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Seminário de PESQUISA II - blogempublico.files.wordpress.com · Seminário de Pesquisa II.indb 7 20/9/2010 17:42:04. Na segunda parte, capítulos 5 a 8, são apresentadas as características

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Seminário dePESQUISA II

Emerson Urizzi Cervi

IESDE Brasil S.A.Curitiba

2010

Seminário de Pesquisa II.indb 1 20/9/2010 17:41:58

IESDE Brasil S.A Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

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Capa: IESDE Brasil S.A.

Imagem da capa: Thinkstock.

C 419s Cervi, Emerson Urizzi. / Seminário de Pesquisa II. / Emerson Urizzi Cervi. — Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2010.

168 p.

ISBN: XXX-XX-XXXX-XXX-X

1. Metodologia. 2. Pesquisa Científica. 3. Normas Técnicas. 4. Trabalho De Conclusão de Curso. I. Título.

CDD 001.42

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Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Mestre em Socio-logia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Gradua-do em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Emerson Urizzi Cervi

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SumárioConhecimento científico e cultura social .......................................................9

O que é conhecimento científico e para que serve? .................................................................... 9A ciência e outros tipos de saber adquirido ..................................................................................10Conhecimento científico ......................................................................................................................13A pesquisa científica e as ciências sociais .......................................................................................14Recapitulando ..........................................................................................................................................21

Ciência, pseudociência e variáveis empíricas ............................................31

Entre a ciência e a pseudociência ......................................................................................................31Relação entre teoria e empiria ............................................................................................................35Recapitulando ..........................................................................................................................................41

Tipos de pesquisas e abordagens científicas .............................................53

Principais tipos de pesquisa ................................................................................................................53Principais métodos científicos .............................................................................................................57Procedimentos científicos ....................................................................................................................60Recapitulando ..........................................................................................................................................62

Unidade e diversidade no método da pesquisa social ..........................73

A produção de conhecimento científico ........................................................................................73Estratégias de abordagens da pesquisa social .............................................................................80

O projeto de pesquisa em ciências sociais .................................................93

A construção do projeto de pesquisa ..............................................................................................93Bases conceituais .....................................................................................................................................95A delimitação do tema/problema de pesquisa ............................................................................98

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Objetivos, justificativa e fundamentação teórica ..................................111

Quais são os objetivos da sua pesquisa? ......................................................................................111Para que justificar um projeto de pesquisa? ...............................................................................114Revisão da literatura e fundamentação teórica .........................................................................115

Métodos e técnicas, possíveis resultados e cronograma ...................129

Métodos de pesquisa empírica ........................................................................................................129Procedimentos técnicos na pesquisa empírica ..........................................................................134Possíveis resultados e cronograma de atividades .....................................................................139

Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso .....................................149

A estrutura do projeto de pesquisa ................................................................................................149Do projeto ao texto final do trabalho de pesquisa científica ................................................152Estrutura de apresentação do trabalho ........................................................................................156

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Apresentação

Todo texto sobre metodologia deveria começar com a seguinte diretriz: “Metodólogos! Mãos à obra!”

Com esse espírito, o livro que apresento aqui é uma pro-posta de organização metodológica para a produção de um tipo de pesquisa científica – aquela produzida como trabalho de conclusão de curso (TCC) em Ciências Sociais. Portanto, aqui não se pretende esgotar toda a discussão a respeito da metodologia científica em suas abordagens nas diferentes áreas científicas. Por outro lado, a proposta é tratar a abor-dagem metodológica como um meio para alcançar um fim maior, que é a produção de conhecimento científico.

Defendemos que a discussão sobre as características da metodologia científica é uma etapa inicial da produção do conhecimento acadêmico, mas ela não se esgota em si mesma, pois sua função é permitir que pesquisadores de distintas áreas, filiações teóricas e apropriações de téc-nicas empíricas possam, ao final, dialogar a respeito dos resultados dos estudos.

A possibilidade do diálogo real entre integrantes da comunidade científica dá-se, inicialmente, pelo compar-tilhamento do método da ciência. Porém, o que de fato importa é o resultado da pesquisa que cada aluno desen-volverá a partir daqui. Para isso não existem fórmulas má-gicas – apenas trabalho árduo e dedicação à pesquisa.

O livro está dividido em oito capítulos, que podem ser agrupados em duas grandes partes.

Na primeira, que vai do capítulo 1 ao capítulo 4, são abordadas questões epistemológicas e sobre a história da ciência moderna, com ênfase para as ciências sociais con-temporâneas no Brasil.

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Na segunda parte, capítulos 5 a 8, são apresentadas as características de conteúdo e de formatação de um projeto de pesquisa para a realização de um trabalho de conclusão de curso (TCC) em ciências sociais. Também é discutida a pas-sagem do momento do projeto de pesquisa para a realização do estudo propriamente dito. Por fim, são demonstradas as principais características em relação à forma e ao conteúdo.

No primeiro capítulo, busca-se discutir principalmen-te o que é conhecimento científico, para que ele serve e quais as diferenças em relação a outros tipos de saber.

Em seguida, no capítulo 2, são apresentadas as dife-renças entre ciência e pseudociência.

Já no capítulo 3, são demonstradas as características dos principais tipos de pesquisa social.

Encerrando a primeira parte do texto, no capítulo 4 faz-se um breve tratamento do debate sobre a diversidade de métodos em pesquisa social.

Na segunda parte da obra, já no capítulo 5, começam a ser descritas as características de um projeto de pesquisa científica para TCC, além de se discutir o papel da delimitação do tema e da problematização em uma pesquisa acadêmica.

Na sequência, o capítulo 6 define as funções dos ob-jetivos, da justificativa e da fundamentação teórica no pro-jeto de pesquisa. Aqui são apresentadas ainda algumas características do pensamento dos autores clássicos das ciências sociais modernas.

O capítulo 7 trata dos métodos e técnicas da pesqui-sa empírica.

Encerrando o trabalho, o capítulo 8 descreve como se dá a transformação do projeto de pesquisa no texto de publicização dos resultados do estudo.

Devo agradecer especialmente a minha orientanda Bruna Bronoski pela contribuição nas etapas de produção do material complementar e exercícios propostos ao final de cada capítulo.

O autor

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Conhecimento científico e cultura socialEmerson Urizzi Cervi

O que é conhecimento científico e para que serve? Vamos discutir as principais características do conhecimento científico, suas par-

ticularidades e diferenças em relação aos demais tipos de saber. Partimos do princípio de que a ciência não é capaz de produzir conhecimento melhor ou pior em relação a outros tipos de saber: apenas apresenta-se a partir de uma forma específica de ser produzida, que é o uso de um “método compartilhado”.

Começamos discutindo o conceito de ciência, o fato de ela sempre ser produzida a partir de uma relação entre objeto e sujeito e as diferenças em relação a outros tipos de conhecimento social.

Em um sentido mais geral, ciência significa “caminho para...”. De maneira mais res-trita, podemos definir ciência como um tipo específico de conhecimento que busca explicar fenômenos a partir de evidências possíveis apreendidas por um método compartilhado.

Essa definição já nos dá algumas pistas sobre as características particulares do conhecimento científico: trata-se de um tipo de saber a respeito de coisas palpáveis, materiais, que podem apresentar evidências. No caso das ciências sociais, o conheci-mento científico é aquele que busca explicar fenômenos identificados materialmente na sociedade analisada. Mas essa não é a única forma de conhecer a realidade.

Podemos, inicialmente, dividir o conhecimento da realidade a partir de dois gran-des conjuntos:

o conhecimento por familiaridade ou experiência própria;

o conhecimento adquirido sobre algo.

Além de não ser formal, o conhecimento por familiaridade depende do contato direto do indivíduo com o objeto, está diretamente ligado à experiência pessoal e não pode ser transmitido a outros sem perder a sua principal característica, que é a familia-ridade imediata com o assunto. Como ele não pode ser transmitido, não vamos discutir essa forma de saber.

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Por outro lado, há um tipo de conhecimento das coisas que é adquirido de maneira mais ou menos formal e não depende da relação direta do sujeito com o objeto que deu origem ao saber. Como não se trata de experiência pessoal, o conhecimento adquirido sobre qualquer coisa precisa ter algo além da própria explicação sobre o objeto.

Ao contrário do conhecimento por familiaridade, em que se aceita o saber como real ou não em função das características intrínsecas da relação com o objeto, o conhe-cimento adquirido perde essa autoridade em si por não permitir a experiência direta: sua autoridade como saber encontra-se em outras instâncias. Dependendo do tipo de conhecimento adquirido, a sua autoridade pode estar naquele que o pronuncia – o propagador do saber –, ou na forma como esse saber é constituído, independente-mente de quem seja o responsável por sua difusão.

No primeiro caso, se o sujeito propagador do saber perde a autoridade, o conhe-cimento deixa de ser factível.

Por outro lado, quando a autoridade está na forma de produção do saber, o su-jeito é menos importante que o processo e, portanto, a autoridade não está mais em quem diz, mas na forma como se disse.

Exemplos de conhecimento adquirido em que a autoridade está em quem o pro-nuncia são o senso comum, o conhecimento religioso, e o conhecimento filosófico. In-dependentemente das diferenças entre os objetos de cada um desses conhecimentos, o que há em comum aqui é o fato de todos dependerem da autoridade de quem os propaga para serem considerados válidos.

Por sua vez, o conhecimento científico independe da autoridade de quem o di-vulga para ser considerado válido. O que torna o cientista reconhecido como relevante é o fato de ele alcançar a produção de resultados em suas pesquisas a partir de um método compartilhado por outros cientistas. Por esse motivo, o método científico é tão importante para a produção desse tipo de saber. Sem o uso do método adequado, não se produz ciência, pois o sujeito que propaga esse conhecimento – o cientista – não possui autoridade em si mesmo.

A ciência e outros tipos de saber adquirido Os diferentes tipos de conhecimento formam o que chamamos de cultura social

ou cultura de um povo. Podemos considerar a ciência como um tipo de saber que faz parte de um conjunto maior de conhecimentos adquiridos, como retratado na figura a seguir.

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Conhecimento científico e cultura social

Cultura socialConhecimentos adquiridos

Saber científico

Figura 1 – Relação entre conhecimento científico e cultura social.

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o.)

Podemos perceber que a cultura social é mais ampla que os conhecimentos ad-quiridos, pois dela também fazem parte os conhecimentos por familiaridade – assim como o saber científico é apenas um subgrupo dos conhecimentos adquiridos. As di-ferenças culturais entre sociedades podem ser representadas pelo tamanho de cada subgrupo na formação geral da cultura.

Se em uma sociedade os conhecimentos adquiridos representam uma parcela pequena da cultura social, isso indica que nessa sociedade o saber não é propagado socialmente, mas apreendido diretamente – por exemplo, como acontecia em socie-dades primitivas antes da invenção da escrita.

O contrário acontece quando os conhecimentos adquiridos representam a maior parte da cultura social, o que predomina em sociedades avançadas e complexas. Em sociedades amplas, só é possível o surgimento de uma cultura social consolidada quando existe a transmissão de conhecimentos adquiridos.

Entre as sociedades em que predominam conhecimentos adquiridos na forma-ção cultural, é possível distinguir entre diferentes tipos de saber formal. Por exemplo, em uma sociedade em que o saber religioso é majoritário entre os conhecimentos adquiridos, a cultura social ganha traços específicos, tal como em sociedades funda-mentalistas, em que o Estado não está separado da Igreja (como em países europeus na era medieval ou países do Oriente Médio muçulmano na atualidade). Já em socie-dades em que o saber científico predomina dentre os conhecimentos adquiridos, há uma tendência de favorecimento da cultura social laica e uma valorização das ins-tituições de produção científica, tais como universidades dissociadas da igreja e do próprio Estado.

Mas o que caracteriza cada tipo de conhecimento adquirido?

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Conhecimento adquirido pelo senso comum Também conhecido como vulgar ou empírico, o conhecimento adquirido pelo

senso comum é transmitido por outras pessoas a partir da experiência cotidiana. Não apresenta nenhum método de produção além da própria experiência. É o tipo de co-nhecimento adquirido que mais se aproxima do saber por familiaridade. A diferença aqui é que a familiaridade foi adquirida por outra pessoa, que tem autoridade social para transmissão desse saber. O seu método de transmissão é predominantemente por herança, e não por ação individual. De maneira geral, é resultado de experiências práticas repetidas a partir de erros e acertos. Quando o resultado é o que se espera, transmite-se esse conhecimento sem verificação sistemática para outros integrantes da sociedade. Também pode ser resultado da simples transmissão de saber entre gera-ções ou integrar o conjunto de tradições de uma coletividade.

Um exemplo de conhecimento pelo senso comum é a recomendação de que se uma pessoa se molhar pela chuva terá maiores chances de ficar gripada: esse saber popular não é acompanhado de nenhuma comprovação sistemática – apenas da ex-periência vivida por outras pessoas e transmitida pelo senso comum. Ainda que se saiba que a gripe é causada por vírus, que não se encontra na água da chuva, aceita-se a recomendação quando feita por alguém com autoridade para tanto.

Assim, a autoridade do conhecimento por senso comum coincide com a auto-ridade de quem o pronuncia. Se o sujeito não for reconhecido como experiente no assunto, será desconsiderado, independentemente do conteúdo transmitido.

Conhecimento teológico Também conhecido como dogmático, o conhecimento teológico tem como

origem os discursos religiosos, que buscam explicar o mundo a partir de relações das ações sociais com um mundo sobrenatural. Não apresenta nenhum método de com-provação física de seus saberes: a força do conhecimento teológico está no dogma, ou seja, na crença indissolúvel na verdade de determinada afirmação. As verdades aqui não pertencem ao mundo material, pois nos foram transmitidas por forças divinas, imateriais, que regem nossa ação social. Portanto, nesse tipo de conhecimento a auto-ridade encontra-se no próprio dogma. Quem propaga o saber – o líder religioso, por exemplo – é apenas o canal de difusão do conhecimento.

Desse modo, quando um líder religioso interpreta as escrituras e afirma que as pessoas boas devem agir de determinada maneira e não roubar o que é dos outros, isso não se trata da opinião desse líder, mas sim das escrituras.

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Conhecimento científico e cultura social

Sendo assim, a autoridade do conhecimento teológico está na manutenção do dogma em si. Se os dogmas começarem a ser questionados, perde-se a autoridade e o conhecimento religioso deixa de ser relevante do ponto de vista da sociedade.

Conhecimento filosófico Dentre os conhecimentos adquiridos, o filosófico é o que mais se aproxima do

científico. Ele é metódico e sistemático – portanto, pode ser reproduzido por outros a partir do método. No entanto, apresenta como característica principal o fato de ser subjetivo, distinguindo-se da ciência. Outra diferença é que o objeto clássico de análi-se do filósofo não é material: pelo contrário, trata-se da imaterialidade ou “espírito” na filosofia, que busca respostas ontológicas, ou seja, a respeito da relação entre o ser e suas propriedades transcendentais.

Por exemplo, o estudo da ética e da moral social, que são abstrações materia-lizadas em determinados comportamento sociais, é um dos objetos de atenção da filosofia.

Por conta desse saber se caracterizar como subjetivo, sua autoridade coincide com quem o propaga. Porém, ao contrário do senso comum, independe da experiên-cia vivida, mas sim do poder de convencimento do argumento, ou seja, da originalida-de da explicação.

Conhecimento científico O conhecimento científico é caracterizado principalmente por ser produzido a

partir de um método específico, buscando explicações de causas e efeitos em fenô-menos materiais. No caso das ciências sociais, esses fenômenos são principalmente aqueles que se relacionam com a ação coletiva do homem e da própria sociedade. Esse tipo de saber nasce, portanto, da aplicação de um método compartilhado pelos produ-tores do conhecimento para verificar como fenômenos materiais ocorrem, buscando explicar essas ocorrências.

Por método científico entende-se um conjunto de técnicas que permitem acessar a realidade de maneira objetiva, fazendo com que as características do objeto analisa-do se sobreponham às preferências subjetivas de quem as analisa. Por esse motivo, no conhecimento científico a autoridade não está em quem o propaga, mas sim na forma como ele é produzido. Cabe ao cientista oferecer todas as ferramentas possíveis para que outros pesquisadores, utilizando as mesmas metodologias, possam testar o saber já produzido (MARCONI; LAKATOS, 2006).

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Logo, no conhecimento científico a autoridade também não se encontra nos re-sultados obtidos, que podem ser questionados a qualquer momento, o que torna a ci-ência um saber precário, parcial e temporário. A autoridade da ciência localiza-se justa-mente nessa possibilidade de seus resultados serem questionados a partir do mesmo método compartilhado. Mais importante do que quem diz ou o que se diz é a forma como se produz o saber científico.

Daí a importância do método compartilhado para esse tipo de conhecimento.

O quadro a seguir apresenta as principais características de cada um dos tipos de conhecimento adquirido apresentados até aqui.

Quadro 1 – Características dos diferentes tipos de conhecimento adquirido

Tipo de conhecimento

Método Objeto Quem fala Autoridade

EmpíricoExperiência vivida

Práticas sociaisQuem tem experiência

A própria experiência

Teológico Sem métodoValores sobrenaturais

Líder religiosoAceitação de dogmas

Filosófico SubjetivoRelação com o transcendental

FilósofoOriginalidade dodiscurso/explicação

Científico ObjetivoFenômenos materiais

CientistaTransitoriedade do conhecimento

Pode-se mesmo afirmar que a efetiva distinção entre a ciência e as demais formas de saber é o método compartilhado para a explicação dos eventos, o que não pode ser encontrado, por exemplo, no senso comum (que é baseado na crença no mais ex-periente) ou na teologia (que se fundamenta na fé dogmática). Para que o método seja compartilhado, é preciso haver objetividade científica – e assim a ciência também difere da filosofia.

A pesquisa científica e as ciências sociais Vamos tratar, nas áreas das ciências sociais, dos principais aspectos dos métodos

de pesquisa científica aplicados à produção acadêmica, como é o caso dos trabalhos de conclusão de curso (TCCs).

Não pretendemos dar conta de toda a discussão sobre a evolução conceitual da ciência. Apesar disso, é preciso lembrar pelo menos que o conceito de ciência aqui usado seria mais bem definido se qualificado como ciência social moderna – a qual foi inaugurada no século XIX por quatro autores principais:

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Augusto Comte (1798-1857);

Karl Marx (1818-1883);

Émile Durkheim (1858-1917);

Max Weber (1864-1920).

Embora cada um a seu modo, esses quatro autores estudaram cientificamente a moderna sociedade capitalista ocidental a partir de um ponto em comum: o princípio de que era preciso conhecer a realidade material para produzir conhecimentos cientí-ficos sobre ela.

Essa nova forma de produzir conhecimento pode ter sua origem identificada ainda no século XVI, com homens de ciência como o astrônomo e matemático Nicolau Copérnico (1473-1543), o filósofo Francis Bacon (1561-1626) e o físico, matemático e astrônomo Galileu Galilei (1564-1642), que buscavam explicar a realidade a partir do método experimental empírico, já não se sustentando em projetos filosóficos de pro-dução de conhecimento subjetivo. Essa mudança radical abriu caminho para o que conhecemos atualmente como ciência social moderna, que utiliza testes empíricos para validar ou refutar uma teoria já existente. Além disso, a ciência empírica moderna também pode servir como ponto de partida para a produção de novas teorias sociais.

O conhecimento científico produzido a partir do método compartilhado conta com três elementos principais:

o objeto de análise;

o sujeito que analisa;

a relação entre eles.

Assim, o conhecimento científico se dá no momento em que o sujeito (o cientista) apreende determinadas características do objeto pesquisado e, a partir da interação com esse objeto, cria uma imagem que represente essas características. Como se vê, a ciência é uma forma intencional, sistemática e consciente de produção de conheci-mento, e que para tanto se utiliza do método compartilhado. O fato de recorrer à reali-dade como ponto de partida não condena a ciência empírica a uma simples e limitada descrição do objeto analisado, como apresentado em algumas críticas à ciência em-pirista. Os fenômenos não se explicam a si mesmos: eles são analisados por cientistas que buscam descobrir as causas dos acontecimentos sociais e produzir conclusões que podem ser consideradas leis gerais.

Desse modo, o método científico aqui abordado é o empírico-dedutivo, que é capaz de chegar a conclusões e explicações teóricas sobre a sociedade a partir de aná-lises do mundo real.

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Assim, é possível pensar em pares de conceitos que definam o conhecimento científico.

Em primeiro lugar, ele pode ser entendido como uma relação entre método e técnica. Existem variadas técnicas que, fazendo parte de um mesmo método de pesquisa social, podem ser utilizadas para se tirar conclusões sobre a realidade.

Além disso, existe uma relação científica entre o contexto de descoberta e o contexto de validação. Em toda pesquisa científica, o contexto da descoberta está relacionado ao início do trabalho, mas precisa ser validado pela metodo-logia científica, que é a etapa seguinte do processo. Na validação – que pode ser lógica, quando teórica, ou prática, se relacionada à realidade – justificam- -se as descobertas científicas iniciais.

Por fim, é possível pensar a ciência como produto e a ciência como processo. Como produto, ela é um conjunto de proposições e afirmações codificadas pela linguística. Esse produto é o resultado do processo científico, podendo ser entendido como o conjunto de teorias constituídas a partir da análise em-pírica. Por outro lado, o processo de construção do conhecimento diz respeito a procedimentos para se chegar ao produto final, que são as teorias. Tais pro-cessos são muito variados dentro do discurso científico.

Quando o saber é mais importante que os sábios Segundo Trujillo Ferrari (1974), ciência é um conjunto de proposições logicamen-

te correlacionadas sobre os fenômenos que se pretende estudar, é uma sistematização de conhecimentos a partir de um conjunto de atitudes e ações racionais dirigidas a um objetivo limitado e, principalmente, passível de verificação. Tal conceito de ciência vem sendo permanente ampliado, visto que até mesmo sua definição é suscetível de reformulações.

Para Amder-Egg (1978), conhecimento científico é um conjunto de conhecimentos racionais, prováveis, obtidos metodicamente e verificáveis que se referem a determi-nados objetos.

De qualquer maneira, independentemente da escola ou do autor, as distintas de-finições de conhecimento tendem a convergir em um ponto: todas consideram primei-ramente o objeto de análise – no caso das ciências sociais, o fenômeno social. Portanto, podemos definir ciência aplicada como uma forma de conhecimento com o objetivo de formular leis que expliquem determinados fenômenos sociais. Essas leis precisam ser expressas em linguagem adequada, sendo que essa linguagem pode, inclusive, uti-lizar símbolos matemáticos para representar a realidade concreta.

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Assim, o conhecimento científico

deve em primeiro lugar ser objetivo, pois descreve os fatos da realidade apesar dos interesses e preferências do pesquisador;

é racional e sistemático, baseando-se na razão e não em impressões ou sen-timentos, chegando aos resultados e se preocupando em organizar conheci-mentos parciais para gerar uma explicação mais ampla;

é geral, dirigindo-se principalmente a leis gerais para explicar determinados fenômenos sociais;

é verificável e falível, permitindo a demonstração da veracidade das causas dos fenômenos sociais e reconhecendo sua própria limitação e possibilidade de errar.

Portanto, conhecimento científico é o resultado da relação equilibrada entre ideias/razão e fatos sociais identificados na realidade empírica. O excesso de empiris-mo ou de subjetivismo gera o que Lakatos chama de pseudociência, que é o tipo de conhecimento que sendo supostamente científico, não possui lastro nos fenômenos sociais e/ou não é verificável. Para evitar a produção de conhecimento pseudocientí-fico, o pesquisador precisa estar sempre atento à metodologia de pesquisa científica, pois só a correta instrumentalização de conceitos teóricos para análise de determi-nado recorte da realidade permite que determinados resultados sejam testados por outros cientistas. Desde o início da formulação de um projeto de pesquisa (cujo resul-tado pode ser, por exemplo, um TCC), é preciso considerar a indissociabilidade entre metodologia e produção de conhecimento científico.

E uma última divisão conceitual se faz necessária: a partir de Bunge (1976), pode-mos dividir as ciências em dois grandes ramos – formais e factuais.

Ciência formal é aquela que se preocupa predominantemente com o estudo das ideias, tais como a lógica e matemática, com demonstração de teoremas e cálculos, sem necessariamente chegar ao mundo empírico. Como não têm re-lação direta com a realidade, alguns autores não as consideram com status de ciências de fato: seriam instrumentos científicos a serviço das efetivas pesqui-sas científicas. De todo modo, as ciências formais apresentam como resultado a demonstração e a prova de hipóteses.

Já as ciências factuais, que se dividem em ciências naturais e sociais, tratam de estudar fenômenos materiais, pesquisando fatos que ocorrem no mundo empírico, recorrendo a observações e experimentações para comprovar ou re-futar as hipóteses, sempre de maneira provisória.

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A principal diferença entre ciências formais e factuais é que nas formais a demons-tração é cabal, completa, enquanto nas factuais a demonstração sempre é incompleta, temporária, podendo ser substituída pelos resultados de novas verificações científicas.

Em ambos os casos, as preferências do pesquisador sempre são menos importan-tes que os achados da pesquisa sobre o objeto em análise.

Tipos de estudos científicos Vamos agora aprofundar a apresentação de um tipo de pesquisa científica que

é a ciência factual e, dentro dela, especificamente, as ciências sociais. Vamos discu-tir a produção de conhecimento objetivo sobre fenômenos verificáveis da sociedade, com resultados temporários, precários e passíveis de refutação. Existem três grandes tipos de estudos científicos factuais interessados em explicar fenômenos da realidade social: exploratórios, descritivos e verificativos. A classificação dos estudos em cada um desses tipos é determinada pelo volume de informações já disponíveis sobre o objeto de análise e não pelas preferências do pesquisador.

Antecedendo aos estudos descritivos a respeito de determinado fenômeno, o estudo exploratório se aplica a fatos sociais recentes e sobre os quais ainda existem poucas informações formalizadas por trabalhos científicos anteriores. A pergunta a que se busca responder em uma pesquisa exploratória é: “O que é?” Por exemplo, o surgimento de tecnologias digitais nas sociedades contem-porâneas gerou novas formas de socialização a partir das redes sociais eletrô-nicas. Os primeiros estudos a esse respeito, realizados nas últimas décadas do século XX, foram exploratórios, pois buscavam delinear os principais aspectos desse novo objeto de interesse científico.

O estudo descritivo é realizado em objetos de análise que já estão minima-mente mapeados pelas pesquisas exploratórias. Aqui, busca-se resposta para a pergunta “como é?” O cientista pretende descrever como determinado fe-nômeno ocorre e quais são as causas para sua concretização. Um exemplo de pesquisa social descritiva é aquela que visa a identificar de que maneira de-terminados grupos humanos, tais como minorias étnicas ou integrantes de certa faixa etária, comportam-se em relação a estímulos específicos. Descrever o comportamento sexual de jovens frente a novas informações sobre doenças sexualmente transmissíveis ou como a população negra age em sociedade a partir da aprovação de nova legislação pró-igualdade de direitos raciais são exemplos de pesquisas descritivas.

Já as pesquisas verificativas buscam responder a pergunta “por quê?” Seus ob-jetivos são explicar porque determinados fenômenos acontecem. Para tanto, é

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Conhecimento científico e cultura social

necessário que eles já tenham sido exaustivamente explorados e devidamente descritos. Um exemplo de pesquisa verificativa é aquela que procura explicar os motivos do comportamento conservador em sociedade. Essa pesquisa vai além da descrição das características do conservadorismo, pois procura relacionar o conservadorismo com a classe social, o nível educacional ou a religião.

Acrescente-se que, para dar origem à interpretação dos fatos e a consequente produção de conhecimento científico, em qualquer um dos tipos de estudo científico é necessário relacionar teoria e conceitos científicos já existentes e a descrição de fe-nômenos sociais.

Fases da pesquisa O processo de construção da pesquisa científica passa por algumas fases.

Necessariamente, o pesquisador parte de um conjunto de conceitos e definições que já existem para descrever o fenômeno estudado. Mas não é necessário partir de te-orias já consolidadas. No caso de estudos exploratórios, pode-se partir de uma taxono-mia (ciência ou técnica de classificação), uma proposição que inter-relaciona diferentes conceitos que ainda não podem ser considerados uma teoria completa. Sendo assim, diferentemente das teorias, as taxonomias devem ser avaliadas como mais ou menos ricas no que diz respeito ao apoio à explicação empírica, e nunca como verdadeiras ou falsas – enquanto as teorias, quando sustentadas pela pesquisa, são consideradas verdadeiras, e quando não, falsas.

Outra consequência do caráter relacional da pesquisa científica é o fato de que toda teoria surge como resultado de pesquisas empíricas, que por sua vez são consequência dos testes realizados a partir de um problema de pesquisa – uma pergunta que mobiliza o pesquisador, transformando um problema social em um problema de pesquisa.

A etapa seguinte da pesquisa científica é a formulação de hipóteses, definidas como tentativas de respostas a um problema de pesquisa. Assim, as hipóteses sempre são afirmações provisórias com a finalidade de ajudar o pesquisador a selecionar os aspectos da realidade que ele pretende testar em sua pesquisa. Em outras palavras, são conjecturas que visam a responder à pergunta formulada no problema a partir de determinada teoria ou taxonomia e relacionada a determinado modelo de pesquisa. As hipóteses nem sempre surgem da própria ciência: elas podem vir do conhecimento prático do pesquisador. A única característica imprescindível de uma hipótese cientí-fica é que ela necessita ser passível de confrontação com a realidade, pois aquilo que não pode ser testado não pode ser aceito como hipótese científica. Mas antes de se testarem as hipóteses, na realidade podem ser feitas inferências lógicas, a partir da de-dução, para verificar a validade dessas hipóteses. Se elas forem válidas – se parecerem lógicas – poderão ser testadas no mundo real.

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Já com um problema de pesquisa e algumas hipóteses lógicas, o pesquisador passa para a etapa seguinte, testando na realidade os aspectos do fenômeno estu-dado a partir do recorte proposto pelas hipóteses. Os testes podem negar a hipótese inicial, mas isso não torna a pesquisa menos importante: pelo contrário, isso demons-tra que o pesquisador foi objetivo na realização do seu trabalho. A partir de análises e verificações na realidade, os resultados dos testes empíricos darão origem a gene-ralizações empíricas.

A partir dessas generalizações, o pesquisador confronta a realidade encontrada no mundo social com as teorias já existentes sobre o tema. Assim, ele pode comprovar teorias inteiras ou apenas alguns dos seus aspectos. E também pode usar os achados da pesquisa empírica para refutar uma teoria já existente ou propor novos conceitos teóricos a respeito da realidade estudada.

Essa relação entre achados empíricos e teorias consolidadas é o que dá o caráter circular da ciência, que avança porque os pesquisadores partem de conceitos já exis-tentes, utilizam técnicas de pesquisa empírica para estudar a realidade e verificam a validade dessas teorias e conceitos.

A figura a seguir representa todo o processo descrito até aqui.

Figura 2 – Etapas da construção da pesquisa científica.

Teoria

Generalizações de resultados

Métodos Científicos

Observações empíricas

Hipóteses teóricas

4. Influência causal

2. Operacionalização da pesquisa

1. Apropriação de conceitos

3. Registro e análises

Etapa indutiva Etapa dedutiva

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S.A

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o.)

A figura 2 divide as etapas da produção de conhecimento científico em duas partes. A primeira é dedutiva, pois inclui a apropriação de conceitos e teorias já exis-tentes, de onde se deduzem as hipóteses teóricas antes de se passar para as observa-ções empíricas, que só começam após a definição operacional da pesquisa. Uma vez feitas as observações da realidade, começa a etapa indutiva da pesquisa: a partir da análise e da verificação dos dados obtidos acerca de determinado fenômeno, tenta-se

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generalizar os resultados como inferência causal. Com isso, conclui-se o ciclo de pro-dução de um novo conhecimento científico, que irá reafirmar ou refutar uma teoria já existente.

Recapitulando Apresentamos os conceitos básicos que definem ciência como conhecimento e também as etapas da pesquisa científica.

Diferenciamos conhecimento por familiaridade e conhecimento adquirido formalmente.

Distinguimos os quatro principais tipos de conhecimento adquirido: senso comum, teológico, filosófico e científico.

Descrevemos as principais características do conhecimento científico.

Definimos pesquisa científica como o processo pelo qual se produz esse tipo de conhecimento.

Tratamos dos tipos de pesquisa científica e das etapas para a produção de novos conhecimentos.

Vimos como a ciência se retroalimenta, de modo circular – fato que a distingue da pseudociência.

Texto complementar

Ciência(CIÊNCIA, 2010)

Ciência é, antes de mais nada, um conjunto de métodos lógicos e empíricos que permitem a observação sistemática de fenômenos empíricos, a fim de compre-endê-los. Acreditamos entender fenômenos empíricos quando temos uma teoria satisfatória que explique como funcionam, que padrões regulares seguem, ou por que se apresentam a nós como se apresentam. Explicações científicas são feitas em termos de fenômenos naturais em detrimento dos sobrenaturais, embora ciência em si não exija a aceitação ou a rejeição do sobrenatural.

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A ciência é também o corpo organizado do conhecimento sobre o mundo em-pírico, que provém da aplicação do conjunto de métodos lógicos e empíricos cita-dos ateriormente.

A ciência consiste de várias ciências específicas, como Biologia, Física, Química, Geologia e Astronomia, que são definidas pelo tipo e gama de fenômenos empíricos que investigam.

Para concluir, ciência é também a aplicação do conhecimento científico, como a alteração do arroz com genes do narciso e de bactérias para aumentar seu conte-údo de vitamina A.

Os métodos lógicos e empíricos da ciência

Não existe um método científico único. Alguns dos métodos da ciência envol-vem lógica, por exemplo, tirando conclusões ou deduções a partir de hipóteses, ou decidindo as implicações lógicas de relações causais em termos de condições ne-cessárias ou suficientes. Alguns dos métodos são empíricos, como o de fazer ob-servações, projetar experiências controladas, ou projetar instrumentos para usar na coleta de dados.

Métodos científicos são impessoais. Logo, o que quer que um cientista seja capaz de fazer como cientista, qualquer outro deve ser capaz de duplicar. Quando uma pessoa afirma medir ou observar algo através de algum método puramente subjetivo, o qual outros não podem duplicar, esta pessoa não está fazendo ciência. Quando cientistas não conseguem duplicar o trabalho de outro cientista é um sinal claro de que este errou, ou no projeto, ou na metodologia, ou na observação, ou nos cálculos ou na calibração.

Fatos e teorias científicas

A ciência não assume saber a verdade sobre o mundo empírico a priori. Ela assume que deve descobrir seu conhecimento. Aqueles que afirmam saber a verdade empíri-ca a priori (como os assim chamados criacionistas científicos) não podem estar falando sobre conhecimento científico. A ciência pressupõe uma ordem regular na natureza e assume que existam princípios fundamentais conforme os quais os fenômenos na-turais funcionam. Assume que estes princípios ou leis são relativamente constantes. Mas ela não assume que possa saber a priori o que esses princípios sejam, ou o que a ordem real de qualquer conjunto de fenômenos empíricos seja.

Uma teoria científica é um conjunto unificado de princípios, conhecimento e métodos para explicar o comportamento de alguma gama específica de fenômenos empíricos. Teorias científicas tentam entender o mundo das experiências observa-das e sensoriais. Tentam explicar como o mundo natural funciona.

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Uma teoria científica deve ter algumas consequências lógicas que possamos testar contra fatos empíricos através de predições baseadas na teoria. Entretanto, a natureza exata do relacionamento entre uma teoria científica fazendo predições e sendo testada é algo sobre o que filósofos amplamente divergem (KOURANY).

É verdade que algumas teorias científicas, quando são desenvolvidas e propos-tas pela primeira vez, são frequentemente pouco mais que palpites baseados em in-formações limitadas. Por outro lado, teorias científicas maduras e bem desenvolvidas sistematicamente organizam o conhecimento e nos permitem explicar e prever uma ampla gama de eventos empíricos. Em ambos os casos, entretanto, uma característica deve estar presente para que a teoria seja científica. A característica distintiva de teo-rias científicas é que elas são “passíveis de ser experimentalmente testadas” (POPPER).

Ser capaz de testar uma teoria experimentalmente significa ser capaz de prever certas consequências observáveis ou mensuráveis a partir da teoria. Por exemplo, a partir de uma teoria sobre como os corpos físicos se movem um em relação ao outro, alguém prevê que um pêndulo deve seguir um determinado padrão de comportamen-to. Essa pessoa então monta um pêndulo e testa a hipótese de que eles se comportam da maneira prevista pela teoria. Se eles se comportarem assim, então a teoria está con-firmada. Se não se comportarem da maneira prevista pela teoria, então ela foi refutada. (Isto assumindo que o comportamento previsto para o pêndulo foi corretamente de-duzido a partir da sua teoria e que a sua experiência foi conduzida adequadamente.)

O fato de que uma teoria tenha passado em um teste empírico, no entanto, não comprova a teoria. Quanto maior o número de testes rigorosos nos quais uma teoria passar, maior o seu grau de confirmação e mais razoável é a sua aceitação. Porém, confirmar não é o mesmo que provar logicamente ou matematicamente. Nenhuma teoria científica pode ser provada com absoluta certeza.

Além disso, quanto mais testes puderem ser feitos sobre a teoria, maior o seu con-teúdo empírico (POPPER). Uma teoria a partir da qual possam ser feitas muito poucas predições empíricas será difícil de testar e geralmente não será muito útil. Uma teoria útil é rica, ou seja, podem ser geradas muitas predições empíricas a partir dela, cada uma servindo como mais um teste da teoria. Porém, mesmo se uma teoria for muito rica e mesmo se passar por muitos testes rigorosos, é sempre possível que falhe no pró-ximo. Ela poderia até mesmo falhar no mesmo teste pelo qual passou várias vezes no passado. Karl Popper chama esta característica das teorias científicas de falseabilidade.

Uma consequência necessária para que afirmações científicas sejam falseáveis é que elas sejam também falíveis. Por exemplo, a teoria da relatividade especial de Einstein é aceita como “correta” no sentido de que “sua inclusão necessária nos cál-culos leva a uma concordância excelente com as experiências” (FRIEDLANDER). Isso não significa que a teoria seja infalivelmente certa. Fatos científicos, como as teorias

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científicas, também não são certezas infalíveis. Os fatos envolvem não apenas ele-mentos perceptuais facilmente testáveis; eles também envolvem interpretação.

O famoso paleoantropologista e escritor científico Stephen Jay Gould nos lembra que, em ciência, fato somente pode significar “confirmado até um grau tal que seria perverso negar uma concordância provisória” (GOULD). Entretanto, fatos e teorias são coisas diferentes, observa Gould, “e não degraus em uma hierarquia de certeza crescente. Fatos são os dados do mundo. Teorias são estruturas de ideias que explicam e interpretam os fatos”. Nas palavras de Popper: “Teorias são redes lança-das para capturar o que nós chamamos de o mundo: para racionalizá-lo, explicá-lo e desvendá-lo. Nós nos empenhamos para tornar a rede cada vez mais fina.”

Para o público desinformado, os fatos contrastam com as teorias. Os não cien-tistas comumente usam o termo teoria para se referir a uma especulação ou palpite baseados em informações ou conhecimentos limitados. Porém, quando nos referi-mos a uma teoria científica, não estamos nos referindo a uma especulação ou palpi-te, mas a uma explicação sistemática de alguma gama de fenômenos empíricos. No entanto, teorias científicas variam em grau de certeza do altamente improvável ao altamente provável. Isto é, há graus variáveis de provas e respaldo para diferentes teorias, ou seja, algumas são mais razoáveis para se aceitar que outras.

Existem, é claro, muito mais fatos que teorias, e assim que algo se estabelece como um fato científico (por exemplo, que a Terra gira em torno do Sol) não é pro-vável que seja substituído por um “fato melhor” no futuro. Por outro lado, a história da ciência claramente mostra que teorias científicas não permanecem inalteradas para sempre. A história da ciência é, entre outras coisas, a história da teorização, testes, discussões, refinamentos, rejeições, substituições, mais teorizações, mais testes etc. É a história de teorias funcionando bem por algum tempo, a ocorrência de anomalias (ou seja, a descoberta de novos fatos que não se encaixam nas teorias estabelecidas), e novas teorias sendo propostas e acabando por substituir as antigas parcialmente ou completamente.

Deveríamos nos lembrar que a ciência, como a define Jacob Bronowski, “é uma forma bem humana de conhecimento... Cada julgamento na ciência se apoia na fronteira do erro... A ciência é um tributo ao que podemos saber embora sejamos falíveis”. “Um dos objetivos das ciências físicas,” ele diz, “era fazer um retrato fiel do mundo material. Uma das conquistas da física no século XX foi provar que esse ob-jetivo é inatingível.”

Conhecimento científico

O conhecimento científico é o conhecimento humano, e os cientistas são seres humanos. Não são deuses, e a ciência não é infalível. Mesmo assim, o público em

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geral muitas vezes toma as afirmações científicas como verdades absolutas. Acham que, se algo não é uma certeza, não é científico, e se não é científico então qualquer outra visão não científica tem o mesmo valor. Essa concepção equivocada parece estar, pelo menos em parte, por trás da falta de entendimento generalizada sobre a natureza das teorias científicas.

Outro equívoco comum é o de pensar que, por serem baseadas na percepção humana, as teorias científicas são necessariamente relativas, logo não nos dizem realmente nada sobre o mundo real. A ciência, segundo alguns “pós-modernistas”, não pode afirmar que nos dá um retrato fiel de como é realmente o mundo. Pode apenas nos dizer como ele se apresenta para os cientistas. Não existe uma coisa chamada verdade científica. Todas as teorias científicas são meras ficções. Porém, só porque não existe uma maneira única, verdadeira, final, divina de se ver a realidade, não quer dizer que não exista uma coisa chamada verdade científica. Quando a pri-meira bomba atômica explodiu exatamente como alguns cientistas previram que explodiria, mais um pouco da verdade sobre o mundo empírico foi revelada. Pouco a pouco estamos descobrindo o que é verdadeiro e o que é falso, testando empirica-mente teorias científicas. Afirmar que aquelas teorias que tornam possível explorar o espaço são “apenas relativas” e “representam apenas uma perspectiva” da realidade é compreender de maneira profundamente equivocada a natureza da ciência e do conhecimento científico.

Atividades

Dê exemplos do saber científico, bem como de sua aplicação e a maneira como 1. o saber científico se relaciona com as outras formas de conhecimento conside-radas na “Figura 1 – Relação entre conhecimento científico e cultura social”.

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Diariamente, temos acesso a novas informações recebidas dos meios de comu-2. nicação de massa (jornais, revistas e televisão). A partir da sua experiência com esse tipo de conteúdo, que tipo de conhecimento você diria que predomina nos meios de difusão de informações sociais?

A partir do que foi discutido, podemos dizer que as ciências formais oferecem 3. as ferramentas necessárias para a produção do conhecimento pelas ciências factuais? Explique.

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Dica de estudo

GALLIAN, Dante Marcello Claramonte. Visão Histórica da Pesquisa Científi-ca. Disponível em: <www.hottopos.com/videtur15/dante.htm>. Acesso em: 12 maio 2010.

Gabarito

Os resultados de experiências em laboratórios na busca da cura para uma de-1. terminada doença, como a gripe, são exemplos de conhecimento ou saber científico. Também é possível identificar como conhecimento científico a reali-zação de experiências a respeito de diferentes metodologias de ensino de ma-temática para crianças de cinco a dez anos: os resultados desses experimentos mostrariam, a partir do desempenho dos alunos, qual método é mais indicado para a faixa etária pesquisada.

No caso, as descobertas da cura para a doença e a melhor forma de ensino de matemática são parte do conjunto dos conhecimentos científicos que integram o conjunto dos conhecimentos adquiridos, que por sua vez são parte da cultura social, isto é, do saber mais geral da sociedade.

Na nossa sociedade, como há um predomínio da cultura laica, há forte presença 2. de informações nos meios de comunicação que são oriundas de fontes cientí-

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ficas, direta ou indiretamente. Essas informações podem ser apresentadas na forma de políticas públicas propostas e implementadas a partir de descobertas científicas. Portanto, indiretamente, esse é um exemplo de conhecimento cien-tífico. Também aparecem os demais tipos de saberes, mas na maioria das vezes eles estão sendo contrapostos ao científico.

As ciências formais são aquelas onde predominam as ideias, com demonstra-3. ção lógica de teoremas. O exemplo mais comum é a matemática. O que carac-teriza essas ciências é o fato de elas não precisarem chegar até a realidade para produzir conclusões. Por isso, elas podem ser consideradas ciências meio, ferra-mentas para se chegar a determinados resultados. Já as ciências factuais preci-sam chegar até a realidade para produzir novos conhecimentos. Como vimos, as ciências factuais se dividem em naturais e sociais. Ao estudar os fenômenos materiais, elas usam recursos das ciências formais, além de dependerem de observações e experimentações da realidade para comprovar ou refutar suas hipóteses.

Referências

AMDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las Técnicas de Investigación Social. Buenos Aires: Humanitas, 1978.

BUNGE, Mario. La Investigación Científica: su estrategía y filosofia. Barcelona: Ariel, 1976.

CIÊNCIA. Disponível em: <http://skepdic.com/brazil/ciencia.html>. Acesso em: 12 maio 2010.

GALLIAN, Dante Marcello Claramonte. Visão Histórica da Pesquisa Científica. Dispo-nível em: <www.hottopos.com/videtur15/dante.htm>. Acesso em: 12 maio 2010.

MARCONI, Marina de A.; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Cientí-fica. São Paulo: Atlas, 2006.

TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da Ciência. 3. ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.

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Entre a ciência e a pseudociência Vamos tratar agora especificamente da ciência, relacionando-a com uma forma de

dogma que parece ser científico, chamado por Imre Lakatos (1989) de pseudociência. Parte-se do princípio de que um enunciado é um conhecimento em que um número sig-nificativamente elevado de pessoas acredita com suficiente convicção. Porém, isso não é suficiente para garantir a validade do conhecimento como científico, pois a história do pensamento mostra que muitas pessoas têm sido convencidas de coisas absurdas.

Da mesma maneira, nenhum nível de certeza a respeito de certas crenças é su-ficiente para convertê-las em conhecimento. Logo, também não está no aprofunda-mento do saber a explicação do que pode ser ou não ciência. De fato, o que caracteriza a conduta científica é, segundo Lakatos, o ceticismo, inclusive com relação às teorias mais consideradas pelos cientistas. Para o autor, a profissão de fé cega em uma teoria não é uma virtude intelectual, mas um crime.

Um enunciado pode ser pseudocientífico ainda que seja plausível e que todo mundo acredite nele. Por outro lado, ele pode ser cientificamente valioso, mesmo que seja pouco crível. Uma teoria pode ter valor científico mesmo que ninguém a compre-enda ou acredite nela. O valor inerente de uma teoria científica não está relacionada a sua influência psicológica sobre as pessoas: esse valor depende apenas do apoio obje-tivo dos fatos da realidade às afirmações científicas. Portanto, para conhecer esse valor é preciso confrontar as teorias com realidade, os pressupostos teóricos precisam ser apoiados por fatos da realidade. Caso contrário, não podem ser chamados de ciência.

Hoje, no pós-positivismo, é possível demonstrar com certa facilidade que não po-demos derivar uma lei da natureza apenas a partir de um número finito de fatos, porém, ainda não podemos afirmar que as teorias científicas são provadas pelos fatos. Há uma explicação plausível para isso. Os cientistas desejam que suas teorias sejam respeitadas e merecedoras do título de ciência, conhecimento genuíno, mas isso não é suficiente.

Podemos pensar que o conceito de ciência adotado atualmente é o resultado de uma construção histórica. Por exemplo, durante o iluminismo entendia-se que os homens eram falíveis e ignorantes em matéria teológica. Não existe uma teologia cien-

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tífica e por isso não existe um conhecimento teológico que seja resultado da cons-trução humana compartilhada. O conhecimento só pode tratar da natureza, mas essa classe de conhecimento teria que ser julgada mediante critérios provados para que não restasse nenhuma dúvida. Era papel da ciência, lembra Lakatos, chegar à certeza que não foi alcançada pela teologia. Esse era o critério da honestidade científica. As teorias que não eram provadas pelos fatos passavam a ser consideradas como pseudociência, uma heresia no centro da comunidade científica – o que deu origem ao empirismo radical. Lakatos mostra como exemplo o caso do cientista Ampère, que no início do século XIX deu ao seu livro sobre especulações a respeito do eletromagnetismo o título de Teoria Matemática dos Fenômenos Eletrodinâmicos inequivocadamente Deduzida dos Experimentos – mas ao final do volume confessou que alguns dos experimentos nunca foram realizados. Ou seja, mesmo no auge do empirismo nem todo conhecimento que se apresentava como científico havia sido testado na realidade. Então, o que diferencia o conhecimento científico da ignorância e a ciência da pseudociência?

Quem procurou responder a essa pergunta foi a lógica indutiva do século XX, que definia as possibilidades de diferentes teorias, comparativamente, segundo o que chamava de evidência total disponível. Assim, se a probabilidade matemática de uma teoria fosse elevada, isso a qualificaria como científica; se a probabilidade fosse baixa ou zero, não seria uma teoria científica. Assim, o que distingue a honestidade intelec-tual deixa de ser a certeza sobre determinada ocorrência, mas o seu grau de probabili-dade de ocorrência. Essa saída pelo probabilismo tem uma vantagem: em vez de dizer que existe uma clara diferença entre ciência e pseudociência, o pesquisador apresenta uma escala contínua desde as teorias fracas, com baixa probabilidade, até as teorias fortes, com alta probabilidade.

Já em 1934, Karl Popper defendeu que a probabilidade matemática de todas as teorias científicas e pseudocientíficas, para qualquer magnitude de evidência, é zero. Se ele tem razão, também não é possível provar as teorias científicas, que, dessa ma-neira, são improváveis. Portanto, Popper propõe um novo critério de demarcação dos limites da ciência, que passa a ser a possibilidade de refutar o conhecimento produzido (POPPER, 1998). Para ele, uma teoria pode ser científica, ainda que não apresente ne-nhuma evidência a seu favor, e pode ser pseudocientífica mesmo que todas as evidên-cias disponíveis lhe sejam favoráveis. Assim, o caráter científico de uma teoria poderia ser determinado de forma independente dos fatos da realidade. Em outras palavras, uma teoria será científica se pudermos especificar antecipadamente um experimento para refutá-la. E é pseudocientífica se o cientista se nega a especificar tal refutação. Porém, Lakatos discorda dessa afirmação. Para ele, a diferença apresentada por Popper não é entre ciência e pseudociência, mas sim entre método científico e não científico.

A questão é que qualquer afirmação científica pode se perenizar ao longo do tempo, de modo a se transformar em uma pseudociência dogmática, não sendo mais um conhecimento genuíno, se deixamos de aceitar as condições que permitiriam re-

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

futar aquela afirmação. Uma das causas desse abandono é a relação “afetiva” que os cientistas têm com algumas teorias. Muitas vezes, o fato de a realidade contradizer determinada afirmação teórica não significa muita coisa para eles. Como diz Lakatos, é mais fácil o pesquisador inventar uma hipótese nova para explicar as anomalias, ig-norando a inconsistência teórica central, que abrir mão dos pressupostos por ele tão queridos.

Considerando as abordagens anteriores, passamos a enfrentar um problema cen-tral, que é a irracionalidade no desenvolvimento científico. Assim, a ciência só passa-ria por uma revolução de forma irracional, como uma espécie de conversão religiosa de convicções. Para Thomas Kuhn, a ideia da necessidade de refutação proposta por Popper é uma ingenuidade por não ser factível. De qualquer maneira, se Thomas Kuhn está com a razão, não existe uma divisão explícita entre ciência e pseudociência ou até mesmo entre avanço ou decadência do pensamento organizado. O que poderia resol-ver esse problema da distinção entre ciência e pseudociência?

Para Lakatos, a solução é simples: deixar de considerar o conhecimento científico como algo autoral, fragmentado e isolado para aproximá-lo de um trabalho coletivo. Para tanto, o autor começa indicando que a unidade descritiva dos grandes achados científicos não é uma hipótese isolada, mas sim o que ele chama de um programa de investigação. Todo programa de investigação científica é composto por duas partes principais:

um núcleo central de teorias e

um cinturão de proteção.

Todos os programas de investigação científica possuem cinturões protetores fle-xíveis e um núcleo duro teórico elaborado para dar respostas a possíveis questões que apareçam no decorrer da pesquisa. A função do cinturão de proteção é evitar que o núcleo teórico sofra ataques diretos de programas de pesquisa concorrentes, com ex-plicações alternativas para o mesmo fenômeno. No entanto, todo programa de pesqui-sa tem problemas não solucionados ou anomalias que não consegue explicar, lembra Lakatos. Assim, todo programa e suas teorias nascem e morrem passíveis de refutação. Portanto, contrariando Popper, essa abordagem continua sendo de pouca ajuda para se saber se programas de pesquisa são realmente bons.

A solução do problema é apresentada por Lakatos ao distinguir entre programa cien-tífico progressivo e programa científico regressivo, já que todos podem ser igualmente re-futados. Os bons programas científicos (os progressivos) sempre estão tentando predizer coisas a respeito de fatos novos – aqueles fatos sobre os quais não se havia pensado, ou fatos que contrariam outros programas de pesquisa. Aqui a ideia central para distinguir ciência de pseudociência seria inovação. Einsten inovou ao predizer que a medição da distância entre duas estrelas pela noite será distinta daquela feita ao dia. Como ninguém

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tinha pensado nisso até então, ele pode se enquadrar em um programa progressivo de investigação que levou à descoberta de fatos novos, até então desconhecidos.

Por outro lado, nos programas regressivos as teorias ou afirmações produzidas servem apenas para acomodar fatos já conhecidos, sem nenhuma novidade.

Em resumo, a distinção entre progresso empírico e ciência não está nas verificações cotidianas, pois a ciência só estaria presente nas descobertas extraordinárias. Popper lembra que existem milhões de verificações cotidianas triviais. Porém, é preciso consi-derar que a refutação popperinana não é suficiente para indicar um fracasso, pois todos os programas científicos crescem em meio a uma imensidão de anomalias permanentes. O que realmente importa são as predições dramáticas, inesperadas, grandiosas. Umas poucas destas são suficientes para fazer a diferença. Se, por outro lado, não há nenhuma novidade e a teoria retrocede em relação aos fatos, significa que estamos diante de um programa de investigação pobre e regressivo. Porém, se aceitarmos essa proposição, per-ceberemos que o genuíno conhecimento científico é raro e ligado a um número peque-no de pesquisadores. A “ciência de massa” que se faz na atualidade não traria nenhuma novidade, ou seja, deveria ser enquadrada como pseudociência.

A pergunta, na verdade, deveria ser: “como acontecem as revoluções científicas?” e não se é ciência ou pseudociência. As revoluções são graduais e dependem do acú-mulo da produção de conhecimento científico trivial em comparação com saberes de outros programas concorrentes. Se, em dois programas de investigação rivais, um progride enquanto outro degenera, os cientistas tendem a alinhar-se com o progra-ma progressivo (LAKATOS, 1989). Isso explica as revoluções científicas. Ao contrário do que pensava Popper, a metodologia dos programas de investigação científica não oferece uma racionalidade instantânea, visto que é cumulativo. Os programas em desenvolvimento precisam ser tratados com algum crédito prévio, pois pode escoar algum tempo até que se tornem empiricamente progressivos. A crítica a um trabalho científico não pode ser tomada como uma arma para matar rapidamente a partir da refutação. Ao contrário, na academia as críticas relevantes são sempre construtivas, pois elas devem apresentar uma proposta teórica mais adequada para o tratamento de qualquer objeto da realidade. Não existe refutação de fato sem uma teoria melhor, ou seja, trata-se sempre de uma relação entre programas científicos concorrentes. Sendo assim, Thomas Kuhn também erra ao defender que as revoluções científicas são mu-danças repentinas e irracionais de pontos de vista. Na verdade, elas são resultado de mitos irracionais. O que acontece normalmente é que os programas de investigação progressivos tendem a substituir os regressivos gradualmente.

Até aqui, a discussão apresentada diz respeito ao tratamento dado pela teoria científica pelos metodólogos, os especialistas em metodologia da pesquisa. Todavia, sabemos que uma teoria só existe para explicar fenômenos empíricos. No caso das ciências sociais, elas servem para orientar a identificação de ações e comportamentos

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

dos indivíduos, grupos ou instituições sociais. Então, torna-se importante identificar as relações que existem entre teoria científica e métodos empíricos para a produção de novos conhecimentos científicos, inclusive aqueles que surgem dos trabalhos de conclusão de curso. Isso é o que se pretende fazer no próximo tópico.

Relação entre teoria e empiria Existe um conflito permanente entre explicações teóricas e suas aplicações empí-

ricas, pois, enquanto o mundo real é complexo e caótico, as teorias tentam organizar determinados elementos da realidade que permitam uma explicação racional a partir dos fatos selecionados.

Nesse sentido, uma teoria sempre é formada por um conjunto de conceitos que apresentam relações entre si, sendo que os resultados dessas relações podem ser ex-pressos em afirmações gerais.

Por outro lado, no mundo empírico existem dados da realidade, formados por va-riáveis que se correlacionam a partir de casos particulares.

O conflito se dá pelo fato de que na maioria das vezes as teorias não foram produ-zidas para os dados da realidade que se pretende pesquisar. Se houvesse uma teoria para cada caso pesquisado, ela deixaria de cumprir a função teórica de produção de afirmações gerais a respeito dos fenômenos estudados.

E um segundo conflito se dá entre os conceitos que compõem uma teoria e as va-riáveis presentes no objeto empírico. Nem sempre os indicadores são suficientemente adequados para representar as características indicadas nos conceitos teóricos. Se é verdade que uma variável não tem autonomia – ou seja, ela é consequência de um conceito teórico –, é preciso pensar que variáveis aceitas normalmente como válidas podem não ser adequadas para representar determinado conceito. Da mesma forma, relações causais expressas teoricamente podem não aparecer nas correlações apre-sentadas pelo objeto de análise e, quando isso acontece, as afirmações gerais se dis-tanciam do caso particular que se está estudando.

As tensões entre teoria e empiria estão representadas na figura a seguir.

Teoria envolve Conceitos em Relações causais expressas em Afirmações gerais

Dados incluem Indicadores (variáveis) em Correlação baseados em Casos particulares (IE

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Por conta das tensões entre teoria e empiria, nunca se pode afirmar a verdade de uma proposição teórica a partir da análise empírica de casos isolados. Podemos, no máximo, dizer que uma hipótese teórica é falsa ou verdadeira em função da verificação feita pelo pesquisador. Além disso, existem os erros cometidos pelo pesquisador ao fazer afirmações gerais a partir de casos particulares ou vice-versa. Esses erros recebem o nome de falácia científica. Existem dois tipos de falácias.

A falácia ecológica se dá a partir de dados que dizem respeito a regiões, tiran-do conclusões sobre os indivíduos. Por exemplo, a relação entre pessoas de baixa renda e a ocorrência de crimes em uma região. Não é porque determina-do tipo de crime acontece predominantemente em áreas onde vivem pessoas de baixa renda que se pode dizer que haja uma relação entre crime e qualquer pessoa dessa faixa de renda.

Já a falácia individualista parte de dados individuais para tirar conclusões a respeito de regiões. Por exemplo, ao considerar que determinados alunos de determinado colégio católico possuem uma visão de mundo conservadora, extrapola a afirmação para todos os alunos de todos os colégios católicos o conservadorismo.

Uma das formas para se fazer a relação entre conceitos teóricos e indicadores de comportamentos sociais é a partir dos testes de hipóteses científicas. Esses testes en-volvem principalmente dois tipos de variáveis:

variáveis independentes ou explicativas (representadas pela letra x);

variável dependente (representada pela letra y).

As variáveis independentes são as características que visam a explicar a ocorrên-cia de determinado fenômeno.

Já a variável dependente é aquela para a qual o pesquisador procura explicações.

Toda pesquisa social parte de um esforço inicial para estabelecer a relação entre a teoria já existente, com seus conceitos, e a análise de específicos fenômenos da reali-dade. É a teoria que fornece os elementos constitutivos da hipótese de trabalho.

Em seguida, o pesquisador materializa os conceitos, transformando-os em variá-veis, que são divididas entre dependente (que é o objeto central de atenção da pesqui-sa e precisa ser explicada) e as variáveis independentes (que são explicativas).

A relação entre teoria e variáveis empíricas pode se dar a partir de diferentes mo-delos. Apresentamos a seguir os principais.

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

Tipologias: quando a teoria estabelece tipos, ou seja, predominam as defini-ções e classificações para distinguir situações diferentes da variável dependente.

Inventário simples de causas: explica uma ocorrência a partir de fatores ex-ternos. Esses fatores podem estar relacionados ou não.

Inventário de efeitos: tenta mostrar que uma variável independente tem efei-tos sobre vários outros fatores.

Cadeia simples ou modelo com feedback: considera que um fator influencia outro, e este segundo tem influência sobre um terceiro etc.

Por exemplo:

Cadeia causalX

Y W Z

X

W

Z

Feedback

Todo conceito é uma abstração que serve para identificar ocorrências do mundo real. Sendo assim, a ciência precisa de um mínimo de clareza sobre os seus conceitos para torná-los operacionais: quanto mais precisos forem os conceitos, melhor será a compreensão deles e mais fácil a sua conversão para variáveis.

Passos para a clara definição dos conceitos

Procurar o aspecto essencial do termo.

Evitar que a definição seja tautológica (circular).

Evitar que a definição seja formulada em termos negativos.

Evitar que a definição seja expressa em termos obscuros ou figurados (RO-SENBERG, 1980).

Um conceito não é uma variável: para ser estudado empiricamente, o conceito precisa ser transformado em variável e, então, testado na realidade.

Por exemplo, na pesquisa em ciências sociais, há um conceito de status social que pode ser medido a partir da variável renda. Ou, de maneira mais precisa, a partir da agregação de diferentes variáveis.

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Outro exemplo se dá na transformação do conceito de escolarização formal, medida pela variável anos de escolaridade. Cabe ao pesquisador encontrar, a partir das características do objeto de análise e dos objetivos da pesquisa, as variáveis melhores (mais representativas) para os conceitos que se pretende estudar.

Para se conseguir uma boa variável, é preciso estabelecer quais aspectos observá-veis melhor traduzem os conceitos que devem ser medidos. Uma variável “é um con-ceito que pode ter vários valores e que se define de tal maneira que se pode conhecer, mediante observação, que valor tem em cada caso particular” (STINCHUMBE apud RO-SENBERG, 1976, p. 95), ou “símbolos aos quais números ou valores são atribuídos para representar sua variação” (ROSE; SULLIVAN apud ROSENBERG, 1976, p. 95).

Para se transformar um conceito em variável operacional, são necessárias defi-nições operacionais exaustivas e mutuamente exclusivas (ROSENBERG). Uma variável precisa ter nome, definição verbal e um processo de classificação que permita identifi-car cada caso. Quando se trabalha com mais de uma variável, uma dependente e outra ou outras independentes, buscam-se explicações para as relações entre elas. Segundo Hans Zetterberg, as relações causais entre variáveis podem ser de cinco tipos, confor-me a seguir.

Relações causais entre variáveis

Reversível: se X, então Y; se Y, então X.

Exemplo: intenção de voto e prestar atenção na campanha de determinado candidato.

Irreversível: se X, então Y; se Y, nenhuma conclusão sobre X.

Exemplo: posição social e intenção de voto.

Determinista: se X, então sempre haverá Y. Essas relações são muito raras nas ciências sociais.

Exemplo: burocratização leva à oligarquização.

Probabilística: se X, então provavelmente Y.

Exemplo: dada certa idade, então as atitudes dos homens são mais conservadoras.

Sequencial: se X, então mais tarde ocorrerá Y.

Exemplo: influência do grupo de relações sociais e a direção do voto.

Coexistente: se X, também Y.

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

Exemplo: urbanização e industrialização.

Suficiente: se X, então Y, independentemente de qualquer outra coisa.

Exemplo: ter câncer é suficiente para morrer.

Contingente: se X, então Y apenas se houver Z. A relação contingente é mais comum nas ciências sociais.

Exemplo: em relação à direção do voto, a etnia do eleitor é dependente da classe social, isto é, o eleitor branco de classe social baixa tende a votar de maneira distinta do eleitor branco de classe social alta, o em valendo para eleitores de outras etnias.

Necessárias: se X e somente X, então Y.

Exemplo: crise de legitimidade e outros fatores que levaram aos processos de democratização nos anos 1980.

Substituíveis: se X, então Y, mas se Z, então também Y.

Exemplo: se um avião cair há morte, mas se houver câncer também há morte.

Além dos tipos de relações entre as variáveis, também é possível classificá-las, quanto à forma de interação, em simétricas (não envolvem causalidade e sim corre-lação: embora os fenômenos possam ser verificados no mesmo espaço e tempo, não necessariamente apresentam uma efetiva correspondência causal) e assimétricas (quando existe causalidade entre dois fatores).

Relações simétricas

Indicadores alternativos de um mesmo conceito.

Exemplo: aumento dos batimentos cardíacos, suor nas mãos e boca seca são indicadores alternativos de ansiedade.

Relações espúrias: há equívoco na avaliação.

Exemplo: relação entre cegonhas na Finlândia e número de nascimentos. Quando as cegonhas voltam do inverno, ocorre maior número de nasci-mentos, mas não há relação direta entre eles. Essas duas variáveis ocorrem juntas, mas uma não depende da outra.

Relação entre fatores interdependentes: dois fatores ocorrem juntos, como as diversas dimensões da burocracia, mas não apresentam necessariamen-te uma relação de causalidade entre si.

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Exemplo: presença de opinião sobre aborto e opção por um time de futebol: ser a favor ou contra o aborto é algo que não tem qualquer relação com o time de futebol de preferência de uma dada pessoa.

Partes de um sistema comum: os dois fatores fazem parte de um estilo de vida.

Exemplo: ser membro de um clube de campo e assistir a óperas.

Relações fortuitas e ocasionais: não há relação entre os dois fatores que acontecem no mesmo período.

Exemplo: surgimento do rock e a corrida espacial.

Relações recíprocas: há reversibilidade entre as variáveis – e isso envolve provas separadas.

Exemplo: interação social e simpatia.

Relações assimétricas

Relação entre estímulo e resposta.

Exemplo: assistir a um filme e adotar determinadas atitudes. Para provar essa relação, é preciso comparar as atitudes finais com as anteriores ao filme.

Relação entre disposições e respostas: tendência a reagir de certa maneira em certas circunstâncias.

Exemplo: liberalismo e voto.

Relação entre características e disposições (atitudes, idade e valores).

Exemplo: idade e conservadorismo.

Uma variável independente é precondição para dado efeito.

Exemplo: o desenvolvimento tecnológico e armamento nuclear, em que o desenvolvimento tecnológico é uma precondição necessária para haver ar-mamento nuclear.

Relação entre meios e fins, entre o fim que se quer atingir e o comporta-mento adotado para isso.

Exemplo: número de horas de estudo e obtenção de notas altas.

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

Para afirmar se existe causalidade entre variáveis, é preciso levar em conta alguns critérios teóricos. A simples observação da realidade não garante causalidade, como descrito anteriormente. Para tanto, precisa existir nexo entre o fator independente e o fator dependente em relação à teoria que se justifica na realidade. Cabe ao pesqui-sador, com base na teoria, eliminar a possibilidade das relações serem simétricas – em especial, o tipo espúrio. Do ponto de vista empírico, é preciso demonstrar que há regu-laridade ou correlação entre dois fatores. Assim, faz-se necessária uma relação a partir de sequência temporal, pois um fator só causa outro se ele vier antes e em contiguida-de temporal/espacial.

Para estabelecer no nível empírico a relação de causalidade entre duas variáveis, é preciso observar diferentes categorias ou valores da variável causal, estabelecendo a covariação1, a direção causal2 e a ausência de relação espúria entre elas. Uma causali-dade entre dois fatores só é provada quando se considera a variação da variável causal historicamente, ou seja, ao longo do tempo – por exemplo, tomando casos em que houve e em que não houve crise profunda para explicar a existência ou não de revolu-ções sociais e não apenas nos casos em que houve revoluções.

Recapitulando Discutimos as origens conceituais da teoria científica, diferenciando-a da pseudociência.

Apresentamos as limitações da ideia de que é ciência toda teoria que se sus-tenta com dados da realidade e apontamos a insuficiência dessa afirmação, visto que, mesmo sendo apoiados pela realidade, muitos legados científicos podem se transformar em dogmas: de fato, uma teoria científica progressiva é aquela que oferece formas novas de se buscar respostas para fenômenos sociais e está vinculada a um programa de pesquisa que a apoia.

Apontamos igualmente que a aplicação às teorias nas análises empíricas parte da formulação de uma hipótese teórica a ser averiguada na realidade, em um teste relacionando diferentes variáveis do fenômeno estudado, sendo que os dois principais tipos de variáveis são a dependente (aquela que se pretende analisar) e as independentes (que servem para explicar os fenômenos estuda-dos). Assim, antes de começar qualquer projeto de pesquisa, o cientista social

1 Covariação é o fenômeno identificado pela variação simultânea de duas características pesquisadas ou variáveis, podendo se dar na mesma direção, em sentido positivo, ou em direções opostas, com sinal negativo. Por exemplo, há uma covariação positiva entre peso e altura dos indivíduos: quanto mais altos, mais pesados eles tendem a ser. 2 Direção causal: fenômeno pelo qual a mudança de uma característica gera mudanças em outras variáveis. Como há um lapso temporal entre elas, é pos-sível identificar que a mudança anterior se torna responsável pela alteração seguinte, e por isso é chamada de direção causal ou causalidade. Por exemplo, a não vacinação de crianças recém-nascidas é causa do aumento da mortalidade infantil: a não vacinação antecede mortalidade, e por isso é possível indicar causalidade.

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precisa ter em mente os conceitos teóricos que pretende mobilizar em seu tra-balho. Em seguida, ele irá transformar esses conceitos em variáveis funcionais para a pesquisa empírica, testando as relações entre elas a partir da hipótese de trabalho. As conclusões da pesquisa serão o resultado dos testes entre va-riáveis a partir de conceitos teóricos.

Texto complementar

Ciência e pseudociência(LAKATOS, 2010)

O respeito do homem pelo conhecimento é uma das suas características mais peculiares. A palavra latina para conhecimento é scientia, e ciência tornou-se a desig-nação da mais respeitável forma de conhecimento. Mas o que distingue o conheci-mento da superstição, ideologia ou pseudociência? A Igreja Católica excomungou os copernicanos, o Partido Comunista perseguiu os mendelianos, com o fundamen-to de que as suas doutrinas eram pseudocientíficas. A demarcação entre ciência e pseudociência não é um mero problema de filosofia de salão: é de vital relevância social e política.

Muitos filósofos tentaram solucionar o problema da demarcação nos seguintes termos: uma afirmação constitui conhecimento se um número suficiente de pessoas acreditar nela com suficiente firmeza. Mas a história do pensamento mostra-nos que muitas pessoas aderiram totalmente a crenças absurdas. Se a força das crenças fosse o traço distintivo do conhecimento, teríamos de considerar como conhecimento al-gumas histórias de demônios, anjos, forças do mal, céu e inferno. Por outro lado, os cientistas são muito céticos, mesmo em relação às suas melhores teorias. A teoria de Newton é a mais poderosa que a ciência jamais produziu, mas o próprio Newton nunca acreditou que os corpos se atraem a distância. Portanto, não é o grau de adesão às crenças que as transforma em conhecimento. De fato, o traço distintivo do comporta-mento científico é um certo ceticismo mesmo em relação às teorias mais acalentadas. A adesão cega a uma teoria não é uma virtude intelectual – é um crime intelectual.

Assim, uma afirmação pode ser pseudocientífica mesmo que seja eminen-temente “plausível” e todos acreditem nela, e pode ser de grande valor científico mesmo que seja inverossímil e ninguém acredite nela. Uma teoria pode até ter um valor científico extremo mesmo que ninguém a compreenda ou, menos ainda, acre-dite nela.

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

O valor cognitivo de uma teoria nada tem a ver com a sua influência sobre a mente das pessoas. A crença, a adesão e a compreensão são estados da mente humana. Mas o valor científico e objetivo de uma teoria é independente da mente humana que a concebe ou compreende. O seu valor científico depende apenas do suporte objetivo que essas conjecturas encontram nos fatos. Como Hume disse: “Se pegarmos num qualquer volume de teologia ou metafísica escolástica, por exem-plo, perguntemos: contém algum raciocínio abstrato acerca da quantidade ou do número? Não. Contém algum raciocínio experimental relativo à questão de fato e existência? Não. Lançai-o às chamas, porque só pode conter sofisma e ilusão.”

Mas o que é o raciocínio “experimental”? Se passarmos os olhos pela vasta bi-bliografia do século XVII sobre feitiçaria, encontramo-la repleta de relatos de obser-vações cuidadosas e testemunhos prestados sob juramento – até mesmo de experi-ências. Glanvill, o filósofo oficial da Royal Society dos primeiros tempos, considerava a feitiçaria o paradigma do raciocínio experimental. Temos, pois, de definir raciocínio experimental, antes de começarmos a queimar os livros a que Hume se refere.

No raciocínio científico, as teorias são confrontadas com os fatos e uma das condições centrais do raciocínio científico é que as teorias devem ser sustentadas pelos fatos. Ora, como podem os fatos efetivamente sustentar as teorias?

Várias respostas diferentes têm sido apresentadas. O próprio Newton pensava comprovar as suas leis a partir dos fatos. Orgulhava-se de não formular meras hipó-teses; publicava apenas teorias comprovadas pelos fatos. Nomeadamente, garantia deduzir as suas leis dos “fenômenos” fornecidos por Kepler. Mas o seu alarde era des-propositado, uma vez que, de acordo com Kepler, os planetas se movem descreven-do elipses; de acordo com a teoria de Newton, porém, os planetas só se moveriam em elipse se não interferissem entre si no seu movimento. Mas interferem. Foi por esse motivo que Newton teve de criar uma teoria da perturbação, da qual se conclui que nenhum planeta se move em elipse.

Hoje, pode demonstrar-se facilmente que não se pode derivar uma lei da na-tureza de um qualquer número finito de fatos; mas continuamos a tomar conheci-mento de teorias científicas comprovadas a partir de fatos. Por que essa resistência obstinada à lógica elementar?

Há uma explicação plausível. Os cientistas querem tornar as suas teorias res-peitáveis, merecedoras do título de d ou seja, conhecimento genuíno. Ora, o conhe-cimento mais relevante no século XVII, quando nasceu a ciência, dizia respeito a Deus, ao Diabo, ao céu e ao inferno. Se alguém interpretasse mal as conjecturas sobre assuntos de teologia, a consequência do erro era a condenação eterna. O co-nhecimento teológico não pode ser falível: tem de estar para lá da dúvida. Ora, o iluminismo achava que éramos falíveis e ignorantes sobre questões de natureza te-

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ológica. Não há teologia científica e, portanto, não há conhecimento teológico. Só pode haver conhecimento sobre a natureza, mas essa nova forma de conhecimento tinha de ser ajuizada pelos padrões adotados diretamente da teologia: tinha de ser comprovada sem margem para a dúvida. A ciência tinha de alcançar a certeza plena que havia escapado à teologia. A um cientista digno desse nome não era permitido adivinhar: tinha de comprovar cada afirmação recorrendo aos fatos. Era esse o cri-tério de honestidade científica. As teorias que não fossem comprovadas pelos fatos eram consideradas pseudociência pecaminosa, heresia na comunidade científica.

Só a queda da teoria de Newton [no século XX] levou os cientistas a compreen-der que os seus padrões de honestidade tinham sido utópicos. Antes de Einstein, a maior parte dos cientistas pensava que Newton tinha decifrado as leis irrevogáveis de Deus, comprovando-as a partir dos fatos. Ampère, nos princípios do século XIX, sentiu-se obrigado a intitular assim o seu livro acerca das suas especulações sobre eletromagnetismo: A Teoria Matemática dos Fenômenos Eletrodinâmicos unicamente Deduzida da Experiência. Contudo, no final do volume, confessa casualmente que algumas das experiências nunca foram realizadas e até mesmo que os instrumentos necessários não chegaram a ser construídos.

Se todas as teorias científicas são igualmente não comprováveis, o que distin-gue o conhecimento científico da ignorância, a ciência da pseudociência?

Uma resposta para essa pergunta foi fornecida no século XX pelos “lógicos indu-tivos”. A lógica indutiva procurou definir as probabilidades de diferentes teorias relati-vamente à totalidade dos elementos probatórios. Se a probabilidade matemática de uma teoria for elevada, esta considera-se científica; se for baixa ou mesmo nula, a teoria não é científica. Assim, o traço distintivo da honestidade científica seria jamais enunciar algo que não fosse pelo menos altamente provável. O probabilismo tem uma faceta atraente: em lugar de fornecer uma distinção, preto no branco, entre ciência e pseu-dociência, fornece uma escala contínua, desde teorias pobres, com uma baixa proba-bilidade, até boas teorias, com um elevado grau de probabilidade. Mas, em 1934, Karl Popper, um dos mais influentes filósofos da nossa época, argumentou que a proba-bilidade matemática de qualquer teoria, científica ou pseudocientífica, seja qual for a quantidade de elementos probatórios, é zero. Se Popper estiver certo, as teorias cientí-ficas não só são igualmente não comprováveis como também são igualmente impro-váveis. Um novo critério de demarcação passou a ser necessário e Popper apresentou um bastante invulgar. Uma teoria pode ser científica mesmo que não haja os mínimos dados a seu favor, e pode ser pseudocientífica ainda que todos os dados disponíveis estejam a seu favor. Isto é, o caráter científico ou não científico de uma teoria pode ser determinado independentemente dos fatos. Uma teoria é “científica” se à partida se especificar uma experiência (ou observação) crucial que a possa falsificar, e é pseudo-científica se houver recusa em especificar esse “falsificador potencial”. Contudo, nesse

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

caso, não fazemos a demarcação entre teorias científicas e pseudocientíficas, mas antes entre método científico e não científico. O marxismo, para um popperiano, é cientí-fico se os marxistas estiverem preparados para especificar fatos que, se observados, os façam abandonar o marxismo. Se eles se recusarem a fazê-lo, o marxismo torna-se uma pseudociência. É sempre interessante perguntar a um marxista que acontecimen-to concebível o faria abandonar o marxismo. Se está comprometido com o marxismo, considera forçosamente imoral a especificação de um estado de coisas que o possa fal-sificar. Desse modo, uma proposição pode cristalizar-se em dogma pseudocientífico ou tornar-se conhecimento genuíno, tudo dependendo do fato de estarmos preparados para enunciar condições observáveis que a poderiam refutar.

Será, então, o critério de falsificabilidade de Popper a solução para o proble-ma da demarcação entre ciência e pseudociência? Não, visto o critério de Popper ignorar a notável obstinação das teorias científicas. Os cientistas não são muito in-fluenciáveis. Não abandonam uma teoria apenas porque os fatos a contradizem. Normalmente, inventam qualquer hipótese auxiliar para explicar o que chamam de mera anomalia ou, se não conseguem explicar a anomalia, ignoram-na e dirigem a sua atenção para outros problemas. É de notar que os cientistas falam de anomalias, casos rebeldes, e não de refutações. É claro que a história da ciência apresenta múlti-plos relatos de teorias alegadamente destruídas por experiências cruciais. Mas esses relatos são forjados muito depois de as teorias terem sido abandonadas. Se Popper tivesse alguma vez perguntado a um cientista newtoniano em que condições expe-rimentais ele abandonaria a teoria de Newton, alguns cientistas newtonianos teriam ficado tão desorientados como é o caso de alguns marxistas.

Qual é, então, o traço distintivo da ciência? Teremos de capitular e concordar que uma revolução científica é uma mudança irracional de adesão, que é uma con-versão religiosa? Tom Kuhn, um distinto filósofo da ciência americano, chegou a essa conclusão depois de descobrir a ingenuidade do falsificacionismo de Popper. Mas se Kuhn tem razão, então não há demarcação explícita entre ciência e pseudociên-cia, não há distinção entre progresso científico e decadência intelectual, não há um padrão objetivo de honestidade. Mas que critérios pode ele então apresentar para demarcar o progresso científico da degenerescência intelectual?

Nestes últimos anos, tenho vindo a advogar a metodologia dos programas de investigação científica, que resolve alguns dos problemas que, tanto Popper como Kuhn, não conseguiram solucionar.

Em primeiro lugar, defendo que a unidade descritiva típica das grandes realiza-ções científicas não é uma hipótese isolada, mas antes um programa de investigação. A ciência não é simplesmente ensaio e erro, uma série de conjecturas e refutações. A afirmação “todos os cisnes são brancos” pode ser falsificada pela descoberta de um

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cisne preto. Mas a trivialidade desse ensaio e erro não merece o estatuto de ciência. A ciência newtoniana, por exemplo, não é simplesmente um conjunto de quatro con-jecturas – as três leis da mecânica e a lei da gravitação. Essas quatro leis constituem apenas o “núcleo” do programa newtoniano. Mas esse núcleo é tenazmente defen-dido da refutação por uma vasta “cintura protetora” de hipóteses auxiliares. E, mais importante ainda, o programa de investigação tem também uma “heurística”, isto é, um poderoso mecanismo para solucionar problemas que, com a ajuda de técnicas matemáticas sofisticadas, digere anomalias e até as transforma em comprovações. Por exemplo, se um planeta não se move exatamente como deveria, o cientista newtonia-no verifica as suas conjecturas relativas à refração atmosférica, à propagação da luz em tempestades magnéticas, bem como centenas de outras conjecturas que pertencem ao programa. Pode mesmo inventar um planeta até então desconhecido e calcular a sua posição, massa e velocidade, a fim de explicar a anomalia.

Ora, a teoria da gravitação de Newton, a teoria da relatividade de Einstein, a mecânica quântica, o marxismo, o freudismo, são programas de investigação, cada qual com um núcleo característico tenazmente defendido, uma cintura protetora mais flexível e cada qual com o seu elaborado mecanismo de solucionar problemas. Todos eles, em qualquer estágio do seu desenvolvimento, apresentam problemas não resolvidos e anomalias não digeridas. Todas as teorias, nesse sentido, nasceram refutadas e morrem refutadas. Mas serão todas igualmente boas? Até agora, tenho vindo a descrever os programas de investigação científica. Mas como distinguir um programa científico de outro pseudocientífico ou degenerativo?

Contrariamente a Popper, a diferença não pode consistir no fato de uns terem já sido refutados e outros não. Quando Newton publicou os seus Principia, era do conhe-cimento geral que nem sequer o movimento da Lua ele conseguia explicar correta-mente; de fato, o movimento lunar refutava Newton. Kaufmann, um físico eminente, refutou a teoria da relatividade de Einstein no próprio ano em que foi publicada. Mas todos os programas de investigação que admiro têm uma característica em comum. Todos preveem fatos novos, fatos que os programas anteriores ou rivais não tinham sequer idealizado ou tinham até contradito. Em 1686, quando Newton publicou a sua teoria da gravitação, havia, por exemplo, duas teorias generalizadas relativamente a cometas. A mais popular considerava os cometas um sinal de um Deus irado, anun-ciando o seu castigo e a catástrofe. Uma teoria de Kepler, pouco divulgada, sustentava que os cometas eram corpos celestes que se moviam em linha reta. Ora, de acordo com a teoria newtoniana, alguns deles moviam-se descrevendo hipérboles ou parábolas sem retomo; outros se moviam descrevendo vulgares elipses. Halley, trabalhando no programa de Newton, calculou, a partir da observação de um breve trecho do trajeto de um cometa, que este regressaria volvidos 72 anos. Calculou com exatidão quando voltaria a ser avistado num ponto preciso do céu. Isso era inacreditável. Mas decorri-

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

dos 72 anos, quando Newton e Halley já tinham morrido há muito, o cometa de Halley voltou exatamente como ele tinha previsto. De forma idêntica, os cientistas newtonia-nos previram a existência e movimento exato de pequenos planetas que nunca tinham sido observados. Tomemos agora o programa de Einstein. Esse programa profetizou, de forma assombrosa, que, se se medir a distância entre duas estrelas durante a noite e se se medir essa distância durante o dia (quando elas são visíveis durante um eclipse do Sol), as duas medições serão diferentes. Nunca ninguém tinha pensado fazer tal obser-vação antes do programa de Einstein. Assim, num programa de investigação progressivo, a teoria conduz à descoberta de fatos novos (até então desconhecidos). Nos programas degenerativos, contudo, as teorias são arquitetadas meramente para enquadrar fatos co-nhecidos. Terá o marxismo, por exemplo, previsto alguma vez um fato assombrosamen-te novo, de forma bem-sucedida? Nunca! Soma algumas profecias célebres que foram malsucedidas. Previu o empobrecimento total da classe operária. Profetizou que a pri-meira revolução socialista teria lugar na sociedade industrialmente mais desenvolvida. Profetizou que as sociedades socialistas estariam livres de revoluções. Profetizou que não haverá conflito de interesses entre países socialistas. Assim, as primeiras previsões do marxismo foram ousadas e invulgares, mas falharam. Os marxistas explicaram todos os seus desaires: explicaram a elevação do nível de vida da classe trabalhadora inven-tando uma teoria do imperialismo; explicaram até por que a primeira revolução socia-lista ocorreu na Rússia industrialmente atrasada. “Explicaram” Berlim 1953, Budapeste 1956, Praga 1968. “Explicaram” o conflito sino-soviético. Mas as suas hipóteses auxiliares foram todas cozinhadas depois dos acontecimentos, para proteger dos fatos a teoria marxista. O programa newtoniano conduziu a fatos novos; o marxista não acompa-nhou os fatos e tem vindo a apressar o passo para os alcançar.

Em resumo, o traço distintivo do progresso empírico não é constituído por veri-ficações triviais. Popper tem razão ao afirmar que há milhões delas. O êxito da teoria newtoniana não consiste no fato de as pedras, quando largadas, caírem em direção à Terra, seja qual for o número de vezes que a operação se repita. Mas as ditas “re-futações” não são o traço distintivo do fracasso empírico, como Popper preconizou, uma vez que todos os programas se desenvolvem num oceano permanente de ano-malias. O que realmente conta são as previsões dramáticas, inesperadas, fantásticas: basta uma pequena dose delas para inclinar a balança; quando a teoria não acompa-nha os fatos, encontramo-nos face a programas de investigação degenerativos.

Ora, como é que acontecem as revoluções científicas? Se tivermos dois progra-mas de investigação rivais, um deles progressivo e o outro degenerativo, os cientis-tas tendem a aderir ao programa progressivo. Essa é a base racional das revoluções científicas. Mas apesar de não ocultar os dados não ser uma questão de honestidade intelectual, não é desonesta a atitude de quem se mantém fiel a um programa dege-nerativo e tenta transformá-lo num programa progressivo.

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A metodologia dos programas de investigação científica, em contraste com Popper, não oferece uma racionalidade imediata. É preciso tratar com brandura os programas em embrião: os programas podem levar décadas até darem os primeiros passos e se tornarem empiricamente progressivos. A crítica não é um golpe de mi-sericórdia popperiano, por refutação. A crítica importante é sempre construtiva: não há refutação sem uma teoria melhor. Kuhn está errado ao pensar que as revoluções científicas são mudanças de visão súbitas e irracionais. A história da ciência refuta tanto Popper como Kuhn: uma análise mais aprofundada revela como mitos tanto as experiências cruciais popperianas como as revoluções kuhnianas: o que geral-mente acontece é que os programas de investigação progressivos substituem os degenerativos.

O problema da demarcação entre ciência e pseudociência tem também graves implicações para a institucionalização da crítica. A teoria de Copérnico foi banida pela Igreja Católica em 1616, porque era tida como pseudocientífica. Foi retirada do Índex em 1820, porque nessa época a Igreja acreditava que os fatos a tinham com-provado e, por isso, ela tornou-se científica. O Comitê Central do Partido Comunista Soviético, em 1949, declarou a genética mendeliana pseudocientífica, conduzindo à morte em campos de concentração os seus defensores, como o acadêmico Vavilov: depois do assassínio de Vavilov, a genética mendeliana foi reabilitada; mas o direito do partido a decidir o que é ciência ou é publicável e o que é pseudociência ou é punível manteve-se. O novo sistema liberal do Ocidente também exerce o direito de negar a liberdade de expressão em relação ao que considera pseudociência, tal como pudemos verificar no caso do debate relativo às relações entre raça e inteli-gência. Todos estes juízos se basearam inevitavelmente num qualquer critério de demarcação. É por esse motivo que o problema da demarcação entre ciência e pseu-dociência não é um pseudoproblema de filósofos de salão: tem sérias implicações de ordem ética e política.

Atividades

O que significa o 1. cinturão de proteção proposto por Lakatos em 1989?

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

Defina o que são 2. variável dependente e variável independente na construção da pesquisa e as exemplifique.

Aponte a ordem em que devem aparecer os passos de um projeto de pesquisa 3. social e em que eles devem estar fundamentados.

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Dica de estudo

COKER, Rory. Como Distinguir Ciência de Pseudociência. Disponível em: <http://ateus.net/artigos/ceticismo/como-distinguir-ciencia-de-pseudociencia/>.

Gabarito

O objetivo do cinturão de proteção é evitar que o núcleo teórico sofra ataques 1. de outras vertentes teóricas e de pesquisa, evitado a vulnerabilidade a críticas justamente por não permitir que as críticas se aproximem desse núcleo. As-sim, a finalidade do cinturão é proteger a hipótese principal. No entanto, não se pode afirmar que o núcleo duro de teoria tenha caráter irrefutável.

A 2. variável dependente é aquela que precisa de uma explicação, fica “esperando” que outra variável a esclareça. Já a variável independente tem por função res-ponder à dependente, ou seja, a variável independente é a variável explicativa. Por exemplo, a variável independente etnia poderia explicar a dependente es-tatura considerando que os holandeses em geral são altos enquanto os japone-ses normalmente são baixos.

Em primeiro lugar, o cientista precisa ter em mente os conceitos teóricos que 3. o guiarão tanto na construção de hipóteses quanto na comprovação dessas pelos fatos, isto é, os dados da realidade, de modo a testar a teoria empirica-mente. Assim, o cientista disporá de variáveis, ou seja, indicadores representati-vos dos conceitos com os quais pretende trabalhar, e essas variáveis podem ter caráter dependente (buscando uma explicação) ou independente (oferecendo uma explicação). Portanto, uma pesquisa apresenta resultados da construção de suas variáveis a partir de conceitos, o que corrobora ou não as premissas/hipóteses utilizadas no início da investigação.

Referências

LAKATOS, Imre. La Metodologia de los Programas de Investigación Cientifica. Madri: Alianza Editorial, 1989.

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Ciência, pseudociência e variáveis empíricas

______. Ciência e Pseudociência. Disponível em: <http://ateus.net/artigos/ceticismo/ciencia-e-pseudociencia/>. Acesso em: 16 jul. 2010.

POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 1998.

ROSENBERG, Morris. A Lógica da Análise do Levantamento de Dados: São Paulo: Cultrix, 1980.

ZETTERBERG, Hans. Teoria y Verificación en Sociología. Buenos Aires: Nueva Visión, 1973.

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

Principais tipos de pesquisa A classificação dos diferentes tipos de pesquisa científica independe da vontade

do pesquisador, pois está relacionada diretamente com o objeto de análise e o volume de informações/trabalhos já produzidos a respeito desse objeto. Como o conhecimen-to científico é o resultado do avanço gradual de pesquisas separadas – as quais ganham força explicativa quando reunidas –, quanto maior a produção acadêmica sobre deter-minado assunto, maior a possibilidade de avanços interpretativos desse tema. Se não há produção sobre um assunto, ou se esse assunto é novo, antes de interpretá-lo em profundidade será preciso explorá-lo e descrevê-lo.

Como toda classificação é feita a partir de algum critério, o critério aqui adotado diz respeito aos objetivos gerais da pesquisa.

Vamos abordar inicialmente os três principais tipos de pesquisas científicas (ex-ploratória, descritiva e interpretativa) para mostrar suas características, aplicações e potencialidades explicativas.

Quadro 1 – Principais aspectos dos tipos de pesquisa

Tipo Objetivo Informações já existentes

Exploratória Primeira aproximação de um objeto de análise desconhecido e/ou novo. Volume pequeno ou inexistente.

Descritiva Observar, descrever, analisar o objeto sem inter-ferência do pesquisador.

Volume razoável, permitindo ao menos a delimitação do objeto.

Explicativa Explicar o fenômeno a partir de variáveis exter-nas, podendo-se até fazer predições.

Grande volume, permitindo cru-zamentos das variáveis.

Pesquisa exploratória A pesquisa de tipo exploratório é considerada a primeira abordagem científica a

respeito de determinado tema.

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Não vamos confundi-la com a fase ou etapa exploratória de qualquer projeto de pesquisa: em toda pesquisa científica há uma etapa exploratória em que se busca, a partir de pesquisa bibliográfica e documental, propiciar ao pesquisador maior proxi-midade em relação ao assunto a ser abordado em maior profundidade ao longo da pesquisa. Essa fase exploratória também ajuda a delimitar o tema e o objeto de estudo, podendo definir objetivos e até mesmo reformular hipóteses de trabalho. É na fase ex-ploratória que o pesquisador pode, inclusive, mudar o foco do estudo que inicialmente pretendia realizar. Se ele consegue aprimorar as ideias iniciais a respeito do tema, a fase exploratória da pesquisa cumpriu o seu papel.

Terminologia semelhante é usada para nomear um tipo específico de pesquisa científica: aquele aplicado a novos objetos de análise, sendo destinado a promover maior familiaridade com o objeto em questão. Ou seja, a pesquisa exploratória é apli-cada apenas a novos temas, ou é utilizada para a aplicação de novos instrumentos de pesquisa a temas já estudados anteriormente. Assim, esse tipo de pesquisa poderia ser definido como a abordagem que visa a proporcionar maior familiaridade com deter-minado tema ou objeto, tornando-o mais explícito para a academia. Considerado uma espécie de estudo preliminar ou preparatório para outro tipo de pesquisa, a pesquisa exploratória é importante por ajudar a delimitar o campo de análise a respeito de um tema sobre o qual ainda se tem pouco conhecimento.

Um exemplo de pesquisa exploratória é o estudo realizado no início do século passado acerca do efeito das então novas ferramentas publicitárias, que se utilizavam do rádio e do cinema como determinantes para os comportamentos sociais. Harold Lasswell (1902-1978) e outros pesquisadores da chamada Escola de Chicago fizeram os primeiros estudos acerca dos efeitos de determinadas campanhas publicitárias – não apenas comerciais mas também governamentais – sobre o que o público pensava a respeito dos assuntos tratados pelos meios de comunicação. Como eram novos esses meios de comunicação, sem nenhuma experiência social anterior, não era possível uma interpretação em profundidade antes de explorá-los como novos objetos de pesquisa. Com o passar das décadas e o aprofundamento das análises, já se podia não apenas descrevê-los como também interpretar seus efeitos sociais – com o que as abordagens iniciais, bastante deterministas sobre o papel dos meios de comunicação no compor-tamento das pessoas em sociedade, passaram a ser relativizadas.

Um exemplo atual de pesquisa exploratória em ciências sociais é a que trata do papel das redes sociais digitais na socialização dos jovens. A crescente importância dada aos perfis sociais na web, principalmente no caso de jovens que já começaram a se socializar para além das relações familiares usando computadores, pode gerar efeitos de longo prazo na identidade pessoal e nas formas de relações sociais em longo prazo. No entanto, como se trata de um fenômeno recente, as pesquisas atuais ainda se en-contram no estágio exploratório, visando a encontrar marcadores sociais que ajudarão nas descrições e interpretações futuras.

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

Pesquisa descritiva Este segundo tipo de pesquisa tem como objetivo observar, registrar, classificar

e analisar os fenômenos sociais quando não há necessidade de interferência direta ou manipulação dessa realidade por parte do pesquisador. Sua função principal é oferecer condições para a descrição de características dos fenômenos sociais ou de determina-das populações. E a pesquisa descritiva também estabelece relações entre caracterís-ticas distintas por meio da descrição de comportamentos. Diversos estudos podem ser classificados como descritivos, em especial os que usam técnicas padronizadas de coleta e análise de dados a partir de questionários, formulários ou observações siste-máticas da realidade.

Uma pesquisa descritiva pode ir além da simples identificação de relações entre variáveis, podendo determinar a natureza dessas relações a partir da análise de cova-riações – e esse é o passo inicial para outro tipo de pesquisa: a interpretativa.

De qualquer maneira, toda pesquisa descritiva precisa ter uma relação direta com um objeto empírico acerca do qual já existe alguma informação prévia. A pesquisa descritiva é muito usada para estudar determinadas características de grupos sociais já conhecidos e ganha riqueza explicativa quando relaciona determinadas características do grupo analisado, como idade, sexo, escolaridade, saúde física etc.

Um exemplo de pesquisa social descritiva é a que trata do comportamento dos indivíduos no ambiente de trabalho relacionando esse comportamento com aspectos tais como gênero ou etnia: descrever como se comportam colegas de trabalho em relação a funcionários brancos e negros nas mesmas funções é um tipo de estudo so-ciológico descritivo, assim como a área de pesquisa em gênero utiliza muito os estudos descritivos para tratar das desigualdades entre homens e mulheres na sociedade con-temporânea, seja nas relações familiares ou em ambiente de trabalho, por exemplo.

Apesar de não ter por objetivo central oferecer grandes interpretações para os fenômenos analisados, a pesquisa descritiva é fundamental para o avanço do conhe-cimento científico, pois é a partir dela que outras pesquisas poderão dar início a mais complexas interpretações dos fatos sociais. Assim, a pesquisa descritiva vem na se-quência da exploratória e antecede a explicativa.

Pesquisa explicativa Além de identificar, registrar e analisar os fenômenos estudados, a pesquisa expli-

cativa também os interpreta, buscando principalmente lhes dar novas explicações. Ela parte do princípio de que se podem identificar determinados fatores que contribuem para a ocorrência dos fenômenos estudados, buscando explicar as causalidades para

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os objetos pesquisados. Por explicar a razão e o porquê das coisas, é o mais profundo tipo de pesquisa científica. A pesquisa explicativa possibilita a intervenção direta do cientista, interferindo na realidade, fazendo experiências.

Um exemplo desse tipo de abordagem experimental nas ciências sociais se dá com estudos acerca da recepção de conteúdos e qual o seu efeito nas pessoas. Isso ocorre quando o pesquisador apresenta determinado assunto aos pesquisados e depois identifica as suas reações: se não fosse a ação do cientista, provavelmente aque-las pessoas não teriam acesso àquela informação e, por consequência, jamais teriam adotado determinado comportamento.

Para explicar a causalidade, o pesquisador precisa classificar as variáveis que utili-za em pelo menos três grandes tipos:

variável dependente – é a característica que se procura explicar;

variáveis independentes – são aquelas que explicam, são as causas diretas da ocorrência do fenômeno;

variáveis intervenientes – não têm efeito direto sobre a variável dependente, mas ajudam a explicá-la de maneira indireta.

Toda pesquisa explicativa visa a encontrar relações causais fortes entre uma ou al-gumas variáveis independentes e uma variável dependente, que é o comportamento a ser explicado. Nos casos em que se relaciona diretamente a variável dependente com as independentes, também se pode fazer predições, antecipar prováveis ocorrências/comportamentos caso haja alguma mudança na variável independente já estudada. A predição é, portanto, uma das eventuais consequências de estudos explicativos – porém, apenas para os casos em que seja constatada uma forte relação causal entre a variável dependente e as independentes.

Um exemplo de estudo explicativo é a busca de causas para a mortalidade infantil, visando a direcionar políticas públicas que reduzam suas taxas: para explicar a morta-lidade infantil, os pesquisadores usam uma série de variáveis independentes, como a educação formal dos pais, a nutrição da mãe, a inclusão em programas de vacinação de recém-nascidos, o atendimento por rede de esgoto e o fornecimento de água tratada para as famílias, a renda familiar e assim por diante. Quando encontra relações causais entre variáveis sociais, econômicas, de infraestrutura e de saúde, o cientista pode compa-rar o peso de cada conjunto de explicações para o fenômeno analisado e descobrir que, de todos os possíveis fatores para a redução da mortalidade infantil, o de maior peso é o tempo de aleitamento materno: quanto mais tempo de amamentação pela mãe, meno-res serão as taxas de mortalidade infantil. Assim, os governos poderiam propor políticas de incentivo ao aleitamento materno pelo menos nos seis primeiros meses de vida do bebê como forma de prevenção à mortalidade de crianças com até dois anos de vida.

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

Na verdade, essa pesquisa já foi realizada e os resultados comprovam que amamen-tação materna é um dos principais instrumentos de combate à mortalidade infantil.

A predição, nesse caso, seria factível se as pesquisas indicassem, aproximadamente, quanto haveria de redução na taxa de mortalidade infantil para cada mês a mais na média de aleitamento materno em um país. Para fins de investimento de recursos públicos, essa informação é fundamental, pois indicaria quanto seria revertido diretamente em redução das taxas de mortalidade para cada real investido em campanhas de conscientização.

Principais métodos científicosComo já sabemos, o que diferencia o conhecimento científico dos demais é o fato

de ele ser produzido a partir de um método compartilhado entre os cientistas. Por-tanto, é necessário identificar algumas técnicas que permitam caracterizar o método científico de produção do saber.

Segundo Gil (1999), método científico é um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento.

Outras autoras, como Lakatos e Marconi (2001), descrevem o desenvolvimento histórico do método relatando que a preocupação de descobrir e explicar a sua natu-reza existe desde os primórdios da humanidade.

Portanto, o método é fundamental para o desenvolvimento de qualquer pesquisa científica. Existem inúmeras técnicas relacionadas a métodos científicos de produção do saber. A escolha de quais delas devem ser usadas em determinado trabalho depen-de de algumas decisões que, tomadas pelo pesquisador, estão relacionadas aos recur-sos disponíveis para a realização do estudo, à abrangência da pesquisa e à natureza do objeto de análise.

Métodos de abordagem científica são responsáveis pelas bases lógicas dos proce-dimentos de investigação (TRUJILLO FERRARI, 1982) e estabelecem os procedimentos do processo da pesquisa. Cada um dos principais métodos de abordagem se vincula a uma corrente filosófica que pretende explicar como se processa o conhecimento a respeito da realidade:

indutivo, ligado ao empirismo;

hipotético, considerado neopositivista;

dedutivo, ligado ao racionalismo;

dialético, ligado ao materialismo dialético;

fenomenológico, ligado à fenomenologia.

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Método indutivoProposto por empiristas modernos como Francis Bacon (1561-1626), Tomas Hobbes

(1588-1679) e John Locke (1632-1704), parte do princípio de que a experiência empíri-ca antecede o conhecimento humano. O que mais importa é o conjunto de conceitos racionalizados que leva em conta a experimentação na realidade. Todo conhecimento nasce de uma experiência e, portanto, deve desconsiderar conceitos preestabelecidos. A generalização depende da observação de casos da realidade, isto é, os casos particulares permitem as generalizações. Para Hegenberg (1976), a indução é caracterizada pelo fato de que algo é verdade relativamente a um número de elementos de dada categoria – o que permite concluir que a afirmação será verdadeira em relação a elementos desco-nhecidos da mesma categoria. Quando a conclusão é aplicada a um número ilimitado de elementos de dada categoria, então a indução permite generalizações. Em resumo, para o método indutivo a observação de fatos particulares da realidade vem em primeiro lugar e só depois se estabelecem as hipóteses a serem confirmadas.

Método hipotético Apresentado por Karl Popper em seu livro A Lógica da Pesquisa Científica (2008), o

método hipotético consiste na inversão da abordagem indutiva, em um percurso do pro-blema lógico (a questão que se forma na mente do pesquisador) para o objeto empírico (a realidade). Assim, a pesquisa científica seria o resultado de questões levantadas pelos pesquisadores antes mesmo de se acessar a realidade e as características do fenômeno que se pretende pesquisar. O ponto de partida é a apresentação de um problema de pes-quisa, e esse problema é a questão ou pergunta que “incomoda” o cientista. Para tentar responder a essa pergunta, o pesquisador estabelece afirmações provisórias, que são as hipóteses. Uma vez formuladas as hipóteses, delas são deduzidas consequências na rea-lidade, as quais deverão ser testadas e/ou falseadas. No sentido dado por Popper, falsear significa identificar as limitações de determinada afirmação teórica depois de testá-la na realidade. Assim, o objetivo do método hipotético é tentar derrubar, desmentir (e não confirmar) uma afirmação inicial. O método hipotético começa sempre com a percepção de que existe uma lacuna no conhecimento sobre determinado assunto, formulando hipóteses que posteriormente serão testadas na realidade. Portanto, aqui o acesso à rea-lidade é fundamental para o avanço no conhecimento científico.

Método dedutivo Para o método dedutivo, apenas a razão humana é capaz de produzir verdadeiro

conhecimento. Proposta pelos chamados racionalistas – René Descartes (1596-1650) e Baruch Spinoza (1632-1677) –, parte do pressuposto de que o raciocínio dedutivo conse-

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

gue explicar todas as premissas envolvidas em determinada indagação. O conhecimen-to surge principalmente a partir de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, analisando do geral para o específico até chegar a uma conclusão a respeito do objeto pesquisado. A partir da ideia de construção lógica, usa de duas premissas para chegar a uma terceira, que seria uma decorrência lógica da relação entre as anteriores. A essa terceira premissa os dedutivistas chamam de conclusão (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1996). Por exemplo: se A é maior B e C é maior que A, logo, C é maior que B. O método dedutivo dispensa a realidade, pois para ele tudo se resolve no plano racional.

Método dialético Também conhecido como dialética hegeliana, este método é fundamentado em

propostas feitas por Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) na tentativa de reunir o empirismo ao racionalismo. Partindo do fato de que as contradições são as princi-pais responsáveis pela busca de novas soluções, seu método defende que o embate entre ideias ou entre as ideias e seus representantes na realidade (elementos do mundo empírico que apresentam alguma relação com os conceitos e ideias) é o principal res-ponsável pelo avanço da ciência. Hegel defendia que a interpretação científica deve ser dinâmica e totalizante em relação à realidade (para o que precisa dar conta de todos os elementos representativos da realidade analisada), não sendo possível considerar os fatos fora de seu contexto sociopolítico e econômico. Assim, esse filósofo apresenta uma das primeiras defesas concretas da necessidade de se ampliar a relação entre objeto e pesquisador, que se torna a relação entre objeto, pesquisador e contexto. Ele aplica o conceito de dialética de forma equivalente a uma argumentação que distingue todos os conceitos envolvidos na discussão para a produção do conhecimento científico. O método dialético procura apresentar uma visão racional e totalizante da realidade.

Método fenomenológico Este último tipo é uma variação dos métodos dedutivo e indutivo. Conforme

apresentado por Husserl, o método fenomenológico está preocupado principalmente com a descrição dos resultados da experiência na realidade, tal como ela se deu. As ideias como ponto de partida (dedutivo) ou o resultado da relação entre ideias e fatos (indutivo) são menos importantes que o conhecimento extraído da experiência em si. A realidade empírica passa a ser entendida como aquilo que deve ser compreendido e interpretado – ou seja, aquilo que precisa ser comunicado no resultado da pesquisa: as conclusões (TRIVIÑOS, 1996). Assim, não existe uma única realidade, mas sim o equiva-lente ao número de indivíduos que forem capazes de experimentar a realidade. Neste método o sujeito ganha relevância na produção do conhecimento, a ele cabendo, em última instância, dar sentido à realidade. Mais que uma construção racional, o que se propõe é uma apreensão subjetiva da realidade.

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Procedimentos científicos Além dos métodos, o pesquisador também precisa conhecer os procedimentos

científicos que são adotados na etapa propriamente empírica da pesquisa, no momen-to em que o projeto de pesquisa chega à realidade. Conforme definido por metodólo-gos, os procedimentos científicos são as etapas mais concretas de uma pesquisa e têm a finalidade de explicar concretamente os fenômenos analisados. Para tanto, neces-sita-se de uma limitação do objeto de estudo, pois nem todos os procedimentos são adequados para qualquer objeto de análise. Gil (1999) afirma que os métodos ajudam a esclarecer os procedimentos técnicos a serem usados de maneira adequada para garantir a necessária objetividade dos estudos nas ciências sociais. Assim, o método é entendido como uma forma de organizar o acesso à realidade pesquisada, enquan-to os procedimentos são ferramentas para acessar empiricamente esse objeto. Assim, vamos apresentar agora alguns dos principais procedimentos utilizados em pesquisas na área das ciências sociais.

Procedimentos históricos Nos procedimentos históricos predomina a abordagem das origens dos fatos

contemporâneos, partindo da análise de conhecimentos, processos e instituições do passado. Muitas questões da atualidade podem ser compreendidas a partir de uma perspectiva histórica, analítica e evolutiva. Aqui, portanto, os procedimentos desti-nam-se a permitir uma comparação ao longo do tempo para traçar perspectivas para o presente e/ou futuro.

Estudo de caso Também conhecido como método monográfico (GIL, 1999), o estudo de caso

permite entender determinados fatos da realidade verificando casos isolados ou em pequenos grupos. A justificativa aqui é que o estudo aprofundado de casos isolados pode ser representativo de muitos outros fenômenos semelhantes. O objeto de aná-lise de um estudo de caso pode ser indivíduos, grupos, comunidades ou até mesmo instituições. Em virtude da limitação de sua abrangência, um bom estudo de caso pre-cisa ser profundo e exaustivo, sendo aplicado a apenas um ou a poucos objetos para permitir uma investigação detalhada. Apesar da aparência, não é simples, pois exige do pesquisador uma específica capacitação para verticalizar a análise, minimizando as dificuldades da generalização.

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

Procedimentos comparativos Nos procedimentos comparativos já não predomina a análise aprofundada de um

ou poucos objetos de análise, e sim, a verificação compartilhada de dois indivíduos ou comunidades com características distintas. Portanto, trata-se da investigação de indiví-duos, classes, fenômenos ou fatos para ressaltar diferenças e similaridades entre eles. Nas ciências sociais, o uso dos procedimentos comparativos possibilita, ao se buscarem seme-lhanças ou diferenças, a análise de grupamentos separados por espaço ou tempo, visando a estabelecer leis e buscando correlações entre vários grupos e fenômenos sociais.

Pesquisa bibliográfica Se a revisão bibliográfica é uma etapa de todo projeto de pesquisa científica, é pos-

sível por outro lado, para além da necessária revisão da literatura, utilizá-la como princi-pal instrumento de acesso à realidade. Neste caso, a realidade a ser pesquisada é a biblio-grafia já produzida sobre o assunto. Assim, um problema ou tema de pesquisa é tratado a partir daquilo que já foi publicado na literatura ou na forma de documentos. Seu obje-tivo é recolher informações sobre a questão pesquisada, buscando respostas à hipótese levantada pelo pesquisador. As respostas estarão na literatura e não mais na realidade tratada pelos autores dos textos. Esse tipo de procedimento inclui toda bibliografia já tornada pública: além de livros e periódicos, publicações avulsas, boletins, jornais, revis-tas jornalísticas, monografias, teses, conteúdos de meios de comunicação de massa etc.

Procedimentos experimentais São caracterizados pela manipulação direta das variáveis pesquisadas pelo cien-

tista social: alterando artificialmente a realidade, essa manipulação gera condições para a verificação das relações entre causas e efeitos em determinados fenômenos. Assim, o pesquisador interfere na realidade para testar diferentes efeitos na variável dependente a partir de alterações estimuladas nas variáveis independentes. Por modi-ficar a realidade, esse tipo de procedimento depende de que o problema de pesquisa seja colocado de maneira clara e objetiva desde o início, ou os experimentos realizados podem não ter efeitos por erro de especificação e não por falta de relação entre as variáveis testadas. As conclusões passam a ser os resultados dos experimentos rea-lizados. Uma das críticas mais recorrentes a esse procedimento é o fato de ele isolar algumas variáveis da realidade para manipulá-las, sendo possível que, em contextos reais, quando se considera a conjuntura, a relação entre aqueles elementos não seja a mesma que durante a experimentação.

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Procedimentos estatísticos Aqui, o procedimento predominante na pesquisa depende da aplicação de con-

ceitos estatísticos, principalmente a teoria da probabilidade, para explicar as relações entre diferentes variáveis e os fenômenos sociais como um todo. Ou seja, em parte, este tipo de procedimento ancora-se na teoria matemática para provar as ocorrências e relações entre determinados fenômenos da realidade.

Porém, é preciso tomar alguns cuidados com a utilização dos procedimentos estatísticos.

O primeiro deles é ter presente que sozinhos os números não são capazes de in-terpretar a realidade social: eles servem de ponto de partida, mas quem analisa os resultados e dá sentido às expressões estatísticas é o pesquisador.

O segundo cuidado é ter presente que as explicações obtidas por esse método não podem ser consideradas absolutamente verdadeiras: o que existe é uma probabi-lidade de certa ocorrência (GIL, 1999).

Esse tipo de procedimento é bastante útil na quantificação de variáveis e caracte-rísticas dos objetos pesquisados, também sendo utilizado quando se torna impossível aprofundar explicações não padronizadas em função da variedade e da complexidade dos fenômenos sociais estudados.

Recapitulando Estudamos três elementos importantes que antecedem a construção de um pro-

jeto de pesquisa propriamente dito.

Vimos os tipos de pesquisa, que são definidos em função de dois fatores princi-pais: objetivos e volume de informações já existentes sobre o tema.

Descrevemos os principais métodos de pesquisa científica. Conhecer os métodos antes de formular um projeto de pesquisa é importante porque ajuda a delimitar a forma de acesso ao objeto empírico.

Por fim, de forma mais prática, estudamos os principais procedimentos científicos adotados em trabalhos na área das ciências sociais. Tais procedimentos devem ser en-tendidos como ferramentas a serem utilizadas na pesquisa empírica.

Não foi nosso objetivo tratar de maneira exaustiva cada um desses tópicos, pois sabemos que existem outras tipologias de pesquisa, um número grande de métodos e procedimentos científicos. Porém, sabemos que a partir do exposto até aqui será possível que se comece a pensar um projeto de pesquisa específico para a graduação na área das ciências sociais.

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

Texto complementar

Pesquisa científica: o que é e como se faz(FONTE, 2010)

A pesquisa científica objetiva fundamentalmente contribuir para a evolução do conhecimento humano em todos os setores, sendo sistematicamente planejada e executada segundo rigorosos critérios de processamento das informações. Será chamada pesquisa científica se sua realização for objeto de investigação planejada, desenvolvida e redigida conforme normas metodológicas consagradas pela ciência. Os trabalhos de graduação e de pós-graduação, para serem considerados pesquisas científicas, devem produzir ciência, ou dela derivar, ou acompanhar seu modelo de tratamento.

[...]

As pesquisas podem ser classificadas segundo diversos critérios, como por exemplo:

Quanto à natureza

Não se fundamenta nos métodos adotados, mas sim nas finalidades da pesquisa.

Trabalho científico original: pesquisa realizada pela primeira vez, que venha a contribuir com novas conquistas e descobertas para a evolução do conhecimento científico.

Resumo de assunto: pesquisa que dispensa originalidade mas não o rigor científico. Fundamenta-se em trabalhos mais avançados, publicados por au-toridades no assunto e que não se limita à simples cópia de ideias. A análise e interpretação dos fatos e ideias, a utilização de metodologia adequada, bem como o enfoque do tema de um ponto de vista original são qualidades necessárias. É mais comum nos cursos de graduação.

Quanto aos objetivos

Pesquisa exploratória: constitui o primeiro passo de todo trabalho cien-tífico. Visa, sobretudo quando é bibliográfica, proporcionar maiores infor-

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mações sobre determinado assunto, facilitar a delimitação de um tema de trabalho, definir objetivos ou formular as hipóteses de uma pesquisa ou descobrir novo tipo de enfoque para o trabalho que se tem em mente.

Pesquisa descritiva: os fatos são observados, registrados, analisados, clas-sificados e interpretados sem que o pesquisador interfira neles. Incluem-se aqui a maioria das pesquisas desenvolvidas nas Ciências Humanas e Sociais, as pesquisas de opinião, as mercadológicas, os levantamentos socioeconô-micos e psicossociais.

Pesquisa explicativa: mais complexa pois, além de registrar, analisar e in-terpretar os fenômenos estudados, procura identificar seus fatores deter-minantes, ou seja, suas causas. A maioria destas pesquisas utiliza o método experimental, o qual é caracterizado pela manipulação e controle das vari-áveis, com o objetivo de identificar qual a variável independente que deter-mina a causa da variável dependente ou do fenômeno em estudo.

Quanto ao objeto

Referente principalmente ao ambiente onde são realizadas as pesquisas.

Bibliográfica: pode ser um trabalho independente ou uma etapa inicial de uma pesquisa.

De laboratório: o pesquisador tem condições de provocar, produzir e re-produzir fenômenos, em condições de controle. Não é sinônimo de pesqui-sa experimental; nas Ciências Humanas e Sociais também se faz este tipo de pesquisa.

De campo: não tem como objetivo produzir ou reproduzir os fenômenos estudados. A coleta de dados é efetuada em campo, onde ocorrem espon-taneamente os fenômenos. É desenvolvida principalmente nas Ciências So-ciais (Sociologia, Psicologia, Política, Economia, Antropologia).

Quanto aos procedimentos técnicos

Pesquisa bibliográfica: é aquela que utiliza material escrito/gravado, me-cânica ou eletronicamente. São consideradas fontes bibliográficas os livros (de leitura corrente ou de referência, tais como dicionários, enciclopédias, anuários etc.), as publicações periódicas (jornais, revistas, panfletos etc.), fitas gravadas de áudio e vídeo, páginas de web sites, relatórios de simpó-sios/seminários, anais de congressos etc.

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

Pesquisa documental: utiliza fontes de informação que ainda não recebe-ram organização, tratamento analítico e publicação, como tabelas estatís-ticas, relatórios de empresas, documentos arquivados em repartições pú-blicas, associações, igrejas, hospitais, sindicatos, fotografias, epitáfios, obras originais de qualquer natureza, correspondência pessoal ou comercial etc.

Pesquisa experimental: quando um fato ou fenômeno da realidade é reproduzido de forma controlada, com o objetivo de descobrir os fatores que o produzem ou que por ele são produzidos. São geralmente feitos por amostragem, onde se considera que os resultados válidos para uma amos-tra (ou conjunto de amostras) serão, por indução, válidos também para o universo.

Pesquisa ex post facto: significa literalmente “a partir de depois do fato”. Trata-se de uma pesquisa experimental onde, após o fato ou fenômeno ter ocorrido, tenta-se explicá-lo ou entendê-lo.

Levantamento (pesquisa de opinião, de motivação etc.): é aquela que busca informação diretamente com um grupo de interesse a respeito dos dados que se deseja obter, utilizando questionários, formulários ou entre-vistas. Os dados são tabulados e analisados estatisticamente.

Estudo de caso: quando se deseja estudar com profundidade os diversos aspectos característicos de um determinado objeto de pesquisa restrito.

Pesquisa-ação: quando os pesquisadores e os participantes envolvem-se no trabalho de pesquisa de modo participativo ou cooperativo, interagindo em função de um resultado esperado.

Pesquisa (observação) participante: ocorre por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para se obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos.

Antes de se iniciar uma pesquisa científica, é necessário refletir sobre a mesma. Assim como para construir um edifício é necessário antes de fazer a planta, ima-ginar o tamanho, o número de andares etc. e então planejar e construir os alicer-ces, de acordo com o tipo de edificação, é imprescindível que antes da pesquisa se elabore um plano, se imagine a abordagem, os tópicos que serão focalizados, como se pretende conduzir o trabalho etc. Assim, o trabalho de pesquisa é desen-volvido por etapas, que se constituem num método, num caminho facilitador do processo, buscando mapear o caminho, evitar muitos imprevistos e esclarecer os rumos para o próprio pesquisador. Recomenda-se que a pesquisa siga o seguinte encadenamento:

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planejamento da pesquisa: pré-projeto e projeto;

execução: coleta de dados, análise e redação;

apresentação gráfica: digitação.

Pré-projeto

Denominada por alguns autores de fase exploratória do projeto de pesquisa, é a primeira atividade de planejamento, constituindo-se, sem dúvida, num dos mo-mentos mais importantes. Pode ser dividida em cinco passos básicos.

Escolha do tema: podem ser utilizados alguns critérios para ajudar na es-colha do tema, como originalidade (mesmo que o trabalho não seja original deve apresentar alguma novidade, novo enfoque, novos argumentos ou pontos de vista), relevância (importância ou utilidade), viabilidade (econô-mica e de tempo), preparo técnico e existência de fontes.

Revisão de literatura: embora ao se escolher um dado tema já seja conhe-cido algo sobre o mesmo, a releitura exploratória tem o mérito de aumentar a extensão e a profundidade dos conhecimentos [...], ajudando a distinguir o secundário do essencial e facilitando a delimitação do conteúdo dos temas a investigar.

Problematização: transformação de uma necessidade humana em proble-ma. O pesquisador deve ter ideia clara do problema que pretende resol-ver, da dúvida a ser superada, caso contrário sua pesquisa correrá o risco da prolixidade, da falta de direção, da ausência de algo para se resolver. Se o problema é estabelecido de forma clara, ele desencadeará a formulação da hipótese geral, que será comprovada no desenvolvimento do texto. Ao optar por uma solução que deseja demonstrar (ou seja, a hipótese, nascida do problema apontado), tem-se uma tese.

Seleção/delimitação do assunto: deve-se escolher o “pedaço” do pro-blema que se quer ou se precisa estudar para estudá-lo em profundidade. Mesmo que todos os aspectos sejam considerados importantes, devem ser tratados um por vez e, ao escolher um deles, abandonam-se ou outros. É uma imposição do método.

Construção da(s) hipótese(s): é uma solução provisória que se propõe para o problema formulado. Sendo uma suposição que carece de confirma-ção, pode ser formulada tanto na [maneira] afirmativa quanto na interroga-tiva. Não há uma norma ou regra fixa para a formulação de hipóteses, mas

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

devem ser baseadas no conhecimento do assunto e na literatura específica que foi levantada: lança-se uma afirmação a respeito do desconhecido com base no que se construiu e publicou sobre o tema. A formulação clara das hipóteses orienta o desenvolvimento da pesquisa. As hipóteses devem ser razoáveis e verificáveis. Em pesquisas exploratórias e descritivas não há ne-cessidade de apresentar as hipóteses.

Projeto

O planejamento da pesquisa científica se completa com a montagem do proje-to de pesquisa, que traça o caminho intelectual inicial de todo o processo posterior. A coleta de dados e a redação final do trabalho são planejadas aqui. São sugeridos como indispensáveis (devendo estar absolutamente claros para o pesquisador) o planejamento de sete itens.

Tema específico: é criado a partir da hipótese. O tema específico será o título do futuro texto escrito.

Objetivos (geral e específicos): é a espinha dorsal do projeto de pesquisa. Não é o que o pesquisador vai fazer (isso se prevê nos procedimentos), mas o que ele pretende conseguir como resultado intelectual final de sua in-vestigação. São eles que delimitam e dirigem os raciocínios a serem desen-volvidos. O objetivo geral será subdividido em tantos objetivos específicos quantos necessários para o estudo e solução satisfatória do problema con-tido no objetivo geral. Cada um dos objetivos específicos será uma parte distinta da futura redação (um capítulo, um segmento). O enunciado dos objetivos deve iniciar sempre por um verbo no infinitivo: estudar, analisar, questionar, comparar, introduzir, elucidar, explicar, contrastar, discutir, apre-sentar etc.

Justificativa: consiste em apresentar motivos bons o bastante para o desen-volvimento da pesquisa. O que se pretende é que o leitor adquira convicção semelhante à do pesquisador: o tema é relevante e abrangente o bastante para merecer uma investigação científica. Um tema pode ter importância social, científica ou acadêmica. O desenvolvimento dele pode trazer bene-fício direto para a sociedade em geral, ou para um grupo social específico, ao resolver ou encaminhar a solução para a necessidade ali instalada. Pode também beneficiar de imediato uma ciência contribuindo com informações para o avanço de determinado estudo científico. Pode ainda beneficiar o processo acadêmico, facilitando ou inovando o ensino-aprendizagem de um assunto.

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Recursos/material: consiste na descrição quantitativa de tudo aquilo que se pretende utilizar no desenvolvimento do trabalho. Planejar os recursos é assegurar, com o maior detalhamento possível, a suficiência inicial dos itens necessários para a aquisição das informações desejadas.

Procedimentos/metodologia: são as atividades práticas necessárias para a aquisição dos dados com os quais serão desenvolvidos os raciocínios (pre-vistos nos objetivos específicos), que resultarão em cada parte do trabalho final. Assim, planeja-se aqui, de forma concreta, a coleta de dados, que se iniciará ao final do projeto. A descrição dos procedimentos pode também ser enriquecida por detalhes práticos. Detalha-se o universo, a amostra, o tipo de tratamento que as informações receberão, descrevem-se os instru-mentos de coleta, a margem de acuidade prevista etc.

Cronograma: consiste em relacionar as atividades ao tempo disponível, ou seja, planejar o tempo em função das atividades previstas para a conclusão do trabalho proposto.

Orçamento: quando este item for necessário, devem ser especificados os recursos humanos e materiais indispensáveis para a realização do projeto, com uma estimativa dos custos.

Atividades

Explique dois métodos científicos que ocorrem de maneira inversa.1.

Explique a razão de o procedimento de pesquisa bibliográfica ser considerado 2. um tipo de pesquisa científica.

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

Como se dá uma pesquisa fundamentada pelo procedimento experimental?3.

Dica de estudo

TIPOS DE PESQUISA considerando os procedimentos utilizados. Disponível em: <www.ergonomia.ufpr.br/Tipos%20de%20Pesquisa.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2010.

Gabarito

O método hipotético é o inverso do método indutivo, que parte da observação 1. de fatos pontuais para posterior criação de hipóteses, e só então os testes serão aplicados. O método hipotético faz o caminho contrário, partindo de hipóteses já elaboradas para depois se deparar com a realidade, e só nesse momento per-mitindo a concretização ou falseação da hipótese.

Tal procedimento é tido como uma forma de se fazer pesquisa científica pelo fato 2. de apresentar fundamentação nos estudos e conceitos já produzidos e comparti-lhados pelos pesquisadores, condição básica para ser considerado de caráter cien-tífico. Dessa forma, a bibliografia citada no estudo remeteria à própria realidade.

O procedimento experimental procura uma relação de causa e efeito entre a 3. variável dependente (aquela que busca uma explicação) e a variável indepen-dente (aquela que busca explicar a dependente), podendo sofrer ação da va-

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riável interveniente (variável de ação indireta sobre as outras duas, mas que possui efeito modificador). O processo, no entanto, não pode ser estabelecido por meio de conceitos estatísticos, mas sim pela aplicação do pensamento ló-gico para experimentos.

Referências

FONTE, Nilce Nazareno da. Pesquisa Científica: o que é e como se faz. Disponível em: <http://people.ufpr.br/~nilce/metodolog.%20pesquisa%20cientifica.doc>. Acesso em: 20 jul. 2010.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999.

HEGENBERG, Leônidas. Etapas da Investigação Científica. São Paulo: EPU/Edusp, 1976.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1996.

______. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 2001.

LAKATOS, Imre. La Metodologia de los Programas de Investigación Cientifica. Madri: Alianza Editorial, 1989.

POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 1998.

ROSENBERG. A Lógica da Análise do Levantamento de Dados. São Paulo: Cultrix, 1980.

TIPOS DE PESQUISA considerando os procedimentos utilizados. Disponível em: <www.ergonomia.ufpr.br/Tipos%20de%20Pesquisa.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2010.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pes-quisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1996.

TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da Pesquisa Científica. São Paulo: McGraw- -Hill, 1982.

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Tipos de pesquisas e abordagens científicas

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Unidade e diversidade no método da pesquisa social

A produção de conhecimento científico Cientistas sociais produzem representações de fatos relevantes da vida social,

mas não são os únicos a fazer isso. Assim como eles, profissionais de outras áreas (por exemplo, jornalistas ou literatos) também estudam e produzem representações sobre a existência social. De várias maneiras, ou com múltiplas técnicas, pesquisadores das mais diversas áreas reconstroem eventos históricos importantes, identificam padrões de comportamento, mapeiam formas de organização do cotidiano social.

O que, então, distinguiria o trabalho do cientista social frente a uma reportagem, um filme documentário ou um romance? Uma resposta interessante a essa pergunta é dada por Charles Ragin em Constructing Social Research (1994).

Ragin descarta as teses correntes sobre a metodologia da pesquisa científica se-gundo as quais, frente às demais representações da sociedade, a pesquisa social tem uma matriz própria, ou utiliza uma linguagem especial ou mesmo uma metodologia científica específica. Os argumentos do autor têm a função de demonstrar que essas explicações não se sustentam na prática, pois outras esferas da representação social utilizam métodos e matrizes muito próximas da fórmula de representação científica. O conhecimento científico é apenas um tipo específico de saber, não sendo melhor nem pior que qualquer outra forma de conhecimento. Então, onde está a diferença?

Assim como o cientista, o jornalista coleta, organiza, analisa e reporta dados so-ciais, e portanto faz ciência social – sem ser considerado um cientista social, já que não estabelece um projeto de pesquisa para cada nova reportagem do seu cotidiano. Os jornalistas também podem examinar covariações entre as variáveis independentes e a dependente e, se no método de pesquisa científica há formulação e testes de hipóte-ses com a análise dos dados que confirmam ou refutam as hipóteses iniciais, o mesmo pode acontecer na apuração jornalística1.

1 Apuração jornalística: processo de produção de notícias pelos jornalistas, incluindo acesso às informações na realidade e sua transformação em textos informativos.

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Até mesmo a imparcialidade, tida como um dos diferenciais da pesquisa científica em relação às demais formas de representação social, pode ser questionada: Charles Ragin e Mary Driscoll afirmam que “toda estratégia é necessariamente parcial e im-perfeita, por isso, sempre sujeita a críticas” (RAGIN; DRISCOLL, 1994, p. 159, tradução nossa) – inclusive a estratégia ou pesquisa científica. Sendo verdadeiro que, apesar da potencial tentativa de imparcialidade, toda representação da realidade apresenta um viés devido à intencionalidade inerente ao sistema de comunicação, as representações que surgem das pesquisas sociais também podem ter essa característica, pois nascem de uma estratégia adotada por um pesquisador, o qual também pode ser parcial na sua aproximação em relação ao objeto de análise ou até mesmo na escolha das abor-dagens e metodologias que serão utilizadas no decorrer do estudo.

Nesse sentido, a pesquisa científica está mais próxima do jornalismo que da pro-dução literária, pois nesta última o autor vai além dos fatos e evidências sociais, en-quanto se espera que cientistas e jornalistas se restrinjam aos fatos. Tanto que o pes-quisador que cria ficção social, imaginando elementos que não existem na realidade para sustentar suas afirmações, é considerado desonesto e antiético. Assim como o jornalista, o cientista faz ligações entre os dados da realidade dos quais dispõe.

A particularidade e as metas da pesquisa social O que diferencia a pesquisa social do jornalismo ou de outras formas de produ-

ção de conhecimento é basicamente o público que cada uma dessas áreas de repre-sentação da sociedade pretende atingir. Enquanto o jornalista consegue divulgar seu trabalho para grandes públicos, o cientista social escreve principalmente para outros cientistas sociais – o que não significa que os resultados de sua pesquisa não possam ter divulgação ampla. Pelo contrário, a comunicação de resultados ou descobertas de pesquisas científicas em jornalísticos/informativos da mídia é mais um elemento com-probatório de que tanto o jornalismo como a pesquisa social têm por objetivo criar e divulgar representações sociais.

Mas se o jornalismo se dirige ao grande público e tem dificuldade para apre-sentar o método utilizado para produzir determinada representação científica, todo pesquisador científico precisa ter em mente que produz conhecimento para ser, antes de mais nada, compartilhado com seus pares na academia, por isso precisa respeitar determinadas etapas da construção desse conhecimento. Assim, a ciência social di-rige-se inicialmente aos próprios cientistas e, portanto, pode apresentar e discutir o método de abordagem dos dados sobre a realidade social, pois seu público espera lo-calizar um fenômeno socialmente significativo (por meio dos dados) e identificar uma teoria social ligada (de modo direto ou indireto) ao tema da pesquisa tendo, ao mesmo tempo, acesso às conclusões.

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Unidade e diversidade no m

étodo da pesquisa social

Logo, podemos identificar três funções do método científico compartilhado:

localizar fenômenos socialmente significativos;

fornecer informações sobre a realidade;

atender a demanda de um público específico.

E já que os pesquisadores sociais constroem representações da vida social como outros profissionais – porém, fazem isso se direcionando ao público acadêmico – essa específica forma de representação da sociedade não é para qualquer um e não pode ser feita de qualquer maneira:

Quando sua audiência primária é formada por cientistas sociais e outros profissionais, eles enfatizam, entre outras coisas, aspectos técnicos de suas pesquisas e o posicionamento dela em uma literatura específica sobre a pesquisa – isto é, em relação ao trabalho de outros cientistas que têm pesquisado tópicos idênticos ou similares. (RAGIN, 1994, p. 22, tradução nossa)

Percebe-se aqui a importância dos aspectos formais e metodológicos na pesquisa científica e de onde vem essa relevância: a comunidade de cientistas sociais (público a que se destina toda pesquisa na área de ciências sociais) exige que se dê atenção à forma. Segundo Morris Rosenberg, o valor de um instrumento de pesquisa reside naquilo que podemos apreender com sua utilização. O autor ainda afirma que: “Todo cientista social busca chegar a generalizações teóricas significativas sobre a natureza da vida social” (ROSENBERG, 1972, p. 16). O ganho do método científico em relação às demais formas de representação social está nessa diferença principal: por se destinar principalmente a uma comunidade específica – a acadêmica – cada pesquisa social individual tem pouco valor, mas o conjunto dos trabalhos científicos em determinada área pode fornecer informações mais ricas e completas do que qualquer outra forma de representação. E é para facilitar o diálogo entre os diferentes trabalhos que todos os pesquisadores precisam seguir os mesmos passos metodológicos na construção do conhecimento. Ragin ressalta que a possibilidade de se ter uma visão de conjunto da produção científica nasce justamente da discussão sobre a metodologia e da identifi-cação das etapas da pesquisa por toda a comunidade científica.

Essa visão de conjunto permite perceber regularidades, já que, apesar da com-plexidade da vida social, há uma ordem que faz as pessoas identificarem situações familiares – e a identificação de aspectos regulares na sociedade é a principal meta do cientista social. Nas palavras de Max Weber, “a ciência social que pretendemos exerci-tar é uma ciência da realidade. Procuramos entender na realidade o que está ao nosso redor, e na qual nos encontramos situados, aquilo que ela tem de específico” (WEBER, 2001, p. 124). Para identificar regularidades, o cientista social precisa utilizar determi-nadas ferramentas metodológicas compartilhadas por toda comunidade científica. E existem ainda metas secundárias que ajudam a alcançar a principal.

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Como a sociedade é multifacetada, a pesquisa social também o será, pois só assim ela passa a ter condições de retratar os múltiplos padrões da sociedade. Nesse senti-do, Ragin apresenta sete grandes metas que podem ser cumpridas pela ciência social: identificar padrões gerais e as relações entre eles; testar e refinar teorias; fazer predi-ções; interpretar fenômenos culturais e históricos que sejam significativos; explorar a diversidade; dar voz a comunidades marginais; e avançar em novas teorias. Não defen-demos que toda pesquisa precise atingir todas elas, até porque algumas contradizem outras – mas espera-se que o trabalho do pesquisador possa preencher pelo menos uma dessas metas.

Metas da ciência social

Identificar padrões gerais

Identificar padrões gerais e relações entre eles dá legitimidade à pesquisa, pois os padrões levam ao conhecimento. Conhecer esses padrões também permite iden-tificar casos atípicos e, portanto, esta é a melhor forma de comparação entre casos.

Refinar teorias

A pesquisa social é um diálogo entre pesquisadores – e esse diálogo é dirigido por um conjunto de ideias. O surgimento de novas ideias modificando o diálogo é uma forma de teste e refinamento das teorias e por isso uma das metas da pesquisa científica é oferecer um conjunto de ideias para a teoria.

Fazer predições

As predições estão baseadas nos testes de hipóteses de um determinado con-junto de dados. O acúmulo de conhecimento pode servir à antecipação de fatos e a evitação da reincidência em erros passados. Porém, as predições da ciência social têm limites de precisão.

Interpretar fenômenos culturais e históricos

Pesquisadores sociais buscam estabelecer, para os fenômenos históricos e cul-turais, interpretações que sejam aceitas.

Explorar a diversidade

A exploração da diversidade da vida social, identificando padrões ou diferenças nas relações sociais e comparando essas relações, permite uma representação da sociedade a partir dos estudos de grupos sociais – por exemplo, saber por que em determinado país alguns grupos de imigrantes são bem-sucedidos socialmente é importante para responder por que outros grupos não o são.

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étodo da pesquisa social

Dar voz

Ao tratar de grupos específicos, a pesquisa social dá visibilidade a eles. Dar voz a grupos marginais, a partir do conhecimento desses grupos, ajuda a discutir por que eles se tornaram marginais ou perderam a voz.

Avançar em teorias

Para avançar em novas teorias, é preciso que as ideias sejam elaboradas de uma nova maneira. Esse avanço tem qualidade indutiva e está baseado em novas evidências.

Como se pode perceber, algumas metas são incompatíveis entre si, não cabendo na mesma pesquisa – por exemplo, não é possível refinar teorias e fazer predições ao mesmo tempo. De qualquer forma, a produção de novos conhecimentos se dá princi-palmente pela interação de ideias e evidências, a partir de uma descrição da vida social com bases teóricas. Para alcançar algumas dessas sete grandes metas (visto que nenhu-ma pesquisa consegue cumprir todas elas), são três as principais estratégias majoritá-rias para uma pesquisa: qualitativa, comparativa ou quantitativa. O cientista deve optar por uma delas considerando o objeto a ser investigado e as metas a serem alcançadas.

Tipos de pesquisa científica

Qualitativa

Permite a análise de um número relativamente pequeno de casos, fazendo es-tudos aprofundados sobre indivíduos ou comunidades.

Comparativa

Faz estudos de diversidade, pois já existe um número razoável de casos, que são divididos em pelo menos dois grandes grupos a serem comparados.

Quantitativa

Estuda as relações entre variáveis de muitos indivíduos, fazendo a correspon-dência entre dois ou mais atributos de um grande número de casos – a chamada covariação.

Não se pode usar uma dessas estratégias isoladamente, pois elas se complemen-tam e, quanto mais se conseguir integrá-las, melhores serão os resultados de uma pes-quisa. Obviamente, uma delas vai predominar, mas isso depende dos objetivos e do número de indivíduos a serem pesquisados.

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Independentemente da estratégia predominante, toda pesquisa científica pode ser entendida como um diálogo entre ideias (conceitos teóricos) e evidências empíricas (fatos sociais), as segundas devendo confirmar ou refutar as primeiras – totalmente ou em parte. O pesquisador na área de ciências sociais precisa ter em mente que seu trabalho é, princi-palmente, constatar quanto os conceitos teóricos já existentes se aplicam a determinada re-alidade empírica. Isso só é possível porque clássicos das ciências sociais conseguiram fazer o caminho inverso, dando as bases para as análises sociológicas atuais. Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920) são considerados clássicos das ci-ências sociais modernas porque começaram suas análises descrevendo as sociedades em que viviam e, ao final, conseguiram um alto nível de abstração, ou seja, produziram ideias inovadoras a partir das descrições que fizeram. Como eles deram as bases conceituais para a análise da sociedade contemporânea, cabe-nos agora utilizar as ideias apresentadas pelos clássicos em testes de evidências do mundo empírico.

Se toda pesquisa social envolve um diálogo entre ideias e evidências, então as ideias teóricas ajudam a encontrar evidências, que por sua vez ampliam, testam ou revisam os conceitos teóricos iniciais. O resultado desse intercâmbio contínuo e em mão dupla será a representação social da realidade. É preciso entender que a realidade que apreendemos a partir das pesquisas científicas é, na verdade, uma representação social e não a realidade propriamente dita: o que temos é sempre uma construção ra-cionalizada. Por isso podem existir diferentes construções idealizadas de uma mesma realidade. Como as evidências são de uma realidade complexa e as ideias teóricas compõem um conjunto multidisciplinar, no processo em que se forma a representação social está presente a síntese do objeto de pesquisa. Em outras palavras, como não é possível fazer uma representação completa de toda a realidade, o pesquisador precisa delimitar não apenas o objeto empírico da pesquisa mas também o conjunto de ideias e conceitos teóricos que farão parte do trabalho, dando-lhe sustentação.

Todo procedimento de pesquisa inclui esta sequência (também representada mais adiante na figura 1):

ideias análise evidências imagens da realidade

Todo pesquisador precisa considerar a análise como um guia. A síntese de evidên-cias permite criar imagens, que por sua vez ligam diferentes partes do estudo, criando quadros completos que deverão ser relatados posteriormente.

O processo de produção de imagens da realidade é basicamente indutivo e boa parte do que se chama de ideias surge do conhecimento transmitido de uma geração de acadê-micos para outra, pois cada pesquisa individual contribui para um novo saber no grupo de ideias, sendo que o processo de ampliação teórica da ciência social é outra vantagem da pesquisa social, que tem a particularidade de se destinar a um público específico.

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étodo da pesquisa social

Diferentes pontos de partida teóricos levam, necessariamente, a formas distin-tas de análise. As abordagens analíticas podem classificar e caracterizar um fenômeno social qualquer. Ao definir ou caracterizar um caso conceitualmente, o pesquisador está construindo o aspecto que indica como os casos variam em uma categoria qual-quer e a correta construção do caso é uma importante chave para o diálogo entre ideias e evidências.

Definido o ponto de partida teórico, as evidências da realidade são o próximo passo da pesquisa social. Potencialmente, todos os feitos sociais oferecem evidências ou dados – e existem muitas formas de coletá-los. Por estarmos tratando de complexi-dades sociais, muitas vezes é uma necessidade da pesquisa que se desconsiderem as evidências do mundo empírico, e aqui, novamente, é possível encontrar a vantagem da especificidade da pesquisa social, que se destina a um público com acesso às téc-nicas científicas de pesquisa, assim sendo possível, para esse público, identificar um eventual viés no processo de escolha das evidências.

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Ideias/Teoria Social

Método dedutivo

Retroindução

Análise

Imagens

Representações Sociais

Método indutivo

Evidências/Dados

Figura 1 – Relação entre teoria e evidências empíricas na pesquisa social.

Uma vez coletadas as evidências do mundo empírico, as ideias teóricas direcio-nam a atenção do pesquisador para um tipo específico de categoria analítica. De uma quase infinidade de dados disponíveis, o pesquisador coleta aqueles que considera importantes, de modo que o ordenamento de evidências coletadas produz as imagens formuladas pela pesquisa. Toda imagem produzida pelo cientista social é, em algum sentido, uma idealização de casos reais, porém essa idealização pode – e deve – incor-porar explicações principais e secundárias. A interação entre a imagem principal de uma pesquisa e as imagens complementares sobre a realidade gera um processo de derivação da análise que por fim resulta em uma teoria.

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Embora nem toda pesquisa científica tenha o objetivo de produzir novas teorias, sempre é necessário um diálogo entre os conceitos já estabelecidos pela literatura e os “achados” na realidade empírica. O processo exposto na figura 1 indica que as re-presentações são o ponto médio entre duas etapas do processo de construção do co-nhecimento social. De um lado estão as análises das ideias e conceitos já existentes. Essa é a etapa dedutiva do processo. Por outro lado, a partir de evidências da realidade imagens são construídas e, de maneira indutiva, elas são conectadas com as análises. A reunião das duas etapas é o que produz as representações sociais a partir de pesquisas científicas. Assim como o pesquisador precisa fazer escolhas entre as abordagens teó-ricas existentes para explicar determinado aspecto da realidade, também é necessário optar pelas abordagens empíricas disponíveis. Por mais que a pesquisa científica utilize mais de uma estratégia, devemos considerar que, em função dos objetivos definidos para cada estudo, uma delas sempre vai predominar.

Estratégias de abordagens da pesquisa social As estratégias adotadas pelos pesquisadores dependem dos objetivos traçados

em cada estudo.

A estratégia predominantemente qualitativa é usada em estudos de comunidades com o objetivo de examinar casos específicos ou detalhes. Em alguns momentos, essa estratégia de pesquisa parece não ser científica, pois não permite o estabelecimento de grandes generalizações. Porém, nem toda pesquisa tem por meta fazer generalizações. Não objetivando as generalizações, a estratégia qualitativa procura realizar o exame de casos específicos, evitando que se percam detalhes, como ocorre na construção de grandes representações sociais. Assim, a estratégia qualitativa é indicada para o refina-mento e a elaboração de novas imagens sociais.

Com a estratégia comparativa, o objetivo é estudar a diversidade entre grupos de indivíduos ou períodos distintos, examinando padrões de diferenças e similaridades em um número moderado de casos – maior que o da pesquisa qualitativa e menor que o da quantitativa. A sua diferença em relação à pesquisa qualitativa está no fato de o estudo comparado visar à identificação de casos semelhantes ou distintos em diferentes comunidades, enquanto os estudos qualitativos abordam casos no interior de uma comunidade. O método comparativo é usado em análises de configurações, fazendo a combinação específica de atributos comuns em um dado número de casos verificados.

Por fim, a estratégia quantitativa é indicada quando o objetivo da pesquisa é en-tender padrões gerais e relações entre muitos casos, assim como fazer inferências a partir de amostras. Se essa metodologia for aplicada a um número reduzido de casos,

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a representação será distorcida por não haver um universo mínimo que garanta justa-mente a representatividade, pois sua meta é identificar padrões gerais e relações entre eles (as chamadas covariações), além de testar teorias e fazer predições.

As diferenças entre as três estratégias de pesquisa dão-se principalmente em relação ao tamanho do universo analisado (número de indivíduos pesquisados), ao número de características estudadas (variáveis empíricas) e aos objetivos propria-mente ditos.

Quadro 1 – Relação entre objetivos, variáveis e universo pesquisado por tipo de estratégia

Estratégia Universo pesquisado Variáveis analisadas Objetivosqualitativa pequeno muitas examinar detalhes

comparativa médio número moderado fazer comparações

quantitativa grande poucas identificar padrões

Cabe ao pesquisador identificar que objetivos seu trabalho pretende cumprir, bem como determinar o número de variáveis a serem analisadas e o tamanho do universo a ser pesquisado para tanto. Feito isso, ele tem condições de identificar qual a estratégia analítica mais adequada como predominante em seu estudo – sempre lembrando que as pesquisas ganham em qualidade quando o cientista social conse-gue conjugar técnicas de mais de uma estratégia. Sendo assim, podemos dizer que a pesquisa social é um tipo específico de representação de fenômenos significati-vos da sociedade. Embora essa representação não seja feita apenas por cientistas sociais, mas também por profissionais de outras áreas, o que nos interessa aqui é a forma como ela se dá para a comunidade científica. Isso porque a particularidade da pesquisa social é o fato do público a que ela se destina inicialmente ser formado majoritariamente por cientistas, isso faz com que a representação social a partir da pesquisa científica incorpore aspectos da metodologia de trabalho como fundamen-tais para o resultado final. Assim, o ganho da pesquisa social na representação da sociedade se dá no avanço do resultado conjunto dos trabalhos acadêmicos a partir de pesquisas individuais. A partir disso se justifica a necessidade de filiação das pes-quisas acadêmicas a determinadas linhas ou correntes representadas por cientistas com reconhecida capacidade de inovação em suas áreas de atuação.

Em seu artigo “O tabelão e a lupa”, Fábio Wanderlei Reis (1991) lembra que a representação científica da sociedade precisa de uma concepção teórica, a qual vai fornecer as grandes questões para o trabalho e oferecer a problemática. O marco teórico deve ser o fio condutor da pesquisa, mas sem determinar o quadro final da representação social, pois as conclusões servem para validar, questionar ou avançar as teorias: as conclusões devem surgir da aplicação de conceitos teóricos a objetos empíricos concretos. Todo caso estudado pela ciência social, independentemente da

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estratégia utilizada, deve ser reduzido à sua dimensão real e transformado em um elo de uma cadeia geral de ocorrências. No entanto, deve-se considerar que uma pesquisa isolada não é capaz de representar todos os aspectos da realidade. Além disso, o cientista social precisa ter uma visão crítica das fontes – sejam elas depoi-mentos orais ou documentos oficiais –, sempre cruzando os resultados obtidos em cada uma delas.

Até aqui verificamos que o cientista social é um dos responsáveis por produzir uma representação da vida social a partir de estudos científicos. Não sendo o único a produzir essas representações, ele é o mais competente para a produção de conclu-sões sobre a realidade social a partir das potencialidades oferecidas pela metodolo-gia científica. A promessa de todo cientista social é construir um novo conhecimento sobre a sociedade a partir do relato de eventos históricos importantes, descobrindo um conjunto de padrões nas relações entre os casos analisados. Após o reconheci-mento de suas metas, ao cientista social cabe, utilizando os instrumentos metodoló-gicos adequados, mapear as diferentes formas de organização e as práticas da vida social, transformando isso em conclusões que possam ser interpretadas pelo menos por aqueles que fazem parte da comunidade científica.

Dessa maneira, ainda que varie na forma, as representações sociais que utilizam as estratégias científicas adequadas produzem conhecimento reconhecido pela comu-nidade acadêmica quando:

conseguem identificar fenômenos socialmente importantes;

relacionam um fenômeno a uma teoria social;

incorporam grandes conjuntos de evidências coletadas;

constroem análises sistêmicas das evidências obtidas na realidade.

No entanto, vale ressaltar, por fim, que nenhuma pesquisa isolada conseguirá cumprir todas as metas possíveis ou alcançar os objetivos aqui arrolados, de modo que as pesquisas científicas são sempre parciais e imperfeitas no que diz respeito às conclusões. Apenas o conjunto de trabalhos permite avançar nas descrições de de-terminados fenômenos ou nas explicações teóricas sobre a realidade social. Por isso, sempre surgem críticas ao trabalho e a partir delas novos trabalhos serão construídos para complementar a descrição da realidade e responder a outras indagações.

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Texto complementar

Interação entre pesquisador e “pesquisado”(FIGUEIREDO, 2010)

[...] qualquer estudo da realidade social (e por que não dizer, também da reali-dade natural), por mais objetivo que possa parecer, por mais “ingênuo” ou “simples” nas pretensões, tem a norteá-lo um arcabouço teórico que informa a escolha do objeto, todos os passos e resultados teóricos e práticos, desmistificando o caráter de neutralidade atribuído à pesquisa.

Em consequência, pode-se classificar as elaborações sobre o social dentro de alguma vertente de teoria social, mesmo que essa filiação seja tratada pelos autores de modo implícito.

Por outro lado, pode-se afirmar que nenhuma das linhas de pensamento sobre o social tem o monopólio da compreensão total e completa sobre a realidade. A es-pecificidade da realidade social coloca dificuldades de construção do conhecimen-to, pois sua apreensão acontece sempre de forma parcial e inacabada. Esse aspecto levou o sociólogo Max Weber a declarar a eterna juventude das ciências sociais.

As diferentes teorias que abrangem (cada uma delas) aspectos particulares e relegam outros, revelam o inevitável imbricamento entre conhecimento e interesse, entre condições históricas e avanço das ciências, entre identidade do pesquisador e seu objeto e a necessidade indiscutível da crítica interna e externa na objetivação do saber. Tais dificuldades têm sido, historicamente, terreno de luta teórica em relação à apreensão do campo de abordagem das relações sociais.

A prática da pesquisa não é uma atividade neutra, supõe referenciais teóricos e aspectos operacionais que envolvem questões conceituais. A forma de realizá- -la revela as preocupações científicas dos pesquisadores que selecionam os fatos a serem coletados, bem como o modo de recolhê-los.

O pressuposto explicitado se afasta das concepções que consideram o labor da investigação como aplicação de tecnologia neutra, isenta, a ser dominada e aplicada indistintamente e independente dos pressupostos teóricos que a sustentam.

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Rejeita, do mesmo modo, a posição radical de correntes sociológicas que veem na pesquisa apenas manifestação e reprodução do poder. A teoria do conhecimento tem demonstrado que a produção de conhecimento se encontra, como qualquer outra atividade humana, condicionada pelo contexto político e social de sua produ-ção. Mostra, porém, que essa não é a única característica do conhecimento e muito menos o aspecto determinante de sua realização. O campo social não é transparen-te e tanto o pesquisador como os atores, sujeitos-objeto da pesquisa, interferem dinamicamente no conhecimento da realidade.

Essa interação tem que ser compreendida e assumida criticamente em todo o processo de construção do saber. O impacto resultante do pertencimento a outra classe que se concretiza em experiências socioculturais e até conflitantes é um dado condicionante da pesquisa, junto com todos os outros fatores que a acompanham qualquer uma de suas fases. Uma alternativa é a consideração das teias de domi-nação presente nas relações sociais, onde os “dominados”, através das informações dadas das situações criadas, refletem também a expressão de seus interesses. O olhar sobre o objeto está condicionado historicamente pela posição social do cien-tista e pelas correntes de pensamento em conflito na sociedade. Nada impede que diferentes grupos sociais levem em consideração as descobertas e incorporem-nas ao seu sistema de interpretação do mundo.

Claro está que, em seu trajeto de desenvolvimento histórico, a produção de conhecimento científico tem profunda relação com a manutenção do status quo. Por outro lado, não há como negar a contribuição das ciências sociais na compreen-são da multiplicidade da realidade, resultado do encontro e do enfrentamento dos diferentes sujeitos.

O planejamento e desenvolvimento de investigações da realidade social requer que o pesquisador se integre ao debate sobre as formas de conhecer, colocando em discussão o princípio positivista da neutralidade e da objetividade do pesquisador. E não basta, como destaca Ruth Cardoso, criticar a ciência vigente, acentuando sua pobreza técnica e seu distanciamento do real, apontando para a necessidade de re-novar as formas de coleta de dados como passo fundamental para enriquecer as in-terpretações. Esse modo de ver o trabalho científico está próximo da clássica formu-lação do empirismo positivista: dados bem coletados devem falar por si mesmos.

A clássica oposição entre técnicas qualitativas/quantitativas de investigação consagra essa imprecisão e uma dificuldade histórica das teorias de se posicionar frente à especificidade do social. Tal dicotomia supõe uma afirmação da qualidade contra a quantidade, refletindo uma luta teórica entre o positivismo e as correntes compreensivas em relação à apreensão dos significados. Os aspectos quantificáveis e a vivência significativa da realidade objetiva no cotidiano são interdependentes. A

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abordagem do campo das relações sociais abrange os aspectos estruturais e a visão que os atores sociais projetam dessas relações. Nessas ambiguidades se encontra o desafio do pesquisador na condução do processo de construção do conhecimento, que pode ser minimizado através de uma revisão teórica da discussão sobre a natu-reza do conhecimento científico, o papel da subjetividade como instrumento de co-nhecimento, as potencialidades de variadas técnicas de investigação, entre outras.

Por outro lado, a defesa do engajamento político e a demonstração de que o conhecimento não pode se libertar de certa dose de ideologia, como aponta Ruth Cardoso, colocaram quase como uma exigência a definição do pesquisador como uma aliado dos grupos e minorias discriminadas que também foram priorizadas como objeto de estudo. Entretanto, a participação foi justificada, em muitos casos, por razões políticas e não pensada como instrumento do conhecimento. A nega-ção da neutralidade do pesquisador e seu compromisso com o grupo estudado não pode prescindir de um questionamento sobre a natureza dos dados obtidos, seu caráter de formas objetivas com existência própria independente dos atores.

A intensificação da participação dos investigadores mais como identificação de propósitos políticos entre pesquisador e pesquisado e menos como forma de aproximar para conhecer, corre o risco de reduzir a pesquisa à denúncia, transfor-mando o pesquisador em porta-voz do grupo. E, como consequência, elimina um dos passos importantes da pesquisa que é o estranhamento como forma de com-preender o outro.

O outro risco que se corre é o de se partir de interpretações políticas reificadas e que já não podem mais ser enriquecidas pela investigação. [...]

Os aspectos levantados apontam para o processo chamado por Boaventura de Souza de “dupla ruptura epistemológica”, ou seja, além de realizar a ruptura com o senso comum (primeira ruptura), a ciência precisaria realizar também a ruptura com a própria racionalidade científica (segunda ruptura), promovendo uma reflexão sobre as possibilidades, consequências e aplicabilidade do conhecimento científico.

A interpretação que se constrói em pesquisa social não está isolada das condi-ções em que se encontram pesquisador e grupo investigado. A coleta de material não é apenas um momento de acumulação de informações [...]; se combina com a reformulação de hipóteses, com a descoberta de pistas novas que são elaboradas em novas análises. Nessas investigações, o pesquisador é o mediador entre a análise e a produção da informação, não apenas como transmissor, porque não são fases su-cessivas. Um investimento do observador na análise de seu próprio modo de olhar e um estudo das condições sociais de produção de discursos do pesquisador e do pesquisado deve ser realizado. Tal reflexão sobre a natureza intersubjetiva da intera-ção pesquisador/pesquisado se justifica no sentido de evitar as abordagens parciais

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tanto da neutralidade positivista, quanto da valorização desmedida do subjetivismo descontrolado invadindo o campo da investigação científica.

As considerações colocadas apontam para a flexibilidade no planejamento e na execução de uma pesquisa, embora alguns autores proponham sequências e fases bem definidas. Na prática, na concepção e desenvolvimento de uma pesquisa social, as fases se interpenetram e podem ser reelaboradas e modificadas à medida em que novas descobertas ou circunstâncias exijam.

Atividades

Explique a razão de um estudo individual e isolado ter pouca importância para 1. o avanço das pesquisas científicas.

Para alcançar algumas das metas propostas por Charles Ragin para os estudos 2. científicos sobre a sociedade foram desenvolvidas três estratégias de pesquisa. Explique-as.

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Qual a importância do cientista social na representação da realidade por meio 3. das pesquisas científicas?

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Dica de estudo

APRENDENDO SOBRE PESQUISAS. Disponível em: <www.ead.unicamp.br/traba-lho_pesquisa/index.htm>. Acesso em: 23 jul. 2010.

Gabarito

Um estudo realizado por um único pesquisador, sem a utilização de método 1. compartilhado e discussão de resultados ou mesmo das hipóteses, não alimen-ta a cadeia de conceitos gerados e não chega até o público responsável pelas contribuições científicas: o público acadêmico. Daí a necessidade de se seguir uma linha metodológica conhecida por vários pesquisadores.

As três estratégias de pesquisa para atingir tais metas são a qualitativa, a com-2. parativa e a quantitativa. É importante lembrar que em um estudo, mesmo que o pesquisador consiga utilizar-se dessas três estratégias, não é possível alcançar

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todas as sete metas previstas por Ragin. Além disso, uma análise não se apre-senta exclusivamente com uma das estratégias, mas sim com a parte majoritá-ria do estudo, podendo unir as três em uma única análise – o que enriquece o método.

A análise qualitativa é viável para quando se tem um pequeno número de ca-sos, o que permite um aprofundamento do estudo.

A análise comparativa pode apresentar um maior número de casos, que são divididos em duas partes para que uma comparação seja feita, justamente para se observar padrões e diversidades.

Por último, a quantitativa admite um grande número de casos e estuda a rela-ção entre variáveis.

O cientista social produz uma representação da vida social a partir de seus estu-3. dos, sendo o responsável pela escolha do método e da estratégia de pesquisa para obter os melhores resultados. Ele deve ter cuidado para não interferir na análise até que se depare com o momento certo de fazê-lo: quando a interpre-tação e o ordenamento das evidências se fazem necessários. O cientista social se propõe a construir um novo conhecimento sobre a sociedade a partir do relato de eventos históricos importantes, descobrindo um conjunto de padrões nas relações entre os casos analisados.

Referências

BIGNARDI, Fernando A. C. Reflexões sobre a Pesquisa Qualitativa & Quantitativa: maneiras complementares de apreender a realidade. Disponível em: <www.comite-paz.org.br/download//PESQUISA%20QUALITATIVA.pdf>. Acesso em: 23 jul. 2010.

FIGUEIREDO, Adriana Maria de. Iniciação à Pesquisa Social: uma estratégia de ensino. Disponível em: <www.ichs.ufop.br/conifes/anais/EDU/edu1501.htm>. Acesso em: 23 jul. 2010.

LAKATOS, Imre. La Metodologia de los Programas de Investigación Cientifica. Madri: Alianza Editorial, 1989.

POPPER, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 1998.

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RAGIN, Charles C. Constructing Social Research: the unity and diversity of method. Rhousand Oaks: Sage Publications, 1994.

RAGIN, Charles; DRISCOLL, Mary. The promise of social research. In: RAGIN, Charles C. Constructing Social Research: the unity and diversity of method. Rhousand Oaks: Sage Publications, 1994.

REIS, Fábio Wanderley. O tabelão e a lupa: teoria, método generalizante e ideografia no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, ano 6, n. 16, jul. 1991.

ROSENBERG, Morris. A Lógica da Análise do Levantamento de Dados. São Paulo: Cultrix, 1972.

WEBER, Max. Metodologia das Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2001.

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A construção do projeto de pesquisa Vamos discutir como tornar prático o conhecimento científico.

A primeira etapa de um estudo científico é a produção do projeto de pesquisa. É a partir desse projeto que o pesquisador consegue delimitar o objeto de análise do seu estudo, oferecendo a pequena contribuição de uma determinada pesquisa para a área das ciências sociais. Por esse motivo, a primeira coisa que o aluno precisa ter em mente é que ele deverá partir de um ponto já alcançado por outra pesquisa e apresen-tar como resultado algumas conclusões que poderão ser usadas por outros pesquisa-dores, em futuros trabalhos.

Portanto, como todos participam de uma mesma comunidade científica, antes de pensar no projeto de pesquisa o aluno precisa ter presente que não vai encontrar total autonomia para decidir o percurso a ser cumprido durante esse estudo. Caso contrário, seria impossível pensar em uma comunidade científica de fato. Alguns instrumentos teóricos e empíricos de análise são compartilhados e devem ser utilizados pelos pes-quisadores: o uso dessas ferramentas vai garantir a identificação da pesquisa como uma contribuição para a área científica de que pretende se aproximar – no caso, as ciências sociais.

Em outras palavras, na pesquisa científica o mais importante é a filiação, a pro-ximidade com um método para se acercar do objeto empírico. Em nosso caso, esse objeto abrange a sociedade, suas instituições, suas práticas, os grupos sociais e os indi-víduos. Os resultados ou conclusões de uma pesquisa sempre serão avaliados a partir da utilização adequada dos instrumentos de produção do conhecimento disponíveis na área. Portanto, os resultados são menos importantes do que a forma de produzi-los. E essa é uma das maneiras de encontrar a particularidade do conhecimento científico.

No momento de pensar o projeto de pesquisa, o aluno precisa considerar que existem dois grandes conjuntos de instrumentos metodológicos para levar adiante um trabalho acadêmico: os teóricos e os empíricos.

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Os primeiros são conceitos e formas de enquadrar o objeto empírico recortado da realidade. É a partir de conceitos teóricos tais como classe social, instituições, poder social e outros que o pesquisador começa a delinear o seu trabalho. Esse é o momento das escolhas, da filiação a determinada forma de olhar o mundo para poder explicar uma parte dos fenômenos que nele acontecem. O importante aqui é não confundir o ponto de partida da concepção teórica da pesquisa com a necessidade de defen-der determinadas posturas teóricas ao final do trabalho. Todo cientista social precisa entender que o seu objeto de análise – em última instância, a sociedade – é vivo, está em constante mutação, e isso provoca a necessidade de um cuidado a mais na relação entre os conceitos teóricos produzidos para explicar determinados fenômenos em so-ciedades cujas bases são diferentes daquelas que estão servindo para os novos estu-dos. Em outras palavras, como nosso objeto de estudo é vivo, não podemos esquecer as possíveis limitações de aplicação direta, sem nenhuma adaptação, de conceitos teó-ricos produzidos a partir da análise de sociedades com outras características. A melhor maneira de não cometer o erro de transformar o que deveria ser conhecimento cien-tífico – portanto, temporário e precário – em dogma1 é manter um senso crítico em relação às teorias e escolas a que seu trabalho se filia.

Superada a etapa da delimitação conceitual/teórica, o pesquisador precisa pensar no segundo conjunto de instrumentos metodológicos da pesquisa, que são as técnicas de aproximação, recolhimento de informações e análise dos aspectos da realidade que se pretende estudar. Esses instrumentos são reunidos em três grandes grupos: as meto-dologias quantitativa, comparativa e qualitativa. Assim como na aproximação com os conceitos teóricos, aqui o aluno precisa levar em conta que as metodologias empíricas não são, necessariamente, excludentes entre si, podendo ser complementares, mesmo aquelas identificadas como pertencendo a grupos metodológicos diferentes: tudo de-pende dos objetivos da pesquisa específica. Por exemplo, um pesquisador pode ter como objetivo a análise predominantemente quantitativa de determinado fenômeno social, tal como o comportamento favorável à participação em debates sobre temas de interesse público. Ele pode usar algumas técnicas de pesquisa qualitativa para produ-zir informações e análise complementares que ajudarão a comprovar os dados quan-titativos obtidos. O ideal é que o pesquisador tenha conhecimento sobre diferentes metodologias de abordagem empírica. Se não for assim, ele precisará adaptar os obje-tivos de sua pesquisa às metodologias de que dispõe. A única coisa que ele não pode fazer é desconsiderar a necessidade de adaptação dos objetivos aos conceitos teóricos e à metodologia empírica. Quando isso acontece, as conclusões não conseguem se sustentar como discurso científico, pois indicam uma incompatibilidade entre teoria, métodos empíricos e objetivos a que se propôs o estudo – no nosso caso, o trabalho de conclusão de curso (TCC).

1 Nesse contexto, entendemos o dogma como um conhecimento que não aceita ser questionado, permanece imutável ao longo do tempo – ao contrário da ciência, que se reconstroi permanentemente.

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O projeto de pesquisa em

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Bases conceituais As bases conceituais para a pesquisa social moderna foram dadas principalmente

no século XIX a partir dos estudos feitos por clássicos como Augusto Comte (1798- -1857), Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920). Eles são considerados clássicos por terem conseguido produzir abstrações conceituais sobre a sociedade moderna, suas instituições, grupos sociais e indivíduos depois de terem analisado um objeto empírico, recortado da sociedade industrial dos séculos XVIII, XIX e início do XX. Pela capacidade de produção de novos conceitos aplicados à sociedade moderna, eles assumiram uma posição de ponto de partida para outras pesquisas científicas. Claro que nem todo aluno de graduação precisa recorrer – obri-gatoriamente – a esses clássicos no momento de se posicionar teoricamente. Ele pode buscar apoio em autores contemporâneos, que tenham analisado os fenômenos so-ciais mais recentes, tais como aqueles típicos da passagem do século XX para o XXI (os quais, por motivos óbvios, não puderam ser antecipados por esses quatro clássicos). Ainda assim, os autores considerados relevantes pelas ciências sociais no século XX buscam nos cânones da área a inspiração teórica para o início de seus estudos.

Já quanto às conclusões, espera-se que um distanciamento dos clássicos possa gerar uma proximidade em relação ao objeto empírico recortado para a análise.

Apesar dos cânones das ciências sociais, as pesquisas para um TCC podem promo-ver uma inter-relação com outras ciências, o que permite novas abordagens a respeito de fenômenos já analisados ou de novos objetos de estudos, sobre os quais ainda não existem, nas ciências sociais, conceitos e métodos empíricos difundidos para a produ-ção de novos conhecimentos. Por exemplo, um estudo em ciências sociais pode usar conceitos ou métodos empíricos de áreas como a Psicologia, a Economia, a Comuni-cação, a Educação ou a História para o desenvolvimento de novos estudos e produção de saberes.

Antes de tratar especificamente do formato e da formalização de um projeto de pesquisa, o pesquisador delimita mentalmente alguns aspectos do estudo que realiza-rá. Esse exercício mental pode ser dividido em três momentos específicos:

concepção da ideia;

formulação do problema de pesquisa;

definição dos objetivos do trabalho.

Espera-se que a elaboração da ideia proporcione originalidade à pesquisa. No início, essa ideia do que se pretende pesquisar pode ser vaga, sem muita definição. Uma boa ideia inicial ajuda a identificar o tema da pesquisa. Por exemplo, relações

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familiares, religião, hábitos de consumo, voto consciente, e assim por diante. Nesse momento, o aluno não precisa se preocupar tanto com a viabilidade da pesquisa, pois ainda não estão definidos o marco teórico, o recorte empírico e as metodologias de análise. O importante é que a ideia inicial – o tema a ser pesquisado – desperte algum interesse especial no aluno. Assim, este é o momento em que a subjetividade se apre-senta na produção do conhecimento científico, pois ninguém pesquisa um tema com o qual não tenha algum tipo de identificação, ou pelo qual não tenha preferência subje-tiva. As escolhas majoritariamente pessoais prevalecem na fase em que a ideia original da pesquisa é elaborada a partir das experiências, da história de vida do pesquisador e até mesmo das suas preferências acadêmicas. No entanto, o subjetivismo precisa se restringir à definição do tema – caso contrário, fica difícil para o estudo dialogar com os demais trabalhos da área científica e com outros pesquisadores que fazem parte da comunidade acadêmica.

Após definido o tema de pesquisa – a ideia original – o estudante deve identificar com clareza o problema de pesquisa, a pergunta que pretende responder com o traba-lho que irá desenvolver. Só existe projeto de pesquisa quando foi bem formulada uma questão a ser respondida com o estudo. Ninguém consegue estudar aquilo acerca de que não tem qualquer dúvida, algo em que não há uma questão inquietando. A busca por explicações ainda inexistentes sobre determinado fenômeno social é o que move a comunidade acadêmica na área de ciências sociais. O problema de pesquisa indica aquilo que pretendemos resolver com o trabalho científico e as respostas à pergunta formulada no problema de pesquisa vão compor as conclusões de todo o trabalho científico. Sendo assim, não há projeto de pesquisa sem que antes exista, na mente do pesquisador, uma pergunta que o instigue. A busca de solução para determinado problema de pesquisa é o que move o pesquisador social e, em termos gerais, toda pesquisa nasce de uma interrogação que aflige o cientista. Portanto, o problema de pesquisa deve apresentar formulação interrogativa e não pode ser confundido com as hipóteses de trabalho, que são afirmações provisórias sobre os possíveis achados empíricos em uma pesquisa. Quando a pergunta ou as perguntas estiverem bem for-muladas na mente do aluno, ele estará pronto para dar início à redação do projeto de pesquisa.

E com as perguntas bem formuladas já se pode pensar nos objetivos do trabalho. Tais objetivos, que descrevem aquilo que se pretende com o estudo específico, são respostas provisórias às perguntas formuladas anteriormente, conduzindo o trabalho e ajudando a delimitar o recorte teórico/empírico da pesquisa. No projeto de pesquisa, os objetivos são divididos em geral e específicos. Ainda no momento da concepção ini-cial, é preciso ter ideias gerais sobre o que se pretende com a pesquisa que está sendo iniciada. Sendo assim, na sua apresentação, os objetivos de um projeto de pesquisa devem sempre iniciar com verbos no infinitivo, tais como

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descrever;

explicar;

propor;

analisar;

estudar;

determinar;

comparar;

medir;

contar;

qualificar etc.

Iniciando com verbos no infinitivo, os objetivos determinam a ação que se preten-de desenvolver na pesquisa.

A proposta aqui apresentada não é a única disponível nos manuais de pesquisa: exis-tem variações acerca do que deve conter um projeto de pesquisa. Nossa proposta visa à formulação de um projeto de pesquisa útil para alunos de graduação em ciências sociais.

De qualquer maneira, deve-se considerar que a função de qualquer projeto de pesquisa é divulgar entre os colegas, os avaliadores, o orientador – enfim, a comunida-de acadêmica – o que deu origem à pesquisa, quais as etapas a serem cumpridas, quais os objetivos e qual a forma de alcançá-los, qual a filiação teórica e os instrumentos empíricos a serem utilizados no trabalho.

Partes de um projeto de pesquisa em ciências sociais

Título – apresentação do tema e da sua forma de abordagem.

Delimitação do tema/problema – descrição do tema (objeto recortado da realidade para a análise) e apresentação do problema da pesquisa.

Objetivos – dividido em geral e específicos, os objetivos visam a mostrar ao leitor do projeto o que se pretende com a pesquisa.

Justificativa – descrição dos motivos para a realização da pesquisa (nesse momento, o pesquisador responde à pergunta “por que desenvolver este trabalho?”).

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Fundamentação teórica – apresentação dos conceitos teóricos aplicados ao trabalho, assim como a filiação aos autores e/ou correntes teóricas.

Métodos e técnicas – apresentação dos instrumentos metodológicos para a abordagem empírica na pesquisa, filiando-se a uma das estratégias gerais de pes-quisa e indicando a relação com outras estratégias.

Possíveis resultados – apresentação do que o pesquisador pretende concluir com seu trabalho (os possíveis “achados” da pesquisa).

Cronograma de atividades – indicação das etapas a serem cumpridas pela pesquisa (deve começar com a formulação do projeto de pesquisa e terminar com a defesa ou entrega do texto final).

A delimitação do tema/problema de pesquisa Todo projeto de pesquisa deve começar pela delimitação do tema a ser pesqui-

sado. Para Lakatos e Marconi (1999), tema é o assunto geral que se deseja pesquisar ou estudar. A delimitação do tema e a formulação do problema podem ser descritas a partir de quatro passos principais:

identificação do tema geral de pesquisa em uma ou duas palavras;

identificação do objeto, que é uma especificação do tema, em uma frase;

delimitação do tema e objeto a partir da identificação dos antecedentes, al-cances e limites da pesquisa;

formulação do problema de pesquisa de maneira interrogativa.

Mesmo sendo amplo, um tema pode ser delimitado em uma ou duas palavras – como família, consumo, eleições, ideologia, velhice e assim por diante.

Portanto, identificar um tema significa fazer a seleção de um assunto para pesquisar a partir das aptidões, preferências e possibilidades de quem se propõe a realizar o estudo. Já delimitar é escolher uma área de interesse sobre o assunto que se pretende analisar.

É importante que o pesquisador tenha algum conhecimento prévio a respeito do tema que pretende investigar, assim evitando problemas como inconsistência nas perguntas formuladas, nos objetivos de trabalho ou até mesmo em relação à impossi-bilidade de realizar a pesquisa empírica.

Barros e Lehfeld (2000) apresentam algumas fontes para identificação de temas de pesquisa. Segundo eles, um tema pode surgir da simples observação do

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cotidiano, nas experiências da vida profissional, por meio da participação em pro-gramas de pesquisa já consolidados, depois de algum contato com especialistas (tal como palestras ou participação em cursos de curta duração), como consequên- cia de resultados de pesquisas já realizadas ou a partir da leitura de literatura es-pecializada. Qualquer uma dessas fontes de inspiração para um tema de pesquisa pressupõe um contato prévio do pesquisador com o assunto, não se recomendando a escolha de um tema sem algum conhecimento prévio a respeito dele, direta ou indiretamente.

Como toda pesquisa sempre será a respeito de uma parcela específica de deter-minado assunto, é preciso dar o segundo passo, que é especificar o que daquele as-sunto geral se pretende pesquisar. Desse modo, o objeto de estudo sempre é uma característica ou parte do tema mais geral, do qual é um primeiro recorte. Por exemplo, é possível pensar em uma pesquisa sociológica cujo tema seja família, mas a respeito desse tema existe quase uma infinidade de assuntos específicos a serem abordados. Um dos possíveis objetos de estudo a partir desse tema é “relações sociais entre filhos de famílias em que o pai é o chefe com filhos de famílias em que a mãe é a provedora econômica”. Percebe-se que a delimitação do objeto torna muito mais específico o re-corte do tema geral. Então, se o tema pode ser identificado por uma ou duas palavras, o objeto só é bem delimitado com uma frase. Assim como o tema, o objeto escolhido deve ser exequível e adequado aos interesses acadêmicos (RODRIGUES, 2000). Trata- -se, portanto, de encontrar, dentro de um tema geral, um objeto que mereça ser in-vestigado a partir do método científico e que apresente condições para a formulação de um problema de pesquisa. Para tanto, indica-se que o tema e o objeto possam ser identificados com uma linha de pesquisa já instituída na área científica.

Outro cuidado que o aluno precisa ter na delimitação do tema é com a relevância e a atualidade do objeto: um objeto desatualizado implica já ter recebido a atenção de pesquisadores (as perguntas já foram respondidas...), e um objeto irrelevante para a área científica dificultará a justificativa do trabalho.

Após definir o tema e o objeto, o estudante deverá passar a um levantamento bibliográfico sobre o assunto para delimitar a pesquisa (DENCKER; VIÁ, 2001) – tarefa que é facilitada pela identificação do tema e do objeto com uma linha de pesquisa já instituída.

É no momento dessa revisão bibliográfica que tem início o terceiro passo da deli-mitação – que, segundo Rodrigues (2000), pode ser dividida em três tópicos:

antecedentes;

alcances;

limites da pesquisa.

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Para se ter certeza de que o projeto pode efetivamente se transformar em uma pesquisa acadêmica, é preciso verificar a possibilidade de estudá-lo a partir da meto-dologia científica. Para isso, espera-se que já exista, na literatura da área, algum regis-tro sobre o tema, objeto ou metodologia que se pretende aplicar. A pesquisa biblio-gráfica também permitirá identificar as melhores alternativas de resposta à pergunta formulada.

Tendo a função de indicar a origem do tratamento do tema pela literatura espe-cializada, os antecedentes são produzidos a partir de um breve histórico do surgimento do problema na comunidade científica, chegando até o objeto formulado no projeto em questão. Nesse momento, são apresentados os chamados pressupostos da litera-tura que servem para embasar a formulação do problema que virá a seguir, e também são apresentadas as ideias de autores reconhecidos na área relacionada ao tema. Essa primeira delimitação do tema é feita a partir, principalmente, de revisão da literatura: livros já publicados, artigos em revistas científicas, teses de doutorado, dissertações de mestrado e até mesmo monografias de conclusão já defendidas. O importante é que o autor do projeto consiga deixar claro que conhece as pesquisas já produzidas a respeito do tema e o objeto selecionados para o estudo.

Na delimitação do tema/problema, também é possível usar informações de entre-vistas exploratórias como fonte de informação, sempre evitando divagações que não contribuam para a sustentação da proposta em questão. Para isso serve a delimitação do objeto, que é uma forma de limitar todas as demais possibilidades de abordagem do tema, as quais não fazem parte da questão do trabalho de pesquisa.

As entrevistas em profundidade são indicadas para demonstrar os alcances do estudo proposto. Elas servem para aprofundar a descrição do tema e objeto em tela.

A realização de uma revisão bibliográfica sobre o tema e entrevistas explorató-rias para delimitar o objeto de pesquisa ajudam a delimitar o alcance da pesquisa no projeto. Por mais que o estudo esteja focado em uma questão específica, é preciso também, na delimitação, indicar os limites do trabalho e aquilo que não se pretende cumprir com a pesquisa. Tão importante quanto mostrar qual o objeto da investigação é indicar o que não faz parte do escopo do trabalho, ou seja, todos os demais elemen-tos que fazem parte do tema e objeto, mas que não deverão ser tratados no estudo. A delimitação do objeto serve para ampliar o conhecimento do pesquisador sobre o tema e, a partir daí, ter condições para avaliar se a pergunta inicial de pesquisa deve ser sustentada ou precisa de alguma revisão. Essa avaliação definirá se vale a pena manter a pergunta, redefini-la ou substitui-la. No último caso, será necessário reiniciar todo o projeto de pesquisa, começando do zero, desde a definição do tema geral. Porém, para os casos em que a delimitação do tema e objeto mostra a viabilidade de se continuar o projeto original, deve-se passar para o quarto passo da delimitação, que é a formula-ção do problema de pesquisa.

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O problema de pesquisa é formulado a partir dos antecedentes e sempre deve ser escrito na forma interrogativa, por ser a maneira mais fácil de estruturar uma questão para o estudo. A precisão dessa pergunta é fundamental em um projeto de pesquisa, pois todas as demais etapas estarão voltadas para a busca – direta ou indireta – de uma solução para a questão levantada aqui. A pergunta que foi definida se transformará em um problema científico a partir da delimitação do tema e do objeto. A questão deve ser considerada como o fechamento da delimitação do tema como um todo, indicando o objeto da pesquisa e restringindo-o no tempo e no espaço. Aqui se pretende restrin-gir o escopo da pesquisa a partir da pergunta, pois de nada adianta uma delimitação adequada se o problema de pesquisa não estiver claro e conciso na pergunta final. Essa questão é que delimitará os objetivos a serem apresentados na sequência. Aqui, o im-portante é que a formulação do problema permita identificar os limites e capacidades do pesquisador, seja em relação ao domínio da discussão bibliográfica sobre o tema, seja quanto às ferramentas disponíveis para a pesquisa empírica.

Assim, a delimitação do tema e problema deve ser compreendida como a apre-sentação do argumento que vai do geral para o específico. Começa com a apresenta-ção do tema geral, um primeiro passo de especificação que é a delimitação do objeto, que inclui a apresentação do debate bibliográfico, os alcances e limites da pesquisa. Por fim, é apresentada a pergunta que move toda a pesquisa que está sendo apre-sentada no projeto. Assim, a delimitação do tema sempre termina com uma ou mais perguntas. As respostas para a pergunta de pesquisa são apresentadas nos objetivos da pesquisa, que é o tópico seguinte em um projeto de pesquisa.

Texto complementar

Fases da pesquisa (ABRAMO, 2010)

Basicamente, uma pesquisa se constitui de dois momentos fundamentais: a observação e a interpretação do que foi observado. É claro, porém, que no proce-der cotidiano do pesquisador, há estágios que precedem e que sucedem esses dois momentos básicos, bem como há fases, subfases, passos etc., em que cada um deles pode ser subdividido. [...] o estudo das fases da pesquisa é, também, o estudo das condições usualmente observadas na elaboração do projeto de pesquisa; ao saber em que fases, subfases e passos se divide, costumeiramente, qualquer pesquisa, o pesquisador também estará sabendo como elaborar o projeto de uma pesquisa determinada.

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Evidentemente, não há receitas previamente fabricadas para a elaboração do projeto de pesquisa. Cada pesquisa exigirá o seu projeto, isto é, o projeto mais ade-quado à sua realização. [...]

O primeiro modelo – que pode ser chamado de simplificado – [...] está mon-tado com o intuito de servir para todo e qualquer tipo de pesquisa, sem que seja necessário sofrer grandes alterações. Resume-se esse modelo a um documento que apresente a indicação das seguintes grandes fases da pesquisa:

1. Objeto e justificativa (em que o pesquisador procura tornar o mais explícito possível o que se pesquisará, por que e o que se pode esperar dos resulta-dos da investigação).

2. Procedimentos metodológicos (em que o pesquisador indica, da melhor maneira possível, como vai realizar a pesquisa).

Esta segunda fase pode, ainda, desdobrar-se em:

a) procedimentos de coleta de dados;

b) procedimento de análise e interpretação dos dados (também chamados planos de coleta e plano de análise).

3. Conclusões e resultados (em que o pesquisador – embora ainda sem ter obtido os resultados, uma vez que está na elaboração do projeto – já aponta, em grandes linhas, o conteúdo do relatório final da pesquisa, numa antevisão do tipo de dados e afirmativas que poderá apresentar conclusivamente).

Evidentemente, o modelo simplificado de projeto de pesquisa tanto pode con-sistir num documento sintético e resumido de uma lauda, como num artigo acadê-mico ou numa comunicação científica de várias laudas, que já há de constituir-se, por si, num primeiro resultado do trabalho de investigação.

Outro modelo de projeto de pesquisa, porém, pode ser examinado. Para apre-sentá-lo, usar-se-á como exemplificação a situação que aparece a mais complexa para o pesquisador, isto é, aquela em que o pesquisador é chamado a montar uma pesquisa aplicada para efeitos de intervenção. Intervenção essa da qual ele parti-cipa, como agente, assessor ou consultor, imediata, racional e deliberadamente na realidade. Ao se apresentar a sucessão lógica das principais fases e subfases e dos principais passos nessa situação, estará sendo fornecido um modelo que é o mais completo possível; [...] uma observação importante é que a sucessão que se segue é lógica, e nem sempre cronológica.

Segundo esse modelo, o projeto apresenta três grandes fases:

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1. planejamento;

2. execução;

3. aplicação.

A fase 1 – planejamento – subdivide-se em duas subfases:

Administração da pesquisa e Elaboração do projeto de pesquisa.

A subfase Administração da pesquisa subdivide-se nos seguintes passos:

Decisão: é, efetivamente, o primeiro momento da pesquisa. É o momento em que alguém ou alguma entidade (empresa, administração pública, universidade, departamento de faculdade ou instituto, professor) decide realizar a pesquisa. É quando nasce a pesquisa.

Formulação dos objetivos: aqui não se trata de descrever os contornos do objeto da investigação, mas sim de tornar explícitos os objetivos do Centro de Deci-são ao decidir realizar a pesquisa (implantar um centro pesqueiro, conhecer o Recôn-cavo, dinamizar uma escola, treinar estudantes, apresentar uma Tese de Doutorado etc.). É claro que esses objetivos podem ser desdobrados em gerais e específicos, teóricos e práticos, imediatos e a longo prazo etc.

Levantamento e obtenção dos recursos: a necessidade da obtenção de re-cursos materiais e humanos está presente desde o primeiro momento da decisão de realizar a pesquisa; todavia, só depois de se formularem os objetivos do pesquisador ou da entidade que patrocina a pesquisa é que se pode ter uma primeira aproxima-ção do montante dos recursos necessários. É claro que, em fases posteriores, essa aproximação irá sendo corrigida.

Este passo, portanto, não nasce e morre aqui, mas acompanha todo o planeja-mento da pesquisa.

Adoção de providências administrativas: a esta altura, já existe um núcleo inicial da equipe de pesquisa, e esse núcleo inicia a adoção de uma série de providências que tem por objetivo organizar, em todos os sentidos, o trabalho de realização da pesqui-sa e os trabalhos correlatos. Esse também é um passo que se inicia e percorre todo o tempo de realização da pesquisa e de aplicação de seus resultados, até o final. [...]

Escolha do assunto: o primeiro passo na elaboração do projeto de pesquisa é a escolha do assunto, ao qual se seguem, quase imediatamente, a definição dos termos e a proposição do problema [...]. Em resumo, trata-se, aqui, de selecionar um entre os vários objetos de investigação, mas ainda em termos vagos e gerais [...]. É claro que, para esse passo, é fundamental a distinção que se costuma fazer entre pesquisa pura

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ou fundamental e pesquisa aplicada: no primeiro caso, a escolha é do pesquisador, e, no segundo, a escolha é da entidade interessada na realização da pesquisa. [...]

Definição dos termos: a enunciação do assunto da pesquisa, bem como, poste-riormente, a proposição do problema de pesquisa, contém um ou mais termos lógicos que correspondem a conceitos e geralmente estão vinculados numa proposição lógica que expressa um juízo. É necessário explicitar a substância desses termos; é necessário elucidar, explicar esses conceitos; trata-se de decompor o conceito em seus indicado-res empíricos, isto é, nos fatos diretamente observáveis, através de um processo de análise e dedução, inverso ao processo que permite ir dos fatos à generalização do conceito. Como se vê, esse é um passo que não nasce e morre nesse momento, mas que acompanha todos os momentos da elaboração do projeto de pesquisa.

Proposição do problema: entre o assunto e o problema da pesquisa, existem as semelhanças e as diferenças que há entre um enunciado geral e um enunciado particular de uma mesma realidade. O assunto ou tema é o geral; o problema é o particular. O assunto é escolhido, é selecionado; o problema é proposto, é formula-do, é elaborado. Nesse sentido, a proposição do problema de pesquisa deve obede-cer a certos requisitos e deve resultar numa proposição claramente formulada, de preferência de forma interrogativa. [...]

O problema é, em essência, a pergunta principal da pesquisa.

Formulação de hipóteses: se a proposição do problema é a elaboração formal da principal pergunta da pesquisa, a formulação da hipótese é a elaboração formal, prévia e antecipada, da principal resposta da pesquisa, condicionada à sua compro-vação empírica [...].

Delimitação do universo: é evidente que a partir da escolha do assunto – e, muitas vezes antes, desde o momento inicial da decisão de realizar a pesquisa – já se tem uma ideia geral do universo de pesquisa, isto é, do conjunto de unidades sobre cujos atributos vai incidir a investigação e que, por isso, se transformarão em fontes de infor-mação ou em informantes. Nesse momento da elaboração do projeto, todavia, faz-se necessário reunir informações mais precisas sobre o universo de pesquisa, descrevê-lo em suas grandes linhas e decidir se se fará a pesquisa sobre todo o universo ou sobre uma amostra dele; nesse caso, as informações sobre o universo deverão permitir a sua estratificação para a escolha de amostra representativa ou significativa. É, também, o momento em que se relacionam as fontes de informação, se descrevem e quantificam os informantes, se estabelecem os limites geográficos e temporais da área de estudo.

Seleção de técnicas: se bem que, desde a proposição do problema e a formu-lação de hipóteses, o pesquisador já deva ter uma noção de quais técnicas é possível e exequível lançar mão, e nesse momento, depois de delimitado qualitativa e quanti-

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tativamente o universo de pesquisa – e, quando for o caso, escolhida a amostra – que ele poderá, em definitivo, selecionar as técnicas de observação e de análise [...]. Se não há, portanto, uma rigorosa sucessão cronológica entre aqueles e estes passos, há uma sucessão lógica e, principalmente, uma preponderância, em termos de importância, do problema e das hipóteses sobre as técnicas. Estas decorrem daquelas. Para cada pro-blema, para confirmar cada tipo de hipótese, para se adequar aos determinados tipos de informantes, haverá uma técnica melhor, ou uma melhor combinação de técnicas. Nesse passo, portanto, selecionam-se as técnicas de observação (direta ou indireta, questionário ou entrevista etc.) e também já se apontam as principais técnicas de codi-ficação, tabulação, análise, que poderão ser adotadas com os dados a serem obtidos.

Construção dos instrumentos de observação: selecionadas as técnicas, passa-se a construir o instrumento ou instrumentos de observação. Essa é uma etapa demorada no planejamento da pesquisa, e é comum, nos passos iniciais, quando se traça o cronogra-ma [...] da investigação, que se dediquem algumas semanas somente a essa tarefa. Qual-quer bom manual de pesquisa traz, geralmente, boas indicações sobre a construção de questionários, formulários, escalas de opinião e atitude, roteiros de entrevista etc. [...]

Teste dos instrumentos de observação: construídos os instrumentos, convém sempre testá-los numa pequena amostra da população do universo ou da amostra antes de sua aplicação definitiva. Quando não é possível, pela premência de tempo ou pela escassez de recursos, um teste rigoroso em amostra aleatória e representa-tiva, pode-se escolher uma amostra intencional, composta de elementos afeitos à tarefa de pesquisa e de informantes significativos retirados da população do univer-so da pesquisa. O teste dos instrumentos – que, quando aplicado rigorosamente, dá origem ao que se designa pesquisa-piloto – tem por objetivos principais:

a) verificar a adequação do universo de linguagem do pesquisador e do informante;

b) verificar a correção da construção formal dos itens ou das questões;

c) verificar a possibilidade prática de obter respostas;

d) verificar as razões das recusas de dar respostas;

e) verificar o grau de fidedignidade das respostas;

f ) estimar condições e tempo de aplicação do instrumento, para efeito de pro-vidências administrativas capazes de imprimir a organização mais adequa-da à execução da pesquisa.

A fase 2 – execução – subdivide-se em duas subfases:

Observação e Interpretação.

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Atividades

Qual a razão de se tomar cuidado com a aplicação direta do instrumento meto-1. dológico teórico em uma pesquisa social?

Autores como Karl Marx e Max Weber são tidos como obrigatórios para as pes-2. quisas em ciências sociais? Justifique.

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O que o pesquisador deve levar em conta no momento de estruturar uma ques-3. tão para uma pesquisa?

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Dica de estudo

CAMPOS, Pedro. As Etapas da Construção do Projeto de Pesquisa. Dispo-nível em: <http://api.ning.com/files/VtX6gA0tEgPaS1r0bXgFowyD0b6G1hDtLo-JjlIxToMmrLbf0HTDnRiZFuGMD1ccmDq-wRvfObeVHJT*aTcnSmZd3ue747A3H/ASETAPASDACONSTRUODOPROJETODEPESQUISA.pdfhttp://api.ning.com/files/VtX6gA0tEgPaS1r0bXgFowyD0b6G1hDtLoJjlIxToMmrLbf0HTDnRiZFuGMD1ccmDq-wRvfObeVHJT*aTcnSmZd3ue747A3H/ASETAPASDACONSTRUODOPROJETODEPES-QUISA.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2010.

Gabarito

O perigo da aplicação direta do instrumento metodológico teórico é decorren-1. te de estado vivo, instável, do objeto que se quer analisar. Como há variações do objeto de uma pesquisa para outra (por apresentar outras condições, como um período diferente daquele da primeira análise, ou mesmo mudança dos fe-nômenos ligados ao objeto), os mesmos conceitos teóricos outrora aplicados podem não se encaixar de modo perfeito na pesquisa corrente. Se aplicados diretamente, sem adaptações ao novo objeto, os resultados da pesquisa serão considerados dogmas – os quais não apresentam possibilidade de refutação, impedindo o avanço da ciência.

Os clássicos citados, assim como Émile Durkheim e Augusto Comte, não se 2. mostram diretamente obrigatórios nas pesquisas em ciências sociais, visto que adaptações dessas obras e/ou novos conceitos podem servir de marco teórico para uma análise. Os clássicos são bastante citados por terem produzido abs-trações da sociedade moderna a partir de resultados obtidos empiricamente. No entanto, o fato de não estarem presentes diretamente em todas as análises posteriores a suas criações não significa que não tenham sido incorporados por pesquisadores de maneira indireta, como continuação de suas ideias.

A maneira mais aconselhável de estruturar uma questão de estudo é em forma 3. de pergunta, para que o pesquisador tenha sempre em mente o que deve “res-ponder” ao final do trabalho. E é importante que essa pergunta seja elaborada de forma precisa, evitando que o pesquisador se desvie da linha de estudo du-rante o trabalho ao se deparar com pormenores e/ou imprevistos.

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Referências

ABRAMO, Perseu. Discussão sobre Pesquisa Científica. Disponível em: <http://ideia-forte.incubadora.fapesp.br/portal/referencias/doc1>. Acesso em: 26 jul. 2010.

BARROS, Aidil J. S.; LEHFELD, Neide A. de S. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Makron, 2000.

CAMPOS, Pedro. As Etapas da Construção do Projeto de Pesquisa. Disponível em: <http://api.ning.com/files/VtX6gA0tEgPaS1r0bXgFowyD0b6G1hDtLoJjlIxToMmr Lbf0HTDnRiZFuGMD1ccmDq-wR vfObeVHJT*aTcnSmZd3ue747A3H/ASE-TAPASDACONSTRUODOPROJETODEPESQUISA.pdfhttp://api.ning.com/files/V tX6gA0tEgPaS1r0bXgFow yD0b6G1hD tLoJj l IxToM mrLbf0HTDnR iZFuG-MD1ccmDq-wRvfObeVHJT*aTcnSmZd3ue747A3H/ASETAPASDACONSTRUODOPRO-JETODEPESQUISA.pdf>. Acesso em: 26 jul. 2010.

DENCKER, Ada F. M.; VIÁ, Sarah C. Pesquisa Empírica em Ciências Humanas. São Paulo: Futura, 2001.

LAKATOS, Eva; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

RODRIGUES, Maria das Graças V. Informe de Metodologia da Pesquisa. Brasília: Ed. do Autor, 2000.

______. Metodologia da Pesquisa: elaboração de projetos, trabalhos acadêmicos e dissertações em ciências militares. 3. ed. Rio de Janeiro: EsAO, 2005.

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Objetivos, justificativa e fundamentação teórica

Vamos apresentar as seções centrais de um projeto de pesquisa: os objetivos, a justificativa e a fundamentação teórica do trabalho – nessa ordem, pois é de funda-mental importância o aluno entender que as etapas de um projeto não estão isoladas, elas devem fazer parte de um todo coeso e coerente. Cada tópico visa a dar resposta ao anterior ou complementá-lo.

Quais são os objetivos da sua pesquisa? Na apresentação dos objetivos, explicita-se o que se pretende obter com a pes-

quisa proposta. Os objetivos conduzirão o trabalho, configurando os propósitos do estudo e que tipo de informação se pretende divulgar à comunidade científica após concluído o trabalho. Em outras palavras, os objetivos detalham as ações a serem reali-zadas para dar resposta à pergunta que o autor do projeto formulou no final da delimi-tação do problema, como forma de problematizar o objeto de investigação.

Clareza

Para serem suficientemente claros, os objetivos devem ser apresentados em frases simples, concisas, redigidas de maneira impessoal, iniciando com verbos no infinitivo (explicar, estudar, descrever, delimitar, propor, indicar etc.).

Quanto a sua abrangência, os objetivos se dividem em geral e específicos.

O objetivo geral é o mais amplo na descrição do tema da pesquisa, tratando da relação com o marco geral de conhecimento e descrevendo a finalidade básica da pesquisa.

Os objetivos específicos indicam que fins diretos que se pretende alcançar com a investigação proposta, servindo para descrever o caminho a ser percor-rido na pesquisa para dar resposta ao problema apresentado anteriormente.

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No projeto de pesquisa é fundamental que os objetivos sejam coerentes com o problema ou os problemas propostos. Enquanto o objetivo geral indica a direção a ser seguida pelo trabalho, os objetivos específicos mostram os caminhos para se chegar a essa direção – e esses caminhos precisam ser lógicos e coerentes. A melhor maneira de atender a essa necessidade é com metas intermediárias (que são os objetivos específi-cos) que permitem alcançar o objetivo geral ao fim de todo o processo.

Mais clareza

Assim como a meta geral, os objetivos específicos também devem ser apresen-tados com frases simples, iniciadas por verbos no infinitivo, descrevendo o que será alcançado a cada etapa da pesquisa acadêmica.

Detalhamento Outra forma de definir os objetivos é considerá-los elementos que identificam

detalhadamente as ações a serem realizadas para responder às perguntas feitas pelo autor do projeto na formulação do seu problema de pesquisa: começa-se pela apre-sentação das intenções do pesquisador ao dar início ao trabalho e, de maneira sintéti-ca, mostra-se o que se pretende alcançar com a pesquisa.

Como os objetivos precisam estar diretamente relacionados com a pergunta do trabalho, a seguir são apresentados alguns exemplos de objetivos geral e específicos aplicados a determinadas questões de pesquisa.

Exemplo 1: internet e sociabilidade

Questão de pesquisa

Qual o atual estágio de conhecimento já produzido e publicado na literatura sociológica sobre o impacto da internet nos padrões de sociabilidade de jovens de classe baixa das grandes cidades brasileiras?

Objetivo geral

Identificar o que já se produziu a respeito das transformações nos padrões de sociabilidade de jovens de classe baixa que usam a internet.

Objetivos específicos

Realizar um balanço bibliográfico para identificar as principais linhas de abordagem sobre o impacto da internet na sociabilidade dos jovens.

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Objetivos, justificativa e fundam

entação teórica

Registrar as diferentes abordagens a respeito das relações entre juventude, sociabilidade, internet e classes sociais.

Analisar a aplicabilidade dos resultados no debate entre pesquisadores sobre internet e juventude, relacionando-os com condicionantes de grau de urbanidade e classe social.

Esse primeiro exemplo apresenta a relação entre o problema de pesquisa, o obje-tivo geral e os objetivos específicos para um trabalho de revisão da literatura – ou seja, uma pesquisa a ser feita exclusivamente a partir de fontes bibliográficas: enquanto o objetivo geral é “identificar o que já se produziu”, os objetivos específicos são “reali-zar um balanço bibliográfico”, “registrar as abordagens” “e “analisar a aplicabilidade dos resultados”.

Porém, também é possível pensar na relação entre os elementos do projeto de pesquisa para o caso de um estudo majoritariamente empírico.

Exemplo 2: Mulheres na política

Questão de pesquisa

Qual o papel das mulheres na organização e formação de chapas para candida-tura às eleições proporcionais nacionais brasileiras?

Objetivo geral

Verificar como as mulheres atuam nas estruturas partidárias do Brasil nos mo-mentos de formação de chapas para candidatura a deputado federal e estadual.

Objetivos específicos

Registrar o número de cargos ocupados por mulheres nas estruturas orga-nizacionais dos diretórios estaduais de partidos políticos de esquerda no Brasil.

Esclarecer, a partir de entrevistas, como as mulheres identificam seu papel nos partidos políticos e na formação das candidaturas brasileiras.

Comparar a participação das mulheres nas estruturas organizacionais dos partidos com o efetivo número de candidatas aos cargos de deputado fe-deral e estadual.

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Como se pode perceber, tanto no primeiro exemplo (estudo bibliográfico) como no segundo (pesquisa de campo) os objetivos específicos indicam as etapas a serem desenvolvidas para ser alcançado o objetivo geral. Sempre os objetivos devem ofere-cer respostas possíveis para o problema científico apresentado na seção anterior do projeto – a delimitação do problema. Um bom projeto de pesquisa se apresenta logi-camente organizado do início ao fim, com cada novo item sendo uma continuidade, uma complementação do anterior.

Para que justificar um projeto de pesquisa? Enquanto na delimitação do tema, na problematização e nos objetivos predomi-

na a discussão com o objeto de pesquisa propriamente dito, na justificativa o respon-sável pelo trabalho apresenta os argumentos que ajudam a defender a necessidade de se produzir um estudo acadêmico sobre o tema. Assim, na justificativa a atenção está mais voltada para o projeto em si que para o objeto social, e toda justificativa deve começar apresentando os motivos que levaram o pesquisador a se decidir pelo estudo daquele tema, a importância desse estudo e a sua viabilidade dentro dos procedimen-tos propostos pelo projeto.

Assim, a justificativa é a seção em que o projeto de pesquisa apresenta o porquê da sua realização em um formato específico, o motivo da sua busca de respostas para determinado problema (objetivos) de dada maneira, devendo identificar a razão das escolhas e preferências para a abordagem do tema. Sua função é tentar convencer o leitor que a proposta é relevante, necessária e viável.

Como na justificativa a relevância está relacionada ao tema da pesquisa em si, o texto precisa explicar porque é relevante estudar determinado tema. Para tanto, é pre-ciso demonstrar a importância de uma pesquisa sobre a temática tratada: a relevância está diretamente relacionada ao tema e ao objeto social que se pretende abordar. Por exemplo, um estudo sobre formas de socialização em um grupo de indivíduos da ter-ceira idade é relevante, pois o tema tem apelo social e apresenta-se cada vez mais na agenda da pesquisa sociológica brasileira. Trata-se de justificar o estudo em relação ao tema por conta da temática em si.

Uma vez apresentada a relevância do tema, mostra-se a importância de se realizar uma pesquisa sobre o objeto em questão, demonstrando que, além de ser relevante socialmente, a pesquisa sobre esse objeto importa. Continuando com o mesmo exem-plo, mostra-se que produzir conhecimento científico sobre formas de socialização de pessoas da terceira idade é importante por permitir identificar características próprias desse grupo social e, no futuro, ajudar a propor políticas públicas específicas para esse segmento da sociedade.

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Objetivos, justificativa e fundam

entação teórica

Além da relevância do tema social e da importância da pesquisa, um projeto justi-fica-se quando se consegue mostrar viável. Os objetivos específicos ajudam a recortar o objeto de análise, indicando quais aspectos do fenômeno social serão abordados pela pesquisa, já que não é possível tratar da totalidade dos objetos sociais. Desse modo, a justificativa também deve mostrar que é possível a abordagem do objeto a partir dos recursos disponíveis para o pesquisador. Por exemplo, uma pesquisa bibliográfica jus-tifica-se porque o pesquisador terá acesso às fontes de consulta e pesquisa, enquanto uma pesquisa de campo se justifica ao explicitar o conhecimento já dominado pelo pesquisador e o seu acesso aos instrumentos de coleta de informações.

Mais que o acesso aos meios necessários para a pesquisa, também se deve de-monstrar a disponibilidade de recursos materiais e de tempo adequado para a realiza-ção do trabalho.

Em resumo, um projeto justifica-se quando apresenta respostas a três perguntas:

Por que é relevante estudar o tema?

Por que é importante pesquisar o objeto recortado da realidade?

Por que é viável a pesquisa delineada para alcançar os objetivos propostos?

Portanto, na justificativa se apresentam as razões de ser do estudo. Ela nasce da existência de um problema de pesquisa acadêmica que possa se justificar e vai até a via-bilidade da abordagem proposta nos objetivos. O tópico da justificativa faz uma espécie de “fechamento” do projeto como um todo, relacionando todos os itens anteriores, pois se não houver um problema real, se o estudo não tiver importância ou se inexistirem meios para a concretização dos objetivos propostos, a pesquisa não se justifica. Conse-quentemente, ao pesquisador cabe mostrar, de maneira convincente, que a problemáti-ca exposta e os objetivos elencados merecem receber um tratamento acadêmico.

Em síntese, a justificativa apresenta o conjunto de contribuições que a pesquisa em questão apresenta para o meio acadêmico, para a ciência e/ou para a sociedade como um todo. A importância de um estudo científico se dá quando os resultados ob-tidos levam a novas descobertas ou contribuem para o conhecimento de problemas sociais relevantes. Nesse sentido, um projeto será mais facilmente justificado quanto mais original for a abordagem do objeto social, quanto mais suas respostas à questão levantada forem novas ou formuladas a partir de novos olhares, contribuindo para o avanço do conhecimento científico.

Revisão da literatura e fundamentação teórica A revisão da literatura e a fundamentação teórica compõem a seção em que o

pesquisador enfoca a discussão bibliográfica mais ampla sobre o assunto em questão,

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já trabalhado por autores e escolas acadêmicas que ofereceram ferramentas conceitu-ais para sua abordagem.

A revisão da literatura começa apresentando a produção básica sobre o tema e objeto que será pesquisado, fazendo uma apresentação detalhada e crítica dos pontos mais relevantes do que já se pesquisou. Não se trata apenas das abordagens a que o autor da proposta se filia, mas sim toda a diversidade do debate já travado. O mais importante aqui é fornecer subsídios teóricos para as discussões e conclusões a que se chegará ao final da pesquisa. Para tanto, o autor precisa demonstrar conhecimento da literatura especializada.

Uma boa estratégia é apresentar os autores e escolas com distintas abordagens e depois fazer um resumo dos resultados a que se chegou nas pesquisas apresentadas. Pode-se usar a ordem cronológica de publicação dos trabalhos e abordagens sobre o tema na literatura relevante da área, e também criar blocos de assuntos por fases de pesquisa, o que auxilia na demonstração de como evoluiu o objeto da pesquisa, tor-nando integrada a exposição dos conceitos.

Como acontece em todo texto acadêmico, sempre que uma obra for citada, ela precisa fazer parte da lista de bibliografia consultada (referências), ao final do texto.

O principal papel da revisão da literatura em um projeto de pesquisa é identifi-car o estado da arte, o que de mais recente foi dito e escrito sobre o tema. Para isso, o autor pode fazer uma revisão teórica ou empírica (indicando os “achados” empíricos de pesquisas já realizadas). Essa etapa é importante para fornecer elementos que, por um lado, evitam a duplicidade de pesquisas e, por outro, permitem identificar com mais clareza as contribuições originais da proposta em questão. Durante a revisão da literatura o pesquisador deve procurar responder a algumas questões:

O que já se publicou sobre o tema?

Quais autores já trataram do assunto?

Quais aspectos do objeto já foram abordados por esses autores?

Quais as lacunas existentes na literatura? Do que ainda não se tratou?

Normalmente, a revisão da literatura é feita a partir de pesquisa bibliográfica ou documental, mas também se pode lançar mão de entrevistas exploratórias, com pes-quisadores da área que já tenham experiência no assunto ou com publicações. Essas entrevistas ajudam a aprofundar as questões que envolvem o problema inicial da pesquisa.

Feita revisão da literatura, o projeto deve apresentar o referencial teórico a ser usado na pesquisa. Trata-se de uma sequência lógica:

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todas as abordagens mais relevantes, e então

aquela que servirá de base para o estudo proposto.

Dessa maneira, esta seção apresenta os chamados pressupostos teóricos para a formulação do modelo de análise da pesquisa e, consequentemente, para a solução do problema de pesquisa apresentado no início. Aqui o pesquisador faz maior utilização das citações diretas e indiretas de outros autores para apresentar conceitos e aborda-gens teóricas, apresentando as ideias fundamentais e imprescindíveis para a sua pes-quisa. No entanto, só essa apresentação não é suficiente: é preciso discutir os conceitos e demonstrar porque eles são importantes no projeto, pois esses conceitos indicam o caminho teórico para a solução do problema de estudo, assim evitando divagações que não contribuem para a conclusão do trabalho.

No caso das ciências sociais clássicas, é possível identificar pelo menos quatro grandes paradigmas de abordagem teórica do objeto de estudo mais geral: macros-sociológico, microssociológico, funcional e positivista, cada um deles podendo ser re-lacionado com o iniciador de uma abordagem teórica – Karl Marx, Max Weber, Émile Durkheim e Augusto Comte. Além disso, cada um desses paradigmas focou sua análise em aspectos específicos da sociedade.

Todavia, a apresentação desses clássicos da sociologia moderna nesse ponto da nossa discussão não significa que todos os projetos de pesquisa devam partir deles ou de um deles. De fato, esses autores dão o ponto de partida para todas as análises sociológicas produzidas no século XX, de modo que é possível fazer uma fundamenta-ção teórica sem passar pelos clássicos. Porém, os autores que vieram após os clássicos usaram de seus conceitos teóricos para avançar na literatura e para estudar novos ob-jetos da sociedade em que vivemos.

Vamos agora abordar rapidamente cada um desses paradigmas.

Abordagem societal ou macrossociológicaÉ possível dizer que Karl Marx (1818-1883) inaugura uma abordagem teórica so-

cietal para as ciências sociais modernas. Do ponto de vista metodológico, esse autor considera que a sociedade só pode ser estudada a partir dos grupamentos de indiví-duos que as compõem. A categoria mais comum em sua obra é a das classes sociais, pois considera que o indivíduo não é capaz de ser agente da sua própria história: no marxismo, o indivíduo é insuficiente, sendo objeto da história e não seu agente. O que importa para a explicação social é o que os grupamentos sociais fazem coletivamente, e cada indivíduo integrante do grupo irá agir em função de determinantes coletivos.

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Outra característica da base teórica marxista é a consideração de que as ações humanas são construções históricas dialéticas. O que acontece hoje na sociedade não pode ser explicado apenas pelo tempo presente, sendo o resultado de uma construção histórica de interesses sociais entre diferentes atores que têm poder social distribuído de maneira desigual. O resultado é a dominação de uma classe sobre a outra. Essa dominação pode ser identificada em elementos culturais e ideológicos, mas sempre nasce da maneira como se organizam os meios de produção.

E aqui surge outra característica da abordagem societal marxista clássica: ela trata predominantemente das relações econômicas, dos modos de produção na sociedade pós-revolução industrial.

No século XX, uma variação da abordagem essencialmente economicista de Marx foi a dada pela escola de Frankfurt, nas décadas de 1920 e 1930, e outra experiência no mesmo sentido foi a dos estudos culturais, das décadas de 1940 a 1960. Essas duas escolas de matriz marxista apresentaram como “novidade” o fato de darem atenção para as rela-ções sociais típicas das estruturas de dominação simbólica, não material. Ao fazerem isso, mostraram ser possível usar os conceitos marxistas para análises que vão além das rela-ções de ordem econômica. No entanto, mantiveram o princípio de explicar os fenômenos sociais a partir dos grupamentos humanos – sendo, portanto, abordagens societalistas.

Abordagem microssociológica Max Weber (1864-1920) apresenta como ponto de partida metodológico o fato

de que a sociedade pode ser explicada a partir do indivíduo – configurando, portanto, uma abordagem individualista. Segundo Weber, o pesquisador precisa estar atento ao comportamento humano em sociedade, já que as relações econômicas não são tão importantes, o foco da sua atenção sendo antes a distribuição de poder político na so-ciedade: como alguns conseguem acumular e usar poder social e outros, desprovidos desse poder, precisam se submeter aos primeiros. No pensamento weberiano, tanto os grupamentos quanto as instituições são formados como reflexo da ação do indivíduo e servem para garantir a conquista de objetivos pelos atores sociais.

Usando o que se costuma chamar de método compreensivo para estudar a racio-nalidade dos homens na sua busca de dominação sobre os outros, o autor também oferece conceitos teóricos úteis para a análise das sociedades modernas: ele aborda a burocracia estatal como uma categoria sociológica importante, pois ela seria um traço marcante da sociedade moderna, bem como a meritocracia1 é outra ideia que explica-ria as relações sociais atualmente.

1 Por meritocracia podemos entender uma substituição dos critérios de seleção baseada no nascimento ou riqueza pelo poder de inteligência. Essa mudança deu-se nas sociedades industriais devido às novas funções exercidas pela formação escolar. Assim, as aptidões intelectivas adquiridas no sistema escolar formal, representadas por diplomas e títulos obtidos, passam a ser indicadores de méritos dos indivíduos que devem fazer parte das classes dirigentes. Isso faz com que até mesmo os grupos tradicionais se adaptassem aos critérios meritocráticos de seleção social, gerando um gradual desaparecimento dos princípios de privilégios sociais atribuídos ao nascimento ou riqueza econômica (BOBBIO et al., 1998).

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Weber apresenta os conceitos teóricos mais úteis para projetos de pesquisa que pretendem enfocar as relações de poder político a partir da análise de atores individu-ais. Então, projetos de pesquisa com esse perfil podem buscar fundamentação teórica em autores weberianos ou no próprio Max Weber.

Abordagem cientificista Toda a base teórica de Augusto Comte (1798-1857) está relacionada a uma pro-

posta de produção de conhecimento científico sobre a sociedade que parte, predomi-nantemente, do próprio objeto e não da razão. As abordagens positivistas defendem que os fenômenos sociais são explicados a partir de uma completa descrição de suas manifestações. O que o autor chama de filosofia positiva é um tipo de conhecimento que pretende organizar a sociedade em vez de propor transformações ou revoluções – o que seria uma filosofia negativa. Nesse caso, o marxismo é um dos mais bem acaba-dos exemplos de filosofia negativa.

Ao descrever a sociedade, Comte propõe um esquema evolucionista para explicar as transformações pelas quais as organizações sociais passaram até chegar à era atual. A sociedade teria passado por pelo menos três fases – infância, adolescência e maturi-dade – no que diz respeito à produção de conhecimento e organização social.

Infância – a primeira fase é caracterizada pelas explicações de ocorrências so-ciais a partir de fenômenos naturais. São sociedades primitivas, que acreditam que a natureza premia e pune os homens em função de suas ações em relação ao ambiente em que vivem.

Adolescência – na segunda etapa, a sociedade produz instituições que se res-ponsabilizam por explicar os fenômenos sociais a partir de vontades divinas. É o tipo de sociedade em que predomina o conhecimento religioso dogmático.

Maturidade – já na terceira etapa do desenvolvimento social, o que predo-mina é o conhecimento científico, produzido em instituições laicas e com o objetivo de explicar os fenômenos sociais a partir de elementos materiais da própria sociedade (SELL, 2006). Trata-se, portanto, das sociedades em que as instituições de conhecimento científico ganham relevância pública e centrali-dade na organização social.

Abordagem funcionalista O último dos clássicos da abordagem sociológica moderna é Émile Durkheim

(1858-1917). Para ele, não é possível pensar apenas em termos de estruturas coletivas, de classes, e nem diretamente em indivíduos. Ele prefere uma abordagem que indi-

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que as funções desempenhadas pelas estruturas sociais, envolvendo tanto instituições quanto indivíduos. Nesse sentido, estudos de instituições como igrejas, escolas e pri-sões não fazem sentido se não levam em conta o papel que elas desempenham nas relações entre as pessoas que compõem a sociedade.

Em Durkheim, um conceito-chave é o de coesão social: a coesão existe porque os homens agem socialmente a partir de uma organização que visa a garantir a manuten-ção das relações entre eles. Assim, as instituições desempenham uma função social.

O autor também é conhecido por ter apresentado um tratamento sociológico para uma questão que até então era abordada apenas sob o ponto de vista psico-lógico: o suicídio. No final do século XIX, utilizando técnicas estatísticas e de levan-tamento de dados empíricos, Durkheim demonstrou como existem estímulos sociais para o comportamento suicida. Antes disso, provou como as explicações aceitas até então como válidas não conseguiam se sustentar após uma análise detida. Ao final do estudo, apresentou uma tipologia dos suicidas, agrupando-os por diferentes motiva-ções sociais. Essa tipologia serve como exemplo de fundamentação teórica para um projeto de pesquisa na área de ciências sociais: testar uma tipologia ou conceito já consolidado na sociedade é uma forma de construir a fundamentação teórica.

Texto complementar

Sociologia clássica(LOPES, 2010)

A Sociologia volta-se o tempo todo para os problemas que o homem enfrenta no dia a dia de sua sociedade. Ela pretende ser um conhecimento científico sobre a realidade social e, enquanto tal, visa estabelecer teorias, bem como confrontá-las com a realidade.

Cientificismo e organicismo

A primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico foi o po-sitivismo. Seu primeiro representante foi Augusto Comte. Tinha a crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob forma de leis naturais. Seu conhecimento pretendia substituir as explicações teo-lógicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais – até então – o homem explicava a realidade.

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Essa tentativa de derivar as ciências sociais das ciências físicas é patente nas obras dos primeiros estudiosos da realidade social. O próprio Comte deu inicial-mente o nome de física social às suas análises da sociedade, antes de criar o termo Sociologia.

A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam, harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo também foi chamado de organicismo.

Defendia o ponto de vista de somente serem válidas as análises das sociedades quando feitas com verdadeiro espírito científico.

O positivismo exaltava a coesão social e a harmonia dos indivíduos em socie-dade. Foram teorias que abriram as portas para uma nova concepção da realidade social com suas especificidades e regras.

Durkheim e os fatos sociais

Para o [...] francês Émile Durkheim, na vida em sociedade o homem [se] de-fronta com regras de conduta que não foram diretamente criadas por ele, mas que existem e são aceitas na vida em sociedade, devendo ser seguidas por todos.

Seguindo essas ideias, Durkheim afirma que os fatos sociais, ou seja, o objeto de estudo da Sociologia, são justamente essas regras e normas coletivas que orien-tam a vida dos indivíduos em sociedade.

Esses fatos sociais têm duas características básicas que permitirão sua identifi-cação na realidade: são exteriores e coercitivos.

Exteriores porque consistem em ideias, normas ou regras de conduta que foram criadas pela sociedade e já existem fora dos indivíduos quando eles nascem.

Coercitivos porque essas ideias, normas e regras devem ser seguidas pelos membros da sociedade. Se alguém desobedece a elas, é punido pelo resto do grupo.

Outro conceito importante para Émile Durkheim é o de instituição. Para ele, uma instituição é um conjunto de normas e regras de vida que se consolidam fora dos indivíduos e que as gerações transmitem umas às outras. Ex.: a Igreja, o Exército, a família etc.

As instituições socializam os indivíduos, faz com que eles assimilem as regras e normas necessárias à vida em comum.

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Consciência coletiva

Consciência coletiva trata-se do “conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média de uma mesma sociedade” que “forma um sistema determinado com vida própria”.

Weber e a ação social

Para o sociólogo alemão Max Weber, a análise deve concentrar-se nos atores e em suas ações; a sociedade não é algo exterior e superior aos indivíduos, como para Durkheim. Para ele é qualquer ação que o indivíduo pratica orientando-se pela ação de outros.

Só existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de co-municação, a partir de suas ações, com os demais.

Ele estabelece quatro tipos de ação social:

tradicional: aquela determinada por um costume;

afetiva: aquela determinada por afetos;

racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num valor considerado importante;

racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que estabele-ce fins e organiza meios necessários.

Marx e as classes sociais

Diferentemente de Durkheim e Weber, Marx considerava que não se pode pensar a relação indivíduo-sociedade separadamente das condições materiais em que essas relações se apoiam.

Para viver, os homens têm de, inicialmente, transformar a natureza. Para Marx, a produção é a raiz de toda a estrutura social.

O objetivo maior de Marx era estudar a sociedade de seu tempo – a sociedade capitalista. A produção na sociedade capitalista só se realiza porque capitalistas e trabalhadores entram em relação.

Marx considerava que há um permanente conflito entre essas duas classes – conflito que não é possível resolver dentro de sociedade capitalista.

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Para ele, a ciência tem um papel político necessariamente crítico em relação à sociedade capitalista.

A ideia de alienação

Marx desenvolve o conceito de alienação mostrando que a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separavam o trabalhador dos meios de pro-dução que se tornaram propriedade privada do capitalista.

Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta.

Atividades

Qual a relação entre questão de pesquisa, objetivo geral e objetivo(s) específico(s)?1.

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Qual a utilidade da revisão da literatura para a pesquisa acadêmica e como ela 2. auxilia o estudo?

Explique, com suas palavras, do que trata a abordagem funcionalista de Émile 3. Durkheim.

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Dica de estudo

SOCIOLOGIA: Comte, Marx, Weber e Durkheim. Disponível em: <www.scribd.com/doc/6637696/Sociologia-Comte-Marx-Weber-E-Durkheim>. Acesso em: 30 jul. 2010.

Gabarito

A questão de pesquisa é a pergunta que norteia o trabalho, isto é, a partir dela 1. o pesquisador agirá, tanto na análise bibliográfica quanto na empírica, de for-ma que consiga respondê-la. Esse caminho traçado pela questão deve gerar algum resultado para a pesquisa. Para que o pesquisador encontre as respostas que busca, são necessários dois tipos de objetivos, estruturados no pré-proje-to: geral e específico(s). O primeiro compreende à principal meta do trabalho, sendo bastante similar à construção da questão de pesquisa. Já o(s) objetivo(s) específico(s) visa(m) a enumerar as atividades necessárias para se chegar aos resultados finais. Como o próprio nome diz, especifica(m) o objetivo geral.

Um estudo acadêmico exige de seu autor contextualizar o tema e o objeto que 2. escolheu abordar. Na fundamentação teórica de um texto de pesquisa, o pes-quisador faz um mapeamento de estudos anteriores ao seu – tanto para o leitor compreender o assunto quanto para suporte da própria pesquisa, já que uma das mais fortes razões para se revisar a literatura é encontrar um conceito ou autor no qual se concentrar: em seu trabalho, o pesquisador elenca vários con-ceitos sobre a questão e escolhe um deles para servir de base ao restante da análise.

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Um clássico das ciências sociais, Émile Durkheim considera o objeto social tan-3. to a partir da concepção de Max Weber (a individualidade) quanto conforme a conceituação de Karl Marx (a coletividade), não anulando suas participações nos fenômenos da realidade. Durkheim utiliza o conceito de coesão social, se-gundo o qual os indivíduos dependem das instituições para sustentar as rela-ções entre si, e também pensou o suicídio como influência social, refutando a ideia de sua época que afirmava que o suicídio decorre unicamente de senti-mentos e ações individuais.

Referências

BOBBIO, Norberto; MATEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Brasília: Universidade de Brasília, 1998.

LOPES, Rosemary. Sociologia Clássica. Disponível em: <www.coladaweb.com/socio-logia/sociologia-classica>. Acesso em: 30 jul. 2010.

SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. 4. ed. Itajaí: Univali, 2006.

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Métodos e técnicas, possíveis resultados e cronograma

Métodos de pesquisa empírica Vencidas a revisão da bibliografia e a discussão teórica dos conceitos mais rele-

vantes para o projeto de pesquisa, a próxima etapa é a apresentação das técnicas que serão utilizadas para acessar a realidade empírica do objeto de estudo selecionado. Essas técnicas podem ser consideradas um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos usado para se produzir novos conhecimentos a respeito de determinada rea-lidade. Existem diferentes técnicas de pesquisa e a adoção de cada uma delas depende do método adotado para alcançar os objetivos previstos no projeto. Como se pode ver, cada tópico do projeto está diretamente relacionado aos anteriores. Além disso, deve- -se pensar que os métodos adotados em uma pesquisa dependem

da natureza do objeto;

dos recursos materiais disponíveis;

do nível de abrangência e profundidade da análise;

do prazo para realização do trabalho – determinadas técnicas exigem mais ou menos tempo e, assim, o tempo disponível deve ser considerado na definição das técnicas de pesquisa.

Os métodos e técnicas usados para as abordagens empíricas podem ser divididos, segundo Gil (1999), em métodos de abordagem e procedimentos.

Entre os métodos de abordagem, podem ser destacados principalmente

o dedutivo – relacionado com o racionalismo;

o indutivo – relacionado com o empirismo;

o hipotético – ligado ao positivismo;

o dialético e o fenomenológico – ambos relacionados à fenomenologia.

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Esses métodos são formas diferentes de procedimento lógico a serem seguidas na pesquisa e cada um deles se vincula a uma corrente teórica que se propõe a explicar a realidade de determinada forma.

Os procedimentos de abordagem empírica que enfocaremos são os mais indi-cados para trabalhos de pesquisa de conclusão de curso de graduação em ciências sociais. Não são os únicos e, com certeza, não esgotaremos as características de cada um deles. Pretendemos apenas apresentar as principais características de cada um dos procedimentos empíricos para que o aluno possa escolher o mais adequado à sua pes-quisa e aos objetivos empíricos apresentados no projeto. De acordo com Gil (1999), os procedimentos devem ser gerais o bastante para possibilitar o desenvolvimento da pesquisa e a produção de novos conhecimentos a partir da realidade. Nas ciências sociais, os principais são: histórico, comparativo, estatístico, pesquisa-ação, etnografia, quantitativo e estudo de caso.

E o pesquisador precisa ter a clareza de que não é necessário usar apenas um método de acesso ao objeto empírico: ele pode reunir dois ou mais métodos em seu projeto, indicando qual o papel desempenhado por eles no contexto do estudo. De qualquer maneira, espera-se que haja um método predominante e a partir dele se de-finam os procedimentos de coleta de dados, ou seja, que instrumentos serão mobili-zados para se obter as informações necessárias à produção de novos conhecimentos para a resolução do problema que está sendo investigado.

Procedimento histórico Usa-se este procedimento quando no acesso à realidade empírica predomina a

análise de processos em ordem cronológica para explicar as origens e o desenvolvi-mento dos fenômenos contemporâneos estudados. Boa parte dos fenômenos sociais pode ser analisada e entendida a partir da perspectiva histórica, com apresentação e análise dos precursores do fenômeno, sua evolução, até chegar ao momento atual de evolução do fenômeno. A abordagem histórica também pode ser usada para análises comparativas, o que permite explicar as causas de determinado fenômeno social. En-gana-se quem pensa que a abordagem histórica serve apenas para análises descritivas: ela também pode ser usada para, a partir da identificação da cronologia do fenômeno, traçar perspectivas para o futuro ou próximos desdobramentos.

Por exemplo, é possível usar o método histórico para analisar o desenvolvimento de práticas sociais de consumo ao longo do tempo em uma comunidade específica que passou pela transição de padrões de sociabilidade rural para urbana.

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Métodos e técnicas, possíveis resultados e cronogram

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Procedimento comparativo Ao contrário do anterior, o método comparativo parte, desde o início, da compa-

ração entre dois ou mais casos distintos. Esse método de acesso à realidade empírica é indicado quando o objeto de estudo é formado por pelo menos duas comunidades com características distintas, pois permite comparar sujeitos, grupos, classes ou fenô-menos sociais para destacar similaridades e diferenças entre eles. Também permite identificar diferenças entre grupos ou fenômenos separados no tempo e no espaço. A partir da análise simultânea de grupos distintos, o pesquisador pode estabelecer cor-relações entre os fenômenos sociais realizando comparações ao longo do estudo.

Nas ciências sociais, o uso do método comparativo pode se dar, por exemplo, em uma pesquisa sobre visões de mundo entre dois grupos de jovens das periferias de grandes cidades: um grupo participa formalmente de algum programa oficial de pre-venção à criminalidade, tal como inserção em práticas esportivas ou culturais; o outro grupo é formado por jovens que não participam desse tipo de programa social.

Pesquisa-ação É considerada uma forma inovadora de acesso à realidade empírica por parte de

pesquisadores sociais, pois considera a possibilidade de participação direta do pesquisa-dor no objeto – interferindo na realidade de maneira proposital. É uma das metodologias empíricas que mais se afasta da ideia de neutralidade das ciências sociais e por isso tem sido alvo de permanentes críticas. Na pesquisa-ação, para além da neutralidade científi-ca, o que está em jogo é a capacidade de dar voz aos sujeitos pesquisados com a justifi-cativa de que esse comportamento permitirá uma emancipação dos pesquisados.

O princípio fundamental da pesquisa-ação é usar o método para estudar os obje-tos sociais e, ao mesmo tempo, contribuir para a sua transformação.

Este procedimento é classificado como técnico-científico quando se propõe a ser livre de valores para explicar eventos a partir da relação entre causas e efeitos.

Pode ser colaborativa quando apresenta valores delimitados para explicar even-tos a partir de exercício e interação dos sujeitos estudados com o contexto externo.

Ou, é considerada crítico-participativa quando apresenta como principal ponto os valores de igualdade para buscar entender os eventos sociais a partir da relação socio-econômica entre os sujeitos pesquisados (MASTERS, 2010).

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Por exemplo, a pesquisa-ação é o método de acesso à realidade quando se trata de um estudo de comunidades de pescadores e o pesquisador age em favor da cons-cientização dos sujeitos a respeito de seus direitos sociais, transmitindo a eles informa-ções sobre como assegurar a realização de tais direitos.

Etnografia A etnografia é um dos métodos de acesso à realidade mais utilizado nas ciências

sociais brasileiras, em especial nos estudos do campo antropológico, sendo definida como a atividade de descrever práticas de uma determinada cultura para identificar, comparar e explicar diferenças culturais.

Na primeira etapa dos trabalhos etnográficos, destaca-se a cultura como elemento central do objeto de análise para a produção de novos conhecimentos e conclusões.

Em um segundo momento, os etnógrafos passaram a se interessar pela descrição de aspectos mais familiares e concretos das sociedades pouco conhecidas, em vez de se prenderem às explicações culturais.

A etnografia é, portanto, uma técnica de acesso à realidade que privilegia a des-crição de práticas sociais, relatadas a partir da experiência direta do pesquisador no campo de ocorrência dos fenômenos analisados.

Antes de ir a campo, o responsável pelo estudo precisa ter definido o conjunto de questões a serem observadas, identificando os informantes e estabelecendo as rela-ções no campo da pesquisa para coleta de dados.

A fase seguinte à observação e registro das práticas sociais é a análise dos dados e produção do relatório de pesquisa.

A etnografia também apresenta algumas limitações, tais como o fato de a presen-ça do pesquisador poder alterar as práticas observadas ou, até mesmo, o pesquisador ser rejeitado pelo grupo, assim como, por outro lado, passar a ser considerado muito familiar. Em todos esses casos, a relação entre estudioso e objeto de estudo pode gerar desvios indesejados nos resultados da pesquisa.

Um exemplo de estudo etnográfico é aquele em que o pesquisador participa e registra as ocorrências verificadas em bailes da terceira idade quando a pesquisa trata da sociabilidade de idosos.

Procedimento quantitativo O método quantitativo de acesso à realidade está diretamente relacionado à teoria

estatística e tem por objetivo medir, quantificar e delimitar similaridades e diferenças nas

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Métodos e técnicas, possíveis resultados e cronogram

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características do fenômeno pesquisado. O uso da teoria probabilística estatística traz um relevante apoio para a pesquisa nas ciências sociais por dar maior segurança tecno-científica aos achados empíricos. No entanto, a utilização das regras probabilísticas para fazer inferências a respeito de uma população mais ampla a partir de uma amostra não permite chegar à certeza absoluta, e sim, a uma probabilidade de verdade.

Todavia, os testes matemáticos permitem chegar a um grau de acerto a respeito de determinada conclusão sobre o objeto analisado que não ocorre em nenhum outro método de pesquisa empírica. Além disso, eles também identificam a margem de erro sobre a qual os resultados verdadeiros podem variar. Ao reduzir os fenômenos a núme-ros que podem ser quantificados matematicamente, a abordagem quantitativa permi-te o estabelecimento de relações entre determinados fenômenos, sendo indicada para fenômenos muito complexos que não permitem um aprofundamento em sua análise, a não ser a partir da representação numérica.

Um exemplo do uso de método quantitativo para explicar a realidade se dá em pesquisas que usam testes probabilísticos para quantificar os impactos de diferentes características na definição de voto em favor de determinado candidato ou partido político, sendo possível quantificar o peso de características como idade, formação es-colar, visão de mundo, sexo, filiação partidária e consideração de problemas mais im-portantes para explicar a decisão de voto em um que se autodenomina progressista.

Estudo de caso Esta é uma técnica de pesquisa empírica pela qual se busca destacar o caso anali-

sado mais do que objeto em si. Por natureza, aplica-se a casos isolados ou a um redu-zido número de casos para entender como determinados fenômenos sociais ocorrem. Para o pesquisador que opta pelo uso do estudo de caso, o mais importante é o fato de poder estudar em profundidade casos que são considerados representativos de de-terminados fenômenos sociais. Os casos estudados podem ser indivíduos, instituições, grupos sociais ou até mesmo comunidades. Uma das definições mais usadas para esse tipo de abordagem é a de que se trata de um estudo ou investigação sistemática de um caso específico com o fim a relatar um único fenômeno, assim contribuindo para o seu entendimento mais geral.

É importante entender que o estudo de caso só se justifica quando o objeto ana-lisado (o caso) apresenta características que fundamentem tal escolha, isto é, o pesqui-sador precisa ter em mente que deverá fazer uma análise aprofundada e verticalizada do objeto. Não se deve esperar uma pesquisa superficial em um estudo de caso, pois ela perderia toda a força explicativa.

Por exemplo, o Brasil passa por um período de maior transparência nas atividades que se dão no interior das instituições públicas e estatais. Esse tema permitiria uma

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infinidade de pesquisas, com diferentes formas de abordagem. Mas digamos que um pesquisador queira estudar, dentro da temática da implantação das emissoras de tevê legislativas, um caso específico: a emissora de tevê legislativa de determinado estado da federação. Esse é um estudo de caso, pois não pretende relacionar o caso específico com as emissoras das demais unidades da federação ou traçar leis mais gerais a respei-to do sistema de transmissão pública das atividades legislativas: o objetivo é descrever, em profundidade, esse caso específico.

Procedimentos técnicos na pesquisa empírica O delineamento e a escolha dos procedimentos metodológicos exige uma defi-

nição prévia das circunstâncias e do ambiente para a coleta de dados, assim como as possíveis formas de controle das variáveis envolvidas na pesquisa, com o pesquisador apresentando onde, quando e como será feita a pesquisa empírica.

A primeira decisão diz respeito ao número de indivíduos que serão pesquisados e a representatividade deles. Se o projeto pretende coletar informações de todos os indiví-duos que compõem o objeto, trata-se de uma pesquisa por população, que inclui o uni-verso total da pesquisa. Se, por outro lado, for impossível pesquisar todos os indivíduos, o projeto deve apontar que se trata de uma pesquisa por amostra, com um subconjunto de indivíduos representativos do todo sendo objeto de atenção do pesquisador.

Em seguida, o autor do projeto deve apresentar a técnica ou técnicas de pesqui-sa que serão incorporadas ao trabalho. As mais usadas nas ciências sociais são coleta de dados documental, aplicação de questionário, realização de entrevista, observação dos fenômenos e análise de conteúdo documental.

População ou amostra A seguir são apresentadas as principais características da pesquisa populacional

ou amostral e das principais técnicas de coleta de dados empíricos. Uma vez definido se a pesquisa será a partir da população ou de uma amostra, o cientista deve indicar no projeto de pesquisa a técnica ou técnicas que serão utilizadas no trabalho. A seguir são apresentadas as principais técnicas usadas em trabalhos na área de ciências sociais:

População

População é a totalidade dos indivíduos pesquisados, dos quais se pretende ex-trair informações para a pesquisa científica. A delimitação das características dos indiví-

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duos que serão estudados é fundamental para o estabelecimento do universo popula-cional da pesquisa. Por exemplo, digamos que em uma pesquisa científica pretenda-se estudar a opinião dos estudantes de cursos de licenciatura a respeito de determinadas características da escola formal no Brasil. É preciso saber se todos os estudantes que cursam licenciatura atualmente fazem parte da população. E quanto aos já gradua-dos? E quanto à distribuição geográfica dos pesquisados? A população é composta por todas as regiões do país ou apenas algumas? E quanto ao tipo de faculdade? Estudan-tes de escolas públicas e privadas fazem parte da população? Pode parecer simples, mas várias perguntas precisam ser respondidas antes de tomar a decisão sobre quem faz parte do universo a ser pesquisado.

Uma vez caracterizada a população, o passo seguinte é partir para a coleta de informações que interessam ao pesquisador para a produção de conclusões e novos conhecimentos.

Porém, muitas vezes o acesso ao universo inviabiliza a pesquisa acadêmica em função dos recursos limitados do pesquisador ou do tamanho da população. Nesse caso, recomenda-se a eleição de uma amostra que seja representativa do todo, de modo a viabilizar a pesquisa e permitir a produção de conclusões com certo grau de confiabilidade como explicação para o fenômeno estudado.

Amostra

Toda amostra pode ser entendida como um subconjunto extraído da população a ser pesquisada. A partir das amostras, é possível examinar as características estudadas e a realização de testes estatísticos que permitam identificar a força das relações entre os fenômenos sociais. Do ponto de vista da estatística, para a teoria da probabilidade só são aceitáveis amostras aleatórias, ou seja, sem nenhuma intencionalidade na esco-lha dos indivíduos a partir da população. No entanto, a aleatoriedade pode gerar um problema para a pesquisa científica, que é a perda de representação da amostra em relação à população. Por exemplo, digamos que determinada população seja dividida em 55% de homens e 45% de mulheres. Se tirarmos uma amostra totalmente aleatória, sem nenhum critério de seleção, podemos ter – no limite – uma amostra composta por 100% de homens ou de mulheres. Evidentemente, essa amostra aleatória não repre-senta a característica da população considerada relevante para a pesquisa – no caso, o sexo dos pesquisados. Para evitar a perda de representatividade, o pesquisador deve fazer uma seleção das amostras por faixas de características, o que permitirá à amostra ser representativa do todo.

E, além da representatividade da amostra, é preciso definir o seu tamanho. Ao contrário do que se imagina,o tamanho de uma amostra não está relacionado ao tama-nho da população, pois o número de indivíduos na amostra depende da heterogenei-

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dade da população, da margem de erro que o pesquisador aceita cometer e do nível de confiança que a amostra deverá apresentar.

Técnicas

Coleta de dados documental

Esta técnica pode ser usada em praticamente todos os tipos de pesquisa, pois é utilizada nas etapas de produção do projeto de pesquisa para revisão da literatura e discussão teórica. Mas também pode ser a principal técnica de pesquisa de campo a partir de diferentes fontes, como livros, discursos oficiais, documentos legais, reporta-gens, cartas etc., pretendendo-se compreender determinados fenômenos sociais não a partir deles mesmos, mas sim do seu registro – que já foi realizado.

Para a coleta de dados, o pesquisador deve transcrever trechos ou informações contidas nos documentos, organizando-os em fichas ou planilhas próprias.

Em seguida, organiza o material em ordem cronológica para a análise de cada uma das características. Com essa organização é possível acessar com mais facilidade os dados que serão analisados em função do problema levantado e dos objetivos da pesquisa.

As conclusões serão extraídas do material coletado e organizado a partir dos documentos.

Questionário

Outra forma de se obter informações da realidade, mas já diretamente junto aos informantes, é a aplicação de questionários. Questionário é todo instrumento de pes-quisa ordenado em forma de perguntas e respostas sobre as características ou vari-áveis que se pretende estudar. Os questionários podem conter perguntas fechadas (quanto todas as alternativas são apresentadas), abertas (quando o entrevistado é livre para dar a resposta que quiser) ou mistas (quando composto por perguntas abertas e fechadas). Os questionários são documentos da pesquisa, portanto devem ser respon-didos por escrito. Normalmente, são aplicados por um pesquisador, mas também pode ser em forma de autoaplicação, quando o responsável não está presente no momento em que se preenchem as respostas.

Os questionários com perguntas abertas permitem uma análise mais aprofunda-da das características pesquisadas. No entanto, este tipo de instrumento torna mais difícil a organização e análise das informações coletadas dos informantes. Em alguns casos, a tabulação de dados de perguntas abertas torna-se praticamente impossível.

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Recomenda-se que antes da aplicação de um questionário o pesquisador faça um pré-teste, verificando a consistência das perguntas e respostas, assim como a verifica-ção das informações a serem obtidas de fato pelo instrumento de pesquisa.

Entrevistas

Uma segunda maneira de levantar informações diretamente com os sujeitos pes-quisados é a realização de entrevistas, que não deve ser confundida com a aplicação de questionários. A técnica da entrevista envolve duas pessoas em uma relação face a face. Uma delas formula perguntas mais ou menos estruturadas e a outra as responde. Essas perguntas não precisam ser exatamente as mesmas em cada entrevista, como acontece no questionário, e as respostas são sempre abertas, variando de acordo com cada entrevistado. O principal objetivo de uma entrevista em pesquisa científica é entender que significados os sujeitos atribuem a determinadas questões sociais com base nas expectativas do próprio pesquisador.

Toda entrevista parte de um roteiro preestabelecido, que pode ser classificado de três formas:

entrevista estruturada: quando as perguntas a serem feitas são todas definidas de maneira antecipada pelo pesquisador e não se permite nenhuma alteração no roteiro durante a sua realização;

entrevista não estruturada: no outro extremo, na qual o ponto de partida esta-belecido pelo pesquisador é apenas formal e cada entrevista pode tomar um caminho próprio, as perguntas sendo definidas no momento da realização da entrevista e não de forma antecipada;

entrevistas semiestruturadas: tipo intermediário em que há uma prévia orga-nização da entrevista, que ganha contorno próprio, com a inclusão de novas questões durante a realização se o pesquisador julgar necessário.

Observação da realidade

Se o pesquisador pretende obter dados diretamente da realidade, mas sem um contato direto com os informantes para a aplicação de questionários ou a realização de entrevistas, pode usar a observação direta. Toda pesquisa científica sobre a sociedade depende da observação dos fenômenos sociais, mas além da imprescindível observa-ção dos aspectos da realidade, é possível utilizar técnicas específicas para organizar o acesso à realidade a ser observada.

Assim, a observação parte de um exame minucioso e preciso sobre o fenômeno como um todo ou das partes recortadas para a pesquisa. Para tanto, essa observação

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precisa ser sistematicamente planejada e registrada, é preciso ultrapassar o limite das curiosidades vistas de forma desorganizada: a técnica de observação da realidade de-manda verificações sistemáticas e a adoção de medidas para controle de validação e precisão das informações obtidas.

Assim, a observação da realidade é classificada como um método qualitativo de pesquisa científica, embora também permita quantificações.

Antes de tudo é preciso saber o que se pretende observar.

Em seguida, registrar as características observadas, assim como as relações entre os fenômenos ligados ao objeto de análise.

A observação pode ser participante ou não participante:

nas observações participantes o pesquisador se envolve nos fenômenos pesquisados, interferindo diretamente no comportamento dos sujeitos ana-lisados;

nas observações não participantes o pesquisador não tem nenhuma inter-venção na realidade, apenas acompanha os fenômenos sociais, sendo pratica-mente invisível aos sujeitos pesquisados.

O maior cuidado a se tomar aqui é com as impressões vagas, as projeções ideoló-gicas ou psicológicas do próprio pesquisador ou do relato de simples sensações, que são características do conhecimento de senso comum, e não do saber científico.

Análise de conteúdoÉ uma técnica de acesso à realidade a partir de documentos, falas ou qualquer tipo

de comunicação que possa ser registrada, permitindo a análise objetiva e sistemática para a quantificação dos aspectos da realidade que foram registrados. Se a observação é uma técnica qualitativa de pesquisa, a análise de conteúdo tende a se aproximar da pesquisa quantitativa e com ela o que se pretende é fazer inferências confiáveis a partir de informações sobre o contexto analisado, sendo aplicada a discursos, cartas, regula-mentos, programação de rádio, televisão, internet, artigos, livros, trabalhos acadêmi-cos, conversas, poesias etc. Aqui se busca analisar a personalidade ou intencionalidade expressa nos registros trabalhados, nas mensagens transmitidas pelos atores sociais pesquisados, podendo, a partir dessa análise, identificar ideologias, tendências, visões de mundo, e ainda compará-las com outros conteúdos analisados.

O ponto mais importante da análise de conteúdo é a adequada definição da uni-dade de análise, que pode ser uma palavra, um tema, símbolo, imagem ou frase – e a inadequação entre unidade de análise e objetivos da pesquisa é a principal causa do insucesso no uso da técnica de análise de conteúdo.

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A partir da unidade de análise é possível agrupar as ocorrências seguindo critérios preestabelecidos para, em seguida, fazer o tratamento estatístico adequado, classifi-cando conforme os interesses da pesquisa.

Possíveis resultados e cronograma de atividades Os dois últimos tópicos de um projeto de pesquisa, segundo o modelo com que

trabalhamos, são a apresentação de possíveis resultados da pesquisa e o cronograma de atividades.

Os possíveis resultados devem indicar o que o pesquisador espera identificar na realidade empírica a partir do conjunto de técnicas e métodos de pesquisa aplicados a determinado objeto. Além disso, ele precisa relacionar isso tudo à discussão teóri-ca feita inicialmente no projeto. Na maioria das vezes, um parágrafo é suficiente para indicar os possíveis resultados. O importante aqui é indicar se a pretensão central da pesquisa é fazer avançarem as teorias existentes, refutá-las ou testar determinados as-pectos teóricos já consolidados na literatura.

Já o cronograma de atividades tem a função de indicar ao leitor do projeto de pes-quisa todas as principais etapas a serem desenvolvidas ao longo do trabalho. Normal-mente, utiliza-se o período mensal para indicar as atividades que serão desenvolvidas e o cronograma pode ser apresentado em forma de tabela, com as etapas em cada linha e os meses em forma de coluna. A primeira atividade a ser indicada no cronograma é a revisão bibliográfica, enquanto a última etapa é a defesa ou apresentação do texto final da monografia. Entre esses dois extremos o pesquisador deve indicar os principais passos do trabalho. Quanto mais detalhado, melhor.

Texto complementar

Instrumentos de coleta de dados em pesquisa(BARBOSA, 2010)

A necessidade de dados para monitorar e avaliar projetos

Um sistema de monitoramento e avaliação de projetos só pode ser implemen-tado com sucesso com a definição dos meios para obtenção de dados confiáveis sobre processos, produtos e resultados. Um sistema de avaliação, mesmo com

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um planejamento perfeito, pode fracassar inteiramente se os dados necessários para análise não puderem ser obtidos ou se os mesmos são imprecisos ou sem confiabilidade.

[...]

Instrumentos para medidas quantitativas

Medidas quantitativas utilizam algum tipo de instrumento para obter índices numéricos que correspondem a características específicas das pessoas ou objetos da medição. O resultado da aplicação de um instrumento para medida quantitativa é um conjunto de valores numéricos que são resumidos e registrados sob a forma de relatórios. Consequentemente, a qualidade das medidas influem diretamente nesses resultados. Se as medidas são fracas ou polarizadas (direcionadas por alguma característica do instrumento ou por deficiências em sua aplicação), assim também serão os resultados. Técnicas de medidas robustas, ao contrário, aumentam a preci-são e a confiabilidade dos dados coletados. Portanto, é imprescindível saber distin-guir que situações podem afetar a qualidade de uma medida, uma vez que isso afeta diretamente a qualidade dos dados obtidos. É importante destacar, ainda, que uma técnica de pesquisa deve ser escolhida em função das necessidades de informação e não do orçamento disponível.

[...]

Procedimentos usuais para coleta de dados

1. Questionários – também chamados de survey (pesquisa ampla), o questio-nário é um dos procedimentos mais utilizados para obter informações. É uma técni-ca de custo razoável, apresenta as mesmas questões para todas as pessoas, garante o anonimato e pode conter questões para atender a finalidades específicas de uma pesquisa. Aplicada criteriosamente, esta técnica apresenta elevada confiabilidade. Podem ser desenvolvidos para medir atitudes, opiniões, comportamento, circuns-tâncias da vida do cidadão e outras questões. Quanto à aplicação, os questionários fazem uso de materiais simples como lápis, papel, formulários etc. Podem ser apli-cados individualmente ou em grupos, por telefone, ou mesmo pelo correio. Pode incluir questões abertas, fechadas, de múltipla escolha, de resposta numérica ou do tipo sim ou não.

As etapas necessárias para o desenvolvimento de um questionário são: (i) Jus-tificativa; (ii) Definição dos objetivos; (iii) Redação das questões e afirmações; (iv) Revisão; (v) Definição do formato; (vi) Pré-teste e (vii) Revisão final.

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2. Entrevistas – é um método flexível de obtenção de informações qualitativas sobre um projeto. Este método requer um bom planejamento prévio e habilidade do entrevistador para seguir um roteiro de questionário, com possibilidades de intro-duzir variações que se fizerem necessárias durante sua aplicação. Em geral, a aplica-ção de uma entrevista requer um tempo maior do que o de resposta a questionários. Por isso seu custo pode ser elevado, se o número de pessoas a serem entrevistadas for muito grande. Em contrapartida, a entrevista pode fornecer uma quantidade de informações muito maior do que o questionário. Um dos requisitos para aplicação desta técnica é que o entrevistador possua as habilidades para conduzir o processo. Boas questões e um entrevistador sem habilidades não fazem uma boa entrevista.

O desenvolvimento de questões para entrevista deve considerar alguns aspec-tos para que seja efetiva, tais como: (i) adaptar a linguagem ao nível do entrevistado; (ii) evitar questões longas; (iii) manter um referencial básico (objetivo) para a entre-vista; (iv) sugerir todas as respostas possíveis para uma pergunta, ou não sugerir nenhuma (para evitar direcionar a resposta).

Algumas habilidades desejáveis no entrevistador são: (i) conhecimento do as-sunto objeto da entrevista; (ii) capacidade de síntese e decisão; (ii) boa comunicação oral; (iii) colocação imparcial perante o entrevistado e (iv) autocontrole emocional.

3. Observação direta – este método de coleta de dados baseia-se na atua-ção de observadores treinados para obter determinados tipos de informações sobre resultados, processos, impactos etc. Requer um sistema de pontuação muito bem preparado e definido, treinamento adequado dos observadores, supervisão duran-te aplicação e procedimentos de verificação periódica para determinar a qualidade das medidas realizadas. Observações realizadas em fases iniciais de um projeto ou mesmo antes de seu início podem ser de caráter não estruturado, ou seja, realizadas de maneira informal.

A observação direta depende mais da habilidade do pesquisador em captar in-formação através dos cinco sentidos, julgá-las sem interferências e registrá-las com fidelidade do que da capacidade das pessoas de responder a perguntas ou se posi-cionar diante de afirmações. Em geral, este método é aplicado com o pesquisador completamente fora das situações, fatos ou pessoas que está observando.

Uma das vantagens desta técnica é que o pesquisador não precisa se preo-cupar com as limitações das pessoas em responder às questões. Entretanto, é um procedimento de custo elevado e difícil de ser conduzido de forma confiável, princi-palmente quando se trata da obtenção de dados sobre comportamentos que envol-vem alguma complexidade. Outro ponto a considerar é o problema da interferência do pesquisador (observador) no comportamento do observado. Além disso, requer um intenso treinamento do observador.

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4. Registros institucionais (ou análise documental) – uma das primeiras fontes de informação a serem consideradas é a existência de registros na própria organização, sob a forma de documentos, fichas, relatórios ou arquivos em compu-tador. O uso de registros e documentos já disponíveis reduz tempo e custo de pes-quisas para avaliação. Além disso, essa informação é estável e não depende de uma forma específica para ser coletada. Deve ser observado que, na maioria das vezes, já existe uma grande quantidade de informação nas organizações, cujo o uso para fins de avaliação tem sido muito pouco efetivo.

Dependendo do desenvolvimento da cultura organizacional, da estrutura e funcionamento dos sistemas de informação existentes na instituição, pode haver alguma dificuldade com esta técnica, pois: (i) nem todos os dados estão completos (por exemplo: registros de dois anos atrás não estão completos); (ii) os dados dis-poníveis estão excessivamente agregados, dificultando seu uso; (iii) mudanças de padrões com o tempo inviabilizam a comparação entre dados obtidos em épocas diferentes e (iv) dados só são disponíveis para uso confidencial.

5. Grupos focais – um grupo focal (GF) é um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido (até 12 pessoas), com o propósito de obter informação qualitati-va em profundidade. As pessoas são convidadas para participar da discussão sobre determinado assunto. Normalmente, os participantes possuem alguma característi-ca em comum. Por exemplo: compartilham das mesmas características demográfi-cas tais como nível de escolaridade, condição social, ou são todos funcionários do mesmo setor do serviço público.

Os participantes de um GF são incentivados a conversar entre si, trocando suas experiências, relatando suas necessidades, observações, preferências etc. A conver-sação é conduzida por um moderador, cuja regra central é incentivar a interação entre os participantes. O moderador incentiva a participação de todos, evitando que um ou outro tenha predomínio sobre os demais, e conduz a discussão de modo que esta se mantenha dentro do(s) tópico(s) de interesse.

O objetivo principal de qualquer GF é revelar as percepções dos participantes sobre os tópicos em discussão. As principais características de um GF são:

Cada grupo é organizado com pequeno número de pessoas (no máximo 12) para incentivar interação entre os membros;

Cada sessão dura aproximadamente 90 minutos;

A conversação concentra-se em poucos tópicos (no máximo cinco assuntos);

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O moderador tem uma agenda onde estão delineados os principais tópicos a serem abordados. Estes tópicos são geralmente pouco abrangentes, de modo que a conversação sobre os mesmos se torne relevante;

Há a presença de observador externo (o qual não se manifesta) para captar reações dos participantes.

Diferenças entre GFs e questionários (surveys):

GF obtém dados qualitativos, enquanto que o survey obtém, prioritaria-mente, dados quantitativos;

GF usa pequenos grupos, enquanto que o survey requer grandes amostras;

GF não são úteis para inferências precisas a respeito de toda a população;

GF utiliza questões e respostas não estruturadas, enquanto que o survey utiliza questões muito bem estruturadas, padronizadas, e respostas precodificadas.

Quando utilizar GFs: GF´s são úteis nos estágios exploratórios de uma pesqui-sa, ou quando administradores querem ampliar sua compreensão a respeito de um projeto, programa ou serviço. GFs podem ser utilizados para monitorar um serviço em execução, para verificar, por exemplo, o grau de satisfação das pessoas que o utilizam, que mudanças gostariam de ver ou que dificuldades estão encontrando. Os passos mais importantes na condução de um GF são: selecionar os participantes e escrever o guia do moderador (agenda).

Seleção dos participantes: antes de selecionar os participantes, devemos de-cidir de que grupo queremos obter informações. Públicos-alvo muito diferentes não devem ser colocados juntos porque um pode inibir os comentários do outro. A idade, posição social, posição hierárquica, conhecimento dos participantes e outras variáveis podem influenciar na discussão. Os participantes podem ajustar o que vão dizer conforme a situação em que se encontrarem no grupo. Por isso, a definição do grupo-alvo deve ser a mais específica possível.

A agenda do moderador: descreve os principais tópicos a serem abordados, os quais devem ser citados durante a discussão, através de questões e pontos pre-viamente anotados. As primeiras questões discutidas devem ser de caráter geral e abordagem fácil, para permitir a participação imediata de todos. O objetivo é obter o envolvimento e fluidez na conversação. Em seguida, questões mais específicas e de caráter mais analítico podem ser apresentadas

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Local de reuniões: GFs normalmente são realizados em locais especialmente preparados para este tipo de atividade. A sala deve ser equipada com recursos para gravação da discussão, sendo que este fato deve ser comunicado aos participantes, assegurando-lhes anonimato e uso exclusivo das gravações para as finalidades da pesquisa. Os participantes também devem ser informados da existência de obser-vadores da discussão.

Problemas a serem evitados: os gerentes devem estar atentos para possíveis armadilhas envolvendo a técnica de GFs. A maior armadilha é utilizar esse recurso em uma situação em que não é adequado como mecanismo de pesquisa. Devido ao fato de GF ser uma técnica mais simples e muito mais barata do que um survey, corre-se o risco de optar por ela em detrimento de uma pesquisa mais ampla e pre-cisa. O GF fornece informações em grande nível de detalhes e que normalmente não podem ser generalizadas para o resto da população. Os surveys são generalizá-veis se a amostra for escolhida corretamente, mas as informações que eles produ-zem são menos detalhadas do que os GFs e não contêm os mesmos elementos de espontaneidade.

A pesquisa através de GFs é uma ferramenta para gerentes do serviço público interessados em saber mais sobre preferências específicas e necessidades de seus clientes e/ou empregados. É uma técnica flexível e pode contribuir trazendo novas ideias.

Atividades

O pesquisador pode elencar mais de um método de pesquisa em sua análise? 1. Justifique.

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Por que o procedimento de pesquisa denominado 2. pesquisa-ação é alvo de crí-ticas de setores mais tradicionais da comunidade científica?

Defina a técnica de coleta de dados chamada 3. análise de conteúdo.

Dica de estudo

INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS. Disponível em: <www.pedagogiaemfo-co.pro.br/met06.htm>. Acesso em: 2 ago. 2010.

Gabarito

Sim, o pesquisador pode usar mais de um método de pesquisa com o mesmo 1. banco de dados, contanto que os métodos se complementem entre si, não se anulem. Existem pesquisas – a maioria delas – que precisam se submeter a mais de um método para gerar resultados, pois apenas um deles não é suficiente para responder às questões de estudo. No entanto, é recomendável um méto-do predominante para que a partir dele se definam os procedimentos de coleta de dados.

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A pesquisa-ação é constante alvo de críticas por parte da comunidade científi-2. ca por possibilitar ao pesquisador o uso de juízos de valor na análise empírica. Como exemplo, têm-se dois tipos de abordagem dentro dessa linha de pes-quisa que permitem parcial ou totalmente o uso da subjetividade por meio de quem estuda o objeto: colaborativa e crítico-participativa, respectivamente. Os pesquisadores sociais consideram esse procedimento inovador para se chegar a resultados da análise da realidade empírica justamente porque o pesquisador pode interferir nas estratégias de ação.

A análise de conteúdo (AC) é considerada uma técnica híbrida por fazer uma 3. ponte entre a estatística e a análise qualitativa do objeto escolhido. Portanto, tende a se aproximar da pesquisa quantitativa. Na AC é preciso definir, antes da coleta de dados, qual será a unidade de análise, que pode ser desde textos até imagens ou símbolos – enfim, qualquer tipo de comunicação que possa ser registrada. Esta técnica reduz a complexidade de uma coleção de unidades do objeto pela classificação sistemática, transformando uma grande quantidade de material em indicadores de algumas características organizadas.

Referências

BARBOSA, Eduardo Fernandes. Instrumentos de Coleta de Dados em Pesquisa. Dis-ponível em: <www.sit.com.br/SeparataENS0019.htm>. Acesso em: 2 ago. 2010.

MASTERS, Janet. The History of Action Research. Disponível em: <www.scu.edu.au/schools/gcm/ar/arr/arow/rmasters.html >. Acesso em: 14 jul. 2010.

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

A estrutura do projeto de pesquisa Nosso objetivo agora é, inicialmente, apresentar as características técnicas e de

normas do texto do projeto de pesquisa.

Em um segundo momento, trataremos da transformação dos elementos do pro-jeto em texto final do trabalho de conclusão de curso (TCC).

Por fim, vamos apresentar algumas normas técnicas e de formatação do texto final do TCC.

Para tanto, vamos chamar de projeto de pesquisa a formatação inicial do texto da proposta de pesquisa e de texto de publicização dos resultados a versão final do traba-lho. A figura 1 representa a estrutura do projeto de pesquisa.

Figura 1 – Estrutura do projeto de pesquisa para trabalho de conclusão de curso (TCC).

Referências

Anexos

Cronograma de Atividades

Possíveis Resultados

Métodos e Técnicas

Fundamentação Teórica

Objetivos (geral/específicos)

Delimitação do Tema/Problema

Sumário

Capa

Justificativa

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so

Utilizando papel no formato A4, todas as páginas do projeto de pesquisa devem estar com margens superior e esquerda de 3 centímetros e margens inferior e direita de 2,5 centímetros.

A capa deve conter os elementos fundamentais para identificação do autor do tra-balho, o nome da instituição a que ele está vinculado e o objeto analisado. De acordo com a Norma Brasileira Regulamentada 14.724, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR 14.724, ABNT, 2002), os elementos da capa devem ser:

nome da instituição;

nome do autor;

título do projeto de pesquisa;

subtítulo, quando houver;

local (cidade em que foi produzido);

ano.

Todos os elementos da capa (excetuando o subtítulo) devem estar em tipologia Times New Roman, com corpo 12 e espaçamento de 1,5. Apenas o título deve constar em negrito. E todos os elementos devem estar centralizados.

O sumário vem em seguida da capa e apresenta os números das páginas de cada item do projeto.

A delimitação do tema e do problema deve ter de duas a três páginas para apre-sentar e demarcar o tema a ser pesquisado. Como esta parte do projeto é concluí-da com a problematização ou apresentação do problema de pesquisa, suas últimas frases devem estar em forma interrogativa, apresentando-se assim a(s) pergunta(s) de pesquisa.

Em outra página são apresentados os objetivos – geral e específicos. Cada obje-tivo deve vir em uma frase própria, para não se confundir com os demais, e cada um deles deve corresponder a um subtítulo do trabalho. Essas frases devem ser afirmações sobre o que se pretende fazer para realizar a pesquisa, tratando-se, portanto, de res-postas às perguntas formuladas na problematização. Os objetivos devem se resumir a uma página.

Após os objetivos, são apresentadas as justificativas da pesquisa: o projeto deve justificar a pesquisa a partir da sua relevância para a atividade acadêmica e da sua via-bilidade. A justificativa deve ter entre uma e duas páginas.

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

A fundamentação teórica é o tópico mais extenso em um projeto de pesquisa e nele o autor do texto apresenta o balanço bibliográfico, demonstrando conhecer o estado da arte das abordagens acadêmicas sobre o tema e objeto de pesquisa, e também expõe os principais conceitos teóricos, os autores e escolas que tratam do tema delimitado para a pesquisa. O que se pretende aqui é, primeiramente, demonstrar ao leitor da proposta que o pesquisador possui conhecimento sobre o debate teórico que circunda o tema; em segundo lugar, deixar claro que conceitos serão mobilizados na pesquisa, e quais não serão utilizados. Sempre é preciso esclarecer os motivos das escolhas teóricas e conceituais – lembrando que a fundamentação teórica do projeto de pesquisa não tem a finalidade de mostrar uma fé cega em determinados autores ou abordagens teóricas. Pelo contrário, ela deve servir para mostrar que o autor do projeto possui autonomia intelectual suficiente para produzir sua pesquisa, com ca-racterísticas próprias, procurando chegar a conclusões originais a partir dos conceitos já disponíveis na literatura. Esta parte do projeto de pesquisa deve ter entre 10 e 15 páginas.

Logo depois da fundamentação teórica, complementando-a, vem a descrição dos métodos e técnicas a serem utilizados na pesquisa empírica para produzir os resulta-dos a serem analisados posteriormente. Deve ficar claro qual é o principal método de abordagem empírica e quais as metodologias acessórias/complementares. Além disso, o autor precisa justificar as escolhas metodológicas apontando as principais caracte-rísticas de cada uma delas. O tópico dos métodos e técnicas deve ter entre duas e três páginas.

No item dos possíveis resultados, o pesquisador apresenta o que pensa obter como conclusões a partir da mobilização dos conceitos teóricos apresentados na fun-damentação e das técnicas de pesquisa empírica apresentadas anteriormente. É o mo-mento em que a especulação sobre os resultados permitirá ao leitor identificar onde o pesquisador pretende chegar com a sua proposta. Deve ter no máximo uma página de extensão.

O cronograma de atividades deve ser apresentado em forma de quadro, com as colunas divididas segundo cada mês de atividade e as linhas indicando as atividades a serem realizadas. Deve começar na apresentação do projeto de pesquisa, passando pelo período de revisão da bibliografia, a produção dos instrumentos de pesquisa em-pírica, o trabalho de campo, a redação do texto final e a entrega do TCC.

Se houver necessidade, o pesquisador pode acrescentar ao projeto páginas de anexos, assim incluindo, por exemplo, o modelo de ficha de pesquisa bibliográfica ou o questionário a ser aplicado na etapa do trabalho empírico.

Por fim, apresentam-se as referências das obras citadas ao longo do texto do pro-jeto, seguindo determinações da ABNT.

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Do projeto ao texto final do trabalho de pesquisa científica

Além de apresentar as principais características do estudo que se pretende de-senvolver, o projeto de pesquisa tem como uma segunda função ser o ponto de par-tida para a produção do texto final do TCC. Todos os tópicos do projeto podem ser aproveitados no trabalho final, desde que inseridos em seus devidos lugares, em uma recomposição cuja finalidade é permitir que o leitor dos resultados consiga identifi-car de onde surgiu a proposta. Além disso, ele também poderá identificar o percurso transcorrido até a produção das conclusões no TCC. Nenhum dos tópicos do projeto de pesquisa deve ser mantido da mesma maneira no texto final: os conteúdos dos itens da proposta precisam ser redistribuídos nas seções do texto do trabalho de conclusão de curso. Além disso, o texto final apresenta novos tópicos, conforme definido pela ABNT.

Segundo a NBR 14.724, da ABNT, são itens obrigatórios do texto final a folha de rosto, a ficha de aprovação, o resumo e as listas, e são aceitos como opcionais novas páginas para a dedicatória, os agradecimentos e a epígrafe. Dependendo da necessi-dade (isto é, havendo esses elementos no corpo do texto), o autor deve acrescentar páginas como indicativas de listas de ilustrações, lista de tabelas, lista de siglas e lista de símbolos. Todas as listas devem ser inseridas antes do sumário. Ao final, após as referências, também dependendo da necessidade, podem ser incluídas páginas para glossário, apêndices e anexos.

A introdução do texto de publicização dos resultados da pesquisa deve apre-sentar os dados iniciais a respeito do trabalho e, portanto, dela devem fazer parte as informações que delimitam o tema, a pergunta ou perguntas de pesquisa, além dos objetivos e justificativa para o trabalho. E a introdução também deve informar o leitor sobre o plano da obra: como é composto o texto, que capítulos ou tópicos virão a seguir e, em linhas gerais, o conteúdo de cada um deles. A delimitação do tema e a fundamentação teórica devem compor os capítulos do texto propriamente dito do TCC. Como demonstra figura 2, os últimos tópicos do projeto de pesquisa se transfor-mam nas partes posteriores à conclusão do trabalho, na forma de anexos e apêndices – quando necessários. As referências devem ser mantidas como último elemento do texto acadêmico.

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

Figura 2 – Transformação dos elementos textuais do projeto de pesquisa em texto final.

Referências

Projeto de Pesquisa Texto final do TCC

Referências

Anexos Anexos

Cronograma de Atividades Conclusão

Possíveis Resultados Capítulos / Desenvolvimento

Métodos e Técnicas Introdução

Fundamentação Teórica Sumário

Objetivos (geral/específicos) Resumo / Abstract

Delimitação do Tema/Problema Ficha de aprovação

Capa Folha de Rosto

Capa

Justificativa Listas

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E Br

asil

S.A

. Ada

ptad

o.)

Uma vez dada a formatação final ao texto do TCC, podemos dividir as seções em três grandes grupos considerando o papel por elas desempenhado: elementos pré- -textuais, textuais e pós-textuais. Cada um deles tem uma função específica na exposi-ção dos argumentos e informações contidas na pesquisa e em seus resultados.

Elementos pré-textuais Antecedem o texto propriamente dito e servem para apresentar de maneira orga-

nizada as informações relativas à pesquisa, a instituição e o pesquisador, assim como o período em que o trabalho foi produzido e finalizado. São elementos pré-textuais obrigatórios:

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capa;

folha de rosto;

ficha catalográfica;

ficha de aprovação;

resumo;

sumário.

Além deles, há os elementos opcionais da epígrafe, dos agradecimentos, da lista de ilustrações (no caso de haver mais de cinco ilustrações no texto), da lista de tabelas, da lista de siglas e abreviaturas e da lista de símbolos. O último dos elementos pré-tex-tuais deve ser o sumário. Portanto, se o texto não apresentar nenhum elemento opcio-nal, o sumário aparece logo depois do resumo. Caso contrário, virá após os elementos opcionais e antes dos elementos textuais, conforme consta na figura 3. A folha de rosto complementa as informações contidas na capa, trazendo, conforme a ABNT, a identi-ficação da área à qual está vinculado o trabalho, o curso, o nome do aluno, o nome da instituição a que ele está vinculado e o nome do professor orientador do trabalho.

Elementos textuais Os elementos textuais devem apresentar a pesquisa propriamente dita, desde o

tema e a discussão teórica para se ter acesso à realidade empírica até a análise e inter-pretação dos dados recolhidos. Os elementos textuais podem ser dividido em introdu-ção, desenvolvimento e conclusão.

A introdução já foi descrita.

O desenvolvimento deve ser dividido em capítulos com autonomia temática, mas eles precisam conter, de um para o outro, uma continuidade na sua argumentação. Um exemplo de distribuição de capítulos em um trabalho de conclusão de curso de graduação é de três capítulos:

no primeiro, o autor apresenta o tema e o objeto de pesquisa a partir de uma revisão da literatura;

no segundo, discute os principais conceitos teóricos mobilizados para estudar o tema apresentado;

no terceiro, mostra os instrumentos metodológicos e faz a análise dos dados empíricos.

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

Após a apresentação dos argumentos no desenvolvimento do texto, vem a con-clusão, que não pode trazer nada de novo, sendo apenas a retomada dos pontos mais importantes já demonstrados ao longo do texto.

Figura 3 – Estruturação do texto final do TCC.

Elementos pós-textuais

Elementos textuais

Elementos pré-textuais

Elementos obrigatórios

Elementos opcionais ou quando necessários

Anexos

Apêndice

Conclusão

Capítulos / Tópicos

Introdução

Lista de Siglas e Abreviaturas

Lista de Tabelas

Lista de Ilustrações

Resumo / Abstract

Agradecimento

Epígrafe

Folha de Rosto

Capa

Sumário

Nor

ma

14.7

24 d

a A

BNT,

200

2. A

dapt

ado.

Elementos pós-textuais Por fim, os elementos pós-textuais oferecem uma complementação às informa-

ções já abordadas no desenvolvimento do trabalho. São elementos pós-textuais:

anexos;

apêndices;

referências.

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As referências são obrigatórias, enquanto apêndices e anexos são opcionais. O anexo apresenta um documento que é complementar ao trabalho e não foi discutido no desenvolvimento do texto, mas é de autoria do próprio pesquisador e deve ser apresentado para que os leitores consigam entender melhor a sua utilidade à pesqui-sa. Já o apêndice ou adendo é um material produzido por terceiros, obtido a partir da pesquisa de fontes primárias, e deve ser acrescentado ao texto como auxiliar à de-monstração do argumento central.

Estrutura de apresentação do trabalho De maneira geral, a apresentação do trabalho envolve três aspectos: a estrutu-

ração do texto, as formas de citação e as referências. Vamos apresentar algumas dicas práticas mais gerais sobre a formatação: como cada instituição pode ter as suas próprias normas (que nas minúcias podem variar de uma instituição para outra), para maiores detalhes será preciso recorrer a manuais de formatação da instituição em que será apresentado o trabalho ou de instituições de ensino superior que possuam tradição na formatação de trabalhos acadêmicos. As diretrizes da Associação Brasileira de Normas Técnicas, disponíveis na internet, também ajudam nesse momento de finalização do texto. De todo modo, definido um padrão é preciso segui-lo em todo o trabalho.

O texto final deve ser digitado em papel branco, no formato A4, com impressão em um lado apenas. A fonte deve ser na tipologia Times New Roman, no tamanho 12 para o corpo do texto e no tamanho 10 para notas de rodapé, legendas, textos em tabelas, ilustrações e epígrafes.

Assim como o projeto de pesquisa, o texto final deve apresentar margens supe-rior e esquerda de 3 centímetros, enquanto as margens inferior e direita deve estar com 2 centímetros.

A entrelinha deve ser 1,5 ponto para o corpo do texto e 1,0 para citações longas (com mais de três linhas), bem como para tabelas, ilustrações, notas de rodapé e demais elementos opcionais.

Os parágrafos devem apresentar recuo de 1,5 centímetro em relação à margem esquerda.

A contagem das páginas deve ser iniciada com a folha de rosto, porém as páginas dos elementos pré-textuais não são numeradas: apenas a partir do início dos elemen-tos textuais as páginas recebem seu número, escrito em algarismos arábicos no canto superior direito. Os elementos pós-textuais (anexos, apêndices e referências) devem seguir a mesma numeração do corpo principal do trabalho.

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

Títulos Os títulos de capítulo devem estar em caixa alta (maiúscula) e negrito, iniciando

na margem esquerda superior da página e seguindo uma numeração progressiva ao longo dos capítulos.

As seções dentro de um capítulo devem ser grafadas em caixa alta, mas sem negritado.

As subseções seguem a ordem da numeração, porém devem estar em caixa baixa e sem negrito.

Vejamos alguns exemplos.

1 CULTURA DE MASSA

1.1 EVOLUÇÃO DAS SOCIEDADES DE MASSA

1.1.1 Tipos de massificação social no século XX

Ilustrações e tabelas São consideradas ilustrações os desenhos, esquemas, fotografias, gráficos, mapas,

fluxogramas, quadros etc. A legenda de cada ilustração deve estar na sua parte inferior, com numeração própria para cada um dos tipos de ilustração. O autor também pode optar por indicar o número do capítulo na identificação da ilustração – por exemplo, a primeira ilustração do capítulo 3 receberia o número de 3.1 e assim por diante.

As tabelas são usadas para apresentar informações numéricas que contribuem para o argumento do texto. A legenda de cada tabela deve estar na sua parte superior, sendo precedida da palavra TABELA em caixa alta e do seu número sequencial. No caso da apresentação de valores numéricos acompanhados de percentuais nas casas da ta-belas, usa-se o segundo entre parênteses. Por exemplo: valor de 85 que equivale a um percentual de 30%, na tabela seria grafado como 85 (30).

Vejamos mais alguns exemplos.

FIGURA 1 – Mapa do Brasil

GRÁFICO 1 – Curva de Evolução da Taxa de Natalidade Brasileira entre 1900 e 1999

TABELA 1 – Relação entre Grau de Escolaridade e Preferência Partidária

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Citações As citações indiretas são simples menções, enquanto as citações diretas extraem

um trecho do texto da sua fonte. Nos dois casos, a função é a mesma: esclarecer, sus-tentar ou ilustrar o assunto apresentado. Portanto, uma citação não tem autonomia no texto científico, não devendo iniciar nem terminar nenhum tópico ou capítulo: as citações servem apenas como ilustração ou reforço do argumento próprio do autor do texto, de modo que sempre precisam estar seguidas de comentários ou argumentos do autor do trabalho.

A citação indireta é uma reprodução de ideias de outro autor sem a transcrição literal dos termos utilizados por esse autor e em toda citação indireta é preciso constar o sobrenome do autor e o ano em que a obra foi publicada.

Já a citação direta é uma transcrição literal do texto de outro autor, de modo que o trecho transcrito deve estar entre aspas e com indicação do sobrenome do autor, o ano da publicação e o número da página em que se encontra o texto citado. No caso de ci-tações diretas de textos em outras línguas, o autor deve fazer a tradução para a língua portuguesa de tudo que estiver no corpo do texto e indicar, ao final da citação, que se trata de tradução própria. Além disso, faz-se necessário abrir uma nota de rodapé na qual será inserido o texto na língua original.

O sistema de citações que aqui abordamos brevemente (além de ser o sistema adotado neste material) é conhecido como autor-data. Nele, após toda citação deve aparecer pelo menos o sobrenome do autor e o ano da obra. Quando se trata de apenas uma menção e está no início da frase, somente a primeira letra do nome irá em caixa alta, seguindo-se o ano da obra, mas se for uma citação direta, a indicação da fonte deverá estar entre parênteses, com todas as letras do nome em caixa alta, seguindo-se o ano da obra e o número da página de onde foi retirado o trecho. As citações literais com mais de três linhas devem estar destacadas do texto, com recuo de 3 centímetros em relação à margem esquerda, fonte em corpo 10 e entrelinha de 1,0 ponto – essa forma de destaque, com recuo maior e fonte e entrelinha menores substitui as aspas.

Vejamos alguns exemplos.

Citação indireta com indicação do nome do início da frase

Segundo Dahl (2009), existem problemas não resolvidos nos sistemas demo-cráticos universais e um dos principais deles é a adoção da igualdade política como um modelo ideal.

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

Citação indireta com citação indicação do nome no final da frase

Apesar de agir como conselheiro da juventude, quando desfruta da confiança de seus alunos, o professor só deve emitir juízos de valores sociais ou de posições políticas fora da sala de aula, no mercado social (WEBER, 1979).

Citação direta com menos de três linhas

“Meios de comunicação, meios de controle, meios de poder. Em si, porém, nada valem. O ator político tem de saber representar um show muitíssimo bem ensaiado.” (BARBOSA, 1988, p. 88)

Citação direta com mais de três linhas

Gusfield observou que a falta de estruturas intermediárias locais e a simultânea participação em estruturas nacionais impessoais mais distantes pode produzir a unidade nacional, dedicação a normas comuns e mediação de diferenças. Isso contrasta com o potencial de dissensão, desunião e falta de bases comuns de acordo, mais provável numa sociedade marcada pela variedade, diferença de fidelidades, participação e perspectivas. (HALEBSKY, 1978, p. 110)

Referências Além da indicação da autoria das citações no corpo do texto, é preciso dar as

indicações bibliográficas da obra toda, ao final, nas referências (outrora chamadas bi-bliografia ou referências bibliográficas), onde as obras são apresentadas pela ordem al-fabética a partir da primeira letra do sobrenome do autor principal do livro ou texto.

Conforme as regras da ABNT, deve-se transcrever o nome do autor ou autores a partir do último sobrenome, em caixa alta, seguido do prenome e outros nomes. Quando existem mais de três autores, apenas o primeiro é citado e o nome deve ser seguido da expressão et al. (abreviatura de et alii, “e outros”). As referências também devem seguir a ordem de apresentação dos autores na obra. Se o autor for uma entidade, como uma associação ou ministério, deve constar o nome completo dessa entidade, por extenso e em caixa alta, como em INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.

Depois da apresentação do nome do autor, a referência deve trazer o título da obra em negrito, seguido da cidade em que o texto foi editado, o nome da editora e o ano da publicação.

Caso o texto utilizado seja um capítulo ou ensaio inserido em um livro (sendo pos-sível que o autor do capítulo seja diferente do organizador do livro), primeiro cita-se o autor do capítulo e o título do capítulo seguido da expressão In (“em”), então o nome

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do organizador e o título do livro, e por fim são acrescentados os números das páginas inicial e final do capítulo.

Quando se trata de artigo publicado em revista ou outro periódico, o sistema de citação é o mesmo, porém o título do texto não deve estar em negrito: após o título do texto, deve constar o título do periódico, este sim em negrito, seguido da indicação de cidade, data e página correspondente da publicação. O mesmo vale para citação de trabalhos apresentados em eventos.

Um tipo específico de referência é a de conteúdos extraídos de páginas da in-ternet. É preciso ter cautela no uso dessas informações por conta da temporalidade e de possíveis dúvidas sobre a confiabilidade da fonte. Por conta da possibilidade de mudança nos conteúdos da internet, é preciso indicar na referência a data de acesso. Os elementos da referência desse tipo de texto são sobrenome e nome do autor, título do texto, título da página em negrito, a expressão “Disponível em:” seguida do exato endereço eletrônico e ao final a expressão “Acesso em:” seguida da data do acesso.

Vejamos alguns exemplos.

Referência de livro com apenas um autor

HALEBSKY, Sandor. Sociedade de Massa e Conflito Político. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.

Referência de livro com mais de um autor

MOTTA, Marlky; FREIRE, Américo; SARMENTO, Carlos Eduardo. A Política Cario-ca em Quatro Tempos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

Referência de obra cujo autor é uma instituição

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. Avaliação de Políticas e Programas do MDS: Resultados. v. 2. Brasília: MDS/SAGI, 2007.

Referência de capítulo de livro

SAMPER, Heny G. O Despertar do Município Venezuelano. In FACHIN, Rober-to; CHANLAT, Alain. Governo Municipal na América Latina. Porto Alegre: Editora Sulina, 1988, p. 55-70.

Referência de artigo publicado em revista científica

RIBEIRO, Pedro José Floriano. Campanhas eleitorais em sociedade midiáticas: articulando e revisando conceitos. Revista de Sociologia e Política. Curitiba, n. 22, 2004, p. 25-43.

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

Referência de texto apresentado em congresso acadêmico

PIETRAFESA, Pedro Araujo. Parlamento do Mercosul: sua constituição e caracte-rísticas institucionais. Trabalho apresentado no 33. ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS – Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Ciências Sociais. Ca-xambu, 2009.

Referência de texto extraído de página da internet

MARQUES, Francisco P.; MIOLA, Edna. Deliberação mediada: uma tipologia das funções dos media para a formação do debate público. Revista Estudos em Comu-nicação. Disponível em: <http://www.labcom.pt/ec/07/pdf/marques-miola-delibe-racao.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2010.

Regras da ABNT(REGRAS DA ABNT, 2010)

Resumo

Elemento obrigatório, constituído de uma sequência de frases concisas e obje-tivas e não de uma simples enumeração de tópicos, não ultrapassando 500 palavras, seguido, logo abaixo, das palavras representativas do conteúdo do trabalho, isto é, palavras-chave e/ou descritores, conforme a NBR 6028.

Introdução

A introdução é a apresentação sucinta e objetiva do trabalho, que fornece in-formações sobre sua natureza, sua importância e sobre como foi elaborado: objeti-vo, métodos e procedimentos seguidos.

Em outras palavras, é a parte inicial do texto, onde devem constar a delimita-ção do assunto tratado, objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho.

Lendo a introdução, o leitor deve sentir-se esclarecido a respeito do tema do trabalho como do raciocínio a ser desenvolvido.

Texto complementar

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1 Da estrutura da monografia

A estrutura de uma monografia compreende as seguintes partes: a) elementos pré-textuais; b) elementos textuais; c) elementos pós-textuais.

1.1 Elementos pré-textuais

São chamados pré-textuais todos os elementos que contêm informações e ajudam na identificação e na utilização da monografia.

São considerados elementos pré-textuais de uma monografia:

1) Capa (obrigatória);

2) Contracapa (obrigatória);

3) Folha de aprovação (obrigatória);

4) Dedicatória (opcional);

5) Agradecimentos (opcional);

6) Epígrafe (opcional);

7) Resumo em língua vernácula (obrigatório);

8) Resumo em língua estrangeira (obrigatório);

9) Sumário (obrigatório).

[...]

1.2 Elementos textuais

Parte do trabalho em que é exposto o conteúdo da monografia. Sua organiza-ção é determinada pela natureza do trabalho. São considerados fundamentais os seguintes elementos:

1. Introdução – é a apresentação sucinta e objetiva do trabalho, fornecendo informações sobre sua natureza, sua importância e sobre como foi elabora-do: objetivo, métodos e procedimentos seguidos;

2. Desenvolvimento – parte principal do texto, descrevendo com detalhes a pesquisa e como foi desenvolvida;

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

3. Conclusão – é a síntese dos resultados do trabalho e tem por finalidade re-capitular sinteticamente os resultados da pesquisa elaborada.

1.3 Elementos pós-textuais

São os elementos que têm relação com o texto, mas que, para torná-lo menos denso e não prejudicá-lo, costumam vir apresentados após a parte textual.

Entre os elementos pós-textuais temos as referências, o glossário, o apêndice, o anexo, o índice.

Dentre os elementos pós-textuais, destacam-se:

1. Referências (obrigatórias) – conjunto padronizado de elementos descriti-vos, retirados de documentos, de forma a permitir sua identificação indivi-dual. As referências [...] das monografias devem seguir o padrão NBR 6023, que fixa a ordem dos elementos das referências e estabelece convenções para transcrição e apresentação da informação originada do documento e/ou outras fontes de informação.

2. Anexo(s) (opcional) – é um texto não elaborado pelo autor, que serve de fundamentação, comprovação e ilustração para a monografia. Em mono-grafias jurídicas, por exemplo, pode-se colocar uma lei de importância fun-damental para o entendimento do texto.

2 Da apresentação gráfica

A seguir está descrito o padrão recomendado pela ABNT (NBR 14.724), que foi elaborado para facilitar a apresentação formal dos trabalhos acadêmicos.

2.1 Formato e margens

Os trabalhos devem ser digitados em papel branco A4 (210mm x 297mm), digi-tados em uma só face da folha.

De acordo com a NBR 14.724, o projeto gráfico é de responsabilidade do autor do trabalho.

Recomenda-se, para digitação, a utilização de fonte tamanho 12 para o texto e tamanho menor para citações de mais de três linhas, notas de rodapé, paginação e legendas das ilustrações e tabelas.

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Com relação às margens, a folha deve apresentar margem de 3cm à esquerda e na parte superior, e de 2cm à direita e na parte inferior.

2.2 Espacejamento

Todo o texto deve ser digitado com espaço duplo, exceto nas citações diretas separadas do texto (quando com mais de três linhas), nas notas de rodapé, nas refe-rências no final do trabalho e na ficha catalográfica.

Dicas de estudo

ESTRUTURA DA MONOGRAFIA. Disponível em: <www.monografiaurgente.com/estruturadamonografia.html>. Acesso em: 27 jul. 2010.

Atividades

Por que a fundamentação teórica é o tópico mais extenso do Trabalho de Con-1. clusão de Curso (TCC)?

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

Para que serve e como se dá o cronograma de trabalho utilizado para a realiza-2. ção do TCC?

Que cuidados o pesquisador deve observar ao fazer a referência de um texto 3. extraído da internet?

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Gabarito

Um dos motivos de a fundamentação teórica ocupar mais espaço que outros 1. tópicos do TCC é o fato de o pesquisador ter de provar, por meio de um balanço geral, que conhece a literatura acerca do tema sobre o qual escolheu pesquisar. Aqui o aluno avalia o material já produzido sobre seu objeto, tendo condições de escolher o que servirá de base ou marco teórico para seu estudo. A fun-damentação teórica deve ser pensada profundamente, já que nem tudo pode integrá-la: o debate teórico precisa ser filtrado pelo pesquisador, que deve es-clarecer porque usou determinados autores e não outros.

O cronograma de trabalho do TCC guia o pesquisador nas diversas tarefas a 2. serem realizadas durante o tempo de que dispõe (cerca de um ano). Conven-cionou-se usar uma tabela para exibir a divisão das tarefas, tendo nas colunas os meses do ano e nas linhas, as etapas do trabalho (tempo de leitura para se conhecer e estruturar a fundamentação teórica, aplicação do método empírico etc.).

O pesquisador deve lembrar que informações retiradas de páginas da 3. web po-dem não ser confiáveis, sendo necessário ter cautela com as fontes que citará em seu trabalho. Pela temporalidade dessas informações, exigi-se no tópico das referências a data de acesso à página pelo pesquisador, além do endereço ele-trônico da página, possibilitando novo acesso pelo leitor desta e substituindo a menção da editora e do ano de publicação, dados obrigatórios na referência das publicações em papel – mas sem excluir o nome do autor.

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Do projeto de pesquisa ao texto final do Trabalho de Conclusão de Curso

Referências

ESTRUTURA DA MONOGRAFIA. Disponível em: <www.monografiaurgente.com/estru-turadamonografia.html>. Acesso em: 27 jul. 2010.

REGRAS DA ABNT. Disponível em: <www.monografia.net/abnt/index.htm>. Acesso em: 27 jul. 2010.

SANTOS, Gisele R.; MOLINA, Nilcemara L.; DIAS, Vanda F. Orientações e Dicas Práticas para Trabalhos Acadêmicos. Curitiba: Ibpex, 2007.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA. Manual de Normatização Bibliográfi-cas para Trabalhos Científicos. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2005.

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