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VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
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SERVIÇOS INOVADORES DE TRANSPORTE EM ÁREAS RURAIS DE BAIXA DENSIDADE:
O ‘ELO FÍSICO’ DA COESÃO SÓCIO-TERRITORIAL?
João Fermisson Daniel Miranda (Geógrafos Consultores)
Quaternaire Portugal – Consultoria para o Desenvolvimento, SA
Rua Pinheiro Chagas, 48 – 2º - 1050-179 LISBOA Telefone: 213 513 200 Fax: 213 513 201
e-mail: [email protected] e [email protected]
Resumo
Esta comunicação incide sobre a problemática da acessibilidade das populações residentes em
áreas rurais de baixa densidade aos designados ‘serviços colectivos’, os quais se podem
identificar como uma ‘oferta’ destinada a satisfazer necessidades básicas que, pela sua
natureza específica, atribuem ao Estado o dever de garantir a existência de condições
equitativas de ‘consumo’ por parte da ‘procura’. Num contexto de despovoamento continuado
e de progressiva marginalização deste tipo de territórios e das respectivas populações, estuda-
se o papel que a implementação de serviços inovadores de transporte em áreas rurais de baixa
densidade poderá desempenhar em termos de minimização do ‘gap’ existente entre a oferta e
a procura de serviços colectivos.
Palavras-Chave: áreas rurais de baixa densidade, transportes, acessibilidade, serviços
colectivos
Abstract
This paper is focused on the accessibility of low density rural areas’ inhabitants to the so
called ‘social services’. Even regarding their specific nature, such services can be identified as
a ‘supply’ designed to meet basic needs in equitative conditions by their ‘users/ clients’,
competing to the State the creation of such conditions. In a context of demographical decline
and progressive marginalisation of such type of areas and their inhabitants, we study the role
that innovative transport services in low density rural areas can play in order to minimise the
existing gap between supply and demand of social services.
Keywords: low density rural areas, transport, accessibility, social services
VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
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1. Introdução
A evolução do modelo de estruturação e organização do território português (Portugal
Continental) ao longo das últimas décadas tem vindo a ser caracterizada pela afirmação de
lógicas diversificadas de urbanização, combinando dinâmicas de (i) recomposição interna das
áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, (ii) alastramento e dispersão urbana no Norte e
Centro litorais e (iii) polarização demográfica e económica em torno das principais cidades
não litorais. A contrapartida (e muitas vezes o suporte) destas dinâmicas tem sido a
progressiva desvitalização sócio-demográfica e económica de vastas áreas rurais, originando
problemas específicos cuja gravidade justificaria um melhor e mais consequente
enquadramento por parte das políticas de ordenamento e desenvolvimento territorial que têm
vindo a ser implementadas às escalas nacional, regional e municipal.
Do ponto de vista destas políticas, o que está em causa é a aceitação passiva das tendências de
reorganização espacial em curso, conducentes a um modelo territorial estruturado a partir de
uma rede urbana mais forte, ou, em alternativa, a mobilização de recursos adicionais para
inverter essas tendências, preservando assim o modelo territorial dominante há poucas
décadas atrás. Entre estas posições extremas, existe um amplo leque de opções que,
assumindo o carácter estrutural das tendências observadas, preconizam um modelo territorial
solidário com os problemas específicos das áreas (e, sobretudo, das populações) rurais,
favorecendo novos modelos de promoção da coesão sócio-territorial no espaço nacional.
Nesta comunicação privilegia-se a questão da acessibilidade das populações residentes em
áreas rurais de baixa densidade aos designados ‘serviços colectivos’ (educação, saúde, etc.),
os quais se podem identificar como uma ‘oferta’ destinada a satisfazer necessidades básicas
que, pela sua natureza específica, atribuem ao Estado o dever de garantir a existência de
condições equitativas de ‘consumo’ por parte da ‘procura’. Esta missão afigura-se tanto mais
relevante num contexto onde o funcionamento do mercado se tem revelado indutor de
distorções conducentes à marginalização deste tipo de territórios e das respectivas populações.
De entre as diferentes opções e medidas susceptíveis de contribuir para a mitigação destes
processos, estuda-se especificamente o papel que a implementação de serviços inovadores de
transporte em áreas rurais de baixa densidade poderá desempenhar em termos de minimização
do ‘gap’ existente entre a oferta e a procura de serviços colectivos. Esta análise é efectuada na
perspectiva de uma combinação virtuosa entre a maximização dos níveis de eficácia e
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eficiência do lado da oferta e a garantia de condições mínimas de acessibilidade por parte
procura relativamente a essa oferta.
2. Factores de Vulnerabilidade das Áreas Rurais de Baixa Densidade
As áreas rurais de baixa densidade correspondem a territórios especialmente afectados por
problemas de ‘massa crítica’, aos quais se juntam frequentemente trajectórias evolutivas de
sentido regressivo nos planos sócio-demográfico e económico. Esta ausência de ‘massa
crítica’ inibe o desenvolvimento de actividades e de serviços capazes de fixar a população
dotada de maior mobilidade potencial (designadamente a mais jovem e/ou qualificada) e de
garantir níveis de qualidade de vida consentâneos com as necessidades da população com
maior inércia locativa (nomeadamente aquela que se integra em escalões etários mais
elevados). Trata-se, portanto, de territórios pouco atractivos (ou até mesmo repulsivos) e onde
as condições de vida se ressentem de uma envolvente débil em matéria de oferta de serviços
colectivos em domínios tão diversificados como a educação, a saúde, a cultura ou o desporto.
Assim, mais do que um conceito meramente quantitativo, a expressão ‘baixa densidade’
refere-se sobretudo a territórios rurais caracterizados pela sua muito fraca dotação e/ou
capacidade de mobilização de recursos fundamentais para o seu desenvolvimento.
A fragilidade destes territórios coloca-os também numa situação frequentemente desfavorável
em relação aos principais centros urbanos da região onde se inserem, fomentando o
agravamento das disparidades urbano-rural e potenciando a sua marginalização em termos
sócio-espaciais. Deve notar-se que os processos de crescimento registados nestes centros
urbanos, com particular destaque para aqueles que se localizam em regiões não litorais,
resultam em boa medida do ‘esvaziamento’ do espaço rural, enfraquecendo relações
funcionais e, consequentemente, potenciando fenómenos de ‘descolagem’ destes centros em
relação à sua envolvente regional. Contudo, do ponto de vista dos territórios rurais afectados,
não parece credível que a sua dinâmica de desenvolvimento possa ser dissociada das relações
de proximidade e complementaridade funcional com tais centros urbanos.
É este ciclo vicioso que tem conduzido à desvitalização sócio-demográfica e económica de
vastos espaços rurais no território nacional. Do ponto de vista dos serviços colectivos, a
consequência mais imediata traduz-se na diminuição continuada da base de ‘procura’ que
justifica a criação e/ou manutenção das infra-estruturas e equipamentos onde os mesmos são
prestados, inviabilizando a sua provisão nos moldes tradicionais. Importa referir esta
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realidade ganha especial expressão num contexto de redução da despesa pública, fomentando
a racionalização das redes de serviços e equipamentos colectivos sem que, ao mesmo tempo,
sejam apresentadas alternativas evidentes para os territórios e (sobretudo) populações mais
afectadas por esse processo.
A trajectória de marginalização sócio-territorial daqui decorrente evidencia um crescente
desfasamento entre o tipo de ‘oferta’ associada aos modelos tradicionais de provisão de
serviços colectivos e as necessidades de uma ‘procura’ cada vez mais rarefeita. Com efeito, as
metodologias ‘clássicas’ de programação de equipamentos colectivos baseiam-se num
conjunto relativamente restrito de pressupostos com de limitada aplicabilidade à tipologia de
territórios rurais aqui em análise, designadamente:
� um limiar mínimo de ‘procura’, como condição básica de viabilização da construção ou
manutenção em funcionamento de um determinado equipamento especializado (i.e.
concebido para o desempenho de uma função/ actividade específica);
� uma lógica dominantemente infra-estrutural da ‘oferta’, baseada na implantação de
equipamentos em localizações que garantam níveis elevados de proximidade física à
procura (i.e. privilégio da distância física em vez da acessibilidade-tempo, do acesso remoto
ou da própria mobilidade espacial do serviço);
� uma perspectiva de manutenção ou crescimento dessa procura a médio-longo prazo, como
condição de sustentabilidade do funcionamento do equipamento ao longo do seu ciclo de
vida enquanto infra-estrutura especializada (i.e. com fraca capacidade de reconversão para
outras funções/ utilizações).
As características específicas das áreas rurais de baixa densidade revelam-se, nesta
perspectiva, um entrave estrutural à aplicação linear de critérios desta natureza. A reduzida
dimensão do efectivo populacional (frequentemente agravada por dinâmicas de crescimento
recessivas), por um lado, e as particularidades do sistema de povoamento (disperso ou
marcado por um distanciamento considerável entre aglomerados rurais), por outro, inibem
claramente a sua ‘elegibilidade’ para efeitos de implantação de equipamentos colectivos
especializados à luz dos critérios de planeamento e programação expostos.
Qualquer reflexão séria e consequente nesta matéria não pode deixar ainda de reconhecer a
própria diversidade de situações que pode ser encontrada no seio do designado ‘espaço rural’,
o que, desde logo, possui implicações de política territorial que não devem ser escamoteadas.
Com efeito, na avaliação das áreas rurais de baixa densidade importa fazer o difícil exercício
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de distinguir os territórios que perderam já o essencial das condições elementares que lhes
permitiriam encetar processos de regeneração sócio-demográfica e económica daqueles que,
mesmo em declínio, possuem ainda recursos ou potencialidades susceptíveis de serem
capitalizadas para esse efeito. Num contexto estrutural definido pela escassez de recursos
(designadamente públicos), compreende-se que o resultado deste exercício constitui uma base
informativa indispensável para sistematizar o leque de opções e prioridades que se colocam às
políticas de ordenamento e desenvolvimento territorial de âmbito nacional, regional e
municipal/ local.
De entre outros aspectos, contribuem certamente para esta distinção a análise detalhada de
variáveis como:
� a dimensão do efectivo demográfico, enquanto indicador de massa crítica;
� a estrutura etária e ocupacional desse efectivo, enquanto indicador de vitalidade dos
recursos humanos;
� o sentido e os mecanismos das dinâmicas de crescimento populacional e de recomposição
da sua estrutura, enquanto indicador de sustentabilidade demográfica;
� a posição relativa face ao território envolvente em função da proximidade a aglomerados
urbanos ou rurais oferecida pela rede de infra-estruturas de transporte (sobretudo
rodoviárias), enquanto indicador de centralidade/ acessibilidade;
� a dotação em termos de serviços e equipamentos colectivos (em funcionamento), enquanto
indicador de capacidade de fornecimento de ‘respostas sociais’ integradas às necessidades
da população;
� o perfil quantitativo e qualitativo da base local de actividades agrícolas, industriais e de
comércio/ serviços, enquanto indicador de vitalidade económica.
Retomando os comentários inicialmente dispendidos, às políticas públicas de ordenamento e
desenvolvimento territorial compete assim formular opções estratégicas de intervenção que se
revelem capazes de alcançar uma combinação virtuosa entre a maximização dos níveis de
eficácia e eficiência atingidos na aplicação de recursos e a garantia de condições mínimas de
coesão sócio-territorial. Naturalmente, deste processo sairão sempre ‘ganhadores’ e
‘perdedores’, não sendo razoável assumir a existência de soluções únicas nem de
possibilidades de regeneração sócio-demográfica e económica da globalidade do ‘espaço
rural’.
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3. PNPOT: um Novo Paradigma de Actuação em Áreas Rurais de Baixa Densidade?
O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) constitui a ‘cúpula’
dos instrumentos de gestão territorial em Portugal, razão pela qual é aqui entendido como
fonte primeira da explicitação das políticas públicas de ordenamento e desenvolvimento do
território nacional. Importa, portanto, identificar e sistematizar a leitura que o PNPOT faz da
problemática das áreas rurais de baixa densidade e, em particular, da acessibilidade das
populações residentes nestes territórios aos serviços colectivos.
O 1º Relatório de Progresso do PNPOT, datado de 2003, constitui um dos documentos com
maior interesse do conjunto bastante alargado de trabalhos que enquadram o respectivo
Programa de Acção. Começando por constatar que a primeira proposta de Política de
Ordenamento do Território em Portugal havia sido desenhada há mais de três décadas,
reconhece-se que desde então se assiste a uma «permanente mas desordenada e inconsequente
tentativa de ordenar o território»; da mesma forma, assume-se a afirmação e consolidação que
entretanto tiveram algumas das dinâmicas de recomposição territorial identificadas como
‘tendências pesadas’ (p.ex. litoralização da população e das actividades) e, frequentemente,
como ‘indesejáveis’ na perspectiva de uma distribuição espacialmente equilibrada dos
recursos (DGOTDU, 2003).
Uma das originalidades (positivas) da leitura expressa pelos Autores desse Relatório está na
frontalidade com que se assume a ‘inevitabilidade’ de algumas das transformações observadas
no território nacional, as quais são encaradas como fruto da evolução económica, tecnológica,
social e/ou cultural que teve lugar nas últimas décadas. Em contrapartida, aponta-se a
insuficiente capacidade de gerir e ordenar adequadamente os impactes territoriais decorrentes
dessa evolução, o que, em boa medida, se fica a dever ao desfasamento entre uma visão
cristalizada do modelo ‘tradicional’ de ocupação e organização do território português (como
opção dominante) e uma visão prospectiva do modelo territorial ‘emergente’ (como opção
mais negligenciada).
No caso específico dos espaços rurais, que, como foi anteriormente referido, têm vindo a
experimentar processos estruturais de desvitalização demográfica e sócio-económica mais ou
menos intensos, refere-se que, «na segunda metade dos anos 70 e nos anos 80, assistiu-se, por
uma má interpretação do objectivo da equidade territorial (e social), a um intenso
investimento na infra-estruturação física e social de muitos lugares, aldeias e vilas de áreas
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remotas, sempre na perspectiva de uma ‘recuperação’ demográfica» (DGOTDU, 2003, p.6).
Face ao carácter estrutural que o processo de urbanização entretanto assumiu, os Autores
desse Relatório concluem que, «como se pode compreender hoje, o grande erro foi não
assumir uma política de urbanização bem ordenada (…) e um controlado esvaziamento das
área rurais» (DGOTDU, 2003, p.5). Na nossa perspectiva, esta ‘corajosa’ conclusão confere
uma base de suporte a três ideias-chave expressas nos pontos precedentes:
� a primeira é a de que os processos de recomposição territorial em curso possuem fortes
impactes sobre os espaços rurais, questionando frequentemente a sua sustentabilidade;
� a segunda é a de que, no seio da vastidão do ‘espaço rural’, coexiste uma grande diversidade
de situações, exigindo leituras e estratégias de intervenção igualmente diferenciadas;
� a terceira é a de que, face a estes aspectos, emerge como desafio a adopção de novas formas
de assegurar a coesão sócio-territorial nas áreas rurais.
No caso concreto dos serviços e equipamentos colectivos, a análise efectuada no PNPOT
refere ainda três problemas principais que emergem para a política de desenvolvimento e
ordenamento do território que importa aqui salientar (DGOTDU, 2006b, p.76): (i) o
desajustamento da distribuição territorial e da qualidade desses serviços e equipamentos face
às transformações quantitativas e qualitativas entretanto ocorridas; (ii) a deficiente
programação do investimento público subjacente, com insuficiente consideração dos impactes
territoriais e dos custos de funcionamento e manutenção; e (iii) a dificuldade de coordenação
inter-sectorial e inter-territorial entre os principais actores com responsabilidades ao nível da
provisão de serviços colectivos e programação/ gestão das respectivas redes de equipamentos.
Deve salientar-se, novamente, que a abordagem a estes problemas se faz num contexto
marcado por processos intensos de desvitalização demográfica e sócio-económica das áreas
rurais e por restrições significativas ao nível dos recursos públicos disponíveis para o efeito.
O enquadramento legal do PNPOT aponta um conjunto de objectivos que, embora de carácter
generalista, orientam a elaboração da sua estratégia e fornecem pistas para o modo como a
questão da coesão sócio-territorial das áreas rurais de baixa densidade deverá ser considerada
no instrumento propriamente dito. Com efeito, os elementos mais relevantes desse
enquadramento referem que (DL 380/99 de 22 Set, art. 27):
� o PNPOT deverá definir o quadro unitário para o desenvolvimento territorial integrado,
harmonioso e sustentável do país;
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� o PNPOT deverá garantir a coesão territorial do país, atenuando as assimetrias regionais e
garantindo a igualdade de oportunidades;
� o PNPOT deverá articular as políticas sectoriais com incidência na organização do
território;
� o PNPOT deverá racionalizar o povoamento, a implantação de equipamentos estruturantes e
a definição das redes;
� o PNPOT deverá estabelecer os parâmetros de acesso às funções urbanas e às formas de
mobilidade.
A tradução de todo este conjunto de problemáticas apontadas nos trabalhos de análise
fundamentação técnica do PNPOT em opções e medidas concretas de intervenção é
materializada no respectivo Programa de Acção. De entre os seis Objectivos Estratégicos que
norteiam a estratégia de ordenamento territorial preconizada por este instrumento, são
essencialmente três aqueles que mais directamente se relacionam com a temática da presente
comunicação e que parecem configurar um novo paradigma de intervenção em áreas rurais de
baixa densidade; deste modo, procede-se de seguida à sistematização das orientações
fornecidas por cada um desses Objectivos Estratégicos.
Assim, o Objectivo Estratégico 3 visa «promover o desenvolvimento policêntrico dos
territórios e reforças as infra-estruturas de suporte à integração e à coesão territoriais».
Assumindo como desejável o reforço do sistema de centros urbanos na estruturação racional
do território, este Objectivo refere como necessária a melhoria das condições de acesso a
esses centros por parte dos territórios mais vulneráveis e despovoados. Para o efeito, propõe-
se o «desenvolvimento de soluções inovadoras na organização de sistemas de transportes à
escala local (municipal/ intermunicipal), incluindo o recurso a frotas de automóveis de gestão
centralizada, que assegurem níveis elevados de acessibilidade a todos os grupos da população
das áreas rurais» (DGOTDU, 2006a).
O Objectivo Estratégico 4 visa «assegurar a equidade territorial no provimento de infra-
estruturas e de equipamentos colectivos e a universalidade no acesso aos serviços de interesse
geral, promovendo a coesão social». Como resposta à racionalização da implantação
territorial das redes de serviços e equipamentos colectivos, este Objectivo assume como
necessário «desenvolver as redes de infra-estruturas, de equipamentos e de serviços de suporte
à acessibilidade e à mobilidade, reforçando a segurança e a qualidade de serviço e as
condições de equidade territorial e social» (DGOTDU, 2006a).
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Por fim, o Objectivo Estratégico 5 visa «expandir as redes e infra-estruturas avançadas de
informação e comunicação e incentivar a sua crescente utilização pelos cidadãos, empresas e
administração pública». Segundo este Objectivo, afigura-se decisivo promover este tipo de
tecnologias como instrumento fundamental de desenvolvimento territorial e coesão social,
assumindo ser prioritário «alargar a gama de oferta de serviços colectivos e de interesse
público suportados na Internet e na utilização das TIC, por exemplo nos domínios da saúde ou
da educação, garantindo o seu acesso nos espaços de baixa densidade» (DGOTDU, 2006a).
De acordo com estes elementos, julgamos ser possível concluir que o PNPOT (bem como o
Quadro de Referência Estratégico Nacional para 2007-2013) preconiza efectivamente um
novo paradigma de actuação para as áreas rurais de baixa densidade. Neste novo paradigma
há a destacar a aposta numa nova tipologia de intervenções que permitam investir na
concepção e implementação de soluções inovadoras de transporte para estes territórios, como
garante de equidade no acesso a serviços de interesse geral, o que é feito em detrimento da
lógica de proximidade física (i.e. implantação ‘in situ’ dos equipamentos onde esses serviços
são prestados) anteriormente dominante, a qual se traduziu sob a forma de défices elevados de
cobertura sócio-territorial e ineficiências de cariz diverso. Este novo paradigma suscita,
portanto, a necessidade de fomento e estruturação de um pensamento técnico-político indutor
de novas soluções técnicas, operacionais e organizacionais ao nível da oferta de serviços de
transporte, dado o manifesto ‘vazio’ de estratégia neste domínio que é reflectido pela ausência
de políticas públicas direccionadas para estes territórios (também) em matéria de transportes.
4. Procura e Oferta de Transporte em Áreas Rurais de Baixa Densidade
Neste ponto procura-se retoma-se a problemática respeitante aos factores de vulnerabilidade
das áreas rurais de baixa densidade (abordada no ponto 2), desta feita privilegiando (i) uma
análise sumária das principais características e condições que, tipicamente, definem a procura
e a oferta de serviços de transporte em territórios deste tipo e (ii) a sistematização das
principais tarefas subjacentes a um exercício de caracterização e diagnóstico que suporte
intervenções concretas orientadas para o desenho de soluções mais adequadas.
Tal como foi anteriormente referido, as áreas rurais de baixa densidade correspondem a
territórios especialmente afectados por problemas de ‘massa crítica’ e frequentemente
atingidos por trajectórias regressivas nos planos sócio-demográfico e económico. Devido a
estes aspectos, constata-se que a sua fraca capacidade para satisfazer localmente as suas
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necessidades quotidianas (caso da utilização de serviços de saúde, de educação, bancários,
etc.) impõe a realização de deslocações a centros de nível hierárquico superior que se
perfilam, à partida, como uma procura carente de serviços de transporte público adequados. A
satisfação desta procura afigura-se tanto mais relevante se for tido em conta que os factores
justificativos das deslocações referidas são muitas vezes decorrentes de opções de política
pública que visam a racionalização e subsequente concentração espacial da oferta de serviços
e equipamentos colectivos, surgindo o transporte público como via alternativa para
minimizar/ colmatar o agravamento das condições de acessibilidade daí resultante.
Porém, parece existir actualmente em Portugal (bem como noutros países) um forte consenso
em torno da insuficiente cobertura e satisfação deste tipo de necessidades, facto que está
previsivelmente associado a uma deficiente (ou mesmo inexistente) configuração de serviços
de transporte adaptados à realidade específica das áreas rurais de baixa densidade (Ferreira da
Cunha, 2007). De acordo com a Direcção-Geral dos Transportes Terrestres e Fluviais (actual
Instituto da Mobilidade e Transporte Terrestre), as hipóteses de intervenção mais evidentes
para alterar este cenário poderão passar por reestruturações das redes existentes e/ou por
soluções alternativas de transporte colectivo com a recurso a veículos ligeiros, as quais
deverão ser sempre enquadradas por estudos de mobilidade adequados (Ferreira da Cunha,
2007).
Dado que a realização deste tipo de estudos não possui muita tradição em Portugal, dado que
as preocupações políticas, científicas e técnicas se têm concentrado mais nos problemas de
mobilidade em espaços urbanos e metropolitanos, optou-se aqui por sistematizar um conjunto
valioso de orientações e ensinamentos resultantes do projecto comunitário de investigação
ARTS – Actions on the Integration of Rural Transport Services (ETT, 2002). Tendo em vista
uma melhor apreensão, a exposição que se segue está organizada segundo as ópticas da oferta
e da procura de serviços de transporte.
Aspectos Metodológicos da Avaliação da Procura de Serviços de Transporte
A caracterização e diagnóstico da procura (potencial) de serviços de transporte constitui
sempre uma etapa fundamental em qualquer estudo de mobilidade, dado que é através desta
avaliação que são identificadas as necessidades a que a oferta deverá dar resposta. As
características específicas das áreas rurais de baixa densidade parecem reforçar ainda mais
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este princípio geral, tal como se procurou anteriormente demonstrar. Para o efeito, podem ser
aqui identificados três grandes domínios de análise:
� a caracterização geral da área de intervenção em termos de organização territorial e
características sócio-económicas da população residente;
� a identificação dos principais pólos de atracção de deslocações na área de intervenção;
� a identificação e caracterização das principais tipologias de deslocações na área de
intervenção.
O primeiro domínio de análise visa sistematizar um conjunto de informação de base que
pretende informar sobre as características gerais da população residente (i.e. da procura
potencial) e do modelo de ocupação e organização do território. Trata-se de uma análise que
deve ser relativamente expedita, apoiando-se em informação estatística e cartográfica
facilmente acessível (Recenseamento da População, Plano Director Municipal, etc.). Os
principais resultados a obter devem contemplar a produção de conhecimento relevante sobre:
� o sistema local de povoamento (uma vez que entre padrões de povoamento concentrados e
dispersos existem diferenças muito significativas para efeitos de configuração de serviços de
transporte);
� o sistema local de infra-estruturas de transporte (que condiciona a extensão dos circuitos de
transporte e a velocidade média associada, bem como a selecção de pontos de tomada/
largada de passageiros);
� o perfil sócio-económico da população residente (que condiciona a configuração de serviços
de transporte através de aspectos como a estrutura etária, a situação face à actividade
económica, o poder de compra, o grau de literacia, a taxa de motorização e o acesso/
capacidade de utilização a tecnologias de informação e comunicação).
O segundo domínio de análise está ligado à identificação dos principais pólos de atracção de
deslocações na área de intervenção (ou, mais precisamente, para a população residente na área
de intervenção). Tratando-se de populações com padrões de consumo de serviços que não são
normalmente muito sofisticados (pelo menos no que respeita àqueles que possuem carácter
mais regular) e onde a própria oferta não é especialmente numerosa, pretende-se sobretudo
identificar e geo-referenciar os principais pólos onde se esta se localiza. Falamos, em
concreto, de serviços/ equipamentos ligados à educação, à saúde, à banca e ao comércio (de
entre outros), bem como dos principais pólos de emprego.
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Por último, o terceiro domínio de análise visa identificar e caracterizar as principais
motivações e tipologias de deslocações na área de intervenção (i.e. da população residente na
área de intervenção). A informação necessária para este efeito implica normalmente a
realização de inquéritos à população, embora o custo associado se possa facilmente posicionar
como um entrave à sua realização; por esta razão, e tendo em conta as características deste
tipo de territórios, poder-se-á tentar obter indicações suficientemente detalhadas através de
outras formas de recolha de intervenção menos onerosas e demoradas (realização de ‘focus
groups’ com operadores, entrevistas a personalidades locais, etc.). Os principais resultados a
obter devem permitir sistematizar aspectos relacionados com as motivações subjacentes às
deslocações, os locais de destino, a sua frequência, o meio de transporte utilizado e o custo
associado, de entre outros aspectos que se possam revelar importantes.
Aspectos Metodológicos da Avaliação da Oferta de Serviços de Transporte
A caracterização e diagnóstico da oferta de serviços de transporte na área de intervenção
constitui o complemento necessário à análise da procura, seja porque permite avaliar a
respectiva suficiência e grau de adequação, seja ainda porque o desenvolvimento de novas
soluções deverá sempre explorar eventuais relações de complementaridade com a oferta
existente (daí resultando benefícios globais para todo o sistema). Para o efeito, podem ser aqui
identificados três grandes domínios de análise:
� a sistematização das características técnicas e operacionais da oferta de serviços de
transporte existentes;
� a caracterização dos níveis de utilização e das condições de acesso à oferta de serviços de
transporte;
� a caracterização de toda a envolvente organizativa que enquadra a prestação de serviços de
transporte na área de intervenção.
O primeiro domínio de análise visa sistematizar um conjunto de informação descritiva sobre a
configuração técnica e operacional da oferta de serviços de transporte que serve a área de
intervenção (ou, em sentido mais amplo, a população aí residente). Nesta análise, baseada em
informação a fornecer pelas entidades públicas com intervenção no sector e pelos operadores
de transporte, importa também identificar serviços que sejam prestados de forma mais
‘informal’ mas que sejam expressivos no quadro da satisfação de necessidades específicas
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(p.ex. transporte efectuado por veículos da Câmara Municipal, Juntas de Freguesia ou
Bombeiros). Os principais resultados a obter devem cobrir aspectos relacionados com:
� a cobertura espacial dos serviços (áreas/ lugares servidos, circuitos, acessibilidade da
procura aos pontos de tomada/ largada de passageiros, etc.);
� a cobertura temporal dos serviços (período horário e dias de funcionamento, número e
regime horário de frequências, etc.);
� o dimensionamento da capacidade dos serviços (número de lugares disponibilizados,
número e tipo de veículos, etc.);
� a comodidade oferecida pelos serviços (número e duração de transbordos entre pares
origem/ destino relevantes, etc.).
O segundo domínio de análise referido prende-se com os níveis de utilização e as condições
de acesso à oferta de serviços de transporte, representando, de algum modo, o grau de
ajustamento entre a oferta e a procura. Os operadores/ prestadores de serviços de transporte
constituem a principal fonte para a recolha da informação necessária, podendo esta ser
complementada e validada por vias complementares (p.ex. registo da Câmara Municipal
relativo ao número de alunos servidos por transporte escolar). É também importante ter em
consideração os custos (i.e. os preços) suportados pelos utilizadores para beneficiar dos
serviços de transporte existentes, até porque estes servirão para avaliar a atractividade-preço
de novas soluções na óptica da procura.
Por fim, o terceiro domínio de análise considerado relevante abrange todos os aspectos que
enquadram a prestação de serviços de transporte na área de intervenção, desde o seu
enquadramento regulamentar e institucional, possíveis contratos de serviço público existentes,
níveis de financiamento público, etc. Este tipo de informação revela-se verdadeiramente
crucial para a viabilização de novos serviços por duas razões principais: a primeira está
relacionada com a eventual necessidade de revisão de contratos anteriormente estabelecidos
com operadores, o que pode constituir um factor de rigidez na reconfiguração da oferta
existente; o segundo, por seu turno, decorre da eventual necessidade de gestão e resolução de
conflitos com operadores já ‘instalados’ no mercado, que podem percepcionar a nova oferta
como prejudicial para o normal desenvolvimento da sua actividade (p.ex. operadores de
serviços de táxi).
Em qualquer caso, deve salientar-se que, especialmente em territórios como as áreas rurais de
baixa densidade, o desenvolvimento de novos serviços de transporte deve privilegiar a
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colmatação dos ‘gaps’ existentes nos serviços actuais e não a competição directa entre si
(devendo essa competição ocorrer, sempre que possível/ desejável, durante o processo de
contratualização dos serviços de transporte com operadores por parte dos promotores).
5. Configuração de Novos Serviços de Transporte em Áreas Rurais de Baixa Densidade
As características associadas à oferta ‘convencional’ de transporte público revelam um
desfasamento crescente com as necessidades específicas da procura residente em áreas rurais
de baixa densidade (como se procurou exemplificar no ponto anterior), impondo assim o
recurso a soluções alternativas de provisão de condições de mobilidade individual e colectiva
neste tipo de territórios.
Muito embora se possam identificar práticas relativamente consolidadas em diversos países
europeus relacionadas com os designados ‘serviços inovadores de transporte em espaço rural’,
pode dizer-se que o conhecimento sobre esta temática é ainda consideravelmente escasso.
Dado que Portugal é, precisamente, um dos países europeus onde esse conhecimento se
afigura menos disseminado e as experiências concretas de implementação de soluções deste
tipo (onde existem) estão ainda num estado muito embrionário, optou-se aqui por fornecer
uma visão mais global das diferentes opções que se colocam à configuração técnica e
operacional de serviços de transporte em áreas rurais de baixa densidade.
Neste contexto, e tendo em vista uma sistematização eficaz destas opções, foram considerados
três domínios de análise principais:
� configuração espacial dos serviços de transporte;
� configuração temporal dos serviços de transporte;
� tarifação dos serviços de transporte.
Deve referir-se que os domínios de análise seleccionados e o conteúdo dos pontos seguintes
resultam de uma reflexão e subsequente sistematização efectuada pelos Autores a partir dos
trabalhos da DATAR/DTT/ADEME (2004) e da ETT (2002), dispensando-se por isso de
citações adicionais ao longo do texto. Foram ainda tomados em consideração os trabalhos de
OGM et al (1998) e FERMISSON (2005) no domínio da configuração técnico-operacional e
da contratualização de serviços de transporte público.
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Configuração Espacial dos Serviços de Transporte
A configuração espacial da oferta de serviços de transporte engloba essencialmente dois
elementos fundamentais: (i) a definição de circuitos de transporte (i.e. pares de conexões entre
‘zonas de origem’ e ‘zonas de destino’) e (ii) a selecção dos pontos concretos de tomada/
largada de passageiros (necessariamente integrados nos circuitos).
No transporte público mais ‘convencional’, a definição de circuitos de transporte é geralmente
suportada na identificação e avaliação prévia do potencial de procura dos principais pólos de
geração e atracção de viagens, base a partir da qual se procede ao desenho de uma rota fixa e
à selecção de pontos igualmente fixos de tomada/ largada de passageiros ao longo da sua
extensão. Deste modo, a pertinência e viabilidade do serviço de transporte é aferida com base
na ‘massa crítica’ associada a cada um destes pontos e ao volume de deslocações entre si.
A reprodução desta lógica de planeamento em áreas rurais de baixa densidade nem sempre é
possível, dada a frequente inexistência de ‘massa crítica’ para o efeito. Devido a este facto,
uma das questões centrais que se colocam à configuração espacial de serviços de transporte
neste tipo de territórios reside na necessidade de uma maior flexibilidade na definição dos
circuitos e na selecção dos pontos de tomada/ largada de passageiros. Esta flexibilidade pode
ser alcançada de três formas diferentes e combináveis entre si:
� a não existência de circuitos fixos (entendidos estes enquanto conexões confinadas a pares
previamente definidos de ‘zonas de origem’ e ‘zonas de destino’), gerando uma maior gama
de opções de mobilidade no interior do território servido;
� a não existência de pontos fixos de tomada de passageiros, gerando serviços ‘à porta’ nas
‘zonas de origem’ que poderão ser fundamentais em situações de povoamento disperso ou
quando o serviço se destina a pessoas com mobilidade reduzida (p.ex. pessoas com
deficiência ou dificuldade motora);
� a não existência de pontos fixos de largada de passageiros, gerando serviços ‘à porta’ nas
‘zonas de destino’ que poderão ser fundamentais em situações onde os pólos de atracção
(escolas, centros de saúde, bancos, etc.) não se apresentem concentrados ou onde estes, para
além de dispersos, não sejam de utilização frequente.
Como rapidamente se depreende, a combinatória das diferentes opções em presença permite
configurar oito opções distintas de serviço, oscilando entre uma situação de total rigidez
(circuitos e pontos de tomada/ largada fixos) e uma situação de flexibilidade total (circuitos e
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pontos de tomada/ largada variáveis em função das necessidades da procura, vulgarmente
conhecidos como transporte porta-a-porta).
A gestão do evidente ‘trade-off’ entre rigidez e flexibilidade abre espaço para uma decisão de
grande complexidade, dado o poder ‘sedutor’ que esta última opção apresenta enquanto
esforço de adequação às necessidades específicas da procura. Com efeito, tal decisão deve ser
alvo de uma especial e cuidada ponderação, dado que qualquer solução que contenha
elementos de flexibilidade implica custos de operação mais elevados, na medida em que a
maior ‘personalização’ do serviço induz taxas de ocupação potencialmente mais reduzidas
(calculáveis pelo indicador lugares ocupados*kms percorridos com utilizadores/ lugares
disponibilizados*kms percorridos totais) e, consequentemente, receitas expectáveis inferiores
às que poderiam decorrer de serviços com maior rigidez (calculáveis pelo indicador
receita/kms percorridos totais).
Para além desta situação, os serviços apoiados numa maior flexibilidade são também
portadores de exigências e custos adicionais ao nível da gestão operacional de frotas, dadas as
necessidades de controlo em tempo real da localização do material circulante e de cálculo dos
tempos de resposta às solicitações da procura. Deve notar-se que a questão dos custos de
investimento e operação é absolutamente determinante tendo em conta tratar-se de serviços
frequentemente deficitários em termos económico-financeiros.
Por último, é importante referir que a configuração espacial de novos serviços de transporte
em áreas rurais de baixa densidade deve sempre ter em conta os serviços já existentes, sob
pena de se desaproveitarem potenciais efeitos de complementaridade e, ao mesmo tempo,
estimularem lógicas de concorrência com efeitos negativos sobre ambos (o que é
especialmente grave por se tratar de territórios já de si mal servidos, nos quais deveria
predominar uma lógica de concertação colectiva). Nestes casos, fará sentido pensar em
soluções que prevejam a coordenação (com eventuais reajustamentos) entre os serviços
existentes através da definição de pontos de transbordo, funcionando a nova oferta como
‘alimentadora’ (‘feeder’) de serviços convencionais (p.ex. criação de pontos de tomada/
largada de passageiros em estações ferroviárias). A concorrência, por seu turno (e sempre que
se justifique), pode ser alternativamente introduzida no processo de contratualização dos
serviços de transporte com operadores por parte dos promotores, comprometendo assim
aqueles com níveis de disponibilidade e desempenho previamente definidos.
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Configuração Temporal dos Serviços de Transporte
A configuração temporal da oferta de serviços de transporte engloba essencialmente dois
elementos fundamentais: (i) a amplitude temporal do serviço (i.e. período de funcionamento)
e (ii) o regime de frequências (i.e. número e horário das viagens disponibilizadas).
No transporte público mais ‘convencional’, a amplitude temporal dos serviços é normalmente
acompanhada pela definição de um regime fixo de frequências. O grau de rigidez associado a
esta opção tem como principal vantagem a disponibilização de um serviço estável e
facilmente apreensível pela procura regular.
A exemplo do que se referiu para a configuração espacial, a reprodução desta lógica de
planeamento em áreas rurais de baixa densidade nem sempre se revela possível. Quando esta
situação se verifica, as causas estão normalmente associadas a factores como:
� a reduzida base de procura de serviços regulares de transporte (sobretudo no período das
férias escolares), o que poderá conduzir a baixas taxas de ocupação e/ou a um baixo número
de frequências (embora a opção por material circulante de capacidade reduzida possa
contornar parcialmente esta limitação);
� a reduzida oferta de bens e serviços neste tipo de territórios, gerando situações de grande
dependência funcional em relação aos centros melhor servidos que motivam um volume
proporcionalmente elevado de deslocações com carácter não regular (e, portanto, nem
sempre previsíveis).
Constituindo a disponibilidade (temporal) da oferta de transporte público um dos seus
principais factores de atractividade (e, consequentemente, de eficácia) junto da procura e uma
boa medida das condições de mobilidade potencial da população (entendidas enquanto direito
sujeito a níveis mínimos de equidade), torna-se assim pertinente equacionar opções
específicas de configuração temporal que mitiguem os défices existentes e as limitações que
lhes estão subjacentes.
De uma forma geral, a solução mais frequentemente mobilizada passa pela criação de serviços
total ou parcialmente desprovidos de regimes de frequências previamente fixados, ajustando
assim a disponibilidade temporal da oferta às necessidades específicas e pontuais da procura.
Para além desta vantagem intrínseca, as soluções desta natureza garantem ainda taxas
mínimas de ocupação devido ao facto da oferta disponível ser activada em função de pedidos
específicos. Por outro lado, e porque a satisfação destes pedidos impõe geralmente a
realização de reservas com uma antecedência mínima, torna-se possível aumentar essas taxas
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através da grupagem de diferentes pedidos em viagens multi-cliente e, desta forma, minimizar
os custos de operação (calculáveis pelo indicador custo/passageiro) ao mesmo tempo que se
maximizam as suas receitas (calculáveis pelo indicador receita/kms percorridos totais).
Também aqui, a gestão do ‘trade-off’ entre rigidez e flexibilidade coloca desafios complexos
ao decisor, os quais decorrem parcialmente do facto dos serviços mais flexíveis em termos
temporais estarem normalmente associados a configurações espaciais menos rígidas. Por esta
razão, pode concluir-se pela existência de exigências e custos adicionais ao nível da gestão
operacional de frotas e clientes decorrentes da necessidade de atendimento personalizado dos
pedidos (recepção, grupagem, confirmação) e planeamento de rotas multi-cliente.
Mais uma vez, importa salientar que, tratando-se de serviços frequentemente deficitários em
termos económico-financeiros, deve ser prestada especial atenção aos custos de investimento
e operação associados a este tipo de opções na configuração da oferta de transporte.
Tarifação dos Serviços de Transporte
O sistema tarifário associado à oferta de serviços de transporte corresponde basicamente ao
modelo de remuneração do operador por parte dos utilizadores, constituindo por isso a mais
evidente fonte de receita directamente decorrente da actividade em apreço. A questão da
definição do sistema tarifário é aqui abordada em duas perspectivas distintas: (i) o seu
contributo para a cobertura dos custos de investimento e operação e (ii) as modalidades
específicas de tarifação susceptíveis de serem aplicadas na prestação de serviços de transporte
em áreas rurais de baixa densidade.
Relativamente à primeira perspectiva, pode dizer-se que a questão tarifária não se coloca aqui
de modo substancialmente distinto face ao que acontece no transporte público mais
‘convencional’. Muito embora o princípio subjacente à viabilidade e sustentabilidade de
qualquer actividade económica seja o da cobertura dos custos pelas receitas (as quais, neste
caso, equivaleriam ao produto da aplicação do tarifário pela prestação de serviços de
transporte), é frequente existirem situações de não verificação deste pressuposto no ‘mercado’
do transporte público. Tal facto decorre geralmente da incorporação de objectivos e
finalidades de cariz ‘social’ no modo como são desenhados e implementados os serviços de
transporte público, designadamente no que diz respeito à garantia do direito à mobilidade por
parte do Estado em contextos onde o simples funcionamento do mercado não apresenta
capacidade para fornecer respostas adequadas (em preço, frequência, conforto, conectividade,
VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
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etc.); tal é, frequentemente, o caso das áreas rurais de baixa densidade, nas quais o volume e
as características da procura se revelam pouco atractivas na lógica do investidor privado.
Deste modo, a garantia do direito à mobilidade impõe muitas vezes a necessidade de uma
participação activa do Estado enquanto co-financiador do sistema de transporte público,
chegando mesmo a constituir a sua maior fonte de receita. Sendo aceitável este envolvimento,
importará no entanto assegurar que o mesmo não se configura como variável indutora de
ineficiências no sistema, daí resultando a pertinência de quadros regulatórios e contratuais que
estimulem a melhoria contínua do desempenho por parte dos operadores de transporte.
Neste contexto, e tendo em conta a fragilidade que geralmente caracteriza a provisão de
serviços de transporte em áreas rurais de baixa densidade à luz de critérios de viabilidade
económico-financeira, será sempre fundamental que a sua configuração tome em
consideração quatro aspectos essenciais:
� a avaliação objectiva e detalhada dos custos de investimento e operação, base absolutamente
necessária para determinar as necessidades de financiamento (sendo de notar a possibilidade
de redução/ optimização dessa estrutura de custos logo na fase de configuração);
� a definição de um sistema tarifário justo mas atento à capacidade de aquisição das
populações que se pretende servir, sob pena de criar serviços inacessíveis (via preço) para a
procura a que se destinam;
� a definição de um sistema claro de atribuição de compensações financeiras aos operadores
de serviços não rentáveis, com o intuito de evitar fraudes (através da criação de mecanismos
de controlo eficazes) ou ineficiências (através da criação de incentivos ao desempenho e/ou
de mecanismos de partilha de risco);
� a introdução de elementos no regime tarifário que induzam comportamentos da procura
benéficos para a eficiência do sistema, designadamente ao contribuírem para a maximização
da taxa de utilização da capacidade de transporte disponibilizada (p.ex. atribuição de
descontos em função da antecedência na reserva de lugar ou do número de utilizadores por
reserva).
A segunda perspectiva em que a questão da tarifação é aqui abordada está relacionada, por
seu turno, nas modalidades específicas susceptíveis de serem aplicadas na prestação de
serviços de transporte em áreas rurais de baixa densidade. Basicamente, estão aqui em causa
duas preocupações/ objectivos fundamentais: por um lado, o regime de tarifação deve ser
capaz de contribuir para a obtenção de ganhos de eficiência da oferta (tal como foi atrás
VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
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referido); por outro, a forma final desse regime, expressa através de uma tabela de preços,
deve preservar níveis mínimos de ‘legibilidade’ de modo a ser facilmente compreendido pela
procura. Neste contexto, descreve-se em seguida a forma como podem ser ‘manipuladas’
algumas das variáveis-chave a considerar na construção do regime de tarifação (e
evidenciando as suas vantagens e desvantagens), designadamente, (i) a distância percorrida,
(ii) a taxa de ocupação, (iii) a antecedência de marcação do serviço e (iv) a diferenciação
horária.
A distância percorrida pelo material circulante é, seguramente, uma das variáveis que melhor
permite reflectir os custos variáveis associados à produção de transporte. Por esta razão, a
distância deve necessariamente ser tida em conta no processo de determinação do preço no
utilizador de qualquer serviço de transporte, podendo ser calculada de três formas principais:
� em função da extensão quilométrica ‘tout court’ dos percursos efectuados, tendo por base o
indicador custo/kms percorridos com utilizadores (podendo a sua aplicação ser mais difícil
em contextos multi-cliente com múltiplos pontos de tomada e/ou largada de passageiros);
� em função de um custo médio fixo por viagem, tendo por base o indicador custo/nº total de
viagens (podendo a sua aplicação ser menos justa para os utilizadores quando a distância
por estes percorrida apresente uma amplitude de variação muito significativa face à média);
� em função de um custo médio fixo por percurso entre pares de origem-destino previamente
definidos, tendo por base o indicador custo/km multiplicado pela distância quilométrica
entre esses pares (pressupondo a sua aplicação uma relativa rigidez da configuração espacial
da oferta).
A taxa de ocupação do material circulante, por seu turno, constitui uma variável fundamental
na avaliação da eficiência dos serviços de transporte, podendo ser calculada pelo indicador
lugares ocupados*kms percorridos com utilizadores/ lugares disponibilizados*kms
percorridos totais. Sendo esta taxa muito condicionada pela adequação da capacidade do
material circulante à dimensão da procura, pode dizer-se que a introdução de incentivos
tarifários conducentes à maximização da respectiva taxa de ocupação é portadora de
benefícios quer na óptica da oferta (calculável pelo indicador receita/kms percorridos totais),
quer na óptica da procura (fruto da obtenção de descontos no preço normal de utilização do
serviço).
Naturalmente, este mecanismo é sobretudo aplicável em serviços activados por solicitação da
procura (‘on-demand services’), tal como acontece caso se recorra à atribuição de incentivos
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para estimular uma maior antecedência na marcação do serviço (novamente através da forma
de descontos). Aqui, a principal motivação reside na possibilidade acrescida de optimização
da utilização dos recursos (p.ex. material circulante) que um maior desfasamento temporal
entre a recepção de pedidos de reserva e a utilização propriamente dita do serviço permite à
entidade gestora do serviço/ sistema. Como é óbvio, espera-se também que esta opção possa
contribuir directamente para a redução dos custos associados à gestão do serviço/ sistema,
designadamente por dispensar investimentos em sistemas tecnológicos mais complexos e em
recursos humanos com elevado grau de qualificação técnica.
Por último, a aplicação de regimes tarifários com diferenciação horária dos preços praticados
deve também ser entendida, sobretudo, como um incentivo à concentração temporal da
procura, pressupondo naturalmente que existe capacidade instalada suficiente do lado da
oferta. Esta opção será importante tanto em serviços caracterizados por uma maior rigidez
temporal e baseados em material circulante de maior capacidade, bem como em serviços onde
a flexibilidade a esse nível seja mais elevada, dado o potencial intrínseco de maximização das
taxas de ocupação.
Em síntese, pode concluir-se que a definição de regimes de tarifação ajustados à
especificidade dos serviços de transporte em áreas rurais de baixa densidade constitui uma
tarefa complexa, designadamente quando entendida enquanto potenciadora da sua
racionalidade e eficiência (e, consequentemente, com impacte ao nível da taxa de cobertura
dos custos de investimento e operação). Contudo, a tradução dessa complexidade ao nível da
definição de preços deve ter em conta as características específicas da população residente
neste tipo de territórios, privilegiando níveis mínimos de ‘legibilidade’ que permitam a sua
fácil compreensão por parte da procura.
6. Conclusões e Perspectivas
A desvitalização sócio-demográfica e económica que vem afectando vastas áreas rurais no
território português está na génese de problemas específicos de integração e coesão que são
portadores de impactes negativos sobre a qualidade de vida das populações que aí continuam
a residir. A degradação das condições de acessibilidade aos designados serviços colectivos
constitui, seguramente, onde um dos campos onde esses impactes mais se fazem sentir.
Tal como é reconhecido nos trabalhos preparatórios do PNPOT, a intervenção das políticas
públicas ao longo das últimas décadas revelou-se claramente incapaz para inverter este tipo de
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trajectórias, o que se fica a dever a uma interpretação restrita dos mecanismos mobilizáveis
para o efeito mas, também, à adopção de estratégias que raramente assumiram a necessidade
de incorporação das novas lógicas e tendências que entretanto penderam sobre o modelo
territorial ‘herdado’ e que exigiam um completo reequacionamento da forma de entender e
intervir no espaço rural. É hoje evidente que as características e as necessidades específicas
das áreas rurais de baixa densidade exigem respostas que os modelos tradicionais de provisão
de serviços colectivos não têm sido capazes de fornecer.
É neste contexto que o PNPOT esboça um conjunto de orientações estratégicas e medidas
que, parecendo reflectir um novo paradigma de intervenção neste tipo de territórios, carecem
agora de uma eficaz operacionalização. Na presente comunicação estudou-se, em particular, o
papel que poderá estar associado ao desenvolvimento e implementação de soluções
inovadoras de transporte público em áreas rurais de baixa densidade, entendidas aquelas
enquanto ‘elo físico’ com capacidade para (re)estabelecer uma nova relação de proximidade
entre a oferta de serviços colectivos e a sua procura. Naturalmente, tem-se plena consciência
de que este tipo de soluções de acessibilidade/ mobilidade constituem apenas uma novas vias
que as políticas públicas terão de conseguir mobilizar para lidar com desafios impostos pelas
tendências de reestruturação e reorganização territorial em curso.
Em termos mais específicos, e dado o escasso conhecimento detido em Portugal neste
domínio, procurou-se que esta comunicação fosse capaz de fornecer um referencial
metodológico de suporte à concepção de soluções de transporte adequadas ao perfil das áreas
rurais de baixa densidade, seja em termos de avaliação das situações de partida, seja em
termos de configuração técnica e operacional dos serviços de transporte propriamente ditos.
Para este efeito, recorreu-se sempre que possível ao conhecimento disponível a nível
internacional (sobretudo europeu), procurando assim aprender com a experiência de outros
países onde estas questões possuem já mais desenvolvimento.
Como nota final, deve salientar-se a preocupação manifestada em demonstrar que (também)
neste domínio não existem respostas ‘standard’ que se revelem adequadas a todo e qualquer
contexto sócio-territorial, tendo havido a preocupação em exemplificar formas concretas de
incorporação das suas especificidades. Para além disso, procurou-se ainda alertar para a
necessidade de uma combinação virtuosa entre a maximização dos níveis de eficácia e
eficiência do lado da oferta, o que decorre naturalmente do contexto global de escassez de
recursos a que as políticas públicas se encontram sujeitas; também aqui se tentou avaliar
VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 de Outubro de 2007
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comparativamente as diferentes hipóteses que se colocam à configuração técnica e
operacional de novos serviços de transporte em áreas rurais de baixa densidade.
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