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Aos meus pais, Vilma e Sergio, e aos meus irmãos, Sergio Luiz,

Paulo Ricardo e José Carlos (in memoriam), minhas cunhadas e sobrinhas

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Agradecimentos

Meu reconhecimento às muitas pessoas voluntá-rias que têm contribuído para o desenvolvimento e a caminhada firme e perseverante do Serviço de Escuta, entre elas Flávio Dania Silva, Olga Regina Crotti e Maria Aparecida Vomero, que hoje integram o Grupo de Apoio e cujas considerações muito enriqueceram este trabalho.

Ao Padre Deolino Pedro Baldissera e ao Frei Hipólito Martendal, pelo apoio e incentivo ao lerem os originais desta pequena obra.

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ApresentaçãoEm primeiro lugar, quero agradecer a confiança

da autora por fazer-me o convite para escrever uma apresentação ao seu trabalho.

Nos meus cursos e palestras sobre o Serviço de Escuta, tenho procurado sempre imprimir ao conteú-do elementos práticos que facilitem os atendimentos de nossos voluntários.

O opúsculo de Ligia é despretensioso, tanto quan-to ela própria é despretensiosa. Sua importância para o Serviço de Escuta, eu não me arriscaria a definir. Mas, sem dúvida, é grande. Trata-se de documentar as fon-tes de nosso Serviço de Escuta exatamente enquanto as coisas estão acontecendo. A autora é uma de suas teste-munhas oculares, além de ser uma espécie de sócia-fun-dadora. É parte viva dos acontecimentos. Isso é notável.

O trabalho é escrito num estilo bem coloquial, como se a autora estivesse a conversar com o leitor. Seria fruto de tanto ouvir falar em diálogo?

Ela nos ajuda a localizar o Serviço de Escuta den-tro de um conjunto muito maior e mais denso de ati-vidades que visam ajudar pessoas em dificuldade. Os parentes de nosso modesto Serviço são pesos-pesados.

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Consciente das diferenças imensas que separam nos-sa atividade da confissão católica e da psicoterapia, nós não abrimos mão da oportunidade de aprender com elas. Delas copiamos alguns elementos vitais para a concretiza-ção do nosso Serviço de Escuta.

Da confissão, aprendemos que o sigilo é fundamental. Todo voluntário precisa ser formado para receber a confi-dência da pessoa que o procura como alguma coisa sagra-da. Faltar ao sigilo é traição à pessoa que confiou em nós.

Da psicoterapia, o Serviço de Escuta aceita e aco-lhe integralmente os elementos da tolerância, da não ingerência, da não direção das decisões do outro; aceita a descoberta de que a maior ajuda que se pode dar a alguém em dificuldade consiste em levá-lo a descobrir que ele tem recursos pessoais para resolver seus pro-blemas. Nisso consiste o crescimento da pessoa.

Apesar de as pretensões do Serviço de Escuta serem tão modestas, quero, contudo, insistir que todo voluntário passe por um treinamento básico mínimo, mas indispensável.

Um dos pontos abordados nos cursos de iniciação que tenho ministrado frisa a necessidade que temos de aban-donar velhas ideias, coisas que costumamos falar e fazer, bem como atitudes comuns que a maioria costuma tomar quando tenta ajudar alguém em necessidade. Até o conceito de ajuda precisa ser revisto e, em muitos aspectos, mudado.

Os anexos apresentados no final deste livro são de caráter muito prático e trazem elementos indispensáveis para que um Serviço de Escuta seja bem implantado.

Frei Hipólito Martendal, OFM.

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Introdução

Esta pequena obra é fruto da experiência da auto-ra, durante sete anos, como voluntária no Santuário do Sagrado Coração de Jesus (Campos Elíseos), na capital de São Paulo. Após um discernimento com seu orienta-dor espiritual, ela decidiu colocar a serviço seu dom de escutar. A partir daí continuou seu trabalho voluntário como agente da Escuta e ajudando, com outros volun-tários, a desenvolver este serviço, passando aos mais novos a experiência adquirida pelos mais antigos.

Contar como surgiu o Serviço de Escuta, como vem evoluindo, situando-o no contexto da realidade do mundo pós-moderno, e oferecer caminhos de como implantá-lo: este é o objetivo desta contribuição, com o desejo de que sirva também para uma reflexão sobre a importância do ato de escutar o outro.

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1O que é o Serviço de Escuta e sua história

Características

Acolher o outro com o coração, escutando-o sobre suas dores, dificuldades e angústias, proporciona-lhe alí-vio. Ao deixar que fale de suas inquietudes, a pessoa tem a oportunidade de elaborar seus pensamentos para buscar uma solução que está dentro dela, facilitando, assim, sua autonomia diante dos problemas, de tal modo que descu-bra por si o caminho a seguir. Este é o objetivo do Serviço de Escuta: silenciar para que o outro desabafe e, assim, livre-se da carga emocional que o oprime, passando a ver com mais clareza a situação em que se encontra.

O Serviço de Escuta é aberto a atender qualquer pessoa, independentemente de denominação religiosa.

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Não é terapia, no sentido psicológico, nem confissão, o que será abordado mais adiante. Não se trata de um serviço de evangelização no intuito de pregar a Palavra, mas de agir como Jesus agia, no aspecto de escutar as pessoas. Ele as deixava falar, desabafar, como com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35)1.

Nesse texto, Jesus vai ao encontro dos discípulos, com a disponibilidade para escutá-los, assim como o voluntário do Serviço de Escuta se coloca aberto e so-lícito às necessidades do outro. O ato de escutar não deixa de ser um caminhar junto com aquele que precisa de um alento.

Enquanto iam conversando e discorrendo entre si, o mesmo Jesus aproximou-se de-les e caminhava com eles.

Jesus pergunta gentilmente, com delicadeza, so-bre o que acontecera, deixando os próprios discípulos falarem, com suas palavras, sobre o que os entristecia. Ele não adota uma postura de superioridade, mesmo sabendo o que acontecera. Tal atitude também deve ter o voluntário que escuta: respeito, paciência e humil-dade diante de quem o procura, deixando-o que fale o que deseja e necessita.

Perguntou-lhes, então: “De que estais falan-do pelo caminho, e por que estais tristes?”.

1 AscitaçõesbíblicassãofeitasapartirdaBíbliaSagrada–EdiçãodeEstu-dos, 3a edição, São Paulo: Editora Ave-Maria, 2012.

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Jesus teve uma atitude de escuta paciente e amo-rosa,atémesmorelevandouma fala“um tantoagres-siva”deumdosdiscípulos.Eleseateveaoessencial,àcompreensão daquilo que os machucava no momento. Isso também é o que procura proporcionar o Serviço de Escuta, à medida que o voluntário se esvazia de si para poder compreender o outro.

Um deles, chamado Cléofas, respondeu-lhe: “És tu acaso o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu estes dias?”. Perguntou-lhes ele: “Que foi?”.

O Mestre demonstrou profundo respeito pela indi-vidualidade dos discípulos e seu ritmo de compreensão. Ele não os interrompeu para colocar suas impressões. Esperou que terminassem de falar, ouviu tudo, mesmo ciente de que eles não haviam entendido o significado dos acontecimentos. Escutando o que os machucava, Jesus dividia o peso, eliminando a dor. Na Escuta, essa atitude também é colocada em prática, deixando que a pessoa se expresse livremente para libertar-se de uma carga emocional que a oprime.

Disseram: “A respeito de Jesus de Na za ré...”.

Jesus não deixou de ser transparente com os discí-pulos, dizendo o que pensava sobre eles e explicando--lhes as escrituras. Na Escuta, podem ser feitas per-guntas no sentido de clarear uma situação para que a

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pessoa que está sendo escutada compreenda melhor o momento pelo qual passa. Isso deve ser feito com o cuidado em facilitar e respeitar a autonomia de quem está desabafando.

Jesus lhes disse: “Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória?”. E, começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava--lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras.

Proporcionando alívio aos discípulos, Jesus os tranquilizou, devolvendo-lhes a alegria e um novo sen-tido para os acontecimentos. Na Escuta também é as-sim.Depoisdeacalmar-see“tomarfôlego”diantedealguma situação difícil pela qual a pessoa esteja pas-sando, ela tem a possibilidade de, agora mais tranquila, lançar um novo olhar para os fatos e determinar o que quer fazer em relação a eles.

“Não se nos abrasava o coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explica-va as Escrituras?” Levantaram-se na mes-ma hora e voltaram a Jerusalém.

É em Jesus que os voluntários do Serviço de Escuta procuram se espelhar, acolhendo com o cora-ção, escutando amorosamente, sendo transparentes

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e sinceros com aquelas pessoas que os vêm procu-rar, buscando um momento de alívio. Não têm a pre-tensão de resolver os problemas das pessoas. Em um atendimento de cerca de 50 minutos é impossível conhecer a história e a vida de alguém, mas, com o simples ato de escutar com atenção, responsabilida-de e sigilo no momento limite, em que, como diz o ditado, a “gota d´água transborda o cálice”, já es-tão ajudando e muito aqueles que os procuram para ummomentode“desabafo”.Essaéumacertezaquedeve aplacar, até certo ponto, a natural ansiedade dos novos voluntários.

O início

Na década de 1970, Edgar Weist, frei francisca-no, começou a perceber que as pessoas vinham falar com ele assuntos não propriamente ligados à confissão de seus pecados. Queriam desabafar. Foi aí que, com um grupo de leigos, fundou o serviço chamado Porta Aberta, no Santuário São Francisco, no centro da cida-de de São Paulo.

Em 1973 foi criado em Brasília (DF) o trabalho comonomeProse–ProntoSocorroEspiritual,frutodo conhecimento de um trabalho feito na época, na igrejadaConsolação,emSãoPaulo,emque“párocoe leigos se uniram para atender a qualquer um que qui-sessedesabafar,pediroraçõesouconselhos”2.

2 AMARAL, R. M. Prosear em Oração. Brasília: Gráfica Ideal, 2003, p. 11.

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Em 1997, surge outra iniciativa, dessa vez na ci-dade de Campinas (SP), inicialmente com o nome Aconselhamento de Pastoral e logo mais com o nome Escuta Cristã, sob a orientação do professor Mauro Amatuzzi, o qual foi convidado pelo Arcebispo Dom Gilberto Pereira Lopes para ministrar cursos de capaci-tação de seis a oito meses, com uma aula por semana. A princípio o Serviço era oferecido em quatro paró-quias e na Catedral, ocorrendo nesta às terças e sextas--feiras, de manhã e à tarde, onde foram realizados, até dezembro de 2012, 9.889 atendimentos, segundo a Coordenadora da Equipe de Escuta Cristã na Catedral, grupo que se formou na época. Segundo o professor Amatuzzi, o trabalho em Campinas possui o seguinte tripé: a) acolher com simpatia; b) compreender como se estivesse no lugar da pessoa; c) eventualmente dizer uma palavra que faça pensar, não uma palavra que dê solução ou conselho, mas que faça pensar.

A partir de 2001, até hoje, sabe-se de seu surgi-mento nas seguintes igrejas da cidade de São Paulo: Nossa Senhora Aparecida (Moema), Nossa Senhora da Consolação (Consolação), São Luís Gonzaga, Imacula-da Conceição e Divino Espírito Santo (Bela Vista), Nos-sa Senhora Aparecida (Vila Beatriz), Nossa Senhora do Rosário de Pompeia (Vila Pompeia), Santíssimo Sacra-mento (Paraíso), Santuário São Judas Tadeu (Jabaqua-ra), Nossa Senhora das Dores e Capela Sagrada Famí-lia Santa Paulina (Ipiranga), Sagrada Família (Chácara SantoAntônio),SagradoCoraçãodeJesus(Brooklin),

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Santa Rita de Cássia (Mirandópolis); chegando-se até São Caetano do Sul, Santo André e à cidade de San-tos, nas igrejas Nossa Senhora da Candelária, São José Operário e Sagrado Coração de Jesus, respectivamen-te. Tem-se conhecimento de sua existência também em outras cidades e estados, como Fortaleza (CE) e Santa Maria (RS).

Algumas paróquias adotaram a denominação Ser-viço de Escuta e outras, Pastoral da Escuta. Em reunião de representantes das várias paróquias, em São Paulo, no dia 24 de abril de 2010, ficou acordado formalmente o termo Serviço de Escuta, por possibilitar uma abertura maior de significados, não se restringindo a um trabalho pastoral.

Por que surgiu?

O Serviço de Escuta surgiu a partir de uma necessi-dade das pessoas de sentirem-se ouvidas em sua totalida-de; contou com o Espírito Santo, que sopra onde quer e também com o trabalho voluntário de diversas pessoas.

Após um ano de caminhada do Serviço de Escuta no Santuário do Sagrado Coração de Jesus (Campos Elíseos), a autora deste livro convidou, para uma con-fraternização, as paróquias que havia visitado para a implantação do serviço naquele local e outra que es-tava surgindo. O motivo principal desse convite fora o sentimento provocado diante de algo dito por seu orientador espiritual, na época, Padre Vicente de Paulo Moretti Guedes, ou seja, o fato de que a Escuta estava

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dispersa, com grupos isolados aqui e ali. Aquela cons-tatação a fez sentir que sua missão seria congregar os Serviços de Escuta. O convite fora aceito e, em 7 de agosto de 2005, aconteceu essa confraternização, com a presença de representantes das paróquias São Luís Gonzaga, São Francisco de Assis e Santana. A partir daí surgiu a vontade unânime de passarem a se reunir com frequência.

No mesmo ano, ocorreu o primeiro encontro de voluntários, em 8 de outubro, também no Santuário do Sagrado Coração de Jesus. Ele reuniu um número expressivo de 42 pessoas, representando 14 paróquias da cidade de São Paulo. Foi feita uma mesa-redonda comostemas:“Limiteentreescuta,confissãoepsico-logia”e“OqueaIgrejaesperadoServiçodeEscutanaatualidade”.Houvetambémumatrocadeexperiênciaseforamabordadasmaisdoistemas:“Paranós,leigos,comoentenderumServiçodeEscuta?”e“Quemnosprocura,oqueesperaencontrar?”.

Sua articulação

Motivado pelo entusiasmo, aquele grupo de pes-soas passou a se reunir e montar um projeto, traçando as linhas gerais do Serviço de Escuta, com o objetivo de colaborar com as paróquias interessadas na sua im-plantação, além de prever a formação de uma equipe

de assessoria, constituída por representantes das várias paróquias, a fim de ajudar nessa implantação, bem

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como prestar esse serviço em eventos específicos. Esse projeto foi distribuído no segundo encontro, realizado em 11 de março de 2006, na igreja São Luís Gonzaga, na capital de São Paulo. Nessa ocasião, houve a visi-ta do então bispo-auxiliar da Região Sé, Dom Manuel Parrado Carral, que deu apoio e incentivo ao grupo.

Naquele encontro definiram-se os principais concei-tos em relação à Escuta, ou seja, não ser diretiva, não ter caráter religioso, mas ser expressão da atitude cristã, destacando-se não se tratar de terapia; discutiu-se sobre as ações que estavam sendo organizadas e trocaram-se experiências. Foram comentados os aspectos relativos à estruturação do Serviço de Escuta nas paróquias, salien-tando-se: a constituição de um grupo de voluntários, seu treinamento e a importância de reuniões periódicas de acompanhamento das atividades.

O grupo de voluntários que nasceu daquela con-fraternização e da elaboração do projeto, sentindo-se chamado a colaborar, passou a organizar reuniões, encontros e cursos. As reuniões se referia à troca de ideias e ao levantamento de dificuldades com a partici-pação dos coordenadores ou representantes do Serviço de Escuta das várias paróquias. Os encontros diziam respeito à presença de todos os voluntários do Serviço de Escuta, ocasiões em que foram desenvolvidos temas do interesse geral. Esses encontros, mais tarde, deram origem aos cursos de capacitação, divididos entre bási-co (para novos voluntários) e de aprofundamento (para os que estavam há mais tempo na caminhada).

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Outros dois encontros aconteceram no dia 25 de novembro de 2006 e em 14 de abril de 2007. Discutiram-se quais as dificuldades encontradas pelos voluntários e quais temas os agentes gostariam de co-nhecer e aprofundar. A partir daí identificou-se a neces-sidade de organizar um curso sobre Relação de Ajuda, que foi ministrado pelo Frei Hipólito Martendal, fran-ciscano, pelo Padre Deolino Pedro Baldissera, salvato-riano, e pelo leigo voluntário do Porta Aberta, Dionísio Martins da Silva, em oito sábados, começando em 26 de maio e terminando em 1o de setembro desse mesmo ano de 2007, com carga horária de 30 horas/aula. O curso teve a presença de 18 voluntários até seu final, com frequência de 75% das aulas.

No sentido de congregar os representantes e coor-denadores do Serviço de Escuta das várias paróquias, organizou-se uma reunião com eles em 7 de junho de 2008. Avaliando e ponderando juntos, o grupo chegou à conclusão de que seria importante haver dois tipos de curso: um para os iniciantes e outro para os que já estivessem há algum tempo na caminhada. E assim foi feito em 2009: o básico e o de aprofundamento.

Com nova reunião entre os coordenadores e re-presentantes em 16 de maio de 2009, formou-se o cha-mado Grupo de Apoio do Serviço de Escuta de São Paulo, cujo objetivo era oferecer auxílio para a implan-tação do Serviço de Escuta nas paróquias.

Uma característica que se faz questão de desta-car é a constante preocupação e cuidado da equipe no

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sentido de caminhar juntos, leigos e clero, com o objetivo de implantar e aperfeiçoar o Serviço de Escuta. Assim é que em 23 de junho de 2009 o Grupo de Apoio, com representantes de cinco paróquias, e o Padre Deolino Pedro Baldissera pediram uma audiência com o novo bispo-auxiliar da Região Sé, Dom Tarcísio Scaramussa, para colocá-lo a par da caminhada até então. Desse frutífero encontro, com receptividade e apoio, Dom Tarcísio orientou-os a estabelecer, enquanto Grupo de Apoio, um endereço de referência, o qual ficou sendo, a partir de 11 de julho de 2009, a Paróquia São Luís Gonzaga (Avenida Paulista, 2.378, Bela Vista, CEP 01310-300–SãoPaulo-SP), emconsonância comoseu pároco, na época, Nilson Marostica, jesuíta. Ainda fruto desse encontro, mais duas medidas foram adota-das,umendereçoeletrônico,quehojeé[email protected], e também a escolha de um sacerdote que fosse representante do Serviço de Escuta junto à Igreja, o qual é, nesta data, Frei Hipólito Martendal.

Em 2010, após reunião com os coordenadores das paróquias em 6 de março, foram oferecidos dois cursos básicos, um em 24 de abril, concomitantemente com nova reunião de coordenadores, e outro em 28 de agosto, além de um curso de aprofundamento em 6 de novembro.

O entusiasmo dos voluntários, a vontade de me-lhor servir, sentida através de trocas de experiências, o levantamento de dificuldades e as sugestões para sempre aprimorar a caminhada foram sempre uma constante, proporcionando aos novos voluntários as

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facilidades adquiridas com o conhecimento dos mais antigos.Àmedidaquesurgiaumanovidadeemalgumaequipe, esta era participada aos demais e, se aceita pela maioria, a ideia era compartilhada por todos.

Desse modo é que surgiu o logotipo do Serviço de Escuta. Inicialmente utilizado pela igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompeia (Vila Pompeia), foi apresentado nas reuniões de coordenadores até ser formalmente de-finido seu uso a partir da reunião anual de 12 de março de 2011, a fim de caracterizar a identidade do grupo como um todo.

(Logotipo do Serviço de Escuta. Significado: a pessoa que se esvazia de si para acolher o outro, que a procura com seus problemas e dificul-dades. No original ele tem a cor laranja, que representa o acolhimento.)

A evolução do Serviço de Escuta nos documentos da Igreja

O Projeto Nacional de Evangelização (2004-2007): Que-

remos ver Jesus – Caminho, Verdade e Vida3, na exigência do

3 CNBB, Projeto Nacional de Evangelização (2004-2007) – Queremos ver Jesus – Caminho, Verdade e Vida, Documentos da CNBB 72. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 25.

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serviço para a ação evangelizadora, no seu primeiro item traz à luz a necessidade da criação de centros de escuta. Entende-se esse anseio como o próprio Serviço de Escuta nas paróquias,

atendendo a necessidade de ouvir o outro seja ele quem for, em que fase da vida es-tiver, afastado da Igreja ou praticante, com seu modo especial de ser, seus desejos, questionamentos e realidades. É o ‘amor de Jesus em ação’, que permite ‘a partici-pação na construção da sociedade justa e solidária’, pois quando paramos para ouvir o outro, estamos deixando de excluir esse outro, o qual é fruto de experiências e vi-vências que o tornam único e cuja dignida-de deve ser assegurada.4

Numa caminhada conjunta, leigos e religiosos, em comunhão no Corpo de Cristo, para o crescimento e cuidado da Vinha do Senhor, o Serviço de Escuta en-contra eco nos documentos e textos da Igreja. Assim é que o 9 o Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo

(2004-2007) 5 afirma:

O diálogo estabelece o inter-relacionamen-to entre pessoas de língua, cultura, religião

4 PEZZUTO, L. T. A Prática da Pastoral da Escuta na Igreja Hoje, in Revista de Catequese, n. 110, abril/junho, 2005, p. 46.

5 ARQUIDIOCESEDESÃOPAULO.9 o Plano de Pastoral: 2004-2007. Ser Igreja Missionária na Cidade de São Paulo, p. 36.

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e etnias diferentes. A sociedade moderna acentua o pluralismo e a necessidade de respeito ao outro (CNBB, Doc. 71, n. 86). “A ideia fundamental, neste âmbito, é contribuir para educar as pessoas para um diálogo integral, orientado ao conheci-mento, à escuta, à compreensão dos valo-res de cada um”

Também no 10 o Plano de Pastoral da Arquidiocese de

São Paulo (2009-2012) 6 encontra-se referência ao Serviço de Escuta quando se lê uma das propostas, a criação de “ministériosquerespondamàsnecessidadesdaevan-gelização (da acolhida, da escuta, do aconselhamento, davisitação,dacoordenação”.Vê-secomocrescenteaprocura de novos voluntários para trabalhar no Serviço de Escuta, ao mesmo tempo em que aumenta sua im-portância e reconhecimento pela Igreja.

De modo mais atual, neste Ano da Fé, o 11o Plano

de Pastoral: 2013-20167 da Arquidiocese de São Paulo, em suas Indicações Pastorais relacionadas à Quarta ur-gência: Igreja–comunidadedecomunidades,noseuitem 7, diz sobre a necessidade de as paróquias e comu-nidadesorganizarem“oserviçodeescutaeacolhida,com equipes de voluntários de diferentes profissões, para ajudar as pessoas que buscam ajuda e orientação

6 ARQUIDIOCESEDESÃOPAULO.10oPlano de Pastoral: 2004-2007. Discípulos-missionários na Cidade de São Paulo, p. 100.

7 ARQUIDIOCESEDESÃOPAULO.11o Plano de Pastoral: 2013-2016. Testemunha de Jesus Cristo na Cidade. São Paulo: Gráfica Ave Maria, p. 36.

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social, médica, psicológica, religiosa, profissional, entre outras”.Éocaminharjunto,cadaumcomsuasespeci-ficidades, seus dons em favor do bem de tantos irmãos que necessitam de um momento de acolhida amorosa para externar suas dores, dificuldades e sofrimentos.

Nestes 50 anos do Concílio Vaticano II, não se po-deria deixar de citar o que diz a Constituição Dogmática Lumen Gentium com a atualíssima colocação: “na va-riedade, todos dão testemunho da admirável unidade existente no Corpo de Cristo. Pois a própria diversidade das graças, ministérios e trabalhos unifica os filhos de Deus,porque‘tudoissooperaumeomesmoEspírito’”(1Cor 12,11)8.

São os vários carismas em união para o bem maior de levar as pessoas a terem mais vida e vida em plenitude. Não é esse o Reino para o qual Deus espera que nós nos unamos e pelo qual trabalhemos em prol?

Nascido por diversas iniciativas e depois de modo mais articulado, com as várias paróquias em esforço conjunto, o Serviço de Escuta surgiu por causa de uma necessidade: as pessoas precisam se sentir acolhidas em suas dores e ouvidas com respeito, atenção e sigilo. Seu caminhar encontra eco dentro da Igreja Católica, unindo forças entre leigos e religiosos, no sentido de proporcionar bem-estar a tantas pessoas.

8 COMPÊNDIO DO VATICANO II. Constituições, Decretos, Declara-ções. Constituição Dogmática Lumen Gentium, LG, Cap. IV: Os Leigos, n. 80, p. 79.