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Este livro foi impresso em papel certificado FSC, garantia de manejo florestal responsável. Material reciclável. Apoio: Realização: Seminário Internacional POLÍTICAS PÚBLICAS PARA IDOSOS: DESAFIOS PARA A SOCIEDADE Seminário Internacional POLÍTICAS PÚBLICAS PARA IDOSOS: DESAFIOS PARA A SOCIEDADE

Seminário Internacional: Políticas Públicas para Idosos

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Essa publicação contém a transcrição das fatas de todos os palestrantes do Seminário Internacional "POLÍTICAS PÚBLICAS PARA IDOSOS: DESAFIOS PARA A SOCIEDADE", que foi realizado em 2010 no SESC Belenzinho, sob a coordenação da Associação Reciclázaro, Rede PRAM, CÁRITAS Alemã e apoio institucional do SESC São Paulo.

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Este livro foi impresso em papel certificado FSC, garantia de manejo florestal responsável. Material reciclável.

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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA IDOSOS:DESAFIOS PARA A SOCIEDADE

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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA IDOSOS:DESAFIOS PARA A SOCIEDADE

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Seminário Internacional

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA IDOSOS:DESAFIOS PARA A SOCIEDADE

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“Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.” (SÊNECA)

Agradecimentos

A todos aqueles que nos ajudaram na realização do Seminário Internacional “POLÍTICAS PÚBLICAS PARA IDOSOS: DESAFIOS PARA A SOCIEDADE”:

A Casa de Simeão, onde tudo começou – o projeto que inspirou a realização deste seminário;

Ao Centro de Formação Profissional e Educação Am-biental, Casa São Lázaro, Núcleo Produtivo Gasômetro, Casa de Marta e Maria, Cooperativa Butantã e Casa de Guadalupe, pelo apoio e participação;

A equipe administrativa, por tornar possível a realiza-ção do seminário;

Em especial, ao Tratamento Comunitário, que em nenhum momento mediu esforços para que o seminário fosse um sucesso.

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Sumário

Programa Regional “Trabajo Social a Favor de los Adultos Mayores de América Latina y Caribe (Pram)”Dorothea Schereck, 58

Prevenção dos maus-tratos através de projetos intergeracionaisRafael Quispe, 62

Uma convenção internacional sobre os direitos das pessoas idosas Ximena Romeno, 68

Formação de dirigentes: uma forma de promover o protagonismo das pessoas idosasMurial Abad, 71

Campanhas de sensibilização sobre os direitos das pessoas idosasCélia Ramirez, 77

Pessoas idosas como sujeitos de direitos: uma visão do Programa de Terceira Idade Cáritas CubanaMigdalia Dopico, 82

A luta pelos direitos da pessoa idosa: da aplicação do Estatuto à realidade das ruasAndréa Gadiolli Fidêncio Poscai, 92

encerramento

O percurso...Profª Ruth Gelehrter da Costa Lopes, 97

Um sociedade nova é possível...Pe. José Carlos Spinola, 100

avaliação, 101

participantes, 103

apresentação

Andréa Gadiolli Fidêncio Poscai, 8

abertura

Danilo Santos de Miranda, 11

Wolfgang Hees, 17

Dr. Heinz-Peter Beher, 20

Rubens Casado, 22

D. Tomé Ferreira da Silva, 25

Pe. José Carlos Spinola, 29

sobre políticas e direitos

Políticas públicas para idosos: desafios para a sociedadeJurilza Mendonça, 33

Panorama municipal sobre política de direitos para a pessoa idosa e sua implantaçãoAdemir Alves da Silva, 41

O cumprimento dos direitos na perspectiva de um conselhoOlga Quiroga, 47

Construindo redes de apoio à pessoa idosaIr. Terezinha Tortelli, 50

sobre a sociedade civil e as pessoas idosas

Compromisso com a sociedade civil para promover os direitos das pessoas idosasChristel Wasiek, 57

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Apresentação

AndréA GAdiolli Fidêncio PoscAi

Coordenadora do Programa de Atenção à Pessoa Idosa Associação Reciclázaro

A discussão sobre o envelhecimento e suas questões foi inicialmente promovida pelos Fóruns Internacionais das ONGs e pelas Assembleias das Nações Unidas sobre Envelhecimento (Viena 1982 e Madrid 2002) e tiveram papel fundamental na análise do impacto do envelhecimento sobre os países em desenvolvimento, na tentativa de despertar e esti-mular os governos e a sociedade a adotarem políticas de atenção e pro-teção à pessoa idosa.

Duas medidas tiveram destaque: no campo da saúde, a valorização do envelhecimento saudável e, no campo social, a luta pelo envelheci-mento com direitos e dignidade.

A partir desse momento, no Brasil, toma ímpeto o movimento da sociedade civil, professores, universitários, associações de idosos e ou-tras, exigindo a valorização e o respeito à pessoa idosa.

Para tanto, a Associação Reciclázaro realizou, em parceria com a Cáritas Alemã e o Sesc Belenzinho, com o apoio da Prefeitura de São Paulo, no dia 15 de abril de 2010 o Seminário Internacional “Políti-cas Públicas para Idosos: Desafios para a Sociedade” que foi mais uma oportunidade de sensibilizar e promover uma reflexão sobre as políti-cas de direitos e sua implementação a favor das pessoas idosas.

A riqueza das palestras e troca de experiências com representantes de países da América Latina e Caribe e especialistas brasileiros nos mo-tivou a sistematizar as apresentações deste encontro, que reuniu 248 pes-soas, entre idosos, profissionais e estudantes da área da gerontologia.

Esperamos que essa reflexão possa contribuir para a sensibilização da sociedade e garantir o cumprimento do Estatuto do Idoso e, por consequência, colaborar para a implementação de políticas públicas que melhorem a qualidade de vida das pessoas idosas.

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dAnilo sAntos de MirAndA

Diretor regional do Sesc Belém

Bom dia a todos e a todas. Sejam todos bem-vindos. Primeiro, gostaria de agradecer a presença de D. Tomé Ferreira da Silva, bispo da Região Episcopal Ipiranga; do Pe. José Carlos Spinola, fundador da Associa-ção Reciclázaro; do caro cônsul da Alemanha, Dr. Heinz-Peter Behr; de Wolfgang Hees, representante da Cáritas da Alemanha; e do subpre-feito da Região Mooca, nosso parceiro em vários projetos na região, Sr. Rubens Casado.

Dar as boas-vindas a todos vocês e a todos os presentes é uma gran-de alegria, e o motivo é múltiplo: primeiro, porque estamos realizando este evento na sede da administração central do Sesc de São Paulo, lo-calizada na zona leste, neste bairro do Belenzinho, na antiga fábrica “La Santista”, que funcionou durante muitos anos e que em breve terá uma unidade bem ampla e bem equipada. É importante para nós firmarmos com todos vocês, com a comunidade em geral e com todos aqueles que realizam ações em favor da comunidade, essa presença, essa parceria, esse intercâmbio, essa possibilidade de realizar ações em prol da co-munidade. O outro motivo pelo qual nós sentimos bastante prazer em sediar este evento é o assunto que vamos tratar aqui.

O Sesc é um centro que lida com essa questão do idoso há muitos anos e tem orgulho de ser o pioneiro no que diz respeito à atenção, ao cuidado e a toda reflexão feita sobre essas questões dos idosos. Por-tanto, juntar-se a instituições como a Cáritas alemã, a Reciclázaro e a Arquidiocese de São Paulo para discutir esses temas é cumprir a missão desta instituição que realiza esse trabalho há já algum tempo.

Claro que todas as civilizações tiveram alguma relação com o ido-so, com aquele que durante tanto tempo da vida produtiva material produziu e realizou, e continuou produzindo, não materialmente, mas

ABERTURA

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entidades ligadas às Nações Unidas têm despertado essa discussão, esse debate em torno da atenção ao idoso, em torno das pessoas que neces-sitam desse cuidado pelo fato de terem algum tipo de dificuldade de locomoção ou de sobrevivência porque, às vezes, a situação é muito mais grave.

No Sesc de São Paulo, desde 1963, há um movimento de atenção e cuidado com relação ao idoso. Em 1963, o Sesc Carmo criou uma estrutura que pudesse atender às pessoas com essas características, apo-sentados, trabalhadores do comércio ou não. Foi criado um movimento que se espalhou e hoje temos esses programas em todas as nossas estru-turas sociais. Mais do que isso, esse movimento se ampliou em toda a sociedade. Hoje temos um núcleo, algo específico voltado para o idoso, em todas as nossas instituições ligadas à situação social. Em universida-des, centros culturais, escolas, secretarias ligadas ao social e conselhos estaduais, municipais e nacionais há toda uma política voltada para o idoso, tentando criar respostas e estabelecendo inclusive condições de uma legislação própria.

E temos hoje um Estatuto do Idoso. É um avanço? Sim. A única coisa que o Estatuto do Idoso precisa é ser cumprido em toda a sua di-mensão. Isso é uma exigência que a sociedade coloca. Eu acho que, do ponto de vista da legislação, é um avanço significativo, e nós sabemos que a nossa legislação é muito bem constituída em todas as áreas: crian-ça, meio ambiente, direitos humanos... a questão toda é o cumprimento da legislação. Temos uma sociedade que parece fazer leis muito bem feitas, mas não nos sentimos obrigados a cumpri-las. Isso tem a ver com essa nossa discussão sobre o cuidado com o idoso, sobre a questão das aposentadorias, das atenções para com esse grupo de pessoas abso-lutamente indispensáveis para a nossa sociedade.

Houve, por ocasião da elaboração de uma política institucional, uma evolução. Hoje temos outras ações voltadas para o idoso, com as escolas abertas para o idoso, o que revela uma questão muito interes-sante: o idoso quer aprender... aprender arte, línguas, conhecer novas

em termos de atenção, de cuidado, de preservação e relato da memó-ria, de possibilidades de caminhar e mostrar caminhos, e de mostrar sua famosa experiência. Mais do que isso, a oportunidade de continuar produzindo de uma maneira simbólica, espirituosa, muitas vezes fun-damental para a humanidade; e a sociedade não teve e não tem tido a atenção e o cuidado voltados para essa produção efetiva que o idoso continua prestando à sociedade e à comunidade.

Então, como é que a sociedade lida com esse aparente desconforto, com essa aparente dicotomia entre a produção efetiva e a produção não material, fundamental, necessária para o equilíbrio da sociedade, equi-líbrio da família, para a manutenção de valores e de perspectivas para a sociedade e para o mundo? No entanto, a presença da pessoa idosa na sociedade é de muito valor, fundamental, e nem sempre devidamente reconhecida e valorizada pela própria sociedade. O cidadão idoso, com todos os seus direitos, tem de receber um cuidado especial por parte de todos aqueles que têm responsabilidade na sociedade, especialmente os políticos, para que essa ação se concretize. Nesse sentido, os países que tiveram a possibilidade de atender ou de ampliar, ou de crescer econo-micamente, hoje podem de alguma forma ter uma atenção voltada para o idoso nessa perspectiva mais abrangente. Mas nós, países em desen-volvimento, países que têm dificuldade para resolver questões básicas como um todo, questões ligadas à educação, saúde, saneamento e habi-tação, tudo aquilo que diz respeito à estrutura da sociedade, temos que cuidar de nossos idosos com a mesma atenção, com o mesmo cuidado, claro que com dificuldades maiores do que aqueles que já resolveram as questões econômicas. Mesmo assim, as sociedades mais desenvolvidas têm também algumas dificuldades com relação à temática do idoso, mas no geral existe pelo menos uma mentalidade, uma cultura de res-peito e valorização do idoso, a qual não é repetida em todos os países, sobretudo os que têm problemas econômicos e sociais e que não resol-veram ainda questões básicas de sua economia e de sua vida social.

Precisamos descobrir saídas, meios de poder atender a essa neces-sidade efetiva. Como foi dito aqui, vários movimentos, assembleias e

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lho cultural e teatral em conjunto. Ter essa relação de uma normalidade da sociedade, na qual o isolamento de cada grupo geracional não per-mite que criemos situações de conflito entre grupos geracionais, coisa que é absolutamente inadequada e absurda, embora exista certo hábito na sociedade de separar. Vocês podem reparar que muitas vezes deter-minado programa é voltado para o jovem, ou voltado para o adulto, ou voltado só para o idoso. Isso pode funcionar no momento, mas não é conveniente na medida em que nós precisamos viver na sociedade da diversidade.

Para concluir, gostaria de dizer que somos todos responsáveis pelos outros, desde o ponto de vista humano, do ponto de vista puramente da convivência de seres iguais. Há um filosofo francês, Edgar Morin, que está exercendo influência cada vez maior no pensamento do mundo de hoje; ele defende uma posição muito interessante quando fala da comu-nidade de destino. Vivemos como se fossemos uma nave única neste universo imenso onde estamos em uma viagem, uns responsáveis pelos outros, e o cuidado e o respeito são fundamentais para que essa nave funcione adequadamente e para que possamos fazer a viagem que cada um de nós tem como própria e acredita do jeito que acha mais conve-niente, do ponto de vista de seus princípios e seus fundamentos. Ele diz que vivemos em um planeta pequeno, em um sistema muito pequeno, em uma galáxia que também não é das mais importantes, isolada num canto do universo, e mesmo assim temos essa centelha do cuidado, da proximidade e da solidariedade entre as pessoas como condição básica para podermos viver de maneira adequada e para podermos enfrentar essa situação. Portanto, todas as organizações aqui representadas, que dão essa atenção ao idoso, estão de parabéns.

O Sesc de São Paulo, em minha palavra e na palavra de todas as pes-soas do Sesc que estão aqui, está comprometido com essa perspectiva em todas as suas unidades. Por isso desejamos que, neste momento, possamos ter a oportunidade de debate e aprofundamento no conhe-cimento para nos tornarmos melhores e cumprirmos melhor a nossa missão sobre a Terra.

habilidades. Essa perspectiva, para nós, é resumida em uma questão muito básica: o idoso tem futuro e nós precisamos atender essa neces-sidade e estarmos atentos a isso do ponto de vista não apenas do dis-curso, da conversa, senão do ponto de vista prático para fazer cumprir essa perspectiva. E, nesse sentido, o Sesc tem as suas ações espalhadas por todas as unidades.

Recentemente, criamos um programa que chamamos “intergeracio-nal” porque vivemos numa sociedade múltipla, numa sociedade diver-sa, variada. Qual era a beleza da família no passado? Ter os idosos, as crianças, os adultos, todos convivendo em um mesmo ambiente; isso é que é uma sociedade funcionando normalmente. Portanto, em nossas ações, procuramos ter menos isolamento do idoso, não promovemos mais a salinha onde ficam todos os idosos conversando, jogando, ba-tendo papo ou fazendo qualquer coisa. É importante que façamos al-guma coisa para que a pessoa idosa esteja integrada na programação inteira. Que esteja presente com o adulto, com o jovem, com a criança, inclusive para poder, nesse diálogo, exercer o grande papel que a pessoa idosa tem de poder oferecer a sua visão de mundo, a sua experiência de vida, o seu equilíbrio, a sua possibilidade de transmitir, de levar para o outro uma informação adequada.

Temos de lutar e propugnar por uma sociedade educativa, uma so-ciedade que se preocupe com a sociedade vindoura. Tem a ver, portan-to, com a atenção ao idoso, para que ele possa também colaborar na execução desse papel na sociedade, na perspectiva de poder oferecer àqueles que chegam uma informação precisa sobre a vida, sobre as coi-sas que estão acontecendo.

O idoso, normalmente, tem profunda experiência em tudo que está acontecendo e pode colaborar com os jovens, que nem sempre aceitam, mas, de qualquer forma, prestam atenção naquilo que já foi feito no passado. Essa perspectiva de intergeração tem sido a perspectiva mais eficiente e mais recente. Como isso se dá na prática? Dá-se através do coral múltiplo, com criança e idoso juntos, de peças de teatro, de traba-

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WolFGAnG Hees

Cáritas Alemã

Bom dia. Gostaria de cumprimentar todos aqui presentes e, olhando do palco para o público, observo que são majoritariamente mulheres as que assumem esse desafio para a sociedade de tratar e cuidar do idoso, porém aqui no palco somos seis homens. Também os homens sejam bem-vindos, especialmente o Dr. Danilo Santos de Miranda, o Sr. Ru-bens Casado, D. Tomé Ferreira da Silva, Dr. Heinz-Peter Behr e o Pe. José Carlos Spinola.

Antes de entrar nos objetivos do nosso encontro, gostaria de con-fessar duas coisas: a primeira é que sou um brasileiro de coração. Gosto muito desta terra e sou brasileiro de nascimento, sou gaúcho. Meus pais migraram para esse lugar na década de 50 para terem mais liberdade, mas, com o golpe militar em 1964, voltaram para a Alemanha; eu tinha 4 anos e voltei já adulto para o Brasil. A segunda coisa é que sou lutera-no e filho de um pastor luterano, mas estou trabalhando na Cáritas há 14 anos e estou na execução dos projetos da Cáritas da América Latina, então vocês podem imaginar que eu gosto muito do ecumenismo. O que significa isso? Para mim, são elementos básicos e, principalmente, por ser comunitário, social, participativo, assumir as ideias e a ideolo-gia da libertação, assumir as responsabilidades, ter propostas, ter so-nhos e trabalhar para realizar esses sonhos. Isso, para mim, significa ser comunitário e ser Cristo. São elementos básicos que precisamos para trabalhar com a comunidade, e incluindo as pessoas idosas.

Na Cáritas alemã estamos apoiando mais ou menos 60 projetos aqui no Brasil e a maioria deles está incluída nos projetos continentais que temos na América Latina. Trabalhamos com protagonismo juvenil e dependência de drogas, e com catadores, trabalhadores e trabalhadoras

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atlântica, criar consciência nas comunidades e passar para elas, nesse projeto comunitário, a responsabilidade de cuidar e acompanhar essas plantações; é assim um investimento para as futuras gerações, para es-sas comunidades e para nosso planeta Terra. Esse projeto seria desen-volvido também com jovens, com idosos, avançando nesse contexto.

Falo dessas experiências e desses planos para o futuro porque te-mos uma estreita relação com a Reciclázaro desde 2003 e queremos, neste ano de 2010, juntamente com o subprefeito Casado, concretizar a inauguração da nova cooperativa de coleta seletiva que a Reciclázaro pretende construir com a Prefeitura e a Petrobras. Também na região da Mooca, pretendemos criar um modelo alternativo de moradia autô-noma e definitiva para pessoas idosas, chamado “Ecovila”, para que as pessoas idosas possam viver de forma definitiva em um lugar delas.

Reafirmo aqui o compromisso que a Cáritas vem assumindo há muitos anos com as organizações do Brasil: continuar apoiando ex-periências, como as da Reciclázaro e tantas outras, junto à Prefeitura de São Paulo e junto com as universidades e organizações sociais que atuam nessa cidade, buscando responder aos desejos dos membros da comunidade e transformá-los em sujeitos de sua transformação.

Muito obrigado, e um bom dia de muitas inspirações.

do sexo, infetados pelo HIV, população de rua, sem-tetos, sem-terras, migrantes, refugiados, vítimas de emergência e idosos dentro do âmbi-to da comunidade. Esses projetos estão em todo o país.

Hoje é um dia de muita alegria para mim porque estamos reunidos para discutir os desafios que a sociedade latino-americana está enfren-tando. Discutir para promover as mais diversas formas de garantir a inclusão social, buscando alternativas viáveis e sustentáveis para a inci-dência política e seu futuro na atenção das pessoas idosas. São algumas das ações que a Cáritas busca criar e incentivar com a consolidação de uma sociedade mais justa e mais fraterna.

Saudações muito cordiais para o Antenor, que foi um parceiro du-rante estas últimas décadas, trabalhando com a população de rua e que também promoveu nosso contato com a Reciclázaro.

Posso citar também o Programa de Farmacodependências, no qual trabalhamos com a Reciclázaro em busca de alternativas para o en-frentamento ao uso de drogas e em busca de um objetivo comum de respostas ao uso e abuso dessas substâncias, sem nunca esquecer to-dos os problemas sociais que atravessam essas questões, e dessa forma atuar para a prevenção, redução e tratamento humanizado e economi-camente viável.

Iniciamos neste ano ainda mais um projeto com jovens, juntamente com a Reciclázaro, integrando-o ao nosso programa continental de Pro-tagonismo Juvenil, trabalhando com jovens no bairro da Mooca para que assumam responsabilidades dentro de um consenso participativo e conquistem espaços dentro da sociedade. Esses programas continentais e setoriais, com farmacodependência, com idosos, com jovens, sempre estão interconectados. Também a droga e o álcool são assuntos do ido-so; há muitos problemas do adulto maior com drogas e com álcool. São programas integrados para trabalhar esses aspectos.

Planejamos, para ser iniciado em 2011, um programa comunitário a ser desenvolvido com o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha para o rio Tietê, que inclui plantar mudas e espécies nativas da mata

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dr. Heinz-Peter BeHr Cônsul-geral da Alemanha em São Paulo

Em nome do Governo da República Federal da Alemanha, queria cum-primentar todos vocês nesta sala, principalmente os idosos e as idosas presentes, que são as pessoas mais importantes não somente hoje, mas em geral para cada sociedade.

É uma prova de maturidade de uma sociedade criar boas condições de vida para os idosos. É muito importante passar essa última parte da vida com dignidade, ter uma vida digna e ter ocupações satisfatórias. Uma sociedade madura tem que prover para que idosos e idosas par-ticipem da vida ativa e possam participar de atividades sociais e cul-turais. É muito importante que os governos, os políticos de um país, participem da criação dessas condições.

A Alemanha é um país velho; o Brasil é um país predominantemen-te jovem. O Brasil entrou há um ano mais ou menos, segundo os soci-ólogos, em uma fase de bônus demográfico e esse bônus vai demorar mais ou menos vinte anos. Isso significa que há menos dependência nessa sociedade. O número de jovens dependentes está abaixando, o número de pessoas idosas está crescendo, mas ainda não há esse fator de dependência, como nas sociedades da Europa.

Gostaria de parabenizar as autoridades de São Paulo por participa-rem e cooperarem com as associações da sociedade civil nesse esforço. Não é o caso de todas as sociedades do mundo. Passei muitos anos na África e eu realmente gostaria de dizer que, aqui no Brasil, especial-mente em São Paulo, parece que as autoridades têm essa consciência, e isso é muito positivo.

É também muito importante que participem associações da socie-dade civil; quero parabenizar especialmente o Pe. José Carlos Spinola,

fundador da Reciclázaro. Eu, como representante da Alemanha, fico muito contente, muito satisfeito, pelo fato de a Cáritas alemã partici-par neste esforço e, aparentemente, essa cooperação é muito positiva. Quero parabenizar o Dr. Danilo Santos de Miranda, um grande amigo e promotor das relações culturais entre o Brasil e a Alemanha, pela par-ticipação neste seminário. Obrigado pela presença do coronel Rubens Casado, subprefeito da Mooca; e da Igreja, na presença do D. Tomé da Silva, bispo da região do Ipiranga. Realmente, fico muito contente de poder participar hoje. Nem sempre tenho a oportunidade de participar de eventos dessa qualidade social, e para mim é excepcional.

Muito obrigado.

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ruBens cAsAdo

Subprefeito da Mooca

Gostaria de cumprimentar a mesa: o Sr. Danilo, parceiro da subprefei-tura da Mooca, e agradecer todo o trabalho e carinho que tem ao tra-balhar conosco; o bispo; o cônsul da Alemanha; o Wolfgang, da Cáritas da Alemanha; e o padre José Carlos Spinola.

Estou muito contente por estar aqui representando o prefeito; ele tem uma visão bem aprofundada, referente ao idoso, e determinou que na cidade de São Paulo fosse implantada a Cidade dos Idosos, como ocorre em outros países que têm essa visão de uma cidade amiga dos idosos. Agradeço ao Sesc e à Reciclázaro, que são dois parceiros mui-to importantes, com quem temos desenvolvido e vamos desenvolver também mais projetos em conjunto. É interessante que são focos muito importantes e eu diria, já que estamos em um espaço ecumênico, que até aqui Deus nos tem ajudado. A subprefeitura da Mooca está engajada plenamente nesse trabalho e, com essa parceria com o Sesc e a Reci-clázaro, vamos melhorar o ambiente da região.

O objetivo é melhorar a qualidade de vida. Se nós melhorarmos a acessibilidade do idoso, estaremos melhorando sua qualidade de vida e a de todos; queremos ser um referencial positivo nesse sentido. Fazendo referência ao que o professor disse sobre a perspectiva intergeracional, interessa-nos muito trabalhar com isso. Como vamos consegui-lo? Nós estamos, juntamente com um assessor, desenvolvendo a implantação do projeto Bairro Amigo do Idoso. A subprefeitura tem seis distritos municipais e vamos desenvolver esse projeto em dois núcleos: no Brás e na Mooca. É um trabalho para o qual vamos precisar da colaboração e da produção de informação, ideias e propostas, e da indicação de de-mandas para que possamos melhorar esse quadro.

Esse projeto vai se expandir, pois teremos vários núcleos e vários grupos em que o principal protagonista será o idoso. Já começamos esse trabalho; existe um modelo na Vila Clementino e outro na Vila do Estado, com apoio do Estado, e aqui será exclusivamente responsabili-dade da subprefeitura e do idoso.

A subprefeitura e a prefeitura estarão juntas, e queremos que seja com a grande participação do idoso. Eu confio e acredito que nós temos nosso valor e nosso valor não é para ficar na gaveta ou em casa; vamos trabalhar, temos muito para fazer.

Obrigado pelo convite e transmito novamente os cumprimentos do Sr. Prefeito para este evento.

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d. toMé FerreirA dA silvA

Bispo da Região Episcopal Ipiranga

Caro filho, querida filha, queridos representantes dos grupos de pes-soas idosas da cidade de São Paulo e de outras organizações aqui pre-sentes, queridos membros da Pastoral da Pessoa Idosa, queridas religio-sas, religiosos, queridos membros desta mesa. É louvável a realização deste evento, envolvendo a sociedade civil através do Sesc, envolvendo o governo municipal através da subprefeitura, envolvendo a Cáritas e o governo da Alemanha, e com a presença sumamente significativa da Igreja na Associação Reciclázaro, através da pessoa do Pe. José Carlos Spinola. Eu trago o abraço e a saudação de nosso Cardeal Arcebispo, e a nossa saudação é também dos demais bispos e bispos auxiliares da cidade de São Paulo.

Eu faria três observações importantes: primeira, a partir do pressu-posto colocado pelo Dr. Danilo, de que a pessoa idosa não é um ex-ci-dadão, é preciso compreender que a efetivação do que está no Estatuto do Idoso não ocorrerá se não for através de uma ação política de todos os grupos civis e/ou religiosos que se preocupam com a pessoa idosa. Não precisamos acreditar que a implantação do Estatuto vai aconte-cer de uma hora para outra através da benevolência do poder público. Isso não vai acontecer. É preciso que todos os grupos envolvidos com a pessoa idosa tenham uma ação política efetiva de acompanhamento, seja no Legislativo, seja no Executivo, seja no Judiciário, para que essas medidas boas, sem dúvida, sejam de fato implantadas e efetivadas na nossa sociedade.

Nesse sentido, eu destacaria só a questão do nível do poder aquisiti-vo da pessoa idosa, que é uma luta que vem crescendo através da Asso-ciação Nacional dos Aposentados e é uma luta que deve chegar também

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às bases para que, de fato, tenha sucesso. É preciso que a sociedade re-solva outros problemas que vão consumindo o salário da pessoa idosa. São muitas as famílias no Brasil que ainda são sustentadas pelo salário do avô e da avó, que sustentam netos, filhos e muitas vezes pagando um preço muito alto por isso, muitas vezes privando-se de qualidade de ali-mentação, de qualidade de moradia, privando-se de momentos de lazer ou cultura para que outras necessidades básicas de seus filhos e netos possam ser supridas com seu mínimo salário. É preciso resolver outros problemas para que esse poder aquisitivo garantido não seja subtraí-do para satisfação de outras necessidades elementares de membros da família.

Uma segunda observação importante, que para mim é um fato novo, pois vim a ter conhecimento disso há dois anos, quando, visitando um centro de referência de infectados por HIV do governo do Estado, na Vila Mariana, a doutora daquela instituição me mostrou longamente, através de dados estatísticos, que o grupo da pessoa idosa é hoje um dos grupos de risco mais sujeitos à infecção por HIV. Eu fiquei assustado com os números do Governo do Estado de São Paulo e desse centro de referência, que é muito sério e recebe grupos da África e da América Latina para aprenderem estratégias e mecanismos para o tratamento de infectados pelo HIV. Esse é um problema novo que vai se colocando para a Terceira Idade, e precisamos, como sociedade civil, como Estado e como Igreja, estar atentos e encontrar os caminhos possíveis e neces-sários para que isso não signifique um comprometimento da qualidade de vida da pessoa idosa nos anos que ela tem para viver e que devem e merecem ser vividos com dignidade. Acho que devemos colocar esse tema nas nossas agendas.

Uma terceira e última observação: eu vejo com muitos bons olhos uma novidade na Igreja do Brasil, que é o surgimento da Pastoral da Pessoa Idosa, com uma metodologia de trabalho muito específica, mui-to técnica e científica, e, ao mesmo tempo, muito simples, mas que vai propiciando às pessoas idosas sem locomoção fora do lar, fora da famí-lia, uma assistência personalizada.

O trabalho da Pastoral da Pessoa Idosa vai se estruturando à luz da experiência da Pastoral da Criança, que nós conhecemos muito bem. A origem é a mesma; a metodologia é diferente, mas acompanha a mesma sistemática. Acho que esse é um fato novo e, do mesmo modo como a Pastoral da Criança no Brasil estabeleceu e estabelece parcerias com a sociedade civil e com os governos, também a Pastoral da Pessoa Idosa deveria abrir seu leque de atuação para que, como novidade, pudesse estabelecer essas parcerias e dar uma contribuição não só espiritual, mas também humana e material, que fosse de fato efetiva para a quali-dade de vida da pessoa idosa. Faço questão de saudar aqueles que são membros dessa Pastoral e estão trabalhando na implantação desses projetos no Brasil.

Desejo que esse trabalho possa produzir os frutos esperados e que ele seja um sinal de esperança não só para a pessoa idosa, mas para toda a sociedade brasileira e para a cidade de São Paulo.

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Pe. José cArlos sPinolA

Fundador da Associação Reciclázaro

Bom dia para todos e todas. Prometo que vou ser muito rápido para que vocês possam saborear uma bandeja de discursos belíssimos e de pre-ocupações belíssimas. A Associação Reciclázaro dá as boas-vindas ao Seminário “Políticas Públicas para Idosos: Desafios para a Sociedade” e cumprimenta de modo especial os integrantes da mesa, Prof. Danilo, D. Tomé, subprefeito Rubens Casado, o cônsul Dr. Heinz-Peter Behr e Wolfgang Hees, e a todos que estão participando do plenário.

Agradeço também ao Antenor porque, quando era presidente e se-cretário da Cáritas Regional São Paulo, sempre abraçou com muito ca-rinho a Associação Reciclázaro e a nossa participação nesta rede, hoje, tem a responsabilidade dele.

Este evento merece um olhar atento sobre nosso tempo, pois quando falamos do envelhecimento, pensamos no futuro, mas envelhecer é uma ação que ocorre agora, está acontecendo neste instante. Faz parte do tem-po presente e sobre isso é que precisamos refletir, debruçar-nos e cana-lizar a mesma força de mudança de quando falamos em transformação social, em mudança social; da mesma forma devemos canalizar ao de-senvolver projetos que trabalham com idosos rumo ao protagonismo.

A Associação Reciclázaro se depara com um grande desafio, um grande questionamento: como suscitar uma cidadania vital dos direi-tos da pessoa idosa? Direitos que não se limitam ao assento preferencial no ônibus ou no metrô, ou na fila mais curta do banco onde recebe a aposentadoria. O respeito do qual falamos vai muito além; mexe com preconceitos a serem rompidos com a difusão da imagem. Devemos re-pensar a imagem da pessoa idosa como cidadão capaz de criar, educar e intervir na sociedade.

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Acredito que hoje ouviremos experiências que demonstram como isso pode ser possível se o próprio idoso for agente da mudança. Não somos nós que vamos mudar, é a própria pessoa idosa. Entendemos esse objetivo como fruto de um processo que enfrenta muitas dificul-dades, mas o belo é que é irreversível, não tem volta, graças a Deus. Por maior que seja o embate para se fazer a Política Nacional do Ido-so, certamente essa luta não voltará atrás. É uma luta que vai adiante e para a qual vejo muitos parceiros aqui. Gente que quero cumpri-mentar com muito interesse, companheiros, hermanos e hermanas da América Latina.

Desejo um bom dia de trabalho a todos aqui no seminário.

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Políticas Públicas para Idosos: Desafios para a Sociedade

JurilzA MendonçA Assistente social, mestra em Gerontologia e servidora pública

federal; atuou como coordenadora da Política Nacional dos Direitos do Idoso e consultora pesquisadora do Núcleo de Estudos

e Pesquisas em Política Social da Universidade de Brasília

Bom dia a todos, é um prazer estar aqui com vocês. Eu gostaria de agra-decer à Associação Reciclázaro por ter me convidado, em especial à Andréa. É um prazer reencontrar os amigos da América Latina e da Alemanha; é sempre bom esse reencontro e é um prazer estar aqui com todos vocês.

Falar de leis e legislação realmente é um pouco chato, mas sabemos que é muito importante conhecermos as leis, os nossos direitos, como é que vamos reivindicá-los. Então vou falar para vocês das “Políticas públicas para idosos: desafios para a sociedade”.

Em 1982 aconteceu a Primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhe-cimento, em Viena. Vinte anos após, a Organização das Nações Unidas, que organizou a primeira, organizou a Segunda Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, em Madri, em 2002. O Plano Internacional de Envelhecimento, sinteticamente, busca a plena realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais da pessoa idosa. O se-gundo plano faz referência à questão da violência e dos maus-tratos, e à garantia dos direitos econômicos, sociais e culturais da pessoa idosa, assim como de seus direitos civis e políticos, e à eliminação de todas as formas de violência e discriminação contra a pessoa idosa.

Nós sabemos que os direitos sociais são os direitos mais difíceis de serem assegurados. É o direito à alimentação, à educação. É importan-te conhecermos tudo isso para reivindicarmos, e isso está contido na Declaração dos Direitos Humanos, que é de 1948, e também na nossa

SOBRE POLÍTICAS E DIREITOS

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Constituição. Quer dizer que, se seguíssemos a nossa Constituição, es-taríamos garantidos com habitação, educação, saúde, tudo.

O professor Danilo colocou a questão da “intergeracionalidade”. Às vezes nós dizemos: “É muito difícil integrarmos com os idosos”, “Os idosos são chatos, brigam”. Mas não é assim; o idoso que é chato é porque o foi a vida inteira e, com a velhice, isso se acentuou. Então é importante procurarmos ter uma convivência harmoniosa para que a família esteja sempre junta. Realmente, há pessoas que são desagre-gadoras e é difícil o relacionamento, mas não é porque envelheceu, é porque foi assim a vida inteira.

Outra coisa muito importante é a questão do protagonismo. Nós temos na mesa a Olga, que é uma grande protagonista; e pessoas assim devem estar à frente dos Conselhos, dos Fóruns.

O que é o Conselho? É o órgão de controle democrático para saber-mos se as políticas públicas estão sendo realmente implantadas. Então vamos lutar; não é porque hoje eu, como idoso, tenho um problema e vou ao Conselho para resolvê-lo, não. Eu, como idoso, tenho que co-nhecer meus direitos para reivindicá-los.

A “Segunda Conferência Regional Intergovernamental sobre En-velhecimento na América Latina e no Caribe: para uma sociedade de todas as idades e para a proteção social baseada nos direitos” aconteceu em 2007, em Brasília, e dessa conferência saiu a Declaração de Brasília. Nessa declaração, os artigos 25 e 26 recomendam que sejam consulta-dos seus governos para ver a possibilidade de se ter uma Convenção para a pessoa idosa e designar um relator responsável por velar pela promoção e proteção dos direitos humanos das pessoas idosas.

O que quer dizer essa Convenção? Essa Convenção vai garantir que os países signatários da ONU realmente cumpram com todas as reco-mendações da Organização das Nações Unidas, inclusive recentemente o Tribunal Superior reconheceu como caráter supralegal todos os do-cumentos das Nações Unidas, e eles devem ser cumpridos. Só estão abaixo de nossa Constituição, e é muito importante sabermos disso.

A partir da Declaração de Brasília, no ano de 2008 aconteceu uma reunião no Rio de Janeiro para dar seguimento a essa Convenção. A partir daí houve mais duas reuniões, uma no Chile e outra na Argenti-na, e aconteceu também a 5ª Cumbre das Américas, realizada em 2009 em Trinidad e Tobago, onde foi assinada a Declaração de Puerto Espa-nha, que, no seu artigo 42, dispõe: “Neste contexto promoveremos no marco regional, com o apoio da Organização Pan-americana da Saúde, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, um exame sobre a viabilidade de elaborar uma Convenção Interamericana sobre os direitos das pessoas idosas.”

O que é que ocorre? Os países desenvolvidos não estão muito in-teressados, então é muito mais difícil essa luta, mas não é impossível. Inclusive, quando aconteceu a Conferência Mundial da ONU, o Brasil esteve presente e colocou o tema, e isso foi muito bom, deu uma visi-bilidade muito boa; é uma luta que nós temos e, se sair a Convenção Interamericana, será uma conquista. Isso no plano internacional.

Vamos agora à nossa Constituição. No capítulo da seguridade, os ar-tigos 203–204 garantem à pessoa idosa um sistema de proteção social e, com a abertura política, tivemos um grande ganho com a mobilização dos idosos, dos aposentados, para garantir esses direitos, tanto que a nossa Constituição é conhecida também como “Constituição cidadã”.

Na assistência social, a Lei Orgânica da Assistência Social foi inse-rida na nossa Constituição e reconhecida como uma política pública; então se encontra regulamentada nos artigos 203-204. Sabemos que foi um grande ganho conseguir o benefício de prestação continuada e, dessa forma, os idosos que não contribuíram para a previdência têm garantido esse salário mínimo. Com o Estatuto do Idoso houve mais um avanço, pois a idade exigida era 67 anos e passou para 65 anos.

Então a Lei Orgânica da Assistência Social é uma política pública destinada a atender as necessidades básicas dos indivíduos, traduzida em proteção à família, maternidade, infância, adolescência, velhice e pessoa portadora de deficiência; e os benefícios constitucionais que

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nós conhecemos: o benefício de prestação continuada e o benefício dos transportes coletivos. Às vezes pensamos que um salário mínimo é muito pouco, mas são poucos os países que têm essa cobertura de caráter não contributivo.

Outra coisa também é a luta dos aposentados junto ao Congres-so Nacional para a derrubada do fator previdenciário. Um percentual maior de aposentados ganha um salário mínimo, então o fator previ-denciário é um número aproximadamente de 20% que deve ser bene-ficiado, por isso devemos lutar para que sejam garantidos os serviços porque, com um salário mínimo, se temos uma pessoa com problema de Alzheimer, com Parkinson, como é que vamos pagar um cuidador?

A Política Nacional do Idoso também foi uma grande conquista da sociedade. Ela veio das bases e foi pautada em um documento da Asso-ciação Nacional de Gerontologia, que após realizar vários seminários, em parceria com o Ministério da Previdência Social, elaborou o docu-mento “Políticas para os Anos 90”. Foram mais de vinte anos de luta. A Lei 8842, de 1994, assegura os direitos sociais do idoso, promovendo a sua autonomia, a sua participação e a sua integração efetiva na socieda-de. Ela foi regulamentada sobre o Decreto 1948, dois anos depois.

E os princípios da Política Nacional do Idoso? A família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos de cida-dania, garantindo sua participação na comunidade e defendendo sua dignidade, bem-estar e direito à vida.

Quando o Estatuto do Idoso foi aprovado, parece que esquecemos a Política Nacional do Idoso. O Estatuto ampliou muito e assegurou direitos, agora é importante que se discuta nos centros de convivência, em todos os espaços, na comunidade, essas políticas porque, quanto mais o idoso conhecer, melhor.

Há a Política Nacional do Idoso e, em 2006, criou-se uma Portaria do Ministério da Saúde que instituiu diretrizes para a atenção à saúde do idoso no âmbito do SUS, porém sabemos que as maiores reclama-ções que existem, a maior dificuldade do idoso, é o acesso à consulta

médica, aos medicamentos. Então, se eu conheço meus direitos, eu vou lá, vou brigar. Como o subprefeito disse aqui, as pessoas da Reciclázaro ficam lá o tempo todo, e é assim que nós temos que ser porque, se in-sistirmos, vamos conseguir e é só assim, insistindo, lutando, que vamos conquistar os nossos direitos.

Em 2003, o Estatuto do Idoso foi uma grande conquista, e foi um documento levado à Câmara pela Confederação Brasileira dos Apo-sentados e Pensionistas, que apresentaram esse documento após haver também discussão nas comunidades. Foi uma grande conquista e uma lei que veio das bases, destinada a regular os direitos das pessoas com idade igual ou maior a 60 anos.

Serviços especiais de prevenção e atendimento à vítima, negligên-cia, maus-tratos, exploração. Antes não tínhamos mecanismos para pu-nir as pessoas que maltratavam os idosos; hoje temos mecanismos para punir essas pessoas.

Por outra parte, temos o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso. Existe o Conselho nacional e existem também os Conselhos estaduais, que são órgãos de controle democrático. Qual é o objetivo? Acompa-nhar a aplicação das políticas públicas destinadas à pessoa idosa. É im-portante que o idoso participe não só no assento do Conselho do Idoso, mas no Conselho de Assistência Social, no Conselho de Saúde, nas Co-missões Estaduais do Trabalho, porque eles têm recursos e é lá que se discutem os recursos para a implantação das políticas públicas.

A nossa política é maravilhosa: políticas integradas, desenvolvidas de forma descentralizada. Mas é importante conhecermos todos esses mecanismos porque, sem recurso, não funciona a democracia.

Temos alguns desafios:

a) Informar, buscar e sensibilizar os diferentes atores e segmentos sociais para a importância dos direitos na velhice. O idoso, como protagonista, é o ator principal dessa ação, e pode ser o agente de mudança na sua comunidade.

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b) Os governos devem implantar as políticas públicas seguindo as três áreas recomendadas pelo plano de Madri, que é garantir os direi-tos assegurados à população para que possa ter um envelhecimento digno e com qualidade de vida; governo, sociedade civil organizada e organismos internacionais para impulsionar a proposta da Con-venção tirada das três reuniões de governo.

c) Criar um Comitê de organizações governamentais e não governa-mentais de vários países para monitorar as ações políticas impul-sionadas para a Convenção. Então é importante, inclusive, que se resgatem os fóruns; nem todos nós temos espaço dentro dos Con-selhos, mas o fórum é um espaço aberto para discussão. Então va-mos lutar e reunir esforços para a efetivação da garantia dos direitos, conquistada com a atuação do protagonismo das pessoas que mos-tram sua força política e econômica na sociedade.

d) A questão da garantia de direitos da pessoa idosa na sociedade não é de legitimação, mas de efetivação por parte das organizações não governamentais e da necessidade de politização dos idosos.

Vamos lutar, não vamos desanimar, porque só assim conquistamos nossos direitos.

Obrigada.

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Panorama Municipal sobre Política de Direitos para a Pessoa Idosa e sua Implantação

AdeMir Alves dA silvA Assistente social, doutor em Serviço Social e Política Social pela

PUC-SP, professor de Política Social na PUC

Ante de tudo quero agradecer o gentil convite que me foi feito pela Associação Reciclázaro, na figura da assistente social Andréa. Quero cumprimentá-los, organizadores, patrocinadores e pessoas que estão participando, pela feliz e relevante iniciativa frente a um tema pun-gente, tão desafiante, como são as políticas públicas voltadas para os idosos.

Eu falo a partir das minhas inserções e experiências profissionais, seja através da Prefeitura de São Paulo, particularmente na área da as-sistência social, seja na PUC de São Paulo, como professor pesquisa-dor também na área das políticas sociais, e é disso que nós vamos falar aqui.

Para minha exposição, gostaria de afirmar alguns eixos e condições para essas reflexões. Um primeiro eixo se refere à relação das políticas com a economia. Esse é um evento político, para tratar de políticas que evidentemente não podem se separar da economia. Se vamos pensar em previdência, temos que pensar em economia, empregos, crescimen-to econômico, mercado de trabalho. Então precisamos ter esse cuidado de não dissociar a área da política da área da economia.

O segundo eixo é não dissociar as três esferas de governo, ou não teremos políticas públicas.

O terceiro eixo é a necessidade de termos a visão de conjunto das políticas; embora atuemos na saúde ou na assistência ou na previdên-cia, temos de ser capazes de ver o conjunto delas, articulando-as para o melhor funcionamento de todas elas.

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Um quarto aspecto é o enfoque sociogeracional. Embora esse seja um evento voltado para o segmento de idosos, estamos aqui para pen-sar a sociedade brasileira, uma sociedade para todas as idades, como foi a frase de chamamento para a Conferência de Madri, porque às vezes acabamos por segregar os idosos, com as melhores intenções.

Trata-se de trazer para aqui esse enfoque sociorrelacional, intra e intergeracional, ou seja, concebendo o idoso no conjunto, na rede de relações familiares, comunitárias e societárias, sem o retirar do seu contexto, de sua trama de relações econômicas, culturais, sociais, afeti-vas e sexuais; ou seja, é esse o nosso enfoque do idoso ativo e dinâmico na trama, na rede de relações sociais.

O último eixo para as nossas relações de análises tem a ver com as relações de gênero, que é um tema que me interessa muito. Wolfgang Hees se referia à presença feminina majoritária na plateia e a presença majoritária masculina na mesa, só que quem organizou o evento foi um grupo de mulheres, especialmente a Andréa Gadiolli, que é minha cole-ga. Isso é muito importante nas relações de gênero, em busca de novos modelos, mais humanos, mais fraternos, mais justos e mais igualitários entre os gêneros; e por isso minha consideração.

O perfil demográfico, combinando a longevidade com a queda da na-talidade, é fundamental para o nosso debate. Devemos considerar toda a nossa política para o idoso e também a alteração do perfil demográfico brasileiro com crescente segmento de idosos. As projeções para daqui a duas décadas é de 40 milhões de idosos no Brasil; uma pirâmide popu-lacional que vai se convertendo num trapézio porque se alarga em cima, com a presença dos idosos que estão vivendo mais, e se estreita embaixo, com a queda dos nascimentos. Isso é absolutamente fundamental para pensarmos a sociedade agora e pensarmos a sociedade do futuro.

É importante considerar a presença feminina majoritária entre os idosos, ou seja, uma feminização da longevidade. Aquele papel da mu-lher do lar e cuidadora, historicamente vem se modificando com a mu-lher se inserindo no mercado de trabalho, participando crescentemente

de outros setores da vida social. Então, como é que vai ficar a questão do cuidado? É um desafio muito grande preparar cuidadores profissio-nais, cuidadores institucionais.

A atual rede de serviços está longe de assegurar o atendimento in-tegral e preferencial ao idoso. Serão investimentos de longo prazo para ampliar a oferta de modo a atender as demandas do idoso. Teremos de enfrentar essa cultura, esse imaginário, esse modo de pensar, que é um modo de pensar anti-idoso, que segrega o idoso como improdutivo e incapaz, alguém que se recolhe aos seus aposentos. A própria palavra “aposentado” significa “aquele que se recolhe aos seus aposentos”. Eu prefiro o termo em inglês, retired, ou o termo em espanhol, jubilación, porque se recolher aos seus aposentos não é vida para homem nem para mulher. Temos de romper com essa cultura.

Feito esse preâmbulo, entro diretamente nas políticas e vou falar de três, fundamentalmente: saúde, assistência e previdência social, que compõem a seguridade social.

Saúde: temos que avançar na implantação do SUS. Com todos os defeitos, é melhor que o sistema de saúde americano; quem tiver dúvi-das assista o filme de Michael Moore sobre a saúde nos Estados Unidos. Temos que avançar no princípio do direito do cidadão e do dever do Estado.

Estou me referindo a toda a sociedade. É claro que o idoso tem ne-cessidades específicas em face de sua peculiar condição, mas, atenção, porque envelhecer não é adoecer.

Temos que buscar alternativas para o atendimento domiciliar, aten-dimento na comunidade, atendimento na família, atendimento no local onde ele mora; e isso implica, por exemplo, melhorar e fortalecer o Pro-grama Saúde da Família. O desenho está correto, mas precisa ser im-plantado, ampliado e honrado na prática. Temos problemas de trans-porte, de custo, e não queremos tirar o idoso de seu entorno de relações comunitárias, então por que não promover e ampliar o atendimento domiciliar, previsto como direito na legislação brasileira? Na área da

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saúde, a experiência mais recente de implantação do Centro de Refe-rência do Idoso (CRI), dispondo de atendimento ambulatorial com vá-rias especialidades combinadas e diversas atividades lúdicas, culturais e socioeducativas. No meu modo de ver tem se revelado positivo sob a perspectiva do atendimento integral à saúde do idoso.

Quando falo de saúde, aqui, estou falando da saúde integral. Saú-de não é apenas construir mais hospitais, não é tomar muito remédio. Saúde é ter boa alimentação, é o ar que se respira, é a qualidade das relações, a forma de conceber a vida; isso, eu não estou inventando, está na Lei 8080/80: saúde é a expressão das condições de vida.

Para aqueles casos em que estejam esgotadas todas as alternativas para se cuidar do idoso dependente, semidependente, cuidado na pró-pria família, temos de repensar o atendimento institucional; e isso é saúde e é assistência social, rompendo-se com a velha prática de con-finar, de asilar, de tirar da frente o idoso. Temos que promover ins-tituições de longa permanência, modernas, ágeis e interessantes; que funcionem como abrigo humano, digno e decente; que respeite os di-reitos do idoso porque ele merece atenção psicológica, social, médica, odontológica, sociocultural. Pensar um conceito de moradia coletiva, de república para idoso, conceito de moradia assistida, e sem confinar, sem segregar, sem asilar e sem apartar o idoso da possibilidade de con-vívio vivo, dinâmico, histórico.

Passemos à previdência. Todas as vezes que se fala de previdência, fala-se de tirar um pouco mais do trabalhador aposentado: contribuir mais e receber menos, aposentar mais velho e continuar pagando; que reforma é essa? Nós queremos uma previdência que amplie a cobertu-ra, que coloque os trabalhadores informais, sem carteira assinada, na previdência; que seja retomado o crescimento econômico, uma econo-mia geradora de empregos, sem separar política de economia.

Queremos uma reforma mais moderna, mais dinâmica, que conte-nha as pessoas no mercado de trabalho informal, enfrentando essa ten-dência de informalização do mercado de trabalho, ampliando as fontes

do financiamento. Na hora do financiamento, é só das contribuições; o dinheiro vem do consumo e do trabalho, por que não do capital? Por que não taxar os setores bem-sucedidos e que não são grandes gerado-res de emprego, como, por exemplo, os bancos? Então quando se fala de reformar, fala-se de confiscar, estreitar o ganho do trabalhador. Não sou contra a reforma, mas que reforma é essa? Eu quero discutir uma refor-ma que busque outras formas de financiamento das grandes fortunas, dos capitais, do setor bancário, porque se tira do trabalhador. Reformar a previdência tem sido ampliar o período, reduzir os benefícios, con-fisco (de novo) do trabalho, preservando outras áreas de acumulação. Então, a previdência é absolutamente fundamental.

No caso da assistência social, temos de ampliar o benefício da pres-tação continuada para maiores de 65 anos, rever os critérios; temos de regulamentar, nos municípios, os chamados “benefícios eventuais”, que já são prestados na forma de alimentos, na forma de transporte, na participação no Cras. Já são concedidos, além dos benefícios continu-ados nacionais, os benefícios eventuais. Precisamos regulamentá-los e ampliá-los.

Temos de pensar, no município, sobre a organização de um sistema de informação continuada de cuidadores informais, cuidadores profis-sionais e cuidadores institucionais. Aliás, recentemente, foi feita pelo Conselho Nacional de Assistência Social a Resolução 109, estabelecen-do quais são os tipos de serviços da assistência social e, dentre esse elenco de serviços, está prevista a proteção social básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosos, através dos Cras, Creas e Unida-des Referenciadas, inclusive o suporte aos cuidadores. Temos de fazer valer na prática e avançar muito além dos serviços que já dispomos.

Por exemplo, acho que os Crecis são uma experiência feliz, bem-sucedida; eu valorizo muito esse serviço. Os Núcleos de Convivência de Idosos, espalhados pela cidade, são uma experiência acertada; tam-bém precisam ser ampliados, assim como os serviços de assistência familiar.

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Por último, mas não menos importante, umas palavrinhas sobre ha-bitação. Há uma grande demanda de moradia, e será necessário pensar alternativas à lógica do mercado. A habitação é uma das mercadorias mais caras e o mercado exclui pela baixa renda, exclui pelo alto risco apresentado e pela idade do interessado, entre outras exclusões. Não penso que a solução venha com a criação de vilas para idosos; eu ques-tiono isso, penso que tende a segregar. Sou a favor da ideia das cotas; sou a favor das alternativas intergeracionais. Então, teremos que pensar em alternativas dentre essas que já mencionei.

Muito obrigado.

O Cumprimento dos Direitos na Perspectiva de um Conselho

olGA QuiroGA Membro do Grande Conselho Municipal do Idoso, presidente fundadora

do Grupo Articulado para Moradia do Idoso da Capital (Garmic)

Bom dia a todos e a todas que estão aqui hoje. Eu quero agradecer, em primeiro lugar, à Reciclázaro, na pessoa da Andréa, pelo convite para participar deste seminário, e ao Sesc, nosso parceiro, que deu oportu-nidade para que o Garmic divulgasse o seu trabalho e para que todos saibam o que realmente o grupo faz dentro do município de São Paulo.

Eu fui convidada para falar do Conselho Municipal do Idoso. Hoje, sou conselheira municipal do idoso e também sou conselheira no Con-selho da Saúde, representando o idoso.

Antes de tudo, vou começar lendo algumas coisas que considero de vital importância para podermos falar de Conselhos.

Primeiro, o que está escrito no parágrafo único do Artigo 1º da Constituição nacional: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

Depois temos no Estatuto do Idoso, que foi impresso pela Coorde-nadoria do Idoso, o seguinte: “Este segmento deve ser cada vez mais integrado à sociedade, e ter os seus direitos civis assegurados. A prote-ção ao envelhecimento é um direito social que deve ser respeitado por quem quer que seja, não podendo ser violado em qualquer hipótese.” Quem escreveu esse prefácio foi o Sr. Ricardo Montoro, secretário de Participação e Parceria.

O Conselho Municipal do Idoso nasceu antes do Conselho Nacio-nal do Idoso, em 1992, por uma lei da prefeita Luiza Erundina; é uma

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lei que agrada a todos os idosos, mas não é cumprida. A lei do Conse-lho do Idoso, infelizmente, hoje, no município de São Paulo, não está sendo respeitada. O conselheiro, que foi eleito no dia 5 de dezembro de 2009, ainda não tomou posse. O Conselho do Idoso está ainda sem conselheiros.

O Conselho é um órgão consultivo, é paritário entre sociedade civil organizada e governo, mas não é deliberativo. Ficamos pensando, dis-cutindo e não chegamos aonde gostaríamos de chegar.

A primeira coisa para a qual esse Estatuto foi feito é para poder im-plantar as políticas públicas. Eu estou falando dos idosos mais exclu-ídos da população brasileira, e há muitos em São Paulo. Nós, idosos, queremos ser protagonistas, queremos que nos deixem falar, expressar aquilo que sentimos, mas o Conselho do Idoso, infelizmente, hoje em dia, está fazendo tudo ao contrário.

O estado de São Paulo se divide em cinco regiões: norte, sul, leste, oeste e centro, e são eleitos os conselheiros indicados pela população idosa. São nove macrorregiões, havendo seis conselheiros titulares e três suplentes. Desses 45 conselheiros que foram eleitos, os cinco mais votados têm que compor a executiva do Conselho Municipal do Idoso. O Conselho fez tudo como devia ser feito, escolheu uma comissão elei-toral, que é o certo e está dentro do regimento interno. Fomos eleitos, mas ainda não tomamos posse.

Dentro do Conselho estão as Comissões, mas infelizmente os re-presentantes que vêm por parte do governo em habitação, transporte, saúde, educação e assistência social não têm poder deliberativo. Eles nos escutam, brigam pela nossa proposta, mas nada é feito. É uma falta de interesse muito grande em relação ao idoso.

O Conselho também faz uma assembleia mensal na Câmara Muni-cipal do Idoso, mas os coordenadores do grupo não convidam os ido-sos para participar. É aquele negócio que o idoso nada pode. Este é um momento no qual os Conselhos deveriam estar agindo e chamando os políticos para ver o que eles vão fazer em nosso benefício, apresentan-

do propostas, exigindo deles, fazendo assinar algum compromisso, mas até agora não pudemos fazer nada.

O Sr. Ademir falou que há 105 núcleos de convivência na cidade de São Paulo, mas nós ficamos muito tempo perguntando sobre isso e não sabemos onde estão os CRIs, por exemplo. Existem as placas, mas não há pessoas para atender; alguns nem computador têm, não têm estrutura. É muito bom ter, mas ter para quê? É por causa de todas es-sas coisas que não dá para a gente ficar quieta. Eu tenho um problema muito grande. Eu falo o que vejo. Primeiro, vou verificar, vou ver, vou negociar, mas depois vou falar e digo a verdade.

Aqui há muitos idosos e eles são o nosso “rádio” na cidade. Cada ido-so se preocupa com o outro. Nós mesmos montamos uma rede dentro do movimento para nos cuidarmos porque temos tentado muitas vezes instituir a Renadi, mas até agora não obtivemos resultados, mesmo com a boa vontade de muitas entidades e ONGs que estão aqui. Não temos conseguido porque, infelizmente, em nosso município cada secretaria e cada entidade trabalham para si, há uma dificuldade muito grande de trabalharem no coletivo; enquanto isso, nós, idosos, continuamos tendo problemas. Mas, mesmo na dificuldade, temos esperança porque agora vivemos mais e queremos ver tudo isso aqui concretizado.

Para quem quiser nos acompanhar, estamos abertos, não somos au-tônomos, não temos partido político e não estamos em nenhum gabi-nete porque os governos só ficam quatro anos, mas nós continuamos. Espero viver mais trinta anos porque ainda pretendo dedicar muito tra-balho em benefício do idoso.

Muito obrigada.

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Construindo Redes de Apoio à Pessoa Idosa

ir. terezinHA tortelli

Enfermeira gerontóloga; secretária executiva da Pastoral da Pessoa Idosa

Agradeço o convite da Associação Reciclázaro. Neste momento, quem deveria estar aqui era uma grande mulher brasileira que se doou para o povo mais empobrecido do continente americano, Drª Zilda Arns.

A Pastoral da Pessoa Idosa, doravante PPI, agradece a oportunida-de de estar aqui; é uma oportunidade de apresentar o nosso trabalho, juntando-se a essa proposta de construção de redes de apoio à pessoa idosa. A PPI se sente, de fato, uma parceira nesta grande proposta que é a construção da Renadi, como Olga acabou de mencionar. A Pasto-ral tem entre seus princípios estatutários formar redes de solidariedade entre as famílias. Quando pensamos a Renadi, pensamos que deve ser algo grandioso, em nível nacional, mas ela deverá começar do pequeno, senão não acontece o grande. A proposta da PPI é começar pela rede de solidariedade.

Vocês podem observar que a logomarca da Pastoral não é “Pastoral da Terceira Idade”, não é “Pastoral do Idoso”; há um objetivo de ser este nome, Pastoral da Pessoa Idosa, inclusive destacando a palavra “pes-soa”, dando valor à pessoa. Queremos valorizar de fato a pessoa, mulher e homem, trazendo também a questão de gênero. O lema da nossa pas-toral é “dai ao nosso coração, sabedoria”, valorizando esse potencial de vida das pessoas idosas, que é a sabedoria; queremos resgatar isso.

O QUE É, AFINAL, A PPI?

É uma organização comunitária, de atuação nacional, que se baseia na solidariedade e na partilha do saber, identificando lideranças na co-munidade; a grande força da Pastoral está nas lideranças que vivem na

comunidade. Despertando as pessoas para as necessidades dos outros, como mencionado por outras pessoas nesta mesa. A Pastoral pretende ir organizando essas redes de solidariedade, dando oportunidade para as pessoas exercerem seu protagonismo e sentirem-se atores da melho-ria do ambiente comunitário, fortalecendo o tecido social.

O OBJETIVO DA PPI:

É assegurar a dignidade e a valorização integral das pessoas idosas, através da promoção humana e espiritual, respeitando seus direitos, em um processo educativo de formação continuada dessas pessoas, de suas famílias e de suas comunidades, sem distinção de raça, cor, profissão, nacionalidade, sexo, credo religioso ou político, para que as famílias e as comunidades possam conviver respeitosamente com as pessoas ido-sas, protagonistas de sua autorrealização. Não existe pessoa que deva ficar fora da Pastoral, não importa se é católica, se compartilha essa linha de pensamento, seja de outras igrejas ou de qualquer classe social, a Pastoral acolhe a todos.

QUEM A PPI ACOMPANHA?

As pessoas de 60 anos ou mais, preferencialmente as mais vulnera-bilizadas pela pobreza ou abandono, como diz o Estatuto da PPI no artigo 5º.

QUEM FAZ O ACOMPANHAMENTO DAS PESSOAS IDOSAS?

São pessoas voluntárias da própria comunidade. Elas são chamadas de “líderes comunitários”. São pessoas que se propõem desenvolver essa missão.

• Recebem uma capacitação básica de 18 horas; seguem com forma-ção contínua todos os meses em reuniões que chamamos para ava-liação e reflexão, em que se propõe aprofundar os temas, de forma continuada;

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• Esses líderes comunitários fazem o acompanhamento de pessoas idosas através de visitas domiciliares mensalmente. A pessoa vive na comunidade e acompanha em média dez pessoas idosas vizinhas, visitando-as todos os meses.

Temos materiais educativos, entre eles o Guia do Líder, com o qual trabalhamos a capacitação inicial de 18 horas, o “caderno do líder”; cada pessoa idosa é visitada, cadastrada e acompanhada durante os doze meses, por isso há espaço para preencher os indicadores uma vez ao mês. Há o Manual do Capacitador, pois temos capacitadores que vão se formando até chegar a líder; então há um material básico que é utilizado para orientar as capacitações.

Há a Fadi, que é a Folha de Acompanhamento Mensal Domiciliar à Pessoa Idosa; sua base de dados é o caderno do líder. Na reunião men-sal, na qual acontece a formação contínua, é preenchida uma folha a partir do caderno de cada líder, em cada comunidade; geralmente são três, quatro, cinco ou seis, às vezes dez líderes, cada um com seu cader-no, e a partir deles é feita uma folha. E a cada mês essa folha chega até a coordenação nacional, onde é mantido um sistema de informação.

Temos também um DVD institucional chamado De bem com a vida. Há um relatório, que é fechado a cada três meses; está online e os dados podem ser consultados, via internet, a qualquer momento. Temos tam-bém um programa de rádio, Envelhecer de Bem com a Vida; já são mais de 300 rádios que veiculam esse programa de forma gratuita.

OBJETIVOS DA VISITA DOMICILIAR:

Conhecer as pessoas idosas que residem naquela casa, sua história de vida e daqueles que convivem com elas; conhecer o que a família valo-riza e faz para cuidar das pessoas idosas; identificar situações de risco para as pessoas idosas; perceber os problemas que as pessoas idosas enfrentam; procurar, junto com a família, formas de resolver esses pro-blemas; dialogar e partilhar informações; ser ponte entre a família e a

comunidade; conhecer e tornar conhecidos os programas de governo voltados às pessoas idosas, assim como conhecer as políticas públicas que versam sobre os direitos da pessoa idosa. O papel do líder não é de cuidador, não é de formar grupos; é o de ser a ponte entre a família e a comunidade, ver o que é preciso para ir melhorando as condições das pessoas idosas dessa comunidade.

A rede de solidariedade vai identificar qual é a situação do idoso, onde ele mora, como ele vive, porque geralmente ele não é conhecido, só se conhece bem quando se vai até a residência.

A metodologia da Pastoral se inspira no Evangelho que narra a mul-tiplicação dos pães e peixes (Mc 6, 34-44). Nós não temos os pães nem temos os peixes, mas damos a capacitação e formação para os líderes comunitários de forma permanente. O que podemos fazer é socializar o saber, informar o que existe para as pessoas idosas no tocante a direitos e serviços, e também para que se crie essa solidariedade entre as famí-lias, rumo à dignidade e qualidade de vida.

Quais são os indicadores que estão no caderno e são acompanhados todos os meses? O líder motiva e incentiva o idoso a fazer atividades físicas, a ingerir líquidos, a manter-se em dia com a vacina anual contra a gripe e a vacina contra a pneumonia (a cada 5 anos), a prevenção de quedas, a identificação de incontinência urinária, encaminhamento aos serviços de saúde e identificação de pessoas idosas dependentes. Os lí-deres fazem o acompanhamento mensal desses oito indicadores.

Nós temos alguns resultados, e eu trago os dados do terceiro trimes-tre de 2009. São acompanhadas hoje 171.686 pessoas idosas, visitadas todos os meses. Há 137.637 famílias acompanhadas, 19.363 líderes atu-antes em 4.934 comunidades, 1.247 paróquias, 176 dioceses de 814 mu-nicípios e 26 estados. A partir desse ano vamos desenvolver um projeto piloto para sabermos as idades dessas pessoas e cruzarmos com alguns indicadores para observar o perfil de fragilidade das pessoas idosas acompanhadas. Hoje, o que nós temos é o que vem na Fadi. Os dados que seguem são referentes às pessoas idosas que morreram.

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Até 2007, nos homens, o pico maior das mortes era entre 75 e 80 anos; nas mulheres, já era entre 80 e 85. Nos últimos dois anos, entre os homens, também o pico maior está entre os 80 e 85. Pode ser uma tendência: os homens também estão começando a viver mais.

Uma curiosidade é que 1,5% das pessoas que morreram tinha mais de 100 anos. Eu gostaria também de citar alguns exemplos para dizer que a rede é possível, sim; nossa parcela de contribuição da Pastoral é essa rede que eu chamo de “pequena” porque ela contém a base, mas já são quase 5.000 comunidades. A rede é formada de nós, e cada comu-nidade vai dando nós na sua rede, vai ampliando e vai forçando o poder público a se organizar porque a Pastoral identifica pessoas idosas, com muitas necessidades, e para onde vamos encaminhá-las? É uma forma de ir construindo a rede local e, com cada local se organizando, teremos a possibilidade de criar a Renadi, na qual acredito muito, mas temos que começar lá, no pequenino.

Para concluir, deixo uma frase de D. Helder Câmara:

“O segredo de ser sempre jovem — mesmo quando os anos passam, deixando marcas no corpo — é ter uma causa a que dedicar a vida.”

E para finalizar mesmo, uma frase de João Paulo II, que escreveu uma carta de preparação à quaresma de 2005, falando das pessoas idosas que têm orientado a caminhada de todos os envolvidos na Pastoral:

“Que cada comunidade acompanhe com uma compreensão amorosa todos os que envelhecem.”

Sentimos esse carinho do papa e essa frase está direcionando a nos-sa missão.

Muito obrigada.

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Compromisso com a Sociedade Civil para Promover os Direitos das Pessoas Idosas

cHristel WAsiek

Assessora da Cáritas Alemã

Cumprimento os participantes do evento e os integrantes desta mesa.

Aprendemos muito hoje de manhã, referente aos direitos das pes-soas idosas, e nesta mesa vamos falar de ações concretas que se reali-zam nos países da América Latina e do Caribe. Dois membros da mesa vão fornecer informações adicionais sobre o Programa Regional Cáritas Trabalho Social a Favor de Adultos Maiores da América Latina e Cari-be, e sobre o processo que até hoje se realiza sobre a base da Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa Idosa. As experiências que vamos apresentar se desenvolvem no Pram e possivelmente vocês vão entender um pouquinho sobre o compromisso da Cáritas alemã em tudo isso.

A Cáritas, como uma instituição da Igreja Católica, atua em nível mundial em mais de 180 países onde se trabalha em busca de mais so-lidariedade e justiça social. A motivação do seu compromisso surge de sua missão de solidariedade cristã, com base na doutrina social da Igre-ja, que parte da convicção da dignidade de cada pessoa humana. Por isso, a Cáritas busca, em seu trabalho, apoiar e proteger as pessoas cujos direitos estão em risco ou são violados. Desse modo, pretende fomentar suas potencialidades de auto-organização e autoajuda. As motivações secundárias vêm dessa convicção principal.

O compromisso da Cáritas se manifesta mais visivelmente nas ativi-dades concretas, sem negligenciar a função de advocacy.

Nesta mesa serão apresentadas algumas ações que tratam de cum-prir a missão da Cáritas e também os princípios das Nações Unidas, que são os da Independência, Participação e, sempre, Dignidade da pessoa idosa.

SOBRE A SOCIEDADE CIVIL E AS PESSOAS IDOSAS

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Programa Regional “Trabajo Social a Favor de los Adultos Mayores de América Latina y Caribe (Pram)“

dorotHeA scHereck

Coordenadora do Pram

Boa tarde. É um grande prazer compartilhar com vocês este dia. Gos-taria de cumprimentar todas as autoridades e pessoas presentes nes-ta sala. Para mim é um prazer poder contar-lhes em que consiste o Pram.

Começamos com o programa em 2004, e nos últimos anos se incor-porou a Reciclázaro/Cáritas Lapa Brasil. Além dos projetos territoriais que existem no México, Cuba, Peru e Chile, existe a Rede Latino-ame-ricana de Gerontologia, que nossa colega Ximena irá ampliar.

Christel já falou um pouco do trabalho da Cáritas e eu gostaria de enfatizar que as Cáritas, em nível mundial, há muitos anos vêm assu-mindo um papel especial como organizações que trabalham em nível nacional e regional para desenvolver projetos sustentáveis.

A Cáritas alemã apresenta rica experiência com as pessoas idosas. Essa experiência tem a ver com o próprio trabalho que se desenvol-ve na Alemanha e com a cooperação existente entre várias Cáritas há mais de 20 anos. O Pram surgiu como organismo da Igreja Católica com uma missão de solidariedade, fazendo vínculos em nível regional e internacional.

Há antecedentes que precedem a conformação desse programa. O envelhecimento mundial é o tema prioritário deste ciclo; os governos se comprometeram a fomentar a participação social da pessoa idosa na sociedade e possibilitar um envelhecimento digno e com segurança. Diversas assembleias foram realizadas e quero destacar a Assembleia de Madri sobre o Envelhecimento, realizada na Espanha em 2002.

O Pram nasceu por iniciativa e preocupação de algumas Cáritas da Rede Cáritas Internacional, que disseram: “Queremos nos juntar e deixar de trabalhar isoladamente, país por país, e passar a trabalhar em nível regional.” Em 2004, a cooperação bilateral transformou-se em uma cooperação em nível regional ao se implantar o Programa Regional.

A missão do Pram é melhorar a qualidade de vida das pessoas ido-sas na América Latina e no Caribe, colocando ênfase na promoção de sua dignidade e no seu desenvolvimento integral.

Na primeira fase do Pram, correspondente aos anos 2004-2007, tra-balhamos quatro objetivos principais:

1. Executar modelos pilotos em práticas concretas;

2. Promover uma imagem mais positiva do idoso;

3. Fortalecer e ampliar redes no campo da atenção à pessoa idosa;

4. Fomentar a participação social dos idosos.

Segundo a situação de cada país, cada projeto parcial coloca mais ênfase em uns ou outros objetivos, porém todos nós compartilhamos iguais princípios para trabalhar em nível regional sobre os mesmos te-mas e fundamentos.

Na segunda fase do Pram, que corresponde aos anos 2008-2010, na qual nos encontramos atualmente, estamos trabalhando nas seguintes linhas temáticas:

1. Contribuir na prevenção dos maus-tratos e da violência contra a pes-soa idosa. Esse tema é abordado de diferentes formas em cada país; o exemplo que trago é o do Peru, que realiza oficinas de sensibilização para organizações sociais. É importante mencionar que, no Peru, a Cáritas foi a primeira organização que promoveu o surgimento das defensorias do idoso, que mais tarde se instalaram em outras cidades do país.

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2. Promover uma vida saudável e de autocuidado entre os idosos. Nes-te caso coloco o exemplo de Cuba, que faz um trabalho muito im-portante a respeito desse eixo de trabalho.

3. Promover a participação e o papel das pessoas idosas como sujeitos protagonistas na sociedade. Exemplifico com o caso do Chile, que mostra como os idosos se mobilizaram, realizando uma passeata pe-las ruas para tornar visíveis suas demandas. Isso aconteceu antes das eleições; esteve presente o presidente da Cáritas do Chile e foi cha-mada de “passeata das cabeças brancas”. Também no Peru, os idosos saíram às ruas para reivindicar seus direitos.

4. Desenvolver propostas para a melhoria da previdência social das pessoas idosas. No Peru, publicamos o livro Envejecimiento con Dignidad: Pensiones no contributivas para reducir la pobreza en el Perú, elaborado por Cáritas Peru, HelpAge International, “Mesa de concertación para la lucha contra la pobreza” e OIT. Todos juntos, trabalhando para promover a existência de uma lei de pensões não contributivas, que ainda não existe no Peru. O assunto das pensões não contributivas é um tema que interessa muitos países, os quais têm se mobilizado para conseguir esse direito. Na Guatemala, por exemplo, os idosos sem previdência social lutam firmemente para conseguir uma pensão básica. Na Bolívia, luta-se para que o Sena-do ratifique a Lei da Renda Dignidade. O projeto de lei que outorga uma pensão básica universal às pessoas de mais de 60 anos tem recebido um amplo apoio dos idosos, mas também tem suscitado a rejeição dos que se sentem afetados.

5. Fazer visíveis as diversas realidades dos homens e mulheres idosos em si mesmos, como também em relação às outras gerações. Nessa fase surgiram projetos intergeracionais, como vocês podem obser-var no exemplo do México, onde os colegas fizeram atividades que envolviam as diferentes gerações; nesse caso, crianças e idosos.

Reunimo-nos uma vez ao ano para trocar nossas experiências e con-tinuar planejando e fortalecendo as nossas ações. Em cada uma dessas reuniões elaboramos um documento: Carta de Lo Cañas 2004, Carta do México 2005, Carta de Lima 2006, Carta de Havana 2007, Carta de Malloco 2008, Carta de Montevidéu 2009; todas estão na página da web www.gerontologia.org.

Tendo apresentado as características principais do programa, só quero acrescentar que, para desenvolver todo esse trabalho de forma integrada, temos eixos comuns, entre os quais se encontram: reuniões e encontros para o intercâmbio; capacitação, principalmente sobre o voluntariado; publicação de artigos e livros, assim como sua distribui-ção via Rede Latino-americana de Gerontologia; interconexão e coo-peração com especialistas de instituições governamentais, que abran-gem temas gerontológicos; e participação em encontros nacionais e internacionais.

Muito obrigada e desejo a todos e todas um frutífero encontro.

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Prevenção dos Maus-Tratos através de Projetos Intergeracionais

rAFAel QuisPe Cáritas Peru

Boa tarde para todos vocês. Vou compartilhar uma experiência que desenvolvemos na Cáritas Peru sobre a prevenção dos maus-tratos e promoção de uma imagem positiva do idoso através de encontros in-tergeracionais. O projeto se desenvolve especificamente no sul do país, nas regiões de Tacna, Moquegua e Arequipa, com 967 pessoas idosas e 28 grupos. O programa surgiu dentro do Pram, que Dorothea explicou anteriormente.

Na Cáritas experimentamos diferentes estratégias com as famílias, com a sociedade e com os idosos, fazendo com que conheçam seus direitos e também fazendo incidência política.

No contexto nacional, os principais problemas dos idosos têm a ver com: a exclusão, a marginalização e os maus-tratos familiares, laborais e sociais; a pouca participação dos idosos dentro de um processo de urbanização crescente; e o envelhecimento da população. Além desses, tem-se: as condições inadequadas de saúde e segurança alimentar na população empobrecida dos idosos e a imagem negativa que a socie-dade tem da velhice e do envelhecimento. O débil sistema de políticas e programas de proteção social e econômica, em nível local e regional, agrava a situação social das pessoas idosas.

Os idosos precisam ser valorizados como pessoas com experiência e sabedoria, que podem contribuir muito para a sociedade. É uma ta-refa permanente a de criar espaços que promovam as relações entre as diferentes gerações, nos quais se cultive a solidariedade e se promovam atitudes positivas e de cuidado no meio familiar.

ENCONTROS INTERGERACIONAIS

No sul do Peru, a Rede Cáritas, no contexto do Pram, iniciou em 2005 a realização de encontros intergeracionais entre alunos de instituições de ensino e idosos, nos diferentes grupos dentro do Pram, com foco na prevenção dos maus-tratos, no tratamento digno e no respeito, e na promoção de uma imagem positiva do idoso.

A atividade tem como objetivo promover mudanças de atitude nas gerações mais jovens para que, no futuro, a sociedade tenha uma per-cepção mais adequada da velhice, sem esquecer o papel que os idosos têm que assumir para conseguir as referidas mudanças. No mesmo sen-tido, não podemos esquecer o papel que a família deve ter no cuidado do idoso, constituindo-se no principal suporte que lhe oferecerá cari-nho, atenção, segurança econômica e material.

Para atingir os resultados esperados, os encontros se desenvolvem com base em uma metodologia participativa que consegue captar a atenção e a concentração das crianças, dos adolescentes e dos idosos. Essa metodologia inclui dinâmicas de animação e apresentação; socio-drama e trabalho em equipe, nos quais interagem as diferentes gera-ções; dramatização de situações familiares; e jogos recreativos.

Os objetivos dos encontros intergeracionais são:

OBJETIVO GERAL:

• Fazercomqueacomunidadeeducativa,afamíliaeasociedadese-jam capazes de proporcionar respeito e tratamento digno para todos os idosos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS, SEGUNDO O GRUPO PARTICIPANTE:

1. Crianças e jovens

• Interagirrespeitosamentecomoidosonolarenacomunidade;

• Tratarosidososcomdignidadeerespeito;

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• Valorizar a experiência, assim como as habilidades manuais e artís-ticas que possui uma pessoa idosa.

2. Professores

• Orientar e educar adequadamente os alunos sobre o processo deenvelhecimento e a situação do idoso no país e na comunidade.

3. Idosos

• Sintam-se escutados,motivados e capazes de oferecer orientaçãoaos alunos;

• Reconheçamashabilidadesepotencialidadesqueascriançaseosjovens possuem.

OS ENCONTROS SãO ORGANIZADOS EM TRÊS FASES PRINCIPAIS:

1. Fase preparatória

• Sãofeitasparceriascomosetordaeducaçãoecomasinstituiçõeseducativas selecionadas;

• Realiza-seumprocessodeformaçãoesensibilizaçãoemsaladeaulapara a comunidade educativa (professores e estudantes), prepara-tório para os encontros intergeracionais, fornecendo-lhe informa-ção sobre a situação dos idosos e o processo de envelhecimento. Os alunos, por sua vez, preparam uma apresentação recreativa-artística para os idosos no dia do encontro;

• Finalizadasasetapasdesensibilizaçãoepreparaçãoparaosdiferen-tes atores e em coordenação com as autoridades educativas do setor, realiza-se a programação dos eventos–encontros intergeracionais.

2. Fase de execução

• Dinâmica participativa de apresentação e integração entre osparticipantes;

• Trabalhoem equipe: guia de perguntas para as crianças e para os idosos. Roda de conversa. Os idosos realizam apresentações recrea-tivas-artísticas para as crianças;

• Sociodramaouapresentaçãodepeças teatrais sobre situaçõesdemaus-tratos e situações de cuidado ao idoso. Roda de conversa. Os alunos realizam apresentações recreativas-artísticas para os idosos;

• Atividades recreativas: jogos, danças, gincanas (equipes formadaspor crianças e idosos);

• Trocadepresentesentreosparticipantes.

3. Fase posterior ao encontro

• Entrevistas,enqueteseavaliaçõescomosprofessoresealunossobreo desenvolvimento do encontro e seus impactos;

• Reuniõescomplementarescomosetordaeducação;

• Entrevistaseavaliaçõescomosidosossobreodesenvolvimentodoencontro e seus impactos.

APRENDIZADOS E IMPACTOS:

• Aseguir,serãodescritosalgunsaprendizadoseimpactos,produtodos diferentes eventos e encontros intergeracionais desenvolvidos no âmbito do Pram no sul do Peru:

• Destacam-seapromoçãoderelaçõesdiretasentreosdoisgruposetários, atingida através de grupos mistos de diálogo, conversas entre os idosos e os alunos, pensando que o conjunto produz o impacto;

• Énecessárioterpresentearealidadelocal,osatoreseaexperiênciados educadores na temática para o adequado desenvolvimento dos encontros;

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• OseventospromovidospelaCáritassãoresultadodotrabalhoemrede em nível local e comunitário e, em particular, com o setor edu-cativo, que demonstrou abertura para facilitar as atividades e parti-cipar da sua implantação;

• Umagrandeconquista tem sido abrir a escola à comunidade e, fun-damentalmente, abri-la para provocar mudanças de relações entre as diferentes gerações, dando um importante salto qualitativo;

• Umaavaliaçãodeimpactonofuturopoderiaconsideraroseventoscomo fontes de aprendizado para o setor educativo, tanto para as escolas como para os responsáveis pelos programas educativos em geral.

Para numerosos idosos, essas experiências são muito significativas na sua vida. Alguns deles não têm netos, por isso viver esse momento, compartilhar com crianças, permite que surjam muitas emoções.

As relações interpessoais e afetivas entre as gerações acontecem co-mumente dentro das famílias e se conhecem poucas experiências in-tergeracionais fora desse âmbito que pretendam estabelecer relações de afeto e provocar mudanças de atitudes. O desenvolvimento dos encon-tros intergeracionais no sul do Peru, nas Cáritas de Tacna, Moquegua e Arequipa, permite dar aporte à construção de uma sociedade para todas as idades.

Muito obrigado.

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Uma Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas Idosas

XiMenA roMeno

Rede Latino-americana de Gerontologia

Durante o seminário, meus colegas têm se referido ao que vem sendo o processo para o estabelecimento de uma convenção internacional de reconhecimento dos direitos das pessoas idosas.

A Rede Latino-americana de Gerontologia é uma rede virtual criada em 1999, vinculada à Cáritas uruguaia, com a finalidade de nos co-nhecermos e produzirmos a sinergia que oferece o trabalho em rede. A rede tem um portal na internet: www.gerontologia.org. Entendemos que através desse portal não só fornecemos informação, mas também a recebemos; e os convido a ampliar esse espaço.

Sobre o tema da Convenção, o primeiro questionamento é: por que é necessária uma Convenção específica que proteja os direitos das pes-soas idosas? A resposta é: porque, simplesmente, os direitos não são res-peitados e porque há inúmeras formas de violação dos direitos, e várias são muito sutis, pois atuam através da linguagem, de gestos, de pequenas coisas. Os direitos humanos são desrespeitados com mais frequência à medida que as pessoas vão envelhecendo, por causa da força dos estereó-tipos que geram exclusão, discriminação e violência por razões de idade.

Nós, as pessoas envolvidas com esse tema, estamos sempre pesqui-sando essas formas de desrespeito, porém, na sociedade, isso ocorre como se fosse natural; e são as formas concretas que constroem a ex-clusão e permitem que as pessoas não possam usufruir dos direitos que lhes correspondem. Isso tem também outras complicações, referentes a estabelecer respostas que realmente fundamentem e possam encami-nhar-nos para conseguir uma Convenção. A Convenção, por ela mes-ma, não vai resolver a violação de direitos, mas vai criar um cenário mais favorável para exigirmos o seu cumprimento.

Um ponto importante é que o tema dos direitos das pessoas idosas tem a ver com a mudança que se vai produzindo na sociedade; e, nesse caso, estou pensando o que ganhamos de respeito à equidade de gêne-ro a partir do reconhecimento dos direitos. O fato mais significativo para nós, mulheres, tem sido o surgimento da mulher na vida públi-ca; também, hoje em dia, estamos enfrentando uma mudança muito importante, que é a revolução da longevidade, que vai mudar muito a nossa forma de perceber a vida. A violação dos direitos dos idosos afeta a cada dia um número maior de pessoas, na medida em que a popula-ção de idosos aumenta. O desafio é investir em prol de sociedades mais inclusivas para todas as idades.

A seguir, alguns exemplos de desrespeito aos direitos econômicos, sociais e culturais das pessoas idosas.

Na saúde: “Nos últimos anos, 60% da mortalidade das pessoas acima de 65 anos é atribuída à má qualidade dos serviços de saúde e dos médi-cos” (Castillo, C., Situación de salud en las Américas, 2006, p. 107).

Na previdência social: apenas 20% da população mundial contam com previdência social adequada e mais da metade não possui cober-tura (OIT, 2003).

Na educação: nos países em desenvolvimento, estima-se que 46% das pessoas com 65 anos ou mais sejam analfabetas. Em média, nos paí-ses em desenvolvimento, 58% das mulheres e 34% dos homens acima de 65 anos são analfabetos (WPA2009).

Uma Convenção e um relator especial poderiam contribuir para:

• Visibilizar,sensibilizar,promoveraconscientização;

• Maiorespossibilidadesdeobrigatoriedadejurídica;

• Promoverpolíticasde inclusãopara todasas idades,baseadasemum enfoque de direitos que superem o assistencialismo (mais auto-nomia, menos dependência);

• Estimularefortalecer o papel das organizações não governamentais corresponde à sociedade civil em geral.

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Existem muitos obstáculos que tem a ver com desconhecimento e preconceitos, nos quais prevalecem ideias catastróficas sobre as mudan-ças demográficas e, especificamente, sobre o envelhecimento individual e populacional. Posso mencionar alguns:

• Somenteenvelhecemaspessoasidosas;

• A velhice é um sinônimode perda: deficiência, doença, pobreza,como condição “natural”;

• Oaumentode idosos levaráà falênciaossistemasdeprevidênciasocial e de pensões;

• A queda na taxa de natalidade ameaça a conservação da espécie;

• Oquecaracterizaasrelaçõesentreasgeraçõeséoconflito,osinte-resses diferentes.

No entanto, não podemos deixar de insistir que o importante é o que vamos construindo nesse processo. E, como sociedade civil, temos como grandes desafios:

• Contribuirnadivulgaçãodoconhecimentosobreasoportunidadesque oferece o envelhecimento para o desenvolvimento dos nossos países;

• Precisamosser“intolerantes”comtodasasformasdeestigmatiza-ção e preconceito sobre o envelhecimento e os idosos: o envelheci-mento é uma conquista social e os idosos são sujeitos de direitos, livres e capazes de decidir por eles mesmos;

• Apresentaraquestãodoenvelhecimentoemtodososfórunsnacio-nais, regionais e internacionais;

• Trabalharemredeparafazercomquenossasaçõessetornemmaiseficientes e efetivas.

Muito obrigada.

Formação de Dirigentes: uma Forma de Promover o Protagonismo das Pessoas Idosas

MuriAl ABAd Cáritas Chile

Boa tarde. Nesta oportunidade gostaria de compartilhar com vocês o trabalho que desenvolvemos na Cáritas Chile no que respeita à forma-ção de dirigentes, pois acreditamos que é uma forma de promover o protagonismo das pessoas idosas.

Para falar de protagonismo, vou ler um fragmento de Rafael Perdo-mo, extraído de um dos seus livros elaborados a partir de sua experiên-cia de trabalho da Igreja com pessoas idosas. Ele expressou:

“Trata-se de participar para incidir, pretende-se incidir para trans-formar nossa realidade nesse outro mundo possível e já existente do qual nos falam os fóruns sociais mundiais, esse mundo em que há um lugar digno para quem neste mundo parece sobrar. Somos cúmplices e copartícipes desta aventura que empreendemos quase sem perceber e que agora nos apaixona.”

Disso se trata o que eu gostaria de compartilhar com vocês nesta tarde.

A Cáritas Chile é um departamento da Igreja Católica, com mais de 50 anos de vida. Sua experiência de trabalho é centrada em temas de emergência, formação em doutrina social da Igreja, envelhecimento e assistência.

Em 2004, foi encomendada à Cáritas uma missão e ela assumiu a responsabilidade de promover a Pastoral Nacional da Pessoa Idosa nas 26 dioceses do país. Posteriormente, em 2005, recebemos o convite da Cáritas alemã para integrar o Pram.

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É necessário compartilhar um pouco o trabalho que desenvolvemos no passado para que vocês compreendam a mudança de foco que te-mos adotado no trabalho com os idosos.

A seguir, alguns antecedentes históricos do trabalho na área da ve-lhice e do envelhecimento:

A Igreja Católica no Chile é pioneira na organização de grupos de idosos vinculados a paróquias e capelas, e iniciou seu trabalho com idosos a partir da década de 70, apoiada por organismos de coopera-ção internacional. Atualmente, desenvolve um serviço a partir da rede Cáritas/Pastoral Social, existente no país, trabalhando com aproxima-damente 1.500 organizações.

No início, o trabalho da Igreja com pessoas idosas tinha um forte foco assistencial e paternalista, atendia e assistia os grupos, entregava alimentação e abrigo e dava ênfase no acompanhamento focado na re-ligiosidade /espiritualidade, reduzida ao assunto sacramental.

Posteriormente, mudou-se a perspectiva para o “foco médico”, que promove o autocuidado e a saúde física. Para isso, realizou uma série de oficinas que tinham a ver com o cuidado da pele, alimentação saudável e estimulação da memória, entre outros.

Em 2005, houve uma mudança significativa porque se iniciou um processo, a partir do mandato dos bispos, de que a Cáritas podia assu-mir a Pastoral Nacional do Idoso. Assim, em 2005–2006, realizaram-se congressos regionais e nacionais de dirigentes e líderes idosos e foram eles os que propuseram as novas linhas de trabalho da PAM (em espa-nhol, Pastoral Adulto Mayor) e os conteúdos requeridos para sua for-mação. Percebemos que já não eram os mesmos idosos de trinta anos antes, portanto a intervenção também devia se modificar.

Ao final desse congresso, foram convidados os candidatos à presi-dência, para quem os idosos apresentaram uma carta dizendo que a si-tuação da pessoa idosa tinha mudado e os requerimentos eram outros, por isso tinham certas exigências a fazer. Eles expuseram que havia duas linhas de trabalho:

a) Incidência pública: Requere-se o avanço para uma maior visibilidade das necessidades e capacidades dos idosos, “tornando a Igreja e a socie-dade mais conscientes de que estamos aqui presentes, vivos e ativos”.

b) Formação e capacitação: Distinguem-se pelo menos dois grandes níveis de formação e capacitação. O primeiro corresponde ao “nível geral ou integral” de formação pastoral e um segundo nível de “for-mação e capacitação específica” que tratasse de: direitos e dignidade dos idosos; desenvolvimento pessoal e social dos idosos; gestão so-cial para dirigentes; aspectos legais e marco jurídico que regulam o funcionamento de organizações que atuam com idosos; promoção da saúde e autocuidado; e promoção da troca intergeracional.

Percebemos que devíamos modificar o trabalho e iniciamos um processo formativo. Em 2006 o trabalho começou a se desenvolver em nível nacional centralizado e motivamos os líderes, dirigentes e voluntá-rios a replicar o aprendizado nas suas dioceses. No entanto, a avaliação mostrou que existia um importante problema metodológico referente à escassa capacidade de réplica e à formação de uma “elite dirigente”, razão pela qual modificamos novamente a metodologia.

Nos anos de 2007-2008 privilegiamos nas dioceses a formação de líderes nos conteúdos demandados e realizamos jornadas de formação em 14 dioceses, com a participação de 800 pessoas, majoritariamente mulheres, com esses temas que os idosos nos tinham apresentado.

CONQUISTAS E APRENDIZADOS

• Trabalham-se conteúdos a partir das demandas assinaladas pelosidosos; conteúdos que promovem o protagonismo dos dirigentes/organizações em nível local e nacional. A passeata foi um bom exemplo da organização em nível nacional;

• Instalam-setemas“novos”notrabalhoquejáeradesenvolvidopelaIgreja e, com isso, ratifica-se a demanda de um novo enfoque do serviço oferecido. Precisávamos de um foco que tivesse os idosos como sujeitos de direito, e não como objetos de proteção;

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• OtrabalhoreferenteàsaúdeeassistênciaéassumidopeloEstado,gerando uma grande oportunidade para que a Igreja possa desen-volver trabalhos relacionados com a cidadania e os direitos dos idosos;

• Promove-seovalordaorganizaçãoparaapromoçãoeoexercíciodos direitos. Estamos convencidos de que a organização é um ele-mento fundamental para a incidência;

A formação permite gerar uma equipe de coordenação em nível lo-cal, formada por idosos, com capacidade de decisão no desenho, pla-nejamento e avaliação das ações que são oferecidas pela Igreja. Mo-dificam-se antigas práticas e os idosos assumem um papel ativo nas dioceses.

• Constata-seanecessidadedeterumaequipenacionaldeformaçãoque possa oferecer formações permanentes;

• Essesprocessospromovematrocadeexperiênciasentreasorgani-zações, o que enriquece o seu sentido e a sua atuação;

• Permite-seoempoderamentodaorganização,queécapazdedialo-gar com organizações públicas e privadas que trabalham com temas tais como a velhice e o envelhecimento;

Finalmente, sabemos que protagonismo, direitos e incidência estão estreitamente vinculados.

SOLICITAçõES DOS IDOSOS

Queremos que nos respeitem, nos escutem, respondam as nossas re-clamações e demandas... e que aceitem nossas experiências e nossa co-laboração para transformar as realidades que vivemos (sociais, econô-micas, políticas e culturais) por caminhos de justiça e com o intuito da paz. Quem são os que devem nos escutar? “Todo mundo”, a família, os vizinhos... mas, muito especialmente, queremos INCIDIR (influir, afe-tar, repercutir, motivar, instar, participar, cooperar...):

• Emnossaigreja.Para que nos considerem protagonistas de nossa fé;

• NasinstituiçõesdoEstadoedogoverno:quetêmaresponsabilida-des de promover políticas para o bem comum;

• Namídia:quedevetransmitirparaasociedadequaléanossareali-dade e quais são as nossas expectativas.

Quando se fala de INCIDIR, fala-se de:

• Auto-organização(autonomiaeautogestão);

• Estratégia(colocaçãodeobjetivos,processoseprocedimentos);

• Articulaçãoevinculação(orgânicaeredes;voluntariado);

• Relações(interlocução,representaçãolocal,nacionaleinternacional);

• Colaboração (acordos, convênios, iniciativas comuns com outrosatores públicos e privados);

• Lobby (presença, negociação e pressão);

• Ação“política”(denúncia,elaboraçãoeapresentaçãodereivindica-ções e propostas).

Para exemplificar, gostaria de apresentar algumas palavras dos diri-gentes, referentes à organização: “Um grupo humano e cristão, fortale-cido na fé, valorizado em seus direitos e dignidade, apoiado pela soli-dariedade, com oportunidades para ir descobrindo que nossos talentos estão vigentes, sendo símbolo de alegria e fraternidade na sociedade.”

Continuamos esse processo de formação, promovendo o protago-nismo nas pessoas idosas e, fundamentalmente, eu gostaria de dizer que a Convenção dos Direitos dos Idosos deve ser promovida pelos próprios idosos. Eu sei que os organismos técnicos que sabem deste assunto estão o plano de envelhecimento de Madri, e ainda menos qual é o sentido de ter uma Convenção. E preciso difundi-la, defendê-la e fazer com que os idosos a promovam.

Muito obrigada.

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Campanhas de Sensibilização sobre os Direitos das Pessoas Idosas

céliA rAMirez FUNBAN México

Em nome do Programa Regional para a América Latina e Caribe, com sede no México, eu agradeço o convite para participar deste evento cha-mado “Políticas Públicas para Idosos: Desafios para a Sociedade”.

É muito importante para nós apresentarmos este tema, pois te-mos uma vasta experiência no desenvolvimento de campanhas em prol dos direitos dos idosos em nosso país, uma tradição que ocorre de forma contínua e que é produto de um amplo movimento social, por vezes quase imperceptível, que durante décadas tem exigido o estabelecimento de normas para proteger os indivíduos e grupos contra as medidas irracionais que violam as liberdades fundamen-tais, principalmente a dignidade. Infelizmente, a violação dos direi-tos humanos no nosso país é muito grande. A seguir, enunciamos algumas delas:

O México tem 9,5 milhões de idosos, dos quais apenas 27% têm pre-vidência social, 36% sofrem alguma forma de violência, quatro em cada dez não sabem ler nem escrever, 35% das mulheres moram sozinhas, nove em cada dez são discriminados, pouco mais da metade dos idosos do nosso país continua trabalhando sem quaisquer benefícios; e 3,5 mi-lhões das pessoas idosas não se alimentam corretamente, não têm boa saúde, estão desempregados, sem moradia digna, estão abandonados e isolados e, além de tudo isso, sofrem maus-tratos. Mesmo dispondo de alguns bens de baixo valor, vivem sob a ameaça de serem despejados por parentes ou vizinhos, sem o menor escrúpulo.

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A situação econômica e social de milhões de pessoas idosas na ca-pital do país e nas principais cidades mexicanas é claramente desigual. Existem muitos estudos que mostram as condições desfavoráveis, como as descritas, e, por essa razão, não vou me estender no assunto.

Hoje em dia, é importante mencionar, existe uma série de instru-mentos legais através dos quais são protegidos os direitos fundamentais das pessoas idosas. Existe no México uma lei federal sobre os direitos das pessoas idosas, e outra lei federal para prevenir e eliminar a dis-criminação; e existem portarias locais nas quais se faz a prevenção e o combate à violência, entre outros. O Estado, “de alguma forma”, garante as condições para que os idosos gozem de liberdade e igualdade, em termos mais ou menos reais.

Ligeiramente afastado dos aspectos dessa ordem, embora intima-mente relacionado, somos lembrados de um evento não muito recente, mas de enorme importância, realizado na cidade de Madri, Espanha, em abril de 2002: a Segunda Cúpula Mundial sobre o Envelhecimen-to, mas, em especial, o Fórum Mundial de Organizações não Gover-namentais sobre o Envelhecimento. Durante o evento, os participantes trocaram experiências, debateram e levantaram uma série de propostas com o objetivo de que os representantes dos governos participantes as incluíssem no que, posteriormente, foi nomeado como Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento. O assunto “discriminação”, é claro, esteve presente na maior parte do evento, acarretando que os re-presentantes das ONGs levantassem sugestões, tais como:

• Ampliaracoberturadossistemasdeproteçãosocial;

• Modificaraspolíticasdeprestaçõesedecuidadosemlongoprazo;

• Melhorarasmedidasparamantereelevaroníveldaspensõesebe-nefícios alcançados;

• Reconheceroscuidadosaadultosdependentescomoumdireito;

• Universalizarosserviçosdeapoioàsfamílias,taiscomoatendimen-tos em domicílio a idosos;

• Educarosprofissionais de saúde no cuidado com idosos;

• Implantarestratégiasparapreveniraviolência,osmaus-tratoseoassédio às pessoas idosas;

• Promoveraautonomia,assimcomoprevenirasdoençaseincapaci-dades relacionadas à idade;

• Estabelecerprogramascomunitáriosdesaúdeparaidosos,incluin-do infraestrutura de serviços e pessoal qualificado;

• Eliminaradiscriminaçãodevidoàidadeousexo;

• Incentivarosidososaparticiparativamentenaconcepçãoegestãodas políticas públicas, promovendo o seu direito de associação, que lhes permite formar movimentos ou associações influentes.

Gostaria de destacar que, em um país como o nosso, os idosos não têm acesso integral aos direitos humanos. Mesmo com a declaração proclamada pela ONU há mais de 50 anos, ainda persistem muitas bar-reiras que impedem os idosos de desfrutar plenamente de seus direi-tos. A velhice impede que se beneficiem plenamente com os serviços e apoios previstos em lei. Infelizmente, os princípios em benefício das pessoas idosas, adotados desde 1991, mesmo quando são estabelecidos com destaque nos programas governamentais, permanecem sem ser desenvolvidos.

Apesar do panorama negativo, desde o Programa Regional para a América Latina e o Caribe, no México pensamos que ainda temos possibilidades de fazer com que sejam cumpridas as disposições que constam nas leis, tanto em nível local, quanto nacional e regional. O desenvolvimento de uma campanha como a que fazemos há 10 anos continua sendo uma oportunidade para que os idosos desta geração, e das que virão, demandem das autoridades a remoção de todos os obstáculos que limitam o exercício dos seus direitos e impedem o seu desenvolvimento integral, assim como sua efetiva participação na vida política, econômica, cultural e social do país.

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Em particular, será importante que nós, os integrantes do programa regional em favor da pessoa idosa, realizemos um amplo movimento através do qual os idosos demandem e exijam um maior aproveitamen-to de sua experiência. Devem também participar, junto aos que estabe-lecem as políticas que visam definir objetivos, para que eles reconhe-çam as contribuições das pessoas idosas à sociedade.

Além disso, a campanha deverá ser direcionada para a construção de uma cultura do envelhecimento, na qual os jovens assumam que pensar na implantação de políticas públicas com enfoque nos direitos dos idosos é pensar no próprio futuro.

A campanha que propomos hoje deverá se tornar uma luta perma-nente pelos direitos humanos e contra a discriminação pela idade, espe-cialmente a praticada contra as mulheres. É uma luta através da qual se orientam os idosos sobre os seus direitos, incentivando-os a pressionar as autoridades locais do país e da América Latina para implantar mu-danças que os beneficiem. Uma luta na qual se exige a proteção social adequada e a renda mínima aos idosos.

Em suma, é fundamental nossa participação nas campanhas até garantirmos que sejam incorporados em nossas leis os Princípios das Nações Unidas em favor da Pessoa Idosa, abrangendo os princípios de independência, participação, realização pessoal e dignidade das pes-soas idosas e, finalmente, lutar por uma Convenção sobre os direitos dos idosos.

Muito obrigada.

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Pessoas Idosas como Sujeitos de Direitos: uma Visão do Programa de Terceira Idade Cáritas Cubana

MiGdAliA doPico Cáritas Cuba

Boa tarde. Agradeço o convite para participar deste encontro. Repre-sento Cuba e, principalmente, a Cáritas cubana junto aos colegas Jose Ignácio Garcia, diretor da Cáritas diocesana e membro do Conselho de direção, e o Dr. Angel Antonio Martinez, da equipe nacional de forma-ção da Terceira Idade.

O Programa da Terceira Idade, que é desenvolvido pela Cáritas cubana desde a década de 90, tem como objetivo essencial reconhecer os idosos como pessoas e, portanto, sujeitos de direito. O fundamento da dignidade da pessoa humana é que Deus a criou à sua imagem e semelhança, então só podemos valorizar o ser humano à luz de Deus. A imagem de Deus está presente em cada pessoa humana, de modo peculiar nos mais necessitados e marginalizados, portanto nada nem ninguém podem arrancá-la por qualquer motivo nem impor limites devido à idade.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, hoje aceita como norma moral de convivência pela maioria das nações, tem como base a premissa fundamental do respeito à dignidade inerente e inexpugnável da pessoa humana. Em Cuba, os idosos não só estão se tornando o grupo de maior crescimento demográfico, como também o grupo mais atingido pela longa e dolorosa crise econômica que sofre nosso país. Há muitos anos, a Igreja criou um programa de assistência e promoção que abrange a maioria das paróquias e comunidades, tentando envolver os idosos como protagonistas de seus próprios problemas e responsáveis pelas soluções, e também as suas famílias, vizinhos e as comunidades às quais pertencem.

Como princípio básico da relação e apoio às pessoas idosas, o ponto de partida é que cada pessoa deve ser vista como:

• Indivíduoúnico;

• Comdiferenteshistóriasepersonalidades;

• Comforçasequalidadesquecontribuemàsociedade;

• Comnecessidadeseproblemasfísicoseemocionaisespecíficos.

Em nosso país, embora tenhamos um sistema de saúde gratuito para todas as pessoas, assim como um sistema de previdência social também para todos, as providências de ambos não contribuem signi-ficativamente para a criação de um sistema de bem-estar social, nem ao idoso, nem à sua própria família. Um sistema de bem-estar social humanitário e igualitário deve considerar o bem-estar do idoso como um direito, e não como uma concessão. A mesma abordagem tem de ser reforçada em cada família para que as pessoas idosas possam ter uma vida digna e independente.

Indissoluvelmente ligado à questão dos direitos, está o tema dos de-veres do ser humano. Muitas vezes é necessário relembrar a recíproca complementaridade entre direitos e deveres, indissociavelmente liga-dos, principalmente ao indivíduo que é o sujeito titular. Esse vínculo tem também uma dimensão social: “Na sociedade humana, a um de-terminado direito natural corresponde o dever de reconhecê-lo e res-peitá-lo”, isto é, as outras pessoas são diferentes de mim, mas são meus iguais e tenho de respeitá-los tanto quanto quero ser respeitado.

A FORMAçãO DO VOLUNTARIADO E SEU PAPEL NA FORMAçãO DO EXERCÍCIO DOS DIREITOS DOS IDOSOS

Há mais de quinze anos, a Cáritas cubana implantou o programa da Terceira Idade com abrangência nacional cujo principal objetivo reside na melhoria da qualidade de vida dos idosos, incluindo uma perspec-tiva integral em todas as esferas do desenvolvimento humano e, com especial ênfase, nos aspectos psicossociais.

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A atividade principal do programa tem sido a formação dos volun-tários que desenvolvem seu trabalho nos grupos de idosos de paróquias e comunidades. No começo foi a partir de uma perspectiva em que pre-valeciam as atitudes de proteção e assistência, mas atualmente tem uma abordagem que fica longe daqueles critérios. Desde o início do processo de formação foram abordados temas relativos aos direitos das pessoas idosas, entre os quais se encontram: a pessoa humana e sua dignidade, envelhecimento, dignidade e direitos humanos, comunicação e idoso.

Atualmente, o programa, em todas as dioceses, reconhece a grande importância da capacitação dos voluntários e seu papel fundamental na promoção do protagonismo e da participação, já que são eles os que trabalham de forma direta e contínua com as pessoas idosas.

Como resultado, criou-se um projeto de formação com três anos de duração, no qual é oferecida a formação sobre Animação Sociocultural, como resposta às necessidades sentidas, que foram identificadas previa-mente nas dioceses através de um processo de observação do impacto do programa em geral e da capacitação desenvolvida especificamente. O objetivo desse projeto foi o de promover nos voluntários a aquisição de habilidades e atitudes que favoreçam a promoção das pessoas idosas como agentes do seu destino. O curso teve abrangência nacional, pois se desenvolveu nas onze dioceses do país.

Nos últimos anos, a formação tem favorecido a abordagem da ques-tão da identificação e prevenção dos maus-tratos, a promoção da res-ponsabilidade pelo cuidado da saúde nos próprios idosos ao escolher estilos de vida saudáveis que lhes permitam ter uma melhor qualidade de vida. Além disso, tem sido oferecida informação sobre os direitos e recursos que o país oferece em matéria de previdência e assistência social que beneficiam a população idosa para promover a sua utili-zação em nível comunitário. No total, beneficiaram-se dos processos de aprendizagem mais de 400 voluntários, tanto da Cáritas diocesana como das de base.

A tabela a seguir lista as ações de formação, relacionadas à questão dos direitos, desenvolvidas pelo Programa nos últimos cinco anos:

Temas de Formação Nível nacional Nível diocesano

Animação Sociocultural (2004 a 2006) 8 encontros 88 encontros

Maus-tratos ao idoso (2008) 1 oficina 11 oficinas

Estilos de vida saudáveis, autocuidadoe previdência social (2009)

1 oficina 11 oficinas

Utilizando como ferramenta a educação e a formação, todas as in-tervenções na área de saúde pública tiveram alguma divulgação na co-munidade religiosa e civil, visando atrair a atenção para a questão do envelhecimento e dos direitos e influenciar, com nossa abordagem, a promoção de mudanças qualitativas nos comportamentos sociais para com os idosos.

O compromisso do programa, que começou para dar resposta a ne-cessidades específicas, hoje se manifesta através de atividades destina-das a promover a autonomia dos idosos por meio de uma participação ativa que os conduza ao empoderamento e à autorrealização.

É importante colocar que temos grupos muito heterogêneos que apresentam necessidades diferentes, algumas do tipo material, tais como alimentação e higiene, e outras relacionadas com o cultivo da espiritualidade, o lazer e a necessidade de se sentir produtivos, etc. A partir dos grupos de serviço, surgiu o voluntariado como eixo princi-pal de todas as ações de intervenção planejadas pelo programa, sendo que muitos voluntários tornaram-se mais tarde líderes de seus próprios grupos, promovendo a sua participação tanto no contexto do grupo como no programa e na comunidade religiosa e civil. Chama a atenção que 70% dos nossos voluntários são idosos.

Depois de quase quatro anos trabalhando na animação, descobri-mos que alguns grupos, que inicialmente só foram de serviço, incluí-ram-se no trabalho de promoção, utilizando as técnicas aprendidas no

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treinamento. Atualmente, estamos realizando uma pesquisa nacional com o objetivo de observar o impacto de todas as ações realizadas du-rante esse período e reconhecer as necessidades atuais a fim de elaborar, posteriormente, estratégias efetivas de trabalho e formação para os ido-sos. Os dados apresentados provêm de entrevistas aplicadas às pessoas envolvidas direta ou indiretamente no programa.

A Animação Sociocultural promoveu a realização de encontros de troca entre os grupos paroquiais, diocesanos e regionais. Porém, o mais importante, é analisar os discursos dos idosos quando comparam a ma-neira como se sentiam antes de entrar para o grupo com a que sentem depois, como mostram os gráficos seguintes.

No momento em que o idoso se incorpora ao grupo, destaca-se o sentimento de solidão, tristeza, falta de motivação e apoio e, especial-

mente, o desconhecimento dos direitos e a falta de atitude proativa para reivindicá-los na família e na sociedade. No entanto, após a participa-ção no programa, os gráficos indicam que o grupo lhe permitiu lidar melhor com a sua condição de idoso, ter maior integração familiar e social, descobrir os seus direitos e, com isso, identificar algumas formas de reivindicar o seu exercício.

Durante a observação do impacto, os idosos também foram ques-tionados em relação à utilidade do que tinham aprendido no grupo. O gráfico seguinte reflete o resultado obtido após o processamento das respostas.

Podemos observar no gráfico que a maioria das pessoas expressa que os principais aprendizados foram em termos de estabelecer mais relações sociais, o serviço para com os outros e o desfrute e participa-ção na igreja. Outros expressaram que aprenderam a melhorar a auto-estima, a viver melhor a fé, e alguns dizem que os ajudou na mudança de atitudes.

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OBSERVAçõES FINAIS

Trabalhar a questão dos direitos dos idosos implica uma dupla pers-pectiva. Por um lado, o trabalho com a pessoa idosa, diretamente, e dirigido à promoção humana e ao pleno reconhecimento dos seus di-reitos, fortalecendo a autoestima e a aceitação da velhice como etapa do ciclo vital. Por outro lado está o trabalho dos direitos a partir de uma abordagem essencialmente voltada para a reivindicação de direi-tos e políticas sociais nas quais prevaleçam a equidade e a justiça para todas as idades.

Sem dúvida, o trabalho do Programa da Terceira Idade, na questão dos direitos, é ainda incipiente e focado fundamentalmente na promo-ção humana do idoso, fortalecendo suas redes sociais e promovendo o seu desenvolvimento pessoal através do processo grupal, embora já se tenha introduzido o tema dos maus-tratos, que está presente na vida de nossos idosos em todas as suas formas e dimensões, como no resto do mundo.

A Cáritas, como obra social da Igreja Católica, pretende trabalhar promovendo maior solidariedade, equidade e justiça social, baseada no reconhecimento da dignidade da pessoa humana; e, para tal fim, visa apoiar e proteger todas aquelas pessoas cujos direitos não estão garan-tidos. No nosso caso, atuamos promovendo o potencial de auto-organi-zação e autoajuda por meio da criação e do trabalho com os idosos.

Através do trabalho dos voluntários, o programa tem incentiva-do e apoiado os idosos a fazerem uso dos seus direitos, tais como a reivindicação de seu papel na família, sua participação na vida da co-munidade, o direito de continuar desenvolvendo as suas capacidades através de novas aprendizagens, a prevenção e o controle das situações de violência, etc. Nesse sentido, na formação de voluntários são desen-volvidas atividades que nos permitem influenciar a vida dos partici-pantes dos diferentes tipos de grupos existentes, integrados por mais de 25.000 idosos.

ALGUMAS DAS AçõES DESENVOLVIDAS COM ESSE OBJETIVO SãO:

• Formaçãodeidososparafortaleceropotencialdeauto-organizaçãoe aumento da autoestima, que lhes permitam tomar posse dos seus direitos e reivindicá-los;

• Ofereceraorientaçãoeoacompanhamentonecessários,individualou grupalmente, com o intuito de que os idosos façam uso dos direi-tos sociais que lhes pertencem, promovendo o reconhecimento dos mesmos assim como das formas e recursos para sua reivindicação frente a situações e comportamentos abusivos;

• Desenharestratégiasdeformaçãoafimdesensibilizarasociedadesobre a importância e o seu papel na prevenção e repressão da vio-lência contra os idosos em todas as suas formas.

Outro elemento de grande importância na atualidade é a urgência de trabalhar fortemente a questão da promoção da solidariedade intergera-cional e a coesão social como meio para que sejam atingidos o bem-es-tar e o exercício dos direitos por toda a população. Os idosos devem envolver-se, com o resto da sociedade, nos processos participativos que ajudem a melhorar as intervenções nessa área e facilitar o seu envolvi-mento na tomada das decisões que lhes competem; devem estar envol-vidos plenamente na vida econômica, política e social de sua realidade; e devem ter a oportunidade de se realizar, sem importar a sua idade.

Finalmente, trabalhar em favor dos direitos do idoso é muito mais do que estimular a reivindicação de uma pensão universal; trata-se de apoiá-lo e acompanhá-lo para que se reconheça como sujeito de di-reitos através de uma maior autoestima e participação social, que lhe permita reconhecer os direitos e deveres que possui e os recursos dis-poníveis para o seu exercício em cada contexto social, condição sine qua non para viver uma velhice digna.

[Texto elaborado por: José Ignacio García, Lourdes Ma. Pérez, Ángel A. Martínez, Ma. Magdalena Rodríguez, Migdalia Dopico.]

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BIBLIOGRAFIA

“Declaración política y Plan de Acción Internacional de Madrid sobre Envejeci-miento.” Segunda Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, Madri, 2002.

“Estrategia Regional de Implementación para América Latina y el Caribe del Plan de Acción Internacional de Madrid sobre Envejecimiento.” Conferência In-tergovernamental sobre o Envelhecimento, Santiago, Chile, 2003.

Pontificio Consejo “Justicia y paz”. Compendio de la Doctrina Social de la Iglesia, Librería Editrice Vaticana, 2004.

Rodríguez Ma. M.; Pastó J. “Promoción de la participación comunitaria de los adultos mayores. Experiencia de Cáritas Cubana.” V Encontro do Pram, Santia-go, Chile, nov. 2008.

Sandra Huenchuan, ed. Envejecimiento, derechos humanos y políticas públicas. Cepal, Santiago, Chile, abr. 2009.

Vários autores. Volver a empezar, Cáritas Cubana, Havana, 2007.

Wasiek, C. “Contribución de la sociedad civil en el ámbito de los derechos hu-manos de las personas de edad.” Reunião de Seguimento da Declaração de Bra-sília, Rio de Janeiro, set. 2008.

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A Luta pelos Direitos da Pessoa Idosa: da Aplicação do Estatuto à Realidade das Ruas

AndréA GAdiolli F. PoscAi Associação Reciclázaro

Em primeiro lugar gostaria de agradecer a presença de todos os nossos convidados.

A Associação Reciclázaro é uma ONG que foi fundada há mais de dez anos pelo Pe. José Carlos, iniciando seu trabalho com catadores de pape-lão. Depois de algum tempo de trabalho com um núcleo de reciclagem, o padre foi convidado a gerir alguns serviços pela Prefeitura de São Paulo.

Temos alguns princípios que norteiam o trabalho da Reciclázaro com os idosos, entre os quais destacamos:

• Promoçãodosdireitoshumanos;

• Acolhimentoeresgatedaautonomia;

• Construçãodeprojetosdevidaparaareinserçãosocial;

• Envelhecimentosaudáveleativo;

• Exercíciodacidadania;

• Promoçãodosvínculosedasrelações;

• Estímuloaoestágioprodutivo.

Os serviços geridos pela Reciclázaro dão voz ao Estatuto do Idoso, criado em 2003, no entendido de que: “É obrigação do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de polí-ticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.” (Cap. I, art. 9º)

O primeiro serviço da Reciclázaro, voltado para o idoso, foi a Casa de Simeão, criada em 2003 em parceria com a Secretaria da Assistência

Social da Prefeitura de São Paulo, através do Centro de Referência da Assistência Social da Mooca.

Esse serviço promove o abrigamento a idosos, o acesso a benefícios, programas e serviços da rede, e a reinserção produtiva, que permitem o rompimento do estereótipo que muitas vezes atribui ao idoso a imagem de “incapacidade”.

O centro de acolhida funciona 24 horas, com capacidade para 180 homens acima de 60 anos. Na casa há atendimento social e psicológico, atividades socioeducativas, alimentação, higiene pessoal e um espaço para guardar seus pertences, assim como equipamento para lavagem e secagem de roupas. Um diferencial do centro é que os idosos partici-pam na gestão da casa, realizando atividades de limpeza do espaço e de preparo dos alimentos.

Outro serviço de atenção à pessoa idosa é a República Tatuapé. A re-pública é uma casa que foi alugada para dez idosos que vieram da Casa de Simeão. O aluguel da casa é pago pela Cáritas alemã, que apoia esse projeto, e o restante das despesas é dividido entre os moradores.

Eles moram sozinhos e a equipe técnica só participa de atividades desenvolvidas uma vez ao mês quando a assistente social e a psicóloga fazem uma reunião para tratar dos problemas de manutenção e de re-lacionamento entre eles.

A casa fornece ao idoso uma alternativa de moradia coletiva, per-manente e autônoma, que propicia o exercício da cidadania e a me-lhoria da qualidade de vida, além de combater a ociosidade e evitar o isolamento.

A iniciativa, que é um projeto pioneiro na cidade e conta com a parceria da Cáritas alemã:

• Promoveevalorizaopapel do idoso na sociedade;

• Contribui para o fortalecimento da identidade e o resgate da autoestima;

• Fomenta a integração social e a participação efetiva na comunidade;

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• Gera oportunidades para o resgate das habilidades do idoso no con-vívio social, fortalecendo sua autonomia;

• Viabilizaparceriaseencaminhamentosparaaprofissionalizaçãoeinserção em processos de geração de renda;

• Ofereceinteraçãoeproteçãosocialatravésdarededeserviçolocaleda própria entidade;

O terceiro serviço, implantado em julho de 2009, é o Programa em Atenção à Pessoa Idosa, que atua como articulador de parcerias entre todas as iniciativas existentes a favor das pessoas idosas, além de acom-panhar e supervisionar todos os projetos do segmento na Instituição. Esse serviço:

• Promoveatrocadeexperiênciaseboaspráticasentreosparceiroslocais;

• Desenvolveaçõesquepromovemumaimagemmaispositivadoen-velhecimento nas comunidades onde estão inseridos os serviços;

• ParticipaemórgãosderepresentatividadeenoPram;

• Fortalece a equipe de trabalho dos serviços em atenção à pessoaidosa da Reciclázaro;

• Fortaleceaintervençãoempolíticaspúblicasparapessoasidosasnomunicípio;

• Potencializaostrabalhosquesãodesenvolvidos.

BOAS PRÁTICAS:

• Perspectivaampliada:promoçãodasaúdefísicaementaldoidoso,sua capacidade intelectual e de criação, enquanto ser social;

• Construção demodelos de ação compatíveis com a realidade doidoso;

• DesenvolvimentodametodologiadeTratamentoComunitário;

• Fortalecimentoderedes que permitem intervenções efetivas;

• Reciclagemprofissional;

• Interlocuçãocomasociedadecivil;

• Influêncianapolíticapública.

RESULTADOS:

• Acessoadireitosbásicosnasáreasdasaúde,educaçãoetrabalho;

• Elevaçãodasatisfaçãodosidososnoscentrosdeatendimento;

• Intervençãonacomunidade–ProgramaemAtençãoàPessoaIdosa;

• Conquistademoradiaautônomapelosidosos;

• Aumentodasiniciativasdegeraçãoderendaparaosidosos;

• Processosdeparticipaçãoedereconstruçãoderelaçõessociais;

• Crescimentodarededeparceiros;

• Ampliaçãodolequedeatividadessocioeducativas.

Para finalizar, gostaria de relacionar as nossas perspectivas futuras:

• ContinuidadenoPram.Apartirde2011,aReciclázarojáseráinclu-sa no Pram e iniciaremos um trabalho com os idosos da comunida-de Belém e Lapa. Depois pretendemos expandir as referidas ações;

• AparticipaçãoeintervençãoematividadesdoPrammotivaramaor-ganização a redefinir seu compromisso a favor das pessoas idosas.

Pretendemos também atingir mais três grandes objetivos:

• ConstruçãodeEcoVilasparapessoasidosas;

• Ampliaçãodasaçõesdegeraçãoderenda;

• Fortalecimentodasredesjáexistentes.

Agradeço novamente a presença e a participação de todos os participantes.

Muito obrigada.

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O percurso...

ProFª rutH GeleHrter dA costA loPes Doutora em Saúde Pública (USP); coordenadora e docente do Pro-

grama de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP

Agradeço o convite e gostaria de expressar que é um privilégio para o Programa de Gerontologia estar presente neste evento.

Chamou-me muito a atenção a diversidade dos temas abordados. Achei isso muito bonito porque contempla e nos mostra a importância de prestarmos atenção às demandas regionais. Há uma Cáritas alemã que tem diretrizes, que tem princípios, mas há demandas específicas em cada realidade.

Na apresentação dos trabalhos, achei muito interessante os grupos haverem apontado para as mudanças e reflexões que cada projeto está passando e também as dificuldades ou as demandas e exigências de aprimoramento de profissionais para desenvolver esses projetos. Não são ações simples, e sim ações que implicam muito conhecimento.

Outra questão que atravessou todos os temas foi a questão da educa-ção. Educação para a população a quem está sendo oferecido um traba-lho, educação no sentido de preparação do voluntariado para fazer esse trabalho, divulgação das experiências. Achei importantíssimo e fiquei pensando que deveria existir uma parceria ainda maior com as univer-sidades no sentido de sistematizar essas experiências. Mas, de qualquer forma, chamou-me muito a atenção essa preocupação dos diferentes projetos de registrar, de quantificar, de publicar, de viabilizar as infor-mações via internet. Achei que há aí uma postura não só democrática, mas uma postura contemporânea. Ou seja, se estamos falando de di-reitos, temos que ir aos órgãos públicos com os dados minimamente organizados para reivindicar aquilo que desejamos.

ENCERRAMENTO

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Ouvi também aqui, e achei importante, uma referência a politizar as discussões, e usando esse termo sem medo e sem receio de estar sendo feita uma política partidária. Do mesmo modo, chamou-me muito a atenção o fato de esses grupos falarem da importância de um treina-mento das pessoas para defenderem seus direitos.

Para finalizar, vou assinalar algumas palavras que norteiam para pontos que foram abordados aqui hoje. “Multiplicadores” foi uma pa-lavra que apareceu em todos os momentos, assim como a preocupação com os registros e com a formação e educação nos diferentes níveis etários. Há projetos voltados para os idosos e as crianças, há projetos de voluntários, há idosos saudáveis com condições de amparar outros que estão em piores condições. Enfim, em qualquer etapa da vida se pensa em como desenvolver o potencial de multiplicadores.

É importante também identificar que estamos em um momento de transição. Na universidade temos chamado a atenção para a realidade complexa que envolve a temática do envelhecimento e também as ques-tões contemporâneas. Uma coisa importante é a transição desse idoso e é uma pergunta que precisa ser feita. Quem é o idoso atual? Há várias características: longevo, predominantemente feminino, etc. Estou me referindo ao tipo de velhice. Quem são esses homens que estão na rua? Por que esses homens estão na rua? O que acontece com as famílias, o que acontece com o relacionamento homem-mulher ou filhos-pais, e por que predominantemente os homens são os que vão para a rua? Acho que é importante nós termos indicações, mas nunca nos exigir-mos padronizações.

Outra questão que me chamou muito a atenção e com a qual o Sesc já vem trabalhando há algum tempo, é a questão da intergeracionalida-de. Cada vez menos nós falamos especificamente de políticas em que há ações só voltadas para idosos; começamos a ampliar isso para não chegarmos a um ponto de confronto e luta entre gerações pelos direitos ou pela melhora da qualidade de vida. Considero que isso é um passo muito grande.

Finalmente, foi colocado o desafio sobre a Convenção Internacional e é importante irmos ampliando e somando pessoas que se sensibilizem para esses temas. Penso que uma universidade com as características da PUC de São Paulo, que tem um foco humanista e um histórico de defesa dos direitos humanos, tem muito a contribuir com sua posição claramente ecumênica que marca essa possibilidade de diálogo para construir um mundo cada vez melhor.

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Uma sociedade nova é possível...

Pe. José cArlos sPinolA

Fundador da Associação Reciclázaro

Recebi a missão de encerrar e estou pensando que encerramos com a “sacolinha” repleta de conteúdo. Cheios de ideias, cheios de minho-quinhas na cabeça e isto é o importante: o que nos desacomoda, o que nos desestabiliza, o que nos tira do nosso porto seguro onde às vezes sentimos a tentação de nos acomodar.

Acho fantástico sonhar e sonhar e sonhar com uma sociedade me-lhor, com um Brasil melhor. Hoje ficou muito claro para mim que é possível sonhar o Brasil que queremos, no qual todas as idades e todas as orientações religiosas e sexuais sejam respeitadas por causa da digni-dade de filhos e filhas de Deus.

Agradeço imensamente à Cáritas alemã, ao Sesc e aos nossos her-manos e hermanas do Pram pela contribuição riquíssima que fizeram. E eu acho que, aqui, aconteceu um novo Pentecostes porque vocês fala-ram em espanhol e todo mundo entendeu. É a língua do amor!

Finalmente, quero agradecer especialmente a Andréa e a todos os funcionários e voluntários da Reciclázaro, pois, sem eles, não haveria nada disso.

Muito obrigado e continuem sonhando porque um mundo novo é possível e uma sociedade nova é possível.

AVALIAÇÃO

Ao final do seminário foi realizada uma pesquisa com os participantes para que pudessem avaliar o evento, os temas propostos e planejar os próximos encontros.

1. Atingimos os objetivos propostos?

2. Os temas foram pertinentes à realidade do trabalho?

3. Os conhecimentos adquiridos neste encontro integram-se à sua realidade de trabalho?

“Foi muito interessante descobrir informações que eu não sabia e pensar que preciso lutar cada vez mais pelos idosos.”

“Gostei muito do seminário. A discussão é muito pertinente para o nosso momento histórico.”

“Parabéns pela importante iniciativa e por possibilitar reflexões e discussões sobre o atual debate acerca do envelhecimento.”

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4. Os palestrantes mostraram conhecimento sobre o tema?

5. Houve espaço para associar os conceitos à realidade dos idosos?

6. A organização do evento atendeu às suas expectativas?

PARTICIPANTES

O seminário foi excelente, objetivo e esclarecedor; há muito para se fazer e espero que haja pessoas e governantes que tenham interesse.

Associação Brasileira de Gerontologia (ABG)AfascomAssociação Aliança de MisericórdiaAssociação de Auxílio Mútuo da Zona LesteAssociação de Mulheres Amigas de Jova RuralAssociação dos Clubes de Mães de ValinhosAssociação dos Aposentados e Pensionistas

de Volta RedondaAssociação dos Aposentados, Pensionistas

e Idosos de Bauru e RegiãoAssociação Saúde da FamíliaCentro de Referência da Cidadania do Idoso (Creci)Centro de Referência do Idoso da Zona NorteCentro de Referência do Idoso de Santo André

(Crisa)Centro de Repouso S. JoséCentro Dia para Promoção do Envelhecimento

Saudável

Comunidade BelémCongregação das Filhas de Nossa Senhora Stella

MarisCongregação das Franciscanas da Ação PastoralConselho do Idoso de PiritubaConselho Municipal da Pessoa Idosa de Bauru

(Comupi)Conselho Municipal do IdosoConselho Municipal do Idoso de ItupevaCras Cidade AdemarCras MoocaCRI-ZNFaculdades Metropolitanas Unidas (FMU)

Fundação Prefeito Faria Lima – CepamGrupo de Articulação para Conquista da Moradia

para o Idoso da Capital (Garmic)Grupo de Moradia para Idosos da Ponte PequenaGrupo Tempo de ViverHospital Estadual Vila AlpinaHospital Nipo-BrasileiroHospital Universitário (USP)HSPE-IamspeInstituto de Medicina Social e de Criminologia

de São PauloInstituto Intercâmbio Idosos

Instituto MID para a Participação Social das Pessoas com Deficiência

Instituto Rogacionista

Instituto Sedes Sapientiae

Lar do Ancião de Diadema

Lar dos Velhinhos São Vicente de Paula

Núcleo de Estudos e Pesquisas do Envelhecimento

Núcleo Prod. Gasômetro

Pastoral da Pessoa Idosa

Prefeitura de Bauru

Prefeitura de Cabreúva

Prefeitura de Elias Fausto

Prefeitura de Santo André

Prefeitura de Valinhos

Pontifícia Universidade Católica (PUC)

Sec. de Assist. e Prom. Social – PMO

Sec. de Assistência Social e Desenvolvimento

Sec. de Habitação – Vila dos Idosos

Sec. de Inclusão Social de Santo André

Sec. Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (Seads)

Sec. Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social – Programa Futuridade

Sec. Fundo Social de Solidariedade de Santo André

Sec. Municipal da Educação de Bauru

Sec. Municipal da Saúde da Cidade de São Paulo

Sec. Municipal de Saúde de Valinhos

Sec. UBS Jd. Cidade Pirituba

SMADS-CAS Sudeste

SMADS-Coordenadoria de Assistência Social Sul – CAS Sul

Sec. de Estado da Educação Conselheira do Conselho Estadual do Idoso

SMADS-CRAS Cidade Ademar

Subprefeitura de Pinheiros

Unifesp/SP

Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul)

Universidade de São Paulo (USP)

Universidade Metropolitana de Santos – FEFIS

Universidade Municipal de São Caetano do Sul

Universidade Nove de Julho (Uninove)

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A coordenação está de parabéns; foram éticos, gentis, atenciosos. Aguardarmos mais encontros, pois com eles nos atualizamos.

O seminário foi excelente. Espero que se estenda a outras cidades do interior para que possamos ser multiplicadores de políticas públicas.

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RealizaçãoAssociação ReciclázaroPraça Cornélia, 101Água Branca • 05043-030 • São Paulo • SPFone: (11) 3871-5972www.reciclazaro.org.br

FundadorJosé Carlos Spinola

PresidenteMaria Angela Mantovani Bastos

Supervisor geralAparecido Martins

Coordenadora do Programa de Atenção à Pessoa Idosa Andréa Gadiolli Fidêncio Poscai

RedaçãoKarina Fortete

Produção editorial e gráficaEt Cetera EditoraRua Caraíbas, 176 • Casa 8Vila Pompeia • 05020-000 • São Paulo • SPFones: (11) 3368-5095 • (11) 3368-4545www.etceteraeditora.com.br

FotosAna Claudia Franchi, Cuba, p. 67 (à direita)Andrea Bettosini, Chile, p. 81 (acima)Andréa Gadiolli F. Poscai, Brasil, p. 31 (abaixo)Eliana Barbosa, Colômbia, p. 31 (acima)Gabriel Andrade, Brasil, p. 56, 91 (abaixo)Joana d’Arc Salgado Rodrigues, Costa Rica, p. 81 (abaixo)Jorge Esteban Moreno Romero, México, p. 39 (acima),

39 (abaixo), 67 (acima), 91 (acima)Karina Fortete, Brasil, p. 10, 28, 40, 76Muriel Abad, Chile, p. 32Noemi Delgado, Uruguai, capa, capa interna e p. 16, 96Rafael Quispe, Peru, p. 67 (à esquerda)Yuri Catelli, Brasil, p. 24