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Selecionado Caso Selecionado 44 R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005 Na Odontologia atual, a resina composta é o ma- terial de eleição quando se trata de reconstruções de coroas fraturadas de dentes anteriores. Elas possuem características óticas e físicas, que as tornam ideais nas situações onde não existe a possibilidade de reali- zar a colagem do fragmento do dente. Nas restaurações de fraturas de dentes anteriores, uma característica importante que o material restau- rador deve reproduzir, é a opalescência. Nessas situ- ações sempre há envolvimento de uma porção da in- cisal, e é nessa região onde mais percebemos o efeito opalescente do esmalte. A opalescência é o resultado da manifestação de uma propriedade física da luz, descrita por Rayleigh. A luz visível é composta por ondas eletromagnéticas, cujos comprimentos vão de aproximadamente 400nm (azul) a 700nm (vermelho) 2 . Segundo a teoria de Ray- leigh, quando a luz incide sobre partículas menores que os comprimentos das ondas que a compõe, ocorre a dispersão (espalhamento) desta. As ondas com com- primentos menores, correspondentes às cores violeta e azul sofrem dispersão com mais facilidade 4 . A opalescência se manifesta em três situações existentes no terço incisal: na área azulada percebida na região entre os mamelos e o halo; no halo opales- cente; e nos mamelos que em alguns dentes apresen- tam suas pontas com coloração alaranjada. Como o esmalte possui cristais de hidroxiapatita que são muito menores que 400nm, a luz ao pene- trá-lo sofre dispersão de suas ondas de menor com- primento 4 . O resultado é o aspecto azulado das áreas incisais não sobrepostas pela dentina ou pelo halo. Já as ondas de comprimento maior, correspondentes às cores laranja e vermelho, têm maior dificuldade para sofrer dispersão, o que faz com que elas cheguem à interface palatina do dente. Isso justifica a colora- ção alaranjada do dente quando o observamos com a fonte de luz situada atrás deste. É como se o esmalte dental funcionasse como um filtro, que segura as co- res azuladas e deixa passar as cores avermelhadas. O halo opalescente, segundo Yamamoto 4 se mani- Resinas compostas: o estado da arte Maurício U. Watanabe festa devido à reflexão total da luz que chega à inter- face palatina da borda incisal, ou seja, a porção da luz que não sofreu dispersão. Quando a luz se propaga de um meio (esmalte, resina, cerâmica) para outro com um índice de refração menor (ar), esta pode sofrer re- flexão total dependendo do ângulo de incidência na interface. As extremidades dos mamelos de alguns dentes, podem exibir uma coloração alaranjada. Isso ocorre pois a dentina desta região dos mamelos possui uma coloração branca 1 , altamente reflexiva. Essa reflexão ocorre também devido à camada de proteínas exis- tentes na união amelo-dentinária conforme descri- to por Vanini 3 . Isso faz com que os comprimentos de onda da luz que atravessa o esmalte, sofram reflexão voltando para a superfície vestibular como na região do halo. Percebemos assim a coloração alaranjada. Nas restaurações que envolvem a região incisal, precisamos reproduzir essas características. Neces- sitamos para isso um material que seja opalescente. Resinas que contêm em sua matriz partículas ultrafi- nas podem reproduzir o efeito opalescente. A região azulada da borda incisal pode ser repro- duzida aplicando-se corante azul, mas isso leva a uma tatuagem da área. A área do halo também pode ser confeccionada aplicando-se uma resina mais clara na cor A1 ou B1. Ambas as técnicas reproduzem essas características dos dentes, mas nos dentes naturais elas existem devido ao dinamismo da luz. Elas são manifestações que se modificam com a alteração da fonte luminosa. A região azulada entre os mamelos e o halo é reproduzida aplicando-se a resina opales- cente nessa região. O halo é reproduzido confeccio- nando-se uma inclinação adequada no lado palatino da borda incisal. A área alaranjadas dos mamelos são mais difíceis de reproduzir, pois além do material restaurador ser opalescente, dependem de uma re- flexão da luz na superfície da resina correspondente à dentina. Alguns materiais podem ser usados para tentar reproduzir esse efeito (resina fluida, DE Con- nector-Ultradent).

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SelecionadoCaso Selecionado

44 R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Na Odontologia atual, a resina composta é o ma-terial de eleição quando se trata de reconstruções de coroas fraturadas de dentes anteriores. Elas possuem características óticas e físicas, que as tornam ideais nas situações onde não existe a possibilidade de reali-zar a colagem do fragmento do dente.

Nas restaurações de fraturas de dentes anteriores, uma característica importante que o material restau-rador deve reproduzir, é a opalescência. Nessas situ-ações sempre há envolvimento de uma porção da in-cisal, e é nessa região onde mais percebemos o efeito opalescente do esmalte.

A opalescência é o resultado da manifestação de uma propriedade física da luz, descrita por Rayleigh. A luz visível é composta por ondas eletromagnéticas, cujos comprimentos vão de aproximadamente 400nm (azul) a 700nm (vermelho)2. Segundo a teoria de Ray-leigh, quando a luz incide sobre partículas menores que os comprimentos das ondas que a compõe, ocorre a dispersão (espalhamento) desta. As ondas com com-primentos menores, correspondentes às cores violeta e azul sofrem dispersão com mais facilidade4.

A opalescência se manifesta em três situações existentes no terço incisal: na área azulada percebida na região entre os mamelos e o halo; no halo opales-cente; e nos mamelos que em alguns dentes apresen-tam suas pontas com coloração alaranjada.

Como o esmalte possui cristais de hidroxiapatita que são muito menores que 400nm, a luz ao pene-trá-lo sofre dispersão de suas ondas de menor com-primento4. O resultado é o aspecto azulado das áreas incisais não sobrepostas pela dentina ou pelo halo. Já as ondas de comprimento maior, correspondentes às cores laranja e vermelho, têm maior dificuldade para sofrer dispersão, o que faz com que elas cheguem à interface palatina do dente. Isso justifica a colora-ção alaranjada do dente quando o observamos com a fonte de luz situada atrás deste. É como se o esmalte dental funcionasse como um filtro, que segura as co-res azuladas e deixa passar as cores avermelhadas.

O halo opalescente, segundo Yamamoto4 se mani-

Resinas compostas: o estado da arte

Maurício U. Watanabe

festa devido à reflexão total da luz que chega à inter-face palatina da borda incisal, ou seja, a porção da luz que não sofreu dispersão. Quando a luz se propaga de um meio (esmalte, resina, cerâmica) para outro com um índice de refração menor (ar), esta pode sofrer re-flexão total dependendo do ângulo de incidência na interface.

As extremidades dos mamelos de alguns dentes, podem exibir uma coloração alaranjada. Isso ocorre pois a dentina desta região dos mamelos possui uma coloração branca1, altamente reflexiva. Essa reflexão ocorre também devido à camada de proteínas exis-tentes na união amelo-dentinária conforme descri-to por Vanini3. Isso faz com que os comprimentos de onda da luz que atravessa o esmalte, sofram reflexão voltando para a superfície vestibular como na região do halo. Percebemos assim a coloração alaranjada.

Nas restaurações que envolvem a região incisal, precisamos reproduzir essas características. Neces-sitamos para isso um material que seja opalescente. Resinas que contêm em sua matriz partículas ultrafi-nas podem reproduzir o efeito opalescente.

A região azulada da borda incisal pode ser repro-duzida aplicando-se corante azul, mas isso leva a uma tatuagem da área. A área do halo também pode ser confeccionada aplicando-se uma resina mais clara na cor A1 ou B1. Ambas as técnicas reproduzem essas características dos dentes, mas nos dentes naturais elas existem devido ao dinamismo da luz. Elas são manifestações que se modificam com a alteração da fonte luminosa. A região azulada entre os mamelos e o halo é reproduzida aplicando-se a resina opales-cente nessa região. O halo é reproduzido confeccio-nando-se uma inclinação adequada no lado palatino da borda incisal. A área alaranjadas dos mamelos são mais difíceis de reproduzir, pois além do material restaurador ser opalescente, dependem de uma re-flexão da luz na superfície da resina correspondente à dentina. Alguns materiais podem ser usados para tentar reproduzir esse efeito (resina fluida, DE Con-nector-Ultradent).

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Autor caso selecionado

Revista Dental Press de Estética - v.1, n.1, out./nov./dez. 2004

Maurício U. Watanabe

45R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 1 - Caso clínico em que o paciente sofreu traumatismo com fratura dos dentes 11 e 21.

Figura 2 - Observar no dente 21 os detalhes do halo opalescente e da região azulada entre o halo e os mamelos.

Caso Selecionado - Resinas compostas: o estado da arte

46 R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 3 - Notar as características dos demais incisivos. Figura 4 - Observar os detalhes incisais comparados com os dentes inferiores.

Figura 5 - Detalhe da fratura vista pelo lado palatino. Notar a pequena exposição pulpar na qual foi aplicada Hidróxido de Cálcio PA e ionô-mero de vidro.

Figura 6 - Modelo de estudo.

Figura 7 - Modelo de estudo encerado. Figura 8 - Vista palatina após o enceramento.

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Revista Dental Press de Estética - v.1, n.1, out./nov./dez. 2004

Maurício U. Watanabe

47R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 9 - Moldagem do modelo encerado com silicone de adição para confecção de uma guia.

Figura 10 - Detalhe do molde sendo recortado com uma lâmina de bisturi.

Figura 11 - Recolocação do molde no modelo encerado. Figura 12 - Prova da guia num outro modelo. Notem que a distal não foi recortada.

Figura 13 - Detalhe das fraturas após isolamento absoluto. Figura 14 - Foi utilizado uma ponta diamantada 3195 (KG Sorensen) para regularização da borda da fratura. Não foi confeccionado bisel.

Caso Selecionado - Resinas compostas: o estado da arte

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Figura 15 - Condicionamento ácido do esmalte. Figura 16 - Aplicação do adesivo (Single Bond - 3M ESPE).

Figura 17 - Prova da guia. Figura 18 - Aplicação da resina na cor YT (Supreme - 3M ESPE) nos dentes 11 e 21.

Figura 19 - Detalhe após a fotopolimerização. Figura 20 - Aplicação da resina na cor A2D (Supreme - 3M ESPE) para opacificar a região correspondente à dentina.

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Revista Dental Press de Estética - v.1, n.1, out./nov./dez. 2004

Maurício U. Watanabe

49R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 21 - Aplicamos em seguida uma resina de micropartículas na cor A3 (Durafill VS – Haraeus Kulzer). Com essa camada, aumentamos o croma da restauração sem deixá-la opaca.

Figura 22 - Colocação da resina na cor A2B (Supreme - 3M ESPE).

Figura 23 - Detalhe das formas dos mamelos confeccionados com a resina.

Figura 24 - Aplicação da resina na cor YT (Supreme - 3M ESPE) nos espaços entre os mamelos.

Figura 25 - Observar a superfície após a fotopolimerização. Tentamos, nessa etapa, deixar a superfície a mais regular possível.

Figura 26 - Aplicamos uma fina camada de resina na cor A2E (Supreme - 3M ESPE) para diminuirmos a translucidez.

Caso Selecionado - Resinas compostas: o estado da arte

50 R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 27 - Observar que o halo já começa a aparecer. Figura 28 - Aplicação de corante branco (Kolor Plus –Kerr).

Figura 29 - Detalhe da caracterização. Figura 30 - Aplicação de uma mistura de resinas nas cores YT e A2E (Supreme - 3M ESPE). Com a mistura conseguimos a translucidez ideal necessária (Paulo Kano, comunicação pessoal, São Paulo 2.003).

Figura 31 - Após fotopolimerização. Figura 32 - Detalhe sem o isolamento. Após caracterização com coran-tes branco (Kolor Plus - Kerr) e ocre (Tetric Color - Ivoclar Vivadent), aplicamos uma última camada de resina na cor A1E (Supreme - 3M ESPE) deixando a restauraçao mais opaca.

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Maurício U. Watanabe

51R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 33 - Utilizamos uma ponta diamantada 3195F (KG Sorensen) para darmos o contorno e textura superficial.

Figura 34 - Disco de lixa de granulação média (Cosmedent).

Figura 35 - Disco de lixa de granulação fina (Cosmedent). Figura 36 - Borracha para polimento média (Cosmedent).

Figura 37 - Borracha para polimento superfina (Cosmedent). Figura 38 - Adequação da inclinação palatina da borda incisal para evidenciarmos o halo.

Caso Selecionado - Resinas compostas: o estado da arte

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Figura 39 - Detalhe aproximado da ponta diamantada 3195F (KG Sorensen).

Figura 40 - Seqüência com uma ponta diamantada de granulação mais fina 3195FF (KG Sorensen).

Figura 41 - Vista lateral do caso concluído. Notar o aspecto esbran-quiçado devido à desidratação dos dentes.

Figura 42 - Vista frontal imediatamente após o acabamento.

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Revista Dental Press de Estética - v.1, n.1, out./nov./dez. 2004

Maurício U. Watanabe

53R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 43 - Aspecto do caso 10 dias após o acabamento. Observar deta-lhes da área azulada entre os mamelos e o halo.

Figura 44 - Outra vista dos detalhes incisais.

Figura 47 - Vista lateral esquerda. Figura 48 - Vista palatina.

Figura 45 - Vista lateral direita. Figura 46 - Vista frontal.

Caso Selecionado - Resinas compostas: o estado da arte

54 R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 50 - Detalhes das incisais.

Figura 49 - Vista aproximada.

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Maurício U. Watanabe

55R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Figura 51 - Detalhe da opalescência com a luz refletida.

Figura 52 - Opalescência com a luz transmitida. Notar o aspecto alaranjado dos dentes e da restauração.

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56 R Dental Press Estét, Maringá, v.2, n.2, p. 44-56, abr./maio/jun. 2005

Maurício U. WatanabeRua São José, 648 – centro - Birigui - SPCEP 16.200-103 - e-mail : [email protected]

Endereço para correspondência

REFERÊNCIAS

1. MAGNE, P.; BELSER, U. Restaurações adesivas de porcelana na dentição

anterior: uma abordagem biomimética. São Paulo: Quintessense Editora

Ltda, 2003.

2. PEDROSA, I. Da cor à cor inexistente. 9.ed. Rio de Janeiro: Léo Christiano

Editora Ltda, 2003.

3. VANINI, L. Ligth and color in anterior composite restorations. Pract

Periodontics Aesthet Dent, New York, vol. 8, no. 7, p.673-82, 1996.

4. YAMAMOTO, M. Metal ceramics: principles and methods of Makoto

Yamamoto. Chicago: Quintessence, 1985.

Figura 53 - Observar que existe uma semelhança entre as partes naturais e restauradas dos dentes sob as diversas incidências da luz.

Maurício U. WatanabeCirurgião-dentistaEspecialista em periodontia