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SEDIMENTOS RECENTES DA PLATAFORMA CONTINENTAL PORTUGUESA A NORTE DO CANHÃO SUBMARINO DA NAZARÉ (1) por J. M. ALVEIRINHO DIAS *, LUÍS C. GASPAR * e J. HIPÓLITO MONTEIRO * RESUMO o presente trabalho integra-se numa série que descreve a cobertura sedimentar recente da plataforma continental portuguesa, resultado do projecto «Reconhecimento Geológico e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa», que está promovido pela Direcção Geral de Geologia e Minas (Serviços Geológicos de Portugal e Serviço de Fomento Mineiro) com a colabo- ração do Instituto Hidrográfico e da Secretaria de Estado das Pescas. O trabalho geológico consistiu em investigações no campo e no laboratório. Para o presente trabalho, a actividade de campo incluiu colheita de informação sobre a batimetria e colheita de amostras de fundo de sedimentos depositados durante o Holocénico. As análises da textura e composição dos sedimentos foram efectuadas nos labora- tórios da Divisão de Geologia Marinha, em Castanheira do Ribatejo. A plataforma continental entre o paralelo da foz do rio Minho e o canhão da Nazaré é relativamente estreita (35 km a 60 km) loca'nzando-se o bordo da plataforma à profundidade média de 160 km. Os sedimentos holocénicos (recentes) podem ser agrupados, com base na textura e composição, em quatro tipos: «areias litorais» que se dispõem desde próximo da linha da costa até cerca de 40 m de profundidade e consistem em areias unimodais; «depósitos cascalhentos» a Oeste das areias litorais com elevado conteúdo em cascalho; «depósitos da plataforma exterior» consistindo em areias médias e finas com elevado conteúdo em carbonatos biogénicos; e «depósitos do bordo da plataforma», areias finas bem calibradas em que a componente dominante da areia é o quartzo. As «areias litorais» e os «depó- sitos do bordo da plataforma» são considerados como depósitos neotéricos, os «depósitos cascalhentos» como sedimentos relíquia, pro- téricos e palimpsestos e os «depósitos da plataforma exterior» como sedimentos anfotéricos. Os aspectos mais salientes da cobertura sedimentar da plataforma côntinental são a textura predominantemente arenosa e a faixa de sedimentos relíquia e palimpsestos que ocorrem principalmente entre 40 m e 60 m de profundidade. A natureza arenosa é devida, possivelmente, às condições de fronteira junto ao fundo condicionadas pelo regime da ondulação capaz de exceder o limiar de arranque das partículas e facilitar o transporte dos sedimentos mais finos para a vertente continental e bacias oceânicas. Os sedimentos grosseiros foram interpretados tendo em atenção a sequência de eventos da subida do nível do mar que se seguiu à glaciação de WÜfm. Sugere-se que a formação dos «depósitos cascalhentos» está relacionada com o período de regressão tempo- rária que interrompeu a transgressão geral, a qual ocorreu a meio da transgressão, e que tem sido correlacionada com o interstadial de Allerod e com o avanço dos glaciares da Fenoscandia. Parece existir concordância entre esta hipótese e as variações climáticas ocorridas entre 12000 e 11 000 anos antes do Presente, deduzidas do estudo de testemunhos colhidos na margem continental Ibero-Marroquina. ABSTRACT This paper is one report of a series that describes the recent sediment cover of the Portuguese continental shelf. This report are the result of a geological project that is being conducted by the Serviços Geológicos de Portugal and Serviço de Fomento Mineiro with the collaboration of the Instituto Hidrográfico and Secretaria de Estado das Pescas. The geological work consists of field and labo- ratory investigations and for this report, field work incIuded investigations of the bathymetry and the collection of bottom samples of the sediments deposited during post-g1acial time. Studies of the texture and composition of the sediments were done at the project facility at Castanheira do Ribatejo. The continental shelf between paralel of the Minho river mouth and the Nazaré canyon is a relatively narrow shelf (35 to 60 km) and the shelf edge occurs at about 160 m depth. The Holocene (Recent) sediments can be grouped in four types on the basis of their texture and composition: <diotoral sands» that are exposed at the surface near the shore line to about 40 m depth consisting of uni- modal fine sands; «gravelly deposits» seaward of the litoral sands with high gravei percentage; «deposits of the outer shelf» consisting of medium to fine sands with high biogenic carbonate content; and the «shelf edge deposits» of very fine well sorted sands with a dominant quartz sand component. The «litoral sands» and the «shelf edge deposits» are considered as neoteric deposits; the «gravelly deposits» as relict, proteric and palimpsest sediments and the «outer shelf deposits» as anfoteric sediments. The most impressive aspects of the sedimentary cover of the continental shelf are their sandy texture and the coarse relict and palimpsest gravelIy deposits occuring in the 40 to 60 m depth zone. Their sandy nature are perhaps due to the bottom boundary layer conditions caused by the wave regime that are capable to exceed the treshold of sediment movement and permits the transport of the finer particules to the continental sl.ope and deep oceano The coarse sediments have been interpreted in the Iight of the sequence of events of sea levei rise following the Würm gla- ciation. One period of temporary regression interrupting the general transgression occurred at about mid point of the transgression, which has been correlated with the Allerod interstadial and the advance of the Fennoscandia glaciers, is suggested to be reponsable for the formation of the «gravelly deposits». There seerns to be agreement with cIimatic variations detected in cores off the Iberiall-Morocan mar- gin about 11 000 to 12000 B. P. 1. - INTRODUÇÃO São praticamente inexistentes os trabalhos de índole sedimentológica sobre a plataforma continen- tal portuguesa entre o canhão submarino da Nazaré e o paralelo da foz do rio Minho. Entre 1910 e 1930 publicou o Ministério da Marinha cartas litológi- cas submarinas visando fundamentalmente o inven- tário de fundos para as pescas. A amostragem foi (.) Trabalho elaborado no âmbito do projecto I.1.5-Reco- nhecimento e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa. * Divisão de Geologia Marinha dos Serviços Geológicos de Portugal. 181

SEDIMENTOS RECENTES DA PLATAFORMA CONTINENTAL … · resultado do projecto «Reconhecimento Geológico e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa»,

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SEDIMENTOS RECENTES DA PLATAFORMA CONTINENTAL PORTUGUESA A NORTE DO CANHÃO SUBMARINO DA NAZARÉ (1)

por

J. M. ALVEIRINHO DIAS *, LUÍS C. GASPAR * e J. HIPÓLITO MONTEIRO *

RESUMO

o presente trabalho integra-se numa série que descreve a cobertura sedimentar recente da plataforma continental portuguesa, resultado do projecto «Reconhecimento Geológico e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa», que está s~ndo promovido pela Direcção Geral de Geologia e Minas (Serviços Geológicos de Portugal e Serviço de Fomento Mineiro) com a colabo­ração do Instituto Hidrográfico e da Secretaria de Estado das Pescas. O trabalho geológico consistiu em investigações no campo e no laboratório. Para o presente trabalho, a actividade de campo incluiu colheita de informação sobre a batimetria e colheita de amostras de fundo de sedimentos depositados durante o Holocénico. As análises da textura e composição dos sedimentos foram efectuadas nos labora­tórios da Divisão de Geologia Marinha, em Castanheira do Ribatejo.

A plataforma continental entre o paralelo da foz do rio Minho e o canhão da Nazaré é relativamente estreita (35 km a 60 km) loca'nzando-se o bordo da plataforma à profundidade média de 160 km. Os sedimentos holocénicos (recentes) podem ser agrupados, com base na textura e composição, em quatro tipos: «areias litorais» que se dispõem desde próximo da linha da costa até cerca de 40 m de profundidade e consistem em areias unimodais; «depósitos cascalhentos» a Oeste das areias litorais com elevado conteúdo em cascalho; «depósitos da plataforma exterior» consistindo em areias médias e finas com elevado conteúdo em carbonatos biogénicos; e «depósitos do bordo da plataforma», areias finas bem calibradas em que a componente dominante da areia é o quartzo. As «areias litorais» e os «depó­sitos do bordo da plataforma» são considerados como depósitos neotéricos, os «depósitos cascalhentos» como sedimentos relíquia, pro­téricos e palimpsestos e os «depósitos da plataforma exterior» como sedimentos anfotéricos.

Os aspectos mais salientes da cobertura sedimentar da plataforma côntinental são a textura predominantemente arenosa e a faixa de sedimentos relíquia e palimpsestos que ocorrem principalmente entre 40 m e 60 m de profundidade. A natureza arenosa é devida, possivelmente, às condições de fronteira junto ao fundo condicionadas pelo regime da ondulação capaz de exceder o limiar de arranque das partículas e facilitar o transporte dos sedimentos mais finos para a vertente continental e bacias oceânicas.

Os sedimentos grosseiros foram interpretados tendo em atenção a sequência de eventos da subida do nível do mar que se seguiu à glaciação de WÜfm. Sugere-se que a formação dos «depósitos cascalhentos» está relacionada com o período de regressão tempo­rária que interrompeu a transgressão geral, a qual ocorreu a meio da transgressão, e que tem sido correlacionada com o interstadial de Allerod e com o avanço dos glaciares da Fenoscandia. Parece existir concordância entre esta hipótese e as variações climáticas ocorridas entre 12000 e 11 000 anos antes do Presente, deduzidas do estudo de testemunhos colhidos na margem continental Ibero-Marroquina.

ABSTRACT

This paper is one report of a series that describes the recent sediment cover of the Portuguese continental shelf. This report are the result of a geological project that is being conducted by the Serviços Geológicos de Portugal and Serviço de Fomento Mineiro with the collaboration of the Instituto Hidrográfico and Secretaria de Estado das Pescas. The geological work consists of field and labo­ratory investigations and for this report, field work incIuded investigations of the bathymetry and the collection of bottom samples of the sediments deposited during post-g1acial time. Studies of the texture and composition of the sediments were done at the project facility at Castanheira do Ribatejo.

The continental shelf between paralel of the Minho river mouth and the Nazaré canyon is a relatively narrow shelf (35 to 60 km) and the shelf edge occurs at about 160 m depth. The Holocene (Recent) sediments can be grouped in four types on the basis of their texture and composition: <diotoral sands» that are exposed at the surface near the shore line to about 40 m depth consisting of uni­modal fine sands; «gravelly deposits» seaward of the litoral sands with high gravei percentage; «deposits of the outer shelf» consisting of medium to fine sands with high biogenic carbonate content; and the «shelf edge deposits» of very fine well sorted sands with a dominant quartz sand component. The «litoral sands» and the «shelf edge deposits» are considered as neoteric deposits; the «gravelly deposits» as relict, proteric and palimpsest sediments and the «outer shelf deposits» as anfoteric sediments.

The most impressive aspects of the sedimentary cover of the continental shelf are their sandy texture and the coarse relict and palimpsest gravelIy deposits occuring in the 40 to 60 m depth zone. Their sandy nature are perhaps due to the bottom boundary layer conditions caused by the wave regime that are capable to exceed the treshold of sediment movement and permits the transport of the finer particules to the continental sl.ope and deep oceano

The coarse sediments have been interpreted in the Iight of the sequence of events of sea levei rise following the Würm gla­ciation. One period of temporary regression interrupting the general transgression occurred at about mid point of the transgression, which has been correlated with the Allerod interstadial and the advance of the Fennoscandia glaciers, is suggested to be reponsable for the formation of the «gravelly deposits». There seerns to be agreement with cIimatic variations detected in cores off the Iberiall-Morocan mar­gin about 11 000 to 12000 B. P.

1. - INTRODUÇÃO

São praticamente inexistentes os trabalhos de índole sedimentológica sobre a plataforma continen­tal portuguesa entre o canhão submarino da Nazaré e o paralelo da foz do rio Minho. Entre 1910 e 1930 publicou o Ministério da Marinha cartas litológi-

cas submarinas visando fundamentalmente o inven­tário de fundos para as pescas. A amostragem foi

(.) Trabalho elaborado no âmbito do projecto I.1.5-Reco­nhecimento e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa.

* Divisão de Geologia Marinha dos Serviços Geológicos de Portugal.

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SGP
Referência bibliográfica
Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, Vol. XXII, 1980-1981.

classificada de forma expedita, não tendo sido publi­cados, à excepção dos trabalhos de J. GOMES (1915--16) e A. NOBRE (1926), quaisquer outros elementos baseados em estudo mais pormenorizado das amos­tras colhidas. J. MONTEIRO (1971) efectuou a revisão bibliográfica dos trabalhos publicados sobre a mar­gem continental Este Atlântica de Finisterra a Casa­blanca, concluindo serem necessáríos estudos deta­lhados dos sedimentos da plataforma para melhor compreensão da sedimentação holocénica.

Em 1974 iniciou a Direcção-Geral de Geologia e Minas um projecto denominado «Reconhecimento Geológico e Inventariação dos Recursos Minerais da Margem Continental Portuguesa», cujos trabalhos de­correm nos Serviços Geológicos de Portugal, tendo sido iniciados no Serviço de Fomento Mineiro. Os méto­dos utilizados e os objectivos dos cruzeiros reali­zados, na prímeira fase do projecto, estão relatados em J. MONTEIRO et ai. (1977) sendo um dos objecti­vos do projecto o estudo dos sedimentos superficiais da plataforma continental portuguesa. Os resultados obtidos na prospecção prévia de cascalhos e areias da plataforma continental portuguesa encontram-se expressos em J. A. DIAS et ai. (1980).

O presente trabalho reporta resultados obtidos na parte norte da plataforma continental até ao canhão submarino da Nazaré, pretendendo-se reco­nhecer os padrões de distribuição dos sedimentos e interpretá-los, tendo em conta a históría da trans­gressão flandríana e a sedimentação actual.

1.1. - Características climáticas

O clima da região é temperado. A temperatura anual média do ar ronda os 15° C no litoral, sendo mais baixa no interior, onde se delimitam várias zonas em que a referída temperatura é inferior a 10° C. A amplitude térmica anual média é moderada varíando, na zona litoral, entre 10° C e 20° C. A amplitude térmica é mais acentuada no interior, especiâlmente nas zonas acidentadas. As temperaturas mais elevadas registam-se nos meses de Julho a Setembro e as mais baixas nos meses de Dezembro a Fevereiro (Atlas Climatológico de Portugal Con­tinental, 1974).

A insolação é grande, sendo em média 2 500 ho­ras/ano, varíando entre 300 horas/mês em Julho e 100 horas/mês em Dezembro. A insolação é maior no interíor que no litoral, no verão, e maior no litoral no período de inverno.

A época chuvosa corresponde aos meses entre Novembro e Março com cerca de 70 % da precipi­tação anual. A precipitação total anual é maior no Norte que na parte Sul da região, sendo também mais elevada nas zonas mais montanhosas. Os maiores valores de precipitação registam-se na zona da serra do Gerês, atingindo valores superiores a 2800 mm/ano no período 1931-1960. Segundo o Anuário dos Serviços Hidráulicos (1979), a altura média de chuva foi, na parte portuguesa da bacia do Cávado que drena a serra do Gerês, de 2319 mm no período de 1954 a 1971. A média das alturas de chuva anual foi, nesse período, na parte portuguesa das bacias que efectuam a drenagem para esta zona da plataforma portuguesa, de 1 295 mm.

Na zona costeira da região considerada predomi­nam, durante o ano, os ventos de Noroeste e Norte, embora sejam consideráveis os ventos provenientes de Oeste e, se bem que em menor grau, os de Sudoeste.

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As resu1tantes anuais são eni gerai entre NN'W e WNW.

O rio com maior bacia hidrográfica que aflui a esta zona da plataforma é, sem dúvida, o Douro, cuja bacia hidrográfica, em Portugal, ocupa 18 710 km2• No ano de 1970-71 o maior caudal diário foi, na Régua, de 1 283 m3/s em Maio de 1971, com uma ponta de cheia de 1 414 m3/s. O módulo do rio, referído ao mesmo ano hidrológico e na mesma localidade (e em referência à qual a bacia hidro­gráfica apresenta uma área de 91491 km2), foi de 334 m3/s, nitidamente inferíor, todavia, ao módulo dos últimos 40 anos que foi de 450 m3/s (Anuário dos Serviços Hidráulicos, 1979). Os dados de natu­reza hidrológica sobre os restantes rios são mais escassos sendo os seus valores nitidamente inferiores aos citados para o rio Douro.

A agitação marítima que atinge a costa portu­guesa a norte da Nazaré tem período compreendido, predominantemente, entre 6 a 18 segundos, sendo os períodos mais frequentes os que oscilam entre 9 e 11 segundos. No referente à direcção da agitação ao largo verifica-se que as direcções mais frequentes estão compreendidas entre W- 10° -N e W- 200 -N. No que concerne à altura da ondulação, o escalão de alturas significativas mais frequentes é o de 1 a 2 m (45 % das ocorrências totais) ocorrendo alturas de onda superíores a 6 m apenas com frequência de 2 % (cerca de 7 dias/ano) (CARVALHO & BARCELÓ, 1966). No que se refere à onda de maré, esta não determina a formação de correntes importantes, a não. ser junto à costa. A amplitude é, no Minho, de 3,80 m (Roteiro da Costa de Portugal,1952).

1.2. - Características da zona drenada e da costa

Na vasta área cuja drenagem se efectua para a região da plataforma continental portuguesa a norte do canhão da Nazaré, podem definir-se duas grandes entidades geológicas: a) o soco antigo, constituído essencialmente por granitos, na maioría hercínicos, e metamorfitos precâmbricos e paleozóicos; b) os terrenos de cobertura de idade mesocenozóica, que constituem parte da orla ocidental.

Os granitos e os terrenos antigos prolongam-se, desde um pouco a Sul do Porto (fig. 1) até ao extre­mo norte da região considerada, para a plataforma continental (MUSELLEC, 1974). O curso dos principais rios que aí desaguam (Minho, Lima, Cávado, Ave e Douro) foi condicionado por fracturas, algumas das quais ainda activas.

A linha de costa a Norte do paralelo 41 ° parece ter sido inicialmente definida por fracturas. Trata-se de costa bastante linear, frequentemente arenosa, quase desprovida de grandes arribas mas onde ocorrem muitos afloramentos do soco antigo, cuja orientação geral é aproximadamente NNW/SSW.

O litoral a Sul do paralelo 41 ° é essencialmente arenoso. Apresenta grande linearidade, a qual não é interrompida senão nalguns locais condicionados por esporões rochosos, como o do cabo Mondego que constitui a irregularidade maior desta costa.

É curioso notar as diferenças flagrantes existen­tes entre as desembocaduras dos rios das partes meridional e setentrional da região considerada. Efectivamente, no norte, os rios apresentam estuá­rios menos condicionados, na sua forma actual, por depósitos sedimentares. A sul, pelo contrárío, os estuários encontram-se muito assoreados, dificul-

LOCALIZAÇÃO DA AMOSTRAGEM

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GEOLOGIA SIMPLIFICADA

(Ba,eado IICI ·CARTA GEOLÓGICA DA PlATAFORMA CONTINENTAl-)

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BATIMETRIA

Fig. 1 - Mapa de localização da amostragem e geologia simplificada da região.

tando a comunicação com o mar. Na explicação deste facto entrarão, por certo, três ordens de factores: 1) Na parte norte o perfil dos rios é mais jovem, mais distante do perfil de equilíbrio, o que lhes confere maior vigor; 2) A pluviosidade é maior no norte que no sul; 3) O ângulo de ataque da ondulação é mais agudo no norte que no sul o que poderá pro­vocar maior tempo de residência das areias litorais no sul.

1.3. - Características da plataforma continental

Na plataforma portuguesa localizada a Norte do canhão da Nazaré (fig. 1) podem distinguir-se duas zonas principais: 1) Uma zona condicionada pela na­tureza das rochas da orla ocidental, situada a Sul do paralelo 41°, cuja largura varia entre os 40 e 50 km a qual passa, a Oeste, de profundidades típicas· da plataforma para profundidades . da ordem dos 4000 metros da Planície Abissal Ibérica; 2) Outra zona sita a Norte do paralelo 41°, cuja largura média é de 30 km e cuja vertente continental a liga a zona submarina de profundidade intermédia entre a pla­taforma e a planície abissal (montanha submarina de Vigo). Todavia, as duas zonas consideradas pos­suem características similares ou que variam de modo gradual.

A profundidade do bordo da plataforma é, em média, de 160 metros, variando entre 130 e 190 metros (MusELLEc, 1974). A largura da plataforma continen­tal varia, sendo mínima na parte setentrional, região onde aflora o soco ante-mesozóico (cerca de 35km até Póvoa de Varzim) alargando progressivamente

para sul, atingindo cerca de 60 km frente ao cabo Mondego, voltando a diminuir um pouco até ao canhão da Nazaré. A largura média é de 43,7 km (MusELLEc, 1974) nitidamente inferior à largura média das plataformas continentais do globo que é de 75 km (SHEPARD, 1973). O pendor da plataforma oscila entre 5,7 a 2,4 m/km. Os maiores pendores registam-se na parte norte da região, constatando-se que são tanto maiores quanto mais próximo da pla­taforma aflora o soco ante-mesozóico, atingindo os valores mais elevados na zona em que o próprio soco aflora na plataforma interior. Segundo P. Mu­SELLEC (1974) estas diferenças de pendor testemu­nham, provavelmente, um movimento recente geral, de báscula para o largo, mais importante a norte que a sul.

No conjunto, a plataforma considerada é carac­terizada por grande simplicidade de formas sem rela­ção aparente com os acidentes tectónicos. Geologi­camente, exceptuando a zona onde aflora o soco antigo, a plataforma é constituída por monoclinal de terrenos cretácicos e cenozóicos deformados local­mente por alguns d;apiros (Carta Geológica da Plataforma Continental, 1978).

2. - MÉTODOS UTILIZADOS

2.1. - Amostragem

A amostragem utilizada no presente trabalho foi colhida no decurso dos cruzeiros AC75/1 «VIA­BOA» (Outubro de 1975) e AC77/2 «FIMO» (Setembro de 1977), efectuados no navio «N. R. P. Almeida Carvalho». Nas colheitas utilizaram-se colhedores tipo «Shipek» e <Nan Veen»~ A escolha dos locais de amostragem teve em atenção dois objectivos principais: a) estudo da sedimentação recente na plataforma continental; b) pesquisa de depósitos eventualmente susceptíveis de interesse económico. Efectuaram-se 10 linhas de amostragem localizadas transversalmente em relação à plata­forma e 4 manchas de amostragem em zonas onde se suspeitava existirem depósitos de sedimentos gros­seiros (Fig. 1).

Nalguns casos, o peso das amostras disponível para peneiração era inferior ao sugerido por Went­worth (KRUMBEIN & PETTIJOHN, 1938). Entre rejeitar as amostras tendo em atenção o critério de Went­worth, ficando sem dados desses locais, e aprovei­tá-las correndo o risco de estarem afectadas por certa margem de erro, optámos por esta última hipó­tese, rejeitando unicamente as amostras que possuíam nítida insuficiência de material. Mesmo nestes casos, entrou-se em linha de conta com as características observáveis para, em conjugação com as amostras próximas, delimitar os depósitos.

2.2. -Procedimento laboratorial

O tratamento laboratorial da amostragem foi realizado no Laboratório de -Geologia Marinha dos S. G. P., utilizando a metodologia aí em uso, isto é: ataque com peróxido de hidrogénio para remoção da matéria orgânica; lavagem com água destilada com o objectivo de retirar o cloreto de sódio e outros sais dissolvidos; separação das fracções silto~argiiosa e arel1o-cascalhenta por peneiração via húmida a 63!l(4<1»; e: separação das fracções areia e cascalho por peneiração a seco com peneiro de 2 mm (-1<1».

183

FRACÇÃO TEXTURAL DOMINANTE

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FRACÇ.i.O DOMINANTli NA AREIA

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Fig. 2 - Mapa da distribuição das fracções texturais domi­nantes. nas amostras e das fracçõs composicionais dominantes na areIa.

A fracção fina foi desfloculada com hexametafos­f~to de sódio 0,1 N após o que se determinaram, por plp~tagem, as quantidades de silte (entre 411> e 811» e argIla (menor que 811». A fracção areia foi peneirada a intervalos de 111>, o mesmo acontecendo à fracção cascalho quando presente em quantidade superior a 5 % da amostra.

As fracções resultantes da peneiração foram exa­minadas à lupa binocular, utilizando método aná­logo ao descrito por F. SHEPARD & D. MOORE (1954), estabelecendo para cada fracção, por identificação de 100 grãos, as percentagens de cada uma das seguintes classes: quartzo, mica, agregados (fragmentos de rocha e «beach-rock»), outros terrigenos, glauco­nite, foraminiferos bentónicos, foraminiferos plan­ctónicos, moluscos, equinodermes, outros biogénicos e não identificados. Com base na composição de cada uma das fracções determinou-se a composição total da areia.

A análise textural da areia foi efectuada com a balança de sedimentação construida nos S. G. P. de acordo com as recomendações de R. GIBBS (1972, 1974), estando a sua descrição efectuada noutro trabalho (DIAS & MONTEIRO, 1978).

2.3. - Tratamento dos dados da análise textural

Nos registos provenientes da balança de sedimen­tação, ~fectuados na base tempo versus voltagem proporcIOnal ao peso acumulado, foram determina­das as I?e~centagens acumulativas de 1/411> em 1/411>, no dommIO de -111>(2 mm) a 411> (63(J.). As velocidades

184

B

FlCAÇÃO DOS SEDIMENTOS

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Fig. 3 - Mapa da distribuição das classes texturais (se­gundo SHI!PARD, 1954).

terminais e diâmetros de sedimentação foram deter­minadas com a equação proposta por R. GIBBS et aI. (1971). Os dados assim obtidos foram tratados no computador do Centro de Cálculo da Fundação Gulbenkian, utilizando o programa SEDIME 3 descrito em J. A. DIAS (1978). Utiliza o programa referido sub-rotina extraida do programa de J. SCHLEE & J. WEBSTER (1965), a qual permite efectuar a inter­polação a 0,0511> entre os pontos originais de modo a obter maior aproximação à curva continua de distribuição. Todos os parâmetros utilizados neste trabalho foram calculados com base nos pontos da curva assim obtida.

Os parâmetros granulométricos foram calculados pelo método dos momentos centrados na média aritmética, tendo sido aplicado aos segundo e quarto momentos as correcções de Shepard. Com os momen­tos assim calculados (mI> m2, m5' e m4) determinou-se o valor dos parâmetros seguintes:

média granulo métrica ...... M = mI desvio padrão cr = vm; assimetria (skewness) ...... 1X5 = m5/2crm2 achatamento (kurtosis) ...... ~2 = m4/(m2)2-3

Efectuou-se também a classificação do sedimento segundo o diagrama triangular de Shepard, tendo-se utilizado para tal subrotina desenvolvida por Lloyd Breslaus tal como foi aplicada por J. SCHLEE &J.WEBS­TER (1965).

As modas presentes na distribuição granulomé­trica foram determinadas por exame das diferenças

das frequências, tendo-se eliminado as modas meno­res, isto é, as que apresentam frequência da classe inferior a cinco vezes o intervalo fi da classe.

3. - DISTRIBUIÇÃO DOS SEDIMENTOS

A plataforma continental portuguesa entre o canhão submarino da Nazaré e o paralelo da foz do rio Minho está coberta, na sua grande maioria, por sedimentos em que a classe textural dominante é a areia (Fig. 2). No mapa da Fig. 3 representou­-se a distribuição dos sedimentos de acordo com a classificação de F. P. SHEPARD (1954). Neste mapa assinalaram-se ainda as zonas de ocorrência de cas­calho com percentagens superiores a 5 % e a 25 % da amostra. Representámos o cascalho não biogé-

Depósitos sedimentares

Número de amostras

:-10%-

"" ~ ~ 0%-

r 20%-.. := 10%-.,. 10%-

80%-

70%-

60%-... =

50%-<n

0<. : 40%-

= "'" .... :E 30%-

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.~30%-c.:o ao: ... .. a.. ...

20%-.. -= ~ 10%-u

1 0%-

Areias da Areias Depósitos Areias da Bardo da litorais Cascalhento. Plataf. exterior Plataforma

18 53 16 21 12 6

5 35 65 95 125 155 200 Profundidade (m)

Fig. 4 - Diagramas de barras representando as médias dos conteúdos das fracções texturais das amostras em função da profundidade.

nico em vez do cascalho total porque a presença de conchas no material grosseiro constitui, por via de regra, um problema. Tal como T. McKINNEY & G. FRIEDMAN (1970) decidimos não considerar, nesta figura, o material biogénico superior a -1 ~ (2,00 mm), pois que é difícil dizer quando é que dada concha ou fragmento de concha foi ou não transportada e depo­sitada com o restante sedimento.

A presença de outros tipos texturais diferentes da areia é reduzida. Na plataforma interior, a pro­fundidades que variam em geral entre os 40 m e os 80 m, delimitam-se manchas várias em que a ocor­rência de cascalho é elevada. A maior profundidade, junto à desembocadura de alguns rios e nas pro­ximidades do canhão da Nazaré, existem alguns depósitos com conteúdo silto-argiloso mais elevado. Na Fig. 2 pode observar-se ainda qual é a compo­nente dominante da fracção arenosa, constatando-se que a areia até à bati métrica dos 100 m é constituida essencialmente por elementos terrigenos, predomi­nando os bioclastos a profundidades maiores.

Os diagramas de barras da Fig. 4 representam as médias dos conteúdos em cascalho, areia, silte e argila das amostras agrupadas de acordo com a profundidade. Verifica-se que, como atrás se referiu, a plataforma portuguesa a Norte da Nazaré está coberta por sedimentos essencialmente arenosos. As fracções siltosa e argilosa são muito reduzidas notando-se, todavia, aumento gradual destas frac­ções com a profundidade, diIninuindo no entanto, junto ao bordo da plataforma. Consideramos que este decréscimo carece de confirmação visto que só

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SEDIMENTOS DA PLATAFORMA CONTINENTAL PORTUGUESA· A NORri; DO CANHÃO DA NAZARÉ

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Fig. 5 - Màpa de distribuição dos depósitos sedimentares superficiais.

185

MÉDIA

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Fig. 6 - Mapa da distribuição dos valores da média gra-nuloIllétrica da _ areia. _ " _ __

tivemos oportunidade de analisar 6 amostras pro­venientes de profundidades superiores a 155 m. As médias das percentagens de areia revelam dois mínimos, entre os 35 m e os 65 m e outro entre os 125 m e 155 m. O primeiro corresponde à zona de maior ocorrência de cascalho terrígeno e o segundo à zona de maior deposição de siltes e argilas.

A conjugação dos dados texturais e composi­cionais permite-nos considerar, na plataforma, quatro zonas diferentes com disposição grosseiramente paralela ao litoral: areias litorais, depósitos casca­lhentos, depósitos da plataforma exterior e depósitos do bordo da plataforma (Fig. 5).

Este padrão da distribuição dos sedimentos na plataforma continental é válido fundamentalmente para a plataforma compreendida entre 41 0 30' N e 39 0 50' N. A Sul deste último paralelo, a sedimen­tação parece estar condicionada pela existência do canhão submarino da Nazaré. A Norte do paralelo 41 0 30' N, o padrão de distribuição dos sedimentos apresenta também algumas diferenças importantes, de entre as quais ressaltam a existência de sedimentos lodosos a pequenas profundidades e a de sedimentos com fracção cascalhenta importante a profundidade e distância à costa maiores que as verificadas a Sul deste paralelo. O reconhecimento dos depósitos sedi­mentares da plataforma galega, a norte, seria neces­rio para completo esclarecimento das razões desta situação.

3.1. -Areias Iltorais

. Estes "depósitos, :situados -junto - ao - iitoral: pro­longam-se em média até aos 40 metros de profundi-

186

DESVIO PADRÃO ( .. )

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Fig. 7 - Mapa da distribuição dos va~ores do desvio padrão da areia.

dadé e são definidos pelo seguinte conjunto de carac­terísticas: 1) As areias litorais são finas e muito finas (Fig. 6) o que se coaduna possivelmente com o tipo de areias debitado na actualidade pelo rios que aí afluem; 2) A calibração, representada pelo desvio padrão (Fig. 7), é elevada, apresentando geralmente a< 0,50, o que se ajusta bem a um tipo de transporte actual por deriva litoral; 3) A assime­metria (Fig. 8), é geralmente negativa, tornando-se nula a maior profundidade, perto do contacto com os depósitos cascalhentos, o que se ajusta com o actual transporte litoral; 4) As amostras referentes a estas areias são na maioria unimodais (Fig. 9), evidenciando pouca ou nenhuma mistura; 5) A composição da areia é essencialmente terrígena (Figs. 2 e 10) devido ao actual influxo de materiais do continente que dilui a componente biogénica no sedimento; 6) Os grãos de quartzo apresentam geralmente superfícies bastante límpidas e brilhantes, são sub-angulosos a sub-rolados, não apresentando indícios de terem sido sujeitos a mais de um Ciclo sedimentar; 7) A mica é ocasionalmente abundante junto ao litoral, principalménte na região nordeste da plataforma onde os gra:nitos e rochas metamórfi­cas se estendem até à costaprolongatido-se para a plataforma (Fig. 10 e J2). Apresenta-se em palhetas pouco alteradas que; nalgumas amostras, chegam a ter frequência elevada mesmo nas fracções mais gros­seiras (0<1> a 1<1> e -i<l> a 0<1»revelando, às vezes, espes­sura -considerável, -o qUe indica origem bastante próxima; 8) Nalgumas amostras, especialmente as provenientes da região nordeste da plataforma, veri­fica-se _ a _ presença de feldspatos na fracção arenosa, ás vezes em grãos poliminerálicos; 9):A compo-

ASSIM[TRIAI-S)

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80<,·0 mm o<'J< o

D 201m L---J

Fig. 8 - Mapa da distribuição dos valores da assimetria da areia.

nente biogénica da areia, muito reduzida, é predomi­nantemente constituída por conchas de moluscos; quer inteiras quer fragmentadas" frequentemente com a camada nacarada interior nitidamente visível, parecendo, pelo aspecto das suas superfícies, serem de origem actual. Todos estes factos legitimam a con­clusão de que estas areias litorais são recentes, pros­seguindo actualmente a sua deposição, constituindo extensa mas estreita faixa que vai geralmente até cerca de 40 m de profundidade.

3.2. - Depósitos cascalhentos

Estes depósitos, localizados a maior distância da costa que os anteriores, a profundidades que osci­lam, geralmente, entre os 40 m e os 80 m, possuem percentagens de cascalho terrígeno em geral Supe­riores a 10 % da amostra, não sendo raras as amos,,: tras em que tal percentagem excede os 50 % (Fig. 3). A areia destes depósitos é grosseira (M <O<p), mode­radamente bem calibrada (0,50 <0'< 0,80) sendo a assimetria positiva (OC5 >0) (Fig. 6-8). Todavia, o ca­rácter predominantemente quartzos o, bem como as outras características composicionais, conferem-lhes certa semelhança com as areias litorais atrás descri­tas sendo a diferença mais evidente a ocorrência de elevadas percentagens de cascalho.

A análise destas areias à lupa binocular revelou que os elementos constitutivos das fracções mais grosseiras (-1<p a O<P e O<P a 1<P) são bastante diferen­tes dos elementos similares das areias litorais. Verifi­cou~se que: 1) Os grãos de quartzo apresentam-se sub-rolados, não brilhantes, com aspecto «sujo»,

MODALIDADE DE AREIA

~ Uailllodal

~ Blmodal

1IIIIIIII Plurimodal

Fig. 9 - Distribuição dos sedimentos caracterizados pela existência de uma, duas e três ou mais inodasgranulométricas na areia.

d,e cor amarela4a ou, amarelo-alaranjado possivel: meÍlú~ devido à existência de óxidos de ferro,o que sugere terem sido estas partículas sujeitas a mais de um ciéIo sêdimentar; 2) Os, bioclastos, predo­minantementé constituídos por framentos de conchas de moluscos, apresentam-se muito corroídos, frequen­temente sub-rolados a rolados, tomando, não raro, aspecto terroso; 3) Foi constatada a existência, nestes sedimentos, de agregados do tipo usualmente conhecido sob a designação de «beach-rock».

Como a plataforma continental, nesta zona, não apresenta rupturas de pendor muito marcadas, e atendendo às características climatológicas e oceano­gráficas actuais da região, a presença destesdepó­sitos grosseiros, situados a profundidade mais, ele,. vada e maior distância à costa que os sedimentos finos das areias litorais, às quais se sucedem,consti­tui facto anómalo. Estas anomalias em relação ao regime actual são, no entanto, compreensíveis se considerarmos estes depósitos como não actuais~

K. EMERY (1968, p. 458), no mapa de distribuição mundial dos sedimentos relíquia nas plataformas con­tinentais, assinala a existência de sedimentos relíquia nesta zona da plataforma portuguesa. Efectivamente, o cOnjunto de características atrás apontado permite classificar estes sedimentos como «relíquias» segundo o critério de K. EMERY (1968).

Ao bservação das fracções mais finas da areia (2<P a 3<Pe 3<p a4<p), presentes sempre em percentagens muito reduzidas, revelam, no entanto, carácterísti-' cas substancialmente diferentes das anteriormente descritas para as fracçõesgrosseiràs e muito seme­lhantes às observadas nas areias litorais. Assim,

187

~Outro.l.r'ig.nol BIOGENICOS

~"OIU"O.

~ Outrol blog'n1ees AUTIGENICOS

~G .. uc:onil.

Fig. 10-Mapa da distribuição das componentes domi­nantes da areia.

entre os 2<1> e os 4<1>, os grãos de quartzo são geral­mente límpidos, hialinos, brilhantes e sub-angulosos a sub-rolados. Os fragmentos biogénicos, se bem que continuem a mostrar nítida subordinação à fracção quartzosa, estão bem conservados e evidenciam maior diversidade. Não são raras as conchas de moluscos inteiras ou quase inteiras, ainda com o interior nacarado bem conservado. Estas caracte­rísticas encontram-se em oposição com as o bser­vadas nas fracções mais grosseiras e sugerem que as fracções finas (2<1> a 4<1» destes depósitos pertencem a sedimentos recentes.

A análise à lupa binocular da fracção intermédia (1<1> a 2<1» revelou existir mistura dos dois tipos atrás descritos, sendo às vezes dominantes as caracterís­ticas das fracções mais grosseiras (relíquias), outras as das fracções mais finas (recentes).

3.3. - Depósitos da plataforma exterior

A ocidente de uma linha que segue, «grosso modo», a bati métrica dos 100 metros, as areias são dominadas pela componente biogénica (Fig. lO e 13). Trata-se de areias médias e finas (1<1><M<3<1», com calibração variável, e assimetria geralmente negativa (Fig. 4). A areia revela, por via de regra, plurimodalidade (Fig. 9). A glauconite aparece de modo sistemático nas amostras estudadas embora, regra geral, não ultrapasse os 5 % da areia (Fig. 14). As carapaças de foraminíferos constituem, na grande maioria das amostras, a componente dominante da areia (Fig. 6-8). O quartzo não aparece senão como

188

0/0 M QUARTZO NA AREIA

~<2IJS

~ Entre 50"' • 75"

• ••

Fig. 11 - Mapa da distribuição do quartzo existente na areia.

componente acessória, frequentemente com percen­tagens bastante inferiores a 25 % da areia e predomi­nantemente nas fracções mais finas. As fracções gra­nulo métricas maiores (-1 <1> a 0<1> e 0<1> a 1 <1» são geral­mente dominadas por fragmentos de conchas de moluscos, frequentemente corroídas e desgastadas.

A morfoscopia dos grãos e a composição das amostras provenientes destes depósitos conduz-nos, aplicando os mesmos critérios que utilizámos para os depósitos antes referidos, à conclusão de que são sedimentos mistos de recente e relíquia. Em algumas amostras, a abundância de partículas presumivel­mente antigas é tal, que podem considerar-se como sedimentos relíquia. Noutras amostras, as partículas com aspecto antigo são tão raras que podem ser con­sideradas como recentes. Como vimos atrás, a oriente dos depósitos cascalhentos, a sedimentação terrígena recente modifica os sedimentos no sentido de lhes conferir caract.erísticas mais modernas, obliterando as características iniciais dos depósitos. Nos depó­sitos da plataforma exterior, a ocidente dos depósi­tos cascalhentos, constata-se modificação análoga, embora muito menos nítida, provocada neste caso pela deposição de elementos bioclásticos, essencial­mente de carapaças de foraminíferos.

3.4. - Depósitos do bordo da plataforma

No bordo da plataforma e na vertente continen­tal superior verifica-se a existência de manchas de sedimentos constituídos por areias muito finas (M > 3<1» e geralmente bem calibradas (Fig. 6 e 7).

O/o DE MICA NA AREIA

, . • ~ Entre 0.5.5'1.

II1II Entre 5". 201.

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Fig. 12 - Mapa da distribuição da mica existente na areia.

A componente biogénica da areia continua a ser importante, sendo constituida essencialmente por carapaças de foraminiferos. Todavia, a compo­nente dominante da areia é frequentemente formada por quartzo, o qual se apresenta brilhante e anguloso a sub-anguloso. A percentagem de ocorrência de glauconite decai para valores que permitem consi­derá-la como vestigial ou mesmo ausente (Fig. 14). A mancha de sedimentos deste tipo com maior exten­são foi detectada ao largo do Cabo Mondego.

As caracteristicas morfoscópicas dos elementos das amostras provenientes destes depósitos sugerem tratar-se de sedimentos recentes, mas o escasso número de amostras colhidas impossibilita melhor caracterização.

4. - DISTRIBUIÇÃO DO QUARTZO, MICA E GLAUCONITE

4.1. - Quartzo

Facto digno de realce e aparentemente contradi­tório é a baixa percentagem de quartzo na plata­forma interior da zona setentrional (Fig. 11). A abun­dância de mica explicaria, só por si, o decréscimo de quartzo, visto que os dados são do tipo percentagens relativas. Acresce ainda que, devido à agitação aquando da peneiração, a mica tem tendência a desa­gregar-se em palhetas, aparecendo sobrevalorizada nas contagens.

Na restante plataforma, a percentagem de quartzo parece estar relacionada com os locais de desembo­cadura dos rios que drenam regiões graníticas, pare-

O/o DE BlOCLASTOS NA AREIA

~":10"

E3 Entre 10,. e 50"

~ Entre SO". 9o"

Fig. 13 - Mapa da distribuição da componente bioclástica da areia

cendo poder concluir-se que a extensão e coalescên­cia das manchas reflecte o acentuado transporte principalmente por deriva litoral. Na parte seten­trional da região, a abundância de mica dilui, como se disse atrás, o valor das percentagens de quartzo. A forma da mancha representativa da abundância de quartzo maior ou igual a 75 % da areia será devida às variações relativas do quartzo e dos outros terri­genos, traduzindo diferenças de maturidade do sedi­mento relacionadas com a proximidade das fontes e a intensidade do transporte.

4.2.-Mica

A abundância de mica na areia parece estar rela­cionada com a natureza e proximidade do soco antigo e as desembocaduras dos rios que efectuam a respectiva drenagem directamente para a plata­forma (Fig. 12).

As maiores frequências detectaram-se junto à costa, a norte do paralelo 41°, região onde o soco poli metamórfico e eruptivo se prolonga para a pla­taforma continental. Voltam-se a encontrar altas percentagens de mica relacionadas com a foz do Mondego, rio que efectua a drenagem dos granitos da serra da Estrela.

Pelas dimensões e aspecto de alteração que apre­sentam, as micas dos depósitos litorais do norte revelam origem mais próxima que as do sul. A quase ausência de mica ao largo de Aveiro poderá estar relacionada com o. facto de haver retenção pela laguna onde vai desembocar o rio Vouga.

189

0/0 OE GlAUCOi\llTE NA AREIA

~Entre1'l •• 5'"

R .. ,o.

Fig. 14 - Mapa da distribuição da glauconiteexistente na areia.

4.3. - Glauconite

A glauconite não aparece na faixa costeira até perto da bati métrica dos 100 m (Fig. 14), mas é rela­tivamente abundante abaixo desta profundidade, che­gando mesmo a constituir a componente dominante da areia. As maiores percentagens de glauconite pare­cem estar associadas a altas frequências de cara­paças de foraminíferos, embora a afirmação inversa nem sempre seja válida. Esta associação tem sido frequentemente citada (por exemplo, em VAN ANDEL & POSTMA, 1954; EMERY, 1960; EHLMANN et aI., 1963 e McRAE, 1972), verificando ainda estes autores que os sedimentos em que ocorre a glauconite têm ten­dência a ser bem calibrados, facto este que também se verifica na região estudada.

Observámos grãos de todos os tipos descritos por D. TRIPLEHORN (1966), sendo mais frequentes os moldes internos e os grãos esferoidais e ovaloides, parecendo os primeiros ser mais abundantes a maio­res profundidades. Tivemos oportunidade de obser­var vários estádios de transição que vão desde cara­paças de foraminíferos com pequenos indícios de glauconitização até moldes internos de foraminíferos constituídos exclusivamente por glauconite. Segundo S. McRAE (1972), as conchas de micro-organismos constituiriam micro-ambientes propícios à transfor­mação mineralógica que culminaria na glauconite. A matéria orgânica aí em decomposição provocaria as condições de oxi-redução necessárias à formação deste mineral autigénico (CLOUD, 1965).

As fracções com maior percentagem de glauconite são as de 1 <I> a 2<1> e de 2<1> a 3<1>, chegando nalguns

190

casos a atingir 80 % da fracção, como acontece no bordo da plataforma frente a Aveiro e junto ao bordo Norte do canhão da Nazaré. As fracções com maior abundância de glauconite condizem com o que tem sido observado noutras plataformas, em que as dimensões mais frequentes oscilam entre 100 !Lm (~ 3<1» e 500!Lm (1<1» (WILLIAM et aI., 1954; MERo, 1965; McRAE, 1972). Todavia, nalguns casos raros, especialmente quando a glauconite constitui a componente principal da areia, estes grãos chegam a ter frequência superior a 10 % da fracção -1 a 0<1>. Nestas fracções grosseiras encontram-se, com fre­quência, pequenas pontuações verdes, com aspecto de glauconite, em fragmentos de conchas de bivalves desgastados e corroídos.

Nos moldes e enchimentos de foraminíferos, a cor da glauconite é verde azeitona, verde claro e às vezes acastanhada. Nos grãos ovaloides e lobados a cor tem tendência a ser mais escura, às vezes, quase negra. Esta associação preferencial das tonalidades com certos tipos morfológicos da glauconite tem sido referida em várias plataformas, nomeadamente na plataforma portuguesa ao largo de Sines (MOITA, 1971) e ao largo da Península de Setúbal (MONTEIRO & MOITA, 1971). Detectámos, todavia, bastantes excepções, tendo observado até que alguns grãos mais claros possuem zonas mais escuras. A. EHL­MANN et aI. (1963) atribuem essa cor mais escura dos grãos à oxidação do ião ferroso.

As profundidades em que a glauconite aparece de forma significativa nas amostras estão dentro da ordem de 'grandeza estimada para a sua formação, a qual varia, segundo vários autores (nomeadamente POR­RENGA, 1967 e McRAE, 1972) entre 30 e 700 metros.

A formação da glauconite é favorecida por taxas de sedimentação pequenas ou até negativas. Tais condições, juntamente com outras condições favo­sáveis, podem ser encontradas durante transgres­sões marinhas (RECH-FRoLLO, 1963; McRAE, 1972). Este facto explica a razão porque a glauconite ocorre frequentemente em relação com sedimentos não modernos, anteriores à subida do nível do mar que se verificou após a última glaciação (ALLEN, 1965; CLARKE, 1969). Tal facto é também verificável na região estudada. Efectivamente, a ocorrência de glauconite verifica-se aqui em relação com os sedi­mentos com características relíquia atrás descritos.

5. - DISCUSSÃO

5.1. - Sedimentos modernos versus sedimentos relíquia

Os efeitos, nas plataformas continentais, das flutuações do nível do mar no Quaternário têm sido reconhecidos . pelo estudo dos sedimentos, tendo F. SHEPARD (1932) posto em evidência a importância dos sedimentos relíquias como testemunhos de níveis do mar mais baixos que os actuais, devido às glacia­ções. Todavia, quando se aplica o termo «relíquia», deve-se fazê-lo com prudência porquanto o signi­ficado da palavra varia segundo os autores. Para K. EMERY (1952) os sedimentos relíquia são «rem­nant from an earlier environment», identificando este conceito, mais tarde (EMERY, 1968) com deter­minado conjunto de características texturais e compo­sicionais do sedimento. Aos sedimentos relíquia opor-se-iam sedimentos modernos ou em equilíbrio, os quais são os que são transportados actualmente

para a bacia de deposição (CURRAY, 1965). D. SWIFT et aI. (1971) propõem a introdução do con,?eito de «sedimento palimpsesto», aplicável a sedImentos retrabalhados. Segundo estes autores, os sedimentos palimpsestos teriam características petrográficas de dois ambientes sedimentares, um mais antigo e outro mais moderno. Assim, «sedimento relíquia» poder-se-ia aplicar, com sentido genético, a sedimentos remanes­centes de ambientes anteriores, enquanto «sedimento palimpsesto» seria o termo descritivo conveniente para os sedimentos relíquia posteriormente retrabalhados. Ainda segundo os autores citados, são possíveis todos os estádios intermédios desde os relíquias puros, pas­sando pelos palimpsestos até aos sedimentos moder­nos autóctones nos quais não teriam sido preservados quaisquer atributos petrográficos ou fisiográficos imputáveis a ambiente sedimentar anterior.

Outro conceito de sedimento relíquia foi introdu­zido por J. CURRAY (1975), sob a designação de «sedimento em pseudo-equilíbrio». Estes sedimentos seriam relíquias que foram de tal modo modificados pelos processos ambientais actuais que ficaram em equilíbrio com esses processos, embora os depósitos possam não ser constituídos por material deposi­tado actualmente.

O conceito de sedimento relíquia foi discutido também por R. BELDERSON et aI. (1971), que propõem o seu abandono argumentando que este termo não põe em evidência o aspecto dinâmico que é, segundo estes autores, o aspecto mais importante da sedimen­tação recente nas plataformas continentais.

D. MeMANUS (1975) tenta sistematizar a classi­ficação dos sedimentos assentando os seus conceitos em bases essencialmente dinâmicas. Entra, este autor, em linha de conta, com dois grupos de pro­cessos sedimentares: a) processos envolvidos no fornecimento de materiais para a bacia de deposição; b) processos de distribuição das partículas nas bacias. A interrelação destes processos é utilizada na definição dos conceitos que permitem classificar os diferentes tipos de sedimentos, abrangendo este termo não só as partículas mas também os depósitos sedimentares por elas formados. Assim, sedimentos «neotéricos» são depósitos modernos constituídos por partículas que estão presentemente a ser forne­cidas à bacia. Sedimentos <<protéricos» são depósitos modernos constituídos por partículas que chegaram à bacia de deposição antes do presente. Sedimentos «anfotéricos» são depósitos modernos constituídos não só por partículas que estão presentemente a che­gar à bacia de deposição, mas também por outras que para aí foram transportadas anteriormente. Os sedimentos <<palimpsestos» constituem depósito relí­quia contendo principalmente partículas anterior­mente chegadas à bacia de deposição, incluindo também algumas partículas para aí transportadas actualmente. Finalmente, considera D. MeManus um quinto tipo, o de sedimento «relíquia», o qual é um depósito não contaminado por partículas recentes.

A sistematização efectuada por D. MeMANUS (1975) parece-nos ser a mais indicada, atendendo ao actual grau de conhecimento dos processos sedimen­tares das plataformas, porque assenta numa base dinâmica e envolve os processos sedimentares fun­damentais: os implicados no fornecimento de par­tículas, em que forçosamente há que incluir todo o processo desde a erosão aos diferentes tipos de trans­porte; e os de distribuição das partículas, que envol­vem quer a deposição propriamente dita, quer o

DISTRIBUIÇÃO DOS SEDIMENTOS MODERNOS I RELÍQUIAS

(SqamcbullTucIIHIttIüliUS)

§

mm -Naotérlcol

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Fig. 15 - Mapa da distribuição dos sedimentos, de acordo com a classificação de D. MACMANUS (1975).

retrabalhamento dos depósitos que conduz a novos transportes e deposições.

De acordo com a terminologia de D. MeMANUS (1975), os sedimentos da plataforma continental portuguesa atrás descritos como «cascalhentos», podem ser denominados, de um modo geral, por «palimpsestos». No entanto, verifica-se existir certa variação nas características destes sedimentos. Nal­gumas amostras, as partículas mais finas (2<1> a 4<1», modernas, são praticamente inexistentes, podendo-se considerar o sedimento como relíquia. Outras amos­tras revelam a existência de grande quantidade de material depositado recentemente, correspondendo na classificação de D. Me MANUS (1975), a sedimentos anfotéricos. Noutros casos ainda, como acontece nalgumas amostras colhidas mais perto da costa, o sedimento é quase totalmente constituído por partículas recentes, embora se verifique existirem, nas fracções mais grosseiras, algumas partículas com características de' relíquia. Estes sedimentos podem ser denominados já por neotéricos. Em re­sumo, a amostragem colhida nos sedimentos des­critos como «cascalhentos» revela existência de depó­sito constituído em anterior ciclo sedimentar, o qual foi em grande parte modificado pela introdução de material mais recente, constituíndo actualmente uma faixa de sedimentos palimpsestos, os quais, prin­cipalmente nas zonas mais perto do litoral, evoluem, mercê da deposição de materiais modernos, para sedimentos neotéricos enquadráveis nos depó­sitos que denominámos por areias litorais. No mapa da Fig. 15 tentou-se representar a distribuição dos sedimentos de acordo com a classificação de D.

191

McMANUS (1975). Como se pode observar, aos sedi­mentos neotéricos descritos como «areias litorais» sucedem-se sedimentos anfotéricos que passam, a ocidente, a palimpsestos, que correspondem aos depósitos descritos como «cascalhentos».

5.2. - Sedimentação holocénica

Durante os episódios glaciários, o nível do mar baixou possivelmente até cerca de -130 metros abaixo do nível actual. Nesses períodos, pelo menos a parte superior da plataforma continental sofreu exposição subaérea, sendo os sedimentos debitados para a plataforma por sistema fluvial diferente do que se conhece actualmente. Por exemplo, a análise batimétrica detalhada revela que os canhões subma­rinos de Aveiro e do Porto estão possivelmente rela­cionados respectivamente com os rios Vouga e Ave. Os efeitos da transgressão subsequente obliteraram, em grande parte, os vestígios deste sistema de drena­gem. Os «depósitos cascalhentos», ter-se-iam for­mado em período em que o nível do mar se encon­trava abaixo do actual, correspondendo então, pelo menos parcialmente, a depósitos litorais. Nesta altura, a competência dos rios era, provavelmente, bastante maior, pois que o nível base estava muito abaixo do actual. Consequentemente, a esse maior potencial erosivo e transportador corresponderiam depósitos fluviais e fluvio-marinhos mais grosseiros que os que hoje se constituem. Os depósitos litorais formados por remobilização dos sedimentos pela ondulação, apresentavam, portanto, médias granulo­métricas em geral superiores aos que as praias actuais revelam. Ter-se-iam assim constituído depósitos lito­rais de areias grosseiras e cascalhos, com composição essencialmente terrígena, actualmente representados na plataforma pelos sedimentos palimpsestos des­critos como «depósitos cascalhentos», os quais se distribuem entre os 40 m e os 100 m de profundidade, com maior incidência entre os 40 m e os 60 m de profundidade.

Estes depósitos ter-se-iam formado entre 12000 e 10000 anos antes do presente. Os eventos deste período bastante significativo na história da trans­gressão holocénica tiveram repercursões nas plata­formas continentais que parecem correlacionar-se bem com os vestígios das glaciações tanto na Amé­rica do Norte como na Europa. Os dados texturais e mineralógicos dos sedimentos, bem como a análise da morfologia de algumas plataformas, sugerem que o nível do mar, no início deste período, subiu para 40 m a 45 m abaixo do nível actual, tendo depois baixado para cerca de 63 m (CURRA Y, 1960). O nível de -40 m a -45 m correlaciona-se aproximadamente com os episódios de Aller<I>d e Two Creeks, da Amé­rica do Norte, que se verificaram entre 11 000 e 12000 anos antes do presente (CURRAY, op. cit.). É precisamente a profundidades entre os 40 m e os 60 m, análogas às referidas acima, que foi recolhida, na plataforma estudada, a maior parte das amostras que evidenciam características de relíquia e palimp­sestos. A existência de sedimentos deste tipo, na pla­taforma portuguesa evidencia, possivelmente, a mudança climática generalizada, e o abaixamento do nível das águas que se seguiu à permanência do mar no nível dos -40 m a qual corresponde ao avanço dos glaciares da Fennoscandia, na Europa (EMILIA­NJ, 1955) e de Mankato, na América do Norte (ROR­BERG, 1955). Segundo J. CURRAY (1960) verificou-se

192

também, nesta altura, mudança de regime de ventos e correntes no Golfo do México. M. EWING & W. DONN (1956, 1958) defendem que o oceano Ártico estaria então gelado o que teria afectado a circulação oceâ­nica no Nordeste Atlântico. J. THIEDE (1977) indica aumento de percentagem de sedimentos terrígenos grosseiros em testemunhos de sondagens efectua­das na vertente e rampa continentais Ibero-Marro­quina, na parte mais antiga do «andar I» que se iniciou há 11 000 anos. Tal facto confirma a exis­tência de período de maior transporte do conti­nente para a bacia oceânica e consequentemente para a vertente e plataforma continentais. As varia­ções climáticas referidas podem também estar rela­cionadas com a pequena percentagem de bioclastos nos palimpsestos estudados. Refere-se, a este propó­sito, que os testemunhos da vertente da zona Ibero­-Marroquina, estudados por J. THIEDE (1977) revelam também depressões dos valores de CaC05 há 11 000 anos.

Segundo J. CURRAY (1960), verificou-se há 10000 anos o início de subida rápida do nível do mar acompanhada de aquecimento generalizado das águas superficiais dos oceanos e do clima dos conti­nentes, sendo o regime de ventos e correntes análogo ao actual. A rapidez desta subida do nível do mar teria permitido apenas pequenas modificações nos «depósitos cascalhentos». É possível que as fracções mais finas destes sedimentos tenham sido erodidas nesta altura. Ao mesmo tempo, ter-se-ia verificado o assoreamento continuado da parte terminal dos rios, devido à menor competência das águas atribuí­vel à subida do nível de base. É possível que parte desse assoreamento tenha sido provocado pela depo­sição de materiais finos provenientes da plataforma. Atribuímos também a este período de assoreamento parte das manchas de sedimentos mais finos e micá­ce os que retalham os «depósitos cascalhentos» ao largo da desembocadura actual de alguns rios.

Não encontrámos indícios das pequenas oscila­ções do nível do mar que se teriam verificado quando este estava já perto do actual, variações essas que têm sido apontadas por vários autores (F AIRBRIDGE, 1961, GUILCHER, 1969), talvez porque a amostra­gem que estudámos não permite descriminação suficiente.

5.3. - Sedimentação actual

As areias dos sedimentos que actualmente são transportadas pelos rios até ao mar, depositam-se, preferencialmente, junto à costa, constituindo as praias e os extensos cordões litorais da região e os depósitos que denominámos por areias litorais. Em virtude da direcção da ondulação mais frequente, estes sedimentos sofrem movimento generalizado em direcção ao sul. Estes depósitos encontram-se em equilíbrio dinâmico, frequentemente precário, como o provam as conhecidas erosões verificadas com certa frequência nalgumas praias da região. Parte impor­tante destas massas sedimentares terminam o seu trajecto litoral junto à Nazaré, sendo drenadas para fora da plataforma pelo canhão submarino do mesmo nome. Outra parte, transportada em determinada altura do seu trajecto litoral para maiores profundi­dades, acaba por se integrar em depósitos mais antigos da cobertura sedimentar da plataforma, contribuindo para a evolução dos sedimentos palimp­sestos e anfotéricos. Efectivamente, o regime de ondu-

lação que atinge esta reglao da costa portuguesa possui características tais que lhe permitem, ocasio­nalmente, provocar a remobilização dos sedimentos até grandes profundidades da plataforma. P. KOMAR & M. MILLER (1975a) mostraram que não são neces­sárias condições excepcionais de ondulação para produzir movimento de sedimentos localizados a profundidades da ordem dos 125 m. Ondulação com período de 15 segundos e altura de 6 m, por exemplo, provocará mobilização de areia média a 125 m, de areia fina até aos 135 m, de areia muito fina até perto dos 150 m e de silte grosseiro até mais de 160 m de profundidade. Estas observações permitem-nos pensar que, esporadicamente, sedimentos distribui­dos por toda a gama de profundidades da nossa plataforma serão remobilizados. Aliás, já J. CURRAY (1960) sugeria o mesmo para a plataforma do Texas sob a acção dos furacões, tendo L. DRAPER (1967) indicado também que, a Oeste da Grã-Bretanha, a acção da ondulação seria suficientemente intensa para provocar a mobilização da areia fina durante mais de 20 % do ano. I. MCCAVE (1971) demons­trou ainda que a distribuição dos sedimentos dos mares do Norte e Céltico é condicionada pela ondu­lação.

Como atrás se referiu, os períodos mais frequentes da ondulação que chega à nossa costa, oscilam entre 9 e 11 segundos, sendo o escalão de altura significa­tiva mais frequente o de 1 a 2 metros. Regista-se, ocasionalmente, ondulação de período superior a 20 segundos e no que se refere à altura da onda, esta ultrapassa esporadicamente os 6 m, chegando-se mesmo a falar de ondas de 12 m.

Pode concluir-se, portanto, que se regista fre­quentemente, na plataforma portuguesa, ondula­ção capaz de remobilizar as fracções finas dos palimp­sestos. Após as particulas terem entrado em movi­mento devido à acção da ondulação, podem ser transportadas por correntes unidireccionais, mesmo que a magnitude destas seja incapaz de provocar a entrada em movimento das particulas. Segundo P. KOMAR & M. MILLER (1975 b), este tipo de trans­porte é, provavelmente, o mais importante nas pla­taformas continentais. A resultante do transporte será ainda condicionada pela componente gravi­tica, a qual provocará desvios dos grãos para pro­fundidades maiores. As particulas acabam por sedi­mentar, após transporte intermitente, nos sedimen­tos anfotéricos situados a Oeste. Ai poderão ser ainda, esporadicamente, remobilizadas e transportadas para o bordo da plataforma e vertente continental superior.

O desconhecimento das correntes junto ao fundo e o pequeno número de amostras colhidas nas zonas onde menos se faz sentir a acção da ondulação, difi­cultam a interpretação das caracteristicas das areias do bordo da plataforma. No entanto, as suas características texturais e composicionais levam-nos a supor que formam prismas progradantes que teriam resultado do transporte actual de areias muito finas a partir das areias da plataforma exterior.

6. - CONCLUSÕES

Identificaram-se, na reglao abrangida pelo pre­sente trabalho, quatro tipos de depósitos principais: areias litorais, depósitos cascalhentos, depósitos da plataforma exterior e depósitos do bordo da pla­taforma.

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As «areias litorais», que se dispõem junto à costa até cerca de 40 m de profundidade, são sedi­mentos neotéricos segundo a classificação de D. McMANUS (1975), sendo caracterizadas, em geral, por areias finas e muito finas, (Fig. 6), com boa cali­bração (Fig. 7), unimodais (Fig. 9), com compo­sição essencialmente terrígena (Fig. 2) em que a componente dominante é o quartzo (Figs. 10 e 11). Os grãos de quartzo apresentam superficies limpidas e brilhantes, e são sub-angulosos a sub-rolados. A presença de mica constitui outra característica destes sedimentos, a qual por vezes ocorre em per­centagens superiores a 20 % da areia (Fig. 12).

Os «depósitos cascalhentos» caracterizam-se essencialmente por elevadas percentagens de casca­lho, o qual, não raro, atinge mais de 50 % da amostra (Figs. 2 e 3). Consideramos estes sedimentos grosseiros como palimpsestos. A análise à lupa binocular revelou que as fracções granulo métricas -1<11 a 0<11 e 0<11 a 1<11 são constituidas predominantemente por grãos que parecem ter sido sujeitos a ciclo sedimentar anterior pois que as conchas de moluscos estão fragmentadas, muito corroidas, frequentemente roladas, às vezes com aspecto superficial terroso e os grãos de quartzo sub-rolados a rolados, não brilhantes, com aspecto «sujo» de cor amarelada ou amarelo-alaranjada devido possivelmente à existência de óxidos de ferro. Todavia, a análise das fracções 2<11 a 3<11 e 3<11 a 4<11, constituindo, por via de regra, as fracções menos abundantes, frequentemente com percenta­gens inferiores a 5 % da areia total, revelou que as particulas 'destas dimensões são análogas às dos sedimentos neotéricos descritos como «areias lito­rais». Consideramos que estes «depósitos casca­lhentos» se constituiram em anterior ciclo sedimen­tar, e continuam a ser modificados pela introdução de material mais recente. A areia destes depósitos é geralmente grosseira, moderadamente calibrada, bimodal ou plurimodal, com composição essencial­mente quartzosa (Figs. 6, 7, 9 e 11).

Os «depósitos da plataforma exterior» são cons­tituidos, em geral, por areias finas e médias (Fig. 6), plurimodais e bimodais (Fig. 9). A composição destas areias é essencialmente bioclástica, consti­tuindo frequentemente as carapaças de foramini­feros a componente dominante da areia (Figs. 10 e 13). Outra característica importante destes depósi­tos é a presença sistemática de glauconite (Fig. 14) a qual, no entanto, não ultrapassa geralmente os 5 % da areia, embora nalguns pontos ocorra em percen­tagens bastante superiores. Estes sedimentos fo~am considerados como sedimentos «anfotéricos».

Os «depósitos do bordo da plataforma» e ver­tente continental superior são constituidos por areias muito finas (Fig. 6) e bem calibradas (Fig. 7), em que a componente dominante é o quartzo (Figs. 10 e 11), o qual se apresenta geralmente em parti­culas brilhantes e sub-angulosas a sub-roladas. Con­siderámos estes sedimentos como «neotéricos», loca­lizando-se possivelmente em zonas progardantes do bordo da plataforma.

As diferentes condições de sedimentação a que esteve sujeita a plataforma durante a transgressão flandriana deixaram vestigios nos sedimentos que hoje ai se observam. Assim, os «depósitos cascalhen­tos», que não estão em equilibrio com as condições de sedimentação actual, ter-se-iam formado após a última glaciação em que a maior competência dos lios transportou para o litoral sedimentos mais

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grosseiros. Por comparação com a curva de variação do nível do mar estabelecida por J. CURRAY (1960) para o Golfo do México, este período em que o nível do mar teria descido de -40 m para -60 m ter­-se-ia verificado entre os 11 000 e 12000 anos antes do presente. Esse abaixamento do nível do mar teria sido acompanhado por mudanças climáticas que poderão estar relacionadas com a pequena percentagem de bioclastos nestes sedimentos. A rápida transgressão subsequente permitiu que estes depósitos não fossem cobertos por sedimentos posteriores.

As areias que actualmente são debitadas pelos rios que desaguam nesta zona da plataforma portu­guesa são finas e depositam-se preferencialmente junto à costa, constituindo os sedimentos neotéricos que denominámos por «areias litorais». Em virtude da direcção da ondulação, estes sedi.mentos sofrem movimento generalizado por deriva litoral em direc­ção ao sul. A maior parte destas massas sedimentares é drenada para fora da região através do canhão submarino da Nazaré. Outra parte, transportada em determinada altura do seu trajecto litoral para maiores profundidades, acaba por se integrar em depósitos mais antigos da cobertura sedimentar da plataforma, contribuindo para a transformação dos sedimentos palimpsestos e anfotéricos aí existentes (depósitos cascalhentos e depósitos da plataforma exterior).

O regime de ondulação que atinge esta região possui características tais que lhe permitem, ocasio­nalmente, provocar a remobilização das partículas sedimentares até grandes profundidades. Devido a tal facto, podemos concluir que, esporadicamente, sedimentos finos distribuídos por toda a gama de profundidades da plataforma portuguesa são remo­bilizados e transportados, possivelmente para maiores profundidades, verificando-se, mercê de transporte selectivo, que as partículas maiores têm tendência a permanecer na parte central da plataforma. Explica­-se, deste modo, que as partículas granulometrica­mente maiores (cascalho e areia entre -1<1> e 1<1» apresentem frequentemente características de «relí­quias» e que as partículas mais finas (2<1> a 4<1» tenham em geral aspecto de «recentes».

7. - AGRADECIMENTOS

Os autores expressam os seus agradecimentos ao Comandante Beça Gil e ao Comandante Beça Pacheco e às guarnições do navio «N. R. P. Almeida Carvalho» pelo inexcedivel apoio que nos pres­taram durante a realização dos cruzeiros.

A todo pessoal técnico que participou nos cruzeiros, L. Simões Lima (Universidade de Coimbra), J. Santos Dinis (Universidade do Porto), F. Santos (Instituto Hidrográfico), A. Silva, A. Correia, E. Schliman e J. F. Soares (estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa) e J. Moreira (Serviços Geológicos de Portugal), agrade­cemos a colaboração e trabalho minucioso durante os quartos a bordo. Pela muita dedicação que revelou no decorrer do processa­mento laboratorial da amostragem, agradecemos ainda a Rosa Lourenço, do Laboratório de Geologia Marinha dos Serviços Geológicos de Portugal.

Ao Instituto Hidrográfico agradecemos as facilidades de uti­lização do navio e ao Centro de Cálculo do Instituto Gulbenkian de Ciência, agradecemos as facilidades de utilização do seu ordena­dor. Os autores agradecem também à J. N. I. C. T. o apoio finan­ceiro dado para o desenvolvimento do sistema automatizado de dados sedimentológicos (Contrato de Investigação n.O 36.78.109).

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