5
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE RIO CLARO FORO DISTRITAL DE ITIRAPINA 1ª VARA RUA 01, Nº 180, Itirapina - SP - CEP 13530-000  0007305-79. 2011.8.26.0283 - lauda 1 SENTENÇA Processo Físico nº: 0007305-79.2011.8.26.0283 Classe - Assunto Ação Civil Pública - Improbidade Administrativa Requerente: Ministério Publico do Estado de São Paulo Requerido: José Roberto Perin Juiz(a) de Direito: Dr(a). Felippe Rosa Pereira Vistos. Trata-se de ação de ação civil pública por ato de improbidade administrativa que o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO promove contra JOSÉ ROBERTO PERIN.  Na inicial, afirmou que o primeiro réu, então Prefeito Municipal, para o fim de angariar votos ao candidato que apoiava nas eleições de 2008, oferecia aos eleitores o abastecimen to de combustível. Narra que tais gastos eram inseridos nas notas de empenho da Municipalidade, que os custeava integral e indevidamente. Argumentou que tais atos caracterizariam improbidade administrativa que causariam prejuízos ao erário e atentariam contra os princípios da Administração Pública. Requereu a procedênc ia do pedido. O réu foi citado e apresentou manifestação. Preliminarmente, arguiu a inépcia da  petição inicial e a impossibilidade jurídica do pedido. No mérito, afirmou que os fatos foram analisados e rejeitados pela Justiça Eleitoral. Ponderou que a acusação se alicerça exclusivamen te no depoimento de uma servidora, sua inimiga capital. Afirmou inexistirem  provas da c onduta. Req uereu a imp rocedência do pedido. Houve réplica. As preliminares foram rejeitadas e a petição inicial foi recebida. O réu apresentou contestação, basicamente reiterando os mesmos argumentos já suscitados. Deferida a produção da prova testemunhal. Durante a audiência de instrução e  julgamento foram ouvidas as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu. Reputada

Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trata-se de ação de ação civil pública por ato de improbidade administrativa que oMINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO promove contra JOSÉROBERTO PERIN.Na inicial, afirmou que o primeiro réu, então Prefeito Municipal, para o fim de angariar votos ao candidato que apoiava nas eleições de 2008, oferecia aos eleitores o abastecimento de combustível.

Citation preview

Page 1: Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

7/17/2019 Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

http://slidepdf.com/reader/full/sentenca-beto-perin-compra-de-votos-combustivel 1/5

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE RIO CLAROFORO DISTRITAL DE ITIRAPINA1ª VARARUA 01, Nº 180, Itirapina - SP - CEP 13530-000

 

0007305-79.2011.8.26.0283 - lauda 1

SENTENÇA

Processo Físico nº: 0007305-79.2011.8.26.0283Classe - Assunto Ação Civil Pública - Improbidade AdministrativaRequerente: Ministério Publico do Estado de São PauloRequerido: José Roberto Perin

Juiz(a) de Direito: Dr(a). Felippe Rosa Pereira

Vistos.

Trata-se de ação de ação civil pública por ato de improbidade administrativa que o

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO  promove contra JOSÉ

ROBERTO PERIN.

 Na inicial, afirmou que o primeiro réu, então Prefeito Municipal, para o fim de

angariar votos ao candidato que apoiava nas eleições de 2008, oferecia aos eleitores o

abastecimento de combustível. Narra que tais gastos eram inseridos nas notas de empenhoda Municipalidade, que os custeava integral e indevidamente. Argumentou que tais atos

caracterizariam improbidade administrativa que causariam prejuízos ao erário e atentariam

contra os princípios da Administração Pública. Requereu a procedência do pedido.

O réu foi citado e apresentou manifestação. Preliminarmente, arguiu a inépcia da

 petição inicial e a impossibilidade jurídica do pedido. No mérito, afirmou que os fatos

foram analisados e rejeitados pela Justiça Eleitoral. Ponderou que a acusação se alicerça

exclusivamente no depoimento de uma servidora, sua inimiga capital. Afirmou inexistirem provas da conduta. Requereu a improcedência do pedido.

Houve réplica.

As preliminares foram rejeitadas e a petição inicial foi recebida.

O réu apresentou contestação, basicamente reiterando os mesmos argumentos já

suscitados.

Deferida a produção da prova testemunhal. Durante a audiência de instrução e julgamento foram ouvidas as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu. Reputada

Page 2: Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

7/17/2019 Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

http://slidepdf.com/reader/full/sentenca-beto-perin-compra-de-votos-combustivel 2/5

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE RIO CLAROFORO DISTRITAL DE ITIRAPINA1ª VARARUA 01, Nº 180, Itirapina - SP - CEP 13530-000

 

0007305-79.2011.8.26.0283 - lauda 2

 preclusa a oitiva das demais testemunhas, em decisão não desafiada por qualquer recurso.

 Nos memoriais, o Ministério Público se manifestou pela procedência do pedido. O

réu, por sua vez, argumentou não existir prova do ato de improbidade administrativa,

 pleiteando a improcedência do pedido.

É o relatório. FUNDAMENTO E DECIDO.

Considerando que todas as questões preliminares já foram analisadas e rejeitadas

 por decisão não desafiada por qualquer recurso, ingresso diretamente no mérito.

E, aqui, o pedido procede em parte.

De proêmio, consigno que o simples fato de o réu ter respondido a processo

 perante a Justiça Eleitoral, oportunamente julgado improcedente, não inviabiliza o

 julgamento da ação civil pública por eventual improbidade administrativa. Prevalece,

inequivocamente, a independência de todas as instâncias, até por conta da distinção dos

objetos de cada uma delas (corroborando o raciocínio, vide TJ/SP; Processo: 0001617-

90.2005.8.26.0334; Relator: Franco Cocuzza; Comarca: Monte Aprazível; Órgão julgador:

5ª Câmara de Direito Público; Data do julgamento: 13/12/2010).

Como já destacado na decisão de fl. 141, todo o imbróglio diz respeito à acusação

de que o réu, então Prefeito Municipal, nos meses anteriores às eleições de 2008, ofereceu

aos eleitores o abastecimento gratuito de combustível no Posto Analendense Ltda, com o

intuito de angariar votos ao seu candidato e  se o pagamento de tais abastecimentos era feito

 pela Prefeitura de Analândia por notas de empenho da Municipalidade.

E depois de encerrada a instrução probatória, forçoso que os primeiros fatos foram provados a contento. Os últimos, por outro lado, não.

Cláudio Roberto Noviscki (fl. 164), gerente do posto de combustíveis, narrou em

Juízo que nos meses que antecederam as eleições municipais de 2008 “pessoas chegavam

 para abastecer os seus veículos e pediam para ligar para o prefeito Beto Perin [réu] ou as

irmãs Sandra e Silvana, porque eles iriam autorizar o abastecimento”, sendo que “os

 frentistas telefonavam e obtinham as autorizações [...] e depois o Beto pagava diretamente

 para o proprietário do posto, o Flávio”. Também acrescentou que “desconfiava que o

combustível estava sendo doado para a eleição”.

Page 3: Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

7/17/2019 Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

http://slidepdf.com/reader/full/sentenca-beto-perin-compra-de-votos-combustivel 3/5

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE RIO CLAROFORO DISTRITAL DE ITIRAPINA1ª VARARUA 01, Nº 180, Itirapina - SP - CEP 13530-000

 

0007305-79.2011.8.26.0283 - lauda 3

 No mesmo sentido, Marcos Antonio Rodrigues (fl. 166), frentista do mesmo local,

asseverou que na época dos fatos “muitas pessoas abasteceram gratuitamente seus

veículos com autorização do Beto Perin e suas irmãs”. Esclareceu que “várias dessas

 pessoas diziam que o abastecimento gratuito era para que elas votassem no candidato

 Luizinho, candidato a Prefeito”, sendo que “esses abastecimentos eram uma forma de o

 Beto Perin 'ressarcir' esses eleitores de fora da cidade”.

Prosseguindo,  Bianca Braune Silveira (fl. 168), então assistente da Prefeitura

Municipal de Analândia, mencionou que era comum que, a pedido do réu, fizesse ligações

“para o posto de gasolina para que fosse abastecido o carro de determinada pessoa”,

sendo que os valores correspondentes eram “pagos pela Prefeitura, em nome dela

 própria”.

Já Fabricio Apareico Muniz  (fl. 170), quando em Juízo, afirmou ser o responsável

 pelas “requisições de abastecimento de combustível”, desconhecendo a existência de

abastecimento dos veículos de eleitores no Auto Posto Analandense com autorização do

réu.

Finalmente,  Roseli Ramella Suzigan (fl. 212), disse que na época das eleições

municipais de 2008 transferiu seu título de eleitor para Analândia, a pedido do réu, e que se

recorda que “no dia da eleição, José Roberto forneceu combustível para o carro do

marido da depoente [...] que foram ao posto de gasolina, o frentista ligou para José

 Roberto e ele autorizou o abastecimento”.

Dessa forma, sopesando os depoimentos prestados por Cláudio Roberto Noviscki,

 Marcos Antonio Rodrigues, Bianca Braune Silveira  e  Roseli Ramella Suzigan, forçosoreconhecer que o réu, então Prefeito Municipal, realmente distribuiu combustível para que

diversos eleitores pudessem se deslocar ao Município e votar nas eleições daquele ano.

Consigno que, ao contrário do que sustenta em sua defesa, a prova é robusta e não

se ampara exclusivamente  no depoimento de um de seus desafetos. Na verdade, o

Ministério Público logrou êxito em localizar, arrolar e ouvir outras três  pessoas que não

alimentam qualquer desavença com o réu, sendo que todos confirmaram os fatos e

corroboraram as acusações de Bianca Braune Silveira.

De outro norte, porém, entendo não haver prova cabal de que os valores tenham

Page 4: Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

7/17/2019 Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

http://slidepdf.com/reader/full/sentenca-beto-perin-compra-de-votos-combustivel 4/5

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE RIO CLAROFORO DISTRITAL DE ITIRAPINA1ª VARARUA 01, Nº 180, Itirapina - SP - CEP 13530-000

 

0007305-79.2011.8.26.0283 - lauda 4

sido custeados pelo erário público.

 Neste ponto, vale destacar que apenas Bianca Braune Silveira asseverou em Juízo

a veracidade dessas alegações.

Todavia, não há como desconsiderar a servidora, na época dos fatos, trabalha “na

recepção, não no caixa”  e que soube apenas a partir de terceiros que o valor era

equivalente ao triplo das despesas rotineiras da Prefeitura com combustíveis. Além disso,

Cláudio Roberto Novitiscki, o gerente do posto, afirmou que quando o réu autorizava o

abastecimento ele mesmo efetuava o pagamento diretamente para o “proprietário do Posto, o Flávio”  (fl. 164), adotando metodologia distinta daquela empregada pela

Prefeitura, que pagava com “cheques em nome desta, com diversas formalidades”.

Ademais, as notas de empenho pouco esclarecem a questão, forçando a conclusão

de que, ressalvado o depoimento de uma testemunha que não era a responsável pelos

 pagamentos propriamente ditos, não há prova de que os gastos sob tal rubrica realmente 

tenha aumentado às vésperas das eleições municipais.

Dessa forma, sendo a prova de prejuízo ao erário condição  sine qua non  da

condenação do réu pelo ato de improbidade administrativa descrito no art. 9º da Lei nº

8.429/92, não há como acolher o pedido.

Por outro lado, porém, deve ser considerado como incurso no art. 11, caput , da

mesma Lei.

Isso porque é absolutamente claro que um Prefeito Municipal, ainda que se valha

de seu próprio patrimônio, não está autorizado ou legitimado a custear os gastos com

combustíveis dos eleitores,  principalmente  às vésperas das eleições municipais e ainda

mais o com o reprovável intuito de favorecer um dos candidatos.

Ao desrespeitar tal preceito, incrivelmente básico, agiu em clara violação aos

 princípios da moralidade  e da impessoalidade (art. 37, caput , da Constituição Federal) e

dos deveres de honestidade, imparcialidade e da lealdade às instituições (art. 12, caput , da

Lei nº 8.429/92) , incidindo, assim, em claro ato de improbidade administrativa.

 Na mesma linha, em caso análogo:

“Ação Civil Pública Improbidade administrativa Emissão de diversas notas

Page 5: Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

7/17/2019 Sentença - Beto Perin - Compra de Votos - Combustível

http://slidepdf.com/reader/full/sentenca-beto-perin-compra-de-votos-combustivel 5/5

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE RIO CLAROFORO DISTRITAL DE ITIRAPINA1ª VARARUA 01, Nº 180, Itirapina - SP - CEP 13530-000

 

0007305-79.2011.8.26.0283 - lauda 5

 fiscais referentes ao abastecimento de veículos de forma indiscriminada [...]

Tipificada a conduta ímproba Atos contrários à moralidade administrativa

Violação dos deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às

instituições [...] Recurso provido”  (Origem: TJ/SP; Processo

0161463-44.2006.8.26.0000; Relator: Castilho Barbosa; Comarca: Descalvado;

Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Público; Data do Julgamento: 12/8/2011).

Passo à análise das penas pertinentes, ex vi do art. 12, Parágrafo Único da Lei n°

8.429/1992.

Como visto, os fatos são graves e absolutamente reprováveis, por envolverem

indevida distribuição de combustível, pelo Prefeito Municipal, a eleitores residentes

noutras cidades, às vésperas da eleição, com o claro intuito de beneficiar um dos

candidatos. Tal fato, certamente, viola abruptamente os mais comezinhos princípios da

Administração Pública, chegando a atingir e, de certa forma, violar a própria noção de

democracia representativa.

Por conta disso, considerando a gravidade concreta da acusação, reputoinsuficientes as sanções meramente pecuniárias, razão pela qual lhe imponho a pena de

 suspensão dos seus direitos políticos por 4 (quatro) anos (art. 12, II, da Lei n° 8.429/1992).

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido, com resolução

do mérito, nos termos do art. 269, I, do Código de Processo Civil, para CONDENAR

JOSÉ ROBERTO PERIN  nos termos do art. 11, caput   da Lei n° 8.429/92 e, por

consequência, imponho-lhe a suspensão dos seus direitos políticos por 4 (quatro) anos (art.

12, II, da Lei n° 8.429/1992).

Condeno o réu, ainda, a arcar com as custas processuais.

P.R.I.

Itirapina, 12 de agosto de 2014.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA