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Seminário: TUDO QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR Marshall Berman O autor perpassa 500 anos de história para compreender a modernidade SÉC. XVI A XVIII REVOLUÇÃO FRANCESA SÉC. XX Experimentação sem noção de público ou comunidade moderna “eu não sei o que vou amar no dia seguinte” Jean Jacques Rousseau Inconstância e possibilidades Atmosfera que dá origem à sensibilidade moderna Era revolucionária Dicotomia presente (o que se ganha e o que se perde aparece) Observa-se uma nova paisagem: diferenciada, dinâmica, desenvolvida, devastadora... Apesar de atacarem este ambiente sentem-se à vontade em meio as possibilidades A modernidade se expande ao mundo ao mesmo tempo cria fragmentações, perdendo contato com a raiz da modernidade, sua CONTRADIÇÃO está justamente na sua expansão

Seminário: TUDO QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA … Observa-se uma nova paisagem: ... Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. ... no curto espaço de uma geração, a rua,

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Seminário:

TUDO QUE É SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR

Marshall Berman

O autor perpassa 500 anos de história para compreender a modernidade

SÉC. XVI A XVIII REVOLUÇÃO

FRANCESA

SÉC. XX

Experimentação sem noção de público ou comunidade

moderna

“eu não sei o que vou amar no dia seguinte” Jean

Jacques Rousseau

Inconstância e possibilidades

Atmosfera que dá origem à

sensibilidade moderna

Era revolucionária Dicotomia presente (o que se ganha e o que se perde

aparece)

Observa-se uma nova paisagem: diferenciada, dinâmica, desenvolvida,

devastadora... Apesar de atacarem este

ambiente sentem-se à vontade em meio as

possibilidades

A modernidade se expande ao mundo ao

mesmo tempo cria fragmentações, perdendo

contato com a raiz da modernidade, sua

CONTRADIÇÃO está justamente na sua

expansão

A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, “tudo o que é sólido desmancha no ar”. Pg 14

SER MODERNO

SER MODERNO

Ser moderno, eu dizia, é experimentar a existência pessoal e social como um torvelinho, ver o mundo e a si próprio em perpétua desintegração e renovação, agitação e angústia, ambiguidade e contradição: é ser parte de um universo em que tudo o que é sólido desmancha no ar. Ser um modernista é sentir-se de alguma forma em casa em meio ao redemoinho, fazer seu o ritmo dele, movimentar-se entre suas correntes em busca de novas formas de realidade, beleza, liberdade, justiça, permitidas pelo seu fluxo ardoroso e arriscado. P. 327

O dinamismo inato da economia moderna e da cultura que nasce dessa economia aniquila tudo aquilo que cria — ambientes físicos, instituições sociais, ideias metafísicas, visões artísticas, valores morais — a fim de criar mais, de continuar infindavelmente criando o mundo de outra forma P. 272

Nova Iorque ao longo do século passado deve ser vista como ação e comunicação simbólicas:

atender às necessidades econômicas e políticas imediatas

demonstrar ao mundo todo o que os homens modernos podem realizar e como a

existência moderna pode ser imaginada e vivida. P.272

V

NA FLORESTA DOS SÍMBOLOS:

ALGUMAS NOTAS SOBRE O MODERNISMO EM NOVA IORQUE

O CARÁTER VOLÁTIL DA SOCIEDADE BURGUESA SERIA UMA DEMANDA DO CAPITALISMO?

Brasília está para a cidade radiosa assim como o plano Voison está para o Bronx

Moses estava destruindo nosso mundo e, no entanto parecia trabalhar em nome de valores que nós próprios abraçávamos. P.278

Relação com o texto de James Holston

?

?

Por fim, com o uso de novas e excitantes tecnologias, os grandes planos do New Deal dramatizaram a promessa de um futuro glorioso que mal despontava no horizonte, um novo tempo não simplesmente para os poucos privilegiados mas para o conjunto da população. P.283

1 - criar atividade econômica, fomentar o consumo e estimular o setor privado 2 - deveriam trazer milhões de desempregados de volta ao trabalho, ajudando a adquirir a paz social 3 - acelerariam, concentrariam e modernizariam as economias das regiões nas quais seriam executados 4 - ampliariam o significado do “público”, fornecendo demonstrações simbólicas de como a vida americana podia ser enriquecida não só material como espiritualmente através das obras públicas.

CONTEXTO

ECONÔMICO

crise

?

As novas formas não podiam funcionar livremente dentro da estrutura da cidade do século XIX; assim,

“é a estrutura real da cidade que precisa ser transformada”. Não há mais espaço para a rua urbana; não devemos deixá-la persistir”. Aqui, Giedion assume uma voz imperiosa em grande parte reminiscente da própria voz de Moses Moses

“pensam no futuro quando, após a execução da necessária cirurgia, a cidade artificialmente inchada for reduzida a sua dimensão natural”. P.289

MOTIVAÇÃO

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BROOKLYN-QUEENS EXPRESSWAY

BRONX Cerca de 60 mil pessoas foram expulsas

COMO FAZER...

EVOCAÇÃO DA GRANDEZA DAS FORMAS URBANAS p. 279

http://tclf.org/sites/default/files/microsites/landscape-patronage/images/jones-beach/aerial-1939.jpg

http://www.nyc-architecture.com/BKN/long.span.jpg

DUAS FACES DE MOSES Pg 291

Nova Iorque nos anos 20 e 30 serviram de ensaio para a reconstrução infinitamente maior de toda a tessitura dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. As forças motrizes dessa reconstrução foram o multibilionário Programa Rodoviário Federal e as vastas iniciativas habitacionais da Administração Federal de Habitação.

força vital era o automóvel

Milhares de áreas urbanas foram eliminadas por essa nova ordem; P.290

Três décadas de maciço investimento na construção de

rodovias e na suburbanização promovida pelo FHA

(Federal Housing Administration)

Em si própria, essa ausência pode ser tomada como aprova mais notável da pobreza espiritual do ambiente do novo pós-guerra. Ironicamente, essa pobreza pode ter efetivamente alimentado o desenvolvimento do modernismo, ao forçar artistas e pensadores a recorrer a seus próprios recursos e a revelar novas profundezas do espaço interior. P.292

A GUERRA DISTANCIOU OS ARTISTAS E INTELECTUAIS DOS IDEAIS MODERNOS (DESAPONTAMENTO)? DAÍ A SEPARAÇÃO DO AMBIENTE MODERNIZADO E O ESPÍRITO MODERNO?

pós-guerra

A cisão entre o espírito moderno e o ambiente modernizado foi uma fonte fundamental de angústia e reflexão no fim dos anos 50. À medida que a década se arrastava, as pessoas dotadas de imaginação tornavam-se crescentemente determinadas não só a compreender esse grande abismo, como também — por meio da arte, do pensamento e da ação — a ultrapassá-lo.

PÓS Primeira Guerra Mundial marcharam ao comando do grito de guerra de Le Corbusier:

“Precisamos matar a rua”.

Foi a sua visão moderna que triunfou na grande onda de reconstrução e retomada do desenvolvimento iniciada após a Segunda Guerra Mundial. Durante vinte anos, as ruas foram por toda a parte, na melhor das hipóteses, passivamente abandonadas e com freqüência (como no Bronx) ativamente destruídas. O dinheiro e a energia foram canalizados para as novas autoestradas e para o vasto sistema de parques industriais, shopping-centers e cidades-dormitório que as rodovias estavam inaugurando. Ironicamente, então, no curto espaço de uma geração, a rua, que sempre servira à expressão da modernidade dinâmica e progressista, passava agora a simbolizar tudo o que havia de encardido, desordenado, apático, estagnado, gasto e obsoleto— tudo aquilo que o dinamismo e o progresso da modernidade deviam deixar para trás 299

Portanto, não tínhamos como resistir às engrenagens que moviam o sonho americano, porque nós também éramos movidos por elas — ainda que soubéssemos que podiam romper-nos. Durante todas as décadas do boom do pós-guerra, a desesperada energia dessa visão, a frenética pressão econômica e física de ascensão e mudança, destruíra centenas de bairros como o Bronx, mesmo aqueles onde não havia um Moisés

A Década de 60: Um Grito na Rua

O mundo da via expressa, o meio ambiente moderno que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, atingiria o pináculo de poder e autoconfiança nos anos 60

Uma das tarefas cruciais para os modernistas dos anos 60 era enfrentar o mundo da via expressa; outra era mostrar que este não constituía o único mundo moderno possível, que havia outras e melhores direções para as quais o espírito moderno podia se voltar.

Mas esse projeto não podia ir muito longe, a menos que os novos modernistas pudessem gerar visões afirmativas de vidas modernas alternativas. P.296

Logo eles iriam encontrar esse algo mais, uma fonte de vida, energia e afirmação que era tão moderna quanto o mundo da via expressa, contudo radicalmente oposta às formas e movimentos daquele mundo. Iriam encontrá-lo num local onde

bem poucos dos modernistas da década de 50 teriam sonhado procurar: na vida cotidiana da rua.

eles precisavam oferecer alguma coisa a mais.

OU

Jane Jacobs, Morte e

Vida das Grandes Cidades Norte-americanas.

Sua mensagem era que muito do significado que os homens e as mulheres modernos buscavam desesperados encontrava-se, de fato, surpreendentemente próximo de suas casas, perto da superfície e nas imediações de suas vidas: estava bem ali, bastando que soubéssemos procurar. P. 297

A rua e a família de Jacobs constituem microcosmos de toda a plenitude e diversidade do mundo moderno em seu conjunto ela insiste, por exemplo, em que num bairro vibrante, com uma mistura de lojas e residências, constante atividade nas calçadas, fácil vigilância das ruas 307

Sob a aparente desordem da velha cidade encontra-se uma ordem maravilhosa que mantém a segurança das ruas e a liberdade da cidade. É uma ordem complexa. Sua essência é a complexidade do uso da calçada, que traz consigo uma sucessão constante de olhares. JACOBS 196? P 300

Sua gargalhada carregava toda a confiança fácil de nossa cultura oficial, a fé cívica em que os Estados Unidos suplantariam suas contradições internas simplesmente se afastando delas.

auxiliar outras pessoas e outros povos — negros, hispânicos, brancos pobres, vietnamitas — a lutar por seus lares, ao mesmo tempo em que fugíamos dos nossos. 310

Assim se passaram os anos 60, o mundo da via expressa funcionando em uma expansão e crescimento ainda mais gigantescos, mas vendo-se atacado por uma multidão de gritos apaixonados vindos da rua, gritos coletivos que podiam se tornar um grito coletivo, irrompendo através do coração do tráfego, obrigando as máquinas imensas a parar, ou pelo menos a refrear radicalmente seu ritmo. 311

CONTRADIÇÃO NO AUTOR

A Década de 70: Trazer Tudo de Volta ao Lar

sociedades modernas da década de 70

Os modernos da década de 70 não podiam se permitir a aniquilação do passado e do presente com o intuito de criar um novo mundo eles tiveram de chegar a um acordo com o mundo que tinham e trabalhar a partir daí. 314

dinamismo da economia e da tecnologia modernas pareciam ter entrado em colapso. Num momento em que a sociedade moderna parecia ter perdido a capacidade de criar um

admirável futuro novo, o modernismo encontrava-se sob intensa pressão para descobrir novas fontes de vida por meio de encontros criativos com o passado.

símbolo

APÓS Primeira Guerra Mundial

APÓS Segunda Guerra Mundial

o sinal verde

“da livre movimentação em todas as direções”315

o sistema federal de rodovias

“movimento para frente”

reduzida mobilidade

?

A economia moderna provavelmente continuará em expansão, embora talvez em novas direções, adaptando-se às crises crônicas de energia e do meio ambiente que o seu sucesso criou. As adaptações futuras exigirão grandes turbulências sociais e políticas; mas a modernização sempre sobreviveu em meio a problemas, em uma atmosfera de “incerteza e agitação constantes” p.329

O processo de modernização, ao mesmo tempo que nos explora e nos atormenta, nos impele a apreender e a enfrentar o mundo que a

modernização constrói e a lutar por torná-lo o nosso mundo. Creio que nós e aqueles que virão depois de nós continuarão lutando para fazer com

que nos sintamos em casa neste mundo, mesmo que os lares que construímos, a rua moderna, o espírito moderno continuem a

desmanchar no ar. p.329

Quando terminará o modernismo e o que vem em seguida?

Arq. Arlis Buhl Peres Disciplina: Planejamento Regional e Urbano

Prof. Elson Manoel Pereira Sem. 2014-1

Referência:

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo, Cia das Letras, 1986