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Selo (RED) - Nepad: uma proposta de ação afirmativa Agência de Cooperação Internacional Paraná - Angola (ACIPA)

Selo Do Nepad (RED) Mello

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O presente documento põe à vista as premissas gerais que embasam a proposta de criação de um instrumento de validação de uma política de ação afirmativa do setor privado brasileiro ao corrente chamado das lideranças políticas do continente africano instaurado com a instituição da Nepad. Tal instrumento - um selo certificador - pretende atingir um duplo objetivo: contribuir com os programas que visam combater a fome e a AIDS no continente africano e ensejar a noção de responsabilidade social nas relações entre nosso país e a África.

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Selo (RED) - Nepad:

uma proposta de ação afirmativa

Agência de Cooperação Internacional Paraná - Angola (ACIPA)

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(RED) - Nepad:

uma proposta de ação afirmativa

Resumo

O presente documento põe à vista as premissas gerais que embasam a proposta de

criação de um instrumento de validação de uma política de ação afirmativa do setor

privado brasileiro ao corrente chamado das lideranças políticas do continente africano

instaurado com a instituição da Nepad. Tal instrumento - um selo certificador -

pretende atingir um duplo objetivo: contribuir com os programas que visam combater a

fome e a AIDS no continente africano e ensejar a noção de responsabilidade social nas

relações entre nosso país e a África.

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Índice

I - O que é Responsabilidade Social

II - A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África - NEPAD

III - Relações Econômicas Brasil - África

IV - O selo (RED)- Nepad: a contribuição dos empresários brasileiros para

a erradicação da fome e da AIDS na África

V - Referências

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I - O que é Responsabilidade Social

Os lucros Institucionais dos Investimentos Sociais:

II - A Nova Parceria para o Desenvolvimento da África

A despeito das insuficiências de cunho econômico-comercial, ainda pendentes de

equacionamento, o Brasil e os países africanos têm, em comum, a crescente atenção

conferida ao fator humano. Tanto a África quanto o Brasil vêm tentando mudar o

enfoque tradicional de suas políticas.

Hoje, por meio da “Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano” - NEPAD e pelas

políticas do atual Governo brasileiro, entende-se que o conceito de boa governança

passaria pelo reforço da cidadania, com o Estado cumprindo suas obrigações nas áreas

do emprego, saúde (combate à AIDS, tuberculose e malária), educação e moradia.

Nesse contexto, para o conjunto dos países africanos, a NEPAD ganha contornos

especiais, pois constitui programa de desenvolvimento voltado para as necessidades

específicas daquele continente e centrado na valorização da pessoa e dos recursos

humanos. Para o Brasil, a NEPAD oferece oportunidades de investimento nas áreas de

exploração mineral, infra-estrutura, ciência e tecnologia, comércio e indústria, entre

outras.

A "Nova Parceria para o Desenvolvimento da África" (New Partnership for Africa’s

Development - NEPAD) é um conjunto de programas de desenvolvimento multisetorial

dos líderes africanos baseado numa visão comum e numa convicção firme e partilhada

de que eles têm a missão urgente de erradicar a pobreza e colocar os seus países,

individual e coletivamente, na via do crescimento sustentável e do desenvolvimento e,

ao mesmo tempo, de participarem ativamente na economia mundial e na vida política.

O Programa é igualmente, baseado na determinação dos Africanos de se

livrarem a si próprios e o continente dos males do sub-desenvolvimento e da exclusão

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num mundo em globalização.

A pobreza e o atraso da África são um contraste marcante com a prosperidade do

mundo desenvolvido. A continuada marginalização da África do processo da

globalização e a exclusão social da vasta maioria das suas populações constituem

uma ameaça séria a estabilidade mundial.

Historicamente, o acesso às instituições da Comunidade Internacional, ao crédito e a

ajuda binomial sublinhou a lógica do desenvolvimento Africano. O crédito originou o

ciclo da dívida que, das prestações ao rescalonamento, ainda persiste e prejudica

o crescimento dos países africanos. Esta opção atingiu seus limites. Em relação

ao outro elemento da ajuda binomial, pode-se igualmente registrar a redução da

ajuda privada e o limite máximo da ajuda pública que se situa abaixo das metas

definidas nos 70.

Em África, 340 milhões de pessoas, ou seja, a metade da população, vivem com menos

de um (1) $EU por dia. A taxa de mortalidade entre crianças de menos de cinco (5)

anos de idade atinge aos 140 por 1000 e a esperança de vida ao nascimento é de

apenas 54 anos. Somente 58% da população tem acesso a água potável. A taxa de

analfabetismo entre pessoas de idade superior a 15 anos atinge os 41%. Existem

apenas 18 linhas telefônicas principais para 1000 pessoas em África, comparadas com

146 para o resto do mundo em geral e 567 nos países de alto rendimento.

A "Nova Parceria para o Desenvolvimento da África" procura inverter esta situação

anormal, através da mudança das relações sobre as quais ela assenta. Os

africanos são chamados a não continuarem a aceitar o aprofundamento da

dependência, através da ajuda, nem a aceitarem concessões marginais.

A "Nova Parceria para o Desenvolvimento da África" é um apelo para um novo

relacionamento de parceria entre a África e a Comunidade Internacional,

especialmente os países altamente industrializados, para reduzir o fosso de

desenvolvimento que não cessa de aumentar devido a séculos de relações desiguais.

O empobrecimento do continente africano foi essencialmente acentuado pelo legado

do colonialismo, guerra fria, os mecanismos do sistema econômico internacional e as

desigualdades e insuficiências das políticas prosseguidas por muitos países na era pós-

independência.

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Durante séculos, a África tem permanecido integrada na economia mundial

principalmente como provedora de mão-de-obra barata e de matérias primas. Isto

implicou necessariamente a drenagem dos recursos africanos, ao invés da sua

utilização para o desenvolvimento do continente. A idéia que prevaleceu naquele

período de utilizar os minerais e as matérias primas para desenvolver indústrias

manufatureiras e uma força de trabalho altamente especializada para sustentar o

crescimento e o desenvolvimento foi perdida. Assim, a África permaneceu o

continente mais pobre, a despeito de ser a região mais dotada de recursos do mundo.

Em outros países e em outros continentes o inverso foi o caso. Houve infusão da

riqueza sob a forma de investimentos que criaram maior volume de riqueza, através da

exportação de produtos de valor adicionado.

O colonialismo submeteu as estruturas, instituições e valores tradicionais até então

existentes ou transformou-os de forma a servir as necessidades econômicas e

políticas das potenciais imperiais. Ele retardou igualmente o desenvolvimento de

uma classe empresarial e de uma classe médica, dotado de aptidões e de capacidade

de gestão.

Por ocasião dos processos de independência, virtualmente todos os novos Estados

eram caracterizados pela falta de pessoal qualificado e uma fraca classe capitalista, o

que resultou no enfraquecimento do processo de acumulação. A África pós-colonial

herdou estados fracos e economias disfuncionais que foram agravados ainda por uma

liderança fraca, pela corrupção e má-governança em muitos países. Estes dois

fatores, conjugados com divisões causados pela guerra fria, minaram o

desenvolvimento de governos responsáveis em todo o continente.

Muitos governos africanos não capacitaram os seus povos para enveredarem em

iniciativas de desenvolvimento a fim de realizarem o seu potencial criativo. Hoje, o

estado fraco permanece o principal obstáculo ao desenvolvimento sustentável em

muitos países africanos. Na verdade, um dos principais desafios que África enfrenta

é o de fortalecer a capacidade de governar e desenvolver políticas a longo prazo.

Ao mesmo tempo, existe igualmente a necessidade premente de implementar

reformas e programas de longo alcance em muitos Estados africanos.

Os programas de ajustes estruturais dos anos 80 providenciaram apenas uma

solução parcial. Eles promoveram reformas que tendiam a remover graves distorções

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nos preços mas tinham uma atenção inadequada a prestação dos serviços sociais.

Consequentemente, apenas alguns países conseguiram alcançar níveis mais

elevados de crescimento sustentável, ao abrigo desses programas.

Com efeito, a experiência da África demonstra que a taxa de acumulação no

período pós-colonial não foi suficiente para reconstruir sociedades depois do sub-

desenvolvimento imposto pelo colonialismo ou manter melhorias nos padrões de

vida. Isso teve consequências nefastas sobre o processo político e conduziu ao

clientelismo e a corrupção.

O efeito nítido destes processos tem sido o agravamento do ciclo vicioso, através

do qual, o declínio econômico, reduzida capacidade e a má-governança, se

reforçam mutuamente, confirmado deste modo o papel periférico e cada vez em

diminuição da África na economia mundial. Assim, a África tornou-se, desde séculos,

num continente marginalizado.

A "Nova Parceria para o Desenvolvimento da África" procura ter como base as

realizações do passado, bem como refletir sobre as lições aprendidas através da

dolorosa experiência de forma a estabelecer uma parceria credível e implementável.

Com efeito, o desafio que se coloca a população e governos da África é o de

compreender que o desenvolvimento é um processo de capacitação e de auto-

suficiência.

O mundo entrou um novo milênio caracterizado por uma revolução econômica. Esta

revolução pode proporcionar o contexto e os meios para o rejuvenescimento da África.

Embora a globalização tenha incrementado o custo da capacidade da África de

competir, nós defendemos que as vantagens de uma integração bem gerida

apresentam as melhores perspectivas para a futura prosperidade econômica e

redução das pobreza.

A atual revolução econômica foi, em parte, possível, graças aos avanços

registrados na tecnologia da informação e comunicação (TIC) que reduziram os

custos e incrementaram o volume das comunicações em todo o globo, abolindo as

barreiras de tempo e espaço pré-existentes e afetando todas as áreas da vida social e

econômica. Ela possibilitou a integração dos sistemas nacionais de produção e

finanças e está refletido no crescimento exponencial na escala dos fluxos

transfronteiriços de mercadorias, serviços e capital.

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A integração dos sistemas nacionais de produção possibilitou a "repartição da

cadeia do valor" em muitas empresas dos setores manufatureiro, serviços e de

produção. Ao mesmo tempo, a acrescida mobilidade do capital implica que os

contraentes de empréstimos, sejam eles governos ou entidades privadas, devem

competir uns com os outros pelo capital no mercado mundial, ao invés de o

fazer nos mercados nacionais. Ambos os processos aumentaram os custos para

aqueles países que não conseguem competir efetivamente.

Muito embora não exista nenhum canto do mundo que se tenha escapado dos efeitos

da globalização, as contribuições das várias regiões e nações registram

acentuadas diferenças. As nações altamente industrializadas são as principais

locomotivas destes importantes avanços. Fora deste domínio, apenas alguns países

do mundo em desenvolvimento desempenham um importante papel na economia

mundial. Muitos países em desenvolvimento, especialmente em África, contribuem

passivamente e essencialmente com base nos recursos do ambiente e outros de que

são dotados.

É na distribuição dos benefícios que o desequilíbrio global é mais marcante. Por

um lado, aumentaram as oportunidades de criar ou expandir a riqueza, adquirir

conhecimentos e aptidões e melhorar o acesso as mercadorias e aos serviços; em

resumo, melhorar a qualidade da vida. Em algumas partes do mundo, a busca de

uma maior abertura da economia mundial criou oportunidades para tirar milhões de

pessoas da pobreza.

Por outro lado, uma maior integração conduziu a uma acrescida marginalização

daqueles países que não são capazes de competir efetivamente. Na ausência de

regras mundiais justas, a globalização aumentou a capacidade do forte fazer

avançar os seus interesses em detrimento do fraco, especialmente nas áreas do

comércio, finanças e tecnologia. Ela limitou o espaço aos países em

desenvolvimento de controlaram o seu próprio desenvolvimento, visto que o sistema

não prevê um dispositivo para compensar o fraco. As condições dos que estão

marginalizados neste processo agravaram em termos reais. Emergiu uma fissura

entre a inclusão e exclusão entre as nações.

Em parte, a incapacidade da África em tirar proveito do processo da globalização é

resultado de impedimentos estruturais ao crescimento e desenvolvimento sob a

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forma de fluxos de recursos e termos de comércio desfavoráveis. Ao mesmo

tempo, nós reconhecimentos que os processos na liderança política e econômica em

muitos países africanos impediram a mobilização e a utilização efetivas dos

parcos recursos nas áreas da atividade produtiva, a fim de atrair e facilitar o

investimento interno e estrangeiro.

O baixo nível da atividade econômica significa que os instrumentos necessários

para a injeção real de fundos privados e tomada de riscos não são disponíveis, o que

resulte n um declínio acrescido. Neste ciclo perpétuo, a capacidade da África de

participar no processo de globalização é severamente enfraquecida, conduzindo a

uma acrescida marginalização. A incrementada polarização da riqueza e pobreza é

um dos vários processos que acompanharam a globalização e que ameaçam a sua

sustentabilidade.

Os últimos anos do século findo testemunharam um importante colapso financeiro em

muitas partes do mundo em desenvolvimento que não só afetou a estabilidade do

sistema financeiro mundial, como também a própria economia mundial em geral. Um

dos efeitos imediatos da crise financeira foi a exacerbação dos níveis existentes de

pobreza profunda e estrutural em que cerca de metade da população mundial vive

com menos de $2 por dia, e um quinto com menos de $1 por dia.

Outros fatores existem que colocam sérios riscos a mais longo prazo. Estes incluem o

rápido incremento nos números dos socialmente excluídos em diferentes partes do

mundo, o que contribui para a instabilidade política, guerra civil e conflito

militar, por um lado, e um novo padrão de migração massiva, por outro. A

expansão da produção industrial e o crescimento da pobreza contribuíram para a

degradação ambiental dos nossos oceanos, da atmosfera e da vegetação natural. Se

esta questão não for resolvida, ela vai desencadear processos que rapidamente

estarão fora do controlo dos governos, quer dos países desenvolvidos e os em

desenvolvimento.

Os meios para inverter este cenário sombrio ainda não estão fora do nosso alcance.

Melhorias nos padrões de vida dos marginalizados oferecem um potencial enorme

para o crescimento em toda a economia internacional, através da criação de novos

mercados e do aproveitamento da acrescida capacidade econômica. Isso resultará

numa maior estabilidade a escala mundial, acompanhada de um sentido de bem

estar econômico e social.

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Por conseguinte, o imperativo do desenvolvimento não só coloca um desafio a

consciência moral; ele é, com efeito, o fundamento para a sustentabilidade do

processo da globalização. A globalização é um produto dos avanços científicos e

tecnológicos, muitos dos quais são orientados para os mercados. Porém, os

governo - particularmente os do mundo desenvolvido, desempenharam, em parceria

com o setor privado, um importante papel na definição da sua forma, conteúdo e

curso.

O caso em relação ao papel das entidades nacionais e instituições privadas na

orientação da agenda da globalização ao longo de um passo sustentável, no

qual os benefícios são mais equitativamente distribuídos, permanece importante. A

experiência demonstra que, apesar das oportunidades sem paralelo proporcionados

pela globalização a alguns países anteriormente pobres, não existe nada inerente ao

processo que reduza automaticamente a pobreza e a desigualdade.

O que é necessário é um engajamento da parte dos governos, setor privado e outras

instituições da sociedade civil, a favor de uma verdadeira integração de todas as

nações numa economia mundial e na vida política. Isto exige o reconhecimento da

interdependência global com respeito a produção e procura, base ambiental que

sustenta o planeta, migração transfronteira, uma arquitetura financeira que permeie a

boa gestão sócio-econômica e uma governança global que reconheça a parceria

entre todos os povos. Está ao alcance da comunidade internacional a criação de

condições justas que permitam a África participar efetivamente na economia mundial e

na vida política.

A "Nova Parceria" para o Desenvolvimento da África" reconhece que, no passado

foram feitas tentativas para a elaboração de programas de desenvolvimento a

escala do continente. Por uma variada gama de razões, quer internas e externas,

incluindo uma liderança e apropriação questionáveis pelos próprios africanos, essas

tentativas não foram bem sucedidas. Hoje, porém, existe novas circunstâncias que

conduzem a uma implementação prática e integrada.

A nova fase da globalização coincide com uma nova configuração nas relações

internacionais do pós-guerra fria. Isto está associado ao surgimento de novos conceitos

de segurança e de interesse próprio que incluem o direito ao desenvolvimento e da

erradicação da pobreza. A democracia e a legitimidade do Estado foram redefinidos

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para incluir a noção de governo responsável, cultura dos direitos humanos e a

participação popular, como elementos centrais.

O números dos líderes democraticamente eleitos conhece aumentos significativos.

Mediante suas ações, eles declararam que as expectativas dos povos da África por

uma vida melhor jamais deverão depender da magnanimidade dos outros.

Em todo o continente, a democracia está a propagar-se, com o apoio da União Africana

(UA) que manifestou uma nova determinação de resolver os conflitos e censurar os

desvios às normas. Estas iniciativas são reforçadas pelas vozes da sociedade civil,

incluindo as associações das mulheres, jovens e os órgãos de comunicação

independentes. Ademais, os governos africanos estão mais do que nunca,

determinados a realizar os objetivos regionais e continentais de cooperação

econômica e integração. Isto serve para consolidar os ganhos da transformação

econômica e reforçar as vantagens da interdependência mútua.

As transformadas condições em África já foram reconhecidas pelos governos do

mundo inteiro. A Declaração do Milênio das Nações Unidas, adotada em Setembro

de 2000, confirma a disponibilidade da comunidade mundial em apoiar os esforços

em África para resolver a problemática do sub-desenvolvimento e marginalização do

continente. A Declaração destaca o apoio para a prevenção de conflitos e a criação

de condições de estabilidade e democracia no continente, bem como os importantes

desafios da erradicação da pobreza e da doença. A Declaração realçou ainda o

engajamento da comunidade mundial no sentido de elevar o fluxo de recursos para

África mediante o incremento das relações ligações a ajuda, comércio e a dívida

entre a África e o resto do mundo e através do aumento do fluxo de capitais para o

continente. O importante nesta fase é a tradução destes compromissos em realidade.

A "Nova Parceria para o Desenvolvimento da África" está centrada numa apropriação e

gestão africanos. Através deste programa, os líderes africanos estão adotando uma

Agenda para a renovação do continente. A Agenda baseia-se nas prioridades e

planos de desenvolvimento nacionais e regionais que devem ser elaborados através de

processos de participação que envolvam as populações. Nós acreditamos que, muito

embora os mandatos dos líderes africanos derivem dos povos, é seu dever articular

estes planos e dirigir os processos de implementação, em nome dos seus

respectivas povos.

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O Programa é um novo quadro de interação com o resto do mundo, incluindo os

países industrializados e as organizações multilaterais. Ele está baseado na agenda

estabelecida pelos povos africanos, através das suas próprias iniciativas e sua

vontade própria de serem os donos do seu próprio destino.

Para realizar estes objetivos, os líderes africanos assumem responsabilidade

coletiva sobre:

- Fortalecimento dos mecanismos para a prevenção, gestão e resolução de

conflitos, a níveis sub-regional e continental e assegurar que esses mecanismos são

utilizados para restaurar e manter a paz;

- Promoção e proteção da democracia e dos direitos humanos nos seus respectivos

países e regiões, através da definição de padrões claros de responsabilização,

transparência e governança participativa aos níveis nacional e distrital;

- Restauração e manutenção da estabilidade macro-econômica, especialmente através

da definição de padrões de metas para as políticas fiscal e monetária e a introdução

de quadros institucionais apropriados para a realização destes padrões;

- Instituição de quadros legais e reguladores transparentes para os mercados

financeiros e a auditoria das companhias dos setores privado e público;

- Revitalização e extensão da provisão da educação, formação técnica e dos

serviços de saúde, com elevada prioridade para o tratamento do problema do

VIH/SIDA, malária e outras doenças transmissíveis;

- Promoção do papel das mulheres no desenvolvimento econômico e social, através

do reforço da sua capacidade nos domínios da educação e formação;

desenvolvimento das atividades geradoras de rendimento, através da facilitação do

acesso ao crédito; e garantir a sua participação na vida política e econômica dos

países africanos;

- Construção de capacidades dos Estados em África, para definirem fazerem cumprir

um quadro legal e manterem a lei e a ordem; - Promoção do desenvolvimento de infra-

estruturas, da agricultura e sua diversificação em indústrias agrárias e de manufatura

para servir os mercados interno e de exportação.

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III - Relações Econômicas Brasil - África

A África está se tornando, aos poucos, um importante parceiro comercial do Brasil,

mostram dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior. O continente mais pobre é o que colocou mais nações no ranking de

mercados para os quais as exportações brasileiras mais cresceram no primeiro

semestre: são 13 numa lista de 33 (logo em seguida vem a Europa, com 11 países

listados).

Dos três destinos em que houve maior expansão das vendas brasileiras no período,

dois são africanos: Mali, no noroeste do continente (632%) e Zâmbia, no centro-sul

(512%). A líder em crescimento foi a ilha européia de Malta (652%), no Mediterrâneo.

Na África, também se destacaram República Centro-Africana (350%), Senegal (254%),

Namíbia (252%), Líbia (200%), Malavi (199%), Congo (162%), Madagascar (152%),

Ruanda (141%), Zimbábue (123%), Guiné Equatorial (116%) e Argélia (111%).

O continente, porém, ainda responde por uma pequena participação no comércio

exterior brasileiro. No primeiro semestre, apenas 3,4% das exportações do Brasil

miraram o mercado africano - porcentagem só superior à da Europa Oriental (2,9%) e

inferior à do Oriente Médio (3,5%), Mercosul (6,9%), Ásia (16,3%), América Latina

(16,5%, incluindo Mercosul), EUA (24,8%) e União Européia (24,9%).

Nos primeiros seis meses do ano, o Brasil exportou US$ 1,14 bilhão para a África -

29,4% a mais que no mesmo período de 2002, abaixo da média geral (32,8%). Os

principais destinos foram África do Sul (US$ 301 milhões), Nigéria (US$ 223 milhões),

Egito (US$ 151 milhões), Angola (US$ 102 milhões) e Marrocos (US$ 96 milhões) - ou

seja, nenhum dos que encabeçam a lista das maiores variações.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem dado sinais de que pretende estreitar os

laços com o continente africano - diplomática e comercialmente. A estratégia faz parte

da política petista de reforçar o chamado diálogo Sul/Sul, mas sem adotar política de

confronto com os países desenvolvidos. A tarefa é desafiadora e complexa:

diferentemente dos países sul-americanos, as nações africanas só recentemente

começaram a passar por um processo de democratização.

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No final de abril, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e uma comitiva de

empresários e políticos visitaram seis países da África: Moçambique, Zimbábue, São

Tomé e Príncipe, Angola, África do Sul e Namíbia. Na pauta da comitiva brasileira

estava a retomada de entendimentos governamentais para futuros acordos comerciais,

principalmente com a África do Sul, que detém quase metade de toda a produção

industrial do continente. Mas o roteiro também deixou clara a importância que o

governo brasileiro empresta ás relações com os países africanos de língua portuguesa.

Há um interesse especial no país de Nelson Mandela, que está em fase de

implementação de união aduaneira com quatro vizinhos (Botsuana, Namíbia, Lesoto e

Suazilândia). Assim, a estratégia de operação do governo brasileiro modifica-se, pois

para firmar um acordo de livre comércio com os sul-africanos é necessário negociar em

conjunto.

Em 2002, o comércio entre Brasil e África atingiu cerca de US$ 5 bilhões, segundo o

Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior. Apesar da extrema

pobreza do continente, há grandes centros urbanos de enorme concentração

populacional. A África possui a maior taxa de crescimento demográfico do planeta,

2,6% ao ano, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas.

Diversos países africanos, como o Congo e Serra Leoa, ainda se encontram em intenso

conflito armado. As circunstâncias políticas do continente africano, muito conturbadas

devido aos intensos choques entre grupos tribais, foram sem dúvida uma barreira nas

relações com o Brasil. Somente agora é possível estabelecer um laço mais eficaz com a

África. Vale lembrar que a África do Sul, nação mais próspera do continente, derrubou

o apartheid apenas na primeira metade da década de 90.

A falta de conhecimento dos empresários brasileiros sobre a África é um dos principais

motivos que restringem a expansão do fluxo comercial entre os dois mercados em que

pese o fato de mais de 2500 empresas brasileiras (performando mais de uma centena

de itens) terem exportado para a África em 2001, segundo a Secretaria de Comércio

Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

De maneira geral, pode-se afirmar que há um potencial ainda pouco explorado das

oportunidades de aproximação comercial entre o Brasil e os países africanos, o que

seria devido, entre outros fatores: i) à diferença das dimensões das respectivas

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economias, ii) ao desconhecimento mútuo de suas economias e demandas comerciais

e iii) aos problemas estruturais de parte a parte, como aqueles relativos aos custos de

transporte e iv) à ausência de mecanismo específico de incentivos às exportações para

o continente africano.

Nas negociações comerciais, as dificuldades decorrentes da diferença entre os portes

das economias do Brasil e de alguns países africanos poderiam talvez ser minoradas

por mudança de enfoque. No Brasil, por exemplo, as negociações poderiam passar ao

nível estadual. No que tange ao item ii, verifica-se haver demanda limitada de lado a

lado, devido, entre outros fatores, à informação insuficiente acerca das respectivas

economias.. Tal desinformação levaria também ao aumento da incerteza do

empresariado, que muitas vezes gera uma falsa percepção de risco nos investimentos.

Seria necessário, assim, promover as oportunidades de comércio, por meio de uma

maior e mais ampla divulgação de informações a respeito das economias brasileira e

africanas.

As deficiências relativas à infra-estrutura interna dos países respondem também como

um dos fatores que vêm impedindo o estreitamento das relações econômico-

comerciais e culturais entre o Brasil e o continente africano, uma vez que não só

aumentam o preço final do produto a ser exportado e dificultam o acesso de tais

produtos aos mercados externos, como afetam o intercâmbio e trânsito de brasileiros e

africanos.

A esse respeito, sublinha-se a importância de reformular a infra estrutura viária de lado

a lado, bem como de se repensar o próprio papel do Estado no que diz respeito às

questões de transporte.

Ainda no que se refere à infra-estrutura, foram aponta-se os prejuízos decorrentes da

ausência de uma interconexão mais rápida e eficiente entre os países africanos e o

Brasil. Apesar dos vários acordos bilaterais no setor aéreo, que permitiriam o fluxo de

48 vôos semanais, somente seis vôos são, efetivamente, realizados a cada semana, e

apenas por empresas africanas. Uma das soluções para a maior integração dos dois

continentes passaria, portanto, pelo aproveitamento de nichos de oportunidade

abertos por tais acordos e pela possibilidade de incrementar a utilização de vôos não-

regulares, que hoje já totalizam número maior do que aqueles regulares.

A ausência de mecanismos de financiamento às exportações e outro fator que vem

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impedindo o aprofundamento dos laços comerciais entre os países. Para tanto, se

estudar a viabilidade de criar linhas de crédito voltadas especificamente para o

desenvolvimento do comércio Brasil-África, nos moldes daquele criado com a

Venezuela, na esfera do BNDES. Na mesma linha, o Brasil, eventualmente através do

próprio BNDES, também deveria buscar encontrar mecanismos para fomentar as

exportações africanas para o Brasil.

A agricultura deve ser identificada como uma das áreas prioritárias para os Governos

do Brasil e dos países africanos, com atenção dirigida a questões como acesso a

mercados. Deveria haver maior esforço de coordenação e elaboração de estratégia

comum em foros multilaterais, como a OMC, por exemplo. A cooperação técnico-

tecnológica poderia também ser aprofundada, mediante o aumento do número de

projetos já desenvolvidos com a EMBRAPA e eventual elaboração de projetos com o

Instituto de Tecnologias de Alimentos.

A integração regional também e uma via alternativa de desenvolvimento da América

do Sul e da África, tendo sido destacadas a experiência do Mercosul, bem como da

Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (Southern African Development

Community - SADC). Mais do que iniciativas de cunho econômico, tais processos de

integração trazem em seu bojo o projetos de aproximação política e mesmo cultural, o

que inclusive justificaria uma maior aproximação brasileira e do Mercosul a outras

organizações regionais africanas, como a Comunidade Econômica e Monetária da

África Central - CEMAC, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental -

CEDEAO, a União do Magrebe Árabe - UMA, entre outras.

Contudo, já se começa a perceber maior interesse do sector empresarial brasileiro em

busca de informações sobre mercados não-tradicionais como o africano, como parte da

estratégia de diversificar o relacionamento comercial.

E preciso, por parte dos interessados, buscar “formas criativas” para minimizar o custo

do financiamento de comércio exterior. Representantes do Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Banco do Brasil (BB) e Banco

Africano de Desenvolvimento (BAD) estão estudando mecanismos para facilitar as

operações comerciais.

A África é o terceiro maior continente e é integrada por 53 países. Mesmo com registro

de grandes índices de pobreza, algumas cidades se desenvolveram significativamente

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e possuem grande concentração populacional, sobretudo os centros urbanos como

Cairo, Argel, Cidade do Cabo e Luanda.

Máquinas e equipamentos, produtos minerais, têxteis, calçados e veículos estão entre

as principais mercadorias exportadas para a África com apoio do Programa de

Financiamento às Exportações (Proex), do Banco do Brasil. Segundo relatório do Banco

do Brasil, entre 1995 e 2003, foram USD 677,4 milhões em exportações financiadas

somente para Angola, no âmbito do Proex. Além de mercadorias, foram financiados

projetos de hidrelétrica, linhas de transmissão, residências populares, sistema de

abastecimento de água e obras de saneamento.

No ano passado, as exportações por meio do Proex para a África somaram mais de

USD 200 milhões, nas duas modalidades dos programa, tendo como principais

mercados Angola, África do Sul, Marrocos, Ilhas Maurícias, entre os principais.

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IV - O selo (RED) - Nepad: a contribuição dos empresários

brasileiros para a erradicação da fome e da AIDS na África

Em diversos países do continente africano, ao lado das condições precárias de vida,

existe uma ampla incidência de doenças transmissíveis, destacando-se sem dúvida a

AIDS, facilitada por fracas políticas de saúde e desenvolvimento social. Assim, ganhos

reais no desenvolvimento humano - meta maior da NEPAD - passa pelo controle dessas

epidemias e pela melhoria geral das condições de vida da população.

Diante dessa realidade, ao lado do investimento em projetos que visem a melhoria da

qualidade de vida geral da população, sobretudo reduzindo a pobreza, com a criação

de frentes de trabalho e meios de acesso à educação, por exemplo, no âmbito da

Saúde a NEPAD tem por objetivo reforçar os programas voltados à contenção das as

doenças transmissíveis, assegurando, fundamentalmente, o apoio necessário para o

desenvolvimento sustentável de um efetivo sistema de prestação de cuidados de

saúde, e capacitação das populações africanas a melhorarem o seu estado de saúde e

alcançar uma educação para a prevenção. Para isso, as principais ações da NEPAD

nesta área incluem a participação da África no processo que visa a aquisição de

medicamentos acessíveis, incluindo os que envolvem companhias farmacêuticas

internacionais e a sociedade civil internacional e explorar a utilização de sistemas

alternativos de prestação de serviços para medicamentos e aprovisionamentos

essenciais.

É exatamente nesse ponto que o empresariado brasileiro pode contribuir: o

investimento dos empresários brasileiros naquele continente, por si só já representa

um contributo para a promoção de uma melhoria na qualidade de vida da população,

através da ampliação das frentes de trabalho, por exemplo.

Considerando exposto, sugere-se que a parceria governo-iniciativa privada no contexto

das relações entre o Brasil e a África, e como uma das alternativas para o atual esforço

de uma serie de atores sociais - políticos, partidos, ONG`s e governos - em beneficio

de políticas de ações afirmativas que visem combater a fome e a AIDS no continente

africano.

Tais esforços em beneficio das ações afirmativas poderiam ser ampliados com o

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lançamento de um programa de concessão de um selo que identifica empresas

brasileiras que mantêm relações comercias com o continente africano como

“Empresa amiga da África”. As empresas que mantêm relações comerciais com a

África, em consonância com as diretrizes da Fundação Nelson Mandela, comprometer-

se-iam em colaborar para a erradicação da fome e o combate à AIDS no continente

africano.

Esse programa reconheceria o esforço do setor privado brasileiro em atender ao

chamado das lideranças africanas expresso na instauração da NEPAD e também seria

um ato exemplar de responsabilidade social com a população das nações africanas. É

possível vislumbrar uma ação ambiciosa e de evidente alcance tanto no enfrentamento

da fome e da pobreza quanto da epidemia do HIV, a partir de um pequeno

investimento de cada empresário que vier a fazer parte da ACIPA.

Sugere-se que este selo tenha o titulo de SELO (RED) - NEPAD e que sua concessão

seja feita de acordo com um programa especifico a ser gerido por uma comissão mista

formada por representantes da ACIPA - Organização da Sociedade Civil de Interesse

Publico - dedicada à cooperação internacional entre o estado do Paraná e Angola.

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V - Referências

CASHMORE, Ellis. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Summus, 2000.

Forum Brasil - Africa, 9 de Junho, Fortaleza-CE, in anais, 2003.

GOIS, Antônio, DURAN, Sérgio e DANTAS, Iuri. “Cota para negro volta polêmica e indefinida”. Folha de São Paulo, seção Cotidiano, 3-11-2002.

GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade: O direito como instrumento de transformação social. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2001.

HERINGER, Rosana (org.). A cor da desigualdade: desigualdades raciais no mercado de trabalho e ação afirmativa no Brasil. Rio de Janeiro: IERÊ/ Núcleo da Cor, LPS, IFCS, UFRJ, 1999.

New Partnership for Africa`s Development, official Nepad Secretariat lauching document, in www.nepad.org, 2002.

RIBEIRO, Renato Janine. A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

SILVA, Jorge da. "Política de ação afirmativa para a população negra: educação, trabalho e participação no poder". VOGEL, Arno (org.). Trabalhando com a diversidade no Planfor: raça/cor, gênero e pessoas portadoras de necessidades especiais. São Paulo: Editora UNESP; Brasília, DF: FLACSO do Brasil, 2001.

SILVA Jr., Hédio. Direito de Igualdade Racial: aspectos constitucionais, civis e penais: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002.

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Autor: MELLO JUSTIN