4
14/06/2016 Sem ministras, Brasil perde 22 posições em ranking de igualdade de gênero BBC Brasil http://www.bbc.com/portuguese/brasil36355724 1/4 25 maio 2016 Compartilhar Sem ministras, Brasil perde 22 posições em ranking de igualdade de gênero Marina Wentzel De Basileia (Suíça) para a BBC Brasil Temer escolheu apenas homens para os ministérios A ausência de mulheres no comando de ministérios do governo do presidente interino Michel Temer pode levar o Brasil a despencar 22 posições no ranking de igualdade de gênero do Forum Econômico Mundial. O ranking, conhecido como Índice Global de Desigualdade de Gênero, é publicado anualmente a próxima edição deve ser divulgada no segundo semestre deste ano. A pedido da BBC Brasil, a organização calculou o impacto imediato de um gabinete composto somente por homens na posição do Brasil na lista, e constatou que este cairia da 85ª posição para a 107ª no cômputo geral. Se todos os outros parâmetros se mantivessem estáveis, "somente a mudança no gabinete faria a posição do Brasil despencar de 85 para 107 dentre os 145 países, e no nosso subíndice de Empoderamento Político de 89 para 139" afirmou Saadia Zahidi, chefe para Iniciativas de Gênero e Emprego do Fórum. A queda relativamente brusca se deve ao fato de ser raro, atualmente, um país não possuir pelo menos uma mulher dirigindo um ministério. "Observamos todos os países do nosso estudo e há apenas quatro onde existem mais mulheres do que homens em posições ministeriais, por outro lado, há também apenas cinco onde o número de mulheres ministras é zero". Tomandose por base os dados citados por Zahidi, o Brasil entraria para o seleto clube dos países sem ministras ao lado de Brunei, Hungria, Arábia Saudita, Paquistão e Eslováquia. Estudo GETTY IMAGES

Sem Ministras, Brasil Perde 22 Posições Em Ranking de Igualdade de Gênero - BBC Brasil

Embed Size (px)

DESCRIPTION

politica

Citation preview

14/06/2016 Sem ministras, Brasil perde 22 posições em ranking de igualdade de gênero ­ BBC Brasil

http://www.bbc.com/portuguese/brasil­36355724 1/4

25 maio 2016 Compartilhar

Sem ministras, Brasil perde 22 posições em ranking deigualdade de gêneroMarina WentzelDe Basileia (Suíça) para a BBC Brasil

Temer escolheu apenas homens para os ministérios

A ausência de mulheres no comando de ministérios do governo do presidente interino MichelTemer pode levar o Brasil a despencar 22 posições no ranking de igualdade de gênero do ForumEconômico Mundial.

O ranking, conhecido como Índice Global de Desigualdade de Gênero, é publicado anualmente ­ apróxima edição deve ser divulgada no segundo semestre deste ano.

A pedido da BBC Brasil, a organização calculou o impacto imediato de um gabinete compostosomente por homens na posição do Brasil na lista, e constatou que este cairia da 85ª posição paraa 107ª no cômputo geral.

Se todos os outros parâmetros se mantivessem estáveis, "somente a mudança no gabinete faria aposição do Brasil despencar de 85 para 107 dentre os 145 países, e no nosso sub­índice deEmpoderamento Político de 89 para 139" afirmou Saadia Zahidi, chefe para Iniciativas de Gêneroe Emprego do Fórum.

A queda relativamente brusca se deve ao fato de ser raro, atualmente, um país não possuir pelomenos uma mulher dirigindo um ministério. "Observamos todos os países do nosso estudo e háapenas quatro onde existem mais mulheres do que homens em posições ministeriais, por outrolado, há também apenas cinco onde o número de mulheres ministras é zero".

Tomando­se por base os dados citados por Zahidi, o Brasil entraria para o seleto clube dos paísessem ministras ao lado de Brunei, Hungria, Arábia Saudita, Paquistão e Eslováquia.

Estudo

GETTY IMAGES

14/06/2016 Sem ministras, Brasil perde 22 posições em ranking de igualdade de gênero ­ BBC Brasil

http://www.bbc.com/portuguese/brasil­36355724 2/4

O Índice Global de Desigualdade utiliza dados de pesquisas de percepção e de análises cedidospor várias organizações internacionais (como a Organização Internacional do Trabalho, oPrograma das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Organização Mundial da Saúde) paraavaliar a situação das mulheres na sociedade, subdividindo­se em categorias como ParticipaçãoEconômica e Oportunidade; Conquista Educacional; Saúde e Sobrevivência; e EmpoderamentoPolítico.

É nesse último quesito em que a ausência de mulheres no gabinete de governo tem maior impacto­ fazendo o Brasil cair 50 posições. O cálculo leva em conta números atualizados e fornecidospela União Interparlamentar, organização que agrega dados de governos do mundo todo.

Protesto de mulheres contra o governo Michel Temer

A fórmula que avalia o nível de Empoderamento Político baseia­se na quantidade de mulherespara homens em posições ministeriais e no Parlamento. Também é levado em consideração otempo que o cargo mais alto do país (presidência ou primeiro ministro) permaneceu ocupado pormulheres nos últimos 50 anos.

No relatório do ano passado ­ em que aparece na 85ª colocação geral ­ o Brasil teve bomdesempenho nos quesitos Conquista Educacional e Saúde e Sobrevivência atingindo a pontuaçãomáxima de igualdade. Decepcionou, porém, nos outros dois quesitos, Participação Econômica eOportunidades e Empoderamento Político.

"O Brasil regrediu levemente, caindo 14 posições desde 2014. Isso se dá possivelmente porquehouve queda no número de mulheres em posições de ministérios (de 26% para 15%)", afirma odocumento.

Leia também: Repórter da BBC relata detenção e interrogatório de 10 horas na Coreia doNorte

Entre 1990 e 2015, o Brasil teve 34 ministras. Dessas, 18 estiveram à frente de pastas durante operíodo em que Dilma Rousseff foi presidente (2011­2016), de acordo com dados publicados pelaestatal de comunicações EBC.

Mulheres no poder

GETTY IMAGES

14/06/2016 Sem ministras, Brasil perde 22 posições em ranking de igualdade de gênero ­ BBC Brasil

http://www.bbc.com/portuguese/brasil­36355724 3/4

Para Zahidi, a ausência de mulheres no poder é sintoma da falta de políticas que estimulemoportunidades iguais ­ e não da falta de capital humano.

"Já faz muito tempo que a América Latina superou a discrepância educacional entre homens emulheres. Há 20, 30 anos, em alguns países elas já eram a maioria a se formar em universidades(…) Essa força de trabalho extremamente hábil são mulheres de 40 e 50 anos, que não ocupamposições de liderança."

"Então, alguma coisa deu errado no meio do caminho. Elas não foram integradas em posições deliderança como deveriam ter sido, considerando o potencial que representam".

"As mudanças que precisavam acontecer nas estruturas institucionais simplesmente nãoaconteceram. O ambiente de políticas necessárias não aconteceu", lamenta.

Dividendos da diversidade

Zahidi aponta para pesquisas que revelaram que "a desigualdade (entre gêneros) é menor empaíses onde mais mulheres estão engajadas em tomadas de decisões políticas".

"Além disso, estudos mostraram que mulheres tendem a defender investimentos em áreasdiferentes do que homens, produzindo resultados mais democráticos na distribuição de recursos",afirma.

"Isso é semelhante ao chamado 'dividendo da diversidade' em negócios, quando equipes tomamdecisões melhores por meio de uma variedade de perspectivas", explica Zahidi.

Leia também: Crescente uso de 'drogas do estupro' na América Latina preocupaautoridades

Um estudo da empresa de consultoria McKinsey divulgado em janeiro de 2015 revelou queempresas com uma força de trabalho mista, composta de homens e mulheres de diferentes raças,registram lucros 35% superiores às empresas onde não há o "dividendo da diversidade".

"Nas nossas pesquisas notamos a correlação entre a representação política de mulheres fortes eo aumento na participação de mulheres na força de trabalho, por vezes devido a um efeito de'modelo', que inspira meninas e mulheres a se tornarem engajadas em ambas atividades políticase econômicas", concluiu Zahidi.

14/06/2016 Sem ministras, Brasil perde 22 posições em ranking de igualdade de gênero ­ BBC Brasil

http://www.bbc.com/portuguese/brasil­36355724 4/4

Flavia Piovesan assumirá secretaria que ficará sob guarda­chuva do Ministério da Justiça

Polêmica

Assim que anunciou seu gabinete, Temer foi criticado pela ausência de mulheres.

Diversas personalidades do mundo artístico foram sondadas para a pasta da Cultura ­ "rebaixada"para Secretaria ­ e teriam se recusado a ocupar a posição.

Ela acabou sendo assumida por Marcelo Calero, depois de recuperar o status de Ministério.

Entre as poucas mulheres que acabaram com cargos importantes no governo estão a executivaMaria Silvia Bastos, ex­presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, designada para a chefiado Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES; a Chefe do GabinetePresidencial, Nara de Deus, e Secretária de Direitos Humanos, Flávia Piovesan.

Em entrevista à BBC Brasil Piovesan ressaltou que "nunca houve antes uma mulher no BNDES",e que isso seria um meio "muito importante para o exercício do poder". Mas reconheceu que erapouco apenas a presença de ambas no governo. "Claro. Tem que avançar e espero queavancemos".

FOTO: ENAMAT