26
SERVIÇO SOCIAL E ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: contribuições ao debate 1 Kathleen Elane Leal Vasconcelos Sandra Amélia Sampaio Silveira Thaísa Simplício Carneiro Cibelly Michalane Oliviera dos Santos Costa RESUMO O artigo em tela se propõe a colaborar para o debate acerca da contribuição de Assistentes Sociais na Estratégia Saúde da Família (SF). Aponta elementos sobre a composição das equipes básicas e a importância da inclusão do Serviço Social na SF, apresentando um mapeamento das diferentes formas como tais profissionais vêm participando do “fazer Saúde da Família”. Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família; Equipes de Saúde da Família; Serviço Social. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS Desde 1994 a Estratégia Saúde da Família (SF) vem sendo adotada em diversos municípios, delineando-se atualmente como um dos pilares da saúde pública no Brasil. Com o objetivo de reorganizar a assistência à saúde a partir da atenção básica, propõe uma atuação voltada para a família e a comunidade, por parte de uma equipe básica multidisciplinar 2 . Historicamente há uma reivindicação da categoria de assistentes sociais pela ampliação das equipes da SF, visando inserir diferentes profissões, entre elas o Serviço Social. Embora não conste em sua composição oficial, assistentes sociais vêm sendo inseridos(as) ou passaram a prestar serviço às equipes da estratégia em diferentes locais do país. 1 Artigo publicado na Revista Serviço Social e Sociedade, nº 98, julho/2009. 2 Tal equipe deve ser composta por, no mínimo, um(a) médico(a) de família, um(a) enfermeiro(a), um(a) auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde. Quando ampliada, conta ainda com um(a) dentista, um(a) auxiliar de consultório dentário (ACD) e um(a) técnico(a) em higiene dental. Em alguns documentos do Ministério da Saúde (BRASIL, 1997) anunciava-se, além dos(as) profissionais citados(as), a possibilidade de inserção de outros na composição de tais equipes, embora sem financiamento federal.

ServiçSERVIÇO SOCIAL E ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: contribuições ao debate o Social e Saude Da Familia

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O artigo em tela se propõe a colaborar para o debate acerca da contribuição de Assistentes Sociais na Estratégia Saúde da Família (SF). Aponta elementos sobre a composição das equipes básicas e a importância da inclusão do Serviço Social na SF, apresentando um mapeamento das diferentes formas como tais profissionais vêm participando do “fazer Saúde da Família”.

Citation preview

  • SERVIO SOCIAL E ESTRATGIA SADE DA FAMLIA:

    contribuies ao debate 1

    Kathleen Elane Leal Vasconcelos

    Sandra Amlia Sampaio Silveira

    Thasa Simplcio Carneiro

    Cibelly Michalane Oliviera dos Santos Costa

    RESUMO

    O artigo em tela se prope a colaborar para o debate acerca da contribuio de

    Assistentes Sociais na Estratgia Sade da Famlia (SF). Aponta elementos sobre a

    composio das equipes bsicas e a importncia da incluso do Servio Social na

    SF, apresentando um mapeamento das diferentes formas como tais profissionais

    vm participando do fazer Sade da Famlia.

    Palavras-chave: Estratgia Sade da Famlia; Equipes de Sade da Famlia;

    Servio Social.

    ALGUMAS CONSIDERAES INICIAIS

    Desde 1994 a Estratgia Sade da Famlia (SF) vem sendo adotada em diversos

    municpios, delineando-se atualmente como um dos pilares da sade pblica no Brasil.

    Com o objetivo de reorganizar a assistncia sade a partir da ateno bsica, prope

    uma atuao voltada para a famlia e a comunidade, por parte de uma equipe bsica

    multidisciplinar2.

    Historicamente h uma reivindicao da categoria de assistentes sociais pela

    ampliao das equipes da SF, visando inserir diferentes profisses, entre elas o Servio

    Social. Embora no conste em sua composio oficial, assistentes sociais vm sendo

    inseridos(as) ou passaram a prestar servio s equipes da estratgia em diferentes locais

    do pas.

    1 Artigo publicado na Revista Servio Social e Sociedade, n 98, julho/2009.

    2 Tal equipe deve ser composta por, no mnimo, um(a) mdico(a) de famlia, um(a) enfermeiro(a), um(a)

    auxiliar de enfermagem e seis agentes comunitrios de sade. Quando ampliada, conta ainda com um(a)

    dentista, um(a) auxiliar de consultrio dentrio (ACD) e um(a) tcnico(a) em higiene dental. Em alguns

    documentos do Ministrio da Sade (BRASIL, 1997) anunciava-se, alm dos(as) profissionais

    citados(as), a possibilidade de insero de outros na composio de tais equipes, embora sem

    financiamento federal.

  • 2

    No corrente ano, com a criao dos Ncleos de Apoio Sade da Famlia3

    (NASF) e a possibilidade de insero da referida profisso nos mesmos, o conjunto

    CFESS/CRESS vem retomando esse debate (VASCONCELOS, 2008). Entretanto,

    verifica-se a ausncia de dados sistematizados sobre a insero do Servio Social na SF

    em mbito nacional ou mesmo regional, o que certamente demanda pesquisas

    aprofundadas sobre a temtica. Neste sentido, o presente artigo se prope a contribuir

    para esse processo, fornecendo subsdios ao debate, mesmo que com aproximaes

    ainda iniciais ao tema. Para tanto, abordamos, num primeiro momento, como vem se

    configurando os modelos de ateno sade no Brasil, destacando a necessidade de

    reverso do modelo hegemnico, no sentido da vigilncia da sade. Em seguida,

    analisamos o significado da Estratgia Sade da Famlia, anunciando suas proposies e

    as crticas a elas formuladas. Num terceiro momento, problematizamos a composio

    das equipes bsicas, defendendo, posteriormente, a necessidade e importncia de

    incluso do Servio Social nas mesmas. Adiante, mapeamos as experincias de

    insero/contribuio do(a) assistente social para a SF, traando, logo aps, algumas

    consideraes a ttulo de concluso.

    1. MODELOS DE ATENO SADE: embates entre projetos polticos

    Inicialmente, importante ponderar que refletir acerca da insero/contribuio

    do Servio Social para a Estratgia Sade da Famlia requer conhecer as configuraes

    da poltica de sade no Brasil, desvelando as correlaes de fora que se estabelecem

    em sua tessitura e na atuao dos(as) diversos(as) profissionais em seu interior.

    Realizando uma breve retrospectiva histrica, pode-se evidenciar que, desde

    meados do sculo XX at os anos 1980, o modelo de ateno sade adotado no Brasil

    era o mdico-assistencial privatista, norteado pelo paradigma flexneriano4, com suas

    aes centradas na doena e organizadas em torno do hospital (MENDES, 1996).

    3 Os NASF foram criados atravs da Portaria n 154, de 25 de janeiro de 2008. Propem um modelo de

    atendimento que rena profissionais de modo transdisciplinar, a fim de construir vnculos teraputicos e

    de responsabilidades entre as equipes de SF e o nvel secundrio, atuando de forma integrada rede de

    servios de sade, a partir das demandas identificadas no trabalho conjunto com as equipes bsicas da SF. 4 Segundo Mendes (Op.Cit), as caractersticas desse paradigma so as seguintes: a) nfase no

    individualismo: o corpo humano concebido como uma mquina, onde a harmonia decorre do pleno

    exerccio entre os rgos; b) Biologismo: considera os aspectos biolgicos do processo de adoecimento,

    excluindo a histria social das doenas; c) Especializao; d) nfase na tecnificao do ato mdico; e)

    Curativismo: os fatores biolgicos das enfermidades seriam o objeto da interveno mdica.

  • 3

    De acordo com o referido autor, a prtica sanitria adotada por esse modelo a

    da ateno mdica, tendo como sujeito central o profissional de medicina,

    caracterizando-se pela nfase na abordagem individual, curativa e por considerar os

    demais profissionais de sade como paramdicos.

    Segundo Paim (1999), esse modelo est voltado para a chamada demanda

    espontnea, reforando a atitude dos indivduos s procurarem os servios de sade

    quando doentes. a presso espontnea e desordenada da demanda que condiciona a

    organizao de recursos para a oferta (Ibid, p.477). Assim, tal proposta tende a no

    reforar a integralidade da ateno nem o compromisso com o impacto do trabalho

    sobre o nvel de sade da populao.

    importante explicitar que, em virtude dessa forma de organizao dos servios

    de sade ser incapaz de alterar os nveis de sade da populao, os servios pblicos

    adotavam o modelo sanitarista, de maneira complementar e subordinada, conforme

    aponta o autor acima referido. Este ltimo modelo corresponde sade pblica

    tradicional e enfrenta os problemas de sade da populao atravs de campanhas

    (vacinao, combate s endemias, etc), programas especiais (sade da criana, sade da

    mulher, aes de controle da tuberculose e hansenase, entre outros) e aes de

    vigilncia epidemiolgica e sanitria. Sua ateno se concentra no controle de

    determinados grupos supostamente em risco de adoecer ou morrer e tem como alvo os

    fatores de risco e de transmisso.

    No Brasil, a partir de meados dos anos 1970 emerge um movimento articulado de

    trabalhadores da sade, usurios e movimentos sociais que questiona o referido modelo5

    e exige mudanas na ateno sade no pas: o Movimento de Reforma Sanitria.

    De acordo com Bravo (2001), este tinha como principais propostas: a concepo

    de sade como direito social e dever do Estado; a defesa da universalizao do acesso; a

    reestruturao do setor atravs da criao do Sistema nico de Sade (SUS); a

    descentralizao do processo decisrio para as esferas estadual e municipal; o

    financiamento efetivo e a democratizao do poder local.

    O Movimento de Reforma Sanitria, ao fazer tais reivindicaes, trazia para o

    cenrio poltico um novo paradigma: o da produo social da sade (MENDES, 1996),

    5 Em nvel mundial, desde os anos 1920 h questionamentos ao modelo mdico-assistencial privatista: o

    relatrio de Watson, em 1920; o Movimento de Medicina Comunitria, na dcada de 1940; a proposta de

    Medicina Familiar, a partir de 1966; e o processo desencadeado com a Conferncia de Alma Ata, em

    1979, que discute a necessidade dos Cuidados Primrios em Sade.

  • 4

    a partir do qual se compreende que o processo sade-doena determinado pelo

    estgio de desenvolvimento do modo de produo adotado, bem como das relaes

    sociais de produo (MIOTO e ROSA, 2007, p.104). Em outras palavras, a sade

    entendida como resultado das formas de organizao social, que podem gerar grandes

    desigualdades nos nveis de vida e, portanto, nas condies coletivas de sade, e tem

    influncia decisiva nos padres de morbi-mortalidade da populao.

    Dessa forma, a adoo do novo paradigma traz em seu bojo um conceito

    positivo de sade (entendida como produto de relaes sociais e no como ausncia de

    doenas) e uma prtica sanitria que supere a lgica da ateno mdica: a vigilncia da

    sade (MENDES, 1996). Esta considerada por Campos (2003, apud MIOTO e ROSA,

    Op.Cit) como um eixo reestruturante da maneira de agir em sade, pois possibilita

    relacionar os mltiplos fatores envolvidos na gnese, no desenvolvimento e na

    perpetuao do processo sade-doena, sejam eles determinantes bio-psico-sociais, os

    riscos ambientais, epidemiolgicos e/ou sanitrios.

    Conforme expresso por Mendes (Op.Cit), a proposta de vigilncia da sade estaria

    baseada na combinao de trs tipos de ao, sendo crescente a sua ordem de

    importncia para a transformao do modelo assistencial: a ateno curativa, a

    preveno de enfermidades e a promoo da sade. A primeira delas voltada para a

    cura ou cuidados das dores dos indivduos e para a reabilitao de seqelas. A segunda

    ao, a preveno das doenas e dos acidentes, pauta-se na observao e planejamento

    de intervenes que busquem antecipar-se aos eventos, agindo sobre problemas

    especficos ou sobre um conjunto deles, de maneira a atingir indivduos ou grupos em

    risco de adoecer ou acidentar. Na terceira ao, a promoo da sade, a partir da

    constatao do papel protagnico dos determinantes gerais sobre as condies de sade,

    procurando-se intervir nestes, objetivando o desenvolvimento de estratgias voltadas

    para a melhoria da qualidade de vida da populao atendida.

    Como se pode depreender do exposto, a vigilncia da sade constituiria a

    proposta de um novo modelo assistencial, com a misso de romper com a lgica do

    modelo mdico-assistencial-privatista:

    Por conseguinte, essa prtica tem de, a um tempo, recompor o fracionamento

    do espao coletivo de expresso da doena na sociedade, articular as

    estratgias de interveno individual e coletiva e atuar sobre os ns crticos

    de um problema de sade, com base em saber interdisciplinar e em um fazer

    intersetorial (MENDES, 1996, p. 243-244).

  • 5

    Em tal proposta, destarte, supera-se a lgica mdico-centrada e se valoriza a

    contribuio de outros profissionais para o impacto nos indicadores sanitrios, bem

    como para a reverso do modelo assistencial, ao mesmo tempo em que se extrapola os

    muros das unidades de sade, ao se destacar a importncia da intersetorialidade.

    Nesta mesma perspectiva, observa-se que a Carta Magna de 1988 incorpora

    demandas do Movimento de Reforma Sanitria e sua proposio de conceito de sade

    ampliado, criando o SUS. Sua regulamentao ocorre atravs da Lei Orgnica da Sade

    (LOS), composta pelas leis 8.080/90 e 8.142/90. Possui como princpios e diretrizes: a

    universalidade, a equidade, a integralidade, a hierarquizao dos servios do setor, a

    descentralizao e o controle social.

    Tendo tais consideraes como horizonte, percebe-se a necessidade de

    profissionais de diversas formaes na ateno sade da populao. Desse modo,

    alguns anos depois da regulamentao do SUS, o Conselho Nacional, atravs da

    Resoluo 218/97, reconhece 13 profisses como desta rea, entre elas o Servio Social.

    Para tanto, pautou-se: na preocupao com a integralidade da ateno e a participao

    social; na importncia da ao interdisciplinar no mbito sanitrio; no reconhecimento

    da importncia das diferentes profisses de nvel superior para o avano no que tange

    concepo de sade (CONSELHO NACIONAL DE SADE, 1997).

    A estruturao do SUS e os marcos legais mencionados se configuram como

    avanos para o setor em tela. Contudo, a implementao do mesmo no acontece de

    forma consensual, passando a ser palco de um embate acirrado entre dois projetos

    antagnicos: o projeto de Reforma Sanitria e o projeto privatista (BRAVO, 2006). O

    primeiro pautado na concepo que advoga a necessidade do Estado atuar de forma

    ampla e democrtica e prope a mudana do modelo de assistncia sade vigente. O

    segundo ganha maior expressividade a partir dos anos 1990 e apregoa o

    redirecionamento do papel do Estado, sob o modelo de ajuste neoliberal6.

    Neste tenso cenrio, o Ministrio da Sade adota, a partir de 1994, o Programa

    Sade da Famlia (PSF), com o discurso de reorganizao do SUS. sobre esta

    proposta que nos debruaremos a seguir.

    6 Isto deveria ser feito atravs da conteno de gastos, da descentralizao dos servios em nvel local e

    da focalizao das polticas sociais para atender s populaes mais vulnerveis atravs de pacotes

    bsicos, desencadeando um processo de mercantilizao de tais polticas, inclusive a da sade.

  • 6

    2. ESTRATGIA SADE DA FAMLIA: proposies e crticas

    O processo de implantao do referido programa iniciou-se em alguns

    municpios e foi sendo ampliado ao longo dos ltimos anos: de experincias pontuais, o

    PSF agora assumido como estratgia Sade da Famlia (SF), estando implantado em

    5.125 municpios do pas, contando com 27.324 equipes e abrangendo 87,7 milhes de

    pessoas da populao brasileira (BRASIL, 2007).

    De acordo com o Ministrio da Sade, a SF busca concretizar os princpios e

    diretrizes do SUS, atravs da reorientao do modelo assistencial a partir da ateno

    bsica, desencadeando a converso do modelo para a vigilncia da sade. Neste sentido,

    a estratgia se constituiria na porta de entrada do SUS, precisando estar articulada

    com os demais nveis de assistncia sude.

    Como o prprio nome anuncia, a SF elege como objeto de sua interveno, a

    famlia e o seu espao social como ncleo bsico de abordagem no atendimento

    sade (BRASIL, 1997, p.10).

    Segundo o Ministrio da Sade (BRASIL, 2007), a estratgia

    operacionalizada mediante a implantao de equipes multiprofissionais em unidades

    bsicas de sade. Essas equipes, conforme composio anteriormente mencionada, so

    responsveis pelo acompanhamento de um nmero definido de famlias (entre 600 e

    1000 famlias, o que equivale a cerca de 3 a 4 mil e 500 pessoas), localizadas em uma

    rea geogrfica delimitada.

    Conforme o citado Ministrio (Ibidem), os(as) profissionais atuam com aes

    de promoo da sade, preveno, recuperao, reabilitao de doenas e agravos mais

    freqentes, e na manuteno da sade da comunidade, se caracterizando tambm

    por estabelecer vnculos de compromisso e de co-responsabilidade com a

    populao; por estimular a organizao das comunidades para exercer o

    controle social das aes e servios de sade; por utilizar sistemas de

    informao para o monitoramento e a tomada de decises; por atuar de

    forma intersetorial, por meio de parcerias estabelecidas com diferentes

    segmentos sociais e institucionais, de forma a intervir em situaes que

    transcendem a especificidade do setor sade e que tm efeitos determinantes

    sobre as condies de vida e sade dos indivduos-famlias-comunidade

    (Ibidem, p. 01).

    Apesar dos avanos obtidos com sua implementao, a SF vem sendo alvo de

    severas ponderaes, nas quais o grande foco o questionamento da contribuio

    efetiva da estratgia para a converso do modelo assistencial. Apesar de serem

  • 7

    diversificadas, deter-nos-emos a apenas duas crticas7 que se fazem estratgia, em

    virtude da impossibilidade de aprofundar essa discusso no presente artigo.

    A primeira emergiu desde o incio da sua implantao no pas, consistindo na

    identificao de suas proposies com exigncias das agncias multilaterais, como o

    FMI e o Banco Mundial, em suas recomendaes de conteno de gastos pblicos.

    Neste sentido, Franco e Merhy (2007, p. 92) afirmam que, no cenrio neoliberal, este

    ltimo, atravs de suas orientaes, tem funcionado como um verdadeiro Ministrio

    da Sade dos pases em desenvolvimento. Segundo tais autores, seguir a agenda do

    Banco Mundial implica desconsiderar a sade como um direito social, de

    responsabilidade do Estado. Assim, este deveria oferecer servios de sade apenas s

    pessoas que no tivessem condies de pagar por seu consumo e as demais deveriam

    ter acesso a eles atravs do mercado.

    Concomitantemente, a SF assumiria um papel de racionalizar gastos, ao

    possibilitar a diminuio do fluxo do atendimento nos outros nveis de ateno. Com a

    priorizao dos recursos na ateno bsica, as demais redes ficariam secundarizadas

    pelo investimento pblico, dificultando a integralidade do cuidado.

    A segunda crtica, que aprofundaremos a seguir, refere-se composio das

    equipes bsicas, polemizando quais categorias profissionais de nvel superior deveriam

    inserir-se nas mesmas para que a SF pudesse efetivamente alcanar os objetivos a que

    se prope.

    2.1. CONSIDERAES SOBRE A COMPOSIO DAS EQUIPES BSICAS

    DA SADE DA FAMLIA: mnima?

    O Ministrio da Sade, desde os primeiros anos da implantao da estratgia,

    garante financiamento para a equipe (anteriormente denominada de) mnima, embora,

    conforme j mencionado, considerasse que outros profissionais poderiam ser

    incorporados s mesmas8 de acordo com as demandas e caractersticas da

    organizao dos servios de sade locais (BRASIL, 1997, p. 13).

    7 Em relao s diversas crticas feitas SF, cf Franco e Merhy (2007); Teixeira (2007); Carneiro (2008),

    entre outros. 8 Chamamos a ateno para o fato de que, nos ltimos documentos do citado Ministrio (cf BRASIL,

    2007) sobre a SF, no se faz mais referncia possibilidade de ampliao das equipes com outros

    profissionais que no os de sade bucal.

  • 8

    Teixeira (2007) faz uma provocativa anlise de tal fato, ao questionar a

    recomendao ministerial em definir uma equipe mnima de profissionais: segundo

    ela, a montagem da equipe de SF deve passar por um processo inverso, isto , pela

    concepo da totalidade e no do mnimo possvel, para conseguir ir alm da ateno

    focal. Isso porque, como sabemos, o Ministrio da Sade assume um discurso de que a

    SF no seria um pacote bsico de sade (BRASIL, Op.Cit) e sim uma estratgia

    estruturante dos sistemas municipais de sade (Idem, 2007, p. 01).

    Partindo desta compreenso, questiona-se a concepo ainda tradicional de

    que o provimento da ateno sade dos usurios restringe-se competncia da

    dupla dinmica de profissionais de nvel superior (de medicina e enfermagem) e os

    demais saberes apenas assumiriam uma posio complementar na ateno, no

    necessitando estar na equipe bsica (CARNEIRO, 2008). Desse modo, fica a

    indagao: a atuao do(a) mdico(a) e enfermeiro(a) suficiente para responder s

    multifacetadas expresses da questo social no mbito da sade e para desenvolver um

    trabalho resolutivo, no sentido de inverso do modelo assistencial? (CARNEIRO;

    VASCONCELOS, 2008).

    Respondendo negativamente a esta indagao, consideramos que se torna

    imprescindvel a insero de outros profissionais no mbito da estratgia SF.

    Concordamos com Mioto e Rosa (2007, p.104), quando afirmam que somente

    profissionais de cunho biologicista no conseguem contemplar todos os aspectos do

    processo sade-doena.

    fato que, nos ltimos anos, diversas categorias profissionais vm demandando

    sua incluso nas equipes bsicas, s vezes por motivos corporativos, tendo em vista a

    expanso do mercado de trabalho e a diferenciao em termos salariais oferecidas na

    SF. Machado (2006), em artigo recente da Revista Radis, menciona que Ruben Arajo

    de Mattos criticou essa postura, perpassada pela disputa de competncias exclusivas.

    Ele exemplificou: para fazer exerccios, profissional de educao fsica; para distribuir

    medicamentos, o farmacutico. Vinte pessoas em cada equipe do PSF... Invivel,

    impossvel" (Ibidem, p.09).

    No tocante composio das equipes bsicas da estratgia, as posies dos(as)

    sanitaristas so bastante heterogneas. Para alguns, alm da problemtica acima

    apontada, haveria o risco de inchao das equipes da SF, ou seja, o receio de que, com

    a incluso de outros profissionais alm dos j existentes, as Unidades Bsicas de SF

  • 9

    (UBSF) se tornem os tradicionais postos de sade e os objetivos da estratgia sejam

    desvirtuados.

    Machado (Ibidem) se volta justamente para a discusso sobre a composio das

    equipes, indagando o tamanho certo da equipe mnima da SF. Na reportagem,

    percebemos duas grandes tendncias entre as pessoas entrevistadas. A primeira afirma

    que no seria necessria a insero de outros profissionais nas equipes bsicas. Nesse

    sentido, a referida autora destaca a fala de Gasto Wagner Campos, quando afirma que

    o Brasil teria a mais sofisticada e ampla equipe de SF, pois na maioria dos pases que

    possuem sistemas nacionais de sade as mesmas so formadas apenas por um mdico

    generalista e um enfermeiro, como em Cuba, Gr-Bretanha e Canad. Para ele, antes de

    se pensar em inserir qualquer outro profissional,

    deve-se ter em mente a prioridade, que a equipe mnima para 70% a 80%

    da populao brasileira, j que Ateno Bsica direito universal. Depois

    haveria a complementao dos apoios matriciais (Ibidem, p.08 grifos

    nossos).

    Dessa forma, o sanitarista citado descarta o mrito da incluso de outros

    profissionais na equipe bsica, priorizando a expanso da quantidade de equipes

    mnimas, cuja atuao deveria ser complementada por equipes de apoio. Tal

    posicionamento traz, no mnimo, duas reflexes. A primeira se refere s realidades

    especficas de cada pas e quantidade de famlias sob responsabilidade de cada equipe,

    j que, no Brasil, o limite chega a ser de 1.000 famlias, enquanto que em Cuba, por

    exemplo, ela responsvel por cerca de 120 a 140 famlias (PERET, 2001). Outro

    aspecto problemtico na argumentao de Gasto Wagner o fato de enfatizar a ateno

    bsica como direito universal, parecendo reforar a idia neoliberal de SF como cesta

    bsica, como mencionamos anteriormente.

    Na mesma linha da argumentao de Gasto Campos, Machado (2006) indica

    que Edmundo Costa Gomes, na poca presidente do Conselho Nacional de Secretrios

    Municipais de Sade (CONASEMS), afirma que o posicionamento desta entidade de

    que a equipe da SF, embora pequena, d conta da estratgia, tendo contribudo

    significativamente para a mudana dos dados epidemiolgicos e, conseqentemente,

    para a qualidade de vida das pessoas integradas ao PSF (Ibidem, p.09 grifos nossos).

    Segundo ele, h necessidade de equipes matriciais para dar suporte s equipes bsicas.

    Nessa fala percebemos importantes elementos para anlise: inquestionvel o

    impacto que a estratgia tem trazido para a sade da populao. Entretanto,

    consideramos que afirmar que a equipe mnima, tal como proposta pelo MS, d

  • 10

    conta dos objetivos aos quais a SF se prope , no mnimo, um equvoco. Afinal, como

    mostram Medina e Aquino (2002, p. 139 grifos nossos), na Sade da Famlia

    ambiciosa a intencionalidade de produzir mudanas. No se trata apenas

    de modificar determinados aspectos do quadro de sade ou da

    organizao dos servios, mas, ao fazer isto, transformar a racionalidade

    dos modelos assistenciais e a lgica de funcionamento dos servios,

    quanto operao de seus componentes, vinculao com a comunidade e

    as relaes com todo o sistema de sade e demais setores.

    Nesse sentido, fica a indagao: a composio das equipes, da forma como est

    posta, vem de fato contribuindo para desencadear o processo de transformao da

    racionalidade do modelo de ateno sade?

    Ainda quanto composio das equipes mnimas, uma segunda tendncia

    sinalizada por Machado (2006) aquela incorporada por Gilson Carvalho: para ele,

    mnima ou no, o que se quer que a Sade da Famlia, como estratgia da ateno

    bsica, resolva os problemas da populao. Assim, ele afirma que todas as profisses

    de sade, com maior ou menor intensidade, tm contribuies a dar aos cuidados

    primrios de sade (Ibidem, p.09). Entretanto, indica que necessrio refletir sobre em

    que momento, em que intensidade, em que tempo e em que lugar novos profissionais

    devem ser inseridos na SF, devendo a resposta estar baseada nos princpios do SUS, de

    forma lgica, cientfica e tica. Segundo ele, a questo mais fundamental saber a

    contribuio a ser dada por cada um dos profissionais ateno primria ao cidado

    (Ibidem, p.09).

    Corroboramos desta posio: em nosso entendimento, para pensar a ampliao

    das equipes da estratgia necessrio partir dos princpios do SUS/SF, levando em

    considerao as necessidades locais, o perfil epidemiolgico da populao para, ento,

    se planejar quais profissionais estariam na equipe bsica e em que proporo, e quais

    deveriam estar em equipes de apoio.

    Dessa forma, nos posicionamos favorveis implantao das equipes

    matriciais ou de apoio. Entretanto, avaliamos que, diante dos objetivos a que se prope

    a SF, uma outra profisso deveria constar nas equipes bsicas: o Servio Social9

    (CARNEIRO; VASCONCELOS, 2008), discusso sobre a qual versaremos no

    prximo tpico.

    9 No estamos aqui a desconsiderar a importncia de outras profisses para a SF, nem questionando as

    articulaes tecidas entre as profisses da rea da sade, das quais o conjunto CFESS/CRESS tem

    participado, visando ampliao das equipes.

  • 11

    3. INSERO DO SERVIO SOCIAL NA ESTRATGIA SADE DA

    FAMLIA: justificando a necessidade de incluso na equipe bsica

    O debate acerca da insero do Servio Social nas equipes bsicas algo

    bastante polmico, sendo alvo de questionamentos e discusses, seja no debate sanitrio

    de maneira geral, como mostra Fontinele Jnior (2003), ou no seio da prpria categoria,

    conforme anuncia Bettiol (2006, p. 13): h um grupo que acredita que o assistente

    social no deve se incorporar s Equipes de Sade da Famlia, pelos aspectos

    contraditrios e mercadolgicos envolvidos [na estratgia]. Diferindo desta postura,

    consideramos que a SF, embora perpassada por traos da poltica neoliberal, conta com

    potencialidades para contribuir com a reverso do modelo assistencial, desde que seja

    feito o enfrentamento poltico necessrio para a defesa dos princpios do SUS.

    Cabe explicar que nossa defesa da insero do Servio Social nas equipes

    bsicas da SF advm da experincia vivenciada no municpio de Campina Grande/PB10

    ,

    onde os(as) profissionais da estratgia, organizados(as) em torno da Associao de

    Profissionais das Sade da Famlia, compreendiam11

    que seria necessria tal incluso.

    Demandava-se a insero de um(a) assistente social para cada duas equipes, baseada nas

    contribuies que este(a) profissional pode trazer para uma estratgia voltada para a

    ateno integral sade.

    Como mostram Teixeira (2007), Bernardino et al (2005) e Silva (1998),

    considerando que o objeto do Servio Social so as mltiplas expresses da questo

    social, a formao terico-metodolgica dos(as) assistentes sociais os habilita a lidar

    com a realidade da classe trabalhadora em seu cotidiano, identificando-os(as) como

    profissionais privilegiados(as) no trabalho social com esta classe, podendo oferecer

    diversas contribuies para a atuao das equipes na SF.

    Reforando este argumento, o CFESS (2008, p. 01) afirma que tal insero se

    amplia a se justifica em funo das novas manifestaes da questo social que

    impem crescentes demandas de ampliao dos servios de sade.

    Verifica-se que, no cotidiano dos servios pblicos de sade, as relaes entre

    sade e iniqidade social se evidenciam: o social impregna diversas das demandas e

    10

    Enquanto assistentes sociais de equipes bsicas e/ou que tiveram estreita aproximao com esta

    experincia. 11

    Esta era a posio hegemnica, pelo menos at meados de 2006, quando a estratgia comea a sofrer

    diversas reviravoltas, em virtude de questes relativas gesto local.

  • 12

    necessidades - vivenciadas pelos(as) usurios(as) - que chegam para os(as) profissionais

    de sade. Entretanto, como denuncia Wiese (2003) a partir de estudo realizado junto a

    equipes da SF, mesmo inseridos(as) em uma nova proposta, os(as) profissionais ainda

    veiculam prticas ligadas ao modelo biomdico, possuindo um conceito restrito de

    social como caso ou problema de difcil soluo12

    .

    Assim, embora haja um espao latente de determinaes sociais que se expressa

    no cotidiano das Unidades de Sade da Famlia, estas nem sempre so percebidas ou

    tratadas enquanto tal: seu reconhecimento pontual e fragmentado13

    . Segundo a referida

    autora, em suas prticas os(as) trabalhadores(as) de sade esto ainda centrados(as) na

    especificidade profissional, atuando a partir delas e no diante de uma demanda

    expressa em sua complexidade que determina que tipo de prtica ser realizado para

    garantir no conjunto das aes e o encaminhamento de uma soluo (WIESE, 2003, p.

    233).

    Constata-se, desse modo, que, embora o SUS e a SF proponham a adoo de

    um conceito ampliado de sade, o modelo biomdico ainda predomina nos servios do

    setor. No que a incluso do Servio Social v sanar essa lacuna: o social no

    exclusivo de nenhuma profisso e no adiantaria ter, na equipe, a responsabilizao

    por essa demanda para um profissional especfico. No entanto, urge avanar de uma

    explicao biomdica da doena para uma interpretao social do processo

    sade/doena: h necessidade de abordar a problemtica de sade como fenmeno

    coletivo e o profissional de Servio Social pode contribuir nesse sentido

    (VASCONCELOS, 2008).

    Esta profisso pode contribuir, principalmente, em um eixo bsico para a

    reverso do modelo assistencial: a promoo da sade. De acordo com Paim (1994,

    apud TEIXEIRA, 1998), a partir desta, organiza-se a ateno de modo a incluir no

    apenas as aes e servios que incidem sobre os efeitos dos problemas (doena,

    incapacidade e morte), mas, sobretudo, aquelas que incidem sobre as causas

    (condies de vida, trabalho e lazer), ou seja, no modo de vida das pessoas e dos

    diversos grupos sociais. As estratgias da promoo da sade buscam, pois, uma

    12

    Esses conceitos foram expressos diante de algumas situaes vivenciadas como: conflito familiar,

    usurios com tuberculose sem adeso ao tratamento, mulher separada com trs filhos e sem renda, famlia

    em precrias condies de higiene, violncia domstica, usurios acamados, negligncia dos filhos, fome

    e drogas (Ibidem, p. 230). 13

    A citada autora destaca que, dentro da equipe bsica proposta pelo Ministrio da Sade, o profissional

    que possui maior vinculao com o social so os(as) ACSs, embora diversas situaes no sejam

    percebidas como demandas sociais e/ou socializadas com o restante da equipe.

  • 13

    abordagem voltada para o controle social e a intersetorialidade. No que tange

    primeira esfera, como evidencia Silva (2002, p.13):

    O Servio Social tem construdo historicamente, na ao voltada para a rea

    de sade, projetos que viabilizam a participao dos/as usurios

    valorizando a informao, a preveno da doena desde os cuidados bsicos

    nfase a ateno primria, compreendo a sade como resultante de

    condies determinadas pelas condies de vida, na perspectiva da

    formao para a cidadania e participao e exerccio do controle social.

    (grifos nossos).

    Quanto intersetorialidade, percebe-se, no cotidiano dos servios de sade, que

    a atuao de Assistentes Sociais tem se voltado para construir a articulao entre os

    diversos setores/polticas sociais, inclusive, conforme demonstra o estudo de Costa

    (2006, p.341):

    Pode-se afirmar que o assistente social se insere, no interior de processo de

    trabalho em sade, como agente de interao ou como um elo orgnico entre

    os diversos nveis do SUS e entre este e as demais polticas sociais setoriais,

    o que nos leva a concluir que o seu principal produto parece ser assegurar

    pelos caminhos os mais tortuosos a integralidade das aes.

    Dentro da proposta da promoo da sade, outra linha de atuao extremamente

    pertinente e para a qual o Servio Social pode contribuir a da educao em sade. Esta

    entendida como um processo educativo baseado no dilogo entre saber cientfico e

    popular, bem como na inter-relao entre profissionais, usurios(as) e organizaes

    sociais, visando o alargamento do cuidado sade a partir dos interesses, do pensar e

    fazer cotidiano da populao (VASCONCELOS, 1997), tendo uma contribuio

    considervel na efetivao da proposta da SF, especialmente no que atine ao

    desenvolvimento de aes de preveno e promoo de sade em conjunto com a

    populao. Sendo o Servio Social uma profisso que tem a dimenso pedaggica como

    um trao constitutivo da sua interveno na realidade, a incluso de assistentes sociais

    na SF

    tende a contribuir para a construo de um projeto interdisciplinar que

    fortalea a educao em sade e o estreitamento das relaes entre

    profissionais e usurios(as), numa abordagem compartilhada do

    enfrentamento das questes que perpassam o processo sade/doena,

    possibilitando o planejamento das aes de sade a partir das necessidades

    expressas pela realidade da populao adscrita (SILVEIRA; SILVA, 2006,

    p.07).

    Mais uma vez, cabe uma ressalva: fazer esta afirmao no significa que o

    controle social, a intersetorialidade ou a educao em sade sejam reas especficas da

    atuao do(a) assistente social. bvio que toda a equipe precisa considerar as

    determinaes sociais do processo sade-doena, envolver-se com prticas

    intersetoriais e educativas, de mobilizao popular, etc. Contudo, o(a) referido(a)

  • 14

    profissional possui competncia para colaborar com sua consecuo e para fortalecer a

    adoo da promoo da sade na rotina dos servios (VASCONCELOS, 2008).

    Por outro lado, se um dos princpios bsicos do SUS/SF a integralidade, por

    que incluir nas equipes bsicas da SF apenas profissionais biomdicos? Que profissional

    tem competncia para dar encaminhamento s diversas demandas sociais que chegam s

    Unidades de Sade, como questes relacionadas aos direitos de grupos especficos, com

    proteo garantida na legislao, como crianas e adolescentes, idosos, portadores de

    necessidades especiais, situaes relacionadas violao dos direitos contra os grupos

    acima mencionados, inclusive a violncia contra a mulher? (Ibidem).

    O(a) assistente social tem tambm importante papel na socializao de

    informaes sobre os direitos sociais, inclusive da seguridade social, bem como na

    busca e ampliao do acesso aos mesmos.

    O reconhecimento de que a sade um conceito integral, que abrange os

    modos de vida, a garantia da qualidade de vida, os direitos sociais, identifica

    o Servio Social no campo de atuao do PSF como rea de excelncia para

    seu trabalho (HOFFMANN, 2007, p.115).

    Nesse sentido, o(a) referido(a) profissional tende a priorizar aes coletivas, sem

    prejuzo das aes individuais, bem como a dinamizar espaos coletivos que favoream

    a universalizao e a ampliao dos direitos sociais (MIOTO; ROSA, 2007).

    Alm disso, constata-se que a formao profissional de Servio Social busca um

    perfil generalista (MIOTO; ROSA, 2007; SILVA, 2002), voltado para uma

    interpretao crtica da realidade, alm do fato da interdisciplinaridade estar presente no

    projeto de formao profissional, conforme pontuam Mioto e Rosa (Op.Cit). Como

    podemos verificar, tais proposies indubitavelmente esto concatenadas com a lgica

    da Estratgia Sade da Famlia.

    Cumpre registrar ainda que, nos ltimos anos, vem sendo construdo pela

    categoria profissional o Projeto tico-Poltico do Servio Social (PEPSS)14

    , que adota

    princpios identificados com os do Movimento de Reforma Sanitria, como se pode

    perceber nas anlises de Bravo (2006).

    Em outras palavras, antenado(a) com o PEPSS e o Movimento de Reforma

    Sanitria, o(a) assistente social pode contribuir para o principal objetivo da SF: a

    14

    O PEPSS, que comea a gestar-se a partir de meados dos anos 1970, no cenrio de lutas pela

    redemocratizao da sociedade brasileira, representa uma crtica sistemtica ao Servio Social

    conservador e aos seus referenciais terico-metodolgicos e ideo-polticos. Nesse sentido, a profisso vai

    se aliar aos diversos movimentos sociais que tm como horizonte a luta/defesa dos direitos das classes

    subalternas e a transformao social.

  • 15

    reverso do modelo assistencial e a efetivao dos princpios do SUS

    (VASCONCELOS, 2008).

    Contudo, diversas justificativas so elaboradas para se opor insero do(a)

    assistente social nas equipes bsicas. Uma delas a questo do no financiamento por

    parte do governo federal, de modo que as despesas relacionadas a sua incluso seria um

    gasto para o municpio. No entanto, partimos do pressuposto de que, longe de se

    constituir apenas em custo, a incluso do Servio Social no cotidiano da SF um

    investimento15

    no social, no trabalho de preveno e promoo, na educao em

    sade, na defesa dos direitos dos usurios do SUS, dos direitos de grupos especficos,

    como crianas e adolescentes, idosos, portadores de necessidades especiais.

    Em alguns debates sobre a temtica, evidenciam-se argumentos que apontam

    para a limitao da atuao do(a) assistente social poltica de assistncia social, como

    se a profisso se restringisse a esta poltica16

    . A partir da, delineia-se a idia de que,

    com a implantao do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), no seria

    necessria a insero do Servio Social na SF, j que poderia gerar um paralelismo de

    aes. Alguns gestores vm utilizando tal argumentao para justificar a no insero de

    assistentes sociais at mesmo nos NASF. Consideramos esta concepo bastante

    limitada, pois embora o(a) assistente social v desenvolver aes comuns com as

    executadas na poltica de assistncia (como encaminhamentos, articulaes

    intersetoriais, etc), sua atuao na SF possui aes e contribuies especficas as quais,

    apenas estando na composio das equipes bsicas, conhecendo a dinmica destas e das

    comunidades adscritas, pode desenvolver.

    Assim, aps problematizarmos os argumentos contrrios e a favor da incluso do

    Servio Social nas equipes bsicas da SF, passaremos a situar um movimento que vem

    se delineando no seio da categoria visando incluir a profisso nas equipes bsicas da SF,

    bem como a mapear as diferentes modalidades atravs das quais assistentes sociais, em

    vrios municpios do pas, vm contribuindo com a efetivao da estratgia.

    15

    Este posicionamento no se refere apenas ao municpio, que tenderia a arcar com o nus de uma

    insero desse tipo, mas ao prprio Governo Federal que, em nossa concepo, deveria incluir a profisso

    nas equipes bsicas. 16

    Bettiol (2006, p.16) encontrou tal postura na pesquisa que realizou, quando entrevistados sinalizaram

    que o assistente social seria um mediador entre a sade e a Assistncia Social. Portanto, no o reconhece

    como um profissional de sade, o que resulta numa tica fragmentada das aes profissionais.

  • 16

    4. O ESTADO DA ARTE DA INSERO DO SERVIO SOCIAL NA

    ESTRATGIA SADE DA FAMLIA

    Buscando resgatar tal processo, ainda pouco sistematizado, percebemos que

    documento elaborado pelo CFESS na gesto 1999-2000, contido no Relatrio do

    Seminrio Estadual A Insero do Assistente Social no Programa de Sade da Famlia

    PSF, realizado em Belo Horizonte, em 2002, j se evidenciava a reivindicao da

    categoria pela insero nas equipes:

    Colocamo-nos em defesa da ampliao da equipe de sade, assegurando,

    institucionalmente, a insero de diferentes profissionais de sade, entre eles

    o assistente social, cuja trajetria histrica tem contribudo

    significativamente para a democratizao do acesso e universalizao dos

    servios de sade (CFESS, s/d; p.28).

    De acordo com este ltimo, considervel o contingente de assistentes sociais

    atuando junto estratgia, seja na superviso e coordenao das aes, seja na ateno

    aos grupos populacionais, como tambm mostram Diniz e Prola (s/d). Nesse sentido,

    conforme mostra documento do CFESS (2008), o Servio Social considerado, depois

    de Medicina, Enfermagem e Odontologia, o maior contingente profissional de nvel

    superior na composio das equipes da SF, segundo dados do Ministrio da Sade.

    A incluso da profisso nas equipes bsicas se constitui em uma das demandas

    da categoria em nvel nacional, que aparece em diversos fruns, a exemplo das

    deliberaes do XXXI Encontro Nacional CFESS/CRESS (2002), que coloca como

    bandeira de luta a Incluso do assistente social na equipe mnima do Programa de

    Sade da Famlia (PSF), considerando-se a efetividade do conceito ampliado de sade e

    os princpios do SUS17

    . Esta requisio aparece tambm na Agenda Poltica do XI

    CBAS (2004), quando afirma a necessidade de ampliar a mobilizao dos rgos de

    representao da categoria no intuito de lutar pela insero oficial do Assistente Social

    na SF. Evento elaborado pelo CRESS 6 regio em 2002 teve como tema a referida

    incluso. Em 2006, a Federao Nacional de Assistentes Sociais (FENAS) assumiu

    como bandeira de luta inserir os(as) assistentes sociais na equipe mnima da SF. Em

    2007 e 2008, aparecem, nos relatrios finais dos Encontros Nacionais CFESS/CRESS,

    deliberaes no sentido de promover articulaes, junto s trs esferas de governos, bem

    como s instncias de controle social e ao Frum das Entidades Nacionais dos

    17

    Disponvel em http://www.cfess.org.br/pdf/agenda_xxxicfesscress.pdf, acesso em 25/05/2008.

    http://www.cfess.org.br/pdf/agenda_xxxicfesscress.pdf

  • 17

    Trabalhadores da rea de sade (FENTAS), no sentido de reivindicar a insero do

    Servio Social nas equipes da SF definidas pelo Ministrio da Sade e, no documento

    de 2008, para incluso nos NASF.

    Vale destacar que a atual gesto do conjunto CFESS/CRESS est buscando

    aprofundar esta discusso junto categoria, defendendo a ampliao das equipes de

    Sade da Famlia de forma a assegurar, institucionalmente, a insero de diferentes

    profissionais de sade, dentre os/as quais o/a assistente social (CFESS, 2008, p.01).

    De acordo com Mioto e Rosa (2007), a Estratgia Sade da Famlia vem se

    constituindo atualmente um novo campo de trabalho do(a) assistente social: sua

    insero se d principalmente atravs de projetos de extenso das Universidades,

    campos de estgio, superviso acadmica e especializao profissional (Ibidem,

    p.107). Na pesquisa que empreendemos, no tivemos acesso a material que tratasse das

    trs primeiras formas citadas pelas autoras. Entretanto, pudemos identificar basicamente

    quatro (4) tipos de insero/contribuio do Servio Social SF: 1) profissionais

    lotados(as) em outras Secretarias que prestam servio na estratgia; 2) assistentes

    sociais inseridos(as) em equipes bsicas; 3) assistentes sociais inseridos(as) em

    Residncias Multiprofissionais em Sade da Famlia; e 4) assistentes sociais partcipes

    de equipes de apoio ou de superviso em SF. Vejamos como se processa cada uma

    dessas maneiras de insero.

    A primeira delas se refere realidade de diversos municpios, a exemplo de

    Jacu/MG (PRADO; SARRETA, 2006) e daqueles estudados por Hoffmann (2007) na

    regio norte do estado do Rio Grande do Sul: neles, os(as) assistentes sociais esto

    indiretamente envolvidos(as) com a SF. Ou seja, lotados(as) nas Secretarias Municipais

    de Sade e/ou Assistncia Social, prestam servio s equipes de SF. Como mostra a

    ltima autora citada, essa insero ocorre de forma indireta e espordica, com reduzida

    carga horria disponvel para a SF, num contexto de demanda intensa e diversificada,

    com pouco espao para qualificar esse trabalho, fatores que acabam comprometendo a

    qualidade da interveno profissional. Possivelmente em decorrncia disso, a autora

    demonstra que as profissionais entrevistadas no tinham conhecimento acerca da

    poltica de sade e do prprio Movimento de Reforma Sanitria. Desse modo,

    Em virtude da falta de investimentos financeiros na rea da sade para

    contratao de profissionais da rea de Servio Social, acaba-se gerando

    uma elevada demanda para essas profissionais que atuam nas secretarias

    municipais de Assistncia Social, na medida em que precisam desdobrar-se

    em duas ou mais secretarias municipais [...]. Configura-se, assim, trabalho

    precarizado, comprometendo a qualidade dos servios prestados, sem

  • 18

    continuidade e realizando tarefas de apagar incndio, quando surgem

    casos e so solicitadas (HOFFMANN, 2007; p.79).

    Um segundo modo de insero, que encontramos nos municpios de Campina

    Grande/PB (BERNARDINO et al, 2005) e Aracaju/SE (TAVARES; OLIVA, 2004),

    iniciou-se da mesma forma que anteriormente mencionado: a requisio para inserir o

    Servio Social nas equipes bsicas aconteceu a partir de experincias nas quais

    assistentes sociais (lotados(as) em Secretarias Municipais como a de Sade ou

    Assistncia Social) foram disponibilizados(as) para dar suporte ao trabalho das equipes

    da SF. Nesse contexto, os(as) profissionais iniciaram um processo de articulao com

    atores locais, numa luta - em parceria com o CRESS e outros segmentos da sociedade -

    para que tal incluso ocorresse de maneira oficial. Em ambos os casos, em gestes

    municipais do Partido dos Trabalhadores (PT), conseguem resposta positiva s suas

    reivindicaes, o que ocorreu em Aracaju no ano de 1998 e em Campina Grande em

    200318

    .

    Dentre as situaes de incluso do Servio Social nas equipes bsicas da SF, foi

    possvel encontrar experincias temporrias que se resumem ao acompanhamento

    circunstancial das mesmas, como em Santa F do Sul/SP (BETTIOL, 2006). Ali, como

    mostra a referida autora, diante da constatao de que havia lacunas em termos dos

    impactos do trabalho de uma das equipes (aps avaliao da Diretoria do Escritrio

    regional de Sade), foi identificado que o n metodolgico estava no trabalho com a

    comunidade, que necessitava de um(a) assistente social para reorganizar o trabalho

    popular (Ibidem, p.20). Assim, a gesto municipal decidiu inserir o Servio Social na

    mesma19

    por determinado perodo, visando contribuir para a superao do problema,

    mas, findo o tempo previsto (perodo de abril de 2000 a junho de 2001), a assistente

    social foi desvinculada da SF.

    Um terceiro tipo de incluso seria atravs das Residncias Multiprofissionais em

    Sade da Famlia. Por meio destas,

    o Ministrio da Sade prope o desenvolvimento de novas prticas

    pedaggicas atravs de uma educao permanente e a criao e ampliao

    de programas de Residncia integrados em Sade da Famlia, cujo objetivo

    18

    Magalhes et al (2006) sinalizam que, no municpio de Hortolndia (SP), h assistentes sociais

    inseridos(as) nas equipes bsicas, mas no dispusemos de informaes mais detalhadas sobre tal

    experincia. 19

    Nesse processo, como mostra a autora, houve alguns impasses, entre eles o fato da gesto no debater

    com as equipes a insero do(a) profissional, gerando questionamentos sobre o papel que este(a) iria

    desempenhar, o que levou insinuao, por parte de alguns profissionais, se ele(a) no seria, de fato, um

    espio da gesto. No entanto, Bettiol (Op.Cit) menciona que houve a legitimao do Servio Social,

    seja por parte da gesto, seja pelo restante da equipe.

  • 19

    central consiste na formao de profissionais de sade para desempenharem

    suas atividades profissionais em unidades bsicas de sade sob a lgica da

    Estratgia Sade da Famlia, atravs de aes de abordagem coletiva e

    clnica individual (MIOTO; ROSA, 2007, p.22).

    Os referidos cursos comearam a ser implantados no pas a partir de 2002,

    agregando todas as profisses da rea da sade. Na tentativa de mapear as Residncias

    em Sade da Famlia (e Comunidade, como algumas so denominadas) que possibilitam

    a insero do(a) assistente social, constatamos que, das dezenove (19) experincias em

    curso no ano de 2006, quatorze (14)20

    contam com assistentes sociais (BRASIL, 2006).

    Na organizao de tais Residncias, que objetiva a formao em servio, h

    necessidade de preceptores de campo e acadmicos. Pelo que pudemos perceber,

    embora na maioria dos municpios no haja assistentes sociais nas equipes bsicas, so

    os(as) profissionais da rede de servios que vm atuando como preceptorres(as) de

    campo.

    Analisando essas experincias, Polo e Pastor (s/d) indicam que, a partir dessa

    experincia, h a possibilidade do(a) assistente social atuar junto com os(as) demais

    profissionais que j compem as ESF, renovando a possibilidade de insero do Servio

    Social na SF, pleiteada h anos pela categoria.

    Apesar da riqueza na qual vem se constituindo a supracitada experincia, as

    mencionadas autoras indicam que os(as) assistentes sociais dos servios de sade

    constatam que a qualidade do trabalho realizado in loco supera a dos atendimentos

    tradicionais, realizados dentro das instituies (Ibidem, p.08).

    Uma quarta forma de contribuio do Servio Social para a Sade da Famlia se

    refere realidade vivenciada em alguns municpios, onde h assistentes sociais

    inseridos(as) em equipes responsveis pela cobertura de diversas equipes bsicas de SF.

    Tambm a ocorre uma variedade de situaes, abrangendo desde as equipes de apoio,

    matriciais, de superviso, grupos de trabalho e os NASF.

    Podemos destacar, por exemplo, a realidade do municpio do Rio de Janeiro,

    como mostram Silva e Diniz (s/d): com a implantao das Equipes de SF, foi criado o

    Grupo de Apoio Tcnico (GAT), que formado por diferentes categorias profissionais,

    entre elas o Servio Social. Estes profissionais prestam superviso s equipes de Sade

    20

    Os municpios que contam com Assistentes Sociais na Residncia em Sade da Famlia so:

    Palmas/TO, Sobral/CE, Salvador/BA (UNEB e UFBA), Aracaju/SE, Marlia/SP, So Paulo/SP, So

    Carlos/SP, Rio de Janeiro/RJ, Juiz de Fora/MG, Londrina/PR, Blumenau/SC, Florianpolis/SC e

    Lages/SC (BRASIL, 2006).

  • 20

    da Famlia, acompanham o processo de implantao da estratgia e tambm atuam

    como especialistas (Ibidem, p. 17).

    J na experincia de Niteri, onde funciona o Programa Mdico de Famlia, um

    dos precursores da SF no Brasil, o Servio Social est inserido na composio dos

    grupos de trabalho. De acordo com Silva (1998, p.71),

    Os supervisores contemplam as aes da equipe bsica. Compem equipe

    multidisciplinar, responsvel pela capacitao permanente dos profissionais

    em campo e objetiva garantir a resolutividade dos mdicos e auxiliares sobre

    os problemas diagnosticados, alm de acompanhar as alteraes nos

    indicadores de qualidade dos servios e seus resultados. [...] As equipes

    bsicas e seus respectivos supervisores formam o Grupo Bsico de Trabalho.

    Este possui um coordenador responsvel por agrupar os resultados, avaliar o

    andamento dos trabalhos das equipes procurando, em conjunto, corrigir as

    distores, alm de intermediar as relaes entre o Grupo e as instncias

    superiores (Grifos da autora).

    Tratando da mesma realidade, Brotto (2000) sinaliza que os(as) assistentes

    sociais no atuam diretamente com usurios, embora s vezes realizem interconsultas,

    promovam cursos de qualificao para lderes comunitrios; realizem reunies setoriais.

    Possuem atribuies relacionadas gerncia, colaborando nas questes

    administrativas, de capacitao, de resolutividade das aes (Ibidem, p.83). Na

    pesquisa que desenvolveu, o referido autor afirma que os(as) profissionais do programa

    assinalam a importncia do papel do Servio Social na conduo/encaminhamento dos

    trabalhos, fazendo com que no ocorra a mera priorizao de aes curativas

    (BROTTO, 2000).

    Outra forma, que est em processo inicial de implantao21

    , a incluso de

    assistentes sociais nas equipes dos NASF, nas experincias que comeam a acontecer

    em diversos locais do pas, como em Tocantinpolis/TO, Joo Pessoa/PB, Natal/RN,

    Jacinto e So Joo Del Rei/MG, Camb, Castro, Ibipor, Rolndia/PR, entre outros.

    Mesmo que seja uma experincia ainda incipiente, teceremos aqui algumas

    consideraes sobre os NASF. Primeiramente cumpre indicar que, embora defendendo

    como mais adequada a insero do Servio Social nas equipes bsicas da SF, no d,

    evidentemente, para negar a importncia desse espao e deixar de lutar pela incluso

    dos(as) assistentes sociais nas equipes destes ncleos, j que, em alguns municpios, a

    exemplo daqueles situados na regio do 3 Ncleo Regional da Paraba, isso no vem

    21 Antecedendo o processo de implantao dos NASF, identificamos a experincia de Sobral/CE, onde

    foram criados Ncleos de Ateno Integral Sade da Famlia (NAISF), em 2005, nos quais foram

    inseridos assistentes sociais.

  • 21

    acontecendo, com a justificativa de que j existem assistentes sociais na Secretaria de

    Assistncia ou mesmo na Secretaria de Sade.

    Por outro lado, nos locais onde est ocorrendo a incluso do Servio Social nos

    referidos ncleos, preciso avaliar que rumo possvel dar atuao. Vm tona as

    seguintes indagaes: em meio elasticidade da quantidade de equipes que os

    municpios podem colocar sob a responsabilidade do NASF (sendo que cada equipe da

    SF atende de 600 a 1000 famlias), os(as) profissionais podero se dedicar efetivamente

    s aes voltadas para a preveno e promoo da sade, do controle social e da

    intersetorialidade? possvel um trabalho em consonncia com o projeto tico-poltico

    ou corre-se o risco de reproduzir aes imediatistas, paliativas, conservadoras, as quais

    no contribuem para a reverso do modelo assistencial e para a materializao do

    Projeto tico-Poltico do Servio Social? Diante destas indagaes, preciso reflexo e

    posicionamento coletivo da categoria sobre como sua insero pode acontecer e que

    estratgias podem ser construdas para fortalecer a efetivao dos princpios do SUS.

    ALGUMAS CONSIDERAES FINAIS

    Conforme demonstramos ao longo desse artigo, apesar de na maioria dos

    municpios no haver uma insero formal do Servio Social nas equipes bsicas,

    diversos(as) assistentes sociais vm fazendo Sade da Famlia: em projetos de

    estgio ou de extenso, nas equipes bsicas, nas Residncias em SF, prestando servio,

    em equipes matriciais ou de apoio, em momentos pontuais. Embora muitos(as) sem

    reconhecimento oficial, carga horria de trabalho ou remunerao especfica para este

    trabalho, o fato de existir essa profuso de profissionais que esto prestando servio ou

    diretamente inseridos nas equipes bsicas ou de apoio certamente traz para o debate a

    necessidade que as equipes sentem em relao esta insero (VASCONCELOS,

    2008).

    Constatamos que h uma grande complexidade nas contribuies tecidas por

    assistentes sociais para a estratgia Sade da Famlia, mas, em linhas gerais, a atuao

    profissional na estratgia tem se voltado para a preveno e promoo da sade; o

    incentivo intersetorialidade; o estmulo ao controle social e organizao e

    mobilizao da comunidade; a educao em sade; o desenvolvimento de atividades

  • 22

    voltadas para a divulgao e defesa dos direitos sociais (BERNARDINO et al, 2004;

    CANUTO et al, 2004; TAVARES; OLIVA, 2004).

    Diante da realidade multifacetada de contribuies do Servio Social para a SF,

    fica evidenciada a necessidade de investimento em pesquisas, de sistematizao de

    experincias, de construo de estratgias coletivas para acompanhamento, avaliao e

    discusso da implantao da SF e da atuao de assistentes sociais na mesma.

    Mais do que isso, porm, preciso que a categoria estudantes, profissionais

    da ponta, docentes avalie e amadurea a discusso sobre as contribuies da

    profisso para a estratgia (VASCONCELOS, 2008). Os debates do GT Servio

    Social na Sade do CFESS, em 2008, trazem alguns indicativo em relao a esse

    debate: sugerem que os(as) Assistentes Sociais devem ter uma dupla insero na

    Sade da Famlia: tanto na composio das equipes definidas como mnimas ou

    bsicas, como nos NASF, com atribuies diferenciadas. Na SF, devem se voltar

    para o desenvolvimento de aes scio-educativas; no NASF, devem atuar na

    capacitao de profissionais, no planejamento estratgico das aes e na assessoria s

    equipes da Sade da Famlia.

    Urge a articulao de um movimento em defesa da incluso de assistentes

    sociais nas equipes bsicas e nos NASF (observadas as ponderaes anteriormente

    referidas). Conforme pontua documento do CRESS 6 regio (2002, p.07),

    Com relao insero do Assistente Social [na SF], faz-se necessria uma

    grande articulao em vrias direes: governos municipais, estaduais e

    federal, legislativo, comunidade, outros profissionais envolvidos no

    programa.

    importante, tambm, que a categoria no fique preocupada apenas com as

    possibilidades de insero nas equipes, mas com a forma como essa incluso vai se

    operar e com os desafios em termos do projeto profissional que vai ser adotado.

    Evidenciamos aqui a necessidade de uma formao para as assistentes sociais que

    esto se inserindo nas equipes bsicas e nos NASF, bem como de um suporte, por

    parte da universidade e do conjunto CFESS/CRESS, para estes(as) profissionais

    (VASCONCELOS, 2008).

    Enfim, consideramos que avaliar e discutir a configurao da SF e o processo de

    insero de assistentes sociais na estratgia em destaque , no momento atual, um

    debate imprescindvel que a categoria precisa enfrentar.

    ABSTRACT

  • 23

    The article in screen proposes to collaborate for the debate concerning the contribution

    of the Social Works in the Strategy Health of Family (SF). It points elements

    concerning the composition of the basic teams and the importance of the inclusion of

    the Social Service in the SF. It presents a mapping about the different forms as come

    contributing for making Health of the Family.

    Key Words: Strategy Health of the Family; teams of Health of the Family; Social

    service.

    BIBLIOGRAFIA

    BERNARDINO, F. E. et al. O cotidiano profissional do assistente social no Programa

    Sade da Famlia em Campina Grande. Revista Katlysis, fascculo nmero 2, volume

    8, de julho a dezembro de 2005.

    BETTIOL, L. M. Sade e participao popular em questo: o Programa Sade da

    Famlia. So Paulo: UNESP, 2006.

    BRASIL. Ministrio da Sade. Sade da Famlia: uma estratgia para reorientao do

    modelo assistencial. Braslia, 1997.

    _______. Ateno Bsica e a Sade da Famlia. Disponvel em:

    . Acesso em: 10/02/2007.

    _______. Residncia Multiprofissional em Sade: experincias, avanos e desafios.

    Braslia/DF: Ministrio da Sade, 2006 (Srie B. Textos Bsicos em Sade).

    BRAVO, M. I. de S. Poltica de Sade no Brasil. In: Servio Social e Sade: formao

    e trabalho profissional. So Paulo: Cortez, 2006.

    _______________. A poltica de sade no Brasil: trajetria histrica. In: BRAVO, M. I.

    de S.; MATOS, M. C. de; ARAJO, P. S. X. (orgs). Capacitao para Conselheiros

    de Sade: textos de apoio. Rio de Janeiro: DEPEXT/NAPE, 2001.

    BROTTO, M. E. Recursos Humanos em Sade: estratgias em implementao no

    municpio de Niteri na viso dos assistentes sociais. 2000. Dissertao. (Mestrado em

    Servio Social). Pontifcia Universidade Catlica: Rio de Janeiro/RJ, 2000.

    CANUTO, O. et al (2004). A insero do Servio Social na Estratgia Sade da Famlia

    em Sobral-CE. Revista Sanare. Sobral, CE. Ano V, n.1, 2004.

    CARNEIRO, T. S. Discutindo a Estratgia Sade da Famlia em Campina

    Grande/PB: um neo-PSF s avessas? 2008. Monografia (Graduao em Servio

    Social). Universidade Estadual da Paraba, Campina Grande/PB.

    _______; VASCONCELOS, K. E. L. S se faz Sade da Famlia com mdico e

    enfermeiro? Consideraes sobre a composio das equipes bsicas. Anais da 19

    Conferncia Mundial de Servio Social. Salvador/BA, 2008.

    CONSELHO FEDERAL DE SERVIO SOCIAL. Assistente social trabalhador da

    sade: em defesa da ampliao da equipe Sade da Famlia. CRESS 6 regio.

    http://dtr2004.saude.gov.br/dab/abnumeros.php#numeros

  • 24

    Relatrio do Seminrio Estadual A insero do assistente social no Programa

    Sade da Famlia PSF. S/d. Disponvel em

    . Acesso em 15/05/2008.

    ____________________________________________. Em defesa do Servio Social na

    Sade da Famlia. III Mostra Nacional de Produo em Sade da Famlia. Braslia,

    agosto/2008.

    CONSELHO REGIONAL DE SERVIO SOCIAL. Relatrio do Seminrio Estadual

    A Insero do assistente social no PSF, realizado em 2002. Disponvel em

    . Acesso em 15/05/2008.

    CONSELHO NACIONAL DE SADE. Resoluo N 218/1997. Braslia, 1997.

    COSTA, M. D. H. O trabalho nos servios de sade e a insero dos(as) assistentes

    sociais. In: Servio Social e Sade: formao e trabalho profissional. So Paulo:

    Cortez, 2006.

    DINIZ, M. de L. F. de; PROLA, M. A. da C. A insero do assistente social em uma

    nova prtica de organizao da sade: Programa Sade da Famlia. CFESS, (s/d).

    Mimeo.

    FONTINELE JNIOR, K. O assistente social como membro da equipe. Programa

    Sade da Famlia (PSF) Comentado. Goinia: AB, 2003 (Coleo Curso de

    Enfermagem).

    FRANCO, T. B.; MERHY, E. E. Programa de Sade da Famlia (PSF): contradies de

    um programa destinado mudana do modelo tecnoassistencial. In: O trabalho em

    sade: olhando e experienciando o SUS no cotidiano. So Paulo: HUCITEC, 2007, p.

    55-124.

    HOFFMANN, E. O trabalho das assistentes sociais no PSF na regio norte do

    estado do Rio Grande do Sul. 2007. Dissertao (Mestrado em Servio Social).

    Pontifcia Universidade Catlica, Porto Alegre/RS.

    MACHADO, K. Equipe mnima, dilemas e respostas. Revista Radis N 51, Nov. 2006.

    Disponvel em . Acesso em 15/05/2008.

    MAGALHES, R.A. et al. A prtica do assistente social inserido no Programa Sade

    da Famlia. Anais do III Congresso Nacional de Servio Social em Sade. Ribeiro

    Preto/SP, 2006.

    MEDINA, M. G.; AQUINO, R. Avaliando o Programa Sade da Famlia. In.: SOUSA,

    M. F. de. Sinais vermelhos do PSF. So Paulo: HUCITEC, 2002.

    MENDES, E. V. Uma agenda para a sade. So Paulo: HUCITEC, 1996.

    MIOTO, R. C. T.; ROSA, F. N. Processo de construo do espao profissional do

    assistente social em contexto multiprofissional: um estudo sobre o Servio Social na

    http://www.cress.mg.org.br/textos/relatorio_psf%20.1.pdfhttp://www.cress.mg.org.br/textos/relatorio_psf%20.1.pdfhttp://www.ensp.fiocruz.br/radis

  • 25

    estratgia Sade da Famlia. 2007. Relatrio de Pesquisa de Iniciao Cientfica.

    UFSC, Florianpolis.

    PAIM, J. S. Polticas de Sade no Brasil. In: Epidemiologia e Sade. Rio de Janeiro:

    Editora MEDSI, 1999.

    PRET, T. C. O Programa Sade da Famlia: questes e perspectivas. A experincia

    desenvolvida no municpio de Campina Grande 1994- 1999. Dissertao (Mestrado

    em Servio Social) - Pontifica Universidade Catlica PUC, Rio de Janeiro/RJ, 2001.

    POLO, V. C. O; PASTOR, M. O Servio Social na Residncia Multiprofissional em

    Sade. s/d. Disponvel em . Acesso em

    24/05/08.

    PRADO, R. A; SARRETA, F. O. A contribuio do Servio Social no Programa de

    Sade da Famlia: um estudo no municpio de Jacu/MG. Anais do III Congresso

    Nacional de Servio Social em Sade. Ribeiro Preto/SP, 2006.

    SILVA, N. de M; DINIZ, V. da C. O Servio Social na Estratgia Sade da Famlia.

    Cadernos de Assistncia Social 4. Escola Carioca de Gestores da Assistncia Social,

    s/d. Disponvel em . Acesso em 30/06/08.

    SILVA, N. B. da. Programa Sade da Famlia: uma estratgia e/ou novo modelo de

    Assistncia Sade. Relatrio do Seminrio Estadual A insero do assistente

    social no Programa Sade da Famlia PSF. Belo Horizonte, 2002. Disponvel em

    . Acesso em 30/06/08.

    SILVA, M. A. D. O programa Mdico de Famlia como estratgia de um novo

    modelo assistencial: a experincia do municpio de Niteri. 1998. Monografia (Curso

    de Especializao em Servio Social e Sade). Universidade do Estado do Rio de

    Janeiro, Rio de Janeiro/RJ.

    SILVEIRA, S.A.S.; SILVA, K. M. P. da. A prtica do(a) assistente social no mbito

    da educao em sade no Programa Sade da Famlia de Campina Grande/PB. 2006. Relatrio de Pesquisa de Iniciao Cientfica. UEPB, Campina Grande.

    TAVARES, M. C; OLIVA, M. G. A. de. A trajetria dos Assistentes Sociais no PSF em

    Aracaju: da conquista na insero das equipes de Sade da Famlia luta pela garantia

    da insero enquanto poltica. Anais do XI Congresso Brasileiro de Assistentes

    Sociais (CD Rom). Fortaleza, 2004.

    TEIXEIRA, M. J. de O. O Programa de Sade da Famlia, o Servio Social e o Canto

    do Rouxinol. In: BRAVO, M. I. S.; PEREIRA, P. A. Poltica Social e Democracia. So

    Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2007.

    TEIXEIRA, C. F. Promoo e Vigilncia da sade no contexto de regionalizao da

    assistncia sade no SUS. Seminrio Sade e desigualdades: instituies e polticas

    pblicas no sculo XXI. ENSP/FIOCRUZ, novembro de 2001.

    http://ssrevista.uel.br/c-v9n1_vania.htmhttp://www.rio.rj.gov.br/smas/ecgvolume4.pdfhttp://www.cress.mg.org.br/textos/relatorio_psf%20.1.pdf

  • 26

    VASCONCELOS, E.M. Educao popular nos servios e sade. 3 ed. So Paulo:

    Hucitec, 1997.

    VASCONCELOS, K.E.L. Consideraes sobre a insero do Servio Social na

    Estratgia Sade da Famlia e nos NASF. Campina Grande, 2008 (mimeo).

    WIESE, M.L. A categoria social no mbito das prticas profissionais no Programa

    Sade da Famlia no municpio de Blumenau. 2003. Dissertao (Mestrado em

    Servio Social) Faculdade de Servio Social, Universidade Federal de Santa Catarina,

    Florianpolis.