Seiça Salgado, Ricardo.__ o Inacabado Caminho Até a Antropologia Da Performance Em Portugal

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    O INACABADO CAMINHO AT A ANTROPOLOGIA DA PERFORMANCE EM

    PORTUGAL - https://baldiohabitado.wordpress.com/antropologia-

    anthropology/

    por Ricardo Seia Salgado

    Em Portugal, at segunda metade do sculo XX, a antropologia tem uma matriz rural,

    preocupando-se acima de tudo com a identidade nacional portuguesa, por via da sua

    cultura popular. H uma preocupao obsessiva com este tema, o que Eduardo Loureno

    veio a chamar de sentimento de fragilidade ntica (Loureno, 1978: 92; Leal, 2000: 28).

    Com a Revoluo de 1974, a antropologia institucionaliza-se, torna-se solidamente

    cientfica, diversifica-se terica, temtica e metodologicamente. No incio dos anos 90, a

    Antropologia da Performance comea timidamente a aparecer em alguns departamentos

    de antropologia. Ainda assim, parece difcil a legitimao dos estudos de performance,

    apesar dos eventos fragmentados, promovidos por Departamentos ou Centros de

    Investigao. esta histria que se passa a contar, para melhor se perceber o inacabado

    caminho que vai adiando a recepo dos estudos de performance em Portugal.

    At segunda metade do sculo XX: Uma antropologia da Nao ou do Imprio?

    Joo Leal (2000) diz-nos que, apesar de Portugal ter um imprio, a tradio antropolgicaque vingou foi a da construo da nao, a partir das dcadas de 1870 e 1880[1]. Apesar

    de contribuies isoladas, sem grande impacte cientfico, de descrio das populaes

    residentes nos territrios de administrao colonial portuguesa, o interesse antropolgico

    pelo terreno colonial, de uma forma mais sedimentada, vir s a existir no final da dcada

    de 1950, com o estudo dos Macondes (norte de Moambique), de Jorge Dias.

    At segunda metade do sc. XIX, as investigaes nas colnias eram hegemonicamente

    orientadas pelo paradigma positivista, sob a gide da antropologia fsica ou, na vertente

    sociocultural, do evolucionismo. Assim, ligada aoMuseu de Histria Natural, a primeira

    ctedra de antropologia foi criada em 1885 naFaculdade de Filosofia Natural da

    Universidade de Coimbra. Denominava-se Antropologia, Paleontologia Humana e

    Arqueologia Pr-histrica e a sua regncia estava a cargo de Bernardino Machado. Em

    1911, j com E. Tamagnini frente, surge oCurso Livre de Etnografia Colonialque visa um

    conhecimento das populaes das colnias.

    Entretanto, em 1878, em Lisboa, na recm-criadaSociedade de Geografia de Lisboa,foi

    aprovado umProjecto de uma Escola de Disciplinas relativas Terra e Gente e sLnguas do Ultramar Portugus Curso Colonial Portugus. Pretendia-se responder

    https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn1http://www.socgeografialisboa.pt/http://www.socgeografialisboa.pt/http://www.socgeografialisboa.pt/https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn1
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    ameaa do avano das potncias europeias em frica, materializada naConferncia de

    Berlimde 1884-85, pretendendo criar um corpo especializado de administrao pblica de

    nvel superior que ocupasse os territrios colonizados por Portugal. Em 1906,

    sedimentando o mesmo intuito doProjecto, ento criada aEscola Colonial[2]onde se

    formam funcionrios na lgica da ideologia do regime colonialista (Santos, 1997). Ao longo

    destes tempos (incluindo o Estado Novo), a produo de conhecimento , portanto,

    fortemente condicionada pelo poder poltico vigente, numa lgica de perpetuao dos

    interesses ideolgicos (Falco, 2006).

    Joo Leal (2000), numa obra fundamental para se compreender a antropologia portuguesa

    (e que a primeira parte deste artigo se baseia), analisa os quatro perodos na antropologia

    portuguesa entre 1870 e 1970. Trata-se de um sculo em que se elaboram concepes

    distintas acerca da cultura popular, do seu objecto e dos modos tericos e metodolgicosque encerram o seu estudo. Cada um destes perodos corresponde uma linha de fora.

    1870-1880 O Romantismo da Cultura Popular

    No primeiro perodo, Portugal visto como produto de originalidades tnicas presentes nas

    tradies populares e na literatura (o cancioneiro, o romanceiro e os contos), de um mundo

    rural que est no passado e que urge reconstituir ou inventar, uma herana tnica que os

    povos haviam de preservar. O povo , pois, visto como um guardador de textos

    anonimamente criados em remotos tempos tnicos (ibidem, p. 43).

    Procura-se seguir a tendncia europeia de resgatar o interesse romntico pela cultural

    popular, enquadrado grandemente pelas matrias trabalhadas nas conferncias do Casino,

    em 1871. De certa forma, as tradies populares equivaliam-se ao folclore, etnologia,

    mitologia comparada. Havia, contudo, pouco trabalho de terreno, as culturas no

    passavam de textos, num enquadramento terico entre o difusionismo e o evolucionismo.

    Etngrafos como Consigleri Pedroso, Adolfo Coelho, Tefilo Braga e Leite de Vasconcelos

    so os grandes embaixadores, cruzando estes estudos nas fronteiras ambguas entre a

    filologia, a lingustica, a histria literria, a arqueologia ou a antropologia fsica.

    1890-1900 A identidade e a decadncia nacional

    No segundo perodo, descobre-se a diversidade interna do pas. O gatilho deste perodo

    (continuando com Leal (2000)) oUltimatume, na sua sequncia, a abertura da fase final

    da crise da monarquia. H uma abertura ao estudo no terreno nacional, para a literatura e

    mitologias populares, acrescentando antropologia portuguesa as preocupaes com aidentidade e decadncia nacional (tem como protagonistas Adolfo Coelho e Rocha

    https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn2https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn2https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn2
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    Peixoto). As deslocaes ao terreno tornam-se mais frequentes, fazem-se recolhas. O

    evolucionismo como paradigma terico faz do passado tnico uma sucesso de estgios

    que justificam a evoluo que caracteriza os povos. O campons uma espcie de

    primitivo moderno (ibidem: 44). Como tal, h uma certa negativizao das propriedades

    do povo e da sua cultura popular. Surgem as primeiras revistas da especialidade, com

    maior relevncia paraPortugliaeRevista Lusitana. Mantm-se, contudo, um alheamento

    universitrio em relao antropologia (ibidem: 33).

    1910-1920 A inveno da nao

    No terceiro perodo, a implantao da Repblica e o optimismo sobre o destino nacional

    moldam uma etnografia nacionalista de carcter folclorizante estruturada em torno da arte

    popular, uma inveno da nacionalidade a partir das suas tradies.

    Leite de Vasconcelos, depois de se ter dedicado arqueologia regressa investigao

    etnogrfica publicando frequentemente ensaios, figura central em que outros etngrafos se

    organizam (Verglio Correia, D. Sebastio Pessanha, Lus Chaves, Augusto Csar Pires de

    Lima). A cultura material dos camponeses assume especial relevncia, assim como a arte

    popular, impulsionando uma espcie de etnografia artstica. De texto, as tradies

    populares tornam-se mais plsticas, em algo que deve ser visto porque esteticizado (Leal,

    2000, p. 45). Ainda assim, as idas ao terreno na procura de novos objectos so rpidas e

    fugazes e raramente contextualizadas as experincias em redor do sentido dessesobjectos. Sobre o intuito explicativo, celebra-se a cultura popular. Os etngrafos integram-

    se activamente no clima de nacionalismo cultural que caracteriza os anos da I Repblica

    (Ramos, 1994).

    1930-1970 Poltica do Esprito, etnografia de urgncia e crtica ao Estado Novo

    No quarto perodo, Leal (2000) mostra como se destacam trs grupos distintos:

    a) Etnografia ao servio da Poltica de Esprito

    A etnografia e folclore do Estado Novo, ligada poltica do esprito e centralizado na

    aco do SPN[3], retoma esse caminho da inveno da nacionalidade a partir das suas

    tradies, em sintonia com a concepo de cultura popular da I Repblica (pensada como

    arte popular)[4].

    Aqui se desenvolvem aces de divulgao cultural no seio da nao (que produzem,

    igualmente, a imagem externa do pas), com procedimentos de estilizao da cultura

    popular [concebida enquanto arte popular] em exposies, espectculos, edies e outras

    https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn3https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn4https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn3https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn4
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    iniciativas (ibidem, p. 36, parntesis meus), como oConcurso da Aldeia Mais Portuguesa

    de Portugal(1938), oCentro Regional da Exposio do Mundo Portugus(1940), oMuseu

    de Arte Popular(1948), ou aJunta Central das Casas do Povo(1945) que coordenava

    asCasas do Povo, enquadrando a sua aco poltica-ideolgica do regime, quer atravs

    da criao e disciplinamento de ranchos folclricos quer da obcesso em promover

    variados museus etnogrficos de cariz rural (da qual a FNAT Fundao Nacional para

    Alegria no Trabalho[5] criada em 1935 tambm desempenhava um papel coordenador).

    De salientar ainda a formao do grupoVerde Gaioque usava a dana como expresso

    dessa arte popular do povo, essencializando-o em imagens coreogrficas e figurinos

    especficos, dando vida cultura popular que haveria de representar o povo. Como disse

    Antnio Ferro, o verdadeiramente belo seria transformar Portugal rstico numa

    constanteexposio vivade arte popular (ibidem: 49). A verso da nacionalidade

    encontrava o seu substracto.

    De notar que a partir do final dos anos 1950, h uma preocupao de dotar este

    investimento ideolgico de um rosto mais acadmico, organizando-se congressos,

    colquios, editando revistas (Revista de Etnografia), embora mantendo-se sempre

    relativamente marginal ao meio universitrio, cientfico e apesar da promoo de idas ao

    terreno por via de etngrafos locais que alimentavam essa celebrao.

    b) Jorge Dias e a etnografia de urgncia

    A figura de Jorge Dias[6]e da sua equipa Margot Dias, Fernando Galhano, Ernesto

    Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira imps-se no panorama da antropologia

    portuguesa, actualizando-a teoricamente, colocando-a num plano internacional. Foi

    igualmente com Jorge Dias que se inaugura o estudo de comunidades das colnias (os

    Macondes, de Moambique) de uma forma mais cientfica e menos ideologizante, dada a

    sua posio de indiferena para com os etnlogos do regime que, apesar da desconfiana,

    acabariam por reconhecer a importncia do seu trabalho. Merece igualmente destaque a

    sua relao com a geografia humana de Orlando de Carvalho, ou a lingustica de PaivaBolo e Lindley Cintra.

    Com esta equipa de antroplogos a institucionalizao da disciplina de antropologia

    (preparao acadmica e investigao com trabalho de campo extensivo) atinge um nvel

    de sucesso nunca antes tido na antropologia portuguesa. A cultura popular

    metodologicamente trabalhada a partir das tecnologias tradicionais, trabalhando a cultura

    material agora mais pela sua funcionalidade e saber-fazer. A arquitectura popular e as

    festividades cclicas so outros tpicos de interesse. Assim, fazem-se monografias sobre

    comunidades do Norte, ensaios que assumem a atitude de uma etnografia de urgncia,

    https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn5https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn5https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn6https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn6https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn5https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn6
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    com a preocupao em traar um retrato da diversidade e riqueza cultural do pas, nos

    seus variados aspectos. Em termos museolgicos est ligado criao doMuseu de

    Etnologia de Ultramar(1965).

    c) Etnografia crtica ao Estado Novo

    A etnografia construda em torno da crtica ao Estado Novo feita por um grupo de

    intelectuais (oriundos dos meios culturais de esquerda) que vm das mais diversas reas

    msica, arquitectura, artes plsticas, cinema desde militantes do PCP (Partido

    Comunista Portugus) at catlicos progressistas, que se ligam antropologia com o

    intuito de criar um contra-discurso ao discurso etnogrfico do Estado Novo, por via do seu

    trabalho artstico.

    Procuram a construo de uma viso alternativa do mundo rural portugus. A sua

    concepo de cultura popular tende simultaneamente a project-la para o futuro, na

    medida em que a cultura popular passa a ser implicitamente vista como parte de um

    programa de transformao democrtica de Portugal ou, mais modestamente, de um

    programa vanguardista de renovao das artes (Leal, 2000: 54).

    Beneficiam do trabalho cultural promovido pelaFundao Calouste

    Gulbenkian,instituio onde podemos encontrar Michel Giacometti, Fernando Lopes

    Graa, Ernesto de Sousa, Manuel de Oliveira, Antnio Campos, ou ainda os arquitectosdoInqurito Arquitectura Popular em Portugal(realizada durante os anos 1950 e vindo a

    ser publicada em 1961)[7].

    Ps-1974: Duas geraes de docentes e a disseminao dos cursos de antropologia

    a) Anos 1979-1980: A gerao snior de antroplogos docentes

    S depois da revoluo de Abril de 1974 surgem as primeiras licenciaturas em

    antropologia social e cultural: naUNL Universidade Nova de Lisboa(curso criado em1978); noISCSP Instituto Superior de Cincias Sociais e Polticas,Lisboa (criada em

    1980)[8]; noISCTE Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa,Lisboa

    (criada em 1982)[9]; naUniversidade Fernando Pessoa, Porto (criado em 1990); e

    naUniversidade de Coimbra(criado em 1992)[10]. Formam-se gradualmente ps-

    graduaes e mestrados (ISCSP, ISCTE, UNL).

    Esta gerao faz aquilo que Robert Rowland chamou de uma refundao da antropologia

    em Portugal segundo o modelo que se praticava na comunidade cientfica internacional

    (Frois, 2011, p. 595). A formao terica era sobretudo clssica (seja de predominncia

    http://www.gulbenkian.pt/http://www.gulbenkian.pt/http://www.gulbenkian.pt/https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn7http://www.unl.pt/http://www.unl.pt/http://www.unl.pt/http://www.iscsp.utl.pt/http://www.iscsp.utl.pt/http://www.iscsp.utl.pt/https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn8http://www.iscte-iul.pt/home.aspxhttp://www.iscte-iul.pt/home.aspxhttp://www.iscte-iul.pt/home.aspxhttps://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn9http://www.ufp.pt/http://www.ufp.pt/http://www.uc.pt/https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn10http://www.gulbenkian.pt/http://www.gulbenkian.pt/https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn7http://www.unl.pt/http://www.iscsp.utl.pt/https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn8http://www.iscte-iul.pt/home.aspxhttps://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn9http://www.ufp.pt/http://www.uc.pt/https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn10
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    estruturalista francesa , seja funcionalista britnica; seja, ainda, mais tarde, do

    culturalismo americano). Privilegiava-se igualmente o contexto portugus, uma vez que

    altura era difcil investigar nas ex-colnias (assoladas por guerras; ou por falta de

    financiamento). Centrando-se na pesquisa em terreno portugus, uma vez que estava tudo

    por descobrir, os modelos tericos enquadravam-se no que se fazia na Europa pois,

    altura, a comparao na antropologia era feita por via das topografias concretas (o

    mediterrneo, a Europa do Sul).

    De destacar ainda o GIS Gabinete de Investigaes Sociais, fundado pelo pioneirismo de

    Adrito Sedas Nunes, que passa a ser chamadoICS Instituto de Cincias

    Sociais(autnomo da Universidade de Lisboa) em 1982, adquirindo o estatuto de

    Laboratrio Associado em 2002. daqui que sai a mais antiga e prestigiada revista de

    cincias sociais, aAnlise Social, bem como a editoraImprensa de Cincias Sociais. igualmente aqui que se desenvolvem as mais variadas investigaes antropolgicas.

    Por fim, notar que desde 1975 at 1992 a disciplina de Estudos Sociais (inserida no 1.

    grupo disciplinar do ensino preparatrio), bem como a partir de 1979 (com a criao da

    disciplina de Antropologia Cultural no 10. ano de escolaridade), ambas podiam ser

    leccionadas por licenciados em antropologia. Ainda assim, na maioria dos casos, dada a

    sua pequena carga horria, estas disciplinas acabavam por ser leccionadas por

    professores de outras formaes, sobretudo de Geografia (Santos, 1997). Em 1993

    desaparece a disciplina de antropologia do ensino secundrio.

    b) Finais dos anos Oitenta: A nova gerao de antroplogos docentes

    no seio das licenciaturas existentes que nasce a segunda gerao de antroplogos.

    Licenciados nos departamentos portugueses, alguns deles tiram mestrados e

    doutoramentos em universidades estrangeiras. Outros acabam tambm eles a formar

    novos departamentos, fruto de investigaes no terreno que comearam a proliferar, ou a

    ocupar lugares nos antigos que, entretanto, comeam a abrir mestrados e depoisdoutoramentos.

    o tempo da antropologia interpretativa, do ps-estruturalismo, dos estudos culturais e

    ps-coloniais, e da emergncia da ps-modernidade que comea a ser tratada em

    cadeiras dos mesmo cursos. Influenciados pelos trabalhos sobre o ritual e do regresso do

    corpo s cincias sociais, sobretudo a partir da linha do Erving Goffman, de Victor Turner

    e da sua colaborao com Richard Schechner, alguns professores comeam a explorar a

    anlise a partir do paradigma da performance no seio dos contedos programticos das

    disciplinas que leccionam. Uns, trabalhando conceitos tericos em seces programticas

    da disciplina leccionada (como ritual, liminaridade, drama social, etc.), outros,

    http://www.ics.ul.pt/instituto/?http://www.ics.ul.pt/instituto/?http://www.ics.ul.pt/instituto/?http://www.ics.ul.pt/instituto/?http://www.ics.ul.pt/instituto/?
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    enviesando, progressivamente, do ritual para a performance, importando lentamente as

    ideias que fervilhavam h uma dcada, sobretudo dos EUA[11]. Contudo, o paradigma dos

    estudos de performance ainda completamente residual, tendo muito poucas

    consequncias em termos de formao ou propenso de alunos para enveredarem por

    essa trajectria.

    Sc. XXI: O (im)possvel espao para os estudos de performance em Portugal?

    S no incio do sculo XXI, aparecem pela primeira vez no currculo das licenciaturas

    disciplinas cujo contedo marcadamente referenciado pelo paradigma da performance. A

    pioneira , talvez, a cadeira de Ritual e Performance, leccionada por Paulo Raposo no

    ISCTE, que cruza o estudo do ritual com as manifestaes expressivas, poltica e a arte da

    performance. Mais tarde, em Coimbra, pelas mos de Jacques Houart, uma proposta

    similar surge numa disciplina da licenciatura em antropologia, Antropologia da

    Performance. Gradualmente, a antropologia da performance torna-se sinnima de estudos

    de performance.

    Comea, igualmente, embora muito fragmentariamente, a surgir em outras disciplinas, o

    parcial interesse nos estudos de performance. NaEscola Superior de Teatro e Cinema,no

    mestrado Teatro e Comunidade aparece novamente a incluso de uma cadeira de Ritual

    e Performance, leccionada por Paulo Raposo. Tambm naESAD Escola Superior de

    Artes e Design(Caldas da Rainha) abre-se Antropologia Teatral, leccionada por TeresaFradique. Tambm aESTAL Escola Superior de Tecnologias e Arte de Lisboapossua

    uma cadeira marginal de Antropologia da Cultura Popular que tinha na sua base uma

    introduo aos estudos de performance (por Ricardo Seia Salgado), embora se

    extinguisse com a reformulao do curso de Artes Performativas. Em Coimbra,

    nosEstudos Artsticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,A Arte da

    Performance leccionada por Fernando Matos de Oliveira, e permite-se a especializao

    em Estudos Teatrais e Performativos. No mestrado em Artes Cnicas daUniversidade

    Nova de Lisboa, se bem que noDepartamento de Cincias da Comunicao, coordenadopor Paulo Filipe Monteiro, explora-se, sobretudo na disciplina Espaos Performativos a

    relao entre performance e a arquitectura teatral. J em 2012, abre o primeiro

    doutoramento em Artes Performativas e Imagem em Movimento, numa parceria entre

    aUniversidade de Lisboae oInstituto Politcnico de Lisboa, embora at hoje ainda no

    tivesse arrancado. Tambm no arrancou uma ps-graduao em Estudos da

    Performance, no ISCTE, por falta de alunos.

    Na verdade, no se pode dizer que haja ainda em Portugal um curso sustentado pelo

    paradigma dos estudos de performance, entendidos no seu amplo espectro. Por tudo isto,

    https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn11http://www.estc.ipl.pt/http://www.estc.ipl.pt/http://www.esad.ipleiria.pt/http://www.esad.ipleiria.pt/http://www.esad.ipleiria.pt/http://www.esad.ipleiria.pt/http://www.estal.pt/http://www.estal.pt/http://www.uc.pt/fluc/artisticos/apresentacao/artes_na_uchttp://www.uc.pt/fluc/artisticos/apresentacao/artes_na_uchttps://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_edn11http://www.estc.ipl.pt/http://www.esad.ipleiria.pt/http://www.esad.ipleiria.pt/http://www.estal.pt/http://www.uc.pt/fluc/artisticos/apresentacao/artes_na_uc
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    a recepo do campo nunca foi feita em Portugal, as suas lentes do saber tardam a vingar

    no meio acadmico portugus. O que existe so iniciativas pontuais (ver o texto Iniciativas

    Recentes neste blog) promovidas pela mais variadas instituies, como por exemplo

    peloCRIA Centro em Rede de Investigao em Antropologia[12]que tem organizado

    eventos que divulgam esta rea do saber. Por outro lado, na Antropologia ainda so

    residuais os frutos da formao em estudos da performance. Normalmente, os alunos

    vem-se obrigados a sair do pas para desenvolverem os seus projectos acadmicos da

    especialidade. Por outro lado ainda, a frico entre os estudos de performance e os

    estudos teatrais barra o seu desenvolvimento em escolas artsticas.

    Referncias:

    FALCO, Ana Mafalda, 2006, Antropologia Colonial e a Produo de Conhecimento sobre

    Grupos tnicos da Guin Portuguesa: Reflexo em torno da Tese de Mrio Humberto

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    [6]Tirando um Doutoramento de Etnologia em Munique, vem para Portugal em 1947,formando uma extensa equipa de antroplogos e preparando-os para o trabalho de campo,na direco daSeco Etnogrfica do Centro de Estudos de Etnologia Peninsular. Jorge

    Dias participa naComisso Internacional de Artes e Tradies Popularesonde se coordenaa pesquisa etnolgica da Europa; membro da revistaEthnologia Europaea; faz vrias

    incurses a congressos no Brasil e nos EUA, onde chegou a ser professor convidadodaStanford University.

    Jorge Dias lecciona pela primeira vez cadeiras de teor estritamente antropolgiconaFaculdades de Letras da Universidade de Coimbrae, depois, noInstituto Superior de

    Estudos Ultramarinos, em Lisboa. De notar que teoricamente amplamente influenciadopelo culturalismo alemo de Franz Boas, e pelo difusionismo ps-evolucionista.

    [7]Partindo de uma ideia dos arquitectos Jos Huertas Lobo e Francisco Keil do Amaral(em 1947), ideia que agarrada peloSindicato Nacional dos Arquitectos, dividiram-se seis

    zonas de aco no territrio nacional: Minho (Fernando Tvora, Rui Pimentel, AntnioMenres); Trs-os-Montes (Octvio Lixa Filgueiras, Arnaldo Arajo, Carlos Carvalho Dias);

    Beiras (Francisco Keil do Amaral, Jos Huertas Lobo, Joo Jos Malato); Estremadura(Nuno Teotnio Pereira, Antnio Pinto Freitas, Francisco Silva Dias); Alentejo (Frederico

    George, Antnio Azevedo Gomes, Alfredo da Mata Nunes); Algarve (Artur Pires Martins,Celestino de Castro, Fernando Ferreira Torres).

    Percorrem o pas de ls-a-ls, recorrendo a vrios meios de transporte, das estradassinuosas s rectas do sul, fotografando, desenhando, tomando as suas notas.

    [8]Vindo de uma longa histria (ver nota 2), aps o 25 de Abril de 1974, o ISCSP (antigoISCSPU) tem uma histria bastante conturbada pelo saneamento de professores ligados

    ao antigo regime. O Ministrio da Educao intervm e acaba por encerrar a escola(1976/1977), invocando-se degradao pedaggica e cientfica. Alguns professores

    passaram a leccionar no curso dos dois outros departamentos de antropologia existentes.Mais tarde (1980), o regresso dos professores saneados promove a reabertura do curso

    (Frois, 2011; ISCSP, s.d.).

    [9]Este curso arranca com uma perspectiva interdisciplinar no contexto das cinciassociais, centrando-se teoricamente na antropologia clssica (do estruturalismo aoestrutural-funcionalismo) etnografia em contexto portugus (aliando-se, de certa forma, sociologia e Histria que j existiam no Instituto). Comeou com pessoas que acabavamo seu mestrado ou doutoramento fora de Portugal, a partir da mo de Robert Rowland,convidado para o fazer por Seda Nunes. Formavam estudantes que foramprogressivamente colmatar a necessidade de mais docentes. (Frois, 2011). Entre eles:

    Joo de Pina Cabral, Brian ONeill, Ral Iturra (em Inglaterra), Jos Carlos Gomes da Silva(Blgica), Joaquim Pais de Brito, Jos Fialho e Nlia Dias (Frana), Jorge Freitas Branco

    (Alemanha).

    [10]O departamento de antropologia da Universidade de Coimbra herdou uma longatradio no seio da antropologia fsica, como vimos em cima. Por isso mesmo, a

    https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref6https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref7https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref8https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref9https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref10https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref6https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref7https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref8https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref9https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref10
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    licenciatura surge no seio da Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade deCoimbra (completamente afastada da histria, da sociologia, da filosofia, da economia, nofundo, das cincias sociais). O curso montado em duas especialidades com um tronco

    comum, a antropologia fsica e a antropologia social e cultural. Esta ltima ser formadapela segunda gerao de antroplogos que trataremos de seguida. Hoje, est absorvida

    no Departamento de Cincias da Vida.

    [11]Na pioneira escola daTisch School of Arts Department of Performance Studies,NYU, formada justamente por Richard Schechner, Victor Turner, Brooks McNamara,Michael Kirby, Barbara Kirshenblatt-Gimblett.

    [12] o CRIA que edita uma das mais respeitadas revistas de antropologia em Portugal.Contudo, tambm aqui, o paradigma dos estudos de performance residual.

    https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref11https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref12https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref11https://baldiohabitado.wordpress.com/project/cluster/txt%20blog%20cluster/Historiografia%20dos%20campos/2.%20Antropologia/antropologia_final.doc#_ednref12