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Brasília, de 31 de agosto a 6 de setembro de 1987 - N9 14
Natureza:o futuro
ameaçadoPara a felicidade das
novas gerações, oBrasil começa ase voltar para apreservação do
meio ambiente. Masainda falta muito
para que cessem asagressões às matas,
aos rios e a todoo nosso patrimônionatural. A crueza
da realidade e o quese espera da leisão temas daspáginas 8 e 9.
Quem manda.e como, eis amaior questão
Parlamentarismo ou presidencialismo? A questãofoi colocada a quatro constituintes, na mesa-redondapromovida pelo Jornal daConstituinte. E o que se viufoi um apaixonante debateentre duas correntes de opinião, cada uma com argumentos múltiplos e válidos.Para uns, o parlamentarismo é a solução inevitávelpara a estabilidade do País,enquanto outros argumentam que o presidencialismoé viável e corresponde melhor à nossa realidade. (Páginas 4 a 7).
Emendas dopovo mostram
~ . .vanos anseiosA tentativa de mudar o
quadro de carência e pobreza em que vivem milhões decrianças brasileiras é a síntese de uma emenda que alcançou grande repercursão,tanto na sociedade como noâmbito da Constituinte. Assim também a que trata daquestão indígena, numatentativa de impedir qual9uer separação no binômio, índio-terra". Também aampliação dos direitos dostrabalhadores foi tema quemovimentou grande número de entidades de classe emtodo o País, resultando empropostas de caráter progressista. (Páginas 10, 11 e12)
Volume354
(Página 3).
-ADIRPIRobeno Stuckert
Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte
Sempre hátempo para
•negociar
A primeira emenda popular defendida da tribuna foi sobre direitos da mutner., Moema vtezzer, autora do livro "Se me deixam falar!" falou.
Pronto o segundo projeto de Constituição, ousubstitutivo, constatam-se evoluções: o texto está-menor, com a eliminação de 122 artigos, mais coerente,e aponta caminhos para o entendimento. Várias questões polêmicas encontram-se preeguacionadas, entreelas a da reforma agrária, da definição de empresanacional e da anistia a militares cassados. Todos ostemas, inclusive esses, podem sofrer modificações noprocesso contínuo de negociação que teve início comas subcomissões, onde a sociedade foi ouvida e passoupor diversas etapas, que incluíram a formação de grupos suprapartidários e a recepção de emendas populares.
O último texto do relator Bernardo Cabral estásendo debatido em todos os espaços, neste instante:pela sociedade civil, pelos militares e, principalmente,pelos constituintes, os responsáveis maiores pela elaboração da Carta. Para negociar há sempre tempo.Um minuto ou um segundo antes de cada constituintepronunciar seu voto, na Sistematização ou no plenário, ainda será possível buscar o entendimento maior. Ulysses destaca a importância do segundo esboço da Carta
.ADIRPIReyn.ldo Stavale
Os minérios são nossos!Auditoria dadívida externa
Auditoria da dívida externa fOIuma das bandeiras empunhada pelo PMDB ao longo aos difíceisanos da resistência democrática,juntamente com temas como eleições diretas dos governadores, autonomia das capitais e dos municípios considerados área de segurança nacional, anista ampla e irrestrita e as diretas para presidenteda República.
O endividamento brasileiro esteve sempre envolto no mais nebuloso mistério, no tocante à formacom que as operações eram celebradas no exterior e quanto à destinação dos recursos obtidos. DeUS$ 2 bilhões no governo CastelloBranco, o montante da dívida chegou a US$ 108bilhões no final dogoverno Figueiredo. Nesse período o Brasil transferiu cerca de 50bilhões de dólares somente a títulode pagamento do serviço da dívida(juros e spread), numa sangria brutal em sua economia interna.
Por sua profunda repercussãosocial e econômica, demos ênfaseà questão da dívida externa. Elaboramos proposta de uma auditoria, ampla e circunstanciada, a serlevada a termo pelo Tribunal deContas da União, dentro de umprazo máximo de um ano, a contarda promulgação da nova Carta. Ainvestigação do TCU recairia sobre todas as operações havidas emmoeda estrangeira pela administração direta e indireta, federal, estadual e municipal, bem comoaquelas realizadas com o aval dopoder público por entidades do setor privado.
Infelizmente o texto do art. 470,do projeto de Constituição, queabsorveu nossa proposta, não o fezpor inteiro, deixando de lado aanálise dos negócios praticados porempresas privadas mediante avalou fiança dos poderes públicos, oque nos levou a oferecer emendade plenário para restaurar a jntegridade de nossa iniciativa. E devital importância que a auditoriatenha ampla abrangência, tendoem vista que é extensa a lista deoperações colocadas sob suspeitade grave~ irregularidades pelos governos ditatoriais.
Em recente discurso, da tribunada Assembléia Nacional Constituinte, denunciamos o caso da binacional Itaipu, que adquiriu duasgigantescas usinas moedoras de cimento, através de consórcio internacional e, embora praticamenteconcluída a hidrelétnca, até hojeesse equipamento não moeu umasó saca de cimento, muito emboraa sociedade brasileira esteja pagando o seu elevado custo, juntamente com o de obras faraônicase projetos de duvidosa utilidadepara o país.
Constituinte Sérgio Spada(PMDB-PR)
Com os pésno futuro
Quando o relator BernardoCabral entregou ao PresidenteUlysses Guimarães, na tardedo último dia 26, o projeto deconstituição, uma nova etapado processo constituinte estavasendo inaugurada. A Nação inteira põe os pés no territóriodo futuro. A nova Carta Magna começa a ganhar seu definitivo conteúdo, sujeita, todavia,a correções e mudanças atravésdo tempestuoso processo devotação no âmbito do plenário.O projeto da Comissão de Sistematízação é frsto de um longo amadurecimento. Mais de380discursos sobre temas constitucionais, pronunciados aolongo de 214 horas e 30 minutos; 37.961 emendasno período das comissões temãticas emais 20.791 emendas na fasede emendas de plenário. Tudoisso exprime o tumulto criativodas idéias-e o talento legislativodos constituintes brasileiros.Mas tudo isso seria falso e destituído da grandeza moral e política que só a liberdade participativa da coletividade nacionalconfere, se no âmbito da Constituinte não ingressasse o movimento do povo, através dascentenas de audiências públicas, da visitação incessante dasdelegações populares que elevou para mais de 5.000 pessoasa média de ingresso do públiconas dependências do Congresso Nacionale das emendas populares - 122 entregues à Comissão de Sistematização que trouxeram ao exame daAssembléia as aspirações maiscandentes das ruas.
Nesta edição do Jornal daConstituinte incluímos o Projeto de Constituição e o debatede muitos temas constitucionais, entre os quais destacamosa polêmica que se difunde e seaprofunda em torno do sistemade governo: parlamentarismo epresidencialismo.
Constituinte Marcelo Cordeirolo-Secretário da ANC
A nação assiste estarrecida o desenvolver dos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte. E surpreendente que, após superadostantos obstáculos, corra-se o riscode se perder excepcional oportunidade de avançar política, institucional, econômica e socialmenteemdíreção a~ tipo de s?~iedade
mais Justa e mais democrática.Os grupos políticos (partidos
não existem mais) se engalfinhamassustadoramente, procurando, aoseu modo e estilo, impor a suaConstituição e não a Constituiçãodos brasileiros, Constituição essaque deveria ser calcada em princípios e objetivos que realmente expressassem o consenso nacional.
O geral cedeu ao particular. Asíntese cedeu à prosa. Os princípios cederam à radicalização.
Esperta e habilmente, setoresbem identificados, aproveitandoesse quadro equivocado, conduziram o debate para o camyo da livreiniciativa e da estatizaçao, quandodeveria se travar entre o nacionalismo e o entreguismo. Claro quenão o nacionalismo piegas ou exacerbado mas aquele que as defenderiquezas e os bens de todos os brasileiros. Já houve até propostas para a suspensão dos trabalhos daConstituinte, como se todos fossemos inocentes para não percebera manobra golpista embutida emtal iniciativa.
A Constituinte é uma assembléia que envolve a todos nós, masque nao é a derradeira solução para o país. Temos UJIl longo caminho a percorrer. Agora, a formacomo os assuntos e os debates vêmsendo colocados, se nos pareceequivocado, posto que espelha visoes particulares e sectárias, alimentadas diuturnamente por umlobismo desenvolto, competente edeterminado quanto aos seus objetivos antinacionais. E não é umasolução em si porque a crise queatravessamos não é apenas de ordem social e econômica. É acimade tudo de ordem moral, e em todos os escalões da nova República,em todos os setores. É preciso quese insista na correção dos métodosde trabalho e nas práticas políticas,evitando-se maiores danos à sociedade nacional.
No campo social avançou-secom zelo e patriotismo. Já no campo econômico, pela simples leituraao Texto Maior, percebe-se a totalentrega do nosso subsolo às empresas transnacionais. Nossas riquezasminerais permanecerão, comoagora, à mercê dos interesses estrangeiros.
E ninguém diz nada, a não seralgumas honrosas exceções.
Doze por cento do nosso território já está entregue a essas corporações e a bancos estrangeiros,os quais, além de em nada teremcontribuído para o esforço de recuperação econômica do Brasil, através de alvarás e concessões de pesquisa e exploração, aumentam seupatrimônio e seus lucros, enquantoesgotam nossas reservas e o 'povovive na miséria e no analfabetismo,na subnutrição e na doença, semter chance de acesso a melhorescondições de vida.
atenção ao setor mineral e defendermos os interesses do Brasil, inquestíonavelmente nos mesmos financiaríamos nosso progresso e nossos programas SOCiais. Os investimentos externos seriam aplicadosnos setores que nos decidiríamos,Rara nossa autonomia e índependência, sem comprometer as gerações futuras
E se todos sabemos disso, quaisas causas do terrível equívoco daAssembléia Nacional Constituinte? Porque .até agora não se acautelou nao se conscientizou sobreo perigo que o Brasil enfrenta emver sacramentado no texto Constitucional a entrega total do nossosolo, subsolo e riquezas, e porqueestão preocupados com interessesmenores Cabe a n6s, também responsáveis pela nova Constituiçãoalertá-los, como vêm fazendo importantes segmentos da sociedade,dentre eles a pr6pria imprensa.
Pelo anteprojeto constitucional,os índios podem garimpar mas ogarimpeiro não. Ora, os garimpeiros são milhares e a ninguém maisé lícito que a nós, constituintes, reservar-lhes uma área para seu trabalho, pois eles são sustentáculosdo nosso setor produtivo mineral.Quem tem dúvidas?
Ficamos a imaginar sobre osreais motivos porque o empresariado nacional também silencia naquestão mineral. Como silentes estão importantes líderes que se diziam em passado recente desassombrados nacionalistas.
E esses'partidos ou grupos políticos que ai estão, por que não assumem nitidamente posições nacionalistas de defesa dos interesses doBrasil, se sabem que é através deum processo de valorização do queé nosso que chega à real independência econômica e social?
O equívoco na Assembléia Nacional Constituinte é de tal ordemque ninguém mais pode ficar àmargem, silencioso, sob pena deconivência. O PMDB - maiorpartido na Constituinte - acaboude discutir na sua convenção temasjulgados por ele de grande importância, omitindo-se de interligarpolítica mineral à política econômica, como se esses não estivesseminterligados ao nosso endividamento externo, onde o capitalismoselvagem covardemente é detentordo sangue e da alma do país.
Quem não sabe que o FMImanipula, através desses fantasmas poderosos, e não deixa que se discutapolítica mineral com seriedade naAssembléia Nacional Constituinte!
Cremos que chegou a hora dese discutir o essencial para o Brasil,o fundamental para o futuro de gerações inteiras.
Quem não souber defender anossa terra, nossas riquezas, nossagente,qeve saber que enveredapelos pengosos caminhos do entreguismo, onde gerações futuras passarão, a partir de agora, a ter seufuturo comprometido pelo quadrodoloroso atual.
Constituinte Raquel Cândido(PFL-RO)
Jornal da Constituinte - Veículo semanal editado sob a responsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia Nacional Constituinte.MESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE:
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Diretor Responsável - Constituinte Marcelo CordeiroEditores - Alfredo Obliziner e Manoel V. de MagalhãesCoordenador - Daniel Machado da Costa e SilvaSecretário de Redação - Ronaldo Paixão RibeiroSecretário de Redação Adjunto - Paulo Domingos R. NevesChefe de Redaçio - Osvaldo Vaz MorgadoChefe de Reportagem - Victor Eduardo Barrie KnappChefe de FotografIa - Dalton Eduardo Dalla CostaDiagramação - Leônidas GonçalvesDustração ---;Gaetano RéSecretário Gritlco - Eduardo Augusto Lopes
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Redação: CÃMARA DOS DEPUTADOS - ADIRP- 070160 - Brasília - DF - Fone: 224-1569- Distribuição gratuita
.2 Jornal da.C.onstituinte
UMA LEMBRANÇA
paternalista com que muitas mulheres viam a aposentadoria, que,afinal de contas, representa umadigna reivindicação de mulheresque não querem viver de caridade,como acontece com as donas-decasa de baixa renda".
mulher
Sobre as palestras que ministrou, Lúcia lembra de um momento especial. Em um desses encontros com donas-de-casa, uma velhinha se levantou e contou a dificuldade que tinha enfrentado paracriar seus 13 filhos, e que chegavaao final da vida, depois de tudo,sem possuir nada. "Naquele momento, eu tive muita vontade dechorar, pois sabia que essa é a condição da grande maioria das donas-de-casa de baixa renda."
Essa lembrança motivou umponto em particular de seu pronunciamento na Comissão de Sistematização. "Já nos estudosconstitucionais, o senador AfonsoArinos se preocupava com a situa-
Ainda uma vez a questão da ção da dona-de-casa. Nada maismulher.voltou a debate na reunião injusto do 'l,ue, depois de ter dadoda Comissão de Sistematização, toda uma VIda de trabalho de inatravés de Lúcia Pacífico Homem, fra-estrutura familiar, a mulherpresidente das Entidades de Do- chegue à velhice e não tenha onas-de-Casa de Minas Gerais, que apoio da Lei da Previdência Socialafirmou estar representando as para a sua aposentadoria, direitodonas-de-casa de todo o país. "E este dado a todo o cidadão brasiquando trouxemos a proposta de leiro."que a dona-de-casa tivesse acesso A defesa de teses populares peà lei da Previdência Social, nada los próprios interessados reabriumais fizemos do que reer~s6ntar o canal de comunicação direto en70% da população brasileira em tre a Assembléia Nacional Constiidade entre 12e 65 anos. Portanto, tunte e a sociedade brasileira, querecolhemos assinaturas desde o muitos julgavam fechado a partirdia 8 de abril, numa campanha dos debates das subcomissões. Enque se estendeu a nível de todo tretanto, a Constituinte volta-seo Brasil", acentuou a representan- para a população em busca de umate. carta que seja o resultado de aspi-
Lúcia Pacífico Homem lembrou rações populares, justamente paraque manteve um longo contato que seja mais duradoura. A provacom diversos constituintes, fato da importância foi sentida pelaque a faz supor que a iniciativa presença no primeiro dia de debaporular, que teve um total de 210 tes de nomes como o do líder domi assinaturas, deve encontrar Governo, CarlosSant'Anna, dolí~co!h!dae ingressar na nova Cons- ,der do PMDB na Constituinte,títuição brasíleira como uma Justa Máno Covas, ou do líder doreivindicação. A mobilização em- 'PMDB no Senado, Fernandobusca de todo esse apoio popular I Henrique Cardoso entre outros lífoi resultado, segundo contou Lú- deres. A conquista dos parlamencia, de um trabalho que chegou tares agora poderá ser sentidaa fazer com que ela proferisse na- através do voto, primeiramente nada menos que 40 palestras durante Comissão de SIstematização, e,todo o mês de julho passado. "Era posteriormente, no Plenário dapreciso, disse ela, tirar o caráter Constituinte.
"Nada maisinjusto do
que, depoisde ter dado
toda uma vidaao trabalho,
a mulher donade-casa chegueà velhice semapoio da lei
para seaposentar' ,
diminuída perante a maioria dopovo brasileiro."
CNBB OPIN.AOutra opinião contrária ao
aborto foi a de Dom Benedito deUlhoa Vieira, arcebispo de Uberaba, que tinha como expectadores ilustres, Dom Ivo Lorscheidere o presidente da CNBB, DomLuciano Mendes. A proposta deemenda apresentada pelo arcebispo considera que "a lei deve garantir a preservação da vida de cada pessoa desde a concepção, emtodas as fases da sua existência,não se admitindo a prática doaborto deliberado, da eutanásia eda tortura". Essa posição, assimcomo de outros pontos da iniciativa da CNBB conta, como ressaltou Dom Benedito de Ulhoa Vieira, com a assinatura de 515.820eleitores. "Poucos dos senhores
vezes acabam nos hospitais públicos para tratar das complicações,chegando mesmo a morte".
OPOSIÇÃOA posição defendida por Maria
Amélia de Abtlleida Teles não foiunânime; Flti.lcisco Massá Filho,representante de 79 irmandades,ordens terceiras e confrarias ligadas à Arquidiocese do Rio de Janeiro, por exemplo, entende 'l,ueo direito ao aborto é uma COIsaque não deve figurar na nossaConstituição; que não se deve admitir a prática do aborto deliberado, porque, na verdade, o quesignifica essa atitude é simplesmente retirar de um ser indefesoo direito de viver. Aprovar o direito ao aborto é negar o direito àvida. Aliás, acredito que no diaem que uma Constituição inseriresse tema como válido, ela estará
APOSENTADORIA
campanha de desgaste da Assembléia Nacional. Mesmo tecendoessas considerações, esse momento para Moema São Thiago representa "a oportunidade de as pessoas exercitarem a democracia ede defenderem idéias que tenhamrepresentatividade dentro da sociedade."
O segundo orador a ocupar atribuna não era um estranho àsnormas parlamentares. O constituinte Del Bosco Amaral defendeu uma diferenciação no tempode aposentadoria da mulher. Aocontrário do que está na propostaconstitucional - que estipula 35anos de trabalho - ou do textoem vigor - que assegura a al?osentadoria aos 30 anos de serviço- Del Bosco Amaral defendeu aaposentadoria da mulher aos 25anos. Na opinião do parlamentar,a mulher é submetida a uma duplajornada de trabalho e, por essemotivo, deve ter na nova Constituição um mecanismo que lhe assegure um período mais breve deserviço para acabar com o quequalificou de "esmagadas por umregime de trabalho no emprego,e por um sistema de serviço quaseescravo no próprio lar."
ABORTOEm seguida, ocupou a tribuna
Maria Amélia de Almeida Telesque defendeu a emenda sobre areivindicação de assistência integral à saúde da mulher e do direitoCIo abortamento, que é considerado pela legislação brasileiraatual como cnme.
Na defesa de sua proposta, Maria Amélia levantou uma série dedados sobre a questão da saúdeda mulher e a atenção que vemmerecendo atualmente por partedo governo brasileiro. O dadomais aterrador, na opinião de muitos parlamentares presentes, foi ode que o aborto ocupa hoje oquarto lugar entre as causas demorte entre mulheres. "Milharesde mulheres recorrem ao abortomesmo clandestino. Quem' podepagar até 60 mil cruzados recebeatendimento de luxo, com material descartável e remédios numadas muitas clínicasparticulares dasgrandes cidades. Mas a maioria fica mesmo entregue a aborteirossem perícia ou assepsia, e muitas
Expectativa. Este era o sentimento que tomava conta da Assembléia Nacional Constituinte nanoite da última quinta-feira. Emprimeiro lugar, o relator da Comissão de Sistematização, constituinte Bernardo Cabral, fez a entrega do substitutivo ao Presidenteda Assembléia, Ulysses Guimarães. Enquanto isso, no plenárioda própria Comissão de Sistematização, a sociedade era chamadanovamente a participar da elaboração e discussão do texto da novaConstituição do país.
O plenário da Assembléia Nacional Constituinte acostumado atantos debates foi tomado, na última quinta-feira, pelas emendaspopulares. Na tribuna, ao invés deparlamentares, cinco representantes de emendas populares usarama palavra durante 20 minutos paradefender suas propostas diantedos intregrantes da Sistematização.
Moema Yiezzer, autora de "Se me i.teixam}alar!", sobreas condições de trabalho nasminas bolivianas, dá o recado ãasmulheres na ConstitWrie.
Defesa dos direitos daconstituintes atuais terão conseguido, na eleição última, igualoumaior número de votos do que essa proposta", advertiu o arcebispo.
Mas a iniciativa da CNBB nãose ateve apenas à questão do aborto. Pela proposta, afirmou DomBenedito Ulhoa, "defendemosque a família se constitui pelo casamento indissolúvel e reivindicamos o direito das garantias do Estado para a família assim legalmente constituída, como tambémpara as uniões estáveis, mesmoque não legalmente constituídas.Que as crianças não sofram discriminações por não serem seus paislegalmente unidos pela lei civil".
Finalmente, no ponto de número três, a iniciativa é a que pedeum amparo efetivo ao menor. Senão derem condições' reais decrescimento à criança brasileira,em todos os campos, estaremoscavando a desgraça de nosso país.A dramática morte de Pixote é umalerta para todos nós.
DONA-DE-CASA
TEMA MULHERA mulher foi o tema dominante
dessa primeira sessão de discussãodas emendas populares. A e~sição inicial foi de Moema Viezzer, coordenadora da Rede Mulher, entidade de nível nacionalque defendeu a emenda referenteaos direitos da mulher.
Moema Viezzer consideroumuito importante o debate destetema com a participação popular,mas frisou que o seu pronunciamento na Constituinte é apenaso primeiro passo, pois a igualdadeprecisa ser ratificada também nalegislação complementar. E disselevar a certeza de que "não podemos ficar à margem do&rocessode elaboração da nova onstítuição".
UM ENCONTRO
A luta de Moema Viezzer encontra apoio em todas as constituintes, inclusíve na Moema parlamentar. A constituinte MoemaSão Thiago, do PDT do Ceará,considerou importante essa fasedos trabalhos, "apesar do jogo deforças conservadoras presentes naConstituinte". Para a Constituinte, as quinze milhões de assinaturas obtidas para todos os projetos de emenda popular encontraram uma grande dificuldade nosmeios de comunicação, que desenvolveram, em sua maioria, uma
Jornal da Constituinte 3
ta um dado a mais em favor do presidencialismo,ao vislumbrar este sistema como único capaz depermitir algum acesso ao poder à grande massade despossuídos.
Sob a coordenação do Primeiro-Secretário daANC, Deputado Marcelo Cordeiro (PMDB-BA),os debatedores avaliaram também o processo constituinte, o Projeto de Constituição e sua relaçãocom a realidade nacional.
A palavra consenso representa uma esperançapara quase todos. Com ele poderá haver uma Cartasem vencidos ou vencedores. Caso contrário, aConstituição "sucumbirá na primeira esquina daHistória", como afirma com realismo o SenadorJosé Fogaça.
Além do sistema de Governo, foram apontadas algumas reformas fundamentais a serem conquistadas a partir do novo texto constitucional.Três desses pontos tiveram a unanimidade dos debatedores: reforma agrária, reforma urbana e reforma educacional. Estes seriam os pontos fundamentais para o ponto de partida para a construçãode uma nova sociedade.
Do grupo mais reduzido ao grande plenário.Há um tema que sempre tornará o debate acirrado.Apaixonado, mesmo. Não resta dúvida de que esteitem do texto constitucional terá de ser definidono voto. E não há como antecipar qualquer tendência.
Foi o que ocorreu no encontro promovidopelo Jornal da Constituinte, que reuniu, coincidentemente, dois presidencialistas - o Deputado Florestan Fernandes (PT-SP) e Amaury Müller (PDTRS) - e dois parlamentaristas - Senador JoséFogaça (PMDB-RS) e o Deputado Victor Faccioni(PDS-RS).
Na mesa-redonda os debatedores esgrimiramfortes argumentos de defesa de um e outro sistemade governo. Os parlamentaristas, por exemplo,condenam o excesso de poderes que uma únicapessoa reúne no sistema presidencial. Os presidencialistas argumentam que o País ainda não temos pré-requisitos para o novo sistema, ou seja,não existem partidos fortes. Nem uma adminis-tração estável.
O Constituinte Florestan Fernandes acrescen-
I
PARTIDOS &TENDÊNCIAS::: PARTIDOS & TENDÊNCIAS ::: PARTID:
Apaixona, divide. Vai a votoMarcelo Cordeiro - Devo dizer
que iniciamos o diálogo dentro daConstituinte, que fOI através doJornal da Constituinte que se fezo primeiro encontro de liderançaspara discussões, e, daí, isso foi estimulado e desenvolveu-se. E hojealcança níveis já bastante avançados e estamos evoluindo na discussão dos problemas de uma maneira construtiva dentro do processoconstituinte. Então, este debatevisa a esta linha construtiva de juntar pessoas que possam contribuircom suas idéias, seu talento político e sua responsabilidade em face das decisões de vários problemas que somos chamados a adotarna construção de uma Constituição, de maneira que esse instrumento editorial da Constituinteseja algo vigoroso, que interfirano processo de criação constitucional.
Sugeriria que o debate começasse com a seguinte questão: como avaliam os senhores esta fasede busca de consensos, de entendimentos, de negociações, com vistas a que se escreva um texto amplamente aceito pela Assembléiae compreendido pela população,pela opinião pública do país, portanto, que seja a expressão dosinteresses gerais da nação; se issoé possível, se está sendo possívelou não é possível nem está sendopossível? Vamos examinar se hámais dissenso do que consensonesses pontos que Já são conhecidos da opinião pública e não apenas para nós, como reforma agrária, sistema de governo parlamentarista ou presidencialista, capitalestrangeiro, empresa nacional,empresa estrangeira, esses temasque já ganharam a notoriedade como temas onde se busca desesperadamente o consenso.
Victor Faccioni "7 Acredito quea Constituinte está chegando nãosó no momento decisivo, em função do cronograma estabelecido,como também no sentido da maturação do debate em tomo de temas os mais diversos e que dizemrespeito ao interesse geral da nação. As fases anteriores foram importantes como levantamento daproblemática e das colocações dosanseios dos setores os -mais variados da Nação. Agora, parte-se para a síntese. E acredito que have-
remos de chegar a um denominador comum, em tomo dos pontosmais importantes da nova CartaConstitucional. Ela deve ser resultado de um consenso, se quisermos que atenda plenamente aosanseios do povo brasileiro, que tenha durabilidade, não acabe sendo algo efêmero, expressão deapenas um momento. Não podeser a Carta Constitucional do Plano Cruzado, deve ser a CartaConstitucional da sociedade brasileira. O Plano Cruzado foi um momento da vida nacional. A sociedade brasileira tem perenidade como tal.
O mal das constituições brasileiras é que elas sempre foram oresultado da imposição de um grupo sobre outros. Se conseguirmoschegar a um denominador comume estabelecer, através do consenso, uma Carta Constitucional quediga quais são os pontos de interesse geral da Nação, então, a
Constituinte-terá valido a pena-eterá cumprido o seu objetivo. Dequalquer forma, evidentementeestamos fazendo, entre outras coisas, uma espécie de exame deconsciência da sociedade brasileira, e problemas os mais diversosvem à tona, como é o caso dosproblemas dos marajás, das disparidades de ordem salarial dentroda administração pública, comotambém no próprio setor privado,as disparidades e tremendas desigualdades no campo social entrepessoas, entre indivíduos, entresetores e entre regiões. O que aCarta Constitucional deve fazer éestabelecer o caminho para aproximar as possibilidades de todosa fim de que todos os brasileirosconsigam vislumbrar horizontespara si e para os seus. Os partidospolíticos como tal foram, num determinado momento - e estãosendo -, ultrapassados exatamente porque há pontos de inte-
/
resses comuns q,uenão se limitamao âmbito estreito de um partidopolítico. Acredito piamente quepoderemos e haveremos de chegara esse desiderato de uma novaCarta Constitucionalcapaz de sintetizar os anseios da sociedadebrasileira e viabilizar o ordenamento futuro da vida política.Dentro desse escopo, a preocupação maior, a meu ver, deve sera de fazermos a democracia, aperfeiçoando-a e consolidando-a,porque todo o resto será conseqüência do jogo democrático. Seo jogo democrático fluir livremente, sem obstáculos maiores, o Brasil que hoje efetivamente é umapotência no plano econômico acabará sendo também uma potênciano campo social. As nossas possibilidades são amplas. O que temosé que impedir que hajam novosretrocessos no campo político.
A dêmôcracia precisa fluir e,para isso, creio que a mais impor-
J
tante, a mais tundamental das mu- :danças é a do sistema de Governo- a mudança para o sistema par- :lamentarista, porque ela condiciona todas as demais mudanças; con- I
diciona a própria participação da 'sociedade brasileira, dá possibilidade de a sociedade ter uma participação permanente e não eventual apenas nas eleições. No siste- ,ma presidencialista, Raul Pila di- 'zia muito bem, o povo só é lembrado na campanha política e até 'o dia das eleições. Depois, assumeo eleito, o todo-poderoso com todos os poderes, senhor absoluto 'do mandato no tempo e no espa- :ço, sem que a sociedade possa co- ,brar-lhe, da melhor forma, não ;o cumprimento das promessas de ;campanha, mas também o próprio :desdobramento do Governo. 1
Amaury Müller - O espectropolítico e ideológico da Consti- ,tuinte não é representativo da 'vontade nacional. O processo eleí- ,
4 Jornal da Constituinte
.serãveis da terra em pequenas,médias e grandes cidades. Aomesmo tempo, vemos o processode metropolização ser sucedidopor um processo de formação demegalópoles, o que está ocorrendo em São Paulo. Nossa Constituição não foi aparelhada paraadotar uma medida sequer diantedesse problema crucial. O queacontece com a educação, que éo problema social número um doBrasil? A fome, a miséria, o desemprego, a ignorância, todos osproblemas passam por aí, por queé do nível cultural médio da população que vai depender o aparecimento e o fortalecimento de uma
.consciência social crítica em todasas classes sociais, não só entre osignorantes, os desprotegidos, osde baixo, mas também entre osde cima, que entram aqui de botae espora para defender privilégiose nao a democracia. Esta Constituição deveria acabar com essesdoisextremos. Não é possívelfalarem consenso quando os de cimase recusam a compartilhar o poder, quando os de cima se recusama'conipartilhar a educação e a cultura, e por aí afora. Portanto, estaConstituição, como disse o companheiro, não vai ser abandonadana primeira volta da história. Diria, repetindo Engels, que ela iráparar muito depressa na lata delixo da história.
Marcelo Cordeiro - Talvez pudéssemos começar a investigar esses problemas políticos todos eexaminar a medida que tem aConstituinte de sua própria autonomia e a possibilidade de reorganizar o País se começássemos falaralguma coisa a respeito do quepensam sobre o sistema de governo que a Constituinte poderá pro-
. duzir em seu texto. E é claro quedentro dessa dicotomia inabitável,presidencialismo e parlamentarismo. Naturalmente, cada um desses sistemas definidos a partir deconceitos, modelos que possamser mais ou menos puros, mas issome parece de pouca significaçãose tivermos que discutir, agora,por onde vamos mesmo: 'presidencialismo ou parlamentansmo?
José Fogaça - Esse é um debate CJ.ue, hoje, está crescendo muitono Interior da Constituinte e seráum dos temas mais polêmicos, nãosó agora, nos trabalhos da Comissão de Sistematização, mas nopróprio plenário quando o projetode Constituição for à votação. Aquestão parte de duas perspectivas: a do imediatismo do interessepolítico e a dos interesses do país,dos interesses mais permanentesda sociedade brasileira. Realmente, háconstituintes que estão legislando para o contingente, para omomento, para o seu interesse factual, para as suas necessidades políticas contingenciais. E, principalmente, aqueles que estão no podere aqueles que querem estar, imediatamente, no poder. E isso osleva, evidentemente, a tentarmanter uma estrutura concentradora, como é essa do sistema presidencialista. Vê-se, hoje, que nãosó esses políticos, que são candidatos à Presidência ou que estãona Presidência, e mais fortes econsideráveis segmentos poderosos da sociedade brasileira sãocontrários, hoje, ao parlamentarismo. E a razão parece-me muito
._simples: é evidente que, hoje, nosistema presidencialista com aconcentração absoluta de poder,é muito fácil ao presidente de umagrande cadeia nacional de supermercados levantar o telefone e falar diretamente com o Presidente
FlorestanFernandes: como
sociólogo, soulevado a pensar
que opresidencialismorepresenta umaesperança para
nós, porquepermite aosdespossuídos
contato diretocom o sistema
de poder.vos, que não permite esconder oque está se passando. Esse desfecho é melancólico, porque caracteriza o fato de que a Constituiçãonão é uma construção comum.Dentro desse processo caminhamos de forma paralela e não cooperativa. Daria como exemplo oque aconteceu na Subcomissão deEducação, Cultura e Esportes, e,posteriormente, na Comissão daFamília, da Educação, Cultura eEsportes, da Ciência e Tecnologiae da Comunicação. Inclusive esseacinte de que Ciência e tecnologiaforam incluídos não por causa daciência, mas por causa de interesses privados. Os partidos da ordem - e chamo partidos da ordem os partidos que reproduzema ordem existente - vieram aquirepresentados diretamente através ou de políticos profissionais,pertencentes às classes dominantes, ou através de proprietários.Vimos naquela comissão temáticaque qualquer acordo foi impossível, porque, de um lado tínhamosa Igreja, lutando por verba p~blicaRara o ensino privado, de outro,donos de canais de rádio, televisão, etc. lutando por seus privilégios. Havia uma'áusência de projeto constituinte nos partidos políticos da ordem, o que os levouà busca de um caminho, que aparentemente é democrático. OPMDB, que é o partido majoritário, não tinha condições internas, e não tem até agora, de ban-
, car um projeto constituinte. Setentar isso, pulveriza-se. Estamoscansados de saber isso. Por suavez, os próprios constituintes, nãotodos - e estou aqui entre quatrocolegas que são constituintes nasua mentalidade - não têm mentalidade constituinte, têm mentalidade legislativa, e não lhes cabeesse conceito de que representamaqui a vontade geral e o interesseda Nação. Estamos, neste momento, vendo que as reformas es-
-senciais para a sociedade brasileira, em vez de estarem sendo fortalecidas, estão sendo enterradas. O
.CJ.ue acontece com a reforma agrána acontece em escala pior comaquilo que se chama reforma urbana. Temos em vez da urbanizaçãoo que não é urbanização, é umconglomerado de famintos, de mi-
que temos é representativo da estrutura de poder de uma sociedadecapitalista. Isso se daria com ousem Plano Cruzado, com ou semConstituinte exclusiva, com qualquer mecanismo formal que produzíssemos, porque é produto deuma estrutura e não o resultadode um processo ou de uma forma.A questão que temos de nos fazeré: como, numa sociedade comoesta, burguesa, de estruturas profundamente injustas, enraizadas,poderemos organizar bases. minimamente democráticas, que permitam instituições liberais queabram as portas para as reformaspolíticas, sociais, institucionais eeconômicas que esta sociedade demanda? A Constituição é como oar que se respira; sem o ar, ninguém pode Viver, mas ele, por sisó, não é garantia de felicidadede cada cidadão. Não basta respirar para ser feliz, ou seja, não bàs-
. ta ter uma Constituição para quesejamos cidadãos harmoniosos,vivendo em plena felicidade e absoluta igualdade e relações de plena harmonia. Como a sociedade"hipocritamente, não deseja enfrentar os seus próprios conflitos,transfere-os para o campo políticoe para os políticos, jogando sobreeles todo o seu fel. Nós, políticos,somos o fígado da sociedade brasileira, e temos de eliminar as toxinas dessa sociedade que ela nãoquer assumir e das quais quer se'purificar. E aqui que se dão as mazelas, os conflitos e as contradições. O que precisamos, para queessas contradições, mazelas e lutassociais, que se dão "no campo daquestão agrária, da questão urbana, do controle do capital estrangeiro, da organização dos sindicatos, da educação popular, da educação pública, enfim, em todos esses aspectos, para que possa haverreais avanços da sociedade brasileira, é um sistema essencialmentedemocrático. A única forma de seorganizar civilizadamente os conflitos e estimulá-los é através deum sistema democrático de governó parlamentarista, que responsabilize a todos os setores da sociedade nas decisões, avanços etransformações que essa sociedade venha a assumir, de modo quenão possa haver setores excluídos,Toda vez gue há setores excluídos,há o conflito e a instabilidade política, sendo CJ.ue esta leva para aderrocada as instituições. Quandoas insituições vêm a combalir,quem paga o preço não são os privilegiados, nao são os poderosose não são os ricos. Quando as instituições sofrem sua derrocadaquem paga o preço são os pobres,são os trabalhadores, são aquelesque ocupam a parte de baixo daestrutura social.
Florestan Fernandes - Atingimos um momento crítico do processo constituinte, não seu pontoculminante, mas seu ponto de desmascaramento. A sociedade brasileira está representada aqui de cabeça para baixo. A minoria poderosa, aqueles que possuem cultura, riqueza, poder, essa minoriasocial elegeu a maioria parlamentar, e a maioria dos excluídos, dosoprimidos, dos trabalhadores elegeu uma minoria parlamentar. Avontade histórica que existe na sociedade brasileira de fazer reformas burguesas profundas está evidente no comportamento dos nossos parlamentares, na orientação
•.dosyartidos e na própria .organizaçao do processo constituinte,que foi pulverizado de ponta aponta, não democratizado, e queagora atingiu a fase dos concha-
José Fogaça:considero
antidemocráticonegar ao povo
brasileiro odireito à
experiênciahistórica do
parlamentarfsmo.E fundamental:
este sistemapermite a
organizaçãoda sociedade.
~~"r~_u~PAR.TIDOS 8e TENDÊNCIAS ::: PARTIDOS &!.TENDÊNCIAS :::PARTIDOS &:. TENDÊNCIAS ::: PAI cara as portas da economia do país
à penetração mais funda do capitalestrangeiro e para não falar na ordem social, nos direitos do traba-lhador, na estabilidade do emprego, na jornada de trabalho, na autonomia e liberdades sindicais, nodireito de greve, nas questões relacionadas com o direito da criança,dos deficientes físicos, enfim, todoesse universo que deve compor oprocesso de elaboração constitucional. Não diria, como afirmouVictor Faccioni, que a questão
toral, com. os seus vícios intrínse-- crucial seria, dentro do aspectocos e extrínsecos, induziu à forma- .político e institucional, a forma de
- de um colé C .. governo. Não posso dizer que oçao e um co egio onstítuinte presidencialismo tenha sido res-que, sob todos os aspectos, seg- á I I . .mentos minoritários e que detém pons ve 'pe as sucessivas cnseso poder econômico e, através de- políticas, Institucionais, econômile, manipulam o poder polític.o. cas e sociais por que passou o País,
. . até porque os 21 anos de milita-Diria que no universo Constituin- rismo tiveram presidentes nomea-te a correlação de forças é extre- d .mamente desfavorável aos setores os, generais que ocuparam o po-
. der eventualmente impostos - àmais comprometidos com as ca- força, e não corresponderam ja-madas majoritárias e menos prote- '" .d " de nresigidas da população brasileira. Não mais a I era que se tem e presi
dencialismo.temos mecanismos que possam José Fogaça _ Vejo a Consti-balizar o que poderá ser esse tex- tuição de um país como o patamarto, e em que medida os direitos b d dda sociedade brasileira vão ser in- ásico e uma emocracia, quetegralmente acolhidos e resr-ei- permita, estimule e libere, permatados. Isso não que dizer oue eu nentemente, os conflitos que ocor-
. .. .... rem na sociedade. Não podemosseja pessimista ou mensageiro do sair desta Assembléia com vitoriocaos. Acredito que seja possível sos de um lado e derrotados decosturar um texto que correspon- U C .. .da aos anseios, aos direitos do ci- outro. ma onstituição assimdadão comum e possa refletir, de não dura, ou seja, sucumbirá naforma adequada, os anelos de primeira esquina da História douma sociedade inteira que preten- país. Não é possível produzir umade uma Carta Constitucional que Constituição de vencedores contrasintetize as suas aspirações maio- vencidos. O que temos de fazer
M á I d é um texto constitucional que con-res. as o que est co oca o é siga organizar os conflitos reais,altamente comprometedor. Eu e não necessariamente superáveismencionaria apenas uma que ca- na sociedade brasileira. Sou umracteriza bem o que se decidiu atéo final dos trabalhos da comissão permanente pessimista intrínseco
em relação à estrutura da societemática: CJ.ue a terra exerce uma dade brasileira e, exatamente porfunção SOCial, quando é ou está isso, é que consigo ser realista eem curso de ser racionalmenteaproveitada. Com esse tipo de de- otimista. Qualquer processo elei-
toral que se realize numa sociefinição, não poderemos fazer ja- dade estratificada, dividida emmais qualquer mudança mais pro- classes, onde estão tão entranhafunda, mais substancial numa es- das as diferenças sociais, necessa-.trutura fundiária sabidamente riamente não será representativaconcentradora da terra em poucas dos interesses mais amplos e reaismãos e que coloca o país- numa da sociedade brasileira. Numa so-situação extremamente compro- ciedade como esta, um processometedora em termos de produção eleitoral inevitavelmente será re-de alimentos e de satisfação das . d d dnecessidades mais vitais do seu po- presentativo a estrutura e po ervo. Não posso crer que um país de ,uma sociedade capitalista. Ocomo o Brasil, com oito milhõese meio de guilômetros quadrados,com uma disponibilidade de terrasque chegaria a mais de 600milhõesde hectares, continue a produzirem torno de 60 milhões de toneladas e estufe o peito, numa realidade até hipócrita, quando estepaís poderia estar produzindo, nomínimo, 200 milhões de toneladaspara atender às necessidades deseu mercado interno e gerar excedentes exportáveis.
Havia-se combinado que se chegaria a um texto constitucional emque a União se limitasse automática e imediatamente na posse daterra desapropriada por Interessesocial para fins de reforma agrária,e eis que agora já se fala em mudanças, de modo que parece queo diálogo corresponde a uma brincadeira, gue poderá inclusive levar a um impasse gravíssimo. Issopara não falar na questão urbanague se agrava dia a dia, com oexodo rural, com o crescimentodesordenado, espantoso, do meiourbano, sem serviços básicos paraatender a essas populações adicionais, sem uma política efetiva deocupação do solo, para não falarjíos pnncípios gerais de economia,inclusive na definição de empresanacional, que virtualmente escan-
Jornal da Constituinte 5
no. O chefe de Estado não pod~ser chefe de governo. O chefe d~governo enfrenta desde a elaboraçã~ de u~ programa ao desgastedo dia-a-día da sua execução. :qno desgaste do chefe de ~overnonão pode desgastar-se, Junto ãprópria representatividade, o anseio da nação, que é representadana chefia do Estado. Ser contrao presidente da República, sencontra o chefe de governo, no presidencialismo, é ser contra a pró~pria pátria que ele representa. Istocoloca, muitas vezes, uma inter,pretação mais aprofundada, comaaconteceu no período militar, eaté a idéia de que ser contra dGoverno, ser contra o Presidente;ser contra a Pátria, é ser subversivo - e a Oposição passa a aersubversiva. :
José Fogaça Os golpes militaresnão são decididos nas casernas,mas lá nos últimos andares dasgrandes corporações bancárias dQmundo. '
Victor Faccioni - Ou até de alguns gabinetes políticos. A verdade é que - e 'Hermes Lima dizisso - ninguém ronda tanto osquartéis como o regime presidencialísta, O regime presidencialistdfica batendo às portas dos quartéis; quando não é um partido, ~outro. E o partido que denunciaaqueles que batem as portas dosquartéis é o mesmo que, depois;vai fazer amesma coisa, imitar.É uma questão de rotatividadeapenas. Agora, há uma outraquestão, que nós estamos vivendoaqui na Constituinte: o sistema:presidencialista dispensa até aexistência de um programa de governo.
José Fogaça - Qual era o pro-,grama de governo de Jânio Qua-idros, senão promessa vazia de lim-ipar o País? '
Victor Faccioni - A vassoura,:e mais nada! Vivemos a eleiçãode 15 de novembro, que foi efetívamente a eleição do Plano Cruzado, paradoxalmente, aquilo que'foi consagrado pelo povo, naquele'dia, ~oi modificado, uma semana,depois. Aconteceu exatamente ooposto. Só o sistema presidencia-,lista permite esse tipo de situação'e esse tipo de frustração popular. '
José Fogaça - Aliás, nem os,ministros mudaram, em função,das eleições.
Victor Faccioni - Nem os mio'nistros mudaram, continuaramemesmos. Vivemos uma situaçãoparadoxal: as reivindicações de:programa de governo, como nãolsão acolhidas, são transferidas pa-lra a Constituinte e para a Constí-,tuição. E corremos o risco de fazeruma Constituição casuística, quelestabeleça questões que são de'programa de governo, detalhamento de regras gerais, ditadaslpor uma necessidade círcunstan-lciaI. Porque o governo não precisaiter programa no sistema presiden-Iciahsta. Como o governo, não pre-lcisa ter programa, as demandas,são de outra ordem: elas se estabe-ilecem no campo da fisiologia dos!cargos e dos favores. Estamos vivendo aí, hoje, anunciado e enun-iciado na imprensa, a persuasão de;constituintes via distribuição deicargos. Tudo aquilo que era dito!contra um candidato - Paulo Maluf - é feito, hoje, até em favor'da manutenção do sistema presi-:dencialista. Vícios do presídencia-]lismo são o clientelismo, a fisíolo-]gia, a marginalização, a centrali-Ização, o autoritarismo - e o pior,de tudo - talvez ainda a irrespon-isabilidade e a impunidade. Nin-:
comprovar e dar a isso meios decontrole público. Por outro lado,ninguém pode, neste momento,atingir esse presidente, porque fazê-lo seria atingir todas as instituições americanas. Portanto, tem-seque cometer o ridículo de dizerque o caso do Irãgate foi produtoda decisão de um simples coronelzinho de segunda categoria, numadecisão que tem reflexos imensosna vida do País e no seu destinomilitar, mas que o presidente darepública não tomou conhecimento daquilo. Para poder salvar asinstituições, constrói-se uma hipocrisia nacional. Agora, em cimadaquilo, que afirmou Victor Faccioni, para reforçar seu argumento, digo-lhe o seguinte: Desde quefoi eleito Ronald Reagan, que háoito anos é presidente, quando oPartido Republicano teve a mínima participação nas decisões tomadas pelo seu Governo?
Amaury Müller - CreIO que alembrança do episódio do Irãgatee dessa tentativa de mascarar umasituação que a sociedade universaljá conhece não serve como paradigma, como modelo para definiro sucesso ou insucesso do presidencialismo. Antes, um fato queafetou apenas a economia internado país, decretou a perda de mandato de um presidente, pois nãoenvolvia interesses do universogeopolítico dos Estados Unidos.Quando envolvia apenas interesses internos, o Presidente RichardNixon caiu, escandalosamente, eas instituições não foram abaladas. Não foi necessária a hipocrisia da farsa para salvaguardar asinstituições. Creio ser preciso estabelecer uma relação históricaentre os dois episódios: este afetaria o interesse nacional, na medidaem que a agressão imperialista seprojetava para fora das fronteirasdos Estados Unidos; era uma tentativa de desestabilizar uma revolução popular, na Nicarágua. Noepisódio "Watergate", era umaquestão interna.
Acho, então, que a lembrançapode ser feliz, mas não tanto quanto pensa o José Fogaça.. José!,ogaç.a -: 9 gue está emJogo sao as mstítuíções, Se pelasegunda vez se tiver que derrubarum presidente, por causa de umaação contrária aos interesses dasociedade americana, tomada secretamente na verdade os americanos estarão provando para simesmos que o seu sistema nãofunciona - e isso será fatal parao próprio sistema.. Marcelo Cordeiro - Queria colocar mais uma pimenta, aqui,porque a palavra do nosso quendoprofessor Florestan Fernandes eas demais intervenções, todaselas, de repente tangencíavam oproblema, a relação SIstemade governo: a tutela militar. Ele fez referência à aliança dos militarescom os republicanos à época daProclamaçao da República. Nãohá como fugir a esse fato objetivo,se se fizer uma análise históricae socioló~ica - que o sistema de~overno e a presença da tutela militar, uma marca da nossa história~~eria~ republicana, que é algoindissociável.
Victor Faccioni - A meu ver,aconteceu o seguinte: a falta deum Poder Moderador abriu espaço para que as instituições mibtares assumissem a posição de PoderModerador. Nós temos que recriar a figura do Poder Moderador. E essa figura, no sistema moderno, existe na separação da che-
. fia do Estado e da chefia do gover-
esse diagnóstico e só pediria umsegundo ou dois para.dizer por queprefiro o presidencialismo. Porque o presidencialsmo permite,àquela massa dos destituídos, teruma relação direta com alguémdentro do sistema de poder.
Victor Faccioni - Eu começaria na afirmação do próprio sociólogo Florestan Fernandes, de queo regime republicano nasceu torto. Num sistema que nasce tortoe permanece torto, tudo entorta.Prefiro ficar com o diagnóstico dosociólogo Florestan Fernandes doque com a interpretação do polítíco Florestan Fernandes. Vejamque o próprio Florestan Fernandes afirma que o sistema parlamentarista tem melhores 'l.ualidades, que é o mais qualitativo. E,se é o mais qualitativo, é o quetemos que perseguir e buscar. Omomento e este: a AssembléiaNacional Constituinte. Não vamosdeixar para decidir daqui a vinteou vinte e cinco anos qual o melhor sistema. Seria a mesma coisaque dizermos que a classe trabaIhadora também tem que aguardar mais vinte ou vinte e cincoanos para poder aspirar a certascondições de melhoria da qualidade de vida. Efetivamente, o que
MarceloCordeiro:
numa análisehistórica e
sociológica nãohá como fugirdesse fato: atutela militaré uma marcaindissociável
da nossahistória
imperial erepublicana.
acontece é que a SOCIedade brasileira tem que decidir uma questãofundamental: se ela é tutelada pelo Governo ou se ela é que vaicomandá-lo. Quem comanda a vida deste país? A sociedade ou oGoverno? Nós vivemos uma distorção histórica, de origem, da tutela do Governo sobre a sociedade, e o momento de a sociedadese libertar dessa tutela é o da 'Constituinte, ao fazer uma novaConstituição. Não vamos agora,numa nova Constituição, reafirmar todo o vício estrutural do jogodo poder, que se baseia num equívoco dos republicanos, ao implantaram o presidencialismo. Foi umequívoco, ou uma distorção, quefez com que o sistema republicanoficasse torto, e daí advêm todasas crises.
José Fogaça - Estamos vivendo uma crise naquele que é o sistema presidencialista mais bem-sucedido do planeta, que é o americano. O presidente dos EstadosUnidos está desmoralizado, poisexecutou uma série de medidascontrárias a qualquer moralidadepública. No entanto, não há como
- cionista, e com isso abandonou a ,sua posição revolucionária, aceitou a aliança com os fazendeirose por aí derrubou rapidamente oregime monárquico numa conjugação em que entraram tambémos militares e que fortaleceu as oligarquias locais. Então, tivemos noBrasil um regime republicano quenasceu torto. A maneira pela qualo regime republicano nasceu noBrasil permite pensar que ele nãopoderia dar certo, porque ele foidistorcido, e a única democraciaque foi praticada era a democraciaque imperava na sociedade impenal, uma democracia restrita, queprevaleceu durante toda a primeira República. Houve uma tentativa, com a revolução da AliançaLiberal, de se passar para uma democracia de participação ampliada, mas ela, por sua vez, teve umacurta permanência, e logo em seguida conhecemos de novo o regime ditatorial, o reaparecimentode um regime democrático limitado aos mais iguais e, em seguida,chegamos a 1964. Por aí vemosque o problema central- nãoé eregime político que está determinando essas crises. Essas crises estão vinculadas às condições do desenvolvimento do capitalismo naperiferia. A forma pela qual a sociedade de classe assume na periferia. Certa vez lancei o conceitode capitalismo selvagem. Comomarxista, lancei esse conceito commuito medo, porque de uma perspectiva marxista todo capitalismoé selvagem. O que eu poderia di- ,zer é que uns são mais selvagensque outros. Na verdade, a nossa .burguesia, ao contrário da burguesia norte-americana, preferiu'manter o nível de desenvolvimen- 'to econômico alcançado, ela nãopretendeu se tornar uma burguesia independente, reformadora,transformadora. A nossa burguesia preferiu ser uma burguesia próimperialista, e com isso tivemostodos os problemas gue condenamno Brasil: a incapacidade de realizar qualquer transformação socialprofunda dentro do capitalismo,por quê? Porque temos algo quechamei de "apropriação dual doexcedente econômico". Duas burguesias dividem entre si a massade mais-valia gerada pelo trabalho, pelo sistema de produção, egraças a isso exportamos a partemaior do excedente econômico, ea burguesia interna fica com umaparcela de excedente econômicoque mal lhe permite financiar areprodução do seu sistema de produção. Esse sistema de reprodução passa pelos países centrais ecada vez de uma forma mais apertada e mais difícil..Então, a nossaburguesia vive uma crise que nãoé de identidade, é de ser. É umaburguesia incapaz de ser. É competente para administrar o Estado, para criar uma sociedade nacional para àqueles que se incorporaram na ordem existente, parater forçae poder para reproduziressa ordem existente, mas ela nãoé capaz de realizar as reformas típicas do capitalismo e as revoluções típicas, como a reforma agrária, a revolução urbana, a revolução educacional, a revolução democrãtíca, a revolução do merce.do interno e por aí afora. Então,as nossas crises não têm uma origem política, embora elas se reflitam sobre o sistema político, e serefletindo sobre o sistema político,por sua vez, há uma interação dialética e, em conseqüência, o regime político vai agravar as crises'l.ue são de origens econômica, so-
. cial e cultural. Por isso é que faço
da República para resolver os seusproblemas, os seus subsídios, assuas concessões, suas questões depreços. As suas pressões políticassão feitas pelo telefone e pessoalmente com o Presidente, porqueeste assina decretos, .decide tudo,enfim. Ora, aquilo que tiver quepassar pelo Parlamento - não digo que este seja um Congresso denoviças; muito ao contrário, aí estão todos os males, e todo o male toda a grandeza da sociedadebrasileira está dentro do Parlamento - é público, e tem que serdiscutido amplamente pela sociedade. Não vejo como possamos,hoje, no Brasil, equacionar os problemas políticos, institucionais,econômicos e sociais sem a adoçãode um sistema político que permita que se dê o conflito na sociedade, 'l.ue se dê a instabilidadeeconômica, que é própria de umasociedade com tantas contradiçõessem que isso afete às instituiçõespolíticas. Para que haja estabilidade política, ao lado do conflitosocial, só o sistema parlamentarista é que pode realmente vingar.
Florestan Fernandes - Minhaposição é difícil porque, como socialista, sou, teoricamente, parlamentarista. Agora como sociólogo, e especialmente como sociólogo que estudou a sociedade brasileira desde a ocupação portuguesa. Como sociólogo, acho que temos de voltar a uma idéia que oConstituinte José Fogaça levantouaqui, sobre o que é realmente maisimportante: o elemento político,ou as condições materiais sociais,culturais, do País. Como sociólogosou levado a pensar que o presidencialismo ainda representa umaesperança para nós e que o parlamentarismo seria, ao contrário doque sucedeu na Europa, um regime de governo que Iria facilitar,ainda mais, a concentração do poder político. Temos o exemplo doImpério. Todos falam que sob oImpério o parlamentarismo foimuito eficiente, mas também seesquecem de que a estabilidade noImpério não foi tão completa como se pensa, houve muita luta social e a ordem foi mantida a ferroe fogo. De outro lado havia umPoder Moderador e um regime deprodução escravista, e a estabilidade dos I e II Impérios se explica exatamente por essa base material da produção escravista.' Nãofoi o parlamentarismo que criouessa base material, foi a base material que gerou a estabilidade política, e, por sua vez, permitiu queo parlamentarismo se desenvolvesse em padrões que praticamente contrastavam com a rusticidadeda sociedade brasileira. A República falhou não por sua próprianatureza como regime político,mas porque houve uma transaçãoentre o Partido Republicano e osfazendeiros. O Partido Republicano, a partir de certo momento,descobriu que a monarquia estavacondenada, e que a escravidão estava se extinguindo. O que ele fez?Abandonou a sua postura aboli-
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6 Jornal da Constituinte
tese. Mas faço aqui uma indagação. Temos nós o direito de impedir, que alguém tenha o seu projeto pessoal, que alguém pleiteieser presidente da República ouprimeiro-ministro? Não.
Victor Faccioni - Mas o direitocoletivo de uma sociedade poderparticipar é maior.
Amaury Müller - Sem dúvida,concordo com isso. S6 acho queaí se procura, de uma forma muitocasuística, eliminar do processopolítico nomes que estão consolidados, que têm um certo carisma,prestígio, conceito. Eu viria nessamanobra como que uma espéciede contra-argumento àquilo quelevantou o José Fogaça, isto é,uma tentativa de evitar que, porexemplo, o ex-governador LeonelBrizola chegue ao poder.
José Fogaça - Não é isso. Elepoderá chegar ao poder da mesmaforma no sistema parlamentarista.'Pode ser o primeiro-ministro ouo presidente.
Amaury Müller - Eu usei overbo no condicional. Nós não podemos nos cercar desse desconhecimento de que a realidade brasileira sabe tanto quanto nós oumais do que nós que Brizola é umcandidato à presidência da República, sem lançamento oficial, semformalização da sua candidatura.Posso ver, como o Florestan Fernandes pode ver também, nessatentativa de impor o parlamentarismo, uma manobra 'para evitarque o Constituinte Luis Inácio daSilva, o Lula, possa chegar à presidência da República, uma vez quetambém ele é candidato.
José Fogaça - Acho que o Brizola 'poderá ser presidente da Republica. Ele só não será imperador. Presidente em um sistemapresidencialista ele o será. Comoestá hoje, ele será imperador commandato certo; e eu não quero umPaís que tenha mais imperadores.
Amaury Müller - Eu semprefui contra o lançamento preCIpitado de candidatos à presidênciada República quando estamos lutando em uma frente, comum eampla, de acordo com o que pensa, sente e deseja a sociedade brasileira, por eleições no ano quevem. Ou será que o povo brasileiro não está aspirando participardo processo eleitoral no ano quevem?
Victor Faccioni - Está aspirando participar não só de uma eleição de um dia ...
Amaury Müller - Dentro dessaperspectiva é que eu sou contrao lançamento precipitado e antecipado de candidaturas. Mas elasexistem e aí estão. Não posso concordar que se diga que eleito Aou B ele seja o imperador.
José Fogaça - Não pela sua característica pessoa) ou pela suaformação pessoal. E que o sistemapropicia condições de imperador.a SIstema presidencialista transforma cada presidente em um imperador com mandato certo, porque ele é dotado de poderes absolutos e supremos.
Amaury Müller - A minha posição é tão sincera que eu estouadmitindo que a emenda constitucional aprovada na legislatura passada, que cria eleições em dois turnos, seja mantida; e que só aqueleque alcançar 51% dos votos teráacesso à presidência da República.
Victor Faccioni - Para ser maisimperador.
Amaury Müller - Bem, mas éuma manifestação de metade maisum da sociedade que vota.
José Fogaça - Isso eu acho queé consenso.
Amaury Müller:o sistema
presidencialnão foi
responsávelpelas
sucessivascrises.
Os generais queocuparam opoder não
correspondem àidéia do que é
presidencialismo.
não há contradição. Farece-me oseguinte: que, ao invés de tratarmos de presidencialismo, vamostratar da reforma agrária. Não.Vamos tratar da reforma agrária,mas para que todos os instrumentos democráticos e reformismosque esta Constituição vai criarpossam se viabilizar, é precisotambém criar mecanismos de estabilidade política, porque senão, areforma agrária, a reforma educacional e a reforma urbana que queremos implantar - não se! se conseguiremos~ irão falir imediatamente. Sem um sistema democrático não haverá como implantaruma Constituição reformista.
José Fogaça - A afirmação doFlorestan Fernandes dá a impressão de que efetivamente estamosfazendo com a luta pelo parlamentarismo um escamoteamento deoutras questões fundamentais como a reforma agrária ou a reformaurbana. Absolutamente. Ao COntrário, estamos criando as precondições para que se realizem essasreformas. Veja que o AmauryMüller citou a retomada dás prerrogativas do Congresso Nacionalque não são feitas, e, no entretanto, uma comissão mista doCongresso apresentou uma proposta concreta há dois anos.
Amaury Müller - O parlamentarismo asseguraria - mesmo quenós colocássemos na Constituiçãoque o papel das Forças Armadasficaria limitado à defesa externa- que os militares não interviriammais no processo político institucional, ou só âorganização da sociedade - uma sociedade organizada, consciente dos seus direitos,e seus deveres também - é capazde reagir a qualquer tipo de tutelaou disfarçada ou extensiva?
José Fogaça - Esse é o pontofundamental. O parlamentarismopermite a organização da sociedade.
Amaury Müller - O que nósqueremos é que a sociedade se organize, tenha força e que decida.José Fogaça, ao iniciar a sua análise a fez através de duas posições.A primeira, seria o imediatismo,isto é, o atendimento imediato deinteresses pessoais; a segunda, seria dos interesses da Nação. E claro que eu fico com a segunda hipó- .
sociedade brasileira não é o parlamentarismo ou presidencialismo.A sociedade Qão está discutindoisso. O que ela está discutindo,o que ela quer é o sistema maisdemocrático possível, e nos entregou nas mãos essa decisão.
Amaury Müller - Nós estamosefetivamente propondo isso: umadiscussão ampla, democrática, horizontal, que amadureça no debate, e só esse debate amadurecidopoderá induzir a sociedade a fazera sua escolha. Aí, então, se realizaria o plebiscito. Eu ficaria coma idéia de que o parlamentarismopode ser introduzido na medidaem que a sociedade possa discuti-lo, conhecê-lo em profundidadepara poder, então, opinar por essaforma de governo. Sobre essa colocação que fez o Faccioni, queser contra o País, é ser antipatríota, quero dizer que sempre fui contra os presidentes que aí estão enão me considero antipatriota. Osmilitares que estavam no poderpoderiam considerar isso.
Florestan Fernandes - AmauryMüller tocou em um ponto gueé essencial, que é o dos requísítosdo sistema parlamentar de governo. Aqui tem havido uma fortediscussão a respeito desses requisitos, estabelecendo-se que o principal deles seria a existência departidos políticos consolidados,com programas ideológicos, arregimentação, capacidade de mobilização e etc. O pré-requisito fundamentai seria o da existência deuma sociedade civil civilizada. Acultura cívica não está difundidana base da sociedade. Temos quedar um salto qualitativo muitoprofundo para criar condições mínimas até para ser cristãos. O "basismo" representa uma tentativade incutir na cabeça do homemrústico um mínimo de conhecimento para que esse indivíduopossa ser cristão. E muito maiscomplexo ainda formar esse cidadão. É o próprio indivíduo, queé educado que monopoliza a educação, a cultura. Se ele não possuicuJtura cívica e não.admite a existência de uma sociedade civil civilizada, como é que poderemos teros requisitos sociais, econômicose políticos para a existência do sisotema parlamentar? Não podemosusar o conceito de democracia como fetiche. Nossa preocupaçãomaioré não nos pensarmos comoheróis civilizadores que vão doarà sociedade brasileira uma instituição chamada parlamentarismo ecom isso teríamos o elixir curativopara resolver os problemas brasileiros. Nossa principal responsabilidade seria criar as bases mínimas para a existência de uma sociedade civil civilizada e por aí teríamos de entrar na reforma agrária, na reforma urbana, na reforma da saúde, em todas as reformasque estã? sendo !ep'elidas. E c~noso que os constítumtes, que saocontra a reforma agrária, a reforma urbana, a existência da exclusividade de verba pública para ensino público, ao mesmo tempo sãoardorosos defensores do SIstemaparlamentar.
Victor Faccioni - Consideroque se me perguntarem se é maisimportante lutar pela reformaagrária do que pelo parlamentarismo, .evidentemente que achoque a reforma agrária é mais priontária, se tiver q,ue fazer uma opção. Mas isto nao elimina o fatode que, .especificamente, nestaárea da Constituição, de que estamos tratando, venhamos levar esse assunto com a empreitada, como esforço que estamos levando. E
Victor Faccioni:amais
fundamental dasmudanças é a do
sistema degoverno: para
o sistemaparlamentar,que permite à
sociedadeparticipaçãopermanente enão eventual,
só nas eleições.
rismo.Amaury Müller - Eu lembraria
que a retomada das prerrogativasdo Poder Legislativo continua engavetada, desde a legislatura passada. Naturalmente que essa hipertrofia do Poder Executivo causa lesões, fraturas expostas muitograves no conjunto político-institucional e econômico, social, cultural da sociedade brasileira, masexatamente por não existirem esses pré-requisitos é que consideroesse dilema rigorosamente falso,e concordo com o professor Florestan Fernandes. Sem que hajaprofundas mudanças econômicas,sem que a sociedade brasileira sejaparticipativa na riqueza que elaprópria gera, para que ela possa,entao, ter forças, orgamzaçao para reivindicar, para transformar asua voz, não num vagido de dor,mas num protesto organizado,sem CJ.ue isso aconteça creio quediscutir parlamentarismo e presidencialismo seria de somemos importância. Acho sinceramente queo caminho do parlamentarismodeve ser uma escolha, uma opçãodemocrática da sociedade brasileira. E nos moldes em que está sendo elaborada a Constituição, convenhamos não há uma participação efetiva da sociedade.
José Fogaça - Eu gostaria defazer um registro sobre essa questão da discussão da sociedade brasileira, sobre o conteúdo democrático dessa discussão. Se nós fizéssemos, hoje, um plebiscito para o povo brasileiro numa decisão,dentro de uma semana, ou dentrode trinta dias, sobre regime parlamentarista ou regime presidencialista, acho que não adiantaria nemmesmo a bem-intencionada campanha de esclarecimento propostapelo Victor Faccioni, porque umsistema de governo não se aprendepor informações livrescas, mas,acima, de tudo, pela experiênciahistórica, e eu considero que é antidemocrático, hoje, negar ao l,?0vo brasileiro o direito à experiência histórica do parlamentarismo,porque é a única forma que eletem de aprender as qualidades eos defeitos do sistema. Se o sistema presidencialista é democrático, o parlamentarismo também é.O que está em discussão hoje na
guém é. responsabilizado e ninguém é punido, Fica difícil estabelecer a responsabilidade e a punibilidade porque elas vão para ocampo jurí<ljco.Temos que acabarComa situação de que o poder temdono. Temos que invertê-la. Dono do poder, via de regra, é aqueleque dispõe de melhor capaciâadede manipulação da opiniao pública, inclusive de recursos, numa sociedade moderna em que os meiosde comunicação estão aí, disponíveis para quem tem recursos financeiros. lemos que estabelecerum sistema de governo que, emprimeiro lugar, tenha representatividade popular e, em segundo,possibilite o jogo da democracia,a participação popular no dia-adia e não apenas no dia das eleições para evitar novas frustrações.Também estabelecer a responsabilidade e a punibilidade e, comclareza, qual o programa de governo, para que o povo vote programas de ~overno. Por isso, vejoque, no SIstema de governo, se localiza o epicentro de todos os problemas, de todas as mazelas queinviabilizam a democracia e a própria economia em nosso País.
Amaury Müller - Eu até fariauma confissão: em tese, sou parlamentarista. Agora, acredito que aintrodução desse sistema de governo, exigiria, pelo menos, doispressupostos: partidos consolidados, fortes, capazes de propiciaruma aliança, uma costura políticapara comandar o País, sem sobressaltos, sem problemas políticosinstitucionais. Segundo, se nós falamos tanto em nome do povo equeremos que o povo participe,que o povo tenha algum tipo depoder de decisão, esteja, afinalinstalado no poder, temos queconsultá-lo, ouvi-lo, e isso nãoocorre no Brasil. A campanhaeleitoral do ano passado, ao invésde transcorrer em cima das questões constitucionais, fixou-se basicamente no Plano Cruzado e nadisputa dos governos estaduais.Os temas que interessariam à sociedade virtualmente foram abolidos, os espaços nos meios de comunicação de massa, sobretudona televisão, cujo tempo era basicamente ocupado pelos candidatos majoritários e raramente cedido ao candidato à Constituinte para que pudesse expor o I?rogramado seu partido, a sua posiçãofrente as questões mais importantesda sociedade brasileira.
Victor Faccioni - Tem razão.Agora, o sistema ou os detentoresdo poder dentro desse sistema presidencialista que não tem interessede esclarecimento e afastam o debate do povo em torno do sistemade governo. Eu mesmo já apresentei dois projetos de resoluçãona Câmara, um na legislatura passada, que não chegou a ser apreciado, não consegui nem dar cursoao projeto, instituindo uma campanha de esclarecimento promovido pela Mesa da Câmara sobreo sistema de governo, não só especificamente sobre o parlamenta-
~~~f.AR,TIDOS(Se TENDÊNCIAS ::: PARTIDOS 8e TENDÊNCIAS :::PARTIDOS &TENDÊNCIAS::: PA•
Jornal da Constituinte 7
Natureza,que beleza!Vai acabar?
Uma" capital gramques e Jardins; da Secretaria de Serviços Públicos do GDF. Do Serviço deParques e Jardins, entretanto, foramdevolvidos para o DETRAN e nessevaivém, os veículos continuam invadindo a área verde.
Outro exemplo de descaso.é o doJardim Botânico de Brasília. A áreade mais de cinco mil hectares contaapenas com cinco funcionários. Agora, com a umidade relativa do ar noDistrito Federal a níveis muito baixos, os incêndios são constantes e onúmero de funcionários é insuficientepara uma ação rápida. O resultamopode ser visto nos últimos anos emque incêndios destruíram mais.da metade da área do Jardim Botânico. Umdos incêndios verificados na área esteano, aliás, começou dentro da áreareservada para a Caesb - Compa-
Em torno da Assembléia NacionalConstituinte está Brasília. Uma cidade que, segundo dados do própriogoverno do Distrito Federal, é a possuidora da maior área verde por habitante no mundo. Mas nem por issoBrasília deixa de ter seus problemas,pois o respeito ao verde ainda nãoestá incluído no dia-a-dia de sua população.
Um caso corriqueiro é a invasãodos gramados, que são literalmentedestruídos em muitos pontos, por carros, caminhões e motocicletas. Osmoradores do bloco A, da Superquadra Sul 111, por exemplo, tentaram,durante algum tempo, entrar em contato com as autondades para evitaro tráfego de veículos sobre a grama.Foram ao DETRAN, mas de lá foram mandados para o Serviço de Par-
cional no caso do meio ambiente.Para o parlamentar, se os artigospertinentes à 'l.uestão forem aprovados, o Brasil terá a legislaçãomais avançada do mundo no tratoda questão ambientalista.
Gastone Righi analisa tambéma proposta de limitação do uso daenergia nuclear. A proposição quenão foi incluída no texto do projeto, segundo ele, apresentava falhas. Por exemplo, exigia, para aimplantação de uma usina nuclear, um plebiscito entre a população interessada. O parlamentarpaulista propõe que essa instalação de usinas fique subordinadaantes ao'Congresso Nacional, 'l.ue,de acordo com Gastone Righi, éo fórum maior onde estarão parlamentares de todos os recantos dopaís e não apenas a população,que pode votar mais na criaçãode empregos que na avaliação doimpacto ambiental da medida.
Gastone Righi acha que não sedeve colocar muitas amarras nadeterminação do uso da energianuclear, pois um avanço tecnológico futuro que permita uma utihzação menos danosa dessa formade energia encontraria uma normarígida a impedir o seu aproveitamento pleno.
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exemplo, a Barreira do Inferno,no RIO Grande do Norte, onde,segundo ele, existe uma reservade 18 km de extensão. Soluçõescomo essa, no seu entender, deveriam ser adotadas nas cidades demaior porte. "Isso sem contar coma preservação de bosques e fontesnaturais já existentes no interiordos núcleos urbanos".
O segundo tipo de zoneamentoproposto por Gerson Peres diz respeito à legislação do meio ambiente, que deve ser amplamente reformulada. O parlamentar citaexemplos como a exploração mineral, que, da forma como vemsendo feita no país, contribuienormemente para a poluição dosrios e córregos. Essa poluição,continua Gerson Peres, traz prejuízos diretos para o homem, sejam na forma de deformidades físicas ou em atrvidades econômicas, tais como a pesca. Outra alteração importante, no seu ponto deVista, é a que permita um controleainda na fase de Implantação dosprojetos industriais, aliado a umaeficiente fiscalização das leis deproteção.
O líder do PTB, constituinteGastone Righi, de São Paulo, vêcom otimismo o projeto constitu-
isso, diz Paulo Ramos, a fim depreparar o solo para as pastagens,caminho certo para a desertificação da região.
Já o constituinte Roberto Cardoso Alves, do PMDB de SãoPaulo, acredita que é possível conciliar o desenvolvimento com apreservação do ecossistema e, neste caso, a nova Constituição deve,em seu modo de ver, garantir aexistência de mecanismos de defesa do patrimônio 'ecológiCO, comfórmulas.que permitam o desfrutedos recursos minerais, sem que ISso implique necessariamente emprejuízo ou destruição da faunae da flora.
Roberto Cardoso Alves acredita também ser importante a preservação de áreas específicas dentro do território nacional que seconstituiriam em "verdadeirossantuários da vida animal e da preservação de eSp'écies vegetais".Sobre a possibilidade de seremmstituídos os cnmes contra a natureza, o parlamentar paulista é direto e ressalta que "todo ato decrueldade deve ser criminalizadoe o direito penal brasileiro crimi-
naliza, inclusive, a violência contra a coisa ao instituir o crime dedano". E conclui perguntando:"Como deixar de criminalizar umato de violência praticado contraum ser vivo".
A fúria com que tem sido devastado o meio ambiente no país também encontra no constituinte Gerson Peres, do PDS do Pará, umdefensor de que a nova Constituição deva cnar normas que permitam deter essa devastação e garantir a preservação da ecologiapara o bem-estar da própria humanidade.
Gerson Peres, do PDS paraense, propõe dois tipos de zoneamento para a questão ambientalista. Primeiramente, um zonemaento do tipo físico, através dadeterminação de locais onde serãoestabelecidas as reservas naturais.O parlamentar lembrou, como
A questão ambiental como força política organizada não faz parte da realidade apenas dos paísesdesenvolvidos. Prova da mobilização popular em torno da proteçãodo meio ambiente como definidora do próprio futuro da nação é,por exemplo, a apresentação deemenda popular defendendo o desarmamento nuclear e o uso pacífrco dessa forma de energia. AlémdiSSO, é bom lembrar a participação do Partido Verde na disputapelo governo do RIO de Janeiro,ou mesmo a eleição do constitumte Fábio Feldmann, do PMDB deSão Paulo, mas que teve como plataforma a defesa da natureza.
Mas se o movimento ecológicoganhou espaço na campanha eleitoral do ano passado, vejamos como a questão está sendo tratadadentro da Constitumte através dodepoimento de alguns parlamentares. Para o constituinte PauloRamos, do PMDB do Rio de Janeiro, por exemplo, o país dispõede uma ampla legislação sobre oassunto, mas não há um mínimode respeito para com o meio ambiente, por falta de uma consciência plena por parte expressiva daSOCiedade brasileira. As autoridades, por sua vez, segundo,o parlamentar carioca, que devenam buscar o cumprimento desta legislação são coniventes com a devastação. O Brasil, assim, nas palavras de Paulo Ramos, cammha para a autodestruição, com florestasdestruídas e o avanço da poluiçãocomo em Cubatão, a Baía de Guanabara e o bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
A nova Constituição, para Paulo Ramos, vai tratar de forma adequada a questão, mas afirmou quenão basta um compromisso formal, "o governo deve desenvolveruma ampla campanha de conscientizaçâo da sociedade para queesta se envolva e,!TI apoio efetivopara a preservaçao do meio ambiente". Mesmo assim, Paulo Ramos acredita que o tema da preservação não tem sido objeto de muita polêmica dentro da Constituinte, o que, no seu entender, refletea opinião de muitos de que estaé uma questão secundária.
A realidade do país, entretanto,lembra Paulo Ramos, já dá mostras da destruição do meio ambiente através do estímulo dadopelo modelo econômico, onde oBrasil se assume como uma resevade recursos naturais dos países desenvolvidos. O parlamentar lembrou o fato de grandes Jazidas brasileiras estarem sob o domínio deempresas estrangeiras e citou como exemplo o descaso que as multmacionais têm pelo país o episódIO recente em que a Volkswagen,detentora de vasta propriedade naregião amazônica, fez uma queimada de tal vulto que chegou aser registrada por satélites. Tudo
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onstituinteHumberto Martins
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sem controle e que o país optariapelo amplo desenvolvimento. Amiséria não teve o seu perfil muitoalterado nestes 15 anos e o saldodessa política desenvolvimentistapode ser sentido em exemplos fúnebres como Cubatão e a devastação promovida em todos os redutos ecológicos do país, asseguraFábio Feldmann. "Cabe à Constituinte resgatar o país de sua postura autodestrutiva da conferênciade' Estocolmo".
Um dos pontos defendidos também pelo parlamentar paulista para que a Visãode desenvolvimentoseja modificada é assegurar através da nova Constituição a legitimidade processual das pessoas físicas e entidades cujos fms institucionais sejam a defesa dos interesses difusos, garantindo a formação de jurisprudéncia que assegure concretamente o respeito aosdireitos básicos. "Somente um Judiciário atuante - assegura FábioFeldmann - irá garantir a manutenção de um ambiente sadio eequilibrado" .
Fábio Feldmann, dessa forma,acredita que se Impõe, como eXIgência social da maior relevância,a instituição dos delitos ambientais, já que é inaceitável a condutade pessoas e instituições que, mesmo cientes dos nscos a que submetem populações inteiras, ainda assim, assumem práticas genocidas.O parlamentar CitOU inclusive oexemplo da multmacional Rhodia, que lançou em aterros clandestinos, na Baixada Santista, opentaclorofenol (Pó-da-China),
Em resumo, Fábio Feldmannacha que somente haverá desenvolvimento se os processos a eleinerentes forem associados à conservação dos recursos naturais vivos e inanimados, atendendo atrês finalidades específicas: manutenção dos processos ecológicos edos sistemas vitais essenciais: preservação da diversidade genética;garantia do aproveitamento perene das espécies e do ecossistemaParticularmente, neste momento,em que o crescimento demográfico Implica maior pressão sobreos recursos naturais, para supnras necessidades da alimentação demilhões de seres humanos.
Mas, e a questão ambiental deve ficar restnta a um Partido Verde ou estar disseminada por todosos partidos - mdagou o parlamentar ao lembrar a existência daFrente Verde na Constituinte, quese tem mobilizado para verificara realidade da questão em cadaregião A Frente é suprapartidária, entretanto, após a aprovaçãoda nova Carta, Fábio Feldmannacredita que a realidade partidánado país será profundamente modificada e o Partido Verde poderásurgir no plano político Mais importante, contudo, o constitumteprevê que uma nova prática política deverá surgir. ou seja, "novosatores precisam surgir no cenánopolítrco , desempenhando papéisdiferentes, sem conchavos ou discursos eloquentes e vazios", conclui Fábio Feldmann.
Um deputado"maduro" faz adefesa do verde
"Seja maduro, defenda o verde". Este é o slogan defendido pelo deputado Fábto Feldmann, doPMDB de São Paulo O parlamentar tem polanzado os esforçosem prol da defesa do meio ambiente na Assembléia NacionalConstituinte, sendo, sem dúvida,o principal coordenador da FrenteVerde. Segundo Fábio Feldmann,a Frente procura arregimentarparlamentares de diversos partidos em torno das propostas ambientalistas
As propostas constantes do anteprojeto da Comissão de Sistematização, para Fábio Feldmann,se forem mantidas, darão para oBrasil uma das legislações maisavançadas do mundo na questãoambientalista. Feldmann arriscadizer, inclusive, que esses artigosservirão de matriz para outros países, além, é claro, de garantir umfuturo melhor para o nosso país.
Fábio Feldmann considera importante que seja revisto o conceito de desenvolvimento hoje emvigor no Brasil. Para ele, atualmente o que se verifica é um usodas potencialidades, em termos derecursos naturais com um custo social e ecológico que será transferido para o amanhã, não muitodistante. O atual conceito, nas palavras de Feldmann, inviabiliza ocrescimento econômico com umarespectiva melhora da qualidadede vida.
Essa modificação encontraapoio no relatóno apresentado emabril último pela World Comissionon Environment and Development (criada pelas Nações Unidasem 1984), em Londres. Segundoo relatório, fica provado, para Fábio Feldmann, que "hoje as nações desenvolvidas têm plenaconsciência de que não podemcontinuar crescendo ou mantersua opulência às custas do endividamente externo dos países emdesenvolvimento, pOIS estes sevêem obrigados a acelerar a devastação de seus recursos naturais ea poluírem seu meio ambiente, gerando, dessa forma, o auto-extermínio colenvo e a multiplicaçãoda miséria, o que acabará vitimando os países credores, a médio prazo, com as mesmas conseqüências". Além disso afirma o parlamentar, este relatório está sendoencaminhado à Assembléia Geraldas Nações Unidas deste ano como fruto da mobilização da opinião pública mundial em torno danecessidade de fazer do desenvolvimento um propulsor da conservação ambiental, uma vez que àluz da ciência e da economia modernas, a humanidade não terá futuro nenhum se não fizer do crescimento econômico a base da proteção à flora e fauna silvestres, dadiversidade biológica e de todosos outros elementos que asseguram a sobrevivência dos povos
Aliás, amda com referência àsNações Umdas , este ano completam-se 15 anos da conferência OHomem e a Biosfera, promovidapela ONU em Estocolmo. Na época, o governo brasileiro adotouuma posição hoje questionável, deque a maior poluição era a miséria
ao ordenamento intra-regional,preverur e controlar a poluição eseus efeitos e as formas prejudiciais de erosão, enquanto consignao ordenamento do espaço terntorial, de forma a construir paisagens biologicamente equilibradas" .
Já o constituinte José Genoino,vice-líder do PT na AssembléiaNacional, acredita que a questãodo respeito ao meio ambiente deve passar, além de todos os demaispontos Já apresentados, tambémpelo direito a uma vida digna emque entraria a harmonia com oecossistema. Um segundo pontodefendido pelo parlamentar é o docrime ecológico, que se for tolerado por muito mais tempo, comprometerá o própiro futuro dopaís e de seus habitantes.
José Genoíno acredita igualmente que, embora haja um grande consenso em torno da questãoambientahsta em meios aos constituintes, essa ausência de polêmicasomente se manifesta quanto aosprincípios gerais da questão. Eleconsidera que muitos conflitos vãoexistir a partir do momento emque se fizer uma regulamentaçãongorosa que puna com pesadosônus empresas e grupos que destruam o meio ambiente. Por essemotivo, o constituinte paulistapretende lutar para que todo o empreendimento que comprometa omeio ambiente passe primeiramente pelo crivo da população local, ou, no mínimo, pelo Congresso Nacional. E finalmente, outroponto que José Genoino consideraimportante é o da proibição da mstalação de usinas nucleares que tenham como finalidade a produçãode artefatos bélicos.
Na etapa final de elaboração dotexto constitucional, Gastone Righi defende três pontos fundamentais. O primeiro é o direitode todos ao meio ambiente, sendodever do Estado manter o equilíbno ecológico, bem como defendê-lo. Segundo ponto: qualquerataque ao meio ambiente deve serconsiderado crime e as indenizações para as transgressões devemser pesadas. E, finalmente, o direito a todo cidadão de exerceração judicial, fortalecendo dessaforma os dois pontos antenores.
O líder do PDC na Constitumte, Siqueira Campos (GO), porsua vez, lembrou as propostas desua autoria apresentadas e integrantes do texto do projeto desdea Subcomissão dos Estados. Poressas propostas, de acordo com oparlamentar, era prevista a elaboração de projetos de desenvolvimento sempre com uma preocupação de preservar o meio ambiente. Em seu relatório apresentado à Corrussão da Organizaçãodo Estado, o constituinte goianoafirmava: "A preocupação com aecologia leva a conferir ao estadomembro a faculdade de, com VIStas ao desenvolvimento urbano e
~t~'~~á~~~~~~~~' ~~~~~~~~~:~~1~~~~~'~~~~~';; ,~~P:~~~neot,o que comprometeria o nível enfrentados: "São os pichadores, os caroNa terceira categona estão os fredo urso d'água que cruza o Jardim depredadores e os sujadores". Entre quentadores que destroem as poucasBotânico. os representantes da primeira cate- instalações do parque, principalmen-
Por outro lado, a população tam- goria encontram-se inclusive alguns te bebedouros gue são mais caros ebém interfere nessa reserva. Segundo candidatos que durante suas campa- de difícil reposição. Bessa foi obriinformou funcionário que ali traba- nhas não demonstraram muita preo- gado a instalar no parque uma centrallha, várias vezes empregados da cupação com a preservação do par- de restos de materiais de construção,CAESB foram obrigados a retirar que, que é, de acordo com Caranam- onde são improvisados os principaispessoas que estavam acampando no ou Bessa, a maior área de lazer da equipamentos do parque.local, ou mesmo praticantes de Endu- América Latina, com nada menosro, que têm trilhas mapeadas da re- que 4,2 milhões de metros quadra- Esses pequenos exemplos do dia-a-gião. A própria integridade da área dos. dia ambiental da capital do país sedo Jardim Botânico está comprome- reproduzem naturalmente, com suastida, pois a presença de posseiros é Na segunda categoria estão os que peculiaridades, em cada rincão e JUS-
_rotlljlelTa e cada vez que são expulsos fazem uso das churrasqueiras, não se tificam, no seu conjunto, a preocu-oítam a ocupar áreas do jardim. utilizando das latas de lixo, sobrecar- pação dos constitumtes em que, a ní-
Mesmo dentro da cidade, não é ta- regando os 56 funcionários do Parque vel constitucional, se fixem regras emrefa fácil manter uma área verde, da Cidade durante toda a semana. defesa do homem brasileiro e do meiolembra o administrador do Parque da Além disso, afirma Bessa, há mora- ambiente.
a mesma matéria. Pela sua análise,os pontos polêmicos foram remetidos para legislação ordinária.
Já o constituinte Del BoscoAmaral (PMDB - SP) elogiou adecisão do relator Bernardo Cabral de incluir no anteprojeto aproposta de aposentadoria para amulher aos 25 anos de trabalho.Para ele, a decisão faz justiça milhões de mulheres que realizamdiariamente uma dupla jornada detrabalho, mantendo os serviçosdomésticos e também ganhandosalários em empregos que ajudama manutenção da casa.
Tal decisão - acrescentou não significa uma vitória pessoalde um parlamentar ou mesmo dasmais de trinta mil pessoas que assinaram a emenda propondo o benefício..Significa, .ressaltou, que aConstituinte deverá adotar umaposição de reconhecimento do esforço quê ás mulheres fazem aolongo de uma vida para garantirmelhores condições para a família.
Se a Constituinte aprovar o capítulo que regulamenta a educação nos termos em que foi proposto pelo substitutivo, estaremosregredindo 50 anos no tempo,alertou o deputado Sólon Borgesdo Reis (PTB - SP).
A exigência da valorização doprofessor do primeiro e segundograus é conquista constitucionalque existe desde a Constituição de1934, disse. Outra falha no trabalho, pelo que observou, está nofato de não destinar recursos específicos para a melhoria da educação e treinamento dos professorese pessoal de ensino. E isso é umareivindicação da sociedade, sustentou.
O plenário reagiu ao novo textode projeto constitucional apresentado pelo relator Bernardo Cabral. Seu trabalho recebe aplausose críticas e enseja debates sobreos temas polêmicos a serem inscritos no texto da Carta ou deixadospara a legislação ordinária.
Também a discussão a respeitodo formato da Carta, se deve termuitos ou poucos artigos, ser sintética ou analítica, continuará provocando reações divergentes.
DISCREPÂNCIA
Substitutivotem avanços e
retrocessosA entrega do substitutivo apre
sentado pelo relator da Comissãode Sistematização, Bernardo Cabral (PMDB -AM), após o exame de mais de 20 mil emendas deconstituintes e de 122 emendas populares ao projeto original deConstituição, causou reação noplenário da Constittuinte. Os pa~lamentares expressam suas OpIniões sobre o novo texto, que amda poderá ser emendado pelosconstituintes no prazo de seis dias.
O constituinte Victor Faccioni(PDS - RS) lamentou que o relator tivesse excluído de seu trabalho projeto de sua autoria, quepermitia a filiação da dona-de-casa à Previdência Social. O parlamentar disse que tais propostas visam garantir à mulher direitosque, por questão de justiça, devem constar na nova Carta.
Outra crítica ao novo texto partiu do constituinte José Maria Eymael (pDC - SP), principalmente no que se refere ao dispositivoque estabelece igualdade de direitos entre o cidadão comum e aFazenda Pública, nos processosfiscais.
Depois de considerar a modificação em relação ao projeto elaborado pelas comissões temáticas,como resultado de "manobras desonestas, visando favorecer aindamais o Estado, em detrimento da~uele a quem tudo deveria ser facilitado e retribuído, pois é às custasdo cidadão que o país existe", JoséEymael fez apelo aos constituintespara que, independentemente deposições partidárias, se unam comO objetivo de lutar pelo restabelecimento da igualdade entre o Estado e o contnbuinte.
O líder do PC do B, constituinteHaraldo Lima (BA), sustentouque, em alguns pontos, o substitutivo do projeto constitucionalchega a ser conservador e, até, retrógrado, embora contendo itensprogressistas.
O parlamentar criticou a discrepâncía na redação de determinados artigos, ora a favor, ora contra
Após o examede mais de' 20mil emendas
de constituintese 122 populares,
chegou-se aosegundo esboço.O texto é maisclaro, resume
o entendimentohavido, mas ainda
não atende aosdiversos grupos
o plenário reagiu aonovo texto de projetoconstitucional apresentado pelo relator Bernardo Cabral. Seu trabalho recebe aplausos ecríticas e enseja debates sobre os temas polêmicos a serem inscritosno texto da Carta oudeixados para a legislação ordinária.
Também a discussãoa respeito do formatoda Carta, se deve termuitos ou poucos artigos, ser sintética ouanalítica, continuaráprovocando reações divergentes.
DEFINIÇÃO
Para o constituinte OsvaldoBender (PDS - RS), a Constituição está praticamente escrita.O argumento usado por ele foi Ode que o anteprojeto do relatorBernardo Cabral já foi debatidoo suficiente no âmbito das Comissões e Subcomissões.
Dessa maneira, completou, osconstituintes já assumiram posições definidas de tal forma quetodos já possuem sua opinião firmada sobre todos os aspectosconstitucionais: "Ninguém naConstituinte vai conseguir convencer ninguém", declarou.
ção para a Comissão de Sistematização gue, sob a presidência doconstitumte Afonso Arinos, elabora o projeto constitucional, para que não faça coro aos grandesinteresses de grupos minoritários,mas aos da Nação brasileira "emseus anseios de liberdade".
Já o constituinte Uldurico Pinto(PMDB - BA) garantiu que existe um crescente desencanto entreas parcelas da população que lutaram contra a ditadura e pela convocação da Constituinte. O parlamentar dirigiu apelo aos parlamentares no sentido de que tenham maior sensibilidade diantedas reivindicações populares maisurgentes, como a efetivação deuma reforma agrária eficaz, a redução da jornada de trabalho para40horas semanais e a estabilidadeno emprego.
A frustração - sublinhou - começou quando e emenda Dantede Oliveira, das diretas, foi rejeitada pelo Congresso. Depois prosseguiu - a fatalidade acaboupor roubar a vida do presidenteTancredo Neves, que liderou oprocesso de transição, levando àPresidência da República o expresidente da Arena e do PDS,José Sarney. Para complementar- concluiu - a Constituinte, ougrande parte dela, passa a resistirà~ principais reivindicações da socíedade.
REALISMO
o plm4rio dJJ CórutiiNinre elltrG "uma 1IO..a fase de trllba1hos, jfI~do o 110..0 ieXlo do reItúor Bernardo Cabral
O texto entresonho, pressão
e realidade
Realismo, foi a recomendaçãodo constituinte Antônio CarlosKonder Reis (PDS - Se). A seuver, cabe à Constituinte realizarum esforço no sentido de tornaro projeto constitucional realista,a fim de que seja um instrumentoválido para a promoção das mudanças que a sociedade espera.
Entre os temas polêmicos queprecisam ser solucionados peloconsenso, o parlamentar destacoua distribuição de competência dosdiversos órgãos do poder; a dimensão da presença do Estado navida nacional; e a disciplinação dasrelações sociais e econômicas.
O constituinte Fernando Santana (PCB - BA) já vê a Constituinte como "uma grande orquestra que precisa hârmonizar-se".Na sua opinião, os interesses dopovo brasileiro estão relagados aterceiro ou quarto planos, são discutidos assuntos mais ou menosdesinteressantes.
O parlamentar chamou a aten-
Apesar da proximidade do finaldo prazo para apresentação daproposta constitucional da Comissão de Sistematização, para ser votada em plenário, a Constituinteainda continua a discutir aspectospráticos da formulação do texto(la Constituição. Se sintético, oumais extenso e analítico. O número de artigos pouco importa, procurou definir o constitumte ItamarFranco (PMDB - MG). O maisimportante, segundo ele, é que anova Constituição reflita os reaissentimentos da população,
E muito perigoso, disse, deixarquestões fundamentais para seremregulamentadas através da legislação ordinária. O parlamentar lembrou que o artigo 45 da Constituição em vigor, que asse$ura aoCongresso o direito de fiscalizaros atos do Executivo, demorou 12anos para ser regulamentado. Poristo, o parlamentar advertiu quetodas as questões devem ser regulamentadas na própria Constituição.
10 Jornal da Constituinte
CRESCIMENTO
O constituinte paulista JoaquimBevilacqua, do PTB, observa quea taxa de crescimento populacional do Brasil correspondeu a 2,8%na década de 70, enquanto os índices de natalidade eram de 3,7%e o de mortalidade é de 9/1000.
Esse aumento populacional diz Bevilácqua - se verifica quaseque exclusivamente na área urbana, sendo da ordem de 5%, acrescendo-se a migração anual de1.800.000 pessoas do campo paraas ,cidades. Acreditamos que, atéo final do século, cerca de 100 milhões de habitantes serão acrescidos à população urbana e esseimenso contingente vai se alojarnos grandes centros regionais. Entendemos que, para resolver oproblema habitacional das vastasfaixas de terras de áreas metropolitanas, temos de canalizar e drenar os recursos públicos para urbanização de lotes.
Antônio Britto
criem conselhos de desenvolvimento urbano, mesmo que tenham caráter consultivo, e precisamos ter seriedade na administração pública brasileira. O que seobserva, em relação à política habitacional, conduzida pelo BNH,é que se fez uma estrutura parabeneficiar as empresas e não ousuário da construção habitacional, o homem que precisa de casa.Chega-se ao ponto de o BNH estabelecer que todos os projetos têmde ser construídos em alvenaria.Esquece-se, por exemplo, que oBrasil tem vários tipos de culturae de comportamento econômico.
DESAFIOO líder do PCB, constituinte
Roberto Freire, de Pernambuco,entende que urge garantir que anova Carta venha instrumentar oestado brasileiro a encarar, de fato, o grande desafio que o processo de urbanização cónsubstanciará nas próximas décadas.
Parece-nos que parcela de nossos constituintes ainda não está suficientemente convencida ou compromissada com a questão urbana.Haja vista o anteprojeto aprovadona Subcomissão da Questão Urbana e Transportes e o posteriorcomportamento na plenária da comissão temática daOrdem Econômica, onde o relatório do senador Severo Gomes nãofoi sequer debatido, aprovando-seum substitutivo que privilegia osinteresses de grupos econômicosdefinidos. Estamos assim diantede um problema da mais alta complexidade, cuja superação está Intrinsecamente ligada à ordemeconômica e SOCial, a um projetode nação.
DEGRADAÇÃO
O constituinte José Fernandes,do PDT do Amazonas, sustentaque o processo migratório gerou,sobretudo, uma degradação daqualidade de vida urbana, e é preCISO que o governo faça investimentos maiores na adaptação dessas massas.
- É necessário - diz José Fernandes -, que estabeleçamos, dealguma forma, uma política nacional de incentivo ao crescimentodas cidades, e é necessário que se
'" \f:Joaquim Bevilacqua
DEMOCRATIZARPara o constituinte Aldo Aran
tes do (PC do B - GO), trata-sena questão urbana, de democratizar a posse da terra nas grandescidades. E inaceitável a existênciade grandes quantidades de terrasvazias, enquanto existem milharese milhares de trabalhadores e moradores que não possuem terra nascidades. Por isso a propriedadetem de cumprir uma função social.Não estando cumprindo, deveráser desapropriada e paga com títulos da dívida pública. A propriedade que não cumpre sua funçãosocial é uma propnedade anti-social.
que perambula por este país porque ele quer.
A população brasileira - diz Irma - solicita dos constituintes saída para a questão urbana. Proponho aqui pelo menos mais dez medidas que acho deveriam ser consideradas no projeto da Constituição, e só citarei algumas. Temosde colocar, uma vez por todas, odireito da propriedade urbana, como seria efetivamente, a funçãosocial da propriedade, como seriaa questão das desapropriações, dosolo urbano.
A SER FEITOCésar Cals Neto, constituinte
pelo PDS do Ceará, entende quehá muito a ser feito no contextoda reforma urbana. E pergunta:
- Sob o ponto de vista econômico, o que representam esses vazios urbanos diante da necessidade dos municípios de estender emalguns quilômetros a sua rede elétnca, a sua rede de transportes,a sua rede de limpeza pública? Enquanto isso, muitas vezes, verdadeiras fazendas urbanas estão lácomo depositárias, objeto principal de toda uma linha de especulação imobiliária.
Para César Cals Neto, o problema da reforma urbana não seexaure na reforma urbana. Exigeuma própria reforma estrutural dopaís, e a ela está ligada a reformatributária.
"Em 40 anoschegaram àscidades 72milhões debrasileiros.
Nos próximos40 anos serão132 milhões a
mais, umBrasil inteiro,
do tamanho do dehoje."
Irma Passoni
O que está acontecendo no Rioé bem próprio do que aconteceráno país. Muitos já diziam, e istohá dez anos: - "E se a favela descer para o asfalto? As favelas noRio de Janeiro, como em muitoslugares do Brasil, já estão descendo, para ter um confronto muitograve com o.asfalto. Claro que essa descida não é um confronto político-ideológico; é um confrontode desespero.
Jalles Fontoura
CULPA
Para a constituinte Irma 'Passoni, do PT (São Paulo), não há crime maior do que esse de culparo miserável pela sua própna sorte,achando que ele é um vagabundo,
~
ROCINHA
A QUESTÃO
Jalles Fontoura, constituintegoiano, do PFL, considera importante a emenda popular sobre areforma urbana, bem como as sessões noturnas para discussão específica, conforme a proposta dopaulista Plínio Arruda Sampaio,do PT.
Para Jalles, é imperioso que opoder municipal detenha instrumentos de ordenação, planejamento e execução do desenvolvimento urbano, sendo, para isso,necessário descentralizar os recursos tributários e as responsabihdades básicas e também atribuiraos municípios competência legislatrva supletiva, acreditando nacapacidade da produção do município de fiscalizar.
O constituinte goiano acreditaque na reforma urbana, poderáhaver um dos grandes avanços eque esta é uma oportunidade histórica para solucionar essa questão.
Tenho esperança de que o Substitutivo Bernardo Cabral assumaas transformações que a questãourbana exige e que a frase de LeCorbusier possa ser um dia realidade: "Nossa cidade deve dar-nosalegria e fazer germinar nosso orgulho por ela".
Brandão Monteiro, do Rio deJaneiro, líder do PDT, demonstraa relação entre o quadro urbanodo País e a injustiça determinadapelo modelo econômico que estabeleceu às pessoas em função daconcentração da propriedade agrícola e também do desenvolvimento de mecanização da lavoura, quedeterminou o êxodo para as grandes cidades.
O orador considera uma faláciao noticiáno de que a favela da Rocinha, a maior do Rio de Janeiro,se insurgira por causa da prisãode um traficante ou da mudançado local onde estava preso.
ONDE ESTÃO
PLANEJAMENTO
ORGANIZAÇÃO
O maranhense José Carlos Sabóia, do PMDB, sustenta, por sua
o orador seguinte, o catannense Dirceu Carneiro, do PMDB,complernenta: nesta geografia maldistnbuída, os 72% dos brasileirosestão comprimidos em 3,5% doterritório, onde há uma distribuição de mais de 252 habitantes/krrr', enquanto mais da metade doBrasil (região amazônica e Centro-OesteJtem uma densidade habitacional de 1,2 por kmê.
Essa disparidade - diz DirceuCarneiro - é um desafio para osgovernantes e a sociedade brasileira, de um modo geral.
Dirceu Carneiro defende a participação popular no encaminhamento de seus problemas, e, assim, uma reavaliação daquilo quea Constituinte dispuser.
Setenta por cento da população brasileira habita as grandescidades. Por isso mesmo, a ocupação dos espaços urbanos surgecomo questão de alta premência no rol de preocupações dosconstituintes. Na sessão plenária em que se debateu a reformaurbana, os parlamentares concordaram de um modo geral nanecessidade de a ocupação dos espaços ser feita com disciplinae planejamento. Antônio Brito (PMDB - RS) quer os constituintes dissecando o problema com posições firmes e claras enquanto José Sabóia {PMDB - MA) vê como fundamental aorganização do trabalhador na luta por uma reforma urbana.E Aldo Arantes (PC do B - GO) acha que a questão todaestá em democratizar a posse da terra nas grandes cidades. .
Em seu discurso, Antônio Brit- vez que, na luta pela reforma urto, do PMDB do Rio Grande do bana, é fundamental que os trabaSul, sustenta que a Constituinte lhadores organizados em suas assodeve, perante a sociedade, adotar ciações de moradores, participemuma atitude que revele competên- permanentemente das discuscia ao disciplinar a ocupação terri- sões e decisões relativas à construtorial do País, Deve, também, a ção da cidade. É crucial que seCons~ltuinte institucionalizar de criem mecanismos que asseguremmaneira frrme e.clara as regiões a participação direta das organi-metropolitanas, Instrumentos es-' zações populares em todos os nísenciais ao enfrentamento da crise veis da administração pública.urbana, exatamente onde ela é José Carlos Sabóia observa amais aguda. ação do governo contra favelados
Diz ainda Antônio Britto que em Brasília e constata que fOI umaa Constituinte deve aos cidadãos operação militar tipo Doi-Codibrasileiros a criação de instrumen- feita tristemente até com certotos claros e sensatos, pelos quais apoio da população. •o poder público possa intervir na Não construiremos nenhumaquestão urbana, adequando o seu democracia - diz o constituinteuso ao interesse coletivo. maranhense -, se tivermos neste
Conforme o orador, em 40 anos país, elites surdas e mudas, alheiaschegaram às cidades 72 milhões as questões sociais, achando quede brasileiros, ~os_ próximos 40 o problema sociaJ continua sendoanos serao 132milhõésa mais, um um caso de polícia.Brasil inteiro, do tamanho do dehoje, disputando o espaço que nãoexiste e dividindo a miséria, aagressão ao meio ambiente e osserviços públicos insuficientes.
Como ocupar os nossos espaços
O baiano Manoel Castro, doPFL, faz ver que não adianta pensar que, apenas com o uso da terra, se resolverão todos os problemas das cidades.
Se o planejamento é indispensável - diz Manoel Castro - anível micro da cidade e do município, ele é exigido também no pIano macro, porque o país não temsequer uma diretriz de ocupaçãoespecial ,do seu território contimental. E indispensável que o paísdefina a ocupação terntorial comouma política. Quando colocamosaqui, ser fundamental um posicionamento em relação ao urbano,significa dizer que, igualmente,queremos uma orientação do ponto de vista de ocupação terntorialda nação brasileira.
Jornal da Constituinte 11
o sistema desaúde precisa
ser eficiente
tal direito, para Nelson Aguiar,uma das mais importantes funçõespolíticas do Estado e também daConstituinte.
Fazendo coro com essa opinião,o Constituinte Carlos Mosconi(PMDB-MG) ainda afirmou quebasta que seja garantido no textoconstitucional a saúde como direito de todos e um dever do Estado,que estaria sintetizada toda a necessidade básica e reivindicatóriada sociedade brasileira.
Mas para que tal proposta setorne factível, o Brasil tem de possuir um sistema único de saúde,descentralizado e universalizado,gratuito, que possa realmenteatender a toda a população, independente de sua condição social.
A viabilidade do sistema previdenciário, nos moldes atuais, mereceu a lembrança do ConstituinteJarbas Passarinho (PDS-PA), cujaopinião é a de que a Previdênciatem provado ser viável na organização que ela tem, ou seja, umaparte financiada pelo Estado e outra pela iniciativa privada.
De acordo com Jarbas Passarinho, o sistema funcionou bem enquanto a economia brasileira nãofoi agredida pela inflação desordenada. Pela sua análise, a partir domomento em que a inflação cresceu no País, esses investimentospassaram a perder valor real. Afalência imediata aconteceria noperíodo de hiperinflação queaconteceu no País nos anos 60. Asolução, aludiu, seria desfazer esses equívocos.
Já o Constituinte do PL, AdolfoOliveira (RJ) deu um voto de confiança à Previdência Social, ressalvando que deve haver uma reformuIação no sentido do reaparelhamento e de uma nova mentalidade.
Ele sugeriu que a Previdênciaassinasse convênios com sindicatos de trabalhadores, com o fitode beneficiar quem trabalha, e nãopode submeter-se a longas filas.Todavia, genericamente, o parlamentar recomendou uma intervenção do governo nos seus próprios serviços.
Uma previdência eficiente, justa e, acima de tudo, honesta, foia fórmula do Constituinte Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) para amodificação que disse ser funda-mental para a área de saúde. '
Justificou-se o parlamentar, garantmdo que, somente no momento que os trabalhadores participarem efetivamente da Previdencia, as distorções vão se acabar. "Não se pode mais escamotear as necessárias medidas de reformas na Previdência, porqueaposentados e pensionistas merecem respeito".
Finalmente o Constituinte Wilson Campos (PMDB-PE) sustentou que não importa privatizarou estatizar o sistema de saúde.O importante, observou, é que todos os brasileiros se unam comoirmãos em busca de um caminhomelhor para o País.
Na opinião do constituinte pernambucano, todos os parlamentares deveriam se ajudar mutuamente. Os temas para os quais pediua atenção especial foram: idosos,crianças e microempresas.
foi também proposta pelo Constituinte Euclides Scalco (PMDB PR). Pelas palavras do parlamentar, a estratégia de reorganizaçãosetorial da saúde no Brasil podeser obtida por consenso, pela criação de um sistema único de saúde.
Euclides Scalco considerou quena nova Constituição deve ficarconsignado um conjunto mínimode preceitos que garantam um novo patamar para a saúde, qual sejaa concepção da saúde como frutodo desenvolvimento econômicosocial - e não apenas uma açãosetonal e de assistência médica e o direito universal ao atendimento previdenciário e ao crescimentodo setor a níveis compatíveis como desenvolvimento econômico doPaís.
Posição semelhante tomou oConstituinte Almir Gabriel(PMDB -PA), ao sustentar queo serviço público é possível de sereficiente e capaz de prestar umserviço adequado de saúde paraa população. Como sustentáculode sua idéia, citou a participaçãoestatal nos campos da energia elétrica e das comunicações, de forma "brilhante e patriótica".
Almir Gabriel garantiu que basta que sejam repassados recursosmais significativos para o setor(considerou ridículos os repassesatuais) para que aconteça naturalmente o crescimento da qualidadedo atendimento médico-previdenciário.
O Constituinte Nelson Aguiar(PMDB - ES), de igual forma,afirmou ver a saúde como um dever do Estado, criticando a obtenção de lucros da parte do empresariado privado. "Ninguém tem odireito é, de ganhar dinheiro, ficarrico, às custas das doenças", disse.
Entende o parlamentar capixaba que a questão da saúde é política, de cunho ideológico, e deveriaser encarada como um bem inalienável de todos os brasileiros, assim como a educação. Assegurar
Sarney Filho
"O direito àsaúde se
confunde comuma vida
plena e digna,não havendo
como separá-lodos outros
direitosfundamentais
do ser humano"
do PCB, Constituinte AugustoCarvalho (DF), para quem a responsabilidade estatal estaria noâmbito da normatização, execução e controle das ações e serviçosde saúde, numa "clara estatizaçãodo setor". O parlamentar, na sualinha de raciocínio, manifestou-sea favor do sistema único de saúde,com unificação institucional nosgovernos federal, estadual e municipal, "radicalmente descentralizado e sujeito ao mais lídimo controle social".
Quanto aos serviços de saúdeprivados, Augusto Carvalho julga-os necessários, pelo menos enquanto a rede pública não for sufiCIentemente qualitativa. Mas comuma ressalva: tais empresas estanam sob controle do Estado e dapopulação.
A responsabilidade estatal noatendimento médico à população
, ,
~~Nelson Seixas
nária.Para Sarney Filho, o direito à
saúde se confunde com o direitoa uma vida plena e digna, não havendo como separá-lo dos outrosdireitos fundamentais do ser humano. Assim, asseverou, postularmelhores condições de saúde,prmcipalmente para as crianças, édefender trabalho estável e condignamente remunerado, educação, habitação, alimentação adequada, saneamento básico.
O mesmo sistema único de saúde foi também abordado peloConstituinte Eduardo Jorge (PT- SP), mas que o defendeu comum único comando, descentralizado, regionalizado e que tenhaatendimento integral, sem especializações, para que dê mais atenção à recuperação e à reabilitação.O parlamentar considerou que umnovo sistema deva ter a participação dos usuários, através dascentrais sindicais, no conselho deliberativo.
Para ele, a saúde pública é priorítária e deve receber as verbasoficiais, sem que seja dividida coma iniciativa privada.
Opinião semelhante manisfestou o Deputado Ronaldo Aragão(PMDB-RO), para quem o pretendido sistema nacional de saúdeé viável desde que se eliminem assuperposições de âmbito de atuação. Mas ressaltou para a iniciativa privada um lugar no atendimento médico à população, argumentando que o empresariadotambém faz parte da ampla reforma de que necessita a saúde doPaís. O Estado, afirmou, não éo superpoder que cuida de tudoe de todos.
Para o constituinte, é precisoque a nova Constituição tenha claramente um equilíbno entre o poder público e a iniciativa privadana saúde.
O Constituinte Nelson Seixas(PDT - SP) no seu turno, louvoua ação benéfica da comunidadeem alguns setores da saúde, osquais, a seu ver, não precisam dasubstituição pelo Estado. Na suaopinião, as entidades educacionaise sociais sem fins lucrativos ligadosà previdência privada e à saúdedos excepcionais precisam ser preservadas.
Num plano mais geral, o parlamentar disse conceber que a melhor alternativa em matéria desaúde para o Brasil seja a medicinadescentralizada, municipalizada ecom participação comunitãna,promovendo-se a integração horizontal e vertical dos recursos.
ESTATIZAÇÃO
A saúde como dever do Estadofoi a abordagem do representante
A sessão plenária que discutiuo sistema de saúde brasileiro revelou uma Constituinte tendente emtranspor para o novo texto constitucional um programa de saúdeque fique como está atualmente,dividido entre o poder público eo setor privado. Mas ficou evidente que os parlamentares inclinamse a responsabilizar o setor públicocom maiores atribuições, considerando o atendimento previdenciário e sanitário a todos os cidadãoscomo um dever do Estado, nãoem forma de monopólio, porquecaberia ao empresariado do setora complementação dos serviçosmais específicos e especializados.
Em defesa da iniciativa privada,o Constituinte Jofran Frejat (PFL- DF) observou que esse setor,no Brasii, é o único genuinamentenacional, não cabendo aos empresários tratar de endemias, solucionar problemas de esgoto ou deáguas pluviais, mas sim ao Estado.
Jofran Frejat é favorável à divisão de tarefas entre o setor públicoe o privado, ao argumentar queo monopólio estatal pode provocar a perda do fator comparativode qualidade de serviços e, aí, aseu ver, o Estado tem se caracterizado por ser "um mau gerente".
O Constituinte José Elias Murad(PTB - MG) também afirmou-sea favor de que na nova Constituição seja garantido o espaço para a iniciativa privada. Destacouele que as instituições pnvadasmerecem todo o respeito e na áreade saúde já possuem, por méritos,lugar de destaque.
De outra feita, o parlamentaraproveitou para chamar a atençãoa fim de que seja modificada a política de fabricação de medicamentos no Brasil, sublinhando que ogrande número de remédios nomercado faz gerar distorções depreços e de operacionalidade, porque alguns laboratórios deixam defabricar medicamentos que nãovendem ou vendem pouco. Aquestão é de sobrevivência, definiu José Elias Murad.
RESPONSABILIDADE
Entretanto, as opiniões dosconstituintes começam a concentrar-se em torno da responsabilidade do Estado no atendimentogratuito e obrigatório na área desaúde e na discussão do sistemaúnico de saúde, como está previstono anteprojeto do Relator Bernardo Cabral. Foi o caso do Constituinte Sarney Filho (PFL - MA),que pediu uma nova redação parao texto, dizendo entender que omesmo, em que pese o caráter inovador, está muito explícito em maténas nitidamente administrativas, pertinentes à legislação ordi-
12 Jornal da Constituinte
Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste. Depois desta Carta, criança, não verás mais um pats como este.
Crianças e sete direitos
Saúde: unidade deveorientar toda a ação
Com apenas 1.546 assinaturas,foi encaminhada, para ser incluídana nova Carta, proposta que centraliza, nos municípios, os recursos financeiros destmados aos programas da área de saúde, dentrode .uma ampla reforma tributária.Prevê ainda a criação de conselhoscomunitários a nível municipal,junto às secretarias municipais desaúde, com a finalidade de promover o levantamento das reais necessidades locais, bem como a execução e a fiscalização das açõescompatíveis.
Recursos para. " .os munictptos
a Constituição assegure à criançade O a 6 anos o direito à crechee à educação pré-escolar, mediante leis e mecanismos que possibilitem recursos para a manutençãodesse sistema, inclusive com acriação de rede pública de crechese a obrigatoriedade de as empresas criarem e manterem crechese pré-escolas para os filhos dosseus empregados.
A emenda cuida ainda de declarar a responsabilidade do Estadopela educação, no sentido de queela seja universal, pública e gratuita em todos os níveis e atribuiaos municípios a responsabilidadeda educação pré-escolar e do ensino básico, ficando à União o papelnormativo e supletivo.
DIREITO À VIDA
Emenda apresentada pela Seicho-No-Ie fara a América Latinae do Brasi e pelo Cardeal Arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns, determina que sejaabolida, na nova Constituição,"qualquer dispositivo que atentecontra o direito divino à vida eà sua inviolabilidade, da concepção à morte". A medida, respaldada, por 36.054 assinaturas, diz,em sua justificativa, ser "pontofundamental na consolidação dafamília brasileira, pois guarda, nosprofundos estudos espirituais,uma grande influência sobre as gerações futuras".
jetivos do SIstema Nacional deSaúde. Segundo a emenda, oSistema Unico de Saúde contará com uma política de recursos humanos que preveja: concurso público, carreiras multiprofissionais, isonomia salarial, direito à sindicalização egreve, para os trabalhadores desaúde. •
Na justificativa é explicadoque as entidades e movimentospopulares que compõem a Plenária Nacional pela Saúde naConstituinte lutam pela inclusão das propostas da 8" Conferência Nacional de Saúde notexto da futura Constituição,como condição mínima e indispensável para assegurar o pleno exercício do direito à saude,o qual implica na garantia peloEstado de: condições dignas detrabalho, alimentação, moradia, educação, transporte,meio ambiente, repouso, lazere segurança, além do direito àliberdade, à livre organizaçãoe expressão, ao conhecimentoe controle dos trabalhadoressobre o processo e o ambientede trabalho, bem como o acesso universal e igualitário aosserviços setoriais em todos osníveis.
promulgaçãO da Constituição, sejam aprovadas leis federais sobreo Código Nacional da Criança edo Adolescente, em substituiçãoao atual Código de Menores, bemcomo a instituição dos ConselhosNacional, Estaduais e Municipaisda Criança e do Adolescente.
CRECHEO MOVimento de luta Pró-Cre
che, a Associação de Apoio à Creche Comunitária Casa da Vovó,ambos de Belo Horizonte, e aFundação Fé e Alegria do Brasilpatrocinaram emenda, subscritapelo Senador Ronan Tito (PMDB- MG), propondo a garantia dodireito à creche.
O objetivo da proposta é que
Emenda popular, com oapoio de 55.117 assinaturas,patrocinada pelo Conselho Federal de Medicina, FederaçãoBrasileira de Nutrição e Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal trata da questãoda saúde na forma de reformasanitária.
Entre os princípios defendidos no documento, destaca-se,inicialmente, a proposta de queas ações e serviços de saúdeformarão um Sistema Unico deSaúde, estatal e gratuito.
Os recursos para o financiamento do Sistema Nacional deSaúde - prossegue a emenda- serão provenientes da receita tributária da União, estados,municípios e Distrito Federal,nunca mferiores a 10% do PIB;e se constituirão num fundoúnico de saúde, a ser administrado de forma colegiada pelosórgãos públicos e entidades representativas da sociedade.
Propõe-se também a estatização da indústria farmacêutica. A proposta enfatiza que opoder público poderá intervir,desapropriar ou expropriar osserviços de natureza privada,necessários ao alcance dos ob-
ciedade e do Estado em relaçãoà criança e ao adolescente, principalmente no campo da educação,da assistência SOCial e do amparoà família; prescreve regras atinentes à legislação especial destinadaa regular o trabalho da criança edo adolescente; estabelece os critérios para as formas de participação das comunidades nas políticas e programas de atendimentoaos direitos da criança e do adolescente, e de assistência à gestantee à nutriz.
Além de determinar prioridademáxima na destinação dos recursos orçamentários federais, estaduais e municipais em favor dacriança e do adolescente, a emenda prevê que, dez meses após a
"Compete ao poder públicoprestar assistência integral à saúdeda mulher, nas diferentes fases desua vida; garantir a homens e mulheres o direito de determinar livremente o número de filhos, sendo vedada a adoção de qualquerprática coercitiva pelo poder público e por entidades pnvadas; assegurar acesso à educação, informação e aos métodos adeg,uadosà regulamentação da fertilidade,respeitadas as opções individuais" .
Respaldada por 33.338 assinaturas, temos acima íntegra deemenda popular que trata da saúde da mulher, apresentada pelasentidades: Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, União de Mulheres de São Paulo e Grupo deSaúde Nós Mulheres do RIO.
"A mulher tem o direito de conceber, evitar a concepção ou interromper a gravidez mdesejada, até90 dias de seu início. Compete aoEstado garantir esse direito através da prestação de assistência integral às mulheres na rede de saúde pública. Serão respeitadas asconvicções éticas, relígíosase individuais" .
Porta abertapara o aborto
Os sete direitos capitais dacriança e do adolescente - à Vida,à sobrevivência digna, ao futuro,à infância, à adolescência, à dignidade e ao respeito ,. e à liberdade- devem figurar na Constituição,segundo a emenda popular defendida pelo movimento "Criança,Priondade Nacional". Afirma omovimento que o quadro de miséria, carência e sofnmento, violência e degradação que vitima grande maiona da nossa infância e adolescência não apenas deve comopode ser mudado.
Patrocinada pela FederaçãoNacional da Sociedade Pestalozzi,"Ação e Vida" e pelo Serviço Nacional Justiça e Não-Violência, aproposta define os deveres da so-
Médico pessoalserá possível?
Sete maneirasde incentivara arte no País
Para que a Constituição contemple também o espaço definidoda arte e dos profissionais do setor, emenda popular defende aidéia de que é dever do Estadopromover o desenvolvimento artístico-cultural e sua autonomia.Esse objetivo deve ser asseguradopela liberdade de expressão, criar,aprender, ensinar, produzir e pesquisar, individual e coletivamente, em arte, e pela priorização decompromisso com o bem comum,a memória, a realidade e a culturabrasileiras em relação ao contextouniversal.
Dessa maneira, são defendidossete itens: destinação de recursospúblicos à docência, à pesquisa eà criação em arte, quanto a meiosmateriais e não materiais, à formação e condições de trabalho, à divulgação e circulação dos valorese bens culturais produzidos; ensino público e gratuito para a artena escola formal e instituições culturais, como direito de cada cidadão; ensino da arte como disciplinas obrigatórias nos currículos,dos vários níveis; cursos profissionalizantes em arte, atendendo àsvárias responsabilidades; participação de profissionais e entidadesassociativas atuantes na área dearte-educação em todas as etapasde planejamento de atividades dogoverno; acesso aos níveis maiselevados do ensino; da pesguisa,da criação e da produção artística;e incentivo às manifestações artísticas de criação nacional.
Apoiadas por 72.501 assinaturas, a Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviços deSaúde, a Associação Brasileira deMedicina de Grupo e a FederaçãoBrasileira de Hospitais encaminharam emenda solicitando queseja incluído na nova Constituiçãoo seguinte:
L O Sistema Nacional de Saúde deve respeitar os princípios:a - universalidade do atendimento; b - pluralismo de sistemasmédico-assistenciais; c -livreexercício profissional; e d -livreopção do mdivíduo entre diversossistemas.
OUTRAS OPÇÕES
Emenda dispondo sobre a medicina alternativa natural foi ap'resentada pela Associação Brasileira de Terapeutas Naturistas, Federação Nacional de Associaçõesde Medicinas Alternativas Naturais e Fundação Cultural do Distrito Federal.
Com 14.040 assinaturas, a proposta determina que o poder público deve assegurar o pleno direito de acesso às terapias e métodosalternativos de assistência, preservação e recuperação da saúde, individual e coletiva, através da utilização de modalidades, princípios, métodos e técnicas específicas. Estabelece também que aação própria para a garantia dessedireito é de rito sumário, inclusivequando se destmar à defesa domeio ambiente.
Jornal da Constituinte 13
ADlRP/Guilhenne R.n~l
As emendas eram tantas que as mãos do povo não foram bastantes
Bancários querem parar aos 25Promovida pelas entidades de
classe do Comitê de Defesa doFuncionahsrno do Ceará, emendapopular quer que sejam considerados estaveis, no serviço públicodos estados, todos os servidoresda admírnstração centralizada ouautárquica, admitidos em carátertemporário que, à data da promulgação da Constituição, comp'letarem cinco anos de serviço publicosem interrupção de suas funções.
Outra emenda, subscrita por31.237 eleitores, propõe a criaçãodo Estado de Santa Cruz, sendopatrocinada por entidades da Bahia: Câmara Municipal de Jussari,Associação dos Moradores doBairro São Caetano, e Associaçãode Moradores do Bairro de SãoPedro, ambas de Itabuna.
Já a Associação dos Prefeitosde São Paulo, a Associação Paulista dos Municípios e a União dosVereadores Brasileiros apresentaram emenda, subscrita pelo constituinte Francisco Amaral (PMDB- SP), sobre mandato. Estabelece que perderão o mandato ogovernador e o prefeito que assumirem outro cargo ou função naadministração pública direta ouindireta, sem prévia licença do Poder Legislativo respectivo. AConstituição Estadual deverá estabelecer limites máximos e mínimos dos subsídios do prefeito, vice-prefeito e dos vereadores, queserão fixados pela Câmara Municipal no primeiro semestre do último ano da legislatura, para vigorarem na seguinte.
A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de municípios deverão obedecer os requisitos de lei estadual, além dedependerem de consulta prévia,mediante plebiscito, às populações diretamente interessadas. Éo que prevê emenda apresentadapela Assembléia Legislativa doEstado do Rio Grande do Sul, pela Associação das ComissõesEmancipacionistas e pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul.
ESTABILIDADE
renciadas e às profissões regulamentadas o direito de organizaçãode respectivas entidades sindicaisúnicas por base territonal."
A justificativa que embasa essaemenda argumenta que não há como unificar direitos e interesses,individuais e coletivos, em pleiteações coletivas se, por definição,todos eles são diferenciados entresi. Ainda: "Se se suer implantaro sistema de pluralidade absolutapara as demais categorias não épossível fazê-lo com as diferenciadas e com as profissões regulamentadas, quer pela falta de legitimidade das representações majoritárias, quer pela força insignificante que passarão a ter tais entidades, com inegáveis prejuízosaos respectivos profissionais e,portanto, ao país, como um todo".
" .empresanos
Estabilidade,segundo os
Com 32.425 assinaturas, o Centro das Indústrias do Estado doRio Grande do Sul, a Associaçãode Empresários do Estado do RioGrande do Sul e a ASSOCiação dosDirigentes de Vendas do Brasilencaminharam à Constituinteemenda dispondo sobre a estabilidade no emprego.
Pela proposta, é direito socialdos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem àmelhoria de sua condição social,a garantia da relação de emprego,salvo:
a) contrato a termo - trata-sede necessidade da economia, particularmente na demanda de serviços altamente especializados comobjetivos fixados dentro de determinado período;
b) falta grave - o empregadorprecisa dispor desta alternativa dedispensa a fim de preservar a harmonia interna de seu quadro funcional, sendo instituto contemplado em todos os ordenamentos Jurídicos;
c) contrato de experiência - éprerrogativa indispensável para osobjetivos de eficiencia da atividade empresarial pela constataçãoda capacitação profissional docontratado;
d) fato econômico intransponível, técnico ou de infortúnio daempresa - como atividade de nsco, à empresa deve ser conferidamobilidade razoável para o enfrentamento de problemas intransponíveis, visando à preservação da atividade empresarial, devidamente demonstrada essa circunstância pelos próprios fatoresinerentes a variáveis do universono qual o empreendimento estáinserido;
e) pagamento de indenização ao empregador cabe a responsabilidade de pagamento de indenização proporcional e progressivaao tempo de serviço como únicamedida adequada capaz de compensar o empregado pelo períodode sua dedicação à empresa seminviabilizã-la,
No mesmo sentido, outra emenda popular apresentada estabeleceque são estáveis os servidores regidos pela CLT, os da União, dosestados e dos municípios, da administração direta e autarquias que,à data da promulgação da Constituição, contem, pelo menos cincoanos de serviço público.
Apresentam o documento, com32.000 assinaturas, a Associaçãodos Técnicos em Ciências Econômicas, Contábeis e Administraçãode Empresas da CEERGS, Associaçãoaos Gerentes e Subgerentesda Caixa Econômica Estadual doRio Grande do Sul e a AssociaçãoRecreativa dos Caixas da CaixaEstadual/RS.
ORGANIZAÇÃO SINDICAL
"É garantido às categorias dife-
TRABALHADOR RURAL
A aposentadoria para o trabalhador rural, voluntariamente aos60 anos de idade, se do sexo masculino, e aos cinqüenta e cincoanos, se do sexo feminino, constitui uma das três sugestões constantes da emenda popular, com31.500 assinaturas, patrocinadapela Federação dos Aposentadose Pensionistas de Minas Gerais,Associação dos Aposentados ePensionistas do Alto Parnaíba eAssociação dos TrabalhadoresAposentados e Pensionistas deUberlândia,
PREVIDÊNCIA SUPLETIVA
das pelo sistema de seguridade social dos idosos desamparados.
Emenda para suprimir dispositivo do projeto constitucional veioda Bahia, apoiada por 41.188assinaturas e coordenada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Extração de Petróleo noEstado da Bahia, Associação dosMantenedores Beneficiários daPetros e Associação dos Trabalhadores Portuários da Cidade deCandeias.
Sustenta a emenda que, alémde não ser de natureza constitucional, é inconveniente, pelos riscos que acarretaria à previdênciasupletiva, o artigo 360 e seu parágrafo único do projeto da Comissão de Sistematização.
O dispositivo que se quer suprimir determina que "a participaçãodos órgãos e empresas estatais nocusteio de planos de previdênciasupletiva para seus servidores eempregados não poderá excedero montante de contribuição dosrespectivos beneficiános". O parágrafo único estende tal regra àprevidência parlamentar.
Os bancários e securitários querem a aposentadoria aos vinte ecinco anos de serviço e tambémque os proventos sejam de valorigual à maior remuneração dos úlnmos doze meses de trabalho. Aemenda que defende tais reivindicações fOI apresentada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito,pela Associação Profissional dosEmpregados em Estabelecimentos Bancários de Assis (SP)e pelo Sindicato dos Empregadosem Estabelecimentos Bancáriosde Presidente Prudente, sendosubscrita por 43 mil eleitores.
IDOSOS
"A Constituição não deixará aodesamparo quatorze milhões deidosos e milhões de trabalhadoresque têm direito a uma aposentadoria digna, após trinta e cincoanos de trabalho diuturno pelagrandeza do Brasil" - é o Cjueproclamam o Fórum Nacional daTerceira Idade, o Sindicato dosMetalúrgicos de São Paulo e o Sindicato dos Advogados de São Paulo, patrocinadores de emenda com32.475 assinaturas.
A proposta é no sentido de quese inclua na Constituição artigo estatuindo que os poderes públicosgarantirão a suficiênciaeconômicae as condições de habitação e convívio familiar e comunitário daspessoas idosas, promovendo seubem-estar mediante um sistema deserviço social que atenda aos problemas específicos de saúde, moradia, cultura e lazer, de modo aevitar o isolamento ou marginalização social.
Para tanto, será organizado umfundo de assistência à terceira idade que possibilite pensões adequa-
IR sobre osproventos dosaposentados
A preocupação com o Impostode Renda sobre os proventos daaposentadoria está manifesta naemenda vinda de Volta Redonda,coordenada pela Associação dosIndustriários Aposentados e Pensionistas daquela cidade, pela Associação dos Moradores e Amigosdo Bairro Sessenta e pela UniãoHospitalar Gratuita. Eles pedemque seja mantido o art. 356, parágrafo único, do projeto da Comissão de Sistematização, que declaraque o Imposto de Renda sobreproventos da aposentadoria só incidirá a partir do montante corresponde a 20 salários mínimos. Encarecem, entretanto, que sejamfeitas ressalvas em paragrafos doart. 270. E explicam: "Volta Redonda é um campo dividido. Umterço aproximadamente de nossosaposentados pugna pela paridadepura e simplesmente. De nossaparte, julgamos que o projeto resguarda suficientemente os nossosdireitos, com dois obstáculos, porém, que desde logo nos preocupam. Em primeiro lugar, o problema da indexação, que deve sermantida em relação ao salário mínimo. Em segundo lugar, a incidência do imposto previsto peloart. 270, item Ill, sem que se discriminem os proventos da aposentadoria. Uma preocupação paraque não se tire o que já está. Aoutra, para que se acrescente oque falta".
PENSIONISTASCom o respaldo de 58.000 assi
naturas, a Federação dos Aposentados e Pensionistas e a União dosAposentados em Transportes Coletivos e Cargas, ambas de SãoPaulo e a Associação dos Aposentados e Pensionistas de RibeirãoPreto apresentaram emenda popular dispondo sobre direitos e garantias constitucionais dos pensionistas e aposentados da previdência social.
Pretendem, em síntese, a adoção do sistema único de previdência social, sem tratamento diferenciado de qualquer natureza, bemcomo a unicidade do plano de benefícios, reivindicação legitimada,dentre outras, pela linha evolutivada legislação comparada. Finalmesse, des~ a participação deaposentados e pensionistas na administração de órgãos e entidadesda previdência social, por significar o tortaíecimento do regime democrático, onde a participaçãodos segmentos interessados nosorganismos públicos é uma notaessencial.
IMPOSTOCom 339.007 assinaturas, a As
sociação Brasileira das EntidadesFechadas de Previdência Privadaencabeça a emenda popular paraque seja vedado ã União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municíp'io~ i~stituir imposto sobre opatnmomo, a renda ou serviçosdas entidades de previdência privada sem fins lucrativos, observados os requisitos estabelecidos emlei, bem como prevendo que a leiregulará a previdência privadasem fins lucrativos com carátercomplementar dos planos de seguro social.
Patrocinam ainda a emenda aFundação Rede Ferroviária de Seguridade Social e a Caixa de Previdência dos Funcionários do Bancodo Brasil.
14 Jornal da Constituinte
"Indio e terra, a união indivisível
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Manter em pé SESI e SENACmanutenção do Serviço Nacionalde Aprendizagem Industrial (SENAI) e do Serviço Social da Indústria (SESI) foi patrocinada pelaConfederação Nacional da Indústria, pela Federação das Indústriasde Brasília e pela Associação dasEmpresas dos Setores de Indústriae Abastecimento e Gráfico do DF,com o apoio de 290.752 assinaturas de eleitores.
Na justificativa da emenda, osque a apóiam manifestam seu repúdio à tentativa de extinguir osreferidos órgãos, através do cortede sua atual forma de manutenção, e defendem a permanênciada situação jurídica de instituição privada. Eles são contráriosà absorção das entidades pelo sistema de ensino público, por entender que a medida seria prejudicialao seu funcionamento eficiente.
MÃO-DE-OBRA
Subscrita com 36.441 assinaturas, foi apresentada emenda coma finalidade de excluir a proibiçãodas atividades de intermediaçãode mão-de-obra.
Na justificativa, enfatiza-se quesão realizados "no país, tipos deprestação de serviços, pela miciativa privada, indispensáveis à dinamização social e econômica, taiscomo: serviços de limpeza e conservação de móveis e Imóveis; vigilância e segurança de bens, patrimônio e valores; manutençãode máquinas e equipamentos;transportes e outros, que gerammilhares de empregos e recolhemmilhões de encargos em contribuição social e de tributos. Somenteno setor de asseio e conservaçãosão quase dois milhões de trabalhadores, com sindicatos reconhecidos em todos os estados".
EMPREGADO DOMÉSTICO
Endossada pelas associações declasse de São Paulo, Santa Catarina e Uberlândia, outra emendaestende aos empregados domésticos os direitos assegurados aosdemais trabalhadores pelas leisconsolidadas e legislação previdenciária, com reconhecimento desua categoria profissional e elevação de sua representação de associação profissional para sindicatode classe, pelo Mimstério do Trabalho.
mem e com 25 anos para a mulher,e com tempo inferior, pelo exercício de trabalho noturno, de revezamento, penoso, insalubre ou perigoso.
A preocupação de garantir nainatividade o poder aquisitivo queo trabalhador detinha quando trabalhava está relacionada com rebaixamento que ocorre na fixaçãodo valor do benefício, calculadocom base na média dos últimos36 meses. Em época de inflação,tal média não representa nem metade do último salário percebido.
Duas emendas populares foramapresentadas com o objetivo demanter o SESC/SENAC e o SESI/SENAI tais como estão estruturados hoje, garantindo suas fontesde receita e sua condição de instituições de direito privado. Como apoio de 628.202 assinaturas deeleitores, a emenda que garanteo sistema de contribuição das empresas comerciais para o SESC eo SENAC com base no seu faturamento foi patrocinada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio e pelos própriosórgãos interessados, o Serviço Nacional de Aprendizagem comercial (SENAC) e o Serviço Socialdo Comércio (SESC). Respaldaram ainda a emenda mais de umacentena de sindicatos de patrõese empregados.
A emenda que visa garantir a
Apresentada pela Central Gerai dos Trabalhadores, pela Central Única dos Trabalhadores e peloDepartamento Intersindical deAssessona Parlamentar, emendapopular subscrita por 272.624 eleitores, alinha os direitos dos trabalhadores a serem inscritos na futura Constituição.
Trinta e três itens constituem esses direitos básicos, dentre osquais o salário mínimo real a serfixado pelo Congresso, o saláriofamília à razão de 20% do saláriomínimo por dependente, o saláriode trabalho noturno, o décimo terceiro salário, a participação diretanos lucros ou no faturamento daempresa, o reajuste automáticomensal de salários, remuneração,pensões e proventos de aposentadoria pela variação do índice docusto de vida.
ESTABILIDADEDefende a emenda a jornada se
manal de 40 horas; a estabilidadedesde a admissão no emprego, salvo o cometimento de faltagrave comprovada judicialmente;o Fundo de Garantia por Tempode Serviço; a greve que não poderá sofrer restrições na legislação,sendo vedado às autoridades públicas, inclusive judiciárias, qualquer tipo de intervenção limitativodesse direito; proibição do locaute; proibição da locação de mãode-obra e contratação de trabalhadores avulsos ou temporários;proibição da caracterização comorenda, para efeitos tributários, daremuneração mensal até o limitede 20 salários mínimos não-incidência da prescrição no curso docontrato de trabalho; seguro desemprego; organização de comissões por local de trabalho.
APOSENTADORIA
No tocante à Previdência Social, a emenda defende a aposentadoria com remuneração Igual àda atividade, garantido o reajustamento para preservação do seu valor real, com 30 anos para o ho-
Ocaminho davalorizaçãodo trabalho
Bancário querentrar no bolo
preservação do meio ambiente edo seu patrimônio cultural.
As terras indígenas são bens daUnião, inalienáveis, imprescritíveis e indisponíveis a CJ.ualquer título, vedada outra destinação quenão seja a posse e usufruto dospróprios fndios. A eles é permitidaa cata, faiscação e garimpagem emsuas próprias terras. Excepcionalmente, a pesquisa e lavra de recursos minerais em terras indígenaspoderão ser feitas apenas pelaUnião, em regime de monopólio,com a prévia autorização dos índios que as ocupam, quando houver relevante interesse nacional,assim declarado pelo CongressoNacional.
Encaminhada pela AssociaçãoNacional dos Funcionários doBanco do Brasil, União Nacionaldos ACIOnistas Minoritários doBanco do Brasil e Associação dosAntigos'Funcionários do Bancodo Brasil emenda popular tratando da participação no lucro e democratização da administraçãodas empresas.
O objetivo é democratizar a administração das empresas, garantindo a gestão por eleição diretados empregados e a participaçãono lucro real das empresas pübhcas, das sociedades de economiamista e das empresas privadas.
Segundo as entidades patrocinadoras, a participação dos empregados no lucro das empresas,além de um avanço econômico esocial, é um poderoso estímulo aoaumento da produção e da produtividade; é ainda uma forma dedistribuição de riquezas e de democratização do capitalismo.
Para que melhor se atinja a participação nos lucros - contínuao documento -, é fundamentalque os empregados participem dagestão das empresas, elegendo umseu representante para a diretoria,a fim de se inteirarem das políticase dos objetivos das empresas, desua real situação financeira e dosproblemas que elas enfrentam
Por outro lado, a proposta assegura o acesso público às fontes,metodologias de cálculo, estatísticas e dados necessários ao conhecimento da realidade SOCial, econômica e terntorial do país de quedisponham os poderes públicosem todos os níveis.
às pessoas, aos bens, à saúde eà educação dos índios.
As terras ocupadas pelos índios,diz a emenda, são inalienáveis,destinadas à sua posse permanente, independendo de demarcação,ficando reconhecido seu direito aousufruto exclusivo das riquezasnaturais do solo e do subsolo, dasutilidades nela existentes e doscursos fluviais, assegurado o direito de navegação.
São terras ocupadas pelos índiosas por eles habitadas, as utilizadaspara caça, pesca, extração, coleta,agricultura e outras atividadesprodutivas, e as áreas necessáriasà sua reprodução física e cultural,segundo usos, costumes e tradições, incluídas as necessánas à
·Mais recursos, .
A tecnologiaA Federação Nacional dos En
genheiros, a Associação Brasileiradas Instituições de Pesquisa Tecnológica Industrial e a Coordenação Nacional dos Geólogos patrocinaram a emenda popular queatribui aos poderes públicos a responsabilidade de promover o desenvolvimento tecnológico dopaís, das ciências básicas, sociaise naturais.
A emenda - que não alcançouo número mínimo de assinaturas,mas foi assumida pelo constituinteLysâneas Maciel - prevê que osinvestimentos públicos no setorsejam, no mínimo, de 2% do PIEe não menos que 5% do orçamento fiscal da União.
Coloca sob controle estatal osserviços de telecomunicação, lançamento e operação de sistemasespaciais e veda a produção, aconstrução, o armazenamento e otransporte, em território nacional,de armas nucleares, químicas, biológicas e outras de igual efeito devastador.
Patrocinada pela AssociaçãoBrasileira de Antropologia(ABA), pela Coordenação NacIOnal dos Geólogos (CONAGE) epela Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência (SBPC),com o apoio de 41.114 assinaturas,a emenda constitucional Uniãodas Nações Indígenas diz que asociedade brasileira é pluriétnica.Determina ainda que os índios gozarão dos direitos especiais constantes da emenda, além de outrosinstituídos por lei.
São reconhecidos aos índios asua organização social, seus usos,costumes, línguas, tradições e seusdireitos originários sobre as terrasque ocupam. Compete à União aproteção às terras, às instituições,
Compulsório. " .no municipto
A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal poderãoinstituir, além dos que lhes são nominalmente atribuídos, outros impostos, desde que não tenham fatogerador ou base de cálculo próprios de impostos discriminadosna Constituição. Poderão tambémInstituir empréstimos compulsórios para atender a despesas extraordinárias provocadas por calamidade pública, mediante leiaprovada por maioria absoluta dosmembros dorespectivo Poder Legislativo. E o que determinaemenda constitucional propostapela Associação dos Prefeitos deSão Paulo, pela Associação Paulista dos Municípios e pela Uniãodos Vereadores Brasileiros. Aemenda foi patrocinada pelo constituinte Francisco Amaral (PMDB- SP) porque só conseguiu 10 milassinaturas de eleitores.
Os impostos previstos na emenda não incidirão sobre produtosindustrializados destinados ao exterior, bem como a entidades públicas, nem sobre operações relativas à circulação de mercadoriasrealizadas por produtores, industriais e comerciantes. Os autoresdizem que a emenda visa darmaior e mais justa participaçãoaos municfpios na distribuição dasreceitas federais e estaduais, comorequisito bãsico para a autonomiaeconômica dos municípios
Jornal da Constituinte. 15
ADlRP/GUllhenne Rangel
Centro da vontade nacionalUma das preocupações básicas dessasociedade que opinou e compareceuà Constituinte se relaciona com osdireitos da criança. Esse foi otema específico de três emendaspopulares, sem contar aquelasoutras que, indiretamente, atingema infância e a adolescência.Essa acentuada preocupação com omenor pode ser saudada como osurgimento de uma novaconsciência nacional, inseridano princípio de que investir nacriança é garantir o futuro.Outro tema que também reJ?resentauma nova mentalidade brasileiraé a situação dos deficientesfísicos, que lutam por umtratamento menos paternalístico emais eficiente, onde se incluamo direito ao trabalho, ao autosustento, à educação e àrealização individual, enfim,à felicidade.
Se o pensamento e a vontadede uma nação, ou pelo
menos de uma imensa parcelada sociedade, pudessem serconsolidados em matéria e
armazenados em um s6 espaço,certamente o centro geográfico
desse sentimento poderiaser fixado em uma das salas do
Anexo 11 da Câmara dos Deputados,poucos metros distante
do ponto onde toda essa matériase transforma em verbo e diálogo:
, o plenário.E nesta sala, sob a guarda defuncionários cuidadosos, que
repousam centenas de pesadospacotes que reúnem mais de
13 milhões de assinaturasde apoio de eleitores às
emendas populares oferecidasà Assembléia Nacional
Constituinte e CJ.ue entram agoranuma fase decisiva de discussão.
AI?IRP/Guilhenne Rangel
ADIRPlRoberto Stuckertr
16 Jornal da Constituinte