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4 — JORNAl DA TARDE Coderno do Sábado SEITAS SATANICAS ORDEM DE o vazio do fim do hippieismo e N de outras ideologias contempo râneas Satanás instalou seu cor po mais do que milenar. Sua voz sinistra alimentou os deli- ____________ rios de Charles Mason, o assas sino de Sharon Tale, ou de Mark David Chap- man. que matou John Lennon. (Recentemente, os presidiários Chapman e Mason passaram a trocar cartas. Mason ficou “muito comovido” porque Chapman, depois de anos, contou “a verdade“... Sim... Ele tinha matado Lennon... por ordem de Satã...) O mesmo som chegou aos ouvidos de um garoto húngaro de 16 anos, fas cinado por rock satânico, e por um poema, de autor desconhecido, que falava de um crime... o assassinato de uma família inteira... No dia 6 de outubro de 1990 o garoto obede ceu a voz de seu Mestre. E, implacavelmente, rasgou, em todos os sentidos, o corpo de sua irmã de 13 anos. Depositou seus órgãos pelo quarto iluminado por uma lâmpada vermelha. Pintou na parede de sua casa, numa aldeia do sul da Hungria, uma cruz de cabeça para baixo. E assinou com o punhal ensangüentado: “Sa tã”. Satã está na moda. No Brasil, ele é o perso nagem central de várias obras que estão chegan do ás livrarias. É o caso de Bruxaria e Histó ria, escrito por Carlos Roberto figueiredo No gueira. ou Satã, o Príncipe das Trevas, da pes quisadora inglesa Joan CVGrady . “O Diabo oltou” c o que se lé na capa da mais intelectua lizada das revistas semanais de informação da França. Le Nouvel Observateur. O “retrato” do Demo foi traçado num computador. Mas o temário da edição é antigo como a idéia do mal: seitas, missas negras, crimes e almas possuídas. Numa foto num bosque nos arredores de Paris se vê uma mulher, bela. nua e deitada sobre um veludo negro, ao lado do crânio de um morto. Na cerimônia orgíaca, 50 homens e mulheres mascarados. Um século atrás, o louco bruxo Boullan já havia fundado, em Chálons sur Marne, uma especie de mosteiro erótico, em que as orgias eram dignas do Justinc, do Marquês de Sade. O que deflagrava os excessos era nina missa negra, que começava com essa evocação: “In Nomine Dei nostri Satanae Lucifen Excelsi. Amen.” (“Em nome de nosso deus, excelso Lúcifer Sata nás. Amém".) O padre brasileiro Oscar Quevedo é um estu dioso do saianismo. Ele conheceu, num con gresso sobre ocultismo, no México, uma mulher sedutora que já participou de muitas missas ne gras. Seu corpo foi usado como altar do Demô nio. O nome dela é Carla, uma das princesas do satanismo contemporâneo. Carla é filha de Lay Anton Szandor La Vey. chefe supremo da mais importante e estável seita de adoradores do De mônio nos Estados Unidos, "A Primeira Igreja de Satã”. Um padre estrangeiro (que prefere ficar anô nimo) participou de um longo seminário, numa faculdade de Teologia, na Espanha. O tema: As Tentações de Cristo”. Ora. para esse padre, o Diabo não é apenas uma metáfora do mal... Mas Cristo foi "realmente” tentado pelo Demô nio. . Ou como di/ esse jovem sacerdote: "Se houve tentação, deve haver algum tentador, não? Segundo ele, um sacerdote francês lhe contou que, no sul da França, na região dos Pirineus orientais, os padres guardam cuidados ultra-especiais na hora da comunhão. Isso por que adoradores do Diabo se infiltram nas igre jas para roubar hóstias sagradas para suas mis sas negras... A longa marcha do satanismo não esqueceu a Itália. Um caso estranho tem como personagem a atriz — ex-diva sexy dos anos 70 Príncipe da Trevas, Diabo, Demo, Satã, Maligno, Tinhoso. Não importa como é chamado: fascinante, ele é moda neste fim de milênio. Incontáveis seguidores - fazem questão de manter práticas seculares: o culto a Satã ainda tem, nas missas negras, nos crimes, nas almas possuídas e nos rituais orgiásticos, os momentos maiores. As cerimônias incluem velas, sangue, pactos, drogas, sexo, tudo o necessário para que sejam realmente demoníacas. Os satanistas modernos dormem em caixões, têm obsessão por sangue humano e seguem à risca as determinações do Mestre. É o Diabo só uma metáfora do Mal? □ Por M arcos F aerman satânicos" contemporâneos, de entidades afins do fim do século passado. Marco fundamental seria, enfim, a publicação de Arcadia — O Evangelho das Bruxas, de Charles Leland. em 1889, que pretendia estabelecer “a antigüidade e os propósitos religiosos da bruxaria". Segun do Carlos Roberto, dessa publicação surgiram três correntes ocultistas: 1) cultos neopagãos, qut acreditavam que a bruxaria era uma forma de contato com antigas divindades da natureza: 2) uma bruxaria que procurava “não praticar o mal”; 3) o culto à Satã... Mas que Satã é esse que fascina homens sensí veis do fim do século passado, como o poeta William B. Yeats ou Bram Stocker, autor de um romance extremamente bem escrito... como Drácula? Esse Satã seria uma figura muito pró xima do Demônio do romantismo, aliado dos homens contra Deus, adversário das “repressões sociais” (e sexuais). A antítese da sociedade vi toriana. arquiconservadora. É nesse periodo que vai emergir a figura si nistra de Aleister Crowley, que preferia ser cha mado de “A Grande Besta”. Crowley está liga do à Ordem do Templo do Oriente e à Ordem Hermética da Aurora Dourada, dissidência da Ordem RosaCruz inglesa. Crowley tinha uma personalidade totalitária. Era considerado con quistador infatigável. Andava com um séquito de lèmeas alucinadas, a que chamava de “mu lheres escarlates". Crowley e elas consumiam toda a espécie de drogas. E, nesse estado, faziam orgias homéricas. Algumas mulheres de Crowley enveredavam pela prostituição, outras iam em marcha batida para os hospícios. Episó dio emblemático é sua contenda com Samuel bhh M acGregor mandou um vampiro atacar Crowley. Crowley ficou irritado... Contra-atacou com um exército do mal liderado por Belzebu e uma tropa de 49 demônios. A vida de Crowley Lcllah Wendell. ■ vampira nacróflla, trabalhava numa agAncla lunarárla. Daapadlda quando daacobrlram qua costumava sugar o sangua da cadávaras. Laura Antonelli. Em maio desse ano, ela foi presa, em sua mansão rural, numa aldeia, a 50 quilômetros de Roma. La Antonelli vestia uma estranha túnica, transparente, sob a qual pendia um crucifixo enorme. Estava transtornada, de pois de cheirar muita cocaína, como constata ram os homens da policia italiana, que lá chega ram. Uma enorme cabeça de demônio, feita com barro dos túmulos elruscos da região, pairava sobre uma sala sinistra, iluminada por velas... Havia muita cocaina disposta em forma de sig nos misteriosos sobre uma mesa negra. Mais tarde se soube que La Antonelli, drogada, se tornava — e transtornava — na oficiante de rituais erótico-satanicos... O professor Carlos Roberto, da USP, diz que o satanismo dos nossos dias — e, mesmo, do século XIX nada tem a ver com a bruxaria conhecida até o século XVII. Mas, para ele, é impossível separar o culto à Satã dos “clubes sagem pela Itália de Mussolini. Lá, ele criou uma “Abadia”, onde Satanás era cultuado por um séquito de drogados. Foi numa missa negra que o poeta inglês Raul Loveday morreu de overdose de alguma droga. Mussolini estava pe las tampas com Crowley. Aproveitou o episódio para expulsá— Io. O que se pode dizer de Crowley é que ele criou uma espécie de modelo de clube satânico. Seu exemplo não será em vão... Carlos Roberto Figueiredo Nogueira confirma: “Um dos discí pulos de Crowley, Gerald Gardner, é o respon sável pela reinvenção da bruxaria. Membro da Aurora Dourada e de outras seitas secretas, es creveu o seu próprio manual de bruxaria, du rante a Segunda Guerra Mundial, baseado no material da seita de Crowley. Popularizando os rituais herméticos, Gardner tornou a bruxaria uma seita não de iniciados, mas um ritual aces sível a todos, inventando uma nova religião, baseada em espiritualismo, magia cerimonial e “antigos cultos". Clubes satânicos de hoje. O padre Quevedo costuma dizer que “é im- possivel calcular o número de satanistas, bru xos, cultores de magia e adoradores de Satã nos Estados Unidos”. E lá que se encontra o núcleo mais famoso do satanismo contemporâneo, “A Primeira Igreja de Satã”, criada por um antigo fotógrafo policial e domador de leões, Lay An ton Szandor La Vey. As paredes de seu princi pal “Templo de Belzebu", em São Francisco, são pintadas de negro. O órgão toca peças lúgu- bres. O livro de orações é “A Bíblia Satânica”. Szandor La Vey começa sua oração (que é uma blaslêmia só): “Adonai maléfico, que estás nos

SEITAS SATANICASrituais erótico-satanicos... O professor Carlos Roberto, da USP, diz que o satanismo dos nossos dias — e, mesmo, do século XIX nada tem a ver com a bruxaria conhecida

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Page 1: SEITAS SATANICASrituais erótico-satanicos... O professor Carlos Roberto, da USP, diz que o satanismo dos nossos dias — e, mesmo, do século XIX nada tem a ver com a bruxaria conhecida

4 — JORNAl DA TARDE C oderno do S ábad o

SEITAS SATANICAS

ORDEM DE

o vazio do fim do hippieism o e

Nde ou tras ideologias contem po­râneas Satanás instalou seu cor­po mais do que m ilenar. Sua voz sinistra alim entou os deli- ____________ rios de Charles M ason, o assas­

sino de Sharon Tale, ou de M ark David Chap- man. que m atou John Lennon. (Recentemente, os presidiários Chapm an e Mason passaram a trocar cartas. Mason ficou “ m uito com ovido” porque Chapm an, depois de anos, contou “ a verdade“ ... Sim ... Ele tinha m atado Lennon... por ordem de S atã ...) O mesmo som chegou aos ouvidos de um garo to húngaro de 16 anos, fas­cinado por rock satânico, e por um poema, de au to r desconhecido, que falava de um crim e... o assassinato de uma família in teira ...

No dia 6 de ou tu b ro de 1990 o g a ro to obede­ceu a voz de seu Mestre. E, implacavelmente, rasgou, em todos os sentidos, o corpo de sua irmã de 13 anos. Depositou seus órgãos pelo qu arto ilum inado por uma lâm pada vermelha. P intou na parede de sua casa, numa aldeia do sul da H ungria, uma cruz de cabeça para baixo. E assinou com o punhal ensangüentado: “ S a­tã ” .

Satã está na moda. No Brasil, ele é o perso­nagem central de várias obras que estão chegan­do ás livrarias. É o caso de B ruxaria e H istó ­ria , escrito por Carlos R oberto f ig u e ired o No­gueira. ou S a tã , o P ríncipe d as T revas, da pes­quisadora inglesa Joan CVGrady . “ O D iabo

o lto u ” c o que se lé na capa da mais in telectua­lizada das revistas semanais de inform ação da França. Le Nouvel O bserv a teu r. O “ re tra to ” do Demo foi traçado num com putador. Mas o tem ário da edição é an tigo como a idéia do mal: seitas, missas negras, crimes e almas possuídas. Numa foto num bosque nos arredores de Paris se vê uma m ulher, bela. nua e deitada sobre um veludo negro, ao lado do crânio de um m orto. Na cerim ônia orgíaca, 50 homens e mulheres mascarados.

Um século atrás, o louco bruxo Boullan já havia fundado, em Chálons sur M arne, uma especie de m osteiro erótico , em que as orgias eram dignas do Ju s tin c , do M arquês de Sade. O que deflagrava os excessos era nina missa negra, que começava com essa evocação: “ In Nomine Dei nostri Satanae Lucifen Excelsi. Amen.” (“ Em nome de nosso deus, excelso Lúcifer S ata­nás. Amém".)

O padre brasileiro Oscar Quevedo é um estu­dioso do saianism o. Ele conheceu, num con­gresso sobre ocultism o, no México, uma m ulher sedutora que já participou de m uitas missas ne­gras. Seu corpo foi usado com o a lta r do Demô­nio. O nome dela é C arla, uma das princesas do satanism o contem porâneo. C arla é filha de Lay Anton Szandor La Vey. chefe suprem o da mais im portante e estável seita de adoradores do De­m ônio nos Estados U nidos, "A Prim eira Igreja de S atã” .

Um padre estrangeiro (que prefere ficar anô­nimo) participou de um longo sem inário, numa faculdade de T eologia, na Espanha. O tema:

As Tentações de C risto” . O ra. para esse padre, o D iabo não é apenas uma m etáfora do m al... Mas C risto foi "realm ente” ten tado pelo Demô­nio. . Ou com o d i/ esse jovem sacerdote: "Se houve tentação, deve haver algum ten tado r, não? Segundo ele, um sacerdote francês lhe contou que, no sul da França, na região dos Pirineus orientais, os padres guardam cuidados ultra-especiais na hora da com unhão. Isso p o r­que adoradores do D iabo se in filtram nas ig re­jas para roubar hóstias sagradas para suas mis­sas negras... A longa marcha do satanism o não esqueceu a Itália. Um caso estranho tem como personagem a a triz — ex-diva sexy dos anos 70

Príncipe da Trevas, Diabo, Demo, Satã, Maligno, Tinhoso. Não importa como é chamado:

fascinante, ele é moda neste fim de milênio. Incontáveis seguidores -

fazem questão de manter práticas seculares: o culto a Satã ainda tem,

nas missas negras, nos crimes, nas almas possuídas e nos rituais

orgiásticos, os momentos maiores. As cerimônias incluem velas, sangue,

pactos, drogas, sexo, tudo o necessário para que sejam realmente demoníacas. Os satanistas modernos dormem em caixões, têm obsessão

por sangue humano e seguem à risca as determinações do Mestre.

É o Diabo só uma metáfora do Mal?□ Po r M a r c o s Fa er m a n

satânicos" contem porâneos, de entidades afins do fim do século passado. M arco fundam ental seria, enfim , a publicação de A rcad ia — O E vangelho d as B ruxas, de C harles Leland. em 1889, que pretendia estabelecer “ a an tigü idade e os p ropósitos religiosos da b ru x aria" . Segun­do C arlos R oberto , dessa publicação surgiram três correntes ocultistas: 1) cultos neopagãos, q u t acreditavam que a bruxaria era uma forma de co n ta to com antigas divindades da natureza: 2) uma bruxaria que procurava “ não p ra tica r o m al” ; 3) o cu lto à S atã ...

Mas que Satã é esse que fascina homens sensí­veis do fim do século passado, com o o poeta W illiam B. Yeats ou Bram S tocker, a u to r de um rom ance extrem am ente bem escrito ... como D rácu la? Esse Satã seria uma figura m uito p ró ­xima do Dem ônio do rom antism o, aliado dos homens con tra Deus, adversário das “ repressões sociais” (e sexuais). A antítese da sociedade vi­to rian a . arquiconservadora.

É nesse periodo que vai em ergir a figura si­nistra de Aleister Crow ley, que preferia ser cha­m ado de “ A G rande Besta” . Crowley está liga­do à Ordem do Tem plo do O riente e à Ordem Herm ética da A urora D ourada , dissidência da O rdem RosaCruz inglesa. Crowley tinha uma personalidade to ta litá ria . E ra considerado con­qu istado r infatigável. Andava com um séquito de lèmeas alucinadas, a que chamava de “ m u­lheres escarlates". Crowley e elas consum iam toda a espécie de drogas. E, nesse estado, faziam o r g ia s h o m é r ic a s . A lg u m a s m u lh e re s de Crowley enveredavam pela prostitu ição , ou tras iam em m archa batida para os hospícios. Episó­dio em blem ático é sua contenda com Samuel

■ ■ ■ b h h

MacG regor m andou um vam piro a tacar Crowley. Crowley ficou irr ita d o ... C on tra-a tacou com um exército do mal liderado por Belzebu e uma tropa de 49 dem ônios. A vida de Crowley

Lcllah Wendell. ■ vam pira nacróflla, trabalhava num a agAncla lunarárla . D aapadlda quando daacobrlram qua

costum ava sugar o sangua da cadávaras .

Laura A ntonelli. Em maio desse ano, ela foi presa, em sua mansão ru ra l, numa aldeia, a 50 quilôm etros de Roma. La Antonelli vestia uma estranha túnica, transparen te , sob a qual pendia um crucifixo enorm e. Estava transto rnada , de­pois de cheirar m uita cocaína, com o constata­ram os homens da policia ita liana, que lá chega­ram . Uma enorm e cabeça de dem ônio, feita com barro dos túm ulos elruscos da região, pairava sobre uma sala sin istra, ilum inada por velas...

Havia m uita cocaina disposta em form a de sig­nos m isteriosos sobre uma mesa negra. Mais tarde se soube que La A ntonelli, d rogada, se to rnava — e transto rnava — na oficiante de rituais e ró tic o -sa ta n ic o s ...

O professor C arlos R oberto , da U SP, diz que o satanism o dos nossos dias — e, mesmo, do século XIX nada tem a ver com a b ruxaria conhecida até o século XVII. Mas, para ele, é impossível separar o cu lto à Satã dos “ clubes

sagem pela Itália de M ussolini. Lá, ele criou uma “ A badia” , onde Satanás era cu ltuado por um séquito de drogados. Foi num a missa negra que o poeta inglês Raul Loveday m orreu de overdose de algum a d roga. M ussolini estava pe­las tam pas com Crowley. A proveitou o episódio para expulsá— Io.

O que se pode dizer de Crowley é que ele criou uma espécie de modelo de clube satânico. Seu exemplo não será em vão... C arlos R oberto F igueiredo N ogueira confirm a: “ Um dos discí­pulos de Crow ley, G erald G ardner, é o respon­sável pela reinvenção da bruxaria . M em bro da A urora D ourada e de ou tras seitas secretas, es­creveu o seu p ró p rio m anual de bruxaria , d u ­ran te a Segunda G uerra M undial, baseado no m aterial da seita de Crowley. P opularizando os ritua is herm éticos, G ardner to rn o u a bruxaria uma seita não de iniciados, mas um ritua l aces­sível a todos, inventando uma nova relig ião , baseada em espiritualism o, magia cerim onial e “ an tigos cu ltos". C lubes sa tân ico s de hoje.

O padre Quevedo costum a dizer que “ é im- possivel calcular o núm ero de satanistas, b ru ­xos, cultores de m agia e adoradores de Satã nos Estados U nidos” . E lá que se encontra o núcleo mais famoso do satanism o contem porâneo, “ A Prim eira Igreja de S atã” , criada por um an tigo fo tógrafo policial e dom ador de leões, Lay An­ton Szandor La Vey. As paredes de seu princi­pal “ Tem plo de Belzebu", em São Francisco, são p in tadas de negro. O ó rgão toca peças lúgu- bres. O livro de orações é “ A Bíblia Satân ica” . S zandor La Vey começa sua oração (que é uma blaslêmia só): “ A donai maléfico, que estás nos

Page 2: SEITAS SATANICASrituais erótico-satanicos... O professor Carlos Roberto, da USP, diz que o satanismo dos nossos dias — e, mesmo, do século XIX nada tem a ver com a bruxaria conhecida

1991

f

céus, que teu nome seju ofendido; que teu reino se desvaneça. que contra a tua vontade se rebe­lem os anjos e os homens, na T erra com o no Céu. Pereça, m aldito , com o na Cruz pereceu C risto , teu filho. E que teu nome seja entregue ao esquecimento, de agora para todo o sem-

Mpre .

Ima das h istó rias que La Vey

U conta é que ele era o pianista

dos s trip s de “ N orm a Jean ” (M arilyn M onroe), na pré-his­tó ria da deusa. Possivelmente é

_______________uma enorm e m en tira . Mas écerto que, cm 1966, ele fundou a sua igreja satâ­nica. Lima de suas grandes am igas, na época, era a sex— sim bol Jane Mansfield. De qualquer forma. Szandor La Vey ganhou algum a no to ­riedade. E se to rnou consultor para os filmes de te rro r de H ollyw ood... Foi o Satanás do Bebê de R osem ary. de Rom an Polansky. Era am igo de Polansky e de sua m ulher Sharon Tate, assas­sinada pelo bando satâni- c o - ra d ic a l de C h a r le s Mason, o m entor de uma tal “ Igreja F in a l" , onde as cópulas eram regadas com sangue h u n n n o . Já o professor Carlos R oberto identifica os lideresassim:Lay A nton Szandor La Vey é o satanism o light.Charles M anson é o sa ta ­nismo skin— head . Um dos discipulos de Mason,Tex W atson, disse a Sha­ron Tate e seus convida­dos, na hor„ do “sacrifí­cio” : “ Sou o D iabo. Es­tou aqui para realizar a tarefa do D iabo".

U nia das coisas que hoje se sabe de Charles M an so n é q u e ele fo i “ ed u cad o " p o r q u a tro satanistas da OTO (O r­d e m d o T e m p l o d o O riente), que tem mais de um século de delírios e maldades acima de qual­quer suspeita. Mas boa p a r te da fo rm a ç ã o de Charles M anson, um se­m i-analfabeto, se fez com gibis de te rro r e filmezi- nhos de de quinta ca tegoria ...

T an to as igrejas satânicas dos EUA quan to a famosa entidade m aligna “ O Processo", da In­g la terra , arrebanharam m uitos adeptos entre “ os órfãos do movimento h ippie", como diz o professor Carlos R oberto. Os delírios eram esti­mulados por alucinógenos, principalm ente pela droga da moda no fim dos 60 e começo dos 70, o LSD. Já a “ música oficial” do satanism o era emforma de rock, na linha dos “ Rolling S to- nes" que até gravaram um disco com o nome: S im patia pelo Demônio. Um dos membros do “ R olling", que já m orreu, Brian Jones, nunca escondeu sua sim patia pelo Dem ônio. “ Mas de­pois da m orte de Sharon Tate — analisa Carlos R oberto — houve um certo recuo do satanis­mo. A guerra do Vietnã acabou... o m undo pas­sou a viver uma fase de m aior bem-estar social... E a revolução sexual já estava feita... E ra difícil alguém se espantar com qualquer forma de p rá­tica sexual... O satanism o saiu de m oda, ao lon­go dos anos 70. Mas isso muda nos anos 80 e 90, m arcados po r uma postura mais conserva­dora nos costumes. A Aids recoloca o sexo como coisa m aldita ... N o plano político, cada vez mais deixa de existir, nos EUA. na Europa Oci­dental, o perigo verm elho... E ntão , começa a em ergir, novamente, a questão do Bem e do M al..."

Enfim, a tese de Carlos R oberto Figueiredo Nogueira é de que o satanism o é uma cultura da transgressão, com estímulos para crescer em momentos conservadores da H istória.

Um dos clubes satânicos mais estranhos da América é o “ Lost S hadow ". Ele é form ado por vam piros sem m etáfora. Esses apaixonados do dem ônio, ligados a Lay A nton Szandor La Vey. insinuam que apreciam sexo com pessoas m or­tas, e bebem, habitualm ente, sangue hum ano.

Os vam piros am ericanos vivem numa peque­na cidade próxim a a O akland. Suas roupas ne­gras, de couro , exibem fulgurantes suásticas. Existe até uma teoria vam piro-nazista que essa gente p ropaga ... Os nazistas teriam sido “ n a tu ­ra listas" ... Na realidade, diz o vam piro Lewis H arrison, conhecido como o rei dos m asoquis­tas, os nazistas com batiam o cristianism o. Os seus lideres eram ocultistas que pretendiam res­tabelecer a ordem natu ra l. A vam pira Leilah Wendell é necrófila. T rabalhava num a agência funerária, até que se descobriu que ela, no meio da noite abraçava, sensualm ente, os cadáveres. “ Eu faço am or com os m ortos diz Leilah — , mas não do m odo como vocês podem im aginar. Eu apenas toco o cadáver, e se ele me agrada ,

dos esses vam piros am ericanos tam bém adoram dorm ir ou repousar den tro de caixões de defun­to. A lguns, mais sofisticados, preferem o u tro s m odelos de cam a, na linha dos túm ulos b a rro ­cos. Menos sofisticados eram os traficantes de d rogas mexicanos de M atam oros, bem na fron­teira com os Estados U nidos, que im aginavam que com endo certas partes de suas vítim as fica­riam invisíveis. Assim, a policia nunca os p ren ­deria. Para ter a p ro teção do Além, invocavam dem ônios. T ransform aram uma fazenda num m atadouro hum ano, com o constatou o tira ian­que G eorge G av ito , ao investigar o desapareci­m ento de um estudante am ericano. Os trafican­tes ficaram abism ados quando a policia os pren­deu, a 12 de ab ril de 1990... Mas o D iabo não os to rn a ria invisíveis? Satã também e rra? Satã os tra iu?

P or tudo isso o padre Quevedo fica até ir r i­tado . “ O D iabo diz — voltou, nos últim os 2 0 anos, p o r toda a parte . Está na m oda até na R ússia...” Ele acha que, no Brasil, as igrejasr

B Èm

Anton Szandor La Vay, ideólogo do novo vampirismo. Ela é o gula aapiritual a lidar Indlscutldo da lgre)a da Satã. Peraonlficou Satanás no Mima O Bebô de R osem ary a criou,

elevando-o à categoria da conceito sociológico, o “vampirismo psíquico".

me aparece Azrael, o Anjo da M orte. Eu posso vê— Io e senti— lo, depois que bebo o sangue do m o rto .”

Ia não tem medo de beber san­gue? “ Eu não tenho medo da m orte. Se eu m orrer, aliás, po­derei estar mais perto do Anjo A z ra e l!" O v a m p iro N ico la Schreck vive em San Francisco,

numa casa de praia com pôsteres gigantes de Charles M ason, A dolf H itler e V am pirella. “O m ito do D rácula — diz — é a últim a recorda­ção de que o homem é um anim al caçador. A imagem conhecida do vam piro não é mais do que propaganda do cristianism o. A igreja quer an iqu ilar todos os cultos an tigos.” O vam piris­mo tem sua p rópria cu ltu ra e arte . Os vam piros adoram o livro D rácu la , de Bram Stocker. C ul­tuam as histórias da condessa Elisabeth von B arthory , uma nobre húngara que viveu no sé­culo XVI e que se banhava no sangue das cente­nas de servas que m andou m atar para m anter a eterna juventude. A busca de sangue (hum ano) é uma obssessão para eles. Um casal de nam ora­dos resolve o problem a em família. Um suga o sangue do o u tro . O vam piro Boyd Rice in ter­rom peu um entrevista com um jo rna lis ta ale­mão porque estava “ com sede” . V oltou, m inu­tos depois, com uma seringa cheia de sangue. Do seu p róp rio sangue. A gora, ele podia prepa­ra r o seu coquetel favorito. De hem oglobina!

Enfim, como na novela Vamp, da G lobo, to-

I

A conde»»» Mlaty, em ca»a, perto de Oakland. veetlda com eau manlo da veludo. Confeaaa lar deacoberlo que ara vampira ainda manlna. Nacaaalta da maio litro da aangue por eamana a da “um pouco mala", am noltaa da lua-chela.E o caeal Nicola» Schrock, que não laz mlatérto da oamoaa qua axlata entra o nazlamo a as praticas de vampirismo: “ Os vampiros pertencem à elite, não são parasitas, mas Indivíduos puros a forles".

dos “ crentes” , que falam em d iabo o tem po to ­do , e os espiritas, igualm ente, têm a ver com isso ...“O que o u tros cham am de ‘dem ônios’, eles cham am de ‘espíritos m aus’... O ra, segundo Allan K ardek, há 3 mil espíritos maus p o r ca­dáver vivo, e os espíritos bons foram para o m undo da luz... O espiritism o a judou m uito a p ro p a g a r a crença no d em ô n io ...” Além do mais, Quevedo acha que faz p arte da “ poluição sa tân ica" toda uma conversa sobre “ Ovnis, Ta- rô . A stro logia , P irâm ides e C ristais e re incar­nação” . Isso para não falar em exorcistas, p rin ­cipalm ente padres exorcistas. “ Eles a traem m ul­tidões, mas estão cientificam ente u ltrap assa ­dos." Para o padre Quevedo, com o para ou tros sacerdo tes ca tó lico s que co m p artilh am essa crença, o Dem ônio é uma espécie de m etáfora do mal. E esses satanistas todos, com o os cu lto ­res do Dem ônio que ele conheceu m undo afora, não passam de uns tipos doentes... “ O satanis­mo é uma parafren ia, uma fabrica de loucos." Q uanto à m aneira com que os católicos vêem o D iabo . ele a rg u m e n ta ...“ N o ritu a l novo da Igreja já nem existe o exorcism o..."

ào o b s ta n te , ele m esm o fica co n ste rn ad o q u an d o reco rda que o papa João P au lo II no­meou M onsenhor C onrado Bal- ducci o Exorcista Oficial de Ro­ma!

O utro padre (ele quer ficar anônim o) retruca que não se pode negar a “existência ob jetiva" do D iabo ... “ Ele está no Velho Testam ento ... Ele está no Novo Testam ento, tan to nos Atos dos A póstolos como no Evangelho... Enfim, a realidade do D iabo esta lá ... O D iabo tentando Jesus... Aí, se falam de pessoas possuídas pelo Dem ônio, e Jesus vai cu rá— las dessa posses­são... Isso quer dizer que o D iabo pode in tervir no M undo... São Pedro , mesmo, falou que o D iabo, como um leão ferido, busca a quem de­vorar. A existência objetiva do Dem ônio é uma questão aberta no catolicism o. Mas, para as tra ­dições cristãs orientais a realidade do D iabo é incontestável... Ele está lá ...”

Um dos capítulos mais interessantes do livro de Joan O Brady, que está sendo lançado ago ra , no Brasil, S a tã , O P rínc ipe das T revas, tra ta exatam ente dos cham ados Padres do Deserto que, por volta do século III, deixam — segundo relata o padre cristào-orien tal o m undo dos homens para ir para o deserto “ dar testem unho da p rópria fé ’... O padre conta, então , que esses homens viveram experiências-lim ite se confron­tando e vendo os m onstruosos corpos e formas assumidas não só pelo D iabo como por suas Legiões... O relato mais denso de tais provas seria a obra As Ie n ta ç õ e s de S an to A ntônio, de Santo A ntonio Abaile. Mas o ú ltim o relato consistente de confrontos (espirituais e físicos) com o Demônio seria aquele escrito por São Silvano, que m orreu em 1936 e foi canonizado em 1988. pela Igreja O rtodoxa Russa.

~ ~ Nos seus escritos — conta o padre — Sao Silvano escreve sobre como via os diabos na sua cela do m osteiro... Foi num desses momen­tos que ele ouviu do Senhor: “Silvano, fique no Inferno, e não se desespere...”

Para esse sacerdote, o segundo m ilênio da era cristã vai repetir o prim eiro. M uitos ho­mens, angustiados com os dram as do m undo e do além, vão to rn ar ainda mais dram ático o confronto de Deus e do Diabo.

C o d e r n o d e S ó b o d o JORNAL DA TARDE — 5

Quem são os responsáveis pelos roubos de

relíquias de igrejas e basílicas italianas?

Bispos e estudiosos do assunto dizem que é obra das seitas

satânicas. Já a polícia afirma ser trabalho de seqüestradores sem escrúpulos.

O au to r é IEl

nallala

As Se it a s Sa t â n ic a s n a

I tá lia□ P o r Ro c c o m o r a b i t o

Is quatro bandidos mascara­dos que na noite do dia 10 de outubro roubaram em Pádua a mandíbula de San­to Antônio de Pádua, na ba­sílica dedicada a ele, ainda

nào deram sinal de vida. O queixo e a man­díbula do santo, morto em 1231-, estavam guardados num precioso relicário do sécu­lo XIII. Poucos dias depois, numa igreja de Chieri, perto de Turim, foi roubada a cabe­ça de Sáo Jorge, não aquele do dragão, mas um mártir da Grécia antiga. A cabeça havia sido restaurada e laminada a ouro para ser exposta em Paris. Tanto em Cheiri quanto em Pádua, nenhum pedido de resgate foi feito.

Qual o motivo de tais furtos? Para apo­derar-se do ouro e das pedras preciosas dos relicários? Q uanto mais tem po se passa mais se aceita a hipótese de que os furtos tenham sido obra de seguidores de seitas satânicas. O bispo de Pádua, quanto à relí­quia de Santo Antônio, está convencido disso. Monsenhor Antônio Mottiazzo diz: "Vejo algo mais do que simples roubo na basílica: a inquietante sombra das sete te­nebrosas forças satânicas que se aprovei­tam da crise religiosa do hom em contem ­porâneo". Mas a polícia de Pádua acredita que isso seja trabalho de seqüestradores sem escrúpulos. E se for isso, por que ainda não pediram o resgate em troca da restitui­ção da relíquia?

Giuseppe Ferrari do Gris (sigla do grupo de pesquisa e informações sobre seitas) de Bolonha afirmou nào poder dizer se o furto sacrílego de Pádua é de fato obra de uma seita satânica. "Perguntem à polícia", disse ele ao correspondente da Agência Estado. No entanto Ferrari reconhece que nos últi­mos anos as tais seitas vêm se difundindo, sobretudo no Piemonte, no Veneto, na Ro- magna e em Marche e Persino, na região de Roma. Seus adeptos reúnem-se em locais secretos e também em apartamentos para realizar seus ritos. Ele não sabe dizer quan­tas são as seitas e acrescenta: "Algumas de­las sáo filiadas à Igreja de Satã nos Estados Unidos, ou ao Templo de Set ou ainda ao OTO, Templo do Oriente, tam bém nos EUA. Talvez sejam dissidentes que decidi­ram formar grupos autônom os. Reúnem-se | em apartamentos, nas ruínas antigas ou em cavernas".

E um fato incontestável que o satanismo está se difundindo em todo o mundo oci­dental. Ephrem Del Gatto, grão-mestre da Igreja Negra Luciferana com sede em Ro­ma, reivindica uma distinção dos satanistas na medida em que seus ritos não prevêem necessariamente o recurso a práticas or- giásticas. As seitas que se definem lucifera- nas estão ligadas a uma tradição segundo a qual Lúcifer seria o irmão maior de Cristo, que o teria deposto. As seitas buscam re­sultados mágicos, deslocando-se cada vez mais em direção a ritos que fazem apelos mais aos instintos do que aos sentimentos, e por isso assiste-se à proliferação de mani­festações de perversão sexual.

O mago Ephrem Del Gatto diz que "des­de 1980 nossa Igreja Negra Luciferana nào é mais uma seita, mas uma congregação da qual qualquer um pode fazer parte. Os ri­tos se desenvolvem tanto em pequenos grupos na minha casa, em Roma, na rua Frescobaldi, ou em certas cavernas secre­tas quando estamos em grande numero". Gatto afirma que seus seguidores chegam a 4 mil em toda a Itália. Já o mago Fúlvio Rendhel, chefe de uma outra seita romana, sustenta ser o fundador da magia universal ritual, que invoca espíritos bons e maus. "Demos um novo impulso ao oculto, ao es piritismo, à magia", garante ele.

O professor Michele Del Re, especialista em seitas, afirma: "A figura do mago tem com o interlocutora mais direta a fantasia.Eis aqui duas grandes vias para a conquista do poder: às preces devotadas às forças do bem se opõem às que invocam o mal. Mas há uma terceira via com a qual o mago impòe a obediência a estas mesmas forças. Esta nào é a religião, mas um domínio so­bre o mundo externo que se pretende exer­citar excluindo-se qualquer definição m o­ral".

Há quem acredite que por trás das seitas estejam certos magos, os infalíveis aprovei­tadores que fazem bons negócios à custa dos crédulos em magia, nos exorcismos e sortilégios, nas missas negras etc. Segundo Dom Ugo Moretto, responsável pelo pro­grama de rádio Telechiara da diocese de Padua, "suspeito que quem roubou o maxi­lar do santo tenha sido uma seita satânica*Seu bispo também pensa assim.

O autor » co rr.ap o n aan l» «U A aãncU E .lad o