Sentença Fila de Bancos Dano Moral

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Sentença Fila de Bancos Dano Moral

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TRIBUNAL DE JUSTICA DO MARANHAOPODER JUDICIARIOCOMARCA DE SO LUIS9 JUIZADO ESPECIAL CVEL DE SO LUS - PROJUDI - PROCESSO N. 001.2011.039.460-6RECLAMANTE ? RECLAMADO ? BANCO DO BRASIL S/ASENTENADispensado o relatrio na forma do artigo 38 da Lei n. 9.099/95. No caso sob anlise, afirma o requerente que, no dia 05/08/2011, dirigiu-se agncia do Banco do Brasil situado Av. dos Holandeses, no intuito de receber pagamento de condenao referente ao processo n 001.2011.014.865-5, no valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais). Ao chegar agncia, de imediato, o autor obteve a senha com horrio de chegada, para futuro atendimento no saguo com vistas liberao do crdito. Alega que, no momento em que chegou ao caixa, solicitou que fosse impresso protocolo de horrio de atendimento, a fim de comprovar o descaso que o referido banco vem dispensando aos seus clientes, visto que, para receber o pagamento do respectivo alvar, o autor despendeu 2 horas e 4min, tendo aguardado todo este perodo em p, face insuficincia de bancos disponibilizados pelo reclamado aos seus clientes, ao que requer uma indenizao pelos danos morais suportados.Em sede de contestao, o requerido alega, preliminarmente, a inpcia da inicial por ausncia de prova mnima de permanncia na fila, o que, claramente, no tem como prosperar, vez que o autor colacionou aos presentes autos a ?abertura de sesso de atendimento?, onde consta, como tempo de espera, o perodo de duas horas, quatro minutos e dez segundos, razo pela qual tal alegao deve ser de pronto afastada.Vencida a preliminar, passo anlise do mrito.De incio, importa frisar que o objeto da presente demanda ser dirimido no mbito probatrio e, por tratar-se de relao consumerista e estarem presentes os requisitos do art. 6, VIII, do CDC, caber reclamada o nus da prova.No caso em comento, compulsando-se os autos, percebe-se que o autor colacionou documentos hbeis a comprovar os fatos por ele alegados, constando, inclusive, a ?abertura de sesso de atendimento?, onde consta, como tempo de espera, o perodo de duas horas, quatro minutos e dez segundos.O requerido, por outro lado, no juntou aos autos qualquer documento capaz de provar a legalidade da sua conduta, qual seja, de que respeitou o tempo mximo para o atendimento de clientes em suas agncias bancrias, ou que isto no ocorreu em virtude de fatos alheios a sua vontade, restringindo-se a impugnar a pretenso autoral de reparao dos danos morais suportados, sem, contudo, ofertar qualquer prova documental acerca da inexistncia de falha na prestao de seus servios, descumprindo, assim, seu nus probatrio.Cumpre registrar que no h que se falar em inconstitucionalidade da Lei Municipal 42/2000, Lei esta que fixou tempo mximo para o atendimento de clientes pelas agncias bancrias, por vcio de competncia, com base no argumento de que a matria seria de competncia exclusiva da Unio, com a necessidade de edio de lei complementar. Isso porque o STJ, em diversas decises, tem decidido que a matria disciplinada na Lei Municipal, qual seja, limite de tempo para atendimento bancrio, no ofende a competncia legislativa da Unio, consoante se v nos arestos abaixo: ADMINISTRATIVO ? AGNCIA BANCRIA: FUNCIONAMENTO ? EXIGNCIA MUNICIPAL ? EMBARGOS DE DECLARAO ? MULTA. 1. Em matria de funcionamento de instituies financeiras, h competncia concorrente das trs esferas de poder (art. 24 e 25 da CF/88). 2. A Lei Municipal 2.983/94, ao especificar a necessidade de instalao de banheiros em agncias bancrias, agiu dentro de sua competncia, traada pelo Cdigo de Obras. 3. Inaplicvel a multa pela interposio de embargos declaratrios, manejados com o objetivo de garantir o acesso instncia extraordinria pelo prequestionamento. 4. Recurso especial parcialmente provido. (Resp. 259964/SP, rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, unnime, julgado 20/11/2001, DJ 8/4/2002) ADMINISTRATIVO ? AGNCIA BANCRIA ? FUNCIONAMENTO ? HORRIO DE ATENDIMENTO AO PBLICO. Dentro da evoluo da jurisprudncia desta Turma, com a orientao dada pelo STF, tm-se entendido que pode o Municpio estabelecer o tempo de atendimento ao pblico, a partir da identificao do horrio da retirada da senha e de efetivo atendimento. Por interferncia do PROCON, os Municpios tm editado leis diversas no sentido de regulamentar o prazo de atendimento. Recurso especial conhecido, mas improvido. (STJ ? RESP 467451 ? 200201218680/SC ? REL. ELIANA CALMON - SEGUNDA TURMA ? DJ 16/08/2004 ? p. 188). Destarte, existe competncia concorrente dos entes estatais e, por conseguinte, nenhum impedimento h na atuao legislativa da Cmara Municipal de So Lus no regramento do horrio mximo de trinta minutos para atendimento dos clientes pelas agncias bancrias sediadas no territrio desta municipalidade. Vale ressaltar que a Lei 42/2000, como dito alhures, versa sobre tempo razovel de espera pelos clientes e usurios quando de seu atendimento nos guichs das agncias, isso a contar do momento em que ingressam nas filas de espera, e no sobre fixao de horrios de funcionamento das agncias bancrias. Ora, a necessidade da edio da Lei 42/2000 foi tentar corrigir s inadequadas condies de atendimento dispensadas ao pblico pelos estabelecimentos bancrios sediados no municpio de So Lus e, no, dos caixas de supermercados, cinemas, aeroportos ou quaisquer outras estruturas. Com espeque no art. 5. da Lei n. 9.099/95, norma que autoriza o Juiz a se valer das regras da experincia comum, foroso concluir que o reclamante demorou mais de trinta minutos para ser atendido, at porque a demora no atendimento bancrio nas agncias de So Lus fato pblico e notrio, fato este ainda comprovado pelo autor, como dito alhures. Consequentemente, a atitude do requerido constituiu ato ilcito, que d ensejo a reparao. Sobre o alegado dano moral, algumas consideraes devem ser sopesadas, pois este consiste na leso de direitos cujo contedo no pecunirio, nem comercialmente redutvel a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar que o dano moral aquele que lesiona a esfera personalssima da pessoa (seus direitos de personalidade), violando, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurdicos tutelados constitucionalmente.Ora, conclui-se que o caso em anlise impe a condenao do banco ru ao pagamento da indenizao resultante dos danos morais sofridos pelo autor, que se viu obrigado a esperar mais de duas horas para ser atendido na agncia bancria, que no oferece o mnimo de conforto para seus clientes, que so obrigados a aguardar em p pelo atendimento, face ao irrisrio nmero de assentos do estabelecimento. Do mesmo modo,"1. ? RECURSO. AO DE INDENIZAO POR DANOS MORAIS. Recurso que se insurge contra a condenao em danos morais pelo fato noticiado na inicial dando conta de que o recorrido havia esperado mais de duas horas em fila do estabelecimento bancrio o que teria contrariado a Lei Municipal n. 42/2000. 02 - DANO MORAL - Danos morais so leses sofridas pelas pessoas fsicas ou jurdicas, em certos aspectos da sua personalidade, em razo de investidas injustas de outrem. So aqueles que atingem a moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhe constrangimento, vexames, dores, enfim, sentimentos e sensaes negativa, podendo, muita das vezes, resultar em angstia e abalo psicolgico, resvalando no ferimento de valores e bens jurdicos tutelados como honra, liberdade, sade, integridade psicolgica, causando sofrimento, tristeza, vexame e humilhao vtima. Em anlise ao caso noticiado nos autos, vejo como uma espera em fila de Banco causou desassossego, dissabor, contrariedades e perda de tempo que o recorrido no deu causa. Nesse sentir, o acontecimento apto para dar ensejo reparao pecuniria. 04. Quantum - A penosa misso de tarifar o dano moral da exclusiva responsabilidade do juiz, que deve atuar, em face do caso concreto, com moderao e prudncia, no perdendo de vista que a indenizao deve ser a mais completa possvel, mas no pode tornar-se fonte de lucro indevido, desse modo, a quantia de R$ 4500,00(quatro mil e quinhentos reais) se revela por demais excessiva e fora de razo quando confrontada com os fatos que narram a reclamao e a concorrncia da recorrida no desencadeamento dos eventos. Nesse sentir, entendo que a quantia de R$ 2500,00 (dois mil e quinhentos reais) proporcional ao dano sofrido alcanando sua exata extenso nos termos do artigo 944 o Cdigo Civil e seu pargrafo nico. 05 - Recurso conhecido e improvido. 06 - Smula do julgamento que serve de acrdo. 07 ? Inteligncia do art. 46, segunda parte, da Lei 9.099/95". (Quarta Turma Recursal Cvel de So Luiz/MA, Recurso n. 6.135/04, Acrdo n. 9862/05, Rel. Dra. Maria do Socorro Mendona Carneiro, D.j. 12/08/2005) (grifos nossos)Entendo, assim, que a hiptese dos autos enquadra-se no dano moral in re ipsa, cuja comprovao extrada do prprio fato em si, que por sua gravidade capaz de gerar ofensa moral do indivduo, independentemente de qualquer prova material.Nesse sentido, o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justia:?CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DANOS PATRIMONIAL E MORAL. ART. 602 DO CPC. 1. A CONCEPO ATUAL DA DOUTRINA ORIENTA-SE NO SENTIDO DE QUE A RESPONSABILIZAO DO AGENTE CAUSADOR DO DANO MORAL OPERA-SE POR FORA DO SIMPLES FATO DA VIOLAO (DANUM IN RE IPSA). VERIFICADO O EVENTO DANOSO, SURGE A NECESSIDADE DA REPARAO, NO HAVENDO QUE SE COGITAR DA PROVA DO PREJUIZO, SE PRESENTES OS PRESSUPOSTOS LEGAIS PARA QUE HAJA A RESPONSABILIDADE CIVIL (NEXO DE CAUSALIDADE E CULPA). (...)? g.n.Deve, portanto, prosperar a tese do autor, uma vez que as provas produzidas em Juzo confirmaram que houve falha na prestao do servio por parte do requerido, estando presentes os pressupostos da ocorrncia do dano moral, quais sejam, ao do agente, culpa exclusiva e nexo de causalidade.Em sede de fixao do quantum a ser indenizado, cabe ao julgador analisar o aspecto pedaggico do dano moral, sem perder de vista a impossibilidade de gerar enriquecimento sem causa, e para tanto, devem ser considerados como relevantes alguns aspectos, como extenso do dano, situao patrimonial, imagem do lesado, situao patrimonial do ofensor e inteno dos autores do dano.Nessa matria, h que se levar em considerao ainda dois aspectos fundamentais, primeiro, a grande capacidade econmica do reclamado, segundo, a necessidade imperiosa de se estabelecer um valor que cumpra a funo pedaggica de compelir o reclamado a cumprir o disposto na lei 42/2000 e evitar a ocorrncia de casos semelhantes. ANTE TODO O EXPOSTO, com base na fundamentao supra, JULGO PROCEDENTE os pedidos, para condenar o BANCO do BRASIL S/A a pagar a parte reclamante a importncia de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a ttulo dos danos morais suportados, acrescido de juros de 1% (um por cento) ao ms e correo monetria, contados a partir da condenao, conforme Enunciado 10, das Turmas Recursais Cveis e Criminais do Estado do Maranho.Transitada esta em julgado, a parte vencida ter o prazo de 15 dias para o pagamento da condenao, e no o fazendo neste prazo o seu valor ser acrescido de 10% de multa, na forma do art. 475-J do CPC, aplicado ao sistema de Juizados Especiais, conforme Enunciado 105 ? FONAJE. Sem custas e honorrios, pois, indevidos nesta fase, na forma do art. 55 da Lei n 9.099/95.Publique-se. Registre-se. Intimem-se.So Lus, 23 de abril de 2012.EUGNIA DE AZEVEDO NEVESJuza de Direito Auxiliar