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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL Departamento de Teologia Exegética Exegese de Atos 2.1 – 4. “O cumprimento da Promessa Divina: A descida do Espírito Santo e o Testemunho à partir de Jerusalém”. Por Eric Ewans Mendes Goiânia – 2007

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

Departamento de Teologia Exegética

Exegese de Atos 2.1 – 4.

“O cumprimento da Promessa Divina: A descida do Espírito Santo e o

Testemunho à partir de Jerusalém”.

Por Eric Ewans Mendes

Goiânia – 2007

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

Departamento de Teologia Exegética

Exegese de Atos 2.1 - 4

Por Eric Ewans Mendes

Trabalho apresentado ao Presbitério de Cuiabá

Como Requisito Parcial

Com vistas a licenciatura

ao Sagrado Ministério

Goiânia, 2007

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Lista de abreviaturas, siglas e símbolos:

Antigo Testamento Novo Testamento

Gn – Gênesis

Ex – Êxodo

Lv – Levítico

Nm – Números

Dt – Deuteronômio

Js – Josué

Jz – Juízes

Rt – Rute

1 Sm – 1 Samuel

2 Sm – 2 Samuel

1 Rs – 1 Reis

2 Rs – 2 Reis

1 Cr – 1 Crônicas

2 Cr – 2 Crônicas

Ed – Esdras

Ne – Neemias

Et – Ester

Jó – Jó

Sl – Salmos

Pv – Provérbios

Ec – Eclesiastes

Ct – Cantares

Is – Isaías

Jr – Jeremias

Lm – Lamentações de

Jeremias

Ez – Ezequiel

Dn – Daniel

Os – Oséias

Jl – Joel

Am – Amós

Ob – Obadias

Jn – Jonas

Mq – Miquéias

Na – Naum

Hb – Habacuque

Sf – Sofonias

Ag – Ageu

Zc – Zacarias

Ml – Malaquias

Mt – Mateus

Mc – Marcos

Lc – Lucas

Jo – João

At – Atos

Rm – Romanos

1 Co – 1 Coríntios

2 Co – 2 Coríntios

Gl – Gálatas

Ef – Efésios

Fp – Filipenses

Cl – Colossenses

1 Ts – 1 Tessalonicenses

2 Ts – 2 Tessalonicenses

1 Tm – 1 Timóteo

2 Tm – 2 Timóteo

Tt – Tito

Fm – Filemom

Hb – Hebreus

Tg – Tiago

1 Pe – 1 Pedro

2 Pe – 2 Pedro

1 Jo – 1 João

2 Jo – 2 João

3 Jo – 3 João

Jd – Judas

Ap - Apocalipse

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Demais Abreviaturas e Termos Latinos

a.C. – antes de Cristo

d.C – depois de Cristo

art. – artigo

cap. – capítulo

cf. (confer) - compare com

DITNT – Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento

ed. – edição, editado por, editor

e.g.(exempli gratia) – por exemplo

etc. – e assim por diante

GNT – Greek New Testament

Ibid. (Ibidem.) – no mesmo lugar/hora

Id. (idem.) – o mesmo (autor)

LXX – Septuaginta

Loc. cit. – no lugar citado

Nº - número

NA – Nestle-Aland

NVI – Nova Versão Internacional

Op. cit. - na obra citada

p. – página (pp. – páginas)

séc. – século

v. – versículo

vv. – versículos

vols.- volumes (vol. – volume)

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Índice

INTRODUÇÃO: ........................................................................................................................ 6

CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL GERAL: ........................................................................ 7

Autoria e destinatário: ............................................................................................................... 7

Local e Data: .............................................................................................................................. 9

Ocasião e propósito: ................................................................................................................ 10

Pessoas, locais, eventos mencionados na passagem .............................................................. 11

Meio social cultural do autor, dos personagens e dos seus leitores (destinatários): ............ 11

Costumes ou práticas do autor e personagens: ...................................................................... 12

Mundo das idéias do autor e do leitor: ................................................................................... 13

CONTEXTO LITERÁRIO: ..................................................................................................... 14

O Texto Grego (At 2.1-4): ........................................................................................................ 14

Delimitação da passagem: ....................................................................................................... 15

Tradução literal e final de Atos 2.1-4: .................................................................................... 17

Fontes: ..................................................................................................................................... 18

Título da Obra: ........................................................................................................................ 20

Natureza Literária: .................................................................................................................. 21

Da Obra (Gênero Maior): ....................................................................................................... 21

Da Passagem (Gênero Menor):............................................................................................... 22

Esboços: ................................................................................................................................... 23

Da Obra: .................................................................................................................................. 23

Contexto Remoto: .................................................................................................................... 23

Contexto Imediato: .................................................................................................................. 23

Diagramação: .......................................................................................................................... 24

TEOLOGIA: ............................................................................................................................ 26

ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA: ....................................................................................... 26

O dia do cumprimento (v.1): ................................................................................................... 26

Os Fenômenos do cumprimento (vv. 2, 3): ............................................................................. 29

Os resultados do cumprimento (v.4): ...................................................................................... 35

SÍNTESE TEOLÓGICA: ........................................................................................................ 39

Panorama da passagem: ......................................................................................................... 39

Argumento do autor na passagem: ......................................................................................... 39

Teologia da Passagem: ............................................................................................................ 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS: ................................................................................................. 40

Referências Bibliográficas: ..................................................................................................... 42

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INTRODUÇÃO:

Atos é considerado como o segundo volume escrito por Lucas, pela tradição e pelas

conexões que há entre a parte final de Lucas com o início de Atos, bem com as duas

introduções, tanto do Evangelho como da narrativa. É uma obra histórica, na qual Lucas para

compô-la fez uso da retórica helenista, da LXX no conteúdo, pois demonstra que a sua

compreensão teológica do AT vem de lá, e historiografia judaico-helenista, pois utiliza o

recurso da homilia judaica, onde em Atos 2 apresenta as características do midraxe com

afinidades da técnica de pesher, o que se faz pensar que seja isso por influência da sua origem

que é judaico-helenista.

Nesta exegese, há algumas questões a serem levantadas: Lucas foi realmente o autor

de Atos? Quem foi (foram) o(s) destinatário(s) a quem Lucas compôs Atos? Em que local?

Que ano? Com qual propósito? E qual a ocasião? Atos 2.1-4, o texto a ser exegetisado, forma

uma unidade? Quais as fontes que Lucas poderia ter usado para compor a obra de Atos? Atos

dos Apóstolos possui esse nome mesmo? Qual o gênero literário da obra e da passagem?

A metodologia a ser utilizada é a linha da hermenêutica científica, no método

Gramatical-Histórico-Teológico, sendo pesquisadas também, obras do método Crítico-

Histórico proporcionando uma pesquisa mais abrangente.

Estas perguntas tem por objetivo serem respondidas nesta pesquisa, mediante a

seguinte organização no qual este trabalho apresenta uma primeira parte, conhecida como

“Contexto Histórico-Social geral”, que visa estudar todos os aspectos gerais da história e do

social do autor, destinatário(s) e personagens. A Segunda parte é o “Contexto Literário”, que

estuda a respeito da unidade da passagem, das fontes que o autor utilizou para compor a obra,

se o título da obra é realmente o que se conhece no meio cristão moderno, o gênero literário

da obra e passagem, e esboço da obra e dos contextos remoto e imediato.

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I. CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL GERAL:

1. Autoria e destinatário:

Quanto a autoria, existe a visão contrária e favorável a Lucas como autor de Atos.

Kummel, ao mostrar-se contra a autoria de Lucas, começa apresentando que a tradução de

Lucas 1.3 que prepara para a seção “Nós” em Atos 16ss., está incorreta. Tal passagem em

Lucas, segundo ele, deve ser traduzida dessa forma: “Eu, uma vez que desde o princípio

investiguei todas as coisas cuidadosamente, resolvi...”, isso indicando que o autor em nenhum

momento esteve com o apóstolo Paulo em suas viagens missionárias1.

Ele continua apontando que o autor de Atos é incorreto em suas informações históricas

a respeito de Paulo: uma, é que a segunda viagem missionária de Paulo foi um arranjo do

autor e que Paulo estivera em Jerusalém duas vezes antes do concílio, sendo que em Gl 2.1,

Paulo dá mais ênfase a sua viagem. A segunda a ser mencionada, é que Pedro, juntamente

com Tiago defenderam a missão entre os gentios quando Paulo foi atacado (Atos 15.7ss).

Mas, em Gl 2.1ss, nota-se que Paulo tivera que defender o seu ministério entre os gentios,

chegando a um acordo com os apóstolos2.

O autor de Atos 14.4,14, menciona Paulo como apóstolo junto com Barnabé, mas não

no mesmo patamar que Pedro, João e os demais, como também demonstra desconhecer a sua

teologia e a pregação de Paulo, sendo que Paulo costumava a mostrar para os seus

destinatários em suas Epístolas que o seu apostolado era genuíno, pois ele fora chamado por

Cristo, e Paulo pregava que todos os homens necessitavam da graça de Cristo por serem

pecadores (ex.: 1 Co 9.1ss; Rm 3.23ss). Por esses motivos, Lucas não pode ser o autor de

Atos, onde a conclusão tomada por Kummel, mediante tais fatos levantados, é que o autor de

Atos não pode ser Lucas o médico, e que o autor, que é desconhecido, tenha aproveitado a

forma “nós” das fontes pesquisadas e inserido em sua obra3.

Os argumentos em favor da autoria são apresentados mediante as evidências externas e

internas. Nas evidências externas; encontram-se o testemunho dos Pais da igreja, que citam

Lucas como sendo o autor do terceiro Evangelho e de Atos4. Pode-se mencionar entre eles

Eusébio de Cesaréia (270-340 d.C., Bispo de Cesaréia antes de 315 d.C.)5, em sua obra

História Eclesiástica:

1 KUMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. pp. 226, 227. 2 Ibid. p. 228. 3 Ibid. pp. 234, 236. 4 MARSHALL, I. H. Atos-Introdução e comentário. p. 44. 5 FISHER, M. et. al. A Origem da Bíblia. pp. 108, 109.

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Mas Lucas, nascido em Antioquia e médico de profissão, por muito tempo companheiro de Paulo e bem familiarizado com os outros apóstolos, nos deixou em dois livros inspirados as instituições daquela arte de cura espiritual que deles obteve. Um deles é o Evangelho em que testifica ter registrado “de acordo com a tradição recebida dos que foram testemunhas oculares desde o princípio e ministros da palavra” a ele transmitida. Aos quais também, afirma ele, seguiu em tudo. E o outro é Atos dos Apóstolos que compôs não de acordo com testemunhos ouvidos de outros, mas com o que viu com os próprios olhos.6

Em relação as evidências internas, o argumento que mais é destacado é a mudança da

terceira pessoa para a primeira do plural através da utilização da forma “nós”. Em Atos essas

formas aparecem de repente em 16.10-17 (viagem de Trôade para Filipos); outra em 20.5-15 e

em 21.1-18 (a viagem para Jerusalém); e em 27.1-28.16 (a viagem marítima de Cesaréia a

Roma)7.

Se há tal envolvimento do autor de Atos com os acontecimentos narrados, nota-se que

este fez uso de um diário de viagem próprio e não de outro, pois estas passagens não se

diferenciam do restante da obra, porque, se tivesse utilizado de um diário que não fosse o seu,

com certeza seria necessário reescrever totalmente a fim de eliminar todos os traços do estilo

original, apontando certa negligência, por nem sempre se lembrar em fazer a mudança da

terceira para a primeira do plural8.

Outras questões pró-autoria, é que os companheiros de Paulo em Atos são

mencionados à parte do pronome “nós” e do “nos” (20.4-6), não sendo mencionado o nome

de Lucas em tais passagens. Existe também as questões de vocabulário e estilo entre o terceiro

Evangelho e Atos que são em extremo parecidos. Atos em conformidade com as Epístolas

paulinas, afirma que nem Tito nem Silas o acompanharam a Roma e estiveram ali em sua

companhia, no qual, a narrativa em Roma faz parte do “nós”. No início do terceiro Evangelho

como de Atos há uma dedicatória a um homem chamado de Teófilo9.

Com referência a Paulo, Lucas demonstra em Atos que Paulo estava em um contexto e

momento bem diferente do que o próprio apóstolo aponta em suas Epístolas. Lucas mostra

claramente que tinha uma perspectiva a respeito de Paulo bem diferente da do homem

6 CESARÉIA, E. História Eclesiástica. III.4. pp. 81, 82. 7 WILLIAMS, D. J. Atos. pp. 14, 15. 8 Ibid. p. 15. 9 GUNDRY, R. H. Panorama do Novo Testamento. p. 237.

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moderno, pois ele o via como “um missionário, um carismático fundador de comunidades”,

ao contrário do que se vê um apóstolo nos tempos modernos10.

Sobre o destinatário, todos os estudiosos apontam como sendo Teófilo, do qual, o

pouco que se sabe é que provavelmente ele era um aristocrata romano, sendo o seu

patrocinador para composição de Atos; entretanto, é possível, segundo os estudiosos, que

Lucas tinha em mente um público mais amplo do que um indivíduo11.

Dentro de tudo que foi apresentado, a conclusão é que Atos foi escrito por Lucas, o

médico, que acompanhou de Paulo em algumas de suas viagens. As evidências externas

mostram que tal posição é segura, devido ao fato de que os Pais da igreja são as testemunhas

mais próximas dos autores do Novo Testamento, e por isso, a opinião deles possui um grande

peso, sendo isto visto na citação de Eusébio de Cesaréia. As evidências internas mostram que

é possível a autoria de Lucas, tendo como um argumento principal, a utilização da forma

“nós” a partir de Atos 16ss, o qual não se diferencia de forma alguma do restante da obra.

Com relação aos destinatários, pode-se afirmar que Lucas tinha em mente um grupo de

pessoas cristãs, onde o seu representante, o seu destinatário principal é um aristocrata romano

chamado Teófilo.

2. Local e Data:

Sobre a questão da data de composição de Atos, os estudiosos apontam 3 alternativas:

a mais recuada (antes do ano 70 d.C.), a intermediária (entre os anos 70 – 90 d.C.), e a mais

tardia (90 – 100 d.C., indo para o II século). Alguns estudiosos são unânimes em defender a

data antes do ano 70 d.C. (entre os anos 60 – 64, no máximo 65 d.C.), onde alguns pontos

podem ser citados: um deles é que Paulo não foi executado a mando de Nero, pois se tivesse

sido executado, com certeza Lucas teria registrado12, a outra é ele não mencionar nada sobre a

perseguição promovida por Nero contra os cristãos13, e nem a destruição de Jerusalém no ano

70 d.C.)14.

Os que defendem a data intermediária (70 – 90 d.C.), abordam alguns pontos: um

deles é que Lucas provavelmente escreveu Atos logo após a guerra que houve entre os judeus

e os romanos (entre os anos 66 – 70 d.C.), o que resultou no abandono do cristianismo pelos

judeus onde Lucas escreveu Atos para mostrar como o movimento judeu tornava-se

10 WILLIAMS, D. J. Op. Cit. p. 15. 11 CARSON, D.A.; MOO, D, MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento. p. 220. 12 CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. p. 5. 13 CARSON, D. A.; MOO, D.; MORRIS, L. Op. Cit. p. 219. 14 CHAMPLIN, R.N.Op. Cit. p. 5.

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gentílico15; outro ponto de vista é o que Kümmel apresenta a respeito da data intermediária,

onde entre composição de Lucas e Atos exigiu-se um certo intervalo de tempo, devido as

diferenças lingüísticas entre as duas obras16.

A data mais tardia (90 – 100 d.C para o II século), é defendida de acordo com alguns

argumentos: um é que Lucas foi dependente de Josefo para escrever Atos (cerca de 95 d.C.), a

outra é a afinidade entre Atos e Justino como teólogo, datando assim entre 115 – 130 d.C. (II

século), entretanto, essa argumentação é descartada17.

A conclusão mediante a pesquisa sobre a data é que Lucas tenha composto Atos em

período extensivo de tempo, tendo concluído a sua obra em 64, no máximo 65 d.C. As outras

datas seriam possíveis se Lucas tivesse mencionado a execução de Paulo a mando de Nero

(em 68 d.C.), a destruição de Jerusalém (70 d.C.), de forma semelhante como fez com a morte

de Estêvão (Atos 7), e de Tiago, irmão de João (Atos 12).

Sobre o local da composição de Atos é incerto qual seja. A tradição aponta como

Roma sendo o local da composição, devido ao interesse do escritor em mostrar a expansão da

igreja de Jerusalém até Roma. Uma outra alternativa pode ser Antioquia, que é apontada

como a cidade natal de Lucas18. Mas, além dessas, há também sugestões de que possa ser

Éfeso, alguma comunidade paulina na Macedônia, Acaia ou Ásia Menor19.

Como existe a dificuldade em afirmar sobre o local da composição de Atos, onde

vários locais são apontados por várias tradições, pode-se trabalhar com a seguinte alternativa:

já que Atos foi composto em um período extensivo de tempo, como foi visto acima, e Lucas

tenha acompanhado Paulo em suas viagens registrando tudo em seu diário como um das

fontes20 de informações, a hipótese levantada é que Lucas tenha começado a escrever Atos na

Antioquia e concluído toda a obra em Roma21.

3. Ocasião e propósito:

Os estudiosos em suas pesquisas, apontam alguns propósitos em Lucas, no qual o

principal seja conforme apresenta Marshall que o propósito de Lucas era procurar escrever a

história dos começos do cristianismo no sentido geral. Lucas reúne juntamente a história de

Jesus e a história da igreja primitiva. Lucas tratou em seu evangelho “tudo o que Jesus

15 STAGG, F. Atos. pp. 32, 33. 16 KUMMEL, W.G. Op. Cit. pp. 236, 237. 17 Ibid. p. 237. 18 CHAMPLIN, R. N. Op. Cit. pp. 5, 6. 19 KUMMEL, W. G. Op. Cit. p. 238. 20 Ver Fontes em Contexto Literário.

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começou, não só a fazer, mas a ensinar”, e em Atos, ele trata de “tudo que Jesus continuou a

fazer e ensinar”22, visando a edificação dos cristãos23. Outros propósitos secundários podem

ser mencionados como a legitimação da igreja aos olhos dos romanos, a defesa de Paulo aos

olhos dos cristãos judeus, a evangelização24.

Sobre a ocasião é apresentado que quando Lucas escreveu tanto o evangelho como

Atos, o cristianismo estava ganhando o mundo gentílico e os judeus já se sentiam

assoberbados com as conclusões do cristianismo do qual por fim se viram obrigados a se

afastar25. Uma outra circunstância que pode ser apontada é que Roma havia se tornado

bastante cética a respeito das religiões orientais, até mesmo temerosa de seus efeitos

prejudiciais sobre a população26.

4. Pessoas, locais, eventos mencionados na passagem

Dentro da passagem de Atos 2.1-4 pode-se ver que é mencionado sem detalhes um

grupo de pessoas (no qual faziam parte os 120 – At.1.15) que se reúnem no final de um dia

comemorativo, o dia de Pentecostes (v.1), em Jerusalém. Eles sofrem o fenômeno do som que

vem do céu como um vento forte e impetuoso enchendo a casa em que estavam (v.2), e em

seguida, sofrem o fenômeno das línguas que são distribuídas como fogo que pousa sobre cada

um deles os enchendo do Espírito Santo.

5. Meio social cultural do autor, dos personagens e dos seus leitores (destinatários):

Segundo alguns estudiosos, Lucas é alguém oriundo da Antioquia da Síria, que é uma

das maiores cidades de Império Romano. Pois o que possivelmente dá base para tal afirmação

é justamente o grande interesse pela sua parte pelo nascimento e crescimento da igreja de

Antioquia (Atos 11.19-30); que era a igreja-lar de Paulo (Atos 13.1-3; 14.26-28), de certa

forma o que se sabe é que Lucas era o único gentio entre os escritores do Novo Testamento.

Mas, mesmo sendo um gentio, era bem possível que Lucas tivesse sido criado tanto na cultura

grega como na judaica, devido ao fato da forma homilética em que ele apresenta os discursos

dos personagens em Atos, que é a forma judaica (ver a parte do problema crítico).

21 É uma conclusão apontada pelo pesquisador que pode ser refutada, porque de fato é incerto o local da composição, sendo essa conclusão uma hipótese. 22 MARSHALL, I. H. Op. Cit. pp. 17, 18. 23 CARSON, D. A.; MOO D.; MORRIS, L. Op. Cit. p. 224. 24 Ibid. pp. 225. 25 STAGG, F. Op. Cit. p. 28. 26 CARSON, D. A.; MOO D.; MORRIS, L. Op. Cit. p. 222.

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Lucas recebera o seu treinamento como médico na cidade natal de Paulo, Tarso,

porque lá era um grande centro de ensino. Nesta época a medicina era um ramo especial da

filosofia, sendo de forma clara a cultura e a educação de Lucas em suas obras. Sobre Teófilo,

é costume dos estudiosos fazerem especulações. Provavelmente ele era um rico aristocrata

romano, um oficial; assim o próprio Lucas deve ter participado de tais círculos, talvez na

comunidade romana exilada em Antioquia, o que conclui-se que Teófilo era um prosélito27. É

provável que ele tenha financiado a publicação do esforço literário de Lucas28.

Provavelmente, entre o grupo que estava na descida do Espirito Santo, com certeza,

Pedro encontrava-se entre eles, o qual era o personagem principal da primeira parte de Atos.

O seu nome original era Simão, pois Pedro era o apelido que Jesus lhe tinha dado na língua

grega. Cefas era a forma aramaica do seu apelido, e em ambas as línguas significa “rocha”.

Ele, juntamente com o seu irmão André era pescador. Como discípulo ele era ousado em

exteriorizar com franqueza e de forma exagerada os seus sentimentos (Mt 26.33; João 13.6 –

9), e de forma natural, tornou-se líder do grupo. Simão era galileu e a Galiléia era um notório

campo fértil de esperanças messiânicas revolucionárias.

O fato de em Jerusalém, as pessoas se agarrarem às profecias que prometiam a

reversão do destino de Israel e da vinda do Reino de Deus, certamente o influenciou a ser um

dos muitos judeus que esperavam ardentemente a libertação da sua nação. Ele exclamou

diante dos discípulos que Cristo era o Filho do Deus vivo (Mt 16.16), mas, ao mesmo tempo,

foi repreendido por Jesus após tentar reprová-lo do seu objetivo (Mt 16.23), o qual foi avisado

que negaria Jesus e após negar, chorou amargamente (Mt 26.69 – 75). Foi confrontado por

Cristo e perdoado em João 21.15 – 17. Em Atos nota-se que Pedro aprendeu a lição quando

prega os seus sermões em 2.23; 3.18, o qual foi juntamente com João alvo de admiração dos

principais líderes religiosos por ter pregado com intrepidez, sabendo os líderes que eles eram

iletrados e incultos (At 4.13). E se a tradição for aceita, ele morreu a morte de seu Mestre

sendo crucificado em Roma durante a perseguição de Nero (cf. João 21.18, 19)29.

6. Costumes ou práticas do autor e personagens:

Conforme mostra Lc 1.3 e Atos 1.1, Lucas foi o único em todo o Novo Testamento

que dedicou a sua obra a um protetor, Teófilo. Esta era uma prática comum no mundo greco-

romano, a qual foi adotada por alguns escritores judeus, como o historiador Josefo que queria

27 STOTT, J. Homens com uma mensagem. pp. 45-48 28 CARSON, D. A.; MOO D.; MORRIS, L. Op. Cit. p. 220. 29 Ibid.

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atrair o mundo gentílico para a sua história do povo judeu. Entretanto, não sabe-se nada sobre

esses aspectos em Teófilo, pois a sua própria existência e local de nascimento é incerto, pois é

possível que seja tal nome um pseudônimo30.

7. Mundo das idéias do autor e do leitor:

Pela sua formação, Lucas possuía um vocabulário muito rico, pois Atos possui cerca

de 800 palavras que não ocorrem em qualquer outra parte do Novo Testamento. Seu grego é

de alto nível, muito semelhante ao grego da carta aos Hebreus. Lucas possui um grande

talento literário, pois ele escreve o seu prefácio no grego clássico (Lc 1.1-4), e na seqüência

muda para um estilo diferente, moldado naquele do Velho Testamento grego, para as histórias

do nascimento e da infância de Jesus. Desta forma, ele comunica um sentido de tempo e lugar

aos leitores gentios, juntamente com os fatos e as verdades31.

De semelhante forma nota-se isso em Atos, onde na primeira obra presume que ele

viajou para poder executá-la mediante “acurada investigação” (Lc 1.3). A sua experiência de

viagem é seguramente confirmada quando ele utiliza com cuidados termos técnicos que

correspondem a navegação em seu relato do naufrágio em Atos 27. Os estudiosos

confirmaram as referências que ele faz com detalhes quanto aos ventos, geografia e a

construção naval. Além disso, é notado pelos estudiosos a precisão com que Lucas mostra as

questões de geografia e administração civil da época32. Quanto ao seu destinatário (Teófilo),

era provavelmente como Cornélio (10.1,2), gentio e devoto temente a Deus que buscava

genuinamente a verdade.

30 Ibid. 31 Ibid. 32 Ibid.

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II. CONTEXTO LITERÁRIO:

1. O Texto Grego (At 2.1-4):

1 Kai. evn tw/| sumplhrou/sqai th.n hme,ran th/j penthkosth/j h=san pa,ntej omou/ evpi.

to. auvto,Å 2 kai. evge,neto a;fnw evk tou/ ouvranou/ h=coj w[sper ferome,nhj pnoh/j

biai,aj kai. evplh,rwsen o[lon to.n oi=kon ou- h=san kaqh,menoi 3 kai. w;fqhsan

auvtoi/j diamerizo,menai glw/ssai wsei. puro.j kai. evka,qisen evfV e[na e[kaston

auvtw/n( 4 kai. evplh,sqhsan pa,ntej pneu,matoj agi,ou kai. h;rxanto lalei/n ete,raij

glw,ssaij kaqw.j to. pneu/ma evdi,dou avpofqe,ggesqai auvtoi/jÅ

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15

2. Delimitação da passagem:

Nesse ponto, foram utilizadas para a delimitação da passagem de Atos 2.1-4 três

edições das bíblias acadêmicas e oito das edições modernas.

� Edições acadêmicas:

Tischendorf : 2.1-47 (todo o capítulo).

NA (Nestle-Aland): 2.1-4.

UBS (GNT – Greek New Testament): 2.1-4.

NT Interlinear: 2.1-4.

� Edições Modernas:

RA (Revista e Atualizada Almeida): 2.1-4.

NVI (Nova Versão Internacional): 2.1-4.

Reina Valera: 2.1-4.

Edição Pastoral: 2.1-4.

NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje): 2.1-4.

Corrigida e Revista Almeida: não foi possível definir delimitação.

Bíblia Sagrada (Editora Vozes): 2.1-4.

Bíblia de Jerusalém: 2.1-4.

� Critérios Para delimitação:

(a) Contexto anterior (1.1-26):

O assunto que é abordado nesse contexto anterior apresenta-se com uma breve

introdução de Lucas dirigida a Teófilo, a respeito de Jesus, seu sofrimento e ressurreição, bem

como da promessa da vinda do Espírito Santo sobre os seus discípulos (vv.1-5). Em seguida, é

narrado os últimos momentos de Jesus na terra, e a promessa da descida do Espírito Santo

sobre a vida dos discípulos que seriam testemunhas em todo o mundo a começar em

Jerusalém, e o regresso dos discípulos para Jerusalém (vv.6-14).

Os versículos finais (15-26) retratam a respeito da reunião que houve entre os

apóstolos e os demais discípulos de Jesus para decidir quem ocuparia o lugar de Judas

Iscariotes, que havia traído a Cristo, onde foi relatada a sua morte e que isso serviu para que

se cumprisse o propósito da Escritura, onde, foi designado mediante “sorteio” Matias para que

fizesse parte dos doze apóstolos. O ambiente que aparece nesse contexto é a região de

Jerusalém, monte Olival, cenáculo, os personagens que aparecem nesse contexto são: Jesus,

discípulos, João, Varões vestidos de branco, os apóstolos, Maria mãe de Jesus, Pedro, Matias,

José chamado Barsabás.

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No capítulo 2.1-4, Lucas descreve a descida do Espírito Santo sobre os discípulos de

Jesus, que estavam reunidos na casa no encerramento do dia de Pentecostes, no qual de forma

detalhada, o autor descreve os acontecimentos: que um som que veio do céu e encheu a casa,

onde foi vistos nos que estavam ali línguas como de fogo que pousou sobre eles ficando

cheios do Espírito Santo, falando em outras línguas, acontecendo conforme o prometido em

Atos 1.8. O ambiente continua sendo a cidade de Jerusalém dentro de uma casa, e os

personagens são todos que estavam reunidos e o Espírito Santo, o período era no

encerramento do dia de Pentecostes.

(b) Contexto posterior (2.5-47):

Esse contexto é uma sequência da descida do Espírito Santo sobre os discípulos (2.1-4:

o texto a ser analisado), onde os judeus piedosos e vários prosélitos se aglomeraram para ver o

que estava acontecendo, ficando uns maravilhados e perguntavam o que era isso e outros que

zombavam (vv.5-13). Em seguida, Lucas apresenta também o discursos de Pedro para os que

estavam presentes, advertindo os que zombavam, afirmando que tudo que acontecera naquele

momento era para se cumprir as Escrituras, revelando a obra e a pessoa de Cristo (vv.14-36).

As pessoas que estavam ali, ficaram arrependidas e perguntam a Pedro e aos outros

sobre o que deveriam fazer, e Pedro lhes responde sendo batizados 3 mil pessoas; e,

finalmente, aponta a perseverança dos convertidos em viver de acordo com a doutrina dos

apóstolos, vivendo em comunhão (vv.37-47). O ambiente continua também sendo Jerusalém,

e os personagens são Pedro, os judeus piedosos de várias regiões, Deus, Jesus, Espírito Santo,

Davi, Joel. Em Atos 2.1-4, para relembrar, os discípulos de Jesus, o Espírito Santo, a região é

Jerusalém e estavam reunidos em uma casa.

(c) Sintaxe e estilo:

Nesse critério, há algumas coisas a serem vistas:

� Atos 1.26 e 2.1 estão separados por um ponto final.

� Os vv.1 e 2 estão separados por ponto final.

� Os vv. 2 e 3 não possuem qualquer tipo de separação por pontuação.

� Os vv. 3 e 4 são separados por vírgula.

� Os vv. 4 e 5 são separados por ponto final.

A predominância da conjunção aditiva kai (kaì - e) aponta a intenção do autor em

acrescentar um outro assunto com o trecho de 2.1-4, bem como em mostrar a conexão que há

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entre os versículos desse trecho, pois todos os versos utilizam a conjunção, onde no verso 1 é

utilizado uma vez e nos versos 2, 3 e 4, duas vezes.

� Conclusão:

Pela análise nas edições bíblicas pesquisadas (a sua maioria) e pelos contextos anterior

e posterior, sintaxe e estilo, conclui-se que Atos 2.1-4 é um parágrafo a parte, entretanto, está

intimamente relacionado principalmente com o contexto posterior (vv.5-47), que é justamente

o desfecho do acontecido nesses 4 versículos.

3. Tradução literal e final de Atos 2.1-4:

� Tradução literal:

1. e em ao se completar o dia de Pentecostes estavam todos no mesmo lugar presente

com a ele.

2. e aconteceu de repente de fora do céu um som assim como sendo trazido de um

vento forte e encheu toda a casa que estavam assentados.

3. e foram vistos neles sendo distribuídas línguas como de fogo e assentou sobre um

cada deles.

4. e ficaram cheios todos do Espírito do Santo e eles começaram falar diferentes em

línguas conforme o Espírito permitia falar para eles.

� Tradução final:

1. E ao se completar o dia de Pentecostes estavam todos no mesmo lugar33.

2. E aconteceu <que>34 de repente <veio>35 de fora do céu um som assim como sendo

trazido36 de um vento forte, e encheu toda a casa <em>37 que estavam assentados.

3. E foram vistos neles sendo distribuídas línguas como de fogo e assentou sobre38 cada

um deles.

33 Na tradução a expressão evpi. to. auvto, não é traduzida, porque ela dá ênfase ao advérbio utilizado, demonstrando um aspecto de comunhão. 34 Esta é uma inserção para que haja sentido na tradução do texto, ficando assim mais compreensível, e isso reflete para os outros versículos em que há tal inserção. 35 O verbo foi inserido para facilitar a compreensão da preposição evk, que expressa origem, procedência, auxiliando o substantivo e reforçar o seu significado. 36 ferome,nhj. Três das oito edições modernas pesquisadas omitem a tradução desse verbo, outras 3 traduzem como verbo. Uma delas como substantivo e outra como adjetivo. Entretanto, a melhor tradução notada mediante pesquisa, é justamente a feita pela Bíblia Grega Interlinear da qual concorda o pesquisador na sua tradução: “sendo trazido”, porque pelo contexto, considera-se que melhor se enquadra a tradução do particípio como verbo, pois as suas voz, a passiva, e o contexto apontam para isso, porque o som que veio do céu é comparado como o som que se ouve quando vem um vento muito forte, ou seja, sofre a ação de vir juntamente com o vento. 37 Vide nota 2. 38 Sobre é subtendido “para cima de”, pois é um advérbio que se encontra no acusativo que aponta o rumo e a direção em que pousa as línguas como de fogo, que é sobre ou (para cima das) as pessoas que estavam na casa.

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4. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e eles começaram <a>39 falar em línguas

diferentes conforme o Espírito permitia para eles falar.

4. Fontes:

A questão das fontes utilizadas pelo autor de Atos é um ponto de grande discussão

entre os estudiosos, sendo considerada por isso um ponto importante a ser estudado dentro da

obra. Todos os estudiosos são unânimes em afirmar que não é possível mencionar com

detalhes quais as fontes possivelmente foram utilizadas pelo autor de Atos. Para as questões

de estudo e melhor compreensão, o livro é dividido em duas seções: 1-15 e 16-28 (conhecidas

como as seções “nós”).

Ao abordarem sobre as seções de Atos, Gundry e os autores do Comentário Bíblico

Moody, são diretos em afirmar a respeito das fontes utilizadas por Lucas. Eles informam que

Lucas na seção de 1-15 utilizou de fontes escritas e testemunhas oculares40, obtendo

informações de Paulo, de cristãos em Jerusalém e outros lugares e companheiros de jornada

de Paulo. Na seção de 16-28, Lucas se valeu da sua memória como testemunha dos

acontecimentos registrando-os por meio de um diário de viagem, e nos testemunhos de

irmãos, que o hospedaram (Atos 21.8, 16)41.

Outros autores levam a discussão sobre as fontes para um aspecto mais extenso.

Marshall diz que é muito difícil apresentar quaisquer fontes utilizadas pelo autor. Ele traz os

problemas que são apresentados a respeito da questão das fontes, os quais são superáveis,

sendo eles: o uso das tradições, o grau da utilização das origens documentárias, e a questão do

diário de viagem, sobre a seção na primeira pessoa no plural. Ele conclui que isso não é

empecilho para a composição de Atos por Lucas, e que

o autor podia fazer uso das fontes e tradições, produzindo material com as suas próprias

palavras, segundo acham os críticos, sendo quase impossível reaver a sua forma original42.

Williams apresenta Lucas como o único autor do Novo Testamento que diz algo sobre

os seus métodos, sendo isso de forma mínima, resumindo-se da seguinte maneira: que ao

escrever o Evangelho, ele usou as melhores fontes disponíveis (Lc 1.1ss.), logicamente ele

jamais deixaria de ser fiel da mesma maneira em Atos 43. Champlim chega à conclusão, após

analisar alguns autores, que não era necessário que o autor sagrado estivesse presente aos

39 Vide nota 2. 40 PFEIFFER, C.F.; HARRISON, E. F. Comentário Bíblico Moody. Vol.4. p. 238. 41 GRUNDRY, R. H. Panorama do Novo Testamento. p. 238. 42 MARSHALL, I.H. Op. Cit. pp. 36-38. 43 WILLIAMS, D.J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. Atos. pp. 17, 18.

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fatos para compor uma narrativa a respeito, pois recebia esse conhecimento para compor

como base em fontes informativas. Assim, Lucas recebera em suas mãos fontes que vieram

dos grandes centros da época, as quais não é possível saber com precisão que fontes eram

essas44. Boor e Stagg são de opinião semelhante, que Lucas utilizou de fontes fidedignas para

relatar acontecimentos que não participou pessoalmente45, pois sem as fontes Lucas nem

poderia escrever o livro de Atos46.

Os 3 autores, Carson, Moo e Morris, tem opinião semelhante sobre as fontes utilizadas

por Lucas, onde afirma que provavelmente deve-se dar tanto ou até mais ênfase a relatos orais

como a base na narrativa de Lucas mediante a presença do próprio autor (16-28) e a audiência

com testemunhas oculares em ambas as seções47. Kummel considera a probabilidade de que o

autor de Atos tenha utilizado como fontes um diário de viagem ou um elenco de lugares

visitados, sendo assim a base de Atos 13-28, onde segundo uma hipótese levantada, o autor de

Atos teria encontrado o “nós” em alguma das fontes pesquisadas48.

Em Bíblia Novo Testamento, Bornkamm afirma que os materiais à disposição de

Lucas para escrever Atos eram muito e totalmente diferentes dos que utilizara para o seu

Evangelho, sendo improvável qualquer certeza sobre tais fontes como um material fixo para a

composição de Atos, e não se sabe como este material chegou até as mãos do escritor. Sobre a

seção “nós” o estudioso diz que existe um furo nesta pressuposição pelo fato de que estas

passagens não se distinguem em vocabulário e estilo do seu contexto. Dessa forma,

Bornkamm não considera Lucas como uma testemunha confiável dos eventos reais49.

Um outro estudioso, chamado Helmut Koester, afirma que Lucas pertence a terceira

geração do cristianismo, dessa forma, ele foi dificilmente testemunha ocular dos eventos e não

fora companheiro de Paulo em suas viagens missionárias. As fontes de Atos, foram diferentes

das utilizadas para escrever o Evangelho de Lucas, onde as fontes utilizadas em Atos

continuam enigmáticas. A questão de uma fonte Antioquense para a primeira seção de Atos

(6-12 e 15), e a segunda seção “nós”, possui como fonte as narrativas de viagem (16-28),

sendo que a primeira é de difícil confirmação se o autor utilizou de semitismo. O autor de

Atos, segundo o estudioso, utilizou um itinerário ou relato de viagem que pode ter sido escrito

por um companheiro de viagem de Paulo, sendo que ao mesmo tempo o autor tenha também

empregado “nós” como expediente estilístico em seções para as quais ele não utilizou

44 CHAMPLIN, R. N. Op. Cit. pp.8-10. 45 STAGG, F. Op. Cit. pp. 33-36. 46 BOOR, W. Atos dos Apóstolos. Comentário Esperança. p. 19. 47 CARSON, D.A.; MOO, D.J.; MORRIS, L. Op. Cit. pp. 225-227. 48 KUMMEL, W. Op. Cit. pp. 219-236.

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nenhuma fonte; sendo isso mais evidente na narrativa de viagem pelo mar e do naufrágio (At

27-28)50.

Ao analisar o que os estudiosos abordam sobre a questão das fontes em Atos, a

conclusão é que Lucas utilizou de fontes escritas (documentos), bem como de fontes orais

(testemunhos), conforme ele mesmo apresenta nos prefácios do Evangelho e de Atos (Lc.1.1-

4; At 1.1), tendo, inclusive, sua participação em alguns desse eventos. Não é possível saber

com detalhes quais eram essas fontes, apenas que Lucas as utilizou, conforme ele mesmo

menciona em seus prefácios. De forma semelhante ao Evangelho, Lucas não presenciou

algumas situações em Atos, principalmente as da primeira seção (1-15), fiando-se nas fontes

as quais pesquisou para fazer a composição dos relatos históricos utilizando a sua capacidade

intelectual para isso. Na seção 16-28, existe a participação pessoal de Lucas nos

acontecimentos, no qual a sua principal fonte foi os seus diários de viagem além das

testemunhas oculares.

5. Título da Obra:

Sobre o título do livro como “Atos dos Apóstolos”, os estudiosos são unânimes em

informar que Lucas dificilmente teria dado a sua obra tal título. Esse nome veio à tona

somente quando o seu evangelho foi separado desta segunda parte da história e colocado junto

com outros evangelhos é que houve necessidade de dar um título ao segundo volume51, para

designar o seu conteúdo52. Este título é por vista de alguns autores como não original pela

grande questão que em toda a obra de Atos apenas dois personagens se sobressaem, sendo

eles Pedro e Paulo.

Além deles, outros personagens recebem um destaque (mesmo que pequeno). São eles

os apóstolos João, Judas, e um grande número de personagens que não eram apóstolos53, no

caso Estêvão, Filipe, Barnabé Tiago (irmão do Senhor), etc., sendo alguns destes de forma

bem resumida54. O título “Atos dos Apóstolos”, foi pela primeira vez utilizado por Irineu

(adv Haer. 3.13.3), por Clemente de Alexandria e pelo prólogo antimarcionita de Lucas (final

do século II?); ele é encontrado no Códice Vaticano, um dos mais velhos manuscritos

existentes55. No decorrer dos séculos, foram sugeridos outros nomes para a obra: Tertuliano

49 BORNKAMM, G. Bíblia Novo Testamento. pp. 82, 83. 50 KOESTER, H. Op. Cit. pp. 52-55. 51 CARSON, D.; MOO, D.; MORRIS, L. Op. Cit. p. 203. 52 PFEIFFER, C.H.; HARRISON, E. F. Op. Cit. p 238. 53 WILLIAMS, D. Op. Cit. p. 26. 54 STAGG, F. Op. Cit. p. 18. 55 STAGG, F. Op. Cit. p. 19.

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“O memorando de Lucas”, Cânon Muratório “Os Atos de todos os Apóstolos”. O “O

Evangelho do Espírito Santo”, também foi sugerido como título, entretanto, não é apropriado,

porque a atenção de Lucas está mais voltada para aquilo que se estava conseguindo, e não

propriamente para o Espírito Santo, não negando que os acontecimentos relatados são dados

por causa da ação do Espírito Santo56.

O título como apenas “Atos - praceij” denotava no mundo antigo, segundo os autores,

um gênero ou subgênero que descrevia os grandes feitos de um povo ou cidades57; é

encontrado no Códice Sinaítico (tão antigo quanto o Vaticano), que traz o titulo como apenas

“Os Atos”, conquanto o título maior apareça ao final na identificação do livro no teor original.

Outros Pais da Igreja também usaram o nome “Atos” para o título da obra, no caso Orígenes,

Dídimo, Hilário, Epifânio. Os autores modernos também trazem sugestões para o título da

obra, levando em conta as ênfases de Lucas como “Os Atos do Espírito Santo”, “As coisas

que Jesus continuou a fazer e a ensinar”, “A História do Poder de Deus entre os Apóstolos”,

História dos Atos do Espírito Santo”, “Ações dos Apóstolos”58.

Dessa forma, pode-se considerar como título mais apropriado para a obra o seguinte

nome: “Os Atos - praceij”, pois demonstra claramente que as ações relatadas foram dos dois

personagens principais: Pedro e Paulo e de outras pessoas, onde acima de tudo, nota-se a ação

do Espírito Santo que as conduziram para a realização da obra do Reino de Deus. Este título

já é apresentado em algumas versões nesta forma como a GNT (Greek New Testament)

“praceij (Atos)”, Reina Valera “Hechos (Atos)” e na versão inglesa da NVI (Nova Versão

Internacional Inglês-Português) “Acts (Atos)”.

6. Natureza Literária:

(a) Da Obra (Gênero Maior):

Sobre o gênero maior da obra de Atos, pode-se notar que ela é uma narrativa.

Narrativas bíblicas são histórias relatadas com o objetivo de transmitir uma mensagem por

meio de pessoas e de seus problemas e circunstâncias59. Os autores selecionam tudo aquilo

que será escrito a respeito dos acontecimentos, mediante a Iluminação do Espírito Santo,

56 Ibid. p. 19. 57 CARSON, D.; MOO, D.; MORRIS, L. Op. Cit. p. 203. 58 Ver as seguintes obras: Introdução ao Novo Testamento da Editora vida Nova, O NT Interpretado Versículo por Versículo da Editora Hagnos, Atos dos Apóstolos Editora Evangélica Esperança, todas mencionadas nesta pesquisa juntamente com os seus autores. 59 ZUCK, R. B. A Interpretação Bíblica. p. 149.

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tendo em vista propósitos determinados, no qual um dos propósitos é mostrar Deus operando

na sua criação e do seu povo60.

Na narrativa de Atos pode-se notar que ela possui alguns tipos: O épico, que é um

série de episódios centralizados numa pessoa ou em um grupo de pessoas61, pode-se notar que

isso é em toda a obra de Atos com referência a expansão da Igreja em Jerusalém (1.1-8.1); na

Judéia e Samaria (8.1-10.48) e até aos confins da terra (11.1-28.31). Além desse tipo, há o

tipo heróico, no qual é uma história tecida em torno dos feitos de um protagonista, no caso da

narrativa de Atos são dois: Pedro (1.15-12.25), e Paulo (13.1-28.31). Há os tipos polêmicos

dentro da obra, que significa a contestação de idéias de terceiros62 (Atos 15).

Dessa forma, Atos é definido como uma narrativa que possui intenções em trazer uma

mensagem de cunho teológico, mensagem esta que é o cumprimento da promessa de Cristo e

a continuidade de sua ação através dos discípulos pelo Espírito Santo.

(b) Da Passagem (Gênero Menor):

No gênero menor da passagem de Atos 2.1-4 que está em estudo, de acordo com o que

foi visto no tópico anterior, conclui-se que esta passagem seja uma narrativa épica, pois esta

relata uma seqüência de episódios que está centralizado em um grupo de pessoas, com o

objetivo de trazer uma mensagem, a qual é o cumprimento da promessa de Cristo, que é a

descida do Espírito Santo.

Em Atos 2.1 é apontado que todos (os quais o texto não especifica quem, mas

percebe-se pelo contexto que trata-se dos discípulos) se encontravam em um único local no

último dia de Pentecostes; em seguida no verso 2 é ouvido, de repente que vem um som do

céu que é comparado a um vento forte que enche a casa. No verso 3 são vistos por eles

mesmo línguas que são comparadas como de fogo que pousam sobre cada um, onde eles

cheios do Espírito Santo passam a falar em outras línguas (vv.3,4) 63.

60 FEE, G.D.; STUART, D. Entendes o que lês? pp. 63, 64 61 ZUCK, R. B. Op. Cit. 62 Ibid. 63 Ibid.

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7. Esboços: 64

(a) Da Obra:

ATOS:

I. O AVANÇO DA IGREJA EM JERUSALÉM (1.1-8.1).

II. O AVANÇO DA IGREJA NOS ARREDORES: SAMARIA E JUDÉIA (8.1-10.48).

III. O AVANÇO DA IGREJA ATÉ AOS CONFINS DA TERRA (11.1-28.31).

(b) Contexto Remoto:

I. AVANÇO DA IGREJA EM JERUSALÉM (1.1-8.1).

1. Prólogo (1.1-1.5).

2. A ascensão de Jesus (1.6-1.11).

3. Os discípulos de volta para Jerusalém e a escolha do substituto de Judas (1.12-1.26).

4. A descida do Espírito Santo (2.1-2.5).

5. O testemunho da multidão (2.5-2.13).

6. O discurso de Pedro (2.14-2.41).

7. A vida comum da Igreja (2.42-2.47).

8. A cura do coxo e o discurso de Pedro no templo (3.1-3.26).

9. Confronto com as autoridades (4.1-4.31).

10. A Vida comum na Igreja, Ananias e Safira (4.32-5.16).

11. Confronto com as autoridades (5.17-5.42).

12. A instuição da diaconia (6.1-6.7).

13. Estêvão e a perseguição levantada contra a igreja (6.8-8.3).

(c) Contexto Imediato:

4. A descida do Espírito Santo (2.1-2.5).

(a) As testemunhas de Jesus reunidas no dia de Pentecostes (v.1).

(b) O som que vem do céu e enche a casa onde eles estavam (v.2).

(c) As línguas como de fogo e o encher do Espírito Santo sobre eles (vv.3,4).

64 Para a montagem dos esboços dos contextos do Livro de Atos, foram consultadas as obras de introdução ao Novo Testamento.

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7. Diagramação:

kai

thn hmeran hsan

evn tw thj penthkosthj pantej

sumplhrousqai omou

epi.

to auto

egeneto hxoj

afnw tou ouranou wsper pnohj

ek feromenhj biaiaj

eplhrwsen ton oikon hsan

olon ou kaqhmenoi

wfqhsan glwssai

autoij wsei

diamerizomenai puroj

ekaqisen

ef ekaston

ena autwn

eplhsqhsan

pantej pneumatoj

agiou

kai

kai

kai

kai

kai

kai

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hrcanto to pneuma edidou

lalein eteraij apofqeggesqai

glwssaij autoij

kaqwj

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III. TEOLOGIA:

Nesta parte, o recurso didático adotado para a formulação das divisões e ordem dos

argumentos será a diagramação65, no qual os títulos dos pontos serão os termos principais.

1. ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA:

Lucas endereça a sua obra para um grupo de Cristãos que não são identificados e para

uma pessoa que é considerada como representante dos destinatários ou o principal, que era um

aristocrata romano de nome Teófilo. Lucas mostra a Teófilo e aos destinatários em Atos 2.1-

4, que a promessa que Jesus fizera aos seus discípulos nos seus útlimos momentos na terra

(Lucas 24.47; Atos 1.8), começa a se cumprir com a descida do Espírito Santo à partir desse

momento. Sobre tal questão pode-se inserir seguinte título ao argumento:

“O cumprimento da Promessa Divina: A descida do Espírito Santo e o testemunho à

partir de Jerusalém”.

1.1 - O dia do cumprimento (v.1):

1.1.1 O dia – th.n hme,ranth.n hme,ranth.n hme,ranth.n hme,ran (v.1):

Lucas inicia sua narrativa em Atos 2.1 com a utilização da conjunção kai. (e), que tem

a função de acrescentar palavras ou frases. Ela Aparece 7 vezes nos quatro versículos de Atos

2, onde Lucas assim acrescenta uma nova narrativa, sendo a conjunção neste versículo,

chamada de conjunção introdutória. Ele começa a descrever qual foi o dia em que ocorreu o

cumprimento da promessa de Jesus th.n hme,ran (o dia), que é um substantivo no acusativo.

No acusativo a idéia principal é a de objeto direto da oração, entretanto, aqui em Atos

2.1, esta palavra encontra-se após um verbo no infinitivo passivo, que dessa forma, expressa a

idéia de um predicativo do infinitivo, ocupando a função de sujeito na frase. Além do

infinitivo sumplhrou/sqai (completar-se) que o precede, existe também uma preposição e

um artigo que estão na dativo evn tw (em ao), estes, antecedem o infinitivo, onde expressam a

idéia de tempo por causa do verbo e isso é mais evidente no próprio verbo por estar ligado a

preposição no dativo sun (com).

O Infinitivo sumplhrou/sqai (completar-se) tem a função de apontar para um alvo, e

encontra-se na tempo presente, que ao demonstrar uma ação incompleta, expressa que tal ação

encontra-se em andamento. Sua voz está na passiva, que expressa a idéia de resultado. No

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Grego Clássico, a grande parte dos seus significados vem da raiz ple- “cheio”, “plenitude”, a

qual pode ser empregada num sentido estendido de “cumprir” um desejo, no sentido temporal,

no passivo, de “expirar”, “chegar ao fim”. Tal significado é o mesmo no Antigo Testamento,

que equivale ao hebraico alm (Male’).

A palavra é empregada freqüentemente em conexões com expressões de tempo:

“tornar cheio o tempo”, mormente no passivo de “expirar”, “chegar ao fim”, dando a

compreender uma quantidade específica de tempo que deve chegar inevitavelmente ao fim,

porque a natureza (Gn 25.24), um voto (Nm 6.5), a lei (Lv 8.33) ou a Palavra de Deus (2 Cr

36.21) assim decretam. Há um emprego no AT do termo, quando a palavra de Deus falada

pelos profetas é declarada “cumprida”. É o próprio Deus quem executa aquilo que foi

profetizado no Seu nome.

No Novo Testamento, o emprego do termo tem muita coisa em comum com o CL e

AT. A palavra plerw (plero) é usada cerca de 86 vezes. Em um sentido geral, o cumprimento

de tempo se refere ao “chegar ao fim”, “esgotar-se”. Sempre é passivo no NT. Em Lucas 9.51,

fala do cumprimento dos dias em que Jesus deveria ser assunto ao céu. Em Atos 2.1 o

infinitivo sumplhrou/sqai (completar-se), fala do cumprimento do dia de Pentencostes,

quando, em correspondência com este fato, o Espírito foi dado66, dessa forma, Lucas mostra

que o Espírito é dado em um tempo em andamento que aponta para uma conclusão, que era o

encerramento do dia de pentecostes.

O Pentecostes (th/j penthkosth/j – de Pentecostes), encontra-se no genitivo, que

segue após a palavra th.n hme,ran, como complemento, indicando o período de tempo em

que algo aconteceu, sendo chamado de genitivo de tempo67. No Grego Clássico, esta palavra

é um substantivo feminino que deriva de penthkostoj “qüinquagésimo”. Na literatura

judaico-cristã, a palavra representa “o qüinquagésimo dia” ({{{{~wy ~yVymh - hamiššim yôm). O

Pentecoste era a Segunda grande festa do ano judaico, uma festa de colheita, quando as

primícias da ceifa eram dadas a YHWH.

Antes o período de Jesus, essa data ficou conhecida como a festa da renovação da

Aliança, que tratava de um elo entre o Pentecostes e a aliança do Sinai (Ex 19.1; 2 Cr 15.10),

e até os samaritanos faziam conexão. No Judaísmo rabínico, havia a associação entre o

65 Sugere-se que o leitor leia conjutamente a argumentação teológica com a diagramação. 66 COENEN, L; BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Pág. 1671. 67 PINTO, C. O. C. Fundamentos para exegese do Novo Testamento. p. 18.

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Pentecostes e a outorga da lei. No Novo Testamento, João ressalta que o Dom do Espírito não

pode ser separado da obra de Cristo (morte, ressurreição e ascensão de Jesus).

João mostra que há a continuidade imediata entre Jesus e o Espírito, e a importância

do Espírito do Pentecoste em marcar uma nova era (Jo 20.22). O Pentecoste tinha uma

significância para os cristãos primitivos, que é o derramamento do Espírito que Deus

prometeu para os tempos do fim (Atos 20.16); a experiência era primariamente a do espírito

profético, em conformidade com a experiência judaica (cf. Joel 2.28); o derramamento do

Espírito foi atribuído ao Jesus glorificado desde o início, conforme se entende a tradição das

predições de João Batista (Mt 3.11; Lc 3.16; cf. At 1.5; 11.16) e At 2.33 (cf. 16.6,7).

Para Lucas, a idéia é do cumprimento da promessa divina, e assim, da Aliança (Lc

24.49; At 1.4; 2.33, 38-39; 3.25; 13.23,32 cf. 2.1), onde o Pentecoste assume o papel como

instituição da Nova Aliança. O Espírito de Pentecostes é preeminente o Espírito profético, o

inspirador da fala. Lucas se esforça para mostrar que o Pentecoste é o início de uma era

completamente nova na história da salvação e o apresenta como o início da missão mundial68.

Dessa forma, Lucas apresenta tal dia que está se findando, como o tempo em que aconteceu o

cumprimento da promessa da Aliança divina sobre os que são de Cristo à partir de Jerusalém,

sobre aqueles que estavam presentes naquele dia.

Para expressar isso, Lucas utiliza o verbo imperfeito ativo de eimi – h=san (estavam),

que traz a idéia em que estado se encontravam os discípulos nessa narrativa, sendo um verbo

de ligação, onde é complementado pelas palavras em seqüência: pa,ntej omou/ evpi. to. auvto,Å

(estavam todos no mesmo lugar), onde o adjetivo pa,ntej tem a idéia de um predicativo do

sujeito, por estar ligado a esse verbo. Encontra-se no nominativo que expressa a idéia de

sujeito, sendo um reforço ao verbo.

O advérbio omou (no mesmo lugar) é um advérbio relativo que se refere a lugar,

mostrando onde o se encontravam os discípulos que era em um lugar em Jerusalém em pleno

encerramento da comemoração do dia de Pentecostes, onde a preposição com o artigo e o

pronome no acusativo evpi. to. auvto,Å são reforços para fortalecer a idéia apontada pelo

advérbio, que no momento em que caminhava o dia de Pentecostes para o encerramento, os

discípulos encontravam-se juntos em um lugar, expressando comunhão.

Lucas mostra que toda a promessa da Aliança feita por Deus no Antigo Testamento,

conforme apresenta Joel 2.28-32; e confirmada por João Batista e pelo próprio Jesus no Novo

Testamento (Mt 3.10ss; Lc 3.9ss; At 1.4, 5, 8) começa a ser cumprida em Atos 2.1 tendo

68 DUNN, J. D. G. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. pp. 1638-1642.

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como marco histórico do cumprimento da Aliança divina e início da missão mundial, do

testemunho da igreja à partir de Jerusalém e até aos confins da terra (Atos 1.8), onde, à partir

do verso 2, tal acontecimento é descrito com mais detalhes.

1.2 - Os Fenômenos do cumprimento (vv. 2, 3):

1.2.1 – Aconteceu – evge,netoevge,netoevge,netoevge,neto (v. 2a):

Lucas utiliza a conjunção kai (e) neste primeira parte do verso em diante de uma

forma um pouco diferente do verso 1, pois aqui ela não introduz em um novo assunto, mas,

faz ligação entre os fatos narrados dentro da narrativa de forma mais evidente que a do verso

1. Ela encontra-se ligada com o verbo evge,neto (aconteceu), que é um aoristo indicativo

médio defectivo. A característica do verbo aoristo é que ele expressa na oração uma ação

pontilear, em si, sendo uma ação ou fato que aconteceu uma única vez e nunca mais se

repetirá.

Ele encontra-se no modo indicativo juntamente com os demais aoristos que há nestes 4

versículos de Atos, onde tal modo é o modo da certeza, no qual existe a preocupação em

apenas informar, como se tal fato informado fosse realidade. A voz deste verbo é a voz média,

que habitualmente, indica a idéia de uma ação reflexiva, ou seja, uma ação praticada para si

mesmo. Entretanto, este é um verbo defectivo, o que significa que mesmo sua terminação

encontrar-se na voz média, a sua tradução e idéia é ativa.

Este verbo deriva de ginomai “ser gerado”, “nascer”, “tornar-se”, “suceder”,

“acontecer”. Tanto no Grego Clássico quanto no Antigo Testamento, ginomai é uma forma

iônica e secundária de gignomai. A palavra tem vários significados: “vir a existir”, “ser

produzido”, “acontecer”, “tornar-se”. Na LXX, além do emprego é comum, também tem

ocorrências como substantivo de formas de einai (ser). A seguinte construção kai.

evge,neto... kai...., traduz uma construção hebraica que é estranha em grego “e aconteceu que”.

No Novo Testamento gignomai é utilizado em várias conexões, podendo significar

“nascer” (Gl 4.4); “crescer”, (Mt 21.19) “surgir”, “acontecer”, “haver” dentre outros. Ele às

vezes se emprega como um adjetivo verbal para significar o passivo; “não o confessavam,

para não”. Lucas no Evangelho e em Atos utiliza na construção kai. evge,neto seguida de kai e

um verbo finito (e aconteceu que... e sucedeu que)69. Onde ele mostra através deste verbo que

o fato o qual ele narra, não somente é real, como também aconteceu uma única vez.

69 GUHRT, J. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. pp. 1365,1366.

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O verbo precede o advérbio a;fnw (de repente), que tem a função de auxiliar o verbo e

demonstrar que a ação única foi repentina, a qual teve a sua origem no céu evk tou/ ouvranou

(<veio> para fora do céu). Estas 3 palavras encontram-se no genitivo, que tem a idéia de

origem e procedência, onde a função da preposição é de dar ênfase a tal origem. A palavra

ouvranou (céu) no Grego Clássico significa “abóbada celestial” o “ firmamento”, que abrange

tudo aquilo que é divino. O Antigo Testamento mostra que Deus criou os céus, o antigo

conceito do Deus do Sinai. Conforme Deuteronômio, Deus habita nos céus e fala que a partir

dali, que a totalidade do céu não pode conter a YHWH (Dt 4.36; 12.5, 11, 21; 26.15; 1Rs

8.27).

No Novo Testamento, essa palavra ocorre 272 vezes, nos escritos de Lucas ocorre 34

vezes, sendo 26 em Atos, onde se declara que Deus habita nos céus e o céu é o próprio trono

de Deus e diz que o trono de Deus está no céu (At 7.49)70. Lucas aponta em seguida o que

está vindo do céu (da parte de Deus), é um som (h=coj), que tem aqui a idéia de sujeito da

oração e significa som, barulho. É utilizado em Lucas 21.25 para o estrondo do mar. “Era um

som que ecoava como de um vento poderoso levado de modo vibrante”, que é um ruído, som

de qualquer tipo que equivale a “eco” no português71.

Lucas assim mostra que um dos fenômenos do cumprimento da promessa divina sobre

os seus discípulos, o qual tem sua origem em Deus (vindo do céu), é um fenômeno sonoro,

que Lucas procura comparar, com a utilização da conjunção w[sper (assim como), que o som

que veio de do céu (evk tou/ ouvranou/ h=coj), é semelhante a algo que está “sendo trazido por

um vento forte” (ferome,nhj pnoh/j biai,aj).

O particípio ferome,nhj (sendo trazido), está no tempo presente que indica uma ação

incompleta, contínua e a sua voz está na passiva, que indica uma ação sofrida, o que faz

entender que o som vindo do céu é trazido por um vento, aí o motivo do uso tanto do

substantivo pnohj (vento) como do adjetivo biai,aj (forte) em conjunto com o particípio no

genitivo, indicando que o som origina do céu, onde a ação de ser trazido está em andamento, e

que do vento forte é que se ouve o som, como um estrondo, e que, em seguida, Lucas mostra

o que aconteceu em seguida.

1.2.2 – Encheu – evplh,rwsenevplh,rwsenevplh,rwsenevplh,rwsen (v. 2b):

O que acontece em seguida da vinda do som que se pode ouvir do vento forte, é que

este vento “encheu” (evplh,rwsen) o lugar em que os discípulos se encontravam, onde Lucas

70 BIETERNHARD, H. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. pp. 341-348. 71 VINE, W. E; UNGER M. F; WHITE Jr. W. Dicionário Vine Pág. 1001

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utiliza a conjunção kai. para ligar um fato ao outro dentro da passagem. O verbo “encheu”,

encontra-se no aoristo indicativo ativo, que expressa uma ação realizada uma única vez, e que

por estar na voz ativa, indica uma ação praticada por alguém. Este verbo deriva da mesma raiz

que o infinitivo sumplhrousqai (v.1). Entretanto, no Grego Clássico, pode significar de

forma literal “encher um vaso”. No Antigo Testamento, existe a mesma quantidades de

sentidos do período clássico, que encontra-se de forma literal em 2 Rs 4.4; Gn 21.19; 98.7, na

expressão “o mar e tudo quanto o enche”, da ordenança divina de encher a terra.

Existem referências no AT ao “ficar cheio” do Espírito de Deus. É a marca que

distingue os profetas, e pode ser transmitida pela imposição das mãos (Dt 34.9). Artífices

também, segundo consta ficam cheios de um espírito que é o do conhecimento e habilidade

(Ex 28.3; 31.3). A plenitude do Espírito também é dada aqueles que buscam o Senhor e

estudam a lei, de tal modo que possam orientar ao próximo. Aquele está cheio do Espírito

Santo, refreia a sua língua (Pv 15.4 – LXX). De forma semelhante ao infinitivo no verso 1, a

ocorrência da raiz e suas derivações ocorre no NT, é 86 vezes. Tal uso é predominante em

Lucas.

Dessa forma, Lucas mostra uma ação praticada pelo fenômeno sonoro que veio da

parte dos céus (de Deus), que foi de encher “toda a casa” (o[lon to.n oi=kon). Estas palavras

encontram-se no acusativo, onde apontam a idéia de objeto direto da oração. Lucas assim,

utiliza o adjetivo toda (o[lon), para enfatizar que a casa inteira (to.n oi=kon), foi atingida pela

ação do som vindo pelo vento forte. Ele utiliza o advérbio onde (ou-), juntamente com verbo

no imperfeito h=san (estavam), para dar ênfase no lugar e no estado em que se encontravam,

ficando mais claro do que aponta no versículo primeiro que eles se encontravam em uma casa,

e o particípio aqui procura dar ênfase ao verbo no imperfeito. Em seguida, Lucas passa a

apontar o outro fenômeno que ocorre no cumprimento da promessa da Aliança, que está no

verso 3.

1.2.3 – Foram vistos – w;fqhsanw;fqhsanw;fqhsanw;fqhsan (v. 3a):

Lucas neste verso, novamente faz uso da conjunção kai, onde descreve que “Foram

vistos neles” (w;fqhsan auvtoi/j). O verbo encontra-se no aoristo indicativo passivo, que

expressa de forma semelhante aos aoristos anteriores a idéia de uma ação única bem como a

certeza do que se está afirmando. Sua voz está na passiva, que expressa a idéia de uma ação

sofrida com ênfase no resultado. No Grego Clássico, oraw (ver), que tem o significado de

“conceber” ou “experimentar”, “estar presente” ou em “participar de”. A raiz op-, que deriva

de oraw modo geral, o ofqalmoj “olho”, é o órgão da percepção. Ele também é associado

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geralmente entre o homem e Deus, seu próximo e o mundo em derredor. O “olho da alma”

obtém introspecção no cosmos, conceitos morais associam-se com o olho.

A palavra oraw (ver), no Antigo Testamento, possui os principais equivalentes na

língua hebraica h)r e hzh, que tem o significado um pouco mais amplo que oraw. De modo

geral, significa “ver com os próprios olhos”, “tornar-se consciente” (Gn 27.1). De forma

figurada, vem a ser empregado da percepção intelectual ou espiritual: “notar”, “tornar-se

consciente” ou daquilo que o homem experimenta ou sofre, “conhecer ou ter experimentado”

(Sl 34; 89; Dt 11.2). Também pode-se referir a uma percepção profética. Esta visão profética

envolve uma revelação de Deus e da Sua palavra, e somente então um impacto visual: Deus

deixa saber o que quer ou o que vai fazer, e o “mostra” para alguém que escolheu para tal

propósito.

No Novo Testamento, oraw emprega-se 110 vezes, que possuem geralmente os

mesmos significados do Grego Clássico e do AT, que significa “ver”, “perceber”, os quais

podem ser utilizados figuradamente para “perceber”, “averiguar”, “reparar” (Mt 13.14). A

palavra ofqalmoj de forma semelhante ao mencionado no Grego Clássico, também é

utilizado mais freqüentemente com conceitos morais, especialmente nos Sinóticos (38 vezes;

At 6 vezes). É visto além disso, como o órgão do entendimento e do conhecer72. Em Atos 2.3,

Lucas mostra que é testemunhado de forma visual este outro fenômeno do cumprimento da

promessa, e isso de forma experimental.

Para reforçar que eles sofreram tal ação, Lucas utiliza o pronome autoij (neles),

indicando objeto indireto da ação verbal. Lucas em seguida, continua descrevendo o

fenômeno com um verbo no particípio diamerizomenai (sendo distribuídas), que no

presente aponta uma ação em andamento, no qual o que está sendo distribuído aos discípulos

naquele momento são as “línguas como de fogo” (glwssai wsei puroj).

O substantivo glwssai (línguas), encontra-se no nominativo que dá a idéia de sujeito

na oração. O seu significado no grego clássico é a “língua” dos homens e dos animais no

sentido fisiológico, órgão do gosto e da fala. De forma figurada, glwssa representa a

faculdade da fala, de pronunciar bem. Como “idioma”, “dialeto”, pode também denotar uma

expressão lingüística obscura que requer explicação.

No Antigo Testamento, encontra-se em cerca de 100 das 160 ocorrências, onde

também aparece na forma glotta. São equivalentes ao hebraico Lasõn ou o aramaico lisan,

72 DAHN, K. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. pp. 2591-2596.

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“língua”, “idioma”, “linguagem”, significa que a língua é um órgão físico dos seres humanos

e dos animais (Ex 4, 10; Jz 7.5); figuradamente denota a “faculdade da fala”, a “linguagem”

(Gn 11.7). Nos livros poéticos e proféticos do AT e Sir. a língua é, em especial, o órgão do

homem pecaminoso. “A morte e a vida estão no poder da língua” (Pv 18.21), por isso são

urgentes as orientações no sentido de conservar a língua longe do mal, de interceder com a

língua em prol da justiça e da verdade e de louvar a Deus (Sl 34.14; 35.28; Sl 51; Sir. 31.30).

No Novo Testamento, tem sua ênfase teológica principal em Atos (6 vezes), onde as

línguas de fogo que pairavam sobre os discípulos (Atos caps. 2 e 3), que são um retrato do

batismo com fogo do Espírito Santo, e o falar “em outras línguas é um sinal que segue a

operação do Espírito no dia de Pentecostes73. Lucas utiliza da conjunção wsei (como) para

mostrar que tal comparação é feita, as línguas que são distribuídas são semelhantes ao fogo

(puroj) que encontra-se no genitivo, e tem aqui a idéia de objeto na oração.

Nas religiões antigas, o fogo é algo ao qual tem sido atribuído grande importância,

tanto no sentido positivo como negativo, como a força que dá a vida e a destrói. No mundo

grego, o fogo se emprega tanto na esfera secular como na religiosa. O fogo, considerado um

dos vários símbolos dos deuses, acompanha o aparecimento de uma divindade. Na filosofia

grega, o fogo é o elemento básico de todas as coisas: o mundo é um movimento de fogo, que é

submetido a um processo de constante mudança, e é idêntico à divindade (logos).

No Antigo Testamento, pyr se emprega em mais de 350 lugares para traduzir o

hebraico ’ēš. O fogo se emprega no lar para vários propósitos (Ex 12.8; Is 44.15), como

também em trabalhos de artesanato, especialmente quando se trata de metais (Is 44.12); Na

guerra é um meio de destruição (Dt 13.16). Entre os fenômenos naturais, o raio é o “fogo de

Deus” (Ex 1.16). Num sentido metafórico, o fogo representa várias atividades humanas: a

calúnia e contendas (Pv 26.20-21), etc. O fogo serve também no AT como meio de

purificação (cf. Lv 13.52; Nm 31.32; Is 6.6).

Deus está presente entre o Seu povo como Juiz, que traz libertação e não somente

castigo, onde o fogo que O acompanha tem dois significados: o de julgamento divino e o sinal

de graça, sendo que Deus demonstra mediante o fogo a sua aceitação de um sacrifício (Gn

19.24; Ex 9.24; Gn 15.17; Lv 9.23-24). Deus é fogo devorador bem como a sua palavra, pois

Ele zela pela obediência a sua vontade, com zelo fogoso (Jr 23.29). O fogo é um símbolo da

santidade de YHWH como Juiz do mundo e também do seu poder e glória divinos (Ex 24.17;

Is 6.1-4; Ez 1.27-28).

73 HAARBECK, H. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. pp. 1507-1510.

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No Novo Testamento, tem o significado de sinal da glória celestial, divina. O Cristo

exaltado tem olhos como chamas de fogo (Ap 1.15; cf. Ez 1.27). O Espírito Santo, sendo de

origem divina, aparece em línguas como que de fogo (Atos 2.3; Hb 12.18ss., especialmente v.

29; cf. Ex 19.12ss). É usado como figura do julgamento divino em Mt 3.10; 7.19; Lc 3.9; Jo

15.6. Onde empregam-se quadros tirados da vida do fazendeiro para ilustrar o julgamento

escatológico de Deus. Em Mt 3.10ss, e Lc 3.9ss, logo após a figura do fazendeiro, João

Batista anuncia a vinda daquele de quem ele não era digno de desatar as correias das sandálias

(Mt 3.11; Lc 3.16), o qual batizará com Espírito e com Fogo, no qual, ambas as palavras,

encontram-se no dativo e dão a idéia de instrumentalidade.

Em Lucas 12.49-50, a missão de Jesus é apresentada como sendo o cumprimento da

profecia de João Batista. Onde Seu modo de trazer julgamento é tomá-lo sobre Si, de tal modo

que o julgamento escatológico é abrangido pelos sofrimentos presentes e históricos de Jesus74.

Dessa forma, nota-se que Lucas mostra que as línguas como de fogo são o instrumento do

juízo divino que é anunciado ao povo. Tais línguas, conforme encerra o verso 3: “e foram

derramadas sobre eles”.

1.2.4 – Pousou – evka,qisenevka,qisenevka,qisenevka,qisen (v. 3b):

Lucas usa a conjunção kai (e), com as mesmas funções dos que foram explicadas

anteriormente e o verbo evka,qisen (pousou) que é um aoristo indicativo ativo, o qual tal

função é semelhante ao verbo encheu no verso 2. No Grego Clássico, significa “fazer alguém

sentar-se”, onde sentar-se era freqüentemente uma marca de honra ou autoridade no mundo

antigo. No AT, katizw (sentar), quase sempre é traduzido pelo hebraico bcy (yašab) que

tem uma grande quantidade de significados do que “sentar-se”, incluindo “habitar” e

“permanecer”. Entre algumas está o rei, que senta no seu trono como marca da autoridade.

Deus, como rei, também se assenta entronizado no céu (1 Rs 22.19; Sl 2.4; 29.10; etc.).

No NT, a palavra é usada para uma grande quantidade de situações, inclusive a

maioria daquelas citadas no AT. Para sentar-se no trono como postura correta do rei (ex. Atos

12.21; Ap 18.7). Deus como rei é constantemente descrito em Apocalipse como “Aquele que

se assenta no trono” (Ap 4.2-10). A união do cristão com Cristo, no entanto, quer dizer que

Deus “juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo

Jesus” (Ef 2.6)75. Em Atos 2.3 pode-se então notar que Lucas faz uso da expressão “pousou”

74 BIETENHARD, H. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. pp. 842-846. 75 FRANCE, R.T. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. pp. 2325-2327.

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para dizer que as línguas como de fogo assentaram de maneira única sobre os discípulos

naquele momento, que é apontado pela seqüência de palavras que vem em seguida.

A preposição evfV (sobre), encontra-se com um apóstrofo que indica a supressão da

preposição e o p se torna f, se essa a preposição epi. Ela encontra-se no acusativo, que aqui

aponta o rumo e a direção em que pousa as línguas como de fogo, que é sobre “cada um

deles” (e[na e[kaston auvtw/n(). Os adjetivos e[na e[kaston (cada um), também estão no

acusativo, e tem a função semelhante a da preposição no versículo que tem também a função

de objeto direto, e o pronome auvtw/n (deles) que aqui aponta a idéia de um objeto, apontando

para as anteriores.

Em Joel 2.28-32, o profeta não se utiliza da expressão evka,qisen, o da raiz a qual a

palavra deriva, entretanto, Pedro ao mencionar, mostra claramente que a promessa apontada

por João (Mt 3.10ss; Lc 3.9ss) é uma, pode-se chamar de “reafirmação” daquilo que foi

anunciado por Joel no Antigo Testamento, que o povo de Deus receberá o Espírito, e de forma

experiencial, profetizarão e terão visões. O qual Lucas faz questão em repetir em Lc 24.49;

Atos 1.5, 8.

Assim, Lucas mostra que o cumprimento da promessa divina no AT, Evangelhos e

Atos 1.8 é cumprida, sendo experimentada pelos discípulos de Jesus mediante dois

fenômenos: o sonoro (v.2), que vem da parte de Deus como um vento forte que faz um grande

estrondo, e visual, que são as línguas que comparadas ao fogo, que simboliza o juízo divino,

descem sobre eles, no qual o verso 4 aponta os resultados.

1. 3 - Os resultados do cumprimento (v.4):

1.3.1 – Ficaram Cheios – evplh,sqhsanevplh,sqhsanevplh,sqhsanevplh,sqhsan (v.4a):

O verso 4 não difere dos demais quanto ao seu uso da conjunção kai, o qual aponta

para o resultado, em que eles “ficaram cheios” (evplh,sqhsan). É um verbo aoristo indicativo

passivo, que expressa uma ação única e certa, e a sua voz encontra-se na passiva,

demonstrando uma ação sofrida que é o resultado da ação de maneira ingressiva, mostrando

como ficou o estado das pessoas que ali estavam após o que foi narrado nos versos anteriores.

Tal verbo deriva assim como sumplhrou/sqai (v.1) e evplh,rwsen (v.2), da raiz

plhrw que pode significar “encher”, “completar”, “cumprir”, “realizar”, “levar a efeito”, etc.

No Grego Clássico, as palavras que derivam da raiz comum, ple-, “cheio”, “plenitude”. Tanto

plhrow como epimplhmi significam literalmente: “encher em vaso”, de tal modo que o

resultado possa ser descrito por plhrej ou plhroma.

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No AT, as palavras plhrow e pimplhmi são quase igualmente comuns na LXX, e

juntamente com os seus derivados, traduzem principalmente o hebraico )lm (Male’). Existe

uma grande quantidade de sentidos: de forma literal na expressão “o mar e tudo quanto o

enche” da ordenança divina de encher a terra. Há várias referências ao “ficar cheio”

empimplhmi do Espírito de Deus. É a marca que distingue os profetas, e pode ser transmitida

pela imposição de mãos Dt 34.9. O artífice também segundo declara, ficam cheios de um

espírito, a saber: o de conhecimento e habilidade. A plenitude do espírito também é dada aos

que estudam a Lei.

Ambas palavras pimplhmi e o composto empimplhmi permanecem perto do sentido

literal. Ambos se empregam principalmente em Lucas: para significar o revestimento pelo

Espírito, que é retratado de modo um pouco físico e visual, o último para indicar a satisfação e

enchimento, também concebidos de modo algo físico. Quando Lucas se refere a ser cheio do

Espírito pimplhmi se emprega somente no passivo. Deus é sempre apontado como o doador.

Em Atos 2.4, é visto que todos ficaram cheios do Espírito Santo o que se manifestou

no dom de línguas. A conexão entre estar cheio do Espírito e falar em línguas se encontra em

Atos 4.8,31; 6.5; 7.55; 9.17. Isso significa que o enchimento não era um fim em si mesmo;

mas, a condição prévia para falar com coragem na situação missionária. Dos versículos vistos

em Atos sobre ser cheio do Espírito, Atos 4.8,31 e 9.17 apresentam suas formas verbais no

aoristo e na voz passiva, confirmando claramente que o encher do Espírito é um fato completo

e único na vida que o cristão recebe da parte de Deus: “todos ficaram cheios” (eplhsqhsan

pantej). O adjetivo pantej encontra-se no nominativo e é o mesmo adjetivo encontrado no

verso 1, que mostra que todos os discípulos tiveram a experiência em receber o Espírito Santo

(pneumatoj agiou – “do Espírito Santo”).

Este substantivo com o adjetivo encontram-se no genitivo que expressam a idéia de

objeto na oração, no caso, objeto indireto neste verso, onde o adjetivo qualifica aqui o

substantivo. No Grego Clássico, o substantivo pneumatoj (do Espírito), deriva da raiz pneu-,

da qual se deriva a palavra neo-testamentária para “espírito” que denota o movimento

dinâmico do ar. Um dos seus derivados é pneuma “espírito”, uma palavra de grande

importância no NT, que forma-se da raiz pneu- mais o sufixo –ma e denota o resultado dessa

ação, a saber, colocar o ar em movimento, no qual o ar é considerado uma substância especial,

e com ênfase subjacente sobre seu poder inerente.

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O ar que os homens respiram era considerado como portador de vida. Assim,

aproximava-se do significado que é atribuído a yikh (alma). Um aspecto é que se empregava

pneuma para denotar inspiração, considerando-o como substância material que enchia o

homem e o capacitava para profetizar. Tal pneuma profético era considerado como

entusiástico, visionário, demoníaco, sagrado e até divino, sendo notado possível influência do

Oriente Próximo bem como alguma influência judaica.

No Antigo Testamento, pneuma é traduzido para o hebraico hWr (ruah), onde em

apenas 3 ocasiões pneuma é usada como hálito, onde o termo para espírito nunca se emprega

para aquela qualidade mais sublime no homem que o distingue dos animais. Mas, ao

contrário, assim como o vento vem da parte de Deus e o espírito do homem é dádiva de Deus,

o “espírito” é especialmente de Deus (Ec 12.7 – “e o espírito (ruah), volte a Deus, que o

deu”.). Pode-se notar também em Joel 2.28-32 [3.1-5], que a promessa de YHWH em

derramar o Seu Espírito sobre toda a carne (v.28), a palavra hWr (ruah) é utilizada duas

vezes, na forma construta yxWr-tae (‘et ruhi – “o meu Espírito”), que tem semelhante função

que o genitivo de forma geral possui no grego. Joel mostra que a promessa de YHWH do

derramamento do Seu Espírito yxWr (ruhi) é uma promessa futura, pela utilizar duas vezes o

verbo derramar no modo imperfeito que dependendo do contexto, denota um aspecto futuro.

No Novo Testamento o uso é mais freqüente no sentido de pneuma é o Espírito de

Deus, o Espírito Santo, aquele poder que é mais imediatamente de Deus, quanto à sua

natureza. Nos Evangelhos, João Batista refere-se a Cristo como aquele que batizará com o

Espírito (pneumati) e fogo (Mt 3.10ss.; Lc 3.9ss.), denotando aqui o conceito de graça e

juízo76. Em textos como Atos 18.25, pneuma pode-se referir ao Espírito Santo ou poder

traduzido como um advérbio – espiritualmente – assim como em outros textos como Mt 5.3 e

Jo 4.23ss. Em Atos 2.4 , como se vê, Lucas aponta a relação entre o Espírito Santo e a igreja,

demonstrando a ação do Espírito no dia de Pentecostes, no qual o foco de atenções de Lucas

quanto à ação do Espírito Santo, é a igreja77, onde ele aponta que o Espírito por meio do

fenômeno sonoro e visual, deu-lhes a plenitude para poderem testemunhar, onde foi um

momento único.

76 Ver a explicação da palavra “fogo” do verso 3. 77 COENEN, L.; BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. pp. 713.

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1.3.2 – Passaram – h;rxantoh;rxantoh;rxantoh;rxanto (v.4b):

Lucas encerra o verso utilizando a conjunção kai que ligar a oração com a anterior

dentro do verso 4, no qual ele diz que assim que “todos ficaram cheios do Espírito Santo, e

passaram (h;rxanto). Este verbo encontra-se no aoristo indicativo médio, que denota em sua

voz uma ação reflexiva, uma ação que é praticada e sofrida ao mesmo tempo, no qual, é

demonstrando por Lucas de maneira seqüencial que o resultado da experiência que os

discípulos tiveram, ficando cheios do Espírito Santo, seqüencialmente, passaram (isso de

maneira única naquele momento), a falar (lalei/n).

Este infinitivo (lalei/n - falar), encontra-se no presente ativo, e possui as mesmas

características do infinitivo do verso 1, entretanto, este não se encontra acompanhado de

preposição e artigo. Ele está subordinado ao verbo começaram, para mostrar que a experiência

única que os discípulos que os levaram à prática da ação encontra-se em andamento, atingindo

um determinado propósito.

Os discípulos são vistos falando em “diferentes línguas” (ete,raij glw,ssaij) que

encontram-se no dativo, os quais possuem a idéia de objeto indireto na oração, e o sujeito

diferentes (ete,raij) qualifica o substantivo línguas (ete,raij) a qual precede. Este

substantivo possui o significado que foi apresentado anteriormente no verso 3, entretanto, o

que é importante ressaltar é justamente tal questão deste substantivo encontrar-se em

seqüência de um adjetivo.

O falar em línguas fica evidente segundo Lucas que se trata assim de uma promessa da

Aliança divina que entra em cumprimento nesta experiência que os discípulos, a qual foi feita

em Joel 2.28-32 [3.1-5], conforme Pedro neste mesmo capítulo de Atos 2.14-36, menciona

isso aqueles que ouviram o Evangelho sendo pregado em sua língua materna, sendo isso

dirigido e conduzido de acordo com a vontade do Espírito Santo: “conforme o Espírito

concedia a ele falar” (kaqw.j to. pneu/ma evdi,dou avpofqe,ggesqai).

A conjunção conforme (kaqw.j) aponta para o fato de que todo esse acontecimento,

toda a experiência dos discípulos que os levou a proclamação do Evangelho, encontra-se sob

o controle do Espírito (to. pneu/ma), que no nominativo expressa o sujeito da oração, e

encontra-se acompanhado pelo verbo no imperfeito (evdi,dou), que por estar no modo

indicativo, que expressa uma certeza, encontra-se na voz ativa, demonstrando uma ação

praticada pelo sujeito. A ação do imperfeito é caracterizada por ser uma ação incompleta no

passado. Desta forma, Lucas deixa claro que os discípulos só puderam falar em línguas por

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causa da vontade do Espírito, que a cada momento, de forma contínua e anterior aos

discípulos falarem.

O verbo infinitivo (avpofqe,ggesqai), é um verbo depoente, o qual mesmo tendo suas

terminações na voz média ou passiva, possui, porém a idéia e a tradução no ativo e aponta

para um propósito, o qual encontra-se subordinado ao verbo imperfeito e mostra também uma

ação em andamento, por encontrar-se no presente demonstra uma ação em andamento, que

segundo Lucas mostra é algo que só acontece após a permissão do Espírito. Lucas utiliza o

pronome pessoal (auvtoi/j), no dativo, que expressa a idéia de objeto indireto e complementa a

idéia que estes encontram-se subordinados à vontade do Espírito Santo.

É interessante notar que Lucas faz recurso na sua narrativa em Atos 2.1-4, mediante

uso de duas formas verbais, uma que traz a idéia de uma ação completa expressando que a

experiência que aconteceu com os discípulos é única e exclusiva naquele momento, e,

subordinado a tais verbos encontram-se outros que expressam a idéia de uma ação em

andamento, sendo assim nos demais trechos de Atos com referência a descida do Espírito

Santo At 8.17 ( verbo no imperfeito); At 10.44 (verbo aoristo); At 19.6 (verbo aoristo). Uma

coisa que chama a atenção é que a experiência dos discípulos é proporcionada pelo Espírito

que é a evidência para o testemunho de forma ousada diante dos povos, e isso de forma

passiva (At 4.8,31; 9.17). Um fato que deve ser destacado é que Pedro em Atos 2.14-36,

explica tudo aquilo que a multidão presenciou em Atos 2.5-13, apontando de forma clara o

que Deus promete em Joel 2.28-32, o qual é reafirmado por João Batista (Mt 3.10ss; Lc 3.9ss)

e por Jesus em Atos 1.5,8.

2. SÍNTESE TEOLÓGICA:

2.1 – Panorama da passagem:

Lucas em Atos 2.1-4, diz que os discípulos estavam reunidos em Jerusalém no final do

dia de Pentecostes, onde em determinado momento um som que veio do céu foi ouvido por

eles, onde tal som encheu a casa onde estavam reunidos. Lucas em seguida, narra que eles

viram que línguas como de fogo que foram distribuídas e desceram sobre eles, onde eles

ficaram cheios do Espírito, e passaram a testemunhar falando em outras línguas de acordo

com a vontade do Espírito Santo.

2.2 – Argumento do autor na passagem:

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Lucas mostra neste trecho que a promessa feita por Deus em Joel 2.28-32; e

reafirmada por João Batista em Mt 3.10ss; Lc 3.9ss; e por Jesus em Atos 1.5,8, se cumpria,

tendo como marco histórico para tal cumprimento o dia de Pentecostes, onde Lucas descreve

que nesse dia os discípulos estavam reunidos (v.1); quando ouviram vindo do céu um som que

encheu a casa em que estavam (v.2); e, em seguida, é visto sendo distribuídas línguas

comparadas ao fogo que desce sobre cada um ali (v.3), onde todos cheios do Espírito passam

a falar em outras línguas, de acordo com a vontade do Espírito Santo (v.4).

2.3 – Teologia da Passagem:

Há dois pontos que são apresentados neste pequeno trecho da Teologia Sistemática:

� Pneumatologia:

Lucas deixa claro que todo o acontecimento ocorrido em Atos 2.1-4, só foi concreto

por meio da vontade do Espírito Santo, porque Ele é a fonte de toda e experiência que os

discípulos tiveram, como também Aquele que pode capacitar o crente para que testemunhe

com coragem à respeito do Reino de Deus. E que o Espírito Santo que é prometido nos

profetas e evangelhos tem o seu marco de manifestação sobre os discípulos à partir desta

parte. Onde esta parte da sistemática é o carro chefe de Atos.

� Cristologia:

Conforme apresenta João Batista, Cristo é aquele que batiza com Espírito e com fogo

(Mt 3.10ss; Lc 3.9ss); dessa forma fica claro que Cristo é aquele que batiza os crentes com o

Espírito e com fogo, segundo também se encontra em Atos 1.5, e 2.14-36.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Lucas é o autor de Atos, tendo como evidência o testemunho dos pais da igreja. Seu

destinatário principal é um aristocrata cristão chamado Teófilo, de quem se sabe quase nada.

A composição de Atos foi em um período extensivo de tempo, tendo sido concluída no ano 64

d.C., onde provavelmente Lucas tenha começado a compor na Antioquia (provavelmente sua

terra natal) e concluído na cidade de Roma. O propósito primordial de Atos seja descrever

“tudo o que Jesus continua a fazer”, para a edificação dos crentes, sob uma circunstância em

que o cristianismo estava se expandindo no mundo gentílico, onde os judeus estavam se auto-

excluíndo.

Uma outra circunstância é a desconfiança do império romano para com as religiões

orientais, pois eles tinham medo de que prejudicasse os cidadãos. Os personagens de Atos

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2.1-4 são o grupo (que contava com os 120), onde estava presente Pedro, que era um galileu

pescador, que nos evangelhos se relata que negou a Cristo 3 vezes, que em Atos é uma pessoa

totalmente diferente. O autor, Lucas, é natural provavelmente da Antioquia da Síria e recebera

uma educação greco-judaica, por ser gentio e ao mesmo tempo prosélito; possuía uma

linguagem requintada e uma capacidade intelectual invejável. Era costume algum autor

dedicar a sua obra a uma outra pessoa, no caso, Lucas dedicou a Teófilo, que era

provavelmente um prosélito, e que estava desejoso em saber da verdade, sendo um

patrocinador de Lucas para compor o evangelho e Atos.

Na questão literária, Atos 2.1-4 forma uma unidade, ao ser analisada mediante os

contextos anterior, posterior como também na sintaxe e estilo. As fontes utilizadas por Lucas

para compor Atos são as suas narrativas de viagem (à partir de Atos 16), bem como outros

documentos os quais não são possíveis descrever com detalhes quais eram. O título

apropriado para a obra é “Atos”, pelo motivo de que os manuscritos que contém Atos e são

com um alto índice confiáveis, por serem bem antigos. Sobre o gênero, Atos é uma narrativa,

que é uma história relatada com o objetivo de transmitir uma mensagem por meio de pessoas

e de seus problemas e circunstâncias. Podendo ser apresentada em seis tipos: o heróico, o

épico e o polêmico. Na passagem de Atos 2.1-4, é uma narrativa épica, pois ela mostra uma

seqüência de episódios que está centralizado em um grupo de pessoas.

Na teologia do texto, é evidente a intenção de Lucas em mostrar que o acontecido em

Atos 2.1-4, é o cumprimento da promessa do Deus da Aliança feita em Joel 2.28-32; a qual

João a reafirma nos Evangelhos e Jesus diz em Atos aos discípulos. Fica evidente que ali os

apóstolos tiveram uma grande experiência concedida pelo Espírito Santo, que demonstra ser

como um pré-requisito para que os crentes em Cristo possam com coragem testemunhar aos

povos. Entretanto, uma coisa que deve ficar clara é que isso não significa que seja que todos

devem falar em línguas para poder testemunhar, mas que devem sim estarem cheios do

Espírito Santo, porque a experiência que os discípulos tiveram em Pentecostes é única e

exclusiva, onde se nota que em outros trechos de Atos em que outras pessoas recebem o

Espírito Santo denotam situações, momentos e pessoas diferentes, no qual os acontecimentos

são diferentes.

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