ;nica forma de Ioão não responder 

 pelos danos & conseguindo alegar e provar #ue ou não teve culpa nos danos causados ou invocar a

relevncia negativa da causa virtual>  *. Ioana" com fundamento em responsabilidade ob%ectiva Mart.7+*P $ um dos danos #ue pode ser 

causado a uma pessoa por um animal & o de esse animal morder essa pessoa! sendo #ue Ioana responde

independentemente de culpa por#ue! de alguma forma! ela est0 a tirar vantagens de ter o animal M#uem

tem as comodidades deve suportar os pre%u6Hos #ue essas coisas causem>  2. empresa" com fundamento em responsabilidade ob%ectiva $ Mart.7++P e não -++P por#ue não 0

#ual#uer relação contratual entre Ioa#uim e a empresa! tendo de se verificar os re#uisitos da relação

comitenteScomiss0rio"a relação de comissão>

 b obrigação de indemniHar a cargo do comiss0rio MIoão est0 obrigado a indemniHar com fundamento em

responsabilidade com culpa presumida>c acto praticado no e1erc6cio das funções #ue aviam sido cometidas ao comiss0rio<odos os re#uisitos estão verificados

) o comitente Mempresa & a pessoa #ue garante #ue o lesado vai receber a indemniHação.'stamos perante uma situação de responsabilidade solid0ria de 2 pessoas #ue! ainda a t6tulos diferentes

Mrisco $ empresa> risco mas diferente $ dona do cão> titulo diferente de culpa $ Ioão! atinge os 2. Assim! a pessoa mordida! vai pedir uma indemniHação e pode pedi)la a #ual#uer um deles Mse fosse

responsabilidade con%unta! tina de se pedir a cada um deles a #uota parte #ue cada um deles contribuiu

 para o dano! não avia direito de regresso ! ou se%a um paga a totalidade da indemniHação depois aver0

direito de regresso.

4odemos ainda admitir #ue empresa não tena direito de regresso! caso incorra por e1emplo em culpa por 

escola do lesado! caso tenam e1istido instruções #ue causaram dano etc.

KKVIII

Ruando conduHia um camião cisterna de transporte de materiais inflam0veis por uma Hona

isolada do Alente%o!  +ntnio  despista)se provocando uma avaria no ei1o do camião. O camião fica

imobiliHado na berma da estrada en#uanto  +ntnio  decide ir almoçar! tendo #ue percorrer a p& uma

distncia de cinco #uilómetros.

Uma ora depois de +ntnio ter abandonado o camião! este e1plode causando avultados danos

no pr&dio de Pento.

<er0 Pento direito a ser indemniHado[

DIOGO CASQUEIRO   164

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3esolução"

 o caso em an0lise não se trata de um caso de responsabilidade ob%ectiva por acidente de viação!

art.7+2P a 7+-P. 4ois a previsão do 7+2P apenas abrange danos #ue decorram de risco próprio do ve6culo ea deterioração do pr&dio não cabe a#ui.

O facto de o veiculo não se encontrar a circular em nada impede #ue não se%a um caso de

responsabilidade ob%ectiva mas não & a nossa ipótese.

<rata)se de caso do art.5L2PnP* A responde com culpa presumida e a#ui não se pode invocar a

relevncia negativa da causa virtual. 9eneHes :eitão diH a este propósito #ue A pode ficar isento se

 provar #ue empregou todas as provid=ncias necess0rias.

o ;nico caso de responsabilidade civil por culpa lev6ssima! caso não tena levado a cabo uma

dessas provid=ncias #ue só um omem muito diligente faria. este sentido! este autor entende #ue A podeilidir a presunção embora não possa invocar a relevncia negativa da causa virtual.

KKIK

 !"ia conduHia o seu automóvel! #uando subitamente este ficou sem travões! impedindo)a de

travar a tempo de evitar atropelamento de  8i(ardo #ue atravessava a rua distraidamente e fora da

 passadeira.

<er0 !"ia de indemniHar 8i(ardo pelos danos sofridos[

3esolução"

/. I;lia responde por força do 7+2P nP/ $ tr=s pressupostos"

a circulação de um veiculo ) direcção efectiva

 b veiculo terrestre

c utiliHação no próprio interesse! ainda #ue o automóvel este%a a ser conduHido por um

comiss0rio*. estamos perante uma responsabilidade ob%ectiva $ & independente de culpa. 4orem poder0 ser 

importante provar a culpado lesante! para o caso de o lesado tamb&m ter culpa e para efeitos de

limites m01imos do 7+-P ) vem fi1ar como limite o capital m6nimo do seguro obrigatório nos

casos em #ue não 0 culpa do respons0vel

2. o facto de ficar sem travões não & imput0vel a titulo de culpa! est0 inerente aos riscos próprios da

circulação MI não tina culpa a menos #ue se provasse #ue não tina ido ( inspecção

5. alem do risco temos de ter em conta #ue e1iste uma conduta volunt0ria do lesado #ue

culposamente contribui para o dano

7. 7+7P M& irrelevante no caso de responsabilidade sub%ectiva $ 2 casos de e1clusão deresponsabilidade ob%ectiva $ #uando o dano resultar

DIOGO CASQUEIRO   165

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a do lesado

 b de terceiro

c de causa de força maior

mas neste caso não 0 causa de força maior estrana ao funcionamento do veiculo Mcausa

fortuita vs causa de força maior W acontecimentos imprevis6veis cu%as conse#u=ncias não podem ser previstas antes! nem evitadas

8. neste caso temos um acto praticado pelo lesado aplicamos ou não o 7+7P[ Depende da posição

adoptada ) o artigo 7+7P pressupõe #ue a causa se%a imput0vel ao lesado! não & necess0rio culpa

M mas & necess0rio #ue não tena ocorrido nenuma outra causa

,. o lesado & inimput0vel $ 0 culpa[ ão ) mas o 7+7P não e1ige culpa só e1ige #ue se%a

e1clusivamente imput0vel ao lesado

-. casos de concausalidade ) casos em #ue e1istem duas ou mais causas. este caso a culpa do

lesado e o risco do veiculo $ aplicamos ou não o 7+7P[ A doutrina diverge"

a tese cl0ssica M4:! A! 9:! 9C ) afirma #ue se e1istir culpa do lesado e a mesma concorrer 

com o risco próprio do automóvel! e1clui)se a responsabilidade do lesante por força de um

argumento de maioria de raHão $ 7,+P nP*! ou se%a avendo a culpa do lesado o lesante não &

responsabiliHado este ultimo pois a culpa do lesado absorve o risco.

 b <ese moderna MAC $ mesmo #uando 0 culpa do lesado e esta concorrer com o risco! não

se pode e1cluir a responsabilidade do condutor. mais protector do lesado. O artigo 7+7P

aplica)se assim nos casos em #ue não 0 concausalidade. 'sta teoria baseia)se no

art.7,+PnP* #uando se diH na falta de disposição em contr0rioh! precisamente a#ui a

disposição em contr0rio & o art.7+7P. só se admite a e1clusão de responsabilidade do lesante

#uando não a%a concausalidade e verificando)se os pressupostos do 7+7P. e a culpa do

lesado concorrer com a do lesante aplicamos o 7,+P ) se ouver culpa de ambos

O #ue temos de saber & #uando & #ue se aplica o 7+7P[

) só se aplica se o acidente for e1clusivamente imput0vel ao lesado! ou causado por uma causa de

força maior ou por terceiro ) tese moderna mais protectora do lesado

) o 7+7P aplica)se nos casos acima descritos mas tamb&m no caso de concausalidade em #ue a

culpa do lesado concorre com o risco $ 0 e1clusão de responsabilidade

#uando e1iste culpa do lesado Matravessa)se na passadeira e culpa do lesante Mo condutor conduHiaembriagado ambas as teses defendem #ue se aplica o 7,+P e não o 7+7P.

KKK

 +m@"ia! #ue circulava com prud=ncia numa estrada com duas fai1as de rodagem! perde de s;bito e

inesperadamente o controle do seu ve6culo ligeiro! devido ao rebentamento de um pneu. O ve6culo de

 +m@"ia vai colidir no meio da fai1a de rodagem com um camião conduHido por Car"os! empregado de

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 Duarte! #ue! circulando em sentido contr0rio! derrapou no óleo #ue e1istia na estrada. 'm conse#u=ncia

do acidente! os dois ve6culos ficaram danificados e os respectivos condutores ligeiramente feridos. o

ve6culo de +m@"ia  era transportada Perta #ue le tina pedido boleia. Perta ficou ferida com alguma

gravidade e as /* d;Hias de ovos! #ue transportava! totalmente destru6das.

/. Ruem responde pelos danos sofridos[ Com #ue fundamento[*. upona #ue Car"os não derrapou no óleo! mas adormeceu en#uanto conduHia. Ruem responde

 pelos danos sofridos[ Com #ue fundamento[

2. Emagine! agora! #ue Car"os não derrapou no óleo! nem adormeceu! antes circulava normalmente

na sua fai1a de rodagem e  +m@"ia! devido ao rebentamento do pneu! embateu contra ele! nessa

fai1a de rodagem.

3esolução"

/. preciso elencar os danos" danos sofridos por Am&lia e Carlos $ danos pessoais. Danos

 pessoais provocados em Berta. Danos patrimoniais causados no ovos e danos patrimoniais causados nos

ve6culos.

Ruem assume a responsabilidade civil[ Ruem responde & Am&lia e responde por via do art. 7+2P

do C.C. $ verificam)se os re#uisitos $ veiculo de circulação terrestre! algu&m #ue o usa no seu interesse! e

danos causados pelo risco próprio da sua utiliHação $ responsabilidade ob%ectiva.

Carlos & respons0vel[ 4ode ser e incide sobre ele uma presunção de culpa $ art. 7+2P C.C. A

responsabilidade de Carlos presume)se culposa! & sub%ectiva. e C não conseguir afastar a presunção!

então responde por todos os danos.Al&m destas duas pessoas! responde ainda Duarte na #ualidade de patrão MC conduH por conta de

outrem.. 4ode ser uma responsabilidade a t6tulo de comitente)comiss0rio Mart. 7++P! como na #ualidade

de propriet0rio de ve6culo $ art. 7+2PS/. e ele responder na primeira #ualidade! a sua responsabilidade

não est0 su%eita aos limites m01imos do art. 7+-P. e for na segunda! a sua responsabilidade & pelo risco e

est0 su%eita aos limites do art. 7+-P. 3esponde no primeiro caso se o seu comiss0rio MCarlos não

conseguir elidir a presunção de culpa #ue cai sobre ele. e Carlos demonstrar #ue a culpa não & sua então

o Duarte responde a t6tulo de propriet0rio do ve6culo $ art. 7+2P.

 esta ipótese 0 um acidente de viação e cumulam)se responsabilidades ob%ectivas com

responsabilidades sub%ectivas com base em culpa. Esto ocorre fre#uentemente. G0 todo o interesse em o

lesado provar a culpa por causa dos limites do art. 7+-P.

O lesado tem de provar a culpa $ art. 5-,P. G0 uma situação especial em #ue não se tem #ue

 provar a culpa $ #uem conduH por conta de outrem $ art. 7+2P ) ela & presumida. Esto por#u=[ 4or#ue

#uando conduHimos um ve6culo #ue não & nosso então descuidamos certos aspectos. A maior parte dos

casos em #ue se conduH por conta de outrem reconduH)se aos casos de comissão Mmotoristas... $ tem #ue

ter mais respeito na condução! a #uem se e1ige mais cuidado na condução.

Fora destes casos! o lesado tem de provar a culpa! embora se discuta se a presunção do 5L2S*P

não podia ser aplicado aos acidentes de viação. Assento de -2 em #ue se diH #ue esta presunção não &

aplic0vel. os acidentes a ;nica presunção de culpa #ue beneficia o lesado & a do art. 7+2PS2! in %ine. I< $ 

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 pode)se interpretar de modo a #ue o 5L2P valer0 para os acidentes de viação #uando se est0 b=bedo e o

caso das provas desportivas.

Discutiu)se #uanto ( presunção do art. 7+2PS2! se era v0lidas só nas relações internas ou tamb&m

nas e1ternas[ A presunção só vale nas relações de comitente)comiss0rio! ou pode ser pedida directamente

ao comiss0rio[ Assento de L5 $ a presunção vale nas relações e1ternas. 'feito" isto permite ao lesado pedir responsabilidade ao comitente ao abrigo do art. 7++P e %0 não obriga a ter de pedir responsabilidade

ao abrigo do art. 7+2P.

3egime próprio da colisão de ve6culos $ por#u= do regime do art. 7+8P[ 'ste artigo & importante

 por#ue & a norma #ue permite resolver a aberração #ue averia se só regesse o art. 7+2P. O 7+8P consagra

uma solução diferente" & preciso saber se 0 culpa ou não. e e1istir de algum deles! a responsabilidade &

do culpado. e não e1istir! o crit&rio & o de saber a proporção com #ue cada um dos ve6culos contribuiu!

em termos de risco! para o acidente. A norma! no fim! diH #ue se os danos tiverem sido todos causados por 

um dos ve6culos! & só esse #ue paga M#uem bate por tr0s.

Ruem responde[

Depende de se conseguir elidir a presunção de culpa. e o comiss0rio! Carlos! não conseguir 

demonstrar #ue não teve culpa! #uem assume integralmente todos os danos & Carlos! e como garante do

cumprimento desta obrigação! & Duarte! com responsabilidade a t6tulo de comitente $art. 7++P.

e nenum dos condutores teve culpa! reparte)se o risco! para saber #ual a proporção. a

doutrina entende)se #ue o risco de um camião & superior ao de um ligeiro. O comiss0rio! elidindo a

 presunção de culpa! faH com #ue responda Am&lia pelos danos causados ao camião e Duarte! na #ualidade

de propriet0rio do ve6culo $art. 7+2P.

A responsabilidade dos dois & solid0ria $ art. 7+,P com remissão para o 5L,P. 4ara o lesado pode

 pedir para cada um deles tudo e! depois! entre os dois! 0 direito de regresso" entre A e D ou entre D e A.

Art. 7+5PS2 $ abrange apenas os danos pessoais do transportado. Enterpretação" só o A & #ue não

tem #ue responder pelos ovos. Ruanto aos ovos! o valor do dano só pode ser e1igido por Berta em relação

a Duarte. Berta & apenas um terceiro $ não & parte. ão os pode pedir a Am&lia por força do art. 7+5PS2.

 ão pode pedir em regresso a Am&lia o valor dos ovos. ' tamb&m não o tem #uanto a Carlos.

*. A#ui o ve6culo era conduHido pelo comiss0rio #ue não podia afastar a presunção do art. 7+2P.

3espondia ele por todos os danos. ' D respondia como garante $ art. 7++P.Outro tema #ue se discutiu & o de saber se a norma da presunção de culpa tamb&m vale nos casos

de ve6culos. O Assento disse #ue sim. O alcance disto & diHer #ue #uando 0 uma colisão e um dos

condutores & comiss0rio! e não se prova a culpa! vale a presunção! ou reparte)se o risco[ Faria sentido #ue

se os dois cocam e se não se prova a culpa! aplicava)se o art. 7+8P. 9as o <I afirma o contr0rio. e o

acidente for entre dois comiss0rios! se um deles tiver a cumprir escrupulosamente o seu dever e o outro

estiver a conduHir para seu interesse! então o primeiro responde pelo 7+2P! parte inicial e o segundo pela

 parte final. O comiss0rio malandro não fica onerado pela presunção. O outro fica onerado por ela. O #ue &

absurdo.

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2. Colisão de ve6culos em #ue apenas um contribui para o dano $ art. 7+8PS/! parte final. ' pelos

ovos! #uem responde[ O outro pode e1imir)se dessa responsabilidade $ art. 7+8PS/! parte final ou 7+2P

mais 7+7P.

KKKI

 +ntnio! empregado de  Pernardo! foi encarregado! por este! do transporte de determinadas

mercadorias. Ruando procedia a tal transporte  +ntnio  perdeu o controle da viatura devido ao gelo

e1istente na estrada causando ferimentos graves a uma criança! Catarina! #ue brincava no passeio.

/. Ruem e em #ue termos pode ser demandado pelos danos sofridos pela Catarina[

*. upona agora #ue +ntnio perdeu o controle da viatura por ter #ue travar s;bita e bruscamente

ao ver a criança correr pela estrada atr0s da bola com #ue brincava. Ruem e em #ue termos pode

ser demandado pelos danos sofridos pela Catarina! #ue tina fugido do col&gio #ue fre#uentava!

sem #ue ningu&m se tivesse apercebido do facto[

3esolução"

/. G0 um empregado #ue conduH. 3esponsabilidade por culpa presumida $ art. 7+2PS2 $ responde

 por tudo. e o A conseguir elidir a presunção de culpa #uem indemniHa os danos e bernardo! a t6tulo de

 propriet0rio $ art. 7+2PS/. e A não elidir a presunção! responde em primeira lina sem limite!

funcionando B como garante! nos termos do 7++P. Direito de regresso entre eles.*. M/ se A não elidir a presunção de culpa temos um acidente #ue & em parte causado com culpa

do lesado e com culpa presumida do comiss0rio. este caso! vai se aplicar o regime do art. 7,+PS*. Ainda

#ue o comiss0rio não elida a presunção! como 0 culpa do lesado! ele não indemniHa.

  M* ele elide a presunção de culpa. e o comiss0rio o fiHer %0 não responde. Ruem responde &

o propriet0rio! a t6tulo de propriet0rio. Culpa do lesado e responsabilidade pelo risco $ concausalidade.

Duas ou mais causas. este caso! a resposta &" depende da posição #ue adoptarmos. A<U'

A3':A! 9''N' :'E<KO ' 4E3' D' :E9A $ a culpa do lesado absorve o risco $ art. 7+7P e não

7,+P ) não 0 obrigação de indemniHar. CA:KO DA E:A! A:9'EDA CO<A $ a culpa do lesado

ainda #ue e1ista não absorve a responsabilidade pelo risco $ art. 7,+P. 'ntende)se #ue só se aplica o art.

7+7P #uando a conduta do lesado foi a causa ;nica e e1clusiva do acidente. O lesado deve ser protegido!

 por#ue #uem responde & sempre a seguradora! #ue não se tem #ue responder. alvo disposição em

contr0rio $ art. 7,+P.

O col&gio & respons0vel pela criança. Art. 5-8P ) para a criança e 5L/P para o carro.

KKKII

 o dia /+ de ovembro de *++2! #uanto conduHia o seu t01i!  +ntnio  perdeu s;bita e

inesperadamente o controlo do ve6culo! devido ao rebentamento de um pneu! embatendo violentamente

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contra um ve6culo conduHido por Pernardo! empregado de Ce"so  #ue circulava em sentido contr0rio e

com velocidade superior ( permitida no local.

/. 'm conse#u=ncia da colisão!  Diana! cliente de  +ntnio! #ue seguia no seu

automóvel! ficou gravemente ferida e veio a falecer seis meses depois em

conse#u=ncia das lesões! dei1ando vi;vo  duardo! #ue! desgostoso! pretende ser indemniHado. uid 3uris[

*. upona! agora! #ue  Pernardo  circulava na sua fai1a de rodagem e dentro da

velocidade permitida no local! #uando +ntnio embateu contra ele por ter perdido o

controlo do ve6culo devido ao rebentamento de um pneu. uid 3uris[

2. upona agora #ue o acidente ocorreu #uando  Pernardo! no seu dia de folga!

decidiu utiliHar o ve6culo de Ce"so para visitar uma amiga! acabando $ em virtude

de uma avaria no sistema de travões $ por embater no ve6culo conduHido por 

 +ntnio #ue circulava na sua fai1a de rodagem e dentro da velocidade permitida no

local.

5. A solução seria a mesma na eventualidade de  Pernardo  ter desrespeitado as

instruções de Ce"so e aproveitado o serviço de #ue este o encarregara para faHer um

 pe#ueno desvio para visitar uma amiga[

3esolução"

/. colisão $ art. 7+8P. esta ipótese pode diHer)se #ue 0 culpa e1clusiva de Bernardo $ mais

velocidade #ue o permitido. Bernardo & respons0vel pela indemniHação $ culpa presumida #ue não

consegue afastar $ responsabilidade sub%ectiva. 3esponsabilidade do comitente $ art. 7++P. Como a culpa

não & afastada! todos os danos são indemniH0veis. 9as admitindo #ue não avia culpa do comiss0rio a

responsabilidade era repartida pelo risco! entre o comitente Mpropriet0rio e por A #ue conduHia o t01i.

A#ui avia uma limitação do dano indemniH0vel $ transporte por contrato $ art. $ só os danos #ue atin%am

a pessoa e as coisas por ela transportadas. O dano do vi;vo não & indemniH0vel a #uem a transportava $ 

era a responsabilidade solid0ria mas não totalmente $ só o propriet0rio do outro ve6culo respondia.

*. Colisão $ sem culpa de nenum. Como uma das pessoas & comiss0rio presume)se a sua culpa.

Ou se elide ou não se elidi a presunção de culpa. e não for elidida #uem responde & o B e o comitentenos termos do art. 7++P. e não for elidida #uem responde & o A por todos os danos.

2. colisão. O A não tem culpa. O B & comiss0rio não tem acidente no e1erc6cio das suas funções

de comiss0rio. 3esponde nos termos do art. 7+2PS2 parte final #ue remete para o nP/. O comitente não

responde. O A não responde por uma de duas vias $ art. 7+8P! parte final ou art. 7+2P mais 7+7P.

5. Ainda #ue o facto fosse praticado contra as ordenações do comitente não era isso #ue

e1onerava o comitente das suas responsabilidades.

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Faculdade de Direito da UCP

KKKIII

Analise o acórdão do upremo <ribunal de Iustiça de *7 de ovembro de /LL- M in Boletim do9inist&rio da Iustiça nP 5-/! pp 5,+ e ss.

KKKIV

Analise o acórdão do upremo <ribunal de Iustiça de 5 de Outubro de *++, M in .dgsi.pt )

4rocesso nP +,B/,/+ $ I< recomenda a leitura.