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PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA – CONCURSO EBTT (PRIMEIRA FASE) – COLÉGIO DE APLICAÇÃO/UFRGS - 2017 1 PROVA OBJETIVA DO CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DO CARGO DE PROFESSOR EFETIVO DE ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO DO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UFRGS EDITAL Nº 16/2016, DE 31 DE AGOSTO DE 2016. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CANDIDATO – PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO NOME N O DO DOCUMENTO DE IDENTIDADE ÓRGÃO EXPEDIDOR UF N O DE INSCRIÇÃO PRÉDIO SALA 4 3 8 1 5 CADERNO DE QUESTÕES >>LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA<< INSTRUÇÕES 1. Não abra este Caderno de Questões antes da autorização do fiscal. 2. Preencha, na Folha de Respostas, os mesmos campos preenchidos no Caderno de Questões. 3. Verifique, após obter a autorização do fiscal, se o Caderno de Questões está completo com 30 (trinta) questões e se apresenta falhas de impressão. Não esqueça de conferir se sua prova corresponde ao cargo para o qual você se inscreveu. Caso note alguma divergência, comunique ao fiscal imediatamente. 4. Utilize apenas caneta esferográfica transparente azul ou preta para o preenchimento da Folha de Respostas. O único documento válido para a correção das provas é a Folha de Respostas, por isso tenha a máxima atenção no seu preenchimento, visto que a marcação da Folha de Respostas é de sua inteira responsabilidade. Exemplo correto da marcação da Folha de Respostas: 5. Leia atentamente cada questão da prova. Para cada questão são apresentadas cinco alternativas de resposta (A, B, C, D, E), sendo que o candidato deverá escolher APENAS UMA alternativa. 6. Não amasse, dobre ou rasure a Folha de Respostas, pois não haverá substituição, sob qualquer hipótese, deste caderno, nem da folha-resposta. Respostas rasuradas serão desconsideradas. 7. Atente para a seguinte informação: as questões não assinaladas na Folha de Respostas serão consideradas erradas, assim como as que apresentarem mais de uma alternativa assinalada, emenda ou rasura, ainda que legível. 8. Você somente poderá deixar definitivamente a sala de prova após 60 (sessenta) minutos de seu início. Este caderno deverá ser entregue ao fiscal antes de sua saída da sala. 9. Realize a prova no prazo máximo de 4 (quatro) horas, incluindo a marcação da Folha de Respostas. O candidato poderá anotar o gabarito na parte destacável, no final da capa deste Caderno de Questões, que serve para copiar as suas respostas e que somente poderá ser destacada no ato da entrega do material ao fiscal. 10. As provas serão disponibilizadas no site da PROGESP (http://www.ufrgs.br/progesp/ ), após a divulgação do Gabarito Oficial. 11. A retirada dos 03 (três) últimos candidatos da sala de prova só ocorrerá conjuntamente, após a conferência de todos os documentos da sala, além da assinatura do termo de fechamento. 12. Durante a prova, não será permitida qualquer espécie de consulta ou comunicação entre os candidatos, nem a utilização de aparelhos eletrônicos, livros, anotações, materiais impressos ou qualquer outro material de consulta. 13. Será eliminado do concurso público o candidato que, durante a realização das provas, for surpreendido utilizando: aparelhos eletrônicos, MP3, MP4, telefone celular, anotações, dicionários, materiais impressos ou qualquer outro material de consulta, relógio de qualquer espécie, óculos escuros ou quaisquer acessórios de chapelaria (chapéu, boné, gorro ou similares). 14. Qualquer tentativa de fraude implicará a imediata denúncia à autoridade competente, que tomará as medidas cabíveis, e a imediata desclassificação do candidato. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL COLÉGIO DE APLICAÇÃO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL FEDERAL

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PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA – CONCURSO EBTT (PRIMEIRA FASE) – COLÉGIO DE APLICAÇÃO/UFRGS - 2017 1

PROVA OBJETIVA DO CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DO CARGO DE PROFESSOR EFETIVO DE ENSINO BÁSICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO DO

COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UFRGS

EDITAL Nº 16/2016, DE 31 DE AGOSTO DE 2016.

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO CANDIDATO – PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO

NOME

NO DO DOCUMENTO DE IDENTIDADE ÓRGÃO

EXPEDIDOR UF NO DE INSCRIÇÃO

PRÉDIO SALA

4

3

8

1

5

CADERNO DE QUESTÕES >>LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA<<

INSTRUÇÕES 1. Não abra este Caderno de Questões antes da autorização do fiscal. 2. Preencha, na Folha de Respostas, os mesmos campos preenchidos

no Caderno de Questões. 3. Verifique, após obter a autorização do fiscal, se o Caderno de

Questões está completo com 30 (trinta) questões e se apresenta falhas de impressão. Não esqueça de conferir se sua prova corresponde ao cargo para o qual você se inscreveu. Caso note alguma divergência, comunique ao fiscal imediatamente.

4. Utilize apenas caneta esferográfica transparente azul ou preta para o preenchimento da Folha de Respostas. O único documento válido para a correção das provas é a Folha de Respostas, por isso tenha a máxima atenção no seu preenchimento, visto que a marcação da Folha de Respostas é de sua inteira responsabilidade. Exemplo correto da marcação da Folha de Respostas:

5. Leia atentamente cada questão da prova. Para cada questão são apresentadas cinco alternativas de resposta (A, B, C, D, E), sendo que o candidato deverá escolher APENAS UMA alternativa.

6. Não amasse, dobre ou rasure a Folha de Respostas, pois não haverá substituição, sob qualquer hipótese, deste caderno, nem da folha-resposta. Respostas rasuradas serão desconsideradas.

7. Atente para a seguinte informação: as questões não assinaladas na Folha de Respostas serão consideradas erradas, assim como as que apresentarem mais de uma alternativa assinalada, emenda ou rasura, ainda que legível.

8. Você somente poderá deixar definitivamente a sala de prova após 60 (sessenta) minutos de seu início. Este caderno deverá ser entregue ao fiscal antes de sua saída da sala.

9. Realize a prova no prazo máximo de 4 (quatro) horas, incluindo a marcação da Folha de Respostas. O candidato poderá anotar o gabarito na parte destacável, no final da capa deste Caderno de Questões, que serve para copiar as suas respostas e que somente poderá ser destacada no ato da entrega do material ao fiscal.

10. As provas serão disponibilizadas no site da PROGESP (http://www.ufrgs.br/progesp/), após a divulgação do Gabarito Oficial.

11. A retirada dos 03 (três) últimos candidatos da sala de prova só ocorrerá conjuntamente, após a conferência de todos os documentos da sala, além da assinatura do termo de fechamento.

12. Durante a prova, não será permitida qualquer espécie de consulta ou comunicação entre os candidatos, nem a utilização de aparelhos eletrônicos, livros, anotações, materiais impressos ou qualquer outro material de consulta.

13. Será eliminado do concurso público o candidato que, durante a realização das provas, for surpreendido utilizando: aparelhos eletrônicos, MP3, MP4, telefone celular, anotações, dicionários, materiais impressos ou qualquer outro material de consulta, relógio de qualquer espécie, óculos escuros ou quaisquer acessórios de chapelaria (chapéu, boné, gorro ou similares).

14. Qualquer tentativa de fraude implicará a imediata denúncia à autoridade competente, que tomará as medidas cabíveis, e a imediata desclassificação do candidato.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL COLÉGIO DE APLICAÇÃO

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

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QUESTÃO 01 Leia o texto abaixo para a resolução da questão:

Nenhum pai, nenhuma família espera que a escola vá ensinar suas crianças a “falar”, pois elas já “falam” quando entram na escola, uma vez que, obviamente, o desempenho oral antecede o processo de educação formal. (...) ninguém espera que a escola constitua o espaço privilegiado da apreensão e da discussão da cultura popular, que é aquela que, por princípio, se veicula na comunicação oral, e isso decorre da consideração da escola, privilegiadamente, como o “templo” do letramento, a instituição absolutamente responsável por ele.

(NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática ensinar na escola? 3ª ed., São Paulo: Contexto: 2009. p.87.)

Considere as seguintes afirmações a partir da leitura do texto e de seus conhecimentos sobre a forma como a expressão linguística é encarada contemporaneamente: I. A escolarização é uma prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação integral do indivíduo,

envolvendo projetos educacionais amplos. Dentro do projeto formal que implica a escola, já se deve incluir o objetivo do letramento.

II. O indivíduo começa a construir sua capacidade de linguagem a partir de seus primeiros anos de vida, quando começa a balbuciar as primeiras palavras no idioma nativo. Quando ele chega à escola, portanto, consegue transmitir mensagens por meio da fala de modo rudimentar.

III. A escola deve ensinar plenamente o uso da língua materna, contemplando todas as modalidades – escrita e falada, padrão e não padrão – que devem ser valorizadas no ambiente escolar. Desse modo, todas as práticas discursivas devem ser desenvolvidas, preparando o aluno para se enunciar adequadamente nas diversas situações de comunicação.

Quais estão CORRETAS? (A) Apenas I. (B) Apenas III.

(C) Apenas I e III. (D) Apenas II e III.

(E) I, II e III.

________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 02 A perspectiva funcionalista de estudos da linguagem analisa a língua no uso, considerando sua função nas situações comunicativas. A língua, na visão funcionalista, não é entendida como um sistema inato, tampouco é considerada uma estrutura estável. Conforme Neves, em A Gramática Passada a Limpo, “Quando se fala de descrição da língua em uso [...], fica implicado que a consideração das estruturas linguísticas se pauta pelo que elas representam de organização dos meios linguísticos que expressam as funções a que serve a linguagem” (NEVES, 2012, p. 51).

Considere os itens abaixo, adaptados de Neves (2012), que descrevem princípios atinentes a uma gramática de cunho funcionalista: I. A linguagem serve a vários propósitos e, por isso, desconsidera motivações externas e internas à língua, de

iguais naturezas, as quais buscam equilibrar a forma da gramática. II. A língua não pode ser descrita como um sistema autônomo: embora haja algum grau de arbitrariedade, o

sistema linguístico se ativa por motivação externa. III. As formas e os processos da língua são meios para um fim, não um fim em si mesmo. IV. O falante tem liberdade organizacional irrestrita, pois ele faz escolhas, que levam a resultados de sentido e a

efeitos pragmáticos.

Quais itens evidenciam a importância das motivações de uso e das necessidades comunicativas? (A) Apenas I. (B) Apenas II.

(C) Apenas II e III. (D) Apenas I, III e IV.

(E) I, II, III e IV.

________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 03 Ao analisar as estruturas morfológicas do português, Basílio, em Formação e Classes de Palavras no Português do Brasil, define os clíticos como “unidades que se agregam a uma palavra fonologicamente” (BASÍLIO, 2004, p. 16). Abaixo, listam-se características de pronomes clíticos.

Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as sentenças abaixo. ( ) Não apresentam acentuação própria. ( ) Integram-se à pronuncia do verbo. ( ) Podem mudar de posição. ( ) Fazem parte da palavra morfológica.

A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: (A) F-F-V-F. (B) V-V-V-F.

(C) F-V-F-V. (D) V-V-F-F.

(E) F-F-F-V.

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QUESTÃO 04 Koch, em O Texto e a Construção dos Sentidos, define intertextualidade em sentido restrito como “a relação de um texto com outros textos previamente existentes, isto é, efetivamente produzidos” (KOCH, 2005, p. 62).

As alternativas abaixo apresentam tipos de intertextualidade em sentido restrito, com EXCEÇÃO de: (A) Consciente X inconsciente (B) De conteúdo X de forma/conteúdo (C) Explícita X implícita (D) Das semelhanças X das diferenças (E) Com intertexto alheio, com intertexto próprio ou com intertexto atribuído a um enunciador genérico. ________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 05 Em Marxismo e Filosofia da Linguagem, Bakhtin (VOLOCHÍNOV) ressalta a relação intrínseca entre a organização hierárquica das relações sociais e as formas de enunciação. Conforme o autor, o signo “resulta de um consenso entre indivíduos socialmente organizados no decorrer de um processo de interação. Razão pela qual as formas do signo são condicionadas tanto pela organização social de tais indivíduos como pelas condições em que a interação acontece. [...]. É justamente uma das tarefas da ciência das ideologias estudar esta evolução social do signo linguístico. Só esta abordagem pode dar uma expressão concreta ao problema da mútua influência do signo e do ser [...]” (BAKHTIN (VOLOCHÍNOV), 2009, p. 45). Para tratar da relação de influência entre signo e ser, considerando-se a citação, é importante atentar a algumas orientações metodológicas.

Considere as orientações abaixo: I. Não separar ideologia da realidade material do signo. II. Não dissociar a comunicação escrita de sua influência na comunicação falada. III. Não separar signo das formas concretas da comunicação social. IV. Não dissociar a comunicação e suas formas de sua base material.

Qual(is) sentença(s) faz(em) parte das orientações metodológicas propostas por Bakhtin (VOLOCHÍNOV)? (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas II e III. (D) Apenas I, III e IV. (E) I, II, III e IV. ________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 06 Conforme Bakhtin, em Estética da Criação Verbal, “Ao construir o meu enunciado, procuro defini-lo de maneira ativa; por outro lado, procuro antecipá-lo, e essa resposta antecipável exerce, por sua vez, uma ativa influência sobre o meu enunciado (dou resposta pronta às objeções que prevejo, apelo para toda sorte de subterfúgios, etc.). Ao falar sempre levo em conta o fundo aperceptível da percepção do meu discurso pelo destinatário: até que ponto ele está a par da situação, dispõe de conhecimentos especiais de um dado campo cultural da comunicação; levo em conta as suas concepções e convicções, os seus preconceitos (do meu ponto de vista), as suas simpatias e antipatias [...]” (BAKHTIN, 2011, p. 302).

Considere os itens abaixo: I. A ativa compreensão responsiva do enunciado pelo destinatário. II. A escolha do gênero utilizado. III. A escolha dos procedimentos composicionais. IV. O estilo do enunciado.

As considerações apontadas na citação são determinantes de quais itens? (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas II e III. (D) Apenas I, III e IV. (E) I, II, III, IV.

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QUESTÃO 07 As alternativas abaixo ilustram afirmações a respeito dos gêneros discursivos, nos moldes de Bakhtin, com EXCEÇÃO de:

(A) Os gêneros discursivos podem ser primários ou secundários. (B) A imutabilidade dos diversos gêneros discursivos revela ao falante as diferentes formas de enunciados: os gêneros

não são criados pelo falante, mas dados a ele. (C) Os diferentes gêneros estão relacionados aos diferentes campos de utilização da língua. (D) Gêneros discursivos são socialmente dirigidos. (E) Os gêneros discursivos organizam nosso discurso quase da mesma forma que o organizam as formas gramaticais

(sintáticas).________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 08 No texto abaixo ocorre uma nominalização.

Os professores decidiram suspender as aulas em razão da greve dos motoristas de ônibus. A decisão acarretou a necessidade de alterar o calendário escolar.

A respeito desse processo, com base no texto acima, é INCORRETO afirmar que: (A) Substantivos se formam a partir de verbos também por motivação de ordem textual. (B) O texto contém anáfora. (C) Uma única palavra do texto representa toda uma proposição. (D) A nominalização do verbo expressa a noção verbal em si, sem os requisitos gramaticais do verbo. (E) A palavra decisão transfere a informação dada no segundo período para o período anterior, dando continuidade do

tópico na construção do texto. ________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 09 O ensino de gramática em âmbito escolar é, há tempo, objeto de discussão no meio acadêmico e nas escolas de Educação Básica. Em Leitura e Autoria: planejamento em Língua Portuguesa e Literatura, Simões et al (2012) optam pelo termo reflexão linguística. Para as autoras, “a reflexão linguística está a serviço da reescrita do texto pelos alunos, acima de tudo. Também está a serviço, de modo mais amplo, à construção por ele de competências de escrita e de leitura. Além disso, está a serviço da construção de conhecimentos sobre a língua portuguesa: conhecimentos sistemáticos, sem dúvida. Contudo, conhecimentos que não se fecham num modelo gramatical, alheio e mal compreendido, que não retorna aos modos como tais conhecimentos se articulam aos usos da língua” (SIMÕES et al. 2012, p. 176).

Abaixo, listam-se exemplos de práticas. Com base no trecho citado acima sobre o que se entende por reflexão linguística, marque V para o(s) exemplo(s) de prática de reflexão linguística e F para o(s) exemplo(s) que NÃO configuram prática de reflexão linguística. ( ) aprendizagens sobre a língua são mobilizadas para a leitura e a produção de textos. ( ) estudo dos usos das variedades não padrão, de suas funções e de seus sentidos sociais. ( ) privilégio da denotação e de significados fixos. ( ) enfoque na definição de categorias e funções, seguida de exemplificação. ( ) foco nos fatos da língua e reflexão sobre regularidades.

A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: (A) V-V-V-F-F. (B) V-V-F-F-V. (C) V-F-V-V-F. (D) F-F-V-F-V. (E) F-F-F-V-V.

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QUESTÃO 10 Leia o texto abaixo para a resolução da questão:

Sem a abordagem estilística, o estudo da sintaxe não enriquece a linguagem dos alunos e, privado de qualquer tipo de significado criativo, não lhes ajuda a criar uma linguagem própria; ele os ensina apenas a analisar a linguagem alheia já criada e pronta.

(BAKHTIN, Mikhail. Questões de estilística no ensino da língua. São Paulo: Editora 34, 2013, p. 28)

Considere as sentenças abaixo: I. O estudo da sintaxe privado da abordagem estilística não enriquece a linguagem dos alunos. Privá-los de

qualquer tipo de significado criativo não auxilia os alunos na criação de uma linguagem própria, ensina-os somente a analisar a linguagem alheia já criada e pronta.

II. O estudo da sintaxe sem a abordagem estilística não enriquece a linguagem dos alunos. Privar os alunos de qualquer tipo de significado criativo não lhes ajuda a criar uma linguagem própria; ensina-os a analisar somente a já criada e pronta linguagem alheia.

III. O estudo da sintaxe sem a abordagem estilística não enriquece a linguagem dos alunos. Além disso, sem qualquer tipo de significado criativo, não ajuda os alunos na criação de uma linguagem própria, ensinando-os apenas a analisar a linguagem alheia já criada e pronta.

Em qual(is) item(ens) o trecho original foi reescrito adequadamente, sem alteração do sentido

original? (A) Apenas em I. (B) Apenas em III. (C) Apenas em I e III. (D) Apenas em II e III. (E) I, II e III. ________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 11 Leia o texto abaixo, produzido por um estudante do Ensino Fundamental, para a resolução da questão.

A PRAIA DOS FANTASMAS1 Numa praia, no Sul no ano de 1994, aconteceu um fato esquisito com Eduardo e Carolina, um casal de jovens

apaixonados, que foi atraído pelas aventuras na praia recém-desbravada. Naquela praia o que fazia sucesso não era o sol, mas a lua. Por esse motivo, Eduardo resolveu surfar à noite, e

Carolina o acompanhou. Estando os dois muito afastados da Pousada, Carolina deitou na areia, enquanto o namorado surfava. A garota cochilou despreocupada, pois seu namorado era um surfista experiente. Quando ela acordou, percebeu que Eduardo tinha desaparecido. Ela vagou pelas praias a noite inteira até chegar na pousada. Os próximos dias foi uma agonia para Carolina. Um dia, ela não aguentou e, foi ao local onde Eduardo tinha desaparecido. Ela voltou de lá, dizendo que tinha visto o fantasma do namorado a chamando. Depois disso, ela ficou muito traumatizada e uma noite ela saiu para ir a praia e nunca mais voltou.

Hoje, 23 anos depois, as pessoas dizem que nas noites de lua cheia, naquele ponto da praia onde os jovens desapareceram, dá pra ver seus fantasmas caminhando de mãos dadas pelo meio das ondas.

(Adaptado de: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/14-4.pdf. Acesso em 08 fev. 2017.)

Assinale a alternativa CORRETA em relação a alguns elementos coesivos presentes no texto acima. (A) Na linha 01, em Numa praia, no Sul no ano de 1994, é possível identificar a presença da coesão referencial,

estabelecendo lugar, e, logo em seguida, observa-se uma relação de temporalidade. (B) Na linha 04, o pronome oblíquo o (Carolina o acompanhou) é um elemento coesivo dêitico, cuja coesão se faz

de modo sequencial, que está relacionado ao vocábulo Eduardo (l.03). (C) Na linha 06, o pronome pessoal Ela, elemento anafórico, recupera o termo Carolina (l.04), a locução adverbial a

noite estabelece relação de tempo. A preposição até tem a função de dar sequência a ideia. Todos os elementos destacados caracterizam a coesão sequencial.

(D) Na linha 07, o pronome relativo onde é um elemento anafórico de coesão referencial que recupera a expressão Numa praia, no Sul no ano de 1994 da linha 01.

(E) Na linha 10, os termos Hoje e depois estabelecem uma relação referencial. Os pronomes naquele e onde (l.10) são elementos anafóricos sequenciais.

1 O texto foi transcrito tal qual foi escrito pelo estudante.

01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11.

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QUESTÃO 12 O esquema abaixo, de Geraldi (2013, p. 161), em Portos de Passagem, ilustra a situação de interlocução na esfera da sala de aula, que pode se realizar através da produção de texto e, ainda, em todas as outras práticas.

Com base no esquema, assinale V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s) falsa(s). ( ) Estar na posição de locutor implica estar numa relação interlocutiva. ( ) As contribuições do professor, ao longo do processo, em razão da posição de locutor que lhe pertence, são

maiores nessa relação de interlocução, pois a posição do aluno é de ouvinte-aprendiz. ( ) Um projeto de trabalho com base no esquema se sustenta quando há motivação interna dos envolvidos para

executá-lo. ( ) O professor, por ser o locutor na relação aluno-professor, tem, entre outras, a responsabilidade de conduzir o

processo de aprendizagem. ( ) A ação do professor, já que ele é parte da relação interlocutiva, pode tomar cada um dos aspectos, à direita ou

à esquerda, como questões a se explorar no processo de ensino-aprendizagem.

A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: (A) V-V-V-F-F. (B) V-F-V-V-V.

(C) V-F-V-F-V. (D) F-V-F-V-V.

(E) F-F-F-V-F.

________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 13 Leia o texto abaixo para a resolução da questão:

CARTA A UM ADOLESCENTE Você pediu que eu escrevesse sobre a maldade. Foi a primeira vez que uma pessoa me pediu isso. Você foi

corajoso e honesto porque falar sobre a maldade é falar sobre nós mesmos. A maldade é algo que mora dentro de nós, à espera do momento certo para se apossar do nosso corpo. Ao pedir que eu falasse sobre a maldade você me pediu que o ajudasse a entender o lado escuro de você mesmo.

Para a gente entender a maldade é preciso entender, antes, os dois poderes de que somos feitos. Somos feitos de uma mistura de amor e poder. Amor é um sentimento que nos liga a determinadas coisas, e vai desde o simples gostar até o estar apaixonado. O amor quer abraçar, ficar perto, proteger. Amo meu cachorrinho: quero brincar com ele, tenho saudade dele. Se ele morrer, eu vou chorar. Gosto da minha casa. Dói muito – dá raiva – se alguém picha de preto o muro que tinha justo sido pintado de branco. Gosto muito de uma pessoa: pode ser o pai, a mãe, o avô, a namorada. Por causa desse sentimento fico triste vendo que aquela pessoa está triste. O amor faz isso: coloca o outro dentro da gente. O que o outro sente, a gente sente também. Um amigo meu, pedreiro, senhor João, a primeira coisa que fazia quando me visitava em minha casa era salvar, com uma peneira, as abelhas que estavam morrendo afogadas na piscina. Ele sofria com as abelhas.

Por isso, muitas pessoas são vegetarianas. Elas não suportam pensar na dor por que passam os bichos para que nós nos lambuzemos com a carne deles. Uma pessoa muito querida, que não é vegetariana, não consegue comer frango ao molho pardo. O molho pardo desse frango se faz com sangue – e ela se lembra de haver visto frangos de pescoço cortado, pendurados num gancho, agonizantes, seu sangue vagarosamente pingando num prato. Agora, sempre que ela vê frango ao molho pardo, ela se lembra do sofrimento daquela ave inocente. Os bichos também sofrem.

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O amor nos liga à natureza toda. Eu amo a natureza – os riachos de água limpa, as cachoeiras frias, as matas com suas samambaias, avencas, orquídeas, bananeiras, as borboletas, cigarras, pássaros. Nós, humanos, temos olhos deformados – não percebemos a beleza dos seres que são diferentes da gente. Mas todos eles, inclusive os besouros (que alguns chamam de “bisorros”), as rãs, os lagartos, as marias-fedidas, as taturanas, os urubus – todos eles querem viver, sofrem, fazem parte desse nosso mundo e são necessários à sua existência. Todos eles são nossos irmãos – porque todos nós teremos o mesmo fim. Um dia nós voltaremos à terra e, quem sabe, renasceremos como besouro ou galinha…

Aquilo que eu amo eu quero proteger. Proteger o cachorrinho, o muro da casa, a natureza… Às vezes, a gente quer algo anterior ao proteger: a gente quer criar. Você ainda não é pai. Não tem, portanto, nenhum filho para proteger. Chegará um dia, entretanto, em que você desejará ter um filho que você ainda não tem. Para isso é preciso que você tenha os poderes de homem – para semear no ventre de uma mulher a semente do filho que você ama, mas ainda não tem. Você deseja ser (ainda não é) administrador de empresa, cozinheiro, médico ou flautista: você ama essas coisas; mas ainda não é. O amor, sozinho, não faz milagres. Para ser qualquer dessas coisas você terá que, devagarzinho, ir desenvolvendo poderes no seu corpo, poderes que tomarão a forma ou de conhecimentos ou de habilidades.

Quando você tem essas duas coisas juntas, o amor e o poder, coisas muito bonitas acontecem. O poder torna possível a existência daquilo que a gente ama: gero um filho, planto um jardim, construo uma casa. O poder, assim, está a serviço da alegria. Pelo poder eu posso contribuir para que o mundo seja melhor. O poder e o amor, juntos, estão a serviço da preservação da vida.

Acontece, entretanto, que a vida anda devagar. Leva tempo para uma criança ser gerada. Leva tempo para uma árvore crescer. Por vezes, ao plantar uma árvore, a gente sabe que nunca se assentará à sua sombra.

Já a morte anda rápido. Mata-se numa fração de segundo. Basta puxar um gatilho. Ou pisar o bicho. Ou quebrar o ovo. Corta-se uma árvore que levou cem anos para crescer em poucos minutos: se for uma bananeira, basta um golpe de facão.

Você me perguntou sobre a maldade: a maldade é isso – quando as pessoas sentem prazer no ato de destruir, isto é, quando as pessoas sentem prazer no exercício puro do poder, sem que esse poder tenha um objetivo de vida. Bondade é o poder usado para a vida. Maldade é o poder usado para a morte.

A adolescência é o momento da vida quando se descobrem as delícias do poder. Criança tem amor mas não tem poder. Ela quer sorvete mas não tem o dinheiro. A mãe segura, põe de castigo, dá palmada. A criança é impotente. Na adolescência o corpo se desenvolve. Fica maior que o corpo da mãe, o corpo do pai. Ganha força. Juntos, então, os adolescentes se constituem num exército poderoso. É por isso que os adolescentes gostam de estar juntos: isso lhes dá um sentimento de poder. Há coisas que nunca fariam sozinhos. Mas, em grupo, tudo é permitido. As pessoas mais mansas podem se tornar monstruosas em grupo. No grupo a gente perde o senso da responsabilidade moral.

Como eu já disse, o poder, como fim em si mesmo, sem um propósito de amor, dá prazer rápido. Quebrar, pichar, riscar, arrancar, bater, cortar, esmagar, derrubar – todas essas são formas do poder-prazer a serviço da morte. É coisa demoníaca.

Por isso, meu amigo, adolescente, quero confessar uma coisa que nunca confessei: “Tenho medo de vocês”. O fascínio que vocês têm pelo poder me assusta. É isso que é maldade: poder sem amor.

Eu queria poder dar para vocês, como herança, o ovo onde moram os meus sonhos, na esperança de que vocês continuassem a chocá-lo, depois da minha partida. Sim, o mundo que eu amo se parece com um ovo: está cheio de vida mas é muito frágil. Dentro dele estão coisas delicadas, fáceis de serem destruídas: plantas, insetos, ninhos, aves, músicas, poemas, memórias, livros, peixes, muros brancos, crianças, velhos, jardins…

Mas eu tenho medo de que vocês não resistam à tentação de quebrar o ovo onde eu e o meu mundo moramos. Como é fácil quebrar um ovo! Fácil e irreversível: nunca mais! Assim, por enquanto, o ovo onde moram os meus sonhos fica sob a minha guarda. Até encontrar os herdeiros que eu espero.

(ALVES, Rubem. Sobre a maldade. E aí?: carta aos adolescentes e a seus pais. Campinas: Papirus, 1999. p. 49-54.)

Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as sentenças abaixo, referentes ao texto. ( ) O 9º parágrafo do texto (em que o autor define a maldade: [...] maldade é isso – quando as pessoas sentem

prazer no ato de destruir, isto é, quando as pessoas sentem prazer no exercício puro do poder, [..]) contém o ponto de vista explícito do autor em relação ao tema abordado no texto.

( ) O autor do texto, para se posicionar diante do tema, se propõe a refletir sobre os poderes de que o ser humano é feito, quais sejam: o amor e o poder.

( ) O texto de Rubem Alves, cuja temática abordada é a maldade, além de apresentar exemplos de linguagem informal e de traços da oralidade, contém tom irônico.

( ) O desenvolvimento e o fortalecimento do corpo e a união com outros adolescentes, de acordo com o ponto de vista do autor, são consequência do natural fascínio pelo poder como um fim em si mesmo, típico dessa idade.

A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: (A) F-V-F-V. (B) V-F-V-F.

(C) F-V-V-F. (D) V-V-F-F.

(E) F-F-F-V.

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QUESTÃO 14 Leia o texto2 abaixo, produzido por um candidato ao Concurso de Vestibular da UFRGS 2011, e o ANEXO 1 para a resolução da questão.

A DESVALORIZAÇÃO PELA BAIXA REMUNERAÇÃO A profissão de professor, apesar de sua indiscutível importância para o desenvolvimento das civilizações, desde

as mais antigas, vem sofrendo uma grande desvalorização por culpa, sem dúvida, do Estado. Este, no Brasil, não tem cumprido seu papel de regulador, deixando a valorização desse serviço “à mercê” dos equívocos do capitalismo.

Em uma sociedade movida pelo dinheiro, onde prestígio quase sempre é medido em reais, é evidente que, no que se deixa uma prestação de serviço passar a ter uma má remuneração, a procura por esta diminui. Isso explica a razão pela qual, segundo uma pesquisa feita pela Fundação Carlos Chagas, 67% de 1501 jovens que foram intrevistados, cursantes do 3º ano do Ensino Médio, jamais pensou em ser professor. O que não é, entretanto, de gerar estranhamento, visto que a remuneração é, para a maioria das pessoas, um fator decisivo na escolha profissional.

Então, é consequência disso, por exemplo, o decréscimo de 47,9% de 2005 para 2011, no número de candidatos para o mesmo número de vagas do curso de Letras da UFRGS. Esse é um fato extremamente preocupante, pois anuncia uma possível carência de professores pela qual o país pode vir a passar e, se isso acontecer, a população sentirá que agravar-se-ão drasticamente os problemas sociais decorrentes do problemático sistema educacional brasileiro, como a falta de profissionais qualificados nas mais diversas áreas.

Portanto, fica claro que é necessário que sejam tomadas medidas para incentivar a procura por cursos de Licenciatura. O estímulo que realmente produziria resultado seria o aumento significativo do salário base dos professores. Essa é uma medida que deve vir do governo e com a enorme urgência que esse assunto demanda, já que os professores assumem no sistema educacional o papel que os produtores têm em uma cadeia alimentar, ou seja, constituem a base.

(Disponível em: REBELLO, Lucia Sá. FLORES, Valdir do Nascimento. O texto de vestibular em perspectiva. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2014. p. 136)

Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as sentenças abaixo, referentes ao texto A Desvalorização pela Baixa Remuneração. ( ) O título – “A Desvalorização pela Baixa Remuneração” – se apresenta como uma tentativa de (re)constituição

de um sentido da proposta, levando o leitor a instaurar uma perspectiva de leitura a partir da relação entre desvalorização e baixa remuneração.

( ) O campo semântico lexical presente no título pelo uso do vocábulo “desvalorização” está relacionado à palavra “desprestígio” presente na proposta (cf. avalie por que a profissão de professor se encontra desprestigiada entre os jovens). Aqui ocorre uma espécie de substituição lexical: o locutor substitui “desprestígio” por “desvalorização”. Tal substituição é sintaticamente determinada, na medida em que o que poderia ser considerado uma concessão do “desprestígio” passa a ser visto como um desdobramento do tema.

( ) A palavra “desvalorização” retoma “valorização” (cf. inclua também sugestões para a revalorização da profissão de professor em nossa sociedade). Há, portanto, uma relação que é explicitamente de natureza morfológica – trata-se de uma prefixação – e de natureza semântica – é uma espécie de antonímia contextualizada. O leitor constitui, dessa forma, um diálogo com a proposta, apropria-se de um sentido e o (res)significa.

( ) A leitura causal/explicativa é dada já no título, por meio do uso da palavra “baixa”. O vocábulo “baixa” é um elemento que une a consequência à explicação: “baixa remuneração” é simultaneamente a consequência e a explicação da “desvalorização”.

A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: (A) F-V-F-V. (B) V-F-V-F. (C) F-V-V-F. (D) V-V-F-F. (E) F-F-F-V.

2 O texto foi transcrito tal qual foi escrito pelo candidato.

01. 02. 03. 04. 05. 06. 07. 08. 09. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19.

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QUESTÃO 15 Leia o texto abaixo, produzido por um candidato ao Concurso ENEM 2013, e o ANEXO 2 para a resolução da questão.

SUCESSO ABSOLUTO Historicamente causadores de inúmeras vítimas, os acidentes de trânsito vêm ocorrendo com frequência cada

vez menor, no Brasil. Essa redução se deve, principalmente, à implantação da Lei Seca ao longo de todo o território nacional, diminuindo a quantidade de motoristas que dirigem após terem ingerido bebida alcoólica. A maior fiscalização, aliada à imposição de rígidos limites e à conscientização da população, permitiu que tal alteração fosse possível.

As estatísticas explicitam a queda brusca na ocorrência de óbitos decorrentes de acidentes de trânsito depois da entrada da Lei Seca em vigor. A proibição absoluta do consumo de álcool antes de se dirigir e a existência de diversos pontos de fiscalização espalhados pelo país tornaram menores as tentativas de burlar o sistema. Dessa forma, em vez de fugirem dos bafômetros e dos policiais, os motoristas deixam de beber e, com isso, mantêm-se aptos a dirigir sem que transgridam a lei.

Outro aspecto de suma relevância para essa mudança foi a definição de limites extremamente baixos para o nível de álcool no sangue, próximos de zero. Isso fez com que acabasse a crença de que um copo não causa qualquer diferença nos reflexos e nas reações do indivíduo e que, portanto, não haveria problema em consumir doses pequenas. A capacidade de julgamento de cada pessoa, outrora usada como teste, passou a não mais sê-lo e, logo, todos têm que respeitar os mesmos índices independentemente do que consideram certo para si.

Entretanto, nenhuma melhoria seria possível sem a realização de um amplo programa de conscientização. A veiculação de diversas propagandas do governo que alertavam sobre os perigos da direção sob qualquer estado de embriaguez foi importantíssima na percepção individual das mudanças necessárias. Isso fez com que cada pessoa passasse a saber os riscos que infligia a si e a todos à sua volta quando bebia e dirigia, amenizando a obrigatoriedade de haver um controle severo das forças policiais.

É inegável a eficiência da Lei Seca em todas as suas propostas, formando uma geração mais consciente e protegendo os cidadãos brasileiros. Para torná-la ainda mais eficaz, uma ação válida seria o incremento da frota de transportes coletivos em todo o país, especialmente à noite, para que cada um consuma o que deseja e volte para casa em segurança. Além disso, durante um breve período, a fiscalização poderia ser fortalecida, buscando convencer motoristas que ainda tentam burlar o Estado. O panorama atual já é extremamente animador e as projeções, ainda melhores, porém com uma ação conjunta entre povo e governo será alcançada a perfeição. (Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2016/manual_de_redacao_do_enem_2016.pdf. Acesso em

10 de fev. 2017.)

Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as sentenças abaixo, referentes ao texto Sucesso Absoluto. ( ) O candidato desenvolve o tema por meio de argumentação consistente, com base em um repertório

sociocultural produtivo, e apresenta excelente domínio do texto dissertativo-argumentativo, ou seja, o tema é desenvolvido de modo consistente e autoral, por meio do acesso a outras áreas do conhecimento, com progressão fluente e articulada ao projeto do texto.

( ) A tese desenvolvida é a de que o advento da Lei Seca proporcionou uma sensível redução dos acidentes com vítimas, além de o motorista estar mais consciente em relação ao perigo de dirigir alcoolizado. Em defesa de seu ponto de vista, o texto apresenta informações relacionadas às consequências positivas da implantação da Lei Seca, de forma consistente e organizada, configurando autoria.

( ) O candidato articula bem as ideias, os argumentos, as partes do texto e apresenta, sem inadequações, repertório diversificado de recursos coesivos, tais como: “Essa redução” (1º parágrafo); “Dessa forma” (2º parágrafo); “Outro aspecto”, “Isso fez” (3º parágrafo); “Entretanto” (4º parágrafo); “Para torná-la”, “Além disso” (5º parágrafo).

( ) O candidato acredita que é necessário, mesmo considerando os efeitos positivos da implantação da Lei Seca, tornar a lei mais eficaz por meio de excelente proposta de intervenção: incremento dos transportes coletivos e maior fiscalização, em ação conjunta. A proposta de intervenção é abrangente, bem elaborada e bem detalhada; está, contudo, pouco relacionada ao tema e à discussão desenvolvida no texto.

A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: (A) V-F-V-F. (B) F-F-F-V. (C) V-V-F-F. (D) F-V-V-F. (E) V-V-V-F.

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QUESTÃO 16 Considerando a diversidade de materiais e de referências disponíveis para o planejamento de aula de Literatura, todas as alternativas abaixo estão corretas, com EXCEÇÃO de:

(A) O folclore nacional, ainda que seja mais voltado a personagens do que a narrativas complexas como as das Mitologias da Antiguidade, oferece oportuno material de trabalho a respeito do comportamento, das crenças e do meio ambiente das diferentes regiões brasileiras.

(B) As lendas urbanas podem ser incluídas em aulas sobre folclore, pois a cultura popular compreende não apenas as lendas antigas que sobrevivem em especial nas populações rurais, mas também as suas atualizações – ou seja, os personagens e as histórias que surgem para justificar os medos e inseguranças das grandes cidades.

(C) A Literatura Brasileira se estabelece, num primeiro momento, a partir da produção lusa, colocando-se como sua devedora. Após a Independência, na busca por uma identidade nacional, há uma recusa coletiva dos artistas brasileiros em referenciar tal literatura. Por essa razão, percebe-se a ausência total tanto de elementos portugueses quanto de referências à mitologia clássica, nas obras da Literatura Brasileira, a partir de meados do século XIX, o que justifica que não se dedique espaço algum no currículo para os estudos de Mitologia Greco-Romana.

(D) Retomadas, paródias e adaptações de obras literárias podem ser instrumentos de auxílio no trabalho com a Literatura e na construção da interdisciplinaridade, pois permitem que se explore a maneira como a linguagem literária é recriada em outros meios – como a música, o cinema, a propaganda e as histórias em quadrinhos.

(E) A obra literária estabelece e alimenta o diálogo com outros componentes curriculares, possibilitando trabalhos integrados que enriquecem a leitura. Exemplos bastante evidentes são o papel da Filosofia em Quincas Borba, a utilização de termos das Ciências da Natureza na lírica de Augusto dos Anjos, ou a influência do Determinismo sobre o Naturalismo, como se vê em O Cortiço.

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QUESTÃO 17 Sobre a obra de Cecília Meirelles, NÃO se pode afirmar que: (A) O livro Ou isto ou aquilo não contempla as temáticas usuais de sua poesia, o que é compreensível, uma vez que

se trata de produção destinada ao público infantil. (B) A imagem do mar, assim como as atividades relacionadas a ele, na poesia de Cecília, sugerem, muitas vezes, a

herança portuguesa, dando um tom melancólico à pesca, à praia e à navegação. (C) A percepção da passagem do tempo se dá através de diversas imagens, como a visão do próprio rosto no espelho,

a mudança das estações e das fases da lua. (D) A busca da identidade se constrói fortemente na alteridade, seja pela percepção da mudança e dos empecilhos

que ela traz para o reconhecimento do eu e para a construção de relações interpessoais, seja pela identificação de características marcantes no outro.

(E) O Romanceiro da Inconfidência é resultado de longa pesquisa, explorando diferentes episódios da Inconfidência Mineira e misturando gêneros numa obra em que se aliam o lirismo e a reconstrução histórica.

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QUESTÃO 18 Considere as afirmações acerca de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto:

I. Manuel Bandeira foi um dos poetas mais influentes entre os modernistas. Ainda que questões sociais, críticas à arte tradicional e/ou polêmicas não tenham espaço em sua lírica, sua linguagem simples, afetiva e delicada tornaram-no referência para os jovens que organizaram a Semana de 22.

II. O estilo de João Cabral de Melo Neto é composto de escolhas imagéticas, vocabulares e sintáticas que refletem um de seus conceitos mais caros: o do trabalho do engenheiro, percebido na concretude dos elementos, na construção da métrica enxuta e certeira e da divisão estrófica estável.

III. Os elementos autobiográficos na poesia de Manuel Bandeira aparecem transfigurados em episódios breves de estrutura anedótica (como em Pneumotórax), ou inseridos em contextos líricos de imagens complexas (como em Vou-me embora pra Pasárgada).

IV. A imagem do engenheiro, as temáticas sociais e as referências a Graciliano Ramos deixam claro que João Cabral de Melo Neto alinha-se à tradição romântica da poesia brasileira, grandiloquente e engajada.

Quais estão CORRETAS? (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas II e III. (D) Apenas I, III e IV. (E) I, II, III, IV.

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QUESTÃO 19 A MPB é uma das linhas mais fortes e importantes da expressão artística brasileira, popularizando formas poéticas, dialogando com a Literatura e com outras linguagens e enriquecendo o patrimônio cultural nacional. Analise as afirmações a seguir e assinale aquela que estiver INCORRETA.

(A) Nas Cantigas de Amigo, o poeta é um homem, mas o eu-lírico é feminino. Esse recurso pode ser encontrado em composições de Chico Buarque, como Teresinha (O primeiro me chegou como quem vem do florista/ Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista/ Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha/ Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha/ Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração/ Mas não me negava nada, e assustada, eu disse não) e de Caetano Veloso, como Esse Cara (Ah! Que esse cara tem me consumido/ A mim e a tudo que eu quis/ Com seus olhinhos infantis/ Como os olhos de um bandido/ Ele está na minha vida porque quer/ Eu estou pra o que der e vier/ Ele chega ao anoitecer/ Quando vem a madrugada ele some/ Ele é quem quer/ Ele é o homem/ Eu sou apenas uma mulher).

(B) As letras do chamado “funk carioca” têm provocado muita polêmica. Alguns apontam a banalização da sexualidade feminina, nas letras de artistas como Tati Quebra-Barraco (Sou cachorra sou gatinha não adianta se esquivar/ vou soltar a minha fera eu boto o bicho pra pegar, em Boladona) e de Valesca Popozuda (Eu vou pro baile procurar o meu negão/ Vou subir no palco ao som do tamborzão/ Sou cachorrona mesmo/ E late que eu vou passar/ Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar, em Agora Eu Sou Solteira). Por outro lado, há uma forte corrente feminista que celebra a existência de mulheres que compõem e cantam funk tratando de sua sexualidade sem pudores e quebrando os paradigmas relacionados ao comportamento feminino, afirmando que esses são sinais de empoderamento.

(C) Nos anos 60, estabeleceu-se uma espécie de oposição entre duas correntes da música nacional: de um lado, o grupo constituído por compositores de formação erudita, que pesquisavam e valorizavam elementos populares. Sua música, que eventualmente foi a base da Bossa Nova, contava com ritmos locais, como as diversas matrizes do samba, utilizando instrumentos populares (como o violão) e da tradição clássica (como o piano). Neste grupo, associado à Bossa Nova, estavam figuras como Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Do outro lado, estava o grupo da Tropicália, que seguia a linha de pensamento do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, misturando os elementos locais com a crítica à sociedade burguesa e a “digestão” de elementos estrangeiros, como o rock’n’roll. Nesse grupo estavam Caetano Veloso e Gilberto Gil, Tom Zé e Os Mutantes, por exemplo.

(D) Os anos 80 ficaram marcados pelo boom do rock nacional, com uma série de bandas ocupando o cenário musical – muitas delas, inclusive, surgidas em Brasília. Ainda que o movimento tenha sido numeroso na capital federal e coincida com a abertura democrática, não houve conteúdo político ou crítica social nas letras de bandas como Paralamas do Sucesso (como se vê em Alagados) e RPM (como se vê em Rádio Pirata).

(E) Nos anos 90, surgem muitas bandas e grupos musicais, espalhados por todo o território nacional, que exploram a diversidade de ritmos de cada região. Com a abertura democrática estabelecida, resultando no fim da censura e em eleições diretas, por exemplo, o conteúdo das letras passa a refletir a necessidade de consciência social, como se pode ver nas músicas do Skank (Pacato Cidadão) e Chico Science & Nação Zumbi (Da Lama ao Caos).

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QUESTÃO 20 A narrativa que segue o herói é tão encantadora que, de tempos em tempos, sua figura – e, consequentemente, a de seus antagonistas – é retomada na Arte. Os papéis tradicionais são revisitados e atualizados, a exemplo do que já acontecera no surgimento do herói problemático na Literatura Moderna. O conceito de herói (nascido no contexto ocidental a partir da epopeia grega) volta a marcar presença no imaginário coletivo do século XXI a partir das imensas bilheterias dos filmes norte-americanos que passam para o cinema aventuras vividas por super-heróis das Histórias em Quadrinhos. Nas alternativas abaixo, são feitas aproximações entre diferentes narrativas que se movem em torno do herói, e apontados elementos que justificam cada aproximação. Assinale a alternativa que utiliza elementos INCORRETOS da Literatura de Língua Portuguesa para justificar a aproximação:

(A) A Odisseia de Homero relata a turbulenta viagem de retorno de Ulisses para Ítaca após a guerra de Troia. Diversos obstáculos naturais aparecem na história metamorfoseados em figuras míticas – esse é o caso de Cila e Caribdis, monstros que destruíam as embarcações e que ficavam à espera em lados opostos do Estreito de Messina, que separa a Península Itálica da Sicília. Em Os Lusíadas, acompanha-se a viagem de ida e volta de Vasco da Gama às Índias, e um dos episódios mais famosos – o do Gigante Adamastor – utiliza-se do mesmo artifício literário, ao colocar a figura mitológica no Cabo das Tormentas.

(B) Em Os Lusíadas, Camões toma diversas liberdades com os fatos da viagem, criando situações apropriadas para a construção da figura heroica de Vasco da Gama. Tratava-se de uma necessidade, uma vez que a viagem acontecera entre 1497 e 1499 (durante a expansão marítima portuguesa), e o livro é publicado em 1572 (às vésperas da crise interna que levaria Portugal a estar sob domínio espanhol entre 1580 e 1640). Em O Uraguai de Basílio da Gama, os personagens indígenas (especialmente Sepé e Cacambo) são mostrados com valores alinhados ao do herói português Gomes Freire de Andrade, e a vilania é construída em torno dos jesuítas espanhóis. Ambas as histórias compõem figuras a respeito das quais o espírito português poderia se mobilizar, tanto em termos de heróis quanto de antagonistas.

(C) Dom Quixote é o herói problemático por excelência, uma vez que seu conflito se estabelece a partir de sua postura de cavaleiro medieval em um mundo em transformação, que não apenas não o compreende, mas também debocha de suas atitudes e valores. O mesmo se pode dizer de Policarpo Quaresma, personagem da obra de Lima Barreto, que imagina um Brasil cheio de riquezas e possibilidades, onde ele está cercado de compatriotas honestos e dispostos a contribuir em seus projetos. Os dois estão fadados à desilusão.

(D) Nos filmes da franquia de Guerra nas Estrelas, o Lado Negro da Força representa o Mal como fonte de poder associado à corrupção e à perversidade. A figura de Darth Vader simboliza a utilização desse poder corrompido para fins violentos e opressores a partir do estabelecimento do Império e da construção da Estrela da Morte. Em O Uraguai, de Basílio da Gama, a vilania aparece em Baldeta, filho de um Jesuíta espanhol com uma nativa (portanto, um “índio mestiço”, resultado de ações reprováveis dos catequizadores espanhóis), que obtém quase tudo o que deseja através da perversidade, inclusive envenenando Cacambo e provocando o suicídio de Lindoia. Nos dois casos, o mal é mostrado como elemento que corrompe e destrói aqueles que entram em contato consigo.

(E) Batman, o Cavaleiro das Trevas, coloca-se como justiceiro e ataca os criminosos de Gothan City a fim de vingar a morte dos pais. Além de seus atributos pessoais – como a inteligência –, ele ainda conta com tecnologias extremamente avançadas, uma vez que é herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo e utiliza essa riqueza para desenvolver máquinas e gadgets de combate ao crime. O mesmo se dá com Rubião, da obra Quincas Borba, de Machado de Assis: o professor não se conforma com a morte do amigo, o filósofo Quincas Borba; ao receber sua herança e tornar-se um homem rico, Rubião utiliza seu conhecimento para conseguir justiça, mantendo-se solitário e desconfiado daqueles que o cercam.

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QUESTÃO 21 Sobre Machado de Assis e Lima Barreto, autores que produziram entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX, assinale a alternativa CORRETA:

(A) As descrições de procedimentos de captura e punição às pessoas em situação de escravidão no Brasil, presentes em contos de Machado de Assis (como Pai contra mãe e O caso da vara), demonstram a falta de destaque que o autor deu para as questões do negro no país. Nesse sentido, a produção de Lima Barreto, calcada na denúncia clara através do deboche, é uma evolução do debate, uma vez que ambos os autores eram mestiços, e Machado, ainda que tenha adquirido influência social e cultural – sendo, inclusive, fundador e presidente da Academia Brasileira de Letras – não apresentou a situação do negro com tintas fortes.

(B) Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, apresenta o personagem Ricardo Coração dos Outros. Ao mostrá-lo como alguém que toca violão e, por isso, visto como “desclassificado”, o autor reforça o preconceito vigente sobre os músicos ligados à cultura popular. No entanto, Ricardo não confirma a posição de “marginal”, pois é elemento constituinte da trama.

(C) Machado de Assis, através da utilização do narrador em primeira pessoa de Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro cria, respectivamente, discussões sobre o narrador não confiável (que está tão envolvido com seu relato que não é capaz de um depoimento objetivo), e do narrador confiável (que tudo pode dizer, pois já não está preso às amarras sociais), oferecendo ferramentas para que se debata o papel do emissor e do lugar de fala.

(D) Lima Barreto estabelece o perfil quixotesco de Policarpo Quaresma a partir do contraste entre sua crença romântica em um Brasil de natureza privilegiada e povo competente, honesto e disposto, e os constantes fracassos em seus projetos. Policarpo se recusa a aceitar as evidências que contradizem suas convicções e segue investindo no que acredita ser um factível e natural projeto de nação até que percebe que sua crença na tão sonhada pátria brasileira foi em vão, deixando-o desiludido.

(E) O humor machadiano, frequentemente associado ao humour inglês, opta pelo sarcasmo na abordagem do comportamento das classes mais baixas da população, retomando o conceito aristotélico clássico quanto ao tratamento destinado aos que não pertencem à nobreza. Lima Barreto, por outro lado, opta pelo escracho quanto aos mais pobres, e acrescenta a ridicularização da classe média burguesa, seus valores e preconceitos. Portanto, Machado de Assis e Lima Barreto deram contribuições opostas no que se refere ao humor como ferramenta de crítica social na Literatura Brasileira.

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QUESTÃO 22 Leia o texto abaixo para a resolução da questão:

As obras literárias produzidas na década de 20, considerando a Semana de Arte Moderna, são caracterizadas tanto pelo Modernismo quanto pela Modernidade. (...) Para se escrever a história do Modernismo, não se pôde prescindir do conceito de Modernidade e vice-versa, uma vez que ambos são aspectos do mundo moderno, no qual se produziu a literatura moderna. Esta contém tanto a certeza orgulhosa que caracteriza o Modernismo, enquanto euforia do novo, repúdio ao passado, ideia de começo, quanto a inquieta incerteza que se contém na visão de Modernidade do momento vivido. É claro que nesse momento de busca, de compreensão e de interpretação da realidade, o passado tem de estar presente e se confunde com o presente e com o futuro e neles se difunde. A propósito, o Manifesto Futurista, de Marinetti, quando comparado aos manifestos Pau-Brasil e Antropófago, de Oswald de Andrade, permite deduzir que o primeiro se cunha dentro de uma euforia francamente modernista, ao passo que os dois últimos já são expressões de Modernismo e de Modernidade.

(ADAPTADO de MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1994.)

Considere as seguintes afirmações sobre alguns autores e obras da Literatura Brasileira: I. A poesia de Gregório de Matos, o romance de José de Alencar e, principalmente, a obra em prosa, conto e

romance de Machado de Assis constituem exemplos de textos modernos em relação a sua contemporaneidade, isto é, textos que demonstram uma opção por novos procedimentos de linguagem e, ao mesmo tempo, refletem uma visão crítica do contexto que os circunda.

II. Lima Barreto, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha, já às portas do Modernismo, são autores que foram modernos. Antônio de Alcântara Machado, entretanto, autor de contos e de crônicas, pouco investiu a favor dessa ruptura, pois defendeu a literatura dos valores estilísticos clássicos, com o estilo rebuscado que até então vogava dentre os literatos do Brasil, com vistas a manter as convenções e a cultura preestabelecida.

III. Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, e Macunaíma, de Mário de Andrade, são obras que representam a confluência das tendências e das descobertas expressivo-estéticas de sua contemporaneidade. Tanto Oswald quanto Mário foram as duas maiores forças do movimento modernista: versaram os diferentes gêneros; formularam conceitos e propostas; fundaram revistas; lideraram grupos.

Quais estão CORRETAS? (A) Apenas I. (B) Apenas II.

(C) Apenas I e III. (D) Apenas II e III.

(E) I, II e III.

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PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA – CONCURSO EBTT (PRIMEIRA FASE) – COLÉGIO DE APLICAÇÃO/UFRGS - 2017 14

QUESTÃO 23 A Semana de Arte Moderna de 1922 ofendeu sensibilidades nos círculos artísticos nacionais e na sociedade paulista, questionando e ironizando alguns dos valores burgueses mais tradicionais, o que reforçou a convicção dos jovens artistas na busca por uma arte mais brasileira. Esse questionamento tem um de seus pontos altos na linguagem, que não se atém apenas à norma padrão, incorporando a informalidade e a fala regional. Mário e Oswald de Andrade, dois pilares do movimento, partem da língua falada como referência para diversas de suas produções. Tendo em vista o conceito de variação linguística (BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1999), assinale, dentre os exemplos retirados de obras modernistas, aquele que traz exemplificação e defesa da variação linguística em oposição à aplicação obrigatória da norma padrão em quaisquer contextos.

(A) Gare do Infinito, de Oswald de Andrade Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o carro ficava esperando no jardim. Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma figueira na janela.

No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai.

(B) Pronominais, de Oswald de Andrade Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro.

(C) Prefácio Interessantíssimo, de Mário de Andrade. (...) E desculpem-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. Sou passadista, confesso. Ninguém

pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu; e o autor deste livro seria hipócrita si pretendesse representar orientação moderna que ainda não compreende bem. (...)

(D) Tanto Mário de Andrade quanto Oswald priorizam aspectos da Gramática Tradicional em seus textos, como se percebe no poema Pronominais, de Oswald, que só pode ser compreendido por quem conhece as regras de colocação de pronomes em Língua Portuguesa. Outro exemplo é o título Amar: verbo intransitivo, do romance de Mário, pois, sua compreensão requer conhecimentos gramaticais elaborados.

(E) 46-Anglomania, em Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade. Tomamos board-house francesa em Albany Street não longe do Hyde Park. Durante o dia almoçávamos a cidade visitando entre jardins múmias do British Museum. Chegava a noite pontual e policemen corriam pesados estores do céu para alexandrinais poetas compatriotas percorrerem de tube o famoso astro da metrópole cor-de-cinza. Fechávamos-lhe a porta à cara branca e alugávamos com Muset e Murger aconchego de rendas em cortinas insones.

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QUESTÃO 24 Leia os textos abaixo para a resolução da questão:

Texto 1 A evidência sonora da poesia, traço diferencial que aos olhos despreparados a torna distinta da prosa, ocupa a linha de frente quando o texto se destina à criança, em especial ao bebê e aos pequeninos. O tecido melódico, formado por aliterações e assonâncias, anáforas e rimas, estribilhos, acentos e metros variados, tradicionalmente tem sido cultivado pelo povo para aquietar a criança com ritmos hipnóticos ou para expressar-lhe corporalmente o afeto dos pais, unindo a voz, que sussurra ou canta os versos, à carícia. No acervo folclórico das nações, é comum a presença de brincos, poemas dirigidos ao bebê, para fazê-lo apreciar o ato de vestir-se, banhar-se, comer ou dormir. (...) Não são raros os poemas que se fazem acompanhar de cócegas, palmadinhas ou em que o recitante faz seus dedos andarem pelo corpo da criança ou faz saltar o filho no joelho, como em “Upa-upa-cavalinho”.

(BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. São Paulo: Ática, 1986.)

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Texto 2 Cada anedota ou estória, cantiga de roda infantil ou adivinha é constituída pelos elementos justapostos, encadeados, formando o enredo, o assunto, o conteúdo. Esses elementos não figuram, virgens e novos, apenas na expressão que estudamos, mas parecem em terras de incontáveis e numa multidão de exemplos próximos e distantes. A novidade consiste na forma tomada por esses elementos-temas para a combinação que faz a estória, anedota, adivinha, ronda de menino. A disposição do enredo, com esse material infinito, dá uma fisionomia.

(CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. São Paulo: Global, 2001.) Texto 3 Escravos de Jó, jogavam caxangá Escravos de Jó jogavam caxangá. Tira, bota, deixa o Zambelê ficar... Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá.

(FERREIRA, Elita. Escravos de Jó. Recife: Bagaço, 2010.) Texto 4 Onde está a Margarida? Olê, olé, olá! Onde está a Margarida? Olê, seus cavalheiros! Ela está em seu castelo. Olê, olé, olá! Ela está em seu castelo. Olê, seus cavalheiros! Eu queria vê-la. Olê, olê, olá! Eu queria vê-la! Olê, seus cavalheiros! Mas o muro é muito alto. Olê, olé, olá! Mas o muro é muito alto. Olê, seus cavalheiros! Eu tirando uma pedra. Olê, olê, olá! Eu tirando uma pedra. Olê, seus cavalheiros! Uma pedra não faz falta. Olê, olê, olá! Uma pedra não faz falta. Olê, seus cavalheiros! Eu tirando duas pedras. Olê, olê, olá! Eu tirando duas pedras. Olê, seus cavalheiros! Duas pedras não fazem falta. Olê, olê, olá! Duas pedras não fazem falta. Olê, seus cavalheiros! Apareceu a Margarida. Olê, olé, olá! Apareceu a Margarida. Olê, seus cavalheiros!

(FERREIRA, Elita. Apareceu a Margarida. Recife, Bagaço, 2003.) Texto 5 Um, dois, feijão com arroz. Três, quatro, feijão no prato. Cinco, seis, chegou minha vez Sete, oito, comer biscoito Nove, dez, comer pastéis.

(TEMAS INFANTIS. Disponível em: https://www.letras.mus.br/temas-infantis/1390551/. Acesso em: 08 de fev. 2017.)

Considere as seguintes afirmações sobre algumas modalidades de poesia infantil: I. O acalanto, forma de poesia presente no Texto 3, cujo conteúdo ameaçador é contrabalançado pelo embalo

reconfortante de quem segura a criança no colo, contempla elementos da tradição popular brasileira, com referências às manifestações folclóricas que figuram no imaginário nacional, transmitidos via processo oral, de geração a geração.

II. A cantiga de roda, forma de poesia presente no Texto 4, apresenta uma letra de fácil memorização, além de conter rimas e repetições, com um pequeno enredo narrativo que alude à história cantada na brincadeira. A pergunta “Onde está a Margarida?” surge para representar o início de um valioso processo: a individuação.

III. O trava-línguas, forma de poesia presente no Texto 5, cuja organização das palavras joga com a reduplicação de fonemas de difícil articulação, somada a trocas vocálicas e consonantais, apresenta um conteúdo voltado à prática da alimentação saudável nos dois primeiros versos em oposição aos dois últimos, que sugerem a ingestão de alimentos inadequados à boa saúde.

Quais estão CORRETAS? (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas I e III. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III.

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QUESTÃO 25 Leia o texto abaixo para a resolução da questão:

PROCURA DA POESIA Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (Carlos Drummond de Andrade)

Ao descrever os poemas como “paralisados” e “mudos” antes de se materializarem na escrita poética, Drummond vai ao encontro da Linguística Moderna, que deixa de centrar suas pesquisas apenas na descrição e estudo das regras gramaticais com vistas à prescrição e passa a contemplar as mudanças de uma língua viva, que se transforma à medida em que se adapta às necessidades de quem a utiliza. A semântica ganha espaço nesse contexto, pois não se trata de avaliar mudanças de grafia ou de acentuação, e sim de verificar a fluidez das definições – que vão se modificando a partir dos combinados sociais que estabelecem os significados. Nesse sentido, assinale a alternativa que NÃO exemplifica uma situação em que está em jogo a atualização semântica da língua na sua relação com quem a utiliza: (A) No romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, o narrador utiliza o verbo praticar, no capítulo 3, Uma

manhã de sábado: “Às vezes Augusto olhava para seus companheiros e os via alegremente praticando com as belas senhoras que abrilhantavam a sala, enquanto ele se via obrigado a ouvir a mais insuportável de todas as histórias”. Esse uso do verbo praticar criaria enunciados carregados de ambiguidade e/ou subentendidos no contexto atual, graças à sua utilização contemporânea.

(B) Um dos memes mais populares entre o fim de 2016 e o início de 2017 é o ATA, que utiliza imagens de pessoas sorridentes e a palavra ATA. O meme se torna fácil de identificar pela grafia propositalmente equivocada, uma vez que se usa ATA ao invés de “Ah, tá”.

(C) Michel Temer causou polêmica ao referir-se à chacina no presídio de Manaus como um “acidente pavoroso”, em entrevista concedida em 05 de janeiro deste ano. Houve manifestações de repúdio na imprensa e nas redes sociais, uma vez que a palavra acidente é utilizada contemporaneamente quando se considera que algo aconteceu por acaso, sem culpabilização. A resposta dada por Temer, em uma rede social, foi a definição de dicionário para acidente, que inclui o vocábulo acontecimento.

(D) “Passar cerol na mão” era uma expressão ligada às competições de pipa (pandorga, papagaio) nos morros cariocas. Os participantes passavam uma mistura de material aderente com cacos de vidro no fio da pipa, a fim de cortar o fio dos concorrentes. A mesma estratégia passou a ser utilizada para atacar motociclistas, no Rio de Janeiro, vinculando-a à criminalidade. A expressão tornou-se popular no Brasil após ser utilizada em uma letra de funk, passando a ser associada também à iniciativa masculina no campo da sexualidade.

(E) A palavra “vadia” ainda é utilizada como xingamento. No entanto, a partir dos movimentos feministas, com manifestações de rua propositalmente intituladas de “Marcha das Vadias” no Brasil, o termo vem sendo apropriado e ressignificado com o sentido de desafio às regras de comportamento impostas às mulheres.

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QUESTÃO 26 Leia os fragmentos de texto abaixo para a resolução da questão:

Fragmento 1 A escuridão é ampla e envolvente. O silêncio total, cortado apenas por aquele velho barulho que parte de seus ouvidos. Sempre fora assim: quando em silêncio, em paz ou em expectativa, o zumbido voltava, em duração enervante,

direto como a fala direta do policial: - Deixa as mãos dele algemadas. Aos poucos ia apalpando o escuro da cela, o silêncio da escuridão, o zumbido do próprio corpo – estava no chão

frio: não era nem cimento nem tijolo, terra batida, úmida, mas não molhada ao ponto de ensopar sua roupa – os braços para trás das costas, os pulsos algemados.

Aos poucos ia apalpando o chão com o corpo, de bruços, o rosto quase a tocar a areia: – sentia o cheiro da terra – uma terra velha e usada, com cheiro de mofo, com cheiro de urina – sentia as paredes, mesmo sem vê-las na escuridão: a opressão do cubículo estava em seu corpo, em seus poros.

A posição era incômoda: as mãos nas costas, o corpo meio de lado, o rosto na areia fria. - Deixa as mãos dele algemadas.

(BRASIL, Assis. Ciclo do terror: os que bebem como os cães. Rio de Janeiro: Nórdica, 1984.)

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Fragmento 2 Duas gorduchinhas, filhas de mãe gorda e pai magro. Não sendo gêmeas, usam vestido igual, de preferência encarnado com bolinha. Sob o travesseiro mil bombons, o soalho cheio de papelzinho dourado. Rosa tem o rosto salpicado de espinhas. Dois anos mais moça, Augusta é engraçadinha, para quem gosta de gorda. Três vezes noiva de sujeitos cadavéricos, esfomeados por aquela montanha de doçuras gelatinosas. Os amores desfeitos pela irmã. (...) Duas pirâmides invertidas que andassem largas no vértice e fininhas na base. Manchas roxas pelo corpo de se chocarem nos móveis. Lamentam-se da estreiteza das portas. Sua conversa predileta era sobre receita de bolo. Nos aniversários, primeiras a sentarem-se à mesa ou, para lhes dar passagem, todos têm de se levantar.

(TREVISAN, Dalton. Cemitério de elefantes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.)

Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as afirmações abaixo, referentes aos Fragmentos 1 e 2. ( ) No Fragmento 1, a personagem emerge da escuridão com o auxílio dos recursos de um narrador privilegiado,

que, na sua posição de observador não personificado, pode não apenas mostrar os movimentos que a vão delineando, mas também dizer o que ela está sentindo e, mais adiante, o que ela está pensando.

( ) No Fragmento 1, o leitor pode ter a sensação de que está na cela ao lado da personagem e, como observador de um parto doloroso, vai assistindo a seu nascimento para o despertar de uma realidade palpável que o levará à dolorosa conquista da consciência.

( ) No Fragmento 2, o narrador dissimula a sua presença, pois circula como uma câmera impessoal que, postada fora da história, finge existir. O narrador é impessoal.

( ) No Fragmento 2, as rotundas personagens ganham sua forma e sua existência a partir de um rebuscado trabalho de linguagem. Elas são, desde o nome, produtos de um discurso narrativo que aponta para a crueldade de um observador empenhado em fazer da linguagem o seu instrumento de impiedosa caracterização e crítica ao comportamento das moças suburbanas.

A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: (A) V-V-F-V. (B) F-V-F-V. (C) V-V-F-F. (D) F-V-V-F. (E) V-F-V-F. ________________________________________________________________________________________________________

QUESTÃO 27 Leia os dois poemas a seguir, musicados respectivamente por Vitor Ramil e por Adriana Calcanhotto:

Noite de S. João Alberto Caeiro

Noite de S. João para além do muro do meu quintal. Do lado de cá, eu sem noite de S. João. Porque há S. João onde o festejam. Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite, Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos. E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

O Outro Mário de Sá-Carneiro

Eu não sou eu nem sou o outro, Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o Outro.

Considere as afirmações abaixo acerca da cisão da identidade, característica marcante do Modernismo Português: I. O poema de Mário de Sá-Carneiro é uma exceção dentro do contexto do Modernismo Português, pois estabelece

relações (através de uma ponte) entre o eu e o outro, sem haver esvaziamento da identidade. II. O poema musicado por Vitor Ramil utiliza o elemento do muro – que separa o eu-lírico da festa – como reforço

do afastamento com relação aos outros, destacando a atenção aos detalhes dos sons que despertam a curiosidade e o desejo pelo que não se pode alcançar.

III. O poema musicado por Adriana Calcanhotto trabalha a cisão da identidade através de camadas de negação (não ser eu nem outro) e de deslocamentos de sentido (ser apenas um pilar da possível frágil ligação).

IV. O poema de Alberto Caeiro trata de um costume brasileiro – a festa de São João – o que reforça a crise de identidade do povo português.

Quais estão CORRETAS? (A) Apenas I. (B) Apenas II.

(C) Apenas II e III. (D) Apenas I, III e IV.

(E) I, II, III, IV.

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QUESTÃO 28 Leia o fragmento de texto abaixo para a resolução da questão:

Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espalhados. Ah que medo de começar e ainda nem sequer sei o nome da moça. Sem falar que a história me desespera por ser simples demais. O que me proponho contar parece fácil e à mão de todos. Mas a sua elaboração é muito difícil. Pois tenho que tornar nítido o que está quase apagado e que mal vejo. Com mãos de dedos duros enlameados apalpar o invisível na própria lama. De uma coisa tenho certeza: essa narrativa mexerá com uma coisa delicada: a criação de uma pessoa inteira que na certa está tão viva quanto eu.

(LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.)

No excerto da obra A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, é possível identificar uma ideia do quão sofrido é o ato de escrever. Essa dificuldade com a escrita, expressa no fragmento de texto, também pode ser reconhecida em: (A) O livro é uma coisa agressiva, muito violenta e muito dolorosa para mim. Porque eu tenho uma paixão muito

doida por existir: nunca recusei nenhuma experiência e, principalmente, nunca recusei expressar cruamente essas experiências no meu trabalho. Daí a dor que falo: não é fácil a gente se dar por inteiro. Não é que eu goste de ferir voluntária ou gratuitamente – mas preciso dizer certas coisas que comumente não são ditas, ou pelo menos não são agradáveis de serem escutadas. Nada do que sou capaz de viver me assusta, embora doa. (Caio Fernando Abreu)

(B) Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. (Carlos Drummond de Andrade)

(C) Oh! Bendito o que semeia Livros à mão cheia E manda o povo pensar! O livro, caindo n'alma É germe – que faz a palma, É chuva – que faz o mar! (Castro Alves)

(D) Guarda estes versos que escrevi chorando, Como um alívio da minha saudade, Como um dever do meu amor; e quando Houver em ti um eco de saudade, Beija estes versos que escrevi chorando. (Machado de Assis)

(E) Quando sinto a impulsão lírica, escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi.

(Mário de Andrade)

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QUESTÃO 29 Leia o fragmento de texto abaixo para a resolução da questão:

Ao que nós acampados em pé duns brejos, brejal, cabo de várzea. Até, lá era favorável de defender que os cavalos se espairassem – por ter manga natural, onde se encostar, e currais falsos, de pegar gado brabeza. Natureza bonita, o capim macio. Me revejo, de tudo, daquele dia-a-dia. Diadorim restava um tempo com uma cabaça nas duas mãos, eu olhava para ele. “Seja por ser, Riobaldo, que em breve rompemos adiante. Desta vez, a gente tange guerra...” – pronunciou, a prazer, como sempre quando assim, em véspera. Mas balançou a cabaça: tinha um trem dentro, um ferro, o que me deu desgosto; taco de ferro, sem serventia, só para produzir gastura na gente. – “Bota isso fora, Diadorim!” – eu disse. Ele não contestou, e me olhou de um hesitado jeito, que se eu tivesse falado causa impossível. Em tal, guardou o pedaço de ferro na algibeira. E ficava toda-a-vida com a cabaça nas mãos, era uma cabaça baiana fabricada, desenhada de capricho, mas que agora sendo para nojo. E, como me deu sede, eu peguei meu copo de corno lavrado, que não quebra nunca, e fomos apanhar água num poço, que ele me disse. Era por esconso por uma palmeira – duma de nome que não sei, de curta altura, mas regrossa, e com cheias palmas, reviradas para cima e depois para baixo, até pousar no chão com as pontas. Todas as palmas tão lisas, tão juntas, fechavam um coberto, remedando choupã de índio. Assino que foi de avistarem umas assim que os bugres acharam idéia de formar suas tocas. Aí a gente se curvar, suspendia uma folhagem, lá entrava. O poço abria redondo, quase, ou ovalado. Como no recesso do mato, ali intrim, toda luz verdeja. Mas a água, mesma, azul, dum azul que haja – que roxo logo mudava. A vai, coração meu foi forte. Sofismei: se Diadorim segurasse em mim com os olhos, me declarasse as todas as palavras? Reajo que repelia. Eu? Asco! Diadorim parava normal, estacado, observando tudo sem importância. Nem provia segredo. E eu tive decepção de logro, por conta desse sensato silêncio? Debrucei, ia catar água. Mas, qual, se viu um bicho – rã brusca, feiosa: botando bolhas, que à lisa cacheavam. Resumo que nós dois, sob num tempo, demos para trás, discordes. Diadorim desconversou, e se sumiu, por lá, por aí, consoante a esquisitice dele, de sempre às vezes desaparecer e tornar a aparecer, sem menos. Ah, quem faz isso não é por ser e se saber pessoa culpada?

(ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 78-80.)

Considere as seguintes afirmações sobre o excerto de Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa: I. Riobaldo Tatarana reconstrói sua existência, na qual uma das experiências mais dilacerantes foi seu amor interdito

por Diadorim. Algumas páginas depois do princípio da história, quando quase nada ainda desperta suspeitas sobre o relacionamento entre os dois jagunços, a aproximação entre ambos já está marcada por sinais ambíguos da natureza, como num prenúncio do futuro que os espera.

II. O significado oculto da cabaça desenhada, do taco de ferro, do copo de corno, do poço escondido, das palmeiras que imitam choupanas ovaladas, da água que de azul muda para roxo, da rã repelente que os assusta, revelará mais plenamente sua ambiguidade depois que o leitor acompanhar, no mesmo passo, a trajetória de Riobaldo e Diadorim pelas Gerais.

III. Os índices presentes no texto servem para compor um cenário em que se insinua uma relação afetiva, mas desconfiada, entre dois jagunços. O motivo dessa desconfiança, expresso num relance, bem como o significado simbólico sobreposto a esses índices ganham plenitude quando o leitor descobre o que une e afasta, ao mesmo tempo, os personagens.

Quais estão CORRETAS? (A) Apenas I. (B) Apenas III. (C) Apenas I e III. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III.

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QUESTÃO 30 Guilhermino Cesar (1908-1993) e Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), ambos nascidos no interior de Minas Gerais, participaram ativamente da produção intelectual do país no decorrer do século XX, tanto em termos artísticos (em especial Drummond, com extensa e paradigmática obra poética) quanto acadêmicos (em especial Guilhermino, que fixou residência em Porto Alegre, a partir da década de 1940, e desenvolveu estudos nas áreas da História, da Economia e da Literatura). Os referidos autores foram testemunhas dos acontecimentos que levaram o historiador Eric Hobsbawn a chamar o século XX de Era do Extremos: um tempo que começa ainda com a Belle Époque, passa por dois conflitos mundiais devastadores, pela Guerra Fria, pela ascensão e queda das Ditaduras Latino-Americanas e pelos conflitos pós-coloniais no continente africano. Em paralelo, há um avanço tecnológico que a certa altura parece rivalizar com as mais ousadas obras de ficção científica: desenvolve-se o avião; popularizam-se o rádio e o cinema, num primeiro momento, e depois a TV; a corrida espacial leva a uma série de revoluções nas ciências, com a invenção de novos materiais; a espionagem e a necessidade de acelerar o fluxo de informações ampliam o uso dos computadores e estabelecem o cenário para o surgimento da World Wide Web. Dentro desse contexto de mudanças aceleradas e sabendo que as obras poéticas de Guilhermino e Drummond são perpassadas por essas pautas, leia os textos abaixo:

AO DEUS KOM UNIK ASSÃO

Eis-me prostrado a vossos peses que sendo tantos todo plural é pouco. Deglutindo gratamente vossas fezes vai se tornando são quem era louco. Nem precisa cabeça pois a boca nasce diretamente do pescoço e em vosso esplendor de auriquilate faz sol o que era osso. Genuncircunflexado vos adouro Vos amouro, a vós sonouro Deus da buzina & da morfina que me esvazias enchendo-me de flato e flauta e fanopéia e fone e feno. (...) ANDRADE, Carlos Drummond de. As impurezas do branco, 1973.

O Sangue no Plástico Ora bem, o plástico tem o império da geometria, tem sua própria ciência do raro. Quer um tempo, outro, no impassível do espaço. Quieto, sem nervos, sem cheiro, domado. Não adianta pedir-lhe a seiva, o aroma; despreza o pão, não se enternece nunca, repele aqueles lábios. Não adianta injetar-lhe o sangue do homem.

SILVA, Guilhermino Cesar da. Sistema do imperfeito & outros poemas, 1978.

Com base nas informações e nos textos acima, selecione a opção que apresenta uma afirmação INCORRETA: (A) Carlos Drummond de Andrade se utiliza da linguagem grandiloquente e bem-humorada da propaganda,

demonstrando maturidade poética ao abandonar o questionamento subversivo característico do Modernismo. A mesma maturidade pode ser vista em Guilhermino, que homenageia o plástico, colocando-o em uma posição de superioridade, capaz de absorver os atributos humanos.

(B) Guilhermino Cesar utiliza plástico e sangue como elementos que representam as diferenças fundamentais entre as naturezas do humano e da máquina. Em especial, a imagem do sangue dentro do plástico (ou seja, contido) reforça a artificialidade e a falta de integração verdadeira entre ambos.

(C) Ainda que não se possa classificar as produções de Drummond e Guilhermino de engajadas, no sentido de que não apresentam argumentação e defesa de pontos de vista marcadamente ideológicos, as questões contemporâneas estão refletidas na própria expressão poética. Nesse sentido, a produção dos dois poetas vai ao encontro das afirmações de Theodor Adorno em A Função Social da Poesia.

(D) As imagens de O Sangue no Plástico podem ser acrescidas ainda da associação com o boom da Linguística Estruturalista como paradigma científico e os experimentos com linguagens de máquina a partir da década de 1960. Nesse sentido, pode-se dizer que o poema não se soma à posição otimista diante da aproximação do que é humano ao que é artificial, com pretensões ao desenvolvimento de máquinas capazes de interpretar as nuances, inovações e subjetividade da linguagem humana.

(E) A obra de Drummond apresenta, em diferentes momentos, o estranhamento do eu-lírico com a estrutura social e com os costumes que o cercam. Pode-se encontrar esses elementos desde o famoso verso final de Cidadezinha Qualquer (‘Eta vida besta, meu Deus’) até as imagens de solidão e isolamento espalhadas por A Rosa do Povo (como em O Elefante, Morte do Leiteiro e no poema-título).

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ANEXO 1

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ANEXO 2

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GRADE PARA ANOTAÇÃO DAS RESPOSTAS DA PROVA OBJETIVA

QUESTÃO 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15

RESPOSTA

QUESTÃO 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

RESPOSTA