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PODER JUDICIARIO DO ESTADO DE PERNAMBUCO Juizo ELEITORAL DA COMA RCA DE FLORESTA SENTENC';A Ref. Proc. Civel Eleitoral n.o 00285-71.2012.6.17.0072 1. A COLIGA~AO 0 POVO E QUEM VAl VENCER ingressou com A~Ao DE INVESTIGA~AO JUDICIAL ELEITORAL contra ROSANGELA DE MOURA MANI<;:OBA NOVAES FERRAZ e RINALDO SAMPAIO NOVAES (fls. 15), sob ° argumento de haver debitado em conta de servidores publicos municipais os valores correspondentes a 50% do 13% salario, sem, contudo, ter sido creditado em favor dos mesmos 0 referido valor. Ao final requer a cassa9ao do registro ou diploma, se 0 julgamento ocorrer ap6s a diploma9ao, por abuso de poder politico e desvio de verba para a campanha eleitoral. 2. Notificados apresentaram suas defesas os representados (fls. 20/24). (fls. 18) , 3. Alega90es finais apresentadas pelo representante do Ministerio Publico (fls. 46/47), pela coliga9ao representante (fls. 49/53) e pelos representados ROSANGELA DE MOURA MANI<;:OBA NOVAES FERRAZ e RINALDO SAMPAIO NOVAES (fls. 55/56) . E 0 que importa relatar. Decido. 4. Argumenta a COLIGA~AO 0 POVO E QUEM VAl VENCER que a representada ROSANGELA DE MOURA MANI<;:OBA NOVAES FERRAZ, prefeita do Municipio de Floresta, fazendo usa do cargo publico, apropriou-se indevidamente do valor correspondente a 50% (cinqOenta porcento) do 13. 0 (decimo terceiro) salario de

Sentença floresta

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PODER JUDICIARIO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Juizo ELEITORAL DA COMA RCA DE FLORESTA

SENTENC';ARef. Proc. Civel Eleitoral n.o 00285-71.2012.6.17.0072

1. A COLIGA~AO 0 POVO E QUEM VAl VENCER ingressoucom A~Ao DE INVESTIGA~AO JUDICIAL ELEITORAL contra ROSANGELADE MOURA MANI<;:OBA NOVAES FERRAZ e RINALDO SAMPAIO NOVAES(fls. 15), sob ° argumento de haver debitado em conta deservidores publicos municipais os valores correspondentes a50% do 13% salario, sem, contudo, ter sido creditado em favordos mesmos 0 referido valor.

Ao final requer a cassa9ao do registro ou diploma,se 0 julgamento ocorrer ap6s a diploma9ao, por abuso de poderpolitico e desvio de verba para a campanha eleitoral.

2. Notificadosapresentaram suas defesas

os representados(fls. 20/24).

(fls. 18) ,

3. Alega90es finais apresentadas pelo representantedo Ministerio Publico (fls. 46/47), pela coliga9aorepresentante (fls. 49/53) e pelos representados ROSANGELA DEMOURA MANI<;:OBA NOVAES FERRAZ e RINALDO SAMPAIO NOVAES (fls.55/56) .

E 0 que importa relatar.

Decido.

4. Argumenta a COLIGA~AO 0 POVO E QUEM VAl VENCERque a representada ROSANGELA DE MOURA MANI<;:OBA NOVAES FERRAZ,prefeita do Municipio de Floresta, fazendo usa do cargopublico, apropriou-se indevidamente do valor correspondente a50% (cinqOenta porcento) do 13.0 (decimo terceiro) salario de

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servidores publicos municipais, caracterizando sua condutaabuso de Poder politico.

A prova material produzida pelas partes e farta,encontrando-se 0 processo satisfatoriamente instruido.

A legitimidade do processo eleitoral exige quesejam afastadas as indesej aveis interferencias do abuso dopoder politico ou econ6mico.

Com a finalidade de manter 0 equilibrio do pleitoeleitoral, a Lei de lnelegibilidades vislumbrando a hipotesede disputa entre 0 detentor de cargo publico versusoposi tor (es), previ u sanc;oes para 0 caso de abuso de poderecon6mico ou politico (letra "h", do art. 1.° da Lei 64/90)

Mecanismos correlatos estao previstosart. 14 da Constituic;ao Federal, relacionandoadministrativa e a moralidade para 0 exerciciocomo casos de incidencia de inelegibilidade.

no §9. ° doa probidadedo mandato,

Enquanto ato ilicito, 0 abuso de poder politicopode revestir-se de aparente legalidade. Conquanto, nao deixade proporcionar lesao ao direito do administrado.

o elemento subjetivo do ato administrativo,consistente no abuso de poder politico, pode ocorrer sob aforma dolosa ou culposa.

Relativamente ao genero abuso de poder, as especiessao excesso de poder e desvio de finalidade.

Atendo-se ao desvio de finalidade, a autoridadepratica 0 ato no limite de sua competencia, entretanto buscaatingir motivos ou fins divers os dos objetivados pela lei ouexigidos pelo interesse publico. Faz uso de meios imoraispara revestir 0 ato administrativo de aparente legalidade.

Nesse contexto, aprecio a prova produzida nospresentes autos, observando que a representante COLlGA<;Ao 0POVO E QUEM VAl VENCER fez juntada da folha de pagamento daPrefeitura do Municipio de Floresta demonstrando que houve 0

lanc;amento da primeira (1. a) parcela do 13.° (decimoterceiro) salario dos servidores relacionados na pec;a iniciale que os valores correspondentes nao ingressaram nas contasbancarias desses servidores, conforme extratos bancarios.

Verifico que os argumentos da representadaROSANGELA DE MOURA MANI~OBA NOVAES FERRAZ, em sua defesa, foino sentido de que se tratou de simples previsao de pagamentodos servidores municipais.

pagamentolinguagem

Porem, se se tratasse de mera projec;ao da folha dedo decimo terceiro salario, como se diz nacontabil nao formal, "a folha nao teria sido

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rodadau, como assim foi a do m~s subseqUente, como provam osdocumentos de folhas 06/07 dos autos e os contra-cheques deservidores com 0 recolhimento da contribui~ao previdenciariasobre 0 13.0 salario.

E importante observar que os documentos quecomprovam 0 pagamento do decimo terceiro sa1ario, isto e, afolha de pagamento do 13.0 salario, trata-se do mesmodocumento que registra 0 pagamento salarial do m~ssubseqUente (julho/2012), e a Representada ROSANGELA DE MOURAMANI<;OBA NOVAES FERRAZ, em sua defesa, nao tece qualquerquestionamento sobre a nao veracidade de tal documento, comotambem nao nega que aquela folha de pagamento do m~s de julhoe aqueles valores tenham sido creditados em favor dosservidores publicos, 0 que faz ruir por terra a tese de meraproje~ao da folha salarial.

V~-se tambem que a defesa da representada ROSANGELADE MOURA MANI<;OBA NOVAES FERRAZ nao tece qualquer defesasobre 0 recolhimento da Contribui~ao da Previd~ncia Social,incidente sobre 0 13.0 (decimo terceiro) salario no contra-cheque de fls. 13 dos autos, 0 que contraria sua tese de meraproje~ao de pagamento, porque se assim 0 fosse, nao teriarecolhido a contribui~ao previdenciaria.

Ademais, a representada ROSANGELA DE MOURA MANI<;OBANOVAES FERRAZ, em sua defesa, confessa que realizou 0

pagamento, para uma parcela dos servidores publicosmunicipais, da primeira parcela do 13.0 salario, conduta quecontraria os principios da legalidade, moralidade eimpessoalidade, previstos no art. 37 da Constitui~ao Federal.

Nesta linha de intelec~ao, entendo que ha provasatisfat6ria no sentido de que a representada ROSANGELA DEMOURA MAN I <;OBA NOVAES FERRAZ praticou ate ilicito,consistente na apropria~ao indevida de parcelas do decimoterceiro salario de servidores publicos do Municipio deFloresta.

Esta conduta, para se concretizar, nao e praticadapor uma unica pessoa, isoladamente, havendo necessariamente aparticipa~ao de mais de urn agente, mesmo porque envoIve afolha de pagamento do Municipio de Floresta.

se tratarFlorestapromovido

Nesse contexto, considero relevante observar, porde A~ao Publica, a trami ta~ao nesta Comarca dedo Proc. Crime n.o 000162-81.2010.8.17.0620,pelo MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

contra a pessoaprevisto no art.

de FERNANDO CAVALCANTI RIBEIRO, pelo crime312, c/c art. 71, do C6digo Penal (crime de

peculato, na forma continuada ).

Consiste 0 crime de peculato em "Apropriar-se 0

funcionario pUblico de dinheiro, valor ou qualquer outr~ bem

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movel, pUblico ou particular, de que tem aposse em razao docargo, ou desvia-lo, em proveito proprio ou alheio."

Pois bern, 0 acusado FERNANDO CAVALCANTI RIBEIRO e 0atual SECRETARIO DE ADMINISTRA9AO do Municipio de Floresta epessoa credenciada como REPRESENTANTE DA COLIGA9AO FLORESTANO RUMO CERTO (Proc. Civel Eleitoral n. ° 147-07.2012.6.17.0072), onde figura como candidata a Prefeita arepresentada ROSANGELA DE MOURA MANI90BA NOVAES FERRAZ.

Quanto aos reflexos nas eleic;oes municipais, a LCn.o 64/90 preve diversas hipoteses de desincompatibilizac;ao,com a finalidade de se evitar a utilizac;ao da maquinaadministrativa.

Sobre as condutas vedadas aos agentes publicos emcampanhas eleitorais, a Lei das Eleic;:oes dispoe no inciso Vdo art. 73 que e proibido "nomear, contratar ou de qualquerforma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou readaptarvantagens ou por outros meios dificultar ou impedir 0

exercicio funcional e, ainda, ex officio, remover, transferirou exonerar servidor pUblico, na circunscric;:ao do pleito, nostres meses que 0 an tecedem e ate a posse dos elei tos , sobpena de nulidade de pleno direito, ressalvados; (... )"

Infere-se que 0 candidato que representa ano poder politico, possui urn arsenal administrativoser utilizado em seu favor, desequilibrando apolitica.

situac;aoque podedisputa

A conduta da representada ROSANGELA DE MOURAMANI90BA NOVAES FERRAZ revela-se potencialmente lesiva aoprocesso eleitoral municipal, atraves da utilizac;ao damaquina administrativa em proveito de sua candidatura.

Observo que a prova documental mostra uma ordemcronologica de pagamento dos servidores publicos municipais,e a falta de repasse do pagamento do 13.° salario para osservidores teve por finalidade 0 enriquecimento ilicito, como fim de arrecadar fundos para a campanha eleitoral, atravesde administrativo dissimulado, as ocultas, uma subespecie de"mensalao sertanejo".

A relac;ao umbilical existente entre a candidataROSANGELA DE MOURA MANI90BA NOVAES FERRAZ e 0 Secretario deAdministrac;ao do Municipio de Floresta, FERNANDO CAVALCANTIRIBEIRO, tambem COORDENADOR DE SUA CAMPANHA ELEITORAL,processado por crime de peculato, na forma continuada (art.312 do CPB), firmam 0 elo do desequilibrio do poder politiconas eleic;oes do Municipio de Floresta, havendo estreitovinculo dos mesmos com a folha de pagamento da Prefeitura deFloresta.

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Ante todo 0 exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidosformulados na A<;AO DE INVESTIGA<;AO JUDICIAL ELEITORAL, ondefigura como representante a COLIGA~AO 0 POVO E QUEM VAlVENCER, e como representados ROSANGELA DE MOURA MANI<;OBANOVAES FERRAZ e RINALDO SAMPAIO NOVAES, e DETERMINO ACASSA<;AO DO REGISTRO DA CANDIDATURA DE ROSANGELA DE MOURAMANI<;OBA NOVAES FERRAZ E RINALDO SAMPAIO NOVAES, pelo abusode poder politico e desvio de verba para a campanhaeleitoral, ao mesmo tempo em que DECLARO A lNELEGIBILIDADE DEROSANGELA DE MOURA MANI<;OBA NOVAES FERRAZ para as elei90es ase realizarem nos 8 (oito) anos subseqtientes a presenteelei~ao, e REMESSA DOS AUTOS AO MINISTERIO PUBLICO parainstaurar a~ao penal, se entender cabivel, tudo comfundamento no inciso XIV do art. 22 da Lei Complementar 64/90( Lei de Inelegibilidade ).

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2012.

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