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Tráfico de drogas - Maconha e cocaína - Porte ilegal de arma de fogo - Companheiros Autos : 0116395-79.2011 Ação : Penal Pública Autora : Justiça Pública Acusados : xxxxxxxxxxxxx Vistos, etc. EMENTA: TRÁFICO DE DROGAS E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO – MACONHA E COCAÍNA – QUANTIDADE RAZOÁVEL - DOIS ACUSADOS – COMPANHEIRA E COMPANHEIRO - CONFISSÃO DA MATERIALIDADE, PROPRIEDADE E MERCANCIA POR PARTE DA COMPANHEIRA – COMPANHEIRO NEGA O TRÁFICO, MAS ADMITE FAVORECIMENTO REAL – AUSÊNCIA DE PROVAS PARA CONDENAÇÃO - CULPABILIDADE FAVORÁVEL – SUBSTITUIÇÃO DA PENA – IMPOSSIBILIDADE – REGIME FECHADO – CONCEDE DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE – CRIME DE PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO NÃO COMPROVADO – EXISTÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO LEGAL - CONDUTA ATÍPICA. Comprovadas a materialidade, propriedade e mercancia através de laudo pericial e confissão judicial da acusada, que isentou seu companheiro de qualquer responsabilidade criminal pela prática do crime de tráfico de drogas, a condenação é medida judicial que se impõe. Por conta da quantidade razoável e a natureza dos entorpecentes apreendidos deve-se negar o direito de recorrer em liberdade, bem como a substituição e suspensão da pena imposta. Em virtude da negativa de autoria por parte do acusado, bem como em razão da inexistência de prova acerca do seu envolvimento na prática do crime de tráfico de drogas, não há como condená-lo como incurso nas sanções do ar. 33 da Lei 11.343/06, principalmente pelo fato de a acusada tê-lo isentado de qualquer responsabilidade criminal e assumido com exclusividade a prática daquele delito. Tendo o acusado confessado que favoreceu sua companheira durante a empreitada criminosa, desclassifica-se o crime de tráfico para o de favorecimento real. Denúncia parcialmente procedente. xxxxxxxxxxxxx, já qualificados nestes autos, foram denunciados pelo Ministério Público Estadual, o primeiro, como incurso nas sanções previstas no art. 33 da Lei 11.343/06 e art. 14 da Lei 10.826/03 e a segunda, como incursa nas sanções previstas no art. 33 da Lei 11.343/06, pelos motivos elencados na peça acusatória, a qual veio formalmente elaborada e instruída com documentos. Os acusados foram notificados e apresentaram defesas preliminares à f. 57-v; foi realizada audiência de instrução e julgamento às f. 145/160; o Órgão de Execução Ministerial apresentou alegações finais às f. 161/167; os acusados apresentaram alegações finais às f. 168/180; e, por último vieram-me conclusos os presentes autos para prolação de sentença, o que

Sentença Tráfico e Porte Ilegal de Arma de Fogo

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Trfico de drogas - Maconha e cocana - Porte ilegal de arma de fogo - Companheiros

Autos n : 0116395-79.2011Ao : Penal PblicaAutora : Justia PblicaAcusados : xxxxxxxxxxxxx

Vistos, etc.

EMENTA: TRFICO DE DROGAS E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO MACONHA E COCANA QUANTIDADE RAZOVEL - DOIS ACUSADOS COMPANHEIRA E COMPANHEIRO - CONFISSO DA MATERIALIDADE, PROPRIEDADE E MERCANCIA POR PARTE DA COMPANHEIRA COMPANHEIRO NEGA O TRFICO, MAS ADMITE FAVORECIMENTO REAL AUSNCIA DE PROVAS PARA CONDENAO - CULPABILIDADE FAVORVEL SUBSTITUIO DA PENA IMPOSSIBILIDADE REGIME FECHADO CONCEDE DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE CRIME DE PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO NO COMPROVADO EXISTNCIA DE AUTORIZAO LEGAL - CONDUTA ATPICA. Comprovadas a materialidade, propriedade e mercancia atravs de laudo pericial e confisso judicial da acusada, que isentou seu companheiro de qualquer responsabilidade criminal pela prtica do crime de trfico de drogas, a condenao medida judicial que se impe. Por conta da quantidade razovel e a natureza dos entorpecentes apreendidos deve-se negar o direito de recorrer em liberdade, bem como a substituio e suspenso da pena imposta. Em virtude da negativa de autoria por parte do acusado, bem como em razo da inexistncia de prova acerca do seu envolvimento na prtica do crime de trfico de drogas, no h como conden-lo como incurso nas sanes do ar. 33 da Lei 11.343/06, principalmente pelo fato de a acusada t-lo isentado de qualquer responsabilidade criminal e assumido com exclusividade a prtica daquele delito. Tendo o acusado confessado que favoreceu sua companheira durante a empreitada criminosa, desclassifica-se o crime de trfico para o de favorecimento real. Denncia parcialmente procedente.

xxxxxxxxxxxxx, j qualificados nestes autos, foram denunciados pelo Ministrio Pblico Estadual, o primeiro, como incurso nas sanes previstas no art. 33 da Lei 11.343/06 e art. 14 da Lei 10.826/03 e a segunda, como incursa nas sanes previstas no art. 33 da Lei 11.343/06, pelos motivos elencados na pea acusatria, a qual veio formalmente elaborada e instruda com documentos.

Os acusados foram notificados e apresentaram defesas preliminares f. 57-v; foi realizada audincia de instruo e julgamento s f. 145/160; o rgo de Execuo Ministerial apresentou alegaes finais s f. 161/167; os acusados apresentaram alegaes finais s f. 168/180; e, por ltimo vieram-me conclusos os presentes autos para prolao de sentena, o que fao nos moldes adiante fundamentados.

Relatado. Decido.

Processo pronto para a prestao da tutela jurisdicional reclamada, porquanto esto presentes as condies da ao e os pressupostos processuais, bem como no h nulidades nem preliminares a serem analisadas. Assim, passo diretamente ao estudo do mrito da questo submetida ao crivo do Poder Judicirio.

Extrai-se do contexto probatrio dos presentes autos que o rgo Ministerial persegue a condenao dos acusados pela prtica dos delitos de trfico de drogas ilcitas e porte ilegal de arma de fogo.

1. Do crime de trfico de drogas em relao acusada Ariadna art. 33, Lei 11.343/06.

1.1. Da materialidade.

A materialidade delitiva restou inquestionavelmente demonstrada atravs do Auto de Apreenso de f. 8; do Laudo de Constatao acostado s f. 22/23; e do Laudo Toxicolgico Definitivo de f. 144, porquanto, nestes ltimos apurou-se que o material apreendido era constitudo de cocana e de cannabis sativa maconha, as quais so de uso proibido no Brasil e capazes de causar dependncia qumica e psquica, as quais se enquadram na Portaria n 344, de 12/5/98 da Secretaria de Vigilncia Sanitria do Ministrio da Sade.

1.2. Da autoria delitiva

Segundo consta do presente caderno processual, os acusados Daniel e Ariadna traziam consigo dentro de um veculo Fiat/Strada, quarenta invlucros de substncia entorpecente popularmente conhecida como maconha e quarenta e um invlucros de substncia entorpecente conhecida como cocana, para fins de trfico, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar.

Quando ouvida em Juzo, a acusada Ariadna, de livre e espontnea vontade, confessou a prtica do delito que lhe imputado na exordial, assumindo que guardava os entorpecentes apreendidos para um traficante, isentado, portanto, o acusado Danil de qualquer responsabilidade criminal pelo delito de trfico de drogas que se apura nestes autos, in verbis:

... em relao interroganda, so parcialmente verdadeiros os fatos narrados na denncia, a qual lhe foi lida neste ato, vez que a interroganda realmente estava guardando a droga apreendida pelos militares, mas o fazia atendendo solicitao de um traficante que disse interroganda que era para ela guardar a droga, sendo que telefonaria quando fosse buscar com ela o entorpecente; a interroganda recebeu a droga do referido traficante no dia anterior ao dos fatos narrados na denncia, recebendo em troca da guarda da droga seis dolas de maconha; a interroganda no pretende revelar o nome do traficante que a ela entregou a droga, isso porque est sendo por ele ameaada de morte, tendo inclusive de se mudar; apesar de ter recebido a droga no dia anterior ao de sua abordagem pelos militares, a interroganda permaneceu com ela no interior de sua bolsa durante todo o tempo, vez que no tinha onde guard-la; acreditava a interroganda que o traficante fosse em pouco tempo ligar para buscar a droga e, tambm por isso, manteve o entorpecente em sua bolsa; a interroganda era poca dos fatos e ainda namorada do tambm acusado Daniel(...) (declaraes prestadas em Juzo, s f. 155/157)

Apenas a ttulo de argumentao, merece destacar que de acordo com o entendimento j consagrado nos nossos tribunais, especialmente no STJ, a confisso judicial, por presumir-se livre dos vcios de inteligncia e vontade, tem valor probatrio e serve como base condenao quando encontra harmonia com as demais provas do caderno processual, como o caso dos autos:

A confisso judicial, por presumir-se livre dos vcios de inteligncia e vontade, tem valor absoluto e serve como base condenao, ainda que se constitua no nico elemento incriminador, pois s perder sua fora se desmentida por veemente prova em contrrio, como na hiptese de auto-acusao falsa" (RT 625/338);"Sem margem para divagaes doutrinrias ou construes hermenuticas, a confisso judicial constitui elemento segurssimo de convico. Apenas especialssima e incomum circunstncia que lhe evidencie a insinceridade justifica sua recusa" (JTACrimSP - Lex 93/239 - Des. Canguu de Almeida).

Corroborando a confisso judicial acima transcrita, a testemunha Roberson Felix Pereira, afirmou que a acusada Adriana lhe assegurou que seu parceiro apenas tentou ajud-la quando descartou as drogas que foram apreendidas pela Polcia Militar:

(...) depois da ocorrncia dos fatos, o declarante esteve com os acusados Daniel e Ariadna, no entanto, o declarante no os questionou sobre a propriedade da droga apreendida, nem eles falaram para o declarante; segundo a acusada Ariadna falou para o declarante, no momento da abordagem da Polcia Militar a droga apreendida estava no interior da sua bolsa, a qual estava por ela sendo transportada, sendo que Daniel, na inteno de ajudar a acusada Ariadna, tentou descartar a droga que restou apreendida pela Polcia Militar; segundo Daniel e Ariadna, Daniel tomou conhecimento que a droga estava na bolsa de Ariadna momento antes da abordagem da Polcia Militar (...) (depoimento prestado perante em juzo s f. 151/152).

Como se v, em relao acusada Ariadna, sua confisso judicial est em perfeita harmonia e sintonizada com o conjunto probatrio produzido nestes autos. Ademais, a acusada confessou que guardava os entorpecentes apreendidos para um traficante, cujo nome preferiu no revelar, razo pela qual no paira qualquer dvida acerca da prtica do crime de trfico de drogas, por tratar-se de tipo penal de ao mltipla, de forma que a subsuno da conduta praticada quaisquer das hipteses de incidncia penal previstas na norma suficiente para, de forma autnoma, aperfeioar o delito que ora se apura, como ocorrera in casu.Portanto, alm de guardar consigo drogas que j estavam acondicionadas para a comercializao, a acusada o fazia cumprindo determinao de um traficante, o que deixa evidente que tais entorpecentes se destinavam, mesmo, mercancia.

1.4. Da confisso espontnea. Nos termos acima fundamentados, de livre e espontnea vontade, a acusada confessou que guardava os entorpecentes apreendidos em seu poder para um traficante, razo pela qual merece ter sua reprimenda atenuada, conforme entendimento da melhor jurisprudncia:

HABEAS CORPUS SISTEMA TRIFSICO DE APLICAO DA PENA ALEGAO DEBIS IN IDEM IMPROCEDENTE CONFISSO PARCIAL E PRIMARIEDADE DO PACIENTE LEI N 9.455/97 CRIME HEDIONDO REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA INTEGRALMENTE FECHADO ... A confisso espontnea, ainda que parcial, circunstncia que sempre atenua a pena, ex VI do artigo 65, III, d, do Cdigo Penal, o qual no faz qualquer ressalva no tocante maneira como o agente a pronunciou. Nesta parte, merece reforma a deciso condenatria. Precedentes. ... Pedido parcialmente deferido, a fim de que seja reconhecida, pelo juzo condenatrio, a atenuante referente confisso espontnea. (STF HC 82337 RJ Rel Min. Ellen Gracie DJU 04.04.2003 p. 00051).

1.5. Do trfico privilegiado. Dispe o 4 do art. 33, da Lei 11.343/06, que se o criminoso for primrio e de bons antecedentes e no se dedique s atividades delituosas nem integre organizao criminosa, o juiz pode diminuir a pena privativa de liberdade, de um sexto a dois teros.

Por conseguinte, in casu, primeiro resta verificar se a acusada era ou no primria poca dos fatos. Neste particular, no consta dos autos prova de condenao anterior, pela prtica de crime, com trnsito em julgado em desfavor do acusada, razo pela qual a tenho como primria. Tambm no h provas nos autos de que a acusada se dedique a qualquer atividade criminosa ou integre organizao criminosa.

Dito tudo isso, reconheo a favor da acusada, o privilgio previsto no 4 do art. 33, da Lei 11.343/06. 1.6. Da substituio da Pena.

Neste tpico, apenas a ttulo de esclarecimento, consigno que durante algum tempo sustentei ser vedada a converso da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos no crime de trfico, e assim o fazia de acordo com o texto literal do 4 do art. 33 c/c art. 44, ambos da Lei 11.343/06.No entanto, a evoluo da jurisprudncia, especialmente do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justia e do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, contribuiu para que este magistrado mudasse de entendimento, a fim de admitir a substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos no crime de trfico, a depender da natureza e da quantidade da droga apreendida e que o acusado seja primrio e de bons antecedentes, como, alis, decidiu o Pleno do Supremo Tribunal Federal ao declarar a inconstitucionalidade do art. 44 e parte do 4 do art. 33, da Lei 11.343/06, atravs do controle repressivo, via de exceo, nos autos do processo do HC 97256. certo que este magistrado no est obrigado seguir a deciso daquela Corte Suprema, por ter sido proferida em via de exceo, porm, doravante, passo admitir a substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos para o crime de trfico de drogas, especialmente no caso de trfico privilegiado, desde que preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos previstos no art. 44 e incisos do Cdigo Penal, e assim o fao em virtude da patente inconstitucionalidade do art. 44 e parte do 4 do art. 33, da Lei 11.343/06, vez que, ao proibirem tal benefcio, violam o princpio de individualizao da pena, previsto no art. 5, XLVI, da Constituio Federal.

Entretanto, no caso em estudo, observo que a sentenciada no preenche os requisitos legais, tendo em vista a quantidade razovel e principalmente a natureza do entorpecente apreendido, configurando, pois, a substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direito medida socialmente no recomendvel.

2. Do crime de trfico de drogas em relao ao acusado Daniel art. 33, Lei 11.343/06.

Neste tpico, embora a exordial acusatria tenha sido instruda com documentos que comprovassem indcios suficientes de autoria para imputar a prtica do delito de trfico de drogas ao acusado Daniel, o mesmo no ocorreu durante a dilao probatria, como bem antecipou o ilustre representante do Ministrio Pblico.

que, conforme acima fundamentado, a acusada Ariadna no s assumiu com exclusividade a guarda das drogas apreendidas como tambm isentou o acusado Daniel de qualquer responsabilidade criminal, ao argumento de que ele nada sabia acerca da existncia do entorpecente apreendido pela Polcia Militar. Neste sentido, segue adiante parte das declaraes prestadas em Juzo:

(...) no final da tarde do dia dos fatos, o acusado Daniel dirigiu-se a casa da interroganda a fim de busc-la para que sassem; saram ento de sua residncia e foram at a casa do namorado de sua irm, local no qual consumiram bebida alcolica e a interroganda fez uso de maconha, isso sem que Daniel soubesse, vez que ele desaprovava tal comportamento; saindo da casa do namorado de sua irm, a interroganda e o acusado Daniel passaram por alguns bares, consumindo, ento, mais bebida alcolica; aps sarem de um bar, a interroganda e Daniel comearam a brigar, sendo que a interroganda estava muito agressiva em razo do consumo excessivo de lcool, acreditando tambm que o motivo da briga fora o fato de Daniel ter desconfiado que a interroganda fizera uso de maconha; durante a briga, chegaram a ocorrer agresses fsicas entre os dois, ocasio em que, acredita a interroganda, algum chamou a polcia; assim diz porque, aps entrarem no carro para irem embora, uma viatura policial abordou o veculo e pediu para que Daniel parasse o carro; nesse momento, a interroganda contou para Daniel que estava com muita droga em sua bolsa, sendo que ele, desesperado, comeou a bater na interroganda, perguntando o que iria fazer ento, como iria fazer perante seus colegas de servio; a interroganda, ento, entregou a droga para que Daniel a dispensasse, acreditando que, por ser ele policial, no iria dar problema; a interroganda, nesse momento, aproveitou que Daniel saiu do carro e dispensou seis buchas de maconha que tinha em seu bolso, jogando-as sob o veculo; a interroganda no se lembra se os policiais militares perguntaram a ela a quem pertencia a droga, podendo entretanto afirmar que no disse a eles que era ela quem estava com a droga porque teve medo de ser presa; a interroganda, hoje, arrepende-se de no ter dito aos militares que era ela quem guardava droga, permitindo assim que Daniel ficasse preso; arrependida, aps a priso de Daniel, a interroganda resolveu espontaneamente comparecer at a Delegacia de Polcia para prestar depoimento isentando-o de responsabilidade sobre a posse daquela droga apreendida, bem como esclarecendo ser ela, em verdade, quem guardava e guardara o entorpecente; a interroganda nunca vendeu drogas e aquela foi a primeira vez que guardou drogas para o traficante; a interroganda faz uso de maconha h aproximadamente dois anos, mas nunca foi internada para tratamento; a interroganda pediu a Daniel que a auxiliasse a se livrar do vcio em maconha, tentando ele providenciar uma internao para a interroganda, fato que no se viu possvel em virtude de no existir em Sete Lagoas clnica para tratamento de viciadas do sexo feminino; esclarece a interroganda que, apesar de no conseguir internao para ela, Daniel conseguiu internar o irmo da interroganda, qual seja, a pessoa de Jean Carlos Moreira; os vasilhames encontrados no carro de Daniel no dia dos fatos serviam a ele para prtica de artesanato, fato no qual tem a interroganda tem conhecimento em virtude de informaes prestadas pelo prprio Daniel, embora nunca tenha a interroganda visto qualquer pea de artesanato por ele produzida; a interroganda mantm relacionamento amoroso com o corru Daniel h aproximadamente oito meses; antes do dia dos fatos, o acusado Daniel j havia agredido fisicamente a interroganda em uma outra vez; retificando o que anteriormente dissera, esclarece a interroganda que apesar de t-la, sim, agredido no dia dos fatos, na outra vez narrada, Daniel no a agredira propriamente, mas apenas a conteve pois estava ela muito agressiva; as ameaas que relata ter sofrido do traficante foram anteriores ao dia em que a interroganda, arrependida, foi at delegacia para contar a verdade sobre os acontecimentos; Daniel no chegou a comentar com a interroganda o tipo de artesanato que faria com os recipientes encontrados no interior do seu veculo (declaraes prestadas em Juzo, s f. 155/157).

Ademais, se no bastasse a acusada Ariadna ter assumido com exclusividade a guarda das drogas apreendidas, quando ouvido em Juzo, o acusado Daniel no s negou seu envolvimento com qualquer comrcio de drogas ilcitas, como tambm repudiou a prtica do crime de trfico que lhe imputado nestes autos, e assim o fez nos termos adiante transcritos:

(...) em relao ao interrogando, so parcialmente verdadeiros os fatos narrados na denncia, a qual lhe foi lida neste ato, vez que realmente trazia consigo uma pistola PT calibre .40 apreendida e, tambm, dispensara mesmo aquela sacola contendo os entorpecentes narrados na denncia, esclarecendo, todavia, que no trazia consigo as drogas apreendidas e muito menos as tinha para fins de trfico; confirma as declaraes prestadas perante a autoridade policial acostadas f. 5 do APF, as quais lhe foram lidas neste ato, esclarecendo, entretanto, que nem toda a verdade foi ali dita, isso porque, embora existissem mesmo aqueles dois rapazes no depoimento referidos, no tinham eles qualquer relao com a droga apreendida por seus colegas militares; tambm confirma os termos das declaraes acostadas s f. 41/42, as quais lhe foram igualmente lidas; o interrogando convive com Ariadna, sua namorada e ora corr, desde que abandonou sua famlia para com ela ficar, isso j h uns nove meses (...). (declaraes prestadas em Juzo, f. 158).

Merece ressaltar, ainda, que durante a instruo do processo, o Ministrio Pblico no logrou produzir provas suficientes para demonstrar o envolvimento do acusado Daniel na prtica do crime de trfico de drogas ilcitas que lhe imputado nestes autos, o que, por certo, impossibilita a expedio de um decreto judicial condenatrio em desfavor do mesmo, vez que ningum, seja quem for, pode ser condenado apenas e to somente com base em comentrios tecidos por populares, sem que as provas sejam produzidas em Juzo, sob o crivo do contraditrio e do amplo direito de defesa.

Como j foi dito acima, no obstante o patente esforo do Ministrio Pblico em provar os fatos alegados na denncia, no logrou xito, tendo em vista que as testemunhas inquiridas durante a instruo do feito no tiveram condio de afirmar real participao do acusado Daniel na empreitada criminosa que pesa em seu desfavor nestes autos, conforme se observa atravs dos depoimentos adiante transcritos:

... confirma o histrico do Boletim de Ocorrncia acostado f. 14-v, o qual lhe foi lido neste ato, esclarecendo, no entanto, ter realmente acompanhado toda a diligncia, mas no foi o depoente quem localizou a substncia apreendida; antes da localizao da droga e da priso do acusado Daniel, o depoente conversou com o mesmo por um certo perodo, sendo que naquele instante o acusado Daniel dizia, mais ou menos o seguinte: eu no fiz nada, no sei porque vocs esto me abordando, no bati nela; depois que a droga foi apreendida e apresentada ao acusado Daniel, este negou ser o proprietrio da mesma, inclusive, naquele momento o acusado Daniel chorava e dizia que a droga no era dele; instantes antes da priso, o acusado Daniel se dirigiu at seu veculo e perguntou pela sua arma, que ele havia deixado no interior de seu veculo; o depoente j conhecia o acusado Daniel anteriormente aos fatos, apesar de nunca ter trabalhado junto com ele; o depoente nada sabia, seja a favor ou contra o acusado Daniel, embora tivesse tido conhecimento da existncia de faltas disciplinares contra Daniel, sendo uma delas por abandonar o local de trabalho sem justificar o motivo; o depoente nunca havia ouvido comentrios sobre o envolvimento do acusado Daniel com o comrcio de drogas; mesmo depois da priso do acusado, o depoente no ouviu qualquer comentrio a respeito do seu envolvimento com o trfico de droga anteriormente as fatos que se discute nestes autos; o depoente no ouviu e nem sabe dizer se a acusada Ariadna foi questionada sobre a droga apreendida no dia dos fatos... (depoimento prestado pela testemunha Rodrigo Cristiano dos Santos, policial militar, f. 147)

... confirma o depoimento que prestou perante a autoridade policial acostado s f. 4/4-v do APF, o qual lhe foi lido neste ato; a depoente no conhecia o acusado Daniel anteriormente aos fatos que se discute nestes autos; no momento da sua priso, o acusado Daniel alegava que a droga no lhe pertencia, no entanto, no falou quem era o proprietrio da mesma; posteriormente aos fatos que motivaram o ajuizamento desta ao, a depoente ouviu comentrios no 25 Batalho da Polcia Militar que o acusado Daniel estava envolvido na prtica de trfico de drogas, sendo que tais comentrios diziam respeito a fatos ocorridos anteriormente aos que se discute nestes autos...; a depoente, como j foi dito, apenas ouviu comentrios generalizados no 25 Batalho da Polcia Militar no sentido de que o acusado Daniel estava envolvido com a comercializao de drogas anteriormente aos fatos que se discute nestes autos, porm, a depoente no sabe dizer se foi ou no instaurada sindicncia para apurar tais comentrios, bem como a depoente no sabe dizer se houve ou no denncia atravs do 181 a respeito de tais fatos; a depoente no pode apontar nenhum nome de policial que tenha feito dito comentrio; a depoente no sabe dizer se tais comentrios chegaram ou no ao conhecimento dos superiores do acusado Daniel anteriormente aos fatos; a acusada Ariadna no falou quem a agrediu nem qual foi o motivo de tal agresso. (depoimento prestado pela testemunha SGTPM Mariele Rejane Teixeira, policial militar, f. 146).

... o depoente conhece o acusado Daniel h aproximadamente cinco anos; o convvio do depoente com o acusado Daniel teve incio quando foi por ele procurado em sua comunidade teraputica de auxlio a dependentes qumicos, ocasio em que pretendia Daniel a internao de seu sobrinho de nome Altino Jnior; o acusado Daniel, mesmo estando em servio, tinha o costume de comparecer comunidade teraputica e procurar pelo depoente, isso no intuito de acompanhar o tratamento de seu sobrinho Altino; o depoente trabalha, hoje, com trinta e seis dependentes, sendo, entretanto, alta a rotatividade durante o transcorrer de um ano; por no ter amigos em comum com o acusado Daniel, o depoente no ouviu comentrios acerca de seu comportamento ou eventual e suposto envolvimento com a venda de drogas; o depoente ficou mesmo muito surpreso e inclusive assustado com a notcia da priso do acusado Daniel, principalmente por conta de seu envolvimento com a comunidade teraputica, isso inclusive mediante visitas constantes e palestras; o acusado Daniel levou tambm para a recuperao na comunidade teraputica um outro sobrinho, de nome Marcos Vincius dos Santos Pimentel, bem como um cunhado de nome Jean Carlos Moreira; o acusado Daniel tambm tentou por diversas vezes que fossem acolhidas na comunidade teraputica pessoas do sexo feminino, o que foi recusado em virtude de ali o servio ser destinado to somente a recuperandos do sexo masculino; o acusado Daniel, em suas palestras na comunidade, pregava comportamento contrrio ao uso de drogas; pode informar o depoente que o acusado Daniel tentou internar a corr Ariadna em sua comunidade teraputica, ocasio em que pde perceber que Ariadna se encontrava depauperada, em situao diferente da que hoje pode visualizar nesta assentada (depoimento prestado pela testemunha Fernando Silva Martins, f. 153/154).

Dessa forma, valorando os dados acima, os quais so amplamente desfavorveis ao rgo Ministerial, bem como considerando a insegurana do conjunto probatrio produzido nos presentes autos, no h como afirmar, com a segurana que se faz necessria, que o acusado Daniel estivesse praticando a mercancia de drogas, razo pela qual a desclassificao do delito de trfico de drogas ilcitas para o de favorecimento real medida judicial que se impe, porquanto, neste tpico, o acusado confessou a autoria delitiva de livre e espontnea vontade, o que coaduna com as demais provas produzidas sob o crivo do contraditrio e da ampla defesa.

3. Do delito de porte ilegal de arma de fogo imputado ao acusado Daniel.

No tocante ao delito em anlise, tambm assiste razo ao Ministrio Pblico, porquanto o documento acostado f. 119 comprova que o acusado Daniel tinha autorizao para portar arma de fogo, motivo pelo qual configura-se atpica a conduta que lhe imputada, o que implica, necessariamente, na sua absolvio.

Diante do exposto, julgo parcialmente procedente a denncia oferecida nestes autos para condenar a acusada xxxxxxxxxxxxx nas sanes previstas no art. 33 da Lei 11.343/06, bem como para absolver o acusado Daniel Antnio Pereira das sanes previstas no art. 14 da Lei 10.826/03. Por outro lado, ainda em relao ao acusado Daniel, nos termos do art. 383 do Cdigo de Processo Penal, desclassifico o crime previsto no art. 33 da Lei 11.343/06 (trfico de drogas) para o de favorecimento real, previsto no art. 349 do Cdigo Penal. Assim, passo dosar as penas em relao a sentenciada Ariadna de Ftima Moreira, de acordo com as circunstncias judiciais do art. 59 do Cdigo Penal c/c art. 42, da Lei 11.343/06, e demais dispositivos legais, com os rigores da Lei 8.072/90.

A culpabilidade: como sabido, para efeito de dosimetria da pena, quando da anlise da culpabilidade deve o magistrado se limitar apenas em apurar o grau de reprovabilidade e a intensidade do dolo da conduta do agente. No caso dos autos, apesar da considervel quantidade e natureza da droga apreendida em poder da acusada, deixo de valor tal circunstncia como desfavorvel mesma, sob pena de bis in idem, vez que referida circunstncia ser valorada quando da anlise do privilgio.

A conduta social, os antecedentes, as circunstncias, as consequncias do crime, a personalidade, os motivos do crime e o comportamento da vtima, so favorveis sentenciada, porquanto nenhuma prova contrria restou produzida nestes autos. Desta forma, deixo de fundamentar, individualmente, tais circunstncias, vez que no influenciaro nesta etapa de fixao da pena.

Assim, considerando as circunstncias judiciais acima analisadas, fixo as penas-base em 5(cinco) anos de recluso e 500(quinhentos) dias-multa, por ser esta a punio necessria, suficiente e recomendvel para a reprovao da conduta criminosa que motivou o ajuizamento desta ao.

Apesar de a sentenciada ter confessado o delito, tal atenuante no pode incidir nesta etapa de dosimetria da pena, nos termos da Smula 231 do STJ. No existem circunstncias agravantes. mingua de causas especiais de aumento de pena, mas em razo da causa especial de diminuio, prevista no 4, art. 33, da Lei 11.343/06, diminuo em 1/3(um tero) as penas da sentenciada, tornando-as definitivas em 3(trs) anos e 4(quatro) meses de recluso e 333(trezentos e trinta e trs) dias-multa, sendo cada dia-multa razo de 1/30 do salrio mnimo vigente na data dos fatos, em considerao situao econmico-financeira ostentada pela sentenciada (art. 43 da Lei 11.343). A diminuio em apenas 1/3(um tero) se impe por conta da natureza e quantidade do entorpecente apreendido em poder da sentenciada. que, depois de refletir acerca do tema, este magistrado entende que a diminuio de um sexto at dois teros, conforme previsto em lei, deve ser feita levando-se em considerao, tambm, a natureza do entorpecente apreendido, porquanto, no se pode atribuir o mesmo tratamento, por exemplo, para o traficante de maconha e o traficante de crack.

A pena de multa dever ser corrigida monetariamente at o dia do pagamento, de acordo com os coeficientes de atualizao monetria referidos no pargrafo nico da Lei 6.205/75. Deixo de substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direito, em virtude do no preenchimento dos requisitos do art. 44, incisos e pargrafos do Cdigo Penal, especialmente por no ser medida socialmente recomendvel acusada. Por conta do no atendimento aos requisitos do art. 77, do Cdigo Penal, deixo de suspender a execuo da pena ora imposta.

Por conta da quantidade e natureza das drogas apreendidas em poder da sentenciada, bem como por tratar-se de crime hediondo, fixo o regime de cumprimento da sua pena, inicialmente, no fechado, nos termos do art. 2, 1, da Lei 8.072/90.

Por ser primria; ter aguardado a instruo do processo em liberdade; e ter confessado a prtica dos fatos que lhe so imputados nestes autos, a sentenciada poder recorrer em liberdade, se presa no estiver em virtude de outra condenao, conforme j decidiu o Superior Tribunal de Justia ao apreciar o RHC 3.848, 6 Turma, Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU 12.12.94, p. 34377 .

Em razo da no comprovao da origem do dinheiro e dos bens apreendidos nestes autos, decreto a perda dos mesmos, mas faculto sentenciada que, no prazo de 5 (cinco) dias, querendo, apresente ou requeira produo de provas acerca da origem lcita dos mesmos, nos termos do 1 do art. 60 da Lei 11.343/06.

Em relao ao sentenciado Daniel, considerando que o crime de favorecimento real de menor potencial ofensivo, aps o trnsito em julgado, intime-se o Ministrio Pblico para os fins previstos no art. 76 da Lei 9.099/95 c/c 1 do art. 48 da Lei 11.343/06. Expea-se, em carter de urgncia, alvar de soltura em relao ao sentenciado Daniel.

Transitada em julgado, lance-se o nome da sentenciada no rol dos culpados; e expeam-se Guia de Execuo e Ofcios ao Instituto de Identificao sobre o resultado desta deciso, bem como ao Tribunal Regional Eleitoral, para os fins do art. 15, III, da Constituio Federal, devendo a secretaria deste Juzo cumprir rigorosamente o disposto na Resoluo n 21.538/2003, do Tribunal Superior Eleitoral. Custas ex lege. Publique-se. Registre-se e intimem-se.Sete Lagoas, 6 de junho de 2011.

Antonio Carneiro da Silva Juiz de Direito