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Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (17. : 2016 :
Araraquara, SP)
Caderno de Resumos e Programação do XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-
Graduação em Estudos Literários e III Seminário Internacional de Estudos Literários "Vieses
Críticos em Contraponto" / organizadora Vívian Carneiro Leão Simões. – Documento eletrônico.
– Araraquara: FCL-UNESP, 2016.
Modo de acesso: <https://estudosliterarios.wordpress.com/>.
ISBN 978-85-8359-036-1
1. Literatura. 2. Pesquisa. 3. Pós-graduação. I. Simões, Vívian Carneiro Leão. II. Título.
III. Seminário Internacional de Estudos Literários "Vieses Críticos em Contraponto" (3. :
2016 : Araraquara, SP).
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da FCLAr – UNESP.
PROGRAMAÇÃO DO XVII SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LITERÁRIOS E III SEMINÁRIO
INTERNACIONAL DE ESTUDOS LITERÁRIOS
VIESES CRÍTICOS EM CONTRAPONTO
4 A 7 DE OUTUBRO
Araraquara - SP
CADERNO DE RESUMOS
Araraquara
FCLAr – UNESP
2016
4
Conselho do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários
Brunno V. G. Vieira (Coordenador)
Juliana Santini (Vice-Coordenadora)
Luiz Gonzaga Marchezan
Adalberto Luís Vicente
Aparecido Donizete Rossi
João Batista Toledo Prado
Maria Lúcia Outeiro Fernandes
Karin Volobuef
Representantes discentes:
Déborah Garson
Leonardo Vicente Vivaldo
Comissão Organizadora
Adalberto Luís Vicente
Antonio Donizeti Pires
Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (presidente)
Joana Junqueira Borges
Juliana Santini
Karin Volobuef
Marcela Ulhôa Borges Magalhães
Márcia Valéria Zamboni Gobbi
Marco Aurelio Rodrigues
Maria Célia de Moraes Leonel
María Dolores Aybar Ramírez
Vivian Carneiro Leão Simões
Comitê Científico
Brunno V. G. Vieira (UNESP)
Juliana Santini (UNESP)
Karin Volobuef (UNESP)
Leonardo Francisco Soares (UFU)
Luciene Azevedo (UFBA)
Maria Célia de Moraes Leonel (UNESP)
Neil Besner (Universidade de Winnipeg)
Regina Dalcastagnè (UnB)
Sara Brandellero (Universidade de Leiden)
Tânia Pellegrini (UFSCAR)
Comissão de Trabalho Adalberto Luís Vicente
Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (presidente)
Joana Junqueira Borges
Juliana Santini
Karin Volobuef
Marcela Ulhôa Borges Magalhães
Márcia Valéria Zamboni Gobbi
Marco Aurelio Rodrigues
Maria Célia de Moraes Leonel
María Dolores Aybar Ramírez
Vivian Carneiro Leão Simões
Caderno de resumos
Vivian Carneiro Leão Simões (Org.)
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O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
6
PROGRAMAÇÃO
4/10/2016 – TERÇA-FEIRA
ENTREGA DOS MATERIAIS – Vão dos Anfs. - 9h30 às 10h30
CONFERÊNCIA DE ABERTURA – Anf. B – 11h às 12h
“A tradução como ferramenta da crítica literária”
Profa. Dra. Jacqueline Penjon (Sorbonne Nouvelle – Paris III)
Mediador(a): Profa. Dra. Maria Célia de Moraes Leonel
ALMOÇO
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO COORDENADAS E LIVRES – 14h às
15h30
SCC1 – Leituras Interdisciplinares: Literatura e outras linguagens no cinema de Manoel de
Oliveira (Anf. D)
Coordenador(a): Profa. Dra. Renata Soares Junqueira
1. “De caixas e caixilhos – ou cinema e televisão segundo Manoel de Oliveira”- Prof.ª Dr.ª Renata
Soares Junqueira (FCLAr/UNESP)
2. “Entre o palco e o ecrã: o mistério de Benilde através da lente de Manoel de Oliveira” - Mariana
Veiga Copertino F. da Silva (FCLAr/UNESP)
3. “A literatura sob as lentes da câmera: o princípio feminino da incerteza em Manoel de Oliveira e
Agustina Bessa-Luís” - Fernanda Barini Camargo (FCLAr/UNESP)
4. “Fixar o movimento: relações entre cinema e fotografia” - Edimara Lisboa (FFLCH/USP)
SCC2 – Poesia brasileira: histórias e vieses crítico-teóricos (Anf. E)
Coordenador(a): Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires
1. “Histórias e migrações de Orfeu na Lírica brasileira” - Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires
(UNESP/Araraquara)
2. “Notas sobre Uma história da poesia brasileira, de Alexei Bueno” - Carlos Eduardo Marcos
Bonfá (FCLAr/UNESP)
3. “‘Meu sangue é só linguagem’: intertextualidade e memória em Geraldo Carneiro” -
Leonardo Vicente Vivaldo (FCLAr/UNESP)
4. “Manifestos em poesia. O Sindicato da natureza de Roberto Piva” - Luiz Carlos Menezes dos
Reis (FCLAr/UNESP)
“Vieses críticos em contraponto”
7
SCO1 – Literatura e ética (sala 26)
Coordenador(a): João Francisco Pereira N. Junqueira
1. “O Evangelho segundo Judas Iscariotes” – Liene Cunha Viana Bittar (Fatec Franca)
2. “A arte proletária de Boris Arvatov” – João Francisco Pereira Nunes Junqueira (FCLAr/UNESP)
3. “O deserto dos tártaros sob a ótica do fantástico humano, de Jean-Paul Sartre” – Carlos Eduardo
Monte (FCLAr/UNESP)
4. “A ressignificação da maldade em Heinrich von Kleist” – Carina Zanelato Silva
(FCLAr/UNESP)
SCO2 – Crítica e tradução (sala 27)
Coordenador(a): Profa. Ms. Vivian Carneiro Leão Simões
1. “A Cosmogonia nas Metamorfoses de Ovídio: um estudo sobre as figuras da origem do mundo,
com Tradução e Notas” – Paulo Eduardo de Barros Veiga (FCLAr/UNESP)
2. “A crítica por trás das práticas: contaminar, verter, imitar e emular” – Leandro Dorval Cardoso
(FCLAr/UNESP)
3. “Por uma crítica de tradução das Artes Grammaticae” – Profa. Ms. Vivian Carneiro Leão Simões
(UFRR e FCLAr/UNESP)
4. “A palavra-chave scelus e suas variações em Édipo e Fenícias de Sêneca: estilo e tradução” –
Cíntia Martins Sanches (FCLAr/UNESP)
SCO3 – Intersemiótica (sala 32) Coordenador(a): Marcela Ulhôa Borges Magalhães
1. “Da anestesia à estesia: por uma teoria do acontecimento” – Marcela Ulhôa Borges Magalhães
(FCLAr/UNESP)
2. “O Simbolismo na literatura e nas artes plásticas” – Beatriz Moreira Anselmo (UEM)
3. “La prose du Transsibérien: palavra e imagem, verso e prosa” – Natalia Aparecida Canteiro
Bisio (FCLAr/UNESP)
4. “Literatura, pintura e temporalidade: o caso de A ronda da Noite, de Agustina Bessa-Luís” –
Rodrigo Valverde Denubila (FCLAr/UNESP)
SCO4 – Perspectivas críticas (sala 34)
Coordenador(a): Profa. Dra. Candice A. B. de Carvalho
1. “Os estudos culturais e pós-coloniais nos estudos rosianos: uma nova perspectiva de leitura” –
Aline Maria Magalhães de Oliveira Ávila (FCLAr/UNESP)
2. “Antonio Candido e a tradição crítica de Grande sertão: veredas” – Profa. Dra. Candice A. B. de
Carvalho (FCLAr/UNESP)
3. “Críticas sobre Clarice Lispector” – Letícia Coleone Pires (FCLAr/UNESP)
4. “Linguística e literatura: o cavalo de Troia” – Prof. Dr. Fábio Gerônimo Mota Diniz
(FCLAr/UNESP)
SCO5 – Espaço e Narrativa I (sala 35)
Coordenador(a): José Lucas Zaffani dos Santos
1. “Espaço e sujeito: identidades circunscritas na Manaus de Um solitário à espreita, de Milton
Hatoum” – Manoelle Gabrielle Guerra (FCLAr/UNESP)
2. “O espaço no romance Extinção – Uma derrocada, de Thomas Bernhard – José Lucas Zaffani
dos Santos (FCLAr/UNESP)
3. “O espaço público e sua dimensão histórica: considerações sobre Manaus e a ditadura no
romance Cinzas do Norte, de Milton Hatoum” – Naiara Bueno da Silva Speretta (FCLAr/UNESP)
4. “Espaço e identidade nas crônicas de Alexandra Lucas Coelho” – Mariana Letícia Ribeiro
(UFSCar)
CAFÉ – 15h30 às 16h (Vão da Biblioteca)
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
8
SESSÕES DE COMUNICAÇÕES LIVRES – 16h às 18h
SCO6 – Vieses críticos: Machado de Assis (sala 26)
Coordenador(a): Carlos Rocha
1. “Machado de Assis e o primeiro ensaio de crítica literária” – Cristiane Nascimento Rodrigues
(FCLAr/UNESP)
2. “Machado de Assis: crítico da ‘Semana Literária’” – Marina Venâncio Grandolpho
(FCLAr/UNESP)
3. “A consciência crítica machadiana e a reelaboração textual” – Carlos Rocha (FCLAr/UNESP)
4. “Transferências culturais e intertextualidade: a chegada da cultura italiana no Brasil e sua
manifestação nas crônicas de Machado de Assis” – Ionara Satin (FCLAr/UNESP)
SCO7 – Literatura e questões de gênero (Anf. E)
Coordenador(a): Joana Junqueira Borges
1. “A mulher e a crítica: a Marquesa de Alorna em perspectiva” – Joana Junqueira Borges
(FCLAr/UNESP)
2. “Uma Faca, muitos cortes: a representação da mulher no regionalismo contemporâneo” – Elide
Mendonça Santos (UFSCar)
3. “A figuração da mulher no conto ‘O cesto’” – Michelle Aranda Facchin (IBILCE)
4. “The Voyage out e The Voyage in the dark: o tema da viagem nas obras de Woolf e Rhys” –
Juliana Pimenta Attie
5. “Vieses críticos em contraponto: literatura de protesto e gênero na trilogia da tortura de
Heloneida Studart” – Evelyn Mello (FCLAr/UNESP)
SCO8 – Poesia brasileira moderno-contemporânea (sala 32)
Coordenador(a): Bruno Darcoleto Malavolta
1. “A poesia inédita de Caio Fernando Abreu” – Camila Bertelli Martins (FCLAr/UNESP)
2. “Características ensaísticas em ‘Poesia e Composição’ de João Cabral de Melo Neto” – José
Guilherme Pimentel Joaquim (UFSCar)
3. “O último espetáculo da poesia brasileira: revolução, poesia e espetáculo” – Bruno Darcoleto
Malavolta (FCLAr/UNESP)
SCO9 – Literatura Portuguesa (sala 34) Coordenador(a): Audrey Castañón de Mattos
1. “‘Como no fim dos filmes, até nos dissolvermos....’: imagem, montagem e outros aspectos
cinematográficos na obra Conhecimento do inferno, de António Lobo Antunes” – Carlos Henriques
Fonseca (FCLAr/UNESP)
2. “O silêncio musical na escrita: a forma da sonata em Os teclados, de Teolinda Gersão” – Audrey
Castañón de Mattos (FCLAr/UNESP)
3. “A autointertextualidade na obra de Teolinda Gersão” – Ana Carolina da Silva Caretti
(FCLAr/UNESP)
4. “Realidade, ficção e alegoria em A torre da Barbela” – Gabriela Cristina Borborema Bozzo
(FCLAr/UNESP)
SCO10 – Literatura: (in)especificidades (sala 35) Coordenador(a): Efraim Oscar Silva
1. “Entre a arte literária e a cultura de massa: a literatura contemporânea como um espaço
intervalar” – Daniel Ricardo Vícola (FCLAr/UNESP)
2. “Narrativa em trânsito: uma análise do movimento na escrita de Ismael Caneppele” – Natália
Cristina Estevão (UFSCar)
3. “Atos de equilibrista: Modesto Carone e a narrativa dos múltiplos pertencimentos” – Efraim
Oscar Silva (FCLAr/UNESP)
“Vieses críticos em contraponto”
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4. “A partilha do sensível em uma história em quadrinhos de Lourenço Mutarelli: discutindo o
conceito de representação” – Arthur Dias de Souza (UFSCar)
SCO11 – A prosa francesa: do romantismo à contemporaneidade (sala 36)
Coordenador(a): Kedrini Domingos dos Santos
1. “Consonâncias, dissonâncias e paradoxos: o mito romântico-cristão em Chateaubriand” – Natália
Pedroni Carminatti (FCLAr/UNESP)
2. “A representação da mulher em l’Éve future, de Villiers de l’Isle-Adam” – Kedrini Domingos
dos Santos (FCLAr/UNESP)
3. “A memória como recriação do vivido, nos romances La Gloire de mom père e Le château de ma
mère, de Marcel Pagnol” – Marina Lourenço Morgado (FCLAr/UNESP)
4. François Mauriac: o olhar privilegiado e a alternância entre focalizações” – Carla Alexandra
Ezarqui (FCLAr/UNESP)
5. “Tendências da literatura contemporânea na obra de J.-M. G. Le Clézio” - Islene França de
Assunção (FCLAr/UNESP)
SCO12 – Romance Antigo (sala 27)
Coordenador(a): Prof. Dr. Cláudio Aquati
1. “As escolhas eruditas na tradução leminskiana do Satyricon, de Petrônio” - Lívia Mendes Pereira
(UNICAMP)
2. “Suplementos ao Satíricon, de Petrônio” - Prof. Dr. Cláudio Aquati (IBILCE)
3. “A festa carnavalizada: uma leitura de “Cena Trimalchionis”, de Petrônio e Trimalchio de F.
Scott Fitzgerald” - Jassyara Conrado Lira da Fonseca (FCLAr/UNESP)
4. “Um fragmento para a história: história e ficção no romance Nino” - Emerson Cerdas
(FCLAr/UNESP)
05/10/2016 – QUARTA-FEIRA
ENTREGA DOS MATERIAIS – Vão dos Anfs. – 08h
MINICURSOS – 08h30 às 10h
MINICURSO 1 – Anf. C
Propércio e a filosofia (Prof. Dr. Francisco Edi de Oliveira Sousa - UFCE)
MINICURSO 2 – Anf. D
Por uma problematização do estatuto do roteiro (Prof.ª Dr.ª Cristiane Passafaro Guzzi - FCL/Ar)
MINICURSO 3 – Anf. E
Simbolística – A construção de uma metodologia (Prof. Dr. Fábio Gerônimo Mota Diniz - FCL/Ar)
CAFÉ – 10h às 10h30 (Vão da Biblioteca)
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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MESA REDONDA “Mímese e representação”
10h30 ao 12h – Anf. B
“A representação dos poetas no mundo dos mortos elegíaco e lírico” - Prof. Dr. Paulo Sérgio de
Vasconcellos (UNICAMP)
“Mimese sem representação: de Friedrich Schlegel à arte contemporânea” - Prof. Dr. Márcio
Seligmann-Silva (UNICAMP)
Mediador(a): Profa. Dra. Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas
ALMOÇO
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO COORDENADAS E LIVRES – 14h às
15h30
SCC3 - As tensões entre a obra literária e suas circunstâncias – citações, aderências,
intertextualidades. (Anf. E)
Coordenador(a): Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan
1. “Por uma crítica contemporânea da literatura, e em novo suporte: o caso do diretor Luiz Fernando
Carvalho” - Cristiane Passafaro Guzzi (FCLAr/UNESP)
2. “A aderência na poética de Clarice Lispector” - Marília Gabriela Malavolta Pinho
(FCLAr/UNESP)
3. “Clarice Lispector e Cíntia Moscovich diante das mesmas relações familiares em Laços de
família e Arquitetura do arco-íris” - Jéssica Ciurlin (FAPESP)
4. “Notas sobre gestos insípidos em Mínimos, múltiplos, comuns, de João Gilberto Noll” - Luiz
Gonzaga Marchezan (FCLAr/UNESP)
SCO13 – Poesia brasileira moderna (sala 36) Coordenador(a): Aline Maria Jeronymo
1. “A construção imagética do Itinerário Poético de Emílio Moura” - Aline Maria Jeronymo
(FCLAr/UNESP)
2. “Aspectos filosóficos da ausência na poesia de Cecília Meireles” - Marina Bariani Trava
(FCLAr/UNESP)
3. “Do simbolismo ao surrealismo no anticristianismo de Péricles Eugênio da Silva Ramos” -
Cleber Ederson Soares (UNESP/IBILCE)
SCO14 – Visões de mundo (sala 05)
Coordenador(a): Roseli Deienno Braff
1. “Aspectos históricos e o barroco em El Siglo de las luces (1967), de Alejo Carpentier” - Kelli
Mesquita Luciano (FCLAr/UNESP)
2. “Ética e estética barrocas em Cuando ya no importe, de Juan Carlos Onetti” - Amanda Fanny
Guethi (UFSCar)
3. “Literatura e Violência: a representação do papel da Igreja Católica no Pós-Guerra Civil
Espanhola no livro Maria Republica de Agustín Gómez-Arcos” - Israel Pompeu Farias Martins
(UFSCar)
4. “O realismo mágico ontológico no conto “Jardim Europa”, de Menalton Braff” - Roseli Deienno
Braff (FCLAr/UNESP)
5. “As três faces do destino: castigo, redenção e transcendência em Guimarães Rosa” - Luisa
Fernandes Vital (FCLAr/UNESP)
SCO15 – Tradução (sala 09)
“Vieses críticos em contraponto”
11
Coordenador(a): Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira
1. “Traduzindo criticamente neologismos e palavras-valise na obra poética de Jules Laforgue.” -
Prof.ª Dr.ª Andressa Cristina de Oliveira (FCLAr/UNESP)
2. “Traduzir Apollinaire: desafios para a construção da significância dos poemas em português” -
Gislaine Cristina Assumpção (UNICAMP)
3. “A ética na tradução da poesia castelhana de Rosalía de Castro” - Tais Matheus da Silva
(FCLAr/UNESP)
4. “O que é poesia para Pound e para Faustino, seu tradutor” - Jessica Romanin Mattus
(FCLAr/UNESP)
SCO16 – Aspectos do romance (sala 29)
Coordenador(a): Rafhael Borgato
1. “As implicações da associação dos romances de Michel Laub ao Bildungsroman” - Naiara
Alberti Moreno (FCLAr/UNESP)
2. “Crítica dialética: estratégias de contenção e harmonização na narrativa literária” - Pedro Barbosa
Rudge Furtado (FCLAr/UNESP)
3. “Os realismos: das representações épica e trágica da realidade” - Rafhael Borgato
(FCLAr/UNESP)
4. “Ideias inovadoras sobre o romance: propostas de Denis Diderot para uma nova forma
romanesca” - Evaneide Araújo da Silva (FCLAr/UNESP)
5. “Agosto: história e notas jornalísticas num romance policial” - Murilo Eduardo dos Reis
(FCLAr/UNESP)
CAFÉ – 15h30 às 16h (Vão da Biblioteca)
SESSÃO DE DEBATES DE PROJETOS – 16h às 18h
SD1 – Cinema e Literatura (sala 05)
Debatedor: Prof. Dr. Leonardo Francisco Soares (UFU)
Coordenador(a): Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan
1. “A santa e a devassa: figurações do feminino no cinema épico de Manoel de Oliveira” - Fernanda
Barini Camargo (FCLAr/UNESP)
2. “Cinema em palavras: roteiros não filmados de Joaquim Pedro de Andrade” - Douglas de
Magalhães Ferreira (FCLAr/UNESP)
3. “Uma Poética de vanguarda para o cinema: Manoel de Oliveira e o pensamento crítico da
Presença” - Mariana Veiga Copertino Ferreira da Silva (FCLAr/UNESP)
4. “Os lugares e não-lugares em Das Nackte Auge de Yoko Tawada” - Thais Gonçalves Dias Porto
(FCLAr/UNESP)
SD2 - Aspectos na literatura de autoria feminina (sala 09)
Debatedor: Profa. Dra. Carla Alexandra Ferreira (UFSCar)
Coordenador(a): Profa. Dra. Maria Clara Bonetti Paro
1. “Leituras do feminino e do patriarcado em Marguerite Duras e Lygia Fagundes Telles” - Vanessa
Aparecida Ventura Rodrigues (FCLAr/UNESP)
2. “A desintegração do sujeito feminino em A redoma de vidro, de Sylvia Plath” - Vanessa Cezarim
Bertacini (FCLAr/UNESP)
3. “Representações contemporâneas do feminino em As horas, de Michael Cunningham” - Laís
Rodrigues Alves Martins (FCLAr/UNESP)
4. “Contos de Clarice Lispector: escrita poética e expressão sensorial” - Letícia Coleone Pires
(FCLAr/UNESP)
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
12
SD3 – Mitos e lendas em diferentes tempos (Sala 2 de Vídeo Conferência)
Debatedor: Prof.ª Dr.ª Maria Celeste Tommasello Ramos (IBILCE/UNESP)
Coordenador(a): Prof. Dr. Marco Aurelio Rodrigues
1. “A lenda da montanha de cristal – do mito à história e de volta outra vez” - Therezinha Maria
Hernandes (FCLAr/UNESP)
2. “O mito de Orestes em Ésquilo, Racine e Sartre” - Lidiane Cristine de Lima Ferreira
(FCLAr/UNESP)
SD4 – Espaços possíveis na narrativa (sala 29)
Debatedor: Prof. Dr. Arnaldo Franco Júnior (IBILCE/UNESP)
Coordenador(a): Profa. Dra. Juliana Santini
1. “Espaço e sujeito, narrativa e identidade: Relato de um certo Oriente e Um solitário à espreita, de
Milton Hatoum” - Manoelle Gabrielle Guerra (FCLAr/UNESP)
2. “Trânsito e identidade em dois romances de Milton Hatoum” - Naiara Bueno da Silva Speretta
(FCLAr/UNESP)
3. “A significação das marcas de espacialidade no romance Aos 7 e aos 40, de João Anzanello
Carrascoza” - Ednéia Minante Vieira (FCLAr/UNESP)
4. “O fantástico em contos de Lygia Fagundes Telles e Amilcar Bettega Barbosa” - Ligia Carolina
Franciscati da Silva (FCLAr/UNESP)
06/10/2016 – QUINTA-FEIRA
MINICURSOS – 08h30 às 10h
MINICURSO 1 – Anf. C
Propércio e a filosofia (Prof. Dr. Francisco Edi de Oliveira Sousa - UFC)
MINICURSO 2 – Anf. D
Por uma problematização do estatuto do roteiro (Prof.ª Dr.ª Cristiane Passafaro Guzzi - FCL/Ar)
MINICURSO 3 – Anf. E
Simbolística – A construção de uma metodologia (Prof. Dr. Fábio Gerônimo Mota Diniz - FCL/Ar)
CAFÉ – 10h às 10h30 (Vão da Biblioteca)
MESA REDONDA “Literaturas nacionais: espaços e (de)limitações”
10h30 ao 12h – Anf. B
“Limitando o ilimitável: tempo, espaço e (des)continuidade na relação tradutória” - Prof. Dr.
Mauricio Mendonça Cardozo (UFPR)
"Tradução, autoria e falsificação - o mistério dos 'Assassinos misteriosos”
Profa. Dra. Karin Volobuef (FCLAr/UNESP)
Mediador(a): Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira
ALMOÇO
“Vieses críticos em contraponto”
13
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO COORDENADAS E LIVRES – 14h às
15h30
SCC4 – Vieses Críticos sobre o conceito de intermidialidade (Anf.E)
Coordenador(a): Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan
1. “A intermidialidade na semiótica”- Prof.ª Dr.ª Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan
(FCLAr/UNESP)
2. “Por uma problematização do objeto roteiro” – Cristiane Passafaro Guzzi (FCLAr/UNESP-
CAPES/PNPD)
3. “Augusto Matraga em diferentes mídias” – Débora Ferri (FCLAr/UNESP)
4. “O imponderável Bento contra o crioulo voador: um roteiro de Joaquim Pedro de Andrade” –
Douglas Magalhães Ferreira (FCLAr/UNESP)
SCO17 – Poesia francesa do século XIX (sala 36)
Coordenador(a): Marcela de Oliveira Gabriel
1. “A representação da decadência na figura feminina de Baudelaire em Les fleurs du mal” –
Mariana Alves de Faria (FCLAr/UNESP)
2. “Une Saison em Enfer: poema em prosa ou prosa poética” – Marcela de Oliveira Gabriel
(FCLAr/UNESP)
3. “Mallarmé, o obscuro” – Thais de Souza Almeida (FCLAr/UNESP)
SCO 18: Narrativa: perspectivas moderna e pós-moderna (sala 09)
Coordenador(a): Déborah Garson Cabral
1. “Narrativa placentária: voz e focalização do narrador Benjamin em O som e a fúria, de William
Faulkner” – Claudimar Pereira da Silva (FCLAr/UNESP)
2. “Ecos da cultura em A misteriosa chama da rainha Loana” – Deborah Garson Cabral
(FCLAr/UNESP)
3. “O moderno e o pós-moderno: uma reflexão sobre Mrs Dalloway e Saturday” – Isaías Eliseu da
Silva (FCLAr/UNESP)
4. “Notícias de uma narrativa: voz, focalização e realismo em um romance de Marçal Aquino” –
Felipe Camargo Mello (FCLAr/UNESP)
SCO 19: Identidades (sala 27)
Coordenador(a): Gustavo de Mello Carvalho Sá Carvalho Ribeiro
1. “A perspectiva da narradora de Niketche: uma história de poligamia, de Paulina Chiziane” –
Jéssica Fabrícia da Silva (FCLAr/UNESP)
2. “A crítica pós-colonial e a obra de Mia Couto” – Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro
(FCLAr/UNESP)
3. “‘Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos’”: a construção e fragmentação
identitária em Cartas de Caio Fernando Abreu – André Luiz Alselmi (Centro Universitário Barão
de Mauá)
4. “Abordagem discursiva do literário: uma análise da constituição do livro Dois irmãos, de Milton
Hatoum” – Claudia Maria de Serrão Pereira (UFSCar/FAPEAM)
SCO20 – Corpo (sala 42) Coordenador(a): Sérgio Gabriel Muknicka
1. “Vozes da luxúria: carnavalização e erotismo em A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo
Ribeiro” – Rosana Letícia Pugina (FCLAr/UNESP)
2. “A empregada, a escritora e o médico: Mary Reilly, de Valerie Martin” – Vinicius Lucas de
Souza (FCLAr/UNESP)
3. “O canto elegíaco das protagonistas de Moravia” – Sérgio Gabriel Muknicka (FCLAr/UNESP)
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
14
CAFÉ – 15h30 às 16h (Vão da Biblioteca)
SESSÃO DE DEBATES DE PROJETOS – 16h às 18h
SD5 – Escrita da poesia (sala 36)
Debatedor: Profa. Dra. Annie Gisele Fernandes (USP)
Coordenador(a): Profa. Dra. Márcia Valéria Zamboni Gobbi
1. “Poesia concreta e espacialista: variantes e invariantes no contexto experimental” - Thiago Buoro
(FCLAr/UNESP)
2. “Ritmos e a literatura popular em poemas de Manuel Bandeira” - Larissa Fernanda Steinle
(FCLAr/UNESP)
SD6 – Narrativa brasileira: temas do presente (sala 09)
Debatedor: Profa. Dra. Tânia Pellegrini (UFSCar)
Coordenador(a): Profa. Dra. Juliana Santini
1. “Sublime instante: a prosa de João Anzanello Carrascoza” - Janaína Dias de Morais Coelho
(FCLAr/UNESP)
2. “Caracterização do romance policial em Rubem Fonseca” - Murilo Eduardo dos Reis
(FCLAr/UNESP)
3. “Vozes da luxúria: relações dialógicas e erotismo em A casa dos budas ditosos, de João Ubaldo
Ribeiro” - Rosana Letícia Pugina (FCLAr/UNESP)
4. “Atos de equilibrista: Modesto Carone e a narrativa dos múltiplos pertencimentos” - Efraim
Oscar Silva (FCLAr/UNESP)
SD7 – Leituras do romance (Anf. E)
Debatedor: Prof. Dr. Márcio Scheel (IBILCE/UNESP)
Coordenador(a): Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira
1. “Configurações da Morte em três obras de Thomas Bernhard: Perturbação, O náufrago e
Extinção – Uma Derrocada” - José Lucas Zaffani dos Santos (FCLAr/UNESP)
2. “Uma leitura filosófica de As I Lay Dying, de William Faulkner” - Leila de Almeida Barros
(FCLAr/UNESP)
3. “Uma legião vinda do inferno (que esplendor é esse?): vagabundos, outsiders e outras figuras
marginais na obra de António Lobo Antunes” - Carlos Henrique Fonseca (FCLAr/UNESP)
4. “Eco e o narrador forjador: uma análise de três romances” - Deborah Garson Cabral
(FCLAr/UNESP)
SD8 – O século XIX (sala 27)
Debatedor: Dra. Luciana Colucci (UFTM)
Coordenador(a): Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi
1. “O reflexo do replicante: a revisão da tradição do Duplo do século XIX” - Vinicius Lucas de
Souza (FCLAr/UNESP)
2. “E. T. A. Hoffmann e o gênio de Johannes Kreisler” - Daniel Moraes Gregores (FCLAr/UNESP)
3. “Manifestações do frenético em Gérard de Nerval” - João Victor Muzzeti (FCLAr/UNESP)
SD9 – Poesia latina (sala 42)
Debatedor: Prof. Dr. Francisco Edi Souza (UFCE)
Coordenador(a): Prof. Dr. João Batista Toledo Prado
1. “‘Píramo e Tisbe’: as figuras da paixão trágica em Ovídio (Ovídio, Metamorfoses, IV, 55-166)” -
Solaine Regina Chioro dos Santos (FCLAr/UNESP)
2. “A Roda de Virgílio: um estudo da figuratividade na poesia bucólica, didática e épica.” - Thalita
Morato Ferreira (FCLAr/UNESP)
“Vieses críticos em contraponto”
15
07/10/2016 – SEXTA-FEIRA
MINICURSOS – 08h30 às 10h
MINICURSO 1 – Anf. C
Propércio e a filosofia (Prof. Dr. Francisco Edi de Oliveira Sousa - UFC)
MINICURSO 2 – Anf. D
Por uma problematização do estatuto do roteiro (Prof.ª Dr.ª Cristiane Passafaro Guzzi - FCL/Ar)
MINICURSO 3 – Anf. E
Simbolística – A construção de uma metodologia. (Prof. Dr. Fábio Gerônimo Mota Diniz - FCL/Ar)
CAFÉ – 10h às 10h30 (Vão da Biblioteca)
MESA REDONDA “Cânone e valor estético”
10h30 ao 12h – Anf. B
“O valor na crítica literária e seus referentes histórico-sociais” - Prof. Dr. José Luís Jobim
(UFF)
“O cânone e sua historicidade” - Prof. Dr. Luís Augusto Fischer (UFRGS)
Mediador(a): Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan
ALMOÇO
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO COORDENADAS E LIVRES – 14h às
15h30
SCC5 – Poesia, memória e resistência (Anf. E)
Coordenador(a): Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes
1. “Utopia e resistência em Sophia de Mello Breyner Andresen” – Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro
Fernandes (FCLAr/UNESP)
2. “Discurso amoroso e poesia de resistência em Nuno Júdice” – Bruna Fernanda de Simone
(FCLAr/UNESP)
4. “‘Ainda não seremos só silêncio’: resistência, memória e história em Troiades de Guilherme
Gontijo Flores” – Profa. Dra. Diana Junkes Bueno Martha (UFSCar)
4. “Memória e resistência em O mapa da tribo, de Salgado Maranhão” – Prof. Dr. Paulo César
Andrade da Silva (FCLAr/UNESP)
SCO21 – Barroco e arcadismo (sala 31)
Coordenador(a): Francisco Diniz Teixeira
1. “O viés crítico e tradutório na obra de Filinto Elísio” – Francisco Diniz Teixeira (SEE-SP/
FCLAr/UNESP)
2. “Mutabilidade e constância em As variedades de Proteu, de Antônio José da Silva” – Eduardo
Neves da Silva (USP)
3. “Manuel Botelho de Oliveira e a estética barroca” – Daniel de Assis Furtado (FCLAr/UNESP)
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
16
SCO22 – Espaço e narrativa II (sala 32)
Coordenador(a): Nathalia Sorgon Scotuzzi
1. “As funções do espaço no Cthulhu Mythos, de H. P. Lovecraft” – Nathalia Sorgon Scotuzzi
(FCLAr/UNESP)
2. “Subjetividade e clausura: o gênio sombrio de Cornélio Pena” – Mariângela Alonso (USP)
3. “Espaço e personagem em Primeiras estórias, de Guimarães Rosa” – Rubia Alves
(FCLAr/UNESP)
4. “A jangada de pedra e o corte traumático: um deslocamento espacial à luz do materialismo
lacaniano” – Luís Cláudio Ferreira Silva (FCLAr/UNESP-UEL); Marco Antonio Hruschka Teles
(UEM)
5. “A crônica contemporânea e sua diluição no espaço” – Luís Eduardo Veloso Garcia
(FCLAr/UNESP)
SCO23 – Fantástico (sala 33)
Coordenador(a): Profa. Dra. Claudia F. de Campos Mauro
1. “Os arquétipos na literatura: um estudo da personagem Frodo Bolseiro no romance O Senhor dos
Anéis” – Sérgio Ricardo Perassoli Júnior (FCLAr/UNESP)
2. “La morte, um conto fantástico e realista de Guy de Maupassant” – Clarissa Navarro Lima
(FCLAr/UNESP)
3. “Primo Levi e o fantástico na literatura italiana do século XX” – Profa. Dra. Claudia Fernanda de
Campos Mauro (FCLAr/UNESP)
4. “Contos fantásticos de Machado de Assis: a abordagem da crítica literária” – Ricardo Gomes da
Silva (FCLAr/UNESP)
SCO24 – Teatro (sala 34)
Coordenador(a): Prof. Dr. Marco Aurelio Rodrigues
1. “As teorias da performance e a ὄψις aristotélica” – Prof. Dr. Marco Aurelio Rodrigues
(FCLAr/UNESP)
2. “As relações entre texto e imagem em Salomé: um estudo sobre a peça wildeana e as ilustrações
de Beardsley” – Lívia Maria Zocca (FCLAr/UNESP)
3. “La Révolte: a crítica social no drama villieriano” – Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier
(FCLAr/UNESP)
4. “A elaboração estética em Ogas Raum e Licht: rumo a uma poética dramatúrgica loheriana” –
Júlia Mara Moscardini Miguel (FCLAr/UNESP)
CAFÉ – das 15h30 às 16h
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO – Anf. B – 16h
“Filosofía, ficción y feminismo” - Profa. Dra. Ana de Miguel Álvarez (Universidad Rey Juan
Carlos de Madrid)
Mediador(a): Profa. Dra. Maria Dolores Aybar Ramírez
“Vieses críticos em contraponto”
17
SUMÁRIO
PROGRAMAÇÃO GERAL p. 06
SUMÁRIO p. 17
CONFERÊNCIA DE ABERTURA p. 18
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO p. 18
MESA REDONDA: “MÍMESE E REPRESENTAÇÃO” p. 19
MESA REDONDA: “LITERATURAS NACIONAIS: ESPAÇOS E (DE)LIMITAÇÕES” p. 20
MESA REDONDA: “CÂNONE E VALOR ESTÉTICO” p. 21
EMENTAS DOS MINICURSOS p. 22
RESUMOS
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO COORDENADA p. 23
SESSÕES DE COMUNICAÇÃO ORAIS LIVRES p. 44
SESSÕES DE DEBATE DE PROJETOS p. 140
ÍNDICE DE AUTORES p.169
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
18
4/10/2016 – TERÇA-FEIRA
CONFERÊNCIA DE ABERTURA – Anf. B – 11h às 12h
“A tradução como ferramenta da crítica literária”
Profa. Dra. Jacqueline Penjon (Sorbonne Nouvelle – Paris III)
Mediador(a): Profa. Dra. Maria Célia de Moraes Leonel
Abordaremos principalmente a tradução da poesia que requer ao mesmo tempo, uma
reflexão estética e filosófica. O tradutor revive, de certa maneira, o processo de criação e se
questiona sobre a natureza da linguagem, do ato poético e da recepção da obra. Alia
questionamento e experiência. A tradução da poesia permite, portanto, avaliar a relação que
existe entre o autor e sua escrita, entre o autor e seu conceito de arte poética. Fica clara sua
proximidade com a crítica literária, e ajuda a revisitar certas noções, a relativizar certas
posições teóricas como por exemplo a dicotomia fundo e forma ou até a elaborar novos
conceitos.
7/10/2016 – SEXTA-FEIRA
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO – Anf. B – 16h
“Filosofía, ficción y feminismo” - Profa. Dra. Ana de Miguel Álvarez (Universidad Rey
Juan Carlos de Madrid)
Mediador(a): Profa. Dra. Maria Dolores Aybar Ramírez
La filosofía se ha definido como la autoconciencia de la especie en un momento
determinado de la historia. Sin embargo, esta autoconciencia ha estado profundamente
sesgada por la desigualdad ontológica –y en consecuencia moral y política- de la que ha
emergido la construcción del “ser humano”. Esta ponencia indaga en las contribuciones del
feminismo y la perspectiva de género en redefinición de la humanidad (“ese club tan
exclusivo”). El análisis de conceptos como patriarcado, misoginia y androcentrismo y los
discursos de la complementariedad, la diferencia y la excelencia constituyen un bagaje
imprescindible para abrirse paso en la comprensión de la representación y reproducción de las
identidades. Sean representaciones conceptuales o ficcionales, literarias. En filosofía está
claro que conceptualizar es politizar y, politizar es jerarquizar. La cuestión para debatir es
hasta qué punto hoy ficcionar es politizar.
“Vieses críticos em contraponto”
19
05/10/2016 – QUARTA-FEIRA
MESA REDONDA “Mímese e representação”
10h30 ao 12h – Anf. B
Mediador(a): Profa. Dra. Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas
“A representação dos poetas no mundo dos mortos elegíaco e lírico” - Prof. Dr. Paulo
Sérgio de Vasconcellos (UNICAMP)
A questão do autor na análise de textos poéticos da Antiguidade tem sido
frequentemente ventilada nos Estudos Clássicos: uma corrente antibiografista, influenciada
pelo New Criticism, combateu as leituras biografistas mais ingênuas, resvalando, por vezes,
na supressão pura e simples da noção de autor em suas análises da poesia antiga; estudos
intertextuais, por sua vez, têm discutido como lidar com a noção de intenção do autor por
detrás de ecos textuais numa obra que evoca, das formas mais variadas, a de um predecessor.
Nesta fala, tratarei do tema a partir de considerações sobre gênero textual: confrontarei
imagens de poetas representados no mundo dos mortos na poesia elegíaca e lírica e o que
essas figurações podem nos dizer sobre a noção de autor na poesia antiga.
“Mimese sem representação: de Friedrich Schlegel à arte contemporânea” - Prof. Dr.
Márcio Seligmann-Silva (UNICAMP)
A fala tratará de como os pensadores do primeiro romantismo alemão iniciaram um
longo processo de crítica e desconstrução da noção clássica de "representação", que era
associada ao conceito de "mimese" e construíram uma noção de fala, texto e de apresentação
artística como "eventos" (que anuncia a ideia de "performance"). Ao passarem da
representação para a apresentação ("Darstellung"), eles abriram caminho para se pensar
também em que medida a noção de representação poderia ser problematizada em termos
políticos. A "crise da representação" vai atingir às esferas estética e política de modo mais
radical no período das vanguardas históricas. Mostra-se também alguns exemplos de artistas
contemporâneos que buscam de modo explícito uma crítica da representação por meio de uma
poética da performance. Eles partem do dilema da impossibilidade de se testemunhar pelo
outro. Eles buscam performatizar o testemunho pondo em questão as fronteiras identitárias.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
20
06/10/2016 – QUINTA-FEIRA
MESA REDONDA “Literaturas nacionais: espaços e (de)limitações”
10h30 ao 12h – Anf. B
Mediador(a): Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira
“Limitando o ilimitável: tempo, espaço e (des)continuidade na relação tradutória” -
Prof. Dr. Mauricio Mendonça Cardozo (UFPR)
Podemos pressupor que toda tradução é uma forma complexa e heterogênea de relação
e, com base nisso, reafirmar sua importância para o trânsito do conhecimento, dos bens
simbólicos, da produção cultural, etc.. No entanto, é preciso colocar em questão a própria
ideia de relação aí implícita, para que esse pressuposto relacional não replique
automaticamente uma lógica tradicional e essencialista da tradução. Afinal, se a partir de certa
lógica de compreensão desse pressuposto, podemos imaginar que traduzir significa
simplesmente colocar línguas, textos, obras, literaturas e culturas em relação – fundando-se
assim um modo particular de entender a dinâmica relacional, a transitividade que a rege e os
objetos em relação –, colocar essa razão relacional em questão obriga-nos, igualmente, a
repensar o modo corrente como entendemos esses tais objetos que, ao traduzir, colocamos em
relação. Partindo de uma perspectiva relacional da tradução, esta apresentação pretende
colocar em foco a problemática do limite, bem como suas consequências para a delimitação
dos objetos da tradução.
"Tradução, autoria e falsificação - o mistério dos 'Assassinos misteriosos”
Profa. Dra. Karin Volobuef (FCLAr/UNESP)
Com seu conto “Assassinos Misteriosos, ou A paixão dos Diamantes”, que Justiniano
José da Rocha publicou no Jornal do Comércio em 1839, o autor é candidato a introdutor do
conto no Brasil – no caso, um conto de investigação policial. Curiosamente, em prefácio, ele
confessa ter lido um original francês e, a partir dele, ter composto seu texto, sem saber ao
certo se estava produzindo uma tradução ou, de fato, uma obra autônoma. Seria tudo um
truque para aguçar a curiosidade dos leitores ou tornar sua obra mais chamativa com um quê
de europeu? Ora, a leitura do texto com lupa de Sherlock Holmes não apenas revela a
existência, sim, de uma matriz, mas de duas! E isso porque “o original francês” também teve
uma matriz, cujas pistas nos levam até a Alemanha do Romantismo e do fantástico. Mais do
que isso, os rastros misteriosos trazem à mostra questões culturais e editoriais envolvendo
autoria, tradução/adaptação, publicação oficial/clandestina, que subjazem ao cenário literário
de três nações no século XIX.
“Vieses críticos em contraponto”
21
07/10/2016 – SEXTA-FEIRA
MESA REDONDA “Cânone e valor estético”
10h30 ao 12h – Anf. B
Mediador(a): Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan
“O valor na crítica literária e seus referentes histórico-sociais” - Prof. Dr. José Luís Jobim
(UFF)
Valor e seus referentes na crítica literária. Referências transculturais e apropriações do
literário pela crítica. Romantismo e nacionalismo. Caliban e o canibalismo.
“O cânone e sua historicidade” - Prof. Dr. Luís Augusto Fischer (UFRGS)
Relações entre cânone e historiografia literária. Cânone e história da literatura
brasileira no novo quadro historiográfico (pós-crítica ao modelo baseado em Caio Prado Jr.).
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
22
EMENTAS DOS MINICURSOS
MINICURSOS – 08h30 às 10h
MINICURSO 1 – Anf. C
Propércio e a filosofia (Prof. Dr. Francisco Edi de Oliveira Sousa - UFC)
Discutiremos a presença de aspectos filosóficos na elegia de Sexto Propércio (c. 50-15
a.C.). A elegia latina em geral não é considerada um gênero afeito à filosofia, e Propércio em
particular não figura entre poetas que cultivem a filosofia de forma relevante. A elegia
amorosa latina privilegia o Amor e mostra-se avessa a ditames sociais e política; isso sugeriria
um distanciamento da filosofia; todavia, é justamente esse modo de vida que instiga o poeta
para a filosofia: debateremos a ideia de que Propércio serve-se de noções filosóficas para
caracterizar seu universo elegíaco e depois recorre à filosofia para libertar-se desse universo.
Nesse processo, a filosofia epicurista desempenha papel preponderante.
MINICURSO 2 – Anf. D
Por uma problematização do estatuto do roteiro (Prof.ª Dr.ª Cristiane Passafaro Guzzi -
FCL/Ar)
Este minicurso, fruto de um projeto de pós-doutorado em andamento, pretende
examinar a maneira como, dentro da produção contemporânea, o objeto roteiro vem ganhando
um novo estatuto, a partir de diferentes trabalhos realizados por escritores, roteiristas e
diretores de cinema e televisão,
MINICURSO 3 – Anf. E
Simbolística – A construção de uma metodologia. (Prof. Dr. Fábio Gerônimo Mota Diniz -
FCL/Ar)
Partindo de uma aproximação de diversas reflexões sobre o ato criador, propomos uma
nova metodologia à qual atribuímos o nome de Simbolística, palavra que visa unir os termos
“símbolo” e “holística”, e que busca se contrapor a alguns métodos consagrados de análise da
arte. Esse minicurso visa expor os resultados dessa reflexão, tendo em vista a consolidação de
um modelo metodológico de pesquisa.
“Vieses críticos em contraponto”
23
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES COORDENADAS
04/10/2016 – 14h às 15h30
SCC1 – Leituras Interdisciplinares: Literatura e outras linguagens no cinema
de Manoel de Oliveira (Anf. D)
Coordenador(a): Profa. Dra. Renata Soares Junqueira
Os estudos interdisciplinares, muito em voga hoje em dia, têm facultado uma produtiva
interação de diversas áreas do conhecimento em prol de uma visão crítica fecunda, enriquecida
pelo estudo de relações. Nesta sessão de comunicações coordenadas veremos como a linguagem
literária pode relacionar-se com a linguagem cinematográfica em quatro filmes do experiente
cineasta português Manoel de Oliveira (1908-2015): Benilde ou a Virgem Mãe (1975), A caixa
(1994), O princípio da incerteza (2002) e O estranho caso de Angélica (2010). Serão abordadas,
respectivamente, relações entre cinema e teatro, cinema e televisão, cinema e romance e cinema e
fotografia, compondo-se assim um quadro relacional de profícuos diálogos entre a linguagem
literária e outras linguagens.
De caixas e caixilhos – ou cinema e televisão segundo Manoel de Oliveira
Prof.ª Dr.ª Renata Soares Junqueira (FCL/Ar/Unesp; CNPq e FAPESP)
RESUMO: Temos notado que o cineasta português Manoel de Oliveira, mesmo nos seus
primeiros filmes, quando parecia encantado com a modernidade e com os benefícios que a
tecnologia vinha trazendo à humanidade – recordem-se Douro, faina fluvial e O pintor e a cidade,
além dos curtas encomiásticos da moderna maquinaria como Portugal já faz automóveis, Hulha
branca etc. –, posicionava-se muito mais como um humanista do que como futurista propriamente
dito. Já em 1931 ficava claríssimo, no seu filme de estreia, o posicionamento crítico de quem se
empenhava em denunciar a exclusão social: a tecnologia avançada ainda não era capaz de libertar
o animal da canga nem o homem pobre do mais pesado trabalho braçal. Desde então não foram
poucos os seus filmes que, centrados em gritantes contrastes entre o mundo dos que produzem e o
dos que consomem, pareciam querer acusar as mazelas do capitalismo. Nesse universo crítico
incluem-se alguns questionamentos que o cineasta, de modo mais ou menos discreto, fez
provavelmente com o intuito de indicar o efeito massificador de certas mídias habilmente
aproveitadas pela indústria cultural, como é o caso da televisão. Se puxarmos pela memória
veremos que Oliveira se confrontou algumas vezes com este mass media pelo menos desde 1979,
quando em Portugal o forçaram a uma adaptação televisiva do monumental Amor de perdição – o
que ocasionou uma primeira recepção nacional do filme como um deplorável fiasco, objeto de
afiada chacota popular. Depois disso, vimos um aparelho de televisão aparecer ostensivamente no
desfecho de O meu caso (1986), captando perante o olhar crítico do artista – que ali se deixa
filmar como ele mesmo, realizador de cinema – o riso ambíguo da Mona Lisa de Leonardo da
Vinci; e ainda, em outros dois filmes mais recentes, a televisão entrar ora como matéria implícita,
metaforizada, ora como assunto explícito (respectivamente em A caixa, de 1994, e Vou para casa,
de 2002). Nesta comunicação procuraremos mostrar como Oliveira transpõe para o cinema a peça
teatral de Prista Monteiro – A caixa – e com que recursos formais inclui, na rede interdisciplinar
que este filme urde, um comentário crítico sobre a linguagem da televisão.
Palavras-chave: Manoel de Oliveira; teatro e cinema; cinema e televisão.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
24
Entre o palco e o ecrã: o mistério de Benilde através da lente de Manoel de Oliveira
Mariana Veiga Copertino F. da Silva (FCL/Ar – Unesp)
Prof.ª Dr.ª Renata Soares Junqueira (Or.)
RESUMO: Manoel de Oliveira se destaca no cenário da cinematografia mundial como um
realizador que entende o cinema enquanto arte completa, capaz de contemplar todas as outras
manifestações artísticas. Nesse âmbito do diálogo interartes, há na produção cinematográfica
de Manoel de Oliveira algumas referências literárias que são fundamentais, dentre elas
destaca-se José Régio, que apresentou ao amigo cineasta um universo amplo de referências
artísticas, desempenhando um papel fundamental como mentor, parceiro, produtor e crítico da
obra de Oliveira. Embora essa parceria intelectual e artística se tenha iniciado na década de
1930, é só em 1975 que Manoel de Oliveira adapta uma obra de José Régio para o cinema. É
em Benilde ou a virgem mãe que Oliveira leva para as telas o teatro moderno que Régio
desenvolveu amplamente em Portugal. Nessa história, a jovem Benilde revela à família que
não cumprirá com os planos prévios de se casar com o primo, pois foi consagrada com a
divina concepção gerando, assim, um intenso debate em torno desse mistério. O filme de
Manoel de Oliveira se mantém fidedigno à peça homônima de Régio; entretanto, cumpre
observar que o realizador português deixa claro ao seu espectador que aquilo a que assiste é
“teatro dentro do cinema”. Isso se dá através da metalinguagem configurada quando a câmera
cinematográfica adentra o espaço teatral que limitará as ações do filme, conduzindo o seu
espectador pelos bastidores daquela peça. Essa coexistência de teatro e cinema, que se faz tão
presente na produção oliveiriana, embasa o diálogo interartes que parece adequado à
discussão sobre “Vieses críticos em perspectiva”. Nesse sentido, esta comunicação se propõe
a discutir o processo de adaptação empregado nesse filme e analisar as possibilidades de
sentido que surgem a partir da leitura comparada com a peça que lhe serve de texto fonte.
Palavras-chave: Manoel de Oliveira; José Régio; cinema; teatro.
“Vieses críticos em contraponto”
25
A literatura sob as lentes da câmera: o princípio feminino da incerteza em Manoel de
Oliveira e Agustina Bessa-Luís
Fernanda Barini Camargo (FCL/Ar Unesp)
Prof.ª Dr.ª Renata Soares Junqueira (Or.)
RESUMO: Sob o minucioso olhar das lentes de sua câmera, o cineasta português Manoel de
Oliveira (1908 – 2015) produziu, ao longo de sua vida, um cinema estritamente ligado à
literatura. Oliveira foi certamente vasto conhecedor das artes, trazidas em música, em pintura
e, sobretudo, em teatro e literatura para sua filmografia. Dos trinta e dois longas-metragens
produzidos pelo cineasta português, vinte e três servem-se da literatura como inspiração, além
de mais três curtas de um total de dezessete, argumento que nos conduz ao entendimento de
que era inegável a atração do cineasta pela literatura. Parece-me legítimo afirmar, portanto,
que o conteúdo de sua obra deve ser analisado sempre por um prisma duplo: à luz da
linguagem cinematográfica e das relações que mantém com o texto literário. Se é certo que o
texto de José Régio rendeu bons frutos à carreira do cineasta português, outra das parcerias
mais férteis firmadas por ele foi com Agustina Besssa-Luís (n. 1922). Sendo ela dona de uma
escrita cujos diálogos ocupam lugar privilegiado e evidenciam um tom altamente psicológico,
o encantamento do realizador pela produção literária de Agustina deu origem a Francisca
(1981); Vale Abraão (1993); Party (1996); Visita ou Memórias e Confissões (1982) – com o
argumento da escritora na criação dos diálogos em voz off para a apresentação da residência
do realizador e compartilhamento de suas memórias; O Princípio da Incerteza (2002) e
Espelho Mágico (2005). Cumpre observar que na grande maioria dos filmes em que tal
parceria foi firmada, tanto a escrita de Agustina quanto o aparato cinematográfico de Manoel
de Oliveira reservam um lugar especial às personagens femininas: à singularidade de
mulheres cujas personalidades excepcionais nos conduzem a questionamentos sobre valores
patriarcais da sociedade. Esta comunicação propõe uma reflexão sobre a transposição do
romance agustiniano Joia de Família (2001) – que Oliveira transformou no filme O Princípio
da Incerteza (2002) –, salientando na película a radicalização da liberdade existencial das
personagens femininas a par de algumas peculiaridades geradas pela natureza específica da
linguagem cinematográfica.
Palavras-chave: Manoel de Oliveira; Agustina Bessa-Luís; cinema; literatura; personagens
femininas.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
26
Fixar o movimento: relações entre cinema e fotografia
Edimara Lisboa (FFLCH/USP)
Aparecida de Fátima Bueno (Or.)
RESUMO: A fotografia digital tornou o clique fotográfico um procedimento tão corriqueiro
que o ato de fotografar em si mesmo já pouco chama a nossa atenção ou interesse. Mas houve
comunidades que não se deixaram fotografar por acreditarem que a película, ao captar a luz
que emana dos seres, era também capaz de aprisionar a alma. No filme O estranho caso de
Angélica (Portugal, 2010, drama, 97’, cor), o cineasta Manoel de Oliveira propõe uma
reflexão sobre cinema e fotografia a partir de um argumento inusitado, que coloca o cadáver
recente de uma bela jovem a ressuscitar por detrás da objetiva e para contemplação particular
do fotógrafo (e dos espectadores fílmicos por meio dele). No livro de ensaios A câmara clara,
Roland Barthes destaca a “confusão perversa” entre o real e o vivo que se pode depreender da
prática mórbida de fotografar mortos, uma vez que “o cadáver está vivo enquanto cadáver: é a
imagem viva de uma coisa morta”. Essa “confusão” se adensa com a impressão de movimento
do cinema, visto que o jogo da representação cinematográfica costuma promover uma intensa
impressão de realidade e de atualidade. Mas nesse filme, como na maior parte da obra de
Manoel de Oliveira, o efeito de distanciamento é constantemente provocado no espectador, de
modo a dificultar a imersão, que é recorrente em filmes mais comerciais. Isso porque,
segundo a estética oliveiriana, é preciso estranhar para se permitir refletir, de maneira que
somente aquilo que nos causa estranheza ou incômodo conduziria a uma dimensão nova em
termos artísticos e críticos. No tocante ao potencial realístico que a arte cinematográfica
herdou da arte fotográfica, esta comunicação versará sobre a intrincada relação entre cinema e
fotografia a partir dos questionamentos sobre fixar e/ou fazer mover propostos pelo filme.
Palavras-chave: Manoel de Oliveira; cinema; fotografia; relações interartes.
“Vieses críticos em contraponto”
27
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES COORDENADAS
04/10/2016 – 14h às 15h30
SCC2 – Poesia brasileira: histórias e vieses crítico-teóricos (Anf. E)
Coordenador(a): Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires
A partir do mito de Orfeu e do estudo de alguns poetas brasileiros contemporâneos
(Alexei Bueno, Geraldo Carneiro e Roberto Piva), pretende-se repensar criticamente a história
de nossa poesia lírica, visto que tanto Bueno compôs Uma história da poesia brasileira, quanto
o mito órfico pode ser rastreado entre nós desde as origens.
Histórias e migrações de Orfeu na Lírica brasileira
Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (FCL/Ar Unesp)
RESUMO: Muitos são os atributos que perfazem o ciclo mítico de Orfeu: o poder e a sabedoria
do canto (música e palavra); a viagem com os Argonautas; o doloroso amor por Eurídice, vincado
pela morte, que o leva a infrutífera catábase ao Hades; sua própria morte violenta, esquartejado
pelas bacantes da Trácia. Além disso, Orfeu teria sido fundador do culto de mistérios que leva seu
nome, o Orfismo. Tema recorrente nas artes e na literatura ocidental, o mito de Orfeu aparece já
na poesia colonial brasileira e aqui encontra terreno fecundo desde então, sendo explorado de
acordo com este ou aquele período estético, de modo menos ou mais crítico, dependendo deste ou
daquele artista que o elegeu – fato que, por si só, expõe os pressupostos de uma história órfica da
literatura (e/ou da cultura) brasileira. No momento, ao eleger a poesia lírica, diacronicamente
considero a seguinte tipologia (para efeito didático e por questão de método) das migrações de
Orfeu no Brasil, grosso modo: a) do Barroco ao Parnasianismo, quando é tomado mais como tema
e motivo; b) entre Romantismo e Simbolismo, quando começa a se delinear, entre alguns poetas,
uma certa cosmovisão órfica; c) a partir de meados dos anos 40/50 do século XX, quando se
adensa tal cosmovisão e os poetas ou apegam-se aos atributos exemplares tradicionais de Orfeu,
ou procedem a certa subversão do mito, degradando-o e dessacralizando-o, em consonância com a
(des)função do poeta nas sociedades tecnocráticas do presente. Como (a)tinge a obra de poetas
fundamentais nossos, do passado ao presente mais contemporâneo, tentar-se-á mapear, em clave
sincrônica, alguns per/cursos de Orfeu em nossa lírica, com o intuito de lançar alguma luz sobre a
complexidade e a amplitude do problema, inclusive buscando-se os significados e as linhas
motrizes do que nomeio pensamento órfico-poético, de matriz romântico-simbolista,
obscuramente levado a efeito pelos poetas, mas cujo claro-escuro se delineia a partir da atenção
aos estudos daqueles críticos e teóricos da lírica que se debruçaram sobre os problemas cruciais da
poesia moderna (Paz, Friedrich, Béguin, Thompson, Löwy/Sayre, Abrams, Raymond, Hamburger,
Berardinelli...).
Palavras-chave: Poesia brasileira moderno-contemporânea; Mito e poesia; Lírica e
pensamento.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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Notas sobre Uma história da poesia brasileira, de Alexei Bueno
Carlos Eduardo Marcos Bonfá (Pós-Doc FCL/Ar Unesp)
Antônio Donizeti Pires (Sup.)
RESUMO: A obra intitulada Uma história da poesia brasileira, de Alexei Bueno, assume a
importância de constituir uma maior presença da poesia na história literária brasileira,
chegando até ao período da poesia brasileira contemporânea. Há escassez de obras ou
histórias literárias com tal foco, tais como a Apresentação da poesia brasileira, de Manuel
Bandeira e De Anchieta aos concretos, de Mário Faustino, assim como, mais
contemporaneamente, História da literatura brasileira. Da carta de Pero Vaz de Caminha à
contemporaneidade, de Carlos Nejar, na qual a poesia se faz bastante presente. Assim posto,
investigarei os recursos que Alexei Bueno utiliza para tecer a narrativa de sua história da
poesia brasileira, apoiando-me em textos que refletem sobre o conceito de história literária na
contemporaneidade. A partir da reflexão baseada nesses textos, verificarei quais as possíveis
atualizações no modo de Alexei Bueno ler a história literária e/ou, por outro lado, as possíveis
coincidências de visão com ideias, conceitos e recursos do passado com os quais ele dialoga.
Esta comunicação objetiva, a partir desse recorte da vasta obra de Alexei Bueno, colaborar
para o adensamento do conhecimento de sua faceta histórico-crítica, que ainda sofre de
escassa atenção. Dentre as possiblidades de investigação no percurso desta proposta haverá,
por exemplo, o estabelecimento de até que ponto existe o uso do recurso da “periodização
estilística”, ou até que ponto tal narrativa histórica tecida por Alexei Bueno é linear ou então
não compactua com a objetividade positivista e evolucionista, isto é, que formas de
historicidade e de temporalidade ela agencia.
Palavras-chave: Poesia brasileira; Historiografia; Alexei Bueno; Temporalidade.
“Vieses críticos em contraponto”
29
“Meu sangue é só linguagem”: intertextualidade e memória em Geraldo Carneiro
Leonardo Vicente Vivaldo (FCL/Ar Unesp)
Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Or.)
RESUMO: A poesia do mineiro/carioca Geraldo Carneiro (2010) possui a “sutileza
explosiva” característica de um desfile carnavalesco. De modo geral, ela é um caótico mar de
assonâncias e ressonâncias; textos e intertextos; referências e autorreferências; construções e
desconstruções. “Geraldinho Carneiro”, como é mais conhecido nos meios literários, vai
surfando através dessa “nave língua” (CARNEIRO, 2010, p.45) onde navega da cultura mais
erudita à mais popular – içando velas e abarcando, sempre de forma natural, numa ou noutra
paragem. Esse fazer poético de Carneiro parece sugerir uma eterna “procura da palavra
mágica/ a contrassenha do apocalipse” (CARNEIRO, 2010, p.298), desconstrutora de tempos
e espaços; temas e formas; embora também organizadora, una – e por isso mesmo,
intrigantemente coesa dentro de si mesma. Desta forma, mais do que qualquer fato, a poesia
de “Geraldinho” se faz da aparente abundância de movimentos e vozes que se concretiza na
quase obsessão pela palavra. Mas não apenas a obsessão da sua própria palavra ou da palavra
em si, mas, sobretudo, da palavra do Outro. Em suma, do intertexto – e em suas formas mais
amplas. E é através do intertexto, “memória da literatura” (Tiphaine Samoyault, 2008), ou da
“memória do lido” (Paulo Henrique Brito, 2000), que vislumbramos uma poética para a ainda
pouco estudada obra de Carneiro. Ainda em outras palavras, é algo que parece contribuir,
conscientemente ou não, para que as fixações/coerências, ou incoerências, do poeta fiquem
cada vez mais nítidas, mais fortes – dando, assim, consistência e coerência ao conjunto de sua
obra poética. E sempre de maneira harmoniosa – tal qual as baterias nota 10 da avenida.
Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; Intertextualidade; Memória; Poética;
Geraldo Carneiro.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
30
Manifestos em poesia. O Sindicato da natureza de Roberto Piva
Luiz Carlos Menezes dos Reis (Pós-Doc FCL/Ar Unesp.)
Supervisor: Antônio Donizeti Pires
RESUMO: A relação entre a Literatura e os Manifestos de grupos ou escolas literárias tem no
Modernismo e nos movimentos de Vanguarda um momento especial em que os textos dos
Manifestos e os textos literários se iluminam reciprocamente. Antes disso, as Cartas de
Rimbaud que definem o poeta visionário têm a força de um Manifesto seguido e repetido pelo
século XX afora. Mas podemos pensar na força dos textos de um William Blake, que no
século XIX, em Matrimônio do céu e do inferno, apresenta seus ditados infernais com a força
de um Manifesto também literário e metalinguístico de sua própria produção enquanto poeta.
Na Literatura Brasileira o Manifesto compõe parte importante do século XX com os
Manifestos do Modernismo e da Poesia Concreta, por exemplo, além da experiência única de
Roberto Piva, que, ao lado de sua produção poética, escreveu Manifestos de maneira
obsessiva. Portanto, nesta comunicação os Manifestos de Roberto Piva serão lidos em
retrospectiva e ao mesmo tempo irei estabelecer diálogos com outros Manifestos Literários,
como o Manifesto Surrealista e os Manifestos da Poesia Concreta. Os textos aqui agrupados
sob o título Sindicato da Natureza, os quais serão alvo de uma leitura mais detalhada,
apareceram na revista Chiclete com Banana, do cartunista Angeli, que fez história durante os
anos 80 e os 90.
Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; Manifestos literários; Poesia xamânica;
Roberto Piva.
“Vieses críticos em contraponto”
31
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES COORDENADAS
05/10/2016 – 14h às 15h30
SCC3 - As tensões entre a obra literária e suas circunstâncias –
citações, aderências, intertextualidades. (Anf. E)
Coordenador(a): Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan
Refletindo a proposta base do III Seminário Internacional de Estudos Literários do
PPGEL da Unesp de Araraquara, esta sessão de comunicações coordenadas reúne trabalhos
que, na tentativa de apreenderem o movimento vivo da literatura, focalizam as tensões entre a
obra literária e suas circunstâncias: citações, aderências, intertextualidades, que ativam certos
sentidos, desviam outros, numa interação entre textos e gêneros. Cristiane Guzzi estuda o
modo como o cineasta Luiz Fernando Carvalho transpôs, para a televisão e para o cinema, as
obras Hoje é dia de Maria (2005), Pedra do Reino (2007) e Capitu (2007), deixando em
referências audiovisuais seu processo de feitura das realizações ficcionais. Marília Malvolta
examina na poética de Clarice Lispector, em especial, no processo criativo de A hora da
estrela (1977) e de Os desastres de Sofia (1963), o modo como transparece a inconsciência
individual como um centro mimético privilegiado para representações difusas de intimidades
aderentes às figuras de um autor, narrador e personagem. Jéssica Ciurlin atenta para a mesma
poética de Clarice Lispector, voltando-se para uma questão de interdiscursividade entre os
contos de Laços de família (1960) e de Arquitetura do arco-íris (2004), de Cíntia Moscovich.
Nessa direção, destaca a afinidade temática das relações familiares, em situações simples do
cotidiano. Luiz Gonzaga Marchezan busca compreender, da leitura dos microcontos de
Mínimos, múltiplos, comuns (2003), de João Gilberto Noll, situações em que as personagens –
desmemoriadas, letárgicas – apresentam-se em condições sombrias, vivendo uma distopia, a
vagar num tempo rude e distante, como o tempo bíblico dos primeiros dois volumes do Antigo
Testamento.
Palavras-chave: Intertextualidade; Citações; Aderência.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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Por uma crítica contemporânea da literatura, e em novo suporte: o caso do diretor Luiz
Fernando Carvalho.
Cristiane Passafaro Guzzi (FCLAr/ UNESP – CAPES/PNPD)
RESUMO: O diretor brasileiro Luiz Fernando Carvalho, ao lidar com a transposição de uma
obra literária, seja no cinema, seja na televisão, mergulha não só no universo ficcional
habitado pela fábula, mas deixa transparecer - pelo modo como queremos propor como
método de análise - a possibilidade de recuperarmos também o percurso de leitura presente no
conjunto ficcional do escritor escolhido para a realização de suas transposições audiovisuais.
É como se, com esse modo de enfrentamento da obra do escritor como um todo, o enunciador
parecesse nos sugerir um caminho necessário e profícuo para a própria concepção de leitura
da literatura a ser traduzida em novo meio. Nesse sentido, esta proposta de comunicação passa
pelo intento de indiciar, sistematicamente, o pensamento artístico do diretor Luiz Fernando
Carvalho, nomeadamente seu processo criativo com as realizações televisivas Hoje é dia de
Maria (2005), Pedra do Reino (2007) e Capitu (2008), partindo da constatação analítica de
que sua poética constitui-se, além das referências audiovisuais constantemente à mostra, como
uma espécie de crítica contemporânea e em novo suporte, da literatura. Os enunciados de suas
realizações sincréticas mostram-se compostos e atravessados por tantos outros enunciados já
existentes sobre a obra; contudo, o que Luiz Fernando Carvalho faz é conseguir escancarar
tais diálogos, pelo seu próprio e característico modo de exibir o processo de feitura de suas
realizações ficcionais. Trata-se, como queremos evidenciar, de uma reinvenção que dialoga
com o texto de origem, as leituras críticas dela decorrentes e outras leituras e implicações de
intertextualidades e sentidos gerados pelos procedimentos da linguagem instaurados no novo
meio ou veículo.
Palavras-chave: Luiz Fernando Carvalho; cinema e literatura; leitura crítica.
“Vieses críticos em contraponto”
33
A aderência na poética de Clarice Lispector
Marília Gabriela Malavolta Pinho (FCLAr/UNESP)
RESUMO: Ao fazer da (in)consciência individual um centro mimético privilegiado, difusor
de representações intimistas, sinestésicas, por vezes estranhas ao próprio protagonista, a
moderna escrita de Clarice Lispector parece encontrar nas relações entre autor, narrador e
personagem uma temática igualmente ordenadora. Frequentemente, é com o anúncio direto da
existência de profundas relações entre personagem e narrador ou autor que se instauram
narrativas e narrações clariceanas, do que a escrita visceral da novela A hora da estrela (1977)
é exemplo máximo, uma vez que Rodrigo SM, o narrador-autor, põe-se a narrar a história de
Macabéa estabelecendo que, para tal, precisará transmutar-se nela (viver e sentir como a
moça), e isso porque, inicialmente, a vida da nordestina, que ele nem sequer conhece,
grudou-se em sua pele, e por um relance de olhar apenas. Se A hora da estrela é da aderência
um paroxismo, pode-se ver no conto “Os desastres de sofia” (1963) sua aparição inaugural,
uma vez que a narradora-autora adulta conta-nos que sua iniciação ao ofício deu-se, quando
menina, com a adivinhação dos sofrimentos íntimos de seu professor. Buscando reunir
múltiplos e variados exemplos, dentre excertos de crônicas, contos e da citada novela, a
presente comunicação irá propor que um princípio de aderência compõe a poética de Clarice,
manifestando-se em narradores que, previamente, dizem-se irremediavelmente ligados a seus
personagens e suas histórias, por meio da intuição, da adivinhação, da sensibilidade ou da
vocação, o que, por sua vez, pode se dar de modo grave ou irônico. Ou seja, com seriedade ou
com irreverência, é uma constante, propõe-se, na escrita de Clarice, que seu discurso literário
surja acompanhado, quase que justificado, pelas ligações entre autor, narrador e personagem.
Palavras-chave: Clarice Lispector; narração; aderência.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
34
Clarice Lispector e Cíntia Moscovich diante das mesmas relações familiares em Laços de
família e Arquitetura do arco-íris.
Jéssica Ciurlin (FCLAr/UNESP)
RESUMO: Em seu livro de contos: Arquitetura do arco- íris, a escritora gaúcha Cíntia
Moscovich retoma temas e figuras muito semelhantes aos que Clarice Lispector trabalha em
Laços de família. A afinidade entre as obras das grandes autoras é visível. Ambas
desenvolvem suas narrativas por meio de situações simples do cotidiano, mostrando as
relações pessoais entre componentes de uma mesma família. O afastamento entre mãe e filha,
ao lado da relação entre pessoas e animais são temas compartilhados pelas escritoras. A
intenção desta comunicação é mostrar de que forma Cíntia, em Arquitetura do arco- íris,
desenvolve os mesmos temas que Clarice em Laços de Família. Cabe também o propósito de
expor acerca da função da interdiscursividade nos contos da escritora gaúcha.
Palavras-chaves: Clarice Lispector; Cíntia Moscovich; Intertextualidade; Interdiscursividade.
“Vieses críticos em contraponto”
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Notas sobre gestos insípidos em Mínimos, múltiplos, comuns, de João Gilberto Noll
Luiz Gonzaga Marchezan (Unesp/Fapesp)
Os microcontos de Mínimos, múltiplos, comuns, de João Gilberto Noll (2003), reúnem
situações em que as personagens – desmemoriadas, letárgicas – se apresentam em condições
sombrias, vivendo uma distopia, a vagar num tempo rude e distante, como o tempo bíblico
dos primeiros dois volumes do Antigo Testamento.
Palavras-chave: João Gilberto Noll; Microconto; Intertextualidade.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES COORDENADAS
06/10/2016 – 14h às 15h30
SCC4 – Vieses Críticos sobre o conceito de intermidialidade
(Anf.E)
Coordenador(a): Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan
A intermidialidade na semiótica
Profa.Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (UNESP/FCLAr)
RESUMO: A intenção desta comunicação é trazer à tona uma discussão sobre o modo como
as relações intersemióticas vêm lendo e trabalhando com o conceito de intermidialidade e
transmidialidade. Estudiosos da semiótica de linha francesa, como Jacques Fontanille (2007) e
Yvana Fechine (2013), para citar apenas alguns exemplos, já vem discutindo
sistematicamente alguns caminhos de abordagem da intermidialidade, destacando que o
gênero pode ser usado para estabelecer uma espécie de hierarquia entre as mídias em relação.
Uma peça de teatro (mídia acolhedora) pode abarcar, por exemplo, uma projeção
cinematográfica (mídia acolhida). De modo aproximado, Fechine (2013) ao analisar o uso da
transmidialidade na teledramaturgia fala, por exemplo, em mídia regente, onde se
desenvolveria o texto de referência, a partir do qual se articulariam outras mídias, etc.
Acreditamos que a discussão sobre a noção de intermidialidade e transmidialidade reclama
por maior delimitação teórica, ao mesmo tempo em que carece de análises de projetos
variados em extensão e em propósitos. A nosso ver, é tarefa das teorias do discurso
compreender o papel do emprego de múltiplas plataformas na produção e na transmissão de
narrativas, bem como o diálogo em adaptações entre mídias, em que há uma relação
“genética” entre texto-fonte e texto-alvo, as denominadas traduções intersemióticas. A partir,
portanto, do diálogo com o trabalho de meus orientandos, seja de doutorado, seja de pós-
doutoramento, pretendo analisar e pontuar as contribuições que a teoria semiótica francesa
vêm oferecendo aos estudos intermidiáticos.
Palavras-chave: semiótica francesa; intermidialidade; transmidialidade.
“Vieses críticos em contraponto”
37
Por uma problematização do objeto roteiro
Cristiane Passafaro Guzzi (UNESP/FCLAR – CAPES/PNPD)
Profa.Dra.Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (Sup.)
RESUMO: A questão da localização dos roteiros de Tv e cinema em um lugar específico dos
estudos discursivos tem sido alvo de muita discussão nas faculdades de Letras, o que não deve
acontecer, naturalmente, nas Escolas de Comunicação. Nestas, o estudo do roteiro tem lugar
certo e o estatuto do texto como um projeto de realização midiática não oferece motivo de
questionamento. Nas faculdades de Letras não é assim. O roteiro não é visto como texto
literário – objeto privilegiado de estudo - e como texto-partitura ele não é comumente
estudado. Nesse sentido, pretendemos problematizar, aqui, o roteiro como texto a ser
investigado no campo dos estudos literários, se não como um texto com este estatuto, mas
como um texto que evidencia – ainda que pela ausência – as questões relativas ao literário:
narratividade, composição de personagens, espaço, tempo, organização linear das cenas,
questões enunciativas etc. Nesse sentido, esta comunicação, fruto de um projeto de pós-
doutorado em andamento, pretende examinar a maneira como, dentro da produção
contemporânea, o objeto roteiro, por meio de uma configuração textual que se mostra
intercambiável e passível de dialogar dentro do cânone literário, parece ganhar um novo
estatuto. Para tanto, buscaremos problematizar e revisitar estudos existentes sobre as
especificidades da literatura e do roteiro, a partir da contribuição do conceito de
intermidialidade, tanto o que vem sendo estudado pela perspectiva da teoria semiótica
francesa, como o que sustenta as reflexões sobre o tema nos estudos transmidiáticos, visando
a compreensão do roteiro como gênero complementar para o estudo de obras literárias
transpostas para outros meios.
Palavras-chave: roteiro; relações intersemióticas; intermidialidade.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
38
Augusto Matraga em diferentes mídias
Débora Ferri (UNESP/FCLAr)
Profa.Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (Sup.)
RESUMO: A intenção deste estudo é promover uma análise da realização em diferentes
mídias de um mesmo texto: o conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, pertencente a
Sagarana, livro de estreia de Guimarães Rosa. Como se sabe, além do original em narrativa
verbal escrita do escritor mineiro, este conto também encontrou duas realizações
cinematográficas: a versão de 1966 de Roberto Santos, representante da estética do cinema
novo, e a versão de 2013 de Vinícius Coimbra, que só veio a ser lançada em 2015. A
proposta, então, é a de examinar a aderência de um texto que foi concebido para a linguagem
verbal escrita em uma mídia complexa como o cinema, observando se o “núcleo essencial da
obra”, nos dizeres de Walter Benjamin, foi preservado nas duas traduções ou se houve uma
desconstrução total. Para isso, considera-se necessária a análise dos códigos específicos do
cinema (montagem, movimentos de câmera, por exemplo) e não específicos (cores,
iluminação, figurinos, etc.). Dessa forma, pretende-se interpretar os elementos de linguagem
cinematográfica utilizados, com o objetivo de verificar os sentidos que impõem ao texto.
Além disso, por se tratarem de obras lançadas em contextos históricos diversos – 1946, 1966
e 2013 –, é imperativo que sejam observadas se existem diversidades culturais
especificamente advindas das diferentes épocas. O embasamento teórico para este estudo é
diversificado, englobando quatro principais linhas: estudos da narrativa e artigos críticos
sobre o conto; estudos de tradução intersemiótica e intermidialidade; estudos sobre a história
do cinema (em específico, do cinema brasileiro); e, por fim, estudos sobre a linguagem
cinematográfica.
Palavras-chave: Guimarães Rosa; intermidialidade; cinema brasileiro.
“Vieses críticos em contraponto”
39
Imponderável Bento contra o Crioulo Voador: um roteiro de Joaquim Pedro de Andrade
Douglas de Magalhães Ferreira (UNESP/FCLAr)
Profa. Dra. Maria de Lourdes O. G. Baldan (Or.)
RESUMO: Inserido no intrincado campo de pesquisa das inter-relações literatura/cinema, este
trabalho tem como objeto de estudo o roteiro não filmado O Imponderável Bento contra o
Crioulo Voador, criação original de Joaquim Pedro de Andrade, um dos expoentes do Cinema
Novo, que narra as façanhas de um libidinoso santo pelos arredores de Brasília. Escrito por
volta de 1986 e publicado em livro em 1990, O Imponderável Bento assume, em definitivo, a
orientação surrealista com a qual a obra do cineasta vinha flertando desde Guerra conjugal
(1975), numa postura crítica em relação ao realismo político, tão acalentado pelo próprio
Joaquim Pedro e demais cinemanovistas. Espécie de misto de roteiro cinematográfico com
novela literária, exibe evidente cuidado para com a palavra, oscilando entre o erudito e o
chulo, através de um método de composição pouco ortodoxo para o gênero, com raras
indicações técnicas de câmera, abandono dos tradicionais cabeçalhos de abertura para cada
sequência e a preferência, muitas vezes, pelo discurso indireto em lugar do direto. Pretende-
se, aqui, por meio da análise de algumas passagens do roteiro, explorar as suas peculiaridades
e potencialidades expressivas enquanto linguagem verbal, com o intuito de, assim, contribuir
tanto para a discussão em torno do estatuto do gênero – se literatura ou não e sua relevância
para a própria história do cinema – quanto para a (re)interpretação da cinematografia do
diretor, uma vez que as palavras de O Imponderável Bento podem iluminar as próprias
imagens de seus filmes, pois guardam muitos traços comuns entre si, como a prática do
humor irônico, o sublinhar da hipocrisia das relações interpessoais, o interesse por nossa
formação social, tradição cultural e identidade nacional.
Palavras-chave: literatura e cinema; roteiro; Joaquim Pedro de Andrade.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
40
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES COORDENADAS
07/10/2016 – 14h às 15h30
SCC5 – Poesia, memória e resistência (Anf. E)
Coordenador(a): Profa. Dra. Maria Lúcia Outeiro Fernandes
O poder tecnológico e a massificação cultural que os sistemas econômicos e políticos
impõem à sociedade, bem como o consumismo desenfreado pelo qual o homem moderno está
acometido são sintomas de um mundo onde não há espaço para qualquer manifestação não
utilitarista, de natureza artística ou literária. Neste contexto, o artista moderno vai propor uma
arte que se configure como um discurso de resistência a este contexto. Os trabalhos desta
mesa constituem propostas de análise dos diferentes modos como quatro poetas elaboram seu
discurso de resistência.
“Utopia e resistência em Sophia de Mello Breyner Andresen”
Profª Drª Maria Lúcia Outeiro Fernandes (UNESP/Araraquara):
RESUMO: No obra lírica de Andresen, os poemas vão sendo gerados a partir das atitudes
contemplativas do sujeito que olha, escuta e pensa sobre sua própria condição, sobre a
condição da humanidade, sobre o estado das coisas no mundo e, principalmente, sobre o lugar
e o papel do homem no universo. Inserindo-se numa tradição moderna, que tem início com o
Romantismo alemão, a poesia de Sophia apresenta o ser humano em permanente confronto
com um contínuo e inexorável processo de degradação e perda de sua dimensão
transcendente. Configurando-se, portanto como uma forma de resistência simbólica aos
discursos dominantes, a poesia desta poeta lusitana busca reencontrar a dignidade do homem
restituindo-lhe um sentido transcendente por meio da recuperação de uma unidade ancestral
com os demais seres do universo.
“Vieses críticos em contraponto”
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“Discurso amoroso e poesia de resistência em Nuno Júdice”
Profª Mestre Bruna Fernanda De Simone (UNESP/Araraquara)
RESUMO: Nuno Júdice faz da poesia um lugar de resistência à desvalorização do texto
poético, por meio de um olhar crítico que coloca ao mesmo tempo sobre o passado e sobre o
presente, promovendo diálogos renovadores com manifestações artísticas e discursos
literários do passado. Seus textos poéticos podem trazer à cena elementos retirados de seus
antepassados românticos ou simbolistas, clássicos ou modernistas, buscando investigar e
reinventar o fazer poético à medida que promove uma inusitada interação com outros
momentos da história. Embora não seja o único eixo de sustentação de sua poesia, este olhar
que o poeta lança sobre o passado é um dos grandes alicerces de sua produção lírica. Neste
trabalho vamos abordar o diálogo deste poeta português com o imaginário romântico, que
alimenta grande parte da sua poesia, buscando articulá-lo com sua proposta de criar uma
poesia de resistência.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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“Ainda não seremos só silêncio”: resistência, memória e história em Troiades de
Guilherme Gontijo Flores
Profª Drª Diana Junkes Bueno Martha (UFSCar):
RESUMO: Nesta comunicação, propõe-se uma leitura em chave pós-utópica, tal qual a
estabelece Haroldo de Campos, para o poema Tróiades: remix para o próximo milênio, de
Guilherme Gontijo Flores. A obra, de 2014, reúne trechos de tragédias antigas, traduzidos e
recortados livremente pelo poeta, que a tais elementos acresce ecos benjaminianos, imagens
variadas, representando cenas de conflitos bélicos, campos de concentração e outras mazelas
que teriam tornado pobre a experiência não fosse ainda a possiblidade de rever o passado para
reconstruir sobre ele novos relatos, nesse caso, pela via do poético. O livro, também veiculado
em site, reivindica uma leitura que se afaste do lugar-comum da crise da poesia, para pensá-la
como resposta e resistência a crise. Ao resgatar o passado “como relampeja”, Troíades
reivindica um olhar para a experiência a partir do que a memória do cânone e a história
recuperam; a partir disso, a resistência irrompe, entre limiares e passagens, crítica do
princípio-esperança da vanguarda, arraigada ao princípio-realidade, pós-utópico por
excelência.
“Vieses críticos em contraponto”
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“Memória e resistência em O Mapa da Tribo, de Salgado Maranhão”
Prof. Dr. Paulo Andrade (FCLAr/UNESP)
RESUMO: Esta comunicação integra o meu atual projeto de Pesquisa “Memória e resistência:
relações entre lírica e sociedade na poesia de Salgado Maranhão” e tem como objetivo
investigar como o fenômeno da diáspora africana continua afetando a mitologia pessoal dos
poetas afro-descendentes encenada por meio de temas de perdas, da terra, do corpo, da busca
da origem, evidenciando uma empenhada tentativa de recuperar, por meio da memória, a
ancestralidade africana. Pretendemos, sempre partindo das análises dos poemas, refletir sobre
o modo como Salgado Maranhão inscreve a sua participação na vida social e literária
brasileira.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 14h às 15h30
SCO1 – Literatura e ética (sala 26)
Coordenador(a): João Francisco Pereira N. Junqueira
O Evangelho segundo Judas Iscariotes
Liene Cunha Viana Bittar (Fatec Franca)
RESUMO: Na obra “Judas” - publicada no Brasil em 2014 - o israelense Amós Oz cria um
protagonista que escreve um trabalho acadêmico sobre a forma como Judas seria visto na
tradição judaica. Cita, para isso, vários textos que teria lido e pelos quais questiona a
qualificação de Judas Iscariotes como “traidor”. Tomando a tradição do cristianismo sob outra
perspectiva, apresenta o personagem como o verdadeiro criador da Igreja Católica, ao montar
o “circo” da crucificação. E o teria realizado por amor a Jesus e por acreditar verdadeiramente
que o pregador seria um filho mandado por Deus para a redenção dos homens – seu primeiro
e verdadeiro crente. Ao mesmo tempo em que brinca com a narrativa histórica, a bíblica e a
da Torá, questiona aspectos da política de implantação do estado de Israel, da relação entre
judeus e palestinos, assim como da forma como a tradição cristã criou e reforçou a imagem do
judeu como “traidor”, a semelhança do que teria sido Judas (como se Jesus e os outros
apóstolos não fossem judeus). Toda essa transformação na história bíblica ocorre a partir da
utilização da metaficção historiográfica, forma como contemporaneamente grandes escritores
vem utilizando a historiografia para fazer ficção – e a ficção para desfazer a história. Neste
estudo, são analisados alguns aspectos da metaficção historiográfica (elencados por teóricos
como Hutcheon e White) presentes na obra, a fim de compreender os artifícios utilizados por
Oz para questionar as “verdades” que nos são impostas pela narrativa histórica mas,
principalmente, para criar um texto de extrema beleza estética e filosófica. Dados e
personagens históricos ou da tradição religiosa são problematizados pela autorreflexão
característica da metaficção. Nesse entrelaçamento entre literatura e história, Oz duvida da
verossimilhança da narrativa bíblica da traição de Judas (feita de “histórias que não se
encaixam”). Não se trata, entretanto, de um “autor judeu” que pretende levantar dúvida sobre
o discurso cristão, mas de uma obra de arte que coloca em questão um discurso dominante, a
partir de suas características narrativas.
Palavras-chave: Metaficção Historiográfica; intertextualidade; verossimilhança; cristianismo;
sionismo.
“Vieses críticos em contraponto”
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A arte proletária de Boris Arvatov
João Francisco Pereira Nunes Junqueira (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)
RESUMO: A presente comunicação pretende apresentar uma pequena faceta da vanguarda
artística surgida a partir das décadas de 10 e 20 do século passado na Rússia, após a
Revolução de 17. Nosso foco recairá num artigo do pensador russo Boris Arvatov (1896-
1940), um dos principais colaboradores da Revista Lef (“Fronte de esquerda das artes”) e do
Proletkult. Segundo Haroldo de Campos (via V. Erlich), o método “formalista-sociológico”
de Boris Arvatov, “encara a atividade criativa como um ‘tipo de produção’ e a arte como
‘simplesmente a organização mais eficaz em qualquer campo de atividade humana’”. A obra
de Arvatov, sobre a teoria de uma arte de vanguarda proletária, ainda está pouco difundida em
nosso ambiente acadêmico. Assim parece ser interessante fazer uma apresentação de um dos
principais artigos escrito por Arvatov. Publicado em 1926, o artigo se intitula “A arte no
sistema da cultura proletária”, e propõe um diálogo entre a chamada arte tradicional burguesa
e as transformações que ela teria de sofrer para passar a ser uma arte no sistema de cultura
proletária. Nesta passagem de culturas, da burguesa para a proletária, as lutas de classes
deveriam ser abolidas com o intuito da arte e da vida passarem a ser vinculadas
funcionalmente no mundo, no dia-a-dia de todo trabalhador. Arvatov parte da idéia que a
prática da arte prefigura quatro problemas principais: 1) técnica artística, 2) a cooperação na
arte, 3) a ideologia dos artistas, 4) arte e gênero de vida. Nosso propósito é apresentar estes
quatro problemas da prática artística, e ao mesmo tempo divulgar um pouco as idéias de Boris
Arvatov sobre a arte produtivista, ou arte num sistema cultural proletário.
Palavras-Chave: Boris Arvatov; Teoria da Arte; Vanguarda Russa; Arte Proletária.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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O deserto dos tártaros sob a ótica do fantástico humano, de Jean-Paul Sartre.
Carlos Eduardo Monte (FCLAr/UNESP - Capes)
Prof.ª Dr.ª Cláudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)
RESUMO: A presente proposta de comunicação pretende expor a analise que fizemos do
romance do autor italiano, Dino Buzzati, O deserto dos tártaros (1940), a partir do fantástico
humano, base teórico-ensaística desenvolvida por Jean-Paul Sartre no trabalho intitulado,
Aminadab, ou o fantástico considerado como uma linguagem. O estudo busca demonstrar que
os três vetores ensaiados por Sartre, os quais nominamos: expressão inversa, inversão
relacional e moral de resistência, descrevem com bastante precisão uma categoria do
fantástico que está colocada em um ponto de virada dentro do gênero, referindo-se à obras de
autores como Blanchot, Kafka e Dino Buzzati. Nesse estilo de narrativa, onde a hesitação
deixa de ser um momento lancinante para se tornar o pano de fundo da narrativa, dando-nos,
por definição crítica, o mundo às avessas, a personagem central se revela como um índice de
resistência, pondo em xeque valores sedimentados pelo modernismo, através de seu
comportamento de contraste. Na obra de Buzzati, seguimos a trajetória do jovem Giovanni
Drogo, que, aos vinte anos, é nomeado oficial para servir no forte Bastiani, situado na
fronteira norte do país, em cujos limites encontra-se o lendário e enigmático deserto dos
tártaros. Do castelo gótico de antanho a um dos símbolos bélicos do modernismo, o forte
Bastiani reveste-se de uma atmosfera de claustro, solidão e melancolia, capaz de enredar sutil
e gradativamente aqueles que a ele se submetem. Na introdução de nossa pesquisa,
procuramos estabelecer os pontos centrais e determinantes do ensaio de Sartre, para, nos três
momentos seguintes, desenvolvermos os vetores essenciais acima relacionados, procurando
demonstrar como O deserto dos tártaros pode ser lido a partir dessa teoria, afastando-se,
portanto, do realismo mágico, para, efetivamente, ilustrar o fantástico humano desenvolvido
por Sartre. É na terceira etapa, ao tratar da moral de resistência, em que procuraremos melhor
esclarecer a estratégia do protagonista buzzatiano, investigando, como sugere Sartre, se há ou
não uma finalidade em sua construção. Seguem, por fim, as considerações finais, como
síntese lógica do nosso trabalho, com as determinações que entendemos importantes para uma
melhor compreensão, tanto do ensaio teórico de Sartre, como do romance de Dino Buzzati.
Palavras-chave: Dino Buzzati; fantástico humano; O deserto dos tártaros; Alto Modernismo.
Jean-Paul Sartre.
“Vieses críticos em contraponto”
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A ressignificação da maldade em Heinrich von Kleist
Carina Zanelato Silva (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Karin Volobuef (Or.)
RESUMO: As obras literárias de Heinrich von Kleist (1777-1811) apresentam uma temática
que abarca uma quebra de limites entre os conceitos de maldade e bondade desenvolvidos
durante a Aufklärung. Essa quebra nos parece estar fortemente associada a uma subversão do
conceito de realidade extraído por Kleist da noção kantiana de apreensão da realidade pela
razão. Em Über das Marionettentheater, Kleist nos expõe que apenas a inocência pura ou a
consciência total do homem são capazes de resgatar a sua graça, sua harmonia perfeita, e, com
isso, a sua felicidade. A passagem bíblica da expulsão do paraíso neste texto é um dos
fundamentos de sua genealogia do mal, pois esta expulsão faz com que o homem perca a
completude e passe a viver sob o signo da realidade má, que o arrasta pelo mundo. Nessa
conjectura é possível perceber uma porção de Rousseau, mas também de Kant. Em Kleist, a
felicidade está ligada diretamente ao sonho de encontrar no paraíso perdido a reconciliação
definitiva da humanidade com a inocência que a integra à natureza. Porém, neste caminho há
o novo patamar a que Kant elevou a razão humana: ela é agora o agente principal para o pleno
desenvolvimento moral da humanidade e o filtro que absorve a realidade e a dispõe à
consciência do indivíduo. Se a Kant interessava descobrir o papel da razão no desvendamento
da realidade, o que abalou Kleist foi a ideia de que a realidade é apreendida pelo homem a
partir de um ponto de vista subjetivo, que chega à razão através da compreensão que a sua
consciência faz subjetivamente dessa realidade. Ela é, portanto, uma imagem criada de forma
subjetiva que pode ser enganosa, à medida que parte de uma impressão do homem diante da
realidade. Dessa forma, procuraremos demonstrar nesta comunicação em que consiste essa
quebra de limites entre os conceitos de bondade e maldade no universo literário kleistiano.
Palavras-chave: Heinrich von Kleist; Immanuel Kant; maldada; bondade.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 14h às 15h30
SCO2 – Crítica e tradução (sala 27)
Coordenador(a): Profa. Ms. Vivian Carneiro Leão Simões
A Cosmogonia nas Metamorfoses de Ovídio: um estudo sobre as figuras da origem do
mundo, com Tradução e Notas
Paulo Eduardo de Barros Veiga (FCLAr/UNESP)
Prof. Dr. Márcio Thamos (Or.)
RESUMO: Ovídio (43 a. C. - 17 d. C.), poeta do período Clássico da Roma Antiga, mais
precisamente da época de Augusto, escreveu, por volta de 8 d. C., a obra intitulada
Metamorfoses (Metamorphoseon libri), um longo poema dividido em quinze livros. De modo
geral, narram-se diversos mitos, com enfoque nas transformações de seres e de coisas. Estuda-
se parte do Livro I, mais especificamente os hexâmetros de número 1 a 451, em que Ovídio
conta histórias mitológicas a respeito da origem do mundo. Ou seja, o tema central desses
versos é a Cosmogonia, um conjunto de mitos, de natureza etiológica, que narra o princípio
do universo e as transformações que o mundo sofreu para chegar à forma atual. O trabalho,
que traz abordagem da semiótica greimasiana, procura compreender o processo de construção
do sentido no texto. Para essa compreensão, investigam-se, com maior ênfase, os recursos
figurativos e icônicos percebidos nos versos de Ovídio. Assim, observam-se, no poema, as
figuras que revestem determinado tema e o encadeamento delas, na busca pelo entendimento
do texto. Desse modo, analisam-se o signo, a sua expressão e os efeitos de sentido que
contribuem para a formação do poético no texto ovidiano. Além disso, vale notar que a
escansão de alguns hexâmetros em busca de dados de métrica é importante para perceber o
sentido poético. Tendo em vista esse viés de análise, ressaltam-se, no excerto, determinadas
passagens em que a plasticidade do verso chama a atenção. Em suma, procura-se demonstrar
o modo como o texto literário foi construído por Ovídio, autor das Metamorfoses, que, com
alto burilamento estético, narrou a Cosmogonia.
Palavras-chave: Ovídio; Cosmogonia; Figuratividade.
“Vieses críticos em contraponto”
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A crítica por trás das práticas: contaminar, verter, imitar e emular
Leandro Dorval Cardoso (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)
RESUMO: O contato com outros povos e suas respectivas manifestações culturais durante a
expansão territorial da República Romana pela península itálica (especialmente nos séc. IV-
III a.C.) foi fundamental para o desenvolvimento da cultura erudita latina. Nesse contexto, a
relação mais profunda certamente se deu com os gregos da Magna Grécia, região sul da
península itálica, e sua cultura já fortemente estabelecida, que acabou se tornando a principal
fonte a partir da qual os poetas e filósofos da crescente república traçaram seus caminhos.
Uma produção declaradamente feita a partir de uma tradição estrangeira, então, dificilmente
conseguiria apagar as marcas dessa relação e, pelo contrário, acabou incorporando em seu
próprio modus faciendi alguns procedimentos que fazem transparecer essa relação com o
passado. Desde os inauguradores textos de Lívio Andronico e da “comédia palliata” até
aqueles da chamada Era de Prata da literatura latina, ao menos, passando ainda pelo seu
período clássico, esse movimento crítico de retomada do passado possui grande importância:
no caso da palliata, por exemplo, a “tradução” realizada pelos autores – o vertere –
caracteriza-se por traços bastante peculiares, como a grande liberdade na manipulação e
adaptação de enredos, personagens e convenções dramáticas. Tal o vertere, outros
procedimentos, como a imitatio-aemulatio e mesmo a polêmica contaminatio dos
comediógrafos, ainda que sejam diferentes em sua execução – uma diz respeito, por exemplo,
a retomada de um episódio escrito por um poeta antecedente (imitatio-aemulatio) e a outra a
combinação de elementos de outras peças gregas em uma peça que se “traduz” ao latim
(contaminatio) –, fundamentam-se em um princípio crítico comum, qual seja, um olhar sobre
o passado que busca não somente um modelo que possa ser reproduzido no – ou trazido ao –
presente, mas principalmente um modelo com o qual se possa chegar, no presente, a uma
composição que seja reconhecidamente outra. Nesse trabalho, a partir de abordagens que se
dedicam a análise dessas práticas, busco demarcar esse princípio crítico comum em cada um
desses procedimentos, caracterizando-os, portanto, como diferentes manifestações de um
mesmo movimento específico de retomada do passado literário, seja ele nacional ou
estrangeiro.
Palavras-chave: Vertere; Contaminatio; Imitatio; Aemulatio; Crítica;
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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Por uma crítica de tradução das Artes Grammaticae
Prof. Ms. Vivian Carneiro Leão Simões (UFRR e FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. João Batista Toledo Prado (Or.)
RESUMO: O córpus resultante da somatória de textos elencados sob a rubrica Grammatici
Latini, compendiados por Heinrich Keil, é constituído pelo conjunto de textos técnicos de
gramática latina escritos, em sua maioria, entre o séc. III e o séc. VIII d. C, aproximadamente.
O esforço por tornar as obras dos Grammatici Latini disponíveis em acervos virtuais e bancos
de dados, tem movido alguns grupos de pesquisadores europeus a submeterem tais textos aos
mais variados estudos e metodologias. O empenho para trazer à luz os textos e as teorias
linguísticas neles contidas por se tratar de um córpus que se destaca por sua característica
polivalente, suscetível de interessar a um só tempo muitas áreas do conhecimento, desde os
historiadores que analisam as suas teorias linguísticas, os filólogos, os literatos, os romanistas
e todos os que estudam a passagem do latim às línguas românicas e ainda os filósofos, não
obstante as inúmeras dificuldades, por exemplo com a dificuldade de acesso inerente à
natureza algo rara e volumosa das obras, bem como pela escassez de traduções para as línguas
modernas. A presente comunicação vincula-se a uma pesquisa de doutorado, em andamento,
que toma como córpus os textos reunidos no volume VI, “Scriptores Artis Metricae” dos
Grammatici Latini de Heinrich Keil e pretende, na etapa presente, compilar e expor,
comparando-as, as traduções modernas que existem hoje dos textos que compreendem o
volume VI de Keil. A ausência de metodologia e crítica de tradução desses corpora
linguísticos que versam sobre gramática e métrica latina é a inquietação que move a presente
pesquisa, cujo objetivo final é contribuir, mesmo que modestamente, para uma teoria da
tradução de corpora gramaticais antigos cujo enfoque é a métrica clássica, analisando as
traduções existentes em línguas modernas à luz de diferentes teorias da tradução e propondo
uma versão completa da obra Marii Victorini Artis Grammaticae Libri IIII, acompanhada de
glossário.
Palavras-chave: artes grammaticae; teoria da tradução; crítica da tradução.
“Vieses críticos em contraponto”
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A palavra-chave scelus e suas variações em Édipo e Fenícias de Sêneca: estilo e tradução
Cíntia Martins Sanches (FCLAr/UNESP - FAPESP)
Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)
RESUMO: A repetição de certos termos ou estruturas frasais em um ou mais textos do
mesmo autor ajuda a constituir seu estilo de escrita. A análise do estilo se faz fundamental
para que se realize uma tradução expressiva, já que esse tipo de versão requer uma
equivalência que vá além da simples transposição do conteúdo semântico. Nesse contexto,
observa-se que a utilização de algumas palavras adquire importância maior que a de outras
nas tragédias Édipo e Fenícias de Sêneca, seja por aparecerem com maior frequência, seja por
terem duplo sentido, seja por expressarem algo decisivo para algum personagem ou para
alguma ação dramática em específico. Além disso, também é possível pensar em uma
abordagem comparativa entre as duas tragédias no que diz respeito aos temas tratados com
cada palavra-chave. Este trabalho procura demonstrar como isso ocorre nos textos do córpus,
a partir da existência de conceitos comuns durante diferentes fases da mesma personagem –
no caso aqui tratado, de Édipo. Os termos trabalhados carregam alguma complexidade ou
incitam a discussão de algum problema/tema e, exatamente por isso, destacam-se dentre os
outros. Este trabalho focará as aparições da palavra scelus e suas variações, investigando a sua
frequência de utilização, seus diferentes significados e as possibilidades de tradução para a
língua portuguesa. Esta análise faz parte do projeto de doutorado “Definição do idioma
estilístico senequiano nas tragédias Édipo e Fenícias: uma proposta de tradução expressiva”,
que investiga a expressividade nas duas tragédias a partir de tópicos de estilo e, com base
nesse estudo, propõe uma tradução metrificada em português que valorize a estilística do
texto latino.
Palavras-chave: Sêneca; Édipo; Fenícias; palavras-chave; scelus.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 14h às 15h30
SCO3 – Intersemiótica (sala 32)
Coordenador(a): Marcela Ulhôa Borges Magalhães
Da anestesia à estesia: por uma teoria do acontecimento
Marcela Ulhôa Borges Magalhães (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (Or.)
RESUMO: Algirdas Greimas, em Da Imperfeição (2002), reflete sobre como a apreensão
estética participa da vida cotidiana. A preocupação do semioticista recai especialmente sobre
certos encontros entre sujeitos e objetos que, em virtude do potencial de romper com vida
comum e de provocar fraturas, são capazes de ressemantizar o mundo e, consequentemente,
de criar novas formas de experimentar vivências futuras. A literatura, assim como a vida, está
repleta desses “encontros” sobre os quais discorre Greimas. Eles passaram, portanto, a ocupar
um lugar de destaque dentro da teoria semiótica, em especial, no que concerne à constituição
de uma semiótica do sensível, que já se vinha estruturando na década de 80. Esse fenômeno
passou a ser nomeado, então, de “acontecimento”, e, em torno dele, uma série de reflexões de
natureza sensível e tensiva passaram a ser produzidas, reestruturando as bases da semiótica da
ação, desenvolvida anteriormente pelo próprio Greimas. O acontecimento é caracterizado pela
rapidez, conferida pela velocidade de chegada do objeto que é maior do que a velocidade
presumida pelo sujeito, razão pela qual traz consigo um valor de precipitação que intercepta a
continuidade narrativa e desarranja o mundo subjetivo do sujeito, de modo a atordoá-lo e
imobilizá-lo diante do ocorrido. A semiótica, em seu desenvolvimento tensivo, entende que o
universo está repleto de descontinuidades, de forma que o acontecimento arrebatador insurge
a partir das brechas do dia a dia, e suspende o sujeito em um intervalo no qual só transitam
continuidades, sem barreiras a serem dribladas. Porém, em razão de encontrar-se enraizado no
mundo das descontinuidades e de ser advindo delas, esse intervalo tem como destino um
limite ou, em outras palavras, seu próprio fim, razão por que, embora muito intenso, seja
reduzido em sua extensidade. No percurso de sua obra, Claude Zilberberg resume com
precisão a estrutura do acontecimento ao opô-lo à noção de “exercício”, sendo o exercício
definido pelo cruzamento entre os operadores da espera, do pervir e da implicação, enquanto
o acontecimento, por sua vez, é definido pela intersecção dos operadores do inesperado, do
sobrevir e da concessão. Propõe-se construir, nesta comunicação, um panorama cronológico
da teoria do acontecimento dentro da semiótica a fim de que se possa compreender melhor
suas raízes e a forma como é constituído.
Palavras-Chave: acontecimento; semiótica; tensividade.
“Vieses críticos em contraponto”
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O Simbolismo na literatura e nas artes plásticas
Beatriz Moreira Anselmo (UEM)
RESUMO: No final do século XIX a sensação de efemeridade e fugacidade do tempo e das
coisas, gerada pelo processo de modernização do mundo, perturbava os artistas simbolistas
ávidos por fugir àquela realidade que tanto os enclausurava. Desse sentimento, surge a
necessidade de criar uma arte nova, libertária, capaz de transmitir as sensações e a visão
particular que o artista tinha do mundo em que vivia. A partir de 1885, os artistas desgostosos
com a incapacidade da sociedade para resolver seus problemas políticos, sociais, morais e
intelectuais, buscam criar uma estética apoiada em valores subjetivos e espirituais. Desejam
fazer uma arte que não retrate aquele momento em que as cidades estão em processo de
degradação, carregadas de atividades industriais, construções, aglomerações de pessoas sem
ter onde morar. Não interessa ao Simbolismo representar a realidade de maneira próxima e
metonímica, tal como fazem os artistas realistas e naturalistas. Interessa ao novo movimento
sugerir, criar correspondências entre objetos e sensações, representar o afastamento do real
como forma de buscar uma realidade imaginária, misteriosa, oculta e abstrata, distante da
realidade terrena. O Simbolismo na literatura e nas artes plásticas surge paralelamente ao Pós-
Impressionismo e é uma reação à abordagem realista aventada pelo Impressionismo que,
assim como o Naturalismo, identifica-se com os problemas contemporâneos. O presente
trabalho intenta apresentar o culto ao artificialismo e à vida fictícia, seja na literatura ou na
pintura simbolista, como expressão de escapismo da realidade.
Palavras-chave: Simbolismo; literatura; pintura.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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La Prose du Transsibérien: palavra e imagem, verso e prosa
Natalia Aparecida Canteiro Bisio (FCLAr/UNESP - CNPq)
Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)
RESUMO: La Prose du Transsibérien et de la Petite Jehanne de France, fruto da
colaboração entre o poeta Cendrars e a pintora Sonia Delaunay-Terk, foi publicada em 1913
no periódico Les Hommes Nouveaux. O texto verbo-visual constituía-se em uma única folha
de papel, que se desdobrava em vinte e dois painéis, com a extensão de mais de dois metros.
Ao lado direito da obra, observa-se um longo poema, composto de vários blocos tipográficos,
grafados de diferentes cores, com o fundo da página também colorido, acompanhando os tons
da pintura de Sônia Delaunay-Terk, à esquerda da obra. O painel intitulado pela pintora de
Les couleurs simultanées, era constituído de cores primárias brilhantes e formas visuais semi-
abstratas. Foram distribuídos 150 exemplares, que alinhados verticalmente atingiriam a altura
da Torre Eiffel. A obra chamou muita atenção no cenário artístico europeu no início do século
XX, certamente pela revolução que operou ao reunir poesia e pintura em uma única folha de
papel com extensão de mais de dois metros. Devido à configuração de La Prose, as artes
plásticas e literária encontram-se intimamente ligadas, de modo que se torna impossível
dissociar o trabalho dos dois artistas. Nesse caso, a obra ultrapassa as fronteiras do gênero
poético e pictórico, de modo que as possibilidades visuais e gráficas estão intimamente
ligadas e contribuem juntas para a construção dos sentidos inerentes à obra. Além de unir dois
gêneros artísticos, La Prose ainda extrapola as fronteiras da poesia. Embora tenha sido escrito
em versos, o texto apresenta a adoção de processos próximos à prosa literária, como
passagens de discurso direto e versos que adquirem certo tom de narrativa, principalmente por
suas longas descrições. Inclusive a referência ao vocábulo “prose” no título já chama a
atenção para tal gênero literário. Diante da configuração de La Prose du Transsibérien, este
trabalho tem como objetivo observar como o conjunto de recursos estilísticos e artísticos
compõem uma obra tão revolucionária, que hesita, assim, entre palavra e imagem, verso e
prosa.
Palavras-chave: gêneros artísticos; poesia e pintura; verso e prosa.
“Vieses críticos em contraponto”
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Literatura, pintura e temporalidade: o caso de A Ronda da Noite, de Agustina Bessa-
Luís
Rodrigo Valverde Denubila (FCLAr/UNESP)
Prof. Dr. Jorge Vicente Valentim (Or.)
RESUMO: O objetivo desta comunicação é cotejar as relações entre literatura e pintura por
meio da leitura crítica do romance A Ronda da Noite, da escritora portuguesa Agustina Bessa-
Luís. Para tal, inicialmente, parte-se do verbete “narrativa”, do Dicionário de Narratologia,
para, assim, destacarmos o modo como a noção de história está ancorada a de tempo como
forma de dar a ver uma transformação. Da ponderação acerca da narrativa, coloca-se este
questionamento como condutor do primeiro momento de nossa fala: como o tempo se faz
sensível na arte pictórica? A partir disso discute-se os procedimentos composicionais da
pintura figurativa, como a simultaneidade, a profundidade do olhar e o caráter estático da tela,
para, dessa forma, tentarmos estabelecer as relações entre as duas expressões estéticas, a
maneira como o discurso literário tenta recriar procedimentos do pictórico e a narratividade da
tela pintada. As colocações de Benedito Nunes, em Filosofia da arte, são de grande valia,
assim como as de Schelling presentes em Filosofia da arte; as de Diderot, em Ensaios sobre a
pintura; as de Terry Eagleton, em A ideologia da estética; as de Gombrich, em Arte e ilusão;
as de Davi Arrigucci Jr, em Humildade, paixão e morte e as de André Bazin, quando este
discute a natureza da tela pictórica frente ao cinema. Após a problematização teórica inicial,
parte-se para o comentário crítico do romance A Ronda da Noite. Nesta obra, publicada em
2006, última escrita pela autora, o quadro do pintor holandês Rembrandt, expoente do
barroco, é peça primordial ao desenvolvimento da narrativa. Diferentes personagens do
romance agustiniano, em especial Martinho Dias Nabasco, tentam decifrar os mistérios da
Ronda de Rembrandt, os vários níveis desta figuração pictórica. À medida que a leitura crítica
do romance se dá, almeja-se também destacar a importância das artes plásticas no extenso
conjunto literário de Agustina Bessa-Luís.
Palavras-chave: Agustina Bessa-Luís; A Ronda da Noite; Literatura e pintura.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 14h às 15h30
SCO4 – Perspectivas críticas (sala 34)
Coordenador(a): Profa. Dra. Candice A. B. de Carvalho
Os estudos culturais e pós-coloniais nos estudos rosianos: uma nova perspectiva de
leitura
Aline Maria Magalhães de Oliveira Ávila (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Maria Célia Leonel (Or.)
RESUMO: A obra de Guimarães Rosa contou com extensa fortuna crítica, fundamentada nos
mais diversos aportes teóricos. Alguns especialistas, como Willi Bolle, Luiz Roncari, Heloísa
Starling, ocuparam-se do exame da abundância de leituras da obra, em especial do romance
Grande sertão: veredas e com a sistematização destas em diferentes linhas analíticas e
metodológicas: histórico-sociológicas, míticas, metafísicas, esotéricas, linguísticas,
estilísticas, culturais, folclorísticas, cartográficas. Apesar de as linhas de abordagem esotérico-
metafísicas e linguístico-filológicas terem prevalecido da década de 1950 até os anos 90, as
interpretações sociológicas, históricas e políticas, principalmente partindo da perspectiva de
Antonio Candido e de Walnice Nogueira Galvão (1972), suscitaram novo interesse a partir da
década de 1990 e, sobretudo, no início deste século. É no caminho desta vertente que este
trabalho se apoia, encontrando espaço para abordar uma questão pouquíssimo explorada nos
estudos rosianos, que é o lugar dos estrangeiros nas narrativas do escritor mineiro, em
especial dos imigrantes, partindo da ótica dos estudos sócio-históricos e dos estudos culturais
e pós-coloniais. Para tanto, buscaremos apoio em textos fundamentais para a reflexão dos
estudos culturais e sociológicos nos textos rosianos, como os críticos pioneiros nessa linha de
estudos Antonio Candido e de Walnice Nogueira Galvão (1972) e também o livro Guimarães
Rosa: fronteiras, margens, passagens, de Marli Fantini (2003), cuja leitura da obra rosiana
ancorada nestas vertentes traz nova perspectiva para a análise de questões culturais no
enfrentamento de diferentes línguas e culturas. Acreditamos que analisar tal obra canônica a
partir de uma nova perspectiva teórica proporciona novas interpretações e diferentes olhares
para textos já consagrados.
Palavras-chave: Guimarães rosa; estudos culturais; estudos pós-coloniais; estrangeiros;
imigrantes.
“Vieses críticos em contraponto”
57
Antonio Candido e a tradição crítica de Grande sertão: veredas
Prof.ª Dr.ª Candice A. B. de Carvalho (FCLAr/UNESP)
RESUMO: O objetivo desta comunicação consiste em analisar as relações entre literatura e
sociedade na recepção crítica de Grande sertão: veredas. Os pressupostos do enfoque
escolhido inscrevem-se na perspectiva histórica que rege a concepção de sistema literário
teorizada por Antonio Candido em Formação da literatura brasileira, de 1959. Trata-se de
importar as noções de sistema, integração e tradição, que estão na base da concepção de
historicidade do projeto crítico de Antonio Candido, para pensar as sucessivas modificações
da fortuna crítica do romance de Guimarães Rosa. Em princípio, o que se propõe é levar em
consideração a hipótese de que seria possível falar numa tradição crítica: um conjunto de
juízos que se integram sistemática e dialeticamente no tempo mediante um processo que
congrega simultaneamente a assimilação de achados críticos precursores e a construção de
novas perspectivas de leitura em consonância com as experiências históricas e os anseios de
cada época. Com base nesse pressuposto, nossa expectativa é verificar os pontos de
convergência e de afastamento e as relações de complementaridade que os seguintes ensaios
estabelecem entre si e com o juízo crítico de Antonio Candido acerca da produção de
Guimarães Rosa: “Grande sertão e Dr. Faustus”, de Roberto Schwarz, As formas do falso, de
Walnice Galvão, grandesertão.br, de Willi Bolle, Lembranças do Brasil, de Heloisa Starling,
O Brasil de Rosa, de Luiz Roncari. Com a finalidade de acompanhar o significado da
trajetória de Antonio Candido, propõe-se destacar alguns dos conceitos mais salientes de seu
projeto que contribuem para compreensão do percurso da crítica literária no Brasil a partir de
meados do século passado (período que contextualiza a recepção inaugural da produção
rosiana e contempla o processo de transição da prática jornalística da crítica literária para
crítica institucionalizada e a cristalização desta). Os escritos de Antonio Candido sobre
Guimarães Rosa enfocados são: as resenhas de Sagarana (de 1946) e de Grande sertão:
veredas (de 1956), o ensaio pioneiro sobre o romance, “O homem dos avessos” (de 1957),
“Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa” (resultado de palestras ministradas pelo
crítico em 1966), “Literatura e subdesenvolvimento” e “A nova narrativa” (publicados nos
anos 1970).
Palavras-chave: Guimarães Rosa; Grande sertão: veredas; Crítica de Antonio Candido;
Crítica sócio-histórica.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
58
Críticas sobre Clarice Lispector
Letícia Coleone Pires (FCLAr/UNESP - Capes)
Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)
RESUMO: O objetivo desta comunicação é apresentar algumas considerações sobre a
diversidade de vieses críticos que as produções da escritora brasileira Clarice Lispector
receberam, e ainda recebem na atualidade. Desde o aparecimento do seu primeiro livro Perto
do coração selvagem, em 1944, Lispector teve uma boa acolhida por parte da crítica literária
do período, Antonio Candido foi um dos primeiros a comentar a produção, em um artigo
intitulado “No raiar de Clarice Lispector”, Sérgio Milliet também não deixou comentar a
novidade que aquela jovem escritora trazia. As críticas nunca pararam, e nem sempre foram
positivas como as do primeiro livro, mas é fato que a produção clariciana não passou em
branco pelo cenário literário brasileiro, na realidade transformou-se em uma marca, um ponto
de referência para estudos literários. Isso fez com que surgissem diversos estudos, pesquisas
em torno das obras de Clarice Lispector, cada uma abordando o seu corpus segundo uma
baliza teórico; todavia, apesar da heterogeneidade de abordagens, algumas se assemelham ou
obtiveram mais força e destaque no panorama crítico brasileiro, nos possibilitando realizar
uma singela classificação. O primeiro viés crítico a ser apontado é o filosófico, que teve como
grande disseminador Benedito Nunes, ele escreveu diversos ensaios referentes a essa temática
e a produção clariciana, ressaltando, principalmente, o aspecto existencialista e a questão da
náusea presente nas obras, retomando o conceito de Sartre, são exemplos: “A náusea em
Clarice Lispector” e “O mundo imaginário de Clarice Lispector”. O segundo viés é de cunho
psicanalítico, aqui destacamos Yudith Rosenbaum em Metamorfoses do mal: uma leitura de
Clarice Lispector, no qual a estudiosa faz uso do sadismo, como noção psicanalítica, para
construir sua análise das obras em xeque; contudo, não deixaremos de comentar o trabalho de
Maria Lucia Homem, que utiliza conceitos lacanianos. Há muito mais produção crítica em
torno da obra de Clarice Lispector, como a esotérica, a biográfica, estrutural, entre outras,
entretanto, seria impossível comentar todas em uma comunicação, por isso escolhemos apenas
duas para apresentar, tendo como objetivo representar da melhor forma possível a diversidade
de leituras da produção clariciana.
Palavras-chave: Clarice Lispector; críticas; filosófica; psicanalítica.
“Vieses críticos em contraponto”
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Linguística e literatura: o cavalo de Troia
Prof. Dr. Fábio Gerônimo Mota Diniz (FCLAr/UNESP)
RESUMO: A história da teoria e da crítica literárias no século XX no Brasil não pode ser
escrita sem se considerar o diálogo com os estudos da linguagem. Distanciando-se de visões
extratextuais e considerando que a produção literária só poderia ser compreendida em sua
materialidade, formalistas, estruturalistas e semioticistas reposicionaram o texto literário,
observando-o como objeto de análise das ciências da linguagem posto que toda sua
expressividade dependeria exclusivamente dessa materialidade. Assim, com o intuito de dar à
teoria literária autonomia, esses teóricos em verdade tornaram-na apenas um braço da
linguística, muitas vezes negando o seu diálogo com quaisquer outras perspectivas teóricas
que queiram convergir com essa análise. Porém, desde o momento em que se concebe a arte
da criação como algo passível de análise, é possível perceber que os elementos extratextuais
são por vezes tão – ou, arriscamos dizer, mais – importantes para a compreensão do texto
literário que a análise textual, o que já fora compreendido por várias outras tradições de
estudos da literatura. As intersecções possíveis entre as perspectivas analíticas de diversas
áreas permitem enxergar além do texto, e a negação dessa potencialidade por parte de certo
grupo tradicionalista dos estudos literários apenas aponta para um reducionismo típico das
perspectivas acadêmicas em voga no momento em que se estabelecem os principais corpos
universitários do país, muito por influência das escolas de estudos russa e francesa. O presente
texto pretende, de tal modo, tecer uma breve, porém incisiva, crítica a essa perspectiva, a
partir da análise das posições de teóricos influentes na composição dos corpos acadêmicos das
letras brasileiras, como Barthes e Jakobson, propondo uma problematização dessa perspectiva
da teoria literária enquanto ciência autônoma e essencialmente dependente dos estudos
linguísticos.
Palavras-chave: teoria literária; linguística; crítica; Roland Barthes; Roman Jakobson.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 14h às 15h30
SCO5 – Espaço e Narrativa I (sala 35)
Coordenador(a): José Lucas Zaffani dos Santos
Espaço e sujeito: identidades circunscritas na Manaus de Um solitário à espreita, de
Milton Hatoum
Manoelle Gabrielle Guerra (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)
RESUMO: Este trabalho propõe a análise das crônicas do volume Um solitário à espreita, de
Milton Hatoum em que se verifica uma associação entre a representação da cidade de Manaus
e as diversas identidades que se inscrevem nesse espaço. Lançado em 2013, este livro traz
textos publicados ao longe de dez anos em revistas e jornais e mostra uma escrita que, por um
lado, distancia-se da obra do autor por seu gênero, mas que se aproxima dos romances no
tocante ao uso da memória como elemento fundamental das narrativas, atrelada à uma
subjetivação da instância de voz, proporcionando assim o estabelecimento de uma narração
caracterizada pela experiência pessoal. Desse modo, é possível pensar a obra do autor como
um conjunto coeso, com linhas de força recorrentes que superam as diferenças de gênero
textual. Manaus figura como o centro das narrativas de Hatoum, e aparece nas crônicas de
diversos modos: como a cidade-porto centro da migração libanesa, como a cidade ilhada,
cheia de palafitas, e como o centro de uma cultura baseada em mitos e lendas. O olhar que
desvenda o labirinto de ruas é o mesmo que observa, com pesar, o resultado de um processo
de urbanização agressivo, que colocou sua população à margem, que sente a ausência da
natureza que antes se espalhava por todos os lados e que agora se detém à floresta, acuada. O
sujeito que habita esses diferentes espaços, todos presentes na mesma cidade, têm em seu
íntimo uma relação de pertencimento, um vínculo afetivo com o lugar que ocupa. Para
Maurice Halbwachs (2013), o homem, ao ocupar um determinado espaço, passa a desenvolver
memórias relativas a ele e isso se dá individualmente ou de forma coletiva, constituindo
identidades de grupos inteiros a partir dos lugares em que morou ou frequentou. Sob essa
perspectiva, pode-se pensar na cidade de Manaus, representada por Hatoum em suas crônicas,
como lugar no qual estão inscritas diversas identidades, pautadas em memórias individuais e
coletivas, mostrando uma relação de reflexo entre o sujeito e o espaço, por meio da
subjetivação do olhar.
Palavras-chave: Milton Hatoum; narrativa contemporânea; espaço; memória; Manaus
“Vieses críticos em contraponto”
61
O espaço no romance Extinção – Uma derrocada, de Thomas Bernhard
José Lucas Zaffani dos Santos (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas (Or.)
RESUMO: As narrativas autobiográficas possuem como característica central um indivíduo
que repassa suas experiências a fim de reelaborá-las. No romance Extinção (1986) de Thomas
Bernhard, o relato de Franz-Josef Murau tem como epicentro Wolfsegg, seu lugar de origem.
Conforme o narrador traz à tona suas lembranças, sua escrita também vai reconstruindo
Wolfsegg, o espaço responsável por conservar as recordações desse sujeito. Embora tenha
optado por se exilar em Roma, é Wolfsegg que permanece atormentando o exilado. Esse
espaço que, além de persistir nas memórias do narrador, o qual sempre invoca Wolfsegg em
sua fala, acaba, por fim, chamando-o de volta, exigindo que ele o assuma como herdeiro. A
premissa do relato de Murau é que tudo o que for anotado deve ser extinto. Logo, ao final do
romance, Wolfsegg deve também cumprir sua extinção: tanto física, uma vez que, no plano da
história, o narrador isenta-se de assumi-la como herdeiro, quanto estética, uma vez que, ao
recriar esse espaço, Murau o elege a categoria narrativa essencial de seu texto, sendo ela
fundamental para o desenrolar da ação. Nessa obra de Bernhard, é Wolfsegg que permanece
duramente viva nas lembranças do protagonista, ou seja, é o espaço que provoca a ação, pois é
nele onde se consolidaram as memórias da infância e juventude do narrador, as quais ainda
lhe causam dor. Pode-se dizer que a dinâmica do romance em questão é a tentativa do sujeito
em buscar o tempo da infância no espaço que se tornou opressor. Dessa forma, o espaço não
aparece como uma mera descrição, pelo contrário, o narrador vai à procura desse espaço e o
torna matéria da ação. Uma vez que, no romance de Bernhard, a noção de “espaço literário”
constrói-se predominantemente por meio de um narrador em primeira pessoa, sendo
fundamental para a constituição de sua identidade, torna-se objetivo do trabalho aqui proposto
problematizá-la e associá-la à qualificação da instância narrativa.
Palavras-chave: espaço; narrador; autobiografia; subjetividade; Thomas Bernhard.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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O espaço público e sua dimensão histórica: considerações sobre Manaus e a ditadura no
romance Cinzas do Norte, de Milton Hatoum
Naiara Bueno da Silva Speretta (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise da composição do espaço
em Cinzas do Norte, publicado em 2005 por Milton Hatoum, refletindo sobre o modo como a
cidade de Manaus, no período ditatorial, é representada no romance em questão. O que se
propõe é uma abordagem que parte das definições de espaço aventadas por Michel de
Certeau, na obra A invenção do cotidiano (2012), e por Doreen Massey, no volume Pelo
Espaço (2009), uma vez que ambos pensam o espaço em sua dimensão social, ou seja, em sua
relação com os indivíduos que imprimem significado ao espaço ao mesmo tempo em que são
determinados e constituídos pelas práticas culturais, simbólicas e subjetivas que dão sentido a
determinadas espacialidades. O ponto de partida desta reflexão surge da necessidade de
problematizar as relações que se estabelecem entre os personagens e os diferentes domínios
da espacialidade na narrativa brasileira contemporânea, sob a perspectiva que leva em conta o
espaço como produto e produtor do personagem. Ainda que Cinzas do Norte não seja um
romance político, os acontecimentos do livro ocorrem de 1960 a 1980, isto é, nas duas
décadas marcadas pela ditadura no Brasil, e o regime militar figura como um dos principais
motivos de embate entre o protagonista Mundo e seu pai Jano. Desse modo, a hipótese
defendida por este trabalho é a de que a cidade, em Cinzas do Norte, é representada de
maneira crítica e desmistificada, não sendo mais caracterizada como um símbolo de liberdade,
mas sim, de opressão.
Palavras-chave: espaço; narrativa brasileira contemporânea; Milton Hatoum.
“Vieses críticos em contraponto”
63
Espaço e identidade nas crônicas de Alexandra Lucas Coelho
Mariana Letícia Ribeiro (UFSCar - CAPES)
Prof. Dr. André Sebastião Damasceno Corrêa de Sá (Or.)
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar a construção da espacialidade nas
crônicas da escritora portuguesa contemporânea Alexandra Lucas Coelho. Em um primeiro
momento, adotam-se como objeto de trabalho as crônicas reunidas em seu livro Vai,Brasil
(2015), nas quais a viagem e a mobilidade ganham foco na construção do espaço pela visão
do narrador. Desse modo, unem-se, à abordagem dos textos, duas perspectivas, que, de acordo
com Luís Alberto Brandão em seu artigo Espaços literários e suas expansões (2007, p.208-9),
compõe uma das maneiras de abordar o elemento espacial em sua relação com a literatura.
Esta, em específico, une perspectivas dos Estudos Literários e dos Estudos Culturais e
Geográficos. Portanto, em um primeiro momento, considera-se as possíveis relações que o
espaço no mundo contemporâneo pode estabelecer com a construção e questionamento de
identidades e discursos pré-definidos acerca de si e do outro. Para isso, o trabalho se pautará
em conceitos tomados, sobretudo, a Doreen Massey (2009) e Milton Santos (2003, 2006,
2009), que são pertinentes à globalização e sua relação com definições acerca do espaço, bem
como a de sua função na construção da identidade individual, nacional e cultural. Em um
segundo momento, a pesquisa buscará avaliar a condição da literatura de viagem em relação à
Teoria Literária, refletindo acerca da possibilidade de repensá-la a partir de teorias pós-
modernistas, isto é, tomá-la como um questionar e atualizar do passado. Assim, pretende-se
realizar a análise da obra estabelecendo sempre o diálogo entre o aspecto espacial e o literário
presente nas crônicas, utilizando para isso, além de Massey e Santos, teóricos como Maria
Alzira Seixo (1998), Linda Hutcheon (1991) e Ana Paula Arnaut (2002, 2011) – a respeito da
literatura de viagem, intertextualidade e dialogismo, e atualização e questionamento de
discursos passados -, além de conceitos relativos à construção e representação do espaço na
literatura, tais como os de Bakhtin (1997, 1998) e Gaston Bachelard (1993), uma vez que a
construção da espacialidade na ficção envolve o olhar subjetivo do narrador, que pode afirmar
certos significados a respeito do espaço, e, no entanto, subverter outros.
Palavras-chave: literatura portuguesa; espaço; viagem; identidade.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 16h às 18h
SCO6 – Vieses críticos: Machado de Assis (sala 26)
Coordenador(a): Carlos Rocha
Machado de Assis e o primeiro ensaio de crítica literária
Cristiane Nascimento Rodrigues (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. Wilton José Marques (UFSCAR/UNESP)
RESUMO: Publicado em junho de 1856 na revista Marmota Fluminense do editor Francisco
de Paula Brito, o ensaio de crítica literária “A poesia” é o primeiro de uma série de três textos
publicados e reunidos sobre o título de “Ideias Vagas”. E até o momento, ele é tido como o
primeiro texto de prosa a vir a público do escritor de Dom Casmurro (1899) que desde janeiro
de 1855 publicava poemas no mesmo periódico, e que já havia estreado com seu poema
“Soneto” em outubro de 1854 no Periódico dos Pobres. Este ensaio é importante aos
estudiosos que se concentram nas obras da juventude de Machado de Assis, escritor muito
estudado em relação à sua prosa e pouco explorado quanto à poesia, tradução, crítica e teatro.
Nesse sentido, com a finalidade de estudar os inícios literários desse escritor, também
importantes para a constituição do escritor da chamada maturidade, objetivou-se aqui
desvendar o conceito de poesia para o jovem poeta ainda em formação e que por isso,
aprendeu a compor e se serviu de uma visão poética veiculada e difundida durante o seu
período histórico-literário. Assim, a epígrafe de “A poesia” já nos ilustra as influências
recebidas pelo jovem, pois, esta é retirada das Méditations Poétiques (1820) de Alphonse de
Lamartine, poeta francês romântico. Além disso, no decorrer do texto são encontrados nomes
que deveriam ser apreciados por qualquer escritor do século XIX, como Homero, “o chefe
divino e supremo dessa nação que se tem estendido por todo o universo” e Camões, “o divino
cantor dos Lusíadas” (ASSIS, 1856). No início do ensaio, Machado de Assis define poesia de
acordo com uma visão romântica, revelando ainda a forte presença da cultura clássica entre os
poetas iniciantes do período, e termina criticando aos homens comuns que não deram ouvidos
ou permitiram com que os grandes escritores morressem na miséria. Assim, apesar de repetir
as ideias em voga e não apresentar originalidade, o jovem crítico e poeta, aos dezesseis anos,
revela-se participativo dos acontecimentos literários e partidário da defesa da poesia.
Palavras-chave: Machado de Assis; crítica literária; poesia; Marmota Fluminense.
“Vieses críticos em contraponto”
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Machado de Assis: crítico da “Semana Literária”
Marina Venâncio Grandolpho (FCLAr/UNESP)
Prof. Dr. Wilton José Marques (Or.)
RESUMO: O escritor Machado de Assis viveu entre os anos 1839 e 1908. Atuou como
romancista, contista, cronista, dramaturgo, poeta e crítico literário. Nem todos os papeis
desempenhados pelo escritor são reconhecidos em sua plena importância pelos estudos de
Literatura Brasileira. Seu papel como crítico literário é um deles e é também o que nos
interessa na presente pesquisa. Os textos de sua crítica são reconhecidos, parcialmente
compilados e publicados, e, algumas vezes, comentados, porém não há muitos trabalhos que
os tratem com exclusividade e atenção, no sentido de promover análises que elucidem e
explanem sua relevância para o cenário oitocentista e/ou para a literatura brasileira de um
modo geral. Por este motivo, pensamos que um olhar mais atencioso para sua produção de
crítica literária poderia suscitar sua relevância neste sentido – para a formação de uma cultura
literária propriamente dita, dada sua possível importância para o contexto cultural, social e
político do Brasil pós-independência. Por isso, objetivamos uma análise aprofundada de
textos referentes à crítica machadiana. Porém, em razão da grande quantidade dos textos
produzidos por Machado e do grande intervalo em que o autor produziu ensaios de crítica
literária (entre 1856 e 1907), optamos por realizar um recorte bastante pontual nessa análise,
que privilegiará os textos produzidos pelo escritor na coluna “Semana Literária” como nosso
objeto. A coluna em questão era publicada semanalmente no jornal Diário do Rio de Janeiro e
durou de janeiro a julho de 1866. O encontro com o nosso objeto de estudo foi motivado não
só pelo teor teórico do material, mas também porque, ainda que o tom de crítica literária
buscado por Machado seja persistente, os textos da coluna chamaram nossa atenção pelo fato
de transitarem entre crônicas e ensaios. Além disso, não encontramos trabalhos que
contemplem a compilação de todos os textos publicados na coluna, o que despertou ainda
mais nosso interesse.
Palavras-chave: Literatura Brasileira; Machado de Assis; crítica literária; oitocentismo.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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A consciência crítica machadiana e a reelaboração textual
Carlos Rocha (FCLAr/UNESP)
Prof. Dr. Wilton J. Marques (UFSCar)
RESUMO: Na leitura dos textos críticos – discussão dos conceitos que balizam a literatura
brasileira –, das crônicas e das correspondências – breves análises sobre os textos de
escritores coetâneos –, é possível observar uma consciência crítica de Machado de Assis sobre
o fazer literário, marcada pelo procedimento do estudo, trabalho e talento, em que o autor
demonstra ter a preocupação com o aprimoramento formal e o objetivo de representar, numa
chave crítica, a sociedade carioca de seu tempo. Concepção literária que pode explicar a
rearticulação operada nos seus próprios textos, intensificando uma busca pela melhor
composição formal a enunciar a complexidade das sutilezas dos costumes locais. O princípio
dessa reelaboração pode ser apreendido na comparação da nota introdutória das peças O
caminho da porta e O Protocolo, publicadas em 1863, com o prólogo de Ressurreição (1872),
primeiro romance do autor. Tanto na nota introdutória quanto no prólogo, Machado de Assis
reflete sobre o gosto do público leitor, o papel da crítica naquele cenário editorial e o caráter
de ensaio que atribui a essas obras. Nos dois textos, a estratégia argumentativa é a mesma: a)
conquistar a simpatia do leitor e da crítica; b) relembrá-los que as peças foram encenadas e
obtiveram certo sucesso para melhor divulgar a sua versão escrita, assim como relembrá-los
quanto ao volume de contos e novelas que também teve boa aceitação, por isso, ele se animou
a publicar o romance; c) demarcar que ele é um escritor experimentado, ainda que peça
benevolências as suas obras, uma vez que elas representam um ensaio. Desse modo, pretende-
se comentar as semelhanças presentes nessas duas produções para compreendê-las à luz dessa
consciência crítica e do projeto literário do escritor.
Palavras-chave: Machado de Assis; teatro; romance; reelaboração textual.
“Vieses críticos em contraponto”
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Transferências culturais e intertextualidade: a chegada da cultura italiana no Brasil e a
sua manifestação nas crônicas de Machado de Assis.
Ionara Satin (FCLAr/UNESP - FAPESP)
Prof.ª Dr.ª Daniela Mantarro Callipo (Or.)
RESUMO: As crônicas de Machado de Assis são ricas em construções intertextuais. O
escritor dialoga com muitas culturas e literaturas, dentre elas a cultura italiana. No correr da
sua pena, insere a Itália nas páginas dos jornais da época, circulando por vários ambientes
italianos, como por exemplo, o da música, da política, da literatura, do teatro, da pintura e da
história. Por se tratar de um diálogo estabelecido em um texto como crônica, feito para o
jornal, a Itália do cronista machadiano também está vinculada a uma época e a seus leitores.
Nesse sentido, essa comunicação pretende investigar a chegada da cultura italiana no Brasil e
a sua manifestação nas crônicas de Machado de Assis, partindo dos conceitos de
transferências culturais e intertextualidade, tomando por base as alusões e citações que aí se
encontram. Isto é, além de tentar mostrar qual seria a Itália do cronista, pretende-se analisar
como o escritor forma essa imagem da Itália com a qual dialoga em suas crônicas, pensar na
maneira como Machado de Assis entra em contato com o país de Dante e como essa cultura se
manifesta nesses textos escrito para o jornal. Tudo isso porque, acredita-se que talvez, a Itália
machadiana não seria somente fruto de escolhas pessoais, mas também fruto do contato direto
com certos mediadores culturais, de modo que o repertório italiano nas crônicas pode ser
reflexo do chão cultural do momento. Esses mediadores culturais, de acordo com o conceito
de transferências culturais seria uma atividade de inter-relações que se constitui na imprensa
brasileira (jornais e revistas), como por exemplo, com escritores, jornalistas, livreiros,
intelectuais, tradutores ou viajantes entre outros.
Palavras-chave: Cultura Italiana; Intertextualidade; Machado de Assis; Transferências
Culturais.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
68
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 16h às 18h
SCO7 – Literatura e questões de gênero (Anf. E)
Coordenador(a): Joana Junqueira Borges
A mulher e a crítica: a Marquesa de Alorna em perspectiva
Joana Junqueira Borges (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)
RESUMO: A pesquisa de doutorado que venho desenvolvendo no Programa de Pós-
Graduação em Estudos Literários na Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara tem como
objetivo estudar as especificidades tradutórias da versão de D. Leonor de Almeida, a
Marquesa de Alorna (1750-1839) para a Arte poética de Horácio, poeta latino do século I
d.C., publicada em 1812. O trabalho de contextualização e aprofundamento das características
dessa poeta portuguesa nos mostrou que ela tem uma biografia de bastante interesse, não
apenas por ser uma mulher traduzindo e produzindo poesia em meados do século XVIII e
XIX, mas também por sua família ter sido condenada por envolvimento em um atentado
contra a vida do rei D. José I: seus avós foram executados em praça pública, enquanto seu pai
foi aprisionado no Forte da Junqueira e ela, sua mãe e irmã encarceradas no Convento de São
Félix, em Chelas, onde permaneceram entre os anos de 1758 a 1777. Vale destacar, além
disso, que D. Leonor foi uma mulher bastante à frente de seu tempo, destacando-se na
política, ao acompanhar seu marido, o Conde de Oyenhausen, à Áustria, e por sua
proximidade com a rainha D. Maria I. Na literatura também foi bastante influente, tendo sido
uma das precursoras do romantismo em Portugal, devido à sua facilidade com a língua alemã
e sua permanência em Londres de 1802 a 1813. Participou da cena literária de sua época,
tendo tido contato próximo e inspirado personagens como Alexandre Herculano e Bocage,
além de Filinto Elísio, que lhe deu o nome árcade de Alcipe. Suas Obras completas foram
publicadas por suas filhas em 1844, e mereceram o elogio de Antônio Feliciano de Castilho.
Ainda que todas essas questões atestem o interesse para se estudar as obras e as traduções da
Marquesa de Alorna, sua presença em manuais de literatura é na maioria das vezes
acompanhada de “mas”, “poréns” e diversas ressalvas a sua posição de mulher, mãe e esposa.
Procuraremos apresentar no presente trabalho como a crítica através do tempo vem, na
maioria das vezes, tratando a sua condição de mulher e deixando de lado sua produção
artística.
Palavras-chave: Marquesa de Alorna; crítica feminina; arcadismo; Arte poética; tradução
“Vieses críticos em contraponto”
69
Uma Faca, muitos cortes: a representação da mulher no regionalismo contemporâneo
Elide Mendonça Santos (UFSCar-CAPES)
Prof.ª Dr.ª Tânia Pellegrini (Or.)
RESUMO: Este trabalho pretende investigar a permanência da tradição regionalista na
literatura brasileira contemporânea, a partir da obra Faca (2003), do escritor cearense
Ronaldo Correia de Brito. Propõe-se, traçar um possível percurso para a representação da
mulher nesta escola literária, surgida nos liames da ficção brasileira, com base nas próprias
obras que encerram esta tradição, além do estudos teórico-críticos dedicados ao tema. Nossa
escolha pela obra se justifica, pelo fato das personagens femininas que povoam o universo do
autor, revisitarem, reiterarem e reafirmarem a própria sobrevivência do regionalismo, ao
assumirem diversos papeis contraventores àqueles evidenciados na ficção regionalista de
meados do século XIX, e início do XX. Nossa hipótese é de que o efeito transgressão-
punição – conceito fundamentado por Judith Butler (2003), cujo trabalho sobre a
desnaturalização do gênero afirma que no universo das artes, as performances e
comportamentos não esperados para o corpo feminino são frequentemente punidos – sempre
muito presente na tradição regionalista, esteja se desarticulando. Sob esta perspectiva,
interessa-nos saber como estes contos não tão somente dão seguimento ao veio regional,
como também alteram sua fisionomia, a partir das representações que encerra e das
transformações que promove, principalmente no que diz respeito à ausência do efeito
anteriormente citado. Ao revelar um universo nutrido de mulheres lúcidas, ousadas, capazes
de romper fronteiras espaciais e sociais, o autor parece fugir dos modelos polarizados –
“mulher anjo” versus “mulher demônio” – muito característicos da ficção regionalista das
primeiras fases. Em Faca, as representações femininas figuram a humanidade em suas
contradições, inquietudes e anseios universais, comuns a todos, o que inviabiliza imagens
estigmatizadas da mulher. Outro ponto a ser destacado, diz respeito a desarticulação do
sistema punitivo, que não foi abrupta e imediata. Acreditamos que ela tenha se intensificado
nos romances de 1930 e desde então venha apresentando certo desgaste, que pode ser fruto,
inclusive, de transformações socioculturais vividas em nosso tempo.
Palavras-chave: literatura brasileira contemporânea; regionalismo; Faca; personagens
femininas.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
70
A figuração da mulher no conto “O cesto”
Michelle Aranda Facchin (UNESP – S. J. Rio Preto)
RESUMO: Historicamente, homens e mulheres cumpriram papéis sociais em que
predominava a distinção entre os gêneros de forma negativa, permeada por relações de poder
e desigualdades. A literatura, sendo parte de um arquivo cultural, acaba perpetuando esses
posicionamentos patriarcais e machistas e, por isso, as mulheres são frequentemente
representadas de acordo com o papel que assumiram comumente na História: de esposas,
mães, submissas donas de casa, sujeitos sem participação ativa nas decisões tanto no âmbito
familiar como na sociedade em geral. Ou seja, ao feminino foi dada uma posição
predominantemente afônica, cujas figurações focam especialmente na beleza ou feiura da
mulher, no poder e nos perigos da sua sensualidade, na necessidade de escondê-la por respeito
ao marido, etc. Por meio de uma breve análise do conto “O cesto”, baseando-nos na teoria
crítica de gênero e dos estudos pós-coloniais, identificamos que há uma ratificação do que a
crítica afirma sobre a representação da mulher em Mia Couto, que se dá como um processo
não fixado nos binômios nos quais o homem é sempre o dominador e a mulher sempre a
dominada, pois a escrita miacoutiana parece mais preocupada com a demonstração de um
universo africano plural e multi-identitário. Portanto, a literatura de Mia Couto, embora não
seja documental, faz parte de um arquivo cultural de uma realidade histórica em que as
identidades e os valores são plurais, não fixos, expressando uma diversidade nos gêneros que
não se atém a um processo de simbolização imbuído de valores pré-coloniais, mas sim ligado
a configurações de um hibridismo.
Palavras-chave: Mia Couto; representação da mulher; identidade.
“Vieses críticos em contraponto”
71
The voyage out e The voyage in the dark: o tema da viagem nas obras de Woolf e Rhys
Juliana Pimenta Attie
RESUMO: No ano em que escritora Jean Rhys – que nasceu na Dominica, mas viveu a maior
parte da sua vida adulta na Europa – publica sua primeira obra, 1927, Virginia Woolf já havia
lançado um dos romances mais famosos da literatura inglesa, Mrs. Dalloway, e publicava To
the Lighthouse. Naturalmente, é possível perceber muitas semelhanças na escrita das duas
autoras, especialmente no uso das técnicas do fluxo da consciência, comum no contexto
modernista em que ambas se inserem. Outra similaridade é o fato de elas colocarem em foco
personagens femininas que se encontram na condição de outsiders. No entanto, os motivos
pelos quais essas personagens não se inserem na sociedade, na maioria das vezes, divergem
devido ao setor social retratado pelas escritoras: enquanto Woolf coloca em cena a classe
média britânica, Rhys problematiza a situação da mulher que sai da colônia – Caribe – para a
metrópole – Inglaterra. Nesse sentido, a partir da leitura de duas obras que trazem em si o
tema da viagem, The Voyage Out (1915), de Woolf, e The Voyage in the Dark (1934), de
Rhys, este artigo visa comparar a jornada de Rachel Vinrace e Anna Morgan, respectivas
protagonistas dos romances mencionados. Rachel viaja com a família da Inglaterra para a
América do Sul. Anna, por sua vez, faz o percurso inverso, posto que se muda de uma ilha
caribenha para a Inglaterra. Vale ressaltar que interessa neste estudo pensar no tema da
viagem enquanto um percurso pela mente das personagens, buscando ressaltar a representação
do trabalho da memória ao relacionar as lembranças aos espaços que compõem os romances.
Palavras-chave: Virginia Woolf; Jean Rhys; Memória; Viagem; Literatura Feminina.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
72
Vieses críticos em contraponto: literatura de protesto e gênero na trilogia da tortura de
Heloneida Studart
Evelyn Mello (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Maria Clara Bonetti Paro (Or.)
RESUMO: A finalidade do presente trabalho é resgatar a importância da autora Heloneida
Studart para os estudos referentes ao Romance de Protesto, nomenclatura que caracterizou a
literatura escrita durante e após o Regime Militar Brasileiro (1964-1985) com o claro
propósito de denunciá-lo, bem como ampliar questões que privilegiem a teoria feminista
como uma forma de resistência artística, partindo-se do princípio que os Romances de
Protesto, ao possuírem vínculo com o ponto de vista feminista, ganham um duplo grau de
resistência, mesclando à matéria narrativa tanto as denúncias de tortura e de todas as formas
de repressão política como questões referentes à opressão de gênero, traduzidas nos dilemas
enfrentados pelas personagens femininas. O primeiro romance a compor a série é O pardal é
um pássaro azul (1975), seguido por O estandarte da agonia (1981) e, por último, O
torturador em Romaria (1986). As duas primeiras obras foram escritas e publicadas no
período do regime militar, sendo assim, a primeira traça de modo discreto a prisão de João,
membro da poderosa família dos Carvalhais Medeiros, entremeando as denúncias de tortura e
do absurdo da prisão com a opressão sofrida pela mulher na atrasada sociedade nordestina. Já
em O Estandarte da Agonia, a autora dará vazão à angústia de sua amiga íntima, Zuleika
Angel Jones e seu calvário para resgatar o corpo do filho, Stuart Edgard Angel Jones, morto
pela repressão na década de 1970, sem reconhecimento oficial. Última obra a compor a
trilogia, O torturador em romaria (1986), publicada já em tempos de democracia, pode ser
considerada como um acerto de contas com o passado e, por isso mesmo, mais forte em
denúncias e mais disposta à técnica do choque que as obras anteriores. Aqui a voz que narra é
a do torturador que, após viajar em missão para o Ceará, começa a ser atormentado pelos
crimes que cometeu, como se os fantasmas dos torturados voltassem para cobrar por justiça.
Também se salienta no romance a misoginia do torturador, criado sem a figura materna e
atormentado por uma tia de criação; a maldição do torturador será apaixonar-se pela
misteriosa Dorinha.
“Vieses críticos em contraponto”
73
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 16h às 18h
SCO8 – Poesia brasileira moderno-contemporânea (sala 32)
Coordenador(a): Bruno Darcoleto Malavolta
A poesia inédita de Caio Fernando Abreu
Camila Bertelli Martins (FCLAr/UNESP)
Prof. Dr. Paulo César Andrade da Silva (Or.)
RESUMO: O trabalho visa a análise dos ainda pouco conhecidos poemas do escritor gaúcho,
Caio Fernando Abreu, reunidos e publicados postumamente uma única vez. Adentrando um
universo aparentemente novo no que diz respeito à obra do escritor, é possível estabelecer
uma espécie de reconhecimento de terreno a partir de sua produção mais célebre: seus contos,
por meio deles, pode-se traçar um paralelo entre as duas construções graças ao lirismo latente,
efetivo nos escritos de Caio. Tomando como base a fronteira entre conto e poesia, pretende-se
estabelecer uma comparação entre os dois gêneros literários, a relação existente entre os dois
e a forma como cada um é explorado pelo autor, analisando também a força do apelo
sentimental e a relação com a música presentes tanto em sua prosa quanto em sua poesia, bem
como a frequente preocupação estética vivente em toda sua obra, levando em conta a
dificuldade de analisar uma produção inédita, até então pouco explorada pelo ambiente
editorial, Além das análises, o trabalho visa também apresentar uma outra faceta do escritor, a
que, por muito tempo, ficou escondida em suas gavetas, mas que o acompanhou durante toda
a sua vida, servindo também como instrumento para estancar a ferida sempre aberta e que
tornava o ato de escrever tão necessário. Utilizando como instrumento de estudo as
características dos dois Caios que coexistiram: o poeta e o prosador, torna-se possível apontar
as semelhanças e divergências em relação à temática e aos recursos utilizados em seu
processo de composição poética, que assim como a prosa, ajudou a dar voz à dores tão
humanas, íntimas e universais.
Palavras-chave: poesia; conto; análise; comparação.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
74
Características ensaísticas em “Poesia e Composição” de João Cabral de Melo Neto
José Guilherme Pimentel Joaquim (UFSCar)
Prof.ª Dr.ª Diana Junkes Bueno Martha (Or.)
RESUMO: A comunicação pretende tratar das características próprias da forma ensaística
presente na conferência “Poesia e Composição” (2003) de João Cabral de Melo Neto.
Tomando o ensaio como forma privilegiada da crítica exercida por escritores no contexto da
modernidade, tal como apontado por Maria Esther Maciel (1999), assim como a importância
do ensaio para a crítica literária no contexto do século XX, como abordada por Lukács,
Adorno (2003) e, mais recentemente, Alfonso Berardinelli (2011), pretendemos retomar a
construção do texto do poeta pernambucano procurando evidenciar as características que
aproximam de uma experiência ensaística tal como estabelecida por Adorno. Nesse sentido,
busca-se apontar de que modo a relação entre sujeito e objeto, estabelecida no texto por meio
de conceitos, se aproxima de uma experiência intelectual. Tal abordagem nos interessa,
sobretudo, na medida em que nos possibilita alocar João Cabral de Melo Neto como
pertencente à vertente de poeta-crítico e, nesse sentido, permite-nos relacionar as posições
assumidas no ensaio com sua própria obra poética, principalmente no que diz respeito à
relação entre poeta e poema, ou, nos termos de Maciel, sujeito lírico e sujeito empírico.
Proferida em 1952, na Biblioteca São Paulo, a conferência busca, não teorizar e criticar uma
ou outra corrente literária, uma ou outra obra específica, mas sim tratar do próprio fazer
poético. Com isso, ainda que construída a partir de conceitos e posições cujas referências não
são evidenciadas, é possível apontar relações valiosas com as posições de Paul Valéry, leitor
de Mallarmé, e Le Corbusier, o que nos dá indícios da importância que esse texto crítico
possui para tratar questões e características da própria concepção poética cabralina.
Palavras-chave: poesia brasileira; poesia crítica; ensaio.
“Vieses críticos em contraponto”
75
O último espetáculo da poesia brasileira: revolução, poesia e espetáculo
Bruno Darcoleto Malavolta (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. João Batista Toledo Prado (Or.)
RESUMO: A radical imbricação poesia-sociedade foi o mais forte motor a animar a poesia
brasileira do século XX. A imbricação destas duas instâncias, unidas pela porosidade da
linguagem, é resultado de um esforço dessa poesia em, através de injeções cada vez mais
fortes de retórica persuasiva, dialogar com uma sociedade em que os fatos midiáticos lento e
lento tomaram as vezes dos fatos políticos e sociais, transformando o tempo em uma
“publicidade do tempo”, nos termos de Guy Debord: um tempo especulativo, em que “a
unidade da vida já não pode mais ser restabelecida”, igualmente deteriorada em sua
falsificação em “pseudovida”. O espetáculo como "negação da vida que se tornou visível" é a
tese debordiana que nos interessa para pensar o fenômeno poético: por que vias retóricas a
poética pôde sobrepor seu discurso ao espetacular, resultando na sobrevida de seu gênero na
contemporaneidade? Investigar o texto poético como objeto da alçada desta “vida” é a pedra
de toque para nossa exegese. Debruçados especialmente sobre três obras-chave da
modernidade e contemporaneidade líricas brasileiras – Sentimento do mundo (1940), de
Carlos Drummond de Andrade, Dentro da noite veloz (1962-1975), de Ferreira Gullar e
Paranóia (1963), de Roberto Piva –, pretendemos investigar o modo como esta lírica tecerá
relações com o seu tempo, de forma a criar um embate entre seu próprio gênero e a retórica
espetacular. Através da manipulação de um cospus poético e teórico coevos, ambos
fortemente vincados pela militância político-revolucionária do século passado, pretendemos
demonstrar o quão determinante foi a imbricação desses dois discursos opositores para nossa
poesia, culminando em um discurso quase uníssono entre poesia e revolução para, em
seguida, fragmentar-se ideológica e discursivamente em busca de um novo devir.
Palavras-chave: poesia brasileira; contemporaneidade; modernidade; sociedade do espetáculo;
Guy Debord.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 16h às 18h
SCO9 – Literatura Portuguesa (sala 34)
Coordenador(a): Audrey Castañón de Mattos
“Como no fim dos filmes, até nos dissolvermos...”: imagem, montagem e outros aspectos
cinematográficos na obra Conhecimento do inferno, de António Lobo Antunes.
Carlos Henrique Fonseca (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Outeiro Fernandes (Or.)
RESUMO: O romance Conhecimento do inferno, do escritor português António Lobo
Antunes e publicado em 1980, é o terceiro de uma trilogia da qual fazem parte também os
romances Memória de elefante e Os cus de Judas, ambos de 1979. Estas obras trazem à cena
os anos derradeiros da guerra colonial, os conflitos em solo africano e a difícil situação dos
retornados à metrópole. Numa narrativa de viagem, do sul de Portugal a Lisboa, muito
espelhada aos road movies americanos, temos um narrador construído com base num
substrato fortemente autobiográfico cuja descrição poéticas da paisagem é invadida por uma
inevitável memória traumática, que faz o passado dobrar-se sobre o presente. Esta estratégia
de articular tempos e espaços, sobrepostos e intercalados, desdobra o significado da viagem,
agora não apenas física, mas também memorialística e identitária, marcada pela angústia e
incapacidade de superação dos traumas originados na infância, na guerra, no retorno, ou no
exercício da psiquiatria, profissão compartilhada entre o autor e o narrador protagonista. No
horizonte de uma narrativa poética, na qual o fluxo de consciência se rende à força das
imagens, António Lobo Antunes revela sua confessa influência de outras linguagens artísticas,
destacadamente a linguagem cinematográfica. A proposta deste estudo é reconhecer os pontos
de convergência entre esta linguagem e as estratégias narrativas do autor no romance
Conhecimento do inferno, pensando a sua escrita com base em categorias próprias ao cinema
como plano, montagem, corte e sequência, bem como em categorias compartilhadas entre
literatura e cinema como foco narrativo, duração e diegese. Convocamos também para
discussão os conceitos cinematográficos de opacidade e transparência, segundo a formulação
do crítico e teórico de cinema Ismail Xavier, a fim de, estabelecendo-se um contraponto entre
os vieses literário e cinematográfico, iluminar alguns aspectos estéticos e ideológicos acerca
do romance e da escrita de António Lobo Antunes.
Palavras-chave: António Lobo Antunes; imagem; cinema; narrativa poética
“Vieses críticos em contraponto”
77
O silêncio musical na escrita: a forma da sonata em Os teclados, de Teolinda Gersão
Audrey Castañón de Mattos (FCLAr/UNESP - Capes)
Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)
RESUMO: Este trabalho é resultado parcial da pesquisa de doutorado em que investigamos as
formas do silêncio na obra de Teolinda Gersão. Com base no conceito de silêncio primordial,
de Santiago Kovadloff, analisamos, nesta comunicação, a presença do silêncio musical
(manifestação do silêncio primordial) no romance Os teclados, da autora portuguesa. Para
Kovadloff, as palavras corriqueiras, ou “palavras do costume”, silenciam uma dimensão de
sentido do real que é decisiva para o entendimento da existência. O silêncio primordial,
aquele a que se chega por meio do poema (ou da música, ou do amor, ou da luz; esse silêncio
pode manifestar-se por outras formas) é aquele que não se deixa limitar pelos recursos de
nossa lógica. Também chamado pelo autor de “silêncio da epifania”, é tangível, porém
informe, palpável, porém inalcançável: é o silêncio a que chegamos quando somos tomados
por uma compreensão plena de algo e, entretanto, não a podemos traduzir em palavras.
Centrado no desenvolvimento de sua protagonista, que procura captar o mundo enquanto
busca sua própria identidade, Os teclados exprime-se pelo silêncio, dada a impossibilidade de
definir o ser (ser alguém, ser no mundo), seja pela limitação da língua para fazê-lo ou porque
o ser, em sua multiplicidade e fragmentação é indefinível. Nossa análise recai sobre a
apropriação de elementos da música, como a utilização da forma da sonata, do contraponto,
entre outros, que inserem o silêncio musical no discurso e em sua estrutura, como forma de
transcender a limitação da língua para representar do mundo a sua porção imaterial.
Palavras-chave: literatura portuguesa séc. XX; música e escrita; silêncio; forma da sonata.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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A autointertextualidade na obra de Teolinda Gersão
Ana Carolina da Silva Caretti (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Márcia Valéria Zamboni Gobbi (Or.)
RESUMO: O mergulho nas produções de um artista pode revelar algumas recorrências
significativas para o entendimento de sua obra como um todo. Falamos do dialogismo que
ocorre entre os textos e faz com que uma leitura possa remeter a outra, por meio da
autointertextualidade. Este recurso, que tem suas bases fundamentadas na ideia de
transtextualidade de Gérard Genette (1982), foi trabalhado pela pesquisadora Maria Célia
Leonel em Guimarães Rosa: Magma e gênese da obra (2000) e trata das relações
intertextuais entre textos de mesma autoria, mostrando não só vínculos temáticos, mas
também estruturais na obra de um escritor. Em Teolinda Gersão, encontramos esses liames
nos arranjos sintáticos que mimetizam determinado estado de coisas – como o caos, por
exemplo –, e em temas e elementos recorrentes em diversas narrativas. Nossa comunicação
ficará centrada em alguns desses elementos, como a casa, a água e o guarda-chuva, que são
figuras recorrentes na obra como um todo, e na relação que eles estabelecem com a arte da
escrita, podendo ser vistos como metáforas da própria literatura. Estes elementos têm papel de
destaque em vários textos de Gersão e são, aliás, personificados e alçados à categoria de
personagem. A casa, espaço de intimidade e conforto, segundo Gastón Bachelard (1974), ao
mesmo tempo em que é arquitetada pela escrita, é a construtora dessa mesma escrita, e fecha
suas janelas, por exemplo, no momento em que a narrativa também se encerra. Pretendemos,
portanto, mostrar como as relações autointertextuais se dão na obra de Teolinda e como tal
autointertextualidade atua em favor de uma escrita embrionária e autorreferencial,
corroborando, inclusive, os aspectos metaficcionais da obra da escritora portuguesa.
Palavras-chave: Teolinda Gersão; autointertextualidade; narrativa portuguesa.
“Vieses críticos em contraponto”
79
Realidade, ficção e alegoria em A Torre da Barbela
Gabriela Cristina Borborema Bozzo (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Márcia Valéria Zamboni Gobbi (Or.)
Prof.ª Dr.ª Tania Mara Antonietti Lopes (Or.)
RESUMO: O presente estudo propõe uma análise das relações entre a realidade e a ficção,
bem como uma análise alegórica do romance português A Torre da Barbela (1966), de Ruben
A. No romance, oito séculos de gerações da família Barbela convivem como fantasmas
noturnos na Torre. Essa família pertencia à nobreza de Entre-Douro-e-Minho, província do
Norte Atlântico de Portugal na época monárquica, mas no tempo em que transcorre a
narrativa (século XX), a propriedade familiar tornou-se Monumento Nacional, onde um
caseiro trabalha como guia para receber turistas. O que os visitantes e o caseiro desconhecem
é que, ao anoitecer, os fantasmas das geraçoes dos Barbelas saem de suas valas e habitam a
Torre, contudo, eles devem retornar ao amanhecer, senão seriam aniquilados. A fim de
estudar o romance sob essa perspectiva, textos de Wolfgang Iser e Roland Barthes foram lidos
e discutidos com o objetivo de analisar o romance a partir de suas teorias. Ao final dessa
discussão e sua aplicabilidade ao romance, foi proposta uma leitura do ensaio de Maria de
Fátima Marinho, a fim de finalizar as discussões anteriores. Para essa discussão, foram
utilizados os textos “Atos de Fingir” e “O Imaginário” (1996), de Iser, e “O Efeito do Real”
(1972), de Barthes, pertencentes às obras O fictício e o imaginário (1996) e Literatura e
Semiologia (1972), respectivamente. A partir deles, tentou-se mostrar desde a oposição entre
realidade e ficção até a tríade propostas por Iser no romance; essa tríade, por exemplo, foi
observada como três realidades distintas na esfera do romance. As concepções de fantasia e
imaginário de Iser também foram observadas no romance, assim como a concepção de
descrição da Idade média, relembrada por Barthes, a qual não possuia compromisso com a
realidade. Essa observação foi analisada no romance, pois um personagem central relaciona-
se a essa época. Quanto às observações acerca da face histórica do romance, bem como a sua
análise alegórica, pretendeu-se analisar as observações de Marinho em “A Transfiguração da
história em ‘A Torre da Barbela’”, a fim de, a partir da perspectiva proposta pela autora, dar o
laço final à analise como um todo.
Palavras-chave: real; fictício; imaginário; A Torre da Barbela; ficção histórica.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
80
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 16h às 18h
SCO10 – Literatura: (in)especificidades (sala 35)
Coordenador(a): Efraim Oscar Silva
Entre a arte literária e a cultura de massa: a literatura contemporânea como um espaço
intervalar
Daniel Ricardo Vícola (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Natália Corrêa Porto Fadel Barcelos (Or.)
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo abordar a cultura de massa e a indústria
cultural em sua relação simbiótica com a arte literária em nossos dias, dissolvendo “a grande
divisão” apontada por Huyssen (2006), que antes havia entre elas, constituindo-se num
verdadeiro “espaço intervalar”, de acordo com Fernandes (2012), entre o bom gosto e o
kitsch, tendência, essa, que se desenha há algumas décadas e chega aos nossos dias, fruto do
que a autora chama de “perspectivas pós-modernas”, que muito nos ajudam a compreender e a
delinear as características relevantes da produção literária contemporânea, quer sejam
temáticas ou formais. Unindo a mais pura expressão artística àquele conteúdo de apelo mais
popular, a obra literária, hoje, incorpora a enunciação ao enunciado e dialoga direta e
objetivamente com os interesses e necessidades do público leitor-consumidor a que se destina,
obrigando-nos a uma revisão dos próprios conceitos de arte e literatura numa realidade em
constante mudança e transformação.
Palavras-chave: literatura contemporânea, cultura de massa, kitsch, indústria cultural, leitura.
“Vieses críticos em contraponto”
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Narrativa em trânsito: uma análise do movimento na escrita de Ismael Caneppele
Natália Cristina Estevão (UFSCar/FAPESP)
Prof.ª Dr.ª. Rejane Cristina Rocha (Or.)
RESUMO: Este resumo é parte integrante do trabalho de dissertação de mestrado, cujo
desenvolvimento é fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
A proposição desta pesquisa se fundamenta em uma análise que elucide a relação inextricável
entre literatura e suas materialidades, considerando que estas influenciam as possíveis
interpretações e usos do texto. Para tanto, delimitamos como corpus de pesquisa o blog
Ismael Pele de Cão e o livro Os famosos e os duendes da morte (2010), ambos de autoria do
escritor brasileiro contemporâneo Ismael Caneppele. A proposta é investigar as
especificidades dos textos em diferentes meios de inscrição, a partir do conceito de
remediation, de Jay David Bolter e Richard Grusin (1999), que problematiza a articulação
entre diferentes meios técnicos, na medida em que postula que novos meios não superam ou
substituem os anteriores, trata-se de uma coexistência entre eles, que reconfigura os seus
significados. Além disso, observamos de que modo a escrita de Ismael Caneppele, ao se
constituir por elementos diversos (texto verbal, vídeos, fotos, música e internet), propicia
movimentos de entrada e saída dos textos, através da articulação entre distintos meios de
inscrição e circulação de textos, entendido por Florencia Garramuño (2014) nos termos de
entrecruzamento de meios. Com a finalidade de compreender os movimentos intertextuais
propostos nos textos, utilizaremos o conceito de reciclagem cultural, de Jean Klucinskas e
Walter Moser (2007), cuja proposição é uma revisão do conceito de estética, a partir da
reconsideração do paradigma “novidade, originalidade, autenticidade” pela tríade “cópia,
reciclagem, seriação”.
Palavras-chave: Literatura Brasileira Contemporânea; Escritas em movimento; Ismael
Caneppele.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
82
Atos de equilibrista: Modesto Carone e a narrativa dos múltiplos pertencimentos
Efraim Oscar Silva (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Rejane Cristina Rocha (Or.)
RESUMO: Críticos e teóricos contemporâneos que atuam em diferentes campos, como
filosofia, história, estética, sociologia, antropologia e estudos literários, discutem a
identificação do literário com o não literário, implicando a incorporação de visões, crenças,
significados, discursos que estão mais ou menos distantes do seu “campo de origem”, das suas
matrizes clássicas e do cânone. Identificamos na produção ficcional do escritor (e também
tradutor, ensaísta e professor) Modesto Carone esse deslocamento/ deslizamento da literatura
na direção de outros gêneros e de outras expressões do cognitivo e do sensível. São até o
momento quatro volumes de contos e uma novela – As marcas do real, Aos pés de Matilda,
Dias melhores, Por trás dos vidros e Resumo de Ana –, nos quais a textualidade manifesta
traços formais e temáticos que mesclam características do relato memorialístico, da crônica do
cotidiano, da prosa de ficção e do ensaio. Esses traços afastam o texto ficcional de Carone da
tradição mimética na literatura ocidental e configuram um distanciamento entre o narrador e o
narrado que é frequente no discurso não literário. Em linhas gerais, nossa pesquisa se propõe a
analisar a ficção de Modesto Carone na perspectiva da sua interseção com outros campos
(leia-se outras racionalidades e subjetividades) e a refletir sobre o caráter singular e
transdisciplinar dessa obra. Para cumprir esse percurso, nos referenciamos nas teorias da
narrativa, especialmente na narratologia modal (GENETTE, 1995; 1998) e nas discussões
teóricas que pensam as experiências expansivas da literatura contemporânea em termos
próximos do que Ludmer (2007) nomina de posição diaspórica: ao transporem a fronteira do
literário, muitas dessas obras “ficam dentro e fora”.
Palavras-chave: literatura brasileira; narrativa contemporânea; Modesto Carone; expansão de
campo do literário.
“Vieses críticos em contraponto”
83
A partilha do sensível em uma história em quadrinhos de Lourenço Mutarelli:
discutindo o conceito de representação
Arthur Dias de Souza (UFSCar)
Prof.ª Dr.ª Rejane Cristina Rocha (Or.)
RESUMO: Esta comunicação intenta apresentar um primeiro momento de nossa pesquisa de
mestrado, no qual procuramos estabelecer as bases teóricas de investigação de uma parte do
nosso corpus de análise, a saber, a história em quadrinhos do autor brasileiro contemporâneo
Lourenço Mutarelli, intitulada A caixa de areia. Essa obra utiliza dois registros artísticos, o
verbal e o plástico, ambos mobilizados para problematizar, a partir de seu enredo, o próprio
fazer artístico do autor e as possibilidades que o artista possui para representar a realidade.
Por meio das discussões de Jacques Rancière (2005), buscamos evidenciar outros modos de se
compreender o conceito de representação no período contemporâneo. Para tanto, nos
baseamos na concepção de partilha do sensível (RANCIÈRE, 2005), de modo a esquadrinhar
as relações entre a palavra e a imagem no interior do que o filósofo compreende como
regimes de identificação das artes. No período contemporâneo, está em funcionamento o
regime estético, responsável por uma desierarquização das relações entre a palavra e a
imagem, entre a literatura e as outras artes; em contraposição ao regime anterior, o regime
representativo ou clássico, responsável por dividir as artes em gêneros e temas, que os
classificavam como baixos ou elevados. Esse primeiro momento de nossa pesquisa tem o
objetivo de decantar de A caixa de areia um modo próprio com que o autor Lourenço
Mutarelli compreenda seu fazer artístico, o que sustentamos ser produtivo para analisar os
romances do mesmo autor. Desse modo, a duplicidade de registros do quadrinho nos permite
elaborar uma metodologia para investigar o que Flora Sussekind (2013) classifica como um
registro plástico suposto nas obras literárias do autor que, apesar de se estruturarem
explicitamente apenas por meio do registro verbal, são desestabilizadas pela imagem ausente
que ajuda a compor os enredos de suas obras. Nesta comunicação nos propomos a apresentar
de que maneira a literatura entendida em um campo expandido (GARRAMUÑO, 2014) pode
permitir que uma história em quadrinhos seja utilizada como ferramenta de análise para um
texto literário, sem hierarquizá-los, e procurando contribuir para os estudos das características
literárias do período contemporâneo.
Palavras-chave: Literatura Brasileira Contemporânea; Representação; Lourenço Mutarelli; A
caixa de areia; Rancière;
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
84
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 16h às 18h
SCO11 – A prosa francesa: do romantismo à contemporaneidade
(sala 36)
Coordenador(a): Kedrini Domingos dos Santos
Consonâncias, dissonâncias e paradoxos: o mito romântico-cristão em Chateaubriand
Natália Pedroni Carminatti (FCLAr/UNESP - CNPQ)
Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)
RESUMO: Confessor fiel, de um tempo infiel, François-René Auguste de Chateaubriand foi,
entre dois séculos, como o confluente entre dois rios. Tais palavras são próprias do escritor
bretão e dizem muito sobre seu pensamento literário e político. Pensando nisso, propusemo-
nos discutir, na presente comunicação, a intersecção estabelecida entre a Literatura e a
Religião, a fim de demonstrar ao leitor de que maneira o Gênio do cristianismo (1802)
ergueu-se como um hino em louvor ao ser e a Deus. Seu discurso apologético ecoou na
história e na filosofia, indissociáveis ao pensamento crítico-reflexivo chateaubriano. Dois
séculos, leiam-se, XVIII e XIX, e um único autor, Chateaubriand. E o que dizer de um
volume majestoso, permeado de paradoxos e dissonâncias? O Gênio do cristianismo é o
discurso do homem em comunhão com o mundo, a natureza e a história, temas tão caros aos
seguidores vindouros, os apaixonados pela simbiose natureza/homem e pelo desenrolar
histórico-social da França. Os românticos servir-se-iam muito desse notável nome, afinal,
tudo estava feito: a Revolução Francesa de 1789, utópica, tinha revolucionado a era das
Luzes, mas não havia extinguido a estratificação social. O desfalecimento e morte do Antigo
Regime solidificou uma nova classe, conhecida como burguesia; no entanto, a velha maneira
de dividir a sociedade perdurou. Isto quer dizer que o rico continuou rico e o pobre cada vez
mais pobre. Sabe-se que a França experimentou no século XVIII a luta pela liberdade,
igualdade e fraternidade e, hoje, o eterno retorno parece assombrar, mais uma vez, esse povo.
Na concepção chateaubriana, as revoluções atuais sempre seguem os princípios de revoluções
anteriores. A Francesa não se diferenciou em nada dessa afirmação, apenas tratou os fatos,
racionalmente. O Génie du christianisme (1802) apareceu como um símbolo venerador ao
Deus único e verdadeiro da religião cristã. E não era disso que os franceses sentiam falta? De
um Deus humano, transformado em um Eu, que iluminasse, que se autorrevelasse,
configurando-se como um Deus monoteísta. E o que os românticos idealizavam? Um Eu
absoluto que garantisse sanar todas as dificuldades humanas, glorificando os homens,
conduzindo-os a sua unidade interior. A novidade do Gênio do cristianismo estava na
esperança do Deus monoteísta salvar a humanidade. E os românticos confiariam muito neste
Deus.
Palavras-Chave: Cristianismo; Transição; Romantismo; François-René Auguste de
Chateaubriand; Génie du Christianisme.
“Vieses críticos em contraponto”
85
A representação da mulher em l'Éve future, de Villiers de l'Isle-Adam
Kedrini Domingos dos Santos (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)
RESUMO: A figura feminina revela-se como uma constante na arte francesa da segunda
metade do século XIX, especialmente na literatura. Considerada como modelo de beleza, a
mulher era valorizada por sua juventude e pela perfeição de sua aparência física. No entanto,
em L'Ève future, romance do escritor francês Villiers de l'Isle-Adam (1838-1889), a mulher,
cuja beleza é construída artificialmente, suscita desconfiança e temor. Despojando-a de seus
artifícios, os quais eram usados para seduzir e enganar, o sábio Edson busca mostrar que a
beleza feminina é, pois, uma perigosa ilusão e procura substituir a mulher real, decepcionante,
pela ilusão representada por Hadaly, uma mulher artificial que associa a beleza física ao
espírito. Villiers de l'Isle-Adam, que valoriza o mistério e a imaginação, vai rejeitar a
imperfeição do mundo exterior e transformá-lo, em sua obra, segundo a vontade do sujeito, a
fim de consertá-lo e melhorá-lo. O escritor vai criar um mundo de sonho, que, embora
ilusório, será superior ao mundo real. O ideal artificial aparece então, nesta narrativa, como o
único modo de transfigurar a realidade decepcionante e atingir o infinito, e a mulher artificial
será a intermediária entre o mundo real e o au-delà, espaço onde reina o mistério. Nosso
objetivo é, portanto, verificar como a mulher é representada em L'Ève future, considerando
que, em Villiers de l'Isle-Adam, contra as aparências e as ilusões oferecidas pelo mundo, é
preferível criar sua própria ilusão e sua própria verdade.
Palavras-chave: Villiers de l'Isle-Adam; L'Ève future ; Femme fatal.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
86
A memória como recriação do vivido, nos romances La Gloire de mon père e Le château
de ma mère, de Marcel Pagnol
Marina Lourenço Morgado (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Claudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)
RESUMO: Marcel Pagnol começou a escrever as memórias de infância quando o pai, Joseph
morreu, o que contribuiu para o autor como uma forma de retorno à vida passada e à infância.
Destas reflexões, ele lançou o primeiro romance, La Gloire de mon Père publicado em 1957,
no qual a figura do pai possui um papel primordial na vida da personagem Marcel. Em La
Gloire de mon Père, tem-se o início das férias em Aubagne e do espaço dessa região: as
colinas, a floresta e a casa de veraneio Bastide Neuve. É o olhar da personagem Marcel ainda
criança que leva o leitor a descobrir todos os espaços presentes no romance. Seus romances
são uma homenagem à Provença e, principalmente à família e aos amigos. É em homenagem
a mãe, Augustine, que Pagnol escreveu o segundo romance, Le Château de Ma Mère
publicado em 1957, a partir de um conto, no qual narrava as memórias da infância para a
Edição de Natal da revista Elle, publicada em dezembro de 1956. Estas memórias de infância
giram em torno de dois elementos primordiais para uma criança: o pai e a mãe. Ao retornar à
sua vida passada, Pagnol encontrou um contexto familiar digno de ser romanceado.
Lembrando-se da infância, um momento, no qual a família ainda estava unida, o autor recria
esse passado por meio do protagonista Marcel. A importância da memória em Pagnol ocorre
pelo fato de que o escritor contextualizou os romances num espaço, no qual, temos a família,
a floresta e a cidade, onde as figuras do pai e da mãe fazem parte das relações sociais da
personagem, o que conflui nas memórias individual e coletiva. Dessa forma, o autor elaborou
o mundo da infância por meio da memória e da imagem do passado, o lugar de lembranças e a
busca de sua capacidade criativa. Nesses dois romances, tem-se a relação da memória com o
tempo e o espaço, com a narrativa e a história unidas junto à memória coletiva. Essas
lembranças estão relacionadas aos personagens e à experiência social, e principalmente as
mudanças do espaço que são o campo e a cidade. Em Pagnol, as lembranças da infância
estruturam o texto por meio de artifícios que recuperam a memória como o espaço em que se
inserem os personagens e objetos presentes na narrativa. Nesses romances, a memória não é
apenas uma estratégia narrativa, é o lugar de fantasia, de criação e busca do passado.
Palavras-chave: Memória; Autobiografia; Literatura Francesa.
“Vieses críticos em contraponto”
87
François Mauriac: o olhar privilegiado e a alternância entre focalizações
Carla Alexandra Ezarqui (FCLAr/UNESP - FAPESP)
Prof.ª Dr.ª Andressa Cristina Oliveira (Or.)
RESUMO: Pretendia-se, no romance tradicional, que o narrador de um romance apresentasse
um conhecimento coerente ao seu posicionamento diante da ação narrada, como forma de
legitimar a realidade transposta a linguagem literária. Entretanto, a medida que o romance
moderno fez sobressair a subjetividade, decorrente do relato individual, o distanciamento do
elemento narrativo para com o objeto estético acarretou uma suscetibilidade a variação do
ponto de vista adotado. François Mauriac (1885-1970), escritor que prezava pelo resguardo da
forma tradicional do romance francês, preocupando-se, ao mesmo tempo, com os problemas
da técnica narrativa, evidencia em sua obras, dentre elas La fin de la nuit, narradores
alternando entre focalizações distintas. Essa alternância de perspectiva permite explorar com
maior profundidade as atitudes das personagens, revelando o que há de ambíguo na
interioridade dos seres. Sartre (1947) reagiu severamente ao emprego de tal procedimento
literário, de modo a desvalidar seu caráter de romancista, propugnando a conservação de uma
distância esteticamente fixa no romance, renegando uma observação privilegiada, em que o
autor se apresentasse ora como testemunha, ora como cúmplice das personagens. Em
contrapartida, Genette (1930) salienta que a evolução do romance se deu, sobretudo, pela
alteração do manejo com o tempo e com a voz. Apoiado em Lubbock (1921), defensor do
partido único narrativo ou da justificativa da alternância, sustenta a ideia de que o novo
partido tomado pelo romancista é justamente o da liberdade e da inconsequência. Outro viés é
apresentado por Todorov (1970), que evoca igualmente a crítica de Sartre e, partindo do
conceito da polifonia, considera que a presença de vozes desiguais no plano da enunciação,
sem nenhum artifício que dissimule a unicidade do sujeito narrativo, acaba por gerar uma
cacofonia. Para o crítico, quaisquer procedimentos literários não devem ser tomados como
instrumentos comprometedores do valor estético de uma obra, tendo em vista a ambiguidade
ser imanente a apreensão de um construto artístico. Considerando o interesse de Mauriac em
apanhar razões interiormente silenciadas ou, até mesmo, desconhecidas das personagens, este
trabalho tem como objetivo refletir sobre os efeitos da alternância entre posicionamentos
narrativos no romance La fin de la nuit.
Palavras-chave: F. Mauriac; La fin de la nuit; narrador; introspecção; focalização.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
88
Tendências da literatura contemporânea na obra de J.-M. G. Le Clézio
Islene França de Assunção (FCLAr/UNESP - CNPq)
Prof.ª Dr.ª Ana Luiza Silva Camarani (Or.)
RESUMO: A obra de Jean-Marie Gustave Le Clézio, em específico os romances Voyage à
Rodrigues, L’Africain, Onitsha, Ritournelle de la faim e Diego et Frida, acompanha as
mutações da literatura francesa contemporânea, seguindo a tendência da escrita de si, porém,
distanciando-se da linha tradicional da autobiografia e assemelhando-se às novas formas
recentemente surgidas no universo autobiográfico, identificadas como autoficção, narrativa de
filiação e ficção biográfica. Visto que a necessidade de se compreender liga-se a uma
interrogação sobre a origem e sobre a filiação, nesses romances, os protagonistas empreendem
uma viagem no tempo e no espaço rumo ao passado, para narrar fatos de sua infância, da vida
dos pais ou antepassados, ou de alguma personalidade importante em suas vidas. Traduzindo
uma necessidade geral própria à época atual, a obra lecléziana confirmará a obstinação dos
escritores contemporâneos em reencontrar a herança perdida e evitar a irremediável passagem
do tempo. A volta ao passado vai configurar uma partida em busca de si mesmo, pois, na
tentativa de encontrar as origens, os protagonistas exprimem o desejo de encontrar a
identidade, de suprir uma falta ou restituir a dignidade roubada a um de seus familiares. A
viagem e a escrita tomam, portanto, uma dimensão iniciática, uma vez que se mostram como
produtos de uma busca identitária, assumindo um papel de mediadoras do autoconhecimento e
da preservação da memória. A fuga do presente exprime, ainda, a insatisfação das
personagens leclézianas com o materialismo da sociedade contemporânea, fazendo coexistir,
nos textos do autor, uma dimensão pessoal e íntima e o aspecto social, também uma
particularidade dos escritores contemporâneos. Ademais, Le Clézio lança mão de variados
recursos característicos da literatura contemporânea, desenvolvendo seus textos de modo
heterogêneo, descontínuo e fragmentário, utilizando técnicas de acumulação e cruzamento de
registos semióticos diferentes e fazendo conviver dois tipos distintos de linguagem: uma mais
exata, matemática e outra mais poética.
Palavras-chave: literatura francesa; literatura contemporânea; narrativa contemporânea;
escrita de si; autoficção.
“Vieses críticos em contraponto”
89
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
04/10/2016 – 16h às 18h
SCO12 – Romance Antigo (sala 27)
Coordenador(a): Prof. Dr. Cláudio Aquati
As escolhas eruditas na tradução leminskiana do Satyricon, de Petrônio
Lívia Mendes Pereira (UNICAMP/FAPESP)
Prof. Dr. Paulo Sérgio de Vasconcellos (Or.)
RESUMO: Buscando contribuir com a pesquisa das traduções dos clássicos greco-romanos e
com a recepção desses textos em nossas Letras, divulgamos a tradução do Satyricon, de
Petrônio, levada a cabo pelo poeta Paulo Leminski. Tendo por base o confronto entre o texto
latino e a tradução leminskiana o presente trabalho fornece um estudo da recepção do
romance petroniano na literatura brasileira contemporânea, que encontra em Leminski um de
seus expoentes. A presença da literatura clássica na obra do poeta e tradutor curitibano
obedece ao cânone estabelecido por Ezra Pound, o poeta e crítico americano que instaurou o
make it new foi cultuado pelos concretistas e pós-concretistas brasileiros, dentre os quais
destacamos os contemporâneos de Leminski, Haroldo e Augusto de Campos e Décio
Pignatari, com quem travava intenso e não incontroverso diálogo e os quais cunharam, no
Brasil, o termo “recriação”. Nesta análise serão apresentados os trechos em que o tradutor
opta por um registro mais erudito, por meio da utilização de decalques e também da
transcrição de termos latinos, esses procedimentos funcionam como elementos de
estranhamento, que fazem com que o leitor perceba a tradução e volte para o texto de partida,
original, em língua latina. A utilização de termos mais eruditos em contraste com termos
coloquiais é característica também presente na dicção do texto petroniano, dessa forma
podemos inferir que o uso de termos eruditos é trabalhado, na maioria das vezes de forma
irônica, tanto no texto latino como na tradução leminskiana. Procuramos demonstrar,
portanto, como Leminski aproveita essa característica da obra de partida e recria o jogo de
linguagem em língua portuguesa, aproveitando a diversidade linguística na gradação entre o
uso de termos altos e baixos.
Palavras-chave: Satyricon; Petrônio; Paulo Leminski; recepção da literatura greco-romana
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
90
Suplementos ao Satíricon, de Petrônio
Prof. Dr. Cláudio Aquati (UNESP/Câmpus de São José do Rio Preto)
RESUMO: O texto do Satíricon, de Petrônio, chegou-nos incompleto. Hoje tem cerca de
35.000 palavras distribuídas por 141 capítulos. As informações do que poderia ter sido a obra
integral, muito escassas, são insuficientes para termos uma ideia exata da extensão da obra na
Antiguidade. O texto remanescente não foi encontrado na forma como hoje se estabelece, mas
completou-se ao longo de algumas etapas, a partir de diversas fontes. O que hoje temos do
Satíricon compreende o XV volume de uma série cujo término não se conhece somado a
trechos relativos aos volumes limítrofes XIV e XVI dessa série, estes já conhecidos pelo
menos desde o século IX. Em 1423, Poggio Bracciolini anunciou ter, proveniente de Colônia
(Alemanha) o livro XV, contendo a Cena Trimalchionis. Posteriormente acrescentar-se-ia
ainda o texto da Cena Trimalchionis encontrado por Marino Statileo em Trogir (Croácia), por
volta de 1650. Pelo assunto desenvolvido, pelas particularidades linguísticas, pela temática
sexual, pelo cenário de bastidor da sociedade romana revelado, o Satíricon sempre suscitou
grande interesse para os modernos, o que certamente é uma das justificativas para suas várias
traduções em diversas línguas modernas. Os modernos também se interessaram
particularmente por conhecer o início do texto e sua continuação, bem como os trechos que
poderiam completar as muitas lacunas apresentadas pelo texto latino. A própria Vicipaedia
contém uma entrada que se denomina “Supplementa Petroniana”. De tempos em tempos,
atendendo a esse desejo, várias vezes noticiou-se a descoberta de fragmentos complementares
ao texto de Petrônio. É o caso de textos de autores como os dos espanhóis J. A. G. de Salas e
J. Marchena, e o do francês F. Nodot, vistos pela maior parte da crítica como falsários. Mais
recentemente, sem a conotação de falsificação, outros autores imaginaram e elaboraram uma
suplementação para o texto petroniano, como o caso do alemão H. C. Schnur, do americano
(supostamente) E. D. Nest e do inglês A. Dalby. Nesta comunicação examinam-se os textos
desses seis autores citados buscando-se atualizar o estado dessa interessante questão relativa à
história do texto petroniano.
Palavras-chave: Petronius; Satyricon; Satirica; falsificações literárias; Supplementa
Petroniana.
“Vieses críticos em contraponto”
91
A festa carnavalizada: uma leitura de “Cena Trimalchionis”, de Petrônio e Trimalchio de
F. Scott Fitzgerald
Jassyara Conrado Lira da Fonseca (FCLAr/UNESP - FAPESP)
Prof. Dr. Márcio Thamos (Or.)
RESUMO: O filósofo russo Mikhail Bakhtin apresenta, em seus livros Problemas da Poética
de Dostoiévski (1981) e A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento (1993) a teoria
da carnavalização. Segundo o autor, o carnaval é um espetáculo cujo palco,
democraticamente, mistura as pessoas das mais diversas classes sociais, confundindo os
papéis de ator e espectador. Esse cenário diversificado permite-nos a observação de
características comuns à carnavalização, tais como: a embriaguez; o comportamento lascivo; a
glutonaria e a inversão de papéis. Este trabalho investiga como tais características típicas da
festa carnavalesca aparecem na narrativa petroniana e se refletem no diálogo intertextual que
Fitzgerald estabelece com o autor antigo. O ambiente festivo nos interessa, particularmente,
por reunir pessoas de categorias sociais variadas e fomentar os demais atributos típicos de
ambientes carnavalizados. A cena carnavalizada começa a ser construída com os
protagonistas das duas narrativas, que se assemelham, primeiro, por ocuparem o papel de
anfitrião de grandes e fartas festas. Essas personagens assumem uma postura carnavalizada
porque, ao enriquecerem rapidamente passam a ter um papel diverso na sociedade –
invertendo, pois, a posição que costumavam ocupar. O carnaval começa com as personagens
que protagonizam as narrativas, porém se espalha para as demais personagens, contaminando
os cenários festivos com seus atributos característicos e possibilita que o humor e/ou a ironia
se instaure nos textos. Assim também se dá com as semelhanças entre as obras, que partem da
comparação entre os anfitriões, mas crescem sob o olhar atento do leitor.
Palavras-chave: carnavalização; intertextualidade; Petrônio; Fitzgerald.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
92
Um fragmento para a história: história e ficção no romance Nino
Emerson Cerdas (FCLAr/UNESP)
RESUMO: Quando o primeiro fragmento do romance Nino foi descoberto em 1893, ele
revelou a existência de um tipo de romance antigo até então hipotético, o romance histórico.
Os índices narrativos dos dois gêneros, romance e historiografia, dificultava a classificação
genérica da obra. Sabe-se que os romancistas antigos dialogavam com o gênero
historiográfico, imitando técnicas narrativas e usando entrechos históricos para criar a ficção,
afim de granjear ao gênero novo e sem prestígio, o romance, a autoridade do gênero clássico,
a historiografia. No entanto, ao contrário do que ocorre nas narrativas canônicas, o romance
de Nino não usa apenas entrechos históricos como pano de fundo, mas faz da própria história
tema principal da narrativa, o que justifica, a princípio, a confusão dos críticos. Apenas com a
descoberta de outros fragmentos, a narrativa foi devidamente enquadrada no gênero do
Romance Antigo e essa narrativa, escrita no século II a.C., é reconhecida hoje como um dos
exemplos mais antigos do gênero, o que dá base à teoria de que os primeiros romances antigos
eram uma espécie de “romance histórico”, pois tinham como temática eventos de um passado
histórico. A questão da recepção, portanto, é fundamental para o reconhecimento de uma obra
literária como pertencente a um determinado gênero narrativo. Assim, a partir da análise
desses fragmentos, propomos uma discussão acerca das formas de se trabalhar as relações
entre história e ficção, visando tanto entender o porquê do fragmento ter causado confusão
entre os críticos, quanto mostrar a importância da recepção nos estudos sobre ficção e história
e nos estudos sobre a origem do romance.
Palavras-chave: Romance antigo; historiografia; recepção.
“Vieses críticos em contraponto”
93
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
05/10/2016 – 14h às 15h30
SCO13 – Poesia brasileira moderna (sala 36)
Coordenador(a): Aline Maria Jeronymo
A construção imagética do Itinerário Poético de Emílio Moura
Aline Maria Jeronymo (FCLAr/UNESP - CNPq)
Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Or.)
RESUMO: A obra poética do mineiro Emílio Moura (1902-1971), localizada a par da crítica
canônica modernista, é conhecida, sobremaneira, pela repetição de meditações interrogativas
causadas por um eu lírico hesitante que reflete obsessivamente sobre sua condição existencial.
No entanto, por trás dessa destacada característica há um trabalho primoroso com a
construção da imagem poética, o que faz com que revisemos o lugar desse poeta no cânone
literário. É por meio da análise das principais imagens trabalhadas no Itinerário Poético, obra
completa de Moura, que propomos traçar três caminhos distintos enveredados em sua poética:
o da melancolia perplexa, da amada ausente e da memória recriadora. Estes três aspectos são,
grosso modo, uma prévia interpretação de imagens que são subjetivadas por um processo de
construção abstrato. Há uma grande dificuldade em dissociar os temas do Itinerário, não que
haja muitas variações temáticas, mas há um encadeamento imagético que faz com que tudo
esteja interligado. As principais imagens recorrentes, como noite, sombras, musa, rosa,
espelho e menino, estão dissolvidas, a nosso ver, nos três eixos principais. Estes eixos
interpenetram-se e relacionam-se diretamente entre si, formando uma espécie de diálogo
circular entre os poemas. Para chegar a essas conclusões, trabalhamos com as teorias da
imagem destacadas, principalmente, por Octavio Paz, Alfredo Bosi e Viviana Bosi, críticos
que além de reafirmarem a essência metafórica da imagem poética, relacionam-na com a
poética do mito. A partir da teoria e de nossas análises, sabemos que imagem é analogia e
inferimos, por exemplo, que a noite pode representar a melancolia; o espelho, a perplexidade;
a musa, a amada; as sombras, a ausência; o menino, a memória. Essa construção realiza-se por
meio de uma linguagem evocativa que sugere a presentificação do ausente, já que a imagem,
ao fundir o signo a “coisa”, tem o poder de criar novos mundos. Ao analisar a imagem no
Itinerário Poético, incluiremos uma gama de significações à poética de Emílio Moura,
portanto, mais do que uma análise temática, traremos à tona a importância da inserção da
poética emiliana em um contexto mais amplo da literatura moderna/modernista brasileira.
Palavras-chave: Poesia brasileira; Modernismo; Emílio Moura; Itinerário Poético; Imagem.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
94
Aspectos filosóficos da ausência na poesia de Cecília Meireles
Marina Bariani Trava (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Outeiro Fernandes (Or.)
RESUMO: Em uma entrevista, mencionada pelo crítico Alfredo Bosi em seu livro Céu,
Inferno (2003), Cecília Meireles comenta sobre o que ela considera ser o seu maior defeito:
“uma certa ausência do mundo”. Bosi parte de tal afirmação para identificar a possível
existência de uma unidade na obra da autora (2003, p. 123): “Aceitemos a expressão da
autora, que é sugestiva; e se a confidente a julgava um defeito, invertamos o juízo e a
consideremos uma qualidade e até mesmo uma pista para compreender a densidade e a
estranha beleza da sua poesia”. O presente trabalho, portanto, pretende debruçar-se sobre a
temática da Ausência e seus desdobramentos na poesia de Cecília Meireles, supondo que tal
“ausência do mundo” não apenas permeia grande parte da obra da poeta carioca, como é
essencial para uma compreensão mais aprofundada de sua poesia. Assim, tenciona-se, em
primeiro lugar, discutir brevemente a Ausência enquanto um conceito filosófico que se
pretende estabelecer para, em seguida, investigar de que forma essa ausência se manifesta
(implícita ou explicitamente) em alguns poemas selecionados, considerando-se que esta pode
se apresentar sob diversos aspectos – tais como a ausência de si, de um outro, de um ser
amado, de uma divindade, de significado para a existência, etc. Ademais, a partir da análise
dos poemas, pretende-se depreender os sentidos filosóficos que se relacionam a cada tipo
encontrado, fundamentando-se em textos teóricos de autores como Søren Kierkegaard e
Arthur Schopenhauer. Em suma, o objetivo da comunicação será principalmente o de refletir,
do ponto de vista filosófico, acerca do tema da ausência na poesia de Cecília Meireles; porém,
de modo mais amplo, espera-se que tal estudo pormenorizado possa não apenas destacar a
importância que o tema adquire na obra, mas também jogar uma nova luz sobre a produção
desta autora, fundamental para a literatura brasileira.
Palavras-chave: Poesia brasileira; Cecília Meireles; Ausência; Filosofia.
“Vieses críticos em contraponto”
95
Do simbolismo ao surrealismo no anticristianismo de Péricles Eugênio da Silva Ramos
Cleber Ederson Soares (UNESP/IBILCE)
Prof.ª Dr.ª Susanna Busato (Or.)
RESUMO: A intenção deste estudo é identificar as diretrizes estéticas da “geração de 45”
presentes na poesia de Péricles Eugênio da Silva Ramos, especificamente nos poemas Mito
Vermelho, Tranquilidade e Pastoral. Tal geração ficou conhecida como representante da
quarta fase do modernismo caracterizada como construtivista, com o propósito de tornar a arte
moderna acessível ao homem comum, a representação dos sentimentos por meio da imagem e
a busca de novas expressões resultantes de uma consciência sobre a pesquisa estética,
conciliando tradição e modernidade. Poeta de filiação surrealista, elege como pesquisa
estética as temáticas, as técnicas e a estética dessa arte moderna e da tradição do simbolismo
francês, que está na base da formação desse estilo, e as explora em seus livros de poesia
“Lamentação Floral (1946)” e “Sol Sem Tempo (1953)”. A temática do anticristianismo em
Baudelaire e em Rimbaud é resgatada nos poemas com a mesma finalidade de atenuar ou
eliminar as oposições que estruturam a ética da religião cristã. Nos poemas Tranquilidade e
Mito Vermelho verifica-se a reconfiguração imagística dos símbolos, dos objetos e dos mitos
judaico-cristãos, visando a dessacralização como Baudelaire. No poema Pastoral o recurso da
fusão, criado por Rimbaud e fundamental na arte surrealista, resgata do poeta francês a fusão
irracional de formas e de fenômenos resultantes da experiência com a realidade como meio de
conformação do caos psíquico. Nesse poema, o tema da transcendência vazia, comum aos
poetas franceses, é criada a partir da reconfiguração de uma paisagem rural em uma
substância verde que se move desgovernada e atua no psiquismo, mas ambiguamente tendo
papel de um anjo ou de líder cristão. A partir das diretrizes dessa visão de modernismo, a
análise dos poemas terá como objetivo a reflexão sobre a pesquisa estética que resulta na
prática da invenção poética e o modo como se resolve nos poemas a aproximação entre a
poesia moderna e o público não especializado.
Palavras-chave: simbolismo; surrealismo; anticristianismo; invenção
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
96
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
05/10/2016 – 14h às 15h30
SCO14 – Visões de mundo (sala 05)
Coordenador(a): Roseli Deienno Braff
Aspectos históricos e o barroco em El Siglo de las luces (1967), de Alejo Carpentier
Kelli Mesquita Luciano (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Claudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)
RESUMO: O romance El Siglo de las Luces (1962), de Alejo Carpentier transcorre no século
XVIII, onde são contextualizados os ideais da Revolução Francesa e do Iluminismo.
Evidenciaremos algumas menções de figuras da história oficial, de Instituições históricas e a
postura combativa dos protagonistas Sofía e Esteban no enredo. Estes personagens são
intelectuais que apresentam traços excêntricos, altruístas e que são inspirados por meio do
conhecimento, da leitura e dos estudos de algumas teorias a lutarem pelos ideais de melhoria e
de união da sociedade. Além disso, identificaremos alguns traços do barroco latino-americano
que consiste no “redescobrimento” das comunidades, culturas, tradições e valores da América
Latina, bem como aspectos do realismo mágico, conforme Spindler e que corresponde ao
“realismo maravilhoso” proposto pelo autor cubano no prefácio de El Reino deste mundo. É
importante ressaltar que Carpentier ficou exilado por um tempo na França, participou por um
tempo do movimento surrealista e apoiava os ideais da Revolução Cubana, sua ideologia
política provavelmente influenciou a feitura de El Siglo de las luces, haja vista que a
constante busca pela liberdade de expressão e por benefícios para a população mediante
governos despóticos são comuns aos dois contextos históricos. Vale lembrar que a Revolução
Francesa, apesar de ser inicialmente, um movimento em busca dos ideais de liberdade,
igualdade e fraternidade e ter alcançado grandes mudanças na sociedade, com o decorrer do
tempo, também ocasionou situações repressoras. Esses acontecimentos despertaram nos
personagens estudados, o sentimento de descontentamento e frustração diante das
experiências negativas que vivenciam e que presenciam na sociedade, de modo que, é
possível que o leitor reflita sobre a problemática das contradições políticas e sobre a
hipocrisia humana. Por fim, a Revolução Francesa apresenta pontos de intersecção com outros
contextos, como, por exemplo, o século XX, momento histórico, em que Carpentier viveu e
escreveu suas obras, mais especificamente com a Revolução Cubana.
Palavras-chave: história; revolução francesa; barroco.
“Vieses críticos em contraponto”
97
Ética e estética barrocas em Cuando ya no importe, de Juan Carlos Onetti
Amanda Fanny Guethi (UFSCar/CAPES)
Prof. Dr. Wilson Alves-Bezerra (Or.)
RESUMO: Interessa-nos, neste trabalho, a aproximação do texto onettiano, mais precisamente
o romance Cuando ya no importe, publicado em 1993, às discussões sobre o Barroco como
possibilidade estética da modernidade. A partir de aspectos estruturais como a construção de
um narrador-escritor, a exposição de procedimentos de elaboração ficcional e revisitação de
obras anteriores (como método de citação) que identificamos como um método barroco - a
estética onettiana presente nesse romance -, percebemos a constituição de uma ética que
remete tanto aos escritos crítico-jornalísticos do autor - publicados, principalmente no
Semanario Marcha entre as décadas de 1930 e 1940, que se conformam como sua ars poética
- quanto ao que o filósofo equatoriano Bolivar Echeverría entende como ethos barroco, uma
postura contestatória e provocativa que problematiza a sua realidade por sabê-la produto de
um projeto capitalista desigual, excludente e hostil às diferenças, não tão progressista quanto
se apregoara nos anos de eufórica crença no progresso e nas mudanças proporcionadas pelo
capitalismo industrial. Sem querer modificar essa realidade, tanto Onetti quanto seus
personagens vivem às margens da sociedade burguesa buscando maneiras outras de
sobreviver. Como exercício intelectual e paródico, como “teatralização da existência” e
“lógica da ambivalência”, esse romance que se dobra sobre si mesmo e se torna “operação
infinita”, infinita rede de citações e referências – a própria metáfora da história da literatura e
da criação, texto aberto – traz para o espaço textual a problematização de uma estética que se
quer ética e vice-versa, observando criticamente o discurso do progresso e a(s) história(s)
humanas e as entendendo como ruínas.
Palavras-chave: Literatura hispano-americana; Juan Carlos Onetti; barroco; ética; estética.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
98
Literatura e Violência: a representação do papel da Igreja Católica no Pós-Guerra Civil
Espanhola no livro Maria Republica de Agustín Gómez-Arcos.
Israel Pompeu Farias Martins (UFSCar)
RESUMO: O século XX ficou marcado pela presença da violência cotidiana, genocida,
política, numa escala nunca imaginada, assim, como representar a violência na literatura?
Diante dessa violência surge para a arte o problema da representação, quais os efeitos de
sentido? Há oitenta anos começava um dos conflitos ideológicos mais importantes do século
XX, a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Terminado o conflito, o novo regime, Franquista,
vai se apoiar em três pilares essenciais: O Exército, a Falange (partido único) e a Igreja
Católica. O novo Estado se declara confessionalmente católico, assim, a igreja recupera o
poder e influência perdidos durante a II República (1931-39). Os três pilares participam
diretamente do mecanismo de repressão do governo de Francisco Franco (1939-1975). É
nesse contexto pós-guerra civil que se apresenta o livro que estudaremos, Maria Republica
(1976), cuja protagonista homônima, representa os vencidos, os marginalizados, nessa
Espanha autoritária, onde a paz somente alcança os vencedores, aos vencidos, o castigo, a
humilhação e o medo. O papel digno da igreja seria mediar o processo de reconciliação, mas
ocorreu o contrário e, exerceu na vida cotidiana a vingança, a legitimação da violência dos
vencidos sobre os vencedores. Baseando-se no crítico Antonio Candido, consideraremos o
elemento externo, o papel da Igreja Católica na violência pós-guerra civil espanhola, na forma
do texto literário como um dado que interfere no processo de estruturação do texto, ou seja, o
externo como dado estético. Também, abordaremos como o estilo, na ideia de Auerbach, na
qual, a realidade é exposta pelo estilo. Como todo grande escritor, Agustín Gomez-Arcos
(1933-98) soube captar os sinais de fraturas de uma época, a tensão entre vencedores e
vencidos no pós-guerra civil espanhola, a partir disso, engendrar uma forma literária. Assim, o
principal objetivo desta pesquisa é trabalhar a violência como tema e estrutura na obra Maria
Republica. Como os elementos inerentes ao contexto histórico tornam-se forma literária, regra
de composição do próprio universo ficcional e, como representação, como conduta própria, a
estilização do papel ativo da Igreja Católica na repressão pós-conflito. Como Augustin
Gomez-Arcos criou esteticamente a fascistização do cotidiano e o papel fundamental da igreja
católica nesse processo na Espanha Franquista.
Palavras-chave: representação; violência; Igreja Católica; Franquismo; Pós-Guerra Civil
“Vieses críticos em contraponto”
99
O realismo mágico ontológico no conto “Jardim Europa”, de Menalton Braff
Roseli Deienno Braff (FCLAr/UNESP)
RESUMO: Último e mais extenso conto do volume O peso da gravata (BRAFF, 2016),
“Jardim Europa” é um texto intrigante que representa a invasão da Europa pelos imigrantes de
diversas partes do mundo, em busca daquilo que lhes foi subtraído há séculos pelos europeus:
comida, emprego, sobrevivência. No conto, centenas de “pardos” invadem um condomínio de
luxo, fortemente protegido por cercas elétricas e rígido sistema eletrônico de segurança,
ironicamente nomeado “Jardim Europa”. Acuados, os ilustres moradores disparam contra a
multidão que avança; no entanto, cada “pardo” atingido multiplica-se em cem. O narrador não
está perturbado com o evento sobrenatural; antes, descreve-o de forma realista, como se fosse
algo normal da vida comum, o que caracteriza o realismo mágico ontológico – vertente do
realismo mágico apresentado por W. Splinder (1993). Nesse sentido, a interpretação literária
estará aliada à crítica dialógica proposta por Todorov (2015), cujo cerne fundamenta-se na
ideia de que a literatura não é produto apenas de estruturas e histórias, mas também de
escolhas ideológicas. Logo, não importa simplesmente indagar o que o escritor diz, mas “o
que ele diz é verdade?”. Levando em consideração esse viés crítico, tanto os procedimentos
da estruturação narrativa quanto o tema escolhido espelham a visão de mundo do ficcionista,
sobretudo, no que diz respeito aos trágicos acontecimentos da atualidade, como os milhares de
pessoas que já naufragaram no mar Mediterrâneo em busca de um porto seguro na Europa.
Palavras-chave: conto; realismo mágico ontológico; crítica dialógica.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
100
As três faces do destino: castigo, redenção e transcendência em Guimarães Rosa
Luisa Fernandes Vital (UNESP)
Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)
RESUMO: Os mitos, narrativas indispensáveis com alto teor simbólico e foram criados na
tentativa de explicar os desejos e terrores humanos. Estando arraigadas em nós, essas
narrativas e seu teor simbólico, apresentado através de mitemas, ecoam nas mais diversas
formas de produção artística. O trabalho a ser apresentado tem como objetivo averiguar como
se constroem em três contos de Guimarães Rosa - "Conversa de bois", "A hora e vez de
Augusto Matraga", ambos publicados em Sagarana, no ano de 1946, e "A menina de lá" de
1962, publicado em Primeiras estórias - dois mitemas: o destino e o julgamento final sob o
motivo simbólico da viagem e da morte, respectivamente. Partindo de uma abordagem
mitológica, faz-se uma análise do mito de Er, descrito por Platão no "Livro X" d'A república,
para em seguida enfocar os contos rosianos. A escolha de tais contos deve-se ao fato de,
neles, tais temas - destino e julgamento final - serem centrais. O destino, nas composições
rosianas, desenvolve-se no cenário da viagem e culmina na morte prematura das personagens
Agenor Soronho, Augusto Matraga e Nhinhinha. Esse fim abrupto das personagens em
questão representa uma espécie de julgamento final, realizado por esse destino. Pretende-se
mostrar que cada morte tem um valor simbólico diferente, a saber: castigo, redenção e
transcendência. A pesquisa conta com embasamento teórico dividido em dois grupos. O
primeiro é constituído pela fortuna crítica rosiana sendo o segundo formado pelo mito de Er
conforme a concepção platônica e por estudiosos desse mito, bem como por estudos do mito
de ordem antropológica como os de Mircea Eliade e Gilbert Durand. Por meio desse apoio
serão apontadas semelhanças e diferenças entre o mito platônico e os contos rosianos e
examinado o modo como Guimarães Rosa constrói seu próprio conceito de destino e
julgamento final mesclando os conceitos de livre arbítrio e justiça.
Palavras-chaves: Guimarães Rosa; contos; Platão; Mito de Er; destino.
“Vieses críticos em contraponto”
101
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
05/10/2016 – 14h às 15h30
SCO15 – Tradução (sala 09)
Coordenador(a): Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira
Traduzindo criticamente neologismos e palavras-valise na obra poética de Jules
Laforgue.
Prof.ª Dr.ª Andressa Cristina de Oliveira (FCLAr/UNESP /DLM)
RESUMO: A tradução de um texto poético requer certos cuidados para que não se perca a
intenção primeira do autor, aquilo que ele busca, que caracteriza sua obra e que precisa se
conservar na passagem de uma língua a outra. Se não, o leitor não terá acesso a sua proposta,
enquanto escritor, e ao uso que ele fez da linguagem. A obra do poeta simbolista francês Jules
Laforgue é de difícil acesso, mesmo traduzida, ao leitor comum. Se ele não conhece suas
fontes e suas leituras torna-se difícil o entendimento da obra, pois a mesma é permeada pela
constante busca da originalidade, remete ironicamente a modos, temas, convenções e estéticas
variados. O poeta usa seu conhecimento de mundo, suas leituras e sua criatividade, com o
intuito de criar o novo, no sentido baudelairiano, segundo Friedrich (1991), reunindo gênio
poético, inteligência crítica, dissonância, idealidade vazia, fantasia criativa e deformação.
Apesar de ser difícil para o leitor comum construir todas essas referências, quando se trata das
intervenções que Laforgue realiza na linguagem, os procedimentos se tornam mais delicados e
inacessíveis, pois se não houver um trabalho de tradução acompanhado do texto original, o
leitor perde as aliterações, as assonâncias, enfim, os jogos de sonoridade criados pelo poeta.
Para Coulthard (1991), a maior dificuldade do tradutor é a construção de um novo leitor ideal
que, mesmo tendo um nível acadêmico, profissional e intelectual idêntico ao do leitor
original, será essencialmente diferente em termos de expectativas textuais e conhecimentos
culturais. Geralmente, esse novo leitor ideal tem menos informação de aspectos culturais e o
tradutor tem que acrescentar esse tipo de informação, aqui, no nosso caso, por meio de notas
explicativas. Ressaltamos, ainda, com Arrojo (1986), que “quanto mais bem informado for o
leitor [...], melhor e mais bem sucedida será sua leitura”. Também, por meio da criação de
neologismos e palavras-valise, o poeta francês inaugura um dos aspectos fundamentais da
língua poética moderna. Propõe-se, aqui, mostrar o processo de tradução e suas dificuldades
em criações verbais como “angéluser”, “omniversel”, “eternullité”,“très-sans-toi”, “s’in-Pan-
filtre”, entre outras.
Palavras-chave: Jules Laforgue; simbolismo; teoria da tradução; neologismo
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
102
Traduzir Apollinaire: desafios para a construção da significância dos poemas em
português
Gislaine Cristina Assumpção (Unicamp-CAPES/PROEX)
Prof.ª Dr.ª Cristina Henrique da Costa (Or.)
RESUMO: Guillaume Apollinaire é um marco na literatura do século XX e fonte para o
entendimento da literatura moderna. Criador da palavra surréalisme, ele foi um mentor dos
movimentos de vanguarda. Em 1913, Apollinaire publicou a obra Méditations esthétiques.
Les peintres cubistes. Nesta obra, o escritor reúne vários escritos sobre arte, elaborados em
diferentes momentos de sua vida, a partir dos quais se pode depreender suas posições
estéticas. Nesse mesmo ano, é publicada a sua primeira coletânea de poemas, Alcools, na qual
é possível encontrar poemas sem pontuação, versos livres, vocábulos simples para exaltar a
vida da cidade moderna etc. Em outros, no entanto, há versos metrificados e rimados, nos
quais o autor canta o amor pela mulher amada que partiu, faz uso de mitos e lendas antigas.
Dessa forma, não obstante as inúmeras inovações presentes em sua obra, o poeta francês não
vira as costas para o passado, criando uma poesia mesclada de elementos simbolistas e
modernos. Levando em consideração todos esses aspectos da estética apollinairiana, acredita-
se ser importante a análise de duas diferentes traduções dos poemas de Alcools, para verificar
como essas características são mantidas na construção da significância das versões
apresentadas aos leitores brasileiros. A primeira versão analisada consta da coletânea Escritos
de Apollinaire (1984), selecionada, anotada e traduzida por Paulo Hecker Filho. A segunda,
bem mais recente, é a primeira tradução integral de Alcools para o português. Realizada por
Mário Laranjeira, essa edição foi lançada em 2013, ano de comemoração do centenário de
lançamento de Alcools na França. Tendo em vista a diferença de quase 30 anos da publicação
de cada uma dessas traduções, torna-se relevante observar a diferente visão de cada tradutor
com relação à poesia apollinairiana, levando em consideração as influências teóricas que esses
tradutores podem ter recebido nos dois diferentes momentos. Para essas análises, fez-se
necessário o estudo de Poética do traduzir (2010), de Henri Meschonnic, e de Sobre a
tradução (2011), de Paul Ricoeur.
Palavras-chave: Guillaume Apollinaire; poesia; tradução; simbolismo; surrealismo.
“Vieses críticos em contraponto”
103
A ética na tradução da poesia castelhana de Rosalía de Castro
Tais Matheus da Silva (UNESP/IFSP)
Prof.ª Dr.ª María Dolores Aybar Ramírez (Or.)
RESUMO: A escritora Rosalía de Castro é amplamente conhecida por sua produção em
língua galega, seja pela popularidade alcançada por essa obra à época de sua publicação,
segunda metade do século XIX, seja pelo engenho poético de Rosalía ao elevar uma língua
preservada apenas na oralidade à poesia universal. Em torno da poesia em língua galega
criou-se uma imagem de “Rosalía, poeta galega”, cristalizada na crítica rosaliana e, por
conseguinte, nas traduções; de modo que a atenção destinada às poesias em língua castelhana
é limitada. Exemplo disso é a antologia de poesia rosaliana traduzida por Eclea Bosi em que,
dos 41 poemas selecionados, apenas quatro pertencem à obra castelhana e, dentre eles, apenas
um corresponde à tradução da totalidade do poema, isto é, os demais são excertos dos textos
originais. A tradução, segundo Antoine Berman, é uma atividade crítica e criativa que
comporta três dimensões: a cultura, a literatura e a filosofia. Isso implica o investimento
simultâneo de ética, poética e reflexão no reconhecimento, recepção e acolhimento do Outro,
sem tentar dominá-lo ou domesticá-lo. A relação com o Outro e, portanto, com o texto do
Outro é o que pautará a discussão acerca de uma ética da tradução nas obras de Berman e
Lawrence Venuti. À luz desse debate e para além das diferentes propostas líricas de Rosalía
de Castro em uma língua e outra, analisamos o poema Quisiera, hermosa mía, originalmente
composto em língua castelhana e sua tradução ao português do Brasil empreendida por Eclea
Bosi. Para tanto, apresentamos uma leitura comparada do texto de partida e do texto de
chegada, considerando o conteúdo ausente na tradução e algumas possibilidades
interpretativas quando o trecho traduzido é apreendido como a totalidade do poema.
Palavras-chave: Rosalía de Castro; poesia rosaliana; ética; tradução
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
104
O que é poesia para Pound e para Faustino, seu tradutor.
Jessica Romanin Mattus ((FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)
RESUMO: Ezra Pound (1885-1972), poeta norte-americano, é conhecido tanto por seus
poemas quanto por suas traduções e trabalhos em que fazia crítica de poesia. Mesmo
contrariando alguns, sua vivacidade de vanguarda era tão convincente e entusiasmante que
mudou o status de poetas antigos e inspirou gerações posteriores. No Brasil, um dos que se
dispuseram a estudá-lo foi Mário Faustino (1930-1962), piauiense que sintetizou em sua
produção os ensinamentos poundianos e traduziu parcialmente Homage to Sextus
Propertius,tradução poundiana de algumas elegias de Propércio, obra que desagradou a crítica
da época por não se considerar que configuraria realmente uma tradução. Ao analisar a
postura de Pound e Faustino observamos, usando termos poundianos presentes em Como
Ler (1934), Pound como um "inventor" ou "mestre", aquele que criava novas técnicas ou as
aperfeiçoava ao grau máximo. A postura irreverente do norte-americano condiz com seus
objetivos de inovação, chegando a apresentar uma figura e escrita agressivas. O rompimento
torna-se, talvez, mais importante que a obra proveniente dele. Faustino, por sua vez, assimilou
essas ideias posteriormente, podendo assim produzir conteúdos mais bem cuidados,
equilibrados, algo entre um "mestre" e um "diluidor". Para Pound, a poesia é superior à prosa,
é a verdadeira literatura, a que contribui para o avanço de uma nação. Para Faustino, a poesia
tem, além do compromisso social, um caráter metafísico. Sua importância reside em por meio
dela ser possível ao homem entrar em contato com a sua essência esquecida, pois as palavras
na poesia são diferentes das do cotidiano, ou seja, ressoam a uma primeira Palavra. Segundo
Heiddeger, é na linguagem que está a morada do Ser, e o poeta é quem tem o conhecimento
privilegiado e pode assim, pela nomeação, instaurar mundos; o poeta seria um co-criador,
ocupando o mesmo patamar dos deuses. Buscaremos, com essa comunicação, demonstrar as
semelhanças e diferenças entre esses dois poetas frente às ideias de tradução e de poesia, em
que grau dialogam e no que se distanciam.
Palavras-chave: poesia; compromisso social; metafísica; Ezra Pound; Mário Faustino.
“Vieses críticos em contraponto”
105
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
05/10/2016 – 14h às 15h30
SCO16 – Aspectos do romance (sala 29)
Coordenador(a): Rafhael Borgato
As implicações da associação dos romances de Michel Laub ao Bildungsroman
Naiara Alberti Moreno (FCLAr/UNESP - Capes)
Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)
RESUMO: O objetivo desta reflexão é discutir as implicações da aproximação, feita pela
crítica literária, entre a obra do escritor brasileiro Michel Laub e a tradição do Bildungsroman
(romance de formação). Embora o sentido original do termo esteja estritamente vinculado a
um momento histórico e social específico da Alemanha de finais do século XVIII, houve uma
expansão de seu uso a outras literaturas. Sua incorporação pela crítica brasileira ocorreu
apenas a partir da década de 1970, quando passou a ser utilizado para denominar um conjunto
bastante heterogêneo de romances nacionais. O fenômeno estende-se ainda à
contemporaneidade, de modo que, admitindo o dinamismo do conceito, alguns críticos o
associam não apenas à obra de Laub, mas também à de outros autores brasileiros
contemporâneos, como Daniel Galera e Conceição Evaristo. Diante desse cenário, este
trabalho se volta à obra de Michel Laub por ser ela, quase em sua totalidade, uma das mais
comumente associadas ao gênero - discurso que é endossado pelo próprio autor-, de modo que
as considerações propostas mantêm em perspectiva os seguintes romances: Música anterior
(2001), Longe da água (2004), O segundo tempo (2006), Diário da queda (2011) e A maçã
envenenada (2013). Assim, apresentaremos inicialmente um panorama da recente fortuna
crítica do autor para sondarmos, então, algumas questões que norteiam esta pesquisa como um
todo: o que significa pensar obras brasileiras contemporâneas a partir da ideia de
Bildungsroman? Seria essa associação ao cânone ocidental apenas um modo de atribuir valor
às obras ou de fato há aspectos que legitimam tal aproximação? O que a ideia de romance de
formação revela quanto às possíveis conexões com outros romances nacionais e o que oculta
quanto às peculiaridades de cada produção? Para abordar essas questões, partimos da hipótese
de que, sendo ainda possível utilizar essa noção oriunda da crítica alemã, é imprescindível
redimensionar seus sentidos em vista do substancial deslocamento que se realiza ao empregá-
la no contexto específico da produção brasileira contemporânea.
Palavras-chave: Literatura brasileira contemporânea; Bildungsroman; romance de formação;
Michel Laub.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
106
Crítica dialética: estratégias de contenção e harmonização na narrativa literária
Pedro Barbosa Rudge Furtado (FCLAr/UNESP - Capes)
Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)
RESUMO: Objetiva-se, na comunicação, debater alguns conceitos caros à atual crítica
dialética. Ambas – estratégias de contenção e harmonização – são formulações de Fredric
Jameson encontradas na obra O inconsciente político: a narrativa como ato socialmente
simbólico, de 1981, dialogando com pensadores como Hegel, Marx, Lukács, Freud, Frye,
Althusser etc. Estratégias de contenção são artifícios históricos intrínsecos ou não à narrativa
literária que nublam a percepção de tensões sociais dinamizadas no texto. Um exemplo pode
ser encontrado em um tipo de romance que apresenta obras extremamente individualizadas,
obstinadamente subjetivas, como a biografia do sujeito à procura de valores. Nesses termos,
pode-se presumir que tal forma carece de elementos de alcance social, em que nos deparamos
com vontades apenas de um eu enclausurado, quando, no entanto, como é visto em Lukács
(mais precisamente em A Teoria do romance), o sujeito está tentando dissociar-se
subjetivamente de uma realidade histórica, social e econômica. Deter-se nessa estratégia de
contenção seria desvincular o discurso narrativo-literário de ressonâncias sociais. O romance,
forma na qual há maior assimilação das tensões sociais e históricas, adaptando-se
formalmente a elas, reverbera, em sua própria estrutura, os movimentos históricos. Se antes –
pensando nos romances realistas do século XIX – ele era todo ordenado em causalidades,
numa forma orgânica, com a trama baseada em começo, meio e fim de fácil percepção, com a
complicação do sujeito/personagem, à vista da mudança da dicção espacial para a temporal,
foi se tornando mais descontínuo. A obra literária torna-se, desse modo, mais fragmentada,
com elementos de conflitos sociais mais díspares, acarretando a noção, em uma leitura não
totalmente atenta, de harmonização dos embates sócio-históricos. É plausível atestar que a
maior complexidade da forma não pode ser vista, em muitos casos, como debilidade histórica,
mas como um indício do tempo: em comparação com o romance mais objetivo do século
XIX, os novos harmonizam as tensões históricas. Discutir-se-á, fazendo uso de narrativas
literárias, esses conceitos relevantes para a crítica dialética.
Palavras-chave: crítica dialética; estratégias de contenção; harmonização; narrativa literária.
“Vieses críticos em contraponto”
107
Os realismos: das representações épica e trágica da realidade
Rafhael Borgato (FCLAr/UNESP)
RESUMO: Ian Watt, em A ascensão do romance, considerou que o romance moderno surgiu
a partir da utilização da narrativa em prosa com uma linguagem próxima daquela do
cotidiano, cujo objetivo era representar fatos da vida do indivíduo comum. Segundo o crítico
inglês, foi com o advento de uma literatura de classe média, distante dos ditames clássicos,
que a burguesia ascendente conquistou uma forma de representação artística própria, a qual
ele denominou como “realismo formal”. Este se originou com Daniel Defoe, mas ganhou
corpo na obra de Samuel Richardson, cujo maior feito consistiu em transformar a vida
doméstica em mote principal do gênero romance e, consequentemente, em transpor o universo
da narrativa para o nível da linguagem, por meio da manifestação da subjetividade das
personagens, o que o levou a ser considerado por críticos contemporâneos e também do
século seguinte como o precursor do romance de introspecção. O primeiro realismo tinha,
portanto, indícios de sua principal característica futura (a introspecção), porém uma qualidade
fundamental separa a produção dos ingleses setecentistas dos realismos posteriores: o caráter
épico de sua configuração de mundo. Sejam nas aventuras de Defoe ou na interiorização
richardsoniana, o mundo retratado por tais autores nunca deixava de ter a positividade épica,
que residia na percepção do ideário burguês como algo não problemático. Essa perspectiva se
altera no século seguinte, no realismo francês, que, segundo Erich Auerbach, em Mimesis,
inaugurou o realismo moderno. A raiz dos autores franceses é trágica, dado seu
posicionamento crítico diante dos efeitos problemáticos da moralidade burguesa. O objetivo
deste trabalho não é discutir as questões morais e éticas da configuração de mundo da
burguesia, já fartamente estudada, mas, sim, sua relação com os modelos épico e trágico,
fontes da representação do gênero romance, para, dessa maneira, abordar aspectos referentes à
evolução cronológica dos diferentes realismos.
Palavras-chave: trágico; épico; romance.
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108
Ideias inovadoras sobre o romance: propostas de Denis Diderot para uma nova forma
romanesca
Evaneide Araújo da Silva (UNESP / SEE-SP)
Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)
RESUMO: O objetivo deste trabalho é fazer uma análise das ideais do escritor e filósofo
iluminista Denis Diderot (1713-1784) acerca do gênero romanesco a partir da leitura dos
principais textos de crítica de arte de Diderot, relacionando suas ideias enquanto crítico
literário com sua atividade de ficcionista e tendo como base o romance Jacques le fataliste et
son maître (1796). Como se sabe, além de filósofo, Diderot foi também um eminente escritor
de ficção e importante crítico de arte de seu tempo. Assim, paralelamente as suas atividades
ligadas a filosofia, ele escrevia romances, contos, diálogos filosóficos e textos críticos sobre
pintura, escultura, literatura, poesia, etc. Nesse sentido, discutiremos de que forma Diderot
contribui, no século XVIII, para o aprimoramento da forma romanesca através de suas
atividades como escritor e crítico de arte, destacando em especial suas ideias teóricas no que
concerne a arte de maneira geral e ao romance de forma mais específica. Para tanto, faremos
um estudo de suas ideias sobre a forma romanesca a partir de alguns textos que estão mais
diretamente relacionados ao nosso tema de estudo. São eles: Ensaios sobre a pintura,
Tratado sobre o Belo, Paradoxo sobre o comediante e Elogio a Richardson. A partir da
análise das teorias diderotianas, faremos uma relação entre a crítica e o romance de Diderot.
Neste momento, trata-se de pensar o romance Jacques le fataliste em relação a dois
fatos/contextos, qual seja, a situação do romance no século XVIII e as ideias de Diderot a
respeito do gênero. Assim, interessa-nos, portanto, considerar de que forma esse romance
inova em relação ao tema, a linguagem e a configuração dos personagens, construindo uma
narrativa que não é realista apenas no tratamento verossímil que dá a realidade, mas também
porque questiona, de forma lúdica e didática, as artimanhas e os vícios do gênero ao qual
pertence.
Palavras-chave: Romance; Século XVIII; Crítica de arte; Denis Diderot.
“Vieses críticos em contraponto”
109
Agosto: história e notas jornalísticas num romance policial
Murilo Eduardo dos Reis (FCLAr Unesp - CAPES)
Profª Drª Maria Célia de Moraes Leonel (Orientadora)
RESUMO: No livro O que é romance policial, Sandra Lúcia Reimão (1983, p.8) ressalta que,
para uma narrativa ser caracterizada como policial, é necessário que haja um crime com um
personagem disposto a desvendá-lo. A forma básica desse gênero foi criada por Edgar Allan
Poe nos contos que têm como protagonista C. A. Dupin. O presente trabalho resulta da
intenção de verificar como se dá a estruturação da narrativa policial situada em determinado
período histórico brasileiro no romance Agosto, de Rubem Fonseca. Valendo-se dos dias que
antecederam o suicídio de Getúlio Vargas, o escritor utiliza-se de personagens reais e fictícios.
Em meio a crise política que acometia o país, Alberto Mattos, comissário de polícia do
subúrbio do Rio de Janeiro, investiga um assassinato brutal envolvendo um executivo da
cidade e o leitor acompanha as investigações. Durante as buscas, personagens reais (como
Carlos Lacerda, um dos maiores opositores do regime) interagem com os personagens
fictícios criados pelo autor. A verificação do modo como Rubem Fonseca estrutura seu
romance policial naquele período histórico é feita por meio da análise de determinadas
categorias da narrativa: história, as personagens, a narração, a focalização bem como o espaço
e o tempo são objeto de exame com o intuito de estabelecer-se a maneira como, atuando
organicamente ou não, tais elementos constituem romances que são classificados como
policiais. É observada também a caracterização superficial ou mais profunda das personagens
e suas relações com as condições políticas e o espaço social constituídos no romance
selecionado, levantando em conta suas peculiaridades. Naturalmente, será fundamental a
investigação da figura do narrador (quem fala) e do focalizador (quem vê). Além do livro
pertencente ao nosso corpus, há inserções relativas a obras anteriores e posteriores do autor,
bem como a autores que o influenciaram.
Palavras-chave: Rubem Fonseca; romance policial; narração; focalização.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
110
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
06/10/2016 – 14h às 15h30
SCO17 – Poesia francesa do século XIX (sala 36)
Coordenador(a): Marcela de Oliveira Gabriel
A representação da decadência na figura feminina de Baudelaire em Les fleurs du mal
Mariana Alves de Faria (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª. Silvana Vieira da Silva (Or.)
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo tratar a obra Les Fleurs du Mal (1857), do poeta
francês Charles Baudelaire (1821 – 1867), debruçando-se mais especificamente sobre as
figuras femininas que aparecem em vários de seus poemas. Na poesia de Baudelaire,
encontramos um novo conceito de Beleza formada por um “elemento eterno” e um “elemento
circunstancial”. Além disso, a partir da visão do poeta, inserido no mundo moderno em
processo constante e intenso de degradação, é possível encontrar o Belo dentro do Mal, do
feio, o que o leva a incluir em seus versos seres malditos para personificar essa ideia,
designando-os a partir de oxímoros que deixam bem claro o teor contraditório dessa nova
Beleza dentro da poesia da Modernidade. Como se sabe, a imagem da mulher é um tema
recorrente em sua poesia, e, portanto, dentre esses personagens maudits, estará a mulher-
demônio, vampira, fatal, que faz do homem uma mera vítima do seu poder devastador ao
seduzi-lo. Ao caracterizar essa mulher, Baudelaire utiliza-se de elementos que, ao mesmo
tempo que refletem a decadência do mundo moderno, dizem respeito, também, a decadência
do próprio ser inserido nesse contexto da segunda metade do século XIX e, ao fazer isso, o
poeta apresenta dois elementos que estarão presentes no Decadentismo francês: a consciência
do fim do mundo e a visão do poeta como opositor ao novo mundo. Assim, pode-se encontrar
a figura da mulher dentro dessa obra como uma representação do Decadentismo. Para elucidar
essa ideia, serão analisados os poemas “La muse vénale” e “Une charogne” a partir de uma
visão crítica de autores como Álvaro Cardoso Gomes e Joris-Karl Huysmans.
Palavras-chave: Decadentismo, Baudelaire, figura feminina.
“Vieses críticos em contraponto”
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Une Saison en Enfer: poema em prosa ou prosa poética?
Marcela de Oliveira Gabriel (FCLAr/UNESP - CNPq)
Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira (Or.)
RESUMO: Pretende-se, aqui, abordar a poesia do francês Jean-Nicolas Arthur Rimbaud
(1854-1891), especificamente sobre a segunda fase de sua produção artística, na qual escreve
Une Saison en Enfer (1873). Se, em um primeiro momento, o jovem foi fortemente
influenciado pela estética parnasiana de beleza, ordem e equilíbrio, utilizando ainda os
recursos e as formas fixas da tradição literária; a partir de 1871, com o projeto proposto nas
“cartas do Vidente”, uma mudança radical acontece em sua obra. Nessas duas cartas, ambas
de maio de 1871, Rimbaud desenvolve uma longa reflexão na qual assume para o “poeta
vidente” a missão única de encontrar uma linguagem que harmonize “perfumes, sons e cores”.
Essa ideia, cuja fórmula sinestésica já havia sido preconizada por Baudelaire, ganha aqui um
novo viés: o jovem possui um método próprio que consiste em atingir o Desconhecido por
meio de “um longo, imenso e ponderado desregramento de todos os sentidos”. Sob tais
preceitos, o artista prevê a liberdade total no ato de poetizar. Assim, para exercer essa
liberdade, Rimbaud abandona, gradualmente, a poesia convencional de seus primeiros versos
e inicia uma nova empreitada, mais condizente com o projeto atual: a fase prosadora. No
entanto, no que tange ao aspecto formal de Une Saison en Enfer, alguns teóricos a consideram
uma “prosa poética”, enquanto outros a consideram um conjunto de “poemas em prosa”. A
fim de tentar responder a essa questão, nossa proposta visa, primeiramente, expor o conteúdo
das cartas e sua relação com as novas formas empregadas por Rimbaud; depois, em um
segundo momento, mostrar algumas teorias sobre poesia, prosa e suas inter-relações (de
acordo com Poe, Bernard, Cohen, etc.) para, por fim, relacioná-las com nossa obra de estudo.
Palavras-chave: Rimbaud; Vidência; poema em prosa, prosa poética.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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Mallarmé, o obscuro
Thais de Souza Almeida (FCLAr/ UNESP - CNPq)
Prof.ª Dr.ª Andressa Cristina de Oliveira (Or.)
RESUMO: O Simbolismo francês ficou conhecido – sobretudo pela atitude dos seus filiados –
como a inacessível torre de marfim da literatura: movimento de resistência, ele acolheu sob
sua égide artistas que não compactuavam com os ideais progressistas e liberais da burguesia,
então no poder, e que, portanto, resolveram sair pela porta afora dessa sociedade filisteia em
meio a qual não encontravam lugar. Mallarmé – poeta francês cuja produção, iniciada na
década de 1860, é tacitamente considerada basilar ao movimento, tendo inegavelmente
influenciado a geração dos jovens artistas em atividade entre as décadas de 1880 e 1890 –, na
esteira de seu antecessor, Baudelaire, adotou para si a atitude de resguardo de um anacoreta,
dando as costas ao mundo circundante para levar a cabo uma das obras mais célebres da
literatura ocidental. Seus poemas, aclamados por seus admiradores como preciosidades da
literatura, eram escarnecidos por toda a sociedade, incluindo aí consagrados críticos de seu
tempo, devido a sua sintaxe sui generis e, principalmente, a obscuridade de sua mensagem.
Mais de um século se passou desde a sua morte, e o poeta ainda é reconhecido pelos versos de
deliciosa musicalidade, mas de difícil apreensão conteudística. Com o intuito de pensar a
obscuridade na estética mallarmeana, lançaremos mão da conceituada obra Da poesia à prosa,
de Alfonso Berardinelli. Nela, o crítico italiano, procurando compreender diversos aspectos da
lírica moderna, aponta quatro tipos de obscuridade – resultantes da solidão, do mistério, da
provocação e do jargão –, revelando haver certa inclinação ao solipcismo e ao hermetismo na
mencionada poesia. Sob a luz da proposta de Berardinelli sobre o tema da obscuridade,
portanto, abordaremos poemas que figuram entre as maiores produções do poeta hermético.
Palavras-chave: Mallarmé; Berardinelli; obscuridade; simbolismo francês.
“Vieses críticos em contraponto”
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
06/10/2016 – 14h às 15h30
SCO 18: Narrativa: perspectivas moderna e pós-moderna (sala 09)
Coordenador(a): Déborah Garson Cabral
Narrativa placentária: voz e focalização do narrador Benjamin em O Som e a Fúria, de
William Faulkner
Claudimar Pereira da Silva (FCLAr/UNESP - FAPESP)
Prof. Dr. Paulo Andrade da Silva (Or.)
RESUMO: Publicado em outubro de 1929, o romance O Som e a Fúria (2003), do escritor
norte-americano William Faulkner, narra o processo de desagregação moral e econômica dos
Compson, família de passado aristocrata da região sul dos Estados Unidos, habitantes da
geografia mito-poética do condado de Yoknapatawpha, território fictício criado por Faulkner.
A família é formada por Jason, o pai; Caroline, a mãe; e pelos quatro filhos: Quentin, o
primogênito, Caddy, a única mulher entre os irmãos, Jason, o terceiro filho, e por último
Benjamin, o filho mais novo e deficiente mental. As três primeiras partes da narrativa
ocupam-se em representar a consciência de três irmãos, no caso Benjamin, Quentin e Jason,
nessa ordem, adotando, sobretudo nas duas primeiras, as técnicas narrativas de fluxo de
consciência e monólogo interior. Sendo assim, esta comunicação objetiva a investigação e
análise da primeira parte do romance, correspondente ao enunciado do narrador autodiegético
Benjamin Compson, no que tange às categorias narrativas de voz e focalização, postuladas
pelo teórico estruturalista francês Gérard Genette em Discurso da Narrativa (1979). Parte da
fortuna crítica de Faulkner (MILLGATE, 1961; HOFFMAN, 1966), ressalta o tipo de mundo
fixo no qual Benjamin, devido à sua deficiência mental, vive emparedado. Um mundo calcado
na sucessiva alternância de estratos temporais, nas construções sinestésicas, na solidificação
de uma linguagem placentária, isto é, básica e primária, sustentada pela técnica de fluxo de
consciência. A partir desse mundo fixo, Benjamin desenvolve uma voz narrativa na qual as
relações lógico-causais de percepção do mundo interior/exterior fraturam-se, possibilitando
desse modo a configuração de um aporte narrativo no qual um dos componentes principais é o
que nomearemos, em nossa análise, de percepções esquizo-semânticas, ou seja, os momentos
em que o discurso narrativo da personagem aproxima-se da incoerência, articulada à
multiplicidade de sentidos. Além disso, a narrativa de Benjamin constrói-se a partir de uma
tensão, de uma dualidade semântico-estrutural, ou seja, o material primário e fragmentado de
seu fluxo de consciência desenvolve-se em uma estrutura narrativa complexa, cuja
ressonância estética articula-se profundamente aos pressupostos do ideário modernista.
Palavras-chave: William Faulkner; narrador; voz e focalização; Gérard Genette.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
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Ecos da cultura em A misteriosa chama da rainha Loana
Deborah Garson Cabral (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Claudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)
RESUMO: A misteriosa chama da rainha Loana, romance escrito por Umberto Eco em 2004,
é uma obra que pode ser observada por diversos prismas. Trata-se de uma narrativa na qual o
autor celebra a literatura como um todo, misturando a produção de massa e o cânone,
dialogando com todos os estratos literários e, por isso, é uma obra que agrada a diversos
públicos. Em sua construção, podemos encontrar referências de quadrinhos, propagandas que
circulavam durante a Segunda Guerra Mundial, canções presentes no ideário italiano, além
das diversas obras clássicas que compuseram o arcabouço de leituras do protagonista, desde
obras como Os três mosqueteiros, de Dumas, até referências da literatura italiana, culminando
em Borges. Umberto Eco traz à luz, em sua narrativa, obras consagradas pelo tempo, em
forma de paródia aos seus escritores prediletos, os quais exercem influência direta em sua
escrita e produção científica. Eco, fazendo uso de seus conceitos de apocalíptico e integrado,
desenvolve, na prática, a mistura dos universos literários e da arte como um todo,
congregando a cultura de massa e a erudita, evidenciando que a obra pode trazer consigo essa
integração, que será compreendida por aquele que se deixar levar pelos caminhos de sua
narrativa, sem se defender de seu conteúdo aparentemente superficial, e que tenha olhar atento
para enxergar as possibilidades da leitura. O importante é apreciar a paisagem, conhecer os
detalhes das folhas da memória vegetal, que proporciona experiências que podem sempre
angariar vivências.
Palavras-chave: Memória; cultura de massa; intertextualidade; Umberto Eco.
“Vieses críticos em contraponto”
115
O moderno e o pós-moderno: uma reflexão sobre Mrs Dalloway e Saturday
Isaías Eliseu da Silva (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Maria das Graças Gomes Villa da Silva (Or.)
RESUMO: Os romances ingleses Mrs. Dalloway e Saturday, de Virginia Woolf e Ian
McEwan, respectivamente, foram publicados em momentos que se distanciam oitenta anos
um do outro: o primeiro em 1925 e o segundo em 2005. É notório o eco de Mrs. Dalloway em
Saturday e o diálogo entre as obras se dá na escolha do espaço que ambienta a narrativa –
Londres, nos dois casos – e no tempo dentro do qual o enredo se desenrola – um dia da
existência dos protagonistas. O fluxo de consciência e a pulsão introspectiva verificados em
Mrs. Dalloway não se repetem em Saturday que, por seu turno, é tecido sob os moldes
realistas, numa narrativa que flui, com muito poucas interrupções, na configuração tradicional
de começo meio e fim, nessa ordem. No trabalho que aqui se propõe, objetiva-se comparar as
obras referidas e, dadas as semelhanças, pretende-se identificar as diferenças, sobretudo no
que se refere às categorias do moderno e do pós-moderno. Se tomadas as posições de teóricos
como Octavio Paz e Fredric Jameson, é possível estabelecer que Mrs. Dalloway constitui-se
em obra concebida no período da modernidade literária, no início do século XX, ainda muito
influenciada pelas descobertas de Freud sobre o inconsciente, enquanto Saturday enquadra-se
na época pós-moderna, no alvorecer do século XXI, momento marcado pela expansão de
redes terroristas e pelo medo de ataques inesperados. Tal distinção é crucial para a reflexão
sobre duas obras aclamadas pela crítica, semelhantes em determinados aspectos e distantes
pelo que a sociedade e a concepção literária evoluíram em quase um século de história.
Palavras-chave: moderno; pós-moderno; literatura inglesa.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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Notícias de uma narrativa: voz, focalização e realismo em um romance de Marçal
Aquino.
Felipe Camargo Mello (FCLAr/UNESP - PIBIC)
Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo a discussão da voz e do foco narrativo na
composição do romance Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal
Aquino, procurando entender como o mercado audiovisual, crescente desde a década de 90,
influenciou a obra do autor, pontualmente o romance desta pesquisa, e contribuiu com o que
se denomina o “retorno do real”. A composição da narrativa faz-se por uma bifurcação de
vozes narrativas que denunciam a realidade social das situações vividas na luta pelos direitos
trabalhistas dos garimpeiros na região interiorana do Pará e a violência a partir das
experiências de mundo das personagens, com destaque para Lavínia, pois figura a narração
principal, assim como os desdobramentos narrativos. Desse modo, a investigação da estética
realista far-se-á em perspectiva diacrônica, uma vez que, depois de um período de auge no
século XIX e declínio no começo do XX, regressa ao território nacional na segunda metade da
década de sessenta. No caso do romance de Marçal Aqui aqui analisado, o realismo constrói-
se pela valorização das experiências pessoais diluídas em uma ficção um tanto documental,
percorrendo os caminhos do corpo e da intimidade de suas personagens.
Palavras chave: voz narrativa; realismo; narrativa brasileira contemporânea.
“Vieses críticos em contraponto”
117
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
06/10/2016 – 14h às 15h30
SCO 19: Identidades (sala 27)
Coordenador(a): Gustavo de Mello Carvalho Sá Carvalho Ribeiro
A perspectiva da narradora de Niketche: uma história de poligamia, de Paulina Chiziane
Jéssica Fabrícia da Silva (FCLAr/UNESP)
Marcia Aparecida Gobbi (Or.)
Tania Mara Antonietti Lopes (Co-or.)
RESUMO: Este trabalho pretende observar a perspectiva de Rami, narradora do romance
Niketche: uma história de poligamia, da moçambicana Paulina Chiziane. A história narrada
por Rami mostra sua posição enquanto mulher dentro da sociedade moçambicana e dentro de
seu casamento, no qual a instituição selada pelos votos católicos não é respeitada, visto que
seu marido, o comandante da policia Tony, possui quatro amantes: Julieta, Luísa, Saly e Mauá
Saulé. É interessante notar que as relações extraconjugais de Tony funcionam como uma
“colcha de retalhos” de Moçambique, já que cada mulher representa uma região e, dessa
forma, uma cultura diferente deste país. Destarte, buscar-se-á análises que abarquem tanto a
estrutura narrativa da obra, explicitando a importância do foco e modo narrativo da
personagem Rami para a construção do discurso, tendo como base o pensamento genettiano e
seus desdobramentos na crítica literária, quanto a mimetização da sociedade moçambicana,
marcada por suas contradições devido ao duplo movimento colonizador por parte dos
portugueses e dos árabes, utilizando, para isso, por exemplo, o teórico cultural e sociólogo
jamaicano Stuart Hall e o filósofo francês Frantz Fanon. Além disso, será necessário para a
pesquisa estudos que reflitam a posição da mulher em África, como os ensaios apresentados
no livro A mulher em África, organizado por Inocência Mata e Laura Cavalcante Padilha, e a
mulher na atual sociedade contemporânea, adotando os posicionamentos da filósofa
americana Angela Davis e da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Torna-se,
então, perceptível a importância desses pontos para a apreensão da obra, pois esta é construída
de forma interdependente, o que gera a unidade de sentido do romance.
Palavras-chave: narrador; literatura moçambicana; sociedade; pós-colonialismo.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
118
A crítica pós-colonial e a obra de Mia Couto
Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)
RESUMO: A crítica pós-colonialista tem papel de destaque nos estudos das literaturas
africanas em língua portuguesa, tratando de pontos importantes nessa seara, como a busca da
identidade nacional, a retomada de mitos, as relações assimétricas de poder e o hibridismo da
linguagem. O objetivo do trabalho é verificar como a crítica pós-colonialista analisa a direção
dialética própria da obra de Mia Couto, como a representação do eu e do outro, do invasor e
do invadido, do nativo e do estrangeiro, do contemporâneo e do tradicional. Esse jogo de
duplos, que remete às questões pós-coloniais, é muito presente no escritor moçambicano, o
que chama a atenção não apenas dos estudiosos da produção dele mas também dos próprios
teóricos do pós-colonialismo. Para exemplificarmos a questão em pauta, ou seja, a adequação
da crítica pós-colonial para a investigação da produção de Mia Couto, apresentamos um
estudo de nossa lavra - fundado na crítica pós-colonial - que tem como objeto um de seus
principais romances, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, publicado em 2002.
O romance narra a história de Mariano, um jovem que retorna da cidade grande para a ilha
natal por ocasião do velório do avô, Dito Mariano e, na estadia no local, vai ao encontro de
suas raízes e de sua identidade. Examinamos tais buscas sob a perspectiva da crítica pós-
colonial e ainda comparamos as possibilidades - ou não - de aproveitamento de tal abordagem
teórica entre este romance e outras importantes obras de Mia Couto, como Terra sonâmbula,
O último vôo do flamingo, Venenos de Deus, remédios do Diabo e Jesusalém. O
embasamento teórico principal para nosso estudo são ensaios do e sobre o pós-colonialismo
de maneira geral como "O pós-colonial e o pós-moderno" de Kwame Appiah, "A condição
pós-colonial das literaturas africanas de língua portuguesa: algumas diferenças e
convergências e muitos lugares-comuns" de Inocência Mata, "Do pós-moderno ao pós-
colonial e para além de um e outro" de Boaventura de Sousa Santos, "Quando foi o pós-
colonial?" de Stuart Hall e ainda estudos sobre Mia Couto e sobre a obra estudada, como "Mia
Couto e a arquitetura de desconstrução" de Rodrigo Ferreira Daverni e "Três romances de
Mia Couto: horizontes moçambicanos" de Vera Marques.
Palavras-chave: crítica pós-colonial; literaturas africanas de língua portuguesa, Mia Couto
“Vieses críticos em contraponto”
119
“Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos”: a construção e fragmentação
identitária em Cartas de Caio Fernando Abreu
André Luiz Alselmi (Centro Universitário Barão de Mauá)
RESUMO:A edição e publicação de cartas de escritores tem se intensificado nas últimas
décadas. Por um lado, isso se deve ao fato de as correspondências promoverem – devido à sua
suposta espontaneidade discursiva – uma impressão de verdade, constituindo, assim, uma
forma de reconstituir a identidade de grandes autores, permitindo compreender alguns
processos relacionados à criação literária. Por outro, ao possibilitarem o acesso ao universo do
escritor, as cartas ganham destaque por se apresentarem como um meio de compreender a
relação entre biografia e obra, revelando aspectos relacionados à autoficção. Entretanto, é
preciso reconhecer que, como qualquer texto, as correspondências são símbolos, produtos
discursivos de seus emissores, que se valem de estratégias a fim de atingir determinados
efeitos de sentido. Este trabalho considera as cartas como produtos linguísticos e, a partir da
teoria lacaniana – de que o sujeito se constitui por meio da ordem simbólica da linguagem –
investiga o processo de criação identitária de Caio Fernando Abreu a partir da coletânea
Cartas, organizada por Ítalo Moriconi. Com isso, pretende-se demonstrar como, para o
escritor, as cartas representam, por um lado, uma espécie de monopólio de sua imagem, e, por
outro, de acordo com o pensamento de Jacques Derrida, uma forma de inscrever-se na história
literária, constituindo, por meio da materialidade do texto, uma presença que marca uma
ausência: a do escritor. A fim de se compreender como o autor edifica, por meio do discurso,
uma imagem de si, este estudo analisa diversas estratégias empregadas pelo remetente a fim
de criar um “efeito de verdade”.
Palavras-chave: Caio Fernando Abreu; escrita epistolar; construção identitária; psicanálise.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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Abordagem discursiva do literário: uma análise da constituição do livro Dois Irmãos de
Milton Hatoum
Claudia Maria de Serrão Pereira (UFSCar/FAPEAM)
Luciana Salazar Salgado (orientadora)
Resumo: Este trabalho propõe a análise da constituição do livro Dois Irmãos (2000) de Milton
Hatoum pela abordagem discursiva de linha francesa derivada dos estudos de Dominique
Maingueneau (2014) sobre o discurso literário. Esta abordagem compreende que as
manifestações e interferências de terceiros sobre a obra não são fenômenos isolados do
produto literário, mas integrantes na produção e circulação de seu valor; assim, para o teórico,
a análise do produto literário deve partir também das marcas da interferência do editor num
trecho, das modificações de passagens, traduções, resenhas, o midíum e efeitos como eventos
e feiras causam em um leitor. Para tanto, mobiliza o conceito teórico-metodológico de
paratopia criadora para observar o funcionamento da gestão de autoria, a qual ele conceitua
como um entre-lugar em que o autor se posiciona. Este conceito pode ser pensando como um
nó-borromeano cuja composição se faz em três anéis-instâncias que não se sobressaem, mas
dependem das forças que exercem em determina circunstância: a primeira instância se
denomina pessoa e relaciona-se aos traços biográficos do sujeito na relação com sua produção
escrita: trata-se de considerar que a biografia do sujeito que se arvora em autor participa da
constituição de sua autoria, mas não se pode estabelecer uma determinação de sua vida sobre
sua obra ou vice-versa; a segunda instância, chamada escritor, tem relação com a figura
pública, seus grupos de leitores, a relação que mantém com editoras, seu aparecimento em
palestras, eventos, festas e feiras, veículos midiáticos, circuitos alternativos, etc.; ou seja, tem
relação com todas as dimensões públicas que precisam ser geridas; a outra instância, inscritor,
refere-se à textualidade da obra e à produção de sua materialidade: envolve, assim, a escrita
propriamente dita e os modos de inscrição de materiais adotados, assim como os rituais que os
precedem e que os presidem, sendo afetada também pelas outras instâncias.
Palavras-chaves: discurso literário; paratopia criadora; Dois Irmãos
“Vieses críticos em contraponto”
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SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
06/10/2016 – 14h às 15h30
SCO20 – Corpo (sala 42)
Coordenador(a): Sérgio Gabriel Muknicka
Vozes da luxúria: carnavalização e erotismo em A casa dos budas ditosos, de João
Ubaldo Ribeiro
Rosana Letícia Pugina (FCLAr/UNESP - CAPES/CNPq)
Prof.ª Dr.ª Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (Or.)
RESUMO: O tema deste trabalho é o estudo da carnavalização e do erotismo no romance A
casa dos budas ditosos, de João Ubaldo Ribeiro (1999). Para Bakhtin, o viés carnavalesco da
literatura abrange os processos subversivos da ordem social, política ou artística, pois faz com
que tudo ganhe o horizonte do seu avesso por meio do espírito sarcástico e das transgressões
que desafiavam a censura oficial. Conforme tal preceito, o corpo humano torna-se um
mediador concreto do mundo, do seu peso real e do seu valor para a humanidade. O objetivo
geral da pesquisa é estudar os conceitos de erotismo e de pornografia na literatura, uma vez
que se confundem no imaginário popular. O objetivo específico é observar os mecanismos de
constituição da carnavalização a partir das relações dialógicas que se travam na obra, para que
se possa verificar de que forma a transposição do carnaval para a linguagem da literatura se
edifica no romance de João Ubaldo Ribeiro, A casa dos budas ditosos, sobretudo com
referência à exposição do corpo e do ato sexual. A fundamentação teórica são as reflexões e
as descobertas de Bakhtin sobre os conceitos de dialogismo e de carnavalização (1987; 1988;
1997; 1998; 2001; 2006) e de pesquisadores estudiosos de sua obra, tais como Brait (1994;
1999; 2006a; 2006b; 2009), Fiorin (2006a; 2006b; 2010), e Morson e Emerson (2008), dentre
outros. Quanto ao erotismo, são utilizados os estudos de Almeida (1980), Bataille (1980),
Castello Branco (1984), Durigan (1985), Moraes e Lapeiz (1986), Alexandrian (1994),
Moraes (2000; 2008; 2013), Paz (1993) e Hunt (1999). A metodologia da pesquisa é de cunho
bibliográfico sobre o erotismo, a pornografia, as relações dialógicas e a carnavalização, para
que seja possível testar a hipótese de que esses conceitos são também fatores de garantia de
literariedade de um romance.
Palavras-chave: Bakhtin; carnavalização; erotismo; A casa dos budas ditosos; literatura
brasileira
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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A empregada, a escritora e o médico: Mary Reilly, de Valerie Martin
Vinicius Lucas de Souza (FCLAr/UNESP - CNPq / FAPESP)
Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)
RESUMO: Em nossas pesquisas, o empreendimento da análise do romance O médico e o
monstro (Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1886), de Robert Louis Stevenson,
iniciou-se da materialização do Complexo de William Wilson a partir do conto “William
Wilson” (1839), de Edgar Allan Poe; seu primórdio em “O homem da areia” (“Der
Sandmann”, 1816), de E. T. A. Hoffmann, e consequente revisitação no romance O retrato
de Dorian Gray (The Picture of Dorian Gray, 1890-1891), de Oscar Wilde. Nesse
momento, os três pilares do Complexo referido emergiram: a existência de uma segunda
entidade, que compartilharia características físicas e psíquicas da personalidade da
personagem “original”; o Unheimliche, conforme estabelecido por Sigmund Freud em seu
ensaio “O ‘estranho’” (“Das Unheimliche”, 1919), o familiar e estranho convergindo para um
mesmo ser, e o espelho, auxiliador máximo da manifestação do Doppelgänger. Partindo do
Complexo de William Wilson, nossa empreitada desembocou na revisão desse Complexo na
narrativa de Stevenson em questão e como ela contribui para o tema do Duplo, resultando na
alteração dessa tradição e abertura de novas possibilidades de significação (o múltiplo). Nesse
instante de nossas pesquisas, a análise caminhou para o que se denominou Paradoxo Jekyll-
Hyde: o motivo do Duplo no romance altera-se para um nível de multiplicidade, isto é, a
ordem do dois não mais domina a filigrana do texto do médico e do monstro e se evidencia a
insurgência de um tecido fragmentado, múltiplo em diversos aspectos: a configuração trina do
organismo do outrora uno Dr. Henry Jekyll (o doutor, o famigerado Mr. Edward Hyde e a
Criatura, o corpo que abarca essas duas personalidades, adaptando-se fisicamente à
personalidade que está consciente); o jogo hospedeiro-hóspede que se verifica nas cartas que
passam nas mãos de Gabriel John Utterson, o advogado e amigo de Jekyll. Assim, nossa
proposta intenciona em visualizar como o romance Mary Reilly (1990), de Valerie Martin,
atualiza e rearticula o Paradoxo Jekyll-Hyde. Esta comunicação focar-se-á na primeira parte
desse romance, no qual a história do médico e do monstro é recontada sob a perspectiva de
uma empregada que trabalha para o Dr. Jekyll.
Palavras-chave: Mary Reilly; O médico e o monstro; Duplo; Paradoxo Jekyll-Hyde
“Vieses críticos em contraponto”
123
O canto elegíaco das protagonistas de Moravia
Sérgio Gabriel Muknicka (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Cláudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)
RESUMO: Este estudo falará, brevemente, sobre quatro contos do autor italiano Alberto
Moravia (1907-1990), escritor romano que concebeu sua obra tanto em prosa (contos,
romances e novelas) como em peças de teatro e em roteiros cinematográficos. As produções a
serem comentadas são: “Venduta e comprata”, “L’orgia”, “Il corpo di bronzo” e “Il
supercorpo”, visto que estas quatro narrativas trazem a tona um tema em comum: o corpo
como mercadoria e objeto de consumo. Um dos embasamentos teóricos para esta discussão
foi o livro A personagem de ficção (CANDIDO, 1987). É imprescindível ressaltar que, nos
quatro contos, as personagens femininas são narradores autodiegéticos (GENETTE, 1972). Os
contos “L’orgia” e “Venduta e comprata” – presentes no livro Il paradiso (1970) – são
interessantes, pois apresentam narradoras que tomam a palavra para poder discorrer sobre
seus dramas existenciais; estes, novamente, sempre relacionados ao corpo. Em “L’orgia”, a
protagonista, uma mãe de família, casada e burguesa, sonha, por um breve momento, com
uma vida livre das regras do comportamento burguês. Em “Venduta e comprata”, a narradora
encontra na prostituição a solução para seu corpo, até então, desprezado pelo amado marido.
“Il corpo di bronzo” e “Il supercorpo” – do livro Boh (1976) – revelam-se, também, como
composições interessantes no que diz respeito à temática do corpo enquanto moeda de troca
tanto no âmbito privado (o casamento burguês) como no âmbito público (a indústria
capitalista), respectivamente. Por meio da convencionalização (CANDIDO, 1987), Moravia
conseguiu expor pontualmente a psicologia nevrótica de suas protagonistas, retratando-as
como figuras cínicas e frias. A linguagem, simples e desprovida de ornamentos tanto
linguísticos como estruturais, é reflexo disso. No entanto, acredita-se que o tom de oralidade,
às vezes bem marcado nos contos, pode ser lido como a confissão elegíaca dessas
personagens moravianas que, nos livros citados, desfrutam dessa posição privilegiada –
embora não totalmente confiável – de narradoras autodiegéticas e, por meio da focalização
interna fixa (GENETTE, 1972), podem, dessa maneira, ficcionalizar à vontade suas histórias
por meio do discurso em primeira pessoa.
Palavras-chave: literatura italiana; Alberto Moravia; narrativa.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
124
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
07/10/2016 – 14h às 15h30
SCO21 – Barroco e arcadismo (sala 31)
Coordenador(a): Francisco Diniz Teixeira
O viés crítico e tradutório na obra de Filinto Elísio
Francisco Diniz Teixeira (SEE-SP)
Prof. Dr. Brunno V. G. Vieira (Or.)
RESUMO: O poeta árcade luso Francisco Manuel do Nascimento foi um padre que se tornou
uma das figuras mais influentes na literatura portuguesa do século XVIII. Sua obra poética
abarca os principais gêneros da tradição clássica e em defesa dela e da língua portuguesa, na
época sob forte influência francesa, foi inimigo feroz da moda galicista. Usou inicialmente o
pseudônimo pastoril de Filinto Niceno que logo foi substituído por Filinto Elísio, pelo qual é
mais conhecido. Filinto foi acusado de heresia ao Tribunal do Santo Ofício em 1778. Essa
denúncia o fez fugir de Portugal para o exílio na França, onde morreu na penúria financeira e
de amigos, com saudades da pátria, uma vez que seus bens haviam sido confiscados pela
Inquisição, em 1819, antes de ver o término da publicação de sua obra completa. Os anos
penosos no exílio, Filinto suportou com o auxílio de poucos amigos, como o Conde da Barca
que o torna seu secretário na Holanda entre 1792 e 1797 e o contato com a língua mãe ele
pode empreender conversando com judeus portugueses que viviam ali. Ao lado de sua
prolífera produção literária há também um legado de traduções de obras e gêneros diversos
empreendida pelo poeta para se manter, como a das Fábulas de La Fontaine, a Segunda
Guerra Púnica do poeta romano Sílio Itálico, Os mártires de Chateaubriand (dedicada ao
Conde da Barca), algumas Odes de Horácio e alguns opúsculos de D’Alembert. Por isso, o
trabalho que se apresenta neste momento se debruça sobre as reflexões teóricas acerca de
poesia e tradução de Filinto Elísio e da sua prática tradutória em relação às Odes de Horácio,
que demandaram um esforço de transmetrização e de transestilização como define Gerard
Genette em Palimpsests (1982). Esta prática subjaz na criação de mais 300 odes dentre seu
vasto estro.
Palavras-chave: Filinto Elísio; tradução; ode; poesia clássica; literatura portuguesa.
“Vieses críticos em contraponto”
125
Mutabilidade e constância em As variedades de Proteu, de Antônio José da Silva
Eduardo Neves da Silva (USP/Capes)
Prof.ª Dr.ª Flavia Corradin (Or.)
RESUMO: Inserida no contexto do Barroco português, a comédia As variedades de Proteu
(1737), cuja autoria geralmente é atribuída ao luso-brasileiro Antônio José da Silva (1705-
1739), carrega intenso apelo espetacular, graças aos copiosos efeitos visuais e à presença de
trechos musicados (coros, árias e recitados), a entremear os diálogos dos personagens. Na
obra, o galã Proteu encarna, alegoricamente, uma das tópicas centrais da estética seiscentista,
qual seja, a da mutabilidade do mundo das aparências. Proteu vale-se de sua capacidade
sobrenatural de se transformar em coisas ou pessoas para conquistar a dama Cirene, a qual já
está prometida a Nereu, irmão do protagonista. Cirene, por sua vez, pode ser vista como a
face “realista” e complementar das metamorfoses de Proteu, já que lança mão do fingimento e
da falsidade a fim de atingir um único objetivo: fazer-se princesa (conforme os planos de seu
pai), tomando a identidade de outra pessoa e casando-se com Nereu. Demonstraremos,
entretanto, que a constância de certos afetos representados na peça (nomeadamente o amor de
Proteu) apresenta-se como autêntico contraponto à volubilidade e artificialidade típicas do
universo barroco. Nesse sentido, a intriga da obra dar-se-ia como uma espécie de síntese
dialética de duas forças opostas: a variabilidade das aparências e a constância dos afetos. Com
o fito de enriquecer nossa discussão, recorreremos ao pensamento de Francis Bacon, René
Descartes e Gottfried Leibniz, filósofos do Seiscentos que se ocuparam, respectivamente, da
origem dos enganos a que os homens estão sujeitos, dos erros causados pelos sentidos e da
teatralidade da existência.
Palavras-chave: antônio josé da silva; ópera joco-séria; barroco; artificialidade; fingimento.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
126
Manuel Botelho de Oliveira e a estética barroca
Daniel de Assis Furtado (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Or.)
RESUMO: Esta comunicação tem por objetivo debater o valor estético dos poemas profanos
de Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) considerando as orientações formais praticadas
na poesia do período barroco. Será traçado o panorama histórico-literário em que a obra foi
composta, assim como revelados alguns dados biográficos do autor, enfatizando a importância
do mesmo para a literatura brasileira então nascente. Os aspectos nativistas especificamente
verificados na silva “À ilha de Maré”, que conduziu sua obra ao cânone, serão abordados – o
que compreende a análise central de nossa pesquisa, especialmente no que diz respeito à sua
possível contribuição para a formação da identidade brasileira. Em relação ao conteúdo da
referida silva, será debatido o topos literário da “ilha encantada”, apresentando um breve
cotejo com a maneira como este foi abordado por Camões (“Os Lusíadas”, IX, 51-63) e pelos
frades Manuel de Santa Maria Itaparica (“A Ilha de Itaparica”) e José de Santa Rita Durão
(“Caramuru”, VI, 45-79; VII, 21-74) e um apontamento sobre a influência que todos esses
poetas – Manuel Botelho de Oliveira inclusive – receberam de Virgílio (“Geórgicas”, II, 136-
176) e de Ovídio (“Metamorfoses”, I, 89-112). Serão, enfim, analisadas as funções denotativa,
expressiva, apelativa e poética da silva “À ilha de Maré” e suas respectivas relações com a
construção do “mito do Brasil”, verificado na tendência de se exaltar a natureza e de enumerar
e louvar os frutos da terra, as atividades humanas e as possibilidades de exploração econômica
associadas ao reconhecimento do Novo Mundo, na esperança de evocar e de apontar no Brasil
a materialização do mito do “paraíso terrestre” – que volta a ser explorado e desenvolvido
posteriormente na literatura brasileira nos períodos do romantismo e do modernismo.
Esperamos nesta comunicação não apenas divulgar a obra dum poeta geralmente ofuscado por
seus contemporâneos (Gregório de Matos Guerra e padre Antônio Vieira), mas também
propor um olhar mais atento a um período histórico-literário cuja importância na formação da
identidade brasileira é, por vezes, deixada de lado.
Palavras-chave: literatura barroca; poesia brasileira; nativismo; ilhas encantadas; paraíso
terrestre.
“Vieses críticos em contraponto”
127
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
07/10/2016 – 14h às 15h30
SCO22 – Espaço e narrativa II (sala 32)
Coordenador(a): Nathalia Sorgon Scotuzzi
As funções do espaço no Cthulhu Mythos de H. P. Lovecraft
Nathalia Sorgon Scotuzzi (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)
RESUMO: O norte-americano H. P. Lovecraft desenvolveu entre seus trabalhos um grupo de
contos intitulado Cthulhu Mythos, que possui temáticas em comum que constroem uma
espécie de mitologia literária. Esses textos possuem diversas características semelhantes que
permitem o desenvolvimento dessa mitologia, e o espaço é uma dessas características
fundamentais. Para analisar as funções desses espaços, utilizamos a teoria desenvolvida por
Ozíris Borges Filho, em sua obra Espaço & Literatura – Introdução à topoanálise (2007) e
os textos de Yi-Fu Tuan, Paisagens do Medo (2005) e Topofilia – Um estudo da
Percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente (1980). A partir desses textos,
levantamos questões como a caracterização de personagens a partir do espaço em que se
inserem e os efeitos que um deslocamento espacial pode causar dentro da narrativa. É
analisando essa movimentação entre espaços que percebemos que os efeitos principais
propostos pelo Cthulhu Mythos aparecem, uma vez que a mudança de um espaço conhecido a
uma região afastada e desolada permite que surja o medo no personagem e provoca as
descobertas que levam os textos a seu clímax. Analisamos nesse trabalho o conto “Um
Sussurro nas Trevas” e a novela Nas Montanhas da Loucura, duas histórias que possuem
essas características bastante demarcadas. Os narradores dos dois textos são cientistas e
acadêmicos da universidade fictícia de Lovecraft chamada Miskatonic University, que por
motivos divergentes são tirados da segurança de sua vida na cidade para viajar a regiões
desoladas e muito pouco desbravadas, no caso o interior desabitado do estado de Vermont e a
Antártida. A partir dessa mudança de espaço tanto as experiências vividas pelos personagens
quanto a própria linguagem que utilizam será alterada, até que por fim realizem descobertas
alarmantes que só poderiam acontecer sob esse tipo de situação. É abandonando tais regiões e
lutando para que permaneçam desabitadas que os personagens retornam a seus lares diferentes
do que costumavam ser. Assim, o espaço é uma chave fundamental dentro da obra de
Lovecraft, que permite que o rompimento com a noção de realidade do personagem – e
consequentemente do leitor – aconteça, a partir do momento em que o sobrenatural ou
desconhecido se revela.
Palavras-chave: Topofilia; Cthulhu Mythos; Espaço Literário.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
128
Subjetividade e clausura: o gênio sombrio de Cornélio Penna
Mariângela Alonso (USP)
RESUMO: A obra de Cornélio Penna (1896-1958) ainda carece de análises mais profundas e
satisfatórias, permanecendo deslocada no panorama literário brasileiro. Pode-se dizer que a
ficção corneliana isolou-se em um universo e tempo particulares, guiando-se pelo viés
introspectivo, na contramão de uma época cujos aspectos modernos de ruptura e revolução
eram as palavras de ordem. Na produção artística do autor, a descrição é responsável pela
representação de ambientes sombrios e angustiantes e por vezes condizentes tanto com os
temas tratados quanto com o estado de clausura de seus personagens, como ocorre em
Fronteira, romance de estreia, publicado em 1935. Nesta narrativa há um olhar melancólico e
misterioso pelo qual a espacialidade adquire uma dimensão humana, em semelhança com o
que Frederick R. Karl (1985) chamou de literatura de clausura. O movimento de clausura
poderia proporcionar, de acordo com o teórico, uma visão diferente da vida dos personagens,
em que passividade e interioridade seriam pontos de partida da trama e do desenvolvimento
da consciência. Nesse sentido, a presente comunicação visa investigar o espaço que compõe a
arquitetura de Fronteira, bem como a marca inconfundível de uma atmosfera de clausura e
fantasmagoria. Uma pesquisa nesta direção tem como embasamento os estudos de Michel
Foucault, especialmente a conferência intitulada Outros espaços (1967), em que o filósofo
propõe a categoria da espacialidade como seminal para o entendimento do sujeito do século
XX, para além de mero adorno ou estaticidade. Além disso, recorremos às proposições de
Gaston Bachelard (1976) e Frederick R. Karl (1985) quanto à topoanálise e à literatura de
clausura.
Palavras-chave: Cornélio Penna; Fronteira; clausura; espacialidade.
“Vieses críticos em contraponto”
129
Espaço e personagem em Primeiras estórias de Guimarães Rosa
Rubia Alves (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)
RESUMO: Nossa pesquisa pretende analisar os contos inicial e final de Primeiras estórias, de
Guimarães Rosa, que emolduram os demais em um contexto histórico de globalização, cuja
tendência é a de uniformizar as particularidades das cidades. “As margens da alegria” e “Os
cimos” dialogam de maneira sutil com o momento histórico em que foram escritos e a
contraposição de uma visão unilateral de mundo é apresentada pelo olhar ora deslumbrado ora
indignado de uma criança, que descortina um mundo marcado por características que
expressam a identidade brasileira ao mesmo tempo em que alcança o caráter universal. Ao
abordar o tema da inserção gradual de uma personagem infantil ao mundo dos adultos,
definida pelo aprendizado possibilitado, sobretudo, pelos conflitos, o autor adentra em uma
busca por respostas num processo contínuo de perguntas, de questionamentos sobre as
paisagens, sobre os sujeitos e sobre a vida. O Menino, dessa maneira, ao andar pelo espaço
brasileiro une o deslocamento à experiência vertiginosa do tempo, fazendo com que a viagem
ocorra e possibilitando a experimentação do espaço, o que é essencial ao processo de
formação e transformação da personagem. O embasamento teórico de nossa pesquisa pode ser
agrupado em três linhas: a) textos que abordam o contexto histórico brasileiro e o processo de
formação e consolidação da literatura brasileira, tais como os escritos por Alfredo Bosi
(1994), Antonio Candido (2003) e Flora Süssekink (1990). b) ensaios críticos sobre a obra de
Guimarães Rosa em geral e de Primeiras estórias em particular. Os estudos de Walnice
Nogueira Galvão (2006), Maria Carolina de Godoy Nogueira (2007), bem como a coletânea
organizada por Eduardo F. Coutinho (1983) nos foram de crucial importância. c) proposições
sobre as categorias narrativas, com ênfase no espaço, tais como as de Osman Lins (1976) e
Antônio Dimas (1994).
Palavras-chave: Guimarães Rosa; “As margens da alegria”; “Os cimos”; Primeiras estórias.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
130
A jangada de pedra e o corte traumático: um descolamento espacial à luz do
materialismo lacaniano
Luís Cláudio Ferreira Silva (UEL)
Marco Antonio Hruschka Teles (PG-UEM)
RESUMO: Outrora potências marítimas que partilharam o mundo ao meio por meio do
Tratado de Tordesilhas, Portugal e Espanha foram vistos por séculos como uma espécie de
primos pobres da Europa, ou mesmo sombra de países mais desenvolvidos como Alemanha,
França, Inglaterra ou Holanda. Mesmo assim, esses dois países foram responsáveis pela
colonização na América e transmissão de sua cultura para a maioria dos países da América
Latina, o que nos leva a entender que os países ibéricos possuem uma ligação histórica,
linguística e cultural com os países latino-americanos. É justamente por esse viés que A
Jangada de Pedra (1986) de José Saramago normalmente é lida. Os dois países que se
assemelhariam muito mais à América Latina do que com a Europa propriamente dita,
romperiam geograficamente com o continente e se deslocariam em direção ao novo
continente. Contudo, aqui propomos uma nova leitura, alicerçada nas teorias do materialismo
lacaniano: o corte traumático para a entrada no campo simbólico. Segundo Lacan, o sujeito só
se instaura como tal após o corte traumático que se dá no Nome do Pai. Esse corte é
extremamente importante para que o sujeito simbolize, ou seja, entre, enfim, no campo
Simbólico. O presente trabalho tem também como objetivo refletir sobre a problemática
constituição da identidade nacional no dito romance saramaguiano, tendo como uma das bases
o teórico Stuart Hall, que afirma que a construção identitária corresponde ao processo de um
conjunto de fatores históricos e sociais. Faremos um percurso histórico para entender como
foi formado o mito de nação portuguesa, e como esse mito reaparece na diegese da obra
escolhida para análise.
Palavras-chave: Materialismo Lacaniano; deslocamento; José Saramago.
“Vieses críticos em contraponto”
131
A crônica contemporânea e sua diluição do espaço
Luis Eduardo Veloso Garcia (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)
RESUMO: Considerado um dos gêneros mais expressivos e populares da literatura nacional,
a crônica brasileira é um exemplo de modelo textual que tem suas principais características
marcadas na relação com a plataforma na qual está inserida, como podemos perceber na teoria
vigente do gênero que aponta para o veículo comunicativo do jornal em todas as bases de
compreensão da crônica, desde seu tamanho textual até a linguagem mais leve e preocupada
em dialogar com o leitor. Se tais bases fundamentais do gênero faziam sentido nas teorias
levantadas até o momento, com o enfraquecimento da plataforma do jornal (refletindo em
quedas vertiginosas na sua importância mercadológica) e o imponente espaço que o meio
digital abre para os cronistas, uma grande alteração se apresenta no gênero, principalmente na
leitura sobre o espaço. Como se sabe, a crônica brasileira é reconhecida por trazer a tona o
recorte do espaço local do autor visto de forma subjetiva de maneira que podemos enxergar
facilmente o Rio de Janeiro nas crônicas de João do Rio ou São Paulo nas obras de Antônio
de Alcântara. No entanto, ao tentarmos reposicionar esta leitura do espaço local na crônica de
autores contemporâneos como Gregório Duvivier, Xico Sá, Antônio Prata, Tati Bernardi, João
Paulo Cuenca, Mariana Ianelli, Vanessa Barbara, Carol Bensimon e muitos outros, esta leitura
do espaço se dilui e não conseguimos mais compreender a cidade na qual estes se situam,
afinal, a leitura deles corresponde ao “espaço local” globalizado ao qual se dirigem: as mídias
digitais. Através de análise de leitura da plataforma comunicacional em que se encontra
inserida a crônica, procuraremos compreender de que maneira sua transposição para o meio
digital alterará as características do gênero, principalmente no quesito referente ao seu espaço,
ou melhor, a “diluição do seu espaço”, da qual pode-se encontrar rastros da literatura e cultura
contemporânea bem claros como a desterritorialização e até mesmo uma perspectiva de
gentrificação. O que se propõem neste trabalho, portanto, é um novo olhar para a crônica
contemporânea, entendendo de que maneira suas transformações de plataforma alteram sua
maneira de ser consumida e entendida pelo nosso tempo presente.
Palavras-chave: Crônica; literatura contemporânea; espaço; literatura brasileira; plataforma
comunicacional.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
132
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
07/10/2016 – 14h às 15h30
SCO23 – Fantástico (sala 33)
Coordenador(a): Profa. Dra. Claudia F. de Campos Mauro
Os arquétipos na literatura: um estudo da personagem Frodo Bolseiro no romance O
Senhor dos Anéis
Sérgio Ricardo Perassoli Junior (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)
RESUMO: O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung revolucionou a psicologia com sua teoria dos
arquétipos e do inconsciente coletivo. Também chamados de imagens primordiais, os
arquétipos são figuras típicas ou manifestações simbólicas que aparecem amiudadamente nos
mitos e no folclore de praticamente todos os povos e civilizações. O conceito de arquétipo
transcendeu o âmbito da psicologia e foi incorporada a crítica literária por teóricos como
Northrop Frye e E.M. Meletínski, que analisaram obras literárias a luz da psicologia
junguiana e encontraram na literatura a manifestação das figuras arquetípicas do herói, da
anima e da sombra, por exemplo. Tais arquétipos também podem ser encontrados em O
Senhor dos Anéis [The Lord of The Rings, 1950], romance mais importante do escritor sul-
africano John Ronald Reuel Tolkien. A jornada típica do herói, por exemplo, aparece
frequentemente na obra de Tolkien e pode ser analisada na aventura de Frodo Bolseiro, a
principal personagem do romance em questão. O presente trabalho tem por objetivo analisar e
investigar alguns aspectos da jornada de Frodo que, pode-se afirmar, remetem aos principais
arquétipos literários e a individuação junguiana, um processo caracterizado como a tendência
da psique de encontrar o equilíbrio e a completude. Para aprofundar e enriquecer a análise,
serão apresentados alguns teóricos da mitologia e da literatura que foram influenciados pela
psicologia de Carl G. Jung. O trabalho que ora se apresenta também pretende ilustrar a
importância das ideias de Jung e dos principais conceitos da psicologia arquetípica para o
estudo da personagem e para a própria crítica literária.
Palavras-chave: arquétipo; individuação; psicanálise.
“Vieses críticos em contraponto”
133
La morte, um conto fantástico e realista de Guy de Maupassant
Clarissa Navarro Lima (FCLAr/UNESP - CAPES)
Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite. (Or.)
RESUMO: O fantástico tradicional percorreu todo o século XIX e também foi produzido e
pensado pela escola realista/naturalista. Maupassant, já nos anos 1880, escreveu vários contos
em que trabalhava questões referentes ao delírio, à alucinação, ao medo e ao mistério; muitas
dessas histórias se enquadram na modalidade do fantástico. O escritor cria a ambiguidade e
provoca a hesitação nesses contos a partir da linguagem, trabalha motivos fantásticos como
cadáveres, tumbas, aparições; dentro de noites assombrosas e espaços como cemitérios e
casarões; no entanto, o fantástico de Maupassant vem mais do interior que do exterior, vem da
solidão, do medo, da demência, da imaginação afetada e da loucura de suas personagens.
Além criar e produzir um fantástico diferente de seus predecessores, um fantástico mais sutil e
não tão invasivo e impossível, o escritor tem, ainda, mais uma especificidade: consegue ser
realista ainda que fantástico, ou talvez, melhor dizendo, fantástico, ainda que realista.
Maupassant consegue desnudar a realidade, dissecar a condição mais real do homem por meio
de contos em que há a presença do insólito, do mistério e do sobrenatural, ainda que, talvez,
sejam apenas fruto da imaginação ou da alucinação das personagens. A narrativa La morte,
publicada primeiramente em 1887, no jornal Gil Blas; e, posteriormente na coletânea La main
gauche, é um exemplar dessa modalidade que também marcou a vida do autor francês.
Maupassant foi um expoente na literatura fantástic. Este trabalho propõe, pois, fazer uma
breve análise do conto A Morta, discutir a literatura fantástica e o fantástico peculiar de
Maupassant, tendo por base autores como Todorov, Castex, Camarani, Wellek, Grandadam e
o próprio escritor e teórico, Maupassant.
Palavras-chave: Literatura Francesa; Maupassant; Literatura fantástica.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
134
Primo Levi e o fantástico na literatura italiana do século XX
Prof.ª Dr.ª Claudia F. De Campos Mauro (FCLAr/ UNESP)
RESUMO: O objetivo desta pesquisa é, através da análise de alguns contos do escritor
italiano Primo Levi, apresentar um panorama da literatura fantástica”, dentro do contexto da
literatura italiana. Na Itália, é o século XX o terreno fértil para o surgimento de obras ligadas
ao modo fantástico. O século XX, isto é, o Novecento italiano, explora não mais somente as
angústias e o terror, mas se concentra nas temáticas da perda da harmonia do homem consigo
mesmo e com o mundo em torno dele, do sentido de desnorteamento, da constante ameaça às
grandes certezas, da existência de eventos extraordinários. Primo Levi, acompanhando a
tendência do fantástico italiano da segunda metade do século XX explora, como disse
Calvino, um fantástico abstrato, de característica lógica e intelectual. Desnuda
comportamentos humanos e faz duras críticas à sociedade. O homem, com a progressiva
afirmação da sociedade de massa, sente-se à mercê de forças que não consegue controlar; a
lógica do sistema social, econômico e burocrático é incompreensível e absurda, e desorienta e
aterroriza o indivíduo. A percepção positivista do real é colocada em crise e o progresso da
ciência , ao invés de restringir o campo do desconhecido, o amplia enormemente, apagando a
fronteira entre real e impossível. Pretendemos mostrar como Levi explora, sobretudo, o tema
da “ciência sem consciência” , fazendo com que o fantástico assuma , em seus contos,
também o papel de elemento de denúncia social e ambiental através da exposição de certos
comportamentos individuais e coletivos da sociedade.
Palavras-chave: Primo Levi; fantástico; literatura italiana; ficção científica.
“Vieses críticos em contraponto”
135
Contos fantásticos de Machado de Assis: a abordagem da crítica literária
Ricardo Gomes da Silva (FCLAr/UNESP - CAPES)
RESUMO: A presente comunicação busca por meio de um levantamento das pesquisas acerca
dos contos fantásticos de Machado de Assis verificar algumas questões como: a) o fantástico
em Machado de Assis foi sempre algo perceptível como uma faceta do autor; b) o que foi dito
sobre o tema na sua época; c) quais foram os momentos importantes para que a faceta
fantástica machadiana fosse desvendada; d) como os estudos acadêmicos tem se comportado
sobre o assunto. Para tanto, realizamos uma pesquisa bibliográfica para que pudéssemos
compreender como foi a recepção da faceta fantástica de Machado. Como resultado desta
pesquisa surgiu o presente estudo, no qual expomos nossas percepções sobre a maneira que a
crítica literária se posicionou diante dos escritos fantásticos Machadianos desde o século XIX
até nossos dias.
Palavras-chave: Machado de Assis; Fantástico; Crítica Literária.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
136
SESSÃO DE COMUNICAÇÕES ORAIS LIVRES
07/10/2016 – 14h às 15h30
SCO24 – Teatro (sala 34)
Coordenador(a): Prof. Dr. Marco Aurelio Rodrigues
As teorias da performance e a ὄψις aristotélica
Marco Aurélio Rodrigues (FCLAr/UNESP)
RESUMO: Ainda que timidamente, as questões que envolvem a performance da tragédia
grega começam a ganhar no Brasil cada vez mais entusiastas. Trata-se de um estudo que,
desde a década de 70, passou a ser explorado pelos pesquisadores do drama clássico em todo
o mundo como um aspecto de extrema importância para a compreensão da prática e dimensão
do teatro antigo. É nesse âmbito que, também, surgiram os estudos da performance moderna
das peças de Ésquilo, Sófocles e Eurípides que, aliados a outras teorias, criaram um farto
campo de pesquisa. No entanto, à medida que a investigação se amplia, alguns impasses
obrigam os estudiosos a refletirem sobre aspectos que retomem a teatralidade, a encenação e a
própria arte dramática como pontos centrais das discussões. Sendo assim, quando Aristóteles,
na Poética (1447a 13-16), inclui ὄψις (aparência, aspecto) como uma das seis partes
constituintes do drama, pode se inferir que o texto dramático só atinge sua completude se
levado aos estímulos visuais, ou seja, por meio da materialização, o drama é contemplado por
um espectador. Todavia, o vocábulo ὄψις possui um vasto campo semântico carregado de
implicações que, para muitos autores, ao longo dos séculos, foi “mal interpretado”, como
sugere Taplin (1977), Halliwell (1986) e Scott (1999). Por sua vez, os trabalhos de Billaut
(2001) e Bassi (2006) sugerem que o estagirita somente fez uso do termo para explicitar a
lacuna que já existia entre o texto e a performance. Dessa forma, qualquer que seja a
abordagem, a palavra apresenta-se como um desafio, com visões que a justificam ou a
distanciam das teorias modernas de Performance para o drama grego. Assim, a presente
comunicação pretende explorar algumas discussões acerca do conceito de ὄψις, partindo
principalmente dos recentes trabalhos de Sifakis e Konstan (2013), para elucidar as diferentes
perspectivas no campo das teorias da Performance da tragédia clássica.
Palavras-chave: performance; tragédia; ὄψις;
“Vieses críticos em contraponto”
137
As relações entre texto e imagem em Salomé: Um estudo sobre a peça wildeana e as
ilustrações de Beardsley
Lívia Maria Zocca (FCLAr / UNESP)
Prof.ª Dr.ª Natália Corrêa Porto Fadel Barcellos (Or.)
RESUMO: Os estudos comparativos entre literatura e outras artes distintas têm contribuído
desde a Antiguidade para maior compreensão de obras, propiciando - concomitantemente à
compreensão do objeto literário - o aumento de pesquisas e discussões. O mito bíblico de
Salomé foi fortemente retomado na França do fim século XIX e, adquirindo novas e
diferentes roupagens do mito original, percorreu o imaginário dos artistas do período através
das famosas pinturas de Gustave Moreau, tornando-se um forte símbolo feminino de uma
época marcada pelo simbolismo /decadentismo, onde a arte buscava explorar as paixões e os
mistérios, em meio aos grandes avanços científicos. Oscar Wilde foi um dos escritores que
deu voz à dançarina, construindo em francês mais uma versão entre as muitas variações do
mito ao publicar sua peça em 1893. Sua Salomé percorreu a Europa em meio a polêmicas e
obteve mais sucesso que as outras obras de mesmo tema – e melhores avaliadas pela crítica do
período - dando à personagem maior destaque e repercussão. Encantado com a peça de Wilde,
Aubrey Beardsley, em 1894, ilustra a versão inglesa com seu estilo característico - variando
da Art Noveau à influência das pinturas japonesas - em um tom erótico e grotesco peculiar.
Suas ilustrações correram o mundo com a peça e trouxeram ainda mais notoriedade e
significado à versão wildeana, o que permite pensar que o elemento pictórico poderia
ultrapassar suas funções tradicionais de simples acompanhante do texto, acrescentando
informações à trama, ao preencher lacunas e sugerir novos olhares, ampliando a leitura.
Assim, entendendo que o texto verbal e visual não são linguagens incomunicáveis, e sim
complementares, e que se isoladas as obras teriam seus significados e sentidos alterados, o
presente trabalho busca analisar as relações texto-imagem entre a peça de Wilde e as
ilustrações de Beardsley.
Palavras-chave: relações texto-imagem; Oscar Wilde; Salomé; Aubrey Beardsley;
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
138
La Révolte: a crítica social no drama villieriano
Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier (FCLAr/UNESP)
Prof.ª Dr.ª Guacira Marcondes Machado Leite (Or.)
RESUMO: Na esteira da democratização do poder pelo viés foucaultiano, Augusto Boal
(1931- 2009) idealiza o teatro do oprimido tendo em vista a concepção de que todo teatro é
ação e, por extensão, todo o teatro é um agente de transformação social. A crítica, sobretudo a
da literatura dramática, não poderá questionar essa premissa, mas certamente, não concordará
com a hipótese de que o escopo dessa literatura seja essencialmente social, haja vista o teatro
simbolista do final do século XIX que tinha como intuito não a representação das relações
intersubjetivas da sociedade da época, mas fazer do teatro um espaço de reflexão sobre as
relações “intrasubjetivas”, ou seja, a interioridade do ‘eu’. Ora, uma vez que refletimos sobre
a nossa condição existencial não estaríamos fazendo uma crítica da sociedade uma vez que
nos apropriamos dos discursos vigentes para refutá-los? Nesse sentido, o teatro villieriano é
engajado socialmente porque ao negar sistematicamente a realidade tangível em busca de uma
condição existencial mais perene e plena, ele questiona o status quo, ou seja, a ordem
burguesa e capitalista, excessivamente positivista e materialista. O objetivo dessa
comunicação será, portanto, analisar como Villiers de l´Isle-Adam, sob uma aparente couraça
de alienação, faz uma crítica social ferrenha ao capitalismo e à sociedade burguesa. Para
tanto, utilizarei excertos da sua peça La Révolte e tentarei verificar como essa crítica social é
construída pelas relações de poder refletidas no discurso das personagens Élisabeth e Félix.
Dessa forma, em um primeiro momento, tentarei apresentar em linhas gerais a obra dramática
villieriana – visto que ela não dispensa apresentações – cuja vocação é essencialmente lírica e
poética; e, em um segundo momento, analisarei excertos da peça La Révolte sob uma
perspectiva foucaultiana do poder.
Palavras-chave: Villiers de l’Isle-Adam; Michel Foucault; poesia dramática
“Vieses críticos em contraponto”
139
A elaboração estética em Olgas Raum e Licht: rumo a uma poética dramatúrgica
loheriana
Júlia Mara Moscardini Miguel (FCL-UNESP – CAPES)
Elizabete Sanches Rocha (FCHS-UNESP)
RESUMO: Através da análise das peças Olgas Raum e Licht almeja-se inserir a dramaturga
contemporânea alemã Dea Loher no contexto teatral contemporâneo, analisando os recursos
estéticos ligados à práxis da dramaturga, direcionando para o estudo de uma possível poética.
A estética teatral contemporânea transita por diversos caminhos que geram dissenções
inclusive entre a crítica especializada. O alemão Hans-Thies Lehmann cunha o termo pós-
dramático e faz uma sistematização desse conjunto de tendências que cercam o universo
teatral contemporâneo. Em contrapartida, o francês Jean-Pierre Sarrazac propõe uma visão
que pretere a prática da ruptura anunciada por Lehmann em virtude de uma adequação de
recursos vários originando um mosaico estético. Rejeitando a concepção de Lehmann, Loher
caminha de maneira convergente ao pensamento de Sarrazac ao resgatar elementos estéticos
expressivos em momentos artísticos anteriores, como, por exemplo, a epicização brechtiana, a
fragmentação do Teatro do Absurdo e a deformação expressionista, condensando-os em uma
estética arraigada à tradição do enredo, que, embora pareça fragmentário, ainda conta com um
fio condutor indispensável à dramaturgia de Loher. A dramaturga dá origem a uma nova
concepção de teatro e drama ao arquitetar todos esses recursos, mantendo o firme ideal
político. O diferencial de Loher está em optar por personagens tristes e fracassadas que se
encontram na dor e, ao proporcionar esse encontro dessas figuras consigo mesmas e com o
leitor/espectador, a dramaturga promove uma espécie de redenção que só é possível através da
arte. O trabalho estético de Loher adquire, portanto, o objetivo de humanizar e universalizar a
dor através da arte, que por esse prisma torna-se libertária.
Palavras-chave: teatro contemporâneo; teatro épico; teatro pós-dramático; beleza estética.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
140
SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
05/10/2016 – 16h às 18h
SD1 – Cinema e Literatura (sala 05)
Debatedor: Prof. Dr. Leonardo Francisco Soares (UFU)
Coordenador(a): Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan
A santa e a devassa: figurações do feminino no cinema épico de Manoel de Oliveira
Fernanda Barini Camargo (M).
Prof.ª Drª Renata Soares Junqueira (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2018.
RESUMO: Este projeto tem por objetivo aprofundar a pesquisadora no estudo da ficção
cinematográfica do cineasta português Manoel de Oliveira (1908 – 2015), especialmente no
que toca à elaboração das máscaras das personagens femininas de seu cinema, considerando
seu modus operandi próprio, derivado da pureza da linguagem cinematográfica e seus laços
viscerais com a literatura. Pretende-se investigar tais efeitos de sentido a partir de um díptico
do cineasta português – O Princípio da Incerteza (2002) e Espelho Mágico (2005), baseados
na trilogia homônima do primeiro, de autoria da escritora portuense Agustina Bessa-Luís (n.
1922). O primeiro filme baseia-se no romance Joia de Família (2001), ao passo que o
segundo se origina de A Alma dos Ricos (2002). A escolha do corpus sob investigação
justifica-se pela relevância dos seguintes elementos presentes na filmografia oliveiriana:
Leonor Baldaque e Leonor Silveira, musas da cinematografia do realizador, representam a
dialética das máscaras femininas que oscilam entre a figura da santa e a da devassa e, as
mesmas atrizes, agora sob papeis invertidos, protagonizam a sequência do primeiro longa-
metragem. Além disso, os filmes são símbolos dos estreitos laços do cineasta com a literatura,
mais precisamente, com a fértil parceria da escrita feminina de Agustina Bessa-Luís.
Ademais, segundo a nossa hipótese, as personagens femininas que protagonizam tais películas
condensam o enigma feminino que subjaz a todas as mulheres de relevo de seu cinema, numa
radicalidade existencial que leva os homens a sucumbirem diante delas e os espectadores a
questionarem valores patriarcais e papeis femininos na sociedade – aspecto que também se
apresenta no texto agustiniano.
Palavras-chave: Manoel de Oliveira; Agustina Bessa-Luís; cinema; literatura; personagens
femininas.
“Vieses críticos em contraponto”
141
Cinema em palavras: roteiros não filmados de Joaquim Pedro de Andrade1
Douglas de Magalhães Ferreira (D)
Prof.ª Dr.ª Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2020
RESUMO: O campo de pesquisa no qual este trabalho se insere é o das intricadas inter-
relações literatura/cinema, e três são os seus objetos de estudo: Vida mansa (1984), O
Imponderável Bento contra o Crioulo Voador (1990) e Casa-grande, senzala & cia (2001),
roteiros não filmados de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), um dos expoentes do
Cinema Novo. Ao se explorar as peculiaridades e potencialidades expressivas do roteiro
cinematográfico enquanto linguagem verbal, pretende-se contribuir tanto para a discussão em
torno do estatuto dessa produção textual – se literatura ou não e sua relevância para a própria
história do cinema – quanto para a (re)interpretação da cinematografia de seu autor-cineasta,
uma vez que as palavras dos roteiros de Joaquim Pedro podem iluminar as imagens de seus
filmes, pois guardam traços comuns entre si, como a prática do humor irônico, o cuidado para
com a palavra, o sublinhar da hipocrisia das relações interpessoais, o interesse por nossa
formação social, tradição cultural e identidade nacional.
Palavras-chave: Literatura e cinema; roteiro cinematográfico; Joaquim Pedro de Andrade.
1 Pesquisa desenvolvida sob orientação da Profa. Dra. Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
142
Uma Poética de vanguarda para o cinema: Manoel de Oliveira e o pensamento crítico da
Presença
Mariana Veiga Copertino Ferreira da Silva (D)
Prof.ª Dr.ª Renata Soares Junqueira (Or.)
Data prevista para conclusão: maio de 2020
RESUMO: Este projeto, vinculado ao Grupo de Pesquisas em Dramaturgia e Cinema (GPDC)
da UNESP, propõe um estudo da produção cinematográfica de Manoel de Oliveira,
conceituado cineasta, com enfoque na influência que esta obra provavelmente recebeu do
presencismo português, detectável, sobretudo, na relação que ela estabelece com outras artes
e, dentre elas, especialmente com a literatura. Sua produção cinematográfica se inicia em
1931, com Douro faina fluvial e avança pelos anos seguintes com filmes que variam entre
curtas e longas-metragens. Esse momento inicial do cinema de Manoel de Oliveira coincide
com o auge da revista Presença em Portugal e a relação do cineasta com essa Folha de Arte e
Crítica se estreita à medida que intensifica sua amizade com José Régio. Este apresenta ao
jovem Oliveira as inovações estéticas propostas pela Presença e a forma renovadora pela qual
as vanguardas passavam a fazer arte – em Portugal, mas também na Europa e no mundo.
Assim, o novo movimento modernista acaba por reger, em partes, a estética que Manoel de
Oliveira se propõe a desenvolver no cinema, influenciando sua produção, sobretudo as
questões relacionadas à originalidade de uma obra moderna: uma arte sincera e atemporal,
como propunha a Presença. Este projeto propõe-se identificar, em cinco filmes de Manoel de
Oliveira, uma dimensão estética sensivelmente marcada pela inspiração advinda da
proximidade entre o cineasta e os poetas e artistas que em torno da revista se reuniram,
sobretudo José Régio.
Palavras-chave: Manoel de Oliveira; Cinema; Literatura; Presença; José Régio.
“Vieses críticos em contraponto”
143
Os lugares e não-lugares em Das Nackte Auge de Yoko Tawada
Thais Gonçalves Dias Porto (M)
Prof.ª Dr.ª Natália Corrêa Porto Fadel Barcellos (Or.)
Data prevista de conclusão: dezembro de 2017
RESUMO: Yoko Tawada vem recebendo grande destaque no meio acadêmico devido à
originalidade com que trata de temas frequentemente abordados na literatura contemporânea.
A autora japonesa mudou-se para a Alemanha no início dos anos oitenta a fim de seguir seus
estudos germânicos e lá fixou sua carreira. Tawada escreve poesia, teatro, contos e romances,
tanto em alemão, como em japonês. A partir de seu olhar estrangeiro, a autora brinca com a
língua alemã e escreve sobre o sujeito que se encontra geográfico e culturalmente deslocado
na sociedade. Assim se encontra a personagem principal do romance Das Nackte Auge, uma
jovem vietnamita que, por conta de um engano, acaba desembarcando em Paris no final na
década de oitenta. Em meio à sociedade ocidental capitalista, a jovem se vê completamente
excluída, principalmente devido à impossibilidade de comunicação com os locais. No entanto,
a personagem encontra nas salas de cinema, mais especificamente nas personagens
interpretadas pela atriz Catherine Deneuve, um local de refúgio da realidade, de identificação.
Com o passar da narrativa, que é composta por treze capítulos que levam o título de um filme,
a jovem vietnamita se vê cada vez mais envolvida pela ficção projetada nas telas dos cinemas
parisienses, invertendo assim aquilo que Marc Augè classifica como lugar e não-lugar. A sala
de cinema que, a princípio, caracterizaria-se como um mero local de trânsito, ou seja, um não-
lugar, passa a ser um local de identificação, significação, até mesmo de comunicação, isto é,
um lugar, segundo o conceito do antropólogo francês. A linguagem cinematográfica torna-se
o único elemento passível de compreensão da jovem. Tal habilidade é apresentada na obra de
maneira crescente, incorporando, assim, a narrativa dos filmes à narrativa do romance,
tornando-a uma obra intermidiática.
Palavras-chave: literatura contemporânea; literatura alemã; cinema; identidade;
intermidialidade
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
144
SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
05/10/2016 – 16h às 18h
SD2 - Aspectos na literatura de autoria feminina (sala 09)
Debatedor: Profa. Dra. Carla Alexandra Ferreira (UFSCar)
Coordenador(a): Profa. Dra. Maria Clara Bonetti Paro
Leituras do feminino e do patriarcado em Marguerite Duras e Lygia Fagundes Telles
Vanessa Aparecida Ventura Rodrigues (D)
Data prevista de Conclusão: dezembro de 2019
RESUMO: O estudo comparado de autores e de suas obras tem merecido destaque nos
estudos críticos de literatura, não porque comparar uma literatura à outra seja uma novidade
em teoria literária, mas porque a literatura comparada como ciência destacou-se no século
XX, quando foram estipulados métodos para a realização da comparação entre autores e
textos literários. Em nosso trabalho, levaremos em consideração que as escritoras Marguerite
Duras e Lygia Fagundes Telles produzem suas obras no âmbito do embate da mulher frente ao
mundo, cujas experiências, recordações e devaneios se entrecruzam formando um mosaico
desordenado de uma geração colhida pelo esfacelamento das relações familiares, basicamente
em um contexto turbulento da história de seus países. Há nas personagens de Lygia e de
Duras almas dilaceradas pelo sofrimento, jamais justificado, próprio da condição humana.
Marguerite Duras enfrenta a colonização francesa na Ásia, pertencendo a uma família branca
e pobre, em meio a um ambiente estranho e hostil, permeando sua obra de autobiografia e,
ante a vasta obra de Duras, restringiremos nosso objeto de estudo ao romance La vie
tranquille, segundo romance produzido pela escritora. De Lygia, abordaremos os contos
Elzira e O espartilho e o romance Verão no Aquário, visto que suas personagens vivem em
contextos diferentes: duas da primeira metade do século XX, momento em que a mulher
brasileira desperta para o seu papel de submissão dentro da sociedade, a outra, já liberta, em
um meio que se transforma em relação à mulher, nos anos 60, momento em que há um
desmoronamento da família tradicional, sem que nenhum modelo bem definido viesse ocupar
o lugar dela.
Palavras - chave: Feminino; patriarcado; identidade; memória; família.
“Vieses críticos em contraponto”
145
A desintegração do sujeito feminino em A redoma de vidro, de Sylvia Plath
Vanessa Cezarim Bertacini (M)
Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2018
Bolsista CNPq
RESUMO: O projeto de pesquisa intitulado “A desintegração do sujeito feminino em A
redoma de vidro, de Sylvia Plath” propõe o estudo do romance em questão com o objetivo de
analisar como se representa a condição do sujeito pós-moderno no romance, levando-se em
conta de que se trata de um sujeito feminino e considerando todas as suas implicações, e
verificar a possível presença de um subtexto feminista na obra, isto é, de camadas de
significação mais complexas do que o aparentado na superfície do romance. Para tanto,
debruçar-nos-emos sobre o romance e a fortuna crítica da autora, bem como sobre o estudo de
textos teóricos sobre o pós-modernismo e o feminismo. As principais obras a serem
consultadas em relação a cada tópico são o próprio romance, A redoma de vidro (1963), assim
como estudos sobre a vida e obra de Sylvia Plath, como o No Man’s Land (1988, 1989, 1994)
e o Shakespeare’s Sisters (1979), de Sandra Gilbert e Susan Gubar, e Os diários de Sylvia
Plath: 1950 - 1962 (2000), de Karen Kulil, e Ísis americana: a vida e a arte de Sylvia Plath
(2013), de Carl Rollyson. Além disso, recorreremos a obras sobre o feminismo, como o
ensaio Um teto todo seu (1929), de Virginia Woolf, e The Madwoman in the Attic (1979), de
Gilbert e Gubar, e a estudos sobre o pós-modernismo e o sujeito pós-moderno, como A
identidade cultural na pós-modernidade (1992), de Stuart Hall. Por meio das leituras
propostas, procuramos traçar um percurso que nos leve de uma primeira leitura superficial do
romance a suas camadas mais profundas, que tratam das questões do sujeito na pós-
modernidade e da condição histórica do sujeito feminino.
Palavras-chave: Sylvia Plath; sujeito; pós-modernidade; feminismo; subtexto.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
146
Representações contemporâneas do feminino em As horas, de Michael Cunningham
Laís Rodrigues Alves Martins (M)
Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2018
Bolsista CNPq
RESUMO: A pesquisa intitulada “Representações contemporâneas do feminino em As horas,
de Michael Cunningham” intenta investigar como se dá a representação das identidades
femininas, particularmente a contemporânea, no referido romance. Para tanto, propomos uma
análise de natureza comparativa entre as personagens-protagonistas de As horas (The hours,
1998) e a protagonista do romance Mrs. Dalloway (1925), de Virginia Woolf. Acreditamos
que esse procedimento nos propiciará uma visão panorâmica da identidade feminina na obra
de Cunningham, posto que, ao elencarmos pontos consonantes e dissonantes entre as
entidades fictícias, poderemos observar mudanças na condição da mulher. Levaremos em
consideração, ainda, o fato dessa representação ter sido elaborada por um homem, bem como
a relação de homens escritores com o feminismo. O aporte teórico da pesquisa, que tem como
corpus o romance As horas, compreende duas linhas, a saber: teoria da narrativa e teorias
feministas. Com relação à primeira, destacamos os pesquisadores Linda Hutcheon e o livro
Uma teoria da paródia (1985), o qual nos servirá como base para tratarmos da questão da
referencialidade entre o romance de Cunningham e o de Woolf; e Stuart Hall, A identidade
cultural na pós modernidade (1992), que nos auxiliará na análise da personagem Clarissa
Vaughan. No que concerne às teorias feministas, recorreremos à uma variada gama de ensaios
e livros, ênfase para The Madwoman in the Attic (1979), os quais nos servirão de guia para
tratar a questão da representação, do olhar sob as personagens femininas, Mística feminina
(1963), para tratar de outra personagem-protagonista de As horas, Laura Brown, e a coletânea
de ensaios Feminisms (1991). Faremos, ainda, um estudo sobre a fortuna crítica da escritora
britânica Virginia Woolf, de modo a melhor compreender como o autor norte-americano
Michael Cunningham compôs o romance paródico As horas e suas personagens-
protagonistas.
Palavras-chave: representação; feminismo; personagem; identidade; pós-modernidade
“Vieses críticos em contraponto”
147
Contos de Clarice Lispector: escrita poética e expressão sensorial
Letícia Coleone Pires (M)
Data prevista para conclusão: abril de 2018
Bolsista CAPES
RESUMO: Nossa pesquisa centra-se na verificação de como, através da linguagem e de
outros elementos, como narrador, tempo, personagem, focalização, Clarice Lispector constrói
narrativas poéticas, tendo em vista a manifestação de percepções advindas dos campos
sensoriais, expressas pela perspectiva das personagens e suas vivências. O corpus da pesquisa
é formado por duas coletâneas de contos -, Laços de família e A legião estrangeira, com
ênfase em quatro composições de cada livro, respectivamente: “A imitação da rosa”,
“Preciosidade”, “Mistério em São Cristóvão” e “O búfalo”; “Mensagem”, “O ovo e a
galinha”, “Evolução de uma miopia”, e “A legião estrangeira”. O embasamento teórico da
pesquisa pode ser agrupado em quatro linhas: crítica sobre a produção clariciana em geral e
sobre a poeticidade de sua prosa, como O drama da linguagem: uma leitura de Clarice
Lispector de Benedito Nunes; para o exame das características desse gênero tido como
híbrido, - prosa poética -, atentaremos para estudos relativos a esse tipo de narrativa, como
The lyrical novel de Ralph Freedman; e estudos referentes à poesia, como Estrutura da
linguagem poética de Jean Cohen e O arco e a lira de Octavio Paz, que nos permitem
reconhecer os recursos próprios da poesia na narrativa, além de proporcionar a reflexão sobre
as relações entre a prosa e a poesia. Textos que tratam das percepções, sensações e
construções sensoriais, como Fenomenologia da percepção (1999) de Maurice Merleau-
Ponty, em que temos a relação entre a percepção e o universo, e o próprio eu; e estudos sobre
as categorias da narrativa, como Discurso da narrativa de Genette, que nos possibilita uma
melhor investigação sobre como a narrativa é construída.
Palavras-chave: Clarice Lispector; contos; narrativa poética; manifestação das sensações.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
148
SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
05/10/2016 – 16h às 18h
SD3 – Mitos e lendas em diferentes tempos (Sala 2 de Vídeo
Conferência)
Debatedor: Prof.ª Dr.ª Maria Celeste Tommasello Ramos (IBILCE/UNESP)
Coordenador(a): Prof. Dr. Marco Aurelio Rodrigues
A lenda da montanha de cristal – do mito à história e de volta outra vez
Therezinha Maria Hernandes (M)
Prof.ª Dr.ª Karin Volobuef (Or.)
Data prevista para a conclusão: abril de 2018
RESUMO: 1. Introdução. a) Apresentação do conto “A montanha de vidro” e dos mitos e
contos de fadas que lhe deram origem: Dânae, Perséfone e o conto-tipo “a princesa
enclausurada”; b) breve enumeração da presença dos elementos do conto “A montanha de
vidro” em outras narrativas. 2. Análise do(s) conto(s) segundo: a) a tradição aristotélica; b)
Gérard Genette; c) Vladimir Propp; d) Aarne-Thompson; d) Michelle Simonsen; e) Carl-
Gustav Jung; e) os elementos do conto sob uma perspectiva histórica: contos pré-cristãos; o
“solar do rei”, a proximidade entre o rei e seus súditos; os vaticínios; a natureza nem boa, nem
má; o askeladden; a princesa enclausurada, a virgindade como valor, o vidro como símbolo de
pureza; elementos cristãos introduzidos posteriormente. 3. a) Apresentação do relato de Sir
Walter Raleigh sobre sua expedição ao Monte Roraima (1595-1596), o mito do Eldorado e
lendas indígenas da região; b) “A cidade perdida na Bahia” – documento n.º 512 da Biblioteca
Nacional- e outros relatos. 4. Conclusão: a interferência das narrativas tradicionais na
História, e esta realimentando os contos populares.
Palavras-chave: conto popular; fontes; variações; influências; símbolos e arquétipos.
“Vieses críticos em contraponto”
149
O mito de Orestes em Ésquilo, Racine e Sartre
Lidiane Cristine de Lima Ferreira (M)
Data prevista para conclusão: maio de 2018
RESUMO: A pesquisa apresenta a trajetória do herói grego Orestes e suas diferentes
representações durante a história da literatura. Itinerário este que se inicia na Antiguidade -
com a trilogia Orestéia, de 458 a.C, composta pelas obras Agamêmnon, Coéforas e
Eumênides do autor grego, Ésquilo. Passa pelo século XVII através da obra Andromaque de
Jean Racine (1667), e se encerra com uma nova interpretação à luz da filosofia existencialista
do século XX, com a obra Les mouches (1943) do filósofo Jean-Paul Sartre. O objetivo do
trabalho é aprimorar o conhecimento sobre as literaturas grega e francesa; compreendendo o
berço clássico de onde surgiu a trágica história de Orestes, as mudanças que sofreu sob a
influência de autores franceses, e suas diversas interpretações e posicionamentos no decorrer
da história. Para isso, seguimos buscando uma percepção mais ampla e profunda da mitologia
do herói, que se originou nas tragédias gregas de Ésquilo, e ganhou diferentes caracterizações
nos séculos XVII e XX, onde teve sua história adaptada e representada pela arte dos olhares
franceses de Jean Racine e Jean-Paul Sartre. Através da leitura das obras corpus de estudo e
de textos teóricos, buscamos compreender as ideologias e estilos que cada um dos autores
utilizou para a representação da história de Orestes - um herói mitológico conhecido por
vingar-se da própria mãe em favor da irmã e da honra do pai assassinado. Cada autor faz uso
do nome de Orestes de forma diversa e com diferentes objetivos, prova de que sua história -
que tanto nos diz sobre a natureza humana - continua sendo motivo de inspiração até os dias
atuais. A partir deste trabalho, buscamos compreender a influência da mitologia grega para a
criação de obras ao longo da história humana, principalmente durante o período da doutrina
clássica na França. Apontamos, também, a maneira como essa influência acaba por ganhar
novas interpretações aos olhos dos autores que as reescrevem podendo, inclusive, modificar
toda sua ideologia de acordo com a preferência dos mesmos, como podemos perceber através
da escrita literária de Sartre em sua peça Les mouches.
Palavras-chave: Orestes; Ésquilo; Racine; Sartre; mito.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
150
SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
05/10/2016 – 16h às 18h
SD4 – Espaços possíveis na narrativa (sala 29)
Debatedor: Prof. Dr. Arnaldo Franco Júnior (IBILCE/UNESP)
Coordenador(a): Profa. Dra. Juliana Santini
Espaço e sujeito, narrativa e identidade: Relato de um certo Oriente e Um solitário à
espreita, de Milton Hatoum.
Manoelle Gabrielle Guerra (M)
Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)
Data prevista de conclusão: abril de 2018
Bolsista Capes
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar a construção da identidade nas narrativas
de Milton Hatoum, tomando por base seu último livro, o conjunto de crônicas Um solitário à
espreita, em comparação com o seu primeiro romance, Relato de um certo Oriente. Essa
discussão parte da hipótese de que há, nesses textos, identidades individuais e coletivas que se
constroem a partir de um domínio espacial comum. É possível observar que há um processo
de subjetivação da voz narrativa, tanto no romance, quanto nas crônicas selecionadas, que é
responsável por uma representação da cidade de Manaus atrelada a uma memória que se
coloca, ao mesmo tempo, como individual e coletiva. Dessa forma, busca-se compreender
como se dá construção de núcleos identitários no interior desses diferentes gêneros, o
romance e a crônica, partindo do espaço representado em cada um. O espaço urbano destaca-
se nos textos analisados, e a forma como é descrito denota a existência de diferentes grupos
sociais que nele coexistem, gerando uma múltipla visão da cidade: o romance mostra uma
forte relação com a cultura libanesa, enquanto as crônicas fazem referência a esses migrantes,
mas também às populações nativas da região e a estrangeiros que ali habitam. A memória,
seja individual ou coletiva, aqui estabelece laços afetivos e determina identidades geradas a
partir dessa relação sujeito-espaço. Com o tema da viagem, a escrita de memória apresenta
pontos fortes que indicam um entrelaçamento da obra do autor, principalmente ao considerar
Manaus como um elemento central, que interfere na narração por meio da relação que sua
representação estabelece com o sujeito responsável pelo ato de narrar.
Palavras-chave: espaço; memória; narrativa brasileira contemporânea; Milton Hatoum.
“Vieses críticos em contraponto”
151
Trânsito e identidade em dois romances de Milton Hatoum
Naiara Bueno da Silva Speretta (M)
Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)
Data prevista de Conclusão: abril de 2018
Bolsista CAPES
RESUMO: Este trabalho tem como intuito elaborar uma análise comparativa dos romances
Relato de um certo Oriente, publicado em 1989, e Cinzas do Norte, publicado em 2005,
ambos do escritor manauara Milton Hatoum, de modo a articular a fragmentação da voz
narrativa, que se faz presente nos dois romances, com a dialética entre trânsito e a imobilidade
que delineia a trajetória de seus principais personagens. A reflexão aqui proposta faz-se
importante na medida em que se multiplicam, na narrativa brasileira contemporânea,
personagens à procura de si mesmos e de um sentido para suas existências. Ou seja, nota-se a
insurgência, na literatura das últimas décadas, de personagens inadaptados, deslocados e
transeuntes que preenchem espaços tão conturbados quanto eles. O que se coloca em questão,
nesse caso, é justamente o significado do trânsito e a dimensão relacional que se cria, de um
lado, entre o modo como a representação do sujeito se dá a partir da construção do espaço e,
de outro, entre a representação do espaço e a dimensão subjetiva que o constitui. Tanto em
Relato de um certo Oriente, como em Cinzas do Norte, o ato de narrar está intimamente
relacionado à procura de uma identidade e de um sentido para a própria vida, o que resulta no
trânsito - ou na permanência – de seus personagens. Desse modo, a hipótese defendida por
este trabalho é a de que a busca pela (re)construção da identidade motiva, nesses dois
romances, a mobilidade de seus personagens por diferentes espaços ou a sua fixidez.
Palavras-chave: voz narrativa; espaço; trânsito; narrativa brasileira contemporânea.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
152
A significação das marcas de espacialidade no romance Aos 7 e aos 40, de João
Anzanello Carrascoza
Ednéia Minante Vieira (M)
Prof.ª Dr.ª Juliana Santini (Or.)
Data prevista para conclusão: março de 2018.
RESUMO: Ancorando-se nos estudos acerca do espaço literário, a presente pesquisa pretende
analisar as marcas de significação da espacialidade no romance Aos 7 e aos 40, de João
Anzanello Carrascoza, tanto em seu aspecto narrativo quanto em seu aspecto gráfico. Para
isso, os conceitos de categorias do espaço esboçados por Natalia Álvarez Méndez, as teorias
referentes ao cronotopo, apontado por Bakhtin, e a topoanálise, estruturada por Ozíris Borges
Filho, serão abordados, a fim de que se possa entender os principais aspectos espaciais
presentes na obra em questão. Assim, a pesquisa irá se deter no estudo do espaço do discurso
e no espaço do significado, já que são essas as duas categorias espaciais que mais chamam a
atenção no romance Aos 7 e aos 40. Também merecerão destaque a configuração espacial da
casa de infância, os espaços determinados e indeterminados e sua relação com a identidade do
protagonista, os deslocamentos espaciais e sua implicação na fragmentação do texto e na
busca constante da personagem por si mesmo, a estruturação gráfica do texto e dos capítulos.
A relação entre espaço-tempo (conceito do cronotopo) também será estudada, a fim de que se
possa entender como esses elementos narrativos se interligam na obra. Por fim, a pesquisa
aplicará alguns conceitos da topoanálise, como a topopatia, para estabelecer o sentimento que
o espaço gera nas personagens. Dessa forma, será evidenciado como a espacialidade, expressa
pelo deslocamento espacial e revitalização das memórias, bem como pela disposição gráfica,
é significativa na obra e acentuou a busca identitária do protagonista.
Palavras-chave: espaço literário; Aos 7 e aos 40; João Anzanello Carrascoza; espacialidade.
“Vieses críticos em contraponto”
153
O fantástico em contos de Lygia Fagundes Telles e Amilcar Bettega Barbosa
Ligia Carolina Franciscati da Silva (M)
Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Moraes Leonel (Or.)
Data para conclusão: abril de 2018
Bolsista CAPES
RESUMO: O projeto de pesquisa intitulado “O fantástico em contos de Lygia Fagundes
Telles e Amilcar Bettega Barbosa” propõe a análise de composições de duas coletâneas:
Mistérios, de 1981, de Lygia Fagundes Telles e Deixe o quarto como está: ou estudos para a
composição do cansaço, de 2002, de Amilcar Bettega Barbosa. O objetivo é verificar como
ocorre a irrupção do fantástico nessas narrativas e a função do narrador para a instauração de
uma nova realidade. Como para a instalação do fantástico no corpus selecionado, destacam-se
três temas recorrentes nessa modalidade literária: a metamorfose, o duplo e o terror, eles serão
objeto central da pesquisa. A metamorfose está contemplada em “Tigrela” e “Lua crescente
em Amsterdã”, de Lygia Fagundes Telles, e “O crocodilo I” e “O crocodilo II”; de Amilcar
Bettega Barbosa. O duplo é encontrado nas narrativas “O encontro”, de Lygia Fagundes
Telles e “O rosto”, de Amilcar Bettega Barbosa e o terror em “As formigas”, de Lygia
Fagundes Telles e “O encontro”, de Amilcar Bettega Barbosa. A análise de cada conto e de
cada grupo temático possibilitará verificar como os autores dialogam com a tradição do
fantástico e quais modificações são neles apresentados. Para a discussão sobre a literatura
fantástica a pesquisa apoia-se no estudo de Tzvetan Todorov Introdução à literatura
fantástica, de 1970 e nos trabalhos de David Roas A ameaça do fantástico, de 2014 e O
fantástico, de Remo Ceserani, de 2004. Quanto aos estudos sobre o narrador, o embasamento
teórico fundamental é o estudo de Gérard Genette Discurso da narrativa [19--], que examina
questões relativas à narração e à focalização, além de O foco narrativo de Lígia Chiappini
Moraes Leite, de 1985 e de Oscar Tacca em As vozes do romance, de 1983.
Palavras-chave: Lygia Fagundes Telles; Amilcar Bettega Barbosa; fantástico; narrador.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
154
SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
06/10/2016 – 16h às 18h
SD5 – Escrita da poesia (sala 36)
Debatedor: Profa. Dra. Annie Gisele Fernandes (USP)
Coordenador(a): Profa. Dra. Márcia Valéria Zamboni Gobbi
Poesia concreta e espacialista: variantes e invariantes no contexto experimental
Thiago Buoro (D)
Prof.ª Dr.ª Fabiane Renata Borsato (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2020
RESUMO: Em meados do século XX, surgem em vários países do mundo movimentos
artístico-literários comprometidos em radicalizar a criação de poesia, promovendo a mistura
entre o código verbal e o visual e organizando o texto segundo uma sintaxe não mais linear,
mas espacial. Conhecida genericamente como poesia experimental, ou poesia visual, a
produção poética desse período constitui atualmente um código estético claramente
caracterizado, portanto delimitado historicamente, embora muitos poetas deem continuidade
ao projeto inovador. Existe, pois, uma tradição da poesia visual. No Brasil, o movimento
inaugural recebeu o nome de Concretismo e teve seu lançamento oficial em 1956 numa
exposição do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Na França, foi mais tarde, em 1962, que
Pierre Garnier publicou na revista Les Lettres o “Manifesto por uma poesia visual e fônica”,
fundando assim o denominado Espacialismo. Embora compartilhem propostas similares, os
dois movimentos, condicionados em seus respectivos sistemas literários e culturais,
apresentam várias distinções. Uma delas, pelo que já pudemos deduzir, diz respeito
justamente àquilo que caracterizou a estética dos irmãos Campos e Décio Pignatari: o
racionalismo da forma. A poesia espacialista, inversamente, tende ao gesto sensível. A
comparação entre o Concretismo e o Espacialismo é a tarefa de nossa pesquisa, cujo objetivo
é identificar as semelhanças e as diferenças da técnica, da proposta e dos significados
estéticos que tiveram e continuaram a ter em seu ambiente cultural. As teorias de base se
dividem fundamentalmente em: teoria do texto pluricódigo; teoria da modernidade, das
vanguardas e das neovanguardas; teoria da literatura única e comparada. Entre a reflexão e a
análise de poemas, a pesquisa tem o compromisso também de revelar entre nós o casal de
poetas franceses fundadores do espacialismo: Pierre e Ilse Garnier.
Palavras-chave: Concretismo; Espacialismo, poesia visual, vanguardas, neovanguardas.
“Vieses críticos em contraponto”
155
Ritmos e a literatura popular em poemas de Manuel Bandeira
Larissa Fernanda Steinle (M)
Prof.ª Dr.ª Fabiane Renata Borsato (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2018
RESUMO: A pesquisa objetiva o estudo das influências da cultura popular presentes na
poesia de Manuel Bandeira verificando de que maneira o ritmo dos textos criados pelo
imaginário popular é incorporado à poesia de autoria do poeta. Sendo assim, partimos
inicialmente do levantamento, e subsequente análise, dos aspectos formais que constituem o
nível rítmico dos poemas de Bandeira selecionados, visando sempre estabelecer uma ligação
entre esses e o aspecto semântico do texto poético, a fim de estudar não apenas sua estrutura,
mas a função exercida no poema. Para tanto, utilizamos como fundamentação teórica as lições
sobre ritmo e análise de poemas presentes em O estudo analítico do poema (2006) de Antonio
Candido, bem como os ensinamentos sobre fonologia expressos por R. Jakobson em Seis
lições sobre o som e o sentido (1977), as considerações sobre o ritmo realizadas por Paulo
Henriques Britto, dentre outros estudiosos do ritmo. Quanto aos estudos críticos sobre a obra
de Bandeira, consultamos obras como Humildade, paixão e morte (2009) de Davi Arrigucci
Jr. e Manuel Bandeira: verso e reverso (1987), livro organizado por Telê Porto Ancona
Lopes. O caráter popular da poesia de Bandeira é abordado pelo viés dos diversos estudos e
registros da cultura e da música populares brasileiras realizados por Mário de Andrade, além
de basearmo-nos em obras como Literatura oral no Brasil (1978) de Luis da Câmara Cascudo
e o Literatura popular em verso: Estudos, organizado por Miguel Diégues. Foram
selecionados dez poemas, distribuídos em seis dos livros do poeta, sendo que dentre eles
encontramos diferentes tipos de composições populares, tais quais as cantigas infantis,
acalantos, dentre outros. Esperamos assim, compreender o papel desempenhado pela cultura
popular na obra de Manuel Bandeira.
Palavras-chave: Manuel Bandeira; ritmo; literatura popular; poesia brasileira; literatura
modernista.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
156
SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
06/10/2016 – 16h às 18h
SD6 – Narrativa brasileira: temas do presente (sala 09)
Debatedor: Profa. Dra. Tânia Pellegrini (UFSCar)
Coordenador(a): Profa. Dra. Juliana Santini
Sublime instante: a prosa de João Anzanello Carrascoza.
Janaína Dias de Morais Coelho (M)
Data prevista para conclusão: abril de 2018
RESUMO: Nosso projeto, intitulado - Sublime instante: a prosa de João Anzanello
Carrascoza, estuda a prosa do referido autor no que diz respeito à memória, presente em
alguns de seus contos integrantes da coletânea O volume do silêncio (2006), como “Duas
tardes”, “Iluminados”, “Umbilical”, “Janelas” e “Dora”, bem como no seu romance Aos 7 e
aos 40 (2013). A prosa de João Anzanello insere-se naquela literatura na qual, segundo
estudiosos como Beatriz Resende (2008) e Karl Erik Schollhammer (2009), evocar e lidar
com a realidade torna-se sinônimo de consciência subjetiva que aflora dos fatos banais do
cotidiano, da vivência no meio familiar, dos universos íntimos e sensíveis. Os temas
recorrentes em Carrascoza são: a infância, a finitude, a condição humana, o núcleo familiar e
o tema do eu e da alteridade, todos eles sendo perpassados pela memória. Em nosso trabalho,
entendemos o termo memória como o registro do vivido, como possibilidade de resgate e
reconstrução da experiência humana, objetivos estes que são almejados pelas personagens de
Carrascoza que são conduzidas a beira de uma epifania. O embasamento teórico de nossa
pesquisa se constitui, no que tange aos estudos referentes à memória, das considerações de
Santo Agostinho no “livro X” de sua obra Confissões (1980) e as de Paul Ricoeur em A
memória, a história, o esquecimento (2010), além das considerações de Maurice Halbwachs
sobre a memória coletiva; no que diz respeito ao literário encontraremos suporte
principalmente no pensamento de Mikhail Bakhtin em Questões de literatura e de estética: a
teoria do romance (2014) e no de Júlio Cortázar em Valise de Cronópio (2013). Para as
discussões sobre a literatura contemporânea brasileira seremos acompanhados por Beatriz
Resende em seu livro Contemporanêos: expressões da literatura brasileira no século XXI (
2008) e Erik Karl Schollhammer com Ficção brasileira contemporânea (2009).
Palavras-chave: João Anzanello Carrascoza; literatura brasileira contemporânea; memória;
narrativa.
“Vieses críticos em contraponto”
157
Caracterização do romance policial em Rubem Fonseca
Murilo Eduardo dos Reis (M)
Data prevista de conclusão: novembro de 2017
Bolsista CAPES
RESUMO: O tema da pesquisa é a caracterização do romance policial de Rubem Fonseca,
tendo em vista a importância desse gênero em sua obra. O objetivo é verificar, em três livros
do autor, o modo como ele se apropria de recursos clássicos desse tipo de composição,
trazendo ou não contribuição para o gênero em pauta. O corpus é composto pelos romances O
caso Morel, A grande arte e Agosto, publicados em 1973, 1983 e 1990, respectivamente. Com
o desenvolvimento da pesquisa, o corpus poderá sofrer modificações, se isso se fizer
necessário. Para a concretização da proposta, realizaremos análise detida de cada livro em
particular. A história, as personagens, a narração, a focalização bem como o espaço e o tempo
serão objeto de exame com o intuito de estabelecer-se a maneira como, atuando
organicamente ou não, tais elementos constituem romances que são classificados como
policiais. Por exemplo, será observada, no que se refere à história, a consideração inicial de
homicídios já realizados cujos autores devem ser descobertos e o leitor acompanha as
investigações. Observar-se-á também a presença ou não de detetives, delegados, policiais,
etc., bem como a caracterização superficial ou mais profunda das personagens. Naturalmente,
será fundamental a investigação da figura do narrador (quem fala) e do focalizador (quem vê).
O espaço social, a ambientação construída na obra também será levada em conta, bem como a
representação ou não de determinado período histórico do país. Além dos livros pertencentes
ao nosso corpus, haverá inserções relativas a obras anteriores e posteriores do autor, pois suas
histórias são mencionadas nos objetos de nossa pesquisa, bem como a autores que o
influenciaram.
Palavras-chave: Rubem Fonseca; romance policial; narração; focalização.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
158
Vozes da luxúria: relações dialógicas e erotismo em A casa dos budas ditosos, de João
Ubaldo Ribeiro
Rosana Letícia Pugina (D)
Data prevista para conclusão: abril de 2020
Bolsista CAPES/CNPq
RESUMO: O tema deste trabalho é o estudo do erotismo no romance A casa dos budas
ditosos, de João Ubaldo Ribeiro (1999), à luz do dialogismo bakhtiniano. Para Bakhtin, o
dialogismo é o fundamento de toda a discursividade. A partir desse conceito, o romance é
compreendido, no cerne dos estudos literários, como um entrecruzamento de vozes que
dialogam com outros textos, sendo também ecos de vozes do seu tempo, as quais evidenciam
os valores e as crenças de uma determinada formação social. O objetivo geral é analisar as
características do erotismo na literatura e diferenciá-lo do que se considera pornografia, uma
vez que tais conceitos se confundem no imaginário popular. Os objetivos específicos da
pesquisa são verificar qual é a axiologia que preside o corpus; e observar o erotismo no
romance A casa dos budas ditosos com vistas a verificar as relações dialógicas e os processos
de carnavalização que se travam na tecedura narrativa. O arcabouço teórico são as reflexões e
as descobertas de Bakhtin sobre o conceito de dialogismo e de gêneros discursivos
carnavalizados (1987; 1988; 1997; 1998; 2001; 2006), e de pesquisadores de sua obra, tais
como Brait (1994; 1999; 2006a; 2006b), Fiorin (2006a; 2006b; 2010), Morson e Emerson
(2008), dentre outros. Quanto ao erotismo, são utilizados os estudos de Almeida (1980),
Bataille (1980), Castello Branco (1984), Durigan (1985), Moraes e Lapeiz (1986),
Alexandrian (1994), Moraes (2000; 2008; 2013), Paz (1993) e Hunt (1999). A metodologia da
pesquisa é de cunho bibliográfico sobre o erotismo, a pornografia e as relações dialógicas; e
teórica no que se refere a testar a hipótese de que o erotismo é também fator de garantia de
literariedade a uma obra e que a fronteira entre a pornografia e o erotismo, com relação à
cultura, é responsável pelo estilo que recobre o texto. O que esta pesquisa busca comprovar,
em um plano mais elevado, é que a literatura erótica de alta qualidade tem potencial
significativo para retratar comportamentos humanos naturais no acontecimento do existir.
Palavras-chave: Bakhtin; relações dialógicas; erotismo; estilo; A casa dos budas ditosos.
“Vieses críticos em contraponto”
159
Atos de equilibrista: Modesto Carone e a narrativa dos múltiplos pertencimentos
Efraim Oscar Silva (D)
Data prevista para conclusão: março de 2020
Bolsista CAPES
RESUMO: Críticos e teóricos contemporâneos que atuam em diferentes campos, como
filosofia, história, estética, sociologia, antropologia e estudos literários, discutem a
identificação do literário com o não literário, implicando a incorporação de visões, crenças,
significados, discursos que estão mais ou menos distantes do seu “campo de origem”, das suas
matrizes clássicas e do cânone. Identificamos na produção ficcional do escritor (e também
tradutor, ensaísta e professor) Modesto Carone esse deslocamento/ deslizamento da literatura
na direção de outros gêneros e de outras expressões do cognitivo e do sensível. São até o
momento quatro volumes de contos e uma novela – As marcas do real, Aos pés de Matilda,
Dias melhores, Por trás dos vidros e Resumo de Ana –, nos quais a textualidade manifesta
traços formais e temáticos que mesclam características do relato memorialístico, da crônica do
cotidiano, da prosa de ficção e do ensaio. Esses traços afastam o texto ficcional de Carone da
tradição mimética na literatura ocidental e configuram um distanciamento entre o narrador e o
narrado que é frequente no discurso não literário. Em linhas gerais, nossa pesquisa se propõe a
analisar a ficção de Modesto Carone na perspectiva da sua interseção com outros campos
(leia-se outras racionalidades e subjetividades) e a refletir sobre o caráter singular e
transdisciplinar dessa obra. Para cumprir esse percurso, nos referenciamos nas teorias da
narrativa, especialmente na narratologia modal (GENETTE, 1995; 1998) e nas discussões
teóricas que pensam as experiências expansivas da literatura contemporânea em termos
próximos do que Ludmer (2007) nomina de posição diaspórica: ao transporem a fronteira do
literário, muitas dessas obras “ficam dentro e fora”.
Palavras-chave: literatura brasileira; narrativa contemporânea; Modesto Carone; expansão de
campo do literário.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
160
SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
06/10/2016 – 16h às 18h
SD7 – Leituras do romance (Anf. E)
Debatedor: Prof. Dr. Márcio Scheel (IBILCE/UNESP)
Coordenador(a): Profa. Dra. Andressa Cristina de Oliveira
Configurações da Morte em três obras de Thomas Bernhard: Perturbação, O náufrago e
Extinção – Uma Derrocada
José Lucas Zaffani dos Santos (D)
Profa. Dra. Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2020
Bolsista CAPES
RESUMO: O presente projeto de doutorado visa identificar a ideia de morte como elemento
estrutural determinante nas narrativas Perturbação (1967), O náufrago (1983) e Extinção –
Uma Derrocada (1986), do autor austríaco Thomas Bernhard. Sendo a morte uma temática
recorrente na obra do escritor, nossa proposta é realizar um diálogo entre a morte e a voz
narrativa. Os narradores desses três romances possuem como traço em comum a necessidade
que sentiram em abandonar seu lugar de origem. O retorno ao espaço familiar é marcado pela
morte e também suicídio de pessoas próximas ao narrador. Tal fato inicia o mecanismo
narrativo pela voz dos protagonistas. Nas referidas obras de Bernhard, a problemática dos
narradores decorre do espaço do qual eles se originam. Apesar de terem optado por viver
longe de seus núcleos familiares, é o espaço que desperta os protagonistas para darem início à
ação. O elemento morte conecta, portanto, as instâncias de narrador e espaço, sugerindo, nos
relatos, que a existência do primeiro está intimamente atrelada à do segundo. Para esses
narradores, a escrita funciona como um lugar onde eles podem refletir acerca da existência e
de suas experiências. O passado aparece nos relatos como forma de travar um diálogo com o
presente da ação revelando, com isso, a subjetividade dos narradores. Logo, pretendemos
analisar como o diálogo temporal aparece no tratamento dado ao espaço narrativo e como a
morte conecta uma instância a outra. Uma vez que os narradores de Bernhard reconhecem-se
como intelectuais, é constante, em seus textos, a citação de autores canônicos. Desse modo, o
intertexto participa ativamente do trabalho da memória e se impõe como um recurso
imprescindível para interpretar a composição desses narradores.
Palavras-chave: narrador; espaço; literatura alemã contemporânea; Thomas Bernhard.
“Vieses críticos em contraponto”
161
Uma leitura filosófica de As I Lay Dying, de William Faulkner
Leila de Almeida Barros (D)
Data prevista para conclusão: abril de 2019
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o romance As I Lay Dying (1930) do
escritor modernista norte-americano William Faulkner em sua dimensão filosófica. Uma
miserável família de agricultores viaja de carroça rumo à cidade de Jefferson com o corpo da
matriarca em um caixão. Embora a viagem e as ações que dela se desenrolem tragam à
superfície, em um primeiro momento, apenas a melancolia do luto recente, conforme os
monólogos da família Bundren tomam forma deparamo-nos com indivíduos completamente
perdidos diante não apenas da morte, mas da vida como um todo. Nesta narrativa, questões
como a perda da crença do homem moderno em qualquer tipo de transcendência, a ruptura
entre tempo psicológico e tempo cronológico e a fragmentação da subjetividade têm papel
fundamental. Acreditamos que em As I Lay Dying a morte física de Addie Bundren é
metáfora para a morte do sujeito que, em contato com o crescente processo de modernização,
vê-se dividido entre os valores de outrora e os novos valores de oferta e procura da sociedade
industrial. Assim, a morte se alastra pela narrativa justamente por ser o elo que proporciona o
encontro entre o niilismo moderno e o pensamento filosófico existencial. Para nós, uma
leitura filosófica feita a partir das questões que são sugeridas pelo romance dá-se por meio da
compreensão de seus temas basilares – sendo os principais a morte, o tempo e a existência –
como filosofemas. O tipo de diálogo que aqui buscaremos estabelecer entre Literatura e
Filosofia é, portanto, aquele em que a análise filosófica não exclua a análise dos elementos
narrativos em si, mas adicione e nos permita uma compreensão melhor do texto literário.
Palavras-chave: modernismo; morte física; morte do sujeito; niilismo; filosofemas.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
162
Uma legião vinda do inferno (que esplendor é esse?): vagabundos, outsiders e outras
figuras marginais na obra de António Lobo Antunes.
Carlos Henrique Fonseca (D)
Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Outeiro Fernandes (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2020
RESUMO: O presente projeto de pesquisa tem como proposta o estudo de três obras do
escritor português António Lobo Antunes: O conhecimento do inferno (1980), O esplendor de
Portugal (1997) e Meu nome é Legião (2007). No conjunto destes romances, destaca-se a
relação entre Portugal e África, desde o período imediatamente posterior ao fim da Guerra
Colonial aos dias atuais. A condição das personagens centrais das referidas obras,
respectivamente: combatentes retornados com o fim da guerra; famílias expulsas de suas
terras em solo africano nos anos da guerra civil em Angola e moradores dos bairros de lata da
atual periferia de Lisboa, possibilita uma leitura diacrônica da exclusão e abandono que
atingem, contemporaneamente, e de diferentes formas, aqueles que foram colonizadores e
colonizados, reduzidos a condição de “vagabundos”, outsiders ou outras figuras marginais.
No estudo da recorrência e da maneira como são construídas estas personagens, dos discursos
produzidos por elas e sobre elas e das situações de extrema violência que as mesmas
vivenciam, buscar-se-á deslindar os pontos de conexão entre os três romances e analisar o
desenvolvimento e consolidação de um estilo próprio do autor, as recorrências e os
desdobramentos temáticos, bem como suas estratégias narrativas e discursivas a fim de
valorizar a historicidade de sua produção ficcional, que apresenta hoje um contundente retrato
de Portugal das últimas décadas, mas que também pode iluminar a reflexão sobre a relação
entre literatura e sociedade em tempos pós-modernos e pós-coloniais, categorias norteadoras
deste trabalho. Assim, loucos, abandonados, retirados, redundantes, criminosos e solitários
compõem um grande elenco de personagens, vítimas da complexa relação metrópole-colônia,
cuja categorização e análise podem elucidar a dimensão social e estética da marginalidade na
obra de António Lobo Antunes.
Palavras-chave: António Lobo Antunes; figuras marginais; personagem; pós-modernismo;
Estudos pós-coloniais.
“Vieses críticos em contraponto”
163
Eco e o narrador forjador: uma análise de três romances
Deborah Garson Cabral (D)
Prof.ª Dr.ª Claudia Fernanda de Campos Mauro (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2020
RESUMO: O mote desta pesquisa é a verificação de que os narradores encontrados nos três
últimos romances de Umberto Eco, A misteriosa chama da rainha Loana (2004*); O cemitério
de Praga (2011); Número zero (2015), são narradores que dialogam com o leitor de forma
diferenciada. A ideia de estudar os tipos de narradores desenvolvidos em textos teóricos e
literários produzidos a partir do século XX até a atualidade, além do contexto de produção
desses textos, é fundamental para tentar encontrar esse novo tipo de narrador e entender,
assim, de que forma ele evolui no decorrer do século XX para se transformar, já no século
XXI, nesse narrador forjador, termo desenvolvido pela autora, entidade narrativa que aborda o
leitor de forma cúmplice e o informa da armadilha narrativa na qual este está prestes a se
embrenhar, sem, no entanto, o ludibriar, mas construindo a narrativa em parceria com ele.
Trata-se de verificar se esse narrador pode ser considerado dentro de uma nova categoria, ou
se existe um conceito que o abarque. Para isso, compreender a obra artística de Eco e também
sua produção teórica é imprescindível, pois seus textos literários se desenvolvem como
comprovações da teoria que produz em livros como Obra aberta (1962); Apocalípticos e
integrados (1964); Lector in fabula (1979); Seis passeios pelo bosque da ficção (1994); Sobre
a literatura (2002), entre outros. Considerando a fecundidade e proficuidade de sua produção,
verifica-se que se trata de um autor merecedor de um estudo mais apurado.
*Datas das primeiras publicações das obras citadas neste resumo.
Palavras-chave: narrador; literatura contemporânea; teoria literária; Umberto Eco.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
164
SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
06/10/2016 – 16h às 18h
SD8 – O século XIX (sala 27)
Debatedor: Dra. Luciana Colucci (UFTM)
Coordenador(a): Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi
O reflexo do replicante: a revisão da tradição do Duplo do século XIX
Vinicius Lucas de Souza (M)
Prof. Dr. Aparecido Donizete Rossi (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2018
Bolsista CNPq
RESUMO: Ao se considerar os postulados de Stuart Hall sobre o sujeito e a subjetividade
humanos em seu ensaio A identidade cultural na pós-modernidade (“The Question of
Cultural Identity”, 1992), o autor jamaicano clama a insurgência de um caráter fragmentário a
partir da segunda metade do século XX, cujos cenários artístico, cultural, filosófico são
marcados por essa fragmentação inconstante. Focando-se na tradição literária do Duplo do
século XIX, vê-se que certos detalhes indiciam uma replicação multíplice que subverte a
ordem do dois nas obras desse século e transmuta o símbolo duplo numa cascata de réplicas
fragmentárias. Além do texto de Hall, alguns ensaios de Sigmund Freud, entre eles, “O
‘estranho’” (“Das Unheimliche”, 1919), o livro de Otto Rank O duplo (Der Doppelgänger,
1925), bem como teóricos e críticos que versaram sobre o tropo literário do Duplo embasarão
nossa pesquisa. Assim, o presente projeto intenciona em analisar se e como esse vírus
fractário replicante, prenunciando a fragmentação que assombrará os séculos XX e XXI,
como asserta Hall, alastra-se nos níveis estrutural e temático das seguintes narrativas,
metamorfoseando o Duplo num todo multidimensional: “O homem da areia” (“Der
Sandmann”, 1816), de E. T. A. Hoffmann; Frankenstein (1818), de Mary Shelley; “William
Wilson” (1839), de Edgar Allan Poe; “Markheim” (1885) e O médico e o monstro (Strange
Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1886), ambos de Robert Louis Stevenson; O retrato de
Dorian Gray (The Picture of Dorian Gray, 1890-1891), de Oscar Wilde e O grande deus
Pã (The Great God Pan, 1890-1894), de Arthur Machen.
Palavras-chave: duplo; fragmentação; replicante; século XIX.
“Vieses críticos em contraponto”
165
E. T. A. Hoffmann e o gênio de Johannes Kreisler
Daniel Moraes Gregores (M)
Prof.ª Dr.ª Karin Volobuef (Or.)
Data prevista para conclusão: abril de 2018
Bolsista CNPq
RESUMO: O romantismo musical, como nunca antes até então na história da música
ocidental, é influenciado em larga escala pela literatura. A música deixa de possuir um valor
em si e se encaminha no sentido da música descritiva, repleta de intenções literárias. Assim
como a música, também os próprios compositores se mostram grandemente influenciados por
motivos literários. Desperta atenção, neste panorama, a influência particular de um dos
personagens do autor alemão E. T. A. Hoffmann (1776-1822). “Johannes Kreisler”, talvez o
mais bem elaborado dentre os personagens de Hoffmann, desempenha um papel importante
no contexto do século XIX europeu. Ele influencia concretamente o comportamento humano
e artístico de figuras centrais do romantismo musical como Berlioz, Schumann, Brahms e
Wagner, para citar alguns. Talvez a confluência de um ideal de época na caracterização do
personagem seja de importância fundamental para a compreensão desse fenômeno. Suspeita-
se que esse ideal seja o do indivíduo genial, o “gênio”, propriamente dito. Em que medida
Kreisler personifica, canaliza, no contexto do século XIX europeu, um ideal de gênio
romântico? Verificar esta hipótese e quais possíveis “gênios” traz Kreisler em si, eis a
proposta fundamental da pesquisa. Neste percurso, pretende-se por consequência apontar para
uma melhor compreensão da noção de gênio segundo o entendimento de expoentes da época a
partir do romantismo e seus antecedentes mais diretos, de modo a explicitar o que seria um
conceito de “gênio romântico”. Procedimento este que, pelo caráter que lhe é próprio, pode
vir a servir como comprovação da hipótese original proposta.
Palavras-chave: E. T. A. Hoffmann; Kreisler; gênio; gato Murr.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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Manifestações do frenético em Gérard de Nerval
João Victor Muzzeti (M)
Prof.ª Dr.ª Ana Luiza Silva Camarani (Or.)
RESUMO: A literatura frenética descende do romance gótico, tendência literária que tem sua
origem com a publicação de O castelo de Otranto, em 1764, por Horace Walpole. Essa
modalidade se desenvolve durante o romantismo francês e é caracterizada pela necessidade de
libertar a alma humana dos limites impostos pela razão, pela moral ou pela ordem social. Suas
narrativas são sempre envoltas por uma atmosfera de horror, e valem-se ou não do elemento
sobrenatural, que se torna facultativo devido à exploração da crueldade humana. Embora
considerado como um “gênero menor” dentro do campo literário francês, o frenético persistiu
por meio de jovens escritores conhecidos como Jeunes-France. Esses “pequenos românticos”
não possuíam nenhum título de destaque dentro da literatura francesa, a não ser por
publicações em alguns jornais e periódicos de pequeno porte. Poucos obtiveram
reconhecimento por suas produções na época do romantismo, período marcado pelos conflitos
entre clássicos e românticos; mesmo Gérard de Nerval só teve suas obras devidamente
valorizadas pelos surrealistas, que imediatamente se identificaram com o “supernaturalismo”
do escritor romântico, evidenciado em suas produções posteriores. No entanto, seus textos
frenéticos mostram-se como o início de seu itinerário em direção ao que está além do real, isto
é, ao absoluto. Membro do Petit Cénacle fundado pelos jovens partidários do frenético,
Nerval inscreve-se nessa tendência do romantismo noir francês. Assim, pretende-se com essa
pesquisa estudar a vertente frenética na obra de Gérard de Nerval através da análise dos
contos “La main enchantée”, “Le monstre vert” e “La métempsycose”, com o intuito de
descobrir sua originalidade e os meios pelos quais a ideia de frenesi criativo se manifesta,
essencialmente na prosa nervaliana, pois o frénétisme mostra-se como um impulso e uma
vontade de explorar o desconhecido.
Palavras-chave: frenético; romantismo francês; jeunes-france; Gérard de Nerval.
“Vieses críticos em contraponto”
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SESSÃO DE DEBATE DE PROJETOS
06/10/2016 – 16h às 18h
SD9 – Poesia latina (sala 42)
Debatedor: Prof. Dr. Francisco Edi Souza (UFCE)
Coordenador(a): Prof. Dr. João Batista Toledo Prado
“Píramo e Tisbe”: as figuras da paixão trágica em Ovídio (Ovídio, Metamorfoses, IV, 55-
166)
Solaine Regina Chioro dos Santos (M)
Data prevista de Conclusão: abril de 2018
RESUMO: A presente pesquisa tem o intuito de desenvolver uma análise crítica e
investigativa do episódio mitológico que conta a história dos amantes Píramo e Tisbe,
presente no livro IV das Metamorfoses de Ovídio (43 a. C. - 17 d. C.), um dos grandes poetas
romanos do período clássico. Uma tradução de estudo – conceito que será melhor explorado
mais adiante – dos versos escolhidos foi realizada como trabalho de base para esta pesquisa,
proporcionando uma leitura mais apurada e cuidadosa do texto latino; foram também
realizados levantamentos de notas de referências, que serão utilizados para desenvolver
comentários sobre os dados culturais (mitologia, história, geografia, filosofia, etc.) presentes
no texto sobre a Roma Antiga e fazendo com que tais traços específicos de tal época e local
presentes na poesia sejam esclarecidos. Está sendo utilizado o instrumental teórico fornecido
pela Poética e pela Semiótica Literária para se desenvolver uma análise aprofundada e
minuciosa, sem a pretensão de esgotar o assunto, desse episódio mitológico, focando
principalmente na questão da figuratividade do texto. O objetivo principal deste estudo é
levantar as figuras semióticas encontradas no poema e analisá-las, apontando de que forma o
uso de precisas imagens e seus encadeamentos acabam por enriquecer o entendimento do
texto através dos temas que delas se pode depreender. O estudo é fundamentado por teóricos
como Algirdas Julius Greimas, Denis Bertrand e José Luiz Fiorin. Esta pesquisa propõe,
portanto, um estudo das figuras semióticas presentes no corpus escolhido e os temas que delas
podem ser depreendidos por meio de seus encadeamentos.
Palavras-chave: Ovídio; Metamorfoses; Figuratividade.
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
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A Roda de Virgílio: um estudo da figuratividade na poesia bucólica, didática e épica.
Thalita Morato Ferreira (D)
Prof. Dr. Márcio Thamos (Or.)
Data prevista de Conclusão: abril de 2020
RESUMO: O presente projeto tem como objeto de estudo as três obras do poeta clássico
Virgílio: as Bucólicas, as Geórgicas e a Eneida. Pretende-se investigar nestes textos a atuação
da figuratividade, com destaque para alguns dos recursos responsáveis pela formação do
sentido estético e poético de cada obra. O projeto também busca repensar o conceito de estilo,
partindo da Retórica Clássica para a Estilística. Difundidos através da Rota Vergilii, “Roda de
Virgílio”, os três tipos de estilo descritos pela antiga retórica, a saber: o estilo humilde, o
médio e o grandiloquente, definem, respectivamente, os temas e a caracterização existentes
nas Bucólicas, nas Geórgicas e na Eneida. Com o intuito de reavivar o conceito de estilo,
repensando-o enquanto mecanismo de enunciação e, dessa forma, como traço estruturante de
um texto literário, é que o presente projeto se propõe a uma releitura dos três tipos de estilo
que os tratados de retórica distinguiam, utilizando, para isso, da moderna análise
metodológica. Procurar-se-á observar, assim, a tessitura poética das três obras de Virgílio,
valendo-se da caracterização figurativa e da expressividade de cada estilo.
Palavras-chave: Virgílio; figuratividade; estilo
“Vieses críticos em contraponto”
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ÍNDICE DE AUTORES
CONFERÊNCIAS
Ana de Miguel Álvarez (Universidad Rey Juan Carlos de Madrid) p. 18
Jacqueline Penjon (Sorbonne Nouvelle – Paris III) p. 18
MESAS REDONDAS
José Luís Jobim p. 21
Karin Volobuef p. 20
Luís Augusto Fischer p. 21
Márcio Seligmann-Silva p. 19
Mauricio Mendonça Cardozo p. 20
Paulo Sérgio de Vasconcellos p. 19
COMUNICAÇÕES COORDENADAS E ORAIS LIVRES
Aline Maria Jeronymo p. 93
Aline Maria Magalhães de Oliveira Ávila p. 56
Amanda Fanny Guethi p. 97
Ana Carolina da Silva Caretti p. 78
André Luiz Alselmi p. 119
Andressa Cristina de Oliveira p. 87
Antônio Donizeti Pires p. 27
Arthur Dias de Souza p. 83
Audrey Castañón de Mattos p. 77
Beatriz Moreira Anselmo p. 53
Bruna Fernanda de Simone p. 41
Bruno Darcoleto Malavolta p. 75
Camila Bertelli Martins p. 73
Candice A. B. de Carvalho p. 57
Carina Zanelato Silva p. 47
Carla Alexandra Ezarqui p. 87
Carlos Eduardo Marcos Bonfá p. 28
Carlos Eduardo Monte p. 46
Carlos Henrique Fonseca p. 76
Carlos Rocha p. 66
Cíntia Martins Sanches p. 51
Clarissa Navarro Lima p. 133
Claudia Fernanda de Campos Mauro p. 134
Claudia Maria de Serrão Pereira p. 120
Claudimar Pereira da Silva p. 113
Cláudio Aquati p. 90
Cleber Ederson Soares p. 95
Cristiane Nascimento Rodrigues p. 64
Cristiane Passafaro Guzzi p. 32/37
Daniel de Assis Furtado p. 126
Daniel Ricardo Vícola p. 80
Débora Ferri p. 38
Deborah Garson Cabral p. 114
Diana Junkes Bueno Martha p. 42
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
170
Douglas Magalhães Ferreira p. 39
Edimara Lisboa p. 26
Eduardo Neves da Silva p. 125
Efraim Oscar Silva p. 82
Elide Mendonça Santos p. 69
Emerson Cerdas p. 92
Evaneide Araújo da Silva p. 108
Evelyn Mello p. 72
Fábio Gerônimo Mota Diniz p. 59
Felipe Camargo Mello p. 25
Fernanda Barini Camargo p. 116
Francisco Diniz Teixeira p. 124
Gabriela Cristina Borborema Bozzo p. 79
Gislaine Cristina Assumpção p. 102
Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro p. 118
Ionara Satin p. 67
Isaías Eliseu da Silva p. 115
Islene França de Assunção p. 88
Israel Pompeu Farias Martins p. 98
Jassyara Conrado Lira da Fonseca p. 91
Jéssica Ciurlin p. 34
Jéssica Fabrícia da Silva p. 117
Jessica Romanin Mattus p. 104
Joana Junqueira Borges p. 68
João Francisco Pereira Nunes Junqueira p. 45
José Guilherme Pimentel Joaquim p. 74
José Lucas Zaffani dos Santos p. 159
Júlia Mara Moscardini Miguel p. 139
Juliana Pimenta Attie p. 71
Kedrini Domingos dos Santos p. 85
Kelli Mesquita Luciano p. 96
Leandro Dorval Cardoso p. 49
Leonardo Vicente Vivaldo p. 29
Letícia Coleone Pires p. 58
Liene Cunha Viana Bittar p. 44
Lígia Maria Pereira de Pádua Xavier p. 138
Lívia Maria Zocca p. 137
Lívia Mendes Pereira p. 89
Luís Cláudio Ferreira Silva / Marco Antonio Hruschka Teles p. 130
Luís Eduardo Veloso Garcia p. 131
Luisa Fernandes Vital p. 100
Luiz Carlos Menezes dos Reis p. 30
Luiz Gonzaga Marchezan p. 35
Manoelle Gabrielle Guerra p. 60
Marcela de Oliveira Gabriel p. 111
Marcela Ulhôa Borges Magalhães p. 52
Marco Aurelio Rodrigues p. 136
Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan p. 36
Maria Lúcia Outeiro Fernandes p. 40
Mariana Alves de Faria p. 110
Mariana Letícia Ribeiro p. 63
Mariana Veiga Copertino F. da Silva p. 24
Marina Venâncio Grandolpho p. 65
“Vieses críticos em contraponto”
171
Mariângela Alonso p. 128
Marília Gabriela Malavolta Pinho p. 33
Marina Bariani Trava p. 94
Marina Lourenço Morgado p. 86
Michelle Aranda Facchin p. 70
Murilo Eduardo dos Reis p. 109
Naiara Alberti Moreno p. 105
Naiara Bueno da Silva Speretta p. 62
Natalia Aparecida Canteiro Bisio p. 54
Natália Cristina Estevão p. 81
Natália Pedroni Carminatti p. 84
Nathalia Sorgon Scotuzzi p. 127
Paulo César Andrade da Silva p. 43
Paulo Eduardo de Barros Veiga p. 48
Pedro Barbosa Rudge Furtado p. 106
Rafhael Borgato p. 107
Renata Soares Junqueira p. 23
Ricardo Gomes da Silva p. 135
Rodrigo Valverde Denubila p. 55
Rosana Letícia Pugina p. 121
Roseli Deienno Braff p. 99
Rubia Alves p. 129
Sérgio Gabriel Muknicka p. 123
Sérgio Ricardo Perassoli Júnior p. 132
Tais Matheus da Silva p. 103
Thais de Souza Almeida p. 112
Vinicius Lucas de Souza p. 122
Vivian Carneiro Leão Simões p. 50
O XVII Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários &
III Seminário Internacional de Estudos Literários
172
DEBATES DE PROJETOS
Carlos Henrique Fonseca p. 162
Daniel Moraes Gregores p. 165
Deborah Garson Cabral p. 163
Douglas de Magalhães Ferreira p. 141
Ednéia Minante Vieira p. 152
Efraim Oscar Silva p. 159
Fernanda Barini Camargo p. 140
Janaína Dias de Morais Coelho p. 156
João Victor Muzzeti p. 166
José Lucas Zaffani dos Santos p. 160
Laís Rodrigues Alves Martins p. 146
Larissa Fernanda Steinle p. 155
Leila de Almeida Barros p. 161
Letícia Coleone Pires p. 147
Lidiane Cristine de Lima Ferreira p. 149
Ligia Carolina Franciscati da Silva p. 153
Manoelle Gabrielle Guerra p. 150
Mariana Veiga Copertino Ferreira da Silva p. 142
Murilo Eduardo dos Reis p. 157
Naiara Bueno da Silva Speretta p. 151
Rosana Letícia Pugina p. 158
Solaine Regina Chioro dos Santos p. 167
Thais Gonçalves Dias Porto p. 143
Thalita Morato Ferreira p. 168
Therezinha Maria Hernandes p. 148
Thiago Buoro p. 154
Vanessa Aparecida Ventura Rodrigues p. 144
Vanessa Cezarim Bertacini p. 145
Vinicius Lucas de Souza p. 164