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Seguridade Social na Constituição: Evolução Histórica e Composição; Fontes do Direito Previdenciário; Hierarquia e Aplicação das normas de Direito Previdenciário; Interpretação e Vigência da Legislação Previdenciária; Definição, Natureza Jurídica e Competência Legislativa; Princípios da Seguridade Social; Custeio da Seguridade Social; Saúde; Assistência Social; Previdência Social; Planos de Previdência Social no Brasil. Seguridade Social na Constituição 1. Evolução Histórica e Composição No Brasil, a seguridade social é um sistema instituído pela Constituição Federal de 1988 para a proteção do povo brasileiro (e estrangeiros em determinadas hipóteses) contra riscos sociais que podem gerar a miséria e a intranquilidade social, sendo uma conquista do Estado Social de Direito, que deverá intervir para realizar direitos fundamentais de 2ª dimensão. Eventos como o desemprego, a prisão, a velhice, a infância, a doença, a maternidade, a invalidez ou mesmo a morte poderão impedir temporária ou definitivamente que as pessoas laborem para angariar recursos financeiros visando a atender às suas necessidades básicas e de seus dependentes, sendo dever do Estado Social de Direito intervir quando se fizer necessário na garantia de direitos sociais. Mas nem sempre foi assim no Brasil e no mundo. No estado absolutista, ou mesmo no liberal, eram tímidas as medidas governamentais de providências positivas, porquanto, no primeiro, sequer exista um Estado de Direito, enquanto no segundo vigorava a doutrina da mínima intervenção estatal, sendo o Poder Público apenas garantidor das liberdades negativas (direitos civis e políticos), o que agravou a concentração de riquezas e a disseminação da miséria. Nessa evolução natural entrou em crise o estado liberal, notadamente com as guerras mundiais, a Revolução Soviética de 1917 e a crise econômica mundial de 1929, ante a sua inércia em solucionar os dilemas básicos da população, como o trabalho, a saúde, a moradia e a educação, haja vista a inexistência de interesse regulatório da suposta mão livre do mercado, que de fato apenas visava agregar lucros cada vez maiores em suas operações mercantis. 1

Seguridade Social Na Constituicao Federal

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Seguridade Social na Constituição: Evolução Histórica e Composição; Fontes do Direito Previdenciário; Hierarquia e Aplicação das normas de Direito Previdenciário; Interpretação e Vigência da Legislação Previdenciária; Definição, Natureza Jurídica e Competência Legislativa; Princípios da Seguridade Social; Custeio da Seguridade Social; Saúde; Assistência Social; Previdência Social; Planos de Previdência Social no Brasil.

Seguridade Social na Constituição

1. Evolução Histórica e Composição

No Brasil, a seguridade social é um sistema instituído pela Constituição Federal de 1988 para a proteção do povo brasileiro (e estrangeiros em determinadas hipóteses) contra riscos sociais que podem gerar a miséria e a intranquilidade social, sendo uma conquista do Estado Social de Direito, que deverá intervir para realizar direitos fundamentais de 2ª dimensão.

Eventos como o desemprego, a prisão, a velhice, a infância, a doença, a maternidade, a invalidez ou mesmo a morte poderão impedir temporária ou definitivamente que as pessoas laborem para angariar recursos financeiros visando a atender às suas necessidades básicas e de seus dependentes, sendo dever do Estado Social de Direito intervir quando se fizer necessário na garantia de direitos sociais.

Mas nem sempre foi assim no Brasil e no mundo. No estado absolutista, ou mesmo no liberal, eram tímidas as medidas governamentais de providências positivas, porquanto, no primeiro, sequer exista um Estado de Direito, enquanto no segundo vigorava a doutrina da mínima intervenção estatal, sendo o Poder Público apenas garantidor das liberdades negativas (direitos civis e políticos), o que agravou a concentração de riquezas e a disseminação da miséria.

Nessa evolução natural entrou em crise o estado liberal, notadamente com as guerras mundiais, a Revolução Soviética de 1917 e a crise econômica mundial de 1929, ante a sua inércia em solucionar os dilemas básicos da população, como o trabalho, a saúde, a moradia e a educação, haja vista a inexistência de interesse regulatório da suposta mão livre do mercado, que de fato apenas visava agregar lucros cada vez maiores em suas operações mercantis.

Com o nascimento progressivo do Estado Social, o Poder Público se viu obrigado a sair da sua tradicional contumácia, passando a assumir gradativamente a responsabilidade pela efetivação das prestações positivas econômicas e sociais (direitos fundamentais de segunda dimensão), valendo destacar em nosso tema os direitos relativos à saúde, à assistência e à previdência social.

De efeito, a Constituição Federal de 1988 foi a primeira a instituir no Brasil o sistema da seguridade social, que significa segurança social, englobando as ações na área da previdência social, da assistência social e da saúde pública, estando prevista no Capítulo II, do Título VIII, nos artigos 194 a 204, que contará com um orçamento específico na lei orçamentária anual.

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Entre os direitos sociais expressamente previstos no artigo 6º, da Lei Maior, encontram-se consignados a saúde, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, bem como a assistência aos desamparados, reafirmando a sua natureza de fundamentais.

Deveras, dentro da seguridade social coexistem dois subsistemas: de um lado o subsistema contributivo, formado pela previdência social, que pressupõe o pagamento (real ou presumido) de contribuições previdenciárias dos segurados para a sua cobertura previdenciária e dos seus dependentes.

Do outro, o subsistema não contributivo, integrado pela saúde pública e pela assistência social, pois ambas são custeadas pelos tributos em geral (especialmente as contribuições destinadas ao custeio da seguridade social) e disponíveis a todas as pessoas que delas necessitarem, inexistindo a exigência de pagamento de contribuições específicas dos usuários para o gozo dessas atividades públicas.

Portanto, a previdência social é contributiva, razão pela qual apenas terão direito aos benefícios e serviços previdenciários os segurados (aqueles que contribuem ao regime pagando as contribuições previdenciárias) e os seus dependentes. Já a saúde pública e a assistência social são não contributivas, pois para o pagamento dos seus benefícios e prestação de serviços não haverá o pagamento de contribuições específicas por parte das pessoas destinatárias.

2. Fontes do Direito Previdenciário

Fontes do direito previdenciário são os fatos dos quais se originam as normas de direito previdenciário. Como em todos os ramos do direito, as fontes podem ser classificadas em dois grupos: fontes materiais, que são as situações ocorridas na sociedade que influenciam o surgimento de normas jurídicas, e as fontes formais, que são os textos legais nos quais podem ser encontradas as referidas normas, a opinião dos estudiosos da matéria e as decisões dos juízes e tribunais acerca do tema.

Como fontes formais de normas de direito previdenciário, temos a Constituição, as leis complementares, as leis ordinárias e medidas provisórias, os decretos regulamentadores emitidos pelo poder executivo, os atos administrativos emitidos pelos órgãos responsáveis pela execução de ações na área previdenciária (Portarias, Resoluções, Instruções Normativas, Ordens de serviço, circulares, dentre outros).

Dentre as fontes formais do Direito Previdenciário, incluem-se também os tratados, as convenções e os acordos internacionais. Em matéria de Seguridade Social, estes instrumentos disciplinam a possibilidade de um país reconhecer o tempo de contribuição efetuado por um segurado ao regime previdenciário de outro país. A competência para a celebração destes tratados é do Presidente da República, ficando eles sujeitos a referendo do Congresso Nacional. A aprovação dos tratados pelo congresso nacional se dá por meio de Decreto-legislativo.

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3. Hierarquia e Aplicação das normas de Direito Previdenciário

As normas jurídicas são dispostas hierarquicamente, de modo que as normas que se encontram em nível inferior apenas serão legítimas se não contrariarem as disposições contidas nas normas que lhes são superiores. A Constituição encontra-se no topo da hierarquia das normas jurídicas vigentes no país, não apenas de direito previdenciário, mas de todos os ramos. Todas as demais normas somente serão válidas se forem compatíveis com o texto constitucional.

Abaixo da Constituição encontram-se as leis complementares, as leis ordinárias e as medidas provisórias. Vale ressaltar que a maior parte da doutrina atualmente entende inexistir hierarquia entre elas, uma vez que não há identidade de matérias. Há situações para as quais a Constituição exige que a disciplina seja feita por meio de lei complementar. Para as demais, a disciplina pode ser feita por lei ordinária. Uma vez que tratam de assuntos diferentes, não há que se falar em hierarquia entre elas.

Abaixo das leis, há os decretos regulamentadores emitidos pelo chefe do poder executivo, cuja função é tornar mais minucioso o texto legal, sem, entretanto, alterar-lhe o conteúdo.

Entre os atos administrativos, a hierarquia é determinada pela posição do agente administrativo que emitiu o ato. Assim, o Decreto é hierarquicamente superior a uma Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil, por exemplo, pois o Decreto é emitido pelo Presidente da República, enquanto a Instrução Normativa é emitida pelo Secretário da Receita.

O ordenamento jurídico é composto por um complexo de normas que devem guardar uma harmonia entre si. Existindo uma contradição entre duas ou mais normas que integram o sistema jurídico, surge um conflito aparente. A designação aparente decorre do fato de que uma das normas deverá ceder em detrimento da outra, a fim de preservar a harmonia do sistema, de modo que compete ao intérprete, utilizando uma sequência de raciocínios prevista no próprio ordenamento jurídico, encontrar a norma aplicável ao caso.

Assim, o primeiro raciocínio a ser adotado é a verificação da hierarquia existente entre as normas jurídicas conflitantes. Se houver normas de hierarquia distinta, o conflito resolve-se pela aplicação da norma hierarquicamente superior.

Portanto, se a lei dispõe de uma forma e o Decreto dispõe de outra, prevalece a disposição da lei. Se as normas forem de idêntica hierarquia, deve-se observar se há entre elas alguma que seja especial. Isto porque, a norma especial prevalece sobre a norma geral. Diz-se especial a norma que trata especificamente da matéria. Geral é a norma que não se volta especificamente para a matéria objeto do confronto, tratando dela apenas de modo secundário ou sob outros aspectos.

Um exemplo talvez esclareça melhor. O antigo Código Civil previa que a maioridade civil somente era alcançada aos 21 anos. Ainda durante a sua vigência, foi editada a Lei nº 8.213/1991, que trata dos benefícios

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previdenciários, e fixou em 21 anos a idade limite para que os filhos e os irmãos mantivessem a sua condição de dependente do segurado. O novo Código Civil, que entrou em vigor no ano de 2003, antecipou a maioridade civil para os dezoito anos. De imediato surgiu a dúvida: será que a alteração da maioridade civil para os 18 anos revogou as disposições da Lei nº 8.213, fazendo com que os filhos e irmãos somente mantivessem a condição de dependente até esta idade? A resposta é não, pois o Código Civil é uma norma geral, que não trata especificamente da matéria previdenciária. Assim, do ponto de vista previdenciário, continuam válidas as disposições da Lei nº 8.213 e a dependência continua existindo até os 21 anos.

Por fim, se nenhuma dentre as normas em conflito puder ser caracterizada como norma geral, o conflito resolve-se pela cronologia, em favor da norma mais recente. Vale, portanto, a máxima: lei posterior revoga a lei anterior, naquilo que lhe for contrária.

4. Interpretação e Vigência da Legislação Previdenciária

A interpretação é a tarefa de encontrar o sentido e o alcance da lei. Para tanto, existem diversos métodos:

Gramatical ou literal: é o método que prioriza o conteúdo semântico dos vocábulos empregados pela norma, ou seja, a sua literalidade. Assim, se a lei definiu que o benefício assistencial mensal de um salário-mínimo, previsto na Constituição, será devido ao idoso que não tenha renda e cuja renda per capita familiar seja inferior a 25% do salário-mínimo, o seu alcance deverá ser definido pelos próprios termos que utilizou. Não seria possível, portanto, a concessão do benefício a alguém cuja renda per capita familiar fosse de 25%, pois a lei definiu que somente aqueles com renda per capita INFERIOR a este patamar teriam direito.

Teleológico ou finalístico: para encontrar o sentido e o alcance da norma, este método prioriza a finalidade para a qual ela foi elaborada. Usando este método, por exemplo, o STF já assegurou o reconhecimento dos direitos previdenciários de menores que tenham trabalhado em idade inferior ao limite constitucional. O raciocínio é simples: qual a finalidade do estabelecimento de uma idade mínima para o trabalho? Sem dúvida, a proteção do menor. Ora, e qual a melhor forma de proteger o menor que efetivamente trabalhou, em detrimento da proibição constitucional? Sem dúvida, reconhecendo os seus direitos previdenciários. Por este raciocínio, é possível se chegar a uma conclusão que nem sempre se encontra expressa na literalidade da norma.

Histórico: este método prioriza a análise das discussões existentes quando da elaboração da norma, a fim de descobrir quais as razões que motivaram a sua elaboração.

Sistemático: por este método, a interpretação da norma é feita levando-se em conta o sistema normativo no qual ela está inserida. Em outras palavras, a busca pelo sentido da norma é feita pelo confronto do seu conteúdo com o conteúdo de outras normas, a fim de evitar a contradição.

Aplicando-se os métodos acima, define-se o alcance da norma, o qual, quando confrontado com a sua literalidade, pode ser extensivo ou restritivo.

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Ou seja, após submeter a norma a um procedimento de interpretação, é possível concluir que o seu texto disse mais do que deveria dizer, hipótese em que temos uma interpretação restritiva. Caso a interpretação conclua que o texto da norma disse menos do que deveria, teremos uma interpretação extensiva.

A depender de quem seja o intérprete, a interpretação classifica-se em autêntica, quando feita pelo próprio legislador, por meio de lei posterior expressamente interpretativa, jurisprudencial, quando efetuada pelo poder judiciário no exercício da sua função de resolução dos litígios, ou doutrinária, quando efetuada pelos estudiosos da matéria.

A integração tem lugar quando há uma lacuna da lei, ou seja, quando o ordenamento jurídico não disciplina a questão posta sob análise. Nestes casos, como não é possível deixar de decidir sob a justificativa de que não há legislação a respeito, é possível a utilização da analogia, do costume, dos princípios gerais de direito e da equidade.

As principais leis que tratam da matéria previdenciária são a Lei nº 8.212/1991, que trata da organização e do custeio da Seguridade Social, e a Lei nº 8.213/1991, que estabelece o plano de benefícios do Regime Geral de Previdência Social. Ambas tratam do Regime Geral de Previdência Social – RGPS e foram regulamentadas pelo Decreto nº 3.048/1999.

Os regimes próprios de previdência são regidos pelas respectivas leis que determinaram a sua instituição, devendo obedecer às disposições contidas na Lei nº 9.717, de 1998.

O INSS – Instituto Nacional do Seguro Social é a autarquia vinculada ao Ministério da Previdência responsável pela concessão, manutenção e revisão dos benefícios concedidos pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

O órgão responsável pela arrecadação, fiscalização e cobrança das contribuições previdenciárias, como de resto de todos os tributos federais, é a Secretaria da Receita Federal do Brasil, órgão inserido na estrutura do Ministério da Fazenda.

Vigência é a aptidão para a produção de efeitos. Ou seja, podemos dizer que a lei está em vigor quando, uma vez ocorrida na prática a situação por ela descrita, as suas determinações podem ser aplicadas, em fenômeno que se denomina incidência.

Como regra, o art. 1º da Lei de Introdução as Normas de Direito Brasileiro – LINDB determina que a lei entra em vigor quarenta e cinco dias após a sua publicação, salvo se dispuser de outro modo.

Normalmente, os textos legais apontam a data em que terá início a sua vigência, sendo muito comum que a vigência se dê a partir da data da publicação.

Denomina-se vacatio legis o período de tempo decorrido entre a publicação e a entrada em vigor da norma. Neste período, a lei já existe, já

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foi publicada, já cumpriu todos os requisitos necessários para a sua validade, mas ainda não produz efeitos, por não ter entrado em vigor.

Normalmente, este período de tempo é fixado para que as pessoas tomem conhecimento da lei e possam adaptar-se às regras por ela prescritas. Em outras situações, a lei entra em vigor, mas alguns de seus dispositivos exigem determinado período de tempo para que possam ter eficácia. Exemplo típico é o que ocorre com a lei que cria uma nova contribuição social ou aumenta a alíquota de uma contribuição já existente.

De acordo com o § 6º do art. 195 da Constituição, a nova contribuição ou a contribuição cuja alíquota foi majorada somente pode ser exigida após noventa dias da publicação da lei que a instituiu ou majorou. Neste intervalo de tempo, a lei está em vigor, mas somente produzirá efeitos depois de vencido o prazo de noventa dias.

5. Definição, Natureza Jurídica e Competência Legislativa

O art. 193 da Constituição inaugura o título da ordem social afirmando que ela tem por base o primado do trabalho e possui duplo objetivo: o bem-estar e a justiça social.

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.

Dentro da ordem social, destaca-se o conceito de Seguridade Social, definido no art. 194 da Constituição Federal, que assim dispõe:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Assim, não apenas o Estado atua no âmbito da seguridade social, pois é auxiliado pelas pessoas naturais e jurídicas de direito privado, a exemplo daqueles que fazem doações aos carentes e das entidades filantrópicas que prestam serviços de assistência social e de saúde gratuitamente.

Atualmente, ostenta simultaneamente a natureza jurídica de direito fundamental de 2ª e 3ª dimensões, vez que tem natureza prestacional positiva (direito social) e possui caráter universal (natureza coletiva).

O conceito constitucional delimita de modo preciso as áreas de atuação da Seguridade Social. Dentre todas as ações realizadas pelos poderes públicos e pela sociedade, somente estarão compreendidas na Seguridade Social, aquelas cujos objetivos sejam a garantia de direitos relativos à Saúde, à Previdência e à Assistência Social.

Este conceito é muito cobrado em provas. As bancas examinadoras, particularmente a ESAF, adoram elaborar alternativas nas quais se inserem no conceito de Seguridade Social as ações para a garantia dos direitos relativos à educação e à vida, o que, como você já pode perceber, torna a questão falsa.

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Portanto, daqui para frente, sempre que vir a expressão Seguridade Social, lembre que se trata de ações cujo objetivo é a garantia dos direitos relativos à SAÚDE, ASSISTÊNCIA SOCIAL E PREVIDÊNCIA SOCIAL.

A Seguridade Social estabelece uma rede social de proteção, à qual comumente se dá o nome de Estado do bem-estar social, que oferece proteção ao cidadão nas situações de risco social. Ou seja, o objetivo desta rede é proteger os cidadãos nas situações de infortúnio, garantindo-lhes os meios mínimos necessários para uma existência digna.

Com vistas ao alcance deste objetivo, as políticas e ações públicas de saúde, assistência social e previdência social atuarão de modo integrado. Por esta razão a Previdência Social é vista como um serviço a ser prestado de forma integrada com a Assistência Social e a Saúde.

O conceito constitucional demonstra que as ações na área de Seguridade Social não serão desenvolvidas exclusivamente pelo Estado, pois a iniciativa destas ações também pertence à sociedade. Entretanto, de acordo com o parágrafo único do art. 194 da Constituição, compete ao poder público organizar a Seguridade Social, nos termos da Lei.

Em regra, caberá privativamente à União legislar sobre seguridade social, na forma do artigo 22, inciso XXIII, da Constituição Federal:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:[...]XXIII – seguridade social.

Contudo, será competência concorrente entre as entidades políticas legislar sobre previdência social, proteção e defesa da saúde, dos portadores de deficiência, da infância e juventude, na forma do artigo 24, incisos XII, XIV e XV, da Lei Maior:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:[...]XII – previdência social, proteção e defesa da saúde;[...]XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;XV – proteção à infância e à juventude.

Note-se que os municípios também entrarão na repartição dessas competências, pois aos mesmos caberá legislar sobre assuntos de interesse local, assim como suplementar a legislação estadual e federal no que couber, nos moldes do artigo 30, incisos I e II, da Constituição Federal.

Há uma aparente antinomia de dispositivos constitucionais, pois a seguridade social foi tema legiferante reservado à União pelo artigo 22, inciso XXIII, enquanto a previdência social, a saúde e temas assistenciais (todos inclusos na seguridade social) foram repartidos entre todas as pessoas políticas.

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Essa aparente antinomia é solucionada da seguinte maneira: apenas a União poderá legislar sobre previdência social, exceto no que concerne ao regime de previdência dos servidores públicos efetivos dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, que poderão editar normas jurídicas para instituí-los e discipliná-los, observadas as normas gerais editadas pela União e as já postas pela própria Constituição.

Outrossim, os estados, o Distrito Federal e os municípios também poderão editar normas jurídicas acerca da previdência complementar dos seus servidores públicos, a teor do artigo 40, §14, da Constituição Federal. Contudo, entende-se que apenas a União possui competência para legislar sobre a previdência complementar privada, pois o tema deve ser regulado por lei complementar federal, conforme se interpreta do artigo 202, da Constituição Federal, tendo sido promulgada pela União as Leis Complementares 108 e 109/2001.

No que concerne à saúde e à assistência social, a competência acaba sendo concorrente, cabendo à União editar normas gerais a serem complementadas pelos demais entes políticos, conforme as suas peculiaridades regionais e locais, tendo em conta que todas as pessoas políticas devem atuar para realizar os direitos fundamentais na área da saúde e da assistência social.

Nesse sentido, as normas gerais sobre a saúde foram editadas pela União através da Lei 8.080/90, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e da assistência social pela Lei 8.742/93, que dispõe sobre a organização da assistência social no Brasil.

Obs.: Em provas objetivas orienta-se o avaliando a seguir a alternativa que expressar literalmente o texto da Constituição Federal neste tema, pois as bancas examinadoras têm seguido este padrão.

6. Princípios da Seguridade Social

Com o advento do constitucionalismo pós-positivista, os princípios passaram à categoria de normas jurídicas ao lado das regras, não tendo mais apenas a função de integrar o sistema quando ausentes as regras regulatórias, sendo agora dotados de coercibilidade e servindo de alicerce para o ordenamento jurídico, pois axiologicamente inspiram a elaboração das normas-regras.

É possível definir os princípios como espécie de normas jurídicas com maior carga de abstração, generalidade e indeterminação que as regras, haja vista não disciplinarem por via direta as condutas humanas, dependendo de uma intermediação valorativa do exegeta para a sua aplicação.

Com propriedade, é prevalente que no atual patamar do constitucionalismo o conflito entre princípios não se resolve com o sacrifício abstrato de um deles, devendo ser equacionada a tensão de acordo com o caso concreto, observadas as suas peculiaridades, manejando-se o Princípio da Proporcionalidade.

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Outrossim, é preciso destacar que muitas vezes o próprio legislador já operou a ponderação entre princípios ao elaborar as regras, não cabendo ao intérprete (juiz, administrador público e particulares) contrariar a decisão legislativa, salvo quando atentar contra a Constituição Federal.

De sua vez, a maioria dos princípios informadores da seguridade social encontra-se arrolada no artigo 194, da Constituição Federal, sendo tratados como objetivos do sistema pelo constituinte, destacando-se que a sua interpretação e grau de aplicação variará dentro da seguridade social, a depender do campo de incidência, se no subsistema contributivo (previdência social) ou no subsistema não contributivo (assistência social e saúde pública).

Embora a Constituição dê a eles a denominação de objetivos, a doutrina previdenciária os denomina princípios da Seguridade Social, pois são enunciados com alto grau de abstração e que influenciam o legislador, o aplicador da lei e o intérprete.

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:I - universalidade da cobertura e do atendimento;II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;V - equidade na forma de participação no custeio;VI - diversidade da base de financiamento;VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

Portanto, as questões podem cobrar estes itens denominando-os de

princípios da Seguridade Social, ou de objetivos da Seguridade Social.

Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento: O princípio da universalidade da cobertura, também conhecido como universalidade objetiva, impõe que o sistema de Seguridade Social ofereça cobertura a todas as situações de risco social.

Impede-se, portanto, a omissão do sistema quanto à cobertura de determinada situação que venha a colocar o indivíduo em situação de risco social.

A universalidade do atendimento, por sua vez, implica a obrigatoriedade de atendimento pelo sistema de Seguridade Social a todas

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as pessoas. A própria Constituição determina que a saúde seja prestada a todos e que a assistência social seja prestada a todos que dela necessitem.

Quanto à Previdência Social este principio sofre limitação em razão do caráter contributivo desta, ela destina-se precipuamente ao trabalhador, entretanto, aquele que não desenvolve atividade remunerada pode filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social na condição de segurado facultativo, regra que materializa o princípio da universalidade também neste ramo da seguridade social.

Tratando do tema, a ESAF, no último concurso de AFT, considerou incorreta a seguinte assertiva:

A doutrina subdivide a universalidade em objetiva, significando que o atendimento deve abranger pessoas de todo o país, no âmbito urbano ou rural, e subjetiva, significando que a abrangência deve abarcar os riscos sociais e a prevenção do surgimento da necessidade protetora em qualquer circunstância.

Como se vê, a ESAF inverteu os conceitos de universalidade subjetiva e objetiva, o que justifica ter sido a questão considerada incorreta.

Portanto, este princípio busca conferir a maior abrangência possível às ações da seguridade social no Brasil, na medida dos recursos disponíveis. É possível cindi-lo a fim de ligar a Universalidade da Cobertura aos riscos sociais abarcados pelo Sistema Nacional de Seguridade Social (aspecto objetivo), enquanto a Universalidade do Atendimento se refere às pessoas destinatárias das prestações securitárias (aspecto subjetivo).

É importante entender que a Seguridade Social impõe ao Estado uma série de obrigações, quer seja de conceder benefícios, quer seja de prestar serviços em prol dos beneficiários. Todas estas ações demandam enorme quantidade de recursos, de modo que o princípio da universalidade deverá ser temperado por outros princípios, especialmente os princípios da seletividade e da reserva do possível, pois as necessidades são infinitamente superiores às possibilidades materiais de atendimento.

Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais: Por este princípio, a Constituição impede a discriminação à população rural, exigindo que os benefícios oferecidos pela Seguridade Social a esta população sejam idênticos àqueles oferecidos à população urbana. Além de serem uniformes, os benefícios devem ser equivalentes, ou seja, também não é possível que se diferencie o valor dos benefícios por serem eles concedidos às populações urbana ou rural.

Para a melhor compreensão deste princípio, é importante ter em mente que, historicamente, a proteção social oferecida à população urbana foi sempre mais abrangente do que aquela fornecida à população rural. Se pensarmos na proteção previdenciária, por exemplo, ela tem início no Brasil na década de vinte, com a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensão nas empresas Ferroviárias, determinada pela Lei Eloy Chaves. Inicialmente destinada aos trabalhadores urbanos, a proteção previdenciária somente foi estendida aos trabalhadores rurais na década de sessenta, com a criação do FUNRURAL – Fundo de Assistência e Previdência do trabalhador rural.

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Mesmo aí, os benefícios concedidos aos trabalhadores rurais eram bem diferentes daqueles concedidos aos trabalhadores urbanos e, na maioria das vezes, tinham valor inferior ao salário-mínimo.

Este princípio se materializa, por exemplo, na garantia constitucional de que os benefícios que substituem a renda do trabalhador não tenham valor inferior a um salário-mínimo, a qual se aplica, indistintamente, aos trabalhadores urbanos e aos trabalhadores rurais.

É necessário frisar, entretanto, que a existência deste princípio não impede a existência de algumas diferenciações na concessão dos benefícios e nas regras de contribuição dos trabalhadores rurais, as quais têm fundamento na própria Constituição, como, por exemplo, os requisitos etários reduzidos em cinco anos para a obtenção de aposentadoria por idade pelos trabalhadores rurais e a previsão de que as contribuições previdenciárias devidas pelos pequenos produtores rurais que exerçam a sua atividade em regime de economia familiar incidirão sobre o resultado da comercialização da produção (ações afirmativas).

Sobre o tema, vale citar uma interessante questão feita pelo CESPE no concurso para Juiz Federal do TRF 1ª Região, feito em 2009:

A CF estabelece expressamente que um dos objetivos do sistema de seguridade social é a uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais. Entretanto, o legislador ordinário poderá estabelecer benefícios diferenciados para essas populações, em determinadas hipóteses.

A questão foi considerada incorreta, pois ainda que existam alguns requisitos diferenciados para a concessão de benefícios aos trabalhadores rurais (como a diferenciação da idade requerida para a aposentadoria), tais requisitos encontram fundamento no próprio texto constitucional, sendo vedada a sua instituição por lei ordinária.

Princípio da seletividade e da distributividade na prestação dos benefícios e serviços: O princípio da seletividade atua como uma forma de ponderação ao princípio da universalidade.

O legislador constituinte, ao delinear o sistema de Seguridade Social, previu que as necessidades de benefícios excederiam bastante as possibilidades do sistema, daí porque impôs a seletividade. Não sendo possível o oferecimento de cobertura a todas as situações de risco social, cabe ao sistema selecionar quais as situações serão objeto de cobertura, ou qual a extensão da cobertura fornecida em cada uma das situações.

É importante frisar que se devem selecionar as situações de risco a serem cobertas e não as pessoas a serem protegidas, pois isto implicaria ofensa ao princípio da universalidade e até mesmo à isonomia.

O princípio da reserva do possível, que não está expresso na Constituição, mas é mencionado pela doutrina, reconhece que as prestações da Seguridade Social serão devidas na medida das disponibilidades orçamentárias. Tem, portanto, um conteúdo bastante próximo ao princípio da seletividade.

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Toda seleção exige um critério. A Constituição determina que se faça uma seleção das situações de risco a serem cobertas pela Seguridade e, ao mesmo tempo, determina que a distributividade seja o critério utilizado nesta seleção. Em outras palavras, a Constituição determina que o sistema de Seguridade Social atue como elemento distribuidor de renda, objetivo que somente se alcança quando se prioriza a concessão de benefícios e serviços àqueles que mais necessitam.

Ora, se, nos termos do art. 195 da Constituição, toda a sociedade financia a Seguridade Social, direcionar os benefícios da Seguridade àqueles que mais necessitam implica distribuir entre estas pessoas a maior parte dos valores que são trazidos ao sistema por toda a sociedade.

Importante salientar que a escolha das situações de risco a serem cobertas deve ser feita pela lei, não cabendo à administração pública, enquanto gestora do sistema de Seguridade Social, nenhuma margem de discricionariedade na escolha das situações a serem cobertas. A vinculação é total, cabendo à administração apenas assegurar que a pessoa que está pleiteando o benefício preenche os requisitos previstos em lei.

Exemplo marcante de aplicação do princípio da seletividade e da distributividade é a previsão constitucional de que o salário-família e o auxílio-reclusão sejam concedidos apenas aos dependentes do segurado de baixa renda (Art.201, IV da CF/88). Ora, a concessão destes benefícios a todos os segurados traria um grande ônus ao sistema e, impondo-se uma seleção das situações a serem cobertas, a Constituição direciona os benefícios aos dependentes dos segurados de baixa renda.

Outro exemplo é o trazido no art.203, V da Constituição:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

A distributividade coloca a seguridade social como sistema realizador da justiça social, consectário do Princípio da Isonomia, sendo instrumento de desconcentração de riquezas.

Tais princípios se revelam mais na assistência social.

Irredutibilidade do valor dos benefícios: Por este princípio, a Constituição impede a redução do valor dos benefícios, assegurando-lhes garantia semelhante àquela concedida ao salário pelo inciso VI do seu art. 7º. Impede-se, portanto, que lei ou ato administrativo posterior à concessão do benefício venha a reduzir nominalmente o seu valor bruto, alterando-o, por exemplo, de R$ 1.000,00 para R$ 990,00.

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Numa acepção ampla, este princípio protege também o valor real do benefício, exigindo que o benefício concedido seja periodicamente reajustado, a fim de que mantenha o seu valor de compra.

Entretanto, tal princípio não impede a redução de um benefício concedido erroneamente.

Não previdência tal princípio é altamente aplicado, pelo fato de ser contributiva.

É importante que se frise que a interpretação restritiva dada pelo STF ao princípio da irredutibilidade, previsto no inciso IV do parágrafo único do art. 194 da Constituição, não significa que o valor real dos benefícios não esteja protegido, pois o § 4º do art. 201 da Constituição expressamente exige a concessão de reajustes periódicos aos benefícios previdenciários, a fim de eles tenham preservado o valor de compra.

Neste momento, é muito importante que você observe o seguinte: não há exigência constitucional de que os benefícios da Previdência sejam reajustados pelo mesmo índice aplicado ao reajuste do salário-mínimo. Pelo contrário, a Constituição expressamente impede a vinculação ao salário-mínimo para qualquer finalidade.

Portanto, não esqueça disso: os benefícios previdenciários não são reajustados pelo mesmo índice aplicável ao reajuste do salário-mínimo. De acordo com o art. 41-A da Lei nº 8.213, de 1991, o valor dos benefícios previdenciários será feito anualmente com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC.

Apenas para que você não esqueça: no início de 2012, o salário-mínimo foi reajustado em 14,12%, passando de R$ 545,00 para R$ 622,00. Os benefícios devidos pelo RGPS, por sua vez, foram reajustados apenas em 6,08%. Resta claro, portanto, que não há vinculação entre os dois reajustes.

Vale ainda mencionar a recente decisão do STJ:

A correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em conta apenas oscilações positivas importaria distorcer a realidade econômica produzindo um resultado que não representa a simples manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho da Justiça Federal que, não havendo decisão judicial em contrário, "os índices negativos de correção monetária (deflação) serão considerados no cálculo de atualização", com a ressalva de que, se, no cálculo final, 'a atualização implicar redução do principal, deve prevalecer o valor nominal'"

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(Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJe 18/4/12).

Assim, por este princípio, decorrente da segurança jurídica, não será possível a redução do valor nominal de benefício da seguridade social. No caso específico da previdência social, ainda é garantido constitucionalmente o reajustamento para manter o seu valor real.

Equidade na forma de participação no custeio: O princípio da equidade na participação no custeio relaciona-se com o princípio tributário da capacidade contributiva e indica que cada pessoa deve ser chamada a contribuir para o sistema de Seguridade Social, na medida da sua capacidade. Sob este fundamento, por exemplo, as contribuições devidas pelos segurados empregados à Previdência Social serão maiores à medida que seja maior o seu salário de contribuição. Do mesmo modo, as contribuições previdenciárias devidas pelas empresas possuem alíquotas superiores àquelas devidas pelos segurados, dada, em regra, a sua maior capacidade econômica.

Para que seja efetivamente equitativa, a participação no custeio deve levar em conta não apenas a capacidade econômica, mas também o ônus trazido ao sistema. Em outras palavras, a contribuição também deve ser graduada em razão dos riscos proporcionados aos beneficiários. Deste modo, por exemplo, a empresa cuja atividade possui um alto grau de riscos de acidente do trabalho deve ter uma contribuição superior àquela cujo grau de risco de acidentes é baixo.

Por sua vez, a empresa que investe em prevenção e segurança do trabalho, tendo um desempenho em relação aos acidentes do trabalho bem melhor do que a média do seu segmento econômico, deve recolher contribuições previdenciárias menores do que uma empresa que não faça os mesmos investimentos e cause um número maior de acidentes.

Do mesmo modo, a empresa que expõe o seu trabalhador a agente nocivo prejudicial a sua saúde deve ter um adicional de contribuição em relação às demais empresas, que não expõem os seus trabalhadores a este tipo de risco.

Diversidade da base de financiamento: Como o próprio nome diz, o princípio da diversidade da base de financiamento impõe que os recursos destinados à Seguridade Social provenham de diversas fontes, com vistas ao seu fortalecimento financeiro. Evita-se, deste modo, que o sistema de Seguridade Social venha a se tornar excessivamente dependente de uma única fonte, que se viesse a sofrer grande oscilação, traria desequilíbrio ao sistema.

A diversidade está contemplada nos incisos do art. 195 da Constituição, que preveem diversas bases econômicas para a incidência das contribuições sociais (folha de salários e demais rendimentos do trabalho, faturamento ou receita, lucro, receita de concursos de prognóstico e operações de importação). Esta diversidade é reforçada pela atribuição constitucional de competência residual à União, para que institua novas contribuições de Seguridade Social, o que abre ainda mais o leque das possibilidades de financiamento (por meio de lei complementar).

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Caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do governo nos órgãos colegiados: Por este princípio, a Constituição exige a participação da sociedade na gestão da Seguridade Social. Os quatro grupos que têm interesses na Seguridade Social – trabalhadores, aposentados, empresas e o governo – devem ter assento e voz nos seus órgãos decisórios, para que possam acompanhar a gestão e participar das decisões.

Por força disto, em cada um dos segmentos da Seguridade há órgãos colegiados encarregados de acompanhar a gestão e controlar a execução das políticas de cada uma das áreas. São exemplos o Conselho de Saúde, o Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS e o Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS.

Princípio da solidariedade: O princípio da solidariedade não está expresso no parágrafo único do art. 194 da Constituição, mas sim no inciso I do seu art. 3º. Ali, a Constituição afirma que a construção de uma sociedade livre, justa e solidária constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. Embora não seja um princípio ou objetivo específico da Seguridade Social, a solidariedade é a própria razão de existência deste sistema. A criação de uma rede de benefícios sociais cujo objetivo é a proteção das pessoas que venham a se encontrar em situações de risco somente faz sentido, quando se entende que o risco não deve ser suportado por cada um individualmente, mas sim por toda a sociedade.

Seguindo-se esta ideia, o fato de uma pessoa encontrar-se em uma situação de extremo infortúnio, por exemplo, porque não mais pode trabalhar em razão da doença, afeta não apenas a pessoa e aqueles que dela dependem, mas toda a sociedade. Exatamente por essa situação, a sociedade se organiza para a criação de um sistema cujo objetivo é a proteção dessas pessoas em situação de risco.

A solidariedade aparece, por exemplo, no regime de repartição adotado pela Previdência Social. Neste sistema, as contribuições vertidas pelos trabalhadores em atividade são utilizadas para o pagamento de benefícios àqueles que estão aposentados. Os benefícios devidos àqueles que hoje estão em atividade serão custeados pelas contribuições vertidas pela próxima geração de trabalhadores (solidariedade intergeracional e intrageracional). Assim, sucessivamente, as gerações ativas financiam os benefícios daquelas que estão na inatividade.

É o princípio da solidariedade que permite, por exemplo, que um trabalhador que venha a sofrer um acidente no seu primeiro dia de trabalho possa receber aposentadoria por invalidez durante toda a sua vida. Tendo sofrido o acidente no primeiro dia de trabalho, resta claro que não houve contribuição por parte deste segurado. Os recursos necessários ao pagamento daquela aposentadoria, portanto, serão bancados por toda a sociedade, pois se entende que o risco de perder a capacidade de trabalho por força de um acidente não deve ser suportado por cada um individualmente, mas sim por toda a sociedade.

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É também o princípio da solidariedade que determina que um aposentado que retorna à atividade deve recolher normalmente as contribuições previdenciárias, mesmo não podendo receber uma nova aposentadoria.

Precedência da fonte de custeio: Por esse princípio, nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total nos termos do art.195, §5º da CF. O STF entende que tal princípio não se aplica a previdência privada.

Orçamento diferenciado: Existe uma peça orçamentária exclusiva para a seguridade social, nos termos do art.165, §5º, III da CF.

7. Custeio da Seguridade Social

O art. 195 da Constituição dispõe que a Seguridade Social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das contribuições sociais previstas nos incisos do referido artigo.

Como se vê, todos devem participar do financiamento da Seguridade Social. Lembre-se que a participação de cada um neste financiamento deve ser equitativa, por força do princípio previsto no inciso V do parágrafo único do art. 194 da CF.

O FINANCIAMENTO INDIRETO se dá pela aplicação de recursos dos orçamentos da União, Estados, DF e municípios em ações de Seguridade Social. Quando os entes federativos aplicam parcela da sua arrecadação tributária no desenvolvimento de ações da Seguridade Social, uma parte dos valores transferidos ao Poder Público pela sociedade, sob a forma de impostos que não estão vinculados a uma atividade estatal específica em relação ao contribuinte, retorna à sociedade sob a forma de prestações da Seguridade Social.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem aplicar uma parcela da sua arrecadação tributária no desenvolvimento de ações de Seguridade Social. O art. 198 da Constituição, por exemplo, exige a aplicação de percentuais mínimos da arrecadação tributária de cada um destes entes em ações e serviços de saúde. Em outro exemplo, o parágrafo único do art. 204 da Constituição faculta aos Estados e ao Distrito Federal a vinculação de até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida a programa de apoio à inclusão e à promoção social.

O art. 198 da Constituição dispõe que o Sistema Único de Saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da Seguridade Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. O art. 204 dispõe de idêntico modo em relação à assistência social.

O § 1º do art. 195 prevê que as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à Seguridade Social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União. Cada ente

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federativo, portanto, indicará as dotações orçamentárias a serem aplicadas em ações de Seguridade Social.

A contribuição da União para a Seguridade Social é constituída de recursos adicionais do Orçamento Fiscal, os quais são fixados obrigatoriamente na lei orçamentária anual.

O § 2º do art. 195 da Constituição dispõe que a proposta de orçamento da Seguridade Social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos.

A lei prevê ainda que a União é responsável pela cobertura de insuficiências financeiras da Seguridade Social, quando decorrentes do pagamento de benefícios de prestação continuada da Previdência Social. Na condição de gestora do RGPS, compete à União suportar eventuais insuficiências financeiras, caso o montante dos recursos arrecadados com as contribuições previdenciárias e com as outras fontes de recursos previstas em lei não sejam suficientes para o pagamento dos benefícios.

O FINANCIAMENTO DIRETO da Seguridade Social se dá pelo recolhimento de contribuições de Seguridade Social. Isto porque, o produto da arrecadação de contribuições de Seguridade Social somente pode ser aplicado no financiamento de ações de Seguridade Social.

Portanto o financiamento da seguridade social é realizado de forma direta pelo recolhimento de contribuições para a seguridade social e de forma indireta por recursos de orçamento da União, Estado, Distrito Federal e Municípios.

O art. 195 da Constituição outorga à União competência para a instituição das seguintes contribuições sociais:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;b) a receita ou o faturamento;c) o lucro;II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;III - sobre a receita de concursos de prognósticos.IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.§ 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão

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dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União.§ 2º - A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos.§ 3º - A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.§ 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.§ 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.§ 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-deobra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.§ 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema único de saúde e ações de assistência social da União para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos.§ 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar.§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas.§ 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive na hipótese de substituição gradual, total ou parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento.

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O art. 195 da Constituição atende o princípio constitucional da diversidade na base de financiamento da Seguridade Social, pois prevê diversas bases econômicas para a incidência das contribuições de Seguridade Social.

Esclarece-se por oportuno, que concursos de prognósticos são os concursos de sorteios de números, loterias, apostas, inclusive aquelas realizadas em reuniões hípicas (apostas em corridas de cavalo).

Por estarem previstas no texto constitucional, as contribuições previstas no art. 195 da CF podem ser instituídas por lei ordinária. Desde o ano de 2007, com a publicação da Lei nº 11.457, estas contribuições são arrecadadas, cobradas, fiscalizadas e normatizadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil – RFB, órgão público integrante da estrutura do Ministério da Fazenda. Como vocês sabem, os órgãos públicos não possuem personalidade jurídica própria, encontrando-se inserido na estrutura do ente federativo do qual fazem parte.

Deste modo, atualmente, a própria União figura no polo ativo da relação jurídica de exigência das contribuições, exercendo ela própria à capacidade tributária ativa.

Nem sempre foi assim. Até 1997, a capacidade tributária ativa em relação às contribuições da empresa sobre a folha de salários e demais rendimentos, assim como em relação às contribuições devidas pelos trabalhadores e demais segurados, era atribuída ao Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, autarquia vinculada ao ministério da Previdência Social. Em relação a estas contribuições, historicamente, a capacidade tributária ativa era atribuída à autarquia responsável pela operacionalização do Regime Previdenciário.

Em função disso, a doutrina costumava denominar as contribuições de Seguridade Social como Contribuições Parafiscais. Esta denominação não é muito utilizada pelos autores mais modernos, que preferem a expressão contribuição de Seguridade Social, cunhada pelo STF.

Merece atenção uma decisão do STF onde se afirma que o fato de uma contribuição de Seguridade Social ser cobrada por outra pessoa, que não a autarquia previdenciária, não lhe modifica a natureza, desde que seja respeitada a destinação constitucional dos recursos. Em outras palavras: não interessa quem esteja ocupando o polo ativo (a própria união ou a autarquia previdenciária), a contribuição de Seguridade Social caracteriza-se pela vinculação do produto da sua arrecadação à Seguridade Social.

O sujeito passivo das contribuições de Seguridade Social previstas no inc. I do art. 195 é o empregador, a empresa ou a entidade a ela equiparada, nos termos da lei. Empregador é a pessoa que admite a seu serviço um empregado. Este conceito inclui o empregador doméstico (pessoa ou família que admite um empregado doméstico).

O conceito previdenciário de empresa é bastante amplo, a fim de que nele se encaixe qualquer tipo de sociedade, instituição, entidade ou até mesmo uma pessoa física que venha a desenvolver atividade econômica,

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com ou sem finalidade lucrativa, e que venha a utilizar a mão de obra de trabalhadores.

A empresa, de acordo com a alínea “a” do inciso I do art. 195 da CF, contribuirá sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados a qualquer título à pessoa física que lhe preste serviços, ainda que sem vínculo empregatício. A expressão “folha de salários” engloba os valores pagos ou creditados pela empresa aos empregados a seu serviço, pois o salário é uma verba paga especificamente a este tipo de trabalhador.

O texto constitucional, portanto, demonstra, de modo inequívoco, que a empresa deverá recolher contribuição de Seguridade Social quando remunerar um empregado, bem como deverá recolher contribuição de Seguridade Social quando remunerar um trabalhador que lhe preste serviços eventuais, sem ter com ela um vínculo de emprego.

Para tanto, nada melhor que um exemplo: suponha que uma empresa contrate um empregado e ajuste com ele o pagamento de uma remuneração mensal de R$ 1.000,00. Como vimos, incide contribuição de Seguridade Social, devida pela empresa, sobre os valores pagos aos empregados (folha de salários). Logo, a empresa deverá, ao final do mês, pagar o salário do empregado e, além disso, recolher a contribuição previdenciária incidente sobre a remuneração deste segurado.

Do mesmo modo, se esta empresa contratar um trabalhador para prestar um serviço eventual, alguém que não tenha com ela vínculo empregatício, deverá recolher contribuição previdenciária sobre a remuneração paga a este trabalhador. Assim, caso a empresa contrate, por exemplo, um eletricista para realizar pequenos reparos em sua rede elétrica, pagando R$ 300,00 por serviços que foram integralmente realizados em um único dia, deverá efetuar o pagamento da remuneração ao segurado e, além disso, recolher contribuição previdenciária sobre o valor desta remuneração.

Não se preocupe ainda com as alíquotas e prazos de recolhimento, pois nós os estudaremos mais à frente. Do mesmo modo, veremos que além de recolher as suas contribuições, a empresa será responsável pelo recolhimento das contribuições devidas pelos segurados.

A contribuição da empresa sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho, prevista na alínea “a” do inciso I do art. 195 da CF, assim como a contribuição devida pelos trabalhadores e pelos demais segurados, prevista no inc. II do art. 195, são denominadas contribuições previdenciárias, pois, nos termos do inc. XI do art. 167 da Constituição, os recursos provenientes destas contribuições sociais não podem ser utilizados para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do Regime Geral de Previdência Social – RGPS.

Preste bastante atenção: todas as contribuições previstas nos incisos I a IV do art. 195 da Constituição são contribuições de Seguridade Social, as quais se caracterizam pelo fato de que o produto da arrecadação somente pode ser aplicado em ações de Seguridade Social. Entretanto, as contribuições da empresa sobre a

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folha de salário e demais rendimentos assim como a contribuição dos trabalhadores e demais segurados são ainda mais específicas, pois os recursos arrecadados com estas contribuições estão vinculados exclusivamente ao pagamento de benefícios do RGPS (Art. 167, XI da CF), não podendo ser utilizados para o financiamento de nenhuma outra atividade, ainda que dentro da Seguridade Social.

Portanto, não esqueça: a expressão contribuições previdenciárias designa a contribuição da empresa sobre a folha de salários e demais rendimentos e a contribuição do trabalhador.

Contribuição Previdenciária: Contribuição da empresa sobre folha de salários e demais rendimentos do trabalho e Contribuição do trabalhador e demais segurados.

O inciso II do art. 195 da CF dispõe sobre as contribuições devidas pelo trabalhador e pelos demais segurados da Previdência Social. Como você já sabe, todo trabalhador vincula-se obrigatoriamente à Previdência Social (filiação compulsória) e, por conta disso, é obrigado a recolher contribuições de Seguridade Social para ter acesso aos benefícios por ela concedidos.

Além dos trabalhadores, também é possível a filiação à Previdência, na qualidade de segurado facultativo, de pessoas que não exercem atividades remuneradas. Por isso, a Constituição menciona neste inciso, além da contribuição devida pelos trabalhadores, a contribuição devida pelos demais segurados da Previdência.

A parte final do inciso II dispõe expressamente que não incide contribuição sobre as aposentadorias e pensões concedidas pelo RGPS. Este é um ponto bastante cobrado pelas provas.

Ressalte-se que a vedação à incidência de contribuição do segurado sobre aposentadorias e pensões existe apenas no âmbito do RGPS. No âmbito dos Regimes Próprios de Previdência Social, de acordo com o § 18 do art. 40 da Constituição, há incidência de contribuições previdenciárias sobre a parcela do valor das aposentadorias e pensões que exceda ao limite máximo dos benefícios pagos pelo RGPS.

Contribuições da empresa sobre o faturamento ou receita e sobre o lucro: A alínea “b” do inciso I do art. 195 da Constituição prevê a incidência de contribuição devida pela empresa sobre o faturamento ou receita. Esta contribuição é a COFINS, instituída pela Lei Complementar nº 70/1991.

De acordo com a Lei no 10.833/2003, a COFINS tem como fato gerador o faturamento mensal, assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil. Em seguida, o § 1º do referido artigo estabelece que o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviços nas operações em conta própria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa jurídica.

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A apuração da contribuição é feita mensalmente e há duas sistemáticas de incidência – a cumulativa e a não cumulativa. Uma parte das empresas recolhem a COFINS de modo cumulativo enquanto outra parte recolhe a COFINS de modo não-cumulativo. Obviamente, compete à lei definir a sistemática de recolhimento aplicável a cada contribuinte.

Quando apurada pela sistemática cumulativa, a COFINS é calculada pela aplicação da alíquota de 3% sobre o total das receitas obtidas no mês, com as exclusões previstas na lei. Para a apuração da COFINS pela sistemática não cumulativa, aplica-se a alíquota de 7,6% sobre o total das receitas, deduzindo-se o valor da COFINS paga quando da aquisição de bens e insumos utilizados na comercialização e na produção. De um modo geral, a apuração da COFINS pela sistemática não cumulativa aplica-se às empresas optantes pelo lucro real.

A explicação acima está bastante reduzida e não contempla as diversas exceções e detalhes contidos na legislação que disciplina a COFINS, pois o seu estudo foge ao campo de atuação do Direito Previdenciário, de modo que nas provas da nossa disciplina a cobrança restringe-se aos aspectos básicos acima mencionados.

Além da COFINS, também incide sobre o total das receitas obtidas pela empresa a contribuição para o PIS/PASEP, que foi expressamente recepcionada pelo art. 239 da Constituição. As alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP são de 0,65%, quando cobrada pela sistemática cumulativa, e de 1,65%, quando cobrada de modo não cumulativo. A arrecadação desta contribuição financia o programa do seguro-desemprego e o abono anual do PIS, previsto no § 3º do referido art. 239.

Vale ressaltar que não há bis in idem na incidência de duas contribuições sobre idêntico fato gerador (obtenção de faturamento). Segundo o STF, a incidência da COFINS e do PIS/PASEP sobre a mesma base de cálculo não é inconstitucional, pois as duas contribuições encontravam-se previstas no texto original da Constituição: a COFINS, no art. 195, e a contribuição para o PIS/PASEP, que é anterior à Constituição, mas foi por ela expressamente recepcionada no art. 239.

A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL encontra-se prevista na alínea “c” do inc. I do art. 195 da Constituição e foi instituída pela Lei nº 7.689/1988. O fato gerador desta contribuição é a obtenção de lucro pela empresa e a alíquota aplicável é de 9%. A apuração da contribuição pode ser feita pela sistemática do lucro real ou presumido, a depender da forma de tributação adotada pela empresa.

Se você já estudou direito tributário, pode estar com a seguinte dúvida: a empresa não paga imposto de renda (IRPJ) sobre o lucro que obtiver? Sim, tanto o IRPJ quanto a CSLL incidem sobre o lucro obtido pelas empresas. Quanto a este ponto, o STF também já se manifestou, afirmando que não é inconstitucional a coincidência entre a base de cálculo desta contribuição social e a base de cálculo do IRPJ. Também aqui, o STF argumenta que ambos (IRPJ e CSLL) encontravam-se previstos no texto original da constituição.

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Contribuição sobre a receita dos concursos de prognósticos: Concursos de prognósticos são todos e quaisquer concursos de sorteios de números, loterias, apostas, inclusive as realizadas em reuniões hípicas, nos âmbitos federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, promovidos por órgãos do Poder Público ou por sociedades comerciais ou civis. Esta definição encontra-se no § 1º do art. 212 do Regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 06/05/1999.

De acordo com o § 2º do mencionado art. 212 do Regulamento da Previdência, esta contribuição consiste na renda líquida dos concursos de prognósticos realizados pelos órgãos do Poder Público, destinada à Seguridade Social de sua esfera de governo.

Entende-se como renda líquida o total da arrecadação, deduzidos os valores destinados ao pagamento de prêmios, de impostos e de despesas com administração.

Além disso, também são excluídos da renda líquida os valores destinados ao INDESP – Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto, ao programa de crédito educativo e ao FIES – Fundo de financiamento do estudante de nível superior. Também incide contribuição, com alíquota de 5%, sobre o movimento global de apostas em prados de corrida e sobre o movimento global de sorteio de números ou de quaisquer modalidades de símbolos.

O movimento global das apostas é o total das importâncias relativas às várias modalidades de jogos, inclusive o de acumulada, apregoadas para o público no prado de corrida, subsede ou outra dependência da entidade.

O movimento global de sorteio de números é o total da receita bruta, apurada com a venda de cartelas, cartões ou quaisquer outras modalidades, para sorteio realizado em qualquer condição.

Apesar de a Constituição tratá-la como contribuição para a seguridade social, não se trata tecnicamente de um tributo, e sim de repasses de recursos financeiros arrecadados pelo Poder Público em decorrência das apostas oficiais.

O tema vem regulamentado pelos artigos 26 e 27, da Lei 8.212/91, sendo definidos os concursos de prognósticos como todos os concursos de sorteios de números, loterias, apostas, inclusive aquelas realizadas em reuniões hípicas, no âmbito federal, estadual, distrital e municipal.

Quando o Poder Público for o organizador, será repassada à seguridade social a renda líquida, apurada após deduzidos os custos com o pagamento de prêmios, impostos e gestão, ressalvada uma parcela destinada ao crédito educativo. Por outro lado, quando o particular for autorizado a organizar as apostas, a exemplo dos prados de cavalos, serão destinados 5% do seu movimento global à seguridade social. Artigo 212, do Decreto 3.048/99.

Contribuição do importador: Foi inserida no texto constitucional (art. 195, IV) pela Emenda nº 42. Com base neste dispositivo constitucional foram instituídas a COFINS – importação e o PIS/PASEP – importação. O fato

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gerador das referidas contribuições consiste na entrada de bens estrangeiros no território nacional, bem como no pagamento, crédito, entrega, emprego ou remessa de valores a residentes ou domiciliados no exterior, como contraprestação por serviço prestado.

Como regra geral, as alíquotas serão de 1,65%, no caso da PIS/PASEP importação, e de 7,6% para a COFINS – importação. Há inúmeras exceções e pormenores tratados na legislação, que também não serão aqui expostos por não constituírem objeto de estudo do Direito Previdenciário.

Pessoa jurídica em débito com o sistema de Seguridade Social: Segundo o § 3º do art. 195 da Constituição, a pessoa jurídica em débito com o sistema da Seguridade Social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. Em cumprimento a esta disposição constitucional, a Lei nº 8.212, de 1991, exige que as empresas apresentem a Certidão Negativa de Débito – CND quando pretenderem participar de licitação ou contratar com o Poder Público.

A instituição de novas contribuições de Seguridade Social: A União possui a chamada competência residual para instituir novas contribuições sociais, distintas daquelas previstas no texto constitucional. A possibilidade de instituição dessas novas contribuições encontra-se prevista no § 4º do art. 195 da CF, por meio de lei complementar.

O primeiro ponto a destacar é que a União detém a competência residual, tanto para a instituição de novos impostos, quanto para a instituição de novas contribuições de Seguridade Social. Portanto, a União pode instituir novos impostos, diferentes daqueles previstos no texto da Constituição, bem como pode instituir novas contribuições de Seguridade Social.

Os requisitos a serem cumpridos, quando da instituição das novas contribuições sociais, são aqueles previstos no inciso I do art. 154, que assim dispõe:

Art. 154. A União poderá instituir:I – mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;

Vamos entender: o inciso I do art. 154 apresenta os requisitos que a União deve cumprir para instituir novos IMPOSTOS. Entretanto, o § 4º do art. 195, ao tratar da instituição de novas CONTRIBUIÇÕES DE SEGURIDADE SOCIAL, remete ao mesmo inciso I do art. 154. Numa primeira leitura, poderíamos pensar que os requisitos necessários à instituição de novas contribuições de Seguridade Social são idênticos àqueles necessários para a instituição de novos impostos.

Examinando a questão, entretanto, o STF afirmou que a última parte do art. 154, inciso I, não se aplica às novas contribuições sociais. Precisamente, afirmou que novas contribuições sociais, criadas com base na competência residual da União, podem ter base de cálculo ou fato gerador

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próprios dos impostos já previstos na Constituição, mas devem inovar em relação às contribuições já existentes.

Deste modo, segundo a interpretação dada pelo STF, são os seguintes os requisitos necessários à instituição de novas contribuições sociais: lei complementar, não cumulatividade, fato gerador e base de cálculo distintos das contribuições de Seguridade Social já existentes.

Precedência ou preexistência do custeio em relação aos benefícios: O § 5º do art. 195 da CF afirma que nenhum benefício ou serviço da Seguridade Social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.

Esta regra é tão importante que alguns doutrinadores a tratam como um princípio da Seguridade Social. Ela exige responsabilidade na gestão da Seguridade Social, pois impede que se criem ou se estendam benefícios e serviços, sem que, anteriormente, seja indicada a fonte dos recursos que serão utilizados para custeá-los.

Não esqueça que esta regra da precedência ou da preexistência do custeio aplica-se à criação de benefícios e serviços em todos os segmentos da Seguridade Social. Ela se aplica inclusive aos benefícios e serviços da assistência social e da saúde.Saúde e assistência social são sistemas não contributivos. Isto significa que não se exige contribuição prévia por parte do beneficiário dos benefícios e serviços como requisito para a sua concessão. Ainda assim, para criar ou estender os referidos serviços, deve-se indicar previamente a fonte de custeio.

Veja um exemplo: para receber o LOAS, benefício assistencial no valor de um salário-mínimo mensal concedido pelo governo federal, o idoso ou o deficiente não precisa comprovar que efetuou alguma contribuição. Entretanto, se a União desejar ampliar as hipóteses de concessão do LOAS (extensão de um benefício já existente), deverá indicar previamente de onde sairão os recursos a serem aplicados na concessão dos novos benefícios.

A anterioridade nonagesimal ou noventena: O § 6º do art. 195 da Constituição dispõe que as contribuições de Seguridade Social só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, inciso III, “b”.

A alínea “b” do inc. III do art. 150 proíbe que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios cobrem tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Este dispositivo, conhecido como princípio da anterioridade, tem por objetivo a proteção ao contribuinte, de modo a impedir que ele venha a ser surpreendido com uma cobrança de tributos para a qual não lhe foi concedido tempo suficiente para planejar-se.

Após a Emenda Constitucional nº 42, a alínea ”c” do mesmo inciso III do art. 150 da CF passou a exigir que a cobrança do tributo somente se

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inicie após o transcurso do prazo de noventa dias da publicação da lei. Este dispositivo é conhecido como princípio ou regra da noventena.

Portanto, como regra, a Constituição exige que o tributo somente seja cobrado no exercício financeiro seguinte, bem como exige um intervalo mínimo de noventa dias entre a publicação da lei e a exigência do tributo. O próprio texto constitucional, entretanto, excetua alguns impostos da aplicação deste princípio.

A instituição de uma nova contribuição de Seguridade Social, ou a cobrança de uma contribuição de seguridade social cuja alíquota tenha sido elevada, submete-se apenas ao princípio da noventena, não se aplicando o princípio da anterioridade.

Assim, a contribuição de Seguridade Social pode ser exigida no mesmo ano em que ocorreu a publicação da lei que a instituiu ou majorou a sua alíquota, desde que, entre a publicação da lei e o início da cobrança, tenha decorrido o prazo de noventa dias. Por ser uma exigência menor do que aquela existente em relação aos demais tributos, muitos denominam esta regra de “anterioridade mitigada”. A maior parte da doutrina, entretanto, a denomina “anterioridade nonagesimal”.

Se você ler atentamente o § 6º do art. 195, irá verificar que as contribuições de Seguridade Social só poderão ser exigidas depois de decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver INSTITUÍDO ou MODIFICADO. Se interpretado literalmente, o dispositivo levaria à conclusão de que qualquer modificação na contribuição de Seguridade Social deveria aguardar o prazo de noventa dias, até mesmo aquelas que fossem favoráveis ao contribuinte.

Entretanto, o STF já decidiu que este dispositivo, por ser uma norma cujo objetivo é a proteção ao contribuinte, somente se aplica quando houver majoração da contribuição.

Sobre o tema, o STF editou a Súmula nº 669, cujo teor é o seguinte:

STF Súmula nº 669 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 4; DJ de 10/10/2003, p. 4; DJ de 13/10/2003, p. 4.Alteração do Prazo de Recolhimento da Obrigação Tributária - Sujeição ao Princípio da Anterioridade.Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.

Assim, o STF entende que a alteração legal do prazo estipulado para o recolhimento do tributo, ainda que este prazo seja antecipado, não traz ônus adicional para o contribuinte, de modo que pode ter eficácia imediata.

Por fim, lembre-se que se houver a majoração de contribuição de Seguridade Social por meio de medida provisória, o prazo de noventa dias será contado a partir da publicação inicial da MP, não sendo necessário aguardar a sua conversão em lei. A exigência contida no § 2º do art. 62 da CF aplica-se apenas à instituição de impostos.

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Isenção das entidades beneficentes de Assistência Social: O § 7º do art. 195 da Constituição afirma que são isentas de contribuição para a Seguridade Social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.

O primeiro ponto a destacar é a imprecisão técnica contida no texto constitucional, pois a impossibilidade de se cobrar contribuições sociais das entidades beneficentes de assistência social não decorre de isenção, mas sim de imunidade.

Como é de trivial sabença, a Constituição não cria tributos, mas apenas outorga competência aos entes federativos para que os mesmos instituam tributos por meio de leis. O poder de tributar, portanto, decorre da Constituição. Entretanto, a mesma Constituição que outorga o poder de tributar, também o limita. No presente caso, a norma Constitucional excluiu as entidades beneficentes de assistência social do campo de incidência da contribuição de Seguridade Social.

Logo, a mesma Constituição que outorgou à União competência para a instituição de contribuições de Seguridade Social, impediu que ela exercesse este poder sobre as entidades beneficentes de assistência social. Estas entidades, portanto, encontram-se fora do campo de incidência das contribuições ou, como prefere a doutrina, estão imunes à incidência das contribuições.

A isenção, por sua vez, exclui o crédito tributário. O fato ou pessoa isenta situa-se no campo da incidência. O fato gerador ocorre, nasce a obrigação tributária, mas o lançamento do tributo não pode ser efetuado, devido à incidência da norma de isenção, que exclui o crédito tributário e impede a sua constituição pelo lançamento. A isenção somente pode ser concedida por uma lei do próprio ente tributante. Assim, enquanto a imunidade decorre da Constituição, a isenção decorre da lei.

Perceba a diferença: na imunidade, o ente federativo não pode tributar; na isenção o ente tributa, mas exclui o crédito tributário decorrente daquele fato gerador.

Resta claro, portanto, que o § 7º do art. 195 da Constituição trata de imunidade, e não de isenção.

É importante destacar, entretanto, que diversas são as questões de provas que simplesmente repetem o texto constitucional e que, por força disso, são consideradas corretas. Ou seja, o simples fato de a prova utilizar o termo isenção não torna a questão incorreta.

Feito o esclarecimento inicial, daqui para frente, como forma de uniformizar a linguagem e para não deixar margem para dúvidas, utilizaremos apenas a expressão isenção.

O texto constitucional afirma que são isentas as entidades beneficentes de assistência social que atendam aos requisitos previstos em lei. Preste bastante atenção ao seguinte detalhe: não são todas as entidades beneficentes de assistência social que são isentas, mas apenas aquelas que atendam aos requisitos previstos em lei. Muitos entendem que,

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embora o dispositivo mencione apenas lei, os requisitos devem ser estabelecidos em lei complementar, pois se trata de uma limitação constitucional ao poder de tributar, que, segundo o inciso II do art. 146 da Constituição, deve ser regulada por lei complementar.

O STF, entretanto, ainda não se pronunciou definitivamente sobre a matéria. As provas de concursos, até hoje, têm privilegiado a literalidade da Constituição, afirmando que os requisitos devem ser definidos em lei.

Para gozar da isenção, a entidade deve ser beneficente e de assistência social. De um modo geral, entende-se que beneficente é a entidade sem fins lucrativos. De assistência social é a entidade que presta serviços a quem deles efetivamente necessita, sendo destinatário da Política Nacional de Assistência Social.

Os requisitos necessários ao gozo da isenção encontram-se atualmente previstos no art. 29 da Lei nº 12.101/2009:

Art. 29.  A entidade beneficente certificada na forma do Capítulo II fará jus à isenção do pagamento das contribuições de que tratam os arts. 22 e 23 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, desde que atenda, cumulativamente, aos seguintes requisitos:I - não percebam seus diretores, conselheiros, sócios, instituidores ou benfeitores, remuneração, vantagens ou benefícios, direta ou indiretamente, por qualquer forma ou título, em razão das competências, funções ou atividades que lhes sejam atribuídas pelos respectivos atos constitutivos;II - aplique suas rendas, seus recursos e eventual superávit integralmente no território nacional, na manutenção e desenvolvimento de seus objetivos institucionais;III - apresente certidão negativa ou certidão positiva com efeito de negativa de débitos relativos aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil e certificado de regularidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS;IV - mantenha escrituração contábil regular que registre as receitas e despesas, bem como a aplicação em gratuidade de forma segregada, em consonância com as normas emanadas do Conselho Federal de Contabilidade;V - não distribua resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, sob qualquer forma ou pretexto;VI - conserve em boa ordem, pelo prazo de 10 (dez) anos, contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem e a aplicação de seus recursos e os relativos a atos ou operações realizados que impliquem modificação da situação patrimonial;VII - cumpra as obrigações acessórias estabelecidas na legislação tributária;VIII - apresente as demonstrações contábeis e financeiras devidamente auditadas por auditor independente legalmente habilitado nos Conselhos Regionais de Contabilidade quando a receita bruta

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anual auferida for superior ao limite fixado pela Lei Complementar n o   123, de 14 de dezembro de 2006.

Os requisitos previstos na lei são cumulativos. Ou seja, somente terão reconhecida a isenção as entidades que obedecerem a todos os requisitos mencionados na lei.

Uma vez reconhecida a isenção, a entidade continuará sendo obrigada ao recolhimento das contribuições em relação às quais seja devedora na condição de responsável. Assim, por exemplo, mesmo após o reconhecimento da isenção, a entidade beneficente continuará obrigada a descontar e a recolher a contribuição devida pelos trabalhadores que lhe prestam serviços. A entidade isenta também continua obrigada a cumprir as obrigações acessórias previstas na legislação previdenciária.

Contribuição dos segurados especiais: o §8º do art.195 dispõe acerca dos chamados segurados especiais:

§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.

Em razão das peculiaridades das atividades rurais que desenvolvem, a Constituição prevê que estes trabalhadores efetuarão o recolhimento da contribuição previdenciária com base no resultado da comercialização da produção, diferentemente dos demais trabalhadores, que recolhem as suas contribuições com base no salário de contribuição mensal.

Do mesmo modo, a Constituição assegura a estes trabalhadores o acesso aos benefícios, nos termos da lei. A legislação previdenciária, por sua vez, define que os benefícios devidos a estes segurados terão o valor de um salário-mínimo.

Diferenciação de alíquotas ou bases de cálculo: De acordo com o § 9º do art. 195 da Constituição, as contribuições de Seguridade Social devidas pela empresa (CF, art. 195, I) poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

Esta regra materializa os princípios constitucionais da isonomia, da equidade na participação no custeio e da solidariedade. Não esqueça que as contribuições de Seguridade Social são uma espécie tributária. Logo, as diferenciações de alíquota e base de cálculo somente podem ser efetuadas por meio de lei.

São comuns as questões de prova que cobram este ponto, enfocando, sobretudo, o conhecimento das contribuições que podem ter as alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas.

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A diferenciação de alíquotas ou bases de cálculo pode se dar em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

Exemplo típico da aplicação desta regra é a contribuição previdenciária patronal devida pelas instituições financeiras, cuja alíquota é de 22,5%, enquanto as empresas em geral recolhem a mesma contribuição com alíquota de 20%. Do mesmo modo, veremos que as contribuições previdenciárias devidas pelas empresas rurais têm a base de cálculo modificada, recaindo as contribuições sobre a receita bruta da comercialização da produção rural, enquanto as demais empresas recolhem contribuições previdenciárias com base na remuneração paga aos segurados a seu serviço.

Remissão ou anistia das contribuições previdenciárias: A remissão é uma das formas de extinção do crédito tributário, prevista no art. 172 do Código Tributário Nacional – CTN, e consiste no perdão do crédito tributário já constituído. Devido à indisponibilidade do crédito tributário, a remissão somente pode ser concedida por meio de lei.

A anistia, por sua vez, é uma forma de exclusão do crédito tributário, prevista no art. 180 do CTN, e consiste no perdão legal das infrações cometidas. Como mecanismo de exclusão do crédito tributário, impede a sua constituição e, por isso, somente pode ser aplicada às penalidades que ainda não tenham sido objeto de lançamento.

Depois desta definição bastante resumida dos institutos da remissão ou da anistia, vamos analisar o § 11 do art. 195 da Constituição, que assim dispõe:

É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar.

As contribuições referidas no dispositivo são as chamadas contribuições previdenciárias (contribuição da empresa sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho e contribuição devida pelos trabalhadores). Dentre as contribuições previdenciárias, a Constituição não faz qualquer restrição, de modo que até mesmo as contribuições descontadas pelas empresas dos segurados a seu serviço podem ser objeto de remissão.

O primeiro aspecto a destacar é que é possível à União instituir remissão ou anistia relativa a estas contribuições, cabendo à lei complementar apenas definir o limite dos montantes dos débitos objeto de remissão ou anistia.

Enquanto não for editada a lei complementar a que alude o dispositivo, é possível à União conceder remissão ou anistia de contribuições previdenciárias para débitos de qualquer valor.

Incidência não cumulativa das contribuições: O § 12 do art. 195 da Constituição dispõe que compete à lei definir os setores de atividade

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econômica para os quais as contribuições da empresa incidentes sobre o faturamento ou a receita (COFINS e PIS/PASEP), bem como a contribuição devida pelo importador, serão não cumulativas.

A não cumulatividade consiste numa técnica de apuração aplicável aos tributos que incidam sobre diversas etapas da produção, segundo a qual, o tributo devido em uma etapa deve ser abatido do montante do tributo incidente nas etapas anteriores da produção.

Veja este exemplo: Pense sobre alguns aspectos da cadeia de produção de um automóvel: lá no início, temos a mineradora que extrai o minério de ferro. Ela vende o minério para a siderúrgica e esta operação é, para ela, uma receita sobre a qual incidirá a COFINS, no montante de R$ 10,00. A siderúrgica, por sua vez, transformará o minério de ferro em chapas de aço, as quais venderá à indústria de autopeças. Quando a siderúrgica vende as chapas, ela obtém receita e, sobre esta receita incidirá a COFINS. Entretanto, se a incidência for não cumulativa, a siderúrgica, calculará o montante da COFINS incidente sobre a sua receita (R$ 15,00) e efetuará o abatimento da COFINS que já incidiu sobre a receita da mineradora (R$ 10,00), recolhendo apenas a diferença de R$ 5,00. Esta mesma lógica deverá se repetir até a obtenção do produto final. Se a incidência for cumulativa, cada um dos participantes da cadeia de produção calculará a contribuição incidente sobre o seu faturamento e a recolherá sem abater os valores já recolhidos nas etapas anteriores.

Observe: nem todas as empresas recolherão as contribuições sobre o faturamento e as contribuições do importador de modo não cumulativo. Cabe à lei definir os setores em que a incidência se dará desta forma. Portanto, alguns setores pagarão estas contribuições de modo cumulativo, enquanto outros setores contribuirão de modo não cumulativo.

A substituição das contribuições incidentes sobre a folha de pagamento: O § 13 do art. 195 da Constituição prevê a possibilidade de substituição gradual, total ou parcial, da contribuição devida pela empresa incidente sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho, por contribuição não cumulativa incidente sobre a receita ou o faturamento.

Esta hipótese é tradicionalmente conhecida como desoneração da folha de pagamento. Ela tem o objetivo de reduzir a carga tributária incidente sobre o montante da remuneração paga pela empresa aos trabalhadores a seu serviço. Segundo seus defensores, a desoneração estimularia as empresas a formalizar a sua mão de obra, contribuindo para a efetivação dos direitos previdenciários.

Embora prevista na Constituição, esta hipótese não foi ainda efetivada, pois, para tanto, depende de lei (Congresso Nacional). Importante lembrar que a contribuição da empresa sobre o faturamento que venha a substituir a contribuição incidente sobre a folha de salário e demais rendimentos será, obrigatoriamente, não cumulativa.

8. Saúde

Segundo o art. 196 da Constituição, saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à

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redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

O dispositivo demonstra que o acesso aos serviços de saúde é universal. É um dever do Estado prestar serviços de saúde e todos podem ter acesso aos serviços de saúde prestados pelo poder público, qualquer que seja a sua condição social ou econômica.

O acesso aos serviços públicos de saúde também independe de contribuição, ou seja, não é necessário que o indivíduo tenha previamente recolhido contribuições ao sistema de seguridade, para que possa beneficiar-se dos serviços. Tanto um mendigo quanto um milionário têm idêntico acesso aos serviços públicos de saúde.

Estas duas características dos serviços de saúde são bastante exploradas, portanto, não esqueça:

Serviços de Saúde: Acesso Universal e independem de contribuição.

As ações e serviços de saúde competem ao SUS – Sistema Único de Saúde, vinculado, no âmbito federal, ao Ministério da Saúde. Nos estados, no Distrito Federal e nos municípios, as ações de saúde são desenvolvidas no âmbito das respectivas Secretarias de saúde.

A Constituição afirma que as ações e serviços de saúde são de relevância pública, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. O dispositivo não deixa margem de dúvida quanto à responsabilidade do Estado nas ações de saúde. Nem sempre a execução destes serviços será feita diretamente pelo Estado, mas a fiscalização e o controle estarão sempre a seu encargo.

Para que você entenda o que afirmei acima, tenha em mente que os serviços de saúde podem ser prestados por hospitais públicos, hipótese em que o Estado estará prestando o serviço de saúde diretamente, mas também podem estes serviços ser prestados por hospitais particulares remunerados pelo SUS. Nesta última hipótese, teremos uma pessoa jurídica de direito privado prestando serviços públicos de saúde, sendo remunerada diretamente pelo Estado. A fiscalização e o controle, entretanto, incumbem sempre ao Estado.

No artigo 199, a Constituição reitera a ideia acima exposta, quando afirma que a assistência à saúde é livre à iniciativa privada e que as instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

Impede-se apenas a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no país, salvo nos casos previstos em lei.

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Neste mesmo artigo, a Constituição veda a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. Note que a vedação alcança apenas a destinação de recursos públicos sob a forma de subvenção ou auxílio. Assim, uma vez que se permite a participação de entidades privadas com fins lucrativos no SUS, de modo complementar, terão elas direito à remuneração pelos serviços que prestarem.

As ações e os serviços de saúde, de acordo com o art. 198 da Constituição, integram uma rede regionalizada e hierarquizada, constituindo um sistema único que deve ser DESCENTRALIZADO, com direção única em cada esfera de governo. Não é por outra razão que cada município e cada estado têm a sua própria Secretaria de Saúde como órgão máximo responsável pelas ações de saúde em suas esferas de competência.

A Constituição exige a participação da comunidade no acompanhamento e na gestão das ações de saúde. O atendimento prestado pelo SUS será integral e terão prioridade as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais.

O Sistema Único de Saúde será financiado com recursos do orçamento da Seguridade Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. Uma vez que, nos termos do inciso II do art. 23 da Constituição, todos os entes federativos têm competência para cuidar da saúde pública (competência comum), naturalmente, cada um deles deverá aplicar uma parcela das suas receitas no desenvolvimento de ações de proteção e promoção da saúde.

A Constituição estabelece limites mínimos para a aplicação de recursos na área de saúde. De acordo com o § 3º do art. 198, os percentuais mínimos de aplicação de recursos na saúde por cada um dos entes federativos serão definidos em Lei Complementar. O § 4º do art. 77 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT, por sua vez, define que, enquanto não for publicada a lei complementar a que se refere o § 3º do art. 198, os limites mínimos serão os seguintes:

No caso da União:

a) no ano 2000, o montante empenhado em ações e serviços públicos de saúde no exercício financeiro de 1999 acrescido de, no mínimo, cinco por cento;b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do Produto Interno Bruto - PIB;

II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; e

III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.

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Portanto, atualmente, os limites mínimos de recursos a serem aplicados na saúde correspondem, no caso da União, ao valor aplicado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do PIB. Para os estados aplica-se o percentual mínimo de 12% e para os municípios o percentual de 15%.

A constituição atribui ainda à Lei Complementar as seguintes competências:

Definição dos critérios de rateio de recursos destinados à saúde, da União para os Estados, o Distrito Federal e os municípios, bem como dos Estados para os municípios, com o objetivo de reduzir progressivamente as disparidades regionais.

Estabelecimento das normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal.

Estabelecimento das normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União na saúde.

Vejamos os arts. da Constituição Federal:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;III - participação da comunidade.§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo único renumerado para § 1º pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)I - no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

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II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)  RegulamentoI - os percentuais de que trata o § 2º; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. .(Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006)§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial.  (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 63, de 2010) Regulamento§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006)

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito

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público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.§ 2º - É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.§ 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.

O art. 200 da Constituição trás ainda a competência do SUS:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano;VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

Estes temas relacionados às disposições constitucionais acerca da saúde são cobrados pela em concurso de modo bastante literal.

9. Assistência Social

Segundo o art. 203 da Constituição, a Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à Seguridade Social. Assim como a saúde, a Assistência Social é um sistema não contributivo. Entretanto, enquanto a saúde tem abrangência universal, a Assistência Social tem alcance mais restrito, uma vez que os benefícios e serviços assistenciais somente serão prestados àqueles que deles necessitem.

A Assistência Social tem por objetivo a proteção aos desvalidos, àquelas pessoas que, sem ela, dependeriam da caridade alheia para obter condições de sobrevivência. Exatamente por esta razão, a necessidade do

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beneficiário é uma premissa para a concessão do benefício ou a fruição do serviço assistencial.

Nos últimos anos, houve significativo aumento no alcance dos programas assistenciais promovidos pelo governo federal, tendo significativo destaque o programa Bolsa-Família.

De acordo com o art. 203 da Constituição, a Assistência Social atenderá aos seguintes objetivos (rol exemplificativo):

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social;II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis.Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encargos sociais;II - serviço da dívida;III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados.

Já está claro que a Assistência Social será prestada a quem dela necessitar. Cabe à lei definir quem pode ser considerado necessitado, para fins de recebimento de benefícios assistenciais. É interessante observar que esta definição não é linear, mas acontece benefício por benefício.

BPC – LOAS.

Para efeito de recebimento do benefício assistencial mensal, no valor de um salário-mínimo, previsto no inciso V do art. 203 da Constituição, conhecido como BPC-LOAS (Benefício de Prestação Continuada previsto na

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Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS), será considerado necessitado o deficiente ou o idoso que não tenha renda própria e cuja renda familiar mensal per capita seja inferior a 25% do salário-mínimo.

Entretanto, vale destacar o seguinte julgado do STJ:

"A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, pois é apenas um elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda per capita inferior a 1/4 do salário mínimo" (REsp 1.112.557/MG, Terceira Seção, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe 20/11/09).

“Em respeito aos princípios da igualdade e da razoabilidade, deve ser excluído do cálculo da renda familiar per capita qualquer benefício de valor mínimo recebido por maior de 65 anos, independentemente se assistencial ou previdenciário, aplicando-se, analogicamente, o disposto no parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso." (Pet 2.203/PE, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 11/10/2011).

O STF ainda não tem posição majoritária acerca da flexibilização da renda per capita ser inferior a 25% do salário mínimo.

De acordo com o art. 1º do Estatuto do idoso, serão assim consideradas pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Entretanto, para o fim específico de recebimento do benefício assistencial BPC-LOAS, a pessoa será considerada idosa a partir dos sessenta e cinco anos de idade, nos termos do art.20 da Lei 8742/93:

Art. 20.  O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. 

Entende-se como família, para efeito de definição da renda per capita familiar, conjunto de pessoas composto pelo requerente, o cônjuge, o companheiro, a companheira, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

Tal benefício é pago pelo INSS por delegação da UNIÃO, portanto, o dinheiro é da União.

10. Previdência Social

Segundo o art. 201 da Constituição Federal, a Previdência Social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e

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de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.

A proteção fornecida pela Previdência Social destina-se, principalmente, aos trabalhadores. Diferentemente da Saúde e da Assistência Social, a Previdência Social depende de contribuição prévia, pois é uma modalidade de seguro. De um modo geral, enquanto está na ativa, o trabalhador e a empresa recolhem contribuições para o sistema, a fim de que, se ocorridas algumas das situações de risco social previstas em lei, obtenha a cobertura da Previdência Social, sob a forma de concessão de benefícios e serviços.

Embora seja uma espécie de seguro, a participação do trabalhador no plano previdenciário básico é obrigatória. Logo, não há espaço para a manifestação de vontade do trabalhador acerca da participação ou não no plano previdenciário. A partir do momento que ele venha a exercer uma atividade que, nos termos da lei, seja de filiação obrigatória, estará automaticamente vinculado ao sistema previdenciário, ainda que não queira ou que não saiba disso.

Como veremos adiante, a filiação obrigatória é fundamental para a efetivação do princípio da solidariedade social.

A partir da Emenda Constitucional nº 20, passou a constar do texto constitucional a exigência de que o sistema previdenciário obedeça a critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.

Este dispositivo, inserido no texto constitucional devido à preocupação com o déficit da Previdência, exige do legislador e dos gestores da Previdência a busca constante pelo equilíbrio entre as contribuições vertidas pela sociedade para o financiamento do sistema e os valores que a Previdência retorna à sociedade sob a forma de benefícios. Além disso, exige que os gestores da Previdência estejam atentos às probabilidades futuras, tendo em vista que o equilíbrio das contas da Previdência depende de fatores como a modificação da composição etária da população e dos seus níveis de ocupação profissional.

Nos termos da CF:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;  V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. § 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos

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beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.§ 3º Todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da lei.§ 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. § 5º É vedada a filiação ao regime geral de previdência social, na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência.§ 6º A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor dos proventos do mês de dezembro de cada ano.§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições:I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher; II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.§ 8º Os requisitos a que se refere o inciso I do parágrafo anterior serão reduzidos em cinco anos, para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.§ 9º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei.§ 10. Lei disciplinará a cobertura do risco de acidente do trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo regime geral de previdência social e pelo setor privado.§ 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.§ 12. Lei disporá sobre sistema especial de inclusão previdenciária para atender a trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor igual a um salário-mínimo.§ 13. O sistema especial de inclusão previdenciária de que trata o § 12 deste artigo terá alíquotas e carências

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inferiores às vigentes para os demais segurados do regime geral de previdência social.

Vale destacar o fato de que, segundo a Constituição, o desemprego involuntário é um evento a ser coberto pela Previdência Social.

Entretanto, o art. 6º do Regulamento da Previdência Social (aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 1999) afirma que o Regime Geral de Previdência Social – RGPS não oferece cobertura para a situação de desemprego involuntário.

Qual o benefício a que tem direito o trabalhador atingido pela situação de desemprego involuntário? Este benefício é o Seguro-desemprego que é concedido pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, por meio da Caixa Econômica Federal – CEF.

O seguro-desemprego, portanto, não compõe o RGPS e não é concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.

Diante disso, se a questão afirmar que o desemprego involuntário é um evento coberto pela Previdência Social, ela deve ser considerada correta, pois repete o texto constitucional. A questão somente estaria incorreta se incluísse o seguro-desemprego entre os benefícios devidos pelo RGPS.

A Constituição afirma que o salário-família e o auxílio-reclusão são devidos aos dependentes do segurado de baixa renda. O texto da Constituição comete uma pequena imprecisão técnica, pois o salário-família, como a gente verá adiante, não é um benefício devido ao dependente, mas sim ao próprio segurado. O segurado recebe o salário-família em função do número de filhos ou equiparados a filho menores de quatorze anos ou inválidos. Mas ele é o beneficiário, e não os seus dependentes.

Chamo a sua atenção, pois são muitas as questões que repetem o texto constitucional, afirmando que compete à Previdência a concessão de salário-família e auxílio-reclusão aos dependentes dos segurados de baixa renda. Estas assertivas devem ser consideradas corretas.

Requisitos e critérios diferenciados para a aposentadoria: O § 1º do art. 201 da Constituição proíbe a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.

Como visto, a Constituição exige que a legislação dê um tratamento isonômico aos segurados, impedindo, por exemplo, que determinadas categorias profissionais tenham regras de aposentadoria diferenciadas, como já houve no passado. A exceção diz respeito aos trabalhadores que desenvolvam as suas atividades com exposição a agentes nocivos que prejudiquem a saúde e aos deficientes. Para os primeiros, como a gente verá nas próximas aulas, a legislação previdenciária prevê a concessão de um benefício denominado aposentadoria especial, a qual será devida após

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quinze, vinte ou vinte e cinco anos de trabalho com exposição permanente ao agente nocivo.

O tempo necessário à aposentadoria depende da natureza do agente nocivo a que o segurado esteja exposto. Esta aposentadoria encontra-se prevista nos art. 57 e 58 da Lei nº 8.213/1991, os quais, por força da norma constitucional em estudo, têm força de lei complementar.

No que toca aos deficientes, o dispositivo constitucional ainda não foi regulamentado, pois a legislação previdenciária ainda não prevê normas diferenciadas para a aposentadoria destes trabalhadores.

Garantia de valor mínimo para os benefícios: A Constituição assegura que nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário-mínimo.

Preste bastante atenção: a garantia constitucional de valor não inferior ao salário-mínimo protege apenas os benefícios que substituam o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho.

Raciocinando em sentido contrário, portanto, é possível concluir que os benefícios que não substituam o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho podem ter valor inferior ao salário-mínimo. Quer um exemplo? O salário-família. Este benefício é devido ao trabalhador de baixa renda em razão do número de filhos ou equiparados a filho menores de quatorze anos que o segurado possua. Ele não substitui o rendimento do trabalho. O trabalhador recebe a sua remuneração e, além dela, recebe uma cota de salário-família para cada filho. A cota possui um valor pré-determinado pela legislação (atualmente, R$ 22,00).

São dez os benefícios do RGPS: oito são pagos ao segurado:

04 aposentadorias (invalidez, idade, tempo de contribuição e especial);

02 auxílios (doença e acidentário);02 salários (família e maternidade)

E ainda dois são pagos aos dependentes: pensão por morte e auxílio reclusão.

Portanto, apenas o auxílio acidente e o salário família podem ser menores que o salário mínimo, pois não substituem a remuneração.

Vamos, então, avaliar a seguinte afirmativa: nenhum benefício devido pela Previdência Social pode ter valor inferior ao salário-mínimo.

A assertiva é falsa, pois a garantia alcança apenas os benefícios que substituem o rendimento do trabalho.

Garantia de atualização dos salários de contribuição utilizados para cálculo do salário de benefício: O § 3º do art. 201 da Constituição determina que todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício sejam devidamente atualizados, na forma da lei.

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A expressão “salário de contribuição” é um conceito típico do Direito Previdenciário. Ela denomina a base de cálculo das contribuições devidas pelo trabalhador à Previdência Social. Enquanto encontra-se exercendo atividade remunerada, o trabalhador efetua contribuições que têm por base o montante das parcelas de natureza remuneratória por ele recebidas ao longo de cada mês.

Integram o salário de contribuição: salário, gorjetas, horas-extras, comissões, adicionais, ganhos habituais sob a forma de utilidades, 13º salário, entre outras parcelas.

No § 11 do art. 201, a Constituição determina que os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.

Portanto, todas as parcelas que o trabalhador recebe de modo habitual devem ser incluídas na base de cálculo das contribuições previdenciárias.

No momento em que requerer um benefício, ele será calculado tomando por base uma média dos salários de contribuição sobre os quais incidiram as contribuições recolhidas pelo segurado.

Veja bem: entre o momento em que o segurado aufere a remuneração e, em consequência, efetua a contribuição, e o momento em que será calculado o valor do benefício, normalmente há grande lapso temporal. Assim, para evitar que o segurado venha a ser prejudicado pela perda do poder de compra da moeda ocorrido entre o momento da contribuição e o momento do cálculo do benefício, a Constituição exige que todos os valores dos salários de contribuição considerados para o cálculo do benefício sejam atualizados na forma da lei.

Atualmente, o art. 29-A da Lei nº 8.213, de 1991, a legislação previdenciária determina que a atualização seja feita com base na variação do INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor.

Reajuste dos benefícios: Do mesmo modo que exige a correção de todos os salários de contribuição considerados para o cálculo do salário de benefício, a Constituição, no § 4º do art. 201, assegura que, uma vez concedidos, o valor dos benefícios seja reajustado periodicamente, para preservar, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. Atualmente, o art. 41 da Lei nº 8.213, de 1991, determina que o reajuste se dê anualmente, na mesma data em que ocorrer o reajuste do salário-mínimo, com base na variação do INPC.

Agora preste atenção em um questionamento muito comum: não há nenhuma vinculação entre o índice de reajuste dos benefícios pagos pela Previdência Social e o índice de reajuste do salário-mínimo. Nos últimos anos, o salário-mínimo tem obtido ganhos reais acima da inflação.

Logo, vem sendo reajustado com índices superiores à variação do INPC, que é o índice aplicável ao reajuste dos benefícios previdenciários. São muitas as questões que exploram este ponto, sempre tentando te

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induzir ao erro, apontando uma vinculação entre o índice de reajuste do salário-mínimo e o índice de reajuste dos benefícios previdenciários. Como a gente acabou de ver, isso é um erro.

Vedação à filiação como facultativo de participante de regime próprio: O § 5º do art. 201 da Constituição veda a filiação ao Regime Geral de Previdência Social – RGPS, na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência.

A legislação previdenciária permite o ingresso no Regime Geral de Previdência Social – RGPS de pessoas que não desenvolvem atividade remunerada, desde que efetuem as contribuições. É a figura do segurado facultativo.

Atenção: o segurado facultativo não desenvolve atividade remunerada, pois se assim o fizesse seria segurado obrigatório do RGPS ou, se fosse servidor público efetivo, do RPPS.

No § 5º do art. 201, portanto, a Constituição impede que um servidor público que exerça apenas as atividades inerentes ao seu cargo e que, por conta dele, esteja vinculado a regime próprio, venha a filiar-se ao RGPS na condição de segurado facultativo.

Abono anual: A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor dos proventos do mês de dezembro de cada ano. A gratificação natalina ou 13º salário devido pela Previdência aos seus beneficiários é denominada pela legislação de abono anual. O seu cálculo será efetuado, no que couber, do mesmo modo que a gratificação natalina devida aos empregados.

Uma pegadinha frequente em relação a este ponto é a questão afirmar que o abono anual será concedido com base na média dos proventos recebidos pelo segurado ao longo do ano. Está errado, pois, como a gente acabou de ver, o abono anual é concedido com base nos proventos do mês de dezembro, e não com base na média.

Aposentadoria: O § 7º do art. 201 da Constituição assegura aposentadoria no Regime Geral de Previdência Social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições:

trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher. Estes requisitos serão reduzidos em cinco anos, para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil, no ensino fundamental e médio;

sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.

Observe que são duas as aposentadorias previstas. A primeira delas é a aposentadoria por tempo de contribuição. Para obtê-la, o segurado precisa

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demonstrar que cumpriu o tempo de contribuição previsto na Constituição, bem como que já cumpriu a carência exigida por lei. Para esta aposentadoria, não há limite mínimo de idade.

Esteja atento ao fato de que a redução do tempo de contribuição exigido para a aposentadoria aplica-se apenas aos professores que comprovem exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio. O professor do ensino superior não tem direito à redução.

Para a obtenção da aposentadoria por idade, além de cumprir o requisito etário previsto na Constituição, deverá o segurado comprovar o cumprimento do período de carência exigido pela legislação.

Para efeito de aposentadoria, o § 9º do art. 201 da Constituição assegura a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei.

Denomina-se contagem recíproca a possibilidade de o tempo de contribuição prestado ao Regime Geral de Previdência Social ser computado por regime próprio, para efeitos de concessão de benefício previdenciário, e vice-versa. Esta situação ocorre, por exemplo, quando uma pessoa, após contribuir durante algum período para o RGPS, é aprovada em um concurso público, passando a ocupar um cargo de provimento efetivo federal. Esta pessoa poderá averbar os seus dez anos de contribuição ao RGPS no regime próprio da União, de modo que este período de dez será computado para a concessão de benefícios pelo RPPS.

Cobertura dos riscos de acidente do trabalho: Segundo o § 10 do art. 201 da Constituição, a lei disciplinará a cobertura do risco de acidente do trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo Regime Geral de Previdência Social e pelo setor privado. Este dispositivo constitucional permite que os benefícios decorrentes de acidente do trabalho (pensão por morte, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença...) sejam oferecidos de modo concorrente pelo RGPS e por seguradoras privadas.

Caberá à lei determinar o modo como se dará esta atuação concorrencial, bem como a forma pela qual as empresas ou os trabalhadores indicarão por quem devem ser cobertos os riscos de acidente do trabalho. Esta lei, entretanto, ainda não foi editada.

Sistema especial de inclusão previdenciária: Segundo o § 12 do art. 201 da Constituição, a lei disporá sobre sistema especial de inclusão previdenciária para atender a trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo-lhes acesso a benefícios de valor igual a um salário-mínimo.

Este sistema especial de inclusão previdenciária terá alíquotas e carências inferiores às vigentes para os demais segurados do Regime Geral de Previdência Social – RGPS. Esta disposição, inserida na Constituição pela

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Emenda nº 41 e modificada pela Emenda nº 47, tem por finalidade a inclusão social, ou seja, permitir que um número maior de trabalhadores efetivamente contribua para a Previdência Social e goze da proteção por ela fornecida.

Não esqueça que, segundo a Constituição, podem participar do sistema especial de inclusão previdenciária:

trabalhadores de baixa renda;

pessoas sem renda própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda. A constituição aqui se refere à dona de casa (ou o dono de casa) vinculada a uma família de baixa renda.

Por último, mas não menos importante vejamos o art. 202 da Constituição Federal:

Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar.§ 1° A lei complementar de que trata este artigo assegurará ao participante de planos de benefícios de entidades de previdência privada o pleno acesso às informações relativas à gestão de seus respectivos planos.§ 2° As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei.§ 3º É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado.§ 4º Lei complementar disciplinará a relação entre a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocinadoras de entidades fechadas de previdência privada, e suas respectivas entidades fechadas de previdência privada.§ 5º A lei complementar de que trata o parágrafo anterior aplicar-se-á, no que couber, às empresas privadas permissionárias ou concessionárias de prestação de serviços públicos, quando patrocinadoras de entidades fechadas de previdência privada.§ 6º A lei complementar a que se refere o § 4° deste artigo estabelecerá os requisitos para a designação dos

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membros das diretorias das entidades fechadas de previdência privada e disciplinará a inserção dos participantes nos colegiados e instâncias de decisão em que seus interesses sejam objeto de discussão e deliberação.

11. Planos de Previdência Social no Brasil

Os planos da previdência no Brasil, dividem-se em dois grupos: os básicos e os complementares.

Planos básicos:

Regime Geral de Previdência Social – RGPS (art. 201, da CRFB; Leis 8.212/91, 8.213/91 e Decreto 3.048/99);

Regimes Próprios de Previdência Social – RPPS’s (art. 40, da CRFB, Leis 9.717/98 e 10.887/2004.

Planos Complementares:

Regime Público Complementar (§§14, 15 e 16, do art. 40, da CRFB);

Regime Privado Complementar (artigo 202, da CRFB; Leis Complementares 108 e 109/2001) que pode ser fechado ou aberto.

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