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Brasília, de 31 de agosto a 6 de setembro de 1987- N9 14 Natureza: o futuro ameaçado Para a felicidade das novas gerações, o Brasil começa a se voltar para a preservação do meio ambiente. Mas ainda falta muito para que cessem as agressões às matas, aos rios e a todo o nosso patrimônio natural. A crueza da realidade e o que se espera da lei são temas das páginas 8 e 9. Quem manda . e como, eis a maior questão Parlamentarismo ou pre- sidencialismo? A questão foi colocada a quatro consti- tuintes, na mesa-redonda promovida pelo Jornal da Constituinte. E o que se viu foi um apaixonante debate entre duas correntes de opi- nião, cada uma com argu- mentos múltiplos e válidos. Para uns, o parlamentaris- mo é a solução inevitável para a estabilidade do País, enquanto outros argumen- tam que o presidencialismo é viável e corresponde me- lhor à nossa realidade. (Pá- ginas 4 a 7). Emendas do povo mostram . . vanos anseios A tentativa de mudar o quadro de carência e pobre- za em que vivem milhões de crianças brasileiras é a sínte- se de uma emenda que al- cançou grande repercursão, tanto na sociedade como no âmbito da Constituinte. As- sim também a que trata da questão indígena, numa tentativa de impedir qual- 9uer separação no binômio , índio-terra". Também a ampliação dos direitos dos trabalhadores foi tema que movimentou grande núme- ro de entidades de classe em todo o País, resultando em propostas de caráter pro- gressista. (Páginas 10, 11 e 12) Volume 354 (Página 3). - ADIRPIRobeno Stuckert Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte Sempre há tempo para negociar A primeira emenda popular defendida da tribuna foi sobre direitos da mutner., Moema v tezzer, autora do livro "Se me deixam falar!" falou. Pronto o segundo projeto de Constituição, ou substitutivo, constatam-se evoluções: o texto está-me- nor, com a eliminação de 122 artigos, mais coerente, e aponta caminhos para o entendimento. Várias ques- tões polêmicas encontram-se preeguacionadas, entre elas a da reforma agrária, da definição de empresa nacional e da anistia a militares cassados. Todos os temas, inclusive esses, podem sofrer modificações no processo contínuo de negociação que teve início com as subcomissões, onde a sociedade foi ouvida e passou por diversas etapas, que incluíram a formação de gru- pos suprapartidários e a recepção de emendas popula- res. O último texto do relator Bernardo Cabral está sendo debatido em todos os espaços, neste instante: pela sociedade civil, pelos militares e, principalmente, pelos constituintes, os responsáveis maiores pela ela- boração da Carta. Para negociar sempre tempo. Um minuto ou um segundo antes de cada constituinte pronunciar seu voto, na Sistematização ou no plená- rio, ainda será possível buscar o entendimento maior. Ulysses destaca a importância do segundo esboço da Carta .ADIRPIReyn.ldo Stavale

Sempre há · Quando o relator Bernardo Cabral entregou ao Presidente Ulysses Guimarães, na tarde do último dia 26, o projeto de constituição, uma nova etapa ... os índios podem

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Brasília, de 31 de agosto a 6 de setembro de 1987 - N9 14

Natureza:o futuro

ameaçadoPara a felicidade das

novas gerações, oBrasil começa ase voltar para apreservação do

meio ambiente. Masainda falta muito

para que cessem asagressões às matas,

aos rios e a todoo nosso patrimônionatural. A crueza

da realidade e o quese espera da leisão temas daspáginas 8 e 9.

Quem manda.e como, eis amaior questão

Parlamentarismo ou pre­sidencialismo? A questãofoi colocada a quatro consti­tuintes, na mesa-redondapromovida pelo Jornal daConstituinte. E o que se viufoi um apaixonante debateentre duas correntes de opi­nião, cada uma com argu­mentos múltiplos e válidos.Para uns, o parlamentaris­mo é a solução inevitávelpara a estabilidade do País,enquanto outros argumen­tam que o presidencialismoé viável e corresponde me­lhor à nossa realidade. (Pá­ginas 4 a 7).

Emendas dopovo mostram

~ . .vanos anseiosA tentativa de mudar o

quadro de carência e pobre­za em que vivem milhões decrianças brasileiras é a sínte­se de uma emenda que al­cançou grande repercursão,tanto na sociedade como noâmbito da Constituinte. As­sim também a que trata daquestão indígena, numatentativa de impedir qual­9uer separação no binômio, índio-terra". Também aampliação dos direitos dostrabalhadores foi tema quemovimentou grande núme­ro de entidades de classe emtodo o País, resultando empropostas de caráter pro­gressista. (Páginas 10, 11 e12)

Volume354

(Página 3).

-ADIRPIRobeno Stuckert

Órgão oficial de divulgação da Assembléia Nacional Constituinte

Sempre hátempo para

•negociar

A primeira emenda popular defendida da tribuna foi sobre direitos da mutner., Moema vtezzer, autora do livro "Se me deixam falar!" falou.

Pronto o segundo projeto de Constituição, ousubstitutivo, constatam-se evoluções: o texto está-me­nor, com a eliminação de 122 artigos, mais coerente,e aponta caminhos para o entendimento. Várias ques­tões polêmicas encontram-se preeguacionadas, entreelas a da reforma agrária, da definição de empresanacional e da anistia a militares cassados. Todos ostemas, inclusive esses, podem sofrer modificações noprocesso contínuo de negociação que teve início comas subcomissões, onde a sociedade foi ouvida e passoupor diversas etapas, que incluíram a formação de gru­pos suprapartidários e a recepção de emendas popula­res.

O último texto do relator Bernardo Cabral estásendo debatido em todos os espaços, neste instante:pela sociedade civil, pelos militares e, principalmente,pelos constituintes, os responsáveis maiores pela ela­boração da Carta. Para negociar há sempre tempo.Um minuto ou um segundo antes de cada constituintepronunciar seu voto, na Sistematização ou no plená­rio, ainda será possível buscar o entendimento maior. Ulysses destaca a importância do segundo esboço da Carta

.ADIRPIReyn.ldo Stavale

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Os minérios são nossos!Auditoria dadívida externa

Auditoria da dívida externa fOIuma das bandeiras empunhada pe­lo PMDB ao longo aos difíceisanos da resistência democrática,juntamente com temas como elei­ções diretas dos governadores, au­tonomia das capitais e dos muni­cípios considerados área de segu­rança nacional, anista ampla e ir­restrita e as diretas para presidenteda República.

O endividamento brasileiro es­teve sempre envolto no mais nebu­loso mistério, no tocante à formacom que as operações eram cele­bradas no exterior e quanto à desti­nação dos recursos obtidos. DeUS$ 2 bilhões no governo CastelloBranco, o montante da dívida che­gou a US$ 108bilhões no final dogoverno Figueiredo. Nesse perío­do o Brasil transferiu cerca de 50bilhões de dólares somente a títulode pagamento do serviço da dívida(juros e spread), numa sangria bru­tal em sua economia interna.

Por sua profunda repercussãosocial e econômica, demos ênfaseà questão da dívida externa. Ela­boramos proposta de uma audito­ria, ampla e circunstanciada, a serlevada a termo pelo Tribunal deContas da União, dentro de umprazo máximo de um ano, a contarda promulgação da nova Carta. Ainvestigação do TCU recairia so­bre todas as operações havidas emmoeda estrangeira pela adminis­tração direta e indireta, federal, es­tadual e municipal, bem comoaquelas realizadas com o aval dopoder público por entidades do se­tor privado.

Infelizmente o texto do art. 470,do projeto de Constituição, queabsorveu nossa proposta, não o fezpor inteiro, deixando de lado aanálise dos negócios praticados porempresas privadas mediante avalou fiança dos poderes públicos, oque nos levou a oferecer emendade plenário para restaurar a jnte­gridade de nossa iniciativa. E devital importância que a auditoriatenha ampla abrangência, tendoem vista que é extensa a lista deoperações colocadas sob suspeitade grave~ irregularidades pelos go­vernos ditatoriais.

Em recente discurso, da tribunada Assembléia Nacional Consti­tuinte, denunciamos o caso da bi­nacional Itaipu, que adquiriu duasgigantescas usinas moedoras de ci­mento, através de consórcio inter­nacional e, embora praticamenteconcluída a hidrelétnca, até hojeesse equipamento não moeu umasó saca de cimento, muito emboraa sociedade brasileira esteja pa­gando o seu elevado custo, junta­mente com o de obras faraônicase projetos de duvidosa utilidadepara o país.

Constituinte Sérgio Spada(PMDB-PR)

Com os pésno futuro

Quando o relator BernardoCabral entregou ao PresidenteUlysses Guimarães, na tardedo último dia 26, o projeto deconstituição, uma nova etapado processo constituinte estavasendo inaugurada. A Nação in­teira põe os pés no territóriodo futuro. A nova Carta Mag­na começa a ganhar seu defini­tivo conteúdo, sujeita, todavia,a correções e mudanças atravésdo tempestuoso processo devotação no âmbito do plenário.O projeto da Comissão de Sis­tematízação é frsto de um lon­go amadurecimento. Mais de380discursos sobre temas cons­titucionais, pronunciados aolongo de 214 horas e 30 minu­tos; 37.961 emendasno perío­do das comissões temãticas emais 20.791 emendas na fasede emendas de plenário. Tudoisso exprime o tumulto criativodas idéias-e o talento legislativodos constituintes brasileiros.Mas tudo isso seria falso e des­tituído da grandeza moral e po­lítica que só a liberdade partici­pativa da coletividade nacionalconfere, se no âmbito da Cons­tituinte não ingressasse o movi­mento do povo, através dascentenas de audiências públi­cas, da visitação incessante dasdelegações populares que ele­vou para mais de 5.000 pessoasa média de ingresso do públiconas dependências do Congres­so Nacionale das emendas po­pulares - 122 entregues à Co­missão de Sistematização ­que trouxeram ao exame daAssembléia as aspirações maiscandentes das ruas.

Nesta edição do Jornal daConstituinte incluímos o Pro­jeto de Constituição e o debatede muitos temas constitucio­nais, entre os quais destacamosa polêmica que se difunde e seaprofunda em torno do sistemade governo: parlamentarismo epresidencialismo.

Constituinte Marcelo Cordeirolo-Secretário da ANC

A nação assiste estarrecida o de­senvolver dos trabalhos da Assem­bléia Nacional Constituinte. E sur­preendente que, após superadostantos obstáculos, corra-se o riscode se perder excepcional oportu­nidade de avançar política, institu­cional, econômica e socialmenteemdíreção a~ tipo de s?~iedade

mais Justa e mais democrática.Os grupos políticos (partidos

não existem mais) se engalfinhamassustadoramente, procurando, aoseu modo e estilo, impor a suaConstituição e não a Constituiçãodos brasileiros, Constituição essaque deveria ser calcada em princí­pios e objetivos que realmente ex­pressassem o consenso nacional.

O geral cedeu ao particular. Asíntese cedeu à prosa. Os princí­pios cederam à radicalização.

Esperta e habilmente, setoresbem identificados, aproveitandoesse quadro equivocado, conduzi­ram o debate para o camyo da livreiniciativa e da estatizaçao, quandodeveria se travar entre o naciona­lismo e o entreguismo. Claro quenão o nacionalismo piegas ou exa­cerbado mas aquele que as defenderiquezas e os bens de todos os bra­sileiros. Já houve até propostas pa­ra a suspensão dos trabalhos daConstituinte, como se todos fosse­mos inocentes para não percebera manobra golpista embutida emtal iniciativa.

A Constituinte é uma assem­bléia que envolve a todos nós, masque nao é a derradeira solução pa­ra o país. Temos UJIl longo cami­nho a percorrer. Agora, a formacomo os assuntos e os debates vêmsendo colocados, se nos pareceequivocado, posto que espelha vi­soes particulares e sectárias, ali­mentadas diuturnamente por umlobismo desenvolto, competente edeterminado quanto aos seus obje­tivos antinacionais. E não é umasolução em si porque a crise queatravessamos não é apenas de or­dem social e econômica. É acimade tudo de ordem moral, e em to­dos os escalões da nova República,em todos os setores. É preciso quese insista na correção dos métodosde trabalho e nas práticas políticas,evitando-se maiores danos à socie­dade nacional.

No campo social avançou-secom zelo e patriotismo. Já no cam­po econômico, pela simples leituraao Texto Maior, percebe-se a totalentrega do nosso subsolo às empre­sas transnacionais. Nossas riquezasminerais permanecerão, comoagora, à mercê dos interesses es­trangeiros.

E ninguém diz nada, a não seralgumas honrosas exceções.

Doze por cento do nosso terri­tório já está entregue a essas cor­porações e a bancos estrangeiros,os quais, além de em nada teremcontribuído para o esforço de recu­peração econômica do Brasil, atra­vés de alvarás e concessões de pes­quisa e exploração, aumentam seupatrimônio e seus lucros, enquantoesgotam nossas reservas e o 'povovive na miséria e no analfabetismo,na subnutrição e na doença, semter chance de acesso a melhorescondições de vida.

atenção ao setor mineral e defen­dermos os interesses do Brasil, in­questíonavelmente nos mesmos fi­nanciaríamos nosso progresso e nos­sos programas SOCiais. Os investi­mentos externos seriam aplicadosnos setores que nos decidiríamos,Rara nossa autonomia e índepen­dência, sem comprometer as gera­ções futuras

E se todos sabemos disso, quaisas causas do terrível equívoco daAssembléia Nacional Constituin­te? Porque .até agora não se acau­telou nao se conscientizou sobreo perigo que o Brasil enfrenta emver sacramentado no texto Consti­tucional a entrega total do nossosolo, subsolo e riquezas, e porqueestão preocupados com interessesmenores Cabe a n6s, também res­ponsáveis pela nova Constituiçãoalertá-los, como vêm fazendo im­portantes segmentos da sociedade,dentre eles a pr6pria imprensa.

Pelo anteprojeto constitucional,os índios podem garimpar mas ogarimpeiro não. Ora, os garimpei­ros são milhares e a ninguém maisé lícito que a nós, constituintes, re­servar-lhes uma área para seu tra­balho, pois eles são sustentáculosdo nosso setor produtivo mineral.Quem tem dúvidas?

Ficamos a imaginar sobre osreais motivos porque o empresa­riado nacional também silencia naquestão mineral. Como silentes es­tão importantes líderes que se di­ziam em passado recente desas­sombrados nacionalistas.

E esses'partidos ou grupos políti­cos que ai estão, por que não assu­mem nitidamente posições nacio­nalistas de defesa dos interesses doBrasil, se sabem que é através deum processo de valorização do queé nosso que chega à real indepen­dência econômica e social?

O equívoco na Assembléia Na­cional Constituinte é de tal ordemque ninguém mais pode ficar àmargem, silencioso, sob pena deconivência. O PMDB - maiorpartido na Constituinte - acaboude discutir na sua convenção temasjulgados por ele de grande impor­tância, omitindo-se de interligarpolítica mineral à política econô­mica, como se esses não estivesseminterligados ao nosso endivida­mento externo, onde o capitalismoselvagem covardemente é detentordo sangue e da alma do país.

Quem não sabe que o FMImani­pula, através desses fantasmas po­derosos, e não deixa que se discutapolítica mineral com seriedade naAssembléia Nacional Constituin­te!

Cremos que chegou a hora dese discutir o essencial para o Brasil,o fundamental para o futuro de ge­rações inteiras.

Quem não souber defender anossa terra, nossas riquezas, nossagente,qeve saber que enveredape­los pengosos caminhos do entre­guismo, onde gerações futuras pas­sarão, a partir de agora, a ter seufuturo comprometido pelo quadrodoloroso atual.

Constituinte Raquel Cândido(PFL-RO)

Jornal da Constituinte - Veículo semanal editado sob a res­ponsabilidade da Mesa Diretora da Assembléia Nacional Cons­tituinte.MESA DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE:

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.2 Jornal da.C.onstituinte

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UMA LEMBRANÇA

paternalista com que muitas mu­lheres viam a aposentadoria, que,afinal de contas, representa umadigna reivindicação de mulheresque não querem viver de caridade,como acontece com as donas-de­casa de baixa renda".

mulher

Sobre as palestras que minis­trou, Lúcia lembra de um momen­to especial. Em um desses encon­tros com donas-de-casa, uma ve­lhinha se levantou e contou a difi­culdade que tinha enfrentado paracriar seus 13 filhos, e que chegavaao final da vida, depois de tudo,sem possuir nada. "Naquele mo­mento, eu tive muita vontade dechorar, pois sabia que essa é a con­dição da grande maioria das do­nas-de-casa de baixa renda."

Essa lembrança motivou umponto em particular de seu pro­nunciamento na Comissão de Sis­tematização. "Já nos estudosconstitucionais, o senador AfonsoArinos se preocupava com a situa-

Ainda uma vez a questão da ção da dona-de-casa. Nada maismulher.voltou a debate na reunião injusto do 'l,ue, depois de ter dadoda Comissão de Sistematização, toda uma VIda de trabalho de in­através de Lúcia Pacífico Homem, fra-estrutura familiar, a mulherpresidente das Entidades de Do- chegue à velhice e não tenha onas-de-Casa de Minas Gerais, que apoio da Lei da Previdência Socialafirmou estar representando as para a sua aposentadoria, direitodonas-de-casa de todo o país. "E este dado a todo o cidadão brasi­quando trouxemos a proposta de leiro."que a dona-de-casa tivesse acesso A defesa de teses populares pe­à lei da Previdência Social, nada los próprios interessados reabriumais fizemos do que reer~s6ntar o canal de comunicação direto en­70% da população brasileira em tre a Assembléia Nacional Consti­idade entre 12e 65 anos. Portanto, tunte e a sociedade brasileira, querecolhemos assinaturas desde o muitos julgavam fechado a partirdia 8 de abril, numa campanha dos debates das subcomissões. En­que se estendeu a nível de todo tretanto, a Constituinte volta-seo Brasil", acentuou a representan- para a população em busca de umate. carta que seja o resultado de aspi-

Lúcia Pacífico Homem lembrou rações populares, justamente paraque manteve um longo contato que seja mais duradoura. A provacom diversos constituintes, fato da importância foi sentida pelaque a faz supor que a iniciativa presença no primeiro dia de deba­porular, que teve um total de 210 tes de nomes como o do líder domi assinaturas, deve encontrar Governo, CarlosSant'Anna, dolí­~co!h!dae ingressar na nova Cons- ,der do PMDB na Constituinte,títuição brasíleira como uma Justa Máno Covas, ou do líder doreivindicação. A mobilização em- 'PMDB no Senado, Fernandobusca de todo esse apoio popular I Henrique Cardoso entre outros lí­foi resultado, segundo contou Lú- deres. A conquista dos parlamen­cia, de um trabalho que chegou tares agora poderá ser sentidaa fazer com que ela proferisse na- através do voto, primeiramente nada menos que 40 palestras durante Comissão de SIstematização, e,todo o mês de julho passado. "Era posteriormente, no Plenário dapreciso, disse ela, tirar o caráter Constituinte.

"Nada maisinjusto do

que, depoisde ter dado

toda uma vidaao trabalho,

a mulher dona­de-casa chegueà velhice semapoio da lei

para seaposentar' ,

diminuída perante a maioria dopovo brasileiro."

CNBB OPIN.AOutra opinião contrária ao

aborto foi a de Dom Benedito deUlhoa Vieira, arcebispo de Ube­raba, que tinha como expectado­res ilustres, Dom Ivo Lorscheidere o presidente da CNBB, DomLuciano Mendes. A proposta deemenda apresentada pelo arcebis­po considera que "a lei deve ga­rantir a preservação da vida de ca­da pessoa desde a concepção, emtodas as fases da sua existência,não se admitindo a prática doaborto deliberado, da eutanásia eda tortura". Essa posição, assimcomo de outros pontos da inicia­tiva da CNBB conta, como ressal­tou Dom Benedito de Ulhoa Viei­ra, com a assinatura de 515.820eleitores. "Poucos dos senhores

vezes acabam nos hospitais públi­cos para tratar das complicações,chegando mesmo a morte".

OPOSIÇÃOA posição defendida por Maria

Amélia de Abtlleida Teles não foiunânime; Flti.lcisco Massá Filho,representante de 79 irmandades,ordens terceiras e confrarias liga­das à Arquidiocese do Rio de Ja­neiro, por exemplo, entende 'l,ueo direito ao aborto é uma COIsaque não deve figurar na nossaConstituição; que não se deve ad­mitir a prática do aborto delibe­rado, porque, na verdade, o quesignifica essa atitude é simples­mente retirar de um ser indefesoo direito de viver. Aprovar o direi­to ao aborto é negar o direito àvida. Aliás, acredito que no diaem que uma Constituição inseriresse tema como válido, ela estará

APOSENTADORIA

campanha de desgaste da Assem­bléia Nacional. Mesmo tecendoessas considerações, esse momen­to para Moema São Thiago repre­senta "a oportunidade de as pes­soas exercitarem a democracia ede defenderem idéias que tenhamrepresentatividade dentro da so­ciedade."

O segundo orador a ocupar atribuna não era um estranho àsnormas parlamentares. O consti­tuinte Del Bosco Amaral defen­deu uma diferenciação no tempode aposentadoria da mulher. Aocontrário do que está na propostaconstitucional - que estipula 35anos de trabalho - ou do textoem vigor - que assegura a al?o­sentadoria aos 30 anos de serviço- Del Bosco Amaral defendeu aaposentadoria da mulher aos 25anos. Na opinião do parlamentar,a mulher é submetida a uma duplajornada de trabalho e, por essemotivo, deve ter na nova Consti­tuição um mecanismo que lhe as­segure um período mais breve deserviço para acabar com o quequalificou de "esmagadas por umregime de trabalho no emprego,e por um sistema de serviço quaseescravo no próprio lar."

ABORTOEm seguida, ocupou a tribuna

Maria Amélia de Almeida Telesque defendeu a emenda sobre areivindicação de assistência inte­gral à saúde da mulher e do direitoCIo abortamento, que é conside­rado pela legislação brasileiraatual como cnme.

Na defesa de sua proposta, Ma­ria Amélia levantou uma série dedados sobre a questão da saúdeda mulher e a atenção que vemmerecendo atualmente por partedo governo brasileiro. O dadomais aterrador, na opinião de mui­tos parlamentares presentes, foi ode que o aborto ocupa hoje oquarto lugar entre as causas demorte entre mulheres. "Milharesde mulheres recorrem ao abortomesmo clandestino. Quem' podepagar até 60 mil cruzados recebeatendimento de luxo, com mate­rial descartável e remédios numadas muitas clínicasparticulares dasgrandes cidades. Mas a maioria fi­ca mesmo entregue a aborteirossem perícia ou assepsia, e muitas

Expectativa. Este era o senti­mento que tomava conta da As­sembléia Nacional Constituinte nanoite da última quinta-feira. Emprimeiro lugar, o relator da Co­missão de Sistematização, consti­tuinte Bernardo Cabral, fez a en­trega do substitutivo ao Presidenteda Assembléia, Ulysses Guima­rães. Enquanto isso, no plenárioda própria Comissão de Sistema­tização, a sociedade era chamadanovamente a participar da elabo­ração e discussão do texto da novaConstituição do país.

O plenário da Assembléia Na­cional Constituinte acostumado atantos debates foi tomado, na últi­ma quinta-feira, pelas emendaspopulares. Na tribuna, ao invés deparlamentares, cinco representan­tes de emendas populares usarama palavra durante 20 minutos paradefender suas propostas diantedos intregrantes da Sistematiza­ção.

Moema Yiezzer, autora de "Se me i.teixam}alar!", sobreas condições de trabalho nasminas bolivianas, dá o recado ãasmulheres na ConstitWrie.

Defesa dos direitos daconstituintes atuais terão conse­guido, na eleição última, igualoumaior número de votos do que es­sa proposta", advertiu o arcebis­po.

Mas a iniciativa da CNBB nãose ateve apenas à questão do abor­to. Pela proposta, afirmou DomBenedito Ulhoa, "defendemosque a família se constitui pelo ca­samento indissolúvel e reivindica­mos o direito das garantias do Es­tado para a família assim legal­mente constituída, como tambémpara as uniões estáveis, mesmoque não legalmente constituídas.Que as crianças não sofram discri­minações por não serem seus paislegalmente unidos pela lei civil".

Finalmente, no ponto de núme­ro três, a iniciativa é a que pedeum amparo efetivo ao menor. Senão derem condições' reais decrescimento à criança brasileira,em todos os campos, estaremoscavando a desgraça de nosso país.A dramática morte de Pixote é umalerta para todos nós.

DONA-DE-CASA

TEMA MULHERA mulher foi o tema dominante

dessa primeira sessão de discussãodas emendas populares. A e~­sição inicial foi de Moema Viez­zer, coordenadora da Rede Mu­lher, entidade de nível nacionalque defendeu a emenda referenteaos direitos da mulher.

Moema Viezzer consideroumuito importante o debate destetema com a participação popular,mas frisou que o seu pronuncia­mento na Constituinte é apenaso primeiro passo, pois a igualdadeprecisa ser ratificada também nalegislação complementar. E disselevar a certeza de que "não pode­mos ficar à margem do&rocessode elaboração da nova onstítui­ção".

UM ENCONTRO

A luta de Moema Viezzer en­contra apoio em todas as consti­tuintes, inclusíve na Moema parla­mentar. A constituinte MoemaSão Thiago, do PDT do Ceará,considerou importante essa fasedos trabalhos, "apesar do jogo deforças conservadoras presentes naConstituinte". Para a Constituin­te, as quinze milhões de assina­turas obtidas para todos os proje­tos de emenda popular encontra­ram uma grande dificuldade nosmeios de comunicação, que desen­volveram, em sua maioria, uma

Jornal da Constituinte 3

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ta um dado a mais em favor do presidencialismo,ao vislumbrar este sistema como único capaz depermitir algum acesso ao poder à grande massade despossuídos.

Sob a coordenação do Primeiro-Secretário daANC, Deputado Marcelo Cordeiro (PMDB-BA),os debatedores avaliaram também o processo cons­tituinte, o Projeto de Constituição e sua relaçãocom a realidade nacional.

A palavra consenso representa uma esperançapara quase todos. Com ele poderá haver uma Cartasem vencidos ou vencedores. Caso contrário, aConstituição "sucumbirá na primeira esquina daHistória", como afirma com realismo o SenadorJosé Fogaça.

Além do sistema de Governo, foram apon­tadas algumas reformas fundamentais a serem con­quistadas a partir do novo texto constitucional.Três desses pontos tiveram a unanimidade dos de­batedores: reforma agrária, reforma urbana e re­forma educacional. Estes seriam os pontos funda­mentais para o ponto de partida para a construçãode uma nova sociedade.

Do grupo mais reduzido ao grande plenário.Há um tema que sempre tornará o debate acirrado.Apaixonado, mesmo. Não resta dúvida de que esteitem do texto constitucional terá de ser definidono voto. E não há como antecipar qualquer ten­dência.

Foi o que ocorreu no encontro promovidopelo Jornal da Constituinte, que reuniu, coinciden­temente, dois presidencialistas - o Deputado Flo­restan Fernandes (PT-SP) e Amaury Müller (PDT­RS) - e dois parlamentaristas - Senador JoséFogaça (PMDB-RS) e o Deputado Victor Faccioni(PDS-RS).

Na mesa-redonda os debatedores esgrimiramfortes argumentos de defesa de um e outro sistemade governo. Os parlamentaristas, por exemplo,condenam o excesso de poderes que uma únicapessoa reúne no sistema presidencial. Os presiden­cialistas argumentam que o País ainda não temos pré-requisitos para o novo sistema, ou seja,não existem partidos fortes. Nem uma adminis-­tração estável.

O Constituinte Florestan Fernandes acrescen-

I

PARTIDOS &TENDÊNCIAS::: PARTIDOS & TENDÊNCIAS ::: PARTID:

Apaixona, divide. Vai a votoMarcelo Cordeiro - Devo dizer

que iniciamos o diálogo dentro daConstituinte, que fOI através doJornal da Constituinte que se fezo primeiro encontro de liderançaspara discussões, e, daí, isso foi es­timulado e desenvolveu-se. E hojealcança níveis já bastante avança­dos e estamos evoluindo na discus­são dos problemas de uma manei­ra construtiva dentro do processoconstituinte. Então, este debatevisa a esta linha construtiva de jun­tar pessoas que possam contribuircom suas idéias, seu talento polí­tico e sua responsabilidade em fa­ce das decisões de vários proble­mas que somos chamados a adotarna construção de uma Constitui­ção, de maneira que esse instru­mento editorial da Constituinteseja algo vigoroso, que interfirano processo de criação constitu­cional.

Sugeriria que o debate come­çasse com a seguinte questão: co­mo avaliam os senhores esta fasede busca de consensos, de entendi­mentos, de negociações, com vis­tas a que se escreva um texto am­plamente aceito pela Assembléiae compreendido pela população,pela opinião pública do país, por­tanto, que seja a expressão dosinteresses gerais da nação; se issoé possível, se está sendo possívelou não é possível nem está sendopossível? Vamos examinar se hámais dissenso do que consensonesses pontos que Já são conhe­cidos da opinião pública e não ape­nas para nós, como reforma agrá­ria, sistema de governo parlamen­tarista ou presidencialista, capitalestrangeiro, empresa nacional,empresa estrangeira, esses temasque já ganharam a notoriedade co­mo temas onde se busca desespe­radamente o consenso.

Victor Faccioni "7 Acredito quea Constituinte está chegando nãosó no momento decisivo, em fun­ção do cronograma estabelecido,como também no sentido da matu­ração do debate em tomo de te­mas os mais diversos e que dizemrespeito ao interesse geral da na­ção. As fases anteriores foram im­portantes como levantamento daproblemática e das colocações dosanseios dos setores os -mais varia­dos da Nação. Agora, parte-se pa­ra a síntese. E acredito que have-

remos de chegar a um denomina­dor comum, em tomo dos pontosmais importantes da nova CartaConstitucional. Ela deve ser resul­tado de um consenso, se quiser­mos que atenda plenamente aosanseios do povo brasileiro, que te­nha durabilidade, não acabe sen­do algo efêmero, expressão deapenas um momento. Não podeser a Carta Constitucional do Pla­no Cruzado, deve ser a CartaConstitucional da sociedade brasi­leira. O Plano Cruzado foi um mo­mento da vida nacional. A socie­dade brasileira tem perenidade co­mo tal.

O mal das constituições brasi­leiras é que elas sempre foram oresultado da imposição de um gru­po sobre outros. Se conseguirmoschegar a um denominador comume estabelecer, através do consen­so, uma Carta Constitucional quediga quais são os pontos de inte­resse geral da Nação, então, a

Constituinte-terá valido a pena-eterá cumprido o seu objetivo. Dequalquer forma, evidentementeestamos fazendo, entre outras coi­sas, uma espécie de exame deconsciência da sociedade brasilei­ra, e problemas os mais diversosvem à tona, como é o caso dosproblemas dos marajás, das dispa­ridades de ordem salarial dentroda administração pública, comotambém no próprio setor privado,as disparidades e tremendas desi­gualdades no campo social entrepessoas, entre indivíduos, entresetores e entre regiões. O que aCarta Constitucional deve fazer éestabelecer o caminho para apro­ximar as possibilidades de todosa fim de que todos os brasileirosconsigam vislumbrar horizontespara si e para os seus. Os partidospolíticos como tal foram, num de­terminado momento - e estãosendo -, ultrapassados exata­mente porque há pontos de inte-

/

resses comuns q,uenão se limitamao âmbito estreito de um partidopolítico. Acredito piamente quepoderemos e haveremos de chegara esse desiderato de uma novaCarta Constitucionalcapaz de sin­tetizar os anseios da sociedadebrasileira e viabilizar o ordena­mento futuro da vida política.Dentro desse escopo, a preocupa­ção maior, a meu ver, deve sera de fazermos a democracia, aper­feiçoando-a e consolidando-a,porque todo o resto será conse­qüência do jogo democrático. Seo jogo democrático fluir livremen­te, sem obstáculos maiores, o Bra­sil que hoje efetivamente é umapotência no plano econômico aca­bará sendo também uma potênciano campo social. As nossas possi­bilidades são amplas. O que temosé que impedir que hajam novosretrocessos no campo político.

A dêmôcracia precisa fluir e,para isso, creio que a mais impor-

J

tante, a mais tundamental das mu- :danças é a do sistema de Governo- a mudança para o sistema par- :lamentarista, porque ela condicio­na todas as demais mudanças; con- I

diciona a própria participação da 'sociedade brasileira, dá possibili­dade de a sociedade ter uma parti­cipação permanente e não even­tual apenas nas eleições. No siste- ,ma presidencialista, Raul Pila di- 'zia muito bem, o povo só é lem­brado na campanha política e até 'o dia das eleições. Depois, assumeo eleito, o todo-poderoso com to­dos os poderes, senhor absoluto 'do mandato no tempo e no espa- :ço, sem que a sociedade possa co- ,brar-lhe, da melhor forma, não ;o cumprimento das promessas de ;campanha, mas também o próprio :desdobramento do Governo. 1

Amaury Müller - O espectropolítico e ideológico da Consti- ,tuinte não é representativo da 'vontade nacional. O processo eleí- ,

4 Jornal da Constituinte

Page 5: Sempre há · Quando o relator Bernardo Cabral entregou ao Presidente Ulysses Guimarães, na tarde do último dia 26, o projeto de constituição, uma nova etapa ... os índios podem

.serãveis da terra em pequenas,médias e grandes cidades. Aomesmo tempo, vemos o processode metropolização ser sucedidopor um processo de formação demegalópoles, o que está ocorren­do em São Paulo. Nossa Consti­tuição não foi aparelhada paraadotar uma medida sequer diantedesse problema crucial. O queacontece com a educação, que éo problema social número um doBrasil? A fome, a miséria, o de­semprego, a ignorância, todos osproblemas passam por aí, por queé do nível cultural médio da popu­lação que vai depender o apareci­mento e o fortalecimento de uma

.consciência social crítica em todasas classes sociais, não só entre osignorantes, os desprotegidos, osde baixo, mas também entre osde cima, que entram aqui de botae espora para defender privilégiose nao a democracia. Esta Consti­tuição deveria acabar com essesdoisextremos. Não é possívelfalarem consenso quando os de cimase recusam a compartilhar o po­der, quando os de cima se recusama'conipartilhar a educação e a cul­tura, e por aí afora. Portanto, estaConstituição, como disse o com­panheiro, não vai ser abandonadana primeira volta da história. Di­ria, repetindo Engels, que ela iráparar muito depressa na lata delixo da história.

Marcelo Cordeiro - Talvez pu­déssemos começar a investigar es­ses problemas políticos todos eexaminar a medida que tem aConstituinte de sua própria auto­nomia e a possibilidade de reorga­nizar o País se começássemos falaralguma coisa a respeito do quepensam sobre o sistema de gover­no que a Constituinte poderá pro-

. duzir em seu texto. E é claro quedentro dessa dicotomia inabitável,presidencialismo e parlamentaris­mo. Naturalmente, cada um des­ses sistemas definidos a partir deconceitos, modelos que possamser mais ou menos puros, mas issome parece de pouca significaçãose tivermos que discutir, agora,por onde vamos mesmo: 'presiden­cialismo ou parlamentansmo?

José Fogaça - Esse é um deba­te CJ.ue, hoje, está crescendo muitono Interior da Constituinte e seráum dos temas mais polêmicos, nãosó agora, nos trabalhos da Comis­são de Sistematização, mas nopróprio plenário quando o projetode Constituição for à votação. Aquestão parte de duas perspecti­vas: a do imediatismo do interessepolítico e a dos interesses do país,dos interesses mais permanentesda sociedade brasileira. Realmen­te, háconstituintes que estão legis­lando para o contingente, para omomento, para o seu interesse fac­tual, para as suas necessidades po­líticas contingenciais. E, principal­mente, aqueles que estão no podere aqueles que querem estar, ime­diatamente, no poder. E isso osleva, evidentemente, a tentarmanter uma estrutura concentra­dora, como é essa do sistema pre­sidencialista. Vê-se, hoje, que nãosó esses políticos, que são candi­datos à Presidência ou que estãona Presidência, e mais fortes econsideráveis segmentos podero­sos da sociedade brasileira sãocontrários, hoje, ao parlamenta­rismo. E a razão parece-me muito

._simples: é evidente que, hoje, nosistema presidencialista com aconcentração absoluta de poder,é muito fácil ao presidente de umagrande cadeia nacional de super­mercados levantar o telefone e fa­lar diretamente com o Presidente

FlorestanFernandes: como

sociólogo, soulevado a pensar

que opresidencialismorepresenta umaesperança para

nós, porquepermite aosdespossuídos

contato diretocom o sistema

de poder.vos, que não permite esconder oque está se passando. Esse desfe­cho é melancólico, porque carac­teriza o fato de que a Constituiçãonão é uma construção comum.Dentro desse processo caminha­mos de forma paralela e não coo­perativa. Daria como exemplo oque aconteceu na Subcomissão deEducação, Cultura e Esportes, e,posteriormente, na Comissão daFamília, da Educação, Cultura eEsportes, da Ciência e Tecnologiae da Comunicação. Inclusive esseacinte de que Ciência e tecnologiaforam incluídos não por causa daciência, mas por causa de interes­ses privados. Os partidos da or­dem - e chamo partidos da or­dem os partidos que reproduzema ordem existente - vieram aquirepresentados diretamente atra­vés ou de políticos profissionais,pertencentes às classes dominan­tes, ou através de proprietários.Vimos naquela comissão temáticaque qualquer acordo foi impossí­vel, porque, de um lado tínhamosa Igreja, lutando por verba p~blicaRara o ensino privado, de outro,donos de canais de rádio, televi­são, etc. lutando por seus privilé­gios. Havia uma'áusência de pro­jeto constituinte nos partidos polí­ticos da ordem, o que os levouà busca de um caminho, que apa­rentemente é democrático. OPMDB, que é o partido majori­tário, não tinha condições inter­nas, e não tem até agora, de ban-

, car um projeto constituinte. Setentar isso, pulveriza-se. Estamoscansados de saber isso. Por suavez, os próprios constituintes, nãotodos - e estou aqui entre quatrocolegas que são constituintes nasua mentalidade - não têm men­talidade constituinte, têm menta­lidade legislativa, e não lhes cabeesse conceito de que representamaqui a vontade geral e o interesseda Nação. Estamos, neste mo­mento, vendo que as reformas es-

-senciais para a sociedade brasilei­ra, em vez de estarem sendo forta­lecidas, estão sendo enterradas. O

.CJ.ue acontece com a reforma agrá­na acontece em escala pior comaquilo que se chama reforma urba­na. Temos em vez da urbanizaçãoo que não é urbanização, é umconglomerado de famintos, de mi-

que temos é representativo da es­trutura de poder de uma sociedadecapitalista. Isso se daria com ousem Plano Cruzado, com ou semConstituinte exclusiva, com qual­quer mecanismo formal que pro­duzíssemos, porque é produto deuma estrutura e não o resultadode um processo ou de uma forma.A questão que temos de nos fazeré: como, numa sociedade comoesta, burguesa, de estruturas pro­fundamente injustas, enraizadas,poderemos organizar bases. mini­mamente democráticas, que per­mitam instituições liberais queabram as portas para as reformaspolíticas, sociais, institucionais eeconômicas que esta sociedade de­manda? A Constituição é como oar que se respira; sem o ar, nin­guém pode Viver, mas ele, por sisó, não é garantia de felicidadede cada cidadão. Não basta respi­rar para ser feliz, ou seja, não bàs-

. ta ter uma Constituição para quesejamos cidadãos harmoniosos,vivendo em plena felicidade e ab­soluta igualdade e relações de ple­na harmonia. Como a sociedade"hipocritamente, não deseja en­frentar os seus próprios conflitos,transfere-os para o campo políticoe para os políticos, jogando sobreeles todo o seu fel. Nós, políticos,somos o fígado da sociedade brasi­leira, e temos de eliminar as toxi­nas dessa sociedade que ela nãoquer assumir e das quais quer se'purificar. E aqui que se dão as ma­zelas, os conflitos e as contradi­ções. O que precisamos, para queessas contradições, mazelas e lutassociais, que se dão "no campo daquestão agrária, da questão urba­na, do controle do capital estran­geiro, da organização dos sindica­tos, da educação popular, da edu­cação pública, enfim, em todos es­ses aspectos, para que possa haverreais avanços da sociedade brasi­leira, é um sistema essencialmentedemocrático. A única forma de seorganizar civilizadamente os con­flitos e estimulá-los é através deum sistema democrático de gover­nó parlamentarista, que responsa­bilize a todos os setores da socie­dade nas decisões, avanços etransformações que essa socieda­de venha a assumir, de modo quenão possa haver setores excluídos,Toda vez gue há setores excluídos,há o conflito e a instabilidade polí­tica, sendo CJ.ue esta leva para aderrocada as instituições. Quandoas insituições vêm a combalir,quem paga o preço não são os pri­vilegiados, nao são os poderosose não são os ricos. Quando as insti­tuições sofrem sua derrocadaquem paga o preço são os pobres,são os trabalhadores, são aquelesque ocupam a parte de baixo daestrutura social.

Florestan Fernandes - Atingi­mos um momento crítico do pro­cesso constituinte, não seu pontoculminante, mas seu ponto de des­mascaramento. A sociedade brasi­leira está representada aqui de ca­beça para baixo. A minoria pode­rosa, aqueles que possuem cultu­ra, riqueza, poder, essa minoriasocial elegeu a maioria parlamen­tar, e a maioria dos excluídos, dosoprimidos, dos trabalhadores ele­geu uma minoria parlamentar. Avontade histórica que existe na so­ciedade brasileira de fazer refor­mas burguesas profundas está evi­dente no comportamento dos nos­sos parlamentares, na orientação

•.dosyartidos e na própria .organi­zaçao do processo constituinte,que foi pulverizado de ponta aponta, não democratizado, e queagora atingiu a fase dos concha-

José Fogaça:considero

antidemocráticonegar ao povo

brasileiro odireito à

experiênciahistórica do

parlamentarfsmo.E fundamental:

este sistemapermite a

organizaçãoda sociedade.

~~"r~_u~PAR.TIDOS 8e TENDÊNCIAS ::: PARTIDOS &!.TENDÊNCIAS :::PARTIDOS &:. TENDÊNCIAS ::: PAI cara as portas da economia do país

à penetração mais funda do capitalestrangeiro e para não falar na or­dem social, nos direitos do traba-lhador, na estabilidade do empre­go, na jornada de trabalho, na au­tonomia e liberdades sindicais, nodireito de greve, nas questões rela­cionadas com o direito da criança,dos deficientes físicos, enfim, todoesse universo que deve compor oprocesso de elaboração constitu­cional. Não diria, como afirmouVictor Faccioni, que a questão

toral, com. os seus vícios intrínse-- crucial seria, dentro do aspectocos e extrínsecos, induziu à forma- .político e institucional, a forma de

- de um colé C .. governo. Não posso dizer que oçao e um co egio onstítuinte presidencialismo tenha sido res-que, sob todos os aspectos, seg- á I I . .mentos minoritários e que detém pons ve 'pe as sucessivas cnseso poder econômico e, através de- políticas, Institucionais, econômi­le, manipulam o poder polític.o. cas e sociais por que passou o País,

. . até porque os 21 anos de milita-Diria que no universo Constituin- rismo tiveram presidentes nomea-te a correlação de forças é extre- d .mamente desfavorável aos setores os, generais que ocuparam o po-

. der eventualmente impostos - àmais comprometidos com as ca- força, e não corresponderam ja-madas majoritárias e menos prote- '" .d " de nresigidas da população brasileira. Não mais a I era que se tem e presi­

dencialismo.temos mecanismos que possam José Fogaça _ Vejo a Consti-balizar o que poderá ser esse tex- tuição de um país como o patamarto, e em que medida os direitos b d dda sociedade brasileira vão ser in- ásico e uma emocracia, quetegralmente acolhidos e resr-ei- permita, estimule e libere, perma­tados. Isso não que dizer oue eu nentemente, os conflitos que ocor-

. .. .... rem na sociedade. Não podemosseja pessimista ou mensageiro do sair desta Assembléia com vitorio­caos. Acredito que seja possível sos de um lado e derrotados decosturar um texto que correspon- U C .. .da aos anseios, aos direitos do ci- outro. ma onstituição assimdadão comum e possa refletir, de não dura, ou seja, sucumbirá naforma adequada, os anelos de primeira esquina da História douma sociedade inteira que preten- país. Não é possível produzir umade uma Carta Constitucional que Constituição de vencedores contrasintetize as suas aspirações maio- vencidos. O que temos de fazer

M á I d é um texto constitucional que con-res. as o que est co oca o é siga organizar os conflitos reais,altamente comprometedor. Eu e não necessariamente superáveismencionaria apenas uma que ca- na sociedade brasileira. Sou umracteriza bem o que se decidiu atéo final dos trabalhos da comissão permanente pessimista intrínseco

em relação à estrutura da socie­temática: CJ.ue a terra exerce uma dade brasileira e, exatamente porfunção SOCial, quando é ou está isso, é que consigo ser realista eem curso de ser racionalmenteaproveitada. Com esse tipo de de- otimista. Qualquer processo elei-

toral que se realize numa socie­finição, não poderemos fazer ja- dade estratificada, dividida emmais qualquer mudança mais pro- classes, onde estão tão entranha­funda, mais substancial numa es- das as diferenças sociais, necessa-.trutura fundiária sabidamente riamente não será representativaconcentradora da terra em poucas dos interesses mais amplos e reaismãos e que coloca o país- numa da sociedade brasileira. Numa so-situação extremamente compro- ciedade como esta, um processometedora em termos de produção eleitoral inevitavelmente será re-de alimentos e de satisfação das . d d dnecessidades mais vitais do seu po- presentativo a estrutura e po ervo. Não posso crer que um país de ,uma sociedade capitalista. Ocomo o Brasil, com oito milhõese meio de guilômetros quadrados,com uma disponibilidade de terrasque chegaria a mais de 600milhõesde hectares, continue a produzirem torno de 60 milhões de tonela­das e estufe o peito, numa reali­dade até hipócrita, quando estepaís poderia estar produzindo, nomínimo, 200 milhões de toneladaspara atender às necessidades deseu mercado interno e gerar exce­dentes exportáveis.

Havia-se combinado que se che­garia a um texto constitucional emque a União se limitasse automá­tica e imediatamente na posse daterra desapropriada por Interessesocial para fins de reforma agrária,e eis que agora já se fala em mu­danças, de modo que parece queo diálogo corresponde a uma brin­cadeira, gue poderá inclusive le­var a um impasse gravíssimo. Issopara não falar na questão urbanague se agrava dia a dia, com oexodo rural, com o crescimentodesordenado, espantoso, do meiourbano, sem serviços básicos paraatender a essas populações adicio­nais, sem uma política efetiva deocupação do solo, para não falarjíos pnncípios gerais de economia,inclusive na definição de empresanacional, que virtualmente escan-

Jornal da Constituinte 5

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no. O chefe de Estado não pod~ser chefe de governo. O chefe d~governo enfrenta desde a elabo­raçã~ de u~ programa ao desgastedo dia-a-día da sua execução. :qno desgaste do chefe de ~overnonão pode desgastar-se, Junto ãprópria representatividade, o an­seio da nação, que é representadana chefia do Estado. Ser contrao presidente da República, sencontra o chefe de governo, no pre­sidencialismo, é ser contra a pró~pria pátria que ele representa. Istocoloca, muitas vezes, uma inter,pretação mais aprofundada, comaaconteceu no período militar, eaté a idéia de que ser contra dGoverno, ser contra o Presidente;ser contra a Pátria, é ser subver­sivo - e a Oposição passa a aersubversiva. :

José Fogaça Os golpes militaresnão são decididos nas casernas,mas lá nos últimos andares dasgrandes corporações bancárias dQmundo. '

Victor Faccioni - Ou até de al­guns gabinetes políticos. A verda­de é que - e 'Hermes Lima dizisso - ninguém ronda tanto osquartéis como o regime presiden­cialísta, O regime presidencialistdfica batendo às portas dos quar­téis; quando não é um partido, ~outro. E o partido que denunciaaqueles que batem as portas dosquartéis é o mesmo que, depois;vai fazer amesma coisa, imitar.É uma questão de rotatividadeapenas. Agora, há uma outraquestão, que nós estamos vivendoaqui na Constituinte: o sistema:presidencialista dispensa até aexistência de um programa de go­verno.

José Fogaça - Qual era o pro-,grama de governo de Jânio Qua-idros, senão promessa vazia de lim-ipar o País? '

Victor Faccioni - A vassoura,:e mais nada! Vivemos a eleiçãode 15 de novembro, que foi efetí­vamente a eleição do Plano Cruza­do, paradoxalmente, aquilo que'foi consagrado pelo povo, naquele'dia, ~oi modificado, uma semana,depois. Aconteceu exatamente ooposto. Só o sistema presidencia-,lista permite esse tipo de situação'e esse tipo de frustração popular. '

José Fogaça - Aliás, nem os,ministros mudaram, em função,das eleições.

Victor Faccioni - Nem os mio'nistros mudaram, continuaramemesmos. Vivemos uma situaçãoparadoxal: as reivindicações de:programa de governo, como nãolsão acolhidas, são transferidas pa-lra a Constituinte e para a Constí-,tuição. E corremos o risco de fazeruma Constituição casuística, quelestabeleça questões que são de'programa de governo, detalha­mento de regras gerais, ditadaslpor uma necessidade círcunstan-lciaI. Porque o governo não precisaiter programa no sistema presiden-Iciahsta. Como o governo, não pre-lcisa ter programa, as demandas,são de outra ordem: elas se estabe-ilecem no campo da fisiologia dos!cargos e dos favores. Estamos vi­vendo aí, hoje, anunciado e enun-iciado na imprensa, a persuasão de;constituintes via distribuição deicargos. Tudo aquilo que era dito!contra um candidato - Paulo Ma­luf - é feito, hoje, até em favor'da manutenção do sistema presi-:dencialista. Vícios do presídencia-]lismo são o clientelismo, a fisíolo-]gia, a marginalização, a centrali-Ização, o autoritarismo - e o pior,de tudo - talvez ainda a irrespon-isabilidade e a impunidade. Nin-:

comprovar e dar a isso meios decontrole público. Por outro lado,ninguém pode, neste momento,atingir esse presidente, porque fa­zê-lo seria atingir todas as institui­ções americanas. Portanto, tem-seque cometer o ridículo de dizerque o caso do Irãgate foi produtoda decisão de um simples coronel­zinho de segunda categoria, numadecisão que tem reflexos imensosna vida do País e no seu destinomilitar, mas que o presidente darepública não tomou conhecimen­to daquilo. Para poder salvar asinstituições, constrói-se uma hipo­crisia nacional. Agora, em cimadaquilo, que afirmou Victor Fac­cioni, para reforçar seu argumen­to, digo-lhe o seguinte: Desde quefoi eleito Ronald Reagan, que háoito anos é presidente, quando oPartido Republicano teve a míni­ma participação nas decisões to­madas pelo seu Governo?

Amaury Müller - CreIO que alembrança do episódio do Irãgatee dessa tentativa de mascarar umasituação que a sociedade universaljá conhece não serve como para­digma, como modelo para definiro sucesso ou insucesso do presi­dencialismo. Antes, um fato queafetou apenas a economia internado país, decretou a perda de man­dato de um presidente, pois nãoenvolvia interesses do universogeopolítico dos Estados Unidos.Quando envolvia apenas interes­ses internos, o Presidente RichardNixon caiu, escandalosamente, eas instituições não foram abala­das. Não foi necessária a hipocri­sia da farsa para salvaguardar asinstituições. Creio ser preciso es­tabelecer uma relação históricaentre os dois episódios: este afeta­ria o interesse nacional, na medidaem que a agressão imperialista seprojetava para fora das fronteirasdos Estados Unidos; era uma ten­tativa de desestabilizar uma revo­lução popular, na Nicarágua. Noepisódio "Watergate", era umaquestão interna.

Acho, então, que a lembrançapode ser feliz, mas não tanto quan­to pensa o José Fogaça.. José!,ogaç.a -: 9 gue está emJogo sao as mstítuíções, Se pelasegunda vez se tiver que derrubarum presidente, por causa de umaação contrária aos interesses dasociedade americana, tomada se­cretamente na verdade os ameri­canos estarão provando para simesmos que o seu sistema nãofunciona - e isso será fatal parao próprio sistema.. Marcelo Cordeiro - Queria co­locar mais uma pimenta, aqui,porque a palavra do nosso quendoprofessor Florestan Fernandes eas demais intervenções, todaselas, de repente tangencíavam oproblema, a relação SIstemade go­verno: a tutela militar. Ele fez re­ferência à aliança dos militarescom os republicanos à época daProclamaçao da República. Nãohá como fugir a esse fato objetivo,se se fizer uma análise históricae socioló~ica - que o sistema de~overno e a presença da tutela mi­litar, uma marca da nossa história~~eria~ republicana, que é algoindissociável.

Victor Faccioni - A meu ver,aconteceu o seguinte: a falta deum Poder Moderador abriu espa­ço para que as instituições mibta­res assumissem a posição de PoderModerador. Nós temos que re­criar a figura do Poder Modera­dor. E essa figura, no sistema mo­derno, existe na separação da che-

. fia do Estado e da chefia do gover-

esse diagnóstico e só pediria umsegundo ou dois para.dizer por queprefiro o presidencialismo. Por­que o presidencialsmo permite,àquela massa dos destituídos, teruma relação direta com alguémdentro do sistema de poder.

Victor Faccioni - Eu começa­ria na afirmação do próprio soció­logo Florestan Fernandes, de queo regime republicano nasceu tor­to. Num sistema que nasce tortoe permanece torto, tudo entorta.Prefiro ficar com o diagnóstico dosociólogo Florestan Fernandes doque com a interpretação do polí­tíco Florestan Fernandes. Vejamque o próprio Florestan Fernan­des afirma que o sistema parla­mentarista tem melhores 'l.ualida­des, que é o mais qualitativo. E,se é o mais qualitativo, é o quetemos que perseguir e buscar. Omomento e este: a AssembléiaNacional Constituinte. Não vamosdeixar para decidir daqui a vinteou vinte e cinco anos qual o me­lhor sistema. Seria a mesma coisaque dizermos que a classe traba­Ihadora também tem que aguar­dar mais vinte ou vinte e cincoanos para poder aspirar a certascondições de melhoria da quali­dade de vida. Efetivamente, o que

MarceloCordeiro:

numa análisehistórica e

sociológica nãohá como fugirdesse fato: atutela militaré uma marcaindissociável

da nossahistória

imperial erepublicana.

acontece é que a SOCIedade brasi­leira tem que decidir uma questãofundamental: se ela é tutelada pe­lo Governo ou se ela é que vaicomandá-lo. Quem comanda a vi­da deste país? A sociedade ou oGoverno? Nós vivemos uma dis­torção histórica, de origem, da tu­tela do Governo sobre a socieda­de, e o momento de a sociedadese libertar dessa tutela é o da 'Constituinte, ao fazer uma novaConstituição. Não vamos agora,numa nova Constituição, reafir­mar todo o vício estrutural do jogodo poder, que se baseia num equí­voco dos republicanos, ao implan­taram o presidencialismo. Foi umequívoco, ou uma distorção, quefez com que o sistema republicanoficasse torto, e daí advêm todasas crises.

José Fogaça - Estamos viven­do uma crise naquele que é o siste­ma presidencialista mais bem-su­cedido do planeta, que é o ameri­cano. O presidente dos EstadosUnidos está desmoralizado, poisexecutou uma série de medidascontrárias a qualquer moralidadepública. No entanto, não há como

- cionista, e com isso abandonou a ,sua posição revolucionária, acei­tou a aliança com os fazendeirose por aí derrubou rapidamente oregime monárquico numa conju­gação em que entraram tambémos militares e que fortaleceu as oli­garquias locais. Então, tivemos noBrasil um regime republicano quenasceu torto. A maneira pela qualo regime republicano nasceu noBrasil permite pensar que ele nãopoderia dar certo, porque ele foidistorcido, e a única democraciaque foi praticada era a democraciaque imperava na sociedade impe­nal, uma democracia restrita, queprevaleceu durante toda a primei­ra República. Houve uma tenta­tiva, com a revolução da AliançaLiberal, de se passar para uma de­mocracia de participação amplia­da, mas ela, por sua vez, teve umacurta permanência, e logo em se­guida conhecemos de novo o regi­me ditatorial, o reaparecimentode um regime democrático limita­do aos mais iguais e, em seguida,chegamos a 1964. Por aí vemosque o problema central- nãoé e­regime político que está determi­nando essas crises. Essas crises es­tão vinculadas às condições do de­senvolvimento do capitalismo naperiferia. A forma pela qual a so­ciedade de classe assume na peri­feria. Certa vez lancei o conceitode capitalismo selvagem. Comomarxista, lancei esse conceito commuito medo, porque de uma pers­pectiva marxista todo capitalismoé selvagem. O que eu poderia di- ,zer é que uns são mais selvagensque outros. Na verdade, a nossa .burguesia, ao contrário da burgue­sia norte-americana, preferiu'manter o nível de desenvolvimen- 'to econômico alcançado, ela nãopretendeu se tornar uma burgue­sia independente, reformadora,transformadora. A nossa burgue­sia preferiu ser uma burguesia pró­imperialista, e com isso tivemostodos os problemas gue condenamno Brasil: a incapacidade de reali­zar qualquer transformação socialprofunda dentro do capitalismo,por quê? Porque temos algo quechamei de "apropriação dual doexcedente econômico". Duas bur­guesias dividem entre si a massade mais-valia gerada pelo traba­lho, pelo sistema de produção, egraças a isso exportamos a partemaior do excedente econômico, ea burguesia interna fica com umaparcela de excedente econômicoque mal lhe permite financiar areprodução do seu sistema de pro­dução. Esse sistema de reprodu­ção passa pelos países centrais ecada vez de uma forma mais aper­tada e mais difícil..Então, a nossaburguesia vive uma crise que nãoé de identidade, é de ser. É umaburguesia incapaz de ser. É com­petente para administrar o Esta­do, para criar uma sociedade na­cional para àqueles que se incor­poraram na ordem existente, parater forçae poder para reproduziressa ordem existente, mas ela nãoé capaz de realizar as reformas tí­picas do capitalismo e as revolu­ções típicas, como a reforma agrá­ria, a revolução urbana, a revolu­ção educacional, a revolução democrãtíca, a revolução do merce.do interno e por aí afora. Então,as nossas crises não têm uma ori­gem política, embora elas se refli­tam sobre o sistema político, e serefletindo sobre o sistema político,por sua vez, há uma interação dia­lética e, em conseqüência, o regi­me político vai agravar as crises'l.ue são de origens econômica, so-

. cial e cultural. Por isso é que faço

da República para resolver os seusproblemas, os seus subsídios, assuas concessões, suas questões depreços. As suas pressões políticassão feitas pelo telefone e pessoal­mente com o Presidente, porqueeste assina decretos, .decide tudo,enfim. Ora, aquilo que tiver quepassar pelo Parlamento - não di­go que este seja um Congresso denoviças; muito ao contrário, aí es­tão todos os males, e todo o male toda a grandeza da sociedadebrasileira está dentro do Parla­mento - é público, e tem que serdiscutido amplamente pela socie­dade. Não vejo como possamos,hoje, no Brasil, equacionar os pro­blemas políticos, institucionais,econômicos e sociais sem a adoçãode um sistema político que per­mita que se dê o conflito na socie­dade, 'l.ue se dê a instabilidadeeconômica, que é própria de umasociedade com tantas contradiçõessem que isso afete às instituiçõespolíticas. Para que haja estabili­dade política, ao lado do conflitosocial, só o sistema parlamenta­rista é que pode realmente vingar.

Florestan Fernandes - Minhaposição é difícil porque, como so­cialista, sou, teoricamente, parla­mentarista. Agora como sociólo­go, e especialmente como soció­logo que estudou a sociedade bra­sileira desde a ocupação portugue­sa. Como sociólogo, acho que te­mos de voltar a uma idéia que oConstituinte José Fogaça levantouaqui, sobre o que é realmente maisimportante: o elemento político,ou as condições materiais sociais,culturais, do País. Como sociólogosou levado a pensar que o presi­dencialismo ainda representa umaesperança para nós e que o parla­mentarismo seria, ao contrário doque sucedeu na Europa, um regi­me de governo que Iria facilitar,ainda mais, a concentração do po­der político. Temos o exemplo doImpério. Todos falam que sob oImpério o parlamentarismo foimuito eficiente, mas também seesquecem de que a estabilidade noImpério não foi tão completa co­mo se pensa, houve muita luta so­cial e a ordem foi mantida a ferroe fogo. De outro lado havia umPoder Moderador e um regime deprodução escravista, e a estabi­lidade dos I e II Impérios se expli­ca exatamente por essa base mate­rial da produção escravista.' Nãofoi o parlamentarismo que criouessa base material, foi a base ma­terial que gerou a estabilidade po­lítica, e, por sua vez, permitiu queo parlamentarismo se desenvol­vesse em padrões que praticamen­te contrastavam com a rusticidadeda sociedade brasileira. A Repú­blica falhou não por sua próprianatureza como regime político,mas porque houve uma transaçãoentre o Partido Republicano e osfazendeiros. O Partido Republica­no, a partir de certo momento,descobriu que a monarquia estavacondenada, e que a escravidão es­tava se extinguindo. O que ele fez?Abandonou a sua postura aboli-

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6 Jornal da Constituinte

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tese. Mas faço aqui uma indaga­ção. Temos nós o direito de impe­dir, que alguém tenha o seu pro­jeto pessoal, que alguém pleiteieser presidente da República ouprimeiro-ministro? Não.

Victor Faccioni - Mas o direitocoletivo de uma sociedade poderparticipar é maior.

Amaury Müller - Sem dúvida,concordo com isso. S6 acho queaí se procura, de uma forma muitocasuística, eliminar do processopolítico nomes que estão consoli­dados, que têm um certo carisma,prestígio, conceito. Eu viria nessamanobra como que uma espéciede contra-argumento àquilo quelevantou o José Fogaça, isto é,uma tentativa de evitar que, porexemplo, o ex-governador LeonelBrizola chegue ao poder.

José Fogaça - Não é isso. Elepoderá chegar ao poder da mesmaforma no sistema parlamentarista.'Pode ser o primeiro-ministro ouo presidente.

Amaury Müller - Eu usei overbo no condicional. Nós não po­demos nos cercar desse desconhe­cimento de que a realidade brasi­leira sabe tanto quanto nós oumais do que nós que Brizola é umcandidato à presidência da Repú­blica, sem lançamento oficial, semformalização da sua candidatura.Posso ver, como o Florestan Fer­nandes pode ver também, nessatentativa de impor o parlamenta­rismo, uma manobra 'para evitarque o Constituinte Luis Inácio daSilva, o Lula, possa chegar à presi­dência da República, uma vez quetambém ele é candidato.

José Fogaça - Acho que o Bri­zola 'poderá ser presidente da Re­publica. Ele só não será impera­dor. Presidente em um sistemapresidencialista ele o será. Comoestá hoje, ele será imperador commandato certo; e eu não quero umPaís que tenha mais imperadores.

Amaury Müller - Eu semprefui contra o lançamento preCIpi­tado de candidatos à presidênciada República quando estamos lu­tando em uma frente, comum eampla, de acordo com o que pen­sa, sente e deseja a sociedade bra­sileira, por eleições no ano quevem. Ou será que o povo brasi­leiro não está aspirando participardo processo eleitoral no ano quevem?

Victor Faccioni - Está aspiran­do participar não só de uma elei­ção de um dia ...

Amaury Müller - Dentro dessaperspectiva é que eu sou contrao lançamento precipitado e anteci­pado de candidaturas. Mas elasexistem e aí estão. Não posso con­cordar que se diga que eleito Aou B ele seja o imperador.

José Fogaça - Não pela sua ca­racterística pessoa) ou pela suaformação pessoal. E que o sistemapropicia condições de imperador.a SIstema presidencialista trans­forma cada presidente em um im­perador com mandato certo, por­que ele é dotado de poderes abso­lutos e supremos.

Amaury Müller - A minha po­sição é tão sincera que eu estouadmitindo que a emenda constitu­cional aprovada na legislatura pas­sada, que cria eleições em dois tur­nos, seja mantida; e que só aqueleque alcançar 51% dos votos teráacesso à presidência da República.

Victor Faccioni - Para ser maisimperador.

Amaury Müller - Bem, mas éuma manifestação de metade maisum da sociedade que vota.

José Fogaça - Isso eu acho queé consenso.

Amaury Müller:o sistema

presidencialnão foi

responsávelpelas

sucessivascrises.

Os generais queocuparam opoder não

correspondem àidéia do que é

presidencialismo.

não há contradição. Farece-me oseguinte: que, ao invés de tratar­mos de presidencialismo, vamostratar da reforma agrária. Não.Vamos tratar da reforma agrária,mas para que todos os instrumen­tos democráticos e reformismosque esta Constituição vai criarpossam se viabilizar, é precisotambém criar mecanismos de esta­bilidade política, porque senão, areforma agrária, a reforma educa­cional e a reforma urbana que que­remos implantar - não se! se con­seguiremos~ irão falir imediata­mente. Sem um sistema democrá­tico não haverá como implantaruma Constituição reformista.

José Fogaça - A afirmação doFlorestan Fernandes dá a impres­são de que efetivamente estamosfazendo com a luta pelo parlamen­tarismo um escamoteamento deoutras questões fundamentais co­mo a reforma agrária ou a reformaurbana. Absolutamente. Ao COn­trário, estamos criando as precon­dições para que se realizem essasreformas. Veja que o AmauryMüller citou a retomada dás prer­rogativas do Congresso Nacionalque não são feitas, e, no entre­tanto, uma comissão mista doCongresso apresentou uma pro­posta concreta há dois anos.

Amaury Müller - O parlamen­tarismo asseguraria - mesmo quenós colocássemos na Constituiçãoque o papel das Forças Armadasficaria limitado à defesa externa- que os militares não interviriammais no processo político institu­cional, ou só âorganização da so­ciedade - uma sociedade organi­zada, consciente dos seus direitos,e seus deveres também - é capazde reagir a qualquer tipo de tutelaou disfarçada ou extensiva?

José Fogaça - Esse é o pontofundamental. O parlamentarismopermite a organização da socieda­de.

Amaury Müller - O que nósqueremos é que a sociedade se or­ganize, tenha força e que decida.José Fogaça, ao iniciar a sua aná­lise a fez através de duas posições.A primeira, seria o imediatismo,isto é, o atendimento imediato deinteresses pessoais; a segunda, se­ria dos interesses da Nação. E cla­ro que eu fico com a segunda hipó- .

sociedade brasileira não é o parla­mentarismo ou presidencialismo.A sociedade Qão está discutindoisso. O que ela está discutindo,o que ela quer é o sistema maisdemocrático possível, e nos entre­gou nas mãos essa decisão.

Amaury Müller - Nós estamosefetivamente propondo isso: umadiscussão ampla, democrática, ho­rizontal, que amadureça no deba­te, e só esse debate amadurecidopoderá induzir a sociedade a fazera sua escolha. Aí, então, se reali­zaria o plebiscito. Eu ficaria coma idéia de que o parlamentarismopode ser introduzido na medidaem que a sociedade possa discu­ti-lo, conhecê-lo em profundidadepara poder, então, opinar por essaforma de governo. Sobre essa co­locação que fez o Faccioni, queser contra o País, é ser antipatrío­ta, quero dizer que sempre fui con­tra os presidentes que aí estão enão me considero antipatriota. Osmilitares que estavam no poderpoderiam considerar isso.

Florestan Fernandes - AmauryMüller tocou em um ponto gueé essencial, que é o dos requísítosdo sistema parlamentar de gover­no. Aqui tem havido uma fortediscussão a respeito desses requi­sitos, estabelecendo-se que o prin­cipal deles seria a existência departidos políticos consolidados,com programas ideológicos, arre­gimentação, capacidade de mobi­lização e etc. O pré-requisito fun­damentai seria o da existência deuma sociedade civil civilizada. Acultura cívica não está difundidana base da sociedade. Temos quedar um salto qualitativo muitoprofundo para criar condições mí­nimas até para ser cristãos. O "ba­sismo" representa uma tentativade incutir na cabeça do homemrústico um mínimo de conheci­mento para que esse indivíduopossa ser cristão. E muito maiscomplexo ainda formar esse cida­dão. É o próprio indivíduo, queé educado que monopoliza a edu­cação, a cultura. Se ele não possuicuJtura cívica e não.admite a exis­tência de uma sociedade civil civi­lizada, como é que poderemos teros requisitos sociais, econômicose políticos para a existência do sisotema parlamentar? Não podemosusar o conceito de democracia co­mo fetiche. Nossa preocupaçãomaioré não nos pensarmos comoheróis civilizadores que vão doarà sociedade brasileira uma institui­ção chamada parlamentarismo ecom isso teríamos o elixir curativopara resolver os problemas brasi­leiros. Nossa principal responsa­bilidade seria criar as bases míni­mas para a existência de uma so­ciedade civil civilizada e por aí te­ríamos de entrar na reforma agrá­ria, na reforma urbana, na refor­ma da saúde, em todas as reformasque estã? sendo !ep'elidas. E c~­noso que os constítumtes, que saocontra a reforma agrária, a refor­ma urbana, a existência da exclusi­vidade de verba pública para ensi­no público, ao mesmo tempo sãoardorosos defensores do SIstemaparlamentar.

Victor Faccioni - Consideroque se me perguntarem se é maisimportante lutar pela reformaagrária do que pelo parlamenta­rismo, .evidentemente que achoque a reforma agrária é mais prio­ntária, se tiver q,ue fazer uma op­ção. Mas isto nao elimina o fatode que, .especificamente, nestaárea da Constituição, de que esta­mos tratando, venhamos levar es­se assunto com a empreitada, como esforço que estamos levando. E

Victor Faccioni:amais

fundamental dasmudanças é a do

sistema degoverno: para

o sistemaparlamentar,que permite à

sociedadeparticipaçãopermanente enão eventual,

só nas eleições.

rismo.Amaury Müller - Eu lembraria

que a retomada das prerrogativasdo Poder Legislativo continua en­gavetada, desde a legislatura pas­sada. Naturalmente que essa hi­pertrofia do Poder Executivo cau­sa lesões, fraturas expostas muitograves no conjunto político-insti­tucional e econômico, social, cul­tural da sociedade brasileira, masexatamente por não existirem es­ses pré-requisitos é que consideroesse dilema rigorosamente falso,e concordo com o professor Flo­restan Fernandes. Sem que hajaprofundas mudanças econômicas,sem que a sociedade brasileira sejaparticipativa na riqueza que elaprópria gera, para que ela possa,entao, ter forças, orgamzaçao pa­ra reivindicar, para transformar asua voz, não num vagido de dor,mas num protesto organizado,sem CJ.ue isso aconteça creio quediscutir parlamentarismo e presi­dencialismo seria de somemos im­portância. Acho sinceramente queo caminho do parlamentarismodeve ser uma escolha, uma opçãodemocrática da sociedade brasilei­ra. E nos moldes em que está sen­do elaborada a Constituição, con­venhamos não há uma participa­ção efetiva da sociedade.

José Fogaça - Eu gostaria defazer um registro sobre essa ques­tão da discussão da sociedade bra­sileira, sobre o conteúdo demo­crático dessa discussão. Se nós fi­zéssemos, hoje, um plebiscito pa­ra o povo brasileiro numa decisão,dentro de uma semana, ou dentrode trinta dias, sobre regime parla­mentarista ou regime presidencia­lista, acho que não adiantaria nemmesmo a bem-intencionada cam­panha de esclarecimento propostapelo Victor Faccioni, porque umsistema de governo não se aprendepor informações livrescas, mas,acima, de tudo, pela experiênciahistórica, e eu considero que é an­tidemocrático, hoje, negar ao l,?0­vo brasileiro o direito à experiên­cia histórica do parlamentarismo,porque é a única forma que eletem de aprender as qualidades eos defeitos do sistema. Se o siste­ma presidencialista é democráti­co, o parlamentarismo também é.O que está em discussão hoje na

guém é. responsabilizado e nin­guém é punido, Fica difícil estabe­lecer a responsabilidade e a puni­bilidade porque elas vão para ocampo jurí<ljco.Temos que acabarComa situação de que o poder temdono. Temos que invertê-la. Do­no do poder, via de regra, é aqueleque dispõe de melhor capaciâadede manipulação da opiniao públi­ca, inclusive de recursos, numa so­ciedade moderna em que os meiosde comunicação estão aí, dispo­níveis para quem tem recursos fi­nanceiros. lemos que estabelecerum sistema de governo que, emprimeiro lugar, tenha representa­tividade popular e, em segundo,possibilite o jogo da democracia,a participação popular no dia-a­dia e não apenas no dia das elei­ções para evitar novas frustrações.Também estabelecer a responsa­bilidade e a punibilidade e, comclareza, qual o programa de gover­no, para que o povo vote progra­mas de ~overno. Por isso, vejoque, no SIstema de governo, se lo­caliza o epicentro de todos os pro­blemas, de todas as mazelas queinviabilizam a democracia e a pró­pria economia em nosso País.

Amaury Müller - Eu até fariauma confissão: em tese, sou parla­mentarista. Agora, acredito que aintrodução desse sistema de go­verno, exigiria, pelo menos, doispressupostos: partidos consolida­dos, fortes, capazes de propiciaruma aliança, uma costura políticapara comandar o País, sem sobres­saltos, sem problemas políticosinstitucionais. Segundo, se nós fa­lamos tanto em nome do povo equeremos que o povo participe,que o povo tenha algum tipo depoder de decisão, esteja, afinalinstalado no poder, temos queconsultá-lo, ouvi-lo, e isso nãoocorre no Brasil. A campanhaeleitoral do ano passado, ao invésde transcorrer em cima das ques­tões constitucionais, fixou-se basi­camente no Plano Cruzado e nadisputa dos governos estaduais.Os temas que interessariam à so­ciedade virtualmente foram aboli­dos, os espaços nos meios de co­municação de massa, sobretudona televisão, cujo tempo era basi­camente ocupado pelos candida­tos majoritários e raramente cedi­do ao candidato à Constituinte pa­ra que pudesse expor o I?rogramado seu partido, a sua posiçãofren­te as questões mais importantesda sociedade brasileira.

Victor Faccioni - Tem razão.Agora, o sistema ou os detentoresdo poder dentro desse sistema pre­sidencialista que não tem interessede esclarecimento e afastam o de­bate do povo em torno do sistemade governo. Eu mesmo já apre­sentei dois projetos de resoluçãona Câmara, um na legislatura pas­sada, que não chegou a ser apre­ciado, não consegui nem dar cursoao projeto, instituindo uma cam­panha de esclarecimento promo­vido pela Mesa da Câmara sobreo sistema de governo, não só espe­cificamente sobre o parlamenta-

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Natureza,que beleza!Vai acabar?

Uma" capital gramques e Jardins; da Secretaria de Servi­ços Públicos do GDF. Do Serviço deParques e Jardins, entretanto, foramdevolvidos para o DETRAN e nessevaivém, os veículos continuam inva­dindo a área verde.

Outro exemplo de descaso.é o doJardim Botânico de Brasília. A áreade mais de cinco mil hectares contaapenas com cinco funcionários. Ago­ra, com a umidade relativa do ar noDistrito Federal a níveis muito bai­xos, os incêndios são constantes e onúmero de funcionários é insuficientepara uma ação rápida. O resultamopode ser visto nos últimos anos emque incêndios destruíram mais.da me­tade da área do Jardim Botânico. Umdos incêndios verificados na área esteano, aliás, começou dentro da áreareservada para a Caesb - Compa-

Em torno da Assembléia NacionalConstituinte está Brasília. Uma cida­de que, segundo dados do própriogoverno do Distrito Federal, é a pos­suidora da maior área verde por habi­tante no mundo. Mas nem por issoBrasília deixa de ter seus problemas,pois o respeito ao verde ainda nãoestá incluído no dia-a-dia de sua po­pulação.

Um caso corriqueiro é a invasãodos gramados, que são literalmentedestruídos em muitos pontos, por car­ros, caminhões e motocicletas. Osmoradores do bloco A, da Superqua­dra Sul 111, por exemplo, tentaram,durante algum tempo, entrar em con­tato com as autondades para evitaro tráfego de veículos sobre a grama.Foram ao DETRAN, mas de lá fo­ram mandados para o Serviço de Par-

cional no caso do meio ambiente.Para o parlamentar, se os artigospertinentes à 'l.uestão forem apro­vados, o Brasil terá a legislaçãomais avançada do mundo no tratoda questão ambientalista.

Gastone Righi analisa tambéma proposta de limitação do uso daenergia nuclear. A proposição quenão foi incluída no texto do proje­to, segundo ele, apresentava fa­lhas. Por exemplo, exigia, para aimplantação de uma usina nu­clear, um plebiscito entre a popu­lação interessada. O parlamentarpaulista propõe que essa instala­ção de usinas fique subordinadaantes ao'Congresso Nacional, 'l.ue,de acordo com Gastone Righi, éo fórum maior onde estarão parla­mentares de todos os recantos dopaís e não apenas a população,que pode votar mais na criaçãode empregos que na avaliação doimpacto ambiental da medida.

Gastone Righi acha que não sedeve colocar muitas amarras nadeterminação do uso da energianuclear, pois um avanço tecnoló­gico futuro que permita uma utih­zação menos danosa dessa formade energia encontraria uma normarígida a impedir o seu aproveita­mento pleno.

=======~~A

exemplo, a Barreira do Inferno,no RIO Grande do Norte, onde,segundo ele, existe uma reservade 18 km de extensão. Soluçõescomo essa, no seu entender, deve­riam ser adotadas nas cidades demaior porte. "Isso sem contar coma preservação de bosques e fontesnaturais já existentes no interiordos núcleos urbanos".

O segundo tipo de zoneamentoproposto por Gerson Peres diz res­peito à legislação do meio ambien­te, que deve ser amplamente re­formulada. O parlamentar citaexemplos como a exploração mi­neral, que, da forma como vemsendo feita no país, contribuienormemente para a poluição dosrios e córregos. Essa poluição,continua Gerson Peres, traz pre­juízos diretos para o homem, se­jam na forma de deformidades fí­sicas ou em atrvidades econômi­cas, tais como a pesca. Outra alte­ração importante, no seu ponto deVista, é a que permita um controleainda na fase de Implantação dosprojetos industriais, aliado a umaeficiente fiscalização das leis deproteção.

O líder do PTB, constituinteGastone Righi, de São Paulo, vêcom otimismo o projeto constitu-

isso, diz Paulo Ramos, a fim depreparar o solo para as pastagens,caminho certo para a desertifica­ção da região.

Já o constituinte Roberto Car­doso Alves, do PMDB de SãoPaulo, acredita que é possível con­ciliar o desenvolvimento com apreservação do ecossistema e, nes­te caso, a nova Constituição deve,em seu modo de ver, garantir aexistência de mecanismos de defe­sa do patrimônio 'ecológiCO, comfórmulas.que permitam o desfrutedos recursos minerais, sem que IS­so implique necessariamente emprejuízo ou destruição da faunae da flora.

Roberto Cardoso Alves acredi­ta também ser importante a pre­servação de áreas específicas den­tro do território nacional que seconstituiriam em "verdadeirossantuários da vida animal e da pre­servação de eSp'écies vegetais".Sobre a possibilidade de seremmstituídos os cnmes contra a natu­reza, o parlamentar paulista é di­reto e ressalta que "todo ato decrueldade deve ser criminalizadoe o direito penal brasileiro crimi-

naliza, inclusive, a violência con­tra a coisa ao instituir o crime dedano". E conclui perguntando:"Como deixar de criminalizar umato de violência praticado contraum ser vivo".

A fúria com que tem sido devas­tado o meio ambiente no país tam­bém encontra no constituinte Ger­son Peres, do PDS do Pará, umdefensor de que a nova Consti­tuição deva cnar normas que per­mitam deter essa devastação e ga­rantir a preservação da ecologiapara o bem-estar da própria huma­nidade.

Gerson Peres, do PDS paraen­se, propõe dois tipos de zonea­mento para a questão ambienta­lista. Primeiramente, um zone­maento do tipo físico, através dadeterminação de locais onde serãoestabelecidas as reservas naturais.O parlamentar lembrou, como

A questão ambiental como for­ça política organizada não faz par­te da realidade apenas dos paísesdesenvolvidos. Prova da mobiliza­ção popular em torno da proteçãodo meio ambiente como definido­ra do próprio futuro da nação é,por exemplo, a apresentação deemenda popular defendendo o de­sarmamento nuclear e o uso pací­frco dessa forma de energia. AlémdiSSO, é bom lembrar a participa­ção do Partido Verde na disputapelo governo do RIO de Janeiro,ou mesmo a eleição do constitum­te Fábio Feldmann, do PMDB deSão Paulo, mas que teve como pla­taforma a defesa da natureza.

Mas se o movimento ecológicoganhou espaço na campanha elei­toral do ano passado, vejamos co­mo a questão está sendo tratadadentro da Constitumte através dodepoimento de alguns parlamen­tares. Para o constituinte PauloRamos, do PMDB do Rio de Ja­neiro, por exemplo, o país dispõede uma ampla legislação sobre oassunto, mas não há um mínimode respeito para com o meio am­biente, por falta de uma consciên­cia plena por parte expressiva daSOCiedade brasileira. As autorida­des, por sua vez, segundo,o parla­mentar carioca, que devenam bus­car o cumprimento desta legisla­ção são coniventes com a devas­tação. O Brasil, assim, nas pala­vras de Paulo Ramos, cammha pa­ra a autodestruição, com florestasdestruídas e o avanço da poluiçãocomo em Cubatão, a Baía de Gua­nabara e o bairro de São Cristó­vão, no Rio de Janeiro.

A nova Constituição, para Pau­lo Ramos, vai tratar de forma ade­quada a questão, mas afirmou quenão basta um compromisso for­mal, "o governo deve desenvolveruma ampla campanha de cons­cientizaçâo da sociedade para queesta se envolva e,!TI apoio efetivopara a preservaçao do meio am­biente". Mesmo assim, Paulo Ra­mos acredita que o tema da preser­vação não tem sido objeto de mui­ta polêmica dentro da Constituin­te, o que, no seu entender, refletea opinião de muitos de que estaé uma questão secundária.

A realidade do país, entretanto,lembra Paulo Ramos, já dá mos­tras da destruição do meio am­biente através do estímulo dadopelo modelo econômico, onde oBrasil se assume como uma resevade recursos naturais dos países de­senvolvidos. O parlamentar lem­brou o fato de grandes Jazidas bra­sileiras estarem sob o domínio deempresas estrangeiras e citou co­mo exemplo o descaso que as mul­tmacionais têm pelo país o episó­dIO recente em que a Volkswagen,detentora de vasta propriedade naregião amazônica, fez uma quei­mada de tal vulto que chegou aser registrada por satélites. Tudo

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onstituinteHumberto Martins

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sem controle e que o país optariapelo amplo desenvolvimento. Amiséria não teve o seu perfil muitoalterado nestes 15 anos e o saldodessa política desenvolvimentistapode ser sentido em exemplos fú­nebres como Cubatão e a devas­tação promovida em todos os re­dutos ecológicos do país, asseguraFábio Feldmann. "Cabe à Consti­tuinte resgatar o país de sua postu­ra autodestrutiva da conferênciade' Estocolmo".

Um dos pontos defendidos tam­bém pelo parlamentar paulista pa­ra que a Visãode desenvolvimentoseja modificada é assegurar atra­vés da nova Constituição a legiti­midade processual das pessoas fí­sicas e entidades cujos fms institu­cionais sejam a defesa dos inte­resses difusos, garantindo a for­mação de jurisprudéncia que asse­gure concretamente o respeito aosdireitos básicos. "Somente um Ju­diciário atuante - assegura FábioFeldmann - irá garantir a manu­tenção de um ambiente sadio eequilibrado" .

Fábio Feldmann, dessa forma,acredita que se Impõe, como eXI­gência social da maior relevância,a instituição dos delitos ambien­tais, já que é inaceitável a condutade pessoas e instituições que, mes­mo cientes dos nscos a que subme­tem populações inteiras, ainda as­sim, assumem práticas genocidas.O parlamentar CitOU inclusive oexemplo da multmacional Rho­dia, que lançou em aterros clan­destinos, na Baixada Santista, opentaclorofenol (Pó-da-China),

Em resumo, Fábio Feldmannacha que somente haverá desen­volvimento se os processos a eleinerentes forem associados à con­servação dos recursos naturais vi­vos e inanimados, atendendo atrês finalidades específicas: manu­tenção dos processos ecológicos edos sistemas vitais essenciais: pre­servação da diversidade genética;garantia do aproveitamento pere­ne das espécies e do ecossistemaParticularmente, neste momento,em que o crescimento demográ­fico Implica maior pressão sobreos recursos naturais, para supnras necessidades da alimentação demilhões de seres humanos.

Mas, e a questão ambiental de­ve ficar restnta a um Partido Ver­de ou estar disseminada por todosos partidos - mdagou o parla­mentar ao lembrar a existência daFrente Verde na Constituinte, quese tem mobilizado para verificara realidade da questão em cadaregião A Frente é suprapartidá­ria, entretanto, após a aprovaçãoda nova Carta, Fábio Feldmannacredita que a realidade partidánado país será profundamente modi­ficada e o Partido Verde poderásurgir no plano político Mais im­portante, contudo, o constitumteprevê que uma nova prática polí­tica deverá surgir. ou seja, "novosatores precisam surgir no cenánopolítrco , desempenhando papéisdiferentes, sem conchavos ou dis­cursos eloquentes e vazios", con­clui Fábio Feldmann.

Um deputado"maduro" faz adefesa do verde

"Seja maduro, defenda o ver­de". Este é o slogan defendido pe­lo deputado Fábto Feldmann, doPMDB de São Paulo O parla­mentar tem polanzado os esforçosem prol da defesa do meio am­biente na Assembléia NacionalConstituinte, sendo, sem dúvida,o principal coordenador da FrenteVerde. Segundo Fábio Feldmann,a Frente procura arregimentarparlamentares de diversos parti­dos em torno das propostas am­bientalistas

As propostas constantes do an­teprojeto da Comissão de Siste­matização, para Fábio Feldmann,se forem mantidas, darão para oBrasil uma das legislações maisavançadas do mundo na questãoambientalista. Feldmann arriscadizer, inclusive, que esses artigosservirão de matriz para outros paí­ses, além, é claro, de garantir umfuturo melhor para o nosso país.

Fábio Feldmann considera im­portante que seja revisto o con­ceito de desenvolvimento hoje emvigor no Brasil. Para ele, atual­mente o que se verifica é um usodas potencialidades, em termos derecursos naturais com um custo so­cial e ecológico que será transfe­rido para o amanhã, não muitodistante. O atual conceito, nas pa­lavras de Feldmann, inviabiliza ocrescimento econômico com umarespectiva melhora da qualidadede vida.

Essa modificação encontraapoio no relatóno apresentado emabril último pela World Comissionon Environment and Develop­ment (criada pelas Nações Unidasem 1984), em Londres. Segundoo relatório, fica provado, para Fá­bio Feldmann, que "hoje as na­ções desenvolvidas têm plenaconsciência de que não podemcontinuar crescendo ou mantersua opulência às custas do endivi­damente externo dos países emdesenvolvimento, pOIS estes sevêem obrigados a acelerar a devas­tação de seus recursos naturais ea poluírem seu meio ambiente, ge­rando, dessa forma, o auto-exter­mínio colenvo e a multiplicaçãoda miséria, o que acabará vitiman­do os países credores, a médio pra­zo, com as mesmas conseqüên­cias". Além disso afirma o parla­mentar, este relatório está sendoencaminhado à Assembléia Geraldas Nações Unidas deste ano co­mo fruto da mobilização da opi­nião pública mundial em torno danecessidade de fazer do desenvol­vimento um propulsor da conser­vação ambiental, uma vez que àluz da ciência e da economia mo­dernas, a humanidade não terá fu­turo nenhum se não fizer do cresci­mento econômico a base da prote­ção à flora e fauna silvestres, dadiversidade biológica e de todosos outros elementos que assegu­ram a sobrevivência dos povos

Aliás, amda com referência àsNações Umdas , este ano comple­tam-se 15 anos da conferência OHomem e a Biosfera, promovidapela ONU em Estocolmo. Na épo­ca, o governo brasileiro adotouuma posição hoje questionável, deque a maior poluição era a miséria

ao ordenamento intra-regional,preverur e controlar a poluição eseus efeitos e as formas prejudi­ciais de erosão, enquanto consignao ordenamento do espaço ternto­rial, de forma a construir paisa­gens biologicamente equilibra­das" .

Já o constituinte José Genoino,vice-líder do PT na AssembléiaNacional, acredita que a questãodo respeito ao meio ambiente de­ve passar, além de todos os demaispontos Já apresentados, tambémpelo direito a uma vida digna emque entraria a harmonia com oecossistema. Um segundo pontodefendido pelo parlamentar é o docrime ecológico, que se for tolera­do por muito mais tempo, com­prometerá o própiro futuro dopaís e de seus habitantes.

José Genoíno acredita igual­mente que, embora haja um gran­de consenso em torno da questãoambientahsta em meios aos consti­tuintes, essa ausência de polêmicasomente se manifesta quanto aosprincípios gerais da questão. Eleconsidera que muitos conflitos vãoexistir a partir do momento emque se fizer uma regulamentaçãongorosa que puna com pesadosônus empresas e grupos que des­truam o meio ambiente. Por essemotivo, o constituinte paulistapretende lutar para que todo o em­preendimento que comprometa omeio ambiente passe primeira­mente pelo crivo da população lo­cal, ou, no mínimo, pelo Congres­so Nacional. E finalmente, outroponto que José Genoino consideraimportante é o da proibição da ms­talação de usinas nucleares que te­nham como finalidade a produçãode artefatos bélicos.

Na etapa final de elaboração dotexto constitucional, Gastone Ri­ghi defende três pontos funda­mentais. O primeiro é o direitode todos ao meio ambiente, sendodever do Estado manter o equilí­bno ecológico, bem como defen­dê-lo. Segundo ponto: qualquerataque ao meio ambiente deve serconsiderado crime e as indeniza­ções para as transgressões devemser pesadas. E, finalmente, o di­reito a todo cidadão de exerceração judicial, fortalecendo dessaforma os dois pontos antenores.

O líder do PDC na Constitum­te, Siqueira Campos (GO), porsua vez, lembrou as propostas desua autoria apresentadas e inte­grantes do texto do projeto desdea Subcomissão dos Estados. Poressas propostas, de acordo com oparlamentar, era prevista a elabo­ração de projetos de desenvolvi­mento sempre com uma preocu­pação de preservar o meio am­biente. Em seu relatório apresen­tado à Corrussão da Organizaçãodo Estado, o constituinte goianoafirmava: "A preocupação com aecologia leva a conferir ao estado­membro a faculdade de, com VIS­tas ao desenvolvimento urbano e

~t~'~~á~~~~~~~~' ~~~~~~~~~:~~1~~~~~'~~~~~';; ,~~P:~~~neot,o que comprometeria o nível enfrentados: "São os pichadores, os caroNa terceira categona estão os fre­do urso d'água que cruza o Jardim depredadores e os sujadores". Entre quentadores que destroem as poucasBotânico. os representantes da primeira cate- instalações do parque, principalmen-

Por outro lado, a população tam- goria encontram-se inclusive alguns te bebedouros gue são mais caros ebém interfere nessa reserva. Segundo candidatos que durante suas campa- de difícil reposição. Bessa foi obri­informou funcionário que ali traba- nhas não demonstraram muita preo- gado a instalar no parque uma centrallha, várias vezes empregados da cupação com a preservação do par- de restos de materiais de construção,CAESB foram obrigados a retirar que, que é, de acordo com Caranam- onde são improvisados os principaispessoas que estavam acampando no ou Bessa, a maior área de lazer da equipamentos do parque.local, ou mesmo praticantes de Endu- América Latina, com nada menosro, que têm trilhas mapeadas da re- que 4,2 milhões de metros quadra- Esses pequenos exemplos do dia-a-gião. A própria integridade da área dos. dia ambiental da capital do país sedo Jardim Botânico está comprome- reproduzem naturalmente, com suastida, pois a presença de posseiros é Na segunda categoria estão os que peculiaridades, em cada rincão e JUS-

_rotlljlelTa e cada vez que são expulsos fazem uso das churrasqueiras, não se tificam, no seu conjunto, a preocu-oítam a ocupar áreas do jardim. utilizando das latas de lixo, sobrecar- pação dos constitumtes em que, a ní-

Mesmo dentro da cidade, não é ta- regando os 56 funcionários do Parque vel constitucional, se fixem regras emrefa fácil manter uma área verde, da Cidade durante toda a semana. defesa do homem brasileiro e do meiolembra o administrador do Parque da Além disso, afirma Bessa, há mora- ambiente.

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a mesma matéria. Pela sua análise,os pontos polêmicos foram reme­tidos para legislação ordinária.

Já o constituinte Del BoscoAmaral (PMDB - SP) elogiou adecisão do relator Bernardo Ca­bral de incluir no anteprojeto aproposta de aposentadoria para amulher aos 25 anos de trabalho.Para ele, a decisão faz justiça mi­lhões de mulheres que realizamdiariamente uma dupla jornada detrabalho, mantendo os serviçosdomésticos e também ganhandosalários em empregos que ajudama manutenção da casa.

Tal decisão - acrescentou ­não significa uma vitória pessoalde um parlamentar ou mesmo dasmais de trinta mil pessoas que assi­naram a emenda propondo o be­nefício..Significa, .ressaltou, que aConstituinte deverá adotar umaposição de reconhecimento do es­forço quê ás mulheres fazem aolongo de uma vida para garantirmelhores condições para a família.

Se a Constituinte aprovar o ca­pítulo que regulamenta a educa­ção nos termos em que foi pro­posto pelo substitutivo, estaremosregredindo 50 anos no tempo,alertou o deputado Sólon Borgesdo Reis (PTB - SP).

A exigência da valorização doprofessor do primeiro e segundograus é conquista constitucionalque existe desde a Constituição de1934, disse. Outra falha no traba­lho, pelo que observou, está nofato de não destinar recursos espe­cíficos para a melhoria da educa­ção e treinamento dos professorese pessoal de ensino. E isso é umareivindicação da sociedade, sus­tentou.

O plenário reagiu ao novo textode projeto constitucional apresen­tado pelo relator Bernardo Ca­bral. Seu trabalho recebe aplausose críticas e enseja debates sobreos temas polêmicos a serem inscri­tos no texto da Carta ou deixadospara a legislação ordinária.

Também a discussão a respeitodo formato da Carta, se deve termuitos ou poucos artigos, ser sin­tética ou analítica, continuará pro­vocando reações divergentes.

DISCREPÂNCIA

Substitutivotem avanços e

retrocessosA entrega do substitutivo apre­

sentado pelo relator da Comissãode Sistematização, Bernardo Ca­bral (PMDB -AM), após o exa­me de mais de 20 mil emendas deconstituintes e de 122 emendas po­pulares ao projeto original deConstituição, causou reação noplenário da Constittuinte. Os pa~­lamentares expressam suas OpI­niões sobre o novo texto, que am­da poderá ser emendado pelosconstituintes no prazo de seis dias.

O constituinte Victor Faccioni(PDS - RS) lamentou que o rela­tor tivesse excluído de seu traba­lho projeto de sua autoria, quepermitia a filiação da dona-de-ca­sa à Previdência Social. O parla­mentar disse que tais propostas vi­sam garantir à mulher direitosque, por questão de justiça, de­vem constar na nova Carta.

Outra crítica ao novo texto par­tiu do constituinte José Maria Ey­mael (pDC - SP), principalmen­te no que se refere ao dispositivoque estabelece igualdade de direi­tos entre o cidadão comum e aFazenda Pública, nos processosfiscais.

Depois de considerar a modifi­cação em relação ao projeto ela­borado pelas comissões temáticas,como resultado de "manobras de­sonestas, visando favorecer aindamais o Estado, em detrimento da­~uele a quem tudo deveria ser faci­litado e retribuído, pois é às custasdo cidadão que o país existe", JoséEymael fez apelo aos constituintespara que, independentemente deposições partidárias, se unam comO objetivo de lutar pelo restabele­cimento da igualdade entre o Esta­do e o contnbuinte.

O líder do PC do B, constituinteHaraldo Lima (BA), sustentouque, em alguns pontos, o substi­tutivo do projeto constitucionalchega a ser conservador e, até, re­trógrado, embora contendo itensprogressistas.

O parlamentar criticou a discre­pâncía na redação de determina­dos artigos, ora a favor, ora contra

Após o examede mais de' 20mil emendas

de constituintese 122 populares,

chegou-se aosegundo esboço.O texto é maisclaro, resume

o entendimentohavido, mas ainda

não atende aosdiversos grupos

o plenário reagiu aonovo texto de projetoconstitucional apresen­tado pelo relator Ber­nardo Cabral. Seu tra­balho recebe aplausos ecríticas e enseja deba­tes sobre os temas polê­micos a serem inscritosno texto da Carta oudeixados para a legisla­ção ordinária.

Também a discussãoa respeito do formatoda Carta, se deve termuitos ou poucos arti­gos, ser sintética ouanalítica, continuaráprovocando reações di­vergentes.

DEFINIÇÃO

Para o constituinte OsvaldoBender (PDS - RS), a Consti­tuição está praticamente escrita.O argumento usado por ele foi Ode que o anteprojeto do relatorBernardo Cabral já foi debatidoo suficiente no âmbito das Comis­sões e Subcomissões.

Dessa maneira, completou, osconstituintes já assumiram posi­ções definidas de tal forma quetodos já possuem sua opinião fir­mada sobre todos os aspectosconstitucionais: "Ninguém naConstituinte vai conseguir con­vencer ninguém", declarou.

ção para a Comissão de Sistema­tização gue, sob a presidência doconstitumte Afonso Arinos, ela­bora o projeto constitucional, pa­ra que não faça coro aos grandesinteresses de grupos minoritários,mas aos da Nação brasileira "emseus anseios de liberdade".

Já o constituinte Uldurico Pinto(PMDB - BA) garantiu que exis­te um crescente desencanto entreas parcelas da população que luta­ram contra a ditadura e pela con­vocação da Constituinte. O parla­mentar dirigiu apelo aos parla­mentares no sentido de que te­nham maior sensibilidade diantedas reivindicações populares maisurgentes, como a efetivação deuma reforma agrária eficaz, a re­dução da jornada de trabalho para40horas semanais e a estabilidadeno emprego.

A frustração - sublinhou - co­meçou quando e emenda Dantede Oliveira, das diretas, foi rejei­tada pelo Congresso. Depois ­prosseguiu - a fatalidade acaboupor roubar a vida do presidenteTancredo Neves, que liderou oprocesso de transição, levando àPresidência da República o ex­presidente da Arena e do PDS,José Sarney. Para complementar- concluiu - a Constituinte, ougrande parte dela, passa a resistirà~ principais reivindicações da so­cíedade.

REALISMO

o plm4rio dJJ CórutiiNinre elltrG "uma 1IO..a fase de trllba1hos, jfI~do o 110..0 ieXlo do reItúor Bernardo Cabral

O texto entresonho, pressão

e realidade

Realismo, foi a recomendaçãodo constituinte Antônio CarlosKonder Reis (PDS - Se). A seuver, cabe à Constituinte realizarum esforço no sentido de tornaro projeto constitucional realista,a fim de que seja um instrumentoválido para a promoção das mu­danças que a sociedade espera.

Entre os temas polêmicos queprecisam ser solucionados peloconsenso, o parlamentar destacoua distribuição de competência dosdiversos órgãos do poder; a di­mensão da presença do Estado navida nacional; e a disciplinação dasrelações sociais e econômicas.

O constituinte Fernando Santa­na (PCB - BA) já vê a Consti­tuinte como "uma grande orques­tra que precisa hârmonizar-se".Na sua opinião, os interesses dopovo brasileiro estão relagados aterceiro ou quarto planos, são dis­cutidos assuntos mais ou menosdesinteressantes.

O parlamentar chamou a aten-

Apesar da proximidade do finaldo prazo para apresentação daproposta constitucional da Comis­são de Sistematização, para ser vo­tada em plenário, a Constituinteainda continua a discutir aspectospráticos da formulação do texto(la Constituição. Se sintético, oumais extenso e analítico. O núme­ro de artigos pouco importa, pro­curou definir o constitumte ItamarFranco (PMDB - MG). O maisimportante, segundo ele, é que anova Constituição reflita os reaissentimentos da população,

E muito perigoso, disse, deixarquestões fundamentais para seremregulamentadas através da legisla­ção ordinária. O parlamentar lem­brou que o artigo 45 da Consti­tuição em vigor, que asse$ura aoCongresso o direito de fiscalizaros atos do Executivo, demorou 12anos para ser regulamentado. Poristo, o parlamentar advertiu quetodas as questões devem ser regu­lamentadas na própria Constitui­ção.

10 Jornal da Constituinte

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CRESCIMENTO

O constituinte paulista JoaquimBevilacqua, do PTB, observa quea taxa de crescimento populacio­nal do Brasil correspondeu a 2,8%na década de 70, enquanto os índi­ces de natalidade eram de 3,7%e o de mortalidade é de 9/1000.

Esse aumento populacional ­diz Bevilácqua - se verifica quaseque exclusivamente na área urba­na, sendo da ordem de 5%, acres­cendo-se a migração anual de1.800.000 pessoas do campo paraas ,cidades. Acreditamos que, atéo final do século, cerca de 100 mi­lhões de habitantes serão acresci­dos à população urbana e esseimenso contingente vai se alojarnos grandes centros regionais. En­tendemos que, para resolver oproblema habitacional das vastasfaixas de terras de áreas metropo­litanas, temos de canalizar e dre­nar os recursos públicos para urba­nização de lotes.

Antônio Britto

criem conselhos de desenvolvi­mento urbano, mesmo que te­nham caráter consultivo, e preci­samos ter seriedade na adminis­tração pública brasileira. O que seobserva, em relação à política ha­bitacional, conduzida pelo BNH,é que se fez uma estrutura parabeneficiar as empresas e não ousuário da construção habitacio­nal, o homem que precisa de casa.Chega-se ao ponto de o BNH esta­belecer que todos os projetos têmde ser construídos em alvenaria.Esquece-se, por exemplo, que oBrasil tem vários tipos de culturae de comportamento econômico.

DESAFIOO líder do PCB, constituinte

Roberto Freire, de Pernambuco,entende que urge garantir que anova Carta venha instrumentar oestado brasileiro a encarar, de fa­to, o grande desafio que o pro­cesso de urbanização cónsubstan­ciará nas próximas décadas.

Parece-nos que parcela de nos­sos constituintes ainda não está su­ficientemente convencida ou com­promissada com a questão urbana.Haja vista o anteprojeto aprovadona Subcomissão da Questão Urba­na e Transportes e o posteriorcomportamento na plenária da co­missão temática daOrdem Econômica, onde o relató­rio do senador Severo Gomes nãofoi sequer debatido, aprovando-seum substitutivo que privilegia osinteresses de grupos econômicosdefinidos. Estamos assim diantede um problema da mais alta com­plexidade, cuja superação está In­trinsecamente ligada à ordemeconômica e SOCial, a um projetode nação.

DEGRADAÇÃO

O constituinte José Fernandes,do PDT do Amazonas, sustentaque o processo migratório gerou,sobretudo, uma degradação daqualidade de vida urbana, e é pre­CISO que o governo faça investi­mentos maiores na adaptação des­sas massas.

- É necessário - diz José Fer­nandes -, que estabeleçamos, dealguma forma, uma política nacio­nal de incentivo ao crescimentodas cidades, e é necessário que se

'" \f:Joaquim Bevilacqua

DEMOCRATIZARPara o constituinte Aldo Aran­

tes do (PC do B - GO), trata-sena questão urbana, de democra­tizar a posse da terra nas grandescidades. E inaceitável a existênciade grandes quantidades de terrasvazias, enquanto existem milharese milhares de trabalhadores e mo­radores que não possuem terra nascidades. Por isso a propriedadetem de cumprir uma função social.Não estando cumprindo, deveráser desapropriada e paga com títu­los da dívida pública. A proprie­dade que não cumpre sua funçãosocial é uma propnedade anti-so­cial.

que perambula por este país por­que ele quer.

A população brasileira - diz Ir­ma - solicita dos constituintes saí­da para a questão urbana. Propo­nho aqui pelo menos mais dez me­didas que acho deveriam ser consi­deradas no projeto da Constitui­ção, e só citarei algumas. Temosde colocar, uma vez por todas, odireito da propriedade urbana, co­mo seria efetivamente, a funçãosocial da propriedade, como seriaa questão das desapropriações, dosolo urbano.

A SER FEITOCésar Cals Neto, constituinte

pelo PDS do Ceará, entende quehá muito a ser feito no contextoda reforma urbana. E pergunta:

- Sob o ponto de vista econô­mico, o que representam esses va­zios urbanos diante da necessida­de dos municípios de estender emalguns quilômetros a sua rede elé­tnca, a sua rede de transportes,a sua rede de limpeza pública? En­quanto isso, muitas vezes, verda­deiras fazendas urbanas estão lácomo depositárias, objeto princi­pal de toda uma linha de especu­lação imobiliária.

Para César Cals Neto, o proble­ma da reforma urbana não seexaure na reforma urbana. Exigeuma própria reforma estrutural dopaís, e a ela está ligada a reformatributária.

"Em 40 anoschegaram àscidades 72milhões debrasileiros.

Nos próximos40 anos serão132 milhões a

mais, umBrasil inteiro,

do tamanho do dehoje."

Irma Passoni

O que está acontecendo no Rioé bem próprio do que aconteceráno país. Muitos já diziam, e istohá dez anos: - "E se a favela des­cer para o asfalto? As favelas noRio de Janeiro, como em muitoslugares do Brasil, já estão descen­do, para ter um confronto muitograve com o.asfalto. Claro que es­sa descida não é um confronto po­lítico-ideológico; é um confrontode desespero.

Jalles Fontoura

CULPA

Para a constituinte Irma 'Passo­ni, do PT (São Paulo), não há cri­me maior do que esse de culparo miserável pela sua própna sorte,achando que ele é um vagabundo,

~

ROCINHA

A QUESTÃO

Jalles Fontoura, constituintegoiano, do PFL, considera impor­tante a emenda popular sobre areforma urbana, bem como as ses­sões noturnas para discussão espe­cífica, conforme a proposta dopaulista Plínio Arruda Sampaio,do PT.

Para Jalles, é imperioso que opoder municipal detenha instru­mentos de ordenação, planeja­mento e execução do desenvolvi­mento urbano, sendo, para isso,necessário descentralizar os recur­sos tributários e as responsabih­dades básicas e também atribuiraos municípios competência legis­latrva supletiva, acreditando nacapacidade da produção do muni­cípio de fiscalizar.

O constituinte goiano acreditaque na reforma urbana, poderáhaver um dos grandes avanços eque esta é uma oportunidade his­tórica para solucionar essa ques­tão.

Tenho esperança de que o Subs­titutivo Bernardo Cabral assumaas transformações que a questãourbana exige e que a frase de LeCorbusier possa ser um dia reali­dade: "Nossa cidade deve dar-nosalegria e fazer germinar nosso or­gulho por ela".

Brandão Monteiro, do Rio deJaneiro, líder do PDT, demonstraa relação entre o quadro urbanodo País e a injustiça determinadapelo modelo econômico que esta­beleceu às pessoas em função daconcentração da propriedade agrí­cola e também do desenvolvimen­to de mecanização da lavoura, quedeterminou o êxodo para as gran­des cidades.

O orador considera uma faláciao noticiáno de que a favela da Ro­cinha, a maior do Rio de Janeiro,se insurgira por causa da prisãode um traficante ou da mudançado local onde estava preso.

ONDE ESTÃO

PLANEJAMENTO

ORGANIZAÇÃO

O maranhense José Carlos Sa­bóia, do PMDB, sustenta, por sua

o orador seguinte, o catannen­se Dirceu Carneiro, do PMDB,complernenta: nesta geografia maldistnbuída, os 72% dos brasileirosestão comprimidos em 3,5% doterritório, onde há uma distribui­ção de mais de 252 habitantes/krrr', enquanto mais da metade doBrasil (região amazônica e Cen­tro-OesteJtem uma densidade ha­bitacional de 1,2 por kmê.

Essa disparidade - diz DirceuCarneiro - é um desafio para osgovernantes e a sociedade brasi­leira, de um modo geral.

Dirceu Carneiro defende a par­ticipação popular no encaminha­mento de seus problemas, e, as­sim, uma reavaliação daquilo quea Constituinte dispuser.

Setenta por cento da população brasileira habita as grandescidades. Por isso mesmo, a ocupação dos espaços urbanos surgecomo questão de alta premência no rol de preocupações dosconstituintes. Na sessão plenária em que se debateu a reformaurbana, os parlamentares concordaram de um modo geral nanecessidade de a ocupação dos espaços ser feita com disciplinae planejamento. Antônio Brito (PMDB - RS) quer os consti­tuintes dissecando o problema com posições firmes e claras en­quanto José Sabóia {PMDB - MA) vê como fundamental aorganização do trabalhador na luta por uma reforma urbana.E Aldo Arantes (PC do B - GO) acha que a questão todaestá em democratizar a posse da terra nas grandes cidades. .

Em seu discurso, Antônio Brit- vez que, na luta pela reforma ur­to, do PMDB do Rio Grande do bana, é fundamental que os traba­Sul, sustenta que a Constituinte lhadores organizados em suas asso­deve, perante a sociedade, adotar ciações de moradores, participemuma atitude que revele competên- permanentemente das discus­cia ao disciplinar a ocupação terri- sões e decisões relativas à constru­torial do País, Deve, também, a ção da cidade. É crucial que seCons~ltuinte institucionalizar de criem mecanismos que asseguremmaneira frrme e.clara as regiões a participação direta das organi-metropolitanas, Instrumentos es-' zações populares em todos os ní­senciais ao enfrentamento da crise veis da administração pública.urbana, exatamente onde ela é José Carlos Sabóia observa amais aguda. ação do governo contra favelados

Diz ainda Antônio Britto que em Brasília e constata que fOI umaa Constituinte deve aos cidadãos operação militar tipo Doi-Codibrasileiros a criação de instrumen- feita tristemente até com certotos claros e sensatos, pelos quais apoio da população. •o poder público possa intervir na Não construiremos nenhumaquestão urbana, adequando o seu democracia - diz o constituinteuso ao interesse coletivo. maranhense -, se tivermos neste

Conforme o orador, em 40 anos país, elites surdas e mudas, alheiaschegaram às cidades 72 milhões as questões sociais, achando quede brasileiros, ~os_ próximos 40 o problema sociaJ continua sendoanos serao 132milhõésa mais, um um caso de polícia.Brasil inteiro, do tamanho do dehoje, disputando o espaço que nãoexiste e dividindo a miséria, aagressão ao meio ambiente e osserviços públicos insuficientes.

Como ocupar os nossos espaços

O baiano Manoel Castro, doPFL, faz ver que não adianta pen­sar que, apenas com o uso da ter­ra, se resolverão todos os proble­mas das cidades.

Se o planejamento é indispen­sável - diz Manoel Castro - anível micro da cidade e do muni­cípio, ele é exigido também no pIa­no macro, porque o país não temsequer uma diretriz de ocupaçãoespecial ,do seu território conti­mental. E indispensável que o paísdefina a ocupação terntorial comouma política. Quando colocamosaqui, ser fundamental um posicio­namento em relação ao urbano,significa dizer que, igualmente,queremos uma orientação do pon­to de vista de ocupação terntorialda nação brasileira.

Jornal da Constituinte 11

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o sistema desaúde precisa

ser eficiente

tal direito, para Nelson Aguiar,uma das mais importantes funçõespolíticas do Estado e também daConstituinte.

Fazendo coro com essa opinião,o Constituinte Carlos Mosconi(PMDB-MG) ainda afirmou quebasta que seja garantido no textoconstitucional a saúde como direi­to de todos e um dever do Estado,que estaria sintetizada toda a ne­cessidade básica e reivindicatóriada sociedade brasileira.

Mas para que tal proposta setorne factível, o Brasil tem de pos­suir um sistema único de saúde,descentralizado e universalizado,gratuito, que possa realmenteatender a toda a população, inde­pendente de sua condição social.

A viabilidade do sistema previ­denciário, nos moldes atuais, me­receu a lembrança do ConstituinteJarbas Passarinho (PDS-PA), cujaopinião é a de que a Previdênciatem provado ser viável na organi­zação que ela tem, ou seja, umaparte financiada pelo Estado e ou­tra pela iniciativa privada.

De acordo com Jarbas Passari­nho, o sistema funcionou bem en­quanto a economia brasileira nãofoi agredida pela inflação desorde­nada. Pela sua análise, a partir domomento em que a inflação cres­ceu no País, esses investimentospassaram a perder valor real. Afalência imediata aconteceria noperíodo de hiperinflação queaconteceu no País nos anos 60. Asolução, aludiu, seria desfazer es­ses equívocos.

Já o Constituinte do PL, AdolfoOliveira (RJ) deu um voto de con­fiança à Previdência Social, ressal­vando que deve haver uma refor­muIação no sentido do reaparelha­mento e de uma nova mentalida­de.

Ele sugeriu que a Previdênciaassinasse convênios com sindica­tos de trabalhadores, com o fitode beneficiar quem trabalha, e nãopode submeter-se a longas filas.Todavia, genericamente, o parla­mentar recomendou uma inter­venção do governo nos seus pró­prios serviços.

Uma previdência eficiente, jus­ta e, acima de tudo, honesta, foia fórmula do Constituinte Arnal­do Faria de Sá (PTB-SP) para amodificação que disse ser funda-mental para a área de saúde. '

Justificou-se o parlamentar, ga­rantmdo que, somente no mo­mento que os trabalhadores parti­ciparem efetivamente da Previ­dencia, as distorções vão se aca­bar. "Não se pode mais escamo­tear as necessárias medidas de re­formas na Previdência, porqueaposentados e pensionistas mere­cem respeito".

Finalmente o Constituinte Wil­son Campos (PMDB-PE) sus­tentou que não importa privatizarou estatizar o sistema de saúde.O importante, observou, é que to­dos os brasileiros se unam comoirmãos em busca de um caminhomelhor para o País.

Na opinião do constituinte per­nambucano, todos os parlamenta­res deveriam se ajudar mutuamen­te. Os temas para os quais pediua atenção especial foram: idosos,crianças e microempresas.

foi também proposta pelo Consti­tuinte Euclides Scalco (PMDB ­PR). Pelas palavras do parlamen­tar, a estratégia de reorganizaçãosetorial da saúde no Brasil podeser obtida por consenso, pela cria­ção de um sistema único de saúde.

Euclides Scalco considerou quena nova Constituição deve ficarconsignado um conjunto mínimode preceitos que garantam um no­vo patamar para a saúde, qual sejaa concepção da saúde como frutodo desenvolvimento econômico­social - e não apenas uma açãosetonal e de assistência médica ­e o direito universal ao atendimen­to previdenciário e ao crescimentodo setor a níveis compatíveis como desenvolvimento econômico doPaís.

Posição semelhante tomou oConstituinte Almir Gabriel(PMDB -PA), ao sustentar queo serviço público é possível de sereficiente e capaz de prestar umserviço adequado de saúde paraa população. Como sustentáculode sua idéia, citou a participaçãoestatal nos campos da energia elé­trica e das comunicações, de for­ma "brilhante e patriótica".

Almir Gabriel garantiu que bas­ta que sejam repassados recursosmais significativos para o setor(considerou ridículos os repassesatuais) para que aconteça natural­mente o crescimento da qualidadedo atendimento médico-previden­ciário.

O Constituinte Nelson Aguiar(PMDB - ES), de igual forma,afirmou ver a saúde como um de­ver do Estado, criticando a obten­ção de lucros da parte do empresa­riado privado. "Ninguém tem odireito é, de ganhar dinheiro, ficarrico, às custas das doenças", disse.

Entende o parlamentar capixa­ba que a questão da saúde é políti­ca, de cunho ideológico, e deveriaser encarada como um bem inalie­nável de todos os brasileiros, as­sim como a educação. Assegurar

Sarney Filho

"O direito àsaúde se

confunde comuma vida

plena e digna,não havendo

como separá-lodos outros

direitosfundamentais

do ser humano"

do PCB, Constituinte AugustoCarvalho (DF), para quem a res­ponsabilidade estatal estaria noâmbito da normatização, execu­ção e controle das ações e serviçosde saúde, numa "clara estatizaçãodo setor". O parlamentar, na sualinha de raciocínio, manifestou-sea favor do sistema único de saúde,com unificação institucional nosgovernos federal, estadual e muni­cipal, "radicalmente descentrali­zado e sujeito ao mais lídimo con­trole social".

Quanto aos serviços de saúdeprivados, Augusto Carvalho jul­ga-os necessários, pelo menos en­quanto a rede pública não for sufi­CIentemente qualitativa. Mas comuma ressalva: tais empresas esta­nam sob controle do Estado e dapopulação.

A responsabilidade estatal noatendimento médico à população

, ,

~~Nelson Seixas

nária.Para Sarney Filho, o direito à

saúde se confunde com o direitoa uma vida plena e digna, não ha­vendo como separá-lo dos outrosdireitos fundamentais do ser hu­mano. Assim, asseverou, postularmelhores condições de saúde,prmcipalmente para as crianças, édefender trabalho estável e con­dignamente remunerado, educa­ção, habitação, alimentação ade­quada, saneamento básico.

O mesmo sistema único de saú­de foi também abordado peloConstituinte Eduardo Jorge (PT- SP), mas que o defendeu comum único comando, descentraliza­do, regionalizado e que tenhaatendimento integral, sem espe­cializações, para que dê mais aten­ção à recuperação e à reabilitação.O parlamentar considerou que umnovo sistema deva ter a partici­pação dos usuários, através dascentrais sindicais, no conselho de­liberativo.

Para ele, a saúde pública é prio­rítária e deve receber as verbasoficiais, sem que seja dividida coma iniciativa privada.

Opinião semelhante manisfes­tou o Deputado Ronaldo Aragão(PMDB-RO), para quem o pre­tendido sistema nacional de saúdeé viável desde que se eliminem assuperposições de âmbito de atua­ção. Mas ressaltou para a inicia­tiva privada um lugar no atendi­mento médico à população, argu­mentando que o empresariadotambém faz parte da ampla refor­ma de que necessita a saúde doPaís. O Estado, afirmou, não éo superpoder que cuida de tudoe de todos.

Para o constituinte, é precisoque a nova Constituição tenha cla­ramente um equilíbno entre o po­der público e a iniciativa privadana saúde.

O Constituinte Nelson Seixas(PDT - SP) no seu turno, louvoua ação benéfica da comunidadeem alguns setores da saúde, osquais, a seu ver, não precisam dasubstituição pelo Estado. Na suaopinião, as entidades educacionaise sociais sem fins lucrativos ligadosà previdência privada e à saúdedos excepcionais precisam ser pre­servadas.

Num plano mais geral, o parla­mentar disse conceber que a me­lhor alternativa em matéria desaúde para o Brasil seja a medicinadescentralizada, municipalizada ecom participação comunitãna,promovendo-se a integração hori­zontal e vertical dos recursos.

ESTATIZAÇÃO

A saúde como dever do Estadofoi a abordagem do representante

A sessão plenária que discutiuo sistema de saúde brasileiro reve­lou uma Constituinte tendente emtranspor para o novo texto consti­tucional um programa de saúdeque fique como está atualmente,dividido entre o poder público eo setor privado. Mas ficou eviden­te que os parlamentares inclinam­se a responsabilizar o setor públicocom maiores atribuições, conside­rando o atendimento previdenciá­rio e sanitário a todos os cidadãoscomo um dever do Estado, nãoem forma de monopólio, porquecaberia ao empresariado do setora complementação dos serviçosmais específicos e especializados.

Em defesa da iniciativa privada,o Constituinte Jofran Frejat (PFL- DF) observou que esse setor,no Brasii, é o único genuinamentenacional, não cabendo aos empre­sários tratar de endemias, solucio­nar problemas de esgoto ou deáguas pluviais, mas sim ao Estado.

Jofran Frejat é favorável à divi­são de tarefas entre o setor públicoe o privado, ao argumentar queo monopólio estatal pode provo­car a perda do fator comparativode qualidade de serviços e, aí, aseu ver, o Estado tem se caracte­rizado por ser "um mau gerente".

O Constituinte José Elias Murad(PTB - MG) também afirmou-sea favor de que na nova Consti­tuição seja garantido o espaço pa­ra a iniciativa privada. Destacouele que as instituições pnvadasmerecem todo o respeito e na áreade saúde já possuem, por méritos,lugar de destaque.

De outra feita, o parlamentaraproveitou para chamar a atençãoa fim de que seja modificada a po­lítica de fabricação de medicamen­tos no Brasil, sublinhando que ogrande número de remédios nomercado faz gerar distorções depreços e de operacionalidade, por­que alguns laboratórios deixam defabricar medicamentos que nãovendem ou vendem pouco. Aquestão é de sobrevivência, defi­niu José Elias Murad.

RESPONSABILIDADE

Entretanto, as opiniões dosconstituintes começam a concen­trar-se em torno da responsabili­dade do Estado no atendimentogratuito e obrigatório na área desaúde e na discussão do sistemaúnico de saúde, como está previstono anteprojeto do Relator Bernar­do Cabral. Foi o caso do Consti­tuinte Sarney Filho (PFL - MA),que pediu uma nova redação parao texto, dizendo entender que omesmo, em que pese o caráter ino­vador, está muito explícito em ma­ténas nitidamente administrati­vas, pertinentes à legislação ordi-

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Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste. Depois desta Carta, criança, não verás mais um pats como este.

Crianças e sete direitos

Saúde: unidade deveorientar toda a ação

Com apenas 1.546 assinaturas,foi encaminhada, para ser incluídana nova Carta, proposta que cen­traliza, nos municípios, os recur­sos financeiros destmados aos pro­gramas da área de saúde, dentrode .uma ampla reforma tributária.Prevê ainda a criação de conselhoscomunitários a nível municipal,junto às secretarias municipais desaúde, com a finalidade de promo­ver o levantamento das reais ne­cessidades locais, bem como a exe­cução e a fiscalização das açõescompatíveis.

Recursos para. " .os munictptos

a Constituição assegure à criançade O a 6 anos o direito à crechee à educação pré-escolar, median­te leis e mecanismos que possibi­litem recursos para a manutençãodesse sistema, inclusive com acriação de rede pública de crechese a obrigatoriedade de as empre­sas criarem e manterem crechese pré-escolas para os filhos dosseus empregados.

A emenda cuida ainda de decla­rar a responsabilidade do Estadopela educação, no sentido de queela seja universal, pública e gra­tuita em todos os níveis e atribuiaos municípios a responsabilidadeda educação pré-escolar e do ensi­no básico, ficando à União o papelnormativo e supletivo.

DIREITO À VIDA

Emenda apresentada pela Sei­cho-No-Ie fara a América Latinae do Brasi e pelo Cardeal Arce­bispo de São Paulo, D. Paulo Eva­risto Arns, determina que sejaabolida, na nova Constituição,"qualquer dispositivo que atentecontra o direito divino à vida eà sua inviolabilidade, da concep­ção à morte". A medida, respal­dada, por 36.054 assinaturas, diz,em sua justificativa, ser "pontofundamental na consolidação dafamília brasileira, pois guarda, nosprofundos estudos espirituais,uma grande influência sobre as ge­rações futuras".

jetivos do SIstema Nacional deSaúde. Segundo a emenda, oSistema Unico de Saúde con­tará com uma política de recur­sos humanos que preveja: con­curso público, carreiras multi­profissionais, isonomia sala­rial, direito à sindicalização egreve, para os trabalhadores desaúde. •

Na justificativa é explicadoque as entidades e movimentospopulares que compõem a Ple­nária Nacional pela Saúde naConstituinte lutam pela inclu­são das propostas da 8" Confe­rência Nacional de Saúde notexto da futura Constituição,como condição mínima e indis­pensável para assegurar o ple­no exercício do direito à saude,o qual implica na garantia peloEstado de: condições dignas detrabalho, alimentação, mora­dia, educação, transporte,meio ambiente, repouso, lazere segurança, além do direito àliberdade, à livre organizaçãoe expressão, ao conhecimentoe controle dos trabalhadoressobre o processo e o ambientede trabalho, bem como o aces­so universal e igualitário aosserviços setoriais em todos osníveis.

promulgaçãO da Constituição, se­jam aprovadas leis federais sobreo Código Nacional da Criança edo Adolescente, em substituiçãoao atual Código de Menores, bemcomo a instituição dos ConselhosNacional, Estaduais e Municipaisda Criança e do Adolescente.

CRECHEO MOVimento de luta Pró-Cre­

che, a Associação de Apoio à Cre­che Comunitária Casa da Vovó,ambos de Belo Horizonte, e aFundação Fé e Alegria do Brasilpatrocinaram emenda, subscritapelo Senador Ronan Tito (PMDB- MG), propondo a garantia dodireito à creche.

O objetivo da proposta é que

Emenda popular, com oapoio de 55.117 assinaturas,patrocinada pelo Conselho Fe­deral de Medicina, FederaçãoBrasileira de Nutrição e Sindi­cato dos Enfermeiros do Dis­trito Federal trata da questãoda saúde na forma de reformasanitária.

Entre os princípios defendi­dos no documento, destaca-se,inicialmente, a proposta de queas ações e serviços de saúdeformarão um Sistema Unico deSaúde, estatal e gratuito.

Os recursos para o financia­mento do Sistema Nacional deSaúde - prossegue a emenda- serão provenientes da recei­ta tributária da União, estados,municípios e Distrito Federal,nunca mferiores a 10% do PIB;e se constituirão num fundoúnico de saúde, a ser adminis­trado de forma colegiada pelosórgãos públicos e entidades re­presentativas da sociedade.

Propõe-se também a estati­zação da indústria farmacêuti­ca. A proposta enfatiza que opoder público poderá intervir,desapropriar ou expropriar osserviços de natureza privada,necessários ao alcance dos ob-

ciedade e do Estado em relaçãoà criança e ao adolescente, princi­palmente no campo da educação,da assistência SOCial e do amparoà família; prescreve regras atinen­tes à legislação especial destinadaa regular o trabalho da criança edo adolescente; estabelece os cri­térios para as formas de partici­pação das comunidades nas políti­cas e programas de atendimentoaos direitos da criança e do adoles­cente, e de assistência à gestantee à nutriz.

Além de determinar prioridademáxima na destinação dos recur­sos orçamentários federais, esta­duais e municipais em favor dacriança e do adolescente, a emen­da prevê que, dez meses após a

"Compete ao poder públicoprestar assistência integral à saúdeda mulher, nas diferentes fases desua vida; garantir a homens e mu­lheres o direito de determinar li­vremente o número de filhos, sen­do vedada a adoção de qualquerprática coercitiva pelo poder pú­blico e por entidades pnvadas; as­segurar acesso à educação, infor­mação e aos métodos adeg,uadosà regulamentação da fertilidade,respeitadas as opções indivi­duais" .

Respaldada por 33.338 assina­turas, temos acima íntegra deemenda popular que trata da saú­de da mulher, apresentada pelasentidades: Coletivo Feminista Se­xualidade e Saúde, União de Mu­lheres de São Paulo e Grupo deSaúde Nós Mulheres do RIO.

"A mulher tem o direito de con­ceber, evitar a concepção ou inter­romper a gravidez mdesejada, até90 dias de seu início. Compete aoEstado garantir esse direito atra­vés da prestação de assistência in­tegral às mulheres na rede de saú­de pública. Serão respeitadas asconvicções éticas, relígíosase indi­viduais" .

Porta abertapara o aborto

Os sete direitos capitais dacriança e do adolescente - à Vida,à sobrevivência digna, ao futuro,à infância, à adolescência, à digni­dade e ao respeito ,. e à liberdade- devem figurar na Constituição,segundo a emenda popular defen­dida pelo movimento "Criança,Priondade Nacional". Afirma omovimento que o quadro de misé­ria, carência e sofnmento, violên­cia e degradação que vitima gran­de maiona da nossa infância e ado­lescência não apenas deve comopode ser mudado.

Patrocinada pela FederaçãoNacional da Sociedade Pestalozzi,"Ação e Vida" e pelo Serviço Na­cional Justiça e Não-Violência, aproposta define os deveres da so-

Médico pessoalserá possível?

Sete maneirasde incentivara arte no País

Para que a Constituição con­temple também o espaço definidoda arte e dos profissionais do se­tor, emenda popular defende aidéia de que é dever do Estadopromover o desenvolvimento ar­tístico-cultural e sua autonomia.Esse objetivo deve ser asseguradopela liberdade de expressão, criar,aprender, ensinar, produzir e pes­quisar, individual e coletivamen­te, em arte, e pela priorização decompromisso com o bem comum,a memória, a realidade e a culturabrasileiras em relação ao contextouniversal.

Dessa maneira, são defendidossete itens: destinação de recursospúblicos à docência, à pesquisa eà criação em arte, quanto a meiosmateriais e não materiais, à forma­ção e condições de trabalho, à di­vulgação e circulação dos valorese bens culturais produzidos; ensi­no público e gratuito para a artena escola formal e instituições cul­turais, como direito de cada cida­dão; ensino da arte como disci­plinas obrigatórias nos currículos,dos vários níveis; cursos profissio­nalizantes em arte, atendendo àsvárias responsabilidades; partici­pação de profissionais e entidadesassociativas atuantes na área dearte-educação em todas as etapasde planejamento de atividades dogoverno; acesso aos níveis maiselevados do ensino; da pesguisa,da criação e da produção artística;e incentivo às manifestações artís­ticas de criação nacional.

Apoiadas por 72.501 assinatu­ras, a Federação Nacional dos Es­tabelecimentos de Serviços deSaúde, a Associação Brasileira deMedicina de Grupo e a FederaçãoBrasileira de Hospitais encami­nharam emenda solicitando queseja incluído na nova Constituiçãoo seguinte:

L O Sistema Nacional de Saú­de deve respeitar os princípios:a - universalidade do atendimen­to; b - pluralismo de sistemasmédico-assistenciais; c -livreexercício profissional; e d -livreopção do mdivíduo entre diversossistemas.

OUTRAS OPÇÕES

Emenda dispondo sobre a me­dicina alternativa natural foi ap're­sentada pela Associação Brasilei­ra de Terapeutas Naturistas, Fe­deração Nacional de Associaçõesde Medicinas Alternativas Natu­rais e Fundação Cultural do Dis­trito Federal.

Com 14.040 assinaturas, a pro­posta determina que o poder pú­blico deve assegurar o pleno direi­to de acesso às terapias e métodosalternativos de assistência, preser­vação e recuperação da saúde, in­dividual e coletiva, através da uti­lização de modalidades, princí­pios, métodos e técnicas especí­ficas. Estabelece também que aação própria para a garantia dessedireito é de rito sumário, inclusivequando se destmar à defesa domeio ambiente.

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ADlRP/Guilhenne R.n~l

As emendas eram tantas que as mãos do povo não foram bastantes

Bancários querem parar aos 25Promovida pelas entidades de

classe do Comitê de Defesa doFuncionahsrno do Ceará, emendapopular quer que sejam conside­rados estaveis, no serviço públicodos estados, todos os servidoresda admírnstração centralizada ouautárquica, admitidos em carátertemporário que, à data da promul­gação da Constituição, comp'leta­rem cinco anos de serviço publicosem interrupção de suas funções.

Outra emenda, subscrita por31.237 eleitores, propõe a criaçãodo Estado de Santa Cruz, sendopatrocinada por entidades da Ba­hia: Câmara Municipal de Jussari,Associação dos Moradores doBairro São Caetano, e Associaçãode Moradores do Bairro de SãoPedro, ambas de Itabuna.

Já a Associação dos Prefeitosde São Paulo, a Associação Pau­lista dos Municípios e a União dosVereadores Brasileiros apresenta­ram emenda, subscrita pelo cons­tituinte Francisco Amaral (PMDB- SP), sobre mandato. Estabe­lece que perderão o mandato ogovernador e o prefeito que assu­mirem outro cargo ou função naadministração pública direta ouindireta, sem prévia licença do Po­der Legislativo respectivo. AConstituição Estadual deverá es­tabelecer limites máximos e míni­mos dos subsídios do prefeito, vi­ce-prefeito e dos vereadores, queserão fixados pela Câmara Muni­cipal no primeiro semestre do últi­mo ano da legislatura, para vigora­rem na seguinte.

A criação, a incorporação, a fu­são e o desmembramento de mu­nicípios deverão obedecer os re­quisitos de lei estadual, além dedependerem de consulta prévia,mediante plebiscito, às popula­ções diretamente interessadas. Éo que prevê emenda apresentadapela Assembléia Legislativa doEstado do Rio Grande do Sul, pe­la Associação das ComissõesEmancipacionistas e pela Federa­ção das Associações de Municí­pios do Rio Grande do Sul.

ESTABILIDADE

renciadas e às profissões regula­mentadas o direito de organizaçãode respectivas entidades sindicaisúnicas por base territonal."

A justificativa que embasa essaemenda argumenta que não há co­mo unificar direitos e interesses,individuais e coletivos, em pleitea­ções coletivas se, por definição,todos eles são diferenciados entresi. Ainda: "Se se suer implantaro sistema de pluralidade absolutapara as demais categorias não épossível fazê-lo com as diferencia­das e com as profissões regula­mentadas, quer pela falta de legiti­midade das representações majo­ritárias, quer pela força insignifi­cante que passarão a ter tais enti­dades, com inegáveis prejuízosaos respectivos profissionais e,portanto, ao país, como um todo".

" .empresanos

Estabilidade,segundo os

Com 32.425 assinaturas, o Cen­tro das Indústrias do Estado doRio Grande do Sul, a Associaçãode Empresários do Estado do RioGrande do Sul e a ASSOCiação dosDirigentes de Vendas do Brasilencaminharam à Constituinteemenda dispondo sobre a estabili­dade no emprego.

Pela proposta, é direito socialdos trabalhadores urbanos e ru­rais, além de outros que visem àmelhoria de sua condição social,a garantia da relação de emprego,salvo:

a) contrato a termo - trata-sede necessidade da economia, par­ticularmente na demanda de servi­ços altamente especializados comobjetivos fixados dentro de deter­minado período;

b) falta grave - o empregadorprecisa dispor desta alternativa dedispensa a fim de preservar a har­monia interna de seu quadro fun­cional, sendo instituto contempla­do em todos os ordenamentos Jurí­dicos;

c) contrato de experiência - éprerrogativa indispensável para osobjetivos de eficiencia da ativida­de empresarial pela constataçãoda capacitação profissional docontratado;

d) fato econômico intransponí­vel, técnico ou de infortúnio daempresa - como atividade de ns­co, à empresa deve ser conferidamobilidade razoável para o en­frentamento de problemas in­transponíveis, visando à preserva­ção da atividade empresarial, de­vidamente demonstrada essa cir­cunstância pelos próprios fatoresinerentes a variáveis do universono qual o empreendimento estáinserido;

e) pagamento de indenização ­ao empregador cabe a responsa­bilidade de pagamento de indeni­zação proporcional e progressivaao tempo de serviço como únicamedida adequada capaz de com­pensar o empregado pelo períodode sua dedicação à empresa seminviabilizã-la,

No mesmo sentido, outra emen­da popular apresentada estabeleceque são estáveis os servidores regi­dos pela CLT, os da União, dosestados e dos municípios, da admi­nistração direta e autarquias que,à data da promulgação da Consti­tuição, contem, pelo menos cincoanos de serviço público.

Apresentam o documento, com32.000 assinaturas, a Associaçãodos Técnicos em Ciências Econô­micas, Contábeis e Administraçãode Empresas da CEERGS, Asso­ciaçãoaos Gerentes e Subgerentesda Caixa Econômica Estadual doRio Grande do Sul e a AssociaçãoRecreativa dos Caixas da CaixaEstadual/RS.

ORGANIZAÇÃO SINDICAL

"É garantido às categorias dife-

TRABALHADOR RURAL

A aposentadoria para o traba­lhador rural, voluntariamente aos60 anos de idade, se do sexo mas­culino, e aos cinqüenta e cincoanos, se do sexo feminino, cons­titui uma das três sugestões cons­tantes da emenda popular, com31.500 assinaturas, patrocinadapela Federação dos Aposentadose Pensionistas de Minas Gerais,Associação dos Aposentados ePensionistas do Alto Parnaíba eAssociação dos TrabalhadoresAposentados e Pensionistas deUberlândia,

PREVIDÊNCIA SUPLETIVA

das pelo sistema de seguridade so­cial dos idosos desamparados.

Emenda para suprimir disposi­tivo do projeto constitucional veioda Bahia, apoiada por 41.188assi­naturas e coordenada pelo Sindi­cato dos Trabalhadores na Indús­tria da Extração de Petróleo noEstado da Bahia, Associação dosMantenedores Beneficiários daPetros e Associação dos Trabalha­dores Portuários da Cidade deCandeias.

Sustenta a emenda que, alémde não ser de natureza constitu­cional, é inconveniente, pelos ris­cos que acarretaria à previdênciasupletiva, o artigo 360 e seu pará­grafo único do projeto da Comis­são de Sistematização.

O dispositivo que se quer supri­mir determina que "a participaçãodos órgãos e empresas estatais nocusteio de planos de previdênciasupletiva para seus servidores eempregados não poderá excedero montante de contribuição dosrespectivos beneficiános". O pa­rágrafo único estende tal regra àprevidência parlamentar.

Os bancários e securitários que­rem a aposentadoria aos vinte ecinco anos de serviço e tambémque os proventos sejam de valorigual à maior remuneração dos úl­nmos doze meses de trabalho. Aemenda que defende tais reivindi­cações fOI apresentada pela Con­federação Nacional dos Trabalha­dores nas Empresas de Crédito,pela Associação Profissional dosEmpregados em Estabeleci­mentos Bancários de Assis (SP)e pelo Sindicato dos Empregadosem Estabelecimentos Bancáriosde Presidente Prudente, sendosubscrita por 43 mil eleitores.

IDOSOS

"A Constituição não deixará aodesamparo quatorze milhões deidosos e milhões de trabalhadoresque têm direito a uma aposenta­doria digna, após trinta e cincoanos de trabalho diuturno pelagrandeza do Brasil" - é o Cjueproclamam o Fórum Nacional daTerceira Idade, o Sindicato dosMetalúrgicos de São Paulo e o Sin­dicato dos Advogados de São Pau­lo, patrocinadores de emenda com32.475 assinaturas.

A proposta é no sentido de quese inclua na Constituição artigo es­tatuindo que os poderes públicosgarantirão a suficiênciaeconômicae as condições de habitação e con­vívio familiar e comunitário daspessoas idosas, promovendo seubem-estar mediante um sistema deserviço social que atenda aos pro­blemas específicos de saúde, mo­radia, cultura e lazer, de modo aevitar o isolamento ou margina­lização social.

Para tanto, será organizado umfundo de assistência à terceira ida­de que possibilite pensões adequa-

IR sobre osproventos dosaposentados

A preocupação com o Impostode Renda sobre os proventos daaposentadoria está manifesta naemenda vinda de Volta Redonda,coordenada pela Associação dosIndustriários Aposentados e Pen­sionistas daquela cidade, pela As­sociação dos Moradores e Amigosdo Bairro Sessenta e pela UniãoHospitalar Gratuita. Eles pedemque seja mantido o art. 356, pará­grafo único, do projeto da Comis­são de Sistematização, que declaraque o Imposto de Renda sobreproventos da aposentadoria só in­cidirá a partir do montante corres­ponde a 20 salários mínimos. En­carecem, entretanto, que sejamfeitas ressalvas em paragrafos doart. 270. E explicam: "Volta Re­donda é um campo dividido. Umterço aproximadamente de nossosaposentados pugna pela paridadepura e simplesmente. De nossaparte, julgamos que o projeto res­guarda suficientemente os nossosdireitos, com dois obstáculos, po­rém, que desde logo nos preocu­pam. Em primeiro lugar, o proble­ma da indexação, que deve sermantida em relação ao salário mí­nimo. Em segundo lugar, a inci­dência do imposto previsto peloart. 270, item Ill, sem que se dis­criminem os proventos da aposen­tadoria. Uma preocupação paraque não se tire o que já está. Aoutra, para que se acrescente oque falta".

PENSIONISTASCom o respaldo de 58.000 assi­

naturas, a Federação dos Aposen­tados e Pensionistas e a União dosAposentados em Transportes Co­letivos e Cargas, ambas de SãoPaulo e a Associação dos Aposen­tados e Pensionistas de RibeirãoPreto apresentaram emenda po­pular dispondo sobre direitos e ga­rantias constitucionais dos pensio­nistas e aposentados da previdên­cia social.

Pretendem, em síntese, a ado­ção do sistema único de previdên­cia social, sem tratamento diferen­ciado de qualquer natureza, bemcomo a unicidade do plano de be­nefícios, reivindicação legitimada,dentre outras, pela linha evolutivada legislação comparada. Final­messe, des~ a participação deaposentados e pensionistas na ad­ministração de órgãos e entidadesda previdência social, por signifi­car o tortaíecimento do regime de­mocrático, onde a participaçãodos segmentos interessados nosorganismos públicos é uma notaessencial.

IMPOSTOCom 339.007 assinaturas, a As­

sociação Brasileira das EntidadesFechadas de Previdência Privadaencabeça a emenda popular paraque seja vedado ã União, aos esta­dos, ao Distrito Federal e aos mu­nicíp'io~ i~stituir imposto sobre opatnmomo, a renda ou serviçosdas entidades de previdência pri­vada sem fins lucrativos, observa­dos os requisitos estabelecidos emlei, bem como prevendo que a leiregulará a previdência privadasem fins lucrativos com carátercomplementar dos planos de segu­ro social.

Patrocinam ainda a emenda aFundação Rede Ferroviária de Se­guridade Social e a Caixa de Previ­dência dos Funcionários do Bancodo Brasil.

14 Jornal da Constituinte

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"Indio e terra, a união indivisível

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Manter em pé SESI e SENACmanutenção do Serviço Nacionalde Aprendizagem Industrial (SE­NAI) e do Serviço Social da Indús­tria (SESI) foi patrocinada pelaConfederação Nacional da Indús­tria, pela Federação das Indústriasde Brasília e pela Associação dasEmpresas dos Setores de Indústriae Abastecimento e Gráfico do DF,com o apoio de 290.752 assinatu­ras de eleitores.

Na justificativa da emenda, osque a apóiam manifestam seu re­púdio à tentativa de extinguir osreferidos órgãos, através do cortede sua atual forma de manuten­ção, e defendem a permanênciada situação jurídica de institui­ção privada. Eles são contráriosà absorção das entidades pelo sis­tema de ensino público, por enten­der que a medida seria prejudicialao seu funcionamento eficiente.

MÃO-DE-OBRA

Subscrita com 36.441 assinatu­ras, foi apresentada emenda coma finalidade de excluir a proibiçãodas atividades de intermediaçãode mão-de-obra.

Na justificativa, enfatiza-se quesão realizados "no país, tipos deprestação de serviços, pela micia­tiva privada, indispensáveis à di­namização social e econômica, taiscomo: serviços de limpeza e con­servação de móveis e Imóveis; vi­gilância e segurança de bens, pa­trimônio e valores; manutençãode máquinas e equipamentos;transportes e outros, que gerammilhares de empregos e recolhemmilhões de encargos em contribui­ção social e de tributos. Somenteno setor de asseio e conservaçãosão quase dois milhões de traba­lhadores, com sindicatos reconhe­cidos em todos os estados".

EMPREGADO DOMÉSTICO

Endossada pelas associações declasse de São Paulo, Santa Cata­rina e Uberlândia, outra emendaestende aos empregados domés­ticos os direitos assegurados aosdemais trabalhadores pelas leisconsolidadas e legislação previ­denciária, com reconhecimento desua categoria profissional e eleva­ção de sua representação de asso­ciação profissional para sindicatode classe, pelo Mimstério do Tra­balho.

mem e com 25 anos para a mulher,e com tempo inferior, pelo exer­cício de trabalho noturno, de reve­zamento, penoso, insalubre ou pe­rigoso.

A preocupação de garantir nainatividade o poder aquisitivo queo trabalhador detinha quando tra­balhava está relacionada com re­baixamento que ocorre na fixaçãodo valor do benefício, calculadocom base na média dos últimos36 meses. Em época de inflação,tal média não representa nem me­tade do último salário percebido.

Duas emendas populares foramapresentadas com o objetivo demanter o SESC/SENAC e o SESI/SENAI tais como estão estrutu­rados hoje, garantindo suas fontesde receita e sua condição de insti­tuições de direito privado. Como apoio de 628.202 assinaturas deeleitores, a emenda que garanteo sistema de contribuição das em­presas comerciais para o SESC eo SENAC com base no seu fatura­mento foi patrocinada pela Confe­deração Nacional dos Trabalhado­res do Comércio e pelos própriosórgãos interessados, o Serviço Na­cional de Aprendizagem comer­cial (SENAC) e o Serviço Socialdo Comércio (SESC). Respalda­ram ainda a emenda mais de umacentena de sindicatos de patrõese empregados.

A emenda que visa garantir a

Apresentada pela Central Ge­rai dos Trabalhadores, pela Cen­tral Única dos Trabalhadores e peloDepartamento Intersindical deAssessona Parlamentar, emendapopular subscrita por 272.624 elei­tores, alinha os direitos dos traba­lhadores a serem inscritos na futu­ra Constituição.

Trinta e três itens constituem es­ses direitos básicos, dentre osquais o salário mínimo real a serfixado pelo Congresso, o salário­família à razão de 20% do saláriomínimo por dependente, o saláriode trabalho noturno, o décimo ter­ceiro salário, a participação diretanos lucros ou no faturamento daempresa, o reajuste automáticomensal de salários, remuneração,pensões e proventos de aposen­tadoria pela variação do índice docusto de vida.

ESTABILIDADEDefende a emenda a jornada se­

manal de 40 horas; a estabilidadedesde a admissão no empre­go, salvo o cometimento de faltagrave comprovada judicialmente;o Fundo de Garantia por Tempode Serviço; a greve que não pode­rá sofrer restrições na legislação,sendo vedado às autoridades pú­blicas, inclusive judiciárias, qual­quer tipo de intervenção limitativodesse direito; proibição do locau­te; proibição da locação de mão­de-obra e contratação de trabalha­dores avulsos ou temporários;proibição da caracterização comorenda, para efeitos tributários, daremuneração mensal até o limitede 20 salários mínimos não-inci­dência da prescrição no curso docontrato de trabalho; seguro de­semprego; organização de comis­sões por local de trabalho.

APOSENTADORIA

No tocante à Previdência So­cial, a emenda defende a aposen­tadoria com remuneração Igual àda atividade, garantido o reajusta­mento para preservação do seu va­lor real, com 30 anos para o ho-

Ocaminho davalorizaçãodo trabalho

Bancário querentrar no bolo

preservação do meio ambiente edo seu patrimônio cultural.

As terras indígenas são bens daUnião, inalienáveis, imprescrití­veis e indisponíveis a CJ.ualquer tí­tulo, vedada outra destinação quenão seja a posse e usufruto dospróprios fndios. A eles é permitidaa cata, faiscação e garimpagem emsuas próprias terras. Excepcional­mente, a pesquisa e lavra de recur­sos minerais em terras indígenaspoderão ser feitas apenas pelaUnião, em regime de monopólio,com a prévia autorização dos ín­dios que as ocupam, quando hou­ver relevante interesse nacional,assim declarado pelo CongressoNacional.

Encaminhada pela AssociaçãoNacional dos Funcionários doBanco do Brasil, União Nacionaldos ACIOnistas Minoritários doBanco do Brasil e Associação dosAntigos'Funcionários do Bancodo Brasil emenda popular tratan­do da participação no lucro e de­mocratização da administraçãodas empresas.

O objetivo é democratizar a ad­ministração das empresas, garan­tindo a gestão por eleição diretados empregados e a participaçãono lucro real das empresas pübh­cas, das sociedades de economiamista e das empresas privadas.

Segundo as entidades patroci­nadoras, a participação dos em­pregados no lucro das empresas,além de um avanço econômico esocial, é um poderoso estímulo aoaumento da produção e da produ­tividade; é ainda uma forma dedistribuição de riquezas e de de­mocratização do capitalismo.

Para que melhor se atinja a par­ticipação nos lucros - contínuao documento -, é fundamentalque os empregados participem dagestão das empresas, elegendo umseu representante para a diretoria,a fim de se inteirarem das políticase dos objetivos das empresas, desua real situação financeira e dosproblemas que elas enfrentam

Por outro lado, a proposta asse­gura o acesso público às fontes,metodologias de cálculo, estatís­ticas e dados necessários ao conhe­cimento da realidade SOCial, eco­nômica e terntorial do país de quedisponham os poderes públicosem todos os níveis.

às pessoas, aos bens, à saúde eà educação dos índios.

As terras ocupadas pelos índios,diz a emenda, são inalienáveis,destinadas à sua posse permanen­te, independendo de demarcação,ficando reconhecido seu direito aousufruto exclusivo das riquezasnaturais do solo e do subsolo, dasutilidades nela existentes e doscursos fluviais, assegurado o direi­to de navegação.

São terras ocupadas pelos índiosas por eles habitadas, as utilizadaspara caça, pesca, extração, coleta,agricultura e outras atividadesprodutivas, e as áreas necessáriasà sua reprodução física e cultural,segundo usos, costumes e tradi­ções, incluídas as necessánas à

·Mais recursos, .

A tecnologiaA Federação Nacional dos En­

genheiros, a Associação Brasileiradas Instituições de Pesquisa Tec­nológica Industrial e a Coordena­ção Nacional dos Geólogos patro­cinaram a emenda popular queatribui aos poderes públicos a res­ponsabilidade de promover o de­senvolvimento tecnológico dopaís, das ciências básicas, sociaise naturais.

A emenda - que não alcançouo número mínimo de assinaturas,mas foi assumida pelo constituinteLysâneas Maciel - prevê que osinvestimentos públicos no setorsejam, no mínimo, de 2% do PIEe não menos que 5% do orçamen­to fiscal da União.

Coloca sob controle estatal osserviços de telecomunicação, lan­çamento e operação de sistemasespaciais e veda a produção, aconstrução, o armazenamento e otransporte, em território nacional,de armas nucleares, químicas, bio­lógicas e outras de igual efeito de­vastador.

Patrocinada pela AssociaçãoBrasileira de Antropologia(ABA), pela Coordenação NacIO­nal dos Geólogos (CONAGE) epela Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência (SBPC),com o apoio de 41.114 assinaturas,a emenda constitucional Uniãodas Nações Indígenas diz que asociedade brasileira é pluriétnica.Determina ainda que os índios go­zarão dos direitos especiais cons­tantes da emenda, além de outrosinstituídos por lei.

São reconhecidos aos índios asua organização social, seus usos,costumes, línguas, tradições e seusdireitos originários sobre as terrasque ocupam. Compete à União aproteção às terras, às instituições,

Compulsório. " .no municipto

A União, os Estados, os Muni­cípios e o Distrito Federal poderãoinstituir, além dos que lhes são no­minalmente atribuídos, outros im­postos, desde que não tenham fatogerador ou base de cálculo pró­prios de impostos discriminadosna Constituição. Poderão tambémInstituir empréstimos compulsó­rios para atender a despesas ex­traordinárias provocadas por cala­midade pública, mediante leiaprovada por maioria absoluta dosmembros dorespectivo Poder Le­gislativo. E o que determinaemenda constitucional propostapela Associação dos Prefeitos deSão Paulo, pela Associação Pau­lista dos Municípios e pela Uniãodos Vereadores Brasileiros. Aemenda foi patrocinada pelo cons­tituinte Francisco Amaral (PMDB- SP) porque só conseguiu 10 milassinaturas de eleitores.

Os impostos previstos na emen­da não incidirão sobre produtosindustrializados destinados ao ex­terior, bem como a entidades pú­blicas, nem sobre operações relati­vas à circulação de mercadoriasrealizadas por produtores, indus­triais e comerciantes. Os autoresdizem que a emenda visa darmaior e mais justa participaçãoaos municfpios na distribuição dasreceitas federais e estaduais, comorequisito bãsico para a autonomiaeconômica dos municípios

Jornal da Constituinte. 15

Page 16: Sempre há · Quando o relator Bernardo Cabral entregou ao Presidente Ulysses Guimarães, na tarde do último dia 26, o projeto de constituição, uma nova etapa ... os índios podem

ADlRP/GUllhenne Rangel

Centro da vontade nacionalUma das preocupações básicas dessasociedade que opinou e compareceuà Constituinte se relaciona com osdireitos da criança. Esse foi otema específico de três emendaspopulares, sem contar aquelasoutras que, indiretamente, atingema infância e a adolescência.Essa acentuada preocupação com omenor pode ser saudada como osurgimento de uma novaconsciência nacional, inseridano princípio de que investir nacriança é garantir o futuro.Outro tema que também reJ?resentauma nova mentalidade brasileiraé a situação dos deficientesfísicos, que lutam por umtratamento menos paternalístico emais eficiente, onde se incluamo direito ao trabalho, ao auto­sustento, à educação e àrealização individual, enfim,à felicidade.

Se o pensamento e a vontadede uma nação, ou pelo

menos de uma imensa parcelada sociedade, pudessem serconsolidados em matéria e

armazenados em um s6 espaço,certamente o centro geográfico

desse sentimento poderiaser fixado em uma das salas do

Anexo 11 da Câmara dos Deputados,poucos metros distante

do ponto onde toda essa matériase transforma em verbo e diálogo:

, o plenário.E nesta sala, sob a guarda defuncionários cuidadosos, que

repousam centenas de pesadospacotes que reúnem mais de

13 milhões de assinaturasde apoio de eleitores às

emendas populares oferecidasà Assembléia Nacional

Constituinte e CJ.ue entram agoranuma fase decisiva de discussão.

AI?IRP/Guilhenne Rangel

ADIRPlRoberto Stuckertr

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