sérgio luiz - sempre há uma luz... a viagem de um roqueiro no além2

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    Sempre h uma LuzCopyright 2001 by Srgio Lus

    Agradecimentos

    A Deus, a Jesus e Espiritualidade (ou Esprito Santo), sem os quais nada possvel;Em especial, aos espritos: Francisco e Luiz Srgio, que assistiram RuggeriRubens nesta obra.

    Ao Editor Jos Carlos (e toda Equipe DPL).Ao Esprito Ruggeri pelas horas de intercmbio. Com ele aprendi um poucomais sobre amar. (Algum dia, quem sabe, caro

    amigo, o mundo passar a ser nosso!)...s artistas Ftima Sena e Juliana Morosowiski, pelas magnificas pinturas, c

    edidas gentilmente para esta obra.

    Do AutorAo leitor que nos prestigia e conosco, igualmente, haure energias para con

    tinuar a caminhada;A todos que direta ou indiretamente, tm contribudo na divulgao dos livr

    os e da Doutrina Esprita.

    Deus fantastico, nos permitindo conhecer as pessoas, no por estarem sob

    um plio, mas por sua essncia.

    Todos os direitos reservados pela: DPL - EDITORA E DISTRIBUIDORA DE LIVROS LTDA.Rua Cinco de Julho, 59 - So Paulo - SPCep. o4281-ooo Fone/Fax: (11) 5o61-8955Endereo para correspondncia:Caixa Postal 42467 - CEP o42 18-97o - SP

    Internet: www.dpl.com.br. E-mail: [email protected]

    Palavras aos Mdiuns

    O Apstolo Joo, na Epstola, Cap. 4, 2-3, nos adverte que no devemos acreditar em todos os espritos, perscrutando se vm de Deus.O que se pode deduzir logicamente de tal assertiva?Primeiro, que existem Espritos! Segundo, que eles sempre nos trazem algu

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    ma mensagem, notcia ou revelao, manifestando-se independente de local,pessoa, classe

    social ou crena religiosa. Terceiro, no se pode tomar a mensagem apostolarao p-da-letra, pois na verdade, todos os espritos vm de Deus! . .sejam e

    les superiores

    ou inferiores. Somos filhos de um mesmo Pai, criados simples e ignorantes, logo, todos viemos de Deus. Quarto, alguns deles podem estar eivados deembuste, maledicncia

    e aparente bondade, nada produzindo de bom, razo pela qual o Apstolo nosadvertiu contra esses, em particular.

    Como mdiuns e por dever Cristo de caridade, no mnimo, devemos recebe-los, ouvi-los e, se necessrio for, tentar reencaminh -lo na senda da compreenso de suasreais situaes, com preces e esclarecimentos. (E no isso que se faz nas

    reunies medinicas srias?)Sempre eles nos trazem alguma coisa a ser aprendida, seja quando retratama pureza anglica, seja quando mostram aberta e honestamente, como chega

    ram at esse graude entendimento e evoluo.Aqueles que no partilham desse entendimento, no mnimo, deveriam rever suas posies ao julgar uma mensagem, pois a todo instante o Cristo nos tem concitado a exercitarmoso perdo, misericrdia e a piedade, como forma de elevao.H, decerto, os que s desejam palavras de rara beleza dos bons Espritos.

    Mas os Espritos sofredores tm muito o que nos ensinar, sim! Nos mostramque foram aocampo de batalha da vida e, por erros ou ignorncia, desceram aos tormentos conscienciais. Como nada absoluto (S o Creador), por misericrdia, enfim, conseguiramdivisar algum dia, um pouco do sol que nasce para todos... e s no enxerga quem no quer! E isso no maravilhoso? Sinal de que nenhuma ovelha doPai se perder...!Est l no Cap. 28: seria injusto colocar os sofredores e arrependidos na c

    ategoria dos maus espritos. Podem alguns ter sido maus, mas a partir do momento em quereconhecem suas faltas e as lamentam; so apenas infelizes, alguns at mesmo comeam a gozar de uma felicidade relativa. (E.S.E*)Quem poder contradizer que a Doutrina Esprita, principalmente, o prprioEvangelho Segundo o Espiritismo e O Cu e o Inferno, no tiveram a partic

    ipao de espritossofredores? Confiramos, nesse ltimo compndio... nada menos que 3 a 4 captulos com depoimentos dessa classe de Espritos, de riqussimo valor mo

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    ral, pois que visama nos alertar a no cometer os mesmos erros.A mediunidade no implica necessariamente relaes habituais com EspritosSuperiores; simples aptido para servir de instrumento mais ou menos t

    il aos Espritos

    em geral. E o bom mdium no aquele que se comunica facilmente, mas aquele que simptico aos bons Espritos (Cap. 24 os bons no tem necessidade de mdicosE.S.E)

    Ruggeri Rubens um pseudnimo, similar aos de Andr Luiz, Irmo X, Emmanuel e tantos outros. Os Espritos tm pudor de suas obras, palavras dobondoso Espritode So Vicente de Paula (Paris, 1858 E.S.E, Cap. 13).

    Se essa entidade tivesse se revelado como a celebridade musical que o marcou por duas dcadas (cuja obra continuar a ser apreciada ao longo dos anos vindouros);se houvesse trazido ao leitor sistemas absurdos e imponderveis; se houvesse mesmo abjurado o Pai, Jesus e a Espiritualidade; se no corroborasse com as informa-es que temos visto, ouvido e lido acerca do que nos aguardam no ps-vida,eu mesmo diria, com convico, que este livro seria uma falcia grosseira.

    Todavia, o leitor (em maioria) tem provado o contrrio! Tanto que nos per

    mitiu chegar a uma 2 edio. Recebemos inmeras cartas/e-mails, onde as pessoas que leramesta obra afirmam que encontraram no contexto redeno, misericrdia, esperana, caridade, f... luz.Gostaria de reiterar o brado que expressei na 1a edio, no como forma de esvaziar os bancos das salas de cursos medinicos, pois quem no conhece a mediunidade,precisa conhec-la. Mas que no se d maior valor ao academismo, onde aspessoas se tornam vazias mesmo aprendendo, estimulando em maior grau a

    inteligncia. Epreciso lembrar que os principais objetivos a serem atingidos so: caridade, disciplina e amor, e somente os conquistaremos com o labor ativo no bem.Portanto, deixamos os quartos de estudo, no significa abandon-los, pois o prprio Kardec nos disse: ... instru-vos, mas antes, ressaltou com propriedade: Espritas,amai-vos.., caindo no mundo semeando todo o bem que pudermos, pois l queest o infortnio, dor, misria., l que est o mal a ser curado, que

    a ignorncia!

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    E deixamos que os sos, que no precisam de mdico, continuem a sonhar com dias melhores.Que ningum se iluda! Jamais seremos bons, fortes e renovados se no tomarmos o arado e a charrua evanglica para arar.Os que tm suas qualidades, habilidades e inteligncia, que as utilizem em

    qualquer ramo de atividades que exeram... contanto que ajam!A Espiritualidade espera que cada um se predisponha. Eis o alerta incessante.Sinceramente.Srgio Lus

    SumrioPrefcio 13

    O fim, foi por onde comecei 17O livro dos meus dias 23A Estao dos Jasmins 29No reino underground 39O teatro de marionetes 45Algo me dizia: se entregar era uma covardia! 55E quando tudo parecia perdido 65O passado ensinando o presente 83A dor maior: no saber sent-la! 91Renascido das cinzas 1o1

    De volta ao imprio 111As nossas vidas sero para sempre 119O caminho? S h um 131O amor.., voc e algo mais 137

    Prefcio

    Meus queridos amigos, que as bnos do Todo-Poderoso recaiam sobre vs,

    ora viajores dessa astronave chamada Terra, construda por merc e bondade dO Justo, paraconduzir-nos ao paraso da renovao prometida.Feliz, por estar mais uma vez agindo em prol dos desgnios dAquele que nossupre as necessidades, eis que me regozijo pelo labor desinteressado, ser

    vindo-vos aolado do prestimoso companheiro Francisco, em auxlio a to querida alma,com quem pude compartilhar amizade terrena, outrora.Trata-se de Ruggeri Rubens, pseudnimo que preferiu adotar esse amigo, d

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    oravante, como meio de precauo e simplicidade.Numa linguagem corredia, sem maiores dificuldades para o entendimento,pde ele, com a permisso dos preceptores de Marianossa Mezinha Santssima gerar mais uma fonte de bnos, a jorrar lmp

    ida gua montanha abaixo, no intuito de saciar a sede de milhes de criatu

    ras que o amaram.Assim como atingiu os pncaros do sucesso, conheceu, identicamente, o reflexo que os abusos proporcionam; destarte no tenha isso retirado o brilhantismo de suatarefa, por conflitos pessoais.Suas letras e msicas, no presente e no porvir, so e ainda sero ouvidas por longo tempo, acalentando e renovando as esperanas de jovens de todas asidades.

    Certamente, e esse o nosso propsito tais jovens eternos, aps conhecerem

    este legado post mortem que ora se delineia, proveniente daquele que foi seu dolo,em reflexo mais adequada, preferiro sorver o lquido da renovao oriundodesta fonte, preterindo os refrigerantes efmeros da materialidade, o queos agrupar

    em legies de esclarecidos, rumo fraternidade sem mesclas ou discriminaes.

    As mensagens aqui depositadas, nos convidam compreenso de que, somente alinhando o preconceito frvolo, conseguiremos

    transformar as sociedades em osis de harmonia e felicidade.Neste singelo trabalho, Ruggeri tem por simplria, mas valorosa misso, relembrar que os pesares so construes da ignorncia epequenez moral, onde somente o atendimento s Leis Divinas, com preendidapela razo e exercidas na prtica da caridade, aliadas aonico meio de atingir a perfeio: a reforma ntima, tornar-nos-ocriaturas desatreladas dos grilhes de pungentes dores. Por isso in sistimotanto nessa tecla!

    O mundo mudou e progrediu (materialmente falando); as pessoas tambm, mas por sermos os mesmos espritos do pretrito aindaem aprendizado, assistimos ao resultado do plantio de outrora. o Nos dilogos, conservamos a maneira de expresso de cadaque no mudou, e nunca mudar, essa verdade infinita e preexistente personagem, com seu modo prprio de usar os tempos verbais, as chamada: amor. pessoas gramaticaise os pronomes pessoais.Tal preceito, vivido e sofrido (ou no), nos far vencedores da

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    maior e mais rdua de todas as batalhas: a moral,... contra nossasms tendncias!Superados tais embates, no limiar dos tempos vindouros, algumdia, congregados no seio do amantssimo Pai Celestial, poderemoscaminhar livres, sem temores ou discriminaes e dizer abertamente:

    Eu te amo! . . .Ns nos amamos!E isso que essa prola singela objetiva que sopesemos nosatuais estgios de nossa caminhada evolutiva, perguntando a si mesmo:o que estou fazendo por mim, pelo meu prximo... por Deus?!No mago de cada um que se decida, sincera e persistente-mente, a enfrentar esse ferrenho combate, a estaro todas as respostas.Estejais certos, amigos, a, aqui ou em qualquer lugar. estaremoslado-a-lado, rogando Suprema Providncia que vos fortalea,na incessante cata de solues, sem olvidar que h uma s bssola

    para encontr-las: o Evangelho prtico!Portanto, soltemos as amarras da materialidade e icemos asvelas da boa-vontade, em busca de sermos amor... sem esmorecer...sem desistir!Muita paz a todos, o desejo do amigo e irmo, Luiz Srgio de Carvalho(Mensagem psicografada em 3o/5/2ooo, no encerramento do livro.)

    O fim,foi por onde comecei...

    Tentei na vida escrever minha trajetria, fazendo-o com o giz da matria oucom os pedaos de tijolos do meu orgulho irreverente. Esqueci como os verd

    adeiros artistasde Deus, escreveram suas histrias. Suas obras foram traadas pela habilidadeda caridade, o verniz do amor e a tinta indelvel da experincia, nas telas

    das vidas,em constante ascenso para a perfeio eterna.

    Caminhvamos entre inmeros corpos inertes e sepultados de pessoas. Vi inmeros, muitos deles ladeados por seus ocupantes de outrora, os espritos,que j nem sedavam conta de que no mais pertenciam matria.Nosso destino era certo. Estvamos procura de algum. Framos instrudospara termos cautela, acurando a viso, o que era dificlimo em meio den

    sa bruma quese formava.Em breves minutos chegamos ao destino, um imenso cemitrio. J no basta

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    sse o aspecto lgubre das lpides, que mais se assemelhavam a guetos, pudemos denotar o cantoforte, entremeado pelas emoes e choros descon-certantes de muitos.Sbito, nos deparamos com jovens, adultos e velhos, irmanados num s sentimento: o pesar. Lamentavam o trespasse de algum ilustre e querido.

    Perguntei ao meu instrutor:Saulo, o que viemos fazer aqui? Por que nos foi indicada tal incurso nestas paragens?Prestimoso e impassvel, o amigo asseverou:Viemos libertar algum. Um dos nossos...Um dos nossos precisa ser liberto? inquiri.Sim. E por que no poderia? No somos, por ventura, infalveis..

    somos?Assim pensei.

    Saulo esboou um sorriso breve, tocando-me levemente no ombro, para tornar seriedade costumeira. Esprito adiantado, estvamos ns a segui-lo emaprendizado. Seria

    muito til nossa ida quela estao do ltimo adeus, para os encarnados. Disso nos instruram antes de sairmos do nosso posto.Mas, quem essa pessoa que est sendo enterrada, Saulo?

    -- Irrequieto e curioso como um camundongo, apressei-me em saber o que ocorria, revelia de meu conhecimento de mero aprendiz.Enterrado no; cremado! Por hora, urge que faamos silncio mental, subst

    ituindo nossas atitudes ntimas pelo mais absoluto condicionamento da prec

    e edificante.Temos que transpor uma barreira viciosa, virulenta e caudalosa, at chegarmos ao nosso destino.Por minutos, tentei desvencilhar-me da curiosidade, o que atrapalhou, sobremaneira, o equilbrio psquico que o momento exigia.Vendo-me desconcertado, Saulo ps sua destra, j luminescente, em minhafronte, enregelando meu universo mental. Acalmei-me, para s ento poderdesferir pensamentos

    mais tnues e seguros. S pensava em Jesus e na amada Maria Santssima, p

    or quem tinha enorme devoo, desde as lides carnais.Mais alguns instantes decorridos, ingressvamos em uma sala que, para ns,parecia um castelo medieval. Interessante verificar aquela sobreposio d

    e imagens dasparedes materiais, contrapostas por camadas mais sutis de nossa dimenso, imitao de pedras. Era mesmo um castelo!

    Vieram at ns dois guardies, conhecidos de Saulo. Esses o cumprimentaram.Fizemos o possvel, Saulo. disse um deles. Agora com vocs...! Que Deus

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    os ilumine e fortalea.Saulo, serenamente, convidou-nos prece concentrada e sin Muitapessoas encarnadas permaneciam do lado de fora do ambiente em que estvamos. No raro, eram ouvidos gritos dentre a multido, como se tivessem perdido para sempre

    algum parente muito caro.No interior do lugar em que nos postvamos, momentaneamente em prece,havia poucos encarnados, mas uma considervel aglomerao de desencarnados das mais variadasformas e estirpes, uns, mais hediondos, saracoteavam em danas sensuais,bailando ao som dos hinos entoados pelos demais. Comemoravam e brandiamimproprios, pilhrias

    ou palavras desconexas. No podendo me deter em maiores observaes, iniciamos a tarefa que nos havia sido confiada.

    Saulo chamou Raul, nosso orientador imediato, perito em desencames oriundos de doenas terminais.Raul, faz-se necessrio que penetremos na cmara crematria para efetuaro desligamento do moo.Decerto, Saulo. Foi para isso que viemos. Contudo, ressalto, o ambiente est horrvel. Sinto inmeras noures* contrrias ao nosso intento. como se viessem de muitolonge., fora daqui.Sabemos, meu filho. Contudo, confiemos na Providncia Divina que nos trou

    xe at aqui e, certamente, nos far triunfar. Assegurou o impoluto guia.

    Sem demora, Raul, juntamente com Luzia, uma especialista em cirurgia atmica e sedao energtica, aproximaram-se daquele a quem viemos resgatar. Seguimo-los emprece contnua.J ladeando o esquife, onde jazia o corpo e o esprito de nosso resgatando,para minha surpresa pude ver quem era. Assustei-me, e teria me desequilibr

    ado dado viso do recm-desencarnado, se no fosse o concurso dos demais companheiros, face minha inexperincia de nefito em tais trabalhos.

    Jesus Cristo! Mas, o R.. R..!Sim, ele mesmo! Garantiu-me Raul. Todavia, seu espanto em nada o ajudar. Mais mal lhe far do que bem. Renove-se, equilibrando sua mente, poissomente a nossaretido de propsitosser o passaporte desta criatura para outras paragens de sossego e refazimento. Esclareceu-me, sensato.Perdoem-me! proferi acanhadamente.

    Refiz-me e, para minha surpresa maior, o invlucro morturio j estava sen

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    do colocado no forno crematrio.Vo queim-lo...? inquiri sussurrando.Mantenha-se calmo! Lembre-se do Mestre, conserve a prece! Atalhou Mr

    io, um outro companheiro.Algum tempo depois, abriram-se os gases iniciando-se a combusto na forna

    lha.Meu Deus! supliquei em pensamento ajudai-nos a conseguirmos tir-lo da! No desejo que sofra.S pensava no seu bem-estar. Queria-lhe muito bem. Adorava suas msicasquando em vida. No queria que sofresse, assim como nunca suportei ver ningum sofrer. Imaginavaque sendo queimado, seu esprito sentiria os reflexos por estar ligado ao corpo de carne, mas, relevando esses detalhes temerosos de minha mentalidadeainda to

    arraigada terra, abandonei tal atitude para rogar ao Pai Todo-Poderoso porele.Decorridos alguns instantes, sentimos uma forte torrente energtica invadiro ambiente, sem que eu soubesse a origem.

    Segundo minha crena pessoal, pareceu-me que somente Saulo tinha a absoluta certeza de que teramos xito.Repentinamente, outra condensao de energia balsamizante envolveu todaa cmara crematria, espraiando tons esverdeados.No demorou muito. Saulo, Raul e Luzia trouxeram o combalido esprito, conhecido de muitos, detestado por alguns, amado pela maioria.

    Como eu fiquei feliz!O moo estava envolvido por uma nuvem gasosa e pardacenta, tal qual um invlucro protetor, um campo de foras.Pronto, meus amigos. Conseguimos! Dora em diante, agradeamos ao Senhorda Vida, que nos permitiu retirar do sofrimento alma to cara aos encarnados e aos nossospropsitos, falida, mas merecedora de nossa ateno por atos de outrora.Saulo, contagiado pela felicidade, pediu a Raul para fazer a prece de agradecimento pelo objetivo alcanado.

    Deus, nosso Pai... amor e vida. Elevamos hosanas vossa bondade infinita, sem a qual seramos apenas marionetes num teatro de sortilgios. Vosso amor precisoe justo, faz-nos crer que somos todos eleitos, sem discriminaes, bastandopara tanto que nos coloc uemos merc de vossa misericrdia, por intermd

    io dos atosdignos e elevados. Vede a condio de nosso querido irmo de tantas lutas,perdoando-lhe os erros e, qui, devolvendo-lhe a oportunidade de reapren

    der na escola

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    da vida, a engatinhar ao vosso rumo, como criana espiritual que ainda somos todos. Fazei com que creiamos mais ainda em vossos desgnios, onde prevalecem o perdo,a magnitude do amor, a interao com o cosmo do bem, a virtude imorredoura, que nos propicia a vossa pacincia eterna. Obrigado, Senhor, muito obr

    igado!Admirado com a atitude do irmo e amigo, vi Raul resplandecer com luz, que nos envolvia a todos.Em breve, volitamos* para local distante do stio de despedidas, conduzindoo nosso assistido.Graas a Deus!

    Um aprendiz de mensageiro.Nota do Mdium (N.M.) Volitao Mecanismo de locomoo do esprito liberto la matria. Ato de elevarse, percorrendo distncias.

    O livro dos meus dias

    Algum dia, eu falei que iria escrever um livro quando tivesse mais idade. As circunstncias me fizeram mudar de idia, emuitos me ajudaram nisso. No reparem, a gente sempre pode mudar nossosrumos.

    R.R.Naqueles instantes fatdicos, se antes via aqueles a quem amava, deixei de

    v-los. Meus olhos ceifaram-se e eu me sentia cada vez mais s. Seria maisuma noite desono, custa de drogas que me inebriavam o corpo, drogas que nunca metornaram mais feliz, mas sim, dependente do carinho daqueles que me amavam verdadeiramente.Adormecido, entreguei-me aos braos de Morfeu,O silncio se fez e nada mais pude enxergar do quarto onde me encontrava.Tudo parecia calmo, mas em meu ntimo, uma fiel sensao de intranqilidade, inquietao e medo.

    As dores haviam cessado. Lgico, iria dormir! pensava.O enfermeiro aplicou algum calmante Calculei. Certamente, era o seu efeito.

    Insistia em manter-me acordado e pensar no que fizera de minha vida. Vivi-a. Interessante; eu achava que dormia, talvez sonhava, no sabia ao certo. Anica certeza

    que tinha que iria descansar.Uma voz. Escutei uma voz, a ttulo de sussurro. Longe, muitolonge. No conseguindo distinguir os termos e expresses.

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    Deve ser o meu mdico.., enfermeiros, ou quem sabe, papai...! calculei empensamento.

    Passei a sonhar em furor com cenas de minha vida, intercaladas com inmeras imagens desconexas. Filmes? Havia assistido a muitos. Scorcese, Pasollini, Bertolucci,

    Fellini, De Palma.., todos! Assisti. O cinema...! Que maravilha! Amara-o.A expresso do homem comum, a criatividade, o pensamento. E essas imagens dagora? retratosda vida? Minha vida...? sim, . . .minha vida.tudo passava em minha telinha ntima, meu home theather.Que filme rpido! Alta rotatividade... mas, eu compreendo tudo.

    O ator principal era eu. Que engraado! Eu, ator? Nunca fui bom ator. Pessoas amadas, pessoas detestadas. Odiadas... No posso ser o ator de mim mesmo, eu escrevi

    as peas. Sou o regente, o produtor dos atos, o criador deles., ator no!Olha s, estou vestido em roupas engraadas! No meu jeans, nem minhacamiseta usual. No gosto de roupas assim. So gozadas. Dariam uma boacapa de CD.

    Um pretrio romano? Sim, eu sou um deles...Um cavaleiro! Que garbo. Que imponncia! Homem lindo, escudo fantstico!Levanta o elmo. Jesus! Ele sou eu... o cavaleiro sou eu! Um templrio!

    Sou eu!...Guerra, lutas e morticnio, e o ator sou eu. Filme esquisito! mesmo um sonho... ou ser um pesadelo?

    Fogo! Eu estou no fogo... minha carne est ardendo, a dor... a dor incontrolvel! Deus! Eu agi em vosso nome, por que estes, que esto minha volta querem mequeimar? Eu sou um de vossos guerreiros.., no! No... o que fizeram de minha carne...? ela queima... cinzas., somente cinzas! Onde est Deus?Que estou dizendo? s um sonho. Acordarei. Logo mame estar aqui. M

    andei cham-la. Tenho dinheiro agora e posso mandar busc-la. Graas aDeus, no h maisfogo. S cinzas. O que restou do ator... o que restou de mim?

    Jacques, Geoffrcy, Henry, Somiers... amigos! Que saudade! Onde estaro vocs?Amo-os todos! Nossa causa no foi perdida. Venceremos um dia. Ah! Que p

    ena! Mudou a fita. Estou em outro ato. Continuo atuando. Sou o ator novamente.Mais cenas desconexas.Por favor, querem passar essa fita mais devagar! Mas, que droga de cinema!Vou exigir o meu dinheiro de volta na sada.Recomeou. Agora creio que vo passar algo decente. Que tal uma fita com

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    o De Palma? Estou a fim de divertir-me.Nossa! Agora escrevo. Sempre gostei de escrever, letras, peas... Muitas

    peas. O amor, escrevo sobre ele, sobre a decepo daqueles que o experimentam, dramas,sofrimento dos seres humanos. Como sofremos! Por que Deus nos deixa sofr

    er? Retratos de vida., somos ns... sofremos por amor... ou ser por no saber amar?Quem perguntou isso? O que ento o amor?Estou procura do amor. Escrevo indecorosidades. Libido exacerbada, dese

    jo, paixo! Aqueles que leram meus romances... eu os levei a sonhar... quem no sonha morto! Mas... eu estou sonhando. Vendo filmes de minha vida. Eu, o ator.Ser que estou morto? Tolices, mortos no sonham.

    Meus amigos... me diziam que vivemos. Sonhos so expanses da alma.

    Besteira! Meus amigos lem tolices demais. Li muito sobre isso... mas, sotolices! Coisas de futurlogos, visionrios, profetas. Jesus era um profeta... Temoque meus amigos tenham razo. No digo isso pra muitas pessoas. Isso no hora para falar dessas coisas. O filme continua e o espetculo no pode parar.Por favor no me atrapalhem!Novamente escrevo. Dramas, pitadas de romance, textos picantes, sensualidade, o amor indiscriminado.Amar no depende de sexo, cor, credo, raa, convico poltica... nada! Am

    ar amar, e pronto! Ouo vozes. Agora o meu filme tem trilha sonora. Melhorou. Muitasvozes. Jovens!Que beleza, cantam as minhas msicas, mas o filme no cessa. Que insanidade! Estarei louco?Recomeou.Uma bela mulher. Amo-a; ela me ama, fugimos... estou apaixonado. Reencontrei o meu amor. Escndalos!Superaremos isso, meu amor. Estarei contigo alm da eternidade, se ela exis

    tir, meu amor!- O que digo? Eu sinto que ela existe. Eu acredito intima- mente que existe.Estou morrendo novamente. A tosse que no cessa, o sangue que escorre.No me deixa morrer, meu amor! Tudo se apagou.Onde esto os meus livros? Escrevi-os. Guardem meus artigos! Ser que es

    crevi meu testamento...? O que estou dizendo?.Ah! Que bom! J no estou mais morto, agora estou no papel de umjovem,

    bonito, 17 ou talvez, 18 anos. Meu pai e eu conversamos e ele me passa um encargo:

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    Lute, filho meu, lute! Salve a nossa ptria do Fascismo. a besta do apocalipse! Lute!A guerra, a besta do apocalipse. Foi o Fascismo e o Nazismo! Meu pai tinharazo, eles vo destruir o mundo. No permitirei. Sou jovem, tenho foras einteligncia.

    Sei ler e escrever. Alistar-me-ei no exrcito. Meu pai me probe. O exrcito do Duce Fascista maldito! Abaixo o Duce! Morte ao infame!Meus pais! So feitos prisioneiros dos Nazistas. .. Irms violentadas, irmos mortos; Fuzilados! Odeio o Fascismo! Enviados da morte., bestas! Sou umcavaleiro

    tambm. Vou lutar pela honra do meus pas.Tomazzo,jovem e forte, meu amigo de infncia, veio lutar comigo. Amigomio! Faremos um bom par de soldados pela liberdade. Tomazzo, figlio de Dio!

    Lindo e formoso. Ele me ama. Estou apaixonado. Lutaremos lado a lado, at a morte!No! Tomazzo, tenha cuidado! No v por a... ! Pai, cui El

    morreu. Morremos. Foi embora...! Tomazzo se foi. A razo de meu viver. Eessa msica que no para! J cantei muito para vocs, agora me deixem e

    m paz! Queroassistir a meus filmes, sossegado! Estou com febre novamente, sinto meucorpo arder. Preciso de medicamentos! Chamem papai! Me injetem algo! No posso ter convulses.Eu preciso voltar ao estdio. Meus amigos me esperam. Meus projetos no p

    odem parar. Me deixem em paz! . . .no momento, quero assistir s minhas fitas.Agora eu sou eu mesmo. Sinto muito, mas no posso deixar de ser assim. Penso, falo e rio, brinco e amo. Sou assim, um ser ambulante, o vil metal, a pedra brutae cantar o que sei fazer. No queiram que eu seja diferente. Eu os amo! Meus pais... adoro esse lugar... Os meus amigos preferem ser tolos, eu no.Quero ser algum,ser amado, gosto da vida. Ah! Eu odeio esse colgio! Esses tolos me escar

    necem, s porque sou diferente! Vou escrever novamente. Quem sabe algum dia seja um jornalista.Tenho que mudar a cabea desse pas de hipcritas! Tenho que mudar o mundo!!! No suporto essa palhaada... fazem o povo de escravos!Eu no sou um fantoche! Me entendem? Tenho cabea, inteligncia para pensar e disposio para o trabalho. J escrevi ao mundo antes e o mundo me aceitou. Agora,vou cantar para ele. Me aceitaro novamente.Sinto-me um excludo, um pria social, um abortado! Plugo

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    o meu violo e fao um som, assim que viverei: fazendo msica!Vocs me excluram, mas eu me vingo. So os Fascistas que queremo poder. Aqui tambm... aqui o Brasil... o pas do futuro. Mas eume vingo., cantar ser minha forma de dar o troco!Li isso em algum lugar. Tenho lido muita coisa. Vou compor. Sou diferent

    e dos outros amigos. Eles adoram falar de garotas. Mas, eu procuro algum. Esse algumno est nelas. Um amor. Bem que eu tento amar.Mame, sou diferente! No me forcem a barra! No briguem comigo. Estou

    em busca de algo: o amor, no importa de onde ele venha, no me interessa em quem vou encontr-lo.Sou um ariano, sacam?Vejo os palcos. Luzes, cmeras... muita ao! Novamente sou ator de mim, .. .agora sou eu. Canto, dano, as pessoas aplaudem,

    dado! No...!riem, pulam, se embriagam, a maravilha da arte. So lindos! Juventude maravilhosa, fantstica gerao que ainda ingere enlatados americanos. Vocs so aesperana do pas. No deixem que eles afoguem os seus sonhos! Permitam-se ir e vir, livremente. Deixem que o amor penetre em suas entranhas.Amem-se. Me amem! Vocsprecisam me amar...Meus amigos... meu amor... e essa maldita febre que no passa! Por favor,me dem uma luz aqui! Est ficando escuro demais. Estou tonto. Onde est

    voc, papai?Ah! Finalmente, esto me remexendo. Sinto agora que me levam para algumlugar. Talvez para o hospital. Acho que tive uma recada. Mas, que dro

    ga! Acabou ofilme. Est tudo to escuro! Eu bem que imaginei que a sobrecarga energtica de uma cidade como o Rio iria provocar um black out. O calor est aumentando!Algum me chama:Ruggeri! Ruggeri! Meu filho... acorde... venha comigo. Precisamos sair da

    qui. J no podes mais ficar. Acorde, meu filho, vem comigo!Conheo essa voz. a mesma que falava comigo nas horas mais dificeis, nahora de compor minhas canes, nas fossas...

    Sim, sei quem voc . minha mente que fala comigo?Ruggeri, precisas ver o mar. Gostas tanto dele. Para amainar tua febre, tens que vir comigo. Vamos praia?Sim, quero ir praia, o ar marinho me far bem.

    Tudo se apagou em definitivo. No vejo mais nada, como se tivesse deixado de existir...

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    oOoIsso foi no princpio, ou no recomeo da minha caminhada. Entreguei-me vida ou falta dela. Permiti me deixar escorrer pela sarjeta da doena, que me carcomeua vontade de prosseguir, mas esse no foi o principal motivo. O monstro d

    o desnimo cresceu, tomou forma, at me dominar completamente. E eu que julgava ter foras,que me achava imbatvel, sucumbi. Assim o permiti. Estava cansado de viver.Literalmente, desisti.

    O destemido e irreverente vocalista, entregou-se aos inimigos: inrcia e falta de f.

    A Estao dos Jasmins

    Shangri-la, Xanadu, Cana, den... tudo verdade! Epor que no? Eu estou num paraso, onde se vive, se trabalha, serespira, pois todos se respeitam. O preo: boa-vontade, caridade, tolerncia,pacincia, reforma interior. Mas, ainda

    no o cu... esse mais longe.Alguns se questionam: Como pode um devasso alcanar o paraso? Meus amigos, o paraso estar onde nos sentirmos felizes., e eu no sou um devasso. Cometi algunserros, que

    algum dia os resgatareLH quem imagine que devamos resgatar tudo pela dor. Percebi que no possocarregar opeso da cruz, daqueles que

    sentem, no masoquismo, a razo de suas trajetrias. Eu prefiro resgatar meus dbitos pelo amor que estou aprendendoa sentirR.R.Sem que me desse conta do espao ou do tempo avanado, eis que recordoterem me levado a um lugarzinho aconchegante, parecido com um pequeno s

    tio em meio a densacamada de nuvens escuras. Um lugar bastante arborizado, que me fez lembrar Braslia e suas avenidas largas. Contava com uma casa avarandada, tpica de fazendolas,ladeada por imensos e fartos jardins. Em frente mesma, uma nica fonte

    jorrava gua lmpida em abundncia.Estava pssimo, tonto, com nuseas constantes e muita febre. Parecera haver acordado de um pesadelo.Inmeras pessoas trajadas com vestimentas de fino tecido, mas de muita si

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    mplicidade, iam e vinham. Algumas, ou quase todasque me olhavam surpresas, sorriam ou aplaudiam, parecendo me conhecerem.Oi, Ruggeri, tudo legal? disse-me uma linda jovenzinha de cabelos longos,estou muito feliz por voc estar de volta. Espero que goste da estadia. E

    nviou-meuma beijoca.Olhei-a atnito, apesar de estranhos, me pareciam familiares, exalavam felicidade e eu no me sentia assim. Em contrrio, encontrava-me conturbado,cheio de dvidas,alm da horrvel sensao de degradao fisica.Me conhecem devido fama! s isso... Imaginei. medida que ingressvamos mais naquele lugar, pude notar que estava envolto numa espcie de cpula, interligada a aparelhos, por onde respirava-se

    ar puro, coisaque h muito no o fazia muito bem. Era um casulo malevel, moldava o meucorpo em toda a sua extenso, o qual sequer o sentia direito, por encontrar-me entorpecido.Recordei-me de um filme do Jonh Travolta, o menino da bolha.Finalmente, porta da sede do lugar, trs pessoas sorridentes, vieram nosreceber, pois alm de mim, encapsulado, havia os que me trouxeram.Um deles, o que me pareceu ser o mais maduro, aproximou-se:Bom dia, Ruggeri!O homem no me era estranho. Alto, cabelos grisalhos, usava bigode ita

    liana. Um outro, mais moo, tambm usando um bigodinho, demonstrava bastante simpatia. Esseeu no o vira antes; atinava que j o conhecia. Mas, de onde? Dentre eles, uma senhora muito bonita, aparentando um 5o anos, tez limpa, quase sem rugas, contemplava-mecom lgrimas no rosto.O baixinho, mais moo, veio at mim e disse:Salve! Quanta satisfao em v-lo. Ns o espervamos ansiosos. Fico muito feliz. Meu dolo est aqui. Mais tarde, certamente, pedirei um autgrafo a v

    oc. brincou.Os que estavam em derredor bateram palmas. Confesso que no os entendi. Euera um doente, no estava nos palcos, sequer podia cantar para eles, aque

    la patota degente feliz. Impotente estava, apesar de tanto calor humano. Chorei.O mais velho deles arrematou:Figlio mio, que Deus te abenoe! Sabemos que tuas lgrimas so de incompr

    eenso. Talvez no entendas o que se passa contigo, a doena, a perda da vida, a falta

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    dos familiares e amigos,dos amores... talvez, sequer calcules a importncia que tens para ns e para muitos. Quiseste o amor. Procuraste. Mas, ele sempre esteve contigo, semque fosse necessrioir at os confins do mundo para encontr-lo. Quanto pedimos por ti. O

    homem choramingava comigo. Arrematou: Pensas: quem sou eu? Quem so esses que me acolhem?Que lugar mais maluco de gente simptica...! Mas, todos somos amigos, irmos, filhos de Deus. Do Deus que distribuiuo amor pelo universo, que depositou a semente dessa virtude em cada um dens. Por isso, incessantemente, O buscamos. Queremos ser iguais a Ele qu

    e nos criou: oamor. Sinta-te em casa figlio, este o teu lar! S pedimos que no te deixes arrastar por pensamentos negativos de degradao, desamparo ou de autofl

    agelao.Isso j passou! Doravante, seguir em frente, continuando a tarefa que foi crestada pela prpria inrcia, diante da vida que te sorria. Aproveita a oportunidadepara prosseguir, sem olhar para trs. E quando menos esperar, vers que o amor se instalou em ti. O amor no est nas pessoas, no est restrito ao corao ou aodesejo, no se confunde com o sentimento entre criaturas, que limitado. amplo, genrico, universal, divisvel, tolerante, paciente, supera a tudo e atodas as

    situaes adversas, perdoa, tudo cr, tudo faz, tudo suporta... lembra de tuas letras? Tu o disseste atravs de tuas canes. S no soubeste como pratic-lo, comosenti-lo em sua inteireza.A essa altura da explanao euj estava perdido em copiosas lgrimas, perplexo diante das palavras daquele homem to bonito. De sua boca parecia jorrar luz; igualmentedo seu peito. E eu s pude chorar.No desgastes tuas energias, que esto escassas, com aflies. Tudo o que c

    onseguires reunir, doravante, ser de vital importncia ao teu restabelecimento. Urge,por agora, que compreendas que s necessitado de cuidados, de refazimentoe para isso estamos aqui. Dispe de todos ns. No calculas o quanto fosteajudado. No

    te preocupes com teus pais, amigos, protestos... isso ficou no mundo.Repousa. A estrada tua frente novo caminho redeno das lies esquecidas. Se antes buscavas a melhoria do teu povo, numa luta desigual contra ainjustia

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    e a tola vaidade dos poderes da terra, em diante, ters que arregimentarnovos amigos, pela compreenso de que s poderemos mudar o mundo atravsda concrdia, daretido de sentimentos, do esclarecimento e da reforma interior. Nisso,estaremos sempre unidos. Formamos uma imensa legio de afinizados com o

    bem. Oramos muitopor ti, Ruggeri. Tens muitos amigos, dado tua limpidez de expresso, sinceridade e determinao. Teu idealismo tambm o nosso, muito embora trabalhemos com outrasarmas, mas hoje, por merc Daquele que nos assiste, podemos compartilhar oreencontro neste osis de paz. Ests na Estao dos Jasmins, ao norte do

    Rio de Janeiro.Chamo-me Donato. Este aqui o Luiz Srgio, e esta a adorvel Amlia.O baixinho interveio apertando-me a mo.

    Muito prazer, cara, sou seu f! De vez em quando, tento dedilhar em minha viola algumas de suas canes. J prometi a mim mesmo e aos amigos quefaria um curso,para executar bem o meu instrumento, s que no me restou tempo ainda. Hsempre muito trabalho a fazer. Eu chego l!

    Sorri para ele. Sujeito espirituoso.Amlia apresentou-me queles que me trouxeram.Ruggeri, este Saulo, o instrutor da pequena expedio que o trouxe. Raul

    , especialista em desligamentos. Suas e Caio o ajudaram como auxiliares.Esta Luzia,

    tcnica em anestesiologista fludica, que o manteve mais ou menos livre dosofrimento. Pisquei-lhe o olho e ela retribuiu-me com um clido sorriso.Ingressamos todos na casa. Donato me olhava enternecido. Quem seria ele?imaginava.

    Curioso, apesar de pequena vista de fora, seu interior assemelhava-se a imenso hospital, cheio de corredores, salas, luzes e muita gente transitando. Veio menteum filme a que assistira h tempos. Tinha uma casa assim. Era grande porfora, mas quem nela entrava parecia haver ingressado em outras dimenses.

    Mais adiante, Suas e Caio transpuseram-me para uma maca, conectando maisalguns tubos a um aparelho tipo hospitalar, que in fiou-com um gs tnue e inodoro. Deduzi ser oxignio puro. Enquanto isso, Amlia preparava uma banheira, similar s de hidromassagem, entornando lquidos de diversascores, que escorriam por pequeninas tubulaes, at se misturarem, quando olquido, ento, tornava-se violceo.

    Por favor, tragam-no. Coloquem-no na man-jedoura, levemente, assim chamou Amlia o repositrio onde eu iria ficar, solicitando aos que operaciona

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    lizavam comela. Senti um pouco de medo, embora, aos poucos, me enchesse de confiana. No acreditava que eles pudessem me fazer qualquer mal. Depositaram-me lentamente, e medida que fui submergindo, a gelidez da seiva me

    causou inquietao, pelo contato do lquido com o plasma tnue da bolha e, por conseguinte, minha pele. Destarte a sensao de desconforto, quandoAmlia abriu uma

    pequena torneirinha, deixando escoar o que me pareceu ter, por incolor e decheiro forte, o que era at ento desagradvel, foi substitudo por indizv

    el sensaode paz.Adormeci, ento, mas conservava a conscincia. Sabia que estava vivo. Afinal, eu estava pensando. Idntica sensao quando se dorme aps um farto

    almoo, pesado,profundo, mas como se estivesse acordado.Num torpor indefinvel, fui mantido armazenado na bolha por longo perodo, parecendo estar dormindo, mas percebendo os movimentos dos transeuntes do lugar que, mesmosem v-los, ouvia-lhesos murmrios ao longe e os sons do ambiente.Despertei, tendo frente alguns dos que me receberam naquele lugar.Bom dia, meu filho! Como te sentes? inquiriu-me Donato, transmitindo-mepaz. Similarmente, seguiam-no em idnticos gestos, Amlia e Luiz Srgio.

    Oi, chapa! Tudo legal? Lembra-se de ns? Somos os astronautas...! falou orapaz de menor estatura.Amlia acariciou-me a fronte por sobre a fibra da bolha. Chamou uma enfermeira e pediu que me fizesse uma espcie de limpeza.Aps me retirar pacientemente do envoltrio, eu me encontrava recobertopor um muco tnue, semelhante aos que se vem nosbebs, aps os partos. Quis esboar algum questionamento, embora no pudesse, face a um tubo inserto na cavidade bucal, quando Luiz Srgio atalhou-me:

    Ah, no, no! Ainda cedo para falar algo. Primeiro, necessitamos lev-loa um especialista no assunto. Voc ainda traz seqelas de sua estadia terrena.Estadia terrena? indaguei mentalmente.

    Parecendo ler os meus pensamentos, Donato me tirou dvidas.Ruggeri, preciso que saibas de tudo como aconteceu. H oito meses terrenos atrs, chegaste a esta Estao que nada mais do que um posto de emergncia avanado.Em tuas indagaes mentais percebi tua apreenso e questionamentos. No se

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    turbe o teu ntimo. Aos poucos tudo ser esclarecido.Por que me transferiram de hospital? Ser que a conta no foi paga? Posso reclamar junto a meus parentes. Papai pode faz-lo...! Indaguei, tentando me expressarcom os rgos da fala.

    Calma! Tudo a seu tempo. As impresses da doena e do desgaste fisico ainda lhe inibem as possibilidades de movimentao normal.Amlia, prosseguiu:Meu querido, aqui tivemos a honra de receb-lo. Na realidade voc foi tran

    sferido, no s de hospital, mas de plano de vida. A Estao dos Jasmins no na Terra,e sim no plano espiritual, ou seja, do outro lado da vida, como falam os encarnados.Senti um choque! Ento eu j partira do mundo e no soubera?! Comecei a

    inquietar-me e me debater na cama em que me acondicionaram. Amlia, percebendo-me o desespero,colocou a mo direita, que mais parecia uma pluma de algodo, sobre minhafronte, trazendo-me paz. Aos poucos fui relaxando. Sej havia feito a passagem, no haveriamotivos para inconformaes.Obrigado. Voc um doce.Voc tambm! respondeu-me.

    Estava confuso quanto quele tipo de comunicao. Eles me ouviam o pensamento, muito embora os visse falar.

    Seriam extraterrestres? Calculei.Ruggeri, hora de fazer um pequeno passeio. Disse-me Luiz.Colocaram-me em uma cadeira que no tinha rodas, mas que deslizava. Coisasemelhante s vira em filmes de fico cientfica.

    Luiz Srgio empurrava a cadeira, ladeado por Donato. Conversava abertamente, mostrando-me as belezas daquele osis de paz. Vi muitos jovens e crianas brincando;at mesmo animais. Era belo!Adorava crianas.

    Mais adiante, chegamos a um lugarzinho fantstico. Um campo de flores das mais variadas cores, exalava perfumes desconhecidos que me preenchiama alma, e o ventoclido percorria levemente por todo o lugar. Um carinho da natureza! Dava para perceber que eu tinha corpo, eu o via e a brisa o tocava.- V como bela misericrdia de Deus, meu filho? Expressou-se Donato,enquanto eu me detinha em imaginar se estaria mesmo morto.Ei, amigo, no pense bobagens, ok? Tem muita coisa bela aqui para se ver.Se pensas que est morto, como ser inteligente que , comece a pensar: por

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    que serque estou aqui, vendo essas coisas, se estivesse realmente morto? Acalme-se! Voc agora est no lugar de Scrates. Naquela poca, na Grcia, ele pretendia chegarao outro lado da vida, para poder provar aos outros aquilo que ele pregava.

    alertou-me, Luiz Srgio.Como percebera que podia conversar com ambos pelo pensamento, pois no havia sido retirado o tubo que me impedia de gesticular a mandbula, continuei em minhas divagaesinterrogativas.Quer dizer que realmente, estou no alm?Est. S precisa refazer-se e acreditar que suas capacidades e aptides noforam perdidas, pelo fato do trespasse de uma dimenso para outra.Como assim?

    O que fazia antes de vir para c? questionou-me.Cantava, danava, compunha, fazia rockandroll... amava...E por que acredita que no pode mais fazer isso?Vocs disseram sutilmente que morri.., isso tudo?

    Creio que no, Ruggeri. Se fosse tudo, no estaramos com voc aqui. Existem milhares de pessoas que partem da terra todos os dias, enquanto inmeros nela reingressam.Dentre esses milhares ou milhes, existem aqueles que acreditam que so alguma coisa ou querem ser. Ao contrrio, voc quis deixar de ser alguma coisa. Se permitiu

    cair no vazio da incerteza, da descrena, do abandono de si mesmo, Niilicamente* ...coisas que sempre combateu na vida terrena. J pensou o que achariam de vocagora, vendo-o neste estado, porque voc mesmo assim o quer? O que percebemos, amigo, que por auto-piedade, cr ser um derrotado, a pior pessoado mundo, um falido,um marginalizado, sem crdito para que o amem...Confesso que fiquei indignado com a explanao do homenzinho. Quem seriaele para dizer o que fui e o que no fui, ou que poderia deixar de ser? E

    ra dono de mim,tinha o meu prprio caminho, no aceitava que me dissessem o que deveria saber, porque eu era eu.Filho. At quando vai se deixar conduzir pelas torrentes do orgulho destr

    uidor? Quanto lutamos por voc! Quanto procurei alert -lo Agora, tem a oportunidade derefazer-se para a vida, dando continuidade aos projetos dantes abandonados.

    Eu no pedi para que ningum me socorresse! Nem sei nem quem voc ..

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    . no preciso de ningum, ouviram? No preciso de ningum! Deixem-me em paz! Quero minhafamlia de volta, meu filho, meus amigos e parentes... minha vida !Descontrolei-me por completo. Enervei-me a ponto de tudo minha voltatransformar-se em ambiente fumegante e nevoento. Aqueles que antes me l

    adeavam, no mais osvi. Onde foram todos? E a estncia, por que desapareceu? Amlia, onde estaria?Ingressei numa espcie de turbilho, similar ao centro de um furaco, ondetudo era um caos desconcertante.Fiquei estonteado e perdi a noo de tempo e espao.Donato? Luiz... Amlia, Luzia, onde vocs esto? Vociferei desesperado,

    pois o tubo j no estava mais em minha boca.* N.M. Nililcainente: palavra derivada de Niilismo. Niilismo Doutrina se

    gundo a qual nada existe de absoluto. Descrena absoluta. Reduo ao nada. Aniquilamentototal.Minha voz ecoou e, ento, pude sentir que algum se aproximava minha retaguarda; passos pesados, entrecortados por risadas medonhas.Olhem s quem est de volta., no acredito! O chefe vai adorar saber disso.Volvendo-me, para saber quem eram os emissores das gargalhadas estentricas, divisei seres estranhos, esfarrapados, de carantonhas terrficas, algunsat desfigurados.Monstruosos! Um calafrio percorreu minha espinha. Comecei a perceber que

    readquirira algumas de minhas funes fisicas, antes inertes. No pudeme mover como pretendia.Na verdade, a vontade era correr dali, mas s consegui me arrastar, deficientemente.Onde vai o nosso dolo? Disse um dos macabros seres.- Quem so vocs? O que querem de mim?... deixem-me em paz! manifestei-me meio tatibitate.Calma, cara! No vamos te fazer mal. S queremos curtir rock, saca? Vocvai fazer um show para ns e de graa, entendeu? falou-me o mais imponent

    e deles.Se querem curtir rock, procurem algum metaleiro, pois euno canto heavy-metal.No se preocupe, cara, voc faz o show e ns te liberamos.intercedeu um deles que se assemelhava a um cadver mumificado.

    Saiam daqui! Me deixem em paz!Muito engraado, cara! Voc foge de ns, nos abandona por aqueles emplumadinhos da luz e agora que est aqui de volta, demonstrando que nos adora tambm, quer fugir

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    novamente? Nem pensar! Voc nosso!No sou de ningum! Quero que me libertem j! . . .tenho vontade prpriae no dependo de vocs para nada! isso que voc no percebe, meu! Teu orgulho nosso alimento. Bem que precisas de ns. Se no fosse por nossa turma, voc estaria numa fuma agor

    a. arrematouo mais degradante deles.Mais uma vez estava confuso. Por que num momento estava em ambiente de tranqilidade, de imorredoura paz e, noutro instante, via-me atado quele lugar infernal,escuro,lodoso e frio, habitado por criaturas bestiais?Fui conduzido por eles a uma metrpole tenebrosa, assemelhada a uma cidade, com casas, apartamentos, tudo de uma agitao desconcertante. Mulheres

    , crianas, velhos,rapazes, se debatiam numa babel sem limites. Orgias diversas em plena rua, bebedeiras, inmeros pares em conjuno amorosa, verdadeira Broadway dos infernos. Paraminha surpresa, chegamos a um teatro muito grande, iluminado por tochas ecercado de fumarolas que exalavam um odor ftido. No frontispcio, eis queestava escrito

    o meu nome: Grande show com Ruggeri e sua banda. Que loucura! Estaria mesmo ficando louco? Ora, num lugar que era um paraso; noutro momento,num covil s descrito

    em narrativas dantescas. Rompera os limites da insanidade.Inmeras pessoas estavam frente da construo negra, equando me viram bateram palmas, agitando pedaos de paus. Outros, com lumes acesos, uivavam numa coreografia impressionante, i guisa de selvagens. Alguns se drogavam,outros brigavam entre si.Meu Deus!, pensei Em que fui me meter?! Tirai-me lesse pesadelo...!

    No reino undergroundQuando somos pequenos, temos medo do escuro, de bruxas,

    do lobisomem, de fantasmas. Devamos ter medo de nsmesmos, pois somos ns que nos projetamos para baixo.A nossa vontade uma terrvel arma. Mal direcionada, provoca a destruio. Bem orientada, torna-se uma fonte inesgotvel de criao e benfazeja. Doravante, escolhoa segunda opo. Todos temos esse direito; o de escolha.R.R.Levaram-me e fui obrigado a cantar para uma multido que, mais parecendo torcida futebolstica, atirava-me toda sorte de objetos, frutos e at lama. T

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    oda vez quetentava dizer-lhes de minha indignao, algum malfeitor me cutucava, ameaando atin -me com um porrete cravejado de salincias pontiagudas.Se falardes alguma coisa alm de ant panco com isso! Esbravejava o ai z e

    m tom in

    J exausto, um presumvel cice:resolveu silenciar.Caros amigos! Conforme havia prometido, trouxe aqui o nosso dolo Ruggeri Rubens. Viram? Promessa dvida e nessas plagas, aquilo que prometo levo a cabo. Gostaramdo show? Querem mais...? bem, deixemos para a semana que vem. O cara, como vem, no passa muito bem. Parece que a estadia l na casa do Cordeiro no foi l essascoisas. Viram, bem que os avisei? Pois bem, teremos hoje mais uma surpres

    a. Traremos, daqui a algumas horas, um grupo metaleiro. uma banda de arraso e vai estremecertudo por aqui! Alm disso, conforme tambm prometi, viro grupos de viciados, dos quais vossas senhorias podero se banquetear. medida que aquele homem grotesco ia falando, eu tentava delinear o que realmente estava acontecendo. Que estava morto, disso euj soubera. Deixaraa terra e

    o mundo dos vivos. Mas, se o mundo dos vivos no era ali, qual a necessidade daquele mestre de cerimnias prometer a vinda de terrenos, ou seja, vivos para

    aquela festa? Isso significava que os supostos vivos da terra poderiam freqentar tambm aquele lugar. Se o podiam, como isso se daria? Minhas elucubraes foraminterrompidas por um sujeito alto e feio, vestido com uma espcie de pelede animal, lembrando um Pitecantropus desses que vemos em livros de Histria geral.Diz a, cara...! - cumprimentou-me com uma voz roufenha.Eu te trouxe uma dose de tranquilo. Experimenta s!Saa daqui! Deixe-me em paz! Retruquei alterado, empurrando-o. Estava e

    njoado e passava mal com o cheiro acre do lugar.O mestre de cerimnias, ao ver a cena, determinou que me retirassem do palco e me levassem ao que parecia ser um camarim.L chegando, quase desmaiei de susto ao encontrar um famoso vocalista deuma banda paulista.Ruggeri! O que voc est fazendo aqui, rapaz? Pensei que voc tivesse idocom os caras do Cordeiro.

    Cordeiro? inquiri.Sim. Foi o que me disseram aqui. Isso gerou uma indignao geral na moada

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    . Veja l o que voc apronta! Eles tm leis severas. Por pouca coisa te confinariam numafurna-priso. L o sofrimento grande!Mas, o que voc est me dizendo? Que histria essa de furna? E o que fazaqui?

    Venho sempre. Aqui meu reduto, somos livres, gosto das badernas que aprontamos. Alm do mais, me adoram, assim como a voc. s vezes sinto atcerta inveja, mas

    no me importo. Tenho os meus ifis tambm. Quanto s furnas, so lugaresde sofrimento onde eles encarceram os recalcitrantes e nervosinhhos. Cuidado para no provocara ira de Sodom.- Voc no lembra? Vinha aqui de vez em quando...?! Antes de voc bater asbotas, ele prometeu galera que o traria para

    fazer um show.Ele dono desse lugar horrendo? o prprio deus daqui. Foi aquele que anunciou o seu show agora h pouco.Tudo passa por sua mos. Ele promete, ele cumpre! idolatrado por todos,tem leis justas

    e as promove atravs de fiis servidores. Isso aqui o underground, meu caro, o submundo!Pensei que fosse o inferno!Que inferno? Isso aqui um paraso! No percebeu ainda? Temos tudo de qu

    e precisamos: fama, luxo, mulheres, bebidas, drogas, sexo... tudo! Aqui n

    o h limites.Cara, euj sa disso...!Voc um iludido! Tenta se iludir. Pertence a Sodom! Todos os que amam

    o vcio pertencem a ele.No perteno a ningum! Bradei revoltado.Pertence sim...! bem mais do que voc pensa. tanto que voltou para c. Difi

    cil se libertar dos grilhes, amigo, muito dificil...Eu sei que posso me libertar, farei de tudo.Advirto-o: muito cuidado. Por mim, fico de bico calado. Mas, esse lugar te

    m ouvidos e olhos.., muito cuidado!Me fala mais alguma coisa sobre isso aqui. bom que voc veja com os seus prprios olhos. Mais tarde vir uma bandade metaleiros da crosta, que faz muito sucesso no Brasil e no mundo. ro

    ck, meu velho,do bom e do melhor...!E o que isso tem demais? Tambm fazamos rock e tenho certeza que da me

    lhor qualidade.H gosto pr tudo! Aqui, valem os gostos e Sodom tenta supri-los a todos.

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    Como gozo de certa liberdade e no preciso ser vigiado, vou te levar paraconhecer acidade.J vi parte dela...Sodom? Quem esse sujeito?

    Nem tudo, nem tudo...O conhecido vocalista, a quem chamarei de Rodes, me levara pelos arrabaldes da cidade fantasmagrica, um reino de toda sorte de desajustes, violncia, droga e osexo sem precedentes. Fui conduzido numa espcie de veculo muito parecido com as motocas da terra, e o meu colega possua uma.Num certo ponto do trajeto, paramos defronte a uma boate parcamente iluminada por archotes medievais. Na entrada, brutamontes escuros faziam a triagem daqueles que

    poderiam nela ingressar. No diferenciava em nada dos inferninhos, to costumeiramente conhecidos e freqentados. Perguntei-lhe:Que lugar esse?- Voc no percebeu ainda? Essa uma cpia da X.., famosa boate do Rio deJaneiro. Aqui freqenta a alta roda da society, filhinhos-depapai, dondocas, atores,GLS.., figuras importantes, entende Cara?Mas, isso aqui no chega nem aos ps do que a tal boate a que se refere.

    Lgico! Estamos no outro lado da vida, sacou?Afinal, voc ainda vivo?

    Claro, bicho! S que noite a gente d uma passeadinha, entende? A gente livre pr ir aonde quiser, da rola o que sentirmos vontade. Se gosto de bebidas, vouaos bares, se quero um free-base, procuro a galera esperta. Se amo o sexo ... o sexo! , venho a essa cidade maravilhosa, saca?Me leva embora daqui. Estou me sentindo mal.

    IJ, S por que passou um tempinho com os caras do Cordeiroj virou santo, ?Se fosse santo, acredito, no estaria aqui.

    Sem me dar conta direito do lugar, fiquei apalermado quando vi ao meu ladopessoas conhecidssimas do meio artstico. Todos me felicitavam por estarnaquela. Alguns

    at se assustaram: Puxa cara, voc no havia moi-rido?, diziam, at parecendo que no estavam mortos. Outros me ofereciam bebidas, cigarros e at drogas devariadas espcies, muitas das quais sequer conhecia. Recusei tudo! Minha vontade era sair dali. No me saam da mente o sorriso de Amlia, a tagarelice do Luiz e

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    o olhar aconchegante de Donato.Rodes, me vendo apreensivo e disperso, levou-me para fora.No se assuste, cara. Voc parece que viu fantasma! Para alguns deles, voc um. Relaxa! Arrematou gargalhando.Em que confuso me metera! Um lugar estarrecedor, pessoas degradantes. Al

    go fizera para merecer aquilo. No podia crer que, existindo Deus, pudesse Ele permitirtal coisa. Mas o que eu estava dizendo a mim mesmo? Quando em vida atirei-me a desvarios parecidos... o que pensar agora? Quedei-me decepcionado. Chorei.Antes de estar ali, apesar de ter noo pelas leituras, no tinha a certeza exata de que as coisas seriam assim. Os livros que li, os comentrios que ouvide amigos

    que acreditavam no alm-vida, tudo me parecia algo distante da realidade, p

    referindo acatar tais conhecimentos como meras conjecturas filosficas. Ruggeri, vai dar uma de maricas agora, vai? Chorando, meu?! O que voc acha que a turma vai pensar de mim, estando ao seu lado? debochou.Eu s quero sair dessa. Me leva embora!Est bem, est bem... seja feita a vossa vontade, majestade! ironizou mais

    uma vez.Samos. Mais adiante ele me levou a lugar, essen-cialmente,de homossexuais.Creio que voc, agora, vai se sentir em casa. Gracejou Rodes, chacoteando.

    Que voc pensa estar fazendo? Acha que sou palhao? Por que no respeitaminhas limitaes?U! Voc no buscava a tal liberdade de ser quem era? O que tem vir a um

    lugar com que se afiniza?Sem muitos argumentos, calei-me. No fundo ele tinha razo. Concordei em entrar com ele para conhecer o ambiente.To grande foi a minha decepo ao ver gente que eu conhecia l, naquele lugar. E o que pior, muitos deles assumindo formas teratides*.* N.M Teratide - Semelhante a monstro.

    Mas, isso aqui uma espcie de baile fantasia? Perguntei a Rodes, que caiu no soalho rolando de tanto rir.S voc para me alegrar, Ruggeri. Claro que no, amigo! Essas so as form

    as que queremos ter por aqui. Como eu te disseaqui somos quem queremos ser.Existem monstros aqui! Isso algum filme, sonho ou pesadelo?No esquenta! No pesadelo no. Somos ns, mesmo! Voc acha que somo

    s to bonitos quanto parecemos? J experimentou se olhar no espelho?Ante a pergunta dele, senti vontade de ver como estava. Fui conduzido at

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    um banheiro, onde tudo era ornado com objetos e imagens erticas. Chegando ao espelho,me coloquei defronte a ele, vagarosamente, temendo encontrar mais uma decepo.Confesso que fiquei enojado de minha imagem. Horrivelmente maltrapilho,

    nariz deformado, veias sanguinolentas mostra, caqutico, cabea embalonada, cabelos emdesalinho, olheiras profundas e corpo cadavrico, senti pena de mim mesmo.Viu s, cara? Aqui somos quem somos. S que voc no secontrola ainda, mas vai aprender. Eu j consegui, portanto, dou a mim a forma que quiser. Basta no ter pena de si, encarar de frente que voc algum que podeser muito feliz, saca? Na verdade, eu sou este aqui... olha!

    Fiquei observando-o e, aps alguns minutos ele metamorfoseara o corpo. Assistindo transformao de Rodes, vomitei de nojo. Ele se transmudaraem um mitolgicofauno, predominando em si a sensualidade.Desmaiei, tamanho o meu estado de debilidade.O teatro de marionetesFoi uma msica! No auge de minha acidez de jovemirreverente, ela foi um dos meios de criticar o sistema. Hoje, no critico nada! Me calo e prefiro s observar Aprende-semuito com isso.

    tudo era verdico.Qual no seria a minha felicidade, se viesse a ter convico, naqueles momentos, de que tudo aquilo no passara da mais ldima iluso?!Fui colocado num cubculo escuro e mido, cujo bolor era insuportvel. Faltando-me ar, respirava com dificuldade. Bati porta e gritei por socorro. Algum do ladode fora, disse para me calar ou iria sofrer represlias. Reiterei minha splica e, por fim, resolveram abrir aporta. Fui recebido por um homem muito bruto, que

    me esmurrou a face por vezes.Calai-te! Quem pensais que sois? Aqui no s melhor do que um verme. Calai-te! Obedecers a Sodom. A ele deveis deferncia e fars o que ele vos mandar. s escravo,e escravos no tm direito! Entendestes?Diante da reao inusitada do assecla de Sodom, achei prudente no revidarou falar mais nada. Fui conduzido para o que seria o show esperado da noi

    te. Tive novassurpresas. A banda que iria

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    tocar para os infernais, era a mesma famosa entre os vivos.Fazem sucesso na terra e aqui? Meu Deus! Pensei. Senti medo, pois quan

    do estava na Estao dos Jasmins liam os meus pensamentos. Temia que o fizessem ali tambm.Falar ou pensar em Deus naquelas paragens era motivo de escrnio.

    Voc tem sorte, cara, muita sorte! intrometeu-se o burlesco soldado de Sodom No todo mundo que recolhido pelos agentes do Cordeiro, tem a regalia de escaparde l, ficando impune por estas bandas, entendeu cara?Meditei sobre o termo que ele disse: escapar? Quem escaparia do Cordeiroe quem seria o Cordeiro?Posso fazer uma pergunta?O que ? . . .Desembucha!

    Quem o Cordeiro e por que algum escaparia dele, como voc falou?

    Levei outra bofetada e o brutamontes me segurou pelas vestes, explicando-me em sussurro:No se pode falar Nele aqui, compreendeu? Mas, eu vou dizer para voc. O

    Cordeiro o tal Jesus. arrematou cuspindo de lado.Por que o temem? No faz sentido. Jesus foi exemplo de bem-viver. Qual a

    razo pela qual algum fugiria de sua proteo?Melhor que eu tivesse ficado calado. O ser grotesco esmurrou -m mais vezes.Insolente! Quem s para falar em bem-aventuranas? Achais que estamos

    aqui vivendo para o bem? No queremos viver no bem, queremos o prazer t

    otal! Somos donosdos nossos destinos, entendeu? Tu mesmo fugistes dele. Deveis saber o porqu! Como ousais me perguntar? Sabeis a resposta. Preferistes estar aqui, no foi? A opofoi tua!... tua! Berrou.Iria me bater mais, no fosse a interferncia de Rodes que se aproximou sinalizando para o meu agressor que, parecendo respeit -lo afastou-se.Rodes reergueu-me e samos para distante dali.O que diabos pensa estar fazendo, mano? Sabes quem ele? perguntou-me.

    No fao a menor idia. No dou a mnima... o brao direito de Sodom. Gedar poderoso! Tem enorme influncia poraqui. Abaixo de Sodom, ele quem manda, por

    peita...No o respeitam, . . .o temem! Me parece que voc ele resSim, o temem.Ainda bem que me confirmou. Temor no respeito! aduzi.Temor ou no, voc deve se manter calado. Aceite tudo o que te disserem.

    Quanto a mim, fao as vontades de Sodom, por isso me d crdito e sou resp

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    eitado.Ele me falou que sou escravo. um tolo! No sou escravo de ningum!Voc um iludido! J te disse isso. Somos todos escravos, mano. O vcio n

    os escraviza.Se o vcio nos torna escravos, deveramos ser escravos do vcio e no de S

    odom, no acha?Sim, sim, mas o vcio tem seus comandos. Gente que se aproveita para manietar e sugar aqueles que se lhes assemelham. De onde voc acha que vema lenda dos vampiros?

    De onde voc acha que provm a violncia e a baderna que est solta no meio do mundo, seno desses comandos?Conto de carochinha. Tolices!? Pois, venha aqui que eu vou lhe mostrar uma coisa.

    Segurando-me pelo brao, Rodes conduziu-me ao teatro onde se desenrolava

    o show terrifico. Multides se aglomeravam, uns por cima dos outros em intensa algaravia.Gente de toda espcie, se que poderia chamar aquela chusma de gente. Zumbis, desses que vemos em filmes, seria o qualificativo mais adequado. Hipnotizados. Logo,trouxeram mais pessoas em pior estado. Seres de olhar esgazeado, veias mostra, rostos deformados, corpos esquelticos; semelhavam-se s imagensdo holocausto judeu.Quem so, Rodes? inquiri.So encarnados. Gente que trazida da crosta. Veja o que

    acontece...Em breve, os que chegaram foram, literalmente, envolvidos pelos demais assistentes do espetculo.isso todos o temem.- Mas, o que isso? manifestei-me indignado.No v?! Voc burro?Esto chupando o sangue deles? Que nojento! indignei-

    No o sangue, meu, energia! a fora que habita neles, entendeu? Voc parece um energmeno! V se entende as coisas!

    mudeei.E pensar que fugi de um osis de tranqilidade...que foi que disse?Ah... nada, nada. S estava pensando mais alto.

    Deduzi que no liam pensamentos assim como Donato e os outros da estncia, portanto, teria espao para arquitetar um meio de sair daquela priso de dementados. Enquantoisso a msica ou banilheira desconexa, rolava solta embalando a tertliados vampiros. Lembrei-me de uma de minhas canes.

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    Observei, no sentido de aprender algo mais. Pude notar que das caixas desom saam flocos enegrecidos e pontiagudos, que interpenetravam as pessoas e evoluam noambiente; verdadeiros ourios-do-mar esvoaantes.Que so aquelas bolhas pretas, Rodes?

    o som, cara! O som!A msica dos metaleiros tinha um efeito arrasador. Penetrava os que a escutavam de maneira violenta e degradante. Envolvia-nos abruptamente, comodardos venenosos.Senti o mundo girar minha volta, fluindo intensa cefalia. minha frente,no vi mais o teatro repleto de loucos, mas uma espcie de estdio... um im

    enso estdio,onde estavam reunidas milhares de pessoas ensandecidas, pelas imagens quevinham l da arena. Era o Coliseu!., e l embaixo, expostos em estacas, de

    zenas de sereshumanos ainda vivos. A turba gritava: Queimem! Queimem!, e eu era um deles. Uma mulher disse: Veja como esses imundos queimam! E agora, ondeestar o deus

    deles?Rodes me sacolejou e eu no vi mais as imagens horripilantes. Era como seestivesse em dois lugares ao mesmo tempo, no presente

    desconexo e num passado, distantemente oculto pelas brumas do esquecimento.Mais tarde, quando tudo havia se consumado, Rodes veio se despedir de mi

    m.Cara, j vou indo. O dia j est quase amanhecendo e tenho que voltar paraa minha priso temporria.

    Priso temporria...? Do que estais falando?Do meu corpo, cara, do meu corpinho dez, sacou? Voc que no tem maisum...E o que ser de mim? Vo me maltratar mais ainda?Esquenta no! J dei um toque para o Gedar. Ele vai te tratar melhor. Amanh estarei aqui. Mas, v se no apronta mais uma. Fica calado. Aprende!

    Tentarei. Tentarei...Rodes se foi. Indivizvel sensao de abandono me dominou. J conseguindotraar pequenas passadas, escorei-me pelas paredes at uma varanda prxi

    ma do salo principal,onde houvera a festa macabra.Fitei o horizonte, que no se fazia delinear, pois o sol, timida- mente oculto sob espessas nuvens plmbeas, mal figurava na manh que despontava. Ao longe, chumaosnegros, partindo da cidadela, se dispersavam pela atmosfera como supersni

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    cos em vo clere.Quase desmaiei de susto quando algum me tocou no ombro, resgatando-medas minhas reflexes.Eles esto voltando... aduziu o estranho.Eles? Quem so eles? Do que se refere?

    Aquelas bolas negras... so seres humanos. Habitantes da crosta. Esto retornando aos seus corpos carnais.Fiquei perplexo com a informao. A viso que tive mais se assemelhava avespas, que fugiam espavoridas de algum invasor de sua colmeia. isso mesmo! Eles se parecem com vespas. confirmou -me os pensamento

    s.Por um momento, senti que aquela criatura podia ler minha mente, me afastando dela. Pretendendo partir dali, me disse ele, ento:Voc foge de si mesmo! Lembre-se: h sempre uma luz... h sempre um ca

    minho!A frase daquele homem fez com que meditasse. J a escutara, mas onde? Aorecordar, ia tecer algum comentrio, quando percebi que ele desaparecera,por encanto.

    Um calafrio indolor percorreu-me o corpo.Deus! Quem seria aquele homem? calculei mentalmente. H sempre uma luz.

    , essas palavras., eu as escrevi. Foi numa de minhas letras.Por um momento lembrei-me de Luiz Srgio. A voz era muito parecida.No. No pode ser ele. O que faria aqui num antro desses? Ele um bom suje

    ito. No viria aqui por nada. articulei tais palavras em voz alta.

    Tudo estava silencioso demais. Tornei varanda. Suspirei choroso, recordando-me dos que me receberam na estncia.Donato disse que muito fizera., pedira por mim. Chamava-me de filho. Qu

    e cara legal! Parecia mesmo um pai. Comeo a sentir saudades daquelas pessoas. Como voltarpara l?Permaneci em saudosas reminiscncias por longo tempo, at ser interrompido pelo Sodom, em pessoa.E ento Ruggeri, gostou da festa? Viu como sou boa praa? Sempre cumpro

    o que prometo.Sodom,,.! Seu nome tem a ver com devassido, correto? Sim. Sou o rei da devassido! disso que as pessoasgostam. V como o mundo est hoje? Graas a mim, em parte. Tenho poder esou fortalecido por aqueles que amam e vivenciam a devassido, Voc foium deles, seu desgraado!

    As vezes o odeio! Comprometeste-te comigo. Assegurou-me que tudo faria para me trazer mais ovelhas, Em troca, receberia fama, dinheiro e tudo o mais que desejasses.

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    Ah, no? Pois, venha comigo.Sodom me conduziu ao que seriam seus aposentos, tudo ornado de muito luxo, ladeado por eunucos e mulheres seminuas, que tinham o aspecto de mortos-vivos. A camado anfitrio era enorme,

    o lugar repleto de inmeras velas, invadido por um odor ftido de roupa mofada. Convidou-me, ento, a uma espcie de sala de projees, chamando em seguida um deseus lacaios; cochichou-lhe algo que no pude ouvir. Em poucos instantes,o escravo trouxe uma pequena caixa, idntica aos disquetes de computadorque conhecemos

    na terra, s que mais grosso, entregando-lhe.Agora, venha at aqui. pus-me mais perto dele. Sente-

    -se. Quer tomar algo?

    Aceitei o convite para no me tornar inoportuno; temia repri mendasSempre tive ojeriza violncia.Sodom inseriu o disquete num aparelhinho, de onde provieramimagens e sons. Ao v-las, perturbei-me, pois eram imagens minhas, de minha vida, onde at meus pensamentos foram gravados, demonstrando minhaintimidade devassada.

    Tudo estava ali: noites de orgias, as sesses de auto-adico, emisses mentais, meus momentos de dor, crise, raiva ou solido.., tudo estava l!O que isso? indaguei enfurecido, saltando da cadeira.

    - Isso voc, no percebe?

    Sei que sou eu, mas como tem tudo isso gravado? Que direito tinha em fazerisso?Temos nossos recursos. Somos os olhos ocultos. Vou congelar esta imagem

    aqui para que veja melhor: interrompeu o filme, rebobinando-o at certa parte. Observeo que colocamos na base de sua espinha...Atentei para os detalhes e comecei a chorar. As imagens revelavam que algumas criaturas implantaram um objeto, similar a um transmissor, no meu corpo.

    Esse aparelho que implantamos em ti descoberta recente. Nos d a nooexata do que fazem vocs, enquanto encarnados. Onde estiverem saberemosde seus passos,atos e at pensamentos mais secretos. tecnologia, meu caro! Antes, tnhamos que designar espies para segui-los. Agora, tudo mais fcil e podemos monitor-losao longe, daqui de nossas centrais. Muitos imaginam que fazem as coisas socultas, caindo

    no esquecimento. Enganam-se! Tudo maquinalmente gravado por nossos

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    espies mecnicos. Voc era um dos nossos monitorados. Somos uma imensa grei. Como pensa quechegou fama?... o nome da tua banda?... achas que foi voc quem idealizou tudo? Originou-se de um sentido bblico., lembra-se da passagem do Cordeiro sendo tentado

    no deserto?Vocs...?Exato, meu caro! Inspirao minha. Sou um gnio! Tnhamos um trato e voco quebrou. Suas msicas, que deveriam ser nossas, conduziriam os jovens,repticiamente,

    ao desespero, desencanto, vcio, suicdio! Voc falhou! S poucos idiotas caram feito ratos... tolos... fracotes! A maioria captou o lado altrusta de suascanes.

    Mas, que droga! esmurrou a mesa. Por que voc no cumpriu o que prome

    teu, seu desgraado? Quem mandou bancar o bonzinho?Eu no fazia idia desse compromisso. Quer dizer... no me lembrava dele.Tinha sede de viver, de alcanar o sucesso para combater a injustia, os corruptores,a violncia., e...Besteira! Voc deve tudo a mim, hipcrita! Teria cumprido melhor sua mis

    so se no tivesse dado ouvidos ao maldito Donatello.Ao proferir a ltima frase, Sodom mexeu com meus brios. Ser que falavade Donato! O conheceria?Quem Donatello?

    Ah, no me diga que no sabe? o seu maldito inspirador. Sua letras erameivadas das sugestes dele. No podamos nos aproximar de ti, quando elee os malditoslanceiros* estavam por perto. Eu os odeio!Donato...! Ento verdade, ele existe! calculei, balbuciando em seguida:

    * N.M. - Equipes de benfeitores espirituais disseminadas em grupos de trabalho, destinados proteo dos trabalhos socorristas no plano astral ou intercedendo juntoaos encarnados. Pliades de esprilos orientados e dirigidos por Maria de Na

    zar.J que no posso fazer mais nada, quais so os vossos planos para mim, doravante?Vai servir-me, ora essa! Vai cantar para os meus filhos. Embale-os! Logo,

    terei novos planos para voc. Daremos um jeito de voc tornar terra e fazer sucessonovamente. Diabos! Vamos ter que esperar mais alguns anos... Se falhar novamente, desta vez no terei piedade! No sei por que no o mando s furnas...!

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    Continuou a mostrar-me mais cenas de minha vida, enquanto se embriagava com uma aguardente de cor escura. Fiquei extasiado diante da exatido dascenas e da tecnologiado underground. As imagens e sons eram meus, fui filmado, gravado, manietado, vampirizado, torturado! A causa? Eu! Eu fui a causa de meu prprio d

    esastre. Invertios papis, cometi enganos, tra sutilmente a minha prpria conscincia, sem o perceber. Fiquei a recordar da Estao e dos que nela me acolheram, sem nada exigiremde mim. Senti-me indigno de tal socorro.Deprimido, ingeri sofregamente a bebida que me ofereceu Sodom, tomando-a em demasia. medida que bebericava, tentava articular uma forma de sair daquela priso. Lembrei-me do esprito que me aparecera na sacada. Ele me falou que f

    ugia de mim mesmo,mas que a soluo estaria em mim tambm.Logo, brio. esvaiu-se de mim a razo, e no pude tecer nenhuma considerao plausvel. Adormecera sem ter a mnima noo do que me aconteceriaem seguida.Algo me dizia: se entregar era uma covardia!Quando j no divisava mais nenhuma esperana, eu dissea mim mesmo: Cara, ofim! Mas, o meu eu invisvel, dizia:Deixa de bobagem, filho, h sempre uma luz...! e eu nunca falei disso pra

    ningum.

    Esse eu pretensioso, era ele: Donatello, o meu guia! Nofiquem tristes, cada um tem o seu... ou os seus. Dificil dar-lhes ouvidos, pois sempre nos mostram a trilha da razo epor essa, nem sempre optamos.R.R.Acordei no quarto de Sodom, em meio a densas almofadasacetinadas e alguns eunucos me olhavam, enquanto outros me alisavam o corpo em gesticulaes ertcas.Que ? Nunca me viram? espantei-os aos sopapos. Estava muito aborrecido

    e com uma bruta cefaleia; ento pedi a umdeles para me trazer gua.Aqui s temos bebida, se quiser...No... no. Estou com muita dor de cabea. No existem farmcias nessa dr

    oga de lugar?Retirei-me deambulando, enquanto riam de mim. Logo, cheguei parte externa dos aposentos de Sodom, uma varanda enorme ornada com plantas horrorosas. Sentei-me emum sof esfarrapado. Devia ser do todo-poderoso; talvez, para apreciar o seu

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    reino lgubre.Fiquei observando a lamentvel paisagem, denegrida pela ausncia de beleza. Quo diferente era da Estao dos Jasmins, aquilosim, um paraso, pequeno, simples, onde se podia respirar paz e ar puro, acalentado por amizades descompromissadas.

    Sentira averso ao beber o lquido que me ofereceram; enjoado, eu o pus para fora, excretando todos os miasmas.Algo mudara em mim. Noutra situao, deprimido, certamente, tenderia a continuar enchendo a cara, muito embora no me trouxesse soluo alguma, para a vital questodo momento: sair dali e reencontrar a Estao que me acolhera antes.Mais calmo, lucubrando acerca do que acontecera e do que podia me lembrar, acerca do fenmeno trespasse, pouco me recordei, salvo a ltima cena que vira do quarto

    onde permanecera enfermo, das pessoas que me rodeavam e das dores da alma, apesar de tantos medicamentos. Aps, veio a lembrana da Estao e dacalorosa recepo

    que me deram; pessoas estranhas, decerto, mas muito amveis, cuidaram demim como se fossem amigos, parentes... pais ou filhos.O corao contraiu-se de saudades ao virem mente os amigos que encontrara: Donato, Amlia, Luzia, Luiz Srgio e outros. Quo diferente a recepo do reino de Sodom,nele s encontrando surpresas desagradveis, alm da terrvel sensao de priso, coisa que sempre detestei em vida. Parecia at antagnico falar assim,

    pois sentia-mevivo, pensava, tinha dores, sensaes e os sentimentos afloravam, logo, estava vivo, realmente vivo!Sempre h um caminho! Um pensamento estranho povoou meus pensamento

    s, entrecortando minha intimidade mental.Mas, qual...? indaguei.A soluo est em voc mesmo; busque-a!Mas, quem est falando? Ouo com a mente...? argumentei.O que voc mais deseja na vida? continuei a ouvir; O amor.., ser feliz.., livre

    .., sair daqui.., o que mais?A liberdade tem seu preo...Qual? Diga-me qual. Estou disposto a pag-lo.Disciplina.

    Ca em gostosa gargalhada.Mas, quem voc? isso uma palavra de uma das minhas canes.Palavra solta e sem sentido, caso no praticada...O que quer dizer?Se te desordenas sentimentalmente e pensas que um

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    derrotado, certamente, h de s-lo. Se velas pela felicidade interior eretido de sentimentos, decerto, hs de libertar-se das algemas que oprendem dor.Somos projeo do que pensamos... doutrinas orientais?

    A doutrina est nos livros, mas a liberdade est no mago, no desejo, no se

    ntimento, no corao, que se torna puro pela caridade prtica e compreensodas leiseternas...Por que devo falar com minha mente?

    Por que desejou assim, lembra-se?.Mas, eu no quero ficar feito maluco, falando com minha prpria mente. P

    arece loucura; sinto-me um pancrcio!Deseja ento encerrar o nosso dilogo?No, no iSSO... que... estou confuso. s...!

    Onde est a sua cefalia?No sei. No momento, no sei... acho que se foi.Voc ainda est com a dor de cabea ou, por momentos, esqueceu dela? Ac

    hou mais interessante falar comigo?Comigo? E por ventura falo com algum?O que achas?Ora, responda-me voc! Quero respostas... estou de saco cheio de tanto mist

    rio! Quero sair daqui...!No. Voc no o quer. Se identifica com isso aqui. Por isso, insiste em ficar.

    Ora, v s favas!Revoltado, levantei-me e chutei tudo o que encontrei pela frente. Desesperado, chorei feito criana contrariada.Aps muito tempo e com as vestes ensopadas de lgrimas, deitado no cho dasacada, visualizei as malditas plantas murchas e os vasos espalhados pelolocal. Peguei

    uma delas e premi-a, manchando minhas mos com sua contextura gosmenta.Eu no quero mais ficar aqui... murmurei, quero ir embora! Desejo ir para

    a Estao dos Jasmins. Quero paz, compreenso, carinho, serenidade., por favor, Deus,no me abandone!!!Aps alguns minutos de silncio interminvel, a voz de minha mente voltoua falar comigo.Ele nunca o abandonou; voc sim.Acho que tem razo., O abandonei.E sua vontade, ainda est firme?Sim, quero ir embora!

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    Quer?Desejo ardentemente.Pea a Deus...Ele no vai me escutar. Sou um farrapo! Quem escutaria um viciado derrot

    ado?

    Ento mentia quando me disse que tinha a vontade firme,.No, no, no menti! Por favor.., falo a verdade!A pior mentira aquela em que mentimos para ns mesmo.O que quer dizer com isso?Que voc se sente um farrapo e essa a sua verdade, momentnea.Estou comeando a entender voc. Se eu me sentisse um bravo, talvez sas

    se daqui, no mesmo?No bem isso. Deus no quer guerreiros e sim, mansos e pacficos., por i

    sso mandou-nos Jesus, o exemplo...

    Jesus, um grande avatar,. o maior deles,, no era um guerreiro, nem lder poltico... quem Ele era ento?O exemplo! De amor, mansuetude, quietude, paz, sinceridade, verdade, ben

    eficncia, poder que no macula, que no mata e no fere, que no dissimula, que ameniza,que pacifica,,, que luz!Sempre h uma luz?Sim, h sempre uma luz... tanto que os insetos a procuram. Parei de dialogar com o que parecia ser minha mente e pus-mea meditar.

    Insetos., insetos buscam a luz. Ela est sempre no mesmo lugar, na fonte e atinge distncias, o inseto quem a busca... busc-la!. Acho que sei o que voc querdizer, agora. Devo buscar a luz, tal como os insetos?Isso! Fez progressos. S que depende de voc., h uma opo dentre trs:

    procurar a luz como guerreiro ou como inseto, ou simplesmente, no procur-la. O queprefere?No momento, creio estar mais para inseto do que para guerreiro. Estes so f

    ortes, poderosos, arrogantes, garbosos, mas...Os insetos tambm so fortes e poderosos. J imaginou o que uma formiga do seu tamanho faria no mundo dos homens?Gargalhei, descompromissadamente; a situao parecia uma brincadeira de criana.Voc me faz rir.

    - Isso lhe faz bem?Sim, sim... enorme bem. Ultimamente no tenho podido rir.Que tal comear a pensar assim doravante: ser um inseto

  • 7/29/2019 srgio luiz - sempre h uma luz... a viagem de um roqueiro no alm2

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    sorridente!Gracejei abertamente:Um inseto sorridente? Acha que levo jeito? Posso tentar...

    Tentar ou querer?Tentar...? No, no., bem...: querer!

    Decida-se! O inseto sorridente tem asas, pode voar e realiza a vontade deDeus. O guerreiro, com sua armadura cumpriria essa vontade? Poderia ele voar ou realizara vontade de Deus? Oque lhe parece mais vivel?Ser o inseto, lgico!Ainda quer ser um inseto?

    Envolvi-me. O que minha mente me dizia era coerente. Buscava a sada, mastudo me levava a crer que a escapada estava na minha fora de deciso. A

    quele eco mentalno me dizia o que fazer, mas me conduzia a raciocinar para tanto. Era umaquesto de

    deciso.Voc ainda est ai? Indaguei.Mais progressos. Agora j me trata como a pessoa. Claro, estou aqui. J se

    decidiu?Senti um desejo.E qual ?

    Se voc voc, quero v-lo.

    Quer mesmo me ver?- Quero!Senti firmeza! Alm de mim, gostaria de ver mais algum neste momento,

    ou seja, algum que queira muito bem?Meu filho!No momento isso no possvel; ele ainda est encarnado. Pense em outra

    pessoa.Fui buscar no meu ntimo algum que me trouxera felicidade, ultimamente.Viajei no espao dos meus sentimentos e decidi.

    Quero ver Amlia e seu sorriso. linda!Ela est muito ocupada, neste instante. Se incomodaria de pensar em outrapessoa?Sem pestanejar, disse-lhe:Conhece-a? Bom, ento eu quero ver aquele sujeito de ontem; apesar de mei

    o esquisito, percebi algo de bom nele. Pareceu -me um cara legal.Ok! Voc o desejou...

    Gelei e tremi feito animal acuado. Estava num mundo diferente, utpico emprincpio, para mim de fico. Julgava-o mundo do faz-de-conta. Tudo me

  • 7/29/2019 srgio luiz - sempre h uma luz... a viagem de um roqueiro no alm2

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    era novo, absurdo,fantstico! Conversara com o que julgava ser a minha prpria projeo ntima. O que poderia resultar disso? Mil e uma dvidas assombraram-me, maseu tinha que experimentar!Necessitava fugir dali.

    Fiquei esttico, vagueando com os olhos irrequietamente, a fim de detectaralguma presena. To absorto, na nsia de ver o meu amigo oculto, sem quenotasse, eis

    que ele surgiu s minhas costas, dando-me um tapinha. Era o mesmo homem que vira na noite anterior.Voc! No acredito!

    Como tem passado, So Tom? disse-me.Voc estava aqui o tempo todo?Sim.

    Por que no o vi?Deus est em toda em parte, nem por isso O v. Embora no sendo Deus, mas tendo-O descoberto em mim, eis que posso estar onde quero e me permitido. Jesus nosdisse: o esprito sopra onde quer. Se no me vistes, foi porque no o quisestes, ou no vos colocastes em condies para tanto, mas a partir do momento em queteve vontade, e isso vos foi permitido, viu-me.Quem voc? Sinto que o conheo.S descubro a charada, quando me deres o teu autgrafo. Sou seu fli!

    A voz, a impostao, os trejeitos ao falar, a solicitude e o carinho... s podia mesmo ser o:.. .Luiz Srgio! Voc est horrvel! Por que est assim? uma fantasia? a

    garrei-o em desespero.E como acha que estou vendo voc? No me parece nenhuma alegoria da Beija-Flor. brincou.Ergui-o do cho, efusivamente, beijando-lhe a face por diversas vezes. Notei que no se indignou.Voc um cara estranho aleguei.

    Por no ter rejeitado voc?Sim. Normalmente as pessoas, principalmente aquelas que no conheo bem, teriam me criticado, me empurrado ou me olhado de outra maneira. Sabecomo , n... ?!O preconceito?

    Sim.., o preconceito.Precisamos conversar muito, no Ruggeri?

    Luiz, como fao para sair daqui?J destes um primeiro passo, amigo. Agora ter pacincia. O inseto com as

  • 7/29/2019 srgio luiz - sempre h uma luz... a viagem de um roqueiro no alm2

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    as, recorda-se?Isso filosofia, meu. Preciso de realidade. Algo palpvel, entende?

    -A melhor filosofia aquela que compreendemos, pelo exerccio prtico deseus postulados.Ainda assim, ressoa como filosofia.

    S no sastes daqui ainda, porque pensa que a filosofia lhe externa. Achas que acumulastes muitos conhecimentos e isso, supes, fez de voc um sbio, um tantodono de si; por tal razo, reluta em pensar como um inseto, um pequeno e insignificante inseto.Orgulho?Voc o disse...Tens razo! Sempre fui muito orgulhoso.Comece a pensar como um inseto. Guerreiros tm vontade prpria, mas os in

    setos..... .Fazem a vontade de quem os criou?!Exato! ripostou-me.Me ensine a ser um inseto, ento!Sua ltima frase foi um primeiro passo, mas eu... no...

    sou... Deus.Decerto, Luiz Srgio no era Deus, nem a luz, e como insetos, eu teria queach-los, fazendo a vontade de quem nos criou. S no podia voar como faz

    em os insetos,talvez porque o orgulho me destitura das asas da humildade.

    Ca em prantos aos ps de Luiz que, segurando minhas mos, arrematou:Ruggeri, por favor, no me envaidea! Eu no sou um altar e muito menoso vosso confessor. Nem na terra h quem detenha tamanha autoridade! O

    que aprendemos basicamentenum catecismo?No entendi

    Nossos professores, quando crianas., o que nos ensinavam quando quisssemos conversar com Deus?Que deveramos nos recolher, ajoelhar e unir nossas mos...? timo, amigo,

    faa-o! No precisas de mim para isso. Estaconversa de filho para Pai. Abras o corao! Sejais cmplice dAquele queo ama. Eu sou apenas um inseto., como vs. Ele, s Ele a prpria ...luz!Permanecendo ajoelhado, olhando para o que seria o firmamento daquele mundo paralelo, orei, como nunca havia feito, suplicando perdo a Deus por todos os erros cometidos,rogando-lhe piedade, pois era uma alma piegas e sofredora, que s almejava paz, buscando compreender como se amava verdadeiramente.Uma sensao gostosa percorreu todo o meu corpo, ao mesmo passo em que

  • 7/29/2019 srgio luiz - sempre h uma luz... a viagem de um roqueiro no alm2

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    uma fenda iluminada se abria minha frente, me envolvendo, quase a ponto de cegar-me temporariamente.Mos invisveis me tocaram o corpo, abraando-me com se-gurana.Pela entonao celestina, ouvi ento a mais bela frase que poderia um simple

    s e desprezvel inseto escutar:S bem-vindo, meu filho!E quando tudo parecia perdido...O dia aps a noite. A calmaria aps aprocela. Dormir paraacordar Sofrer para valorizar Doar para receber Amar para ser amado. Morrer para renascer. Perder-separa reencontrar-se. A chave da felicidade estar em reconhecermosque, quando a dor iminente, o lenitivo vir logo em seguida.R.R.

    Quando acordei, estava sobre uma cama macia, de lenis acolhedores, numquarto pequeno, asseado e que cheirava a pinho do campo. Um delicioso etnue bafejo do

    ar matinal, penetrava pela janela, esvoaando as cortinas finssimas de tom azul celeste.Ao lado do leito, umajarra contendo algum tipo de liquido, um prato de sopa e um livrinho. Curioso, cheguei mais perto para observ -lo me reclinando lentamentee ainda com dificuldade. Estava fatigado, o corpo pesava bastante e a cabeaparecia rodopiar.

    A vida em muitos reis, era o ttulo do livreto de cabeceira, cuja capa parecia constituir-se de um material hologrfico de rarssima beleza. De uma coisaestavacerto. Voltara ao para