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Sete Décadas de União e Trabalho

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Livro da História da SBCP

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Prezados colegas:

Em 2009 a Sociedade Brasileira de Coloproctologia iniciou o importante projeto de

escrever a história da nossa sociedade. A ideia era escrever um livro que pudesse

reunir o máximo de informações e documentos que tivessem relevo na nossa

trajetória. E também criar o registro de todos os nossos ex-presidentes, aqueles que

durante quase sete décadas conduziram a SBCP com habilidade e segurança até o

posto que hoje ocupa no cenário internacional. A segunda maior sociedade de cirurgia

colorretal no mundo, atrás apenas da norte-americana.

Desde o início entendemos que não seria fácil trazer à tona os fatos. Dependeríamos,

quase que exclusivamente, da memória dos nossos pioneiros. E eles não nos

decepcionaram. Um prodigioso trabalho de pesquisa e suporte resultou naquilo que

consideramos o mais próximo possível da nossa história verdadeira.

Levantada esta história, restava organizá-la e dar-lhe forma em texto. Para isso a

Sociedade contratou a jornalista Ana Lúcia Proa que nos apresentou um texto claro,

conciso e muito agradável de ler, que é a forma final da obra. Conseguimos fotos e

documentos que constituem um caderno central ilustrativo de grande valor.

A Editora Opera Nostra conduziu o trabalho de montagem e diagramação, assim como

a escolha de materiais, revisões gráficas e impressão.

Optamos por imprimir a obra em duas versões: a primeira com material padrão de

obras de primeira linha da qual serão impressos 1500 exemplares. E uma segunda

versão, chamada “Edição de Colecionador”, em material mais nobre e acabamento

luxuoso, vendida a preços especiais. Desta última serão impressas apenas 100

unidades, numeradas de 001 a 100 e com o nome do comprador anotado na folha de

apresentação.

Em breve lançaremos no nosso portal de internet uma lista de subscrição para os que

quiserem reservar seu exemplar desta edição numerada.

O lançamento será em setembro próximo, em São Paulo, por ocasião do Congresso

Brasileiro de Coloproctologia.

A todos - e foram muitos - que desprendidamente trabalharam para dar corpo a esta

obra, a gratidão dos associados da SBCP.

Ronaldo Salles

Vice-Presidente da SBCP

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Este é o exemplar de nº ___ _ _de uma edição especial limitada a

100 cópias, impressas em comemoração às sete décadas de existência da

Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

Este livro foi entregue a

em

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Sete Décadas deUnião e Trabalho

História da SociedadeBrasileira de Coloproctologia

Rio de Janeiro2012

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Copyright © Sociedade Brasileira de Coloproctologia

Printed in Brazil / Impresso no Brasil

Capa, diagramação e arte-finalI Graficci Comunicação & Design

Preparação de textoAna Lucia Prôa

RevisãoJorge Moutinho

As fotografias utilizadas nesta obra são de propriedade da SBCP

ISBN 978-85-85686-11-6

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ApresentAção 07

CApítulo 1Coloproctologia: tão antiga quanto o mundo, tão jovem como especialidade 09

CApítulo 2Pitanga Santos: o pioneiro da especialidade no Brasil 15

CApítulo 3A criação da Sociedade em dois tempos 23

CApítulo 4Tudo pelo bem da família coloproctológica brasileira 39

CApítulo 5A honra de ser presidente 51

CApítulo 6Os congressos: encontros que vão muito além da ciência 203

CApítulo 7Os órgãos oficiais da Sociedade: muito mais do que informar 231

CApítulo 8As regionais: braços direitos da Sociedade 241

CApítulo 9Tanto já feito, tanto a fazer... 250

Sumário

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Apresentação

Em 12 de setembro de 1934, na cidade do Rio de Janeiro, então capi-tal federal, um grupo de vinte médicos reuniu-se para fundar uma sociedade médica inspirada na legislação da época que previa a figura de “deputados classistas”. Esses médicos decidiram que seria uma sociedade de proctologia, apesar de nenhum deles exercer esta especialidade. Mas a sociedade foi fun-dada e registrada em cartório. Após 1935, não há notícia de qualquer atividade desta associação. Em curto espaço de tempo, a sociedade cai no esquecimento e poucos ainda sabem da sua existência.

Até que, em 1945, na Bahia, a iniciativa para a criação de uma verda-deira sociedade médica de proctologia fez renascer de forma nobre a falecida associação. Algumas providências legais bem conduzidas permitiram usar o título original – Sociedade Brasileira de Proctologia – e a partir daí esta socie-dade desenvolveu-se de forma segura e contínua, transformando-se na segun-da sociedade de cirurgia colorretal do mundo.

Contar esta história faz justiça àqueles que, ao longo de quase sete dé-cadas, souberam administrá-la e dar o suporte necessário à sua consolidação. Estamos falando não apenas das diretorias, mas de cada associado que enten-deu o valor de uma sociedade médico-científica no cenário do exercício da profissão. Falamos também de todos que nunca esqueceram que trabalho e família caminham juntos. Os congressos nacionais da especialidade são fa-mosos pela convivência entre amigos de várias décadas com suas respectivas famílias. Esta característica torna justo o uso da palavra “união” valorizando o título deste livro.

Foi fundamental para a construção desta obra a inacreditável memória de vários ex-presidentes e a documentação acumulada com carinho na sede da SBCP.

Uma Sociedade que deu certo, que cresceu baseada no consenso e não na disputa e não esqueceu o afeto entre os pares, moeda tão desvalorizada em alguns momentos, mas usada como liga poderosa nos ideais da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

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Capítulo 1

Coloproctologia

Tão antiga quanto o mundo,tão jovem como especialidade

Contar a história da segunda maior sociedade de coloproctologia do mundo – que é a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) – requer que façamos, antes, uma viagem a um tempo bastante longínquo. Isso porque, embora ela tenha completado 67 anos em 2012, não bastaria iniciar nosso relato voltando ao Brasil de 1945, ano de sua criação oficial. As bases da espe-cialidade encontram-se muito mais longe... E são essas bases que ajudaram a construir, na atualidade, o que hoje chamamos de coloproctologia.

Registros históricos mostram que as doenças relacionadas à parte infe-rior do tubo digestivo já acometiam a população na Antiguidade. Desde então, médicos empregavam esforços para curá-las, havendo referências de cinco mil anos atrás a técnicas operatórias e instrumentos cirúrgicos utilizados em tratamentos proctológicos. Bem antes de a medicina geral desmembrar-se em especialidades, hieróglifos egípcios encontrados na coluna de Isi, datada de 2750 a.C., faziam menção ao médico pessoal do faraó, cujo título era “O Guardião do Ânus do Faraó”. Ainda na cultura egípcia, havia a lenda do deus Tot – o deus da sabedoria –, que se transformara no pássaro Íbis para, através do bico, introduzir água no ânus de um médico que se banhava no rio Nilo e, assim, ensinar-lhe sobre os benefícios dos enemas retais.

Porém, o Egito Antigo deixou para a medicina algo muito mais con-creto do que simples lendas. O Papiro de Ebers, produzido durante a dinastia de Amenhotep I, em torno de 1535 a.C., é um dos tratados médicos mais antigos e importantes de que se tem conhecimento. Descoberto em 1873 pelo

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egiptólogo alemão Georg Moritz Ebers, apresenta ao longo de vinte metros um conteúdo riquíssimo que ensina “a preparação da medicina para todas as partes do corpo”, conforme o texto inicial do papiro. Nele, encontram-se di-versas doenças e seus tratamentos, com menção, inclusive, a hemorroidas e disenterias. Cerca de duzentos anos depois (no ano de 1300 a.C.), o médico Iri, da 19ª dinastia egípcia, depositou em um único papiro todas as patologias proctológicas conhecidas até então.

A quilômetros de distância do Egito, na Ásia, outra civilização bastante desenvolvida para a época também já se preocupava com as afecções relativas ao atual campo da coloproctologia. Era a Babilônia, onde o rei Hamurabi – por volta de 1700 a.C. – criou um dos mais antigos conjuntos de leis já encontra-dos pelos homens: o código de Hamurabi. Suas 281 leis estão talhadas em um monólito, ditando todas as regras para a vida em família, no trabalho e na sociedade como um todo. Entre elas, configuram-se até mesmo os honorários que deveriam ser pagos ao médico que cuidasse de uma doença proctológica: “Se um doente for curado de uma enfermidade anal, o enfermo dará ao doutor 10 siclos de prata.”

A Índia também possuía seu próprio código de leis que, em 1000 a.C., demonstrava que os hindus já estavam conscientes da importância de cuidar das patologias que hoje são comumente tratadas pela coloproctologia. Nas leis de Manu, além das regras da sociedade, eram citadas as enfermidades conhe-cidas naquele tempo. Lá estão referências a hemorroidas, abscessos e fístulas anais. Até mesmo no Ramayana, poema épico que narra a epopeia indiana, há instruções sobre como extirpar tumores do reto.

Para os hindus, no entanto, simples casos de hemorroidas – problema ao qual chamavam de Arsa – e de fístulas anais eram vistos como graves e de prognósticos sombrios. Chegavam ao ponto de serem equiparados a doenças como lepra e tétano. A verdade é que na Índia não havia recursos para pes-quisar e tratar essas afecções, tal como já vinha acontecendo no Egito séculos antes. E foi na Grécia, 400 a.C., com o grande Hipócrates – o pai da medicina –, que hemorroidas e fístulas puderam ser amplamente estudadas.

Até então, essas afecções não tinham o nome como hoje as conhece-mos. Foi o médico grego quem criou o termo “hemorroidas” para designar as perdas sanguíneas pelos vasos do ânus, as quais, no entanto, ele considerava benignas. No conjunto de obras que deixou para a humanidade – o Corpus Hippocraticum, hoje chamado de Coleção Hipocrática –, contendo setenta tratados relativos ao corpo humano, há uma parte dedicada exclusivamente

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a essa afecção do ânus (“Das Hemorroidas”). Nela, Hipócrates descreve de maneira bastante criteriosa técnicas de ligadura, cauterização (com ferro em brasa!) e excisão dos mamilos hemorroidários, além de indicar, para as fístu-las anais, o uso de substâncias adstringentes e a prática da anodação em seu trajeto (técnica de sedenho).

Durante muitos séculos após Hipócrates, pouco se evoluiu no tratamen-to das afecções anorretais. Até que, já na era cristã, em 165, o médico grego Galeno inventou o siringótomo, bisturi em forma de crescente para a operação da fístula. Depois dele, alguns nomes fizeram contribuições para essa área – como Aetius, Hally Abbas, Albucassis e Avicenna –, porém nada se compara ao trabalho realizado pelo cirurgião inglês John Arderne, em 1376. Ele em-preendeu enormes avanços na cura das fístulas anais cujas técnicas são, em essência, seguidas até hoje.

Arderne escreveu vários tratados sobre medicina geral e cirurgia, sendo que Fistula-in-ano and the Use of Rectal Injections foi o seu maior destaque, no qual apresenta seus métodos bem-sucedidos de cirurgia em fístulas anais e hemorroidas, com a excisão da veia trombosada. Para entender a importância desse cirurgião, vale saber que, nesse momento da Europa medieval, opera-ções de fístulas anais – simples para nós atualmente – figuravam entre as que mais levavam os pacientes à morte. Mas, com as técnicas desenvolvidas por Arderne, esse quadro mudou. O inglês também indicava o exame retal – hoje conhecido como “toque retal”, mas ainda seguindo o mesmo preceito (avaliar o reto pelo tato, com o uso de um dedo examinador) – para diferenciar fístulas de câncer anal. Graças a todos esses méritos, Arderne entrou para a história como o “pai da proctologia”.

Apesar da importância que a coloproctologia atual atribui a John Arderne, seus próprios contempôraneos não deram valor a seus ensinamentos. Em 1422, Henrique V, rei da Inglaterra, morreu aos 35 anos em decorrência justamente de uma fístula que os cirurgiões não souberam curar. Contudo, dois séculos depois, outro rei veio a ter final feliz em seu tratamento do mes-mo mal. O francês Luís XIV, o rei Sol, em torno de 1687, padecia durante mui-tos anos por conta de uma fístula anal, para a qual nenhum tratamento clínico surtia efeito. Conta a história que o rei então ordenou que fossem reunidos em grupos todos os portadores de fístulas da França, para que cada grupo se sub-metesse a um tipo de tratamento. Ele optaria pelo que obtivesse os mais altos índices de cura. Acabou escolhendo o método cirúrgico – para o qual lhe foi fabricado especialmente um siringótomo de prata –, tendo sido operado pelo

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médico Félix Tassy, que recebeu a autorização para “abrir as reais carnes de Luís XIV”. Com o sucesso da intervenção, Tassy e toda a sua equipe foram regiamente remunerados. E a notícia do sucesso da cirurgia espalhou-se pela corte, tornando elegante entre os súditos a procura por tratamentos anorretais.

Em 1835, foi a vez de outro inglês brilhar. Frederic Salmon, com ape-nas 39 anos, fundou em Londres a Enfermaria para o Alívio de Pobres Aflitos com Fístulas e Outras Doenças do Reto, contando com sete leitos. Seu obje-tivo, como o próprio nome diz, era tratar apenas de pacientes com afecções anorretais. Com isso, sagrou-se como uma das primeiras instituições médicas especializadas do mundo, abrindo depois seu leque de atuação para a gas-troenterologia e a nutrição – áreas intimamentes ligadas à coloproctologia. Com o passar do tempo, a pequena enfermaria de Salmon transformou-se no importante St. Mark’s Hospital, um centro de referência internacional para o tratamento de distúrbios colorretais e intestinais. Frederic Salmon também deixou como herança para os médicos o primeiro livro sobre doenças do reto, Tratado Prático sobre Estreitamento do Reto, que muito auxiliou na práti-ca da coloproctologia. Por toda a sua contribuição exclusiva aos tratamentos anorretais, o trabalho de Salmon hoje é considerado o precursor da criação da especialidade “proctologia”.

Ainda no século XIX, outra grande contribuição para essa especiali-dade que começava a despontar veio do médico norte-americano Howard Kelly, professor da John Hopkins University, em Baltimore, em 1895. Até então, acreditava-se que apenas um tubo flexível – como o de Bodenhamer, proposto trinta anos antes – seria capaz de explorar o reto e as curvaturas do S ilíaco. Mas Kelly demonstrou que um tubo retilíneo poderia servir para explorar essa região. Ele criou um instrumento bem rudimentar: um tubo reto de 35 centímetros de comprimento com o mandril obturador, sendo introduzido com o paciente em posição genupeitoral – outro avanço para o diagnóstico ocorrido nessa época, por facilitar o exame ao fazer uma pressão negativa no intestino – e com a iluminação obtida por meio de luz natural refletida por espelho frontal.

Dessa maneira, foi possível realizar o exame direto do cólon sigmoi-de, ainda que de maneira deficiente, aumentando o alcance dos especialistas para traçar seus diagnósticos. Agora, eles podiam ter uma visão não apenas do reto, mas também do cólon terminal. Por esse feito, Kelly é considerado um dos pioneiros da proctossigmoidoscopia. Mais adiante, no início do século XX, com o advento da insuflação de ar, por Laux, e da iluminação elétrica,

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por Tuttle, esse exame tornou-se rotineiro, e o que vinha sendo chamado de proctologia (estudo da anatomia, das funções e das doenças do ânus e do reto) ampliou-se para colonproctologia ou, como hoje se fala, coloproctologia.

Um fato curioso a respeito de Kelly é que ele não era proctologista, e sim um ginecologista interessado em problemas digestivos. O que histori-camente é mencionado nas publicações acerca da evolução da proctologia é que nos Estados Unidos, até o final do século XIX, havia pouquíssimos mé-dicos voltados para o tratamento das afecções anorretais: quem a este ramo se dedicasse era considerado pertencente a uma categoria inferior. Eles eram confundidos com charlatães, chamados de “curadores de hemorroidas”, que comumente saíam pelo país prometendo sanar o problema por meio de fór-mulas secretas e pouco confiáveis. Essa situação só veio a ser mudada nos Estados Unidos quando Joseph Mattews, de Louisville, Kentucky, voltou a seu país após um estágio no St. Mark’s Hospital. Foi então que ele iniciou um grande movimento a favor dos princípios éticos da especialidade, cul-minando com a criação da Sociedade Americana de Proctologia, em 1899, tornando-se seu primeiro presidente. A propósito, hoje, esta sociedade é a única que está à frente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia em ter-mos de número de participantes.

Chegando ao final de nossa viagem pelo tempo na evolução da especia-lidade pelo mundo, não podemos deixar de citar um médico contemporâneo de Kelly, que impulsionou bastante a coloproctologia na Europa: o português Raul Bensaude. Nascido nos Açores, graduou-se em medicina em 1897, em Paris. E nessa cidade permaneceu, sempre com extrema seriedade e dedicação. Já nos círculos estudantis parisienses, ele surpreendia os colegas por não querer envolver-se com atividades que o desviassem de seus estudos. Após formado, tornou-se assistente de Georges Hayen, no renomado Hospital Saint Antoine, que era reconhecido no mundo todo por sua ótima reputação. De Hayen recebeu enorme acervo de conhecimentos e o cobiçado cargo de chefe de serviço.

Bensaude só fez crescer dentro da medicina, a ponto de fundar um Centro de Gastroenterologia e Proctologia que se tornou um modelo para a especialidade. Neste centro, aconteciam importantes estudos sobre as pato-logias digestivas, além de avanços no tratamento das doenças anorretais. O médico português iniciou a prática das injeções esclerosantes das hemorroidas internas, popularizando-as pela Europa – e até pelo mundo, ao ensinar a técni-ca a jovens médicos de outros continentes que iam especializar-se em Paris –, e retomou os estudos para o tratamento dos tumores vilosos do reto.

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O incansável Bensaude divide com o americano Kelly outro mérito. Ambos foram os criadores dos primeiros retoscópios ditos “modernos”, cada qual desenvolvido em uma parte do mundo: Kelly, em Baltimore; Bensaude, em Paris. Os dois instrumentos, porém, eram muito parecidos e permitiram grandes melhorias nos diagnósticos das doenças anorretais, servindo de base, também, para a criação de retoscópios cada vez mais sofisticados – utilizando, por exemplo, iluminações internas, ao passo que os primeiros se valiam ape-nas da luz solar.

Quando morreu, em 1938, Bensaude havia deixado também aos futuros proctologistas um tratado de retoscopia, com base nos inúmeros exames que realizou. Tamanhos avanços fizeram com que ele seja considerado o “pai da proctologia francesa” – e talvez esse fato seja o motivo pelo qual algumas fontes de pesquisa creditem a França como o país natal desse filho dos Açores. Aliás, uma curiosidade a respeito de seu nome é que, em Portugal, era pronun-ciado “bensaúde”. Mas, em Paris, passou a ser chamado de “bensôd”, como assim é conhecido até hoje por todos os estudiosos da coloproctologia.

E não são poucos os médicos que têm buscado se aprofundar na espe-cialidade... No início do século XX, começou a crescer o número de interes-sados em se tornar proctologistas, inclusive muitos brasileiros, incentivados pelas conquistas que o pernambucano Raul Pitanga Santos ia fazendo na espe-cialidade, a partir da década de 1920. Pitanga Santos foi o grande responsável pelo crescimento da coloproctologia no Brasil. Seus feitos, portanto, são um capítulo à parte – o qual veremos a seguir –, alçando este médico à categoria de importantíssimo nome na história da especialidade.

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Capítulo 2

Pitanga Santos

O pioneiro da especialidade no Brasil

Foi pelas mãos de um nordestino que se desenvolveu, no Brasil, uma nova especialidade: a proctologia. O grande mérito deveu-se a um jovem obs-tinado e muito inteligente, nascido no Recife (PE), que com 13 anos já havia terminado os estudos preparatórios. E com apenas 21, em 1913, no Rio de Janeiro, tornou-se médico após ter apresentado a tese “A cirurgia de urgência dos grandes esmagamentos dos membros”. Foi por pouco que a banca exami-nadora não o reprovou, porque ele defendia algo inaceitável para a época: a indicação das amputações planas. Para não receber zero, lhe foi conferido o grau 01, suficiente para conseguir o diploma. Cerca de quatro anos mais tarde, porém, no final da Primeira Guerra Mundial, essa técnica de amputação pas-sou a ser utilizada, revelando que a banca não havia cometido um equívoco ao conceder o título de médico ao quase rapazote. Surgia ali um profissional visionário, o dr. Raul Pitanga Santos, que viria a contribuir imensamente para os avanços da medicina no Brasil.

O jovem médico, contudo, buscou uma especialidade, a fim de não se limitar a cirurgias gerais. Em sua época, a escolha por especialidades de pouca concorrência era feita por meio de um sorteio. Foi então ao acaso – embora muitos digam que o acaso não existe – que Raul retirou, de dentro de uma urna, o seu destino profissional. Veio no papel o nome: proctologia. Um ramo ainda envolto por preconceitos, uma vez que não era visto com bons olhos o médico que se dedicasse a tratar das afecções do reto e do ânus. Mas ele não se fez de rogado e aceitou seu destino. Em 1914, iniciou o seu trabalho na es-pecialidade, atuando como assistente da 1ª Clínica Cirúrgica da Faculdade de

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Medicina do Rio de Janeiro. Pitanga Santos logo se mostrou um trabalhador incansável, que utilizava sua inteligência e sua enorme presença de espírito para lidar não só com os pacientes, mas com os outros médicos também. Com um retossigmoidoscópio em punho, percorria os leitos das enfermarias em busca de diagnósticos que nenhum outro colega imaginaria. Por exemplo, se um paciente estivesse internado com uma suspeita de tuberculose intestinal, o jovem médico pedia licença, colhia material e chegava à conclusão de que se tratava de uma simples amebíase.

Uma intervenção feita por Pitanga Santos ficou famosa entre os cole-gas. O renomado clínico Rocha Faria, já idoso, encontrava-se há dias com uma diarreia rebelde e intratável. O jovem médico entrou em cena e realizou um exame proctológico no clínico, conseguindo remover um fecaloma que estava ocasionando o problema. Essa e outras ações de Pitanga Santos foram demonstrando a eficiência da proctologia, que, por inúmeras vezes, levava à descoberta de soluções simples para questões clínicas aparentemente compli-cadas. Quebrando tabus, ele começou a fazer exames proctológicos rotineiros, o que não era comum na época. Assim, por meio de diagnósticos objetivos, tratava e curava os portadores de patologias anorretais, o que lhe garantia maior credibilidade e assegurava o reconhecimento da nova especialidade.

Nos primeiros anos de seu trabalho na especialização, Pitanga Santos foi, literalmente, desbravando a proctologia. No Brasil, este era ainda um campo totalmente inexplorado... Até então, apenas o Visconde de Saboia havia publicado um trabalho sobre clínica médica, no qual tratou, de manei-ra ainda incipiente, assuntos relacionados à proctologia, como hemorroidas e fissura anal. Após 11 anos vencendo desafios é que Pitanga Santos pôde levar, pela primeira vez, os resultados de seu trabalho a um grande gru-po de colegas. Foi em 1925, numa conferência da Sociedade de Medicina e Cirurgia, quando discursou sobre o “Diagnóstico das hemorroidas”. No mesmo ano, publicou na revista Folha Médica o artigo “Sobre a cura não-operatória das hemorroidas”. Ambos os trabalhos foram muito bem aceitos na sociedade médica e, daí em diante, o nome de Pitanga Santos passou a figurar em diversos artigos sobre proctologia publicados em revistas na-cionais e internacionais, e sua participação em conferências tornou-se uma constante. Contudo, é importante destacar: para chegar a esse patamar, o médico teve que percorrer um caminho árduo... “Não havia, em toda a América do Sul, um livro, nem instrumental da especialidade. Foi uma luta, sozinho, durante 20 anos, num combate encarniçado contra a má vontade, o desinteresse e a descrença”, comentou certa vez. Deve-se observar aqui que

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os depoimentos de Pitanga Santos citados neste livro foram retirados de “A evolução da proctologia no Brasil: contribuição ao seu estudo”, de Roberval Francisco Bezerra de Menezes, tese apresentada para o ingresso no Instituto Brasileiro de História da Medicina em 1959.

Após ter prestado serviços na Santa Casa e na Cruz Vermelha, Pitanga Santos passou a trabalhar, em 1930, no Hospital Evangélico do Rio de Janeiro. A essa etapa da vida, encontrava-se numa posição mais confortável profissio-nalmente, podendo dedicar-se ao hospital no horário de que mais gostava: à tarde. Aliás, o médico tinha hábitos bem diferentes da maioria de seus cole-gas. Ele preferia estudar e escrever ao longo da madrugada e, por conta disso, só acordava por volta das 11 horas. Começava a atender no ambulatório do Hospital Evangélico às 13 horas e realizava cirurgias até o entardecer. E das 19 às 21 horas estava a postos em seu consultório, localizado em frente ao Passeio Público, no Centro da cidade.

A rotina de Pitanga Santos é mais uma mostra do perfil diferenciado deste homem que fez história na coloproctologia brasileira. Conta-se que, para manter seu ritmo frenético de produção científica, ele não media esforços. Tinha, inclusive, atitudes surpreendentes no seio familiar, para conseguir tran-quilidade para trabalhar. Uma história memorável ocorreu quando ele já era casado e pai de filhos jovens. Caiu a noite e ele queria cumprir sua rotina de estudos madrugada adentro. O barulho das visitas dos filhos, porém, o estava atrapalhando. Para espantá-las, foi para a sala nu, ler jornal. Não sobrou nin-guém na sala e ele pôde trabalhar sossegado...

Já em sua rotina vespertina no Hospital Evangélico, ele também se tornou pioneiro em outro campo: a educação. No início do século passado, como a proctologia era uma especialidade praticamente nova, nas escolas de medicina não havia o seu ensino. O que existia eram ambulatórios em que os médicos tentavam praticar a especialidade e cirurgiões gerais que tateavam intervenções na região do ânus e reto. Pitanga Santos, mais uma vez, deu sua contribuição primordial para mudar esse quadro. Ele criou a primeira cadeira de proctologia oficial no ensino médico brasileiro, na Faculdade de Ciências Médicas, instituição particular fundada em 1930 por Rolando Monteiro, Cumplido de Sant’Anna, Ugo Pinheiro Guimarães e outros médicos – anos mais tarde, seria incorporada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com aulas no Hospital Pedro Ernesto. Mas, na década de 30, o curso acontecia no Hospital Evangélico, onde Pitanga Santos dava aulas brilhantes em que utilizava material didático confeccionado por ele próprio.

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Quem se aproximasse disposto a aprender do catedrático não se arrepen-dia. Ele ensinava com tamanho amor pela especialidade que o aluno acabava contagiado pela proctologia. Médicos de várias partes do Brasil e da América Latina tornaram-se alunos de Pitanga Santos, levando para suas terras todo aquele conhecimento e, assim, disseminando a especialidade para além do Rio de Janeiro. É inegável que, a partir da criação da cadeira de proctologia, a espe-cialidade se desenvolveu ainda mais. Pitanga Santos teve o mérito de criar es-pecialistas e de formar assistentes, os quais perpetuaram o desenvolvimento da proctologia nos anos seguintes. Um dos primeiros especialistas criados em sua escola foi Américo Bernacchi, que viria a ser assistente de Pitanga e, em 1958, presidente da Sociedade Brasileira de Proctologia – como ainda era chamada.

O exímio proctologista deixou muito mais a seus seguidores. Para exercer a especialidade, precisou criar instrumentais que facilitassem seu tra-balho. Ele próprio os desenhava e mandava serem confeccionados na firma Lutz Ferrando, que fabrica aparelhos científicos. Desenvolveu, então, anus-cópios, retoscópios, válvula e seringa de injeções esclerosantes. Muitos deles são usados até hoje! E receberam o nome de seu criador, como, por exemplo, Anuscópio de Pitanga Santos e Espéculo Retal de Pitanga Santos.

No campo cirúrgico, o proctologista realizou diversos avanços nas cirurgias anoperineais, que vieram a ser adotados na prática da especialida-de. Ele criou uma técnica própria de hemorroidectomia, excisando primeiro os mamilos internos, realizando em seguida uma plástica cutânea perianal. Pitanga Santos também sistematizou operações de abscessos e fístulas e foi um grande mestre nas operações do câncer do reto pela eletrocirurgia. Nas cirurgias oncológicas, ele manobrava com habilidade três electródios (o de corte, o de bola para hemostasia e o diatermo para coagulação, além da alça de curetagem), atendendo a três itens funtamentais da oncologia: operabilidade, ressecabilidade e radicalidade. Pitanga Santos operava cânceres do reto consi-derados inoperáveis! Com isso, fez com que as sobrevidas de casos dificílimos aumentassem significativamente. Muitas vezes, o paciente necessitava ficar com uma colostomia definitiva, mas, eventualmente, obtinha a cura.

Ao apresentar os resultados de seus tratamentos oncológicos à Academia Nacional de Medicina, Pitanga Santos foi muito criticado porque, embora re-latasse os altos índices de cura, não apresentava estatísticas que os compro-vassem. Ele reagiu: “Vocês não conhecem o meu serviço. Da próxima vez eu vou trazer as estatísticas.” Pitanga, então, com a ajuda de seu assistente Aleixo Lustosa, conseguiu ambulâncias, e eles foram aos endereços das pessoas a quem

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o médico havia operado de câncer de reto e continuavam vivas após cinco anos. Voltando à sessão na Academia Nacional de Medicina, pediu a palavra e disse: “Quero apresentar a minha estatística. A minha estatística está aqui e é ambula-tória.” E desfilou pelo ambiente com seus ex-pacientes curados.

Pitanga Santos foi responsável, também, por revolucionar a manei-ra como os médicos daquele tempo cuidavam das hemorroidas. Derrubou a noção de que se tratava de varizes na região anoperineal, demonstrando a existência de alterações hiperplásicas do estroma em torno dos vasos venosos dilatados. Também fez cair por terra o conceito de estrangulamento hemor-roidal, defendendo a ideia de que se tratava de uma congestão venosa. Outras concepções que modificou foram a de que as fístulas anais tuberculosas são sempre secundárias e a de que não existe o até então falado “meio eminente-mente séptico do reto”. Pitanga Santos criou, ainda, o termo “plicomas” para referenciar as pregas cutâneas que poderiam ser eliminadas por cirurgia.

Devido ao seu trabalho revolucionário no tratamento de hemorroidas, o proctologista foi convidado a escrever um capítulo sobre o assunto no livro Tratado de Gastroenterologia, de Juan Nasio, que foi publicado pela editora Salvat (Barcelona, Espanha), em 1962. Aceitou de bom grado e enviou ao co-ordenador da obra um alentado trabalho sobre hemorroidas e recebeu, como resposta, um pedido para reduzi-lo. Negou-se! Sua vontade foi cumprida, e a editora acabou lançando a obra em três volumes, totalizando 1.370 páginas. A teimosia e, digamos, a genialidade de Pitanga Santos renderam bons frutos: entre todos os trabalhos publicados na edição, escritos pelos mais renomados especialistas internacionais, o do proctologista brasileiro foi considerado o melhor, e lhe foi conferido o primeiro prêmio!

Todos esses destaques de Pitanga Santos atraíram a atenção da socieda-de, a ponto de ele ter recebido de pacientes industriais e de políticos doações em dinheiro, que lhe permitiram fazer grandes melhorias no ambulatório do Hospital Evangélico, equipando-o com modernos aparelhos. Além disso, com essas doações, o sempre prestimoso professor conseguiu montar uma espécie de Museu de Cera composto por um conjunto de 37 nádegas modeladas, em tamanho natural, pelo escultor Baldissara, com alguns retoscópios ilumina-dos internamente por dispositivos adequados feitos por Aleixo Lustosa, que mostravam diversas enfermidades anorretais. Uma grande contribuição para a ciência na época! Mas, infelizmente, um incêndio derreteu todas as peças...

Não foi à toa, portanto, que Pitanga Santos recebeu o título de Pai da Proctologia no Brasil! Ele é, também, o patrono da Sociedade Brasileira de

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Coloproctologia. Embora não haja registro de quando se tornou membro da Sociedade, sabe-se que no 1º Congresso Brasileiro da especialidade, em 1951, ele foi elevado a Membro Honorário. E de acordo com os li-vros de atas, Pitanga Santos apresentou diversos trabalhos nos congressos anuais. Além disso, no momento em que a Sociedade precisou ter seu nome legalizado, foi com a ajuda dele que isso aconteceu, como será visto no próximo capítulo.

Quando Pitanga Santos se despediu do mundo, em 1980, aos 88 anos, tinha um lugar cativo na consideração de todos os coloproctologistas brasilei-ros. Muitos de seus colegas que pertenciam à Sociedade, e mesmo os que não tiveram a oportunidade de conhecê-lo, o reverenciam como o maior nome da especialidade. Tanto é que, além do título de patrono, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia dedica a ele, em sua sede, um ambiente especial, o Centro de Estudos Pitanga Santos (que abriga um centro de estudos, a biblioteca e a administração da Revista e do Jornal Informativo da Sociedade), e anualmente concede o Prêmio Pitanga Santos aos melhores trabalhos na área da proctolo-gia. Tudo isso não apenas para homenageá-lo, mas para manter viva a memó-ria desse grande médico junto aos proctologistas da nova geração.

luís sodré: outro pioneiroNo desenvolvimento da coloproctologia no Brasil, houve outro nome

importante contemporâneo a Raul Pitanga Santos: Luís Sodré – do qual não há registros de que tenha pertencido à SBCP. Deixar de citar este médico seria cometer uma injustiça na narrativa da história do início da especialidade em nosso país, até porque muitos coloproctologistas da atualidade acreditam que havia uma rivalidade entre Pitanga Santos e Sodré. É preciso, então, desmis-tificar esse imbroglio e render as devidas homenagens a esses dois profisssio-nais, cada qual com o seu papel decisivo no desenvolvimento da coloprocto-logia brasileira.

Formado médico, Luís Sodré aproximou-se da especialidade por uma questão familiar. Seu pai, que era funcionário do Itamaraty, tinha hemor-roidas e, após uma cirurgia malsucedida, ficou praticamente sem o ânus, pois a intervenção lesou a musculatura anal. Sodré, então, resolveu acom-panhar o pai a Paris para tentar recuperar sua situação fisiológica com um grande especialista do início do século XX: o português Raul Bensaude. Assim como Pitanga Santos abraçou a especialidade por meio de um sor-teio, Sodré foi impulsionado à proctologia devido ao problema de seu pai,

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que o fez conhecer o renomado proctologista português, passando a estudar com este mestre.

De volta ao Brasil em 1925, trouxe com ele os conhecimentos ad-quiridos sobre tratamento das hemorroidas por injeções esclerosantes. Ele chegou a escrever um artigo intitulado “Hemorroidas”, no qual salientou: “A nossa comunicação tem por fim chamar a atenção dos colegas para um ótimo processo terapêutico, que tem dado, em outros países, excelentes resultados, inclusive na Argentina, e que, entretanto, é ainda pouco conhecido entre nós, onde só ultimamente começa a ser empregado” (depoimento também constante na citada tese “A evolução da proctologia no Brasil: contribuição ao seu estudo”, de Roberval Francisco Bezerra de Menezes). Com a técnica trazida da França, Sodré passou a lutar contra a maneira como o problema era tratado até então, pelo método cirúrgico baseado na exérese. Ele chegou a dividir seus conhecimentos com Pitanga Santos, que acompanhou o traba-lho do jovem colega, embora se mantivesse mais voltado para as cirurgias.

Da mesma forma com que Pitanga Santos teve de lutar contra a indi-ferença e a ironia de muitos médicos que não achavam de vital importância dedicar-se a tal enfermidade, Sodré também precisou ser incisivo para fazer valer seu talento investigativo para desenvolver novos rumos para o trata-mento de diversas afecções proctológicas, que vieram a ser adotados por ge-rações futuras de especialistas. Ele criou sua própria escola de proctologia. E foi à frente do Serviço de Proctologia da Policlínica do Rio de Janeiro que conseguiu dar continuidade às suas pesquisas e ao seu trabalho. Foi aí tam-bém que desenvolveu suas atividades de professor, dando aulas com grande didatismo e prazer, sempre divulgando a seus alunos seus conceitos próprios sobre os tratamentos proctológicos. Quando faleceu, em 1956, tinha deixado para as futuras gerações de especialistas sua maneira de ver a proctologia, que até podia variar da forma de Pitanga Santos, mas era igualmente impor-tante e inovadora.

É daí, portanto, que surgiu o mito da rivalidade entre Pitanga Santos e Luís Sodré. Se essa disputa por hegemonia nos primórdios da coloproctologia brasileira realmente existiu, impossível afirmar com certeza que sim. Caso houve, deve ter sido algo superficial, pois não há registro de qualquer desen-tendimento entre os dois especialistas. Pelo contrário, contam os contemporâ-neos que, em determinado momento, Sodré passou a encaminhar para Pitanga Santos seus pacientes que eram casos cirúrgicos, assim como Pitanga fez o mesmo com os pacientes que exigiam tratatamento clínico, indicando consul-

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tas com Sodré. O que se pode dizer, portanto, é que Raul Pitanga Santos ti-nha sua formação básica cirúrgica e era, portanto, mais intervencionista. Luís Sodré teve sua formação clínica e, como era de se esperar, fazia tratamentos mais conservadores. Em uma linguagem mais popular, cada um “defendia o seu peixe”. O que não quer dizer que fossem inimigos.

O que é preciso ter em mente por todos os coloproctologistas da atuali-dade é que Pitanga Santos e Sodré foram complementares. Ambos difundiram a especialidade numa época em que a proctologia era vista com preconceito e total distanciamento por parte dos médicos. E ambos trouxeram contribuições que são utilizadas até hoje: há correntes de coloproctologistas que são mais conservadores, optando pelo tratamento clínico, há outras que são mais inter-vencionistas, indicando a cirurgia. Cada caso é um caso. Haverá momentos em que o especialista observará que determinado paciente necessita de um tratamento mais ao estilo Pitanga Santos, enquanto em outros surtirão mais efeito técnicas desenvolvidas por Sodré.

A especialidade, portanto, só tem a agradecer a esses dois nomes que usaram de inteligência, ousadia e até mesmo teimosia para fazer com que o tratamento na área do reto e do ânus pudesse ser visto com dignidade pelo meio médico e que pudesse favorecer a tantos pacientes que padeciam de males proctológicos sem contarem com terapias eficazes. Raul Pitanga Santos e Luís Sodré abriram as portas para que, hoje, a especialidade seja ainda mais ampla, abrangendo o tratamento do cólon. Foram pioneiros e merecem nossas homenagens.

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Capítulo 3

A criação da Sociedade em dois tempos

O ano era 1934. O Brasil encontrava-se sob o comando do presidente Getúlio Vargas, que, em 9 de julho, promulgou a nova Constituição Brasileira. Entre as leis que regulariam o país, uma delas veio reforçar o Código Eleitoral reformulado em 1932, prevendo que, além dos deputados escolhidos pelo povo, outros quarenta seriam eleitos pelos sindicatos legalmente reconheci-dos e pelas associações de profissionais liberais e de funcionários públicos. Eram os chamados deputados classistas. Com isso, ganhou força a vontade de alguns profissionais de pertencerem a essas associações para, então, concorre-rem a uma vaga na Câmara.

Foi assim que o médico urologista Álvaro Cumplido de Sant’Anna viu nascer a oportunidade de levar sua experiência profissional para além de clínicas e hospitais, conquistando também o campo político. Ele, que já era membro desde 1930 da Academia Nacional de Medicina – de onde veio a ser presidente de 1951 a 1955 – e da Sociedade Brasileira de Urologia – que pre-sidiu pela primeira vez em 1935 e em outros oito mandatos em anos diferentes –, achou que ganharia ainda mais força eleitoral caso viesse a pertencer ao maior número possível de associações médicas. Então, mesmo sendo de ou-tra especialidade, Cumplido de Sant’Anna registrou em cartório a Sociedade Brasileira de Proctologia e convidou um grupo de amigos – formado por ci-rurgiões e médicos de diversas especialidades, exceto a própria proctologia – para fazer desta sociedade uma realidade.

No dia 12 de setembro de 1934, na rua Chile, 13, 2º andar, Centro do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, tinha início a primeira reunião da nova

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sociedade médica. O Termo de Abertura foi registrado em um Livro de Atas, que serviria de repositório dos acontecimentos da nova agremiação que iria congraçar os especialistas da proctologia. Vinte médicos participaram da reu-nião inaugural, cuja mesa foi presidida por Leão de Aguiar e secretariada por Bueno Brandão e Cledo Lessa. Nela, foi sugerido pela primeira vez, por Paulo Pinto da Rocha, o nome que identificaria aquele grupo: Sociedade Brasileira de Proctologia. O pontapé inicial estava dado!

O segundo passo, portanto, seria decidir o estatuto da nova socieda-de. Isso aconteceu na reunião seguinte, em 17 de setembro, mas foi apenas na terceira reunião, no dia 26 do mesmo mês, que o estatuto foi totalmente aprovado, na presença de 17 médicos. Outra etapa importante foi eleger a diretoria de acordo com as regras do estatuto, o que aconteceu na quarta reu-nião da Sociedade, em 29 de setembro, quando foram eleitos João Pedro Leão de Aguiar como presidente, Bueno Brandão como secretário e Cledo Lessa como tesoureiro. Cumplido de Sant’Anna manteve-se apenas como o criador da Sociedade Brasileira de Proctologia. Jamais a presidiu.

Nesses primeiros momentos da sociedade, ela era muito mais política do que científica. Vale lembrar que, por trás de sua criação, estava o interesse de eleger deputados classistas. Assim, na quinta reunião do grupo, em 1º de novembro, na presença de 15 sócios, foi escolhido o médico Abdon Lins como delegado-eleitor da Sociedade, cargo que o fazia ser o representante profis-sional junto à Câmara Municipal do Distrito Federal. Em 14 de novembro, de acordo com instruções do Superior Tribunal de Justiça Eleitoral, foi refeita a eleição, garantindo a posição de Lins.

No ano seguinte, 1935, o grupo de médicos que formava a Sociedade começou a revesti-la de um caráter um pouco mais científico. No dia 23 de ja-neiro, na presença de oito sócios, foi efetivada a compra de textos de proctolo-gia para dar início a uma biblioteca. Em 25 de fevereiro, oito sócios realizaram uma discussão sobre a técnica operatória do cisto piloso. Em 8 de abril, houve outra sessão científica, com uma exposição de Cledo Lessa sobre linfogra-nulomatose do reto. Nove sócios participaram. E em 7 de maio, Abdon Lins falou para sete sócios sobre a flora intestinal.

Como se percebe, as reuniões eram esparsas e reuniam poucos médi-cos. Dos vinte que se reuniram na sessão inaugural, menos da metade com-parecia. Um fato que é bastante controverso em relação a esta Sociedade ini-cial é que em nenhum momento foi feita menção aos nomes de Raul Pitanga Santos e Luís Sodré, os proctologistas mais renomados na década de 1930. A

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ausência desses dois especialistas talvez reforce ainda mais o perfil político dessa Sociedade Brasileira de Proctologia, que, apesar das últimas reuniões de caráter científico, voltou à cena no dia 2 de julho, quando foi feita nova eleição para delegado-eleitor, sendo reeleito Abdon Lins com os votos de apenas oito sócios.

Esta foi a última anotação presente no Livro de Atas da Sociedade... A partir daí, não há registros do que ocorreu a esse grupo de especialistas. Tudo indica que ela foi desativada, antes mesmo de completar um ano de atividades, embora tenha permanecido registrada em cartório. O período pré-Segunda Guerra Mundial era nebuloso, assim como a instalação do Estado Novo, por Getúlio Vargas, com a Constituição de 1937. Ela extinguiu a Justiça Eleitoral, aboliu os partidos políticos existentes e suspendeu as eleições livres. Era o fim dos deputados classistas. Teria sido este o motivo que levou ao desinteresse dos médicos pela Sociedade Brasileira de Proctologia?

A sociedade renasceInfelizmente, não há respostas exatas para isso. Mas o fato é que,

em 1945, quando ocorreu a volta da democracia ao Brasil e os horrores da Grande Guerra ficaram para trás, abriu-se um novo horizonte para a Sociedade Brasileira de Proctologia. O cenário agora, porém, era Salvador. A procto-logia na Bahia vinha se desenvolvendo bem, com nomes significativos de especialistas. O primeiro médico que exerceu a especialidade em Salvador foi Fernando Salazar da Veiga Pessoa, formado em 1908. Em 1927, Lourival Carvalho era outro proctologista “puro”, com grande e seleta clínica parti-cular na capital baiana. Em 31 de dezembro de 1936, foi criado o Serviço de Proctologia do Hospital Santa Izabel, por Antônio Moacir da Silva Pereira, então provedor da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, cujo atendimento foi iniciado no ano seguinte sob a direção de Fernando Salazar.

Com o passar dos anos, surgiram outros profissionais baianos que se fir-maram, obtiveram notoriedade e proporcionaram maiores progressos à espe-cialidade, como Edgard Valente, Mário Matos, Clarival do Prado Valladares, Geraldo Milton da Silveira e outros. Um nome que muito iria se destacar era o de Walter Gentile de Mello, médico nascido no Rio Grande do Norte, mas que fazia parte da Escola da Bahia. O ensino da especialidade também come-çou a se firmar neste estado nordestino. Nos programas das cadeiras de clíni-ca propedêutica cirúrgica, ocupada por Eduardo de Sá Oliveira, e de clínica cirúrgica da Faculdade de Medicina da Bahia, posteriormente exercida pelo

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mesmo professor, foram incorporados, a partir de 1942, pontos dedicados à propedêutica proctológica e às afecções do reto e do ânus. Em 1944, Walter Gentile de Mello publicou um artigo na Revista Médica da Bahia, no qual divulgava a importância da especialidade.

Nessa época, portanto, diversos proctologistas baianos – ou residentes na Bahia – estavam bastante motivados com o desenvolvimento da especia-lidade. Nada melhor, então, do que congraçar esses médicos em um só gru-po, que pudesse impulsionar ainda mais a proctologia no Nordeste. Assim, em 1945, Fernando Salazar, Edgar Valente, Mário Mattos, Almiro Daltro, Lourival Carvalho, Tavares Macedo e Walter Gentile de Mello resolveram fundar a Sociedade Baiana de Proctologia, em Salvador. Para colocá-la em prática, deram a Valente a missão de elaborar o anteprojeto dos estatutos. Porém, antes mesmo de oficializar a nova sociedade, decidiram que o ideal seria primeiramente ministrar um curso de alto nível científico com a partici-pação de especialistas de outros estados, principalmente do Sul e do Sudeste. Durante esse curso – que já tinha ares de congresso – é que seria anunciada a criação da Sociedade de Proctologia da Bahia.

Só que novos ventos começaram a soprar, ampliando a boa ideia nor-destina... Da lista de convidados, fazia parte Sylvio D’Ávila, um profissional exponencial no Rio de Janeiro. Ao tomar conhecimento da pretensão de se criar a sociedade baiana, ele percebeu que o que era bom poderia ficar ainda melhor. Em vez de uma regional, por que não criar a Sociedade Brasileira de Proctologia? Fazia pouco tempo que ele havia voltado da América, onde fizera um curso na área de proctologia, e havia visto por lá uma sociedade muito interessante da especialidade. Sua ideia era criar algo parecido no Brasil, inclusive com estatuto semelhante, o qual congraçaria proctologistas em âmbito nacional na forma de reuniões anuais ou congressos. A sugestão audaciosa contagiou o grupo de proctologistas nordestinos! Walter Gentile de Mello tratou de escrever um artigo que se tornou um clássico, publicado na Revista Médica da Bahia em julho de 1945, convocando os especialistas para a nova Sociedade:

PELA CRIAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PROC TO-LOGIA

WALTER GENTILE DE MELLO

A idéia desta Sociedade representa uma justa e madura aspiração do proctologista baiano. As suas principais finalidades são: o congraça-mento profissional dos proctologistas; a maior aproximação afetiva en-

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tre os especialistas; o intercâmbio intelecto-cultural entre os seus mem-bros e o aproveitamento das atividades proctológicas de cada um deles; o incentivo da produção literário científica especializada; o estímulo de estudo e pesquisa despertado e orientado por palestras previamente estabelecidas pelos sócios.

Visa, ainda, entrar em ativa correspondência e estabelecer relações com outras agremiações semelhantes cujos benefícios, inestimáveis, se com-provarão, preliminarmente, pela possibilidade de se adquirirem os mais recentes trabalhos, portadores de valiosos e atualizados conhecimentos e aquisições da especialidade.

A união dos proctologistas, movida por tão elevados fins, sem a menor interferência de quaisquer sentimentos esnobistas, no mais sincero e arrojado propósito de apoio à sociedade em mira, poderá proporcio-nar um ambiente propício à formação de uma Escola Proctológica na Bahia, dentro de alguns anos, como existe uma de Gastro Enterologia, já vitoriosa em S. Paulo.

A organização em vista não pode pretender objetivos imediatos, pois muitas são as dificuldades e lutas que terá de enfrentar, em início, para subsistir e vitoriar.

A disposição de trabalhar de cada sócio, assegurada com o registro clínico e comunicação de casos proctológicos e elaboração e dis-cussão de trabalhos especializados, visando à publicação do número inaugural dos Anaes da Sociedade, marcará o início das atividades deste novo Grêmio.

Os membros organizadores e constituintes da Sociedade Brasileira de Proctologia devem ser, preferencialmente, proctologistas e médicos de especialidades bem próximas e interessados do assunto, que se reunirão em sessão, mensalmente. (As reuniões serão realizadas, preferencialmen-te, num salão da Faculdade de Medicina, já solicitado para este fim.)

Os sócios serão classificados de acordo com os estatutos a serem feitos, sendo que a condição de Membro Titular será satisfeita mediante apre-sentação de um trabalho especializado possuindo contribuição pessoal, dado um determinado prazo, a partir da inscrição do associado.

Todas as atividades apreciáveis e aprovadas pela Mesa Diretora e se-lecionadas pela Diretoria competente serão publicadas nos Anaes da Sociedade, órgão que visa projetar a divulgação e apreciação de tercei-ros o que se realizar na nova entidade.

Após a inauguração da Sociedade, na qual deverá ser organizada e destacada, por votação, a sua primeira Diretoria, serão elaborados os Estatutos, que vigorarão depois de submetidos à aprovação dos sócios.

O período de cada Diretoria empossada deve ser suficiente para a pos-sível apreciação de sua eficiência.

A idéia da criação de uma Sociedade de Proctologia, no Rio de Janeiro, no que nos consta, partiu do Prof. Silvio D’Ávila, tendo sido trazida ao

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nosso meio pelo prezado colega Edgar Valente, há vários anos. Por não haver sido criada, no país, até o momento, outra semelhante, acham os colegas interessados ser oportuno o nome de “Sociedade Brasileira de Proctologia”, em torno da qual é ideal congregar, futuramente, todos os especialistas brasileiros.

Tal aspiração encontra, agora, as condições mais favoráveis à sua con-cretização, contando com a simpatia e disposição de todos os especia-listas do meio baiano.

Esperamos o concurso de todos os colegas da especialidade para esta iniciativa, cujo alcance só futuramente poderá ser avaliado, ressaltan-do-se o fato de que um dos seus escopos é o progresso da própria espe-cialidade “intra muros” da classe médica.

Enfrentemos o aforisma de Hipócrates: “A vida é curta, a arte longa, a sorte é desigual, a experiência não é segura e o julgamento é difícil.”

Consideremos, porém, acima de tudo, que viver é lutar, e o recurso inte-lectual é o refúgio que oferece a ciência desinteressada, proporcionada por semelhantes iniciativas.

Bahia, Julho de 1945.

A ideia começou a fervilhar. No dia 24 de agosto desse mesmo ano, foi feita uma reunião preliminar com 13 proctologistas da Bahia, que se julgavam “os organizadores da Sociedade Brasileira de Proctologia” (de acordo com o chamado “Livro de Atas n. 2” da Sociedade), no salão do Palace Hotel, em Salvador. Neste encontro, ficou determinada a fundação da nova sociedade no dia 6 de setembro, em solenidade que ocorreria na Faculdade de Medicina na Bahia. Esta data, porém, não vingou, devido à impossibilidade do comparecimento do “mentor” Sylvio D’Ávila ao evento. Em 24 de outubro, uma circular avisou que a inauguração da Sociedade fi-nalmente ocorreria em 30 de outubro de 1945, em reunião que seria presidi-da por D’Ávila. A circular era assinada pela seguinte comissão organizado-ra: Fernando Salazar, Edgar Valente, Mário Matos, Almiro Daltro, Lourival Carvalho, Tavares Macedo e Walter Gentile de Mello.

A novidade repercutiu na imprensa. No jornal A Tarde, de 27 de outubro, houve o registro: “Presença na Bahia do Prof. Sylvio D’Ávila, que veio assistir e presidir a inauguração da Sociedade Brasileira de Proctologia, portador de uma mensagem do Colégio Brasileiro de Cirurgiões para o ‘Capítulo da Bahia’. A inauguração da SBP se fará no dia 30 de outubro de 1945, 3ª feira, às 21 horas.” E no mesmo jornal, em 3 de novembro, constava: “Instalou-se nesta cidade a Sociedade Brasileira de Proctologia. Veio especialmente convidado o Dr. Sylvio D’Ávila, presidente da mesma entidade na Capital da República.”

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No dia 5 de novembro, acontecia a sessão inaugural da Sociedade. Isto está registrado em um documento que vem resistindo ao tempo, no qual letras com caligrafia bem trabalhada – quase difícil de entender – se im-põem sobre um frágil e fino papel guardado como relíquia na atual sede da Sociedade. O texto fala:

sessão Inaugural (Fundação) – 5-nov.-1945

Fica formado o capítulo da Bahia da Sociedade Brasileira de Proctologia, estando presente um número de especialistas maior de cinco, tendo fi-cado organizada a Diretoria da seguinte maneira: Escolhido o Prof. Dr. Fernando Salazar e autorizado a formar a Diretoria, por ser o mesmo o mais velho especialista baiano.

Estiveram presentes os Ass: Fernando Salazar, Lourival Carvalho, Mário Matos, Walter Gentile de Melo, José Tavares Macêdo, Osório José de Oliveira e Enock Carteado.

O Dr. Salazar, escolhido pela maioria como Diretor do Capítulo, agra-deceu esta confiança e declinou em favor do Dr. Lourival Carvalho, que ficou então de escolher o Secretário e o Tesoureiro.

O Dr. Lourival Carvalho, como Diretor do Capítulo, apontou os no-mes do Dr. Mário Matos, como Secretário, e Dr. Enock Carteado, como Tesoureiro, que fica encarregado da parte financeira da S.B.P. na Bahia.

Foi louvado pelo Dr. Walter Gentile de Melo a nova Diretoria, que de-sejou auspiciosos votos de progresso para o Capítulo que se formava.

Ficou estabelecido que as sessões do Capítulo devem se realizar na sede Social da “A.B.M.”, para onde deve ser enviada toda a correspondência.

Bahia, 5 de novembro de 1945.

Ass: Dr. Lourival CarvalhoFernando SalazarMário de Oliveira MatosEnock CarteadoWalter Gentile de MeloWalter Gentile de Melo – Pelo Dr. J. Tavares de MacêdoOsório José de Oliveira

Sylvio D’Ávila sagrou-se como o primeiro presidente da recém-cria-da Sociedade. E como já desde o início havia sido definido no estatuto, a Sociedade seguiria para o estado em que residisse seu presidente. É bem ver-dade, porém, que durante muitos anos a Sociedade Brasileira de Proctologia não teve sede própria. Era uma sociedade praticamente itinerante... À medida que o tempo passava e ela ia crescendo, mais e mais material se acumulava.

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Atas, documentos, livros... Tudo isso ia sendo guardado em um arquivo de ferro que se deslocava de um estado para outro, conforme fosse o endereço do novo presidente eleito anualmente.

Esse arquivo – que recebeu dos sócios o apelido “carinhoso” de “a lata” – só veio encontrar pouso certo na década de 1970, após uma longa peregrina-ção. Afinal, esta já era uma necessidade percebida há muitos anos pelos mem-bros da Sociedade. Em 1964, por exemplo, durante o 14º Congresso Brasileiro de Proctologia, o presidente Pedro Gus chamou a atenção para o fato de que a Sociedade precisava ter uma secretaria fixa, alegando dificuldades de cadastro de comunicação. Sugeriu que ela ficasse no estado da Guanabara ou em São Paulo. No ano seguinte, durante o 15º Congresso, o assunto voltou à pauta. Walter Ghezzi insistiu na criação dessa secretaria fixa para a Sociedade, visto que, mediante o crescimento do grupo, era quase impossível manter a organi-zação de um cadastro e de um fichário corretos dos membros da SBP se a cada ano esse material precisasse ser deslocado de um local para outro. Aloysio de Carvalho concordou com o ponto de vista do colega, afirmando que ele, como ex-presidente da Sociedade, sabia bem das enormes dificuldades enfrentadas pelos presidentes diante da falta de endereços corretos dos sócios, o que atra-palhava o pagamento das anuidades. Porém, nada ficou decidido.

Já em 1967, durante o 17º Congresso Brasileiro de Proctologia, esta-vam sendo feitas alterações no estatuto da Sociedade por meio de Assembleia Geral. Na ocasião, Ghezzi propôs a redação do artigo 2º do anteprojeto de re-forma dos estatutos, prevendo uma sede fixa onde funcionasse uma secretaria permanente e que fosse o foro da sociedade. O plenário, então, se pronunciou sobre onde deveria ser essa sede, surgindo três propostas idênticas de que fos-se no estado da Guanabara, por ter sido ali a sede da primeira reunião anual da SBP. Colocada em votação, a proposta foi aprovada por unanimidade.

Contudo, nada acontecia para esse endereço fixo tornar-se realidade. Em 1971, após o congresso presidido por Geraldo Milton da Silveira, foi su-gerida a utilização do lucro para a compra de uma sede. A ideia, porém, não vingou. No ano seguinte, durante o 22º Congresso Brasileiro de Proctologia, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Valério Garcia voltou a solicitar pro-vidências para a instalação da secretaria fixa para a sociedade. Mas o proble-ma só chegou ao fim no ano seguinte, durante reunião administrativa da SBP, em 3 de setembro de 1973. Walter Ghezzi lembrou aos membros presentes que os estatutos haviam sido feitos por ele há sete anos e, já naquela época, ele mesmo reiterara a imperiosa necessidade da criação da secretaria no estado da Guanabara. Foi então que Décio Guimarães Pereira apresentou a proposta

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que vinha sendo arduamente trabalhada: a de fixar a secretaria da SBP na sede da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, em um espaço gentil-mente cedido pelo presidente dessa sociedade, Júlio Sanderson de Queiroz. E o melhor: sem qualquer ônus financeiro para a SBP, inclusive com a disponi-bilização de cobradores das mensalidades também sem ônus.

Nessa época, a Sociedade tinha poucos recursos financeiros. Não ha-via, ainda, dinheiro suficiente para se comprar ou mesmo alugar uma sede. Assim, por decisão em Assembleia Geral, durante o 23º Congresso Brasileiro de Proctologia, realizado em 1973, foi aceita a oferta de Júlio Sanderson. Dessa maneira, “a lata”, a secretaria e a tesouraria da SBP passaram a ocupar o espaço cedido, situado na Avenida Mem de Sá, 197, Lapa. A Sociedade lá permaneceu durante 15 anos, de 1974 até 1989.

A conquista da sede própriaApesar da boa vontade da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de

Janeiro em dividir o espaço com a SBCP, chegou um momento em que essa situação começou a ser questionada pelos membros coloproctologistas. Já em 1975, ano seguinte à instalação na Mem de Sá, na 31ª Reunião Administrativa Anual ocorrida no 25º Congresso, Angelino Manzione propôs que se trocasse o atual endereço por uma sede própria, nem que fosse alugada. Mas Daher Cutait, Décio Pereira e outros sugeriram que se continuasse a aplicar o di-nheiro disponível, até haver saldo apreciável que permitisse a compra de um imóvel de maior valor.

Os anos foram passando até que, durante o 36º Congresso Brasileiro, em 1987, que aconteceu em Foz do Iguaçu (PR) sob a presidência de Fernando José de Souza, o assunto voltou à tona na 43ª Assembleia Geral Ordinária (AGO): a compra da sede própria. Afinal, a Sociedade nesse momento esta-va com ótima saúde financeira. Graças à aplicação das receitas obtidas nos congressos anteriores e, em especial, ao grande sucesso econômico do 3º Congresso Mundial, em 1986, as disponibilidades monetárias da Sociedade haviam crescido bastante. Para se ter uma ideia, só com o Congresso Mundial houve o lucro de Cz$ 5.616.000,00 (cinco milhões, seiscentos e dezesseis mil cruzados), o equivalente, ao câmbio da época, a 149 mil dólares.

Para acomodar e melhorar as atuais instalações da Sociedade, o Grupo de Trabalho de Finanças, coordenado por Rosalvo José Ribeiro e tendo como demais membros Angelita Habr-Gama, José Hyppolito da Silva, Nilo Luiz Cerato e José Figueiroa Filho, sugeriu que se devia ad-

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quirir uma sala no Rio de Janeiro, preferencialmente no prédio do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em Botafogo, bairro da Zona Sul. Houve quem questionasse a validade de se usar o capital para a compra de um imóvel. Rosalvo, então, lembrou as dificuldades das acomodações da Sociedade naquele momento, no pequeno espaço cedido pela Sociedade de Medicina e Cirurgia. José Alfredo Reis Neto, Farjalla Sebba e Angelita se mostraram favoráveis à compra da sede, considerando-a como algo natural mediante o crescimento da SBCP.

Hélio Moreira pediu a palavra e fez uma comparação importante. Ele, que já havia sido presidente da Sociedade Brasileira de Gastroenterologia, lembrou que ela não tinha sede fixa e, por isso, se encontrava em estágio menos avançado do que a Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Reforçou, ainda, que a SBCP era a maior da América Latina na especialidade e deu um exem-plo contundente: a própria Associação Latino-Americana de Coloproctologia (ALACP), por não contar com uma sede própria, não apresentava a organiza-ção condizente com a sua representatividade. A SBCP não poderia correr os mesmos riscos...

Ainda assim, alguns poucos membros não se convenceram da neces-sidade da aquisição da sede própria. Viam a compra como um mau negócio, embora concordassem que já era hora de a Sociedade ter acomodações melho-res. Foi sugerido, então, que se alugasse uma sala pequena, do tipo escritório, para acomodar a sede. A palavra final veio de Daher Cutait, salientando que a SBCP não era uma empresa comercial com fins lucrativos e que, para prestí-gio da Sociedade, era essencial a aquisição de uma sede. A questão foi posta em votação e, com apenas três votos contrários, a compra da sede própria foi finalmente aprovada.

No ano seguinte, portanto, sob a presidência do gaúcho Érico Fillmann, é que se deu a procura pela sede definitiva da Sociedade. Mas em vez de se optar por uma sala no prédio do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, o local ideal foi encontrado no coração do Rio de Janeiro. No dia 23 de julho de 1988, efetuou-se a compra da sede da SBCP, em um moderno edifício na Avenida Marechal Câmara, no Centro, com uma bela vista para a Baía de Guanabara e o Aeroporto Santos Dumont. Durante a presidência seguinte, em 15 de ou-tubro de 1989, Rosalvo José Ribeiro teve a honra de instalar a Sociedade no novo endereço. Após a mudança, durante o congresso presidido por Rosalvo, ele fez questão de levar um dos convidados estrangeiros para conhecer a nova sede: o professor Peter Hawley, do St. Mark’s Hospital, de Londres. Ao ver as modernas e confortáveis instalações, o médico inglês pegou o programa do

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Congresso e, ali mesmo, escreveu a respeito da ótima impressão que havia lhe causado a visita à nova sede da Sociedade.

Um fato interessante em relação a esse início da estabilização da Sociedade é que seus membros souberam ser generosos, tal como a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro havia sido com eles. A retribuição da gentileza foi feita para uma sociedade parceira da brasileira, a Associação Latino-Americana de Coloproctologia, que também não tinha sede fixa. Sua secretaria e tesouraria ficaram, durante muitos anos, no consultório do proctologista argentino Marcelo Fraise, em Buenos Aires. Durante o 38º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, em 1989, Amadeo Espeche, presidente eleito da ALACP, foi ao Rio de Janeiro e quis conhecer a nova sede. Ao conhecer o local, gostou muito e fez uma sugestão – quase um apelo. Disse que ele já estava ficando idoso, assim como o Secretário da Sociedade Latino-Americana. Quando ambos morressem, documentos impor-tantes da Sociedade que eram guardados em seu consultório poderiam se per-der. Por conta disso, confirmou que iria apoiar a transferência da sede da Latino-Americana para a Brasileira. Os membros da Sociedade Brasileira aceitaram a ideia sem pestanejar e, durante o congresso da Latino-Americana, em 1991, em Las Leñas, na Argentina, os membros votaram pela transferência da sede para o Brasil, onde ela se encontra até hoje.

uma sociedade de fato e de direitoO impasse quanto ao local de funcionamento da Sociedade, po-

rém, não foi o maior empecilho que teve de ser enfrentado nos primeiros anos de sua existência. O que o grupo que criou a Sociedade Brasileira de Proctologia não sabia é que ela já existia, registrada em cartório. Após a inauguração da nova agremiação de proctologistas brasileiros, passaram a ocorrer reuniões anuais entre os membros, na cidade do presidente em exercício, e algumas sessões extraordinárias, normalmente realizadas no Rio de Janeiro, na sede da Sociedade de Medicina e Cirurgia. Somente em 1951 aconteceu o primeiro congresso propriamente dito da Sociedade Brasileira de Proctologia. Vale ressaltar que essas reuniões e congressos sempre tiveram um cunho científico, diferentemente do teor político da primeira Sociedade fundada por Cumplido de Sant’Anna. Porém, legal-mente, esses eventos sob o nome da Sociedade Brasileira de Proctologia não poderiam estar acontecendo. Havia um dilema: a Sociedade criada em 1934 não existia de fato – porque seu caráter era mais político do que cien-tífico –, mas existia de direito, uma vez que era legalizada; e a Sociedade de 1945 existia de fato, mas não existia de direito.

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Tal situação só veio a se modificar por meio do esforço de Américo Bernacchi, em 1958, quando foi presidente da Sociedade. Na época, ele desfrutava de muito prestígio junto ao governo federal, porque já havia operado políticos, inclusive o chefe de gabinete do presidente Juscelino Kubitschek. Assim, para realizar o congresso da Sociedade no Rio de Janeiro, Bernacchi teve a ideia de tirar proveito de suas boas relações com o governo e solicitar uma verba para o evento. Foi diretamente conversar com um dos ministros de JK, que, sem rodeios, perguntou do que o reno-mado médico precisava. Bernacchi também não teve delongas e foi enfáti-co: “Preciso de dez mil cruzeiros!” – muito dinheiro para a época... Ouviu a resposta: “Então procure lá na repartição.” E assim o fez. Conseguiu a verba, mas, para ela ser liberada, ele precisaria apresentar a documentação legalizada da Sociedade.

Era hora, então, de empenhar todos os esforços para resolver essa si-tuação que vinha se arrastando há anos. Para tanto, Bernacchi contou com a ajuda de ninguém menos do que o pai da proctologia brasileira, Raul Pitanga Santos, de quem havia sido assistente no início de carreira. Pitanga Santos era amigo de Cumplido de Sant’Anna, o dono do registro da Sociedade. Pitanga fez força junto a Cumplido para que ele aceitasse o pedido de Bernacchi de transferir o nome oficialmente para a Sociedade vigente. Em troca, ele re-ceberia o título de sócio benemérito da Sociedade Brasileira de Proctologia. Pitanga Santos tanto pressionou que conseguiu convencer Cumplido a ceder os direitos. Assim, Bernacchi pôde voltar à repartição com os documentos legais nas mãos, trazendo para a Sociedade o montante que permitiria a reali-zação do congresso. Além de ter obtido junto a Sant’Anna o título de registro da Sociedade, Bernacchi recebeu do médico o Diário Oficial em que foi pu-blicado o extrato dos estatutos, os estatutos, o livro de presenças e o livro de atas da primeira fase da Sociedade Brasileira de Proctologia – preciosidades que se encontram guardadas como um tesouro na sede da SBCP.

O mais importante, porém, não foi a obtenção da verba e de toda essa docu-mentação, e sim a conquista de uma nova realidade a partir de 1958: a Sociedade Brasileira de Proctologia, agora, havia se tornado uma Sociedade de direito e de fato! A partir daí, ficou para trás todo o ranço que relacionava a agremiação fun-dada em 1945 (e que funcionava de fato, com cunho científico) com aquela criada em 1934 (que existia legalmente, mas cujos objetivos eram prioritariamente polí-ticos). Tamanha foi a importância dessa mudança que, no processo para a obten-ção do nome da Sociedade, Bernacchi chegou a convocar duas reuniões extraor-dinárias para deixar os membros a par, conforme consta nas atas:

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Ata de reunião extraordinária realizada em 21 de março de 1958, na cidade do rio de Janeiro

Aberta a sessão pelo Sr. Presidente, o mesmo explicou o motivo da convocação extraordinária, que é o de transmitir os entendimentos ver-bais que tivera com o Professor Doutor Álvaro Cumplido de Sant’anna, dos quais resultou que seria escrita uma carta após esta sessão, na qual seria solicitada a cessão dos títulos e documentos em poder do referido professor, a fim de situar juridicamente, definitivamente, a Sociedade Brasileira de Proctologia. Oferecida a palavra aos presentes, nada mais havendo a tratar, foi encerrada a sessão.

Ata da reunião extraordinária realizada em 2 de abril de 1958, na cidade do rio de Janeiro

Foi constatado o bom êxito das transações efetuadas entre o Presidente desta Sociedade, Dr. Américo Bernachi, e o Professor Doutor Álvaro Cumplido de Sant’anna acerca do que havia sido estabelecido na reunião anterior de 21 de março de 1958. Foram recebidos pelo presidente o título de registro da Sociedade, o Diário Oficial em que foi publicado, o extrato dos Estatutos, os Estatutos, o livro de presenças e o livro de atas.

Pouco mais de um mês depois, era chegado o momento de Bernacchi cumprir o combinado, concedendo a Cumplido o título de membro benfeitor da Sociedade. Esse fato ocorreu durante um evento científico realizado no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, no qual estava presente alguém que não poderia real-mente faltar: Pitanga Santos, o principal intermediador para que o presidente em exercício conquistasse a legalização da Sociedade. A ata do evento é memorável:

AtA DA sessão ConJuntA CoM o ColÉGIo BrAsIleIro De CIrurGIÕes, reAlIZADA no DIA 12 De MAIo De 1958, nA AVenIDA CHurCHIll, 97/11º AnDAr, nA CApItAl FeDerAl

O presidente da SBP, Dr. Américo Bernacchi, antes do início dos tra-balhos, prestou uma justa homenagem ao Professor Doutor Álvaro Cumplido de Sant’anna, concedendo-lhe em nome da SBP o título de Membro Benfeitor, de acordo com o art. 47º, parágrafo único dos Estatutos, por seus relevantes serviços prestados, facilitando e cola-borando no registro da SBP, tornando-a, assim, uma entidade jurídica. O referido Professor disse, em seguida, algumas palavras de agradeci-mento pela homenagem recebida, felicitando a SBP pelo seu crescente prestígio na classe médica.

Com a sua legalização, uma nova era se iniciou para a Sociedade Brasileira de Proctologia, como era então chamada. O nome da Sociedade, porém, viria a sofrer uma mudança anos depois...

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um novo nomeNa década de 1960, médicos norte-americanos iniciaram uma polêmica

a respeito de quais especialistas poderiam ou não operar o cólon. Chegou-se ao acordo de que proctologistas também eram indicados para realizar cirur-gias nessa região. Assim, foi sugerida a alteração do nome da especialidade para coloproctologia. Com isso, para se adequar à nova denominação, os es-pecialistas norte-americanos também modificaram o nome da sociedade que os representava: a American Society of Proctology passou a se chamar The American Society of Colon and Rectal Surgeons.

Essa mudança, obviamente, teve reflexos entre os especialistas brasi-leiros. A grande questão era: também precisariam trocar o nome da especia-lidade e, inclusive, o da Sociedade? Durante o 14º Congresso Brasileiro de Proctologia, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 1964, essa discus-são veio à tona pela primeira vez. Décio Pereira sugeriu a mudança do nome da Sociedade, a fim de acompanhar a nova tendência da especialidade no exterior. Daher Cutait, porém, argumentou que não seria oportuno naquele momento por diversas razões, e ao ser colocada em votação, a proposta de Pereira não foi aprovada.

Somente dez anos depois, durante o 24º Congresso Brasileiro de Proctologia, Carlos Brenner retomou o assunto. Posto em discussão, Salvador Ferreira propôs que se mudasse o nome para Sociedade Brasileira de Colo, Reto e Ânus. Já Nilson Marcondes Celso foi contra, por achar que esse nome poderia gerar polêmica. Daher, que agora se apresentava a favor da mudan-ça, sugeriu a troca para Sociedade Brasileira de Cirurgia Colo-Retal. Mas Sérgio Brenner salientou que talvez fosse melhor esperar a próxima reunião da Associação Latino-Americana de Proctologia (ALAP), para que o nome fosse alterado nos mesmos moldes. O argentino Juan Manuel Ortiz, que estava presente no congresso, informou que a tendência era que a ALAP mudasse sua denominação para Associação Latino-Americana de Cirurgia Colo-Retal. Ainda assim, Angelino Manzione achou melhor que o assunto voltasse a ser discutido no congresso do ano seguinte, por meio de uma reunião especial destinada ao assunto. Sugeriu, também, que o novo presidente enviasse a to-dos os membros, ao longo do ano, um questionário pedindo sugestões para o novo nome da Sociedade.

Essa discussão, porém, se estendeu por ainda cinco anos. Durante o 25º Congresso, em 1975, em Curitiba (PR), Brenner cobrou a resposta aos questionários preenchidos pelos membros para que se realizasse logo a mu-

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dança do nome. Mas vários especialistas indagaram se realmente haveria necessidade disso, ainda mais com tanta urgência. Joaquim José Ferreira lembrou que era preciso esperar primeiramente a decisão da ALAP. Posta em votação, todos deixaram a discussão de lado. Ela retornou em 1978, no 28º Congresso, em Porto Alegre (RS), quando Nilson Marcondes Celso colocou o assunto novamente em pauta. Walter Ghezzi então lembrou que, de acordo com o artigo 35 do estatuto, essa decisão só poderia ser tomada em sessão extraordinária especialmente convocada para tal fim. Geraldo Magella, que viria a ser o próximo presidente, propôs que se convocasse essa sessão para o primeiro dia das reuniões do próximo congresso. Todos aprovaram a ideia.

Finalmente, foi em 1979, durante o 29º Congresso Brasileiro de Proctologia, que a mudança do nome se concretizou. Logo na abertura da Assembleia Geral Extraordinária, no dia 19 de setembro, o presidente Magella informou que havia enviado formulário com sugestões de novos nomes para a Sociedade. Eram eles:

• Sociedade Brasileira de Coloproctologia.• Sociedade Brasileira de Cirurgiões de Colo e Reto.• Sociedade Brasileira de Cirurgia Proctológica e do Colo.• Sociedade Brasileira de Cirurgiões do Colo, Reto e Ânus.• Sociedade Brasileira de Cirurgia Cólica e Proctológica.• Sociedade Brasileira das Doenças do Colo e do Reto.• Sociedade Brasileira das Doenças do Colo, Reto e Ânus.• Sociedade Brasileira de Doenças Colorretais.• Sociedade Brasileira de Patologia Ano-Reto-Cólica.

Em retorno, Magella recebeu respostas de aproximadamente 250 mem-bros. A maioria optava pela manutenção do nome “Sociedade Brasileira de Proctologia” ou pela primeira opção da lista. O presidente, então, colocou em votação se o nome da Sociedade deveria ser mesmo mudado. Entre os 56 membros titulares presentes que tinham direito a voto, quarenta votaram a favor da mudança e 16 votaram contra. Era realmente chegado o momento de mudar... O resultado da votação foi: 42 membros optaram por Sociedade Brasileira de Coloproctologia; sete, por Sociedade Brasileira de Cirurgiões do Colo, Reto e Ânus; e seis, por Sociedade Brasileira de Cirurgiões de Colo e Reto. Finalmente chegava o fim aquela discussão que havia durado anos. A Sociedade agora seria Brasileira de Coloproctologia, e sua sigla mudaria de SBP para SBCP.

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E é assim, como Sociedade Brasileira de Coloproctologia, que esta im-portante Sociedade vem sendo conhecida – e reconhecida – não só no país como mundialmente, uma vez que não para de crescer. Hoje, é a segunda maior sociedade de coloproctologia do mundo em número de sócios – a pri-meira é a norte-americana –, agregando cerca de 1.600 especialistas e contri-buindo valorosamente para os avanços científicos da especialidade.

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Capítulo 4

Tudo pelo bem da família coloproctológica brasileira

Deixando totalmente para trás o perfil político de sua primeira fase, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia ressurgiu em 1945 para fazer a di-ferença. Para ser o porto seguro dos especialistas brasileiros. Para ser uma agremiação que realmente unisse os profissionais e os beneficiasse das mais variadas formas. É bem verdade que a Sociedade se iniciou bem modesta, pe-quena em número de sócios e em abrangência de atuação, mas só fez crescer ao longo dos 67 anos que se seguiram até os dias atuais.

Na década de 1940, a Sociedade Brasileira de Proctologia – como era chamada – buscava fazer mudanças positivas na maneira como a es-pecialidade vinha sendo exercida até então. Seus fundadores já contavam com grande experiência na área e, com a criação da Sociedade, o principal desafio era dividir todo aquele conhecimento com os jovens médicos que se interessassem pela proctologia, a fim de desenvolvê-la cada vez mais. Nessa época, era comum que o cirurgião, durante a realização de um pro-cedimento, se fechasse no ambiente cirúrgico, não permitindo a entrada de alunos. Não era possível aos iniciantes ver como ele trabalhava para, assim, aprender. Com a Sociedade, houve uma abertura nesse aspecto. Nascia junto com ela uma vontade muito grande de ensinar, de compartilhar. De certa forma, os proctologistas mais experientes acabaram se tornando professores dos estudantes e médicos interessados em aprender a especialidade, permi-tindo a presença deles durante as cirurgias. E foi assim durante muitos anos, enquanto a residência médica não foi instituída como obrigatória, o que só veio a acontecer em 1977.

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Essa troca de informações se estendia para os encontros promovidos pela Sociedade a cada ano. Inicialmente, como o número de associados era pequeno, esses encontros eram denominados “reuniões anuais”. A partir de 1951 é que a Sociedade se avolumou e tiveram início os congressos, evento mais significativo até hoje para que ocorra a divulgação de estudos de casos, de novas técnicas e de tudo o mais que diga respeito à especialidade, tanto no Brasil quanto no mundo. Dos pequenos grupos das reuniões anuais – que não passavam de trinta a quarenta médicos –, hoje os Congressos Brasileiros de Coloproctologia chegam a reunir mais de 1.200 participantes.

Esse número não é em vão. Ele é resultado dos esforços que a Sociedade vem empreendendo ao longo de todos esses anos para tentar colocar em prá-tica os três primeiros objetivos estabelecidos em seu estatuto: “incentivar a divulgação de conhecimentos relacionados à área de atuação do coloprocto-logista; estimular a pesquisa científica na especialidade; propugnar pelo pro-gresso da Coloproctologia”. E, diga-se de passagem, a Sociedade não tem apenas “tentado”, ela tem “conseguido”!

Assim, a cada novo especialista associado, a cada novo congresso rea-lizado, a SBCP foi constituindo raízes sólidas, fundamentadas justamente em seu caráter humano e científico. Hoje, não há membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia que não faça a mesma afirmação: a de que ela tornou-se uma grande família! Afinal, os integrantes da Sociedade são unidos por laços fortes de amizade. De Norte a Sul do país, esse fato fica nítido quando, por exemplo, um coloproctologista nordestino faz um comentário elogioso a res-peito de um colega do Sul ou quando um especialista do Sudeste comenta a saudade que sente do médico que mora em Goiás.

Como isso é possível? Exatamente pelo grande congraçamento que a Sociedade sempre estimulou entre seus membros por intermédio, prioritaria-mente, da participação nos congressos anuais. E o mais interessante é que essa união acabou sendo um dos fatores que impulsionaram o crescimento da Sociedade. Se fosse uma entidade fragmentada, talvez não tivesse conseguido ir tão longe e por tanto tempo. E talvez não tivesse conseguido, também, ter formado essa grande família coloproctológica brasileira. Como toda família, porém, pode possuir um ou outro integrante que divirja de algum membro, como se fossem briguinhas entre irmãos. Mas, assim como as desavenças fa-miliares, esses pequenos embates não chegam a corromper a estabilidade, a união, o respeito e a admiração que unem seus membros, sob a batuta desta entidade mater que é a Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

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Por profissionais cada vez melhoresAlém do mérito de congraçar socialmente seus membros, a Sociedade

Brasileira de Coloproctologia faz muito mais pelos seus associados, pela es-pecialidade em si e até mesmo pelos pacientes que virão a ser tratados por um coloproctologista. Isso se dá pelo alto grau de exigência imposto pela Sociedade para conceder o título de especialista. Até porque, até 1969, não havia prova para obtenção do título, que hoje é feita sob rigorosos critérios da Sociedade. Antes, um médico era considerado coloproctologista (ou, simples-mente, proctologista) quando conseguia comprovar, por meio de documentos, o exercício da profissão e de várias cirurgias na área.

O título, na verdade, não é conferido pela Sociedade, e sim pela Associação Médica Brasileira (AMB), em convênio firmado com o Conselho Federal de Medicina (CFM) em 10 de março de 1989. Porém, fica a cargo da Sociedade a realização da prova de título. Falando assim, parece fácil. Mas não é. Um médico só terá sua inscrição realizada para fazer a prova se atender a uma série de rigorosos pré-requisitos, estes sim impostos pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia, de acordo com exigências e normas aprovadas na reunião ordinária anual da Sociedade em 31 de outubro de 1984 – as quais, em setembro de 2004 e 2009, sofreram algumas modificações por recomenda-ção da AMB e do CFM.

Entre essas exigências, estão: possuir o registro definitivo do Conselho Regional de Medicina (CRM); ter feito residência médica por dois anos inin-terruptos em cirurgia geral e mais dois anos em coloproctologia; apresentar comprovação de treinamento em coloproctologia por meio de atividades pro-fissionais durante, no mínimo, oito anos, e participação em atividades cien-tíficas na área; comprovar que atualmente exerce atividade profissional em coloproctologia; apresentar a relação das últimas cinquenta operações colo-proctológicas diversificadas (sendo 30% sobre o cólon e o reto) e das últimas cinquenta colonoscopias realizadas.

Uma vez atendendo a essas exigências, o candidato ao título ainda terá que fazer duas provas: uma teórica, com setenta perguntas de múltipla esco-lha, e outra teórico-prática, com cinquenta questões, contendo apresentação de casos clínicos, aspectos de anamnese e exame físico específicos, exames complementares (incluindo exames de imagem), diagnóstico e indicação tera-pêutica, aspecto cirúrgico e prognóstico. Ele será arguído por uma banca exa-minadora constituída por membros da Comissão do Título de Especialista e por ex-presidentes da SBCP, sob a direção do presidente em exercício. Apenas

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se obtiver um índice mínimo de 70% de acertos nas duas provas é que o can-didato receberá o seu título de coloproctologista.

Como se vê, há todo um rigor que envolve a concessão do título de especialista. Essas medidas se fazem necessárias para colocar no mercado co-loproctologistas que realmente estejam aptos a realizar um bom trabalho com os pacientes. É uma garantia para os enfermos! Além disso, ter o título de especialista em coloproctologia é uma honra. Chega a ser, até mesmo, uma es-pécie de “grife”, a qual faz com que o profissional seja visto com outros olhos não só no Brasil – permitindo-lhe ingressar em clínicas e hospitais que ofere-çam a especialidade e ser credenciado em planos de saúde –, mas também no exterior, uma vez que médicos e cirurgiões da América Latina costumam vir adquirir conhecimento com os coloproctologistas brasileiros.

No entanto, isso não é tudo para que a Sociedade Brasileira de Coloproctologia assegure que os profissionais a ela associados sejam realmen-te eficientes. De acordo com normas estabelecidas pelo CFM em janeiro de 2006, os especialistas que obtiveram seu título após esse período precisarão, a cada cinco anos, passar por novo processo de certificação de atualização pro-fissional. Se o fizer, recebe o Certificado de Atualização Profissional. Se não o fizer, pode vir a perder seu título de especialista... E a Sociedade, obviamente, estimula seus membros a obter esse certificado.

Todas essas ações visam formar um melhor especialista. Mas essa preocupação começa antes mesmo que o profissional conquiste o seu títu-lo. A SBCP supervisiona os serviços de residência em coloproctologia em todo o país, credenciando aqueles que seguem os padrões desejáveis da es-pecialidade. Para tanto, um grupo de integrantes da Sociedade visita esses serviços e avalia se eles têm condições para formar os jovens médicos na especialidade. Caso tenham, passam a fazer parte de uma listagem divul-gada no site da Sociedade (<www.sbcp.org.br>) e na Revista Brasileira de Coloproctologia, orientando os interessados a respeito de quais instituições oferecem residências médicas de valor reconhecido não só pela própria SBCP como pela AMB.

A Sociedade está sempre focando suas atenções no ensino da espe-cialidade e no aperfeiçoamento de seus especialistas. Tanto é que estimula imensamente a educação médica continuada. Acredita que o profissional não pode se acomodar apenas porque já possui o seu título, necessitando sempre se reciclar. Para tanto, divulga e promove diversos cursos anualmente, nacio-nais e internacionais, como os de videocirurgia, colonoscopia, atualização em

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cirurgia e outros, assim como mantém seus sócios informados a respeito de congressos internacionais da especialidade ou de especialidades afins, incen-tivando-os a participar.

Outra maneira para auxiliar jovens médicos a se manterem em cons-tante aquisição de conhecimento é a concessão de bolsas de estudos. Uma dessas bolsas chama-se A/B e é um empenho pessoal de dois ex-presidentes da Sociedade: Angelita Habr-Gama e Boris Barone. Anualmente, três sócios da ALACP de qualquer país recebem esse benefício para ir estudar durante três meses com os melhores especialistas de São Paulo. A bolsa é no valor de sete mil reais. Para consegui-la, o candidato precisa ter até 40 anos e tam-bém ter residência em cirurgia. A escolha se dá pela análise de currículo e por entrevista, feitas pelos criadores da bolsa, pelo presidente em gestão da Sociedade e pelo secretário-geral. Todo esse incentivo aos estudos e ao desen-volvimento profissional é um esforço da Sociedade para formar especialistas cada vez melhores. Uma forma de mostrar aos colegas que todo esse esforço vale a pena é que, posteriormente, esses jovens médicos começarão a apre-sentar seus trabalhos em congressos, como o próprio Congresso Brasileiro de Coloproctologia. Para prestigiá-los, a Sociedade confere, todos os anos, um prêmio aos melhores trabalhos científicos apresentados em seu congresso. É o Prêmio Pitanga Santos, que nasceu de uma sugestão de Daher Cutait durante o 27º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, em 1972, realizado em Porto Alegre sob a presidência de Carlos Brenner.

Na sessão administrativa ocorrida no último dia do evento, Daher disse aos colegas que, a cada ano, estava havendo melhora progressiva no nível científico dos trabalhos apresentados. Em reconhecimento a esses profissio-nais, propôs a criação de um prêmio simbólico, como um diploma ou medalha oferecido pela Sociedade ao melhor trabalho a cada congresso. Sugeriu, ainda, o nome: Prêmio Pitanga Santos, uma homenagem ao pai da especialidade no Brasil e patrono daquele grupo. A ideia inicial do proctologista paulistano foi a de que os trabalhos seriam julgados por uma comissão de cinco membros escolhidos pela diretoria em exercício durante o congresso, cujas identidades seriam mantidas em segredo.

Posto em votação, o prêmio foi aceito e é uma realidade até hoje, recebendo os autores do melhor trabalho um diploma de reconhecimen-to ao mérito, um valor em dinheiro e sua publicação na Revista Brasileira de Coloproctologia. Além dessa importante premiação, posteriormente a Sociedade criou outros prêmios que não apenas reconhecem o valor e a dedi-

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cação dos especialistas como ajudam a abrilhantar os congressos anuais com apresentações de maior qualidade: Melhor Tema Livre, Melhor Vídeo Livre, Melhor Pôster, Prêmio A/B e Prêmio Revista Brasileira de Coloproctologia.

em defesa dos especialistasA Sociedade Brasileira de Coloproctologia também cumpre o papel de

defender os direitos dos especialistas, seja em seus campos de atuação, seja em relação a processos que venham a ser instaurados por pacientes contra os profissionais. Quanto à prática da especialidade, um exemplo marcante diz respeito à luta que foi preciso ser travada para que os coloproctologistas tives-sem o direito de realizar colonoscopias. Durante o 28º Congresso Brasileiro de Proctologia, em 1977, na cidade de Goiânia (GO), Paulo Fontoura levantou sabiamente o problema: o fato de a colonoscopia ser atribuída à competência do endoscopista e do gastroenterologista, ao passo que, em sua concepção, deveria ser realizada pelo proctologista.

A questão foi amplamente discutida durante o congresso. Na opinião da maioria, não havia meios legais para impedir que outros especialistas efetuassem esse tipo de exame. Ainda assim, todos os proctologistas presen-tes consideraram que, por eles estarem tecnicamente mais preparados para a execução da colonoscopia, deveriam se interessar mais pela realização desse exame e lutar nos seus serviços para ficarem responsáveis pela endos-copia do cólon. Daher Cutait, então, propôs que a Sociedade Brasileira de Proctologia encaminhasse à Sociedade Brasileira de Endoscopia um ofício comunicando a resolução tomada naquela reunião, reafirmando a colonos-copia como atribuição da proctologia nos hospitais que tivessem o serviço especializado.

E assim foi feito, dando início aos passos iniciais para que essa conquis-ta se efetuasse. É fato, porém, que muita “briga” ainda foi necessária em todos os estados brasileiros. No Rio Grande do Sul, por exemplo, em 1994, essa questão foi acentuada, com a Sociedade Gaúcha de Proctologia – que é filiada à brasileira – tomando uma postura bastante incisiva para fazer valer que as colonoscopias são de maior alçada dos coloproctologistas. Desse modo, com a união de todos os membros e com a supervisão da SBCP, esse exame se tornou rotineiro para a especialidade. Hoje, no portal da Sociedade, está disponibili-zado ao profissional o modelo padrão de um “termo de consentimento”, para facilitar a prática do exame pelo associado. O termo explica ao paciente o que é a colonoscopia e expõe as possíveis complicações que podem ocorrer.

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Em ofício SEC/AMB/0073/2011, de 28/03/11, a AMB reconhece o direito do coloproctologista de realizar a colonoscopia.

É para defender os especialistas, também, que a Sociedade disponibi-liza aos associados uma Comissão de Defesa de Classe. Por meio de uma equipe de advogados especializados na defesa exclusiva da classe médica, é oferecida uma assessoria jurídica aos membros da SBCP. Sem ônus algum ao associado, essa equipe presta uma consultoria com atendimento presencial, por telefone ou e-mail, fornecendo orientações diante de uma situação judicial ou extrajudicial. Não é coberta pela Sociedade, porém, a defesa propriamente dita em uma eventual ação judicial ou administrativa, mas o membro recebe orientações que o ajudarão a escolher o melhor profissional para defendê-lo.

A honra de ser sócioDevido a todo esse empenho em promover os avanços da coloproctolo-

gia e de estimular e proteger os especialistas, pode-se dizer que, hoje, é prati-camente inadmissível um especialista não fazer parte da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Mesmo quem se inicia na categoria de membro aspirante, enquanto ainda sequer recebeu seu título de especialista, já poderá se benefi-ciar de todo o conhecimento transmitido nos congressos e em outras reuniões científicas. E, ao longo de seu desempenho na especialidade, quem sabe um dia não galgará a posição de membro honorário?

De acordo com o estatuto da SBCP, há oito categorias de associados, cada qual com características próprias. Todas, porém, comungam da mesma regra: o médico só poderá entrar para a Sociedade se a sua solicitação for apro-vada em Assembleia Geral Ordinária (AGO). São as seguintes as categorias:

Membros Aspirantes – Categoria destinada aos médicos em treina-mento nos serviços e residências reconhecidos pela SBCP. Tem a vantagem de não necessitar pagar taxa de admissão e de pagar apenas metade do valor da anuidade referente às outras categorias de membros. Poderá participar dos congressos e de outras reuniões científicas, mas não terá direito a voto. Se em três anos o membro aspirante não mudar de categoria, será desligado da Sociedade.

Membros Filiados – Podem compor essa categoria todos os médicos registrados em um Conselho Regional de Medicina (CRM) do país e que de-monstrem, por apresentação de trabalhos ou do comparecimento em reuniões ou congressos, seu interesse pela coloproctologia. Para ser admitido, precisa

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ter sido indicado por três membros titulares. Não poderá votar, ser votado ou integrar comissões permanentes, mas terá total liberdade para participar de congressos e reuniões cientifícas, seja como ouvinte, seja para apresentar um trabalho, devendo comparecer a pelo menos um congresso nacional a cada três anos.

Membros Associados – Categoria seguinte para quem já foi membro filiado por dois anos ou por apenas um ano, se possuir título de especialista em coloproctologia. A solicitação de sua promoção só pode ser feita se for referendada por três membros titulares da SBCP. Também não poderá, ainda, votar, ser votado ou integrar comissões permanentes.

Membros titulares – Quem já for membro associado por pelo menos dois anos e tiver seu título de especialista obtido pelo concurso anual da SBCP poderá ocupar essa categoria. Só que sua promoção exigirá que a solicitação seja requerida juntamente com a assinatura de cinco membros titulares. Se for aceito, já terá direito a votar, ser votado e integrar comissões permanentes.

Membros titulares remidos – Categoria que pode vir a ser ocupada por membros titulares que, ao atingirem 70 anos, tenham cumprido trinta anos como membros da Sociedade ou que também tenham sido presidentes. Se a solicitação for aceita, serão mantidos os direitos como membros, mas não haverá mais necessidade de pagamento das anuidades.

Membros Correspondentes – São aqueles médicos estrangeiros ou brasileiros naturalizados que exerçam a especialidade fora do Brasil e tenham trabalhos publicados na área. Para serem aprovados, necessitam da indicação de cinco membros titulares. Os membros dessa categoria devem auxiliar a SBCP no sentido de servirem de intermediários entre os especialistas brasilei-ros e os de seu país de atuação e de serem divulgadores dos principais aconte-cimentos no campo da coloproctologia no exterior.

Membros Honorários – Essa categoria é destinada a qualquer médi-co nacional ou estrangeiro, membro ou não da Sociedade. Porém, o título somente é distinguido pela SBCP àqueles que tenham contribuído notavel-mente para o progresso da coloproctologia. Só há vaga para vinte membros honorários na Sociedade. O ingresso de outros só se dá pela ocorrência de vaga. Os atuais membros honorários da Sociedade são: Angelita Habr-Gama, Assaf Hadba, Érico Fillmann, Geraldo Magela Gomes da Cruz, Indru Khubchandani, Jerome Waye, Joaquim José Ferreira, José Alfredo dos Reis Neto, Peretz Capelhuchnik, Peter Hawley, Rosalvo José Ribeiro, Saul Sokol, Sergio Brenner e Steven Wexner.

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Membros Beneméritos – A Sociedade distingue esse título a qual-quer pessoa física ou jurídica que tenha contribuído de maneira notável para o desenvolvimento da coloproctologia ou para o engrandecimento da SBCP. Esse é o caso, por exemplo, do título de sócio benemérito que foi dado a Cumplido de Sant’Anna após ele ter cedido o registro da Sociedade Brasileira de Proctologia à nova Sociedade de 1945.

A distinção de ser um membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia está presente em cada uma dessas categorias. Isso pode ser percebido na satisfação com que os associados se encontram em cada con-gresso anual, quando, em meio àqueles mais de 1.200 participantes, não há diferenças entre títulos ou patamares ocupados na Sociedade. Todos estão ali orgulhosos de serem coloproctologistas e de fazerem parte desta congregação máxima da especialidade.

subindo os degrausNão basta ser membro da Sociedade, tem que participar. Muitos espe-

cialistas pensam dessa forma e não resumem sua atuação na SBCP à presença nos congressos. O mergulho é mais profundo, e quanto mais se dedicam a ela e à especialidade em si, acabam se envolvendo em comissões e cargos da diretoria. Mas, para tanto, precisam ter o título de especialista conferido pela Sociedade, e não apenas o título recebido pela Comissão Nacional de Residência Médica. Para ser simplesmente membro – a fim de participar de congressos e se beneficiar de todo o suporte que a Sociedade concede aos especialistas – não há problema algum não ter esse título. Porém, para seguir carreira dentro da Sociedade, ele é exigido. Mais um sinal do comprometi-mento dos especialistas perante a sua associação.

Na diretoria da Sociedade, existem certos degraus. No mais alto, encon-tra-se o presidente. Abaixo dele, estão o presidente eleito, o vice-presidente, o secretário-geral, o primeiro-secretário, o segundo-secretário, o primeiro-te-soureiro e o segundo-tesoureiro. Embora, realmente, pareça uma escada a ser galgada, isso não significa necessariamente que, para se chegar ao topo, é pre-ciso passar por todos os patamares. Mas, sem dúvida alguma, ninguém chega à presidência sem ter antes dado sua parcela de contribuição à Sociedade, não importa em qual posição.

Em cada cargo desses, o especialista exerce uma função diferenciada durante um ano. No capítulo seguinte, está bem explorado o papel do presiden-

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te. Já o presidente eleito (votação que ocorre na Assembleia Geral Ordinária, durante o Congresso Brasileiro de Coloproctologia) é automaticamente o pre-sidente no exercício seguinte, podendo iniciar gestões para a realização de seu congresso, como solicitar verbas, créditos ou patrocínios, e já dar o pontapé inicial em outras ações para o preparo do evento. E o vice-presidente é, obvia-mente, o substituto do presidente em suas faltas ou impedimentos eventuais.

O secretário-geral é um dos cargos mais trabalhosos dentro da Sociedade. Por exigir tamanha dedicação e presença constante na sede da SBCP, é ocu-pado por especialistas residentes no Rio de Janeiro. Afinal, ele cuida de toda a parte burocrática administrativa: tem a guarda dos arquivos e livros de atas, organiza e atualiza os quadros de membros, é responsável pela correspondên-cia, prepara e assina com o presidente e o primeiro-tesoureiro os certificados a serem expedidos, assina cheques de acordo com a delegação do presidente, dá quitação aos interessados de qualquer documento ou manuscrito que for confiado à guarda da SBCP, mantém os membros informados de todos os as-suntos de seu interesse e organiza, redige, lê e registra as atas das reuniões de diretoria e das assembleias gerais. Além disso, mantém e desenvolve as rela-ções da SBCP com associações congêneres nacionais ou estrangeiras, auxilia o presidente nas providências de ordem administrativa e, inclusive, substitui o vice-presidente em suas faltas ou impedimentos eventuais. Mas, felizmente, não faz todo esse trabalho sozinho. Ele conta com o primeiro e o segundo secretários para auxílio nessas funções e também para substituí-lo diante de possíveis ausências.

Já o primeiro-tesoureiro é responsável por todos os valores pertencen-tes à Sociedade e, por conta disso, também precisa residir no Rio de Janeiro. Ele faz depósitos bancários, assina cheques juntamente com o presidente ou o secretário-geral, paga as despesas previstas em orçamento e que estejam autorizadas em assembleias, escritura legalmente as receitas e despesas da SBCP, quita valores recebidos e assina certificados. É sua função, também, cobrar as anuidades devidas pelos membros. E durante a Assembleia Geral Ordinária, apresenta o balanço financeiro geral da SBCP (incluindo a quantas anda a inadimplência) e lança a proposta de orçamento para o exercício se-guinte. Para ajudá-lo, entra em cena o segundo-tesoureiro, que também pode substituí-lo em suas faltas e impedimentos.

Além desses cargos, os membros da Sociedade podem chegar a as-sumir posições nas comissões permanentes. Elas são órgãos que auxiliam a diretoria, e cada uma delas é coordenada por um dos membros indicados

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pelo presidente. Cada membro que faz parte das comissões fica nessa função por três anos. São elas:

Comissão Científica – É composta pelo presidente e mais três mem-bros. Tem a função de planejar, orientar ou organizar cursos, simpósios, reu-niões, congressos. Além disso, luta pela atualização, defesa e progresso dos conhecimentos científicos da especialidade.

Comissão de Defesa de Classe – Formada pelo secretário-geral e mais três membros, defende os interesses dos coloproctologistas como classe de especialista, sempre assessorada pela diretoria e pelo Conselho Consultivo.

Comissão de revista – Reúne três membros, que são responsáveis pela edição trimestral e regular da Revista Brasileira de Coloproctologia.

Comissão do título de especialista – Composta por 15 membros re-presentativos das várias regiões do país, coordenada pelo presidente da SBCP. Eles preparam e aplicam anualmente os exames dos candidatos ao título de especialista da SBCP.

Comissão de ensino e residência Médica – Também formada por 15 membros, que têm o dever de atuar junto aos órgãos governamentais com-petentes, colaborando com o ensino da especialidade; estimular e orientar a organização de serviços e núcleos hospitalares de coloproctologia e de seu ensino; estipular critérios e condições para reconhecimento dos referidos ser-viços e núcleos hospitalares; e formular e executar política de ensino conti-nuado para a SBCP, em acordo com a Comissão Científica, a do Título de Especialista e a de Revista.

Vale saber que tanto a diretoria quanto as comissões são eleitas pela Assembleia Geral. Este é o órgão soberano da SBCP. É o que, além de eleger e empossar os membros para esses cargos, aprova e faz cumprir o estatuto da SBCP e seu regimento interno, podendo até modificá-los. Tem o poder, inclu-sive, de vir a extinguir a própria Sociedade. Tudo isso, obviamente, median-te votação dos membros, durante a Assembleia Geral Ordinária (AGO), que é anual e automaticamente convocada para ocorrer durante os congressos, e da Assembleia Geral Extraordinária (AGE), que é eventual, com pauta determina-da, podendo ser convocada pelo presidente ou por 1/5 dos membros votantes.

Por fim, não se pode deixar de citar mais um degrau que só atingem aqueles que desfrutaram da honra de ter sido presidentes da SBCP: o Conselho Consultivo. Ele é constituído automaticamente pelos sete últimos ex-presi-dentes (o que está deixando o cargo mais os seis ex-presidentes anteriores).

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Do alto desse patamar, que reúne o máximo de experiência que um membro pode atingir dentro da Sociedade, esse conselho presta assessoria, quando ne-cessário, ao presidente em exercício, à diretoria e às comissões. Além de opi-narem sobre uma série de fatores do cotidiano da Sociedade (como balancetes e transações imobiliárias), os ex-presidentes que compõem esse conselho no-meiam substitutos para vagas na diretoria e escolhem os estados brasileiros onde serão os próximos cinco congressos nacionais.

Até mesmo nessa composição dos importantes cargos percebe-se o perfil familiar da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Aos poucos, vão sendo dadas oportunidades aos filhos mais queridos, aqueles que se dedicam e que fazem por merecer. Uma hora, esses filhos desabrocham e viram pais – os presidentes. Até que finalmente atingem a maturidade e, como os mais sábios e experientes de um clã, tornam-se figuras indispensáveis para nortear os pas-sos dos mais jovens. Não há como negar: a SBCP é, realmente, uma família.

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Capítulo 5

A honra de ser presidente

Não há honra maior, para um membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, do que se tornar seu presidente. Esta afirmação é pratica-mente uma unanimidade na fala de muitos dos coloproctologistas que foram, aos poucos, subindo os degraus no cotidiano desta associação até atingir o ponto máximo: a presidência. Chegar a esse patamar é um reconhecimento muito grande da importância do papel de cada um deles dentro da especialida-de e da própria Sociedade. É um posto ocupado, acima de tudo, por mérito. E, em geral, quem o ocupa não o faz por vaidade ou por status. O sentimento que moveu cada coloproctologista que hoje tem sua foto estampada na Galeria dos Ex-Presidentes é um só: o amor pela Sociedade e pela especialidade.

Mas como chegar lá? Em primeiro lugar, a escolha do presidente co-meça não exatamente por ele próprio, e sim pelo estado que irá sediar o con-gresso. Onde quer que seja, é desse estado que deverá ser escolhido o colo-proctologista que estará à frente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia por 12 meses. Isso acontece com uma antecedência de cinco anos, quando o Conselho Consultivo se reúne para decidir quais serão os estados brasileiros que abrigarão os próximos cinco congressos nacionais. Ou seja, em 2010, por exemplo, os sete ex-presidentes se reuniram e escolheram os cinco estados que sediarão o congresso até 2015. Um tempo para lá de suficiente a fim de que cada estado se prepare para a empreitada.

Essa decisão, porém, não é aleatória. Os estados escolhidos seguem uma distribuição regional equitativa, de acordo com o número de membros votantes em cada estado ou região. Quem tem mais membros votantes rea-liza mais congressos com um intervalo menor entre um e outro. Assim, São Paulo, que atualmente possui 32% dos membros votantes, tem o direito de

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realizar um congresso a cada três anos; a região Sul (19%), dois congressos a cada dez anos; Rio de Janeiro (15%), um congresso a cada sete anos; região Norte-Nordeste (14%), um congresso a cada sete anos; região Centro-Oeste (10%), um congresso a cada dez anos; e Minas Gerais e Espírito Santo (9%), um congresso a cada dez anos.

Sabendo-se, portanto, qual estado será a sede do congresso nacional, chega a hora de escolher quem será o candidato a presidente. Em geral, os membros titulares interessados – que já costumam trazer um histórico de dedicação e comprometimento com a SBCP – se apresentam ao Conselho Consultivo cinco anos antes. Se houver uma sociedade regional de coloproc-tologia em seu estado ou região, seus nomes serão submetidos a uma vota-ção pelos membros titulares dessa sociedade. Caso não haja uma regional, o secretário-geral da SBCP envia uma carta a todos os membros titulares, convidando-os a escolher o nome do possível futuro presidente. No dia deter-minado para o término da devolução das cartas, os votos são apurados na sede da Sociedade. E vale lembrar: tudo isso é feito cinco anos antes da data da pos-se. Mas o candidato só se torna realmente presidente no Congresso Brasileiro de Coloproctologia anterior ao que será realizado em seu estado, durante a Assembleia Geral Ordinária (AGO), quando os membros titulares votam.

O presidente, por sua vez, terá grandes responsabilidades pela frente. Afinal, ele será o representante da SBCP, tendo o dever de falar em nome dela e representá-la diante das mais diversas situações. Será ele quem presidirá as reuniões de diretoria, as AGO e as Assembleias Gerais Extraordinárias (AGE) – mas é importante salientar que a AGO é o órgão soberano da SBCP, ou seja, se uma questão for decidida por meio de voto durante a AGO, ela terá que ser respeitada pelo presidente, mesmo que ele tenha dado um voto contrário. Enfim, o presidente estará à frente desde as situações mais corriqueiras (como assinar certificados, despachos e documentos, além de cheques juntamente ao tesoureiro) até as mais representativas, como agir em defesa dos interesses da classe dos coloproctologistas, assessorado pelo Conselho Consultivo e pela Comissão de Defesa de Classe, o que pode exigir ações diretas na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), na Associação Médica Brasileira (AMB) e nos conselhos federais e regionais de medicina. Obviamente, ele desempenha o papel fundamental de organizar o Congresso Brasileiro de Coloproctologia, que será o marco final de sua gestão.

Como se percebe, ser presidente realmente é uma honra, mas também exige enorme dedicação. É uma grande responsabilidade dirigir uma socieda-

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de médica com tão alto nível. E quem está à frente da SBCP precisa trabalhar muito em prol de seus membros. No entanto, tamanho esforço traz a cada presidente um amadurecimento profissional muito grande. Como retorno ao seu empenho, torna-se um especialista mais fortalecido e equilibrado. Nas pá-ginas a seguir, estão exemplos disso: coloproctologistas que deram o seu suor pela especialidade, a ponto de chegarem ao mais alto degrau da Sociedade. Histórias lindas de dedicação à profissão. Histórias verdadeiras de quem amou a SBCP e muito fez por ela. E de muita gente que ainda a ama e continua se dedicando a ela.

Primeira sede

Sede atual

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sylVIo D’ÁVIlArio de Janeiro, 1945-1946

Galeria de ex-presidentes

P roctologista de destaque na década de 1940, o goiano Sylvio D’Ávila foi o mentor intelectual da Sociedade Brasileira de

Proctologia. Ao participar de um curso na Bahia, organizado por Walter Gentile de Mello e outros, ficou sabendo do projeto de criação da Sociedade Baiana de Proctologia. Foi então que ousou sonhar mais alto, sugerindo que, em vez de uma regional, fosse criada a Sociedade Brasileira de Proctologia. Juntou-se ao grupo baiano e assim foi criada a Sociedade em 30 de outubro de 1945.

Nada mais justo, portanto, que o idealizador e um dos fundadores da SBP viesse a ser escolhido como o primeiro presidente da entidade, cargo que ele desempenhou até o final de 1946. A escolha, porém, ia muito além disso. D’Ávila era realmente merecedor de presidir a sociedade de uma especialida-de pela qual sempre lutou para ser destacada da cirurgia geral. Durante muitos anos, a proctologia era apenas uma área dentro da cirurgia. Mas D’Ávila con-siderava que ela poderia caminhar sozinha, com suas próprias pernas.

Desde criança, ele dizia à mãe que um dia seria médico. E cumpriu a promessa bem cedo, formando-se com apenas 22 anos, na Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro. Iniciou seu trabalho como ana-tomista, discípulo de Benjamim Batista. E, antes mesmo dos 30 anos, passou a lecionar, tornando-se professor de técnica operatória. Começou a se dedicar então à cirurgia geral e, em 1932, já era docente-livre.

O primeiro hospital em que D’Ávila trabalhou foi a Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, na qual teve o prazer de atuar ao lado de

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Pitanga Santos, o pai da proctologia no Brasil. Depois foi para o antigo Hospital do Estácio e, em seguida, para o Moncorvo Filho, quando pôde fi-nalmente se dedicar com exclusividade à proctologia. Ao longo de sua vida, sempre fez questão de repetir que Pitanga Santos foi seu grande mestre na especialidade. Afirmava, com orgulho, que foi graças a ele que decidiu seguir seu caminho profissional.

Após um período no Moncorvo Filho, D’Ávila optou por se dedicar apenas à clínica privada, instalada na Avenida Treze de Maio, no Centro do Rio de Janeiro, parando também de lecionar. Tornou-se membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e, aos 40 anos, entrou para a Academia Nacional de Medicina, apresentando um notável trabalho sobre prolapso e procidência de reto. Foi com essa idade, ainda, que se sagrou o primeiro pre-sidente da Sociedade Brasileira de Proctologia.

D’Ávila foi precoce também ao constituir sua família. Aos 25 anos, casou-se com Olga Machado D’Ávila Mello, com quem teve três filhas, que lhe deram nove netos. Ele sempre fez questão de manter a família unida. Aos domingos, por exemplo, quando ia visitar seus pacientes internados, levava junto a esposa e as filhas. Em determinado momento, comprou uma grande casa em Itaipava, cidade serrana do Rio de Janeiro, justamente para poder reunir nos fins de semana as filhas e os netos, inclusive os amigos, que eram presença constante não só em Itaipava como também em jantares e festas pro-movidos em sua casa no Rio.

O médico sempre teve esse espírito agregador, tanto com os amigos quan-to com a família. Muito provavelmente por conta dessa característica ele foi um dos responsáveis por fomentar uma peculiaridade muito nítida nos congressos da SBCP: a de contar com a participação não apenas dos congressistas, mas também de seus familiares. A cada congresso anual, invariavelmente, lá estava ele tendo ao lado a esposa e as filhas. O mesmo ocorria se promovesse jantares em casa para receber médicos amigos. A família tinha que estar toda reunida no evento! D’Ávila acreditava que a Sociedade Brasileira de Coloproctologia só sobreviveria e tomaria força se fosse amparada pela família.

Essa preocupação familiar se estendeu para fora de seu próprio lar e fu-gindo totalmente de sua prática profissional. Durante 14 anos, ele foi escrivão (antigo nome para “mantenedor”) da Fundação Romão Duarte – orfanato no Rio de Janeiro –, função que ele desempenhava com muito amor. Por muitas vezes, com seus próprios recursos, fez obras no local para auxiliar as crianças, como construir uma piscina para que praticassem natação e reativar as oficinas

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de sapataria, tipografia e marcenaria, motivado pela crença de que as pessoas precisam sempre aprender. Nesse aspecto, entrava em cena o seu papel de professor, mas ele também colocou em ação a sua visão de médico durante a gestão na Romão Duarte. Como muitas das crianças órfãs tinham a fala comprometida – de acordo com suas conclusões, por virem de vários estados diferentes e pelo fato de não terem pai e mãe –, ele criou a Terapia da Palavra, para lhes propiciar apoio fonoaudiológico.

Se D’Ávila acreditava que era preciso sempre levar o aprimoramento àquelas crianças, o mesmo ele fazia com sua vida pessoal. Diariamente, sem exceção, buscava se manter atualizado quanto à especialidade. Toda noite, após o jantar, lia ao menos um capítulo de algum livro de coloproctologia – principalmente em inglês, de obras escritas pelos especialistas do St. Mark’s Hospital. Por conta disso, montou uma biblioteca como poucas vezes vista!

Tamanha dedicação fez de Sylvio D’Ávila um nome reconhecido nacio-nal e internacionalmente. Ele era um grande cirurgião. Muitas pessoas vinham de vários estados do Brasil e de diversos países da América Latina para se tra-tar com ele no Rio de Janeiro. Houve época em que ele realizava trinta cirur-gias por mês. Apesar do excesso de trabalho, havia um dia na semana em que ele tirava folga tanto da clínica quanto das cirurgias: quinta-feira. O motivo? Era o dia das reuniões semanais da Sociedade Brasileira de Coloproctologia!

Ao longo de sua atuação profissional dentro da coloproctologia, D’Ávila sempre lutou muito pela especialidade. Ele não queria que ela se per-desse dentro da cirurgia geral, e sim que ganhasse força individualmente. Seu grande sonho era abrir uma escola de proctologia no Rio de Janeiro, porque, nas universidades, ela era ensinada dentro da cirurgia geral. Ele acalentava o desejo de criar um serviço de proctologia que fosse voltado para o ensino e a formação de novos especialistas. E isso aconteceu no final da década de 1970, quando ele conseguiu inaugurar um serviço unicamente de coloproctologia dentro da Santa Casa da Misericórdia. Assim surgiu a 29ª Enfermaria. Mas não foi fácil... Para montá-la, ele precisou vender um apartamento e ainda contar com doações de amigos.

Tamanho esforço valeu a pena: a enfermaria ficou muito bem estru-turada, contando também com quatro quartos particulares. Lá, D’Ávila re-cebia residentes, passando a eles todo o seu conhecimento acumulado du-rante anos de dedicação à coloproctologia. Ensinar era algo que não pôde deixar de fazer, mesmo após tantos anos dedicados exclusivamente à sua clínica particular. Ele, então, voltou a lecionar na Faculdade de Medicina

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da Fundação Educacional Souza Marques. Sempre preparava as aulas na véspera como se fosse a primeira vez. Mesmo já tendo ensinado o conteúdo inúmeras vezes antes...

D’Ávila lecionou e operou até praticamente os últimos dias de sua vida. Em dezembro de 1981, próximo ao Natal, desenvolveu uma pancreatite, em decorrência de um cálculo de vesícula, necessitando ficar internado na Casa de Saúde São José. Tinha de ser operado, mas, como estava perto das festas de fim de ano, a cirurgia foi adiada. Após a cirurgia, seu quadro se agravou e ele permaneceu internado. Até que, em 21 de janeiro de 1982, sofreu uma parada cardíaca e veio a falecer. Apenas três anos após ter realizado o sonho de criar sua enfermaria – a qual, lamentavelmente, logo depois de sua morte cedeu lugar à ginecologia.

Ainda assim, não há dúvidas de que Sylvio D’Ávila plantou sementes que brotaram lindamente dentro da especialidade. A fundação da Sociedade Brasileira de Proctologia, a criação da 29ª Enfermaria, os inúmeros especia-listas que ajudou a formar... Um verdadeiro legado deixado por alguém que se dedicou, arduamente, durante mais de cinquenta anos à medicina. Alguém que desde criança dizia que seria médico e que realmente o foi, no sentido mais amplo da palavra.

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eDson De olIVeIrAsão paulo, 1947

P ara muitos, ele era uma figura austera e de pouca sensibilidade, resultado de sua postura disciplinadora. Mas quem o conhecesse

de fato sabia que essa imagem inicial absolutamente não correspondia à reali-dade. Edson de Oliveira foi um profissional com muito senso de responsabili-dade e que tinha uma grande capacidade associativa, tendo feito muito para o desenvolvimento da medicina.

Em 1931, aos 22 anos, tornou-se médico pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), vindo mais tarde a se especializar em gastro-enterologia cirúrgica. Ele próprio teve um papel fundamental para a consoli-dação dessa especialidade. Além de se dedicar à sua prática, Edson de Oliveira e Jesus Pan Chacon foram os responsáveis, em 1972, pela oficialização do curso de pós-graduação em gastroenterologia cirúrgica. Ensinar também é um forte aspecto na biografia de Oliveira: ele foi livre-docente da Faculdade de Ciências Médicas do Rio de Janeiro e professor-adjunto do Departamento de Cirurgia da Escola Paulista de Medicina.

Ao longo de sua carreira, sempre se destacou em cargos de liderança. Em 1953, com a estruturação departamental das disciplinas cirúrgicas, foi chefe de clínica de Antonio Bernardes de Oliveira. E por três mandatos consecutivos (de 1967 a 1975) foi chefe do Departamento de Cirurgia da Escola Paulista de Medicina, acumulando no mesmo período os cargos de chefe da discipli-na de gastroenterologia cirúrgica e de presidente da Associação Paulista de Medicina. Ele também conseguiu associar a prática da gastro com a da proc-tologia, tendo sido presidente da Sociedade Brasileira de Gastroenterologia e Nutrição e da Sociedade Brasileira de Proctologia.

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Edson de Oliveira dedicou sua vida ao crescimento da área cirúrgica, tanto na gastroenterologia quanto na proctologia, e exerceu seus cargos de maneira brilhante. Faleceu aos 74 anos, deixando um belo exemplo de profis-sionalismo aos inúmeros especialistas que formou.

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JosÉ DIrCeu De AnDrADeMinas Gerais, 1948

O terceiro presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia foi uma personalidade muito interessante. Em primeiro lugar,

porque é difícil compreender por que ele foi eleito para presidir uma associa-ção de uma especialidade que não era o foco principal de sua atuação como médico. E, em segundo lugar, porque foram a ginecologia e a obstetrícia – e não a proctologia – que promoveram esse mineiro como um dos grandes nomes da medicina nas décadas de 1920 a 1960. Mas um fato é certo: José Dirceu de Andrade foi muito mais do que um especialista. Foi um médico preocupado com os menos favorecidos e com a perpetuação do ensino da medicina para as gerações futuras à sua. Não foi à toa, portanto, que se tornou presidente da SBCP.

Ele nasceu em Leopoldina, em 1902. Deixou Minas Gerais tempora-riamente, para cursar a Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, pela qual se formou em 1924. Em seguida, fez treinamento pós-graduado na Santa Casa da Misericórdia e no Hospital da Gamboa, ambos no Rio de Janeiro, e também em um hospital em Berlim, na Alemanha, onde fi-cou por seis meses aprendendo cirurgia geral e proctologia. Com a expe-riência acumulada, retornou para Minas Gerais. Assim, com apenas dois anos de formado em medicina, fundou – juntamente com Navantino Alves – a Maternidade Therezinha de Jesus de Juiz de Fora (hoje Hospital Geral Universitário), entidade filantrópica de assistência à gestante carente. José Dirceu foi diretor-técnico desta instituição por quarenta anos, até o seu fa-lecimento. A maternidade era sua grande paixão, onde podia atender, com qualidade, pacientes sem recursos.

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José Dirceu mostrou-se também um empreendedor no ensino. Em 1935, foi professor fundador da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora, que seria reorganizada em 1952 e incorporada à Universidade Federal de Juiz de Fora em 1960. Até seu falecimento, também foi professor da cátedra de obstetrícia com grande dedicação. Além do hospital e da faculdade, ele se dedicou muito à parte clínica, chegando a ter um dos mais conceituados consultórios de Juiz de Fora. Nele, atendia nas áreas de obstetrícia, ginecologia, cirurgia geral e proctologia. Quanto a esta última especialidade, ele aprendeu a praticá-la com Raul Pitanga Santos, tornando-se muito próximo dos proctologistas da época. Embora realmente sua menina dos olhos tenha sido a obstetrícia, José Dirceu também gostava de realizar cirurgias proctológicas.

Com isso, chegou à presidência da então Sociedade Brasileira de Proctologia e foi também presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora, titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e fellow do International College of Surgeons. Aos 64 anos, porém, quando estava em plena atividade profissional, José Dirceu precisou ser operado de uma hérnia diafragmática e não resistiu. Ironicamente, veio a falecer no local em que ajudou tantas pessoas a se recuperarem: na mesa de cirurgia. Deixou a todos o exemplo de ser uma pessoa e um médico com temperamento excepcional, sempre tentando ajudar os pacientes, os novos alunos e os colegas.

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JosÉ MÁrIo CAlDAsrio de Janeiro, 1949

O quarto presidente da SBCP foi um médico conhecido e respei-tado em sua época. E não foi à toa. José Mário Caldas dedi-

cou mais de cinquenta anos de sua vida à coloproctologia, alcançando postos de destaque na especialidade. Carioca, formou-se pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil em 1937. Mas cinco anos antes já atuava na área científica, como interno no Laboratório Bacteriológico do Departamento Nacional de Saúde Pública.

Após a formatura, especializou-se em coloproctologia e, em 1940, foi nomeado médico do serviço de proctologia do Hospital da Beneficência Portuguesa. Em 1944, deu início à sua carreira de professor: tornou-se livre-docente de proctologia na Faculdade de Ciências Médicas. No mesmo ano, obteve o título de doutor em medicina. Antes disso, entre 1942 e 1944, já che-fiava o serviço de clínica proctológica da Faculdade Fluminense de Medicina. Em 1951 e 1952, ministrou o curso de extensão universitária em proctologia da Universidade do Brasil, realizado na Santa Casa da Misericórdia (onde foi chefe do Ambulatório de Proctologia de 1950 a 1953). E em 1958 foi no-meado professor de proctologia do Instituto de Aperfeiçoamento Médico da Pontifícia Universidade Católica (PUC).

José Mário sabia muito bem dosar a dedicação que conferia às salas de aula e às salas de cirurgia. Tanto é que, em 1959, passou à chefia do serviço de proctologia da Beneficência Portuguesa. E, no mesmo ano, assumiu o cargo de diretor do serviço de proctologia da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Em ambos os hospitais, trabalhou até sua aposentadoria, aos 80 anos. Até essa idade, ele também cumpria a rotina de atendimento em seu consultório na rua Santa Luzia, no Centro da cidade.

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Outro feito importante na carreira de José Mário ocorreu em 1957, quando ele era diretor médico do Serviço Nacional do Comércio: atuou como supervisor da construção da Maternidade Carmela Dutra. No entanto, a honra maior para um especialista já tinha se concretizado oito anos antes, quando as-sumira a presidência da Sociedade Brasileira de Proctologia. Nesse momento, ele era um especialista com apenas nove anos de experiência. Mas seu grande empenho ao ensino da especialidade e à prática médica o fez merecedor de se tornar presidente tão cedo, aos 36 anos. Em 1988, aos 75 anos, recebeu o título de membro honorário da Sociedade.

Quando faleceu, aos 94 anos, em 2007, havia deixado um legado para os especialistas mais jovens por meio da publicação em revistas médicas de um número imenso de trabalhos científicos – antes apresentados em congres-sos. Mas talvez o maior exemplo que tenha deixado mesmo foi o de amar o seu trabalho e realizá-lo sempre com dedicação e afinco. As sementes que José Mário Caldas plantou renderam belos frutos à especialidade.

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plínIo BrAsIlFIlHo

são paulo, 1950

C oloproctologista atuante em Ribeirão Preto (SP). Foi eleito para a presidência da Sociedade Brasileira de Proctologia em

1949, tendo organizado a 5ª Reunião Anual, em São Paulo, no Hospital de Clínicas, de 16 a 18 de novembro de 1950. Foi um momento importante para a Sociedade, porque Plínio conseguiu realizar um evento científico com porte mais avolumado, motivando os membros da SBP a investirem esforços para, no ano seguinte, realizar o primeiro Congresso Brasileiro de Proctologia pro-priamente dito.

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WAlter GentIle De Mellorio de Janeiro, 1951

E ste é um dos nomes fundamentais para o surgimento da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Ao lado do goiano Sylvio D’Ávila

e de um grupo de proctologistas baianos, Walter Gentile de Mello ajudou a dar vida a essa associação de especialistas. Graças à sua dedicação na luta pelo movimento associativo da especialidade, foi chamado de “Verruma Humana” por Pitanga Santos, porque, assim como esse instrumento que perfura ma-deira, ele sempre conseguia bom êxito em suas pretensões a favor da então “proctologia”.

Embora tenha nascido em 1917 no Rio Grande do Norte, atuava como médico na Bahia, tendo se unido à chamada Escola da Bahia, que tanto bata-lhou pela valorização da proctologia como especialidade. Em 1944, por exem-plo, Walter Gentile publicou na Revista Médica da Bahia um artigo no qual divulgava a importância da especialidade e, ao lado de seu nome, intitulou-se “proctologista da Faculdade de Medicina da Bahia”. No ano seguinte, ele e outros médicos decidiram fundar a Sociedade de Proctologia da Bahia, mas o projeto acabou tornando-se algo maior quando Sylvio D’Ávila propôs que a Sociedade tivesse dimensão nacional.

Walter Gentile abraçou tanto a ideia que escreveu o artigo “Pela cria-ção da Sociedade Brasileira de Proctologia”, publicado na Revista Médica da Bahia em julho de 1945, no qual convocava especialistas para a nova as-sociação. Nesse mesmo ano, então, nascia a SBP. Walter só se tornaria seu presidente em 1951 – quando já morava no Rio de Janeiro –, ano em que também promoveu o 1º Congresso Brasileiro da Sociedade. Juntamente com Manoel Garcia, Walter Gentile foi o editor dos anais do congresso, organi-

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zando-os em dois volumes. No ano seguinte, os dois médicos deixaram mais uma contribuição para os especialistas: o livro Temas Actuais de Proctologia, com seiscentas páginas. Walter Gentile também publicou diversos artigos em revistas científicas, sendo alguns deles bem avançados para a época, como “Tratamento cirúrgico do câncer”, de 1947, na Revista Brasileira de Cirurgia.

No Rio de Janeiro, participou da criação do Serviço de Proctologia no Hospital dos Servidores do Estado, do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase), assumindo seu comando. Nesse ambiente em que pôde trabalhar com os primeiros expoentes da especialidade, como Américo Bernachi, havia um convívio harmônico, sem rixas ou disputas, e recheado com palavras de respeito e compreensão mútua. Como já havia feito, anos antes, um estágio nos Estados Unidos, pôde imprimir no HSE as carac-terísticas mais modernas de atualização da proctologia. Esteve ainda à frente de vários cursos oferecidos no local. De 1961 a 1963, também fez parte do 17º Diretório Nacional do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, atuando como diretor de proctologia.

Em 1990, aos 73 anos – a maioria deles dedicados à especialidade –, Walter Gentile de Mello faleceu, partindo com a sensação de dever cumprido. Deixou como herança o desenvolvimento da especialidade e a manutenção ética dos seus melhores padrões técnico-científicos.

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GerAlDo AVelIno AMArAl DA sIlVAsão paulo, 1952

N asceu em Poços de Caldas, Minas Gerais, em 1911. Mas não permaneceu na cidade mineira, vindo a se formar médico no Rio

de Janeiro, na década de 1940, pela Faculdade Nacional de Medicina. No Rio, teve o privilégio de fazer parte do Serviço de Proctologia do papa da especiali-dade, o professor Pitanga Santos. Após ter se tornado proctologista, mudou-se para Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Em 1949, tornou-se presidente do Centro Médico de Ribeirão Preto. E, em 1952, com apenas 41 anos, assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Em 1994, aposentou-se, após mais de cinquenta anos de dedicação à especialidade.

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AnnIBAl luZrio de Janeiro, 1953

D iscípulo de Sylvio D’Ávila, Annibal Luz construiu uma carrei-ra na coloproctologia tão importante quanto a de seu mestre.

Quando se formou, aos 23 anos, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), logo iniciou sua atua-ção profissional na Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Quatro anos depois, foi convocado para o serviço militar e, no ano seguinte, enviado para a Itália como cirurgião da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Porém, o que parecia ser uma interrupção de sua carreira em ascen-dência no Brasil acabou se transformando em mais um degrau para que ele atingisse o reconhecimento de seu enorme talento. Mesmo em meio ao cená-rio trágico, o tenente médico Annibal Luz – então com 29 anos – se destacou, a ponto de ter recebido elogio registrado em ofício pelo major Wesley Reid, chefe de cirurgia do 7th Station, hospital aliado com quase mil leitos coman-dado por americanos na Itália. Seguem as palavras do major:

Lt. Luz has done excelent work in the operating room, as consultant on rectal cases, and in the care of surgical patients on his wards. During his services here, Lt. Luz has performed 182 operative procedures in the operating room. In this large volume of surgery, Lt. Luz has de-monstrated an exceptionally fine surgical skill, sound judgement and meticulous care. I know I speak for the entire surgical staff in saying that we are proud to have had the oportunity to associate with him, an excelent surgeon and a cultured gentleman.

Com o fim da batalha, Luz voltou para casa trazendo medalhas de guer-ra e de campanha. Mais tarde, foi agraciado com a condecoração da Ordem do

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Mérito Militar e da Ordem do Mérito Médico.

No retorno ao Rio de Janeiro, deu continuidade a seu trabalho na Santa Casa e passou a trabalhar com Sylvio D’Ávila, com quem aprendeu a prática da moderna coloproctologia. Por intermédio de D’Ávila, acabou se tornando um dos primeiros membros da Sociedade Brasileira de Proctologia. Posteriormente galgou o posto de chefe de Serviço de Coloproctologia do Hospital dos Comerciários da Guanabara (hoje Hospital de Ipanema), mas ficou no cargo por apenas um breve período, antes de Horácio Carrapatoso assumir. Porém, continuou trabalhando junto a Carrapatoso. Os dois, na época, realizaram um excelente trabalho de divulgação da coloproctologia para a sociedade médica, tanto em congressos quanto no ensino da especialidade a outros médicos. Não demorou muito para que Annibal Luz fosse reconhecido como um cirurgião extraordinário, o qual influenciou na opção profissional de muitos médicos. Mesmo sem jamais ter seguido a carreira acadêmica, foi um eminente professor e formou muitos assistentes. Certamente, o interesse pela coloproctologia no Rio de Janeiro se deve, em grande parte, à sua atuação e ao seu carisma.

Annibal Luz foi uma figura humana extraordinária, perfil invulgar de um grande médico, dotado de sólido caráter, com respeito consciente ao prin-cípio da autoridade, à moral, à honestidade e à proficiência na vida profissio-nal. Uma de suas conhecidas histórias diz respeito justamente à sua postura impecável diante de uma mesa de cirurgia. Aconteceu em um dia de calor tórrido no Rio de Janeiro. Estava programada uma cirurgia para câncer de reto em um paciente muito obeso, e o ar-condicionado do centro cirúrgico parou de funcionar. A temperatura dentro da sala beirava os quarenta graus. Todos aguardavam a chegada de Luz, certos de que o procedimento seria suspenso ou pelo menos adiado para o período da noite.

Simplesmente, ele chegou, disse de passagem que estava “meio quen-tinho” e pediu que se iniciasse a anestesia. Por cerca de cinco horas, operou sem demonstrar qualquer contrariedade. Ao término da cirurgia, pediu ajuda ao seu assistente para despir o avental cirúrgico. E qual não foi a surpresa ao se constatar que ele não estava suado! Mas isso não foi nada em comparação com o que se seguiu. Pediu que tentassem tirar do seu conduto auditivo um fragmento de cotonete plástico que acidentalmente lá se partira.

Fica então o questionamento: como alguém é capaz de operar duran-te cinco horas sob temperatura desumana sem sequer suar e ainda esperar o fim dos trabalhos para remover um objeto de dois centímetros encostado ao tímpano? Só mesmo alguém que é capaz de colocar o trabalho e o respeito ao

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paciente acima de tudo. Outra superação de Annibal Luz diz respeito à sua própria condição física. Ele sofria de uma grave artrite deformante, porém jamais se queixou de nada. Dava a impressão a todos que o cercavam de que aquela deformidade de várias articulações era indolor. Isso, na verdade, repre-senta mais um exemplo de sua disciplina e autocontrole.

Annibal Luz é merecedor, ainda, de receber mais e mais elogios. Ele foi uma grande estrela da especialidade, um expoente de sua geração, sem jamais perder a modéstia. Possuía uma inteligência fulgurante, esmerada educação e exerceu a profissão com espírito missionário e vocação autêntica. Aos 86 anos, em 11 de junho de 2002, faleceu após uma longa enfermidade. Mas deixou para a coloproctologia uma grande marca. Exatamente como disse o major Wesley Reid, cinquenta décadas antes: Annibal Luz partiu, deixando a todos a lição de como é possível ser “um cirurgião extraordinário e um refi-nado cavalheiro”.

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ADAlBerto leIte FerrAZsão paulo, 1954

F oi um homem muito inteligente e comunicativo. Adalberto Leite Ferraz construiu uma carreira sólida como cirurgião na Santa

Casa de Misericórdia de São Paulo, atuando na 2ª Enfermaria de Cirurgia de Homens, no serviço do professor Juscelino do Amaral. Embora não tivesse a mesma formação acadêmica de Daher Cutait, sendo mais voltado para a parte prática da especialidade, Adalberto conseguiu o feito de derrotá-lo na eleição para a presidência da Sociedade Brasileira de Proctologia, em 1953. Vale destacar que, nessa época, Daher já era um médico de renome nacional e internacional.

A vitória de Adalberto muito se deveu ao brilhantismo de sua capa-cidade profissional e à facilidade com que circulava entre os colegas, além do fato de muito colaborar para a Sociedade, tendo sido secretário-geral no ano anterior. Entre os estudos clássicos que ele produziu, está “Do tratamento cirúrgico das procidências do recto pelos processos de Quenu e Duval e de Bergeret”, publicado na Revista Brasileira de Gastroenterologia, em 1952. Um médico que, realmente, fez a diferença na coloproctologia praticada na década de 1950.

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HorÁCIo CArrApAtosorio de Janeiro, 1955

C irurgião imensamente dedicado aos avanços científicos da colo-proctologia, Horácio Carrapatoso foi um dos grandes nomes da

especialidade nas décadas de 1950 e 1960. Atuou muito ao lado de Annibal Luz, batalhando pela divulgação da coloproctologia em congressos e palestras e formando um grande número de novos especialistas. Um legado que ele dei-xou aos médicos mais jovens, da mesma forma como ocorreu no início de sua própria vida profissional, quando recebeu de luminares da especialidade seus primeiros conhecimentos.

Após sua formatura, em 1940, pela Faculdade Federal Fluminense, con-seguiu tornar-se interno, por concurso, na Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, trabalhando nos serviços dos professores Brandão Filho, Jayme Poggi e Sylvio D’Ávila. Um ano depois, fez o curso de proctologia com nin-guém menos do que Pitanga Santos e, em seguida, passou a ser assistente de Sylvio D’Ávila, no serviço do professor Annes Dias. Na Santa Casa, também chegou a ser assistente do professor Ugo Pinheiro Guimarães.

Após ter aprendido com os melhores médicos da época, a procto-logia virou uma paixão. E não demorou para que ele se tornasse chefe no Hospital dos Comerciários – ex-Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC) e atual Hospital de Ipanema. No serviço de proctologia deste hospital, desenvolveu atividade científica profícua, resultando em nu-merosos trabalhos. Isso o levou a prestar docência, sendo aprovado, em 1953, para docente-livre da Faculdade de Ciências Médicas. Antes mesmo de se tornar professor, ele já tinha conquistado, em 1950, o reconhecimento por seu talento cirúrgico, ao se tornar fellow do Colégio Internacional de Cirurgiões.

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Graças a seu serviço fundamentado na pesquisa científica, Carrapatoso criou uma técnica pessoal para a cura cirúrgica da procidência do reto. Em 1957, foi aperfeiçoar ainda mais o seu trabalho no St. Mark’s Hospital, em Londres, convivendo com os especialistas William Gabriel, Lockart-Mummery Jr. e Henry Thompson. Depois seguiu para os Estados Unidos, onde frequentou o serviço do renomado professor Harry Bacon. No mesmo ano, foi agraciado com o diploma Honoris Causa do Archivo Internacionale Gastroenterologiae.

Horácio Carrapatoso foi um participante muito ativo nos primeiros anos da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Participou da maioria dos congressos, nos quais transmitia a sua grande experiência profissional em mesas-redondas, palestras e outros eventos. Sua presença era marcante: ex-tremamente elegante, sempre de terno, cabelo preto bem penteado... Mas isso não era tudo. O principal era sua postura afável, prestativa, colaborativa, além de sua incrível inteligência e organização. Assim como Annibal Luz, ele tinha uma enorme capacidade de agregar pessoas. Os dois reuniam jovens médicos à sua volta e ensinavam com o maior prazer. Eram dois grandes cirurgiões que faziam questão de passar o conhecimento adiante.

Foi uma surpresa para seus assistentes quando, em 29 de setembro de 1994, Horácio Carrapotoso faleceu, após uma doença súbita. Até então, ele gozava de muita saúde e capacidade de trabalho. Tanto é que uma semana antes de seu falecimento havia operado vários pacientes. O conforto da partida repentina de Carrapatoso veio do fato de ele ter formado inúmeros coloproc-tologistas – seus ex-residentes – que puderam difundir a especialidade e os conhecimentos adquiridos com o mestre pelo país afora.

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JosÉ AVelIno De FreItAsrio de Janeiro, 1956

U m pé em Minas Gerais, o outro no Rio de Janeiro. Foi assim que José Avelino de Freitas se dedicou à carreira de médico,

praticamente ao longo de toda a sua vida profissional. Mineiro de Patrocínio do Muriaé, onde nasceu em 1900, encontrou no estado vizinho a possibilidade de estudar e crescer. Assim, em 1925, formou-se pela Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. Ao término do curso, retornou para Minas Gerais, dessa vez estabelecendo-se em Além Paraíba.

Mas quem disse que deixara a Cidade Maravilhosa para trás? No Rio, aprendeu a proctologia e passou a cumprir uma puxada rotina: em Além Paraíba, tinha seu próprio consultório, no qual atendia como clínico geral, e uma vez por semana – às quintas-feiras – atuava como proctologista no Rio de Janeiro. Nesta cidade, mantinha estreitas relações com o amigo Sylvio D’Ávila, que o encaminhou para a Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

Essa relação de amizade com a especialidade levou longe o médico mi-neiro. Em um congresso realizado em Buenos Aires, foi premiado pelo trabalho sobre tratamento de amebíase intestinal com injeção retal. E, em 1955, atin-giu o posto máximo de sua carreira: a presidência da Sociedade Brasileira de Proctologia. Mesmo sendo de Minas Gerais, o congresso que presidiu, no ano seguinte, acabou tendo que ser feito no Rio de Janeiro, pois seu estado ainda não abrigava as condições necessárias para sediar o evento e seus congressistas.

José Avelino de Freitas foi um médico muito querido não só por seus colegas da então SBP como também por todos os moradores de Além Paraíba. Prova disso foi sua atuação, na década de 1950, à frente do Serviço

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de Assistência Médico-Hospitalar Domiciliar de Urgência (Samdu), criado por Getúlio Vargas. O presidente doou uma ambulância desse serviço a Além Paraíba, e coube a José Avelino a direção desse serviço prestado à popula-ção. Quando a ambulância passava pelas ruas, levando José Avelino para atender algum paciente, ele chegava a ser aplaudido pelos populares. Nessa época, José Avelino, que já era um médico de renome em Além Paraíba, tornou-se ainda mais prestigiado em razão da maneira dinâmica com que se dedicou ao Samdu.

Não foi à toa que, após seu falecimento, em 7 de dezembro de 1977, as autoridades de Porto Novo do Cunha (Além Paraíba) tenham lhe homena-geado, dando o seu nome a uma avenida da cidade. A especialidade também reconhece o valor desse médico batalhador, que jamais mediu esforços para conseguir conciliar sua rotina de generalista com a de proctologista.

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DAHer CutAItsão paulo, 1957 e 1986

A coloproctologia no Brasil possui alguns nomes que podem ser considerados de extrema importância, como Pitanga Santos e

Sylvio D’Ávila. Estes fizeram a especialidade nascer e crescer no país, em um momento em que ela era tratada apenas como parte integrante da cirurgia ge-ral. Mas há um médico que conseguiu dar um passo ainda maior. Ele fez com que a coloproctologia brasileira ganhasse destaque internacional. E se hoje a Sociedade Brasileira de Coloproctologia é a segunda maior do mundo, muito se deve a ele, Daher Cutait.

Tamanho é seu valor que, em 1987, ele foi agraciado com o título de “Pai da Coloproctologia Latino-Americana”. Mas isso é pouco em relação ao que representa no coração de um sem-número de especialistas que se forma-ram por intermédio dele. Para estes, Daher Cutait foi de fato um pai no seu sentido mais literal. Alguém que pegou na mão de seus filhos e lhes ensinou, com todo o carinho, atenção e paciência, a arte da coloproctologia. E também a arte de ser um profissional íntegro e dedicado.

Daher nasceu em São Paulo, em 1913, filho de imigrantes libaneses que se instalaram em Tatuí. Sua mãe era filha e irmã de médicos, o que influenciou em sua escolha profissional. Assim, aos 26 anos, formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ainda como estudante, estagiou em várias enfermarias da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Como médi-co, logo direcionou sua atenção à cirurgia do aparelho digestivo, influenciado pelo professor Benedito Montenegro, um exemplo de postura ética e profis-sional. Em 1941, aos 28 anos, foi estudar nos Estados Unidos, onde permane-

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ceu como bolsista de organismos internacionais até abril de 1943. Lá, teve a oportunidade de estagiar na Universidade de Colúmbia, em Nova York, com o renomado Whipple, e na Universidade de Michigan, onde teve sua formação em cirurgia colorretal com Frederick Cooler.

De volta a São Paulo, retomou suas atividades na Santa Casa, sob a che-fia do professor Montenegro. Quando o Hospital das Clínicas foi inaugurado, em 1944, Daher passou a atuar nessa instituição, trabalhando primeiramente no pronto-socorro (onde permaneceu até 1955). Sua história de pioneirismo já começou aí: ele foi o primeiro médico do Hospital das Clínicas a realizar uma cirurgia no próprio pronto-socorro. Em 1947, passou a chefiar o Serviço de Proctologia, cargo que desempenhou até sua aposentadoria, em 1983. Sob seu comando, o serviço ganhou reputação nacional e internacional. Uma das técnicas inovadoras criadas por ele foi a operação de abaixamento colorretal retardada, conhecida mundialmente por seu nome (“Operação Cutait”), para o tratamento de megacólon chagásico e câncer de reto. Ela o projetou como cirurgião para o mundo inteiro e é usada até hoje em dezenas de países.

Apesar de tamanha projeção, Daher Cutait nunca se tornou uma pessoa soberba. Por onde circulasse no Hospital das Clínicas, era tido como uma figu-ra querida por todos, pela gentileza e competência com que tratava os doentes, pela maneira paternal e cavalheiresca com que lidava com os residentes e pela forma distinta e respeitosa com que se dirigia aos funcionários. Procurado em seu Serviço de Proctologia por diversos jovens de todo o país e da América Latina em busca de especialização, Daher se manteve aberto a todos e os aco-lhia como um pai e um grande mestre.

Ensinar sempre foi algo inerente à carreira de Daher Cutait. No Hospital das Clínicas, ele transmitia todo o seu saber aos alunos do curso curricular e aos residentes, dando aula nos ambulatórios, nas enfermarias e no pronto-socorro. Paralelamente, lecionava na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em que permaneceu por 44 anos, aposentando-se em 1983 como professor-adjunto. Durante sua atuação na USP, promoveu um grande intercâm-bio entre os alunos com instituições do Brasil inteiro e da América Latina.

Aliado ao ensino e à cirurgia, Daher sempre se dedicou à pesquisa. Em 1953, defendeu tese de docência sobre o tema “Tratamento do megas-sigma pela retossigmoidectomia”, tendo sido aprovado com distinção. Mas isso não é tudo... Ele recebeu 13 prêmios por trabalhos científicos e mais de vinte condecorações no Brasil e no exterior. Durante sua vida, publicou mais de 120 artigos em revistas médicas nacionais e estrangeiras, escreveu mais

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de quarenta capítulos de livros, publicou três livros sobre temas médicos e uma autobiografia (Um Médico, Uma Vida) e produziu cerca de dez filmes ci-rúrgicos, alguns deles premiados em eventos internacionais. Participou como conferencista em mais de 250 eventos nacionais e internacionais e apresentou, em colaboração, mais de quinhentas contribuições – que lhe renderam mais de 15 prêmios.

Todo esse ranking de sucesso profissional acabou lhe trazendo como consequência a presidência de diversas sociedades médicas: Colégio Brasileiro de Cirurgiões (1976-1979), Associação Latino-Americana de Coloproctologia (1957-1960), Society of University Colon and Rectal Surgeons (1986) e American College of Surgeons, Brazilian Chapter (1976-1980). Isso sem fa-lar, é claro, na presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, da qual ele foi o único membro a ter a seguinte marca: ser duas vezes seu presi-dente, em 1957 e em 1986.

Mas por que essa repetição, se é algo que não está previsto no estatu-to da SBCP? O motivo foi nobre e rendeu muitos dividendos à Sociedade. É que, em 1986, ocorreria também em São Paulo o 3o Congresso Mundial de Coloproctologia, presidido justamente por Daher Cutait. Para que o Congresso Brasileiro de Coloproctologia não se perdesse em meio à grandio-sidade do evento mundial, ficou decidido que Daher repetiria a presidência da SBCP para que os dois eventos pudessem ser realizados ao mesmo tempo. Além desse, o Congresso Mundial incorporou os Congressos Mundiais de Gastroenterologia e de Endoscopia Disgestiva. Ao todo, mais de 8 mil pessoas participaram do megaevento.

A decisão de unir o Congresso Brasileiro de Coloproctologia ao Mundial não foi tão fácil assim de ser tomada. Isso exigiria que a Sociedade arcasse com 25% das despesas do evento, um gasto muito alto até então (algo em torno de 10 mil a 15 mil dólares). Essa quantia gerou polêmica durante uma assembleia da Sociedade, porque era um valor elevado para suas reservas. Mas, por insistência de Daher Cutait, o valor foi levantado e, ao final, a SBCP acabou recebendo 25% da renda total do evento. Isso gerou 189 mil dólares de resultado para a Sociedade!

A Sociedade Brasileira de Coloproctologia era uma segunda casa para Daher Cutait. Ele se dedicava a ela com afinco e contribuiu muito para que cres-cesse. E nunca faltou a um congresso sequer! Até mesmo em um dos momentos mais difíceis de sua vida... Em 1991, seu filho Edgard faleceu alguns dias an-tes do congresso anual. Ainda assim, ele fez questão de comparecer à abertura

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do congresso, realizado em São Paulo, para prestigiar o então presidente José Hyppólito da Silva. Como de hábito, sentou-se na primeira fila. Essa era uma marca de Daher Cutait: estar presente em todos os congressos, sentado na pri-meira fila do começo ao fim do evento. Sempre atento e observador.

A criação da Associação Latino-Americana de Proctologia (ALAP – hoje ALACP) também é um capítulo importante na história de Daher Cutait. Em 1957, ano em que foi presidente da SBCP, ele foi participar em dezembro do 1º Congresso Internacional de Proctologia em Mar del Plata, Argentina, que reuniu cinquenta cirurgiões de cólon e reto de língua hispânica e portuguesa da América Latina. No evento, eles decidiram criar uma sociedade que os congregasse. Elegeram, então, uma Comissão de Constituição de Assembleia, tendo Daher como presidente. Após muitos debates, fundaram a ALAP, cujo primeiro presidente foi Daher Cutait.

Foi decidido também que o primeiro congresso se realizaria em São Paulo, em 1960. Esse evento acabou se tornando mais um modo encontra-do por Daher para promover o Brasil diante de cientistas do mundo inteiro. Isso porque, para esse congresso, ele convidou os nomes mais importantes da coloproctologia da época, não apenas latino-americanos, mas também norte-americanos e europeus. Estes, por sua vez, ficaram impressionados com o desenvolvimento da produção científica no Brasil, sobretudo em relação às implicações da doença de Chagas no campo coloproctológico. Para completar, o Brasil se destacou em meio aos outros países-membros da ALAP, tornando-se líder na América Latina devido ao número de especialistas envolvidos e à riqueza dos trabalhos apresentados.

Daher Cutait tinha, também, uma personalidade empreendedora. Além de ter presidido as mais importantes entidades médicas do país – como a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o Hospital das Clínicas e a Beneficência Portuguesa –, ele foi um dos mentores do Hospital Sírio-Libanês. Participou ativamente de sua implantação e contribuiu muito para torná-lo um dos maio-res centros de excelência no Brasil. Ele foi diretor do Sírio-Libanês desde 1965 até sua morte, em 2001, e conseguiu transformá-lo de acanhada institui-ção mantida pela Sociedade Beneficente de Senhoras, da comunidade sírio-libanesa, em um dos dez principais hospitais do país.

Daher Cutait sempre foi muito preocupado com a educação e a inves-tigação científica. A fim de proporcionar ao profissional da saúde um meio de atualização e pesquisa, criou no Sírio-Libanês, em 1978, o Centro de Estudos e Pesquisas (Cepe). O Cepe se iniciou com a realização de jornadas de atuali-

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zação e cursos para a comunidade médica semanalmente, durante todo o ano. Essa semente plantada por Daher existe até hoje e só fez crescer em termos de estrutura física (ganhou até um prédio novo) e de variedade de cursos ofereci-dos, tornando-se o Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP).

Sementes plantadas por Daher Cutait realmente não falham... Foi um homem extremamente afável, que se dava bem com todos e fazia questão de prestigiar os colegas. Ensinou muita gente e deu força para seus discípulos crescerem. Abria portas para que os novos especialistas ganhassem espaço e se tornassem polos de divulgação de conhecimento pelo Brasil afora. Quando morreu, em 6 de junho de 2001, ficou a certeza de que ele muito fez pelo crescimento da coloproctologia no Brasil e no mundo. Acima de tudo, Daher Cutait deixou como herança para no mínimo duas gerações de especialistas os seus valores: respeito pelo próximo, eterna busca pelo conhecimento e dedicação ao extremo. Foi como bem disse, certa vez: “A mão do sucesso profissional tem cinco dedos: caráter, vocação, talento, esforço e disciplina.” Exatamente assim ele foi em sua vida...

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AMÉrICo BernACCHIrio de Janeiro, 1958

P or pouco a coloproctologia do Brasil não deixou de ganhar um grande especialista, perdendo-o para o mundo das artes... Desde

a infância, o carioca Américo Bernacchi já desenhava. Porém, outra paixão despertou em sua vida e ele foi cursar medicina. Formou-se em 1937, aos 22 anos, pela Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil. Mas quem disse que largou as artes? Na década de 1940, quando já médico do Hospital dos Servidores do Estado, iniciou-se na pintura e acabou tornando-se amigo e dis-cípulo de grandes mestres: Di Cavalcanti, Manoel Santiago, Isidro Monteiro e Oswaldo Teixeira.

Porém, outros dois mestres conquistaram de vez a atenção profissional do jovem médico: Pitanga Santos e Sylvio D’Ávila. Com estes grandes nomes da especialidade, Bernacchi formou-se coloproctologista e acabou colocando a medicina em primeiro lugar em sua vida. Ainda assim, paralelamente, nunca deixou de manter o contato com a tinta e o pincel. Ele participou de muitas coletivas, realizou vários vernissages individuais e colecionou diversos pri-meiros lugares em concursos de pintura. Além disso, foi membro titular da Academia Brasileira de Belas-Artes.

Como coloproctologista, também foi um colecionador de vitórias. Ele iniciou sua carreira na Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, de-pois se tornou oficial médico concursado, trabalhando no Hospital da Polícia Militar. No Hospital do Andaraí, chefiou os residentes. Mas foi no Hospital dos Servidores do Estado – uma referência para a coloproctologia – que ele cresceu ainda mais na especialidade, sendo chefe de clínica durante 25 anos.

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Bernacchi era um profissional muito dedicado. Além de cumprir plan-tões nos hospitais, estava sempre solícito no dia seguinte para atender pa-cientes em seu consultório particular, em Copacabana. Era muito estudioso e buscava se atualizar continuamente, correspondendo-se com colegas no Brasil e no exterior. E costumava ficar até tarde da noite em seu escritório doméstico em meio a artigos científicos.

Um dado interessante é que, por incrível que pareça, Bernacchi acabou usando seu dom artístico a favor da coloproctologia. Sempre que possível, ti-rava proveito de sua facilidade em desenhar para ilustrar trabalhos científicos e para desenvolver instrumentos cirúrgicos. Um deles tornou-se seu marco como especialista: a concepção do aparelho para realizar a técnica de ligadura elástica. O primeiro especialista a projetar esse tipo de instrumental!

Não foi por menos, portanto, que Américo Bernacchi galgou a posição de presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Além de seus méritos profissionais, sempre foi muito assíduo em todos os eventos da sociedade e, sobretudo, nos congressos anuais – aos quais fazia questão de ir acompanhado pela família. No congresso que presidiu, ele conseguiu trazer conceituados mé-dicos do exterior para apresentar seus trabalhos científicos, o que não era muito comum na década de 1950. Assim, auxiliou a projetar o Brasil como parceiro científico da comunidade médica internacional de coloproctologia.

Américo Bernacchi foi um homem que deixou um belo exemplo para a especialidade. Sempre muito atencioso e humano com os pacientes, era dono de uma educação requintada, mas ao mesmo tempo cultivava hábitos sim-ples. Tinha um bom humor contagiante e conquistou grandes amigos, fazendo questão de manter as amizades até o fim da vida. Desde jovem, por exemplo, era um dos organizadores do almoço anual de formatura de sua turma da fa-culdade. Curiosamente, no último em que participou, só estavam presentes ele próprio e mais um colega. Não foi à toa... Viveu muito e intensamente. Partiu em 2005, aos 91 anos. Mas se foi preservando a aura e a postura de médico até seus últimos dias, distribuindo conselhos de saúde e orientações a todos que o cercavam. Foi, de fato, um especialista que soube levar a vida com arte...

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WAlter GHeZZIrio Grande do sul, 1959

O desenvolvimento da coloproctologia no Rio Grande do Sul – que hoje tem o maior percentual, por estado, de membros titula-

res da SBCP – muito se deve à dedicação de Walter Ghezzi. Durante décadas de árdua dedicação profissional, ele publicou numerosos trabalhos científicos, participou ativamente de congressos nacionais e internacionais e auxiliou na formação de novos coloproctologistas.

Esse médico de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, iniciou sua carreira em 1939, com apenas 22 anos, quando se formou pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Em 1947 já era doutor em medicina e docente de anatomia. Desde o início de sua vida profissional, envolveu-se amplamente com ativida-des associativas de classe e com o ensino médico. Entre as primeiras, pelo me-nos três foram marcantes para Ghezzi: a presidência da Associação Médica do Rio Grande do Sul, a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e a presidência da Associação Latino-Americana de Coloproctologia. Em to-das, deixou a marca de seu espírito inovador.

Em relação ao ensino médico, ele já começou a atuar antes mesmo da graduação, com atividades de monitoria em disciplinas ligadas ao Instituto de Anatomia da Faculdade de Medicina e da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Era o talento para ensinar falando mais alto! Mais tarde, foi professor de cirurgia e profes-sor-titular de coloproctologia na Faculdade de Medicina da UFRGS, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e na Faculdade Federal de Ciências Médicas (FFCM). Em todas essas institui-

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ções, além do magistério, exerceu cargos de coordenação e administração de ensino médico.

A maior herança que Ghezzi deixou no Rio Grande do Sul foi a introdu-ção da coloproctologia, como a conhecemos hoje, na região. Ele foi responsá-vel pelo seu desenvolvimento, sua caracterização e seu reconhecimento como especialidade cirúrgica. Além disso, Ghezzi foi um líder na organização e na difusão do ensino universitário de graduação e pós-graduação da especialida-de. O Departamento de Coloproctologia da Associação Médica do Rio Grande do Sul – embrião da atual sociedade regional – foi fundado por iniciativa dele, consolidando definitivamente a especialidade no Sul.

Ghezzi foi um grande defensor do exercício da coloproctologia como especialidade exclusiva, e não uma área da cirurgia geral. Os especialistas gaúchos formados sob sua orientação são marcados por esse espírito, não exercendo qualquer atividade médica fora da cirurgia colorretoanal.

Ao partir, em 25 de setembro de 1994, aos 77 anos, deixou um campo profícuo para a especialidade no Rio Grande do Sul e um número muito gran-de de “discípulos” que vêm exercendo a coloproctologia de acordo com as sementes plantadas pelo “mestre”. E todos os anos Walter Ghezzi é lembrado, por meio de um prêmio que leva o seu nome, oferecido ao melhor trabalho científico pela Sociedade de Coloproctologia do Rio Grande do Sul, que ele ajudou a fundar. Nada mais justo.

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WAlDeMIro nunessão paulo, 1960

F oi um dos membros mais antigos da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e um dos seus mais constantes colaboradores.

Ter sido presidente da Sociedade foi apenas uma consequência sine qua non em sua vida profissional, porque, independentemente de cargos, Waldemiro Nunes foi extremamente ativo em todas as atividades da SBCP e, a cada novo congresso, era presença infalível não apenas na plateia, mas também no púl-pito, apresentando trabalhos anualmente. Ainda assim, preservava uma carac-terística rara: a modéstia. Não se vangloriava de tudo o que havia alcançado dentro da especialidade. Apenas desempenhava seu trabalho com extrema de-dicação, simplicidade e humildade.

Talvez tenham sido essas características que fizeram com que Waldemiro conseguisse trilhar uma carreira brilhante na especialidade. Ele equilibrava sua rotina profissional no consultório e em hospitais com a participação ati-va em congressos e eventos médicos. E teve uma atuação marcante na vida universitária, atuando por muitos anos como assistente efetivo na 2a Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas de São Paulo. Nesta enfermaria, ele formou um grande número de coloproctologistas que vieram se destacar mais tarde. Apesar de tanta dedicação à especialidade, Waldemiro Nunes fazia questão de também ser uma figura presente no convívio familiar.

Ele deixou para a especialidade outra contribuição valorosa. Graças aos numerosos trabalhos que apresentou em congressos, conseguiu formar um acervo de estudos. E o resultado disso foi a publicação do alentado livro Doenças de Reto e Ânus, ilustrado com a maior parte das figuras de sua au-toria. Para reunir praticamente todo o trabalho de sua vida em um livro, foi

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necessário muito esforço para, além de organizar tamanho material, conseguir conciliar a tarefa com suas outras atividades. Mas Waldemiro encarou o desa-fio e empregou todo o seu esforço com muito amor e dedicação.

De todas as suas contribuições à especialidade, porém, uma foi funda-mental para servir de exemplo a toda uma geração futura de coloproctologis-tas: seu exemplo como ser humano e como profissional. Segundo palavras de seu amigo Angelino Manzione, Waldemiro foi um homem de alma pura e sensível, sempre reto em suas atitudes e dotado de trato amigo, solicitude paciente e bondosa para com seus doentes. Quando ele partiu, em 1984, aos 79 anos, deixou um largo círculo de admiradores não apenas de seu talento como médico, mas, sobretudo, de sua adorável figura humana.

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eDMunDo De pAulA pIntoMinas Gerais, 1961

U m médico dinâmico e eficiente, um sacerdote junto aos pacientes sem recursos, um homem de caráter na área administrativa e um

amigo de todos. Essas são as características que definem, em poucas palavras, quem foi o segundo presidente mineiro da SBCP, Edmundo de Paula Pinto. Nascido em Curvelo, em 1912, concluiu a Faculdade de Medicina da então Universidade de Minas Gerais, em Belo Horizonte, aos 24 anos.

Logo após, fez toda a sua formação cirúrgica de graduação e pós-graduação na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, onde se es-pecializou em proctologia. Na Santa Casa, ele foi galgando degraus aos poucos: de 1934 a 1936, foi interno; nos quatro anos seguintes, passou a ser assistente na 2a Clínica Cirúrgica de Homens (que envolvia cirurgias de aparelho digestivo, sobretudo cirurgias coloproctológicas); e em 1941 assumiu a chefia da 2a Clínica, cargo que desempenhou até o final de sua vida. Na Santa Casa também inovou ao iniciar a prática de biópsias retais, em 1940, e ao criar o Ambulatório de Coloproctologia, do qual foi chefe de 1940 a 1966.

Paula Pinto revelou ainda ter o dom de ensinar. De 1956 a 1972, ingres-sou na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, ocupando o cargo de professor-titular de cirurgia digestiva (posteriormente disciplina de coloproc-tologia). Na mesma faculdade, de 1965 a 1980, foi também professor adjunto da clínica cirúrgica. Ele era um professor muito querido e respeitado. Tanto é que, por várias vezes, figurou nos quadros de formatura da faculdade como paraninfo e homenageado.

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Mas seu dom de ensinar foi muito além da universidade. No ambula-tório da Santa Casa, responsabilizou-se por formar os primeiros especialistas em coloproctologia de Minas Gerais, sendo que o primeiro deles foi Walcar Dias Coelho – que viria a ser, em 1969, presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Sua capacidade de transmitir os ensinamentos médico-cirúrgicos aos novatos fez com que, de 1965 a 1972, assumisse a chefia do Serviço de Residência da Santa Casa, pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.

Na SBCP, Paula Pinto foi um integrante sempre muito participativo, apresentando vários trabalhos científicos nos congressos anuais. Mas tam-bém se dedicou a outras associações científicas médicas do Brasil e do ex-terior. Ocupou a presidência do Departamento de Proctologia, de Cirurgia e de Gastroenterologia e Nutrição da Associação Médica de Minas Gerais, da Sociedade Brasileira de Gastroenterologia e da Sociedade Brasileira de Proctologia. E, em 1969, fundou a Sociedade Mineira de Proctologia, sendo seu primeiro presidente. Fora isso, participou de numerosos cursos, jornadas e palestras e proferiu diversas conferências e palestras, sempre deixando os traços de sua inteligência e do seu saber.

Paralelamente às suas atividades médicas, Paula Pinto tinha outras duas paixões: o remo e a pesca. Durante a juventude, foi campeão brasileiro e sul-americano de remo. E mais tarde encantou-se com a isca e o anzol. Tornou-se um inveterado pescador no rio Piraraquara e um verdadeiro contador de histó-rias de pescaria em que poucos acreditavam. Aos 69 anos, porém, um acidente vascular cerebral o retirou dos corredores da Santa Casa e das águas do rio em que adorava pescar. Deixou, contudo, muitos seguidores: assistentes, residen-tes, estagiários e, acima de tudo, amigos, que podem até não ter acreditado em suas histórias de pescador, mas que reconhecem, nitidamente, suas habilida-des como exímio coloproctologista.

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AloysIo sArMento De CArVAlHorio de Janeiro, 1962

E ste catarinense, nascido em Joinville em 1921, chegou ao Rio de Janeiro na adolescência, quando seu pai, gerente do

Banco do Brasil, foi transferido para essa cidade. E foi nela que cons-truiu sua sólida carreira como coloproctologista. Após ter se formado em medicina pela Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), decidiu fazer especialização em cirurgia geral. Alguns anos depois, definiu o caminho que queria seguir dentro da área cirúrgi-ca: partiu para Londres, a fim de fazer pós-graduação em proctologia no St. Mark’s Hospital.

Ao retornar, passou a trabalhar no Serviço de Proctologia do Hospital dos Servidores do Estado. E não parou mais de crescer profis-sionalmente. Foi diretor do serviço médico da Caixa Econômica, chefe do Setor de Coloproctologia do Hospital Silvestre e diretor do Hospital Samaritano, no qual iniciou atuando no Serviço de Coloproctologia. Em 1976, deu mais um grande passo: fundou a Clínica Aloysio de Carvalho, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio de Janeiro, que mais tarde teve o prazer de dividir com o seu filho, Fernando, também coloproctologista.

A Sociedade Brasileira de Coloproctologia era a extensão de sua atuação profissional. Foi um membro muito ativo, participando de to-dos os congressos assiduamente até bem perto de falecer, em 2003, aos 81 anos. Era figura constante apresentando trabalhos e prestigiando os trabalhos dos colegas. Ter sido eleito presidente da Sociedade, portanto, foi uma honra enorme, como sempre costumava comentar com seu filho Fernando.

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Aloysio de Carvalho também foi membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e do International College of Surgeons e foi fellow da Royal Society of Medicine e da American Society of Colon and Rectal Surgeons. Uma vida inteira dedicada à especialidade!

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MIlton CÉsAr rIBeIrosão paulo, 1963

U ma de suas principais características foi exercer a especialidade com espírito ético e respeito aos doentes e aos colegas. Mas isso

não quer dizer que Milton César Ribeiro tenha sido uma pessoa sisuda. Ao contrário, era alegre, altruísta, jovial e muito simpático, conquistando todos à sua volta. Amava muito a vida e falava e fazia tudo depressa, como se quisesse desfrutá-la ao máximo. E parecia estar certo: aos 66 anos, em plena atividade, faleceu de maneira súbita. Mas não sem antes deixar uma bela marca dentro da coloproctologia.

Aos 25 anos, em 1946, graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. No ano seguinte, conseguiu ocupar a vaga de assistente do Serviço de Gastroenterologia e Proctologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e, em 1952, foi nomeado assistente efetivo, pas-sando a dar aulas. Quando a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa foi criada, recebeu o título de professor associado. Paralelamente às suas ati-vidades no ensino, tornou-se, por concurso, chefe do Serviço de Proctologia da Policlínica de São Paulo.

A Sociedade Brasileira de Coloproctologia foi outro pouso certo em sua vida profissional. Aos poucos, ele foi galgando seus degraus: em 1957, foi secretário-geral; em 1960, primeiro-secretário; e, em 1962, aos 41 anos, foi eleito presidente. Exerceu a medicina com espírito empreendedor e per-cebia a necessidade de ampliar os horizontes nas outras frentes da especia-lidade. Assim, em 1959, foi presidente do Departamento de Proctologia da Associação Paulista de Medicina e participante de várias outras sociedades, como membro titular da Sociedade Latino-Americana de Coloproctologia e

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do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, membro emérito da Academia Paulista de Medicina e membro correspondente estrangeiro das Sociedades Chilena, Peruana e Uruguaia de Coloproctologia. Com isso, participou de numerosos congressos no Brasil e no exterior.

Entre suas contribuições científicas para a especialidade, as mais ex-pressivas dizem respeito aos estudos que auxiliaram efetivamente na compre-ensão da importância do esfíncter interno do ânus, culminando na criação de uma técnica operatória original: esfincterotomia interna subcutâneo-mucosa para o tratamento cirúrgico da fissura anal. A técnica foi apresentada em 1957 como nota prévia, em reunião do Departamento de Proctologia da Associação Paulista de Medicina, e publicada no ano seguinte, na Revista de Medicina e Cirurgia de São Paulo, órgão da Academia Paulista de Medicina. Essa técnica passou a ser amplamente utilizada e, mais tarde, foi difundida na Inglaterra por Mitchell James Notaras.

Como se vê, Milton César Ribeiro viveu intensamente a sua vida pro-fissional. Seu falecimento precoce causou tristeza entre seus inúmeros cole-gas... Mas, para eles, o médico deixou o seu exemplo de energia inesgotável, solidariedade e amor à vida. E para a especialidade deixou de herança não só a técnica citada, mas muitos anos de dedicação ao desenvolvimento da colo-proctologia.

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peDro Gusrio Grande do sul, 1964

F oi o mais novo presidente que a Sociedade Brasileira de Coloproctologia já teve. Com apenas 33 anos, assumiu o cargo,

menos de uma década após ter concluído a graduação em medicina, em 1955, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O gaúcho Pedro Gus tinha apenas três anos de formado e ainda não sabia exatamente qual es-pecialidade seguir. Foi então que decidiu participar do Congresso Brasileiro de Proctologia, realizado no Rio de Janeiro. Ali, no Hotel Glória, sob a regên-cia do presidente Américo Bernacchi, encantou-se pela especialidade e logo se tornou sócio da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Desde então, nunca mais a abandonou.

Sua precocidade na presidência da SBCP rendeu frutos. Ao longo de sua carreira, ele veio mostrar que tinha talento, realmente, para ser um “homem de gestão”. Foi diretor da Associação Médica do Rio Grande do Sul, diretor da Faculdade de Medicina da UFRGS e do Hospital de Clínicas e presidente do Sindicato Médico do Estado do Rio Grande do Sul (quando também, por qua-tro mandatos, pertenceu à diretoria-geral). Pedro Gus chegou, inclusive, a ter uma atuação política, a qual ele considera sua maior aventura: foi secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, em 2005.

Ensinar também foi uma atividade à qual se dedicou desde cedo. Em 1965, foi docente de proctologia da Faculdade Católica. Depois, por meio de concurso, tornou-se livre-docente em coloproctologia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Até que, em 1984, conquistou a posição de professor-titular em cirurgia na mesma instituição. Paralelamente, sempre se manteve atuando em sua clínica e realizando cirurgias.

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Pedro Gus é a prova viva de que maturidade nem sempre é sinônimo de competência. Com garra e empenho, as grandes conquistas chegaram cedo à vida desse médico, como resultado natural de seus esforços.

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Ary FrAuZIno pereIrArio de Janeiro, 1965

O goiano Ary Frauzino – da pequena cidade de Corumbaíba – dei-xou sua marca não só na coloproctologia, mas também na on-

cologia. Destacou-se em ambas as especialidades e, além do grande empenho que dedicava à sua atuação médica, tinha como características pessoais agre-gar e promover profissionais competentes.

Ele veio jovem ao Rio de Janeiro para estudar, formando-se pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, em 1945. Retornou para sua cidade e, no ano seguinte, foi eleito deputado estadual por Goiás e ocupou o cargo de secretário-geral na Câmara. Após quatro anos de mandato, saiu da carreira política e retornou à então capital do país onde, de fato, iniciou sua formação cirúrgica na Policlínica do Rio de Janeiro, no ser-viço do professor Fernando Paulino, transformando-se em um dos seus mais brilhantes discípulos.

Frauzino era cirurgião geral de formação clássica, com notável capaci-dade de trabalho. Tinha como qualidades ser um profundo estudioso dos pro-blemas cirúrgicos e com tenacidade invejável para o tratamento de pacientes graves. Era também um grande idealista, chegando a fundar uma clínica cirúr-gica privada, com recursos próprios, para o tratamento cirúrgico da patologia torácica, num momento em que esta especialidade ainda estava se esboçando no meio médico.

Mais tarde, atraído pelas condições de trabalho no Hospital dos Servidores do Estado, prestou concurso e foi admitido no serviço de colo-proctologia. A partir daí, colocou todas as suas habilidades profissionais no

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desenvolvimento da especialidade. Para todos os jovens que iam aprender as técnicas cirúrgicas com ele, ensinava alertando para a necessidade de se diri-gir ao paciente um tratamento respeitoso como pessoa humana, e não apenas como objeto de técnica.

Outra lição deixada é que em qualquer que fosse a cirurgia era preciso ter a mesma dedicação. Ele foi um notável cirurgião que tratava com igual es-mero e delicadeza tanto a cirurgia orificial quanto a radicalidade das cirurgias de câncer do cólon e do reto. Neste último setor, Frauzino foi um dos pioneiros e, sem dúvida, um de seus maiores batalhadores, criando uma escola de cirur-giões hoje distribuídos por todo o Brasil.

Nos casos de câncer, ele unia seu potencial cirúrgico com suas carac-terísticas pessoais, transformando o tratamento em uma batalha pessoal, le-vando a cirurgia aos seus limites de extensão e radicalidade. São notáveis seus trabalhos de esvaziamento pélvico. Isso sem falar no pioneirismo de suas ressecções hepáticas para o tratamento do câncer metastático de cólon e reto.

Tamanha dedicação ao tratamento do câncer o levou a exercer suas atividades no Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 1953, no serviço de cirurgia abdominal. Em 1964, conquistou o cargo de chefe de cirurgia ab-dominopélvica. Frauzino assumiu a função em tempo integral, influenciando na formação da maioria dos oncologistas brasileiros de maneira abrangente, mas com especial atenção à área coloproctológica. A especialidade nunca foi deixada de lado por ele, tanto é que, no ano seguinte, assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, realizando um congresso com muita eficiência. Além disso, participava de todos os eventos da Sociedade, sempre com muito interesse e entusiasmo, aproveitando para transmitir suas convic-ções em relação à sua prática médica.

O coroamento de sua enorme dedicação ao tratamento do câncer veio em 1980, quando foi convidado a assumir a direção do Inca. Exerceu o cargo com brilhantismo até 1985, tendo promovido numerosas reformas e progra-mas e firmado convênios técnico-científicos que projetariam ainda mais o Inca como um centro médico-hospitalar especializado, de ensino e de pesquisa. Lutou, ainda, pela criação de uma fundação que pudesse dar apoio técnico e financeiro à instituição. Antes de ver esse sonho realizado, porém, veio a fa-lecer, em 1986, aos 69 anos, em pleno exercício de suas atividades. Em 1991, foi criada a Fundação Ary Frauzino para Pesquisa e Controle do Câncer, fa-zendo jus a seus esforços e a sua capacidade visionária – diga-se de passagem, não apenas na oncologia, mas também na coloproctologia.

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FelIpe JosÉ FIGlIolInIsão paulo, 1966

P ara ele, nada foi fácil. Mesmo sendo filho de um médico renomado – o gastroenterologista Felipe Figliolini –, jamais recebeu benefícios

em sua trajetória profissional. Mas apoio, sim. Já na época da escola, sentava-se à mesa do jantar com o pai e ficavam conversando sobre temas da medicina. O pai, vendo o interesse do filho, o incentivava a seguir o mesmo caminho.

Assim, em 1943, o jovem Felipe José Figliolini entrou para a Escola Paulista de Medicina (EPM) – onde, por sinal, seu pai era professor, sem ja-mais ter proporcionado qualquer facilidade ao filho por conta disso. Após a formatura, em 1948, ele ficou um pouco perdido sobre qual caminho seguir, mas conseguiu ser aceito em um curso de especialização em cirurgia co-lorretal no recém-criado Hospital das Clínicas, já que, por dois anos, quan-do ainda era estudante, havia sido assistente em cirurgia geral no Hospital Universitário da EPM.

Foi então que aconteceu o encontro de Felipe com aquele que seria seu parceiro por quase toda a vida: Daher Cutait, diretor do curso. Vendo o interesse de Felipe pela especialidade durante as aulas, Daher o convidou para fazer um estágio de dois anos e meio no Hospital das Clínicas (HC). Não remunerado. Mesmo assim, o médico iniciante aceitou e, a partir daí, começou o seu verdadeiro aprendizado: ele passou a ter contato com as mais variadas áreas cirúrgicas. Ao final do estágio, como obteve aproveitamento máximo em tudo, pôde escolher um departamento para atuar por mais dois anos. E escolheu a coloproctologia. Mas foi avisado por Daher: o hospital ainda não tinha como remunerá-lo.

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Felipe não se importou e seguiu em frente. Paralelamente, obtinha o seu sustento do cargo de médico generalista e pediatra da Prefeitura de São Paulo, conquistado por concurso. Ao final de mais esses dois anos no HC, foi con-vidado por Daher para ser seu assistente. Outra vez escutou: “Mas o Estado ainda não tem como pagá-lo.” Novamente não se importou. Seu pagamento vinha por intermédio da experiência que ia acumulando. E acabou abrindo portas para outro caminho: ensinar. Extraoficialmente, os alunos do terceiro ano que estagiavam no HC pediam que ele lhes desse aulas à noite. Com todo o prazer, Felipe aceitava. Com isso, seu nome começou a crescer peran-te os colegas. Até que acabou tornando-se assistente de ensino do professor Benedito Montenegro, no HC, ensinando toda a parte de cirurgia colorretal.

Um dia, finalmente, Daher Cutait convidou Felipe para trabalhar em sua clínica particular. Dessa vez, remunerado! Ao todo, foram seis anos no HC sem receber qualquer tostão – apenas conhecimentos. Mas, depois de tanta dedicação, ele conseguiu ser contratado por esse hospital, onde permaneceu trabalhando por mais 13 anos. Felipe só deixou o HC porque havia constituí-do uma clínica particular muito bem sedimentada, que lhe trazia a segurança profissional e financeira de que necessitava. Também devido ao sucesso de sua clínica, largou a Prefeitura após 17 anos de serviços prestados.

A respeito de sua clínica particular, vale a pena um aparte. Seu pai nunca lhe mandou um cliente sequer, alegando não querer proteger o filho. Dizia que ele teria que fazer seu nome ser respeitado por esforço próprio. Conquistando cliente por cliente, Felipe José Figliolini chegou lá: obteve o reconhecimento profissional e conseguiu se tornar uma referência na coloproctologia na cidade de São Paulo.

Sua parceria com Daher Cutait, porém, foi ainda mais profícua. Em 1966, quando Daher fundou o Hospital Sírio-Libanês, a primeira cirurgia – de apendicite, em um menino de sete anos – foi realizada justamente pela dupla Cutait-Figliolini. Os dois permaneceram juntos no Sírio-Libanês por vinte anos. E Felipe só parou de atuar nesse hospital e em todas as suas outras frentes profissionais quando seu pai, já bem idoso, precisou de sua ajuda. Ele então, aos 74 anos, se aposentou e foi se dedicar aos cuidados com a família e com uma fazenda que era propriedade de seu pai.

Foram quase trinta anos trabalhando com Daher Cutait. Os dois che-gavam a brincar dizendo que passavam mais tempo juntos do que com suas famílias. Unidos, jamais recusavam uma cirurgia. E chegaram a realizar mui-tas, madrugada adentro, em pacientes necessitados que não podiam pagar.

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Tamanho companheirismo seguiu praticamente até a morte de Daher. Quando ele se encontrava de cama, bem doente, virou-se para o amigo e disse: “Felipe, você foi o maior e o melhor amigo que tive.”

Essa amizade acabou trazendo Felipe também para a Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Desde que ele começou a seguir os passos de Daher Cutait, na década de 1950, foi levado pelas mãos do mestre aos eventos da Sociedade. Inicialmente, apenas o acompanhava nos congressos e o aju-dava a escrever suas teses. Mais tarde, passou a preparar seus próprios traba-lhos, e um deles fez com que fosse escolhido fellow do American College of Surgeons. O amor que Daher tinha pela Sociedade foi passado a Felipe, que se tornou secretário de vários congressos, até conquistar a honra maior de ser presidente, em 1966. Até o momento de sua aposentadoria, manteve-se pre-sente em todos os congressos anuais.

Felipe José Figliolini, que sempre se considerou um homem feliz, graças à família que pôde criar e às conquistas profissionais que alcançou, é o exemplo vivo do antigo ditado: “Não existe vitória sem batalha.” Ele muito lutou em sua vida, colecionando os louros da vitória com muita humildade e alegria.

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FArJAllA seBBAGoiás, 1967

G raças a ele, a coloproctologia se instalou em Goiás. Farjalla Sebba foi um médico incansável que de tudo fez para que seu

estado acompanhasse o crescimento da especialidade, como vinha acontecen-do a todo vapor nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Um dos oito filhos de uma família de libaneses, Farjalla nasceu na pequena cidade de Catalão, em Goiás. Para ter acesso a um ensino com mais qualidade, fez o curso secundá-rio no Colégio Salesiano de Uberaba, em Minas Gerais, e em seguida rumou para o Rio de Janeiro. Foi onde cursou sua faculdade, na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, graduando-se em 1945.

Após a formatura, permaneceu por mais sete anos no Rio. Nesse pe-ríodo, entrou, por concurso, para o Hospital Municipal Souza Aguiar e par-ticipou de vários cursos para aprender cirurgia geral e proctologia. Durante quatro anos, foi interno do professor Ugo Pinheiro Guimarães e, logo após, frequentou os serviços de proctologia de Walter Gentile, no Hospital dos Servidores do Estado, e de Aleixo Lustosa, um dos principais assistentes do pioneiro Pitanga Santos. Em 1952, retornou para seu estado e, em Goiânia, estabeleceu-se na Santa Casa e no Hospital São Lucas, tornando-se o primeiro proctologista de Goiás.

Em 1958, começou a participar de reuniões da Associação Médica com o objetivo de criar a disciplina de proctologia no curso de medicina na Universidade Federal de Goiás. O momento era mais do que oportuno. Já nessa época, Farjalla tinha percebido que a disciplina, apesar de nova, era necessária para o curso médico. Ele então fez de tudo para convencer o am-biente médico de Goiás da grande necessidade do ensino da proctologia. E

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a chance surgiu quando foi aberto um concurso para professor em diversas especialidades. Ele aproveitou a oportunidade para apresentar seu currículo como candidato a professor de uma nova disciplina na região, a proctologia. E conseguiu a aprovação.

Assim, a partir de 1960, Farjalla ficou à disposição da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, no departamento de cirurgia ge-ral, mas, paralelamente, organizava o programa de ensino da especialidade. Em 1963, finalmente, as aulas de proctologia tiveram início, ministradas no quarto ano de medicina. Farjalla organizou o serviço com 12 leitos – seis femininos e seis masculinos –, em um ambulatório que funcionava três vezes por semana. Em parceria com Ismar Dutra, realizou outra conquista: em apenas oito dias, montou o serviço de pronto-socorro da Universidade Federal de Goiás.

Seu grande empenho na disseminação da especialidade o conduziu à pre-sidência da SBCP, em 1966. No ano seguinte, acontecia pela primeira vez no estado de Goiás o Congresso Brasileiro de Proctologia. A partir daí, Farjalla tor-nou-se frequentador assíduo dos congressos seguintes, participando ativamente de simpósios, mesas-redondas e apresentações de temas livres. Foi o fundador da regional de Goiás. Também em seu estado, passou a frequentar os congressos da Sociedade de Gastroenterologia, conquistando a sua presidência.

Em 1971, Farjalla obteve o título de livre-docente. Durante 11 anos deu aulas gratuitamente na antiga Faculdade de Enfermagem São Vicente de Paulo. Ele também criou o serviço de proctologia no Hospital Geral de Goiás, com 12 leitos. E foi um dos organizadores do antigo hospital do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e diretor de sua divisão médica. Nomeado coordenador de assistência médica previdenciária de Goiás, unificou a pre-vidência no estado e assegurou o direito de os previdenciários terem a livre escolha de médico e hospital.

Ao todo, foram cinquenta anos de exercício da especialidade. Além de ser um homem muito devotado à sua profissão, era muito dedicado à sua fa-mília. Ele sabia dosar os dois lados, deixando a todos o exemplo de equilíbrio, autenticidade, coragem e trabalho. E, para Goiás, deixou enraizados o ensino e a prática da coloproctologia.

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roMeu MArrA DA sIlVArio de Janeiro, 1968

E le foi um médico alegre e muito dinâmico. Munido dessas duas características, Romeu Marra da Silva deixou contribuições

importantes não só para a coloproctologia, mas para a medicina em geral. Entre elas, a criação da Carteira de Identidade de Saúde, em 1969, aprovada pelo Ministério da Saúde e pela Câmara Federal, por países sul-americanos, pela Embaixada Americana e pela própria Organização Mundial da Saúde. Com essa carteira, o paciente tinha todos os seus dados de saúde e poderia ser atendido em qualquer lugar do mundo, sem que houvesse riscos de erros médicos por desconhecimento de suas condições prévias. Graças a esse feito, ele ganhou um grande prestígio e até mesmo condecorações, como medalhas e o título de Cidadão do Estado da Guanabara, concedido pela Assembleia Legislativa do estado.

Nascido em 1924, em Nova Friburgo (cidade serrana próxima ao Rio de Janeiro), Romeu Marra desceu a serra até Niterói (cidade vizinha ao Rio) para se formar pela Faculdade Fluminense de Medicina, em 1949. E foi no eixo Rio-Niterói que acabou se estabelecendo profissionalmente. Já durante a vida acadêmica, mostrou que tinha latente a veia da liderança ao se tornar presidente da Associação Fluminense de Estudantes de Medicina. Foi também como estudante que começou a se aproximar da coloproctologia, quando esta-giou no Hospital dos Servidores do Estado e no Instituto Nacional de Câncer.

Em geral, em cada hospital onde Romeu Marra atuou, sempre se des-tacava e conquistava cargos de chefia. Foi assim quando se tornou cirurgião do Hospital da Comissão Central de Macabu, vindo a dirigir esta institui-ção mais tarde. Foi também chefe do Serviço de Cirurgia da Santa Casa de

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Nova Friburgo e chefe da equipe cirúrgica do Pronto-Socorro do Hospital Antonio Pedro, em Niterói. Tornou-se médico concursado da Polícia Militar do Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), onde depois acabou fundando e chefiando o Serviço de Proctologia do Hospital da Polícia Militar, além de galgar a posição de diretor deste hospital. Além disso, em 1970, realizou uma grande contribuição à especialidade ao se tornar sócio fundador da Casa de Saúde Nossa Senhora Auxiliadora, em Niterói, voltada, inicialmente, apenas para o atendimento em coloproctologia.

Paralelamente a seu trabalho como cirurgião, Romeu Marra era muito atuante na Sociedade Brasileira de Proctologia, tendo diplomas de participa-ção em todos os congressos a partir de 1962. Após ter ocupado a presidência da Sociedade, foi membro do Conselho Consultivo de 1969 a 1973. Sua ligação com os colegas coloproctologistas era tanta que acabou tomando a frente na criação de três sociedades regionais: a do Rio de Janeiro, a do Ceará e a da Bahia. Ele também foi membro titular da Associação Latino-Americana de Proctologia.

Aos 50 anos, porém, no auge de sua carreira, Romeu Marra sofreu um acidente de carro na Ponte Rio-Niterói – o primeiro a acontecer na recém-criada ponte. Essa fatalidade freou, com certeza, os muitos feitos desse colo-proctologista empreendedor que ainda poderiam contribuir para a medicina.

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WAlCAr DIAs CoelHoMinas Gerais, 1969

U m homem com verdadeira alma mineira: simples, pacato, bon-doso, amigo, delicado no trato com o próximo e avesso a discus-

sões. Impossível alguém brigar com ele, tamanha a sua postura apaziguadora. Assim foi Walcar Dias Coelho. Apesar desse jeito manso, havia algo pelo qual ele brigava: pela boa prática da coloproctologia. E assim foi ao longo de seus dias, desde que se formou, em 1948, pela Faculdade de Medicina da então Universidade de Minas Gerais e passou a ser interno e estagiário da 2ª Clínica Cirúrgica de Homens da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Aprendeu com seu chefe, Edmundo Paula Pinto, o que era ser um bom especialista em coloproctologia.

Colocando em prática o que absorveu na Santa Casa, também foi médico do antigo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos (IAPFESP), médico revisor de contas do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) e coloproc-tologista credenciado da Abeb, da Geap e de outros convênios. Apesar do excesso de trabalho, encontrava tempo também para exercer sua bondade: atendia, semanalmente, pacientes pobres no Ambulatório Melo Alvarenga da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte.

Também na Santa Casa, acabou sendo o sucessor de seu chefe, Edmundo Paula Pinto, assumindo a chefia da 2ª Clínica Cirúrgica de Homens, de 1972 a 1982. Lado a lado com seu mestre, também desempe-nhou a função de professor assistente da disciplina de cirurgia digestiva da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, chefiada por Paula Pinto. E foi preceptor da residência e especialização em coloproctologia

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até 1982, quando precisou se afastar por problemas de saúde. Cinco anos depois, veio a falecer.

Walcar Dias Coelho deixou sua marca não só entre os coloproctologis-tas mineiros como também entre os colegas de todo o país. Foi um frequen-tador assíduo dos congressos brasileiros da SBCP e assumiu a presidência da Sociedade em 1968, realizando no ano seguinte o congresso na Associação Médica de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Ao partir, deixou muitos amigos e admiradores espalhados por todo o Brasil.

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JosÉ tHIAGo pontessão paulo, 1970

E specialista extremamente empreendedor no campo das pesquisas e, ao mesmo tempo, muito agregador. Para ele, valia mais a pena

abrir mão de um cargo de chefia hospitalar do que aceitar a missão e, em con-trapartida, criar inimizades. Com isso, ao falecer, José Thiago Pontes deixou saudades por ter sido um médico muito querido, sempre alegre e simpático com todos que o cercavam.

Nascido em Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo, ele se mu-dou para a capital a fim de estudar, graduando-se, em 1941, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Pouco tempo depois, seguiu para Londres, onde fez pós-graduação no St. Mark’s Hospital. Lá, se destacou ao participar de cirurgias, prática até então incomum nos hospitais londrinos, e, claro, fez vários amigos entre os médicos estrangeiros.

De volta ao Brasil, mantinha os olhos nos avanços médicos do exte-rior. Juntamente com seu irmão, o professor José Fernandes Pontes, fundou o Instituto de Gastroenterologia de São Paulo, uma clínica moderna inspirada na Mayo Clinic, dos Estados Unidos. Nesse instituto, vários especialistas aten-diam no mesmo local, dando ênfase aos aspectos psicossomáticos em gastro-enterologia. O sucesso foi tanto que os irmãos acabaram abrindo uma nova sede, maior, próxima à avenida Paulista.

Nesse período de expansão, José Thiago e José Fernandes criaram também o Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas de Gastroenterologia (Ibepege). O novo instituto começou suas atividades com o Curso de Formação de Especialistas para médicos do Brasil e do exterior. Mais tarde, evoluiu para

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curso com nível de mestrado, quando mais de setenta teses foram defendidas. Anualmente, no mês de janeiro, era ministrado o Curso de Atualização em Gastroenterologia, sendo que os temas de coloproctologia ficavam a cargo de José Thiago Pontes. Os dois irmãos foram ainda mais pioneiros, ao criarem o Curso de Ensino Continuado, fórmula de sucesso que passou a ser copiada por várias outras instituições.

Além de suas atividades médico-cirúrgicas, José Thiago ministrava cursos e aulas e orientava teses. Chegou também a ser professor assistente no serviço de coloproctologia do Hospital das Clínicas da USP e no hospital do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC) de São Paulo. Tamanha dedicação acabou conduzindo-o à presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, em 1970. Durante o congresso que presidiu, convidou diversos amigos estrangeiros, que abrilhantaram ainda mais o even-to com suas palestras.

Apenas nove anos depois, porém, uma doença grave tirou José Thiago Pontes do cenário médico precocemente. Aos 63 anos, ele partiu deixando uma profícua produção científica e um exemplo de vida a ser seguido. E, ob-viamente, uma legião de amigos, conquistados graças a sua bondade, alegria e personalidade marcante.

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GerAlDo MIlton DA sIlVeIrA

Bahia, 1971

U m ser humano incansável. Assim pode ser traduzido, em poucas palavras, o caráter de Geraldo Milton da Silveira. Aos 14 anos,

ele já trabalhava na Prefeitura de Salvador, sua cidade natal, como fiscal de iluminação pública. Ainda assim, arrumava tempo para se dedicar aos estu-dos, e aos 19 anos, em 1944, conseguiu ingressar na Faculdade de Medicina da Bahia. Nesse momento, acabou sendo transferido de setor na Prefeitura: passou a cumprir expediente no serviço médico, quando fazia curativos, dava injeções e verificava peso, altura, pulso e pressão arterial dos funcionários.

Em 1949, ele concluiu o curso médico e deu início à sua vida profissio-nal. Dez anos depois, já era doutor em ciências médico-cirúrgicas, defendendo a tese “Estudo anátomo-cirúrgico do colédoco terminal e condutos pancreá-ticos”. E já havia participado de cursos de especialização em doenças renais, anatomia cirúrgica, doenças da nutrição, patologia psicossomática, radiolo-gia clínica, doenças proctológicas, hepatologia e história da medicina. Depois disso, mergulhou em um novo desafio: ser professor. Acabou subindo todos os degraus dentro da Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia: ini-ciou como professor-assistente, passou para professor-adjunto e, finalmente, tornou-se professor-titular de clínica cirúrgica.

Outra característica marcante de Geraldo Milton da Silveira foi a de ser um entusiasta em tudo o que fazia. Ele também tinha um temperamento afir-mativo e era um rígido defensor de suas teses e princípios. Tudo isso fez com que se visse à frente, ao longo de toda a sua vida, das lutas e iniciativas de en-tidades médicas associativas, científicas e culturais da Bahia – e até mesmo de outros estados do Brasil e de associações nacionais. Além de ter sido presiden-

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te da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, presidiu a Federação Brasileira de Gastroenterologia e a Academia de Medicina da Bahia. Na Prefeitura de Salvador, foi presidente da “junta médica” e, por duas vezes, da Fundação de Assistência Médica do Serviço Público Municipal.

E isso não é tudo... Ele ainda teve fôlego para fundar a Sociedade de Coloproctologia da Bahia – da qual também se tornou presidente – e os capí-tulos baianos do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva. Durante vários anos, exerceu a função de Mestre do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Também dividiu seu empreendedoris-mo com outros estados nordestinos, ao estimular a criação das Academias de Medicina de Sergipe, Rio Grande do Norte e Pará.

Dedicar-se plenamente à ciência médica era prioridade em sua vida. Tanto é que participou de mais de 350 congressos médicos no Brasil e no exterior e publicou numerosos trabalhos científicos sobre os temas mais va-riados nas áreas de coloproctologia, gastroenterologia e cirurgia. Como se vê, o baiano Geraldo Milton da Silveira não se fazia de rogado quando o assunto era trabalho. E quando faleceu, em 2006, aos 81 anos, deixou como herança aos médicos não só do Nordeste, mas de todo o Brasil, o exemplo do que é dedicar-se de corpo e alma a uma causa: o exercício da medicina da maneira mais plena e ampla possível.

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CArlos Brennerrio Grande do sul, 1972

N ascido em Porto Alegre, em 13 de agosto de 1924, filho de Hugo Brenner e Eugenia Petersen Brenner, graduou-se em 1948 pela

Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Sua formação na especialidade, além da atividade em Porto Alegre, es-teve ligada à cadeira de cirurgia do Hospital Ramos Mejia, de Buenos Aires (Argentina), de cuja municipalidade foi bolsista, e também ao serviço do pro-fessor Ian Todd em Londres (Inglaterra).

Teve participação intensa em diversas entidades médicas locais e na-cionais. Foi sócio fundador da Sociedade de Coloproctologia do Rio Grande do Sul, que também presidiu em 1971. Assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e realizou o congresso anual em Porto Alegre, em 1972.

Foi professor da disciplina de coloproctologia da Fundação Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre a partir de 1978, por quase duas décadas.

A par da intensa atividade profissional e de ensino, sempre valorizou e foi prestigiado por sua participação social e esportiva. Praticou golfe durante setenta anos, tendo presidido o Country Clube de Porto Alegre em três gestões.

Casado em segundas núpcias com Heloisa Brenner, deixou dois netos, William e Sabrina, residentes nos Estados Unidos.

Por sua afabilidade, seu interesse na divulgação e no ensino da especia-lidade e sua incansável participação associativa, Carlos Brenner deixou impor-tante lacuna na coloproctologia gaúcha e nacional. Faleceu em janeiro de 2012.

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DÉCIo GuIMArães pereIrArio de Janeiro, 1973

E m uma primeira impressão, ele poderia parecer sisudo e intros-pectivo. Mas, no fundo, Décio Guimarães Pereira foi um profis-

sional muito educado com seus pacientes, e que exigia demais de seus assis-tentes – o que foi fundamental para o crescimento de quem teve o privilégio de trabalhar a seu lado. Esse médico carioca era extremamente preocupado com a qualidade do atendimento, e isso se refletiu ao longo de toda a sua vida.

De 1950 a 1954, no Rio de Janeiro, ele atuou no Hospital de Pronto-Socorro (atual Hospital Municipal Souza Aguiar). Em 1965, estreitou os laços com a especialidade ao se tornar, após prestar concurso, chefe do Serviço de Proctologia do Hospital Municipal Miguel Couto. Nesse hospital, ele se destacou tanto que, em 1975, acabou tornando-se diretor (cargo que desem-penhou até janeiro de 1976). De 1971 a 1973, também atuou em outro car-go de destaque: foi diretor da Seção de Proctologia do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Paralelamente a tudo isso, mantinha seu consultório particular na praça Serzedelo Correia, em Copacabana.

Décio Pereira foi também um membro atuante da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. De 1968 a 1970, participou da Comissão Examinadora do título de especialista. Também em 1968, foi secretário-geral. Em 1973, elegeu-se para a presidência. Foi membro-titular da SBCP e também da Sociedade Latino-Americana de Coloproctologia.

Com apenas 55 anos, em 1979, Décio Pereira – que já era safenado – sofreu um ataque cardíaco fulminante. Para seus clientes, deixou como he-rança sua grande honestidade no tratamento médico-paciente. E para seus

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assistentes, o exemplo da importância de ser sempre estudioso e atualizado. Décio Pereira era uma verdadeira enciclopédia de coloproctologia, sabendo tudo sobre a especialidade. Ele ensinava a seus pupilos o “pulo do gato” da profissão, pequenos detalhes que não eram encontrados nos livros médicos, frutos dos seus muitos e muitos anos de experiência profissional.

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AnGelIno MAnZIonesão paulo, 1974

O paulistano Angelino Manzione teve como marca dedicar-se sempre, com grande entusiasmo, à coloproctologia. Logo após

o término de seus estudos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em 1945, já iniciou suas atividades com o pé direito: no serviço de cólon e reto da 3ª Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas, na cátedra do professor Benedito Montenegro.

Pouco a pouco, Manzione foi se transformando em um cirurgião com-pleto. Seu trabalho resultou na publicação de numerosos trabalhos sobre a especialidade, todos de grande porte e alguns premiados nas mais respeita-das entidades médicas. Com isso, conquistou o reconhecimento nacional e internacional. Um exemplo desses trabalhos foi a sua tese de doutoramento, defendida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 1972. Ela versava sobre o tema “Retite actínica por irradiação do colo uterino – aspectos clínicos e histopatológicos” e alcançou grande repercussão científica, demonstrando a preciosa habilidade do médico como pesquisador.

Em 1980, Manzione submeteu-se ao concurso de livre-docência. Para tanto, produziu uma tese sobre “Válvula mucosa ileal na colectomia com anas-tomose ileorretal – estudo experimental”, que teve excelente aceitação e reper-cussão na classe médica. O resultado foi a aprovação do candidato com distin-ção. Ao longo de sua carreira como professor, Manzione ministrou ensinamen-tos sábios a seus alunos e a todos que o cercavam no contato profissional.

Na Sociedade Brasileira de Coloproctologia, ele teve uma destacada atuação. Ocupou todos os cargos de diretoria até atingir seu ápice: a presi-

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dência, em 1974. Durante o congresso que organizou, aproveitou para lançar a obra Patologia Colorretal – atualização, na qual compilou todos os temas relacionados ao 24º Congresso de Proctologia, que ele presidia. Manzione foi também presidente do Departamento de Coloproctologia da Associação Paulista de Medicina e membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, do qual foi diretor da Seção de Coloproctologia em dois mandatos e, mais tarde, secretário-geral e mestre do Capítulo de São Paulo. E ainda era presença constante em um incontável número de congressos nacionais e internacionais.

Angelino Manzione conseguiu aliar sua excelência como cirurgião e professor com uma formação ética e moral irrepreensível. Era um homem tido por todos como bom e caridoso, recebendo admiração e respeito de seus colegas, discípulos, funcionários e pacientes. Ele também não escondia de ninguém que era muito amado por sua família, revelando ser feliz e realiza-do. Uma doença insidiosa, porém, fez com que ele precisasse lutar pela vida ao longo de alguns anos. A doença por fim o venceu em 1998, aos 81 anos. Manzione deixou saudade em todos os seus colegas da coloproctologia, mas também a certeza de que a especialidade teve, em sua figura, a representação de um grande médico e de um grande homem.

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sÉrGIo Brennerparaná, 1975

P rimeiro presidente paranaense da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, Sérgio Brenner foi o responsável por ampliar a

prática da especialidade em seu estado. Na década de 1960, ele trouxe de São Paulo toda a experiência adquirida com os consagrados Daher Cutait, Oscar Simonsen, Felipe Figliolini, Angelino Manzione e Arrigo Raia, entre outros, fazendo com que a proctologia – até então praticada em Curitiba (PR) por apenas três ou quatro especialistas, mas muito ainda no campo da cirurgia ori-ficial – ganhasse maior abrangência, atingindo também o tratamento do cólon.

Brenner nasceu em Ponta Grossa e, aos 11 anos, seu pai – que também era médico – o mandou estudar no internato do Colégio Arquidiocesano de São Paulo. Lá ficou durante sete anos e continuou os estudos na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), formando-se em 1959. Nos dois anos seguintes, fez residência no Hospital das Clínicas, especializando-se em cirurgia do aparelho digestivo. Após aprender bastante com os grandes no-mes da época, decidiu colocar em prática seu objetivo: retornar para o Paraná, levando consigo todo aquele conhecimento.

Em 1961, o momento era mais do que oportuno: o Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná havia sido inaugurado em Curitiba. Foi lá, então, que ele iniciou sua vida profissional. Até 1967, ficou trabalhando na 2ª Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas, sob a chefia de João Vieira de Alencar. Para consolidar ainda mais seus conhecimentos, Brenner decidiu ir para os Estados Unidos, tornando-se fellow do Boston City Hospital, no 7º Serviço Cirúrgico da Universidade Harvard. Ao lado de coloproctologistas renomados, pôde aprender ainda mais sobre cirurgia do aparelho digestivo.

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Em outubro de 1968, retornou a Curitiba e para o Hospital das Clínicas. No início dos anos 1970, devido à reforma universitária, a 2ª Clínica Cirúrgica passou a se chamar Cirurgia do Aparelho Digestivo. Foi nessa época, tam-bém, que Brenner – juntamente com os primeiros nomes da coloproctologia no Paraná – criou a Sociedade Paranaense de Coloproctologia, da qual se tor-nou o primeiro presidente.

Em 1974, a carreira do médico e cirurgião tomou novo rumo. Contando com a ajuda preciosa de Daher Cutait, ele escreveu sua tese de livre-docência: “Retocolectomia abdominal com anastomose retardada no tratamento do me-gacólon do adulto”. Assim, continuou sua carreira de professor, como adjunto.

Em 1975, a consagração de seus esforços veio com a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Brenner contava com apenas 39 anos e, além de ser o primeiro representante do estado do Paraná, era o tercei-ro mais jovem presidente.

A SBCP sempre esteve presente na vida do médico, mesmo quando ele ainda era estudante. Sua primeira participação foi em 1957, quando estava no quinto ano de medicina, no congresso presidido por Daher Cutait. De lá para cá, compareceu a praticamente todos. Só deixou de ir enquanto estava nos Estados Unidos e em 1992, em decorrência de um acidente sofrido pelo pai. Em quase todos os congressos, sempre buscou participar ativamente, apresen-tando trabalhos ou participando de mesas-redondas e simpósios.

Em 1990, Brenner passou por um concurso para o cargo de profes-sor-titular do departamento de Cirurgia do Hospital das Clínicas, com a tese “Adenocarcinomas colorretais – Análise dos resultados do tratamento cirúrgico em 608 pacientes”. Permaneceu desempenhando essa função até 2005, quan-do se aposentou. Mas não parou de lecionar. Desde 1972, é professor-adjunto e chefe do Serviço de Cirurgia Geral na Faculdade Evangélica de Medicina. Além desses títulos, Brenner é membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Federação Brasileira de Gastroenterologia, do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva e da Sociedade Brasileira de Videolaparoscopia.

São mais de cinquenta anos trabalhando pela coloproctologia, com total realização profissional. Brenner orgulha-se de ter se dedicado, prioritariamen-te, aos residentes – já tendo formado cerca de duzentos novos coloproctolo-gistas. Transmitir sua experiência a quem está começando é o que mais gosta de fazer. Tarefa na qual tem sido bem-sucedido ao longo de todos esses anos de entrega à especialidade.

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nIlson MArConDes Celsosão paulo, 1976

O s laboratórios perderam um grande profissional. Mas quem saiu ganhando foi a coloproctologia. Em 1947, aos 19 anos, quando o

paulistano Nilson Marcondes Celso entrou para a Escola Paulista de Medicina, tinha em mente ser médico de laboratório. No entanto, quando estava no terceiro ano, o destino deu um empurrãozinho para que ele mudasse seu caminho: surgiu a oportunidade de auxiliar um professor em uma pequena cirurgia. O mestre era ninguém menos do que Edson de Oliveira, que, a essa altura, já havia ocupado o cargo de presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Ao término da cirurgia, Nilson recebeu um elogio e um grande incentivo: Oliveira lhe assegu-rou que tinha aptidão e potencial para ser um bom cirurgião.

No mesmo ano, porém, Nilson passou por uma prova de fogo. Paralelamente a seus estudos de medicina, ele pertencia a uma banda de jazz como tecladista. Uma vez por semana, se reunia com os amigos para tocar e, nessas ocasiões, sempre havia visitas de outros músicos. Uma delas foi a de um inglês, que ficou encantado com a “pegada” do jovem brasileiro. Para a surpresa de Nilson, ele revelou que estava percorrendo a América do Sul em busca de novos talentos para a orquestra de música latina da BBC. E o con-vidou para ir a Londres se tornar músico profissional. A cabeça do estudante ficou em chamas durante 15 dias: a medicina ou a música? O convite era uma grande tentação. Depois de muito refletir, ficou com a medicina.

Tudo indica que ele fez a melhor escolha. Afinal, Edson de Oliveira também havia reconhecido o talento do rapaz – só que não para a arte de tocar um instrumento, e sim para manejar um bisturi com arte. Nilson então passou a fazer parte da equipe deste cirurgião. Mesmo ainda tão jovem, começou a

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aprender muito sobre cirurgia não apenas por intermédio de Oliveira, mas também com a ajuda do professor Werneck de Lima. Nilson também des-frutava do privilégio de frequentar a casa de Oliveira, onde podia mergulhar de cabeça na enorme biblioteca existente no escritório do médico. Com isso, quando ele chegou ao sexto ano de medicina, já havia adquirido conhecimen-tos suficientes a respeito dos mais importantes passos cirúrgicos.

Também pelas mãos de Oliveira, Nilson foi apresentado a Daher Cutait durante um dos congressos brasileiros de coloproctologia. O então jovem mé-dico impressionou Daher, que passou a incentivá-lo a se aprofundar na espe-cialidade e também a recebê-lo em sua casa para estudar temas importantes. O campo da coloproctologia se mostrou mais do que aberto a Nilson, que soube aproveitar bem as oportunidades. Em pouco tempo, já era chefe do ambulató-rio de coloproctologia, pertencente à Escola Paulista de Medicina.

Em 1972, tornou-se professor adjunto e dava aulas teóricas no Anfiteatro de Proctologia desta mesma escola, além de operar cadáveres em demons-tração de técnicas. Nessa mesma ocasião, foi convidado pela Faculdade de Medicina de Sorocaba para dirigir o serviço de coloproctologia. Nessa cidade do interior de São Paulo, Nilson iniciou médicos de muito valor na especiali-dade, contribuindo para que a população de Sorocaba pudesse ter um melhor atendimento nessa área.

Paralelamente ao ensino, na sala de cirurgia Nilson também se destaca-va. Ele foi o idealizador do tratamento cirúrgico do megacólon pela técnica de anorretomiectomia. Essa técnica simplificou tremendamente outras em voga na época, tornando-se viável de ser feita até mesmo por residentes do segundo ano e trazendo raras e pequenas complicações se comparada às cirurgias de grande porte. Nilson foi o pioneiro mundial desta técnica!

Mesmo após já ter mais de 80 anos, o médico não parou suas ativida-des, embora tenha diminuído o ritmo, passando a atender apenas uma vez por semana em seu consultório. E faz questão de estar a par dos assuntos da atua-lidade. Paralelamente, sempre que possível, levantava vela para outros rumos, navegando em alto mar com sua esposa a bordo de um veleiro de 34 pés em direção a Angra dos Reis e Paraty (RJ). Além disso, uma atividade não saiu de sua vida: a música. Apesar de não ter seguido esse caminho profissionalmen-te, faz questão de dedilhar seu teclado diariamente, ao som de muita música brasileira e, claro, jazz. Um médico que, com certeza, sempre soube levar sua vida com arte.

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tAsso MenDonçAGoiás, 1977

E xtremamente humano e dedicado a seus pacientes, sobretudo os mais necessitados. Foi assim que Tasso Mendonça viveu a me-

dicina. Este goiano de Pirenópolis deixou um grande exemplo, em seu esta-do, do que é ser médico em tempo integral, mesmo após a aposentadoria. E se a vida o freou, talvez tenha sido uma consequência da própria dedicação excessiva que tinha para com seus pacientes e do imenso auxílio que sempre prestava a seus colegas médicos.

Para realizar o sonho de seguir a medicina, ele precisou deixar Goiás para estudar na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Formou-se aos 22 anos e retornou para seu estado. Começou a exercer a profissão no município de Petrolina de Goiás, tornando-se um médico atuante que acabou se envolvendo também com política. Em 1949, aos 29 anos, foi o primeiro prefeito eleito desse município, cargo que desempenhou até 1953.

Depois dessa experiência, decidiu mudar-se para Goiânia. Na capi-tal de Goiás, iniciou sua atuação médica no Hospital Maria Auxiliadora. Depois, passou a trabalhar no Hospital Santa Catarina. Paralelamente, co-meçou a dar aulas na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Tasso Mendonça cumpria sua rotina de médico com grande dispo-sição: pela manhã, dava aulas na universidade e, em seguida, ia atender no pronto-socorro da própria Faculdade de Medicina; do meio-dia às 16 horas, trabalhava como superintendente no INSS, organizando a parte burocrática da medicina; e, às 19 horas, ia trabalhar na Santa Casa de Misericórdia. Em seus trabalhos, acabou se especializando em três frentes: clínica geral, pe-diatria e coloproctologia.

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Durante um período, Tasso ainda arrumava tempo para percorrer os municípios vizinhos a bordo de um jipe, transformado em uma espécie de ambulância. Ele fazia questão de levar atendimento médico à população ca-rente. Essa vida profissional agitada sempre foi uma constante para o médico goiano. Não sossegava nem enquanto dormia: deixava o telefone à beira da cama e, se ligassem para ele no meio da noite, saía para atender. Mas não visava ao dinheiro. Fazia tudo, em primeiro lugar, por amor à medicina e às pessoas que precisassem de apoio. Por várias vezes, chegou a transformar sua casa em hospital, abrigando pacientes carentes de outros municípios que havia operado em Goiânia. Se o paciente recebesse alta, mas ainda não estivesse em condições para retornar a sua cidade, Tasso o acolhia em sua casa até o total restabelecimento. E não raro chegou a tirar de seu próprio bolso o dinheiro para comprar medicamentos a quem necessitasse.

Além de ser um médico de muita ação, era um grande estudioso. Pesquisava muito, estava sempre em busca de novidades científicas... E isso o aproximou da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, da qual se tornou membro e figura assídua em todos os congressos anuais. O resultado de sua dedicação à especialidade e à medicina como um todo fez com que Tasso Mendonça fosse escolhido presidente da SBCP em 1977.

Quando se aposentou, retornou para suas raízes: Pirenópolis. Mas quem disse que parou? Lá, começou a auxiliar amigos em cirurgias no Hospital Nossa Senhora do Rosário. Fazia de tudo: partos, cirurgias de hemorroidas, apêndice... E sem cobrar um tostão! Bastava um chamado dos colegas pedin-do ajuda que Tasso Mendonça não pensava duas vezes. A recompensa veio quando inauguraram o Hospital Municipal de Pirenópolis: ele foi convidado para ser diretor, cargo que desempenhou por seis anos. Mesmo já estando apo-sentado e apesar de sua alta posição no hospital, Tasso continuava atendendo os pacientes.

Aos 55 anos, porém, Tasso Medonça foi acometido por um acidente vascular cerebral. Ele encontrava-se justamente trabalhando quando sofreu o AVC. Este foi o único freio que fez esse médico goiano parar, já que teve que deixar de exercer a profissão. Mas, em Goiás, todo mundo sabe quem ele é: o médico que tanto fez por muita gente. O profissional humano e dedicado que deixou um belo exemplo a ser seguido pelas novas gerações de especialistas.

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sAlVADor FerreIrArio Grande do sul, 1978

G aúcho de Pelotas, Salvador Ferreira viveu intensamente a medi-cina e veio a se tornar uma figura exponencial da especialidade

não só no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil. Quando faleceu, com apenas 65 anos, após não ter resistido a uma cirurgia no Instituto do Coração de São Paulo, deixou para trás uma história de muitas conquistas, as quais representaram avanços para o ensino e a propagação da especialidade.

Logo após sua formatura, em 1948, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, regressou para sua cidade natal. Foi em Pelotas que dedicou toda a sua vida à medicina, e em pouco tempo de atividade já era considerado um dos mais conceitua-dos cirurgiões da região, especializando-se em cirurgia geral, gastroentero-logia e coloproctologia. Começou exercendo suas atividades na Santa Casa de Misericórdia, onde ficou até 1960, e no ano seguinte passou a atuar na Sociedade Portuguesa de Beneficência, quando dirigiu os serviços cirúrgicos desse hospital por duas gestões.

O ensino da especialidade foi uma grande preocupação de Salvador Ferreira. Por conta disso, foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas, da qual se tornou professor adjunto de cirurgia geral. Mas vale dizer: para assumir o cargo, ele se submeteu a um concurso dis-putando a vaga com outros colegas. E foi aprovado com louvor. Nessa escola, acabou se tornando diretor da área de coloproctologia e chefe do Departamento de Cirurgia.

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A ligação com sociedades médicas também sempre fez parte de sua vida profissional. Durante três gestões (nos anos de 1961-63, 1977-79 e 1979-81), foi presidente da Sociedade de Medicina de Pelotas. Foi o primeiro vice-presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul, além de fundador e primeiro mestre da Regional Sul do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Presidiu ainda o Departamento de Coloproctologia da Associação Médica do Rio Grande do Sul.

Mas o ápice de sua participação em sociedades médicas se deu na pró-pria Sociedade Brasileira de Coloproctologia, quando foi seu presidente em 1977-78. O congresso presidido por ele, em Porto Alegre, teve um brilho a mais: Salvador Ferreira dirigiu com maestria o evento, tendo que dividi-lo com a Associação Latino-Americana de Coloproctologia (ALACP), pois, conjuntamente, ocorreu o congresso brasileiro e o latino-americano. Antes mesmo da presidência, ele sempre foi um participante ativo da SBCP, colabo-rando nas atividades científicas em quase todos os congressos anuais. Também esteve presente em eventos de coloproctologia pelo mundo afora, inclusive no Congresso Mundial de Madri, em 1978.

Salvador Ferreira foi, sem dúvida, um profissional que soube enxergar a importância da dedicação à especialidade e não media esforços para impul-sioná-la. Em Pelotas, contribuiu muito para o surgimento de novos coloproc-tologistas e para a sedimentação dessa especialidade no Sul. Em todo o Brasil, também deixou a sua marca de especialista que amava o que fazia, trazendo como resposta a isso o crescimento científico da coloproctologia.

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GerAlDo MAGelA GoMes DA CruZMinas Gerais, 1979

“Todo dia, eu bebo um pouquinho da velhice.” Não poderia haver pa-lavras melhores do que essas, de Guimarães Rosa, para iniciar o perfil deste grande médico mineiro. Ele, que se considera um “rosadicto”, usa de lirismo e poesia em tudo o que faz. Seja no trato com seus alunos, seja com seus pa-cientes, com seus amigos... E assim lá se vão mais de 70 anos de vida em que Geraldo Magela bebe, aos pouquinhos, não exatamente da velhice, mas da sabedoria. A qual, generosamente, divide com tanta gente.

Nascido em Espinosa, norte de Minas Gerais, ele se formou em medicina em 1964, aos 25 anos, pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. No ano seguinte, Magela iria se tornar o primeiro residente no Serviço de Coloproctologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, sob a direção de Edmundo Paula Pinto, que havia sido pre-sidente da SBCP em 1958. Foi também em 1965 que, pela primeira vez, ele compareceu a um Congresso Brasileiro de Proctologia (como então era chamado), no Rio de Janeiro. Para se aprofundar ainda mais na espe-cialidade, partiu, em 1966, para Filadélfia, nos Estados Unidos, onde fez residência na University of Pennsylvania.

Ao voltar, no ano seguinte, seguiu diretamente para nova sala de aula. Porém, agora, no papel de professor, na disciplina de coloproctologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Em 1972, Edmundo Paula Pinto – que era o professor-titular – precisou se afastar por motivo de saúde, e Magela assumiu a cátedra como professor-substituto. Quando seu grande mestre e amigo faleceu, em 1984, assumiu definitivamente, após prestar con-

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curso, o posto de professor-titular nessa universidade – em que também foi, por dois mandatos de quatro anos, diretor-geral.

Desde 1995, Magela está à frente do Grupo de Coloproctologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte e da Faculdade de Ciências Médicas, que é formado por uma equipe grande de professores. O objeti-vo? Realizar uma expressiva produção científica e participar ativamente em congressos. Ao longo de toda a sua vida, ele sempre se dedicou a produzir conhecimentos. Tanto é que tem mais de cinquenta trabalhos publicados em periódicos e mais de oitenta trabalhos em anais de eventos científicos, além de já ter participado de mais de seiscentos cursos, congressos e eventos com vasta apresentação de trabalhos científicos. E não para por aí: é autor do livro Coloproctologia, com 2.800 páginas divididas em três volumes, que foi pu-blicado de 1999 a 2001. Também lançou, em 2008, Doença Hemorroidária, com oitocentas páginas. E já traduziu diversos livros científicos sobre colo-proctologia, entre eles Atlas of Colorectal Surgery, Atlas of Colonoscopy e Manual of Colorectal Surgery.

Para completar tamanha dedicação ao estudo, também é docente pesqui-sador do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Medicina e Biomedicina da Santa Casa de Belo Horizonte, orientando alunos de mestrado e douto-rado. Paralelamente a tudo isso, sempre manteve o trabalho de clínico, em seu consultório particular, e de cirurgião. Desde 1982, é chefe do Serviço de Coloproctologia de Mulheres da Santa Casa de Misericórdia. E trabalhou tam-bém no Instituto dos Servidores do Estado de Minas Gerais, antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), de onde se aposentou em 1995.

Pelas veias de Geraldo Magela, também corre o talento para a liderança. Tanto é que, além de ter presidido a Sociedade Brasileira de Coloproctologia com apenas 39 anos – cumprindo a marca de ser o terceiro ex-presidente mais jovem da história da SBCP –, ele foi cofundador e ex-presidente da Sociedade Mineira de Coloproctologia, ex-presidente para a América do Sul da International Society of University Colon and Rectal Surgeons e vice-pre-sidente da mesma instituição, por dois mandatos de dois anos. Além disso, é fellow de The Harrison Department of Surgical Research of the University of Pennsylvania e membro titular da American Society of Colon and Rectal Surgeons e da Associação Latino-Americana de Coloproctologia.

Tantos títulos, contudo, não fazem de Geraldo Magela um homem cheio de si. Extremamente afetuoso, está sempre pronto a dar um abraço

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e, claro, a dividir seus conhecimentos. Um mineiro legítimo que, com sua simplicidade, esconde tesouros. E para terminar sua história de sabedoria, mas ao mesmo tempo de humildade, nada melhor do que um pouco mais das palavras de Guimarães Rosa: “Eu quase que nada não sei. Mas descon-fio de muita coisa.”

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pAsCHoAl pereIrA torres

rio de Janeiro, 1980

D edicação e generosidade. Essas foram as características marcan-tes do carioca Paschoal Torres durante sua vida profissional. Já

como estudante de medicina, começou a se esforçar: tornou-se ajudante de Fernando Paulino, na Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, atuando como instrumentador. Com qual objetivo? Dizia que precisava saber tudo... E foi em maior busca de conhecimento que, após a formatura, seguiu para Cleveland (EUA), onde ficou por três anos. Aprendeu sobre cirurgia e deu os primeiros passos na coloproctologia.

Na volta, abriu seu primeiro consultório, no Centro da cidade. Mais tarde, mudou sua clínica particular para o Centro Médico Bambina, na Zona Sul. Paralelamente, deu início a uma carreira brilhante no Hospital Pedro Ernesto, vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Nele, foi o criador do Setor de Proctologia, do qual foi chefe por mais de cinquen-ta anos. Fundou no Pedro Ernesto, também, um departamento para cuidar de colostomizados, em um momento em que praticamente ninguém sabia tratar disso no Rio de Janeiro.

Paschoal Torres estava sempre de olho no futuro. Todos os anos, viajava para congressos no exterior, para se atualizar das novidades médicas. Trazia todas elas para sua prática clínica e cirúrgica e não raro comprava instrumen-tos modernos não só para seu consultório como também para o Hospital Pedro Ernesto, pagando de seu próprio bolso. Graças às suas numerosas viagens, quando foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia con-seguiu realizar um congresso com um número muito grande de especialistas estrangeiros que apresentaram trabalhos.

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Em seu trato com os pacientes, sempre foi muito generoso e, ao mes-mo tempo, carismático. Quando operava alguém com poucos recursos no Hospital Pedro Ernesto, não se importava em depois fazer o acompanhamento pós-operatório em seu consultório particular, sem cobrar nada. E não tinha hora para ir embora, atendendo incansavelmente, sem distinção, pacientes pagantes e não pagantes. Em sua clínica particular, também fazia pequenas cirurgias. Nesses momentos, conversava tanto com seus pacientes antes de iniciar o procedimento, a fim de acalmá-los, que costumava ouvir deles que a melhor anestesia que ele aplicava era a “labial”. Sua rotina no Centro Médico Bambina se seguiu até ele completar 78 anos, em 2001, quando precisou se afastar por motivos de saúde.

Paschoal Torres viveu para a medicina e para ajudar as pessoas. Tinha verdadeiro amor à profissão, exercendo-a sempre com o espírito de doação em prol de seus pacientes e dos avanços da especialidade. Um exemplo a ser seguido por todos.

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AnGelItA HABr-GAMAsão paulo, 1981

U ma vida de pioneirismo e de muita dedicação. Não há melhor maneira para resumir a trajetória profissional de Angelita

Habr-Gama, a primeira mulher que assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Para conquistar esse feito – apenas um, en-tre os vários alcançados –, ela precisou vencer barreiras no início de sua carreira. A primeira foi a de superar o estigma vigente na década de 1950-1960, de que apenas homens poderiam ser proctologistas, tornando-se a primeira médica brasileira a se especializar nessa área. Foi também a pri-meira mulher a fazer residência em cirurgia geral e digestiva no Hospital das Clínicas de São Paulo, vinculado à Universidade de São Paulo (USP), a primeira a fazer doutorado, a primeira a fazer livre-docência... A primei-ra em muitas coisas.

Após o término do curso de graduação em medicina na USP, em 1957, e da residência no Hospital das Clínicas, Angelita foi assistir ao Congresso Internacional de Proctologia, em 1960, presidido por Daher Cutait, e teve então a oportunidade de conhecer muitos especialistas fa-mosos do mundo todo. E decidiu que tinha que fazer um estágio no St. Mark’s Hospital, em Londres, referência na especialidade. Iniciou, então, um longo período de troca de cartas com Basil Morson – na época o dean do St. Mark’s – para tentar convencê-lo a aceitá-la para o estágio. Não foi fácil... Morson lhe dizia que o St. Mark’s era um hospital só para homens. Mas tanto insistiu que conseguiu. Em Londres, pôde conviver com grandes nomes da especialidade e acompanhar, de maneira privilegiada, a evolução da coloproctologia e sua implantação como especialidade cirúrgica.

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De volta a São Paulo, estava disposta a se dedicar exclusivamente à especialidade. Obteve a chance de se tornar assistente do professor Alípio Corrêa Netto, no Hospital das Clínicas, quando aprendeu muito sobre tra-tamento de megacólon. Obviamente, pelo fato de ser a única mulher a exercer a profissão naquele início da década de 1960, houve certa resis-tência por parte dos colegas e dos pacientes. Mas o preconceito era uma coisa natural e não a abalou em nada. Logo as pessoas perceberam que ela trabalhava bem, que era séria e que realmente tinha habilidade para reali-zar cirurgias. Foi ganhando a confiança de todos e, quando se deu conta, já trabalhava igual ou até mesmo mais do que a maioria dos seus colegas homens.

Aplicando os ensinamentos assimilados na Inglaterra, ela iniciou o estudo da fisiologia anorretal, continência fecal e doenças inflamatórias intestinais. Em 1966, defendeu a tese de doutorado “Estudo da motilidade intestinal no megacólon”. A partir de seu trabalho, aumentou no país o in-teresse pela investigação da fisiologia anorretal, desenvolvendo-se vários centros em São Paulo e em outros estados. Em 1972, Angelita apresentou sua tese de docência, “Indicação e resultados da retocolectomia endoanal no tratamento do câncer de reto”, em uma época em que as operações que envolviam a ressecção do reto eram consideradas inadequadas do ponto de vista oncológico e funcional.

Graças a sua dedicação, Angelita foi crescendo dentro do Hospital das Clínicas. Nele, assumiu diversos cargos, como os de chefe do Departamento de Gastroenterologia e do Serviço de Coloproctologia. Paralelamente a seu trabalho clínico e hospitalar, também se dedicou à educação médica, dando aulas em faculdades, cursos, congressos e trei-namentos de residentes em cirurgia e orientando pós-graduandos. No Hospital das Clínicas, também se destacou no ensino, criando a disciplina de coloproctologia. Em 1998, por meio de concurso público, conquistou o título de professora-titular de coloproctologia. Mas não parou por aí. Criou vários outros centros de treinamento em coloproctologia em ou-tras instituições, como o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a Beneficência Portuguesa e o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. É, também, professora-titular de cirurgia da Faculdade de Medicina da USP.

A Sociedade Brasileira de Coloproctologia ocupa um lugar de desta-que na história dessa profissional. Em 1963, começou a frequentar os con-gressos e não mais parou. Logo se tornou membro e, já no primeiro ano,

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assumiu o cargo de primeira-tesoureira, o qual desempenhou até 1970. Depois desse cargo, vieram muitos outros. Desde 1972, ela é membro da Comissão Científica. Em 1973, fez parte da comissão examinadora que conferia o título de especialista. No ano seguinte, ocupou a posição de pri-meira-secretária. Em 1977, tornou-se membro da Comissão de Defesa de Classe. E nos anos de 1978 e 1979, foi escolhida para ser vice-presidente da Sociedade, durante a presidência de Salvador Ferreira, do Rio Grande do Sul, e Geraldo Magela, de Minas Gerais.

Mas foi em 1981 que alcançou o posto que confere o maior orgulho a qualquer coloproctologista: a presidência da SBCP. Em sua gestão, par-ticipou ativamente para que acontecesse a institucionalização e a normati-zação da residência médica, exercendo efetiva atividade junto aos órgãos competentes do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Isso porque, até então, não havia sido proposta ou aprovada a residência em cirurgia do aparelho digestivo, mas apenas a de cirurgia geral. Assim, na qualidade de presidente da SBCP, ela e uma comissão de especialistas apresentaram um programa de residência na especialidade, que foi aprovado pelo MEC em 1981 e é até hoje obedecido por todas as instituições que mantêm um sistema de residência médica em coloproctologia no país.

Além disso, Angelita participou de reuniões da Comissão Nacional de Residência Médica no MEC, em Brasília, tendo redigido normas que foram posteriormente adotadas, visando ao estabelecimento de requisitos de conhecimentos e destrezas relativos à especialidade, mas incluídos no Programa de Residência em Medicina Geral Comunitária, aprovado em 1982. Ainda integrou, desde o início de sua constituição, a Comissão de Residência Médica da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, que inspe-ciona, periodicamente, os cursos de coloproctologia, para que mantenham os currículos adequados.

Também em 1981, ela assumiu outro encargo que lhe dá muito prazer até hoje: membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Coloproctologia, órgão oficial da SBCP. Por dois anos (1986 e 1987), tam-bém foi a representante da Sociedade junto à Associação Latino-Americana de Coloproctologia (ALACP) – da qual veio a ser presidente em 1995. Ainda pela SBCP, é membro da Comissão de Cirurgia Laparoscópica des-de 1994. Em 1995, teve a oportunidade de criar, com Boris Barone – que era o presidente em exercício –, uma bolsa de estudos para incentivar jo-vens coloproctologistas: a Bolsa A/B. Ela é concedida anualmente, des-

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de então, ao oferecer a possibilidade de três jovens médicos da América Latina fazerem estágio de três meses em instituições de ensino oficial de coloproctologia em São Paulo.

Fazer parte de associações médicas – e destacar-se nelas – é uma consequência natural de tamanha dedicação de Angelita. Em 2002, con-quistou mais um lugar pioneiro, ao tornar-se o 60º membro honorário da centenária American Surgical Association, sendo que foi a primeira mu-lher a receber este título. Desde 2004, é membro honorário do American College of Surgeons. Em 2006, nova conquista em dose dupla: passou a ser o primeiro médico latino-americano e a primeira mulher a integrar o seleto grupo de membros honorários da European Surgical Association. Tornou-se membro honorário, ainda, de outras sociedades de coloprocto-logia além da brasileira, como as da Argentina, do Chile, do Paraguai e do Equador.

Estar à frente da luta contra o câncer também é uma realidade para ela. Por seguir como linha de pesquisa o tratamento do câncer colorre-tal, Angelita foi indicada pela Organização Mundial de Gastroenterologia (Omge) como coordenadora no Brasil do Programa de Prevenção do Câncer Colorretal. Em 2004, ela fundou a Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino (Abrapreci), cujo objetivo é conscientizar a população brasileira sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer colorretal.

Não é à toa, portanto, que o nome de Angelita Habr-Gama está es-crito em letras garrafais na história da coloproctologia brasileira. Esse reconhecimento acabou indo muito além da especialidade. Ela, que tota-liza mais de cinquenta prêmios científicos, também ganhou homenagens e honrarias, como a Medalha Santos Dumont, concedida pelo governo do estado de Minas Gerais, a Medalha do Pacificador, concedida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, e o Grau de Grã-Cruz da Ordem do Ipiranga, outorgado pelo governo do estado de São Paulo. E seu pio-neirismo como representante do dito “sexo frágil” não foi esquecido: em 2006, ela recebeu o Prêmio Mulheres Mais Influentes Forbes Brasil, ofere-cido pela revista Forbes Brasil.

Todos esses títulos e prêmios, porém, são vistos por Angelita com muita humildade. Ela considera que, se em sua trajetória pôde realizar tantas conquistas, é porque desempenhou a sua profissão com devoção ir-restrita e com muito amor. A medicina, como um todo, só tem a agradecer à dedicação desta profissional exemplar, que abriu caminhos para tantas

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outras mulheres adentrarem a coloproctologia. Miraram-se no exemplo de Angelita. Ela não é um exemplo só para as médicas, mas para todos os que desejam fazer o melhor pela especialidade.

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peDro HenrIque sArAIVA leãoCeará, 1982

U m médico inovador e com grande visão para o progresso da especialidade. Estas são as características marcantes de Pedro

Henrique Saraiva Leão, cearense que fez de tudo para trazer o que havia de melhor no Brasil e no exterior para promover o crescimento da coloprocto-logia em seu estado. Muitas de suas conquistas se devem à parceria vitoriosa que vem fazendo, há cerca de quarenta anos, com outro expoente do Ceará: José Maria Chaves.

Filho de advogado, Pedro Henrique não quis seguir a carreira paterna. No entanto, seu pai não ficou chateado quando percebeu que o filho tinha interesse pela medicina, profissão desempenhada por um tio materno do ra-paz. Incentivou a escolha do filho, e assim ele se formou em medicina, em 1965, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mas logo em seguida partiu para São Paulo, onde ficou por dois anos fazendo residência em cirurgia geral no Hospital São Camilo, com o professor Henrique Walter Pinotti. Ao voltar para Fortaleza, porém, notou que havia muitos cirurgiões em seu estado e que precisava optar por outra especialidade. Tentou neurocirurgia, tentou cirurgia plástica... Nada o encantava. Até que um médico amigo, Walter Bezerra de Sá, lhe deu uma boa sugestão: se ele já fazia cirurgias no tubo digestivo alto, por que não descer um pouco a área de abrangência?

Assim começou o flerte de Pedro Henrique com a proctologia. Retornou, então, para São Paulo, fazendo estágio no Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Gastroenterologia de São Paulo. Ele pôde aprender muito sobre a especialidade com Daher Cutait, Jorge Haddad e Waldemiro Nunes. Mas ele

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queria se aperfeiçoar ainda mais e seguiu para estágios na Deutsche Klinik für Diagnostik de Wiesbaden, na Alemanha, e no St. Mark’s Hospital, em Londres, onde permaneceu por dois anos.

De volta ao Ceará, tornou-se professor-adjunto no Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFC. Foi então que aconteceu seu en-contro com José Maria Chaves. Esse médico havia aprendido a proctologia no Rio de Janeiro e estava batalhando para exercê-la da maneira mais ampla possível (além do tratamento orificial), mas vinha encontrando resistência por parte dos cirurgiões e dos proctologistas mais tradicionais. Os jovens José Maria e Pedro Henrique, transbordando de novos conhecimentos e de uma forma mais moderna de ver a especialidade, se uniram para estruturar a disciplina de proctologia (criada oficialmente por José Maria) na UFC. A iniciativa deu certo, mas Pedro Henrique foi além: fundou uma escola de proctologia extramuros, fora dos rigores da universidade. Seu curso marcou época. Era quase obrigatório que um aspirante a proctologista fosse formado por Pedro Henrique.

Em 1979, ele começou a ficar incomodado com a situação dos co-lostomizados, sobretudo os mais carentes. Foi então que criou o Clube dos Colostomizados – o primeiro do Brasil –, baseando-se em um modelo que havia conhecido em Londres. Pedro Henrique reuniu outros proctologistas, psiquiatras, enfermeiras e assistentes sociais para conduzir as reuniões desse clube, que ocorriam no Hospital Geral do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) – hoje Sistema Único de Saúde (SUS). Nesses encontros, pes-soas com colostomia ouviam palestras e podiam conversar sobre seus pro-blemas, aprendendo as melhores maneiras de viver bem nessa situação. Mas o foco principal do clube era auxiliar os pacientes carentes a adquirir a bolsa de colostomia. Pedro Henrique e sua equipe, então, firmaram convênios com algumas entidades, e a bolsa passou a ser oferecida gratuitamente. O Clube dos Colostomizados foi tão bem-sucedido que, mais tarde, espalhou-se para outros estados brasileiros.

Essa iniciativa pioneira fez com que o nome de Pedro Henrique Saraiva Leão começasse a se destacar dentro da coloproctologia. O resultado dis-so foi a sua eleição para a presidência da SBCP dois anos depois, em 1981. Em 1982, quando Pedro Henrique presidiu o congresso em Fortaleza, teve mais uma ideia inovadora: fundar a Sociedade Regional Norte-Nordeste de Coloproctologia. Comentou sua ideia com o amigo José Maria Chaves, que, entusiasmado, tratou de colocá-la em prática.

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De lá para cá, Pedro Henrique só fez crescer dentro da especialidade. Já atuou como chefe da Clínica de Cirurgia do Hospital Geral de Fortaleza e da Clínica Proctológica da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza. Além da SBCP, é membro titular da Sociedade Brasileira de Gastroenterologia, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Academia Cearense de Medicina e da American Society of Colon and Rectal Surgeons. Também é membro funda-dor do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva.

A medicina, porém, não é tudo para esse coloproctologista. Com a mes-ma maestria com que usa o bisturi ele maneja a pena. Pedro Henrique é um grande nome da poesia cearense, tendo sete livros publicados nessa área (além de outros seis na área médica). Ele é membro titular da Academia Cearense de Letras, já foi presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e presidente da Academia de Ciências e Letras.

Pedro Henrique Saraiva Leão marcou época em seu estado. Um médico pioneiro, sempre preocupado com o próximo e em levar o progresso da colo-proctologia não só ao Ceará, mas a toda a região Norte-Nordeste. É, acima de tudo, um profissional que sabe viver a medicina com poesia.

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JosÉ AlFreDo reIs neto

são paulo, 1983

U m ex-presidente ousado e empreendedor. Talvez sejam estas as características mais marcantes da passagem de José Alfredo Reis

Neto pela presidência da SBCP. Mas isso ainda é muito pouco para descrever quem é este médico que tanto fez pelo desenvolvimento da coloproctologia no interior do estado de São Paulo. Nascido em Campinas, formou-se em medi-cina no final da década de 1950. No Rio de Janeiro, estagiava como cirurgião geral quando passou a conviver profissionalmente com Horácio Carrapatoso, um dos grandes nomes da coloproctogia de então. Ele foi o grande incentiva-dor para que Reis Neto seguisse a especialidade.

Em 1960, o jovem campineiro participou de seu primeiro Congresso Brasileiro de Coloproctologia, que foi comandado por ninguém menos do que Daher Cutait. A especialidade já havia fisgado de vez Reis Neto, e ele aproveitou a oportunidade para se tornar sócio da SBCP. Lembra-se de que, nessa época, não havia muito mais do que cem médicos associados. E or-gulha-se de que tenha podido participar da formação e do desenvolvimento da coloproctologia no Brasil, que hoje conta com um número enorme de especialistas.

Sem dúvida alguma, Reis Neto colaborou muito para que novos co-loproctologistas surgissem. Afinal, foi professor durante 45 anos. Começou em 1966 juntamente com a criação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde lecionou até 1980. Na Unicamp, foi o fundador da disciplina de coloproctologia. O mesmo aconteceu na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, em que passou a dar aulas assim que saiu da Unicamp até 2006, quando decidiu parar com o magistério.

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Antes de se tornar professor, porém, dedicou o ano de 1961 para apren-der ainda mais sobre coloproctologia no conceituado St. Mark’s Hospital, na Inglaterra. Com seu jeitinho brasileiro tipicamente bem-humorado, não per-deu a oportunidade de brincar com os colegas ingleses – que, em geral, não costumam ter senso de humor. Certa vez, lá chegaram umas peças do Brasil de portadores de doença de Chagas. Entre elas, havia um cólon tremendamente dilatado, um coração hipertrofiado e um esôfago imenso. Pareciam pertencer a um homem de dez metros de altura! Os patologistas ficaram boquiabertos, porque não sabiam que a doença de Chagas causava esse aumento nos órgãos. Reis Neto então se virou para eles e disse: “É que nós, brasileiros, somos muito altos!”

Brincadeiras à parte, ele voltou para Campinas trazendo na bagagem um grande aprendizado. Em 1965, abriu seu consultório próprio, que foi cres-cendo a ponto de se tornar a conceituada Clínica Reis Neto, que já tem mais de quarenta anos de atuação no atendimento a problemas do sistema digestório, sobretudo os relacionados à coloproctologia. Além de atender pacientes de Campinas – hoje sendo um dos principais centros privados de tratamento da especialidade na região –, a clínica foca na pesquisa e no ensino. Desde 2005, oferece um programa de aperfeiçoamento e especialização de médicos por meio de um programa de estágio em coloproctologia, reconhecido pela SBCP.

O crescimento profissional de Reis Neto começou a se expandir para além de Campinas, a ponto de ele ter sido o escolhido, em 1982, como o novo presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Foi então que aconte-ceu um grande desafio para ele. No ano seguinte, seria realizado no Brasil o Congresso Mundial de Gastroenterologia, no qual a SBCP queria participar. A Sociedade Mundial de Gastro, no entanto, não queria permitir essa partici-pação. Reis Neto e outros especialistas (sobretudo Daher Cutait) tanto fize-ram que conseguiram convencer os organizadores. Só que seria preciso entrar com uma quantia que ultrapassava a reserva da Sociedade. A persistência de Reis Neto valeu a pena: a Sociedade recebeu 25% do resultado do Congresso Mundial, totalizando 189.000 dólares. Esta vultosa quantia permitiu que a Sociedade adquirisse sua sede própria sem comprometer a saúde financeira.

Essa união da gastroenterologia com a coloproctologia, no congresso mundial, trouxe outros louros para a especialidade: a fundação do Conselho Mundial de Coloproctologia. Reis Neto foi secretário desse conselho durante alguns anos. E alcançou, também, outras presidências, como a da Associação Latino-Americana de Coloproctologia e da International Society of University

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Colon and Rectal Surgeons (ISUCRS). Também é fellow de associações inter-nacionais, como American Society of Colon and Rectal Surgeons e American College of Surgeons.

Reis Neto é um especialista que não se manteve fixo aos limites de sua cidade. Ao contrário, muito fez para que a coloproctologia brasileira se ex-pandisse. Embora esteja afastado do magistério, continua contribuindo muito para a formação de diversos especialistas. Um professor nato que, com seu exemplo de dedicação profissional, se mantém ensinando sem parar a arte de ser um ótimo médico.

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JoAquIM JosÉ FerreIrArio de Janeiro, 1984

J oaquim José Ferreira, mineiro de Visconde do Rio Branco, em 1946 veio na adolescência para o Rio de Janeiro, cidade onde construiu

toda a sua vida profissional. Em 1949, entrou para a Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Já como estudante colocou para fora sua personalidade ati-va: por dois anos, foi monitor da 2ª cadeira de clínica cirúrgica no serviço do professor Ugo Pinheiro Guimarães e tornou-se interno no Hospital Pró-Matre, prestando concurso, quando, após formado, continuou como adjunto de plantão por mais um ano. Foi também acadêmico concursado na Secretaria de Saúde da Prefeitura do Distrito Federal (Rio de Janeiro), trabalhando na emergência, primeiramente, do Hospital Getúlio Vargas, e depois no Hospital Souza Aguiar.

Após a formatura, em 1954, Joaquim começou a atuar no Hospital Sanatório Torres Homem, como cirurgião. Quando o serviço de cirurgia desse hospital foi desativado, ele foi transferido para o Hospital São Sebastião. Logo no início de sua vida profissional, começou a surgir o interesse pela cirurgia proctológica. A essa altura, trabalhava também no Hospital Moncorvo Filho, li-gado à Universidade do Brasil, e ficava de olho no serviço de proctologia em que atuavam Sílvio D’Ávila, Horácio Carrapatoso e Aníbal Luz, nomes pioneiros da especialidade. Começou, então, a ajudar no ambulatório e decidiu mergulhar de vez nesse caminho profissional. Foi então que, em 1960, surgiu o primeiro curso de pós-graduação em proctologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, ministrado por José Mário Caldas, do qual se tornou aluno.

Depois disso, a convite de Ugo Pinheiro Guimarães, Joaquim foi no-meado instrutor de ensino superior da Faculdade de Medicina da UFRJ, quan-do respondeu pelo Setor de Proctologia da 2ª cadeira de clínica cirúrgica no

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Hospital Moncorvo Filho. Até que, em 1967, o Hospital Municipal Miguel Couto criou o Serviço de Proctologia e realizou um concurso para definir a chefia do serviço. Décio Guimarães Pereira foi o vencedor e acabou convidan-do Joaquim e Rosalvo José Ribeiro para trabalhar com ele. Com o falecimento de Décio, em 1979, Joaquim foi nomeado chefe do serviço, que exerceu até a sua aposentadoria, em 2001.

Com a grande experiência adquirida, dividir o conhecimento se tornou uma consequência natural. Assim, em 1975, passou no concurso para profes-sor assistente da Faculdade de Medicina da UFRJ. Permaneceu dando aulas no Hospital Moncorvo Filho até a inauguração do Hospital Clementino Fraga Filho (mais conhecido como Hospital do Fundão), em 1978. Neste hospital, trabalhou no Serviço de Proctologia do Departamento de Cirurgia até a sua aposentadoria, já como professor adjunto, aos 70 anos. Mesmo depois de apo-sentado, Joaquim não abandonou o Hospital do Fundão, comparecendo sema-nalmente às reuniões científicas do serviço.

Paralelamente à sua atuação como cirurgião e professor, sempre hou-ve outra paixão na vida de Joaquim José Ferreira: a Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Figura extremamente atuante, ingressou na Sociedade em 1960, quando dava os primeiros passos na especialidade. De 1971 a 1973, foi tesoureiro e, no ano seguinte, na gestão de Angelino Manzione, tornou-se secretário-geral, cargo que exerceu por oito anos, até 1981. Em 1982, foi elei-to vice-presidente, e em 1983 alcançou o cargo que tanto orgulha os especia-listas: o de presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Após dei-xar a presidência, manteve-se na ativa: foi membro do Conselho Consultivo, fez parte da Comissão Examinadora do Título de Especialista, do Conselho Editorial da Revista e pertence à Comissão Editorial do Jornal Informativo da Sociedade.

Em 2003, por ocasião do 52º Congresso Brasileiro, foi elevado à cate-goria de membro honorário.

Não é à toa que, junto a seu grande amigo Rosalvo José Ribeiro, Joaquim é considerado a verdadeira memória viva da SBCP. Embora a Sociedade tenha sido fundada quando ele sequer era estudante de medicina, o fato é que sua to-tal dedicação em todas as questões envolvendo esta associação – que ele con-sidera de “total congraçamento” – faz dele um dos maiores conhecedores de sua história. A SBCP é, para Joaquim, como sua segunda casa. Para a SBCP, certamente Joaquim é como o bom filho que nunca a abandona.

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peretZ CApelHuCHnIksão paulo, 1985

A implementação da coloproctologia na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo muito se deve a Peretz Capelhuchnik. Embora ele

seja gaúcho (nascido em Passo Fundo, em 1926), foi na capital paulista que deixou sua grande contribuição ao desenvolvimento da especialidade. Quando era jovem, seu pai aceitou o convite do irmão para ser sócio em um negócio em São Paulo, e foi assim que Peretz deixou para trás o Sul. Em 1950, for-mou-se pela Escola Paulista de Medicina. Incansável, fez nada menos do que quatro residências: em clínica médica, anestesia, ginecologia e obstetrícia e cirurgia geral. Esta última foi na Santa Casa, no serviço de João Montenegro, que se tornou seu chefe. A partir daí, Peretz nunca mais deixou a Santa Casa.

A história da Santa Casa de São Paulo é um capítulo à parte e muito se funde com a própria biografia de Peretz Capelhuchnik. Este hospital, que ini-ciou suas atividades já no século XVI, funcionou, durante muito tempo, como centro de formação de médicos e cirurgiões no Brasil, até quando o ensino da medicina foi transferido para a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ainda assim, a Santa Casa permaneceu como hospital-escola desta universidade. Em 1946, porém, o ensino de medicina da USP foi transferido para o Hospital das Clínicas. E a Santa Casa ficou vazia de alunos. Era uma espécie de corpo sem alma...

Porém, na década de 1950, o corpo docente da Santa Casa se mobili-zou para organizar uma nova faculdade de medicina no local: a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia (FCMSC-SP). As atividades acadêmicas tiveram início em 1963, e é aí, então, que Peretz volta a se en-caixar nessa história. Ele ajudou em tudo um pouco: foi colaborador, assis-

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tente, professor-adjunto e, depois, professor-associado. Em 1985, tornou-se professor-titular.

No início da faculdade, todos os médicos eram cirurgiões gerais. Em razão disso, Peretz sentiu a necessidade de se especializar. Como já trabalhava na 4a Cirurgia de Homens, optou por aprofundar seus conhecimentos em co-loproctologia. Assim, em 1967, conseguiu um estágio no St. Mark’s Hospital, em Londres, onde, naquela época, havia o melhor ensino da especialidade. Com o seu retorno um ano depois, Peretz conseguiu colaborar para que na Santa Casa fosse instalada uma coloproctologia atualizada e moderna, que fi-cou sob sua responsabilidade e chefiou de 1970 a 1995. Em 1986, ele e outros especialistas introduziram a colonoscopia na Santa Casa.

Além de atuar ativamente nas atividades do hospital-escola, Peretz era muito presente na Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Figura assídua todos os anos nos congressos nacionais – sempre participando em conferên-cias, mesas-redondas e apresentação de trabalhos –, atuou em quase todas as funções existentes na SBCP, até chegar, finalmente, à presidência, em 1985, e a membro honorário, em 2009.

Atualmente, está aposentado da chefia da Santa Casa, mas segue atuando como professor, com grande entusiasmo. Mesmo sendo octogenário e já tendo reduzido a carga de trabalho, fez questão de continuar atendendo em seu consultório particular e fazendo cirurgias. Peretz Capelhuchnik, com certeza, é um expoente da coloproctologia de São Paulo. Alguém que sem-pre trabalhou com amor e dedicação. Um exemplo a ser seguido pelo grande número de especialistas que ajudou a formar.

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FernAnDo JorGe De souZAparaná, 1987

E le teve a honra de aprender coloproctologia com um dos papas da especialidade: Daher Cutait. E parece ter construído sua vida

profissional com afinco semelhante ao do médico paulistano. Após ter se for-mado em medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1964, e ter feito residência em cirurgia geral na mesma instituição, Fernando Jorge de Souza seguiu para São Paulo para se especializar com os expoentes da época. Fez estágio, então, no Hospital das Clínicas, no serviço do professor Alípio Correia Neto, na proctologia chefiada pelo professor Daher. Estagiou, ainda, no Hospital Sírio-Libanês, também sob a batuta do mestre Daher.

Ao retornar para Curitiba, só fez crescer dentro de sua profissão. Além de ter trabalhado em diversos hospitais na capital do Paraná (como Hospital da Polícia Militar, São Vicente, São Lucas, Nossa Senhora das Graças, entre outros), Fernando Jorge foi chefe do Serviço de Coloproctologia da UFPR e chefe do centro cirúrgico do Hospital das Clínicas da UFPR. Em razão de seu trabalho neste Serviço de Coloproctologia, recebeu o Prêmio Pitanga Santos, em 1980. Paralelamente, dividia sua atenção com estudantes de medicina. Primeiro, foi preceptor da residência em cirurgia e proctologia na UFPR, de-pois atuou como professor-adjunto na mesma universidade, até a aposentado-ria, em 2007. Também foi professor pro tempore da USP de Ribeirão Preto.

Fernando Jorge é um profissional dinâmico. Na Sociedade Brasileira de Coloproctologia, por exemplo, sempre se mostrou muito ativo. Apenas um ano após ter se formado em medicina, em 1965, ingressou como membro filiado. Dez anos depois, já era membro titular. E exerceu diversos cargos na Sociedade, tendo pertencido ao Conselho Consultivo, à Comissão Científica,

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à Comissão de Título de Especialista e ao Conselho Editorial da revista. Em 1987, chegou à maior posição: a presidência. E sempre participou dos con-gressos ativamente, até 2004, como moderador de mesas-redondas e painéis. Por toda a sua dedicação, recebeu a medalha de Honra ao Mérito por serviços à SBCP.

Mas isso não é tudo. Também foi presidente da Sociedade Parana-ense de Coloproctologia e é membro titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Realizou várias jornadas regionais no Sul do país e apre-sentou muitos trabalhos em congressos nacionais e internacionais (no Uruguai, na Argentina, no Peru, na Venezuela e em Portugal). Possui diversos trabalhos publicados em revistas e livros didáticos. Fernando Jorge de Souza, realmen-te, é o exemplo de médico que mergulhou fundo na especialidade que abra-çou, dedicando-se à coloproctologia com grande entusiamo.

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ÉrICo FIllMAnnrio Grande do sul, 1988

Q uando ele estava no segundo ano de medicina, tendo feito ape-nas as matérias básicas, tomou uma atitude inusitada: inscreveu-

se como estudante no Congresso Brasileiro de Coloproctologia, presidido por Walter Ghezzi em Porto Alegre, em 1959. Foi uma experiência que ajudou a nortear a vida profissional do gaúcho Érico Fillmann, que veio a se formar pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1961, aos 24 anos.

A coloproctologia sempre esteve no foco desse profissional. Como em sua época não existia residência, ele foi fazer doutorado na Santa Casa de Misericórdia. Lá, havia a enfermaria de proctologia, coordenada justamente por Walter Ghezzi. A maneira encontrada por Fillmann para se aproximar foi, humildemente, pedir para fazer parte da equipe. Assim, conseguiu a oportu-nidade de trabalhar com aquele que, anos antes, havia admirado em plenária no congresso a que assistira como estudante. Aí nasceu uma parceria e uma amizade que duraram muitos anos.

Para se especializar ainda mais, o jovem médico passou a frequen-tar congressos e também a fazer cursos fora de Porto Alegre. Em São Paulo, estagiou no Hospital de Clínicas, no serviço de Thiago Pontes, passou uma temporada estudando em Buenos Aires e, no início da década de 1980, no conceituado St. Mark’s Hospital, em Londres. Antes disso, porém, já havia começado sua carreira universitária. Em 1973, iniciou seu trabalho como professor na Faculdade Federal de Ciências Médicas (an-tiga Faculdade Católica da Santa Casa). Como professor-titular, dá aulas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Saul (PUC-RS).

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Paralelamente, jamais abandonou a área clínica, a qual considera o centro de sua vida profissional.

Fillmann sempre teve, também, uma relação forte com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia, à qual se associou em 1964, durante a realiza-ção de mais um congresso nacional no Rio Grande do Sul. Depois, passou a frequentar praticamente todos os outros congressos, mas quando Ghezzi pre-cisava comparecer, ele acabava abrindo mão para ficar em Porto Alegre cui-dando do serviço de proctologia de seu mestre. Ainda assim, foi um membro ativo a serviço da SBCP, tendo participado de algumas diretorias e assumido cargos em várias comissões. Foi também, durante dez anos, o representante do Brasil na Associação Latino-Americana de Coloproctologia.

O médico gaúcho considera o ponto alto de sua carreira quando as-sumiu a presidência da SBCP. É com alegria que comemora ter introduzido duas novidades durante sua gestão: o suplemento da revista com a publicação dos trabalhos apresentados nos congressos e a criação do jantar anual para os ex-presidentes. Foi também durante sua presidência que a atual sede da Sociedade, no Rio de Janeiro, foi adquirida.

Como se vê, uma vida dedicada aos pacientes, aos alunos e, também, aos seus colegas coloproctologistas. Isso faz com que Érico Fillmann seja um nome forte na especialidade não apenas na região Sul, mas em todo o Brasil.

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rosAlVo JosÉ rIBeIrorio de Janeiro, 1989

F oi por um triz que o talento deste grande nome da coloproctolo-gia não se perdeu em meio ao trabalho burocrático de um banco.

Isso porque, até conseguir dar seus primeiros passos na medicina, o mineiro Rosalvo José Ribeiro muito precisou se esforçar para garantir seu sustento. Em razão disso, teve de empreender esforços redobrados para realizar o so-nho de se tornar médico. Nascido “por acaso” na cidade de Itamarandiba, localizada no Vale do Jequitinhonha, era o décimo filho de uma família de 11 irmãos (todos, com exceção dele, nascidos em Capelinha, cidade vizinha onde passou sua infância). Após ter concluído o curso primário, foi preciso se deslocar duzentos quilômetros para ingressar no ginásio, em um colégio interno de Diamantina, no qual ficou até o segundo ano científico. Curioso é que, além das matérias tradicionais, aprendeu datilografia e, em um curso por correspondência, taquigrafia. Foram essas habilidades que o ajudaram a ganhar a vida mais tarde.

Para completar o terceiro ano científico, já visando à faculdade de medicina, foi preciso avançar mais um pouco, chegando a Belo Horizonte. Nessa época, orientado por seu pai, inscreveu-se no curso noturno. Durante o dia, seria preciso trabalhar para garantir seu sustento. O jovem rapaz, en-tão, passou a se dividir entre o estudo e o trabalho. O ritmo puxado fez com que não conseguisse a aprovação no primeiro vestibular prestado para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. O jeito foi continuar trabalhando e persistir. Tornou-se, então, escriturário de um banco estatal mineiro e, com muita dedicação, conseguiu finalmente entrar para a faculdade, em 1953.

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A vida de estudante universitário, porém, não o poupou de trabalhar. Assim, em busca de melhorar de vida, prestou concurso para escriturário no Banco do Brasil e foi aprovado. Para não perder a oportunidade, teve de as-sumir o cargo em São Paulo, nas férias do terceiro para o quarto ano de me-dicina. Nesse período, contou com uma ajuda do “destino” para conseguir levar adiante o estudo e o trabalho: aconteceu uma greve estudantil em Belo Horizonte e isso lhe permitiu ficar mais tempo em São Paulo, onde aprovei-tou para frequentar o Laboratório de Microbiologia do professor Otto Bier, na Escola Paulista de Medicina, enquanto trabalhava no banco à noite. Até que, finalmente, conseguiu sua transferência para o Banco do Brasil de Belo Horizonte e pôde conciliar as duas situações.

A formatura, em 1958, marcou um período de vida nova. Era hora de se dedicar à medicina e deixar de lado – pelo menos temporariamente – as atividades no banco. Rosalvo decidiu, então, iniciar uma pós-graduação nos Estados Unidos, onde trabalhou como residente por um ano no Suburban Hospital, em Maryland. Em 1960, retornou a Belo Horizonte e, de quebra, também ao Banco do Brasil. Só que, agora, com uma diferença primordial: tornou-se integrante do quadro médico dessa instituição. Encerrava-se assim, de uma vez por todas, sua vida profissional como escriturário.

Três anos depois, o jovem médico se impôs outra mudança radical: fez as malas e partiu para o Rio de Janeiro, a fim de participar do então renomado curso de cirurgia do professor Fernando Paulino. Foi decidido a ficar. Ao saber que haveria um concurso público para a área de proctologia, promovido pelo então Estado da Guanabara, fez sua inscrição. Para se pre-parar, teve o que considera uma “feliz intuição”: procurou o Hospital dos Servidores do Estado, onde foi tão bem recebido que acabou lá permanecen-do como estagiário por três anos.

Esse período foi glorioso para sua formação como especialista. Rosalvo conviveu e aprendeu muito com o chefe do Serviço de Proctologia, Walter Gentile de Mello, e com o Chefe de Clínica, Américo Bernachi, além de ilustres integrantes do Serviço: Clarival do Prado Valadares, Ary Frauzino Pereira, Dithelmo Kanto, Helly Fragoso, Asdrúbal de Freitas, Maria Amorim de Araújo e Dulcinéia Oliveira. Vale ressaltar que Walter Gentile e Clarival Valadares haviam pertencido ao grupo de fundadores da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, e isso estimulava ainda mais o jovem médico. Em 1965, Rosalvo se submeteu ao concurso e foi classificado em terceiro lugar, sendo nomeado e lotado no Hospital Municipal Souza Aguiar.

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Nesse mesmo ano, começou o seu “namoro” com a SBCP. Durante o 15º Congresso Brasileiro, presidido por Ary Frauzino Pereira, no Rio de Janeiro, foi admitido como membro da então Sociedade Brasileira de Proctologia. A partir daí, Rosalvo tornou-se uma figura extremamente atuante junto ao grupo de especialistas, vindo a ocupar diversos cargos posteriormente, mesmo ne-cessitando conciliá-los com sua atarefada rotina profissional.

Em 1966, no Serviço Médico do Banco do Brasil, foi indicado para substituir Edgard Valente – outro integrante do grupo de fundadores da Sociedade, que se encontrava com problemas de saúde, vindo a falecer.

No ano seguinte, foi convidado por Décio Pereira para integrar o Serviço de Proctologia do Hospital Miguel Couto, cuja chefia ele acabara de assumir. No Miguel Couto, Rosalvo chegou a exercer a Chefia de Clínica e a Chefia do Serviço, esta última na ausência temporária de Décio, que fora nomeado para outro cargo na Secretaria de Saúde. Nesse período, teve a oportunidade de chefiar o amigo Joaquim José Ferreira – ex-presidente em 1984 –, embora se lamente por não ter tido a honra de ser chefiado por ele, já que, em 1970, retornou para o Hospital Municipal Souza Aguiar. Nesse hospital, passou a frequentar, como especialista, o Serviço de Cirurgia Geral chefiado por Augusto Paulino, que muito batalhou para que ocorresse a cria-ção da Seção de Proctologia, indicando o nome de Rosalvo José Ribeiro para a chefia.

Embora nunca tivesse sido professor, essa segunda fase no Souza Aguiar trouxe a Rosalvo a oportunidade de promover alguns cursos e dar aulas sobre a especialidade, contribuindo na formação dos residentes em cirurgia geral. Ainda na década de 1970, submeteu-se ao concurso para proctologia no anti-go Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e foi aprovado em sexto lugar, em um grupo de 155 colegas. Mais tarde, participou do concurso para a especialidade, no Hospital dos Servidores do Estado, e conquistou o primeiro lugar. Mas, por questões pessoais, optou por não assumir a vaga.

Em 1976, por três meses, estagiou no St. Mark’s Hospital, de Londres, a convite do professor Peter Hawley.

A partir de 1980, Rosalvo foi cada vez mais se envolvendo com as ta-refas na Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Nesse ano, foi eleito para a Comissão do Título de Especialista, cargo que ocupou até 1982, quando elegeu-se tesoureiro. Em 1987, tornou-se secretário-geral. Nessa época, foi convidado pelo então presidente Fernando Jorge de Souza para, durante o 36º Congresso Nacional, em Foz do Iguaçu (PR), coordenar e compor os

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trabalhos relativos a finanças, ficando totalmente ao seu critério a escolha dos participantes.

Rosalvo teve então a feliz oportunidade de formar uma comissão com os colegas Angelita Habr-Gama, José Hyppólito da Silva, Nilo Luiz Cerato e José Figueiroa Filho. O grupo sugeriu em assembleia geral a compra da sede própria para a Sociedade no Rio de Janeiro. A proposta foi aprovada no dia 30 de setembro de 1987, e a sede foi adquirida no ano seguinte, durante a gestão de Érico Fillmann. Em 1989, foi a vez de Rosalvo assumir a responsabilidade de presidir a Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Durante seu mandato, teve a honra de instalar a sede própria da Sociedade, inaugurando-a no dia 15 de outubro, durante o Congresso Nacional, com a presença de vários ex-presidentes. Por sua iniciativa, a empresa Ethicon – divisão da Johnson & Johnson – doou o primeiro computador para a nova sede.

Ainda em sua gestão, para preservar o patrimônio da SBCP, foi adqui-rida uma terceira sala no 12º andar do mesmo prédio, que esteve alugada por alguns anos e, na administração do presidente Flávio Quilici, foi transformada no Centro de Estudos Pitanga Santos.

No final do ano 2000, por indicação do então presidente Eleodoro Almeida, Rosalvo foi incumbido de organizar uma comissão para editar o Jornal Informativo, a fim de divulgar e discutir todos os assuntos e problemas da Sociedade que interessam aos sócios e não caberiam na revista científica. Desde então, ele vem desempenhando essa tarefa, com outros colegas, conse-guindo publicar o jornal pontualmente a cada três meses, com boa aceitação.

Foram muitos momentos marcantes vividos por Rosalvo, não só em sua carreira como clínico e cirurgião como também em sua participação na Sociedade. Mas o fato que ele considera ter sido a maior honra de sua vida foi quando, em 2003, por iniciativa do então presidente Jaime Vital de Souza, no 52º Congresso Brasileiro realizado em Salvador (BA), ele foi elevado à posição de membro honorário da SBCP. A humildade desse mineiro – carioca de coração – não o deixa ver que a honra maior não foi para ele, e sim para to-dos os integrantes da Sociedade que o escolheram para assumir essa posição, gratos e reconhecidos pelos muitos anos dedicados à especialidade com amor e perseverança.

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HÉlIo MoreIrAGoiás, 1990

O distrito de Gaspar Lopes – no município de Alfenas, interior de Minas Gerais – era pequeno demais para este homem que viria a

se tornar um médico grandioso. Acabou transformando-se em um cidadão do mundo, sempre em busca de se aperfeiçoar na profissão que decidiu abraçar: a medicina.

Para cursar uma boa universidade, o mineiro Hélio Moreira seguiu para Curitiba, onde pôde estudar na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. Após formar-se, em 1964, seguiu para São Paulo a fim de fazer sua residência médica no Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia. Optou por especializar-se em coloproctologia e cirurgia do aparelho digestivo. Para se aperfeiçoar ainda mais, deu um voo mais alto: de maio a outubro de 1972, fez o curso de pós-graduação no St. Mark’s Hospital, em Londres.

Minas Gerais, contudo, ficou para trás. Hélio Moreira escolheu Goiás para desenvolver sua carreira de médico. E foi em Goiânia que não parou de crescer profissionalmente, baseando boa parte de sua prática na vida acadê-mica. Por 42 anos, foi professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Em 1985, conquistou a chefia do Serviço de Coloproctologia do Departamento de Cirurgia desta universidade. Em 1988, tornou-se profes-sor-titular do Departamento de Cirurgia. E de 2003 a 2007, foi diretor-pre-sidente da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas, pertencente à UFG. Foi agraciado pela Universidade Federal de Goiás com o título de Professor

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Emérito. Aposentou-se da vida acadêmica em 2008, após ter exercido nume-rosos cargos na universidade.

Sua dedicação ao ensino, porém, não ficou limitada a Goiás. Hélio Moreira foi muito solicitado por 18 outras universidades brasileiras para fa-zer parte de bancas julgadoras de teses de mestrado e doutorado, além de avaliar concursos. Até mesmo no exterior seus serviços como professor fo-ram reconhecidos. De maio a julho de 1993, ele foi convidado pelo Serviço de Coloproctologia do Humana Medical City Hospital, em Dallas, Estados Unidos, para ser professor-visitante.

Uma consequência natural de tamanha entrega ao ensino seria que ele próprio deixasse a seus alunos (e a tantos outros do Brasil e até do mundo) contribuições por meio da publicação de trabalhos científicos. Hélio Moreira é autor e coautor de 157 artigos científicos, publicados em revistas nacionais e internacionais, e já participou de capítulos em 34 livros técnico-científicos, escrevendo, principalmente, sobre doença de Chagas (megacólon chagásico), câncer do cólon e reto, doença diverticular do cólon, colostomia continente e doença inflamatória intestinal. Tem editados, ainda, quatro livros próprios sobre coloproctologia.

Tamanha entrega à vida acadêmica e aos livros, porém, não o afastou da prática cirúrgica. Hélio Moreira desenvolveu três novas técnicas operató-rias: técnicas HM para volvo de sigmoide, colostomia continente e técnica de preparo intraoperatório dos cólons. Suas conquistas foram compartilha-das em congressos médicos, dos quais ele participa com frequência – já con-tabiliza mais de 270 congressos nacionais e 75 internacionais, participando efetivamente como conferencista, expositor e debatedor em mesas-redondas, simpósios etc. O resultado de sua dedicação veio com 21 láureas e prêmios oferecidos por sociedades científicas e culturais, além de entidades governa-mentais, como o Prêmio Pitanga Santos (melhor trabalho nacional, oferecido pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia, em 1974).

Além de ser membro da SBCP (de que foi presidente em 1989-1990), Hélio Moreira pertence a mais 11 sociedades científicas nacionais e cinco internacionais, tendo participado ativamente de suas diretorias. Entre os car-gos de destaque, estão o de cofundador e ex-presidente da Sociedade Goiana de Coloproctologia, mestre do Capítulo de Goiás do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, por três gestões, vice-presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva – Regional do Centro-Oeste, por quatro gestões –, secretário-geral da Associação Latino-Americana de Coloproctologia (ALACP) de 1991 a 1993, e

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presidente da International Society of University Colon and Rectal Surgeons (de 1996 a 1998), entidade que congrega médicos coloproctologistas de 52 países.

Estar à frente de associações foi uma constante ao longo da carreira de Hélio Moreira. E uma delas, que muito beneficiou a população, foi a Associação de Ostomizados de Goiás. Ele a fundou em 1980 e se mantém como membro da equipe multiprofissional dessa associação, que promove assistência médica, social e psicológica ao ostomizado, atendendo cerca de setecentos membros associados de todo o estado de Goiás e de alguns estados vizinhos.

Engana-se, porém, quem pensa que a vida desse médico foi toda de-dicada à coloproctologia. A literatura é sua segunda paixão! Presidente da Academia Goiana de Letras, ele tem publicado mais de três centenas de ar-tigos, crônicas e estudos em vários órgãos de imprensa de Goiás. Conta com cinco livros editados, que trazem crônicas, memórias e até mesmo um ro-mance histórico. Em 2005, chegou a receber o Prêmio Goyazes, categoria romance, concedido pela Academia Goiana de Letras, por seu livro Couto de Magalhães – o último desbravador do Império.

Não é à toa, portanto, que esse filho de Minas Gerais, mas que escolheu Goiás para ser o seu lar, foi agraciado com os títulos honoríficos de Cidadão Goianiense, em 1994, pela Câmara de Vereadores do município de Goiânia, e de Cidadão Goiano, em 1998, pela Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, além das comendas de mérito Anhanguera e Pedro Ludovico Teixeira. Méritos que Hélio Moreira conquistou como reconhecimento ao tanto que fez pelo desenvolvimento da coloproctologia e pelo ensino da especialidade, beneficiando não só Goiás, mas um número grande de profissionais por todo o Brasil e até pelo mundo.

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JosÉ HyppolIto DA sIlVAsão paulo, 1991

U m profissional que não era bom apenas com diagnósticos e bis-turis, mas também com o relacionamento humano. Assim era

José Hyppolito da Silva, paulista de São Roque. Ao longo do convívio com seus pacientes, alunos e colegas da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, sempre se mostrou delicado, cordial, correto, prestativo e honesto. Todos os que o conheceram sentiam-se muito à vontade com seu convívio.

Foi na capital que se graduou em medicina, pela Universidade de São Paulo (USP), em 1963, aos 25 anos. Na USP, fez também seu doutorado em cirurgia do aparelho digestivo (1972) e sua livre-docência (1996), com brilhan-tismo. Desenvolveu uma extensa carreira universitária, na qual foi um professor dedicado aos alunos, residentes e assistentes, tanto no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP quanto na Fundação Lusíada, em Santos (SP).

José Hyppolito trabalhou em diversos hospitais, como Hospital das Clínicas, da USP, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Guilherme Álvaro (em Santos) e Hospital Heliópolis, no qual fundou o Serviço de Coloproctologia, em 1969, que funciona até hoje, formando residentes e estagiários na espe-cialidade. Passar seu conhecimento adiante foi uma constante na vida desse profissional. Tanto é que ele publicou centenas de artigos científicos e capítu-los de livros em coloproctologia, além de ter lançado o seu próprio Manual de Proctologia, em 2000, pela Associação Paulista de Medicina (APM).

Todo o seu empenho pela especialidade fez com que se tornasse pre-sidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, em 1990/1991, e do Departamento de Coloproctologia da APM, em 1997/1999, realizando con-

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gressos e jornadas científicas na capital e em diversas cidades do interior, a fim de divulgar e aperfeiçoar os conhecimentos de jovens médicos na especialida-de. Pela APM, em 1996, também recebeu o Prêmio Pedro de Souza Campos.

Em setembro de 2011, aos 73 anos, José Hyppolito da Silva se despediu da vida e deixou saudades em todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

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VIrGínIo CânDIDo tostA De souZA

Minas Gerais, 1992

A prender e ensinar. Aprender ainda mais e continuar a ensinar. Sem parar... Há mais de quarenta anos, esta é a tônica da vida

profissional de Virgínio Cândido Tosta de Souza. Mineiro inquieto, ganhou o mundo quando finalizou a graduação em medicina na Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Inicialmente, seguiu para o Rio de Janeiro para fazer sua residência médica em cirurgia geral no Hospital de Ipanema, sob a orien-tação dos professores Lúcio Galvão e José Hilário. Foi então aconselhado a se aprimorar por mais dois anos e, assim, aprendeu a especialidade de coloproc-tologia com os mestres Horácio Carrapatoso e Annibal Luz.

Ao término desse período, tomou o rumo de São Paulo, fazendo seu doutorado na Universidade Federal de São Paulo. Para a realização de sua tese, “Endometriose colorretal”, desfrutou do privilégio de ter sido orientado por Daher Cutait. Logo em seguida, foi se aprimorar no St. Mark’s Hospital, em Londres, onde, por mais de duas vezes, fez estágio. O passaporte profis-sional de Virgínio também foi carimbado nos Estados Unidos, em mais de um estágio na Cleveland Clinic.

Após o seu primeiro retorno de Londres, ele aportou na capital do Brasil, quando iniciou sua vida acadêmica na Universidade de Brasília. Lá, ficou por um ano no serviço do professor Hélio Barbosa. Foi então que, final-mente, retornou para a sua cidade natal, Pouso Alegre, com o intuito de coo-perar na autorização da Faculdade de Medicina naquela região. Virgínio bata-lhou e conseguiu inserir a especialidade no Sul de Minas, criando a disciplina e a residência em coloproctologia, reconhecida pelo MEC e pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Acabou tornando-se diretor da Faculdade de

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Ciências Médicas Dr. José Antonio Garcia Coutinho por três mandatos. Com isso, passou a acumular as atividades de professor com cargos administrati-vos, tendo sido também reitor da Universidade do Vale do Sapucaí.

Embora tenha, paralelamente, mantido seu consultório de coloproctolo-gia, o que mais orgulha Virgínio é seu título de “professor”. Para seus alunos, busca não apenas transmitir conhecimentos, mas, fundamentalmente, trans-ferir valores éticos para um compromisso com a sociedade no exercício da profissão. Esta teoria é vivida na prática por ele próprio que, no trato com seus pacientes, sempre procura compreender não a queixa clínica em um órgão doente, mas a dor do ser humano integral diante da sua biografia.

Apesar da humildade no que se refere a títulos, Virgínio coleciona vários outros. Por 12 anos, foi membro do Conselho Federal de Educação. É membro titular da Academia Mineira de Medicina, da Associação Latino-Americana de Coloproctologia, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da International Society of University Colon and Rectal Surgeons, de The American Society of Colon and Rectal Surgeons e, claro, da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, da qual foi presidente em 1992. Mas não se vangloria do fato. Ao contrário, prefe-re enaltecer o relacionamento fraternal que tem e teve com diversos nomes da Sociedade e mostra-se grato por ter convivido com colegas já ausentes, como Daher Cutait, Horácio Carrapatoso, Annibal Luz, Farjala Sebba, Waldemiro Nunes, Angelino Manzione, Pedro Nahas e Roberto Luiz Kaiser.

Ainda no campo do ensino, já contribuiu com diversas publicações de outros colegas de renome nacional e internacional. É autor do Manual de Coloproctologia, que está na quarta edição – esgotada! Mesmo sendo porta-dor de um enorme conhecimento médico, Virgínio não se cansa de aprender mais, tendo partido para o doutorado em bioética, no Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.

A busca pelo aprimoramento na bioética se deu após a implantação de um programa de mestrado na Universidade de Pouso Alegre e também porque começou a dar aulas de bioética na Universidade de Alfenas. Ou seja, o pro-fessor voltou a se tornar aluno para poder atender melhor a seus próprios alu-nos. Não é à toa que este especialista de primeira afirma que procura sempre fazer o melhor possível dentro de seus limites e seguir a máxima do cristianis-mo: faça ao seu semelhante aquilo que você gostaria que fizessem a si mesmo. Os alunos e seus pacientes agradecem. A especialidade também.

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FrAnCIsCo FlorIpe GInAnI

Distrito Federal, 1993

N asceu em Parelhas, Rio Grande do Norte. Em 1977 formou-se em medicina na cidade de Natal. Mas Francisco Ginani esta-

va com olhos bem abertos para a capital do Brasil... Brasília não parava de crescer, e havia muitas oportunidades para os novos profissionais. Movido pela perspectiva de contribuir para algo novo e para construir uma socieda-de que estava se instalando, ele optou por fazer residência em cirurgia na Universidade de Brasília. Como um verdadeiro desbravador, foi o primeiro residente em medicina da UnB.

Ao término da residência, a direção da universidade o convidou para continuar em Brasília, atuando como professor. E assim Francisco Ginani deu início à sua carreira universitária, que não mais largou. Porém, em busca de especialização, ele precisou procurar outra cidade com maior desenvolvimen-to científico. Foi então que desembarcou no Hospital das Clínicas, em São Paulo, para estudar coloproctologia com ninguém menos do que o “pai de todos”, Daher Cutait. Mais tarde, foi fazer seu doutorado na Universidade de Londres e se aprofundou na especialidade no St. Mark’s Hospital, referência em coloproctologia – até hoje, ele pertence à St. Mark’s Association, frequen-tando as reuniões anuais dessa sociedade.

Ao término de seus estudos, retornou para Brasília, de onde não mais saiu. E acabou fazendo escola na capital! Ginani fundou o Serviço de Coloproctologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB), no qual per-maneceu como professor por 32 anos. Já aposentado do magistério, deixou um grupo de professores formados por ele para preparar novos coloproc-tologistas. Nos centros cirúrgicos, porém, continua ativo, dedicando-se em

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tempo integral ao Hospital Santa Lúcia, do qual é coordenador no Serviço de Coloproctologia.

Francisco Ginani foi, pouco a pouco, subindo os degraus de sua ascensão profissional. Chegar à presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia representou um dos degraus mais altos que atingiu, trazen-do-lhe um reconhecimento muito grande. Ele considerou conquistar essa po-sição como um verdadeiro prêmio ao trabalho de toda a vida. E também uma grande responsabilidade. Pôde aprender ainda mais ao ter que dirigir uma sociedade de tão alto nível, além de aprender a lidar com instituições como o Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Residência Médica. Além disso, realizar o congresso da Sociedade em Brasília foi mais um marco de pioneirismo, porque foi a primeira vez que a atual capital do Brasil sediou um evento da especialidade.

A experiência adquirida na presidência levou Ginani a se responsabilizar por outras entidades. Ele foi presidente da Academia de Medicina de Brasília e diretor-executivo da Federação Brasileira das Academias de Medicina. E mostra-se muito preocupado com os rumos da educação médica no Brasil, buscando lutar contra a proliferação de escolas de medicina sem elementos balizadores de sua qualificação, da boa formação de seus professores e do curso em si. Uma luta que não é de se estranhar, sobretudo para um homem que dedicou tantos anos à formação de novos coloproctologistas no Brasil.

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steFAno MAlInCônICopernambuco, 1994

E mbora seja carioca, Stefano Malincônico é um nome muito as-sociado ao desenvolvimento da coloproctologia no Nordeste.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1928, o fato é que, com o falecimento de seu pai quando ele ainda era bem pequeno, sua mãe mudou-se para Recife, seguindo o irmão mais velho – que assumira a posição de chefe de família após ela ter enviuvado e conseguira um emprego público lotado na capital pernambucana. Stefano tinha apenas dois anos, e o Sudeste ficou para trás em seu coração.

Em 1955, aos 27 anos, formou-se em medicina pela Universidade Federal de Pernambuco. Como não havia residência na época, o seu conta-to com a coloproctologia se deu por meio da convivência com Hildeburgo Lemos, que era livre-docente da cadeira de técnica operatória e cirurgia expe-rimental. Stefano chegou a ser monitor desta cadeira e, depois, passou para as-sistente. Porém, não pôde seguir a carreira universitária. Como, para ser pro-fessor, deveria primeiro dedicar-se em tempo integral ao doutorado e defender tese, ele decidiu partir logo para o mercado de trabalho, devido à necessidade de remuneração imediata. Começou, então, trabalhando como médico peri-to do antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), hoje Hospital Agamenon Magalhães. Mais tarde, foi nomeado para o Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Pernambuco (Ipsep), já atuando como cirurgião geral e proctologista.

Para se aperfeiçoar, Stefano foi fazer um estágio de seis meses no Departamento de Pélvis do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo. Lá, espe-cializou-se no tratamento de câncer relacionado à área proctológica. Ao voltar

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a Recife, tornou-se chefe da Clínica de Proctologia do Ipsep. Depois, ingres-sou também no Serviço de Proctologia do Hospital Barão de Lucena, anti-go Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Pelos dois hospitais, aposentou-se em 1988, aos 60 anos. Mas continuou aten-dendo em seu consultório até os 82 anos.

Sua relação com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia sempre foi de muita proximidade. Stefano era figura ativa nos congressos, participando de mesas-redondas e simpósios. Ter sido eleito presidente, aos 66 anos, foi para ele uma grande honraria. Mas foi resultado natural de todo o seu empe-nho pelo fortalecimento da especialidade no Nordeste. Tanto é que, na década de 1980, ele foi o fundador e primeiro presidente da Sociedade de Proctologia de Pernambuco. Como se vê, Stefano Malincônico deixou seu nome marcado como importante colaborador da coloproctologia não só no Nordeste, mas em todo o Brasil.

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BorIs BAronesão paulo, 1995

T ransmitir seu conhecimento aos médicos iniciantes sempre foi uma preocupação para esse especialista paulistano. E estimulá-

los a colocar em prática o conteúdo aprendido em sala de aula também. Tanto é que, em 1995, criou com Angelita Habr-Gama a Bolsa de Estudos A/B, a fim de conceder anualmente estágio em São Paulo para três jovens médicos aprimorarem sua técnica profissional.

O fato é que ele próprio, desde cedo, sempre soube o valor do estudo e da dedicação. Após ter se formado pela Escola Paulista de Medicina, em 1965, seguiu para a residência em cirurgia geral, na mesma instituição. E já em 1972 fez sua primeira tese para doutoramento em medicina. Em seguida, produziu outra tese para ser doutor em curso de pós-graduação em gastrocirurgia. Tudo isso já visando tornar-se professor.

Paralelamente, trabalhava no Hospital São Paulo, da Escola Paulista de Medicina. Foi aí que acabou entrando, quase por acaso, para a coloproctolo-gia. No hospital, havia quatro divisões dentro da gastroenterologia: grupo de esôfago, estômago e duodeno, grupo de hipertensão portal, grupo de fígado e grupo de coloproctologia. Barone passou por todos eles, dedicando-se cer-ca de um ano a cada. Foi então que, em 1978, Nilson Marcondes Celso saiu da chefia do grupo de coloproctologia. Para substituí-lo, Nilson e Edson de Oliveira (que era o chefe da disciplina) decidiram que o melhor nome seria o de Boris Barone, porque ele era o médico mais titulado até aquele momento.

O desafio foi aceito. Barone passou a dedicar-se à coloproctologia e, o melhor, a gostar do que estava fazendo. E não deixou mais a especialidade.

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Acabou atuando como chefe do grupo de coloproctologia por quase trinta anos, até quando veio a se aposentar como professor-adjunto da Escola Paulista de Medicina, em 2004. Quase toda a sua vida profissional foi dedicada ao ensino, tendo ele também desempenhado o papel de coordenador de pós-graduação em gastroenterologia cirúrgica. Aposentou-se do ensino médico, mas não pa-rou. Permaneceu atendendo a todo vapor em seu consultório particular e rea-lizando cirurgias no Hospital Albert Einstein, nas áreas de aparelho digestivo e coloproctologia.

Assumir cargos de destaque também é uma característica de Boris Barone. Ele, que também é membro da International Society of University Colon and Rectal Surgeons, foi presidente do Departamento de Coloproctologia da Associação Paulista de Medicina e, após ocupar diversos cargos, elegeu-se para a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, em 1994. Na SBCP, entrou em 1972, levado pelas mãos do mesmo profissional que lhe abriu as portas do grupo de coloproctologia: Nilson Marcondes Celso, a quem ele carinhosamente chama de “minha estrela-guia dentro da Sociedade”.

O mais interessante, porém, é que assim como Boris Barone foi “guia-do” sabiamente por alguém para adentrar a especialidade, ele fez o mesmo, durante quase três décadas, com os novos nomes da coloproctologia. Barone, certamente, também foi a estrela-guia de muitos especialistas iniciantes, para os quais pôde ensinar tudo o que sabe sobre diagnóstico e tratamento das do-enças que afetam o cólon e o reto.

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WAGner VAsConCelosrio de Janeiro, 1996

E le nasceu em uma cidade muito pequenina, Santo Antônio do Aventureiro, na serra de Minas Gerais. Ao sair de lá, para fa-

zer vestibular no imenso Rio de Janeiro, Wagner Vasconcelos ampliou enor-memente os seus horizontes. E nunca mais saiu da Cidade Maravilhosa. Em 1960, ao término de seu curso, na antiga Faculdade Nacional de Medicina, na Praia Vermelha, logo iniciou o estágio em cirurgia geral no Hospital Miguel Couto, já que nessa época ainda não havia a residência médica. Essa experi-ência lhe abriu portas: Wagner conseguiu uma vaga para trabalhar no Hospital Universitário Pedro Ernesto, vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Durante dez anos, dedicou-se apenas à cirurgia geral no Pedro Ernesto. Dentro do serviço, havia uma subdivisão: a seção de proctologia. Foi lá que conheceu Paschoal Torres, um nome que se destacava dentro da especialida-de. Torres, então, o convidou para trabalhar em sua seção e ensinou a Wagner tudo sobre proctologia. A partir daí, ele não mais deixou de trilhar esse cami-nho profissional. Passou a dar aulas dessa disciplina, montou seu consultório particular e, por mais de quarenta anos, realizou atendimentos e cirurgias no Hospital Pedro Ernesto.

Paralelamente a tudo isso, tornou-se membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Passou a ser um frequentador assíduo das atividades propostas pela Sociedade e do congresso anual. Como seus colegas logo observaram sua dedicação e sua vontade de sempre ajudar a SBCP, foi elei-to secretário-geral, cargo que desempenhou durante muitos anos. Wagner orgulha-se muito de, como secretário, ter participado de momentos impor-

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tantes, como a compra da sede. Mas o auge de seu empenho foi coroado com a eleição para a presidência da Sociedade, em 1995. Foi um momento de sua vida profissional que lhe trouxe experiências muito enriquecedoras, como viajar bastante para entrar em contato com as sociedades regionais e para participar de eventos no exterior.

Hoje, Wagner Vasconcelos encontra-se aposentado e brinca, dizendo que depois de ter dados inúmeros plantões ao longo de sua vida, agora só dá plantão em casa, junto à família. Descanso muito mais do que merecido, após tantos anos de dedicação à especialidade. Ainda mais porque ele carrega na consciência a sensação de dever cumprido e a certeza de ter feito o seu traba-lho da melhor maneira possível.

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renAto ArAúJo BonArDIparaná, 1997

U m apaixonado pela coloproctologia e, ao mesmo tempo, um des-bravador. Essas são algumas características que nortearam a vida

profissional do carioca Renato Bonardi, que foi morar em Curitiba aos 16 anos. Nesta cidade, formou-se em medicina em 1969, pela Universidade Federal do Paraná. Mas para dar os passos iniciais na profissão, percebeu que era preciso ousar um pouco mais: mudou-se para São Paulo a fim de se especializar.

Iniciou, então, a residência médica em cirurgia geral no Hospital do Servidor Público Estadual. Foi quando conheceu uma pessoa que iria influen-ciá-lo imensamente: Angelita Habr-Gama. O entusiasmo que a especialista tinha pela coloproctologia o contagiou. Assim, nos dois anos em que esteve trabalhando ao lado dela, acabou interessando-se muito pela especialidade. Só que, no início da década de 1970, ainda não existia no Brasil um serviço de-dicado ao ensino da coloproctologia. Bonardi precisou seguir para os Estados Unidos em busca dessa especialização.

Porém, ao chegar ao Columbia Hospital – filiado à Universidade de Wisconsin –, a única oportunidade que teve foi a de fazer mais um ano de resi-dência em cirurgia geral. Nesse período, tentou encontrar um local para fazer residência em coloproctologia. Mas nada! Nos Estados Unidos, nessa época, existiam apenas oito serviços de residência em cirurgia colorretal, e todos estavam com suas vagas comprometidas pelos próximos oito anos. Embora isso o tenha desanimado, Bonardi tentou encontrar uma alternativa: procurar algum serviço de cirurgia geral no qual houvesse alguém que também prati-casse a coloproctologia, a fim de poder acompanhá-lo e ganhar a tão almejada experiência. Descobriu, então, no estado de Maryland, o Greater Baltimore

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Medical Center, em que atuava o coloproctologista John David Rosin. Assim, aplicou-se e conseguiu uma vaga na residência de cirurgia geral deste hospital.

Logo que entrou em contato com Rosin, falou-lhe de seu interesse pela especialidade e de sua dificuldade em encontrar uma residência nessa área. O médico americano surpreendeu-se, porque até então ninguém havia demons-trado interesse pelo seu trabalho. E aceitou ajudá-lo, comprometendo-se a ten-tar encontrar um local mais adequado para que Bonardi fizesse seu treinamen-to. Mas acabou acontecendo algo ainda melhor: Rosin convenceu o chefe do serviço de cirurgia geral a criar uma residência em cirurgia colorretal. Assim, em julho de 1974, Bonardi tornou-se o primeiro residente de coloproctologia daquela instituição. Dois anos depois, voltou ao Brasil trazendo na bagagem sua tão sonhada formação completa em coloproctologia.

Bonardi escolheu radicar-se em Curitiba, começando sua vida profis-sional – única e exclusivamente na área de cirurgia colorretal – no Hospital de Caridade da Santa Casa de Misericórdia. Tornou-se o primeiro, também, a iniciar a colonoscopia no estado do Paraná. Em 1977, fez concurso para professor-assistente na disciplina de cirurgia geral da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná e, logo em seguida, para a Universidade Federal do Paraná (UFPR), iniciando sua carreira acadêmica nas duas universidades praticamente ao mesmo tempo. Na PUC, trabalhou por trinta anos, vindo a se aposentar em 2007. E até hoje é professor-adjunto na UFPR.

Foi na Universidade Federal do Paraná, também, que alcançou uma grande realização pessoal como professor. No Hospital das Clínicas – vincula-do a esta universidade –, em 1987 criou o Serviço de Proctologia e, dois anos depois, o Programa de Residência Médica em Coloproctologia. Criar essa re-sidência era um sonho antigo de Bonardi e representou uma grande conquista. Foi quando ele teve a satisfação de poder transmitir aos jovens médicos tudo o que havia aprendido ao longo de sua vida profissional. Teve o prazer de formar mais de vinte especialistas que estão exercendo a profissão não só no Paraná, como também em outros estados. No final de 2006, além da chefia em colo-proctologia, Bonardi assumiu a chefia do serviço de cirurgia geral do Hospital das Clínicas, em que atua até hoje, assim como ainda presta atendimento no Hospital Santa Cruz e em seu consultório particular.

Paralelamente a tudo isso, sempre teve uma relação muito estreita com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Bonardi já foi membro de diver-sas comissões – entre elas, da comissão examinadora do título de especialista –, secretário e, finalmente, presidente, cargo que considera o coroamento de

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sua vida profissional como especialista. Entre outros títulos de que se orgu-lha, estão o de fellow da American Society for Colon and Rectal Surgeons e Acadêmico Titular da Academia Paranaense de Medicina. Sente-se honrado por ter sido professor convidado da Universidade de Upsala, na Suécia, e da Lovelace Clinic, de Albuquerque, Novo México, nos Estados Unidos, além de ter sido chamado para participar de grupos de estudo em cirurgia colorretal na Universidade de Stony Brook, de Nova York, em viagens para o leste europeu (Hungria, República Tcheca e Rússia) e China.

Como se vê, uma vida inteiramente dedicada à especialidade. Com ta-lento e muita garra, Renato Bonardi fez por onde, sempre buscando romper as barreiras para que pudesse se tornar o melhor profissional possível dentro da coloproctologia. Mesmo quando atingiu um patamar elevado em sua carrei-ra, lembrou-se de ser generoso para com os médicos iniciantes, tal como lhe acontecera anos antes, quando era um jovem sonhador nos Estados Unidos, tentando encontrar alguém que lhe ensinasse os segredos da coloproctologia. Segredos os quais, hoje, Bonardi faz questão de compartilhar.

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AFonso CAlIl Mury MAllMAnnrio Grande do sul, 1998

E le nasceu na pequena Osório, no litoral do Rio Grande do Sul, em 1945. Na juventude, quando a vocação falou mais alto, fez

as malas e partiu para uma cidade maior: conquistou uma vaga na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas. Em 1972, ao se formar, era hora de dar mais um voo, agora com destino a São Paulo. Por três anos, fez residência em cirurgia geral no Hospital dos Servidores Públicos Municipais. A partir daí, Afonso Mallmann traçou o seu foco: a coloproctologia.

Ao voltar para o Rio Grande do Sul, decidiu deixar o interior de lado e seguiu para a capital. Durante um ano, permaneceu no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, no Serviço de Coloproctologia de Pedro Gus e João Francisco Xavier Mussnich, quando pôde aprender ainda mais sobre a especialidade. Até que surgiu a oportunidade de entrar para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, um complexo hospitalar muito importante na região. Só havia um problema: não seria na área de coloproctologia, e sim para atender, simplesmente, os funcionários do próprio hospital. Afonso aceitou, mas começou a lutar, dentro da instituição, para conseguir uma vaga na coloproctologia. Meses depois, seu esforço teve o resultado esperado: ele conseguiu entrar para o Serviço de Coloproctologia, chefiado por Valério Celso Madruga de Garcia.

Foi então que mergulhou de cabeça na especialidade. Afinal, pertencia aos quadros de um ótimo hospital e na área de que tanto gostava. Passou a se dedicar exclusivamente ao Nossa Senhora da Conceição e lá foi crescendo profissionalmente, a ponto de se tornar chefe do Serviço de Coloproctologia. Em 1980, conquistou mais um avanço: deu início à residência de coloproc-

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tologia neste hospital, com reconhecimento do MEC e cumprindo todas as exigências acadêmicas da época, tornando-se seu preceptor-chefe. O reconhe-cimento dessa residência cresceu muito regionalmente e até mesmo nacional-mente, passando a formar novos especialistas que vinham de outros estados.

Embora já se encontrasse em uma situação profissional confortável, Afonso ainda não havia se dado por satisfeito em termos de aquisição de conhecimentos. Aos 47 anos, em 1992, seguiu para uma temporada no St. Mark’s Hospital, em Londres. Em 2002, o destino escolhido foi os Estados Unidos, onde fez mais um estágio em coloproctologia na Mayo Clinic. Tudo isso buscando não só o seu aprimoramento profissional, mas também a trans-missão de técnicas mais aprimoradas a seus alunos da residência.

Tamanho empenho na carreira médica lhe rendeu o mérito de se tornar presidente da Associação Gaúcha de Coloproctologia e também da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Hoje, Afonso Mallmann permanece no Hospital Nossa Senhora da Conceição. Embora não seja mais chefe do serviço, con-tinua acompanhando de perto os residentes. Além disso, mantém uma rotina de atendimento em seu consultório particular. O seu maior orgulho, porém, encontra-se no papel de multiplicador de novos – e competentes – especialis-tas. Para ele, o mais importante é o legado que deixou para os muitos colegas de serviço espalhados pelo Rio Grande do Sul e por outros estados, seus ex-residentes que soube conduzir com maestria.

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JosÉ MArIA CHAVesCeará, 1999

O crescimento da coloproctologia no Ceará e também em todo o Nordeste muito se deve ao nome de José Maria Chaves. Este

filho de Fortaleza, em 1972 (apenas dois anos após formado), já fazia parte do corpo docente da Faculdade de Medicina do Ceará, quando o chefe do Departamento de Cirurgia observou que só existiam dois proctologistas em Fortaleza – e muito mais ligados à parte clínica do que à cirúrgica. Como José Maria fazia cirurgia geral, seu chefe achou que ele deveria ir para o Rio de Janeiro a fim de fazer o curso de proctologia.

Assim, José Maria Chaves desembarcou na Cidade Maravilhosa e foi estudar durante um ano no Hospital dos Comerciários da Guanabara (atual Hospital de Ipanema) com as figuras mais exponenciais da especialidade na época: Horácio Carrapatoso e Annibal Luz. Ele acabou sendo praticamente adotado como um filho por Luz, que passou a levá-lo como seu acompanhante em cirurgias em vários outros hospitais e até em seus atendimentos no consul-tório. Ao término do ano combinado para o estudo, Annibal Luz fez de tudo para que Chaves continuasse no Rio de Janeiro. Mas ele sabia que não podia aceitar, porque tinha uma missão: levar o conhecimento adquirido a Fortaleza para fazer a proctologia progredir em seu estado.

No final de 1973, retornou. E, por incrível que pareça, precisou travar uma pequena batalha. Ele voltou para o Ceará com a noção de uma procto-logia mais ampla (já era uma visão “coloproctológica”). José Maria desejava tratar além do ânus e do reto. Mas encontrou limitações tanto por parte do serviço de cirurgia geral quanto por parte dos proctologistas clínicos mais tradicionais. A saída que encontrou foi criar uma disciplina de proctologia,

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visando ensinar a atuação mais ampla da especialidade. Conseguiu instalar a disciplina na Universidade Federal do Ceará e, logo em seguida, contou com uma ajuda valiosa: a de Pedro Henrique Saraiva Leão, que havia estudado por dois anos em São Paulo com Daher Cutait e estava de volta a Fortaleza.

Juntos, eles começaram realmente a mudar a maneira como a especia-lidade era exercida no Ceará. José Maria e Pedro Henrique formaram uma nova escola de proctologia cearense, a qual se expandiu do Amazonas à Bahia, redefinindo o perfil da especialidade em todo o Norte-Nordeste. Essa dupla de médicos inovadores, anos mais tarde, também deu mais um passo para valori-zar os especialistas da região: em 1982, eles fundaram a Sociedade Regional Norte-Nordeste de Coloproctologia.

Embora José Maria Chaves também tenha se dedicado amplamente à prática cirúrgica, ensinar sempre foi o seu forte. Ele considera a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará como uma extensão de sua casa. Tanto é que, mesmo após ter se aposentado, em 1994, fez mais três concursos para continuar atuando como livre-docente na UFC. E ainda encontra tempo para dividir seu trabalho de professor com o atendimento em sua clínica par-ticular, duas vezes por semana. Isso porque considera que a razão maior de um médico é o seu paciente, conservando a ideia de doação, de altruísmo, de poder servir ao outro.

Estar presente nos eventos da Sociedade Brasileira de Coloproctologia também é uma necessidade para esse médico. A primeira vez em que partici-pou de um congresso foi em 1973, ao término de seu curso no Rio de Janeiro. Ingressou na mesma ocasião na Sociedade e, em 1999, assumiu a sua pre-sidência. Mas não é apenas a medicina que encanta José Maria. A literatura é outra paixão, a ponto de já ter sido presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

José Maria Chaves é um médico que agrega a ciência à sensibilidade com total equilíbrio. Um homem que muito fez pela coloproctologia na região Nordeste e que, com certeza, ainda fará muito, passando seus conhecimentos aos inúmeros alunos que continua formando anualmente.

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FlÁVIo AntonIo quIlICIsão paulo, 2000

A o lado de José Alfredo Reis Neto, ele pode ser considerado um dos responsáveis pelo crescimento da coloproctologia em

Campinas (SP). Flávio Quilici foi pupilo de Reis Neto na universidade e aca-bou aceitando a mão que o mestre lhe estendeu. Após sua formatura, em 1971, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Quilici seguiu para a residência em cirurgia geral, tornando-se aluno de Reis Neto. Estreitaram bas-tante o contato e, com o término da residência, o professor perguntou ao pupi-lo se não gostaria de passar a atuar em uma área específica, a coloproctologia. Diante da resposta afirmativa, Reis Neto abriu as portas de seu consultório a Quilici, e então começaram a trabalhar juntos – parceria que durou trinta anos, de 1972 até 2002. Além de sócios, eles se tornaram grandes amigos.

Em 1973, Quilici foi ao primeiro congresso da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. De lá para cá, jamais faltou a algum. Em 1975, surgiu sua primeira grande oportunidade, no congresso presidido por Sérgio Brenner, em Curitiba (PR). Na mala, Quilici havia levado um trabalho sobre radiotera-pia – mas sem perspectiva de apresentá-lo. A sorte, porém, lhe sorriu: dois especialistas estrangeiros, que iam falar justamente sobre radioterapia no tra-tamento do câncer de reto, perderam o avião e não puderam comparecer. Às pressas, Brenner precisava encontrar um substituto e soube do trabalho que Flávio Quilici havia levado. Convidou, então, o jovem médico para participar da mesa. Com as pernas trêmulas, ele foi. De uma só vez, apresentou seu pri-meiro trabalho e também participou de sua primeira mesa. Desde então, todos os anos, ele é convidado para participar de mesas nos congressos da SBCP. Trata-se de uma figura ativa na Sociedade não só uma vez por ano, mas tam-

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bém nos outros meses, já tendo feito parte de todas as comissões e diretorias que a Sociedade possui.

Também pelas mãos de Reis Neto, Quilici adentrou um novo caminho: lecionar. Reis Neto era professor também da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas e, em 1979, levou o amigo para ser professor assistente nas disciplinas de técnicas operatórias. Aos poucos, ele foi se aperfeiçoando, fazendo, na Unicamp, mestrado em medicina e doutorado em clínica cirúr-gica. Hoje, Flávio Quilici é professor-titular das disciplinas de moléstias do sistema digestório e de clínica cirúrgica, ambas no Centro de Ciência da Saúde da PUC de Campinas.

Quilici também não se contentou com apenas uma especialização. Além da coloproctologia, especializou-se em endoscopia digestiva, cirurgia do aparelho digestivo, gastroenterologia, cirurgia laparoscópica e cirurgia on-cológica. Tamanho conhecimento não se restringiu a si próprio. Ele tem 12 livros publicados como autor, além de numerosos trabalhos em livros e re-vistas médicas do Brasil e do exterior, e quase mil trabalhos apresentados em eventos científicos também no Brasil e no exterior.

O reconhecimento por sua dedicação profissional foi coroado com di-versas premiações (21 prêmios científicos no Brasil, três no exterior) e tam-bém com homenagens, como o título de Cidadão Campineiro, oferecido em 1998 pela Câmara Municipal de Campinas, e o Diploma do Mérito Médico do Município de Campinas, em 2002. Mas o apogeu profissional de Flávio Quilici se deu quando ele assumiu a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, em 2000, da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, em 2003, e da Associação Brasileira para o Estudo da Síndrome do Intestino Irritável, em 2007.

O nome de Flávio Quilici está definitivamente escrito não só na história de Campinas, mas na de todo o país. Ele colaborou imensamente para que a especialidade crescesse no interior de São Paulo e vem abrilhantando a ima-gem dos coloproctologistas brasileiros pelo mundo afora.

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eleoDoro CArlos De AlMeIDArio de Janeiro, 2001

M uzambinho, cidadezinha no sul de Minas Gerais, era peque-na demais para o jovem Almeida. Filho de um fazendeiro

de café, ele aceitou de bom grado vir estudar no Rio de Janeiro, aos 18 anos, para se tornar médico. O sonho de seu pai era que, após o término dos estudos, o filho abrisse uma clínica na cidade natal, na rua que levava o nome de seu avô. No entanto, isso jamais aconteceu. Após graduar-se na Faculdade de Medicina da UFRJ em 1967, começou a namorar uma cario-ca, com quem se casou. Por ela, optou por permanecer no Rio de Janeiro. Minas Gerais ficou para trás, e Almeida trilhou um caminho profissional muito bem-sucedido.

Em sua residência médica na Santa Casa da Misericórdia, seguiu os rumos da cirurgia geral. Em 1969, como a coloproctologia estava começando a crescer e a ganhar evidência, percebeu que poderia se manter na direção que gostava: realizar operações no abdome. Em 1972, fez concurso para o Hospital dos Servidores do Estado, quando começou a praticar a especialidade. Lá, contou com o apoio fundamental do criador do Serviço de Coloproctologia do Hospital dos Servidores, Walter Gentile de Mello, e de seu principal assisten-te, Dithelmo Kanto.

Naquele hospital, Almeida foi crescendo muito como especialista. Dedicou praticamente toda a sua vida profissional a esse hospital, do qual se aposentou em 2010, no cargo de chefe do Serviço de Coloproctologia. Ele se orgulha por ter contribuído para a formação de um número imenso de novos coloproctologistas, já que o Hospital dos Servidores acabou se tornando um dos principais formadores de residentes no Brasil. Paralelamente ao trabalho

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no hospital, Almeida sempre teve seu consultório particular, em que atua até hoje. E confessa que o que mais gosta de fazer é operar!

Sua participação na Sociedade Brasileira de Coloproctologia também foi muito intensa. Em 1973, tornou-se membro e participou de algumas co-missões, até assumir um cargo mais importante, de 1986 a 1997: o de tesou-reiro – considerado o terceiro maior cargo da Sociedade. Nesse período, pôde conhecer bem a parte econômica da Sociedade, contando sobretudo com a ajuda de Rosalvo José Ribeiro, que lhe ensinou até mesmo a realizar balan-cetes. Como estava à frente das finanças, acabou participando também de um momento importante para a história da Sociedade: a aquisição de sua sede, em 1989. Ele fez parte da comissão responsável pela compra do imóvel e auxiliou em tudo: na procura pelo endereço, na negociação pelo melhor preço e na própria compra.

Em 2000, Almeida conquistou o cargo principal da Sociedade, sendo eleito presidente. Em sua gestão, criou o Jornal Informativo da SBCP. E em 2001, quando realizou o congresso anual, pôde brindar os participantes não só com eventos científicos do mais alto nível, mas também com um momento de forte carga emocional. Por coincidência, o dia da abertura do congresso era, também, o dia em que ele comemorava 31 anos de casado – justamente com a “responsável” por ele ter trocado Muzambinho pelo Rio de Janeiro e, assim, construído sua bela história dentro da especialidade. No discurso de abertura, Almeida disse que estava feliz pela comemoração de dois fatos: a realização profissional por ser o presidente da SBCP e a realização de algo cuja impor-tância ele aprendeu de berço: a família. Todos o aplaudiram de pé!

Em uma sociedade como a SBCP, que tem como característica rara ser extremamente familiar, essa aclamação dos congressistas não poderia ter sido diferente. Esse amor que Almeida dedica às suas “duas famílias” está expresso também em sua mesa de trabalho no consultório: vários porta-re-tratos dividem espaço harmoniosamente, exibindo fotos não só de sua espo-sa e filhos, mas também dele em companhia de vultos da Sociedade, como Daher e Raul Cutait, Angelita Habr-Gama, Geraldo Magela e muitos outros. Se Muzambinho perdeu um médico, o Brasil ganhou um grande especialista!

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João CArlos ZerBInI De FArIAMinas Gerais, 2002

E ste filho de Belo Horizonte deixou um grande exemplo para a co-loproctologia mineira. Profissional extremamente atuante, esteve

à frente de diversas associações e sociedades. Fez um sem-número de amigos no meio médico, a ponto de terem realizado muitas homenagens após seu falecimento, ocorrido aos 66 anos, em maio de 2007, após Zerbini ter lutado contra uma doença por um ano e meio. Uma delas foi prestada pelo Grupo de Coloproctologia da Santa Casa de Belo Horizonte e pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais: o descerramento de uma placa em homenagem a ele, na própria Santa Casa, hospital ao qual ele se dedicou com maestria por mais de quarenta anos, ao ocupar a chefia do Serviço de Coloproctologia de Homens e ser coordenador da residência e especialização médica em colo-proctologia, formando pessoalmente cerca de oitenta especialistas.

Zerbini também se destacou em outras frentes. Foi coloproctologista do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG) – tendo atuado ainda no corpo clínico de outros hospitais, como São Lucas, Biocor, Lifecenter e Clínica Belvedere –, presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, diretor da Santacoop – Cooperativa de Médicos da Santa Casa de Belo Horizonte – e professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Em 2002, seu talento foi merecidamente reconhecido para assumir o cargo de maior honra para os coloproctologistas de todo o país: a presidência da SBCP.

Além de todas essas ocupações, Zerbini deixou como herança duas grandes realizações: a cofundação da Sociedade Mineira de Coloproctologia – a qual também presidiu – e a criação da Associação Mineira de Ostomizados

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(Amos). Nessa associação, ele promovia o encontro de portadores de colos-tomia por câncer de intestino, para que participassem de reuniões a fim de encontrarem forças para lutar contra a adversidade. Agia como um pai para todos eles...

Por todas as frentes em que atuou, o médico mineiro deixou suas mar-cas de amizade, competência, ética, moral e até mesmo bondade. Mesmo já estando em um patamar que não lhe exigiria tal ação, ele nunca deixou de atender os pacientes mais humildes nos leitos da Santa Casa. Entre seus cole-gas sempre se mostrou um batalhador infatigável em todas as áreas de assis-tência e administração médicas, marcando presença com veemência e brilho. Um homem sempre presente, atencioso, amoroso, abnegado, compromissado, procurando o bem-estar de todos, às vezes com o comprometimento do seu próprio. E como foi bem falado no discurso de descerramento da placa em sua homenagem na Santa Casa, João Carlos Zerbini de Faria foi um Médico com M maiúsculo.

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JAyMe VItAl Dos sAntos souZABahia, 2003

F oi amor à primeira vista. É assim que Jayme Vital define o que ocorreu com ele quando, ainda estudante de medicina na

Universidade Federal da Bahia (UFBA), viu pela primeira vez uma cirurgia no trato digestivo baixo. Optou, então, pela especialidade e foi fazer sua resi-dência no Hospital Jaraguá e no Hospital das Clínicas, ambos em São Paulo. Deve a sua formação profissional na área a José Alves de Brito e a Daher Cutait, seus mestres paulistanos.

De volta a Salvador, sua cidade natal, dedicou a maior parte de sua vida ao ensino e à pesquisa. Foi professor concursado da UFBA, função que muito o honrou. Sempre viu nos alunos a razão de tudo. Vê-los crescer lhe serviu de estímulo para continuar a lecionar com prazer. Para os jovens futuros colo-proctologistas deixou uma grande contribuição: em 1990, criou a primeira re-sidência médica em cirurgia colorretal, reconhecida pelo MEC, que funciona até hoje no Hospital Roberto Santos, em Salvador. E não foi só isso. Também publicou, no Brasil e no exterior, mais de duzentos artigos científicos, e junto com Reinan Ramos (do Rio de Janeiro) e Sérgio Regadas (de Fortaleza) pu-blicou o primeiro livro brasileiro e da América Latina sobre cirurgia videoen-doscópica em coloproctologia.

Mas as práticas clínica e cirúrgica também sempre fizeram parte da rotina profissional de Jayme Vital. Em Salvador, ele trabalhou no Hospital Português, no Memorial Itaigara e no Hospital Aliança, além de, paralelamen-te, atuar em seu consultório particular. Para ele, os pacientes eram sempre um novo desafio. E vê-los curados, ou pelo menos com o sofrimento minorado, constituía um sentimento mágico. Não é à toa que trata – e sempre tratou –

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seus pacientes com muito carinho e atenção, consciente de que isso representa o esteio para a boa relação médico-paciente.

Em sua caminhada profissional, Jayme Vital tornou-se fellow do St. Mark’s Hospital e membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Videoendoscópica e da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Na SBCP, exerceu vários cargos antes de conquistar o pon-to alto de sua carreira: a presidência. Além de ter contribuído muito para a Sociedade, considera que o principal foi ter aprendido bastante com o Capítulo do Rio de Janeiro, sobretudo com seus “protetores” – e, por que não dizer, “pais” – Joaquim José Ferreira e Rosalvo José Ribeiro, que o auxiliaram mui-to a entender o funcionamento e o gerenciamento da SBCP. O grande amigo João Aguiar de Pupo Neto também teve papel de destaque em sua vida nesse momento, ajudando-o na candidatura à presidência.

Em 2004, porém, com apenas 49 anos de idade, Jayme Vital decidiu dar outro rumo à sua vida e parou de exercer a coloproctologia. Tomou essa decisão após refletir e compreender que já se sentia plenamente recompensa-do com as conquistas profissionais que havia alcançado. E que, como amante da vida livre, era hora de embarcar em uma nova realidade. Assim, trocou as salas de cirurgia e as salas de aula por um veleiro. Nele, já visitou diversos países dos hemisférios norte e sul, tendo atravessado o Oceano Atlântico duas vezes – uma delas, sozinho. Sente-se muito feliz e tranquilo com o desafio de viver junto ao mar. Se irá voltar a exercer a coloproctologia? Essa “viagem” ainda não está planejada, mas tudo é possível, ainda mais para um especialista que contribuiu tanto para o desenvolvimento da coloproctologia não só na Bahia como em todo o Brasil.

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rAul CutAItsão paulo, 2004

S ua infância foi bem diferente. Ele fazia as lições da escola no escritório de seu pai e, entre uma questão e outra, aproveitava

para mexer nas radiografias e nos livros dele. Aos domingos, em vez de irem ao parque, ele e seus três irmãos acompanhavam o pai ao hospital. Enquanto o médico visitava seus pacientes, eles ficavam brincando no pátio. De vez em quando, o pai deixava que os filhos fossem ver os pacientes com ele. As qua-tro crianças cresceram e apenas uma seguiu a carreira paterna. Quem era esse pai? Ninguém menos do que Daher Cutait! E seu filho Raul costuma afirmar que, se escolheu ser médico, foi porque sempre viu seu pai sendo feliz nessa profissão.

Tudo indica que Raul Cutait está construindo um destino semelhante ao de seu pai, repleto de realizações profissionais. Seu caminho começou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) – em que teve o privilégio de ser aluno de Daher. Já durante a graduação, decidiu que queria ser cirurgião e acabou ganhando o prêmio de melhor aluno de cirurgia de sua turma. Com o término da faculdade, fez residência em cirurgia geral e, logo depois, em cirurgia digestiva. Tomou gosto, também, pela carreira acadêmica, partindo para o mestrado, o doutorado e a docência.

Após seu mestrado, foi para os Estados Unidos, no início da década de 1980, fazer um fellowship de um ano e meio em Baltimore. Seu objetivo era se aprofundar em uma área de grande interesse: tratamento de câncer. Depois se-guiu para Nova York, onde pôde aprender muito sobre o assunto no Memorial Sloan Kettering Cancer Center. Quando voltou, permaneceu durante muitos anos atuando no Hospital das Clínicas e como professor associado da USP.

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Nesse meio-tempo, porém, o Hospital Sírio-Libanês começou a cha-mar a sua atenção. Daher Cutait era o diretor do hospital, e Raul, seu auxiliar direto. Foi então que o jovem médico teve a ideia de colocar em prática em São Paulo algo que havia aprendido nos Estados Unidos: para manter a qua-lidade do atendimento, é preciso acoplar ensino e pesquisa na instituição. Assim, começou a desenvolver programas educacionais no Sírio-Libanês. Inicialmente, organizava eventos como jornadas e congressos. Depois, criou um centro de ensino e pesquisa. Há dez anos, quando esse centro cresceu, passou a se chamar Instituto de Ensino e Pesquisa. Atualmente, chega a reunir mais de 30 mil pessoas ao ano, fazendo algum tipo de atividade edu-cacional, desde cursos até pós-graduação.

Apesar de o foco principal de Raul sempre ter sido a realização de cirurgias no colo e no reto, ele procurou manter sua atuação no tratamento do câncer. Mais uma vez, quis aplicar no Brasil o que aprendeu nos Estados Unidos. Lá, observou que os hospitais de oncologia reuniam todos os recursos em um mesmo lugar (exames, cirurgia, quimioterapia...). Aqui era diferente: o paciente tinha que se deslocar para vários endereços para passar por todas essas etapas do tratamento. Foi então que decidiu instalar o modelo americano no Sírio-Libanês. Reuniu vários profissionais que encaminhara para estudar no exterior e, com eles já treinados, criou um centro de oncologia que hoje é referência no Brasil e na América Latina.

Boa parte de sua experiência profissional é transmitida em diversos artigos científicos publicados em revistas e livros, isso sem contar os oito li-vros de autoria própria na área médica (cirurgia e saúde pública). De acordo com uma publicação científica que elencou os trabalhos feitos por brasilei-ros mais citados na literatura mundial nos últimos quarenta anos, em primei-ro lugar está o de Raul Cutait, sobre a identificação de metástases em linfo-nodos de câncer colorretal – trabalho que já era premiado pelo Information Sciences Institute (ISI).

Raul também diversificou suas atividades ao se tornar secretário de Saúde do município de São Paulo, em 1993. Uma curiosidade foi sua eleição para a Academia Nacional de Medicina, na qual ocupa a cadeira que perten-ceu ao professor Paulo Niemeyer, mas que antes havia sido de Raul Pitanga Santos, patrono da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

Como se vê, Raul Cutait construiu uma história igualmente brilhante à de seu pai, mas, ao mesmo tempo, com seu próprio fulgor. Em um país como o nosso, em que muito se critica o nepotismo, percebe-se que esse não é o caso

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quando se fala de Daher e Raul. Pai e filho que se dedicaram amplamente ao desenvolvimento da coloproctologia e que, se construíram um legado dentro da especialidade, foi por mérito próprio. Quis a genética – e a boa educação – que Raul herdasse do pai o dom de ser um médico de primeira grandeza. E quanto a isso, a medicina brasileira só tem do que se vangloriar.

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ArMInDA CAetAno De AlMeIDA leIte

Goiás, 2005

E la foi a segunda mulher a ser presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Para tanto, enfrentou um desafio: presidir o

congresso anual em Goiânia, região central do Brasil com características ain-da interioranas, num momento em que a Sociedade já contava com mais de mil sócios, sendo que, em seu estado, o número de coloproctologistas para auxiliá-la era pequeno, e o de mulheres especialistas, menor ainda. Contou então com o apoio de personalidades de Goiás (como o ex-presidente Hélio Moreira) e também dos ex-presidentes residentes no Rio de Janeiro: Rosalvo José Ribeiro, Joaquim José Ferreira e Eleodoro Carlos de Almeida e do futuro presidente João de Aguiar Pupo Neto. Em uma prova de que a amizade e a união estão acima de tudo na Sociedade, o congresso organizado por Arminda foi um sucesso, atraindo cerca de novecentos especialistas.

O início da vida profissional de Arminda também não foi fácil. Ela nas-ceu em São Luís de Montes Belos, pequena cidade do interior de Goiás. Seu pai era uma pessoa muito humilde, porém, mesmo semianalfabeto, era um homem de visão e desejava que a filha seguisse um percurso diferente em sua vida. Esforçou-se então em mandar Arminda para o Colégio Santo Agostinho, internato em Goiânia, no qual ela estudou por cinco anos. Depois foi aluna do Liceu de Goiânia e, em 1965, entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG). Sua turma foi a quinta da Faculdade de Medicina, reunindo 52 alunos – sendo apenas sete mulheres.

Para concluir seu curso, Arminda precisou trabalhar paralelamente, dando aulas em escolas secundárias, porque eram poucos os recursos de sua família. Após a formatura, imediatamente prestou concurso e iniciou sua re-

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sidência. Fez um ano em cirurgia geral e mais um ano em coloproctologia. Ao terminar a residência, foi convidada para permanecer na UFG como pro-fessora. Nessa época, só lecionavam na especialidade Farjalla Sebba, Tasso Mendonça e Hélio Moreira. Ela então se juntou ao time de craques e pôde crescer profissionalmente ainda mais. Hoje é professora-titular da UFG e co-memora o fato de já contabilizar mais de 35 anos de magistério. Também se orgulha por estar auxiliando no crescimento da especialidade em Goiânia, onde todos os anos forma quatro novos coloproctologistas na residência.

Arminda divide seu tempo entre o trabalho na universidade, pela ma-nhã, e o atendimento em seu consultório e no Hospital Santa Helena, à tarde, realizando cirurgias. Mas sua trajetória profissional é ainda mais diversificada. De 1996 a 2002, ela ocupou o cargo de diretora da Unimed de Goiânia. E por muitos anos trabalhou também para o Ministério da Saúde. No início, prestava serviços no Hospital Geral de Goiânia – que antes era o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) –, no qual permaneceu por cerca de 15 anos. Depois passou a ser auditora, percorrendo hospitais do Inamps e do INSS de Goiânia. Acabou se aposentando como auditora do Ministério da Saúde.

Além de ser membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia des-de 1971, Arminda faz parte da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Aparelho Digestivo e da Sociedade Goiana de Gastroenterologia. Como sempre ocorre com os ex-presidentes da SBCP, ela pertence ao Conselho Consultivo, que acompanha de perto os rumos que a Sociedade toma. E tem se mostrado feliz com o crescimento da Sociedade, dizendo estar com a sensação de dever cum-prido. Certamente, não é apenas uma sensação... Ao romper barreiras e vencer dificuldades, Arminda fez história dentro da coloproctologia brasileira.

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João De AGuIAr pupo neto

rio de Janeiro, 2006

Q uem diria que a paixão por computadores seria a responsável por fazer com que esse médico carioca viesse a desenvolver uma

nova paixão: pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia! Tudo começou em 1976, quando ele estava no segundo ano de residência e só então decidiu seguir a especialidade. Em 1978, após um concurso, entrou para o Serviço de Coloproctologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que havia acabado de ser inaugurado. Lá foi acolhido pelo chefe Domingos Lacombe e pelo subchefe Joaquim José Ferreira. A esses dois professores, Pupo deve sua formação na especialidade. Foi também pelas mãos de Lacombe e Ferreira que ele foi con-duzido ao primeiro congresso da Sociedade, em 1978, no Rio Grande do Sul.

Nessa época, o que o seduzia na Sociedade eram apenas os congressos. Pupo não tinha uma participação concreta nas atividades. Somente em 1988 foi convidado a ocupar seu primeiro cargo na SBCP, tornando-se membro da Comissão de Residência Médica – que depois passou a se chamar Comissão de Ensino e Aperfeiçoamento. É aí que entra em cena o “abençoado” com-putador. No ano seguinte, logo após a inauguração da nova sede no Rio de Janeiro, Pupo foi à Sociedade para levantar os documentos relacionados à Comissão de Residência Médica, para ajudar a organizá-los. Lá chegando, deparou-se com um computador. Apaixonado que era por essa tecnologia, propôs-se a desenvolver um programa que preparasse um arquivo digitali-zado de todos os membros da sociedade. Até então, isso era feito em cartões de papelão, guardados em um arquivo de metal. Era por ali que se verificava se o membro estava em dia com suas mensalidades. Como a essa altura a

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Sociedade já contava com quase mil sócios, qualquer manipulação nesse arquivo era muito demorada.

Pupo então desenvolveu um programa básico do sócio, contendo todos os seus dados e os pagamentos efetuados. Seu objetivo era melhorar a adim-plência da Sociedade. Para tanto, precisou frequentar mais a sede. Por conta de seu trabalho na Comissão de Residência Médica, ele ia uma vez ao mês ou a cada 15 dias à Sociedade. Aproveitava para, no mesmo dia, dar continuidade ao programa de computador com os sócios. Isso acabou seduzindo-o e fazen-do com que se comprometesse cada vez mais com a Sociedade. Sua presença tornou-se constante na sede, e dois anos depois foi convidado para ser editor da Revista Brasileira de Coloproctologia, cargo que ocupou durante 11 anos.

A revista exigia muito de Pupo, e ele passou a comparecer à Sociedade duas vezes por semana, praticamente em tempo integral – o que lhe rendeu não só um ligeiro afastamento das atividades profissionais como também broncas de sua esposa, que lhe dizia que ele tinha uma amante: a Sociedade Brasileira de Coloproctologia! Mas o fato é que somente após seu contato inicial com o computador na sede da Sociedade ele conseguiu compreender melhor como ela funcionava e por que havia tantos especialistas que davam sua vida por ela. Acabou tornando-se um deles.

Depois dos 11 anos à frente da edição da revista, continuou ofere-cendo seus préstimos à SBCP. Em 2006, foi eleito para ser seu presidente. Pupo considera o dia em que foi escolhido para assumir a presidência da Sociedade como o mais importante de sua vida profissional. Foi um momen-to de grande emoção e enorme realização. Ele teve o prazer de promover um congresso que reuniu mais de mil inscritos, até então o maior número de participantes do evento.

Paralelamente à sua dedicação à Sociedade, Pupo mantém-se como pro-fessor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFRJ, atuando também com os alunos de graduação e pós-graduação no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Tornou-se chefe do Serviço de Coloproctologia desse hospital. No restante do seu tempo, dedica-se à sua clínica privada. Mas con-fessa que suas atividades na especialidade, mais de 50%, são voltadas para o ensino, outra atividade que desempenha com muito amor. Não há como negar: Pupo é um profissional apaixonado por tudo o que faz!

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renAto VAlMAssonI pInHo

paraná, 2007

P rofissional extremamente dedicado a seus pacientes e aos residen-tes que forma, o curitibano Renato Pinho tem se destacado na

coloproctologia não só do Sul, mas de todo o país. Graças às suas mais de 10 mil cirurgias realizadas – muitas delas voltadas a pacientes carentes da previdência, durante cerca de trinta anos –, aos inúmeros especialistas que formou, aos seus trabalhos científicos premiados e ao seu caráter reto, Pinho recebeu o título de Vulto Emérito de Curitiba, em 2004, concedido pela Câmara de Vereadores de sua cidade.

O caminho para o recebimento dessa homenagem até muitos outros destaques profissionais que vieram depois foi marcado por pequenas conquis-tas ao longo de toda a trajetória. Em 1969, Pinho se formou em medicina pela Universidade Federal do Paraná, decidindo, em seguida, buscar especializa-ção no exterior. De 1970 a 1972, fez residência médica em cirurgia geral e cirurgia do aparelho digestivo no Washington Hospital Center, nos Estados Unidos. Em 1973, completou seu treinamento em coloproctologia no serviço do professor Jacob Weinstein, também em Washington.

Em 1974, retornou a Curitiba e iniciou sua carreira fazendo cirurgias de todo o aparelho digestivo, sendo que, apenas nos últimos 15 anos, pôde dedicar-se principalmente às cirurgias coloproctológicas. Ainda assim, logo que chegou ao Brasil, se filiou à Sociedade Brasileira de Coloproctologia. De lá para cá, participou de todos os congressos da Sociedade.

Não foi para menos, portanto, que se tornou chefe do Serviço de Coloproctologia do Hospital Nossa Senhora das Graças, hospital particular

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que é referência no Paraná. Nele, foi vice-diretor por dois mandatos e exerce ainda a função de preceptor dos médicos residentes e dos acadêmicos inter-nos. Ensinar também é um forte de Renato Pinho, que, em 1980, foi apro-vado em concurso para o cargo de professor-auxiliar de técnica operatória e bases da cirurgia do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná. Hoje dá aulas apenas aos residentes e em congressos. Periodicamente, também é chamado para ministrar cursos em instituições de diversos locais do Brasil.

Em 1987, Pinho foi mestre do Capítulo do Paraná do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, do qual é membro até hoje. É membro, também, da American Society of Colon and Rectal Surgeons, da Associação Latino-Americana de Coloproctologia, da Federação Brasileira de Gastroenterologia, da Sociedade Brasileira de Gastroenterologia (tendo sido presidente da regional no Paraná), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Videolaparoscópica, da Associação Médica Brasileira e, obviamente, da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, que presidiu em 2007. Deste período, Pinho muito se orgulha por ter realiza-do um congresso que atraiu ao Sul 1.350 especialistas – um número muito favorável para eventos fora do eixo Rio-São Paulo –, por ter trazido seis co-loproctologistas do exterior e por ter promovido cursos pré-congresso muito interessantes, simulando colonoscopias e videolaparoscopias em animais.

Participar de congressos médicos no Brasil e no exterior é algo que toma parte do tempo das atividades profissionais de Renato Pinho. Ele conta com mais de duzentas participações em mesas-redondas, colóquios, painéis, palestras e conferências proferidas sobre trabalhos por ele desenvolvidos. Também tem muitos artigos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, bem como vários capítulos de livros.

O resultado de seus esforços na área científica veio com a premiação de trabalhos em primeiro lugar na Washington Academy of Surgery e na Harry and Kerr Competition. Também recebeu honrarias, como o Certificate of Apreciation, Humanitarian Services for the International Association of Lions Club e o título de Personalidade Internacional da Sociedad Mexicana de Cirujanos del Recto y Colon.

Diante de tamanho reconhecimento, não é de se espantar que Renato Pinho tenha recebido o título de Vulto Emérito de Curitiba. O fato é que ele é um vulto emérito de todo o país, uma vez que tem contribuído imensamente, ao longo de toda a sua vida profissional, para a propagação da coloproctologia a novos médicos e para o crescimento científico da especialidade.

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kAren DelACoste pIres MAllMAnnrio Grande do sul, 2008

V inte e sete anos após Angelita Habr-Gama ter aberto espaço para as mulheres assumirem a presidência da Sociedade Brasileira

de Coloproctologia, outra médica foi eleita para o cargo. Independentemente do sexo, a escolha de Karen foi muito natural e não se deveu a uma necessi-dade de novamente colocar uma mulher à frente da SBCP. Foi simplesmente consequência de toda a dedicação que essa médica gaúcha, nascida em Porto Alegre, sempre teve para com a especialidade.

É curioso o fato de que ela quase não se tornou uma coloproctologis-ta. Após ter se formado em 1977, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, fez residência médica em cirurgia geral, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Em sua mente, só havia um caminho: especializar-se em cirur-gia do aparelho digestivo. Mas João Mussnich, coloproctologista professor da Universidade Federal do Rio Grande do Saul (UFRGS), abriu seus olhos: por que não se dedicar à última porção do aparelho digestivo? Ele acabou convencendo Karen, que então partiu para a residência em coloproctologia no Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), sob a chefia de Érico Fillmann.

Lecionar acabou sendo um desdobramento inexorável em sua trajetó-ria profissional. De 1983 a 1996, foi professora da PUC-RS. Após concur-so em 1996, tornou-se professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Karen considera o contato com alunos e residentes muito gratificante e estimulante, pois a instiga à atualização permanente. Todo o seu conhecimento acumulado não se resume a seus alunos, incluindo aqueles que estejam adentrando na especialidade, graças aos diversos ca-

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191Sete Décadas de União e Trabalho

pítulos de livros que já escreveu relativos à coloproctologia e à cirurgia do aparelho digestivo.

Ter sido presidente da SBCP foi mais um passo importante em sua car-reira, quando ela pôde colaborar ativamente na resolução de alguns problemas que preocupavam seus colegas, como a questão da organização da prova de título de especialista. Seu empenho no comando da SBCP só veio confirmar o que ela busca fazer sempre em todos os seus campos de atuação: dedicar-se, a fim de dar o seu melhor ao paciente, ao aluno e à própria especialidade.

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sÉrGIo CArlos nAHAssão paulo, 2009

D e origem humilde, filho de pai comerciante e mãe dona de casa, tudo indicava que Sérgio Nahas – por ser o mais velho de quatro

filhos – seguiria o caminho paterno. Ele, contudo, nunca gostou de comér-cio. Gostava mesmo era de estar próximo a um tio e a um primo que eram médicos. Esses parentes costumavam receber a visita de colegas professores da Faculdade de Medicina, e quando Sérgio os encontrava, sempre brincava dizendo a eles: “Eu vou ser o primeiro médico da minha casa.”

A promessa se cumpriu. Em 1973, ele se formou na Faculdade de Medicina de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, seguindo para a residência na Universidade de São Paulo (USP), no Hospital das Clínicas. Por dois anos, fez a residência voltada para a cirurgia do aparelho digestivo. Depois, participou mais um ano da preceptoria em cirurgia de pronto-socorro. Acabou tomando gosto pelo serviço de emergência. Como na década de 1970 o Hospital das Clínicas era o maior de São Paulo, Sérgio acabou atendendo às vítimas das grandes catástrofes da cidade, como incêndios e acidentes graves. Ainda no papel de residente, chegou a fazer parte da equipe que realizou o pri-meiro reimplante de braço e de mão. Enfim, ele gostava desse tipo de atuação profissional e sentia-se muito realizado como médico iniciante.

Mesmo no pronto-socorro, as principais cirurgias que ele fazia eram no aparelho digestivo. Mas com sede de maior aprendizado, passou tam-bém a frequentar o exponencial Hospital Sírio-Libanês. Como vinha de um hospital-escola e já ocupava uma posição de chefe de serviço no Hospital das Clínicas, passou a ajudar muitos profissionais nas áreas de cirurgia plástica, cirurgia de queimados e cirurgia abdominal. Foi assim que se

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aproximou de Daher Cutait: tornou-se seu assistente nas cirurgias color-retais. Ficou fascinado! Estava diante de uma das maiores autoridades no assunto. Era como se estivesse tendo aulas particulares. Abriu, então, seus olhos para a coloproctologia.

Incentivado por Daher, tornou-se membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, em 1976. Mas ainda não era hora de uma dedicação total à especialidade, já que no Hospital das Clínicas não havia então esse serviço. Para completar, cerca de dois anos depois, acabou indo trabalhar no serviço de cirurgia de emergência no Hospital dos Servidores Municipais, segundo maior de São Paulo na época. Após três anos, se tornou chefe desse serviço. Em ra-zão de sua grande dedicação a hospitais públicos, em 1982 foi convidado para ser secretário de Saúde do município de São Paulo. Passou a trabalhar com o prefeito, em cargo que ocupou durante um ano.

Paralelamente a tudo isso, Sérgio continuava a trabalhar com Daher Cutait no Sírio-Libanês. Em 1983, finalmente, pôde aplicar tudo o que aprendeu com o mestre no Hospital das Clínicas, quando conseguiu iniciar o serviço de coloproctologia. Um ano antes, ele havia se tornado membro titu-lar da SBCP e, cada vez mais, se aprofundava na especialidade. Anualmente, era figura certa nos congressos da Sociedade. Aos poucos, foi passando por todos os cargos. Entre eles, pertenceu à comissão científica e ajudou na or-ganização de vários congressos em todo o Brasil, até conquistar o cargo máximo: a presidência.

A escolha por Sérgio Nahas para presidir a SBCP foi resultado de sua imensa dedicação à coloproctologia ao longo de sua vida profissional. Em 1987, ele começou a frequentar todos os congressos que tivessem relação com a especialidade e desde então se tornaria membro das mais importan-tes sociedades médicas internacionais. Em 1989, foi para a Inglaterra fazer pós-graduação em coloproctologia, no St. Mark’s Hospital. Também fez curso na Cleveland Clinic e, há mais de vinte anos, participa dos congressos desse renomado hospital nos Estados Unidos. Tamanho conhecimento não pode-ria ficar restrito a si próprio. Desde 1990, Sérgio Nahas é livre-docente na Universidade de São Paulo (USP).

São aproximadamente quarenta anos dedicados à medicina – dos quais cerca de 35 com atuação principalmente no Sírio-Libanês, operando também em outros hospitais, atendendo em seu consultório particular e dan-do aulas. Hoje, Sérgio Nahas se considera um homem feliz, por ter galgado aos poucos vários degraus em sua profissão, destacando a presidência da

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Sociedade como uma das maiores realizações de sua vida. Ele acredita que Deus lhe deu mais do que merecia, pois alcançou espaços que lhe trouxeram muita satisfação e que lhe dão ânimo para continuar ainda mais envolvido com a SBCP e com a coloproctologia em si. Sempre buscando fazer o me-lhor por ambas.

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FrAnCIsCo lopes pAulorio de Janeiro, 2010

U ma vida voltada, sobretudo, ao ensino e à batalha pela melho-ria da qualidade dos novos especialistas. Essa pode ser a tônica

profissional do carioca Francisco Lopes Paulo. Ao se formar pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em 1979, aos 24 anos, e após ter feito residência em cirurgia geral no Hospital Universitário Pedro Ernesto, também da Uerj, ele deu continuidade a sua vida acadêmica. Fez mestrado em anatomia humana e doutorado em cirurgia geral – ambos na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – e livre-docência na Uerj. O caminho natural, portanto, não poderia ser outro: tornar-se professor.

Já em 1981, começou a ensinar anatomia humana. Em 1987, passou a transmitir seus conhecimentos em coloproctologia aos residentes do Pedro Ernesto. Em 2003, após prestar concurso, tornou-se professor-titular de colo-proctologia na Faculdade de Ciências Médicas da Uerj. Mas como chegou à especialidade se, em sua época de recém-formado, não havia residência nessa área? O jovem médico Francisco seguiu o lema “aprenda com quem faz”. Em seu caso, aprendeu com quem sabia fazer muito bem!

Foi, então, graças ao convívio com dois ex-presidentes da Sociedade que ele se tornou especialista: Paschoal Torres – que era o chefe do setor de coloproctologia existente no Departamento de Cirurgia Geral do Pedro Ernesto – e Wagner Vasconcelos – que também trabalhava nesse hospital. Vale ressaltar que, até 1989, a coloproctologia era apenas um setor da cirurgia geral. Somente após esse ano é que se tornou uma disciplina. Depois que Paschoal se aposentou, Francisco assumiu a chefia desse serviço. Paralelamente a sua dedicação à Uerj e ao Pedro Ernesto, ele sempre atendeu em seu consultório

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próprio e, durante 27 anos, foi médico civil do Hospital Central do Exército, também na área de coloproctologia.

Suas atividades não paravam por aí. Em 1983, entrou como membro filiado da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. No início, era apenas um frequentador dos congressos. Durante o 40º Congresso, em 1991 – logo após ter voltado de Dallas, onde usufruiu de uma bolsa de estudos oferecida pelo dr. Saul Sokol, em convênio com a SBCP –, entrou pela primeira vez para uma comissão de diretoria: a de Título de Especialista, na qual per-maneceu por três anos. Logo depois, ficou um ano na Comissão de Ensino e Aperfeiçoamento. E retornou para a Comissão de Título de Especialista, dedicando-se por mais três anos. Como se vê, posições sempre voltadas à arte de ensinar e de formar o especialista.

Em 1999, Francisco assumiu a secretaria-geral da Sociedade, cargo que desempenhou por nove anos. Em seguida, tornou-se vice-presidente e, finalmente, atingiu o degrau maior: a presidência da SBCP, a qual considera um “fecho” de sua trajetória formal dentro da Sociedade. Mas não um ponto final. No Conselho Consultivo, mantém-se com os olhos vivos nos rumos que a especialidade toma no país. Como não poderia deixar de ser, continua assíduo nas salas de aula. Não como aluno, claro, mas como o mestre que divide, generosamente, seu conhecimento com os novos coloproctologistas que ajuda a formar.

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FrAnCIsCo sÉrGIo pInHeIro reGADAsCeará, 2011

D esde a infância ele já queria ser médico. Mais especificamen-te, cirurgião. Mas quase que o destino pregou uma peça em

Sérgio Regadas e ele se tornou dentista. Quando fez o vestibular para o curso de medicina, em 1968, classificou-se apenas para a Faculdade de Odontologia, chegando a cursar um semestre. No mesmo ano, porém, con-seguiu realizar um desejo antigo: estudar em uma universidade europeia. Entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, na qual permaneceu por dois anos. Insatisfeito com os problemas políticos existen-tes nessa época em Portugal, os quais interferiam na qualidade do ensino, obteve a transferência para a Universidade Federal do Ceará, terminando o curso de medicina em 1976.

Já na faculdade, Sérgio Regadas mostrou que não queria perder tempo. Nos primeiros meses de volta ao Brasil, em 1971, começou a frequentar o Serviço de Clínica Cirúrgica de Mulheres da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza. Sua presença constante no hospital fez com que o chefe do serviço, Antônio Argos Vasconcelos, lhe desse uma chance: em janeiro de 1972, ele passou a integrar oficialmente o corpo clínico como acadêmico estagiário. No ano seguinte, Sérgio foi aprovado no concurso para o cargo de acadêmico interno. Mas, na prática, já exercia funções que seriam de um primeiro assis-tente dos cirurgiões do serviço. Nessa mesma época, prestou outro concurso e tornou-se plantonista da Santa Casa durante um ano, o que lhe permitiu parti-cipar ativamente em cirurgias ginecológicas. Só que, também nesse período, ele tomou contato com o caminho profissional que abraçaria, ao estagiar no Serviço de Coloproctologia da Santa Casa.

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Após ter feito residência em cirurgia geral no Hospital Geral de Fortaleza (Inamps), partiu para cursos de especialização no exterior. No St. Mark’s Hospital, em Londres, fez especialização em coloproctologia (em 1979) e em colonoscopia (em 1981). Ao voltar desse último curso, criou a Unidade de Colonoscopia do Hospital Geral de Fortaleza e introduziu a colonoscopia no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Ceará, quando realizou os primeiros exames e a primeira polipectomia endoscó-pica de cólon das regiões Norte-Nordeste. Em 1991, especializou-se em cirurgia laparoscópica em Bordeaux, na França, e um mês após seu retor-no a Fortaleza, realizou a primeira intervenção colorretal laparoscópica no Brasil. Seis anos depois, foi para Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, fazer um estágio em ultrassom anorretal, na Cleveland Clinic – na qual, em 2008, também cursou o pós-doutorado.

Apesar de sua paixão pela cirurgia, em 1987 Sérgio Regadas deu o passo inicial em uma estrada que hoje ele considera o destaque de sua vida profissio-nal: lecionar. Nesse ano, começou a dar aulas no Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Fortaleza e ingressou como coloproctologista voluntário do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Nesta universidade, não parou de crescer: após aprovações em concursos, tornou-se professor-assistente I e professor-titular de clínica cirúrgica. Exerceu também as funções, entre outras, de vice-coordenador e coordenador da disciplina de clínica cirúrgica, vice-chefe do Departamento de Cirurgia, chefe do Serviço de Coloproctologia, membro do colegiado do curso de medicina, chefe do Departamento de Cirurgia e membro efetivo do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Hoje, ele está aposentado do cargo de professor-titular, mas permanece como orientador de alunos de mestrado e doutorado.

Sua vivência acadêmica lhe rendeu ainda uma produção científica vasta. Sérgio Regadas tem numerosos trabalhos publicados em revistas na-cionais e internacionais, participação em capítulos de 45 livros e sete livros publicados. É muito grande, também, a quantidade de trabalhos apresen-tados em eventos científicos, sendo que 17 deles foram premiados. Graças ao seu desempenho brilhante na medicina, galgou postos importantes, como ter sido presidente da Sociedade Cearense de Cirurgia, da Sociedade Cearense de Cirurgia Videolaparoscópica e da Regional Norte-Nordeste de Coloproctologia. Em 2010, foi eleito para assumir a presidência da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

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Esse filho de Fortaleza vem contribuindo, e muito, para o desenvolvi-mento da especialidade não só no Nordeste, mas no Brasil inteiro. Sérgio se orgulha de, além de seu próprio pioneirismo em alguns exames, o Ceará ter sido o primeiro estado brasileiro a realizar as ultrassonografias anorretal bidi-mensional, em 1997, e tridimensional, em 2004. Essas contribuições só vêm a engrandecer a coloproctologia, fazendo de Sérgio Regadas mais um nome que ficará gravado na história da especialidade.

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luCIAnA MArIA pyrAMo CostA

Minas Gerais, 2012

A quarta mulher a se tornar presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia mal imaginava que um dia ocuparia essa posi-

ção. Mas a trajetória profissional de Luciana Pyramo a conduziu naturalmente a esse posto, o qual desempenhou com garra e afinco. Exatamente como tudo o que faz. Nascida em 1951 na pequenina São Brás do Suaçuí, interior de Minas Gerais, teve a oportunidade de deixar para trás a vida pacata ao estudar em um internato em Barbacena e, depois, concluir o segundo grau em Belo Horizonte. Da capital mineira, ela nunca mais saiu. E foi lá que se formou em medicina, na Universidade Federal de Minas Gerais, em 1976.

Antes mesmo de entrar para a faculdade, ela já tinha um projeto em men-te: optar por uma especialidade cirúrgica, só não sabia ainda qual. Conseguiu matar essa charada no último período de seus estudos, ao conhecer um médico goiano que fazia pós-graduação no Hospital de Urgência João XXIII, em que ela estagiava. Ele falou muito bem da especialidade para a jovem estudante, que passou a pesquisá-la e ver que esse, realmente, seria um ótimo caminho profissional a seguir. Assim, escolheu fazer residência em cirurgia geral na Santa Casa de Misericórdia, de olho no serviço de Edmundo Paula Pinto, que havia sido presidente da Sociedade Brasileira de Proctologia em 1961.

Só que, no cotidiano da residência, o foco era o ensino da cirurgia ge-ral, e não da coloproctologia – afinal, nessa época, ainda não existia residên-cia na especialidade. Na Santa Casa, porém, havia alguns médicos voltados mais para esse lado. Foi então que ela passou a buscar a convivência com Maria Lúcia Mainente – primeira coloproctologista de Minas Gerais – e, nas horas vagas, aprendia tudo sobre coloproctologia com ela. Ao término da

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residência de Luciana, Edmundo Paula Pinto percebeu o interesse da jovem pela especialidade e, já pensando em direcionar mais o campo de atuação aos cuidados com o cólon e o reto, convidou-a a permanecer no serviço em que ela se encontra até hoje.

Em 1981, pouco tempo depois de ter terminado a residência, começou a dar os primeiros passos em outra atividade em que sempre se destacou: lecio-nar. Luciana passou a dar aulas na cadeira de coloproctologia na Faculdade de Ciências Médicas – uma das raras no Brasil que tinha essa cadeira, chefiada por outro ex-presidente da SBCP, Geraldo Magela. Ela permaneceu diante dos alunos em sala de aula até 2008. Foi então que optou por se dedicar apenas a alunos de residência médica dentro das salas de cirurgia da Santa Casa. Dessa forma, sabia que estaria colaborando mais efetivamente para a formação de novos especialistas. Vale destacar que, em 2002, Luciana foi a fundadora da residência em coloproctologia no Hospital dos Servidores de Belo Horizonte (Hospital Governador Israel Pinheiro), no qual até hoje coordena esse serviço, além de continuar na residência da Santa Casa e de atender pacientes em seu consultório particular.

Outro marco em sua carreira foi a fundação da Sociedade Mineira de Coloproctologia, em 1996. Fazia 11 anos que essa sociedade estava sem fun-cionamento. Foi então que a Associação Médica Mineira a procurou para que ela reabrisse, dentro da associação, o Departamento de Coloproctologia. Luciana pensou mais alto e batalhou pelo reinício da sociedade, o que con-seguiu fazer contando com o apoio de 49 especialistas mineiros, que assina-ram a ata de fundação. Ela assumiu como a primeira presidente da Sociedade Mineira de Coloproctologia, cargo que ocupou por dois anos.

Paralelamente a tudo isso, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia sempre esteve presente em seu caminho profissional. E não seria para me-nos: ao conviver na Santa Casa com os ex-presidentes Edmundo Paula Pinto e Walcar Dias Coelho, e na Faculdade de Ciências Médicas com outro ex-presidente, Geraldo Magela, sua entrada para a SBCP aconteceu de manei-ra inexorável, levada pelas mãos desses mestres da especialidade. Luciana tornou-se figura assídua nos congressos anuais e participou da Comissão de Ensino e Residência Médica por três anos. Jamais teve como objetivo ocupar o posto de presidente.

Porém, ao vivenciar sua experiência no comando da Sociedade Mineira de Coloproctologia, percebeu como era importante poder lutar pe-las ações que considerava boas para a especialidade. Por isso, resolveu se

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candidatar ao posto maior da SBCP e conquistou, por mérito, seu lugar no hall daqueles especialistas que muito fizeram pela especialidade. Luciana Pyramo veio reforçar o lugar cada vez mais frequente das mulheres nessa posição, fato que, sem dúvida, caminha a passos largos junto à moderniza-ção dessa Sociedade septuagenária.

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CArlos WAlter soBrADo Jr.são paulo, 2013

S eu destino não poderia ser outro, a não ser a medicina. Se bem que, no 4º ano primário, foi por pouco que não se acenderam as

luzes de uma carreira literária, quando ele ganhou o prêmio de melhor redação em um concurso municipal na cidade de Presidente Prudente, em São Paulo. Mas a veia para as ciências humanas falou mais alto, já que o paulista Carlos Walter Sobrado Jr. nada mais é do que bisneto e neto de médicos, além de ser filho de farmacêutico. Assim, durante sua infância e adolescência, cresceu ouvindo histórias sobre a área médica, que o impulsionaram, quase que natu-ralmente, à profissão.

Ele nasceu em Regente Feijó, no estado de São Paulo, e passou a in-fância em Presidente Prudente. O colegial foi feito na cidade de São Paulo, de onde não saiu mais. Aos 25 anos, em 1984, concluiu seus estudos na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. E, nesse mesmo ano, ga-nhou o prêmio de Melhor Tema Livre no Congresso Médico Acadêmico da Santa Casa. Residência, ele fez duas: em cirurgia geral e cirurgia do apare-lho digestivo, ambas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

Seu interesse pela coloproctologia surgiu ainda nos tempos da fa-culdade. Em 1982, 1983 e 1984, frequentou os cursos da especialidade na FMUSP, nos quais pôde aprender com os renomados Daher Cutait e Angelino Manzone. Foi no curso de 1983 que teve o prazer de conhecer o professor Oscar Simonsen, que muito o impressionou por sua inteligência, criatividade e imensa atenção dispensada ao então aluno Carlos Sobrado Jr.

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Foi Simonsen, portanto, o maior incentivador para que o jovem seguisse a especialidade. No mesmo ano, antes mesmo de ter seu diploma de médi-co, participou do Congresso Brasileiro de Coloproctologia, na cidade de Campinas (SP), e ficou impressionado ao conhecer mais um grande nome dessa área: Angelita Habr-Gama. Sua extrema vibração por esse caminho da medicina foi outro exemplo fundamental para que Carlos batesse o martelo: se tornaria, sim, um coloproctologista. Isso sem falar, é claro, na influência dos expoentes já citados, Cutait e Manzione.

Em 1988, foi contratado para trabalhar no Hospital do Sesi, onde teve a oportunidade de realizar mais de 1.200 cirurgias coloproctológicas, durante os dez anos em que trabalhou nessa instituição. Em 1989, deu os primeiros passos rumo a outra atividade que seria um ponto alto em sua carreira: ensinar. Tornou-se, portanto, preceptor na II Clínica Cirúrgica (Serviço de Cirurgia do Aparelho Digestivo), sob coordenação do professor Henrique Walter Pinotti. E, paralelamente, iniciou as atividades em sua clínica particular.

Em 1990, aceitou ser médico voluntário na disciplina de coloprocto-logia, do Hospital das Clínicas, serviço chefiado pela professora Angelita Habr-Gama. Nele, dava aulas teóricas e práticas para alunos do curso de graduação e residentes, além de realizar atividades assistenciais e de pes-quisa. Até que, em maio de 1991, deixou o voluntariado ao ser aprovado em concurso público para assumir, oficialmente, as funções didáticas que já vinha exercendo nesse hospital.

A busca pelo conhecimento sempre foi uma constante para Carlos Walter. Tanto é que, em 1995, finalizou seu mestrado. E, em 1999, o douto-rado. O interessante é que, no ano seguinte, ele enviou sua tese de doutorado para os organizadores do Congresso Americano de Coloproctologia, promovi-do pela American Society of Colon Rectum Surgeons, que seria realizado em Boston. Seu trabalho não apenas foi aceito, como ele também foi convidado para ser professor conferencista. Essa tese lhe trouxe, ainda, mais uma vitória: o Prêmio Dr. Pedro de Souza Campos, da Associação Paulista de Medicina, como o melhor trabalho de coloproctologia de 1999.

A essa altura, era impossível frear o crescimento profissional de Carlos Walter Jr. Entre diversas atividades que desempenhou, foi médico responsável pelo Setor de Motilidade Digestiva Baixa, do Laboratório Fleury, de 1997 a 2003 e chefe do setor de coloproctologia do Hospital da Polícia Militar do Estado de São Paulo, de 2005 a 2010. E, atualmente, é responsável pelo am-bulatório de doenças anorretais do HC-FMUSP e do setor de coloproctologia

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do Hospital 9 de Julho, presidente do Departamento de Coloproctologia da Associação Paulista de Medicina e professor assistente doutor da disciplina de aparelho digestivo do HC-FMUSP. Para completar, ainda ministra diversos cursos voltados para o aperfeiçoamento dos especialistas.

Sua relação de amor com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia teve início em 1989, quando ele ainda dava os primeiros passos profissionais e teve a oportunidade de participar do congresso brasileiro no Rio de Janeiro. De lá para cá, foi uma figura assídua em praticamente todos os congressos, só tendo faltado ao de 1998, no Rio Grande do Sul, por problemas de saúde na família. Graças a um concurso realizado pela SBCP, ele ganhou uma bol-sa de estudos para fazer um Fellow-Ship na Universidade do Texas, durante quatro meses, sob a supervisão de Saul Sokol. E sua retribuição a tudo de bom que recebia da Sociedade veio em troca de muitos serviços prestados, com prazer: participou da comissão da Revista da Sociedade Brasileira de Coloproctologia – da qual se tornou, depois, coeditor –, foi membro da co-missão de título de especialista, membro e relator da comissão de residência médica da SBCP, até chegar ao posto de maior honra: a presidência, quando foi eleito em 2011.

Estar à frente de uma sociedade, contudo, não é novidade para Carlos Sobrado Jr. Em 2004, foi sócio-fundador da Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino (Abrapeci). E, em 2006, junto a ou-tros especialistas, fundou a Associação de Coloproctologia do Estado de São Paulo (Acesp), a qual foi registrada em cartório e filiada à SBCP em 2011. Ajudou, portanto, a criar seu estatuto, a desenvolver o site da Acesp e a realizar o 1º Congresso Paulista de Coloproctologia, em 2012. E, pa-ralelamente à presidência da SBCP, ao longo de 2012 e 2013, acumulou a função de presidente da Acesp.

Tamanha experiência adquirida não poderia ser guardada apenas para si. Para compartilhá-la não apenas com seus alunos, mas com muitos mais estudantes da especialidade e profissionais já formados, Carlos Walter publi-cou três livros que são referência na coloproctologia: Doença Inflamatória Intestinal (um das três obras mais vendidas na história da editora que o lançou, a Manole), Manual de Câncer de Cólon, Reto e Ânus e Manual de Fisiologia Anorretal e Assoalho Pélvico. Além disso, publicou cerca de noventa artigos em revistas nacionais e internacionais. Era o seu lado escritor, que andava adormecido desde sua premiada infância, que deu um jeitinho de despertar e voltar a se destacar na carreira desse especialista.

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Mas não há como negar: o seu lado médico foi – e tem sido – o maior destaque de sua vida profissional. Os inúmeros pacientes que já receberam seus cuidados e os incontáveis alunos que tiveram a chance de absorver seus conhecimentos sabem muito bem disso. E, agora, to-dos os membros da SBCP também reconhecem o seu empenho e a sua dedicação à frente desta verdadeira família coloproctológica. Mais uma bela história construída na especialidade, dentre todas as outras que fi-guram na Galeria dos Ex-Presidentes.

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Capítulo 6

Os congressosEncontros que vão muito além da ciência

Como já mencionado, entre as atribuições de cada presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, todos listados no capítulo anterior, está a organização de um congresso anual. Este é um fato que consta já no pri-meiro estatuto da Sociedade, que data de 1945, no item “Finalidades”, artigo 3º: “A SBP encarregar-se-á de organizar cursos, conferências e congressos de proctologia.” No entanto, nos primeiros anos após a retomada da Sociedade por Sylvio D’Ávila e os proctologistas baianos, o número de membros ainda era muito pequeno. Por esse motivo, em lugar de congressos, aconteciam reu-niões anuais.

Durante cinco anos consecutivos, era com muita dificuldade que os pri-meiros presidentes e os membros da Sociedade conseguiam congregar colegas distantes para essas reuniões, que tinham como principal função ser um en-contro de cunho científico. Mas, dotados sobretudo de persistência, seguiram em frente na difícil empreitada. Em 1946, sob a presidência de D’Ávila, acon-teceu a 1ª Reunião Anual, na sede da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. No ano seguinte, o presidente Edson de Oliveira comandou a 2ª Reunião Anual em São Paulo. Em 1948, houve a primeira tentativa da SBP de interiorização, levando sua 3ª Reunião Anual para Juiz de Fora (MG), sob a batuta de Dirceu de Andrade. Nessa ocasião, foi realizada a primeira reforma dos estatutos.

Em 1949, a 4ª Reunião Anual retornou para o Rio de Janeiro, sob a responsabilidade de José Mário Caldas, com dois pontos positivos: o acervo científico já se mostrava mais volumoso, assim como o número de participan-tes. No ano seguinte, aconteceu a 5ª Reunião Anual em São Paulo, no Hospital

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de Clínicas, de 16 a 18 de novembro, comandada por Plínio Brasil Filho. Foi um encontro científico memorável, contando com a apresentação de 42 trabalhos, sete sessões e quatro filmes. Na ocasião, foram eleitos os primei-ros membros correspondentes da SBP: Emilio Etala, Faimberg Wassermann, Agustin Calzaretto, José A. Coppola, Alberto Laurence, Oscar Napp, Edgardo Spirandelli, Manuel A. Casal e Guilherme Belchor Costa; e os primeiros membros honorários: Ricardo Finocchietto e Luiz Buie. Era a prova de que a Sociedade Brasileira de Proctologia estava cada vez mais firme. Já era a hora de se partir para os congressos propriamente ditos.

primeiros congressos eram quase artesanaisCoube a Walter Gentile de Mello – um dos nomes responsáveis pela

fundação da SBP – a responsabilidade de organizar o 1º Congresso Brasileiro de Proctologia, ainda junto com a 6ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Proctologia. Vale lembrar que, nessa época, não existiam firmas organiza-doras de eventos, como se tem atualmente. Durante um bom tempo, os con-gressos anuais eram praticamente artesanais. O presidente metia a mão na massa, auxiliado por outros especialistas que compunham a diretoria. Nas atas de reuniões preparatórias dos primeiros congressos da Sociedade, encontram-se divisões de tarefas entre os membros, tais como envio de convites aos par-ticipantes, solicitação de patrocínio para diretores de laboratórios ou políticos que tivessem boa relação com os especialistas, contratação de tradutores, alu-guel de espaço.

O presidente em exercício em 1951 tinha a vantagem de ter adquirido, nos Estados Unidos, uma grande bagagem de treinamento e trabalhos, a qual lhe rendeu a chefia do Serviço de Proctologia do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Assim, com uma boa dose de experiência e uma rede interessante de contatos no exterior, Walter Gentile de Mello conseguiu organizar, com maestria, o 1º Congresso Brasileiro de Proctologia, de 14 a 17 de novembro, no auditório do próprio Hospital dos Servidores. Com a pre-sença maciça de médicos brasileiros e estrangeiros de renome, foi uma óti-ma oportunidade para uma rica troca de experiências sobre o tema principal, “Câncer de cólon e reto, retite linfogranulomatosa, esquistossomose, amebía-se e megacólon”.

Ao final do evento, a Sociedade se enriqueceu com o ingresso, entre seus membros, de Jerome M. Lynch, Harry E. Bacon, Fred Rankin, Frank Lahey, Richard Cattel, Claude Dixon, Oven Wangensteen, R. A. Scarborough,

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William Daniel, Henry L. Bockus, Wayne W. Babcock, Frank M. Frankfeldt, Jerome Wagner, todos dos Estados Unidos; Guilherme Zorraquim, Alberto Garcia Matta, Juan Manoel Raffo, Bonorino Udaondo, da Argentina; Alfred Bensaude, François D’Allaines, Jean Rachet, A. Bergeret, da França; Lockhart Mummery, da Ingraterra; Carlos Ottolina, da Venezuela; e Raul Pitanga Santos, do Brasil. Como se vê, a SBP ia ganhando cada vez mais o reconhecimento dos especialistas estrangeiros. Nesse congresso, houve também um momento emocionante: foi realizada uma merecida homenagem a Raul Pitanga Santos.

Tamanha foi a importância da realização do 1º Congresso Brasileiro de Proctologia para os especialistas na época, que seu acontecimento mereceu até menção na publicação inglesa British Medical Journal (edição de 29 de março de 1952):

Brazilian Congress of Proctology – The first Brazilian proctological congress was held from November 14 to 17, 1951, in Rio de Janeiro, a great number of specialists from several American countries taking part. The congress was promoted and organized by Dr. Walter Gentile de Mello, president of the Brazilian Proctological Society. The Annals of the congress will be published in two volumes, already in prepara-tion, with a summary of each lecture and paper in English. The edi-tors are Drs. W. Gentile de Mello and Manoel Garcia, Avenida Graça Aranha, 81, Rio de Janeiro, Brazil.

Não havia mais como frear o progresso dos congressos promovidos pela SBP. A partir desse, teve início um período de congressos anuais em con-junto com as reuniões administrativas. Porém, na década de 1950, apenas as grandes cidades do país tinham condições para abrigar congressos com o porte que vinha se avolumando. Assim, de 1952 até 1958, eles só ocorreram no eixo Rio-São Paulo. Embora Ribeirão Preto (SP) não fosse uma capital, reunia ca-racterísticas suficientes para sediar o 2º Congresso Brasileiro de Proctologia, em 12 de dezembro, sob a presidência de Geraldo Avelino da Rocha. No ano seguinte, o então presidente Annibal Luz trouxe de volta ao Rio de Janeiro o 3º Congresso. Em 1954, Adalberto Leite Ferraz presidiu em São Paulo, no Hotel Esplanada, o 4º Congresso, que tinha a radiologia dos cólons e a amebíase intestinal como temas oficiais.

Em 1955, no auditório da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro instalou-se, sob a presidência de Horácio Carrapatoso, o 5º Congresso. Em discurso oficial, o professor Ivolino de Vasconcelos, presidente do Instituto Brasileiro de História da Medicina, falou sobre a evolução histórica da procto-

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logia. Sua apresentação então saltou dos limites do congresso para ser lida por mais e mais pessoas, ao ser transcrita na íntegra no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, em 23 de outubro de 1955. Mais uma forma, portanto, de po-pularizar essa especialidade que durante muito tempo foi vista com restrições por muita gente. Nesse congresso, pela primeira vez, foi discutido um assunto que iria ser retomado em várias outras ocasiões: a necessidade de estabele-cimento de uma secretaria fixa e permanente, abrigando o currículo de cada sócio e sua situação com a tesouraria da Sociedade.

Quanto a essa discussão, vale um parêntese. Durante os congressos brasi-leiros de coloproctologia, além dos eventos científicos, ocorrem reuniões entre os membros, sob o comando do presidente em exercício. Em geral, no segundo dia do evento, acontece a Reunião (ou Sessão) Administrativa. Normalmente no último dia é a vez da Assembleia Geral Ordinária (AGO). Durante esses momentos é que são debatidos assuntos do cotidiano da Sociedade e da espe-cialidade, visando a tomadas de decisões (por meio de votos) e melhorias. Ao longo deste capítulo, portanto, muitas vezes serão mencionados os resultados dessas reuniões, paralelamente aos acontecimentos científicos. É interessante observar que, muito mais do que pontuar o histórico da SBCP, esses dados vão narrando a própria história do desenvolvimento e do crescimento da coloproc-tologia no Brasil.

Retomando a apresentação dos congressos, aconteceu uma rara situa-ção no 6º Congresso Brasileiro de Proctologia: ele foi realizado seguidamente no Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1956, com José Avelino de Freitas na presidência. O fato é que foi até cogitada a tentativa de interiorização desse encontro anual fora do eixo Rio-São Paulo, tendo mais uma vez Minas Gerais como sede. Mas os tempos para a proctologia no Brasil eram outros... Minas ainda apresentava uma carência de recursos para abrigar um evento que não parava de crescer e de atrair especialistas de todo o Brasil e até do exterior. Diante disso, a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro é que teve a mis-são de recepcionar os congressistas. No 6º Congresso, podemos destacar três momentos marcantes: o patrono Pitanga Santos – figura sempre presente e atuante nesses encontros anuais da Sociedade – apresentou a retrospectiva his-tórica da Sociedade, o fundador Sylvio D’Ávila recebeu o título de Membro Honorário e Daher Cutait, que já era um nome muito forte na proctologia do Brasil e do exterior, foi eleito para a presidência da SBP.

Vale ressaltar que, sempre dinâmico e empreendedor, Daher realizou um evento importante pouco depois de sua eleição, quando, em 8 de novem-

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bro de 1956, promoveu a Reunião Conjunta da SBP e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões no Hospital de Clínicas de São Paulo. Em 30 de agosto de 1957, organizou a Reunião Conjunta da SBP e da Sociedade de Gastroenterologia de São Paulo. E foi com chave de ouro que Daher encerrou sua gestão, ao organizar o 7º Congresso na sede do Hotel Danúbio, em São Paulo, de 27 a 29 de novembro. Nele, alguns destaques foram a conferência de Pitanga Santos sobre a história da proctologia no Brasil e o fato de Lynn A. Ferguson, dos Estados Unidos, A. C. Naughton Morgan, da Inglaterra, Jean Arnous, da França, e Levy Sodré e Felipe Figliolini, do Brasil, terem sido eleitos mem-bros honorários.

No ano seguinte, foi a vez de Américo Bernacchi mostrar o seu brilhan-tismo também à frente do 8º Congresso. Antes disso, ele deixara um marco em sua gestão: a definição da situação jurídica da Sociedade. Após a luta travada por Bernacchi, exposta no capítulo 3, em 2 de abril de 1958 a presidência rece-beu o Título de Registro da Sociedade, o Diário Oficial em que foi publicado, o Extrato dos Estatutos, o Livro de Presença, o Livro de Atas e os Estatutos. De 9 a 11 de outubro, ocorreu então o 8º Congresso, no Hotel Glória, que apresentou seis reuniões científicas e marcou o início do entrosamento dos especialistas brasileiros com a Associação Latino-Americana de Proctologia (ALAP), tendo sido Walter Ghezzi e Sylvio D’Ávila designados delegados junto à ALAP. O gaúcho Ghezzi acabou sendo escolhido, também, para ser o próximo presidente da SBP. Com isso, pela primeira vez, o Congresso da Sociedade seria realizado fora da região Sudeste.

Assim, de 3 a 7 de novembro de 1959, instalou-se em Porto Alegre o 9º Congresso Brasileiro de Proctologia, no Salão de Festas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foram realizadas oito sessões científicas e mais uma vez discutiu-se a necessidade de se instalar uma secretaria fixa no Rio de Janeiro ou em São Paulo, onde todos pudessem manter contato direto e organizar e atualizar o cadastro social. No ano seguinte, o en-tão presidente Waldemiro Nunes levou o 10º Congresso de volta para São Paulo, de 11 a 16 de setembro, no Salão Nobre da Associação Paulista de Medicina, mas com uma novidade: ele foi realizado em conjunto com o 1º Latino-Americano e o 2º Internacional de Proctologia. Isso resultou em um evento de grande porte, reunindo representantes de 16 nações e um número recorde de participantes.

No ano seguinte, um novo estado fora do eixo Rio-São Paulo foi esco-lhido para sediar o Congresso Brasileiro de Proctologia: Minas Gerais. Sob a

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presidência de Edmundo Paula Pinto, o 11º Congresso foi realizado de 5 a 8 de julho de 1961, na sede da Associação Médica de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Após dez sessões científicas, surgiu pela primeira vez uma propos-ta de convênio da SBP com a Associação Médica Brasileira (AMB), a fim de a Sociedade ser a única entidade apta a ter o direito de conferir o Título de Especialista em Proctologia.

No Rio de Janeiro, em 1962, Aloysio de Carvalho organizou o 12º Congresso. Na gestão seguinte, em 2 de dezembro de 1963, no Hotel Danúbio, em São Paulo, Milton César Ribeiro realizou o 13º Congresso, com seis ses-sões científicas versando sobre os temas oficiais “técnicas e resultados ci-rúrgicos do megacólon” e “constipação intestinal, proctologia orificial”. Na sessão administrativa, Edmundo Paula Pinto foi eleito delegado da ALAP, e um jovem médico – o mais jovem até então – tornou-se presidente da SBP: o gaúcho Pedro Gus.

Em 3 de novembro de 1964, o evento voltou a acontecer nos Pampas. O 14º Congresso foi realizado no Salão de Festas do Banco da Província do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, com a presença de vários colegas es-trangeiros e também do Centro e do Norte do país. Mais uma vez, na Sessão Administrativa, chamou-se a atenção para a necessidade de se montar uma secretaria fixa para a SBP.

No ano seguinte, Ary Frauzino Pereira ficou à frente de mais um con-gresso realizado novamente na então Guanabara, que mantinha sua tradição e seu prestígio. O 15º Congresso teve início no dia 5 de dezembro de 1965, mais uma vez se afirmando pela sua produção científica. Já em 1966, São Paulo recebeu o 16º Congresso, no Auditório da Associação Paulista de Medicina, sob a presidência de Felipe Figliolini. Nesse momento, os membros reclama-ram que o estatuto da Sociedade estava obsoleto, tendo sido designado Walter Ghezzi para revê-lo. Pedro Gus também conseguiu, em assembleia, ter aprova-do seu pedido para a regulamentação da distribuição do Título de Especialista pela SBP, por meio de convênio com a Associação Médica Brasileira.

A partir de 1967, definitivamente cristalizada em suas bases e em sua filosofia de atuação, a Sociedade Brasileira de Proctologia definiu seus rumos. Sob a presidência de Farjalla Sebba, pela primeira vez o congresso foi realizado em Goiânia, de 6 a 9 de dezembro, no Hotel Umuarama. Este 17º Congresso sagrou-se como um momento importante na história da Sociedade Brasileira de Proctologia, com grandes decisões sendo tomadas. Entre elas, foi finalmente firmado o convênio com a AMB, permitindo que a Sociedade passasse a regula-

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mentar a concessão do Título de Especialista em Proctologia. Surgiu, então, uma discussão entre os membros, porque muitos achavam que as normas do concur-so para especialista eram rigorosas demais. Luci Bandeira de Melo, de Recife, advertiu sobre as desvantagens da realização do concurso simultaneamente às sessões do congresso, o que faria com que os membros da comissão examina-dora ficassem praticamente impedidos de frequentar as sessões. Edmundo de Paula Pinto, de Belo Horizonte, então propôs que o concurso fosse realizado 24 horas antes do congresso. Essa proposta foi aceita por unanimidade.

Enquanto isso não acontecia, porém, o Congresso realizado em Goiás foi palco de um momento histórico: pela primeira vez, os médicos participa-ram de um concurso para obtenção do título de especialista, só que apenas por meio de prova de títulos. Nesse momento, portanto, sessenta nomes consa-grados da especialidade passaram a ser reconhecidos oficialmente como proc-tologistas, entre eles Raul Pitanga Santos, Daher Cutait, Américo Bernacchi, Angelino Manzione, Angelita Habr-Gama, Ary Frauzino Pereira, Edmundo de Paula Pinto, Edson de Oliveira, Felipe Figliolini, Horácio Carrapatoso, Walter Gentile de Mello, Walter Ghezzi, Pedro Gus e o próprio presidente em exer-cício, Farjala Sebba.

Ainda durante o 17º Congresso, Walter Ghezzi propôs a redação do artigo 2º do anteprojeto de reforma dos estatutos, prevendo não apenas uma sede fixa em que funcionasse uma secretaria permanente, mas tam-bém onde seria a sua localização. O plenário se pronunciou e surgiram três propostas idênticas de que fosse no estado da Guanabara, onde se fundara a SBP. O Rio de Janeiro, então, foi aprovado por unanimidade. Em 8 de de-zembro de 1967, porém, realizou-se uma reunião administrativa para cor-rigir o fato de que a Sociedade não havia sido fundada no Rio de Janeiro, e sim em Salvador. Mesmo diante desse fato, não se alterou o local onde funcionaria a secretaria fixa da SBP. Até porque essa cidade havia sido a sede do primeiro congresso.

Em 1968, o 18º Congresso foi realizado novamente no Rio, mas dessa vez em uma cidade serrana do interior do estado: Nova Friburgo, no Hotel Sans Souci, de 9 a 12 de outubro, sob a presidência de Romeu Marra da Silva. No evento, ele destacou seu esforço, durante sua gestão, em viajar para vários estados a fim de ajudar na organização de sociedades de proctologia autôno-mas e no lançamento da primeira publicação da Sociedade (como é mais bem explicado no capítulo seguinte), destinada a coletar acervo científico de seus sócios e colaboradores. Também ocorreu nova prova de títulos para concessão do título de especialista.

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No ano seguinte, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, de 17 a 20 de setembro, Belo Horizonte sediou o 19º Congresso. Ao comando do presidente Walcar Dias Coelho, aconteceu o pri-meiro concurso para concessão de título de especialista por meio de provas. Também foi instituído o Prêmio Squibb para trabalhos inéditos da especialida-de, que, na sua primeira disputa, teve dois vencedores: Angelita Habr-Gama e Geraldo Magela Gomes da Cruz. Vale destacar que Magela, durante a Reunião Administrativa, mencionou que estava tendo dificuldades para lançar a revis-ta, devido à ausência de financiamento e à falta de material científico para que ela pudesse ser elaborada.

Em 1970, São Paulo voltou a sediar o evento, mais uma vez com o seu já grande porte ainda mais dilatado. Isso porque o então presidente José Thiago Pontes aproveitou a oportunidade para associar o 20º Congresso Brasileiro de Proctologia (de 13 a 16 de setembro) ao 3º Congresso da International Society of University Colon and Rectal Surgeons (de 16 a 19 de setembro), liderada por Daher Cutait. O evento foi de repercussão mundial, tamanho o número de participantes de renome. Além disso, na Reunião Administrativa, as normas de Concessão do Título de Especialista foram definitivamente aprovadas, e após o exame regulamentar, mais 11 especialistas filiados receberam o seu certificado. Durante esse encontro de especialistas, também foi aventada, pela primeira vez, a hipótese de os congressos de proctologia passarem a ser reali-zados de dois em dois anos.

Em 13 de setembro de 1971, teve início o 21º Congresso, com um marco interessante: desde a fundação da SBP em Salvador, essa cidade fi-nalmente seria a sede de um Congresso Brasileiro de Proctologia. Ou seja, somente 25 anos depois! Essa conquista se deveu a grandes esforços em-preendidos por um grupo de médicos baianos, apoiados pelos paulistanos Daher Cutait e Felipe Figliolini. Até então, o Rio de Janeiro já havia sediado nove congressos; São Paulo, seis; Rio Grande do Sul e Minas Gerais, dois cada; e Goiás, um. Assim, sob a presidência de Geraldo Milton da Silveira, o 21º Congresso aconteceu no Hotel da Bahia, levando discussões científicas importantes para o Nordeste do Brasil.

Na Sessão Administrativa, três sócios aprovados em exame receberam o título de especialista. Nas discussões, as reivindicações de classe sobressaí-ram, já que os médicos estavam tendo de se adequar a um sistema de trabalho que colidia com a tradição milenar de trabalho liberal.

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Sob a presidência de Carlos Brenner, o 22º Congresso retornou ao Rio Grande do Sul, de 29 de outubro a 1º de novembro de 1972, no salão de reu-niões do Banco da Província do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Durante a Sessão Administrativa, como já foi mencionado no capítulo 4, Daher Cutait salientou a progressiva melhoria dos níveis científicos dos congressos e pro-pôs a criação de um prêmio, isto é, uma medalha ou diploma, anual, oferecido pela Sociedade ao melhor trabalho apresentado. Foi sugerido também que se chamaria Prêmio Pitanga Santos. Os trabalhos seriam julgados por uma co-missão de cinco membros escolhidos pela diretoria durante o congresso, os quais não concorreriam ao prêmio e permaneceriam com a identidade secreta. Todos os trabalhos apresentados em congresso estariam automaticamente par-ticipando. A ideia foi aprovada por unanimidade.

Ainda durante essa reunião, Carlos Brenner informou que obteve para a SBP o registro no cadastro geral de contribuintes do Ministério da Fazenda e o registro como sociedade de utilidade pública. Já Romeu Marra pediu mais interesse das diretorias pela publicação da revista da SBP. E Valério Celso Madruga de Garcia retomou um assunto antigo, ao solicitar providências para a instalação de uma secretaria fixa para a sociedade. Foi então discutido onde ela seria instalada, e os locais sugeridos foram a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro ou a Associação Médica Brasileira.

No ano seguinte, durante o 23º Congresso capitaneado por Décio Pereira, de 2 a 5 de setembro de 1973, no Hotel Glória, Rio de Janeiro, a pauta sobre a secretaria fixa voltou à tona. Ela finalmente havia sido instalada na Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, na Avenida Mem de Sá. E na AGO, foram apresentados relatórios de secretaria e tesouraria referentes às atividades da Sociedade até 31 de agosto.

Durante esse congresso, também se chegou aos nomes dos primeiros vencedores do Prêmio Pitanga Santos: Paulo Jorge Warde, Angelino Manzione e Daher Cutait, pelo trabalho “Anastomose colo-retal experimental em um e dois planos de sutura. Estudos comparativos”. Eles receberam diplomas e a importância de Cr$ 1.000 (hum mil cruzeiros). O segundo colocado, Hélio Moreira, recebeu o prêmio especial de Cr$ 500 (quinhentos cruzeiros) em livros, doados pelo livreiro Isaac Feldman.

Em 1974, o 24º Congresso aconteceu de 29 de setembro a 2 de ou-tubro, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob a res-

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ponsabilidade do presidente Angelino Manzione. Na Reunião Administrativa, Christóvão Bellot propôs a edição de um boletim informativo trimestral, para maior integração dos membros com a Sociedade, o que foi aprovado. E deu-se início a uma nova discussão que iria render por mais alguns anos adiante: a mudança do nome da Sociedade Brasileira de Proctologia.

No ano seguinte, de 21 a 24 de outubro, Curitiba recebeu os especia-listas durante o 25º Congresso, no Setor de Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, sob a presidência de Sérgio Brenner. Angelino Manzione sugeriu que fosse adquirida uma sede para a Sociedade, que poderia, a princípio, ser alugada. Porém, Daher Cutait, Décio Pereira e outros acharam que o melhor era continuar a aplicar o dinheiro dis-ponível, até haver uma quantia que permitisse comprar um imóvel de maior valor. Todos concordaram. Novamente, foi discutida a mudança do nome da Sociedade. Por fim, Daher propôs que fosse concedido um crédito para os presidentes dos congressos a fim de cobrir as primeiras despesas necessárias à organização do evento. Não se trataria, contudo, de uma doação – pois as despesas dos congressos são de responsabilidade de seus organizadores, e não da Sociedade –, e sim de um empréstimo. Sua ideia foi aprovada.

Nilson Marcondes Celso, de 16 a 19 de novembro de 1976, realizou o 26º Congresso no Hotel Delphin, no Guarujá, cidade litorânea de São Paulo. Na Reunião Administrativa, os membros discutiram o problema da revalidação do título de especialista, nova exigência da AMB. Houve con-testação sobre o direito de cassação do título por Daher Cutait, Horácio Carrapatoso e Walter Ghezzi. Já na AGO, foram expostas as novas normas para o concurso de título de especialista, adaptadas às recentes determina-ções da AMB.

No 27º Congresso, de 9 a 12 de outubro de 1977, no auditório da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, sob a presidência de Tasso Mendonça, ele apelou para a necessidade de os membros que realizam cursos, jornadas e outras atividades científicas da especialidade incluírem o nome da Sociedade como copatrocinadora, enviando à secretaria cópia do programa. Isso traria condições de a SBP ser reconhecida pelo go-verno federal como entidade de utilidade pública. Tasso também reforçou a necessidade de se prestigiar o boletim informativo trimestral lançado naquele ano, enviando matérias e resumos de trabalhos científicos.

Durante a Reunião Administrativa (como já mencionado no capítulo 4), Paulo Fontoura levantou pela primeira vez um assunto que se estenderia por

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muitos anos: o problema da colonoscopia, a qual vinha sendo atribuída à com-petência do endoscopista e do gastroenterologista, quando, em sua opinião, a técnica deveria ser realizada pelo proctologista. A questão foi amplamente dis-cutida, mas, segundo a opinião da maioria, não havia meios legais para se im-pedir que outros especialistas efetuassem o exame. Foi sugerido então que os proctologistas, por estarem tecnicamente mais preparados para a execução da técnica, se interessassem mais por ela e lutassem, nos seus serviços, para fica-rem responsáveis pela endoscopia do cólon. Além disso, Daher Cutait propôs – e foi totalmente apoiado – que a SBP encaminhasse à Sociedade Brasileira de Endoscopia um ofício comunicando a resolução tomada nessa reunião, reafirmando a colonoscopia como atribuição do proctologista nos hospitais que tenham serviços especializados.

Mais uma vez, de 7 a 12 de setembro de 1978, o Rio Grande do Sul sediou um encontro anual da Sociedade. O 28º Congresso aconteceu no au-ditório da Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre, comandado por Salvador Ferreira. Ele relatou, entre outros feitos, que durante sua gestão fir-mou convênio com o Conselho Federal de Medicina para o reconhecimento, naquele órgão, dos títulos de especialista expedidos pela Sociedade. Foi co-mentada, também, a melhoria gráfica do boletim trimestral, e Klaus Rebel fez duas propostas: registrar nomes para uma futura revista e incluir nos boletins o material científico entregue aos congressos para sua publicação, substituindo a edição de anais, que era muito trabalhosa. As propostas foram aprovadas. Para completar, Ghezzi apresentou sugestões ao novo regimento interno da SBP, e também ficou decidido que a mudança do nome da Sociedade ocorreria no ano seguinte, em sessão no primeiro dia das reuniões do congresso.

Assim aconteceu em 1979, durante o 29º Congresso organizado por Geraldo Magela, em Belo Horizonte, de 16 a 19 de setembro, no auditório da Associação Médica de Minas Gerais. Na Reunião Administrativa, o presiden-te pôs em discussão a mudança do nome da Sociedade – que, a essa altura, já contava com mais de quinhentos membros –, informando que havia enviado onze sugestões aos membros e recebeu resposta de cerca de 250, a maioria optando pela manutenção do atual nome ou pela mudança para Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Em votação, foi aprovado o novo nome su-gerido. Além disso, surgiu um assunto que também dividiria os membros da Sociedade por muito tempo: a mudança do Congresso para bianual – 44 vota-ram a favor de permanecer anual, 12 contra.

Em 1980, de 28 de setembro a 1º de outubro, o Rio de Janeiro sediou o 30º Congresso Brasileiro de Coloproctologia (já com novo nome!), no Centro

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de Convenções do Rio Sheraton Hotel, sob a presidência de Paschoal Torres. Na Reunião Administrativa, Joaquim José Ferreira informou que o boletim tri-mestral da Sociedade já incluía artigos científicos e que se encaminhava para se transformar em revista. Um fato curioso foi também posto em votação: a necessidade da compra de um aparelho telefônico – artigo ainda de luxo nessa época – a ser instalado na sede provisória da sociedade, a fim de facilitar os meios de comunicação da secretaria com seus associados, que já somavam 555 integrantes. Foi comemorada, ainda, a obtenção de isenção de Imposto de Renda junto ao Ministério da Fazenda, o que iria representar sensível econo-mia para a Sociedade. Vale citar que, nesse período, a inflação no país era uma realidade cada vez mais massacrante, e praticamente todos os anos era pedido o aumento do valor da mensalidade durante as reuniões administrativas.

São Paulo foi sede do 31º Congresso, de 6 a 9 de setembro de 1981, no Centro de Convenções do Maksoud Plaza Hotel. Dessa vez, havia uma novi-dade que mudava a rotina dos congressos: quem conduzia a batuta do even-to era uma mulher, Angelita Habr-Gama, primeira médica a assumir a presi-dência da Sociedade. E ela fez bonito na posição. Na parte científica, houve a atualização de temas fundamentais para a especialidade: câncer e doenças inflamatórias do intestino grosso, megacólon, patologia orificial e técnicas ci-rúrgicas em coloproctologia, tudo isso com alto padrão, graças à apresentação de trabalhos de renomados especialistas nacionais e estrangeiros, ouvidos por mais de oitocentos congressistas.

O resultado econômico para a Sociedade foi gratificante, sendo come-morado, por exemplo, pelo editor Klaus Rebel no editorial do quarto número da Revista Brasileira de Coloproctologia, que finalmente havia sido lançada ao longo de 1981. Klaus diz que esse resultado seria importante para man-ter a revista. Na Reunião Administrativa, foram enaltecidos o lançamento da revista, a aquisição do telefone para a secretaria e a concretização jurídica e administrativa da mudança do nome da Sociedade. Aprovou-se, também, a regulamentação para o Prêmio Nacional de Coloproctologia Dr. José Thiago Pontes, a ser conferido anualmente ao melhor trabalho inscrito como tema livre no congresso.

O Nordeste foi o destino do congresso seguinte. De 7 a 10 de setem-bro de 1982, no Centro de Convenções do Imperial Othon Palace Hotel, em Fortaleza (CE), aconteceu o 32º Congresso, orquestrado por Pedro Henrique Saraiva Leão. Cerca de oitocentos congressistas estiveram presentes, assis-tindo a diversos eventos científicos, como simpósios, mesas-redondas e con-

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ferências, além de terem a chance de participar de quatro cursos. Também houve a presença maciça de grandes expoentes nacionais e internacionais, como Peter Hawley e Christopher Williams, de Londres, Konrad Arnold, da Alemanha, Francesco Rossini, de Roma, e Stuart Quan, de Nova York. No início das conferências, os organizadores tiveram uma atitude simpática: pres-taram uma homenagem, com um resumo de suas biografias, a todos os espe-cialistas que contribuíram para o crescimento da Sociedade e não estavam mais presentes.

Na Reunião Administrativa, foi constatado o crescimento da Sociedade, que então já contava com 669 membros. Klaus Rebel teve seus esforços reco-nhecidos pela manutenção da publicação da revista, inclusive por tê-la adap-tado aos padrões internacionais de publicações médicas, visando facilitar a inclusão de anúncios de propaganda laboratorial. Os problemas em torno do título de especialista também foram amplamente discutidos. Isso porque uma nova lei permitia que a Comissão Nacional de Residência Médica conferisse o título de especialista juntamente ao MEC. José Maria Chaves sugeriu que a SBCP passasse a ter uma representação permanente na comissão. Ficou de-cidido, então, que o futuro presidente eleito designaria uma comissão para representar a SBCP perante a Comissão Nacional de Residência Médica.

De 4 a 7 de setembro de 1983, o presidente José Alfredo dos Reis Neto recebeu mais de seiscentos congressistas no 33º Congresso, na Escola Salesiana São José, em Campinas (SP), que participaram das sessões científicas com inte-resse cada vez mais evidente. O evento nada deveu a outros realizados no exte-rior, uma vez que contou com um grande número de especialistas de reputação internacional. Na Reunião Administrativa, foi acertada a participação da SBCP como copatrocinadora do Congresso Mundial de Gastroenterologia, a ser reali-zado em 1986, em São Paulo, sob a presidência de Daher Cutait.

No ano seguinte, de 11 a 14 de novembro, no Centro de Convenções do Rio Sheraton Hotel, no Rio de Janeiro, Joaquim José Ferreira presidiu o 34º Congresso. Do ponto de vista científico, as apresentações demonstraram que houve maior sedimentação dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos já conhecidos, com indicações mais precisas e seguras, o que era um indicativo de que a coloproctologia evoluía com passos seguros e firmes, sem grandes riscos. Na Reunião Administrativa, ficou decidido que a Comissão Nacional de Residência Médica fosse transformada em Comissão Nacional de Pós-Graduação em Coloproctologia, com autoridade para estudar e estabelecer todos os critérios referentes à residência médica, aos estágios em serviços credenciados etc.

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De 14 a 17 de novembro de 1985, o Centro de Convenções do Maksoud Plaza Hotel, em São Paulo, abrigou o 35º Congresso, sob a presidência de Peretz Capelhuchnik. O programa científico almejou fazer uma revisão ge-ral da especialidade, em mesas-redondas e simpósios, abordando temas como polipose cólica, tumores malignos, moléstia diverticular, incontinência anal e doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a Aids, que, a essa altura, ainda era envolta em muitos questionamentos. No congresso, a proposta foi tratá-la com foco científico, dando à doença a importância devida e orientando os profissionais da saúde a enfrentar o problema sem sensacionalismo e pavor. Quanto à questão financeira, o balanço de 1984 a 1985 surpreendeu. Apesar da crise econômica no país, a SBCP começou a apresentar uma situação financei-ra tranquila. Isso porque, mediante a inflação, a Sociedade estava aplicando a maior parte de seu dinheiro, mantendo apenas uma pequena quantidade como reserva técnica. Além disso, ao contrário do que acontecera em Campinas, o resultado do congresso no Rio de Janeiro havia sido excelente e ajudou a au-mentar o patrimônio da Sociedade.

Em 1986, aconteceu um fato único na história da SBCP: um ex-presi-dente conquistou uma segunda gestão. Daher Cutait foi escolhido para presi-dir a Sociedade pela segunda vez porque, nesse ano, ele seria o presidente do 3º Congresso Mundial de Coloproctologia, realizado de 7 a 12 de setembro, no Pavilhão de Exposições Anhembi, em São Paulo. Diante da grandiosidade do evento, ficou decidido que não haveria um congresso nacional formal. A participação de todos se daria dentro do mundial. Por conta disso, seria melhor que Daher estivesse à frente da SBCP mais uma vez, para facilitar os trâmites junto ao congresso mundial. Em seu discurso durante o evento, Daher falou da satisfação dos organizadores do congresso mundial pela delicadeza da SBCP em não realizar, naquele ano, seu congresso, mas sim de participar plenamente no congresso mundial, o que estava dando um destaque ainda maior à colo-proctologia brasileira.

No ano seguinte, portanto, a rotina dos congressos nacionais voltou ao normal. De 27 de setembro a 1º de outubro, aconteceu o 36º Congresso no Hotel Carimã, em Foz do Iguaçu, Paraná, sob a presidência de Fernando Jorge de Souza. Embora os organizadores estivessem receosos de que o nú-mero de participantes fosse pequeno, devido às grandes dificuldades eco-nômicas vividas naquele ano pelo país, o que se viu foi o oposto: o ma-ciço comparecimento de colegas de todo o país, confirmando a união da Sociedade. Na Reunião Administrativa, o secretário-geral Rosalvo José Ribeiro salientou o crescente progresso da Sociedade, que se encontrava,

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naquele momento, entre as mais atuantes e organizadas do país, já contando com 857 sócios. O tesoureiro Eleodoro Carlos de Almeida comemorou o fato de a disponibilidade financeira da Sociedade ter crescido muito, graças à aplicação adequada das receitas obtidas tanto no 35º Congresso quanto no congresso mundial, que obteve um grande sucesso econômico. O Grupo de Trabalho de Finanças – composto por Rosalvo, Angelita Habr-Gama, José Hyppólito da Silva, Nilo Luiz Cerato e José Figueiroa Filho – opina que já é a hora de se adquirir uma sala no Rio de Janeiro, preferencialmente no edifício do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, para acomodar e melhorar as atuais instalações da Sociedade. Várias opiniões diferentes surgiram, mas em votação foi aceita a compra da sede própria.

De 12 a 15 de outubro de 1988, foi a vez de a bela cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul, receber o 37º Congresso, presidido por Érico Fillmann. No Hotel Serrano, durante a Reunião Administrativa, foram sugeridas pela Comissão de Ensino e Residência Médica a criação da disciplina de colo-proctologia nas faculdades de medicina e a criação de serviços de residentes na especialidade, as quais, entretanto, deveriam passar antes pelo crivo des-sa comissão para só depois ser feita a solicitação ao Conselho Nacional de Residência Médica. Reis Neto e Joaquim Ferreira deixaram uma moção de apoio à Regional Norte-Nordeste, pelo muito que ela vinha fazendo em prol da SBCP e da especialidade. Também foi comemorado o fato de que, naquele ano, havia sido comprada a sede da Sociedade.

O Rio de Janeiro sediou o 38º Congresso no Centro de Convenções do Copacabana Palace Hotel, de 15 a 18 de outubro de 1989, sob a presidência de Rosalvo José Ribeiro, trazendo muitos conferencistas estrangeiros, como o inglês Peter Hawley, do St. Mark’s Hospital, e Saul Sokol, da Universidade de Dallas – especialistas que, por sua vez, marcaram presença em diversos con-gressos da Sociedade. Durante a Reunião Administrativa, foram enumeradas algumas vitórias: a Sociedade já contava com mais de mil sócios, a Revista Brasileira de Coloproctologia estava quase autofinanciada e havia acontecido a inauguração da sede própria. Este último foi o assunto mais comentado, uma vez que a compra da sede veio consolidar a posição patrimonial sólida da Sociedade, fato muito importante diante da situação de incertezas por que atravessava o país naquela época. Na reunião, cogitou-se também de a se-cretaria e a tesouraria da Associação Latino-Americana de Coloproctologia (ALACP) se instalarem na sede da Sociedade no Brasil, algo já aprovado pe-los outros países sul-americanos. Ficou decidido que isso aconteceria após o congresso na Argentina, em 1991.

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De 20 a 24 de outubro de 1990, o encontro anual da Sociedade voltou a prestigiar o centro do país. Hélio Moreira presidiu o 39º Congresso, no Centro de Convenções da Pousada do Rio Quente, em Goiás, onde, na Reunião Administrativa, muito se discutiu acerca do papel da Comissão de Ensino e Residência Médica. Seus membros informaram que, ao longo daquele ano, catalogaram 25 cursos de residência em coloproctologia. Mas José Hyppólito questionou a autoridade da Sociedade em supervisionar a residência médica sem autorização do MEC, que é o órgão oficial normativo dessa atividade. Sem a aprovação do MEC, a interferência da Sociedade ficaria prejudicada... Ainda assim, outros colegas disseram ser benéfica a intervenção da Sociedade, a exemplo do que acontecia com a Sociedade Brasileira de Anestesiologia, que vinha supervisionando a residência com excelente proveito. Mas João Carlos Zerbini de Faria lembrou que, desde novembro de 1989, já existia uma deter-minação do MEC que delegava poderes às sociedades conveniadas à AMB para que estabelecessem normas para qualificar o médico como especialista, no que diz respeito a esse título. Isso deu respaldo, então, para a Sociedade persistir em sua supervisão, em busca da melhoria do ensino da especialidade. Outro assunto levantado por Reis Neto foi a participação do Brasil em uma confederação a ser criada com todas as sociedades mundiais de coloproctolo-gia. Ele ficou de ir a uma reunião nos Estados Unidos para avaliar isso e, no ano seguinte, retomaria o assunto.

De 9 a 12 de outubro de 1991, no Maksoud Plaza Hotel, em São Paulo, aconteceu o 40º Congresso, presidido por José Hyppólito da Silva. Mais uma vez, houve cursos, mesas-redondas e conferências de alto nível, com a participação de muitos especialistas estrangeiros. Durante a Reunião Administrativa, foi ressaltado que a situação financeira da Sociedade encon-trava-se bem estável, apesar dos problemas econômicos do país. Reis Neto explanou a posição da SBCP ante o Conselho Mundial de Coloproctologia, que pretendia criar a Confederação Mundial de Coloproctologia. Esse con-selho estaria intimamente ligado ao Congresso Mundial da especialidade, para valorizá-la perante outros participantes do evento, como a gastroente-rologia e a endoscopia digestiva. A SBCP foi convidada para compor esse grupo e se mostrou interessada em se filiar.

Virgínio Tosta de Souza presidiu o 41º Congresso em Poços de Caldas, Minas Gerais, de 27 a 30 de setembro de 1992. O tema oficial do evento foi “Controvérsias em coloproctologia”. Na Reunião Administrativa, foi infor-mado que a Sociedade contava com 1.195 membros. Também foi bom saber, pelo Grupo de Trabalho da ALACP – formado por Érico Fillmann, Geraldo

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Milton da Silveira, Angelita Habr-Gama e José Alfredo dos Reis Neto –, que a SBCP estava cada vez mais próxima dessa associação latino-americana. Como a ALACP se encontrava em condições precárias em termos financei-ros e organizacionais, os especialistas brasileiros decidiram fazer um plano de auxílio para assessorar essa entidade. Além disso, os participantes acei-taram a proposta do Colégio Brasileiro de Cirurgiões de promover todos os membros titulares da SBCP a também titulares do CBC. Por fim, foram aprovadas duas sugestões: a de se criar grupos de trabalho para regulamentar a laparoscopia e a cirurgia laparoscópica em colaboração com o CBC e a de que todos os membros titulares imprimissem em seus receituários “membro titular e especialista da Sociedade Brasileira de Coloproctologia”, a fim de fortalecer e difundir a Sociedade.

Brasília recebeu, pela primeira vez, um evento anual da Sociedade, de 29 de setembro a 2 de outubro de 1993, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. O 42º Congresso foi presidido por Francisco Floripe Ginani, com alto nível científico. Nesse encontro, foi escolhido o primeiro médico a re-ceber a bolsa de estudos oferecida pelo professor Saul Sokol, de Dallas, por uma comissão sob a orientação do presidente. Foram criadas importantes co-missões: de ex-presidentes, com a finalidade de estabelecer diretrizes para a evolução da Sociedade; de estudo sobre orientação profissional e normatiza-ção em videolaparoscopia, cirurgia endoscópica, Aids e câncer colorretal; e de prevenção de câncer colorretal.

No ano seguinte, foi a vez do Nordeste. De 9 a 12 de outubro, em Recife (PE), no Mar Hotel, diante da bela praia de Boa Viagem, Stefano Malincônico comandou o 43º Congresso, com o tema oficial “Tumores dos cólons, reto e ânus”. Na Reunião Administrativa, a Comissão de Defesa de Classe anunciou que haviam sido traçadas linhas gerais para a prática da co-lonoscopia (entre elas, ter residência médica ou estágio em serviço reconhe-cido de coloproctologia pela SBCP e título de especialista pela Sociedade). Reis Neto reiterou a fundação da Confederação Mundial de Coloproctologia e propôs a permanência da SBCP nesta instituição por meio da ALACP, sem qualquer ônus, o que foi aprovado.

De 9 a 12 de julho de 1995, em São Paulo, no Centro de Convenções do Hotel Transamérica, aconteceu mais um encontro em parceria, que só veio en-grandecer ainda mais o evento anual da SBCP: o 44º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, presidido por Boris Barone, juntamente com o 14º Congresso Latino-Americano de Coloproctologia, sob a presidência de Angelita Habr-Gama. Além do ótimo aporte científico, essa união contribuiu bastante para o

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aumento das reservas financeiras da Sociedade. Na Reunião Administrativa, a Comissão de Colonoscopia anunciou que continuava lutando enfaticamente para que essa prática fosse exclusiva dos coloproctologistas. E sugeriu aos membros que falassem mais sobre o assunto em apresentações de congressos, incluíssem mais perguntas sobre o tema na prova para o título de especialista e reforçassem, ante os serviços credenciados, a formação de coloproctologistas em colonoscopia.

De 12 a 15 de outubro de 1996, o 45º Congresso aconteceu no Hotel Glória, no Rio de Janeiro, capitaneado por Wagner Vasconcelos. Durante a Reunião Administrativa, foi comemorado mais um fato rumo à modernização da Sociedade: ela agora estava inserida na Internet, pela homepage <www.sbcp.org.br>. O combate ao câncer também era uma pauta que preocupava os membros da SBCP. Assim, Joaquim Ferreira, membro da comissão de pre-venção de câncer, apresentou as metas para divulgar, com o apoio do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o problema para a população leiga. Foi anunciada também a emissão – para quem desejasse – de “certificados de qualificação” para os membros da Sociedade realizarem procedimentos de videolaparosco-pia em cirurgia colorretal e colonoscopia diagnóstica e terapêutica.

O Paraná foi o estado que sediou o 46º Congresso no ano seguinte, de 13 a 17 de setembro, no Centro de Convenções de Curitiba, sob a presidência de Renato Bonardi. Na Reunião Administrativa, Pedro Nahas sugeriu que a Sociedade passasse a investir na divulgação e no assessoramento jurídico para a SBCP. E a Comissão de Defesa de Classe informou ter encaminhado ao Conselho Federal de Medicina quais seriam as áreas de atuação da especiali-dade: cirurgia videolaparoscópica, cirurgia do aparelho digestivo, cirurgia do cólon-reto-ânus, colonoscopia e oncologia.

De 23 a 26 de setembro de 1998, mais uma vez a acolhedora Gramado (RS) recebeu os congressistas, durante o 47º Congresso, presidido por Afonso Mallmann. Foi com alegria que os membros souberam que a Sociedade vinha experimentando um crescimento acentuado, tanto em número de membros como em atividades da secretaria e das comissões ligadas à diretoria, como Defesa de Classe, de Revista, examinadora do Título de Especialista e de Ensino e Aperfeiçoamento Médico. Até mesmo o acervo da Sociedade estava crescendo: naquele ano, a família de Sylvio D’Ávila doou parte da biblioteca deixada por ele, que foi o primeiro presidente da então SBP. Isso fez com que os membros pensassem em aumentar o espaço físico das instalações, e após a aprovação do presidente e do Conselho Consultivo, já estavam em negocia-ções para a aquisição de mais salas vizinhas à sede. Outra boa notícia foi que,

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finalmente, havia sido aceita a solicitação de se criar um capítulo exclusivo na Lista de Procedimentos Médicos da AMB para a coloproctologia. Flávio Quilici sugeriu que a Sociedade estimulasse centros de treinamento de colo-noscopia e videolaparoscopia com credenciamento na SBCP.

O sol do Nordeste voltou a brilhar para mais um encontro anual da Sociedade, em 1999. O presidente José Maria Chaves recebeu em Fortaleza (CE), de 4 a 7 de setembro, os especialistas para o 48º Congresso, realizado no Imperial Othon Palace. A essa altura, a Sociedade contava com 1.087 mem-bros. A maior discussão ao longo da Reunião Administrativa foi tanto sobre a revalidação do título de especialista (a diretoria e alguns ex-presidentes deci-diram os critérios para isso) quanto pela concessão do título aos novos mem-bros que não paravam de chegar à Sociedade (quais seriam os pré-requisitos, as exigências, as notas etc.). Além disso, a Comissão de Prevenção ao Câncer apresentou um resumo de seus três anos de atuação para tentar divulgar as rotinas de prevenção do câncer colorretal e até mesmo realizar uma campa-nha nacional de prevenção desse tumor. Os membros, então, reconheceram a importância do trabalho e pediram que Joaquim Ferreira, Miguel Arcanjo Sá, Lúcia Oliveira, Olival Oliveira Junior e Nelmar Andrade continuassem empregando esforços para dar continuidade a ele.

De 23 a 27 de julho de 2000, Flávio Quilici presidiu o 49º Congresso, em São Paulo, no Hotel Transamérica. Junto a ele, ocorreu também o 18º Congresso Internacional de Coloproctologia, promovido pela International Society of University Colon and Rectum Surgeons (ISUCRS), sob a presi-dência de Reis Neto. O resultado financeiro desse encontro em dose dupla foi excelente para os cofres da Sociedade: Quilici e Reis Neto fizeram o depósito de um resultado de quase R$ 100 mil. A SBCP, portanto, adentrava o século XXI firmando-se cada vez mais financeiramente e com um número expressivo de membros: 1.172.

Esse resultado avolumado dos congressos parecia uma realidade que não teria mais fim. No ano seguinte, o 50º Congresso, presidido por Eleodoro Carlos de Almeida, também rendeu para a Sociedade cerca de R$ 90 mil. O evento aconteceu de 4 a 7 de setembro de 2001, no Hotel Intercontinental, e já se iniciou com um debate importante acerca das consequências e implicações legais do erro médico. Na Reunião Administrativa, também se comemorou o lançamento, naquele ano, do Jornal Informativo da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, visando divulgar assuntos de interesse dos membros da Sociedade, sem o cunho científico da revista.

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Ouro Preto foi a cidade mineira que sediou o 51º Congresso, de 14 a 17 de setembro de 2002. Os temas do evento foram “Doenças orificiais” e “Prevenção do câncer colorretal”. Houve expressiva quantidade de temas li-vres, vídeos livres e pôsteres. O número de participantes surpreendeu os orga-nizadores: 759 inscritos e 98 acompanhantes. Um recorde em presenças para os congressos feitos fora do eixo Rio-São Paulo. Houve 19 exposições e três simpósios, com maciça presença durante as apresentações.

De 4 a 7 de setembro de 2003, em Salvador, no Bahia Othon Palace Hotel, mais um evento em dobradinha: o 52º Congresso Brasileiro de Coloproctologia e o 18º Congresso da ALACP. Mais uma vez, houve um ga-nho financeiro para a Sociedade e um ganho científico para todos os parti-cipantes, já que o evento reuniu um número muito grande de conferencistas estrangeiros. A SBCP – contabilizando 1.331 membros – era então presidi-da por Jayme Vital dos Santos Souza, e um dos avanços apresentados nesse ano, durante a Reunião Administrativa, foi o fato de a Revista Brasileira de Coloproctologia ter sido digitalizada, estando disponível desde o primeiro nú-mero no portal da SBCP.

O evento voltou a São Paulo no ano seguinte, sob a batuta de Raul Cutait. Em vez de ser na capital, aconteceu na agradável Campos do Jordão, de 22 a 25 de setembro. Isso não diminuiu a presença dos participantes. Pelo con-trário, compareceram 1.134 congressistas e 174 acompanhantes. O diferencial desse congresso ficou por conta da implementação da sessão única. Até então, acontecia mais de uma apresentação ao mesmo tempo, em salas separadas. A partir desse congresso, a maioria dos organizadores do evento anual percebeu que o melhor era reunir as conferências em um só ambiente, ocorrendo uma de cada vez – e não mais simultaneamente. Como sempre, houve um elevado padrão científico ao longo de todo o congresso. Na Reunião Administrativa, foi comentado um dado interessante: a Secretaria havia criado medalhas de honra para o presidente e os ex-presidentes, a serem usadas por eles durante as solenidades, como forma de reconhecimento aos serviços prestados para o crescimento e a manutenção da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

A segunda mulher a se tornar presidente da SBCP, Arminda Caetano de Almeida Leite, comandou o 54º Congresso com maestria, de 8 a 11 de outu-bro de 2005, em Goiânia. No evento organizado por ela, houve 175 trabalhos de tema livre, além da apresentação de trinta DVDs, noventa pôsteres e dez relatos de casos. Entre os temas tratados, estavam os desafios e as controvér-sias em cirurgia colorretal, apresentados por vários especialistas – nacionais e internacionais – acerca de problemas do cotidiano coloproctológico.

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No ano seguinte, o Rio de Janeiro mais uma vez sediou o evento. João de Aguiar Pupo Neto esteve à frente do 55º Congresso, de 7 a 10 de setem-bro, no Hotel Intercontinental. Especialistas americanos, ingleses e austríacos compareceram. Este congresso se sagrou, até então, como o que rendeu o maior resultado à sociedade: mais de R$ 400 mil. Pupo conseguiu fazer um evento muito interativo, ao transformar um ambiente único, semelhante a uma sala de estar, em um amplo espaço para debate e discussões. O conferencista ficava em um púlpito apresentando seu trabalho e um moderador ia pergun-tando a opinião do público, que respondia por meio da votação em um apare-lho eletrônico individual. As respostas eram recebidas apenas pelo moderador que, mediante o resultado, instigava o apresentador e o público, de modo a gerar um painel de discussão científica de alto nível.

De 5 a 8 de setembro de 2007, Curitiba recebeu o 56º Congresso, na Estação Embratel Convention Center, sob a presidência de Renato Pinho. A prevenção e o tratamento do câncer colorretal estiveram em pauta em vá-rias mesas-redondas, painéis e conferências. A cirurgia por videolaparoscopia também foi bem debatida, tanto para o tratamento de câncer quanto para ou-tras enfermidades. Graças a esse congresso, Pinho também conseguiu repassar para a Sociedade um resultado de mais de R$ 400 mil, marcando uma era de eventos cada vez mais rentáveis para a SBCP.

No ano seguinte, mais uma mulher assumia a presidência da SBCP e a consequente organização do congresso anual: a gaúcha Karen Delacoste Pires Mallmann. Ela realizou o 57º Congresso no Centro de Convenções do Hotel Serrano, em Gramado, de 24 a 27 de setembro. Com o tema geral “Estratégias em coloproctologia”, buscou privilegiar atividades científicas que respondessem objetivamente a várias questões da especialidade, como câncer retal, doença de Crohn, colite, tratamento com videolaparoscopia e temas bem atuais, como biologia molecular e uso racional da genética em coloproctologia. Ao todo, foram 390 trabalhos científicos apresentados, as-sistidos por 978 especialistas (que levaram 219 acompanhantes). Na Reunião Administrativa, foi aprovada a instituição de um prêmio, Revista Brasileira de Coloproctologia, em todos os congressos para os três melhores trabalhos inscritos no Congresso, os quais seriam depois publicados na revista. Os meios de comunicação da Sociedade, por sua vez, não paravam de crescer. Foi citada na reunião a reformulação total do portal da SBCP, para que se tornasse um instrumento mais útil ao público leigo, e também foi aprovada a tradução da revista para o inglês e o espanhol, com publicação on-line nesses idiomas.

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De 4 a 7 de setembro de 2009, Sérgio Nahas presidiu o 58º Congresso, no Sheraton SP World Trade Center Hotel, em São Paulo. Como de hábito, o evento contou com altíssimo nível científico, a começar por seus cursos pré-congresso, com temais atuais, como videocirurgia e ressecção endoscópica transanal, e até de vanguarda, como robótica. Ao longo do congresso, foram 464 trabalhos apre-sentados. Houve um total de 1.113 participantes, além de 217 acompanhantes.

No ano seguinte, de 3 a 6 de setembro, foi a vez de o Rio de Janeiro sediar o 59º Congresso, sob a presidência de Francisco Lopes Paulo. O Hotel Intercontinental recebeu 1.057 congressistas (além de 116 acompa-nhantes), que assistiram a 407 trabalhos científicos, dessa vez com o retor-no da apresentação em duas salas simultâneas. Na verdade, buscou-se apre-sentar os conteúdos científicos antes mesmo do evento físico, por meio de teleconferências que abordaram temas como doença inflamatória intestinal, cirurgia videolaparoscópica e colonoscopia, com participação expressiva dos sócios. Com isso, a ideia foi lançar as sementes para o futuro da difusão do conhecimento da especialidade: a atualização constante pela Internet. Durante a Reunião Administrativa, o presidente expôs que sua gestão pre-cisou investir em questões importantes que iriam acompanhar o crescimen-to da Sociedade e alavancá-la ainda mais. Uma delas foi a atualização da homepage, que passou a ter um nível profissional e ainda contribuiu para a diminuição da inadimplência (somente os sócios em dia podem acessar o conteúdo restrito). Outra necessidade foi o aluguel de mais uma sala co-mercial, para abrigar o crescente número de participantes nas reuniões de diretoria. E também o investimento em tradutores para adaptar os textos da revista para o inglês, a fim de que ela pudesse vir a ser indexada no Medline, trazendo notoriedade internacional para a Sociedade. O evento, no todo, foi um sucesso, com outro resultado financeiro surpreendente para a Sociedade: mais de R$ 700 mil.

O 60º Congresso aconteceu de 2 a 6 de setembro de 2011, no Marina Park Hotel, em Fortaleza, organizado pelo presidente Francisco Sérgio Regadas, levando ao Nordeste, mais uma vez, um evento científico de alto nível, que contou com 21 palestrantes estrangeiros para abrilhantar ainda mais as apresentações dos especialistas brasileiros.

Já o 61º Congresso ocorreu de 4 a 8 de setembro de 2012, no Minascentro, em Belo Horizonte, organizado pela presidente Luciana Pyramo Costa. Mais uma prova de que as mulheres estão cada vez mais ativas não só na coloproc-tologia, mas também na liderança.

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Muito mais do que um encontro científicoSe alguma pessoa que jamais tenha participado de um congresso da

SBCP tiver lido este capítulo até aqui, deve estar pensando que os congressos da Sociedade em nada diferem de qualquer outro das demais especialidades. Ledo engano! De fato, há muitos pontos em comum, como a apresentação de trabalhos científicos nacionais e estrangeiros de alto nível e a discussão de as-suntos que sejam importantes para a classe. Contudo, por trás disso se esconde o que seja talvez o fato que mais atrai os congressistas: o congraçamento entre os colegas e seus familiares. Possivelmente, em nenhuma outra associação médica se vê isso: um congresso que, muito mais do que reunir especialistas, congrega “irmãos”. Não é à toa que muitos coloproctologistas não se furtam em afirmar: “Os congressos da SBCP são uma festa!”

De acordo com Juarez Augusto de Carvalho Filho, que está à frente da empresa JZ Congressos, no Rio de Janeiro, os eventos anuais promovidos pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia são os que têm o maior número de acompanhantes em comparação com os vários outros congressos que ele orga-niza para diversas especialidades. E isso ele pode afirmar com precisão, já que a firma de Juarez – fundada por seu pai, Juarez Augusto de Carvalho, já falecido – tem estado à frente de todos os congressos de coloproctologia realizados no Rio de Janeiro desde 1973. Ele explica que, atualmente, com as dificuldades fi-nanceiras, muitos congressos de outras especialidades passaram a acontecer em feriados e fins de semana, e na maioria deles os médicos pararam de levar suas esposas. Porém, com a coloproctologia isso não ocorre. Atualmente, há toda uma preocupação para que os eventos sejam organizados de modo que os fami-liares também possam participar – tanto é que existe uma taxa de inscrição para os acompanhantes, bem mais em conta do que a cobrada para os congressistas.

Em razão disso, os organizadores dos congressos precisam se preocu-par não apenas com as questões científicas, mas também com a parte social, que é muito ativa, diferentemente do que acontece com os congressos de ou-tras especialidades. Há, entre os coloproctologistas, a necessidade de fazer desse encontro anual um momento de congraçamento, de confraternização, não apenas entre os médicos, como também entre eles e suas famílias. Daí a exigência de, além dos eventos científicos, haver paralelamente uma progra-mação social durante todas as noites e também uma programação de passeios para os acompanhantes enquanto os coloproctologistas estão no evento.

Contudo, é importante ressaltar que, apesar de a parte social ser impres-cindível, as atividades científicas não são deixadas para segundo plano. Muito

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pelo contrário: têm evoluído sem parar, com profissionais cada vez mais im-portantes que participam das apresentações.

Assim, no estabelecimento da programação dos congressos, não se pode deixar de prever uma forte parte social paralelamente ao evento científico:

Primeiro dia – Durante o dia, acontecem cursos pré-congresso e a realização do concurso para obtenção do título de especialista. À noite, é feita a abertura oficial do congresso, durante uma solenidade seguida de coquetel.

Segundo dia – Eventos científicos ao longo do dia e, à noite, jantar de confraternização dos congressistas. É uma festa na qual a família comparece, desde que esteja inscrita no congresso como acompanhante.

Terceiro dia – Eventos científicos ao longo do dia e, à noite, jantar dos ex-presidentes e convidados estrangeiros. Os outros congressistas têm a noite livre para escolher sua própria programação.

Quarto dia – Eventos científicos ao longo do dia e, à noite, jantar de encerramento. É uma festa mais formal, em geral realizada no Salão Nobre do hotel em que está ocorrendo o evento.

Paralelamente a essa programação, acontecem os passeios destinados aos acompanhantes. Em geral, as empresas que organizam os congressos dão apenas as sugestões dos locais a serem visitados. E quem bate o martelo, antes de se fecharem os roteiros, costuma ser a “primeira-dama”. Sim, a esposa do presidente em exercício!

Ao longo dos mais de 65 anos de existência da SBCP, as esposas dos coloproctologistas sempre tiveram uma real importância no preparo e no sucesso de cada congresso. Atualmente, essa função está um pouco mais atenuada, uma vez que o próprio papel das mulheres na sociedade mudou, e agora, em vez de “esposas”, muitas delas ocupam o lugar de “coloprocto-logistas”. Ainda assim, é interessante observar, nas fotografias dos primei-ros congressos, as esposas presentes entre os congressistas. Naquela épo-ca, raríssimas eram as mulheres sentadas entre os participantes, nas soleni-dades de abertura ou de encerramento, que fossem coloproctologistas. Até porque, entre as décadas de 1950 e 1980, poucas médicas escolhiam essa especialidade. Portanto, as senhoras bem vestidas que aparecem nas fotos são, em sua maioria, esposas dos congressistas. Esse fato chega a constar das atas de congressos antigos, quando se enumera o número de partici-pantes, como se vê na ata da Sessão de Encerramento do 9º Congresso, em Porto Alegre, em 1959:

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Grande assistência composta de colegas e suas famílias comparece à sessão aplaudindo vivamente os oradores.

O mesmo relato se repete na ata do congresso do ano seguinte, em São Paulo:

Achavam-se presentes autoridades convidadas, numerosos congressis-tas e suas famílias, que tomavam todas as dependências do recinto.

Outro exemplo da importância das esposas na vida dos congressistas pôde ser constatado durante o Congresso Mundial de Coloproctologia, presi-dido por Daher Cutait, em 1986, no qual os membros da SBCP participaram em peso, uma vez que, naquele ano, excepcionalmente, não haveria o con-gresso brasileiro anual. Um pouco antes, o ex-presidente Salvador Ferreira falecera. Porém, sua esposa, dona Olga, teve um gesto que emocionou a todos. Ela compareceu ao congresso sozinha, em memória do marido.

Atualmente, muitas famílias permanecem presentes no evento. E mes-mo em pleno século XXI, ainda há muitas esposas que auxiliam seus maridos no desenvolvimento da parte social do evento, embora elas não possam ser tachadas como formadoras de um “clube da Luluzinha”. A maioria delas é de profissionais bem-sucedidas, mas que planejam suas vidas de modo a com-parecer com seus maridos a cada congresso anual da SBCP. O objetivo não é conhecer novas cidades ou simplesmente passear; o que elas e os especialistas almejam é reencontrar os amigos feitos há tantos anos, a fim de matar as sau-dades e colocar os assuntos em dia, a partir do ponto finalizado no congresso anterior. Porém, vale lembrar: hoje, durante os congressos, é muito comum a presença de maridos e filhos das coloproctologistas que não param de crescer em número de atuação, inclusive assumindo suas posições na presidência.

De dois em dois anos: nem pensar!Assim, a família coloproctológica brasileira vai se firmando. E pensar

que, desde 1970, alguns membros da Sociedade Brasileira de Coloproctologia colocam em pauta um assunto que incomoda muita gente: a realização do congresso de dois em dois anos, e não mais anualmente. Daher Cutait, por sua vez, sempre foi um grande defensor do congresso anual. Certa vez, quando se discutia a mudança para eventos bianuais, Daher foi categórico: “Eu sou contra.” E ouviu dos colegas que eram contrários: “Mas por quê? Em um ano não aparece tanta novidade...” Sua resposta sintetiza o espírito da SBCP: “Aí

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é que está! No congresso, eu tenho a oportunidade de encontrar todos os meus amigos do Brasil inteiro e conversar com eles. Nessa conversa de amigos, eu acabo descobrindo um monte de novidades científicas fora das sessões, e é isso que faz com que o congresso anual seja fundamental.” Assunto encerra-do! Até hoje, se alguém levanta a questão novamente em assembleias, esse argumento de Daher vem à tona.

Exemplos de situações semelhantes não faltam. Um deles ocorreu du-rante um congresso em Fortaleza. Na hora do almoço, vários membros da Sociedade seguiram juntos para um bonito restaurante à beira-mar. Na grande mesa formada por eles, porém, surgiu a discussão. Um dos coloproctologistas manifestou sua opinião de que os congressos da Sociedade não deveriam mais ser anuais, passando a ser de dois em dois anos ou até mesmo de três em três anos. Foi aquele falatório! Cada um dava sua opinião a respeito, já com âni-mos inflamados. O mineiro Geraldo Magela, então, pediu a palavra a todos e disse: “Se vocês me permitem, eu tenho outra proposta... Nós devemos fazer um congresso a cada seis meses. E, olha, sem a parte científica!” A gargalha-da foi geral e todos entenderam que não há como mantê-los separados por muito tempo. A amizade que une os integrantes da Sociedade Brasileira de Coloproctologia sempre falará mais alto.

Ao sugerir, ainda que de brincadeira, que o possível segundo congresso do ano não tivesse a parte científica, Magela quis destacar o aspecto social que faz parte da Sociedade e o convívio que aproxima não apenas os especia-listas, como também suas famílias. Graças a esse entrosamento, há casos na Sociedade de filhos de especialistas que se casaram. E a amizade se fortalece de tal maneira que um coloproctologista acaba convidando o outro para ser padrinho de casamento, do batismo dos filhos, e por aí vai... Desse ponto de vista, a Sociedade é ou não é uma grande família?

Outro caso curioso aconteceu com o gaúcho Érico Fillmann, quando seu filho passou no vestibular para medicina. Como o rapaz só conseguiu vaga para o segundo semestre, recebeu de um tio um interessante presente: uma passagem aérea aberta para todo o Brasil, para que ele pudesse viajar ao longo dos meses em que não estudaria. Fillmann ficou nervoso com a situa-ção, por imaginar que seu filho, de apenas 17 anos, sairia viajando sozinho por aí... Foi então que teve uma ideia: ligou para todos os seus amigos da Sociedade, espalhados pelo país inteiro, para saber se haveria a possibilida-de de receberem o filho em seus estados. Não houve um que não hospedasse o rapaz! Fillmann ficou aliviado, por saber que seu filho estaria em boas

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mãos. Anos depois, retribuiu a gentileza, recebendo em sua casa o filho de Floriano Schwanz, de Vitória, Espírito Santo, que desejava passar férias em Porto Alegre.

Esses são apenas pequenos exemplos da profunda amizade que existe entre os membros da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, a qual nasce nos congressos e os mantém unidos mesmo morando em diferentes estados. É uma família composta por membros mais velhos e por membros mais jovens. E cabe às novas gerações procurar manter essa característica tão especial, que diferencia imensamente a SBCP das outras tantas sociedade médicas pelo Brasil e pelo mundo.

Algumas curiosidades sobre os congressos• Daher Cutait assistia a todos os congressos do começo ao fim, sem-

pre sentado na primeira fila. Parecia um residente iniciando-se na especialidade, tamanha era a atenção com que ouvia os palestrantes. Um exemplo extraordinário de como participar de um congresso.

• Em 1977, no 27º Congresso organizado por Tasso Mendonça, em Goiânia, durante um jantar foi servido um prato típico, que tinha pequi entre os ingredientes. Como a grande maioria dos congres-sistas não sabia comer esse fruto, acharam que o certo era cravar os dentes. Em razão disso, muita gente foi parar no pronto-socorro para tirar espinhos da boca. Por quê? Pequi é um fruto do qual se come, com cuidado, apenas o lado de fora... Por dentro, ele é cheio de espinhos.

• Durante a preparação para o 29º Congresso, em 1979, o então presi-dente Geraldo Magela levou um susto. Em uma época em que pra-ticamente só se podia valer dos Correios, ele mal havia acabado de despachar o material para a inscrição e, 24 horas depois, lá estava em suas mãos o primeiro inscrito: ninguém menos do que Horácio Carrapatoso, um dos nomes mais importantes nos primeiros anos de funcionamento da Sociedade.

• Durante esse mesmo congresso, Geraldo Magela tomou mais um susto. Na solenidade de abertura, o governador Francelino Pereira compareceu e a ele foi destinada a presidência da mesa. Como um dos participantes faltou, o governador olhou para o auditório cheio, escolhendo um senhor para ocupar o assento vago. Era Raimundo

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Gomes, pai de Magela! Um homem que não tinha nem o curso pri-mário completo, sentado ao lado do governador de Minas Gerais. Uma forte emoção para o então presidente da Sociedade...

• Imagens antigas dos congressos mostram a evolução técnica dos eventos. Em uma foto disponibilizada por Juarez Augusto de Carvalho Filho, da JZ Eventos, vê-se ele ainda rapaz manipulan-do um projetor de slides, apoiado em um catálogo telefônico, em um dos primeiros congressos que essa firma organizou no Rio de Janeiro. Já no último evento ocorrido nessa cidade, em 2010, a JZ disponibilizou aos congressistas equipamentos multimídia de últi-ma geração, como uma tela com cerca de trinta metros de extensão, ocupando praticamente todo o fundo da parede do auditório, na qual cinco projetores exibiam imagens simultaneamente.

• A Sociedade possui um membro que é um verdadeiro cantor. Denizard Rivail Gomes, de Ribeirão Preto (SP), já cantou a capela (sem acompanhamento instrumental) o Hino Nacional na abertura de alguns congressos.

• Quando Angelita Habr-Gama presidiu seu congresso, em 1981, tra-tou de dar um toque feminino à parte social do evento: na festa de abertura, organizou um desfile de modas com roupas do estilista Clodovil Hernandez – que fazia enorme sucesso naquele ano no programa TV Mulher –, com o objetivo de agradar não só às mu-lheres presentes (coloproctologistas e esposas) como também aos homens, graças à beleza das modelos na passarela.

• Em 1983, no 33º Congresso realizado em Campinas (SP), sob a presidência de Reis Neto, durante uma das festas foi servido chur-rasco ao som de música country, cantada por uma dupla até então desconhecida: Chitãozinho e Xororó.

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Capítulo 7

Os órgãos oficiais da SociedadeMuito mais do que informar

No final da década de 1970, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia já estava para lá de sedimentada. O número de membros não parava de crescer, e os congressos anuais representavam um evento indispensável na agenda dos especialistas. Para consolidar a importância científica dessa associação, falta-va um detalhe que costuma abrilhantar ainda mais as sociedades médicas exis-tentes em todo o mundo: ter a sua própria publicação. Assim, a partir de 1967, esse assunto entrou em pauta nas discussões das Reuniões Administrativas e AGOs durante os congressos.

No 18º Congresso, realizado no Rio de Janeiro, o então presidente Romeu Marra da Silva mencionou o seu esforço por ter lançado, em julho de 1968, a Revista da Sociedade Brasileira de Proctologia, visando ser um órgão tanto informativo quanto científico, no qual membros da Sociedade e colabo-radores pudessem publicar seus trabalhos. No primeiro editorial (volume 1, número 1), assinado por Romeu, ele reforça a ideia de que o objetivo principal da publicação era servir de meio para a “aproximação, congregação e união em torno de um ideal, que é o fortalecimento da SBP”. Ela seria como uma semente que, plantada em terra fértil, necessitaria de trato constante para que pudesse germinar e dar bons frutos no futuro.

Porém, não foi fácil encontrar adubo para a revista florescer. No ano seguinte, o mineiro Geraldo Magela informou, na Reunião Administrativa do 19º Congresso, que estava tendo muitas dificuldades para fazer a publi-cação, devido à falta de financiamento e de material científico para elaborá-la. Aos trancos e barrancos, os especialistas iam dando o seu sangue para

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mantê-la viva. Até que, em junho de 1971, o último número foi publicado. Em 1972, na Reunião Administrativa comandada pelo presidente Carlos Brenner, Romeu Marra da Silva fez um apelo para que a diretoria da SBP se interessasse mais pela publicação da revista. José Hyppólito da Silva justi-ficou a sua interrupção por conta da dificuldade de comunicação entre ele e o laboratório Berlimed, que habitualmente a financiava. Luiz Carlos Ferraz, por sua vez, sugeriu que a revista passasse a ser publicada ao longo de todo o ano, e não apenas por ocasião dos congressos. E Daher Cutait chegou a sugerir a criação do Prêmio Pitanga Santos, a fim de agraciar o melhor traba-lho apresentado nos congressos, com o intuito, também, de fazer uso desse material na revista posteriormente.

O fato é que o assunto não saía da pauta das discussões entre os mem-bros da Sociedade, embora sua concretização só encontrasse barreiras. Até que, em 1974, com a reforma dos estatutos e a fixação de sua administração na cidade do Rio de Janeiro, tornou-se cada vez mais imperativa a criação de um meio de comunicação permanente entre os membros. A ideia era reeditar a antiga revista, mas de modo que ela não sofresse o risco de outra interrupção. O maior entrave, contudo, era o financeiro. Na década de 1970, a Sociedade ainda não dispunha de um caixa “confortável”. Para contornar esse proble-ma, Christóvão Bellot apresentou uma boa sugestão durante a AGO do 24º Congresso, em 1974: editar um boletim informativo trimestral, com o intuito de servir para a maior integração dos membros com a Sociedade. Ideia apro-vada, mas executada com parcimônia: o boletim seria mimeografado. Embora modesto, isso pouco importava. Estava lançada uma nova semente.

Em 1976, Klaus Rebel foi eleito para a Comissão de Revista, a fim de dar vida à publicação. Assim, de janeiro de 1977 a dezembro de 1980, o boletim foi publicado com regularidade, trimestralmente. A partir do número 2 passou a ter, além das notícias da Sociedade, um artigo científico a cada edi-ção. Era uma forma de manter acesa a chama do desejo de que a SBP viesse a ter sua revista científica oficial. Em 1978, durante a Reunião Administrativa do 28º Congresso, Klaus comentou a melhoria gráfica do boletim ao longo do último ano e apresentou duas propostas, que foram aprovadas: registrar nomes para uma futura revista e incluir nos boletins o material científico entregue aos congressos, substituindo a edição de anais. Dois anos depois, Joaquim José Ferreira, durante o 30º Congresso, informou que o boletim já incluía mais de um artigo científico e se encaminhava para se transformar em revista.

O projeto finalmente se tornou realidade em 1981, graças ao sucesso financeiro do 30º Congresso, presidido por Paschoal Torres, que propor-

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cionou o respaldo econômico para que a Sociedade desse mais esse pas-so. Assim, com Klaus Rebel à frente do projeto, a Revista Brasileira de Coloproctologia foi lançada, com cunho exclusivamente científico. No primeiro editorial, o editor manifestou sua satisfação: “Finalmente, após 4 anos de luta, estamos chegando ao primeiro número da tão sonhada Revista Brasileira de Colo-Proctologia”. E com um mérito a mais: ela era a primeira revista em língua latina exclusivamente sobre a especialidade. Mas o que parecia ser o fim de uma batalha, na verdade representava o início de uma árdua jornada. Embora o congresso seguinte, presidido por Angelita Habr-Gama, tivesse também conferido lucro para a Sociedade – o que significaria apoio financeiro para a revista –, o fato é que Klaus precisou empreender muitos esforços para mantê-la.

No primeiro número, como ele tinha um amigo que possuía uma gráfi-ca, conseguiu imprimi-la de graça. E para rodar os números seguintes, rece-bia um bom desconto. Ainda assim, a dificuldade financeira permanecia uma sombra para a publicação. No seu segundo ano, houve uma reformulação grá-fica na revista, que cresceu de tamanho não apenas para ficar semelhante a outras publicações científicas, mas também para ganhar espaço para anúncios publicitários. Assim, Klaus passou a batalhar, em laboratórios, a venda desses espaços, o que ajudaria a financiar os custos da edição. A situação começou a melhorar um pouco em 1984, quando foi aprovada, na assembleia do 34º Congresso, a ideia de que parte do resultado dos eventos anuais da Sociedade seria destinada para cobrir parte dos gastos com a revista.

Mas essa não era a única dificuldade enfrentada por Klaus. Conseguir o conteúdo científico para preencher as páginas era uma tarefa hercúlea. Primeiramente porque os próprios especialistas não priorizavam a revista da Sociedade, porque ela ainda não era um órgão indexado. Isso significa que, se eles publicassem os resultados de seus trabalhos nessa revista, não teriam como reproduzi-los novamente em outras publicações de maior renome, que abrilhantariam muito mais seus currículos. Ainda assim, quando Klaus con-seguia os textos para publicação, só lhe restavam as madrugadas e os fins de semana para que ele se sentasse diante da máquina de escrever (sim, tudo ainda era datilografado!) e fizesse todos os acertos necessários no estilo, a fim de que se adequassem a uma revista científica. Portanto, além de seu trabalho como médico, Klaus cumpria o segundo turno, em casa, como editor.

Essa situação melhorou quando ele teve a ideia de passar a gravar to-dos os trabalhos apresentados nos congressos e, depois, transcrevê-los e for-matá-los para a revista. O que, diga-se de passagem, também era um traba-

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lho pesado. O ano de 1986, contudo, trouxe um pouco mais de alívio para o médico-editor. Com a chegada ao volume 6, número 1, finalmente a Revista Brasileira de Coloproctologia cumpria a exigência para ser indexada: estar sendo publicada por cinco anos consecutivos, regularmente, sem interrupções. Assim, o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Lilacs) – órgão oficial de indexação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para publicações médicas da América Latina e do Caribe – aceitou indexá-la. A partir daí, mais e mais especialistas mostraram interesse em fazer parte da publicação.

Definitivamente, a Revista Brasileira de Coloproctologia havia se tor-nado um nome forte dentro da especialidade. Além de ser distribuída gratui-tamente a todos os membros da Sociedade pelo Brasil afora, ela era enviada para várias bibliotecas médicas e universitárias do país. Klaus Rebel tinha cumprido sua missão com sucesso. Havia chegado a hora, portanto, de ele passar o bastão para outro colega. Na edição de abril-junho de 1986, portanto, ele escreveu no seu último editorial:

Há 10 anos faço parte da Comissão de Revista, fui eleito em 1976 quando não existia nenhuma publicação. Lancei o boletim informativo trimestral em 1977 e a partir de 1981 a revista, única, aliás, de língua latina no mundo até hoje. Estamos no 6º ano consecutivo de publicação. Sou favorável à renovação e penso que seria muito útil ter novas idéias para prosseguir o trabalho.

Quero agradecer as homenagens que tenho recebido e o estímulo na ta-refa de organizar a publicação, e espero ter sido útil com a implantação da revista para a divulgação de nossa especialidade e o engrandecimen-to da Sociedade.

Ao se afastar da revista, Klaus Rebel levou com ele alguns louros. Por mais de uma vez, nas reuniões administrativas ocorridas nos congressos, Daher Cutait – que sempre foi um entusiasta da publicação – pedia a palavra para tecer homenagens aos esforços do colega e puxava uma salva de palmas a Klaus Rebel. Em 1992, durante o 41º Congresso, em Poços de Caldas (MG), foi sugerido que o seu nome passasse a constar, no alto da página de créditos, como o fundador da revista. Posto em votação, foi aprovado. E até hoje lá está o nome de Klaus Rebel, para que os membros jamais se esqueçam dos esforços empreendidos por esse médico desbravador que, um dia, aceitou se aventurar pelas veredas de editor. E acabou criando uma das principais revis-tas de coloproctologia existentes até hoje.

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Da Revista nasceu o Jornal InformativoAssim, no volume 6, edição número 3 (julho-setembro de 1986), José

Reinan Ramos assumiu como o novo editor. Em seu primeiro editorial, escreveu:

Iniciamos com este número mais uma etapa da evolução da Revista Brasileira de Colo-Proctologia. Coube-nos a honra de dar prossegui-mento ao excelente trabalho realizado pelo Dr. Klaus Rebel, cujo esfor-ço foi fundamental para que hoje tenhamos uma Revista definitivamen-te implantada, encerrando o seu sexto ano de funcionamento de forma ininterrupta.

A dedicação de José Reinan e de todo o corpo editorial transpare-ceu na ótima qualidade com que foram lançados os números seguintes da Revista Brasileira de Coloproctologia. Em 1991, João de Aguiar Pupo Neto assumiu a edição, vindo a se tornar o especialista que por mais tempo esteve à frente da publicação: 11 anos. Tamanha dedicação fez com que Pupo con-seguisse manter o padrão científico da revista, a fim de que ela atendesse às especificações de publicação do Lilacs. Ele, contudo, enaltece o fato de ter sido muito ajudado pelos colegas do conselho editorial, sobretudo Rosalvo José Ribeiro, que revisava cada vírgula para que a revista fosse publicada com perfeição.

Com Rosalvo, acabou acontecendo uma parceria que renderia novos frutos para a Sociedade. Isso porque Pupo, em sua participação como editor, começou a publicar na última página da revista tabelas de honorários médi-cos e alguns outros assuntos de interesse dos sócios. Essa atitude foi muito criticada em assembleia, porque a revista deveria ser um órgão exclusivamen-te científico. Inicialmente, o especialista ficou um pouco aborrecido com as críticas, mas depois compreendeu que os membros estavam corretos. E isso acabou impulsionando Rosalvo, com a ajuda de Joaquim José Ferreira, a criar o Jornal Informativo da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.

O primeiro exemplar do Jornal Informativo foi lançado em janeiro de 2001, a fim de ser uma publicação trimestral. Com leitura leve e caráter total-mente informativo, como bem diz seu nome, ele aborda atualidades (como a criação de novos serviços e o lançamento de congressos e jornadas científi-cas) e traz breves notícias sobre especialistas, como aqueles que alcançaram posições de destaque ou que deixaram o convívio dos colegas. Enfim, todos os fatos que, de alguma forma, tenham ligação com a coloproctologia ga-nham espaço na publicação. Mas isso sem invadir a linha editorial da Revista

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Brasileira de Coloproctologia, uma vez que, nesta, mantêm-se apenas as pu-blicações científicas.

Rosalvo, no primeiro editorial do Jornal Informativo, explica muito bem a sua missão:

No limiar do terceiro milênio, iniciamos uma vida nova.

Trata-se de antiga aspiração nossa que o atual Presidente Dr. Eleodoro Almeida encampou e decidiu realizar.

O velho Boletim Informativo, seco e formal, se transforma hoje no Jornal colorido, alegre e transparente que estamos entregando a to-dos os sócios e que pretende ser o veículo interativo das atividades da SBCP. (...)

Até agora, a comunicação entre a Sociedade e seus membros tem se restringido aos encontros anuais por ocasião de nossos Congressos, a que nem todos conseguem comparecer regularmente.

Por outro lado, muitas questões aí levantadas, pela premência do tempo ou diversidade dos assuntos, ficam indefinidas ou sem resposta ade-quada.

Caem no esquecimento.

Acreditamos que o Jornal Informativo vem preencher esta lacuna, criando um meio de comunicação mais ágil e informal, facilitando a troca de opiniões e a divulgação de fatos que de outra forma permane-ceriam inteiramente desconhecidos. (...)

Criar uma sociedade é uma tarefa relativamente fácil; o difícil é formar dirigentes. Nossa esperança é que o Jornal Informativo possa influir também nesta tarefa.

Desejamos ardentemente que a iniciativa de criar o Jornal seja recebida como uma forma de ampliar o congraçamento de todos aqueles que integram a nossa Sociedade, pois este é o nosso objetivo maior.

Além de Rosalvo e Joaquim, o Jornal Informativo iniciou sua publica-ção contando com mais três especialistas – Ronaldo Salles, Iara Vasconcellos Seixas e Edna Delabio Ferraz – que completam a comissão editorial. A equipe permanece unida.

Revista não parou de crescerCom o término da participação de Pupo à frente da Revista Brasileira

de Coloproctologia, Eduardo de Paula Vieira assumiu o posto de editor, em 2002. Ele tinha pela frente um novo desafio: com a informatização cada vez

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mais acessível a todos, era hora de globalizar a publicação. Seriam necessá-rias mudanças, pouco a pouco, para adequá-la aos moldes internacionais. E elas foram acontecendo: por exemplo, houve a reorganização da secretaria; com a criação de uma área específica para a editoração da revista (o Centro de Estudos Pitanga Santos), passou-se a fazer um rígido controle do fluxo de artigos; foram adotados os mesmos padrões internacionais utilizados nas mais renomadas revistas para revisar artigos científicos; foram fixados prazos para todas as etapas do processo e aconteceu o lançamento da versão eletrônica disponibilizada no site da SBCP com a digitalização total da revista.

Além disso, Eduardo decidiu seguir a tendência mundial de não só se preocupar com a editoração das revistas científicas, mas também de participar de eventos e congressos que reunissem um público comprometido com a in-formação científica. Assim, ele e a equipe da revista passaram a comparecer a diversos encontros e grupos, buscando estar sempre atualizados e galgar no-vos horizontes para a publicação, como o Congresso Mundial de Informação em Saúde, em Salvador (BA), em 2005, quando editores de revistas médicas de países em desenvolvimento marcaram presença. Todos esses esforços con-duziram para que eles fossem aceitos como membros da World Association of Medical Editors (WAME), comunidade criada com o objetivo de realizar uma ampla discussão dos problemas relativos à editoração médica.

Em 2003, a revista foi aceita para avaliação e possível indexação no sis-tema de dados na Scientific Electronic Library Online (Scielo), que levaria ao aumento de sua visibilidade e de seu impacto nos meios científicos. Em 2005 foram feitas mudanças nas instruções redatoriais, de forma a permitir essa indexação. Finalmente, no ano seguinte, a revista se encontrava devidamen-te indexada nos importantes Lilacs e Scielo. Vale explicar que ser indexada no Scielo era a garantia para receber a qualificação Qualis A na classificação da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que autoriza o periódico a receber artigos de conclusão de pós-graduação. Essa qualificação foi importante, porque fez com que muitos trabalhos que estavam sendo enviados para outras publicações científicas passassem a ser destinados à revista da Sociedade. Diante disso, a publicação consagrou-se ainda mais como um marco para a inclusão de trabalhos em coloproctologia nos níveis nacional e latino-americano.

Em 2008, novos avanços: a revista passou a ser traduzida para o inglês e para o espanhol, com publicação on-line nesses idiomas e a manutenção da publicação em formato tradicional em português. E 2011 foi um ano que mar-cou ainda mais essa luta para fazer da Revista Brasileira de Coloproctologia

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um órgão com reconhecimento internacional. Eduardo de Paula Vieira a can-didatou para indexação na base de dados americana Medline. O número de ar-tigos que a revista publica atualmente ainda não é o desejado, mas os editores estão trabalhando no sentido de alcançar esse objetivo. Já está sendo prepara-da uma quantidade maior de artigos totalmente em inglês, com a contratação de revisores internacionais. Espera-se que, em breve, a revista esteja presente nesse importante indexador. E quando isso acontecer, provocará um impacto muito grande na Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Ela dará mais um passo rumo ao reconhecimento em nível mundial.

um portal para leigos e especialistasUma sociedade que se moderniza a todo instante, como é o caso da

SBCP, jamais poderia ficar de fora da inclusão digital. Assim, em 1996, entrou no ar a sua homepage (<www.sbcp.org.br>), inserindo a Sociedade de uma vez por todas na Internet. De lá para cá, a página virtual não para de se mo-dernizar, a ponto de hoje ser considerada não apenas um simples site, mas sim um portal. Ela conta com duas formas de acesso: para o público leigo e para os médicos. Para o primeiro grupo, estão disponibilizadas informações básicas sobre o campo de atuação da SBCP e, sobretudo, explicações a respeito das principais doenças coloproctológicas, os exames, os tratamentos e as tão im-portantes medidas preventivas. Essa área do portal também indica às pessoas onde encontrar o médico que seja credenciado pela SBCP.

Já os especialistas que procuram o portal podem tê-lo como um verda-deiro braço direito. Além de trazer todos os assuntos referentes à Sociedade (o estatuto, as comissões, as atas das assembleias...), apresenta informações sobre cursos e eventos científicos, serviços credenciados, como obter o tí-tulo de especialista ou certificado de atualização profissional e muito mais. Tudo sobre a especialidade está lá! Como estímulo à educação continuada, por exemplo, há a apresentação de vídeos, imagens comentadas e casos clí-nicos. E ainda há a Listserv, coordenada por Maria Cristina Sartor, que é uma lista de discussão utilizada pelos membros da Sociedade, com o obje-tivo de facilitar a discussão dos casos clínicos e a troca de informações de cunho científico.

Já as publicações oficiais da SBCP ocupam um espaço importante no portal. Elas podem ser acessadas, na íntegra, desde o número 1. A maioria ain-da se encontra no formato pdf. Mas, desde o volume 29, número 4 (outubro-dezembro de 2009), a Revista Brasileira de Coloproctologia pode ser lida no formato flip, que garante maior realismo para folheá-la e mais conforto

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na leitura. O mesmo aconteceu com o Jornal Informativo, a partir do ano 10, número 1 (janeiro de 2010). E do volume 31, número 3 (julho-setembro de 2011), em diante, a revista também se apresenta toda em inglês.

Um dos avanços mais interessantes disponíveis no portal, ocorrido em 2009, é o Congresso On-line. Nele, é possível assistir às principais aulas e debates do evento anual da Sociedade sem sair da frente do computador. Mas aí fica a pergunta: isso não causaria o esvaziamento do número de participan-tes nos congressos? Não é o que tem acontecido. Devido às características já citadas no capítulo anterior, nada substitui o contato real entre os especialistas, uma vez ao ano, nos congressos. Essa ferramenta on-line tem sido uma ótima oportunidade para rever os temas expostos ou mesmo assistir a algum evento científico de que não tenha sido possível tomar parte durante o congresso.

A arquitetura do portal da Sociedade muito se deve a Edna Delabio Ferraz, membro titular que o assumiu como editora-chefe. Embora haja fir-mas contratadas para cuidar do operacional e também todo um corpo edito-rial que cuida do portal regularmente – além de 15 membros que contribuí-ram para a composição do conteúdo –, é ela quem coordena tudo e contribui efetivamente para a determinação do que irá ser disponibilizado ao público leigo e aos associados. É interessante salientar que a importância do portal vai muito além de ser um órgão que permite a total interação e aproximação dos membros de todo o Brasil, sem falar na divulgação da especialidade perante a população. Ele tem um caráter economicamente importante para a Sociedade. Como bem explicou Francisco Lopes Paulo, na Assembleia Geral do 58º Congresso, em 2009:

A Sociedade investiu, neste ano, em coisas importantes para a sua ma-nutenção e para o seu crescimento com o fim de se adequar às neces-sidades habituais, que vão crescendo progressivamente. Uma delas foi a atualização da nossa home page, que foi colocada num nível profis-sional, refletindo um site bem estruturado, que é capaz de abrigar com agilidade tudo aquilo de que a Sociedade precisa. Quando essa página entrou em funcionamento, trouxe uma área restrita na qual o sócio tem que estar quite com a Sociedade para acessá-la. Essa página oferece várias utilidades, tais como: a vista, a posteriori, das conferências do último Congresso, assim como vai oferecer, agora, do Congresso atual; e uma série de outros benefícios da nossa Revista on line. Para terem uma idéia, quando essa página entrou em funcionamento, a inadimplên-cia que, historicamente, era de 40%, caiu para 14%. Então, vejam que é um investimento necessário e que tem como efeito colateral o retorno dos nossos sócios à condição de regularidade perante a Sociedade para que ela possa continuar crescendo.

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Pode-se ter certeza de que a Sociedade continuará crescendo, sim. E com ela crescerá também a Revista Brasileira de Coloproctologia, o Jornal Informativo e o seu portal (que, por sinal, já conta até com versão para Ipad). Porque uma das características da SBCP é sempre se modernizar. Os seus três órgãos oficiais, que vêm construindo suas próprias histórias na história da Sociedade, certamente acompanharão esse movimento. Sempre com a partici-pação fundamental, é claro, de seus membros, que se dedicam de corpo e alma para manter esses meios de comunicação ativos, servindo como ponte que une ainda mais os especialistas de Norte a Sul do país.

Centro de estudos pitanga santos: onde tudo é feitoAlém da revista, do jornal e do portal, há um quarto órgão oficial per-

tencente à SBCP: o Centro de Estudos Pitanga Santos. Trata-se da sala n. 1.202, no mesmo prédio onde fica a sede da Sociedade, que é destinada a guardar a memória da SBCP, abrigar a biblioteca – com contribuições dos acervos pertencentes a Sylvio D’Ávila, Angelino Manzione, Geraldo Milton da Silveira e outros – e a videoteca, além de servir de local para a editoração da Revista Brasileira de Coloproctologia e do Jornal Informativo.

O Centro de Estudos Pitanga Santos – que recebeu o nome do patrono da Sociedade – foi inaugurado no dia 8 de julho de 2000, na gestão do presi-dente Flávio Quilici, em uma solenidade que contou com a presença de muitos colegas coloproctologistas e seus familiares, de diversos estados. O evento foi marcado pela emoção de também estarem presentes os familiares do próprio Pitanga Santos e de Sylvio D’Ávila, Walter Gentile de Mello e Milton César Ribeiro. Na ocasião, aconteceu também a inauguração da galeria de fotos dos 49 ex-presidentes até então.

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Capítulo 8

As regionais Braços direitos da Sociedade

O Brasil é um país imenso. Nada mais natural, portanto, do que a for-mação de associações regionais ou estaduais de coloproctologia. Isso não significa, contudo, um enfraquecimento da SBCP. Pelo contrário, o próprio estatuto da Sociedade estimula a formação dessas regionais e se mostra aberto a firmar convênios com elas, desde que seus estatutos não colidam com o da SBCP. E a partir do momento em que esse convênio é firmado, essas entidades passam a ser representantes regionais da própria Sociedade.

Para que isso aconteça, há alguns pré-requisitos: é preciso que a re-gional tenha um grupo formado por, no mínimo, dez membros da SBCP, seu Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) deve estar ativo e seu estatuto necessita ser aprovado pela SBCP. O estatuto da regional será basicamente igual ao da brasileira, só que aplicado a cada estado ou região. Essa supervisão da Sociedade Brasileira só trará vantagens para as regionais. Entre elas, auxi-liar no credenciamento de serviços de coloproctologia, orientar rumo a novas tecnologias e ajudar a fazer a especialidade crescer em cada estado ou região.

Há, ainda, um ganho muito relevante: quem faz parte de uma re-gional acaba se aproximando mais da rotina da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e de seus congressos. Com isso, os especialistas ligados às regionais ficam mais conhecidos e respaldados, passando a ser convidados a apresentar trabalhos durante os congressos nacionais. O retorno maior, por-tanto, é o reconhecimento pessoal entre os grandes nomes da coloproctolo-gia. Isso aproxima muito mais os profissionais atuantes nesse país, dono de dimensões tão exageradas que poderiam contribuir para a desagregação dos

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especialistas de Norte a Sul do Brasil. Mas, com as regionais, ocorre o efeito oposto: os coloproctologistas tornam-se mais próximos.

Atualmente, a SBCP conta com seis regionais. Conheça um pouco de suas histórias a seguir.

sociedade regional norte-nordeste de ColoproctologiaLevando-se em conta que Pitanga Santos, introdutor da coloproctologia

no Brasil, era pernambucano e que a Sociedade Brasileira de Coloproctologia foi criada na Bahia, não é de se estranhar que a regional da SBCP de mais longa duração tenha nascido também no Nordeste. Embora não seja a pioneira nessa região (antes dela, durante a presidência de Romeu Marra da Silva, em 1968, haviam sido criadas a do Ceará e a da Bahia, por incentivo do próprio presidente), a Regional Norte-Nordeste de Coloproctologia é a única dessa região que ainda se mantém ativa e fiel à brasileira.

Ela foi fundada em 1982 pelos cearenses José Maria Chaves e Pedro Henrique Saraiva Leão. A ideia surgiu durante a realização do 32º Congresso Nacional, em Fortaleza, presidido por Pedro Henrique. Ele e José Maria acha-vam que, com a criação de uma regional, os coloproctologistas nordestinos passariam a ter mais visibilidade dentro da especialidade, recebendo mais convites para apresentar trabalhos nos congressos nacionais futuros. Assim, imediatamente após o término do evento da SBCP, convidaram um grupo de especialistas de vários estados do Nordeste e do Norte para dar o pontapé ini-cial na concretização do projeto.

A principal motivação, portanto, foi difundir a produção científica do Norte e do Nordeste por todo o país. Isso acabou auxiliando o crescimento da especialidade não só nessa região, mas no Brasil como um todo, já que, por muito tempo, a coloproctologia se manteve pouco conhecida e era, até mes-mo, confundida com outras especialidades, como a urologia. Com a criação da Norte-Nordeste, que abrangia um número grande de estados brasileiros, a especialidade se fortaleceu ainda mais, atingindo também as pessoas leigas, que passaram a compreender melhor a sua abrangência médica e, em vez de procurar tratamento apenas nos grandes centros (Rio e São Paulo), entende-ram que em seus próprios estados encontrariam atendimento.

Para ajudar ainda mais essa divulgação, a Regional Norte-Nordeste sem-pre atuou junto às instituições de saúde e às universidades, a fim de que hou-vesse um aprimoramento no tratamento e no ensino da especialidade. Sempre, é

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claro, contando com o apoio da SBCP para se fazer chegar com mais veemência nessas instituições. Isso foi tão importante que serviu de exemplo para outras cidades do Sul e do Sudeste criarem também as suas sociedades regionais.

A regional Norte-Nordeste realiza congressos anuais, cada vez em um estado nortista ou nordestino. A cada ano, há sempre um novo presidente. Tal como os Congressos Brasileiros de Coloproctologia, os dessa regional visam não apenas à apresentação de trabalhos científicos, mas, acima de tudo, à pro-moção do congraçamento entre os especialistas dessas duas regiões.

Associação Gaúcha de ColoproctologiaAs primeiras sementes dessa sociedade foram plantadas pelo ex-pre-

sidente da SBCP Walter Ghezzi, em meados da década de 1960, quando ele e um pequeno grupo de proctologistas gaúchos fundaram o Departamento de Proctologia da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS). Por quase três décadas, eles promoveram no departamento, regularmente, reuniões científicas e de discussão de assuntos do interesse da classe. O nú-mero de participantes não parava de crescer, sobretudo devido ao desenvolvi-mento de vários centros de formação proctológica no estado.

Assim, em 1991, os especialistas perceberam que era hora de se lan-çar em um passo maior. Em assembleia, decidiram pela transformação do departamento em uma sociedade independente filiada à AMRIGS. Assim nasceu a Associação Gaúcha de Coloproctologia – inicialmente chamada de Sociedade de Coloproctologia do Rio Grande do Sul. O fato de o departa-mento ter se transformado em uma sociedade proporcionou mais autonomia aos médicos do Rio Grande do Sul e permitiu que a coloproctologia rio-grandense definisse seu espaço de forma mais definitiva, tanto em seu estado quanto no restante do país. O trabalho constante do grupo de fundadores, juntamente com os membros que foram se unindo a eles, ajudou a promo-ver e a divulgar a especialidade ao longo desses anos. Além disso, sempre houve uma forte preocupação por parte dessa associação e dos membros que eram professores para auxiliar na formação de especialistas de qualida-de. Isso sem falar no fato de que a Associação Gaúcha de Coloproctologia sempre buscou a integração com as atividades científicas e administrativas da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, a quem se filiou. Tanto é que a SBCP teve sete presidentes oriundos do Rio Grande do Sul, e o número de sócios titulares provenientes da Associação Gaúcha de Coloproctologia é bastante significativo.

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Em 1999, a Associação adquiriu sua sede própria, durante a presidên-cia de José Luiz Barbieux, fato que colaborou muito com a sua organização. Desde então, a Sociedade vem se modernizando, expandindo e ampliando suas atividades. Também busca aproximar-se do público leigo, por meio da divulgação da especialidade feita por seus membros em artigos de jornais e outras mídias, e pelo próprio site da Associação, em que são divulgados pe-quenos textos em linguagem acessível sobre doenças coloproctológicas e a atuação da especialidade no tratamento. A página na Internet (<www.amrigs.com.br>) também traz a listagem de todos os coloproctologistas associados do estado.

A parte científica da Associação nunca foi esquecida. Durante reuniões mensais, são abordados temas atuais da especialidade, inclusive com a partici-pação de colegas de outros estados e de convidados estrangeiros. Além disso, suas jornadas científicas anuais com alto nível técnico já se tornaram um even-to tradicional no meio médico gaúcho e congregam a maioria dos especialistas do estado. Nessas jornadas, também há o estímulo à realização de trabalhos científicos graças à entrega do prêmio Professor Walter Ghezzi ao melhor tra-balho apresentado.

Os esforços de atuação da Associação Gaúcha de Coloproctologia con-tinuam voltados ao ensino profissional, mas agora estimulando também a edu-cação continuada dos especialistas. Ela busca, ainda, defender os interesses da classe e, sobretudo, dos pacientes, a quem a Associação considera a razão primeira dos seus esforços.

sociedade Mineira de ColoproctologiaOficialmente, a Sociedade Mineira de Coloproctologia (SMCP)

foi criada em 29 de novembro de 1996, como consta na ata de sua funda-ção, momento no qual também se tornou filiada da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Porém, a história dessa sociedade se inicia no final da déca-da de 1960, quando a Sociedade Mineira de Proctologia (SMP) – como era chamada – surgiu inicialmente como um departamento da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), fundada por Edmundo de Paula Pinto, que foi seu primeiro presidente (de 1969 a 1971). Depois dele, Walcar Dias Coelho (de 1972 a 1973) e Geraldo Magela Gomes da Cruz (de 1974 a 1975) assumiram sua presidência. Esse primeiro período da SMP foi marcado por atividades de cunho exclusivamente científico, com reuniões realizadas na AMMG, mensal-mente, com palestras sobre temas de interesse, discussão de casos clínicos e

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clube de revistas. No entanto, durante a quarta gestão, esta sociedade perdeu a continuidade de suas atividades científicas e acabou sendo extinta.

Os coloproctologistas de Minas Gerais ficaram sem um órgão de classe durante sete anos. Mas, em 1981, Geraldo Magela decidiu recriá-la, já com o nome de Sociedade Mineira de Coloproctologia, assumindo sua presidência até 1982. Foi depois sucedido por João Carlos Zerbini de Faria, que ficou no cargo de 1983 a 1984. Essa segunda fase da história da SMCP foi marcada por um grande número de atividades científicas, sobretudo em forma de cursos realizados no auditório da Santa Casa. Só que, em 1986, durante a terceira gestão, ela foi novamente extinta.

Pela segunda vez, os coloproctologistas mineiros ficaram sem um órgão que promovesse atividades científicas na região e que defendesse os direitos da classe. Até o dia em que a Associação Médica Mineira procurou a especialis-ta Luciana Maria Pyramo Costa para que ela reabrisse, dentro da associação, o Departamento de Coloproctologia. Ela optou por fazer melhor: reiniciar a Sociedade Mineira de Coloproctologia. E isso aconteceu no dia 7 de setembro de 1996, no Rio de Janeiro, durante o 45º Congresso Brasileiro de Coloproctologia. No evento, ela e mais 49 colegas mineiros decidiram pelo ressurgimento de sua sociedade regional, todos eles assinando a ata de fundação. Três meses após sua terceira criação, a primeira diretoria foi eleita, tendo como primeira presidente Luciana Maria Pyramo Costa. E em 6 de novembro de 1999, no mandato de seu segundo presidente – novamente Geraldo Magela –, a SMCP teve a sua criação e o seu estatuto devidamente registrados em cartório.

Desde então, a Sociedade Mineira de Coloproctologia desenvolve ativi-dades intensas, tanto no âmbito científico e cultural quanto no âmbito político, social e de interesse financeiro de seus sócios, como marcar presença junto aos órgãos de classe (Sociedade Brasileira de Coloproctologia, Associação Médica de Minas Gerais, Conselho Regional de Medicina e Sindicato dos Médicos de Belo Horizonte) e aos mais variados planos de saúde para tratar de assuntos relacionados ao exercício profissional e à remuneração condigna de seus as-sociados. Trimestralmente, promove reuniões científicas nos maiores serviços de coloproctologia de Belo Horizonte que participam de programas de pós-graduação. E realiza seus congressos a cada dois anos durante o Gastrominas, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, Capítulo Minas Gerais, e a Sociedade de Gastroenterologia e Nutrição do Estado de Minas Gerais. Outro papel importante da SMCP diz respeito às campanhas de prevenção de câncer colorretal, que desenvolve tanto na mídia quanto junto à população de Belo Horizonte.

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sociedade paranaense de ColoproctologiaA Sociedade Paranaense de Coloproctologia (SPrCP) foi criada logo

após o Congresso Brasileiro de Coloproctologia de 1987, realizado em Foz do Iguaçu, presidido por Fernando Jorge de Souza. A partir daí, começa-ram as discussões e os preparativos para sua fundação, que se deu no dia 12 de maio de 1988, durante um evento seguido de jantar de confraterniza-ção em Curitiba. Na ocasião, estavam presentes os então ex-presidentes da SBCP Sérgio Brenner e Fernando Jorge de Souza, além de Renato de Araújo Bonardi, Renato Pinho e Roberto da Silveira Moraes, que foram considerados os fundadores da SPrCP.

O primeiro presidente foi Sérgio Brenner, seguido por Fernando Jorge de Souza e Renato Bonardi. Em 2008, assumiu Renato Pinho e, em 2010, Rubens Valarini. Maria Cristina Sartor é a atual presidente, tendo sido eleita em 2011.

A SPrCP tem como objetivos congregar os coloproctologistas do esta-do do Paraná, interessados em fomentar o progresso, o aperfeiçoamento e a difusão da especialidade; estimular a pesquisa científica; normatizar a prática da coloproctologia em conjunto com a SBCP e defender seus especialistas; representar os interesses profissionais de seus associados perante os poderes constituídos; promover atividades científicas de âmbito regional, como cursos, simpósios, reuniões científicas e jornadas; representar a especialidade junto à Associação Médica do Paraná (AMP), ao Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Capítulo do Paraná – e à SBCP; e desenvolver campanhas de esclarecimento junto à população.

Para tanto, a SPrCP tem promovido o desenvolvimento científico e cultural de seus sócios por meio de jornadas, cursos e várias outras ativida-des científicas, distribuídas ao longo do ano. Procura também divulgar para a população as competências da especialidade e a amplitude de seu campo de atuação, reafirmando a importância da atuação do médico coloproctologista.

A atuação na defesa profissional junto às entidades reguladoras, como AMB e CRM, e às fontes pagadoras, especialmente as empresas de saúde suplementar, tem sido também uma constante, principalmente após o início da mobilização de todas as entidades médicas nacionais para promover me-lhores condições de trabalho para o médico. Desde o início do movimento de conscientização e valorização do trabalho médico no estado do Paraná, a Associação Médica Paranaense promoveu e orientou ações para estimular

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honorários justos para a classe, das quais a SPrCP tem participado ativamen-te, podendo já contabilizar algumas vitórias, embora haja muito a conquistar pela frente.

A SPrCP conta com mais de noventa sócios. Ao promover vários eventos ao longo dos anos, com convidados palestrantes de todo o país e até internacionais, busca também levar as atividades para o interior do estado, aproximando mais seus sócios e desenvolvendo atividades científicas e so-ciais fora da capital. Alguns exemplos disso foram o encontro na cidade de Maringá, sobre câncer colorretal e doenças orificiais, em 1997, e a 1ª Jornada da Sociedade Paranaense de Coloproctologia, nos dias 29 e 30 de abril de 2010, em Cascavel.

Associação de Coloproctologia do estado de são paulo (Acesp)Em 16 de dezembro de 2006, a Associação de Coloproctologia

do Estado de São Paulo (Acesp) foi fundada no auditório da Associação Paulista de Medicina (APM), contando com a presença de mais de 150 co-loproctologistas da capital e do interior do estado. O objetivo de sua cria-ção era bem cristalino: ser a regional do estado de São Paulo da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. A Acesp nasceu da fusão do Departamento de Coloproctologia da APM, na época sob a responsabilidade de Sidney Roberto Nadal, e da Diretoria de Coloproctologia do Capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), tendo à frente Carlos Walter Sobrado Jr.

Ela se destina a congregar os coloproctologistas do estado de São Paulo que estejam interessados em fomentar o progresso, o aperfeiçoamento e a di-fusão de conhecimentos da especialidade; emitir pareceres sobre questões que dizem respeito à coloproctologia; representar a especialidade e seus membros junto à SBCP e também atuar conjuntamente com o Conselho Regional de Medicina na defesa de seus membros.

A criação da Acesp trouxe para os coloproctologistas, não só os paulis-tanos como todos os paulistas, a confiança e a certeza de que a prática profis-sional será mais e melhor difundida em todo o seu estado. A ideia é de que, com os especialistas unidos, será possível atuar para fortalecer ainda mais a defesa profissional em São Paulo.

A primeira diretoria foi escolhida na reunião da fundação, sendo for-mada por Sidney Roberto Nadal (presidente), Carlos Walter Sobrado Jr. (vice-presidente), Margareth Rocha Fernandes (secretária) e Carmem Ruth

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Manzione (diretora científica). A principal responsabilidade da diretoria ini-cialmente composta foi criar, aprovar e registrar o estatuto social e oficializar a Acesp nos órgãos competentes, sem se descuidar da promoção de eventos científicos regulares para a reciclagem e a atualização de seus membros.

A segunda diretoria foi composta por Carlos Walter Sobrado Jr. (pre-sidente), Silvio Augusto Ciquini (vice-presidente), Sarhan Sydney Saad (se-cretário), Eduardo Carlos Grecco (diretor científico) e Sidney Roberto Nadal (tesoureiro). Com base no estatuto, foram instalados o Conselho Fiscal e o Conselho Deliberativo.

A Acesp tem realizado, no auditório da APM, reuniões científicas regu-lares e periódicas sobre temas da especialidade, em um total de quatro por ano, e organiza os cursos de coloproctologia dos Congressos Paulistas de Cirurgia, de 2008 a 2011, e também do Congresso Brasileiro de Cirurgia (em 2009), entre outros que ocorrem no estado de São Paulo.

Em setembro de 2011, durante o 60º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, foi realizada nova assembleia da Acesp, com a participação de mais de cem membros, ocasião em que foi decidido realizar o Congresso Paulista de Coloproctologia. Ainda sob a presidência de Carlos Walter Sobrado Jr., ele ocorreu nos dias 8 e 9 de junho de 2012, na cidade de São Paulo, com ótimo nível científico.

sociedade regional leste de ColoproctologiaEla foi criada em 2008, por iniciativa do capixaba Ronaldo Coelho

Salles, que reuniu especialistas dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. A ideia para a sua fundação surgira dois anos antes, durante a realização da Jornada Annibal Luz (JAL), no Rio, evento científico organizado em 2004 também por Ronaldo com o intuito de homenagear o colega Luz, com quem trabalhou por muitos anos. Essa jornada tinha a pretensão inicial de ocorrer a cada dois anos. Porém, quando Ronaldo percebeu que nas reuniões havia uma participação muito expressiva de especialistas do Espírito Santo, começou a imaginar que poderia colocar em prática a orientação do estatuto da SBCP, que incentiva a criação de regionais. Assim, no discurso de encerramento da JAL de 2006, compartilhou a ideia com os coloproctologistas presentes.

Só que o projeto permaneceu adormecido. No início de 2008, quando chegou o momento de começar a organizar uma nova JAL, Ronaldo decidiu retomá-lo. Ele, então, fez contato telefônico com diversos médicos do estado

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do Rio e do Espírito Santo, apresentando sua proposta. Todos gostaram mui-to dela. Chegou, ainda, a fazer contato com médicos mineiros, para ver se ampliava para uma regional Sudeste. Mas, como os mineiros já tinham uma boa representatividade com a Sociedade Mineira de Coloproctologia, acharam melhor não aderir.

Mediante a receptividade dos médicos fluminenses e capixabas, Ronaldo foi o responsável por planejar uma estratégia para a criação dessa regional. Pensou, então, que o melhor lugar para seu nascimento seria no meio do caminho entre os dois estados: a cidade de Campos dos Goitacazes, que se encontra próxima da divisa entre Rio e Espírito Santo. E assim acon-teceu: em 30 de agosto de 2008, no auditório da Faculdade de Medicina de Campos, um grupo com 31 médicos dos dois estados – todos eles membros da SBCP – se reuniu para lançar, oficialmente, a Sociedade Regional Leste de Coloproctologia (SRLC). Na ocasião, foi eleita a primeira diretoria, cujo presidente escolhido foi o idealizador da regional, Ronaldo Salles. Também foi aprovado, por unanimidade, o estatuto da Regional Leste, cujo antepro-jeto já havia sido elaborado em reunião prévia com os médicos participantes da fundação.

A nova regional foi criada com o objetivo de agregar o estado do Espírito Santo, que tem um número pequeno de especialistas, com o estado do Rio de Janeiro, que é o segundo maior em quantidade de coloproctologistas. Assim, ficaria mais fácil impulsionar o desenvolvimento científico capixaba, de modo que seus especialistas passassem a ter uma ressonância maior perante a SBCP, a fim de participarem dos congressos de forma mais ativa.

Os congressos da SRLC, de certa forma, tornaram-se os sucessores da JAL, assim também ocorrem de dois em dois anos. O primeiro congresso aconteceu em 2009, no Rio de Janeiro, no auditório do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. E o segundo foi em Búzios, cidade litorânea do estado do Rio, em 2011, quando foi eleita nova diretoria e um novo presidente, Tadeu Marcus Menezes.

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Capítulo 9

Tanto já feito, tanto a fazer...

Existe um ditado que diz: “Pau que nasce torto nunca se endireita.” Com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia, isso não aconteceu. Embora sua primeira fundação tenha sido com objetivos puramente políticos, deixan-do de lado a luta pelos avanços científicos da especialidade e da própria classe de proctologistas, quando ela renasceu, em 1945, começou uma nova era que a “endireitou”, fazendo desta associação, sim, o porto seguro para muitos es-pecialistas brasileiros.

De lá para cá, já se passaram quase setenta anos. Mas, ao contrário de envelhecer, a SBCP se mantém rejuvenescida e se posiciona, dentro das as-sociações médicas, como uma entidade que atrai cada vez mais e mais jovens que estão dando os primeiros passos nos centros cirúrgicos. Em meados do século XX, a especialidade era ainda muito pouco representativa. Raros eram os médicos que se embrenhavam por essa seara. Aos poucos, ela foi crescendo e, sem sombra de dúvida, a atuação da Sociedade junto aos centros médicos, às universidades e até mesmo à AMB colaborou – e muito – para essa escala evolutiva da coloproctologia.

Na época do pioneiro Pitanga Santos, por exemplo, a primeira univer-sidade a ter o ensino de proctologia foi a Faculdade de Ciências Médicas, no Rio de Janeiro. Mas não era ainda uma disciplina. Esse fato só veio a ocorrer em 1978, dentro do Hospital Universitário do Fundão (pertencente à UFRJ). E será que havia o dedo da SBCP nisso? Com certeza que sim. Porque a Sociedade sempre lutou pela criação do serviço de proctologia em hospitais (fossem eles universitários ou não). O resultado disso é que, hoje, a cadeira de coloproctologia existe em praticamente todas as universidades brasileiras, assim como várias instituições oferecem residência nessa área.

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No entanto, essa proliferação do ensino da especialidade não pode cair na banalização. E a SBCP toma para si a missão de realizar um controle de qualidade desses cursos.

Deve-se ressaltar que a SBCP não ensina, nem opera. Ela não é fa-culdade, nem hospital. Mas é a figura primordial para fazer com que tanto o ensino quanto a prática da especialidade no Brasil sejam de primeira. Não é à toa, portanto, que ela possui a Comissão de Ensino e Residência Médica, para ficar de olho vivo na qualidade dos conteúdos transmitidos nas universidades e dos serviços oferecidos aos residentes. Ela, por si só, não pode se dirigir a esses locais e fazer uma fiscalização formal. Esse é o papel da Associação Médica Brasileira (AMB), do Conselho Nacional e dos conselhos regionais de Medicina. Mas a Sociedade exerce pressão sobre esses órgãos para que eles o façam. E se esses serviços se adequarem aos padrões que a SBCP con-sidera aceitáveis, serão incluídos na listagem que sai a cada edição da Revista Brasileira de Coloproctologia com a indicação de boas residências pelo país, credenciadas pela SBCP.

Ver o mercado recheado por excelentes especialistas é a primazia para a Sociedade. Ela acredita que, para que isso aconteça, não pode haver facili-tações para que o jovem médico obtenha o seu título de especialista. Além da certificação que é concedida pela Comissão Nacional de Residência Médica àqueles que concluem a residência, a SBCP confere o título de especialista, que é uma verdadeira grife para o jovem médico. Ter esse título é a certeza de que ele foi aprovado em provas rigorosas (escritas e práticas) elaboradas pela Comissão do Título de Especialista. Portanto, terá as portas abertas para fazer parte de convênios e, se assim o desejar, seguir carreira dentro da própria SBCP. No entanto, mesmo com o profissional sendo portador desse título, a Sociedade não se dá por satisfeita. Ela continua incentivando os especialistas à educação continuada, por meio da organização de cursos e eventos.

Não é à toa que hoje em dia não faz o menor sentido um coloproc-tologista não se tornar membro da SBCP. Diferentemente de muitas outras associações de defesa profissional, ela oferece a seus associados uma série de vantagens. Além desse esforço em vigiar universidades e serviços de re-sidência, promove cursos e os congressos anuais – já tradicionalmente um evento riquíssimo para a troca de experiências científicas e para o congra-çamento entre os colegas –, distribui gratuitamente a Revista e o Jornal Informativo, disponibiliza no portal um conteúdo bastante rico e interativo (inclusive artigos on-line de jornais científicos internacionais), oferece bol-

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sas de estudo, confere prêmios em dinheiro aos melhores trabalhos apresen-tados em congressos, luta pela melhor remuneração dos especialistas junto aos órgãos competentes, ajuda na defesa profissional em caso de acusações de erros médicos e muito mais que se possa imaginar. Tudo isso por um valor anual irrisório, justamente para incentivar a adesão cada vez maior de novos especialistas.

Hoje, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia é muito forte e bem administrada, contando com uma condição financeira bastante confortável que lhe permite, justamente, oferecer tantas vantagens a seus membros. Com seus mais de 1.600 especialistas associados, configura-se como a segunda maior sociedade de coloproctologia do mundo – só perdendo para a ameri-cana – e a primeira maior da América Latina. Mesmo a Inglaterra, que é um país que muito auxiliou o desenvolvimento da especialidade, não possui uma sociedade tão representativa.

A Sociedade Brasileira de Coloproctologia foi crescendo junto do pró-prio desenvolvimento do país. Hoje, ao se olhar para trás, percebe-se que teve o privilégio de não ter vivido nenhuma crise. Mesmo nos momentos em que o Brasil atingia altos índices inflacionários, ela conseguiu se manter equili-brada. Prova disso é que todos os presidentes que passaram pela Sociedade organizaram o seu congresso nacional sem grandes obstáculos, a não ser as dificuldades comuns que rondam a preparação de qualquer evento científico de grande porte.

Tudo isso faz com que ela sirva de exemplo para outras sociedades espalhadas pelo mundo. Hoje, quando os organizadores dos congressos na-cionais convidam um especialista estrangeiro – até mesmo norte-americano – para participar do evento, é muito difícil que ele não aceite. Todos reco-nhecem a importância da SBCP e querem estar presentes, não apenas dando a sua contribuição como também aprendendo com o alto nível dos trabalhos apresentados. Por conta disso, a Sociedade se orgulha de muito ter ajudado no desenvolvimento da especialidade na América Latina, abrigando até mesmo a Associação Latino-Americana de Coloproctologia – da qual é membro – em sua sede no Rio de Janeiro e dando-lhe consultoria nas áreas de tesouraria e organização. A SBCP também auxiliou a fundação de mais cinco socieda-des latinas de coloproctologia: do Paraguai, do Panamá, da Guatemala, de El Salvador e da República Dominicana. Por ser um exemplo a todos, muitos es-pecialistas dos países vizinhos se esforçam para vir participar dos congressos e fazer estágios e residência em hospitais brasileiros.

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A responsabilidade da nova geraçãoApesar das ótimas relações com as nações latino-americanas e mesmo

com especialistas de países do Primeiro Mundo, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia pretende ir além. Com a realização das mudanças necessárias para a indexação de sua revista no Medline, almeja passar a ser reconhecida em cada centro médico e científico do planeta. O objetivo é levar os trabalhos científicos de seus membros a muito, muito mais longe, de modo que a espe-cialidade praticada no Brasil ganhe reconhecimento internacional.

Enquanto isso não acontece, a SBCP segue buscando se manter como uma entidade que evolui à medida que a medicina e o país crescem. Os tem-pos mudam, e a Sociedade não quer ficar para trás. Mantém os olhos vivos na digitalização de seus acervos em papel, na modernização de sua tesouraria, na aquisição de conhecimentos sobre robótica e várias outras técnicas cirúrgicas que possam surgir. Está ciente de que é preciso se reciclar constantemente.

A Sociedade não pode envelhecer. Para tanto, procura abraçar as novas tendências para continuar viva. Quando se olham as fotos dos congressos an-tigos, em que senhores com maravilhosos paletós de cashmere estão reunidos, é preciso ter admiração por esses pioneiros, mas saber que, por mais que es-tejam bem vestidos, seus ternos têm corte de sessenta anos atrás. Ou seja: a Sociedade deve sempre valorizar suas raízes sem, contudo, abrir mão de usar a roupa condizente com os novos tempos.

E isso passa muito pela forma de comunicação entre os membros. O portal da Sociedade, por exemplo, vem cumprindo muito bem a função de aproximar os colegas de todo o Brasil. Tem, também, servido de canal de ensino tanto para os médicos mais jovens quanto para aqueles que desejam se reciclar. Mas não seria de se estranhar que, em pouco tempo, até mesmo fer-ramentas como o Twitter estejam prestando o papel de transmitir informações básicas sobre a especialidade em apenas 140 toques.

A figura do professor em sala de aula ainda é muito viva. Mas ambien-tes virtuais de ensino podem representar um caminho a ser explorado pela Sociedade. Assim como disponibilizar cada vez mais conteúdo (como revistas e livros) para serem lidos em e-readers. Dessa forma, a SBCP estaria incor-porando o novo em benefício, principalmente, daqueles que estão chegando agora para fazer parte da nova família coloproctológica brasileira. Não deixar a Sociedade envelhecer é aplicar essas mudanças de mentalidade, mas sem perder os valores que a criaram.

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A SBCP precisa se revitalizar a cada ano e, de maneira moderna, passar adiante todo o seu legado construído não em seis meses, mas em quase sete décadas de existência. Os membros mais antigos devem ter em mente que a Sociedade precisa dos jovens especialistas para manter sua história acesa e dar continuidade ao seu vitorioso campo de atuação. A vinda dos novos membros seria a alavanca para mantê-la sempre revigorada.

A Sociedade tem pela frente um futuro maravilhoso. Os jovens que vêm por aí têm se mostrado muito competentes e muito bem informados. Com isso, quem sai ganhando é a coloproctologia do país. E esse crescimento do profissional brasileiro tem se descortinado já há alguns anos. De uns tempos para cá, o que se vê, a cada novo presidente da Sociedade, é o preparo de con-gressos cada vez melhores. Isso deixa os especialistas mais antigos realizados, com a sensação de dever cumprido, por verem que conseguiram passar às gerações seguintes às suas todo o entusiasmo que possuem por fazer parte da Sociedade. Já na plateia, os novos rostos que assistem às conferências preci-sam sentir essa mesma vibração para que, na sua época de futuros membros da diretoria, venham a fazer ainda melhor pela Sociedade que os abriga.

Mas, acima de tudo, o que precisa ser transmitido à nova geração que se configura é o aspecto humano da SBCP. A Sociedade jamais pode deixar de ser o local de congraçamento de amigos, o ponto de encontro da família co-loproctológica brasileira. Se a SBCP, um dia, tornar-se uma entidade sem seu caráter emotivo, isso será um enorme desrespeito aos pioneiros que fizeram dela uma Sociedade com alma e coração. O desafio da Sociedade, portanto, encontra-se em manter viva a força de seus criadores – que tanto lutaram pelo desenvolvimento da especialidade e por melhores condições para os especia-listas – e, também, a ternura do sentimento puro que une cada membro: o amor pela SBCP, o amor pela coloproctologia.

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Quantidade de páginas

Formato

Tipologia

Corpo/entrelinha

Papel de miolo

Impressão e acabamento

276

16 cm x 23 cm

Times New Roman

11/14

Offset 90g/m2

Imos Gráfica e Editora

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Cadernode

Fotos

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De pé: Mário Degni, seguido por Waldomiro Nunes e Daher Cutait.

VII Congresso Brasileiro de Proctologia (1957, SP): Américo Bernacchi e Horácio Carrapatoso.

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VII Congresso Brasileiro de Proctologia (1957, SP), na primeira fila (com a mão no rosto): Aleixo Lustosa (RJ); na segunda fila, da esquerda para direita: Pitanga Santos (RJ) e Plínio Brasil Filho (SP).

I Congresso Latino-Americano, II Internacional e X Brasileiro de Proctologia (1960, SP): Felipe Figliolini.

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Pitanga Santos proferindo aula.

1958: Helio Silva recebe o diploma da aula que proferiu. Na mesa: Aleixo Lustosa e Americo Bernacchi.

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XIX Congresso Brasileiro de Proctologia (1969, MG), da esquerda para direita, segundo: Romeu Marra; último: Christóvão Bellot.

18º Congresso Brasileiro de Proctologia (1968, RJ), da esquerda para a direita: José Thiago Pontes, Edison de Oliveira, Farjala Sebba, Americo Bernacchi, Walter Ghezzi, Aleixo Lustosa, Daher Cutait, Walcar Dias Coelho e Floriano Schwanz.

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Primeira Reunião Administrativa da Sociedade Brasileira de Proctologia (RJ), anfiteatro da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (Avenida Mem de Sá, 197) em 1946. Vendo-se da esquerda para direita, o Presidente Sílvio D’Ávila, 5º nessa ordem, seguido do secretário Hélio Silva (de pé) e do tesoureiro Horácio Carrapatoso.

Pitanga Santos, Waldenir Bragança, Fernando Paulino, Décio Guimarães Pereira, Sílvio Barbosa e Joaquim J. Ferreira.

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Congressistas e familiares.

XXI Congresso Brasileiro de Proctologia (1971, BA): da esquerda para direita: Daher Cutait, Angelita Habr-Gama, Waldemiro Nunes, Pedro Henrique Saraiva Leão.

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XXIII Congresso Brasileiro de Proctologia (1973, RJ): Angelino Marizone (SP), Pitanga Santos, Waldenir Bragança (Presidente da Associação Médica Fluminense), Fernando Paulino (RJ), Décio Guimarães Pereira (Presidente da S.B.P. e do 23º Congresso, RJ), Joaquim José Ferreira (Secretário Geral do 23º Congresso, RJ), Celso Ramos (Presidente da Soc. Med. Cirurgia do Rio de Janeiro, RJ), Sílvio Rubens Barbosa (Secretário Saúde do Estado), Sílvio D’Ávila (1º Presidente da Soc. B. proctologia), Fidel Ruiz Moreno (México) e Hélio Silva (Proctologista e Escritor-Historiador, RJ).

XIII Congresso Brasileiro de Proctologia: Pitanga Santos. À sua esquerda, Angelino Manzione e à direita, Annibal Luz e Waldenir Bragança (Niterói).

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XXX Congresso (1980, RJ): Paulo Jorge Warde, Paulo Arruda Alves, Angelita Habr-Gama e Eduardo Verani.

XIII Congresso Brasileiro de Proctologia, sessão inaugural (1973): Hélio Silva, Fidel Moreno, Sílvio D’Ávila, Celso Ramos, Joaquim Ferreira), Décio Pereira, Fernando Paulino, Waldenir Bragança.

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XXX Congresso Brasileiro de Proctologia (1980, RJ), da esquerda para direita: Sílvio D’Ávila (RJ), Daher Cutait (SP), J. Goligher (Inglaterra), Roberto Bonfim (RJ).

XXX Congresso Brasileiro de Proctologia (1980, RJ): Hélio Osório de Paula (MG), Farjala Catan (RS), Armando Campos de Oliveira (GO).

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XXX Congresso Brasileiro de Proctologia (1980, RJ), conferencista: J. Goligher. No centro da mesa: Daher Cutait e Sílvio D’Ávila.

XXX Congresso Brasileiro de Proctologia (1980, RJ): reis Neto (SP), Fernando Barroso (RJ), David Jagelman (Cleveland, USA) e Gerald Marks.

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XXX Congresso Brasileiro de Proctologia (1980, RJ): Sílvio D’Ávila com sua esposa, D. Olga e filha Marli, esposa de Alberto de Freitas.

Daher Cutait, Presidente do 7º Congresso Brasileiro de Proctologia (1957, SP).

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XXX Congresso Brasileiro de Proctologia (1980, RJ): Sílvio D’Ávila.

XXXIV Congresso Brasileiro de Proctologia (1984, RJ), no pódio: Joaquim Ferreira.

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XXXIV Congresso Brasileiro de Proctologia (1984, RJ), no pódio: Peretz Capelhuchnik (SP).

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Área de exposição do 49º Congresso (2000, SP).

Angelita Habr-Gama (1981, SP).

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Stefano Malinconico (PE) e Rosalvo Ribeiro na sede da SBPC.

Américo Bernacchi discursa na inauguração do Centro de Estudos Pitanga Santos (2001). Da esquerda para direita: Joaquim Ferreira, Paulo César Ribeiro, João de Aguiar Pupo Neto, Fernando Cordeiro, Américo Bernacchi, Raimundo Pessoa Vieira, José Mário Caldas (sent.), João Carlos Zerbini e Wagner Vasconcelos.

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Inauguração do Centro de Estudos Pitanga Santos (2001). Toda a família do pitanga Santos com Américo Bernacchi ao fundo (seu antigo assistente).

Inauguração do Centro de Estudos Pitanga Santos (2001). Da esquerda para direira: Rosalvo Ribeiro, José Mário Caldas, Paulo César ribeiro, Flávio Quilici e João Carlos Zerbini.

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