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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

Superintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais

Programa de Desenvolvimento Educacional

ARTIGO/PDE

Prevenção de doenças contemporâneas e formação de bons hábitos - um

repensar da Cultura Corporal e Saúde.

Professor PDE: Denise de Fátima Nahhas de Palma

Área PDE: Educação Física

NRE: Área Metropolitana Norte

Professor Orientador IES: Profª. Drª. Neiva Leite

IES vinculada: Universidade Federal do Paraná

Escola de Implementação: Colégio Estadual Romário Martins

Público objeto da intervenção: alunos do ensino fundamental das 5ª séries

CURITIBA

2012

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PREVENÇÃO DE DOENÇAS CONTEMPORÂNEAS E FORMAÇÃO DE BONS

HÁBITOS – UM REPENSAR DA CULTURA CORPORAL E SAÚDE.

PALMA, Denise de Fátima Nahhas de¹

LEITE, Neiva²

RESUMO

Informar, sensibilizar e reforçar a incorporação dos bons hábitos necessários à

manutenção da saúde nas práticas escolares de educação física, são os objetivos

do artigo. As estratégias organizadas conforme as etapas propostas pelo PDE,

consistem na organização de material didático aplicado no Projeto de Intervenção

Escolar e no Grupo de Trabalho em Rede. O Caderno Pedagógico produzido

contém textos referente às principais doenças contemporâneas: hipertensão arterial,

obesidade infantil, colesterol, diabetes. Contempla propostas de atividades

contextualizadas, aplicação de questionário como instrumento de apoio à pesquisa

quantitativa e qualitativa na elaboração do diagnóstico dos alunos e familiares sobre

os cuidados com a saúde. Os resultados foram que as doenças contemporâneas

estão presentes nas famílias dos alunos e que é importante conhecerem as

questões de saúde, considerarem a inclinação genética, conhecerem quais são os

fatores de risco e como prevenir. Conclui que com a aplicação das atividades

obteve-se resultados que consistem numa metodologia de pesquisa-ação

(intervenção de pequena escala na situação real), assim buscou-se a intervenção

com alunos e docentes - como vivenciam as aulas de educação física e a aplicação

de atividades propostas na Produção Didática, que se demonstraram pertinentes

para aprendizagem do educando e excelente material de apoio para educadores.

Palavras chaves: Qualidade de Vida. Atividade Física. Saúde.

1 Professora de Educação Física da Educação Básica da Rede Estadual do Pr. há 25 anos e pós-graduada em Metodologia e Avaliação de Ensino e Formação de Professores –IBPEX. 2 Doutora e Professora da Universidade Federal do Paraná

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1. INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta resultados do trabalho desenvolvido no âmbito do

Programa PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná. Esse

trabalho é fruto de projeto que tem por meta alertar para as consequências das

doenças contemporâneas e a importância na formação de bons hábitos como forma

de prevenção, tendo as aulas de Educação Física como uma das bases de

transformação. Descreve-se aqui a problematização e a justificativa do tema do

estudo.

O artigo é estruturado tendo em vista as seguintes partes: 1) o referencial

teórico, com a concepção da Educação Física, Saúde, Doenças Contemporâneas,

Hábitos Saudáveis como Forma de Prevenção X Maus Hábitos; 2) desenvolvimento

com o relato das estratégias de ações adotadas na pesquisa, a aplicação das

atividades bem como os resultados observados, e, por fim, 3) as conclusões.

1.1. TEMA

Os cuidados com a saúde não podem ser atribuídos tão somente a uma

responsabilidade do sujeito, segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Física

(2008), mas sim, compreendidos no contexto das relações sociais por meio de

práticas e análises críticas dos discursos a ela relativos.

Partindo deste pressuposto, ao analisar os padrões de cuidados com a saúde

e estilo de vida dos alunos, percebeu-se a importância em trabalhar o tema com

muita ênfase, pois a formação de bons hábitos de forma preventiva deve ser

incentivada nesta fase da vida.

1.2. JUSTIFICATIVA DO TEMA DE ESTUDO

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A escola pública recebe cada vez mais alunos oriundos das classes

populares, filhos de trabalhadores de período integral e que muitas vezes

demandam de muito tempo para se deslocar ao local de trabalho, geralmente em

outro município.

Piraquara está localizado na área metropolitana de Curitiba, distante cerca de

27 Km da capital, por ser próxima a serra do mar seu solo faz toda a captação das

águas onde são formadas as nascentes do Iguaçu. Grande parte de seu território

pertence à área de preservação ambiental, pois serve de manancial responsável por

parte do abastecimento de água para a capital.

Respeitando estas características e responsabilidades ambientais, o

desenvolvimento econômico do município é muito restrito o que conseqüentemente

reflete na geração e oferta de emprego, sendo assim, os trabalhadores, pais dos

alunos, deslocam-se numa rotina diária para outros municípios onde as

oportunidades de emprego são maiores.

Nestas condições os alunos têm reduzido em muito o convívio familiar, que

muitas vezes se restringe apenas no final de semana, o que implica na

responsabilidade cada vez mais precoce, destas crianças e pré-adolescentes de

“cuidarem de si próprio”. Sendo assim, noções básicas de cuidados pessoais,

alimentares, controle de vacinação e outros ficam sob cuidado da escola.

Ao questionar os alunos de como era sua rotina de vida, muitos relataram que

eram responsáveis em acordar, fazer sua refeição matinal, realizar seus deveres de

escola, bem como algumas tarefas domésticas, além da higiene pessoal e escolha

do vestuário. Normalmente se alimentavam no horário de almoço com a refeição

pré-elaborada por um adulto e complementada por um irmão mais velho ou por eles

próprios.

Reforça-se assim a função da Escola oferecer um Currículo que possibilite a

estes alunos conhecimento relevante para sua formação plena de cidadãos

saudáveis e conscientes do seu papel na sociedade. E, segundo Diretrizes

Curriculares da Educação Física, em seus Elementos Articuladores, estas

necessidades podem ser abordadas, mas nem sempre são priorizadas com enfoque

pedagógico que supra tão importante lacuna na vida dos alunos.

Esta pesquisa tem como objetivo, conscientizar os alunos para a necessidade

do autoconhecimento, da incorporação dos bons hábitos e seus reflexos para uma

vida mais saudável, interagindo inclusive com seu meio familiar.

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1.3. PROBLEMATIZAÇÃO

A escola, dentro de uma perspectiva educativa que se integra a outros

segmentos na busca de transformação social, pode ser uma aliada da saúde?

Essas alianças podem ser estabelecidas para o complexo compromisso de

fazer com que crianças e adolescentes se transformem em sujeitos de sua saúde,

deixando de ser sujeitos de sua doença?

1.4. OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICOS

Objetivo geral

Informar, sensibilizar e reforçar a incorporação dos bons hábitos necessários à

manutenção da saúde, nas práticas escolares de educação física.

Objetivos específicos

a) Elaborar instrumento e aplicar aos pais ou responsáveis pelos alunos com

informações sobre o histórico familiar.

b) Analisar os resultados obtidos das respostas do questionário e propor novos

conteúdos.

c) Identificar as principais doenças e maus hábitos representativos na interferência

da qualidade de vida dos alunos .

d) Detectar necessidades de aprendizagem acerca de problemas de saúde comuns

nas diversas turmas da escola.

e) Elaborar um caderno pedagógico para uso na educação permanente,

preparando outros docentes para multiplicação do tema.

f) Desenvolver alternativas de aprendizagem, de interação entre alunos e familiares,

de produção e organização de conhecimento, de resolução de problemas e de

desenvolvimento de hábitos de prevenção de doenças e inclusão de bons hábitos

para uma vida mais saudável.

g) Comparar a qualidade de vida dos alunos que adotaram as práticas sugeridas

com um grupo que não o utilizou, (grupo de controle).

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1.5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA / REVISÃO BIBILIOGRÁFICA

Pressupostos Teórico-Metodológicos

A Educação Física é uma das disciplinas que constitui o Currículo Escolar e

que possui como documento norteador as Diretrizes Curriculares da Educação

Básica (2008) como sendo o principal instrumento de apoio para a efetivação do

trabalho pedagógico na escola.

Nas Diretrizes Curriculares, a disciplina de Educação Física faz reflexão

histórica dos modelos pedagógicos construídos a favor dos interesses e

intencionalidades dos poderes dominantes. Nesta perspectiva de mudanças a

Educação Física, através dos tempos, apresentou tentativas de superar tais visões e

para isso surgiram várias correntes.

Esse processo de compreensão da Educação Física Escolar foi demarcado

por avanços e retrocessos que refletem resistência e conformismo, nesse sentido

constrói novas proposições a partir das teorias críticas da educação, voltadas para a

formação do aluno crítico e participativo.

Na Educação Física como saber escolar é de fundamental importância que

seja organizada uma proposta de conteúdos, que leve em conta a origem dos

mesmos e o “conhecimento sobre o que determinou a necessidade do seu ensino”.

(COLETIVO DE AUTORES, 1992).

Em 1998, os Parâmetros Curriculares Nacionais caracterizaram uma nova

proposta de enfoque para a Educação Física e passaram a subsidiar as propostas

curriculares nos Estados e Municípios fornecendo parâmetros, objetivos, conteúdos,

métodos, avaliação e temas transversais. Nesta nova proposta a Educação Física foi

definida a partir da idéia de Cultura Corporal do Movimento. Darido (1998) fez breve

apresentação das características de algumas propostas pedagógicas até então

conceituadas por vários professores e praticadas nas diversas regiões do país. As

propostas foram: a Desenvolvimentista, a Construtivista-Interacionista, a Crítico-

Superadora e a Sistêmica.

Após essa reflexão histórica da Educação Física, entendendo como

pressupostos teóricos importantes, as DCEs apontam como caminho a concepção

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sócio-histórica, que tem como objeto de estudo e de ensino a Cultura Corporal, que

se traduz por uma linguagem corporal e suas manifestações, o que constitui um

conjunto de conteúdos estruturantes: esportes, jogos, brincadeiras, dança, ginástica

e lutas.

Durante a construção dos textos para as Diretrizes observou-se a

necessidade de articular o que chamamos de Conteúdos Estruturantes e Elementos

Articuladores.

Os Conteúdos Estruturantes “foram definidos como os conhecimentos de

grande amplitude, conceitos ou práticas que identificam e organizam os campos de

estudos de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para compreender

seu objeto de estudo/ensino.” (DCEs, 2007).

Os conteúdos estruturantes para o ensino fundamental são: manifestações

esportivas; manifestações ginásticas; manifestações estético-corporais na dança e

no teatro; jogos, brinquedos e brincadeiras. Para o ensino médio os conteúdos

estruturantes são: ginástica; esporte; dança; lutas e jogos.

Os Elementos Articuladores são os conteúdos possíveis de articular com os

conteúdos estruturantes e propiciam o trabalho a partir das dimensões histórica,

cultural e social. Ainda que consideremos isoladamente, os vários significados de

Educação Física Escolar, ou seja, a Educação Física como instrumento da

promoção e manutenção da saúde, a Educação Física como educação corporal ou a

Educação Física com o objetivo de preparação para o trabalho, observamos também

variáveis de construção de conteúdos e estratégias que possibilitam a apropriação

dos saberes possíveis de nossa cultura e a uma abertura à criatividade e inovação.

No ensino fundamental os elementos articuladores são: o corpo que brinca e

aprende – manifestações lúdicas; desenvolvimento corporal e construção da saúde;

o corpo no mundo do trabalho. E no ensino médio são: o corpo; a saúde (nutrição,

lesões e primeiros socorros, doping, aspectos anatomo-fisiológicos da prática

corporal); a desportivização; a tática e a técnica; o lazer; a diversidade étnico-racial,

de gênero e de pessoas com necessidades educacionais especiais; a mídia.

SAÚDE

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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2000) o conceito mais

utilizado é do “completo estado de bem-estar, físico, mental e social”, por muito

tempo entendida apenas como ausência de doença (ser incapaz de produzir). Evolui

para os dias de hoje uma segunda definição, provavelmente mais citada,

especificamente do Escritório Regional Europeu da OMS:

A medida em que um indivíduo ou grupo é capaz, por um lado, de realizar aspirações e satisfazer necessidades e, por outro, de lidar com o meio ambiente. A saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida diária, não o objetivo dela; abranger os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas, é um conceito positivo.

Percebem-se estas mudanças de pensamento que entendiam a saúde

apenas como ausência de doença, para uma reflexão do homem “enquanto ser

social”, bem como a relação que a sociedade tem sobre ele, desta forma

considerando todos os fatores que implicariam nessa saúde, como moradia,

trabalho, renda familiar, saneamento básico, etc.

Segundo Nahas (2006), entende-se saúde como: “uma condição humana com

dimensões física, social e psicológica, caracterizadas num contínuo, com pólos

positivo e negativo.”

Isso significa que ao invés de tratar da questão da doença ou da falta de saúde como um dado de responsabilidade individual:

... devemos observá-la como conseqüência de uma série de fatores que, associados,

determinam o índice de magreza ou de gordura corporal, de desnutrição ou de hiper-alimentação, de stress associado à falta de repouso, de hipertensão, dentre outros aspectos. Estes dados estão diretamente ligados as questões como moradia, qualidade de ingestão de alimentos, tempo de repouso/tempo de serviço, questões sanitárias, econômicas, de possibilidade de atenção à própria saúde e até de informação. (MORAES e ALMEIDA, 2004)

Portanto, pode-se definir a saúde no contexto escolar como o estado de bem-

estar físico, mental, social e ambiental, em que o aluno compreenda a influência que

o meio exerce sobre si e a reciprocidade que existe, ou seja, como ele pode ser

capaz de transformar o meio em que vive.

Entender saúde e estabelecer as relações com o meio social é de

fundamental importância, porém, o conhecimento sobre as doenças, formas de

manifestações, sintomas, conseqüências e outras informações são imprescindíveis

para que os alunos possam adotar medidas de prevenção e procurem formas de

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tratamento, principalmente no grupo de doenças aqui neste trabalho consideradas

como modernas.

Ao buscar definição para doenças modernas, ou determinar que doenças

fazem parte deste grupo, percebeu-se não existir nenhum conceito pré-definido, de

forma genérica se referem a doenças que estão se tornando mais comuns nos dias

de hoje; algumas de fundo emocional, outras hereditárias ou adquirida em

consequência de maus hábitos.

Segundo o artigo da Secretaria da Saúde do Distrito Federal (2008), aponta

para algumas doenças consideradas como modernas:

Ao compararmos os percentuais das doenças ou condições de saúde dos clientes em

1990 com os dados de 2006, observamos que os casos de altos níveis de colesterol e

triglicerídeos duplicaram e atingem, hoje, metade da clientela. Também duplicou o

percentual de pacientes cujos testes ergométricos são sugestivos de insuficiência

coronariana. As taxas de obesidade, alimentação desequilibrada e vida sedentária

decresceram, no entanto, o que leva à seguinte conclusão: as pessoas estão mais

preocupadas em cuidar da saúde, mas as doenças que têm como pano de fundo o estresse

estão aumentando. A intensidade como o estresse é vivido no cotidiano pelas pessoas está

provocando o aumento dos percentuais de doenças como o colesterol elevado, o diabetes,

a hipertensão arterial, o infarto, o acidente vascular cerebral (AVC) e o câncer.

EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

A preocupação com o corpo e com a saúde envolve toda a sociedade, faz

parte do desenvolvimento humano e como tal são objetos de estudos há muito

tempo. Esses assuntos estão presentes na realidade da escola, fazem parte dos

conteúdos sistematizados nas Diretrizes Curriculares e na disciplina de Educação

Física, são entendidos como elementos articuladores, numa perspectiva histórico-

social.

Estas Diretrizes (DCEs) deixam claro que o cuidado com a saúde não pode

ser atribuído tão somente a uma responsabilidade do sujeito, mas compreendido no

contexto das relações sociais por meio de práticas e análises críticas das relações

sociais e dos discursos a ela relativos.

Educação e a saúde são dois pilares de sobrevivência humana que estão em

eterna construção e desconstrução. Os autores assumem compromisso ético de que

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é possível promover saúde escolar por meio da articulação entre os setores da

educação e saúde; utilizando interdisciplinaridade; envolvimento dos grupos de

alunos; famílias; educadores, num contínuo processo crítico avaliativo dos saberes e

práticas de saúde escolar (FERRIANI, 1997).

Segundo Souza (2000), o objetivo da saúde escolar é atender a integralidade

da criança. Em vez de considerar a criança com queixa escolar doente ou diferente,

deve-se entendê-la no seu ambiente social mais amplo, na família, na escola, no seu

grupo de amigos, numa proposta de inclusão.

Após assinalar a importância da saúde como elemento articulador, é

necessário que os professores ao elaborarem seus planejamentos de aula,

promovam conhecimentos e práticas de saúde que possam se aliar à escola e

outras instituições, na busca de transformações sociais.

A escola é o espaço onde estes debates devem ser promovidos, visto a

abertura que proporciona às novas e significativas aprendizagens, assim como um

espaço de troca de experiências e valorização de opiniões. Na escola é que se

podem enriquecer as informações aos alunos, dos futuros reflexos de suas ações

pró-saúde, como poderá auxiliá-los no sentido de mudar o atual quadro da

sociedade:

Apesar de 86% dos brasileiros avaliarem sua saúde física como boa apenas 11% deles são realmente comprometidos com ela, adotando uma alimentação balanceada, a prática de atividades físicas e realizando exames médicos regulares, segundo a pesquisa Phillips Index 2010, do Instituto Ipsos. Essa pequena proporção de pessoas que cuidam da saúde de forma correta pode ser reflexo de outros dados apontados pelo levantamento, como o fato de apenas 61% julgarem-se responsáveis por sua própria saúde. Bibliomed (20 de Setembro 2010)

Em vista da importância de incorporar bons hábitos (higiene, alimentação,

atividade física e outros) para a vida do ser humano, é essencial que esta

consciência seja desenvolvida ainda na infância e adolescência. É nesta fase que as

informações são melhores assimiladas e acomodadas, certamente pela abertura e

desprendimento das crianças em se defrontar com o novo e aceitar desafios sem

receio algum.

DOENÇAS CONTEMPORÂNEAS

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Com os avanços e os acessos das tecnologias, ao mesmo tempo em que

facilitaram a execução de algumas atividades do cotidiano, também deixaram

marcas nos estilos de vida da população, alterando de sobremaneira a qualidade de

vida desta e de futuras gerações.

Inúmeras pesquisas apontam para o crescimento de um conjunto de doenças

metabólicas e que podem estar relacionadas ao estilo de vida moderno,

desencadeando em fatores de risco para o desenvolvimento de doenças

cardiovasculares como: o diabetes, a obesidade, a dislipidemia, e hipertensão

arterial (ROSSETTI et al., 2009).

A prevalência destas doenças na população é preocupante e torna-se mais

alarmante pela precocidade que estes males estão acometendo na fase infanto-

juvenil. Estudos verificam uma correlação familiar entre obesidade, hipertensão

arterial e dislipidemia (MENDES et al., 2005), considerando possibilidades de fatores

genéticos/hereditários para a incidência destas doenças, confirma-se a influência

significativa da família nesses fatores de risco para as doenças cardiovasculares.

A obesidade infanto-juvenil é preocupante, tendo em vista as suas relações

com diversas comorbidades dos adultos, incluindo as doenças cardiovasculares

(DCV), (ROSSETTI, et al., 2009). Em países ricos, o índice de obesidade na infância

chega a atingir entre 25 a 30% da população e é considerado um problema

crescente.

No Brasil, segundo dados do IBGE 2008-2009, dos 10 aos 19 anos, o

sobrepeso aumentou nos últimos 34 anos. Isso é mais perceptível no sexo

masculino, em que o índice passou de 3,7% para 21,7%, o que representa um

acréscimo de seis vezes. Já entre as jovens, as estatísticas triplicaram: de 7,6%

para 19% entre 1974-75 e 2008-09.

Quanto à obesidade, mostra-se menos intensa, mas também com tendência

ascendente, indo de 0,4% para 5,9% entre meninos e rapazes e de 0,7% para 4,0%

no sexo feminino.

Este quadro caracteriza a população adolescente em todas as regiões

brasileiras, com destaque para a Região Sul, cuja evolução do excesso de peso

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passou de 4,7% para 27,2% para os adolescentes e 9,7% para 22,0% para as

adolescentes.

Evolução de indicadores antropométricos na população de 10 a 19 anos de idade, por

sexo – Brasil – períodos 1974-75, 1989 e 2008-2009

Fonte: POF - IBGE (2010)

Ao analisar estes percentuais, percebe-se que a obesidade infantil é um fator

de risco que deve ser considerado nos escolares da rede pública, e independe de

classe social.

Estudo em escolares curitibanos verificou que os adolescentes obesos apresentaram

maiores níveis de triglicerídios sangüíneos e menores concentrações de colesterol-HDL que os não-obesos. A hipertensão arterial sistólica ocorreu em 15,6% e a diastólica em 23,4% dos adolescentes obesos e em nenhum dos não-obesos. A associação de três ou mais fatores de risco cardiovasculares, denominada síndrome metabólica, estava presente em 50% dos indivíduos obesos. (LEITE, 2005)

Enquanto novos estudos são desenvolvidos nesta área, a melhor forma de

combate é a informação, não apenas dos alunos como dos profissionais da

educação, e principalmente de seus familiares.

Estudos com gêmeos e crianças adotadas têm demonstrado que a obesidade não é simplesmente uma tendência hereditária, mas sofre forte influência do ambiente, embora a obesidade dos pais parece ser um importante fator de risco. (MENDES, et al, 2005)

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A abordagem precoce do sobrepeso infantil pode impactar diretamente na

futura saúde física, social e emocional do indivíduo, uma vez que a obesidade pode

gerar um significativo estado de sofrimento pessoal e coletivo, dado o impacto na

formação de sua auto estima e personalidade.

A hipertensão arterial sistêmica é uma patologia que atinge cerca de 30% da

população adulta, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (2006) e faz

parte do grupo de doenças cardiovasculares como o fator que mais gera mortes no

mundo.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde a hipertensão arterial

sistêmica afeta 14 a 18% da população adulta. Por sua prevalência elevada e por

ser um dos maiores fatores de risco das doenças cardiovasculares, ela influencia

significativamente a qualidade de vida da população, ocupando o primeiro lugar nas

patologias que determinam anos de vida perdidos por morte prematura.

Dentre os fatores de risco já conhecidos para o desenvolvimento da hipertensão arterial, estão: a hereditariedade, o baixo peso ao nascer, o sedentarismo, o estresse e o elevado consumo de sal, não se sabe bem ainda a partir de que idade esses fatores passam a determinar elevação da pressão arterial. (MENDES, 2005).

A diabetes infantil, conforme Souza, (et al., 2009) é uma doença incurável

causada por uma deficiência de insulina, que é um hormônio produzido pelo

pâncreas. A insulina atua levando glicose do sangue para dentro das células,

proporcionando energia para as atividades celulares.

Existem dois tipos principais de diabetes mellitus (DM): O diabetes tipo 1

(DM1) que geralmente ocorre na infância ou adolescência, e o diabetes tipo 2 (DM2)

manifestado em adultos, mas hoje em dia estamos vivendo uma epidemia com

aumento expressivo da incidência do diabetes tipo 2 em crianças o que antes era

raro de se desenvolver.

A Sociedade Brasileira de Diabetes define o “diabetes Tipo 1 (DM1) como

uma doença auto-imune caracterizada pela destruição das células beta produtoras

de insulina. Isso acontece por engano porque o organismo as identifica como corpos

estranhos. A DM1 surge quando o organismo deixa de produzir insulina (ou produz

apenas uma quantidade muito pequena). Quando isso acontece, é preciso tomar

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insulina para viver e se manter saudável. As pessoas precisam de injeções diárias

de insulina para regularizar o metabolismo do açúcar, pois sem a insulina, a glicose

não consegue chegar até as células, que precisam dela para queimar e transformá-

la em energia. As altas taxas de glicose acumulada no sangue, com o passar do

tempo, podem afetar os olhos, rins, nervos ou coração.

Sabe-se que o diabetes do tipo 2 possui um fator hereditário maior do que no

tipo 1. Além disso, há uma grande relação com a obesidade e o sedentarismo.

Estima-se que 60% a 90% dos portadores da doença sejam obesos. A incidência é

maior após os 40 anos. Uma de suas peculiaridades é a contínua produção de

insulina pelo pâncreas. O problema está na incapacidade de absorção das células

musculares e adiposas. Por muitas razões, suas células não conseguem metabolizar

a glicose suficiente da corrente sangüínea. Esta é uma anomalia chamada de

"resistência Insulínica".

O diabetes tipo 2 é cerca de 8 a 10 vezes mais comum que o tipo 1 e pode

responder ao tratamento com dieta e exercício físico. Outras vezes vai necessitar de

medicamentos orais e, por fim, a combinação destes com a insulina. 1

Outra doença que faz parte deste conjunto ditas como doenças metabólicas

contemporâneas, e que será abordada com os escolares, são as dislipidemias,

também chamadas de hiperlipidemias, e referem-se ao aumento dos lipídios

(gordura) no sangue, principalmente do colesterol e dos triglicerídeos.

O colesterol é uma substância semelhante à gordura com função importante

em muitos processos bioquímicos do organismo. Ele é importante constituinte das

membranas das células e das lipoproteínas que são as proteínas que transportam o

colesterol no sangue.

Como o colesterol é insolúvel na água, utiliza para seu transporte uma

molécula de lipoproteína. Uma delas, a LDL-colesterol (do inglês low density

lipoprotein) ou seja, lipoproteína de baixa densidade também conhecida como mau

1 Sociedade Brasileira de Diabetes. HTTP://www.diabetes.org.br

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colesterol ou colesterol ruim transporta o colesterol do fígado para o sangue e para

os tecidos.

A outra, HDL-colesterol (do inglês High density lipoprotein) ou seja,

lipoproteína de alta densidade o devolve ao fígado. O HDL é conhecido como o bom

colesterol porque remove o excesso de colesterol e traz de volta ao fígado onde será

eliminado. O LDL-colesterol é o grande vilão da história. Altos índices de LDL estão

associados a altos índices de aterosclerose. Quando o LDL está em excesso no

sangue lesa os vasos e ainda se deposita na parede formando as placas de ateroma

(gordura).

Os triglicerídeos são um dos componentes gordurosos do sangue e sua

elevação está relacionada, também, com doenças cardiovasculares (angina, infarto),

cerebrovasculares (derrame) e doenças digestivas (pancreatite).

HÁBITOS SAUDÁVEIS COMO FORMA DE PREVENÇÃO X MAUS HÁBITOS

Intervenções para o desenvolvimento de bons hábitos, que resgatem a

qualidade de vida tornando o estilo de vida mais saudável, é a melhor maneira de

prevenir o surgimento de doenças. Hábitos saudáveis adquiridos na infância que se

perpetuam na vida adulta podem contribuir para prevenção primária das doenças

cardiovasculares.

A incorporação de hábitos, bons ou maus, são determinados pelo processo

de aprendizagem e repetição, logo, pode-se afirmar que hábito é, segundo o

dicionário Aurélio: “Comportamento que determinada pessoa aprende e repete frequentemente,

sem pensar como deve executá-lo. Uso, costume; maneira de viver; modo constante de comportar-

se, de agir”.

Desta forma, percebe-se que a formação ou aprendizagem de hábitos são

influenciáveis, muitas vezes pelos grupos familiares, ambientais e sociais que são

determinantes nos aspectos positivos e negativos. A escola como ponto de

referência pode e deve influir positivamente na formação de bons hábitos, bem como

alertar para os riscos dos maus hábitos que os escolares estão sujeitos.

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Podem-se elencar como bons hábitos para manutenção da saúde: os de

higiene pessoal (dental, corporal), alimentares, de atividade física. Estes hábitos

devem ser trabalhados constantemente durante a vida e desenvolvidos conforme o

grau de maturidade e riscos que a população de um modo geral é submetida.

Por outro lado, devem-se desenvolver ações que possam prevenir para que

os adolescentes não incorporem maus hábitos e que muitas vezes permeiam o seu

cotidiano. Um mau hábito instalado pode ser muito mais difícil de ser modificado do

que a própria construção de um hábito salutar.

O controle do tabagismo e do sedentarismo são medidas que provocariam um

impacto significativo na redução das taxas de mortalidade segundo a O.M.S:

CAUSAS DE MORTE NOS EUA (1000 POR ANO)

Fonte:Organização Mundial da Saúde

2. DESENVOLVIMENTO

A segunda etapa do PDE inicia-se com a implementação da pesquisa através

das ações pedagógicas na escola, caracterizando-se em pesquisa-ação. Para

Moreira e Caleffe (2006, p. 89-90) “pesquisa–ação é uma intervenção de pequena

escala no mundo real e um exame muito de perto dos efeitos dessa intervenção”,

essas ações visaram atingir os objetivos previstos e coletar novas informações. Esta

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etapa foi compreendida como a operacionalização das atividades aplicadas nos

sujeitos da pesquisa, que foram os alunos de 5ª série – 6º ano, do Colégio Estadual

Romário Martins, em Piraquara.

Após o período de adaptação dos alunos com o professor, em que ocorre à

percepção da realidade das turmas quanto aos conhecimentos e experiências já

vivenciadas pelos alunos, iniciou-se a prática escolar, com o desenvolvimento do

conteúdo proposto (jogo ou brincadeira), aplicando a metodologia de estabelecer as

relações descritas nas Diretrizes Curriculares.

Pode-se exemplificar a prática de uma brincadeira de corrida: após a vivência

estabelecer a relação com o elemento articulador, em questão a Cultura Corporal e

Saúde. Na sequência, questionaram-se os alunos de como se sentiram em correr,

como seu corpo respondeu ao esforço da corrida, se a respiração mudou e se

perceberam que os batimentos cardíacos também se alteraram.

É pertinente, contudo, verificar a direção pedagógica que se deu a estas

questões, não deixando apenas no campo especulativo, mas como forma de

mediação para incorporação de novos conhecimentos, vale lembrar que:

É preciso, porém, que o professor tenha cuidado para não empobrecer a

construção do conhecimento em nome de uma prática de contextualização. Reduzir a abordagem pedagógica aos limites da vivência do aluno compromete o desenvolvimento de sua capacidade crítica de compreensão da abrangência dos fatos e fenômenos. Daí a argumentação de que o contexto seja apenas o ponto de partida da abordagem pedagógica, cujos passos seguintes permitam o desenvolvimento do pensamento abstrato e da sistematização do conhecimento. (Diretrizes Curriculares)

Desta forma, introduzir nas próximas práticas conhecimentos sobre

batimentos cardíacos, funcionamento do sistema cardio respiratório, do sistema

circulatório e de todas as conseqüências que a falta de bons hábitos podem

provocar para o bom funcionamento dos mesmos.

Como forma de implementar a pesquisa qualitativa e quantitativa, foi aplicado

questionário com o objetivo de constatar como está a condição de saúde dos alunos

e seus familiares diretos, inclusive verificando alguns fatores de risco, doenças pré-

existentes e reincidentes no ambiente familiar, quais são as formas de prevenção

adotadas, bem como hábitos saudáveis ou de risco para a saúde.

Nesse mesmo contexto, foi aplicado o material didático (caderno pedagógico)

com os temas referentes às principais doenças contemporâneas, como hipertensão

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arterial, obesidade infantil, alteração do colesterol, diabetes e outros problemas que

afetam a saúde dos alunos e de seus familiares diretos.

Os temas foram desenvolvidos por meio de atividades em sala de aula e

contra turno escolar, com participação de palestras, visitas aos parques e centros de

treinamentos.

Nesta perspectiva crítica, ao aplicar o conteúdo estruturante, correlacioná-lo

ao elemento articulador, problematizando questões como: a qualidade de vida, a

promoção da saúde, o estilo de vida, as relações interpessoais e a estética através

das práticas corporais.

A exposição desses assuntos aconteceu paralelamente com o

desenvolvimento dos trabalhos do GTR - Grupo de Estudos em Rede, onde

participaram nove professores da Rede Estadual de Ensino. Os professores inscritos

ministravam aulas de educação física no ensino fundamental e médio, em escolas

de diferentes portes e realidades, e nas diversas posições geográficas, na capital-

Curitiba, na região metropolitana e em cidades do interior do Paraná.

A troca de experiências foi muito rica, possibilitando a implementação da

pesquisa, análise do material didático e aplicação das atividades. Em cada tarefa

proposta aos colegas docentes on-line, o feedback era muito valioso e animador,

obtendo elogios na análise do Projeto de Intervenção, a flexibilidade na adaptação

dos temas e textos elaborados para os alunos dos diferentes níveis de ensino, a

facilidade no desenvolvimento das atividades propostas no Caderno Pedagógico.

Essas intervenções contribuíram para troca de idéias entre docentes e no

sentido de conhecer como os docentes desenvolvem o seu trabalho pedagógico, de

forma inovadora e atrativa, considerando suas peculiaridades e realidade escolar.

No desenvolvimento do trabalho com os alunos as abordagens dos temas

levaram em consideração a linguagem adequada ao nível de compreensão e

enriquecida com as próprias vivências dos alunos, no ambiente familiar e escolar,

buscando compreender as normas e valores que orientam gestos, preferências e

determinam a relação dos indivíduos com a realidade em que estão inseridos.

...tratar desse sentido/significado [abrangendo] a compreensão das relações de interdependência que jogo, esporte, ginástica e dança, ou outros temas que venham a compor um programa de Educação Física, tem com os grandes problemas sócio-políticos atuais como: ecologia, papéis sexuais, saúde pública, relações sociais do trabalho, preconceitos sociais, raciais, [dos portadores de necessidades especiais], da velhice,

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distribuição do solo urbano, distribuição de renda, dívida externa e outros. (Coletivo de Autores, 1992, p.62-3)

.

Desta forma, a Educação Física deixa de ser considerada como mera

“atividade”, relegada a algo sem importância no conjunto das disciplinas curriculares,

restando-lhe o papel de mera executora de “tarefas...”(SOUZA, 1999) passa assumir

um papel de instrumentalização do aluno para a aquisição, apreensão e modificação

dos conteúdos já existentes.

O envelhecimento do conteúdo e a evolução de paradigmas na criação de saberes implicam a seleção de elementos dessas áreas relativos à estrutura do saber, nos métodos de investigação, nas técnicas de trabalho, para continuar aprendendo e em diferentes linguagens. O conteúdo relevante de uma matéria é composto dos aspectos mais estáveis da mesma e daquelas capacidades necessárias para continuar tendo acesso e renovar o conhecimento adquirido. (SACRISTÁN, 2000.)

É importante salientar que ao desenvolver novas temáticas, não se

está excluindo o compromisso em continuar com as práticas escolares na disciplina

de Educação Física norteada pelas Diretrizes Curriculares e com os conteúdos ali

elencados. Trata-se de uma proposta de abordagem com maior aprofundamento, re-

significando a importância do conhecimento em todos os fatores de riscos que

possam interferir na qualidade de vida dos alunos e seus familiares.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste item pretende-se divulgar os resultados e discuti-los com base nos

estudos e intervenção pedagógica do projeto sobre a importância e o resgate da

formação de bons hábitos como forma de prevenção das doenças contemporâneas,

e a contribuição da disciplina de educação física nesta formação.

Inicialmente, ao escolher o tema, e organizar o projeto de pesquisa,

necessitava-se de uma proposta inovadora quanto às formadas de abordagens na

prática escolar, fugindo da forma tradicional, padronizada e ocasional, mas

buscando auxiliar os professores nesse processo de ensino e enfatizando o trabalho

destes temas com os alunos.

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A primeira fase do estudo foi elaborar material didático que contribuísse com o

trabalho em sala de aula, subsidiando tanto o professor quanto o aluno, e assim,

efetivando o projeto de intervenção escolar, além de alimentar a pesquisa.

Desse modo, organizou-se o Caderno Pedagógico em três Unidades: Educação

Física e Saúde, Vilões da saúde e Prevenir é melhor que remediar, visando

apresentar um material de estudo que contribuísse na compreensão da Saúde como

elemento articulador por meio de conteúdos voltados para a Cultura Corporal. Em

cada unidade apresentam-se textos de apoio para o professor, contendo as fontes

de referência e dicas para leitura; na sequência os textos para os alunos e propostas

de atividades para serem desenvolvidas.

A segunda fase do estudo foi a implementação no Colégio Estadual Romário

Martins, com 35 alunos da quinta séria da turma “B” do ano de 2011, houve um

período de adaptação da turma com a metodologia de trabalho da professora, pois

esta fase aconteceu no transcorrer do ano letivo, durante o segundo semestre.

Devido implicações do calendário, com a restrição no número de aulas, a

aplicação do Caderno Pedagógico que tem proposta de atividades previstas para um

ano letivo completo foi adaptada, optando-se por alguns temas mais necessários

pelas características da turma.

Desta forma, foram desenvolvidas as atividades previstas na segunda unidade

do caderno pedagógico, intitulada “Conhecendo os vilões do futuro”, no texto 2 –

“Conversando sobre os vilões do futuro”. Após a leitura e reflexões sobre o texto, foi

aplicado o questionário (proposto na atividade), que teve como objetivo obter

informações genéricas sobre o histórico familiar, sem considerar as idades dos

questionados, pois, a prioridade era buscar dados para o trabalho escolar. As

respostas foram analisadas e serviram de subsídio para algumas discussões com os

alunos; dos 35 questionários, 15 foram descartados pela não entrega ou fora de

prazo além dos problemas nos preenchimentos, apenas 20 foram validados,

gerando as informações:

Na Tabela 1 observa-se, que embora o número de amostragem não fosse

significativo, o número de mães que já apresentam quadro de pressão alta (25%),

chamou atenção dos alunos.

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Tabela 1 – Mães que sofrem de: pressão alta, diabetes, obesidade e

colesterol alto

Mãe sofre sim % não % não sei %

Pressão alta 5 25 13 65 2 10

Diabetes 1 5 16 80 3 15

Obesidade 1 5 19 95 0 0

Colesterol Alto 5 25 10 50 5 25

Na Tabela 2 verifica-se que nas respostas as doenças contemporâneas que

fazem parte do estudo já estão presentes na realidade dos familiares das mães.

Tabela 2– Familiares das mães que sofrem de: pressão alta, diabetes,

obesidade e colesterol alto

Familiares da mãe sim % não % não sei %

Pressão alta 14 70 4 20 2 10

Diabetes 8 40 10 50 2 10

Obesidade 3 15 17 85 0 0

Colesterol Alto 5 25 10 50 5 25

Pressão alta Diabetes Obesidade Colesterol Alto

25

5 5

25

65

80

95

50

10 15

0

25

% sim

% não

% não sei

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Na tabela 3 verifica-se que o índice dos pais com pressão alta é quase o

mesmo constatado nas mães, porém o número dos que não sabem é maior.

Na tabela 4 o número de familiares dos pais com as doenças

contemporâneas é proporcional aos índices dos familiares das mães, o que

preocupou nas reflexões dos alunos sobre a inclinação genética para tais doenças.

Tabela 3 – Pais que sofrem de: pressão alta, diabetes, obesidade e

colesterol alto

Pai sofre sim % não % não sei %

Pressão alta 4 20 9 45 7 35

Diabetes 2 10 16 80 2 10

Obesidade 1 5 19 95 0 0

Colesterol Alto 3 15 12 60 5 25

Pressão alta Diabetes Obesidade Colesterol Alto

70

40

15 25 20

50

85

50

10 10 0

25

% sim

% não

% não sei

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Tabela 4 – Familiares dos pais que sofrem de: pressão alta, diabetes,

obesidade e colesterol alto

Familiares dos pais sim % não % não sei %

Pressão alta 11 55 4 20 5 25

Diabetes 8 40 10 50 2 10

Obesidade 3 15 17 85 0 0

Colesterol Alto 7 35 8 40 5 25

Pressão alta Diabetes Obesidade Colesterol Alto

20 10 5

15

45

80

95

60

35

10 0

25

% sim

% não

% não sei

Pressão alta Diabetes Obesidade Colesterol Alto

55

40

15

35

20

50

85

40

25

10 0

25

% sim

% não

% não sei

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Com base nas respostas, foi possível realizar algumas dinâmicas com os

alunos nas construções de gráficos, tabelas, estatísticas além da realização de uma

exposição com o material elaborado.

Os alunos perceberam através das evidências das respostas que realmente é

importante conhecerem as questões de saúde das famílias, considerarem a

inclinação genética, conhecerem melhor quais são os fatores de risco e como

podem prevenir.

Outras atividades sugeridas no Caderno Pedagógico na Unidade – “Prevenir

é melhor que remediar” – Texto 10: “A Atividade Física Também é Diversão”, os

alunos participaram da atividade 1 - Caminhada Ecológica no Parque Ambiental

Municipal de Pinhais, onde tiveram a oportunidade de caminhar pela trilha e fazer a

observação do horto-florestal.

Na atividade 2 – os alunos elaboraram uma enquete com os frequentadores e

praticantes de atividade física no mesmo parque ambiental onde existe academia ao

ar livre e outros equipamentos para prática de exercícios.

A entrevista consistiu nas seguintes perguntas: nome, idade (resposta

opcional), por que faz atividade física, qual a frequência e há quanto tempo pratica

atividade. Foi deixado um espaço para o entrevistado relatar os benefícios que a

atividade física trouxe para sua saúde.

Todos os entrevistados foram muito sensíveis e responderam de maneira

muito simpática, indicando os inúmeros benefícios em praticar atividade física e a

falta que ela faz na rotina destes frequentadores. No retorno à sala de aula, as

respostas foram lidas e ficou muito evidente que não existe idade, ou problema de

saúde que impeça a pratica de atividade adequada às suas necessidades.

Na atividade 3 – os alunos visitaram o Estádio de Futebol Couto Pereira, onde

puderam observar as instalações do museu do esporte, vestiários, o campo de

futebol e observaram alguns jogadores praticando atividade na academia. Após a

observação das duas situações: atividade física de lazer e atividade física de alto

rendimento foi discutida as diferenças entre as duas e as características de cada

uma.

A terceira fase do estudo foi o contato com os professores do Grupo de

Estudos em Rede - GTR, com nove professores inscritos. A primeira tarefa foi a

apresentação e participação em fóruns de debate, nesta fase os participantes

inseriram informações pessoais e profissionais para os colegas cursistas do GTR.

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Foi possível notar as diferentes realidades com professores novos e outros bem

experientes, colegas de escolas com recursos e de grande porte, e outros do interior

do estado ou região metropolitana, porém, todos com grande interesse em buscar

trocas de ideias entre os colegas e capacitação para o trabalho em sala de aula. Na

segunda tarefa os professores tiveram contato com o projeto de intervenção na

escola, principalmente com o tema e com a fundamentação teórica, postando no

fórum de discussões as contribuições para a pesquisa.

Na terceira tarefa, os professores construíram experiências em sala de aula

com o apoio do Caderno Pedagógico, aplicando atividades sugeridas no material

didático, a avaliação geral dos cursistas foi positiva, relatando que o material

contribuiu para as discussões com os alunos, de fácil compreensão, de excelente

suporte para enriquecer o trabalho de todos. Como última tarefa, os professores

avaliaram o curso na modalidade EaD, o que foi gratificante, pois relataram que o

curso atingiu as expectativas, que os temas abordados eram relevantes para a

disciplina de educação física e a produção didática pedagógica auxiliou-os na

prática em sala de aula, melhorando a qualidade do ensino.

4. CONCLUSÃO

O estudo sobre o tema da prevenção de doenças contemporâneas e inclusão

de bons hábitos para uma vida mais saudável e de qualidade mostrou-se

extremamente relevante, conforme relatos dos cursistas do GTR e dos professores

durante a implementação do projeto de intervenção no Colégio Estadual Romário

Martins.

Ao desenvolver as atividades o tema proposto mostrou-se de uma

importância ímpar, porque associado ao desenvolvimento dos alunos das 5ªs séries

estão diversos fatores que incluem seus familiares, amigos, a comunidade e a

escola onde eles estudam. Como todos os assuntos apresentados transitam entre

estes diversos públicos, é importante propor números cada vez maiores de

informações sobre prevenção e formação de bons hábitos, para que eles caminhem

em via de duas mãos.

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Enfim, causas e efeitos se sobrepõem e muito deve ser esclarecido. E qual

melhor momento para iniciarmos estes esclarecimentos que não na escola,

associando os conteúdos da disciplina de educação física, uma vez que o público

estudado tem uma ausência comprovada do convívio dos pais. Em atitudes

interdisciplinares onde o complemento da ação pedagógica se dará com o apoio dos

docentes de diversas disciplinas, prevemos que intervenções para o

desenvolvimento de bons hábitos que resgatam a qualidade de vida tornando-a mais

saudável será, sem dúvida alguma, uma maneira de prevenir ou minimizar o

surgimento de doenças. Ao tratarmos de assuntos como qualidade de vida, doenças

contemporâneas, obesidade, diabetes, hipertensão arterial, colesterol (dislipidemia)

e hábitos saudáveis, contribuímos para enriquecer ainda mais uma das principais

funções da Escola, que é a de oferecer um currículo que possibilite aos alunos

adquirem conhecimentos relevantes para sua formação plena de cidadãos

saudáveis e conscientes do seu papel na sociedade.

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