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SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR São Paulo, 01 de novembro de 2012 Interessado: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) Assunto: Consulta Pública n. 50, de 31 de agosto de 2012, que dispõe sobre os re- quisitos técnicos para a concessão de registro de produtos de higiene pessoal, cos- méticos e perfumes infantis. 1. Da Erotização Precoce Infantil Com a chegada da Revolução Industrial vimos o nascimento da classe burguesa européia e um novo formato nas relações familiares: o homem provedor, a mulher dona de casa e os filhos submissos à autoridade da mãe e do pai. Neste mesmo período começa a se intensificar o fenômeno do consumismo pelas famílias burguesas que começam a adquirir objetos supérfluos e repassa as novas gerações esta nova afirmação de “status”. No limiar do século XX a classe média incipiente começa a crescer e com ela o fenômeno do consumo exagerado, exarcebando a finalidade dos objetos e conferindo um valor afetivo para preencher as lacunas do dito “bem estar”. Entretanto, esse consumo exagerado pode trazer conseqüências catastróficas, contribuindo no desequilíbrio financeiro de várias famílias, criando uma massa de super-endividados ou então, uma juventude inconseqüente que fará de tudo para conseguir o objeto de desejo almejado. 1

SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA … · padrões a serem seguidos, valorizados e muitas vezes indicados como o necessário ... os direitos à saúde, à alimentação,

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SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIAFUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR

São Paulo, 01 de novembro de 2012

Interessado: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

Assunto: Consulta Pública n. 50, de 31 de agosto de 2012, que dispõe sobre os re-

quisitos técnicos para a concessão de registro de produtos de higiene pessoal, cos-

méticos e perfumes infantis.

1. Da Erotização Precoce Infantil

Com a chegada da Revolução Industrial vimos o nascimento da classe burguesa

européia e um novo formato nas relações familiares: o homem provedor, a mulher

dona de casa e os filhos submissos à autoridade da mãe e do pai. Neste mesmo

período começa a se intensificar o fenômeno do consumismo pelas famílias

burguesas que começam a adquirir objetos supérfluos e repassa as novas gerações

esta nova afirmação de “status”.

No limiar do século XX a classe média incipiente começa a crescer e com ela o

fenômeno do consumo exagerado, exarcebando a finalidade dos objetos e

conferindo um valor afetivo para preencher as lacunas do dito “bem estar”.

Entretanto, esse consumo exagerado pode trazer conseqüências catastróficas,

contribuindo no desequilíbrio financeiro de várias famílias, criando uma massa de

super-endividados ou então, uma juventude inconseqüente que fará de tudo para

conseguir o objeto de desejo almejado.

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Não podemos deixar de mencionar que o consumismo sem controle também pode

desencadear atitudes insustentáveis e comprometer as nossas reservas de bens

naturais, pois o planeta Terra possui uma capacidade limitada de matéria prima e de

absorver o nosso lixo produzido.

Acerca destes fatos, temas como o consumismo, a sustentabilidade e princípios

como o princípio da precaução, são abordados em documentários como “A História

das Coisas” e “A História dos Cosméticos”. 1

Nesse contexto, temos as publicidades que impulsionam as crianças a se tornarem

consumidoras precoces, através de constantes apelos com conotação sexual e/ou

psicossocial. Verificamos que as campanhas publicitárias não visam apenas seduzir

e consolidar uma nova classe consumidora, neste caso as crianças, mas também o

poder de influência que elas exercerão nos adultos da família.

A comunicação de massa não visa apenas vender produtos, mas também cria

padrões a serem seguidos, valorizados e muitas vezes indicados como o necessário

para a sobrevivência do indivíduo e para sua aceitação no meio familiar e social. Isto

acontece sem que as pessoas percebam que estão, por exemplo, adotando um

novo modelo de beleza, de comportamento, e porque não de pensamento? Em

entrevista ao Instituto Alana2, a psicanalista Ana Olmos traz abordagem sobre a

erotização precoce na infância:

“Instituto Alana: Existe relação entre erotização precoce e consumismo na infância:

Ana Olmos: Para um menino de 12 anos, por exemplo, ser aceito socialmente é a

coisa mais importante da vida dele. Ele pode se espelhar em hábitos, de um grupo

de artistas ou de conteúdos que são veiculados na mídia. Isso vira um parâmetro 1 Fonte: www.storyofstuff.org – Free Range Studios. Pesquisa efetuada em 31/10/2012 na rede mundial de computadores. 2 http://alana.org.br/

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para que ele esteja dentro ou fora do grupo. Mas, dependendo da idade, ele não tem

senso crítico para avaliar se esse é um conjunto de atitudes que não tem relação

com a maneira de viver dele, com a família, etc. A publicidade procura entrar

nesse segmento de mercado, voltado para esses meninos e meninas,

passando a idéia de que o consumo é o caminho do pertencimento. Muita

publicidade começa assim: ‘Se você gosta de tal coisa... ’. ‘Se você quer ser como

tal pessoa... ’. E tudo isso bate fundo na necessidade de pertencimento. Só que, no

caso, o paradigma e o modelo do pertencimento são dados de fora para dentro do

grupo de crianças. Não é uma escolha, nem uma via de mão dupla.

Instituto Alana: A erotização precoce está nessa mesma linha?

Ana Olmos: Está. Recentemente vi uma reportagem que mostrava que as

maquiagens para crianças estão cada vez mais sofisticadas. Às vezes, são

maquiagens que têm como público alvo quem tem poder de compra, mas

todas as crianças vêem. E isso gera um problema, pois muitas querem e não

têm, sequer, condição econômica para comprar os itens básicos. No caso da

erotização, a criança absorve modelos de atitudes, ainda que ela não possa

consumir tal produto, para adquirir um pertencimento ao grupo. Os anúncios de

publicidade capturam o momento espontâneo de desenvolvimento emocional, para

quem a inclusão ou a exclusão de determinado grupo social é questão de vida ou

morte. É lançado com um belíssimo plano de marketing, que propõe uma forma de

ser. Aquilo pega, você não sabe nem como pegou, e vai embora, para ser

substituído por uma moda também inoculada. Nesse contexto, o erótico é

distorcido em relação à idade e entra como mais uma forma de atração,

fascínio e sedução. Os próprios significados são dados de fora para dentro3”.

(Destaques nossos).

3 Vários Autores. Projeto Crianças e Consumo: Entrevistas – Erotização Precoce e Exploração Sexual Infantil. São Paulo: 2009, págs. 8/9 e 43.

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Nos termos do texto transcrito, a publicidade voltada para o público infantil não

atinge apenas o indivíduo, no caso as crianças, mas também acaba por influenciar e

gerar conseqüências para o meio familiar e social.

Corroborando a opinião da psicanalista, reproduziremos um trecho da entrevista de

Albertina Duarte, médica obstetra:

“Eu não via, nos anos 70, uma criança precisar usar maquiagem (g.n.), creme no

corpo. Desde a maternidade, a lista já começa com tantos itens de consumo que só

falta colocar camisinha infantil pra recém-nascido!”4

Talvez o ápice da erotização precoce infantil sejam as realizações dos concursos de

mini-miss, atualmente muito em voga nos Estados Unidos, conforme relato abaixo:

“No canal de TV por assinatura, o D. Home & Health (EUA), lançado pelo Discovery

Channel, em ―17 de junho de 1985 nos Estados Unidos e em 7 de fevereiro de

1994 no Brasil (http://pt.wikipedia.org/wiki/Discovery_Channel), passa um documen-

tário chamado ―Pequenas Misses, aos domingos, no horário das 21h00min às

22h00min horas, que retrata o quanto as meninas estão imitando as mulheres.

Em 15 de agosto de 2010, a produção do programa mostrou a rotina de preparação

de três meninas. Uma com dois, outra com cinco e a terceira com seis anos de

idade. A progenitora da criança de dois anos foi modelo e faz sua filha participar

desses concursos desde bebê, sendo que, pelo menos uma vez por mês, ela

freqüenta algum evento do gênero. A mãe ensaia boa parte do dia com a filha,

mesmo quando a criança não quer ou apresenta cansaço, mas justifica que elas se

divertem e que a pequena gosta. No período que antecede o evento, a mãe chega a

fazer bronzeamento artificial na pequena filha.

A menina com cinco anos participou de aproximadamente vinte concursos e, nos úl-

timos dois anos, ganhou dezesseis deles. Ela treina quase que diariamente e a mãe

4 Ibidem.

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a orienta para que sorria constantemente. A mãe diz que quer no mínimo cem por

cento da filha. O pai dessa criança manifesta que não está convencido de que a par-

ticipação da filha em concursos de misses seja bom, pelo fato de ela se vestir e agir

como adulta.

A pequena de seis anos participa dos concursos, mas a mãe argumenta que não

quer acelerar o crescimento da filha, por isso desfila de maneira mais próxima do

natural. Não usa maquiagem e o cabelo é arrumado de acordo com a vontade da

filha.

Na maioria desses concursos, as crianças estão tão produzidas quanto uma pessoa

adulta. Usam aplique nos cabelos, cílios e unhas postiças, maquiagem e se portam

como adultas. Elas desfilam em trajes de banho, roupa informal e formal. A menina

de seis anos fala que sentiu vergonha em desfilar com roupas de banho. (Paterno,

Keli Andréa Vargas. A invasão da erotização do adulto no mundo infantil:

micropoderes na vida pública e privada. Maringá: 2011, págs. 45 a 53.”

Em que pese ser um dever da agência reguladora atingir o equilíbrio nas relações

consumeristas de mercado, a decisão de liberar um produto para uma determinada

faixa etária poderá agravar o processo de erotização precoce infantil e quiçá a

banalização do comportamento de conduta interpessoal. Visando minimizar tais

impactos, a ANVISA poderia convidar oficialmente órgãos especializados na

proteção da criança e do adolescente, para debater numa audiência pública as

conseqüências da liberação dos produtos objeto desta consulta pública.

2. Da Proteção da Criança e do Adolescente

A Constituição Federal ao instituir direitos e garantias fundamentais do

indivíduo, não fez distinção por faixa etária, assegurando os direitos individuais e

coletivos, bem como os direitos sociais, dos quais destacamos a proteção que o

Estado-Democrático de Direito confere à infância e adolescência, destinatários

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diretos deste processo regulatório.

No art. 227, o texto constitucional trata de maneira específica dos direitos de

crianças e adolescentes, estabelecendo o dever compartilhado da família, da

sociedade e do Estado de assegurar “com absoluta prioridade” a essas pessoas, em

peculiar fase de desenvolvimento, os direitos à saúde, à alimentação, à educação,

ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária. Também garante que crianças sejam protegidas

de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão.

Nessa linha, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece de modo

detalhado, os direitos das crianças e adolescentes, sem prejuízo dos demais

dispositivos, garantindo o pleno acesso à informação, à cultura e a produtos e

serviços adequados à sua idade e à sua condição de indivíduo em processo de

desenvolvimento e formação física, mental, intelectual e social.

A criança, entendida nos termos do ECA, não tem condições de compreender

criticamente os produtos e serviços que lhe são destinados no mercado de consumo

e, tampouco, as publicidades ou mesmo outras formas de comunicação que lhe são

dirigidas, quer com mensagens diretas ou mensagens subliminares.

No mesmo contexto, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor elenca

princípios, diretrizes e normas de proteção à saúde e segurança dos consumidores

mais vulneráveis e hipossuficientes, de modo a garantir sua integridade frente ao

mercado de consumo. Dentre tais princípios, destacamos o art. 6º, em todos os seus

incisos, e também o art. 37, §2º, além dos demais dispositivos legais.

Portanto, é com base em tal arcabouço jurídico que será analisada a Consulta

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Pública nº 50 da ANVISA, sem afastar as normas correlatas que permeiam o

assunto.

3. Da Segurança do Produto

À vista do conteúdo deste processo regulatório, nos quais verificamos não somente

aspectos técnicos, mas também sociais, consideramos oportuno e conveniente que

a elaboração da resolução seja conjunta com o Instituto Nacional de Metrologia,

Qualidade e Tecnologia – INMETRO.

Consideramos que muitos desses produtos, objeto desta resolução, são brinquedos

infantis e, portanto, a certificação pelo referido instituto, após ensaios sobre a

segurança, materiais de composição e a forma de utilização destes “brinquedos”

pelas crianças, dentre outros aspectos relevantes, devem receber no final um selo

de cada agência certificando o produto aprovado. Tal providência visa proteger a criança. A certificação deverá ser compulsória,

reconhecendo assim, além de outros aspectos relevantes abordados nesta

contribuição, a necessidade de garantir à proteção a saúde e integridade da criança

no momento de sua utilização, mesmo que não fossem identificados pelos pais ou

responsáveis.

Além de verificar as composições (toxicologia) e usabilidade, consideramos

fundamental a consignação de alerta expresso no produto sobre possíveis riscos

alérgicos na utilização destes produtos. Em várias matérias científicas verificamos

que, nos Estados Unidos, as doenças alérgicas são a sexta maior causa de doenças

crônicas (http://saude.hsw.uol.com.br/causas-das-reacoes-

alergicas.htmhttp://saude.hsw.uol.com.br/causas-das-reacoes-alergicas.htm).

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Ao passar pelo processo de certificação, a composição do produto é analisada

(toxicologia), a inadequação da segurança é testada (liberação de pequenos objetos

ou existência de pontas ou cantos afiados) e a confiabilidade (selo da Agência) é

transmitida ao consumidor. Atualmente, ao adquirir um brinquedo, o consumidor já

tem a cultura de verificar se o produto contém o selo da Agência e a “faixa etária”

adequada. As medidas ora sugeridas visam aumentar a proteção às crianças. Nesse

sentido, se configura dever das agências reguladoras a consulta a órgãos e

entidades que, por sua natureza, possam agregar informações para melhoria do

mercado de consumo.

4. Da Participação Social no Processo Regulatório

Reiteramos nosso posicionamento em relação à participação social no processo

regulatório, mais uma vez ressaltamos o problema atinente à falta de transparência,

tendo em vista a ausência de divulgação dos relatórios das consultas públicas.

O próprio site da Agência informa que no processo de elaboração de normas há a

etapa de “Análise das Contribuições”, na qual “todas as contribuições recebidas são

analisadas pela ANVISA, após o término do prazo para a consulta, e subsidiam o

processo decisório da Agência por meio do Relatório de Análise de Contribuições”

(http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/ANVISA/Consultas+Publicas/A

ssunto+de+Interesse/Analise+das+contribuicoes), que poderiam ser divulgadas

previamente à publicação de novas normas. Contudo, a Agência não apresenta as

respostas ou justificativas às contribuições rejeitadas ou acatadas, frustrando a

expectativa dos participantes da Consulta Pública.

Igualmente, solicitamos a proposta de alteração do meio disponibilizado para o envio

de contribuições às consultas públicas, na medida em que não há nenhum espaço

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para o envio de questionamentos, dúvidas ou outros comentários que não se refiram

à redação das propostas apresentadas pela Agência. Assim, entendemos que há

necessidade da ANVISA reformular a forma de participação (canais diversos para

informação e acesso ao material consultado; formas diversas e facilitação para o

envio de contribuições).

Não obstante, é de fundamental importância possibilitar esclarecimentos e a

realização de debates prévios à divulgação das minutas propostas, dada a

assimetria das informações existentes entre o ente regulador e os consumidores.

Reiteramos a manifestação quanto à importância de se realizar audiências públicas

de modo a facilitar a participação social no processo regulatório. Como sugestão, a

agência poderia realizar a Audiência Pública no formato de videoconferência, com a

identificação dos participantes e transmissão simultânea para todos os escritórios

regionais da agência, possibilitando assim, uma economia para os participantes.

Em relação à redação da proposta, além das considerações já expostas, reiteramos

as seguintes alterações:

I. Contribuições para o texto da Minuta de Resolução

Texto atual publicado

Art. 2º Art. 2º Esta Resolução se aplica

a todos os produtos destinados ao

público infantil.

§1º Considera-se público infantil crian-

Proposta (inclusão, exclusão ou nova redação)

Art. 2º (...)

§1º Considera-se público infantil crianças

entre 0 (zero) e 12 (doze) anos

incompletos.

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ças entre 0 (zero) e 12 (doze) anos.

Justificativa: A proposta é adequar o texto ao artigo 2º, §1º do Estatuto de Criança e do

Adolescente, norma fundamental ao se tratar de produtos destinados ao público

infantil, devendo o referido regulamento coadunar com o ordenamento jurídico

posto.Texto atual publicado

Art. 9º A remoção do produto deve

ocorrer de forma fácil, como, por

exemplo, pela simples lavagem com

água, sabonete, xampu ou demais

preparações contendo tensoativos.

Proposta (inclusão, exclusão ou nova redação)

(sem proposta)

Justificativa:Considerando a tecnicidade de alguns termos sob conceitos de natureza sanitária/

científica, verificamos a necessidade de melhor definição do termo “remoção do produto”,

e a qual ou quais substância a expressão está se referindo.Texto atual publicado

Art. 10. Com o objetivo de evitar a

ingestão do produto, é permitida a

utilização de ingredientes com função

desnaturante (gosto amargo), desde

que seu uso seja seguro.

Proposta (inclusão, exclusão, nova redação ou inserção)

Art. 10. Com o objetivo de evitar a inges-

tão do produto, é permitida a utilização

de ingredientes com função desnaturante

(gosto amargo), desde que seu uso seja

seguro, com informação expressa so-bre esta característica.§1º Os fornecedores só poderão lan-

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çar no mercado de consumo, produ-tos seguros que não acarretem riscos à vida, saúde e segurança dos consu-midores. §2º Os produtos comercializados de-verão obrigatoriamente ter dispositivo de segurança a fim de evitar eventuais acidentes de consumos, e correspon-dente informação sobre os possíveis riscos inerentes à sua natureza e frui-ção.

Justificativa: A complementação do texto se faz pertinente, tendo em vista que o postulado do

art. 6º, III e art. 31 da Lei 8.078/90 – Código de Proteção e Defesa do Consumidor,

sobretudo ao se tratar de produto destinado ao público infantil, para que o

consumidor tenha a consciência, em sua escolha e aquisição, de que caso a

criança coloque o produto na boca poderá haver o sabor amargo, porém seu uso é

seguro.

A prevenção sobre eventuais acidentes de consumo é premissa para a oferta e co-

mercialização de produtos e serviços no mercado de consumo, por força de todo o

arcabouço jurídico acerca das relações de consumo, neste caso, especialmente por

força do disposto nos artigos 8.º a 10 do Código de Proteção e Defesa do Consumi-

dor.

Nesse sentido, sugerimos a provocação ao INMETRO, e órgãos de reguladores na

área da medicina, a fim de manifestarem-se sobre questões técnicas, de segurança

e saúde, evitando assim possíveis riscos a saúde e integridade do público ao qual

os produtos, objeto desta consulta pública, é destinado. Texto atual publicado Proposta (inclusão, exclusão ou nova

redação)

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Art. 11. Os produtos de uso adulto:

enxaguatórios bucais, sabonetes,

produtos para limpeza e higienização,

com ação antisséptica poderão ser

extensivos ao uso infantil, desde que

atendidos os requisitos estabelecidos

no Anexo II.

Art. 11. (…) §3º Para fins desta Resolução, entende-se por material publicitário que tenha destinação ao público infantil, toda publicidade veiculada por meio da im-prensa, rádio, imagens, mídias sociais, internet, incluindo a prática de mer-chandising.

Justificativa: A referida inserção tem como fundamento o dever do fornecedor de proteger o

consumidor, em especial a criança, não podendo, nos termos do art. 37, §2º, da Lei

8.078/90 – Código de Proteção e Defesa do Consumidor, aproveitar-se de sua

deficiência de julgamento e experiência. Assim, é imprescindível a vedação à

utilização de apelos infantis nas publicidades de venda de produtos destinados ao

referido público, cujo discernimento ainda está em formação. A publicidade para

divulgação do produto, portanto, deve ser feita de modo a expor dados verdadeiros,

sem apelos de desenhos, nomes, cores e artistas e outros artifícios que possam

induzir em erro ou incidir em abuso contra o público infantil.

A inclusão da prática de merchandising também é relevante, tendo em vista que os

artistas infantis, nas novelas e programas televisivos destinados ao público infantil,

de forma contrária às normas consumeristas, vêm indevidamente atrelando o

imaginário infantil, gerado pela interação com o programa, com os produtos.Texto atual publicado

Art. 13. Os dizeres de rotulagem devem

atender, além do estabelecido nesta re-

solução, à RDC 211/05 e suas atualiza-

Proposta (inclusão, exclusão ou nova redação

Art. 13. Os dizeres de rotulagem devem

atender, além do estabelecido nesta

resolução, à RDC 211/05 e suas

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ções que estabelece os requisitos sobre

rotulagem obrigatória e rotulagem espe-

cífica para produtos de higiene pessoal,

cosméticos e perfumes.

atualizações que estabelece os requisitos

sobre rotulagem obrigatória e rotulagem

específica para produtos de higiene

pessoal, cosméticos e perfumes bem como ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

Justificativa: A complementação do texto para que conste o dever de cumprimento ao Código de

Proteção e Defesa do Consumidor é imprescindível, pois o CDC, norma de ordem

pública e interesse social, elenca diretrizes específicas quanto à informação que

deve conter nos produtos, nos termo de seu art. 31.

Texto atual publicado

Art. 15. As figuras, imagens ou

desenhos constantes do rótulo,

embalagens e material promocional não

devem induzir sua utilização por

crianças de idade inferior à indicada.

Proposta (inclusão, exclusão ou nova redação)

Art. 15. As figuras, imagens ou desenhos

constantes do rótulo, embalagens e

material promocional não devem induzir

sua utilização por crianças de idade

inferior a indicado ressalvado o quanto disposto no art. 11 da presente Resolução.

Justificativa: A ressalva deve ser expressa para que a norma não se torne contraditória, de modo

a ferir ao CDC. O art. 11, §2º, da Resolução sob Consulta veda a utilização, nas

embalagens e material publicitário, de apelos infantis (desenhos, nomes, cores,

artistas). Portanto, o art. 15 ao permitir o uso de figuras imagens ou desenhos deve

estar em consonância com a proibição do art. 11

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Texto atual publicado

Art. 16. Os produtos infantis não pode-

rão ser apresentados sob a forma de

aerossol.

Proposta (inclusão, exclusão ou nova redação)

Art. 16. São vedadas a fabricação, produ-

ção, distribuição, importação e comerciali-

zação de produtos infantis sob a forma de

aerossol. Justificativa: A utilização de produto sob a forma de aerossol exige cuidados e o cumprimento de

normas rígidas, pois inflamáveis. Assim, deve ser clara e expressa a sua vedação,

que vai além de sua apresentação, envolvendo todos os níveis da cadeia produtora:

fabricação, distribuição, importação e comercialização, de modo a evitar que tais

produtos cheguem ao mercado de consumo, com destinação infantil, de forma

indevida e de maneira a colocar em risco a saúde e segurança das crianças, de

acordo com os preceitos estabelecidos no art. 3º do CDC, que define quem é

fornecedor; e no art. 6º, I, do CDC que declara ser direito básico do consumidor a

proteção de sua saúde e segurança.

Quanto aos anexos à proposta regulatória, sugerimos maior debate com

profissionais (médicos, psicólogos, terapeutas) da razão para alteração de faixa

etária para uso de maquiagem infantil – Anexo II – Requisitos Específicos para

produtos Infantis – II Cosméticos.

Texto atual da Proposta do ANEXO II

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Contribuição para o ANEXO II - Batom

Grupo Faixa etária Testes Advertências de Rotulagem

Outras limitações e requerimentos

1. Batom labial e brilho Labial.

A partir de x anos. Avaliação da toxicidade oral dos ingredientes ou do produto acabado. Comprovação da ausência de irritabilidade/sensibilização cutânea/fotos-sensibilização.

- Não usar em crianças menores de 5 anos.- A partir de 5 anos: deve ser aplicado exclusivamente por adulto.

-Para maiores de cinco anos: usar sob a supervisão de adulto.-Não ingerir.

Não pode conter substância modificadora de tonalidade dos lábios pelo contato com a saliva.− Indicação única: colorir os lábios.

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-Não usar caso os lábios apresentem rachaduras, escamações ou ferimentos. - Em caso de irritação, suspender o uso e procurar um médico.

JUSTIFICATIVA

A criança de 0 a 5 anos brinca com o imaginário, e, dessa forma os

produtos destinados a esta faixa etária devem ser elaborados (oferta, apresentação,

composição, etc.) de modo a evitar ao máximo o estimulo precoce e despropositado

de comportamentos potencialmente inerentes a outras fases da vida, principalmente

a fase adulta. A criança, nas faixas etárias apontadas nesta proposta regulatória

está em franco desenvolvimento físico e psicológico, não necessitando de

maquiagem quer seja para aprimorar seu desenvolvimento físico ou psicológico. Ao

contrário tais estímulos têm sido considerados temerários e até prejudiciais nestes

dois aspectos que corroboram para o desenvolvimento do individuo e não são uma

opção da criança, mas dos pais e da própria sociedade na medida em que tais

estímulos, claramente, tem por intenção o ganho para atividade econômica. A

maquiagem poderá até ser utilizada como um componente lúdico e, portanto, é

nesta esfera que ela deve ficar restrita com todas as cautelas para que a criança não

entenda como sendo necessária para sua existência e aceitação no meio familiar e

social, sob pena de desvirtuamento da finalidade de brincar para necessidade de

sobreviver. Quando se comercializa a maquiagem para crianças de 03 anos, corre-

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se sério risco de que este público, caracterizado pela hipossuficiência, tenha sua

“infância roubada”, induzindo a erotização precoce, bem como ensinando e

educando crianças desde a tenra idade para o consumismo.

Reiteramos o entendimento de que a utilização destes produtos poderá afetar a

auto-estima e o desenvolvimento infantil na medida em que incita na criança a

necessidade da sua utilização “para se sentir bem” e no meio onde convive (lar,

escola, lazer, etc.). Para a criança de 0 a 5 anos de idade, passar batom ou brilho

nos lábios, em nada acrescenta em seu desenvolvimento psíquico e cognitivo,

assim como esta faixa etária não tem necessidade de consumir o referido produto,

correndo riscos de saúde na área dermatológica, como alergias entre outros.

Assim, no tocante ao aspecto psicológico, o incentivo a utilização da maquiagem

induz a criança a erotização precoce e a necessidade de estar maquiada para se

sentir bonita e socialmente aceita. Por isso, esta Fundação sugere o debate com os

profissionais da saúde (médicos, psicólogos e terapeutas) ou ainda uma maior

transparência sobre o porquê da idade escolhida na presente consulta.

Nas relações consumeristas, o consumidor apenas surge no momento final da

cadeia de consumo, ou seja, no momento da aquisição do serviço ou produto. Ao

passo que o fornecedor detém toda a cadeia produtiva, desde o momento da

concepção até o pós-venda, controlando todos os passos (produção, distribuição,

comercialização). Por isso, o consumidor não tem condições de avaliar corretamente

a qualidade e segurança dos produtos ofertados no mercado consumidor. Neste

sentido, diz José Geraldo Brito Filomeno:

“No âmbito da tutela especial do consumidor, efetivamente, é ele sem dúvida a parte

mais fraca, vulnerável, se tiver em conta que os detentores dos meios de produção é

que detêm todo o controle do mercado, ou seja, sobre o que produzir, como produzir

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e para quem produzir, sem falar-se na fixação de suas margens de lucro.”

FILOMENO, José Geraldo Brito. Código brasileiro de defesa do consumidor:

comentado pelos autores do anteprojeto. 7. Ed. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2001. p. 55.

Texto atual da Proposta do ANEXO II

Contribuição para o ANEXO II – Blush/rouge

Grupo Faixa etária Testes Advertências de Rotulagem

Outras limitações e requerimentos

2. Blush/rouge. A partir de x anos. Comprovação da ausência de irritabilidade/sen

- Não usar em crianças menores de 5

Indicação única: colorir temporariament

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sibilização cutânea/ fotossensibilização.

anos.

- A partir de 5 anos: usar sob a supervisão de adulto. - Não usar caso a pele da face se apresente irritada ou ferida. Em caso de irritação, suspender o uso e procurar um médico. Para pós: Proteger narinas, olhos e boca durante a aplicação. Evitar a inalação do produto.

e a face.

JUSTIFICATIVA

A criança de 0 a 5 anos brinca com o imaginário, e, dessa forma os

produtos destinados a esta faixa etária devem ser elaborados (oferta, apresentação,

composição, etc.) de modo a evitar ao máximo o estimulo precoce e despropositado

de comportamentos potencialmente inerentes a outras fases da vida, principalmente

a fase adulta. A criança, nas faixas etárias apontadas nesta proposta regulatória

está em franco desenvolvimento físico e psicológico, não necessitando de

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maquiagem quer seja para aprimorar seu desenvolvimento físico ou psicológico. Ao

contrário tais estímulos têm sido considerados temerários e até prejudiciais nestes

dois aspectos que corroboram para o desenvolvimento do individuo e não são uma

opção da criança, mas dos pais e da própria sociedade na medida em que tais

estímulos, claramente, tem por intenção o ganho para atividade econômica. A

maquiagem poderá até ser utilizada como um componente lúdico e, portanto, é

nesta esfera que ela deve ficar restrita com todas as cautelas para que a criança não

entenda como sendo necessária para sua existência e aceitação no meio familiar e

social, sob pena de desvirtuamento da finalidade de brincar para necessidade de

sobreviver. Quando se comercializa a maquiagem para crianças de 03 anos, corre-

se sério risco de que este público, caracterizado pela hipossuficiência, tenha sua

“infância roubada”, induzindo a erotização precoce, bem como ensinando e

educando crianças desde a tenra idade para o consumismo.

Reiteramos o entendimento de que a utilização destes produtos poderá afetar a

auto-estima e o desenvolvimento infantil na medida em que incita na criança a

necessidade da sua utilização “para se sentir bem” e no meio onde convive (lar,

escola, lazer, etc.). Para a criança de 0 a 5 anos de idade, passar batom ou brilho

nos lábios, em nada acrescenta em seu desenvolvimento psíquico e cognitivo,

assim como esta faixa etária não tem necessidade de consumir o referido produto,

correndo riscos de saúde na área dermatológica, como alergias entre outros.

Assim, no tocante ao aspecto psicológico, o incentivo a utilização da maquiagem

induz a criança a erotização precoce e a necessidade de estar maquiada para se

sentir bonita e socialmente aceita. Por isso, esta Fundação sugere o debate com os

profissionais da saúde (médicos, psicólogos e terapeutas) ou ainda uma maior

transparência sobre o porquê da idade escolhida na presente consulta.

Nas relações consumeristas, o consumidor apenas surge no momento final da

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cadeia de consumo, ou seja, no momento da aquisição do serviço ou produto. Ao

passo que o fornecedor detém toda a cadeia produtiva, desde o momento da

concepção até o pós-venda, controlando todos os passos (produção, distribuição,

comercialização). Por isso, o consumidor não tem condições de avaliar corretamente

a qualidade e segurança dos produtos ofertados no mercado consumidor. Neste

sentido, diz José Geraldo Brito Filomeno:

“No âmbito da tutela especial do consumidor, efetivamente, é ele sem dúvida a parte

mais fraca, vulnerável, se tiver em conta que os detentores dos meios de produção é

que detêm todo o controle do mercado, ou seja, sobre o que produzir, como produzir

e para quem produzir, sem falar-se na fixação de suas margens de lucro.”

FILOMENO, José Geraldo Brito. Código brasileiro de defesa do consumidor:

comentado pelos autores do anteprojeto. 7. Ed. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2001. p. 55.

Texto atual da Proposta do ANEXO II

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Contribuição para o ANEXO II - Sombra

Grupo Faixa Etária Avaliação de Segurança

Advertencias de Rotulagem

Outras limitações e requerimentos

17. Sombra A partir de x anos

Comprovação de ausência de irritabilidade/sensibilização cutânea

Não usar em crianças menores de 5 anos.

A partir de 5 anos: deve ser aplicado exclusivamente por adulto.

Para maiores de 5 anos: usar sob a supervisão de adulto.

Proteger os olhos durante a aplicação.

Caso o produto entre em contato com os olhos, lavar com água corrente em abundância e procurar um médico.

Indicação única: colorir temporariamente as pálpebras.

JUSTIFICATIVA

A criança de 0 a 5 anos brinca com o imaginário, e, dessa forma os produtos

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destinados a esta faixa etária devem ser elaborados (oferta, apresentação,

composição, etc.) de modo a evitar ao máximo o estimulo precoce e despropositado

de comportamentos potencialmente inerentes a outras fases da vida, principalmente

a fase adulta. A criança, nas faixas etárias apontadas nesta proposta regulatória

está em franco desenvolvimento físico e psicológico, não necessitando de

maquiagem quer seja para aprimorar seu desenvolvimento físico ou psicológico. Ao

contrário tais estímulos têm sido considerados temerários e até prejudiciais nestes

dois aspectos que corroboram para o desenvolvimento do individuo e não é uma

opção da criança, mas dos pais e da própria sociedade na medida em que tais

estímulos, claramente, têm por intenção o ganho para atividade econômica. A

maquiagem poderá até ser utilizada como um componente lúdico e, portanto, é

nesta esfera que ela deve ficar restrita com todas as cautelas para que a criança não

entenda como sendo necessária para sua existência e aceitação no meio familiar e

social, sob pena de desvirtuamento da finalidade de brincar para necessidade de

sobreviver. Quando se comercializa a maquiagem para crianças de 03 anos, corre-

se sério risco de que este público, caracterizado pela hipossuficiência, tenha sua

“infância roubada”, induzindo a erotização precoce, bem como ensinando e

educando crianças desde a tenra idade para o consumismo.

Reiteramos o entendimento de que a utilização destes produtos poderá afetar a

auto-estima e o desenvolvimento infantil na medida em que incita na criança a

necessidade da sua utilização “para se sentir bem” e no meio onde convive (lar,

escola, lazer, etc.). Para a criança de 0 a 5 anos de idade, passar batom ou brilho

nos lábios, em nada acrescenta em seu desenvolvimento psíquico e cognitivo,

assim como esta faixa etária não tem necessidade de consumir o referido produto,

correndo riscos de saúde na área dermatológica, como alergias entre outros.

Assim, no tocante ao aspecto psicológico, o incentivo a utilização da maquiagem

induz a criança a erotização precoce e a necessidade de estar maquiada para se

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sentir bonita e socialmente aceita. Por isso, esta Fundação sugere o debate com os

profissionais da saúde (médicos, psicólogos e terapeutas) ou ainda uma maior

transparência sobre o porquê da idade escolhida na presente consulta.

Nas relações consumeristas, o consumidor apenas surge no momento final da

cadeia de consumo, ou seja, no momento da aquisição do serviço ou produto. Ao

passo que o fornecedor detém toda a cadeia produtiva, desde o momento da

concepção até o pós-venda, controlando todos os passos (produção, distribuição,

comercialização). Por isso, o consumidor não tem condições de avaliar corretamente

a qualidade e segurança dos produtos ofertados no mercado consumidor. Neste

sentido, diz José Geraldo Brito Filomeno:

“No âmbito da tutela especial do consumidor, efetivamente, é ele sem dúvida a parte

mais fraca, vulnerável, se tiver em conta que os detentores dos meios de produção é

que detêm todo o controle do mercado, ou seja, sobre o que produzir, como produzir

e para quem produzir, sem falar-se na fixação de suas margens de lucro.”

FILOMENO, José Geraldo Brito. Código brasileiro de defesa do consumidor:

comentado pelos autores do anteprojeto. 7. Ed. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2001. p. 55.

Estas são as contribuições da Fundação PROCON SP para a Consulta Pública n.

50/2012 - ANVISA

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