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OS SEPULTAMENTOS, CONTEXTOS ARQUEOLóGICOS E DADOS BIOESQUELETAIS. Lilia Cheuiche Machado* Introdução O Projeto Saquarema (Kneip-coord.), nos seus desdobramentos, caracterizou-se pela efetiva colaboração entre a arqueologia e a antropologia biológica. Desde as etapas de planejamento, pesquisas de campo até a análise e interpretação dos remanescentes ósseos humanos, procurou-se coordenar objetivos comuns de pesquisas, estratégias, métodos e técnicas, numa integração dinâmica. A pesquisa interdisciplinar em arqueologia funerária e osteologia e dentição humana (Machado-coord.), desenvolveu-se objetivando uma abordagem biocultural dentro dos princípios da bio-arqueologia. Em sucessivos trabalhos, Machado (1984, 1990, 1992, 1995, 1996; Machado, Sene & Silva, 1991 ,1993), Kneip & Machado (1992, 1993), Kneip, Machado & Crancio (1995), têm desenvolvido estudos sobre os ritos funerários e populações pré-históricas de caçadores-coletores e de horticultores do litoral e do interior do Brasil. Através da análise dos sepultamentos e dos esqueletos humanos em contextos culturalmente definidos, é possível tentar inferências sobre a estrutura social e a organização das sociedades pré-históricas (Machado, 1995). Tais deduções são permitidas se forem consideradas "como amostragens representativas dos grupos sociais" (Munizaga, 1992). Limitações e problemas teórico-metodológicos são compartilhados por arqueólogos e antropólogos físicos. Entre estes estão as condições inerentes à pesquisa arqueológica e aos problemas ante otJ peri-mortem, culturais e pós- deposicionais, que podem afetar a representatividade das amostras funerárias em relação às populações pré-históricas, grupos ou sub-grupos. A arqueologia recupera restos materiais de um complexo sistema cultural composto de sub-sistemas tecnológicos, ecológicos e ideológicos. O apoio etnológico e etnográfico é de singular importância para o conhecimento das sociedades antigas desaparecidas. E preciso cuidado para não extrapolar dados de um campo para o outro, levando-se em conta as grandes distâncias cronológicas e cultuais que os separam (Freyre, 1991). Tem-se formado um corpo de teorias visando a reconstrução de sistemas sociais com base no estudo de práticas funerárias que se baseia tanto no registro arqueológico como no etnográfico (Mires,l991). *Arqueóloga. Instituto de Arqueologia Brasileira - Rio de Janeiro. 1t

SEPULTAMENTOS, ARQUEOLóGICOS BIOESQUELETAIS. · dentição humana (Machado-coord.), desenvolveu-se objetivando uma abordagem biocultural dentro dos princípios da bio-arqueologia

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OS SEPULTAMENTOS, CONTEXTOS ARQUEOLóGICOS E DADOSBIOESQUELETAIS.

Lilia Cheuiche Machado*

Introdução

O Projeto Saquarema (Kneip-coord.), nos seus desdobramentos,caracterizou-se pela efetiva colaboração entre a arqueologia e a antropologiabiológica. Desde as etapas de planejamento, pesquisas de campo até a análise einterpretação dos remanescentes ósseos humanos, procurou-se coordenar objetivoscomuns de pesquisas, estratégias, métodos e técnicas, numa integração dinâmica.

A pesquisa interdisciplinar em arqueologia funerária e osteologia e

dentição humana (Machado-coord.), desenvolveu-se objetivando uma abordagembiocultural dentro dos princípios da bio-arqueologia. Em sucessivos trabalhos,Machado (1984, 1990, 1992, 1995, 1996; Machado, Sene & Silva, 1991 ,1993),Kneip & Machado (1992, 1993), Kneip, Machado & Crancio (1995), têmdesenvolvido estudos sobre os ritos funerários e populações pré-históricas decaçadores-coletores e de horticultores do litoral e do interior do Brasil. Através daanálise dos sepultamentos e dos esqueletos humanos em contextos culturalmentedefinidos, é possível tentar inferências sobre a estrutura social e a organização dassociedades pré-históricas (Machado, 1995). Tais deduções são permitidas se foremconsideradas "como amostragens representativas dos grupos sociais" (Munizaga,1992).

Limitações e problemas teórico-metodológicos são compartilhados porarqueólogos e antropólogos físicos. Entre estes estão as condições inerentes àpesquisa arqueológica e aos problemas ante otJ peri-mortem, culturais e pós-deposicionais, que podem afetar a representatividade das amostras funerárias emrelação às populações pré-históricas, grupos ou sub-grupos.

A arqueologia recupera restos materiais de um complexo sistema culturalcomposto de sub-sistemas tecnológicos, ecológicos e ideológicos. O apoioetnológico e etnográfico é de singular importância para o conhecimento dassociedades antigas desaparecidas. E preciso cuidado para não extrapolar dados deum campo para o outro, levando-se em conta as grandes distâncias cronológicas ecultuais que os separam (Freyre, 1991).

Tem-se formado um corpo de teorias visando a reconstrução de sistemassociais com base no estudo de práticas funerárias que se baseia tanto no registroarqueológico como no etnográfico (Mires,l991).

*Arqueóloga. Instituto de Arqueologia Brasileira - Rio de Janeiro.

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Binford (19120, por exemplo, observando o comportamento de um gruposocial quanto à morte de um dos seus membros, e os diferentes tipos desepultamentos, destaca a correlação que existe entre a complexidade da estruturasocial e a complexidade do tratamento mortuário. A sociedade seria igualitária ouestratificada (O'Shea, 1984). Já Taimter (1978), prioriza o desgaste de energiaempregado no ritual, refletido nas formas de sepultamentos e sugere os tiposparticulares de variáveis a serem utilizados em cada pesquisa.

Pearson (1083), em seus estudos de etno-arqueologia, Hodder (1982, 1986)e outros pós-processualistas, propõem que o ritual funerârio é suscetível à

manipulação ideológica. Numa sociedade hierarquizada, as condições de statusindividual podem ser alteradas pelos condutores dos ritos funerários. Os mortosseriam manipulados pelos vivos dentro do contexto das relações de competiçãosocial.

Concordamos com Mires (1991) quando afirma que, para entender oaspecto ideológico além das manifestações materiais das cerimônias deenterramentos é preciso entender primeiro o grupo responsável por elas. Isto inclui,quando possível, tamanho do grupo, regime de subsistência, relações sociais intra e

inter-grupos, sedentarismo e mobilidade.

Materiais e métodos

Durante as escavações do sambaqui de Manitiba I, a identificação das

estruturas funerárias seguiu os mesmos métodos e técnicas que foram utilizadosnos demais sambaquis do recôncavo da lagoa de Saquarema. (Kneip, et alii,l99l).As técnicas aplicadas no estudo dos sepultamentos e de seus contextos culturais nosítio foram descritas por Machado (198a).

Para classificar e sistematizar as formas de sepultamentos visando o maiornúmero possível de inferências, consideramos as seguintes variáveis, de acordocom as características inerentes ao sítio arqueológico: a) tipo de sepultamento etratamento dado aos corpo, b) características das diferentes condições em que foidepositado o corpo; c) características dos diferentes elementos colocados com ocorpo no sepultamento (associaçáo, número e tipo de acompanhamento funerário);da localização espacial e estratigráfica dos sepultamentos e em relação as demaisestruturas evidenciadas no sítio; e) orientação magnética, f) forma, dimensão e

características das covas (Machado, 1995). Estas variáveis são correlacionadas aos

dados bio-esqueletais avaliados, como idade, sexo, número total de indivíduos,condições patológicas.

No sambaqui de Manitiba I foram localizados dois sepultamentos em áreas

distintas do sítio. O número 1, na camada VII, datada em torno de 4210 anos A.P. eo número 2, na camada VI, datada ao redor de 4130 anos A.P. Relacionam-se,portanto, aos períodos mais antigos do Manitiba I (ver Tabela I - O ProjetoSaquarema e as Pesquisas Realizadas).

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Os procedimentos de limpeza, restauração, inventário e análise dos

remanescentes ósseos humanos basearam-se em metodologias sugeridas porUbelaker (1978), Buikstra et alii,(1994).As estimativas de idade e sexo seguiramcritérios padrões ósseos e dentários, de acordo com a maturidade do esqueleto e

suas condições de preservação. O estudo dentário baseou-se em Turner et alii,(1991), Scott (1979) e Smith (1984).

O sambaqui de Manitiba I caracterizou-se pela má condição de preservaçãodos esqueletos humanos, incompletos e/ou fragmentados, com densidade eimpregnações variadas. Os ossos humanos analisados mostraram evidências de

alterações físico-químicas pós-depcsicionais, atribuídas aos processos tafonômicosdo ambiente de deposição. Mudanças diagenéticas e antrópicas foram tambémcomuns nos remanescentes ósseos humanos dos sambaquis da Beirada, Moa,Pontinha e Saquarema.

Os sepultamentos, contextos arqueológicos e dados bioesqueletais

No sambaqui de Manitiba I as formas de sepultamento e de deposição são

quase similares. Ambos os sepultamentos, I e 2, são primários, estendidos emdecúbito ventral. Diferenças ocorrem na posição dos membros superiores e naorientação do corpo no evento funerário.

Sepultamento 1

Os ossos dos braços estavam distendidos sob os ossos coxais, orientaçãoleste-oeste (crânio para leste) e face voltada para o sul (oceano). Comoacompanhamento corante vermelho em forma de sedimentos. O esqueletoencontrava-se em péssimo estado de conservação, sendo que, dos membrosinferiores, apenas parte do fêmur esquerdo foi encontrados. Os critérios padrões

ósseos e dentários sugerem o sexo masculino e idade madura (40-45 anos), taiscomo: características do crânio e do pélvis, tamanho e morfologia da mandíbula,complementadas pela robustez do fêmur e das ulnas. Acrescentem-se os graus

severos de abrasão e perda de dentes in vivo e os acentuados processos

degenerativos evidenciados.Com base no comprimento máximo das ulnas ( 265 mm), método Genovés

( 1966) atualizado, a estatura foi avaliada em 1,64 m, classificada como média.Com relação às mudanças degenerativas, observou-se estágio inicial na

articulação têmporo-mandibular (ATM), no condido direito da mandíbula, passívelde observação.

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Embora em estado fragmentário, foi possível observar osteofitose vertebralno axis, nos processos articulares das cinco vértebras lombares e no corpo de umavértebra torácica que apresenta grau mais avançado de alteração.

Foram identificadas mudanças degenerativas nas articulações do esqueletoapendicular, sendo mais afetadas as do cotovelo - distal do úmero e proximal daulna, lado direito - com crescimento e hipertrofia óssea marginal e do pulso -distal da ulna esquerda - que apresenta desgaste e exostose marginal em mais de75Vo da face articular.

Considerando-se que a osteoartrite é uma condição patológicamultifatorial, no caso do sepultamento 1 estaria associada além de outros fatores, à

idade madura do indivíduo e às atividades bio-mecânicas que exigissem o usoconstante do cotovelo, sugerindo um movimento repetitivo relacionadoprovavelmente ao ato de impulsionar algum instrumento.

Sepultamento 2

O esqueleto encontrava-se também em decúbito ventral, com os ossos dosbraços estendidos e os da mãos sobre os coxais. A orientação é sul-norte, com ocrânio para o sul (oceano) e face para oeste, os fêmures estendidos e os ossos daperna direita cruzados sobre a esquerda.

Das estruturas de fogueiras associadas registrou-se a do "tipo l" sob os

ossos dos pés e "tipo 2" sobre a região do tórax (ver Estruturas e AnáliseEspacial). A fogueira "tipo 1" não afetou os ossos e foi anterior ao eventofunerário. A fogueira "tipo 2", localizada na região do tórax, contemporânea aoenterramento, fez parte do evento funerário. Como acompanhamento funerárioregistrou-se também a presença de corante vermelho na forma de concreções entreos fêmures (dois fragmentos) e junto ao crânio (dois fragmentos).

O sexo feminino foi sugerido pelas características gerais do crânio, damandíbula e do esqueleto pós-craniano, que são gráceis, e pela morfologia dosossos pélvicos, do arco ventral, da concavidade sub-pubiana e abertura larga dosciáticos.

A idade estimada entre 20-22 anos baseou-se nas modificações das facessinfisiarias do púbis, nos estágios de união das epífises ósseas, como distais dosrádios, dos fêmures e das cristas ilíacas e em aspectos da dentição, como erupçãorecente dos terceiros molares e graus de abrasão.

Estudo dentário

Quanto ao sepultamento I (masculino, adulto maduro, 40-45 anos),observa-se perda ante-mortem do incisivo central superior esquerdo e do incisivo

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lateral inferior esquerdo; possível fratura do primeiro molar superior esquerdo,seguida de desgaste acentuado no sentido vestibular-lingual.

A doença periodontal é média, generalizada, em ambas as arcadas;ausência de cáries e de abcessos alveolares. O cálculo dentário é comum nos dentesda maxila e da mandíbula sendo que o primeiro molar superior esquerdo tem a facevestibular quase recoberta por um depósito volumoso.

A abrasão dentária manifesta-se em ambas as arcadas, verificando-sediferenças bilaterais nos seus graus de ocorrência apenas na maxila. Nesta, oincisivo lateral direito foi o menos afetado, com exposição moderada da dentina.Nos pré-molares e molares, notadamente o primeiro e o terceiro (graus 7, 8, 9 -Scott ,1979; Smith,1984), nota-se completa perda da coroa e raiz quase funcional.Na mandíbula, os incisivos, caninos, pré-molares e primeiro-molar foramseveramente atingidos pela abrasão dentária (graus 8, 9, 10), com o esmaltecompletamente desgastado, redução quase total da altura das coroas cujassuperfícies oclusais têm a forma das raízes. No segundo molar esquerdo e terceiromolar direito observados, ocorrem grandes áreas de dentina exposta, em menorproporção proximalmente.

O ângulo de desgaste é predominantemente vestibular-lingual nos dentessuperiores, observando-se na mandíbula maior incidência do desgaste plano nosdentes anteriores e do oblíquo, no sentido vestibular nos dentes posteriores comexceção do terceiro molar direito.

Quanto ao sepultamento 2 (feminino, 20-22 anos), todos os dentes foramanalisados com exceção do terceiro molar inferior esquerdo devido a fragmentaçãodo osso alveolar. Alguns dentes encontravam-se soltos devido a posição do crânioe com alterações pós-deposicionais.

Observou-se apinhamento, que ocasionou torção lateral do canino direitona maxila, bem como o canino sobreposto ao incisivo lateral direito na mandíbula.Foi identificada uma cárie, pequena, na face vestibular, no segundo molar inferiordireito, ausência de abcessos e doença periodontal, e depósitos pequenos de cálculoem ambas as faces nos molares inferiores.

Todos os dentes, de ambas as arcadas, foram afetados pela abrasãodentária, desde graus iniciais de abrasão plana, como no terceiro molar inferiordireito, nos pré-molares e segundo-molares, seguindo abrasões mais marcadas coma eliminação das cúspides e exposição apenas moderada da dentina nos dentesanteriores, com um caso de grande área oclusal de exposição de dentina noprimeiro molar superior direito.

Discussão e conclusões

Como correlacionar as formas de sepultamentos evidenciados no sambaquide Manitiba I, os seus contextos sócio-espaciais e os dados bioesqueletais obtidos

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com os sistemas adaptativos das populações pré-históricas dos sambaquis deSaquarema ?

Como acentua Kneip (ver Estruturas e Análise Espacial), emrelação ao número de estruturas funerárias, de indivíduos e área escavada,para l4O m2 de área escavada no Manitiba I duas estruturas funerárias eapenas dois indivíduos; 160 m2 no Beirada com 32 estruturas funeráriascorrespondendo a 35 indivíduos; 87 m2 no Pontinha com 19 estruturasfunerárias e 33 indivíduos; 49 m2 no Moa e 25 estruturas funerárias para 33indivíduos, sendo que neste último pesquisas recentes de salvamentorealizadas por Carvalho et alii (1999) evidenciam numa área de 120 m2cerca de 26 estruturas funerárias, podendo haver um número maior deindivíduos.

Como ficamos restritos ao tamanho da amostra, constituída de doissepultamentos individuais, não foi possível analisar as variáveis quepossibilitam inferências sobre o sucesso adaptativo do grupo. Os sistemasadaptativos humanos, sendo muito diferenciados, ocasionam modificaçõesósseas e dentárias que refletem aspectos bioculturais e ambientais. Paraentendê-los é importante acrescentar, quando possível, os dadosarqueológicos, geológicos e etnográficos.

Objetivando o estudo da forma de adaptação de culturas pescadoras-coletoras-caçadoras pré-históricas do litoral do Estado do Rio de Janeiro, aspesquisas nos sambaquis da Beirada, Moa, Pontinha e Saquarema, demonstraram avariabilidade e a complexidade dos seus ritos funerários. Embora tais populaçõespré-históricas litorâneas apresentem pontos de contato em muitos aspectos, as

práticas funerárias mostram diferenças inter e intra-sítios. Os ritos inferidosindicam maior similaridade entre as diversas ocupações do Beirada, Moa eManitiba I, com diferenças expressivas em relação ao Pontinha e Saquarema. Aocorrência de cremações funerárias foi documentada pela primeira vez em quasetoda a seqüência de um sítio litorâneo (Kneip & Machado , l99l). No sambaqui deSaquarema enterramento secundário com ossos longos secionados e polidos nasextremidades (Kneip et alii, 1995), revelaram ritos funerários ainda nãodocumentados em sítios litorâneos

Importante foi a comprovação, através das estruturas funerárias, da grandemobilidade do homem no espaço habitacional, com áreas dos sítios abandonadas ereativadas no decorrer do tempo, corroborando dados que informam para taissociedades a não existência de locais específicos para o evento funerário (Kneip eralii,l99l).

As observações sobre as práticas funerárias indicam maior similaridadeentre as ocupações do Beirada, Moa e Manitiba I, revelando certa uniformidade emalguns aspectos: ausência de locais específicos para o sepultamento, tipo desepultamento e pequena variabilidade em outros como, deposição e orientação doco{po, direção da face e acompanhamento funerário, relacionados ao sexo, idade ouvalor pessoal (status) na sociedade.

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Em relação mais específica ao sambaqui de Manitiba I, as

observações dentárias, principalmente no que se refere aos graus intensos eprecoces de abrasão, coadunam-se com outros indicadoresbioarqueológicos decorrentes dos ajustes das populações dos sambaquis deSaquarema, principalmente o Beirada. Já que as abrasões dentárias sãodecorrentes de fatores dietários e mastigatórios, acrescidos de outros, comoo uso dos dentes como instrumentos, é conveniente destacar que tanto nosambaqui da Beirada quanto no Manitiba I, a pesca e a coleta de moluscosapresentaram igual importância, observando-se contudo, maiorintensificação na coleta de moluscos. Os dados bio-esqueletais obtidos,principalmente no que se refere à abrasão dentária severa e precoce, e

ângulos de desgaste específicos, sugerem uma aproximação das ocupaçõesdo Beirada e Manitiba I, contemporâneas e compartilhando o mesmoterritório. Muitas vezes certas informações e aspectos simbólicos do ritofunerário são limitados pela natureza da descoberta arqueológrca. Apesardisto, neste trabalho, foram acrescidos novos elementos comparativos,importantes para o estudo do comportamento socio-cultural dos gruposlitorâneos.

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