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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE TOLEDO
NADIR THOMAS
DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
A QUESTÃO DO PRECONCEITO
Artigo apresentado como requisito final do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE/2010, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná - SEED/PR. Orientador: Prof. Me. José Porfírio de Souza
Marechal Cândido Rondon
2012
DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: a questão do preconceito
Autora: Nadir Thomas1
Orientador: Me. José Porfírio de Souza2
Resumo
A dança com seus inúmeros benefícios e conteúdo estruturante da Educação Física proposto pelas Diretrizes Curriculares de Educação Física do Estado do Paraná, poderia ser oportunizada aos alunos de escolas do Ensino fundamental e médio de maneira que todos pudessem participar. Ela permite exteriorizar, através de manifestações corporais, suas emoções, ampliando sua criatividade e superando desafios corporais. Como vivemos em um país caracterizado por diversas formas de danças e ritmos, isto pode tornar o trabalho com dança na escola uma rica experiência corporal, e permitir o desenvolvimento de múltiplas possibilidades de superação de limites e compreensão das diferentes formas de se expressar. Assim, o objetivo deste projeto foi pesquisar e implementar um projeto de intervenção, que possibilitasse através da dança minimizar o preconceito de gênero existente em relação a este conteúdo com alunos do Ensino Fundamental do Colégio Estadual de Pato Bragado. O caminho metodológico delineado foi através de um relato de experiência realizado no Colégio Estadual Pato Bragado do município de Pato Bragado- PR com a participação de alunos de 2 turmas de 8ª séries do ensino fundamental. A coleta de dados deu-se por meio de entrevistas semi estruturadas que foram realizadas de forma individualizada, após a intervenção. Os resultados apontaram que os alunos assimilaram a dança como conteúdo de relevância na Educação Física. A mudança mais significativa foi a participação efetiva dos alunos nas aulas de dança e nas coreografias apresentadas por eles na Semana Cultural da escola. Também foi possível observar mudanças comportamentais e de atitudes frente às diversas situações de preconceito e discriminação que anteriormente existiam nas aulas de Educação Física. O desenvolvimento do projeto de intervenção permitiu que os alunos desenvolvessem uma consciência sobre essas atitudes passando a agir de maneira diferente frente a essas questões. Palavras-chave: Dança; Escola; Preconceito; Educação Física
1 Professora de Educação Física na Rede Pública Estadual, especialista em Educação Física na área escolar e cursista do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2010.
2 Professor da Unioeste, Mestre em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu, orientador do PDE.
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1 Introdução
A escola é um local, espaço em que diariamente pessoas de todas as idades
vão à busca do conhecimento. Mais do que um ambiente cognitivo a escola é um
lugar em que se estabelecem relações socais entre indivíduos que pensam
diferentes e agem de forma desigual e de uma diversidade individual e ou particular.
Toda essa heterogeneidade está presente na escola, portanto ela passa a ser
responsável não somente pelo desenvolvimento intelectual do aluno, mas deve
contribuir também para a sua formação social.
Diante de toda essa diversidade presente neste ambiente, surgem, conceitos
e preconceitos, mitos e verdades; estabelecem-se as relações de poder; e o aluno
necessita aprender a conviver com as diferenças e ter atitudes de respeito diante de
cada situação que se apresenta.
Neste sentido a Educação física escolar com suas especificidades, pode
contribuir através da reflexão sobre a cultura corporal para reconstruir e reestruturar
novos conceitos.
Na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, a dinâmica Curricular, no âmbito da Educação Física, [...] Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizada pela expressão corporal: jogos, danças lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímico e outros, podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (SOARES, et al., 1992 p. 38).
Desta forma entendemos que a Educação Física, como um componente
curricular presente na escola – com um valor pedagógico igual as demais disciplinas
– tem uma função social que pode transformar os conhecimentos historicamente
construídos e transmitidos pela sociedade em saber escolar. Desta forma, pode-se
afirmar que,
a Educação Física, enquanto área do conhecimento tem como objeto de estudo o corpo em movimento, como saber construído no interior das relações entre classes. Por esse motivo, a Educação Física tem uma função social a cumprir no espaço escolar. é a transmissão do saber sistematizado, legado cultural da humanidade (SAVIANI apud TOLKMITT, 1993, p. 15).
3
Assim como em todos os lugares o preconceito está presente também no
interior da escola, especificamente os relacionados com o corpo. Discutir os
preconceitos deveria ser função da escola, para que se possa ocorrer uma mudança
significativa de comportamento frente às diferenças.
Nesta perspectiva de mudança de comportamento um dos conteúdos da
Educação Física Escolar que poderia auxiliar neste aspecto é a dança. Desta forma,
ela pode assim ser conceituada, segundo Gonçalves (2003, p. 5):
A dança é a arte que utiliza o corpo em movimento como um meio de expressão, comunicação e criação. Ela é capaz de liberar sentimentos e emoções e, sobretudo, refletir manifestações culturais, transformando-se em linguagem social.
O ritmo, presente na dança também está intrinsecamente ligado ao ser
humano. O ritmo produzido pelas batidas do coração, o nosso ritmo biológico, desde
nosso nascimento até a morte, o ritmo está presente no nosso corpo. O ritmo pode
ser assim conceituado:
O ritmo faz parte de tudo que existe no universo, é um impulso, o estimulo que caracteriza a vida. Ele se faz presente na natureza, na vida humana, animal e vegetal, nas funções orgânicas do homem, em suas manifestações corporais, na expressão interior exteriorizada pelo gesto, no movimento, qualquer que seja ele. Possibilita combinações infinitas, possui diferentes durações e ou combinações variadas em diferentes formas de movimento, alternando-se com enumeras formas de repouso. (VERDERI, 2000, p.53).
O ritmo produz no ser humano uma necessidade de movimento, quer pela
produção de ritmo como bater palmas, bater o pé, assobiar, cantar, quer pelo
acompanhamento do ritmo através de movimentos elaborados como forma de
expressão.
Neste sentido a dança com seus valores educacionais, pode fazer parte dos
programas da disciplina de Educação Física escolar uma vez que são
inquestionáveis os benefícios que este conteúdo traz para o nosso educando.
Desta forma, baseado nas considerações acima se chegou ao seguinte objetivo:
pesquisar e implementar um projeto de intervenção, que possibilitasse através da
dança minimizar o preconceito de gênero existente em relação a este conteúdo com
alunos do Ensino Fundamental do Colégio Estadual de Pato Bragado.
4
2 Revisão de Literatura
2.1 Dança
Embora tenha tido uma formação acadêmica nos moldes tecnicistas, ao longo
de quase 20 anos de atuação na escola pública no Estado do Paraná, procurei
acompanhar as mudanças ocorridas na área da Educação Física.
Muitas reflexões têm ocorrido sobre a necessidade de desenvolver nas aulas
de Educação Física, práticas corporais para além das que são desenvolvidas no
esporte, para que o educando possa vivenciar experiências diversificadas.
A Educação Física e seu objeto de ensino/estudo, a Cultura Corporal, deve, ainda, ampliar a dimensão meramente motriz. Para isso, pode-se enriquecer os conteúdos com experiências corporais das mais diferentes culturas, priorizando as particularidades de cada comunidade. (PARANÁ, 2008, p. 62).
No entanto tenho percebido que, na escola onde atuo como professora, a
participação dos alunos é maior quando proporciono práticas corporais que
envolvem os esportes, os jogos e brincadeiras, porém esta participação não é a
mesma quando proporciono aulas de dança. Talvez isto ocorra, por causa de
determinados preconceitos que existe em relação à dança, ou seja, os alunos do
sexo masculino praticamente não participam, quem sabe por pensar que dança é
coisa de mulher, que movimentos da articulação coxofemoral (quadril) –rebolado-
são ofensivos a sua virilidade o ainda por associar a dança com homossexualismo.
A dança é uma das mais diversas formas manifestações culturais e existe
desde os primórdios da humanidade.
Através da dança o homem ao longo da história, pode manifestar seu modo
de pensar e agir, comunicar suas necessidades, comemorar suas conquistas entre
tantos outros.
Neste sentido, a dança pode contribuir para compreensão que muitas das
manifestações culturais presentes na atualidade foram construídas nas relações
sociais e de trabalho. Assim sendo,
5
a dança que utiliza o corpo como forma de expressão, comunicação, criação, expressando sentimentos e emoções; possibilitando uma reflexão sobre as manifestações culturais tornando-se uma linguagem social (GONÇALVES, 2003, p. 5).
Pois, o ritmo está presente no ser humano, faz parte da sua existência, está
na natureza, no universo, pois este se movimenta e todo movimento possui um
ritmo. Portanto, “[...] o ritmo é um elemento fundamental presente em todas as
formas de vida: no movimento humano, na natureza, no universo. O ser humano
está constantemente em movimento e todo movimento é rítmico”. (GONÇALVES,
2003, p. 5).
Segundo Gonçalves, (2007, p. 65), “[...] o ritmo é um elemento fundamental
presente em todas as formas de vida: no movimento humano, na natureza, no
universo. O ser humano está constantemente se movimentando e todo movimento é
rítmico”.
Sendo a dança uma atividade que traz inúmeros benefícios para o educando
quando este vivencia práticas corporais desta natureza e conteúdo estruturante da
Educação Física, proposto pelas Diretrizes Curriculares de Educação Física
(DCEF’s) da Secretaria Estadual de Educação, portanto, poderia ser oportunizado
aos alunos de maneira que todos possam participar.
A dança permite exteriorizar, através de manifestações corporais, suas
emoções, ampliando sua criatividade e superando desafios corporais, Desta forma,
a dança é a manifestação da cultura corporal responsável por tratar o corpo e suas expressões artísticas, estéticas, sensuais, criativas e técnicas que se concretizam em diferentes práticas, como nas danças típicas (nacionais e regionais), danças folclóricas, danças de rua, danças clássicas ente outras (PARANÁ, 2008, p. 70).
Neste sentido faz-se necessário o desenvolvimento de ações que possam
contribuir para uma mudança de comportamento frente às questões de preconceito
e gênero presentes nas aulas de Educação Física principalmente às relacionadas
com o conteúdo de dança.
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2.2 História da dança
Na pré-história o homem dançava geralmente invocando a natureza e os
espíritos de acordo com suas necessidades, por exemplo, se a chuva demorava a
cair o homem da pré-história dançava invocando a chuva. Os movimentos
envolvidos em cada dança eram de acordo com a temática de cada dança, às vezes
utilizavam somente partes do corpo, outras vezes o corpo todo. A indumentária
utilizada nas danças da pré-história servia apenas como um complemento e não
influenciava nos desejos dos dançarinos, variava de acordo com o tipo de danças.
Desta forma,
Neste primeiro período o homem busca não apenas invocar as forças da natureza para demonstra-lhes mediante o gesto quais são as suas necessidades prementes, mas também para mostrar-se convencido da influência que por força de sua dança adquire sobre os fenômenos naturais, para obrigá-los a atuar segundo os seus desejos e necessidades (OSSONA, 1988, p. 14).
Com o passar dos anos as tribos transformaram-se em pequenas nações
surgindo assim a divisão da sociedade, onde aparecem as classes e castas. Neste
período, os espetáculos de dança passam a ser privilégio das classes de dirigentes.
As danças passam a ter caráter não só religioso, mas, também de divertimento.
Segundo Nanni, (1995 p. 8), “sempre inspirado na atividade humana, a dança
na Índia segue os conceitos de energia, sabedoria, e a arte brota de uma mesma
raiz divina que produz e coordena a vida”.
Em algumas culturas, a dança tem um caráter festivo onde tanto homens
quanto mulheres podem participar. Neste aspecto,
as danças no Japão, variadas e espontâneas, integravam festas rituais como o plantio de arroz, a da noite do retorno das almas, a da floração das cerejeiras, a barca das lanternas. Masculinas ou femininas, estas danças ilustram lendas e crenças sobre a relação entre divindades e natureza (NANNI, 1995, p. 9).
Em outras culturas a dança era privilegio da corte, tinha um caráter
moralizador, os dançarinos usavam espécies de armas como adereços. Assim,
7
[...] era usada uma pantomima bélica, que representava a vitória do soberano sobre os nobres rebeldes. O superespetáculo de caráter didático encerrado como educação dos súditos e fortificar a sua fiel obediência ao imperador-deus (NANNI, 1995, p. 10).
Na idade Média, durante a expansão do cristianismo, a dança continuou
tendo lugar de honra do culto, por outro lado o pensamento que caracterizava o
primeiro período do cristianismo era de exaltação da vida após a morte, onde o que
se buscava era a salvação da alma, e para isto, o corpo era um obstáculo; a dança
sendo uma atividade corporal e prazerosa foi banida dos cultos religiosos. Assim,
fica claro que,
[...] esse período chamado pelos renascentistas de “Idade das Trevas” manteve um clima de instabilidade e proibição para as danças, dada a substituição da autoridade civil pela autoridade eclesiástica graças a forte interferência do cristianismo triunfante (NANNI, 1995, p. 13).
No entanto as danças com caráter de divertimento continuavam,
representadas por poetas, músicos, atores, mímicos, dançarinos e acrobatas; tinha a
forma de crônica dançada que enfocava os dois principais temas da época: a
religião e a guerra.
Durante alguns séculos a dança foi praticamente extinta, porém no
renascimento ela volta com força ao cenário dos cortesãos e dos palácios. No
principio deste período a dança era predominantemente pantomímica.
Posteriormente cada corte da Europa foi criando formas peculiares de danças.
É nesta fase que surge o ballet, pois conforme afirma Nanni, (1995, p.15),
“após a definição do academismo, o ballet se desenvolveu acrescido de novos
estilos e influência no estilo”.
Nesse período surge a dança de salão que teve seu inicio, com os bailes de
máscaras que aconteciam na época de carnaval.
Com o passar dos tempos os bailes passaram a ocorrer com mais frequência.
Segundo Ossona (1988, p. 65), “em 1715 foi realizado o primeiro baile de
máscaras no teatro de Ópera, a partir desta data os bailes passaram a acontecer
três vezes por semana, no mesmo local”.
Desses bailes poderia participar qualquer pessoa que pagasse o seu
ingresso, instituindo-se assim a dança comercial, hoje representada pelos inúmeros
bailes que acontecem todos os finais de semana na nossa atual sociedade.
8
As formas de danças folclóricas também aparecem no renascimento onde
além dos bailes de máscaras e do ballet o povo continua criando passos e dançando
a seu modo. Desta forma, é possível afirmar que, “[...] os espetáculos populares
desenvolveram danças de um gênero mais afim ou relacionado com as formas
comuns que o homem praticava, não profissional nem especialmente adestrado na
dança”. (OSSONA, 1988, p. 68).
As danças folclóricas geralmente estão ligadas as crenças e costumes de um
povo. Desta forma, a música, a coreografia e a indumentária das danças folclóricas
possuem características deste povo.
Pois como afirma Ossona (1988, p. 72), “a dança folclórica é, deste ponto de
vista, uma história dinâmica e condensada da cultura, ao mesmo tempo em que um
produto cultural da história”.
O ballet no principio era uma dança de salão, muito apreciada, onde os
bailarinos se apresentavam em bailes. Mais tarde, o ballet entra em decadência,
então são criadas teorias e leis para regulamentar esse estilo de dança.
No século XIX a dança passa pelo romantismo onde uma dançarina chamada
Marie Taglioni revoluciona a técnica e a estética da dança, valorizando a figura
feminina, cria o sapato de ponta e os vestidos que até hoje são obrigatórios nos
balés clássicos. Neste sentido, Nanni (1995, p. 15) afirma que,
[...] em pleno reinado Romântico, no século XIX, a Itália tornou-se centro do ballet e contribuiu com inovações no vestuário para a criação de um código mais completo: são criadas as sapatilhas de ponta e os tutus românticos (saias de gaze leve) que revitalizam os conceitos técnicos pela possibilidade de maior amplitude de movimento e leveza na execução.
Com o passar dos tempos aparecem novos coreógrafos e compositores de
ballet, e assim são criadas várias peças algumas delas apresentadas até os dias de
hoje.
No século XIX, tem inicio um movimento que contesta a forma como a dança
é formalizada, pois pensam a dança para além de passos institucionalizados.
Pode-se inferir então que o ensino da dança deva ser expressão global do
corpo, possibilitando a criação. Desta forma, surge então a dança moderna com
alguns precursores.
Segundo Ossona (1988, p. 75),
9
[...] alguns novos se destacam na história da dança moderna. Na Europa, Isadora Ducan, Rudolf Laban, Jaques Dalcroze, que além de alunos e mestres foram estudiosos da dança prestando assim relevantes contribuições à dança moderna. Destes mestres surgiram vários seguidores revolucionando e elevando a dança moderna aos mais altos conceitos.
Por conseguinte, fica evidente esta influencia, pois eleva a dança moderna a
um patamar que permite ao aluno ser mais criativo, possibilitando um
autoconhecimento, e assim a dança passa a ser não mais um privilégio de uma
classe e passa a integrar o currículo escolar.
2.3 A dança no Brasil
No inicio do século XX, após a visita de famosas companhias internacionais,
Maria Oleneva, veio ao Rio de Janeiro e decidiu aqui se estabelecer. Tinha como
objetivo lançar as bases do ballet clássico no Brasil. Assim em 1927 foi cedida uma
sala do Teatro Municipal do Rio de Janeiro à Maria Oleneva criando-se assim a
primeira escola de dança no Brasil, sendo oficializada na década de 30. Estas
informações são descritas por Faro (1988, p. 19), pois,
[...] pertencente à companhia de Ana Pavlova, a artista que, tendo se radicado no Brasil, abriria uma escola séria e altamente profissional que dá origem, em 1936, ao atual Balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Trata-se de Maria Oleneva.
Nos anos seguintes foram criadas e apresentadas várias peças de ballet.
Algumas dessas criações sobre músicas brasileiras, como por exemplo: Noite de
festas no arraial (Francisco Braga), Maracatu de Chico Rei (Francisco Mignone),
Jurupari e Amazonas (Villa Lobos).
Ao longo dos anos, muitos bailarinos e bailarinas, juntamente com
coreógrafos e compositores criaram várias coreografias e as apresentaram em
grandes espetáculos em teatros de São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente.
Já na atualidade um nome de expressão representando esse estilo de dança
é o de Ana Maria Botafogo.
Fica evidente então que, muitos espetáculos de ballet são apresentados em
todo país, no entanto, os espectadores deste estilo de dança são pessoas de um
10
nível socioeconômico mais elevado, elevando assim este tipo de dança às artes
maiores. Desta forma, as classes menos favorecidas da sociedade são excluídas na
apreciação deste tipo de arte o que não pode ser confundido com falta de gosto ou
sensibilidade. Neste sentido, Abrão, (2006, p. 90) afirma que,
[...] o fato de as artes maiores afirmarem uma superioridade (mesmo que não o façam explicitamente), dificultando o acesso às mesmas pelas classes cultural e economicamente desprivilegiadas. Apoiada na tradição elitista, a arte não é familiar, nem acessível a maioria da população.
As danças folclóricas brasileiras recebem a influência direta da fusão de três
culturas: a indígena, a negra e a europeia. Surgida no meio do povo e transmitida ao
longo das gerações, as danças folclóricas brasileiras, representam fatos, costumes,
tradições das origens culturais do Brasil. Desta forma,
As danças folclóricas brasileiras possuem características regionais. Dependendo da influência étnica do lugar, Ela terá aspectos indígenas como nos estados do Amazonas e do Pará; africanos, como na Bahia, Minas e Rio; ou europeus como nos estados do Sul do país. (NANNI, 1995, p. 77).
Percebe-se então que as danças regionais são mais praticadas e dançadas
dentro de cada região do Brasil. Por exemplo: o samba, apesar de ser uma dança
nacionalmente conhecida, é mais praticado nos estados do Rio de Janeiro e São
Paulo. O frevo é mais nos estados do Nordeste como Pernambuco e Bahia.
Na região Sul as danças recebem mais a influência da cultura europeia. Os
movimentos tradicionalistas do sul são os principais responsáveis pela divulgação e
manutenção das danças folclóricas. Como exemplo de danças folclóricas da região
sul, podemos citar o Balaio, a Chula, a Chimarrita, o pezinho e o Pau de Fita.
Na região central do Brasil, as danças tiveram influência europeia, trazida
pelos colonizadores que vieram do sul; negra vinda do leste e a indígena,
representada pelos povos nativos daquela região. As danças folclóricas mais
expressivas dessa região são a Catira ou Cateretê, as Congadas, O Vilão de Faca e
a Dança dos velhos (espécie de quadrilha).
Na região leste, dominada pela influência africana, as danças se caracterizam
pelo batuque e candomblé. O Samba (e todas as suas variações), todos os tipos de
dança derivadas do Candomblé e a Capoeira são exemplos de danças desta região.
11
Pode-se afirmar então que a região nordestina do Brasil é a mais variada em
termos de ritmos e danças, em função da variedade de tipos humanos que desde a
colonização do Brasil, estiveram presentes nesta região.
Como danças características desta região, podemos citar o Frevo
(caracterizado pela variedade de passos), o Baião, o Bumba meu boi, as
Cheganças, os Pastoris, os Reisados, os Congos, o Coco, os Xangôs e o Maracatu.
Por outro lado, já na região norte, com influência da cultura indígena, as
danças geralmente são baseadas em lendas cultivadas pelos índios. Danças típicas
desta região são o Carimbó, o Sairé e o Boi bumbá (com suas variações muito em
moda na atualidade).
Fica evidente então que muitas danças são executadas em mais de uma
região ou nacionalmente, como é o caso do Samba, da Quadrilha, das Congadas,
Pau de fita, entre outras; mas dependendo da influência cultural de cada região,
sofre modificações, com relação aos passos, a letra e por vezes até no ritmo (mais
lento ou mais rápido). Pois,
o fato folclórico é um componente vital e rico manancial sócio-cultural do povo brasileiro, pois constitui a maneira de sentir pensar e agir preservadas pela tradição popular, pela mutação e transculturação, principalmente em suas formas originais sem a influência direta do oficial ou erudito. (NANNI,1995, p. 89).
2.4 Origem dos ritmos e danças
Segundo Gonçalves (2007, p. 65), “[...] o ritmo é um elemento fundamental
presente em todas as formas de vida: no movimento humano, na natureza, no
universo. O ser humano está constantemente se movimentando e todo movimento é
rítmico”.
A coreografia de uma dança recebe a influência direta de um ritmo. A música,
como meio de comunicação e expressão está intimamente ligada com os
movimentos da dança, pois afeta as emoções, implicando assim, tanto
psicologicamente quanto fisicamente em mudanças no comportamento do ser
humano.
12
É o ritmo que estabelece conexão profunda com o eu interior proporcionando a expressão de forte e variadas emoções expressas pela dimensão interior do ser ao comunicar-se com o exterior em relação com o outro ou com o ambiente. (NANNI, 1995, p. 164).
Cada ritmo tem sua origem. Na atualidade, a dança tem recebido influencia
de vários ritmos.
Segundo Tolkimitt, (1993, p.253), muitas danças ou ritmos tiveram sua origem
nas relações sociais ou de trabalho.
2.5 Aspectos educativos da dança
Vivemos num país caracterizado por diversas formas de danças e ritmos, o
que torna o trabalho com dança na escola uma rica experiência corporal, permitindo
o desenvolvimento de múltiplas possibilidades de superação de limites e
compreensão das diferentes formas de se expressar.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Física do Estado do Paraná,
“[...] o professor ao trabalhar com a dança no espaço escolar, deve tratá-la de
maneira especial, considerando-a conteúdo responsável por apresentar as
possibilidades de superação do limite e das diferenças corporais”. (PARANÁ, 2008,
p. 70).
Com a prática da dança o que se busca é uma maior e melhor consciência
corporal e controle corporal, dentro de uma visão de corporeidade, onde cada
movimento deve ser percebido (através das sensações: visão, audição...),
interiorizado e analisado. Isto levará o aluno a adquirir um melhor conhecimento do
próprio corpo, favorecendo assim a superação de limites e a descoberta de novas
possibilidades.
Sendo assim, no aspecto físico, a dança possibilita a aquisição e o
aprimoramento da coordenação motora ampla, da flexibilidade, do equilíbrio,
amplitude das articulações, educação rítmica entre outras.
Quanto ao aspecto social, mesmo que inicialmente as danças sejam
realizadas individualmente, no momento em que participa suas experiências e
conquistas decorrentes da prática, o aluno passa a sentir-se integrante deste grupo,
13
demonstrando valores sociais como a cooperação, o espírito de coletividade, e a
responsabilidade para com o grupo, onde o respeito para com o outro é muito
importante.
Nanni (1995, p. 81), afirma que “dançando juntos, as crianças e jovens
aprendem a ter consideração uns pelos outros e um código e comportamento
social”.
A dança enquanto prática também busca superar os preconceitos e modelos
pré-estabelecidos, mostrando que é possível todos dançarem independentemente
do sexo e o ato de criar novos movimentos, passos, e coreografias também é um
momento de prazer e superação do que antes estava posto como padrão.
Quanto aos aspectos morais a criança e o adolescente conhecendo melhor o
seu corpo, a partir da prática da dança, e análise de padrões pré-estabelecidos
(principalmente pela mídia) passa a ter um maior domínio sobre si mesma, a
respeitar as individualidades, ter mais iniciativa, perceber-se que, enquanto corpo
não deve se tornar produto de consumo. Desta forma,
[...] outra maneira de abordagem da dança, nesta perspectiva crítica proposta pelas Diretrizes, seria problematizar a forma como essa manifestação corporal tem se apropriado da erotização do corpo, tornando-se um produto de consumo do público jovem. (PARANA, 2008, p. 71).
Quanto ao aspecto recreativo, sendo a dança uma forma de expressão de
sentimentos e emoções as aulas da dança podem contribuir para aliviar as tensões,
na medida em que vai descobrindo suas possibilidades e superando as dificuldades
e os modelos pré-estabelecidos, aprende a gostar mais do seu corpo e isto lhe dará
prazer.
Em relação ao aspecto histórico do ser humano, na medida em que o aluno
estuda o contexto histórico em que as danças e os ritmos foram criados e que
muitas dessas criações são frutos das relações de trabalho e do convívio social, e
que ao criar novas danças e coreografias também estão sendo agentes de
transformação e um ser historicamente construído.
Portanto,
a dança constitui-se em conteúdo importante da Educação Física, pois contribui significativamente para o estímulo da livre expressão, para o desenvolvimento rítmico – por meio do aperfeiçoamento dos movimentos
14
naturais- para o favorecimento do contato social, além de proporcionar momentos de alegria e prazer. (GONÇALVES, 2003, p. 5).
2.6 A dança e os elementos articuladores dos conteúdos estruturantes
Na perspectiva da Cultura corporal e visando romper com a maneira
tradicional como os conteúdos têm sido tratados na Educação Física as DCEF’s
propõe os elementos articuladores já nominados e especificados anteriormente, para
integrar e interligar as práticas corporais de forma mais reflexiva e contextualizada.
O conteúdo de dança pode ser articulado com vários desses elementos
articuladores. No presente trabalho focaremos a dança aos elementos articuladores:
Cultura Corporal e Corpo e Cultura Corporal e Diversidade.
O elemento articulador Cultura Corporal e Corpo possibilitará uma reflexão de
como o corpo é explorado pela mídia, por exemplo, as dançarinas nos programas de
auditório, apresentados normalmente aos domingos onde um público maior assiste.
Também a dura rotina de treinamento a que é submetido o corpo dos
bailarinos de balé clássico. As implicações, de determinadas posições que são
exigidas na dança, sobre o corpo.
E ainda a superação de limites do seu próprio corpo, proporcionadas nas
atividades práticas.
Através do elemento articulador Cultura corporal e Diversidade, podemos
refletir sobre as danças típicas da região valorizando a cultura local, o resgate da
cultura brasileira através do estudo dos diversos ritmos e danças folclóricas.
Outro aspecto envolvendo a dança, e que é objeto de estudo deste trabalho
diz respeito às questões de preconceito e gênero. Também pretende-se abordar a
erotização do corpo em algumas danças, como apelo comercial.
2.7 A dança, preconceito e gênero
Num país dançante como nosso, com um imenso repertório de manifestações
culturais relacionados com a dança, percebe-se que alguns ritmos e danças são
15
vistos com determinados preconceitos em algumas situações. Neste sentido
Marques (2007, p. 20) refere-se assim,
[...] em primeiro lugar não são poucos os pais de alunos (gênero masculino), e os próprios alunos, que ainda consideram dança ‘coisa de mulher’. Em um país como o nosso, porque será que essa visão de dança é constante? Digo em um país como o nosso pensando nos inúmeros grupos de dança e trios elétricos formados majoritariamente por homens durante o carnaval (o Olodum, por exemplo); nas danças de salão que o Brasil exporta; nas danças de rua; capoeira; entre tantas outras manifestações em que a dança não está associada ao corpo delicado da bailarina clássica, mas, ao contrario, à virilidade, à força, à identidade cultural do homem brasileiro.
Com relação preconceito de gênero, verificada muitas vezes nas práticas
corporais de dança, Marques (2007, p. 39) afirma:
Um dos preconceitos mais fortes em relação à dança na sociedade brasileira ainda diz respeito ao gênero. Dançar em uma sociedade machista como a nossa ainda é sinônimo de ‘coisa de mulher’, ‘efeminação’, ‘homossexualismo’.
Embora em graus diferentes o preconceito de gênero atinge homens e
mulheres em todos os níveis sociais.
Na escola e, principalmente nas aulas de Educação Física, o preconceito é
mais visível, pois as diferenças corporais também são mais visíveis.
É de fundamental importância que o professor utilizando-se dos conteúdos
estruturante e os elementos articuladores da Educação Física conduza os alunos a
uma reflexão acerca desse tipo de preconceito para que estes possam compreender
e respeitar cada vez mais as diferenças corporais.
Entender o corpo, não apenas o corpo biológico, mas, o corpo carregado de
significados, ou seja, culturalmente construído, pode ser um caminho para
desmistificar os preconceitos existentes em relação ao corpo.
[...] Mais do que saber que os corpos se expressam diferentemente, porque representam culturas diferentes, é necessário entender quais os princípios, valores e normas que levam os corpos a se manifestar de determinada maneira. Enfim, é preciso compreender os símbolos culturais que estão representados no corpo. (DAÓLIO, 1995, p. 40).
Abordar danças que são executadas exclusivamente por homens, ou
apresentar grupos de dança, onde os bailarinos, em sua maioria são do sexo
16
masculino, pode se constituir uma maneira de minimizar o preconceito de gênero em
relação à dança. Pois,
[...] dançar, compreender, apreciar, contextualizar danças de diversas origens culturais pode ser uma maneira de trabalharmos e discutirmos preconceitos e de incentivarmos nossos alunos a criarem danças que não ignorem ou reforcem negativamente diferenças de gênero. (MARQUES, 2007, p. 40).
3 Exposição da Proposta: Metodologia
3.1 Elaboração do projeto de intervenção
Inicialmente foi elaborado um projeto de intervenção pedagógica que consistia
de uma pesquisa bibliográfica na qual abordamos temas como: a história e os
conceitos de dança, o seu valor educativo, bem como a relação deste conteúdo com
os elementos articuladores da Educação Física. E ainda conceitos de preconceito e
discriminação relacionando com a dança.
Neste projeto foram definidos os objetivos e os meios pelos quais se
pretendia atingir esses objetivos.
3.2 Unidade didática
Para a implementação do projeto de intervenção pedagógica, elaborei uma
unidade didática tendo como tema a dança, com atividades direcionadas para os
alunos de 2 turmas de 8ª séries do Colégio Estadual Pato Bragado.
Foram elaboradas 6 ações com 15 atividades diversificadas como: filmes,
pesquisas, seminários, debates, elaborações de painel e várias atividades práticas
de dança, as quais foram distribuídas e realizadas totalizando 32 aulas. As aulas
foram desenvolvidas no segundo semestre de 2011, nas dependências do próprio
Colégio.
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3.3 A intervenção
Inicialmente o projeto de intervenção foi apresentado à direção e aos demais
professores do Colégio Estadual Pato Bragado o qual foi solicitado apoio na
realização das atividades. Num segundo momento foi apresentado aos alunos
participantes do projeto.
Na sequência, foram desenvolvidas as diversas atividades propostas
objetivando a construção do conhecimento a cerca do conteúdo de dança e a
participação efetiva de todos os alunos nas atividades.
Após a realização de todas as atividades propostas pela unidade didática e
como última ação da mesma foi elaborada uma entrevista semi estruturada com 20
alunos escolhidos aleatoriamente. 10 alunos da turma A e 10 alunos da turma B
sendo 5 do sexo feminino e 5 do sexo masculino. Após a realização das entrevistas
estas foram transcritas. Para preservar a identidade os alunos foram identificados
como S1, S2 e assim sucessivamente.
3.4 Relato da experiência
A seguir abordaremos cada uma das ações desenvolvidas e relatar como foi
a participação e o envolvimento dos alunos em cada uma das atividades propostas.
A primeira ação foi apresentar o projeto à direção, à equipe pedagógica, aos
professores e funcionários e aos alunos participantes do projeto.
O projeto de intervenção pedagógica foi apresentado, de forma oral e
expositiva com o auxílio de recursos de multimídia, na reunião pedagógica que
aconteceu durante a semana pedagógica – julho de 2011 na qual estavam
presentes, além da direção e equipe pedagógica, a maioria dos professores e
funcionários do Colégio Estadual Pato Bragado.
Ao término da apresentação foi solicitado aos colegas apoio na realização das
atividades.
A direção e equipe pedagógica colocaram-se a disposição para auxiliar no
que fosse possível e necessário.
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Uma das professoras presentes comentou que “achava o projeto interessante
e esperava que com a realização do projeto houvesse maior participação dos
meninos nas danças que seriam apresentadas na Semana Cultural da Escola”.
O projeto foi bem aceito pelo colegiado da escola.
No inicio do mês de agosto de 2011, o projeto foi apresentado aos alunos das
turmas 8ª A e 8ª B, que fizeram parte do projeto. De forma expositiva e com auxilio
de recurso de multimídia o projeto foi exposto aos alunos. A professora convidou a
todos para participar do projeto. Observou-se que alguns meninos se entreolharam.
Após explicar todo o projeto e as diversas atividades, um aluno comentou
“professora todo mundo vai ter que dançar? Eu não gosto de dança, só as meninas
vão fazer dança e os “pias” vão jogar futsal”. Já outra aluna se expressou da
seguinte forma: “Eu adoro dançar, acho que vai ser muito legal”.
A segunda ação tinha como objetivos: apresentar o conceito de dança;
proporcionar aos alunos a experiência de movimentar-se ao som de ritmos variados
e construir coletivamente um conceito de dança.
Primeiramente foram utilizados recursos áudio visuais como filmes e
vídeos que abordam os temas dança e preconceito, com os objetivos de apresentar
e construir um conceito coletivo de dança.
Ao questionar os alunos sobre quais aspectos do filme mais chamou sua
atenção uma aluna considerou que “Um dos personagens do filme tinha vergonha
de mostrar para as outras pessoas que ele gostava de dançar” outro aluno ponderou
“que qualquer pessoa pode aprender a dançar desde que tenha força de vontade”.
Foram questionados quanto aos espaços que temos na comunidade para
dançar? A resposta mais relevante foi “Não temos uma academia de dança como a
do filme, mas tem os salões de bailes onde as pessoas podem dançar quase todo
final de semana”.
Ao questioná-los se puderam observar algum tipo de preconceito
presente no filme com relação à dança uma aluna disse “Acho que sim, porque um
personagem se disfarçava para apresentação porque não queria ser reconhecido,
porque achava que seus colegas de trabalho iriam tirar “sarro” se soubessem que
ele dançava”.
Em sala de aula, foi solicitado aos alunos que dissessem o que para eles é
dança. As respostas foram anotadas no quadro. Em seguida foram apresentados de
forma impressa dois conceitos de dança.
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a dança é a manifestação da cultura corporal responsável por tratar o corpo e suas expressões artísticas, estéticas, sensuais, criativas e técnicas que se concretizam em diferentes práticas, como nas danças típicas (nacionais e regionais), danças folclóricas, danças de rua, danças clássicas ente outras (PARANÁ, 2008, p. 70).
E ainda, “a dança que utiliza o corpo como forma de expressão, comunicação,
criação, expressando sentimentos e emoções; possibilitando uma reflexão sobre as
manifestações culturais tornando-se uma linguagem social”. (GONÇALVES, 2003, p.
5).
Na sequência foi comparado o que os alunos disseram com os conceitos
apresentados de forma impressa. Observou-se que as expressões como:
“expressão de sentimento, emoção, criatividade, se expressar com o corpo,
movimentar o corpo no ritmo de uma música” estavam em consonância com o
conceito de dança apresentados pelos autores.
Isto também se confirmou com as respostas dadas pelos alunos durante a
entrevista quando estes foram questionados o que é dançar? “Sentimento da alma
expressada pelo corpo”. (S5); “Modo artístico de representar seus pensamentos e
sentimentos” (S13); “Ah! É um jeito da gente se movimentar no ritmo de uma
música” (S6).
Num momento seguinte, foi proposto aos alunos que eles se movimentassem
ao som de ritmos variados. Nesta atividade, no momento inicial, a grande maioria
dos alunos mostrou-se tímida e envergonhada. Após alguns incentivos foram se
soltando, porém alguns alunos principalmente do sexo masculino se recusaram a
realizar a atividade.
Outra atividade realizada foi a elaboração de um painel sobre dança.
Essa atividade foi realizada da seguinte forma:
Os alunos foram conduzidos ao laboratório de informática.
A professora solicitou que cada um pesquisasse e escolhesse uma imagem
que para eles representavam a dança. Após escolher, editar a imagem e escrever
logo abaixo o que era dança para eles. Após todos realizarem a atividade, estas
foram impressas e com elas foi montado um painel de dança.
Esse painel chamou a atenção de muitos alunos e professores que elogiaram
o trabalho.
Também foi observado que os alunos gostaram muito de realizar esta
atividade e ficaram orgulhosos do resultado.
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A terceira ação realizada tinha como objetivo pesquisar a história da dança e
de alguns ritmos e danças. As atividades tiveram os seguintes encaminhamentos
metodológicos.
Os alunos foram divididos em pequenos grupos. Cada grupo recebeu a
incumbência de pesquisar aspectos históricos da dança e em seguida o resultado da
pesquisa foi socializado com os colegas em forma de seminário.
Em seguida foi apresentado de forma impressa o histórico de algumas danças
e foi solicitado aos alunos que pesquisasses a história do ritmo que ele mais gosta.
Os ritmos mais pesquisados foram os “dance” e ritmos de dança de salão.
A partir das pesquisas realizadas pelos alunos sobre manifestações culturais,
foi proposta a realização de atividades práticas estimulando a participação de todos.
Observou-se que melhorou a participação dos alunos nas atividades práticas
talvez isto tenha ocorrido pelo fato de os próprios terem escolhido os ritmos.
A quarta ação tinha como objetivo apresentar discutir e construir conceitos
sobre preconceito e discriminação com os alunos.
Novamente foi usado um recurso audiovisual (filme) que abordava os temas
de preconceito e discriminação. Ao final da apresentação do filme os alunos foram
questionados se haviam percebido algum tipo de preconceito no filme. Observou-se
que, quase a totalidade dos alunos disse “sim”.
Após enumerar os preconceitos presentes no filme foi apresentado de forma
impressa os conceitos de preconceito, discriminação e preconceito de gênero.
Segundo Johnson, (1997 p.180) “Em termos gerais preconceito é a teoria da
desigualdade racial entre outras formas, e discriminação é a sua prática.”
Já para Iacocca e Iacocca, (2005, p. 45) menciona que:
Discriminação é [...] tratar mal ou impedir que uma pessoa tenha possibilidade de fazer coisas permitidas a outras porque pertence a diferente grupo racial, segue outra religião [...] Preconceito é [...] a idéia desfavorável que se tem de uma pessoa antes de conhecê-la só porque ela pertence a outro grupo racial, outra condição social, outra religião, fez outra opção sexual, tem outra maneira de encarar a vida [...]
Para entender melhor o que quer dizer preconceito de gênero é necessário
fazer uma distinção entre sexo e gênero.
Gilddens, (2005, p.102) relata que:
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Em geral, os sociólogos usam o termo ‘sexo’ para referir-se às diferenças anatômicas e fisiológicas que definem os corpos masculinos e femininos. Gênero, em contra partida, diz respeito às diferenças psicológicas, sociais e culturais entre homens e mulheres.
Portanto, o preconceito de gênero, diz respeito ao que se pensa acerca do
valor atribuído às pessoas do sexo feminino em relação às do sexo masculino e vice
e versa; nas mais diversas situações do cotidiano.
Em seguida foi solicitada a opinião dos alunos sobre a existência de
preconceito e discriminação na escola e nas aulas de Educação Física? A maioria
dos alunos mencionou que sim. Comentários tais como: “Na minha opinião, tem
preconceito com as meninas nas aulas de futsal, porque os meninos acham que
sabem mais que a gente” e outra disse: “É, e o meninos sempre querem jogar mais
que as meninas”.
Outros aspectos abordados foram que os meninos não querem fazer as
atividades de ginástica e dança; que quando os alunos melhores escolhem os times
para jogar os colegas menos habilidosos sempre ficam por último; que tiram “sarro”
dos colegas gordinhos; que alguns colegas chamam os outros por apelidos e ainda
que alguns alunos são discriminados por que são oriundos da zona rural ou por
causa da roupa ou calçado. Um aluno comentou: “Também ficam chamando alguns
alunos de “colono””. Outra aluna comentou “Algumas meninas não querem ser
nossas amigas só porque a gente não anda na modinha”
Quando questionados sobre o que fazer para que estes preconceitos e
discriminações não ocorram mais durante as aulas, os alunos deram as seguintes
sugestões: Todos devem respeitar os limites e habilidades dos colegas, chamar os
colegas somente pelo nome e que os alunos menos habilidosos tivessem a mesma
oportunidade de escolher que os mais habilidosos, embora isso já viesse ocorrendo
nas aulas. E ainda que todos participassem de todas as aulas mesmo que não
gostasse muito.
Na entrevista, ao ser questionado o que você entendeu por preconceito? Em
sua opinião, alguns tipos de preconceito estão presentes nas aulas de Educação
Física? A resposta mais comum relacionada ao conceito de preconceito é:
“preconceito é uma ideia, pensamento errado que fazemos de alguma coisa ou de
pessoas muitas vezes herdadas dos antepassados”. E quanto aos preconceitos
identificados nas aulas de Educação Física os alunos responderam que: “meninos
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jogam bola melhor que meninas” (S17); “os alunos mais fracos ficam por ultimo para
serem escolhidos para formar equipes”. ( S14); “dança é coisa de menina; gordinhos
não jogam bem”. (S2). Isto demonstra que os alunos compreenderam o que é
preconceito e como ele se apresenta no interior da escola.
Um aspecto relevante nas respostas dos alunos é que, segundo eles, já
houve bem mais preconceito e que depois que estudamos o assunto, o preconceito
diminuiu um pouco.
Ao ser questionado sobre o que é discriminação? Os alunos em quase sua
totalidade afirmaram que: discriminação é uma atitude, ação que uma pessoa tem
em relação à outra. O exemplo mais usado foi os apelidos relacionados à cor e a
obesidade de colegas. “Por exemplo: chamar a colega de “baleia” (S8); “Ah! Ficar
chamando o colega de “macaco”. (S14).
A quinta ação foi proporcionar práticas corporais de dança, estimulando a
participação de todos os alunos, objetivando minimizar o preconceito de gênero em
relação à dança.
Objetivando a participação de todos foi desenvolvida com os alunos uma
dança integrativa. Após a atividade foi solicitado aos alunos que comentassem a
atividade. Unanimemente todos disseram que gostaram. Um aluno comentou:
“dançar assim é fácil”.
Como fechamento do projeto de intervenção pedagógica foi proposto aos
alunos que escolhessem uma música e elaborassem uma coreografia de dança para
ser apresentada na noite cultural da escola e que tivesse a participação de todos os
alunos da turma.
No principio, os alunos da turma A, escolheram uma música de ritmo dance
internacional, mas como alguns meninos não estavam conseguindo realizar alguns
passos e não queriam mais participar, em comum acordo a turma decidiu por um mix
de músicas de ritmo anos 60.
A proposta era que em dupla elaborassem um passo no ritmo da música, em
seguida juntavam-se duas duplas e socializavam os passos e assim sucessivamente
até que toda a turma dominasse todos os passos. Em seguida foi necessário apenas
adequar os passos à música.
Os alunos ensaiaram a coreografia nas aulas do projeto e apresentaram na
Noite Cultural da Escola. Houve a participação de todos os alunos.
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Já os alunos da turma B escolheram uma música de ritmo dance. A proposta
era a mesma da turma A, mas os alunos tiveram muita dificuldade na criação de
passos, foi necessária a intervenção e ajuda da professora. Outro aspecto dessa
coreografia foi a necessidade de criar passos de dança específicos e diferenciados
para meninas e meninos, para que houvesse a participação dos alunos do sexo
masculino.
Após a elaboração da coreografia começaram os ensaios e durante os
ensaios surgiu um novo conflito: o figurino para a apresentação. Novamente houve a
necessidade de intervenção da professora como mediadora, após algumas
discussões e ponderações chegaram a um acordo.
A coreografia também foi apresentada na Noite Cultural da Escola. A maioria
dos alunos apresentou. Apenas 2 alunos do sexo masculino recusaram-se participar
dos ensaios e da apresentação.
A turma A foi escolhida pelo colegiado dos professores para representar a
escola num festival de dança promovido por outra escola, sendo a campeã do
festival.
Outro aspecto observado pelo colegiado de professores foi o aumento
significativo de participação dos alunos do sexo masculino nas danças
apresentadas.
Na entrevista, quando questionado sobre o que você aprendeu participando
do projeto? Alunos mencionaram: “O que eu mais gostei foi das aulas práticas de
dança”. (S5); “Aprendi que qualquer um pode dançar apenas tem que querer e se
esforçar” (S19); outros ainda disseram: “Aprendi que não devemos usar termos
pejorativos e ofensivos aos colegas” (S10) ; “ Ah! Com o projeto aprendi que o
respeito as pessoas e à opinião do outro é muito importante para a convivência na
escola e em todos os lugares”. (S3)
O projeto de pesquisa e intervenção pedagógica e o desenvolvimento da
unidade didática, juntamente com seus resultados, derivou o presente artigo o qual
representa os estudos realizados durante o PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional). Programa este proporcionado aos professores da rede estadual de
educação pelo Governo do Estado do Paraná.
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4 Conclusão
Ao longo do desenvolvimento do projeto pudemos identificar várias mudanças
comportamentais e de atitudes. A mais significativa foi a participação dos meninos
nas atividades práticas de dança. Embora alguns com grande resistência aos
poucos foram percebendo possibilidades e, estimulados, se integrando ao grupo.
A participação de praticamente todos os alunos das turmas, nas quais foi
desenvolvido o projeto de intervenção pedagógica, nas coreografias de danças
apresentadas na semana cultural, no ultimo bimestre do ano, indica que os alunos
compreenderam que a dança vai além de uma atividade física, pois estimula a
superação de limites e preconceitos, exterioriza os sentimentos e favorece a
expressão corporal.
As aulas de Educação Física podem contribuir de forma significativa na vida
dos alunos, para isso é necessário que os profissionais atuem com responsabilidade
e afetividade, preparando bem suas aulas, identificando situações de desigualdade.
Essas devem ser analisadas e debatidas, para que através da conscientização haja
mudança de comportamento por parte dos indivíduos e consequentemente
minimização da desigualdade. Que o espaço escolar, seja um local, onde todos têm
seus direitos de acesso, permanência e igualdade respeitados.
Referências
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25
GONÇALVES, M. C.; PINTO, R. C. A.; TEUBER, S. P. Aprendendo a educação física: da técnica aplicada ao movimento livre. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 2003. v. 3 IACOCCA, L. IACOCCA M. De onde você veio? Discutindo preconceitos. São Paulo: Editora Ática, 2005. JOHNSON, A. G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. MARQUES, I. A. Dançando na escola. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2007. NANNI, D. Dança: educação da pré-escola a universidade. Rio de Janeiro: Sprint, 1995. OSSONA, P. A educação pela dança. São Paulo: Summus, 1988. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação do. Diretrizes curriculares da educação básica: educação física. Curitiba: 2008. SOARES, C. L. et al. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992 TOLKMITT, V. M. Educação Física: uma produção cultural do processo de humanização à robotização. Curitiba: Módulo, 1993 VERDERI, É. B. L. P. Dança na escola. 2 ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.