28
PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA 2ª VARA FEDERAL ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal Processo: 2000.82.00.001848-8 Natureza: Ação penal pública Autor: MPF Réus: Maurício Timótheo de Souza e Marconi Timótheo de Souza S E N T E N Ç A 1 DIREITO PENAL. EQUIPARAÇÃO A FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA EFEITOS PENAIS (CP, art. 327, §1º). O enquadramento dos diretores de entidades paraestatais como funcionários públicos para efeitos penais não sofreu alteração pela Lei n. 9983/2000, que tão somente acrescentou ao §1º do art. 327 do CP sua parte final. DIREITO PENAL. PECULATO (CP, art. 312, caput). Comprovada a apropriação de valores transferidos a entidade paraestatal por meio de convênio por pessoas no exercício de cargo de direção. Configuração da continuidade delitiva (CP, art. 71). Dada a ausência do vínculo subjetivo, não se configurou o concurso de agentes (CP, art. 29). DIREITO PENAL. SUBSTITUIÇÃO (CP, art. 44). Uma vez que a pena resultante da aplicação de causa de exasperação pelo concurso de crimes (CP, art. 71) ultrapassou o limite previsto no art. 44, I, do CP, não cabe a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. RELATÓRIO O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL denunciou Maurício Timótheo de Souza, Marconi Timótheo de Souza e Niedja Necy Palitot Souza, já devidamente qualificados, dando-os como incursos no art. 312, caput, c/c os arts. 29, 69 e 71, todos do Código Penal brasileiro. 1 Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006.

Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

Embed Size (px)

DESCRIPTION

.

Citation preview

Page 1: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU

Juiz Federal

Processo: 2000.82.00.001848-8

Natureza: Ação penal pública

Autor: MPF

Réus: Maurício Timótheo de Souza e Marconi Timótheo de Souza

S E N T E N Ç A1

DIREITO PENAL. EQUIPARAÇÃO A FUNCIONÁRIO

PÚBLICO PARA EFEITOS PENAIS (CP, art. 327, §1º). O

enquadramento dos diretores de entidades paraestatais

como funcionários públicos para efeitos penais não sofreu

alteração pela Lei n. 9983/2000, que tão somente

acrescentou ao §1º do art. 327 do CP sua parte final.

DIREITO PENAL. PECULATO (CP, art. 312, caput).

Comprovada a apropriação de valores transferidos a

entidade paraestatal por meio de convênio por pessoas

no exercício de cargo de direção. Configuração da

continuidade delitiva (CP, art. 71). Dada a ausência do

vínculo subjetivo, não se configurou o concurso de

agentes (CP, art. 29).

DIREITO PENAL. SUBSTITUIÇÃO (CP, art. 44). Uma vez

que a pena resultante da aplicação de causa de

exasperação pelo concurso de crimes (CP, art. 71)

ultrapassou o limite previsto no art. 44, I, do CP, não cabe

a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva

de direitos.

RELATÓRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL denunciou Maurício Timótheo

de Souza, Marconi Timótheo de Souza e Niedja Necy Palitot Souza, já

devidamente qualificados, dando-os como incursos no art. 312, caput, c/c os

arts. 29, 69 e 71, todos do Código Penal brasileiro.

1 Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006.

Page 2: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 2 de 28

Consta da denúncia (f. 04-16) que os denunciados Maurício

Timótheo de Souza e Marconi Timótheo de Souza eram respectivamente

provedor do Complexo Santa Casa de Misericórdia e diretor executivo do

Instituto Santa Emília de Rodat, os quais detinham amplos poderes sobre o

patrimônio do Complexo e não prestavam contas dos recursos recebidos no

decorrer de sua administração.

Dentre outros aspectos que teriam facilitado a “apropriação desses

recursos pelos acusados”, cita o MPF a ausência de controle das atividades

contábeis da Santa Casa, o desaparecimento de documentos do Instituto Santa

Emília de Rodat, a ausência de registro da entrada e saída de bens do

patrimônio móvel do Complexo, a não comprovação de despesas com

pagamento de pessoal e com a execução do objeto dos convênios firmados.

O MPF denunciou Maurício Timótheo de Souza e Marconi Timótheo

de Souza em razão de se haverem apropriado de recursos do Complexo Santa

Casa de Misericórdia, bem como Niedja Necy Palitot Souza, alegando que,

como esposa do segundo denunciado, teria auferido vantagem com as práticas

ilícitas de seu esposo.

Diz o MPF que foi firmado o Convênio n. 025/96 entre a Escola

Santa Emília de Rodat e a Secretaria do Trabalho e Ação Social (SETRAS) em

função de que foram realizados dois contratos (23/96 e 04/97) e um aditivo

(01/97). Em todos eles teriam ocorrido irregularidades que permitiram aos réus

apropriarem-se do dinheiro. Afirma que a Sra. Maria da Glória Uchoa dos

Santos (diretora técnica da Escola) teria recebido as verbas da SETRAS,

limitando-se a repassá-las ao acusado Marconi Timótheo de Souza (diretor

executivo do Instituto Santa Emília de Rodat), o qual se teria delas apropriado

juntamente com os demais acusados. Acrescenta que Marconi teria

providenciado o desaparecimento da documentação contábil do Instituto com o

fim de encobrir as irregularidades que lhe teriam permitido apropriar-se dos

recursos.

Sobre esse desaparecimento de documentos, diz o MP que Expedito

Nóbrega Dinis (ex-caixa da Escola) teria declarado que entregou a Marconi

pessoalmente toda a documentação contábil do Instituto Santa Emília de Rodat

para exame e posterior encaminhamento ao Departamento de Contabilidade

mas, passados alguns dias, constatou que os documentos não chegaram ao

destino. Jader Carlos Coelho da Franca afirmou ter tomado conhecimento

através de funcionários da Santa Casa que toda a referida documentação fora

Page 3: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 3 de 28

retirada numa caminhonete durante à noite por Marconi, um dia antes da posse

da Junta Interventora. Joaquim Paiva Martins também declarou ter ouvido

comentários sobre o desaparecimento dos documentos e que Marconi teria

sido o responsável.

Sobre o contrato n. 23/96, disse o MPF que os cheques a ele

correspondentes (somando R$ 177.408,00) foram emitidos pelo Banco do

Estado da Paraíba em favor da Escola Santa Emília de Rodat, sendo contudo

endossados por Maurício e Marconi e, em vez de depositados na conta da

Escola, ingressaram nos cofres do Instituto Santa Emília de Rodat. Isso

impossibilitou a constatação pelos auditores sobre a realização do objeto

contratual, pois a documentação do referido Instituto teria sido levada por

Marconi. Conclui dizendo que “esse fato, somado às demais constatações

narradas na presente denúncia, representa indício suficiente de apropriação

dessas verbas por MARCONI e seu irmão MAURÍCIO”.

Quanto ao contrato n. 04/97, disse o MPF que os cheques a ele

referentes (total de R$ 220.800,00) também foram emitidos pelo Banco do

Estado da Paraíba em favor da Escola Santa Emília de Rodat, sendo

endossados por Marconi e simplesmente depositados na conta n. 8.700.674-1,

titularizada por ele e sua esposa Niedja Necy Palitot Souza, o que tornaria

explícita a apropriação dos recursos pelos acusados. Salienta que não há

quaisquer documentos que pudessem indicar que o dinheiro fora aplicado no

objeto do convênio.

O termo aditivo n. 01/97 elevou o valor do contrato n. 04/97 de R$

220.800,00 para R$ 275.880,00, sendo que o cheque correspondente a esse

aumento, da mesma forma emitido pelo Banco do Estado em favor da Escola,

foi endossado por Marconi e pela servidora Maria da Glória Uchôa, sendo

depositado na conta do Instituto Santa Emília de Rodat, ficando comprometido

o exame da aplicação desse dinheiro por causa do desaparecimento dos

documentos do Instituto.

A denúncia ainda noticia a existência de documentos que indicariam

transferências financeiras da Escola para o Instituto Santa Emília de Rodat,

sendo que o dinheiro jamais teria ingressado nas contas do Instituto, nem

tampouco haveria provas de que teriam sido aplicados em favor do Complexo.

Tais recursos, segundo o MPF, teriam sido apropriados pelo acusado Marconi.

Além disso, outras transferências “suspeitas” teriam ocorrido entre a tesouraria

da Santa Casa e a Provedoria, tendo sido os valores recebidos pela secretária

Page 4: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 4 de 28

do acusado Maurício, não havendo documentos que comprovem as despesas

que teriam sido pagas com tais recursos.

Diz ainda o MPF que entre fevereiro e dezembro de 1997 o acusado

Maurício efetuou saques na conta da Escola Santa Emília de Rodat no valor

total de R$ 56.980,00, não comprovando em que tais valores teriam sido

utilizados, motivo pelo qual seria de se inferir que foram utilizados em seu

proveito próprio. O ex-caixa da Escola, Expedito Nóbrega Diniz, teria afirmado

que aqueles valores sacados por Maurício “não ingressaram no caixa da

Escola nem foram comprovados através de documentos de despesas”.

Prossegue dizendo que Marconi, entre agosto e dezembro de 1997,

autorizou a emissão de 16 (dezesseis) vales no valor total de R$ 17.000,00 em

favor de José Augusto de Souza Peres, sem justificativa perante a tesouraria

da Escola sobre a finalidade dessas emissões. Contudo, prestando

depoimento, o próprio José Augusto de Souza Peres afirmou ter sido

contratado para a realização de estudos para a implantação da Escola

Politécnica de Saúde, recebendo pelo serviço um valor efetivo de R$ 15.000,00

embora haja firmado recibos, por orientação de Marconi, no valor de R$

29.339,07. Nesse depoimento, José Augusto afirmou que o referido acusado foi

à sua casa e lhe solicitou endossar os cheques emitidos para pagamento de

seus serviços, levando o acusado consigo, após os endossos, metade dos

cheques endossados.

Quanto ao acusado Maurício, diz o MPF que, em agosto de 1997,

ele autorizou a emissão de um vale em favor de Aluízio Nunes de Lucena no

valor de R$ 2.069,28, também retirado do caixa da Escola, sem justificativa de

emissão e saque. A emissão teve como garantia dada pelo Sr. Aluízio um

cheque de R$ 7.000,00, emitido pela empresa Transportes e Representações J

B Ltda. (João Coutinho), cheque que Marconi depositou na conta de sua

esposa Niedja, com o objetivo de se apropriarem da quantia, fato que não

ocorreu por conta da ausência de provisão de fundos do cheque.

Prossegue o MPF dizendo que entre 1996 e 1998 vários cheques

foram emitidos pelo Instituto Santa Emilia de Rodat e depositados na conta n.

8.700.674-1, titularizada conjuntamente por Niedja e Marconi, permitindo-lhes a

apropriação de R$ 27.882,97. Outros cheques, importando no valor de R$

310.575,41, não tiveram sua aplicação comprovada por documentação idônea,

uma vez que os documentos teriam sido levados por Marconi para encobrir os

fatos.

Page 5: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 5 de 28

Por fim, registra o MPF que os acusados Maurício e Marconi seriam

equiparados a funcionários públicos por força do art. 327, §1º, do CP, vez que

a Santa Casa de Misericórdia se enquadraria no conceito de entidade

paraestatal. Além disso, recebia recursos do SUS. Em razão disso, a conduta

por ambos praticada teria sido de peculato, nos termos do art. 312, caput, c/c

os arts. 29, 69 e 71, todos do CP. Niedja responderia nos mesmos moldes por

ter auferido benefícios indevidos com a prática dos delitos, tendo plena

consciência dos fatos.

Denúncia recebida em 12/03/2007 (f. 27-34). Na mesma decisão,

autorizei a quebra do sigilo fiscal dos denunciados, determinando à DRF

fornecer declarações de bens dos denunciados relativas aos anos de 1994 a

1999.

Providência cumprida pela DRF com remessa das declarações

referentes ao período 1995/1999, informando-se que as declarações de 1994 já

teriam sido incineradas (f. 44-91).

Determinei a quebra do sigilo bancário das contas titularizadas pelos

réus no período de 1996 a 1998 (f. 117-8).

Os réus foram devidamente citados (f. 133).

Cumprimento de diligência pelo Banco do Brasil (f. 134-52 e 156-

206).

Cumprimento de diligência pelo Banco Real ABN AMRO (f. 208-

524).

Cumprimento de diligência pelo Banco Central do Brasil (f. 526-547).

Deferida a habilitação dos advogados dos acusados Marconi e

Niedja (f. 550-3), ficando assegurada vista dos autos em cartório.

Informada nos autos a impetração de habeas corpus (HC n. 2946-

PB) junto ao TRF da 5ª Região pela defesa dos acusados Marconi e Niedja,

bem como o indeferimento do pedido liminar para suspensão da ação penal (f.

557-68).

Realizada audiência de interrogatório de todos os denunciados em

26/09/2007 (f. 569-82). No termo de audiência a defesa dos acusados Marconi

Page 6: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 6 de 28

e Niedja pugnou pela aplicação do procedimento previsto no art. 514 do CPP

(defesa preliminar), o que foi indeferido pelo juízo (f. 569-70).

Apresentaram defesa prévia Maurício Timótheo de Souza (f. 595-7),

Marconi Timótheo de Souza (f. 598-601) e Niedja Necy Palitot Sousa (f. 602-5).

Informação oriunda do E. TRF da 5ª Região, Quarta Turma, sobre a

concessão parcial da ordem de habeas corpus para excluir do polo passivo da

demanda a denunciada Niedja Necy Palitot Sousa (f. 611-5), dando-se imediato

cumprimento (f. 617).

Informação sobre nova impetração de habeas corpus perante do E.

TRF da 5ª Região pela defesa do acusado Marconi Timótheo de Souza (HC n.

3116-PB), dando conta do indeferimento do pedido de liminar (f. 632-46 e 661-

75).

Oitiva das testemunhas Maria da Glória Uchoa dos Santos (f. 688-

92), Joaquim Paiva Martins (f. 693-4), José Augusto de Souza Peres (f. 697-

700), Hernan Pinto Rodriguez (f. 701-4) e Jáder Carlos Coelho da Franca (f.

728-9). A requerimento do MPF, foi dispensada a oitiva de Expedito Nóbrega

Diniz (f. 730).

Informação oriunda do E. TRF 5ª Região, Quarta Turma, acerca do

arquivamento dos HCs n. 3116-PB e n.2946-PB (f. 737-8).

Oitiva das testemunhas Ricardo José Alves (f. 750-1), Gerson da

Silva Ribeiro (f. 752-3), Haroldo de Figueiredo Diniz (f. 754-5) e Ziclomar

Rodrigues Cartaxo (f. 756-7). Sobre as testemunhas ausentes (Gilson

Cavalcanti de Melo e João Bosco Lins Guimarães), as partes prescindiram de

seus depoimentos (f. 758).

Em diligências:

1) O MPF requereu (a) que fosse oficiado ao TRT 13ª Região,

solicitando-lhe informar se existiam reclamações trabalhistas contra a Santa

Casa na época dos fatos e se houve determinação de bloqueio de contas

bancárias da “referida Associação beneficente”, bem como (b) a renovação de

certidões de antecedentes e feitos criminais distribuídos contra os acusados (f.

761). As diligências foram devidamente deferidas (f. 762).

2) Intimados os réus, deixaram transcorrer “in albis” o prazo (f. 778).

Page 7: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 7 de 28

O MPF insistiu na diligência ao TRT 13ª Região (f. 789v.).

Informações enviadas pelo TRT 13ª Região (f. 787-851).

Em alegações finais:

1) O MPF (f. 855-65) sustentou haver sido comprovada a tese

apresentada com a denúncia, pugnando assim pela procedência do pedido e

pela condenação dos acusados Maurício Timótheo de Souza e Marconi

Timótheo de Souza.

2) Maurício Timótheo de Souza (f. 870-81) alegou: (a) a necessidade

de desclassificação da imputação pelo crime de peculato, (b) a nulidade do

processo por não aplicação do rito do art. 514 do CPP, (c) a não ocorrência de

apropriação de quaisquer valores da Santa Casa de Misericórdia, motivo pelo

qual pugna pela improcedência do pedido.

3) Marconi Timótheo de Souza (f. 883-9) alegou: (a) a incompetência

da justiça federal para a presente demanda, (b) a ausência de tipicidade do

fato, ensejando a absolvição por ausência de provas, (c) a não aplicação do

parágrafo único do art. 327 do CP a fatos anteriores a sua entrada em vigor e

(d) a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva. Ao final, pugnou pela

improcedência do pedido.

Autos conclusos para sentença.

É o breve relato.

DECIDO.

FUNDAMENTAÇÃO

Passo imediatamente ao exame das preliminares e prejudiciais.

1) Nulidade processual por não aplicação do art. 514 do CPP

A questão já foi abordada no curso do processo e volta a ser

suscitada. Alega-se a ocorrência de nulidade processual pela não concessão

Page 8: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 8 de 28

aos réus da prerrogativa de apresentarem resposta preliminar aos termos da

inicial em momento anterior ao do recebimento da denúncia. Tal seria o

procedimento previsto para os crimes de funcionários públicos apenados com

detenção.

Conforme já salientado alhures, a resposta preliminar a que se

refere o art. 514 do CPP é dispensável nos casos em que a denúncia é

devidamente instruída com os autos de inquérito policial – exatamente como no

presente caso – não havendo assim qualquer nulidade a ser suscitada.

Apenas para exemplificar, eis a seguinte decisão do E. STJ:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO PENAL. MATÉRIAS NÃO

ANALISADAS NO ACÓRDÃO A QUO. FALTA DE

PREQUESTIONAMENTO. VIOLAÇÃO AO ART. 514 DO CPP.

FALTA DE DEFESA PRÉVIA. DENÚNCIA FUNDADA EM

INQUÉRITO POLICIAL.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INEXISTÊNCIA. AGRAVO A QUE

SE NEGA PROVIMENTO.

1. Quanto aos 1º, 33, § 2º, "c", e § 3º, 44, I e 64, I, todos do CP, não

há prequestionamento. Do exame dos autos, constata-se, sem

maiores esforços, que a matéria agitada no presente recurso especial

não foi objeto de um questionamento prévio da instância ordinária.

2. Por outro lado, quanto à ofensa ao já mencionado art. 514 do CPP,

é dispensado o cumprimento da formalidade referente à notificação

prévia do acusado para que ofereça resposta por escrito quando a

denúncia se encontra devidamente respaldada em inquérito policial.

Assim, a obrigatoriedade da notificação do acusado – funcionário

público –, para a apresentação de resposta formal fica restrita aos

casos em que a denúncia apresentada estiver baseada, tão-somente,

em documentos acostados à representação. Precedentes.

3. Tal entendimento, inclusive, foi consolidado no verbete 330 da

Súmula desta Corte, aprovado pela Terceira Seção, conforme se

depreende da notícia publicada na página eletrônica deste Superior

Tribunal de Justiça.

4. Agravos a que se nega provimento.

(AgRg no Ag 703.123/RJ, Rel. Ministra JANE SILVA

(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA,

julgado em 28/08/2008, DJe 15/09/2008) (grifado).

Por esses motivos, indefiro a preliminar.

Page 9: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 9 de 28

2) Incompetência da justiça federal

Alega-se que a demanda não trataria de interesse pertinente a

quaisquer entes públicos federais que conduzissem à justiça federal a

competência para processo e julgamento do caso em questão. Em arrimo a

essa tese, salienta-se o reconhecimento da competência da justiça estadual

para julgar prefeito acusado de desvio de verbas federais incorporadas pelo

município por força de convênio.

O presente caso, contudo, é diferente do paradigma jurisprudencial

trazido nas alegações finais. Aqui se cuida da efetivação do serviço de saúde e

do manejo – inclusive – de verbas do Sistema Único de Saúde. A apropriação

de que trata a denúncia não cuida apenas de dinheiro público de origem

estadual, mas também de verbas de origem federal.

Esse caso já foi bem abordado pelo Superior Tribunal de Justiça,

como revela o julgado que adiante transcrevo, na linha da competência da

justiça federal para processo e julgamento:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DE

INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO POR REQUISIÇÃO DA

CHEFIA DA PROCURADORIA REGIONAL DA REPÚBLICA.

PECULATO. DESVIO DE VERBAS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

(SUS). PREFEITO MUNICIPAL. PRERROGATIVA DE FUNÇÃO.

COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM

DENEGADA.

1. Em sede de habeas corpus, conforme pacífico magistério

jurisprudencial, somente se admite o trancamento de inquérito

policial, por falta de justa causa, quando desponta induvidosamente a

inocência do indiciado, a atipicidade da conduta ou se acha extinta a

punibilidade, circunstâncias não demonstradas na hipótese em

exame.

2. Ademais, não caracteriza constrangimento ilegal a simples

instauração de inquérito policial destinado a apurar fatos em tese

delituosos.

3. Por outro lado, a prerrogativa de função ostentada pelo paciente

não obsta a prática de atos de investigação a serem promovidos pela

autoridade policial, quando requisitados por membro do Ministério

Público com atuação perante o Tribunal competente para processar e

Page 10: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 10 de 28

julgar eventual ação penal originária, sob pena de inviabilizar a

adoção das medidas pré-processuais de persecução penal, no âmbito

do procedimento investigatório em curso perante o órgão judiciário

competente.

4. Por fim, conforme decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal

Federal, "(...) A competência originária para o processo e julgamento

de crime resultante de desvio, em repartição estadual, de recursos

oriundos do Sistema Único de Saúde - SUS, é da Justiça Federal, a

teor do art. 109, inc. IV, da Constituição Federal" (RE 196.982/PR,

Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, DJ 27/6/1997, p. 30.247), pois, "(...)

Além do interesse inequívoco da União, na espécie, em se cogitando

de recursos repassados ao Estado, os crimes, no caso, são também

em detrimento de serviços federais, pois a estes incumbe não só a

distribuição dos recursos, mas ainda a supervisão de sua regular

aplicação, inclusive com auditorias no plano dos Estados" (RE

196.982/PR, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, DJ 27/6/1997, p. 30.247).

5. Ordem denegada.

(HC 35.996/RJ, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA

TURMA, julgado em 04/11/2004, DJ 06/12/2004 p. 345) (grifado).

Em meu sentir, como bem esclarece o julgado, o interesse da União

não se revela apenas na afetação de verbas do Sistema Único de Saúde, mas

também à implementação do serviço público de saúde a ser custeado com

esses recursos, objetos mesmo de fiscalização por entidades federais.

Afora o fundamento acima, saliento que a questão da competência

para o processo e julgamento dos fatos apresentados pelo MPF em sua

denúncia – o seja, do presente caso em concreto – já foi objeto de exame pelo

Superior Tribunal de Justiça no CC n. 41073/PB (Rel. Ministro Arnaldo Esteves

Lima), resolvido em favor da 2ª vara federal da SJPB (f. 1303-5 dos autos

anexos).

Por esses motivos, indefiro a preliminar.

3) A necessidade de desclassificação do crime de peculato para

apropriação indébita e a consequente prescrição da pretensão punitiva

A alegação de prescrição depende, para seu acolhimento, do

reconhecimento da necessidade de desclassificar-se o fato para apropriação

indébita, sustentada com base no argumento de que o parágrafo único do art.

327 do CP não poderia ser aplicado ao caso concreto, uma vez que os fatos

Page 11: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 11 de 28

narrados na denúncia seriam anteriores à Lei n. 9983/2000. Em consequência

disso, o fato em tese seria de apropriação indébita que, tendo pena máxima de

quatro anos (CP, art. 168), prescreveria “in abstrato” em oito anos (CP, art.

109, IV). Conclui dizendo que já teria ocorrido a prescrição da pretensão

punitiva do Estado.

No ponto sobre a inaplicabilidade do art. 327, §1º, do CP ao

presente caso, uma vez que os fatos – da forma como narrados na denúncia –

teriam sido anteriores ao advento da Lei n. 9983/2000, entendo que não assiste

razão à defesa.

Embora o art. 327 do Código Penal tenha realmente sido modificado

pela Lei n. 9983/2000, seu parágrafo único (transformado em parágrafo

primeiro) já previa a equiparação a funcionário público daquele que exercia

cargo, emprego ou função em entidade paraestatal. A modificação operada

pela aludida lei apenas acrescentou sua parte final, estendendo a equiparação

a “quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou

conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública”.

Sendo assim, no ponto realmente importante – a equiparação do

ocupante de cargo, emprego ou função em entidade paraestatal – a Lei n.

9983/2000 não operou qualquer modificação, não se apresentando como

“novatio legis in pejus”, não se podendo falar em aplicação retroativa “in malam

partem”.

Não pode haver dúvida de que o Complexo Santa Casa de

Misericórdia, entidade beneficente e filantrópica, possa ser considerado como

entidade paraestatal. Afinal, não integra a Administração Pública (não

integrando o Estado, não pertencendo ao primeiro setor) e não desempenha

atividade econômica com finalidade de lucro (não pertencendo ao mercado,

não integrando o segundo setor). Pertence perfeitamente ao terceiro setor,

atuando paralelamente ao Estado na busca por objetivos com convergentes.

Uma vez que seja necessário manter-se o enquadramento do fato

em tese no tipo penal do crime de peculato, o prazo para prescrição da

pretensão punitiva “in abstrato” é de 16 anos (CP, art. 109, II), considerando a

pena máxima cominada ao crime, fixada pelo preceito secundário do CP, art.

312, em 12 anos de reclusão.

Por esses fundamentos, indefiro os pedidos de nova definição

jurídica do fato e de acolhimento da prescrição da pretensão punitiva.

Page 12: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 12 de 28

Examinadas todas as questões preliminares e prejudiciais, passo ao

exame do mérito da causa.

Em suas alegações finais, o MPF muito bem definiu os pontos que

definem as acusações imputadas contra os réus dessa maneira:

1) Desvio dos cheques n. 3311, 4311 (os quais, juntos, somavam R$

177.408,00) e 8711 (no valor de R$ 55.080,00), que eram destinados à conta

da Escola Santa Emília de Rodat, para a conta do Instituto Santa Emília de

Rodat, mediante endosso feito por ambos os réus, de onde os valores foram

sacados por eles e indevidamente apropriados;

2) Desvio dos cheques n. 6043, 6420, 6656 e 7325 (os quais, juntos,

somavam R$ 220.800,00), que eram destinados à conta da Escola Santa

Emília de Rodat, para a conta n. 8.700.674-1, titularizada pelo réu MARCONI e

sua esposa, NIEDJA, mediante endosso do primeiro;

3) Saques dos valores de R$ 20.009,00, R$ 19.236,61 e R$

9.502,04 da conta da Escola Santa Emília de Rodat, feitos pelos réus

MARCONI, sob a alegação, aposta em recibos, de que estaria transferindo tais

valores para a conta do Instituto Santa Emília de Rodat, sendo que constatou-

se que nenhum valor ingressou na conta desse Instituto no período dos

saques, o que comprovaria que esse réu simplesmente deles se apropriou;

4) Diversos saques realizados no período de fevereiro a dezembro

de 1997, no valor total de R$ 56.980,00, pelo réu MAURÍCIO, da conta da

Escola Santa Emília de Rodat sem comprovação de que tal valor tenha sido

aplicado no objeto do convênio, o que, somado aos demais elementos dos

autos, indica que esse réu do valor se apropriou;

5) Diversos saques realizados nas datas de 09, 20 e 30 de maio e

09 de outubro de 1997, no valor total de R$ 19.845,64, pelo réu MAURÍCIO, da

conta da Escola Santa Emília de Rodat sem comprovação de que tal valor

tenha sido aplicado no objeto do convênio, o que, somado aos demais

elementos dos autos, indica que esse réu do valor se apropriou;

6) Apropriação, pelo réu MARCONI, da quantia de R$ 14.339,07,

equivalente à diferença entre o valor de R$ 29.339,07, sacado da conta da

Escola Santa Emília de Rodat para o suposto pagamento de José Augusto de

Souza Peres, contratado para realizar estudos referentes à implantação da

Page 13: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 13 de 28

Escola Politécnica de Saúde, e o valor que este efetivamente recebeu, isto é,

R$ 15.000,00, embora este tenha firmado recibo, a pedido do mesmo réu,

declarando falsamente que teria recebido o primeiro valor;

7) A emissão pelo réu MAURÍCIO, em agosto de 1997, de um vale,

em favor de Aluízio Nunes de Lucena, no valor de R$ 2.069,28, retirado do

caixa da Escola Santa Emília de Rodat, sem que a despesa tenha sido

justificada, e tendo como garantia de pagamento um cheque de R$ 7.000,00,

emitido peal empresa Transportes e Representações J. B. Ltda., o qual foi

depositado por MARCONI na conta da sua esposa NIEDJA, porém foi

devolvido por insuficiência de fundos;

8) A apropriação, pelo réu MARCONI, da quantia de R$ 27.882,97,

através do depósito de cheques emitidos pelo Instituto Santa Emília de Rodat

da conta n. 8.700.674-1, titularizada pelo próprio MARCONI e sua esposa,

NIEDJA.

Maurício sustenta que não participou em nada dos fatos que, com

referência ao acusado Marconi, traduziam seja o depósito de cheques

endossados em sua conta pessoal ou na conta do Instituto, sem a devida

prestação de contas posterior, seja a assinatura de recibos com valor superior

ao contratado por prestadores de serviço e posterior apropriação do saldo.

Marconi, de sua parte, e no que pertine ao mérito da causa, alega

que em momento algum agiu com o elemento subjetivo necessário para que

sua conduta configurasse qualquer crime. Ele não nega os fatos a ele

imputados pelo MPF, mas o elemento subjetivo do tipo penal (dolo).

O primeiro ponto de mérito que entendo deva ficar bem claro é que o

liame subjetivo necessário à configuração do concurso de pessoas não foi

demonstrado pelo MPF no caso presente. Seria mesmo possível dizer que,

embora os acusados tenham sido denunciados como coautores dos fatos

narrados, a própria denúncia não apresenta esses fatos de forma clara como

produto da vontade conjunta de ambos os réus. O que sobressai dos autos, ao

final, é que os fatos demonstrados como praticados por cada um deles nada

tiveram de colaboração recíproca, o que afasta peremptoriamente a aplicação

do art. 29 do Código Penal ao caso em questão.

A isso se poderia objetar que, ao longo da instrução, foi dito que as

prestações de contas seriam de responsabilidade do Complexo, bem como que

os dois réus teriam causado o desaparecimento dos documentos. Esse fato – a

Page 14: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 14 de 28

colaboração conjunta dos dois réus nesse caso – contudo, não foi devidamente

provado nos autos, de modo que não vejo elementos que fundamentem o liame

subjetivo necessário ao concurso de agentes.

Isso torna necessário um exame dos fatos de maneira

individualizada quanto a cada réu, tornando estanques as imputações e

eventuais responsabilidades.

No decorrer da instrução, apurou-se o seguinte quanto à produção

da prova oral.

Maurício afirmou em seu interrogatório que “nunca houve qualquer

problema judicial com relação ao Instituto, estando suas contas absolutamente

livres, sem quaisquer pendências”, arrematando que “os valores eventualmente

depositados no Instituto, pelo fato de ser uma pessoa jurídica independente e

distinta da Santa Casa, não corriam qualquer risco de arresto ou penhora para

pagamento de dívidas da Santa Casa”. Negou a prática do crime e, embora

haja admitido o saque a ele imputado da conta da Escola, afirmou que isso era

comum uma vez que, como provedor da Santa Casa, tinha competência para

sacar de um dos componentes do Complexo para subsidiar necessidades em

outros.

Marconi disse que havia risco de constrição judicial em valores da

conta da Escola e do Instituto Santa Emília de Rodat, embora o risco, no último

caso, fosse menor. Confirmou que efetuou vários depósitos em sua conta

pessoal por causa desse risco, mas negou a prática do crime, sustentando que

assim o fazia apenas para viabilizar a troca de cheques por dinheiro e poder

fazer frente às despesas da Escola. Negou completamente a prática de

quaisquer dos crimes a ele imputados pelo MPF.

MARIA DA GLÓRIA UCHOA DOS SANTOS afirmou que se

lembrava do convênio SETRAS n. 025/96 e de seu objeto, esclarecendo que,

nesse caso, como em todos os outros convênios, a testemunha se limitava a

entregar os cheques ao acusado Marconi. Disse não ter notícia de endosso dos

cheques e de depósito na conta pessoal do referido acusado, recordando-se

que uma vez assinou um papel para liberação do dinheiro, não sabendo se se

tratava de um endosso. Quanto ao objeto do convênio, afirma que se referia à

formação de técnicos em laboratório de análises clínicas, oncologia,

recepcionista hospitalar, geriatria e gerontologia, além de outros, sendo a

testemunha responsável pela supervisão de todos deles. Registra ainda que

todos esses cursos foram realizados, formando-se turmas e expedindo-se os

Page 15: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 15 de 28

respectivos certificados. Teriam sido mais de dez cursos com algo entre vinte e

cinco e trinta alunos por turma, chegando os cursos a 240 h/a (duzentas e

quarenta horas-aula), tudo documentado e com controle de presença e

avaliações. Sobre a pessoa de JOSÉ AUGUSTO, afirmou que foi escolhido por

já trabalhar com consultoria, prestando serviço idêntico à FACENE e, embora

não lhe conheça a graduação, sabe que se trata de profissional pós-graduado

com livros escritos. Por fim, afirma que todos os professores receberam em dia

seus salários com os recursos do convênio, bem como que esses recursos

serviam também para a confecção do material devidamente entregue aos

alunos.

JOAQUIM PAIVA MARTINS afirmou que não tinha conhecimento do

convênio SETRAS e seus contratos correlatos. Sobre a declaração de

conhecimento do fato da retirada de documentos da Escola, afirmou que, na

época, em razão do quadro que encontraram quando da designação da junta

interventora, acreditou nessa informação. Tomou conhecimento da realização

de cursos, embora não saiba se realmente ocorreram e se o dinheiro foi

totalmente neles empregado. Ouviu falar de desvio de dinheiro da Escola, seja

para o Instituto Santa Emília de Rodat, seja para a conta pessoal de um dos

acusados. Conversando com auditores, quando a junta começou a atuar, ouviu

falar da ocorrência de irregularidades como a falta de documentos, documentos

irregulares, alguns problemas com cheques que haveriam sido desviados

JOSÉ AUGUSTO DE SOUZA PERES afirmou que, “embora não

esteja absolutamente certo disso, acredita que o projeto em questão tenha sido

contratado pelo valor de R$ 14.000,00 (quatorze mil reais), efetivamente

recebido, sendo o projeto elaborado no ano de 1998”. Confirma em seguida

“que realmente recebeu a quantia afirmada pelo MPF na denúncia como

contraprestação pelos seus serviços prestados, tendo firmado um recibo, a

pedido do acusado MARCONI, no valor de R$ 29.399,07 (vinte e nove mil

trezentos e trinta e nove reais e sete centavos), bem como que recebeu a visita

do mesmo acusado para endossar os cheques relativos ao pagamento da

quantia contida no recibo, ou seja, do valor maior, tendo ficado a testemunha

com apenas um cheque que traduzia aproximadamente metade do valor do

recibo por si assinado” (grifo inexistente no original).

HERNAN PINTO RODRIGUEZ afirmou que foi um dos auditores

designados para a realização do trabalho de auditoria “in loco” no Complexo

Santa Casa, examinando documentos, cheques, dinheiro em caixa etc. Disse

que “a partir da auditoria, ficou constatado o desvio de cheques endereçados

ao Complexo, provenientes de convênios, para crédito em conta-corrente

Page 16: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 16 de 28

pessoal da esposa do acusado MARCONE”. Na época da auditoria, colheram

declaração da pessoa que afirmou ter o acusado Marconi retirado os

documentos da Santa Casa e sumido com eles, “confirmando a testemunha

que realmente a auditoria não teve acesso a ditos documentos”, os quais

“seriam provavelmente relativos às despesas e receitas do Instituto”. Registrou

não saber afirmar se os valores depositados na conta da esposa do acusado

foram utilizados em compras e serviços relacionados ao objeto do convênio.

Quatro cheques endereçados a JOSÉ AUGUSTO PERES no valor de R$

14.820,63 teriam sido depositados na conta da esposa do acusado Marconi,

“tendo sido encontrados onze prestadores de serviço nessa situação, num total

de R$ 50.310,63, tendo sido os cheques endossados pelos prestadores.

JÁDER CARLOS COELHO DA FRANCA afirmou desconhecer

completamente o assunto sobre o convênio com a SETRAS e os contratos a

ele relacionados. Sobre a retirada de documentos, afirma ter ouvido da Sra.

Zélia que os acusados haviam feito a retirada de documentos da Santa Casa.

RICARDO JOSÉ ALVES afirmou que os “vales” certamente se

referiam ao pagamento de salários, os quais estavam sempre em atraso,

inclusive o da testemunha, que muitas vezes recebeu seu salário através

desses “vales”. Tem conhecimento de que a situação financeira do Complexo

como um todo era muito ruim, tendo ouvido falar que as contas estavam

bloqueadas.

GERSON DA SILVA RIBEIRO afirmou que já trabalhou na Escola

Santa Emília de Rodat gratuitamente em atenção às más condições financeiras

por que passava a Escola. Disse ter presenciado uma conversa a que estavam

presentes Expedito, Marconi, Peres e outro funcionário, na linha de que a

Escola estaria recebendo dinheiro de um convênio com a SETRAS, mas que

se tal dinheiro entrasse no caixa da Escola seria bloqueado para pagamento de

débitos trabalhistas. Teve conhecimento de que a Escola passou a ministrar

minicursos, pagando aos professores tão logo eram concluídos.

HAROLDO DE FIGUEIREDO DINIZ afirmou ter conhecimento de

que o acusado Marconi fazia depósito de dinheiro da Santa Casa em sua

conta-corrente pessoal, mas apenas para viabilizar pagamentos de dívidas da

Escola, inclusive professores. Não ouviu falar de o acusado Marconi ter

utilizado dinheiro da Escola em proveito próprio. Ouviu dizer que o acusado

usava sua conta pessoal para depositar dinheiro da Escola porque, de outro

modo, a Santa Casa os reteria, bem como porque estava “sub judice”. Disse

recordar-se de que a Escola celebrou convênio para a realização de

Page 17: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 17 de 28

minicursos, acreditando que incluíam a aquisição dos materiais a serem neles

aplicados.

ZICLOMAR RODRIGUES CARTAXO afirmou ser professora da

Escola Santa Emília de Rodat desde o ano de 1980, tendo ouvido falar que em

determinada época a conta da Escola estava com um problema, de modo que

se o dinheiro da Escola fosse ali depositado os professores não receberiam

seus salários em dia, motivo pelo qual Marconi teria utilizado sua conta

pessoal. Nunca ouviu falar que Marconi houvesse usado o dinheiro para

proveito pessoal. Ouviu falar de que a Escola celebrou convênios para a

realização de minicursos, tendo os professores recebido regularmente seus

salários.

Quanto à prova documental (especialmente contida nos autos

anexos do inquérito policial), vejo que, a partir da f. 425 (numeração da JFPB –

anexo), constam documentos referenciados pelo MPF, tais como:

a) O contrato n. 004/97 e os cheques n. 6043 (R$ 55.200,00), 6420

(R$ 55.200,00), 6656 (R$ 33.120,00) e 7325 (R$ 77.280,00), depositados na

conta corrente do acusado Marconi e de sua esposa Niedja.

b) O contrato n. 23/96 e os cheques n. 3311 (R$ 88.804,00) e 4311

(R$ 88.804,00), recebidos por Maria da Glória Uchoa, endossados por ambos

os réus e depositados na conta do Instituto Santa Emília de Rodat.

c) O termo aditivo n. 001/97 ao contrato n. 004/97 e o cheque n.

8711 (R$ 55.080,00), recebido por Maria da Glória Uchoa, endossado por ela e

pelo acusado Marconi e depositado na conta do Instituto Santa Emília de

Rodat.

A f. 454-60 do inquérito policial (autos anexos), consta relatório da

equipe de auditoria da Secretaria do Controle da Despesa Pública do Estado

da Paraíba, subscrito pelos auditores Henan Pinto Rodrigues e Darcy Bonfim.

Nesse relatório, constam informações sobre:

a) Cheques depositados na conta da Sra. Niedja (esposa do

acusado Marconi);

b) Declarações de supostos favorecidos sobre valores não

recebidos;

Page 18: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 18 de 28

c) Transferências financeiras em 18/02/98 (R$ 20.009,00), 09/03/98

(R$ 19.236,61) e 24/04/98 (R$ 9.502,04), supostamente feitas da Escola para o

Instituto que, embora recebidas por Marconi, não ingressaram na conta do

Instituto;

d) Transferências da tesouraria geral da Santa Casa para a

Provedoria, realizadas em 09/05/97 (R$ 5.800,00), 20/05/97 (R$ 2.745,64),

30/05/97 (R$ 11.000,00) e 09/10/97 (R$ 300,00), sendo os valores recebidos

por Ana Sandra Olinto Barbosa, secretária do acusado Maurício, com a

finalidade de suprir o caixa da Provedoria, não tendo sido tais despesas

documentalmente comprovadas.

A f. 534-7 do inquérito (anexo), novo relatório subscrito pelos

mesmos auditores nos dá conta da emissão de vales em nome de José

Augusto de Sousa Peres (R$ 17.000,00) e Aluízio Nunes de Lucena (R$

2.096,28). No caso de Aluízio Nunes de Lucena, os auditores constataram que

o vale foi dado tendo como garantia o cheque n. 88628944, do Banco

Sudameris, no valor de R$ 7.000,00, emitido por Transportes e

Representações JB Ltda., devolvido por insuficiência de fundos quando era

depositado na conta n. 8.700.674-1, cuja titular era a esposa do acusado

Marconi.

As conclusões definitivas dos auditores estão registradas no

Relatório de Auditoria DECADIR n. 026/99 (f. 571A-642 anexo). Registraram ali

que o desaparecimento dos documentos relativos ao processo de prestação de

contas do Instituto Santa Emília de Rodat impediu a verificação da regularidade

das despesas e operações ali realizadas.

Após um aprofundado exame de todas as provas – especialmente

dos documentos referenciados nos parágrafos acima – passo a examinar as

imputações separadamente:

1) Desvio dos cheques n. 3311, 4311 (os quais, juntos,

somavam R$ 177.408,00) e 8711 (no valor de R$

55.080,00), que eram destinados à conta da Escola

Santa Emília de Rodat, para a conta do Instituto Santa

Emília de Rodat, mediante endosso feito por ambos os

réus, de onde os valores foram sacados por eles e

indevidamente apropriados;

Entendo que logrou o MPF, efetivamente, demonstrar a prática

desse fato. Em verdade, a prova documental minuciosamente referenciada

Page 19: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 19 de 28

(seja pelo MPF, seja no já citado relatório de auditoria) demonstra que os

apontados cheques, inicialmente endereçados à Escola Santa Emília de Rodat,

foram encaminhados à conta do Instituto Santa Emília de Rodat e ali tiveram

destinação absolutamente desconhecida, uma vez que não houve prestação de

contas válida que demonstrasse a efetiva aplicação dos recursos.

A alegação de que os valores foram integralmente utilizados no

objeto do convênio não foi confirmada pelas provas colhidas no inquérito ou no

curso da instrução processual. É de se notar que não se fazia necessário ao

MPF demonstrar a apropriação da integralidade do dinheiro, motivo pelo qual

os depoimentos prestados no sentido de que alguns cursos teriam sido

realizados não afastam peremptoriamente a imputação, já que permitem a

ilação de apropriação parcial.

2) Desvio dos cheques n. 6043, 6420, 6656 e 7325 (os

quais, juntos, somavam R$ 220.800,00), que eram

destinados à conta da Escola Santa Emília de Rodat,

para a conta n. 8.700.674-1, titularizada pelo réu

MARCONI e sua esposa, NIEDJA, mediante endosso do

primeiro;

Também esse fato ficou devidamente comprovado através da prova

documental contida nos autos do processo e do inquérito respectivamente

anexo, prova tal adequadamente destacada pelo MPF.

Em verdade, aqui entendo conveniente destacar que os réus

divergiram frontalmente sobre a necessidade de utilização da conta corrente

pessoal do acusado Marconi e de sua esposa Niedja. Os acusados

concordaram que a realização de depósitos na conta da Escola Santa Emília

de Rodat seria no mínimo arriscada, sendo em razão disso depositados os

valores na conta do Instituto. O acusado Maurício, no entanto, ao contrário de

Marconi, afirmou que a conta do Instituto não corria qualquer risco, sendo por

isso mesmo os valores destinados à Escola depositados na conta do Instituto.

Se a conta do Instituto era segura (não passível de penhora), que

motivo haveria para a realização de depósitos na conta pessoal Marconi? Esse

fato, conforme me pareceu bastante claro, foi decisão isolada de Marconi,

inclusive sem o aparente conhecimento de Maurício. A questão é que se

realmente não havia motivo para utilização da conta pessoal do acusado, o

depósito dos cheques em tal conta aparece – em plena sintonia com a linha

defendida pelo MPF – como meio para viabilizar a apropriação dos respectivos

valores.

Page 20: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 20 de 28

O incontestável aspecto de que, uma vez depositados esses valores

em conta pessoal do acusado, não houve prestação de contas nem a

aprovação da tomada de contas realizada pela auditoria (sem a colaboração

dos réus) permite conclusão de que tais valores foram realmente apropriados,

pois jamais se comprovou sua aplicação em despesas relacionadas ao objeto

do convênio celebrado com a SETRAS.

Como se vê ao longo do processo, o argumento de Marconi cinge-se

à intenção de utilização dos valores no objeto do convênio, bem como de evitar

que tais quantias fossem penhoradas na conta da Escola. O problema é que,

se a conta do Instituto era segura, não havia motivo para depósito em sua

conta privada. Cabia-lhe demonstrar que o acusado Maurício estava errado e

que a conta do Instituto também não era segura – o que seria possível a partir

da comprovação da existência de ações judiciais contra o Instituto. Essa prova

jamais foi feita e, ao fim e ao cabo, chego à conclusão de que os depósitos

serviram a atos de apropriação dos respectivos valores pelo acusado Marconi.

3) Saques dos valores de R$ 20.009,00, R$ 19.236,61 e

R$ 9.502,04 da conta da Escola Santa Emília de Rodat,

feitos pelos réus MARCONI, sob a alegação, aposta em

recibos, de que estaria transferindo tais valores para a

conta do Instituto Santa Emília de Rodat, sendo que

constatou-se que nenhum valor ingressou na conta

desse Instituto no período dos saques, o que

comprovaria que esse réu simplesmente deles se

apropriou;

Esse fato também encontra prova documental contida nos autos. De

acordo com o MPF (devidamente corroborado por documentos que destaca),

houve saques da conta da Escola Santa Emília de Rodat para depósito da

conta do Instituto. Não houve demonstração documental de que tais valores

tenham ingressado na conta do Instituto, nem tampouco de que haja sido

aplicado em quaisquer despesas de interesse do Complexo Santa Casa de

Misericórdia.

Também esse fato não recebeu qualquer alegação em sentido

contrário, muito menos contraprova. Seria de se esperar que os acusados

procurassem evidenciar, à vista de extratos bancários (inclusos até mesmo nos

autos), que os valores ingressaram nas contas do Instituto Santa Emília de

Rodat (apontando, obviamente, os registros de lançamentos) ou mesmo que

Page 21: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 21 de 28

foram utilizados em tais ou quais despesas relacionadas ao objeto do convênio.

Nada disso foi feito.

4) Diversos saques realizados no período de fevereiro a

dezembro de 1997, no valor total de R$ 56.980,00, pelo

réu MAURÍCIO, da conta da Escola Santa Emília de

Rodat sem comprovação de que tal valor tenha sido

aplicado no objeto do convênio, o que, somado aos

demais elementos dos autos, indica que esse réu do

valor se apropriou;

5) Diversos saques realizados nas datas de 09, 20 e 30

de maio e 09 de outubro de 1997, no valor total de R$

19.845,64, pelo réu MAURÍCIO, da conta da Escola

Santa Emília de Rodat sem comprovação de que tal

valor tenha sido aplicado no objeto do convênio, o que,

somado aos demais elementos dos autos, indica que

esse réu do valor se apropriou;

O acusado Maurício afirmou que, como provedor do Complexo, tinha

a prerrogativa de retirar dinheiro de caixa de quaisquer entidades componentes

para cobrir despesas relativas a outro componente. O MPF não contesta esse

ponto, mas a comprovação das despesas custeadas precisamente com o

montante de R$ 56.980,00 a que se refere. Segundo o MPF, a destinação

desses recursos jamais foi comprovada, e nisso tem total razão.

Da mesma forma que afirmei no tópico anterior, cabia ao acusado

demonstrar que os saques foram feitos para fazer frente a despesas

relacionados ao objeto do convênio. Se o dinheiro em questão fora transferido

pelo órgão convenente, estava vinculado ao objeto conveniado. Caso contrário,

ainda assim deveria o acusado demonstrar que fora depositado na conta de

outro componente do complexo ou que fora utilizado diretamente para gastos

relacionados às respectivas atividades da Santa Casa. Em momento algum

isso foi demonstrado, limitando-se o acusado a dizer que tinha a prerrogativa

de remanejar recursos.

Uma vez que se comprovou a realização dos saques e seus

respectivos valores, caberia ao acusado comprovar sua destinação. Para isso

serve a prestação de contas. Uma vez que não prestara suas contas nem

comprovara, por outro modo, a destinação dos recursos, responsabiliza-se por

sua apropriação. As provas dos autos são fortes nesse sentido, com a

corroboração dos trabalhos de auditoria cujo relatório, já aqui citado, encontra-

se nos autos do inquérito policial anexo.

Page 22: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 22 de 28

6) Apropriação, pelo réu MARCONI, da quantia de R$

14.339,07, equivalente à diferença entre o valor de R$

29.339,07, sacado da conta da Escola Santa Emília de

Rodat para o suposto pagamento de José Augusto de

Souza Peres, contratado para realizar estudos referentes

à implantação da Escola Politécnica de Saúde, e o valor

que este efetivamente recebeu, isto é, R$ 15.000,00,

embora este tenha firmado recibo, a pedido do mesmo

réu, declarando falsamente que teria recebido o primeiro

valor;

A comprovação desse fato praticado pelo acusado Marconi foi

incontestável: ficou demonstrado pelos documentos colhidos na fase

inquisitorial e foi confirmado pelo próprio Sr. José Augusto de Souza Peres no

depoimento que prestou em juízo.

Como já destacado linhas acima, afirmou a apontada testemunha

“que realmente recebeu a quantia afirmada pelo MPF na denúncia como

contraprestação pelos seus serviços prestados, tendo firmado um recibo, a

pedido do acusado MARCONI, no valor de R$ 29.399,07 (vinte e nove mil

trezentos e trinta e nove reais e sete centavos), bem como que recebeu a visita

do mesmo acusado para endossar os cheques relativos ao pagamento da

quantia contida no recibo, ou seja, do valor maior, tendo ficado a testemunha

com apenas um cheque que traduzia aproximadamente metade do valor do

recibo por si assinado” (grifo inexistente no original).

Ora, aliando-se esse fato à completa ausência de prestação de

contas e comprovação da completa execução do objeto do convênio, chega-se

à inelutável conclusão, na linha da tese esposada pelo MPF, de que os valores

recebidos através dos cheques endossados foram objeto de apropriação por

parte do acusado Marconi.

7) A emissão pelo réu MAURÍCIO, em agosto de 1997,

de um vale, em favor de Aluízio Nunes de Lucena, no

valor de R$ 2.069,28, retirado do caixa da Escola Santa

Emília de Rodat, sem que a despesa tenha sido

justificada, e tendo como garantia de pagamento um

cheque de R$ 7.000,00, emitido peal empresa

Transportes e Representações J. B. Ltda., o qual foi

depositado por MARCONI na conta da sua esposa

NIEDJA, porém foi devolvido por insuficiência de fundos;

Não entendo que as provas trazidas aos autos demonstrem com

exatidão a ocorrência desse fato. Não foi tomado o depoimento de Aluízio

Page 23: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 23 de 28

Nunes de Lucena que, assim, não confirmou em juízo as informações

apresentadas na fase inquisitorial. A simples emissão de um vale não leva a

uma conduta ilícita, pois ficou bem claramente demonstrado que muitos

funcionários recebiam seus salários dessa forma. A tentativa de depósito do

referido cheque na conta de Marconi apenas entra na linha de outros depósitos

já referenciados.

8) A apropriação, pelo réu MARCONI, da quantia de R$

27.882,97, através do depósito de cheques emitidos pelo

Instituto Santa Emília de Rodat da conta n. 8.700.674-1,

titularizada pelo próprio MARCONI e sua esposa,

NIEDJA.

Também esse fato encontra prova documental nos autos,

devidamente apontada pelo MPF. É de se notar que aqui também ganha revelo

o aspecto da ausência de qualquer prestação de contas e das conclusões

francamente negativas constantes do relatório elaborado pelos auditores

quando da tomada de contas. Não há qualquer prova de que os valores

tenham sido posteriormente utilizados em proveito do Complexo Santa Emília

de Rodat.

Outrossim, associando-se isso ao raciocínio (aqui reiterado) de que

não havia motivo que justificasse o depósito de tais valores na conta pessoal

do acusado (quando dispunha da conta do Instituto sem qualquer risco), esses

depósitos apenas aparecem como estágio natural do procedimento que

culminava na apropriação dos valores depositados.

Pode-se constatar que as condutas dos acusados consistiram na

apropriação, durante certo período de tempo, de valores pertencentes ao

Complexo Santa Casa de Misericórdia, precisamente da Escola Santa Emília

de Rodat, recursos obtidos mediante convênio celebrado com a Secretaria do

Trabalho e Ação Social.

Considerando a natureza paraestatal da entidade (CP, art. 327, §1º),

a homogeneidade do modus operandi das condutas, os fatos perfazem o tipo

do art. 312, caput, do Código Penal brasileiro (peculato), praticados em

continuidade delitiva (CP, art. 71). Nesse ponto, por entender que ficaram

preenchidos os pressupostos no art. 71 do CP, discordo do MPF quando afirma

que alguns deles deveriam ser incriminados como praticados em concurso

material.

Passo à fixação das penas.

Page 24: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 24 de 28

FIXAÇÃO DA PENA

1. Maurício Timótheo de Souza

1.1 Circunstâncias judiciais (pena-base)

Examinando as circunstâncias do art. 59 do Código Penal brasileiro,

vejo o seguinte: a culpabilidade se mostrou própria ao crime em questão; o réu

não possui antecedentes criminais; a conduta social e a personalidade, como

dados inerentes ao réu que não relevantes para o fato, não podem ser

valorados negativamente sob pena de admitir-se uma culpabilidade de autor

que viola o princípio da lesividade e o princípio da dignidade da pessoa

humana; o crime não foi praticado por motivos que mereçam valoração

negativa, nem tampouco em circunstâncias especiais que justifiquem aumento

da reprimenda; as conseqüências indiretas do crime, contudo, a partir do

desvio de valores transferidos mediante convênio para a promoção de cursos

profissionalizantes, afetam uma pluralidade indistinta de indivíduos,

comprometendo os objetivos colimados pela entidade financiadora, o que

merece a devida reprovação; a vítima não colaborou para o crime com seu

comportamento.

Considerando os limites abstratos da pena cominada ao crime de

peculato (CP, 312, caput) e levando em conta a fundamentação acima, fixo a

pena-base em 4 (quatro) anos de reclusão.

1.2 Circunstâncias agravantes e atenuantes

Não encontrei circunstâncias agravantes (CP, arts. 61 e 62) ou

atenuantes (CP, arts. 65 e 66) que sejam aplicáveis ao fato. Mantenho, assim,

a pena acima fixada em 4 (quatro) anos de reclusão.

1.3 Causas de aumento ou diminuição

Não encontrei causas gerais ou especiais de aumento ou de

redução a pena que sejam aplicáveis ao fato. Mantenho, assim, a pena acima

fixada em 4 (quatro) anos de reclusão.

1.4 Causas de exasperação pelo concurso de crimes

Page 25: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 25 de 28

Atendidos os requisitos objetivos e subjetivos decorrentes do exame

do art. 71 do Código Penal, formando-se desse modo a continuidade delitiva,

deverá o juiz tomar uma das penas, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,

majorando-a de um sexto a dois terços, conforme (segundo a doutrina) a

quantidade de crimes que integrem a continuidade.

No presente caso, vejo que nenhum dos fatos praticados pelo

acusado ensejaria pena superior à calculada nos itens acima, de modo que a

pena acima deve ser tomada como padrão para o cálculo da causa de

exasperação da continuidade delitiva.

Considerando a quantidade de delitos comprovadamente praticados,

entendo cabível seja a pena aumentada em 1/4 (um quarto). Sendo assim, fixo

em definitivo a pena privativa de liberdade em 5 (cinco) anos de reclusão para

cumprimento em regime inicial semi-aberto (CP, art. 33, §2º, “b”).

1.5 Substituição e sursis

Uma vez que o resultado da pena supera o limite de quatro anos

previsto no art. 44, I, do CP, não cabe a substituição da pena privativa de

liberdade por restritiva de direitos (cf. HC 21.681/SP, Rel. Ministra LAURITA

VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/06/2003, DJ 18/08/2003 p. 215)2. Pelo

mesmo motivo, não é cabível a suspensão condicional da pena (CP, art. 77,

caput).

2. Marconi Timótheo de Souza

2.1 Circunstâncias judiciais (pena-base)

2 HABEAS CORPUS. PENAL. CONCURSO DE CRIMES. PORTE ILEGAL DE ARMA E

RECEPTAÇÃO NA FORMA SIMPLES. SUBSTITUIÇÃO DE PENA PRIVATIVA DE

LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. QUANTUM UNIFICADO INFERIOR A

QUATRO ANOS. CONDIÇÕES LEGAIS FAVORÁVEIS. POSSIBILIDADE.

1. Havendo concurso de crimes, a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de

direitos é possível quando o total das reprimendas não ultrapasse o limite de quatro anos,

disposto no art. 44, inc. I, do Código Penal.

2. Não sendo o apenado reincidente, bem como reconhecidas em seu favor as condições

judiciais previstas no art. 59, do Código Penal, e fixado a pena a ele imposta, em ambos os

delitos, no mínimo legal, faz jus à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de

direitos.

3. Ordem concedida.

(HC 21.681/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/06/2003, DJ

18/08/2003 p. 215) (grifado).

Page 26: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 26 de 28

Examinando as circunstâncias do art. 59 do Código Penal brasileiro,

vejo o seguinte: a culpabilidade se mostrou própria ao crime em questão; o réu

não possui antecedentes criminais; a conduta social e a personalidade, como

dados inerentes ao réu que não relevantes para o fato, não podem ser

valorados negativamente sob pena de admitir-se uma culpabilidade de autor

que viola o princípio da lesividade e o princípio da dignidade da pessoa

humana; o crime não foi praticado por motivos que mereçam valoração

negativa, nem tampouco em circunstâncias especiais que justifiquem aumento

da reprimenda; as conseqüências indiretas do crime, contudo, a partir do

desvio de valores transferidos mediante convênio para a promoção de cursos

profissionalizantes, afetam uma pluralidade indistinta de indivíduos,

comprometendo os objetivos colimados pela entidade financiadora, o que

merece a devida reprovação; a vítima não colaborou para o crime com seu

comportamento.

2.2 Circunstâncias agravantes e atenuantes

Não encontrei circunstâncias agravantes (CP, arts. 61 e 62) ou

atenuantes (CP, arts. 65 e 66) que sejam aplicáveis ao fato. Mantenho, assim,

a pena acima fixada em 4 (quatro) anos de reclusão.

2.3 Causas de aumento ou diminuição

Não encontrei causas gerais ou especiais de aumento ou de

redução a pena que sejam aplicáveis ao fato. Mantenho, assim, a pena acima

fixada em 4 (quatro) anos de reclusão.

2.4 Causas de exasperação pelo concurso de crimes

Atendidos os requisitos objetivos e subjetivos decorrentes do exame

do art. 71 do Código Penal, formando-se desse modo a continuidade delitiva,

deverá o juiz tomar uma das penas, se idênticas, ou a mais grave, se diversas,

majorando-a de um sexto a dois terços, conforme (segundo a doutrina) a

quantidade de crimes que integrem a continuidade.

No presente caso, vejo que nenhum dos fatos praticados pelo

acusado ensejaria pena superior à calculada nos itens acima, de modo que a

pena acima deve ser tomada como padrão para o cálculo da causa de

exasperação da continuidade delitiva.

Page 27: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 27 de 28

Considerando a quantidade de delitos comprovadamente praticados,

entendo cabível seja a pena aumentada em 1/2 (um meio). Sendo assim, fixo

em definitivo a pena privativa de liberdade em 6 (seis) anos de reclusão para

cumprimento em regime inicial semi-aberto (CP, art. 33, §2º, “b”).

2.5 Substituição e sursis

Uma vez que o resultado da pena supera o limite de quatro anos

previsto no art. 44, I, do CP, não cabe a substituição da pena privativa de

liberdade por restritiva de direitos (cf. HC 21.681/SP, Rel. Ministra LAURITA

VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17/06/2003, DJ 18/08/2003 p. 215). Pelo

mesmo motivo, não é cabível a suspensão condicional da pena (CP, art. 77,

caput).

DISPOSITIVO

Diante do exposto, com fundamento no art. 387 do Código de

Processo Penal, julgo parcialmente procedente o pedido para condenar

Maurício Timótheo de Souza e Marconi Thimótheo de Souza como incursos no

artigo 312, caput, c/c o art. 71, ambos do Código Penal brasileiro.

Com base na fundamentação constante do tópico próprio, fixo as

penas privativas de liberdade da seguinte maneira:

a) Maurício Timótheo de Souza: pena privativa de liberdade de 5

(cinco) anos de reclusão para cumprimento em regime inicial semi-aberto (CP,

art. 33, §2º, “b”).

b) Marconi Timótheo de Souza: pena privativa de liberdade de 6

(seis) anos de reclusão para cumprimento em regime inicial semi-aberto (CP,

art. 33, §2º, “b”).

Deixo de substituir as penas privativas de liberdade por restritivas de

direito em razão do não preenchimento do requisito objetivo previsto no CP, art.

44, I. Deixo igualmente de lhes conceder a suspensão condicional da pena em

razão do não preenchimento do requisito objetivo previsto no CP, art. 77, caput.

Page 28: Sentenca - peculato - crime continuado - equiparacao a funcionario publico

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA

2ª VARA FEDERAL

ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU Juiz Federal

Página 28 de 28

Por entender que não estão presentes os fundamentos que

ensejariam a custódia cautelar dos réus (CPP, arts. 312 e seguintes), concedo-

lhes o direito de apelar em liberdade.

Transitada em julgado a presente sentença, após a devida

certificação, deverá a secretaria da vara: a) oficiar ao TRE/PB para os fins do

art. 15, III, da CF; b) preencher e remeter ao IBGE os boletins individuais dos

acusados; c) lançar-lhes os nomes no rol dos culpados; d) remeter os autos ao

juízo das execuções penais.

Custas “ex lege”.

Proceda a secretaria da vara ao lacre dos documentos, constantes

dos autos, referentes às declarações de bens e rendimentos dos acusados, eis

que documentos protegidos por sigilo (folhas 44-91). Certifique-se.

Sentença publicada em mãos do diretor de secretaria. Registre-se

no sistema informatizado. Intimem-se os acusados e seus defensores.

Cientifique-se o MPF.

João Pessoa, 08 de maio de 2009.

Juiz federal Rogério Roberto Gonçalves de Abreu

Substituto da 2ª VF/SJPB