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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED · O professor deve propor uma variedade de textos a fim de desenvolver a subjetividade do aluno, ... o mais contundente é, muito provavelmente,

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO

TÍTULO: A PRODUÇÃO DE SENTIDO NA LEITURA DE CONTOS

TEMA: IMPLICAÇÕES DA LEITURA NA PRODUÇÃO DE SENTIDO

PROFESSORA: Ruth Raquel Pesavento ÁREA/PDE: Língua Portuguesa NRE: Goioerê PROFESSOR ORIENTADOR/IES: Me. Antonio Carlos Aleixo IES VINCULADA: UEPR/FECILCAM – FACULDADE ESTADUAL D E CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Colégio Estadual Carlos Go mes – Ensino Fundamental, Médio, Profissional e Normal

Ubiratã, 11 de Agosto de 2011

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PEDAGÓGICA

PROJETO DE INTERVENÇÃO NA ESCOLA

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Professor PDE: Ruth Raquel Pesavento Área PDE: Língua Portuguesa NRE: Goioerê Professor Orientador/IES: Prof. Me. Antônio Carlos Aleixo/UEPR/FECILCAN Escola de Implementação: Colégio Estadual Carlos Gomes - Ensino Fundamental, Município- Ubiratã Conteúdo Estruturante: Discurso Como Prática Social Objeto de Estudo e Intervenção: Leitura de Contos Gênero Principal: Contos Gênero de apoio: Músicas e poemas Relação Interdisciplinar: Ensino Religioso e Geografia Título: A Produção de Sentido na Leitura de Contos

Material Didático de Língua Portuguesa apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional PDE, vinculado à Universidade Estadual do Paraná – UEPR/ Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM, à Secretaria de Estado da Educação, sob a orientação do Prof. Me. Antônio Carlos Aleixo.

MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO: UNIDADE DIDÁTICA

TÍTULO: A PRODUÇÃO DE SENTIDO NA LEITURA DE CONTOS

A leitura não pode ocorrer somente a partir de livros didáticos. O professor deve propor uma variedade de textos a fim de desenvolver a subjetividade do aluno, deve considerar, também, a preferência e a opinião dele ao selecioná-los. (Diretrizes Curriculares, 2008, p.31)

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INTRODUÇÃO................................................................................................. Identificação Embalando no Horizonte da Leitura.............................................................................. Leitura crítica - texto 1-Boca a boca.............................................................................. . Atividades-..................................................................................................................... Embalando no horizonte da leitura................................................................................ Interdisciplinaridade e texto-II-Rastros na Areia- (fragmento)...................................... Embalando no horizonte da leitura ................................................................................ Texto III. A Cartomante.................................................................................................. Curiosidade...................................................................................................................... Atividades........................................................................................................................ Comentário e Intertextualidade........................................................................................ Leitura – texto – IV-Cabocla Tereza- (fragmento)........................................................... Leitura – texto – V- Artigo sobre Maria da Penha- (fragmento)...................................... Atividades- IV- V – VI...................................................................................................... Embalando no horizonte da leitura.................................................................................... Leitura – texto -VI- Construção........................................................................................ Atividades......................................................................................................................... Produto final...................................................................................................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................

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A disciplina de Língua Portuguesa e seu ensino em sala de aula são

extremamente importantes para a compreensão de mundo e de todos os aspectos

da vida humana.

Contudo, dentre todos os questionamentos recorrentes sobre os vários

problemas educacionais no Brasil, o mais contundente é, muito provavelmente, a

precária situação da leitura do estudante brasileiro no que diz respeito à produção

de sentido em suas leituras. Considerando a importância dessa prática na vida dos

alunos e a necessidade de produção de significado para que se apropriem dos

conhecimentos, é que há uma luta constante dos pesquisadores e professores em

busca de métodos e técnicas a fim de amenizar o problema que obviamente permeia

as instituições escolares.

Como se sabe, por muito tempo a leitura foi usada para dela se retirar simples

informações e não em sua amplitude interpretativa e compreensiva, ou seja, os

alunos não liam o texto na íntegra, em sua totalidade, pois as questões

relacionadas ao texto eram tão fúteis e banais que eles buscavam apenas

fragmentos para então respondê-las. Acredita-se que a escola desconhecia a leitura

como atividade interativa, dialógica e repleta de significados.

Obviamente que toda essa problemática se instalou no Brasil por ser um país

onde a educação deveria estar ligada à política do ponto de vista crítico, porém ela

foi reprodutora da ideologia dominante, valorizando a paráfrase e a recepção

mecânica dos conteúdos. Como já foi dito, a leitura é extremamente necessária e

obviamente a escola deve oportunizar reais situações de prática aos seus alunos,

pois crianças de baixa renda não têm o privilégio de usufruir de bons livros que lhes

permitam experiências interpessoais e leituras significativas.

Diante disso, percebe-se a importância de se trabalhar, nesta Unidade

Didática, a leitura de conto, por ser um gênero literário de menor extensão, recente

do ponto de vista da história da literatura. Como toda narrativa, o conto também

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conduz os sujeitos - leitores a uma expectativa, a um suspense que lhes permitem

fazer previsões e inferências, mexe efetivamente com o emocional, despertando,

com certeza, curiosidade.

Segundo Busatto (2005), quando lemos ou narramos histórias, doamos o

nosso afeto e carinho, pois compactuamos com que o conto quer dizer. Desta forma,

é fundamentalmente importante que haja uma identificação entre narrador e o conto

narrado, e obviamente que o leitor também deve estar sensibilizado diante do texto

que será lido.

É certo que em todo trabalho com texto, o professor precisa atentar-se sobre

sua práxis, estabelecendo um tempo de preparação para a atividade a ser realizada;

é preciso que se tragam à tona os conhecimentos prévios do aluno sobre o tema e o

tipo de texto a ser trabalhado.

Segundo Busatto (2005), nós poderemos fazer novas leituras de um mesmo

conto e traduzi-lo através de diversas linguagens, como poema, texto teatral,

histórias em quadrinhos, reportagem jornalística. O conto pode ser um estímulo para

que o aluno aprenda outras disciplinas.

Para Busatto (2005, p. 39), “o conto pode ser um estímulo para o estudo de

Geografia, História, construindo mapas, observando as características da região que

lhe dá origem, construindo tridimensionalmente o espaço físico onde ele ocorre, e

assim percebendo as diferenças do planeta Terra”.

Neste trabalho não se priorizarão apenas os grandes clássicos em prosa, mas

também os clássicos sertanejos, pois sabemos que os alunos precisam estar em

contato com as várias linguagens. Logo, buscar alternativas e compreender todo

esse processo para a formação crítica dos estudantes de Língua Portuguesa foi a

meta primordial neste trabalho.

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Nome do professor PDE: Ruth Raquel Pesavento

NRE: Goioerê

IES: UEPR – FECILCAM

Colégio Estadual Carlos Gomes- Ensino Fundamental, Médio e

Profissionalizante

Município – Ubiratã

Disciplina: língua Portuguesa 8ª série

Conteúdo Estruturante: Discurso Como Prática Social

Objeto de Estudo e Intervenção: Contos

Gênero Principal: Contos

Gênero de Apoio: músicas e poemas

Relação Interdisciplinar: Ensino Religioso e Geogra fia

Orientador: ME. Antônio Carlos Aleixo

Título: A Produção de Sentido na Leitura de Contos

Todas as noites, depois do jantar, a molecada do ba irro se amontoava no portão da

minha casa: era a hora negra das histórias de lobis omens, bruxas, almas penadas, tinha

uma procissão de caveiras que passava à meia – noit e, cantando, ô Deus ! Como eu

tremia...

Lígia Fagundes Telles

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AAss aaççõõeess qquuee ddeesseennvvoollvveerreemmooss nneessttee ttrraabbaallhhoo tteerrããoo ccoommoo ffooccoo aa

pprroodduuççããoo ddee sseenntt iiddoo nnaa lleeii ttuurraa ddee ccoonnttooss..

VVooccêêss,, ccaarrooss aalluunnooss,, ccoommuummeennttee ddiizzeemm nnããoo ggoossttaarreemm mmuuii ttoo ddee lleerr ee ààss

vveezzeess aarrgguummeennttaamm qquuee lleerr éé mmuuii ttoo cchhaattoo,, mmaass vvooccêêss uussaamm aallgguummaa eessttrraattééggiiaa

ddee lleeii ttuurraa ppaarraa mmeellhhoorr ccoommpprreeeennddeerr oo tteexxttoo eemm ssuuaa ttoottaall iiddaaddee?? PPooiiss bbeemm,,

aaccrreeddii ttoo qquuee ccoomm aa lleeii ttuurraa ddee ccoonnttooss,, cceerrttaammeennttee cchheeggaarreemmooss lláá..

VVooccêê ssaabbiiaa qquuee oo ccoonnttoo éé uumm ggêênneerroo nnaarrrraatt iivvoo sseemmeellhhaannttee àà ccrrôônniiccaa??

MMaass oo qquuee éé ccrrôônniiccaa?? CCrrôônniiccaa éé uumm ggêênneerroo nnaarrrraatt iivvoo ccoomm eeppiissóóddiiooss qquuee

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oobbvviiaammeennttee nnooss ffaazzeemm ppeennssaarr nnaa vviiddaa.. OO aassssuunnttoo ddaa ccrrôônniiccaa éé,, eemm ggeerraall ,, uumm

ffaattoo vviivveenncciiaaddoo ppeelloo sseeuu aauuttoorr ee qquuee ffaaccii ll ii ttaa aabboorrddaarr ddee ffoorrmmaa mmaaiiss lleevvee uumm

tteemmaa ttrr iissttee,, aammeenniizzaannddoo oo ttoomm sséérr iioo ccoomm qquuee oo ttrráággiiccoo ccoossttuummaa sseerr ttrraattaaddoo.. AA

ccrrôônniiccaa ppoossssuuii cceerrttoo aassppeeccttoo jjoorrnnaall íísstt iiccoo..

O conto, por sua vez, pode significar causo, histor inha, fábula, caso e

todos possuem os ingredientes como: enredo, persona gens, espaço, tempo,

foco narrativo, clímax e desfecho. Ao ler esse gêne ro textual é preciso que

observemos como acontece a situação inicial da hist ória, o aparecimento do

problema, a fase de resolução do problema, aparece o clímax, situação

conflitante e situação final. O conto é um gênero t extual de menor extensão,

recente do ponto de vista da literatura. Como toda narrativa, este tipo de texto

também conduz os sujeitos leitores a uma expectativ a que lhes permite fazer

previsões e inferências, mexe com o emocional, desp ertando, assim,

curiosidade.

Este gênero textual, embora seja em prosa, pode per feitamente aparecer

também em forma de poema e música. Chamamos estas h istórias de fictícias e

não de inverídicas; não são falsas, não aconteceram , entretanto, poderiam

muito bem ter acontecido com alguém, pois são muita s as coincidências.

Ficamos fascinados com estas histórias, sobretudo q uem cresceu ouvindo

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causos protagonizados pelas avós, tios, professores , etc. O conto possui um

conflito e o ponto alto é o clímax. Mas, o que é o clímax? Vocês assistem

novelas e, provavelmente percebem que cada capítulo encerra no momento de

maior suspense e deixa um... vamos chamar de gancho para que o público

volte a assistir no dia seguinte, enquanto que no conto há somente um

conflito e, por conseguinte, um número reduzido de personagens.

Primeiro vamos ler uma crônica de Luis Fernando Ver íssimo.

Estamos falando em gênero textual, mas, o que será isso?

Convivemos com gênero textual a todo o instante, po is quando

produzimos textos orais ou escritos, verbais e não verbais utilizamo-nos dos

mais variados gêneros, depende da situação, da fina lidade ou circunstância

Para entendermos o texto vamos suscitar nossas memó rias,

partindo obviamente de nossas previsões, suposições , levantando

hipóteses, percorrendo as diversas possibilidades d e compreensão e

chegando a interpretá-lo em sua complexidade. Prime iro vamos ativar

nosso conhecimento prévio sobre o autor, o título d o texto, fazer

previsões e inferências, relacioná-lo nossa vivênci a concreta,

reconhecer a incompletude, os vazios implícitos que precisam ser

preenchidos por você. Não podemos desanimar quando de repente

sentirmos que o texto é muito complexo temos que te r como diz

Machado de Assis –“Persistência e ânimo”.

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para o qual o produzimos, como por exemplo: piadas, receitas, cartas,

bilhetes, artigo de opinião. Todos esses textos apr esentam uma estrutura que

se repete e possui quase a mesma forma, a isso dá-s e o nome de gênero

textual. “[...] a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual.

(Marcuschi, p. 22).

(CRÔNICA)

Começou à boca pequena entre frases do tipo “boca d e siri” e “Cala-te

boca” e “ deixa eu guardar minha boca pra comer pir ão” mas aos poucos

enquanto o presidente dizia que íamos estourar a bo ca do balão e muita gente

fazia boquinha às histórias da boca livre em que ti nha se transformado o país

(parecia coisa do Boccage) [...]

Fonte: VERÍSSIMO, Luis Fernando. Boca a boca. In: T udo dá Trama Tudo da Trama. V.3. LOPES, Vera; LARA, Anésia. P. 15- 16.

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1)Luís Fernando Veríssimo joga com palavras e expre ssões conotativas e o faz

com muito humor para transmitir sua mensagem. Qual é a palavra chave nessa

construção lúdica do texto?

2) Que expectativa é gerada pelo título?

3) Além das expressões usadas pelas pessoas, há out ra que se remete a tal

palavra apenas pelo som: Boccage.

Quanto ao significado, elas não se ligam, pois Bocc age é o nome de um poeta

português. Porém, tal palavra não está no texto ale atoriamente: o poeta

escreveu textos satíricos, de humor, crítica e debo che.

Partindo desta constatação, responda:

a) O texto de Luís Fernando Veríssimo é um texto sa tírico, ou seja, de

humor e crítico?

b) A palavra Boccage contribui para esse aspecto do texto?

c) Pode-se dizer que o conhecimento prévio, ou seja , o conhecimento

anterior à leitura, sobre o poeta português contrib ui para a melhor

compreensão do humor no texto de Veríssimo?

d) No Brasil se houve falar em corrupção. Este é um texto de descrença

ante a política nacional. O que você sugere para qu e não haja corrupção

em nosso país?

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Agora vamos ler, ouvir e cantar um conto cujos inté rpretes são Duduca

e Dalvan. Vamos nos remeter à questão religiosa sem pre suscitando nossas

memórias e observando as vozes presentes no texto.

(fragmento) O sonho que tive esta noite

Foi um exemplo de amor

Sonhei que na praia deserta

Eu caminhava com Nosso Senhor

Ao longo da praia deserta

Quis o Senhor me mostrar

Cenas por mim esquecidas

De tudo que fiz nesta vida

Ele me fez recordar

Cenas das horas felizes

Que a mesa era farta na hora da ceia

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Por onde eu havia passado

Ficaram dois passos de rastros na areia

Então o Senhor me falou

Em seus belos momentos passados

Eu caminhava ao seu lado.

[...]

Fonte: Disponível em: <http://www.Letras.Terra.com. br/duduca-e-dalvan/144954>

1- Que expectativa é gerada pelo título e pelas pri meiras estrofes?

2- O texto nos dá pistas sobre as personagens, temp o, espaço, época

que retrata?

3- Nesse conto você notou a presença de muitas ou p oucas

personagens?

4- No conto estudado há muitos ou poucos personagen s que interagem

por meio da dúvida e da fé?

5- Em que momento o personagem sentiu que o Senhor o tinha

abandonado?

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Agora vamos conhecer um conto de Machado de Assis, um dos maiores

ícones da Literatura brasileira.

Antes, porém, veremos algumas características pecul iares de suas

obras:

- A transitoriedade da vida;

- O tédio, a loucura, a ironia;

- A predominância do mal sobre o bem;

- A vaidade e o humor;

- O adultério;

- A dissimulação da personagem;

- Análise psicológica;

- Denúncia da cobiça;

- A inconstância do ser humano .

Muitas vezes Machado de Assis interfere na história , para interagir com

o leitor, debater, opinar e esclarecer.

Machado também frequentemente rompe com a narrativa cronológica,

linear, ora começando pelo fim, ora começando pelo meio, além de pequenos

cortes para alguma reflexão ou conversa com o leito r. Não é o máximo?

Em “A Cartomante”, Machado faz uma alusão a William Shakespeare,

poeta inglês famoso que escreveu “Romeu e Julieta”, “Hamlet”, “Sonho de

uma noite de verão”, entre outras.

O título, A Cartomante, cria expectativas sobre o t ema?

Após este breve conhecimento prévio, vamos ao conto , pois quem lê

pode com mais facilidade estabelecer relações que v enham aceitar ou refutar

valores presentes nos textos e na vida.

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Hamlet observa a Horácio

que há mais cousas no céu e na terra do que sonha nossa filosofia. Era a mesma

explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de

1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante a diferença

é que o fazia por outras palavras.

— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e

que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era.

Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..."

Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim

declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...

— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.

— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua

causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...

Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria

muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum

receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era

imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...

— Qual saber! Tive muita cautela, ao entrar na casa.

— Onde é a casa?

— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião.

Descansa; eu não sou maluca.

Camilo riu outra vez:

— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe. Foi então que ela, sem saber

que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito coisa misteriosa e verdadeira

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neste mundo . Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante

adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.

Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões.

Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de

crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que

deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como

tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois

em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo,

não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é

ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em

levantar os ombros, e foi andando.

Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada;

Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às

cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A

casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de

Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo

desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.

Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das

origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira

de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-

lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou

um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com

uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado.

Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo. — É o

senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu

amigo; falava sempre do senhor.Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos

deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as

cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e

interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e

nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais

velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-

lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de

alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição. Uniram-se os três.

Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre,

que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos

sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria

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melhor.Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de

passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas

principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em

volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e

passeios.

Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele,

para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os

olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de

o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele ano recebeu

de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar

cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia

arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou,

pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste

com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem,

assim são as cousas que o cercam.

Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se

acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o

veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos,

tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos!

Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços

dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais

que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de

Vilela continuavam a ser as mesmas.

Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e

pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as

suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências.

Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz.

Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram

inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma

intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.

Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para

consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a

cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez.

Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas,

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tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum

pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou

este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o

interesse é ativo e pródigo.

Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com

Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.

— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...

Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se

sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e

sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o

marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo

divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais

valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se

corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.

No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela:

"Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo

saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que

em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-

se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.

— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os

olhos no papel.

Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e

lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele

acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu

amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho,

lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não

achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe

cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que

o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das

suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.

Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras

estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda peior, — eram-

lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa;

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preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de

mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção

crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e

vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se

nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a Ideia,

vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para

entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.

— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...

Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele

não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve

de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo,

estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à

esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez,

e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas,

quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-

se-ia a morada do indiferente Destino.

Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande,

extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro

tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a

primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E

inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a

cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas;

desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra

vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens,

safando a carroça:

— Anda! agora! empurra! vá! vá!

Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em

outras coisas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem

já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas

queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou

rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de

casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro:

"Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?

19

Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido

enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o

corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo

ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as

fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher;

era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela o fez entrar. Dali subiram ao

sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma

salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos

trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o

prestígio.

A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as

costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de

Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas.

Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos

olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos

sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:

— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...

Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.

— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...

— A mim e a ela, explicou vivamente ele.

A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as

cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem,

transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha

os olhos nela, curioso e ansioso.

— As cartas dizem-me...

Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que

não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro,

ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e

despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava

deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.

20

— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima

da mesa e apertando a da cartomante.

Esta levantou-se, rindo.

— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...

E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se

fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a

qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e

comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma

ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como

pagasse; ignorava o preço.

— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer

mandar buscar?

— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.

Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante

fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.

— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do

senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...

A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando,

com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à

rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma

barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote

largo.

Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu

estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris;

recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde

é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera

mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.

— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.

E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece

que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade...

21

De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade,

ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que

não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e

contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério

empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado;

mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo

innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os

elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.

A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de

outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar,

estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve

assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.

Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do

jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve

tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.— Desculpa, não pude vir mais

cedo; que há?Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e

foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: —

ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola,

e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.

22

1) Identifique as personagens, caracterizando -as.

2) Qual é o tema do conto?

3) Estabeleça o ambiente a cada espaço físico.

4) O início do conto é realmente o início da histór ia? Explique.

5) Estabeleça os vários níveis de tempo:

a) Época em que se passa a história;

b) Duração da história;

6) Transcreva do texto um exemplo de:

a) Discurso direto;

b) Discurso indireto.

7) Descreva o momento mais tenso da história .

8) Identifique o clímax do conto.

Você sabia que em 1884, ano em que Machado de Assis

publicava A Cartomante, nascia um escritor chamado Augusto

dos Anjos? A linguagem que Augusto dos Anjos utiliz a em suas

obras é por vezes chocante como: escarro, verme, sa ngue,

chaga. Ele também faz referência à decomposição da matéria.

Se você quiser ler algum poema dele, leia “Psicolog ia de um

Vencido” e “Versos Íntimos.” Por incríveis que pare çam, são

poemas lindos e irreverentes.

23

O Conto que estudaremos agora é uma história interpr etada pelo cantor

Sérgio Reis. Acredito que vocês já devem ter ouvido seus pais cantando, suas

avós. O título é: CABOCLA TEREZA. Este conto vai no s remeter a outros

contos. Após o estudo do mesmo, vamos suscitar noss as memórias. O

fragmento faz parte do repertório sertanejo. Uma pa rte é declamada a outra

parte é cantada. O fragmento transcrito é o trecho cantado. Leremos o texto,

assistiremos ao vídeo, após todo o procedimento de leitura, trabalharemos

com o artigo sobre Maria da Penha. Vamos à canção.

Há tempos fiz um ranchinho Pra minha cabocla morar Pois era ali nosso ninho Bem longe deste lugar No alto lá da montanha Perto da luz do luar Vivi um ano feliz Sem nunca isso esperar Pus meu sonho neste olhar Paguei caro meu amo Por causa de outro caboclo Meu rancho ela abandonou [...] Fonte: Disponível em<http://www.Letras. Terra.com. br/ Sérgio- reis/549214.

24

Maria da Penha quase foi assassinada por seu então marido. Os fatos

aconteceram em 1983, a primeira tentativa foi com o uso de uma arma de fogo

e a segunda por eletrocussão e afogamento. Esses ep isódios causaram lesões

irreversíveis à saúde de Maria da Penha. Apesar de condenado em dois

julgamentos, o autor da violência não havia sido pr eso devido aos sucessivos

recursos de apelação. Em 2001, após 18 anos da prát ica do crime, a Comissão

Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado brasileiro por

negligência e omissão em relação à violência domést ica...

[...]

CUT - A Lei Maria da Penha. Uma Conquista Novos De safios. São Paulo. 2007

25

A. Os textos III – IV – V mostram pistas sobre as p aisagens, espaços,

tempo, época que retratam?

B. Em se tratando da Lei Maria da Penha:

a) Na sociedade brasileira, o que é garantido em le i, é de fato,

cumprido pela justiça?

b) Você, caro aluno, o que acha que deve ser feito para que a

violência doméstica seja evitada?

C. Vocês perceberam que o conto sertanejo “Rastros na areia”, é escrito

numa linguagem dentro do padrão culto da Língua Por tuguesa e no outro

conto, também sertanejo, “Cabocla Tereza”, houve ce rta variação

linguística, pois a linguagem estabelecida foi mais coloquial, simples,

como os sertanejos comumente a utilizam. Dessa mane ira, podemos

afirmar que o autor de Cabocla Tereza conseguiu tra nsmitir a mensagem

de forma clara, compreensível?

D. Vocês certamente conseguiram estabelecer uma relaçã o entre o artigo

sobre a Lei Maria da Penha com os outros textos tra balhados até aqui.

Esses textos suscitam nossas memórias, nos fazem le mbrar

acontecimentos vários e semelhantes. Nos textos tra balhados foi muito

claro um aspecto deixado pelos autores, o que é um assunto muito

peculiar de nossa sociedade, o machismo. Partindo d esta constatação,

qual foi o trágico estabelecido entre os textos III -IV- V?

26

Fonte: Disponível em: <http://orgulhoemeducar.blogspot.com/>. Acesso em 15/07/2011.

Todo mundo gosta de histórias, porque elas nos ofer ecem uma

representação da vida, proporcionando-nos a partici pação nos

acontecimentos sem corrermos os riscos que a realid ade apresenta.

(Lígia Fagundes Telles)

27

Vamos continuar nossos estudos sobre contos, ouvind o e

cantando a música “Construção”, do grande composito r e cantor Chico

Buarque de Holanda.

Essa letra foi construída palavra por palavra, assi m como se

constrói uma parede, “tijolo por tijolo”.

As palavras proparoxítonas encerrando os versos são

responsáveis por um ritmo que se arrasta, produzind o efeito de alguma

coisa que se prolonga; no caso, há uma íntima relaç ão entre esse ritmo

e a vida do operário que se arrasta cotidianamente.

Como a produção de sentido é o mais importante em n osso

trabalho, vamos chamar a atenção para o autor e o t ítulo, estabelecer

previsões sobre o tema, criar expectativas. Nosso o bjetivo é que você

perceba como estas estratégias de leitura são impor tantes para facilitar

a vida do leitor.

A letra da canção é composta por doze estrofes, por ém, só nos

foi possível transcrever três estrofes.

O texto Construção é um enunciado concreto e a enun ciação é a

realização exterior com interlocutores com quem o t exto dialoga .

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NICOLA, José. Português: Ensino Médio. V.I. São Pau lo. 2005.p. 253-255.

(fragmento) Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu na construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima [...]2 E tropeçou no céu como se ouvisse música E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou no meio do passeio náufrago Morreu na contramão atrapalhando público... [...]

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1) A que nos remete o título do conto? O título cria e xpectativas sobre o tema?

2) Poderíamos afirmar que o texto de Chico Buarque apresenta um refrão. Qual

seria ele?

3) Você seria capaz de identificar o clímax do text o? Comente.

4) O que realmente aconteceu com o operário? Será q ue ele morreu atropelado

ou caiu do andaime do prédio? Dê sua opinião. Comen te sobre as condições

de produção, retratação do momento histórico, capit alismo.

5) Com os verbos no passado, numa estrutura paralel ística, ocorrem as

palavras proparoxítonas. Todas têm uma função expre ssiva muito grande. As

comparações metafóricas não foram colocadas ali ale atoriamente, foram

elaboradas assim e contribuíram em nossa produção d e sentido. Após a leitura

e análise do texto, você percebeu que parecia que o operário estava

adivinhando que iria morrer? Comente.

30

Localize, no mapa do Brasil, onde nasceram: Machado de Assis e

Augusto dos Anjos, colocando as iniciais dos mesmos em seus

respectivos Estados e Regiões;

Transcreva para o papel um causo que você conheça;

Transforme a letra da música de que você mais gosto u num conto em

prosa. Não se prenda às palavras do texto, aproveit e a ideia e construa

seu texto.

31

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O material didático – pedagógico aqui apresentado procurou trazer para

debate algumas sugestões e reflexões de trabalho para professores e alunos, com o

objetivo de esclarecer e despertar o interesse acerca da produção de sentido em

relação à leitura, bem como ler usando algumas estratégias na busca de

significados.

Nosso objeto de estudo foi o gênero narrativo conto. Como toda narrativa,

este tipo de texto também conduz os sujeitos – leitores a uma expectativa, a um

suspense que lhes permitem fazer previsões e inferências, mexe com o emocional,

despertando assim, curiosidade.

Obviamente que em todo trabalho com leitura o professor deve estabelecer

um tempo de preparação; é necessário que se tragam à tona os conhecimentos

prévios sobre o autor, o título, o tema e o tipo de texto a ser trabalhado.

Para Busatto (2003), é importante fazer com que os alunos percebam a

musicalidade imprimida pelo narrador de contos, que embalando o espírito do leitor

e do ouvinte, provoca prazer, alegria e encantamento, mesmo que seja um conto de

assombração.

Partindo dessa constatação percebemos que o conto tem a peculiaridade de

mobilizar nosso sentimento, mas é preciso que estejamos abertos para recebê – lo.

Neste trabalho, procurou-se buscar alternativas e entender toda a importância

do processo de leitura para a formação crítica dos estudantes de Língua

Portuguesa, mas também, dando ênfase à interdisciplinaridade e intertextualidade,

tentando transformar o aluno num sujeito melhor, conhecedor dos seus problemas

em consonância com as peculiaridades da sociedade brasileira.

32

REFERÊNCIAS

ASSIS, Machado de. A Cartomante. In: Contos. Série Bom Livro. São Paulo: Ática, 1987. BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: Pequenos segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. Cabocla Tereza. Disponível em < http://www.Letras.Terra.com.br/sérgio-reis/549214. Acesso em: 14 de maio de 2011. Chico Mineiro . Disponível em <http://www.Letras.Terra.com.br/sérgio-reis/401073/. Acesso em: 14 de maio de 2011. Construção. Disponível em< http://www.Letras.terra. Com.br/chico-buarque /45124/>. Acesso em: 14 de maio de 2011. CUT- da CUT. São Paulo: 2007 p. 8. A Lei Maria da Penha. Uma Conquista- Novos Desafios. Publicação da Secretaria Nacional s obre a Mulher Trabalhadora FARACO, Carlos Alberto. Português: Língua e Cultura. Curitiba: Base, 2005. Comentários sobre crônica. p.8. FARACO, Carlos Alberto. Português: Língua e Cultura. Curitiba: Base, 2005. Histórias que a imaginação cria. MARCUSCHI, Luis Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In Dionísio, A.P. ET AL. (Orgs.). Gêneros textuais e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. NICOLA, José. Português: Ensino Médio, V.1. São Paulo: Scipione, 2005, p. 255. PORTAL SÃO FRANCISCO Disponível em: http://www.portalsãofrancisco. Com.br/alfa/Brasil-mapas/.Acesso em 18/07/2011. Rastros na Areia . Disponível em <http //WWW.letras.terra.com.br/duduca –e dalvan/144954> Acesso em:14 de maio.2011. Paraná. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educaç ão Básica do Estado do Paraná. SEED.( Secretaria de Estado da Educação) Curitiba, 2008. VERÍSSIMO, Luis Fernando. Boca a boca . Tudo dá Trama Tudo dá Trama . V.3. LOPES, Vera; LARA, Anésia. Belo Horizonte: Dimensão, 2000. Disponível em: <http://orgulhoemeducar.blogspot.com/>. Acesso em 15/07/2011.