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1 Sete Cabeças Texto e Músicas: Bruno W. Medsta Histórico do espetáculo “Sete Cabeças” foi encenado por alunos das oficinas do Grupo Código no ano de 2007 e 2008 no Espaço Cultural Código Em 2009, o grupo apresentou o espetáculo dentro do IX Encontrarte, Festival de Teatro da Baixada Fluminense. Em 2010, apresentou-se com uma versão reduzida do texto no SESC de Nova Iguaçu dentro do evento: Teia Baixada 2010 Territórios Culturais. Em 2011, participou do “Colisão teatral” no Espaço Cultural Syl vio Monteiro em Nova Iguaçu. E agora o texto é encenado com atores da Cia Código de Artes Cênicas e alunos das oficinas de teatro.

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Sete

Cabeças

Texto e Músicas: Bruno W. Medsta

Histórico do espetáculo “Sete Cabeças” foi encenado por alunos das oficinas do Grupo Código no ano de 2007 e 2008 no Espaço Cultural Código Em 2009, o grupo apresentou o espetáculo dentro do IX Encontrarte, Festival de Teatro da Baixada Fluminense. Em 2010, apresentou-se com uma versão reduzida do texto no SESC de Nova Iguaçu dentro do evento: Teia Baixada 2010 Territórios Culturais. Em 2011, participou do “Colisão teatral” no Espaço Cultural Sylvio Monteiro em Nova Iguaçu. E agora o texto é encenado com atores da Cia Código de Artes Cênicas e alunos das oficinas de teatro.

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Personagens:

Você

Um ser em crises com suas atitudes, parando sua vida para revê-las.

O cão O mascote de “Você”

Avareza

Gula

Inveja

Íra

Luxúria

Preguiça

Vaidade

Sombra

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Cena I

Musica de fundo Entra Você com e para no centro do palco e ao fundo, do seu lado direito, a sombra de um escritor sentado e do seu lado esquerdo um foco de luz forte e branca. Ele para no centro do palco, olha para a sombra e para a luz e começa a escrever. VOCÊ – “A realização de grandes feitos e o dizer de grandes palavras não deixarão qualquer vestígio, qualquer produto que possa perdurar depois que passa o momento da ação e da palavra falada.” - Hannah Arendt. Por isso, escrevo. Me redimo de cousas que fiz. A alegria tenta entrar em meu rosto... Perdão por não ter me apresentado. Podem me chamar de “Você.” Apenas você. Querem? (Oferecendo uma fruta) Foi num dia que não sei qual, num tempo que não sei qual. Meus amigos. É, alguns de meus amigos, foram representativos, idênticos aos outros, idênticos, porem um pouco mais inteligentes em certo ponto e muito complicados em outros. Eu nunca tinha os visto daquela forma. Toda ciência e sabedoria, astúcia que foi dada a eles também. Nunca tinha os visto daquela forma. Não sabia que eram mais difíceis de entender do que os outros. Bom, foi assim que eu os percebi, os conheci de verdade. Eu acho? (Sorri) Vi dois deles sentados à sua esquerda e um à minha esquerda. E um deles disse: AVAREZA – Vai! É a sua vez. GULA e VOCÊ – Calma! Estou avaliando o jogo. Não pode ser assim: sem pensar. AVAREZA – Mas você está aí pensando há quase uma hora! É apenas um jogo. Não precisa se preocupar com tanto detalhe. GULA – Ah, tá! Venho analisando seu jogo há muito tempo. Parece ser sempre a mesma jogada, os “naipes,” o valor de cada carta, as pausas que você dá entre uma jogada e outra. Sua jogada está ficando manjada. AVAREZA– (Projeta para frente) Então porque você sempre perde pra mim?

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GULA – É isso que estou tentando entender, deve estar em algum lugar por aqui. (Pausa) Eu acho que os erros também parecem ser os mesmos, dos naipes, dos valores, das cartas. Parece o mesmo jogo. Entende? AVAREZA – Entendo. Você sabe que vai perder e está tardando a sua derrota. GULA – É, talvez! Sempre que jogo uma carta, você joga outra. E sempre que um ganha o outro perde! E essas são as regras? Injusto. Injustiça. Injustíssimo! AVAREZA– Quem faz as regras do jogo somos nós. Mesmo tendo regras estabelecidas. Por exemplo: Um ganha e outro perde. Nesse caso, você. Não sei se pode ser assim diferente. GULA – Claro que pode! A vida se comparada a um jogo, nos dá possibilidades de também, além das regras irreversíveis, haver dois vencedores e dois perdedores. É questão de sapiência. Essa coisa que só o ser humano tem. AVAREZA– Você enrola, enrola e não joga. Esse jogo vai ser regido pelas regras irreversíveis. É ganhar ou perder! No seu caso... (Entram Luxúria e Ira) ÍRA – Eu não tenho medo de nada, não. Quando são coisas normais. Mas quando fogem do controle da normalidade, eu não sei o que sinto. Não é medo. Desespero talvez, mas não medo. LUXÚRIA – Você tem que acreditar mais em você e nas coisas que faz. ÍRA – (gritando) Mas eu acredito! Pára com esse papo. LUXÚRIA – Há quanto tempo não vai à igreja? ÍRA – (irritada) Não sei! Mas não é isso que estou falando. Só não entendo porque as coisas não estão acontecendo dentro dos parâmetros da normalidade. LUXÚRIA – Olha, tem tudo a ver... ÍRA - (interrompe) Pára!! LUXÚRIA – Se você não tiver onde se segurar, onde se apoiar. Alguém com quem contar nas horas que precisar, fica mais difícil. ÍRA – Pra mim tudo é difícil! Eu to tentando, to tentando, mas olha só pra você. O que eu faço diz? AVAREZA - (contando as cartas) Um, zero, dois. Ganhei!

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GULA – É difícil jogar com essa barulheira toda. É por isso que eu sempre perco. Porque se concentrar é tão difícil? LUXÚRIA – Você tem que acreditar mais em você e nas coisas que faz. GULA – Essa frase serve bem pra vocês. LUXÚRIA – Eu sei e acredito em mim. IRA – Eu também acredito em mim. GULA – Quando tu voltar ao normal, eu quero ver a sua cara. ÌRA – Eu também! LUXÚRIA – Há quanto tempo não vão à igreja? ÍRA – E Você? Tá olhando que? Você morre de medo de perder, não é? Mas às vezes não passa isso. E às vezes passa até demais. LUXÚRIA– (Para Avareza) Há quanto tempo não vai à igreja? VAIDADE – (Entra) Gente! Parem tudo. Parem o mundo que eu quero descer. Porque a minha unha acabei de perder. Ela completa minha beleza do clarear até o anoitecer. Alguém a viu por aí? GULA – Essa aí só pensa nela! VAIDADE – Não posso fazer nada se você tem raiva da minha unha esmaltada. Minha unha é mais bonita do que a sua uma encravada. E fechem a boca, senão minha unha vai ficar babada. INVEJA – (Entra gritando) Achei! Achei! Achei! VAIDADE – Achou? INVEJA – Achei! (Os dois ficam nesse jogo de empurra) VAIDADE – Achou? Minha unha? LUXÚRIA – Achou a unha dela? INVEJA – (Pausa) Não! Achei o resultado da equação. (Para Gula e Ira)

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É simples. Era só pegar o seu pensamento e multiplicar com o conhecimento elevado ao cubo, vezes o infinito elevado ao cubo sobre duas vezes a velocidade do raciocínio de delta menos “PI”. Menos “PI” GULA – Segundo a lei da ambigüidade, o resultado final é ambíguo à equação inicial. Pra mim, você não descobriu nada da qual não sabíamos. ÍRA – Esforço jogado fora. Você usou suas forças e o seu tempo e voltou ao ponto zero. INVEJA - Claro que não! Só pegar o seu pensamento e multiplicar com o conhecimento elevado ao cubo, vezes o infinito elevado... (é interrompido pela Íra) ÍRA – Chega! A inércia daquela pessoa foi mais produtiva que seu trabalho. AVAREZA – Segundo a lei do jogo, alguém tem de jogar. ÍRA – Eu quero! INVEJA – Eu também! AVAREZA – Espera! É você que tem de jogar. GULA – Quer parar de monopolizar as coisas. Vamos partilhar e formar as duplas. INVEJA – Eu fico com os dele... com ele. GULA – Então, me sobrou essa aí. ÍRA – Agradeça por ter a chance de jogar com a melhor e ter 100% de probabilidade de ganhar. GULA – Sério? ÍRA – Num sei. VAIDADE – Eu também não queria. Eu não preciso de nada disso, sabia?! (O jogo começa e Vaidade e Luxúria vão até preguiça)

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Cena II VOCÊ – Pareciam criancinhas mimadas. Logo eles, criancinhas mimadas. Maldito é o espelho. Eu via lá o que vi há muito tempo atrás. Mas eu estava em uma outra posição, fazendo com que aqueles decepcionassem os seus. Mas comigo? Logo comigo? Não era pra ser assim. Eles estavam ali reunidos, parecia uma cena de uma peça de teatro. Quatro à sua esquerda e três à minha esquerda. Tinham se esquecido do que eram e pra que foram criados. Isso é um veneno pra qualquer um. Eu nunca tinha os visto daquela forma. Como crianças. VAIDADE – (Empurra Preguiça da Poltrona) Chega de ficar sem fazer nada. Minha beleza precisa de uma descansada. PREGUIÇA – Não vai adiantar! É melhor descansar a alma. A beleza é só a casca. Não é realmente o que somos por dentro. VAIDADE – Muito bonitinho, mas não é o que se importa na TV. Não importa o que se pensa, o que importa é o que se vê. Meu cabelo está ruim Nem consigo olhar pra mim. Ande logo com o tratamento. Ficar feia eu não agüento. INVEJA – Ela diz que isso é poesia. LUXÚRIA – Deus não se importa com a beleza exterior, mas sim com o que está aí dentro. Quando morrer é a sua alma que vai pro céu. Seu corpo será comido pelos bichos. VAIDADE – O que? Como assim bichos? Tudo que eu cuidei vai pro lixo? Unhas, cabelos e meus olhos encantadores? Oh! Quantos horrores! PREGUIÇA – Para de baboseira. Tudo nessa vida passa, mulher! LUXÚRIA – Você não faz nada pra ninguém. Como ousa julgar alguém? “Não devemos julgar o próximo para não sermos julgados.” Bem que me falaram que a maioria dos que se acham ser filósofos, não são tementes a ALÁ. E você é uma delas. Há quanto tempo não vai à igreja? PREGUIÇA – O que eu acredito está dentro de mim.

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LUXÚRIA – Você é ateu? VAIDADE – Não acredito! LUXÚRIA – Pode acreditar, ela só pode ser “ateu”. VAIDADE – Não, amor. Não é isso que eu não acredito. Quando ela nasceu, com certeza estava escrito. Não acredito nos bichinhos devorando meu corpinho. Oh! Tem alguma fórmula para deixar meu corpinho inteirinho? GULA – Você pode usar botox. ÍRA - Se for pra conservar é só empalha a bonitinha. (risos) Tô falando sério. PREGUIÇA – O pessoal aqui não se respeita. . INVEJA – Começando por você. Se ao menos levantasse essa bunda daí e arranjasse algo mais útil pra fazer, só isso. PREGUIÇA– Não estou falando disso. GULA – Tem gente que só quer ouvir o que convém. PREGUIÇA – Esta é uma instituição em falência. (Todos param o que estão fazendo e olham para Preguiça. Intercalados, respondem) TODOS – Nunca mais diga isso! Não repita isso! PREGUIÇA – Tem gente que só quer ouvir o que convém. GULA – Essa discussão me deu fome. AVAREZA – (Para Gula) Vai, corta! GULA – Cortar um enorme pedaço de bolo só pra você. Porque assim entra bastante glicose no seu organismo para que fique mais ligada e possa me ajudar a ganhar esse jogo. INVEJA – Duvido! Dependendo do bolo e do pedaço que você for cortar e ingerir, pode ser o suficiente para abastecer a pança, te deixando pesada e inerte e inútil igual alguém que conheço. PREGUIÇA – Queria saber se você tivesse nascido sem uma das mãos ou um dos pés, gostaria que te tratassem diferente só por você ser diferente?

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Se não tivesse com tanta preguiça eu te arrebentava. GULA – Agora que entendi. Pança! Que pança? Só se for o Sancho... AVAREZA – Pára! Pára de falar e corta logo esse jogo. GULA – Ta bom! Humm bom, bombom. Já estava ansiosa pela minha vez. ÍRA - O meu jogo está ótimo. GULA – Já estava ansiosa pela minha vez.

Cena III VOCÊ – Dizem que tudo que vem de você se parece consigo. Às vezes esperamos tanto por uma coisa e quando essa hora chega parece que não sabemos o que fazer. Expulsei os meus demônios, mas sei que me perseguem. Sei que me tentas. Sei, pois, estava eu caminhando pelo jardim, eu e meu bloco apenas, quando senti que estava sendo perseguido. Olhava e não via nada. Sabe quando seu coração sente algo, aperta, acelera, não era medo, desespero talvez... Isso que tentava entender. Deveria estar em algum lugar por aqui. SOMBRA – Estavas me procurando? O que está fazendo? VOCÊ – Quem és tu? SOMBRA – Digamos que um amigo. VOCÊ – O que você quer? O que eu fiz? SOMBRA – Isso que eu quero saber. O que você quer? VOCÊ – Poderia dizer...Respostas? SOMBRA – Você é a resposta exata de suas perguntas. (Os sete pecados respondem em eco) VOCÊ – Mas eu não entendia... (Sombra sai e volta a narração. Entra novamente o cenário) Não entendo o que eles queriam. Como não sei o que eles queriam. Como não sei o que quero ao certo. É difícil procurar algo que não se sabe o que é. GULA – Não é difícil, não. Não sei o que é ainda! Ainda!

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AVAREZA – Então, joga! VOCÊ – Isso que estou fazendo. Não sei se é claro. Eles ali tentando achar o caminho. O importante não é a beleza do caminho, mas sim o caminhar. Já vi tanta coisa por aí, tantos jogos perdidos, ganhos, assim como as guerras, os amores, os sonhos. E tudo faz parte de algo maior. E que só tem importância quando nos aceitamos como somos. (Começa uma discussão entre os que estão à mesa e na poltrona) E aquelas crianças que estavam dormindo, acordam. Via claramente no olhar dele, ele que as acordou. Elas estavam dormindo e também não viam muitas coisas que lá pra frente eu contarei a vós. Mas agora: o despertar, o despertar, o despertar! (Você pega uma taça de vinho que está em cima da mesa e a usa como despertador quando Avareza interrompe bruscamente a discussão)

Cena IV AVAREZA – Chega! Vamos parar de agir assim! Não estou mais nos reconhecendo. Não estou mais me reconhecendo. Olhem pra vocês! Somos os sete pecados. Os sete pecados, únicos e absolutos, sete. Temos que agir como tal. INVEJA – Eu também acho. Eu ia mesmo dizer isso! Temos que resolver esse problema e tentar descobrir como numa equação simples, o porquê não saímos mais. VAIDADE – Somos famosos e muito encantadores Me vejo em fotos, flashes e bastidores. Vamos resolver logo esse engano. Não perco a Fashion Week esse ano. GULA – É verdade! Eu dividirei o meu conhecimento para descobrir. INVEJA – Eu usarei o meu e chegarei mais rápido ao resultado. IRA – Gente me ajuda, por favor! VAIDADE – Eu também farei o que estiver ao meu alcance. Vocês podem pensar que a beleza é insignificante. Mas poderia arrancar informação, meu bem. É! Mas só que por aqui, arrancar de quem?

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PREGUIÇA – O que posso fazer, eu faço. Podem contar comigo contanto que eu não precise me levantar daqui. LUXÚRIA – Vocês estão loucos? Do que vocês estão falando? ÍRA – Eu que não entendo! Somos os sete pecados e vivemos felizes desde sempre aqui como numa família. (Todos interrompem discordando) É! De vez em quando a gente discutia. Ou melhor, quase sempre. Mas é quase como numa família, não é? (Todos concordam) LUXÚRIA – Buda me livre! Vocês estão loucos! TODOS – Loucos!!!

“LOUCURA EM SER O QUE NÃO É ?” REFRÃO: Loucura é apenas tentar ser o que não é. Loucura é apenas tentar ser o que não é. Loucura é apenas...tentar ser o que não é. AVAREZA – Gostaria de ser apenas o tempo para passar e nunca se esgotar. ÍRA – Estaria satisfeita em ser apenas uma bomba, uma bomba nuclear. GULA – Gostaria de ser um canudo gigante num sorvete de montanha polar. TODOS – Eu sou o pecado e não tem, não tem como mudar! REFRÃO: Loucura é apenas tentar ser o que não é. Loucura é apenas tentar ser o que não é. Loucura é apenas... tentar ser o que não é. INVEJA – Se eu pudesse, seria a própria equação do cálculo infinitesimal e me decifrar. PREGUIÇA – Eu seria apenas o cérebro que comanda tudo sem sair do lugar. VAIDADE – Eu seria eu mesma! TODOS – Ahn? VAIDADE – Melhor que isso no mundo não há. TODOS - Eu sou o pecado e não tem, não tem como mudar!

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Cena V VOCÊ – Queria ser o cupido pra poder me suicidar e me apaixonar. Brincadeira, hein! VOCÊ – A loucura às vezes é o que nos torna sãos. E vem de um lugar onde brota também a verdade. Eles, cada um tinha a sua verdade particular e original. Isso me faz refletir que se existe a verdade particular e original, não existe pecado. Na verdade, não sei se o que vejo existe: pedras, plantas. Isso me lembra um trecho da poesia assinada por ALBERTO CAEIRO, um dos heterônimos de FERNANDO PESSOA. Assim como escrevo e assino apenas como “Você”. E o nome desse poema é (poemas inconjuntos) Bem, é mais ou menos assim:

Dizei-me: tu és mais alguma cousa Que uma pedra ou uma planta!

Dizei-me: sentis, pensas e sabes Que pensas e sentes!

Então as pedras escrevem versos? Então as plantas têm idéias sobre o mundo?

Sim: há diferença

Mas não é a diferença que encontras; Porque o ter consciência não me obriga

A ter teorias sobre as cousas Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta?

Não sei, sou diferente Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?

Pode ser e pode não ser Sei que é diferente apenas

Ninguém pode provar que é mais que só diferente

Sei que a pedra é real e que a planta existe Sei isto porque elas existem

Sei isto porque os meus sentidos me mostram Sei que sou real também

Sei isto porque os meus sentidos me mostram Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta

Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos e a pedra não escreve versos Sim, faço idéias sobre o mundo e a planta nenhumas

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É que as pedras não são poetas, são pedras. E as plantas são plantas só e não pensadores

Tanto posso dizer que sou superior por isso.

Como que sou inferior Mas não digo isso:

Digo da pedra: “é uma pedra” Digo da planta: “ é uma planta”

Digo de mim: “sou eu” E não digo mais nada. Que mais há de dizer?

VOCÊ – “Alberto Caeiro”. Bonito, não achas? Às vezes achamos ter consciência de quem somos e sobre o que fazemos, achamos estar com a verdade... A esperança é a única coisa que consola. (A música que estava baixa vai aumentando. A luz vai clareando o palco) Eles procuram em livros alguma coisa que pudesse explicá-los, não apenas como sair dali, mas também no fundo, eles procuravam algo mais. Eles procuravam por si mesmos. (VOCÊ ENTRA E AJUDA COM OS LIVROS, MAS NUM TEMPO MAIS LENTO. A MÚSICA VAI BAIXANDO E ELES VÂO SE SEPARANDO E FICANDO EM PONTOS DIFERENTES, UNS COM LIVROS E OUTROS COM FOLHAS)

Cena VI

GULA – Nada! INVEJA – Nada! VAIDADE – Nada! AVAREZA – Nada! ÍRA – Nada! PREGUIÇA – (Só balança a cabeça negativamente e faz um sinal com a mão) VAIDADE – O que faz a pessoa pecar? Isso é o que temos de procurar. ÍRA – Quem deve fazê-los pecar somos nós!

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AVAREZA – Será que... Não, esquece! ÍRA – Fala! AVAREZA – Será que não tem nenhuma ajuda externa? GULA – Como, por exemplo, o que? VOCÊ – Uma força x que impulsiona o ser objeto pra frente. GULA – Uma força x que impulsiona o ser objeto pra frente? ÍRA – Isso! Ou uma força de atração Y que atrai esse ser objeto. INVEJA – Ou quem sabe, uma força X que impulsiona e uma força Y que atrai esse ser objeto. PREGUIÇA – Acabei de crer. Isso é tudo reflexo da crise mundial. O desemprego chegou por aqui. Tô vendo que daqui a pouco estaremos distribuindo nossos currículos por aí, em pequenas firmas, como agências de figuração de filme de suspense e olhe lá! VAIDADE – Vamos continuar procurando Não era assim que eu via a minha carreira acabando. INVEJA – É! Vamos mais a fundo. No meu quarto tem mais livros. A questão deve estar em algum lugar. GULA – Como no jogo, tudo se repete. Tem que haver uma brecha. ÍRA – A busca apenas começou. AVAREZA – Isso! (ELES COMEÇAM UMA CONFUSÂO) LUXÚRIA - (não consegue meditar e grita) Que gritaria é essa? Estava pensando. VAIDADE – A caçada começou pra valer Vamos fazer o que tem de fazer.

MUSICA: TEM QUE ESTAR EM ALGUM LUGAR

Se for a fórmula, a saída tem que estar em algum lugar. Vou procurar em cada canto, é claro que eu vou achar.

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E ser respeitado pelo grupo. Eu luto

Descubro.

Dizem: quem procura acha mesmo sem querer achar E sempre, sempre que queremos, ele dana a se ocultar.

Nos fazendo de palhaços. Eu acho E acho.

Livros, blocos, mentes. Somos tão inteligentes.

Mas a resposta se esconde, nesses livros, n’outros montes. Tem que estar em algum lugar

Pois, por aqui não vou ficar Por muito tempo assim parado.

Somos os sete pecados, pecado, pecado, pecado, pecado, pecado, pecado. Tem que estar em algum lugar. (4X) Aqui. Ou lá. Assim. Não dá. (o coro se forma para finalizar a cantoria em grande estilo e Luxúria corta e finaliza sozinha. Todos vão correndo atrás dela.) (voltam Gula e Preguiça)

Cena VII

VOCÊ – (DÁ UMA RISADA) Ia mesmo dizer isso! Globalização! Uma saída para o mundo. Quando se vê que não há ajuda pra todos ou que a mesma está ameaçada, os mais inteligentes fazem conferência e falam em privatização, (ironicamente) lei da sobrevivência. Se tivesse apenas duas cadeiras neste teatro e isso fosse anunciado, vocês dariam um jeito de correr, fazerem fila, dois, três dias antes pra conseguirem os ingressos. Estou mentindo? Quando as coisas apertam, fazemos cada coisa pra... não apenas nos dar bem, mas conseguir aquilo que acreditamos ser nosso direito. E aquele dia não foi diferente. (Observa) PREGUIÇA – Ei! Vem cá! GULA – Achou alguma coisa? PREGUIÇA – Se está difícil sair um daqui, imagine todos! Você não acha?

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GULA – Não consegui concluir a teoria de sua reflexão. PREGUIÇA – Vamos fazer um trato. Se um de nós encontrarmos a saída ou a resposta, não contamos pra ninguém. Fica só entre nós dois. GULA – Só nós? E os outros? PREGUIÇA – Se todos soubessem a resposta, a nossa chance de sair será muito pouca. Lá de fora podemos ajudá-los a saírem daqui. GULA – Feito! Mas você tem que se mexer! Vamos, vamos! (PREGUIÇA SAI E GULA FICA / ENTRA INVEJA) INVEJA – (Pra si mesmo) Estou quase lá. (GULA OLHA PARA INVEJA, QUE ENTUSIASMADO FOLHEIA O LIVRO. GULA FOLHEIA O LIVRO, E INVEJA OLHA DE RABO DE OLHO. ISSO ACONTECE CERCA DE TRES VEZES, ATÈ QUE OS DOIS AO MESMO TEMPO DIZEM) OS DOIS – E aí? GULA – Fala! INVEJA – Fala você. GULA – Fala você primeiro! INVEJA – Não, fala você. GULA – Tenho uma proposta pra te fazer. INVEJA – Qual? GULA – Que fique entre nós dois... (ENTRA MÚSICA BAIXA E ENQUANTO “VOCÊ” FALA ENQUANTO O ACORDO VAI SENDO FEITO ENTRE TODOS) VOCÊ – E enquanto isso o trato foi sendo feito “um a um” até que todos tivessem por dentro do combinado, sem que todos soubessem, é claro. Igual a fofoca. Ou melhor, segredo. Que se conta para o melhor amigo e que o mesmo conta para o melhor amigo e que o mesmo conta ... e assim vai e todos ficam sabendo. Com toda a inteligência que lhes foi dada e tenho que presenciar isso. Eles talvez não saibam, mas estão melhor onde estão. Pra que procurar a liberdade e ser condenado a ser livre?

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A morte é o melhor remédio.

“PRESO EM LIBERDADE”

Quando não me encontrava preso. Quando me via em pecado Quando tudo era desprezo

No meu peito envergonhado

Mas eu sei que eu mereci Tudo, tudo que passei Mas agora eu entendi

Acho que me encontrei

E por isso vim pedir perdão E por isso vim pedir perdão

Eu que já vi o peso dessa cidade Te peço: me tire dessa liberdade

Liberdade de amar.

Mas agora eu entendi Acho que me encontrei

VOCÊ – (CONTINUA) Tem coisas das quais não nos esquecemos por estarem estampadas em nosso corpo, não é? Só de lembrar o peito aperta, o coração sai do compasso, a boca seca e o olhar... Ah, o olhar! Esse só engana os tolos. Esse é o preço da liberdade. Cheguei um dia até a me apaixonar (RESMUNGA) Que dor terrível! Uma experiência nada boa. Foi como se explodisse uma bomba atômica dentro de mim. O corpo todo desde o dedinho do pé até o chapéu. Ter ver aquele rosto lindo, liso, perfeito e não poder tocar. Seu perfume consumiu o que sobrou de mim e até hoje sinto o gosto daquela boca da qual não beijei, do corpo do qual não toquei. Mas o cheiro fez com que eu imaginasse ao ponto de ser tão real quanto à pedra e a planta de Fernando Pessoa. Pessoa de beleza incomparável que ainda hoje sinto super novas em meu peito. Sair de si requer simultaneamente entrar em si, não é? A resposta da questão deve estar em algum lugar. O que faço? Diz?

Cena VIII

INVEJA – Liga pra ela!

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VOCÊ – Como?! INVEJA – É! Liga pra liga! PREGUIÇA – Isso! Pra telefonista e pergunta: 102. LUXÚRIA – Ta ruim! Cadê o fio? ÍRA – Não sei por que mas acho que tem alguém sabotando a nossa saída. E acho que sei quem é. (TODOS FICAM APREENSIVOS) Acho que foi você! (PARA INVEJA) Fez com que essa aí ficasse com a cabeça ruim, o telefone. INVEJA – Você é louca! ÍRA – Louca, não! Você sempre teve inveja dela. Não só dela como de todos nós. INVEJA – Vocês não acreditam no que ela está dizendo! Olha e se sou suspeito todos são suspeitos. (APONTA PARA GULA) Você por exemplo! Sempre quis devorar o espaço dela! GULA – (APONTA PARA AVAREZA) Você que não quer dividir o espaço. Ele que é a discórdia e vê tudo como um jogo, não é? Um ganha e outro perde. AVAREZA – Peraí! Vocês piraram de vez! E se houvesse essa pessoa, seria você. (APONTA PARA VAIDADE) Por querer ser sempre a única elegante, a única melhor, a única... VAIDADE – Que calúnia meu amor. Sou bela demais pra essas coisas De todos nós, tá na cara, por favor

Você que não sai do lugar e não quer que saiamos pra não fazer força.

(APONTA PARA PREGUIÇA) PREGUIÇA – Por favor! Ultimamente não saio daqui nem pra ir ao banheiro. INVEJA – Isso explica o mau cheiro. PREGUIÇA – (APONTA PRA ÍRA) Você que sempre teve ódio dela e acho que de nós também. (confusão que se esgota e eles vão sentando e resmungando) INVEJA – Voltamos ao início.

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LUXÚRIA – Há quanto tempo vocês não vão à igreja?

Cena IX VOCÊ – Minhas criancinhas! Assim, eles tentavam se encontrar e encontrar a liberdade (RI) E eu os perdôo. E não passava naquelas sete cabeças que talvez o problema poderia estar com eles. Maldito o espelho. Todos procurando uma resposta que seja confortável para si, assim como eu pra mim e vocês pra vocês. Mas vemos as coisas diferentes, assim como sua importância. Isso de acordo com a vivência de cada um. Por exemplo: Para um soldado, ao ver um rastro de um cavalo sobre a areia, logo pensa no cavalo, do cavalo, em um cavaleiro e depois para o pensamento da guerra. Já o agricultor pensa no cavalo, do cavalo no arado e depois na tranqüilidade do campo. Já um louco apaixonado, pensa no cavalo, branco, do cavalo, pensa em seu amor, e logo na chance que teve e desperdiçou de buscar sua amada na igreja antes de se casar e pensa na fuga que não teve e assim no seu sofrimento. Aliás, há quanto tempo vocês não vão à igreja? As coisas são assim. Sempre procuramos culpados, quando na maioria das vezes os culpados somos nós mesmos. Ou nunca houve culpados. Apenas desistimos de nós, assim como eles, minhas criancinhas fizeram.

Cena X (cada um em seu quarto)

INVEJA – Me desculpem! Mas eu desisto. Nada mais sai da minha cabeça. AVAREZA – Não podemos desistir! PREGUIÇA – Pára! Não tem saída, é a maldita globalização. GULA – Vamos voltar ao jogo. PREGUIÇA – Será que privatizaram essa repartição? Tá tudo sendo privatizado (terceirizado). GULA – Não! Senão teriam nos avisado. AVAREZA – Vamos ter que esperar mesmo! TODOS – É! INVEJA – Tem coisa que se chama destino. O que tem de ser vai ser.

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LUXÚRIA – Quem sabe um milagre aconteça?! PREGUIÇA – É! Quem sabe? ÍRA – O que está acontecendo ai? PREGUIÇA – Desistimos! Não há saída! ÍRA – Vocês não podem fazer isso! VAIDADE – Como não querida? Já borrei minha unha de tanto procurar Não tenho culpa se sua ferida Sangra e não quer cicatrizar Como diz minha amiga senadora, quando deputada é relaxar e... Você sabe... não você não sabe. ÍRA – Você não fala assim comigo! AVAREZA – Espera! Espera! Isso não vai adiantar. ÍRA – Essa aí ta precisando de uma lição não é de hoje. VAIDADE – É só vim querida Eu toco sim na ferida. ÍRA – Eu te arrebento. (todos pecados descem para evitar a briga) ÍRA – Você não sabe do que eu sou capaz. LUXÚRIA – Esperem! Vamos zelar pelo amor e pela fraternidade. (Você entra e paralisa a cena e coloca algo na mão da Íra) ÍRA – (para Avareza) Solta! Solta! LUXÚRIA – Vocês vão se machucar! (ÍRA ACERTA O OBJETO NA CABEÇA DE LUXÙRIA, QUE CAI DESMAIADA) INVEJA – Olha o que você fez! PREGUIÇA – Não disse que essa é louca?!

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ÍRA – Eu não queria! VAIDADE – Aí, ela morreu? O que aconteceu? Levanta, vamos à igreja! Mas prefiro que bem você esteja. GULA – Ela vai acordar, só desmaiou. Afastem-se! Ela precisa respirar. (TODOS ANDAM DE UM LADO PARA O OUTRO) LUXÚRIA – (ACORDA) Aí, minha cabeça! O que aconteceu? VAIDADE – Aí, que beleza! Agora vamos à igreja! LUXÚRIA – (JEITO MASCULINO) Do que você tá falando? Que roupa é essa? Que coisa mais... e vocês? Estão olhando o que? Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui? (TODOS FALAM AO MESMO TEMPO, NUMA CONFUSÃO) LUXÚRIA – Chega! Não entendo nada! INVEJA – Não sabemos o que houve. ÍRA – Só sabemos que... parece que estamos presos aqui. Ninguém nos chama pra sair. LUXÚRIA – Peraí! Pô, somos os sete pecados. Se não nos chamam, nós vamos assim mesmo. A gente Invadi nessa porra. E vamos logo! Parece que há um século não faço um swing. AVAREZA – Mas não sabemos como sair. INVEJA – Tentamos de tudo! LUXÚRIA – Vou contar um segredo pra vocês. Eu sou a porta. Vamos todos juntos. Vão se preparar.

Cena XI (TODOS SE ANIMAM / “VOCÊ” VAI ENTRANDO) VOCÊ – Sempre há uma saída! Como disse, talvez não haja culpados.

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Então, assim acho que estou perdoado. O que fiz não foi tão ruim. Posso praticar o bem, mas não quero me apaixonar. Foi por isso que me isolei e escrevi tudo que senti. Tenho agora que mostrar aos outros, mas temo sair daqui. Nunca tinha me visto eles desta maneira. Nunca tinha me visto... Talvez não haja culpados.(RI) (VOCÊ ENTREGA O LIVRO PARA PREGUIÇA ACERTA A CABEÇA DELA QUE CAI DESMAIADA) VOCÊ E PREGUIÇA – Têm coisas que precisam de uma mãozinha (RI) PREGUIÇA - Esperavam o que deles? Eles são os pecados, VOCÊ - Os meus. (VOCÊ SAI – FOCO NA LUXÚRIA)

Cena XII (TODOS COM MALA VÃO ENTRANDO/ ELES LARGAM AS MALAS / LUXÚRIA VOLTA COMO ANTES) AVAREZA – É! Vamos ter que voltar ao jogo. Quem vem? (Gula, Inveja e Íra vão para a mesa) VAIDADE – (sem tentar ir desta vez) Nem queria! Sabia? ÍRA – Quem foi? PREGUIÇA – Com certeza o mesmo que fez da primeira vez. INVEJA – E todos somos suspeitos. AVAREZA – Vai, joga! GULA – Calma! Estou avaliando o jogo. VAIDADE – Vamos levá-la ao seu quarto. Pelo menos isso Sozinha eu não agüento Alguém me ajuda nesse compromisso? (começa um jogo de empurra e Vaidade acaba levando Luxúria sozinha) (LEVAM A LUXÚRIA PARA O QUARTO)

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VOCÊ – Todos têm um pouco de vingança por dentro. A real verdade é que ainda não sei porque, o por que daquela tal criança fazer o que fez. As pessoas são surpreendentes, sempre. Embora já sabendo do que são capazes, eu as perdôo. As aplaudo. As admiro! ÍRA – Eu também o admiro. Mas tem que melhorar muito. INVEJA – Olha quem fala! È tão certo como 1 e 1 são 2. Você... GULA – Regras irreversíveis, mas 1 e 1 também pode ser 11, pode ser 3, ser nada, ser... INVEJA – Não complica! O jogo vai ser regido pelas regras irreversíveis. 1 e 1 são 2 e pronto. GULA – Como quiser. INVEJA – Do que estava falando mesmo? ÍRA – Não sei...Joga!

Cena XIII

VOCÊ – Assim, tudo que foi dito eu pus nesse bloco. Eles me ajudaram a me manter firme. E eu não penso mais nas coisas que fiz, nem sinto vontade, paixão jamais. Ainda estou me recuperando. E assim vou me despedindo, com essas letras meio garranchosas. Mas limpas, perdoadas e verdadeiras. E...e...e... Querem? É só uma fruta. Sei, foram proibidos de comer essa fruta. Mas é só uma fruta. Toma! Estão olhando o que? Vão me julgar? Olha que não devemos julgar o próximo... Era só uma fruta. Não estou fazendo nada demais, sempre fiz isso desde sempre e você nunca reclamou quando... Ah, você sabe! Quando recebeu a fruta que te dei. Aquela fruta que te fez subir de cargo trapaceando. Aquela fruta que compra seu voto. Aquela fruta de vestido vermelho e corpo definido. Ou aquela fruta de braços e pernas musculosas que te oferecem. Aquela fruta que te segura sempre à cama às segundas feiras e que você a agarra com gosto. Aquela fruta que te ajudou a quebrar a cara de alguém. Aquela fruta que cai bem em seu corpo, cabelo, unhas, dedos... Aquela fruta que te faz sempre comer compulsivamente pra esquecer ou lembrar.

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Aquela fruta que você cuida mais do que de si próprio e que pela qual você é capaz de matar. E sempre querendo mais. São apenas frutas, mas podem dar o nome que preferir. Talvez não haja pecado! O importante não é a beleza do caminho e sim o caminhar. O importante não é a beleza do nome e sim o que ele representa. Nomes podem ser apenas nomes. Ah! Já sei sobre o meu arrependimento... eis a importância do “outro” na vida. Estamos tão bem até aparecer alguém. É mais forte que eu... Vão me julgar? Atire a primeira pedra ou planta (RI) Vou por lenha nessa fogueira!

7 CABEÇAS

Se você tem certeza da opinião/ Que sempre tem? Não se deixe facilmente cair em tentação/ Mas vem.

Pecado! Pecado! Me diz qual o mal que tem?/ O mal que tem. Tome logo, aceite essa fruta e fique bem / E fique bem.

Ferrado! Acabado! Viciado!/ Mas claro vamos te ajudar.

Queimado! Torrado! Fritado! / Com molho para acompanhar. É claro queremos pedaços/ Pois nada é de graça nesse lugar.

É só uma taxa / Para o aluguel poder acertar.

Sete cabeças tentando a vida ganhar. Sete cabeças apenas tentando sair pra poder trabalhar / Não tenho culpa, pós-

modernidade chegou por aqui. Tem gente fazendo mais rápido o nosso trabalho pela Internet / Por aí.

VOCÊ – Com licença! Correspondência! (ELES PEGAM) INVEJA – Por onde ele entrou? VAIDADE – Uma proposta de emprego! (CANTAM) CORO 1: Nunca foi tão difícil ser pecado nesse mercado tão concorrido desse lado CORO 2: Nunca foi tão difícil ser pecado nesse mercado tão concorrido desse lado. É só uma vaga! Apenas uma vaga! Pra sete cabeças!

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GULA – Quem vai? TODOS – Eu!! (começa a confusão) TODOS – Pra sete cabeças... VOCÊ – Termino esse com essas letras garranchosas e mais uma vez fiz de tolos uma boa platéia que acreditaram em meu olhar e se esqueceram da minha natureza. Digo da pedra: é uma pedra. Digo da planta: é uma planta. Digo de mim: sou... Você Me chame apenas de Você! CORO: Nunca foi tão difícil ser pecado nesse mercado tão concorrido desse lado... (SENTADO NA CADEIRA, COLOCA O LIVRO NA BOLSA E PEGA UM OUTRO.) VOCÊ - Sete níveis da árvore da vida; sete sacramentos; sete notas; sete cores; sete mares; sete continentes; sete dons! CORO: Nunca foi tão difícil ser pecado nesse mercado tão concorrido desse lado... Bom! Começo esse livro com estas frases: Ah, perdão! Ainda não me apresentei. CORO: Nunca foi tão difícil ser pecado nesse mercado tão concorrido desse lado... VOCÊ - podem me chamar de “ VOCÊ”. Eu sou... Você! CORO: É só uma vaga! Apenas uma vaga. Pra sete cabeças. (3X) VOCÊ – OOOIIÊÊ!! (Puxa as rédeas) B.O BRUNO W. MEDSTA