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PARANÁGOVERNO DO ESTADO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPEPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
O USO DE FOTOGRAFIAS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE BARRACÃO
Barracão - PR
Julho - 2012
O USO DE FOTOGRAFIAS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM DA
HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE BARRACÃO
Professora: Nilva Becker de Andrade1
Orientador: Prof.Dr. Marcos Nestor Stein2
Resumo
O artigo é o resultado do desenvolvimento do projeto intitulado “O Uso de Fotografias no Processo de Ensino Aprendizagem da História do Município de Barracão” que faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná e foi desenvolvido sob a orientação do professor Dr. Marcos Nestor Stein, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. A atividade consistiu na coleta e interpretação de fotografias que apresentam imagens do referido município, produzidas desde 1950. A metodologia baseou-se primeiramente, na leitura de textos sobre a história local e o uso da fotografia como fonte histórica. Em seguida, foi realizada a coleta de fotografias, as quais foram analisadas pelos alunos. Na seqüência, foram realizadas entrevistas com antigos moradores da cidade. Neste momento percebeu-se grande curiosidade e atenção por parte dos educandos ao ouvirem os relatos de moradores que construíram e transformaram a localidade. Assim, notou-se que o ensino de história pode se libertar dos livros e encontrar uma vasta riqueza de memórias que podem ser utilizadas nas aulas.
Palavras chave: Fotografia; História; Barracão, Paraná.
Abstract
This article is result of the research entitled “The use of pictures in the process of
teaching-learning about History of city Barracão”, which is part of the Educational 1
Professora com especialização em Educação de Jovens e Adultos, graduada em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas – Paraná e atua no Colégio Estadual Professora Leonor Castellano – Ensino Fundamental e Médio.2 Doutor em História pela UFSC. Professor do Colegiado do Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em História (Mestrado) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
2
Development Program of Paraná developed with the direction of Professor PhD
Marcos Nestor Stein from the Universidade Estadual do Paraná – UNIOESTE. The
study consisted in to collect and interpret images of the city produced since 1950.
Initially, the methodology was based on text reading about the history of town and the
use of pictures as a historical source. Then the photographs were collected and
analyzed by the students. After that, were done interviews with former residents of
the city. At this point we noticed great curiosity and attention by the students when
they listened the stories of residents who built and transformed the town.Thus, it was
noted that the teaching of history can get rid of the books and find a vast wealth of
memories that can be used in class.
Keywords: Photography, history, Barracão, Paraná.
1. Introdução
Ao longo dos anos, desde 1978, em que estou atuando no magistério, como
professora de alfabetização e de História no município de Barracão, localizado no
sudoeste do Paraná, percebi profundas mudanças econômicas, sociais, culturais e
políticas na sociedade local, nacional e internacional. Essa percepção induziu-me a
seguinte questão: será que a escola e a nossa prática pedagógica acompanham tais
transformações?
Infelizmente, a impressão que tenho é que muitas vezes depositamos
informações massivamente na cabeça dos alunos, sem muito diálogo, ou tempo
para a reflexão, preocupada com conteúdos, notas e datas. Diante disso, o presente
projeto foi elaborado e posto em prática com o intuito de melhorar o processo de
produção do conhecimento histórico, de utilizar novas tecnologias (tecnologias que
muitas vezes são motivos de repreensão, como o uso dos celulares na escola) e,
principalmente, levar meu aluno a questionar o mundo que vive.
Trabalhei diversas fontes históricas como professora de História e percebi
que havia sempre um grande interesse nas imagens por parte dos educandos.
3
Comecei a pensar em desenvolver um projeto que trabalhasse as imagens, mas,
quais imagens? Concluí que seria interessante coletar fotografias que fazem parte
do meio em que vivem os educandos. A fonte histórica seria a fotografia e os alunos,
além de coletarem fotografias de Barracão, com moradores da cidade, também
fariam registros fotográficos e, a partir daí, produziriam textos e realizariam uma
exposição para a comunidade escolar.
Tal projeto foi aplicado nos 8º ano do Colégio Estadual Professora Leonor
Castellano – EFM. A utilização da metodologia proposta tornou os conteúdos
significativos e atraentes proporcionando melhores condições de aprendizagem da
história local.
1.2 TRAJETÓRIA DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIOAL - PDE
As atividades realizadas nos campi da UNIOESTE de Marechal Cândido
Rondon e de Francisco Beltrão nos proporcionaram conhecer as novas tendências
historiográficas como também possibilitaram efetuar reflexões sobre as
metodologias no ensino de História usadas na sala de aula. Voltar ao espaço
acadêmico fez com que eu refletisse para melhorar minha tarefa como educadora.
Dessa forma, iniciei o presente projeto realizando leituras sobre a história do
sudoeste do Paraná, região onde está situado o município de Barracão, e sobre a
fotografia como instrumento de investigação histórica. Concomitantemente tive
encontros com o orientador, Dr. Marcos Nestor Stein, e frequentei aulas na
UNIOESTE, nos campi de Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão, nas quais
aprimorei meus conhecimentos sobre a pesquisa e o ensino de História.
O projeto que foi posto em prática com a participação de alunos de 8º ano
do Ensino Fundamental e apresentado via internet aos professores do Estado do
Paraná. Trata-se do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), que se caracteriza pela
interação virtual entre professores do PDE e os professores da Rede Pública
Estadual do Estado do Paraná. Inscreveram-se, no total, oito professores, sendo que
um não participou do curso.
O GTR foi dividido em três partes temáticas. Na primeira temática foi
4
apresentado o Projeto de Intervenção Pedagógica. No segundo momento a
Produção Didático-Pedagógica, logo a seguir houve um questionamento sobre a
implementação pedagógica na escola com alunos de 8º ano do Ensino Fundamental
e, por último, foram analisados seus resultados.
Na Temática 1, Projeto de Intervenção Pedagógica, os cursistas fizeram
apontamentos que muito contribuíram acerca do uso da fotografia como material
para estudar a história local.
Na Temática 2 foi apresentada aos professores cursistas a Produção
Didático-Pedagógica (textos com atividades) para que pudesse servir de sugestão
para ser desenvolvido com os seus alunos.
Os participantes questionaram sobre as transformações que ocorreram no
local, tais como: introdução da energia elétrica, o funcionamento das grandes usinas
nos dias atuais, os meios de comunicação, comércio e costumes mantidos até hoje.
O encaminhamento metodológico (coleta de fotografias) foi questionado
também, porque muitos alunos não poderiam contribuir na coleta das fotografias.
Porém, nesse momento sugeri que professor auxiliasse o seu aluno, levando
imagens para que todos pudessem participar do desenvolvimento das atividades
propostas.
Uma professora do GTR relatou que se surpreendeu ao trabalhar o caderno
pedagógico em seu município, pois muitos alunos nunca tinham conversado em
casa com os pais sobre acontecimentos do passado mais distante e se
impressionou com o relato que os pais fizeram.
Todos os professores que participaram do GTR relataram que seus alunos
mostraram um olhar mais curioso frente às atividades propostas. Além disso, os
professores cursistas participantes do Grupo de Trabalho em Rede concluíram que
as fotografias podem ser uma interessante ferramenta para o ensino de História. É o
que exemplifica a seguinte afirmação de um deles: “as fotografias são importantes
porque fornecem informações, cativam os alunos e leva-os a entender os espaços
que vivem para atuarem como sujeitos na sociedade.” 3
O Grupo de Trabalho em Rede veio aprimorar a prática pedagógica de
outros professores que se envolveram com o projeto. Preocupados em oferecer uma
educação de qualidade a seus educandos, preparam-se para enfrentar um dos
3 Professores cursistas do GTR. 2010.
5
desafios do mundo contemporâneo, que é a adaptação da escola às novas
tecnologias, pois muitos de nós educadores encontramos grandes dificuldades em
lidar e usar as novas ferramentas.
2. REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA LOCAL E FONTE HISTÓRICA: A
FOTOGRAFIA
Ao estudar a História local, estamos contemplando a proposta metodológica,
do micro para o macro, que é obrigatória pela Lei 13.381/01, no Ensino Fundamental
e Médio da Rede Estadual no trabalho com os conteúdos de História do Paraná
(2008: DCES).
Para tanto, a intenção é que através da interpretação de fotografias, pode-se
fazer um estudo sobre nossa comunidade dentro do contexto histórico para
podermos entender como ocorreram às mudanças num sistema econômico
capitalista.
A fonte histórica, no caso a fotografia, pode ter vários significados,
dependendo de como é interpretada. Por isso algumas das fotografias que
coletamos foram analisadas por várias pessoas (dentistas, domésticas, professores,
agricultores, comerciantes) de diferentes sexos e idades.
Pensamos a fotografia como fonte na pesquisa histórica levando a discussão
aos educandos e à comunidade escolar sobre a relação entre a imagem e a História.
Para isso, tomamos como base principalmente os trabalhos desenvolvidos por Boris
Kossoy, Ana Maria Maud e Maria Elisa Linhares Borges e outros.
Boris Kossoy4 afirma que “a imagem fotográfica funciona como documento
iconográfico acerca de uma dada realidade. Trata-se de um testemunho que contém
evidências sobre algo.” Para ele, a fotografia se apresenta impregnada de múltiplas
interpretações, dependendo também do lugar onde se encontra. Sendo que uma
simples legenda pode mudar o significado da fotografia.
Nesta perspectiva, ao desenvolvermos nosso projeto em Barracão, foi
necessário investigar como as pessoas ocuparam este espaço e quais as mudanças 4 KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. 1º Ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. p. 33).
6
que ocorreram no meio físico e social. Questionamos a posição dos sujeitos. Como
eram as relações desses sujeitos fotografados? Como podemos ver as fotografias
para reconstituir a história dos sujeitos?
Para isso, a oralidade muito contribuiu, pois ela e a fotografia se
complementam. Segundo Maud5, para a análise da fotografia é necessário entender
três pressupostos básicos e inerentes à própria história: expressão e conteúdo,
tempo e espaço, percepção e interpretação. “A noção de espaço como chave de
leitura das mensagens visuais, devido à natureza deste tipo de texto”.
Segundo Borges6, as imagens fotográficas levaram mais de um século para
serem aceitas como fonte de pesquisa nas Ciências Sociais e em particular na
História. No final do século XIX a fotografia começa a ser usada como fonte de
pesquisa histórica, sendo um período de grandes transformações e descobertas.
Nesse aspecto, ela afirma que:
Ao longo dos séculos, as diferentes sociedades têm criado distintas formas de produzir, olhar, conceber, dialogar e utilizar suas produções imagéticas. Ao possibilitar o constante desejo de eternizar a condição humana, por certo transitória, a imagem fotográfica se aproxima de outras iconografias produzidas no passado. Como essas, a fotografia também desperta sentimentos de medo, angústia, paixão e encanto. Reúne e separa homens e mulheres, informa e celebra, reedita e produz comportamentos e valores. Comunica e simboliza7.
Com o surgimento de novas tecnologias (máquina fotográfica, máquina
digital, celular...) houve a vulgarização do acesso e da produção da fotografia, o que
também contribuiu no processo de inserção de novos recursos didáticos no ensino
de História. Nesse contexto, devem ser feitas considerações sobre o uso da
fotografia em sala de aula, em que as imagens retratam fragmentos da realidade,
também são testemunhos visuais dos fatos, livres de interpretações.
Longe de ser um documento neutro, a fotografia cria formas de documentar a vida na sociedade. Mais que a palavra escrita, o desenho e a pintura, a pretensa objetividade da imagem fotográfica, veiculada nos
5 MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: Fotografia e História Interfaces. Rio de Janeiro. 1996, p. 14. 6 BORGES, Maria Eliza Linhares. História & Fotografia. 2. Ed.Ed. Autêntica. 2008, p.24. 7 Idem, p. 37.
7
jornais, não apenas informa o leitor – sobre datas, localização, nome de pessoas envolvidas nos acontecimentos – sobre as transformações do tempo curto, como também cria verdades a partir de fantasias do imaginário quase sempre produzido por frações da classe dominante.8
Outro elemento que deve ser levado em consideração é que, atualmente, a
exposição de imagens em excesso contribui para banalização de seu uso. Em
materiais didáticos, muitas vezes, encontramos o uso da iconografia como mera
ilustração. Raras vezes nos deparamos com o uso da imagem como objeto de
investigação que desperte reflexão sobre a fotografia, percebendo sua riqueza e sua
devida importância para o conhecimento histórico. A investigação deve ser
minuciosa, criteriosa e o professor deve dar subsídios aos alunos para que estes
possam entender a produção dos registros fotográficos como elementos da história.
De acordo com Kossoy:
As fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tentar sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas de pesquisa e análise para decifração de seus conteúdos, e por conseqüência, da realidade que os originou.9·
Portanto, ao empregar a fotografia como documento para o registro
historiográfico da História de um pequeno município, é importante não perdermos de
vista a intencionalidade com que a fotografia foi produzida. A análise de tal
documento poderá contribuir no enriquecimento do trabalho em sala de aula.
Usamos como suporte para iniciar a nossa investigação a ficha de elementos
da forma do conteúdo de Ana Maria Maud, que muito contribuiu nas interpretações
das fotografias. Essa ficha auxiliou os alunos na análise das imagens.
Ficha de elementos da forma do conteúdo
8 Ibidem, p. 69.9KOSSOY, Boris. A fotografia como fonte histórica: introdução à pesquisa e interpretação das imagens do passado. São Paulo: Museu da Indústria, Comércio e Tecnologia de São Paulo, 1980, p.38.
8
Agência produtora
Local retratado
Tema retratado
Pessoas retratadas
Objetos retratados
Atributo das pessoas
Atributo da paisagem
Tempo retratado (dia/noite)
Número da foto
10
Segundo artigo de Andréa Leite da Silva,11 através das imagens pode-se
desvendar as características econômicas, sociais e culturais de um determinado
grupo do passado. As fotografias nos contam histórias, revelam costumes e histórias
de vida.
Dessa forma, as fotografias foram utilizadas como ponto de partida para o
estudo da história local. Os alunos puderam também usar novas tecnologias, como
as câmeras dos celulares, para fotografar e assim entender as mudanças ocorridas
a partir de 1950 até os dias atuais no município de Barracão.
É preciso salientar que a intenção desta pesquisa era analisar registros
além do que a história escrita apresenta. Buscou-se perceber o percurso das
pessoas, o cotidiano vivido e as transformações que foram ocorrendo ao longo dos
anos no referido município. Nesse aspecto, muito discutimos com os colegas
professores durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE),
especialmente sobre as dificuldades que temos no processo ensino-aprendizagem
10Maud, Ana Maria. Na mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas ilustradas cariocas, na primeira metade do século XX. Op.Cit.P.146, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/anaismp/v13n1/a05v13n1. Acesso em 22/04/2011.11SILVA, Andréia Leite Da. História da Família através da Fotografia 1930 – 2008 http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1828-6.pdf. Acesso em: 12/02/2012.
9
no que diz respeito a nossa própria história e principalmente a falta de interesse e a
indisciplina dos alunos em sala de aula.
3. Implementação pedagógica do projeto
Inicialmente, o projeto foi exposto para a equipe pedagógica do Colégio
Estadual Professora Leonor Castellano – Ensino Fundamental e Médio. Buscou-se
mostrar como o projeto seria desenvolvido e de que forma se daria a participação
dos alunos.
Nesta ocasião foi apresentado o caderno pedagógico, que serviria de
material de apoio para os alunos que participaram da atividade. O material informava
com detalhes a maneira de como iríamos trabalhar o projeto de intervenção
pedagógica. Cabe informar que este material foi elogiado pela equipe pedagógica da
escola, que também se envolveu, participando das entrevistas e das correções dos
textos dos alunos.
No segundo momento, juntamente com os alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental, foram realizadas leituras que proporcionaram um embasamento
teórico sobre o uso da fotografia como fonte histórica e também sobre a história do
município de Barracão. Como foi afirmado anteriormente, utilizamos recortes das
obras de Boris Kossoy, Ana Maria Maud e Maria Eliza Linhares Borges. Sobre a
história regional e local foram lidos e analisados trechos dos livros de Ruy
Christovam Wachowicz e Marisa Ferrari.
Além disso, os alunos formaram grupos que coletariam fotografias e as
interpretariam.
Uma das dificuldades que encontramos foi a falta de informação quanto aos autores
das fotografias, ao instrumento fotográfico utilizado e ao ano da sua realização.
Além das fotografias coletadas, foram convidadas algumas pessoas que
relataram como era a vida, o trabalho, a cidade nas décadas passadas. Neste
10
momento os alunos fizeram muitas perguntas e percebi grande envolvimento e
interesse por parte deles.
Os entrevistados contribuíram para inferir a vivência dos sujeitos, tendo a
imagem como marco inicial de um diálogo. Os alunos fizeram perguntas e foram
além das fotografias. Queriam explicações principalmente dos costumes das
gerações passadas. Também com suas famílias analisaram as fotografias e fizeram
muitas perguntas sobre passado. Houve interação entre a família e o estudante.
Salienta-se que, a partir do diálogo com a família e a comunidade, houve
maior comprometimento e entendimento na história local e constatamos que
melhoraram as produções dos textos históricos.
Os relatos foram diversos. As perguntas também foram numerosas. Alguns
questionamentos foram sobre as causas do processo de transformação da paisagem urbana,
como ocorreram e por quais sujeitos históricos se configuraram estas mudanças. A fotografia
foi notadamente importante para que estes e outros questionamentos fossem feitos, como
também para podermos fazer os registros históricos desses sujeitos e por fim o artigo.
Outra atividade foi à realização de um passeio na área urbana, exatamente
nos locais de onde tínhamos registros fotográficos de outras épocas. Isso
possibilitou ampliar as reflexões dos espaços e a realização de novos registros. A
partir daí começamos a fazer comparações do antes e depois.
Estes passeios fizeram com que houvesse um entendimento da história
local. Percebemos que as mudanças foram grandes causando um impacto no meio
ambiente, nas formas de trabalho, nos meios de comunicação, entre outras. Houve
diversos comentários e discussões entre os educandos durante os passeios: “Essa
gente era atrasada mesmo, não tinham geladeira, luz elétrica, como tomavam
banho? Como lavava as roupas, o que faziam quando escurecia?”
Dessa forma ao analisar fotografias de diferentes períodos é fácil deparar-se
com mudanças como: número de casas, comércios, número de filhos por família,
utensílios domésticos e até mesmo mudanças climáticas, pois encontramos registros
fotográficos que apresentavam imagens nas quais a cidade de Barracão encontrava-
se coberta por uma grossa camada de neve.
Em uma televisão, (utilizando pendrive) apresentamos aos entrevistados as
11
fotografias coletadas, para que pudessem falar das imagens. Impressionaram-se ao
ver as fotografias e falavam emocionados para os alunos, como era a vivência anos
atrás, as dificuldades, as alegrias, a luta pela sobrevivência e assim por diante.
Notei que todos os alunos presentes na sala ficaram atentos.
Como eram várias pessoas que vieram até a escola, às vezes havia
contradições em relação ao tempo que foram tiradas as fotografias.
Este momento foi registrado pelos alunos. Cada um tentava fazer o registro
com as tecnologias que dispunha. Também fizeram perguntas sobre as fotografias
que cada um tinha escolhido, como por exemplo: por que todas as mulheres se
vestiam semelhantes, de saia ou vestido? Acerca disso, é interessante registrar a
resposta da senhora Neli:
As mulheres não podiam andar de calça comprida, todas usavam saias e ainda quando solteiro véu branco na cabeça e quando já eram casadas usavam véu preto para ir para a igreja, quando era muito frio usavam calças por baixo do vestido.12
As entrevistas possibilitaram aos alunos perceberem a função social das
fotografias na construção de memórias individuais e de marcos na história individual.
Também contribuíram para entender como a cidade se fundou a partir da
compreensão destes sujeitos envoltos em sua prática social, suas expectativas no
local que decidiram “morar” e se estabelecer com seus familiares.
A partir destas atividades, os alunos elaboraram textos, sistematizando
todas as informações observadas no acervo fotográfico que lhe foi disponibilizado. O
objetivo central era fazer com que os alunos participassem na produção do
conhecimento histórico.
Ao longo da implementação do projeto, percebeu-se que estávamos
oportunizando aos alunos produzir conhecimento e não apenas repetir o que já
estava pronto e acabado. Entre professora e alunos ocorreram debates, discussões
e divergências, atos que fazem parte do processo democrático da produção do
conhecimento histórico.
Acreditamos que o aluno precisa sentir-se inserido no contexto que lhe é
comum, através da participação da construção do conhecimento sobre seu passado 12 Neli Vogt. Entrevista concedida a autora em novembro de 2011.
12
e na preservação da memória. Seguindo estes pressupostos, se faz necessário a
introdução de novas práticas pedagógicas que despertem no aluno o interesse em
entender e registrar o conhecimento adquirido. O trabalho com fotografias tornou as
aulas mais dinâmicas, houve maior integração e participação.
Portanto, foi dada a oportunidade aos educandos de se tornarem
historiadores, pois eles coletaram as fotografias, interpretaram-nas e fizeram
registros juntamente com a professora.
As mudanças verificadas através das fotos tiradas na atualidade foram
feitas pelos próprios alunos, conseguiu-se verificar as mudanças: Novas construções
foram erguidas, e muito foi destruído também, ou melhor, o meio onde vivemos
sofreu grandes transformações.
Vejamos estes dois registros fotográficos de um mesmo local, porém de
décadas diferentes:
Foto 1 - Procissão - Festa religiosa Rua Rio Grande do Sul Barracão - PRAcervo particular de Josias B. de Campos. Década de 1950.
13
Foto 2 - Rua Rio Grande do Sul - Barracão – PRAcervo e autoria: Nilva Becker de Andrade.Ano: novembro/2011.
A fotografia 1, segundo informações de antigos moradores, apresenta uma
procissão na década de 1950 organizada pela Igreja, encabeçada pelo pároco, em
seguida os coroinhas, os fiéis e as religiosas que aparecem vestidas de preto.
Podemos ver as mulheres usando vestidos longos, sapatos com meia e
manto na cabeça. Os homens vestindo calças compridas e camisas de manga
longa. As crianças vêm na frente dos adultos. A procissão é formada por duas filas:
uma do sexo feminino e outra, do masculino. As casas são todas de madeira, as
ruas não são pavimentadas e no fundo podemos visualizar uma madeireira.
A fotografia 2, registrada por esta professora/pesquisadora, apresenta uma
imagem parcial do mesmo local, porém do ano de 2011. Percebem-se ao comparar
as duas fotos profundas mudanças; prédios, estradas asfaltadas, carros
estacionadas e circulando, torres de telefonia, antenas, muitos postes da rede de
energia elétrica.
Dessa forma, os alunos coletaram fotografias, dialogaram com os pais ou
pessoas idosas da comunidade e produziram textos relatando as situações
presentes nos registros fotográficos. Como foi afirmado anteriormente, com base
nessas informações, os alunos elaboraram textos sistematizando todas as
informações observadas no acervo fotográfico que lhe foi disponibilizado. Este
trabalho poderia ser realizado individualmente ou em dupla.
14
A produção dos textos com as interpretações das imagens foi o período
mais complicado, pela dificuldade que os alunos tinham em escrever, como se
houvesse uma barreira; não sabiam o que escrever. Mas todos os dias os textos
eram corrigidos e iam sofrendo modificações. O mais importante que se observou
nesta etapa da produção de textos, foi que os alunos passaram a entender os
espaços onde estão inseridos, o que os motivou nas aulas de história. Foi um
período de dificuldades, mas no final do projeto percebeu-se que o processo de
ensino/aprendizagem havia ocorrido.
A implementação do projeto foi concluída através de uma exposição no
colégio onde foi desenvolvido o projeto, de fotografias com os textos dos alunos e
convidamos os pais, colegas de outras turmas, professores e os entrevistados.
Esta exposição de fotografias e textos proporcionou para toda a
comunidade escolar uma interação frente aos painéis, discutindo, corrigindo as
datas, locais, festas, residências ali expostos, e assim, perceberam as várias faces
de uma mesma história, de um mesmo local. Também foram impressos na gráfica os
trabalhos realizados, para que a comunidade tivesse acesso em conhecer a história
do local onde vive.
Vejamos um texto produzido por um aluno ao analisar fotos da Prefeitura
Municipal de Barracão.
Foto 3 Acervo particular de Josias Campos Ano 2002Prefeitura municipal do município de Barracão
15
Foto 4 Prefeitura municipal do município de Barracão - PRAcervo particular de Josias Brizola CamposDécada de 1960
Foto 5 Pref. Municipal de Barracão -PRAcervo particular de Josias Brizola CamposDécada de 1960
“Estamos estudando a história do município de Barracão – PR.
Coletamos fotografias com nossos pais e avós. Usaremos como fonte
histórica nas aulas de História.
Foi interessante fazer isso, porque mostra a nossa cidade crescendo.
A seguir descrevemos as fotografias da prefeitura Municipal de Barracão -
PR, localizado no sudoeste do Paraná.
16
A fotografia número 4, não é de nossa época, pois não lembramos nada do
que aparece, construção de dois pisos de madeira, com muitas janelas e é muita
bonita. Cercada de árvores grandes. Há muitas pessoas na frente e todas estão bem
vestidas.
Ao lado da construção grande tem uma menor que parece ser uma casa de
alvenaria branca.
Segundo informações, na década de 1980, esta construção foi
desmanchada e foi feito uma nova prefeitura, como mostra a foto 1, tirada no ano de
2002, conforme a explicação da professora Nilva Becker de Andrade.
A fotografia 3 tem muitas janelas, dois pisos, toda de alvenaria. Na frente
tem uma rampa e uma enorme entrada de calçada.
Seu entorno está todo gramado, várias árvores de sombra, um pinheiro e
canteiro de flores.
Nesta nova forma de aprender história utilizando a fotografia como fonte
histórica, registramos os mesmos lugares de décadas passadas. Fomos fotógrafos
“amadores, utilizando máquinas fotográficas digitais e celulares.”
Autor: Andre Luis dos Santos Kroth
Aluno do 8º ano – 2011.
4 Considerações finais
O presente artigo levou em consideração uma problemática com os alunos,
que é a falta de interesse pelos conteúdos e a indisciplina em sala de aula. Pensei
em desenvolver metodologias no decorrer do PDE que pudessem incentivar os
alunos, fazer com que participassem na produção do conhecimento, partindo da
história local e tendo como principal fonte a fotografia.
Os alunos coletaram fotografias, escreveram textos e tiveram a curiosidade
em fazer perguntas. Isso quer dizer que atingimos o objetivo e fomos além do
esperado. Percebemos que as imagens foram o início de um diálogo e de uma
produção mais consciente sobre a história local por parte dos alunos e de outros
membros da comunidade.
17
Além disso, foi um grande desafio, mas muito gratificante pelo fato de
envolver os alunos e toda comunidade escolar na produção do conhecimento
histórico.
5. Referências
BORGES, Maria Elisa Linhares. História e Fotografia. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
Diretrizes curriculares estaduais para o ensino de História. Curitiba: SecretariaDe Estado da Educação, 2008.
GREGORY, Lúcia Teresinha Macena. Retratos, Instantâneos e Lembranças. Tese de doutorado em História. Rio de Janeiro: UFF, 2010.
KOSSOY, Boris. A fotografia como fonte histórica: introdução à pesquisa e
interpretação das imagens do passado. São Paulo: Museu da Indústria, Comércio
e Tecnologia de São Paulo, 1980.
______ Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. 1º Ed. São Paulo: Ateliê
Editorial, 1999.
______ Fotografia & História. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
_______ Através da Imagem: Fotografia e História Interfaces. Rio de Janeiro.
1996.
_______ Na mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas
ilustradas cariocas, na primeira metade do século XX. Op.Cit.P.146, 2005.
http://www.scielo.br/pdf/anaismp/v13n1/a05v13n1. Acesso em 22/04/2011.
MEDEIROS, Maria Beatriz de. Arte e tecnologia na cultura contemporânea.
Brasília: Dupligráfica Editora Ltda. 2002.
Projeto Político Pedagógico. Colégio Estadual Professora Leonor Castellano. 2008.
18
SILVA, Andréia Leite Da. História da Família através da Fotografia 1930 – 2008 http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1828-6.pdf. Acesso em: 12/02/2012. WACHOWICZ, Ruy Christovam. Paraná, Sudoeste: ocupação e colonização. 2ª ed. Ed. Vicentina, 1987.
19