Série Ser Escoteiro É - Robert Baden-Powell

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Coletânea sobre fundamentos, princípios e história do escotismo.Volume 1 - Sede PerfeitosVolume 2 - Fogo de ConselhoVolume 3 - Sistema de PatrulhasVolume 4 - A Corte de HonraVolume 5 - Robert Baden-PowellVolume 6 - Brownsea 95 anos

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  • SRIE

    ROBERT BADEN-POWELLCHEFE ESCOTEIRO MUNDIAL

  • 1Volume 5 Srie Ser Escoteiro ...

    Produzido pela UEB/RS - Edio Impressa: Gesto 2001/2003 - Edio Digital: Gesto 2004/2006

    Esta mais uma publicaoTAFARA

    Srie Ser Escoteiro ...Volume 5

    ROBERT BADEN POWELLCHEFE ESCOTEIRO MUNDIAL

    Autor: Teresio Bosco1a. Edio: 500 exemplares

    Edio: Carlos Alberto F. de MouraCapa: Carlos Alberto F. de Moura

    Coordenao: Mario Henrique P. Farinon

    OBRA INDEPENDENTE, NO OFICIAL OU AUTORIZADA PELA UEB

    Porto Alegre, RS, 2002

    EDIO IMPRESSA PELA DIRETORIA REGIONAL 2001/2003

    Diretoria Mario Henrique Peters FarinonDiretoria David CrusiusDiretoria Mrcio Sequeira da SilvaDiretoria Ronei Castilhos da SilvaDiretoria Osvaldo Osmar Schorn Correa

    EDIO DIGITAL DISPONIBILIZADA PELA DIRETORIA REGIONAL 2004/2006

    Diretoria Ronei de Castilhos da SilvaDiretoria Neivinha RiethDiretoria Waldir SthalscmidtDiretoria Paulo Roberto da Silva SantosDiretoria Leandro Balardin

    COMIT GESTORCarlos Alberto de MouraMarco Aurlio Romeu FernandesMario Henrique Peters FarinonMiguel CabistaniPaulo LamegoPaulo RamosPaulo Vincius de Castilhos PalmaSigrio Felipe PinheiroTania Ayres Farinon

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    APRESENTAO

    Na Pscoa de 1998, de 10 a 12 de abril, um grupo de escotistas edirigentes reuniram-se, em um stio denominado TAFARA CAMP, tomando parasi a incumbncia de suprir a lacuna deixada pela falta de definio do tema dasEspecialidades, concebeu e criou o que hoje constitui-se no Guia deEspecialidades da UEB.

    O mesmo grupo, na seqncia, participou decisivamente na elaboraodos Guias Escoteiro, Senior e Pioneiro.

    Visto que este trabalho informal e espontneo estava tendo resultadospositivos, e, entendendo que a carncia de instrumentos, principalmenteliteratura, um grande obstculo ao crescimento do Escotismo, resolvemosassumir como misso disponibilizar instrumentos de apoio aos praticantes doEscotismo no Brasil.

    Este grupo, que tem sua composio aberta a todos quantos queiramcolaborar com esta iniciativa, tambm resolveu adotar o pseudnimo TAFARApara identificar-se e identificar a autoria e origem de todo o material que continuara produzir.

    Os instrumentos que TAFARA se prope a produzir, tanto serooriginais como os Mapas de Especialidades, de Etapas Escoteiro, de EtapasSenior e de Planejamento, j editados pela Loja Escoteira Nacional, comotambm, tradues, adaptaes, atualizaes, consolidaes, etc., dematrias j produzidas em algum momento, e que, embora sejam teis, nomais esto disponveis nos dias de hoje.

    O material produzido por TAFARA feito de forma independente. Notemos a pretenso de fazermos obras primas, mas instrumentos que possamauxiliar a todos quantos pratiquem Escotismo no Brasil.

    Esta edio reproduz o original. Em respeito ao autor no fizemosqualquer adaptao ou atualizao do texto.

    A publicao desta obra foi possvel graas ao desprendimento einiciativa dos alunos do Curso de Dirigentes Institucionais, Nvel Avanado de2001/2002, identificados no final deste livro.

    Este mais um instrumento de apoio a suas atividades.

    Boa Atividade.

    Mario Henrique Peters Farinon Diretor Presidente UEB/RS

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    Sumrio

    APRESENTAO ............................................................................. 2UM PAPELZINHO QUE DECIDE DE UM DESTINO ......................... 4O RIBOMBAR ENSURDECEDOR DOS CANHES ....................... 6O JOGO PERIGOSO ....................................................................... 8MAS ISTO UMA REMATADA IOUCURAL .................................. 10AS ATENES DO MUNDO VOLTAM-SE PARA MAFEKING ........ 12ELOFF RESOLVE ATACAR ............................................................ 13A LIBERTAO NO 217. DIA ........................................................ 15SINAL DE ALARME: NAVIO EM PERIGO ....................................... 17TEMPO DE VIAGENS MARAVILHOSA ........................................... 18PALAVRAS MGICAS ESCRITAS NO CHAPU CINZENTO ......... 20A MISSO NA NDIA ........................................................................ 21AS EMBOSCADAS DOS PHATAN.................................................. 23ESPIO NA RSSIA ....................................................................... 25A BATALHA NA IMENSA PLANCIE ................................................. 26CIVILIZADORES OU OPRESSORES? .......................................... 27UM NEGRO E UM DITADOR BRANCO .......................................... 28UM PROBLEMA URGENTE: DOIS MILHES DE JOVENS ........... 306 TENDAS EM BROWNSEA .......................................................... 32A ESTAO DAS FOGUEIRAS E DAS PISTAS ............................. 34DEMISSO DO EXRCITO ........................................................... 36A LEI DO ESCOTISMO................................................................... 38UM LIVRO QUE DESLANCHA OS JOVENS .................................. 39A VOLTA AO MUNDO EM TRINTA ANOS ....................................... 41A EUROPA SOB A GUERRA .......................................................... 43JAMBOREE, ENCONTRO DE TRIBOS ......................................... 45A MORTE AOS PS DO MONTE QUNIA .................................... 47

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    UM PAPELZINHO QUE DECIDE DE UM DESTINO

    Estamos em Londres, num sufocante dia de julho. Na silenciosae sofisticada sala de jantar do Kings Clube um coronel muito jovemest tomando um lanche. Em outra mesa est para sentar-se oajudante-de-ordens do Ministro da Guerra, quando os olhares de ambosse cruzam. O ajudante-de-ordens perde por uns instantes a proverbialfleugma britnica e se precipita para ele:

    - Coronel Baden-Powell, o senhor no est na ndia?- Como v, estou aqui - murmura imperturbvel o outro.- Mas acabo de telegrafar-lhe na ndia. O Ministro necessita falarurgentemente com o senhor.- -me permitido pelo menos terminar meu bife?- Receio que no, senhor.

    Um quarto de hora depois, Robert Baden-Powell batia oscalcanhares diante de lorde Wolseley, do qual dependem todos osexrcitos que guardam o vasto imprio de Sua Majestade Britnia.Mergulhado na sua poltrona, o Ministro fixa por um segundo o jovemoficial; em seguida diz-lhe a queima-roupa:

    - O senhor dever partir imediatamente para a frica do Sul.- Est bem, senhor general.- Pode partir no sbado prximo?- No, senhor general.

    O general, enrugando as sonbrancelhas:- E por qu?- Porque no h navio de partida. Posso partir, se V.S. consente, naquarta-feira.

    Trs dias depois, o navio Dyottar Castle zarpava para a Cidadedo Cabo. No tombadilho, rigidamente enfileirados, batalhes dispostosem ordem-unida entoaram o God Save the Queen. Junto ao parapeito,Robert Baden-Powell fez um rpido sinal de saudao para os doisirmos que tinham vindo dar-lhe o adeus. Depois apalpou o envelopeque trazia no bolso interno, como que para se assegurar de que estavaainda l: que naquele pedacinho de papel estava assinalada a sua

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    misso, talvez o seu destino. Nas colnias inglesas da frica do Sulestava para estourar a guerra contra o Transvaal e o Orange dos beres.

    Na ordem do Ministro da Guerra que o jovem coronel levavaconsigo, ele era nomeado comandante da fronteira norte-ocidental,aquela que assinalava o limite entre a colnia inglesa da Botsuana e oterritrio ber.

    Devia manter-se em posio de defesa, atraindo contra si omaior nmero possvel de foras inimigas, enquanto a ofensiva britnicase daria na fronteira norte-oriental.

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    O RIBOMBAR ENSURDECEDOR DOS CANHES

    Outubro. Da Cidade do Cabo, Baden-Powell subiu com umreduzidssimo ncleo de tropas at Mafeking, um importante nferrovirio que ele decidiu transformar em seu Quartel General.

    4 de outubro. O coronel chama s armas as companhias devoluntrios. Entre brancos e negros, os soldados com uniforme inglsem Mafeking so um milhar.

    5 de outubro. Ao longe se ouve o troar ensurdecedor doscanhes. Pode-se distinguir a olho, pairando no cu sereno, asnuvenzinhas brancas das exploses. As tropas beres aproximam-secada vez mais.

    Parecem ter a inteno de tomar de assalto Mafeking. Baden-Powell ordena que, no ltimo trem a partir para a longssima Cidade doCabo, se faam subir as mulheres e as crianas. Escreve rapidamenteum bilhete sua me: Um exrcito de beres de trs colunas, dafora total de 7 mil homens, - est acampado a menos de 15quilmetros de ns. Esto bem providos de canhes.

    Esperamos o ataque prometido. J organizei a defesa civil,distribu armas populao e fortifiquei a cidade. Estou enviando aoutra parte do pas a maior parte das mulheres e das crianas, poisprevejo bombardeio. Agora devo sair; projetei uma grande manobrapara exercitar os homens na defesa da cidade.

    9 de outubro. Chega um telegrama cifrado, passado pelo serviosecreto: A previso de chuva forte. Cuido com o feno. Traduo: Aguerra est para atingir a sua cidade. Estejam preparados. O generalbere Cronje levantara o acampamento e j estava com os canhesapontados para Mafeking.

    A cidadezinha (seria melhor cham-la de vilarejo) espera atempestade. Situada na encosta de uma colina chamada CannonKopje, espraia-se pela plancie ondulada em que corre o rio Molopo. Oarsenal militar, o vasto n ferrovirio donde partem os trilhos paraJoanesburgo e Pretria, a igreja e o convento dos catlicos, as casasde telhado de zinco dos brancos, as casas arredondadas e de pau-a-pique dos negros, tudo foi cercado com uma cadeia de fortins. Aliconcentrou Baden-Powell a minguada artilharia que deve cortar o passoao inimigo: quatro canhezinhos e sete metralhadoras. Fez tambmcavar uma srie de abrigos, providenciando muito oportunamente um

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    sistema de alarme. Em caso de bombardeio, todos podero colocar-se rapidamente a salvo.

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    O JOGO PERIGOSO

    13 de outubro. O exrcito do general Cronje (9 mil homens,sete modernos canhes de campanha, nove metralhadoras pesadas)investe contra a cidade. O bombardeio macio e dura o dia todo.

    Ao final, Cronje manda um mensageiro que pede para falar como comandante da cidade. Robert sai para fora da linha dos fortins.- O nosso general - diz a intimao - exige a rendio da cidade dentrode uma hora.- Mas por qu? - responde tranqilo. E volta sobre os prprios passos.

    A resposta deixa estarrecido o prprio Cronje.Depois de semelhante bombardeio no se rendem? Mas quantos sol dentro? - pergunta-se a si mesmo, surpreso.

    Consulta a oficialidade. Desejar-se-ia ordenar o assalto namadrugada do dia seguinte, mas muitos comeam a hesitar. Nada sesabe a respeito das tropas e da artilharia reunida em Mafeking, eningum est disposto a marchar para o massacre.

    melhor esperar mais alguns dias e ento atacar os ingleses,conclui Cronje.

    exatamente o que queria Robert Baden-Powell. Naquelamesma noite comea a jogar o seu bluff, a fim de enganar o inimigo,fazendo-o crer que se encontrava diante de uma posioguarnecidssima. Desloca as suas tropas de um lugar para outro dopermetro defensivo, acendendo de cada vez uma enorme fogueira. Afrente de patrulhazinha, avana at s barbas das sentinelas inimigas,escondendo sobre o terreno bananas de dinamite. De madrugada, logoque as tropas beres comeam a se movimentar, com longas mechasfaz explodir ora uma, ora outra dinamite, dando a Cronje a impressode que toda a zona est perigosamente minada.

    Durante alguns dias, ao redor de Mafeking continuam a dar-sepequenas escaramuas. Patrulhas beres vm ao assalto, enquantopatrulhas inglesas reagem com velozes sortidas que semeam o pniconas vanguardas. Ao final de uma semana, Croje est convencido deter diante dos olhos uma praa forte inexpugnvel, que se dever fazercapitular, no com um assalto, mas com um longo stio.

    Robert venceu a primeira partida, mas agora forado acontinuar o terrvel jogo, com coragem e imaginao inexaurveis: trata-se de fazer render ao mximo os minguados recursos disponveis,

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    deixando apavorado o inimigo, mediante uma contnua demonstraode vitalidade e de extraordinria atividade.

    Os canhes de Cronje so mortferos, mas o jovem Baden-Powell consegue faz-los apontar para onde ele quer. Transmite stropas as ordens, usando de um megafone de lata, que leva sua vozat s linhas beres. As indicaes transmitidas so falsas, e durantea noite, quando abrem fogo, os canhes miram infalivelmente objetivosde nenhuma importncia: paredes calcinadas, montes de pedras. Assentinelas so numerosssimas, s que a maioria delas no passade bonecos de madeira uniformizados.

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    MAS ISTO UMA REMATADA LOUCURA

    Um caixeiro-viajante foi surpreendido pela guerra em Mafekingcom uma proviso de carbureto. Com a ajuda de um mecnico Robertfabrica um projetor de acetileno muito rudimentar; numa nica noitedesloca-o velozmente para doze posies diversas, iluminando poralguns instantes diversos trechos das linhas inimigas. A operao serepete por noites seguidas, levando os oficiais beres concluso deque os ingleses dispem de uma duzia de projetores, que poderoacender na eventualidade de ataques noturnos. Durante meses notentam mais nada.

    As noites de calmaria so aproveitadas por Baden-Powell parafortificar os basties e aumentar as trincheiras. Consegue, destarte,aproximar-se das linhas inimigas at uma distncia de trinta metros:daqui pode responder ao canhoneio com os seus canhezinhos detiro curto e com as granadas. Quando estas acabam, faz fabricar outrascom latas de conserva cheias de dinamite e munidas de um pavio.Chega a fabricar com as suas prprias mos um obuz com a chaminde uma velha locomotiva.

    Na entrada do refeitrio dos oficiais mandou o coronel colocaro seguinte aviso: Se acharem que as circunstncias exigem uma aorpida, no esperem nenhuma ordem. No tenham medo de agir, comreceio de errar. Quem jamais errou porque jamais fez nada. Corageme deciso muitas vezes transformaram um erro em sucesso.

    Passam-se os dias. E os defensores de Mafeking aperscrutarem o horizonte, l do lado donde deviam surgir os reforos.As munies escasseiam sempre mais. Um capito, com os nervosarrasados pela interminvel resistncia, irrompe certo dia na barracado coronel:- Senhor coronel, o que est fazendo uma rematada loucura! Se oinimigo nos atacar, far-nos- em pedaos em questo de minutos!- Pois ento justamente aqui que venceremos, capito - retrucoucalmamente Baden-Powell. - Porque o inimigo no atacar.Naquelas circunstncias o que se fazia necessrio era a rapidez dasinformaes: saber imediatamente em qual ponto do permetro dacidade os beres vinham atacar, a fim de concentrar ali rapidamenteos refensores. Para cumprir esta misso, Baden-Powel reuniu em umcorpo especial os jovens de dez at dezesseis anos. Deu-lhes um

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    uniforme e os adestrou como informantes e mensageiros. A coragem,o alegre herosmo com que desempenharam durante meses a suamisso, os fez admirados de todos. Quando em Mafeking vieram afaltar selos postais para a correspondncia interna (entre um forte eoutro, entre um bairro e outro) Baden-Powell providenciou a fim de quefossem impressos novos selos: s que em vez da efgie da rainha,levavam mas era a figura dos jovens mensageiros de Mafeking.

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    AS ATENES DO MUNDO VOLTAM-SE PARA MAFEKING

    18 de dezembro. A situao na cidade sitiada a seguinte:1074 homens brancos, 229 mulheres brancas, 405 crianas, 7500naturais de pele negra.

    Em dois meses e 5 dias de cerco as baixas so insignificantes:23 mortos e 53 feridos. O que mais pesa sobre os sitiados a falta dealimento e de armamento defensivo. Em compensao h um elementoque lhes d fora e ousadia: o mundo tem a ateno voltada para eles.Um incrvel sistema de comunicaes rompe cotidianamente o cerco,levando a todos as notcias sobre Mafeking.

    Pombos-correios, indgenas que se infiltram atravs das linhas,levando ao pescoo, como amuletos, mensagens envoltas em lminasde cobre, a linha telegrfica que, mediante rpidas investidas, restaurada ao longo da ferrovia (at que os beres no a faam saltarde novo pelos ares), permitem aos citiados enviar ao exterior umverdadeiro dirio dos combates, que imediatamente transmitido aLondres e publicado com grande destaque nos jornais. Todo o mundo,agora, sabe da incrvel resistncia de Mafeking, que se tornou quaseum acontecimento esportivo, um recorde: quanto tempo resistir aindaBaden-Powell?

    Para manter elevado o moral, o comandante excogita tudoquanto iniciativa. Faz publicar um Jornal de Mafeking, que traz comosub-ttulo esta epgrafe: Saia todos os dias, se os canhes opermitirem. Entra em acordo com os beres, declarando o domingodia de trgua. Naquele dia se organizam torneios de crquete,concertos sinfnicos, bailes populares. As duas partes combatentescomunicam cavalheirescamente uma a outra as respectivas festasnacionais, concedendo-se naqueles dias uma trgua suplementar.Pelo Natal a trgua combinada de dois dias.

    Em seus acampamentos os beres cantam suas canescompridas e tristes. Em Mafeking os soldados podem assistir Missado Galo celebrada pelo P. Ogle na capelinha toda iluminada. O servioprotestante celebrado tarde, sendo seguido de competiesesportivas. A orquestra no pode tocar, pois uma granada bere carano depsito dos instrumentos.

    Nos meses seguintes a guerra continua base deescaramuas, ataques repentinos e muita fome.

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    ELOFF RESOLVE ATACAR

    Abril. De Londres, a rainha Vitria dita um telegrama para Baden-Powell: Contnuo acompanhando com confiante admirao a pacientee decidida defesa que to corajosamente prossegue sob o comandode V.S., sempre rico de expedientes.

    Enquanto o telgrafo bate as palavras da rainha, Mafeking estsob o mais terrvel bombardeio que jamais a tinha atingido. que osberes haviam recebido reforos e faziam chover granadas a granel.So atingidos gravemente tambm o hospital e o acampamento dassenhoras.

    12 de maio. O general ber Sarel Eloff, juntamente com osreforos, ataca frente de 900 homens. No so beres (estes noaprovam este ataque a cu aberto), e sim fora-da-lei: garimpeiros,especuladores, aventureiros que seguiram Eloff com a esperana nosaque. A coluna dos 900 atravessa dois braos do rio Molopo e namais completa escurido chega at retaguarda do primeiro fortimprotegido por cercas de arame farpado, Ocupam-no imediatamente,antes que as sentinelas possam dar o alarme. Logo alm comeamas casas vermelhas dos negros. Algum est acordado, ouvem-setiros de fuzil. Eloff compreende que l se fora a surpresa do ataque eordena aos seus passar tudo a ferro e fogo. Logo depois das casasdos negros h um fortim que defende o centro de Mafeking.Surpreendidos pelo fogo nutridssimo, os soldados se rendem. Tambmas cavalarias so conquistadas. A esta altura, o centro da cidadeest merc do general ber, bastando que os seus homens o sigam.Mas ao seu redor esto bem poucos. Os fora-da-lei se esparramarampelos fortins, pelas cavalarias, pelas cidade negra, atrs dos despojos.Eloff ordena aos seus oficiais reunir os homens sob a ameaa dosrevlveres. Mas meia-hora depois ainda no se tinha conseguido nada:ao seu redor continua apenas um nmero insignificante de soldados,insuficientes para o assalto ao centro da cidade. E a guarnio deBaden-Powell teve tempo de sobra para recompor-se, armar-se eorganizar o contra-ataque.

    Havia um sistema de trincheiras que circundava os bairros deque os atacantes se tinham apoderado. Atirando-se de gatinhas atravsdaqueles labirintos, frente dos seus homens, Robert fecha em umcrculo de fogo o contingente de Ellof.

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    Comea a amanhecer e os beres devem passar do ataque defesa. Defendem-se desesperadamente.

    Durante quatorze horas repelem investida por investida, ateiamincndios, devastando a cidade. Mas a partida est perdida. Ao cair danoite os suprstites emergem do fumo dos incndios com as moserguidas. So cento e oito. Entre eles est Eloff, que conduzido aoQuartel General.- Boa tarde, Eloff - cumprimenta-o Baden-Powell, estendendo-lhe amo. - O senhor chegou justamente a tempo para a ceia.

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    A LIBERTAO NO 217. DIA

    Dois dias depois o canho troa ao longe. a coluna inglesa deLord Roberts que se aproxima para libertar a cidade. Desta vez so osdefensores de Mafeking que partem para o ataque: com uma sortidaimprevista, assaltam as posies beres, batem-se como lees, atque (exatamente como nos filmes de faroeste) ressoa na plancie otoque de carregar, que anuncia a chegada da cavalaria.

    Entre os escombros das fortificaes, sitiados e libertadoresse abraam chorando. o 217. dia desde o incio do cerco.Naquela tarde a cidade estava toda iluminada: os lampees baloiavamao vento, e nas ruas as crianas da escola cantavam hinos. Quandoa notcia chegou Inglaterra - escreveu, Winston Churchill - as ruasde Londres se tornaram intransitveis de tanta gente, e o rio doentusiasmo patritico londrinense extravasou numa verdadeirainundao de alegria infantil, delirante, irreprimvel, como em seguidano deveria mais acontecer at noite da vitria da primeira guerramundial.

    Estvamos em 16 de maio de 1900. Promovido a general pormerecimentos de guerra, Robert Baden-Powell, de 43 anos, entravana lenda inglesa.

    Era o mais jovem general do exrcito britnico.Mas as preocupaes e as fadigas daqueles 217 dias tinham

    sugado todas as energias do seu fsico.A sade sofrera um abalo. A ordem dos mdicos foi taxativa:

    regressar Inglaterra e submeter-se a repouso absoluto durante seismeses.

    A recepo em Londres foi um delrio. O rei Eduardo VII(sucessor da Rainha Vitria) conferiu-lhe pessoalmente uma das maisaltas condecoraes do Imprio Britnico. Baden-Powell sorriu com orosto macrrimo para a multido que o aclamava, retirando-se emseguida para a convidativa casa de sua me.

    Um triste espetculo, porm, o prostrou naqueles dias: osjovens. Vagueavam numerosos pelas ruas, desocupados e briguentos.Falando com alguns amigos, pde ter, a respeito do assunto, um quadropreciso e desolador: havia na Inglaterra 2 milhes de jovens entre os10 e os 17 anos, na maioria doentes, viciados, sem ideal. Muitosacabavam mal, pois ningum se interessava por eles.

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    Baden-Powell se perguntou inquieto: Ser esta a novagerao?, e se lembrou dos jovens de Mafeking, das suas empresasaudaciosas e hericas.

    1903. Com a sade restabelecida, Baden-Powell nomeadoInspetor Geral da Cavalaria da Inglaterra e Irlanda, um cargo de muitoprestgio.

    Naquele mesmo ano William Smith, o fundador das BoysBrigades, o convida para assitir a uma grande concentrao dasBrigadas. Sei que anda interessado nos problemas dos jovens.Tambm eu estou. Venha dar uma olhadela nas minhas organizaes.Baden-Powell assiste a um imponente desfile de soldadinhos,impecavelmente uniformizados.

    Obedecem automaticamente s ordens dos chefes.William Smith lhe est ao lado:- Que acha? No esta a melhor maneira de preparar os futuroscidados?- Baden-Powell cala-se, pensa, sacode ligeiramente a cabea. No fimdo desfile toma parte Smith:- Se me permite, no estou de acordo. Esta disciplina muito exterior,muito militar. Jovem jovem. Para ele preciso uma disciplina maisalegre, mais espontnea, mais jovem, em suma.

    Sonha ento com dar aos 2 milhes de jovens ingleses umajuventude como a sua: cheia de alegre fadiga, de disciplina alegre, emcontato com a natureza que enrigece os msculos e tempera o carter,com os rios a percorrer em canoas, os bosques a explorar, asmontanhas e as colinas a galgar, os animais e os insetos a observarcom curiosidade e amor.

    A sua, sim, que tinha sido uma juventude fabulosa.

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    SINAL DE ALARME: NAVIO EM PERIGO

    O perodo mais belo de minha meninice foi aquele em quepercorri, com meus quatro irmos, o mar em torno da costa daInglaterra. Tnhamos um barco a vela, de nossa propriedade, no. Qualvivamos em cruzeiros em qualquer estao e fizesse o tempo quefizesse.

    Ele, Robert, o caula, era o encarregado da equipagem.Competia a ele manobrar a vassoura, ter em ordem o cordame,cozinhar em um cubculo imundo e cheio dos objetos mais incrveis.

    Warington, o irmo mais velho, estava encarregado da operaosalvamento. Ns, pequeninos, rogvamos ao cu para que nenhumnavio viesse a encontrar-se em perigo, relembra Robert. Mas um dia,enquanto se desencadeava uma tempestade proveniente do Leste, foidado o sinal de navio em perigo. Iando um velame reduzido,apressamo-nos em sair do porto. O mar, amarelento e furioso, eraterrvel de ver. Chegados ao alto mar, os borrifos voavam to densos eo mar era de tal forma alevantado que a nossa situao se tornoumuito precria. Mas resistimos, lutando durante horas e horas. Quandocaiu a noite, Warington disse: Assim poderemos distinguir o navio pelascintilas da chamin. Mas nossas buscas resultaram infrutferas.Quando finalmente regressamos ao porto, soubemos que o navio jestava fora de perigo...

    Naquele tempo Robert gastava duas linhas inteirinhas paraescrever o prprio nome: Robert Stephenson Smyth Baden-Powell.

    Mas todos o chamavam pelo apelido: Ste.Recordava-se, como de um sonho, do dia em que o pai, o

    reverendo Baden-Powell, pastor e professor em Oxford, tinha morrido.Era em 1850, e ele tinha apenas trs anos. Lembra-se de como ame, sempre to corajosa, naquele dia tinha chorado longamente.

    A senhora Henriette Grace tinha ficado com sete filhos paracriar: o mais velho tinha 13 anos, o caula apenas um ms.

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    TEMPO DE VIAGENS MARAVILHOSAS

    Ao calor do afeto materno, que os aquece como o sol, ascrianas crescem barulhentos e robustos. Nenhum deles pra uminstante. Correm pelos prados, lutam boxe, fazem concurso de nataoe corridas de cavalos. Henriette no se apavora com os arranhes ecom os brotos. uma me dulcssima, mas enrgica e forte. Leva-osela prpria a longos passeios exploratrios, descoberta dos animaise das flores na natureza virgem. Designou para cada um uma poroda horta, que cultivavam manejando a enxada e a bomba dgua. Cadamenino leva para a mesa, em triunfo, as suas primcias. A me acolhecom um doce sorriso a primeira chicria de John, a primeira salada deSte, as couves-flores de Warington.

    As frias so o tempo das viagens maravilhosas. Subimos debarco o Tmisa at onde pudemos - recorda Robert, - at que o rio setornou um riacho demasiado pequeno para transportar-nos. De larrastamos a embarcao at para l de uma colina, e a recolocamosngua em um arroio que corria na direo contrria. O arroio tornava-se cada vez maior, at se transformar num rio: era o Avon, que noslevou at Bath e Bristol. Depois atravessamos a imensa Severn, econtinuamos o cruzeiro tornando a subir o rio Wye at nossa casano Pas de Gales. noite acampvamo-nos ao ar livre e cozinhvamospara ns mesmos, adquirindo os vveres nas fazendas e nos vilarejosencontrados ao longo do nosso itinerrio, e, finalmente, pescando.

    Os Baden-Powell voltavam das frias com os joelhos cheiosde calos, os msculos enrijecidos e toneladas de bagagem: pedraspara a coleo, ninhos para o museu, passarinhos para embalsamarpara as vitrinas, flores para o herbrio e radiosas lembranas para asnoitadas de inverno.

    Robert, chamado Ste, era um menininho magro e nervoso,rostinho mido, inteligente e esperto. Desenhava com a esquerda eescrevia com a direita. Logo aprendeu a desenhar e a escrever comambas as mos. Na escola, seus conhecimentos de pssaros, ninhos,pedras, lhe granjeiam enorme ascendente sobre os colegas. Num dosseus caderninhos do curso primrio, um dia em que estava pensativo,traou o seu programa de vida:

    Quando for grande, farei com que os pobres sejam to ricoscomo ns. Eles devem, como ns, ter o direito felicidade. Todos

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    aqueles que passarem por uma esquina, devero dar algum dinheiroaos pobres varredores, agradecendo a Deus tudo aquilo que dElereceberam. preciso orar a Deus sempre que se pode, mas uma vezque no se pode ser bom apenas rezando, preciso tambm esforar-se e fazer de tudo para se chegar a ser bom.

    Quando escreveu estas linhas tinha apenas 8 anos.

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    PALAVRAS MGICAS ESCRITAS NO CHAPU CINZENTO

    12 anos. Munido de uma bolsa de estudo, Robert entra para ocollege Charterhouse de Londres. Um college ingls no umaimensa construo feita de salas de aula e corredores, mas umconjunto de casinhas ornadas de grandes festes de hera, onde osjovens vivem em grupos, dedicando-se ao estudo e ao esporte.

    Robert no se sai l muito bem nas tradues latinas e gregas,mas um cobra nas cincias naturais e nas competies esportivas.Tem adorao pelas brincadeiras. Um dia em que esto todos no teatroe o mgico anunciado no chega nunca, algum convida Robert asubir ao palco para acalmar os impacientes. No espera segundoconvite. Sobe, arregaa as mangas, anunciando que executar umafabulosa mgica. Faz com que um dos expectadores lhe empreste ochapu: um magnfico chapu cinzento, novinho em folha. Depois dealguns esconjuros e palavras mgicas, Robert tira do bolso um enormecanivete e se pe friamente a retalhar o chapu em minsculas tiras.O proprietrio do chapu j comea a ficar um tanto inquieto. Eis quechega o prestidigitador profissional. Robert, com a maior cara de pau,entrega-lhe as tiras do chapu, dizendo aos expectadores:

    com o maior prazer que deixo para o nosso prestigitadorterminar a interessante brincadeira.

    E d o fora. apaixonado pelo futebol, e, como goleiro, consegue com o

    tempo uma grande popularidade.Quando aparecia em campo, de camisa preta e cales

    brancos - lembra um seu companheiro - com a bola nova debaixo dobrao, o velho bon escolar jogado bem para trs na cabea, ameninada vibrava e o adorava. Quando for adulto, haver de escrever:

    Muitas vezes me perguntaram o que que me levou desde ajuventude a jogar futebol com tanta animao. Pois foi a amizade comum jovem maior do que eu. Ele tornou-se mais tarde um grande jogadorprofissional. Tinha a honra de segurar-lhe o casaco enquanto jogava.

    No dava jamais sinal de pressa, e todavia se colocava sempreem posio tal de receber a bola. Lembro-me de com quanta energiarepreendeu um colega que cria ser coisa de gente adultacontar piadaspornogrficas. Eu admirava muito sua habilidade e sua coragem.

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    A MISSO NA NDIA

    Maio de 1876. Robert Baden-Powell est com 19 anos. Deixa aescola e comea a carreira militar.

    So anos, aqueles em que as naes europias conquistamvastos imprios na sia, na frica e na Oceania. Depois de 1880 acorrida para a expanso colonial torna-se de tal forma forte que asPotncias europeias, na Conferncia de Berlim (1884-1885),estabelecem alguns princpios gerais de ocupao vlida a fim dereduzir o risco de guerras entre as naes colonizadoras. NaqueleCongresso, a frica foi dividida em fatias como em uma festa se cortaa torta. Ingleses, franceses, portugueses e alemes se apoderaramde 80% do territrio africano. Como ato de gentileza, do de presenteao rei da Blgica o Congo. O mesmo fizeram com a sia.

    A Inglaterra v reconhecido o seu direito colonial sobre aimensa ndia e sobre toda a vastssima faixa do territrio africano quedesce do Egito at ao Sul da frica. No final do sculo, a Inglaterrapossui um imprio mundial de 33 milhes de quilmetros quadrados,com cerca de 400 milhes de habitantes.

    A fim de justificar tais conquistas, clebres juristas europeuselaboraram estranhas teorias sobre a superioridade da raa branca,destinada por Deus a civilizar o resto do mundo. Os brancos tm(sempre de acordo com esta teoria) a misso de levar aos pobresindgenas os benefcios da indstria e do comrcio exercidos na paz,e os grandes princpios da ordem, da justia e da boa vontade.Robert Baden-Powell fruto de sua poca. Estudou histria em livrosque traziam afirmaes como estas: Os ingleses so uma raadestinada por Deus a governar e a dominar (Seton Kerr, ministro dasRelaes Exteriores ); Sustento que ns ingleses somos a primeiraraa do mundo, e quanto maior a parte do mundo por ns ocupada,tanto melhor para a espcie humana. Devemos domin-los, os negros. (Cecil Rhodes, explorador e conquistador).

    Por muito tempo, Robert creu fielmente na misso civilizadorados povos brancos. Somente ao trmino da campanha contra os Zuluse depois de um encontro pessoal com Cecil Rhodes que descobriro desejo de dominao e o miservel desejo de riqueza que seescondiam por detrs daquela misso.

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    6 de dezembro de 1876. Baden-Powell desembarca emBombaim. Tinha sido agregado como sub-tenente ao 13. batalhodos Hussardos que est servindo na ndia.

    So meses de duro treinamento. Depois a partida para afronteira do Afeganisto, onde se junta ao seu regimento. Por l asituao sempre crtica. O 13. dos Hussardos deve vigiar o Passode Khyber, atravs do qual irromperam por tantos sculos os invasoresda ndia.

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    AS EMBOSCADAS DOS PHATAN

    As tribos que habitam as ridas regies circunjacentes so osbelicosos e indomveis Phatan, os guerreiros da barba comprida.Suas aldeias, feitas de casas de pau-a-pique, onde fabricamsecretamente armas, so impossveis de encontrar no emaranhadodas montanhas. As grutas cavadas nos flancos dos vales formam umlabirinto inextricvel, de onde periodicamente se precipitam para assaltaras caravanas de passagem, ou para massacrar um contingente desoldados.

    Patrulhas de Hussardos devem acossar os bandos desalteadores, sabendo que aquele um jogo de vida ou de morte: osPhatan executam os prisioneiros a golpes de punhal. uma verdadeiraguerra de desgaste: ocupar um altiplano, escapar de uma emboscada,conquistar um acampamento.

    hora do crepsculo - escreve Baden-Powell - sai-se doacampamento por cerca de um quilmetro, colocam-se as sentinelas,e por toda a noite se enviam para fora as patrulhas a intervalos de umahora para inspecionar os arredores. Podemos ser atacados a qualquermomento. As noites longas e frias nos esto fortalecendo eenrijescendo.

    Em Maiwand um contingente de Hussardos tinha sido atacadoe exterminado. Baden-Powell vai visitar o campo de batalha e ficaimpressionado.

    Carcassas de cavalos - escreve ele, - montes de caixas cheiasde munies, montes de cadveres de homens estraalhados pelosces, uniformes espalhados por toda a parte.Nos longos perodos de repouso que se alternam com o servio ativo,Robert organiza a sua vida de soldado. No quer de forma algumapesar no oramento da famlia longnqua. As 120 libras esterlinas anuais,que constituem o seu soldo, devem bastar. No fumo. Bebo o menospossvel. No tenho servos nem criados. Meu quarto s tem umacadeira, uma cama, uma mesinha coberta com uma toalha verde-clara, um copinho para escovar os dentes e um filtro para guapotvel.

    Toma a iniciativa de exercitar os soldados da sua repartioem um ramo da instruo militar muito descuidado: o scouting, ouseja a explorao.

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    No h batalha na histria - afirma ele sobre a qual no tenhapesado enormemente o reconhecimento preventivo.Durante asmanobras peridicas, a sua companhia consegue xitos espantosospela habilidade no scouting: os soldados deslizam sobre terrenosherbceos, como serpentes; ficam firmes durante longos perodos pordetrs dos menores acidentes do terreno, perscrutam atentamentena escurido, anotando mentalmente todo e qualquer particular econseguindo, por fim, surpreender sempre o inimigo.

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    ESPIO NA RSSIA

    1886. Promovido a capito e tendo regressado Inglaterra,Robert enviado com o irmo menor, Baden, para assistir s grandesmanobras do exrcito russo. O Ministrio da Guerra britnico soubera,atravs do seu servio secreto, que a Rssia dispunha de umanovidade revolucionria: minsculas pastilhas que, queimando a bordode bales cativos, permitiriam travar batalhas noturnas, iluminando oscampos de batalha como se fosse dia claro.

    Os Baden-Powell so mandados como observadores oficiais,mas devero executar, sem se deixar surprender, um verdadeiro serviode espionagem.

    Chegam a Krasoje Selo enquanto os regimentos realizam asmanobras na imensa estepe circunjacente. Em um momento de grandetumulto e entusiasmo, Robert deixa o irmo no posto de observaodesignado pelas autoridades e desliza para examinar de perto anavcula de um balo cativo, abandonado pelas sentinelas. Depois,com ares de um tcnico autorizado, penetra no forte mais prximo,cumprimenta as sentinelas e l se encafua, ficando at noite a fimde observar de perto as famosas experincias de iluminao.Deslocando-se silenciosamente, naquela noite consegue apoderar-se de alguns foguetes de sofisticada fabricao, como tambm dealgumas das misteriosas pastilhas, que demonstraram ser muitoinferiores sua fama.

    Dias depois realiza-se nova manobra noturna, agora napresena do Tzar. Os dois irmos, desta vez juntos, conseguempenetrar no setor reservado aos oficiais russos. Um farol os focalizarepentinamente. So presos. A lei russa contra a espionagem nobrinca: a pena mnima de 5 anos de encarceramento.

    Enquanto so vigiados como prisioneiros em um albergue,Robert tenta de um tudo: chega a oferecer muito dinheiro a umcamareiro a fim de o ajudar a fugir. Tem sorte: o camareiro, na realidade, tambm ele espio, a servio dos alemes.

    Podem tramar juntos, conseguindo escapar da Rssia a bordode um navio ingls.

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    A BATALHA NA IMENSA PLANCIE

    1887. Os Zulus, no interior da frica, se revoltam. A Inglaterra,no seu inexorvel avano no Continente africano, havia ocupado seuterritrio sete anos antes. Agora o prncipe Dinizulu empunhava a lanada liberdade, e o vento da insurreio corre como o fogo na savana.Um telegrama chega at ao capito Baden-Powell, que naquelemomento se encontrava na frica do Sul: escolhido como oficialsubalterno pelo major McKean. Os dois devero guiar uma colunacomposta de 400 soldados britnicos e de 200 basutos at o centroda Zululndia, onde o Comissrio ingls est cercado na sua residnciapelos insurretos.

    Baden-Powell no esquecer jamais a batalha travada naimensa plancie: quatro colunas de negros, reluzindo ao sol, vinhamao ataque. Os grandes escudos vermelhos-cor-de-sangue pareciamrevestir aqueles homens de tnicas reais. Os homens negros cantavam:um coro lento, cadenciado, imperioso. o Ingonyama - diz algum.

    A batalha foi breve. Contra os fuzis ingleses mostraram-setotalmente ineficazes as lanas e os escudos. Mas naquela tarde umaprofunda amargura dilacerava o mais profundo da alma de Baden-Powell. A final de contas, aqueles guerrilheiros que tinham marchadocontra eles cantando, altaneiros e belssimos, no eram de formaalguma rebeldes, e sim patriotas: tinham lutado pela liberdade da suaterra. E eles, os ingleses, que haviam massacrados os revoltosos,quem eram?

  • 27Volume 5 Srie Ser Escoteiro ...

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    CIVILIZADORES OU OPRESSORES?

    1895. Na colnia inglesa da Costa do Ouro que em breve sechamar Gana) rebela-se a tribo dos Achantis. uma das maissanguinrias tribos africanas. Durante sculos tinha semeado o terrorentre os povos vizinhos, com guerras e saques. As tribos derrotadaseram declaradas esplio de guerra.

    Algemados, colocados sob um pesado jugo de madeira, osprisioneiros desciam aos milhares em direo ao litoral, acossadospelas lanas dos cruis Achantis. Chegados ao litoral, eram entreguesaos mercenrios rabes ou europeus, que procediam a uma triagem,marcando com ferro em brasa os escolhidos, para finalidade deidentificao, pagavam os Achantis com rum, e embarcavam-nos. Iamvend-los nos mercados de escravos da Arbia ou das colniasinglesas, espanholas e portuguesas.

    Desde 1667 os ingleses, que tinham ocupado a Costa do Ouro,tinham posto um fim s incurses dos Achantis. Mas em 1895 subiuao trono da tribo o rei Prempeh. Ele expulsou o Governador ingls,convocou todos os seus sditos (um milho e meio) para a guerracontra as tribos vizinhas e reiniciou a caada aos escravos. S numafesta em palcio degolou mais de cem pessoas.

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    UM NEGRO E UM DITADOR BRANCO

    Baden-Powell, promovido a major havia pouco tempo,desembarca em Cape Coast frente da vanguarda indgena. Deveabrir caminho para o general Scott que o seguir frente de uma foraexpedicionria.

    Durante 20 dias Baden-Powell caminha no jngal, em direo capital, Kumasi. A grande estrada que deveria ligar a cidade aolitoral no passa de um estreitssimo caminho freqentemente invadidoe coberto pelo jngal luxuriante. O caminho aberto a golpe demachadinhas entre arbustos, palmeiras e trepadeiras que constituamautnticas muralhas verdes. Nuvens de insetos colam-se ao corpo eo pungem como uma meada de alfinetes.

    Esto distantes de Kumasi dois dias de marcha, quando chegaum grupinho de achantis, empunhando uma bandeira branca. Vmoferecer, em nome de Prempeh, a rendio da tribo.

    20 de janeiro de 1896. Dispostos em quadrado no centro dacapital, as tropas indgenas comandadas por Baden-Powell aguardamo ato de rendio do rei. Este comparece por volta do meio-dia. umnegro gigantesco, leio, vestido com uma tnica de fazenda de algodopontilhada de azul - escreve Baden-Powell. - Suga um amuleto mgicocomo se lambesse algo. Os braos e os tornozelos esto ornadoscom ossos humanos.

    Avana sob um enorme guarda-sol que levado por um servo.Atravessa lentamente o quadrado das tropas e ajoelha-se no p,trmulo de medo. Assim termina, sem um tiro de fuzil, esta expediopacificadora. Logo depois retorno Inglaterra com a divisa de tenentecoronel.

    Deve voltar frica naquele mesmo ano, para tomar parte numaexpedio contra a tribo dos Matabeles. ao trmino desta que encontraCecil Rhodes, um dos mais astutos e desapiedados conquistadoresingleses.

    Era algo entre o profeta e o aventureiro. Tinha uma ambiodesmesurada e desprezava os negros como raa inferior . Estavafirmemente convencido de que o que bom para a Inglaterra bompara o mundo. Tinha uma semelhana impressionante com aquelesditadores que nos anos 30 haveriam de dominar a Europa: Hitler,Mussolini, Stalin.

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    Tratando familiarmente com aquele homem, Baden-Powellsente repugnncia pelo seu desmesvrado orgulho, sua sede insacivelde poder e de riqueza. Pergunta-se estarrecido: Mas so estes oscivilizadores do mundo?

    1899. Inicia a guerra no Sul da frica. uma tpica guerracolonial. De um lado os Beres (descendentes dos colonos holandeses)que do a caa aos negros como se fossem animais selvagens. Deoutra, os ingleses, desejosos de ocuparem o Orange e o Transvaalpelo fato de terem sido a descobertas fabulosas minas de ouro.

    Esta guerra vergonhosa est, porm, destinada, com o longoassdio de Mafeking, a revelar ao mundo o nome de um heri: RobertBaden-Powell.

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    UM PROBLEMA URGENTE: DOIS MILHES DE JOVENS

    Depois de Mafeking Robert o heri nacional, um dos raroschefes militares que no conheceu jamais a derrota. Seu nome, suasaventuras, seu proverbial bom humor, so conhecidos por todos osingleses. Os jovens fizeram dele o seu dolo, e lhe escrevemmontanhas de cartas afetuosas. Pedem-lhe autgrafos, pareceres,conselhos.

    Como Inspetor Geral da Cavalaria, Baden-Powell realiza umalonga excurso pela Europa.

    Quer conhecer as grandes escolas de cavalaria da Frana,Alemanha, ustria, Itlia. Retornando Inglaterra, cria a Escola deCavalaria da Gr-Bretanha, funda um jornal para os soldados destaarma, providencia uma completa reviso do manual de instruo,reestrutura completamente as escolas destinadas formao dosoficiais.

    Mas o problema que realmente o preocupa outro; so os doismilhes de jovens viciados e sem ideais que na Inglaterra esperamalgum que d sentido sua vida.

    Enquanto viaja pela Europa, interessa-se pelas realizaes maismodernas dos educadores. Discute longamente com estudiosos eespecialistas. As discusses mais apaixonadas so aquelas mantidascom William Smith, o fundador das Boys Brigades, cujos excessivomilitarismo no aprova.

    - Est bem - diz-lhe William num dia de junho de 1906. -Concordo que a disciplina dos jovens deve ser mais alegre, maisespontnea, mais jovem como diz o senhor. Mas, na prtica, quedeveremos fazer, ns, os chefes das Brigades?

    Por que no escreve algum artigo para o nosso jornal, expondoo seu ponto de vista?

    Robert aceita. Naquele mesmo ms, The Boys Brigade Gazettepublica um seu primeiro artigo.

    Intitula-se Scouting for boys (Explorao para Rapazes). Traacom palavras simples algumas diretrizes que se tornaro fundamentaisno futuro Movimento escoteiro.

    Devemos ter bem fixa diante dos olhos a meta a que devetender todo educador de jovens: ajud-los a formar o carter, adesenvolver o esprito de servialismo para com os demais, a tornar-se bons cidados.

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    O mtodo que sugiro para atingir esta meta o seguinte: utilizara curiosidade inata nos jovens para habitua-los explorao. Naexplorao da natureza experimentaro a alegria de viver e de secansar; na observao atenta das pessoas descobriro a necessidadede ajud-las

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    6 TENDAS EM BROWNSEA

    Em 1907 Robert encontra uma pessoa que mudar o rumo desua vida. Chama-se Arthur Pearson, editor de livros e jornais. Tambmpara ele os dois milhes constituem um problema de conscincia.Ser ele que impelir Baden-Powell para o caminho do Movimentoescoteiro.

    Certo dia lhe diz:- O senhor tem idias maravilhosas sobre a juventude, general. E temescrito lindas palavras.Mas idias e palavras jamais resolveram nada. preciso passar aosfatos.- Mas como?- Rena alguns jovens, tente colocar em prtica o seu mtodo. Se osresultados forem compensadores, colocarei sua disposio os meusjornais, o meu dinheiro, as minhas amizades. Lanaremos suas idiase os seus fatos em escala nacional.

    Julho de 1907. A ilha de Brownsea (um quilmetro de largurapor trs de comprimento), situada entre os brancos recifes da baa dePoole, aguarda a chegada do primeiro acampamento de escoteiros.Do exrcito Baden-Powel tomara emprestadas seis barracascirculares, amplas e pesadonas, uma quantidade incrvel de cordas,bssolas, cartas topogrficas e um cozinheiro profissional. Trancara-se por quinze dias em um alberguezinho de Wimbledom, lanando nopapel as anotaes, os esquemas, as recordaes, os esboos dasconversaes a entabolar com os jovens. O material crescera de talforma em suas mos, que tomou as dimenses de um livro. Entreoutras coisas traou minuciosamente o programa do primeiroacampamento de escoteiros.

    A 29 de julho chegam ilha vinte jovens. So filhos de seusamigos ou membros das Boys Brigadas. Pertencem a todas as classessociais e tm uma idade que varia entre os 12 e os 16 anos.

    Baden-Powell os recebe com o seu sorriso manso. Traz nacabea o chapu que trazia em Mafeking, e veste cales curtos ataos joelhos. Junto s barracas, os jovens so divididos em quatropatrulhas. A cada patrulha Robert d um nome: Lobos, Touros,Salmes, Corvos. Entrega-lhes tambm um comprido mastro coloridoque lhes servir de distintivo: azul, verde, amarelo e vermelho.

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    Enfileirados diante de um mastro, erguem a bandeira do campo:o estandarte velho e descorado que tremulara sobre as muralhas deMafeking.

    O poderoso sopro de Robert faz ecoar um enorme chifre deantlope, presa da campanha dos Matabeles.

    sombra da bandeira, Baden-Powell lhes dirige a primeirasaudao. breve e incisivo: A partir deste momento, as patrulhastomam posse no campo. Tenho plena confiana em vocs, pois contocom o sentimento de honra de vocs. No obedecero a mim, e simao lder que elegero dentro de cada patrulha.

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    A ESTAO DAS FOGUEIRAS E DAS PISTAS

    A partir daquele momento, comea para aqueles jovens umarpida e belssima estao. O despertar ao som do chifre, a corridaat cascata para o banho matinal, o apetitoso cheiro dos ovos fritospelo cozinheiro. Depois vem o bosque, com os seus fascinantesmistrios, todos por descobrir: os ninhos de passarinhos, os insetossilenciosos, os esquilos a pularem de ramo em ramo, as ervas raras eas flores delicadas. E as praias da ilha, com as conchas, os peixesque passam por perto, as jangadas a fabricar com galhos de rvores.

    Durante dez dias, Baden-Powell ensina-os a sair emexplorao, seguir uma pista, organizar grandes jogos, enfrentar-seem movimentadas e cavaleirescas competies esportivas. Guia-osna explorao cuidadosa, na preparao de emboscadas, na misteriosacincia dos ns. Aprendem a armar as barracas, a acender o fogo, acozinhar ao ar livre. Para cada habilidade adquirida, recebem umnastro colorido que vai enfeitar as mangas da camisa.

    A noitinha, depois da ceia (Baden-Powell exige certa elegncia mesa), com o corpo envolto num cobertor colorido, dirigem-se todospara a beira do mar: a hora sugestiva da fogueira de acampamento.A chama sobe reta no ar leve, enquanto Baden-Powell narra asperipcias de sua vida.

    Depois cantam: so canes que Robert trouxe das noitestropicais e dos matagais africanos, como o Ingonyama, majestoso ecadenciado como um salmo bblico.

    Uma breve orao termina o dia. Depois, enquanto trspatrulhas alcanam suas barracas, a quarta vai montar a guardadurante a primeira parte da noite.

    9 de agosto. Em seu caderninho de apontamentos, Baden-Powell escreve: Levantado o acampamento. Os vinte jovens partem.Levam consigo colees de penas de passarinhos, conchas, folhasde rvores, mas levam sobretudo uma recordao indelvel dos diasfelizes, e a vontade de reviv-los em companhia de outros jovens.

    Sem perda de tempo, Baden-Powell volta ao seu refgio deWimbledom para rever as suas anotaes. Compreendeu anecessidade de dar aos jovens um uniforme, e desenha-o; calesno abaixo dos joelhos; blusa de algodo, de mangas compridas e decor cqui, to prtica para esconder-se; o leno que serve para tantas

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    e to imprevistas ocorrncias; chapu de abas longas, aquele mesmochapu que ele trazia em Mafeking.

    Escreve tambm uma simples promessa, que resume empoucas palavras o compromisso de um jovem escoteiro: Prometopela minha honra fazer o melhor possvel: para cumprir meu deverpara com Deus e a Ptria, ajudar o prximo em toda e qualquer ocasio,obedecer Lei do Escoteiro.

    Rev seus apontamentos, enriquecendo-os com novasreflexes, at parecer-lhe que podem dar um bom livro. Institula-oScouting for boys, fazendo-o ler a Pearson e a mais alguns poucosamigos.

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    DEMISSO DO EXRCITO

    Pearson fica entusiasmado com o livro:- preciso imprimi-lo sem perda de tempo, lan-lo em todo o pas. Meujornal est sua disposio: publicaremos a crnica do acampamentode Brownsea, e depois, captulo por captulo, o livro todo. A Young MensChristian Association por-se- sua disposio para organizar para osenhor um roteiro de conferncias. Ter muito o que fazer nos prximosmeses. Por falar nisto, no pensou em dar baixa?

    Baden-Powell j pensava nisto havia tempo.Tinha apenas 50 anos, podia aspirar aos mais altos postos,

    mas a vida de general no o seduzia. Repugnava-lhe ir enterrar-senum escritrio, entre papelada e carimbos. Ser oficial de um regimentome agradava - deixou escrito - devido ao contato pessoal com os meushomens. Mas eu no fora talhado para general. Alm disso, havia osjovens, e era esta nova misso que lhe absorvia o pensamento e lheenchia a vida.

    Em um colquio pessoal, pediu conselho ao prprio rei EduardoVII. Depois, encorajado pela sua me, depois de ter orado muito a fimde conhecer a vontade de Deus - refere a senhora Baden-Powell - deunaquele mesmo ano baixa do exrcito.

    A publicao da experincia de Brownsea nos jornais dePearson desperta o interesse de jovens e adultos. As confernciasorganizadas pela YMCA atraem as multides. Baden-Powell conta comsimplicidade o que fez em Brownsea, expe as prprias idias, assuas reflexes sobre como dar prazer e sentido vida dos jovens.Seu modo de falar no o dos doutos e enjoativos conferencistas. todo entremeado de episdios, intuies, recordaes, conselhosprticos e sugestes.

    A grande mestra dos jovens - diz ele - deve ser a natureza.Os bosques a explorar, as montanhas a conquistar, os rios a percorrerconstituem a grande e esplndida escola da vida, infelizmente ignoradapor tantos jovens. A atividade fsica no jamais apenas um prazer:habitua ao sacrifcio, habitua generosidade, obriga ajuda mtua,leva descoberta da importncia da unio, da amizade. Torna aspessoas humildes e fortes, generosas e gentis.

    Ao explorar a natureza, o jovem desenvolver a sua capacidadede observao e de deduo.

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    A vista, o ouvido, o olfato, o tato tornam-se mais prontos, maisaguados, no seguimento da pista mais apagada, na observao domenor detalhe (observao). E quando, a partir das pistas e dosdetalhes, tentar compreender a situao (deduo), dever apelarpara a capacidade de raciocnio, para a imaginao, para o bom senso,para a memria. Do vo improviso de um pssaro saber da presenade algum. De um galho quebrado adivinhar a direo tomada poruma patrulha.

    O meio mais eficaz para educar um jovem - diz - o jogo. Ojogo ao ar livre, o jogo de aventura na natureza. Baden-Powell serum grande inventor de jogos, copiando-os da vida: a observao, aespionagem, a preparao de armadilhas e de emboscadas, e amaneira de escapar de tudo isso.

    Outros componentes essenciais da educao devem ser avitria, a luta, a competio: primeiramente e antes de mais nada contraa prpria preguia, o desnimo, o cansao.

    O desenvolvimento do instinto social encontra um desafogo napatrulha, guiada por um jovem. Baden-Powell tem uma ilimitadaconfiana nestes pequenos chefes. Um adulto os controlar, massem fazer pesar o seu controle. A patrulha deve ser um mundozinho parte, com as suas tradies, os seus smbolos, o seu trabalho: umasociedade em miniatura.

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    A LEI DO ESCOTISMO

    A nica alavanca poderosa, a que se deve recorrer nosmomentos decisivos, o sentimento de honra do jovem. Logo de incioele d a sua palavra de honra de que haver de se comportar comoum escoteiro, e o seu sentimento de honra ser a garantia de queobservar a lei, mesmo se isto vier a lhe custar muito.

    Esta lei, Baden-Powell resumiu-a (como um moderno Moiss)em dez mandamentos, que sofreram depois alguma ligeira modificaonas vrias naes para onde o escotismo foi transplantado.Ei-lo na verso adotada pela Unio dos Escoteiros do Brasil:1. O Escoteiro tem uma s palavra; sua honra vale mais que a prpriavida.2. O Escoteiro leal.3. O Escoteiro est sempre alerta para ajudar o prximo e praticadiariamente uma boa ao.4. O Escoteiro amigo de todos e irmo dos demais escoteiros.5. O Escoteiro corts.6. O Escoteiro bom para os animais e as plantas.7, O Escoteiro obediente e disciplinado.8, O Escoteiro alegre e sorri nas dificuldades.9. O Escoteiro econmico e respeita o bem alheio.10. O Escoteiro limpo de corpo e alma.

    Um ponto dos mais importantes - diz ainda Baden-Powell - que os jovens faam cada dia uma boa ao para com algum, A boaao pode ser at mnima (ceder o lugar a algum para sentar-se, tirarda calada uma casca de banana, deixar uma moedinha na caixinhados pobres, mas uma maneira eficaz de arrancar o rapaz do prprioegosmo.

    No h sistema educativo - diz mais Baden-Powell - sem apresena de Deus. No de um Deus que tem o fuzil engatilhado paracastigar-nos, mas que nos sorri e nos encoraja a tornar-nos homensatravs daquela sua obra prima que a natureza. Nenhum homempode ser realmente bom se no cr em Deus e no obedece sua lei.A religio uma coisa simplicssima: primeiro, amar e servir a Deus;depois, amar e servir o prximo.

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    UM LIVRO QUE DESLANCHA OS JOVENS

    De janeiro a maro de 1908, o livro Scouting for boys publicadoem seis fascculos. O resultado tal que j em maio sai a edio emvolume nico.

    Muitos educadores ficam decepcionados. Scouting for boys nose assemelha a nenhum outro livro de pedagogia. No um tratado,mas (como as conferncias de Baden-Powell) uma srie de episdios,recordaes, conselhos prticos, sugestes, tudo reunido em 26conversaes, que os adultos podem ter com os jovens, mas que osprprios jovens podem ler sozinhos.

    E so os jovens que decretam o sucesso do livro. Num anoso vendidos 110 mil exemplares.

    Os jovens devoraram-no - escreve R. Bastin. - Esta coletneade casos variados permite ao jovem mediano tentar fazer escotismo.A encontra ele, codificados por um mestre, num estilo que o prende,conselhos prticos para realizar seus sonhos de acampamento, defogueiras, de aventuras. Encontra um manual para se sair de umadificuldade no mato, para reviver aquela vida primitiva, cuja recordaoest sempre no fundo do ser humano.

    Descobre nele normas sbias para crescer. Duras regras, poispara Baden-Powell o jogo no tem aquele qu de facilidade que nsadultos lhe emprestamos, mas o profundo interesse que nele depositao jovem.

    No vero e no outono daquele ano de 1908, os ingleses vemsurgir patrulhas de escoteiros por toda a ilha. como um incndioque se propaga incontrolvel numa floresta. Os jovens se vestem comoos soldados-exploradores de Mafeking, os chefes (escolhidos pelosprprios jovens) lem com eles (Scouting for boys, indo para osbosques armar barracas, construir cabanas, promover grandes jogos,observar de perto (deslizando silenciosos maneira indiana) animaise passarinhos.

    Nasce, assim, sem que ningum o tenha previsto, omovimento escoteiro. A massa de jovens viciados, desocupados,encontraram em Baden-Powell o seu lder. BP, como o chamarotodos carinhosamente dora em diante, aquele que oscompreendera, encontrando a frmula para dar sabor e interesse sua vida.

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    Em julho de 1908 realiza-se o primeiro encontro de instrutoresde escoteiros. Neste nterim, o Scouting for boys traduzido em vriaslnguas.

    A Argentina e o Chile, naquele mesmo ano de 1908, j tm osseus escoteiros.

    A Amrica descobre o escotismo graas boa ao de umescoteiro ingls. Arrastando uma valisa pesadssima, um americanodirige-se penosamente para um hotel de Londres. Um jovem de 15anos aproxima-se-lhe e toma-lhe a valisa, levando-a at o destino. Oamericano enfia a mo no bolso para tirar a gorjeta, mas o rapaz arecusa delicadamente: Sou escoteiro e, ajudando-o, fiz hoje a minhaboa ao.

    Impressionado com tamanha gentileza, aquele americanoprocura se informar a respeito dos escoteiros. Adquire o Scouting forboys e, de regresso Amrica, esfora-se para que o escotismo nasatambm nos Estados Unidos. Apenas um ano depois, o presidenteamericano Rooselvet escrevia a Baden-Powell: Endosso com a maiorsimpatia os mtodos e os objetivos contidos no seu livro. As liesnele contidas so adaptadas e necessrias tambm aos jovens norte-americanos.

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    A VOLTA AO MUNDO EM TRINTA ANOS

    A partir de 1908, a vida de Baden-Powell totalmente absorvidapelo escotismo. Cada ano organiza novos acampamentos deescoteiros (interessantssima a experincia feita a bordo do navioMercrio: um acampamento vivido durante vinte dias em alto mar,tudo no estilo escoteiro).

    Mas especialmente (e o que mais o absorve) torna-se ocaixeiro viajante do escoteirismo. Os convites chovem de todas aspartes do mundo, para conferncias e inspees a seces deescoteiros. E l vai ele, todo alegre e transbordante de entusiasmo.Como maravilhoso repartir com os jovens de todo o mundo a alegriade viver, costumava dizer.

    impossvel segui-lo passo a passo nesta volta ao mundoque haveria de durar aproximadamente 30 anos. Acenemos apenasaos momentos mais empolgantes.

    1909. Em Londres, no Palcio de Cristal, d-se o primeirogrande encontro de escoteiros: onze mil jovens. Desfilam pelasruas de Londres com seus capeires e as bandeiras. A surpresachega no final do desfile: atrs dos rapazes avanam as formaesde moas, irms, primas, amigas dos escoteiros. Baden-Powellfica literalmente boquiaberto. Jamais poderia ter imaginado quetambm as moas pedissem para participar da vida de escoteiro.O brinquedo nos bosques, ainda mais naquele tempo, noparecia talhado para elas. Mas as jovens londrinas ficaramirremovveis: no transcurso de um ano, oito mil estavam inscritasno quartel general do escotismo com o nome de guia, reclamandoao mesmo tempo uma edio adaptada para elas do Scoutingfor boys.

    1912. Os escoteiros dos Estados Unidos, Japo, China, exigema presena de Baden-Powell. No porto de Londres sobe ele a bordo doArcadie para a sua primeira volta ao mundo. Serve-lhe de escolta umaguarda de honra de jovens vestidos de cales e de blusas cqui,que agitam bastes e chapeles, gritando hurra!.

    Est presente uma mulher ainda jovem, que observacuriosamente toda aquela festa. Chama-se Olave Soames. Robert,notando-lhe o interesse, faz-se apresentar a ela, deixando-a boquiabertacom a maneira como iniciou a conversa:

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    - H dois anos atrs a senhorita passou rente ao quartel deKnightsbridge, em Londres, seguida por um co espanholesbranquiado. Pois desde aquele dia que desejo falar-lhe, senhorita.Tornam-se amigos. Alguns meses depois os amigos mais ntimos deBaden-Powell so informados de que ele desposar miss OlaveSoames, numa cerimnia muito ntima.

    Ao casamento est presente o Primeiro Ministro da frica do Sul,Louis Botha, que na guerra sul-africana comandara os Beres. Com finohumor, no momento do brinde, Botha ergue a taa esposa, dizendo:- A sade daquela que capturou o homem que ns no conseguimoscapturar.

    Foi um matrimnio muito feliz, no obstante os 30 anos dediferena de idade entre os esposos.

    Nasceram trs filhos: Peter, Heather e Betty. Olave se tornousua mais fiel colaboradora, tambm no movimento escoteiro,especialmente na organizao das guias. (1)

    1913. As crianas dos 8 a 12 anos manifestam, tambm elas,o desejo de entrar no grande movimento escoteiro. Nascem oslobinhos. Os nomes fantasiosos e o esprito deste ramo do escotismonasceram do encontro de Baden-Powell com os Livros das Selvasde Kipling. Deseja levar as crianas a reviver a estria encantada deMowgli: o menino que se perde na floresta, amamentado por umaloba, aceito na sociedade dos animais, descobrindo os maravilhosossegredos e a fora educativa da natureza.

    (1) O equivalente, no ramo feminino do escotismo, ao escoteiro (N.do T.).

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    A EUROPA SOB A GUERRA

    Naquele mesmo ano, num jornal ingls, um oficial dos altosescales acusa o movimento de escotismo de ser pacifista.Baden-Powell responde: Fico reconhecido ao oficial que nos faz estaacusao... verdade.

    Encorajamos os jovens a pensar em termos de paz e deamizade entre as pessoas e entre os povos.

    A acusao tem seus motivos: em 1913 j se percebe no ar atempestade que est para desabar sobre a Europa, a Primeira GuerraMundial. Os jovens so solicitados, no para pensamentos de paz,mas para fantasias de guerra. A Alemanha quer dominar o mundo; aInglaterra, que j domina o mundo com o seu vasto imprio colonial,est decidida a barrar o passo aos alemes. As naes europias,desde a Frana at a Rssia, rearmam-se precipitadamente. Nosestaleiros se preparam monstruosos vasos de guerra. Nas fronteirasvo se alinhando filas e filas de canhes e exrcitos interminveis.Baden-Powell anota: Se se deflagrar, esta guerra ser terrvel. Emcomparao com ela, as nossas guerras coloniais no passaro debrinquedos de crianas. L o homicdio era um acidente, ao passoque aqui o massacre ser cientfico e automtico.

    28 de julho de 1914: o canho ribomba nos confins da Srvia.1. de agosto: as tropas alems ultrapassam as fronteiras

    russas.4 de agosto: a Frana e a Inglaterra entram na fogueira. A Blgica

    atingida. por uma avalancha de fogo. A guerrona dilaga pela Europa.Milhes de jovens vo para as trincheiras.Durante quatro anos as plancies francesas so cobertas de

    cadveres e inundadas de sangue. A partir de 24 de maio de 1915,tambm a Itlia arrastada para a fornalha.

    1917. Enquanto, no front francs, os batalhes recusamobedecer ordem de passar ao ataque, e na imensido da Rssiacomea a inesperada revoluo comunista de Lenine, Baden-Powellescreve:

    As naes, desiludidas com esta guerra, esto procura deinstrumentos de paz,,, Devemos empenhar-nos a fim de que os jovensque esto crescendo em todas as partes do mundo possam viver,como irmos, a experincia do escotismo.

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    Eles ficaro assim ligados por uma amizade que possibilitarencontrar uma soluo pacifica para os grandes conflitosinternacionais... Se os futuros cidados do mundo tiverem convividolado a lado em um acampamento de escoteiros, sero capazes deregular as controvrsias com discusses e pactos amigveis.Percorrero o caminho da paz e no o da guerra.

    A partir deste momento, a defesa da paz atravs do escotismoser a misso especial de Baden-Powell.

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    JAMBOREE, ENCONTRO DE TRIBOS

    Pscoa de 1919. No parco de Gilwell, perto de Chingford, Robertinicia o primeiro Acampamento-escola para chefes escoteiros. umaidia genial: fazer com que os Chefes vivam, por algum tempo, a vidados seus jovens. Divididos em patrulhas, passando, mediante rodzio,por todos os cargos, os Chefes se especializam em escoteirismo,mediante um estreito contato com Robert e com os seus mais imediatoscolaboradores.

    H anos que Baden-Powell se preocupa com os jovens que,ao atingirem os 16 ou 17 anos, abandonam o movimento. A exploraoe os distintivos no entram mais no nmero de seus interesses, masmuito desejariam continuar a viver maneira escoteira, ou seja,encarando a vida como um esporte viril. Em 1922 Robert publica oseu melhor livro, Rovering to success. Nascem assim os rovers, oterceiro ramo da famlia escoteira. A esses aponta como interessecentral da vida o servio. Servio para consigo mesmos, para com omovimento escoteiro (tornam-se a principal fonte de Chefes), para coma comunidade. Prestar servio, seja l de que natureza for - escreve- constitui a maneira escoteira de observar a promessa de cumprir oDever para com Deus.

    O movimento escoteiro est agora completo:Lobinhos (7-11 anos) reunidos em Alcatia, - Escoteiros (11-

    15 anos) reunidos em Patrulha; Escoteiros Seniores (16-18 anos)reunidos em Tropa, - Pioneiros (maiores de 18 anos) reunidos em Cl.Uma Alcatia, uma Patrulha Escoteira, uma Patrulha Snior e um Cl,tudo reunido, formam um Grupo.

    A esta articulao corresponde a das Jovens: Fadinhas (7-9anos), Bandeirantes (9-11 anos), Guias (12-16 anos e maiores de 16anos).

    1920. Seis mil escoteiros provenientes de 21 pases de todasas partes do mundo renem-se em Londres. o primeiro JamboreeMundial. Foi Baden-Powell quem escolheu esta palavra. No linguajardos ndios americanos significa encontro de tribos. a primeirarealizao do seu sonho de paz: o encontro de todos os povos nacordialidade da amizade. Certos rostos de jovens lembram-lhe os povosentre os quais teve de estar como combatente. Seus filhos vm hojeat ele para aprender a construir a paz.

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    Na ltima tarde do primeiro Jamboree, 6 de agosto, Baden-Powell aclamado Chefe escoteiro mundial.

    O primeiro foi seguido de outros Jamborees mundiais; 1924 naDinamarca, 1929 na Inglaterra, 1933 na Hungria, 1937 na Holanda.Em todos eles Robert, com a face j enrugada mas com o sorrisosempre mais luminoso, foi a figura central, ruidosamente aclamadopelos seus jovens.

    Aos 28 mil reunidos na Holanda disse: J chegado o tempode despedir-me de vocs. Desejo-lhes felicidade. J estou com oitentae um anos de idade, e aproximo-me do fim.., Lembrem-se dosnumerosos amigos aos quais estenderam a mo para a amizade, edifundam entre os homens o reino pacfico de Deus.

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    A MORTE AOS PS DO MONTE QUNIA

    Outubro de 1938. Baden-Powell est em viagem para a fricado Sul. De repente faltam-lhe as foras. So obrigados a desembarc-lo em um porto do Qunia. Naquele pas, em uma casa situada aosps do monte Qunia, coberto de neves eternas, morava, havia jalguns anos, seu filho Peter.

    Entre o verde intenso da floresta e o respiro profundo do vento,Baden-Powell transcorreu os ltimos meses da vida j em declnio. Llonge o rdio lhe levou, na primavera de 1939, a tristssima notcia doincio da Segunda Guerra Mundial. Aos seus escoteiros, aquelesmesmos que ele tinha ouvido cantar e visto rir despreocupadamentenos Jamboree, era ordenado outra vez de empunhar o fuzil para matar-se entre si.

    Morreu em janeiro de 1941, na vspera do seu 84. aniversrio.A ltima mensagem que enviou l daquela regio longnqua da fricaaos escoteiros do mundo inteiro, enquanto as naes estavam aindaenvolvidas pela fria guerreira, ainda foi uma palavra de esperana:

    Minha vida transcorreu muito feliz, portanto s posso desejara cada um de vocs uma vida igualmente feliz. Procurem deixar omundo um pouco melhor de como o encontraram. E quando chegar ahora de vocs, podero morrer serenamente, com a certeza de teremfeito tudo o que podiam.

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    CURSO AVANADO PARA DIRIGENTESINSTITUCIONAIS

    2001/2002

    DIRETORDCIM Mario Henrique Peters Farinon

    EQUIPEDCB Tania Ayres Farinon

    IM Norma Beatriz de Oliveira BritoDCB Cleusa Maria Campello

    DCB Carlos Alberto Ferreira de Moura

    ALUNOSCarlos Alberto Pereira

    Carlos Alberto BergmannCleber Ricardo da SilvaFernando Luiz Dal PaiHugo Carlos Macke

    Ktia Maria Souza PaludoMarcelo Mello Nascimento

    Maria Beatriz FlachMaria Cristina Antunes

    Maria Ilza Flores CoronelNeida Terezinha Lima de Oliveira

    Neivinha RiethOldia Marlene de Oliveira

    Ricardo MachadoRodrigo Godoy da SilvaRoberto da Silva Alves

    Rotechild dos Santos PrestesSandra Silveira Fraga

    Sandra Zanon

  • PUBLICADO POR UNIO DOS ESCOTEIROS DO BRASILREGIO DO RIO GRANDE DO SUL

    Capa Vida de BP - Volume 5.pdfPgina 1Pgina 2

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