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FRAUDE EM CONCURSO PÚBLICO Enquadramento legal e análise probatória Rogério Roberto Gonçalves de Abreu Juiz federal substituto 2ª Vara da Seção Judiciária da Paraíba Na presente sentença, analisamos o seguinte fato: um sujeito se submeteu às provas de um concurso público federal em lugar de outro, logrando aprovação. O beneficiário da fraude foi nomeado e regulamente empossado no cargo. Ao denunciá-los, o MPF classificou a conduta como estelionato contra entidade de direito público (CP, 171, §3º). Um dos poucos documentos importantes à resolução do caso que constava dos autos era a folha de presença assinada pelo executor das provas com o nome do beneficiário empossado, falsidade comprovada em exame pericial grafotécnico que comparou as assinaturas na referida folha e nos termos de declarações prestadas perante a polícia federal. Nesse momento, levanto as seguintes questões: trata-se realmente de estelionato? O fato preenche todas as elementares desse delito? Em caso negativo, como seria o enquadramento? A conclusão a que cheguei levou em conta a ausência da natureza patrimonial do fato comprovado, bem como a necessária prática de pelos menos três falsidades materiais em documento público como meio necessário à consumação do objetivo criminoso. O problema é: seria possível condenar alguém por crimes de falsidade material de documentos que não constam dos autos e sobre os quais não houve exame pericial? É exatamente a situação de fato que tive de resolver.

Sentenca - fraude em concurso publico - falsidade

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Page 1: Sentenca - fraude em concurso publico - falsidade

FRAUDE EM CONCURSO PÚBLICO

Enquadramento legal e análise probatória

Rogério Roberto Gonçalves de Abreu

Juiz federal substituto

2ª Vara da Seção Judiciária da Paraíba

Na presente sentença, analisamos o seguinte fato: um sujeito se submeteu

às provas de um concurso público federal em lugar de outro, logrando aprovação. O

beneficiário da fraude foi nomeado e regulamente empossado no cargo. Ao

denunciá-los, o MPF classificou a conduta como estelionato contra entidade de

direito público (CP, 171, §3º). Um dos poucos documentos importantes à resolução

do caso que constava dos autos era a folha de presença assinada pelo executor das

provas com o nome do beneficiário empossado, falsidade comprovada em exame

pericial grafotécnico que comparou as assinaturas na referida folha e nos termos de

declarações prestadas perante a polícia federal.

Nesse momento, levanto as seguintes questões: trata-se realmente de

estelionato? O fato preenche todas as elementares desse delito? Em caso negativo,

como seria o enquadramento? A conclusão a que cheguei levou em conta a

ausência da natureza patrimonial do fato comprovado, bem como a necessária

prática de pelos menos três falsidades materiais em documento público como meio

necessário à consumação do objetivo criminoso. O problema é: seria possível

condenar alguém por crimes de falsidade material de documentos que não constam

dos autos e sobre os quais não houve exame pericial?

É exatamente a situação de fato que tive de resolver.

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PROCESSO N. 96.0004704-9

AÇÃO PENAL PÚBLICA

AUTOR: Ministério Público Federal

RÉUS: Nelcijone da Costa Monteiro e Humberto César Monteiro de Farias

Juiz Federal Substituto ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU

S E N T E N Ç A

PENAL. FRAUDE EM CONCURSO PÚBLICO FEDERAL.

Utilização de terceiro que, usando documento falsificado, logra

aprovação para o candidato. Falsidade de documentos

públicos (CP, art. 297) e uso de documentos falsificados (CP,

art. 304) como meios necessários à obtenção da fraude. Fatos

devidamente comprovados. Aplicação do princípio da

consunção. Condenação pelos crimes de falsidade.

PENAL. DENÚNCIA QUE ENQUADRA O FATO COMO

ESTELIONATO QUALIFICADO (CP, ART. 171, § 3º). Não

configuração. Ausência da natureza patrimonial do delito,

assim como da precisa identificação das vítimas e da

existência de prejuízo patrimonial. Enquadramento legal no

crime de falsidade material (CP, art. 297).

PENAL. SUBSTITUIÇÃO DA PENA, SUSPENSÃO

CONDICIONAL DA PENA E CONTINUIDADE DELITIVA.

Praticados três crimes de falsidade em circunstâncias de

tempo, espaço e finalidade absolutamente similares e conexas,

aplica-se a regra da continuidade delitiva (CP, art. 71). Os

requisitos objetivos da quantidade de pena para obtenção da

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substituição e da suspensão condicional da pena privativa de

liberdade devem ser analisados levando em conta a pena

resultante do acréscimo decorrente da continuidade. Benefícios

indeferidos (CP, art. 44, I).

1. RELATÓRIO

Tratam os presentes autos de AÇÃO PENAL PÚBLICA promovida pelo

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra NELCIJONE DA COSTA MONTEIRO e

HUMBERTO CÉSAR MONTEIRO DE FARIAS, ambos devidamente qualificados

nos autos do processo em epígrafe, dando-os a peça denunciativa como incursos no

art. 171, § 3º, do Código Penal, imputando-lhes a conduta de haverem fraudado

concurso público federal.

Consta da denúncia (fls. 02/04) que Nelcijone da Costa Monteiro inscreveu-

se no concurso público para Técnico de Finanças e Controle promovido pela ESAF

em 22/03/1993, não tendo sido, contudo, o autor da assinatura aposta na lista de

presença. Teria ocorrido que, no dia do exame, Humberto César Monteiro de Farias

comparecera ao local de prova e, utilizando uma falsificação do documento de

identidade do primeiro denunciado, submeteu-se ao exame em seu lugar, logrando-

lhe a aprovação. Em razão disso, Nelcijone da Costa Monteiro fora empossado no

referido cargo em 27/08/1993, apresentando 2ª via de seu documento de identidade,

alegando que teria perdido a 1ª via.

Denúncia recebida em 03/04/1997 (fl. 189).

Interrogatório de Nelcijone da Costa Monteiro (fls. 204/205).

O acusado Nelcijone da Costa Monteiro apresentou defesa prévia,

requerendo a ouvida das testemunhas Paulo Farias, Paulo Armando del Castello,

Márcio Rodrigues Vieira, Luiz Costa, José Alves de Siqueira, José Wellington

Diógenes e Aldemir Neves Lima (fls. 236/237).

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O denunciado Humberto César Monteiro de Farias não compareceu à

audiência de interrogatório, apesar de haver sido devidamente citado (fls. 261/262).

Contudo, apresentou defesa prévia onde requereu a ouvida das testemunhas

Marcos Cirilo Barbosa Félix, Luiz Paiva de Pontes, Juvaldo Figueiredo de Pinho

Júnior, Judas Tadeu Costa de Lima e Esdon Aguiar Amâncio (fls. 303/304).

Decretação da revelia do acusado Nelcijone da Costa Monteiro que,

regularmente intimado, não compareceu à audiência de inquirição das testemunhas

arroladas na denúncia (fls. 374/375).

Inquirição das testemunhas arroladas na denúncia: Marcony Edson da

Costa e Ana Maria Araújo Freire (fls. 376/378).

Promoção ministerial prescindindo do depoimento da testemunha José Alípio

Monteiro, bem como requerendo a determinação de prazo para o cumprimento das

cartas precatórias relativas à inquirição das testemunhas arroladas na defesa, bem

como para que a expedição das cartas se realizasse a um só tempo (fl. 464). A fls.

466/467 a promoção foi acolhida pelo juízo.

Inquirição das testemunhas arroladas pela defesa: Marcos Cirilo Barbosa

Félix e Paulo Armando del Castello (fls. 530/531); Aldemir Lemos Neves (fls.

557/558); Paulo Augusto de Farias (fls. 636/637).

Decisão proferida pelo juízo, determinando o prosseguimento do feito sem a

presença do acusado Humberto César Monteiro de Farias, tendo em vista sua não

localização no endereço fornecido pelos advogados do acusado, como também

determinando que os acusados, por seus advogados, se pronunciassem sobre as

testemunhas não localizadas (fls. 727/732).

O acusado Nelcijone da Costa Monteiro desistiu da inquirição das

testemunhas Márcio Rodrigues Vieira e Juvaldo Figueiredo de Pinho Júnior, e

insistiu na tomada do depoimento das testemunhas Luiz Costa e José Alves de

Siqueira, comprometendo-se a levá-las à audiência, nos respectivos domicílios,

independentemente de intimação (fl. 784).

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O MM Juiz Federal Alexandre Costa de Luna Freire determinou a dispensa

das testemunhas Márcio Rodrigues Vieira, José Wellington Diógenes, Juvaldo

Figueiredo de Pinho Júnior e Edson Aguiar Amâncio. (fls. 790/792).

Determinada a intimação dos advogados do réu Humberto César Monteiro

de Farias para se pronunciarem sobre o falecimento da testemunha Luiz Paiva de

Pontes e da não localização da testemunha Judas Tadeu Costa de Lima, a qual se

encontraria trabalhando no estado do Amapá (fl. 815). Em petição, o acusado

insistiu na inquirição da segunda testemunha, alegando seu retorno do estado do

Amapá, e requereu a substituição da testemunha falecida por Regina Maria

Peregrino Pimentel de Oliveira (fls. 899/900).

Decisão deferindo a substituição da testemunha, como requerido pelo réu

Humberto César Monteiro de Farias, como também determinando a dispensa da

testemunha José Alves de Siqueira (fls. 903).

Tendo em vista a não manifestação dos advogados do réu Nelcijone da

Costa Monteiro sobre a testemunha Luiz Costa, sua oitiva foi dispensada por

decisão do MM Juiz Federal Alexandre Costa de Luna Freire (fl. 950).

Inquirição das testemunhas indicadas pela defesa: Regina Maria Peregrino

Pimentel de Oliveira (fls. 961/962); Judas Tadeu Costa de Lima (fl. 963).

Na fase de diligências (CPP, art. 499), o MPF requereu que fosse oficiado

o Ministério da Fazenda no estado da Paraíba para enviar informações sobre o

procedimento administrativo de sindicância instaurado para a apuração dos fatos

sobre que versam os presentes autos, bem como a juntada das certidões

atualizadas dos cartórios distribuidores criminais das justiças federal e estadual

nesta capital, além da folha de antecedentes atualizada do INI/DPF em relação aos

denunciados (fls. 970/971).

Devidamente intimados para os fins do CPP, art. 499, os denunciados nada

requereram (fl. 976).

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Em resposta ao ofício acima mencionado, o Ministério da Fazenda enviou o

relatório da Comissão de Sindicância acerca das irregularidades envolvendo o

servidor Nelcijone da Costa Monteiro (fls. 1004/1018).

Em alegações finais (CPP, art. 500), o MPF requereu a condenação dos

denunciados Nelcijone da Costa Monteiro e Humberto César Monteiro de Farias nas

penas do art. 171, § 3º, do Código Penal, como também requereu, quanto ao

denunciado Nelcijone da Costa Monteiro, a decretação da perda do cargo (fls.

1024/1027).

Em suas alegações finais, os denunciados Humberto César Monteiro de

Farias (fls. 1096/1101) e Nelcijone da Costa Monteiro (fls. 1109/1111) sustentaram a

ausência de prova dos fatos narrados pelo MPF e alegaram a impossibilidade da

configuração do fato narrado como estelionato, ausentes seus requisitos.

Requereram, por fim, a improcedência da denúncia com sua conseqüente

absolvição.

É o relatório.

DECIDO.

2. FUNDAMENTAÇÃO

Não havendo preliminares ou prejudiciais de mérito a resolver, passo

imediatamente ao exame do mérito.

Conforme se apura dos autos, o Ministério Público Federal denunciou

Nelcijone da Costa Monteiro e Humberto César Monteiro de Farias como incursos no

art. 171, § 3º, do Código Penal brasileiro, alegando que o segundo denunciado teria

comparecido em lugar do primeiro às provas do concurso público para Técnico de

Finanças e Controle, logrando-lhe a aprovação. O fato teria sido objeto de uma

denúncia anônima, resultando em apuração administrativa e policial.

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Para a obtenção de tal resultado, segundo o MPF, Humberto César Monteiro

de Farias teria utilizado documento de identidade falsificado em nome de Nelcijone

da Costa Monteiro, bem como assinado em nome deste a lista de presença,

submetendo-se, pois, às provas do concurso.

Humberto César Monteiro de Farias (fl. 27), ouvido pela autoridade policial,

afirmou que não conhecia Nelcijone da Costa Monteiro e recusou-se a fornecer

material gráfico para o exame grafotécnico.

Nelcijone da Costa Monteiro forneceu material gráfico para o exame (fls.

29/32) e, ouvido pela autoridade policial (fl. 33), declarou que não conhecia

Humberto César Monteiro de Farias, bem como que teria se submetido aos exames

do concurso pessoalmente, sem a intersecção de terceiro. Afirmou ainda que perdeu

sua carteira de identidade entre a realização da prova e a data de sua posse (fl. 33).

Não obstante a recusa de Humberto César Monteiro de Farias em fornecer

material gráfico para os exames, estes foram realizados a partir de suas assinaturas

nos termos de declaração (fls. 27/28), bem como com os elementos gráficos

fornecidos por Nelcijone da Costa Monteiro. Os peritos se puseram a investigar se a

assinatura aposta na folha de presença do concurso para Técnico de Finanças e

Controle (fl. 39) teria partido do punho de algum dos acusados.

Realizados os exames grafotécnicos, registraram os peritos no respectivo

laudo pericial (fls. 40/44) suas conclusões no sentido de que a assinatura constante

da folha de presença do concurso NÃO teria partido do punho escritor de Nelcijone

da Costa Monteiro (quesito 1), mas do punho de Humberto César Monteiro de Farias

(quesito 2), ficando comprovada, dessa forma, a falsidade documental alegada pelo

MPF na denúncia.

O próprio iter da falsidade se tornou mais claro a partir do depoimento

prestado, ainda na fase inquisitorial, por Lúcia Maria Freire, corroborado

integralmente pelo depoimento em juízo de Marcony Edson da Costa. Ouvida

perante a autoridade policial, ela afirmou ter participado como executora do

concurso para Técnico de Finanças e Controle realizado em 1993, descrevendo

dessa forma o procedimento de fiscalização (fls. 71/71v.):

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“(...) que a mecânica do concurso seguia mais ou menos os seguintes passos: um fiscal se postava na entrada da sala, organizando os candidatos, verificando se esses portavam a Carteira de Identidade e o Cartão de inscrição, verificando a fisionomia para ver se se tratava da mesma pessoa; que em seguida o candidato adentrava a sala de aula, onde ali registrava sua presença perante um fiscal, assinando a folha de presença, ocasião em que a sua C. I. e o cartão de inscrição eram conferidos com a assinatura, ficando retida a Carteira de Identidade até o final da prova;” (grifei).

Pode-se ver que a “mecânica do concurso” exigia, em um primeiro momento,

a identificação visual do candidato conforme seu documento de identidade, donde

constatamos que o documento (C.I.) apresentado por Humberto César Monteiro de

Farias (embora em nome de Nelcijone da Costa Monteiro) continha sua fotografia.

Fora, portanto, contrafeito.

Em um segundo momento, ainda de acordo com a “mecânica do concurso”,

fazia-se a conferência da assinatura do candidato com a constante do mesmo

documento de identidade e do respectivo cartão de inscrição, de forma que as

assinaturas nesses dois documentos teriam de ser a mesma a ser aposta na folha

de presença. Aqui vemos que a assinatura constante do documento em nome de

Nelcijone da Costa Monteiro, apresentado por Humberto César Monteiro de Farias,

proveio do punho escritor deste último, embora o documento apresentasse o nome

do primeiro: mais uma contrafação.

A conclusão a que podemos chegar em vista de tudo isso é que o

documento de identidade apresentado por Humberto César Monteiro de Farias

continha sua fotografia e uma assinatura de seu punho, mas com o nome e o

número de RG de Nelcijone da Costa Monteiro, tratando-se de uma falsificação de

documento público, utilizada na fraude ao concurso público para Técnico de

Finanças e Controle do Ministério da Fazenda, realizado pela ESAF no ano de 1993.

Em seu interrogatório judicial, o acusado Nelcijone da Costa Monteiro negou

peremptoriamente a acusação, relembrando que, embora citado regularmente, o

acusado Humberto César Monteiro de Farias não compareceu à audiência de

interrogatório, fez uso do direito ao silêncio na fase inquisitorial e, no curso do

processo, embora assim pudesse fazer, em momento algum requereu, através de

seu advogado, designação de nova audiência para sua oitiva. Considerando que o

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interrogatório, hoje, se trata de meio de defesa, entendo que não cabe ao juiz

obrigar o réu a prestar interrogatório. Nessa linha, adoto a tese de que a própria

ausência do acusado pode traduzir parte da estratégia de defesa, o que deve ser

aceito em razão da garantia constitucional da amplitude de tal direito.

Examinando a prova testemunhal colhida ao longo da instrução processual,

podemos constatar o seguinte.

Marcony Edson da Costa, que trabalhou como fiscal no questionado

concurso para TFC, inquirido em juízo, corroborou as declarações de Lúcia Maria

Freire sobre a “mecânica do concurso”, salientando que os fiscais, antes dos

exames, conferiam a assinatura do candidato aposta na lista de presença, bem

como sua própria identidade visual, com os respectivos documentos de identidade

apresentados naquele momento pelo candidato.

Na mesma linha foi o depoimento de Ana Maria de Araújo Freire.

Quanto às testemunhas indicadas pela defesa dos acusados, a testemunha

Marcos Cirilo Barbosa Félix afirmou que trabalhou como fiscal em concurso da ESAF

promovido em 1993. Contudo, não declarou ter visto ou tido contado com qualquer

dos acusados por ocasião das provas.

Paulo Armando del Castello declarou conhecer o primeiro acusado do

Partido dos Trabalhadores, de onde seriam colegas desde longo tempo. Esse

depoimento confirma o vínculo de Nelcijone da Costa Monteiro com a militância do

Partido dos Trabalhadores, o qual seria o ponto de convergência (além do concurso

objeto da denúncia) entre os dois acusados.

Aldemir Lemos Neves declarou que conhecia o acusado Nelcijone da Costa

Monteiro desde 1984, achando-o um “rapaz honesto e trabalhador”. Disse que

soube dos fatos pelo próprio acusado, a quem teria dito estar “pronto para ajudá-lo”.

A par disso, não manifestou qualquer conhecimento pessoal sobre os fatos em

apuração no processo.

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Paulo Augusto de Faria, na mesma linha que Aldemir Lemos Neves,

declarou conhecer o acusado Nelcijone da Costa Monteiro como uma pessoa boa e

honesta, bem como que tivera conhecimento dos fatos através do próprio acusado.

Regina Maria Peregrino Pimentel de Oliveira afirmou ter tido conhecimento

dos fatos apenas através dos comentários de pessoas em seu local de trabalho.

Registrou que nunca tivera contato com Nelcijone da Costa Monteiro e que nunca

viu Humberto César Monteiro de Farias.

Judas Tadeu Costa de Lima declarou estranhar o fato de haver sido indicado

como testemunha, pois teria participado de uma comissão disciplinar para apuração

desses fatos, recordando-se que o posicionamento da comissão foi pela aplicação

da pena de demissão, não sabendo se houve alguma falha ou se haveria sido

designada outra comissão.

Em resumo, as testemunhas apresentadas pelos acusados para inquirição

em juízo não trouxeram uma única informação que viesse a infirmar ou mesmo

fragilizar a tese de fato sustentada pelo MPF em sua denúncia.

Como resultado do requerimento do MPF na fase de diligência, veio aos

autos o documento de fls. 1004/1018, donde podemos ver que o procedimento

administrativo disciplinar instaurado para apurar a fraude no ingresso do acusado

Nelcijone da Costa Monteiro no cargo de TFC resultou na proposta, pela comissão,

da declaração de nulidade da nomeação e da posse do acusado pelo Coordenador-

Geral de Recursos Humanos do Ministério da Fazenda.

No relatório apresentado, a comissão considerou totalmente comprovada a

fraude praticada pelo acusado no concurso de ingresso no cargo, mas deixaram de

lhe aplicar qualquer punição disciplinar considerando que, ao tempo da prática, o

acusado não era servidor, bem como que o fato se amoldaria a um delito que não se

enquadraria como falta disciplinar (art. 171 do CP, na ótica da comissão). Em ofício,

o Secretário Federal de Controle Interno informa que o processo foi encaminhado à

Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e que, até aquele momento (08/05/2006),

não teria havido qualquer comunicação sobre o pronunciamento da PGFN a respeito

do processo.

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Em termos de fatos e provas, levando em conta todo o acervo probatório já

colhido, considero ter ficado absolutamente comprovado o seguinte quadro fático:

Nelcijone da Costa Monteiro se inscreveu para o concurso público do cargo de

Técnico de Finanças e Controle do Ministério da Fazenda, realizado pela ESAF em

1993, mas não se submeteu às provas. Utilizando-se de um documento de

identidade falsificado (fotografia e assinatura), Humberto César Monteiro de Farias

submeteu-se às provas, assinando em nome do primeiro o livro de presença,

realizando os exames e preenchendo folhas de respostas, logrando, ao fim,

aprovação no concurso. Nelcijone, em vista disso, é nomeado e empossado no

cargo.

Falando em termos de materialidade e autoria, começando pela primeira,

tenho como demonstrada a falsificação material de 03 (três) documentos públicos:

1) A carteira de identidade (C.I.) de Nelcijone da Costa Monteiro, utilizada

por Humberto César Monteiro de Farias para submissão aos exames do concurso. O

referido documento continha todos os dados de Nelcijone e a fotografia de

Humberto, tendo sido assinado pelo último com o nome do primeiro;

2) O cartão de inscrição do concurso para TFC. Da mesma forma que o

item anterior, referido documento continha todos os dados de Nelcijone, exceto a

fotografia e a assinatura, que seriam de Humberto;

3) A folha de presença na prova do concurso, que teve a assinatura de

Nelcijone falsificada por Humberto.

O fato de tal assinatura ter sido conferida pelos fiscais – segundo relatos da

“mecânica do concurso”, já comentados acima – nos diz que a assinatura constante

da folha de presença era a mesma que constava da carteira de identidade (item 1) e

do cartão de inscrição (item 2), relembrando-se que o candidato somente poderia

fazer a prova se apresentasse os dois documentos e se as assinaturas coincidissem

“entre si”, bem como a conferência visual do sujeito com a fotografia constante da C.

I. e do cartão de inscrição.

Daí porque, não obstante a inexistência nos autos dos referidos documentos

(carteira de identidade e cartão de inscrição utilizados por Humberto para fazer as

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provas em lugar de Nelcijone), sua falsificação material é incontestável. A certeza da

falsidade advém do exame conjunto da seguinte sucessão de provas:

a) Comprovação da falsificação da folha de presença (comprovada pelo

laudo grafotécnico) pela pessoa de Humberto, que a teria assinado em nome de

Nelcijone com a mesma assinatura constante da carteira de identidade e do cartão

de inscrição apresentados no momento;

b) A identidade de assinaturas entre esses três documentos advém do

incontroverso relato da “mecânica do concurso”, pois os fiscais comparavam as três

assinaturas. Concluímos assim que, no momento da prova, Humberto apresentou

aos fiscais uma carteira de identidade e um cartão de inscrição que continha os

dados de Nelcijone, mas que foi por si assinada;

c) A “mecânica do concurso” conduziu à falsificação da carteira de

identidade no tocante à fotografia ali constante. Como os fiscais faziam uma

conferência visual do candidato com o sujeito da fotografia, é óbvio que o

documento apresentado em nome de Nelcijone, além de assinado por Humberto,

continha a fotografia deste último.

A questão que se poderia colocar no presente momento é a seguinte: dos

três documentos falsificados, consta apenas um deles dos autos, qual seja, a folha

de presença. Sua falsidade foi comprovada através de laudo grafotécnico e, quanto

a isso, não pode haver questionamento. Mas quanto aos outros dois documentos,

seria indispensável que estivessem nos autos e fossem submetidos a um exame de

corpo de delito?

No caso dos autos, a resposta é negativa.

Havendo disponibilidade dos documentos contrafeitos, sua juntada aos

autos e o correspondente exame pericial seriam providências indispensáveis.

Contudo, no caso em tela, mostrou-se absolutamente impossível ter acesso a tais

documentos, exatamente porque, consumado o fato, jamais deixaram de estar em

poder dos acusados. Para ilustrar, basta relembrar que o acusado Nelcijone afirmou

ter perdido sua carteira de identidade, motivo pelo qual teria providenciado uma

segunda via para tomar posse no concurso.

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O acesso aos referidos documentos, portanto, tornou-se absolutamente

impossível, mas isso não afasta a possibilidade de demonstração do corpo de delito.

Ocorre que, sendo impossível o exame de corpo de delito direto, a prova do crime

não transeunte poderá ser feita por outros elementos idôneos de prova. Tais

elementos indiretos de prova, segundo penso, foram devidamente obtidos pelo

exame conjunto das provas pericial e testemunhal já produzidas, bem como pela

aplicação ao caso das presunções hominis decorrentes dos indícios trazidos por

essas mesmas provas.

Basta checar o raciocínio descrito acima (itens “a”, “b” e “c”).

Nessa linha, trago os seguintes precedentes:

Origem: STF - Supremo Tribunal Federal. Classe: HC - HABEAS CORPUS. Processo: 78719 UF: SP - SÃO PAULO Órgão Julgador: Data da decisão: Documento: Relator: SEPÚLVEDA PERTENCE.

EMENTA: I. Denúncia: aptidão: falsidade material e ideológica adequadamente descritas. II. Exame de corpo de delito: não é indispensável ao oferecimento da denúncia, podendo realizar-se no curso do processo; de qualquer sorte, prescinde-se do exame pericial direto, se é imputável ao acusado a sonegação do documento onde se materializaria a falsidade material; de resto, há imputação também de falsidade ideológica, à prova da qual " sendo certa a sua existência" não é necessário o exame de corpo de delito (grifado).

Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Classe: RESP - RECURSO ESPECIAL – 195267. Processo: 199800852778 UF: SP Órgão Julgador: SEXTA TURMA. Data da decisão: 12/09/2000 Documento: STJ000375160. Relator: VICENTE LEAL.

Penal. Processual Penal. Recurso especial. Crime falsificação de documento. Prova da materialidade. Exame de corpo delito. Reexame de provas. Súmula nº 07/STJ.

- Em sede de crime de falsidade documental a comprovação da materialidade pelo exame de corpo de delito não é indispensável à propositura da ação penal, podendo ser produzida a prova no curso do sumário e materialidade do crime ser aferida por outros meios idôneos.

- O Superior Tribunal de Justiça, com os olhos postos na sua competência constitucional de intérprete maior da lei federal (CF, art. 105, III), consolidou o entendimento de que o recurso especial é inadmissível quando o tema nele enfocado consubstancia mero reexame de provas para o deslinde de questão de fato controvertido (Súmula nº 07).

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- Recursos especiais não conhecidos (grifado).

Origem: TRF - PRIMEIRA REGIÃO. Classe: ACR - APELAÇÃO CRIMINAL – 8901065584. Processo: 8901065584 UF: MG Órgão Julgador: QUARTA TURMA. Data da decisão: 4/12/1989 Documento: TRF100002411. Relator: JUIZ NELSON GOMES DA SILVA.

PROCESSO PENAL. EXAME DE CORPO DE DELITO EM CRIME DE FALSUM DOCUMENTAL.

- O EXAME DE CORPO DE DELITO E INDISPENSAVEL NOS CRIMES DE FALSIDADE DOCUMENTAL.

- IMPOSSIBILITADA A REALIZAÇÃO DA PERICIA DIRETA PELO DESAPARECIMENTO DO DOCUMENTO ORIGINAL, E DE ADMITIR-SE A PROVA INDIRETA, PARA SUPRIR-LHE A FALTA.

- APELAÇÃO IMPROVIDA (grifado).

Entendo, portanto, devidamente provada a realização da falsificação material

de três documentos públicos: carteira de identidade, cartão de inscrição e folha de

presença (os dois últimos, documentos relativos a um concurso público federal e,

dessa maneira, documentos públicos).

Quanto à autoria das falsificações, analiso em primeiro lugar a posição de

Nelcijone da Costa Monteiro. É inquestionável que dos autos não consta prova

alguma de que Nelcijone tenha – em pessoa – falsificado qualquer um dos três

documentos acima apontados. Ninguém o viu praticando a conduta, nem tampouco

o acusado admitiu.

Contudo, igualmente indiscutível é que o fato globalmente considerado (a

interposição de terceira pessoa em lugar do candidato para a realização das provas

e aprovação no concurso) dependia inexoravelmente da falsificação dos

documentos utilizados e de sua efetiva utilização para o acesso aos exames, sob

pena de se tornar impossível a consumação do delito. A falsidade material de

documento público e o uso de documento falso eram, no caso, meios necessários

para a consumação do propósito delitivo e, portanto, não há como o beneficiário da

fraude negar que tinha conhecimento desses fatos.

A inevitável conclusão a que se chega é que, independentemente de quem

tenha sido seu autor imediato e material, a falsificação e o uso dos documentos

falsos foram praticados a serviço e em benefício de Nelcijone da Costa Monteiro,

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que deles tinha perfeito conhecimento, uma vez que seu objetivo dependia

necessariamente, como antecedente instrumental, desses fatos delituosos. Trata-se,

portanto, de participe dos crimes de falsidade material e uso de documento falso,

devendo por eles responder na medida de sua culpabilidade, a teor do art. 29 do

Código Penal brasileiro.

Quanto a Humberto César Monteiro de Farias, o primeiro dado de relevo é

que, segundo o laudo de exame grafotécnico contido nos autos, ele foi o autor da

assinatura falsificada em nome de Nelcijone, aposta na folha de presença do

concurso para Técnico de Finanças e Controle realizado pela ESAF. Foi, portanto,

autor direto dessa falsidade material.

Quanto aos outros dois documentos, considerando que a assinatura na folha

de presença deveria estar “conforme” às assinaturas contidas na cédula de

identidade e no cartão de inscrição (dada a conferência que faziam os fiscais),

parece-me claro que Humberto César Monteiro de Farias assinou os dois últimos

documentos com o nome de Nelcijone. Trata-se de autor imediato e material da

falsidade, bem como da prática do uso de documento falso.

Mesmo que eu viesse a adotar uma linha bem mais rígida na apreciação da

prova e negasse a constatação da autoria da falsidade do documento de identidade

e do cartão de inscrição por Humberto César Monteiro de Farias, ainda assim teria

de concluir que Humberto César usou efetivamente ambos os documentos falsos

como meio necessário para submeter-se às provas do concurso e lograr a

aprovação de Nelcijone da Costa Monteiro.

Em outras palavras, ainda que não se entenda ser Humberto César o autor

da falsificação dos documentos (CP, art. 297), é indubitável entender-se que foi o

autor, no caso em tela, de um crime de uso dos mesmos documentos falsificados

(CP, art. 304), para cuja prática o Código Penal comina rigorosamente as mesmas

penas do crime de falsificação (crime secundariamente remetido).

De acordo com as provas dos autos e nos termos da fundamentação acima,

contudo, estou plenamente convicto da comprovação da autoria e da materialidade

de três crimes de falsidade material de documento público, fatos descritos no art.

Page 16: Sentenca - fraude em concurso publico - falsidade

16

297 do Código Penal brasileiro. O uso dos documentos falsos, por aplicação do

princípio da consunção, fica absorvido pela condenação nos crimes de falsidade

material.

Por fim, entendo que, embora hajam sido três os documentos falsificados

por condutas distintas, as falsificações ocorreram numa seqüência interligada

espacial, temporal e teleologicamente, não sendo adequado visualizar um concurso

real de crimes. A distinção entre as condutas através de que se obteve cada uma

das falsificações também impede a configuração de um concurso ideal de crimes.

Por outro lado, a conexão intrínseca entre os fatos afasta o concurso real. Nessa

ordem de idéias, penso que a situação se amolda com perfeição à figura da

continuidade delitiva, nos termos do art. 71 do Código Penal brasileiro.

A questão que agora se coloca é sobre a possibilidade de enquadramento

dos fatos no tipo do art. 171, § 3º, do Código Penal (estelionato), conforme pede o

MPF em sua denúncia e alegações, e contra que se insurgem os acusados em suas

alegações finais.

Penso que o crime de estelionato é crime contra o patrimônio. Desse modo,

a configuração desse crime depende do preenchimento das elementares constantes

do art. 171 do CP, incluindo-se ai o dolo livre e consciente no sentido da obtenção

de uma vantagem patrimonial em prejuízo de terceiro perfeitamente individualizável

e identificável.

O fato narrado na denúncia não é um crime contra o patrimônio. Não se

pode alegar que a intenção de Nelcijone da Costa Monteiro tenha sido obter proveito

patrimonial em detrimento do erário. Nos limites do que nos permitem as provas

constantes dos autos, o lógico é entender que a real intenção de Nelcijone era

trabalhar para o poder público como servidor, recebendo exatamente aquilo que

qualquer servidor em sua posição receberia. Não há, portanto, intenção em obter

vantagem patrimonial em prejuízo (também patrimonial) ao erário.

Por outro lado, não se pode argumentar que o prejuízo teria sido causado ao

candidato preterido pela nomeação de Nelcijone. Primeiro, porque o crime, nesse

caso, não teria sido cometido em prejuízo de entidade de direito público, mas de

Page 17: Sentenca - fraude em concurso publico - falsidade

17

particular. Em segundo lugar, o referido candidato, antes da nomeação, teria uma

mera expectativa de direito, donde não ser possível enxergar prejuízo patrimonial

efetivo. Finalmente, a vítima do prejuízo no crime de estelionato deve ser

individualizável, o que não ocorre no caso.

A questão já foi por mim examinada em processo crime por fraude em

vestibular praticada através do mesmo modus operandi, ou seja, pela utilização de

pessoa interposta com falsificação de documento e uso de documento falso.

Naquele feito, que tomou o n. 2003.82.00.002880-0, assim me posicionei:

“Quanto à acusação da prática do crime de estelionato contra entidade de direito público (CP, art. 171, § 3º), entendo que não se sustenta. Não concordo com a tese de que o estelionato – figura típica prevista no Título II da Parte Especial do Código Penal e, portanto, um “crime contra o patrimônio” – prescinde da natureza econômica da vantagem a ser obtida. O objeto jurídico protegido pela norma é o patrimônio, de modo que tanto o prejuízo causado quanto a vantagem objetivada pela conduta devem ter natureza patrimonial, não se podendo conferir interpretação extensiva ao dispositivo para proteger objetos jurídicos outros que não o interesse patrimonial do sujeito lesado.

A consideração que se confere à identificação do objeto jurídico protegido pela norma penal – o que pode ser feito através do emprego do método orgânico de interpretação – é tão relevante na doutrina e jurisprudência brasileiras que não padece de discussão relevante o entendimento de que a competência para processo e julgamento do crime de latrocínio não pertence ao tribunal do júri, mesmo que o resultado morte seja produto de uma conduta dolosa. Tratando-se de crime contra o patrimônio (também compreendido no Título II da Parte Especial do CP brasileiro), cabe ao juízo criminal monocrático seu julgamento.

Além da natureza patrimonial do prejuízo da vítima e da vantagem do agente, o estelionato exige uma perfeita identificação do sujeito lesado. Isso afasta a tese de que o estelionato poderia ter sido praticado contra os candidatos que não teriam logrado classificação no curso de medicina da UFPB por causa da conduta dos acusados.

Nesse sentido, destaco o seguinte precedente:

Origem: TRF - PRIMEIRA REGIÃO. Classe: HC - HABEAS CORPUS – 9401012288. Processo: 9401012288 UF: MG Órgão Julgador: QUARTA TURMA. Data da decisão: 21/3/1994 Documento: TRF100022881. Relator: JUIZ NELSON GOMES DA SILVA.

CRIMINAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PUBLICO E SEU USO. ARTIGOS 297 E 304, DO CP. ESTELIONATO. VANTAGEM PATRIMONIAL. FRAUDE EM VESTIBULAR.

Page 18: Sentenca - fraude em concurso publico - falsidade

18

1. NÃO CONFIGURA CRIME DE ESTELIONATO A FRAUDE DE VESTIBULAR VISANDO O CANDIDATO APROVAÇÃO NO CONCURSO, SEM O FITO DE OBTER QUALQUER VANTAGEM PATRIMONIAL DA UNIVERSIDADE E SEM POSSIBILIDADE DE CAUSAR PREJUIZO AO PATRIMONIO DO ESTABELECIMENTO ESCOLAR.

2. TENDO HAVIDO USO DE DOCUMENTO PUBLICO FALSIFICADO PELO ESTUDANTE (SUA CARTEIRA DE IDENTIDADE), POR PARTE DE OUTREM, NA FRACASSADA TENTATIVA DE FRAUDAR VESTIBULAR, É DE SE TIPIFICAR COMO CRIME DE FALSIFICAÇÃO DO DOCUMENTO PÚBLICO A CONDUTA DO ESTUDANTE E COMO CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO, A DO TERCEIRO.

3. HC DENEGADO.

Apenas para registro, não vejo como se poderia aplicar nesse momento o art. 383 ou 384 do Código de Processo Penal para eventual condenação do acusado Francisco Alves Gondim Neto pelo crime de quadrilha ou bando (CP, art. 288). Embora venha falando em “grupo” na fundamentação acima, os dois únicos sujeitos cuja participação foi referenciada como “estável” no esquema foram Francisco Alves e Paulo (que sequer foi identificado). Daí a impossibilidade, no presente processo, de cogitar-se de uma ampliação da causa de pedir para abranger o delito do art. 288 do CP.

Em conclusão, penso que devam os acusados responder tão somente pelo crime de falsidade material de documento público, nos termos do art. 297 do Código Penal brasileiro, em concurso de agentes, ficando afastada a figura típica do estelionato contra entidade de direito público (CP, art. 171, § 3º)”.

Pelos motivos expostos, afasto em definitivo o enquadramento dos fatos no

tipo do art. 171, § 3º, do Código Penal brasileiro, visualizando-o como de direito no

art. 297 do Código Penal brasileiro (três vezes), com a aplicação do art. 71 do

mesmo código em razão da continuidade delitiva e do art. 29 em face do concurso

de agentes.

Registro que, não obstante a capitulação legal dada na sentença seja

diversa da contida na denúncia, a situação em questão não comporta aplicação do

artigo 384 do CPP, pois todos os fatos que fundamentam o entendimento aqui

exposto foram adequadamente descritos na denúncia, merecendo alegações em

contrário pelos acusados e a respectiva oportunidade para produção de provas.

Passo à fixação da pena.

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19

3. FIXAÇÃO DA PENA

Antes da fixação efetiva das penas, um esclarecimento.

De acordo com a fundamentação acima, demonstrei entender que os

acusados praticaram três crimes de falsidade material de documento público (CP,

art. 297) em continuidade delitiva (CP, art. 71). Não obstante, penso que os três

fatos delitivos são absolutamente similares, apresentando as mesmas

circunstâncias, possuindo estreita relação espacial, temporal e teleológica, de modo

que a aplicação do critério trifásico a cada um deles resultaria em mera repetição de

fundamentos e resultados, representando indesculpável perda de tempo.

Evitando isso, registro aqui que o procedimento a ser adotado consistirá na

aplicação a) do critério trifásico (CP, art. 68) uma única vez, a um dos delitos de

falsidade – devendo-se entender que as mesmas considerações se aplicam

igualmente aos outros dois delitos – e, ao final, b) da norma de exasperação do art.

71 do Código Penal. Na fixação da pena de multa, os mesmos fundamentos (que

são idênticos para os três crimes de falsidade) serão utilizados para a definição da

pena multa, somando-se os resultados (CP, art. 72).

1) Nelcijone da Costa Monteiro

1.1) Pena privativa de liberdade

Examinando as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, vejo que a

culpabilidade do réu, como reprovabilidade pessoal pela conduta, mostrou-se

bastante significativa, tendo em vista o menosprezo demonstrado pelo instrumento

do concurso público e da própria Administração em sua atividade para recrutar

servidores capazes. O réu não apresenta antecedentes criminais1. A conduta social

1 HC 79966 / SP - SÃO PAULO

HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Relator(a) p/ Acórdão: Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 13/06/2000 Órgão Julgador: Segunda Turma

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e a personalidade do agente não podem ser valoradas contra ele, especialmente, no

último caso, por representar disposição de um autêntico “direito penal do autor”. O

motivo da prática do crime, objetivando fazer a fraude superar o esforço e a

competência na luta por vagas no serviço público, merece maior reprimenda. O

crime não foi praticado em circunstâncias especiais que lhe exasperem o desvalor.

As conseqüências comprovadas da infração justificam aumento de pena, pois o

autor foi nomeado e empossado no cargo de Técnico de Finanças e Controle,

ludibriando a Administração e impedindo que candidatos realmente capazes

viessem a ocupar a posição que obteve de forma flagrantemente ilícita. Por fim, a

vítima não colaborou para a ocorrência do crime.

Atento a essas circunstâncias e aos limites abstratos do art. 297 do CP, fixo

a pena-base em 4 (quatro) anos de reclusão.

Não encontrei circunstâncias agravantes (CP, arts. 61 e 62) ou atenuantes

(CP, arts. 65 e 66), nem tampouco causas especiais de aumento ou diminuição da

reprimenda. Assim, fixo a pena privativa de liberdade em 4 (quatro) anos de

reclusão, para cumprimento em regime inicial aberto (CP, art. 33, § 2º, “c”).

Considerando ainda que foram praticados 3 (três) delitos de falsidade,

absolutamente similares, em continuidade delitiva, aplico ao resultado acima a

correspondente causa de exasperação da pena (CP, art. 71) e, como conseqüência,

aumento a pena em 1/6 (um sexto), fixando-a definitivamente em 4 (quatro) anos e 8

Publicação DJ 29-08-2003 PP-00034 EMENT VOL-02121-15 PP-03023 PACTE. : INAIÁ MARIA VILELA DE LIMA PACTE. : WALTER VILLELA PINTO IMPTE. : ALFREDO DE ALMEIDA COATOR : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E M E N T A: HABEAS CORPUS - INJUSTIFICADA EXACERBAÇÃO DA PENA COM BASE NA MERA EXISTÊNCIA DE INQUÉRITOS OU DE PROCESSOS PENAIS AINDA EM CURSO - AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO PENAL IRRECORRÍVEL - PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA NÃO-CULPABILIDADE (CF, ART. 5º, LVII) - PEDIDO DEFERIDO, EM PARTE. - O princípio constitucional da não-culpabilidade, inscrito no art. 5º, LVII, da Carta Política não permite que se formule, contra o réu, juízo negativo de maus antecedentes, fundado na mera instauração de inquéritos policiais em andamento, ou na existência de processos penais em curso, ou, até mesmo, na ocorrência de condenações criminais ainda sujeitas a recurso, revelando-se arbitrária a exacerbação da pena, quando apoiada em situações processuais indefinidas, pois somente títulos penais condenatórios, revestidos da autoridade da coisa julgada, podem legitimar tratamento jurídico desfavorável ao sentenciado. Doutrina. Precedentes.

Page 21: Sentenca - fraude em concurso publico - falsidade

21

(oito) meses de reclusão, para cumprimento em regime inicial semi-aberto (CP, art.

33, § 2º, “b”).

1.2) Pena de multa

Considerando o resultado da valoração já realizada sobre as circunstâncias

judiciais do artigo 59 do CP, e atento aos limites previstos nos artigos 49 e 69 do CP,

fixo a pena de multa em 200 (duzentos) dias-multa.

Da mesma forma, considerando as provas contidas nos autos sobre a

situação econômica do réu, fixo o valor do dia-multa em 1/15 (um quinze avos) do

salário mínimo vigente na data do fato.

Finalmente, aplicando a causa de exasperação do art. 71 (crime continuado)

e 72 (pena de multa no concurso de crimes), considerando que foram 3 (três) os

delitos praticados, torno definitiva a pena de multa em 600 (seiscentos dias-multa),

fixado o dia-multa em 1/15 (um quinze avos) do salário mínimo vigente na data do

fato (22/03/1993), devidamente atualizado.

1.3) Substituição e suspensão condicional da pena privativa de liberdade

Resultando da exasperação decorrente da aplicação das regras sobre

continuidade delitiva (CP, art. 71) pena final concreta superior a quatro anos de

privação da liberdade, ficam obstadas a substituição (CP, art. 44, I) e a suspensão

condicional da pena (CP, art. 77) pela ausência de requisito objetivo. Por esse

motivo, nego ao acusado a substituição das penas privativas de liberdade por

restritivas de direito, bem como sua suspensão condicional.

Vale destacar que, respeitados os entendimentos em sentido contrário, o

exame dos requisitos de substituição e suspensão condicional em relação a cada

uma das penas poderia levar o julgador a resultados absurdos, bastando

imaginarmos uma situação em que determinado agente tenha praticado quarenta

crimes de falsidade em continuidade delitiva. A dispensa do acréscimo do art. 71

imporia um exame individual de crime por crime, donde resultaria a necessidade de

aplicação de oitenta penas restritivas de direito (duas para cada crime) ou mesmo

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quarenta penas restritivas e quarenta penas de multa (uma restritiva e uma de multa

para cada crime).

A inviabilidade do cumprimento dessas oitenta ou quarenta (conforme o

caso) penas restritivas de direito seria inevitável, considerando ser bastante difícil

(impossível, penso eu) imaginar uma situação em que todas essas penas restritivas

pudessem ser cumpridas simultaneamente.

Por esse motivo, penso que a tese no sentido de que o exame deve ser feito

desconsiderando-se a continuidade delitiva leva a situações absurdas, que devem

ser evitadas pelo julgador na interpretação e na aplicação do direito.

2) Humberto César Monteiro de Farias

2.1) Pena privativa de liberdade

Examinando as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, vejo que a

culpabilidade do réu, como reprovabilidade pessoal pela conduta, mostrou-se

bastante significativa, tendo em vista o menosprezo demonstrado pelo instrumento

do concurso público e da própria Administração em sua atividade para recrutar

servidores capazes. O réu não apresenta antecedentes criminais2. A conduta social

e a personalidade do agente não podem ser valoradas contra ele, especialmente, no

2 HC 79966 / SP - SÃO PAULO

HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Relator(a) p/ Acórdão: Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 13/06/2000 Órgão Julgador: Segunda Turma Publicação DJ 29-08-2003 PP-00034 EMENT VOL-02121-15 PP-03023 PACTE. : INAIÁ MARIA VILELA DE LIMA PACTE. : WALTER VILLELA PINTO IMPTE. : ALFREDO DE ALMEIDA COATOR : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E M E N T A: HABEAS CORPUS - INJUSTIFICADA EXACERBAÇÃO DA PENA COM BASE NA MERA EXISTÊNCIA DE INQUÉRITOS OU DE PROCESSOS PENAIS AINDA EM CURSO - AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO PENAL IRRECORRÍVEL - PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA NÃO-CULPABILIDADE (CF, ART. 5º, LVII) - PEDIDO DEFERIDO, EM PARTE. - O princípio constitucional da não-culpabilidade, inscrito no art. 5º, LVII, da Carta Política não permite que se formule, contra o réu, juízo negativo de maus antecedentes, fundado na mera instauração de inquéritos policiais em andamento, ou na existência de processos penais em curso, ou, até mesmo, na ocorrência de condenações criminais ainda sujeitas a recurso, revelando-se arbitrária a exacerbação da pena, quando apoiada em situações processuais indefinidas, pois somente títulos penais condenatórios, revestidos da autoridade da coisa julgada, podem legitimar tratamento jurídico desfavorável ao sentenciado. Doutrina. Precedentes.

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último caso, por representar disposição de um autêntico “direito penal do autor”. O

motivo da prática do crime, objetivando fazer a fraude superar o esforço e a

competência na luta por vagas no serviço público, merece maior reprimenda. O

crime não foi praticado em circunstâncias especiais que lhe exasperem o desvalor.

As conseqüências comprovadas da infração justificam aumento de pena, pois o

acusado Nelcijone, em razão da conduta do autor (Humberto César) foi nomeado e

empossado no cargo de Técnico de Finanças e Controle, ludibriando a

Administração e impedindo que candidatos realmente capazes viessem a ocupar a

posição que obteve de forma flagrantemente ilícita. Por fim, a vítima não colaborou

para a ocorrência do crime.

Atento a essas circunstâncias e aos limites abstratos do art. 297 do CP, fixo

a pena-base em 4 (quatro) anos de reclusão.

Não encontrei circunstâncias agravantes (CP, arts. 61 e 62) ou atenuantes

(CP, arts. 65 e 66), nem tampouco causas especiais de aumento ou diminuição da

reprimenda. Assim, fixo a pena privativa de liberdade em 4 (quatro) anos de

reclusão, para cumprimento em regime inicial aberto (CP, art. 33, § 2º, “c”).

Considerando ainda que foram praticados 3 (três) delitos de falsidade,

absolutamente similares, em continuidade delitiva, aplico ao resultado acima a

correspondente causa de exasperação da pena (CP, art. 71) e, como conseqüência,

aumento a pena em 1/6 (um sexto), fixando-a definitivamente em 4 (quatro) anos e 8

(oito) meses de reclusão, para cumprimento em regime inicial semi-aberto (CP, art.

33, § 2º, “b”).

2.2) Pena de multa

Considerando o resultado da valoração já realizada sobre as circunstâncias

judiciais do artigo 59 do CP, e atento aos limites previstos nos artigos 49 e 69 do CP,

fixo a pena de multa em 200 (duzentos) dias-multa.

Da mesma forma, considerando as provas contidas nos autos sobre a

situação econômica do réu, fixo o valor do dia-multa em 1/15 (um quinze avos) do

salário mínimo vigente na data do fato.

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24

Finalmente, aplicando a causa de exasperação do art. 71 (crime continuado)

e 72 (pena de multa no concurso de crimes), considerando que foram 3 (três) os

delitos praticados, torno definitiva a pena de multa em 600 (seiscentos dias-multa),

fixado o dia-multa em 1/15 (um quinze avos) do salário mínimo vigente na data do

fato (22/03/1993), devidamente atualizado.

2.3) Substituição da pena privativa de liberdade e suspensão condicional da

pena

Resultando da exasperação decorrente da aplicação das regras sobre

continuidade delitiva (CP, art. 71) pena final concreta superior a quatro anos de

privação da liberdade, ficam obstadas a substituição (CP, art. 44, I) e a suspensão

condicional da pena (CP, art. 77) pela ausência de requisito objetivo. Por esse

motivo, nego ao acusado a substituição das penas privativas de liberdade por

restritivas de direito, bem como sua suspensão condicional.

Vale destacar que, respeitados os entendimentos em sentido contrário, o

exame dos requisitos de substituição e suspensão condicional em relação a cada

uma das penas poderia levar o julgador a resultados absurdos, bastando

imaginarmos uma situação em que determinado agente tenha praticado quarenta

crimes de falsidade em continuidade delitiva. A dispensa do acréscimo do art. 71

imporia um exame individual de crime por crime, donde resultaria a necessidade de

aplicação de oitenta penas restritivas de direito (duas para cada crime) ou mesmo

quarenta penas restritivas e quarenta penas de multa (uma restritiva e uma de multa

para cada crime).

A inviabilidade do cumprimento dessas oitenta ou quarenta (conforme o

caso) penas restritivas de direito seria inevitável, considerando ser bastante difícil

(impossível, penso eu) imaginar uma situação em que todas essas penas restritivas

pudessem ser cumpridas simultaneamente.

Por esse motivo, penso que a tese no sentido de que o exame deve ser feito

desconsiderando-se a continuidade delitiva leva a situações absurdas, que devem

ser evitadas pelo julgador na interpretação e na aplicação do direito.

Page 25: Sentenca - fraude em concurso publico - falsidade

25

4. DISPOSITIVO

Diante do exposto, com fundamento no art. 383 c/c os arts. 387 e seguintes

do CPP, julgo PROCEDENTE a denúncia e CONDENO Nelcijone da Costa

Monteiro e Humberto César Monteiro de Farias como incursos no art. 297 (três

vezes) c/c os arts. 29 e 71, todos do Código Penal, aplicando-lhes, a cada um:

a) Uma pena privativa de liberdade de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de

reclusão, para cumprimento em regime inicial semi-aberto;

b) Uma pena de multa de 600 (seiscentos) dias-multa, fixado o dia-multa em

1/15 (um quinze avos) do salário mínimo vigente na data do fato (22/03/1993),

devidamente atualizado.

Em relação ao acusado Nelcijone da Costa Monteiro, considerando que

lhe foi aplicada uma pena privativa de liberdade consolidada superior a quatro anos,

DECRETO-LHE A PERDA DO CARGO de Técnico de Finanças e Controle junto ao

Ministério da Fazenda (art. 92, I, “b”, do Código Penal).

Ausentes, em razão da pena privativa de liberdade aplicada, os requisitos

objetivos dos artigos 44, I, e 77, caput, do CP, DEIXO DE CONCEDER aos

acusados a substituição das penas privativas de liberdade por restritivas de direito,

bem como a suspensão condicional das penas.

Considerando que os acusado são primários, não possuem antecedentes

criminais e que responderam ao processo em liberdade, CONCEDO-LHES o direito

de apelar em liberdade (CPP, art. 594).

TRANSITADA EM JULGADO A PRESENTE SENTENÇA, expeçam-se e

cumpram-se os respectivos mandados de prisão para cumprimento das penas

privativas de liberdade, expedindo-se as competentes guias de recolhimento;

inscrevam-se os nomes dos réus no rol dos culpados; preencham-se e encaminhem-

se ao IBGE os respectivos boletins individuais; oficie-se ao TRE/PB para os fins do

art. 15, III, da CF; oficie-se à autoridade competente para cumprimento da pena de

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perda do cargo em relação a Nelcijone da Costa Monteiro; e remetam-se os autos

ao juízo da execução penal para o cumprimento das penas.

Custas ex lege.

Sentença publicada em mãos do escrivão. Registre-se no sistema

informatizado. Intimem-se pessoalmente os acusados e seus defensores.

Cientifique-se o Ministério Público Federal.

João Pessoa,

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU

Juiz Federal Substituto da 2ª VF – SJPB