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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Química Curso de Licenciatura em Química Sequências Didáticas Interdisciplinares: Geometria & Química Haroldo Candal da Silva Rio de Janeiro 2014

Sequências Didáticas Interdisciplinares: Geometria & Química · Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Química Curso de Licenciatura em Química Sequências Didáticas

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  • Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Instituto de Qumica

    Curso de Licenciatura em Qumica

    Sequncias Didticas Interdisciplinares: Geometria & Qumica

    Haroldo Candal da Silva

    Rio de Janeiro

    2014

  • Haroldo Candal da Silva

    Sequncias Didticas Interdisciplinares: Geometria & Qumica

    Monografia submetida ao corpo docente do

    Instituto de Qumica da Universidade do Estado do Rio

    de Janeiro como requisito final para obteno do diploma

    de Licenciatura em Qumica.

    Orientadora: Professora Dr. Maria de Ftima Teixeira Gomes

    Rio de Janeiro

    2014

  • Haroldo Candal da Silva

    Aprovado em ________________________________________________

    Banca Examinadora: _________________________________________

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Maria de Ftima Teixeira Gomes (Orientadora)

    Departamento de Qumica Geral e Inorgnica - Instituto de Qumica - UERJ

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Angela Sanches Rocha

    Departamento de Fsico-Qumica - Instituto de Qumica - UERJ

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Maurcio Tavares de Macedo Cruz

    Departamento de Qumica Geral e Inorgnica - Instituto de Qumica - UERJ

    Rio de Janeiro

    2014

  • DEDICATRIA

    Dedico este trabalho a Deus, que supriu minhas necessidades e

    renovou minhas foras durante a Graduao e em todos os

    momentos de minha vida, atravs de meus pais, amigos,

    professores, muitos dos quais so como familiares para mim.

  • AGRADECIMENTOS

    minha famlia, em especial, pai e me, que sempre se

    dedicaram para me dar o melhor e so exemplos de amor.

    Aos professores Ilton Jornada, Ftima Gomes e Angela Sanches

    por mostrarem imensa preocupao com minha formao

    acadmica e por estarem sempre presentes.

    Aos professores que lecionam no curso de Licenciatura em

    Qumica da UERJ.

    Direo e aos professores do Colgio Estadual Professor

    Ernesto Faria, em especial professora Denise Gutman, por

    quem tenho grande carinho e admirao.

    Aos alunos do Colgio Estadual Professor Ernesto Faria, em

    especial aos que frequentaram a turma 3001, que se formou em

    2013, os quais tive o privilgio de acompanhar desde o incio do

    Ensino Mdio e de vivenciar com eles as minhas primeiras

    experincias na carreira docente.

    Aos meus colegas de Curso, em especial, Marcos Leal e Dayane

    Sales, que estiveram comigo em momentos difceis ao longo da

    Graduao.

  • O valor da educao:

    Apega-te instruo e no a largues; guarda-a, porque ela a tua vida.

    Provrbios 4:3

  • RESUMO

    CANDAL, Haroldo da Silva. Sequncias Didticas Interdisciplinares: Geometria &

    Qumica. Monografia (Graduao em Licenciatura em Qumica) Instituto de Qumica

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

    O objetivo desta Monografia relatar estratgias e sequncias didticas, que foram

    desenvolvidas por um estudante da UERJ, que participa como bolsista do Programa

    Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia (PIBID/Capes), do Subprojeto-Qumica, com

    alunos do Ensino Mdio, do Colgio Estadual Professor Ernesto Faria, localizado no Rio de

    Janeiro, no ano Internacional da Matemtica, visando relacionar Geometria e Qumica. As

    sequncias didticas foram desenvolvidas para projetos escolares que visaram deixar claro

    para os estudantes, o papel instrumental da Matemtica na proposio de modelos

    explicativos para as estruturas dos materiais. Os projetos escolares foram desenvolvidos por

    dois grupos, um do segundo ano e outro do terceiro, os quais trabalharam, respectivamente, os

    temas: Geometria dos slidos cristalinos e Aplicando conceitos da Geometria na

    determinao de raios atmicos de alguns metais. No incio das atividades foram aplicados

    questionrios que foram utilizados para levantar os conhecimentos prvios e para orientar a

    busca de informaes. Os alunos que trabalharam com o primeiro tema, a partir das

    informaes colhidas em consultas a livros e a internet, elaboraram cartazes e montaram

    modelos representativos das redes cristalinas utilizando massa de modelar e palitos de fsforo.

    A sequncia didtica relacionada ao segundo tema envolveu, alm de respostas ao

    questionrio, a determinao das massas e das dimenses de amostras cilndricas de alumnio,

    zinco e cobre; a realizao de clculos qumicos e a aplicao de conceitos da Geometria para

    determinao dos volumes atmicos e dos correspondentes raios atmicos dos trs metais.

    Consideramos que as sequncias didticas promoveram a interdisciplinaridade entre a

    Geometria e a Qumica e, tambm, favoreceram a contextualizao de conceitos das duas

    disciplinas. A aplicao dos projetos escolares contribuiu de forma significativa para o

    aprendizado de conceitos, promoveu o desenvolvimento de vrias habilidades e os trabalhos

    em equipe.

    Palavras-chave:

    Sequncias didticas, interdisciplinaridade, Geometria e Qumica, estruturas cristalinas; raios

    atmicos.

  • ABSTRACT

    Candal, Haroldo da Silva. Interdisciplinary Didactic sequences: Geometry & Chemistry.

    Monograph (Undergraduate Degree in Chemistry) - Institute of Chemistry Universidade do

    Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

    The purpose of this monograph is to report strategies and didactic sequences that were

    developed by a student from the UERJ who participate in the Institutional Scholarship

    Program for Teacher Initiation (PIBID/Capes), Chemistry-Subproject, involving high school

    students of Colgio Estadual Professor Ernesto Faria, located in Rio de Janeiro, Brazil. This

    project was done during the International Year of Mathematics, and it aims to relate Geometry

    and Chemistry. The didactic sequences were developed for school projects that aim to show

    the instrumental role of mathematics in making models for material structures. The school

    projects were developed by two groups, one group of second-year high school students, and

    another group of third-year high school students. The groups worked, respectively, on the

    following themes: "crystalline solids of Geometry" and "Applying concepts of geometry in

    determining atomic radii of metals". Questionnaires were used to get prior knowledge and to

    guide the search for information. Students who worked with the first theme developed posters

    and set up representative models of crystal lattices using modeling clay and matchsticks. The

    didactic sequence of the second theme included answering a questionnaire and conducting

    chemical calculations. It also included determining the geometry of the atomic volumes, and

    calculating the masses and dimensions of cylindrical samples of aluminum, zinc, and copper.

    We believe that these didactic sequences promoted interdisciplinary learning of Geometry and

    Chemistry and also favored the concepts of both disciplines. The implementation of the

    school projects contributed to the teaching of several concepts, and it also promoted

    teamwork and the development of several skills.

    Keywords: Didactic sequences, Interdisciplinary, Geometry and Chemistry, Crystal

    structures, and Atomic radii.

  • LISTAGEM DE FIGURAS

    Figura 1 Estruturas do quartzo (slido cristalino) e do vidro (slido amorfo)......................15

    Figura 2 Estrutura do gelo .....................................................................................................16

    Figura 3 Estruturas dos altropos do carbono........................................................................17

    Figura 4 - Representao expandida de uma estrutura hexagonal compacta ...........................17

    Figura 5 Representao das estruturas hexagonal e cbicas compactas................................18

    Figura 6 Representao de uma rede cristalina formada pela repetio de clulas

    triclnicas...................................................................................................................................19

    Figura 7 - Representao das clulas unitrias dos sete sistemas cristalinos............................20

    Figura 8 Representao das clulas unitrias: c.s., c.c.c., c.f.c..............................................20

    Figura 9 - Representao dos quatorze retculos de Bravais....................................................21

    Figura 10 - Representao da clula unitria do cloreto de sdio ...........................................22

    Figura 11 - Relao entre os raios dos ons Na+ e do Cl

    - e as dimenses da clula unitria do

    NaCl..........................................................................................................................................22

    Figura 12 - Fraes de Na+ e do Cl

    - em uma clula unitria cbica de faces centradas do

    NaCl..........................................................................................................................................22

    Figura 13 - Relao entre o comprimento da aresta (a) e o raio (R) do tomo.........................26

    Figura 14 - Representao de um tomo inscrito na clula unitria cbica simples de aresta

    a.................................................................................................................................................27

    Figura 15 - Estrutura cristalina do diamante.............................................................................29

    Figura 16 - Estrutura cristalina do grafite.................................................................................30

    Figura 17 - Rede cristalina do quartzo......................................................................................31

    Figura 18 - Rede cristalina do cloreto de sdio .......................................................................31

    Figura 19 - Arranjo geomtrico do cristal sulfato de cobre - triclnico ...................................32

    Figura 20 - Molcula de enxofre, S8........................................................................................32

    Figura 21 - Rede cristalina do quartzo construda com massa de modelar e palitos ...............33

    Figura 22 - Clula unitria do NaCl construda com massa de modelar e palitos....................33

    Figura 23 - Representao da molcula de S8 e do sistema hexagonal com massa de modelar e

    palitos ......................................................................................................................................34

    Figura 24 - Cartazes apresentados pelos alunos sobre slidos amorfos e cristalinos...............34

  • LISTAGEM DE TABELAS

    Tabela 1 - Os sete sistemas cristalinos ....................................................................................19

    Tabela 2 - Dados relativos s amostras de alumnio, zinco e cobre.........................................36

    Tabela 3 - Raios atmicos do alumnio, zinco e cobre calculados admitindo-se a hiptese I 37

    Tabela 4 - Raios atmicos do alumnio, zinco e cobre calculados admitindo-se a hiptese II.38

  • SUMRIO

    INTRODUO........................................................................................................................12

    1. A ESTRUTURA DOS SLIDOS CRISTALINOS............................................................ 16

    1.1. Os slidos moleculares ..................................................................................................... 15

    1.2. Os slidos reticulares ....................................................................................................... 16

    1.3. Os slidos metlicos ......................................................................................................... 17

    1.4. Clulas Unitrias .............................................................................................................. 18

    1.5. Estruturas Inicas ............................................................................................................. 21

    2. METODOLOGIA ............................................................................................................... 23

    3. ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS.............................................................. 28

    3.1. A Geometria dos Slidos Cristalinos................................................................................ 28

    3.2. Aplicando conceitos da Geometria na determinao de raios atmicos de alguns

    metais .......................................................................................................................................28

    4. CONCLUSO .................................................................................................................... 39

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................... 40

    ANEXO ................................................................................................................................... 42

  • 12

    INTRODUO

    As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (BRASIL, MEC,

    2013) preconizam que o currculo deve contemplar quatro reas de conhecimento, a saber:

    Linguagens, Matemtica, Cincias da Natureza (Biologia, Fsica e Qumica) e Cincias

    Humanas. H uma recomendao explcita para que esta organizao por reas no dilua nem

    exclua componentes curriculares com especificidades e saberes prprios construdos e

    sistematizados (p. 196), mas pelo contrrio, que as relaes entre eles sejam fortalecidas

    mediante o uso de metodologias de ensino que privilegiam a contextualizao e a

    interdisciplinaridade ou outras formas de interao e articulao.

    O papel instrumental da Matemtica, isto , seu uso como uma ferramenta aparece

    muito claramente nas tarefas cotidianas, assim como na resoluo de problemas especficos de

    diferentes reas do conhecimento e em, praticamente, todas as atividades humanas. O

    aprendizado em Matemtica no Ensino Mdio tambm desempenha um papel formativo, ao

    contribuir para o desenvolvimento de processos de pensamento e a aquisio de atitudes

    (BRASIL, MEC, 2000, p. 40).

    Como destacam os Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio (PCNEM)

    A Matemtica possui uma linguagem formalizada que utiliza um sistema prprio de cdigos e

    regras que permite comunicar ideias, modelar a realidade e interpret-la. O aprendizado da

    Matemtica requer a apropriao pelo indivduo dessa linguagem simblica, que foi

    socialmente construda ao longo da histria da humanidade, e esse processo normalmente

    lento e trabalhoso. O anexo apresenta alguns smbolos universais da Matemtica.

    A Qumica como a Matemtica, se caracteriza por utilizar uma linguagem prpria e

    sua assimilao indispensvel para a compreenso dessa cincia. Desse modo, entre as

    competncias e habilidades primeiras a serem desenvolvidas no Ensino Mdio esto traduzir

    a linguagem discursiva em linguagem simblica da Qumica e vice-versa e traduzir a

    linguagem discursiva em outras linguagens usadas em Qumica: grficos, tabelas e relaes

    matemticas (BRASIL, MEC, 2000, p. 39). Neste sentido, fica evidente a necessidade de

    integrar os contedos dessas duas reas numa perspectiva interdisciplinar.

    A existncia de uma relao estreita entre as reas de Matemtica e Qumica est clara

    nos procedimentos que devem ser desenvolvidos no aprendiz, no que diz respeito aos

    domnios da investigao e compreenso, detalhados nas Orientaes Educacionais

    Complementares aos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN+), dos quais destacamos:

    identificar as informaes ou variveis relevantes em uma situao-problema e elaborar

  • 13

    possveis estratgias para equacion-la ou resolv-la; identificar regularidades e

    invariantes nas interaes e transformaes qumicas; selecionar e utilizar instrumentos de

    clculo e instrumentos para medidas de massa, temperatura, volume, densidade e

    concentrao; compreender e fazer uso apropriado de escalas (de instrumentos como

    termmetros, balanas e indicadores de pH); fazer estimativas, elaborar hipteses e

    interpretar resultados partindo de relaes entre massas, energia ou intervalos de tempo em

    transformaes qumicas, etc. (BRASIL, MEC, 2002, p. 90 e 91). Essas relaes evidenciam

    no s o papel instrumental da Matemtica no ensino-aprendizagem de Qumica, mas tambm

    o seu papel formativo ao ajudar a estruturar o pensamento e o raciocnio dedutivo

    (BRASIL, MEC, 2000, p. 40).

    A Qumica utiliza diretamente recursos matemticos, tais como frmulas, conceitos e

    teoremas para explicar suas leis, desde as propores entre os tomos em um composto inico

    at as complexas equaes diferenciais de Schrdinger que descrevem as funes de onda, ou

    desde a relao entre espao e tempo (que define velocidade mdia) at as belssimas

    equaes da mecnica quntica, ela est sempre ali, como ferramenta ou fundamento.

    Atualmente, no Ensino Fundamental II (correspondente aos 6, 7, 8 e 9 anos), a

    Matemtica tratada nas equaes simples (primeiro grau, segundo grau e polinmios) e

    alguns conceitos fundamentais da Geometria Plana, tais como ponto, reta, planos, polgonos,

    crculos, clculos de comprimento, rea e volume. Esses conceitos so cruciais para o

    entendimento da Fsica e da Qumica, pois elas se utilizam deles para explicar seus

    fenmenos. De forma mais especfica, em Qumica, noes de geometria molecular permitem

    prever a solubilidade de uma substncia e interpretar suas temperaturas de fuso e ebulio.

    Contudo, o Ensino de Geometria tem passado por mudanas constantes ao longo dos

    ltimos anos. Ferreira (2005) aponta para o fato de que, na dcada de 70 surgira uma

    valorizao dos axiomas e definies rigorosas dos conceitos matemticos e uma dedicao

    excessiva de tempo para o ensino da teoria e linguagem dos conjuntos, bem como outros

    tpicos da Matemtica. Assim, afirma a autora, possvel que esse rigor e nfase nos

    postulados e axiomas tenha produzido um efeito prolongado, afastando os professores de

    ensinar geometria (p.8).

    Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio, um dos critrios

    mais importantes que devem estar presentes em uma metodologia de ensino que vise

    aprendizagem significativa o da interdisciplinaridade. Assuntos de Qumica, como Clculos

    Estequiomtricos, que tratam das propores entre as quantidades de substncias que

    participam de reaes qumicas, so transmitidos aos alunos de forma mecnica, pois o

  • 14

    conceito de proporo se perde (muitas vezes) ainda no ensino fundamental. Dessa forma, a

    tarefa de aprender as transformaes das unidades de quantidade de matria se torna muito

    mais difcil uma vez que, com deficincias nas operaes com razes e propores, os

    clculos so reduzidos s regras de trs realizadas de forma memorizada e mecnica. Dressler

    e Robaina (2012), ao proporem uma nova abordagem do ensino de Estequiometria, mostram a

    carncia do desenvolvimento de uma capacidade de interpretar problemas de Qumica com

    raciocnio lgico e matemtico simples, sem a aplicao de regras memorizadas e

    mecanizaes desnecessrias:

    Infelizmente, por ser um assunto complexo e com grau de dificuldade maior,

    professores tendem a reduzi-lo a expresses matemticas e regras de trs. Ou

    seja, tornam a estequiometria uma mecanizao de clculos e regrinhas, no

    levando a interpretao de problemas propriamente ditos. (p.1)

    Desta forma, torna-se fundamental uma abordagem interdisciplinar no Ensino de

    Qumica que trabalhe os conceitos dessa disciplina sem perder a conexo com a Matemtica

    com a qual est fundamentada (no caso da estequiometria, a ideia de proporo). Assuntos

    como geometria molecular, cintica qumica, solues (principalmente quanto ao

    entendimento das unidades de concentrao) trazem consigo assuntos tratados na Matemtica

    j conhecida pelos alunos e, infelizmente, esses tpicos so abordados, na maioria das vezes,

    de forma excessivamente conteudista, sem que haja a relao com os conceitos matemticos

    que as regem (no por que esta interao no exista, mas sim por que o prprio professor no

    realiza a conexo ao ensinar o contedo).

    Existem muitas formas de transformar uma metodologia mecanizada em uma forma de

    abordagem mais completa e eficaz. Oficinas interdisciplinares so timos exemplos que

    podem trazer grandes resultados na aprendizagem de um determinado tema. Feiras de

    Cincias tem tomado espao como um tipo de atividade que pode trazer grande impacto em

    sala de aula. Segundo Valadares (2001, p.2) as feiras de cincias constituem um bom

    exemplo de atividades voltadas para aumentar a motivao dos alunos. Na grande maioria

    das vezes uma Feira de Cincias parece ser confundida pela equipe pedaggica de uma escola

    com um mostrurio de experimentos. Cabe ressaltar que o objetivo de uma atividade dessa

    natureza realizar atividades relacionadas a situaes da sociedade (tais como meio ambiente,

    sade e sustentabilidade) de forma a trazer reflexes de como o conhecimento cientfico

    aprendido pelos estudantes pode ajudar a combater situaes que geram danos ao ser humano

    e ao mundo que o abriga. Assim, se vrias atividades experimentais forem realizadas em um

  • 15

    local e ao mesmo tempo estiverem destitudas de qualquer objetivo alm do espetculo, torna-

    se intil e desconexa.

    OBJETIVO

    O objetivo desta Monografia relatar estratgias e sequncias didticas que foram

    desenvolvidas por um bolsista PIBID/Capes do Subprojeto de Qumica com alunos do Ensino

    Mdio, do Colgio Estadual Professor Ernesto Faria, localizado no Rio de Janeiro, no ano

    Internacional da Matemtica, visando relacionar Geometria e Qumica. As sequncias

    didticas desenvolvidas para os projetos escolares visaram deixar claro para os estudantes, o

    papel instrumental da Matemtica na proposio de modelos explicativos para as estruturas

    dos materiais.

  • 16

    1. A ESTRUTURA DOS SLIDOS CRISTALINOS

    Em um slido, as partculas esto mantidas em posies rgidas e praticamente no

    tm liberdade de movimento. Nos slidos cristalinos as partculas (molculas, tomos ou ons)

    esto dispostas em um arranjo ordenado, diz-se que os slidos cristalinos tm ordem de longo

    alcance, ou seja, as partculas esto dispostas em arranjos regulares nas trs dimenses do

    espao. gua (H2O), cloreto de sdio (NaCl), nitrato de potssio (KNO3), glicose (C6H12O6),

    ferro (Fe), alumnio (Al), quartzo (SiO2) e diamante (C) so exemplos de substncias que

    formam slidos nos quais as partculas constituintes esto organizadas em arranjos cristalinos.

    Entretanto, h slidos em que estes arranjos no esto presentes. So slidos amorfos nos

    quais, em longo alcance, no h qualquer ordenao na disposio das partculas no espao

    (mesmo que, em curto alcance, haja alguma ordem). o que acontece, por exemplo, nos

    vidros, borrachas, etc. (ATKINS & JONES, 2012). Na figura 1 esto representadas a

    estruturas cristalina da slica e a estrutura amorfa de um vidro.

    (a) (b)

    Figura 1: Estruturas: (a) do quartzo (slido cristalino) e (b) do vidro (slido amorfo). (Fonte:

    CHANG & GOLGSBY, 2013, p. 495)

    Os slidos cristalinos so classificados de acordo com o tipo de ligao que mantm

    unidas as partculas (molculas, tomos ou ons) constituintes em: slidos moleculares,

    slidos reticulares, slidos metlicos e slidos inicos.

    1.1. Os slidos moleculares

    Os slidos moleculares so formados por molculas e so as foras intermoleculares

    que mantm a proximidade entre elas, de modo que as propriedades fsicas desses compostos

    dependem da natureza e da energia dessas foras (ATKINS & JONES, 2012). Na gua slida,

  • 17

    por exemplo, as molculas de H2O esto organizadas de modo que cada tomo de oxignio

    est ligado a quatro tomos de hidrognio, que esto dirigidos para os vrtices de um

    tetraedro. Duas dessas ligaes so ligaes covalentes e duas so ligaes de hidrognio. A

    estrutura tridimensional do gelo est representada na figura 2, onde as ligaes covalentes

    esto representadas por traos curtos contnuos e as ligaes de hidrognio, mais fracas, por

    linhas pontilhadas mais compridas entre oxignio e hidrognio.

    Figura 2: Estrutura do gelo. (Fonte: CHANG & GOLGSBY, 2013, p. 387)

    1.2. Os slidos reticulares:

    Os slidos reticulares so formados por tomos unidos por ligaes covalentes que

    formam uma rede tridimensional que se espalha por todo o cristal, como ocorre no quartzo

    (SiO2), por exemplo. Para fundir um slido reticular, necessrio quebrar ligaes covalentes,

    que so muito mais fortes que as interaes intermoleculares existentes nos slidos

    moleculares. (ATKINS, 2012).

    Dois exemplos clssicos de slidos reticulares so os altropos do carbono: diamante e

    grafita. No caso do diamante, cada tomo de carbono est ligado covalentemente a outro

    tomo de carbono, em um arranjo tetradrico, formando uma estrutura tridimensional infinita.

    por isso sua grande dureza. Na grafita cada tomo de carbono est cercado por outros trs

    tomos de carbono numa geometria trigonal plana, de modo que a estrutura uma

    combinao de hexgonos que se empacotam em lminas perfeitamente planas cuja

    interao entre elas do tipo Van der Waals. O diamante tem dureza alta (alta resistncia a ser

    riscado) e a grafita tem dureza baixa (facilmente riscada). Esta diferena reside no fato de que

    no diamante so rompidas ligaes covalentes simples carbono-carbono e na grafita so

    rompidas foras fracas do tipo Van der Waals. (ATKINS & JONES, 2012). Na figura 3 est

  • 18

    representado o arranjo tridimensional dos tomos de carbono na estrutura do diamante e a

    estrutura laminar (em lminas) da grafita.

    (a) (b)

    Figura 3: Estruturas de dois altropos do carbono: (a) diamante e (b) grafita. (Fonte: CHANG

    & GOLDSBY, 2013, p. 394).

    1.3. Os slidos metlicos

    Os slidos metlicos so formados por ctions dos metais envoltos em seus eltrons de

    valncia, que devido as suas baixas energias de ionizao, so perdidos pelos tomos. Os

    ctions metlicos ficam rodeados por um mar de eltrons que cancelam suas cargas

    positivas. Os eltrons do mar de eltrons so mveis e passam de ction a ction facilmente,

    conduzindo, assim, uma corrente eltrica (ATKINS & JONES, 2012, p. 44).

    comum utilizar um modelo que usa esferas rgidas para representar o arranjo dos ctions em

    um slido metlico. O modelo considera que as esferas (ctions) se empilham, deixando o

    mnimo espao livre entre elas (como acontece com laranjas organizadas nas bancas de um

    supermercado), com uma organizao denominada de estrutura de empacotamento compacto.

    H duas formas diferentes de empacotamento compacto, o que leva a estrutura hexagonal

    compacta (hc) e a que leva a uma estrutura cbica compacta (cc). Considerando-se trs

    camadas de esferas superpostas, temos que na estrutura hexagonal compacta (hc), a primeira e

    a terceira camadas de esferas ocupam posies idnticas e esto localizadas nas depresses da

    camada intermediria, reproduzindo um padro ABAB... Na estrutura cbica compacta (cc), a

    primeira e a terceira camadas ocupam as depresses da camada intermediria, mas a terceira

    camada difere da primeira por uma rotao de 60, reproduzindo, agora, o padro ABCABC...

    A esfera central, nos dois empacotamentos, est rodeada de doze esferas, ou seja, o nmero de

    coordenao do tomo central 12, ele tem doze tomos semelhantes ao seu redor. A figura 4

  • 19

    apresenta a disposio dos doze vizinhos mais prximos da esfera central em representaes

    expandidas de estruturas hexagonal e cbica de empacotamento compacto. A figura 5

    apresenta as estruturas hexagonal compacta (hc) e cbica compacta (cc).

    Figura 4: Representao expandida de uma estrutura hexagonal compacta (hc) ( esquerda) e

    de uma estrutura cbica compacta (cc) ( direita). (Fonte: LEE, 1999, p. 18)

    (a) (b)

    Figura 5: Representao da estrutura (a) cbica compacta (cc); (b) hexagonal compacta (hc).

    (Fonte: SHRIVER & ATKINS, 2006, p. 57).

    1.4. Clulas unitrias

    Em um cristal, tomos, ons ou molculas se empilham tridimensionalmente segundo

    um padro ou unidade que se replica indefinidamente. Esse padro denominado clula

    unitria, e corresponde a menor unidade que, quando empilhada repetidamente sem lacunas,

    pode reproduzir o cristal inteiro (ATKINS & JONES, 2012, p. 188). A figura 6 exemplifica

    uma rede cristalina formada pela repetio de uma clula unitria tricnica.

  • 20

    Figura 6: Representao de uma rede cristalina formada pela repetio de clulas triclnicas.

    (Fonte: CHANG & GOLDSBY, 2013, p. 387).

    Todos os cristais so classificados, de acordo com suas caractersticas geomtricas, em

    um dos sete sistemas cristalinos, denominados de cbico, tetragonal, ortorrmbico,

    hexagonal, trigonal (ou rombodrico), monoclnico e triclnico. A cada sistema cristalino

    corresponde um tipo de clula unitria primitiva, que definida pelos comprimentos das

    arestas e pelos valores dos ngulos entre elas, esses valores so denominados parmetros de

    rede da clula unitria. A figura 7 exibe o desenho das clulas unitrias dos sete sistemas

    cristalinos e a tabela 1 apresenta os seus parmetros de rede (Fonte: CHANG & GOLDSBY,

    2013, p. 480).

    Alguns sistemas cristalinos admitem mais de um tipo de clula unitria. Para o sistema

    cbico, por exemplo, existem trs tipos de clulas unitrias: a cbica simples (c.s), a cbica de

    corpo centrado (c.c.c) e a cbica de faces centradas (c.f.c). A soma de todos os tipos de

    clulas unitrias resulta em quatorze retculos de Bravais (ATKINS & JONES, 2012, p. 189).

    A figura 8 apresenta os trs tipos de clulas unitrias do sistema cristalino cbico: cbica

    simples (c.s), cbica de corpo centrado (c.c.c) e cbica de faces centradas (c.f.c). A figura 9

    exibe os quatorze retculos de Bravais.

    Tabela 1: Os sete sistemas cristalinos

    Sistema Parmetros de rede da clula unitria

    Comprimentos ngulos

    Cbico a = b = c = = = 90

    Tetragonal a = b c = = = 90

    Ortorrmbico a b c = = = 90

    Hexagonal a = b c = 120

    Trigonal a = b = c = = 90

    Monoclnico a b c 90 = 90

    Triclnico a b c 90

  • 21

    Figura 7: Representao das clulas unitrias dos sete sistemas cristalinos. Na sequncia,

    acima: cbico, tetragonal, ortorrmbico e hexagonal; abaixo: trigonal, monoclnico e

    triclnico.

    (a) (b) (c)

    Figura 8: Trs clulas unitria cbicas, acima representadas com pontos (expandida) e abaixo

    com esferas macias: (a) cbica simples (c.s); (b) cbica de corpo centrado (c.c.c) e (c) cbica

    de faces centradas (c.f.c). (Fonte: KOTZ & TREICHEL, 2002, p. 419).

    1.5. Estruturas Inicas:

    Os slidos inicos so formados por um empilhamento tridimensional de ctions de

    metais e nions, geralmente, de elementos com alta eletroafinidade, que se mantm unidos

    devido a foras de atrao de natureza coulombiana que se estabelecem entre ons de cargas

    opostas. O cloreto de sdio, por exemplo, os ons de cargas opostas regularmente distribudos

    se organizam em uma rede cristalina cbica que se repete tridimensionalmente. A menor

    unidade que se repete e que mantm a forma de organizao espacial dos ons uma clula

  • 22

    unitria cbica de faces centradas (c.f.c). Na figura 10 est representada a clula unitria do

    NaCl, na forma expandida e com as esferas, que representam os ons, em contato umas com as

    outras (fonte: CHANG & GOLDSBY, 2013, p. 54).

    Figura 9: Representao dos quatorze retculos de Bravais.

    Fonte: http://assets.cimm.com.br/noticias/imagem/Image/con-468.jpg

    (a) (b)

    Figura 10: Representao da clula unitria do cloreto de sdio (a) estrutura expandida e (b)

    esferas em contato umas com as outras. Os ons, Na+ e Cl

    -, esto representados pelas esferas,

    menor e maior, respectivamente.

    http://assets.cimm.com.br/noticias/imagem/Image/con-468.jpg

  • 23

    O comprimento da aresta da clula unitria do NaCl corresponde ao dobro da soma dos

    raios inicos do Na+ e do Cl

    -, como exemplifica a figura 10. Os raios inicos do Na

    + e do Cl

    -

    so, respectivamente, iguais a 95 e 181 pm; o comprimento da aresta da clula unitria do

    NaCl igual a 2 (95+181)pm = 552 pm. O valor experimental, obtido pela tcnica de difrao

    de raio X, para o comprimento da aresta da clula unitria do NaCl 564 pm (CHANG &

    GOLDSBY, 2013, p. 488). Os resultados mostram uma pequena diferena entre o dado

    terico obtido utilizando-se um modelo (clula unitria c.f.c. e valores estimados de raios

    inicos no NaCl) e o valor obtido experimentalmente.

    A figura 11 apresenta a relao entre os raios dos ons Na+ e do Cl

    - e as dimenses da

    clula unitria do NaCl (Fonte: idem, p. 488). A figura 12 exibe as fraes de Na+ e do Cl

    - em

    uma clula unitria cbica de faces centradas (Fonte: ibidem, p. 489).

    Figura 11: Relao entre os raios dos ons Na

    + e do Cl

    - e as dimenses da clula unitria do

    NaCl. O comprimento da aresta igual ao dobro da soma dos dois raios inicos.

    Figura 12: Fraes de Na+ e do Cl

    - em uma clula unitria cbica de faces centradas do NaCl.

  • 24

    2- METODOLOGIA

    As sequncias didticas que sero relatadas foram desenvolvidos no Colgio Estadual

    Professor Ernesto Faria, situado no bairro de So Cristovo, no Rio de Janeiro, onde atuei

    pelo perodo de trs anos (de maro de 2011 a fevereiro de 2014) como bolsista de iniciao

    docncia, sendo os ltimos trinta meses como bolsista do Subprojeto Qumica do PIBID

    (Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia). O PIBID um programa da

    CAPES (Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Ensino Superior), que fornece

    bolsas de iniciao docncia para os alunos de licenciatura, para os professores das escolas

    que supervisionam as atividades e para os professores da Universidade que coordenam o

    PIBID na instituio de ensino.

    A escola possui, como tradio, a realizao anual de uma Feira do Conhecimento

    (evento no qual os alunos se dividem em grupos para apresentarem trabalhos sobre um

    determinado assunto). No ano de 2011 foi o Ano Internacional da Qumica em lembrana da

    premiao da fsica polonesa Marie Curie ao isolar os elementos Rdio e Polnio, o que lhe

    proporcionou o prmio Nobel de Qumica em 1911. A homenagem a esse centenrio

    possibilitou a apresentao de diversos trabalhos envolvendo temas nas reas de alimentos,

    meio ambiente e sade. No ano de 2012, dois grandes nomes da cultura Brasileira foram

    homenageados: Jorge Amado e Luiz Gonzaga. Neste ano, o escritor e o msico completariam

    100 anos e os assuntos a serem abordados na Feira do Conhecimento foram relacionados com

    os centenrios. No ano de 2013 foi comemorado o Ano Internacional da Matemtica, tema da

    Feira do Conhecimento no ano em questo.

    Foram propostas sequncias didticas para dois projetos escolares que tinham por

    objetivo geral deixar claro para os estudantes, o papel instrumental da Matemtica na

    proposio de modelos explicativos para as estruturas dos materiais. Descreveremos a seguir,

    as sequncias didticas que foram desenvolvidos com duas turmas do Ensino Mdio, do turno

    diurno, no ano de 2013, visando estabelecer correlaes interdisciplinares entre a Qumica e a

    Matemtica. Foram constitudos dois grupos. Grupo 1: composto por seis alunos da turma

    2002 (2 ano) e Grupo 2: formado por cinco alunos da turma 3001 (3 ano).

    Os alunos do Grupo 1 desenvolveram atividades relacionadas Geometria dos

    slidos cristalinos. O objetivo do trabalho era a construo de modelos com bolas e varetas

    para ilustrar os principais sistemas cristalinos. Inicialmente, para conduzir a aquisio de

    conhecimentos sobre o tema, os alunos foram colocados frente a alguns questionamentos que

  • 25

    seriam respondidos atravs de pesquisas a livros, pginas virtuais, dentre outros. As questes

    esto listadas a seguir.

    1. O que diferencia slidos cristalinos de slidos amorfos?

    2. Que materiais existentes na natureza ou de uso cotidiano apresentam aspecto

    cristalino?

    3. Um material aparentemente amorfo pode apresentar-se com aspecto cristalino quando

    visto ao microscpio? E vice-versa?

    4. Em um slido cristalino as partculas que o constituem (tomos, molculas ou ons)

    esto organizadas em um arranjo geomtrico que determina a forma como ele se

    mostra (hbito cristalino). Todos os cristais so classificados, de acordo com suas

    caractersticas geomtricas, em um de sete sistemas cristalinos. Pesquise sobre as

    caractersticas geomtricas desses sistemas.

    5. Quais os sistemas cristalinos dos cristais de quartzo, cloreto de sdio, sulfato de cobre

    e enxofre?

    Com as pesquisas realizadas, os alunos participaram de algumas reunies, em horrio

    extracurricular, para discutir o tema e tirar dvidas. Durante os encontros, foram testados

    alguns modelos construdos com bolas de isopor e palito de churrasco, porm o material foi

    posteriormente trocado por massa de modelar e palitos de churrasco, que deixava a estrutura

    mais rgida.

    Os alunos do grupo 2 desenvolveram o tema Aplicando conceitos da Geometria na

    determinao de raios atmicos de alguns metais. O objetivo desta atividade foi fazer uso de

    ferramentas da Geometria Espacial e da Qumica (como clculos qumicos) para estimar o

    tamanho dos raios atmicos de alguns metais. O procedimento inicial, voltado para a busca de

    respostas pelos alunos, tambm foi feito com este grupo. As questes formuladas foram as

    que se seguem.

    1. Qual a ordem de grandeza do tamanho de um tomo? Qual seria a unidade de

    comprimento mais adequada para expressar o seu tamanho?

    2. Se no possvel ver um tomo, como os cientistas determinam seu tamanho?

    3. Todos os tomos tm o mesmo tamanho? Por qu? De que depende o tamanho de um

    tomo?

    4. Consulte uma tabela peridica que apresente os raios atmicos dos elementos

    qumicos. Identifique que elemento qumico apresenta o menor raio atmico e tambm

    o que apresenta o maior. Apresente uma explicao para o fato.

  • 26

    As reunies, feitas em horrio extraclasse, foram utilizadas para discutir as respostas

    dadas pelos alunos s perguntas formuladas e orient-los sobre as etapas que seriam

    desenvolvidas na determinao experimental dos raios atmicos dos metais. Em linhas gerais,

    os estudantes deveriam seguir o procedimento descrito abaixo.

    1. Determinar o volume das amostras de alumnio, zinco e cobre, de formato geomtrico

    cilndrico, utilizando conceitos da Matemtica.

    2. Com auxlio de uma balana, determinar as massas das amostras metlicas.

    3. Calcular o nmero de tomos de metal presentes em cada amostra metlica.

    4. Determinar o volume ocupado por cada tomo de metal nas amostras.

    5. Determinar os raios atmicos dos metais alumnio, zinco e cobre.

    6. Comparar os valores determinados experimentalmente com valores da literatura.

    Para determinar o volume ocupado por cada tomo de metal nas amostras, foram

    consideradas duas hipteses, I e II.

    (I) No h espao vazio entre os tomos. Assim sendo, o volume da amostra metlica

    dividido pelo nmero total de tomos do metal que a constitui fornece o volume de

    cada tomo (VA). Considerando que o tomo uma esfera (Modelo Atmico de

    Dalton), possvel determinar seu raio (R).

    Volume (esfera) = 4/3 R3

    (II) H espaos vazios entre os tomos. Como modelo explicativo considerou-se que o

    slido metlico formado pelo empilhamento tridimensional de cubos - clulas

    unitrias cbicas simples (c.s.). fcil demonstrar matematicamente que se cada

    tomo dos oito vrtices do cubo compartilhado por oito cubos vizinhos, apenas, um

    oitavo de cada tomo dos vrtices pertence a uma clula unitria, logo h um tomo

    (8 vrtices x 1/8 de tomo) em cada uma dessas clulas (ATKINS & JONES, 2012, p.

    188). Na figura 13 est explicita essa relao matemtica e tambm fica claro que o

    comprimento da aresta (a) igual ao dobro do raio (R) do tomo de metal.

    Portanto, o nmero de tomos (N) igual ao nmero de clulas unitrias e o volume

    da clula unitria cbica igual ao prprio volume VA. Considerando ainda que o

    tomo uma esfera e que est inscrito no cubo, pode-se determinar o raio do tomo,

    uma vez que a aresta do cubo igual ao dimetro da esfera (SIMONI & TUBINO,

    1999).

  • 27

    a = 2R

    Figura 13: Relao entre o comprimento da aresta (a) e o raio (R) do tomo. Somente um

    oitavo de cada tomo dos vrtices pertence a uma clula unitria cbica simples. (Fonte:

    CHANG & GOLDSBY, 2013, p. 484).

    A partir da figura 13, temos que volume do cubo pode ser determinado pela expresso:

    Volume (cubo) = aresta3 = a

    3 = (2R)

    3

    Volume (cubo) = 8R3

    Se h um tomo (8 vrtices x 1/8 de tomo) em cada clula unitria cbica simples e se

    considerarmos que este tomo est no centro do cubo, podemos usar a figura 14 para model-

    lo. A esfera ao centro representa um tomo, de raio a/2, inscrito em uma clula unitria cbica

    simples de aresta a.

    Figura 14: Representao de um tomo inscrito na clula unitria cbica simples de aresta a.

    A partir das massas das amostras metlicas (em gramas) e do conceito de mol foram

    determinados os valores de N (nmero de tomos existentes nas amostras). Usando um

    paqumetro, os alunos coletaram dados relativos s dimenses das amostras e utilizaram os

    conceitos de Geometria espacial para determinar os volumes dos slidos.

  • 28

    Partindo das duas hipteses foram determinados os volumes atmicos (VA) pelas

    frmulas V = 4/3R3 (hiptese I) e V = 8R

    3 (hiptese II). Os valores obtidos foram

    comparados com os valores de referncia (SHRIVER & ATKINS, 2006, p. 44).

    Como especificado no incio deste captulo, os projetos foram planejados visando

    desenvolver trabalhos para serem exibidos pelos estudantes na Feira do Conhecimento. A

    socializao dos produtos finais dos projetos demandou que os estudantes elaborassem textos

    e cartazes para exposies orais, alm da montagem de modelos. No Captulo 3 so

    apresentados relatos sobre o desenvolvimento dos trabalhos e seus resultados.

  • 29

    3- ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS

    Os resultados das atividades realizadas sero descritos em dois momentos diferentes,

    de modo que os trabalhos do grupo 1 referentes ao tema A Geometria dos Slidos

    Cristalinos sero citados primeiro e, posteriormente sero relatados os resultados do grupo 2

    que realizou as atividades sobre o tema Aplicando conceitos da Geometria na determinao

    de raios atmicos de alguns metais.

    3.1. A Geometria dos Slidos Cristalinos

    O questionrio aplicado no incio das atividades serviu como um ponto de partida para

    trabalhar os conceitos necessrios para realizar a sequncia didtica. Os alunos foram

    orientados a pesquisar em alguns endereos eletrnicos confiveis e nos livros didticos,

    contidos na prpria biblioteca da escola, respostas para as questes formuladas pelo professor.

    Em relao pergunta O que diferencia slidos cristalinos de slidos amorfos?

    nenhum aluno soube responde-la corretamente, sem consultar materiais de apoio. De modo

    geral, os estudantes afirmaram que todo slido cristalino, pelo simples fato de ser slido, ou

    seja, na concepo dos alunos, as substncias amorfas estariam nos estados lquido ou gasoso.

    O fato de que o estado slido de uma substncia ou material ser caracterizado por ter, ao nvel

    macroscpico, uma forma definida, enquanto lquidos e gases, assumirem a forma do

    recipiente em que esto contidos, foi interpretada pelos alunos como sendo tambm uma

    caracterstica microscpica do material.

    A partir das consultas, os alunos tiveram o primeiro contato com conceitos como

    estrutura cristalina, clula unitria e hbito cristalino, que precisaram ser melhor

    elucidados em encontros realizados no contraturno, no perodo da tarde.

    Sobre a segunda pergunta Que materiais existentes na natureza ou de uso cotidiano

    apresentam aspecto cristalino? os alunos responderam, inicial e majoritariamente,

    diamante, alegando que o altropo do carbono os fazia lembrar a palavra cristal. Aps a

    pesquisa sobre slidos cristalinos e amorfos (primeira pergunta), os alunos formularam

    respostas mais elaboradas, dando como exemplos de slidos cristalinos o cloreto de sdio

    (NaCl), o sulfato de cobre II (CuSO4) e o quartzo (SiO2).

    Mais uma vez, as respostas iniciais dos alunos remeteram a aspectos macroscpicos e,

    neste caso, tambm ao senso comum, ao associar o diamante a um cristal. Por outro lado, no

  • 30

    raro, quando o conceito de alotropia abordado nos livros didticos ou pelos professores, ao

    serem exemplificados os altropos do carbono, o diamante apresentado na forma de um

    cristal lapidado, em mltiplas faces que resplandecem o seu brilho vtreo. Uma imagem desse

    tipo, consta no prprio livro texto adotado na escola (PEQUIS, 2010, p. 280) e est

    reproduzida na figura 15.

    Figura 15: Estrutura cristalina do diamante (PEQUIS, 2010, p.280)

    O fato de que a diferena entre slidos cristalinos e amorfos depende de uma

    propriedade microscpica do material s se torna compreensvel para o aluno a partir da

    apropriao do conceito cientfico de slido cristalino, o que requer que este seja introduzido

    aos conceitos de estrutura cristalina e clula unitria. Esta compreenso pode ser

    enormemente facilitada utilizando modelos explicativos construdos com bolas e varetas.

    A terceira questo Um material aparentemente amorfo pode apresentar-se com

    aspecto cristalino quando visto ao microscpio? E vice-versa? foi formulada com o

    objetivo de favorecer discusses sobre aspectos macroscpicos e microscpicos dos materiais

    slidos, de modo a levar a concluso que o primeiro, ou seja, sua aparncia a olho nu, no

    suficiente para se afirmar se este ou no um material cristalino (possui ou no uma estrutura

    cristalina). Ao se observa uma amostra de ferro, alumnio ou de grafite no fica evidente que

    estes materiais so slidos cristalinos. Retornando aos exemplos dos altropos do carbono

    presentes nos livros didticos, a imagem associada ao altropo grafite, geralmente, um lpis,

    no remete a existncia de uma estrutura cristalina no grafite, diferente do que ocorre na

    imagem utilizada para o diamante, o que pode induzir o leitor a concluir que se trata de um

  • 31

    material amorfo. Tal imagem pode ser encontrada tambm no livro didtico supracitado,

    reproduzida na figura 16.

    Figura 16: Estrutura cristalina do grafite (PEQUIS, 2010, p.280)

    Ao responder a questo Um material aparentemente amorfo pode apresentar-se com

    aspecto cristalino quando visto ao microscpio? E vice-versa?, os alunos se limitaram

    basicamente exemplificao das estruturas do quartzo e do vidro (um material amorfo,

    apesar, de sua aparncia cristalina), apresentando figuras esquemticas de suas estruturas

    microscpicas. Vrios materiais amorfos poderiam ser exemplificados como plsticos,

    borrachas, resinas, etc. Um aspecto importante a destacar que mesmo que uma resina ou um

    plstico seja moldado de forma a apresentar superfcies planas bem definidas (faces planas)

    dispostas em ngulos bem definidos simulando um cristal, ele no apresentar uma estrutura

    cristalina interna e, dessa forma, no se constitui o que cientificamente denominamos de um

    material cristalino.

    Os dois ltimos itens do questionrio inicial orientavam os alunos a procurar na

    literatura e em fontes virtuais as caractersticas geomtricas dos sete sistemas cristalinos, bem

    como identificar materiais que cristalizam segundo estes sistemas. Para tal, os alunos

    deveriam pesquisar sobre as estruturas cristalinas do quartzo, cloreto de sdio, sulfato de

    cobre II e das duas formas alotrpicas do enxofre. No prprio livro didtico adotado era

    possvel obter as seguintes informaes:

  • 32

    - Imagem representativa da rede cristalina do quartzo (PEQUIS, 2010, p. 275). Exibida na

    figura 17.

    Figura 17: Rede cristalina do quartzo (SiO2). As esferas maiores representam tomos de

    oxignio e as esferas menores tomos de silcio.

    - Imagem representativa da rede cristalina cbica do cloreto de sdio (PEQUIS, 2010, p. 273),

    exibida na figura 18, com a legenda que reproduzimos abaixo dela.

    Figura 18: Rede cristalina do cloreto de sdio

    Nesta ilustrao, tomos do elemento qumico sdio so representados na cor cinza e tomos de cloro

    so representado na cor verde e em tamanho maior. O tomo central de cloro foi destacado uma

    tonalidade mais escura, embora seja igual aos demais, para facilitar a anlise da imagem. Note que

    este tomo central de cloro rodeado por seis tomos de sdio. Esses, por sua vez, so rodeados por

    outros tomos de cloro, numa estrutura que se repete continuamente (PEQUIS, 2010, p. 273).

    - Os cristais de sulfato de cobre possuem lados e ngulos diferentes, sua forma geomtrica

    denominada triclnica (PEQUIS, 2010, p. 292). O livro apresenta ainda a figura do arranjo do

    cristal de sulfato de cobre, exibida na figura 19.

  • 33

    Figura 19: Arranjo geomtrico do cristal sulfato de cobre - triclnico (PEQUIS, 2010, p.292)

    O enxofre um slido molecular que pode ser encontrado na natureza em duas formas

    cristalinas, o enxofre rmbico e o enxofre monoclnico. So dois altropos de frmula

    molecular S8, nos quais tomos de enxofre esto ligados covalentemente formando anis em

    forma de coroa (Figura 20). A diferena entre os dois altropos do enxofre est no arranjo

    espacial dos tomos de enxofre no retculo cristalino, ou seja, na forma como as coroas S8 so

    empilhadas para constituir o slido (ATKINS & JONES, 2012, p. 650). Os anis se mantm

    unidos por foras intermoleculares fracas, do tipo dipolo-dipolo-induzido ou foras de

    London.

    Figura 20: Molcula de enxofre, S8. Oito tomos de enxofre ligados covalentemente formando

    um anel em forma de coroa.

    Aps a realizao das pesquisas, os alunos orientados pelo bolsista Pibid elaboraram

    cartazes e montaram estruturas cristalinas utilizando massa de modelar, de diversas cores, e

    palitos de fsforo ou de churrasco. Os trabalhos elaborados pelo grupo 1 foram apresentados

    na Feira de Cincias realizada no Colgio Ernesto Faria. O desempenho dos alunos e os

    produtos finais do projeto foram considerados satisfatrios pela professora de Qumica da

    turma, Professora Denise Gutman, e pela equipe de professores que avaliou o grupo 1 quando

    foi feita a exposio para a comunidade escolar, durante a Feira de Cincias. As figuras 21 e

    22 exibem alguns dos produtos do projeto exibido pelos alunos no dia da Feira de Cincias.

  • 34

    Figura 21: Rede cristalina do quartzo (SiO2) construda com massa de modelar e palitos. As

    esferas maiores representam tomos de oxignio e as esferas menores tomos de silcio.

    Figura 22: Clula unitria do NaCl construda com massa de modelar e palitos. tomos do elemento qumico sdio so representados na cor azul e tomos de cloro esto representados na cor

    vermelha e em tamanho maior. Ao fundo cartaz sobre o cloreto de sdio.

  • 35

    Figura 23: Representao de oito tomos de enxofre (em massa modelar verde) ligados

    covalentemente formando um anel em forma de coroa na molcula de enxofre, S8, e cartaz

    sobre o enxofre. frente, representao do sistema cristalino hexagonal (em massa de

    modelar laranja).

    Figura 24: Cartazes apresentados pelos alunos sobre slidos amorfos e cristalinos

  • 36

    3.2. Aplicando conceitos da Geometria na determinao de raios atmicos de alguns

    metais

    A sequncia didtica iniciou com os alunos do grupo 2 respondendo a um

    questionrio. Para as perguntas Qual a ordem de grandeza do tamanho de um tomo? Qual

    seria a unidade de comprimento mais adequada para expressar o seu tamanho? no foram

    obtidas respostas pr-pesquisa, talvez devido abstrao do tema, mas o certo que vrios

    alunos s tinham conhecimento de unidades de comprimento do intervalo km-mm,

    desconheciam ou no lembravam de submltiplos do milmetro, como m e nm. Aps

    algumas consultas, os alunos chegaram a concluso que a unidade de comprimento mais

    adequada para expressa a medida do comprimento de raios atmicos e inicos o picmetro

    (1 pm corresponde a 1 x 10-12

    m).

    Em relao a segunda questo Se no possvel ver um tomo, como os cientistas

    determinam seu tamanho? , os alunos s conseguiram produzir informaes coerentes aps

    realizar algumas consultas. Na verdade nunca haviam pensado sobre isso. Aps as leituras

    realizadas, citaram que poderia ser utilizada a tcnica de difrao de raios X. Naturalmente,

    esta informao foi, apenas, literal, sem uma compreenso significativa do que se trata, de

    como isto pode ser feito. Saber como os cientistas determinam o raio atmico se mostrou por

    complexo demais, para o nvel de entendimento dos alunos. Haveria alguma forma mais

    simples de determinar raios atmicos?

    As perguntas Todos os tomos tm o mesmo tamanho? Por qu? De que depende o

    tamanho de um tomo? foi parcialmente respondida, pois os alunos j tinham aprendido o

    conceito de raio atmico no 1 ano do Ensino Mdio, quando estudaram as Propriedades

    Peridicas. Porm, os alunos sentiram necessidade de recorrer a livros didticos na biblioteca

    da escola, para se certificarem que faziam correlaes corretas entre tamanho do tomo e

    nmero de camadas eletrnicas e com a quantidade crescente de eltrons na ltima camada.

    A ltima pergunta do questionrio Consulte uma tabela peridica que apresente os

    raios atmicos dos elementos qumicos. Identifique que elemento qumico apresenta o menor

    raio atmico e tambm o que apresenta o maior. Apresente uma explicao para o fato.

    Os alunos fizeram as consultas e responderam oralmente com relativa facilidade, entretanto,

    tiveram dificuldade em redigir suas explicaes de forma clara.

    Aps este requisito terico, os alunos seguiram para a fase da elaborao do

    experimento e coleta dos dados, bem como a comparao destes com os valores disponveis

    na literatura. Os materiais estudados foram amostras cilndricas dos metais alumnio, zinco e

  • 37

    cobre. Primeiramente, os alunos foram questionados sobre como determinar o volume do

    slido usando conceitos da Geometria. Os alunos pensaram a respeito e concluram que

    deveriam conhecer o comprimento e o dimetro de cada uma das amostras cilndricas.

    Utilizando um paqumetro, e com a ajuda do bolsista Pibid, tomaram as medidas e realizaram

    os clculos devidos, considerando que o volume de um cilindro pode ser calculado pela

    expresso:

    v = hr2

    Onde h igual altura do cilindro e r igual ao raio de seu crculo base.

    Em um segundo momento os alunos foram questionados sobre quantos tomos de

    metal havia em cada amostra e tambm sobre como descobrir o volume ocupado por cada

    um destes tomos. Como os alunos j haviam estudado Clculos Qumicos, no tiveram

    dificuldades em propor que seria necessrio conhecer as massas das amostras e estabelecer

    relaes proporcionais com o mol das substncias e com a Constante de Avogadro.

    Conhecido o volume de cada amostra (v) e o nmero de tomos existentes em cada uma delas

    (N), possvel conhecer o volume ocupado por cada tomo (VA), o que corresponde razo

    v/N. As massas foram determinadas em uma balana semianaltica e foram realizados os

    clculos necessrios.

    Na tabela 2 so apresentados dados das amostras de alumnio, zinco e cobre, onde v

    corresponde ao volume da amostra, na unidade cm3; m corresponde a massa da amostra, na

    unidade grama; N corresponde ao nmero de tomos, calculado a partir da constante de

    Avogadro, e VA o volume ocupado por cada tomo de metal.

    Tabela 2: Dados relativos s amostras de alumnio, zinco e cobre. Volume das amostras (v),

    massas das amostras (m), nmero de tomos existentes em cada amostra (N) e volume

    ocupado por cada tomo de metal (VA).

    METAIS v (cm3) m (g) N (tomos) VA (cm

    3)

    Alumnio 3,14 cm3 8,48 1,89.10

    23 1,66 x 10

    -23

    Zinco 1,05 cm3 7,38 6,79.10

    22 1,54 x 10

    -23

    Cobre 3,14 cm3 28,13 2,67.10

    23 1,18 x 10

    -23

    Aps a realizao dos clculos acima, os alunos foram levados a pensar em dois

    modelos explicativos para a natureza da estrutura interna dos metais, a que admitia que no

  • 38

    existem espaos vazios entre os tomos, denominada hiptese I, e a que admitia a existncia

    de espaos vazios entre os tomos, hiptese II.

    Admitindo a hiptese I, de que no h espao vazio entre os tomos, o volume

    ocupado por cada tomo de metal (VA) corresponde ao seu prprio volume atmico.

    Considerando que o tomo uma esfera (Modelo Atmico de Dalton), foi possvel determinar

    o raio atmico (R) pela expresso:

    VA = 4/3 RA3

    Onde VA igual ao volume atmico e RA, o raio atmico.

    A tabela 3 apresenta os raios atmicos calculados para o alumnio, zinco e cobre

    admitindo-se a hiptese I. Esses valores so confrontados com valores de referncia

    (SHRIVER & ATKINS, 2006, p. 44).

    Tabela 3: Raios atmicos calculados para o alumnio, zinco e cobre admitindo-se a hiptese I.

    Volume atmico (VA), raio atmico calculado admitindo-se a hiptese I (RA-I) e raio

    atmico de referncia (RA ref.)

    METAIS VA (cm3) RA-I (pm) RA ref (pm)

    Alumnio 1,66 x 10-23

    158 143

    Zinco 1,54 x 10-23

    154 137

    Cobre 1,18 x 10-23

    141 128

    Os resultados mostraram que os raios atmicos calculados, admitindo-se a hiptese I,

    foram maiores que os raios atmicos determinados experimentalmente com tcnicas mais

    sofisticadas. Como poderamos interpretar esses resultados? Esta questo norteou as

    discusses com o grupo. A hiptese I bem mais simples que a hiptese II, e certo que

    facilita os clculos. Entretanto, sabe-se que ao conceber que no h espaos vazios na matria

    estamos incorrendo em erros, pois esta descontnua.

    Ao admitir a hiptese II, que h espaos vazios entre os tomos, o nmero de tomos

    (N) igual ao nmero de clulas unitrias e o volume da clula unitria cbica igual ao

    volume ocupado por cada tomo de metal (VA). Considerando ainda que o tomo uma

    esfera e que est inscrito no cubo, pode-se determinar o raio do tomo, pela expresso:

    VA = 8RA3

  • 39

    Onde VA igual ao volume da clula unitria cbica e RA, o raio atmico.

    A tabela 4 apresenta os raios atmicos calculados para o alumnio, zinco e cobre

    admitindo-se a hiptese II. Esses valores so confrontados com valores de referncia

    (SHRIVER & ATKINS, 2006, p. 46).

    Tabela 4: Raios atmicos calculados para o alumnio, zinco e cobre admitindo-se a hiptese

    II. Volume da clula unitria cbica (VA), raio atmico calculado admitindo-se a hiptese II

    (RA-II) e raio atmico de referncia (RA ref.)

    METAIS VA (cm3) RA-II (pm) RA ref (pm)

    Alumnio 1,66 x 10-23

    128 143

    Zinco 1,54 x 10-23

    124 137

    Cobre 1,18 x 10-23

    114 128

    Os resultados mostraram que os raios atmicos calculados para o alumnio, zinco e

    cobre, admitindo-se a hiptese II, foram menores que os raios atmicos de referncia. Como

    poderamos interpretar esses resultados? O modelo explicativo adotado considerou o

    empilhamento tridimensional de cubos. A clula unitria escolhida, para facilitar os clculos,

    foi a clula cbica simples (c.s.), que a menos compacta dos trs tipos de clulas cbicas, ou

    seja, o espao vazio o maior possvel nesse caso.

    De qualquer modo, os resultados obtidos, considerando-se tanto a hiptese I como a

    hiptese II, foram surpreendentes para os alunos que ficaram surpresos quando perceberam

    que o erro relativo foi menor que 13%, pois utilizaram instrumentos simples (balana e

    paqumetro) para realizar as medidas e a tcnica utilizada foi muito menos sofisticada que a

    difrao de raios X, sobre a qual haviam lido ao responder a terceira questo no comeo do

    trabalho. Questionados que fator ou fatores poderiam ainda induzir a erros no experimento, os

    alunos destacaram as deformidades das amostras metlicas, pois estas no correspondiam a

    cilindros totalmente regulares.

    O experimento permitiu perceber a importncia da formulao de hipteses na busca

    de se estabelecer conexes entre conceitos tericos e dados prticos visando proposio de

    modelos explicativos para a natureza da matria. importante que os estudantes percebam

    que os modelos no so a prpria realidade, mas tentativas de aproximao dela. Os

    resultados contriburam neste sentido e mostraram que necessrio fazer novas conjecturas.

  • 40

    4. CONCLUSO

    A anlise dos resultados obtidos no decorrer da realizao das atividades e ao final,

    com a exibio dos trabalhos na Feira de Cincias, nos levou a concluir que as sequncias

    didticas planejadas para desenvolver os projetos escolares contriburam de forma

    significativa para o aprendizado dos alunos e possibilitaram estabelecer as relaes

    interdisciplinares desejadas entre a Geometria e a Qumica.

    O procedimento inicial de busca de respostas pelos alunos para os questionamentos

    apresentados pelo bolsista PIBID possibilitou o resgate de alguns conceitos da Qumica e da

    Matemtica (raio atmico, variao dos raios atmicos ao longo da tabela peridica,

    diferenciao entre slidos amorfos e cristalinos; converso de unidades de comprimento,

    etc.), o aprendizado de novos conceitos (sistemas cristalinos, como os cientistas determinam

    os raios atmicos) e preparou os alunos para as demais atividades da sequncia didtica. Ao

    longo do desenvolvimento dos projetos escolares Geometria dos slidos cristalinos e

    Aplicando conceitos da Geometria na determinao de raios atmicos de alguns metais

    surgiu necessidade de serem abordados ainda outros conceitos, especialmente os relacionados

    a clculos qumicos e ao uso de algoritmos comuns ao campo da Geometria. Desse modo,

    consideramos que as sequncias didticas alm de promoverem a interdisciplinaridade entre a

    Geometria e a Qumica, favoreceram a contextualizao de conceitos das duas disciplinas.

    A aquisio de informaes em diferentes fontes de informao para responder os

    questionamentos, a construo de modelos de estruturas cristalinas com o auxlio de massa de

    modelar e palitos, a determinao das massas e a tomada das dimenses das amostras

    metlicas, a elaborao de cartazes e a comunicao dos resultados dos trabalhos na Feira de

    Cincias proporcionou desenvolver e aprimorar vrias habilidades, favorecendo a aquisio

    de contedos procedimentais, que desempenham um papel relevante em um currculo para o

    aprendizado de cincias (POZO & GMEZ CRESPO, 2009).

    No decorrer do trabalho foram observadas mudanas sutis no comportamento dos

    alunos, at mesmo em alguns com histrico de indisciplina e desinteresse. Creditamos as

    mudanas ao trabalho em equipe, ao estmulo do orientador e a uma maior motivao dos

    prprios alunos para desenvolver as tarefas. O fato dos projetos terem sido desenvolvidos

    visando apresentao de seus produtos em uma Feira de Cincias gerou um senso de

    apropriao sobre o conhecimento construdo e a responsabilidade por sua transmisso

    comunidade escolar.

  • 41

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ATKINS, P.; JONES, L.; Princpios de Qumica: questionando a vida moderna e o meio

    ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Parmetros Curriculares Nacionais. Ensino Mdio. Parte

    III. Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias. 2000. Disponvel em:

    http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf. Acesso em 7 de julho de 2014.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Parmetros Curriculares Nacionais. Ensino Mdio.

    Orientaes Educacionais Complementares aos Parmetros Curriculares Nacionais.

    Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias. 2002. Disponvel em:

    http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf. Acesso em 7 de julho de

    2014.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Bsica. Secretaria de Educao

    Continuada, Alfabetizao, Diversidade e Incluso. Conselho Nacional da Educao.

    Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educao Bsica. Braslia: MEC, SEB, DICEI,

    2013. Disponvel em:

    http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12663&Itemid=1

    152. Acesso em 7 de julho de 2014.

    CHANG, R.; GOLDSBY, K. A. Qumica. 11. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.

    DRESSLER, A. C. Ensino de Estequiometria Atravs de Prticas Pedaggicas.In: III

    Simpsio Nacional de Ensino de Cincia e Tecnologia. UTFPR, Ponta Grossa, PR, 2012.

    Disponvel em:

    www.sinect.com.br/2012/down.php?id=2756&q=1. Acesso em 17 de dezembro de 2014.

    FERREIRA, A. C. C. Ensino da Geometria no Brasil: enfatizando o perodo do Movimento

    da Matemtica Moderna. In: V EDUCERE / III Congresso Nacional da rea de Educao.

    PUC-PR, Curitiba, 2005. Disponvel em:

    http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2005/anaisEvento/documentos/painel/TCCI136.

    pdf. Acesso em 13 de setembro de 2014.

    http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdfhttp://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdfhttp://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12663&Itemid=1152http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12663&Itemid=1152http://www.sinect.com.br/2012/down.php?id=2756&q=1http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2005/anaisEvento/documentos/painel/TCCI136.pdf.http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2005/anaisEvento/documentos/painel/TCCI136.pdf.

  • 42

    KOTZ, J. C.; TREICHEL, P. Qumica & Reaes Qumicas. 4. ed., vol. 1. Rio de Janeiro:

    LTD, 2002.

    LEE, J. D. Qumica Inorgnica no to concisa. So Paulo: Edgard Blucher, 1999.

    PEQUIS. Santos, W; Ml, G. (org.). 1. ed. So Paulo: Nova Gerao, 2010.

    POZO, J, I.; GMEZ CRESPO, M. A. A Aprendizagem e o Ensino de Cincias: do

    conhecimento cotidiano ao conhecimento cientfico. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

    SIMONI, J. A.; TUBINO, M. Determinao do raio atmico. Qumica Nova na Escola, n. 9,

    maio 1999, p. 40-42.

    SHRIVER, D.; ATKINS, P. Qumica Inorgnica, 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

    VALADARES, Eduardo Campos. Propostas de Experimentos de Baixo Custo Centradas no

    Aluno e na Comunidade. Qumica Nova na Escola, n. 13, maio 2011, p. 38-40.

    Endereos eletrnicos citados:

    http://assets.cimm.com.br/noticias/imagem/Image/con-468.jpg

    http://assets.cimm.com.br/noticias/imagem/Image/con-468.jpg

  • 43

    ANEXO

    Alguns smbolos comuns em Matemtica

    Smbolo Nome Definio

    Razo a diviso de duas grandezas, com o objetivo de

    compar-las.

    Potncia n-sima de um nmero real.

    um produto de n fatores iguais a a.

    Raiz n-sima de um nmero

    real.

    um nmero cuja potncia n-sima igual a a.

    Unio a unio de dois conjuntos, formado pelos elementos que esto em A ou B, ou ambos.

    A Interseco o conjunto formado pelos elementos pertencentes aos conjuntos A e B simultaneamente.

    Para todo Smbolo que traz referncia um conjunto de valores.

    Somatrio a soma algbrica de todos os valores da grandeza

    i desde a posio zero at ao infinito.

    Integral indefinida Corresponde antiderivada da funo f(x) somada

    uma constante. A integral pode ser interpretada como

    a rea sob a curva da funo.

    Derivada parcial Corresponde inclinao da reta tangente funo

    f(x,y) paralela ao eixo x.

    Alguns smbolos comuns em Qumica

    Smbolo Nome Definio Z Nmero atmico o nmero de prtons no ncleo do tomo de um

    elemento.

    A Nmero de massa o nmero de ncleons (prtons e nutrons) no

    tomo de um elemento.

    Xn-

    nion uma espcie originada de um tomo X depois de

    receber n eltrons.

    X(aq) Soluo aquosa Indica que o composto X est dissolvido em gua.

    Seta de reao Indica a ocorrncia de uma transformao.

    :C: Representao de Lewis Representao que faz referncia quantos eltrons

    esto na camada de valncia do tomo de um

    elemento qumico.

    Aquecimento Indica que uma reao qumica ocorre sob

    aquecimento dos reagentes.

    Bibliografia consultada

    BIANCHINI E. Matemtica. 7. ed. So Paulo: Moderna, 2011.

    FUGITA, F.; FERNANDES, M. A. M., POLICASTRO, M. S., TAMASHIRO, W. Matemtica. So

    Paulo: Edies SM, 2009, (Coleo Ser Protagonista).

    LEITHOLD, L. O Clculo com Geometria Analtica. 3. ed. So Paulo: Harbra, 1994.

    ATKINS, P.; JONES, L.; Princpios de Qumica: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5.

    ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.