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SEMINÁRIO ARQUIDIOCESANO DE SÃO JOSÉ RIO DE JANEIRO · 3 Introdução O estudo da História da Igreja não pode ser simplesmente comparado ao estudo da História das sociedades;

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SEMINÁRIO ARQUIDIOCESANO DE SÃO JOSÉ – RIO DE JANEIRO

Introdução à História da Igreja Antiga

Robson Atallah Nogueira Lima

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Sumário

1 - Ambiente anterior a Jesus Cristo ........................................................................... 5

1.1 - Breve resumo histórico de Israel ..................................................................... 5

1.2 - Aspectos importantes da História de Israel ..................................................... 7

1.3 - Povos e cidades de importância ...................................................................... 7

1.4 –Babilônia .......................................................................................................... 8

1.5 –Roma ............................................................................................................... 9

1.6 –Judá ............................................................................................................... 11

1.7 - Os judeus ...................................................................................................... 11

1.8 -Correntes do judaísmo ................................................................................... 12

2.1 - Jesus e sua presença histórica ......................................................................... 15

2.2 - Os Evangelhos são documentos históricos ....................................................... 17

2.3 - Gênero literário– Evangelho .............................................................................. 20

2.4 - Jesus Cristo baseado na Escritura .................................................................... 21

2.5 -Origem e fundação da Igreja .............................................................................. 22

2.6 - Atos fundantes da Igreja de Jesus Cristo: ......................................................... 23

3.1 - São Paulo .......................................................................................................... 26

3.2 - Expansão do Cristianismo ................................................................................. 26

3.3 - Surgimento de alguns escritos .......................................................................... 28

3.4 - Confissão dos pecados na Igreja Primitiva ....................................................... 29

3.5 - Celebração Eucaristica na Igreja Primitiva ........................................................ 30

4 – Movimento aversivo ao Cristianismo e perseguições .......................................... 30

4.1 - Os Padres Apostólicos ...................................................................................... 30

4.2 - Combate escrito aos cristãos ............................................................................ 31

4.3 –Perseguições ..................................................................................................... 32

4.4 - O martírio em duas óticas ................................................................................. 34

4.5 - Constantino ( 306 – 337) ................................................................................... 34

4.6 - Igreja da morte de Constantino (337) até o séc V ............................................. 36

5 - Ação da Igreja mediante a queda do Império Romano ........................................ 39

5.1 –Monaquismo ...................................................................................................... 39

5.2 - A Igreja e os Povos Bárbaros ............................................................................ 41

Conclusão ................................................................................................................. 43

BIBLIOGRAFIA ............................................................ Erro! Indicador não definido.

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Introdução

O estudo da História da Igreja não pode ser simplesmente comparado ao

estudo da História das sociedades; não por falta de crivo cientifico, mas por ter que

pressupor a fé do fiel vivida na comunidade eclesial. A concepção da Igreja não

pode simplesmente se encerrar em seu aspecto terreno, pois reduziria sua própria

visão integral a seu aspecto puramente terreno.

A Igreja é, portanto, a continuação do Plano Salvífico de Cristo para toda a

humanidade. Manifesta-se desde os registros conhecidos por meio do Antigo

Testamento e se funda em Cristo pelos seus atos e palavras num processo dinâmico

a partir de Pentecostes. Neste ínterim, encontrar-se-ão momentos de valorosas

conquistas por parte da Igreja (como a evangelização dos bárbaros, o heroísmo dos

mártires) e momentos difíceis (com a intervenção direta de um imperador, no

Primeiro Concilio Ecumênico, prolongou a dificuldade Cristológica ligada ao termo

“consubstancial”).

A pesquisa constitui-se a partir de uma breve introdução sobre a sociedade

em que a Igreja foi inserida. Veremos um pouco da organização e da Cultura

Romana - a qual foi sem dúvida um grande instrumento para a difusão do

Evangelho, seja pelo seu desenvolvimento ou por seu ódio quase dominante ao

Cristianismo -; como a Comunidade judaica era organizada e que tipo de messias

era esperado por esta comunidade.

Com a noção da Cultura Romana e da então Cultura Judaica teremos uma

mostra simples da fundação da Igreja, por parte de Cristo, usando dos Evangelhos

sinóticos - documentos históricos seguros sobre o assunto pelo próprio número de

documentos e sua correspondência - e uma demonstração de como a propagação

da Comunidade Cristã aconteceu em vista das facilidades e dificuldades concedidas

pelas culturas.

Pelo testemunho das escrituras e dos primeiros autores cristãos veremos a

atividade de Pedro e Paulo e dos importantes papéis que desempenharam na

condução da Igreja e sua expansão.

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Veremos, brevemente, a atividade dos Padres Apostólicos ao proteger as

Comunidades Cristãs das doutrinas heterodoxas que foram surgindo de correntes do

gnosticismo, de inserções do paganismo no cristianismo e de resguardos de

doutrinas judaicas, já superadas em Jesus Cristo. É valido ressaltar que já nos

escritos do Novo Testamento o movimento de dissipação dessas doutrinas estão

presentes.

Ao analisarmos a relação da Igreja com o Império, refletiremos os papéis de

Constantino e de Juliano e suas contribuições, respectivamente, para o começo e a

volta das perseguições que aconteceram, por diversas vezes, desde o período

apostólico.

Por fim, veremos o importante papel da Igreja na conversão dos povos

bárbaros, responsáveis, inclusive, pela queda do Império Romano.

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1 - Ambiente anterior a Jesus Cristo

1.1 - Breve resumo histórico de Israel

DATAS ACONTECIMENTOS IMPORTANTES

ORIGENS DE ISRAEL (séc. XIX – XII a.C.)

Gn1-11

1850

1700

1250

1210

Pré história Bíblica, relatos sobre as origens do mundo, do homem, do pecado e difusão do mal.

Época de Abraão, Isaac e Jacó.

José leva a família para o Egito.

Moisés, Êxodo, travessia do Mar Vermelho e estadia no deserto do Sinai.

Josué e entrada na terra prometida.

A ÉPOCA DOS JUÍZES (séc. XII – XI a.C.)

1200 – 1050 Juízes em Israel.

1050 Samuel - último juiz e início do profetismo.

A MONARQUIA UNIDA (séc. XI – IX a.C.)

1030 – 1010 Saul é ungido rei por Samuel.

1010 – 970

970 – 931

Davi é ungido por Samuel. Unifica as Tribos de Israel. Faz Jerusalém de capital do reino.

Salomão sucede Davi e constrói o templo.

OS DOIS REINOS (séc. X – VI a.C.)

931 – 722/21

O reino do norte passou a se chamar Israel e a Samaria passou a ser sua

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931 – 587

capital.

O reino do sul passa a se chamar Judá e Jerusalém é sua capital - desde o tempo de Davi -.

O EXILIO NA BABILÔNIA (séc. VI a.C)

587 – 538 O povo é exilado. Nasce a sinagoga, pois já não havia o templo. Gn 1, 1-2,4ª.

PERÍODO DE DOMINAÇÃO PERSA (séc. VI a IV a.C)

538 – 333 Edito de Ciro; Retorno dos exilados; Restauração do culto; Reconstrução do altar, do templo e das muralhas de Jerusalém. Início do judaísmo.

PERÍODO DE DOMINAÇÃO HELENISTA (séc. IV a I a.C.)

333- 63 Alexandre Magno conquista o crescente fértil. Acontece a tradução da Bíblia Hebraica para o Grego em Jamnia. Acontece o conflito entre Antíoco IV e os Macabeus.

PERÍODO DE DOMINAÇÃO ROMANA (séc. I a.C.)

63 Pompeu conquista a palestina e a dominação passa para os romanos. Herodes é o rei vassalo de Roma. Sobre o reinado dele nasce Jesus Cristo.

27 d.C - começa o ministério público de Jesus Cristo e no ano 30 acontece a Páscoa. Acontecem a Ascenção, Pentecostes e o início da difusão do Evangelho pela Igreja Apostólica.

49 d.C - Acontece o Concílio de Jerusalém. A fé em Jesus se espalha e se alastra por todo Império Romano.

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1 Datas retiradas do livro: A Bíblia e a sua Mensagem, de PadreLeonardo Agostini.

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1.2 - Aspectos importantes da História de Israel

A região nomeada meia-lua do crescente fértil é considerada por muitos o

berço da civilização antiga, e a História reconhece este espaço como o lugar em que

grandes impérios e povos de destaque nasceram e se desenvolveram. Esta

realidade se fez possível por ser uma área banhada pelos rios Tigre, Eufrates, Nilo e

Jordão ao norte. Estes rios cercavam aquele território e o fazia fértil, ou seja, próprio

para a subsistência.

As civilizações de destaque que habitavam esta área foram os sumérios, os

acádios, os assírios e babilônios; além das caravanas que peregrinavam pela terra.

1.3 - Povos e cidades de importância

A assíria se encontrava em grande parte banhada pelo Rio Tigre e tinha

Assur e Nínive como principais cidades. Nemrod, citado no Gênesis, pode ter sido o

fundador de Nínive.

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Babilônia é o nome que foi dado à área inferior ao encontro dos rios Tigre e

Eufrates, o que fazia um território excelente para a agricultura. Foi a principal capital

e centro religioso do Império Neobabilônico (626-538 a.C.). A Média ficava ao sul do

Mar Cáspio, onde havia as cidades de Ecbatana, Rage, e a Pérsia - que se estendia

a margem do Golfo Pérsico abarcando a província de Elam, onde ficava a cidade de

Susa, (capital do Império Persa) que é berço de muitas formas de mitos, que não

são simples histórias inventadas, mas tentativas inteligentes de explicação da

origem do cosmo, do mal no mundo, do sofrimento e tantas coisas que o homem

daquela época se propunha a refletir sobre.

O livro do Gênesis desenvolve sua narrativa na região chamada Aram

Naaraim e Paddan Aram. Este território se estendia desde a Assíria até a Babilônia.

O nome “palestina” significa “país dos filisteus”, mas no período dos patriarcas a

porção oeste do Jordão chamava-se “país de Canaã” e era a porção de terra

prometida por Deus a Abraão e sua descendência, como mostra Gn 12,7. É a terra

em que jorra leite e mel (imagem usada para indicar que era uma terra muito fértil).

O “país de Israel” se desenvolve no decorrer da história dos patriarcas, suas

viagens e permanências na terra e depois com a migração para o Egito, mediante

José filho de Jacó, na libertação do povo por meio de Moisés, na peregrinação do

povo pelo deserto e na conquista e tomada de posse da terra com Josué.

Os Assírios foram responsáveis pela destruição da Samaria, a capital do reino

do norte, em 722/721 a.C e os babilônios foram responsáveis pela destruição de

Jerusalém, a capital do reino do sul em 587/586 a.C.

1.4 –Babilônia

Toda a História de Israel que se tem contato por “documentos” é elaborada no

período exílico e pós-exílio. Antes, se percebe que, há preocupação em passar as

tradições para os mais novos, porém a escrita, em grande quantidade, como vemos

na época de Jesus começa a surgir neste período. O próprio primeiro relato do livro

do Gênesis surge neste período, possivelmente, como modo de proteger os jovens

“hebreus” de se corromperem pelos mitos da crença daquele povo.

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Na mente judaica dominava a concepção de que o justo é abençoado e o

injusto é castigado, por isso o exílio em Babilônia era visto pelo povo como resultado

de seu pecado. A queda de Jerusalém e da casa de Davi deixaram um sentimento

de desesperança, e; ou de tristeza no povo. Tendo a concepção de que o Livro das

Lamentações não é um livro histórico e o capitulo 6 é uma adição de um texto

completamente a parte no livro, podemos buscar elementos as vezes detalhados

deste período de sofrimento do povo na dominação e exílio. É valido lembrar que por

mais que o gênero literário seja poético, a matéria prima que o autor utiliza para a

escrita é a experiência dele diante dos acontecimentos.

Os judeus que ficaram em Jerusalém passaram muitas dificuldades, eles

eram aconselhados pelo profeta Jeremias a plantarem para sobreviver. Eles

passaram por uma grande fome e há relatos de antropofagia entre eles, isto se

percebe pela proibição feita em algumas passagens bíblicas (Jr 19, 8-9; Lm 2,20).

Quando Ciro, o rei Persa, conquistou a Babilônia... Concedeu que os

israelitas voltassem a Judá, levassem os objetos sagrados do templo e ordenou a

sua construção. Ciro foi considerado, por alguns, o messias esperado por ter

libertado e ordenado a reconstrução da muralha da idade e do altar do templo. Os

livros de Esdras e Neemias retratam bem isto.

1.5 –Roma

“Outros talvez, que não tu, saberão, acredito, dar melhor vida ao bronze e tirar do mármore vívidas figuras; outros saberão melhor defender causas, melhor descrever o movimento dos céus e a rota dos astros. Mas tu, romano, lembra-te que nasceste para impor tuas leis ao universo. Teu destino é ditar tuas condições de paz, poupar os vencidos e domar os soberbos”.

Virgílio, Eneida

A origem de Roma é contada por meio de um mito numa tentativa de

explicação, na medida do possível, construída pela razão de homens que buscam

contar o surgimento desta grande força mesmo que enfeitada por elementos não

muito realistas aos olhos de quem busca conhecer este mito hoje.

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O mito conta que Roma teria sido fundada por dois gêmeos resgatados, no

Rio Tigre, por uma loba e por ela amamentados, até que pudessem sobreviver pelas

próprias forças. Provavelmente o mito pode ter sido elaborado de forma inteligente

para incentivar a vivacidade dos guerreiros romanos a imitarem a força de vontade

de seus fundadores nas batalhas.

A História atesta que Roma surgiu em meio ao Período Monárquico, com um

tipo de fusão entre grupos gregos, etruscos e italiotas. Estas culturas formavam as

comunidades: Etruria, Úmbria, Roma, Campânia, Lácio e Sicília.

Roma era uma cidade aristocrata, guerreira que dominava incutindo a cultura

e absorvendo o que percebia de forte na cultura dos derrotados. Um exemplo é

grande parte da cultura grega que fora absorvida (a língua e até os deuses). É de se

espantar que até a presença de deuses Egípcios em Roma foi atestada.

A presença do Império Romano em seu domínio, que abarcava o que hoje se

estenderia desde a Síria até a Espanha, proporcionou a unificação de uma língua

facilitadora para a circulação de cultura, comércio, sistemas jurídicos e

administrativos proporcionando certa unidade até entre cidades antes inimigas. A

então Pax Romana foi instaurada em Roma, pelo imperador Otávio Augusto (30ª.c –

14 d. c.), garantindo a ausência de conflitos na região entre os antigos habitantes

daquele lugar.

É impossível não pensar que este contexto pareceu preparado para a

propagação do Evangelho, pois seria muito mais difícil se a Pax Romana e o trânsito

pelo Império não estivessem garantidos por Roma. Neste meio, surgiu a cidadania

romana para assegurar que os membros espalhados pelo Império tivessem direitos

especiais garantidos por Roma; isto durou até 202. Os direitos garantiam que os

cidadãos tivessem direito ao voto, direito ao matrimônio legal, a julgamento, de

redução ou isenção dos impostos e os cidadãos pobres se beneficiavam das rações

de cereais distribuídas pelo Estado.

Com o declínio grego e o surgimento do ceticismo de Pirro, o cinismo de

Diógenes e o ecletismo, as filosofias platônicas e aristotélicas que incentivavam a

vida virtuosa e o domínio dos instintos perderam força e isto se refletiu na moral

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romana com força de decadência. Com estes novos movimentos de conhecimentos,

não opostos as divindades começaram a surgir religiões de mistérios, onde se

alcançavam patamares mais elevados pela força do intelecto e descobrimento de

segredos anexos a estas religiões.

As Religiões de mistérios, que foram depois combatidas por Paulo, foram

facilmente aderindo a Cristo nos critérios destas mesmas religiões, o que acabou

pervertendo a mensagem evangélica e acabou alvo de muitas exortações dos

pastores primitivos. Esta absorção da cultura grega foi problemática em relação as

religiões de mistério, mas foi vantajosa para a ilustração e fundamentação da

doutrina de forma que reflete até hoje a grande importância teológica apesar dos

muitos problemas que surgiram no decorrer dos séculos.

As estradas construídas pelos romanos facilitaram a comunicação,

peregrinação e comércio no Império, e, em grandes proporções, a propagação do

Evangelho por todo o mundo conhecido naquela época.

São Paulo também se favoreceu da cidadania romana para, (ser julgado pelo

tribunal romano ao invés de ser julgado pelo sinédrio), obter tempo para cuidar das

comunidades pelas cidades por onde passava e enviar cartas pastorais, ou seja, ao

preservar sua vida por mais tempo, pode evangelizar ainda mais.

1.6 –Judá

Os estudiosos não conseguem explicar, apenas, por um olhar cientifico a

persistência do monoteísmo em Israel, pois além de ser um povo fraco e fácil de

dominar por conta do pouco número de pessoas, alguns membros do povo traziam

deuses de outras nações para dentro de Israel. Contudo, nunca deixou de se

identificar monoteísta, apesar da forte influência vinda de todos os povos vizinhos

por força militar e,ou por força cultural. Israel permanece com a ideia monoteísta

sobre a divindade com quem se relacionava.

1.7 - Os judeus

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Com o domínio helênico um grande conflito passou a acontecer na Judéia. O

império de Alexandre Magno, diferente dos demais impérios, estendeu seu domínio

à cultura. O império helenista incutia a cultura grega nos povos que estavam em seu

domínio construindo teatros, praças de esporte e coisas do gênero. Até então Israel

não conseguia ser amigável com os helenistas por conta do modo arbitrário como

eles impunham sua cultura no meio deles.

Quando, Antíoco IV foi posto como regente responsável por aquela área,

alguns judeus, pertencentes a classe sacerdotal, se aproximaram dele por

“simpatia”. O “posto” de sumo sacerdote foi tomado por Menelau, pois o antigo sumo

sacerdote foi quem permitiu a construção da praça de esportes em Jerusalém. Esta

ação foi entendida como uma revolta contra o império e por isso Antíoco mandou

que saqueassem o templo em resposta. Ele também foi convencido, por alguns

judeus interessados em boas relações com o império, de que estes conflitos foram

causados por conta da religião. Em resposta Antíoco proibiu a religião hebraica

impondo a força à religiosidade helênica. Desta forma ele impôs a “paz”, como um

tipo de ausência de conflito, que por sua vez não deu certo. Os altares e livros

sagrados dos judeus foram proibidos, e para coroar a ação tirânica, construíram um

altar para júpiter. Neste momento, começou a revolta macabaica relatada nos livros

de Macabeus, começando com Matatias, perpassando pelas façanhas de seu filho

Judas Macabeus, aquele que conseguiu retomar o templo e reconsagrá-lo a Adonai.

1.8 - Correntes do judaísmo

As diferentes posições referentes ao domínio cultural helênico geraram um

tipo de subdivisão dentro do judaísmo resguardando a vivência da religião por meio

de alguns “carismas”. Eles se separaram em grupos de acordo com uma convicção

específica na qual viviam.

Saduceus

Os saduceus eram os pertencentes à aristocracia sacerdotal, eles

desapareceram na destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Eles eram os

responsáveis pelas atividades cultuais e sacrifícios. Os saduceus dão extrema

importância ao Pentateuco em detrimento dos outros livros bíblicos. Defendem uma

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interpretação literal da Lei, por isso não dão importância à tradição oral, apenas a

escrita. Em consequência disso, não acreditam na ressurreição e não prestam culto

aos anjos.

Fariseus

Eles eram leigos que decidiram proteger a lei e os costumes das influências

exteriores, aqueles que decidiram viver plenamente a lei. Eram originários,

principalmente, dos escribas e tornaram-se a corrente dominante no judaísmo, visto

que as demais correntes começaram a sucumbir. Legalistas, observavam as leis de

forma muito rígida e multiplicavam a carga de prescrições a serem observadas. É

importante saber que diferente dos saduceus aceitavam a tradição oral. Mesmo sem

muita base bíblica, eles acreditam na ressurreição dos homens ou apenas dos justos

e possuem uma angelologia estruturada, mas ambas as doutrinas trazem a marca

clara de influências estrangeiras, pois ainda não se havia superado a teologia do

sheol e a ideia de anjos2 como seres alados e mensageiros (características vindas

de cultura grega).

Essênios

É um grupo judaico que se afastou dos demais para proteger a cultura

israelita. Eles fundaram uma comunidade nas margens do mar morto e lá viveram

até serem todos assassinados. Eles se retiraram de Jerusalém considerando o

Templo profanado, por conta principalmente das investidas de Antíoco. Formaram

comunidades longe da cidade, onde puderam desenvolver sua religiosidade calma e

obcecada com a pureza. Uma prática comum deles era a leitura frequente das

Escrituras e sua ação de atualizá-las. Tinham aversão às autoridades estrangeiras,

e por isso evitavam contato com o mundo exterior a comunidade. Foram

completamente destruídos do cenário religioso, após a destruição de seu monastério

em Qûmram, em 68, pelos romanos.

Zelotas e Sicários

2 A aparição dos anjos de Adonai, nos primórdios bíblicos, servem apenas para mediar a presença de

Deus, visto que esta era fulminante para o homem.

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O termo zelota significa zeloso. A palavra vem do grego zêlotai

correspondente ao hebreu qanaim que significa "os zelosos” eram aqueles que

mantiveram um movimento político de revolta contra os impérios que exerciam

domínio na área de Jerusalém. Eles professam uma doutrina semelhante a dos

fariseus, alguns de seus líderes, provavelmente, adquiriram certas características

messiânicas. Eles são a corrente que claramente representa o racionalismo de

Israel.

Os sicários são originários das áreas mais miseráveis do meio rural, de modo

semelhante aos zelotas, também, se amotinam contra os romanos.

Messiânicos

A atmosfera xenofóbica gerada pela presença romana estimula o surgimento

de movimentos libertários para a libertação do domínio romano explodem com a

morte de Herodes Magno. Este grupo vivia o messianismo prometido por Deus,

como uma vinda daquele rei ungido que construiria uma sociedade terrena perfeita

abençoada. Mais do que ninguém, eles tinham a ideia de que o messias era um

libertador social e não um redentor do homem pleno, como aconteceu em Jesus.

Nazireus

Foi o termo usado para designar o cristianismo primitivo e os seguidores de

Jesus como uma corrente judaica qualquer.

Proféticos e Batistas

Com a confusão armada contra o helenismo e o opressor Antíoco surgem

alguns que tentam assumir a liderança das ações de revolta de Israel com o

argumento de falarem em nome de Deus. Eles são tidos como impostores, pois se

aproveitavam da expectativa de auxílio espiritual para garantir a legitimidade de suas

ordens.

Um exemplo é o intitulado, por si mesmo como profeta, Teudas que consegue

convencer uma multidão de que o Rio Jordão se afastaria para abrir passagem.

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Cercados por uma tropa romana, quase 400 pessoas são massacradas e o falso

profeta foi preso e depois decapitado.

Houve também, dentre muitos, o caso de um que prometeu mostrar o local

em que Moisés escondeu os vasos sagrados do Templo. O grupo levantado por este

foi destruído por Pôncio Pilatos.

Os grupos batistas reafirmaram a necessidade da remissão dos pecados e da

manutenção da pureza. Movimento, supostamente, do qual João, conhecido como

batista, era oriundo.

2 - Jesus Cristo Atestado na História

2.1 - Jesus e sua presença histórica

Fora dos Evangelhos há relatos da existência de Jesus Cristo e de pessoas

de seu convívio que são confirmados pela Arqueologia na descoberta de pessoas e

lugares apontados como existentes. Há dentre estes documentos antigos um,

específico, do Império Romano que cita um crucificado.

Em 1990, a Arqueologia encontrou um ossuário dentro de uma caverna

próxima a Jerusalém. Diz a arqueologia que esta tumba está fechada, desde o ano

70 d.C., quando a cidade foi destruída pelos romanos. No ossuário foi encontrado o

nome Caiaphas em aramaico, esta palavra é a que corresponde à que temos, hoje,

com o nome Caifás. Estes restos mortais estavam misturados, mas pareciam ser

restos mortais dos membros de uma família. Os ossuários eram usados por judeus

que acreditavam na ressurreição.

Em 1962, arqueólogos italianos encontraram, nas ruínas de um teatro que

ficava em Cesaréia, sede do poder romano, uma inscrição com o nome de Pôncio

Pilatos a inscrição está em latim: "Pôncio Pilatos, prefeito da Judéia, construiu este

edifício em honra do imperador Tibério".

Na aldeia de Cafarnaum, em terreno sob os cuidados dos franciscanos, foram

encontradas ruínas e inscrições datadas do século II d.C. Os pesquisadores criaram

a hipótese de que poderia ser a casa de Pedro, na qual Jesus teria estado.

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Outros achados arqueológicos recentes. Em meados da década de 80, uma

longa estiagem levou ao rebaixamento do nível do Mar da Galiléia, em janeiro de

1986, alguns encontraram um barco em meio à lama. A água e a lama preservaram

a madeira. O barco pequeno possuía em seu interior, cerâmicas e lamparinas do

primeiro século, datação confirmada pelo exame de carbono-14 da madeira.

O chamado Santo Sudário, que passou por diversas situações de perigo de

destruição, é exposto até hoje e permanece um mistério quanto à impressão da

imagem de um homem que coincide com as características atribuídas a Jesus

Cristo. A impressão da imagem no pano, ainda permanece um mistério para a

ciência.

O historiador Flávio Josefo, historiador israelita, relata em sua obra:

Antiguidades Judaicas, algumas atestações fora da literatura bíblica, sobre a

existência de Jesus Cristo. A tradução de um mesmo texto, em grego e em árabe,

que traz noticia extra-bíblica sobre Jesus.

Texto Grego:

“Naquela época vivia Jesus, homem sábio, se é que o podemos chamar de homem. Ele realizava obras extraordinárias, ensinava aqueles que recebiam a verdade com alegria e fez-se seguir por muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo. E quando Pilatos o condenou à cruz, por denúncia dos maiorais da nossa nação, aqueles que o amaram antes continuaram a manter a afeição por ele. Assim, ao terceiro dia, ele apareceu novamente vivo para eles, conforme fora anunciado pelos divinos profetas e, a seu respeito, muitas coisas maravilhosas aconteceram. Até a presente data subsiste o grupo dos cristãos, assim denominado por causa dele”.

Texto Árabe:

“Naquela época vivia Jesus, homem sábio, de excelente conduta e virtude reconhecida. Muitos judeus e homens de outras nações converteram-se em seus discípulos. Pilatos ordenou que fosse crucificado e morto, mas aqueles que foram seus discípulos não voltaram atrás e afirmaram que ele lhes havia aparecido três dias após sua crucificação: estava vivo. Talvez ele fosse o Messias sobre o qual os profetas anunciaram coisas maravilhosas”.

O Talmude babilônico é uma coleção de opiniões dos rabinos sobre lei, ética

filosofia e outras coisas, mas, atesta a existência de Jesus Cristo.

“[...] Entretanto foi ensinado que, na vigília da festa da Páscoa, Jesus foi suspenso. Porém, quarenta dias antes, o arauto havia proclamado que ele seria apedrejado por praticar a magia e por ter seduzido Israel para a apostasia. Poderia, quem quisesse, vir e falar algo em sua defesa, mas como nada foi feito em sua defesa, foi suspenso na véspera da Páscoa”. Ula objetou: ‘Tu acreditas que algo poderia ser dito na defesa dele? Ele não era um sedutor, como fala a Escritura: 'não o perdoarás, nem o

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17

defenderás'?’ Contudo, as coisas foram diferentes com Jesus porque estava em relação com o governo”.

Em Gaio Suetônio Tranqüilo:

“Embora sua menção a Jesus seja curta, muitos estudiosos acreditam que ele se referiu indubitavelmente a Jesus, o Cristo. Em sua obra ‘Vida dos Doze Cesares’, escrita por volta de 120, Suetônio comenta a expulsão dos judeus de Roma, em 41(At 18, 2), nesta alusão é que cita o ‘Cresto’. ‘Como os judeus, à instigação de Cresto, não deixassem de provocar distúrbios, expulsou-os de Roma.’”.

2.2 - Os Evangelhos são documentos históricos

O século XVIII, em especial, revela grandes problemas quanto à historicidade

dos evangelhos, o que colocaria a História da Igreja em cheque quando ela

afirmasse algo baseada nos Evangelhos como fundamento histórico. Uma

dificuldade que surge quando mais de 1500 anos depois do fato histórico alguns

autores põem uma dificuldade de admitir o Jesus histórico do Cristo da fé, que

segundo eles foi criado pelo imaginário ou intenção fantasiosa dos primeiros

cristãos. Esta dificuldade começa a partir de uma excessiva exaltação da razão

humana e aderência da perspectiva de que ela é crivo último de verdade. A própria

Teologia passa a não ter mais valor científico, neste caso, principalmente pela

reação negativa dos movimentos do Protestantismo ao não enfrentarem os desafios

que o desenvolvimento da ciência lhes impunha e se resguardarem atrás do

fideísmo.

O olhar de alguns autores racionalistas e outros reacionários a estes causou

prejuízos para a concepção dos Evangelhos como documentos históricos. A

resposta fideísta de Rudolf Karl Bultmann, por exemplo, se refere aos Evangelhos

como peças catequéticas de um quebra-cabeça, longe de ser uma obra biográfica. A

mensagem da escritura neotestamentária, para Bultmann, só mostra o Kerygma

anunciado pelos apóstolos, a pregação e suas características; mas completamente

desvinculada do Jesus verdadeiro.

O autor afirma que para chegar ao verdadeiro Jesus histórico teríamos que

depurar todos os mitos (milagres; ressurreição; etc), ou seja, eliminar o que ele

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18

chama de fantasia das primeiras comunidades. Depois, entender o motivo teológico

do que está escrito, ou seja, encontrar exatamente o que é a invenção dos apóstolos

que foi elaborada para gerar a fé nas pessoas. Após todo o processo, chegaríamos

ao verdadeiro Jesus histórico, ou seja, não encontraríamos nada porque não há

maneira de se saber o que realmente estaria descrito da realidade no Evangelho por

não sabermos a intenção subjetiva do autor ao construir uma mensagem para gerar

a fé nas pessoas.

O equilíbrio científico se encontra no entendimento de que mesmo que o

Evangelho traga uma junção de pedaços de tradições e autores diferentes, os

autores últimos dos Evangelhos são testemunhas de tudo o que relataram em seus

escritos. São homens de fé, que presenciaram os acontecimentos de Cristo e

tiveram acesso a diferentes perspectivas do fato Jesus Cristo e puderam optar pela

comunicação mais catequética. Nesta visão, Jesus da fé pode sem problemas ser o

histórico.

A visão mais equilibrada da formação dos Evangelhos entende que eles

surgiram em três etapas. Os textos teriam nascido com os fatos descritos sobre

Jesus e suas palavras; estes fatos acontecidos e as palavras ditas teriam sido

entendidos de maneira mais plena pelas comunidades primitivas, após a Ascensão e

do Pentecostes para depois serem transmitidos de forma escrita ao serem

interpretados pelos Evangelistas que puderam testemunhar a veracidade e dar

continuidade a catequese das comunidades. É importante entender que a

continuidade catequética dada pelos evangelistas não quer significar

necessariamente a corrupção dos Evangelhos, pois se assim fosse eles seriam

completamente diferentes e teriam sido rechaçados pelos discípulos e pelos

Apóstolos que acompanharam Jesus em sua caminhada neste mundo. A Igreja por

sua vez, continua a atestá-los pela continuidade e ausência de quebra com a fé

vivida em seu interior, pelo testemunho positivo das primeiras comunidades, dos

Padres da Igreja e pela segurança da inspiração bíblica 3.

Outros critérios de historicidade dos Evangelhos:

3 A constituição dogmática Dei verbum ,no numero 11 - aponta o modo como se deu a inspiração; 12

- aponta a intenção divina e o modo como se comunicou esta revelação; 19- aponta a fidelidade da Igreja na transmissão do anúncio.

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19

Critério da múltipla atestação – Deve-se considerar que os relatos estão

presentes em mais de um documento. Os Evangelhos são quatro em que

contam fatos comuns como: a ressurreição, sobre Jesus Cristo.

Critério da descontinuidade – O que se espera da ação de um homem, daquele

tempo, não é o que se vê relatado. Exemplos: um homem judeu, que fala com

uma mulher samaritana. Se fosse falseado, isto não estaria na Escritura, pois

prejudicaria a evangelização dos judeus; Os judeus não chamavam Deus de

paizinho; O evangelho não mostra Jesus simplesmente glorioso, mas o mostra

sofredor; O natal de Deus encarnado é descrito em um celeiro; O Jesus

glorioso é descrito sendo tentado, concepção impossível para um judeu da

época, sendo aplicado ao Filho de Deus.

Critério da conformidade – Este identifica Jesus como homem daquele tempo.

Mesmo sendo Deus ele frequenta a sinagoga, faz suas necessidades básicas,

precisa rezar os Salmos como os demais judeus, sente sede, aprendeu uma

profissão.

Critério do estilo de Jesus – Jesus tem uma concepção extraordinária de si. Seu

jeito de falar e agir é diferente de todas as demais pessoas, é um sujeito de

identidade e estilos próprios. Vê-se pela sua autoridade, pois ninguém falava

daquele jeito, e este jeito ainda ofendia os judeus (se fosse falseado, não teria

sido escrito em vários Evangelhos).

A coerência dos relatos – Os relatos contados com pequenas diferenças, antes

de mostrar uma mentira construída, atestam o mesmo fato presenciado e

testemunhado de pontos de vista diferentes. Ainda que tenha um único núcleo

verdadeiro.

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20

2.3 - Gênero literário4 – Evangelho

Ainda há um argumento, com fundamento Histórico e Filológico, que é usado

para garantir a autenticidade dos Evangelhos, o gênero literário chamado:

Evangelho.

No Antigo Testamento, nos livros datados mais antigos, a palavra hebraica

bissar significa notícia, sendo ela boa ou ruim. Este termo sofreu modificações no

seu significado por causa dos domínios e exílios que Israel sofreu. Após o exílio,

esta palavra, ganhou um sentido religioso, passou a ter sentido de notícia alegre

vinculado à religião, pois Israel foi “liberto” do seu cativeiro por Ciro, após o domínio

sobre a Babilônia. Israel pôde voltar, reconstruir os muros da cidade e, novamente,

cultuar a Deus em Jerusalém.

Com o Império Grego, o termo passou a ter a conotação de pessoa, pois

quando se ouvia que o imperador 5 passaria por uma cidade, sabia-se que haveria

segurança militar no local e todos estariam mais seguros. Uma obra de melhoria

pública seria feita, como a construção de um teatro ou outra coisa qualquer da

estratégia de domínio cultural feita pelos gregos. Neste período, a palavra noticia,

que no grego corresponde a evanggelion, que já tinha significado de boa noticia,

passa a ser paralela a bissar e dá ao imperador certa conotação de salvador, visto

que onde o “dito salvador” (imperador) estava grandes melhorias eram feitas na

cidade, festas e banquetes eram proporcionados aos cidadãos e segurança era

garantida pela sua guarda real.

Em Isaías 41 e 61 essa notícia passa a ter valor messiânico, pois ela é

associada ao messias esperado por israel. Nos Evangelhos esta palavra já vem com

toda a conotação religiosa ligada a boa noticia do Messias salvador, mas em João

não há esta palavra, ele troca por testemunho para incentivar a fidelidade dos fiéis

perante o martírio.

4 “São os diversos modos ou estilos utilizados pelos autores sagrados na transmissão da sua mensagem.

Encontram-se também na literatura contemporânea. O conhecimento de cada género literário é fundamental para entender os diversos textos bíblicos. Depois de um tempo de suspeição, o Magistério da Igreja, desde Pio XII na Enc. Divino afflante Spiritu (30.9.1943) e sobretudo, na Const. dogmática *Dei Verbum 12, reconheceu que, na *interpretação da Escritura, é decisivo ter em conta os seus diversos g.l. De forma simplificada, podemos dizer que, no AT se distinguem a poesia popular, a prosa oficial, a literatura narrativa, as orações, as profecias, a literatura sapiencial e o gênero apocalíptico; e, no NT, os Evangelhos, as Epístolas e o Apocalipse. V. Bíblia (7, interpretação).” Explicação extraída do site: http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia/artigo.asp?id_entrada=858 5 Alexandre Magno

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21

Entendendo desta forma, há de se considerar o papel do arauto do

Evangelho, ou seja, aquele que levava a notícia de que o imperador estava

chegando. Este homem possuía a vida ameaçada por uma só vírgula da mensagem

e do anúncio, caso fossem adulterados. Imbuídos deste significado e de toda esta

realidade é impensável para um homem de fé pensar que um dos redatores do

Evangelho alterasse a mensagem de Jesus Cristo tendo em vista a perdição de sua

alma. “Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente

daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!” Gl 1,8. As palavras de Paulo

testemunham esta realidade que permeou até a geração posterior aos Apóstolos.

2.4 - Jesus Cristo baseado na Escritura Os Evangelhos são as fontes históricas cristãs por excelência, por serem

garantidas pelo magistério em sua canonicidade e inspiração. Como já vimos, são

fontes que garantem a fidelidade a Cristo e seus ensinamentos. Em grande

quantidade, garantem caracteres biográficos que são, cada vez, mais elucidados

nos estudos da História, Arqueologia e Filologia.

Lc 1, 1-3:

“Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, como no-los transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da Palavra. Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo.”

O que sabemos sobre o nascimento de Jesus Cristo é que ele nasceu em

Belém de Judá, no tempo do Rei Herodes. A data do nascimento sofreu certa

especulação na história, pois o calendário cristão era aquele usado pelos romanos.

Com a queda de Roma, surgiu um calendário cristão, o qual foi base para Dionísio

calcular o nascimento de Jesus, porém ele se enganou marcando-o no ano de 753

da fundação de Roma. Para isso, baseou-se em Lc 3,1e 3,23 que apontava o

décimo quinto ano de Tibério o inicio da vida pública de Jesus que deveria ter

aproximadamente 30 anos. 6

6Lc 3, 1s: “No ano décimo quinto do reinado do imperador Tibério, sendo Pôncio Pilatos governador

da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Felipe tetrarca da Ituréia e da província de

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22

O calculo é falho, pois ele atribuiu a Lc 3,23 um sentido errôneo, pois a

intenção teológica de Lucas só mostrava que Jesus tinha a idade exigida pelos

Judeus para exercer vida pública. Jesus, na verdade, nasceu antes da morte de

Herodes, que foi em 4 a.C. É possível que Jesus tivesse dois anos. quando

aconteceu a matança dos inocentes; o que aponta seu nascimento em 6 ou 7 “antes

de Cristo”. Mt 2,1: “Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei

Herodes, eis que os magos vieram do Oriente a Jerusalém.”

O que se sabe é que Jesus, depois de três anos de vida pública, morreu e

ressuscitou. Foi batizado por João Batista, seu predecessor. Possuía doze

seguidores muito próximos e um grupo grande de pessoas que o seguia.

2.5 -Origem e fundação da Igreja

Alguns teólogos tendenciosos, para denegrir ou desautorizar a Igreja, muitas

vezes, em nome de um falso ecumenismo, consideram a Igreja como um acidente

de percurso acontecido enquanto Jesus Cristo pregava o Reino e dizem que a

própria Igreja não seria vontade d’Ele. Analisando os quatro documentos históricos7

veremos, claramente, que Jesus tem não só a intenção de fundar sua Igreja, mas

cria diretrizes e escolhe um modo hierárquico de conduzi-la.

Antes de tudo, é importante que se tenha aqui uma visão transcendente da

fundação da Igreja. O Antigo Testamento já demonstra na própria ação divina de

libertação dos israelitas da escravidão no Egito, nas alianças com eles, na promessa

de um salvador, na eleição e reunião de um povo a vontade divina de constituir a

sua Igreja (revelada plenamente em Jesus Cristo). Conclui-se que a Igreja foi

fundada em um processo dinâmico, no qual não se pode restringir a um momento

especifico, mas por toda a ação desenvolvida na vida publica de Jesus.

Jesus mostra que quis fundar sua Igreja:

Traconítis, e Lisânias tetrarca da Abilina, sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra do

Senhor no deserto a João, filho de Zacarias.” 7 Os Evangelhos.

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23

“E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino dos Céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus.”

8

Jesus Cristo demonstra que quis fundar sua Igreja ao se voltar para Pedro e

usar o pronome possessivo dando o aspecto de pertença à Igreja que Ele edificará

sobre a pedra que é o apóstolo Pedro. Além de anunciar a instituição de sua Igreja,

Jesus anuncia profeticamente que ela será perseguida ao dizer que ela não será

vencida (ao Se referir aos combates que travarão contra ela). Há, nesta passagem,

um aspecto hierárquico, pois é sobre Pedro e não sobre os demais apóstolos que

Ele designa o poder de ligar e desligar. (ainda que houvesse doze apóstolos

próximos do Mestre, naquele momento, foi sobre Pedro que Ele estabeleceu o poder

da Igreja perante Deus.

2.6 - Atos fundantes da Igreja de Jesus Cristo

A eleição dos discípulos

Jesus Cristo é seguido por uma multidão que não cansa de ouvir seus

ensinamentos, mas Ele escolhe apenas 72 dentre esta multidão para enviá-los em

missão.

“Não levem bolsa, nem saco de viagem, nem sandálias; e não saúdem ninguém pelo caminho.Quando entrarem numa casa, digam primeiro: Paz a esta casa.Se houver ali um homem de paz, a paz de vocês repousará sobre ele; se não, ela voltará para vocês.Fiquem naquela casa, e comam e bebam o que lhes derem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem mudando de casa em casa.Quando entrarem numa cidade e forem bem recebidos, comam o que for posto diante de vocês.Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: O Reino de Deus está próximo de vocês.Mas quando entrarem numa cidade e não forem bem recebidos, saiam por suas ruas e digam:Até o pó da sua cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vocês. Fiquem certos disto: o Reino de Deus está próximo.Eu lhes digo: Naquele dia haverá mais tolerância para Sodoma do que para aquela cidade.Ai de você, Corazim! Ai de você, Betsaida! Porque se os milagres que foram realizados entre vocês o fossem em Tiro e Sidom, há muito tempo elas teriam se arrependido, vestindo roupas de saco e cobrindo-se de cinzas.Mas no juízo haverá menor rigor para Tiro e Sidom do que para vocês.E você, Cafarnaum: será elevada até ao céu? Não; você descerá até o Hades! Essa palavra pode ser traduzida por inferno, sepulcro,

8 ”. Mt 16, 18-19.

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24

morte ou profundezas. “Aquele que lhes dá ouvidos, está me dando ouvidos; aquele que os rejeita, está me rejeitando; mas aquele que me rejeita, está rejeitando aquele que me enviou”.Os setenta e dois voltaram alegres e disseram: “Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome”.Ele respondeu: Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago.Eu lhes dei autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada lhes fará dano.Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus”.

9

A vocação dos apóstolos

Apesar das multidões e dos discípulos que estavam a sua volta, os

Evangelhos relatam a escolha de doze homens que Jesus quis ter ao seu lado.

Estes homens foram testemunhas oculares de todas as ações de Jesus e foram

enviados em missões diferentes dos demais discípulos. O envio diferencial destes

homens comporta a pregação e expulsão de demônios10, O perdão dos pecados11 e

A celebração da Eucaristia12.

O Primado de Pedro

Diferente de todos os apóstolos, Pedro recebe poderes máximos diante da

Igreja13 e é indicado como pastor supremo14. É interessante perceber que por mais

que, em geral, houvesse outros discípulos presentes nos diálogos de Jesus com

Pedro; é a Pedro que Jesus confere a primazia e é sempre ele quem toma a palavra

nos Evangelhos, o que revela a intenção de demonstrar a intenção de Cristo sobre

ele.

Acontecimentos Pascais

Nas ações finais de Cristo se vê a instituição da liturgia sacramental por parte

Dele. Os acontecimentos da Ceia Eucarística, da Paixão e Morte de Cristo são

sinais da vida do fiel ao ser incorporado à Igreja. Em especial na Ceia, Jesus institui

a Eucaristia e pede para que os discípulos repitam o mesmo ato os fazendo

sacerdotes ministeriais. Também se institui neste dia o perdão dos pecados a ser

conferido pelos apóstolos, após a morte de Jesus. Há de se perceber que a

9 Indicações dadas aos 72 discípulos em Lc 10 1-20.

10 Mc 3, 13 – 19.

11 Jo 20, 22 – 23.

12 Lc 22, 19. Aqui, Ele não diz isso simboliza o meu corpo, mas “isto é o meu corpo”.

13 Mt 16, 18 – 19.

14 Jo 21, 15 – 17.

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25

Eucaristia é fundante, sem ela não há como se conceber a Igreja de Cristo segundo

a Eclesiologia.15

Ressurreição de Cristo

Cristo ressuscitado aparece aos discípulos e promete sua presença junto à

Igreja até o fim dos tempos16. Os Atos dos Apóstolos relatam a Sua presença

“física”17 junto aos apóstolos, diversas vezes, até o relato da Ascensão.

Sem cada um destes elementos não há como conceber a Igreja fundada

por Cristo, é a falta destes elementos que identifica historicamente as seitas,

aquelas instituições cristãs que aderiram, apenas em parte, ao que se

comunicou no Evangelho.

3– Manifestação da Igreja, sua missão e desenvolvimento inicial

Pentecostes foi a primeira manifestação visível da Igreja. Naquele dia, o

Espírito Santo se manifestou aos apóstolos em forma de línguas de fogo. O

cenáculo reunia Maria e os apóstolos. Ao receberem o Espírito Santo saíram à rua

para pregar. Como em Jerusalém haviam muitos judeus vindos para a Festa das

Tendas foi fácil a dispersão da mensagem de Cristo. Importante ressaltar que não se

pode ignorar a ação do Espírito ao fazer com que a pregação dos apóstolos fosse

entendida pelos seus interlocutores na língua natal de cada um.

Os apóstolos passaram a ser perseguidos, foram presos e soltos por ação

Divina algumas vezes. A morte de Santo Estevão foi o primeiro sinal do grande

martírio que vinha pela frente. Os cristãos passaram a ser perseguidos,

discriminados. Paulo chega a pedir doações para os cristãos de Jerusalém por

estarem passando fome, dentre outras dificuldades.18

Com a morte de Estevão, muitos cristãos saíram de Jerusalém e acabaram

levando o Cristianismo para a dispersão judaica.

15

Lc 22, 19 – 20. 16

Mt 28, 19 -20. 17

Já com corpo glorioso. 18

Rm 15, 25 – 26.

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3.1 - São Paulo

Uma figura importantíssima Pós Jesus Cristo, além dos apóstolos, é São

Paulo19. Ele era judeu da diáspora, de origem de Tarso. Sua formação na cultura

helênica era vasta. Aos 15 anos foi enviado para Jerusalém para estudar as

Sagradas Escrituras e as tradições rabínicas na escola de Gamaliel, neste lugar ele

se tornou um autêntico fariseu.

Por volta do ano 33 d. C. teve sua experiência de conversão, pouco tempo

depois de ter participado da execução de Estevão. Realizou três grandes viagens

nas quais evangelizou o povo pagão. Nas comunidades cristãs que fundou teve

muitos problemas com judeus recém convertidos20 e com algumas correntes

gnósticas. Ele foi perseguido pelos judaizantes e difamado21. Recebeu do próprio

Cristo a missão de evangelizar os pagãos.

Paulo participou do concilio de Jerusalém e chegou até a censurar Pedro, no

que diz respeito à superação dos costumes judeus e discriminação dos pagãos.

Racionalistas e protestantes modernos acusam falsamente Pedro e Paulo de

terem feito um racha na Igreja neste período. Acusam a separação em igreja paulina

e igreja petrina, porém deve-se ter a devida atenção, pois esta acusação só é feita

para desacreditar na Igreja fundada sobre estes dois pilares. Quanto à inabilidade

pontifícia, esta se refere a questões dogmáticas e decisões solenes, não em

decisões particulares e práticas como comer com pagãos ou não. Opiniões diversas

sobre um tema não destroem nem o respeit,o nem a amizade de duas pessoas

maduras.

Paulo, assim como muitos cristãos, caiu provavelmente nas mãos de Nero,

ele morreu de idade avançada, enquanto Pedro estava preso.

3.2 - Expansão do Cristianismo

19

Se chamava Saulo, mas após a conversão passou a se chamar Paulo. 20

Exigiam a passagem propedêutica para o cristianismo, pela pratica judaica. 21

2Cor 11, 21 – 32.

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27

Antioquia

Antioquia foi uma cidade muito importante para este período. Ela era uma das

maiores cidades do tempo de domínio romano e funcionava como colônia militar. Foi

um grande centro comercial e possuía uma colônia hebraica. Ela possuía má fama,

como cidade de vícios e prazeres e, até, chegou a ser capital da Síria na mão dos

romanos. Nesta cidade, se estabeleceu uma colônia de cristãos fugidos de

Jerusalém, por motivo da morte de Estevão. Barnabé foi enviado até lá, junto de

Paulo, e no destino o apóstolo dos gentios realizou a sua primeira missão de que se

tem notícia. Nela os seguidores de Cristo são chamados de cristãos pela primeira

vez.

A comunidade cristã desta cidade só era menor que a de Jerusalém. No

período dos Padres da Igreja surgiu a heresia do Nestorianismo22. Os cristãos desta

cidade ajudaram com doações aos cristãos de Jerusalém em épocas difíceis.

Alexandria

Alexandria foi capital da administração romana no Egito. Ela era uma cidade

expoente, com muitas praças e pórticos. Era a terceira principal cidade do mundo

romano. Nesta local houve o contato do judaísmo com a cultura helênica, e nisso

foram absorvidos pensamentos e costumes helênicos. Foi onde o Antigo

Testamento foi traduzido para o grego, nasceu a LXX. Nela ideias como imortalidade

da alma entram na Escritura tardia, como no Livro da sabedoria. Esta cidade “e a

origem de Cirilo23 que combate a heresia de Nestório.

Roma

Em Roma o cristianismo provavelmente se originou por mérito de judeus

residentes que se converteram ao cristianismo, possivelmente por ocasião do

Pentecostes. São Pedro e São Paulo já encontram a comunidade cristã estruturada.

Nero, em 64, mandou executar uma multidão de cristãos.

22

Heresia que exaltava a humanidade de Cristo em detrimento da divindade. Possuía um raciocínio problemático sobre a unidade das naturezas humana e divina em Jesus. 23

Em contra partida a heresia de Nestório Cirilo afirma a união das naturezas humana e divina na “fisis”, que pode ser entendida na pessoa, mas pode ser entendida na natureza. A concepção de ‘fisis’ como natureza causou a interpretação de que a natureza humana teria sido pulverizada.

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28

Outros lugares

A Espanha foi visitada por São Tiago menor, que morreu no ano 42 em

Jerusalém24. O que hoje se entende por Inglaterra foi evangelizada pelos cristãos da

Ásia Menor25. A índia, ao que tudo indica, teria sido evangelizada por São Tomé,

que morreu martirizado por lá.

Como, na Britânia (Inglaterra), muito da evangelização aconteceu por homens

comuns convertidos que levaram a mensagem evangélica de acordo com suas

possibilidades. Nobres, comerciantes, militares e escravos levavam a mensagem a

todos os que tinham contato. Em geral a pregação dos missionários nesta época se

concentrava em Jesus, pois em vista da possível perseguição e até morte não se via

espaço para a reflexão teológica aprofundada. Era comum as pregações se

concentrarem na afirmação da divindade de Jesus Cristo, sua missão redentora, sua

morte e ressurreição como meio de expiação dos pecados, na unidade da Igreja e

na volta de Jesus.

3.3 - Surgimento de alguns escritos

A pregação, inicialmente oral, desde a transmissão por parte dos apóstolos,

se expandiu com as comunidades e houve a necessidade da escrita, para que não

se perdesse a mensagem, as narrativas e os ensinamentos, com vista em serem

também usados na liturgia. Não se pode esquecer da preocupação dos escritos se

manterem fiéis, depois da morte dos apóstolos (por isso a redação do texto foi

necessária).

A escolha do Antigo Testamento foi imediata sobre a LXX, pois era tida como

tradução mais segura, vinda diretamente do hebraico e realizada por rabinos

eruditos de Alexandria. Apesar desta tradução ser considerada uma versão confiável

do Antigo Testamento, ainda na época de Jesus era incerta a segurança nos livros,

em vista de que muitos livros considerados depois apócrifos ainda permeavam o

ambiente judaico.

24

At 12, 3. 25

Tertuliano na obra Adversus Judaeos 7

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29

Os primeiros escritos do Novo Testamento considerados seguros foram: As

Cartas de Paulo, sendo a primeira delas datada por volta dos anos 50 d.C.

No final do século I apareceram muitos textos sobre a vida e os ensinamentos

de Jesus, mas muitos eram absurdos e destoavam completamente da Doutrina

recebida dos apóstolos. Por isso, os primeiros cristãos reuniram os textos que

confirmavam a pregação recebida dos apóstolos e compilaram o volume conhecido

como Evangelho.

Existe um tipo de documento chamado de Fragmento de Muratori, datado

entre os anos de 160 e 170, que trás uma ideia de cânon muito semelhante ao atual.

“(...) O terceiro livro do Evangelho é o de Lucas. Este Lucas médico que depois da ascensão de Cristo foi levado por Paulo em suas viagens escreveu sob seu nome as coisas que ouviu, uma vez que não chegou a conhecer o Senhor pessoalmente, e assim, a medida que tomava conhecimento, começou sua narrativa a partir do nascimento de João. O quarto Evangelho é o de João, um dos discípulos. (...)

Os Atos foram escritos em um só livro. Lucas narra ao bom Teófilo aquilo que se sucedeu em sua presença, (...)

Quanto às epístolas de Paulo, por causa do lugar ou pela ocasião em que foram escritas elas mesmas o dizem àqueles que querem entender: em primeiro lugar, a dos Coríntios, proibindo a heresia do cisma; depois, a dos Gálatas, que trata da circuncisão; aos Romanos escreveu mais extensamente, demonstrando que as Escrituras têm como princípio o próprio Cristo’.

26

Não precisamos discutir sobre cada uma delas, já que o mesmo bem-aventurado apóstolo Paulo escreveu somente a sete igrejas, como fizera o seu predecessor João, nesta ordem: a primeira, aos Coríntios; a segunda, aos Efésios; a terceira, aos Filipenses; a quarta, aos Colossenses; a quinta, aos Gálatas; a sexta, aos Tessalonicenses; e a sétima, aos Romanos.

(...) Recentemente, em nossos dias, Hermas escreveu em Roma “O Pastor”, sendo que o seu irmão Pio ocupa a cátedra de Bispo da Igreja de Roma.

É, então, conveniente que seja lido, ainda que não publicamente ao povo da Igreja, nem aos Profetas “cujo número já está completo, nem aos Apóstolos” por ter terminado o seu tempo. (…)

3.4 - Confissão dos pecados na Igreja Primitiva

Inicialmente não havia uma cultura de confissões numerosas, como se tem

hoje. A ideia de que Jesus estaria logo voltando, no Batismo concentrou-se o

26

Fragmento de Muratori

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30

momento da celebração de remissão dos pecados. No entanto, apesar de alguns

não admitirem um novo perdão dos pecados, os escritos apostólicos sempre

exortam a penitência e a conversão do pecador. O processo consistia na confissão

pública do pecador, na exclusão das comunidades no momento da celebração, na

penitência e oração recomendados e no posterior reingresso nas celebrações.

3.5 - Celebração Eucarística na Igreja Primitiva

No início da Igreja, as reuniões e celebrações eram realizadas nas casas dos

fiéis. A primeira igreja que se tem notícia foi encontrada no século IV num vilarejo da

Síria.

Ao que tudo indica, as celebrações cristãs eram principalmente duas,

Eucaristia e Ágape. Ágape consistia em uma refeição alimentar onde se incentivava

a fraternidade entre os cristãos e onde se repartia os bens com os mais

necessitados. Já a Eucaristia se referia à refeição ritual onde se buscava o alimento

espiritual, o próprio Corpo do Senhor no qual se celebrava a nova e eterna aliança.

Apesar de alguns desconsiderarem completamente a Eucaristia para valorizar

o Ágape, não se pode simplesmente ignorar os documentos históricos em que se

refere a ela como celebração do Santo Sacrifício de Cristo. A didaqué, que é do final

do século I, por exemplo, cita a preparação de pureza que se deve buscar antes de

se participar da Eucaristia.

“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro. Aquele que está brigado com seu companheiro não pode juntar-se antes de se reconciliar, para que o sacrifício oferecido não seja profanado. Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um grande rei - diz o Senhor - e o meu nome é admirável entre as nações”

27.

4 – Movimento aversivo ao Cristianismo e perseguições

4.1 - Os Padres Apostólicos

27

Didaqué.

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31

Os pastores que tiveram contato direto com os apóstolos foram chamados de

Padres Apostólicos. Estes homens são muito estimados na Igreja Primitiva e seus

escritos são muito semelhantes aos do Novo Testamento. Eles não são autores de

Tratados Teológicos, mas geralmente de cartas que tratam de assuntos de

disciplina, do pastoreio da Igreja e sua unidade. Alguns exemplos deles são: São

Clemente de Roma (102d.C), o terceiro Bispo de Roma depois de Pedro; Santo

Inácio de Antioquia (107d.C), que professou Deus Encarnado em Jesus nascido de

Maria, por ele se percebe que já havia o episcopado monárquico, pois chamam- o

de bispo de Roma “aquele que preside na caridade”; São Policarpo (156d.C), Bispo

que viu e ouviu João Evangelista; Pápias (130 d.C), Bispo na Ásia menor; A

Didaqué28, que apesar de ter autor desconhecido se mostra um pequeno catecismo

da vida cristã, trata dos rituais do Batismo, Eucaristia, Celebrações Dominicais,

Jejum e muito mais; O Pastor de Hermas29, texto que traz uma rigorosa penitência

sacramental.

4.2 - Combate escrito aos cristãos

Os cristãos eram considerados ateus pelos pagãos, pois eles se opunham a

prestar culto aos deuses do império e ao imperador. Os pagãos os acusavam de

adorarem um asno crucificado e difundiam falsas informações nas quais se dizia que

os cristãos comiam crianças, pois recebiam o sacramento do corpo e do sangue de

Jesus e outros diziam que eles se encontravam para realizar uniões incestuosas,

após o banquete. Todas as desgraças acontecidas em Roma eram atribuídas aos

cristãos. Estas confusões aconteceram pelo modo como se dava o domínio romano,

eles dominavam absorvendo a cultura alvo e adicionando a sua civilidade. O

problema dos cristãos não foi adorar um Deus especifico, mas não assumir a cultura

e civilidade do império.

A gnose era um problema neste tempo, estes absorviam elementos

interessantes de tudo que é tipo de religião e pensamento e montavam “mosaicos”

deturpando qualquer uma de suas fontes originais. Em geral, a filosofia neoplatônica

28

Pensa-se no final do século I. 29

Provavelmente do século II

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32

está presente e é crivo destes pensamentos neste período. Tratava do que era

material como mau e o que era espiritual como bom.

O conhecimento propagado por estes pensadores era indicado como superior

ao cristianismo. Este pensamento foi combatido por muitos Padres, como: Justino,

Irineu, Tertuliano, Hipólito de Roma, etc. Um tempo marcado pela apologia e

apologética cristã.

4.3 – Perseguições

A primeira ação do Estado Romano contra os cristãos foi no governo do

Imperador Cláudio (41-54). Cláudio mandou expulsar os judeus de Roma em função

das agitações provocadas por um “certo Chresto”. Como o Cristianismo era visto

como mais uma das correntes judaicas, só que rebelde, acabara sofrendo a

expulsão com os judeus. Os Cristãos e os Judeus mais rígidos se negavam a fazer

sacrifícios aos deuses pagãos, sendo que para o judeu não havia problema em

mandar o escravo fazer o sacrifício no seu lugar; já para o cristão esta ideia era

inconcebível visto que a salvação do escravo também era responsabilidade do

dono30.

A Igreja foi sendo considerada estranha e ilícita, perniciosa, malvada e

desenfreada, nova e maléfica, obscura e inimiga da luz e detestável pelo senado do

império. Depois, Ela passou a ser posta fora da lei e foi perseguida, chegou a ser

considerada como o inimigo mais pernicioso de Roma, a responsável por todas as

catástrofes. As acusações mais repetidas foram: infanticídio, por conta da Doutrina

Eucarística; Antropofagia31, derivada da Eucaristia; incesto, por conta do Ósculo da

Paz.

A primeira grande perseguição começou em Nero (54 – 68), até Felipe (24 –

249). Este imperador é lembrado até hoje por sua crueldade e loucura. Ele submetia

os cristãos a torturas dentro do jardim imperial. Nesta época, ser cristão era arriscar-

se a morrer.

30

Cf. Carta de São Paulo a Filêmon. 31

Ritual no qual se come partes do corpo humano.

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33

Depois de Nero, vieram Vespasiano e Tito, que foram imperadores mais

tranqüilos; porém Domiciano (81 – 96) reiniciou a perseguição. Neste período, o

Apóstolo João foi exilado na Ilha de Patmos (Ap 1, 9). O imperador Trajano (98 –

117) tratou os cristãos como ateus, mas só quando convictos deveriam ser punidos.

Ele proibiu denúncias anônimas e a procura por eles, mas caso fossem pegos e não

renegassem a fé seriam castigados. Marco Aurélio (161 – 180) liderou outra grande

perseguição acusando os cristãos como causadores de catástrofes sociais (como

castigo dos deuses). Sétimo Severo (193 – 211) proibiu a conversão ao

Cristianismo, em vista do grande crescimento desta, houve uma volta a “caça as

bruxas”. Mediante aos quarenta anos de Felipe, houve uma relativa paz para os

cristãos.

A segunda parte das perseguições vai dede Décio (249 – 251), até o reinado

de Constantino (313). Décio quis retornar as glórias da Roma do passado e buscou

isso tentando eliminar tudo o que estivesse distanciado da religião do passado.

Assim, especialmente, os cristãos foram o alvo de sua ação. Ele obrigou todos os

cidadãos a declararem publicamente sua adesão à religião do estado oferecendo o

sacrifício e aqueles que negassem sofriam penas diversas como: confisco de bens,

exílio, trabalho forçados, etc. Os bispos foram o alvo principal, muitos cristãos

fraquejaram, mas também muitos assumiram a coroa do martírio. Nos dois anos do

imperador Galo (251 – 253) houve paz, mas logo depois, Valeriano (253 – 260)

vendo o Estado em miséria, pôs, principalmente, os cristãos abastados a trabalhos

forçados e confiscou seus bens. Roma provavelmente permaneceu muito tempo

sem imperador, após Valeriano ter sido capturado pelos Persas.

Diocleciano (284 – 305) promoveu a maior de todas as perseguições, ele

quis, de qualquer maneira, resgatar a antiga religião do Estado. Grande parte do

império já era cristã (inclusive, se suspeita da esposa e filha do antigo imperador,

Valeriano). Esta foi a das perseguições mais sangrenta, principalmente com o

decreto que obrigava a todos oferecerem sacrifícios aos ídolos. Grande parte da

população se opôs e aconteceu um genocídio muito grande no império.

Mesmo com todo este terror instaurado, o Cristianismo não foi totalmente

banido. As igrejas e locais de oração cristãs não existiam mais, porém as pessoas

continuavam a praticar a religião. Constantino, a partir de 306, assume um império

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34

esfacelado e continua aquilo que já vinha organizado por Diocleciano, porém teve

que enfrentar uma grande batalha em 312. Constantino teria tido um sonho em que

via uma cruz sobre as nuvens e ouvia uma voz que dizia “sobre este sinal vencerás”

na noite anterior a batalha. Ele venceu a batalha e considerou que ela foi dada como

presente pelo Deus Cristão. A partir deste episódio, a paz para os cristãos ganha um

grande espaço.

4.4 - O martírio em duas óticas

O olhar do Império Romano para o martírio cristão era pedagógico, pois por

correção física se pensava educar os cristãos para assumirem a cultura romana.

Neste sentido, o martírio poderia ser meio de punição, dissuasão ou de diversão.

Já para o cristão, o martírio tinha um sentido religioso. O próprio Jesus Cristo

anunciou aos apóstolos que aqueles que não o negassem em frente a quem fosse,

Ele não negaria diante do tribunal divino. Sendo assim, a fidelidade e o testemunho,

dado pelo martírio, lograva para o cristão a certeza da vida eterna.

É neste período que começam as rixas entre os cristãos rígidos que não

aceitavam o retorno dos apóstatas, com os que aceitavam o retorno mediante as

ações penitenciais.

4.5 - Constantino ( 306 – 337)

Constantino reinava no lado Ocidental da Europa, seu cunhado era

responsável pelo lado Oriental. Ele, a primeiro momento, não se tornou cristão, mas

permitiu a religião cristã em Roma. Restituiu bens aos cristãos e desfez a vinculação

do estado romano com a religião pagã. Seu cunhado Lícinio fez exatamente o

contrário no oriente, foi sufocando a vida dos cristãos. Constantino venceu Lícinio

em 324 tornando-se o único imperador32. Ainda que a concepção religiosa que tinha

fosse confusa, ele foi se tornando cada vez mais cristão.

Constantino aconselhou por decreto seus súditos a abandonarem o que ele

chamou de “templos do engano”, mas nunca proibiu as religiões pagãs. Ele

32

Diocleciano implantou esta forma de governo para ter mais controle sobre o império.

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35

começou a fazer um “trabalho” de apologia ao cristianismo. Belas Igrejas33 puderam

surgir em Roma, templos pagãos começaram a ruir, matrimônio e família receberam

proteção legal, o Domingo foi declarado dia festivo oficial e tantas coisas mais.

Constantino começou a se declarar adorador do Deus Cristão, mas só quis receber

o Batismo no fim da vida.

Constantino teria desvirtuado a Igreja de Cristo?

Constantino passou por um amadurecimento na religião. O apoio que ele

ofereceu à Igreja começou antes da conversão, pois, antes, assumiu o monoteísmo

e começou a favorecer o cristianismo. Em 315, ele declarava o respeito e

legitimidade da religião cristã, mas só em 335 ele professa a fé nela.

Ele acreditava ter recebido a missão especial de Deus de conciliar Estado e

Igreja. Ele se considerava o vigilante (episkopos) de fora do governo da Igreja. Ele

chamou os bispos de episkopoi, que quer dizer bispos, referindo-se a vigilância dos

de dentro. Ele se entendia como um missionário a evangelizar os pagãos, porém

não realizou esta missão de forma violenta, mas realizou de forma apologista.

Constantino tinha sua caminhada de conversão, mas esta era estranha

graças a sua formação eclética e supersticiosa. Por exemplo, foi responsável pela

morte de seu filho Crispo e sua esposa Fausta.

Os bispos do Oriente, no entanto, apoiavam intervenções de Constantino nos

assuntos internos da Igreja. A intervenção de Constantino nos casos do donatismo e

do arianismo foi problemática, pois ao invés de cessar um problema acabou por

causar mais confusão. Por mais que a intervenção de Constantino tenha

influenciado, por exemplo, o uso do termo homousius34, a doutrina não fora desviada

apesar da ambiguidade do termo. A própria Igreja com o tempo foi delimitando sua

doutrina de maneira que permanecesse fiel a revelação.

33

A basílica de São Pedro em Roma foi construída por Constantino. Basiliké vem do substantivo que significa igreja imperial. 34

Este termo foi usado para dizer que Cristo era consubstancial ao Pai, pois graças a Ario Cristo era visto como um ser criado inferior ao Pai. O termo ainda era confuso, pois por influencia neoplatônica ela dava o sentido de emanação. Este termo foi fixado no concilio de Nicéia.

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36

Constantino passou a nomear bispos que considerava fiéis ao Cristianismo. O

problema desta e de outros fatos da aproximação de Constantino do Cristianismo é

que ser cristão passou a ser um modo de receber benefícios. Com isso muitos

interesseiros se aproximaram do Cristianismo com intenções supérfluas.

É interessante observar que independente da influência de qualquer

governador ou imperador que se dizia católico a Igreja permaneceu fiel à mensagem

evangélica, pois desde a antiguidade os cristãos rechaçavam qualquer coisa que

pudesse vir de contra o Depósito da Fé resguardado pela Tradição. Quanto aos

governantes, que se dizem católicos, como a qualquer um, a Igreja tem o dever de

receber e de evangelizar como qualquer filho da Igreja. O que não se pode negar é

que houveram problemas a ser enfrentados, mas isto não quer dizer de modo algum

que necessariamente houve uma força humana capaz de interromper a ação do

Espírito Santo prometido por Cristo para cuidar da fidelidade da Igreja. Qualquer

acusação da incapacidade do Espírito Santo de estar presente, até hoje, cuidando

da perseverança e santificação da Igreja é falseamento do que Jesus Cristo

anunciou.

4.6 - Igreja (morte de Constantino (337)- até o séc V)

Até 361, os descendentes35 de Constantino continuaram a obra de

cristianização. Eles poucas vezes recorreram à força; só por conta do arianismo.

Quando Juliano, conhecido como apóstata posteriormente, subiu ao trono

declarou-se adepto a religião helenista antiga. Apesar de ter recebido educação

cristã, ele possuía forte formação neoplatônica e acabou tendendo para o

gnosticismo36 pagão. Os direitos e favores concedidos aos cristãos foram

transferidos para os pagãos da religião antiga. Ele tirou os cristãos dos altos cargos

e os proibiu de ensinar os pagãos. Forçou os cristãos a frequentarem escolas

filosóficas pagãs e tentou criar uma igreja do estado neoplatônica. Incentivou a

35

Constantino II e Constâncio. 36

O termo Γνωσις significa conhecimento e o movimento de pensadores que buscavam o

conhecimento, ou a verdade, mas de forma sincrética era chamado por este nome. Este movimento

com aspectos de sincretismo surgiu no mesmo período do surgimento do cristianismo ou pouco

posterios, visto que textos gnósticos datados antes do cristianismo até hoje não foram encontrados.

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37

propagação de heresias37 dentro do cristianismo com o intuito de prejudicar o

cristianismo.

Apesar de conflitos que causaram derramamento de sangue, Juliano não quis

favorecer genocídios por meio de martírios cristãos, possivelmente, para não

favorecer novamente o grande crescimento do cristianismo.

Da morte de Juliano até o fim do século IV, os monarcas, em geral,

favoreceram a restauração do Cristianismo no império. Teodósio,em especial,

declarou o Cristianismo como religião oficial do império. O problema é que as

demais religiões começam a ser imensamente prejudicadas com isto; é o que

mostram os extratos sobre a religião em Roma de Teodósio.

. XI,7,13:

"O andamento dos processos judiciais e toda forma de negócio cessarão aos domingos, que nossos pais corretamente denominam 'Dia do Senhor', e [nesse dia] ninguém contrairá débitos públicos ou privados; os juízes também não ouvirão os debates dos advogados nomeados pela lei ou escolhidos voluntariamente pelas partes litigantes. Estes serão tidos não apenas por infames como também sacrílegos se, nesse dia, não comparecerem ao culto e observarem a santa religião". Graciano, Valentiniano e Teodósio Augustos.

XVI,1,2:

"Desejamos que todos os povos que estão sob o domínio de nossa clemência vivam aquela religião transmitida pelo venerável apóstolo Pedro aos romanos, seguido, como é evidente, pelo papa Dâmaso e Pedro, bispo de Alexandria, homem de santidade apostólica. É nisto que devemos crer: em um só Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, com igual majestade e em Santíssima Trindade, conforme o ensinamento apostólico e a autoridade do evangelho". Graciano, Valentiniano e Teodósio Augustos.

XVI,5,1:

"É necessário que os privilégios concedidos para o culto da religião sejam oferecidos somente aos fiéis da fé católica. Desejamos que os hereges e cismáticos não apenas fiquem sem tais privilégios, como também estejam sujeitos a multas". Constantino Augusto.

XVI,5,3:

37

Como a volta ao arianismo.

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38

"Sempre que for encontrada uma reunião de pessoas maniqueístas, seus líderes serão punidos com pesadas multas e os demais presentes serão conhecidos como infames e desonrados, e serão impedidos de se associarem com os homens; as propriedades e casas onde tal doutrina profana for pregada serão desapropriadas pelos oficiais da cidade". Valentiniano e Valêncio Augustos.

XVI,7,1:

"A capacidade e o direito de testamento devem ser retirados daqueles que eram cristãos e se tornaram pagãos; e, se acaso, de algum modo, conseguiram deixar testamento, este será ab-rogado após sua morte". Graciano, Valentiniano e Valêncio Augustos.

XVI,10,4:

"Fica decretado que em todos os lugares e em todas as cidades os templos [pagãos] deverão ser fechados definitivamente e, após uma advertência geral, também a possibilidade do pecado será proibida ao ímpio. Decretamos, ainda, que os sacrifícios [aos deuses] não serão mais realizados. E se alguém cometer tal crime, será ferido com a espada da vingança; decretamos que a propriedade do executado poderá ser tomada pela cidade e os governadores das províncias serão punidos da mesma forma se negligenciarem na punição desses crimes".Constantino e Constâncio Augustos.

O governo, dos filhos de Teodósio, foi uma tentativa de continuação do que o

pai já vinha realizando. Este é o período do atrito entre as escolas de Alexandria e

de Antioquia quanto à cristologia. Uma época de crescimento de mosteiros e das

transcrições das obras religiosas e de cultura romana percebe-se a preocupação da

Igreja não só de resguardar sua História e a mensagem de Cristo, mas a de registrar

as culturas antigas e seu pensamento. É neste período que Roma começa a perder

espaço no ocidente com a invasão dos povos germânicos.

A ação evangelizadora da Igreja visou à conversão de todos, de romanos a

bárbaros38 e foi favorecida nisto, por dar uma resposta completa e fundamentada a

todos os questionamentos humanos. Até a legislação é afetada pela cristandade, ela

passou a ser crivo de legislação em momentos específicos do império romano. São

38

As nomenclaturas bárbaros, vândalos e outras do gênero foram atribuídas a todos os povos que não aderiram a civilidade de Roma.

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39

Martinho leva o monarquismo para a região onde hoje é a França. Os bispos em

geral passaram a ter que administrar os bens materiais da Igreja ajudando os pobres

e acolhendo os mais carentes nas igrejas. A evangelização da Igreja também salvou

a civilização da grande tribulação nas invasões dos povos chamados Bárbaros.

5 - Ação da Igreja mediante a queda do Império Romano

5.1 – Monaquismo

Segundo Maria Ester Vargas, o monaquismo é: “... um sistema de vida de

consagração à causa divina, que tenta chegar a Deus passando pelo recolhimento e

uma vida de dedicação e interiorização”. O monaquismo, que se refere a este tipo de

vida comunitária é algo comum a muitos povos e religiões, isto levou alguns filósofos

a considerarem esta realidade como um arquétipo humano (a entrada no ambiente

cristão39, provavelmente, deu-se pela vivência comunitária das virgens

consagradas).

O monaquismo cristão se desenvolveu de três maneiras diferentes, sendo

classificados como: eremítico, anacorético e cenobítico.

Os eremitas buscavam uma interiorização profunda e faziam formas radicais

de ascese e de mortificação penitencial. Eles surgiram em resposta à

institucionalização da e falta do martírio. Os estudiosos atuais consideram muito

mais uma expressão da religiosidade da época, do que uma busca pelos primórdios

da cristandade. Em geral, eram conhecidos como Pais do Deserto, pois se isolavam

nos desertos do Egito, da Síria, da Pérsia ou regiões próximas. Dentre suas

características ressaltam o modo recluso como viviam em celas fechadas, os lugares

desertos ou grutas nas quais habitavam, alguns eram andarilhos e dificilmente

ficavam em um lugar específico, alguns passavam décadas em cima de colunas e

os reclusos, fechados em celas.

39

É bom que se considere também a possível influência dos essênios.

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Os anacoretas viviam uma radical solidão, não entravam em contato com as

pessoas por motivos supérfluos. Dedicaram-se a vida contemplativa e a escrita

espiritual. Eram procurados por jovens para ensinarem a vida contemplativa.

Os cenobitas começaram a viver em comunidade e se tornaram modelos de

vida consagrada. Os conventos, em geral ficavam nas áreas rurais, raramente se

firmavam em espaço urbano. Nos mosteiros cenobíticos há um abade, alguém que

faz ou garante que se cumpra a regra de vida. Mesmo antes de regras escritas, há

registros de vida cenobítica; é possível que se trate de um meio termo entre a vida

cenobitica e anacoreta.

No Oriente viveram figuras importantes: Santo Antão e São Pacônio, e no

Ocidente figuras como São Basílio, Santo Agostinho de Hipona, São Martinho de

Tours, São Columba e São Patrício. São Bento é o mais importante, dentre estes,

por conta da repercussão de sua Regra, pois além da organização praticamente de

todos os mosteiros da Europa, foi usada em grandes medidas para a organização

social da Europa.

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41

5.2 - A Igreja e os Povos Bárbaros

Todos os povos que viviam fora das fronteiras de Roma eram chamados de

bárbaros por conta da consideração que Roma tinha de si mesma. Roma

considerava-se pela sua cultura o povo verdadeiramente civilizado e consideravam

qualquer povo fora de sua fronteira e de seus costumes como próximos a

animalidade.

O avanço de um povo chamado Huno, na Ásia, fez com que os povos

próximos as fronteiras de Roma precisassem invadir o território Romano para

continuarem a sobreviver. Estes povos eram chamados germânicos. A constante

queda de Roma foi também proporcionada pela vastidão do império, em contraste,

com a falta de força militar para proteger toda a área de domínio.

Os povos que invadiram o império romano foram os francos, lombardos,

anglos e saxões, burgúndios, visigodos, suevos, vândalos e ostrogodos. Os francos

se estabeleceram na França, os lombardos onde no Norte da Itália, os anglos e

saxões na Inglaterra, os burgúndios onde hoje é o Sudoeste da França, os visigodos

na Península Ibérica e no Norte da Itália, os suevos na Península Ibérica, os

vândalos no Norte da África e na Península Ibérica e os ostrogodos na atual Itália.

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42

O modo de sobrevivência destes povos é bem primitivo, eles criavam animais,

plantavam e caçavam. A guerra e o saque proporcionavam seu enriquecimento. Sua

organização social se dava por liderança militar, eles só passaram a formar reinos

com o contato com a cultura romana. Antes do encontro com o Cristianismo,

cultuavam em geral os deuses nórdicos.

Algo interessante para a paz, mas ruim para a vivência de um verdadeiro

Cristianismo, neste período, foi a conversão dos “reis” bárbaros. Quando o líder de

um clã se, todo o seu clã passava ao cristianismo, isto aconteceu para a conversão

de todos estes povos, que em grande parte viviam por obrigação a religião cristã.

Com a entrada dos bárbaros e a queda de Roma os bispos foram essenciais

em garantir de que não haveria uma matança no domínio destes povos sobre o povo

que sobrou nas regiões invadidas. Eles foram responsáveis pela organização social

depois da desorganização causada pelas invasões. Paul Johnson atesta em sua

obra sobre a História do Cristianismo:

Ele organizava as defesas, dirigia a economia de mercado, presidia a justiça, negociava com outras cidades e governantes. Quem eram esses bispos? É claro, membros proeminentes da antiga classe dominante romana. Famílias romanas aristocráticas, proprietárias de terras e do alto funcionalismo público, vinham se infiltrando nos escalões superiores da Igreja desde o século IV [...].

40

Estes bispos eram muito respeitados pelos chamados bárbaros e foram

convocados por eles mesmos para a organização dos Estados. A cultura antiga dos

romanos, sua literatura e seus costumes é conhecida hoje, em grande parte, por ter

sido protegida dentro das igrejas e bibliotecas monásticas durante as invasões.

O Papa Gregório Magno é considerado de extrema importância neste período

das invasões e dominações bárbaras. Suas palavras incentivavam a paciência e

evangelização destes povos: “Não se pode eliminar de uma vez todo o passado

desses costumes temíveis. Não se escala uma montanha aos saltos, mas a passos

lentos!”.

40

JOHNSON, Paul. História do cristianismo. Rio de Janeiro: Imago. 2001, p. 155

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Os métodos de evangelização deste período, além da conversão dos reis

bárbaros, eram por convencimento ou a base da força. O convencimento se dava

pelo anúncio dos Evangelhos e pelo combate ao paganismo de forma retórica. O

uso da força só aconteceu com o Imperador Carlos Magno, rei dos francos, ao

oferecer a conversão ou a morte aos saxões.

Em geral, Carlos Magno dominou grande parte da Europa e constituiu uma

barreira de grande força militar para segurar o avanço dos muçulmanos.

Conclusão

A História da Igreja não é um baú escondido com os pecados que a Igreja tem

vergonha de mostrar. A História da Igreja é revestida de contextos históricos nos

quais ela está inserida e a luz do Evangelho busca a melhor forma de continuar a

missão que Jesus Cristo lhe confiou. Nunca se pode esquecer que quando olhamos

para a História carregamos nossas concepções e mentalidades de hoje, ao

analisarmos uma realidade que ainda não possuía estas categorias cognoscíveis.

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Por esta razão, o olhar sempre deve estar voltado para o contexto e como foi

entendida a aplicação da mensagem cristã naquele, determinado, contexto. Não se

deve aderir a qualquer tipo de informação que se recebe, sem uma devida busca da

verificação histórica dos fatos (ainda mais hoje que qualquer um que repita as

ideologias vigentes na academia conquista um titulo de doutorado). Há de se buscar,

em qualquer tipo de afirmação histórica, sobre a Igreja ou não, uma devida análise

na fundamentação documentada e nas devidas sentenças lógicas usadas no

raciocínio.

Por fim e acima de tudo, quanto à História da Igreja, não se pode esquecer

que foi querida, pensada e realizada por Deus. Brotando da intenção Salvífica do

Pai, realizada e fundada no Filho, e santificada e feita fiel no Espírito Santo que

Jesus Cristo prometeu a sua Igreja. A ação do Espírito Santo é que garante que

Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica.

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