118
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA FLORESTAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA COMUNIDADE VEGETAL EM UMA ÁREA DE CAATINGA EM SERRATALHADA-PE SÉFORA GIL GOMES DE FARIAS RECIFE PERNAMBUCO BRASIL 2013

Séfora+Gil+Gomes+de+Farias

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trab ecologia

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  • MINISTRIO DA EDUCAO

    UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    DEPARTAMENTO DE CINCIA FLORESTAL PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS FLORESTAIS

    ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA COMUNIDADE VEGETAL EM UMA REA

    DE CAATINGA EM SERRATALHADA-PE

    SFORA GIL GOMES DE FARIAS

    RECIFE PERNAMBUCO BRASIL

    2013

  • SFORA GIL GOMES DE FARIAS

    ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA COMUNIDADE VEGETAL EM UMA REA

    DE CAATINGA EM SERRATALHADA-PE

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Florestais da Universidade Federal Rural de Pernambuco, como requisito para a obteno do titulo de Doutora em Cincias Florestais, rea de concentrao: Silvicultura.

    ORIENTADORA: Prof. Dr. Maria Jesus Nogueira Rodal

    CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Andr Laurnio de Melo

    RECIFE PERNAMBUCO BRASIL 2013

  • FICHA CATALOGRFICA

    F224e Farias, Sfora Gil Gomes de Estrutura e funcionamento da comunidade vegetal em uma rea de caatinga em Serra Talhada-PE / Sfora Gil Gomes de Farias. Recife, 2013. 117 f. : il. Orientadora: Maria Jesus Nogueira Rodal. Tese (Doutorado em Cincias Florestais) Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Cincia Florestal, Recife, 2013. Referncias. 1. Dinmica florestal 2. Regenerao 3. Chuva de semente I. Rodal, Maria Jesus Nogueira, orientadora II. Ttulo CDD 634.9

  • Vivemos em uma poca que poderia ser denominada de

    era da vegetao secundria. No h pas na Terra,

    salvo algumas excees, que tenha uma maior superfcie

    coberta de vegetao primria do que de vegetao

    secundria. Alm disso, existem razes para crer que

    parte da chamada vegetao primria de fato

    vegetao secundria antiga.

    (Richards, 1963)

  • Dedicatria

    Dedico esta tese a meu amado Romrio, que

    sempre esteve ao meu lado, compartilhando comigo

    todos os momentos, enfrentou todas as dificuldades e

    intempries que surgiram durante as coletas de dados

    em campo. Acima de tudo, soube com muito carinho,

    dedicao e principalmente pacincia, entender meus

    momentos de tristeza e ansiedade.

    Um sonho sonhado sozinho

    um sonho. Um sonho sonhado

    junto realidade.

    Raul Seixas.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela minha existncia e por sua presena constante em minha vida,

    guiando-me e sempre me encorajando para superar as dificuldades encontradas

    nessa caminhada.

    Aos meus pais, Ubiracy Gil de Farias e Iracema Gomes de Farias e minha

    irm Sara Gil Gomes de Farias que foram a fora matriz que me impulsionou e no

    permitiu que desistisse nos momentos de incerteza, insegurana e desnimo.

    A minha orientadora, Maria Jesus Nogueira Rodal pela confiana depositada,

    ensinamentos, apoio, amizade e pela grande contribuio na minha formao

    profissional. Ao meu co-orientador Andr Laurnio de Melo pelos ensinamentos e

    pela ajuda em campo na identificao do material botnico.

    coordenao, aos professores e funcionrios do Programa de Ps-

    Graduao em Cincias Florestais (PPGCF) pelo profissionalismo, ajuda e

    disponibilidade durante o perodo de realizao do curso e a Universidade Federal

    Rural de Pernambuco, pela oportunidade.

    Somos gratos FACEPE pelo auxlio financeiro durante parte do doutorado e

    Empresa Pernambucana de Pesquisas Agropecurias, Unidade de Serra Talhada-

    PE por disponibilizar a rea de estudo.

    A minha turma de Doutorado, pelos os bons momentos compartilhados.

    Agradeo profundamnte a Maria Amanda Menezes Silva pelo

    companheirismo e ajuda quando necessrio. Minha irmzinha querida!!

    Aos verdadeiros amigos que encontrei durante toda essa jornada, em

    especial, Poliana, Aldeni, Tatiane Menezes, Diego, Jamesson Crispim, Lamartini,

    Allyson e Francisco, pela amizade compartilhada. Aos amigos da UFPI, em especial

    Gabriela de Paula, Luanna Chcara, Joo Batista, Mrcio Costa, Francineide

    Firmino e Eleide Maia.

    Sou grata a todos aqueles que me auxiliaram nas coletas em campo.

    A todos vocs,

    MUITO OBRIGADA!!

  • SUMRIO

    Pgina

    LISTA DE FIGURAS................................................................................................

    LISTA DE TABELAS................................................................................................

    RESUMO..................................................................................................................

    ABSTRACT..............................................................................................................

    CAPTULO I: Estrutura e funcionamento da comunidade vegetal em uma rea de

    caatinga em Serra Talhada - PE: Referencial Terico.............................................

    14

    1. INTRODUO GERAL......................................................................................... 14

    2. REFERENCIAL TERICO................................................................................... 16

    2.1. Dinmica de assemblias vegetais................................................................... 16

    2.2. Fatores biticos e abiticos na organizao de comunidades ......................... 19

    2.2.1. Disponibilidade hdrica e efeitos sobre as plantas ......................................... 22

    2.2.1.1. Disponibilidade hdrica em ambientes riprios ........................................... 24

    2.3.Heterogeneidade espacial ................................................................................. 27

    3. Recursos requeridos para regenerao de plantas ............................................. 29

    3.1 Disperso de sementes...................................................................................... 31

    4. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................... 35

    CAPTULO II: Fisionomia e estrutura do componente arbustivo-arbreo e do

    componente regenerante em ambientes de vegetao de caatinga em Serra

    Talhada- PE..............................................................................................................

    46

    RESUMO ................................................................................................................. 46

    ABSTRACT .............................................................................................................. 47

    1. INTRODUO..................................................................................................... 48

    2. MATERIAL E MTODOS.................................................................................... 50

    2.1. Caracterizao fsica e localizao da rea de estudo..................................... 50

    2.2. Coleta e anlise dos dados de vegetao........................................................ 52

    2.3. Levantamento e anlise das variveis ambientais........................................... 54

    3. RESULTADOS................................................................................................... 55

    3.1. Suficincia amostral......................................................................................... 55

    3.2. Fisionomia dos componentes arbustivo-arbreo e regenerante..................... 56

    3.3.Estrutura do componente arbustivo-arbreo..................................................... 60

    3.4. Estrutura do componente regenerante ............................................................ 65

  • 3.5.Variveis ambientais e distribuio das espcies............................................. 66

    4. DISCUSSO....................................................................................................... 70

    4.1. Fisionomia dos componentes arbustivo-arbreo e regenerante..................... 70

    4.2. Variveis ambientais e estrutura das populaes............................................ 72

    5. CONSIDERAES ............................................................................................ 74

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................. 75

    CAPTULO III: Influncia de variaes de pequena escala na dinmica da

    vegetao lenhosa de caatinga...............................................................................

    81

    RESUMO ................................................................................................................ 81

    ABSTRACT ............................................................................................................ 82

    1. INTRODUO ................................................................................................... 83

    2. MATERIAL E MTODOS .................................................................................. 85

    2.1. Caracterizao fsica e localizao da rea de estudo ................................... 85

    2.2. Coleta e anlise dos dados de vegetao........................................................ 85

    2.3 Umidade do solo e precipitao ....................................................................... 87

    2.4. Amostragem e anlise dos dados de chuva de sementes .............................. 87

    3. RESULTADOS ................................................................................................... 89

    3.1. Dinmica do componente arbustivo-arbreo................................................... 89

    3.2. Dinmica do componente regenerante .......................................................... 92

    3.2.1 Influncia da precipitao e umidade do solo na dinmica do componente

    regenerante ............................................................................................................

    93

    3.3. Quantificao e composio da chuva de sementes ...................................... 98

    4. DISCUSSO .................................................................................................. 104

    4.1. Dinmica do componente arbustivo-arbreo ................................................... 104

    4.2. Dinmica do componente lenhoso regenerante .............................................. 106

    4.3 Deposio de sementes versus dinmica do componente regenerante .......... 108

    5. CONSIDERAES ........................................................................................... 110

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................. 110

    7. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 115

  • LISTA DE FIGURAS

    CAPTULO II

    FIGURA 1. Representao da localizao e altimetria da rea de estudo

    em Serra Talhada-PE. Agncia Nacional de guas.................

    Pgina 51

    FIGURA 2. Precipitao mensal durante o perodo do estudo, no

    municpio de Serra Talhada-PE. Fonte: CPTEC/INPE...............

    52 FIGURA 3. Suficincia amostral da rea de estudo para o componente

    arbustivo-arbreo dos ambientes prximo do crrego (A) e distante do crrego (B) e para o componente regenerante nos mesmos ambientes (C) e (D)........................................................

    56

    FIGURA 4. Distribuio diamtrica dos indivduos do componente

    arbustivo-arbreo nos ambientes prximo e distante do crrego da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. Colunas com * na mesma classe diamtrica diferem entre si p=0,05........................

    58

    FIGURA 5. Distribuio do nmero de indivduos do componente

    arbustivo-arbreo em classes de altura nos ambientes prximo e distante do crrego da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. Colunas com * na mesma classe de altura diferem entre si p=0,05...........................................................................................

    58

    FIGURA 6. Distribuio diamtrica dos indivduos do componente

    regenerante nos ambientes prximo e distante do crrego da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. Colunas com * na mesma classe diamtrica diferem entre si p=0,05........................

    59

    FIGURA 7. Distribuio do nmero de indivduos do componente

    regenerante em classes de altura nos ambientes prximo e distante do crrego da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. Colunas com * na mesma classe de altura diferem entre si p=0,05...........................................................................................

    60

    FIGURA 8. Diagramas de Venn com o nmero de espcies

    compartilhadas e o ndice de similaridade de Jaccard (SJ) de 80 parcelas de 10 10 m para o componente arbustivo-arbreo (A) e de 80 parcelas de 2 2 m para o componente regenerante (B) na Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. E= espcies exclusivas; C= espcies comuns entre os ambientes; N= nmero total de espcies amostradas....................................

    65

  • FIGURA 9. Diagramas de ordenao produzidos pela anlise de

    correspondncia cannica (CCA), baseados na distribuio do nmero de indivduos das espcies amostradas nos mdulos dos componentes arbustivo-arbreo (A) e regenerante (B) nos ambientes prximo e distante do crrego da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE, e sua correlao com as variveis ambientais do solo, nos dois primeiros eixos de ordenao...................................................................................

    69

    CAPTULO III FIGURA 10. Distribuio em classes de dimetros do nmero de

    indivduos vivos e mortos do componente arbustivo-arbreo dos ambientes prximo do crrego (A) e distante do crrego (B), e do componente regenerante (C) (D), nos mesmos ambientes. Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. A linha corresponde ao nmero de indivduos mortos nos diferentes tempos. Colunas com * na mesma classe diamtrica difere entre si quanto ao nmero de indivduos vivos nos diferentes tempos p0,05. ...........................................................................

    92

    FIGURA 11. Proporo trimestral de gua armazenada no solo nos

    ambientes prximo do crrego e distante do crrego, a profundidade de 20 cm (A) e precipitao mensal (B). Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE....................................................

    94

    FIGURA 12. Taxas trimestrais de recrutamento (A) e mortalidade (B) do componente regenerante nos ambientes prximo e distante do crrego e precipitao mensal (C). Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. O primeiro levantamento dos indivduos do componente regenerante foi realizado em novembro de 2009..............................................................................................

    96

    FIGURA 13. Taxa trimestral de crescimento (A) do componente

    regenerante nos ambientes prximo e distante do crrego e precipitao mensal (B). Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. O primeiro levantamento dos indivduos do componente regenerante foi realizado em novembro de 2009........................

    97

    FIGURA 14. Deposio trimestral de sementes (excluindo Croton

    rhamnifolioides) nos ambientes prximo e distante do crrego (A), e, precipitao mensal (B) durante o perodo de dois anos. Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. Os coletores foram instalados em novembro de 2009 e a primeira coleta foi realizada em fevereiro de 2010...................................................

    99

  • LISTA DE TABELAS

    CAPTULO II

    Pgina

    TABELA 1. Parmetros quantitativos dos componentes arbustivo-arbreo e regenerante nos ambientes prximo e distante do crrego da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE................

    57

    TABELA 2. Espcies e nmero de indivduos dos componentes arbustivo-arbreo e regenerante nos ambientes prximo e distante do crrego em uma rea de 0,8 ha, da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE, em ordem decrescente do nmero total de indivduos por famlia e o hbito (RV= rvore; ARB=arbusto). * Indica o ambiente e o componente no qual a espcie foi indicadora..............................................

    61

    TABELA 3. Variveis ambientais amostradas nos ambientes prximo e distante do crrego, com os valores das correlaes com os dois primeiros eixos da anlise de correspondncia cannica (CCA), da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE. Os valores correspondem s mdias seguidas do desvio padro, exceto para os valores de distncia do crrego, que corresponde a distncia mnima.............................................

    68

    TABELA 4. Resumo da anlise de correspondncia cannica (CCA) da abundncia das espcies amostradas nos mdulos do componente arbustivo-arbreo e do componente regenerante da Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE, em interao com as variveis ambientais e os testes de Monte Carlo para os dois primeiros eixos de ordenao..................

    68

    CAPTULO III

    TABELA 5. Parmetros gerais e taxas da dinmica do componente

    arbustivo-arbreo e do componente regenerante, nos ambientes prximo e distante do crrego. Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE................................................

    90

    TABELA 6. Lista de espcies com suas respectivas famlias amostradas nos ambientes prximo e distante do crrego com densidades de deposio trimestrais e totais (DT), em sementes.m-2, densidades relativas (DR) e modos de disperso (MD) (Anemo=anemocrica; auto=autocrica; zoo=zoocrica e no determinada=nd), em ordem decrescente de deposio por famlia. Mata da Pimenteira, Serra Talhada-PE...................................................................

    101

  • FARIAS, Sfora Gil Gomes de. Estrutura e funcionamento da comunidade vegetal em uma rea de caatinga em Serra Talhada - PE. Recife, PE: UFRPE, 2013. 117 f. (Tese-Doutorado em Cincias Florestais - rea de concentrao: Silvicultura).

    RESUMO

    A variabilidade espacial e temporal nos fatores abiticos tem sido apontada como fator chave que influencia a estrutura e funcionamento de assemblias vegetais. Em ambientes de caatinga marcados por forte sazonalidade climtica, estudos que abordem esta questo, principalmente em escala local, ainda so limitados. A hiptese formulada foi de que ambientes de caatinga no serto de Pernambuco, localizados a diferentes distncias do crrego, apresentam distintas caractersticas. Espera-se que o componente arbustivo-arbreo de reas adjacentes ao crrego tenha maior densidade, rea basal, altura, dimetro, riqueza e diversidade que o de reas mais distantes do crrego e que esse padro tambm seja encontrado no componente regenerante. Alm disso, espera-se que tenham maior produo de sementes, estabelecimento e sobrevivncia, refletidas em uma dinmica mais acelerada. A amostragem foi dividida em dois ambientes, um prximo do crrego, com vegetao mais densa; e outro distanciado cerca de 100 m do crrego, com vegetao mais aberta. Em 2009, em cada ambiente, foram instalados quatro mdulos de 20 50 m subdivididos em 10 parcelas de 10 10 m. Em cada parcela foram medidos os indivduos lenhosos vivos com dimetro do caule ao nvel do solo (DNS) a 3 cm e altura total a 1 m (componente arbustivo-arbreo). Em um dos vrtices de cada parcela foi plotada uma sub-parcela de 2 2 m para medir a altura e o dimetro dos indivduos do componente arbustivo-arbreo regenerante com DNS entre 0,5 e 2,9 cm. Os indivduos amostrados no componente arbustivo-arbreo foram novamente medidos em 2010 e em 2011, enquanto as medies dos indivduos do componente arbustivo-arbreo regenerante foram trimestrais durante dois anos. Em cada mdulo de 20 50 m foram coletadas amostras de solo na profundidade de 0-20 cm para caracterizao fsico-qumica, alm de determinar a predregosidade, rochosidade, declividade e distncia do crrego (por parcela). Para avaliar a chuva de sementes foram instalados 40 coletores de sementes (20 coletores por ambiente, sendo cinco em cada mdulo de 20 50) totalizando uma rea amostral de 7,85 m2. A coleta do material depositado nos coletores foi trimestral durante dois anos. No componente arbustivo-arbreo, os ambientes apresentaram diferenas quanto densidade, rea basal e altura mdia com valores significativamente maiores no ambiente prximo do crrego. O oposto ocorreu no componente regenerante, com densidade e altura mdia maiores no ambiente distante do crrego. Nos dois ambientes e componentes foram amostradas 50 espcies sendo riqueza e diversidade maiores no ambiente prximo do crrego, embora a similaridade tenha sido superior a 80%. Apesar da proximidade do crrego ter gerado diferenas significativas nos aspectos fisionmicos e estruturais da vegetao, o mesmo no ocorreu na dinmica e chuva de sementes nos dois componentes. Tais resultados corroboraram apenas em parte as expectativas e demonstram que as mudanas nas taxas de dinmica da vegetao (componentes arbustivo-arbreo e regenerante) e na deposio de sementes dentro de cada

  • ambiente e entre ambientes, foram ocasionadas principalmente, pela mudana na distribuio das chuvas entre os anos. Palavras-chave: regenerao, chuva de semente, dinmica florestal, sazonalidade.

  • FARIAS, Sfora Gil Gomes de. Structure and function of plant community in an area of caatinga in Serra Talhada - PE. Recife, PE: UFRPE, 2013. 117 p. (Thesis-PhD in Forest Sciences - concentration area: Forestry).

    ABSTRACT

    The spatial and temporal variability in abiotic factors has been identified as a key factor that influences the structure and functioning of plant assemblages. In savanna environments marked by strong climatic seasonality, studies that address this issue, especially on a local scale, are still limited. The hypothesis was that savanna environments in the upstate of Pernambuco, located at different distances from the stream, have distinct characteristics. It is expected that the shrub-arboreal component of areas adjacent to the stream has the highest density, basal area, height, richness and diversity of the more remote areas of the stream and that this pattern is also found in regenerating component. Furthermore, it is expected that have higher seed production, establishment and survival, as reflected in a more rapid dynamics. The sample was divided into two rooms, one near stream, with denser vegetation, and another distanced approximately 100 m of the stream, with more open vegetation. In 2009, in each environment, were installed four modules of 20 50 m divided into 10 plots of 10 10 m. In each plot were measured woody individuals living with stem diameter at soil level (DNS) 3 cm and the total height 1 m (shrub-arboreal component). In one corner of each plot was plotted a sub-plot of 2 2 m to measure the height and diameter of individuals regenerating shrub-arboreal component with DNS between 0.5 and 2.9 cm. Individuals sampled in the shrub-arboreal component were measured in 2010 and again in 2011, while measurements of subjects in regenerating shrub-arboreal component were quarterly for two years. In each module of 20 50 m samples were collected at depth of 0-20 cm for physicochemical characterization, and to determine the rockiness, slope and distance from the stream (per plot). To evaluate the seed rain were installed 40 seed collectors (20 collectors per environment, five in each module of 20 50) with a total sampling area of 7.85 m2. The collection of material was deposited in the traps every three months for two years. In the shrub-arboreal component, the environments differed in density, basal area and average height with significantly higher values in the immediate environment of the stream. The opposite occurred in regenerating component with density and height greater environmental distant stream. In both environments and components were sampled 50 species being greater richness and diversity in the environment near the stream, although the similarity was above 80%. Despite the proximity of the stream have generated significant differences in physiognomic and structural aspects of the vegetation, the same was not true in the dynamic and seed rain in two components. These results only partially corroborate expectations and demonstrate that changes in rates of vegetation dynamics (regenerating shrub-arboreal components) and deposition of seeds within each environment and across environments were mainly caused by changes in rainfall distribution among years. Keywords: regeneration, seed rain, forest dynamics, seasonality.

  • 14

    CAPTULO I

    ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA COMUNIDADE VEGETAL EM UMA REA

    DE CAATINGA EM SERRA TALHADA-PE: REFERENCIAL TERICO

    1. INTRODUO GERAL

    A heterogeneidade espacial e temporal na cobertura vegetal de uma

    determinada rea resultado da variabilidade nos fatores biticos e abiticos,

    criando um mosaico de diferentes condies ambientais que desempenham

    importante papel na estrutura e na dinmica daqueles ecossistemas (BALVANERA;

    AGUIRRE, 2006; LUNDHOLM, 2009). Diversos tipos de distrbios naturais ou

    antrpicos podem alterar a dinmica da vegetao e desencadear o processo de

    sucesso secundria (MARTINS et al., 2002). A dinmica sucessional pode ser

    caracterizada pelas mudanas na flora e na fauna, em determinado perodo de

    tempo, e pode ser mensurada pela quantificao de entradas (recrutamento), sadas

    (mortalidade) e crescimento das populaes que participam da estrutura da

    vegetao (APPOLINRIO; OLIVEIRA-FILHO; GUILHERME, 2005; RUSCHEL et al.,

    2009). Para estes autores, as mudanas provocadas pela mortalidade e pelo

    recrutamento de plantas podem ser decorrentes de vrios fatores, entre eles

    predao/herbivoria, competio, distrbios naturais ou antrpicos, fatores biticos e

    abiticos.

    Para Pickett; Cadenasso; Meiners (2008) o processo de sucesso ou

    dinmica de uma comunidade vegetal envolve mudanas graduais na estrutura e

    composio de suas espcies ao longo do tempo. Assim, estudos de longo prazo de

    dinmica em comunidades so cruciais para a compreenso dessas mudanas em

    ambientes com ou sem ao antrpica. Em uma viso determinstica e direcional,

    Schorn; Galvo (2006) relataram que o conhecimento da composio da

    regenerao natural de uma floresta contribui para definir o estgio sucessional,

    bem como as direes sucessionais de uma vegetao em desenvolvimento. Alm

    disso, observaram que a avaliao da dinmica da regenerao, atravs de

    ingressos, mortalidade e crescimento, fornece informaes que permitem prever as

    espcies que devero ter maior importncia no futuro, bem como aquelas que

    tendem a diminuir a sua participao na estrutura da vegetao.

  • 15

    O sucesso na ocupao por meio da regenerao natural depende de

    diversos fatores, entre eles: tipo de vegetao; intensidade; freqncia e escala do

    distrbio; condies adequadas para regenerao das plantas e/ou rebrota de

    caules e razes remanescentes; a presena de banco de sementes no solo;

    disperso ou chuva de sementes; e biologia das espcies (KENNARD et al., 2002;

    PAKEMAN; SMALL 2005; VIEIRA; SCARIOT, 2006).

    A vegetao de caatinga, considerada por alguns autores como floresta seca

    tropical (SAMPAIO, 1995) e por outros como savana estpica (VELOSO et al., 1991)

    apresenta elevada heterogeneidade espacial quanto s condies do habitat

    (ARAJO, 2005), o que reflete em grande variabilidade florstica e fisionmica das

    assemblias vegetais. Diversos autores tm observado que as diferenas

    fisionmicas e estruturais encontradas nos diferentes stios de caatinga esto na

    maioria das vezes relacionadas a elevada heterogeneidade de fatores climticos,

    geomorfolgicos e edficos (ANDRADE-LIMA, 1981) e com variaes locais como: a

    proximidade de serras e corpos de gua (AMORIM; SAMPAIO; ARAJO, 2005;

    RODAL; COSTA; LINS-e-SILVA, 2008).

    A heterogeneidade temporal na distribuio das chuvas tem sido apontada

    como outro importante fator na organizao das assemblias vegetais na caatinga.

    De acordo com Arajo (2005) a irregularidade de distribuio das chuvas nestes

    ambientes pode ocorrer tanto no perodo chuvoso quanto no seco, podendo ocorrer

    ainda variaes interanuais tanto nos totais pluviomtricos quanto na distribuio

    das chuvas. Segundo a autora, tais mudanas so geralmente imprevisveis e tal

    imprevisibilidade atua como foras/distrbios naturais que modulam os diversos

    atributos da vegetao, por ser considerado um fator de estresse natural, alterando

    a disponibilidade de gua, um recurso limitante naquela vegetao.

    Uma vez que ecossistemas e paisagens so alterados no tempo e no

    espao em conseqncia de mudanas na vegetao devido ocorrncia de

    distrbios de origem natural ou humana (MARTINS et al., 2002), para compreender

    o funcionamento de comunidades vegetais, devem ser tratados com referncia a

    uma escala temporal (REES et al., 2001). Na caatinga, um dos ecossistemas

    brasileiros menos conhecidos do ponto de vista ecolgico e um dos menos

    protegidos, os estudos abordando a variao temporal da composio e estrutura da

    vegetao so escassos (CAVALCANTI et al., 2009).

  • 16

    Apesar de existir um consenso, sobre a importncia do conhecimento da

    dinmica dos sistemas tropicais, as formaes sazonalmente secas, como a

    caatinga, so comparativamente menos estudadas que as midas e as savanas

    (MOONEY; BULLOCK; MEDINA, 1995; VIEIRA; SCARIOT, 2006; PRANCE, 2006).

    Sabe-se que estudos dessa natureza tm contribudo muito para entender o

    funcionamento dos ecossistemas, interaes interespecficas, alteraes globais e

    recrutamento e mortalidade de populaes arbreas (REES et al., 2001).

    Considerando-se a importncia da caatinga frente crescente explorao de

    seus recursos naturais e conseqentemente perda de biodiversidade, torna-se

    imperativo conhecer os principais fatores que contribuem para a sua manuteno e

    composio, para servir de subsdio ao planejamento de modelos de explorao

    racional de recursos, e fornecer informaes que auxiliem na recuperao de reas

    em processo de degradao.

    Nesse panorama, este estudo foi estruturado em trs captulos com o

    objetivo de investigar a influncia da distncia de um crrego nos padres espaciais

    e temporais da estrutura e composio da vegetao em uma rea de caatinga, no

    serto de Pernambuco. A hiptese formulada foi de que diferentes ambientes (em

    termos de proximidade e distncia do crrego) em reas de vegetao de caatinga

    diferem em caractersticas estruturais, fisionmicas, diversidade e dinmica de suas

    populaes.

    2. REFERENCIAL TERICO

    2.1. DINMICA DE ASSEMBLIAS VEGETAIS

    Em uma viso contempornea sobre o conceito de sucesso ou dinmica de

    assemblias vegetais, Pickett; Cadenasso; Meiners (2008) observaram tratar-se de

    um conjunto de alteraes graduais na estrutura e na composio de espcies de

    um determinado local, no tempo e no espao. De acordo com o trabalho clssico de

    Bazzaz; Pickett (1980), a sucesso vegetal tanto em florestas tropicais quanto

    temperadas, envolve basicamente os mesmos processos/mecanismos, variando

    apenas a importncia. No entanto, o conhecimento da importncia dos processos

    envolvidos na manuteno e desenvolvimento da vegetao tropical ainda muito

    limitado (GUARIGUATA; OSTERTAG, 2001). Estes processos envolvem complexas

  • 17

    interaes entre os fatores fsicos e biticos do ambiente, que resultam em

    modificaes na estrutura e no funcionamento das assemblias.

    Tais mudanas esto relacionadas ocorrncia de distrbios sejam de

    origem natural ou antrpica (GLENN-LEWIN; VAN DER MAAREL, 1992). O distrbio

    usualmente definido como qualquer evento que causa alteraes na estrutura de

    ecossistemas, comunidades ou populaes, alm de modificar a disponibilidade de

    recursos, o substrato ou as condies do ambiente fsico (WHITE; PICKETT, 1985),

    incluem como exemplos fogo, tempestades, estresses induzidos pela queda de uma

    rvore do dossel, entre outros. Tais eventos so capazes de iniciar e moldar o

    processo de sucesso (PICKETT; CADENASSO, 2005).

    Pickett; Cadenasso; Meiners (2008) reiteraram o papel do distrbio na

    dinmica da vegetao e atriburam a disponibilidade de locais distintos para

    colonizao de plantas aos diferentes nveis de recursos disponveis aps o distrbio

    e a sua intensidade e escala, que podem determinar o estabelecimento das

    espcies, e, portanto, influenciar as taxas e direo da dinmica da vegetao. Para

    estes autores, a dinmica da vegetao est condicionada a trs principais causas:

    disponibilidade de local (caractersticas do local aps o distrbio) que pode

    determinar como as plantas podem se estabelecer, crescer e interagir no ambiente;

    diferenas na disponibilidade de espcies para colonizao da rea aps o distrbio;

    e diferenas no desempenho das espcies no local. Diferentes mecanismos, como

    escala do distrbio, pool de propgulos, disponibilidade de recursos e ecofisiologia

    das espcies, atuam sobre cada uma das trs diferentes causas e levam a

    mudanas na estrutura e na composio da vegetao ao longo do tempo.

    Desde meados da dcada de 70 a ecologia de comunidades vem passando

    por lenta mudana no que se refere s questes de equilbrio e estabilidade de

    comunidades, com muitos pesquisadores reconhecendo a importncia de estudos

    em diferentes escalas espaciais e, principalmente, temporais para o entendimento

    das alteraes que ocorrem nas comunidades vegetais, uma vez que tais mudanas

    so inevitavelmente contnuas e dependentes da escala (CONDIT; HUBBELL;

    FOSTER, 1992; REES et al., 2001; CAPERS et al., 2005). Porm, quando se trata

    de florestas secas tropicais as informaes ainda so muito limitadas em relao a

    aspectos bsicos, como as variaes das condies ambientais nas quais a

  • 18

    vegetao se desenvolve e os modelos de diversidade de espcies (TREJO; DIRZO,

    2000).

    A dinmica sucessional em comunidades vegetais pode ser determinada

    pela quantificao do nmero de ingressos ou (recrutados), pela mortalidade e pelo

    crescimento das populaes que compem a estrutura da comunidade vegetal em

    um determinado perodo. Tais fatores contribuem para explicar as mudanas na

    composio e na estrutura de unidades vegetacionais e nos processos por meio dos

    quais ocorrem essas mudanas (FERREIRA; SOUZA; JESUS, 1998;

    APPOLINRIO; OLIVEIRA-FILHO; GUILHERME, 2005; RUSCHEL et al., 2009).

    Conforme estes autores, o ingresso o processo pelo qual novos indivduos atingem

    ou ultrapassam o nvel de incluso estabelecido no levantamento, sendo

    mensurados no levantamento seguinte; a mortalidade representa o nmero de

    indivduos que morrem no intervalo de tempo entre um levantamento e outro, em

    virtude de doenas, senescncia, competio, entre outros fatores; e o crescimento

    consiste na mudana de uma caracterstica da assemblia em um determinado

    perodo, como o incremento em altura e dimetro dos indivduos.

    As estimativas desses componentes so obtidas principalmente por meio de

    levantamentos fitossociolgicos e monitoramento contnuo da vegetao a mdio e

    longo prazo em parcelas permanentes (FERREIRA; SOUZA; JESUS, 1998;

    FIGUEIREDO-FILHO et al., 2010).Para estes autores, esses parmetros esto entre

    os poucos que podem ser usados para predizer o crescimento de uma floresta

    natural. No entanto, Lewis et al. (2004) ressaltaram que preciso ter bastante

    cautela na interpretao e comparao destes dados, devido grande variao de

    formatos e tamanhos das unidades amostrais, e dos critrios de incluso utilizados

    nos levantamentos

    Diversos estudos em longo prazo tm sido desenvolvidos para avaliar as

    mudanas em comunidades vegetais nos mais variados ambientes (FELFILI 1995,

    APPOLINRIO; OLIVEIRA-FILHO; GUILHERME, 2005; BREUGEL; BONGERS;

    MARTNEZ-RAMOS, 2007; CAVALCANTI et al., 2009; MARTEINSDTTIR;

    SVAVARSDTTIR; THRHALLSDTTIR, 2010). Em florestas secas e

    semideciduais, Swaine; Lieberman; Hall (1990), Bunyavejchewin (1999),

    Venkateswaran; Parthasarathy (2005) e Appolinrio; Oliveira-Filho; Guilherme (2005)

    tm mostrado a ocorrncia de elevada dinmica com taxas anuais de mortalidade e

  • 19

    recrutamento superiores a 2%, assim como relatado para florestas tropicais midas

    (SWAINE; LIEBERMAN; PUTZ, 1987; PHILLIPS et al., 1994). Porm, as floresta

    secas so comparativamente menos estudadas que as midas (Prance, 2006), o

    que dificulta a definio de padres a esse respeito.

    Em ambiente de vegetao de caatinga com 20 anos de abandono aps

    corte raso, Cavalcanti et al. (2009) avaliaram as mudanas de uma assemblia

    arbustiva-arbrea por um intervalo de cinco anos e constataram balanos positivos

    entre ingresso e mortalidade de indivduos em propores superiores s

    encontradas em outras regies de floresta seca, como as estudadas por Swaine;

    Lieberman; Hall (1990) e Venkateswaran; Parthasarathy (2005).

    Estudos dessa natureza ainda so escassos em reas de vegetao de

    caatinga. Deste modo, a compreenso dos processos envolvidos na manuteno da

    diversidade da caatinga nordestina, so extremamente importantes para o

    entendimento das mudanas nos ambientes naturais e manejados, visto que, a cada

    momento, intervenes antrpicas ocorrem sem a mnima preocupao com a

    conservao da diversidade biolgica e dos bens e servios gerados por essa

    vegetao. Nesse sentido, estudos de dinmica de suas comunidades arbreas so

    fundamentais, pois permitem o monitoramento e a previso dos processos de

    transformao das comunidades vegetais.

    2.2 FATORES BITICOS E ABITICOS NA ORGANIZAO DE COMUNIDADES

    O padro de organizao de comunidades vegetais em ambientes aps uma

    perturbao regulado por diversos fatores ecolgicos, que podem variar no tempo

    e espao e influenciar a estrutura e dinmica da vegetao (BUSTAMANTE-

    SNCHEZ; ARMESTO; HALPERN, 2011). O conhecimento de como ocorre

    recomposio dessas florestas e quais variveis controlam estes processos so

    questes que esto sempre em evidncia em estudos que envolvem aspectos da

    ecologia de florestas tropicais pela sua importncia na compreenso dos processos

    ecolgicos que mantm o funcionamento e a diversidade desses ecossistemas. No

    entanto, informaes a respeito das interaes ecolgicas durante a regenerao de

    florestas secas so ainda bastante incipientes (VIEIRA; SCARIOT, 2006). Na

    caatinga, estudos de regenerao natural, numa escala menor, envolvendo anlise

    mais detalhada do componente arbreo e de sua regenerao e suas relaes com

    o ambiente local, so praticamente inexistentes. Tais estudos podem contribuir para

  • 20

    compreenso das complexas interaes entre vegetao e ambiente, e, assim,

    facilitar o entendimento dos processos ecolgicos que mantm o funcionamento

    dessa formao.

    Para Dajoz (2006), um fator ecolgico pode ser considerado qualquer

    componente do meio capaz de influenciar diretamente o comportamento dos seres

    vivos no ambiente, pelo menos durante parte das fases de desenvolvimento dos

    organismos. Os diversos fatores ecolgicos podem ser divididos em dois grandes

    grupos: os fatores dependentes de densidade (biticos), aqueles onde o efeito do

    fator sobre o tamanho populacional depende da densidade original ou do tamanho

    da populao anterior; e fatores independentes de densidade (abiticos), aqueles

    onde o efeito do fator sobre o tamanho da populao no depende da densidade

    original ou do tamnaho da populao (BEGON; TOWNSEND; HARPER, 2007). O

    primeiro grupo compreende as interaes que ocorrem entre indivduos da mesma

    espcie e entre espcies diferentes na comunidade, como exemplos, incluem a

    competio e a predao. O segundo grupo envolve um conjunto de caractersticas

    fsicas e qumicas do ambiente (como temperatura, pluviosidade, umidade do solo,

    luminosidade, ventos, nutrientes do solo, pH, entre outros).

    Os efeitos das interaes entre espcies e fatores ambientais na estrutura e

    processos de organizao em comunidades vegetais tem sido alvo de vrios

    estudos (KLANDERUD; TOTLAND, 2005; BUTTERFIELD, 2009; BUSTAMANTE-

    SNCHEZ; ARMESTO; HALPERN, 2011). No entanto, a relativa importncia dessas

    interaes no padro de organizao de assemblias de plantas em ambientes

    sujeitos a condies abiticas extremas ainda no bem esclarecida. A esse

    respeito, Pickett et al. (2008), em uma reviso sobre sucesso ou dinmica florestal,

    atriburam as mudanas que ocorrem nas assemblias ao longo do processo

    sucessional a trs principais modelos: facilitao, tolerncia e inibio. Alguns

    autores propem que a facilitao pode ter um papel mais importante que a

    competio em locais com condies abiticas severas, onde a vegetao local

    pode atuar melhorando as caractersticas fsicas do ambiente e proporcionar maior

    sobrevivncia, crescimento, estabelecimento e reproduo dos indivduos (TRAVIS

    et al., 2006; BROOKER et al., 2008).

    Porm, importante salientar que as espcies podem responder de maneira

    distinta s variaes dos fatores ambientais. Seguindo esse pensamento, alguns

  • 21

    autores questionam o fato da facilitao ser favorecida em condies ambientais

    extremas. Para Gea-Izquierdo; Montero; Caellas (2009), dependendo dos

    diferentes fatores ecolgicos (abiticos), o balano das interaes entre a vegetao

    do dossel e sub-bosque pode oscilar de facilitao a competio. Nessa perspectiva,

    para os autores estes processos podem ocorrer dentro de um mesmo sistema

    ambos no tempo e espao fazendo previso e modelos de interaes planta-planta

    um tanto complexos.

    Estes fatores reguladores dos padres temporais em assemblias de plantas

    e a modulao de interaes biticas pelas condies do meio so considerados a

    chave para o entendimento das variaes que ocorrem em longo prazo em

    assemblias vegetais, principalmente, em locais com condies ambientais

    extremas (BUTTERFIELD, 2009) como os ambientes com forte sazonalidade

    climtica, caso da caatinga. Todavia, os autores acrescentaram que os efeitos da

    facilitao e da competio sobre a dinmica de assemblias de plantas no so to

    simples de serem observados por meio da comparao de padres temporais em

    ambientes com diferentes nveis de estresse ambiental.

    A dinmica temporal na estrutura e na composio de comunidades vegetais

    e as variaes locais nesses padres tm sido condicionadas a diversos fatores

    aliados a composio florstica, condies do ambiente, distncia da fonte de

    recurso (sementes), caractersticas de espcies dominantes e interaes entre os

    componentes biticos e abiticos, os quais representam umas das principais foras

    determinantes nos modelos de regenerao ao longo de um gradiente sucessional,

    podendo resultar em uma composio florstica particular e influenciar no grau de

    recuperao estrutural e funcional da vegetao de uma determinada rea aps a

    perturbao (PASCARELLA et al., 2000; LU; MORAN; MAUSEL, 2002; RAMREZ-

    MARCIAL, 2003; LAWES et al., 2007).

    Perturbaes sofridas pelas florestas sejam de origem antrpica ou natural,

    podem resultar em alteraes nas condies ambientais por meio de mudanas na

    disponibilidade de luz, umidade e condies de solo, influenciando a dinmica da

    floresta, a diversidade de rvores e a abundncia das espcies em escala local e

    regional (FREDERICKSEN; MOSTACEDO, 2000; RAMREZ-MARCIAL et al., 2001;

    SAPKOTA; TIGABU; ODN, 2009). Todavia, a influncia dos fatores biticos e

    abiticos no recrutamento e estabelecimento de indivduos vegetais varivel de

  • 22

    acordo com o tipo de clima, vegetao, histrico de uso e tipo de solo, entre outros

    (MELO et al., 2004).

    2.2.1 Disponibilidade hdrica e efeitos sobre as plantas

    Dentre os diversos recursos requeridos para o desenvolvimento de plantas e

    desempenho de suas funes no ecossistema, a gua o mais abundante e

    tambm o mais limitante, por atuar em vrias funes fisiolgicas e ecolgicas na

    planta (KERBAUY, 2004). Tais recursos so altamente heterogneos em uma ampla

    variedade de escalas no espao e no tempo (PADILLA et al., 2009), criando uma

    diversidade de ambientes, e, conseqentemente, uma variedade de oportunidades

    que proporciona condies adequadas para diferentes espcies, de acordo com

    suas necessidades (WRIGHT, 2002). Um exemplo so os ambientes associadas a

    cursos dgua, que apresentam elevada heterogeneidade ambiental, em

    conseqncia da interao de fatores biticos e abiticos, podendo afetar as

    caractersticas da vegetao por meio de diferentes mecanismos (RODRIGUES;

    GANDOLFI, 2004). Essa variabilidade ambiental tem sido considerada como uma

    caracterstica de ampla ocorrncia nos diferentes ambientes de ecossistemas

    naturais e uma das mais importantes que governam os processos biolgicos (REES

    et al., 2001; KUMAR; STOHLGERN; CHONG, 2006).

    O excesso ou a escassez hdrica funcionam como fatores de estresse

    abitico (SHAO et al., 2008), podendo interferir na performance individual das

    plantas em termos de sobrevivncia, crescimento e interaes biticas nos

    diferentes ambientes de ecossistemas naturais (VIEIRA; SCARIOT, 2006; CECCON;

    HUANTE; RINCN, 2006; PADILLA; PUGNAIRE, 2007), e, portanto, influenciar a

    distribuio espacial e temporal das espcies e a organizao de assemblias de

    plantas sobre a superfcie terrestre (DAJOZ, 2006).

    Em ambientes secos, como resultado do padro sazonal de precipitao e

    da irregularidade na distribuio das chuvas, comum a ocorrncia de deficincia

    hdrica no solo, considerada como a principal responsvel por alteraes nas

    diversas caractersticas da vegetao, como composio, diversidade de espcies,

    sobrevivncia e crescimento de plntulas (BALVANERA; AGUIRRE, 2006; VIEIRA;

    SCARIOT, 2006; WILLIAMS-LINERA; LOREA, 2009). Todavia importante ressaltar

    que a resposta dos vegetais ao estresse hdrico depende principalmente da

    intensidade e durao do estresse e da fase de crescimento da planta.

  • 23

    As florestas secas caracterizam-se por apresentar um padro de

    precipitao altamente sazonal, o que gera condies abiticas mais extremas e

    variveis que as das florestas midas (CECCON; HUANTE; RINCN, 2006). Por

    esta razo, essas florestas toleram uma situao de grande estresse durante os

    processos de sucesso, o que gera heterogeneidade espacial e temporal na

    disponibilidade de recursos, controlando os padres fenolgicos e a produo de

    sementes, germinao, sobrevivncia e estabelecimento de plntulas (LIEBERMAN;

    LI, 1992; GERHARDT, 1996; KHURANA; SINGH, 2001;).

    Nestes ambientes, a germinao ocorre em perodo de tempo limitado,

    assim que as plntulas tenham condies favorveis de luz, nutrientes e umidade

    suficiente para o seu estabelecimento, garantindo a sobrevivncia e a perpetuao

    das espcies. Em reas de vegetao de caatinga, a sazonalidade e a irregularidade

    na distribuio das chuvas tm sido apontadas por muitos autores como as

    principais responsveis pelo sucesso na sobrevivncia e no estabelecimento de

    plntulas (SILVA; BARBOSA, 2000; ANDRADE et al., 2007). reas mais midas

    proporcionariam o desenvolvimento de uma vegetao distinta de reas mais secas

    em termos de florstica e estrutura, por resultar em alteraes nos processos de

    germinao, sobrevivncia e estabelecimento de plntulas.

    Nos ltimos anos, um aspecto que tem merecido ateno especial por parte

    da comunidade cientfica tem sido a anlise de padres e causas que mantm a

    elevada diversidade biolgica nos trpicos. As florestas tropicais sazonalmente

    secas estabelecidas nessas regies representam uma grande proporo da riqueza

    de espcies do globo (TREJO; DIRZO, 2002; POWERS et al., 2009). Em termos

    gerais, as espcies presentes nesses ecossistemas apresentam uma lenta taxa de

    crescimento e eventos reprodutivos restritos o que pode torn-los ainda mais

    sujeitos perturbaes (MURPHY; LUGO,1995).

    Lieberman; Li (1992) constataram, em floresta seca em Ghana, um

    incremento progressivo na taxa de recrutamento durante o perodo chuvoso, sendo

    40% da germinao anual registrada, assim como a menor taxa de mortalidade 4%.

    Em reas de vegetao com caractersticas semelhantes, no Mxico, foi verificado

    que cerca de 90% da germinao anual ocorreu nos trs meses mais midos e uma

    reduo expressiva do percentual de indivduos sobreviventes durante o perodo

    seco (CECCON; SANCHZ; CAMPOS-ALVES, 2004). Outro fator importante

  • 24

    apontado por Ceccon; Huante; Rincn (2006) referente a sazonalidade climtica

    observada nessas reas, a variabilidade no volume anual de chuva e na

    intensidade e durao dos perodos de seca e chuva.

    Williams-Linera; Lorea (2009) reconheceram a durao do perodo seco e a

    forte sazonalidade de precipitao como as duas maiores causas que determinam

    os padres de riqueza de espcies de rvores observadas em reas secas. Trejo;

    Dirzo (2002) e Balvanera; Aguirre (2006) associaram as variaes nos padres de

    diversidade de espcies com potencial de evapotranspirao e as diferenas na

    disponibilidade hdrica em ambientes sazonalmente secos. Acrescentaram que

    diferentes grupos de espcies podem ocupar diferentes locais no espao ao longo

    de um gradiente de disponibilidade hdrica, e ainda que muitas destas espcies

    podem ser excludas de ambientes excessivamente secos onde a produtividade

    tende a ser menor.

    Segura et al. (2002) observaram reduo da riqueza e da diversidade de

    espcies ao longo de um gradiente de umidade com o decrscimo da disponibilidade

    hdrica. Vieira; Scariot (2006) relataram que a germinao de sementes e o

    estabelecimento de plntulas em florestas secas fortemente afetado pela limitao

    na disponibilidade de gua. Assim, em ambientes com forte sazonalidade climtica,

    como a caatinga, pode-se esperar redues nas densidades, taxas de crescimento,

    sobrevivncia e diversidades das assemblias em ambientes com menor

    disponibilidade hdrica e em perodos mais crticos de dficit hdrico.

    Alm dos fatores acima mencionados, outros autores tm identificado efeitos

    diretos de fatores como variveis topogrficas, condies de microhabitats e

    interaes entre o meio bitico e abitico como determinantes das principais

    caractersticas das assemblias de plantas (YU et al., 2008; MWAURA; KABURU,

    2009).

    2.2.1.1 Disponibilidade hdrica em ambientes riprios

    As formaes vegetacionais associadas a cursos dgua esto presentes em

    diversos tipos vegetacionais e recebem diferentes denominaes na literatura,

    dentre elas, mata beiradeira, mata ripria e mata ciliar (AB SABER, 2004). Tais

    formaes so condicionadas pela combinao de diferentes fatores abiticos e

    biticos que atuam de forma distinta no espao, no tempo e na intensidade e

    durao, resultando em um complexo vegetacional com particularidades

  • 25

    fisionmicas, florsticas e/ou estruturais (RODRIGUES; SHEPHERD 2004;

    RODRIGUES, 2004) com alta heterogeneidade, diversidade florstica e pronunciada

    seletividade de espcies, geralmente ocupando condies mais favorveis do

    ambiente, especialmente quanto disponibilidade hdrica e nutricional

    (RODRIGUES; NAVE, 2004).

    As matas riprias so sistemas altamente dinmicos (STROMBERG et al.,

    2010), tanto em termos hidrolgicos, como ecolgicos e geomorfolgicos (LIMA;

    ZAKIA, 2004). A elevada heterogeneidade ambiental caracterstica desses

    ambientes (BUDKE et al., 2004) normalmente resulta em uma grande variao em

    termos de estrutura, composio e distribuio espacial das espcies (LIMA; ZAKIA,

    2004), o que, segundo os autores, pode ocorrer tanto ao longo do curso d gua, em

    decorrncia de variaes de microhabitat resultantes das mudanas nos processos

    fluviomrficos, como lateralmente, uma vez que as condies de saturao de solo

    so reduzidas a medida que se distancia do leito do rio, podendo assim, influenciar

    na composio da vegetao.

    Muitos trabalhos em reas de mata ciliar tm confirmado a elevada riqueza

    florstica como caracterstica marcante dessas formaes (OLIVEIRA-FILHO;

    RATTER; SHEPHERD, 1990; ARAJO et al., 2005; LACERDA et al., 2005;

    LACERDA et al., 2010). A anlise comparativa da heterogeneidade florstica de um

    total de quarenta trabalhos realizados em formaes florestais ciliares no Brasil,

    realizada por Rodrigues; Nave (2004) tambm confirmou a elevada diversidade

    florstica como caracterstica principal desses ambientes, como reflexo da

    heterogeneidade de suas condies ecolgicas.

    Os dados quantitativos obtidos por Souza; Rodal (2010), analisando os

    aspectos florsticos em um trecho de vegetao ripria no semirido nordestino em

    quatro ambientes distintos (leito do rio, margem, serrote e tabuleiro), mostram

    diferenas florsticas ao longo do gradiente leito do rio-tabuleiro, atribudas

    heterogeneidade ambiental entre os ambientes. Padro semelhante foi observado

    por Nascimento; Rodal; Cavalcanti (2003), em um remanescente de vegetao de

    caatinga ao longo de um gradiente ambiental, com variaes de relevo e solo

    associado ao curso dgua, no qual observou-se que as diferenas nas condies

    ambientais a partir da margem do rio at o tabuleiro influenciaram a composio

  • 26

    florstica. A margem do rio destacou-se entre os demais ambientes pela maior

    densidade e rea basal total, valores de altura mxima e mdia e dimetro mximo.

    Gonzlez-Rivas et al. (2006) comparando a composio florstica e a

    diversidade de espcies entre florestas secas tropicais decduas e matas de

    galerias, mostraram pouca semelhana em termos de composio e abundncia de

    espcies. As formaes vegetacionais tambm diferiram em densidade e rea basal,

    com maiores valores de densidade na floresta decdua e maior rea basal no

    ambiente de galeria. Os autores atriburam este fato melhor condio de umidade

    no solo na mata de galeria devido a maior proximidade do curso d gua, o que

    provavelmente teria favorecido o crescimento das plantas.

    A maior diversidade florstica encontrada na mata de galeria tambm pode

    estar relacionada com a maior heterogeneidade ambiental caracterstica desses

    ambientes. A literatura destaca a heterogeneidade ambiental como um dos fatores

    mais importantes para a alta diversidade biolgica nos diferentes ecossistemas

    (REES et al., 2001; KUMAR; STOHLGERN; CHONG, 2006; LUNDHOLM, 2009).

    A heterogeneidade na disponibilidade e na distribuio de gua na

    superfcie, aliada variabilidade hidrolgica tem sido amplamente assumida como o

    principal fator ecolgico responsvel por governar os processos envolvidos nos

    diferentes aspectos da vegetao ripria de ambientes secos (STROMBERG, 2001;

    CAPON, 2005; STROMBERG et al., 2007). A vegetao presente nesses ambientes

    tolera condies extremas de estresse abitico sob duas diferentes situaes:

    inundao e/ou lenis freticos elevados (por exemplo, anoxia do solo) e seca

    (CAPON, 2005; VENEKLAAS et al., 2005; CAPON et al., 2009), associados a alta

    variabilidade temporal com que estas situaes ocorrem (STROMBERG et al.,

    2010). Em muitos casos, apenas poucas espcies lenhosas ocupam estes habitats e

    as variaes na tolerncia s condies de estresse, resultantes de secas ou

    inundaes, entre as espcies, so refletidas na sua distribuio ao longo de

    gradientes espaciais de freqncia, profundidade e durao de inundao (CAPON,

    2005; STROMBERG et al., 2007).

    A disponibilidade de recursos e a intensidade de perturbao tm sido

    amplamente conhecidas por influenciarem os padres de diversidade em escala

    local. Entretanto, apesar do distrbio ser considerado um fator chave de todos os

    ecossistemas (FRATERRIGO; RUSAK, 2008), importante enfatizar que

  • 27

    perturbaes de grande magnitude e freqncia podem limitar o nmero de espcies

    que ocorrem em um determinado habitat (CONNELL (1978) apud STROMBERG et

    al. (2007)) por reduzirem drasticamente o nvel de recursos disponveis e levarem o

    habitat a suportar poucas espcies (STROMBERG et al., 2007). Todavia, os autores

    enfatizaram que, em locais produtivos, onde as plantas podem colonizar

    rapidamente, o distrbio pode manter alta diversidade.

    Em regies ridas, Capon (2005) e Stromberg et al. (2007a) relataram que a

    existncia de gradientes espaciais e temporais na disponibilidade de recursos e

    perturbaes em reas sob influncia de cursos dgua geram modificaes nos

    diferentes aspectos da vegetao ao longo desse gradiente. As plantas prximas ao

    curso d gua tm acesso a gua subterrnea superficial durante todo o ano

    enquanto aquelas de ambientes mais distantes so sustentadas por chuvas

    eventuais que ocorrem ao longo do ano. Considerando este recurso como o principal

    condicionante da vegetao em ambientes secos, os autores relataram que se

    podem esperar variaes na diversidade ao longo de um gradiente de umidade

    medida que se afasta da margem do curso d gua.

    Perturbaes originadas por inundaes e condies de estresse hdrico so

    reconhecidas como os principais determinantes dos padres vegetacionais. Tais

    situaes apresentam elevada variabilidade ao longo do tempo na zona ribeirinha,

    com anos chuvosos produzindo condies de baixo estresse hdrico e alta

    perturbao em decorrncia de inundaes e em anos secos resultando em maior

    estresse e baixa perturbao (LITE; BAGSTAD; STROMBERG, 2005), podendo

    originar variabilidade temporal nos padres de diversidade dentro dos ecossistemas

    ribeirinhos (RENOFALT; NILSSON; JANSSON, 2005). .

    Vale ressaltar que a grande diversidade de espcies que habitam ambientes

    riprios possui diferentes atributos que permitem que tolerem tais condies,

    modificando aspectos morfolgicos e fisiolgicos como resposta a condies

    ambientais (CAPON, 2005). Assim, as variaes ambientais em zonas riprias

    atuam como um fator de seleo, originando assemblias de plantas que refletem

    tanto as condies locais como a tolerncia das espcies a essas condies.

    2.3 Heterogeneidade espacial

    A heterogeneidade espacial pode ser definida como a variabilidade de uma

    caracterstica ecolgica no espao, que pode ser categrica, quantitativa, explicativa

  • 28

    ou dependente (WAGNER; FORTIN, 2005). Muitos pesquisadores acreditam que

    ambientes com elevada heterogeneidade espacial, especialmente em recursos,

    parecem suportar uma maior coexistncia de espcies de plantas (DAVIES et al.,

    2005; KUMAR; STOHLGERN; CHONG, 2006). Seguindo essa linha de pensamento,

    a diversidade de espcies estaria diretamente relacionada com a heterogeneidade

    espacial das condies extrnsecas, como variao das propriedades do solo,

    disponibilidade hdrica, luminosidade, entre outras. Essa uma das idias mais

    antigas em ecologia; entretanto, estudos que quantificassem essa relao s foram

    iniciados na dcada de 60, e somente em 1970 para comunidades de plantas

    (JOHNSON; SIMBERLOFF (1974) apud LUNDHOLM (2009). Para Lundholm (2009)

    essa relao entre heterogeneidade e diversidade tem sido amplamente assumida

    por mostrar ser positiva em parte devido grande variao de tipos de microhabitat

    e condies ambientais, o que resulta em maior quantidade de nichos disponveis no

    espao para partio.

    O modelo de assemblia por nicho apia que a heterogeneidade ambiental

    causa variedade de oportunidades que proporciona condies adequadas para

    diferentes espcies de acordo com suas especificidades, favorecendo a coexistncia

    de espcies (WRIGHT, 2002). Assim, considerando que os padres de distribuio

    de recursos e condies nos diferentes ambientes de ecossistemas naturais

    introduzem heterogeneidade espacial e temporal (KUMAR; STOHLGERN; CHONG,

    2006), espera-se que os padres estruturais e dinmicas de assemblias de plantas

    em ambientes com condies distintas possam diferir no espao e no tempo.

    Evidencias que suportam esse raciocnio incluem a diferenciao de habitat

    entre espcies de plantas, com espcies especialistas em determinados regimes de

    recursos ou combinao de fatores abiticos (SVENNING, 2001). Articulaes

    recentes sobre a teoria de coexistncia destacam as condies de nicho espacial e

    temporal com requisito para manuteno da diversidade de espcies (CHESSON,

    2000). Por outro lado, o modelo de teoria neutra sugerido por Hubbell (2005) implica

    que a diferenciao de nicho pode no ser requerida para permitir a coexistncia e a

    manuteno da diversidade de espcies. O modelo prope a idia de que as

    comunidades no seriam organizadas em funo da diferena de desempenho das

    diferentes espcies em determinadas condies ambientais, mas seria resultado de

  • 29

    eventos demogrficos estocsticos, como por exemplo, uma comunidade local seria

    organizada pela limitao de mecanismos de disperso das espcies ali presentes.

    Essa teoria prediz que a imigrao e mortalidade podem manter a

    diversidade de espcies, com o atual nvel de riqueza de espcies sendo

    determinado pelo tamanho do pool regional de espcies. Contudo, para Leibold;

    McPeek (2006), ambos os processos podem influenciar na organizao de

    comunidades, sendo a importncia relativa do determinismo ambiental e da

    estocasticidade ainda pouco conhecida. Diante dessa divergncia de opinies torna-

    se relevante o desenvolvimento de pesquisas que visem esclarecer essa relao

    entre a heterogeneidade espacial e temporal e a diversidade de espcies.

    Assim, estudos em longo prazo em comunidades vegetais so essenciais

    para a compreenso dos padres de riqueza de espcies, tendo em vista que

    mudanas nas taxas demogrficas da comunidade podem alterar a composio

    florstica e a estrutura futura da vegetao (PHILLIPS; GENTRY 1994; FELFILI,

    1995). Para Felfili (1997) estudos que comparam a estrutura e a dinmica da

    regenerao natural e do componente arbreo adulto tm servido de importante

    subsdio para elucidar algumas questes no entendimento dos padres e causas

    que mantm a grande diversidade encontrada nessas regies. Powers et al. (2009)

    enfatizaram ainda que para tomada de deciso de medidas de manejo e

    identificao de reas prioritrias para conservao imprescindvel conhecer

    quais fatores biticos e abiticos so mais limitantes regenerao de florestas

    secundria e se aes de manejo podem modificar a trajetria e o ritmo da

    sucesso.

    3. RECURSOS REQUERIDOS PARA REGENERAO DE PLANTAS

    Sabe-se que a regenerao natural a forma mais comum de renovao de

    uma floresta e todas as espcies arbreas possuem, em maior ou menor grau,

    mecanismos que permitem sua perpetuao no sistema natural (MARTINS;

    RODRIGUES, 2002). O processo de regenerao natural envolve diferentes

    estgios do ciclo de vida da planta, desde a produo de sementes ao

    estabelecimento e sobrevivncia de plntulas e mudas (DU et al., 2007).

    Diversos fatores podem impedir ou dificultar o restabelecimento da

    vegetao por meio da regenerao natural aps um distrbio, dentre eles: tipo de

    vegetao, intensidade de uso, condies adequadas para regenerao das plantas

  • 30

    e/ou rebrota de caules e razes remanescentes, banco de sementes no solo,

    disperso ou chuva de sementes, predao de sementes e biologia das espcies

    (KENNARD et al., 2002; PAKEMAN; SMALL, 2005; VIEIRA; SCARIOT, 2006).

    Os indivduos estabelecidos em ambientes perturbados podem ser

    provenientes da chuva de sementes recente ou do banco de sementes acumuladas

    no solo, ou representarem indivduos que sobreviveram perturbao ou que

    rebrotaram aps serem danificados (MARTINI; SANTOS, 2007). Com exceo das

    plantas que apresentam reproduo vegetativa e da imigrao de propgulos de

    reas adjacentes, todas as possibilidades citadas acima dependem da chuva de

    sementes em curto, mdio ou longo prazo. Diversos estudos tm corroborado a

    importncia da disponibilidade de sementes de diferentes espcies de uma

    determinada comunidade, provindas do banco de sementes e, principalmente, da

    chuva de sementes como fundamentais para o recrutamento de novos indivduos,

    sendo a disponibilidade de propgulos e de agentes dispersores indispensveis para

    o restabelecimento da vegetao (DALLING et al., 2002; PAKEMAN; SMALL 2005;

    MAMEDE; ARAJO 2008).

    Pinard; Baker; Tay (2000) relataram que aps perturbaes de grande

    intensidade, que eliminam o potencial florstico local, o processo de recuperao

    natural determinado, principalmente, pela chuva de sementes e pelo estoque de

    sementes do solo. A ausncia de sementes em reas degradadas , portanto, um

    fator limitante a regenerao florestal (HOLL, 1999). Hyatt; Casper (2000) e Costa;

    Arajo (2003) ressaltaram que, alm desses fatores, caractersticas ambientais

    como mudanas na luminosidade, temperatura e umidade podem desencadear e

    moldar o processo de sucesso ou dinmica da vegetao.

    No Brasil, a maioria dos estudos realizados sobre banco e chuva de

    sementes tem sido realizada em diferentes tipologias de Floresta Atlntica, como os

    de Grombone-Guaratini; Rodrigues (2002) e Pivello et al. (2006), no sudeste do pas;

    Araujo et al. (2004), na regio Sul e Martini; Santos (2007), na regio nordeste. Em

    reas de caatinga, entre os poucos trabalhos realizados destacam-se os de COSTA;

    ARAJO, 2003, PESSOA, 2007, MAMEDE; ARAJO, 2008 e LIMA; RODAL; SILVA,

    2008.

    Estudos que busquem entender o funcionamento das formaes

    vegetacionais sazonalmente secas, ainda so limitados, especialmente sobre

  • 31

    ecologia de sementes, como banco de sementes, plntulas, reposio do estoque

    de sementes por meio da chegada de sementes na rea, adaptaes de sementes e

    germinao (KHURANA; SINGH, 2001; VIEIRA; SCARIOT, 2006). Em se tratando

    de caatinga, tais informaes so ainda mais escassas (LIMA; RODAL; SILVA,

    2008). Sendo assim, estudos que visem conhecer a relao entre a chuva de

    sementes e a vegetao estabelecida naqueles ambientes, tornam-se importantes

    por permitir melhor entendimento do processo de regenerao natural naquelas

    reas.

    3.1 Disperso de sementes

    A disperso de sementes consiste na remoo de disporos (sementes ou

    frutos) das proximidades da planta-me para distncias seguras (HOWE;

    SMALLWOOD, 1982). O processo de disperso no s permite que as sementes

    alcancem locais mais favorveis para o estabelecimento de plntulas, como garante

    que os disporos sejam levados para longe da planta parental, o que representa um

    importante mecanismo de sobrevivncia, levando-se em considerao que haveria

    uma diminuio da competio, da predao de sementes e do adensamento de

    plntulas, alm de possibilitar a colonizao de novas reas.

    Para DU et al. (2007), a disperso de sementes considerada como um elo

    entre o final do ciclo reprodutivo das plantas adultas e o estabelecimento de seus

    descendentes, que influencia diretamente a estrutura e a composio da vegetao.

    Todavia, a confirmao e a quantificao de tais efeitos tm provado ser um desafio

    (WANG; SMITH, 2002).

    Dentre as hipteses que tentam explicar as vantagens da disperso de

    sementes esto hiptese escape, a da colonizao e a hiptese de disperso

    direta (HOWE; SMALLWOOD, 1982). Todas as hipteses explicam as vantagens da

    disperso local como meios de evitar a mortalidade desproporcional de sementes e

    plntulas prximo a planta-me e aumentar a chance da prole encontrar um habitat

    favorvel e dessa forma contribuir para o estabelecimento e crescimento dos

    indivduos.

    O processo de disperso de sementes e frutos pode ser realizado por

    diferentes mecanismos: vento (anemocoria), mecanismos prprios da planta

    (autocoria), ou por vetores biticos, ou seja, por animais (zoocoria) (VAN DER PIJL,

  • 32

    1982). Os padres de frutificao determinam a variao temporal no fluxo de

    propgulos para uma determinada rea durante todo o ano e entre anos

    consecutivos, sendo fundamental na definio do potencial populacional do habitat.

    A ausncia de frutificao limita o recrutamento de novos indivduos (HOLL, 1999;

    GROMBONE-GUARATINI; RODRIGUES (2002) e conseqentemente a sucesso

    em determinado local depende dos mecanismos envolvidos na disperso de plantas.

    A esse respeito, Martnez-Garza et al. (2009) comentaram que a sucesso

    ecolgica profundamente influenciada pela chegada de propgulos, pela

    composio da chuva de sementes e pela mortalidade de sementes e plntulas. No

    entanto, ressaltaram que ainda no bem esclarecido como a composio de

    espcies arbreas que ocupam reas abertas reflete as diferenas em termos de

    disperso, estabelecimento de plntulas e sobrevivncia na fase de sementes e

    plntulas. Assim, observaes sobre a chuva de sementes em reas de floresta

    podem fornecer informaes importantes para entender padres de abundncia,

    distribuio espacial, densidade e riqueza de espcies em um determinado habitat

    (GROMBONE-GUARATINI; RODRIGUES, 2002)

    Em florestas secas, o perodo de disperso de sementes de espcies

    arbreas altamente previsvel (VIEIRA et al., 2008). Elas caracterizam-se pela

    ocorrncia de alta proporo de espcies dispersas pelo vento, o que as distingue

    das florestas midas (BULLOCK; MOONEY; MEDINA, 1995). Estima-se que essa

    proporo possa variar entre 32 e 67% (Griz; Machado, 2001; Barbosa; Silva;

    Barbosa, 2002), em contraste ao observado em reas de florestas midas, nas quais

    cerca de 50 a 90% das espcies produzem frutos cujas sementes so dispersas por

    zoocoria (HOWE; SMALLWOOD, 1982).

    Essa tendncia vem sendo corroborada em diversos estudos. Justiniano;

    Fredericksen (2000), estudando a fenologia de espcies arbreas em floresta seca

    na Bolvia, observaram que 63% das espcies de rvores do dossel eram dispersas

    pelo vento, enquanto na caatinga eram 33% das espcies (GRIZ; MACHADO,

    2001). Lima; Rodal; Silva (2008) relataram que 61,6% das sementes dispersadas

    eram anemocricas, 35,2% autocricas e 2,9% zoocricas, em reas de caatinga do

    mdio So Francisco, em Pernambuco.

    Teegalapalli; Hiremath; Jathanna (2010), investigando os padres de chuva

    de sementes e a regenerao de espcies arbreas em clareiras abandonadas

  • 33

    dentro de uma floresta sazonal no sul da ndia, observaram que a proporo de

    sementes dispersas pelo vento era maior que a de sementes dispersas por animais.

    Os autores apontaram a chuva de sementes como o principal fator limitante da

    regenerao.

    Ambientes sazonalmente secos, a exemplo da caatinga, so marcados por

    forte sazonalidade climtica que atua diretamente sobre os padres de produo de

    sementes, disperso, sobrevivncia, germinao, estabelecimento e

    desenvolvimento de plntulas, sendo o perodo favorvel para crescimento

    normalmente restrito ao perodo chuvoso, quando as condies so apropriadas

    para a germinao e estabelecimento das plntulas (KHURANA; SINGH, 2001;

    VIEIRA; SCARIOT, 2006). Como resultado da marcada sazonalidade nessas reas,

    maturao de frutos apresenta padres distintos. A maturao de frutos carnosos

    concentra-se no perodo chuvoso, enquanto a dos frutos secos ocorre na estao

    seca, sendo tais padres associados diretamente aos mecanismos de disperso

    (BULLOCK; MOONEY; MEDINA, 1995; JUSTINIANO; FREDERICKSEN, 2000;

    GRIZ; MACHADO, 2001).

    Os frutos secos so dispersos predominantemente pelo vento e pela prpria

    gravidade, a maior parte na estao seca, quando as condies para disperso so

    mais favorveis. Todavia, as condies para germinao no so favorveis e logo

    muitas permanecem dormentes at o incio do perodo chuvoso (VIEIRA; SCARIOT,

    2006), quando encontram condies apropriadas para que eixo embrionrio continue

    o seu desenvolvimento, resultando na germinao da semente. Segundo Khurana;

    Singh (2001), esta caracterstica, comum em reas sazonalmente secas, representa

    uma estratgia de sobrevivncia das espcies s condies adversas, o que para

    Marod et al. (2002) parece ser um atributo selecionado durante o processo evolutivo.

    O mecanismo de dormncia de sementes permite que as espcies evitem

    condies ambientais potencialmente desfavorveis para o estabelecimento de

    plntulas. No geral, estas sementes permanecem viveis por longos perodos, sendo

    essa extenso varivel dentro da mesma espcie, o que resulta na distribuio da

    germinao e conseqentemente um recrutamento de plntulas no tempo,

    fornecendo uma segurana maior contra eventos desfavorveis de grande

    intensidade (KHURANA; SINGH, 2001). Assim, o banco de sementes do solo pode

    produzir plntulas de forma contnua por vrios anos. Para os autores, tal padro

  • 34

    permite que as espcies naqueles ambientes possam maximizar o uso do perodo

    chuvoso para garantir o estabelecimento e conseqentemente maiores chances de

    sobrevivncia na estao seca seguinte.

    Alguns estudos tm procurado simular a ausncia de veranicos em regies

    secas por meio do fornecimento artificial de gua (irrigao) em pequenas reas

    experimentais (GERHARDT, 1996 e MCLAREN; MCDONALD, 2003). Tm

    encontrado uma relao positiva entre a suplementao hdrica e ambos os

    processos de germinao e sobrevivncia de plntulas.

    Vieira et al. (2008), visando fornecer subsdios para a restaurao florestal

    em reas de floresta seca, investigaram as seguintes hipteses, relacionando dois

    aspectos: (1) Sementes de espcies arbreas de reas secas tm alta mortalidade

    por dessecao, antes da germinao, devido ao tempo entre a disperso e

    germinao, e aps a germinao (na fase de plntula) devido a irregularidade na

    distribuio das chuvas na estao chuvosa; (2) plntulas oriundas de sementes

    dispersas na estao seca que sobrevivem dessecao teriam maiores tamanhos

    no final da estao chuvosa do que aquelas dispersas na estao chuvosa, uma vez

    que teriam mais tempo para crescer e se estabelecer, e assim, teriam mais chances

    de sobreviver na estao seca seguinte. Concluram que embora a estao seca

    seja o perodo mais favorvel para disperso das sementes anemocricas,

    certamente no para germinao. A menor taxa de germinao, esperada para

    sementes dispersas na estao seca, no foi confirmada para as espcies que

    apresentam algum tipo de dormncia. Alm disso, observaram que o retardamento

    da disperso pode ser vantajoso para espcies de germinao rpida, embora seja

    irrelevante ou at mesmo desvantajoso para outras. O crescimento de espcies com

    elevado grau de dormncia no foi afetado pelo tempo de disperso, enquanto que

    as espcies de germinao rpida apresentaram maior biomassa de raiz quando

    dispersas na estao seca. Entretanto, o maior tempo de crescimento de plntulas

    durante a estao chuvosa no afetou a taxa sobrevivncia durante o perodo seco

    seguinte.

    Outro importante obstculo para o recrutamento de plantas pode ser a

    predao de sementes (GUARIGUATA; OSTERTAG, 2001). Embora a literatura seja

    escassa, a predao parece impedir ou dificultar a germinao em qualquer

    formao florestal. A intensidade de predao altamente varivel entre espcies,

  • 35

    habitats e anos consecutivos, o que parece estar relacionado maior ou menor

    disponibilidade de recursos (VANDER WALL; KUHN; BECK, 2005)

    A esse respeito, Pedroni; Sanches; Santos (2002) ressaltaram que a

    ocorrncia de eventos fenolgicos reprodutivos sazonais e sincronizados podem

    representar vantagens para adaptao de muitas espcies tropicais. Espcies de

    plantas que apresentam oscilaes na produo de frutos e sementes podem

    influenciar tanto os agentes dispersores como os predadores, modificando o efeito

    destes em anos com menor disponibilidade de recurso (VANDER WALL, 2002).

    Anos com elevada disponibilidade de recursos (frutos e sementes) tenderiam a

    saciar os predadores, resultando em um menor consumo relativo e

    conseqentemente aumento da taxa de sobrevivncia.

    4. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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